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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Aplicação Da Lei Penal

O presente texto é resultante do estudo da obra de Damásio de Jesus e refletirá as principais


opinioes do autor paulista.

Seguindo a linha anterior de pesquisa e produção científica, serão trazidos para o artigo os principais
momentos da obra.

Da Aplicação Da Lei Penal.

Inicialmente, explica o autor que alei é a única fonte imediata de conhecimento do direito penal.

Da Norma Penal.

Norma é toda categoria de princípio legal e as normas penais estariam contidas na lei penal.

A norma penal pode ser considerada nos aspectos amplo e restrito - lato sensu e stricto sensu.

A norma penal lato sensu define um fato punível e impõe, abstratamente, uma sanção. Também
ampliaria o sistema penal através dos princípios gerais e das disposições sobre os limites e
ampliação das normas incriminadoras.

A norma penal stricto sensu descreve uma conduta ilícita e impõe uma sanção para o sujeito que
praticar a conduta proibida.

A sanção e o comportamento humano ilícito são descritos na lei penal, de acordo com o princípio da
reserva legal.

Para que haja crime é necessário uma lei anterior que o defina. Quando o fato se adequa ao conceito
ou modelo legal de crime o Estado adquire o direito concreto de punir. O criminoso não trasngride a
lei, mas sim o preceito proibitivo, a norma.

Preceito E Sanção.

Nas normas penais incriminadoras existem o preceito e a sanção.

Preceito primário é a conduta humana ilícita. O preceito secundário é a sanção imposta ao agente da
conduta punível.

Fato Punível.

Fato punível pode ser considerado a infração à lei do Estado.

Conteúdo Da Lei Penal.

A norma penal é o conteúdo da lei penal.

Classificação Das Normas Penais.

Para Damásio de Jesus, as normas penais podem ser classificadas em normas penais
incriminadoras, normas penais permissivas e normas penais finais, complementares ou explicativas.

As normas penais permissivas e as finais são chamadas de normas penais não incrimadoras.

Desta forma, as normas penais seriam incriminadoras ou não incriminadoras (permissivas e finais).

As normas penais permissivas determinam a licitude ou a impunidade de certas condutas, embora


sejam condutas típicas. Exemplos seriam os de erro sobre elementos do tipo, erro sobre a ilicitude do

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

fato, coação irresistível e obediência hierárquica, exclusão de ilicitude, excesso punível, estado de
necessidade, legítima defesa, inimputabilidade, redução de pena, menoridade, emoção e paixão,
aborto necessário e no caso de gravidez resultante de estupro, injúria quando o ofendido, de forma
reprovável, provocou diretamente a injúria ou no caso de retorsão imediata, que consista em outra
injúria. Exclusão do crime de injúria, nas hipóteses do Código Penal da ofensa irrogada em juízo, na
discussão da causa, pela parte ou por seu procurador, na opinião desfavorável da crítica literária,
artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar e o conceito
desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.

As normas penais complementares ou explicativas esclarecem o conteúdo ou delimitam o âmbito de


aplicação de outras normas penais.

Normas penais gerais ou locais dependem da extensão espacial de sua aplicação.

Normas penais comuns ou especiais são aquelas divididas pelo próprio direito penal comum ou
especial.

Normas penais completas definem os crimes em todos os seus elementos.

Normas penais incompletas ou em branco são as de definição legal incompleta.

Características Das Normas Penais.

Exclusividade - A norma penal é exclusiva porque somente ela define infrações e impõe penas.

Imperatividade - Em relação à imperatividade, a norma penal é autoritária por sujeitar quem


descumprir o seu mandamento. Ela separa e define o lícito do ilícito penal. Quem incorrer no ilícito
penal receberá as consequências jurídico-criminais conhecidas como penas.

Todos devem obedecer as leis penais. Todas as leis e as normas penais são imperativas.

A prática do fato típico faz surgir a relação jurídica punitiva que significa o aparecimento do direito
concreto de punir do Estado e a obrigação do indivíduo de não obstar a aplicação da pena. Nos
casos de normas penais permissivas como o caso da legítima defesa, acontece inversão nos polos
da relação jurídica entre o sujeito e o Estado, cabendo a este último reconhecer os efeitos da
excludente da antijuridicidade.

Generalidade - A norma penal tem eficácia erga omnes, ou seja, para todas as pessoas.

Explica Damásio que mesmo os considerados inimputáveis devem obedecer ao mandado proibitivo
da norma penal incriminadora.

Abstração e Impessoalidade - A norma penal dirige-se a fatos futuros, vez que não existe crime sem
lei anterior que o defina como tal.

A norma penal não é feita para indivíduos determinados.

Da Norma Penal Em Branco.

Lei em branco seria a que contém uma sanção determinada , mas não o preceito a que se ligaria a
primeira. Este seria formulado apenas como uma proibição genérica e deveria ser completado por
outra lei.

Nas normas penais em branco a sanção é determinada mas o seu conteúdo é indeterminado.

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

A norma penal em branco para ser executada depende do complemento de outra norma jurídica. A
sanção será imposta ao transgressor de uma norma legal ou administrativa a ser criada no futuro.

Damásio de Jesus aponta que as normas penais em branco stricto sensu são aquelas as quais seu
complemento está contido em norma originária de outra instância legislativa ou produtora. As fontes
formais seriam heterogêneas e haveria diferenças em relação ao órgão de elaboração legislativa.

Ocorre que muitas vezes o complemento normativo da norma penal em branco precederia a mesma,
como no exemplo do crime de emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant", do artigo
178 do Código Penal. Em outros casos, nascerá depois a norma, como nos casos de transgressão
dos antigos tabelamentos de preços.

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A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

A Lei Penal no Tempo e no Espaço

Da Aplicação Da Lei Penal – Vigência no Tempo e no Espaço

Anterioridade da Lei – Artigo 1º, do CP

Artigo 1º: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Há nesse artigo, há quatro princípios a serem analisados:
a) Princípio da legalidade: Não há crime nem pena sem lei anterior que defina: “nullun crimen, nulla
poena sine lege”.

Tem sua origem consolidada na Magna Carta de João Sem Terra, na qual o artigo 39 transcrevia que
nenhum homem poderia ser punido senão pela lei da terra. No século XVIII, o artigo 8º da
“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, de 26/08/1789, define que ninguém poderia ser
punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente no direito e legalmente
aplicada.

No Brasil, o princípio da legalidade está previsto desde 1824 e é o eixo de todo o sistema penal.
Possui conotação política, pois garante a certeza jurídica do estado democrático de direito e a
segurança política do cidadão.

Extrai-se do principio da legalidade outros princípios, quais sejam:

a.1) Princípio da Intervenção Mínima – O Direito Penal regula aquilo que o Estado considera
extremamente danoso à sociedade;

a.2) Princípio da Proporcionalidade – A ação do Estado deve ser proporcional à conduta do


criminoso;

a.3) Princípio da Humanidade – O sistema normativa penal possui finalidade de socialização;

a.4) Princípio da Culpabilidade – Não há crime se inexistentes a “culpa” ou “dolo”, impedindo,


assim, a responsabilidade objetiva. É preciso, no mínimo, que o agente tenha agido sem o devido
dever de cuidado ou com vontade e consciência.

a.5) Princípio da Taxatividade – A lei penal deve ser taxativa, isto é, precisa e completa, delimitando
expressamente a conduta incriminadora;

b) Princípio da reserva legal: Decorre do princípio da legalidade, porém deve ser interpretado em
sentido estrito. Significa delimitar um conjunto de matéria. Assim, a lei penal sob a égide do princípio
da reserva legal é aquela que segue com rigor o processo legislativo acolhido pela Constituição
Federal.

O princípio da reserva legal não estava presente no sistema legal de 1935 vigente na Alemanha, em
razão do Nazismo, pois aí a punição de qualquer fato estava condicionada somente aos sentimentos
do povo.

c) Princípio da Anterioridade: A lei deve ser anterior, deve estar em vigor na data em que o fato é
praticado.

d) Princípio da Irretroatividade: Decorre do princípio da anterioridade da lei penal, pela qual a lei
penal é editada para o futuro e não para o passado.

A Lei Penal No Tempo – Artigo 2º, CP

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A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

Artigo 2º: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Sabemos que, em regra, aplica-se a lei penal a fatos ocorridos durante sua vigência, porém, por
vezes, verificamos a “extratividade” da lei penal. A extratividade da lei penal se manifesta de duas
maneiras, ou pela ultratividade da lei ou retroatividade da lei.

Assim, considerando que a extra-atividade da lei penal é o seu poder de regular situações fora de seu
período de vigência, podendo ocorrer seja em relação a situações passadas, seja em relação a
situações futuras.

Quando a lei regula situações passadas, fatos anteriores a sua vigência, ocorre a
denominada retroatividade. Já, se sua aplicação se der para fatos após a cessação de sua vigência,
será chamada ultratividade.

Em se tratando de extra-atividade da lei penal, observa-se a ocorrência das seguintes situações:

a) “Abolitio criminis” – trata-se da supressão da figura criminosa;


b) “Novatio legis in melius” ou “lex mitior” – é a lei penal mais benigna;

Tanto a “abolitio criminis” como a “novatio legis in melius”, aplica-se o principio da retroatividade da
Lei penal mais benéfica.

A Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006 descriminalizou os artigos 217 e 240, do Código Penal,
respectivamente, os crimes de “sedução” e “adultério”, de modo que o sujeito que praticou uma
destas condutas em fevereiro de 2006, por exemplo, não será responsabilizado na esfera penal.
Segundo a maior parte da doutrina, a Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006, não descriminalizou o
crime de rapto, previsto anteriormente no artigo 219 e seguintes do Código Penal, mas somente
deslocou sua tipicidade para o artigo 148 e seguintes (“sequestro” e “cárcere privado”), houve, assim,
uma continuidade normativa atípica.

A “abolitio criminis” faz cessar a execução da pena e todos os efeitos penais da sentença.
A Lei 9.099/99 trouxe novas formas de substituição de penas e, por consequência, considerando que
se trata de “novatio legis in melius” ocorreu retroatividade de sua vigência a fatos anteriores a sua
publicação.

c) “Novatio legis in pejus” – é a lei posterior que agrava a situação;

d) “Novatio legis incriminadora” – é a lei posterior que cria um tipo incriminador, tornando típica a
conduta antes considerada irrelevante pela lei penal.

Para melhor exemplificar, considere que o sujeito pratica fato criminoso cuja prescrição equivale a “x”.
Contudo, lei posterior aumenta o prazo prescricional para “2x”.

A lei posterior não retroage para atingir os fatos praticados na vigência da lei mais benéfica
(“Irretroatividade da lei penal”). Contudo, haverá extratividade da lei mais benéfica, pois será válida
mesmo após a cessação da vigência (Ultratividade da Lei Penal).

Ressalta-se, por fim, que aos crimes permanentes e continuados, aplica-se a lei nova ainda que mais
grave, nos termos da Súmula 711 do STF.

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A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

Lei Excepcional Ou Temporária (Leis Intermitentes) – Art. 3º, Do CP

Artigo 3º: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.
Lei temporária é a que caracteriza viger durante determinado período de tempo previamente
estabelecido pelo legislador na própria lei. Lei excepcional é a promulgada para viger enquanto
persistir determinada situação anormal. Por exemplo: epidemias e guerras. Atende às transitórias
necessidades estatais.

Ambas possuem duas características: são ultra-ativas (produzem efeitos mesmo depois de
revogadas) e são auto revogáveis.

Do Tempo Do Crime – Artigo 4º, Do Código Penal

A respeito do tempo do crime, existem três teorias:


a) Teoria da Atividade – O tempo do crime consiste no momento em que ocorre a conduta criminosa;
b) Teoria do Resultado – O tempo do crime consiste no momento do resultado advindo da conduta
criminosa;
c) Teoria da Ubiquidade ou Mista – O tempo do crime consiste no momento tanto da conduta como
do resultado que adveio da conduta criminosa.

O Artigo 4º do Código Penal dispõe que:

Artigo 4º: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado (Tempus regit actum). Assim, aplica-se a teoria da atividade, nos termos do
sistema jurídico instituído pelo Código Penal.

O Código Penal vigente seguiu os moldes do Código Penal português em que também é adotada a
Teoria da Atividade para o tempo do crime. Em decorrência disso, aquele que praticou o crime no
momento da vigência da lei anterior terá direito a aplicação da lei mais benéfica. O menor de 18 anos,
por exemplo, não será considerado imputável mesmo que a consumação ocorrer quando tiver
completado idade equivalente a maioridade penal. E, também, o deficiente mental será imputável, se
na época da ação era consciente, tendo sofrido moléstia mental tão somente na época do resultado.
Novamente, observa-se a respeito dos crimes permanentes, tal como o sequestro, nos quais a ação
se prolonga no tempo, de modo que em se tratando de “novatio legis in pejus”, nos termos da Súmula
711 do STF, a lei mais grave será aplicada.

Aplicação da Lei penal – Princípio da Territorialidade

Territorialidade – Artigo 5º, CP

Artigo 5º: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido em território nacional.

Parágrafo 1º: Para efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional, as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde
quer que se encontrem, bem como as aeronaves e embarcações brasileiras de natureza mercante ou
de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto
mar.

Parágrafo 2º: É também aplicável a lei penal brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquela em pouso no território
nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
Segundo o Princípio da Territorialidade, vigora a aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos

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A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

dentro do território nacional.

Como resultado do princípio temos que ninguém, nacional ou estrangeiro, apátrida, residente ou em
trânsito, poderá subtrair-se à lei brasileira por fatos criminosos aqui praticados.

Ressalva-se, porém, o disposto nos tratados e convenções internacionais, tais como a Convenção de
Viena, que estabelece algumas situações em que o agente criminoso será julgado pelo país de
origem.

Outrossim, o artigo 5º, do Código Penal define território para fins do sistema normativo penal. Desse
modo, depreende-se de sua própria redação que nosso sistema adotou a chamada “Territorialidade
Temperada”. Como se não bastasse excetuar os tratados e convenções internacionais para fins de
aplicação da lei penal, mesmo se praticados em território nacional, o Código Penal estabelece
situações em que, mesmo que o crime não seja praticado em solo nacional, mas em embarcações ou
aeronaves, haverá aplicação da lei penal brasileira. Para melhor compreender a estrutura do artigo 5º
do Código Penal, convém definir o que é considerado território para fins de aplicação da norma
jurídica.

O Território pode ser físico ou jurídico. O território físico compreende o solo, o subsolo, o mar
territorial e o espaço aéreo correspondente. O território jurídico (também conhecidos como “Territórios
Flutuantes”) compreende os navios e aeronaves públicos ou a serviço do governo, onde quer que se
encontrem, e também os navios e aeronaves privadas em alto mar ou espaço aéreo correspondente
(lei da bandeira – lei de onde a embarcação ou aeronave estiver matriculada).

Dessa forma, nos termos do artigo 5º do Código Penal, aplica-se a lei penal brasileira tanto ao
Território Físico bem como ao Território Jurídico, de sorte que foi adotada a Teoria da Territorialidade
Temperada para regular a aplicação da lei penal no espaço. Por fim, realiza-se um questionamento: e
quanto as embaixadas? Não estão no rol dos Territórios Flutuantes ou Jurídicos? Não restam dúvidas
que a pergunta apresentada é fruto de informação apresentada em filmes internacionais, em que
muitas vezes o criminoso procurado busca a embaixada de seu país, para impossibilitar a aplicação
da lei do país onde, em tese, teria cometido o crime.

Lugar Do Crime

Em perguntas de concurso, e provas da faculdade de Direito, é comum o estudante se deparar com o


seguinte questionamento: onde se considera realizado o crime?

O mais interessante desta pergunta é que, como algumas outras perguntas do Direito, ela confunde:
normalmente, no senso comum, para o leigo, não se tem nenhuma dúvida de onde foi realizado um
crime - posta desta forma, a pergunta se assemelha a um contra-senso. Ora, se há por exemplo um
homem caído, estendido ao chão, já falecido, atingido por uma bala, é lógico, diz o senso comum que
onde ele está foi realizado o crime. Se uma loja foi furtada, o local do crime é o próprio
estabelecimento comercial. Enquanto que há verdade nestas afirmações, ainda assim, para o Direito,
o questionamento tem valor, pois que há uma série de conceitos a serem definidos pela lei, tais como
o de competência, de momento do crime, que estendem e até tornam obsoletos os conceitos do
senso comum. Por exemplo, se o homem do primeiro exemplo sofreu o tiro de revólver, e, só depois
de andar e cair, longe do local onde levou o tiro, em outra cidade (comarca), isso em tese poderia
modificar o local do crime - que passaria a ser a outra cidade, onde o crime se consumou, no caso
onde o homem veio efetivamente a falecer.

Ou seria o crime considerado no primeiro local, onde o tiro veio a ser disparado? Desta feita, como,
no estudo acadêmico do caso, é necessário que saibamos efetivamente o local do crime, então
mister se faz compreender a sistemática com o que a Penalística nos brinda.

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A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

É bem simples, na realidade. O lugar do crime é definido pela teoria da ubiquidade. Ou seja, no
primeiro caso, do homicídio, em qualquer local dos acima citados, tanto onde foi disparado o projétil,
como onde o indivíduo veio a falecer, ambos são considerados locais do crime.

Então, para não errar mais, é só entender que o crime contamina tudo por onde passou. Logicamente
que esta é apenas uma forma de compreender, mas funciona - o indivíduo que cometeu o crime de
homicídio atira em uma pessoa e a partir dali, esta sai "carregando" o "vírus" do crime. Onde ele vier
a falecer, há um linha causal, entre o ato inicial e a consumação. Ambos são considerados, para o
Código Penal, locais do crime, ou não terminologia do Código, lugar(es) do crime.

Art. 6º. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação e a omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu o deveria produzir-se o resultado.

Tempo Do Crime

Uma outra coisa que confunde o estudante, ainda mais quando se coloca na mistura de conceitos o
de lugar do crime, é o de tempo do crime. Tempo do crime é, em suma, QUANDO o crime foi
realizado, ao invés de ONDE (o qual destrinchamos anteriormente).

Ao contrário deste problema, que se resolve pela teoria da onipresença ou ubiquidade, o tempo do
crime não se considera de forma uníssona: ou seja, o que ocorreu em um determinado ponto
temporal não está se estendendo no presente (com exceções). Isso é assim também pela própria
definição dos termos: lembremos que o tempo se divide em passado, presente e futuro, logo algo que
ocorreu no passado fica lá, e não se protrai nos momentos seguintes (com exceções, em diferentes
tipos de crimes, mas isso é assunto para outro debate). Logo, a teoria que se usa aqui não é a da
ubiquidade, e sim a da atividade.

Como assim? Ora, quando o crime se realizou, é lá que está o mesmo, contido naquele espaço de
tempo, e não fora dele. Naquele momento é onde está o crime, sendo então o tempo do crime.

O Código Penal nos diz exatamente isso:

Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.

Então vamos lá, "considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão" - isso quer
dizer que o crime se realiza no ponto determinado onde houve a ação OU a omissão. A ação, por
exemplo de apertar o gatilho de um revólver. E a omissão, no caso de alguém ver uma pessoa na rua
precisando de socorro, e se evadir, omitindo o socorro. Neste ponto, da opressão do gatilho, e da
evasão, se dá o crime, temporalmente. Note que ele deixa claro que "ainda que outro seja o momento
do resultado" - ou seja, mesmo que o indivíduo venha a falecer por conta do tiro em outro local, ou
seja, em outro momento, logicamente, pois ninguém se teletransporta automaticamente de um local
para outro. No caso, o momento do falecimento, em outro local, ou seja, da consumação do crime de
homicídio será diverso, e irrelevante para fins do conceito tempo do crime. Então analisemos o
seguinte caso, com estas informações:

X atira em Y, no dia 1 de Dezembro, às 14:00 horas, na cidade de Murta Falha. X foge na hora, com
medo de ser visto. Y, em viagem pelo interior de férias, ferido e sem saber onde estava, acaba
andando e chega próximo do hospital em outra cidade, Linda Florinda. Ao chegar na cidade, ele
falece, no piso de entrada do hospital, ao que é socorrido, às 17:00 horas do mesmo dia.

Qual é o local do crime? Simples, aplicando a teoria da ubiquidade. Tanto o local onde X atirou nele,
como o local onde ele veio a falecer são considerados lugar(es) do crime.
Qual é o tempo do crime? O tempo foi o momento que se aplicou o tiro, às 14:00 horas do dia 1 de

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A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

Dezembro, e nem um minuto ou a menos sequer, pois este foi o momento da ação que originou o
resultado morte.

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LOCAIS DE CRIME

Locais de Crime

De uma forma genérica, o local de crime pode ser definido como sendo uma área física onde ocorreu
um fato esclarecido, ou não, até então – que apresente características e/ou configurações de um delito.

O professor Eraldo Rabello define local do crime como sendo

[…] a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o
fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumivel-
mente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou poste-
riores, à consumação do delito, e com este, diretamente relacionados. (RABELLO, 1996, p. 17)

Ou seja, se trata de um espaço territorial, imediato ou mediato, de interesse público, onde tenha sido
praticado um fato que configure uma infração penal exigindo, dessa forma, as providências legais por
parte da Polícia. É primordial a correta preservação desse local, pois dela depende a exatidão dos
exames periciais que se sucederem. Tal é a importância desse tema que o legislador tratou do assunto
nos artigos

6º – Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até
a chegada dos peritos criminais;

II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;

III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providen-
ciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão
instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no
relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos. (Código de Processo Penal,
1941)

Entretanto, mesmo com a orientação doutrinária e a previsão legal, nem sempre o primeiro a chegar
no local do crime possui o conhecimento necessário a preservação do mesmo, mas caberá aos laudos
periciais o registro das alterações encontradas.

Classificação dos locais de crime

A doutrina voltada à criminalística é quase unânime em classificar os locais de crime, porém podemos
citar a classificação de Luiz Eduardo Carvalho Dorea, em sua obra Criminalística (2006), onde classifica
os locais de crime da seguinte forma:

Classificação quanto à localização

Internos ou Fechados: são caracterizados quando o fato ocorreu em um ambiente fechado, circunscrito
por paredes ou outras formas de fechamento como residências, fábricas, interiores de veículos, pré-
dios, dentre outros, que também divide em:

 Área Mediata Aberta: são consideradas as vias de acesso ao ambiente onde ocorrer o fato delituoso,
como corredores, os ambientes ao redor do cômodo, os jardins e demais área vizinhas;

 Área Imediata Interna: consiste no espaço físico onde ocorreu o fato delituoso, como um quarto ou
outro cômodo qualquer;

Classificação quanto à preservação

Preservados, Idôneos ou Não violados: são aqueles em que os locais de crime são mantidos nas con-
dições originais que foram deixados pelo seu autor envolvido, sem alteração do estado das coisas,
após a prática da infração penal, até a chegada dos peritos.

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LOCAIS DE CRIME

Não Preservados, Inidôneos ou Violados: são aqueles em que, após a prática de uma infração penal e
antes da chegada e assunção dos peritos no local, apresentam-se alterados, quer nas posições origi-
nais dos vestígios, quer na subtração ou acréscimos destes, modificado de qualquer forma o estado
das coisas.

Tipos de locais de crime

Local imediato: É aquele abrangido pelo corpo de delito e o seu entorno, local em que estão, também,
a maioria dos vestígios materiais.

 Em geral, todos os vestígios que servirão de base para os peritos esclarecerem os fatos concen-
tram-se no local imediato.

Local mediato: É a área adjacente ao local imediato.

 É toda a região espacialmente próxima ao local imediato e a ele geograficamente ligada, passível
de conter vestígios relacionados com a perícia em execução.

Local relacionado: É todo e qualquer lugar sem ligação geográfica direta com o local do crime e que
possa conter algum vestígio ou informação que propicie ser relacionado ou venha a auxiliar no contexto
do exame pericial.

Idoneidade do local do crime

Local de crime idôneo seria aquele que estaria completamente intocável, preservado os seus vestígios
e mantidas todas as condições deixadas pelos agentes do delito (vitima e agressor).

Corpo de delito

Décio de Moura Mallmith, perito criminal do Departamento de Criminalística Instituto-Geral de Perícias


– SSP, Porto Alegre/RS, define em seu artigo (colocar referência) que corpo de delito é o elemento
principal de um local de crime, em torno do qual gravitam os vestígios e para o qual convergem as
evidências, sendo o elemento desencadeador da perícia e o motivo e razão última de sua implementa-
ção.

No Código de Processo Penal, em decreto-lei publicado em 3 de outubro de 1941, a expressão referia-


se, com certeza, apenas ao ser humano. Todavia, do ponto de vista técnico pericial atual, entende-se
corpo de delito como qualquer ente material relacionado a um crime e no qual é possível efetuar um
exame pericial.

Evidências

Ainda segundo o perito, evidência, conforme dicionário, é a qualidade daquilo que é evidente, que é
incontestável, que todos veem ou podem ver e verificar. No âmbito da Criminalística, constitui uma
evidência o vestígio que, após analisado pelos peritos, se mostrar diretamente relacionado com o delito
investigado.

Conclui-se dessa forma que, por decorrerem dos vestígios, são elementos exclusivamente materiais e,
por conseguinte, de natureza objetiva.

Indícios

O Código de Processo Penal (1941), em seu artigo 239, define indício como a circunstância conhecida
e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou
outras circunstâncias.

Num primeiro momento, o termo definido pelo Art. 239 do CPP parece sinônimo do conceito de evidên-
cia, contudo a expressão “indício” foi definida para a fase processual, portanto para um momento pós-
perícia, o que quer dizer que a palavra “indício” carrega consigo, além dos elementos materiais de que
trata a perícia, outros de natureza subjetiva – próprios da esfera da polícia judiciária.

Vestígios

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LOCAIS DE CRIME

Ainda segundo Décio de Moura Mallmith, todos os vestígios encontrados em um local de crime, num
primeiro momento, são importantes e necessários para elucidar os fatos. Estes se constituem em qual-
quer marca, objeto ou sinal sensível que possa ter relação com o fato investigado.

A existência do vestígio pressupõe a existência de um agente provocador – ou seja, o que causou ou


contribuiu para tanto – e de um suporte adequado se tratando do local onde o vestígio materializou-se.
E o vestígio, em si, que se trata do produto da ação do agente provocador.

Segundo o Malmith, os vestígios classificam-se em verdadeiros, ilusórios e forjados.

 Vestígio Verdadeiro é uma depuração total dos elementos encontrados no local do crime sendo
verdadeiros somente os que foram produzidos diretamente pelos autores da infração e, ainda, prove-
nientes dos produtos diretos das ações da prática do delito.

 Vestígio Ilusório é todo elemento encontrado no local do crime que não esteja relacionado às ações
dos autores da infração e desde que a sua produção não tenha ocorrido de maneira intencional.

Devido à falha no isolamento e na preservação do local de crime, é muito frequente a produção de


vestígios ilusórios, pois estes decorrem do trânsito de populares no local e até mesmo dos próprios
policiais pela sua falta de conhecimento das técnicas de preservação.

 Vestígio Forjado entende-se que é todo elemento encontrado no local do crime cujo autor teve a
intenção de produzi-lo com o objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais produzidos pelos
autores da infração.

A Preservação Do Local Do Crime E Sua Importância

Consoante a preservação do local do crime e sua importância, Guilherme de Souza Nucci ensina que

A não alteração do local é fundamental para que os peritos criminais possam elaborar laudos úteis ao
esclarecimento da verdade real. Se alguém, por exemplo, mover o cadáver de lugar, está comprome-
tendo, seriamente, muitas conclusões a respeito da ação criminosa e mesmo na busca do autor. (NU-
CCI, 2008, p. 90).

A prática tem mostrado que, mesmo com o precário isolamento e preservação dos locais de crime
levados a efeito pela polícia, é possível obter grandes resultados na análise de vestígios em locais de
crime.

A preservação do local do crime é essencial para a perícia criminal, pois além de concretizar a materi-
alidade do crime fornece fortes elementos de sua autoria.

O local do crime é o local de encontro da Polícia Ostensiva e da Polícia Judiciária. Dessa forma é
fundamental que haja uma perfeita interação entre os Órgãos de Segurança Pública, cada um dentro
de sua função específica. A Polícia Militar, que atua ostensivamente com o objetivo de prevenir a rup-
tura da ordem ou de restabelecê-la; E a Polícia Judiciária, a fim de assegurar a aplicabilidade da lei
penal com relação àqueles que a violarem, reprimindo-os.

A prioridade da Polícia Militar no local do crime é, através de técnicas de primeiros socorros, saber se
a vítima ainda se encontra com vida, caso contrário, deverá privar pelo isolamento do local até a che-
gada da Polícia Judiciária, que tomará as providências legais.

Problemática

Segundo Richard Marques Barbosa em seu trabalho científico Local do Crime, Isolamento e Preserva-
ção (2011), desde a ocorrência do crime até a chegada da polícia judiciária deverá ser procedida as
técnicas e cuidados necessários a preservação do local do crime.

Porém a problemática da preservação dos locais de crime sempre será mais grave entre a ocorrência
do delito e a chegada do primeiro profissional de segurança pública, pois nesse espaço de tempo ine-
xistirá qualquer preocupação com a preservação daquele. Isso porque a população em geral desco-
nhece a importância que um local de crime representa para a investigação, desconhecimento este

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LOCAIS DE CRIME

demonstrado pelas inúmeras pessoas que transitam pelo local antes/durante a chegada do profissional
de segurança pública.

Ainda segundo Barbosa, o fluxo ocorre na seguinte ordem:

1. Ocorrência Do Crime – Primeiro Policial

2. Chegada Do Primeiro Policial – Autoridade Policial

3. Autoridade Policial – Perícia Criminal

Da sequência básica à execução das tarefas ao atendimento no local do crime, prossegue as atribui-
ções dos primeiros policiais que chegam á cena do crime e da autoridade policial responsável pela
investigação.

O maior problema das perícias em locais de crime, sem dúvida, é a falta da preservação do local, de
forma a preservar a idoneidade dos vestígios ali presentes.

Da Entrada no Local: Procedimentos

O profissional de segurança pública, ao chegar ao local de crime, deve privar pela sua segurança pes-
soal, pois nada conhece sobre os fatos e sua autoria, visto que o autor ainda pode encontrar-se no
local, motivo pelo qual as verificações iniciais devem ser feitas o mais rápido possível.

A autoridade policial somente deverá entrar no local de crime se houver vítima, apenas para verificar
se está viva ou não se justifica sua entrada na local do crime, isso após tomar suas conclusões base-
ando-se nas informações coletadas com o primeiro profissional de segurança que chegou ao local do
crime. O exposto se justifica pelo fato de que qualquer outra atitude no interior da área isolada é alta-
mente prejudicial à realização dos exames periciais, podendo comprometer sua confiabilidade para a
elucidação do crime.

Conforme Claudine Baracat (perita criminal e coordenadora do Instituto de Criminalística do Mato


Grosso do Sul), deve-se proceder alguns procedimentos básicos para adentrar ao local do crime pre-
servando-o ao máximo possível, sendo eles:

1º – Verificação

 Utilizar o menor caminho entrando e saindo pelo menor percurso;

 Verificar se a vítima possui vida (ver, ouvir e sentir). Ao se aproximar, evitar alterar o local do
crime/acidente, evitando, também, por meio dos vestígios aparentes;

 Em caso de perigo iminente (desmoronamento, incêndio, fluxo de veículos em alta velocidade sem
a possibilidade de balizamento imediato, etc.): retirar a vítima;

 Se outra vítima não estiver gravemente ferida, mantê-la no local e acionar o socorro médico;

 Se a vítima não estiver com vida, evitar a todo custo alterar o local do crime a fim de não compro-
meter os trabalhos da perícia.

2º – Isolar e Vigiar

 Evitar a saída ou entrada de qualquer pessoa do local;

 Isolar o local podendo-se utilizar corda ou fita zebrada, desde que não alterem os vestígios e objetos.
Caso alguém consiga se evadir, informar o quanto antes a Autoridade Policial que atender a ocorrência;

 Em ambientes abertos (exemplo: região de matagal) deve-se interditar uma área maior – 50 metros
ou 2 metros – do ponto em que foi encontrado o último vestígio;

 Em locais externos, deve-se interditar e balizar apenas a área que contenha vestígios;

 Em locais fechados, usar a barreira natural do ambiente.

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LOCAIS DE CRIME

3º – Identificar testemunhas

 Identificação de pessoas presentes no local que possam servir como testemunhas para a melhor
elucidação do fato;

 Buscar a identificação e o questionamento imediato de testemunhas, suspeitos e vítimas (nome,


identidade, número do telefone, endereço e ponto de referência, profissão, localização por ocasião do
acidente, condição emocional, interesse no acidente e descrição pessoal do acidente).

4º – Preservar o local do crime

São as medidas tomadas de forma a proteger o ambiente onde ocorreu um crime/acidente:

 Devem ser observadas as condições ambientais devendo a autoridade policial proteger as peças a
fim de evitar que essas se degradem através do contato com os agentes ambientais;

 Somente o perito criminal é competente para manusear essas peças;

 São exemplos de vestígios, indícios ou provas encontradas em local de crime: projéteis de armas
de fogo, faca, manchas de sangue, impressões digitais, documentos, sinais de arrombamento, objetos
pessoais, etc.

Proibições

Ainda segundo Claudine Baracat, nos locais de ocorrência, visto que o objetivo principal é manter sua
preservação, deve-se tratar para que o mesmo permaneça o mais inalterado possível, sendo necessá-
ria para isso a aplicação de algumas medidas fundamentais.

O que não se deve fazer em locais de ocorrências:

 Lavar o local da ocorrência;

 Trocar ou retirar qualquer objeto da cena do crime;

 Ligar ou desligar quaisquer luzes ou aparelhos eletrodomésticos;

 Tocar ou realizar os processos de segurança em armamento relacionado ao crime;

 Fumar, beber ou comer no ambiente/cena;

 Entrar e sair várias vezes do local da ocorrência.

É sabido que qualquer uma dessas recomendações, se não observadas, comprometerá diretamente a
idoneidade do local, podendo comprometer a perícia criminal.

Da Requisição Perícial

Determina o Art. 6º, inciso VII do CPP (1941) determinar, se for o caso, que se proceda exame de corpo
de delito e a quaisquer outras perícias necessárias.

Observa-se que esta é mais que uma prerrogativa do delegado de polícia, é uma determinação para
que assim ele proceda visando garantir a preservação de todas as informações e vestígios produzidos
deixados no local do crime, possibilitando, assim, sua elucidação.

A requisição de perícia, nos crimes que tenham deixado vestígio, é obrigatória, determinada pelo Có-
digo de Processo Penal. Quando houver cadáver, deverá ser requisitada também ao IML.

Fases Do Exame Pericial

A primeira fase constitui-se pela observação da requisição de perícia às normas legais.

A segunda, pela atuação da equipe de perícia, a qual atenderá ao exame sendo escalada conforme a
natureza do delito.

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LOCAIS DE CRIME

Na terceira fase temos a chegada ao local dos exames, onde se deve verificar se a polícia isolou e
preservou adequadamente o local e de todas as prerrogativas quanto à isolação e preservação do local
do crime à coleta de informações preliminares necessárias à elucidação.

A quarta fase consiste na observação geral do local, condições atmosféricas e outros dados que pode-
rão ser necessários para a perícia, se a equipe de perícia estipulou procedimentos e tarefas para cada
um dos seus integrantes, etc.

Da Cadeia De Custódia

Em sua obra Cadeia de Custódia (2007, p.5), o professor Arnaldo Gomes pretende documentar a posse
da amostra durante cada estágio de seu ciclo de vida, isto é, durante a coleta, transporte, armazenagem
e processo de análise visando fornecer evidência suficiente da integridade da amostra no âmbito legal
ou regulatório.

Os principais elementos no resguardo da idoneidade do vestígio na cadeia de custódia da prova são


os procedimentos dos peritos.

A constatação é o ato que trata dos procedimentos, rotinas e metodologias para se encontrar os vestí-
gios no local do crime.

O levantamento pericial em um local de crime requer toda uma metodologia a ser adotada pelos peritos
criminais, visando garantir a correta identificação/visualização do vestígio no exato local onde se en-
contra.

A identificação é o registro dos diversos vestígios encontrados em um local de crime que requer alguns
cuidados por parte dos peritos a fim de garantir a certeza do objeto identificado em fases posteriores
da perícia e, também, após, quando da utilização pelos seus usuários.

Na preocupação por uma correta identificação dos vestígios, podemos classificá-los em dois grupos:

 No primeiro, os peritos constatam, registram e identificam os vestígios no próprio local do crime, não
recolhendo-os para exames complementares;

 No segundo, os vestígios são examinados no próprio local, mas há necessidade de recolhê-los, no


todo ou em amostras, para exames complementares.

Imprescindível, nesse caso, a integridade da cadeia de custódia a fim de garantir a idoneidade dos
vestígios para as análises periciais necessárias à elucidação do crime.

Dos Procedimentos Dos Peritos

Tocchetto e Espíndula em sua obra Criminalística, Procedimentos e Metodologias descrevem alguns


procedimentos a serem seguidos pelos peritos, conforme a seguir:

 Os peritos realizam uma visualização geral do local que lhes servirá como base ao escolher os
procedimentos e técnicas adequados à realização dos exames;

 Com a finalidade de correlacionar vestígios depositados em locais mais periféricos, serão necessá-
rios alguns procedimentos preliminares:

Observar se viaturas estão em locais impróprios, especialmente se estiverem muito próximas dos ves-
tígios; coletar o máximo de informações possíveis através de fotos, filmes ou esquemas, antes de tocar
nos vestígios; buscar e coletar os vestígios encontrados no percurso; sem tocar o cadáver, fazer um
exame preliminar aproveitando a oportunidade para recolher o máximo de informações que poderão
auxiliar na busca e compreensão dos demais vestígios ao longo do exame no local;

 Para levantamento preliminar de informações, os peritos utilizam croquis, esboços e outras ferra-
mentas que melhor auxiliam na organização das informações necessárias à verificação dos fatos. In-
formações como temporalidade, topografia do local, acidentes geográficos, além de edificações desta-
cadas, podem ser valiosas para interligar com algum fator de relação com a produção do crime;

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LOCAIS DE CRIME

 O perito somente considera como vestígio material o que ele próprio constata como tal, somente
aceitando corpos de delito fornecidos por terceiros devidamente identificados quanto a procedência e
às circunstâncias pelas quais lhe foram entregues;

 Os peritos não devem formar juízo prévio nem chegar precipitadamente a determinadas conclusões,
devem agir com método e calma, tudo apurando, anotando, observando. Em locais interiores, verifica-
rão quaisquer vestígios que possam correlacionar-se com a prática do delito, desde aspecto de desor-
dem de móveis, objetos e roupas, até manchas, fendas, perfurações, pegadas, armas, etc.

 Devem ser tiradas fotografias do local. Feito esse primeiro exame é preciso examinar o cadáver:
sua posição, roupas, arma ou objeto na mão, manchas de sangue, feridas nas mãos e antebraços
(lesões de defesa), localização do morto, distância da porta, das paredes, etc. A fotografia pode ser
comum e realizada com objetiva simples ou com objetiva grande, angular. As distâncias entre os obje-
tos podem ser assinaladas com réguas graduadas. Em local aberto todos os detalhes e objetos devem
também ser mencionados e examinados.

Fazem-se também as fotografias, buscam-se as impressões digitais, as impressões deixadas no solo


pelos pés etc. Manchas de sangue, armas, ferimentos do cadáver, manchas de pólvora nas mãos do
morto, tudo será procurado.

Terminando o exame, o perito fará a colheita de material, guardando com cuidado: pêlos, projéteis,
alimentos (queijo, maçãs), contendo impressões dentárias, cinzas, manchas, pedaços de cigarro, ob-
jetos com impressões digitais, etc.

Esse material será levado para o laboratório, lá será pesado, medido, fotografado e examinado pelos
especialistas.

Das Ciências Forenses

O professor Bel Jéferson Botelho, em seu artigo A necessidade de se Preservar o Local do crime à Luz
da Moderna Investigação e seus reflexos no CPP, explicita as principais ciências forenses aplicadas
na elucidação de crimes. Botelho explicita as principais técnicas forenses aplicadas à realização de
perícias, também denominadas ciências forenses:

1. Perícia bromatológica: recurso utilizado pela Polícia em casos de alimentos encontrados em locais
do crime;

2. Perícia documentoscópica: estuda os exames grafoscópicos a partir dos exames de autenticidade


gráfica, autoria gráfica e identidade gráfica;

3. Perícia toxicológica: estuda os agentes químicos utilizados no cometimento de homicídios, suicídios,


abortos, bem assim as substâncias entorpecentes que induzem a toxicomania. É um instrumento vali-
oso para determinar causas, e definir princípios ativos de algumas substâncias como cocaína, crack,
merla, paco, maconha, skank, haxixe, morfina, heroína, codeína, LSD, êxtase e outras;

4. Perícia de balística: a Balística Forense é uma disciplina integrante da Criminalística que estuda as
armas de fogo, suas munições e os efeitos dos tiros por elas produzidos sempre que tiverem uma
relação com infrações penais a fim de esclarecer e provar sua ocorrência.

5. Perícia residuográfica: tem por finalidade detectar a presença de micro partículas de chumbo nas
mãos de pessoas que tenham feito uso de arma de fogo, ou suspeitas de tê-lo feito;

6. Perícia papiloscópica: todas as superfícies relacionadas a fatos criminosos que tenham sido mani-
puladas, ou nas quais o autor do delito apoiou suas mãos ou deixou impressões plantares; podem ser
objeto de perícia no local do crime;

7. DNA Forense: Importante avanço nas investigações por meio dos exames de DNA, sobretudo, na
identificação de suspeitos em casos de crimes sexuais, identificação de cadáveres carbonizados, mu-
tilados ou em decomposição, identificação de partes e órgãos de cadáveres e outros casos criminais;

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8. Perícia de informática forense: Matéria de grande complexidade, dado aos avanços da tecnologia,
que traz crescimento social, mas em contrapartida aumenta as possibilidades da chamada criminali-
dade de massa;

9. Perícia de contabilidade forense: Basicamente dois são os exames realizados, a saber: exame na
escrituração contável e exame nos documentos contábeis;

10. Perícia de fonética forense: existem pelo menos três tipos de perícias em fonética forense: verifica-
ção de locutor, que são os exames periciais que visam determinar se as falas armazenadas numa mídia
provêm ou não do aparelho fonador de determinada pessoa;

11. Química forense: nesta ciência são realizados vários exames supracitados, como exames toxicoló-
gicos e outros;

12. Biologia forense: os principais tipos de perícias em Biologia forense são os exames em machas de
sangue, exames em secreções orgânicas como identificação de esperma, saliva, urina, leite e colostro,
pelos e fibras, exames em entomologia e exames de microorganismos ou substâncias presentes na
água. Nos dias atuais tem sido muito divulgadas as reações de luminescência com a utilização de
luminol, que segundo os especialistas, quando aplicado com borrifadores especiais, tem a capacidade
de descobrir resquícios sanguíneos ao ter contato com a hemoglobina, com identificação do ferro pre-
sente no sangue por meio da geração de uma intensa luz azul que pode ser vista em local escuro ou
no momento em que se apaga a luz do ambiente. A técnica se mostra eficaz ainda quando o criminoso
tenta limpar o local, eliminado as pistas, usando produtos de limpeza. O processo químico que a subs-
tância provoca é chamado de quimiluminescência.

Tais perícias demonstram que a ciência vem se modernizando com o intuito de auxiliar a justiça nas
análises e investigações de forma dinâmica, propiciando cada vez mais a elucidação de crimes.

A idoneidade do local do crime, decorrente de sua correta preservação, é imprescindível à credibilidade


das perícias realizadas. Através da aplicação de ciências forenses por profissionais qualificados – pe-
ritos criminais -, valendo-se da criminalística como ciência auxiliar, pode-se buscar esclarecimentos
quanto a elucidação de crimes e sua autoria, que são as provas materiais.

Desse modo um trabalho pericial bem elaborado desde a preservação da cena do crime com policiais
bem orientados, adotando-se os procedimentos adequados, até a conclusão dos peritos, garante um
processo muito mais ético e justo, pois dará ao Ministério Público a necessária convicção e justa causa
para propositura da ação penal.

Não haverá qualquer avanço na produtividade das investigações, por mais profunda que seja a revolu-
ção institucional na área da Polícia Científica, se práticas policiais não se adaptarem à nova realidade
voltando a respeitar os fundamentos do trabalho investigativo, cujo ponto decisivo é a preservação do
local do crime. A preservação deve se converter em um princípio sagrado de atuação policial (o princí-
pio é válido não apenas para a Polícia Militar, mas também para guardas municipais e para o Corpo de
Bombeiros) garantindo, dessa forma, o objetivo final, que é a realização da justiça quanto ao fato e a
sua autoria.

Conclui-se dessa forma que a eficácia da criminalística é fundamental à aplicação da justiça Penal,
bem como valiosa ferramenta de promoção da Justiça e depende diretamente da eficiente preservação
do local do crime.

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EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

Hodiernamente acontecem diversos crimes no Brasil e alguns deles trazem grande repercussão, tais
como crimes graves e repudiados pela população ou crimes que envolvem pessoas famosas, como
por exemplo o caso Isabella Nardoni, Eliza Samudio, Richtofen, do ônibus 174, da Eloá Pimentel e
diversos outros que poderiam ser mencionados.

Ocorre que recentemente foi noticiado pela imprensa o fato registrado no boletim de ocorrência do dia
31 de maio de 2019, elaborada na 6ª DDM de Santo Amaro, na cidade de São Paulo, segundo o qual
o jogador brasileiro do PSG da França, Neymar da Silva Santos Júnior, teria praticado um crime de
estupro contra uma brasileira na cidade de Paris, na França.

Esse caso despertou a curiosidade do público em geral e também dos estudantes de direito, pela razão
de ter ocorrido fora do território nacional. Nesse contexto surge alguns questionamentos: em qual país
deve haver o processo e julgamento do caso em questão? Quando um brasileiro pratica um crime no
estrangeiro ele deve ser julgado no país em que o fato foi cometido ou aqui no Brasil? Quando um
brasileiro é vítima no estrangeiro o autor deve ser julgado no país em que o fato foi cometido ou aqui
no Brasil?

O presente trabalho tem como objetivo responder essas indagações explanando sobre a Extraterritori-
alidade da Lei Penal Brasileira.

METODOLOGIA

Este trabalho foi elaborado através de pesquisas bibliográfica comparativa, explicativa usando meto-
dologia dedutiva. Os argumentos desenvolvidos foram subsidiados através de livros, sites, artigos for-
mulados por grandes juristas e professores.

RESULTADO E DISCUSSÃO

1. TERRITORIALIDADE

Antes de adentrar ao tema principal deste trabalho é necessário compreender como é apli-
cado o Direito penal no território Brasileiro, sendo assim, será exposto de forma sintetizada o princípio
relacionado ao Artigo 5º do Código Penal Vigente que trata da Territorialidade.

1.1. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

O professor Cleber Masson ensina que o Princípio da Territorialidade

(...)cuida da principal forma de delimitação do espaço geopolítico de validade da lei penal nas relações
entre Estados soberanos. A soberania do Estado, nota característica do princípio da igualdade sobe-
rana de todos os membros da comunidade internacional (art. 2.º, § 1.º, da Carta da ONU), fundamenta
o exercício de todas as competências sobre crimes praticados em seu território. (MASSON, 2019)

2. EXTRATERRITORIALIDADE

Neste capitulo serão expostos conceitos relacionado ao Artigo 7º do Código Penal Vigente
que trata da Extraterritorialidade, ou seja, casos em que a Lei Penal Brasileira pode ser aplicada em
crimes cometido fora Brasil. É importante salientar que nosso Estatuto Repressivo, não só definiu sua
abrangência, como também detalhou as condições e circunstâncias para sua aplicabilidade.

2.1 PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE

Leciona Fernando Capez, que:

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EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

O princípio da extraterritorialidade, consiste na aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos


fora do Brasil. A jurisdição é territorial, na medida em que não pode ser exercida no território de outro
Estado, salvo em virtude de regra permissiva, emanada do direito internacional costumeiro ou conven-
cional. (CAPEZ, 2019).

Neste sentido Estefam e Gonçalves (2019) definem que Extraterritorialidade é o “fenômeno


pelo qual a lei penal brasileira se aplica a fatos ocorridos fora do território nacional, isto é, em locais
submetidos à soberania externa ou mesmo em territórios em que país algum exerce seu poder sobe-
rano, como é o caso da Antártida.” Deve-se sublinhar que, embora o fato tenha ocorrido fora do Brasil,
nossa lei será aplicada por algum juízo ou tribunal pátrio.

2.1.1. PRINCÍPIOS PARA APLICAÇÃO DA EXTRATERRITORIALIDADE

É de suma importância a explanação dos princípios aplicáveis a extraterritorialidade, pois,


os princípios são utilizados como alicerces da norma, é o seu fundamento em essência, o refúgio em
que a norma encontra sustentação para racionalizar a sua legitimação, a base de onde se extrai o norte
a ser seguido por um ordenamento.

A doutrina menciona os seguintes princípios para aplicação da extraterritorialidade que se-


rão adiante conceituados.

2.1.1.1. PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU PERSONALIDADE ATIVA

Sob tal ambulação Capez (2019) leciona que aplica-se a lei brasileira ao crime cometido
por brasileiro fora do Brasil (CP, art. 7º, II, b). “Não importa se o sujeito passivo é brasileiro ou se o bem
jurídico afeta interesse nacional, pois o único critério levado em conta é o da nacionalidade do sujeito
ativo”.

2.1.1.2. PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU PERSONALIDADE PASSIVA

Segundo Capez (2019) aplica-se a lei brasileira ao crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil (CP, art. 7º, § 3º). “Nesta hipótese, o que interessa é a nacionalidade da vítima.
Sendo brasileira, aplica-se a lei de nosso país, mesmo que o crime tenha sido realizado no exterior”.

2.1.1.3. PRINCÍPIO REAL, DA DEFESA OU PROTEÇÃO

Este princípio aplica-se a lei brasileira ao crime cometido fora do Brasil, que afete interesse
nacional (CP, art. 7º, I, a, b e c). Estefam e Gonçalves (2019) ressaltam que este princípio costuma ser
introduzido nas legislações como complemento da territorialidade, “com vistas à punição de delitos
cometidos no estrangeiro quando lesionem interesses do Estado, assim considerados essenciais.”

2.1.1.4. PRINCÍPIO DA JUSTIÇA UNIVERSAL

“Refere-se a hipóteses em que a gravidade do crime ou a importância do bem jurídico


violado justificam a punição do fato, independentemente do local em que foi praticado e da nacionali-
dade do agente.” (ESTEFAM; GONÇALVES, 2019). Neste sentido Capez (2019) entende que “é como
se o planeta se constituísse em um só território para efeitos de repressão criminal (CP, art. 7º, I, d, e II,
a).

2.1.1.5. PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO

Também é denominado pela doutrina como princípio da Bandeira.

Para Estefam e Gonçalves (2019):

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EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

Cuida-se de levar em conta, para efeito de aplicação da lei penal brasileira, a bandeira da embarcação
ou aeronave no interior da qual o fato foi praticado. Esse princípio foi adotado com respeito à extrater-
ritorialidade, com referência a delitos cometidos a bordo de embarcações ou aeronaves brasileiras pri-
vadas, quando ocorridos no exterior (caso contrário, o ato considerar-se-ia cometido dentro do território
nacional). Exige-se, todavia, que o crime não tenha sido julgado no estrangeiro para efeito de se aplicar
nossa lei, a qual, portanto, assume caráter subsidiário.

2.2. HIPÓTESES DE EXTRATERRITORIALIDADE

A doutrina majoritária define duas hipóteses de extraterritorialidade: a incondicionada e a


condicionada.

3.2.1. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA

São as hipóteses do Inciso I, Artigo 7º do Código Penal Brasileiro e segundo Masson (2019)
“não está sujeita a nenhuma condição. A mera prática do crime em território estrangeiro autoriza a
incidência da lei penal brasileira, independentemente de qualquer outro requisito”.

É pertinente a colocação de Bitencourt (2012):

A importância dos bens jurídicos, objeto da proteção penal, justifica, em tese, essa incondicional apli-
cação da lei brasileira. Nesses crimes, o Poder Jurisdicional brasileiro é exercido independentemente
da concordância do país onde o crime ocorreu. É desnecessário, inclusive, o ingresso do agente no
território brasileiro, podendo, no caso, ser julgado à revelia. A circunstância de o fato ser lícito no país
onde foi praticado ou se encontrar extinta a punibilidade será irrelevante.

“A excessiva preocupação do direito brasileiro com a punição das infrações relacionadas


no inciso I do art. 7º levou à consagração de um injustificável e odioso bis in idem, nos termos do § 1º
do mesmo dispositivo, que dispõe: “Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira,
ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro”. (BITENCOURT, 2012).

Nessa conjuntura Estefam e Gonçalves (2019) dissertam que:

em tais situações, é possível, em tese, que o agente responda por dois processos pelo mesmo crime,
um no exterior, outro no Brasil, sobrevindo duas condenações. Se isso ocorrer, aplicar-se-á o art.

8º, que se funda no princípio do non bis in idem (o qual proíbe seja alguém condenado duas vezes pelo
mesmo fato). Sendo assim, a pena cumprida no estrangeiro: a) atenua a pena imposta no Brasil pelo
mesmo crime, quando diversas; ou b) nela é computada, quando idênticas (detração).

Bitencourt (2012) expõe que:

...nenhum Estado Democrático de Direito pode ignorar o provimento jurisdicional de outro Estado De-
mocrático de Direito, devendo, no mínimo, compensar a sanção aplicada no estrangeiro, mesmo que
de natureza diversa. Menos mal que o disposto no art. 8º corrige, de certa forma, essa anomalia, pre-
vendo a compensação da pena cumprida no estrangeiro”.

A ilustração abaixo elaborada por Masson (2019) trata da Extraterritorialidade Incondicio-


nada.

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EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

Capez (2012) elenca os princípios aplicados nas hipóteses de Extraterritorialidade incondi-


cionada: as alíneas “a”, “b” e “c” aplicam-se o princípio real da defesa ou proteção. Com relação a
alínea “d” o mesmo autor discorre que para alguns doutrinadores aplica-se o princípio da justiça uni-
versal e para outros o da nacionalidade ativa.

2.2.2. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA

“São as hipóteses do inciso II e do § 3º. Nesses casos, a lei nacional só se aplica ao crime
cometido no estrangeiro se satisfeitas as condições indicadas no § 2º e nas alíneas a e b do § 3º”.
(CAPEZ, 2019).

Não é despiciendo observar o que Masson (2019) esclarece em sua explanação e ilustra-
ção. Tratando-se de extraterritorialidade condicionada, a lei penal brasileira é subsidiária em relação
aos crimes praticados fora do território nacional, elencados pelo art. 7.º, II, e § 3.º, do Código Penal, e
sua aplicação depende das seguintes condições cumulativas:

O mesmo autor discorre ainda que no caso de crime cometido por estrangeiro contra bra-
sileiro, fora do Brasil, “exigem-se outras duas condições, além das anteriormente indicadas, quais se-
jam: não ter sido pedida ou ter sido negada a extradição; e ter havido requisição do Ministro da Justiça.”

2.2.2.1. HIPÓTESES DA EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA

No Inciso, II, e no § 3º, ambos do Artigo 7º do Código Penal Brasileiro estão previstas as
hipóteses da Extraterritorialidade Condicionada, as quais serão delineadas abaixo.

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EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

a) Que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir:

Esta hipótese “refere-se à cooperação penal internacional que deve existir entre os povos
para prevenir e reprimir aquelas infrações penais que interessam a toda a comunidade internacional”
(BITENCOURT, 2012)

b) praticados por brasileiro:

Nesta hipótese Bitencourt (2012) explica que “pelo princípio da nacionalidade ou persona-
lidade o Estado tem o direito de exigir que o seu nacional no estrangeiro tenha comportamento de
acordo com seu ordenamento jurídico”. Pelo mesmo princípio, aplica-se a lei brasileira, sendo indife-
rente que o crime tenha sido praticado no estrangeiro”.

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando


em território estrangeiro e aí não sejam julgados:

Para Bitencourt (2012), nesta hipótese, o agente está sujeito à soberania do Estado onde
o crime foi praticado. No entanto, se referido Estado não aplicar sua lei, é natural que o Brasil o faça,
para evitar a impunidade. “Essa orientação fundamenta-se no princípio da representação e aplica-se,
subsidiariamente, somente quando houver deficiência legislativa (lacuna) ou desinteresse de quem de-
veria reprimir”.

Está previsto § 3º, do Artigo 7º do Código Penal Brasileiro:

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil,
se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Nesta hipótese quando o crime for praticado por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil,
deve reunir, além das condições previstas no §2º, mais as alíneas a) e b) do § 3º do Artigo 7º do Código
Penal. (BITENCOURT, 2012)

2.2.2.2. CONDIÇÕES DA EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA

No § 2º do artigo 7º do código penal brasileiro estão previstas as seguintes condições: 1)


Entrada do agente no território nacional; 2) Ser o fato punível também no país em que cometido; 3)
Estar o crime entre aqueles a que a lei brasileira admite a extradição; 4) Não ter sido o agente absolvido
ou não ter cumprido pena no estrangeiro; 5) Não ter sido perdoado e não se tiver extinguido sua puni-
bilidade, segundo a lei mais favorável.

A primeira delas, isto é, o ingresso do sujeito em nosso território, “constitui condição de


procedibilidade ou condição específica da ação penal”. Cuida-se, portanto, de fator necessário para
que se possa ingressar com a ação penal. “Nada obsta que se iniciem as investigações, com a colheita
de provas, ainda que o agente não se encontre no Brasil”. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2019).

Com relação as demais condições o mesmo autor argumenta que:

...são consideradas condições objetivas de punibilidade, isto é, fatores que condicionam o surgimento
do poder-dever de punir do Estado (ius puniendi). Sem elas, não se pode, sequer, instaurar a investi-
gação. O que pode ocorrer, todavia, é a existência de uma apuração preliminar, ainda que mediante
inquérito policial, com vistas à verificação do fato, de sua autoria e do concurso de tais condições. Não
se poderá, contudo, antes de constatar a presença de todas elas, indiciar o sujeito, sob pena de haver
constrangimento ilegal. É relevante mencionar que, nos casos de extraterritorialidade condicionada,
não existirá a possibilidade de ocorrer bis in idem, haja vista que, se o agente tiver sido absolvido ou
condenado e cumprido pena no estrangeiro, ficará afastada a possibilidade de aplicação extraterritorial
de nossa lei penal. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2019)

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EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

Capez (2012) elenca os princípios aplicados nas hipóteses de Extraterritorialidade condici-


onada: Inciso II, do Artigo 7º do Código Penal Brasileiro: alínea “a”: princípio da justiça universal; alínea
“b”: princípio da nacionalidade ativa; alínea “c”: princípio da representação. Na hipótese do § 3º do
Artigo 7º do Código Penal Brasileiro: aplica-se o princípio real, da defesa ou proteção (pela observação
retro, seria aplicável o princípio da personalidade passiva, que teria, então, utilidade prática).

3. APLICAÇÃO DA EXTRATERRITORIALIDADE NAS LEGISLAÇÕES EXTRAVAGANTES

Algumas Legislações extravagantes têm previsão específica com relação a aplicação da


Extraterritorialidade, dentre elas: Lei n. 9.455/97, que tipifica o delito de tortura; O Código Penal Militar
(Decreto-lei n. 1.001/69); Decreto-lei 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais.

4. JUSTIÇA COMPETENTE

Na Extraterritorialidade da Lei Penal Brasileira entende-se que a Justiça competente para


o processo e julgamento é a Justiça Federal. (ESTEFAM; GONÇALVES, 2019).

5. ESTUDO DE CASO

Foi noticiado pela imprensa em vários países do mundo o fato registrado no boletim de
ocorrência do dia 31 de maio de 2019, elaborada na 6ª DDM de Santo Amaro, na cidade de São Paulo,
segundo o qual o jogador brasileiro do PSG da França, Neymar da Silva Santos Júnior, teria praticado
um crime de estupro contra uma brasileira. Nesse estudo de caso será verificado a possibilidade da
aplicação do princípio da extraterritorialidade condicionada.

Expõe Sakamoto (2019) que:

caso o crime realmente tenha ocorrido, o que ainda não se sabe, ele poderá vir a ser processado no
Brasil se e quando ingressar novamente no país. O estupro também configura crime na França e não
existe impedimento para a extradição envolvendo este tipo de delito pelas leis brasileiras. A lei
13.445/17, que regula a questão da migração no país, estabelece no art. 82 quais são os casos em
que a extradição não pode ser concedida e ele não contempla o crime de estupro. Além disso, Neymar
não pode ter sido absolvido nem cumprido pena na França. Também não pode ter sido perdoado ou
ter ocorrido a extinção da punibilidade estatal. Portanto, desde que satisfeitas todas as condições le-
gais, que são cumulativas, é possível que o jogador venha a ser processado no Brasil.

Este trabalho foi de suma importância para agregar conhecimento sobre a aplicação da
Extraterritorialidade da Lei Penal Brasileira.

Para entender o tema principal foi necessário estudar também a aplicação da Territoriali-
dade da Lei Penal, ou seja, compreender o princípio da territorialidade.

Com relação ao objeto de estudo que é a Extraterritorialidade da Lei Penal Brasileira, veri-
ficou-se que há mais de uma hipótese para sua aplicação e para compreende-la foi necessário estudar
livros de diversos doutrinadores, haja vista que alguns abordam este tema de forma sintetizada. Foi
exposto também um estudo de caso para melhor compreensão do tema.

Destarte, os questionamentos levantados na introdução foram respondidos neste trabalho


e pode-se concluir que o tema é complexo, porém, as doutrinas utilizadas não trazem polêmica em
relação a sua aplicação.

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INFRAÇÃO PENAL

Infração Penal

Inf ração Penal é toda conduta previamente tipif icada pela legislação como ilícita, imbuída de culpabi-
lidade, isto é, praticada pelo agente com dolo ou, ao menos, culpa quando a Lei assim prever tal pos-
sibilidade. O Estado tem o poder/dever de proibir e impor uma sanção a quem a praticar.

Elementos Da Infração Penal

Qualquer inf ração penal possui os seguintes elementos:

Tipicidade: o f ato (evento) deve ser enquadrado plenamente no tipo (modelo) descrito na legislação
penal.

Ilicitude: isto é, o f ato (evento) deve ser contra o Direito. Por vezes, mesmo que uma pessoa cometa
uma conduta típica, há na lei exceções permissivas para sua conduta, de modo que não há ilicitude
da ação. Por exemplo: matar alguém como legítima def esa estrita, a lei considera que a conduta não
é ilícita.

Culpabilidade: isto é, o f ato (evento) deve ter sido praticado pelo agente ativo com intenção reprová-
vel.

Um pouco mais na f rente abordaremos estes elementos mais detalhadamente.

Espécies De Infração Penal

A legislação brasileira def ine duas espécies de inf ração pena: crime (ou delito) econtravenção.

Crime: inf ração de maior potencial of ensivo, punida com pena de reclusão ou detenção, podendo
incluir multa cumulativa ou alternativa. Crimes e tentativas de crimes são punidos (Código Penal Art.
14, II).

Contravenção: inf ração de menor potencial of ensivo, punida com prisão simples ou multa. A tentativa
de contravenção, em geral, não é punida.

Desta f orma, inf ração penal não é sinônimo de crime.

Os principais tipos de crime são:

Crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa.

Crime próprio: é aquele que exige que o agente a cometê-lo possua condição especial que permita
cometer o crime. Por exemplo, o Código Penal nos Art. 312 a 326 def ine os crimes praticados por
f uncionários públicos contra a Administração, o que exige que o sujeito ativo seja f uncionário público.

Crime de mão própria: crime que pode ser praticado apenas pela pessoa (isto é, não existe um in-
termediário), não existindo, desta f orma, co-autoria. Exemplo inclui f alsidade ideológica, falso teste-
munho, etc.

Sujeito Ativo (Da Infração Penal)

Sujeito ativo de uma inf ração penal é aquele que of ende o bem jurídico (ou seja, que comete a inf ra-
ção penal).

Um sujeito pode praticar uma inf ração penal isoladamente ou em concurso com outras pessoas.

O sujeito ativo da inf ração penal pode ser pessoa f ísica ou pessoa jurídica (neste último caso, apenas
em crimes ambientais- Constituição Federal art. 225 p.3).

Não podem ser penalizados de acordo com a lei:

• Quem possui doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão de ação, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do f ato ou de determi-
nar-se de acordo com esse entendimento,

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INFRAÇÃO PENAL

• Os menores de 18 (dezoito) anos, que são penalizados de acordo com legislação própria.

Sujeito Passivo (Da Infração Penal)

É o titular do bem jurídico of endido, isto é, aquele que f oi lesado pela inf ração penal cometida pelo
sujeito ativo.

Uma inf ração penal sempre possui dois sujeitos passivos:

• Sujeito passivo formal: o Estado, que é sempre prejudicado quando ocorre a inf ração;

• Sujeito passivo material: titular propriamente dito do bem jurídico, que pode ser uma pessoa f ísica
ou jurídica.

Em determinados casos, o Estado pode ser, ao mesmo tempo, o sujeito passivo f ormal e o sujeito
passivo material, quando, por exemplo, ocorre roubo de bem público.

Em alguns crimes, obrigatoriamente deve existir dois ou mais sujeitos passivos (dupla subjetividade
passiva): por exemplo, a violação de correspondência (CP Art. 151) os sujeitos passivos do crime
são o remetente e o destinatário de correspondência.

Crime bipróprio é o crime que exige que o sujeito ativo e o sujeito passivo possuam uma qualidade
especial (i.e. não podem ser qualquer pessoa). Por exemplo: o inf anticídio (Código Penal Brasileiro
art. 123) exige que o agente ativo deve ser obrigatoriamente a mãe da vítima e o agente passivo o
f ilho

Tipicidade:

Fato típico

Comportamento humano (doloso ou culposo) que provoca um resultado que pode ser enquadrado
perf eitamente na legislação como uma inf ração penal.

Elementos Do Fato Típico

O f ato típico é composto pelos seguintes elementos:

Conduta criminosa (ou culposa): comportamento humano ativo ou passivo voltado para a execução
da inf ração. O comportamento ativo é quando o inf rator comete intencionalmente a conduta crimino-
sa, arriscando-se à penalidade prevista em lei. O comportamento passivo (omissão) ocorre quando o
agente tem o dever de agir para evitar a inf ração mas não o f az.

Resultado: ocorre pela realização da inf ração penal. Chama-se de crime tentado quando por eventos
alheios à vontade do agente inf rator, o crime não é consumado, não produzindo assim o resultado
que deveria ser esperado. A cogitação de um crime não é punida no Direito Penal pois não é conside-
rada como tendo relevância criminal.

Nexo de causalidade entre a conduta criminosa e o resultado: é a relação que existe entre uma
conduta criminosa específ ica e o resultado gerado.

Enquadramento em uma norma penal incriminadora: para ser considerado um crime, a inf ração
deve estar plenamente def inida em lei.

Ilicitude (antijuridicidade)

Contradição entre um f ato realizado e o ordenamento jurídico.

Por vezes, mesmo que uma pessoa cometa uma conduta típica, há na lei exceções permissivas para
sua conduta, de modo que não há ilicitude da ação. Por exemplo: matar alguém como legítima def esa
estrita, a lei considera que a conduta não é ilícita.

Causas De Exclusão De Ilicitude

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INFRAÇÃO PENAL

As causas de exclusão de ilicitude (isto é, que evitam que um f ato enquadrado na lei se torne inf ração
penal) são justif icativas em que um f ato típico torna-se permitido, ou seja, não pode ser enquadrado
criminalmente. As causas de exclusão de ilicitude são previstas no Artigo 23 do Código Penal onde
está escrito:

“Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o f ato:

I – em estado de necessidade;

II – em legítima def esa;

III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.”

Estado De Necessidade

É descrito no Art. 24 do Código Penal Brasileiro que diz:

“Art. 24: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o f ato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrif í-
cio, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§1º – Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enf rentar o perigo.

§2º – Embora seja razoável exigir-se o sacrif ício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
um a dois terços.”

O Estado de Necessidade def ine uma situação de perigo atual para um bem jurídico em que um
agente deve lesar o interesse de outrem para af astar este perigo. Por exemplo: uma pessoa que
f urta um automóvel para transportar uma pessoa urgentemente f erida para um hospital. Aqueles que
possuem o dever de enf rentar o perigo (como policiais, bombeiros, militares, etc) não podem invocar
o estado de necessidade para deixar de executar suas f unções. Por exemplo, um policial que se re-
cusa a perseguir um bandido por não querer ser alvejado por armas de f ogo.

Legítima Defesa

É descrita no Art.25 do Código Penal que diz:

“Art.25: Entende-se em legítima def esa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”

A legítima def esa designa a capacidade de uma pessoa repelir uma agressão que está ocorrendo ou
que ocorrerá ao seu direito (vida, liberdade, patrimônio, etc) ou de outro. A legítima def esa exige que
o agente a se def ender utilize seus recursos para af astar a agressão até o limite em que esta cesse,
sendo vedado o uso excessivo da f orça. A legítima def esa no entanto, abrange o of endido mesmo
nos casos em que possa f ugir do local, escapando ileso dos acontecimentos. Ela pode ser executada
contra inimputáveis (por exemplo, def ender-se da agressão de um menor de idade).

Legítima def esa sucessiva: é a legítima def esa que um of ensor pode realizar contra o excesso na
def esa de um of endido. Por exemplo, ao ser assaltado, uma pessoa desarma o bandido que sai cor-
rendo. A pessoa então corre atrás do bandido com a arma para matá-lo. O bandido, sendo vítima de
um excesso, pode agir em legítima def esa.

Provocação de legítima def esa: a legítima def esa provocada não é causa de exclusão de ilicitude. Por
exemplo, uma pessoa que entra em uma casa e f ica sentada aguardando o dono, esperando uma
reação para matá-lo, dizendo agir sob legítima def esa.

Cumprimento do Dever Legal ou Exercício Regular de Direito

Ocorre quando um determinado agente (policial, militar, of icial de justiça, etc) possui a f unção legal de
executar um determinado comportamento que para outros seria ilícito. Por exemplo, um of icial de
justiça que arromba uma residência para cumprir uma ordem judicial.

Culpabilidade

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INFRAÇÃO PENAL

Juízo (Reação) de reprovação que uma determinada conduta provoca na sociedade.

Combinada às características da tipicidade e antijuridicidade (ilicitude), caracteriza uma conduta como


uma inf ração penal.

Elementos da Culpabilidade e Causas de Exclusão

Causa de Exclusão são eventos que permitem anular a culpabilidade de um determinado agente em
uma determinada inf ração penal.

Imputabilidade: o agente ativo da inf ração penal deve entender o caráter ilícito (proibido) do f ato
cometido. São, assim, excluídas pessoas com:

• doença mental,

• desenvolvimento mental incompleto (incluindo menores de 18 anos e silvícolas),

• desenvolvimento mental retardado e embriaguez completa proveniente de f ortuito

• ou f orça maior.

Potencial consciência de ilicitude: o agente deve reconhecer da ilicitude (proibição) do seu ato. De
acordo com o Artigo 21 do Código Penal “o desconhecimento da lei é inescusável” (ou seja, ninguém
pode dizer que cometeu uma inf ração penal por não saber que se tratava de uma inf ração penal) . A
exclusão ocorre, então, por Erro de Proibição Escusável: isto é, o agente ativo da inf ração, diante das
circunstâncias da situação, erra ao interpretar a lei, julgando não ser inf ração o que realiza.

Conduta de acordo com a lei: são punidos apenas os atos em que o agente tenha a possibilidade
de agir de acordo com a lei, mas pref eriu cometer a inf ração. Desta f orma, há duas causas de exclu-
são da culpabilidade neste caso: coação moral irresistível e obediência hierárquica (CP Art.22).

Coação moral irresistível: é aquela em que há grave ameaça contra o agente inf rator e que por isto
cometeu a inf ração. Não está incluída aqui a a coação f ísica (já que neste caso o agente não possui a
vontade de praticar o crime) e não se inclui, também, a coação moral resistível (i.e. aquela em que é
possível a oposição).

Obediência Hierárquica: ocorre quando o agente pratica ato (não-explicitamente) ilegal por ordem
f ormal vinda de superior.

Punibilidade:

A punibilidade é uma f orma que o Estado encontra de determinar uma punição ao agente de um cri-
me. No entanto, pode ocorrer a extinção da punibilidade, disciplina do art. 107 do Código Penal, que
dar-se-a pela morte do agente; pela anistia, graça ou indulto; pela retroatividade de lei que não mais
considera o f ato como criminoso; peã prescrição, decadência ou perempção; pela renúncia do direito
de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; pela retratação do agente, nos casos
em que a lei a admite; pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Imputabilidade Penal

Imputabilidade penal é a condição ou qualidade que possui o agente de sof rer a aplicação de pena.
E, por sua vez, só sof rerá pena aquele que tinha ao tempo da ação ou da omissão capacidade de
compreensão e de autodeterminação f rente o f ato.

Assim, imputabilidade é a capacidade de o agente, no momento da ação ou da omissão, entender o


caráter ilícito do f ato e de determinar-se f rente tal f ato.

Somente o imputável sof rerá pena.

Para ser imputável o agente deve ter capacidade de: 1- entender o caráter ilícito do f ato (compreen-
são das coisas) e 2 – determinar-se de acordo com esse entendimento (capacidade de dirigir sua
conduta considerando a compreensão que anteriormente teve).

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INFRAÇÃO PENAL

A lei pressupõe a imputabilidade. Extraordinariamente, o legislador arrola as hipóteses de exclusão


da imputabilidade. Assim, em princípio todos são imputáveis.

De acordo com Fernando Capez , a imputabilidade apresenta um aspecto intelectivo, consistente na


capacidade de entendimento, e outro volitivo, que a f aculdade de controlar e comandar a própria von-
tade.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

O Fato Típico E Seus Elementos

O crime é um fato típico, antijurídico e culpável. Neste artigo abordaremos os elementos do Fato
Típico que são, a saber:

a) Conduta Humana

b) Resultado

c) Nexo Causal

d) Previsão Legal

Antes de explicar os elementos do fato típico, vamos conceituar o que é um fato típico.

Fato típico é a conduta ilícita praticada, ou seja, a conduta proibida, ilegal, prevista no Direito Penal.

Para se caracterizar um fato típico, é necessário conter os 4 elementos citados acima, caso contrário,
se um deles não estiver presente, o fato será atípico e portanto não será considerado crime.

A) Conduta Humana

A conduta é a realização material da vontade humana. Ela pode ser ter ativa ou omissiva, consciente
e voluntária, sempre objetivando uma finalidade.

O Direito Penal se interessa pelas condutas que poderiam ter sido evitadas, por isso, o pensamento,
enquanto não manifestar uma conduta pela ação ou omissão não tem representação legal para o
Direito Penal, ou seja, o fato de pensar que vai matar alguém ou pensar que vai furtar tal objeto não
se caracteriza crime enquanto ficar apenas no pensamento.

A conduta por omissão (conhecida também por Conduta Omissiva) se caracteriza por não fazer o que
deveria ser feito, por exemplo, um criança se afogando na praia e o bombeiro, responsável pela
vigilância do local não socorre a criança, permitindo que ela venha a falecer por afogamento. Outro
exemplo seria uma colisão de veículos com vítimas, onde, o responsável pela colisão, deixa o local
sem prestar o devido socorro às vítimas.

A conduta por ação (conhecida também por Conduta Comissiva) se caracteriza pela ação do agente.
Por exemplo, no estupro o agente mantem um relacionamento sexual com outrem; no homicídio o
agente tem que atuar para que a vítima morra.

Conduta não se confunde com ação, pois, conduta é gênero, pode ser uma ação ou uma omissão.

Importante salientar que o Direito Penal não se preocupa com resultados causados de caso fortuito,
de força maior, atos de puro reflexo, conduta praticada mediante coação física, ou conduta
involuntária. Estes atos são atípicos e não são considerados Fato Típico. Por exemplo, uma pessoa
vai pegar um copo para beber água, no entanto, ao pegá-lo, a pessoa espirra e o deixa escorregar de
sua mão. O copo cai no chão, quebra-se e fere outra pessoa. No ponto de vista do Direito Penal, o
resultado causado (ferimento da pessoa) pelo ato (deixar o copo cair no chão devido o espirro) não é
considerado um fato típico, pois, o espirro é um movimento reflexo. Outro exemplo seria um raio que
mata uma pessoa, pois, o raio ocorreu devido uma força maior.

Assis Toledo faz a seguinte observação: "como não se pode punir uma pedra que cai, ou um raio que
mata, não se deve igualmente punir quem não age, mas é agido” (Princípios básicos, p.83)

Para se caracterizar uma conduta humana é necessário conter 4 elementos, a saber:


vontade, finalidade, exteriorização e consciência. Caso, um deles não estiver presente, a conduta se
desfaz, e consequentemente deixará de ser fato típico, portanto, não se caracteriza crime.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Importante ressaltar que vontade difere de ato, pois a vontade é a realização material da vontade
humana, mediante a prática de um (unisubisistente) ou mais atos (plurissubsistente).

A conduta pode produzir resultado doloso ou culposo e se divide em:

1 - Conduta Dolosa

a) Direta

b) Indireta

2 - Conduta Culposa

a) Consciente

b) Inconsciente

A Conduta Dolosa Direta ocorre quando o agente tem a intenção de produzir o resultado, a conduta é
consciente. Ex: o agente dá um tiro na pessoa com a intenção de matar.

A Conduta Dolosa Indireta ocorre quando o agente não tem a intenção de produzir o resultado, mas
ele prevê que se ele praticar aquela conduta, o resultado poderá ser gerado, ou seja, ela assume o
risco. Ex: Dou um tiro na multidão. Tomara que não acerte em ninguém, mas vou arriscar mesmo
assim.

A Conduta Culposa Consciente ocorre quando o resultado é previsível, o agente o prevê, mas
acredita piamente que o resultado não vai acontecer. Ex: Um carro há 120Km/h numa via que o
máximo permitido é 60Km/h. O condutor sabe que está acima do limite de velocidade, mas acredita
piamente que não vai acontecer um acidente.

A Conduta Culposa Inconsciente ocorre quando o resultado é previsível, mas o agente não o prevê.
Ex: Semelhante ao exemplo a cima, mas com um detalhe, não passa pela cabeça do condutor que
poderá acontecer um acidente, mas aos olhos de outras pessoas -que não estão envolvidas - o
acidente é iminente.

Existe uma linha muito tênue entre Conduta Dolosa Indireta e Conduta Culposa Consciente, pois esta
sutiliza está no íntimo de cada um. Existe uma máxima do Direito que diz: “Na dúvida, beneficie o
réu”, por isso, nos casos em que houver dúvida a tendência é optarem pela Conduta Culposa.

Simplifiquemos estes tipos de conduta em uma tabela:

Conduta Dolosa Direta Agente prevê o resultado e deseja o resultado.


Conduta Dolosa Indireta Agente prevê o resultado e assume o risco, para ele
o resultado é indiferente.
Conduta Culposa Consciente O resultado é previsível e o agente o prevê, mas
acredita piamente que o resultado não vai acontecer.
Conduta Culposa Inconsciente O resultado é previsível mas o agente não prevê o
resultado.

Para explicar a Conduta, existem teorias vigoraram no passado e que vigoram nos dias atuais.
Vejamos quais foram:

a) Teoria Naturalista ou Causal

b) Teoria Neoclássica

c) Teoria Finalista

d) Teoria Social

e)Teoria Funcional

Na Teoria Naturalista as normas deveriam ser cumpridas sem discussão do seu conteúdo, ou seja,

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

sem a devida interpretação, pois, esta interpretação poderia trazer subjetivismo as regras objetivas.
De acordo com Fernando Capez (2004):

“crime não é uma estrutura lógico-objetiva axiologicamente indesejável. ou seja, algo que qualquer
pessoa normal considera mal e pernicioso. Crime é aquilo que o legislador diz sê-lo e ponto final. Se
tem ou não conteúdo de crime, não interessa. O que importa é o que está na lei.” (Curso de Direito
Penal - Parte Geral - Volume 1 - pág. 111)

Neste modelo, interessa saber quem foi a pessoa causadora do resultado e se o resultado era tido
como crime, ou seja, estava previsto na lei. Como ilustra Fenando Capez (2004):

“Se um suicida pulasse na frente de uma carruagem e viesse a morrer atropelado. O raciocínio
naturalista e positivista diria:

a) a vítima morreu com a cabeça esmagada; (b) foi a carruagem

quem passou sobre a cabeça da vitima, esmagando-a; (c) a carruagem era conduzida pelo cocheiro;
d) logo, foi o cocheiro quem atropelou a vítima, esmagou a sua cabeça e a matou; (e) matar alguém é
um fato defìnido em lei como típico; (f) logo, o cocheiro praticou um fato típico.” (Curso de Direito
Penal - Parte Geral - Volume 1 - pág. 112)

O retrato externo do evento era o que importava para o fato típico, independente da vontade do
agente, ou seja, desprezava-se o dolo e a culpa e este era verificado somente no momento de
analisar a culpabilidade.

Na Teoria Neoclássica, inclui-se o elemento subjetivo (vontade, finalidade, intenção), pois sem ele
não poderia ser afirmado que o fato em questão era típico, portanto, conclui-se que somente a
comparação entre o fato externo e tipo não era suficiente para caracterizar um fato típico.

Na Teoria Finalista, elaborada no final da década de 1920, conclui-se que o tratamento legal não
depende apenas do que causou o resultado, mas, da forma como foi praticada a ação. Por exemplo,
matar uma pessoa por dinheiro é diferente de matar uma pessoa numa briga de trânsito que é
diferente de matar uma pessoa numa colisão automobilística. Em ambos os casos, tem-se como
resultado a morte, mas, no ponto de vista subjetivo, configura-se diferentes ações e cada qual com
maior ou menor valoração, portanto, dependendo de sua finalidade, a qualificação jurídica do crime
se altera (crime doloso, culposo).

Conclui-Se, Nas Palavras De Fernando Capez:

“Sem o exame da vontade finalística não se sabe se o fato é típico ou não. Partindo desse
pressuposto, distinguiu-se a finalidade da causalidade, para, em seguida, concluir-se que não existe
conduta típica sem vontade e finalidade, e que não é possível separar o dolo e a culpa da conduta
tipica, como se fossem fenômenos distintos.” Curso de Direito Penal - Parte Geral - Volume 1 - pág.
118)

A Teoria Social da Ação ou Teoria da Adequação Social afirma que um fato considerado típico, mas
que visto pela sociedade é considerado normal, correto, ele se torna um fato atípico. Por exemplo,
uma mãe ao levar sua filha recém nascida ao farmacêutico para furar a orelha está cometendo lesão
corporal, no entanto, devido este fato fazer parte da cultura brasileira e mundial, o fato torna-se
atípico. Uma luta de boxe seria um fato típico, no entanto, da mesma forma como o exemplo anterior,
este fato torna-se atípico, pois, a conduta - voluntária e finalística -, produziu um resultado que,
apesar de típico, é socialmente compreensível.

Com base nesta teoria, algumas condutas que são típicas e ao mesmo tempo toleradas, praticadas e
aceitas pela sociedade são consideradas atípicas.

A Teoria Funcional, Segundo Fernando Capez:

“Mais importante do que situar o dolo e a culpa no fato típico ou na culpabilidade é resolver com
justiça a situação concreta e executar um plano de autuação jurídico-penal visando a propiciar uma
melhor convivência entre os membros da sociedade.” Curso de Direito Penal - Parte Geral - Volume 1
- pág. 133)

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

No entanto, para esta teoria, manter a sociedade garantindo a justiça social, a paz e o
desenvolvimento, é mais importante do que cumprir a letra da lei

Não posso deixar de mencionar a Teoria da Conduta Omissiva, que pode ser

a) Naturalística

b) Normativa

A teoria da Conduta Omissiva Naturalística afirma que omitente deveria ser responsabilizado pelo
resultado, pois, devido sua omissão caracteriza-se por uma forma de ação e, portanto, tem relevância
causal. Ex: Vítima de um assalto foi baleada. O pedestre presencia o assalto, tem condições de
prestar socorro, mas não faz, omite-se até a vítima falecer.

Esta teoria foi muito criticada, pois, para os críticos, a inatividade não pode ser provocadora de
nenhum resultado. No exemplo citado acima, para esta teoria, a omissão que causou o sangramento
da pessoa que a levou a morte. No entanto, não há nexo de causalidade entre o sangramento e
omissão. Nas palavras de Capez (Curso de Direito Penal - Parte Geral - Volume 1 - pág. 131): “O
omitente poderia ter interferido no processo causal e evitado o resultado, mas isso é bem diferente de
afirmar que ele é o causador.”

E Capez Finaliza Dizendo:

“Nosso ordenamento juridico não se filiou a essa corrente doutrinária e responsabiliza o omitente, em
casos como esse, pela sua própria omissão. No caso em tela, o omitente responderia pela omissão
de socorro "qualificada" pelo resultado da morte (art. 135. Parágrafo único, 2° - parte, do CP) e não
pelo homicídio.” Curso de Direito Penal - Parte Geral - Volume 1 - pág. 131)

A teoria da Conduta Omissiva Normativa afirma que a omissão é o não fazer que deveria ser feito. A
norma deve conter o dever jurídico de agir, para que assim, a omissão tenha relevância causal.

Visto estas teorias, cabe uma ressalva quanto à responsabilidade penal de Pessoa Jurídica. Até o
momento, para se caracterizar fato típico deve haver Conduta Humana, no entanto, Pessoa Jurídica
não é humana, ela é um ente fictício, sem consciência, vontade, finalidade e por isso, não deveria
configurar fato típico.

Muitos juízes acreditam que para prever em nossa legislação responsabilidade da Pessoa Jurídica,
seria necessário alterar toda a teoria de Direito Penal, pois para ser responsabilizado pelo crime ele
deve ter consciência daquilo que está fazendo e a Pessoa Jurídica não têm. Porém, nossa legislação
trata a responsabilidade penal da Pessoa Jurídica para crimes contra o meio ambiente (art. 225 do
Código Penal e Lei dos Crimes Ambientais 9605/98).

Direito Penal - Diferença Entre Crime Consumado E Crime Tentado

O art. 14 do Código Penal traz a definição de crime consumado e crime tentado.

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao
crime consumado, diminuída de um a dois terços.

Nesse sentido, considera-se crime consumado quando o fato praticado pelo agente subsume-se
(enquadra-se) no tipo penal abstrato. Exemplo: Quando Fulano saca uma arma e realiza disparos

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

contra seu desafeto, causando-lhe a morte, quer dizer que a conduta do agente e o resultado
produzido encaixa-se na descrição do art. 121 do Código Penal, portanto, a conduta do agente é
criminosa, ou seja, ele praticou um fato típico e antijurídico.

Por outro lado, quando o agente inicia a execução de uma conduta criminosa, mas é impedido de
consumá-la, estaremos diante de uma tentativa. Nessa trilha, o doutrinador Delmanto traz a baila os
elementos da tentativa: "início da execução da figura penal + dolo + falta de consumação por
circunstâncias alheias à vontade do agente" [1].

Ocorre que alguns crimes não admitem tentativa e para identifica-los, inicialmente, é necessário
conhecer as fases do crime, também chamada de caminho do crime ou iter criminis, uma vez que
o Código Penal brasileiro não faz previsão da tentativa, pois preferiu utilizar nesse contesto a teoria
da extensão, ou seja, aplica-se o crime consumado cumulado com a tentativa prevista no art. 14, II do
referido código. Outrossim, também não admitem tentativa os crimes formais unissubsistentes,
crimes culposos, crimes preterdolosos, crimes omissivos próprios, crimes habituais e contravenção
penal. Para mais detalhes, veja o artigo "infrações penais que não admitem tentativa".

Destaca-se ainda que o crime tentado, conforme disposto no parágrafo único do art. 14 do Código
Penal atribui ao magistrado diminuir a pena de um a dois terços, diferentemente do que ocorre, por
exemplo, na França que pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado . Esse
abrandamento ocorre porque os legisladores entenderam, ao editar o Código Penal, que o grau de
ataque ao bem jurídico gera potencial ou parcial lesão, razão pela qual a punição deve conter um
grau de proporcionalidade uma vez que o bem jurídico não sofreu a lesão em sua plenitude.

Considera-se crime consumado a realização do tipo penal por completo, nele contendo o iter
criminis. (CUNHA, 2015)

Súmula 610, STF - HÁ CRIME DE LATROCÍNIO, QUANDO O HOMICÍDIO SE CONSUMA, AINDA


QUE NÃO REALIZE O AGENTE A SUBTRAÇÃO DE BENS DA VÍTIMA. (BRASIL, 1984)[1].

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

[...] (BRASIL, 1940)[2].

De acordo com o entendimento de Rogério Sanches e Rogério Greco o latrocínio é crime contra o
patrimônio e considera a súmula mencionada acima como ele sendo consumado mesmo que não
haja a subtração patrimonial dos bens da vítima. (CUNHA, 2015).

Crime Consumado E Crime Exaurido

A consumação não se confunde com o exaurimento. Diz-se o crime como exaurido, também
chamado de crime esgotado plenamente, quando da verificação de acontecimentos posteriores ao
término do iter criminis, como exemplo, podemos citar o auferimento da vantagem/enriquecimento
no crime de concussão; o recebimento do valor do resgate no crime de extorsão mediante
sequestro. (CUNHA, 2015).

APELANTE: ANTONIO CARLOS GOMES. APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO


PARANÁ. RELATOR: DES. LIDIO J. R. DE MACEDO. APELAÇÃO CRIMINAL ADULTERAÇÃO DE
SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR, MOTOCICLETA (ART. 311DO CÓDIGO
PENAL). PLEITEADA ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. - AUSÊNCIA DE NORMA LEGAL A
CONDUTA PRATICADA, POR SE TRATAR DE VEÍCULO BAIXADO. INOCORRÊNCIA. CONDUTA
TÍPICA. PROVAS INCONTESTES. IDONEIDADE E UNICIDADE DOS DEPOIMENTOS
TESTEMUNHAIS CORROBORADOS PELA CONFISSÃO DO APELANTE. CRIME CONSUMADO.
MOTOCICLETA BAIXADA NO DETRAN. TIPO PENAL EXAURIDO NA CONDUTA DO APELANTE.
PLACA DO VEÍCULO QUE CONSTITUE SEU SINAL IDENTIFICADOR EXTERNO. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

I. Consoante se extrai dos autos, o apelante Antonio Carlos Gomes conduzia um veículo
motocicleta Yamaha TT 125, cor preta, placa AGA-3204, em via pública, mesmo sendo esta
baixada no DETRAN, fato este inconteste nos autos, pois confirmado pelos depoimentos, inclusive
de Rodrigo Schuh, Policial Militar.

II. De igual modo, não há dúvidas a respeito da autoria, tendo o próprio recorrido confessado em
juízo a adulteração de sinal identificador do veículo, nele inserindo placa pertencente a outra
motocicleta, esta, inclusive, com Boletim de Ocorrência de "clone" pelo proprietário lesado.

III. Destaco que na fase inquisitiva o apelante esclareceu que a motocicleta lhe pertencia,
afirmando tê-la adquirido para fins de desmanche. Segundo sua narrativa, a mesma já constava
como baixada no DETRAN e, portanto, não mais possuía placa de identificação e nem mesmo
número de chassis, motivo pelo qual nele inseriu a placa que teria encontrada na rua, utilizando -a.

IV. Ademais, o apelante sabedor da situação da motocicleta, já baixada no DETRAN, é evidente


que pretendeu modificar seus sinais primitivos, posto que ele mesmo confirmou, tanto em juízo
como na fase de inquérito policial, ter fixado placa pertencente a outra motocicleta, a fim de
possibilitar a circulação daquela, causando, inclusive, prejuízo a terceiro, pois consignado pela
Policia Militar, que havia alerta de "clone" da referida placa AGA - 3204. (TJ-PR 8523148 PR
852314-8 (Acórdão), Relator: Lidio José Rotoli de Macedo, Data de Julgamento: 26/07/2012, 2ª
Câmara Criminal).[3]

Há crimes cuja consumação se protrai no tempo, até que se cesse o comportamento do agente,
crimes permanentes. São três consequências do crime permanente: (CUNHA, 2015)

a) A prescrição somente começa a correr depois de cessada a permanência (art. 111, III, CP);

b) Admite a prisão em flagrante a qualquer tempo durante a permanência;

c) Aplicação da lei nova, ainda que mais gravosa, enquanto durar a permanência. (CUNHA, 2015).

Súmula 711, STF (BRASIL, 2003)[4]: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Classificação Do Crime Quanto Ao Momento Consumativo

No crime material, o tipo penal descreve a conduta e o resultado naturalístico, indispensável para a
consumação, como por exemplo, crime de homicídio; crime de furto. (CUNHA, 2015).

No crime formal, o tipo penal descreve a conduta e o resultado naturalístico, dispensável para a
consumação. Caso haja a consumação do crime formal, o Juiz mais severamente punirá o agente,
utilizando esta consumação para fins de aplicação da pena. (CUNHA, 2015).

No crime de mera conduta, o tipo penal descreve apenas a conduta, não prevendo qualquer
resultado naturalístico, como exemplos, violação de domicílio, crimes omissivos próprios, como o
crime de omissão de socorro. (CUNHA, 2015).

Consumação Formal E Consumação Material

Consumação formal se dá quando ocorre o resultado naturalístico nos crimes materiais ou quando
o agente concretiza a conduta descrita no tipo formal ou de mera conduta. É a consumação
prevista na lei, ligada, deste modo, à tipicidade formal. (CUNHA, 2015).

PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO PELO EMPREGO


DE ARMA DE FOGO E ARMA BRANCA E PELO CONCURSO DE PESSOAS. PROVA DE AMBAS
AS MAJORANTES PELO DEPOIMENTO DAS VÍTIMAS E, MESMO, PELA CONFISSÃO DOS
APELANTES. ARMA APREENDIDA E PERICIADA, NÃO OBSTANTE A PRESCINDIBILIDADE DE
PERÍCIA NA ARMA PARA A CARACTERIZAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA.
CONCURSO DE CRIMES FORMAL E MATERIAL. DESÍGNIOS AUTÔNOMOS. APLICAÇÃO
CUMULATIVA DAS PENAS RECLUSIVAS ATRIBUÍDAS A CADA UM DOS TRÊS ROUBOS
PRATICADOS PELOS APELANTES. PENA DEFINITIVA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

I - Hipótese em que restou comprovado o uso de arma de fogo, tanto em razão dos depoimentos
das vítimas, quanto pela própria confissão dos apelantes. Lado outro, embora prescindível a
realização de perícia na arma apreendida para a configuração da majorante em questão, no caso
dos autos, o artefato foi apreendido e periciado, razão pela qual de todo improcedente o pleito de
seu decote.

II – As provas carreadas aos autos demonstram que os apelantes praticaram roubo contra três
vítimas/patrimônios diversos, duas das quais estavam juntas numa motocicleta, quando, por ação
única, os apelantes, com desígnios autônomos, roubaram-nas. Reconhecimento do concurso
formal impróprio, com aplicação cumulativa das penas nos termos do artigo 69, CP. De outro lado,
em relação ao roubo da terceira vítima, seguramente ocorreu concurso material de crimes, uma vez
que a vítima trafegava sozinha numa rua de bairro, quando abordada pelos apelantes, os quais,
com o uso de um revólver e de um facão, subtraíram para si a quantia de R$: 100,00 (cem reais). O
roubo dessa terceira vítima foi cumulativo com o roubo das vítimas que trafegavam juntas na
motocicleta. Há, aqui, uma sucessão de crimes, em que os apelantes, mediantes ações distintas,
assaltaram mais de uma pessoa. Ocorrência de concurso material e de concurso formal impróprio
de crimes, o que autoriza a soma das penas reclusivas aplicadas a cada um dos crimes.

II - Recurso conhecido e não provido. (TJ-AL - APL: 00001295820118020011 AL 0000129-


58.2011.8.02.0011, Relator: Des. Sebastião Costa Filho, Data de Julgamento: 09/04/2014, Câmara
Criminal, Data de Publicação: 10/04/2014)[5].

Consumação material se dá quando está presente a relevante e a intolerável lesão ou perigo de


lesão ao bem jurídico tutelado. É relacionada à tipicidade material. (CUNHA, 2015).

Crime Tentado

A tentativa não constitui um crime sui generis, com pena autônoma delimitada. (CUNHA, 2015).

Art. 14 - Diz-se o crime:

[…]

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente.

[...] (BRASIL, 1940)[6].

PENAL E PROCESSUAL. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO. CONDENAÇÃO PORCRIME


CONSUMADO. RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA. CRIME TENTADO. REVOLVIMENTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. HABEAS CORPUS. VIA INADEQUADA. 1. O intento de firmar a existência
de crime (extorsão mediante sequestro) tentado (conatus), ao invés do consumado, conforme
fixado no acórdão da apelação demanda inegável revolvimento fático-probatório, não condizente
com o espectro restrito e angus todo habeas corpus. 2. Pleitos deste jaez não podem transformar o
writ, que tem seus contornos específicos, em recurso revisor da apelação e, quiçá, esta Corte em
terceira instância. 3. Ordem denegada. (STJ - HC: 105891 SP 2008/0098479-2, Relator: Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 04/08/2011, T6 - SEXTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 17/08/2011)[7].

É a tentativa violação incompleta da mesma norma de que constitui o crime consumado como
violação plena. Por conseguinte, não há que se falar em crime de tentativa, mas apenas tentativa
de crime. (CUNHA, 2015).

Elementos Da Tentativa

1) Início da execução;

2) Não ocorre a consumação do delito por circunstâncias alheias à vontade do agente;

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

3) Dolo de consumação: Apenas este terceiro elemento é dito por Flávio Monteiro de Barros e Luiz
Flávio Gomes. Rogério Sanches entende que o dolo de consumação é presumido, já que não se
consumou o crime pela vontade que é alheia a do agente. (CUNHA, 2015).

4) Resultado possível: Este último elemento é posicionamento de Rogério Sanches, que entende
que este seria o elemento diferenciador entre o crime tentado e o crime impossível. (CUNHA,
2015).

Consequências Da Tentativa

A tentativa é, em regra, punida com a pena do crime consumado diminuída, já que o parágrafo
único ressalva ao seu início que poderá haver disposição em contrário. (CUNHA, 2015).

Art. 14 - Diz-se o crime:

[…]

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente
ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

[...] (BRASIL, 1940)[8].

No crime subjetivamente consumado a intenção do agente era de matar; no crime objetivamente


consumado, efetivamente o agente matou a pessoa; no crime objetivamente tentado, o agente não
conseguiu matar a pessoa por circunstâncias alheias, a qual justifica a diminuição da pena.
(CUNHA, 2015).

Excepcionalmente, a tentativa de crime é punida como o crime já consumado, sem que haja a
redução, quando houver previsão legal especial para tanto. (CUNHA, 2015).

Art. 352, CP - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de


segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um
ano, além da pena correspondente à violência. (BRASIL, 1940)[9].

Art. 309, Código Eleitoral – Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem: Pena -
reclusão até três anos. (BRASIL, 1965)[10].

O crime excepcional em que a tentativa não possui qualquer redução quando comparado ao crime
consumado é denominado de Crime de Atentado ou Crime de Empreendimento. A tentativa tem a
mesma pena da consumação, sem redução. (CUNHA, 2015).

Existe ainda o crime em que a tentativa é punida, mas a consumação não o é. São os crimes
de lesa pátria, da Lei 7170/1983, que enuncia os crimes contra a segurança nacional: Art. 11,
Lei 7170/1983 (BRASIL, 1983)[11]: Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir
país independente. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos.

Classificação Doutrinária Da Tentativa

Relacionado ao iter criminis percorrido

Tentativa perfeita/ Tentativa acabada/ Crime falho

O agente, apesar de praticar todos os atos executórios à sua disposição, não consuma o crime por
circunstâncias alheias à sua vontade, como por exemplo, agente tem cinco projéteis e dispara
todos, mas os médicos conseguem salvar a vida da vítima. (CUNHA, 2015).

A tentativa perfeita somente é compatível com os crimes materiais. No crime formal e de mera

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

conduta, se acabam os atos executórios, os crimes estão automaticamente consumados. (CUNHA,


2015).

Art. 14 - Consumação e tentativa

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

O crime será consumado quando a conduta do autor se amoldar inteiramente ao tipo penal previsto
em lei como criminoso.

Será tentado quando a conduta dele não realizar inteiramente o tipo penal criminoso, sendo frustrada
por circunstâncias alheias à sua vontade.

A vontade do agente é importante na caracterização da tentativa, pois, se seu agir foi interrompido
por sua propria iniciativa, a tentativa não se caracteriza, sendo o caso, então, de desistência
voluntária ou de arrependimento eficaz.

No Crime Culposo Não Se Cogita A Hipótese De Tentativa.

Para a punição da tentativa se considera a extensão da conduta do autor até o momento em que foi
interrompida. Quanto mais próxima da consumação, menor deve ser a redução (1/3). De outro lado,
quanto mais longe a conduta do autor ficou da consumação delitiva, maior deve ser a redução da
pena (2/3). O Juiz deve fixar a redução dentro desses limites, de modo justificado.

Excludentes De Ilicitude

Dentre as diversas definições de crime, a mais significante define crime com um fato típico
antijurídico e culpável. As descrição das condutas consideradas crimes são dadas pelo Dire ito
Penal, e o procedimento voltado para averiguação da existência e autoria de um crime é dado pelo
Processo Penal.

Assim, a primeira coisa a se averiguar é a tipicidade da conduta, que consiste na adequação da


conduta ao tipo penal, se a conduta se encaixar no tipo penal descrito, temos um fato típico. Só
depois de configurada a tipicidade passa-se averiguar a Ilicitude, assim sendo, se uma conduta é
considerada atípica nunca será ilícita. Só haverá crime se a conduta além de típica for ilícita e
culpável.

Ilicitude é a contradição entre a conduta praticada pelo agente e o ordenamento jurídico, note -se
que a ilicitude é mais ampla que a tipicidade, pois já sendo verificado que a conduta corresponde
ao tipo penal na tipicidade, na ilicitude se averigua se mesmo sendo típica, não estaria aquela
conduta autorizada por outras normas do sistema jurídico. As normas autorizadoras são chamadas
excludentes de ilicitude.

É certo que o fato típico sempre tem um caráter indiciário de ilicitude, conduto, havendo a prese nça
de alguma causa excludente de ilicitude, não haverá crime. Partindo deste pressuposto, como todo
fato típico em princípio também é ilícito, o ônus de provar a existência de excludente de ilicitude fica
a cargo da defesa, bastando à acusação provar a tipicidade que já traz implicitamente a ilicitude.

Pode-se ainda, fazer distinção entre antijuridicidade e ilicitude, enquanto a maioria utiliza tais
expressões como sinônimas, uma vez que antijuridicidade corresponderia à ato contrário ao direito
e poderia ser graduada, enquanto ilicitude seria o ato contrário à lei não aceitando graduação, de
maneira que uma conduta acobertada por excludente de ilicitude seria ilícita, mas não antijurídica.
Tão pouco se pode confundir ilicitude com injustiça, pois são conceitos e valores distintos.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Parte da doutrina defende que do mesmo jeito que o tipo penal que que descreve a conduta do
crime, deve respeitar a legalidade estrita, as excludentes de ilicitude submetem-se ao mesmo
princípio. Embora haja outra parte que defender que existem causas supra legais que também são
capazes de excluir a ilicitude da conduta.

São quatro as causas legais, quais sejam: a) legítima defesa; b) estado de necessidade; c) estrito
cumprimento do dever legal e d) o exercício regular de direito.

Vale ressaltar que a inexigibilidade de conduta diversa, configura causa excludente de


culpabilidade e não de ilicitude.

Causas Supra Legais

Causas supra legais são aquelas que apesar de não previstas na lei, posto que o legislador não
pode prever todos os casos, de qualquer forma justificam a conduta que se encaixa no
enquadramento legal como fato típico, a ponto de não serem consideradas crime. Vez que seria
desproporcional e até extremamente injusto punir tais condutas havendo justificativa plausível.

Há discussão doutrinária a respeito de se tais condutas configurariam excludentes de ilicitude


supralegais (Bitencourt, Delmanto), ou se ante a teoria constitucional do fato punível (Luiz Flávio
Gomes), as excludentes de ilicitude devem também respeitar a regra da legalidade estrita, de
maneira que tais justificativas tornariam a conduta atípica, pois seriam formalmente típica, uma vez
que se enquadram na previsão legal, mas materialmente atípicas pois justificáveis.

Ex: agente que fura a orelha de outro para colocar um brinco. Pessoa pobre que constrói casa em
local irregular de preservação e por isso comete crime ambiental.

Na prática, ante a presença de tais causas não haverá crime, existindo precedentes neste sentido,
conforme:

Quesitos – Juri: “é obrigatória a formulação aos jurados das teses sustentadas pela defesa,
mesmo quando invocada causa supralegal de exclusão de culpabilidade que, é cediço, não se
encontra agasalhada, de forma expressa, no ordenamento jurídico vigente, sob pena de
cerceamento de defesa.” (TJMG, Ap. 1.0000.00.254046-6/000 (1), Rel. Reynaldo Ximenes
Carneiro, j. 29.08.2002)

Pessoa miserável: “pessoa miserável que, sem recursos para sua mantença e muito menos para
locação de imóvel de forma a que tivesse condições de conforto e higiene adequadas, constrói
barraco em local de preservação ecológica, sem autorização da autoridade competente. Acusação
por crimes ambientais de poluição pelo esgoto e de construção irregular (art. 54, § 2º, V e art. 64 da
Lei nº. 9.605/98), restando absorvido aquele por este pela inexistência da existência de rede de
esgoto doméstico no local. Condenação em primeiro grau. Não se aplicando à hipótese o estado de
necessidade, que tem requisitos específicos, é de se invocar a existência de causa supralegal de
exclusão de ilicitude, já ensinada por Bettiol. Responsabilizar-se penalmente quem, numa situação
de penúria, procura construir habitáculo para resguardo da família, parece injusto e se trata
efetivamente de problema de ordem social que não encontra respaldo no devido amparo da
autoridade pública. Não que com isso se justifique invasões organizadas e promovidas de modo a
atentar contra a ordem estabelecida. No caso presente, a mera providência administrativa e civil
eram suficientes, com a desocupação da área.” (TJSP, 5ª C., Rel. Des. José Damião Pinheiro
Machado Cogan, RT 835/545)

Consentimento Do Ofendido

Outra justificativa supra legal seria o consentimento do ofendido, sendo que as consequências
podem ser diferentes de acordo com a natureza do crime e suas elementares, bem como
dependendo do bem jurídico protegido.

É irrelevante em alguns casos ante a grande relevância e indisponibilidade do bem jurídico


tutelado. Ex: homicídio (vida)

Exclui a tipicidade, nos crimes em que a conduta depende da discordância do ofendido, como é o

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

caso dos delitos patrimoniais. Ex: furto, invasão de domicílio, violação de correspondência, violação
de segredo.

Exclui a antijuridicidade, quando não houver relevância para o tipo penal a aquiescência ou não
da vítima, mas servir como justificadora da conduta, como nos crimes de dano ou de cárcere
privado.

Exclui a culpabilidade, quando a vítima consente tacitamente, pela não permissão para que se
inicie o processo penal nos casos de ação penal condicionada ou não ingressando com a queixa
crime no caso das ações penais privadas.

Consequências Processuais

Conforme art. 41 do CPP: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas
as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”

Assim, se a conduta estiver acobertada por excludentes de ilicitude, não haverá crime, podendo o
Ministério Público pedir o arquivamento do inquérito sem oferecer denúncia. Se apresentada a
denúncia, e o juiz desde logo inaldita altera pars, se convencer de que há manifesta causa
excludente de ilicitude, deverá rejeitar a denúncia por ausência de condição da ação
(art. 395, II CPP) e mesmo recebendo a denúncia e determinando a citação do réu (art. 396-
A, CPP) se após a resposta, se convencer da manifesta existência de excludente de ilicitude, deve
absolver o réu sumariamente, rejeitando a denúncia (art. 397, II, CPP).

Ademais, cabe observar que a excludente de ilicitude nestes caos deve ser manifesta, caso haja
dúvida, dever vigorar o princípio in dubio pro societatis, seguindo-se no processo com a instrução
até a sentença onde haverá cognição exauriente dos fatos, podendo haver na sentença o
reconhecimento da existência da causa excludente de ilicitude com a absolvição do réu (art
, 386, VI, CPP).

Estado De Necessidade

O estado de necessidade consiste no sacrifício de um bem jurídico em detrimento de outro bem


jurídico, cuja perda não era razoável em relação ao segundo, pelo agente que não tendo o dever
legal de enfrentar uma situação de perigo e o qual, também não pode ter provocado a situação de
perigo por sua vontade.

O Estado de Necessidade implica em que para a preservação de um bem jurídico tido como maior
é necessária depreciação de outro bem jurídico, tido como menor. De modo a tornar justificável tal
sacrifício.

O Código Penal adota a teoria unitária, onde o sacrifício feito é razoável ou não, sem necessidade
de comparação detalhada dos valores dos bens, de maneira que ou o sacrifício feito é razoável, de
acordo com o homem médio, onde estaremos diante de um estado de necessidade, não havendo
ilicitude ou o sacrifício não é razoável e estaremos diante de um crime, que neste caso terá uma
causa de redução de pena, sendo o agente beneficiado apenas com a redução 1/3 a 2/3 na pena
(art. 24, § 2º).

Já o Código Penal Militar (arts. 39 e 43) adota a teoria da diferenciação, onde deve ser feita uma
ponderação entre os valores dos bens e deveres em conflito, de maneira que o estado de
necessidade só será considerado causa de exclusão de ilicitude, quando o bem sacrificado depois
de tal ponderação for reputado de menor valor.

Existe, ainda, a teoria da equidade (Kant), que aduz que mesmo sendo justificável o sacrifício o fato
continuaria a ser antijurídico, constituindo crime, mas não seria punido, apenas por questão de
equidade e política penal.

Requisitos

Situação De Perigo

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

a) Perigo atual: O perigo deve estar ocorrendo, sendo atual, e o dano deve estar iminente,
diferente da legítima defesa que e admite um perigo iminente, ou seja aquele que ainda não
aconteceu, mas que pode acontecer a qualquer momento.

b) O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio: o direito aqui seria qualquer bem ainda
tutelado pelo ordenamento jurídico, de maneira que um condenado à morte não poderia alegar
estado de necessidade contra o carrasco. E quanto ao direito de terceiro não é preciso a
autorização do terceiro, basta que seja razoável a conduta.

c) O perigo não pode ter sido causado voluntariamente pelo agente: Há divergência neste
ponto, (Damásio de Jesus) entende que o perigo causado culposamente, autoriza o
reconhecimento de estado de necessidade ao agente. Ao passo que (Assis Toledo, Nelson Hungria
e José Frederico Marques) defendem que o perigo causado por culpa ou por dolo não autorizam o
reconhecimento de estado de necessidade.

d) Inexistência do dever legal do agente de enfrentar o perigo: pois quem tem o dever legal de
agir (art 13, CP) deve tentar salvar o bem sem sacrificar nenhum outro, o que não significa que o
agente não possa se recusar a salvar o bem quando for impossível salvar o bem e o risco for inútil.

Conduta Lesiva

a) Inevitabilidade do comportamento: somente será aceito o sacrifício se não houver outro meio
de salvar o bem posto em perigo, devendo o comodus dicessus ser evitado. Ou seja, se puder
evitar-se o perecimento do bem sacrificado não haverá estado de necessidade, nestes casos a
fuga é preferível ao sacrifício do bem, da mesma maneira que se inevitável, a lesão ao bem
sacrificado deve ser a menor possível, do contrário haverá excesso

b) Razoabilidade do sacrifício: a razoabilidade deve levar em conta o homem comum e não o


valor do bem, pois ninguém está obrigado a andar por ai com calculadoras e tabelas para avaliar os
valores dos bens jurídicos. Salvo tratando-se do Código Penal Militar onde o valor do bem
sacrificado deve ser objetivamente menor do que o do bem salvo, sendo conditio sine qua non para
o reconhecimento do estado de necessidade

c) Conhecimento da situação justificante: segunda a teoria finalista, só haverá estado de


necessidade se o agente tiver conhecimento real da situação de perigo.

Classificações

a) Quanto à titularidade do interesse protegido: próprio ou de terceiro

b) Quanto ao aspecto subjetivo do agente: real ou putativo

c) Quanto ao terceiro que sofre a ofensa: defensivo (agressão contra o provocador dos fatos) ou
agressivo (destrói bem de terceiro inocente)

Jurisprudência E Exemplos

Passamos a citar alguns exemplos retirados de doutrinas diversas e da jurisprudência, com o


entendimento prático do que pode configurar ou não a excludente:

Crimes habituais, permanentes e reiteração criminosa: nestes casos não há estado de


necessidade, pois não há atualidade no perigo, embora se admitida excepcionalmente. Ex:
exercício ilegal da medicina, salvo se estiver numa ilha deserta estando lá por desastre.

Dificuldades Econômicas e furto famélico: de regra não caracteriza estado de necessidade,


senão legitimaria todos os crimes das camadas mais pobres da população, só uma situação
extrema autorizaria a conduta típica, em casos extremos com atualidade real do perigo
demonstrada. A jurisprudência entende que se o agente podia pedir auxilio econômico para
parentes já seria o bastante para não configuração da excludente, falta de dinheiro para cirurgia
também não configura. O furto famélico existe na jurisprudência em casos extremos, sendo o crime
de roubo, pela violência incompatível com a excludente de ilicitude.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

“Não cabe reconhecimento de estado de necessidade se o agente, podendo subtrair gêneros


alimentícios de primeira necessidade, opta por bebidas e guloseimas” (TJRS, Ap. 70000864828,
Rel. Tupinambá Pinto Azevedo, j. 17.5.2000)

Porte de arma: não basta o agente alegar que passa por locais perigosos, para justificar o porte de
arma, pois poderia a qualquer momento pedir a concessão administrativa para tanto. Admissível o
porte ilegal, apenas havendo agressão imediata à pessoa que porta a arma sem permissão ou que
haja invasão à sua casa.

Maus tratos: não configura crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345) o pai que
exercendo o seu direito de visita, retira seus filhos do poder de sua ex-companheira e não os
devolve justificando sua atitude diante da constatação de maus-tratos por ela impingidos aos
menores, tendo, em seguida, ingressado com ação de modificação de guarda (TACrSP, Ap.
1.391.887/4, j. 1.3.2004, in Bol. IBCCr 141/824)

Direção perigosa: “motorista que, para evitar sua morte quase certa pelo choque de seu veículo
com uma jamanta que invadira sua meia pista, devia-o para o acostamento, atropelando um
ciclista. Estado de necessidade caracterizado” (RT 560/362)

Motorista não habilitado: “Pai que se utilizou do carro à noite para adquirir medicamento para
filho enfermo. Estado de necessidade. Absolvição” (RT 603/354, 725/593)

Acusado que sentindo-se indisposto, entrega a direção do veículo ao filho sem habilitação legal.
Estado de necessidade. (RT 561/404)

Jogo do bicho: “estado de necessidade reconhecido. Acusada cujo marido vive de “biscates”, que
é mãe de numerosa prole e que auxilia na manutenção da família praticando aquela infração.
Absolvição decretada.” (RT 649/290)

Estrito Cumprimento Do Dever Legal

Tal excludente trata do agente que cumpre seu dever nos limites estritos autorizados e controlados
pela lei. Por tais atos, que são obrigações legais do agente não poderia ele, ao mesmo tempo,
estar praticando ilícitos penais. Consiste na realização de um fato típico por força do desempenho
de uma obrigação imposta por lei, afinal, o que uma lei autoriza ser feito, não pode ser proibido
como crime por outra.

Dever legal: consiste em qualquer obrigação direta ou indiretamente derivada de lei. Pode,
portanto, constar de decreto, regulamento ou qualquer ato administrativo infralegal, desde que
originário de lei. Vale notar que tais atos devem ter caráter geral, pois se forem endereçados
diretamente a um agente subordinado, estaremos diante de obediência hierárquica.

O cumprimento: deve se dar estritamente dentro da lei, se houve excesso haverá ilicitude,
podendo configurar abuso de autoridade ou outros delitos.

Função Pública: geralmente o beneficiado é agente ou funcionário público, mas nada impede que
seja particular, desde que esteja exercendo função pública.

Coautores: em regra a excludente beneficia a todos os coautores ou partícipes, contudo, segundo


como defende (Fernando Capez), se houver desconhecimento pelo partícipe do dever legal do
agente público, com o dolo de cometer o delito pelo coautor, deve responder pelo crime.

Não é admissível em crimes culposos, pois a lei que autoriza o ato não pode admitir imperícia,
negligência ou imprudência, contudo, eventualmente tal ato pode configurar estado de necessidade
como, por exemplo, no caso de motorista de ambulância ou viatura que causa acidente indo
atender uma ocorrência.

Para a teoria finalista, tal excludente só é aplicável se o agente público tem conhecimento de que
está agindo acobertado por dever legal e não com o dolo de cometer o crime.

Jurisprudência E Exemplos

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Passamos a citar alguns exemplos retirados de doutrinas diversas e da jurisprudência, com o


entendimento prático do que pode configurar ou não a excludente:

Crimes culposos: “o estrito cumprimento do dever legal é incompatível com os delitos culposos.”
(TACrSP, RT516/346)

Advogados: “estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular do direito. Inocorrência.


Causídico que, através de petição, assaca ofensas caluniosas contra o magistrado da causa.
Poderes do profissional do Direito na sua esfera de atuação que não são absolutos e
incontestáveis. Punibilidade de eventuais excessos e abusos.” (RT 797/559)

Policial militar: “que, para evitar suposta agressão a seu colega de serviço por indivíduo que
julgava ser bandido perigoso, nele atira por não atender à ordem de parar” (RT 573/420)

“Policiais que revidam a tiros a reação de marginais, matando um deles, quando cumpriam suas
funções.” (RT 473/368, 506/366, 508/398, 519/400, 580/447)

Calúnia: “Testemunha sob compromisso. Narrativa dos fatos pertinentes à causa. Atribuição de
fato criminosos a outrem. Atuação no estrito cumprimento do dever legal. Não caracterização de
calúnia.” (RT 692/326)

Legitimidade: “excludente só invocável por servidor público.” (RF 326/306)

Exercício Regular De Um Direito

Tal excludente deriva da máxima de que uma ação juridicamente permitida não pode ser ao mesmo
tempo, proibida pelo direito penal, de maneira que o exercício de um legítimo direito nunca pode
ser antijurídico.

Pode ser definido como causa de exclusão de ilicitude que consiste no exercício de uma
prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico, que ao mesmo tempo é caracterizada pelo Direito
Penal como fato típico.

Qualquer pessoa pode ser beneficiada. A expressão direito deve ser interpretada num sentido
amplo, seja penal ou extra penal, como, por exemplo, o jus corrigendi, decorrente do pode familiar
sobre os filhos, as normas internas das associações e estabelecimentos também o são, como o
direito de professores castigarem alunos. José Frederico Marques defende que o trote também
entraria nesta excludente, pois consagrado pelo costume, embora hajam divergências.

Não pode haver excesso no exercício do direito, senão estaremos diante de crime por abuso de
direito. E também é incompatível com homicídio, pois ninguém tem o direito de matar

Segundo a teoria finalista deve o agente ter pleno conhecimento de toda a situação fática
autorizadora da excludente, se há desconhecimento por qualquer motivo, bem como dolo de
executar a conduta típica, haverá crime.

Jurisprudência E Exemplos

Passamos a citar alguns exemplos retirados de doutrinas diversas e da jurisprudência, com o


entendimento prático do que pode configurar ou não a excludente:

Intervenções médicas e cirúrgicas: configuram tal excludente, mas é indispensável o


consentimento do paciente ou de seu representante legal, caso contrário pode-se estar diante de
um estado de necessidade de terceiro.

Violência desportiva: Algumas doutrinas consideram aplicável o exercício regular do direito,


contudo, alguns doutrinadores entende que pela teoria da imputação objetiva, por tratar-se de risco
permitido, trataria-se da fato atípico.

Mesmo assim, enumeram algumas exigências para que a conduta praticada durante a prática
desportiva seja tido como permitida, quais sejam: a) agressão cometida por conduta que esteja
dentro dos limites da regra do esporte ou de seus desdobramentos previsíveis; b) o praticante
vítima da conduta consentiu livremente em praticar tal modalidade esportiva; c) a atividade

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

esportiva não pode ser contrária à ordem pública, à moral ou aos bons costumes de acordo com o
senso comum.

Não cumpridas tais exigências, haverá excesso e, portanto, crime: EX; casos no futebol como os
xigamentos ao Grafite (injúria racial) e soco recebido por Edmundo (lesão corporal), e no boxe
como Mike Tyson mordendo Holyfield (lesão corporal).

Ofendículos: Constitui exercício regular de um direito (CC, art. 1.210, § 1º), embora deva cumprir
algumas exigências como: a) conter aviso e/ou serem facilmente perceptíveis e b) estarem
colocadas em local razoável. Damásio E. De Jesus entende tratar-se de legítima defesa pré-
ordenada e não exercício regular de direito. Excepcionalmente pode haver excesso e diante do
excesso haverá crime.

Defesa mecânica pré-disposta: Por ser oculta, na prática quase sempre configurará excesso,
sendo tido como crime doloso ou culposo, embora teoricamente pode não haver excesso, e,
portanto, pode não haver crime.

Débito conjugal: “não age ao amparo do exercício regular de direito o marido que constrange sua
esposa à copula “intra matrimonium”, tendo em vista que a recusa injustificada aos deveres do
casamento constitui causa para a separação judicial e não autorização normativa para a prática de
crimes sexuais.” (TJRS, Apelação 70009102377, Rel. Marco Antonio Ribeiro de Oliveira, j. 29.9.04)

Direito de denúncia: “não há calúnia, mas exercício regular de direito (CR, art. XXXIV) na conduta
de quem denuncia fiscal de tributos a superior hierárquico.” (STJ, RT 686/393)

Desagravo: Não configura crime o advogado que solicita desagravo contra juiz

Advogados – Direito de Representação e Desagravo: “não pratica crime contra a honra de juiz o
advogado que representa à Comissão de Prerrogativas da OAB solicitando desagravo, afirmando
que a autoridade “passou por cima da lei”, “agiu fora da lei”, “agiu com pura má-fé e intuito
preordenado de prejudicar” o advogado representante, “comprovadamente... Demonstrou
desconhecer totalmente o Estatuto da Advocacia quanto o Código de Ética da OAB e,
sistematicamente, vem ´metendo os pé pelas mãos´, confundindo Jesus (não o filho de Deus) por
Genésio, tais e tantos as arbitrariedades, ilegalidades e ofensas a diversos causídicos que vem
cometendo”” (STF, HC 82.992/SP, rel. Min Gilmar Mendes, j. 20.9.2005, DJU 14.10.2005)

Direito estatutário: “age no exercício regular de direito presidente de sociedade recreativa que
emprega força física para expulsar do recinto pessoa que se comportava desrespeitosamente.”
(TJRS, RF 267/318)

Lugar Privado:“Exerce regular direito quem expulsa de seu escritório, empurrando, pessoa que ali
fora insultá-lo.” (TACrSP, RT 421/248)

Homicídio: “não se aplica a homicídio, pois a lei não confere a quem quer que seja o direito de
matar.” (TJMG, RT 628/352)

Limites e abuso de direito: “há abuso de direito e não o seu exercício regular, quando o agente
exorbita dos limites.” (TACrSP, RT 587/340)

Excesso Punível

O caso criminal envolvendo Gustavo Corrêa, cunhado da apresentadora Ana Hickmann, ocorrido
em maio de 2016, em Belo Horizonte/MG, trouxe à tona um dos temas mais nebulosos e
controvertidos do Direito Penal, qual seja, o denominado excesso na legítima defesa ou excesso
punível, como é a nomenclatura do Código Penal.

Primeiramente, cabe destacar que nesse artigo não serão abordados aspectos específicos
relativos ao caso mencionado, que ao tempo dessa publicação está sub judice na Vara do 2º do
Tribunal do Júri de Belo Horizonte/MG, mas sim abordar o tema segundo o Código Penal e a
doutrina jurídica.

Para entender o que vem a ser o excesso da legítima defesa ou excesso punível, é necessário

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

passar rapidamente sobre o que é a legitima defesa para o ordenamento jurídico brasileiro.

1. A Legítima Defesa

Segundo o Código Penal, em seu artigo 25:

Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984).

Diferente do que se possa pensar no meio social, a legítima defesa não é qualquer espécie de
defesa ante uma agressão qualquer, mas sim a utilização moderada da força para repelir
uma injusta agressão, utilizando-se dos meios necessários, ou seja, aqueles que estão à
disposição do agredido injustamente no momento da agressão (seja ela atual ou próxima de
acontecer), e que são suficientes para interromper a violência.

Cessada a agressão, a pessoa inicialmente agredida deve imediatamente interromper


também sua defesa, sob pena de adentrar na zona cinzenta chamada excesso de legitima
defesa.

2. O Excesso Punível

O artigo 23, parágrafo único, do Código Penal disciplina o excesso punível nos seguintes termos:

Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984):Parágrafo único - O agente, em qualquer
das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. (Incluído pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)

A reforma do Código Penal, ocorrida em 1984, estendeu a hipótese do excesso punível para os
demais casos de exclusão da ilicitude, quais sejam, o estado de necessidade, estrito cumprimen to
do dever legal, e exercício regular do Direito, pois antes o excesso punível estava previsto tão
somente para a legitima defesa.

O excesso punível inicia-se quando cessa a injusta agressão e aquele que estava se defendendo
continua sua “defesa” mesmo assim.

O Código Penal aponta ainda que o excesso punível pode ocorrer em duas modalidades, sendo
elas a forma culposa e a forma dolosa.

Na modalidade culposa, o agredido, após cessar a injusta agressão, age de forma negligente,
imprudente ou imperita e, dessa forma, dá continuidade à sua “defesa”.

Já na modalidade dolosa, o agredido decide racionalmente continuar a “defesa” após cessada a


injusta agressão.

A verdade é que, na prática, diferenciar o que é a legitima defesa e o que é o excesso de punível
se mostra como um exercício hercúleo, pois não raro, são situações extremas, nas quais os
elementos que envolvem a injusta agressão são, por demais, complexos, como o abalo emocional
dos envolvidos, a dosagem do que é a moderação no caso concreto, o momento preciso em que se
interrompe a injusta agressão e passa-se ao excesso, entre outros, salvo nas hipóteses em que o
agente demonstra claramente com seus atos pós-defesa que sua intenção era de fato vingar-se da
injusta agressão. Trata-se, portanto, de um terreno profundamente nebuloso aferir se de fato
ocorreu ou não o excesso punível.

No caso de Gustavo Corrêa, cabe aos jurados que ainda serão escolhidos decidir se houve ou não
o excesso punível ao caso concreto, pois como o agressor inicial veio a óbito em decorrência da
situação, a competência para julgar crimes contra a vida pertence ao Tribunal do Júri (XXXVIII,
alínea d, da Constituição Federal).

Por fim, ressalta-se que uma vez configurado o excesso punível, o agente responde pelo resultado,
isso é, se, após cessada a injusta agressão, o injusto agressor inicial morre em razão do excesso,

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

a pessoa responde por homicídio, mas se no caso o excesso resultou em uma lesão que não deu
causa a morte, responde por lesão corporal.

A Culpabilidade

A culpabilidade é um dos institutos mais polêmicos da teoria do delito. Muito embora apareça em
variados dispositivos, não foi conceituada no Código Penal, gerando discussões acerca de sua
posição sistemática, ou seja, como integrante do conceito de crime ou não, e de suas funções.

A ausência de uniformidade no tratamento da culpabilidade termina por dificultar o cotidiano do


operador do direito e sua conclusão acerca da responsabilização do agente.

No presente trabalho, com o escopo de possibilitar uma maior compreensão da teoria do fato punível
e de demonstrar quais são os pontos de debate entre os doutrinadores, partir-se-á da conceituação
da culpabilidade penal, para que sejam mais bem elucidadas as teorias acerca da posição
sistemática do instituto, passando-se à sua evolução histórica, com a consagração do conceito
normativo puro da culpabilidade e, por fim, ao ponto central deste estudo, qual seja, explicar o
instituto enquanto pressuposto para a aplicação da pena, enquanto limitador do jus puniendi e
enquanto fator de gradação da punição ao agente.

2. Conceito E Posição Sistemática

A culpabilidade deriva da noção de censura pessoal. A palavra “culpado” carrega uma carga
axiológica negativa, por referir-se a um juízo de reprovação que se faz ao autor de um fato.

De acordo com conceituação de Luiz Regis Prado:

A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita.
Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa existir ação típica e ilícita
inculpável. Devem ser levados em consideração, além de todos os elementos objetivos e subjetivos
da conduta típica e ilícita realizada, também, suas circunstâncias e aspectos relativos à autoria.

Do mesmo modo, consoante preceituam Eugenio Raul Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, “esse
conceito é um conceito de caráter normativo, que se funda em que o sujeito podia fazer algo distinto
do que fez, e que, nas circunstâncias, lhe era exigível que o fizesse”.

Cumpre observar, destarte, que a culpabilidade refere-se a um fato praticado, que necessita ser típico
e antijurídico, e não a um modo de ser ou agir, afastando-se, de logo, o chamado Direito Penal do
Autor e a criação aristotélica da “culpabilidade pela conduta de vida”, segundo a qual tanto o vício
quanto a virtude são voluntários, devendo ser censurado o indivíduo que se afasta da primeira.

O Código Penal Brasileiro não traz definição para a culpabilidade, elevando-a a um dos conceitos
mais debatidos na teoria do delito. A discussão repousa, sobretudo, na sua posição sistemática, se
integrante do conceito de crime ou se considerada à parte, como pressuposto da pena.

Atualmente, a doutrina majoritária conceitua o crime como fato típico, antijurídico e culpável,
adotando a teoria tripartida do delito. O crime, para Guilherme de Souza Nucci, partidário dessa
teoria:

trata-se de uma conduta típica, antijurídica e culpável, vale dizer, uma ação ou omissão ajustada a
um modelo legal de conduta proibida (tipicidade), contrária ao direito (antijuridicidade) e sujeita a um
juízo de reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, desde que existam imputabilidade,
consciência potencial de ilicitude e exigibilidade e possibilidade de agir conforme o direito.

Semelhantemente, Para Heleno Cláudio Fragoso:

crime é, assim, o conjunto de todos os requisitos gerais indispensáveis para que possa ser aplicável a
sanção penal. A análise revela que tais requisitos são a conduta típica, antijurídica e culpável.

Não obstante, parcela considerável da doutrina defende que o crime, do ponto de vista analítico,
comporta apenas dois elementos, a tipicidade e a antijuridicidade, sendo a culpabilidade somente um
pressuposto de aplicação da pena.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Defensor da teoria bipartida explicitada supra, Damásio de Jesus justifica sua posição afirmando que
o Código Penal Brasileiro, em diversas passagens, considerou o crime como fato típico e antijurídico,
porquanto ao tratar das causas de exclusão da culpabilidade referiu-se apenas à isenção da pena,
como por exemplo, os artigos 26, caput, e 28, parágrafo primeiro:

Quando o CP trata de causa excludente da antijuridicidade, emprega expressões como 'não há crime'
(art. 23, caput), 'não se pune o aborto' (art. 128, caput), 'não constituem injúria ou difamação punível'
(art. 142, caput), 'não constitui crime' (art. 150, §3) etc. Quando, porém, cuida de causa excludente da
culpabilidade, emprega expressões diferentes: 'é isento de pena' (26 caput, e 28 §1º), 'só é punível o
autor da coação ou da ordem' (art. 22, pelo que se entende que 'não é punível o autor do fato'). Qual
a razão da diferença?

Adiante Responde:

Para a existência do crime, segundo a lei penal brasileira, é suficiente que o sujeito haja praticado um
fato típico e antijurídico. Objetivamente, para a existência do crime, é prescindível a culpabilidade. O
crime existe por si mesmo com os requisitos "fato típico" e "ilicitude". Mas o crime só será ligado ao
agente se este for culpável. É por isso que o CP, no art. 23, emprega a expressão 'não ha crime' (as
causas de excludente da antijuridicidade excluem o crime); nos arts. 26, caput e 28 §1º, emprega a
expressão "é isento de pena" (corresponde a "não culpável"). Se a expressão "é isento de pena"
significa "não é culpável", subentende-se que o código considera o crime mesmo quando não existe a
culpabilidade em face do erro de proibição (art. 21 caput, 2ª parte).

Luiz Flávio Gomes, contudo, adota posição intermediária entre as duas teorias, sustentando que a
culpabilidade não faz parte do conceito de crime, nem tampouco é “só” pressuposto da pena, pois
pressuposto da pena é tudo, incluindo-se a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade. Desse
modo, para ele:

mais que um pressuposto, a culpabilidade é um dos fundamentos da pena. Para nós, em síntese, a
culpabilidade é juízo de valor (de reprovação) que recai sobre o agente do crime que podia se motivar
de acordo com a norma e agir de modo diverso (conforme o Direito). Como juízo de valor ou de
reprovação (que recai sobre o agente do crime) não pode evidentemente pertencer nem à teoria do
delito nem à teoria da pena. Ela cumpre exatamente o papel de ligação ou de união entre o crime e a
pena, justamente porque sua primeira e distinguida função é a de constituir um dos fundamentos
indeclináveis da pena.

A polêmica sobre o acerto e a conveniência da adoção de determinada teoria para a idéia jurídico-
penal de delito subsiste e ainda se encontra longe de uma solução. O entendimento do autor Luiz
Flávio Gomes, exposto acima, concilia as diversas correntes e mostra-se de adequada aplicação
prática, afinal, é de se ter em mente que, elemento do crime ou não, só haverá aplicação da pena se
houver culpabilidade.

Ademais, para a evolução do presente estudo, necessário se faz enfatizar o conceito normativo de
culpabilidade, como um juízo de reprovação que está na cabeça de quem julga, mas que tem por
objeto o agente do crime e sua ação criminosa.

3. Evolução Histórica

Adotado hodiernamente, o conceito normativo de culpabilidade é o resultado de uma longa evolução,


que pode ser destacada em várias fases.

A primeira fase remonta ao causalismo naturalista de Liszt e Beling, e nela a culpabilidade era tida
como o vínculo psicológico entre o agente e o fato. Nesse momento, com a influência
do positivismo científico do final do século XIX, houve uma redução do pensamento, pois o Direito
passou a ser explicado a partir da causa e do efeito.

De acordo com Luiz Greco “o sistema naturalista, também chamado sistema clássico do delito, foi
construído sobre a influência do positivismo, para o qual ciência é somente aquilo que se pode
apreender através dos sentidos, o mensurável. Valores são emoções, meramente subjetivos,
inexistindo conhecimento científico de valores”.

A teoria psicológica da culpabilidade, adotada durante esse período, dividia o crime em aspectos

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

objetivos e aspectos subjetivos. Estes últimos ficavam fora da conduta, que era uma mera relação de
causa e efeito, e tratam-se do dolo e da culpa, as duas espécies de culpabilidade.

Sintetizando essa fase, Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina:

Para a teoria psicológica, a culpabilidade seria o vínculo do agente com seu fato, que ocorre pelo dolo
ou pela culpa. Dolo e culpa, como se vê, eram a culpabilidade (constituíam as essência da
culpabilidade), que já tinha como pressuposto a imputabilidade. Nesse tempo, portanto, a
culpabilidade contava com dois requisitos: 1) imputabilidade e 2) dolo ou culpa. A imputabilidade, de
outro lado, era enfocada como algo pertencente à cabeça do agente (em outras palavras: era
concebida como requisito subjetivo). O crime, aliás, de acordo com essa construção causalista (ou
natural causalista ou naturalista), possuía duas partes: uma objetiva e outra subjetiva. Integravam a
primeira a tipicidade e a antijuridicidade; a culpabilidade pertencia à segunda.

Prosseguindo, Afirmam:

Para a teoria psicológica da culpabilidade esta é o liame, o vínculo ou o nexo psicológico que liga o
agente ou pelo dolo ou pela culpa ao seu fato típico e antijurídico. Ela é vista num plano puramente
naturalístico ou psicológico, desprovido de qualquer valoração e esgota-se na simples constatação da
posição do agente perante sua própria conduta.

Convém enfatizar que imperava, à época, a influência das idéias deterministas sobre a teoria do
delito, com a conseqüente negação do livre-arbítrio do homem. Entendia-se que o crime era
determinado por fatores biológicos e sociais. Em decorrência disto é que não se analisava a
reprovação ou a valoração da conduta do agente, já que certos homens eram predeterminados a
comportamentos delinqüentes. A questão se resumia ao atuar com dolo ou culpa.

Sobre a teoria psicológica, critica o alemão Hans-Heinrich Jescheck:

A concepção psicológica da culpabilidade logo se mostrou, sem dúvida, como insuficiente porque não
dava respostas às questões de quais relações psíquicas deviam considerar-se relevantes jurídico-
penalmente e porque sua presença fundamenta a culpabilidade e sua ausência a exclui. Assim, não
poder-se-ia explicar porque ainda quando o autor atuasse dolosamente e, portanto, tenha produzido
uma relação psíquica com o resultado, deve negar-se sua culpabilidade se ele é um doente mental ou
se agiu em estado de necessidade (§ 35). Tampouco poder-se-ia fundar o conteúdo da culpabilidade
da culpa inconsciente com fundamento na concepção psicológica da culpabilidade, já que nela falta
precisamente toda relação psíquica com o resultado.

Críticas à parte, a teoria psicológica da culpabilidade representou um avanço na medida em que


rompeu de vez com qualquer resquício de responsabilidade objetiva no Direito Penal, ao exigir o
liame subjetivo entre o autor e o fato.

Em 1907 houve uma revolução no pensamento até então dominante sobre a culpabilidade, quando
Reinhardt Frank acrescentou novo elemento a esta, intitulado por ele de normalidade das
circunstâncias, transformando-a em um juízo de valor apoiado em uma situação psíquica.

Elementos E Causas De Exclusão

I – Causas Excludentes De Ilicitude Penal

O crime é fato típico e antijurídico. Para que se possa dizer que o fato concreto tem tipicidade é
necessário que ele se contenha perfeitamente na descrição legal, e que haja perfeita adequação do
fato concreto ao tipo penal. Deve-se dizer, para tanto, que são elementos do fato típico: a conduta,
o resultado, a relação de causalidade, a tipicidade. Não há crime, pois, sem conduta, que constitui
elemento estrutural do aspecto objetivo do crime.

O tipo penal é portador da ilicitude penal, dotado de conteúdo material possuindo uma função
seletiva.

O tipo incriminador serve para fundamentar um juízo de tipicidade de certos comportamentos


humanos.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Por sua vez, o evento seria parte do todo representado pelo resultado.

Tem-se o evento como efeito natural da conduta relevante para o direito penal.

Tanto o evento poderá ser produzido imediatamente após a conduta como ex intervalo.

Há crimes com evento e sem evento; materiais e formais.

Há crimes privados de evento (naturalístico) e crimes dotados de evento (naturalístico).

Há crimes de mera conduta que são aqueles nos quais, para integrar o elemento objetivo do crime,
basta o comportamento do agente, independente dos efeitos que venha a produzir no mundo
exterior. Assim prescindem de qualquer resultado naturalístico.

Crimes com evento (material) são aqueles em que o legislador distingue, na sua configuração
objetiva, além da conduta, um resultado dela dependente. Sendo assim é insuficiente a atividade
ou inatividade (omissão) do agente. Assim faz parte ainda do facti species legal um evento
(naturalístico), que integra o tipo como elemento necessário e indispensável.

Nos crimes formais, a intenção do agente é a realização de um evento, cuja consumação a norma
retroage para um momento anterior, dispensando a sua concretização. Considera-se que a mera
conduta poderá estar potencialmente capacitada a gerar, no mundo fenomênico, uma
transformação.

Há quem identifique os crimes formais com os de perigo e os materiais com os de dano, como se
vê na doutrina italiana com Battaglini e Rocco e, no Brasil, com Nelson Hungria.

Há o tipo proibitivo de que emana norma penal proibitiva, como se lê do artigo 121 do Código
Penal(matar alguém).

Por outro lado, há tipos justificantes que exigem do juiz uma valoração da situação justificante
assim como dos bens em conflito. Na parte geral do Código Penal, encontram-se tipos permissivos
(causas típicas de exclusão do crime, como a legítima defesa, o estado de necessidade etc).

A legítima defesa é posta ao lado do estado de necessidade, do estrito cumprimento do dever legal
e do exercício regular de direito, como causa de exclusão da ilicitude. Estamos diante de causas de
justificação que, quando incidem, o fato embora aparentemente típico, não será um crime, mas sim
um lícito penal. Será o caso da legítima defesa, do estado de necessidade, por exemplo.

No estrito cumprimento do dever legal, imposto por lei, não comete crime o agente embora esteja
causando eventualmente lesão a um bem jurídico. É o que se tem da norma permissiva do
artigo 23, III, primeira parte, do Código Penal. Atuam, de forma lícita, os agentes do Poder Público
que efetuam prisões, arrombamentos, buscas e apreensões de pessoas e coisas etc, na forma da
lei. Entende-se que se houver resistência com emprego de violência ou de ameaças, por parte do
agente passivo, cria-se uma situação de legítima defesa que faculta aos agentes que assim atuam
a possibilidade de reação com emprego moderado de meios necessários para impedir ou repelir a
agressão. Os excessos poderão constituir crime de abuso de autoridade (Lei nº 4.898, de 9 de
dezembro de 1965, artigos 3º e 4º) ou ainda outros crimes previstos desta forma na legislação
penal.

Da mesma forma, as intervenções médicas necessárias a salvar a vida de um paciente ou curá -lo
de uma enfermidade, tratando-se de uma atividade regulada pelo Estado que é objeto de
regulação, tendo-se de reconhecer como legítimos os atos que a sua prática regularmente
comporta, com os riscos que lhe são inerentes. Por certo o fundamento da determinação não é o
consentimento do paciente. Mas a ausência do consentimento torna a intervenção ilegítima,
porque, então, não haveria exercício regular de uma faculdade, mas constrangimento ilícito, que
retira desse exercício a sua legitimidade, salvo quando a vontade do paciente não se pode
manifestar ou quando ocorrem os extremos do estado de necessidade.

Nesse quadro encontram-se os atos lesivos na prática regular de certos jogos, como o boxe, o
futebol, a luta livre etc. A antijuridicidade se exclui quando se trata de uma prática regular que é

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

autorizada pelo Estado, uma prática que é considerada socialmente útil. O exercício regula r dessa
prática deve vir, segundo as regras, sendo autorizada por lei.

Quanto ao consentimento do titular do bem jurídico, se dirá que a lesão não pode ser validamente
consentida desde que ponha em perigo a vida ou diminua a capacidade do individuo como va lor
social, sem esquecer a influência que os costumes podem exercer sobre o julgamento da ilicitude
do fato. Mesmo o desinteresse do indivíduo pela própria vida não exclui a esta da tutela penal. Isso
porque o Estado deve proteger a vida como valor social, como bem disse Aníbal Bruno e esse
interesse superior torna inválido o consentimento do particular para que dela o privem. Isso é
diverso de um dano quando o titular da coisa o permite. Para Francisco de Assis Toledo, em
divergência ao ensinamento de Nelson Hungria, o consentimento do ofendido é uma causa
supralegal de justificação, aquele que se impõe, de fora, para a exclusão da ilicitude.

Ainda constitui exclusão da ilicitude o exercício regular de direito. Uma ação juridicamente
permitida não pode ser, ao mesmo tempo, proibida em direito.

A potencialidade agressiva de certos aparelhos, engenhos, cães ferozes, encontra melhor solução,
para muitos como Francisco de Assis Toledo, dentro dos limites da legítima defesa. É a legítima
defesa preordenada ou predisposta. É o que se chama de ofendículas.

Nelson Hungria considera que as ofendículas devem ser admitidas mesmo com o risco de que, ao
invés do ladrão, venha a ser vítima da armadilha uma pessoa inocente, caso em que, a seu ver,
configuraria legítima defesa putativa. Por sua vez, Aníbal Bruno anotou que a essa mesma
categoria de exercício de um direito pertence o ato do individuo que, para defender a sua
propriedade, cerca-a de vários meios de proteção, as chamadas defesas predispostas ou
offendicula, dispositivos ou instrumentos que impeçam ou embaracem o acesso do malfeitor ao
bem protegido, muros com pontas de ferro ou fragmentos de vidro, grades, foros ou aparelhos
mecânicos, como armadilhas mais ou menos perigosas, inserindo a matéria no exercício regu lar de
direito. Mas por certo, a zona do lícito termina necessariamente onde começa o abuso.

Nessas situações, expressamente mencionadas em lei, há tipos permissivos, em que mesmo


praticando uma conduta que seria expressamente proibida por lei, se exclui a ilicitude penal.

No estado de necessidade (artigos 23, I e 24 do CP), onde há a prática de fato para salvar de
perigo atual, que o agente ativo não provocou por sua vontade, nem poder de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, pelas circunstâncias, não era razoável exigir-se, são
exigidos para a configuração da excludente:

a) perigo atual, presente a ameaça concreta a bem jurídico;

b) proteção do direito próprio ou alheio;

c) situação de perigo atual não causada de forma voluntária pelo agente;

d) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.

Caracteriza-se o estado de necessidade ofensivo quando o titular do bem jurídico não é o causador
do perigo atual. Já o estado de necessidade defensivo acontece quando o titular do bem juríd ico
sacrificado é o causador do perigo.

Fala-se com relação ao estado de necessidade na aplicação de duas teorias: a unitária e a


diferenciadora. Penso que podemos adotar a segunda teoria.

Heleno Cláudio Fragoso, defendendo a aplicação da teoria diferenciadora, por influência da


doutrina alemã, disse o que segue:

¨A legislação vigente, adotando fórmula unitária para o estado de necessidade e aludindo apenas
ao sacrifício de um bem que, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se, compreende
impropriamente também o caso de bens de igual valor (é o caso do naufrago que, para ter a única
tábua de salvamento, sacrifica o outro). Em tais casos, subsiste a ilicitude e o que realmente ocorre
é o estado de necessidade como excludente da culpa (inexigibilidade de outra conduta), que a seu
tempo examinaremos.¨

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Termina Heleno Cláudio Fragoso por dizer:

¨O estado de necessidade exclui a ilicitude quando, em situação de conflito ou colisão, ocorre o


sacrifício do bem de menor valor. A inexigibilidade de outra conduta, no entanto, desculpa a ação
quando se trata de sacrifício de bens de igual ou de maior valor, que ocorre em circunstâncias nas
quais ao agente não era razoavelmente exigível o comportamento diverso. O estado de
necessidade previsto no art. 20 do Código Penal vigente, portanto, pode excluir a antijuridicidade
ou a culpabilidade, conforme o caso.¨

Se, pela teoria unitária, o estado de necessidade é sempre causa de exclusão da ilicitude, a teoria
diferenciada, com a colisão entre bens jurídicos de igual ou maior valor, exclui a culpabilidade,
enquanto que o sacrifício de bem de menor valor exclui a ilicitude.

Para Júlio Fabbrini Mirabete o Código brasileiro adotou a teoria unitária e não a teoria
diferenciadora. Assim, há estado de necessidade não só no sacrifício de um bem menor para salvar
um de maior valor, mas também no sacrifício de um bem de valor idêntico ao preservado, como no
caso do homicídio praticado por um náufrago para se apoderar da tábua de salvação. Não ocorrerá
a justificativa se for de maior importância o bem lesado pelo agente. Assim não se poderia matar
para garantir um bem patrimonial.

Sendo assim o estado de necessidade pode ser invocado quando da prática de qualquer crime,
mesmo os delitos culposos, não se admitindo a sua aplicação nos casos de crimes permanentes ou
habituais.

Mas há situação de estado de necessidade putativo, se o agente supõe por erro que está em
perigo. É o caso conhecido do agente que, supondo, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, estar no meio de um incêndio, não responde por lesões corporais ou morte que vier
a causar para se salvar. Repito que estamos no campo das chamadas discriminantes putativas.

Exige-se para a legítima defesa:

1. repulsa a agressão atual ou iminente e injusta;

2. defesa de direito próprio ou alheio;

3. emprego moderado de meios necessários;

4. orientação de ânimo do agente no sentido de praticar atos defensivos.

São necessários os meios reputados eficazes e suficientes para repelir a agressão. Já decidiu o
Supremo Tribunal Federal que o modo de repelir a agressão também pode influir decisivamente na
caracterização do elemento em exame (RTJ 85/475-7). Nessa linha de pensar, o emprego de arma
de fogo não para matar, mas para ferir ou para amedrontar (tiro fora do alvo) poderia ser
considerado, em certas circunstâncias, o meio disponível, menos lesivo, eficaz e, portanto,
necessário. Tal solução merece sérios debates numa sociedade que precisa combater o uso de
armas.

Há a análise da questão da proporcionalidade, na legítima defesa

Nelson Hungria nos dá uma conclusão, a nosso ver radical, data vênia, quando embora
entendendo que, no caso do roubo de frutas, se bastar a ameaça de arma, estaria excluída a
legitimidade de disparas no ladrão. Destaca que, por mínimo que seja o mal ameaçado ou por mais
modesto que seja o direito defendido, não há desconhecer a legítima defesa, se a maior gra vidade
da reação derivou da indisponibilidade de outro meio menos prejudicial, e posto que não tenha
havido imoderação no seu emprego. Assim, para ele, à luz da doutrina alemã, abatendo o chamado
sentimentalismo latino, qualquer bem jurídico pode ser defendido mesmo com a morte do agressor,
se não há outro remédio para salvá-lo. Ora, data vênia, é brutal tal ponto de vista, pois a
proporcionalidade da defesa deve ser condicionada não apenas a gravidade da agressão, mas
ainda a relevância do bem ou interesse que se defende.

Ora, data vênia, não há direitos absolutos, pois não há falar em legítima defesa abusiva.

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

Pode-se falar em excesso doloso ou culposo na legítima defesa, assim como também há no estado
de necessidade.

Aqui vem a ideia de excesso culposo, resultante de uma imprudente falta de compreensão, falta de
contensão por parte do agente, quando isso era possível nas circunstâncias para evitar um
resultado mais grave do que o necessário a defesa do bem agredido, que viria de um estado
emotivo causado pela repulsa ao ato agressivo.

Esse estado emotivo pode-nos trazer uma imaginação em nosso subconsciente de situações que
não condizem com a realidade fática.

É conhecido o surrado exemplo quando no auge de uma discussão áspera entre duas pessoas,
uma delas leve a mão ao bolso, e a outra, supondo que ela ia sacar uma arma, ou coisa que o
valha, atira primeiro, mas depois se descobre que a vítima estava desarmada. É a chamada
legítima defesa putativa, que está inserida entre as discriminantes putativas, previs tas no
artigo 20, § 1º, do Código Penal.

Ainda é devido trazer outro exemplo quando certa pessoa, tarde da noite, caminha por uma rua mal
iluminada, em situação que já seria bastante a preocupar, diante de assassinatos recentes que ali
surgiram, ao desenvolver sua caminhada, encontra uma pessoa que caminhava em sua direção, e
que tinha feições de um criminoso que se dava como perigoso assassino. O agente, em estado de
tensão, saca a sua arma e dispara um tiro fatal contra o suposto agressor. Ao seu aproxima r se
choca ao verificar que a pessoa atingida, na verdade, era um conhecido, que procurava a sua
ajuda.

Na doutrina, para a chamada teoria limitada da culpabilidade, nota-se que as discriminantes


putativas são divididas entre as que ocorrem em relação a pressuposto fático de uma excludente
de ilicitude (para uns, erro do tipo permisivo) e quando relacionadas ao limite ou a existência de
uma causa de justificação (erro de proibição indireto). Com o devido respeito penso que o erro na
discriminante putativa é o erro de proibição.

Para aquela teoria limitada da culpabilidade, no erro sobre os pressupostos fáticos de uma causa
de justificação, ocorre um erro do tipo permissivo. No erro sobre a existência ou sobre os limites de
uma causa de justificação, configura-se o erro de proibição, com a exclusão da culpabilidade.

Entre as discriminantes putativas, além da legitima defesa putativa, existe ainda o estado de
necessidade putativo, o exercício regular de direito putativo e o estrito cumprimento do dever legal
putativo.

O quadro de legítima defesa putativa assim foi conceituada por Nelson Hungria:

¨Dá-se a legitima defesa putativa quando alguém erroneamente se julga em face de uma agressão
actual e injusta, e, portanto, legalmente autorizado à reação que empreende.¨

O agente se imagina na presença de uma causa, que se realmente existisse, justificaria sua
conduta, ou seja, uma causa de justificação.

Aquele que reage a uma suposta agressão, que se mostrou real apenas em sua imaginação, e que
se existisse tornaria a sua ação legítima, age em legítima defesa putativa.

Repete-se o exemplo do agente que supõe que se encontra em meio a um incêndio, dada a
quantidade de fumaça e os gritos dos circunstantes, ferindo alguém para safar-se do local e se
apura que não havia incêndio (estado de necessidade putativo).

De outro modo, é conhecido o exemplo do policial, que munido de um mandado de prisão, recolhe
à prisão A, supondo que este é B, irmão gênio daquele e objeto da ordem judicial (estrito
cumprimento do dever legal putativo).

Certo que há, no direito penal, o conceito de crime putativo ou crime imaginário, que se distancia
da tentativa inidônea (crime impossível).

Adota-se o entendimento de que a lei penal adotou a chamada teoria objetiva na distinção entre

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O FATO TIPICO E SEUS ELEMENTOS

inidoneidade absoluta e inidoneidade relativa de meios e de objeto. A tentativa absolutamente


inidônea fica impune.

Por sua vez, o crime imaginário é um fato que o agente julga punível, mas que, na realidade, não é
definido como crime pela lei. O crime existe apenas em sua imaginação e essa errônea opinião não
bastaria para torná-lo punível. Para Aníbal Bruno, haveria atipicidade, ausência de tipicidade.

Para Aníbal Bruno, ainda há erro no crime putativo. O agente erra em supor criminoso o ato que
pratica, na realidade não definido na lei como crime. Mas, não seria erro do agente que excluiria o
tratamento penal, pois não haveria crime, porque não haveria nenhum tipo legal a que o ato
praticado correspondesse. O fato na sua expressão objetiva e na sua elaboração psíquica seria
totalmente estranho ao direito punitivo. Isso porque a norma proibitiva só existiria no subjetivo do
agente.

Há, sem dúvida, um enorme abismo entre legítima defesa putativa e legítima defesa real. A
primeira existe no conhecimento equivocado do agente em relação aos pressupostos objetivos da
legítima defesa enquanto a segunda se configura com a existência concreta desses pressupostos.

Aliás, dispõe o artigo 20, § 1º, do Código Penal: ¨É isento de pena quem, por erro, plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima.
Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.¨

O agente supõe que está agindo licitamente ao imaginar que se encontram presentes os requisitos
de uma das causas justificativas presentes na lei.

Estaríamos diante de um erro do tipo permissivo? Será caso de erro de proibição ou ainda um tipo
intermediário?

Para isso, penso correto fazer uma divagação com relação a teoria da culpabilidade, desde a teoria
normativa até a teoria finalista, para se verificar a dicotomia erro do tipo e erro de proibição.

II – Excludentes De Culpabilidade

Sem culpabilidade não é possível a aplicação da pena.

Dentro de uma concepção psicológica da culpabilidade, o dolo era representação e vontade, para
que os que entendiam a culpabilidade como simples nexo psíquico. Assim a culpabilidade era
ligação psicológica entre o agente e o seu fato e estaria no psiquismo do agente.

Posteriormente, com as ideias trazidas por Frank, em 1907, lançaram-se as bases da denominada
¨teoria normativa da culpabilidade¨, introduzindo-se no conceito de culpa a reprovabilidade do ato
praticado.

Para ser culpável não bastava que o fato fosse doloso, ou culposo, mas era preciso que, além
disso, seja censurável ao autor. Sendo assim o dolo e a culpa deixaram de ser espécies de
culpabilidade e passaram a ser elementos dela. A culpabilidade era um juízo de reprovação ao
autor do ato composto dos seguintes elementos: imputabilidade, dolo ou culpa stricto sensu
(negligência, imprudência, imperícia); exigibilidade, nas circunstâncias de um comportamento
conforme ao direito. O dolo era visto como voluntariedade, previsão e consciência atual do ilícito,
que presentes possibilitam o juízo de censura de culpabilidade.

No entanto, Hans Welzel, professor da Universidade de Göttingen, e mais tarde da Universidade de


Bonn, entendeu que o dolo faz parte da ação humana e não do juízo de culpabilidade. O dolo e a
culpa stricto sensu foram extraídos da culpabilidade e inseridos no conceito de ação, incluídos no
tipo legal do crime. Há, pois, tipos dolosos e tipos culposos.

Do dolo foi retirada a consciência da ilicitude, fazendo-se alteração no entendimento quanto a


consciência potencial da ilicitude, ficando o dolo do tipo e a culpabilidade assim reduzidos:

dolo do tipo:

- intencionalidade, que é igual a finalidade da ação (elemento volitivo);

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-previsão do resultado (elemento intelectual).

culpabilidade

- imputabilidade;

-consciência potencial da ilicitude;

-possibilidade e exigibilidade, nas circunstâncias, de um agir de outro modo;

- juízo de censura do autor por não ter exercido, quando podia, esse poder-agir de outro modo.

Assim a culpabilidade é entendida como um juízo valorativo, um juízo de censura que se faz ao
autor de um fato criminoso. Esse juízo terá por objetivo o agente do crime e sua ação criminosa
enquanto que o dolo está no objeto da valoração, sendo um elemento necessário do tipo doloso.

Para Mezger, citado por Francisco de Assis Toledo, a culpabilidade é juízo de reprovação ao autor
do fato, assim composto: imputabilidade, dolo ou culpa strictu sensu (negligência, imprudência,
imperícia); exigibilidade de conduta diversa, nas circunstâncias de um comportamento conforme ao
direito. Assim, a censura de culpabilidade pode ser feita ao agente de um injusto típico penal se
ele, ao praticar a ação punível, não agiu de outro modo, conformando-se às exigências do direito,
quando, nas circunstâncias, podia tê-lo feito, isto é: estava dotado de certa dose de
autodeterminação e de compreensão (imputabilidade) que o tornava apto a frear, reprimir, ou a
desviar sua vontade ou o impulso que o impelia para o fim ilícito (possibilidade de outra conduta) e
que, apesar disso, consciente e voluntariamente (dolo) ou com negligência, imperícia ou
imprudência, desencadeou o fato punível.

O que falar do dolo normativo? Que falar do criminoso habitual, alguém nascido de família
desajustada, criado num ambiente agressivo, onde viu unicamente a criminalidade?

Como exigir-se dessas criaturas uma exata compreensão da consciência atual da ilicitude? Logo
ele que jamais soube ou compreendeu o que é ilícito diversamente do que é licito?

Mezger elaborou um adendo à culpabilidade normativa, culpabilidade pela condução de vida,

Uma corrente majoritária de penalistas entende pela culpabilidade do fato. A censurabilidade de


culpabilidade recai sobre o fato do agente, sobre o comportamento humano, dentro de ação e
omissão, que realiza um fato-crime. A tônica estaria no fato do agente, não no agente do fato. O
agente sendo dotado de certa capacidade de compreensão e escolha é culpável por um fato ilícito,
na medida em que se concretiza o injusto, podendo, nas circunstâncias, ter agido de outro modo.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

Crimes Contra o Patrimônio

Furto

Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

1. Classificação Doutrinária

Crime comum, material, doloso, de dano, de forma livre, comissivo em regra, instantâneo ou per-
manente, unissubjetivo, plurrisubsistente, não transeunte e admite tentativa. Entendemos exequível
o cometimento de furto por omissão.

2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, salvo o proprietário ou possuidor da coisa.

3. Sujeito Passivo: É a pessoa física ou jurídica que detenha a posse ou propriedade da coisa.

4. Objeto Material

A conduta criminosa recai sobre a coisa alheia móvel, que são considerados os animais, aerona-
ves, os navios, os títulos de crédito, os talões de cheques, os frutos, as árvores, etc. O furto de
gado é conhecido como abigeato. As coisas de uso comum também podem ser objeto de furto
como a água e luz. A coisa abandonada (rês derelicta) e a coisa de ninguém (rês nullius) não po-
dem ser objeto material de furto, pois não são coisas alheias. Se o agente pensou que se tratava
de coisa abandonada e dela se apoderou haverá erro de tipo que excluirá o dolo.

Quanto a cadáver, se a subtração for com intuito de lucro haverá caso de furto, caso contrário, o
crime será de subtração de cadáver, previsto no art. 211 do CP. Quem subtrair cadáver de facul-
dade de medicina com o fim de retirar o ouro existente na arcada dentaria incorrerá em crime de
furto.

5. Objeto Jurídico: Tutela-se a posse e a propriedade.

6. Tipo objetivo

Subtrair significa retirar, pegar coisa alheia móvel, ou seja, qualquer objeto ou substância corpórea
que tenha valor econômico e que possa ser removida, destacada ou deslocada de um lugar para o
outro.

Coisa alheia para os juristas não é só a pertencente a outrem, mas também a que se acha legitima-
mente na posse de terceiro.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

O tipo exige o ânimo do agente em assenhorar-se da coisa alheia. Doutrina e jurisprudência admi-
tem o furto cometido por ladrão contra outro ladrão, reconhecendo, contudo, como sujeito passivo,
o proprietário original da coisa.

7. Tipo Subjetivo

O tipo requer dois elementos subjetivos: o primeiro dolo do agente é genérico, a vontade livre e
consciente de subtrair coisa alheia móvel. O segundo exige uma finalidade especial, o dolo especí-
fico, o fim de assenhorar-se da coisa em definitivo, contido na expressão "para si ou para outrem"
(animus furandi)

O furto de uso, ou seja, a fruição da coisa momentaneamente sem efetivo prejuízo ao ofendido,
com restituição da coisa no estado em que antes se encontrava não é contemplado pela norma pe-
nal em estudo. O furto de uso somente será reconhecido se não era exigível outra conduta do
agente a não ser sacrificar direito alheio, como subtrair o veículo da vítima para socorrer o filho ao
hospital, por exemplo.

Será excluído o dolo e, consequentemente, o fato será considerado atípico se o agente subtrair
coisa alheia pensando ser própria (erro de tipo).

É pacifico na jurisprudência o reconhecimento do estado de necessidade em caso de furto famé-


lico. É imperativo que a conduta do agente se realize com o único objetivo de saciar a fome, num
estado de extrema penúria, não podendo esperar mais, por ser a situação insuportável e que so-
mente por meio do ato ilícito consiga resolver o problema de falta de alimentação.

8. Consumação

Ocorre no momento em que o agente tem a posse tranquila da coisa, ainda que por pouco tempo.
Consuma-se quando a coisa sai da esfera de disponibilidade e de proteção da vítima e ingressa na
disponibilidade do sujeito ativo.

Para a jurisprudência do STF, para a consumação dos crimes de furto e de roubo basta a posse do
bem em poder do agente, independentemente de vigilância da vítima ou posse tranquila, de modo
que a fuga logo após o furto caracteriza a inversão da posse, e o furto está consumado mesmo ha-
vendo perseguição imediata e consequente retomada do objeto (teoria do amotio).

Sendo crime instantâneo, a consumação se verifica no exato instante em que o delito é cometido.
O crime também restará consumado quando a coisa estiver ocultada, mesmo encontrando-se perto
da vítima.

9. Tentativa

Crime material, exigindo assim o resultado naturalístico, a tentativa é perfeitamente admissível na


hipótese de o agente não conseguir subtrair a coisa por circunstâncias alheias à sua vontade. Tam-
bém caracteriza a tentativa na hipótese de ser perseguido pela polícia e preso logo após a subtra-
ção, pois a coisa não saiu da esfera de proteção e disponibilidade da vítima.

10. Furto e a desistência voluntária, arrependimento eficaz, arrependimento posterior e crime im-
possível

Diferentemente da tentativa em que a não consumação ocorre por circunstâncias alheias à vontade
do agente, na desistência voluntária e no arrependimento eficaz (art. 15), a execução é interrom-
pida pela própria vontade do agente (medo, remorso, baixa qualidade do objeto material, dor de
barriga). Ocorre desistência voluntária, por exemplo, se A ingressa na residência de B, mas por
qualquer motivo, desde que voluntário, desiste de prosseguir e foge sem nada levar. Responde por
invasão de domicílio. Arrependimento é considerado eficaz se A subtrai um livro de B e antes de ter
sua posse tranquila devolve o objeto. Sua conduta foi de encontro com à continuidade do processo
de execução de uma típica iniciada.

Desistência Voluntária E Arrependimento Eficaz

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resul-
tado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Arrependimento Posterior

Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou resti-
tuída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena
será reduzida de um a dois terços.

O arrependimento posterior é uma causa especial de diminuição de pena e só tem aplicação nos
crimes materiais, pois seu reconhecimento se verifica com a reparação do dano ou a restituição da
coisa. O indivíduo que, voluntariamente, decorrido de alguns dias após o furto de um veículo, arre-
pende-se e comunica à vítima o local onde o mesmo se encontra será beneficiado por esta enti-
dade criminal.

11. Repouso Noturno

É o período em que as pessoas descansam de acordo com os costumes de cada região do País, a
vítima encontra-se mais vulnerável e por isso a pena será aumentada de um terço. Doutrina e juris-
prudência são pacíficas ao admitirem sua aplicação apenas ao furto simples.

12. Furto de Pequeno Valor e Criminoso Primário

Se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa furtada o juiz pode substituir a pena de re-
clusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços ou aplicar somente a pena de multa. Pri-
mário é o sujeito que não é reincidente, isto é, aquele que mesmo cometendo outros crimes ainda
não foi definitivamente condenando. Pequeno valor é aquele em que a coisa furtada não ultrapassa
o valor equivalente ao salário mínimo vigente à época do fato criminoso.

13. O Privilégio e o Furto Qualificado

Segundo reiterada jurisprudência do STJ, não se aplica ao crime de furto qualificado o beneficio
previsto no parágrafo 2º do art. 155 do CP, uma vez que a existência da qualificadora inibe a apli-
cação do privilégio, não obstante a primariedade e o pequeno valor ou pequeno prejuízo, em razão
da flagrante incompatibilidade.

14. Furto de Energia Elétrica

Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

Captar energia antes de sua passagem pelo aparelho medidor configura o delito, considerado per-
manente, possibilitando, assim, a prisão em flagrante do agente enquanto perdurar seu efeito. Se o
agente, porém, alegrar o relógio de luz e passar a pagar metade da energia elétrica con sumida, o
crime será de estelionato.

A ligação clandestina para a utilização de TV por assinatura, conhecida como "gato", para nós, não
pode se equiparada a furto de energia elétrica. O fato é ilícito, mas não chega a ser típico. A con-
duta deve ser apurada na esfera cível. A energia elétrica quando subtraída depois e armazenada,
causa perda patrimonial, diferentemente do sinal de TV a cabo, em que sua utilização não gera
dano, isto é, não há perda de energia de valor econômico, mas ausência de ganho por par te da
empresa.

15. Furto Qualificado

A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - Com Destruição Ou Rompimento De Obstáculo À Subtração Da Coisa;

A violência aqui é empregada contra obstáculo que está impedindo a subtração da coisa.

II - Com Abuso De Confiança, Ou Mediante Fraude, Escalada Ou Destreza;

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

Abuso de confiança é a quebra da fidelidade, do vínculo de amizade existente entre algumas pes-
soas. Emerge de uma condição particular de lealdade. É preciso gozar absolutamente de confiança
para incidir na qualificadora.

Fraude é o ardil na prática do crime, o engodo, a mentira, o embuste, utilizados para facilitar a sub-
tração da coisa. A conduta do agente nesta espécie de furto é no sentido de subtrair os bens da ví-
tima iludindo-a momentaneamente, o delito é cometido sempre sobre a vigilância da vítima. A quali-
ficadora também se aplica quando a vítima não tem capacidade de entender o caráter ilícito do fato,
como o doente mental ou uma criança.

Difere do estelionato, pois neste a vítima é enganada, seu consentimento é viciado pelo erro. A pró-
pria vítima faz a entrega da vantagem ilícita ao agente. O sujeito, mediante fraude, cria no espírito
da vítima um sentimento distorcido da realidade. No furto com fraude haverá sempre subtração
como a ladra profissional que se finge de doméstica para furtar a casa que se empregou.

Escalada é a qualificadora que se caracteriza pelo ingresso no local pretendido por via anormal de-
mandando um esforço incomum do agente para vencer o obstáculo existente, como numa residên-
cia subindo uma árvore ou um muro alto, ou ainda escavando um túnel etc.

Destreza é a habilidade manual do agente, por exemplo, o batedor de carteira.

III - Com Emprego De Chave Falsa;

Considera-se chave falsa todo e qualquer instrumento, com ou sem forma de chave como a gazua,
moca, alfinete, arame etc. Capaz de abrir fechadura ou dispositivo análogo. Se a verdadeira chave
encontra-se na fechadura haverá o furto simples, pois "porta fechada com chave na fechadura é
porta aberta", mas se for conseguida ardilosamente para o cometimento do delito, como, por exem-
plo, subtraí-la da bolsa da vítima para depois adentrar sua residência, qualificadora será fraude.

IV - Mediante Concurso De Duas Ou Mais Pessoas.

A norma busca impedir a somatória de forças para o cometimento do crime, enfraquecendo, assim,
a resistência do ofendido. Basta que apenas um dos agentes seja culpável. Desse modo, nada im-
pede para a sua configuração a participação de inimputáveis.

16. Furto e o Concurso de Crimes: Ao furto nos demais crimes contra o patrimônio aplicam-se as
regras do concurso material, formal e do crime continuado.

17. Parágrafo 5º do art. 155

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

Requer o tipo penal o elemento subjetivo especial (dolo específico), ou seja, deve o agente ter
consciência de que está ultrapassando os limites de um Estado ou país com o objeto material. É
necessário, portanto, para a consumação do delito, que o veículo tenha transportado as fronteiras
do Estado ou do território nacional.

O crime de subtração de veículo que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
só se consuma após o seu exaurimento.

18. Concurso de Qualificadoras

Incidindo duas ou mais qualificadoras no furto o entendimento prevalente é de que apenas uma
será aplicada, servindo aos demais como agravantes genéricas. Há, todavia, quem entenda que a
pluralidade de qualificadoras interfere na dosagem da pena como circunstância judicial.

Furto De Coisa Comum

Art. 156. Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

§ 1º - Somente se procede mediante representação.

§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

1. Classificação Doutrinária

Crime próprio, de dano, material, não transeunte, instantâneo, comissivo ou omissão impróprio,
unissubjetivo, plurissubsistente, de forma livre e admite tentativa.

2. Sujeito Ativo: É somente o condômino, coerdeiro ou sócio. Trata-se de crime próprio que se co-
munica em caso de concurso de pessoas.

3. Sujeito Passivo: Pode ser o condômino, o coerdeiro, o sócio, ou ainda um terceiro quem detém
legitimamente a coisa

4. Objeto Material:

A conduta recai sobre a coisa subtraída. É o que incide, por exemplo, o proprietário de um aparta-
mento que subtrai da área comum de um prédio um relógio de parede.

5. Objeto Jurídico: Tutela-se a propriedade ou a posse legítima.

6. Tipo Objetivo

A conduta consiste em subtrair, que tem o significado de retirar, pegar coisa comum de quem legiti-
mamente a detém, isto é, a coisa que pertence não apenas ao agente, mas também a outras pes-
soas. Condômino é o proprietário que divide o domínio da mesma coisa com outras pessoas. Her-
deiro é o sucessor que concorre a uma herança (patrimônio falecido que transmite aos herdeiros)
deixada pelo de cujus. Sócio é o membro de uma sociedade (reunião de duas ou mais pessoas que
mediante contrato se obriga, a combinar seus esforços ou bens para a consecução de fins co-
muns).

7. Tipo Subjetivo

É o elemento específico do tipo, dolo específico dos clássicos, consubstanciado na expressão para
si ou para outrem, qual seja, a finalidade de assenhoraremos da coisa comum.

8. Consumação

Ocorre quando a coisa comum sai da esfera de proteção do sujeito passivo. Passa o agente a ter
posse tranquila da coisa comum, ainda que por pouco tempo.

9. Tentativa

Quando a coisa comum não sai da esfera de disponibilidade do ofendido por circunstâncias alheias
à vontade do condômino, herdeiro ou sócio.

10. Coisa Fungível

Não é punível a subtração de coisa fungível, cujo valor não excede a quota que tem direito o
agente, coisa fungível é aquela que pode ser substituída por outra da mesma espécie, qualidade e
quantidade. Trata-se de causa excludente de ilicitude. Por outro lado, haverá o delito em estudo se
a coisa foi infungível, qual seja, a que não por ser substituída por outra.

11. Ação Penal

O crime é de ação pública condicionada. Somente se procede mediante representação do ofen-


dido. Infração de menor potencial ofensivo sujeita as normas da Lei nº 9.099/1995.

Roubo

Art. 157.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
ou para terceiro.

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:

I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior;

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos,
além de multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

1. Classificação Doutrinária

Crime comum, material, instantâneo, de forma livre, de dano, unissubjetivo, comissivo ou omissivo
impróprio, plurissubsistente, complexo e admite tentativa.

2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa.

3. Sujeito Passivo

Pode ser qualquer pessoa, mas sendo crime que tem tutelados vários objetos jurídicos, nada im-
pede o surgimento de dois ou mais ofendidos, como ocorre, por exemplo, com aquele que sofre vi-
olência e o outro que tem o bem subtraído durante a ação criminosa.

Em regra, porém, sujeito passivo é o titular do direito da propriedade ou da posse.

4. Objeto Material: A conduta criminosa recai sobre a pessoa e coisa alheia móvel.

5. Objeto Jurídico

A lei tutela o patrimônio (posse e propriedade), a vida, a integridade física, a saúde e a liberdade
pessoal, daí ser considerado crime complexo em que são conjugados emprego de violência ou
ameaça e a subtração patrimonial.

6. Tipo Objetivo

O tipo refere-se à subtração de coisa móvel alheia, mas é acrescido pelo emprego de violência,
grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza a possibilidade de resistência da vítima. A violên-
cia pode ser:

A) física (vis absoluta) que compreende as vias de fato, lesão corporal leve, grave ou morte (es-
sas duas últimas qualificam o delito);

B) moral (vis compulsiva) que se constata em atemorizar ou amedrontar a vítima com ameaças,
gestos ou simulações, como a de portar arma, por exemplo. A ameaça pode ser dirigida à vítima ou
a terceiro;

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

C) imprópria é a que reduz a capacidade de resistir, como a superioridade física do agente, colo-
car droga na bebida da vítima, jogar areia nos seus olhos, hipnotizá-la, induzi-la a ingerir bebida al-
coólica até a embriaguez etc.

O roubo difere do furto qualificado pelo rompimento de obstáculo porque neste a violência é exer-
cida contra a coisa, naquele, contra a pessoa. Em outras palavras, roubo nada mais é que um furto
cometido com violência ou grave ameaça contra a pessoa.

Objetos que estão presos ao corpo como brinco, corrente, relógio, pulseira etc., e que são arranca-
dos pelo ladrão caracterizam o roubo. Quando soltos como boné, óculos, bolsa, celular etc., o crime
é de furto.

Não se aplica no furto o princípio da insignificância, haja vista que a conduta do agente revela
maior periculosidade e atinge não apenas o patrimônio do ofendido, mas também a sua integridade
física, sua saúde e até sua vida em caso de latrocínio.

Institutos como o crime impossível, o roubo de uso, o pequeno valor da coisa, o estado de necessi-
dade etc., que podem ser admitidos no furto não o são no roubo por tutelar outros bem jurídicos e
não apenas o patrimônio do ofendido.

7. Tipo Subjetivo

O tipo requer dolo duplo: o primeiro, genérico, consistente na vontade livre e consciente de subtrair
coisa móvel alheia mediante violência ou grave ameaça; o segundo, elemento subjetivo especial do
tipo, exige que a subtração seja para o agente ou para terceiro. É o dolo específico dos clássicos
contido na expressão "para si ou para outrem".

8. Consumação do roubo impróprio

Predomina na doutrina o entendimento de que o crime consuma-se quando o agente tem a posse
tranquila da coisa, ainda que por pouco tempo ou quando a coisa subtraída sai da esfera de prote-
ção, de disponibilidade da vítima. Também se diz consumado o delito quando a vítima não recu-
pera os objetos subtraídos, mesmo em casos de prisão em flagrante. Restará consumado ainda
quando a vítima permanece dominada pelo autor do roubo no interior do veículo, perdendo a dispo-
nibilidade do bem.

Na jurisprudência, porém, tem-se entendido como consumado o delito quando ocorre a subtração
dos bens da vítima, mediante violência ou grave ameaça, ainda que, em seguida, o próprio ofen-
dido detenha o agente e recupere a res.

9. Tentativa

No roubo próprio o entendimento é pacífico no sentido de sua admissibilidade. Ocorre quando o


agente após o emprego de violência ou grave ameaça não consegue efetivar a subtração da coisa
por circunstâncias alheias à sua vontade nem tem a posse tranquila da coisa, ainda que por breve
tempo.

10. Roubo impróprio

É aquele em que o agente logo depois de subtraída a coisa emprega violência contra a pessoa ou
grave ameaça a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.

No roubo próprio a violência ou grave ameaça é praticada antes ou durante a subtração da coisa.
No impróprio ela é cometida logo depois de subtraída a coisa para assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa.

Na hipótese de o agente ser surpreendido pela vítima em sua residência e abandonar o objeto ma-
terial empregando violência para a fuga, o crime a ser reconhecido é o de tentativa de furto em con-
curso material com lesão corporal.

11. Tentativa de roubo impróprio

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

Entendemos não ser possível a tentativa de roubo impróprio. Ou o agente emprega a violência ou a
grave ameaça, logo depois de subtraída a coisa e o crime se consuma, ou não subtrai a coisa, mas
emprega violência para fugir e, então, o crime será de tentativa de furto em concurso material de
lesão corporal.

E outra partem deve-se reconhecer o furto e não o roubo impróprio na ação do agente que após a
subtração se desvencilha do ofendido que o agarra, sem contudo, ameaçá-lo ou agredi-lo e foge
com a res.

12. Causas de aumento de pena

I - Se A Violência Ou Ameaça É Exercida Com Emprego De Arma;

O fundamento da agravante reside no maior perigo que o emprego da arma envolve motivo pelo
qual é indispensável que o instrumento usado pelo agente (arma própria ou imprópria), tenha ido-
neidade para ofender a incolumidade física.

Com o cancelamento da Súmula 174 do STJ que autorizava o aumento de pena quando o agente
utilizava arma de brinquedo para cometer o crime, esta conduta passou a ser considerada uma
grave ameaça relacionada ao roubo simples.

II - Se Há O Concurso De Duas Ou Mais Pessoas;

A doutrina prevalente assevera que não há necessidade de estarem todos os agentes presentes no
local do crime, basta haver o concurso de duas ou mais pessoas.

III - Se A Vítima Está Em Serviço De Transporte De Valores E O Agente Conhece Tal Circuns-
tância.

A norma tutela aqueles que transportam valores. Qualquer tipo de valor como ouro, dinheiro, pe-
dras preciosas etc. O agente deve saber que a vítima está a transportar valores, dolo direto, por-
tanto.

IV - Se A Subtração For De Veículo Automotor Que Venha A Ser Transportado Para Outro Es-
tado Ou Para O Exterior;

Para a consumação do delito é necessário que o veículo seja levado para outro Estado ou país,
não havendo, assim, possibilidade de ocorrer tentativa. Ou leva e ingressa com o veículo em outro
Estado ou país e o crime está consumado, ou não ingressa e o crime será de furto ou roubo con-
forme a circunstância.

V - Se O Agente Mantém A Vítima Em Seu Poder, Restringindo Sua Liberdade.

objeto do agente, após o emprego da violência ou grave ameaça, é manter a víti ma em seu poder e
assim facilitar a subtração. A restrição de liberdade da vítima deve ser por tempo razoável, sufici-
ente para que o agente consuma o delito sem ser descoberto pela polícia.

13. Pluralidade de causas de aumento de pena

Muito comum na prática a incidência de mais de uma majorante no roubo. Diverge a doutrina
quanto à aplicação da pena. A primeira corrente entende que o juiz aplicará apenas uma majorante
e a outra funcionará como circunstância judicial na fixação da pena-base. A segunda assevera que
o número de majorantes deve ser proporcional ao número de causas presentes. Duas ou mais per-
mitem ao juiz aumento a pena de dois quintos até a metade.

14. Qualificadoras do roubo

Se a violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, além de multa;
se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, sem prejuízo de multa. Trata-se de crime conside-
rado qualificado pelo resultado em que as lesões graves ou morte podem advir de dolo ou culpa.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

O tipo fala em violência que deve ser entendida como física e não moral, logo se a vítima num
roubo, mediante grave ameaça, vier a morrer em virtude de uma parada cardíaca, o crime será de
roubo em concurso material com homicídio e não de latrocínio.

15. Homicídio consumado e roubo consumado: Haverá latrocínio.

16. Homicídio tentado e roubo tentado: Haverá tentativa de latrocínio.

17. Tentativa de homicídio e roubo consumado: Haverá tentativa de latrocínio.

18. Homicídio consumado e roubo tentado

Haverá latrocínio. Doutrina e jurisprudência têm considerado consumado o latrocínio quando ocorre
a morte da vítima, ainda que o agente não tenha logrado apossar-se da coisa que pretendia sub-
trair.

19. Roubo com pluralidade de vítimas

Doutrina e jurisprudência são unanimes em reconhecer o concurso formal quando o delito é come-
tido contra várias vítimas num mesmo contexto. Assim, lesionou o patrimônio de duas vítimas,
aplica-se o concurso formal.

De outra parte, quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão, praticar vários roubos
(crimes considerados da mesma espécie) e pelas condições de tempo (nao pode ultrapassar 30
dias), lugar (devem ser próximos), maneira de execução (modus operandi) e outras semelhantes,
devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, poderá se reconhecer o crime
continuado. Isto é uma ficção jurídica, pois há uma pluralidade de delitos, mãos legislador presume
que eles constituem um só crime, apenas para efeito de sanção penal. Nesses casos, aplica-se a
regra do art. 71, ou seja, dependendo das circunstâncias jurídicas, a pena de um só dos crimes po-
derá ser aumentada até o triplo.

Extorsão

Art. 158.

Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a
pena de um terço até metade.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é neces-


sária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos,
além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159,
§§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)

1. Classificação doutrinária

Crime comum, formal ou material, de forma livre, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente, co-
missivo, doloso, de dano, complexo e admite tentativa.

2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa

3. Sujeito passivo

Qualquer pessoa. É possível a existência de dois sujeitos passivos ao mesmo tempo; o que sofre a
lesão patrimonial e o que sofre o constrangimento. A pessoa jurídica tambem pode ser sujeito pas-
sivo do crime.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

4. Objeto material: A condita delitiva recai sobre a pessoa humana e a coisa móvel ou imóvel.

5. Objeto jurídico

Tutela-se não apenas a inviolabilidade do patrimônio, mas também a vida, a liberdade pessoal e a
integridade física e psíquica da pessoa humana.

6. Tipo objetivo

A conduta consiste em constranger (obrigar, forcar, coagir), mediante violência (física: vias de fato
ou lesão corporal) ou grave ameaça (moral: intimidação idônea explicita ou explicita que incute
medo no ofendido) com o objetivo de obter para si ou para outrem indevida (injusta, ilícita) vanta-
gem econômica (qualquer vantagem seja de coisa móvel ou imóvel).

Haverá constrangimento ilegal se a vantagem não for econômica e exercício arbitrário das próprias
razoes se a vantagem for devida.

7. Tipo subjetivo

O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro constituído pela vontade livre e consciente de cons-
tranger alguém mediante violência ou grave ameaça, dolo genérico; o segundo exige o elemento
subjetivo do tipo específico na expressão "com intuito de".

8. Consumação

Discute-se na doutrina se o crime de extorsão é formal ou material. Para os que o consideram for-
mal, a consumação ocorre independentemente do resultado. Basta ser idôneo ao constrangimento
imposto à vítima, sendo irrelevante a enfeitava obtenção da vantagem econômica indevida.

O comportamento da vítima nesse caso é fundamental para a consumação do delito. É a indispen-


sabilidade da conduta do sujeito passivo para a consumação do crime, se o constrangimento for
sério, idôneo o suficiente para ensejar a ação ou omissão da vítima em detrimento do seu patrimô-
nio, perfaz-se o tipo penal do art. 168 do CP.

Da outra parte, se entendido como crime material, a consumação se dará com obtenção de inde-
vida vantagem econômica. Seguimos esse entendimento, para nós o crime de extorsão é material
consumando-se com a efetiva obtenção indevida vantagem econômica.

9. Tentativa

Admite-se quer considerando o crime formal ou material. Surge quando a vítima mesmo constran-
gida, mediante violência ou grave ameaça, não realiza a condita por circunstâncias alheias à von-
tade do agente. A vítima, então não se intimida, vence o medo e denuncia o fato a polícia.

A tentativa, portanto, ocorrerá quando praticada a violência ou grave ameaça com o intuito de obter
vantagem econômica indevida e a vítima não cumpre o exigido pelo agente.

10. Diferença entre extorsão e roubo

Para os clássicos a distinção infalível é a de que no roubo o agente toma a coisa por sim mesmo;
na extorsão faz com que lhe seja entregue. Embora a extorsão se assemelhe ao roubo em face da
pena, dos meios de execução, da natureza e da objetividade jurídica, com ele não se confunde.
Ademais, não são considerados crimes da mesma espécie. No roubo o agente subtrai a coisa e na
extorsão a vítima é quem lhe entrega; no roubam o comportamento da vítima não é imprescindível
para a sua realização (nao é necessário que colabore com o agente); na extorsão, ele é fundamen-
tal (há a necessidade de colaboração da vítima); no roubo o mal é iminente; na extorsão o roubo é
futuro.

11. Causas de aumento de pena

Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até a metade. Há necessidade das duas pessoas estarem presentes no local dos fatos
para incidir na majorante, assim como o emprego efetivo da arma quando da realização do delito.

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

No caso de ocorrer morte ou lesão corporal grave, o fato de o coautor não haver disparado a arma,
não afasta a sua responsabilidade pela extorsão qualificada.

Extorsão Mediante Sequestro (Sequestro Relâmpago)

Art. 159. Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (de-


zoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.

Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.

§ 3º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando


a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

1. Classificação doutrinaria

Crime comum, doloso, formal, permanente, de dano, plurisubsistente, de forma livre, comissivo,
não transeunte, unissubjetivo, hediondo e admite tentativa.

2. Sujeito ativo

Qualquer pessoa. Sujeito ativo do crime é todo aquele que pratica qualquer conduta necessária
para a obtenção do resultado almejado durante o período consumativo do crime, exemplo, o vigia
do cativeiro, o mensageiro, o seqüestrador, o mentor do plano.

3. Sujeito passivo

Qualquer pessoa, consignando que, na maioria das vezes, figuram no polo passivo o sequestrado e
quem sofre a lesão patrimônios, geralmente membro da família. A pessoa jurídica pode ser sujeito
passivo quando compelida a pagar o valor do resgate.

4. Objeto material

A conduta criminosa recai sobre a pessoa humana privada de liberdade bem como aquele que tem
diminuído o seu patrimônio.

5. Objeto jurídico

Tutela-se, pelo rigor falena cominada, não apenas o patrimônio e a liberdade de locomoção do
ofendido, mas também a sua vida e a integridade física.

6. Tipo objetivo

A conduta gira em torno de sequestrar pessoa, isto é, privá-la de liberdade de locomoção, arrebatá-
la, com o fim de obter vantagem de natureza econômica ou patrimonial. A posição dominante da
doutrina crê a vantagem econômica deve ser indevida, pois do contrário haveria sequestro em con-
curso formal com exercício arbitrário das próprias razoes.

7. Tipo subjetivo

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

O tipo requer além do dolo genérico, definido como a vontade livre e consciente de seqüestrar pes-
soa, o elemento específico do tipo, o denominado dolo específico, contido na expressão "com o fim
de obter para si ou para outrem", qualquer vantagem como condição ou preço do resgate.

8. Consumação

Por tratar-se de crime formal, consuma-se com o sequestro independentemente da vantagem patri-
monial, isto é, a consumação opera-se no momento em que ocorre a privação da liberdade da ví-
tima independentemente do efetivo recebimento do resgate. Suprimida a liberdade de locomoção
da vítima por um período relevante, além do intuito de obter, por esse meio, qualquer vantagem
econômica, o crime está consumado.

Na jurisprudência predominante o entendimento de que o crime se configura mesmo quando os cri-


minosos não conseguem obter o resgate e ainda que não tenham tido tempo pedi-lo.

9. Tentativa

Possível somente se o item criminis for interrompido no início da execução do delito por circunstân-
cias alheias à vontade do agente, bem como se comprovar a real intenção dos delinquentes, qual
seja, a de sequestrar com a finalidade de obter vantagem como condição ou preço do resgate.

Assim, pode-se reconhecer, na prática, a extorsão mediante sequestro tentada nos seguintes ca-
sos:

A) Prisão em flagrante;

B) Fuga dos sequestradores quando interceptados pela polícia;

C) Conseguir a vítima desvencilhar-se do sequestrador.

10. Extorsão mediante sequestro qualificada

Se o sequestro dura mais de 24h, se o sequestrado é menor de 18 e maior que 60 anos, ou se o


crime é cometido por bando ou quadrilha a pena será de reclusão de 12 a 20 anos. Quanto maior o
tempo em que a vítima estiver em poder do criminoso, maior será o dano à saúde e integridade fí-
sica.

Quanto ao crime cometido por bando ou quadrilha, entende-se como a reunião permanente de mais
de três pessoas para cometer e não uma reunião ocasional para cometer o sequestro.

Predomina na doutrina e jurisprudência o entendimento de que se o crime for praticado por mais de
três pessoas que se reuniram especificamente para tal desiderato, sem associarem-se de forma
estável e permanente, haverá concurso de pessoas, não incidindo a qualificadora.

11. Extorsão mediante sequestro com lesão corporal grave

Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave a pena será de reclusão de 16 a 24 anos; se re-
sulta a morte a pena será de reclusão de 24 a 30 anos. Observa-se de imediato a diferença deste
delito com o de roubo qualificado pelo resultado. No art. 157 do CP a lei diz: "se da violência resul-
tar lesão grave ou morte"; logo, num roubo em que vítima cardíaca diante de uma ameaça vem a
falecer, haverá roubo em concurso material com homicídio e não latrocínio. O tipo exige o emprego
da violência. Na extorsão mediante sequestro a lei menciona: "se dos ato resultar lesão grave ou
morte", pouco importando para qualificar o delito que a lesão grave seja culposa ou dolosa.. Evi-
dentemente, se a lesão grave ou morte resultar de caso fortuito ou força maior, o resultado agrava-
dos não poderá ser imputado ao agente.

A qualificadora somente atinge o sequestrado e não terceira pessoa.

12. Extorsão mediante sequestro e tortura

Entendemos que os institutos possuem objetividades jurídicas distintas e autônomas. Na extorsão


são mediante sequestro ofende-se o patrimônio, a liberdade de ir e vir e a vida. Na tortura atinge-se

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

a dignidade humana, consubstanciada na integridade física e mental. Cm efeito, a nosso, juízo,


nada impede o reconhecimento do concurso material de infrações.

13. Delação premiada

O benefício somente se aplica quando o crime for cometido em concurso de pessoas, devendo o
acusado fornecer às autoridades elementos capazes de facilitar a resolução do crime. Causa obri-
gatória de diminuição de pena se preenchidos os requisitos estabelecidos pelo parágrafo 4º do art.
159, qual seja, denúncia à autoridade (juiz, delegado ou promotor) feita por um dos concorrentes, e
esta facilitar a libertação da vítima. Faz-se mister salientar que, se não houver a libertação do se-
qüestrado, mesmo havendo delação do coautor, não haverá diminuição de pena.

Não se confunde com a confissão espontânea, pois nesta o agente garante confessa sua participa-
ção no crime, sem incriminar outrem.

Extorsão Indireta

Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

1. Classificação doutrinária

Crime comum, doloso, de dano, formal (exigir) e material (receber), instantâneo, comissivo, de
forma vinculada, unissubjetivo, unissubsistente (exigir) ou plurissubsistente (receber) e admite ten-
tativa.

2. Sujeito ativo

Qualquer pessoa.

3. Sujeito passivo

Qualquer pessoa. Em regra é o devedor que entrega o documento ao extorcionário e que pode lhe
dar causa a um procedimento criminal. Nada impede, todavia, o surgimento de dois sujeitos passi-
vos: o que entrega o documento e aquele contra quem pode ser iniciado o processo.

4. Objeto material

A conduta recai sobre o documento que pode dar causa a um procedimento criminal contra o de ve-
dor, como a confissão de um crime, a falsificação de um título de crédito, uma duplicata fria etc.

5. Objeto jurídico

Tutela-se o patrimônio e a liberdade individual do ofendido.

6. Tipo objetivo

A conduta consiste em exigir (obrigar, ordenar) ou receber (aceitar) um documento que pode dar
causa a procedimento criminal contra a vítima ou terceiro. É abusar da situação daquele que ne-
cessita urgentemente de auxílio financeiro. Necessário para a configuração do delito que o docu-
mento exigido ou recebido pelo agente, que pode ser público ou particular, se preste a instauração
de inquérito policial contra o ofendido. Não se exige a instauração do procedimento criminal, basta
que o documento em poder do credor seja potencialmente apto a iniciar o processo.

7. Tipo subjetivo

O tipo requer não apenas o dolo genérico, vontade livre e consciente de exigir ou receber como ga-
rantia de dívida determinado documento, mas também o dolo específico constituído pela finalidade
de abusar da aflitiva situação de alguém. É o que a doutrina de denomina dolo de aproveitamento.

8. Consumação

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CRIMES CONTRA O PATRIMONIO

Na ação de exigir, crime formal, a consumação ocorre com a simples exigência do documento pelo
extorcionário. A iniciativa aqui é do agente, na conduta de receber, crime material, a consumação
ocorre com o efetivo recebimento do documento. Nesse caso a iniciativas provém da vítima.

9. Tentativa

Na modalidade exigir, entendemos não ser possível sua configuração, embora uma parcela da dou-
trina a admita com o sovado exemplo, também oferecido nos crimes contra a honra, de a exigência
ser reduzida por escrito, mas não chegar ao conhecimento do ofendido. Na de receber, no entanto,
é perfeitamente possível, podendo o iter criminis ser interrompido por circunstâncias alheias à von-
tade do agente.

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

Tipicidade

Não confundir ainda “tipicidade” com “tipo penal”, pois tipo é uma figura que resulta da imaginação
do legislador, enquanto juízo de tipicidade é a averiguação que se efetua sobre uma conduta para
saber se apresenta os caracteres imaginados pelo legislador. O tipo penal é composto por elementar
(é todo componente essencial do tipo sem o qual este desaparece ou se transforma em outra figura
típica) e circunstâncias (não servindo para compor a essência do crime, mas sim para influir na pena).

Assim, quando você ouvir dizer que determinada causa é excludente da tipicidade, é que por ela a
conduta praticada deixa de possuir os elementos necessários para o enquadramento no tipo penal.
São exemplos mais comuns: erro de tipo inevitável, invencível, escusável; desistência voluntária e
arrependimento eficaz; coação física irresistível; crime impossível e a aplicação do princípio da
insignificância.

Melhor resposta: Tipicidade é a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura descrita
na lei penal, ou seja, o ato praticado deve se enquadrar a infração de alguma lei. Para o fato ser
típico deve compreender:

Dolo ou culpa – resultado – nexo causal – tipicidade.

Ilicitude é a relação de antagonismo que se estabelece entre a conduta humana voluntária e o


ordenamento jurídico, ou seja, é o cometimento de infração por parte de alguma pessoa. Estará
violando algum preceito de lei ou lei.

Culpabilidade é a censurabilidade, a reprovabilidade social.

Para ser culpável deve haver: imputabilidade, que é a condição de maturidade; potencial consciência
da ilicitude, que é a possibilidade do agente saber que a conduta é ilícita e exigibilidade de conduta
diversa.

As excludentes de culpabilidade são: doença mental, menoridade, embriaguez, erro de proibição,


coação moral irresistível e obediência hierárquica.

Causas excludentes de Ilicitude: estado de necessidade – legítima defesa – estrito cumprimento do


dever legal – exercício regular do direito – consentimento do ofendido
Quando o agente não atua em: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever
legal, exercício regular do direito e consentimento do ofendido.

Punibilidade é a possibilidade jurídica de o Estado impor a sanção ao autor do delito.

Causas de Extinção da Punibilidade: morte do agente, anistia, graça, indulto, abolitio criminis,
decadência, prescrição, perempção, renúncia, perdão do ofendido, retratação do agente, casamento
da vítima com o agente, com terceiro, perdão judicial.

O sujeito ativo da infração penal pode ser pessoa física ou pessoa jurídica (neste último caso, apenas
em crimes ambientais- Constituição Federal art. 225 p.3).

Não podem ser penalizados de acordo com a lei:

• Quem possui doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão de ação, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento,

• Os menores de 18 (dezoito) anos, que são penalizados de acordo com legislação própria.

Sujeito Passivo (Da Infração Penal)

É o titular do bem jurídico ofendido, isto é, aquele que foi lesado pela infração penal cometida pelo
sujeito ativo.

Uma infração penal sempre possui dois sujeitos passivos:

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

• Sujeito passivo formal: o Estado, que é sempre prejudicado quando ocorre a infração;

• Sujeito passivo material: titular propriamente dito do bem jurídico, que pode ser uma pessoa física
ou jurídica.

Em determinados casos, o Estado pode ser, ao mesmo tempo, o sujeito passivo formal e o sujeito
passivo material, quando, por exemplo, ocorre roubo de bem público.

Em alguns crimes, obrigatoriamente deve existir dois ou mais sujeitos passivos (dupla subjetividade
passiva): por exemplo, a violação de correspondência (CP Art. 151) os sujeitos passivos do crime
são o remetente e o destinatário de correspondência.

Crime bipróprio é o crime que exige que o sujeito ativo e o sujeito passivo possuam uma qualidade
especial (i.e. não podem ser qualquer pessoa). Por exemplo: o infanticídio (Código Penal Brasileiro
art. 123) exige que o agente ativo deve ser obrigatoriamente a mãe da vítima e o agente passivo o
filho.

Tipicidade:

Fato típico

Comportamento humano (doloso ou culposo) que provoca um resultado que pode ser enquadrado
perfeitamente na legislação como uma infração penal.

Elementos Do Fato Típico

O fato típico é composto pelos seguintes elementos:

Conduta criminosa (ou culposa): comportamento humano ativo ou passivo voltado para a execução
da infração. O comportamento ativo é quando o infrator comete intencionalmente a conduta
criminosa, arriscando-se à penalidade prevista em lei. O comportamento passivo (omissão) ocorre
quando o agente tem o dever de agir para evitar a infração mas não o faz.

Resultado: ocorre pela realização da infração penal. Chama-se de crime tentado quando por eventos
alheios à vontade do agente infrator, o crime não é consumado, não produzindo assim o resultado
que deveria ser esperado. A cogitação de um crime não é punida no Direito Penal pois não é
considerada como tendo relevância criminal.

Nexo de causalidade entre a conduta criminosa e o resultado: é a relação que existe entre uma
conduta criminosa específica e o resultado gerado.

Enquadramento em uma norma penal incriminadora: para ser considerado um crime, a infração
deve estar plenamente definida em lei.

Ilicitude (Antijuridicidade)

Contradição entre um fato realizado e o ordenamento jurídico.

Por vezes, mesmo que uma pessoa cometa uma conduta típica, há na lei exceções permissivas para
sua conduta, de modo que não há ilicitude da ação. Por exemplo: matar alguém como legítima defesa
estrita, a lei considera que a conduta não é ilícita.

Causas De Exclusão De Ilicitude

As causas de exclusão de ilicitude (isto é, que evitam que um fato enquadrado na lei se torne infração
penal) são justificativas em que um fato típico torna-se permitido, ou seja, não pode ser enquadrado
criminalmente. As causas de exclusão de ilicitude são previstas no Artigo 23 do Código Penal onde
está escrito:

“Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato:

I – em estado de necessidade;

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

II – em legítima defesa;

III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.”

Estado de necessidade

É descrito no Art. 24 do Código Penal Brasileiro que diz:

“Art. 24: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§1º – Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

§2º – Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
um a dois terços.”

O Estado de Necessidade define uma situação de perigo atual para um bem jurídico em que um
agente deve lesar o interesse de outrem para afastar este perigo. Por exemplo: uma pessoa que furta
um automóvel para transportar uma pessoa urgentemente ferida para um hospital. Aqueles que
possuem o dever de enfrentar o perigo (como policiais, bombeiros, militares, etc) não podem invocar
o estado de necessidade para deixar de executar suas funções. Por exemplo, um policial que se
recusa a perseguir um bandido por não querer ser alvejado por armas de fogo.

No Direito Penal, sujeito ativo é quem pratica a conduta (ação ou omissão) criminosa. Há de ser o
crime uma ação humana, afirma Cezar Roberto Bitencourt – em Tratado de Direito Penal – Volume 1
Parte Geral (p. 286), que tenha como sujeito ativo o ser vivo nascido de mulher, “embora em tempos
remotos tenham sido condenados, como autores de crimes, animais, cadáveres e até estátuas”.

A pedra angular da Teoria do Delito, analisa Bitencourt (p. 286), é a conduta (ação ou omissão), algo
exclusivo do ser humano: “A capacidade da ação, de culpabilidade, exige a presença de uma
vontade, entendida como faculdade psíquica da pessoa individual, que somente o ser humano pode
ter.”

O sujeito ativo é a pessoa definida na norma como possível autora do ilícito penal e que é, via de
regra, pessoa física. “Sujeito ativo, autor, ou agente, é todo aquele que realiza a ação ou omissão
típica, nos delitos dolosos ou culposos. Ou seja, é aquele cuja atividade é subsumível ao tipo legal
incriminador”, define Luiz Régis Prado, em Curso de Direito Penal Brasileiro – Volume 1 Parte Geral
(p. 258).

“O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata, subtrai etc.),
como também o partícipe, que colabora de alguma forma na conduta típica, sem, contudo, executar
atos de conotação típica, mas que de alguma forma, subjetiva ou objetivamente, contribui para a ação
criminosa”, complementa Fernando Capez, em Curso de Direito Penal – parte geral Volume 1 (p.
167).

Conforme a posição no processo, ensina Capez (p. 168), o sujeito ativo pode ser chamado de agente
(art. 14, II, do Código Penal), indiciado (art. 5º, § 1º, b, do Código de Processo Penal), acusado (art.
185, CPP), denunciado, querelado (art. 51, CPP), réu (art. 34, CP; art. 188, CPP), sentenciado,
condenado (art. 34, CP), recluso, ou detento. Quando estudado pelas ciências criminais, é criminoso
ou delinquente.

Complementam Paulo José da Costa Júnior e Fernando José da Costa, em Curso de Direito Penal
(p. 115): “Por vezes, o sujeito-agente deverá ser qualificado, ocupando determinada posição social,
ou dotado de certo status, como por exemplo ser funcionário público no peculato, cônjuge na bigamia,
ou desfrutar de determinada situação fática, como a mulher grávida no aborto. Nessas hipóteses
apresenta-se a figura do crime-próprio, que se contrapõe àquela do crime comum, que pode ser
praticado por qualquer pessoa, qualificada ou não. Costuma-se distinguir o crime próprio exclusivo,
em que a execução importa na intervenção pessoal do agente designado pela lei, do crime próprio
não exclusivo, que admite a figura do extraneus, que age em concurso com o sujeito qualificado.”

Cabe fazer alguns adendos, ainda no tocante ao assunto sujeito ativo, em termos de Direito Penal. É

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

autor quem realiza ou executa o núcleo do tipo penal. O coautor realiza conjuntamente a conduta
criminosa com o autor. O partícipe colabora com o crime sem realizar ou executar o núcleo do tipo. O
partícipe moral faz nascer a idéia (induz) ou reforça a idéia para realizar o ato criminoso. Maiores
detalhes a respeito de autor, coautor e partícipe serão abordados em texto específico.

A legítima defesa designa a capacidade de uma pessoa repelir uma agressão que está ocorrendo ou
que ocorrerá ao seu direito (vida, liberdade, patrimônio, etc) ou de outro. A legítima defesa exige que
o agente a se defender utilize seus recursos para afastar a agressão até o limite em que esta cesse,
sendo vedado o uso excessivo da força. A legítima defesa no entanto, abrange o ofendido mesmo
nos casos em que possa fugir do local, escapando ileso dos acontecimentos. Ela pode ser executada
contra inimputáveis (por exemplo, defender-se da agressão de um menor de idade).

Legítima defesa sucessiva: é a legítima defesa que um ofensor pode realizar contra o excesso na
defesa de um ofendido. Por exemplo, ao ser assaltado, uma pessoa desarma o bandido que sai
correndo. A pessoa então corre atrás do bandido com a arma para matá-lo. O bandido, sendo vítima
de um excesso, pode agir em legítima defesa.

Provocação de legítima defesa: a legítima defesa provocada não é causa de exclusão de ilicitude. Por
exemplo, uma pessoa que entra em uma casa e fica sentada aguardando o dono, esperando uma
reação para matá-lo, dizendo agir sob legítima defesa.

Cumprimento do Dever Legal ou Exercício Regular de Direito

Ocorre quando um determinado agente (policial, militar, oficial de justiça, etc) possui a função legal de
executar um determinado comportamento que para outros seria ilícito. Por exemplo, um oficial de
justiça que arromba uma residência para cumprir uma ordem judicial.

Culpabilidade

Juízo (Reação) de reprovação que uma determinada conduta provoca na sociedade.

Combinada às características da tipicidade e antijuridicidade (ilicitude), caracteriza uma conduta


como uma infração penal.

Elementos da Culpabilidade e Causas de Exclusão

Causa de Exclusão são eventos que permitem anular a culpabilidade de um determinado agente em
uma determinada infração penal.

Imputabilidade: o agente ativo da infração penal deve entender o caráter ilícito (proibido) do fato
cometido. São, assim, excluídas pessoas com:

• doença mental,

• desenvolvimento mental incompleto (incluindo menores de 18 anos e silvícolas),

• desenvolvimento mental retardado e embriaguez completa proveniente de fortuito

• ou força maior.

Potencial consciência de ilicitude: o agente deve reconhecer da ilicitude (proibição) do seu ato. De
acordo com o Artigo 21 do Código Penal “o desconhecimento da lei é inescusável” (ou seja, ninguém
pode dizer que cometeu uma infração penal por não saber que se tratava de uma infração penal) . A
exclusão ocorre, então, por Erro de Proibição Escusável: isto é, o agente ativo da infração, diante das
circunstâncias da situação, erra ao interpretar a lei, julgando não ser infração o que realiza.

Conduta de acordo com a lei: são punidos apenas os atos em que o agente tenha a possibilidade
de agir de acordo com a lei, mas preferiu cometer a infração. Desta forma, há duas causas de
exclusão da culpabilidade neste caso: coação moral irresistível e obediência hierárquica (CP Art.22).

Coação moral irresistível: é aquela em que há grave ameaça contra o agente infrator e que por isto
cometeu a infração. Não está incluída aqui a a coação física (já que neste caso o agente não possui a

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

vontade de praticar o crime) e não se inclui, também, a coação moral resistível (i.e. aquela em que é
possível a oposição).

Obediência Hierárquica: ocorre quando o agente pratica ato (não-explicitamente) ilegal por ordem
formal vinda de superior.

Punibilidade:

A punibilidade é uma forma que o Estado encontra de determinar uma punição ao agente de um
crime. No entanto, pode ocorrer a extinção da punibilidade, disciplina do art. 107 do Código Penal,
que dar-se-a pela morte do agente; pela anistia, graça ou indulto; pela retroatividade de lei que não
mais considera o fato como criminoso; peã prescrição, decadência ou perempção; pela renúncia do
direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; pela retratação do agente, nos
casos em que a lei a admite; pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Imputabilidade Penal

Imputabilidade penal é a condição ou qualidade que possui o agente de sofrer a aplicação de pena.
E, por sua vez, só sofrerá pena aquele que tinha ao tempo da ação ou da omissão capacidade de
compreensão e de autodeterminação frente o fato.

Assim, imputabilidade é a capacidade de o agente, no momento da ação ou da omissão, entender o


caráter ilícito do fato e de determinar-se frente tal fato.

Somente o imputável sofrerá pena.

Para ser imputável o agente deve ter capacidade de: 1- entender o caráter ilícito do fato
(compreensão das coisas) e 2 – determinar-se de acordo com esse entendimento (capacidade de
dirigir sua conduta considerando a compreensão que anteriormente teve).

A lei pressupõe a imputabilidade. Extraordinariamente, o legislador arrola as hipóteses de exclusão


da imputabilidade. Assim, em princípio todos são imputáveis.

De acordo com Fernando Capez , a imputabilidade apresenta um aspecto intelectivo, consistente na


capacidade de entendimento, e outro volitivo, que a faculdade de controlar e comandar a própria
vontade.

As expressões sujeito passivo e vítima não são sinônimas, pois, como veremos logo adiante, é
possível haver, em decorrência de um fato, uma vítima que não seja sujeito passivo de infração
penal.

Separovic conceitua vítima como sendo “qualquer pessoa física ou moral, que sofre como resultado
de um desapiedado desígnio, incidental ou acidentalmente” (Apud PIEDADE JÚNIOR,
Heitor. Vitimologia – Evolução no Tempo e no Espaço, p. 89)

Para o conceito de vítima, são observados parâmetros que podem, conforme o caso, restringir ou
alargar a definição. Teríamos de buscar um conceito que indicasse a vítima como uma pessoa ou um
grupo de pessoas, físicas ou jurídicas, ou ainda entes abstratos, que sofrem intervenções em seus
direitos, sejam eles quais forem, por ação ou omissão de terceiros ou dela própria, ou ainda por
intervenções oriundas de casos fortuitos e de força maior. Ainda assim, corre-se o risco de não ser
abarcada alguma situação de vitimização.

O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal.
Pode figurar como sujeito passivo qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo ente indeterminado,
destituído de personalidade jurídica (ex.: coletividade, família, etc.), caso em que o crime
é denominado vago.

Vítima e sujeito passivo não se confundem porque vítima compreende uma definição mais
abrangente que engloba tanto situações nas quais existe crime quanto aquelas nas quais não há
crime nenhum. Mas, havendo o crime, tem-se que sujeito passivo e vítima se reúnem na mesma
pessoa.

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

Para deixar mais clara essa distinção, trazemos uma questão bastante discutida no âmbito da
Vitimologia: “vítima sem crime” e “crime sem vítima”.

Um exemplo de vítima sem crime é o da pessoa que morre num cenário de legítima defesa. O fato
cometido pelo agente é típico (homicídio), mas não é ilícito, pois o autor reagiu diante de agressão
injusta na salvaguarda de direito próprio ou de terceiro. Logo, não há crime, embora exista uma
vítima. Alguém que tenta ceifar a própria vida e não morre é vítima, embora não exista crime, pois do
triste episódio não participou outra pessoa.

Por isso é possível a definição de vítima independentemente da existência de um crime, que pode
não ter ocorrido por exclusão da antijuricidade ou da culpabilidade; por atipicidade (conduta como a
direção sem habilitação que não perigo de dano, em que o Estado é vítima, embora não haja um ato
criminoso); ou por uma causa natural. Há, portanto, uma vítima que não é sujeito passivo de infração
penal.

E um crime sem vítima, é possível imaginar? Para a maior parte da doutrina, inexiste crime sem
vítima. E o fundamento nos remete aos parágrafos anteriores, pois, se existe vítima mesmo sem a
ocorrência de um crime, é obviamente impossível haver uma infração penal que a ninguém ofenda.

O Direito Penal é o ramo do direito público dedicado às normas que reprimem e penalizam delitos,
visando manter a ordem e preservar a sociedade, proporcionando seu desenvolvimento.

Ter noções de Direito Penal é importante para qualquer cidadão, pois todos devem conhecer as
normas que regem a sociedade em que vivem, a fim de compreender suas delimitações e saberem
se defender quando necessário.

Matéria comum em concursos públicos, as noções de Direito Penal são especialmente importantes
para aqueles que desejam alcançar um cargo ligado ao poder judiciário e às polícias civil, militar,
ambiental e rodoviária, entre outras autarquias, além de cargos relacionados ao direito, como a
advocacia.

Se você irá prestar prova para cargos em alguns desses órgãos, fique atento à lista que separamos
abaixo e tenha as primeiras noções do Direito Penal para concurso.

Princípios constitucionais do Direito Penal

O Direito Penal, na Constituição, encontra-se especificamente nos seguintes princípios:

• Reserva legal ou legalidade;

• Irretroatividade da lei penal;

• Intranscendência ou responsabilidade pessoal;

• Presunção de inocência;

• Individualização das penas.

Além desses princípios, a Constituição faz referência a outras matérias de natureza penal, que são:

• Inimputabilidade;

• Racismo;

• Crimes hediondos;

• Terrorismo;

• Ação de grupos armados.

Conheça Os Três Princípios Da Legislação Penal

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

• Princípio da Reserva Legal ou Legalidade: (Art. 1º) Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal.

• Princípio da Intranscendência ou Responsabilidade Pessoal: Prevê a Constituição Federal, em


seu art. 5°, XLV: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidos aos sucessores e
contra eles executados, até o limite do valor do patrimônio transferido”. O princípio da
intranscendência consta em todas as constituições brasileiras, ressalvada a carta autoritária de 1937
sob o regime do Estado Novo de Getúlio Vargas.

• Presunção de Inocência: Prevê a Constituição que “Ninguém será considerado culpado senão
após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.” Este princípio é inovação como matéria
constitucional, uma vez que nenhuma das Constituições anteriores o contemplava. Culpado será o
réu somente após o trânsito em julgado da sentença, que ocorrerá quando todas as instâncias
ordinárias ou extraordinárias forem vencidas ou quando o réu não utilizar o seu direito de recorrer no
prazo legal.

1) O que é culpabilidade? Resposta: a culpabilidade é a possibilidade de se considerar alguém


culpado pela prática de uma infração penal. Por essa razão, costuma ser definida como juízo de
censurabilidade e reprovação exercido sobre alguém que praticou um fato típico e ilícito. Não se trata
de elemento do crime, mas pressuposto para imposição de pena, porque, sendo um juízo de valor
sobre o autor de uma infração penal, não se concebe possa, ao mesmo tempo, estar dentro do crime,
como seu elemento, e fora, como juízo externo de valor do agente. Para censurar quem cometeu um
crime, a culpabilidade deve estar necessariamente fora dele.

2) Quais os requisitos da culpabilidade de acordo com a teoria adotada pelo Código Penal?
Resposta: o Código Penal adotou a teoria limitada da culpabilidade, segundo a qual são seus
requisitos: a) imputabilidade; b) potencial consciência da ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa.

3) O que é imputabilidade? Resposta: é a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de


determinar-se de acordo com esse entendimento.

4) Quais as causas que excluem a imputabilidade? Resposta: são quatro: a) doença mental; b)
desenvolvimento mental incompleto; e) desenvolvimento mental retardado; d) embriaguez completa
proveniente de caso fortuito ou força maior.

5) Quais os critérios de aferição da inimputabilidade? Resposta: são eles: a) sistema biológico: foi
adotado, como exceção, no caso dos menores de 18 anos, nos quais o desenvolvimento incompleto
presume a incapacidade de entendimento e vontade (CP, art. 27); b) sistema psicológico; c) sistema
biopsicológico: foi adotado como regra, conforme se verifica pela leitura do art. 26, caput, do Código
Penal.

6) Quais os requisitos da inimputabilidade segundo o sistema biopsicológico? Resposta: são três: a)


causal: existência de doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que são
as causas previstas em lei; b) cronológico: atuação ao tempo da ação ou omissão delituosa; c)
conseqüencial: perda da capacidade de entender e querer.

7) Quais as espécies de embriaguez? Resposta: são quatro: a) embriaguez não acidental, que se
subdivide em: voluntária, dolosa ou intencional (completa ou incompleta); culposa (completa ou
incompleta); b) embriaguez acidental: pode decorrer de caso fortuito ou força maior (completa ou
incompleta); c) patológica; d) preordenada.

8) Em que consiste a teoria da “actio libera in causa”? Resposta: a embriaguez não acidental jamais
exclui a imputabilidade do agente, seja voluntária, culposa, completa ou incompleta. Isso porque ele,
no momento em que ingeria a substância, era livre para decidir se devia ou não o fazer. A conduta,
mesmo quando praticada em estado de embriaguez completa, originou-se de um ato de livre-arbítrio
do sujeito, que optou por ingerir a substância quando tinha possibilidade de não o fazer. A ação foi
livre na sua causa, devendo o agente, por essa razão, ser responsabilizado. E a teoria da actio libera
in causa (ações livres na causa). Considera-se, portanto, o momento da ingestão da substância e não
o da prática delituosa. Essa teoria ainda configura resquício da responsabilidade objetiva em nosso
sistema penal, sendo admitida excepcionalmente quando for absolutamente necessário para não
deixar o bem jurídico sem proteção.

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

9) Em que consiste a semi-imputabilidade ou responsabilidade diminuída? Resposta: é a perda de


parte da capacidade de entendimento e autodeterminação, em razão de doença mental ou de
desenvolvimento incompleto ou retardado. Alcança os indivíduos em que as perturbações psíquicas
tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência interior em relação à prática do
crime. Na verdade, o agente é imputável e responsável por ter alguma noção do que faz, mas sua
responsabilidade é reduzida em virtude de ter agido com culpabilidade diminuída em conseqüência
das suas condições pessoais.

10) Qual a conseqüência da semi-imputabilidade? Resposta: não exclui a imputabilidade, de modo


que o agente será condenado pelo fato típico e ilícito que cometeu. Constatada a redução na
capacidade de compreensão ou vontade, o juiz terá duas opções: reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou
impor medida de segurança (mesmo aia sentença continuará sendo condenatória). A escolha por
medida de segurança somente poderá ser feita se o laudo de insanidade mental indicá-la como
recomendável, não sendo arbitrária essa opção. Se for aplicada pena, o juiz estará obrigado a
diminuí-la de 1/3 a 2/3, conforme o grau de perturbação, tratando-se de direito público subjetivo do
agente, o qual não pode ser subtraído pelo julgador.

1) O que é erro de proibição? Resposta: partindo do pressuposto de que a ignorância ou


desconhecimento da lei não se confundem com a sua errada compreensão e que, portanto, somente
o erro acarreta conseqüências na esfera criminal, importa saber em que consiste tal erro e quais as
suas espécies e efeitos. A errada compreensão de uma determinada regra legal pode levar o agente
a supor que certa conduta injusta seja justa, a tomar uma errada por certa, a encarar uma anormal
como normal, e assim por diante. Nesse caso, surge o que a doutrina convencionou chamar de “erro
de proibição”. O sujeito, diante de uma dada realidade que se lhe apresenta, interpreta mal o
dispositivo legal aplicável à espécie e acaba por achar-se no direito de realizar uma conduta que, na
verdade, é proibida. Desse modo, em virtude de uma equivocada compreensão da norma, supõe
permitido aquilo que era proibido, daí o nome “erro de proibição”.

12) Qual a distinção entre erro de tipo e erro de proibição? Resposta: no erro de tipo, o agente tem
uma visão distorcida da realidade, não vislumbrando na situação que se lhe apresenta a existência de
fatos descritos no tipo como elementares ou circunstâncias. No erro de proibição, ao contrário, há
uma perfeita noção acerca de tudo o que se está passando. O sujeito conhece toda a situação fática,
sem que haja distorção da realidade. Ele sabe que a carteira pertence a outrem, que está atirando
contra as costas de um homem, que um certo objeto é de ouro e assim por diante. Seu equívoco
incide sobre o que lhe é permitido fazer diante daquela situação, ou seja, se lhe é lícito retirar a
carteira pertencente a outra pessoa, atirar nas costas de um homem etc. Há, por conseguinte, uma
perfeita compreensão da situação de fato e uma errada apreciação sobre a injustiça do que faz.
Nesse aspecto reside sua principal distinção com o erro de tipo.

13) Qual a conseqüência do erro de proibição? Resposta: o erro de proibição sempre exclui a atual
consciência da ilicitude. No entanto, somente aquele que não poderia ter sido evitado elimina a
potencial consciência. Com efeito, se esta é a possibilidade de conhecer o caráter injusto do fato e se
o erro de proibição inevitável é aquele que o agente não tinha como evitar, somente essa modalidade
de erro leva à exclusão da culpabilidade.

14) Quais as espécies de erro de proibição? Resposta: são elas: a) inevitável ou escusável: o agente
não tinha como conhecer a ilicitude do fato, em face das circunstâncias do caso concreto. Se não
tinha como saber que o fato era ilícito, inexistia a potencial consciência da ilicitude, logo, esse erro
exclui a culpabilidade. O agente fica isento de pena; e b) evitável ou inescusável: embora o agente
desconhecesse que o fato era ilícito, ele tinha condições de saber, dentro das circunstâncias, que
contrariava o ordenamento jurídico. Se ele tinha possibilidade, isto é, potencial para conhecer a
ilicitude do fato, possuía a potencial consciência da ilicitude. Logo, a culpabilidade não será excluída.
O agente não ficará isento de pena, mas, em face da inconsciência atual da ilicitude, terá direito a
uma redução de pena de 1/6 a 1/3.15) O que é descriminante putativa por erro de proibição ou erro
de proibição indireto? Resposta: é a causa de exclusão da ilicitude imaginada pelo agente, em razão
de uma equivocada consideração dos limites autorizadores da justificadora. Não se confunde com a
descriminante putativa por erro de tipo, uma vez que nesta há uma equivocada apreciação da
realidade (o sujeito pensa que a vítima vai sacar uma arma, quando, na verdade, tira um lenço). Na
descriminante putativa por erro de proibição, há uma perfeita noção da realidade, mas o agente avalia
equivocadamente os limites da norma autorizadora. Imagina, por erro, a existência de uma causa de
exclusão da ilicitude, que, na verdade, não se apresenta. Só que não é um erro incidente sobre a

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TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE E PUNIBILIDADE

situação de fato, mas sobre a apreciação dos limites da norma excludente (até que ponto a norma
que prevê a legítima defesa permite ao agente atuar).

16) Qual é a conseqüência da descriminante putativa por erro de proibição? Resposta: é a mesma do
erro de proibição. O agente responderá pelo resultado com pena reduzida, se o erro for evitável, ou
ficará isento de pena, se inevitável.

17) Em que consiste a exigibilidade de conduta diversa? Resposta: consiste na expectativa social de
um comportamento diferente daquele que foi adotado pelo agente. Somente haverá exigibilidade de
conduta diversa quando a coletividade podia esperar do sujeito que tivesse atuado de outra forma.

18) Qual a sua natureza jurídica? Resposta: trata-se de causa de exclusão da culpabilidade, fundada
no principio de que só podem ser punidas as condutas que poderiam ser evitadas. No caso, a
inevitabilidade não tem a força de excluir a vontade, que subsiste como força propulsora da conduta,
mas certamente a vicia, de modo a tornar incabível qualquer censura ao agente.

19) Em nosso ordenamento jurídico, quais as causas que levam à exclusão da exigibilidade de
conduta diversa? Resposta: a lei prevê duas hipóteses, quais sejam, a coação moral irresistível e a
obediência hierárquica.

20) Quais as espécies de coação e as suas conseqüências? Resposta: são três: a) coação física:
exclui a conduta, uma vez que elimina totalmente a vontade. O fato passa a ser atípico. Não há
qualquer conduta do agente, pois sua vontade foi totalmente eliminada pelo emprego da força física;
b) coação moral irresistível: há crime, pois, mesmo sendo grave a ameaça, ainda subsiste um
resquício de vontade que mantém o fato como típico. No entanto, o agente não será considerado
culpado. Assim, na coação moral irresistível, há fato típico e ilícito, mas o sujeito não é considerado
culpado, em face da exclusão da exigibilidade de conduta diversa; c) coação moral resistível: há
crime, pois a vontade restou intangida, e o agente é culpável, uma vez que, sendo resistível a
ameaça, era exigível conduta diversa. Entretanto, a coação moral resistível atua como uma
circunstância atenuante genérica (CP, art. 65, I, c, 1ª parte).

21) Quais os requisitos para que a obediência hierárquica configure causa de exclusão da
exigibilidade de conduta diversa? Resposta: são eles: a) um superior; b) um subordinado; c) uma
relação de direito público entre ambos, já que o poder hierárquico é inerente à Administração Pública,
estando excluídas da hipótese de obediência hierárquica as relações de direito privado, tais como as
entre patrão e empregado; d) uma ordem do primeiro para o segundo; e) ilegalidade da ordem, visto
que a ordem legal exclui a ilicitude pelo estrito cumprimento do dever legal; f) aparente legalidade da
ordem.

2) Na obediência hierárquica, quais as espécies de ordem existentes e as suas conseqüências?


Resposta: são elas: a) ordem legal: se o subordinado cumpre ordem legal, está no estrito
cumprimento do dever legal. Não pratica crime, uma vez que está acobertado por causa de exclusão
da ilicitude; b) ordem ilegal: se a ordem é manifestamente ilegal, o subordinado deve responder pelo
crime praticado, pois não tinha como desconhecer sua ilegalidade. Se aparentemente legal, ele não
podia perceber sua ilegalidade, logo, exclui-se a exigibilidade de conduta diversa, e ele fica isento de
pena; c) ordem manifestamente ilegal: se o subordinado, por erro de proibição, a supõe legal, não
existe exclusão da culpabilidade, já que se trata de erro evitável, constituindo mera causa de
diminuição de pena (CP, art. 21, parte final).

23) O que são causas supralegais de exclusão da exigibilidade de conduta diversa? São admitidas
em nosso sistema jurídico? Resposta: são aquelas que, embora não previstas em lei, levam à
exclusão da culpabilidade. Há duas posições quanto a sua existência: 1ª) o Tribunal de Justiça de
São Paulo sustenta que inexistem causas supralegais, com o principal argumento no sentido de que
é inaplicável a analogia in bonam partem em matéria de dirimentes, já que as causas de exculpação
representam, segundo a clara sistemática da lei, preceitos excepcionais insuscetíveis de aplicação
extensiva; 2ª) o Superior Tribunal de Justiça entende, contrariamente, que existem outras causas de
exclusão da culpabilidade além das expressamente previstas, argumentando no sentido de que a
exigibilidade de conduta diversa é um verdadeiro princípio geral da culpabilidade. Contraria
frontalmente o pensamento finalista punir o inevitável. Só é culpável o agente que se comporta
ilicitamente, podendo orientar-se de modo diverso. Adotamos a segunda posição.

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Aplicação Da Lei Penal

O presente texto é resultante do estudo da obra de Damásio de Jesus e refletirá as principais


opinioes do autor paulista.

Seguindo a linha anterior de pesquisa e produção científica, serão trazidos para o artigo os principais
momentos da obra.

Da Aplicação Da Lei Penal.

Inicialmente, explica o autor que alei é a única fonte imediata de conhecimento do direito penal.

Da Norma Penal.

Norma é toda categoria de princípio legal e as normas penais estariam contidas na lei penal.

A norma penal pode ser considerada nos aspectos amplo e restrito - lato sensu e stricto sensu.

A norma penal lato sensu define um fato punível e impõe, abstratamente, uma sanção. Também
ampliaria o sistema penal através dos princípios gerais e das disposições sobre os limites e
ampliação das normas incriminadoras.

A norma penal stricto sensu descreve uma conduta ilícita e impõe uma sanção para o sujeito que
praticar a conduta proibida.

A sanção e o comportamento humano ilícito são descritos na lei penal, de acordo com o princípio da
reserva legal.

Para que haja crime é necessário uma lei anterior que o defina. Quando o fato se adequa ao conceito
ou modelo legal de crime o Estado adquire o direito concreto de punir. O criminoso não trasngride a
lei, mas sim o preceito proibitivo, a norma.

Preceito E Sanção.

Nas normas penais incriminadoras existem o preceito e a sanção.

Preceito primário é a conduta humana ilícita. O preceito secundário é a sanção imposta ao agente da
conduta punível.

Fato Punível.

Fato punível pode ser considerado a infração à lei do Estado.

Conteúdo Da Lei Penal.

A norma penal é o conteúdo da lei penal.

Classificação Das Normas Penais.

Para Damásio de Jesus, as normas penais podem ser classificadas em normas penais
incriminadoras, normas penais permissivas e normas penais finais, complementares ou explicativas.

As normas penais permissivas e as finais são chamadas de normas penais não incrimadoras.

Desta forma, as normas penais seriam incriminadoras ou não incriminadoras (permissivas e finais).

As normas penais permissivas determinam a licitude ou a impunidade de certas condutas, embora


sejam condutas típicas. Exemplos seriam os de erro sobre elementos do tipo, erro sobre a ilicitude do

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

fato, coação irresistível e obediência hierárquica, exclusão de ilicitude, excesso punível, estado de
necessidade, legítima defesa, inimputabilidade, redução de pena, menoridade, emoção e paixão,
aborto necessário e no caso de gravidez resultante de estupro, injúria quando o ofendido, de forma
reprovável, provocou diretamente a injúria ou no caso de retorsão imediata, que consista em outra
injúria. Exclusão do crime de injúria, nas hipóteses do Código Penal da ofensa irrogada em juízo, na
discussão da causa, pela parte ou por seu procurador, na opinião desfavorável da crítica literária,
artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar e o conceito
desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.

As normas penais complementares ou explicativas esclarecem o conteúdo ou delimitam o âmbito de


aplicação de outras normas penais.

Normas penais gerais ou locais dependem da extensão espacial de sua aplicação.

Normas penais comuns ou especiais são aquelas divididas pelo próprio direito penal comum ou
especial.

Normas penais completas definem os crimes em todos os seus elementos.

Normas penais incompletas ou em branco são as de definição legal incompleta.

Características Das Normas Penais.

Exclusividade - A norma penal é exclusiva porque somente ela define infrações e impõe penas.

Imperatividade - Em relação à imperatividade, a norma penal é autoritária por sujeitar quem


descumprir o seu mandamento. Ela separa e define o lícito do ilícito penal. Quem incorrer no ilícito
penal receberá as consequências jurídico-criminais conhecidas como penas.

Todos devem obedecer as leis penais. Todas as leis e as normas penais são imperativas.

A prática do fato típico faz surgir a relação jurídica punitiva que significa o aparecimento do direito
concreto de punir do Estado e a obrigação do indivíduo de não obstar a aplicação da pena. Nos
casos de normas penais permissivas como o caso da legítima defesa, acontece inversão nos polos
da relação jurídica entre o sujeito e o Estado, cabendo a este último reconhecer os efeitos da
excludente da antijuridicidade.

Generalidade - A norma penal tem eficácia erga omnes, ou seja, para todas as pessoas.

Explica Damásio que mesmo os considerados inimputáveis devem obedecer ao mandado proibitivo
da norma penal incriminadora.

Abstração e Impessoalidade - A norma penal dirige-se a fatos futuros, vez que não existe crime sem
lei anterior que o defina como tal.

A norma penal não é feita para indivíduos determinados.

Da Norma Penal Em Branco.

Lei em branco seria a que contém uma sanção determinada , mas não o preceito a que se ligaria a
primeira. Este seria formulado apenas como uma proibição genérica e deveria ser completado por
outra lei.

Nas normas penais em branco a sanção é determinada mas o seu conteúdo é indeterminado.

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

A norma penal em branco para ser executada depende do complemento de outra norma jurídica. A
sanção será imposta ao transgressor de uma norma legal ou administrativa a ser criada no futuro.

Damásio de Jesus aponta que as normas penais em branco stricto sensu são aquelas as quais seu
complemento está contido em norma originária de outra instância legislativa ou produtora. As fontes
formais seriam heterogêneas e haveria diferenças em relação ao órgão de elaboração legislativa.

Ocorre que muitas vezes o complemento normativo da norma penal em branco precederia a mesma,
como no exemplo do crime de emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant", do artigo
178 do Código Penal. Em outros casos, nascerá depois a norma, como nos casos de transgressão
dos antigos tabelamentos de preços.

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IMPUTABILIDADE PENAL

Imputabilidade

O termo imputar significa atribuir culpa ou delito a outro, portanto, imputar é o mesmo que atribuir à
outro, diferentemente do simples “atribuir”, que pode ser auto-aplicado. Assim sendo, como imputar
só pode ser utilizado em relação à outra pessoa, uma pessoa considerada "imputável" é aquela sobre
quem pode-se atribuir alguma coisa, seja uma culpa, um delito, uma responsabilidade.

Para estudar a culpabilidade a cultura sempre recorre ao modelo causal, ou seja, procura detectar
uma causa para a pretendida culpa. A forma mais humana de se cogitar sobre causas da culpa se dá
através da ligação psíquica entre o agente e o fato. É por isso que a noção de culpabilidade e,
consequentemente, da Imputabilidade, deve sempre utilizar subsídios da ciência médica
especializada na função psíquica.

Foi aplicando as noções das funções psíquicas à ética que se supôs da existência de, no mínimo,
duas situações determinantes entre a pessoa e o ato; a situação voluntária (volitiva) e a situação
involuntária (ou impulsiva, casual). Levando-se para o direito a distinção entre essas duas
modalidades de relacionamento entre o sujeito e o objeto, nasceu a distinção jurídica entre dolo e
culpa.

Havendo dolo ou culpa a pessoa será considerada punível, portanto, imputável. Não havendo
nenhum dos dois, será dita inimputável. Entre um estado e outro estão os casos considerados semi-
imputáveis. A semi-imputabilidade ou Responsabilidade Diminuída são os chamados casos
fronteiriços, isto é, as pessoas que não tem em sua plenitude, as capacidades intelectivas e volitivas.
Aparece nas formas menos graves de oligofrenia e de doenças mentais. A semi-imputabilidade não
exclui a culpabilidade, sendo tão somente uma causa especial de diminuição de pena.

Assim sendo, as bases da imputabilidade estão solidamente condicionadas à saúde mental e a


normalidade psíquica. Representa a condição de quem tem a capacidade de realizar um ato com
pleno discernimento e com a vivência de direcionar suas atitudes.

Para a psicopatologia a imputabilidade estaria condicionada a pelo menos duas funções psíquicas
plenas e uma função psíquica relativa. As duas funções psíquicas plenas, são o juízo da realidade e o
controle da vontade. A função psíquica relativa é o conhecimento da ilicitude. Essa é uma função
psíquica relativa porque envolve condições que podem ultrapassar os limites da patologia (cultural,
ambiental, educacional, etc).

O juízo de realidade é conceituado como sendo a capacidade de estabelecer valores ou atributos que
dá-se aos objetos, expressando-se através do pensamento. A volição corresponde à vontade, uma
atividade psíquica coordenadora dos atos voluntários e definida como sendo a consciência do
arbítrio. A escolha e decisão da atitude humana definem a vontade ou o exercício do arbítrio.

Cabe distinguir imputabilidade de culpabilidade. Esta é quando não houve previsão do resultado
previsível de uma ação prejudicial no momento em que se manifestou a vontade. Portanto, enquanto
a imputabilidade diz respeito exclusivamente ao sujeito, sendo dele um atributo, a culpabilidade (com
ou sem dolo) se refere às relações desse sujeito com a ação ou acontecimento em tais e quais
circunstâncias. O tipo dessa relação sujeito-ação se vê através da intencionalidade do ato, como
vimos acima.

Apesar do filósofo Kant ter afirmado que "não é necessário ser médico para determinar se uma
pessoa é alienada Mental, basta um pouco de bom senso", poderíamos acrescentar que também
“não é necessário ser médico para determinar se uma pessoa está normal, bastando um pouco de
bom senso”. Mas a questão não diz respeito apenas a esses dois extremos do vasto espectro da
existência humana. O que nos preocupa são os variadíssimos casos situados entre esses dois
extremos; a doença franca e o normal evidente.

Com a evolução das ciências, criou-se a certeza de que havia uma origem doentia nos Transtornos
Mentais e que eles não se manifestavam de maneira simplesmente binária, como ocorre na
obstetrícia com as grávidas e não-grávidas. Nas questões emocionais e mentais há graduações de
sofrimento e comprometimento. A partir de então a justiça sentiu, vendo que tinha à frente algum
determinado fato patológico, necessidade de recorrer aos médicos. Foi neste momento, quando se
recorreu aos médicos para avaliação científica do Estado Mental do criminoso, que surgiu a

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IMPUTABILIDADE PENAL

Psicopatologia Forense.

Ainda que a medicina, através da Psiquiatria Forense, subsidie a justiça naquilo que ela quer saber, a
noção de imputabilidade e inimputabilidade é exclusivamente jurídica e não médica. Ela diz respeito à
"insuficiência das faculdades mentais, a alterações mórbidas das faculdades mentais ou a um estado
de inconsciência (de juízo)" necessários para a compreensão do aspecto criminoso do ato e para a
pessoa autodeterminar-se e dirigir suas ações.

A medicina, no caso a Psiquiatria Forense, apenas oferece à justiça os subsídios que facilitam a
decisão do juiz. Portanto, não seria lícito à psiquiatria, atestar a imputabilidade mas sim, antes disso,
atestar a qualidade da consciência crítica e das faculdades mentais, deixando para a justiça a
decretação de imputabilidade ou não.

Atualmente a legislação brasileira sobre inimputabilidade diz o seguinte:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

A base teórica dessa legislação remonta à segunda metade do Século XIX e toma por base o “Teste
M’Naghten”, um conjunto de princípios amplamente usados pelos tribunais, tanto na Grã-Bretanha
como nos EUA. A parte principal dessa teoria diz o seguinte: "Para estabelecer uma defesa com base
na loucura é preciso estar comprovado que no momento de cometer o ato o acusado agia sob tal
falha da razão, resultante de doença mental, ignorando portanto a natureza e a qualidade do ato que
praticava; ou, caso a conhecesse, ignorava ser errado o que fazia".

Os tribunais britânicos não aceitavam o ponto de vista romano, de que a loucura era punição
suficiente para o criminoso insano. Em vez disso, o acusado inglês era considerado "culpado, mas
louco", e mantido em custódia sob severa vigilância.

O Código Penal considera três hipóteses de inimputabilidade:

1º As pessoas que por doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado não tem as
capacidades intelectivas e volitivas nos termos do Art. 26 do Código Penal.

2º Os menores de 18 anos, nos termos do Art. 27 do Código Penal (sujeita a revisões, como por
exemplo, baixar para 16 anos).

3º A embriaguez fortuita completa.

Assim sendo, teoricamente, para haver imputabilidade há necessidade, sine qua non, de haver
integridade da cognição.

Análise Científica

No campo da ciência, torna-se confusa e complicada a distinção exata entre normal e anormal. Para
muitos, normal é quem tem plena posse ou uso de suas faculdades mentais.

Existem alguns fatores que influem nessa normalidade, a saber:

Alterações da Consciência

Popularmente, quando questionamos se uma pessoa tem ou não consciência de seus atos, na
realidade estamos tentando dizer se ela tem ou não juízo crítico de seus atos, uma qualidade ética,
estética e moral da personalidade em sua interação com o sistema cultural de que faz parte.

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IMPUTABILIDADE PENAL

A consciência em si, pode ser avaliada sob dois aspectos, um deles de interesse na Psicopatologia
Forense. O aspecto quantitativo diz respeito à excitabilidade do sistema nervoso central aos
estímulos externos e internos. Trata-se de uma avaliação da neurologia e não da psiquiatria e procura
saber se a pessoa está vigil, dormindo, em coma, etc.

O outro aspecto que diz respeito à psiquiatria e, portanto, à Psicopatologia Forense, é o aspecto
qualitativo ou da qualidade da consciência. Ele trata a consciência sob o ponto da capacidade de
integração harmoniosa destes estímulos internos-externos, passados e presentes, escala de valores,
prioridades, etc. Portanto, em psiquiatria, perguntar se a pessoa está ou não consciente daquilo que
faz ou pensa, tem uma conotação muito diferente da mesma questão tratada popularmente. Na
grande maioria das vezes, o que se quer dizer, de fato, é se o indivíduo tem ou não juízo crítico de
seus atos.

Os casos patológicos capazes de comprometer significativamente a qualidade da consciência seriam


os estados psicóticos agudos, as oligofrenias (deficiência ou retardo mental), os chamados estados
crepusculares, as intoxicações por substâncias com efeito no Sistema Nervoso Central (álcool,
cocaína, metais pesados, etc) e os comprometimentos orgânicos cerebrais, como por exemplo, as
demências.

Alterações da Vontade

Acredita-se que somente se exerce a vontade ou as ações voluntárias quando há possibilidades de


escolha, de reflexão e de decisão. Caso não haja esse conjunto circunstancial o ato será impulsivo,
isto é, será mera descarga motora, sem direção e sem conteúdo, ou será ainda instintivo, sem
considerações conscientes, embora dotadas de finalidade . Para se formar uma idéia geral do
verdadeiro processo volitivo, temos que delimitar e identificar quatro etapas:

1. intenção ou propósito, fase onde se esboçam as inclinações ou tendências de ação, geralmente


vivenciadas sob a forma de algum interesse e, normalmente, polarizando nossa atenção sobre
determinado objeto;

2. deliberação, etapa que corresponde à ponderação consciente dos motivos mencionados acima,
analisando-se o que será favorável ou desfavorável (apreciação), levando forçosamente a uma
opção, isto é, a fazer ou deixar de fazer;

3. decisão, momento culminante do processo volitivo, instante que demarca o começo da ação,
resultado da vantagem consciente dos motivos favoráveis;

4. execução, quando surgem as atitudes necessárias à consumação dos propósitos, dependente da


performance da pessoa sob o ponto de vista global e sua capacitação à eficácia da ação.

Para a execução do ato voluntário exige-se um certo grau de consciência e de reflexão sobre
finalidades, entretanto, a maior parte dos atos que executamos na vida diária é relativamente
automática. Para a atividade voluntária cotidiana fazem parte uma série reflexos automáticos e
instintivos os quais, na prática, não podem ser bem diferenciados. A frequente repetição de atitudes
voluntárias acaba por transformar atos volitivos em atos automáticos, portanto, todos atos
automáticos foram antes atos volitivos.

Alterações do Entendimento

Nesse tópico devem ser analisadas as situações onde a compreensão da ilicitude do ato esteja
comprometida. Interessa à Psicopatologia Forense apenas o não-entendimento da ilicitude do ato
motivado por razões médicas, excluindo-se os casos de conotação cultural, religiosa, política, etc.

Isso significa que, diante da pessoa que não entende a ilicitude de sua ação, a Psicopatologia
Forense deve avaliar se o fenômeno é consequente a um, prejuízo funcional cerebral (déficit
intelectual, arteriosclerose, sequela neurológica, etc) ou não. Cumpre à justiça, avaliar as muitas
outras situações possivelmente associadas ao não-entendimento da ilicitude da ação; é a pessoa um
índio não aculturado, trata-se de uma criança, de um protesto social, seria falta de estímulos, de

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oportunidade, seria consequência de um ambiente com escala de valores própria..., enfim, a justiça
deve recorrer à outros parâmetros para avaliar as situações que transcendem a esfera médica.

Violenta Emoção

Mediante a consciência o ser humano se percebe, experimenta prazer ou dor, conhece, sofre, decide
e age. Trata-se da integração de todas funções psíquicas envolvidas com a apreensão da realidade,
e cujo produto final é o conhecimento e reconhecimento de algo real ou não, das questões interiores
ou exteriores, bem como da própria identidade e essência do eu.

Mas, sentir o próprio ser, bem como ter sensações, não reflete a qualidade da consciência. Tratam-
se, esses dois atributos, do exercício quantitativo da consciência e produzido pela experiência e pelos
estímulos agindo sobre nosso equipamento neurológico. O mais importante é saber da qualidade da
consciência, de nossa capacidade psíquica de valorizar as experiências vividas.

O psiquiatra forense, ao avaliar a existência de uma Violenta Emoção estará, nessas alturas dos
acontecimentos, já diante de uma pessoa que tenha cometido algum delito, com dolo ou culpa, e que
tenha evocado essa figura jurídica a ser ou não confirmada.

Para ser plena e compatível com a vida em sociedade a consciência, além de seu caráter quantitativo
(estar vigil, atento, vigilante...), necessita ter também de um duplo aspecto qualitativo; o aspecto
integrativo e o aspecto moral.

A Violenta Emoção, do ponto de vista jurídico, é uma situação atenuante de alguns delitos e é
caracterizada por um estado emocional, de ânimo e de sentimento muito excitado.

Agonia

A importância médico-legal da agonia está relacionada à capacidade de discernimento pleno.


Justamente porque os pacientes no período da agonia não cometem ilícitos penais. A capacidade
civil e as atitudes nessa fase crítica da vida devem ser analisadas de acordo com o estado mental.

O tema tem relevância na medida em que pode ser possível, neste período de agonia, atitudes que
de outra forma não seriam tomadas pela pessoa, como por exemplo, as doações, testamentos,
pagamentos, etc. Normalmente a perícia nestes casos é muito difícil e se procede
retrospectivamente, sobre as circunstâncias e antecedentes emocionais.

A agonia corresponde aos últimos momentos da vida, isto é período de transição entre a vida e a
morte. A fase agônica difere de pessoa para pessoa e nela podem ser distinguidas três fases: Fase
da Melhoria, Fase Agônica e Fase Final.

Sendo o ser humano extremamente emotivo e influenciável, não é raro, diante da angústia da agonia,
a pessoa tomar atitudes pretensamente salvadoras, redimíveis, extremadas e mesmo desesperadas.
Pode haver doações despropositais com intenção de salvar a alma, de vingar-se dos que ficam,
tentar barganhar a vida e assim por diante.

Epilepsia

Psiquiatricamente a Epilepsia não pode ser considerada uma entidade patológica de sintomatologia
única mas sim, um complexo de sintomas diversos e variáveis que se caracterizam por episódios
paroxísticos (periódicos) e transitórios, capazes de alterar o estado da consciência, associar-se a
alterações dos movimentos, convulsões e mesmo transtornos do sentimento, das emoções, da
conduta, ou tudo isso junto.

A abordagem da Epilepsia tem sido muito diferente entre as duas disciplinas médicas que se ocupam
do problema: a neurologia e a psiquiatria. Neurologicamente a epilepsia pode ser entendida como
uma disritmia cerebral paroxística capaz de provocar alterações no sistema nervoso central e,
consequentemente, em todo organismo.

Sob o ponto de vista psiquiátrico, também se entende a epilepsia como uma disritmia cerebral

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paroxística, com alterações funcionais do sistema nervoso central e, consequentemente,


manifestações no comportamento, nas emoções e nos padrões de reações do indivíduo (veja
Epilepsia e Violência). Portanto, preferimos tomar a Epilepsia como uma síndrome neuropsiquiátrica,
onde suas manifestações clínicas terão importância para a psiquiatria forense.

Transtornos da Linhagem Sociopática

Os termos Psicopata, Sociopata, Anti-social, Transtornos de Conduta, Delinquência, Borderline e


muitos outros congêneres, juntamente com conceitos tais como Personalidade Criminosa,
Personalidade Psicopática, Propensão ao Delito, etc., estão constantemente sendo revistos pela
psiquiatria em geral e, particularmente, pela Psiquiatria Forense. Toda essa temática tem, também,
um grande interesse para a sociologia, política e antropologia, na medida em que a sociedade tem se
surpreendido com fenômenos de agressividade e violência estarrecedoras.

As perenes ocorrências de crimes seriais, juntamente com as igualmente perenes atitudes destrutivas
de fundo religioso e político e as atuais conturbações do mundo moderno, principalmente as grandes
tragédias político-sociais que abalam os grandes centros, como por exemplo, as ações terroristas,
têm chamado muito a atenção sobre a destrutividade potencial que caracteriza a conduta de algumas
pessoas. Seriam psicopatas todas as pessoas envolvidas nessas ações delituosas?

Com finalidade didática, resolvemos agrupar todos esses desvios da atitude humana que conflitam
com os padrões sociais normais da vida gregária sob a denominação de TRANSTORNOS DA
LINHAGEM SOCIOPÁTICA.

Em decorrências desses modificadores da normalidade, o homem acaba por cometer alguns tipos de
crimes:

Crime sexual

Os atos de violência contra as pessoas por motivos sexuais constituem uma parte importante de
todos os delitos sérios e podem chegar às formas mais desumanas de assassinato. O crime por
prazer constitui casos extremos de sadismo, onde a vítima é assassinada e às vezes mutilada, com o
propósito de provocar gratificação sexual ao criminoso, o qual normalmente consegue o orgasmo
mais pela violência do que pelo coito.

O chamado Crime Sádico Serial, ou homicídio por Parafilia, pode ser considerado homicídio por
prazer, já que a causa e a razão do ato tem uma origem sexual. Deve ser tarefa da sexologia e da
psiquiatria forense estabelecer os aspetos da personalidade de um criminoso sexual com
características de crime serial.

O exame de todas as manifestações da conduta delinquencial deve ser investigado em função da


personalidade total do criminoso e de seu inseparável contexto social. Além disso o perito médico
deve descobrir o valor e a significação que a realidade tem para o criminoso, seu juízo crítico,
capacidade de auto-determinar-se, etc.

Serial Killer

Os Assassinos em Série (serial killers) são uma capítulo à parte na criminologia e uma dificuldade
para a psiquiatria, uma vez que não se encaixam em nenhuma linha do pensamento específica.
Esses casos desafiam a psiquiatria e acabam virando um duelo entre promotoria e defesa sobre a
dúvida de ser, o criminoso, louco, meio louco, normal, anormal, etc. Do ponto de vista criminológico,
quando um assassino reincide em seus crimes como mínimo em três ocasiões e com um certo
intervalo de tempo entre cada um, é conhecido como assassino em série.

A diferença do assassino em massa, que mata a várias pessoas de uma só vez e sem se preocupar
pela identidade destas, o assassino em série elege cuidadosamente suas vítimas selecionando a
maioria das vezes pessoas do mesmo tipo e características. Aliás, o ponto mais importante para o
diagnóstico de um assassino em série é um padrão geralmente bem definido no modo como ele lida
com seu crime. Com frequência eles matam seguindo um determinado padrão, seja através de uma
determinada seleção da vítima ou de um grupo social com características definidas, como p. ex. as

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prostitutas, homossexuais, policiais, etc.

A análise do desenvolvimento da personalidade desses assassinos seriais geralmente denuncia


alguma anormalidade importante. Atos violentos contra animais, por exemplo, têm sido reconhecidos
como indicadores de uma psicopatologia que não se limita a estas criaturas.

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Concurso de Pessoas - Conceitos e teorias

1. Concurso De Pessoas

Um crime pode ser realizado por uma ou mais pessoas. Quando o delito é cometido por duas ou
mais pessoas, verifica-se um caso de concurso de pessoas, também conhecido como concurso de
agente, concurso de delinquentes, coautoria, codelinquência ou participação. O Código Penal de
1940 adota, na questão do concurso de pessoas, a teoria da equivalência dos antecedentes quanto
à relação de causalidade, igualando os vários antecedentes causais do crime, não distinguindo
entre os vários participantes da conduta criminosa e reunindo-os sob a denominação de
“coautoria”. A colaboração de várias pessoas para o crime pode verificar -se na fase de ideação ou
execução, variando também o grau de importância maior ou menor, bem como as espécies de
contribuição de cada agente para o resultado final.

1.2. Definição

Julio Fabbrini Mirabete define o concurso de pessoas da seguinte forma:

“O concurso de pessoas pode ser definido como a ciente e voluntária participação de duas ou mais
pessoas na mesma infração penal. Há, na hipótese, convergência de vontades para um fim comum,
que é a realização do tipo penal, sendo dispensável a existência de um acordo prévio entre as
várias pessoas; basta que um dos delinquentes esteja ciente que participa da conduta de outra
para que se esteja diante do concurso.” (MIRABETE, 2007, p. 224)

Nisto, vemos que para que se considere que um crime ocorreu em concurso de pe ssoas não é
necessário que as partes, necessariamente, combinem para agir conjuntamente, mas uma delas
deve ter noção que concorre em parte na realização da conduta delituosa.

1.3. Concurso De Pessoas X Concurso Necessário

É preciso distinguir o concurso de pessoas, que é um concurso eventual, ou seja, pode ocorrer em
qualquer infração penal passível de ser praticada por uma só pessoa (crimes unissubjetivos), do
chamado concurso necessário. Concurso Necessário é aquele que em sua própria natureza jurídica
devem estar presentes dois ou mais agentes, ou seja, só podem ser cometidos por duas ou mais
pessoas, como a bigamia, a rixa, o crime de quadrilha, etc. São chamados de crimes
plurissubjetivos. Guilherme de Souza Nucci ressalta que não se confunde o crime p lurissubjetivo
com o delito de participaçãonecessária. Esta, por sua vez, trata de crimes cometidos por um só
autor, embora o tipo penal exija a participação necessária de outra pessoa, que é o sujeito passivo,
sendo que este não é punido pela prática do crime. Nucci traz como exemplo a corrupção de
menores, o crime de usura, o favorecimento à prostituição ou outra forma de exploração sexual.

2. Teorias Sobre O Concurso De Pessoas

2.1. Teoria Monista

A tradicional teoria monista, unitária ou igualitária, prega que o crime, ainda que tenha sido
praticado em concurso de várias pessoas, permanece único e indivisível. Não se faz distinção entre
as várias categorias de pessoas (autor, partícipe, instigador, cúmplice etc.), sendo
todos autores (ou coautores) do crime. Esse é o posicionamento do Código Penal de 1940 ao
determinar no artigo 29 que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas”. Dessa regra se deduz que “toda pessoa que concorre para a produção do crime
causa-o em sua totalidade e, por ele, se imputa integralmente o delito a cada um dos partícipes”.
Portanto, todos os que tomam parte na infração penal cometem idêntico crime.

A crítica a essa posição deriva não só da dificuldade de se estabelecer a realidade da “equi valência
das condições”, bastante discutível, como das próprias exceções da lei, que estabelece, apesar da
adoção do princípio unitário, algumas causas de agravação e atenuação da pena.

2.2. Teoria Pluralista

Para a teoria pluralista, à multiplicidade de agentes corresponde um real concurso de ações


diversas e, em consequência, uma pluralidade de delitos, praticando cada uma das pessoas um

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crime próprio, autônomo. A falha apontada nessa teoria é a de que as participações de cada um
dos agentes não são formas autônomas, mas convergem para uma ação única, já que há um único
resultado que deriva de todas as causas diversas.

A cerca dessa teoria, Nucci indica que o Código Penal, adota-a, como exceção, ao disciplinar o
aborto, fazendo com que a gestante que consinta a prática do aborto em si mesma responda como
incursa no art. 124 do Código Penal, enquanto o agente provocador do aborto, em lugar de ser
coautor dessa infração, responda como incurso no art. 126 do referido Código, aplicando-se o
mesmo no contexto da corrupção ativa e passiva e da bigamia.

2.3. Teoria Dualística

Para a teoria dualística, ou dualista, no concurso de pessoas há um crime para os autores e outro
para os partícipes. Neste caso, deve-se separar os coautores, que praticam um delito, e os
partícipes, que cometem outro.

No crime há uma ação principal, que é a ação do autor do crime, o que executa a ação típica, e
ações secundárias, acessórias, que são as realizadas por aqueles que instigaram ou auxiliaram o
autor a cometer o delito. Neste ponto, Mirabete aponta que, entretanto, é importante lembrar que o
crime é um só fato e que, por vezes, a ação do executor é menos importante que a do partícipe
(casos de mandato, de coação resistível etc).

2.4. Apontamentos Relevantes A Cerca Das Teorias A Partir Do Disposto No Código Penal.

A lei vigente, no artigo 29, dispõe: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.” Num primeiro momento, portanto,
permanece a lei atrelada a teoria monista, dispondo que só há um crime, e que todos os
participantes respondem por ele, incidindo na mesma pena abstratamente fixada.

Porém, ao considerar-se a satisfação parcial da teoria monista, e as decisões reconhecidamente


injustas, o legislador procurou regras precisas para distinguir a autoria e a participação. Enquanto a
manutenção da teoria monista se impõe como exigência de certeza, de justiça e de segurança, a
culpabilidade reflete a dosagem que se deve fazer na aplicação da pena para aqueles que
cometeram o crime.

No art. 29, caput, determina-se que todos os que deram causa ao resultado respondem por este,
mas as ressalvas desse dispositivo e do § 2º impõem a verificação quanto a cada um dos
concorrentes do elemento subjetivo do crime (dolo ou culpa) e da censurabilidade da conduta.
Nessas exceções, a lei aproxima-se da teoria dualista, distinguindo a coautoria da participação.

É de se ressaltar, aliás, que o Código já estabelecia exceções ao princípio unitário na Parte


Especial. Assim, no aborto consentido o provocador do resultado pratica crime mais grave que a
gestante.

3. Causalidade Física E Psíquica

A causalidade psíquica (ou moral), ou seja, a consciência da participação no concurso de agentes,


acompanha a causalidade física (nexo causal). Quando a lei determina que aquele que “ de
qualquer modo concorre para o crime incide nas penas a este cominadas”, o alcance do texto deve
ser interpretado em correspondência com a causalidade material e psíquica. Dessa forma, quem
concorre para um evento, consciente e voluntariamente (visto que concorrer para o crime é deseja-
lo), responde pelo resultado.

Pode ocorrer concurso de pessoas desde a ideação, ou seja, na cogitação, até a consumação do
delito, respondendo pelo ilícito o que ajudou em seu planejamento, o que proporcionou os meios
materiais para a execução, o que opera na execução e mesmo os que colaboram na execução do
ilícito. Responde assim pelo delito em concurso de agentes aquele que contribui para o crime com
adesão posterior ao início de sua execução, não sendo necessária a prova de nexo moral anterior,
de acordo prévio. Cessada a consumação, porém, o terceiro que auxilia o autor do crime não será
concorrente do ilícito (homicídio, furto, extorsão mediante sequestro etc.), mas responderá,
conforme o caso, por delito diverso (ocultação de cadáver, receptação, favorecimento pessoal ou
real etc.).

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Inexistente o nexo de causalidade, não ocorrerá concurso de agentes ainda que o sujeito desejasse
participar do ilícito, ou seja, os atos dos agentes devem estar voltados para um resultado. Assim, a
exemplo de Mirabete, se alguém empresta ao executor de um delito de homicídio uma arma que,
afinal, não é utilizada na prática do crime, não há que se responsabilizar o fornecedor da arma
como concorrente do citado ilícito.

4. Requisitos Do Concurso De Pessoas

Para que ocorra o concurso de pessoas deve haver as seguintes condições:

a) Pluralidade de condutas:

Existentes condutas de várias pessoas é indispensável, do ponto de vista objetivo, que haja nexo
causal entre cada uma delas e o resultado.

b) Relevância causal de cada um das ações:

Havendo relação entre a ação de cada uma das condutas e o resultado, ou seja, havendo
relevância causal de cada ato delituoso, concorreram essas pessoas para o evento e por ele serão
responsabilizadas.

c) Liame subjetivo entre os agentes:

É necessário, também, uma ligação psicológica entre os vários autores, ou seja, o conhecimento de
que cooperam numa ação comum. Não basta atuar o agente com dolo (ou culpa), sendo
necessária uma relação subjetiva entre os concorrentes. Somente a adesão voluntária, objetiva
(nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização
de um objetivo comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e responsabiliza os agentes à pelas
consequências da ação. Inexistente esse liame psicológico, não há que se reconhecer o concurso
de agentes disciplinado no art. 29 do Cód. Penal.

d) A identidade de fato:

Mirabete aborda a questão de identidade de fato com o exemplo de que não haverá vínculo na
omissão do empregado que se esquece de fechar uma porta da casa do empregador, circunstância
que vai favorecer a entrada do autor de um furto. Inexiste no caso o concurso de agentes pois o
empregado não agiu com dolo voltado à facilitar a entrada de um ladrão e apenas o autor da
subtração responderá pelo ilícito, apesar de ter sido favorecido pela falta de cuidado do criado.
Existirá, no entanto, o liame psicológico quando o empregado, intencionalmente, deixa aberta a
porta, ainda que o ladrão desconheça a vontade daquele em ajudá-lo a cometer a subtração. Há no
caso o concurso de pessoas, pois o criado agiu de modo a facilitar a conduta do autor do furto,
como também desejou concorrer, ou seja, contribuir para a subtração. Deve haver , portanto, a
consciente e voluntária participação no fato, mais uma vez demonstrado que não é indispensável o
acordo prévio de vontades para a existência do concurso de pessoas.

A mera ciência, a assistência, ou mesmo a concordância psicológica para o eve nto, sem que a
pessoa concorra com uma razão, porém, diferencia-se da instigação e não é punida pois a
instigação visa a fomentação de uma idéia preexistente. Também não há concurso quando a
pessoa não denuncia às autoridades que um delito vai ser praticado, exceto se tiver o dever
jurídico de impedir o resultado.

5. Autoria

5.1. Teorias Para A Conceituação De Quem É O Autor Do Crime:

5.1.1. Teoria Restritiva De Autor

É a teoria adotada pelo Brasil, e por ela entende-se como autor aquele que realiza conduta típica
descrita na lei, ou seja, é quem pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que subtrai, que
mata, que seqüestra etc, não sendo considerado, portanto, o mandante do crime autor, pois lhe
faltam os atos de execução do tipo penal.

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5.1.2. Teoria Extensiva De Autor

Para essa teoria, além daquele que realiza a conduta típica, será considerado autor aquele que
contribui com alguma causa para o resultado. Para essa teoria, instigador e cúmplice são
igualmente autores, já que não se distingue a importância da contribuição causal de uns e outros.
Tampouco se faz a distinção entre autor e partícipe, uma vez que todos os agentes contribuíram
para o resultado.

5.1.3. Teoria Do Domínio Final Do Fato

Segundo essa teoria, o autor é aquele que detém o domínio total do fato até a sua consumação, ou
seja, autor é quem tem o poder de decisão sobre a realização do evento pretendido. É o mandante,
aquele que planeja a ação delituosa, que organiza e dirige a atuação dos demais mesmo que não a
realize o núcleo do tipo.

O autor portanto possui o domínio finalista, diferenciando-se do partícipe que é um simples


colaborador no fato, um concorrente acessório mesmo que sua contribuição seja dolosa.

5.2. Autoria Mediata

Autor mediato é aquele que realiza a ação típica através de outra pessoa que atua sem
culpabilidade, ou seja, utiliza-se de outra pessoa como instrumento para a prática de um delito.

Os crimes de autoria mediata podem resultar de:

a) Valer-se de um inimputável:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do

fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (CÓDIGO PENAL).

Imputabilidade é a capacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo


com esse entendimento. Todo agente é inimputável, salvo quando ocorrer uma causa de exclusão:

1 – Doença mental;

2- Desenvolvimento mental incompleto;

3- Desenvolvimento mental retardado;

4 – Embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.

b) Coação moral irresistível: Coação moral é obrigar alguém por meio de grave ameaça a realizar
uma conduta típica.

c) Obediência hierárquica;

d) Erro de tipo escusável, provocado por terceiro: O erro de tipo acontece quando o agente não
sabe que está cometendo um crime, mas acaba por praticá-lo.

e) Erro de proibição escusável, provocado por terceiro: No erro de proibição o agente sabe o que
faz, mas erra sobre a ilicitude da sua conduta.

Como exemplo de autoria mediata podemos citar a mãe que manda seu filho menor matar a
vizinha, ou que subtraia algum objeto em uma loja, ou ainda, o pai que manda seu filho doente
mental desferir golpes de faca em seu desafeto. Nesses casos inexistiu a vontade do executor
material do fato.

O domínio do fato pertence exclusivamente ao autor e não ao executor, o qual não detém o
domínio da ação e, consequentemente, do fato.

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É, portanto, impossível nos crimes de mão própria e inaplicável nos tipos culposos. Admite-se,
porém, a participação entre autor mediato e terceiro, como também coautores mediatos.

5.3. Autoria Imediata

Autoria imediata consiste em que o domínio do fato pertence exclusivamente ao executor, ou seja,
é autor imediato aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que mata, que
sequestra, que lesiona.

5.4. Autoria Colateral

Prática de um crime por duas ou mais pessoas sem que um saiba ou conheça a intenção da outra,
ou seja, inexiste liame subjetivo entre eles. É o agir conjunto de diversos agentes, sem
reciprocidade consensual.

Como exemplo, podemos citar a seguinte situação: A e B executam simultaneamente a vítima, sem
que um conheça a conduta do outro.

Imaginando que no exemplo citado apenas o tiro de uma matou a vítima, para a autoria colateral é
necessário que se saiba quem produziu o quê. Aquele autor do disparo causador da morte
responderá por homicídio, enquanto o outro responderá por tentativa. Se houvesse liame subjetivo,
ambos neste caso responderiam por homicídio em coautoria.

Se, neste caso não pudesse saber quem matou a vítima, surge a autoria incerta.

5.5. Autoria Incerta

Na autoria incerta sabe-se quem realizou a conduta, mas não se sabe quem foi o causador do
resultado.

Apesar de alguns doutrinadores acreditarem que na iminência de condenar um inocente deve-se


absolver ambos acusados, e outros, adeptos a teoria monista, acreditarem que todos deveriam
responder pelo resultado, ou seja, neste caso A e B deveriam responder por homicídio, a maioria
da doutrina acredita que nesses casos ambos deverão ser condenados por tentativa de homicídio,
pois houve início da execução e a intenção dos agentes era de matar, porém na se conhece o
verdadeiro autor do crime.

6. Coautoria

Coautoria ocorre quando dois ou mais agentes, conjuntamente, realizam o verbo do tipo, ou seja, o
coautor é aquele que executa junto com outras pessoas a infração penal. A coautoria nada mais é
que a própria autoria, e para que ela exista não é necessário um acordo prévio de vontades,
bastando somente a consciência do agente de estar contribuindo para a ação.

É desnecessário também que todos pratiquem o mesmo ato executivo, para configurar a coautoria
basta que cada um dos agentes contribua efetivamente na realização e no aperfeiçoamento do
crime.

Funda-se a coautoria sobre o princípio da divisão do trabalho. Se duas pessoas disparam suas
armas, alvejando a vítima e causando-lhe a morte, responderão por coautores, assim como
aqueles que subtraem a coisa no crime de roubo, onde cada autor colabora com sua par te no fato.

Na coautoria, o domínio do fato pertence aos diversos agentes que se apresentam como peças
fundamentais na execução do plano.

7. Participação

Partícipes são aqueles que por meio de conduta acessória concorrem para o crime, ou seja,
entende-se por partícipe não aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal, mas quem pratica
uma atividade que contribui para a realização do delito.

A participação pode se dar através da instigação, induzimento, organização e chefia, auxilio


material e moral etc. A doutrina, entretanto, considera duas espécies mais relevantes:

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a) Instigação: Instigar significa animar, estimular, reforçar uma idéia existente. Ocorre a
participação quando o partícipe atua sobre a vontade do autor, ou seja, ele influencia no processo
da formação da vontade, provocando a resolução criminosa do autor, não tomando parte nem na
execução nem no domínio do fato. Pode ser exercida por meio de mandato, persuasão, conselho,
comando etc.

Segundo Julio Fabbrini Mirabete “a instigação deve dirigir-se à prática do crime determinado, não
constituindo participação a incitação genérica para a prática de infrações penais. “

b) Cumplicidade: É a participação material onde o partícipe exterioriza a sua contribuição através


de um comportamento, como o empréstimo de arma de fogo, revelação do segredo de um cofre,
empréstimo de veículo com o intuito de deslocar-se mais facilmente etc.

Existe também a cumplicidade por omissão nos casos em que o sujeito tem o dever jurídico de
evitar o resultado mas não o faz, como no caso do vigilante que deixa a porta aberta
propositalmente para facilitar a ação do autor do furto, ou a do empregado que não tranca o cofre
para facilitar que o autor o roube ou,

8. Espécies De Acessoriedade

Existem quatro classes de acessoriedade:

a) Acessoriedade mínima: para essa teoria é suficiente que a ação principal seja típica, sendo
indiferente ser ilícito ou não. Como exemplo, aquele que induzir o autor a agir em legítima defesa
responderá pelo crime, enquanto o executor, autor direto, será absolvido pela excludente de
ilicitude.

b) Acessoriedade limitada: será considerado partícipe aquele que tiver participado de uma conduta
típica e antijurídica, mesmo que o autor não seja culpável. Isso quer dizer que a participação é
acessória da ação principal, de um lado, mas que também depende desta até certo ponto. Esta é a
teoria adotada pela nossa Legislação.

c) Acessoriedade extrema: o partícipe somente é responsabilizado se o fato principal é típico,


antijurídico e culpável. Por essa teoria, caso o executor seja inimputável ou tenha agido por erro de
proibição escusável, não haveria participação uma vez que a conduta principal não é culpável.

d) Hiperacessoriedade: será considerado partícipe aquele que participou de uma conduta típica,
antijurídica e culpável e, concorrerá inclusive as causas agravantes e atenuantes de caráter
pessoal relativas ao autor principal.

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CRIMES CONTRA A PESSOA

Crimes Contra Pessoa

HOMICÍDIO – De forma geral, o homicídio é o ato de destruição da vida de um homem por outro
homem. De forma objetiva, é o ato cometido ou omitido que resulta na eliminação da vida do ser
humano.

Homicídio simples – Artigo 121 do CPB – É a conduta típica limitada a “matar alguém”. Esta espécie
de homicídio não possui características de qualificação, privilégio ou atenuação. É o simples ato da
prática descrita na interpretação da lei, ou seja, o ato de trazer a morte a uma pessoa.

Homicídio privilegiado - Artigo 121 - parágrafo primeiro – É a conduta típica do homicídio que recebe
o benefício do privilégio, sempre que o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima,
podendo o juiz reduzir a pena de um sexto a um terço.

Homicídio qualificado - Artigo 121 - parágrafo segundo – É a conduta típica do homicídio onde se
aumenta a pena pela prática do crime, pela sua ocorrência nas seguintes condições: mediante paga
ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; por motivo fútil, com emprego de veneno,
fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou do qual possa resultar perigo
comum; por traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido; e para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a
vantagem de outro crime.

Homicídio Culposo - Artigo 121- parágrafo terceiro – É a conduta típica do homicídio que se dá pela
imprudência, negligência ou imperícia do agente, o qual produz um resultado não pretendido, mas
previsível, estando claro que o resultado poderia ter sido evitado.

No homicídio culposo a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra


técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima. O
mesmo ocorre se não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante.

Sendo o homicídio doloso, a pena é aumentada de um terço se o crime é praticado contra pessoa
menor de quatorze ou maior de sessenta anos.

Perdão Judicial - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que torne desnecessária a
sanção penal.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio - Artigo 122 do CPB – Ato pelo qual o agente induz ou
instiga alguém a se suicidar ou presta-lhe auxílio para que o faça. Reclusão de dois a seis anos, se o
suicídio se consumar, ou reclusão de um a três anos, se da tentativa de suicídio resultar lesão
corporal de natureza grave.

A pena é duplicada se o crime é praticado por motivo egoístico, se a vítima é menor ou se tem
diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Neste crime não se pune a tentativa.

Infanticídio - Artigo 123 – Homicídio praticado pela mãe contra o filho, sob condições especiais (em
estado puerperal, isto é, logo pós o parto).

Aborto - Artigo 124 – Ato pelo qual a mulher interrompe a gravidez de forma a trazer destruição do
produto da concepção. No auto-aborto ou no aborto com consentimento da gestante, esta sempre
será o sujeito ativo do ato, e o feto, o sujeito passivo. No aborto sem o consentimento da gestante, os
sujeitos passivos serão o feto e a gestante.

Aborto provocado por terceiro – É o aborto provocado sem o consentimento da gestante. Pena:
reclusão, de três a dez anos.

Aborto provocado com o consentimento da gestante – Reclusão, de um a quatro anos. A pena pode
ser aumentada para reclusão de três a dez anos, se a gestante for menor de quatorze anos, se for
alienada ou débil mental, ou ainda se o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência.

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CRIMES CONTRA A PESSOA

Forma qualificada - As penas são aumentadas de um terço se, em conseqüência do aborto ou dos
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão corporal de natureza grave. São
duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Aborto necessário - Não se pune o aborto praticado por médico: se não há outro meio de salvar a
vida da gestante; e se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

DECRETO-LEI N.º 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940

( Do Art. 155 ao Art. 183 )

(Confira se houve alteração nestes artigos) PARTE ESPECIAL

TÍTULO II

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (arts. 155 a 183)

CAPITULO I DO FURTO

Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido: I - com


destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave
falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (acrescido pela Lei nº 9.426, de
24.12.96)

Furto de coisa comum

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

§ 1º - Somente se procede mediante representação.

§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

CAPÍTULO II

DO ROUBO E DA EXTORSÃO

Roubo

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Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
ou para terceiro.

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:

I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais


pessoas;

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior; (acrescido pela Lei nº 9.426, de 24.12.96)

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (acrescido pela Lei nº
9.426, de 24.12.96)

§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze)


anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da
multa. (redação da Lei nº 9.426, de 24.12.96)

Extorsão

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma
coisa:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a
pena de um terço até metade.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária


para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e
3o, respectivamente.” (NR) Redação da LEI Nº 11.923, DE 17 DE ABRIL DE 2009.

Extorsão mediante seqüestro

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate: (redação da Lei nº 8.072, de 25.07.90)

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito)


ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. (Redação da LEI
No 10.741/1º.10.2003)

(Redação anterior) - § 1º - Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é


menor de 18 (dezoito) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos. (redação da Lei nº 8.072, de 25.07.90)

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos. (redação da Lei nº 8.072, de 25.07.90)

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§ 3º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos. (redação da Lei nº 8.072, de 25.07.90)

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a


libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (redação da Lei nº 9.269, de
02.04.96)

Extorsão indireta

Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Início

CAPÍTULO III

DA USURPAÇÃO

Alteração de limites

Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória,
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem: Usurpação de águas

I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias; Esbulho possessório

II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.

§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.

§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante


queixa. Supressão ou alteração de marca em animais

Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
propriedade:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

CAPÍTULO IV
DO DANO

Dano

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses,
ou multa. Dano qualificado

Parágrafo único - Se o crime é cometido:

I - com violência à pessoa ou grave ameaça;

II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;

III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista; (redação da Lei nº 5.346, de 03.11.67)

IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia

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Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:

Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou multa. Dano em coisa de valor artístico,
arqueológico ou histórico

Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de
valor artístico, arqueológico ou histórico:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Alteração de local especialmente
protegido

Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido
por lei:

Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. Ação penal

Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.

CAPÍTULO V

DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Apropriação indébita

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de
1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Aumento de pena

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: I - em depósito


necessário;

II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário


judicial; III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Apropriação indébita previdenciária

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:" (Art. e §§ inseridos pela Lei nº 9.983, DE 14 DE JULHO DE
2000) - Vide Art. 9° da Lei n° 10.684/30.05.2003

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de

I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;"

II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou
custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;"

III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social."

§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento


das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na
forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal." (AC)

§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for
primário e de bons antecedentes, desde que:"

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I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou"

II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais."

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza

Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza:

Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de tesouro

- quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o
proprietário do prédio;

Apropriação de coisa achada

I - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze)
dias.

Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º. Início

CAPÍTULO VI

DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme
o disposto no art. 155, § 2º.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Disposição de coisa alheia como própria

I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;


Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria

II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou


litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando
sobre qualquer dessas circunstâncias;

Defraudação de penhor

III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Fraude na entrega de coisa

IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; Fraude para
recebimento de indenização ou valor de seguro

V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;

Fraude no pagamento por meio de cheque

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VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito


público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

Duplicata simulada

Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. (redação da Lei nº 8.137, de 27.12.90)

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único - Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do
Livro de Registro de Duplicatas.

Abuso de incapazes

Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor,
ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível
de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Induzimento à especulação

Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade


mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a ooperação é ruinosa:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Fraude no comércio

Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: I - vendendo,


como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;

II - entregando uma mercadoria por outra:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no


mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por
verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º. Outras fraudes

Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:

Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as


circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações

Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia
popular.

§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular:

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I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer,
balanço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz afirmação falsa sobre as condições
econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;

II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
outros títulos da sociedade;

III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de
terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembléia geral;

IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas,
salvo quando a lei o permite;

V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações
da própria sociedade;

VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço
falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;

VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue
a aprovação de conta ou parecer;

VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;

IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica


os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.

§ 2º - Incorre na pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, o acionista que, a fim
de obter vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembléia geral.

Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant"

Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal: Pena -
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Fraude à execução

Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando
dívidas: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. Início

CAPÍTULO VII

DA RECEPTAÇÃO

Receptação

Art. 180- Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: (nova
redação da Lei nº 9.426, de 24.12.96)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

(redação original) -Art. 180 - Adquirir, receber ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Receptação qualificada

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: (nova redação da Lei nº
9.426, de 24.12.96)

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Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

(redação original) § 1º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre
o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:

Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa, ou ambas as penas.

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de


comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. (nova redação da Lei nº 9.426,
de 24.12.96)

(redação original) § 2º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor
do crime de que proveio a coisa.

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: (nova redação da
Lei nº 9.426, de 24.12.96)

(redação original) § 3º - No caso do § 1º, se o criminoso é primário pode o juiz, tendo em


consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. No caso de receptação dolosa, cabe o
disposto no § 2º do art.

155.

Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa, ou ambas as penas.

§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa. (nova redação da Lei nº 9.426, de 24.12.96)

(redação original) § 4º - No caso dos bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município,
empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista adquiridos
dolosamente: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as


circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art.
155. (acrescido pela Lei nº 9.426, de 24.12.96)

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa


concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste
artigo aplica-se em dobro. (acrescido pela Lei nº 9.426, de 24.12.96)

CAPÍTULO VIII

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I -
do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:

I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;

II - ao estranho que participa do crime.

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III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos."
(NR)(Acrescido pela LEI No 10.741/ 1º.10. 2003)

Fé Pública: confiança geral na legitimidade de algo, necessária à vida social. Falsum é o meio pela
qual se faz lesar a fé pública. Vejamos os requisitos para configuração destes crimes:

• Existência de dolo. Não existe crime de falsificação culposa.

• Alteração ou imitação da verdade.

(i) Material: se refere a elementos exteriores que compõem o documento. Pode ser feita por
contrafação[1], alteração[2], supressão[3];

(ii) Ideológica: o que se muda é a ideia que deveria ter o documento. Não expressa a realidade que
deveria. Simulação.

(iii) Pessoal: atribuição de dados falsos – situação relativa à identificação da pessoa.

• Dano potencial (idoneidade do falsum): A quebra da fé pública tem repercussão em todo o meio
social (receio de repetição).

Da Moeda Falsa

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no
país ou no estrangeiro:

Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e
multa.

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente,
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:

I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade


superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda
autorizada.

Tutela à fé pública: confiança na autenticidade e regularidade da emissão/circulação da moeda


(interesse coletivo). O crime de moeda falsa é caracterizado pelo aumento de valor, quando se trata
de alteração, não configurando o crime quando a alteração é para valor menor, pois nesse caso não
há risco para a coletividade. Falsificar (imitar com fraude) moeda metálica ou papel moeda de curso
legal no País ou no estrangeiro (excluídas; retirada de circulação, convencionalmente utilizada),
através de fabricação (contrafação) ou alteração (modificação/adulteração). A falsificação deve ser
idônea (apta a iludir pessoas de diligencia comum) para colocar a fé pública em risco.

• Se for absolutamente grosseira – art. 17, CP.

• Se enganar apenas pessoa (s) determinada (s) – Art. 17, CP, Súmulas 13 e 73 do STJ

O elemento subjetivo é o dolo. Não há que se falar em crime de moeda falsa de forma culposa. A
consumação ocorre com a prática da conduta, independentemente de prejuízo a alguém ou de que
entre em circulação (desde que apta a iludir). É crime formal. A tentativa é admissível pois é um crime
plurissubsistente.

• O art. 291 (petrechos) incrimina os atos preparatórios do art. 289, CP.

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• Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho,
instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda.

• Crime formal consuma-se com a prática de um dos núcleos, sendo permanente em possuir e
guardar.

• Tentativa admissível. Figura Equiparada:

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

O sujeito que falsifica a moeda não será condenado pelo § 1º, pois é esperado que ele tome uma das
condutas descritas. É um pós fato não punível. O crime descrito nesse parágrafo é formal, com
exceção apenas da conduta “vender”, pois esse é material. Ainda, a conduta “guardar” é crime
permanente.

Figura Privilegiada:

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e
multa.

Não se trata de um crime culposo, mas sim de um crime com menor reprovabilidade. No momento em
que o sujeito está ciente da falsidade e repassa a moeda afrente, pratica o crime do § 2º. Consuma-
se com a restituição. A tentativa é admissível, mas pouco provável.

Qualificadoras:

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente,
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:

I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade


superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda
autorizada.

É crime próprio pois o § 3º descreve os sujeitos ativos do crime. Os sujeitos ativos agem em razão o
ofício. O inciso I se refere apenas à moeda metálica, enquanto o inciso II se refere apenas ao papel
moeda. No § 4º, a moeda é verdadeira, mas o que é punível é a circulação, que ainda não tinha a
circulação autorizada.

Falsidade Documental

Tutela à fé pública: crença coletiva que deve recair sobre a veracidade e a autenticidade dos
documentos.

Documento para fins penais é aquele escrito, inteligível, que vai exprimir uma ideia de alguém. É
preciso que haja uma pessoa determinada/responsável pelo documento. Ainda, é preciso que esse
documento tenha relevância jurídica, relevância no meio social. Necessita ter eficácia probatória no
sentido de que ele é suficiente para provar a sua veracidade. Figura/pintura/foto: podem compor um
documento, mas não podem ser considerados documentos em si. Funcionário Público[4]: é um
conceito amplo, abrangente, válido para toda a legislação penal. O § 1º traz uma equiparação que
abarca quem exerce cargo, emprego ou função pública em entidades paralelas ao Estado.

Falsificação de Documento Público

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Documento Público: deve ser (i) elaborado por funcionário público; (ii) criado no exercício das funções
públicas e (iii) com a observância das formalidades legais.

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Um compromisso de compra e venda registrado em cartório não é um documento público, pois não
foi elaborado por funcionário público. O registro em si é um documento público, mas o documento
privado sob o qual foi feito o registro não.

Documento público por equiparação:

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal,


o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros
mercantis e o testamento particular.

São documentos particulares que exigem maior proteção e, portanto, são equiparados à documento
público:

I. Emitido por paraestatais (autarquias, empresa públicas, de economia mista, etc.)

II. Título ao portador (transferível por tradição) ou transmissível por endosso (declaração no próprio
título) – notas promissórias, cheques.

III. Ações de sociedade comercial (qualquer tipo)

IV. Livros mercantis (obrigatórios ou facultativos)

V. Testamento particular

O cheque é sempre documento público para fins penais? Não, se ele não for mais transferível por
endosso, ele será particular. Falsificar (reproduzir imitando), total (criação completa) ou parcialmente
(acréscimos), ou alterar (modificar algo existente), de forma idônea (apta a ludibriar indeterminadas
pessoas),

possuindo potencialidade lesiva. O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. A consumação se


dá com a falsificação, não precisando o documento ser utilizado. A tentativa é admissível, mas pouco
provável.

Causa de aumento de pena:

§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a


pena de sexta parte.

Se o funcionário público expedir corretamente o documento, com o conteúdo falso, ele responde por
crime de falsidade ideológica.

Falsificação de documento público previdenciário:

§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova


perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;(Incluído
pela Lei nº 9.983, de 2000)

II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir


efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da


empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

É crime de falsidade ideológica. O documento é expedido atendendo a todos os seus requisitos, mas
o conteúdo é falso. A conduta “inserir” ocorre quando própria pessoa inclui dados, enquanto a
conduta “fazer inserir” ocorre quando uma pessoa age para que outra inclua dados. É crime
comissivo e consuma-se com a conduta dolosa. Admite tentativa.

§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do

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segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação


de serviços.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

É crime omissivo próprio e consuma-se com a conduta dolosa. Não admite tentativa. Observa-se que
os crimes previstos nos parágrafos 3º e 4º são de competência da Justiça Federal.

Falso Documental e Estelionato:

Súmula 17/STJ: “quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido”.

Súmula 73/STJ: “a utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime


de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

Assim, se a fraude se esgota no estelionato ou não tinha capacidade de iludir determinadas pessoas,
mas iludiu alguém, agente responderá apenas pelo crime contra o patrimônio.

Falsificação de documento particular

Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular
verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Será documento particular todo aquele que não seja público ou equiparado a ele. O crime de
falsificação de documento particular possui todas as características do crime de falsificação de
documento público.

Parágrafo único: falsificação de cartão de crédito ou débito (12.737/12). Falsidade Ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três


anos, e multa, se o documento é particular.

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou


se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

Não há a criação, alteração ou supressão material. A idéia é falsa, embora o emissor seja legítimo.
Não há que se falar em prova pericial, pois o documento preencheu todos os requisitos de emissão. A
falsidade imediata ocorre quando o próprio agente (i) omite declaração que deveria constar ou (ii)
insere declaração falsa ou diversa.

A falsidade mediata ocorre quando o agente se vale de terceiro para fazer inserir declaração falsa ou
diversa. O Elemento Subjetivo é o dolo com o especial fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre o fato juridicamente relevante. A causa de aumento de pena vem descrita no
§único, e ocorre quando o agente é funcionário público. É um § criticado, pois o funcionário público já
está incluso no caput, quando se trata de documento público, fato que caracterizaria bis in idem. No
entanto, a doutrina e jurisprudência tem o entendimento de que não fica caracterizado o bis in idem,
pois o funcionário público tem maior responsabilidade.

Consumação:

I. Omissão: com a omissão (é crime omissivo próprio e não admite tentativa).

II. Inserir/Fazer inserir: com a inserção (é crime comissivo e admite tentativa).

Objeto especial: assentamento de registro civil. É mais grave porque todas as certidões posteriores
terão como base a certidão adulterada e, portanto conterão a falsidade.

*Obs. ATENÇÃO aos arts. 241 e 242 = crimes autônomos – crimes de falsidade ideológica específica.
Falsidade de atestado médico

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Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de um mês a
um ano.

Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Dar (ceder, produzir) atestado médico falso (sobre fato relevante). O sujeito ativo é o médico,
portanto, é crime próprio. O sujeito passivo é o Estado (a coletividade). O elemento subjetivo é o dolo
direto ou eventual. A consumação se dá com a entrega do atestado falso (maioria). Há também o
entendimento de que estaria consumado no momento da elaboração do atestado. A tentativa é
admissível. Caso o médico seja servidor público e aceite dinheiro para elaborar o atestado, ele
praticará crime de corrupção passiva.

Uso de documento falso

Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

É um crime remetido, que não mais tem em si toda a conduta típica, mas faz menção a outros crimes.
Assim, a pena tem pena variável, dependendo do tipo de documento falsificado. É crime comum, com
exceção do envolvido na falsificação. Pressupõe-se que aquele que falsificou o documento ira fazer
uso dele, portanto, o crime descrito no art. 304, é um pós-fato impunível. O sujeito passivo é a
coletividade. O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. A consumação se dá com a efetiva
utilização do documento falso, assim o simples porte do documento não configura crime. A tentativa é
inadmissível, para a maioria.

*Obs. Quando irmão gêmeo pega a cnh do outro, prática qual crime? Art. 308, pois o documento não
é falso.

Supressão de documento

Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco
anos, e multa, se o documento é particular.

Destruir (perda da forma), suprimir (fazer desparecer – riscar, tornar ilegível) ou ocultar (esconder)
documento público ou particular verdadeiro (objeto material), de que não podia dispor (elemento
normativo relacionado à ilicitude da conduta). É crime comum e o sujeito passivo é o Estado
(coletividade). O elemento subjetivo é o dolo direto, de forma que há um fim especial, qual seja, em
benefício próprio ou de outrem o em prejuízo alheio. A consumação se dá com a própria conduta,
pois é crime formal. A diferença entre esse crime e o estelionato está na especialidade. O estelionato
tem o fim de proporcionar beneficio próprio e em prejuízo alheio, ao passo que o crime de supressão
de documento tem o fim de proporcionar beneficio próprio ouem prejuízo alheio. O estelionato é mais
especifico que a supressão de documentos.

De Outras Falsidades

Falsa identidade

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio
ou alheio, ou para causar dano a outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.

Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa
natureza, próprio ou de terceiro:

Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime
mais grave.

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A falsidade pessoal recai sobre a identidade civil, não sobre a pessoa física. A esses dois crimes se
atribuem subsidiariedade. Somente serão considerados se não foram meios para crimes mais graves.
Possuem subsidiariedade expressa.

Art. 307: Atribuir (imputar, considerar) a si próprio ou a terceiro falsa identidade (conjunto de
características peculiares de uma pessoa que permite individualiza-la.

Art. 308; Usar (empregar) documento de identidade (interpretação analógica) alheia (pertencente a
terceiro) ou ceder (dispor) a outrem documento dessa natureza, próprio ou de terceiro.

O elemento subjetivo é o dolo:

Art. 307: com o especial fim de obter vantagem em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a
outrem.

Art. 308: ceder exige especial fim (para que dele se utilize).

É crime comum e o sujeito passivo é a coletividade. A consumação ocorre com a conduta, vez que
trata-se de crime formal. A tentativa é admissível, quando plurissubsistente.

Adulteração de sinal identificador de veiculo automotor

Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo
automotor, de seu componente ou equipamento:(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996))

Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é


aumentada de um terço. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro
do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial.
(Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

Adulterar (falsificar) ou remarcar (colocar nova marca) número de chassi(estrutura sobre a qual se
monta a carroceria) ou qualquer sinal identificador de veiculo automotor (Anexo I do CTB), de seus
componentes ou equipamento (placas, numeração de vidros, motor etc.). A maioria entende que essa
alteração descrita no caput deve ser permanente.

*Obs.

· Pessoa que coloca fita adesiva na placa para evitar o rodizio? Entende a maioria que não há uma
significante lesividade. A alteração não é de caráter permanente e a consideração de tal conduta
como crime previsto no art. 311 seria desproporcional. No entanto, o STJ tem afirmado que essa
situação configura crime do art. 311, pois pode trazer prejuízo, principalmente quando o veiculo se
envolve em acidentes. A supressão de número do chassi não configura esse crime, na medida em
que não houve adulteração ou remarcação. O crime é comum e sujeito passivo é o Estado
(coletividade). O elemento subjetivo é o dolo (não há finalidade especial). Os §§ 1º e 2º são causas
de aumento de pena, as quais se configuram com a atuação do funcionário público no exercício de
sua função. A consumação e dá com a alteração e a tentativa é admissível, pois o crime é
plurissubsistente.

Fraudes em certames de interesse público

Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de


comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

I - concurso público; (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

II - avaliação ou exame públicos; (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou (Incluído pela Lei 12.550. De 2011) IV -
exame ou processo seletivo previstos em lei: (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

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Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas
não autorizadas às informações mencionadas nocaput. (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública: (Incluído pela Lei 12.550. De
2011) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)

§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público. (Incluído pela
Lei 12.550. De 2011)

Bem jurídico: lisura dos certames públicos. Utilizar (dar uso) ou divulgar(tornar

público), indevidamente (elemento normativo), conteúdo sigiloso de concursos, vestibulares etc. O


elemento subjetivo é o dolo direto, com a especial finalidade de beneficiar a si ou a outrem ou de
comprometer a credibilidade do certame. O crime é comum e sujeito passivo é o Estado
(coletividade). A causa de aumento de pena (§ 3º) se configura quando o fato é cometido por
funcionário público. O § 1º descreve uma conduta equiparada, que possui permitir ou facilitar como
verbo do tipo. O § 2º descreve a qualificadora que ocorre quando resulta dano à administração.

[1] Criação de um documento, semelhante ao verdadeiro. Papel semelhante, impressão semelhante.

[2] Inserção de algo em um documento verdadeiro. O documento é verdadeiro e se insere algo no


documento.

[3] Retirada de informação do documento, alterando-se a verdade.

[4] Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade


paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.

O concurso de pessoas é o cometimento da infração penal por mais de um pessoa. Tal cooperação
da prática da conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria, participação, concurso de
delinquentes ou de agentes, entre outras formas. Existem ainda três teorias sobre o concurso de
pessoas, vejamos:

a) teoria unitária: quando mais de um agente concorre para a prática da infração penal, mas cada um
praticando conduta diversa do outro, obtendo, porém, um só resultado. Neste caso, haverá somente
um delito. Assim, todos os agentes incorrem no mesmo tipo penal. Tal teoria é adotada pelo Código
Penal.

b) teoria pluralista: quando houver mais de um agente, praticando cada um conduta diversa dos
demais, ainda que obtendo apenas um resultado, cada qual responderá por um delito. Esta teoria foi
adotada pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois quando praticado pela gestante, esta incorrerá na
pena do art. 124, se praticado por outrem, aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento
ocorre na corrupção ativa e passiva.

c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver mais de um agente, com diversidades de
conduta, provocando-se um resultado, deve-se separar os coautores e partícipes, sendo que cada
"grupo" responderá por um delito.

Coautoria e participação

Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora ambos dentro da teoria objetiva:

a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor é o agente que pratica a figura típica descrita no
tipo penal, e partícipe é aquele que comete ações não contidas no tipo, respondendo apenas pelo
auxílio que prestou (entendimento majoritário). Exemplo: o agente que furta os bens de uma pessoa,
incorre nas penas do art. 155 do CP, enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo a
fugir, responderá apenas pela colaboração.

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b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além de praticar a figura típica, comanda a ação dos
demais ("autor executor" e "autor intelectual"). Já o partícipe é aquele colabora para a prática da
conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica descrita, e sem ter controle das ações dos demais.
Assim, aquele que planeja o delito e aquele que o executa são coautores.

Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária - teoria formal, o executor de reserva é apenas
partícipe, ou seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mario também desfere tiros em
Pedro, Mario (executor de reserva) responderá apenas pela participação, pois não praticou a conduta
matar, já que atirou em um cadáver. Ressalta-se, porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais para
autor e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último, quando, por exemplo, for o mentor
do crime.

Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, "quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade", dessa forma deve-se analisar
cada caso concreto de modo a verificar a proporção da colaboração. Além disso, se a participação for
de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço, segundo disposição do §
1º do artigo supramencionado, e se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º, do CP).

Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se não houver antijuridicidade, não há o que se falar
em punição ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada.

Crime Plurissubjetivo

O crime plurissubjetivo é aquele que exige a presença de mais de uma pessoa, como acontece no
crime de associação criminosa, rixa, entre outros. Assim, nestes crimes não há o que se falar em
participação, já que a pluralidade de agentes garantem o tipo penal, sendo todos autores. Em
contrapartida, nos crimes unissubjetivos, quando houver mais de um agente, aplicar-se-á a regra do
art. 29 do CP, já citado, devendo-se analisar a conduta de cada qual para aplicação da pena.

O crime plurissubjetivo não se confunde com o delito de participação necessária, pois neste último o
autor pratica vários crimes, porém o tipo penal exige a colaboração do sujeito passivo, que não será
punido.

Exemplo: corrupção de menores, favorecimento à prostituição etc.

Requisitos do concurso pessoas

a) presença de dois ou mais agentes;

b) nexo de causalidade material entre as condutas realizadas e o resultado obtido;

c) não há necessidade de ajuste prévio entre os agentes, mas deve haver vontade de obtenção do
resultado (vínculo de natureza psicológica). Ou seja, mesmo que os agentes não se conheçam pode
haver o concurso de pessoas se existente a vontade de obtenção do mesmo resultado. Tal hipótese
admite ainda a autoria sucessiva. Exemplo: empregada deixa a porta da casa aberta, permitindo que
o ladrão subtraia os bens do imóvel. Enquanto isso, uma outra pessoa, ao ver os fatos, resolve dele
aderir retirando também as coisas da casa;

d) reconhecimento da prática do mesmo delito para todos os agentes;

e) existência de atipicidade e antijuridicidade, já que se o fato não é punível para um dos coautores,
também não será para os demais.

Autoria mediata e colateral

A autoria mediata ocorre quando o agente usa de pessoa não culpável, ou que atua sem dolo ou
culpa para realizar o delito. São situações que ensejam a autoria mediata: valer-se de inimputável,
coação moral irresistível, obediência hierárquica, erro de tipo escusável ou de proibição, provocados
por terceiro. Porém, há inúmeros casos em que o inimputável (menor, por exemplo) não é usado
como instrumento da obtenção do resultado. Quando o inimputável também quiser atingir o resultado,

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será co-autor e tal modalidade de concurso denominar-se-á concurso impropriamente dito, concurso
aparente ou pseudo concurso, já que um agente é penalmente responsável e o outro não.

Já a autoria colateral ocorre quando dois agentes têm a intenção de obter o mesmo resultado, porém
um desconhece a vontade do outro, sendo que o objetivo poderá ser atingido pela ação de somente
um deles ou pela ação de ambos. Exemplo: Jorge e Antônio pretendem matar Carlos, e para tanto se
escondem próximo à sua residência, sem que um saiba da presença do outro, e atiram na vítima.
Assim, Jorge e Antônio responderão por homicídio em autoria colateral já que um não tinha
conhecimento da ação do outro (não há vínculo psicológico). Salienta-se que, se apenas o tiro
desferido por Jorge atingir Carlos, ele responderá por homicídio consumado, ao passo que Antônio
responderá por homicídio tentado. Se não for possível verificar qual tiro matou Carlos, Jorge e
Antônio responderão por tentativa de homicídio. Porém, se Jorge desfere tiro em Carlos e o mata, e
só depois é que Antônio atira na vítima, haverá crime impossível para ele. Neste caso, se não for
possível identificar qual tiro matou Carlos, ambos os agentes serão absolvidos por crime impossível
(autoria incerta).

Participação por omissão e conveniência, e co-autoria em crime omissivo

A participação por omissão ocorre quando a pessoa tinha o dever de evitar o resultado e não o fez.
Exemplo: responde por crime de incêndio o bombeiro que não cumpriu seu dever se agir para
combater o fogo. Já a participação por conivência ocorre quando a pessoa não tinha o dever de evitar
o resultado, nem tinha vontade de obtenção do mesmo. Neste caso, não haverá punição - concurso
absolutamente negativo. Exemplo: o vendedor de uma loja sabe que seu colega está furtando
dinheiro do caixa, porém, não tem obrigação de denunciá-lo já que não exerce a função de
segurança, nem trabalha na mesma seção.

A autoria em crime omissivo ocorre, por exemplo, quando duas pessoas deparam-se com alguém
ferido e ambas não procuram ajuda. Nesta hipótese, responderão por co-autoria em omissão de
socorro. Porém, há também entendimento que não há possibilidade de co-autoria nestes crimes, e
sim autoria colateral, pois existem condutas individuais, sendo o dever de agir infracionável.

Participação e cumplicidade Há três visões sobre o assunto:

a) cúmplice é aquele que auxilia no cometimento de crime sem ter tal conhecimento. Exemplo: dar
carona a bandido sem saber que este está fugindo;

b) cúmplice é aquele que colabora materialmente com a prática de infração penal;

c) cúmplice é aquele que colabora dolosamente para prática de conduta delituosa, mesmo que o
autor não tenha consciência deste favorecimento.

Como não há entendimento majoritário, decidiu-se que quem auxilia na prática de um crime é
cúmplice, seja co-autor ou partícipe.

Incomunicabilidade de circunstâncias

Não se comunicam entre co-autores e partícipes as circunstâncias consideradas individualmente no


concurso de agentes. Prevê o art. 30 do CP que, "não se comunicam as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime". Considera-se circunstância de
caráter pessoal aquela situação particular que envolve o agente, mas não é inerente à sua pessoa.
Exemplo: confissão espontânea, que atenua a pena e não se transfere aos demais co-autores. A
condição de caráter pessoal consiste em qualidade da pessoa, tais como menoridade e reincidência,
condições estas que também não se transferem aos demais agentes do delito.

As circunstâncias elementares do crime são componentes do tipo penal, que se transmitem aos
demais agentes da infração penal. Assim, se uma funcionária pública furta bens da repartição com
sua colega que não exerce cargo público, ambas responderão por peculato-furto (art. 312, § 1º do
CP). Em relação ao crime de infanticídio há discussão sobre a transferência da circunstância
elementar, já que a pena para tal crime não é tão gravosa tendo em vista o estado em que se
encontra a mãe. Sendo assim, muitos não concordam com a transmissão da circunstância elementar,
pois não seria justo que co-autor fosse favorecido. Em contrapartida, há entendimento que, mesmo
no infanticídio há transferência da circunstância elementar pois a Lei não fez nenhuma ressalva sobre

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CRIMES CONTRA A PESSOA

o assunto, e esta é a opinião majoritário. Assim, embora o estado puerperal seja circunstância
personalíssima, também é elementar do tipo, dessa maneira, quem auxilia a genitora a matar recém-
nascido ou o faz sozinho a pedido da mesma, responderá por infanticídio.

Casos de impunibilidade

Determina o art. 31 do CP que, "o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado".
Entretanto, tais condutas - ajuste (acordo), instigação (estímulo), auxílio (assistência) e determinação
(decisão) - serão puníveis quando houver disposição expressa neste sentido, como é o caso do art.
288 do CP -

"associarem-se 03 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes (...)". Assim,
serão puníveis tais atos quando houver início da execução do delito, pois do contrário serão
consideradas condutas atípicas, já que não houve perigo a nenhum bem protegido pelo ordenamento
jurídico (o mesmo ocorre no crime impossível

O concurso de pessoas (também chamado de concurso de agentes) pode ser definido como a
concorrência de duas ou mais pessoas para o cometimento de um ilícito penal.

O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 29, não define especificamente o concurso de pessoas,
porém, afirma que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade”.

Art. 29. Concurso de pessoas

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena
deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais
grave.

Na doutrina, tem-se definido o concurso de agentes como a reunião de duas ou mais pessoas, de
forma consciente e voluntária, concorrendo ou colaborando para o cometimento de certa infração
penal.

Para a caracterização de um ilícito penal, é necessário, primeiramente, uma conduta humana,


positiva ou negativa, cometida por uma ou várias pessoas, não sendo todo comportamento do
homem um delito, em face do princípio de reserva legal somente os que estão tipificados pela lei
penal podem assim ser considerados.

Já os requisitos para a caracterização do concurso de pessoas serão demonstrados a seguir.


TEORIAS

Quando um crime é cometido por mais uma de uma pessoa, ocorre o concurso de pessoas. Nas
palavras do doutrinador Fábio Miranda Mirabete, o concurso pode ser definido como a ciente e
voluntária participação de duas ou mais pessoas na mesma infração penal, havendo uma
convergência de vontades visando um fim comum, sendo dispensável um acordo prévio entre as
pessoas.

Seguindo essa mesma linha, Guaracy Moreira adiciona mais uma característica ao concurso de
pessoas, ao salientar que nem todos praticam a mesma ação num evento criminoso. Há os que
praticam o verbo previsto no tipo penal, os coautores, e há os que colaboram para o resultado, os
participes.

Discordando de certa parte da doutrina, o mestre Nelson Hungria, adota outra postura quando se
trata da questão de haver ou não um acordo prévio entre os agentes. Em sua doutrina ensina que,
deve haver um acordo de vontades que o acordo de vontades verse sobre o objetivo crime e sobre os
meios de alcança-lo. Enquanto não se fundem em uma só as opiniões dos co-partícipes, ou enquanto

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CRIMES CONTRA A PESSOA

não se estabelece entre eles a perfeita unidade de intenção (desígnios) e de planos, não é atingido o
summatum opus, ou seja, não é atingida a consumação do concurso de agentes. Contudo, para que
se tenha o concurso de pessoas é preciso preencher os seguintes requisitos:

Pluralidade de condutas: é necessária a participação de duas ou mais pessoas, cada uma com a sua
conduta delituosa;

a. Relevância causal de cada uma: a participação deve ser relevante para a concretização do delito;

b. Liame subjetivo: deve existir um vinculo entre os agentes, um liame subjetivo, ou seja, as condutas
devem ser homogêneas: todos devem ter a consciência de que estão colaborando para a realização
de um crime; e

c.Identidade de infração para todos participantes: todos devem responder pelo mesmo crime.

Quando ao requisito b. relevância causal, é pelo código penal no art. 29, §1º do Código Penal, que
deve ser apurado no caso concreto, em que a pena será reduzida de um sexto a um terço. Tratando
deste assunto, o mestre Marcelo Fortes Barbosa utiliza como exemplo de participação de menor
importância a do motorista que se limitou a levar os latrocidas ao local do crime sem espera-los para
dar-lhes fuga.

Emprestar um veículo para a prática de furto se nos afigura como uma participação de menor
importância.

No Direito Penal Brasileiro, existem duas principais teorias adotadas no concurso de pessoas: a teoria
monista e a pluralista.

Na teoria monista crime é único e indivisível, ainda que tenha sido praticado em concurso de várias
pessoas. Não se distingue entre as várias categorias de pessoas (autor, partícipe, instigador,
cúmplice e etc.), sendo todos autores (ou coautores) do crime.

A crítica para essa teoria, que se baseia no fato de que essa posição dificulta o estabelecimento da
“equivalência das condições”, que torna assunto de grande discussão, pois a própria lei estabelece
que seja unitário o crime, mas admite causas de agravação e atenuação da pena.

Na teoria pluralista, a pluralidade de agentes corresponde a um real concurso de ações distintas,


tendo como consequência uma multiplicidade de delitos, praticando cada agente um crime próprio,
autônomo, independente dos demais.

A crítica existente para essa teoria baseia-se na ideia de que a participação de cada agente não são
autônomas, nem independentes, pois conversem para uma mesma ação de um único resultado
derivado de todas as causas diversas.

A lei penal vigente adota a teoria monista ou unitária. Assim, todos aqueles que concorrem para a
produção do crime, devem responder por ele. A teoria comporta algumas exceções, como por
exemplo, no caso de aborto consentido, a gestante responde por infração ao art. 124 (consentir que
outrem lhe provoque) e quem realizou o aborto pelo crime do art. 126 (provocar aborto com
consentimento da gestante), nesses casos é aplicada a teoria pluralista, que admite que cada um dos
concorrentes responda pela sua própria conduta, pois cada um pratica um crime próprio, autônomo.

Requisitos Caracterizadores

Para que se configure o concurso (eventual) de pessoas é indispensável a existência de requisitos de


natureza objetiva e subjetiva, somados a outros que possam complementar e aperfeiçoar a prática
criminosa.

É possível extrair, pelo menos quatro requisitos básicos para o concurso de pessoas na prática
criminosa, os quais se algum desses inexistentes, não há de se falar em concurso de pessoas. São
eles:

1) Pluralidade de agentes e de condutas

Concorrência de mais de uma pessoa na execução de uma infração penal. No concurso de pessoas

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nem todos os participantes, embora assim o desejem, contribuem com sua ação na infração penal.
Alguns praticam o fato material típico, núcleo do tipo; outros praticam atos que, por si sós,
configurariam atos atípicos.

Todos os participantes de um evento criminoso não o fazem necessariamente da mesma forma, nas
mesmas condições e nem com a mesma importância, mesmo que contribuindo livre e
espontaneamente para o seu resultado. Para Esther Ferraz, “enquanto alguns praticam o fato
material típico, representado pelo verbo núcleo do tipo, outros se limitam a instigar, a induzir, a
auxiliar moral ou materialmente o executor ou executores praticando atos que, em si mesmos, seriam
atípicos”. Contudo, como disposto no caput do artigo 29 do Código Penal, a participação de cada um
deve se conjugar, para colaboração causal de obtenção resultado criminoso, razão pela qual, todos
respondem pelo mesmo crime.

Todavia, é necessária a diferenciação de autor do mero partícipe, até pelo primado maior da
culpabilidade, ou seja, da responsabilização das pessoas "na medida de sua culpabilidade", como
dispõe o caput do art. 29 do Código Penal. Por autor entende-se aquele que executa com suas
próprias mãos todos os elementos do tipo penal, em que poderá ainda utilizar de outra pessoa como
instrumento ou aquele que realiza a parte necessária de decisão criminosa para prática criminosa.

Este é o principal requisito para que se caracterize o concurso de pessoas.

2) Relevância causal das condutas

A conduta de típica ou atípica de cada participante deve se integrar em uma corrente causal que
determina o resultado. Para configurar participação a conduta precisa ter eficácia causal, provocando,
facilitando, estimulando a conduta principal. Portanto, conduta irrelevante para a produção do crime
não possui qualquer eficácia causal.

Não satisfaz a multiplicidade de agentes e condutas para que se configure o concurso de agentes, é
necessário ainda que o crime se faça por meio de condutas nas quais se possa vislumbrar o nexo de
causalidade entre elas e o resultado obtido. Desse modo, cada conduta deve ser relevante para a
contribuição objetiva do crime, no encadeamento causal dos eventos. Caso a conduta típica ou
atípica de cada participante não seja da corrente causal para determinação do resultado, será ela por
si só irrelevante. Obviamente, se conclui que nem todo comportamento vai caracterizar a
participação, pois é necessário que haja, no mínimo, estimulação, induzimento ou facilitação para
prática criminosa. Nesse sentindo, condutas irrelevantes ou insignificantes para existência do crime
serão desprezadas, não constituindo sequer participação criminosa.

3) Vínculo Subjetivo

Para aperfeiçoamento do concurso de pessoas, devem existir vários agentes que contribuam para
uma ação comum. Não satisfaz o agente atuar com dolo/culpa. É necessário que haja uma relação
subjetiva entre os participantes do crime, pois, do contrário, várias condutas poderão ser isoladas,
autônomas e até mesmo desprezíveis. Deve haver, portanto, um vínculo psicológico e normativo
entre os diversos autores do crime, de forma a se analisar essas condutas como um todo, e a ser
possível a aplicação do art. 29 do Código Penal.

Ensina Cezar Roberto Bittencourt que, todavia, o simples conhecimento da realização de uma
infração penal ou mesmo a concordância psicológica caracterizam, no máximo, “conivência”, que não
é punível, a título de participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de contribuição
causal, ou, então, constituir, por si mesma, uma infração típica.

“Somente a adesão voluntária, objetiva (nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade
criminosa de outrem, visando à realização do fim comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e
sujeita os agentes à responsabilidade pelas consequências da ação.” (MIRABETE, Manual, v.1,
p.226)

Portanto, deve haver uma participação consciente e voluntária no fato, mas não é indispensável o
acordo prévio de vontade para a existência do concurso de pessoas. A adesão tem que ser antes ou
durante a execução do crime, nunca posterior. No caso de acordo posterior a execução do crime,
esse caracteriza o favorecimento pessoal ou real previsto nos art. 348 e 349 do Código Penal, e não
o concurso de pessoas.

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CRIMES CONTRA A PESSOA

Nos crimes dolosos, basta apenas que o agente adira à vontade do outro, em que os participantes
deverão atuar com vontade homogênea, no sentido todos visarem a realização do mesmo tipo penal.
A existência de vínculo subjetivo não significa a necessidade de ajuste prévio (pactum sceleris) entre
os delinquentes. Rogério Greco afirma que se não se conseguir vislumbrar o liame subjetivo entre os
agentes do crime doloso, cada um responderá isoladamente por sua conduta.

Já nos delitos culposos há divergência doutrinária. Antigamente, se pesava a possibilidade de


concurso de agentes, porém, atualmente tem se admitido, até com certa tranquilidade que alguém
possa conscientemente contribuir para a conduta culposa de terceiro. Aqui, deve-se verificar o
elemento vontade na realização da conduta, mas não na produção do resultado. Diferentemente do
concurso de pessoas no crime doloso, o binômio consciência e vontade não conectam para um
objetivo de prática criminosa, mas sim de realizar a conduta culposa pela imprudência, negligência,
ou imperícia. Sendo assim, é importantíssimo diferenciar o vínculo subjetivo que existe no concurso
de pessoas (crimes dolosos) com o normativo (crimes culposos).

4) Identidade de fato

O quarto e último requisito para se configurar o concurso de pessoas, as infrações praticadas pelos
concorrentes sejam únicas – Unidade da Infração Penal. É imprescindível que todos atuem com
esforços conjugados a fim do mesmo objetivo criminoso.

Damásio de Jesus considera que se trata de identidade de infração para todos os participantes, não
propriamente de um requisito, mas sim de verdadeira consequência jurídica diante das outras
condições. Desse modo, não há de se falar em concurso de pessoas se a concorrência entre dois ou
mais agentes não se destinar a mesma prática de certa e determinada infração penal.

Deve-se existir, portanto, uma unidade da infração penal, requisito básico para concurso de pessoas
e produto lógico-necessário em face do concurso de agentes. Essa infração penal deverá ser ao
menos tentada, bem como dispõe o art. 31 do Código Penal, em casos de impunibilidade de ajuste,
determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário.

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Crimes Contra A Dignidade Sexual

A antiga legislação não abordava as situações reais de violação da liberdade sexual e de desenvolvi-
mento da sexualidade, principalmente quando tratávamos de adolescente, sendo assim a Lei
12.015/2009 veio para garantir maior proteção à pessoa, especialmente na sua dignidade sexual.

Portanto, o artigo abordará essas mudanças que decorreram das divergências doutrinárias e da evolu-
ção social. Não se faz afirmação nova ao dizer que o mundo do direito não gira ao mesmo passo que
o mundo contemporâneo. Sempre se buscou legislar visando o cotidiano, protegendo o que é conside-
rado por todos, de um modo geral, como dotado de valor.

Contudo, a mudança de valores da sociedade acontece de maneira rápida, sendo árduo o trabalho de
inovar o ordenamento jurídico de acordo com o que se visa zelar.

Este fato fica claro no Título VI do Código Penal – Dos Crimes Contra Dignidade Sexual, onde, até a
mudança realizada pela lei 12.015/2009, era possível observar situações enquadradas como crime que
deixaram de fazer sentido há décadas. Observamos tipificações como o art. 215 do CP.

Os valores da sociedade mudam como mudam as gerações. Do mesmo modo que mudam os interes-
ses, o modo de pensar ou os hábitos. Portanto, é evidente o objetivo dos legisladores manterem
sua força criativa em um ordenamento que seja o mais claro possível, defendendo os valores mais
basilares, mas de um modo que não contrarie aqueles que mudam mais facilmente com a sociedade.

Como no exemplo acima citado (art. 215 do CP) fica claro o atraso da legislação penal. Necessária foi
a mudança ocorrida e considerada por muitos atrasada. Porém, ainda há a possibilidade desta mu-
dança ter sido insuficiente, ineficaz.

O objeto jurídico deste capítulo continua sendo, como anterior à lei estudada, a liberdade sexual. Esta
consiste no livre uso do corpo, de maneira consciente, para fins sexuais. Como bem descreve o pro-
fessor André Estefam que liberdade sexual é a livre disposição do próprio corpo no aspecto sexual.

Ainda sobre a liberdade sexual, Renato Marcão e Plinio Gentil, denominam como a esfera de ação em
que o indivíduo, e só ele, tem o direito de atuar livremente, sem imposições de terceiros.

E tratando de forma mais ampla, temos como objeto jurídico a dignidade sexual, ou seja, um tipo es-
pecifico de dignidade, uma que se origina do respeito de outrem pela capacidade do indivíduo de se
autodeterminar sexualmente.

Sendo assim, o artigo em comento, tratará da nova redação do referido título penal, em temas, de-
monstrando a evolução de ordem sexual do código.

No primeiro tema serão abordados os crimes de estupro, violação sexual mediante fraude e assédio
sexual, trazendo cada modificação de forma pormenorizada.

No que tange ao segundo tema traremos as modificações dos crimes de estupro de vítima vulnerável,
corrupção de menores, satisfação de lasciva mediante presença de criança ou adolescente e favoreci-
mento a prostituição ou outra forma de exploração sexual de menores.

Já no terceiro tema a discussão será sobre os crimes de mediação para servir a lasciva de outrem.

E, por fim, o último tema, apesar de não demonstrar as modificações de crimes, será citado dois dis-
positivos legais que foram alterados interferindo nos crimes sexuais, sendo eles: o aumento de pena e
segredo de justiça.

Dos Crimes Contra Liberdade Sexual Estupro (Art. 213 Cp)

O crime de estupro está previsto no artigo 213 do CP. Vejamos:

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

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§ 1º Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2º Se da conduta resultar morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

As principais alterações neste crime ocorreram no polo passivo e na natureza do ato libidinoso.

No que tange ao sujeito passivo, anteriormente era apenas as mulheres que podiam sofrer o referido
crime, atualmente, com a inovação da lei, o artigo trouxe a palavra alguém, presumindo que tanto a
mulher como o homem pode ser vítimas do crime de estupro.

Nesse mesmo contexto Silva Franco e Tadeu da Silva (2010, p.1036) reafirmam a necessidade da
atualização do artigo deixando o sujeito passivo indeterminado:

Para não cair nas redes de tramas da aliança entre o patriarcalismo e o poder punitivo é imperioso
pensar que, frente ao nosso ordenamento jurídico-político, não podem existir discrepâncias na cons-
trução de tipos penais fundamentais na diferença de gênero, sob pena de ferir o princípio da alteridade,
e consequentemente, o do postulado da igualdade – o que macularia o próprio princípio estruturalmente
da dignidade da pessoa humana.

Portanto, deve-se aceitar que é possível que se cometa estupro entre dois homens, entre duas mulhe-
res ou entre pessoas de sexo oposto.

Desta forma, resta claro que diante da referida mudança o objeto jurídico tutelado, no vigente sistema,
passa a ser a liberdade sexual e não mais a mulher.

Assim como os autores acima citados, o professor Capano (2009, p.37) entende que a liberdade sexual
nada mais é que fruto das mudanças sociais, ou seja, é o sinal de uma geração mais esclarecida:

Para se entender bem o termo “liberdade sexual”, é necessário compreender a reação da sociedade
nas últimas décadas, derrubando restrições consideradas repressoras, lutando a sociedade civil orga-
nizada contra qualquer norma, regra ou comportamento que coibisse tal direito.

Cabe frisar, também, que o dispositivo em comento fundiu o artigo 213 e 214 do CP deixando de existir
o concurso material dos dois crimes para tornar-se um crime único. Sendo assim, atualmente o crime
de estupro aborda não apenas a cópula vaginal, mas a prática de qualquer ato libidinoso, transformando
em um único crime os dois atos.

Neste ponto a alteração foi benéfica devendo retroagir todos os fatos anteriores da Lei, mesmo os que
já tiverem trânsito em julgado (CF, art. 5º, XL e CP art. 2º).

É imperioso, por fim, abordar que diante da soma do art. 213 e 214 do CP o que era antes atentado ao
pudor agora é estupro podendo ser considerado crime continuado. Ex: cometer estupro hoje e amanhã
ato libidinoso, ambos são estupro.

Violação Sexual Mediante Fraude (Art. 215 Cp)

Neste artigo, assim como trazido no artigo 213 do CP, o legislador trouxe em uma disposição o que
eram duas (art. 215 e 216 do CP), ou seja, o crime que era posse sexual mediante fraude e o atentado
ao pudor mediante fraude, agora se transformou em um só, sendo mais benéfico.

Os artigos discutidos, ao longo do tempo, sofreram novas adaptações como forma de se adequar a
evolução social, na redação original, antes da modificação da Lei 11.106/05, o artigo 215 do CP trazia
como espécie de “honra sexual” na expressão “mulher honesta”, o que impediam as mulheres que
comercializam seu corpo pudesse ser sujeito passivo do crime “posse sexual mediante fraude”, pois
naquela época prostituição era morte moral.

No mesmo sentido, o professor Evandro Fabiane Capano (2009, p.50) descreve a repulsa que o tipo
penal trazia:

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Esse era o escopo da tutela. Ainda que a prostituta fosse enganada, submetida à fraude sexual, por
presunção absoluta não poderia perder a honestidade- ou honra sexual- pois não possuía esse atributo.

Para as demais mulheres que não faziam do sexo o meio de vida, qualquer atentado fraudulento deste
jaez, que lhes turbasse a virgindade ou o “bom nome”, atingiria sua honra sexual-honestidade- valores
muitos importantes nas décadas do primeiro quartel do século XX.

Sendo assim, em 2005 a palavra honesta foi retirada do artigo 215 do CP para garantir a “honra sexual”
a todos os tipos de mulheres, uma vez que a honestidade ligada a comportamento sexual é ultrapas-
sada.

Com a redação da Lei de 2009, já não há mais discussões a quem ampara a “honra sexual”, a fusão
dos artigos equiparou homens e mulheres, frisando que a honra sexual pertence à dignidade da pessoa.

Analisando de forma analítica essa nova redação do art. 215 CP pode perceber que foi acrescentado
como meio executório a prática de “recurso que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade do
ofendido”.

Tal disposição trata-se do modus operandi[1] similar à fraude, ou seja, ato que surpreende a vítima
ficando está sem condições de reagir a atitude. Ressalvando que se for vítima sem condições de reagir
devido à falta de inteligência sexual, neste caso o agente ativo está cometendo o crime de estupro
contra vulneráveis (art. 271-A do CP).

Assédio Sexual (Art. 216 – A Cp)

O crime denominado “assédio sexual” foi introduzido no nosso ordenamento jurídico pela
Lei 10.224/2001, como uma forma de coibir constrangimento sexual de subordinado por superior hie-
rárquico.

Assim como preceitua André Estefam (2009, p.58), o referido tipo penal procurou permitir “’às pessoas
o livre desenvolvimento da personalidade na esfera sexual, promovendo seu crescimento sadio e equi-
librado no que diz respeito ao tema”.

A Lei 12.015/2009 apenas acrescentou o parágrafo único trazendo como uma causa de aumento
quando a vítima foi menor de 18 (dezoito) anos, visando assim tutelar a criança e ao adolescente.

Dos Crimes Sexuais Contra Vulneráveis

Estúpro De Vítima Vulnerável (Art. 217 –A Cp)

A Lei 12.015/2009 criou o delito de estupro de vulnerável revogando o artigo

224 do CP que trazia as hipóteses de violência presumidas. Neste caso, as hipóteses de violência pre-
sumida foram englobadas pelo estupro de vulnerável, não sendo mais presumido esse tipo de crime e
sim uma tipificação penal especifica, inclusive com pena mais severa.

O referido artigo também deixou de lado a aplicação da majorante trazida no artigo 9º da Lei dos Crimes
Hediondos, nos casos de presunção de violência, pois sua aplicação tornou-se bis in idem[2], uma vez
que agora tem tipificação penal própria.

Nesse diapasão os Colendos Tribunais vêm decidindo:

(...) Com a superveniência da Lei 12.015/2009, foi revogada a majorante prevista no artigo 9º da Lei de
Crimes Hediondos, não sendo mais admissíveis sua aplicação para fatos posteriores à sua edição. Não
obstante, remanesce a maior reprovabilidade da conduta, pois a matéria passou a ser regulada pelo
art. 217-A do CP. (...)

O bem jurídico tutelado passou a ser a dignidade sexual da pessoa vulnerável e não mais sua a sua
liberdade sexual.

O artigo 217-A do CP também trouxe como agentes passivos do tipo penal qualquer menor de 14 (qua-
torze) anos, pessoa enferma ou deficiente mental que não tem o discernimento para prática do ato ou
vitima que não pode oferecer resistência, por qualquer outra coisa.

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No que tange ao tipo objetivo, esse passou a abarcar as condutas de “ter” e “praticar”. O elemento
subjetivo exige dolo direto e o elemento normativo está na expressão “conjunção carnal”.

Por fim, como trata-se de um crime material e admite tentativa.

Corrupção De Menores (Art. 218 Cp)

No artigo em discussão, o legislador evoluiu-o passando a proteger o menor de 14 (quatorze) anos de


forma pontual, ramificando o referido artigo em 218- A e 218- B do CP, os quais serão tratados nos
tópicos subsequentes.

O verbo nuclear do tipo penal do art. 218 do CP passou a ser somente “induzir”, no sentido de brotar
uma ideia que ainda não existia e não mais “corromper” ou “facilitar” a corrupção.

Cabe salientar que o tipo penal somente ampara quando o induzimento for anterior ao ato sexual e não
passar disso. Caso ocorra o ato sexual estaremos diante do crime de estupro de vulnerável (art. 217-
A do CP) ficando absolvido o delito.

Ao interpretarmos literalmente o código penal, no caso do agente ativo que induzir vitima com os exatos
14 anos a satisfazer a lasciva de outrem, o crime seria atípico, porém, neste caso, o mais plausível é
considerar que o agente cometeu lenocínio, previsto no art. 227 parágrafo 1º do CP.

Outra modificação importante foi que o sujeito passivo deixou de ser o adolescente maior de 14 anos
e menor de 18 anos, para constar apenas o menor de 14 anos, tal dispositivo estava penalmente atípico
no contexto social atual, salvo nos casos de prostituição ou exploração sexual que será conduta típica
do artigo 218-B do CP.

Por derradeiro, a Lei 12.015/2009 revogou a Lei 2.252/54 que considerava crime corromper menores
de 18 (dezoito) anos, porém não houve abolitio criminis[3], uma vez que a norma migrou para o ar-
tigo 244-B do ECA:

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infra-
ção penal ou induzindo- o a praticá-la: (Acresentado pela L-012.015-2009).

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utili-
zando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet.

§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração
cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990.

Portanto, manteve-se a pena do artigo 218 do CP, bem como criou nova causa de aumento da pena.

Satisfação Lasciva Mediante Presença De Criança Ou Adolescente (Art. 218 – A Cp)

A nova disposição legal veio no intuito de proteger o menor de 14 (quatorze) anos contra as condutas
que não chegam a constituir ato libidinosos praticados com ele ou contra ele, trata-se de uma variação
do crime de corrupção de menores que só abrangia os maiores de 14 (quatorze) e menores de 18
(dezoito), o que deixava desamparado os menores de 14 (quatorze) anos que era induzido a presenciar
ato libidinoso.

Nesta esfera podemos dizer que a referida prática constituía fato atípico, não enquadrando em qualquer
tipo penal existente.

No entanto, o artigo 218-A deixou de abranger todas as condutas do art. 218 do CP, ocorrendo as-
sim abolitio criminis, das antigas condutas que não foram abrangidas. Vejamos:

Aqui já se falou que o delito previsto no art. 218-A contêm elementos da antiga corrupção de menores,
que era previsto no artigo 218 do CP. Tendo ocorrido abolitio cirminis relativamente às condutas ali
descritas, estas se tornam atípica, se não incorrerem em outro tipo legal, aplicando-se em tudo o dis-
positivo 2 do CP6.

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Neste crime o bem jurídico tutelado, assim como do dispositivo anterior, é a dignidade sexual do menor
de 14 (quatorze) anos. O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que pratique, na presença do vul-
nerável, conjunção carnal ou outro ato libidinoso.

Pode-se verificar que neste tipo penal pode ocorrer concurso de crimes com o de ato obsceno ou com
outros de natureza sexual, assim como favorecimento da prostituição ou o rufianismo. Um exemplo
típico é o concurso com o crime previsto no artigo 227 do CP, mediação para servir à lasciva de outrem,
quando for praticado no intuito de satisfazer a lasciva alheia.

É possível também a continuidade delitiva, bem como o concurso material por uma ação só ou por
várias:

Se, por exemplo, a prática sexual na presença do menor de quatorze anos tiver o sentido de induzi-
mento a prostituição ou outra forma de exploração sexual, a conduta se deslocará para o tipo legal
previsto no art. 218-B, que absolverá o tipo do artigo 218-A, sendo este apenas um crime meio para
aquele, aliás, mais grave.

Favorecimento Da Prostituição Ou Outra Forma De Exploração Sexual De Menores (Art. 218 –B


Cp)

Este é o último desmembramento do antigo art. 218 do CP diferenciando dos demais, este artigo previu
a conduta que não visa ao prazer sexual de pessoas determinadas, bem como o sujeito passivo difere
pelo fato de abranger menores de 18 (dezoito) anos e enfermos ou doentes mentais desprovidos de
discernimento sexual, trazendo dessa forma a punição ao rufião pela prática de exploração de maiores
de 14 (quatorze) anos ou vulneráveis, em sua atividade.

Esse é o entendimento dos doutrinadores Capano (2009, p. 69), e Estefam (2009, p.90):

Previu-se também, de maneira a inovar a legislação pátria, a responsabilização penal de quem pratica
conjunção carnal ou outros atos libidinosos com alguém menor de dezoito anos e maior de quatorze
anos, na situação descrita no caput do art. 218-B, bem como criminalizou-se a conduta do rufião que
permitia, em sua atividade, a exploração de vulnerável ou adolescente maior de quatorze anos, tendo
o texto de lei a seguinte dicção: “o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifi-
quem as práticas referidas no caput deste artigo.

O objeto jurídico tutelado é a vulnerabilidade sexual do menor de dezoito anos, sendo que a vulnerabi-
lidade é absoluta antes dos quatorze anos e relativa entre os dezoito e quatorze anos incompletos.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o passivo é o menor de dezoito anos, de qualquer sexo ou
idade.

O artigo 218-B em seu parágrafo 1º tipifica a conduta praticada com a intenção de obter vantagem,
aplicando neste caso cumulativamente a multa. Muitos doutrinadores discutem se tal disposição é uma
qualificadora ou mero acréscimo de pena ao tipo básico, porém conforme preceitua André Estefam
“como se trata apenas de unir ao preceito secundário a sanção pecuniária, não vislumbramos a exis-
tência de verdadeira qualificadora”.

No parágrafo 2º o legislador incluiu a punição ao agente que mantém conjunção carnal ou prática de
atos libidinosos com pessoas menores de 18 (dezoito) anos e maiores de 14 (quatorze) anos e o pro-
prietário, o gerente ou responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput do
artigo.

Por derradeiro, o artigo no parágrafo 3º traz um efeito obrigatório da condenação da cassação da li-
cença de localização e funcionamento do estabelecimento, para o professor Evandro Fabiani Capano,
tal previsão carece de legalidade.

Para o aduzido autor faz-se necessário saber se essa sanção é uma pena restritiva de direito ou uma
medida de segurança, pois se for pena o sistema não pode aplicar duas penas a mesma conduta,
apesar que mesmo que se chegue a conclusão que é medida de segurança também não será permitido,
uma vez que nosso ordenamento jurídico veda a aplicação de uma pena junto com uma medida de
segurança.

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Ocorre que uma pena não pode ter caráter perpetuo, e sobre tudo, tem que ser individual, não podendo
passar da pessoa do acusado ferindo assim os mandamentos constitucionais que preveem que ne-
nhuma pena terá caráter perpetuo e nenhuma pena poderá passar da pessoa do acusado, sendo que
as penas devem estar adstritas ao princípio da legalidade.

Neste mesmo liame o referido professor explica:

E nesse caso, além da sanção prevista no parágrafo 3º do artigo 218-B do CP possuir caráter perpetuo
e ultrapassar a individualidade da pessoa condenada, não encontra respaldo no rol das penas restriti-
vas de direito, que, por disposição do art. 43 do códex, são de prestação pecuniária, perda de bens e
valores, prestação de serviço à comunidade ou entidades públicas, interdição temporária de direitos e
limitação de fim de semana. Não há previsão fechamento de estabelecimentos, sobretudo em caráter
perpetuo.

Sendo assim, qualquer viés que se observe a questão resta claro que o parágrafo 3º do artigo 218-B
carece de legalidade.

Do Leonicínio E Do Tráfico De Pessoas Para Fim De Prostituição Ou Outra Forma De Exploração


Sexual

Mediação Para Servir A Laciva De Outrem (Art. 277 Cp)

O tipo penal, em comento, não sofreu alterações com a Lei 10.215/2009, seu preceito cominatório atual
tem sua dicção na Lei 11.106/2005.

Sendo assim, vamos trazer uma abordagem direta e superficial, apenas ilustrativa, a qual seja: objeto
jurídico tutelado é a dignidade sexual; os sujeitos ativos podem ser tanto o homem como a mulher; o
tipo objetivo é a conduta de exigir; o elemento subjetivo exige o dolo direto.

Favorecimento Da Prostituição Ou Outra Forma De Exploração Sexual (Art. 228 Cp)

O artigo 228 do CP não sofreu grandes alterações, apenas incluiu ao texto “outra forma de exploração
sexual”, duas qualificadoras de pena e aplicação cumulativa de multa.

A inclusão de “outra forma de exploração sexual” no tipo objetivo ampliou a esfera de proteção do tipo
penal, que antes só abrangiam comportamentos que favoreciam a prostituição alheia. Hoje abarca toda
pessoa que “tira proveito da outra promovendo sua degradação, sob aspecto de sexualidade, fazendo
com que essa se comporte como objeto e mercadoria”11, independentemente de ser para prostituição.

Ademais, o legislador incluiu um verbo nuclear “dificultar” a figura típica, estendendo o crime a toda
pessoa que dificultar que alguém abandone as formas de exploração sexual.

Já as figuras qualificadas são duas, uma referente à relação entre o sujeito passivo e ativo (parágrafo
1º) e a outra aos meios executórios do crime.

A primeira submete o agente a pena de 3 (três) a 8 (oito) anos quando este é ascendente, padrasto,
madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregado da vítima,
ou se assumi, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado proteção ou vigilância.

A segunda é referente se o crime for cometido com o emprego de violência, grave ameaça ou fraude,
a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente da violência.

Além das duas qualificadoras, o legislador trabalhou com o cumulo material de penas, dispondo no
parágrafo 3º que se o crime for cometido com o fim de lucro, aplica-se também a multa.

DAS DISPOSICOES GERAIS - AUMENTO DE PENA (Art. 234-A CP)

A Lei 12.015/2009 introduziu o artigo 234-A, o qual prevê aumento de pena aos artigos do Título VI do
Capitulo VII. Sendo:

234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:

I. - da quarta parte se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; (vetado);

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II. - de metade, se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, tio, irmão, enteado, cônjuge, compa-
nheiro, tutor ou curador da vítima ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção
ou vigilância; (vetado);

III. - de metade, se do crime resultar gravidez; e

IV. - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de
que sabe ou deveria saber ser portador.

Portanto, se dos crimes contra a dignidade sexual resultarem a gravidez a sua pena será aumentada
na metade, uma vez que ter um filho produto de uma concepção alcançada mediante a pratica do crime
pode acentuar ainda mais o trauma da vítima, de modo a torna-la reclusa e incapaz de se relacionar
intimamente com outras pessoas.

Inclusive, nestes casos a lei penal traz a exceção de permitir o aborto (art. 128, II do CP), devido à
gravidade do delito.

A pena também será aumentada caso o agente transmita à vítima doença sexualmente transmissível
de que sabe ou deveria saber ser portador, devido a gravidade dessas doenças que podem levar ao
óbito da vítima.

Segredo De Justiça (Art. 234-B)

O artigo 234-B trouxe a redação que “os processos em que se apuram crimes definidos neste capítulo
correrão em segredo de justiça”, abarcando a possibilidade permitida pelo artigo 5º, LX, da CF, de res-
trição da publicidade quanto à defesa da intimidade, levando em consideração que a natureza dos fatos
a serem apresentados, nestes crimes, poderão causar constrangimento a parte.

Assim, nota-se que o aduzido artigo trouxe a extrema preocupação com a preservação da vida privada
do ofendido, beneficiando também todas as pessoas envolvidas no fato de apuração, inclusive a vítima.

Ao longo do artigo podemos constatar que a modificação do título “Dos Crimes contra os Costumes”
para “Dos crimes contra a Dignidade Sexual”, foi uma forma de conciliar o título com o artigo da Cons-
tituição, que traz como fundamento da república a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III).

Ademais, o tema estava ultrapassado, uma vez que costumes significava hábitos da sociedade, os
quais caíram em desuso, enquanto a palavra dignidade sexual de uma forma mais ampla busca ampa-
rar melhor a natureza dos delitos.

Frisa-se que trazer um título penal baseado em costumes é uma forma de criminalização mais que
retrógrada, criminalizar condutas de acordo com a ética das pessoas, ligadas a moral pública é inacei-
tável na atual conjuntura, sendo totalmente plausível a troca pela palavra “dignidade humana”, eis que
a dignidade está estritamente ligada à pessoa, ou seja, o principal objeto jurídico a ser tutelado.

Ao nosso ver a substituição da palavra “costumes” para dignidade da “pessoa humana” foi acertada-
mente a melhor das escolhas, amparando inclusive a intimidade na vida privada e na honra, uma das
cláusulas pétreas da nossa Constituição (art. 5º, X, CF).

Nota-se que foi uma forma de proteger a intimidade do ser humano em matéria sexual, dando-lhe liber-
dade de escolha e opção nesse sentido.

Ao estudarmos o tema percebemos que as mudanças não ocorreram somente no Brasil, suas altera-
ções foram mundiais, uma vez que a legislação começou a ficar muito distante do cotidiano. Exemplo:
reforma do Código argentino em 1999, Código Penal chileno em 1999 e 2004, Código Penal espanhol
em 1995 entre outros.

Cabe destacar também que a nova legislação trouxe maior proteção às crianças e adolescentes dentro
do vetor maior “dignidade da pessoa humana”, inclusive trouxe um capítulo específico para o menor e
menor incapaz denominado “Dos crimes sexuais contra vulneráveis”.

Modificando ainda o tipo de ação penal de ação privada para, acertadamente, pública incondicionada.

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Outra mudança, que ao nosso ver foi ímpar, foi a junção do delito de estrupo com atentado ao pudor,
tornando-se agora um crime próprio sanando diversas divergências doutrinárias e jurisprudenciais.

Por fim, podemos concluir que a nova legislação veio como uma forma de adaptar as novas situações
atuais, evitando o desuso das leis e que o ordenamento jurídico se torne obsoleto.

É verdade que parte dos artigos veio para recrudescer os dispositivos legais em comento, porém temos
que levar em consideração que também trouxe situações mais benéficas para o infrator penal.

Exemplo: assim como excessivamente explanado, aquele que comete crime de estupro e atentado ao
pudor agora responde somente por um crime, tendo dosimetria da pena e não mais a soma dos dois
atos praticados.

Diante de todo o explanado, ainda podemos concluir que a modificação veio para sanar algumas lacu-
nas doutrinárias e jurisprudenciais, adaptando seus artigos ao tempo atual, trazendo de uma certa
forma maior benesse para o ordenamento jurídico.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Crimes Contra a Administração Pública

INTRODUÇÃO:

Tratados no CP a partir do título XI, estão separados em crimes cometidos por funcionários e
crimes cometidos por particulares contra a administração pública.

No CP, os artigos 312 a 326 tratam dos crimes funcionais. Ou seja, deve ter como elemento: Ser
funcionário público. Por este motivo, serão crimes próprios (é possível ter autor e partícipe no polo
ativo). Se não estiver presente esse elemento, o tipo será atípico ou desqualificado.

O Código Penal visa não proteger o estado em si, mas o funcionamento dos poderes (legislativo,
executivo e judiciário).

• Funcionário Público: Para o direito administrativo, é o concursado com funções determ inadas em
lei. Para o Direito penal, contudo, de acordo com o artigo 327, é toda pessoa que está investido em
cargo público, emprego público e função pública, transitoriamente ou sem remuneração alguma.

“Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.”

• Cargos: São criados por lei, em número certo e pagos pelos cofres públicos

• Emprego público: São serviços temporários, com contrato de regime especial ou CLT

• Função pública: Qualquer conjunto de atribuição pública que não cargo ou emprego.

Além disso, tal conceito está ligado, no direito penal à corrente AMPLIATIVA: Entende que
empregados de autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações
instituídas pelo poder público serão funcionários públicos, chamados de: Funcionários públicos por
equiparação.

§ 1 do supracitado artigo:

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade


paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública

Percebe-se, portanto, que os prestadores de serviços contratados para função típica da


administração pública também serão funcionários públicos. Entretanto, a atividade contratada deve
ser TÍPICA da administração pública.

• Mesmo que ainda não tenha tomado posse do cargo, a pessoa poderá ser considerada
funcionário público e, por este motivo, dependendo do seu ato, cometerá crime.

• Via de regra, a condição de funcionário público chega ao fim com a aposentadoria, exceto por
advocacia administrativa e violação de segredo, que constituem exceções pois, nestes casos, os
infratores ainda exercem alguma influência.

Vale dizer que existe uma corrente, chamada de RESTRITIVA acerca do funcionário público, que
diz que o funcionário público por equiparação só poderia abranger os funcionários da autarquia.
Essa teoria não prevalece no Direito Penal.

O Parágrafo segundo traz um caso de aumento de pena no artigo 327, dizendo:

“A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público”

Crimes Em Espécie

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Antes de falarmos dos crimes propriamente ditos, a primeira parte deste capítulo do CP traz os
“crimes cometidos por funcionários públicos”. Logo, são crimes funcionais, próprios, que devem ter,
necessariamente, o funcionário público cometendo. Entretanto, conforme o artigo 30 do CP, existe
a “conexão de elementares”, de modo que se um particular, sabendo da situação da pessoa que é
funcionária pública, participar do crime, poderá responder também pelo crime funcional na
qualidade de coautora, de modo que responderá pelo mesmo crime.

“Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando


elementares do crime. “

Vale lembrar que o CP adota a teoria MONISTA temperada, de modo que, exceto por poucas
exceções, o coautor e o partícipe responderão pelo mesmo crime que o autor, desde que haja
comunicação de elementar, conforme o artigo 30.

PECULATO.

Previsto no artigo 312 do CP. Existem diversas modalidades de Peculato.

“Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.”

A primeira parte do artigo prevê o peculato PRÓPRIO, onde o funcionário se apropria de dinheiro,
valor ou qualquer outro bem móvel de utilidade da qual tenha posse em razão de seu cargo. (Posse
é obtida de forma lícita, num primeiro momento.)

A segunda parte do artigo prevê o peculato DESVIO, onde o funcionário desvia o bem em benefício
próprio ou alheio

• PECULATO-FURTO – Não é crime! (Nele o sujeito se apropria para fazer uso temporário e
devolve)

• Tipo subjetivo: Dolo e o dolo específico de tornar-se dono da coisa através da inversão do título
dominial

• Tipo objetivo: Apropriar-se ou desviar

• Consumação: Ocorre no momento em que o autor retira o objeto da disponibilidade da vítima e


passa a ter o animus domini sobre ele.

• Bem jurídico tutelado: Patrimônio público e a probidade administrativa.

• Sujeito ativo: O funcionário público que comete o crime, o coautor ou partícipe por comunicação
de elementar

• Sujeito passivo: Administração pública de modo primário e, secundariamente, a pes soa que
perdeu o objeto.

• Crime instantâneo: se consuma com o desvio ou apropriação. (Outra corrente, contudo, entende
ser crime material, na modalidade desvio, onde deve, necessariamente, causar prejuízo à
administração pública)

• Tentativa: Admite em ambas as modalidades

• Ação Penal: É pública incondicionada.

• Ausente a elementar de funcionário público, o crime é desqualificado e torna -se APROPRIAÇÃO


INDÉBITA, que é crime contra o patrimônio, que pode ser cometido por qualquer um.

Peculato-Furto:

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• É o previsto no parágrafo primeiro do artigo 312. É o chamado “peculato próprio”, onde o agente
se apropria valendo-se da qualidade de funcionário público. (Ou seja, ele não tem a posse do
dinheiro, bem ou valor, mas se apropria por ser funcionário público.)

• Tipo subjetivo: Dolo e dolo específico de ter a coisa como sua.

“§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio,
valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.”

Peculato-Culposo

• É o previsto nos §§ 2 e 3 do artigo 312 do CP, onde o funcionário público contribui, de modo
culposo, para a prática delituosa de alguém, sendo negligente.

• Vale dizer que de acordo com o § 3, se a reparação do dano ocorrer antes da sentença transitada
em julgada, haverá extinção da punibilidade. Se, contudo, o dano for reparado posteriormente,
deve-se reduzir a pena pela metade.

“§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,


extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.”

A reparação, contudo, deve ser completa!

O peculato culposo é de competência do juizado especial criminal, tendo em vista sua pena.

Peculato Mediante Erro De Outrem

Aqui o agente entrega algo por puro erro ao funcionário público. Entretanto, se este último o induziu
a erro, será PECULATO-ESTELIONATO.

• Sujeito ativo: funcionário público

• Sujeito passivo: estado e vítima secundariamente.

Conduta: apropriar-se.

Artigo 313 A e B são “crimes novos”, denominados de PECULATO-ELETRÔNICO.

São crimes que surgiram em razão da informática, caracterizando uma mudança no modus
operandi.

Artigo 313-A

“Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou
excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”

• Aqui o agente insere ou facilita acesso ao terceiro. O funcionário, neste caso, deve ter vontade
livre e consciente para inserir dado falso.

• O artigo fala em “funcionário autorizado”. Se não estiver autorizado, cometerá o crime do


artigo 297 ou 299 do CP.

• Bem tutelado: Probidade da administração pública

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Sujeito ativo: funcionário público autorizado

• Sujeito passivo: Estado

• Conduta: Inserir, facilitar, alterar ou excluir

• Tipo subjetivo: dolo

• Consumação: ocorre com a conduta, independentemente de resultado material ou dano

• Tentativa: admite-se

No artigo 313-B, o funcionário não precisa ter autorização, mas modifica dado.

• No peculato, a competência será sempre da justiça federal quando for bem da União, autarquias,
empresas públicas. Residualmente, será do estado!

• No peculato-culposo, como vimos, a competência e do Juizado especial criminal.

Extravio, Sonegação Ou Inutilização De Livro Ou Documento

Previsto no artigo 314 CP.

“Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.”

O documento pode ser pertencente à administração pública ou a um particular. Entretanto, o livro


oficial é da administração.

• Bem tutelado: Administração pública.

• Sujeito ativo: Funcionário público que possui a guarda em razão do cargo

• Sujeito passivo: É o estado e, secundariamente, o proprietário do documento confiado à


administração pública.

• Conduta: São várias. Extraviar, desviar, sonegar, inutilizar. Todas elas devem ser feitas pelo
funcionário público que tenha como função guardar o livro oficial ou qualquer documento!

• Elemento subjetivo: Dolo

• Consumação: Ocorre com a prática da conduta independentemente de prejuízo

• Tentativa: Extravio e inutilização permitem. No caso de sonegação, não existe tentativa

• Ação penal: pública incondicionada.

Emprego Irregular De Verbas Ou Rendas Públicas

“Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.”

• Bem tutelado: A administração pública e seu patrimônio

• Sujeito ativo: Crime próprio, só podendo ser cometido pelo funcionário público que tenha poder de
disposição de verbas e rendas públicas.

• Conduta: Dar aplicação diversa; destinar diversamente do previsto em lei

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Destinação legal: O funcionário público DEVE destinar a verba de acordo com o que está previsto
na lei! É uma legalidade estrita. Se for diversamente ao previsto, será crime.

• Renda pública são aquelas constituídas por dinheiro recebido pela fazenda pública. Verba pública
é constituída por dinheiro e destinada à execução de determinado serviço público ou para outra
finalidade de interesse público

• Elemento subjetivo: É o dolo.

• Consumação: No momento em que há a aplicação indevida da verba pública.

• Tentativa: Admite-se

• Ação penal: pública incondicionada.

Concussão

“Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.”

Portanto, o funcionário DEVE EXIGIR, de modo que atemoriza a vítima.

Conduta: Exigir (em razão do emprego, cargo ou função pública que pratica, mesmo antes de
assumi-la.)

• É um crime funcional impróprio, tendo em vista que se o sujeito ativo não for funcionário público,
praticará o crime de extorsão previsto no artigo 158.

• Sujeito ativo: Funcionário público

• Sujeito passivo: É o estado e o particular intimidade

• Bem tutelado: Administração pública e liberdade do particular.

• A exigência deve ser feita de maneira clara ou implícita.

• Não é necessário a promessa de infligir um mal determinado, bastando o temor genérico que a
autoridade inspira.

• O agente pode não estar no exercício da função no momento. O status de funcionário público é o
suficiente

• A vantagem pode ter natureza distinta, mas NORMALMENTE é econômica (patrimonial)

• A vantagem DEVE ser indevida!

• Consumação: É um crime formal. A mera exigência já o consuma, não havendo necessidade que
a vítima ceda. Não se admite tentativa (Alguns a reconhecem, contudo – se feita por carta, por
exemplo. Para essa corrente, desde que seja possível o fracionamento do iter criminis, poderá
haver tentativa.)

• Flagrante: Há discussão na doutrina. Alguns entendem que somente no momento em que se


exige pode ocorrer o flagrante.

• Ação penal: pública incondicionada. Se for funcionário federal, será de competência federal.

• CONCUSSÃO E EXTORSÃO: O primeiro ocorre por decorrência de cargo público. A segunda,


contudo, não é decorrente de cargo.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• CONCUSSÃO E CORRUPÇÃO PASSIVA: Normalmente, na corrupção há um acordo, não


havendo exigência.

Excesso De Exação:

“§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente


para recolher aos cofres públicos:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.”

É um tipo de concussão. Entretanto, neste caso, o funcionário exige um tributo ou uma contribuição
social que sabe ser indevido ou, se devido for, emprega a exigência de modo não autorizado por
lei. Quando tratarmos de tributo, então, falaremos em EXCESSO DE EXAÇÃO.

Corrupção Passiva:

“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”

Ou seja, ocorre quando o funcionário público solicita ou recebe, para si ou para outrem, vantagem
indevida. Pode acontecer também quando ele aceita promessa da vantagem. Pode ocorrer fora da
função ou antes de assumi-la.

• É uma espécie de acordo entre o funcionário público e um terceiro.

• Conduta: São alternativas (solicitar, receber e aceitar promessa – Nos dois últimos casos, terá
corrupção ativa por parte do particular.

• Crime próprio, somente cometido por servidor público. O sujeito ativo SOMENTE poderá ser
funcionário público.

• Elemento subjetivo: Dolo.

• Neste crime, há uma exceção à teoria monista, de modo que o particular responde por um Crime
e o agente por outro.

• A bilateralidade (em receber e aceitar promessa) não é essencial, uma vez que o particular pode
não aceitar dar a vantagem. Em regra, o delito de corrupção é unilateral, tanto que existem as
formas passiva e ativa, conforme a qualidade do agente.

• Não é porque há corrupção passiva que vai haver corrupção ativa.

• O ato de ofício do funcionário público DEVE SER IDENTIFICADO! Ou seja, ele recebe a
vantagem para fazer o ato de ofício – tal tese, conduto, foi relativizada pelo STF no caso do
mensalão, onde poderá haver a PRESUNÇÃO de que recebeu para fazer algo.

“§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o


funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional. – Aqui, neste caso, o sujeito faz um ato de ofício ilícito. É a chamada “corrupção própria”.
Há um aumento de pena.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: - Aqui temos a figura do “quebra galho”,

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

retardando o que deveria ser feito. É a chamada “corrupção privilegiada”. É a modali dade mais
branda e por este motivo tem uma pena reduzida.

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.”

• Consuma-se o crime de corrupção em 03 momentos distintos:

• Quando solicita a vantagem

• Quando recebe a vantagem sem qualquer solicitação

• Quando aceita a promessa de vantagem.

• É um crime formal, bastando a solicitação, o recebimento ou a aceitação. Não precisa de


resultado.

• Tentativa: Não admite, exceto se for escrito!

• Ação penal: Pública incondicionada

• Competência: Federal quando afetar a união.

• Modalidade privilegiada: É de competência do JECRIM.

• Lei 10.763/03 tornou a pena da corrupção maior, equiparando-a ao peculato. O crime de


concussão permaneceu com uma pena menor! Há uma grande discussão por este motivo, uma vez
que parece ser mais “benéfico” EXIGIR do que solicitar, visto que a pena da concussão é menor.

Facilitação De Contrabando Ou Descaminho:

“Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art.
334):

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.”

• Contrabando: O produto é ilegal, não permitido.

• Descaminho: O produto é legal, mas não há o pagamento do imposto

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Somente funcionário público, sendo crime próprio. O funcionário, aqui, tem o dever
funcional de reprimir ou fiscalizar o contrabando, bem como de cobrar os impostos.

• Sujeito passivo: Estado.

• Conduta: Facilitar, por ação ou omissão.

• Elemento subjetivo: Dolo. Deve haver a consciência e vontade do agente que age violando dever
funcional

• Consumação: Independe do resultado, bastando somente a facilitação

• Tentativa: Apenas se a facilitação se der por ação

• Ação penal: Pública incondicionada

• O SUJEITO ATIVO DEVE TER A OBRIGAÇÃO DE FISCALIZAR E REPRIMIR, BEM COMO DE


COBRAR OS IMPOSTOS!

Prevaricação

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

“Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá -lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.”

• Bem tutelado: administração pública

• Tipo subjetivo: Dolo, com finalidade específica de satisfazer interesse ou sentimento pessoal

• Conduta: Retardar (procrastinar) – omissiva; Deixar de praticar – omissiva; Praticar – comissiva


(deve ser contra a lei)

• Consumação: Ocorre com o retardamento, omissão ou realização do ato.

• Tentativa: Admite apenas na conduta comissiva, de realizar. Retardar ou deixar de praticar, não
admite.

“Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com
outros presos ou com o ambiente externo:

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.”

Trata-se de uma modalidade de crime omissivo, onde o diretor da penitenciária ou o a gente público
que POSSUI o dever de vedar acesso a aparelho telefônico permite sua utilização. É um crime
omissivo próprio (como se comissivo fosse)

• Deve haver o dever do agente público ou do diretor da penitenciária de vedar o acesso ao


aparelho telefônico! O preso pode se comunicar com o mundo exterior por meio de
correspondência escrita, leitura e outros meios de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes.

• Bem tutelado: Administração público

• Sujeito ativo: Agente público ou diretor da penitenciária que possui o dever de vedar

• Sujeito passivo: Estado

• Conduta: “deixar”, sendo omissivo

• Tentativa: Não admite

• Consumação: ocorre com a mera omissão

• Ação penal: Pública incondicionada

• Crime formal que independe de resultado naturalístico.

Condescendência Criminosa

“Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento
da autoridade competente:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”

Há uma relação hierarquizada aqui. Por exemplo: se o delegado deixa de punir ou responsabilizar o
escrivão, há condescendência. Agora, se o escrivão deixa de reportar a infração do seu superior –
delegado, no caso - haverá prevaricação (por medo), no máximo.

• Bem tutelado: Administração pública.

• Conduta: Deixar de responsabilizar ou não levar fato à autoridade competente.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Tipo subjetivo: Doloso. Deve haver, também, uma indulgência, isto é, tolerância, deixando de
punir ato que deveria ser punido.

• Consumação: É crime omissivo próprio, consumando-se com a omissão

• Sujeito ativo: funcionário público

• Sujeito passivo: Estado

• Tentativa: Não se admite

• Ação penal: pública incondicionada.

“Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública,
valendo-se da qualidade de funcionário:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Conduta: Patrocinar – que significa advogar; proteger; beneficiar; favorecer; defender. O agente
usa das facilidades de seu cargo para a prática deste crime.

• Interesse privado: É qualquer vantagem a ser obtida pelo particular, podendo ser legítima oi
ilegítima perante à administração pública

• Interesse do próprio funcionário: Não caracteriza crime, no máximo uma falta grave. O interesse a
ser satisfeito deve ser de um PARTICULAR.

• Consumação: Ocorre com o patrocínio, independentemente de resultado. Ou seja, ocorre com o


favorecimento

• Tentativa: Admite-se.

• É NECESSÁRIO TER UM PÚBLICO E UM PRIVADO NESTE CRIME.

§único trata de uma qualificadora. Ocorre quando a advocacia administrativa visa favorecer
interesse ilegítimo.

• Admite suspensão condicional do processo, pela lei 9.099/95.

Violência Arbitrária

“Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:

Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: funcionário público

• Sujeito passivo: Estado e, secundariamente, quem sofre a violência

• Conduta: Praticar violência. – abrangendo as vias de fato – lesão corporal ou homicídio

• A conduta deve ser praticada no exercício da função do agente ou a pretexto de exercer essa
função

• Tipo subjetivo: Dolo

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Consumação: Consuma-se com a efetiva prática da violência

• Tentativa: Teoricamente é admissível, visto que tratamos de um ato comissivo e que pode ser
fracionado

• Ação penal: pública incondicionada

• Há discussão se foi revogado ou não. Damásio de jesus lidera a corrente que acredita ser.
Entretanto, existem julgados em diversos sentidos.

“Abandono de função

Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.”

• Bem tutelado: Administração pública, no que diz respeito ao serviço que é prestado

• Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, sendo cometido por funcionário público investido no cargo

• Sujeito passivo: Estado

• Conduta: Abandonar – deixar, renunciar, desistir.

• O abandono deve ser total e por tempo relevante. O abandono parcial e por tempo insignificante
que não gere dano não constitui o delito

• O abandono não deve ser permitido por lei

• Se o abandono ocorrer por força maior ou estado de necessidade, o fato será atí pico.

• Tipo subjetivo: Dolo (devendo o agente ter consciência que não pode deixar o cargo e vontade de
abandonar)

• Consumação: Ocorre com o efetivo abandono do cargo público, por tempo juridicamente
relevante

• Tentativa: É crime omissivo próprio e, por este motivo, não é admitida.

Exercício Funcional Ilegal, Antecipado Ou Prolongado

“Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou
continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
substituído ou suspenso:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”

• Bem tutelado: administração pública

• Sujeito ativo: Deve ser cometido por funcionário público, exceto na segunda modalidade, onde o
autor continua exercendo sem autorização

• Sujeito passivo: O Estado

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Conduta: Entrar no exercício antes de satisfazer as exigências ou continuar a exercer a função


sem autorização

• Tipo subjetivo: Dolo

• Consumação: Ocorre com o primeiro ato de ofício indevido

• Tentativa: Admite-se, mas é de difícil configuração

Violação De Sigilo Funcional

“Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo,
ou facilitar-lhe a revelação:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui cr ime mais grave.

§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:

I - permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra


forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública;

II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.

§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Funcionário público que tem ciência do fato em razão do cargo e que este fato deve
permanecer em silêncio

• Sujeito passivo: Estado

• Conduta: Revelar – contar; Facilitar descobrimento – tornar fácil

• Deve haver possibilidade de dano para que seja considerado crime.

• Consumação: Consuma-se com o conhecimento do segredo por terceiro

• Tentativa: Admite-se na facilitação e na revelação, desde que esta última não seja oral.

• § 2 traz a figura qualificada, que ocorre quando há dano para a administração pública ou terce iro.

• Se for um segredo particular e não da administração pública, o funcionário pode incidir nos
artigos 152, 153 e 154 do CP.

• Admite-se a suspensão condicional do processo pela pena menor que um ano

• Ação penal: pública incondicionada.

Violação De Sigilo De Proposta De Concorrência

• Revogado pelo artigo 94 da lei de licitações.

Dos Crimes Praticados Por Particulares Contra A Administração Pública

Usurpação De Função Pública

“Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Crime comum, pode ser qualquer pessoa, até mesmo o funcionário público
incompetente ou investido em outra função (agente pratica ato de forma ilegítima, pois não tem
competência)

• Sujeito passivo: Estado

• Conduta: Usurpar – assumir ou exercer indevidamente.

• Tipo Subjetivo: Dolo.

• Não há modalidade culposa. Desse modo, o agente deve ter consciência e vontade de usurpar a
função

• Consumação: Consuma-se com o ato de ofício que o agente não pode fazer.

• Tentativa: Teoricamente é admissível

• Se o agente auferir vantagem para si ou para outrem, qualificará o crime!

• É diferente de estelionato. Neste último, o agente se apresenta como funcionário público para
induzir alguém a erro.

• Se o agente não pratica qualquer ato de ofício mas se apresenta como funcionário, recairá em
contravenção penal, nos artigos 45 e 46 da LCP

• Ação penal: Pública incondicionada

Crime De Resistência

“Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:

Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:

Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Qualquer pessoa, independentemente de ser funcionário público

• Sujeito passivo: Estado e, secundariamente a pessoa que esteja executando o ato ou prestando
auxílio

• Conduta: Opor-se (o ato aqui deve ser legal, tanto formal quando substancialmente), por violência
ou ameaça.

• Pressupostos: Legalidade do ato; competência do funcionário para executar e oposição positiva


(resistência passiva não configura)

• Tipo subjetivo: Dolo, com o fim específico de evitar a realização do ato.

• Consumação: Consuma-se com a efetiva oposição

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Tentativa: Obviamente admitida.

• Qualifica se o agente consegue, de fato, evitar a realização

• A negativa de acompanhar o policial, a negativa de abrir a porta ou outros atos de indisciplina não
caracterizam o delito, podendo caracterizar, no máximo, desacato.

• Se o sujeito praticar um homicídio ou uma lesão, haverá concurso material!

• Ação penal: Pública incondicionada

Desobediência

“Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:

Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Qualquer pessoa, sendo crime comum

• Sujeito passivo: Estado.

• Conduta: Desobedecer ordem legal.

• Deve ser uma ORDEM (pedido não caracteriza). A ordem deve ser legal, tanto formal quando
substancialmente.

• Tipo subjetivo: Dolo

• Consumação: Consuma-se no momento em que há a ação ou omissão, após o decurso de prazo


para cumprir a ordem

• Tentativa: É admitida apenas na modalidade comissiva.

• Quando a lei extrapenal comina sanção civil ou administrativa e não prevê a cumulação com o
artigo 330 do CP, não caracteriza o delito.

• Ação penal: pública incondicionada.

Desacato

“Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Qualquer pessoa, sendo crime comum

• Sujeito passivo: Estado e funcionário, secundariamente.

• Conduta: Desrespeitar, ofender funcionário público no exercício da função ou em razão dela

• É necessária a presença do ofendido, caso contrário não haverá desacato, e sim injúria
qualificada.

• Tipo subjetivo: Dolo, com a finalidade de menosprezar

• O desacato absorve as vias de fato, como a lesão corporal leve, a ameaça, a difamação e a
injúria. Se houver crimes mais graves, haverá concurso formal

• Ação penal: Pública incondicionada.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Trafico De Influência

“Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
também destinada ao funcionário.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Qualquer pessoa, sendo crime comum.

• Sujeito passivo: É o estado

• Conduta: Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
vantagem.

• Mesmo que a pessoa não tenha, de fato, toda a influência que diz ter, cometerá o crime.

• Tipo subjetivo: Dolo, visando influir no ato praticado por funcionário público.

• Consumação: Consuma-se o delito com a mera solicitação, exigência ou cobrança da vantagem


ou promessa desta.

• Tentativa: Admite-se, mas é de difícil configuração.

• Há forma qualificada quando é insinuado que a vantagem também se destina ao funcionário


público.

Corrupção Ativa

“Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná -lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o


funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.”

• Bem tutelado: Administração pública

• Sujeito ativo: Qualquer pessoa, independentemente de sua condição ou qualidade pessoal

• Sujeito passivo: Estado

• Conduta: Oferecer ou prometer vantagem indevida, visando a prática, omissão ou retardo do ato
de ofício por parte deste.

• A oferta deve ser feita espontaneamente pelo agente. Se houver exigência por parte do
funcionário, será concussão (316 CP)

• Tipo subjetivo: Dolo, com o fim específico da prática, omissão ou retardo do ato de ofício.

• Bilateralidade pode ocorrer, mas não é obrigatória. Isto é, para que ocorra, não é necessário que
também ocorra corrupção passiva.

• Consumação: Consuma-se no momento em que o funcionário passa a ter ciência da oferta ou da


promessa de vantagem indevida

• Tentativa: Admite-se, mas é de difícil configuração, pois a oferta deve ser escrita, neste caso.

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Forma majorada: Ocorre na hipótese do parágrafo único, quando há realmente a prática ou a


omissão do ato. Trata-se de exaurimento do crime.

• Ação penal: Pública incondicionada

• Este crime é uma exceção à teoria monista: O funcionário que aceita a vantagem indevida não
pratica crime de corrupção ativa, mas de corrupção passiva. Além disso, se o particular dá o
dinheiro solicitado na corrupção passiva, não estará cometendo corrupção ativa, isto pois a oferta,
no crime em questão, deve ser espontânea.

• Colocar dinheiro na bolsa que será revistada por funcionário público caracteriza a corrupção ativa,
conforme entendimento majoritário, pois trata-se de forma velada de corrupção ativa, entendem
que há uma oferta, neste caso.

• É um crime formal, isto é, não precisa do resultado. A simples oferta já é o suficiente.

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