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Claudionor Rocha*

Consultor Legislativo da
Área de Segurança Pública
e Defesa Nacional

José de Ribamar Barreiros Soares


Consultor da Área II - Direito Civil,
Direito Processual Civil, Direito Penal,
Direito Processual Penal

A prisão provisória no
direito brasileiro

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Resumo
A prisão provisória é de grande interesse no estudo do
processo penal, tendo em vista o princípio constitucional
da presunção de inocência, segundo o qual ninguém
pode ser considerado culpado até o trânsito julgado de
sentença penal condenatória.
Ocorre que a prisão provisória é utilizada
independentemente da condenação transitada em
julgado, o que nos faz questionar os seus requisitos e
fundamentos para sua aplicação.
Diante disso, é necessário analisar os diferentes tipos
de prisão provisória, o âmbito de sua incidência e sua
finalidade.
Palavras-chave
prisão, flagrante, preventiva, temporária, pronúncia,
sentença.
Abstract
The provisional arrest is a very important subject in
the study of criminal proceedings, mainly in face of the
principle of presumption of innocence, which consi-
ders the accused as innocent, till the final condemning
sentence.
The provisional arrest however is applied without a
definitive sentence that considers the accused as guilt,
so we must question its conditions and reasons. In this
case, we need to analyze the different kinds of provi-
sional arrest, the situations in which they are used and
their goal.
Keywords
arrest, flagrant, remand, provisional, indictment,
sentence.

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1. Introdução.
A prisão provisória é um instituto polêmico, que sempre causa deba-
tes ente a população e noticiários na mídia. Sobretudo diante de crimes
que causam comoção popular, a tendência é a de ver os criminosos na
cadeia a qualquer custo. Quando a prisão provisória não é deferida, há
todo um clamor no seio da coletividade, gerando o sentimento de que, no
Brasil, bandido não é punido e que os criminosos acabam ficando soltos
pelas ruas, para praticarem novos delitos.
Um exemplo desse tipo de comoção popular é o caso Daniel Dantas,
em que o habeas corpus concedido pelo Ministro Gilmar Mendes, Presi-
dente do Supremo Tribunal Federal, provocou diversas reações contrárias
por parte do público, da imprensa e, até mesmo, de alguns juristas.
Todavia, é necessário entendermos o significado da prisão provisória
como instituto que antecede a condenação transitada em julgado, an-
tes da qual ninguém pode ser considerado culpado. Assim, passaremos a
tratar desses temas, explicitando em que consiste e qual a finalidade da
prisão provisória em nosso ordenamento jurídico e quais as modalidades
admitidas em lei.
2. Prisão provisória.

2.1. Generalidades.
São provisórias a prisão em flagrante, a prisão preventiva, a prisão ad-
ministrativa, a prisão por pronúncia, a prisão resultante de sentença con-
denatória recorrível e a prisão temporária, esta última regulada pela Lei
7.960/89. Assim, como o próprio nome sugere, a prisão provisória não
decorre de condenação com trânsito em julgado, diante do que não pode
ser definitiva, tendo em vista a presunção de inocência e o devido pro-
cesso legal que presidem a apuração e o julgamento do acusado. Muitas
vezes, só ao final do julgamento, na instância superior, consegue-se provar
a inocência daquele que foi acusado indevidamente ou por equívoco. Se
esse inocente tivesse de pagar pelo erro que lhe foi imputado, antes mes-
mo de concluído o julgamento, estaríamos diante de uma irreparável in-
justiça. Por isso, a prisão anterior à condenação é excepcional e provisória.
A Constituição Federal admite também outras prisões, como a
disciplinar, no caso de transgressão militar ou crime propriamente militar
(art. 5º, LXI, da CF), a prisão durante o estado de defesa (136, § 3º, I,
CF) e do estado de sítio (art. 139, II, da CF).
A prisão e o local onde o preso se encontra devem ser comunica-
dos imediatamente juiz e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

Tema Livre 81
No momento em que efetuada a prisão, o preso será informado de seus
direitos, especialmente o de permanecer calado, assegurando-se-lhe a as-
sistência da família, do advogado e a identificação dos responsáveis por
sua prisão. A prisão só poderá ser efetuada em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
A ordem deverá lavrada pelo escrivão e assinada pelo juiz, contendo a
qualificação completa da pessoa a ser presa, a infração penal e os motivos
da prisão, o valor da fiança, quando afiançável a infração, e será dirigida
a quem tiver o dever de cumpri-la. Será elaborado em duplicata e o preso
passará recibo em uma das vias. Quando o réu se encontrar fora da co-
marca, a prisão será efetuada por meio de carta precatória, de acordo com
os procedimentos previstos na legislação processual.
Se o executor do mandado de prisão souber que o réu está em determina-
da casa, intimará o morador a entregá-lo, apresentando o mandado. Haven-
do resistência, convocará duas testemunhas entrará à força na casa, se for de
dia. Se for noite, compreendido o período entre 6h e 18 h, guardará todas as
saídas e entrará à força na casa logo que amanheça. Este procedimento obede-
ce à inviolabilidade da casa estabelecida na Constituição Federal.
Para que o preso seja recolhido à prisão, deverá ser exibido o mandado
ou a guia de recolhimento ao diretor da cadeia ou ao carcereiro, que pas-
sará recibo dia entrega do preso, com declaração de dia e hora.
A cela especial poderá ser coletiva. A prisão especial, como é uma
prisão provisória, só vigora até a sentença condenatória definitiva. Se não
houver estabelecimento adequado, poderá ser concedido o regime de pri-
são provisória domiciliar, de onde o preso não poderá se afastar sem pré-
vio consentimento judicial, na forma da Lei nº 5.256/67.
2.2 Prisão em flagrante.
De acordo com o art. 283 do Código de Processo Penal, modificado
pela Lei nº 12.403, de 2011, ninguém pode ser preso a não ser em fla-
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada do juiz competente,
em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no
curso da investigação ou do processo, em virtude da decretação de prisão
temporária preventiva.
A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comu-
nicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada. Trata-se de uma garantia do
acusado, a fim de evitar arbitrariedades e abusos.
No flagrante próprio, o agente é pego cometendo o crime ou quando
acabou de praticá-lo. No flagrante impróprio, o agente é perseguido logo
após o ilícito, em situação que faça presumir ser ele o autor da infração.

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No flagrante presumido, o agente é encontrado logo depois do crime,
com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o
autor da infração. Na infração permanente, como no seqüestro, o agente
estará em flagrante delito, enquanto não cessar a permanência.
O Direito brasileiro não admite a prisão no caso de flagrante prepara-
do, na forma da Súmula 146 do STF, que dispõe: “Não há crime quando
a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.”
Admite-se, no entanto, a prisão no flagrante esperado, onde a polícia, sen-
do informada de que um delito será praticado, apenas aguarda e observa a
atuação do agente, esperando o momento certo para realizar a prisão.
2.2.1. Flagrante obrigatório e facultativo.
Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Esta
previsão legal concede a qualquer do povo o direito de emitir ordem de
prisão em flagrante a quem quer que esteja praticando crime. Certamen-
te, esta situação é de pouca utilidade prática, uma vez que o cidadão
comum, sem treinamento policial e desarmado não terá condições de en-
frentar um criminoso e ordenar-lhe a prisão. Podemos exemplificar com
os casos de assaltos presenciados por pessoas atônitas, indefesas, que pro-
curam imediatamente esconder-se e fugir daquele ambiente, sem pensar,
nem por um segundo, em reagir e dar ordem de prisão ao bandido.
Quanto às autoridades policiais, é diferente a solução dada pela nor-
ma jurídica, que as obriga a tomarem uma atitude diante da prática de
um delito. Ainda que fora do seu expediente normal de trabalho, o poli-
cial fica obrigado a agir a fim de impedir a ação criminosa, prendendo em
flagrante o agente do crime.
2.2.2. Auto de prisão em flagrante.
Preso o agente, deverá ele ser apresentado à autoridade policial, que
ouvirá o condutor e no mínimo duas testemunhas que o acompanham
e interrogará o acusado, lavrando-se o auto de prisão em flagrante, que
serão por todos assinados.
São necessárias, pelo menos, duas testemunhas Mas o condutor pode
ser considerado como testemunha para completar o número mínimo.
Não havendo testemunhas, com o condutor deverão assinar o aturo de
prisão pelo menos duas pessoas que tenham testemunhado a apresentação
do preso à autoridade, conhecidas como testemunhas de apresentação.
Não há nulidade na falta de comunicação à família, se o preso não indica
a pessoa a ser comunicada.

Tema Livre 83
A autoridade policial arbitrará a fiança, quando cabível. A nota de
culpa será dada ao preso, assinada pela autoridade policial, no prazo de
24 horas depois da prisão, com o motivo desta, o nome do condutor e o
das testemunhas, da qual passará recibo o preso.
2.3. Prisão preventiva.
Trata-se de prisão provisória decretada pelo juiz em qualquer fase do
inquérito ou da instrução criminal, para garantir a ordem jurídica e so-
cial. Exige-se a demonstração do fumus boni juiris e do periculum in
mora, e devem ser preenchidas as condições de admissibilidade. Aqui se
insere a hipótese do pedido de prisão de Dantas, que comentaremos ao
longo desta explanação.
A prisão preventiva é cabível em qualquer fase da investigação policial
ou do processo penal e será decretada pelo juiz, de ofício, no curso da
ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou
do assistente, ou por representação da autoridade policial.
A decretação da prisão preventiva será admitida nos seguintes casos:
• nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade má-
xima superior a 4 (quatro) anos;
• se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transi-
tada em julgado, salvo se entre a data do cumprimento ou extinção
da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo
superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da sus-
pensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
• se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mu-
lher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiên-
cia, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
• quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quan-
do esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, de-
vendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção
da medida.
O art. 314 do CPP, modificado pela Lei nº 12.403, de 2011, a prisão
preventiva não poderá ser decretada, se o juiz verificar pelas provas cons-
tantes dos autos ter o agente praticado o fato em estado de necessidade,
em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercí-
cio regular de direito.

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A prisão preventiva poderá ser revogada pelo juiz, se, no curso do
processo, ocorrer falta de motivo para sua subsistência, bem como pode
novamente ser decretada, se sobrevierem razões que a justifiquem.
2.3.1. Pressupostos.
Exige a lei prova da existência do crime e indícios suficientes de que o
acusado seja o autor. Quando o crime deixa vestígios, é condição essencial
para a prisão preventiva o exame de corpo de delito ou, na impossibilida-
de, de prova testemunhal que o supra (arts. 158 e 167 do CPP).
2.3.2. Fundamentos.
A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal,
para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria e também no caso de descumpri-
mento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares.
Para a imposição da prisão preventiva, como garantia da ordem públi-
ca, deve-se considerar a gravidade do crime, sua repercussão social, os an-
tecedentes e a personalidade do agente. Os bons antecedentes, a profissão
definida e a residência fixa não bastam para afastar a prisão preventiva, se
demonstrado o perigo para a ordem pública.
Cabe prisão preventiva para garantir a instrução criminal, como no
caso de acusado que ameaça testemunhas ou vítimas, ou tenta subornar
servidores da Justiça. Neste caso, finda a fase de instrução, será revogada
a prisão preventiva.
Havendo comprovação de que o acusado pretende fugir para evitar a
aplicação da pena, vendendo bens de raiz e contratando passagem para o
exterior, entre outras condutas, admite-se a prisão preventiva para assegu-
rar a aplicação da lei penal.
No caso Daniel Dantas, a formulação do pedido de prisão preventiva
tinha por base a conveniência da instrução criminal e a garantia da apli-
cação da lei penal, como se pode ler no trecho abaixo, extraído da Medida
Cautelar em Habeas Corpus n.º 95.009-0, São Paulo, impetrada perante
o Supremo Tribunal Federal:
“Fundamenta a ordem de prisão preventiva de Daniel
Valente Dantas como medida de conveniência da instrução
criminal, “...porquanto tudo fará para continuar obstando re-
gular e legítima atuação estatal visando impedir a apuração
dos fatos criminosos”. De outro lado, o Juiz Federal da 6ª

Tema Livre 85
Vara Criminal de São Paulo indica que a constrição preventiva
de liberdade “...está justificada para conveniência da instru-
ção penal e para assegurar a eventual aplicação da lei criminal
dada a flagrante e acintosa cooptação de terceiros para a prá-
tica delitiva, desafiando, desse modo, o poder de controle e
repressão das autoridades, revelando a finalidade primeira e
última de se sua atuação espúria, com potencialidade lesiva,
habitualidade atual e prospectiva de sua conduta, caso perma-
neça em liberdade.” Também, reitera referência ao fato de que
Daniel Valente Dantas adota postura discreta, sendo cauteloso
em ligações telefônicas e troca de e-mails, com isso buscando
frustrar a persecução penal, concluindo que, “...solto, possivel-
mente continuaria a empreender a prática das atividades deli-
tivas, colocando em sério risco a ordem econômica, a ordem
pública, justificando, assim, a medida.”. Finaliza aduzindo não
ser “...possível olvidar que o requerido detém significativo po-
der econômico e possui contatos com o exterior, ampliando a
possibilidade de evasão do território nacional, bem ainda por-
que poderia ocultar vestígios criminosos que ainda se esperam
poder apurar, autorizando, desta feita, a decretação de Prisão
Preventiva também para garantir a eventual aplicação de lei
penal. Ficou claro que coragem e condições para tumultuar a
persecução penal não faltam ao representado”.
Os fundamentos para a decretação da prisão preventiva não podem
ser meras alegações, mas necessitam ser cabalmente demonstradas, com-
petindo ao magistrado examinar a concretude das hipóteses alegadas.
Neste, caso, avaliando as alegações contidas no pedido e na decisão do
juiz de primeiro grau bem como as evidências e as provas efetivamen-
te trazidas aos autos, o Ministro Gilmar Mendes convenceu-se de que
não havia demonstração cabal e inconteste das razões apresentadas para
fundamentar a prisão preventiva, solução essa perfeitamente consentânea
com a lei.
Isto decorre do fato de que a privação da liberdade antes da condena-
ção é uma media excepcional, que só deve ser aplicada em ultima ratio,
quando não houver possibilidade legal e factual de se manter o acusado
em liberdade, sob pena de se comprometer a prestação jurisdicional.
Entendendo o magistrado que não ocorre comprometimento efetivo
e demonstrado da garantia da ordem pública, da ordem econômica, da
instrução criminal ou da aplicação da lei penal, correto será o deferimen-
to de habeas corpus ou o indeferimento do pedido de prisão preventiva,

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a fim de se dar efetividade ao princípio constitucional da presunção de
inocência.
A Lei nº 12.403, de 2011, modificando o Código de Processo Penal,
estabeleceu que, “no caso de descumprimento de qualquer das obriga-
ções impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério
Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida,
impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão pre-
ventiva” (§ 4o do art. 282, do CPP). Desse modo, o descumprimento
de medida cautelar imposta ao réu poderá resultar em prisão preventiva.
A prisão preventiva, entretanto, só será determinada quando não for
cabível a sua substituição por outra medida cautelar. Essa regra segue o
princípio constitucional de presunção de inocência, utilizando-se a priva-
ção de liberdade antes da condenação transitada em julgado como medi-
da excepcional e essencial à garantia do processo.
3. Condições de admissibilidade.
A prisão preventiva somente é admitida nos crimes dolosos punidos
com reclusão. Por exceção, admite-se a prisão preventiva nos crimes do-
losos punidos com detenção se o acusado for vadio ou, havendo dúvida
sobre sua identidade, ele não indicar os elementos necessários para escla-
recê-la, ou se ficar caracterizada a reincidência. Ocorrendo excludente de
antijuridicidade, como legítima defesa, por exemplo, não será decretada
a prisão preventiva.
A prisão preventiva é decretada pelo juiz de ofício, a requerimento do
Ministério Público, do querelante, ou mediante representação da autori-
dade policial. Verificada a inexistência de motivo, a prisão preventiva será
revogada, podendo ser novamente decretada se sobrevierem razões que a
justifiquem. Cabe habeas corpus contra a decretação de prisão preventiva.
Da decisão que indeferir prisão preventiva ou revogá-la cabe recurso em
sentido estrito. No caso de revogação, poderá ser impetrado mandado de
segurança para emprestar efeito suspensivo ao recurso.
A jurisprudência fixou o prazo de 81 dias para o encerramento da ins-
trução criminal. Decorrido esse prazo, sem o encerramento da instrução,
a prisão preventiva deve ser revogada, por se constituir em constrangi-
mento ilegal.
Finalmente, ressalte-se que o art. 318 do CPP, com a nova redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011, estabelece que o juiz poderá substituir
a prisão preventiva pela domiciliar, nas seguinte hipóteses:
• maior de 80 (oitenta) anos;

Tema Livre 87
• extremamente debilitado por motivo de doença grave;
• imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de seis
anos de idade ou com deficiência;
• gestante a partir do sétimo mês de gravidez ou sendo esta de alto
risco.
Nesses casos, por uma questão de política criminal, diante dos aspec-
tos sociais que exigem um tratamento diferenciado, o legislador houve
por bem estabelecer medidas cautelares menos gravosas ao réu.
2.4. Prisão administrativa.
O art. 5º, LXI, da CF dispõe que a prisão administrativa somen-
te pode ser determinada pelo juiz competente. A prisão administrativa
encontrava-se prevista nos arts. 319 e 320 do CPP, aplicada contra os
remissos ou omissos em entrar para os cofres públicos com dinheiro a seu
cargo, para compeli-los a que o façam, foi explicitamente revogada pela
Lei nº 12.403, de 2011. Esses artigos receberam nova redação, na qual
não se inclui mais a prisão administrativa.
2.5. Prisão temporária.
O art. 1º da Lei n.º 7.960/89 dispõe que caberá prisão temporária:
I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
III – quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III – quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
legalmente admitida, de autoria ou participação do indiciado em
homicídio doloso, sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão,
extorsão mediante seqüestro, estupro, atentado violento ao pudor,
rapto violento, epidemia com resultado morte, envenenamento
de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualifica-
do pela morte, quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas
(art. 12 da Lei nº 6.368/76) e crimes contra o Sistema Financeiro.
Por força do que dispõe a Lei n.º 8.072, de 1990, caberá também
prisão provisória nos crimes de tortura e terrorismo.
No caso de representação da autoridade policial, o juiz, antes de de-
cidir, ouvirá o Ministério Público. O despacho será proferido em 24 ho-
ras, a partir do recebimento da representação ou do requerimento. O
prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorrogável por uma única

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vez, por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade.
Na hipótese de crime hediondo, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, tortura e terrorismo, o prazo será de 30 dias, prorrogável por igual
período em caso de extrema e comprovada necessidade, na forma do que
estabelece o 2º, § 3º, da Lei n.º 8.072, de 1990.
2.6. Prisão por pronúncia.
A prisão por pronúncia resulta de uma sentença de pronúncia, nos
casos de competência do tribunal do júri para os crimes dolosos contra a
vida, tentados ou consumados.
Na forma do que dispõe o art. 413 do CPP, o juiz, fundamentada-
mente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e
da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
Por outro lado, dispõe o art. 414 do mesmo diploma legal que não
se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente,
impronunciará o acusado.
Além disso, o juiz absolverá, desde logo, o acusado, quando provada a
inexistência do fato, provado não ser ele autor ou partícipe do fato, o fato
não constituir infração penal e quando demonstrada causa de isenção de
pena ou de exclusão do crime.
2.7. Prisão decorrente de sentença penal condenatória recorrível.
Pode também a prisão resultar de sentença penal condenatória recor-
rível, ou seja, a que ainda não transitou em julgado, e que julgou o réu
culpado, com a resultante imputação de pena privativa de liberdade. Este
também constitui um tipo de prisão provisória, pois decisão proferida
em instância superior poderá reformar a sentença condenatória anterior,
anulando a imposição de pena privativa de liberdade.
O art. 393 do Código de Processo Penal estabelecia, como efeitos
da sentença condenatória recorrível, ser o réu preso ou conservado na
prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto
não prestasse fiança. Esse artigo foi revogado pela Lei nº 12.403, de 2011.
O art. 594 do Código de Processo Penal dispunha que “o réu não po-
derá apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primá-
rio e de bons antecedentes, assim, reconhecido na sentença condenatória,
ou condenado por crime de que se livre solto”. Todavia, esse artigo foi
revogado pela Lei n.º 11.719, de 20 de junho de 2008. Essa modificação
coaduna-se dom o entendimento do Pretório Excelso, em cuja Súmula
393 se lê: “Para requerer revisão criminal, o condenado não é obrigado a
recolher-se à prisão.” Nessa mesma linha, a Súmula n.º 347 do colendo

Tema Livre 89
STJ, segundo a qual “o conhecimento de recurso de apelação do réu in-
depende de sua prisão”.
Se a sentença for absolutória e o réu estiver preso, o recurso apresen-
tado pela acusação não impedirá que ele seja imediatamente posto em
liberdade, conforme a dicção do art. 595 do Código de Processo Penal.
3. Conclusão.
De todo o exposto, verificamos que a prisão provisória cumpre um
papel acautelador do julgamento e da aplicação da pena. O seu objetivo
não é aplicar uma punição imediata ao acusado, a fim de que este já co-
mece a pagar pelo crime que lhe imputado, ainda que não tenha sido jul-
gado e condenado. Essa não é a finalidade da lei, quando institui a prisão
provisória. O objetivo desse instituto é tão-somente resguardar a efetiva
aplicação da lei penal, evitando a impunidade que poderia decorrer, por
exemplo, da fuga do réu, da destruição de provas, da intimidação de tes-
temunhas, fatos estes que comprometeriam a eficácia do julgamento ou
da aplicação da pena.
Não se pode utilizar a prisão provisória também como instrumento
aplacador da fúria e da revolta da população, sobretudo diante de crimes
que causa grande comoção popular. Isto até para evitar o cometimento
de injustiças contra inocentes. Em muitas ocasiões, no curso do processo
ou ao seu final, restou comprovado que o criminoso era outro que não o
acusado inicialmente. Por essa razão, a prisão provisória deve ser aplicada
com prudência e cautela, diante do princípio da presunção de inocência.
Não havendo perigo para o regular desenvolvimento do processo,
deve-se esperar a prolação da sentença penal condenatória transitada em
julgado, para que a pena seja devidamente executada.
Até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, presume-se
a inocência do acusado, como princípio basilar do Estado Democrático
de Direito, tendência do Direito moderno, em substituição ao ultrapas-
sado Estado policialesco.

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