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Dedicatória
Agradecimentos
Introdução
2 - A PERÍCIA MEDICO-LEGAL
3 - O PERITO MÉDICO-LEGISTA
6 - EXAME COMPLEMENTAR
8 - EXAME AD CAUTELAM
9 - SEXOLOGIA FORENSE
12 - NECROSCOPIA
14 - GENÉTICA FORENSE
REFERÊNCIAS
Chu-En-Lay Paes Leme
MEDICINA LEGAL PRÁTICA COMPREENSÍVEL
1ª Edição
Barra do Garças-MT
Edição do autor
2010
© by Chu-En-Lay Paes Leme
Colaboradores:
* Ex-diretor Adjunto do Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil do Distrito Federal
À memória de meus pais, Sebastiana de Sousa Martins e Luiz Dias Paes Leme, a minha
gratidão pelo prumo que me deram e minha saudade.
Ao cadáver, companheiro resignado de muitas horas do meu tempo, que, com o seu
silêncio, tanto diz e me ensina sobre a vida. Obrigado!
Agradecimentos
Aos colegas, Drs. Wanderley Souza da Silva, diretor do IML de São Luís-MA, e José Ribamar
Moraes, médico-legista do IML de São Luís-MA, que tiveram a delicadeza de sugerir o meu
nome para participar como um dos professores do Curso de Formação para médico-legista,
ministrado pela Academia de Polícia do Estado do Maranhão, nos meses de junho a agosto de
2008, na cidade de São Luís, atividade que me honrou e que me despertou para outros
horizontes.
Ao me preparar para atender o conteúdo que iria abordar e, durante o convívio com os
colegas que estavam fazendo o curso, surgiu-me a nítida percepção da distância que separa a
doutrina da prática médico-legal. Isto acendeu em mim a possibilidade de escrever algo em que
pudesse tentar colaborar para diminuir tal distância. Esse pensamento ganhou vida e, movido
por ele, me propus a começar a escrever este texto.
Aos colegas, Drs. Venilton Francisco Melo Sá, Maria Christina da Silva Sá e Aluisio Trindade
Filho, que prontamente aceitaram colaborar com esta empreitada e se dispuseram a
abrilhantá-la, escrevendo capítulos para os quais eu não poderia contribuir por absoluta falta
de domínio do seu conteúdo.
Ao Dr. Malthus Fonseca Galvão, Diretor do IML de Brasília-DF, por ter cedido, do seu
arquivo pessoal, algumas ilustrações fotográficas que foram utilizadas no presente texto.
Aos colegas, Drs. Joaquim José Marques da Silva e José Jorge Gonçalves Anchieta, que,
como alunos do curso de formação para médico-legista, em São Luís-MA e já como causídicos,
justificaram, para mim, o porquê do conteúdo do terceiro quesito do laudo de lesão corporal,
que está abrigado no art. 61 do CP.
Ao Dr. Décio Ernesto de Azevedo Marinho, do IML de Goiânia-GO; ao Dr. Jorge Caramuru,
do IML de Cuiabá-MT; ao Dr. Edmilson Mendes Coutinho, do IML de Brasília-DF; ao Dr. Antonio
Pedro Jardim e ao Administrador Sr. Humberto Rautenberg, do IML de Cabo Frio-RJ; aos Drs.
José Eduardo Velludo e José Arnaldo Damião Melki, do IML de Ribeirão Preto-SP; ao Dr.
Francisco Hugo Leandro, do IML de Fortaleza-CE; à Dra. Rita de Cássia Monteiro de Carvalho, do
IML de Salvador-BA que, generosamente, me receberam e me franquearam o acesso aos laudos
médico-legais daquelas instituições.
À Dra. Débora Maria Vargas Lima e à Dra. Helena Hubert Silva, do IML de Porto Alegre-RS
que, gentilmente, me enviaram cópias de alguns laudos lá realizados.
Com a colaboração desses colegas, foi possível ter uma visão de como estamos, hoje,
elaborando os nossos laudos, no Brasil e, partindo dessa realidade, achei que poderia, de
alguma forma, ser útil, este modesto relato de como fazer a perícia médico-legal.
Sumário
Capítulo 1
Estrutura do Aparelho Estatal para a Manutenção da Ordem entre as Pessoas.
Capítulo 2
A Perícia Médico Legal.
• Corpo de Delito.
Capítulo 3
O Perito Médico-Legista.
Capítulo 4
O Laudo Médico-Legal.
Capítulo 5
Exame de Lesões Corporais.
Agentes Vulnerantes.
Instrumentos:
1. Contundentes.
2. Cortantes.
3. Perfurantes.
4. Cortocontundentes.
5. Perfurocortantes.
6. Perfurocontundentes.
Tiro Encostado.
Tiro a distância.
Meios Vulnerantes.
1. Meios Físicos.
• Energia Térmica.
Termonoses, Queimaduras, Geladuras.
• Energia Elétrica.
Energia Elétrica Cósmica (Natural), Energia Elétrica Artificial.
Energia Radioativa.
2. Meios Químicos.
• Cáusticos.
• Venenos.
3. Meio Físico-Químico.
4. Meio Biodinâmico.
5. Meio Bioquímico.
6. Meio Misto.
Perigo de vida.
Enfermidade incurável.
Deformidade permanente.
Aborto.
Concausas.
Capítulo 6
Exame Complementar.
Capítulo 7
Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
Capítulo 8
Exame ad cautelam.
Capítulo 9
Sexologia Forense.
Legislação.
1. Se houve conjunção carnal, e ou outro ato libidinoso, praticados contra a vontade da vítima.
1a. Faz parte dos elementos do crime de estupro a conjunção carnal involuntária. Este é um dos
vestígios a ser encontrado.
1b. É, também, elemento do crime de estupro a prática de outro ato libidinoso, involuntário.
5. Faz parte da perícia informar se a vítima da prática libidinosa criminosa é vulnerável (crime
qualificado).
6. Faz parte da perícia informar se, da prática libidinosa criminosa, resultou, para a vítima,
gravidez.
Capítulo 10
Exame Médico-Legal para a verificação de embriaguez.
Legislação.
• Embriaguez, o que é?
• Formas de embriaguez.
• Classificação da embriaguez.
• Grau de embriaguez.
Capítulo 11
Prática de Psiquiatria Forense.
Apresentação.
2. Introdução.
3. Linguagem Jurídica.
Doença mental, perturbação da saúde mental, desenvolvimento mental incompleto,
desenvolvimento mental retardado, intervalo lúcido, exame toxicológico, exame de
dependência toxicológica, responsabilidade e imputabilidade, capacidade de
entendimento, capacidade de autodeterminação, periculosidade, medida de segurança,
medida sócioeducativa.
4. Perícia Psiquiátrica.
5. Doença Mental.
Pedofilia.
9. Dependência de Droga.
Capítulo 12
Necroscopia.
Comprovação da morte.
Mumificação, saponificação.
Exame do cadáver.
Necropsia facultativa.
Necropsia obrigatória.
Necropsia médico-legal.
a) Preâmbulo.
b) Quesitos.
c) Histórico.
d) Descrição.
• Apresentação do corpo.
• Identificação do corpo.
• Sinais de morte.
• Estimativa da data provável do óbito.
• Exame externo.
• Exame interno.
• Cavidade craniana.
e) Discussão ou Comentários.
f) Conclusão.
Capítulo 13
A Declaração de Óbito (DO).
Lembretes importantes.
Legislação.
Como Preencher o campo 49 do bloco VI da DO?
Capítulo 14
Genética Forense.
Legislação.
Introdução.
Perspectiva histórica.
Formalidades.
Procedimentos laboratoriais.
Quantificação.
Amplificação.
Eletroforese.
Tipos de Análises.
Vínculo genético.
Índice de paternidade.
Probabilidade de Paternidade.
Probabilidade de Exclusão.
Cromossomo Y.
Cromossomo X.
Mutação.
Mistura.
REFERÊNCIAS.
Introdução
A Medicina Legal é ciência e arte que está em franco desenvolvimento com o advento de
modernas tecnologias e o aporte de novos conhecimentos que constantemente lhe são
incorporados. Isso permite que se adquira mais e mais segurança e entendimento de como
realizar, com melhor acurácia, o trabalho dentro desse imenso campo de ação.
Cada perícia, pelas suas particularidades, se constitui numa tarefa diferente da anterior,
representa um quebra-cabeça novo a ser montado, o que torna a Medicina Legal uma atividade
desafiadora e, por isso, apaixonante.
O autor iniciou o seu contato com essa ciência, em 1982, e por concurso público ingressou,
em 1984, como perito médico-legista no IML Leonídio Ribeiro de Brasília-DF.
Ao ingressar como legista, o autor, após concluir o Curso de Formação para Médico-
Legista, ter estudado livros-texto sobre Medicina Legal, para sua surpresa, não sabia fazer uma
só perícia, por mais simples que fosse. Percebeu, então, que há uma distância considerável
entre a doutrina e a prática dessa ciência.
Diante das dificuldades para realizar suas perícias, passou a ter um contato maior com o
Código Penal, com o Código de Processo Penal e com os textos de Medicina Legal. Iniciou,
também, a discutir nos plantões, com os colegas, os pontos que geravam dúvidas na realização
do trabalho. Por isso é grato a eles que, com paciência e tolerância, contribuíram para melhorar
o seu entendimento de como conduzir a perícia.
A sua gratidão aos colegas: Abelardo de Brito, Ricardo Miguel Mechica, Maria Leonor Khun,
Hélcio Miziara, Euler Vidigal, Aluisio Trindade Filho, Balbino Gonçalves dos Santos, Paulo
Mendes Diniz, Elói Michelis, Flávio Luiz Fag-giane, Ignácio John, Luís Carlos Galli, Baelon Pereira
Alves, Ricardo Cortes de Oliveira, Carlos Henrique Azevedo, Erasmo Tokarski, José Eduardo Reis,
Eneida Maria Fontes, Edwilson da Silva Costa, Eduardo Vasconcelos, Hildeci Rezende, José
Ribamar Malheiros, Mírcio Antônio Alves, Simão Hatakeyama, Anelino José de Rezende, Áurea
Cherulli, Carlúcio Moura Leão, Cristiane Alves Costa, Alexandre Cavalcante, Alexandre Riciardi,
Arquimedes T. da Silva, Edmilson Mendes Coutinho, Joel de Souza Matos, José Flávio Bezerra,
José Ribamar Machado Filho, Margarida Serejo Machado, Marcelo de Magalhães Alves, Ricardo
César Frade Nogueira, Roberto Ferreira Wanderley, Ronaldo Antônio da Silva, Venilton
Francisco Melo Sá, Maria Christina da Silva Sá, Luiz Carlos Garcez Novais, Elvis Adriano Oliveira,
Francisco Antônio de Moraes Neto, Hyung Il Pak, Paulo César D. Oliveira, João Paulo Molina,
Lúcio Henrique da Silva Fonseca, Manoel Santos Modelli, Marise Helena Frigine, Nivaldo Pereira
Alves, Monique Pereira Medeiros, Vilson de Matos Lima, Volnei Paulino Ferreira Mendes,
Walbert Linhares, Roberto Moreira da Silva, Simone C. Rosa, Sérgio de Castro Cunha Júnior,
Samuel Teixeira Gomes Ferreira, Rodolfo de Paula Gomes, Malthus Fonseca Galvão, Luciana
Satie Gurgel, José Gerardo Pierre Filho, José Damião Júnior, Francisco Antônio da Costa,
Cristofer Diego Beraldi Martins e Ana Lúcia Silva Neto.
E de Barra do Garças-MT, a sua gratidão aos colegas: Kleide Coelho de Lima, João Bosco
Martins Morbeck, José Maria Alves Vilar, João Batista Sá, Valdo de Sousa e Primo Deliberali.
Durante os plantões, de forma generosa, alguns colegas o chamavam para ver e, por vezes,
opinar sobre aqueles casos mais difíceis; isso lhe propiciou o contato com perícias de maior
complexidade, o que contribuiu para enriquecer a sua experiência.
Além disso, o autor foi contemporâneo de uma fase criativa, de uma onda inovadora no
IML do Distrito Federal, quando os legistas implementaram mudanças no seu funcionamento e
lhe deram uma envergadura, para alçar vôos de maior alcance.
Relata esses fatos porque o tempo passa e, se não anotados, serão esquecidos, e o que se
esquece não tem vida, perde-se, é como se nunca houvesse existido. A realidade, hoje
disponível, alicerça-se no que se fez no passado e operar a mudança requer: sonhos, coragem,
determinação, desprendimento, colaboração, empenho, boa vontade e generosidade.
Muitas são as dificuldades e dúvidas. Algumas delas: Qual é o papel da perícia? Qual é a
função do perito? O que cabe a ele fazer? Os quesitos propostos orientam a perícia? O que a lei
espera que o perito atenda? Como fundamentar com clareza e lógica o laudo? Com qual
linguagem deve-se redigi-lo? O que é preciso para planejar cada exame? Como atender a uma
requisição de exame malfeita?
O autor, após os anos de vivência dentro do IML, com a colaboração de muitos colegas,
adquiriu, a seu juízo, e pode estar equivocado, um pouco de entendimento de como conduzir
as suas perícias.
Visitou alguns Institutos de Medicina Legal para verificar de que maneira os laudos estão
sendo elaborados, hoje, no nosso país. Esteve no IML das seguintes cidades: Goiânia-GO;
Cuiabá-MT; Brasília-DF ; Cabo Frio-RJ; Ribeirão Preto-SP; Fortaleza-CE; Salvador-BA e recebeu
laudos elaborados no IML de Porto Alegre-RS.
Após a constatação de como os laudos estão sendo elaborados, achou que seria útil relatar
o seu ponto de vista construído nos anos em que atua como perito médico-legista.
Por essa razão, nasceu a idéia de produzir este texto, no formato de um manual, que não
tem a pretensão de ser um livro de Medicina Legal, pois já há muitos e bons que atendem a
este propósito; porém que fosse um apanhado, com enfoque prático, mais voltado para os
exames na esfera criminal, que pudesse contemplar a rotina do dia a dia do IML, aqueles casos
corriqueiros que constituem o grande volume do trabalho. Não privilegiou, aqui, as perícias de
maior complexidade, porém se preocupou em fazer uma abordagem da perícia na qual a
distância entre a doutrina e a prática fosse menor e de fácil entendimento.
O texto, mesmo com suas limitações, almeja colaborar para que o iniciante no campo
médico-legal possa tornar-se um perito médico-legista, ao compreender o que fazer, por que
fazer e como fazer a perícia. Objetiva, também, e este é um sonho a ser realizado por todos os
que desempenham a atividade de médico-legista, propor, pelo menos para início da sua
realização, uma sugestão de padronização da atividade pericial que abrangesse o seu
entendimento, a sua condução, a redação dos laudos, a uniformização dos quesitos oficiais e a
maneira de respondê-los.
O autor é ciente de que não é detentor da verdade e se propõe apenas a expor o seu
entendimento, o seu ponto de vista, a respeito da prática pericial. Reconhece que há inúmeros
colegas com mais conhecimentos, mais competência, mais experiência, mais capacidade
técnica que ele e os admira. No entanto, julgou oportuna a publicação deste modesto texto, na
esperança de que ele venha a ser útil aos estudantes de Medicina e de Direito, aos médicos que
possam ser nomeados para atuarem eventualmente como peritos ad hoc, aos médicos que se
iniciam, ou mesmo, exercem a Medicina Legal e a todos os operadores do Direito Penal. Sabe
da sua limitação e agradece sugestões ou críticas que possam aprimorá-lo.
Parte I
Introdução à Medicina Legal
1 - ESTRUTURA DO APARELHO ESTATAL PARA A MANUTENÇÃO DA
ORDEM ENTRE AS PESSOAS
Cabe ao Estado manter a harmonia de convivência das pessoas em sociedade e, para esse
fim, ao longo dos anos, busca aperfeiçoar a forma de cumprir esse objetivo. Estabelece, então,
por meio do Poder Legislativo, leis que regem a dita convivência e impõe sanções aos seus
infratores.
Foi necessário, ainda, criar a Polícia Civil, sob a direção do delegado de polícia a quem, na
maioria das vezes, cabe abrir o inquérito policial para investigar se houve ou não a infração ao
dispositivo legal e, em havendo, encontrar o infrator, iniciando os passos que culminarão na
aplicação da lei, conforme dispõe o art. 4º do CPP que assim disciplina:
Aqui, de novo, esbarrou-se em mais uma dificuldade: como constatar tecnicamente que
alguém cometeu uma infração?
A perícia é o início de todo o processo apurativo da infração, nos casos em que existam
seus vestígios, sendo necessário, por meio dela, demonstrá-los. Esta tarefa não pode ser
transferida a outra instituição, ela é da competência exclusiva da perícia.
O perito, na sua solidão, deve ter consciência de que o seu trabalho é relevante. Ele é a
base para que a justiça seja feita, razão pela qual tem o dever de fazê-lo da melhor forma, com
competência, com independência e com imparcialidade.
Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Relação de causalidade
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Crime impossível
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente.
Dessa maneira, o Código Penal contém os artigos que tipificam os crimes, bem como as
penas correspondentes a cada crime, sendo, portanto, um instrumento de cabeceira para a
atuação do perito que, antes de iniciar o exame, deverá ser informado sobre qual infração
ocorreu, conhecer quais são os elementos que a caracterizam, para, só assim, com segurança,
saber o que procurar.
Ninguém poderá fugir dele, inventar procedimentos ou atropelar sua ordenação sob pena
de tornar nulo o ato. É, então, importante que o perito tenha conhecimento dessas orientações
para compreender como cada instituição pode atuar e não se sujeitar a desvios que possam ser
praticados à revelia da lei. Tal entendimento é imprescindível para executar seu trabalho com
maior lucidez, sabendo o que fazer, como fazer e por que fazer.
2 - A PERÍCIA MEDICO-LEGAL
Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão de acusado.
Este artigo é o norte da perícia. Ele sintetiza, num axioma, qual é o seu papel. Define, de
maneira inequívoca, que a incumbência da perícia é examinar o corpo de delito, sendo este
exame indispensável, mesmo diante da confissão do acusado. Condiciona a sua ação apenas às
situações em que a infração deixa vestígios. Diz que os vestígios, produzidos pela infração,
constituem, representam, configuram, o corpo de delito. Na ausência de vestígios do delito,
como é óbvio, não há como realizar a perícia, porque não há o que examinar.
CORPO DE DELITO
O que é objeto do exame pericial?
– “É o conjunto de elementos sensíveis do dano causado pelo fato delituoso e a base de todo
procedimento processual”. (FRANÇA, 1998, p. 8).
Dessa maneira, o corpo de delito é constituído pelos vestígios materiais deixados pela
infração e que representam alterações visíveis, perceptíveis, avaliáveis, quantificáveis que se
prestam concretamente para serem examinados.
Se a infração não deixar vestígio, logicamente, não há como se formar o corpo de delito.
Neste caso não há o que examinar. É importante alertar que vestígio que não foi produzido pela
infração, embora presente, deverá ser anotado e referido que não tem nexo causal com a
infração, o que lhe retira, obviamente, relevância pericial, porque não se relaciona ao delito, e,
por isso, não interessa à lei.
Este artigo, o 158 do CPP, tem sido objeto de interpretação equivocada por parte de
doutrinadores do Direito e da Medicina Legal no que tange a corpo de delito. Há uma confusão
sobre o que pode ser direto ou indireto, se o corpo de delito, ou se o seu exame. Essas
interpretações equivocadas estão repetidas, reproduzidas e mantidas vivas, há muito tempo,
em vários textos, e, inexplicavelmente, não corrigidas, nem contestadas, o que é espantoso.
O corpo de delito é a razão de ser da perícia. Ele é a matéria-prima, a base que o perito
utiliza para realizar o seu exame. Assim, sendo, não pode haver dúvidas sobre o que é o corpo
de delito e como deve ser examinado, sob risco de o perito se perder na condução do seu
trabalho.
Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
O termo exame é o núcleo de um sujeito que tem por predicado será indispensável (numa
ordem direta, a oração seria: o exame de corpo de delito, direto ou indireto, será
indispensável) e se deixa caracterizar por outros termos, ou seja, “de corpo de delito, direto ou
indireto”. Assim sendo, os modificadores “direto ou indireto” referem-se a exame, palavra
núcleo, isto é, central do sujeito.
Reforçando a nossa argumentação está o fato de que o termo exame poderia vir
caracterizado de várias outras maneiras, por exemplo, “exame de segunda época”, que, por sua
vez, ainda poderia ser modificado pela expressão: oral ou escrito (exame de segunda época,
oral ou escrito). Seria o caso de nos perguntarmos: os modificadores “oral ou escrito” referem-
se a exame ou a segunda época?
Outras dessas pistas é o pronome “o” (no texto, representado por lo) que acompanha o
verbo suprir (não podendo supri-lo). Não podendo suprir o quê? O exame ou o corpo de delito?
Está claro que substitui a expressão “exame de corpo de delito”, numa marca clara da coesão
do texto.
Sendo o corpo de delito o resultado deixado pelos vestígios da infração, ele só pode ser
concreto, perceptível e avaliável, prestando-se, assim, a ser examinado. Não tem como o corpo
de delito ser direto ou indireto. O que o artigo em pauta admite, como demonstrado, de forma
eloquente, pela sua interpretação, é que o exame de corpo de delito, este sim, pode ser direto
ou indireto. Ele não se reporta a corpo de delito direto, nem a corpo de delito indireto. Os
autores que o fazem é por equívoco na interpretação desse artigo do CPP. Convém lembrar
que, em nenhuma outra parte do Código, há referência a exame de corpo de delito, direto ou
indireto, só neste artigo.
– “Assim, a apropriação indébita, embora crime material, nem sempre deixa vestígios. Diante
disso, não é indispensável o laudo de exame de corpo de delito direto.”(STF, RT 235/610, TJSP,
RT 376/202 citado por JESUS, 2007, p. 164).
– “O STF já considerou corpo de delito indireto o laudo assinado por um só perito, corroborado
por testemunhas.” (RTJ 65/816,Idem)
– “O crime de contrabando ou descaminho não deixa vestígios, não se exigindo corpo de delito
direto.”(STF, RTJ 61/81, Idem)
– “Não substitui o exame feito por dois legistas. Isso porque o exame de corpo de delito
indireto não pode ser admitido quando é possível a realização do exame direto”( BATISTA,
1976, p. 103,Idem).
– “A prova do emprego de chave falsa, que qualifica o furto (CP, art. 155, § 4º, III), segundo o
STF, é admitida por outros meios de prova, além do exame de corpo de delito direto, inclusive
prova testemunhal.” (RTJ 63/836, citado por JESUS, 2007, p. 168)
– “É certo que o corpo de delito direto pode ser suprido pelo indireto, que se realiza por
intermédio da prova testemunhal. Duas são, porém, as condições imprescindíveis: a) é
indispensável que os vestígios tenham desaparecido; b) a prova testemunhal deve ser uniforme
e categórica, de forma a excluir qualquer possibilidade de dúvida quanto à existência dos
vestígios” ( FRAGOSO, citado por JESUS, 2007, p.169)
– “No eito de todo o exposto, nos crimes que deixam vestígios, e, enquanto estes permanecem,
deve ser proscrita a infelizmente difundida e errônea conduta de alguns peritos – a quem cabe
constatar pessoalmente à vista do corpus delicti ou corpus criminis os fatos de natureza
permanente e pertinentes ao processo – de valerem-se de informações como as colhidas em
fichas ou boletim hospitalar (que é corpo de delito indireto), pois tal procedimento contamina
de nulidade o feito, o qual, por isso, não merece ab initio sequer prosperar.” (CROCE, op. cit.).
Cabe aos peritos, incumbidos que são, de examinar o corpo de delito, fazê-lo como orienta
o artigo que disciplina essa atividade.
É importante relembrar mais uma vez que não há referência no CPP a corpo de delito
direto, nem a corpo de delito indireto. Esses termos não existem e, se não existem, não devem
ser empregados, porque geram confusão. Eles são fruto de uma interpretação errada do
português utilizado pelo legislador para dar a orientação contida no artigo 158. O que o Código
determina é que o exame de corpo de delito, este sim, pode ser direto ou indireto. Esta
confusão deverá ser resolvida, de uma vez por todas, para que a perícia saiba com certeza o
que examinar e como examinar.
Chama-se corpo de delito direto quando realizado pelos peritos sobre vestígios de infração
existentes, e corpo de delito indireto quando, não existindo esses vestígios materiais, a prova é
suprida pela informação testemunhal. A denominação de corpo de delito indireto não deixa de
ser imprópria, pois o corpo de delito existe ou não existe, e não existindo, constitui apenas um
fato testemunhado.(FRANÇA, 1998, p. 8).
Como se nota, há várias referências a corpo de delito indireto e, mesmo discordando dessa
qualificação, a justificativa da discordância se prende à ausência dos vestígios da infração,
quando, supostamente, o corpo de delito é indireto, isto
é, o corpo de delito indireto é impróprio, porque ele não apresenta os vestígios do delito.
Ora, se o delito não deixa vestígio, é óbvio que não se forma o corpo de delito, que
conceitualmente só pode ser formado pelos vestígios da infração, além do que o termo: corpo
de delito indireto é impróprio porque ele não existe, é um termo criado em decorrência de um
erro de interpretação do artigo 158 do CPP. Em nenhum artigo do CPP há referência a ele.
Para o exame de corpo de delito ser indireto, o perito não poderá examinar diretamente a
vítima, apresentando os vestígios da infração.
Uma situação em que isso ocorre é quando ela, após sofrer a violência e, apresentando as
lesões resultantes desse ato, que são os vestígios da infração, procura atendimento médico e,
ao ser atendida, suas lesões são anotadas no seu prontuário, ficando nele disponíveis. Ela não
procura a polícia, porém o delegado toma ciência do fato e, não a encontrando, solicita o
exame baseado no seu prontuário. Nesses casos, a única maneira de realizar a perícia é pelo
prontuário médico, no qual os vestígios das lesões estão consignados (configurando esses
vestígios, sem a menor dúvida, o corpo de delito) e disponíveis para serem examinados. Faz-se,
com a consulta a essas anotações, o exame indireto de corpo de delito. É indireto porque o
perito não examina diretamente a vítima, mas os vestígios do corpo de delito que foram
anotados no seu prontuário médico.
Esse procedimento menos usual é, vez por outra, solicitado pela autoridade constituída, na
forma de exame indireto de corpo de delito. Por vezes, erroneamente é solicitado como: Laudo
indireto de corpo de delito. O que pode ser indireto é apenas o exame, o laudo não tem como
ser indireto, uma vez que é um documento técnico.
É bom lembrar, ainda, que as informações contidas no prontuário médico, nos casos em
que a vítima necessitou de procedimentos médicos para salvar a sua vida, são corriqueiramente
consultadas pelo perito e anotadas no laudo pericial, para fundamentarem se a lesão produziu
perigo de vida. O perito também utiliza pareceres de especialistas, informações do prontuário
médico, para documentar a presença de algum fator que agrava a lesão e embasar
tecnicamente o laudo.
O perito, para cumprir com a sua função, deve lançar mão de todos os recursos
disponíveis, sendo a consulta ao prontuário médico, um deles. Esse procedimento é legítimo e,
em algumas circunstâncias, o único meio disponível para a execução do exame e elaboração do
laudo pericial. Negá-lo é uma tentativa de anular, ou tornar sem importância um documento
técnico da envergadura do prontuário médico sedimentado ao longo da história da medicina.
Toma-se o caso de uma vítima que apresenta uma equimose na órbita direita, após ser
agredida, e que procura atendimento médico. Ao ser atendida, o médico anota a lesão no seu
prontuário. Ela, porém, só vai à delegacia de polícia 30 dias depois do fato e presta queixa da
agressão sofrida. O delegado solicita o exame de corpo de delito e a encaminha ao IML, onde
comparece, levando cópia do seu prontuário médico devidamente assinada e contendo o nome
e o CRM do médico atendente. O perito médico-legista a examina pessoalmente e, como era de
se esperar, não há mais nenhum vestígio da lesão porque ele desapareceu após 20 dias. Neste
caso:
1 - O perito relata que não há vestígio de lesão e conclui que a pessoa não foi agredida?
2 - O perito relata que, na data atual, não tem elementos para afirmar ou negar que há 30 dias
a pessoa foi agredida?
3 - O perito relata que no momento do exame a vítima não apresenta mais os vestígios da
lesão, porém trouxe prontuário médico no qual a lesão está descrita, e utiliza esta informação
para afirmar que há 30 dias ela foi agredida?
O autor segue este último caminho, ao conduzir uma perícia com tal configuração. Este,
também, é um exame indireto de corpo de delito, porque se baseia nas informações anotadas
no prontuário médico para, nele, encontrar os vestígios da infração. É uma perícia possível de
ser realizada, sendo útil na apuração da infração, pois a materializa.
Constitui exame indireto de corpo de delito a análise de uma fotografia tirada de uma
lesão que a pessoa agredida apresentava; o exame de uma radiografia, evidenciando uma
fratura de costela que o perito não tem como identificar, a não ser por meio desse exame. Ao
examinar a radiografia, o perito não está examinando pessoalmente a vítima, e, sim, um
vestígio do delito materializado no filme revelado, que permanecerá ali, mesmo após a
cicatrização da lesão.
Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior.
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferentemente na área específica, dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo.
(Redação da Lei nº 11.690, de 09 de junho de 2008).
Este artigo estabelece uma condicional: só o perito está credenciado a realizar o exame de
corpo de delito. Esta tarefa é privativa do perito, que é um técnico com conhecimentos
necessários, indispensáveis, para a realização desse exame.
Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
B – A prova testemunhal não é exame de corpo de delito, mas apenas outra forma, diversa
daquela, de informar sobre a existência de um delito.
Ao fazer essa afirmação, o doutrinador busca, no texto do artigo, encontrar uma explicação
para a interpretação inadequada do artigo 158 do CPP no qual inadvertidamente alguém fez
referência a que o corpo de delito pode ser direto ou indireto, criando uma confusão sobre o
conceito de corpo de delito. Por não haver possibilidade de ele ser indireto, quis explicá-lo
como sendo o corpo de delito indireto o resultado de uma infração que não deixa vestígio ou
cujos vestígios tenham desaparecido e seu exame realizado pela prova testemunhal. Esta
afirmação é inadequada pelas seguintes razões:primeira– se não há mais os vestígios da
infração, o corpo de delito desapareceu, não sendo possível o seu exame;segunda - não há
corpo de delito indireto; terceira– o corpo de delito só pode ser examinado pelo perito, nunca
pela testemunha. Ora, o corpo de delito é objeto de exame pericial, que é privativo do perito.
testemunha, não sendo perito, não está habilitada para fazê-lo.
Já entre as provas objetivas, encontra-se a prova técnica, que tem por função examinar o
corpo de delito e demonstrar, num documento, que houve a infração, sendo necessário para a
sua execução que o perito seja um técnico habilitado e com conhecimentos pertinentes que o
credenciam para realizar a tarefa.
O artigo citado não faz referência a que a prova testemunhal seja um exame de corpo de
delito indireto, dedução que não tem suporte nesse artigo. Aqui, de novo, houve equívoco por
parte de quem assim deduziu.
O artigo 159 condiciona que o exame de corpo de delito é privativo do perito; cabe
perguntar: a testemunha é um perito? Se não é, como ela poderá realizar o exame de corpo de
delito, mesmo erroneamente referido como corpo de delito indireto? Ela está qualificada para
essa tarefa? Claro que não.
A testemunha relata o que presenciou, ela só, e apenas, presta depoimento, o qual não
tem como se transformar num exame pericial. Já o perito descreve, num laudo técnico, o que
examinou. Não há, pois, como confundir o papel desempenhado por cada um desses agentes
na produção da prova. “Daí se deduz logo que há evidente diferença entre peritos e
testemunhas. A testemunha, em geral, não é um técnico e não vê com função oficial. O perito
deve ser sempre técnico no assunto a esclarecer e a sua atuação se forra de função
oficial.”(FÁVERO, 1980, p. 40).
O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
Esta orientação disciplina que a perícia poderá ser realizada em qualquer dia e a qualquer
hora. Claro, desde que existam as condições necessárias à realização do exame, para que não
haja prejuízo nem comprometimento da sua qualidade técnica. Há que se ter o local adequado
para a realização da perícia.
O atual Código de Ética Médica diz, no seu art. 95, que é vedado ao médico:
O exame pericial não é uma urgência médica. Isso deve ser entendido pelas autoridades
que o requisitam. O exame pericial é uma atividade de cunho técnico, com características
especiais e que no caso de uma necropsia não pode jamais ser refeita. A responsabilidade pela
execução do exame e elaboração do laudo é toda do perito, que responde civil e criminalmente
por ele. Qualquer pressão sobre o perito deve ser rechaçada, em nome de um trabalho de boa
qualidade técnica e imparcial. Quem conduz a perícia é o perito. Para isso ele deve saber o que
fazer, como fazer, por que fazer e quando fazer. Há perícias que se revestem de características
especiais e que precisam ser consideradas, como nos exames dos crimes sexuais e exame de
embriaguez, que devem ser realizados o mais cedo possível, pois seus vestígios desaparecem
rapidamente.
“A perícia médico-legal precisa demonstrar, para que se possa admitir a hipótese, a existência
de nexo causal entre a ação do agente e o resultado desta ação.”(RT, 457/334, citado por
ALCÂNTARA, 2006, p. 16).
“Somente o exame de corpo de delito poderá comprovar a materialidade do crime de lesões
corporais.” (RT, 457/445,Idem).
3 - O PERITO MÉDICO-LEGISTA
O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar;
II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz
ou ser inquiridos em audiência.
§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.
Houve, com esta nova redação, a possibilidade, nos processos criminais, da indicação do
assistente técnico que irá avaliar e se manifestar sobre o laudo emitido pelo perito oficial. É
necessário que os peritos oficiais tenham consciência dessa mudança e se preparem para
elaborar, da melhor forma, os seus laudos, de tal sorte que possam defendê-los durante o
trâmite da ação penal.
Este artigo disciplina que o exame de corpo de delito é atividade privativa do perito. Só ele
pode realizá-lo. Para isso, deve ter os conhecimentos necessários para o seu desempenho. Deve
saber como fazê-lo e como redigi-lo, de tal maneira que seja útil e cumpra a sua finalidade, que
é demonstrar que ocorreu a infração. Disciplina, ainda, que a perícia será feita por um só perito.
Porém o perito, além dos conhecimentos técnicos, precisa ter outras qualidades, sendo o
caráter a principal de todas, pois representa a essência do que cada um é. Do caráter emanam
a ética, a honra e a dignidade, que são atributos indispensáveis para se fazer um trabalho
imparcial e confiável.
Nos dias atuais, assistimos ao desmanche dos valores do indivíduo, de tal sorte que eles,
que no passado recente, eram o esteio da vida de nossos pais e avós, hoje, aparentemente, não
representam nada para uma porção significativa das pessoas. No entanto, o caráter é
característica que se tem, ou não se tem, e aquele que não o tem jamais terá ética, honra e
dignidade. O comportamento dos indivíduos estampa, em cores vivas, no dia a dia, o que cada
um é. Basta olhar.
O perito precisa ter, ainda, prudência, bom senso, cautela e deve gostar do que faz. Só
assim poderá realizar-se neste extraordinário campo de atividade.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo este
prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
Este artigo ensina qual é o papel do perito e o que deve fazer. Cabe a ele examinar
minuciosamente o corpo de delito, descrever o que observar e, por último, responder aos
quesitos.
Para executar o seu trabalho o perito precisa ter presente o corpo de delito, que é a
matéria-prima a ser examinada e os quesitos a serem respondidos. Simples assim. Fica
entendido que toda autoridade requisitante de exames periciais tem o dever de formular os
quesitos, cada vez que o caso não seja contemplado com os quesitos oficiais, ou ensejar
esclarecimentos adicionais.
Se a autoridade não o fizer, o perito invocará o artigo 160 do CPP e solicitará que eles
sejam formulados, pois, sem eles, não é possível fazer o exame pericial. A atividade pericial é
formal, por isso, os quesitos devem ser bem formulados e lógicos. Havendo deficiência dos
quesitos, ou das suas respostas, e contradição entre elas, ocorrerá a nulidade do ato, conforme
estabelece o artigo 564 do Código de Processo Penal, que assim reza:
A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
b) o exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvando o artigo 167;
c); d); e); f); g); h); i); j); k); l); m); n); o); p); – sem interesse pericial;
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas
respostas, e contradição entre elas.
Os quesitos representam o motivo da realização da perícia. Ela é feita justamente para dar
conteúdo e fundamentação às suas respostas e oferecer à justiça os elementos necessários
para a formação das suas convicções, a respeito de como o delito ocorreu.
O perito precisa saber conduzir a perícia. Para isso, antes de iniciá-la, deve ter sempre
presente:
1 – O que aconteceu?
Só assim saberá o que procurar e como procurar, dependendo da data do evento. O perito
deve saber ver e saber relatar o que vê, além disso, é imperioso saber fundamentar o seu
laudo, com lógica, prudência e com conteúdo técnico. O perito faz ciência. Não faz ficção
científica. Não cabem no laudo, suposições, imaginações, hipóteses.
Conforme orienta o artigo 160 do CPP, o perito tem até 10 (dez) dias para elaborar o laudo
e entregá-lo à autoridade requisitante. Se não for possível cumprir esse prazo, ele pode
requerer a sua prorrogação.
O fato de esse exame ser requisitado com urgência e executado de imediato, não altera o
prazo que o perito tem para elaboração e entrega do laudo que está especificado no artigo 160
do CPP, que é de até dez dias. Não há outro artigo do CPP que disciplina um prazo menor para
elaboração e entrega do laudo, mesmo diante do prazo estipulado pelo artigo 10 do CPP para a
conclusão do inquérito policial, quando o indiciado for preso em flagrante. Este artigo assim
orienta:
O inquérito deverá terminar no prazo de dez dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
executar a ordem de prisão, ou no prazo de trinta dias, quando estiver solto, mediante fiança ou
sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao juiz
competente.
O artigo estabelece o prazo de dez dias para o término do inquérito, quando o réu tiver
sido preso em flagrante, no entanto, não estabeleceu um prazo menor do que dez dias para
elaboração do laudo pericial da vítima e sua entrega à autoridade policial. Dessa forma, muitos
inquéritos são encaminhados ao Ministério Público sem o laudo pericial.
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver,
quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem
precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de
alguma circunstância relevante.
Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem
como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.
Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível,
juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente
rubricados.
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que,
em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.
Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da
sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a
sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade
procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.
Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a
eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim
de se lhes verificar a natureza e a eficiência.
Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juiz deprecado.
Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita
pelo juiz deprecante.
Art. 178. No caso de art. 159, o exame será requisitado pela autoridade ao diretor da
repartição, juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos.
Art. 179. No caso do § 1º do art. 159, o escrivão lavrará o auto respectivo, que será assinado
pelos peitos e, se presente ao exame, também pela autoridade.
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, que poderá ser datilografado,
será subscrito e rubricado em suas folhas por todos os peritos.
Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as
declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu, e a
autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá proceder a
outro exame por outros peritos.
O Código de Processo Penal, com esses artigos, baliza os procedimentos que o perito deve
adotar durante a realização de suas perícias. Ele responde civil e criminalmente pelo laudo
elaborado.
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o
agente se retrata ou declara a verdade.
2 – nega a verdade, ou
“Não basta a autoridade dos peritos para legitimar suas conclusões, urge que eles as
fundamentem, propiciando o controle da erronia ou acerto de seu raciocínio.” (RF, 156/436,
citado por ALCÂNTARA, 2006, p.16).
Art. 182 CPP. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte.
Embora o juiz tenha essa prerrogativa, isso em nada poderá influir no comportamento o
perito, que deverá, sempre, se empenhar em fazer, da melhor forma possível, os seus exames,
produzindo laudos de boa qualidade e que possam ser úteis à justiça, com o que irá edificando
o seu conceito.
É vedado ao médico:
Art. 88. Negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando
solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo
quando ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros.
Art. 89. Liberar cópias do prontuário sob a sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito,
pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa.
§ 1º Quando requisitado judicialmente o prontuário será disponibilizado ao perito médico
nomeado pelo juiz.
É vedado ao médico
Art. 92. Assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal quando não tenha
realizado pessoalmente o exame.
Essa analogia é de uma felicidade inigualável para estabelecer a relação entre as partes e
se presta a colaborar, de forma expressiva, para o entendimento do seu funcionamento.
O cliente é quem tem o poder de solicitar o produto à fábrica. É ele: a autoridade policial
civil ou federal, o Ministério Público, a autoridade judicial, o chefe de repartição, o oficial de dia
das unidades militares, apenas estes.
O cliente, antes de solicitar o produto à fábrica, deve saber o que quer, pois a fábrica
atende especificamente o seu pedido. Não pode haver dúvida nessa solicitação, sob o risco de
não se entender o que se quer, e o produto fabricado não ter utilidade, por erro no pedido, na
sua origem. A culpa não é da fábrica, quando isso ocorre e, sim, do cliente que não soube fazer
o seu pedido.
O cliente deve se preocupar em fazer da melhor forma a sua solicitação. Caracterizar com
detalhes o fato acontecido, quando ocorreu e o que é necessário esclarecer. Deve saber
formular os quesitos, que, em tese, são as dúvidas que quer dirimir, utilizando o produto. Um
pedido rico em informações facilita enormemente a fabricação do produto adequado.
A fábrica é o IML ou, onde não houver, ela é o médico-legista. O produto que a fábrica
produz é o laudo médico-legal. Há várias linhas de produção. De acordo com a solicitação do
cliente e o exame da matéria-prima, será produzido um produto específico. A fábrica não
requisita produto a ela mesma. Apenas atende ao que o cliente pede. Se não houver pedido,
nada é produzido. A fábrica só recebe a matéria-prima após ter em seu poder a requisição do
cliente, encaminhando-a para ser examinada.O produto da fábrica se destina a um público
específico que são os clientes.
O cliente não tem opção de escolher outra fábrica, e a fábrica não tem opção de atender
outros clientes. Um é refém do outro. Essa realidade cria a necessidade de um entendimento
continuado entre as partes, para encontrarem a maneira mais produtiva de se relacionar em
prol da aplicação mais eficiente da justiça
4 - O LAUDO MÉDICO LEGAL
O laudo médico-legal é o produto que a fábrica produz. Ele se destina ao cliente e deve
conter as informações indispensáveis para cumprir a sua finalidade. Além disso, é uma peça
técnica, probatória da materialidade de uma infração, cuja redação deve ser lógica, clara,
fundamentada, acessível ao cliente requisitante e ao entendimento judicial e que seja capaz de
resistir aos questionamentos que, por ventura, venha a sofrer.
O laudo médico-legal é uma peça formal. Sua estrutura compreende as seguintes partes:
PREAMBULO
Parte introdutória da qual constam: a hora, o dia, o mês, o ano, a cidade em que a perícia é
realizada, o nome da autoridade requisitante do exame, o legista incumbido de realizá-lo, o
nome do diretor do IML que designou o perito, o nome do exame solicitado, a identificação
do(a) periciando(a).
QUESITOS
Para cada modalidade de delito há os quesitos oficiais a serem respondidos no final da
perícia. Esses quesitos é que são anotados nesta parte do laudo, de acordo com o crime que
motivou o exame.
HISTÓRICO
Anotar o que a vítima relata sobre o que ocorreu, como ocorreu e quando ocorreu.
Transcrever suas próprias palavras. Este histórico serve, em parte, para orientar a perícia. O
perito deve fazer o nexo causal entre o que encontrar no exame, com o histórico. Aqui o perito
precisa identificar, com segurança, que delito foi praticado, para saber quais são os seus
vestígios e como irá conduzir a perícia para encontrá-los.
DESCRIÇÃO
Esta parte é a mais importante do laudo. Nela devem ser anotadas todas as alterações
observadas; no caso de lesões, anotar suas características, suas dimensões, suas quantidades,
sua localização e sua repercussão no funcionamento do organismo da vítima.
DISCUSSÃO OU COMENTÁRIOS
Neste espaço, fazer o nexo causal entre os achados do exame e o delito que se está
apurando. Referir aspectos relevantes e que contribuam para a conclusão e as respostas aos
quesitos. Caracterizar as lesões que produzem sequelas e enquadrá-las nos termos relatados no
texto dos quesitos, que, no caso de lesões corporais, foram retirados integralmente dos
parágrafos 1º e 2º do art. 129 do Código Penal, de sorte que o julgador tenha segurança para
decidir sobre a gravidade da lesão.
Anotar aqui os relatórios médicos, que fornecem sustentação para o perito fundamentar
situações agravantes ou atenuantes da lesão.
CONCLUSÃO
Nesta parte, o perito, de forma sintética, deve dizer que alteração ocorreu e se esta deixou
sequelas. Quando as alterações forem importantes e não estejam cicatrizadas, referir que estão
em evolução e que se solicitou exame complementar, para avaliação posterior.
Informar que não tem elementos para afirmar ou negar que houve a infração, quando não
dispõe de elementos para fazê-lo, quando os vestígios tenham desaparecido e a perícia é
realizada dias após o delito.
Ficar atento ao 1º quesito, pois é o quesito que obrigatoriamente está ligado (tem nexo
causal) ao delito. Sempre que se responde sim a este quesito se está estabelecendo o nexo
causal dos vestígios encontrados com a infração que se está apurando.
Responder: aguardar, quando o perito colheu material para exame laboratorial e depende
do seu resultado para decidir se há ou não vestígio do crime.
NÃO – Quando tem convicção de que não ocorreu o que o quesito pergunta.
SEM ELEMENTOS – Quando não tem convicção para responder nem sim, nem não ao que o
quesito pergunta.
PREJUDICADO – Quando a pergunta que o quesito faz não se aplica àquela situação, ou quando
a resposta anterior prejudica a resposta do quesito seguinte.
Exemplo:
Resposta – NÃO.
Resposta – PREJUDICADO.
Isto porque não houve a lesão, conforme indica a resposta ao primeiro quesito. Se não houve a
lesão, significa que nenhum agente vulnerante foi utilizado, logo, a pergunta contida no 2º
quesito, pedindo que se indique qual meio, ou instrumento foi empregado, para ofender a
vítima, fica, logicamente, com sua resposta prejudicada.
O termo PREJUDICADO não é sinônimo de SEM ELEMENTOS. O perito tem o dever de saber
o significado dos termos empregados para responder aos quesitos. Não pode haver dúvidas
porque, caso contrário, ao invés de esclarecer, irá confundir.
AGUARDAR – Termo que caracteriza a situação em que o perito colhe material para
realização de exame laboratorial, para encontrar vestígio do delito, ou quando solicita exame
complementar, para que a vítima traga documentos do atendimento médico, informando
possíveis lesões, ou exames que revelem vestígio do delito, ou para reavaliá-la e decidir se da
lesão resultou alguma sequela. O perito deverá, no tópico Discussão,fundamentar com lógica e
clareza os procedimentos que adotou e o que irá esclarecer com eles.
Concluído o laudo pericial, o perito tem o prazo de até dez dias para entregá-lo à
autoridade requisitante da perícia. Ele só poderá reter o laudo, por prazo superior ao
estabelecido em lei, se pedir por escrito sua prorrogação, justificando-a. É seu dever cumprir o
que indica o art. 160 do CPP. Se o laudo encontra-se em aberto, aguardando, por exemplo, um
exame laboratorial para se ter elementos de convicção e definir se há vestígio da infração, o
perito deverá encaminhá-lo, à autoridade requisitante do exame, com as pendências anotadas,
e nele informará o que se solicitou e dirá que aguarda o resultado do exame laboratorial para,
então, fazer a conclusão da perícia e responder aos quesitos. Isso porque, ao pedir ao cliente
solicitante prorrogação do prazo superior aos dez dias concedidos pela lei, para conclusão e
envio do laudo, o perito informará de quantos dias necessita para concluí-lo. Na maioria das
vezes, ele não tem certeza de quando o exame laboratorial solicitado será concluído.
Findo o prazo prorrogado, o cliente irá solicitar o envio do laudo. Se o exame laboratorial
não tiver, por qualquer razão, sido feito, o perito irá, de novo, pedir mais tantos dias para
conclusão da perícia. Devido a isso é prudente enviar o laudo com o que foi possível apurar no
primeiro exame, informando, nele, as pendências em aberto e o que se providenciou para a sua
conclusão. Se, antes de receber o resultado do exame laboratorial solicitado, o cliente pedir o
envio do laudo concluído, o perito informará que o resultado do exame laboratorial não chegou
às suas mãos e que, por esse motivo, não pôde concluir a perícia. Solicitar que aguarde. A
execução do exame laboratorial não depende do perito e, sim, do laboratório e é lá que está
ocorrendo a demora. Assim sendo, a autoridade requisitante da perícia deve ser informada
dessa situação.
QUESITOS OFICIAIS PARA SEREM RESPONDIDOS NAS
PRINCIPAIS PERÍCIAS MÉDICO-LEGAIS
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum? (resposta especificada)
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias?
2º) Houve outro ato libidinoso que possa ser relacionado ao delito?
9º) A vítima, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência?
4º quesito: A morte foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel ? (resposta especificada)
Parte II
Perícia no vivo
5 - EXAME DE LESÕES CORPORAIS
Como qualquer perícia esta também está regida pelo artigo 158 do CPP, que orienta:
Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Isso porque o perito deverá conduzir a perícia, com o objetivo de encontrar, no corpo de
delito, os vestígios que estejam relacionados à prática da infração, fazendo, dessa maneira, o
nexo causal entre os vestígios e o crime que se investiga
CÓDIGO PENAL
DOS CRIMES CONTRA AS PESSOAS
Capítulo II
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
II – perigo de vida;
IV – aceleração de parto:
§ 2º Se resulta:
II – enfermidade incurável;
V – aborto:
§ 6º Se a lesão é culposa:
Aumento da pena
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º que
diz: Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do
seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo o crime doloso a pena é aumentada de
1/3 (um terço) se é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos.
Rixa
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato de
participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Art. 175 do CPP: Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da
infração, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência.
A perícia tem por finalidade examinar o corpo de delito para demonstrar tecnicamente,
num documento, que houve ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima, indicar qual
instrumento ou meio vulnerante foi empregado para produzi-la e, por fim, determinar a
repercussão da ofensa no funcionamento do organismo da pessoa ofendida.
Assim, a perícia tem o papel de estabelecer o nexo causal entre os vestígios da infração
encontrados na vítima e o crime que se está investigando.
O perito para:
A – avaliar se ocorreu ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima e
B – qual instrumento ou meio foi empregado para produzir a ofensa, deverá saber identificar
as características das lesões e a maneira como elas são produzidas. Para isso deverá conhecer
os agentes vulnerantes, ou seja, os agentes capazes de produzi-las.
AGENTES VULNERANTES
Os agentes vulnerantes são as energias capazes de produzir ofensa à integridade corporal
ou à saúde da vítima.
1 – Contundentes
Estes agem por mecanismo de pressão sobre o corpo da vítima. São agentes mecânicos, sólidos,
rombos, líquidos, gasosos ou explosivos. As lesões por eles produzidas podem ser abertas ou
fechadas, superficiais ou profundas.
A equimose, também, ocorre profundamente nos tecidos e órgãos. Ela pode se formar na
parte esponjosa de ossos, sendo denominada equimose óssea, característica importantíssima
para definir reação produzida em vida, sendo observada com emprego de foco de luz atrás do
osso e sua observação direta, como uma mancha escura na forma da impregnação hemorrágica
ali depositada, ou pelo exame histopatológico da área comprometida onde se observa vestígio
microscópico da hemorragia. Ela está presente também nas linhas de fratura óssea, conferindo
uma cor escura, ao longo da linha de fratura, pelo depósito de sangue na área, indicando
reação produzida em vida.
É clássica a formação do hematoma em torno do túnel por onde o projétil de arma de fogo
atravessa os tecidos do corpo humano, sendo um caminho a ser seguido, para encontrá-lo,
quando se aloja no seu interior. Indica reação produzida em vida.Lesões contusas fechadas
profundas –são as luxações, as fraturas ósseas, as róturas viscerais, os esmagamentos de parte
do corpo.
2 – Cortantes
Estes instrumentos normalmente são alongados e delgados e têm um gume afiado. Agem
por deslizamento e pressão, seccionando os tecidos, fazendo uma ferida, cujos bordos e
vertentes são regulares, lisos e que se coaptam quando reaproximados. Suas margens não
mostram escoriação nem equimose, seu fundo não apresenta trabéculas.
As lesões produzidas por ação de instrumentos cortantes são referidas como feridas incisas
e não como feridas cortantes. porque cortantes são apenas os instrumentos que têm a
propriedade de cortar.
O Professor Hermes Rodrigues de Alcântara, nos plantões, de forma brincalhona, dizia: “Se
você passar a ferida, dita cortante, em alguém e ela cortar a pessoa, o termo está correto,
porém se ela não cortar, jamais poderá ser dita ferida cortante, por impropriedade de ação;
será, pois, ferida incisa.” (Informação verbal)
São exemplos de instrumentos cortantes: gilete, navalha, faca, lâmina de bisturi, caco de
vidro, etc.
3 – Perfurantes
Estes instrumentos são cilíndricos, finos, ou cônicos, com o comprimento predominando
sobre o seu diâmetro. Agem por pressão num ponto do corpo, perfurando a pele e afastando os
tecidos subjacentes, à medida que os penetra.
Os mais finos produzem feridas punctórias e os mais grossos, feridas ovaladas. São
exemplos de instrumentos perfurantes: agulha, prego, estilete, etc.
4 – Cortocontundentes
Estes instrumentos são alongados, têm um gume e são pesados. Agem cortando e
pressionando pelo peso e pela energia empregada no seu manejo. Produzem feridas abertas,
minimamente de bordos irregulares, com vertentes contendo equimose. Se houver um osso
abaixo dos tecidos superficiais atingidos, há corte e fratura dele.
5 – Perfurocortantes
Estes instrumentos possuem largura estreita, espessura fina, uma ponta e um gume, ou
dois. Agem por pressão, seccionando a pele e os tecidos, penetrando profundamente, fazendo
uma ferida em fundo cego, ou transfixando o corpo. A ferida é de dimensão externa reduzida e
de extensão interna profunda. Ela apresenta os bordos com características semelhantes à
ferida incisa produzida pelo instrumento cortante.
O perito deve, ao descrever essa ferida, indicar sua localização, sua característica, sua
dimensão, seu trajeto, os órgãos que lesionou, que danos produziu e determinar sua gravidade.
6 – Perfurocontundentes
Estes instrumentos, na sua grande maioria, são acionados pelas armas de fogo. São
cilíndricos, em forma de pequena ogiva, medindo alguns centímetros de comprimento por um
diâmetro – calibre – referido em centésimos de polegadas ( 22, 32, 38, 44, etc.), ou em
milésimos de polegadas ( 220, 320, 380, etc.), ou em milímetros ( 6mm, 6,35mm, 7,65mm,
8,35mm, 9mm), sendo esse diâmetro correspondente ao calibre da arma de fogo. Há, ainda, os
instrumentos esféricos que normalmente são múltiplos, emitidos por um só disparo. A munição
pode conter um só projétil – caso da cápsula – ou múltiplos – caso do cartucho.
Tiro encostado
É aquele provocado quando a boca de fogo está apoiada no alvo.
No disparo com a boca de fogo encostada no alvo – neste caso, o corpo humano – além do
projétil que atinge a pele, rompendo-a e penetrando nos tecidos subjacentes, há também a
penetração dos gases originados na câmara de explosão da cápsula, que acompanham o
projétil através do cano da arma e, junto com ele, penetram no corpo pela abertura feita na
pele e que fica em continuidade com o cano da arma pressionado sobre essa superfície. Esses
gases incandescentes, misturados à fumaça e contendo restos de pólvora incombusta, devido à
sua ação expansiva, abrem abaixo da pele, uma cratera e parte deles retorna para fora,
lacerando a abertura feita pelo agente perfurocontundente, produzindo uma ferida de bordos
estrelados, evertidos, com esfumaçamento e queimadura das suas vertentes, chamada câmara
de mina, descrita por Hoffmann (Fig. 01), citado por ALCÂNTARA (2006, p. 58).
Figura 2, IML–DF Sinal de Benassi. (área de cor escura em torno da ferida de entrada
Na pele, ao redor do orifício aberto pelo projétil, vê-se um halo de queimadura que
desenha a boca do cano da arma de fogo, ali apoiado, que é o sinal de Werkga-ertner, (Idem)
(Fig. 03), melhor evidenciado na pele que recobre partes moles.
Se o disparo for efetuado com o cano da arma apoiado sobre o abdome, por exemplo, a
ferida será circular, apresentando a cratera abaixo da pele e, além dela, o Sinal de
Werkgaertner. Nesta circunstância não se faz a ferida estrelada, de bordos evertidos, porque os
gases penetram nos tecidos moles da região, sendo a sua energia absorvida e não encontram
resistência suficiente para parte deles retornar para a superfície.
Figura 3, IML–DF Halo em torno da ferida (impressão do cano da arma). Sinal de Werk-
gaertner.
Tiro a curta distância
Esta é a ferida com mais riqueza de elementos. Apresenta o orifício de entrada do projétil
de arma de fogo, de forma circular, contendo zona de contusão e de enxugo e em torno dele a
queimadura feita pelos gases incandescentes, o esfumaçamento provocado pela deposição da
fumaça da pólvora e a tatuagem produzida pela penetração de resíduos da pólvora incombusta
na pele. Esses elementos saem junto com o projétil através do cano da arma, após o disparo da
cápsula, e dependendo da distância em que se encontra o alvo eles o atingem fazendo esta
lesão característica. A ferida é de forma circular se o disparo é efetuado perpendicular ao alvo,
apresenta zona de contusão e de enxugo ao seu redor, exibindo em torno esfumaçamento,
queimadura e tatuagem (Fig. 04). A boca de fogo, para formar esta ferida com suas
características, deve encontrar-se numa distância de poucos centímetros até 75 centímetros
afastada do alvo.
É importante lembrar que, tanto no tiro a curta distância, como no tiro a distância, o
projétil pode atingir o alvo, perpendicularmente, ou inclinado, ou mesmo só tangencialmente.
Atentar para a forma da ferida de entrada do agente, em cada uma dessas circunstâncias, para
saber identificar o seu possível trajeto. Ferida ovalada, com um dos polos mostrando
arrancamento da epiderme e o polo oposto apresentando forma em bizel, indica que o projétil
penetrou inclinado, no sentido do arrancamento da epiderme, indo para a área em bizel.
Ferida de saída
O projétil que transfixa o corpo faz uma ferida de saída, normalmente maior que a de
entrada, podendo ser irregular, devido à modificação e deformidade que sofre ao longo do seu
trajeto, enquanto atravessa o corpo. Sua borda é evertida e apresenta contusão (Fig. 06).
1. MEIOS FÍSICOS
1.1.1. Termonoses
São, principalmente, provocadas pela ação do calor do sol, e hoje também pela intermação
( calor artificial). Estão mais relacionados com acidentes rotineiros ou com a infortunística do
trabalho. Podem produzir lesões de intensidade variada na dependência do grau de exposição.
1.1.2. Queimaduras
Ocorrem pela ação direta do calor, por chama, líquido, sólido ou gás, quentes, sobre o
corpo ou indiretamente pela ação da irradiação. As queimaduras são classificadas em quatro
graus por Hoffmann e Lussena, citados por ALCÂNTARA (2006, p. 62).
1º grau – eritema
2º grau – flictena
3º grau – escarificação
4º grau – carbonização
No eritema, há a vermelhidão da pele provocada pela dilatação dos vasos sanguíneos que
irrigam a derme. Não há lesão da epiderme. Esta alteração é fugaz e desaparece em horas ou
dias.
Sempre que possível, deve-se colher sangue para exame de dosagem do monóxido de
carbono e examinar a laringe e a traqueia, em busca de deposição de fuligem, indicativa de que
a vítima respirou no ambiente do incêndio.
O óbito pode decorrer dos distúrbios hidroeletrolíticos devido à perda de líquidos através
das áreas desnudas; e ou ocasionado pela infecção bacteriana dessas áreas desprotegidas, com
evolução para septicemia; e ou pela toxemia secundária à absorção dos produtos da área
necrosada; e ou pela embolia disseminada; e ou pela insuficiência renal por nefrose tubular
aguda; e ou em decorrência de pneumonia como complicação do confinamento ao leito.
A perícia tem por objetivo, nas queimaduras dolosas, atender aos parágrafos 1º e 2º do
artigo 129 do Código Penal, bem como o qualificador do crime abrigado no artigo 61, inciso II,
letra d. do mesmo Código.
Nas perícias de vítimas de queimaduras dolosas, o perito deve informar se houve perigo de
vida; se resultou incapacidade para exercer as atividades habituais por mais de 30 dias; se
resultou debilidade permanente de membro, sentido ou função; se resultou incapacidade
permanente para o trabalho, ou enfermidade in-curável, ou perda ou inutilização de membro,
sentido ou função, ou deformidade permanente, ou aceleração de parto ou aborto.
Nos acidentes, mesmo quando ocorrem incêndios, e, nos suicídios, com o emprego de
fogo, este quesito torna-se irrelevante, pois não há o agressor e deverá ser respondido com o
termo: Prejudicado.
1.1.3. Geladuras
É a baixa da temperatura corporal secundária à exposição ao frio. Pode provocar lesões
localizadas e sistêmicas. Em determinadas circunstâncias, como idade, estado geral do
indivíduo, alcoolismo, etc. e o tempo de exposição, pode ocorrer o óbito. A principal causa de
exposição ao frio é acidental, podendo também ser devida à escassez econômica. Há a
criminosa, como o abandono de incapaz.
A sua perícia é de difícil constatação, tendo em conta a natureza das lesões provocadas nos
órgãos e tecidos, por não serem patognomônicas. Aqui, ganham relevância os achados
encontrados na perícia do ambiente onde se achava a vítima. Esses achados devem ser
correlacionados com as lesões observadas, para conclusão do exame pericial.
A lesão de entrada da eletricidade artificial se faz pelo contato do condutor da energia com
o corpo da vítima. Neste local forma-se uma lesão chamada marca de Jellineck, citado por
ALCÂNTARA (2006, p. 63), cuja característica é ser esbranquiçada, endurecida, mumificada, com
o centro deprimido, bordos elevados, por vezes, no formato do condutor: fio, pino de tomada,
etc. Pode ocorrer metalização por deposição de partículas de fusão do metal, fazendo uma
tatuagem superficial na área de contato do eletroduto. Outra lesão encontrada é a queimadura,
que pode ser do 1º, do 2º e até do 3º grau, provocada pela transformação da energia elétrica
em térmica, que é o efeito Joule.
O mecanismo de morte pela ação da energia elétrica, natural ou artificial, é explicado pelas
teorias:
A perícia é solicitada, tendo como principal causa os acidentes, sendo pouco provável a
apuração de homicídio. Aqui, além das alterações encontradas, ou não, no cadáver, é
importante a perícia do local onde ocorreu o fato.
Nos casos de perícia no vivo, colher a história e associar com os achados do exame pericial
para emissão do laudo médico-legal.
A radiação é a transferência física da energia de seu sítio de origem para o alvo biológico,
induzindo ionização de seus átomos. Dessa maneira, provoca alteração por efeito direto sobre
os átomos-alvo, sendo todos os átomos, moléculas, enzimas, proteínas, RNA, vulneráveis;
todavia o principal alvo é o DNA no qual a radiação produz danos no cromossomo.
Já na alteração por efeito indireto, ela exerce sua ação, produzindo radiólise da água
intracelular, com formação de radicais livres que interagem com átomos e moléculas críticos,
particularmente o DNA, para provocar modificações químicas e efeito deletério. As
modificações são dependentes da dose da irradiação. Na exposição total do corpo (ampla
exposição), há a ocorrência da síndrome aguda da radiação com a presença de náusea, vômito,
diarreia, dermatite, alteração do sistema nervoso, confusão mental, leucopenia. O óbito ocorre,
dentro de horas, até 14 dias após a exposição.
A perícia é solicitada para avaliar principalmente acidentes. Há cada vez mais aparelhos
utilizando essa forma de energia, bem como usinas nucleares para a produção de eletricidade,
abrindo possibilidades para a ocorrência de acidentes radioativos.
2. MEIO QUÍMICO
São as energias de ordem química que, em contato com o organismo, provocam lesões
externas ou internas. São representadas pelos cáusticos e venenos.
2. 1. Cáusticos
São substâncias químicas com propriedades desidratantes e coagulantes – os ácidos e
liquefativas – as bases. Quando em contato com a pele, produzem lesões com características
próprias, que variam de úlcera revestida por crosta negra e dura (ácido sulfúrico) a úlceras
úmidas, revestidas por material translúcido, mole (potassa, soda). A lesão é destrutiva e
depende da quantidade do produto utilizado e do tempo em que ele ficou em contato com o
corpo da vítima. Ao cicatrizar, normal-mente produz sequela, representada por deformidade
permanente. Se ingeridos, produzem lesões nas mucosas, ocasionando sequelas importantes
no trato digestivo.
2.2. Venenos
São substâncias químicas que, na dependência da sua dose, produzem lesões graves,
podendo determinar o óbito da pessoa.
A perícia é solicitada para esclarecer possível crime, ou suicídio, ou acidente. (O gás sarin
foi utilizado no metrô de Tókio, num ataque terrorista.) O objetivo do exame é demonstrar que
o óbito foi produzido pelo emprego de veneno; deve-se, pois, informar qual veneno foi usado e
os demais comemorativos envolvidos na ocorrência; apontar para a causa mais provável, se
homicídio, ou suicídio, ou acidente.
O crime de homicídio perpetrado com o emprego de veneno é qualificado no artigo 121 §
2º, inciso III do CP e está inserido no 4º quesito do laudo de necropsia. É dever do perito, nessas
circunstâncias, responder afirmativamente ao quesito, pois esta resposta é do interesse da lei.
O suicídio, embora praticado com o emprego de veneno, não motiva a resposta afirmativa
a esse quesito porque não há o homicida, logo, é impossível qualificar a sua ação. Não há a
quem punir, portanto, a sua resposta está prejudicada.
3. MEIO FÍSICO-QUÍMICO
São as asfixias. A asfixia é a interrupção mecânica da passagem do ar para dentro dos
alvéolos pulmonares, provocando a interrupção da hematose.
d) compressão torácica com anulação da sua função de fole, não permitindo a entrada do ar
nos pulmões (soterramento, acidente de trânsito, com a vítima presa nas ferragens e o tórax
comprimido).
Como é lógico, nos acidentes e nos suicídios, nos quais o óbito é decorrente de asfixia, a
resposta a este quesito não tem interesse legal, porque não há o homicida, portanto, não é
possível qualificar a sua ação. A resposta ao quesito, nessas circunstâncias, está prejudicada.
4. MEIO BIODINÂMICO
Na sua forma pura é secundária a uma alteração endógena, que modifica o equilíbrio
circulatório, com perda da pressão arterial, incapacidade da irrigação dos órgãos, levando à
síndrome do choque e, se não revertida, provoca a morte.
Não tem interesse médico-legal, pois a sua etiologia exógena sempre é secundária a outras
energias vulnerantes, principalmente as mecânicas.
5. MEIO BIOQUÍMICO
É representado por alterações secundárias à falta de ingestão de alimentos, levando à
inanição, com todos os seus comemorativos.
Tem interesse médico-legal quando provocada para punir, ou por omissão, ou sevícias.
Pode, também, ocorrer na forma de protesto, como na greve de fome.
6. MEIO MISTO
São modificações sofridas pelo organismo, devido à ação de energias biodinâmicas e
bioquímicas, que determinam um quadro de fadiga.
A fadiga é secundária ao esforço físico continuado, intenso, de tal ordem que rompe o
equilíbrio do organismo, alterando suas funções e produzindo perturbações
cardiorrespiratórias, musculares e psíquicas.
Perigo de vida
O perito precisa ter segurança para avaliar este quesito. O perigo de vida é caracterizado
por uma modificação importante, provocada no equilíbrio do organismo do lesionado,
produzida pela ação vulnerante que, se não corrigida, fatalmente irá determinar o óbito. O
atendimento médico normalmente muda o prognóstico da repercussão da lesão, na vítima,
impedindo a sua morte, o que não exclui o perigo de vida, que existiu concretamente. O perito,
para avaliar a gravidade da ação vulnerante, deve abstrair o atendimento médico e colocar a
vítima lesionada, sem a possibilidade dessa atenção.Ela iria sobreviver? Se sim, não houve
perigo de vida. Se não, houve o perigo de vida.
Recordar que, na perícia no vivo, este quesito é respondido afirmativamente, sempre que
a vítima, lesionada gravemente, sobreviveu porque recebeu atendimento médico. Já a perícia
no morto é feita quando a lesão sozinha produziu o óbito, ou mesmo com o atendimento
médico, não foi possível evitá-lo. O atendimento médico, para mudar o prognóstico das lesões
provocadas pela ofensa, deve corrigir as alterações por ela produzidas, que sejam incompatíveis
com a vida. Drenar o tórax com hemotórax e pneumotórax produzidos pela agressão; realizar
laparotomia para esplenectomia e sutura hepática por lacerações traumáticas; proceder
craniotomia para drenagem de hematoma intracraniano traumático, etc.
Quando a lesão é de certa monta, como uma luxação, uma fratura, uma laparotomia com
rafias de vísceras, etc, o perito, no primeiro exame, se realizado antes de trinta dias da
agressão, responde a este quesito com o termo: aguardar e deve orientar para que o(a)
periciando(a) retorne para exame complementar, logo após trinta dias da agressão, época em
que terá os elementos para responder sim ou não.
O artigo 168 do CPP, segundo parágrafo, orienta que o exame complementar, para responder a
este quesito específico, seja realizado logo que decorra o prazo de trinta dias, contado da data
do crime. A solicitação para este exame complementar é determinada pela autoridade policial
ou judiciária, de ofício, ou de requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado,
ou de seu defensor.
Porém, o perito é quem conduz a perícia; cabe a ele orientar o retorno da vítima para
poder cumprir o prazo do exame.
Exemplos de debilidades:
De membro - fratura de joelho que cicatriza e deixa como sequela limitação dos movimentos da
articulação, caracterizando debilidade permanente daquele membro inferior.
De sentido - perfuração traumática do olho esquerdo com perda do seu conteúdo e cegueira,
caracterizando debilidade permanente da visão.
De função - trauma na região oral, com fratura completa dos dentes molares direitos. A
ausência desses dentes determina sequela que representa debilidade permanente da função
mastigatória.
Aceleração de parto - É a antecipação do parto por ação da energia vulnerante. A mulher deve
estar grávida; esta é uma concausa fisiológica preexistente.
Enfermidade incurável
A enfermidade incurável é uma patologia que a vítima passou a apresentar, como
resultado da agressão sofrida e que não tenha cura.
Exemplo: uma agressão feita com o emprego de uma foice que golpeou o braço direito,
decepando-o. Esta ação produziu como sequela: a separação desse membro do corpo. Esta
sequela representa perda do membro superior direito.
Uma agressão com arma de fogo cujo projétil atinge a parte lateral esquerda do pescoço,
no sentido da frente para trás, lesando o plexo braquial, o que provoca perda total dos
movimentos do membro superior esquerdo. O membro, neste caso, está presente, porém não
exerce nenhum movimento, o que o torna inútil. O perito deverá informar que a lesão do plexo
braquial deixou como sequela: inutilização do membro superior esquerdo.
Agressão a faca, com orquiectomia bilateral em crime passional. O perito deverá informar
que a retirada dos testículos pelo agressor ocasionou uma sequela representada pela perda da
função reprodutiva, além de deformidade permanente.
Deformidade permanente
A deformidade permanente é uma sequela produzida pela ação vulnerante, que, após a
sua cicatrização, deixa como resultado uma alteração estética, em repouso, ou em movimento,
que representa perda do aspecto habitual do ofendido.
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade
Assim, a lei tutela a aparência da pessoa, independente de raça, sexo, idade, condição
social, atividade profissional, ou qualquer outro atributo que pudesse privilegiar um, ou outro
indivíduo. Ao perito médico-legista interessa avaliar se a lesão produziu uma deformidade
permanente na vítima, qualquer que seja ela.
Exemplo: vítima agredida a faca, com perfuração abdominal e secção de alças intestinais.
Foi submetida à laparotomia com rafia de alças intestinais, lavagem da cavidade abdominal e
fechamento da parede abdominal, com instalação de drenos. Complicou com peritonite. Foi
reoperada, e a ferida cirúrgica cicatrizou, por segunda intenção, formando cicatriz grosseira,
extensa, com produção de deformidade permanente. Embora a cicatriz fique escondida pelas
vestes, a vítima terá oportunidade de mostrar-se sem camisa, na sua intimidade ou em
balneários, expondo-a. A deformidade é a perda do seu aspecto habitual e que lhe cause
constrangimento.
O perito não deve apenas descrever a cicatriz grosseira, é sua função classificá-la como
uma sequela que representa uma deformidade permanente, para fundamentar o seu laudo.
Embora a cicatriz grosseira tenha sido secundária ao ato cirúrgico, foi este ato que salvou a vida
da vítima, e a deformidade resultante tem nexo causal com a agressão. A vítima só foi operada
porque sofreu a agressão.
Aborto
É a morte fetal secundária à interrupção da gravidez, em qualquer fase da gestação,
provocada pela ação da energia vulnerante. O produto da gestação eventualmente pode ser
expulso vivo, porém morrerá, a seguir, devido à imaturidade orgânica incompatível com a vida
extrauterina.
Mapas para ilustrar a localização das lesões no corpo humano
É importante que o perito conheça as concausas, pois elas, se presentes, influirão na gravidade
da lesão.
CONCAUSAS
Concausas são situações que modificam para maior a repercussão da lesão no organismo
da vítima.
1.2. patológica – quando a vítima é portadora de patologia prévia, o que torna mais grave a
lesão produzida pelo mecanismo vulnerante. Exemplo: a vítima é portadora de osteoporose e é
agredida com chute na coxa que provoca facilmente fratura do fêmur. A osteoporose, ao
enfraquecer o osso, facilita a sua fratura, o que agrava a lesão.
É lógico que as concausas, para agravarem a repercussão da ação vulnerante, são sempre
dependentes da ocorrência dessa ação. Aquelas têm nexo causal com estas. Não ocorrendo a
lesão, a pessoa tem o seu estado de saúde mantido. A vítima de uma agressão física irá
experimentar toda a gravidade da lesão que lhe foi impingida, tendo ela concausa ou não. Não
lhe interessa se o agressor sabia ou não do seu estado de higidez. O que lhe importa é a
extensão do dano sofrido, imposto pelo agressor. A lei tutela o bem-estar da pessoa humana. O
infrator deve responder pela natureza e repercussão das lesões por ele provocadas na vítima. É
este o foco da lei.
O perito, após conhecer as características das lesões provocadas pela ação dos agentes
vulnerantes, sabendo reconhecer essas lesões, identificar os agentes e ser capaz de avaliar a
repercussão das lesões, temporária ou permanente, no funcionamento do organismo da vítima,
está obviamente preparado para realizar a perícia médico-legal.
O trabalho pericial é relatado no laudo médico-legal.
a) PREÂMBULO
Parte em que constam: a hora, o dia, o mês, o ano e a cidade em que a perícia é realizada; o
nome da autoridade requisitante do exame; o nome do legista incumbido de realizar o exame;
o nome do diretor do IML que designou o perito; o exame solicitado e a identificação da vítima.
b) QUESITOS
Os quesitos oficiais, propostos para serem respondidos, no Exame de Lesão Corporal, são os
seguintes:
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum? (resposta especificada)
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias?
Essa ordenação na distribuição dos quesitos foi sugerida pelo Professor Her mes Rodrigues
de Alcântara, e é adotada no IML de Brasília-DF; ao ordenar os quesitos 5º, 6º e 7º nessa
sequência, o fez para que eles coincidissem com os quesitos 1º, 2º e 3º do laudo de exame
complementar, que deverão ser respondidos nos retornos da vítima, para exame, enquanto as
lesões estão evoluindo e cicatrizando, para o perito reunir os elementos e definir se resultou ou
não em sequelas. Isso favorece a condução das perícias, porque o perito, ao responder aos 5º,
6º e 7º quesitos com o termo: AGUARDAR, saberá que eles são justamente os três quesitos do
laudo de exame complementar, que serão respondidos nos retornos da vítima às perícias
subsequentes.
Os sete quesitos, pela lógica que norteia o seu conteúdo e a sua ordenação, atendem ao
que a lei espera que seja esclarecido pela perícia. Assim, orientam os passos a serem seguidos
para a realização do exame, iniciando pela pergunta maior que o perito deverá responder: Há
ofensa à integridade corporal ou à saúde do(a) periciando(a)? Em havendo vestígio desta
ofensa, qual o instrumento ou meio a produziu?
Observar que os quesitos do 4º ao 7º foram ipsis literis extraídos do texto dos parágrafos
1º e 2º do artigo 129 do Código Penal e têm a finalidade de, com suas respostas, o perito
oferecer os elementos indispensáveis para o julgador classificar a natureza das lesões e aplicar
as penas pertinentes, indicadas no artigo referido.
Artigo 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qua-
lificam o crime:
I – a reincidência;
d) com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que podia resultar perigo comum.
É importante notar que o teor desse quesito oferece informações indispensáveis para a
aplicação da pena ao agressor, porque é um agravante do crime. No enunciado, como se vê,
não há referência à asfixia, no entanto, este termo – asfixia –, está presente em todos os
modelos de quesitos propostos para o exame de lesão corporal existentes nos Institutos de
Medicina Legal do país. Se o perito responder que houve o emprego de asfixia, o julgador não
terá como aumentar a pena, pois ela não está prevista na lei. Por essa razão, é necessário fazer
a correção do enunciado do quesito, como o proposto pelo autor.
Os quesitos devem atender ao que a lei disciplina. Só assim cumprem sua finalidade.
Este quesito só se aplica quando houver o agressor e a vítima. Aqui o legislador
estabeleceu critérios para saber se, ao cometer o crime, o agente empregou, intencionalmente,
qualquer desses expedientes, para ofender a integridade corporal da vítima, o que agrava e
qualifica o delito. A perícia deverá, quando pertinente, informar se isso ocorreu.
O perito não acusa, não defende, não julga, apenas examina o corpo de delito, descreve o
que encontra, faz o nexo causal entre os vestígios observados e o delito, fundamenta com
técnica, com lógica e com bom senso a perícia e responde com clareza e inteligência aos
quesitos.
Dessa maneira, não é atribuição do perito, no seu laudo, julgar as lesões encontradas. Não
é seu papel dizer se elas são de natureza leve ou grave. Cabe a ele responder com competência
e clareza aos quesitos e oferecer ao julgador os elementos indispensáveis para ele formar sua
convicção sobre a natureza das lesões, para aplicar a pena adequada, porque é só dele essa
incumbência.
c) Histórico
Aqui o perito solicita que a vítima lhe relate o que ocorreu, como ocorreu e quando ocorreu.
Transcreve, com as palavras proferidas pela vítima, esse relato. Dessa forma, terá ideia do
crime que se investiga e do que procurar durante a realização do exame. Quando cabível, fará
correlação do que encontrar, no exame, com o histórico.
d) Descrição
Esta é a parte mais importante do exame. Aqui o perito deverá descrever as lesões observadas,
suas dimensões, suas características, suas localizações. Deverá avaliar as limitações impostas
pelas lesões no organismo da vítima, se produziram perigo de vida, se alguma lesão está em
evolução, se há relatório médico descrevendo algum procedimento.
e) Discussão ou comentários
Nesta parte do laudo o perito irá opinar sobre o que encontrou no exame, se alguma lesão
deverá ser reavaliada, em trinta dias após o delito, para responder se resultou incapacidade
para as ocupações habituais por mais de 30 dias, se a vítima fará cirurgia para corrigir alguma
lesão. Quando cabível, informará que aguarda a evolução da lesão para confirmar se resultou
sequela permanente, se solicitou parecer de especialista para avaliar alguma lesão, se aguarda
relatório médico para avaliar a gravidade de alguma lesão. Quando a lesão estiver cicatrizada e
produziu sequela, dirá qual sequela a vítima apresenta: se debilidade permanente de membros,
sentido ou função, ou se deformidade permanente, etc. Transcrever neste tópico o relatório
médico que informa sobre o procedimento efetuado, por exemplo, uma transfusão de sangue
para corrigir hemorragia severa, o que concretamente caracteriza perigo de vida, etc. Ao
solicitar exame complementar, informar o que irá avaliar no retorno do(a) periciando(a). O
laudo deverá ser o mais esclarecedor possível, de tal maneira que a autoridade, ao recebê-lo,
saiba o que o perito está fazendo. Vestígio de lesão, que não foi produzida pela infração deverá
ser descrito e referido que não tem nexo causal com o delito.
f) CONCLUSÃO
De forma objetiva, clara e sintética o perito deverá concluir a sua perícia, informando a
natureza das lesões encontradas e se delas resultou alguma sequela. Não deverá se estender na
conclusão, repetindo o que já descreveu nos tópicos anteriores do laudo. Se, por ventura, o
perito está aguardando um documento, ou o resultado de um exame, para finalizar a perícia,
deverá concluí-la, temporariamente, com o termo: Aguardar. Se a perícia é realizada dias após
o evento e as lesões já desapareceram, informar que não tem elementos para caracterizar que
ocorreu a lesão.
Resposta: SIM.Isto quando, após o término do exame, o perito encontrou vestígios de lesões
que possam ser relacionados ao delito. Estará, assim, fazendo o nexo causal entre esses
vestígios e a infração. A resposta afirmativa só caberá se a lesão encontrada for produzida pela
ação criminosa. As lesões que não guardam relação com o delito, não interessam à lei, elas
deverão ser relatadas no tópico: Descrição e não poderão servir como subsídio para o perito
equivocadamente utilizá-las para responder Sim à pergunta contida no 1º quesito que não é
uma pergunta genérica, com abrangência difusa. O que ela indaga especificamente é o que a lei
espera que o perito esclareça: o agressor ofendeu a integridade física, ou a saúde da vítima? É
isso que só a perícia poderá esclarecer, e o perito jamais deverá ignorar o teor desta pergunta,
sob pena de perder o foco do exame, gerar equívocos e produzir um laudo que não se presta à
justiça.
Resposta: NÃO. Quando, após o término do exame, o perito não encontrou nenhum vestígio
de lesão que possa ser relacionado ao delito.
Resposta: SEM ELEMENTOS. Quando, após o término do exame, o perito não foi capaz de ter
os elementos de convicção para dizer Sim, nem para dizer Não. Isso ocorre, quando os vestígios
do ato delituoso tenham desaparecido pelo lapso de tempo transcorrido entre o evento e a
apresentação da vítima para o exame, e a lesão não tenha produzido vestígio permanente.
Resposta: PREJUDICADO. Quando, por qualquer razão, a perícia não pôde ser realizada.
Ocorre quando a vítima, por exemplo, se nega a fazer o exame, ou quando o perito é solicitado
a realizar uma perícia em vítima internada e, quando chega ao hospital, ela tenha sido
transferida.
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum? (resposta especificada).
Resposta: Veneno, ou Fogo, ou Explosivo, ou Crueldade, etc., conforme for o caso. O perito
deverá fundamentar, no corpo do laudo, a resposta a ser dada ao quesito, quando for
pertinente. Não olvidar jamais que este quesito se destina a avaliar a ação do agente que
cometeu um crime, pois se, ao cometê-lo, empregou qualquer desses expedientes elencados
no quesito, isso qualifica o crime e aumenta a pena aplicada ao agressor. A resposta afirmativa
ou negativa a este quesito só deverá ser empregada quando houver ocorrido um crime. Deverá,
para isso, haver o agressor e o agredido. Se não houver o agressor, não tem interesse legal uma
resposta específica, como nos casos de acidentes e lesões autoproduzidas.
Resposta: SIM. Quando a ofensa produziu concretamente perigo de vida, sendo o óbito
evitado pelo atendimento médico. O perito descreverá as lesões provocadas pela ação do
agressor, informará todos os procedimentos médicos realizados para salvar a vida da vítima;
anotará nome e CRM do médico atendente e dirá no tópico: Discussão que as lesões ocorridas
no organismo da vítima produziram perigo de vida, quando isso for evidente.
Resposta: NÃO.Quando a lesão não produziu perigo de vida.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
Resposta: SIM. Quando a ofensa provocou essa incapacidade. O perito deverá avaliar a vítima,
logo após tinta dias da ocorrência do fato, para constatar, pessoalmente, que ela ficou
impossibilitada de executar suas atividades habituais por esse lapso de tempo.
Resposta: SIM. Quando a ofensa deixou como sequela uma debilidade, que seja permanente,
de membro, sentido ou função. Por exemplo, uma fratura de joelho que cicatrizou e resultou
limitação dos movimentos de flexão e de extensão, produzindo concretamente debilidade
permanente do membro inferior acometido. As sequelas deverão ser bem caracterizadas e
referidas nos termos existentes no corpo do enunciado do quesito, para que a autoridade
judiciária saiba como avaliar a gravidade da lesão.
Resposta: NÃO. Quando a ofensa não produziu nenhuma sequela que possa ser referida como
uma debilidade permanente de membro, sentido ou função.
A aceleração de parto deverá ser respondida afirmativamente, quando a vítima for mulher e
estiver grávida, sendo o parto antecipado pela ação do agente vulnerante. O produto da
gravidez deverá nascer vivo e sobreviver. Caso morra, logo após o parto, trata-se de aborto.
Resposta: SIM. Quando a ofensa, depois da sua cicatrização total, deixou como sequela
qualquer dos resultados listados no corpo do quesito. Esta resposta só é possível após retornos
da vítima a exames complementares, durante a evolução da lesão. Exemplo: vítima de agressão
com chute na coxa direita com fratura do fêmur. Foi operada para realização de osteossíntese,
permaneceu em tratamento ortopédico e fisioterápico por quatro meses. Comparece para
exame complementar, apresentando encurtamento de 7 centímetros do membro inferior
direito. Este encurtamento provoca marcha claudicante. Antes da agressão sua marcha era
normal. Ela apresenta, hoje, modificação da sua aparência habitual, ao deambular, o que
caracteriza deformidade permanente. Neste caso, em particular, resultou ainda em
incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias e debilidade permanente do
membro inferior direito.
Resposta: NÃO. Quando a ofensa não produziu nenhum dos resultados listados.
Como responder aos quesitos numa perícia sem comprovação de que ocorreu ofensa à vítima.
Exemplo: o caso em que, após o exame, o médico-legista não é capaz de afirmar que houve
ofensa à integridade física, ou à saúde da vítima e responderá ao primeiro quesito com um
destes termos: Não, ou Sem Elementos, ou Prejudicado.
Resposta: PREJUDICADO.
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo ou tortura
ou outro meio insidioso ou cruel ou que podia resultar perigo comum? (resposta especificada).
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
Não havendo a comprovação de que ocorreu a ofensa à vítima, as perguntas contidas nos
quesitos do 2º ao 7º ficam sem sentido, porque esses quesitos visam identificar qual
instrumento ou meio agiu e se produziu alguma alteração que agrave a lesão, para aplicar a
pena adequada. Não sendo possível afirmar que ocorreu a ofensa, a resposta a esses quesitos
está PREJUDICADA.
6 - EXAME COMPLEMENTAR
O exame complementar em Medicina Legal é simplesmente o retorno da vítima para novo
exame no qual se objetiva complementar a primeira perícia, naquilo que ficou pendente,
dependendo do transcurso de um tempo previsto em lei, ou aguardando a cicatrização de uma
lesão, para avaliar a ocorrência de possível sequela que possa agravar a pena aplicada ao
agressor.
O exame complementar está disciplinado pelo artigo: 168 do CPP que assim orienta:
Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a
exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, n. I, do Código
Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de trinta dias, contado da data do crime.
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.
O exame complementar faz parte da rotina de muitas das perícias realizadas. Sempre que
o ofendido apresentar, no primeiro atendimento, logo após o delito, lesões cuja recuperação
seja superior a trinta dias, o perito, ao confeccionar o laudo, irá responder a alguns quesitos,
com o termo: Aguardar Retorno. Isto porque naquele momento não é possível respondê-los
afirmativa ou negativamente.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
É evidente que, no primeiro exame, o perito não tem as condições necessárias para responder a
esses quesitos, quando as lesões apresentadas são severas e de recuperação demorada. A
prudência sinaliza que a vítima deverá retornar para exame complementar, logo que transcorra
o prazo de trinta dias da agressão, a fim de que o perito possa reunir os elementos de
segurança para efetuar a resposta adequada ao quesito. No primeiro retorno há condição de
avaliar se a vítima ficou impossibilitada, ou não, por mais de trinta dias, de executar suas
atividades habituais. Mesmo assim, se a lesão ainda está em evolução, o perito solicitará outro
exame complementar, numa data mais afastada, às vezes até 01 (um) ano após o delito, para
avaliar sua completa recuperação e se resultou em alguma sequela.
a) Preâmbulo
Parte em que constam: a hora, o dia, o mês, o ano e a cidade em que se realiza a perícia, nome
da autoridade requisitante do exame, nome do perito médico-legista encarregado de executar
a perícia, nome do diretor do IML que o designou, identificação da vítima.
b) Quesitos
Os quesitos propostos para o exame complementar de lesões corporais são os seguintes:
1º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
c) Histórico
Informar que o(a) periciando(a) retorna para exame complementar na data atual.
d) Descrição
O perito anotará as alterações observadas durante o exame da vítima. Descreverá se ela
deambula normalmente, ou não. Informará se está recuperada e executando suas atividades
habituais. Se as lesões descritas no laudo anterior estão recuperadas ou não. Caso as lesões
estejam cicatrizadas, avaliar se resultou em alguma sequela.
e) Discussão ou Comentários
O perito deverá, neste tópico do laudo, informar se a vítima está executando suas atividades
habituais, ou não. Caso não esteja, dizer que ela ficou mais de 30 (trinta) dias sem executá-las.
No caso de cicatrização de uma lesão anteriormente referida, informar se deixou sequela; caso
isso tenha ocorrido, classificá-la nos termos existentes no texto do quesito pertinente. Na
hipótese de a lesão não ter cicatrizado e a vítima permanecer em tratamento médico ou
fisioterápico, solicitar novo exame complementar, em data posterior, informando o que
avaliará no seu retorno.
f) Conclusão
Dizer, de forma direta, se a lesão está ou não cicatrizada; se estiver cicatrizada, dizer se resultou
ou não em alguma sequela. Caso não esteja, informar que a lesão está em evolução e que se
solicitou novo exame complementar.
a) Histórico
O periciando(a) informa que foi agredido(a) a paulada, no tornozelo, há 10 dias. Foi operado(a)
no Hospital Ortopédico São Luiz, nesta cidade.
b) Descrição
Apresenta o membro inferior direito enfaixado. Deambula com auxílio de muletas axilares.
Removida a faixa, observa-se cicatriz de ferida cirúrgica longitudinal, medindo 15 centímetros,
localizada na face externa do tornozelo direito, com sinais de pontos cirúrgicos recém-
retirados. Trouxe relatório médico assinado pelo Dr. Marco Antonio, CRM-MT n. 111, que
informa fratura, após sofrer agressão, do maléolo externo do tornozelo direito, que foi
corrigida cirurgicamente com emprego de pinos metálicos para realizar a osteossíntese. Está
em tratamento ambulatorial. Trouxe radiografia do tornozelo direito que revela fratura do
maléolo externo.
c) Discussão
Periciando(a) em tratamento médico, a lesão está em evolução. Solicita-se exame
complementar daqui a 22 dias para avaliar se ficou impossibilitado para as atividades habituais
por mais de trinta dias.
d) Conclusão
Lesão contusa em evolução. Solicitado exame complementar.
Resposta: SIM.
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou
Resposta: NÃO.
Resposta: NÃO.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
Resposta: AGUARDAR EXAME COMPLEMENTAR.
1º exame complementar
a) Histórico
Retorna para exame complementar na data atual, conforme o solicitado.
b) Descrição
Deambula com auxílio de muletas axilares. Não consegue apoiar o pé direito no chão.
Apresenta moderado edema no tornozelo direito.
c) Discussão
O periciando(a) ficou mais de trinta dias sem executar suas atividades habituais. A lesão está
em evolução. Solicitado novo exame complementar no 6º mês após o delito, para avaliar a
recuperação do membro inferior direito e se resultará sequela.
d) Conclusão
Lesão contusa em evolução. Solicitado novo exame complementar.
2º exame complementar
a) Histórico
O periciando retorna para exame complementar na data atual, conforme o solicitado.
b) Descrição
Deambula normalmente. A lesão está cicatrizada. Apresenta limitação dos movimentos do
tornozelo direito, com diminuição da amplitude da extensão e da flexão do pé direito.
c) Discussão
A limitação dos movimentos do tornozelo direito representa uma sequela que determina
debilidade permanente do membro inferior direito.
d) Conclusão
Lesão contusa cicatrizada com produção de sequela.
Resposta: NÃO.
7 - JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS
Artigo 60. O Juizado Especial Criminal, promovido por juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
Artigo 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta
Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)
anos, cumulada ou não com multa.
Artigo 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a
reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Artigo 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.
Artigo 41 da Lei n. 11.340 de 7 de agosto de 2006.
“Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente
da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099 de 26/09/1995”.
Artigo 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela
ausência do autor do fato, ou pela não-ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o
Ministério Público oferecerá ao juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de
diligências imprescindíveis.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência
referida no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame de
corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova
equivalente.
Artigo 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Conforme reza o art. 69 da citada Lei, as perícias solicitadas, para apuração de crimes de
pequeno poder ofensivo, são encaminhadas ao IML, pela autoridade policial e ali realizadas.
Os peritos terão presentes as particularidades dos Juizados Especiais e farão seu trabalho,
objetivando atendê-las. As lesões apresentadas pela vítima deverão ser leves, sem repercussão
maior no funcionamento do seu organismo.
De acordo com o art. 77 da mesma Lei, nas ocorrências com dispensa do inquérito policial,
o boletim médico é suficiente para aferir a materialidade do crime, dispensando o exame
pericial.
Se, durante o exame, o perito encontrar uma lesão que resulte em qualquer das situações
apresentadas nos § 1º e § 2º do art. 129 do Código Penal, fará referência a elas e providenciará
a elaboração do laudo de lesão corporal, uma vez que devido à gravidade da lesão, o Juizado
Especial Criminal não tem atribuição para julgá-la.
8 - EXAME AD CAUTELAM
Este exame é solicitado pela autoridade policial civil ou federal, rotineiramente, de forma
automática, sempre que prende, ou detém alguém, para apurar a sua participação num crime,
ou por força de um mandado de prisão. Após a sua oitiva, em caso de prisão em flagrante, ou
não, e ele é encaminhado ao presídio, antes da sua transferência, ele é conduzido ao IML para
ser submetido ao exame ad cautelam. O objetivo de tal procedimento é resguardar a
autoridade de que não usou de violência, ao fazer o seu interrogatório, enquanto o preso
esteve sob a sua custódia. No passado, talvez houvesse o emprego de violência, para se obter
do acusado as informações desejadas. Hoje, tal prática está em desuso. Há muito rigor na
coibição dessa forma de atuação. Sabe-se que a polícia civil e federal não empregam a violência
durante a realização dos seus interrogatórios.
Depara-se, então, com uma situação inusitada: se o detido não foi submetido à violência,
isso significa que não sofreu nenhuma lesão, ou seja, não foi agredido. Ora, se não foi agredido,
ele foi vítima de qual infração prevista no CP? O Código de Processo Penal, no seu art. 158,
determina que, se a infração deixar vestígio, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Obriga-se a realização da
perícia, apenas e só, quando a infração deixar vestígio. Se não ocorreu, por parte da autoridade,
nenhuma infração à lei, isso significa que não se formou o corpo de delito e este não existindo,
o que ela quer que se examine?
Examinar alguém que não apresenta vestígio de ofensa à sua integridade corporal, ou à
sua saúde não está previsto no CPP, mesmo porque não tem sentido. Além disso, conforme
disciplina esse mesmo Código, no seu art. 160, toda perícia é realizada para, ao final, responder
aos quesitos formulados. Nas perícias nas quais não se forma o corpo de delito, que é a
matéria-prima que o perito examina, quais são os quesitos que ele deverá responder? Eles não
existem. Nenhuma autoridade se deu ao trabalho de formulá-los.
Esta entidade: exame ad cautelam, não está disciplinada no CPP. A sua requisição por
parte da autoridade não tem abrigo nesse Código, o que a torna carente de suporte legal. O
exame “cautelar” tem uma conotação puramente preventiva, de salvo-conduto, para a
autoridade policial. Não existe exame preventivo em Medicina Legal, nem perícia preventiva. O
policial que conduz o preso ao IML é o mesmo que o conduz ao presídio. Entre o exame
realizado no IML e o trajeto até o presídio, muita coisa pode acontecer. Para ser isenta de
qualquer dúvida, a entrega do preso para a autoridade dirigente do presídio deveria ser feita no
IML, logo após o exame “cautelar”.
Caso nº 01
Exame de lesão corporal solicitado pelo Dr. Fábio, delegado de polícia, por meio do Ofício
nº 111, da Delegacia Municipal, em virtude de a vítima ter sido agredida.
Exame realizado na data: 10/06/2008, às 11h 30. Médico-legista: Dr. Chu-En-Lay Paes
Leme. Nome da vítima: K.C.B.F.
a) Histórico:
A vítima informa que foi agredida no dia 07/06/2008, por volta das 3 horas. (Ver a foto da
c) Discussão ou Comentários
As características das lesões são compatíveis com a data do evento.
d) Conclusão
Lesões contusas.
Resposta: Sim.
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou
Resposta: Não.
Resposta: Não.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
Resposta: Não.
Resposta: Não.
Resposta: Não.
Caso nº 02
Exame de lesão corporal solicitado pelo Dr. Romero, delegado de polícia, pelo ofício nº
XXX, da Delegacia Municipal, em virtude de a vítima ter sido agredida.
a) Histórico
A vítima informa que foi agredida pelo próprio pai, no dia 26/05/2008, a golpes de canivete.
c) Discussão ou Comentários
Solicitou-se exame complementar em 27/06/2008, para avaliar recuperação do membro
superior esquerdo, se resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, e
se resultou deformidade.
d) Conclusão
Ferida incisa superficial, em evolução. Foi solicitado exame complementar.
Resposta: Sim.
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou que pudesse resultar perigo comum?
Resposta: Não.
Resposta: Não.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
Resposta: Aguardar exame complementar.
EXAME COMPLEMENTAR
Data do exame: 07/07/2008, às 16 horas.
a) Histórico
A pericianda retorna para exame complementar na data atual, conforme solicitação prévia.
c) Discussão ou Comentários
A ferida cicatrizada mostrou-se irregular, grosseira, produzindo uma sequela que caracteriza
deformidade permanente. A pericianda não ficou mais de trinta dias sem executar suas
atividades habituais. (Ver fotografia da vítima ilustrando as lesões)
d) Conclusão
Ferida incisa cicatrizada, com produção de sequela.
Resposta: Não.
Resposta: Não.
Exame realizado na data: 17/06/2008, às 17 horas. Médico-legista: Dr. Chu-En-Lay Paes Leme.
Nome da vítima: J.B.F.
a) Histórico
A vítima informa que foi agredido no dia 01/06/2008, com soco na boca. Diz que perdeu dois
dentes. (Ver a fotografia da vítima ilustrando as lesões)
b) Descrição
Apresenta lesão contusa em regressão localizada no lábio inferior e na arcada dentária
superior, com avulsão dos dentes 11 e 21.
c) Discussão ou Comentários
A perda dos dentes 11 e 21 produz sequela representada por debilidade permanente das
funções: fonética (emissão das consoantes linguodentais) e mastigatória, além de produzir
deformidade permanente (dano estético). Tanto a debilidade permanente da função fonética
quanto a deformidade permanente são passíveis de correção, com o emprego de prótese
dentária que não corrige a debilidade da função mastigatória.
d) Conclusão
Lesões contusas com produção de sequela.
Resposta: Sim.
2º) Qual instrumento ou meio que a produziu?
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou que pudesse resultar perigo comum?
Resposta: Não.
Resposta: Não.
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
Resposta: Não.
Exame de lesão corporal solicitado pelo Dr. XXXX. Delegado de polícia, pelo ofício n.º XXX,
da Delegacia Municipal, em virtude de a vítima ter sofrido acidente de trânsito.
Exame realizado na data: 10/06/2008, às 17h10. Médico Legista: Chu-En-Lay Paes Leme. Nome
da vítima: E.F.
a) Histórico
Informa o periciando que sofreu acidente de trânsito, uma colisão de veículos, no dia
27/05/2008, por volta das 22 horas. Refere que fraturou o antebraço esquerdo e que fez
cirurgia.
b) Descrição
Periciando apresenta o membro superior esquerdo imobilizado em meia tala gessada. Não
apresenta outra lesão. Não trouxe relatório médico ou radiografia para comprovar a lesão.(ver,
abaixo, fotografia ilustrando como o periciando compareceu para exame).
c) Discussão ou Comentários
Solicitou-se ao periciando exame complementar no dia 01/07/2008, e que compareça trazendo
radiografia do membro superior esquerdo ou relatório médico informando sobre a lesão e o
procedimento adotado. Só assim o perito terá elementos para avaliar se houve trauma.
d) Conclusão
Aguardar retorno do periciando na data indicada.
e) Resposta aos Quesitos
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou que pudesse resultar perigo comum?
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de (30) trinta dias?
Observação: O laudo deverá ser enviado à autoridade requisitante do exame com essa redação,
dentro do prazo de até 10 (dez) dias, conforme disciplina a lei. (Art. 160 do CPP). O perito está
informando como conduziu o exame e o que aguarda para a sua conclusão.
Essa forma de conduzir o laudo deverá ser aplicada para qualquer perícia que dependa de
exame de laboratório ou da juntada de documento que possa conter as informações
necessárias para definição de que ocorreu ou não o delito.
Se o perito descumprir o prazo legal estará cometendo o crime de prevaricação, Art. 319
do CP que assim reza:
a) Histórico
O periciando retorna para exame complementar na data atual conforme solicitação anterior.
b) Descrição
O periciando continua com o membro superior esquerdo imobilizado em meia tala gessada.
c) Discussão ou Comentários
O periciando sofreu fratura do rádio esquerdo que foi corrigida cirurgicamente. Ficou mais de
trinta dias sem executar suas atividades habituais. Solicita-se exame complementar na data:
10/11/2008, para avaliar a recuperação do punho esquerdo.
A Conclusão do Laudo anterior é: Lesão contusa em evolução. As Respostas aos seus Quesitos
são:
a) Histórico
O periciando comparece para exame nesta data conforme solicitação anterior.
b) Descrição
O periciando apresenta o membro superior esquerdo sem a imobilização. Vê-se cicatriz de
ferida cirúrgica linear, apagada, longitudinal, medindo 10 (dez) centímetros, localizada na face
lateral do terço distal do antebraço esquerdo. Os movimentos do punho esquerdo estão
preservados.
c) Discussão
Sem comentários.
d) Conclusão
Lesão contusa cicatrizada sem apresentar sequelas.
2º) Não.
3º) Não.
9 - SEXOLOGIA FORENSE
A Sexologia Forense contempla as práticas libidinosas que são de interesse judicial. Neste
capítulo abordar-se-ão os crimes contra a dignidade sexual, enfatizando o trabalho pericial cuja
atribuição é descobrir os vestígios materiais desses crimes, para a produção da prova técnica de
que ocorreu a infração. A perícia é solicitada pela autoridade competente, quando há suspeita
de que um delito sexual tenha sido praticado. O trabalho do perito consiste em encontrar os
sinais deixados pelo crime na vítima.
Como qualquer perícia, na esfera criminal, esta está subordinada ao artigo 158 do Código
de Processo Penal que instrui:
Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
A insistência do autor em sempre frisar este artigo tem a finalidade de realçar a sua
inestimável importância na compreensão do papel da perícia, que é o de examinar o corpo de
delito, em busca dos vestígios que o caracterizam e fazer o nexo causal entre eles e a infração
que se está investigando.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo
este prazo ser prorrogado, em casos especiais, a requerimento dos peritos.
Quesitos mal formulados impedem que o perito faça o nexo causal entre o que encontrou
no exame e o delito em investigação.
Estupro de Vulnerável
Artigo 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos:
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Artigo 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Aumento de pena
Artigo 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
Artigo 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo
de justiça.
O crime de estupro está tipificado no artigo 213 do CP. Sua redação é simples e clara.
b) o emprego de violência; ou
2 – quando ocorreu?
Primeiro, para saber que tipo de vestígio tal infração deixa e, assim, saber o que procurar.
Segundo, para planejar a sua perícia, de forma simples, clara e segura, sabendo o que fazer
e como fazer. Se é crime recente ou não.
Os vestígios dos crimes sexuais não são permanentes. Se presentes, eles subsistem por
poucos dias e, gradativamente, desaparecem. A data da ocorrência do delito deverá ser
conhecida, para planejamento do que fazer durante a condução do exame.
A perícia executada logo após o cometimento da infração é conduzida com reais chances
de encontrar seus vestígios. A busca dos elementos que configuram o crime é sua meta.
Já numa perícia, feita dias após o crime, a chance de encontrar os vestígios é pequena, se
não impossível. Se realizada 6 (seis) dias ou mais, depois do evento delituoso, os principais
vestígios da conjunção carnal, exceto a rotura himenal recente, que dura 10 (dez) dias, ou de
outra prática libidinosa, foram dissipados, não sendo mais possível identificá-los. O perito,
nesta situação, não colherá material para pesquisá-los.
A data do evento é, pois, fundamental para que se saiba como conduzir cada perícia que se
faça.
É frequente a autoridade que requisita a perícia deixar de informar o crime que a motivou.
Solicita apenas: exame de conjunção carnal. Ora, a conjunção carnal isoladamente não é crime.
O perito nunca deverá examinar o corpo de delito, desconhecendo qual infração ocorreu, sob
pena de não saber o que fazer, ou pior, executar uma perícia sem a possibilidade de
estabelecer o nexo causal entre o que encontrou com um delito, pois o desconhece. Ele tem o
dever de solicitar à autoridade requisitante do exame que informe o crime que motivou o
exame pericial, bem como quando ele aconteceu, informações indispensáveis para que o perito
inicie o trabalho sabendo o que procurar, como procurar e para que procurar. É necessário que
o perito se empenhe em colaborar para que as requisições de exames sejam melhor
elaboradas, para que a perícia cumpra seu objetivo.
1º) se houve conjunção carnal, e ou outro ato libidinoso, praticados contra a vontade da
vítima;
2º) se o agressor conseguiu este intento com o emprego de violência;
3º) se dessa violência resultou para a vítima lesão corporal de natureza grave, ou se a vítima é
menor de 18 (dezoito), ou maior de 14 (catorze) anos;
A penetração do pênis na vagina, via de regra, deixa vestígios. São justamente esses
vestígios que o perito deverá procurar, para ter elementos de convicção e embasamento
técnico para afirmar que houve conjunção carnal. Porém a sua atribuição vai além. Cabe a ele
focar o seu trabalho na procura dos sinais deixados pela conjunção carnal criminosa, porque é
isso que interessa à lei e é por esse motivo que existe a perícia. Essa lucidez é que guiará seus
passos na execução do exame. É temeroso realizá-lo na escuridão, valorizando, no laudo,
vestígio de qualquer conjunção carnal, criminosa ou não, pois, agindo assim, provavelmente irá
se perder e, ao invés de esclarecer, irá, com o seu laudo, provocar o cometimento de injustiça.
Quem age dessa maneira não é perito médico-legista.
Quais são os vestígios deixados pela penetração do pênis na vagina e que caracterizam a
ocorrência da conjunção carnal? São eles:
1 – Rotura himenal
A rotura himenal, na sua esmagadora maioria, é feita com o pênis, sendo o seu encontro
indicativo de que houve conjunção carnal. A sua presença só tem relevância na investigação de
delito praticado há até 10 (dez) dias. As roturas, ditas recentes, podem ter nexo causal com
crimes praticados nesse período.
A recente é aquela que, depois de provocada, leva até 10 (dez) dias para cicatrizar, lapso
de tempo utilizado no IML de Brasília – DF, embasado no Livro do Professor Hermes R.
Alcântara (op.cit.). Nesse intervalo, as bordas himenais rotas, inicialmente, mostram-se
edemaciadas, avermelhadas e sangrantes; depois, recobrem-se de fibrina e leucócitos, ficam
espessas e brancas; posteriormente, tornam-se róseas, contendo tecido de granulação e,
finalmente, cicatrizam-se.
Uma rotura himenal cicatrizada não oferece condições de se precisar quando ocorreu;
sabe-se apenas que foi há mais de 10 (dez) dias. Não é possível o perito, por mais capaz que
seja, estabelecer nexo causal entre ela e um crime praticado em data superior a 10 (dez) dias.
É dever do perito sempre fazer o nexo causal entre o vestígio encontrado – neste particular
a rotura himenal – e o delito que motivou a perícia.
Ele só pode ser encontrado, se o agressor não for azoospérmico, se não usou preservativo
e que tenha ejaculado na vagina.
O texto que faz referência a uma data é o do Professor Hércules (2007, p. 559), o qual
informa que até quatro dias após a deposição dos espermatozóides, na vagina, a sua presença
ainda é detectável em exames laboratoriais.
A coleta do conteúdo vaginal poderá ser feita com espátula de madeira ou de plástico; o
material deverá ser estendido em lâmina de vidro e examinado a fresco, em microscópio
óptico, com aumento de até 400 vezes, ou após fixar esse esfregaço, corar a lâmina, com
técnica rápida, ou convencional, montá-la e examiná-la em microscópio.
Pode-se utilizar suabe para a coleta do conteúdo vaginal. Enviá-lo ao laboratório onde a
pesquisa de espermatozoide será procedida. O material deverá ser identificado com o nome da
vítima, o nº do exame, a data da coleta, o material coletado e enviado ao laboratório por meio
de pedido que contenha as informações que motivaram a perícia, o exame solicitado e o nome
do perito que o solicita. O modelo de pedido de exame deverá ser utilizado para exame de
DNA, dosagem de PSA, no conteúdo vaginal, ou em qualquer outra secreção recolhida da vítima
e que precise ser examinada no laboratório.
Aqui, também, é dever do perito, de forma lógica, fazer o nexo causal entre o encontro do
espermatozoide e o crime em apuração.
Pelo exposto, isso só é possível em delitos ocorridos em até 4 (quatro) dias antes do
exame. Em perícia de eventos ocorridos em data superior a quatro dias, não se colhe o
conteúdo vaginal para pesquisa de espermatozoide, dosagem de PSA, ou
Num futuro próximo, a elucidação de crimes sexuais será executada, rotineiramente, com
o emprego desta técnica, que torna a perícia mais simples e segura. Até lá, muitas são as
limitações que os peritos irão encontrar, no dia a dia, ao periciar as vítimas de crimes sexuais.
O exame de DNA extraído do conteúdo vaginal das vítimas de crimes sexuais, mesmo sem
encontrar o agressor, está sendo utilizado para criar um banco de dados que contenha o DNA
do criminoso, que, quando for encontrado se saberá quais vítimas atacou.
Coletar 2 (dois) suabes da superfície interna da bochecha da vítima para ex-tração do seu
DNA. Este DNA obtido da vítima será confrontado com os DNAs extraídos do conteúdo vaginal;
se houver mais de um, isso permite ao geneticista, identificar qual é o da vítima; o DNA
diferente será do agressor.
Aqui, também, a pesquisa deverá ser feita até 4 (quatro) dias após o evento delituoso. A
dosagem do PSA nas secreções recolhidas, tanto do conteúdo vaginal como da região anal, tem
se mostrado mais sensível do que a pesquisa de espermatozoide. Galvão (2008, p. 259)
observou que a dosagem do PSA foi positiva em 37,50% , enquanto a pesquisa de
espermatozoide foi positiva em 19,02% no material do conteúdo vaginal e a dosagem do PSA
foi positiva em 29,9%, enquanto a pesquisa de espermatozoide foi positiva em 6,19% no
material da secreção anal, encaminhados de perícias de estupro realizadas no IML Nina
Rodrigues da Bahia e que foram utilizados na sua pesquisa.
Coleta-se o conteúdo vaginal com suabe, normalmente dois suabes, ficando uma amostra
para contraprova; o material é encaminhado ao laboratório onde é mergulhado em 1,0 ou 1,5
ml de soro fisiológico, ou água destilada para extração do PSA, que é transferido para esse
líquido. Dessa solução utiliza-se parte para a dosagem do PSA, empregando-se técnicas, tais
como: imunocromatografia, quimiluminescência, enzimaimunoensaio, radioimunoensaio.
O perito deverá fazer o nexo causal entre o encontro desse vestígio com o cri-me que se
está apurando.
5 – Gravidez
A gravidez, via de regra, é o resultado de uma conjunção carnal. É, pois, um vestígio de que
ela ocorreu. Há relatos de ocorrência de gravidez (exceto aquelas produzidas em laboratório)
sem penetração do pênis na vagina. Esses casos são exceções.
Cabe, aqui, também, ao perito fazer o nexo causal entre esse vestígio e o crime em
elucidação.
O exame de DNA recolhido do produto da gravidez pode ser confrontado com o DNA do
suposto agressor, quando este for encontrado, e se presta a estabelecer o nexo causal entre ele
e o delito praticado.
Esses são vestígios concretos de que houve conjunção carnal e serão pesquisados na
perícia de estupro na qual haja suspeita da prática de conjunção carnal. Basta o encontro de um
só deles para caracterizar que houve essa prática.
1) O que ocorreu?
2) Como ocorreu?
3) Quando ocorreu?
Sabendo esses detalhes, o perito terá presentes os possíveis vestígios que resultaram da
prática libidinosa, o que orientará os passos do exame.
Encontrado o provável agressor, coleta-se dele suabe bucal, para extração do seu DNA e
confronto com o DNA extraído do material depositado sobre o corpo, ou sobre as vestes da
vítima.
Esses vestígios, depositados no corpo da vítima, permanecem disponíveis até ela se lavar.
Os depositados sobre as vestes, se não forem lavadas, duram mais tempo.
Durante o exame, para sua segurança, o perito deverá ter, na sala, uma auxiliar e, quando
não for possível, um acompanhante da vítima, de tal sorte que não fique a sós com ela, com
isso prevenindo futuros dissabores.
Essa violência voltada contra a vítima deixa marcas significativas, possíveis de serem
verificadas durante seu exame. Não confundir tais marcas com uma simples escoriação, ou uma
equimose por chupão. Esses pequenos traumas, logicamente, não são suficientes para contê-la,
ou intimidá-la.
O perito, à luz do art. 213 do CP, deverá quantificar a intensidade dessa violência aplicada
pelo agressor, sabendo avaliar seus vestígios, para poder afirmar se houve, ou não, o seu
emprego na consecução do crime de estupro. O olhar do perito precisa estar em sintonia com o
texto da lei.
A violência que interessa à lei é relatada na descrição do laudo de prática libidinosa; ela
tem uma magnitude específica que cabe à perícia interpretar. Nunca confundir essa violência
com vestígio de lesão corporal, que não é elemento do crime de estupro. É falta de
compreensão do texto da lei solicitar ou realizar, junto com a perícia de crimes sexuais, o
exame de lesão corporal, que é outro laudo e se destina a atender o art. 129 do CP, no intuito
de, nele, documentar a violência que tipifica o crime de estupro.
Como a autoridade que recebe o laudo de prática libidinosa criminosa terá elementos para
saber se houve o emprego de violência para a consumação do delito, tendo em mãos o laudo
de lesão corporal? É papel de quem fazer nexo causal entre os vestígios do emprego da
violência e o crime? Este papel é da competência exclusiva do perito, e ele o fará de forma
clara, detalhada, coerente, num único documento médico-legal.
3 – Avaliar se, do emprego dessa violência, resultou para a vítima lesão corporal de
natureza grave, ou se ela é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos.
As lesões corporais de natureza grave estão tipificadas nos § 1º e § 2º do artigo 129 do CP,
e as avaliações dessas situações foram abordadas no tópico Exame de Lesão Corporal – item:
Repercussão temporária ou permanente da ação do agente vulnerante no funcionamento do
organismo da vítima.
A verificação da idade da vítima será feita por meio de seus documentos, ou de exame
pericial para determinação da sua idade.
b) for portadora de enfermidade, ou deficiência mental, e que por isso não tenha o
necessário discernimento para a prática do ato; ou
A lei tutela a pessoa que, por várias razões, não pode decidir sobre a prática do ato
libidinoso. Considera o cometimento desse ato contra ela um crime qualificado e, por isso
comina uma pena maior ao infrator. A lei estabelece o limite de idade, menor de 14 anos, para
abrigar a vítima nesta situação, porque considera que ela não pode responder por si mesma.
Em igualdade de condição encontra-se aquela que, por enfermidade, ou deficiência mental,
também não pode decidir por si mesma. A mudança na redação da nova lei retira a atenuante
da lei anterior, em que o agressor, para ser punido com o rigor necessário, deveria saber, antes
da prática do delito, da situação mental da vítima.
No item (c) encontram-se aquelas vítimas que apresentam deficiência física, como:
paralisias, imobilizações, ou estão em coma em UTI, etc., encontrando-se, dessa maneira,
impossibilitadas de oferecer resistência ao agressor, que disso se aproveita para cometer o
crime.
6 – Faz parte da perícia informar se, da prática libidinosa criminosa, resultou, para a
vítima, gravidez.
O perito deverá informar se do crime resultou, para a vítima, gravidez, situação que
aumenta de metade a pena aplicada ao agressor, conforme estabelece a lei atual. Ela deve ser
do sexo feminino, estar em idade fértil, e a infração consistir de conjunção carnal. Se o exame
for realizado, logo após o delito, é prudente verificar se ela não está grávida nesse instante.
Para afastar gravidez preexistente, o perito deverá colher material para dosar o beta HCG. Se
negativo, repeti-lo 25 dias após o primeiro exame. Se este for positivo, resultou gravidez. Se
negativo, não resultou.
Nos exames de crimes ocorridos há algum tempo e a vítima encontra-se grávida, o perito
deverá fazer o nexo causal entre a gravidez, que é um vestígio de conjunção carnal, com o
delito em apuração. Se o provável agressor for encontrado, o exame de seu DNA confrontado
com o do produto da gravidez elucidará o caso.
a) É necessário examinar a vítima, logo após o delito, para afastar DST preexistente. Para isto o
perito deverá examinar sua região inguinal, genital, anal e oral em busca de lesões venéreas.
Colher sangue para exame de: hepatite B, HIV, sífilis. Colher conteúdo vaginal para pesquisa de:
gonococos, trichomonas, vaginose bacteriana, herpes simples, HPV.
Considerar, ainda, que algumas DST ficam latentes por um período de tempo indeterminado.
Quando se manifestam não é possível determinar em que época ocorreu a contaminação. Caso
do HPV, do HIV, do Herpes simples.
b) Cada uma das DSTs tem o seu período de incubação. Há que se solicitar vários exames
complementares, obedecendo ao período de incubação de cada uma delas. Para isso é
necessário que a vítima retorne inúmeras vezes ao IML.
Senão vejamos:
*AIDS – tempo de incubação: de 6 (seis) semanas a 3 (três) meses, quando positiva o anti-HIV.
Tempo para aparecimento de sintomas: de 3 (três) a 10 (dez) ou mais anos, após a
contaminação pelo HIV. Exame complementar após o 90º dia.
Pelo exposto, verifica-se que é tecnicamente, por vezes, impossível estabelecer o liame de
causalidade entre a contaminação venérea e a prática libidinosa criminosa que a determinou. O
legislador, com a intenção de punir, com maior rigor, o agressor, que, ao praticar o delito
transmite à vítima uma DST, estabeleceu esse critério na lei. Porém a sua constatação pericial é
de difícil comprovação e de execução demorada, exigindo inúmeras idas da vítima ao IML, o
que torna o exame quase impossível de ser realizado.
Estas são perguntas cujas respostas não são conhecidas e é o primeiro entrave que impede
o perito de realizar a perícia para atender ao dispositivo estabelecido na nova lei. Enquanto a
questão não for resolvida, a perícia não terá elementos para responder à pergunta.
O perito deve sempre saber que a sua função é realizar a perícia para encontrar vestígios
de um delito específico na vítima.
Deve fazer o nexo causal entre o vestígio e o delito. Assim, inicia o seu exame, sabendo o
crime ocorrido e sua data, e o que procurar. Essas informações são robustecidas quando se
colhe o histórico do fato – ocasião em que se procura que a vítima dê informações sobre o que
aconteceu, como aconteceu e quando aconteceu.
Sabendo o que a perícia deve esclarecer e como proceder para, tecnicamente, oferecer
esses esclarecimentos, o perito está apto a realizar o exame de práticas libidinosas criminosas.
a) Preâmbulo
Indicar: a hora, o dia, o mês, o ano e a cidade onde a perícia será realizada, o nome da
autoridade requisitante do exame, o nome do perito encarregado de fazê-la, o nome do diretor
do IML que designou o perito, o exame solicitado, a identificação da vítima.
b) Quesitos
O autor, considerando a nova redação dada aos delitos de práticas libidinosas, para atender o
que a lei necessita saber para ter convicção de que ocorreu o crime e cominar a pena adequada
ao agressor, propõe os seguintes quesitos:
2º) Houve outro ato libidinoso que possa ser relacionado ao delito?
9º) A vítima, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência?
Cada um desses quesitos atende ao que está estabelecido na nova lei e as suas respostas
irão oferecer, à justiça, os elementos técnicos necessários para que o julgador forme sua
convicção e possa aplicar a pena o mais adequadamente possível. Os quesitos devem favorecer
a realização do exame e colaborar para que o perito compreenda com clareza o que deve fazer.
A maioria dos Institutos de Medicina Legal, dos vários estados brasileiros, na data atual,
mês de junho de 2010, está realizando os exames de vítimas de crimes sexuais, utilizando os
quesitos antigos, elaborados para atender à legislação anterior, que foi revogada em agosto de
2009. Eles não atendem à atual lei. Pergunta-se: qual é a utilidade desses laudos para a
comprovação da ocorrência do delito diante da lei vigente? É uma situação curiosa esta.
Ninguém está preocupado com isso? Quem deverá fazer a adequação dos quesitos para
atender à legislação vigente? Será o Judiciário? O Ministério Público? A Polícia Civil? A Perícia
Médico-Legal? A Associação Brasileira de Medicina Legal?
O Estado de Mato Grosso, desde o mês de outubro de 2009, já adotou os quesitos para
exame de práticas libidinosas, de acordo com a Lei n. 12.015. Um trabalho executado por:
peritos, representados pelo diretor do IML de Cuiabá, delegados de polícia, a Superintendência
da Politec e o Secretário de Justiça e Segurança Pública.
O perito nunca deve perder o foco do seu papel. Compete a ele fazer o quê? Ele deve saber
que o crime é de estupro e que, por conta desse crime, a vítima procurou a polícia, razão pela
qual foi encaminhada ao IML. Ele irá periciá-la, procurando, nela, vestígios do crime. Esse é o
papel da perícia.
A prática libidinosa consentida não é crime; por isso, nenhuma pessoa será encaminhada
ao IML para ser periciada por essa razão.
Se o perito perder o delito de vista, imediatamente ele deixa de ser perito médico-legista e
o que fizer jamais será um trabalho médico-legal. Esta é a encruzilhada onde os peritos se
perdem, se confundem, não sabem o que fazer. O exame de práticas libidinosas, neste cenário,
ganha uma complexidade difícil de conduzir. Passa a ser um tabu.
Se ao 1º quesito: Houve conjunção carnal que possa ser relacionada ao delito? o perito
responde: Sim, ele está dizendo ao solicitante do exame (delegado de polícia – leigo) que
encontrou um dos elementos do crime de estupro na sua perícia: a conjunção carnal. Houve
conjunção carnal. Para o delegado de polícia este é um indicativo de que houve o delito. Ele
estabelece o nexo causal com o crime, porque sim para ele é igual à presença de vestígio de
conjunção carnal criminosa, porque é um crime que ele está investigando. A partir daí, tomará
as providências legais que o caso requer.
O perito deve saber até onde pode ir. Deve ter consciência das dificuldades de fazer
afirmações ou negações. Deve saber o alcance do seu trabalho e o que deter-mina, na vida dos
envolvidos, no delito, vítima e provável réu.
c) Histórico
Neste tópico o perito procurará que a vítima lhe narre o que aconteceu, como aconteceu, onde
aconteceu e quando aconteceu. Se for do sexo feminino e houve a prática de conjunção carnal,
perguntar sempre quando foi sua última conjunção carnal consentida (esta deixa vestígios). Se
nesta usou preservativo, ou não. Se usa anticoncepcional. Quando foi sua última menstruação
(possibilidade de engravidar em consequência do estupro). Se houve prática de outro ato
libidinoso, perguntar em que consistiu, como foi realizado, se ocorreu ejaculação, onde
ejaculou, se a vítima se lavou depois do delito.
d) Descrição
Pesar e medir a vítima. Informar a sua idade. Verificar seu estado nutricional e de
desenvolvimento físico (diferença de porte entre ela e o agressor). Informar se há alguma
deficiência física. Verificar e anotar seu desenvolvimento mental. Verificar se há presença de
vestígio do emprego de violência efetiva. Se, do sexo feminino, examinar a região genital,
descrevendo-a. Seu desenvolvimento e características. O vestíbulo. O hímen, anotando sua
forma, sua orla e sua borda. Se há rotura, dizer se é recente ou não. Se a prática consistiu de
outro ato libidinoso, verificar se há vestígio dela, no local onde ela ocorreu, tal como presença
de equimose, laceração, depósito de material suspeito de ser sêmen; se presente, colher
amostra para exame.
e) Discussão ou Comentários
Em perícia conduzida algum tempo após o delito, os possíveis vestígios das práticas libidinosas
já desapareceram e não podem mais ser encontrados. In-formar tal situação. O perito não tem,
nessa circunstância, elementos para determinar se houve a prática libidinosa.
Quando o crime é recente – menos que quatro dias – e o perito colhe conteúdo vaginal e ou
perianal, ou da ampola retal, para pesquisa de espermatozoide, exame de DNA, dosagem do
PSA, informar, neste tópico do laudo, a conduta. Coletar suabe oral da vítima para identificação
do seu DNA. Se antes do estupro praticou conjunção carnal consentida com seu parceiro, colher
suabe oral do parceiro para identificação do seu DNA.
Informar que fez a coleta do conteúdo vaginal e ou da região perianal e ou da ampola retal e
que solicitou tais exames laboratoriais. Identificar o material coletado, fazer o pedido ao
laboratório corretamente.
Informar que aguarda os resultados dos exames para a conclusão do laudo e responder aos
quesitos.
Neste tópico o perito deverá fazer o nexo causal entre o encontro dos possíveis vestígios e
o delito em apuração. Aqui é onde o perito fundamenta o seu laudo, in-forma o que fez, as
limitações encontradas e como conduzirá a perícia.
f) Conclusão
A conclusão do laudo será sintética e esclarecedora, da seguinte forma:
Presença ou Ausência de vestígio de prática libidinosa (só interessa se for delituosa). Ou Sem
Elementos para afirmar ou negar que houve prática libidinosa (os vestígios desapareceram). Ou
Exame prejudicado. Quando, por qualquer razão, não foi possível realizar o exame (como na
recusa da vítima em fazê-lo). Ou Aguardar. Quando foi solicitado exame laboratorial para
pesquisar vestígio de prática libidinosa.
g) Resposta aos quesitos
Os quesitos são respondidos com as seguintes palavras:
Sim.
Não.
Sem Elementos.
Prejudicado.
Aguardar.
O perito deve saber o significado pericial de cada uma dessas palavras, para empregá-las
corretamente ao responder aos quesitos.
A resposta: Sim – é usada quando o perito tem convicção de que ocorreu o que o quesito
pergunta.
A resposta: Não – quando o perito tem convicção de que não ocorreu o que o quesito
pergunta.
A reposta: Sem Elementos – quando o perito não tem convicção para responder nem sim
nem não ao que o quesito pergunta.
A resposta: Prejudicado – quando a pergunta que o quesito faz não se aplica àquela
situação.
Os últimos quesitos são desdobramentos das respostas afirmativas aos dois primeiros. Se
houve prática libidinosa delituosa, é indispensável respondê-los, pois podem qualificar o crime,
além de oferecer elementos para cominar aumento da pena.
Não havendo a prática libidinosa, não há o principal elemento do crime de estupro; assim,
não há por que responder aos demais quesitos.
Resposta: SIM.
O perito está informando que encontrou vestígios de conjunção carnal deli-tuosa. Só interessa
à perícia encontrar vestígio da infração que motivou o encaminhamento da vítima ao perito,
porque o seu trabalho é todo voltado para encontrar única e exclusivamente: vestígio da
infração, conforme disciplina o artigo 158 do CPP. Se o perito encontrar vestígio de conjunção
carnal que não seja delituosa, jamais poderá utilizar esse vestígio para responder: SIM, ao
quesito. Seria uma heresia proceder dessa forma, porque estaria utilizando um vestígio de
prática libidinosa consentida, que não caracteriza crime, para materializar a ocorrência de um
crime. O laudo médico-legal emitido, sem estabelecer o nexo causal com o delito, é peça que
não se presta a nada. É frágil, é criticável e pode fazer o perito passar vergonha.
2º) Houve outro ato libidinoso que possa ser relacionado ao delito?
Resposta: SIM. Se há vestígio desse ato e há nexo causal entre ele e o delito.
Resposta: SIM. Se houve o emprego de violência por parte do agressor para conseguir realizar a
prática libidinosa.
Resposta: Violência psíquica. Quando há evidência do seu emprego para re-tirar da vítima sua
capacidade de consentir. (boa-noite-cinderela, embriaguez provocada pelo agressor, etc.).
5º) Da violência resultou para a vítima: incapacidade para as ocupações habituais por mais de
30 (trinta) dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente de membro, sentido ou função,
ou aceleração de parto, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade
incurável, ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade
permanente, ou aborto? (resposta especificada)
Resposta: NÃO. Quando a idade da vítima não for menor que 18, nem maior que 14 anos.
Resposta: SIM. Quando sua idade for menor que 14 anos (crime contra vulnerável).
Resposta: NÃO. Quando sua idade não for menor que 14 anos.
Resposta: SIM. Quando a vítima apresenta essa patologia (crime contra vulnerável).
9º) A vítima, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência?
Resposta: SIM. Quando existe uma causa que a impediu de oferecer resistência, como ser
portadora de paralisia, estar imobilizada por aparelho ortopédico, ser portadora de tetraplegia,
estar em coma em UTI, etc. (crime contra vulnerável).
Resposta: NÃO. Quando não existe nenhuma causa que a impeça de oferecer resistência.
Resposta: SEM ELEMENTOS: Quando informa que não ofereceu resistência porque foi
ameaçada com o emprego de arma de fogo, ou de uma faca (grave ameaça).
Nesta situação não se encontra vestígio do emprego da grave ameaça, sendo prudente
responder a este quesito com a forma sugerida acima.
O perito, no momento do exame, não tem condições de responder a este que-sito. Deverá
colher material para dosagem do beta HCG. Se o resultado for positivo, significa que a vítima
está grávida e a gravidez não tem relação com o presente delito. Nessa situação, responderá a
este quesito: NÃO.
Se negativo, deverá repeti-lo após 25 dias do primeiro exame. Se o resultado for positivo,
significa que resultou em gravidez. Responderá ao quesito: SIM.
Se o resultado for negativo, significa que não resultou em gravidez. Responderá ao quesito:
NÃO.
Observação: O IML não dispõe de recursos laboratoriais e de pessoal para investigar essa
situação.
Resposta: NÃO.
2º) Houve outro ato libidinoso que possa ser relacionado ao delito?
Resposta: NÃO.
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
5º) Da violência resultou para a vítima: incapacidade para as ocupações habituais por mais de
trinta dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou
aceleração de parto, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável,
ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade permanente, ou
aborto? (resposta especificada).
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
9º) A vítima, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência?
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
Resposta: PREJUDICADO.
Quando não for possível encontrar vestígio de prática libidinosa delituosa, e os quesitos 1º
e 2º forem respondidos negativamente, os demais quesitos, do 3º ao 11º, não se aplicam a essa
situação e suas respostas tornam-se prejudicadas, porque perdem interesse legal. Lembrar que
os quesitos que se seguem ao 1º e ao 2º só têm relevância quando houver vestígio de prática
libidinosa delituosa, porque, com as suas respostas eles podem oferecer elementos para
aumentar a pena aplicada ao agressor.
HISTÓRICO
Adulto masculino de 25 anos informando que foi agredido com tapas no rosto, hoje, de
manhã. Diz que há oito dias caiu da bicicleta e machucou-se.Exame realizado às 17h50.
DESCRIÇÃO
Apresenta escoriações em placas recobertas por crostas escuras que estão começando a se
desprender. Estão localizadas nos cotovelos, nos joelhos e na região frontal direita.
Solicita-se fazer:
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
3º) A ofensa foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum? (resposta especificada)
5º) Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias?
DISCUSSÃO
As escoriações descritas apresentam evolução cicatricial compatível com a data da queda
da bicicleta, fato ocorrido há oito dias. Não guardam relação com o evento atual que motivou a
ida do periciando ao IML O periciando não apresenta sinais de lesão corporal recente que possa
ser relacionada com o delito em apuração.
CONCLUSÃO
Ausência de sinais de lesões corporais recentes.
2º ao 7º) Prejudicado.
O que motivou a ida do periciando ao IML? A agressão de que diz ter sido vítima. Apenas
vestígio provocado por esse evento interessa à perícia. O periciando não apresenta nenhuma
lesão que pudesse ser relacionada à agressão. Ele apresenta lesões corporais (escoriações) já
em resolução, que foram produzidas pela queda da bicicleta, ocorrida há oito dias e que, por
isso, não têm interesse pericial. Nem todo vestígio encontrado na perícia deverá ser valorizado,
apenas o que foi deixado pela infração, pois só este poderá tecnicamente ser utilizado para
materializar a sua ocorrência.
O autor irá numerar os casos, relatando o Histórico e a Descrição de cada um deles,
deixando a Discussão, a Conclusão e a Resposta aos Quesitos em aberto, para que cada
interessado faça, por conta própria, a sua redação.
No final, ele irá relatar como conduziu cada caso. Irá utilizar os quesitos para exame de
práticas libidinosas, já de acordo com a nova legislação, que são os seguintes:
2º) Houve outro ato libidinoso que possa ser relacionado ao delito?
5º) Da violência resultou para a vítima: incapacidade para as ocupações habituais por mais de
30 dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou
aceleração de parto, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável,
ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade permanente, ou
aborto? (resposta especificada)
9º) A vítima, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência?
Caso 1
HISTÓRICO: A vítima informa que foi estuprada, ontem, às 22 horas. O agressor a agrediu com
socos e tentou estrangulá-la. Diz que não faz sexo há mais de 1 mês. Última menstruação há
cinco dias. Exame realizado às 8 horas. Refere que não usa anticoncepcional. Informa que
houve prática de conjunção carnal.
DESCRIÇÃO: Pericianda com desenvolvimento físico e mental normal. Tem 21 anos de idade.
Mede 160 centímetros e pesa 55 quilogramas. Está lúcida. Apresenta: equimoses azuladas
extensas na face anterior do pescoço, edema traumático na região frontal e occipital,
escoriações em regiões dorsais e nas nádegas. O examedo introito vaginal revela rotura
himenal cicatrizada em 9 horas. Colhido conteúdo vaginal para pesquisa de espermatozoides
que foi positiva.Beta HCG negativo no dia da perícia e 35 dias após.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 2
HISTÓRICO: A vítima informa que foi estuprada às 02 horas de hoje. Diz que manteve relação
sexual com o namorado, ontem, às 23 horas. Não usou preservativo. Usa anticoncepcional oral.
A pessoa a ameaçou com um revólver e teve com ela conjunção carnal. O fato ocorreu numa
rua deserta, a relação sexual se deu com ela deitada na calçada. Informa que sua última
menstruação foi há seis dias.
DESCRIÇÃO: Pericianda com desenvolvimento físico e mental normal. Tem 17 anos. Mede 170
centímetros e pesa 70 quilogramas. Presença de escoriação em placa, recente, pequena, em
ambas as nádegas. O exame da região genital revela hímen com rotura cicatrizada em 03 horas.
Encaminhada para atendimento médico especializado (Prevenção de Doença Sexualmente
Transmissível e de gravidez). O exame do conteúdo vaginal foi positivo para presença de
espermatozoides e para a presença de DNA da vítima e de outra pessoa . O namorado é casado
e se negou a oferecer material seu, para exame de DNA.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 3
HISTÓRICO: A pericianda fugiu com o namorado por 3 dias. Retornou para casa. A mãe deu
queixa na Delegacia. A Delegada suspeita de abuso sexual. Solicitou o exame de conjunção
carnal. A pericianda informa que não fez nada com o namorado. Diz que tem 13 anos de idade.
Refere que não quer fazer o exame.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
HISTÓRICO: A pericianda fugiu com o namorado por 3 dias. Retornou para casa. A mãe deu
queixa na Delegacia. A Delegada suspeita de abuso sexual. Solicitou o exame de conjunção
carnal. Última menstruação há 30 dias. Diz que nunca fez sexo.
DESCRIÇÃO: Pericianda com desenvolvimento físico e mental, normal. Tem 13 anos de idade.
Pesa 44 quilogramas e mede 155 centímetros. Apresenta ausência de sinais de violência efetiva.
O exame da vulva e do introito vaginal revela hímen íntegro. Ausência de vestígio de outro ato
libidinoso.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 5
HISTÓRICO: O periciando foi flagrado tendo coito anal, ontem, às 21 horas, com um garoto de
18 anos. Solicitado exame de prática libidinosa. Exame realizado às 8 horas.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 6
DESCRIÇÃO: Periciando em bom estado geral. Tem desenvolvimento, físico e mental, próprio
para a idade. Tem 13 anos de idade, mede 156 centímetros. Não apresenta sinais de violência
efetiva. O exame da região perianal e anal não revela vestígios de traumas recentes. Colhido
conteúdo da região anal e da ampola retal que foi negativo para: presença de espermatozoides
e dosagem do PSA.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 7
HISTÓRICO: Vítima de estupro ocorrido, hoje, às 9 horas, quando estava sozinha em casa.
Informa última menstruação há 5 dias. Não faz sexo há 4 meses. Não usa anticoncepcional.
Exame realizado às 16 horas.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 8
HISTÓRICO: A vítima informa que foi para a casa de um amigo escondida da mãe, às 20 horas
de hoje e lá ele lhe deu vodka para beber. Diz que ficou tonta e não se lembra de nada que
aconteceu. Retornou para casa após três horas. Estava embriagada. Há suspeita de estupro.
Última menstruação há 28 dias. Não usa anticoncepcional.
DESCRIÇÃO: Apresenta: desenvolvimento físico e mental normais. Tem 14 anos. Mede 161
centímetros e pesa 43 quilogramas. Apresenta hálito etílico, taquicardia, sonolência, reflexos
alterados, atenção diminuída, restos de vômito em torno da boca. Diz que não se lembra de
nada. O exame da região genital revela rotura himenal sangrante em 4 horas. Ausência de
vestígios de outro ato libidinoso. Beta HCG negativo 25 dias após a primeira perícia.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 9
HISTÓRICO: Pericianda encaminhada para exame no dia 12/11/97, alegando que foi obrigada
a manter conjunção carnal, com o agressor, no dia 01/11/97, sob ameaça de revólver. Diz que
nunca fez sexo. Informa sua última menstruação há 15 dias. Não usa contraceptivo.
DESCRIÇÃO: Pericianda com 22 anos de idade. Pesa 65 quilogramas e mede 173 centímetros.
Apresenta: desenvolvimento físico e mental normais. Ausência de sinais de violência efetiva. O
exame genital revela hímen com orla estreita, óstio amplo, borda franjeada, sem rotura. É do
tipo complacente. Ausência de vestígio de outro ato libidinoso. BetaHCG negativo no dia da
perícia e 25 dias após.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 10
HISTÓRICO: A vítima informa que foi abordada, ontem, às 22 horas, por dois homens armados
com faca, que a levaram para um terreno baldio e lá foi obrigada a manter relação sexual com
os dois, inclusive coito anal. Diz que sua última relação sexual foi há 40 dias. Sua última
menstruação ocorreu há 15 dias. Não usa contraceptivo. Comparece para exame às 08 horas.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 11
HISTÓRICO: Criança do sexo feminino, relatando que o seu padrasto, ao estar sozinho com ela
em casa, ficou nu, tirou a sua roupa, deixando-a só de calcinha, abraçou-a e ficou se esfregando
nela. Percebeu que saiu um líquido do seu pênis e que este ficou sobre sua calcinha.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Caso 12
HISTÓRICO: Menor do sexo feminino, diz que está grávida do seu padrasto, que mantém sexo
com ela há um ano.
DESCRIÇÃO: Pericianda com 11 anos de idade. Mede 148 centímetros, pesa 50 quilogramas.
Apresenta: desenvolvimento físico e mental próprios para a idade, ausência de sinais de
violência efetiva. Apresenta volume abdominal aumentado, com fundo do útero palpado acima
da cicatriz umbilical. Batimentos Cardiofetais de 144 batimentos por minuto, audíveis com
sonar. Trouxe ecografia que mostra gravidez de feto feminino no curso do 6º mês. Apresenta
hímen complacente. Apresenta, na vulva, Condiloma Acuminado.
DISCUSSÃO:
CONCLUSÃO:
Na sequência o autor apresenta como redigiu cada uma das perícias enumeradas acima. Os
quesitos aqui empregados são aqueles sugeridos para o exame de práticas libidinosas, de
acordo com a nova legislação em vigor, desde o dia 10 de agosto de 2009 (Lei n. 12.015).
Caso 1
6º) Não.
Caso 2
DISCUSSÃO: As escoriações nas nádegas foram produzidas durante o ato sexual e não
caracterizam emprego de violência para conter a vítima. O exame laboratorial revela a presença
de espermatozoides e de DNA de outra pessoa no conteúdo vaginal. O namorado não forneceu
amostra para exame de seu DNA. Diante disso, o perito não tem elementos para afirmar de
quem são os vestígios da conjunção carnal verificada. Se do namorado ou se do agressor.
CONCLUSÃO: O perito não tem elementos para afirmar ou negar que houve conjunção carnal
delituosa no presente exame.
Caso 3
1º ao 11º) Prejudicado.
Caso 4
DISCUSSÃO: O hímen íntegro é indicativo de que não houve conjunção carnal e não há vestígio
de outro ato libidinoso.
1º e 2º) Não.
3º ao 11º) Prejudicado.
Caso 5
6º) Sim.
Caso 6
1º) Prejudicado.
2º) Não.
3º ao 11º) Prejudicado.
Caso 7
Caso 8
Caso 9
DISCUSSÃO: Considerando o tempo transcorrido entre o evento e o exame atual, o perito não
tem como identificar, hoje, possíveis vestígios de conjunção carnal que pudessem existir no dia
em que aconteceu o fato, pois, nesse lapso de tempo, eles desapareceram. A pericianda é
portadora de hímen complacente, que permite a conjunção carnal sem se romper. Não se tem,
pois, elementos para afirmar ou negar que há onze dias houve conjunção carnal.
CONCLUSÃO: Sem Elementos para afirmar ou negar que houve prática libidinosa na data do
evento.
RESPOSTA AOS QUESITOS:
Do 3º ao 11º) Prejudicado.
Caso 10
DISCUSSÃO: Presença de vestígios de coito anal recente, que pode ter nexo causal com o
delito. Colhido conteúdo vaginal para pesquisa de espermatozoide, dosagem do PSA e exame
de DNA, para verificar se há vestígio de conjunção carnal recente. Colhido suabe oral da
pericianda para identificação do seu DNA. Solicitou-se dosagem de Beta HCG na urina, que foi
negativa. Repetir, caso haja atraso menstrual. Foi encaminhada para apoio ginecológico (pílula
do dia seguinte e prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis). Aguardar o resultado do
exame laboratorial para conclusão da perícia. Solicitou-se exame complementar em 35 dias.
CONCLUSÃO: Presença de vestígio de coito anal recente. Aguardar o resultado dos exames
solicitados para constatação de conjunção carnal.
1º) Sim.
10º) Não.
Caso 11
Caso 12
DISCUSSÃO: A pericianda tem 11 anos de idade e está grávida, indicando que houve
conjunção carnal.. O hímen complacente permite a conjunção carnal, sem se romper.
Apresenta Condiloma Acuminado, na região vulvar, que é uma Doença Sexualmente
Transmissível (DST). É tipificada pela lei como vulnerável (tem 11 anos).
c) Consolidação das Leis do Trabalho para dispensa do empregado por justa causa.
Legislação
Código Penal - Da Imputabilidade Penal
I – a emoção ou a paixão;
Embriaguez
II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
§ 1º É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito
ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente por embriaguez
proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a
plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.
Art. 70. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não integrantes ou
qualificadoras do crime:
Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-
lo:
Art. 279. Dirigir veículo motorizado, sob administração militar na via pública, encontrando-se
em estado de embriaguez, por bebida alcoólica, ou qualquer outro inebriante:
Artigo 62. Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo
ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia.
Embriaguez, o que é?
É um conjunto de manifestações psíquicas, neurológicas e somáticas, secundárias à
ingestão aguda etílica, suficiente para produzir alterações do comportamento do indivíduo.
Esse exame é uma perícia médico-legal, porque requer conhecimentos específicos para
realizá-lo.
“São fatores que se relacionam com esta tolerância: o peso, a idade, o hábito de beber,
estados emotivos, estafa, sono, convalescença, ritmo de ingestão da bebida, vacuidade ou
plenitude do estômago”. (FRANÇA, 2005, p.17).
Formas de embriaguez
A embriaguez pode ser: fisiológica e patológica.
Classificação da embriaguez
A embriaguez, quanto ao estado anterior à ingestão do álcool, levando em conta a vontade
do indivíduo, pode ser:
c) Embriaguez preterdolosa: o agente não quer o resultado, porém ingere o álcool, para
embriagar-se e assim assume o risco de produzi-lo;
e)Embriaguez por força maior: quando o agente é levado pelo ambiente em que se
encontra a embriagar-se, tendo a sua resistência vencida pelas circunstâncias;
f) Embriaguez acidental: quando por engano ingere, sem saber, bebida com alto teor
alcoólico;
Grau de Embriaguez
A embriaguez, quanto ao grau, pode ser: incompleta ou completa, dependendo dos
sintomas e dos sinais apresentados pela pessoa que ingeriu a bebida alcoólica.
a) Preâmbulo – indicar: a hora, o dia, o mês, o ano e a cidade onde será realizada a perícia;
nome da autoridade requisitante do exame; nome do perito médico-legista encarregado da
realização do exame; nome do diretor do IML que designou o perito para fazer a perícia; o
exame solicitado; a identificação da pessoa a ser examinada.
b) Quesitos
Os quesitos oficiais propostos para o exame de embriaguez são:
c) Histórico
Consignar as circunstâncias que motivaram a realização da perícia; a hora em que foi
abordado inicialmente. Na entrevista, solicitar que a pessoa a ser examinada relate o que
ocorreu, como ocorreu e quando ocorreu.
(Perícia realizada após a 7ª hora da ocorrência do fato, com toda certeza, não encontrará
mais nenhum vestígio da embriaguez cujos sintomas, como o álcool, são voláteis e, após esse
lapso de tempo, desaparecem).
d) Descrição
O perito, para não se perder, deve ter um roteiro para descrever as alterações encontradas
durante a realização do exame pericial. Sugere-se o seguinte roteiro:
e) Discussão ou Comentários
Referir circunstâncias que possam ter importância na realização do exame. Dificuldade
para conclusão definitiva. Se a perícia foi realizada após a 7ª hora da ocorrência do fato,
informar a impossibilidade de encontrar os vestígios da embriaguez. Se a pessoa se negou a
fazer o exame, informar esta negativa.
f) Conclusão
Afirmar, ou negar que a pessoa está embriagada. Ou Exame Prejudicado, quando a pessoa
se negou a fazer o exame.
Nos casos em que os vestígios observados não dão segurança para o perito ter certeza da
ebriedade, concluir que ele não está embriagado. (Na dúvida não prejudicar o suspeito).
g) Respostas aos quesitos
Se ao 1º quesito responder: NÃO, ou PREJUDICADO, a resposta aos demais quesitos, do 2º
ao 5º, fica prejudicada e deverá ser respondida com a palavra: PREJUDICADO. Ora, se a pessoa
não está embriagada, tornam-se sem sentido as perguntas contidas nos quesitos que se
seguem ao primeiro.
Resposta: SIM. Se a pessoa neste estado põe em risco a sua segurança ou a alheia. Ou NÃO. Se
isto não acontece.
Resposta: SEM ELEMENTOS. Se o perito não tem certeza para afirmar ou negar esta condição.
Sim.
Para o diagnóstico da embriaguez é indispensável o exame clínico, pois só por meio dele é
que se afere o comportamento do embriagado. É justamente esse comportamento, por ser
variada a sua apresentação, que interessa à lei.
A embriaguez, assim, com todos os seus comemorativos, só poderá ser verificada à luz do
exame clínico. Não existe outra maneira de fazê-lo.
Artigo 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer substância psicoativa que determine
dependência:
Infração – gravíssima;
Penalidade – multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses;
Parágrafo único – A embriaguez também poderá ser apurada na forma do art. 277.
Artigo 269. A autoridade de trânsito ou seus agentes, na esfera das competências estabelecidas
neste Código e dentro de sua circunscrição, deverá adotar medidas administrativas:
Artigo 276. Qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor às
penalidades previstas no art. 165 deste Código.
Parágrafo único. Órgão do Poder Executivo federal disciplinará as margens de tolerância para
casos específicos.
§ 2º Enquanto não editado o ato de que trata o § 1º, a margem de tolerância será de duas
decigramas por litro de sangue para todos os casos.“A redação correta seria dois decigramas”.
§ 3º Na hipótese do § 2º, caso a aferição da quantidade de álcool no sangue seja feito (o correto
seria: feita) por meio de teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro), a margem de
tolerância será de um décimo de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões.
Artigo 2º. Para os fins criminais de que trata o art. 306 da Lei nº 9.503, de 1997, a equivalência
entre os distintos testes de alcoolemia é a seguinte:
I – exame de sangue: concentração igual ou superior a seis decigramas de álcool por litro de
sangue; ou
Artigo 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for
alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de haver excedido os limites previstos no artigo
anterior, será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia, ou outro exame que
por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam
certificar seu estado.
§ 2º A infração prevista no art. 165 deste Código poderá ser caracterizada pelo agente de
trânsito mediante a obtenção de outras provas em direito admitidas, acerca dos notórios sinais
de embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor.
Artigo 291.Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código,
aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo
não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que
couber.
§ 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver:
§ 2º Nas hipóteses previstas no § 1º deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial para a
investigação da infração penal.
Artigo 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a
penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem
prejuízo das demais sanções penais cabíveis.
Seção II, Dos Crimes em Espécie
Artigo 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por
litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência:
Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de
alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Ver artigo 2º do
Decreto Nº. 6.488, de 19 de junho de 2008, anteriormente descrito, que trata dessa
equivalência.)
Artigo 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por
seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-
lo com segurança:
O artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro considera infração gravíssima dirigir sob influência
de álcool, ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, e apresenta
punição ao infrator. No seu parágrafo único diz: a embriaguez também poderá ser apurada na
forma do art. 277.
O artigo 276 reza que qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor às
penalidades previstas no art. 165 deste Código.
O texto do artigo 277 refere que: “Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente
de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de haver excedido os limites
previstos no artigo anterior será submetido a teste de alcoolemia, exames clínicos, perícia, ou
outro exame que por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN,
permitam certificar seu estado.”
§ 2º A infração prevista no artigo 165 deste Código poderá ser caracterizada pelo agente de
trânsito mediante a obtenção de outras provas em direito admitidas, acerca dos notórios sinais
de embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor.
O artigo 306 disciplina que: conduzir veículo automotor, na via pública, estando com
concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a
influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência caracteriza
crime de trânsito e deverá ser apurado através de inquérito policial.
Dosagens entre 2 (dois) e 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue, ou equivalência
de 1 (um) a 3 (três) décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões, tipifica infração
de trânsito, conforme o artigo 165 do CTB.
Cifra igual ou superior a 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue, ou equivalência
igual ou superior a 3 (três) décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões,
caracteriza crime de trânsito, conforme estabelece o artigo 306 do CTB.
Quando a lei condiciona que a sanção ao infrator fica subordinada especificamente a uma
cifra de alcoolemia, logicamente, só a determinação dessa cifra permite a sua aplicação. Não há
nenhum outro modo de procedimento que possa substituí-la.
Fica claro que, nas infrações de trânsito, o diagnóstico de embriaguez do condutor tem
pequena relevância, possibilitando apenas a aplicação das sanções previstas no art. 165 do
Código de Trânsito Brasileiro, que estabelece, apenas, procedimentos administrativos. A lei
atual não define que é crime dirigir veículo automotor em estado de embriaguez, razão pela
qual não comina pena a quem assim age.
Artigo 2º.É obrigatória a realização do exame de alcoolemia para as vítimas fatais de trânsito.
11 - PRÁTICA DE PSIQUIATRIA FORENSE
Maria Christina da Silva Sá
Apresentação
Encanta-nos a ideia de escrever sobre esta matéria, pois se trata de um assunto instigante
ligado a um trabalho que realizamos com prazer. Consideramos a psiquiatria forense excitante,
por assumir o desafio de deslindar questões complexas, aparentemente subjetivas, e por ter
grande valor para a comunidade, visto que contribui fortemente para que se estabeleça a paz
social, papel de todo cidadão. O psiquiatra forense é um técnico, que procura elucidar o estado
mental do indivíduo, visando conhecer as condições em que se processou o fato delituoso em
estudo. Imergimos na vida de cada indivíduo, que se coloca à nossa frente, na condição de
periciando, na tentativa de enxergar através da água turva que envolve todo momento de
crime. Em que pese o conteúdo dramático que permeia essa especialidade, é possível extrair
beleza de cada biografia revelada que, infelizmente, na maioria das vezes, por falha na
educação, evoluiu para a delinquência. Nós, peritos, temos o privilégio de aprender com o
sofrimento de outros seres humanos e o dever de nos portar de forma adequada.
A proposta deste trabalho não é ensinar medicina legal nem psiquiatria clínica, mas
oferecer algumas dicas práticas sobre perícias criminais, atividade que realizamos há alguns
anos no Instituto de Medicina Legal Leonídio Ribeiro, no Distrito Federal. Dessa forma,
escreveremos de maneira clara e sucinta para alcançar nosso objetivo, que é facilitar a prática
pericial dos colegas que estão pouco familiarizados com a questão.
Para simplificar a leitura do texto, usaremos apenas o gênero masculino quando nos
referirmos ao perito e ao examinando, embora existam, em menor número, tanto periciandas
como peritas. Outra observação é que, apesar de não haver regra sem exceção, especialmente
em medicina, não nos reportaremos a todo instante a este fato, evitando os “de costume”, “em
geral”, “quase sempre”, “na maioria das vezes”.... Entenda-se o que for descrito como o que
ocorre mais comumente.
Qualquer assunto fica mais bem compreendido quando mergulhamos em sua história.
1. História da Psiquiatria Forense
Na antiguidade, acreditava-se que os distúrbios mentais eram devidos à intervenção de
divindades ou à influência sobrenatural, não havendo, portanto, interesse para que os médicos
colaborassem com o direito. A psiquiatria forense nasceu no momento em que se recorreu aos
médicos para a avaliação do estado mental do indivíduo que cometera crime. No início do
século XIX, passou-se a avaliar o delito não só de acordo com a extensão do dano, mas também
considerando-se a liberdade de ação do acusado.
Na Idade Média, a incipiente psiquiatria, assim como todas as outras ciências e artes,
sofreu um retrocesso, voltando a prevalecerem as ideias místico-religiosas, com a maioria dos
pacientes sendo submetida a grandes martírios com o objetivo de se castigar o demônio
encarnado.
Embora Paulo Zacchia seja considerado o pai da psiquiatria forense, cabe a Krafft-Ebing a
articulação precisa do achado médico com o discurso jurídico, expondo a matéria de maneira
esquemática. Até final do século XVIII, os alienados eram confinados em asilos e os alienados
criminosos eram encarcerados nas prisões comuns. Foi Pinel e seu aluno Esquirol, no início do
século XIX, que implantaram a nova mentalidade de libertar os loucos dos grilhões, reclamando
tratamento especial para o insano mental.
Foi apenas no século XIX que surgiu, na Itália, a Escola Positivista, fundada por Lombroso,
médico-legista e psiquiatra, pai da criminologia. Inicialmente, defendia a ideia biológica do
crime (criminoso nato). Mais tarde, porém, enfatizou outros fatores como a educação
deficiente e a condição social. Freud, com seus estudos sobre a psicologia, também teve grande
influência na medicina, no direito e na criminologia, quando afirmava que fatores inconscientes
eram responsáveis pela conduta humana.
No início do século XX, na Alemanha, Von Liszt, estudioso da psicologia criminal, criou o
aforismo: “É responsável o homem mentalmente são e mentalmente desenvolvido”. Em 1901,
Roche publicou o primeiro tratado de psiquiatria forense que começava a ter metodologia
específica.
Após esse período, sucedeu-se um declínio na atividade científica, na área forense, época
que coincidiu com o avanço dos estudos no campo de tratamento medicamentoso dos doentes
mentais. Os psiquiatras forenses inclinavam-se a não se identificar como tal.
2. Introdução
Neste item, teremos a definição de alguns termos muito usados pelos médicos-legistas,
sem os quais haveria prejuízo na compreensão do conteúdo que virá adiante.
Processo é o conjunto de providências que devem ser tomadas para se verificar e sanar
uma lesão de direito. Quando os fatos não deixam vestígios (injúria, desacato), a comprovação
depende da prova testemunhal. Se resultarem vestígios, o exame pericial e seu registro devem
ser feitos.
Perícia é o exame desses elementos materiais feito por técnico qualificado (perito) para
atender a autoridade. É direta, quando se examina a pessoa e indireta, quando se baseia em
registros. Ela prevalece, mesmo que se oponha a depoimentos testemunhais. O juiz não ficará
adstrito ao laudo; porém, se o rejeitar, deve justificar suas razões. Ocorrendo discrepância de
opiniões entre dois laudos, o juiz poderá designar um terceiro. Caso haja uma terceira posição,
a autoridade determinará que seja realizado novo exame. O julgador poderá pedir
esclarecimentos por escrito, ou convocar o perito para audiência. O compromisso deste com a
verdade constitui dever ético e obrigação legal.
Corpo de delito é um conjunto de elementos materiais perceptíveis aos nossos sentidos,
resultantes da infração penal. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame
de corpo de delito (pode ser procedido em pessoas, coisas ou animais). A dor por si só não é
lesão corporal.
Perito oficial é um funcionário público, concursado, pago pelo governo, requisito este
para a imparcialidade. Quando não houver perito oficial, o exame poderá ser feito por pessoas
devidamente habilitadas (de preferência com curso superior), cujo reconhecimento tem
amparo na própria lei que cuida das profissões e atividades fiscalizadas por órgãos regionais e
nacionais. Para emitir sua opinião acerca de um fato, o perito pode proceder a todas as
indagações que julgar necessárias, colher material para exames complementares e deve expor
sua opinião científica livre de interferências. Embora não trabalhe em segredo, não deve
divulgar a quem não é de direito. A Lei nº 11.690/2008, do Código de Processo Penal, revogou a
exigência de dois peritos, inclusive em perícias criminais, sendo necessário apenas um. O
compromisso do perito oficial está implícito na função que exerce para o Estado. Os peritos não
oficiais deverão prestar compromisso (por escrito) à autoridade que os nomeou. Embora nosso
trabalho seja de busca, e recorramos à indagação minuciosa, cabe ao delegado e à sua equipe
de investigação descobrir a autoria do crime.
Psiquiatra forense é o médico que exerce a psiquiatria forense, que é um ramo tanto da
psiquiatria como da medicina legal e que trata da aplicação dos conhecimentos médicos
psiquiátricos a serviço da Justiça. Como nos referimos anterior-mente, a necessidade desse
especialista surgiu no início do século XIX, quando se passou a avaliar a culpabilidade (dolo e
culpa), considerando os fatores subjetivos da liberdade de ação do autor. Ele atua nos casos em
que houver dúvida sobre a integridade ou a saúde mental do indivíduo em qualquer área do
Direito (penal, cível, trabalhista, administrativo...), buscando esclarecer à Justiça se o acusado é
ou não portador de um transtorno mental, e se existe nexo entre a enfermidade e o fato em
questão. Uma das adversidades que se observa no exercício da psiquiatria forense é que nós,
médicos, pouco entendemos de leis, e os juristas experimentam a mesma dificuldade com
relação à psiquiatria.
3. Linguagem Jurídica
Para que a perícia seja esclarecedora para a Justiça, é necessário que o perito transforme a
linguagem médica na jurídica. Alguns termos têm significado diferente, e até aparentemente
contraditório, visto pela ótica de outros psiquiatras.
Responsabilidade é o ato de violar um preceito normativo que pode dar origem a sanções
de diversas naturezas. Dizer que um sujeito é responsável por deter-minado ilícito penal,
baseado em provas, é da competência do juiz.
Imputabilidade é a aptidão, avaliada pelo médico, que o indivíduo possui para realizar um
ato com pleno discernimento. É imputável todo homem mentalmente desenvolvido e são, cuja
consciência não se ache perturbada; aquele que detém as condições psíquicas necessárias para
que um crime lhe seja atribuído, pois é capaz de entender e de se determinar, de acordo com
esse entendimento. A imputabilidade é condição essencial à responsabilidade.
Medida de segurança é aplicada ao indivíduo cujo ato delituoso não lhe pode ser
imputado, por ser portador de transtorno mental, com a finalidade de tratar o infrator e
proteger a sociedade dos seus atos insanos. Não consiste em pena privativa de liberdade e, sim,
em internação em hospital de custódia e tratamento, ou equivalente (medida de segurança
detentiva), ou em tratamento ambulatorial (medida de segurança restritiva). No Distrito
Federal, quando internados, permanecem na Ala de Tratamento Psiquiátrico/ATP, situada nas
dependências do Presídio Feminino; não existe manicômio/hospital-prisão em nossa cidade. A
medida de segurança não deve ultrapassar o limite de tempo da pena cominada para aquele
tipo de crime. Na prática, nem sempre isso é observado.
Medida socioeducativa é aplicada aos maiores de doze e menores de dezoito anos que
cometem ato infracional. Tem como objetivo “reeducá-los” e também proteger a sociedade.
Varia, desde uma advertência do juiz ao menor e a seu responsável, até uma internação em
local fechado. No Distrito Federal, quando inter-nados, permanecem no CAJE (Centro de
Atendimento Juvenil Especializado). Algumas vezes o perito atua avaliando a sanidade mental
do adolescente. Os menores de doze anos estão sujeitos a medidas protetivas.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209,de 11.7.1984).
4. Perícia Psiquiátrica
Perícia psiquiátrica é a avaliação médica focada nos aspectos que abrangem a integridade
mental da pessoa envolvida em um determinado fato. O perito terá acesso aos autos e
entregará o laudo até quarenta e cinco dias, se a perícia for criminal e até trinta dias, se não for
criminal, período que pode ser prorrogado, se necessário. Poderá valer-se de testemunhas e
enriquecer o laudo com as mais diversas provas que venham a contribuir com o esclarecimento
da verdade. A maior parte das perícias psiquiátricas é retrospectiva, baseia-se na análise de
fatos e conjunturas passados. É denominada indireta, quando relacionada a alguém que não
possa se submeter ao exame direto, por falecimento, ou por razões outras que o impeçam,
valendo-se o perito de pesquisas em prontuários, relatórios médicos, entrevistas, exame
grafotécnico, etc.
a) mulher maior de catorze anos induzida a praticar ato sexual, cuja mãe afirma ser
portadora de desenvolvimento mental incompleto e atrasado (menor de dezoito), ou retardado
(maior de dezoito);
c) pessoa falecida, cuja causa jurídica da morte violenta (acidente, suicídio ou homicídio)
ainda não foi determinada por meio de outras provas – o levantamento do perfil mental da
vítima pode ajudar no direcionamento da investigação.
Outro médico legista (não psiquiatra) poderá solicitar uma avaliação psiquiátrica da vítima
para fundamentar laudo de lesão corporal ou de conjunção carnal.
Exemplos:
b) mulher vítima de crime sexual, quando há dúvida sobre sua sanidade mental – cabe ao
psiquiatra forense definir se a vítima é portadora de transtorno mental e se possui capa-cidade
de consentir que com ela se pratique ato sexual.
Ainda na fase de inquérito, quando o delegado que procede ao interrogatório percebe que
o suspeito não goza de saúde mental. É indispensável que tenha a autorização do juiz.
Exemplos:
a) psicótico que após matar de forma violenta, sem motivo aparente, permanece no local do
crime certo de que agiu corretamente em cumprimento à ordem alucinatória;
Lembramos que, se não houver a autorização do juiz, o perito não realizará a perícia,
devolverá os autos para que se cumpra a exigência da Lei.
Na fase processual, quando for levantada por qualquer das partes a ocorrência de
transtorno mental, caso o pedido seja julgado procedente pelo juiz daquela Vara Criminal.
Observamos que a maioria dos que declaram sofrer de distúrbio psiquiátrico o fazem,
acreditando que conseguirão benefícios, tais como, cumprir medida de segurança internados
em uma clínica, ou em regime ambulatorial.
Devemos ter em mente que padecer de transtorno mental é exceção. Estimamos que 90%
dos indivíduos que são examinados no setor de psicopatologia do IMLLR gozam de saúde
mental ou, se padecem de algum distúrbio, ele não guarda nexo com o crime.
O primeiro passo dado por nós é a leitura dos autos, para nos inteirarmos da matéria sobre
a qual iremos opinar. Em seguida, após nos apresentarmos ao examinando, informamos a ele
da desobrigação do sigilo médico no ato pericial e que todas as suas declarações poderão ser
utilizadas, não havendo espaço para segredos revelados. Esclarecemos, ainda, acerca do direito
de não se submeter à perícia. No caso de recusa, comunicamos por escrito à Vara a razão pela
qual a perícia não foi realizada.
Nas perícias criminais, seguimos o roteiro abaixo, sem que necessariamente todos os itens
constem em todos os laudos.
1. Cabeçalho
2. Identificação
3. História criminal
a) Denúncia
4. Anamnese
a) Antecedentes familiares
b) Curva de vida
c) História da doença
5. Exame mental
6. Inspeção física
7. Entrevistas complementares
8. Exames complementares
10. Discussão
11. Conclusão
Todo laudo deve conter o cabeçalho no qual consta: a autoridade que solicitou, o número
do documento que o gerou, o nome do perito que o realizará por designação do diretor do
Instituto e seu compromisso de descrever fielmente o que foi observado.
“Aos ... dias do mês de ... do ano de ..., na cidade de Brasília, a fim de atender à requisição do
PROCESSO nº ... da ... VARA CRIMINAL ESPECIAL DE BRASÍLIA, datado de ..., protocolo nº ..., o(a)
infra-assinado(a) médico-legista Dr.... foi designado(a) pelo (a) Dr...., diretor(a) do INSTITUTO
DE MEDICINA LEGAL LEONÍDIO RIBEIRO, para proceder a exame na pessoa abaixo identificada e
responder aos quesitos formulados a seguir, descrevendo com verdade e com todas as
circunstâncias o que encontrou, descobriu ou observou.”
É também obrigatória a inclusão da Identificação que deverá ser a mais completa possível.
A História Criminal vem logo no início do laudo, para facilitar a compreensão de quem o
leia, fora do contexto do processo.
“Lê-se às folhas... dos autos que no dia ..., por volta de ... horas, nas imediações da quadra...,
em frente ao bar..., o denunciado tentou matar a vítima... não logrando êxito por circunstâncias
alheias à sua vontade. Estando incurso nas penas do artigo 121 do Código Penal Brasileiro”.
A mais distante da verdade é a história contada ao perito. Até que a determinação do juiz
seja encaminhada ao Departamento de Polícia Técnica e agendada no IML, já se passaram
alguns meses, e o indivíduo teve tempo suficiente para elaborar uma versão bem distante da
real. Porém, isso não deve assustar o perito. Afinal, não somos nós que vamos deslindar o
crime, muito menos julgá-lo. A importância de nos inteirarmos de todas as versões consiste em
compreender a capacidade que o indivíduo possui de criar alternativas para se defender, que
podem ser indicativos de doença ou de saúde mental. Esse item transcrevemos entre aspas,
copiamos o discurso do examinando tal qual foi proferido. Tal opção possibilita captar com mais
fidelidade a linguagem, o curso do pensamento, a forma que o examinando usa para se
expressar. Embora seja descrita no início do Laudo, costumamos colher sua versão do crime no
meio do exame, quando o arguimos sobre os antecedentes criminais; o objetivo é encontrá-lo
menos defensivo.
Não existe um modelo único nem uma sequência obrigatória, contudo, fica mais bem
compreendido quando iniciamos pelas funções psíquicas mais elementares e finalizamos com
as mais complexas. Não há necessidade de nos reportarmos a todos os itens, preferimos
consignar só os dados positivos pelo risco de a narrativa tornar-se enfadonha. Nosso relato é
tanto mais rico quanto for nossa capacidade de encontrar adjetivos adequados para exprimir
nossas impressões; não precisamos nos limitar a termos científicos.
Os exemplos abaixo são apenas sugestões. A divisão que se segue é apenas didática. É
fundamental ter em mente que o psiquismo é único, que todas as funções estão interligadas.
Exemplo: um distúrbio da representação é expresso pela mímica, pelo pensamento, que se
exterioriza, pela postura e pelo discurso, que depende da motricidade e da fala, que está
associada à linguagem...
7. Orientação: com relação a si (onde e quando nasceu), ao tempo, ao espaço, às pessoas que
o cercam (quem é essa senhora que o trouxe?), à situação político-econômica do local onde
vive (qual o nome do presidente do Brasil?)...
11. Motricidade: imóvel, inquieto por efeito de medicação, agitado, com flexibilidade cérea,
realizando movimentos estereotipados (repetitivos)...
A falta de memória genuína provoca uma angústia no indivíduo que inutilmente se esforça para
se recordar dos fatos inquiridos. Registramos se a hipomnésia nos parecer intencional.
13. Pensamento
Quanto à forma - como o paciente associa suas ideias: organizado, coerente, incoerente,
desagregado, empobrecido, concreto/sem abstração, frouxo, in-consistente, esvaziado, prolixo,
digressivo, tangencial, verborreico, com fuga de ideias,...
Quanto ao curso - velocidade com que expressa suas ideias: lentificado, adequado, acelerado...
Quanto ao conteúdo – sobre o que pensa: querelante, obsessivo, delirante (citar frases
ilustrativas), ideias de autorreferência, roubo do pensamento...
15. Fala (como articula as palavras): afásico, disfásico, disártrico, mussitação, fala pastosa...
16. Voz (som das palavras): tom de voz alto, baixo, disfônico, voz nasalada, embargada...
22. Juízo ético – verificar se a articulação dos conceitos enquadra-se no padrão social vigente,
se apresenta ideias edificantes, que análise faz dos seus atos...
23. Pragmatismo – relacionado com a volição - planos imediatos e futuros: mantido, ausente,
congruente com suas limitações, ou com suas capacidades...
Fica a critério do perito decidir quem vai convocar para as Entrevistas Complementares
(por telefone, ou por meio de intimação). Iniciamos pelas pessoas mais próximas do
examinando. Dependendo do caso, poderemos intimar pais, irmãos, companheiras, filhos,
amigos, vizinhos, chefes, colegas... São feitas as mesmas considerações sobre a desobrigação
do sigilo médico. Esse fato não nos impede de utilizar estratégias para saber indiretamente o
que desejamos, confrontando contradições nos relatos.
“Meu marido só se preocupa em usar drogas, ele é muito viciado, precisa mesmo é de um
tratamento numa clínica”. “Ele é muito carinhoso comigo, cuidadoso com os filhos, não deixa
faltar nada dentro de casa”. “É responsável no trabalho, o chefe dele adora ele, tudo que ele faz
é bem feito”.
Caso a pessoa intimada não possa, ou não queira comparecer ao IML, e nós acharmos o
seu comparecimento relevante, vamos até sua residência (costumamos ser bem recebidos).
Quando necessário, recorremos a outros setores da Polícia e à Vara solicitante que nos auxiliam
a localizar as pessoas.
Os Exames Complementares que mais contribuem com a perícia são os realizados mais
próximos à data do delito. Cada tipo de perícia exige exames diversos: a) psicometria (realizada
pela psicologia forense) para comprovar e graduar retardo mental; b) exame de imagem
cerebral na suspeita de quadro orgânico (fazemos constar no Laudo a data em que foi feito, o
nome da instituição que emitiu o resultado e o nome e CRM do médico responsável); c) exame
toxicológico de urina (citamos o resultado do exame que foi realizado por ocasião da prisão, ou
o solicitamos, no momento da nossa avaliação, apenas para comprovar o uso de droga na
prisão); a detecção de metabólitos de substâncias tóxicas não significa que o indivíduo é
dependente, apenas comprova o uso.
“O Parecer Psicológico nº... realizado neste IML em .... revelou um potencial cognitivo de...”
“A ressonância magnética de crânio realizada no dia... na Clínica... pelo dr... evidenciou sinais
de...”
“O Exame Toxicológico nº .... realizado neste IML em amostra de urina colhida do periciando no
dia... detectou a presença de metabólitos de...”
Os Relatórios dos Médicos que assistem, ou já assistiram o periciando nos instruem
quanto à origem e evolução do quadro clínico. Muitas vezes, quando é do interesse do
periciando, já foram apresentados em juízo e já constam nos autos do processo. Quando isso
não ocorre, cabe ao perito solicitar, por escrito, ao colega. No pedido deverão constar os
pontos a serem esclarecidos (início do tratamento, diagnóstico, medicamentos prescritos,
evolução, estado psíquico do paciente à época do delito...).
“Conforme relatório fornecido no dia..., pelo doutor ..., CRM ..., o paciente fez tratamento
ambulatorial no período de... com prescrição de... evoluiu... a hipótese diagnóstica foi....”.
Nem sempre a opinião do médico assistente coincide com a do perito. Quando isso ocorre,
cabe no laudo uma discussão sobre essa divergência. Esse cuidado pode evitar que, no futuro,
ambos sejam convocados para esclarecimentos.
Uma Discussão é pertinente sempre que houver dissonância entre os vários elementos
do laudo descritos acima. Nesse espaço, baseados na literatura, nos empenhamos em dirimir as
dúvidas surgidas pelas divergências. A citação da literatura robustece nossa convicção.
Evitamos a linguagem rebuscada. O papel do médico é esclarecer, não escrever difícil. Caso o
juiz entenda que o laudo não foi esclarecedor, solicita complementação por meio de
aditamento, ou de nova quesitação. Se ainda assim persistirem dúvidas, determina que seja
realizada nova perícia por outro psiquiatra.
A Conclusão, sem dúvida alguma, é o ápice da perícia. Deve estar consonante tudo o que
foi escrito no corpo do Laudo. Não é hora de romancear, nem de repetir o que já foi dito. De
forma extremamente objetiva, deve conter todas as respostas aos quesitos.
“Trata-se de periciado eupsíquico, que à época do delito era inteiramente capaz de entender o
caráter criminoso do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Era, portanto,
imputável. Sua periculosidade não está vinculada a transtorno mental."
O perito não é obrigado a chegar a uma conclusão que atenda inteiramente à demanda da
Justiça. Há casos em que, por mais que nos empenhemos, não conseguimos determinar o
estado psíquico do periciando à época do delito. Formulamos uma discussão informando que
os dados analisados não foram suficientes para concluirmos a respeito da imputabilidade, no
momento do crime. As inferências estão completamente descartadas.
Resposta 1: Sem elementos. Resposta 2: Não é possível afirmar que em liberdade o periciado
volte a delinquir.
Neste ponto cabe uma observação acerca do grande número e da falta de objetividade dos
quesitos formulados pelos juristas.
Primeiro exemplo:
1º) Relatem os senhores peritos a quais exames (clínicos, laboratoriais, psicológicos e
complementares) se submeteu o periciando.
3º) O paciente, para a realização da perícia, foi internado? Justifique, se negativa a resposta, o
porquê da não internação.
5º) O paciente padece de alcoolismo? Se afirmativo, qual espécie, e qual o nível ou estágio?
7º) Se afirmativa a resposta aos quesitos nº 4, 5 ou 6, de que maneira e até que ponto esta
causa de alteração da imputabilidade tem influência em sua: a)consciência,? b)vontade?
c)personalidade? d)conduta social? e)autocrítica? f)senso ético?
8º) O paciente era, à data de 2 de maio de 2009, inteiramente incapaz de entender o caráter
criminoso do fato: a)por vício decorrente de uso de substância capaz de determinar
dependência física e/ou psíquica? b)por doença mental? c)por desenvolvimento mental
incompleto? d)por desenvolvimento mental retardado?
10º) O paciente, na data de 2 de maio de 2009, não possuía a plena capacidade de entender o
caráter criminoso do fato: a)por vício decorrente de uso de substância capaz de determinar
dependência física e/ou psíquica? b)por perturbação da saúde mental? c)por desenvolvimento
mental incompleto? d)por desenvolvimento mental retardado?
11º) O paciente, na data de 2 de maio de 2009, não possuía a plena capacidade de determinar-
se de acordo com o entendimento do caráter criminoso do fato: a)por vício decorrente de uso de
substância capaz de determinar dependência física e/ou psíquica? b)por perturbação da saúde
mental? c)por desenvolvimento mental incompleto? d)por desenvolvimento mental retardado?
17º) O quadro clínico do paciente recomenda tratamento sob regime de internação hospitalar,
ou extra-hospitalar, com assistência de serviço social competente?
18º) Esclareça o senhor perito tudo mais que, a seu juízo, possa ser útil à elucidação dos fatos
ou possa influir no julgamento da causa, ou ainda que lhe afigure importante, devendo todos as
respostas acima serem justificadas.
Segundo exemplo:
1) O acusado apresenta sinais de quem usa substâncias entorpecentes?
3) O paciente é viciado?
11) Se afirmativo o quesito anterior, avaliar fundamentadamente de qual maneira e até que
ponto esta dependência tem influência do periciando?
12) O paciente era, ao tempo do fato descrito na denúncia, inteiramente incapaz de entender o
caráter do fato em razão de sua dependência?
13) O paciente era, ao tempo do fato descrito na denúncia, embora capaz de entender o caráter
criminoso do fato, inteiramente incapaz de determinar-se de acordo com esse entendimento?
14) O paciente possuía, ao tempo do fato descrito na denúncia, capacidade plena de entender o
caráter criminoso?
17) O periciando tinha diminuída sua capacidade de autodeterminação, mas apenas no que se
refere ao uso pessoal que faz da droga. Quanto aos demais aspectos de sua vida, o periciando
tinha capacidade de autodeterminação preservada?
19) Sendo o paciente dependente, o seu quadro clínico ou a natureza de suas manifestações
psicopatológicas exigem internação hospitalar?
20) Caso exigível a internação, qual o regime recomendável e qual o prazo mínimo necessário
para tratamento?
21) Em caso de dependência, estaria a mesma impelindo o paciente a práticas criminosas para
poder sustentar o vício? De que forma? Até que ponto? Justificar cada resposta.
22) Além dos procedimentos adotados existem outros exames possíveis? Quais?
23) Esclareça o Senhor Perito tudo que se fizer necessário e útil à elucidação dos fatos ou que
possa influir no julgamento da causa, ou ainda que lhes afigure importante.
2º) Em virtude desse transtorno mental, tinha o periciando, à época do delito, comprometidas
parcial ou inteiramente suas capacidades de entendimento e autodeterminação?
4º) Qual o tipo e regime de tratamento mais indicado e por quanto tempo?
5. Doença Mental
Como dissemos anteriormente, para a Justiça, é considerado doente mental o psicótico, o
demente em grau avançado e o dependente químico grave.
O indivíduo psicótico chega para Exame de Insanidade Mental, após cometer, desde um
crime de ameaça até um homicídio praticado com muita violência. Rara-mente está relacionado
com crimes sexuais ou roubos (assaltos). Os delitos não são premeditados, ocorrem em
circunstâncias inesperadas, em decorrência de vivências delirante-alucinatórias. O doente não
foge do local porque entende que agiu corretamente. Volta-se contra desconhecidos com os
quais nunca teve desentendimento, ou, paradoxalmente, contra familiares próximos, como
mãe, esposa ou filho. Já no ato da prisão em flagrante, e, posteriormente, na delegacia, leigos
em medicina o percebem insano.
A entrevista é caótica, não conseguimos dar a ela um seguimento coerente, os fatos são
relatados de forma fragmentada, desagregada ou evasiva.
É possível que chegue para exame com remissão parcial dos sintomas, por já estar sendo
medicado na prisão.
Não devemos confrontar suas crenças, pelo risco de sermos agredidos; a presença da
escolta em nada o intimida. Caso a agitação seja incompatível com o exame, encaminhamos o
periciando para ser medicado em um serviço de emergência e marcamos o exame para outra
data.
Entrevistas com familiares podem nos ajudar a esclarecer o curso da doença, e a pesquisa
em prontuários pode nos revelar sua condição psíquica, em data mais próxima do evento.
A Lei manda que esse doente seja sentenciado com uma medida de segurança e internado
em manicômio ou similar para se submeter compulsoriamente a tratamento. Posteriormente,
uma vez por ano (ou a critério do magistrado), será levado ao IML para Exame de Cessação de
Periculosidade, no qual analisaremos todos os pontos descritos no tópico periculosidade. Nessa
ocasião, retornará com o comportamento abrandado pela medicação e tentará dissimular os
sinais de sua enfermidade, pois acredita que só obterá a liberdade se “passar no exame do
IML”.
2 - HISTÓRIA CRIMINAL
a) DENÚNCIA
Lê-se às folhas 02 a 04 dos autos que no dia xxxx, em torno de xxxx, na Quadra xxx, Avenida
xxxx, em frente ao supermercado xxxx, xxxx/DF, o denunciado efetuou golpes com canivete
contra dois policiais militares, chegando a atingir um deles na mão esquerda, após tentar
subtrair para si salgados e sucos na Lanchonete xxxx. Está incurso nas penas dos artigos 121 e
157 do CPB.
b) VERSÃO DO EXAMINANDO
“Eu passei lá perto da lanchonete, pedi um suco, o cara não quis me dar. Eu simples-mente
fui embora. Não sei o que aconteceu lá, eles chamaram a Polícia. Chegou e prendeu eu. Eu não
queria vir preso não, mas não teve jeito não. Ele falou: ‘Encosta aí!’ e já foi me derrubando e me
pisando lá. Não vou mentir não, eles achou um canivete no meu bolso que era para eu picar
meu fumo de rolo.”
3 - ANAMNESE
a) ANTECEDENTES FAMILIARES
Não conheceu o pai. Não sabe a idade da mãe. “Ela tem um problema de deficiência, toma
remédio controlado, não consegue trabalhar. Ela arrumou um padrasto lá que não gostava de
mim. Eu saí de casa, fiquei andando de um lugar para outro. Tem mais ou menos um mês, ela
foi lá no CDP. Eu conversei com ela, mas ela estava chorando”. Possui dois meios-irmãos mais
jovens por parte de mãe. “Um trabalha na delegacia em xxxx, não sei o que é que ele faz não; o
outro mexe com obra”. Faz referência a um tio materno que abusa de álcool. Desconhece casos
de uso de drogas ilícitas entre os familiares.
b) CURVA DE VIDA
Não prestou o serviço militar obrigatório. “Assinei só um papel lá, não sei como é que foi
não. Parece que eu fui liberado porque morava num distrito lá”.
Diz que começou a trabalhar com seis anos de idade ajudando o avô no garimpo. “Já
trabalhei demais na minha vida. Trabalhei carregando terra, areia, era chapa de caminhão.
Serviço bruto é comigo mesmo. Trabalhei fichado no Aeroporto de xxxx em tudo quanto era tipo
de serviço: fazia massa, carregava cimento... Fiquei lá quase um ano. O último (emprego) foi
fazendo tijolo e telha em xxxx. Saí de lá porque tive um surto de ficar gritando. A Polícia me
pegou, me levou para um lugar lá, me deram uma injeção, o patrão não quis eu mais não”.
Revela que vive em Brasília desde outubro/09. “Eu não mudei para cá não, vim só escrever
uma carta para o Presidente. A Revista Mundo Cristão. Peguei uma informação no Palácio da
Alvorada. Escrevi quinze páginas explicando a revista. É espírita. A revista já é resumido. Tinha
certeza que ele não ia receber a revista. Depois que saiu essa revista, já saiu muito jornal que os
caras estava lendo lá no Presídio...”.
Nega prisões anteriores, no entanto, admite que já teve envolvimento com a Polícia. “Tinha
uns negócio de briga com meu irmão. Minha mãe foi e chamou a Polícia e pegou eu. Nem
encostei a mão em ninguém”.
Afirma que nunca namorou, nunca viveu com companheira, tampouco manteve contato
sexual. “Por último agora estava na casa de um irmão meu que é casado já. Ele falou para eu
procurar um lugar porque a casa dele é pequena. Foi o tempo que essa revista caiu na minha
mão. Só fabricou noventa e quatro (exemplares) na França. Cada uma custava cem mil reais. Foi
um cara do Sedex que chegou caçando um endereço de uma dona. Só que não foi a dona que
fez o pedido dessa revista e ela não quis a revista. O menino foi e entregou na minha mão. Na
capa da revista tem a Nossa Senhora do Palácio, é vermerada, colicronada...”.
Nega a prática de atividades de lazer. “Não tinha diversão, não. Era só serviço. De vez em
quando, dia de domingo, soltava papagaio lá. Morei com meu avô até os doze anos, o velho só
queria que eu trabalhasse. Quando não tinha chuva, eu ia para o garimpo; quando vinha a
chuva, eu voltava para a cidade. Meus amigos mais era os garimpeiros. Nós jogava um baralho,
coisa assim.”
Com relação aos hábitos tóxicos, conta: “Eu fumo é toda hora. Isso é desde os doze anos.
Estou aqui já doido para fumar um cigarro. Nunca gostei de beber não, quando bebo um
pouquinho o estômago fica ruim, eu não gosto não. Maconha, só experimentei com doze anos.
Fiquei tonto, só fiz foi dormir, não quis mais não”.
Nega passado cirúrgico e convulsivo. Informa que faz tratamento psiquiátrico desde os
vinte e um anos de idade.
c) HISTÓRIA CLÍNICA
“No começo estourou assim, do nada, uma carga de espírito veio em mim. O poder do bem-
te-vi foi revelado. Eu fui e coloquei o boné, aí a Polícia me pegou. O ano passado eu estive no
Sanatório. Fiquei uns dois meses lá porque eu estava meio fraco, não me alimentava porque
ninguém me aceitava em casa. Fiquei lá para dar uma recuperada. No começo tomei Haldol,
Amplictil, Lítio, Rivotril, Neozine e tomava injeção de Decanoato, quatro ampolas de quinze em
quinze dias. Ficava lá no xxxx. Quando eu vim para cá acabou os remédios, eu fiquei sem eles.
Estou sentindo meu corpo ruim demais, um mal-estar muito grande. Estou tomando uns
remédios lá, mas é os remédios é errado. Eu penso, penso, e não penso nada. Não durmo, fico
andando de um lado para outro, converso demais. Os caras diz que eu sou doido, vejo a hora
eles me dar uma surra lá dentro”.
4. EXAME MENTAL
O relatório emitido em 09.02.10 pela Dra. xxxx, psiquiatra do Hospital xxxx/DF (onde foi
atendido conforme GAE xxxxx do dia xxxx), recomenda sua internação em local protegido e
sugere a prescrição de Haloperidol, Prometazina e Neozine.
6. DIAGNÓSTICO
7. CONCLUSÃO
a) DO JUÍZO
b) DO MINISTÉRIO PÚBLICO
1º) Era inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato em virtude de doença
mental.
3º) Era inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato em virtude de doença
mental.
4º) Era inteiramente incapaz de determinar-se adequadamente em virtude de doença
mental.
c) DA DEFESA
1º) Era inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato em virtude de doença
mental.
3º) Era inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato em virtude de doença
mental.
2. HISTÓRIA CRIMINAL
Lê-se nos autos que no dia xxxx, no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília/DF, a
denunciada trazia consigo três “pacotes” de cocaína, pretendendo transportar a droga para o
exterior em vôo da xxxx para xxxx. Está incursa nas penas do artigo 33 da Lei 11.343/06.
Depois de informada de que suas declarações não estarão sujeitas a sigilo médico e
cientificada sobre seu direito de permanecer calada diante de qualquer pergunta, a pericianda
relata o que se segue:
“Nasci na Itália. Fiquei presa no Brasil por tráfico de droga. Já tinha vindo aqui antes. Tinha
passado uma semana com um menino no carnaval e depois voltei na quaresma (época do
delito). Eu não sabia que levava droga. Acho que foi esse menino que colocou (em sua bolsa)
porque eu fiquei com outra pessoa. Não gosto de ter um parceiro só, sou liberal. Tenho passa-
porte internacional. Estudei até o terceiro ano e me especializei em inglês de atendimento ao
público, mas trabalho em barco, é tradição de família. Fora da temporada de pesca trabalho
como garçonete em hotéis. Minha morada fixa é na casa da minha mãe, mas eu alugo aqui,
alugo lá... Não gosto de ficar só em um lugar. Meu namorado fixo está em Florença, esse
menino (com quem estava no Rio de Janeiro) é angolano, conheci na França. Fico com ele
quando brigo com meu namorado. Tive um problema (judicial) uma vez que entrou polícia na
casa do meu namorado, máfia internacional de roubo por internet, mas não fiquei presa. Há
oito anos faço tratamento psiquiátrico, tenho depressão e mania. A primeira vez foi com dezoito
anos, depressão profunda, tentei suicídio. Tinha rompido minha relação com meu primeiro
namorado. Tomei medicamento calmante para dormir, tudo junto com uísque. Não fiquei
internada, fui ao hospital fazer lavagem gástrica e minha família cuidou de mim. A primeira
crise de mania foi com vinte anos. Eu estava grávida e meu segundo namorado rompeu comigo.
Fiz o aborto porque sou Rh negativo. Não sei contar quantas crises depressivas já tive. É um ano
sim, um ano não... Quando estou deprimida não faço nada, fico na casa da minha mãe como se
estivesse presa, não encontro o sentido da minha vida. A crise dura de quatro a cinco meses.
Não gosto de usar medicamento, quero sair sozinha da crise porque os remédios viciam. Só
interno quando estou maníaca, tenho oito ingressos no hospital. Fico de uma a duas semanas
internada. Quando passa a alucinação, tenho vergonha das coisas que eu faço quando estou
maníaca: bebo, brigo, quebro coisas; às vezes agrido, tiro a roupa, tenho ataque de ira. A última
vez (crise maníaca) foi em fevereiro de 2008. Meu medicamento (estabilizante do humor) tem
que ser contínuo. Agora estou tomando Valproato 750 e Fluoxetina 20. Só não tomo quando
consumo droga, não mesclo remédio com droga. Tinha parado (a medicação) dia 28 de abril
quando cheguei da França. O psiquiatra acha que eu não tomo porque cada vez que eu saio de
casa, minha mãe diz que eu não estou usando. Ela me quer direto dentro de casa porque eu
tenho essa enfermidade. Tenho dois tios que têm problema. Um nunca trabalhou, vive com a
mãe, e outro está aposentado porque não trabalhava direito. Minha mãe trabalha em limpeza
numa escola. Tenho duas irmãs (por parte de mãe), são de outros pais. Uma de vinte e três que
está terminando faculdade e outra de quatro anos. Resolvi vir para cá porque tinha acabado de
fazer teste para dirigir carro e não passei. Gastei dois mil euros e não consegui, foi a terceira vez
que eu tentei e não passei. Acredito que foi porque vinha um pedestre e eu não parei, e outra
vez, o instrutor me mandou pegar a primeira à direita e não deu tempo de eu virar o carro.
Queria a carteira porque viajo muito e avião está muito caro. Pedi ao meu namorado dinheiro
para fazer mais aulas e ele não me deu, aí nós brigamos. Estava no Rio, só estava fazendo
escala em Brasília. Só passei nove dias (no Brasil), já tinha comprado a passagem de volta. Vim
só curtir férias. Acho que não estava perturbada (à época do delito). É meu caráter estar de um
lugar para outro, gosto de viver a vida. Não tenho marido, não tenho filho, não tenho trabalho
fixo, não tenho nada a perder. Uso cocaína, maconha e álcool desde os dezessete, mas a
cocaína é só nas férias. Minha mãe acha que eu fico maníaca quando uso cocaína. Eu cheiro
pouco, um grama dá para dois dias. Quando estou trabalhando no barco, não uso droga. Depois
de ter pegado o peixe e vendido, bebo uísque e fumo (tabaco) com meu tio e meu primo.
Maconha me dá enjôo no barco, uso quando estou tranquila na casa do meu namorado ou de
meus amigos assistindo televisão. Na noite anterior (ao delito) não usei cocaína. Fumei
maconha e dormi porque não gosto de dormir no avião. Acordei, tomei banho, peguei minha
mala, peguei o táxi e fui para o aeroporto. Eu realmente não sabia que estava com essa droga
dentro da bolsa. A cadeia é melhor do que eu pensava. Só está ruim porque não tenho dinheiro.
Não tenho absorvente, sabonete, papel higiênico, creme para o corpo. O que eu quero é casar-
me com um homem que tenha dinheiro. Eu procuro um cara perfeito, se não conseguir, vou
continuar pescando.”
4. EXAME MENTAL
5. INSPEÇÃO FÍSICA
Pericianda em bom estado geral, tem compleição normolínea com sobrepeso. Eupnéica,
hidratada, normocorada, acianótica, anictérica, sem edemas ou dismorfias. À ectoscopia não
observamos estigmas de interesse médico-legal. Fala, marcha, equilíbrio e coordenação sem
anormalidades.
6. RELATÓRIOS MÉDICOS
Constam nos autos vários documentos médicos emitidos na Itália que comprovam que
desde os dezoito anos a examinanda teve vários atendimentos e internações psiquiátricas, em
decorrência de episódios depressivos e maníacos. O diagnóstico formulado foi de transtorno
afetivo bipolar. O mais recente, assinado pela Dra. xxxx, datado de 04.06.09 (um mês após o
delito). Informa que a examinanda tem sido acompanhada naquele Serviço desde 2002, de
forma ir-regular, devido à baixa adesão por parte da paciente. Conta com oito internações
psiquiátricas, tendo sido a última em abril de 2008, por apresentar episódio maníaco com
sintomas psicóticos. Durante as crises de mania, costuma manifestar agressividade, desinibição
sexual, delírio, abandono do cuidado pessoal e fugas do domicílio sem rumo predeterminado. O
último atendimento ocorreu em 04.03.09, encontrando-se na ocasião “relativamente
estabilizada e realizando o tratamento prescrito: Depakene”. Não compareceu à consulta
agendada para 13.05.09.
O relatório emitido em xxxx pelo médico do Presídio, Dr. xxxx CRMDF xxxx, revela que a
interna vem sendo acompanhada pela psiquiatria e pela clínica médica, desde 05.06.09,
fazendo uso regular de Depakene 500mg/dia, Fluoxetina 20mg/dia e Hidroclorotiazida
25mg/dia. Apresenta boa evolução clínica em que pese haver eclodido “surto psicótico em julho
de 2009 (dois meses após o delito), no qual foi prontamente atendida e melhorou
rapidamente”.
7. CONCLUSÃO
Trata-se de periciada portadora de doença mental que evolui por surtos e caracteriza-se
pela ocorrência de intervalos lúcidos nos períodos intercríticos. Por estar nesta condição à época
do crime, possuía total capacidade de entendimento e autodeterminação. Não existiu nexo
causal entre a enfermidade e o delito. Era, portanto, imputável. Necessita de acompanhamento
médico, por tempo indeterminado, no momento, em regime ambulatorial.
16º) No momento é capaz de compreender a acusação, recordar dos fatos e condutas que
praticou e auxiliar sua defesa.
10º) De acordo com os autos, constam registros médicos de adoecimento psíquico a partir
do ano de 2000.
Os crimes relacionados aos transtornos neuróticos são praticados por mulheres: omissão
de cuidados ao filho recém-nascido, por depressão pós-parto grave, sem sintomas psicóticos;
agressão física e injúrias proferidas durante episódio dissociativo; pequenos furtos cometidos
por cleptomaníaca...
Por serem crimes considerados de baixo potencial ofensivo, as acusadas quando vêm à
perícia estão em liberdade condicional. Colaboram com o trabalho pericial e empenham-se em
parecer “incapazes”. Trazem toda a sorte de exames, rela-tórios, receitas e caixas de remédios
para comprovarem a perturbação.
“Trata-se de periciada portadora de perturbação da saúde mental, condição que não altera
seu entendimento; todavia, compromete parcialmente sua capacidade de determinar-se de
acordo com esse entendimento, tornando-a semi-imputável. Necessita de tratamento médico e
psicológico, no momento, em regime ambulatorial e do auxílio da família no sentido de aderir às
medidas terapêuticas propostas.”
Os crimes mais graves contra a vida, ou de natureza sexual, são cometidos por homens:
atentado público ao pudor reiteradamente repetido por exibicionista; estupro contra criança
praticado por pedófilo; homicídio cometido por indivíduo portador de transtorno de
personalidade dissocial.
Esse indivíduo chega escoltado por policiais e não se importa em disfarçar sua hostilidade
para com o perito. Sua postura é descompromissada ou desafiadora, mostra-se pouco
cooperativo com a entrevista, desqualifica o trabalho pericial e apresenta um senso ético
distorcido.
2. HISTÓRIA CRIMINAL
Consta nos autos que no dia xxxx entre 19h50 e 20h00, no interior de um ônibus coletivo da
empresa Viação xxxx, que se encontrava na altura da lanchonete xxxx, Quadra xxx, sentido
sul/norte, Asa xxxx/DF, o denunciado subtraiu para si, mediante grave ameaça empreendida
com uso de arma de fogo contra o cobrador xxxx, a quantia de duzentos e oitenta reais
pertencentes à Empresa.
No dia xxxx (no mês seguinte), por volta de 12h45, na agência Empresa de Correios e
Telégrafos localizada na Avenida xxxx, o denunciado subtraiu, mediante grave ameaça
empreendida com uso de arma de fogo, um colete de proteção balística que se encontrava na
posse de xxxx.
No dia xxxx (dez dias depois), por volta das 23h30, na parada de ônibus situada na Quadra
xxxx, o denunciado, mediante grave ameaça empreendida com uso de arma de fogo ,subtraiu
vários objetos pertencentes a xxxx, xxxx, xxxx e xxxx.
No dia xxxx (um mês depois) fazendo uso de colete de proteção balística anteriormente
roubado, efetuou disparos de arma de fogo contra vigilantes do carro-forte do Banco xxxx,
causando a morte de um deles. Em seguida, utilizando-se de identidade falsa, na
Rodoferroviária, comprou passagem para xxxx, permaneceu algumas horas no local de destino
e retornou a Brasília/DF.
No dia xxxx (duas semanas depois), por volta das 06h30, na Rodoviária do Plano Piloto,
constrangeu o taxista xxxx a tolerar que saísse do veículo sem pagar a corrida. Diante da
resistência da vítima efetuou disparos de arma de fogo, causando-lhe a morte.
“Não tenho nada não. Não sinto nada não. Estou tentando ler a Bíblia, dizem que é bom
pra dormir. Tem um povo lá que faz muito barulho. A comida é um lixo, mas desce. Não vou
fazer nada não (avaliação psicológica). Eu meti a faca em mim mesmo (referindo-se às cicatrizes
do membro superior esquerdo). Você está achando que eu sou um bandido, perigoso, matador.
Sou um bandido. Pronto. Não tenho família, moça, não tenho p... nenhuma. Sou totalmente
psicopata. Vou logo acabar com isso (entrevista). O que me dar prazer é ver o sangue escorrer.
Sempre gostei da morte. Não sei dizer quantos matei, mas matei muitos. Isso é perda de
tempo, já falei que não tenho problema nenhum. Estou f... mesmo. Eu tinha: matar um milhão
de pessoas. Eu subia o cerrado sempre, o problema é que sempre aparecia um idiota para me
incomodar. Aparecia alguém dos quintos dos infernos. Sou um cara ruim, sou um cara mau.
Desde criança. Já comecei matando passarinho, depois fui matando gato, depois os cachorros.
Vamos deixar o que está no papel, porque posso pegar mais cadeia (com relação a outros
crimes). Estou algemado, sendo carregado por esses camaradas. Eu tava tentando me matar,
mas os outros presos falaram que eu tinha era que matar os outros. Meu objetivo é outro, é ter
paciência, não ficar mais daquele jeito (agressivo no cárcere). Só pra eles me quebrar na p...? Eu
queria estar em cima do cerrado, à noite para ver a lua, sozinho. Como eu fui me meter nessa
situação? Já fumei muita maconha quando tava na cela com outros presos. Acho que eu tentei
mudar, ser bom sem ser. Sempre trabalhei de ajudante de obra. Quando eu era criança morava
no Gama, tinha um padrasto, tinha mãe, tinha tudo. Eu passava todo dia pela mata para
comprar leite. Quando eu estou voltando, eu vi uma pessoa de olho frio. Nunca quis namorada.
Sempre fui apaixonado pela morte. Sempre gostei de matar. É uma mulher bonita, meio vulto.
Eu não podia ficar muito tempo sem matar. Minha mãe sempre me expulsava de casa por causa
disso. A gente brigou (referindo-se ao padrasto), eu meti a faca nele. Ele agredia, só que um dia
eu falei: isso vai ter que acabar! Maldita hora que minha mãe resolveu me criar. Passei a
infância sendo menino de rua. Dormia de baixo de bloco, de ponte. Já pedi dinheiro, já engraxei
sapato, já roubei. Se eu não tivesse algemado aqui todo mundo ia ficar doido. Uma pessoa
normal não gosta de matar e eu gosto. Sempre que alguma coisa vai acontecer ouço um
passarinho em cima da minha cela. Sempre gostei de mata, de ficar sozinho. Sempre gostei de
ficar na bica da xxxx. Geralmente quando me acontecia alguma coisa ruim, uma coruja vinha
me avisar, alguma coisa acontecia. Eu comprei uns filmes e pensei como ia conseguir uma arma
com um real. O que vocês não sabem é melhor não saber porque vai me prejudicar. Vocês
querem f... comigo. Eu consegui a arma, tomei do cara. Fui fazer um assalto. Minha mãe gritava
muito, ela bebe demais. Eu fui morar de aluguel e comecei a comprar uns filmes de assalto e fui
fazendo assalto. Comprava filmes de Bruce Lee. Seu xxxx me vendia três por dez. Teve um
(roubo que praticou) que o cara morreu, mas eu não tava nem aí, f...-se. Fui assaltar um carro-
forte. Quase que eu consigo, mas o carinha começou a atirar em mim.”
4. EXAME MENTAL
Periciando chega ao Instituto conduzido por policiais civis, algemado pelos punhos e
tornozelos. Apresenta-se em boas condições de higiene corporal, trajando vestes apropriadas.
Mostra-se extremamente hostil, a presença da escolta em nada o intimida. Pouco cooperativo
com a entrevista, chega a sorrir demonstrando prazer em responder às perguntas de forma
agressiva. Consciência psíquica lúcida. Humor ansioso, mexe as pernas ininterruptamente.
Pensamento coerente. Não verbaliza ideias delirantes nem parece experimentar alucinações no
momento deste exame. Raciocínio claro. Juízo crítico de realidade preservado e ético
rebaixado.
“O pai do xxxx era doente, louco da cabeça. Vivia mais era nas clínicas lá em xxxx. Ficava
todo amarrado. Quando não estava internado, corria para os matos. Me separei dele e vim com
outro para cá. Trouxe o xxxx com cinco e a xxxx, essa que fez catorze agora, que está grávida.
Vim com outro marido que morreu de cirrose, ele bebia. Tive três filhos com ele. Tive outro
marido, que foi até visitar ele (na prisão). Eles se davam bem. Ele (terceiro companheiro) teve
que ir para onde está a família dele. O xxxx começou a andar com um ano e pouco e a falar com
quase dois. O xxxx me dava trabalho desde pequeno. Com cinco anos ele começou a sumir para
o córrego. Se escondia, desaparecia mais os amigos, não queria voltar para casa. Passava era
de dois dias eu procurando ele, teve uma vez que passei uma semana sem achar ele. Foi para a
escola com dez anos. Aprendia fácil, mas todo ano ele não passava porque rasgava os cadernos.
Penso que ele só sabe ler e escrever pouco. A professora ia lá em casa reclamar dele quase todo
dia. Ele era nervoso, não tinha paciência, metia a cadeira na cabeça dos outros, furava os
colegas de lápis. Não gostava que ninguém reclamasse, se vingava nos moleques. Quando eu
dizia que ia bater nele, ele ficava com ódio, fechava as mãos e ficava com a cara feia, mudava a
feição. Só dei uma pisa nele. Foi quando ele matou seis pintos meus de pau. Ele tinha essa
mania/Matava tudo quanto era gato e cachorro da rua. Quebrava garrafa e arrochava nos
bichos. Matou um cachorro meu com barbante. Teve outra, a bichina estava grávida, ele
amarrou ela de cabeça para baixo e matou. Já teve vezes de ele se cortar com lâmina ou então
caco de garrafa. Quando estava com raiva, ele saía para correr, voltava suadinho. O que ele
gostava mesmo era de se trancar naquele quarto e passar três dias ouvindo essas fitas de
negócio de morte, de gente abrindo os corpos dos outros. A estante está lotada. Fazia tudo
(urinava e defecava) dentro de uma vasilha, quando saía, rumava no mato. Aqui em casa é só
um vão. Nós divide com lençol. Só o quarto dele tinha porta. Ele fechava de corrente. Comigo ele
sempre foi carinhoso, estava sempre do meu lado. Quando eu estava doente, ele cozinhava e o
primeiro prato era o meu. Também nunca agrediu os irmãos. Ele estava morando de aluguel
tinha uns seis meses. Saiu daqui porque não aguentava o barulho dos meninos. Xingava:
‘Desgraça, tenho vontade de matar vocês!’. Ficava agoniado quando via as coisas faltando
dentro de casa. Às vezes queria um doce, não tinha, ele dava murro na parede. Nunca teve
preguiça para trabalhar. Sempre estava fazendo um bico. Ajudante de pedreiro, descarregando
caminhão, capinava um lote. Era controlado com o dinheiro dele, o sonho dele era morar só. Me
ajudava a pegar sobra de verdura no mercado. Às vezes dava uma crise nele, dizia que tinha um
homem querendo pegar ele. ‘Alguém quer me matar, tem alguém me chamando debaixo da
cama’. Se abraçava mais essa menina (irmã de doze anos). Quando ele tinha treze anos, um
menino atirou uma bola de gude no estilingue e pegou na cabeça dele que entrou. Acho que
ainda está lá dentro. Fez um buraco, saiu muito sangue, mas ele não quis ir no hospital. Ele já
foi atendido no Hospital xxxx, no Hxxxx e no Hxxx. A primeira vez que ele passou mal (convulsão)
foi com nove anos. Acho que dava de semana em semana. Ele estava quieto, começava a
tremer, saía espuma de sangue da boca dele, se mijava todo. Uma vez caiu na pista correndo.
Quando tomava remédio parava de cair. Não sei o nome não. Não sei se ele está tomando
agora não. Nunca mexeu com droga, meu filho não tem vício nenhum. Não gostava de amizade
com ninguém, nem falava com vizinho. Só namorou uma menina, tinha uns quinze anos. Diz que
não quer ter mulher para sofrer. Nunca vi ele pegar nada de ninguém. Fiquei sabendo quando a
Polícia veio aqui. Na minha casa ele nunca trouxe coisa dos outros. Essa é a segunda vez que ele
foi preso. A outra foi com treze ou catorze anos, acho que foi negócio de briga. O que eu sei
desse (crime em questão) é que ele pediu uma carona, disse que não tinha dinheiro e na hora de
descer, o taxista travou a porta de trás e já foi batendo nele. Dentro da minha casa ele nunca
possuiu arma. Quando disseram que meu filho tinha um revólver, eu não acreditei. Só fui ver ele
uma vez (na prisão) porque minha identidade estragou e eles não querem tirar outra porque eu
não tenho o registro de nascimento. Ele me abraçou do mesmo jeito, calado. Só disse para eu
não ir mais para não passar humilhação. Eu tenho para mim que meu filho não vai viver muito
não.”
6. EXAMES COMPLEMENTARES
O Parecer Psicológico nº xxxx/09, cuja cópia segue anexa, revelou satisfatório contato com
a realidade, embora apresente falta de contensão dos impulsos, controle emocional deficitário e
utilização inadequada do potencial intelectivo, características que lhe conferem alto grau de
periculosidade.
7. PESQUISA EM PRONTUÁRIO
8. DIAGNÓSTICO
Transtorno de personalidade dissocial. F 60.2 - CID 10.
9. CONCLUSÃO
Trata-se de periciado portador de perturbação da saúde mental, condição que não altera
seu entendimento, porém compromete parcialmente sua capacidade de autodeterminação.
Necessita de acompanhamento psicossocial, por tempo indeterminado, em regime de
internação em local de onde não possa evadir-se. O uso de psicofármaco poderá abrandar seu
comportamento violento de origem caracterológica. A periculosidade está vinculada ao
transtorno mental e o prognóstico é sombrio.
a) DO MINISTÉRIO PÚBLICO
b) DA DEFESA
9. Não é possível prever quando e até mesmo se haverá remissão do quadro clínico.
Pedofilia
Como fizemos com o transtorno de personalidade dissocial, consideramos importante
discorrer sobre pedofilia, assunto que tem sido alvo de interesse e equívoco, por ser divulgado
pela mídia como sinônimo de abuso sexual infantil, ou mesmo, como um tipo de crime. “Mais
um caso de pedofilia foi descoberto...”
Pode ocorrer na forma leve: o indivíduo é afligido pelo imaginário, mas nunca o pôs em
ação; moderada: o imaginário é ocasionalmente transformado em ação e o funcionamento
social pode estar comprometido; ou severa: os impulsos são repetidamente postos em ação e
outros funcionamentos estão prejudicados pela perversão. A satisfação erótica pode ser obtida
apenas com a visualização e disseminação de fotos e cenas de conteúdo pedófilo, observação
de criança despida, exibição dos genitais para a criança, masturbação na frente da criança, ou
logo que ela saia; tocar, acariciar a criança; obrigar que a criança o masturbe ou pratique
felação; penetração nos orifícios da criança com objetos, com os dedos, ou com o pênis; ferir
gravemente ou matar a criança. Os crimes praticados pelos pedófilos vão desde “fotografar
criança ou adolescente em cena pornográfica ou de sexo explícito” até o “homicídio”.
Oitenta e sete por cento dos casos de abuso sexual contra crianças são praticados dentro
da própria família (incesto) e não consistem atos de pedofilia.
O pedófilo é mais conhecido dos psiquiatras forenses do que dos clínicos. Não há um perfil
único que o caracterize, contudo, alguns sinais podem distingui-lo do que chamaremos de
abusador doméstico.
Na avaliação psicológica de um pedófilo, os testes podem revelar: imaturidade afetiva em
descompasso com a idade cronológica e o potencial cognitivo; labilidade emocional; pouco
controle dos impulsos; predomínio da energia instinitiva; sentimento de vergonha, angústia;
introjeção negativa da figura humana adulta; projeções ligadas ao mundo da criança;
interpretações infantis para as questões propostas pelo psicólogo forense.
a) Indivíduo que possui inteligência abaixo da média populacional, sem que o baixo
rendimento cognitivo configure retardo mental (QI entre 70 e 89).
b) Indivíduo que, embora tenha um caráter malformado (falha educacional), com a escala
de valores destoante das regras sociais, não preenche os critérios adotados para caracterizar
nenhum distúrbio mental.
* Pai, avô, tio, padrasto que abusa de criança sob várias alegações falsas. Algumas vezes
atribui à bebida ou à droga que, com muita frequência, consome. Mais uma vez, importa para o
perito definir qual seu estado psíquico anterior ao uso voluntário da substância. Esse indivíduo
costuma espancar as crianças com a desculpa de “educá-las”; na realidade, com o objetivo de
saciar seu impulso agressivo.
2. HISTÓRIA CRIMINAL
Periciando com vasta lista de crimes sexuais praticados contra menores. É conhecido do
nosso Serviço por haver se submetido a várias perícias psiquiátricas nas quais foi considerado
periculoso, advindo daí sua prolongada internação na ATP.
“Estou preso desde o dia quinze de dezembro de 98. Que eu me recorde, nesse período que
eu estou preso vim (no IML) em 2001 e no dia xxxx de 2006. Já estive aqui em 99, no início do
processo, e em outras épocas anteriores. A primeira vez que eu fui para Papuda foi em 1992.
Essa é a segunda (prisão). Da primeira vez eu fiquei dois anos, dez meses e quatro dias, depois
fui transferido para uma clínica, xxxx, onde fiquei em torno de cinco meses. Sempre atentado
violento ao pudor. A princípio, eu não enxergava o meu problema. Eu imaginava que o
problema estivesse nos outros. Estive internado em clínicas várias vezes. Tive laudos de dupla
personalidade e de ausência porque eu sou epiléptico. Percebi bem próximo de 91 para 92. Esse
problema começou na minha adolescência. Eu não me sinto como pedófilo. Eu sei que não é
algo normal, mas me comparando com a televisão (crimes sexuais divulgados pela mídia),
jamais cheguei a tanto. Nunca usei a força. Praticava sexo oral. Quando chegava em casa, me
sentia mal com o que tinha acontecido (culpa pelo delito cometido). Era mais forte do que eu (o
desejo de manter contato sexual com crianças). Nunca consegui ter uma vida hétero, sinto um
sentimento muito grande de rejeição (por parte de mulheres adultas). Algumas vezes eu
mantinha uma aproximação, mas me continha. Cheguei a procurar um grupo de apoio na UNB,
só que na época estavam com as vagas preenchidas. Fiquei sete anos e meio trabalhando na
faxina (na prisão). Hoje eu estudo supletivo de quinta a oitava e faço artesanato, baús com
palitos de picolé. Recebo visitas muito dificilmente, só da minha mãe. Pedi para que fosse
encaminhado para uma clínica, mas se eu for direto para rua, procurarei me manter
(financeiramente) através de algum serviço da VEC (hoje VEP). Sinto uma grande necessidade
de manter um acompanhamento (psicológico) na rua, quero saber lidar com essa situação. Às
vezes, quando assisto novela, sinto uma atração para prestar a atenção nos meninos. Tenho
uma necessidade de uma amizade com meninos. Com a convivência na rua, talvez eu tenha
uma recaída. Quando eu era criança fiz vários acompanhamentos. Fui violentado dos quatro
aos sete anos por um vizinho, parou quando nos mudamos. No xxxx também aconteceu a
mesma coisa quando eu tinha dez, doze anos. Os laudos que eu fazia acusavam que eu não
tinha uma compatibilidade mental com a minha idade cronológica. Tomo remédio apenas para
pressão: Captopril e outro que eu não sei o nome. Deveria tomar um remédio para epilepsia,
mas há mais de um ano cortaram porque levantou-se a suspeita de eu estar comercializando
medicamento lá dentro. Isso porque eu estava deixando para tomar o Gardenal da manhã na
hora do almoço quando retornava da aula.”
4. EXAME MENTAL
Periciando chega ao Instituto escoltado por policiais civis. Apresenta-se em boas condições
de higiene corporal, trajando vestes apropriadas, sem esmero pela aparência. Mostra-se
cooperativo com a entrevista, respondendo às perguntas com excesso de detalhes. Pensamento
lentificado e prolixo. Globalmente orientado. Sem distúrbios da atenção, memória ou
motricidade. Não verbaliza ideias delirantes nem parece experimentar alucinações de qualquer
natureza. Raciocínio claro. Juízo crítico de realidade preservado. Pragmatismo mantido.
“Gostaria de poder obter a minha liberdade de imediato e procurar um apoio psicológico
independente da Justiça. Pretendo procurar o Serviço de Psicodrama de Brasília onde existe uma
possibilidade de fazer um pagamento mínimo. Não que eu vá cometer (novamente o delito),
mas para que eu possa me conhecer, para que eu não caia nessa tentação de novo. Com certeza
teria uma ajuda (financeira) da minha madrinha. Eu não posso dizer que não vou mais fazer
nada errado porque eu já saí e retornei para o Sistema. Mas, eu já perdi a minha saúde e a
minha moral. Lá dentro (da prisão) a gente é desprezado, discriminado pelo meu problema.
Espero ser uma pessoa digna de poder ir para rua.” Apresenta tumoração em região axilar
esquerda compatível com adenomegalia.
O relatório emitido pela Psicóloga xxxx no dia 17.09.08 sugere que o sentenciado seja
internado em uma das três instituições citadas que possuem convênio com o SUS em SP ou MG
(Instituto xxxx, Clínica xxxx ou Sanatório xxxx).
6. CONCLUSÃO
A criança (até doze anos), ou adolescente, que vem encaminhado pela Vara da Infância e
da Juventude, para exame, comete diversos tipos de atos infracionais: dano ao patrimônio
público, furto, roubo, lesão corporal, homicídio, estupro... Quando se trata de menor, o
diagnóstico formulado é de distúrbio de conduta - F 91 CID 10. Só se fala em transtorno de
personalidade a partir dos dezoito anos completos.
Chega escoltado por agentes da Delegacia da Criança e do Adolescente/DCA ou do CAJE,
outras vezes, acompanhado por familiar, com determinação judicial, para que procedamos ao
exame psicológico e psiquiátrico. O objetivo da avaliação é informar à Justiça se o infrator
padece de desenvolvimento mental atrasado, se é portador de outro transtorno mental, o grau
de periculosidade e qual o tipo de tratamento (medida socioeducativa) mais adequado.
O indivíduo surdo-mudo pode figurar como vítima de abuso sexual. Por outro lado, pode se
envolver em pequenos furtos, servir de “mula” para traficantes, ou praticar lesão corporal
contra pessoas do seu convívio, por interpretação defeituosa da comunicação. Mesmo para a
pessoa familiarizada com a linguagem labial, a compreensão pode ser imperfeita porque a
entonação, que modifica o sentido das palavras, não está ao seu alcance.
Essas perícias são pouco frequentes e, quando ocorrem, são intermediadas por pessoas
que dominam a linguagem brasileira de sinais/LIBRAS. Somos atendidos com presteza, ao
solicitarmos um professor do Centro Educacional da Audição e Linguagem/CEAL. O trabalho
requer certa improvisação, pois grande parte desses periciandos não é alfabetizada e
desconhece a linguagem de sinais.
No caso em que aparece como vítima de crime sexual, a perícia é solicitada pelo delegado.
Compete-nos informar se o periciando possui capacidade de consentir que com ele se pratique
ato sexual e qual o dano psíquico causado pelo abuso que sofreu.
O periciando que apresentar inteligência abaixo da média populacional (QI entre 70 e 90) é
imputável, o retardado leve (QI de 50 a 69) é semi-imputável e o retardado moderado e grave
(QI abaixo de 50) é inimputável. Nas perícias criminais é essencial definir o grau de
comprometimento cognitivo pela psicometria, a menos que seja muito evidente ao exame
clínico.
Quando a vítima de abuso sexual é criança ou adulta, com retardo, e o crime não deixou
vestígios (ao ser examinada pela sexologia forense), antes de indiciar o acusado por crime de
estupro, o delegado, algumas vezes, pergunta se “é possível que a pericianda esteja inventando
o fato”. Possível é, mas nunca dispomos de elementos para responder a esta questão, nem
cabe a nós elucidar se o delito realmente ocorreu.
Estimamos que, em nosso Serviço, apenas cerca de cinco por cento dos indivíduos
submetidos a exame de dependência toxicológica sejam dependentes químicos. Os demais são
apenas usuários, às vezes, nem isso.
O relato do periciando, ou de familiares, não é suficiente para afirmarmos que ele seja
realmente usuário de droga; é necessário que tenhamos exame laboratorial, comprovando a
existência de metabolitos no sangue, ou na urina. Do contrário, diremos apenas “Refere uso
de...”
O fato de estar sob efeito de droga, no momento do crime, em nada altera sua
imputabilidade, a menos que tenha sido por caso fortuito, ou força maior.
2. DENÚNCIA
Lê-se às folhas 02 a 04 dos autos que no dia 25.02.10, o denunciado vendeu para o usuário
xxxx uma porção de crack e mantinha em depósito em sua residência sete porções da mesma
substância perfazendo um total de dois gramas e vinte centigramas. Está incurso nas penas do
artigo 33 da Lei 11.343/2006.
3. VERSÃO DO ACUSADO
“Eles me pegaram na porta da minha casa fumando. Passou um cara, eles disseram que eu
vendi droga para esse cara, sendo que eu nem tinha visto ele passar porque eu estava
alucinado. Sempre fui de usar, nunca fui de vender não”.
4. ANTECEDENTES FAMILIARES
Não chegou a conhecer o pai. “Ele morreu do coração quando eu estava na barriga da
minha mãe”. Mãe viva com sessenta anos, pensionista, goza de boa saúde. O periciando é o
caçula de cinco filhos, quatro homens e uma mulher. Todos os irmãos estão vivos. “Tem um que
é perturbado da cabeça, se trata no HPAP. Quando falta o remédio ele tira roupa e sai a pé.
Tem outro que foi preso roubando, 157, esse usa droga. Tem outro também que é mudo e
surdo. Quem cuidou de nós foi uma irmã mais velha que é de outro pai”. Desconhece caso de
suicídio e homicídio entre os familiares.
b) CURVA DE VIDA
Iniciou a vida acadêmica com cinco anos de idade. Nega punição por indisciplina na escola.
Refere várias reprovações, mas não se recorda em que séries. “Fiz até a quarta, fiquei no meio.
Parei com dezessete anos”.
Nunca exerceu atividade laborativa formal. Conta que começou a trabalhar com dezesseis
anos como ajudante de serralheiro. “Passei uns três meses e saí porque estava mexendo com
droga. Vigiava carro também”.
Não sabe informar quando se tornou púbere. Primeira relação sexual com dezessete anos.
Nega contato homossexual. Nunca morou com companheira nem tem filhos. “Sempre morei
com a minha mãe”.
Fuma cigarros de tabaco desde os catorze anos, atualmente meia carteira por dia. Nega
consumo de álcool. Afirma que começou a cheirar thinner e cola aos treze anos. “Com catorze
anos passei para merla. Depois que eu completei meus dezessete, parei o thinner e a merla e fui
para o crack. Parei porque estou preso. Enquanto tem, eu estou usando. Fumo dez reais e vou
atrás de mais dinheiro para comprar mais. Fico assustado, agoniado (enquanto está
intoxicado). Fico sem usar só um dia, quando não tenho dinheiro. No meio da semana uso
quando chego em casa, dentro de meu quarto. Quando chega umas seis horas da tarde, que eu
vejo que já tenho dinheiro, passo no lugar que vende e vou para casa. A última vez que eu usei
foi no dia que fui preso. Quando parei (por ocasião da prisão), senti abstinência, agonia de
querer usar e não ter. Fico pensando nela, tenho que fumar um cigarro (de tabaco) para
esquecer e conversar com um colega. Agora não sinto mais não. Nunca precisei roubar nem
tirar coisa de casa, só vendo coisa minha. Roupa, calçado que minha mãe me dá. Nega
atendimento em pronto-socorro por uso excessivo de droga. Diz que permaneceu dois meses em
uma instituição evangélica destinada a recuperação de dependente químicos. “Foi no ano
passado, na xxxx em xxxx/ DF”.
Descreve-se como uma pessoa sociável e trabalhadora. “Sou tranquilo, gosto mais de estar
na rua, tenho muitos amigos. Trabalho todo dia, só paro no domingo. Fico em casa dormindo e
assistindo televisão, no domingo tenho tempo para relaxar, para me alimentar. Quando estou
vigiando carro ali no sol, me sinto batalhador”.
Refere envolvimentos anteriores com a Polícia. “Na DCA eu fui uma vez que eu briguei com
meu irmão. De maior, eu fui só duas vezes na 25ª (DP) por causa que eles me pegaram na rua
com crack, mas no mesmo dia me soltaram”.
Nega passado cirúrgico, convulsivo e traumático com perda de consciência. Nega trata-
mento psiquiátrico. Assegura que nunca usou medicação controlada.
c) HISTÓRIA CLÍNICA
“Me considero viciado porque tem muito tempo que uso e não consigo parar. Parei só
quando estava na clínica (instituição religiosa), depois me envolvi de novo (afirma que nunca
usou na prisão). Cheguei na cadeia estava só o osso.”
5. EXAME MENTAL
Periciando chega ao Instituto escoltado por policiais. Aguarda a chamada com adequação.
Apresenta-se em boas condições de higiene corporal, trajando vestes apropriadas com
aparência simples. Diz não ter noção a que se destina a perícia. Mostra-se cooperativo com o
trabalho pericial. Consciência lúcida. Globalmente orientado. Humor eutímico. Pensamento
coerente, sem alteração de curso, ou de conteúdo. Não verbaliza ideias delirantes nem parece
experimentar alucinações de qualquer natureza. Inteligência mediana. Juízo crítico de realidade
preservado. Pragmatismo mantido, entretanto, não expressa planos concretos para o futuro.
“Imagino parar de usar isso aí e arrumar um emprego para mim trabalhar. Correr atrás”.
6. INSPEÇÃO FÍSICA
“Na época de escola nunca foi dedicado, tinha falta de interesse. Repetiu de ano várias
vezes, minha mãe era chamada porque ele aprontava, matava aula. Por volta dos onze doze
anos, começou a andar com amigos estranhos e a cheirar cola. Já não era tão dedicado, passou
para o desinteresse total. Nem completou direito a terceira série. Largou o colégio e foi vigiar
carro. Com a Polícia teve alguns episódios que eu só ficava sabendo depois. Em 2009 a Polícia
levou ele, depois soltaram, não sei o que ele fez. No começo desse ano, a Polícia achou duas
pedras com ele, mas ele só passou uma noite na delegacia. De ficar preso mesmo, a primeira
vez foi essa. Dessa vez agora, pegaram ele na frente da minha casa. As pessoas (compradores)
não iam dentro da casa da minha mãe. Tem uma quadra, a gente desconfia que era lá que ele
vendia (droga). Na verdade eu não quero me comprometer para não ter retaliação. De noite
ninguém dormia. Era gente chamando ele na porta, carro, bicicleta... Algumas vezes ele ficava
lá fora esperando, outras vezes ele estava lá dentro, os compradores chamavam ele. Anoiteceu,
começava o inferno. Ninguém consegue dormir por causa da confusão, do barulho. Nos últimos
tempos entrava dentro de casa sete horas da manhã. Passava a noite usando e vendendo. De
dia era mais disfarçado, mas de noite era demais. Depois da cola veio o thinner, com quinze veio
a maconha. Em 2008 ele vendeu o botijão de gás lá de casa, foi a única vez, depois disso nunca
mais tirou nada. O crack foi o último, percebi em 2009. Tinha algum lugar que ele guardava.
Levantava meio-dia, uma hora. À tarde também era entrando e saindo de dentro de casa. Antes
de 2009 era normal, depois começou a ficar agressivo. Nunca trabalhou fichado, a preguiça é
mortal. Fazia só um bico, ajudava num churrasquinho de vez em quando. Ao mesmo tempo que
ele vendia, usava. Nunca chegou a bater em ninguém dentro de casa não. Teve dia de chegar
drogado e quebrar as coisas dentro de casa. Em hospital ele só foi quando machucou o braço e
quando foi atropelado. Com psiquiatra ele nunca tratou. Em setembro de 2009 ele ficou menos
de um mês na xxxx em xxxx, mas lá é evangélico, não tem remédio não. Saiu porque começou a
se desentender lá dentro, ficar agressivo com o pessoal, acabou sendo expulso. Ele falava que
tinha parado uns dias, umas semanas, mas eu não acreditava porque ele sempre mentiu muito.
Ele sabia do risco, da consequência, só que não acreditava que acontecesse, ele mesmo falava
que nunca seria preso”.
8. CONCLUSÃO
Trata-se de periciado com histórico de uso de múltiplas drogas, que apresenta falha na
estruturação do caráter, condições que à época do delito, não comprometiam suas capacidades
de entendimento e autodeterminação. Era, portanto, imputável.
11) Não foi realizado exame toxicológico por ocasião da prisão, todavia, este fato em nada
altera nossa conclusão.
2. HISTÓRIA CRIMINAL
Lê-se às folhas 11 a 13 dos autos que no dia xxxx, por volta das 07h00, o denunciado foi
preso nas dependências da Universidade de Brasília, próximo ao estacionamento do ICC Norte,
tentando subtrair parte da fiação elétrica pública. Estando incurso nas penas dos artigos 155 c/c
14 do CPB.
3. ANAMNESE
a) ANTECEDENTES FAMILIARES
Pai vivo com sessenta e quatro anos, garçom, sofre de doença cardíaca. Mãe viva com
sessenta e cinco anos, do lar. “Minha mãe tem cisticercose, se queima direto, constantemente
ela desmaia. Eles ficaram separados de 86 pra agora, 98 (a perícia foi realizada no curso do ano
de 2006). Estão juntos de novo.” O periciando é o terceiro de uma prole de cinco filhos, três
homens e duas mulheres. Todos são sadios. “O mais novo foi preso uma vez por causa de um
furto numa loja lá em Goiânia.” Os demais levam vida equilibrada. Possui uma meia-irmã mais
nova por parte de pai, que também goza de boa saúde. Desconhece caso de doença mental
assim como de abuso de substâncias tóxicas entre os familiares.
b) CURVA DE VIDA
Diz que começou a trabalhar com doze anos, como vendedor em uma banca de jornais.“Já
trabalhei bastante já. Depois fiquei só entregando panfleto. Depois fui vigiar carro. Depois fiquei
empacotando compra no Jumbo, quando tinha o Jumbo. Depois carregava carrinho cheio de
tijolo, mexia massa, fazia andaime, quebrava parede... Eu quero saber se tem um jeito de eu
receber um dinheiro pra comprar um remédio pra ver se tira essa sequela que fica rangendo na
cabeça e essa dor da coluna que fica tremendo assim. Se chama polivitamínico. Meu pai foi na
farmácia e não quis comprar. Quero ver se recebo um dinheiro de seu xxxx que tá dizendo que é
tio da minha irmã. Meu cunhado que é sobrinho dele, chama xxxx. Ele queria me prender,
aqueles ignorantes! Quebrei só um espelho na casa dele. Saiba pelo menos ser um mentiroso de
bom temperamento! Tirando minha mãe, minha família toda é burra. Meu pai é muito é burro,
cabeçudo, carrancudo velho. Trabalhei também carregando metalão, fazendo carga nos
caminhão. Trabalhei também levantando o muro do colégio que eu estudava. Trabalhei
também roçando mato na fazenda da finada minha tia. Quase que eu tinha era matado meu
primo lá com um facão. O cara vem me xingar...”
Assegura que nunca namorou, nunca morou com companheira nem tem filhos. “Tudo tá
difícil. Namorar, trabalhar... Minha família que só quer me levar naquele HPAP que dá é três
injeção por dia. Não sei porque eu ainda tô preso, o que é que o juiz quer comigo? Se eu
continuar nesse caminho, vou terminar na caixa prego. Sem mulher, sem profissão...”
Conta que começou a fumar com catorze anos. “Beber foi com quinze. Trabalhava de
servente, o cara me chamou pra tomar uma... Mas nunca matei ninguém. Roubar, não vou
dizer, já fiz muito descuido por aí. Nunca usei droga não. Só maconha desde os dezoito anos.
Merla não fumo não. Pó, já cheirei mas não sou usuário disso aí não. Parei a maconha com
vinte e oito anos. Olha a minha cor morena... Parei porque meu pai começou a me xingar de pé-
inchado, vagabundo, bandido. Veio na mente de querer matar ele. Ele é muito é descarado! Se
fosse outro, já tinha matado ele. Não vou ficar sendo abusado porque sou pobre. É verdade
mesmo, cheirava cola. Que eu saiba, é só isso. Fui viciado até vinte e oito anos. Agora não sou
mais. A última vez que eu usei maconha foi na rua que eu achei um pacotinho na rua. Na
cadeia? Quero saber de cadeia não, tia.”
Descreve-se como uma pessoa pacata. “Eu gosto de andar de ônibus, andar no Parque da
Cidade, de ver parque de diversão. Gosto de ficar na praça da xxxx, de vez em quando compro
um pastel. Tenho vários amigos. Tinha umas más amizades, mas não quero mais não. A gente
bebia num terminalzinho que tem lá. Gosto de balinha de hortelã, até sorvete com pipoca e
dropes de caramelo misturado, gosto de tudo.”
Refere outros envolvimentos com a Polícia. “Foi por causa de furto da Só Frango e da UNB.
Era por causa de arrombar o mercado, quebrando carro dos outros, roubando no Carrefour,
roubando no Conjunto Nacional... Trocava (o produto do furto) por outra coisa, droga não.”
Sobre seus antecedentes patológicos, afirma: “Tenho asma, sou diabético, epiléptico,
doença no sangue e dor na coluna por causa que eu tive meningite. O médico disse que eu
tenho que operar uma hérnia que eu tenho aqui (região genital). Não quero mais ser internado
naquele HAPAP não. Fui internado várias e várias vezes. Era problema mental mesmo, ficava
nervoso em casa, agressivo. Uma vez foi porque botei fogo na minha casa e a outra foi porque
subi numa torre de alta tensão. Só fui uma vez na xxxx. Fui porque eu quis, tava meio
encabulado. Foi chamar a Polícia, não devo nada a Polícia não.”
“Não sinto nada não. As dor da coluna já passou. Tomo todo dia os remédios: Haldol,
Carbamazepina, Fenergam e Diazepam. Sinto mais tranquilo, fica balançando o corpo lá. Nem
minha mãe nem meu pai quer me visitar não. Ele é um vagabundo safado. Não me diz nem
onde mora. Se morrer, não quero saber se vai enterrar, quando vai enterrar. Não é pai não, é
moleque.”
4. EXAME MENTAL
5. INSPEÇÃO FÍSICA
6. EXAME COMPLEMENTAR
Não foi localizado em nosso arquivo exame toxicológico referente ao periciando (não se
colheu urina por ocasião do exame cautelar por não se tratar de crime diretamente relacionado
a drogas).
7. OUTROS SUBSÍDIOS
Constam nos autos cópias de laudos, relatórios, atestados, receitas e prontuários relativos
ao periciado que comprovam seu comprometimento psíquico desde a adolescência quando
começou a apresentar sérios distúrbios de comportamento associados ao abuso de álcool e
drogas ilícitas. Sua história é pontilhada por atos delituosos cometidos dentro e fora do âmbito
familiar. Conta com várias internações psiquiátricas compulsórias em momentos de agudização
de quadro psicótico crônico vez que nos períodos intercríticos não aderia ao tratamento nem
abandonava os hábitos tóxicos.
8. DIAGNÓSTICO
9. CONCLUSÃO
a) DO MINISTÉRIO PÚBLICO
1. O réu era, ao tempo da ação criminosa, maio de 2005, portador de doença mental?
RESPOSTA: Sim.
RESPOSTA: Prejudicado.
RESPOSTA: Prejudicado.
RESPOSTA: Prejudicado.
RESPOSTA: Prejudicado.
RESPOSTA: Prejudicado.
RESPOSTA: Não.
RESPOSTA: Prejudicado.
b) DA DEFESA
1. Caso o acusado tivesse discernimento de sua conduta delituosa, ao tempo do crime, teria
ele condições para evitá-la?
RESPOSTA: Prejudicado.
2. O acusado tem conhecimento de como portar-se perante a prática dos atos processuais?
3. Caso seja imposta alguma pena ao acusado, teria ele o discernimento para entender as
consequências dessa pena?
RESPOSTA: No momento, não.
RESPOSTA: Não.
Quando um indivíduo tenta acobertar-se sob uma enfermidade mental, há sempre uma
paixão a satisfazer, ou um interesse a servir. A ideia pode surgir dele próprio, de familiares,
amigos, advogados, companheiros de reclusão. Pessoas que estiveram em manicômio, ou
hospital psiquiátrico aproveitam a experiência para simular melhor o transtorno.
Simular não é tarefa fácil. A duração depende não só da vontade do indivíduo, mas da
rapidez com que é descoberta. Se prolongada, acarreta sobrecarga física e psíquica insuportável
que acaba por fatigar o simulador. Predominam as de duração breve, menos de um mês.
O conceito errôneo que o público faz da doença mental leva os simuladores a aparentar
sintomas díspares e a criar quadros psíquicos que não correspondem a nenhuma modalidade
nosográfica da psiquiatria. Creem que qualquer tipo de transtorno mental deve apresentar
quadro rico em incoerências e atos estranhos.
Amnésia: o agente “perde” a memória, não tem consciência do ocorrido, revelando vaga
lembrança do fato delituoso, recordando apenas o que é útil à sua defesa - “a partir desse
momento deu um branco”. O autêntico amnésico tem como verdadeiro tormento a lacuna da
memória que procura recuperar a todo custo.
Psicose: A simulação de uma doença mental é facilmente percebida pelo perito por se
apresentar de forma complexa, bizarra e caricatural, chegando a ser cômica. O simulador
mistura queixas inconsistentes de alucinações (raríssimas vezes um psicótico admite que esteja
alucinando), com uma aparência infantilizada, simulando distúrbio da fala, incapacidade de
manter a boca fechada, sialorreia, etc.
Epilepsia: uma das formas preferidas de simulação, já que não exige permanência, terminada a
crise. Ao simulador é impossível imitar o grito anunciatório, o estupor, as alterações pupilares, a
cianose facial.
Depressão: o simulador queixa-se de desânimo, abatimento e desinteresse por tudo que lhe
trazia satisfação. Entretanto, o isolamento, o choro e a tentativa de suicídio ocorrem em uma
cena banal, discordante da situação. Provoca autolesões sem gravidade.
Mutismo: o indivíduo encerra-se num obstinado silêncio, supondo que, dessa forma, seu
verdadeiro estado de saúde não venha a ser descoberto. Apesar de não falar, obedece às
ordens do examinador, demonstrando que sua percepção está íntegra. A mímica ativa o olhar
que acompanha os movimentos do perito e a postura atenta acabam por denunciá-lo.
Para que o perito chegue à conclusão de que se trata de simulação, inicialmente deve
conquistar a confiança do examinando, com tato e bondade, pois o aparente convencimento do
perito corresponde à alegria interior e ao relaxamento do examinando. Ao mesmo tempo, o
perito precisa estar atento para:
1. Características do delito: a enfermidade tem que se harmonizar com o crime praticado e
com a conduta do infrator imediatamente após o crime. São característicos dos doentes
mentais os delitos de motivação e conteúdo psicopatológico, cuja trama é absurda.
a) CONDUTA TÍPICA
Lê-se às folhas 52 e 53 dos autos que no período de xxxx a xxxx (durante seis anos) o
indiciado valeu-se de vantagem econômica consistente no recebimento de aposentadoria por
tempo de serviço a que não fazia jus. Estando incurso nas penas dos artigos 171 c/c 71 do CPB.
“Acho que ele caiu dentro de um poço lá, machucou a cabeça. Apareceu um advogado que
aposentou ele, depois cortaram a aposentadoria dele.”
3. ANAMNESE
Dados colhidos do Sr. xxxx, filho do periciando em entrevista realizada neste IMLLR no dia
xxxx. O periciando diz nada saber sobre sua família e sua vida pregressa.
a) ANTECEDENTES FAMILIARES
b) CURVA DE VIDA
Pouco se sabe a respeito da sua vida afetiva. “Deve ter uns quarenta e dois anos que ele
casou. Minha irmã mais velha tá com quarenta anos. Somos nove filhos.” Nunca cultivou
hábitos tóxicos. Não pratica atividades prazerosas. “Ele só fica em casa, não sai pra lugar
nenhum. Fica ali... quando chega uma pessoa, ele conversa... Antes ele era animado, brincava,
tudo.”
Nega outro envolvimento com a Justiça. Sobre seus antecedentes patológicos, diz: “Que eu
saiba ele só tem Chagas e esse problema que caiu no poço.”
c) HISTÓRIA DA DOENÇA
“Eu ando é os outros me levando pros lugar. Sofri um acidente, bati com a cabeça, de-pois
disso eu... Caí dentro de uma cisterna. Eu não lembro das coisas. O que mais me prejudica é eu
não lembrar das coisas. Sou operado. Eu não tenho médico. O médico que me operou foi do
Hospital de Base, foi problema de Chagas. Que eu operei da cabeça foi aqui mesmo em Brasília
no Hospital de Base. Tomo uns comprimidinho que minha pressão é descontrolada.” Queixa-se o
examinando.
“Tem uns doze anos que ele caiu no poço no Lago Azul. Tava fazendo uma massa com meu
cunhado, vacilou, caiu no poço. Levaram ele desmaiado pro hospital. Foi atendido no Hospital
de Base, parece que fizeram raspagem na cabeça dele. Desse tempo pra cá ele se perde, fica
variado, conta coisa com coisa, é repetindo as palavras... Não tem médico tratando dele. Só fez
esse tratamento no Hospital de Base.” Relata-nos o filho.
4. EXAME MENTAL
5. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
O Parecer Psicológico nº xxxx elaborado neste IML, cuja cópia segue anexa, revelou que o
periciando assumiu conduta não colaborativa com o exame, selecionando suas respostas de
forma a assumir papel de enfermo. Acreditando-se incapaz de realizar os testes propostos,
utiliza-se de argumentos repetitivos e fornece respostas com indicativo de proceder de forma
intencional.
Existem apenas dois registros de atendimentos ambulatoriais, sendo um em xxxx (três anos
depois da neurocirurgia) na cardiologia e outro em xxxx (no ano seguinte), cuja especialidade
está ilegível. Nessas consultas informa-se que é portador de doença de Chagas e queixa-se de
disfagia. O exame radiológico revelou aumento do volume cardíaco e o médico assistente
solicitou endoscopia digestiva para constatar dilatação esofágica.
7. DIAGNÓSTICO
8. CONCLUSÃO
Trata-se de periciado idoso que não apresenta sequelas psíquicas decorrentes da injúria
cerebral sofrida há treze anos nem outra condição que comprometa suas capacidades de
entendimento e autodeterminação.
a) DA DEFESA
2. Com esta lesão o acusado tem condições de realizar qualquer tipo de trabalho pra sua
sobrevivência? RESPOSTA: Experimenta as limitações próprias da idade avançada.
b) DO MINISTÉRIO PÚBLICO
1. Ao tempo dos fatos narrados na denúncia, o Acusado era, por motivo de doença mental,
desenvolvimento mental incompleto ou retardado ou algum outro, inteiramente incapaz de
entender o caráter criminoso dos fatos ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento? RESPOSTA: Não.
2. O Acusado, ao tempo dos fatos narrados na denúncia, por motivo de perturbação da saúde
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, estava privado da plena
capacidade de entender o caráter criminoso dos fatos ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento? RESPOSTA: Não.
5. Caso o Acusado seja portador de patologia mental, ela sobreveio aos fatos pelos quais foi
denunciado? RESPOSTA: Prejudicado.
6. Na hipótese de o Réu sofrer de patologia mental superveniente aos fatos que deram origem
à ação penal e considerando que ele viesse a ser condenado, essa patologia seria compatível
com o cumprimento, por parte do Réu, de alguma das penas previstas no Código Penal?
RESPOSTA: Prejudicado.
7. Queiram os Srs. Peritos fornecer outros esclarecimentos que julguem necessários. RESPOSTA:
Nada a acrescentar.
Esperamos que este capítulo tenha despertado o interesse dos leitores pela perícia
psiquiátrica e possibilitado a compreensão do papel do psiquiatra forense, que consiste em
vasculhar os bastidores do psiquismo humano sem condenar escolhas que sabe, dependeram
de múltiplos contextos.
Finalizando nosso texto, deixaremos como reflexão o poema de Bracht, transcrito no livro
A defesa tem a palavra,de Lins e Silva (Extraído do Manual de Psiquiatria Forense de Heber
Soares Vargas).
A infanticida Maria Farrar
buscava solução.
Depois lhe vem à mente que tem que dar à luz e logo sente
menina-mãe condenada,
A todos iguala
E a ninguém privilegia.
As diferenças permanecem
Lentamente anda.
Ou no mais distante,
– O próximo! Fala.
Da vida a alma,
E da alma a consciência.
Permanente de matéria-prima.
E a consciência?
Ah, a consciência!
À solidão de confrontar-se
Consigo mesma.
Em cada pensamento,
Em cada gesto.
A hora é de inventariar-se.
Boa sorte!
Será?
Comprovação da morte
Para se fazer o exame do cadáver é necessário que não paire dúvidas sobre a ocorrência do
óbito. Deve-se comprovar o óbito. O conceito de morte tem se modificado e hoje alcança o
patamar da morte encefálica, que é a constatação da morte cerebral, sendo esta uma condição
irreversível. O diagnóstico dessa morte é firmado por dois médicos diferentes, após realizarem
exames clínicos e laboratoriais específicos e em intervalos de tempo regulamentados pela
Resolução nº 1.480/97, do Conselho Federal de Medicina, que disciplina que, após essa
constatação, seja preenchido O Termo de Declaração de Morte Encefálica. Uma vez cumprida a
formalidade, é diagnosticado o óbito e, havendo a anuência da família, podem-se retirar
órgãos, do corpo do morto, para serem empregados em transplantes.
No entanto, nas mortes que acontecem fora das UTIs, é necessário, também, firmar o seu
diagnóstico. A constatação dessa morte se baseia, principalmente, na parada das funções:
cerebral, respiratória e circulatória do indivíduo.
Fatores próprios do corpo são: a sua temperatura antes do óbito (febre, hipotermia, etc.),
quantidade do panículo adiposo, sua idade, seu estado nutricional.
Segundo a Lei de Nysten-Sommer, citado por CROCE, 1998, p. 353, ela se inicia pela
mandíbula, progredindo para a nuca, tronco, membros superiores e por último para os
membros inferiores. Tem início a partir da segunda para a quarta hora, sendo observada na
mandíbula e na nuca. Da quarta para a sexta hora atinge o tronco e os membros superiores,
completando-se em torno da oitava para a décima hora. Ela se desfaz na mesma ordem com
que se instala e desaparece entre 24 e 48 horas.
A deposição dos livores de hipóstase tem início, a partir da primeira para a segunda hora,
após o óbito, na forma de estrias e pontilhados, que se confluem, para formar placas extensas,
de cor violácea. Tornam-se fixos a partir da oitava para a décima segunda hora, o que significa
que não mudam mais de lugar, mesmo modificando-se a posição do corpo e duram até a sua
putrefação .
Eles têm interesse médico-legal porque revelam a posição em que o corpo permaneceu
após o óbito. Nos óbitos em que o corpo fica suspenso, verticalmente, eles se formam nos
membros inferiores.
Seguramente, tanto os livores de hipóstase quanto a rigidez cadavérica, que são sinais
inequívocos de que ocorreu a morte, estão presentes, a partir da 6ª hora após o óbito, tempo
mínimo estabelecido em lei, para o início da necropsia, com as exceções nela previstas (art. 162
CPP), preocupação que, logicamente, visa impedir que se comece o exame, estando vivo o
indivíduo. Antes do início da necropsia, o médico deve certificar-se da presença da rigidez
cadavérica e dos livores de hipóstase.
Fase de coloração – Ela inicia precocemente dentro do tubo digestivo, por conter rica
flora bacteriana que, após a morte, torna-se ativa e sem controle, promovendo a formação de
gases que se combinam com a hemoglobina, resultando na sulfometahemoglobina, que é de
cor esverdeada. O ceco está logo abaixo da parede abdominal, na fossa ilíaca direita, lugar no
qual este fenômeno primeiro aparece e é referido como mancha verde abdominal, sendo visível
a partir da 24ª para a 36ª hora após a morte.
Essa reação é generalizada, ocorrendo no interior dos vasos sanguíneos, que apresentam
cor esverdeada, chamando a atenção os vasos da pele, os quais se tornam de cor verde-escura,
visíveis e desenhando seus trajetos, numa trama arboriforme, chamada Circulação Póstuma de
Brouardel, citado por ALCÂNTARA, 2006, p. 261 ( Fig. 07 ), que foi quem a descreveu. Essa
Circulação é observada em torno da 48ª para a 72ª hora após o óbito.
Figura 7, IML de Barra do Garças – MT. Circulação póstuma de Brouardel.
Fase gasosa – Esta fase tem início a partir da 24ª hora. Os gases originados no interior do
corpo vão invadindo os tecidos, progressivamente, distendendo-os. O corpo assume aspecto
gigantesco. Crescem: o rosto, o pescoço, o abdome, os órgãos genitais masculinos. Os olhos
estão protusos, os lábios aumentados, a língua volumosa e procidente. Os membros superiores
estão volumosos e semifletidos, dando ao corpo a atitude de boxeador. A pele apresenta
bolhas cheias de líquido claro que, gradativamente, comprometem todo o tegumento. Essa fase
atinge o seu ápice em torno do 5º para o 6º dia e dura em média duas semanas.
As vísceras estão autolisadas, distendidas por gases e amolecidas, o que altera a sua
arquitetura. Não são adequadas para a realização de exames histopatológicos.
Nesta fase as cavidades corpóreas são revestidas por serosas avermelhadas e apresentam
volume pequeno de líquido de cor vinhosa, originado da rotura de pequenos vasos sanguíneos
por destruição da sua parede. As vísceras também têm tonalidade avermelhada. O sangue, nas
regiões de declive do corpo, pode se difundir em torno dos vasos, ocasionando acúmulo,
devido à rotura deles.
Não confundir com hemorragia intravitam. A cavidade craniana apresenta encéfalo com
leptomenge avermelhada, acúmulos sanguíneos ocasionais, extra e subdural, secundários à
putrefação. Não confundir com hemorragia produzida em vida.
Fase coliquativa– Esta fase inicia-se em torno da 2ª para a 3ª semana, no corpo ainda
distendido por gases, mas que começa a se desfazer paulatinamente, pela dissolução dos
tecidos que, gradativamente, se transformam numa massa pútrida, úmida, fétida, viscosa e que
se desmancha progressivamente. O corpo perde volume pela autólise, pela ação das bactérias,
da fauna cadavérica e da evolação gasosa. Co-meça a exposição paulatina dos ossos pela
destruição dos tecidos moles que os recobre. Esta fase dura alguns meses na dependência das
condições ambientais.
Fase de esqueletização – Esta fase coincide com a progressão da fase coliquativa; tem
início entre o 1º e o 2º mês e se caracteriza pela exposição dos ossos, finalmente culminando
com a destruição dos seus ligamentos. Isso ocorre durante meses. Em cadáveres expostos, ela
pode se completar ao final do sexto mês. Os ossos, devido a sua estrutura, resistem por anos a
fio.
A maceração de que se tratará aqui é aquela que acomete o feto morto, retido
intrauterinamente, com idade gestacional a partir do 5º mês. O meio interno uterino é
asséptico, o que não permite a participação de bactérias nesse processo. A morte do feto
normalmente é precedida por sofrimento fetal, com eliminação de mecônio para a cavidade
amniótica, cujo líquido torna-se de cor esverdeada. Nesse ambiente o feto morto não
apresenta rigidez cadavérica, nem livores de hipóstase. O cordão umbilical, que, normalmente,
é de cor branca perolada, brilhante, torna-se de cor esverdeada pela impregnação meconial,
além de tornar-se de volume diminuído e fosco, por perda de líquido. As modificações que
ocorrem, no feto, são, basicamente, produzidas pela autólise celular. A maceração apresenta
três graus:
Primeiro grau – Vai até o terceiro dia. O feto mostra-se flácido, a pele tem cor vermelho-
acinzentada, está enrugada e apresenta bolhas, contendo serosidade de cor vinhosa. Essas
bolhas, gradativamente, comprometem todo o tegumento e se rompem com facilidade,
expondo o tecido subjacente.
Segundo grau – Vai do terceiro até o oitavo dia. As bolhas se rompem e liberam, para a
cavidade amniótica, o seu conteúdo sanguinolento, o que confere cor pardacenta ao líquido
amniótico. O feto apresenta cor avermelhada . As cavidades corpóreas revelam vísceras
amolecidas, de cor vinhosa. Nota-se a presença de líquido sanguinolento de volume moderado
dentro dessas cavidades.
Terceiro grau – Vai do oitavo dia em diante. O feto apresenta a superfície corporal de cor
vinhosa e a pele destacada. Os ossos cranianos estão frouxamente aderidos uns aos outros,
sobrepondo-se, quando manipulados, devido à redução do volume intracraniano secundário à
autólise cerebral. O abdome mostra-se achatado sobre a mesa. Os órgãos internos estão
friáveis, com volume menor e têm cor vermelha intensa. O feto tem o seu volume corporal
diminuído.
As gorduras sofrem uma ação química mediada por enzimas bacterianas para liberação dos
ácidos graxos, que se transformam em sabão. Essa transformação ocorre dentro de alguns
meses. O corpo mostra-se preservado, sendo possível a identificação do indivíduo, pois
conserva os traços da sua fisionomia. A pele intacta permite verificar a existência de possíveis
lesões traumáticas.
Estimativa do tempo de morte.
Esta é apenas uma estimativa aproximada de tempo em que as alterações acontecem.
Logicamente muitas variáveis irão interferir, acelerando ou retardando a marcha de
modificações que o corpo sofre. As modificações estarão na dependência da estação do ano, da
umidade, da temperatura e da ventilação do local, do grau de exposição aos raios solares, da
ação da fauna cadavérica, da ação de animais, se o corpo está parcialmente, ou totalmente
imerso em líquido, ou se parcialmente ou totalmente soterrado, etc.
Exame do cadáver
O exame do cadáver é feito por meio de uma técnica chamada: necropsia que pode ser:
facultativa, ou obrigatória.
Necropsia facultativa
A necropsia é facultativa quando a morte é decorrente de causa interna, dita natural,
porque é secundária a enfermidades, doenças, estados mórbidos, patologias. A sua realização
depende da autorização dos parentes do morto, a quem este, por direito, pertence. O médico
não pode executá-la sem essa autorização. O interesse pela feitura do exame, na maioria das
vezes, é do médico assistente, principalmente quando o atendimento realizado não foi capaz
de elucidar o diagnóstico. Nessa situação a necropsia seria a última oportunidade de esclarecer
o quadro mórbido, e esse conhecimento ser empregado para o tratamento de pacientes que
pudessem apresentar enfermidade semelhante. Aqui o exame cumpre o papel de contribuir
com os avanços da medicina.
A necropsia facultativa é, via de regra, solicitada pelas várias clínicas dos hospitais e,
quando autorizadas, executadas pelo serviço de patologia desses hospitais.
Cabe, aqui, dizer que a necropsia, para cumprir com o seu objetivo, que é esclarecer a
patologia responsável pelo óbito, só poderá ser feita pelo médico patologista, especialista
preparado para realizá-la. A necropsia conduzida por médico de outra especialidade, na maioria
das vezes, não é capaz de elucidar nenhum quadro mórbido. É necessário que os governantes
compreendam a importância do SVO, e se cerquem de profissionais comprometidos com a
criação de serviços de excelência, sem improvisações, que atendam a sua finalidade, para a
produção de informações confiáveis e que possam gerar diagnósticos claros e colaborar para a
produção de políticas de saúde que sejam eficientes e beneficiem a população.
O Serviço de Verificação de Óbito, pela importância das informações que gera, deveria ter
a mesma envergadura de um Instituto de Medicina Legal. Ter vida e alma próprias. Ter sede
própria. Ser independente. Ter quadro de pessoal constituído por: recepcionistas, agentes
administrativos, técnicos de necropsia, técnicos de histopatologia, médicos patologistas. Ter
viaturas para a remoção de cadáveres, motoristas, sala de necropsia aparelhada, câmaras
refrigeradas para conservação de corpos, laboratório de histopatologia. Só dessa maneira o
SVO estará constituído com as condições necessárias para cumprir com a sua finalidade. É
surpreendente a capacidade que os gestores têm de demonstrar descaso pela organização e
estruturação dos serviços que devem ser criados. Vê-se amiúde o emprego das improvisações,
dos remendos, dos jeitinhos, das negociatas, nessas empreitadas, e a eclosão de serviços mal
pensados, mal planejados, mal elaborados, mal executados. Por essa razão, funcionam de
qualquer maneira. São incapazes de cumprir o seu objetivo. Até quando?
Necropsia obrigatória
A necropsia é obrigatória, quando a morte foi produzida em decorrência da ação de causa
externa (morte de causa violenta). Cabe ao Estado, nesta circunstância, verificar qual foi o
mecanismo que a provocou. Para isso, determina que seja realizada a necropsia. Caso tenha
sido um homicídio, buscar-se-á o agressor e, de acordo com a lei, ele será punido.
Finalidade
A necropsia médico-legal é requisitada pela autoridade competente, quando a morte foi
provocada, ou há suspeita de que tenha sido provocada, por ação de causa externa (morte de
causa violenta). O seu objetivo é determinar a causa da morte, a sua data, o instrumento, ou
meio que a provocou, a sua causa jurídica e a identificação do morto.
Homicídio simples
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
II – com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Aumento da pena
§4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se
o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver,
quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem
precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de
alguma circunstância relevante.
Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível,
juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente
rubricados.
Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a
eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.
Art. 16. Quando necessário, a autoridade sanitária requisitará auxílio de autoridade policial
para execução integral das medidas referentes à profilaxia das doenças transmissíveis.
C) cometer o crime, com dolo, empregando maneiras, meios ou substâncias que o qualificam.
São os pontos que a lei espera que a perícia esclareça. Esses elementos são os vestígios
que constituem o corpo de delito, são eles que devem ser pesquisados para a produção da
prova técnica de que ocorreu o delito.
Em algumas mortes suspeitas de terem sido produzidas por ação de mecanismo externo
(morte violenta), durante o exame do corpo, o perito não encontra vestígios do emprego de
violência, sendo algumas delas, na verdade, decorrentes de causa interna (morte natural). O
perito deverá ser capaz de chegar a essa conclusão e afastar a possibilidade de morte violenta.
C) Cometer o crime, com dolo, empregando maneiras, meios ou substâncias que o qualificam.
O art. 121 do CP, em seu § 2º incisos I, II, III, IV e V, especifica quando o homicídio é
qualificado. Interessa à perícia conhecer o teor do inciso III. Aqui claramente a lei estabelece
que, se o crime for cometido com o emprego de: veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou
outro meio insidioso, ou cruel, ou de que resultasse perigo comum, a pena é aumentada. O
perito deverá estar atento para esse texto, porque duas condições são indispensáveis para que
o homicídio seja tipi-ficado como qualificado: 1º- que haja dolo, ou seja, que o agressor tenha
escolhido cometer o crime, utilizando-se de qualquer das maneiras especificadas no artigo; 2º-
que exista o morto e que exista o assassino. Isso porque a lei intencionalmente quis punir com
maior rigor quem assim cometesse o crime.
O inciso III foi empregado como o 4º quesito do laudo de necropsia, com o objetivo de
incitar o perito a se manifestar a respeito da pergunta. Embora conste como quesito oficial, ele
só se aplica se a perícia concluir que foi homicídio. Isso porque a lei instituiu pena maior ao
agressor, quando comete o crime, utilizando-se dos expedientes, aqui relacionados.
Se uma pessoa decide suicidar-se, ingerindo veneno, por exemplo, é lógico que a causa da
sua morte será envenenamento, porém onde está o assassino? Qual a importância em
responder automaticamente à letra? Muitos peritos, num exame de suicídio cometido dessa
maneira, respondem: SIM, veneno, a este quesito. Ao agir assim, o perito abandona a lei,
porque esta resposta não pode qualificar a ação do suicida, que está morto e, por isso, fora do
alcance da lei. Não há como lhe cominar qualquer pena. Nessas situações o perito deverá ser
coerente e ciente do seu papel e responderá ao quesito com o termo: PREJUDICADO, uma vez
que a pergunta não se aplica ao caso. É necessário que o perito mantenha seus olhos sempre
voltados para o que a lei espera que a perícia esclareça. Por essa razão, o perito é médico-
legista.É comum, nos óbitos por acidente, o perito, mecanicamente, responder ao 4º quesito
oficial do laudo de necropsia, com o termo: NÃO. Sempre: NÃO. Doutrinariamente, só cabe a
resposta: NÃO, quando couber, em situação de acidente, a resposta: SIM, isto porque o NÃO é
para diferenciar do SIM. A pergunta que se faz é a seguinte: num acidente quando é que será
possível responder: SIM a este quesito? Nunca. Lembrar que só se deve responder: SIM,
quando o assassino, de forma dolosa, utilizou qualquer das situações previstas para cometer o
crime. Obviamente a resposta adequada, em acidentes, para o quesito será: PREJUDICADO. Ou
seja, a pergunta não se aplica nestes casos.
ESTRUTURA DO LAUDO DE NECROPSIA
O laudo de necropsia tem a estrutura formal dos laudos médico-legais. Apresenta os
seguintes tópicos:
a) Preâmbulo
Dele devem constar: a hora, o dia, o mês, o ano e a cidade onde a perícia é realizada; o
nome da autoridade requisitante do exame; o nome do médico-legista incumbido de realizar o
exame; o nome do diretor do IML que designou o perito; o exame solicitado e a identificação da
vítima.
b) Quesitos
Os quesitos oficiais propostos para o exame de necropsia são os seguintes:
4º) A morte foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel ? (resposta especificada).
c) Histórico
Colher as informações que possam indicar como ocorreu o óbito, local da sua ocorrência, a
sua data, se a vítima foi socorrida, se foi internada, se foi operada. Anotar qualquer informação
relevante que possa orientar a necropsia. Quando possível, fazer contato com o perito criminal
que fez o exame do local do crime para obter algum dado importante para a condução do
exame.
d) Descrição
A descrição do laudo de necropsia é mais abrangente. Ela deve obedecer à seguinte
sequência:
Apresentação do corpo
O perito deverá iniciar a descrição, relatando como o corpo se apresenta para o exame,
quais vestes está trajando, estado das vestes, se estão rasgadas, se estão sujas (especificar qual
é a substância), se mostram sinais de perfurações, descrevê-las e localizá-las, se o corpo está
sujo de terra ou de sangue, etc.
Identificação do corpo
Informar se o cadáver é de adulto ou de criança, qual o seu sexo, sua cor, sua idade, seu
peso, sua estatura, biótipo, cor dos olhos, cor e tipo dos seus cabelos, sua barba (se masculino),
conservação dos dentes, sinais particulares, tatuagens, defeitos físicos, etc. Se o corpo está
acompanhado de seus documentos de identidade, anotar seu número e órgão que o expediu.
Sinais de morte
Informar se o corpo apresenta rigidez cadavérica, se esta é inicial, ou completa, ou se está
em resolução. Informar se apresenta livores de hipóstase, se estes são iniciais, ou se estão
estabelecidos, ou se já estão fixos. Informar se o corpo apresenta mancha verde abdominal,
Circulação Póstuma de Brouardel, ou está na fase gasosa da putrefação, etc. Estes são sinais de
certeza de que ocorreu a morte e devem estar presentes no corpo a ser necropsiado. A rigidez
cadavérica e os livores de hipóstase estão presentes após seis horas do óbito, prazo
estabelecido no art. 162 do CPP, para início do exame. Quando a necropsia for executada antes
de decorridas seis horas do óbito, o perito deverá relatar que não está cumprindo o dispositivo
legal, mas que o corpo apresenta algum dos sinais de certeza de morte.
Exame externo
O perito deverá realizar o exame externo do corpo, fazendo uma inspeção geral do
cadáver. Descrever o que observar nesse exame. Verificar se apresenta palidez cutânea e de
mucosas (se presentes, suspeitar de sangramento interno); a presença de cianose labial e de
leitos ungueais, de pletora facial, ingurgitamento das veias jugulares, fascies de sofrimento (se
presentes, suspeitar de infarto do miocárdio); drenagem de líquido avermelhado da boca e dos
orifícios nasais, edema de membros inferiores, face congesta (se presentes, suspeitar de edema
agudo de pulmão); pele de tonalidade amarelada, brilhante, edemaciada, mucosas amareladas
(se presentes, suspeitar de septicemia, falência de múltiplos órgãos); se a pele está inelástica,
dessecada, e as mucosas opacificadas (suspeitar de desidratação). Verificar se da boca e dos
orifícios nasais drena líquido de cor rósea, ou esverdeada, ou escura, ou branca, ou azulada,
exalando odor químico desagradável (suspeitar de envenenamento).
Pesquisar a presença de lesões traumáticas. Iniciar pelo polo cefálico, seguindo para o
pescoço, tronco, membros superiores e membros inferiores, descrevendo-as, caracterizando-
as, medindo-as, localizando-as. É de bom alvitre começar descrevendo, por exemplo: as
escoriações, depois as equimoses, os edemas traumáticos, as feridas contusas, as feridas
perfurocontusas, as feridas perfuroincisas, as fraturas ósseas, etc., ordenando-as. Ao descrever
uma ferida perfurocontusa, o perito deverá informar todas as suas características, se apresenta
apenas zona de contusão e de enxugo, ou se, além destas, apresenta zona de esfumaçamento,
de tatuagem e de queimadura, ou se apresenta ferida de entrada ampla com bordos evertidos,
esgarçados, tipo buraco de mina. É atribuição da perícia, informar, em se tratando de ferida de
entrada de projétil de arma de fogo, se a ferida tem características de disparo a distância, ou a
curta distância, ou com a boca de fogo encostada no alvo.
É importante, ainda, descrever o seu trajeto no corpo, o que contribui para entender a
dinâmica de como o crime foi praticado. Descrever quais órgãos lesou, quais projéteis de arma
de fogo poderiam, isoladamente, produzir o óbito. Isso porque, se foram efetuados cinco
disparos e todos eles atingiram a vítima e cada um deles poderia, isoladamente, provocar o
óbito, fica claro que a intenção do agressor era obter, como resultado, a morte da vítima. É
difícil para o agressor, neste caso, alegar legítima defesa. Descrever as feridas de saída de
projétil de arma de fogo, quando transfixam o corpo, observando suas características, suas
dimensões, suas bordas, suas localizações e a correspondência com as feridas de entrada de
projétil de arma de fogo que as produziram.
As feridas perfuroincisas deverão ser bem caracterizadas, informando suas medidas, suas
localizações, seus trajetos, quais órgãos foram lesados, sua gravidade, quais poderiam,
isoladamente, produzir o óbito.
Nos casos de suspeita de overdose em usuário de drogas, verificar a face anterior dos
antebraços, a prega anterior dos cotovelos, os trajetos venosos dos membros superiores e
inferiores, em busca de cicatrizes de lesões puntiformes, provocadas por picadas de agulhas.
Verificar a integridade do septo nasal.
As lesões contusas profundas, como fratura de ossos, podendo ser fechadas ou expostas,
devem ser descritas, localizadas, caracterizadas. Esmagamentos corporais, por ação de agente
contundente, devem ser descritos e caracterizados, informando a sua gravidade.
Exame interno
O perito deverá abrir a cavidade que apresentar suspeita de conter lesão interna, tendo
como guia, a presença das lesões externas.
Cavidade craniana
A cavidade craniana é aberta, começando pela feitura de uma incisão, indo de um processo
mastoideo, passando pelo alto da abóbada craniana e alcançando o outro processo mastoideo,
seccionando o couro cabeludo, no sentido da direita para a esquerda, ou vice-versa. O couro
cabeludo é rebatido, anteriormente, descolando-o do periósteo, até a região supraorbitária, e,
posterior-mente, até a região occipital. Faz-se uma inspeção da calota craniana exposta. Caso
haja fratura óssea, deve-se descrevê-la, localizá-la e medi-la. Se houver ferida de entrada de
projétil de arma de fogo, deve-se descrevê-la, caracterizá-la e medi-la.
Verificar a veia pulmonar. Fazer a sua abertura em busca de tombos que possam ocluir a
sua luz. Abrir as cavidades cardíacas. Observar a sua amplitude. A espessura da parede
miocárdica. Se as cavidades estiverem dilatadas, com o coração achatando-se sobre a mesa
trata-se de cardiopatia dilatada, que apresenta, ainda, hepatomegalia e esplenomegalia, ambas
congestivas, além de edema de membros inferiores. Se a parede do ventrículo esquerdo estiver
hipertrofiada, com a cavidade ventricular ligeiramente dilatada, os pulmões com edema agudo,
presença de hepatomegalia e esplenomegalia e o corpo apresentar drenagem de líquido róseo
pela boca e pelas narinas, o quadro é de edema agudo de pulmão, devido à insuficiência
cardíaca aguda secundária, entre outras causas, à hipertensão arterial.
Nos casos em que se observa edema agudo de pulmão, sem a presença de insuficiência
ventricular esquerda, ou seja, não há evidência de falência da bomba cardíaca, pensar em
intoxicação exógena (envenenamento). Deve-se examinar o estômago e seu conteúdo. O
veneno, quando ingerido, é absorvido pelo tubo digestivo, pela circulação porta vai ao fígado,
daí, ganha a circulação sanguínea, é eliminado pelos pulmões e rins. Retirar fragmento de
fígado, pulmão, rim e colher sangue, para exame toxicológico. Se o veneno penetrar no
organismo por outras vias, deve-se retirar esses mesmos materiais para exame toxicológico.
Caso tenha sido submetido a cirurgia para corrigir alguma lesão, relatar o que o ato
cirúrgico realizou, bem como as condições do resultado dessa cirurgia. Os projéteis de arma de
fogo que, por ventura, estejam alojados no cadáver, deverão ser retirados. Encaminhá-los à
criminalística, para serem submetidos a exame de balística, caso sejam encontradas as armas
suspeitas de terem sido empregadas para cometer o crime.
e) Discussão ou Comentários
Neste tópico, o perito fará a descrição das informações médicas, quando o(a) periciando(a) foi
atendido, antes de acontecer o óbito, de forma concisa, realçando os dados relevantes. Anotar
o nome e o CRM do médico que fez o relatório. Arquivá-lo junto à requisição do exame pericial.
Caso haja algum exame de imagem que ilustra uma lesão importante, relatá-lo e arquivá-lo.
Estabelecer o nexo entre essas informações e os achados da necropsia.
Nos casos em que o óbito tenha sido provocado por projétil de arma de fogo, é dever do
perito caracterizar a ferida de entrada do projétil e se pronunciar, dizendo se as suas
características são de tiro a distância, a curta distância, ou com a boca de fogo encostada no
alvo. Relatar a direção e o trajeto que o projétil descreveu no corpo da vítima. Se mais do que
um projétil atingir o corpo, informar qual deles poderia, isoladamente, produzir o óbito. Neste
tópico o perito deverá estabelecer o nexo causal entre a lesão e o óbito, caracterizando a sua
eficiência. Se os projéteis forem de calibres diferentes, informar que foram empregadas duas
armas de fogo para agredir a vítima, e aventar a possibilidade de haver dois agressores.
Se a vítima apresentar sinais de que estava contida com algum instrumento que a
imobilizasse, e sem poder se defender, foi assassinada; informar que se trata de crime
praticado com o emprego de crueldade.
Se o exame de necropsia constata que o óbito foi causado por enforcamento e que a
vítima deixou anotações, relatando esta sua decisão, trata-se de suicídio. A morte foi provocada
por asfixia. No caso de suicídio, não existe a figura do assassino, porque o agressor e a vítima
são uma só pessoa e está morta. Embora o quarto quesito do laudo de necropsia peça que o
perito se manifeste sobre se a morte foi provocada com o emprego de asfixia, esta pergunta
não se aplica neste caso porque não há como cominar qualquer pena ao agressor, que está
morto, logo, a resposta ao 4º quesito fica prejudicada.
Neste tópico o perito deverá fundamentar a conclusão e as respostas ao laudo de
necropsia.
f) Conclusão
Aqui o perito deverá, de forma concisa, estabelecer a cronologia dos eventos que, partindo de
uma causa básica, produziu alterações no organismo da vítima, culminando com o seu óbito. É
um resumo telegráfico, porém real e lógico, dos eventos que determinaram a sua morte.Iniciar
pelo evento final, indo até à causa básica, que é anotada por último.Exemplo: A morte foi
provocada por choque hipovolêmico secundário à hemorragia interna, produzida pela ação de
instrumento perfuro cortante.
Muitos peritos acham a pergunta contida no primeiro quesito redundante, pois se o que se
examina é o cadáver, é lógico que ocorreu a morte.
Porém, do ponto de vista legal, a pergunta é pertinente, e o perito deverá estar atento à
sua resposta. A pergunta não é genérica, de abrangência difusa, sem interesse legal. O artigo
121 do CP tipifica o crime: matar alguém. Indica claramente uma ação empreendida pelo
agressor cujo resultado é a morte de alguém.
No entanto, mesmo nos casos em que a morte resultou de causa interna (morte natural), o
perito costuma responder: Sim, à pergunta. Na resposta ao terceiro quesito, irá esclarecer que
a morte teve uma causa natural. Na prática se responde sempre Sim a este quesito, após o
exame de necropsia.
É comum observar médico-legista respondendo Não, a este quesito, nos casos de morte
natural. Quando se procede assim, o perito perde totalmente de vista a sua função. Deixa de
ser médico-legista, porque está respondendo à letra e não à lei. É de se perguntar: numa
necropsia de morte natural, quando é que se responderá: Sim, a este quesito? NUNCA.
Doutrinariamente só se pode responder: Não, quando em situação semelhante couber a
resposta Sim. Isto porque o não é para diferenciar do sim.
Nos acidentes e nos suicídios, não há a figura do assassino, portanto, o quesito não se
aplica nessas situações e sua resposta será: Prejudicado.
Exemplo: Responderá a este quarto quesito: Sim, fogo. Se o agressor ateou fogo na vítima,
e ela morreu em consequência desse ato.
A cabeça está pendida para o lado contrário ao nó. A face é vultuosa, congesta, escura. A
língua está protusa. Os livores cadavéricos estão presentes nos membros inferiores.
A ação do agente vulnarante provoca lesões nas áreas onde exerceu pressão. Ao abrir a
pele, pode-se observar: constrição do músculo esternoclideomastoideo, por vezes, com sua
rotura. Equimose retrofaríngea. Equimose em músculos abaixo do sulco. Equimose em
adventícia da carótida. Lesão transversal da íntima da carótida (sinal de Amussat). Fratura ou
equimose em cartilagens tiroide e anéis da traqueia. Luxação ou fratura da coluna cervical.
O exame do local da ocorrência do óbito auxilia a identificar a sua possível causa jurídica:
se foi homicídio, acidente, ou suicídio.
Observa-se equimose em partes moles do pescoço, abaixo da área onde se veem lesões
externas. Pode-se encontrar fratura dos anéis da traqueia e da cartilagem tiroide, equimose em
adventícia das carótidas.
* dor à deglutição;
* rouquidão e dispneia.
O exame externo revela face congesta com cianose labial dos pavilhões auriculares, dos
leitos ungueais, com petéquias em escleras oculares. O sangue é fluido e escuro. O exame das
vias aéreas revela a presença do corpo estranho no interior da árvore respiratória. Petéquias na
pleura visceral e no epicárdio.
A causa jurídica dessa forma de asfixia, normalmente, é acidental. Pode-se, no entanto, ser
homicida, com o agressor colocando uma rolha de pano, ou outro objeto, na cavidade oral e
nasal da vítima (infanticídio), ou, se a vítima for de porte maior, quando ela estiver
impossibilitada de reagir.
A compressão torácica pode ser feita pela queda de um agente físico sobre o tórax, pela
prisão dentro das ferragens de um veículo, agindo na altura do tórax, pela imobilização torácica
feita por atadura, cinto, ou outro meio que o envolva e o comprima.
O exame externo revela lesões traumáticas produzidas pelo agente mecânico que
comprimiu o tórax. Pode ser escoriação, equimose, normalmente reproduzindo a forma do
agente. A face é congesta, com presença de cianose cervicofacial, for-mando a máscara
equimótica de Morestin. Presença de equimose em escleras oculares. Cianose de leitos
ungueais. O exame interno revela fratura de arcos costais do esterno. Presença de hemorragia
na cavidade torácica e no mediastino, rotura pulmonar, do fígado e do baço, com hemorragia
intraperitoneal.
A morte pode ser decorrente de choque vagal, desencadeado pela penetração do líquido
frio na árvore respiratória, o que provoca imediata parada cardiorrespiratória, sendo esta a
responsável pelo óbito. Não há tempo para ocorrer a asfixia; é o chamado afogado branco.
O exame externo no afogado azul revela: cogumelo de espuma branca com leve tonalidade
rósea, presente no orifício oral e nas narinas. Esse achado só é encontrado nos afogados
prontamente retirados da água. A pele apresenta-se apergaminhada, com os folículos pilosos
salientes (pele anserina). A pele palmar e plantar é de aspecto macerado e está enrugada. Os
livores de hipóstase são de tonalidade rósea, devido à absorção de considerável quantidade de
líquido para o interior dos vasos sanguíneos, com sua consequente diluição e modificação da
sua cor. Cianose labial, dos pavilhões auriculares e dos leitos ungueais, de cor azul-clara.
O exame interno revela sangue mais claro, drenando dos vasos sanguíneos seccionados.
Traqueia inundada por espuma e líquido. Pulmões distendidos e comprimidos contra a caixa
torácica. Apresenta cor clara e a superfície de corte deixa fluir líquido de cor rósea. A pleura
visceral apresenta manchas equimóticas maiores que as petéquias; são as chamadas manchas
de Paltaulf, que são mais presentes nas superfícies interlobares. Pode-se encontrar material
próprio do líquido aspirado no interior dos alvéolos pulmonares (plâncton). O estômago pode
estar repleto de líquido. Há congestão visceral generalizada.
A morte por afogamento pode ter como causa jurídica: acidente, suicídio, homicídio ou
tortura.
A causa jurídica da sufocação pode ser: homicida, acidental, e mais raramente suicida.
Internamente vê-se sangue escuro, fluido, drenando dos vasos seccionados. Equimose na
face interna dos lábios e das bochechas. Petéquias em pleura visceral e no epicárdio.
EXEMPLOS DE LAUDOS DE NECROPSIA
Caso n. 01
Exame de necropsia solicitado pelo Dr. Osmar, delegado de polícia, por meio do ofício n. XXX,
da Delegacia Municipal, em virtude de óbito por provável enforcamento.Exame realizado na
data: 28/12/2008, às 09h15 . Médico-legista Dr. Chu-En-Lay Paes Leme. Nome da vítima: J.P.A.
Histórico:
O corpo foi encontrado, hoje, por volta das 06 horas, enforcado num galho de mangueira, no
quintal da casa da vítima. Deixou uma carta informando sobre sua decisão de se matar.
Descrição:
Apresentação: cadáver trajando apenas um calção de cor vermelha.
Estimativa da data da morte: óbito ocorrido por volta da 01 hora, de hoje (em torno de oito
horas antes deste exame).
Discussão ou Comentários
As características observadas na necropsia são compatíveis com enforcamento por tração, feita
pelo peso do corpo. Não há sinais de luta nem de lesões de defesa. A causa jurídica da morte
mais provável é suicídio. Nesta circunstância, embora a morte tenha sido provocada por asfixia,
não se aplica o quarto quesito do laudo de necropsia, uma vez que não há o homicida, a quem a
lei estabelece pena maior quando comete o crime com o seu emprego.
Conclusão
A morte de J.P.A. foi asfixia produzida por enforcamento.
3º) Qual o instrumento ou meio que produziu a morte? Resposta: Meio físico-químico
(enforcamento).
4º) A morte foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel? Resposta: Prejudicado. (veja Discussão ou Comentários).
Caso n. 02
Exame de necropsia solicitado pelo Dr. Pedro, delegado de polícia, por meio do ofício n. XXX, da
Delegacia Municipal, em virtude de óbito por provável envenenamento.Exame realizado na
data: 03/03/2009, às 12 horas. Médico-legista Dr. Chu-En-Lay Paes Leme. Nome da vítima:
J.M.Q.
Histórico:
O corpo foi localizado na Fazenda Fazendinha, no Distrito da Voadeira, hoje, por volta das 7
horas, no interior da casa da vítima. Ao lado do corpo, encontrava-se bilhete de despedida,
indicando 01h20. A perícia realizada no local encontrou embalagem de Furadan líquido,
inclusive um copo de vidro, contendo parte do conteúdo da embalagem, próximo ao corpo.
Descrição:
Apresentação: cadáver trajando camiseta azul de malha, calça marrom, cueca verde.
Identificação: cadáver de adulto, do sexo masculino, de cor branca, idoso. Está identificado.
Estimativa da data da morte: óbito ocorrido em torno de 10 (dez) horas antes deste exame.
Exame externo: apresenta drenagem de líquido de cor rósea pela boca. Congestão facial.
Edema de membros inferiores. Ausência de sinais de traumas mecânicos.
Exame interno: Abertas as cavidades: torácicas e abdominal observa-se sangue escuro, fluido,
drenando dos vasos sanguíneos seccionados. Coração aumentado de volume com
proeminência do ventrículo esquerdo. Presença de placa de ateroma, em ramo anterior
descendente da coronária esquerda. Pulmões distendidos, congestos, com superfície de corte,
drenando líquido de cor vinhosa.
A cavidade abdominal apresenta vísceras tópicas. O estômago está distendido. Aberto, está
parcialmente preenchido por restos alimentares, em meio a líquido de cor rósea, que exala
odor químico desagradável.
Conteúdo do estômago contendo líquido de cor rósea (veneno Furadan).
Discussão ou Comentários:
A perícia técnica esteve no local onde o corpo foi encontrado e identificou a presença de frasco
contendo Furadan e um copo sujo com este veneno. Havia, ainda, um bilhete de despedida. Na
necropsia constatou-se líquido de cor rósea, de odor químico desagradável, drenando da boca
e ocupando a cavidade estomacal. Impõe-se o diagnóstico de suicídio com a ingestão de
veneno. Embora a morte tenha sido provocada por envenenamento, o quarto quesito do laudo
de necropsia não se aplica a esta situação, uma vez que não há a figura do homicida. A lei
qualifica apenas o crime de homicídio (art. 121, § 2º, inciso III, do CP).
Conclusão
A causa da morte de J.M.Q. foi intoxicação exógena secundária a envenenamento.
3º) Qual o instrumento ou meio que produziu a morte? Resposta: Meio químico (veneno).
4º) A morte foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel? Resposta: Prejudicado (veja Discussão ou Comentários).
Caso n. 03
Exame de necropsia solicitado pelo Dr. J.P.M. delegado de polícia, por meio do ofício n. XXX da
Delegacia Municipal, para apurar crime de homicídio.Exame realizado na data: 07/06/2009, às
08 horas. Médico-legista: Dr. Chu-En-lay Paes Leme. Nome da vítima: G.F.P.
Histórico:
Segundo a guia de requisição de necropsia, o periciando foi atingido por disparo de arma de
fogo, no dia 06/06/2009, provocando a sua morte.
Descrição:
Apresentação: cadáver trajando calça marrom e cueca bege.
Identificação: cadáver de adulto, jovem, do sexo masculino, de cor parda. Mede 170
centímetros e pesa 71 quilogramas. Está identificado. RG. n. 3631914 SSP-GO.Sinais de
morte:apresenta rigidez cadavérica generalizada. Livores de hipóstase em segmentos corpóreos
posteriores, fixos.
Estimativa da data da morte: óbito ocorrido em torno de 12 horas antes deste exame.
Exame externo e interno: apresenta palidez cutânea. Presença de ferida de forma elíptica,
no sentido longitudinal, com bordas apresentando zona de contusão e de enxugo, medindo 1
(um) centímetro no maior eixo, com área de destruição da epiderme em seu polo latero
inferior. Está identificada com a sigla E1 e se localiza na face lateral do terço superior do braço
direito.
O projétil penetrou no músculo deltoide, dirigiu-se levemente para cima e para o centro,
transfixou partes moles, interrompendo sua progressão em região subclavicular direita, de
onde foi retirado.
Outra ferida elíptica, disposta longitudinalmente, medindo 1 (um) centímetro, com bordas
apresentando zona de contusão e de enxugo, com área de destruição da epiderme em seu polo
superior, identificada com a sigla E2. Está localizada na região torácica esquerda, 6 (seis)
centímetros acima do mamilo, discretamente desviada para o centro.
Ferida de entrada do projétil E2, acima do mamilo e ferida de saída do projétil S2 abaixo e
lateralmente ao mamilo.
Outra ferida elíptica, no sentido transversal, identificada com a sigla E3, apresentando
bordas com zona de contusão e de enxugo, com área de destruição da epiderme no seu polo
posterior, localizada na face lateral do tórax, à esquerda, na topografia da linha axilar média, 14
(catorze) centímetros abaixo do oco axilar. O projétil penetrou na cavidade torácica direita
através do 9º espaço intercostal.
Local por onde o projétil penetrou na cavidade torácica (9º espaço intercostal).
O projétil interrompeu sua progressão, na altura da face anterior do corpo da 10ª vértebra
torácica, de onde foi retirado.
Local de onde o projétil foi retirado.
Discussão ou Comentários
As características das feridas de entrada dos projéteis de arma de fogo são de tiro a
distância. O trajeto do projétil que fez a ferida, identificada com a sigla E1, foi da direita para a
esquerda, levemente de baixo para cima. O do projétil que fez a ferida, identificada com a sigla
E2, foi de cima para baixo, levemente da direita para a esquerda. O do projétil que fez a ferida,
identificada com a sigla E3, foi da direita para a esquerda, na horizontal. Este projétil provocou
as lesões que levaram ao óbito da vítima. O perito não sabe em que circunstância aconteceu o
homicídio, se a vítima tinha como se defender, ou não, razão pela qual não tem elementos para
responder ao 4º quesito.
Conclusão
A causa da morte de G.F.P. foi choque hipovolêmico secundário à hemorragia interna,
provocada por ação de instrumento perfurocontundente.
Resposta: Sim.
4º) A morte foi produzida com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel?
A DO contém informações médicas quanto à causa básica da morte. Essas informações são
destinadas ao Serviço de Estatística do Ministério da Saúde e lá geram dados nos quais se
delineia o perfil sanitário da população. Com esses dados, é possível fazer diagnósticos e
planejar ações que visam interromper o curso de epidemias, de situações mórbidas, etc.,
melhorando as condições de saúde da população. A DO é uma das ferramentas importantes
que o Ministério da Saúde utiliza para cumprir essa missão.
A DO deverá ser emitida pelo médico que vinha prestando assistência ao paciente, ou, na
sua falta, pelo médico substituto ou plantonista.
A DO deverá ser emitida pelo médico que vinha prestando assistência ao paciente, ou, na
sua falta, por outro médico designado pela instituição que prestava a assistência.
A DO deverá ser emitida pelo médico do Programa de Saúde da Família, ou pelo médico do
Programa de Internação Domiciliar, ou outros assemelhados.
A DO deverá ser emitida pelo médico do SVO, onde houver, ou se não houver o SVO, por
médico do Serviço Público de Saúde; caso não haja esse serviço público, por qualquer médico
da localidade. Caso não haja médico, por duas pessoas qualificadas que tenham presenciado,
ou verificado a morte. (art. 77, Lei dos Registros Públicos – nº 6.015).
Lembretes importantes:
1 – Quando o paciente chega morto, ou morre assim que dá entrada no serviço de saúde e
o médico afasta a possibilidade de morte de causa violenta, mas não realizou nenhum exame
que possa apontar a causa natural do óbito, preencher o campo VI da DO da seguinte forma:
Óbito Sem Assistência Médica.
10 – A DO deverá ser emitida, quando a criança nascer viva e morrer logo após o
nascimento, independente do seu tempo de gestação, do seu peso e da sua estatura.
11 – Se for óbito fetal, a DO deverá ser emitida, se a gestação durou vinte ou mais
semanas, ou se o feto tiver peso igual ou superior a quinhentos gramas, ou se medir vinte e
cinco ou mais centímetros de comprimento craniopodálico.
1 – Localidade onde há IML, ou que tenha perito médico-legista oficial. Nessas localidades,
a DO será emitida pelo perito médico-legista, a quem a autoridade competente requisita o
exame de necropsia para elucidação da causa da morte e emissão do respectivo laudo médico-
legal.
3 – Localidade onde não há médico.Nessas localidades, a DO será emitida por duas pessoas
qualificadas que tenham presenciado ou verificado a morte (art. 77, Lei dos Registros Públicos
nº 6.015).
Nascido Vivo
É a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da
gravidez, de um produto de concepção que respire, ou apresente qualquer outro sinal de vida,
tais como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical, ou movimentos efetivos dos
músculos de contração voluntária, estando, ou não, cortado o cordão umbilical e estando, ou
não, desprendida a placenta. (BRASIL, Ministério da Saúde, 2007, p. 29).
Legislação
Lei dos Registros Públicos, nº 6.015
I – os nascimentos;
II – os casamentos;
III – os óbitos;
IV – as emancipações;
V – as interdições;
Art. 30. Não serão cobrados emolumentos pelo registro civil de nascimento e pelo assento
de óbito, bem como pela primeira certidão respectiva.
§ 4º É proibida a inserção nas certidões de que trata o § 1º deste artigo de expressões que
indiquem condição de pobreza ou semelhantes. Incluído pela Lei nº 11.789, de 02 de outubro de
2008.
Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar
em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze
dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta quilômetros
da sede do cartório.
§ 1º Quando for diverso o lugar da residência dos pais, observar-se-á a ordem contida nos
itens 1º e 2º do art. 52.
Art. 53.No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter morrido na ocasião do parto, será,
não obstante, feito o assento com os elementos que couberem e com remissão ao do óbito.
§ 1º No caso de ter a criança nascido morta, será o registro feito no livro “C Auxiliar”, com
os elementos que couberem.
Art. 77. Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do
falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se
houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado
ou verificado a morte.
§ 2º A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver manifestado a vontade
de ser incinerado ou no interesse da saúde pública e se o atestado de óbito houver sido firmado
por dois médicos ou por 1 (um) médico legista e, no caso de morte violenta, depois de
autorizada pela autoridade judiciária.
Art. 78. Na impossibilidade de ser feito o registro dentro de 24 (vinte e quatro) horas do fale-
cimento, pela distância ou qualquer outro motivo relevante, o assento será lavrado depois, com
a maior urgência, e dentro dos prazos fixados no artigo 50.
1º) o chefe de família, a respeito de sua mulher, filhos, hóspedes, agregados e fâmulos;
2º) a viúva, a respeito de seu marido, e de cada uma das pessoas indicadas no número
antecedente;
3º) o filho, a respeito do pai ou da mãe; o irmão, a respeito dos irmãos e demais pessoas da
casa, indicadas no n. 1; o parente mais próximo maior e presente;
Parágrafo único. A declaração poderá ser feita por meio de preposto, autorizando-o o
declarante em escrito, de que constem os elementos necessários ao assento de óbito.
3º) o prenome, nome, sexo, idade, cor, estado, profissão, naturalidade, domicílio e
residência do morto;
4º) se era casado, o nome do cônjuge sobrevivente, mesmo quando desquitado; se viúvo, o
do cônjuge pré-defunto, e o cartório de casamento em ambos os casos;
8º) se a morte foi natural ou violenta e a causa conhecida, com o nome dos atestantes;
Art. 82. Sendo o finado desconhecido, o assento deverá conter declaração de estatura ou
medida, se for possível, cor, sinais aparentes, idade presumida, vestuário e qualquer outra
indicação que possa auxiliar de futuro o seu reconhecimento; e, no caso de ter sido encontrado
morto, serão mencionados esta circunstância e o lugar em que se achava e o da necropsia, se
tiver havido.
Parágrafo único. Neste caso, será extraída a individual datiloscópica, se no local existir esse
serviço.
Art. 82. O assento deverá ser assinado pela pessoa que fizer a comunicação ou por alguém a seu
rogo, se não souber ou não puder assinar.
Art. 83. Quando o assento for posterior ao enterro, faltando atestado de médico ou de duas
pessoas qualificadas, assinarão, com a que fizer a declaração, duas testemunhas que tiverem
assistido ao falecimento ou ao funeral e puderem atestar, por conhecimento próprio ou por
informação que tiverem colhido, a identidade do cadáver.
Art. 84. Os assentos de óbitos de pessoas falecidas a bordo de navio brasileiro serão lavrados de
acordo com as regras estabelecidas para os nascimentos, no que lhes for aplicável, com as
referências constantes do artigo 80, salvo se o enterro for no porto, onde será tomado o
assento.
Art. 85. Os óbitos, verificados em campanha, serão registrados em livro próprio, para esse fim
designado, nas formações sanitárias e corpos de tropas, pelos oficiais da corporação militar
correspondente, autenticado cada assento com a rubrica do respectivo médico chefe, ficando a
cargo da unidade que proceder ao sepultamento o registro, nas condições especificadas, dos
óbitos que se derem no próprio local do combate.
Art. 86. Os óbitos a que se refere o artigo anterior, serão publicados em boletim da corporação e
registrados no registro civil, mediante relações autenticadas, remetidas ao Ministério da Justiça,
contendo os nomes dos mortos, idade, naturalidade, estado civil, designação dos corpos a que
pertenciam, lugar da residência ou de mobilização, dia, mês, ano e lugar do falecimento e do
sepultamento para, à vista dessas relações, se fazerem os assentamentos de conformidade com
o que a respeito está disposto no artigo 66.
Art. 87. O assento de óbito ocorrido em hospital, prisão ou outro qualquer estabelecimento
público será feito, em falta de declaração de parentes, segundo a da respectiva administração,
observadas as disposições dos artigos 81 a 84; e o relativo a pessoa encontrada acidental ou
violentamente morta, segundo a comunicação, ex officio, das autoridades policiais, às quais
incumbe fazê-la logo que tenham conhecimento do fato.
Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas
desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe,
quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o
cadáver para exame.
CONSIDERANDO que a morte natural tem como causa a doença ou lesão que iniciou a sucessão
de eventos mórbidos que diretamente causaram o óbito;
XIX – O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido, pelos seus atos
profissionais, resultantes de relação particular de confiança e executados com diligência,
competência e prudência.
Documentos Médicos
É vedado ao médico:
Art. 83. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha
prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plantonista, médico
substituto ou em caso de necropsia e verificação médico-legal.
Art. 84. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, exceto quando
houver indícios de morte violenta.
Código Penal
Da Falsidade Documental
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Código Civil
Art. 6º. A existência da pessoa natural termina com a morte. Presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos dos arts. 481 e 482.
Parte I
O modelo padronizado pela OMS estabelece quatro linhas precedidas pelas letras: “a”, “b”,
“c”, “d”, sendo “a” a primeira linha, “b” a segunda, “c” a terceira e “d” a última. Isso permite
que se informe o evento principal que acometeu a pessoa e que, a partir daí, gerou situações
que agravaram o seu estado de saúde, culminando com uma condição terminal diretamente
responsável pelo óbito.
A causa básica da morte é anotada na linha “d”. Essa causa básica é caracterizada por uma
patologia, ou por uma lesão produzida por agente vulnerante, que desencadeia desequilíbrios
no organismo da pessoa, progressivamente, até determinar a sua morte. Os eventos que se
seguem à causa básica da morte são anotados, numa sequência lógica, nas linhas: “c”, depois
“b” e por último “a”, sendo assinalado, nesta linha, o evento final que determinou a morte.
A causa básica da morte é o evento principal que gera, como consequência, as situações
que serão registradas nas linhas: “c”, “b” e “a”; é a informação principal nessa sequência. Ela é
a que registra a patologia básica, ou a lesão básica que produziu a morte. É ela o alvo da ação
das políticas de saúde para interromper ou prevenir a sua ocorrência.
Parte II
Nesta parte o médico informará qualquer doença ou lesão que tenha influído
desfavoravelmente, contribuindo, assim, para a morte, e que não esteja relacionada com o
estado patológico que conduziu diretamente ao óbito. As causas registradas nesta parte são
denominadas causas contribuintes.
Quando o óbito ocorrer meses após uma lesão produzida por causa externa, desde que
tenha nexo causal com ela, a DO deverá ser preenchida pelo médico-legista.
Suponha-se uma vítima que foi esfaqueada no abdome, com lesão de alças intestinais e
que foi submetida à cirurgia. Evoluiu com peritonite, necessitando ser operada mais duas vezes,
mesmo assim, não se restabeleceu e foi a óbito, um mês após a agressão, devido à septicemia,
como complicação da peritonite. Há nexo causal entre o esfaqueamento e a produção do óbito.
Trata-se de morte violenta. O médico da instituição não poderá assinar a DO. O caso deverá
gerar um boletim de ocorrência policial, e o corpo será encaminhado ao IML, para o exame de
necropsia, elaboração do laudo médico-legal e preenchimento da DO, pelo médico-legista.
Orientações Gerais
A DO deverá ser preenchida para todos os óbitos:
* Bloco I – Cartório
* Bloco II – Identificação
* Bloco IV – Ocorrência
Bloco I – Cartório
Este bloco se destina a colher informações sobre o Cartório do Registro Civil onde foi
registrado o falecimento. O preenchimento deste bloco é de exclusividade do Oficial do
Registro Civil.
Campo 1 – Cartório:Colocar o nome do Cartório.
Código:Deixar em branco, pois o código referente ao Cartório será preenchido pelo setor
responsável pelo processamento.
Campo 3 – Data:Anotar a data em que foi efetuado o registro. O ano deve conter 4 algarismos.
Bloco II – Identificação
Este bloco se destina a colher informações gerais sobre a identidade do falecido ou dos pais,
em caso de óbito fetal ou de menor de um ano.
Campo 9 – RIC: Este campo foi criado prevendo a utilização do Registro de Identificação Civil,
número único para cada cidadão, ainda em implantação nos estados brasileiros.
Campo 10 – Naturalidade: Colocar o nome do município de onde era natural o falecido, com
a sigla da respectiva Unidade da Federação. Em caso de desconhecimento do município, colocar
a sigla do Estado. Se não for conhecido o Estado, deixar em branco ou colocar um traço ( - ).
Campo 15 – Idade:
Anos Completos:Colocar a idade do falecido em anos completos, quando for igual ou maior
que um ano, ou quando a idade presumida estiver dentro destes limites.
Menores de um ano: Quando a idade do falecido for menor que um ano, este campo deverá
ser preenchido do seguinte modo:
Até 1 ano: Colocar o número de meses completos de vida, se a criança tiver morrido com mais
de um e menos de doze meses.
Até 1 mês:Colocar o número de dias de vida, no caso em que a criança tenha morrido com
mais de um e menos de trinta dias.
Até 1 dia: Colocar o número de horas de vida, se a criança tiver mor-rido com mais de uma e
menos de vinte e quatro horas.
Até 1 hora: Colocar, se possível, o número de minutos de vida, se a criança tiver morrido com
menos de sessenta minutos.
Campo 16 – Sexo: Este campo não deve ser deixado em branco. Assinalar com um “x” a
quadrícula correspondente ao tipo de sexo: M se masculino, F se feminino e I se ignorado, que
só deverá ser preenchido em casos especiais, quando for impossível o conhecimento do sexo.
Campo 17 – Raça/Cor: Assinalar a quadrícula correspondente, com um “x”. Lembrar que esta
variável não admite a alternativa Ignorada. Em caso de o óbito ser de indígena, marcar a
quadrícula 5 e anotar à parte o grupo/povo correspondente. Esta variável não se aplica à óbito
fetal.
Campo 18 – Estado Civil: Assinalar com um “x” a quadrícula correspondente ao estado civil
do falecido.Não deve ser preenchida em caso de óbito fetal e crianças.
Campo 19 – Escolaridade:Este campo não deve ser preenchido em caso de óbito fetal e de
criança menor de 5 anos. A quadrícula correspondente ao grau de escolaridade do falecido
deverá ser assinalada com um “x”, lembrando que este campo se refere ao número de anos de
estudos concluídos.
Campo 20 – Ocupação habitual e ramo de atividade: Este campo não deve ser reenchido
para óbitos fetais nem para crianças com menos de 5 anos de idade. Ocupação habitual é o tipo
de trabalho que o falecido desenvolveu na maior parte da sua vida produtiva. A informação
deve ser detalhada, de modo a permitir uma boa classificação. Não preencher com ocupações
vagas, como vendedor, operário, etc., mas com o complemento da ocupação: vendedor de
automóveis, operário têxtil, etc.
No caso de o falecido ser aposentado, deve ser colocada a ocupação habitual anterior. Anotar
estudante se o falecido, por ocasião do óbito, apenas estudava e não desenvolvia nenhuma
atividade regularmente remunerada.
O Código: correspondente será preenchido pelo setor responsável pelo processamento dos
dados, se estiver cadastrado.
Campo 22 – CEP: Este campo se refere ao Código de Endereçamento Postal, conforme consta
do Guia Postal Brasileiro, editado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
O Código: correspondente será preenchido pelo setor responsável pelo processamento dos
dados, utilizando o padrão do IBGE.
Bloco IV – Ocorrência
Este bloco foi desmembrado do Bloco de Identificação dos modelos anteriores. Destina-se a
colher informações sobre o local (área física, e não geográfica) onde ocorreu o óbito.
O Código: para o estabelecimento será preenchido pelo setor responsável pelo processamento
dos dados, segundo o respectivo Cadastro.
Campo 28 – Endereço de Ocorrência: Este campo deverá ser preenchido quando o óbito tiver
ocorrido fora de um Estabelecimento de Saúde ou de uma residência, ou seja, quando a
informação prestada no Campo 26 (Local de Ocorrência) tiver sido a alternativa 4 – Via Pública
ou 5 – Outros. Preencher com o endereço completo.
Campo 29 – CEP: Este campo se refere ao Código de Endereçamento Postal, conforme consta
do Guia Postal Brasileiro, editado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
O Código: correspondente será preenchido pelo setor responsável pelo processamento dos
dados.
O Código: correspondente aos do IBGE e será colocado pelo setor responsável pelo
processamento dos dados.
Campo 32 – UF: Anotar a sigla do Estado correspondente ao município onde ocorreu o óbito.
Lembrar que esta variável inclui o nascido morto a que se refere a Declaração.
Campo 39 – Tipo de Parto: O tipo de parto deverá ser informado com a colocação de um “x”
na quadrícula correspondente. Ressaltar que a alternativa Vaginal inclui todos os partos por via
baixa, incluindo o fórceps e vácuo-extrator.
Deverá ser preenchido para qualquer tipo de óbito, fetal e não fetal.
2) Sim, de 43 dias a 1 ano – se o óbito ocorreu entre o 43º e o 365º dia do puerpério.
Assistência Médica
Campo 45 – Recebeu Assistência Médica Durante a Doença que Ocasionou a Morte?
Assinalar com um “x” a quadrícula correspondente à alternativa escolhida. Este campo deve ser
preenchido com cuidado: a resposta Sim significa que o falecido, durante a doença que
ocasionou a morte, teve uma assistência médica todo o tempo; a resposta Não implica em que
o falecido não teve assistência médica continuada, podendo tê-la tido apenas por ocasião do
óbito.
Causas da Morte
Campo 49 – Causas da Morte: Este campo é de suma importância, porque fornece valiosa
informação para a construção do perfil epidemiológico da população. Em princípio, não
deverão ser incluídos sintomas e modos de morrer, como insuficiência cardíaca sem
especificação, insuficiência respiratória sem especificação, parada cardiorrespiratória, falência
de múltiplos órgãos e demais causas que não especificam a causa básica da morte. As referidas
causas somente devem ser aceitas como consequência de uma outra causa que tenha
originado todas as demais.Tradicionalmente, as estatísticas de mortalidade segundo causas de
morte são produzidas atribuindo-se ao óbito uma só causa, chamada causa básica. Como já
mencionado esta causa básica é “a doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos
patológicos que conduziram diretamente à morte, ou as circunstâncias do acidente ou violência
que produziram a lesão fatal”.O médico deve declarar corretamente a causa básica no Atestado
de Óbito e, em vista de recomendação internacional, ela deve ser escrita em último lugar (linha
“d”), na Parte I. Este princípio deve ser sempre seguido pelos médicos ao preencherem o
atestado de óbito, pois, caso contrário, as estatísticas de mortalidade segundo a causa básica
ou primária serão falhas, o que afeta não só a comparabilidade, como pode resultar em um
perfil epidemiológico falso.
A Parte II contém duas linhas. Nesta parte deverão ser anotadas as causas contribuintes para
o óbito, e que não estejam relacionadas com a causa básica.
Tempo aproximado entre o início da doença e a morte – este espaço deverá sempre ser
preenchido. O que se pretende é estabelecer o tempo aproximado entre o início do processo
mórbido e a morte, embora isto nem sempre seja possível, como nos casos de doenças crônicas
ou degenerativas. Quando este tempo não puder ser estabelecido, anotar ignorado.
Parte I a) Septicemia
b) Peritonite
c) Perfuração Intestinal
d) Febre Tifóide
Campo 52 – O Médico que Assina Atendeu ao Falecido? Este campo se refere à condição
do médico atestante e deve ser preenchido com um “x” na quadrícula apropriada,
considerando-se o seguinte:
1) Sim – quando o médico que assina a Declaração tiver efetiva-mente atendido ao paciente
durante a doença que ocasionou o óbito, ou à mãe, em caso de óbito fetal;
2) Substituto – quando o médico que assina a DO for plantonista, residente, chefe de equipe,
etc. que não tenha acompanhado o paciente durante a doença, mas apenas por ocasião da
morte;
5) Outro – quando o médico que assina não atendeu ao paciente durante a doença ou por
ocasião da morte, ou à mãe, em caso de óbito fetal. Esta alternativa também deve ser usada
nos casos em que o médico assina o atestado por caridade, questão de humanidade, amizade
ou camaradagem.
Campo 53 – Meio de Contato: Neste campo, deverá ser anotado o meio mais fácil de se
entrar em contato com o médico que assinou a Declaração de Óbito, tal como telefone, fac-
símile, e-mail, ou outro qualquer.
Campo 54 – Data do Atestado: Colocar a data em que o atestado foi assinado, com
Este bloco se refere às causas externas de óbito (nos modelos antigos era o Bloco VI). As
informações relativas às mortes violentas e acidentais (não naturais) são de grande importância
epidemiológica e são um complemento ao Bloco VI – Condições e Causas do Óbito.
Correspondem ao Capítulo XX da CID –10: Causas Externas de Morbidade e de Mortalidade.
Campo 56 – Tipo: Assinalar com um “x” a quadrícula correspondente ao tipo de morte
violenta ou circunstância em que se deu a morte não natural. As alternativas são: Acidente,
Suicídio, Homicídio, Outros e Ignorado.
Art. 77. Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do
falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se
houver no lugar, ou, em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado
ou verificado a morte.
Campo 62 – Testemunhas: Cada uma das testemunhas deverá assinar numa das linhas,
sendo conveniente a colocação do número de um documento de identidade (RG, CPF, etc.).
Exemplos de como preencher o campo 49 do bloco VI da DO
1) Um indivíduo é alvejado no tórax por projétil de arma de fogo, que penetra a cavidade
torácica, transfixa o pulmão esquerdo, a aorta torácica e penetra na vértebra T7. Produz
volumoso hemotórax à esquerda.
b)Hemorragia aguda
b)Hemorragia aguda
c)Lacerações hepáticas
Parte I. a)Septicemia
b)Pneumonia
4) Um indivíduo é atingido no abdome por arma branca, com perfurações de alças intestinais. É
operado para ráfia das lesões. No pós-operatório evolui com peritonite. É reoperado por duas
vezes. Persiste a peritonite. No 15º dia após a agressão faz quadro septicêmico grave e vai a
óbito.
Parte I. a)Septicemia
b)Peritonite
c)Perfuração de alças intestinais
5) Um indivíduo é encontrado morto, com fio elétrico encapado, envolvendo o seu pescoço,
dando duas voltas. Na necropsia observa-se polo cefálico congesto, cianose labial, língua
procidente, petéquias em esclera dos olhos. O pescoço mostra sulco duplo, profundo, contínuo.
O exame interno revela sangue escuro, fluido. Fratura da cartilagem tireoide. Equimose em
músculos do pescoço, hemorragia em adventícia das carótidas.
Parte I. a)Asfixia
c)Estrangulamento.
Observar que neste caso a causa básica da morte está colocada na linha “c”, porque, após ela,
apenas duas situações aconteceram até produzir o óbito.
6) Um indivíduo é encontrado morto em sua residência onde morava sozinho. Ao lado da cama
onde o corpo repousa, observa-se bilhete informando sobre a decisão de suicidar-se. Ali,
também, vê-se copo, contendo restos de líquido ligeiramente avermelhado, odor químico
desagradável e um frasco de veneno identificado como Furadan, cujo interior contém líquido
semelhante ao encontrado no copo.
O exame externo do corpo revela líquido avermelhado, claro, escorrendo de sua boca. O exame
interno mostra o estômago parcialmente preenchido por líquido de cor avermelhada e odor
semelhante ao já descrito. Os pulmões estão distendidos, congestos, com superfície de corte de
aspecto suculento, parênquima proeminente, úmido, brilhante, deixando fluir líquido
avermelhado.
b)Intoxicação exógena
c)Envenenamento.
Legislação
A Genética Forense nos dias atuais presta auxílio aos tribunais tanto na área cível como na
criminal.
Na área cível, contingente que responde pela imensa maioria da demanda são as
investigações de paternidade. No entanto, não raro o suposto pai oferece recusa a submeter-se
à prova pericial. Nesses casos, o que fazer? Essa indagação é também feita por Simas Filho
(2007): “A existência dessa recusa por parte do Réu, configura um paradoxo, pois, se se pode
determinar com segurança a paternidade e a não-paternidade através do ‘exame de DNA’, isso
de nada servirá, se o Requerido se recusar a fazê-lo?”
Art. 231: “Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não pode aproveitar-
se de sua recusa”.
Art. 232: “A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia
obter com o exame.”
Vale ressaltar que esses dois artigos da legislação civil não se referem apenas aos casos de
investigação de paternidade, mas a todas as situações que justifiquem a realização de uma
perícia médica. É bem verdade, no entanto, que as ações de investigação de paternidade são as
que suscitam maiores debates doutrinários.
STJ Súmula n°301 - 18/10/2004 - DJ 22.11.2004 - Ação Investigatória - Recusa do Suposto Pai –
Exame de DNA – Presunção Juris Tantum de Paternidade.Em ação investigatória, a recusa do
suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
Resp. 692.242 – MG, Rel.: Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, DJ de 12/09/2005. 2. In casu, o Apel
(...) – 1. Apesar da Súmula 301/STJ ter feito referência à presunção juris tantum de paternidade
na hipótese de recusa do investigado em se submeter ao exame de DNA, os precedentes
jurisprudenciais que sustentaram o entendimento sumulado definem que esta circunstância
não desonera o autor de comprovar, minimamente, por meio de provas indiciárias a existência
de relacionamento íntimo entre a mãe e o suposto pai.
Art. 1°Esta Lei estabelece a presunção de paternidade no caso de recusa do suposto pai em
submeter-se ao exame de código genético - DNA.
Art. 2°A Lei n°8.560, de 29 de dezembro de 1992, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 2°-
A: “Art. 2°-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos.Parágrafo único. A recusa
do réu em se submeter ao exame de código genético – DNA gerará a presunção da paternidade,
a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.”
Introdução
A Genética Forense é o ramo da genética voltado para a identificação humana. A
identificação humana aqui tratada pertence ao campo da Medicina Legal e da Criminalística.
Nela se inserem as disputas de filiação cíveis, provavelmente a sua aplicabilidade mais visível,
mas também a vasta gama de casos criminais, envolvendo identificação de criminoso, ou
vítima, de pessoa falecida, confronto entre vestígios de um delito e um suspeito, ou uma
vítima, todos com a finalidade de fornecer provas técnicas robustas para o auxílio do julgador.
Em que pese os casos eventuais do emprego da genética forense em material biológico não
humano, esse aspecto não será aqui tratado.
Perspectiva histórica
Em decorrência dos avanços da ciência, a genética forense é provavelmente a área da
Medicina Legal que mais se modificou nos últimos 100 anos. Por muito tempo sua
aplicabilidade se resumiu às disputas de paternidade cíveis. No princípio era baseada nas
semelhanças físicas observáveis, de forma empírica, entre genitores e descendentes alegados,
com resultados obviamente muito precários, citando-se como exemplo a existência de “sósias”,
pessoas que guardam semelhanças físicas com outras, ainda que não apresentem parentesco.
A primeira grande mudança deveu-se à interpretação das pesquisas realizadas por Gregor
Mendel, na segunda metade do século XIX, que permitiu explicar, com bases científicas, os
princípios da transmissão dos caracteres hereditários. Esses novos conceitos foram
incorporados à prática da Medicina Legal, por meio de provas não sanguíneas e provas
sanguíneas. As primeiras se constituíam na análise de algumas características físicas herdáveis,
das quais se podia identificar um tipo dominante e outro recessivo para cada uma delas,
salientando-se o lóbulo da orelha (livre e preso), redemoinho do cabelo (dextrógiro e levógiro),
braquidactilia (ausente e presente), cor dos olhos (castanhos e claros), sensibilidade gustativa à
feniltioureia (presente e ausente). As provas sanguíneas foram introduzidas no alvorecer do
século passado. Embasada nos postulados mendelianos, por quase 80 anos, foi explorado o
polimorfismo de alguns sistemas proteicos, destacando-se os sistemas eritrocitários ABO, fator
Rh, MNSs, Kell-Celano, Lutheran, Duffy e o leucocitário HLA. Por conta de limitações técnicas,
como necessidade de grande quantidade de material biológico para análise, uso apenas do
sangue como fonte desse material e de não ser possível obter resultado em material
degradado, seu emprego restringe-se quase que exclusivamente às disputas de paternidade
cível.
A segunda grande mudança teve início em meados da década de 1980 e ainda está em
curso, com os avanços alcançados pela engenharia genética que revolucionaram as ciências
forenses, pela incorporação das técnicas de exploração direta do DNA, este muito mais
informativo, além de presente em praticamente todos os líquidos e tecidos biológicos. O
pioneirismo coube a Sir Alec Jeffreys, em Leicester - Inglaterra, na resolução de um caso de
imigração, determinando vínculo genético entre mãe e filho. Um ano após, o mesmo autor
empregou essa técnica e identificou o agressor em um caso de duplo estupro e assassinato.
Para cada gene ou região do DNA, o genoma humano contém duas cópias, uma vinda de
cada genitor. Se as duas cópias forem idênticas, o indivíduo é dito homozigoto naquela região.
Se forem diferentes, diz-se que é heterozigoto.
O DNA dos cromossomos sexuais, assim como o DNA mitocondrial, possuem modos de
herança diferentes e serão discutidos posteriormente.
Metodologias de análise do DNA com fins forenses
Embora a razão primordial de ser do DNA seja exercida pelos genes, nem todo o DNA se
compõe de genes. Existem outras partes do DNA, destituídas de genes e denominadas não
codificantes, foco de intensos estudos, sabendo-se atual-mente que exercem função estrutural.
Dispersas nessas partes do DNA existem algumas regiões, na verdade milhares, com uma
característica peculiar: são formadas de pequenas sequências de pares de bases que se
repetem por várias vezes, uma seguida à outra, constituindo o DNA dito “satélite”. Uma
característica dessas regiões do DNA é que elas variam muito de tamanho de um indivíduo a
outro, ou seja, apresentam muitos tipos diferentes de alelos (formas diferentes de
apresentação de um gene ou região do DNA), a depender da quantidade de vezes que cada
pequena sequência é repetida.
A nomeação dos alelos é feita de acordo com a quantidade de vezes que a sequência de
pares de base se repete, de forma que cada alelo é representado por um número. Por tal
característica, essas regiões do DNA são ditas polimórficas, algumas contendo entre 5 e 10
alelos, outras com até 30, ou mais. Esse polimorfismo resulta de mutações gaméticas
acumuladas ao longo da existência da espécie humana, incluindo as formas de vidas
precursoras do homem moderno. As mutações aqui discutidas são ditas quantitativas e se
caracterizam por adição, ou subtração de uma unidade de repetição, durante a duplicação do
DNA na formação das células germinativas. É a análise desse polimorfismo, ou dessas
diferenças que constitui a base do uso do DNA nas ciências forenses.
A tabela 01 apresenta alguns dos STRs autossômicos mais utilizados em genética forense,
bem como o cromossomo no qual se localizam, os alelos que apresentam e as unidades de
repetição de bases. Alguns alelos são representados por números não inteiros, sendo
denominados “alelos intermediários” ou “microvariantes”, por conterem unidades de repetição
incompleta. Um exemplo é o alelo 9.3 do marcador TH01, o qual é composto de nove unidades
de repetição com quatro bases AATG e uma unidade com três bases ATG, por perda de uma
base “A”.
Alguns STR apresentam estruturas complexas, com mais de um tipo de unidade de repetição ou
com sequências inespecíficas intercaladas entre as unidades de repetição.
Tabela 01– Alguns dos STRs mais usados nos exames de DNA, localização cromossômica,
alelos e unidade de repetição. C– STR complexo.
Formalidades
Como as demais perícias, o exame de DNA necessita cumprir as formalidades que norteiam
uma perícia médico-legal. Dessa forma, o exame, no âmbito de uma instituição oficial de
perícia, só pode ser realizado no curso de uma investigação policial/judicial e solicitado pela
autoridade investigante. Quando se trata de uma investigação cível de
paternidade/maternidade, o Juiz de Direito da Vara de Família é, via de regra, a autoridade
solicitante. Nas demandas criminais, a autoridade policial que investiga a transgressão legal é
quem faz a solicitação, podendo esta ser originada pela autoridade judicial quando já na fase de
processo. O documento que solicita a perícia deve contemplar algumas informações, como
número da ocorrência/inquérito/processo, o objetivo da perícia, a qualificação dos doadores,
os vestígios a serem comparados, a relação, ou provável relação de parentesco entre as partes
envolvidas nas análises.
O doador voluntário se refere àquele que vai ceder seu material para ser utilizado como
amostra de referência, conceituada como uma amostra obtida de uma fonte conhecida, a ser
comparada com outro material biológico qualquer. É o caso das partes envolvidas em um
exame de paternidade, do suspeito, ou da vítima em um caso criminal, do parceiro consentido
de uma vítima de crime sexual. Situação diferente é aquela na qual, no curso de uma perícia, o
perito julga ser conveniente a coleta de eventual material biológico presente no corpo do(a)
periciando(a), constituindo-se este um vestígio ou amostra questionada. É o caso da coleta de
material depositado nas cavidades vaginal, anal, ou bucal, ou de qualquer parte do corpo de
uma vítima de crime sexual, do pênis de um suposto agressor, ou tecidos de um cadáver de
identidade desconhecida. Nessas situações, a coleta encontra-se inserida no contexto de uma
perícia, na qual se coleta material biológico, como outro material qualquer para o
esclarecimento de uma questão pendente, devendo ser feita independente de autorização. O
documento que solicitou a perícia, elaborado por uma autoridade competente a cargo da
investigação, já autoriza a execução de todos os procedimentos técnicos recomendados.
*Uso de gorro, máscara, luva, avental durante a coleta. As luvas devem ser trocadas entre o
manuseio de diferentes itens a serem coletados. Aconselha-se calçar duas luvas de látex de
forma que a externa possa ser instantaneamente removida caso as luvas se sujem e seja
necessário o manuseio com luvas limpas.
* Evitar o contato das mãos nuas com material biológico a ser coletado, bem como tossir,
espirrar ou mesmo conversar próximo a ele.
* Cada vestígio coletado deve ser acondicionado separadamente, ainda que de um mesmo
indivíduo.
* Tecidos moles coletados de cadáver devem ser estocados em recipiente limpo e com tampa,
próprio para coleta. Evitar a imersão ou o embebimento em líquidos, tais como formol, solução
fisiológica, água mesmo se estéril, etc. A maneira mais simples, além de absolutamente
eficiente de se conservar o DNA contido em um material biológico é estocá-lo em freezer(-
20°C). Ressalte-se que o formol degrada o DNA, tornando incerta a sua obtenção.
* Manchas secas de sangue, de sêmen, ou outro tipo de mancha devem ser coletados em swab
descartável, umidificado em água estéril e deixados para secar em local apropriado, antes de
embalados. A umidade favorece a proliferação de microorganismos que irão degradar o DNA. O
acondicionamento dessas amostras deve ser feito em envelope de papel. Invólucro de plástico
retém umidade
* Qualquer item coletado deve ser identificado corretamente, fazendo-se constar data da
coleta, vestígio coletado, número do caso, código da amostra, quando for o caso, e nome do
perito, além de assinatura no lacre. Essas recomendações visam manter de forma apropriada a
cadeia de custódia.
É importante lembrar que em qualquer célula de um indivíduo, o perfil de DNA obtido será
o mesmo. O sangue, por suas características físicas, se constitui no material biológico ideal para
a obtenção do DNA que, nesse caso, é obtido dos leucócitos, já que as hemácias, por não
conterem núcleo, não possuem DNA nuclear. Como amostra de referência de um indivíduo, a
escolha é sempre por coletar sangue e/ou células da mucosa bucal. O sangue pode ser coletado
por punção venosa periférica habitual, com seringa estéril, ou outro dispositivo de coleta, na
quantidade de 03 a 05 mililitros, devendo ser em seguida transferido para tubo de coleta
contendo anticoagulante EDTA e, logo que possível, congelado a -20°C. Recomenda-se não
utilizar tubo de vidro e, sim, de polímero sintético, uma vez que pela expansão da água, ao ser
congelada, o tubo de vidro costuma se quebrar e extraviar o material coletado.
Uma alternativa igualmente válida e muito utilizada é a coleta por punção, em uma polpa
digital, com dispositivo apropriado, da qual se obtém uma gota de sangue a qual é transferida
para um cartão especial – cartão FTA ou similar, próprios para conservar a integridade celular e
do DNA. Esses cartões contêm substâncias que protegem o DNA da ação de enzimas nucleases,
com o poder de clivar o DNA, bem como impedem o crescimento bacteriano. Neste caso, o
resfriamento é prescindível, podendo a estocagem ser feita a temperatura ambiente,
permanecendo válidas todas as demais recomendações já feitas.
A coleta de células bucais deve ser feita por esfregaço com swab estéril, em movimentos
de vaievém na parte interna da bochecha, sob pressão moderada, para recolhimento das
células descamativas. A coleta deve ser feita, no mínimo em duplicata, uma de cada bochecha.
O uso de medicamento, ou a ausência de jejum não interferem no processo. No entanto, para a
coleta de células bucais, recomenda-se orientar os doadores a não ingerirem alimentos
imediatamente antes do procedimento, devendo esse aspecto ser observado mais amiúde,
quando se tratar de criança em amamentação, pela frequência com que necessita se alimentar.
O exame feito em cabelo, ou pelos diversos também é possível, desde que eles contenham
o bulbo (raiz), local onde se encontram as células nucleadas. A coleta feita mediante corte da
haste não tem valor para exame de vínculo genético de paternidade, uma vez que a haste não
contém DNA nuclear, mas apenas o DNA mitocondrial, imprestável para tal análise. Vale
ressaltar que não constitui boa prática coletar cabelo, como material de referência, uma vez
que a etapa de extração do DNA nesse apêndice cutâneo é mais trabalhosa, mais dispendiosa,
demanda mais tempo e apresenta uma probabilidade menor de se obter DNA em quantidade
suficiente para produzir perfis genéticos completos, quando comparados a sangue e células
bucais. Situação distinta é o cabelo ou pelo encontrados em cena de crime, ou no corpo de uma
vítima, ou suspeito. Neste caso, eles se constituem em vestígios biológicos, devendo ter o
mesmo encaminhamento que outro vestígio qualquer, devendo ser submetidos previamente a
exame tricológico, para se saber se são humanos e para pesquisa da presença de bulbo.
No cadáver, material biológico para exame de DNA pode ser coletado, como amostra de
referência, para ser comparada com vestígios de um crime, ou para identificação do falecido. A
tabela 02 reproduz as orientações da ISFG (International Society for Forensic Genetics) para
escolha do material a ser coletado.
Músculo
*Incisar a área escolhida até a bainha aponeurótica
*Com uma lâmina de bisturi nova e uma pinça anatômica, remover 02 ou 03 lâminas de
cartilagem na dimensão e formato aproximados de uma unha do dedo indicador.
Dentes
*Qualquer dente pode ser escolhido, no entanto, dá-se preferência aos molares, pré-molares
ou caninos, em número de cinco a dez, de forma a perfazer um total aproximado de 10 gramas.
*Devem ser evitados dentes com cáries, restaurações, tratamentos endodônticos, ou outras
modificações artificiais.
Osso (fêmur)
*Qualquer osso pode ser coletado para obtenção do DNA. A preferência é por osso compacto,
encontrado principalmente nas diáfises dos ossos longos, ad-vindo daí a preferência pelo
fêmur.
*Após os cuidados já descritos para limpeza da pele, fazer uma incisão cutânea no formato da
letra “H” na face anterior da coxa.
As porções transversais da incisão devem ser feitas nas extremidades proximal e distal da
incisão longitudinal, em uma extensão de um pouco mais da metade da circunferência
da coxa.
*Aprofundar a incisão até atingir o osso, criando um flap medial e um lateral, os quais devem
ser dissecados medial e lateralmente, removendo as inserções musculares, de forma a expor o
fêmur aproximadamente em metade de sua circunferência e em toda extensão da incisão.
*Aconselha-se calçar dois pares de luvas e remover o par externo neste momento.
*Com uma lâmina de serra montada em suporte, serrar transversalmente uma ou duas porções
de osso em forma de cunha, na face anterior da parte medial da diáfise, tomando o cuidado
para que a cortical posterior não seja alcançada, de forma a não comprometer a integridade do
eixo do osso, evitando, assim, instabilidade para uma nova coleta e para o transporte do
cadáver, bem como prejuízo para eventuais medições ósseas que se façam necessárias
posteriormente.
Quando se tratar de esqueleto, a limpeza do osso deve ser feita com água corrente, sabão
neutro líquido e bucha de limpeza. Os métodos empregados pela Antropologia Forense que
incluem ferver os ossos para facilitar a remoção de restos de tecidos moles ressecados,
compostos principalmente de tendões, ligamentos e cápsulas articulares, não prejudicam a
obtenção do DNA. Nesses casos, a solução de fervura deve conter apenas água e detergente
líquido neutro, estando formalmente contraindicado o uso de hipoclorito de sódio (água
sanitária). Este produto deve ser usado apenas para rinsagem da amostra coletada, como já
descrito acima. O emprego de verniz preconizado por alguns protocolos da Antropologia para
preservação dos ossos também está contraindicado, pelo seu potencial de interferir na reação
de PCR.
No cadáver carbonizado, o músculo esquelético que sofreu ação das altas temperaturas,
porém não chegou a ficar tostado, adquirindo uma coloração marrom, tem se mostrado uma
fonte muito confiável para obtenção de DNA. Fazendo parte dos esforços de identificação de
vítimas em um incêndio ocorrido em 2004, em um supermercado na cidade de Assunção –
Paraguai, mais de 120 amostras nessas condições foram coletadas e enviadas ao Instituto de
Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil do Distrito Federal. De todas elas foi possível obter
DNA de boa qualidade, cujas análises levaram à identificação de várias das vítimas.
Independente do tecido a ser coletado, deve-se escolher uma região preservada do corpo,
sem ferimentos, ou outras lesões, fugindo, assim, de áreas potencialmente mais contaminadas
e com decomposição mais acelerada.
Nos crimes contra a liberdade sexual, o agressor, via de regra, deixa seu material em
cavidades naturais (vagina, ânus, boca) ou na superfície corporal da vítima, ou ainda em lençóis,
vestimentas, papel higiênico, ou toalha utilizados para asseio. A coleta do material pelo médico
legista dever ser feita no final do exame pericial, quando todos os demais aspectos julgados
importantes para a perícia tiverem sido já abordados.
A coleta na cavidade vaginal deve ser feita com swab estéril, em número mínimo de dois,
friccionando-os contra as paredes do fundo do saco vaginal, devendo-se deixar secar por um
período mínimo de 20 minutos, em lugar seguro e abrigado da luz solar. Em seguida, deve ser
congelado a -20°C. Procedimento semelhante aplica-se para as coletas anal e oral. É importante
salientar que os dois swabs coletados devem ser utilizados exclusivamente para os
procedimentos de extração do DNA. Para a pesquisa de espermatozoide em microscópio deve
ser coletada uma amostra adicional. Qualquer mancha encontrada na superfície corporal que
possa corresponder a esperma ressecado deve ser igualmente coletada com swab umedecido
em água estéril, se possível também em duplicata. Existem modelos de swab cujo estojo
contém meio de cultura gelatinoso para imersão do swab pós-coleta. Esse modelo não deve ser
utilizado, pois o que se pretende é impedir e não incrementar a proliferação de
microorganismos.
Durante o ato sexual pode haver transferência de pelo do agressor para a vítima, de forma
que qualquer pelo encontrado que possa não ser da vítima deverá ser coletado. O
armazenamento neste caso deve ser em envelope de papel branco e devidamente lacrado para
prevenir a sua perda acidental.
A coleta de material biológico pode ser feita ainda nas regiões subungueais de vítimas, ou
supostos agressores, na tentativa de obter DNA da outra pessoa envolvida, quando se suspeita
ter havido luta corporal. Por costumarem apresentar a extremidade livre das unhas maiores,
este procedimento tende a dar melhores resultados quando a coleta é realizada em mulheres.
Remenda-se coletar um swab para cada mão.
A coleta em cenas de crimes está sujeita a outro fluxo, em razão das características
próprias de tal ambiente. Nesses locais, vários são os suportes nos quais se pode encontrar
material biológico passível de análise pela Genética Forense. Manchas de sangue, esperma,
saliva, ou outro fluido corporal podem ser encontrados no assoalho, paredes, teto, tapetes,
interior de automóveis, superfície de móveis, objetos, utensílios, trilhas, etc. Armas brancas
utilizadas para produzir lesões e projéteis de arma de fogo que transfixaram uma vítima
habitualmente contêm sangue. Se o suporte é fixo e não pode ser removido, a mancha deve ser
transferida para algodão ou swab umedecido em água estéril. Naquelas manchas contendo
grande quantidade de sangue ressecado, a coleta pode ser feita, por raspagem, com lâmina de
bisturi nova. Os pequenos suportes, como projéteis, armas brancas, pedaços de papel, objetos,
como copos, talheres, telefones celulares, livros, tocos de cigarros, pedaços de pau devem ser
recolhidos e encaminhados ao laboratório de Genética Forense. De vestes, lençóis, toalhas, ou
outros tecidos, o perito pode identificar as áreas nas quais possivelmente existam manchas de
material biológico e recortá-las para envio ao laboratório.
Uma mancha que se presuma conter sangue, ou esperma deve ser analisada previamente
para se confirmar a sua natureza. No entanto, se a quantidade de material biológico
eventualmente contido no suporte parecer exígua, pode-se prescindir desse exame prévio, uma
vez que tal procedimento pode consumir todo o material, inviabilizado a obtenção do DNA.
Como exemplo, pode-se citar material contido em projéteis de arma de fogo, ou em pequenos
instrumentos lesivos, como pregos, ou outros objetos metálicos, ou mesmo quando a mancha
identificada em um suporte qualquer se tratar apenas de um pequeno ponto.
Uma fonte de material biológico cada vez mais frequente em cenas de crime contra a
liberdade sexual são os preservativos. Estes devem ser cuidadosamente coletados e
acondicionados em invólucro de papel. Deles se pode obter o DNA do agressor na face interna
e da vítima, na face externa.
Procedimentos Laboratoriais
Entre a coleta do material biológico e a análise final do DNA, vários procedimentos
laboratoriais precisam ser realizados. São eles:
Nos crimes contra a liberdade sexual, as amostras biológicas coletadas costumam conter,
além de espermatozoides, outros tipos de células, frequentemente células epiteliais da vítima.
Em tais casos, é necessário fazer a separação entre o DNA oriundo dos espermatozoides
(“Fração Espermatozoide” ou FE) e aquele proveniente das células outras que não os
espermatozoides (“Fração Não Espermatozoide”, FNE). Para tanto, executa-se uma
metodologia de extração denominada “extração diferencial”. Esse método permite romper
inicialmente as células que não espermatozoides com um tampão específico. Após
centrifugação, o DNA dessas células, sobrenadante no tampão, é removido do microtubo,
permanecendo os espermatozoides íntegros e depositados no fundo do tubo. Posteriormente
eles são lisados pela ação de outro tampão específico. Ao final, o DNA de cada uma das frações
estará contido em um microtubo distinto.
Impedir que inibidores entrem em contato com a amostra é a forma mais eficiente de
prevenir sua ação. Manchas de sangue, ou sêmen impregnados em vestes, contendo tintura
índigo (tecido Jeans) podem ser transferidas para um swab umedecido em água, em vez de
cortar e remover um fragmento do tecido contendo a mancha, exceto se muito pequena, da
ordem de poucos milímetros, pois nesta situação a quantidade transferida para o swab pode
comprometer a amplificação do DNA.
Para as amostras-referência a etapa da quantificação pode ser negligenciada, uma vez que
o material biológico encontra-se sempre em condições ótimas, produzindo DNA de boa
qualidade e em quantidade previsível.
Amplificação
Consiste na multiplicação in vitro,de cada cópia de sequências de DNA, previamente
escolhidas, em até bilhões de vezes, pela técnica da PCR (Polimerase Chain Reaction - Reação
em Cadeia da Polimerase), executada em um equipamento denominado Termociclador. A sua
alta sensibilidade a torna uma técnica ideal para amostras forenses, muitas vezes degradas e
em pouca quantidade.
* Água
Etapas da PCR:
1. Desnaturação –Etapa em que ocorre a separação da dupla fita de DNA, a partir da elevação
da temperatura (94 a 96ºC), por aproximadamente 1 minuto.
Esses ciclos são repetidos, por aproximadamente 30 vezes, ao final dos quais as regiões
específicas de cada molécula de DNA, inicialmente contida na reação, terá sido multiplicada por
até bilhões de vezes. Isto porque a multiplicação (amplificação) é exponencial, de forma que
cada ciclo idealmente duplica a quantidade de DNA existente.
Eletroforese
É uma técnica de separação de moléculas carregadas eletricamente, com base na diferença
de peso molecular entre elas. No caso do DNA, os fragmentos amplificados pela PCR são
separados de acordo com o seu tamanho. A separação ocorre a partir da migração do DNA
amplificado, que é colocado em um gel, ao qual é aplicada uma diferença de potencial. Os
fragmentos menores, com menor peso molecular, migram com uma velocidade superior à
velocidade de migração das moléculas maiores, com maior peso molecular. Uma vez que a
molécula de DNA é carregada negativamente, a migração se faz do polo negativo para o
positivo.
A eletroforese pode ser realizada em placas, utilizando-se gel de agarose, ou gel de
poliacrilamida, ou em sequenciadores de DNA. Neste último caso, os equipamentos mais
modernos utilizam capilares metálicos, contendo um gel na sua luz e um sistema de varredura a
laser, conferindo mais rapidez e eficiência à eletroforese. Existem equipamentos com até 16
capilares, permitindo igual número de corridas eletroforéticas simultaneamente.
*codificação alfanumérica de toda amostra biológica, de forma que apenas os peritos do caso
conhecem a sua origem;
* Com o duo – filho e suposto pai (quando a mãe não está disponível para exame),
* Com o suposto pai falecido – neste caso o exame deve ser feito pela genotipagem dos
parentes consanguíneos do suposto pai, na seguinte ordem de preferência: seus genitores,
filhos biológicos e respectiva genitora, irmãos, outros parentes. Quando o exame for realizado
com os filhos legítimos, ou com os irmãos do suposto pai, deve-se analisar o maior número
possível, para que o genótipo do suposto pai possa ser estimado, ou reconstituído da forma
mais ampla possível.
A exumação nesses casos é determinada pelo Juiz de Direito da Vara de Família e deve
seguir o seguinte rito:
*Estabelecimento de data e hora para a realização – para minimizar o desconforto dos que vão
realizar o procedimento, sempre a céu-aberto, dá-se preferência às primeiras horas da manhã
para o seu início.
*A exumação deve ser presidida por Oficial de Justiça designado pela autoridade judicial e
acompanhada do administrador do cemitério, quando houver, devendo ser amplamente
documentada com fotografias e/ou filmagens.
*Ao final, será lavrado o Auto de Exumação a ser assinado pelos presentes, constando data,
hora e local do fato, pessoas presentes, detalhes do procedimento, material coletado, nome do
profissional encarregado de sua guarda e destino dado a ele, garantindo, assim, a cadeia de
custódia.
Tipos de Análises
Quanto ao tipo de análise as perícias em Genética Forense podem ser divididas em dois
grandes grupos: vínculo genético e identidade entre amostras.
Vínculo genético
Análise realizada com o objetivo de estabelecer relação de parentesco entre os doadores
das amostras biológicas. Nesse tipo de análise, os perfis genéticos obtidos de cada uma das
amostras é único e diferente dos demais. O que se procura saber é se existe relação de
parentesco entre as pessoas, dado o perfil genético de cada uma delas. Foi esse tipo de análise
que deu origem à Genética Forense, com os exames cíveis de paternidade. Ele continua sendo
feito, principalmente nas demandas de paternidade cível, mas cada vez mais é utilizado na
esfera criminal, salientando-se casos de gravidez, resultante de estupro, aborto, troca de
criança em maternidade, rapto de recém-nascido, identificação de cadáver.
Em exame de paternidade clássico, “HP” diz que: “o DNA da criança, filho daquela mãe,
apresenta o perfil observado em decorrência do vínculo genético real entre filho e suposto pai”,
enquanto que “HD” sustenta que “o DNA da criança, filho daquela mãe, apresenta o perfil
observado em decorrência de vínculo genético com outro homem qualquer não testado, que
por mera coincidência apresenta um perfil genético compatível para ser o pai da criança”.
*Índice de Paternidade – diz quantas vezes é mais provável de se obter aqueles resultados
devido ao vínculo real entre suposto pai e criança do que em razão de uma mera coincidência.
Exemplo:
Na região D8S1179 o alelo paterno obrigatório é o 14. O suposto pai tem este alelo e
também o 11, sendo heterozigoto para esta região. Ao gerar um descendente, o alelo
transmitido por ele poderá ser o 11 ou o 14, com probabilidade de 0,5 (ou 50%) para cada um.
Para um indivíduo qualquer da população, a probabilidade de ser transmitido o alelo 14
(paterno obrigatório) será 0,2.
Na região TH01, o alelo paterno obrigatório é o 9. O suposto pai tem este alelo em
duplicata, sendo homozigoto para esta região. Ao gerar um descendente, o alelo transmitido
por ele será necessariamente o 9, com probabilidade de 1,0.
Como pode ser observado, o IP para o marcador TH01 foi duas vezes maior que para o
D8S1179, mesmo que, em ambas as regiões, a frequência do paterno obrigatório fosse a
mesma. A explicação é que no TH01 o suposto pai é homozigoto, enquanto no D8S1179 ele é
heterozigoto.
Quando a mãe e o filho são heterozigotos e iguais, não se identifica o alelo paterno
obrigatório. Neste caso, qualquer homem que apresente um ou outro alelo possui um genótipo
compatível para ser o pai da criança. Nessas circunstâncias, a soma das frequências dos dois
alelos será usada para compor o denominador (HD).
1. Genitores do suposto pai (supostos avós) – o uso dos genitores do suposto pai permite
estimar quais alelos ele poderia apresentar no seu perfil genético. Como o genótipo de uma
pessoa em cada marcador é composto de dois alelos, os avós em conjunto apresentam quatro
alelos, um dos quais será herdado pelo neto. Neste caso, no cálculo do IP, o numerador (HP)
será igual à quantidade de vezes que o alelo paterno obrigatório foi observado nos genótipos
dos supostos avós dividido por quatro. O denominador será a frequência de ocorrência do alelo
paterno obrigatório, ou a soma das frequências dos dois alelos presentes no genótipo do filho,
se a mãe e o filho forem heterozigotos e iguais. Exemplo:
Índice de Paternidade
Na região D8S1179, o alelo paterno obrigatório é o 14. Este alelo é observado uma vez no
genótipo da suposta avó e nenhuma vez no genótipo do suposto avô.
Na região TH01, não se identifica o alelo paterno obrigatório, podendo o filho ter herdado do
pai o alelo 6 ou o 9. No genótipo da suposta avó o alelo 9 foi observado duas vezes (ela é
homozigota para o alelo 9), enquanto, no genótipo do suposto avô, o alelo 6 foi observado uma
vez.
2. Filhos biológicos com a mãe – neste caso o perfil genético do suposto pai é reconstituído, a
partir dos alelos paterno obrigatórios, identificados nos genótipos dos filhos. Para que os dois
alelos do suposto pai, em cada marcador, possam ser reconstituídos, é necessário que, pelo
menos, dois filhos biológicos sejam analisados. De fato, quanto mais filhos biológicos forem
testados, mais ampla será a reconstituição do genótipo do suposto pai. Mesmo assim, em
alguns marcadores, apenas um alelo do suposto pai poderá ser identificado no genótipo dos
filhos. Nestes casos, o cálculo do IP pode ser feito, atribuindo-se ao alelo não identificado o
valor da frequência de ocorrência do alelo paterno obrigatório, identificado no perfil do filho
em questão. Exemplo:
1 pela presença do alelo 7 no genótipo do suposto pai; 0,2 pela frequência do alelo sobre o qual
não se tem informação
Quando apenas um alelo é identificado e este não coincide com o paterno obrigatório, a
Quando a mãe dos filhos biológicos do suposto pai não pode ser testada, mesmo assim o
exame ainda pode ser feito. Nesses casos, no entanto, o IP obtido costuma alcançar valores
baixos, podendo o resultado ser considerado, para fins práticos, como pouco consistente, ou
mesmo inconclusivo. O mesmo pode ocorrer quando, na presença da mãe, apenas um filho do
suposto pai é testado. Neste último caso, uma eventual exclusão não tem como ser
caracterizada, analisando-se cada marca-dor individualmente, uma vez que, em cada um deles,
apenas um alelo do perfil do suposto pai será identificado, restando o outro, sobre o qual não
se tem informação.
3. Irmãos do suposto pai – o objetivo da análise dos irmãos do suposto pai é reconstituir os
genótipos dos supostos avós. Quanto mais irmãos puderem ser analisados, mais completa será
a reconstituição. Se apenas um irmão puder ser analisado, a reconstituição ficará restrita a um
alelo de cada genitor por marcador, resultando, em geral, em índices de paternidade muito
baixos e não permitindo que se detecte uma exclusão. Uma vez reconstituídos os genótipos dos
supostos avós, os cálculos são executados como se estes tivessem sido testados. A diferença é
que, nos marcadores nos quais em algum genitor apenas um alelo pode ser identificado, ao
alelo não identificado atribui-se o valor da frequência de ocorrência desse alelo na população,
semelhante à reconstituição do genótipo do suposto pai, mediante análise de seus filhos
biológicos.
Qual o Índice de Paternidade ideal? Existe um Índice de Paternidade mínimo para que a
prova genética seja relevante? Esta é uma matéria que suscita discussão. A International
Society for Forensic Genetics (ISFG) não estipula um Índice de Paternidade mínimo para que um
laudo seja emitido. Um índice mínimo de 10.000, resultando em uma Probabilidade de
Paternidade de 99,99%, tem sido a meta proposta e almejada por muitas instituições. Este
índice nem sempre é alcançado, mesmo após esgotados todos os recursos, em termos de
marcadores genéticos disponíveis, citando como exemplo, eventuais casos deficientes de
paternidade nos quais os parentes substituem o suposto pai, quando o exame é feito apenas
com o filho e o suposto pai, em razão de indisponibilidade da mãe, ou na identificação de
cadáver pela análise de ossos muito antigos. Nesses caso, o laudo deve ser emitido, fazendo
constar os valores estatísticos obtidos, podendo conter a ressalva de que o IP ficou abaixo do
valor mínimo almejado pela instituição. Nos casos em que o suposto pai é falecido pode-se
solicitar o envio de parentes adicionais. Na inexistência destes, resta sugerir ao Juiz a exumação
para coleta de material biológico.
Na prática, o valor obtido é multiplicado por 100, para apresentar o resultado, em termos
percentuais (tabela 5).
A Probabilidade de Paternidade não é um parâmetro de consenso, uma vez que, no seu
cálculo, como se viu, estão incluídos valores arbitrados. Sob este argumento, alguns autores
advogam o uso apenas do Índice de Paternidade, por levar em consideração tão somente as
evidências genéticas.
Probabilidade de Exclusão
Digamos que um homem tenha sido falsamente acusado de ser o pai de uma criança. Ao se
submeter ao exame genético, qual é a probabilidade de que ele seja excluído de ser o pai, dado
que, de fato, ele não é o pai? Em outras palavras, a Probabilidade de Exclusão se refere à
probabilidade de que um indivíduo falsamente acusado seja excluído de ser o pai do filho
alegado. Quanto maior o valor obtido, mais confiável é a bateria de marcadores genéticos
utilizada no exame.
Consideremos a mãe e o filho. A análise dos seus respectivos genótipos permite identificar
o alelo paterno obrigatório no filho (APO). A Probabilidade de Exclusão (PE) pode ser definida
como a fração de homens que não apresentem o APO (ou os dois alelos do genótipo do filho,
quando mãe e filho forem heterozigotos e iguais). O cálculo é feito levando-se em consideração
apenas os genótipos de mãe e do filho. Seu valor é obtido pela fórmula:
PE = [1 – (f APO)]²
Onde f APO é a frequência do alelo paterno obrigatório (ou a soma das frequências dos
dois alelos do filho, quando mãe e filho forem heterozigotos iguais).
Na hipótese da acusação (HP) de que as amostras vieram de uma mesma fonte biológica, a
probabilidade de identidade entre os genótipos será 1. Isto porque, sempre que uma amostra
biológica, deixada por alguém, em algum lugar, for testada e comparada com uma amostra de
referência dessa mesma pessoa, os genótipos terão de ser necessariamente idênticos,
desconsiderando-se a hipótese de erro laboratorial.
Na hipótese da defesa (HD) de que os genótipos das amostras testadas são idênticos, por
mera coincidência, esta probabilidade é obtida pela verificação da frequência de ocorrência
daquele genótipo na população, de acordo com as frequências alélicas observadas no Banco de
Dados de frequência alélica.
Revendo o que já foi discutido, anteriormente, um indivíduo apresenta dois alelos em cada
região do DNA, podendo ser idênticos ou não. A probabilidade de que dois alelos específicos
componham o seu genótipo em um determinado marca-dor é dado pela equação binomial:
(a+b)² = a² + 2ab + b²
Dessa forma, se o genótipo observado for homozigoto, sua frequência de ocorrência será
dada pela frequência do alelo, elevada ao quadrado. Se heterozigoto, pela multiplicação das
frequências dos alelos, vezes 2.
Exemplo
A frequência de cada alelo foi arbitrada em 0,2
CSF1PO
FGA
O cálculo da Razão de Verossimilhança (RV) total é feito pela multiplicação das RVs obtidas
em cada um dos marcadores, obedecidos os mesmos pressupostos descritos para o Índice de
Paternidade.
Por ser circular, o DNA mitocondrial é mais resistente à degradação. Além do mais, cada
célula possui dezenas, até milhares de cópias, a depender do seu metabolismo. Por esses
motivos, o mtDNA pode ser obtido mesmo em material cujas análises por STR falharam.
Por ter herança apenas materna e não sofrer recombinação na meiose, a mãe transmite a
todos os descendentes o mesmo mtDNA. Todo indivíduo que compartilhe uma mesma
linhagem matrilinear apresenta o mesmo tipo de mtDNA, por exemplo, irmãos por parte de
mãe, avó materna, tios maternos, primos, filhos de uma tia materna, ou seja, o DNA
mitocondrial identifica linhagens, mas não indivíduos, como fazem os STRs autossômicos. A
individualização, com base apenas na análise do DNA mitocondrial, fica mais dependente de
outras informações contidas na investigação. Por exemplo, todos os indivíduos que
compartilhem a mesma linhagem matrilinear podem ter deixado seu DNA em um vestígio
analisado.
A análise do mtDNA é feita por comparação com uma sequência padrão, denominada CRS
(Cambridge Referense Sequence) ou sequência de Anderson, em homenagem ao cientista que
sequenciou o DNA mitocondrial pela primeira vez. Começando em um ponto arbitrado da
região-controle, cada base recebe um número, de 1 a 16569. Na posição 263 a CRS tem um “A”
e na posição 16223, um “C”. Uma sequência que tenha um “G” na posição 263 e um “T” na
16223 será lida como 263G; 16223T.
Cromossomo Y
O cromossomo Y possui um gene denominado SRY (sex-determining region Y), responsável
pela diferenciação sexual masculina. Dessa forma, apenas os homens apresentam cromossomo
Y. À semelhança dos autossômicos, vários STRs de interesse forense foram identificados no
cromossomo Y. Os STRs (Y-STR) localizam-se na região do DNA, sem homologia com o
cromossomo X, de forma que não ocorre recombinação na meiose, fazendo com que, da
mesma forma que o DNA mitocondrial, os STRs do cromossomo Y sejam transmitidos aos
descendentes da forma como foram herdados. Os irmãos paternos, avô paterno, tios paternos,
primos, filhos de um tio paterno, todos apresentam o mesmo DNA do cromossomo Y. Os STRs
do cromossomo Y são, portanto, marcadores uniparentais, de linhagem patrilinear. A
metodologia de análise e interpretação dos resultados são semelhantes aos STRs autossômicos.
Sistemas multiplexes de amplificação com até 17 marcadores estão disponíveis para uso. Os
cálculos estatísticos são feitos de forma análoga ao mtDNA, baseando-se na frequência de
ocorrência do haplótipo em um banco de dados e não pela multiplicação das frequências
individuais de cada alelo observado.
Nos casos de paternidade cível, o cromossomo Y pode ser útil, quando a mãe não pode ser
testada, ou quando o suposto pai é falecido e, em sua substituição, os parentes são testados.
Em qualquer das situações, o filho em questão tem de ser do sexo masculino, bem como os
parentes do suposto pai (genitor, irmãos, filhos).
A multiplicação do Índice de Paternidade, obtido com Y-STR, pelo obtido com STR
autossômico é uma prática controvertida. Muitos autores advogam que, sendo originado de um
marcador apenas de linhagem, o índice obtido com Y-STR não pode ser multiplicado pelo índice
obtido com autossômicos, devendo, no laudo, cada um ser apresentado separadamente.
Cromossomo X
O cromossomo X possui um modo de herança muito peculiar. Pelo fato de a mulher ser
diploide (possui dois cromossomos X) e o homem haploide (possui apenas um – o outro
membro do par sexual é o Y), os STRs do cromossomo X (X-STR) se comportam como
marcadores bi-parentais na transmissão materna e uniparentais na paterna. A mulher
transmite os X-STR aos seus descendentes, de forma análoga aos autossômicos, mediante
segregação e recombinação alélica. Dessa forma, cada um de seus filhos herdará um conjunto
de alelos diferente dos demais. Já o homem, possuindo apenas um cromossomo, transmite o
mesmo conjunto de alelos aos descendentes, se do sexo feminino. Os filhos do sexo masculino
recebem do pai o cromossomo Y.
As análises estatísticas dos X-STRs em genética forense são um pouco mais complexas.
Como vimos, a mulher possui dois cromossomos X que se recombinam na formação do gameta.
A recombinação depende da distância que separa os marcadores, sendo tanto menor quanto
mais próximos estejam localizados no cromossomo. Como já discutido antes, o homem porta
apenas um cromossomo X. Esta característica biológica tem um impacto importante no cálculo
do Índice de Paternidade, quando o suposto pai é testado, porque o pai transmite à filha
sempre o mesmo alelo em cada marcador, com uma probabilidade de 1,0 (ou 100%). Por esse
motivo, o IP obtido com os X-STR é sempre mais elevado que com os autossômicos,
considerando frequências alélicas semelhantes e uma bateria com igual quantidade de locos. A
tabela 06 apresenta as fórmulas para o cálculo do IP com o trio mãe-filha-suposto pai e o duo
pai-filha. Como o homem apresenta apenas um único cromossomo X e, portanto, um único
conjunto de alelos para todos os marcadores considerados, a regra da multiplicação dos IPs de
cada loco vai depender da existência ou não de desequilíbrio de ligação (frequência maior de
uma determinada combinação entre alelos de dois marcadores, do que a esperada pelo
produto de suas frequências individuais) entre eles. Caso estejam em equilíbrio, a multiplicação
dos IPs é permitida, uma vez que não haverá desvio entre a frequência haplotípica observada
na população e a frequência obtida pela regra da multiplicação, com base nas frequências
alélicas.
Por ser um tipo de marcador que permite a individualização de pessoas, os índices obtidos com
os autossômicos podem ser multiplicados sem restrições com os obtidos com X-STRs, gerando
um índice único.
Mutação
A fonte primordial da diversidade biológica são as mutações gaméticas, o que faz com que
um descendente herde um alelo diferente dos alelos presentes no genótipo do genitor. Nos
STRs as mutações ocorrem por adição, ou subtração de uma, ou eventualmente mais de uma
unidade de repetição. A taxa de mutação nos STRs é de aproximadamente uma a cada mil
meioses, por loco, sendo mais observada no pai que na mãe. Considera-se um evento
mutacional paterno, quando, em uma bateria de STRs analisados, um deles apresenta uma
inconsistência: o alelo paterno obrigatório do filho difere dos dois alelos observados no
genótipo do suposto pai, estando presente nos demais STRs analisados. A mutação ocorre
quase sempre em um único loco e por mudança numérica de uma unidade de repetição.
Quando a hipótese de mutação é aceita, um cálculo é feito em separado para aquele loco,
considerando a taxa de mutação paterna no loco e a probabilidade média de exclusão. A taxa
de mutação paterna no loco é encontrada em tabelas; a probabilidade média de exclusão é
obtida pela fórmula “h2(1-(2.h.H2))”, sendo “h” = taxa de heterozigose no loco e “H” = taxa de
homozigose no loco, também encontradas em tabelas. A fórmula é a seguinte:
Mistura
Mistura de material genético em Genética Forense se refere à presença de material de
mais de um indivíduo em uma amostra biológica. Tipicamente é o que ocorre quando um
estupro é perpetrado por mais de um agressor, ou quando uma vítima de estupro teve relação
anterior e recente com o parceiro consentido.
Uma mistura é detectada quando mais de dois alelos são observados em alguns
marcadores autossômicos. Quando marcadores do cromossomo Y são analisados, a mistura fica
caracterizada pela constatação de mais de um alelo por loco. A quantidade de contribuidores
para a formação de uma mistura nem sempre é fácil de ser estabelecida, sendo tanto mais
difícil quanto maior for o número de pessoas envolvidas. Os cálculos estatísticos podem levar
em consideração mais de uma hipótese, tanto da acusação quanto da defesa, em um mesmo
caso. Por exemplo:
Ou
As análises nesses casos são bastante complexas, exigindo muita experiência do perito.
Para que um indivíduo possa ser incluído como possível contribuidor, todos os seus alelos
devem ser observados na mistura. Para que a mistura seja considerada como composta de
material apenas de duas ou mais pessoas específicas, não podem ser detectados alelos
diferentes daqueles presentes nos seus respectivos genótipos. Do contrário, haverá outro
contribuidor não considerado.
O método mais usado para a realização do cálculo leva em conta o número de indivíduos
que contribuíram para a formação-mistura e os genótipos possíveis para sua composição em
cada loco. Passemos a um exemplo:
Os genótipos possíveis de duas pessoas quaisquer que permitam formar uma mistura,
contendo os alelos 10, 11, 12 e 14, são os seguintes:
No loco FGA, a mistura é composta de 03 alelos (18 – 22 – 26), os quais coincidem com os
03 alelos dos suspeitos.
Os genótipos possíveis de duas pessoas quaisquer que permitam formar uma mistura,
contendo os alelos 18, 22 e 26, são os seguintes:
AMOSTRAS ANALISADAS
Das pessoas referidas foram coletadas amostras biológicas para fins do exame proposto,
após assinatura das Declarações de Doação Voluntária.
MÉTODOS
As amostras citadas foram submetidas aos procedimentos de extração de DNA com NaOH
0,2 M e amplificação pelo método da PCR para os marcadores genéticos D8S1179, D21S11,
D7S820, CSF1PO, D3S1358, TH01, D13S317, D16S539, D2S1338, D19S433, vWA, TPOX, D18S51,
D5S818, FGA, Penta-E, Penta-D e Amelogenina. Os produtos de amplificação foram submetidos
a eletroforese capilar e os perfis genéticos obtidos, analisados após revelação por fluorescência.
RESULTADOS
Os resultados da eletroforese revelam que o perfil alélico do “suposto pai” apresenta os
alelos paternos identificados na amostra da “filha”, estabelecendo a condição de
compatibilidade de paternidade.
Valoração Estatística:
1. O Índice de Paternidade é verificado por meio da razão entre a probabilidade dos alelos
paternos, observados no perfil genético do filho, serem oriundos do suposto pai, e a
probabilidade de eles serem oriundos de um indivíduo selecionado aleatoriamente na
população.
CONCLUSÃO
Considerando os resultados, conclui-se que Antônio (suposto pai) apresenta um perfil
genético compatível com a condição de paternidade biológica em relação a Laura (filha), com
uma probabilidade de paternidade de 99, 99999994% e uma probabilidade de exclusão de
99,99999997%.
Se os resultados tivessem demonstrado uma exclusão, os tópicos Resultado e Conclusão
poderiam ter a seguinte redação:
RESULTADOS
Os resultados da eletroforese revelam que o perfil alélico do suposto pai não apresenta os
alelos paternos identificados nos locos D21S11, D7S820, CSF1PO, D3S1358, TH01, D2S1338,
vWA, FGA e Penta-E da amostra da filha, estabelecendo a condição de exclusão de paternidade.
CONCLUSÃO
Considerando os resultados, conclui-se pela exclusão de Antônio (suposto pai) como pai
biológico de Laura (filha).
COMENTÁRIOS
A exclusão é um resultado sobre o qual não resta incerteza, prescindindo de análise
estatística. A não exclusão resulta em compatibilidade de paternidade. Uma vez que uma
pessoa selecionada aleatoriamente na população pode ter um perfil igualmente compatível,
mesmo que com uma probabilidade muito pequena, os cálculos estatísticos são necessários
para verificar quantas vezes as evidências genéticas são mais favoráveis à paternidade com o
suposto pai testado, em comparação a outro indivíduo qualquer, não relacionado
geneticamente.
Para configurar uma exclusão, não é necessário que ocorra inconsistência em todos os
marcadores testados. No presente caso, foram analisados 17 marcadores, observando-se
inconsistências em apenas 9. Nos demais marcadores, o suposto pai apresenta os alelos
paternos observados no genótipo da filha por mera coincidência.
OBJETIVO DA PERÍCIA
O presente exame tem por finalidade determinar os padrões de DNA das amostras
biológicas impregnadas em swabs colhidos de XXXXXX, para, por meio de comparação dos
respectivos genótipos obtidos, estabelecer eventual condição de verossimilhança com os
padrões obtidos do suspeito XXXXXX e da vítima XXXXXX.
AMOSTRAS ANALISADAS
Amostras-referência:
Amostra questionada:
Dois swabs com material vaginal coletado da vítima XXXXXX, referentes ao Laudo de
Conjunção Carnal n° XX.XXX/IML, enviados pelo memorando n° XX.XXX/IML. Parte de um
swabfoi utilizada no exame genético.
MÉTODOS
As amostras citadas foram submetidas aos procedimentos de extração, quantificação e
amplificação do DNA pelo método da PCR para os marcadores genéticos D8S1179, D21S11,
D7S820, CSF1PO, D3S1358, TH01, D13S317, D16S539, D2S1338, D19S433, vWA, TPOX, D18S51,
D5S818, FGA e Amelogenina. Os produtos de amplificação foram submetidos a eletroforese
capilar e os perfis genéticos obtidos, analisados, após revelação por fluorescência.
RESULTADOS
Na fração não espermatozoide extraída da amostra questionada foi observada a presença
de material genético proveniente de uma única pessoa, do sexo feminino, cujo padrão alélico
coincide com aquele identificado na amostra de sangue coletada da vítima XXXXXX.
CONCLUSÃO
O perfil genético identificado na amostra de sangue colhido de XXXXXX (suspeito) é
idêntico, em todos os marcadores analisados, ao material genético proveniente dos
espermatozoides isolados da amostra biológica impregnada no swabde conteúdo vaginal
coletado de XXXXXX, referente ao Laudo de Conjunção Car-nal n° XX.XXX/IML. A chance de se
selecionar ao acaso na população masculina uma pessoa não relacionada, apresentando o
mesmo perfil é de aproximadamente 1 em 9.600.000.000.
COMENTÁRIOS
Nesta perícia o cálculo estatístico envolveu apenas a Razão de Verossimilhança. Não foi
calculada a probabilidade de o suspeito ter efetivamente deixado seus espermatozoides na
vítima. Isso porque, conforme explicado anteriormente, seu cálculo envolve arbitrar uma
probabilidade a prioride o material biológico analisado ter sido deixado pelo suspeito, indo de
encontro a dispositivo legal que diz que todos são inocentes até prova em contrário.
RESULTADOS
Na fração não espermatozoide extraída da amostra questionada foi observada a presença
de material genético proveniente de uma única pessoa, do sexo feminino, cujo padrão alélico
coincide com aquele identificado na amostra de sangue coletada da vítima XXXXXX.
Na fração espermatozoide da mesma amostra foi observada a presença de material
genético proveniente de uma única pessoa, do sexo masculino, cujo padrão alélico difere
daquele observado na amostra de sangue coletada do suspeito XXXXXX.
CONCLUSÃO
Considerando os resultados, pode-se concluir que XXXXXX (suspeito) está excluído de
haver contribuído com material genético para a produção da amostra de conteúdo vaginal
coletada de XXXXXX, referente ao Laudo de Conjunção Carnal n° XX.XXX/IML.
IP – 16.971.611
PP – 99,999994
PE – 99,99990
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