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MEDICINA LEGAL
CAPÍTULOS
1.Organização Médico-Legal
2. Genética Forense
3. Exame Local à Verificação e Certificação do Óbito
4. Exame Externo do Cadáver
5. Fenómenos Cadavéricos
6. Tipos de Ferimentos - lesões por instrumentos
contundentes e cortantes
7. Lesões por Armas de Fogo e Queimaduras
8. Asfixias Mecânicas
9. Toxicologia Forense
10. Verificação e Certificação do Óbito
11. Autópsias Médico-Legais (objetivos, alcances e limitações)
12. Antropologia Forense
13. Exames e Perícias Médico-Legais e Forenses no âmbito da
Avaliação do Dano corporal (em direito civil, penal e do
trabalho)
14. Avaliação do dano corporal em situações de Violência
Doméstica - a intervenção médica pericial
15. Crimes de Natureza Sexual e Exame Médico de Vítimas de
Agressão
16. Psiquiatria Forense (Doença Mental - capacidade mental e
responsabilidade criminal)
17. Alcance e limites das perícias em Psiquiatria Forense
Cátia Andrade
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
1. Organização médico-legal
LEGISLAÇÃO A CONSULTAR
1.1. Introdução
O Decreto-Lei nº146/2000, de 18 de Julho criou o Instituto Nacional de Medicina Legal.
Atualmente, designado por Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses.
O Decreto-Lei nº11/98, de 24 de janeiro estabeleceu a divisão em três delegações situadas
em Coimbra, Porto e Lisboa.
E, existem 27 Gabinetes Médico-Legais.
1.2. Atribuições:
1) Cooperar com os tribunais e demais serviços e entidades que intervêm no sistema de
administração da justiça, realizando os exames e perícias médico-legais e forenses;
2) Prestar serviços a entidades públicas e privadas, bem como aos particulares;
3) Tem a natureza de laboratório de estado e é considerado instituição nacional de
referência
Deste modo, qualquer entidade pública ou privada pode pedir exames ao INMLCF. De seguida
tem de se averiguar se há ou não legitimidade, isto porque, por exemplo, pode o indivíduo
em causa não ter dado o consentimento (e este é necessário).
1.3. Órgãos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (*anexo I):
1) Conselho diretivo
2) Conselho médico-legal
3) Comissão de ética
4) Fiscal único
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O que significa que os magistrados não podem solicitar diretamente a consulta técnico-científica. Mas,
quando tal sucede ela não é rejeitada, sobretudo em casos de negligência médica (que corresponde a 95% dos
casos). O parecer, por sua vez, é insuscetível de revisão.
1.3.2. DELEGAÇÕES
Serviços técnicos das Delegações do INMLCF – quatro tipos de exames:
1) Três serviços de clínica e patologia forenses que funcionam nas delegações e nos gabinetes:
1.1) Clínica forense – fazem-se nas delegações e nos gabinetes: perícias de direito civil, penal e trabalho (faz
exames a pessoas vivas – avaliação dos danos corporais); as perícias psiquiátricas são realizadas sob a
alçada do Instituto mas este é só o distribuidor dos exames a hospitais psiquiátricos ou serviços de
psiquiatria.
1.2) Patologia forense: autópsias médico-legais; exames de anatomia patológica; perícias de identificação;
embalsamentos; colheita de amostras – este serviço representa certa de 5% da atividade do Instituto. As
autópsias realizam-se mos gabinetes médico-legais, mas os exames de anatomia patológica que são
exames com microscópio são realizados nos laboratórios de anatomia patológica que só existem nas
delegações.
2) Química e toxicologia forenses que funcionam apenas nas delegações
(envenenamentos, drogas, pesticidas) – são realizados exames à urina, sangue para estudos de drogas e
pesticidas, fazem-se também exames de contraprova de alcoolemia. Ou seja, realizam a análise à presença
de tóxicos, independentemente de ser feita a pessoas vivas ou mortas.
3) Genética e Biologia Forenses que funcionam apenas nas delegações (note-se que, também a Polícia
Judiciária faz este tipo de exames – o que significa que o magistrado pode optar pelo INML ou pela PJ - por
exemplo: investigação da paternidade e identificação genética individual)
3.1) Investigação da Paternidade
3.2) Criminalística Biológica
3.3) Identificação Genética Individual
4) Tecnologias Forenses e Criminalística que funcionam apenas nas delegações
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1.7. Realização de perícias médico-legais – Lei nº45/2004, de 19 de agosto
As perícias médico-legais são realizadas obrigatoriamente, nas delegações e nos gabinetes médico-legais do
Instituto Nacional de Medicina Legal.
Excecionalmente perante manifesta impossibilidade dos serviços, as perícias poderão ser realizadas por
entidades terceiras, públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto.
Atualmente entende-se que sempre que há requisição de perícias, é obrigatório que o perito tenha o
máximo de informação clínica possível, para poder confrontar resultados. Antes entendia-se que o perito devia ter o
menos possível para ser imparcial.
O perito só pode confirmar no seu relatório aquilo que objetivamente conseguir comprovar. O que não
significa que o facto de não estar confirmado não tenha acontecido. Simplesmente, pode não haver provas que
comprovem esse facto.
Assim, pela realização dos exames e perícias requisitados aos serviços do Instituto ou por este deferidas às
entidades são pagas ao Instituto as quantias estabelecidas em tabela aprovada por portaria do Ministro da Justiça.
As quantias são consideradas custas do processo mesmo que haja lugar ao seu arquivamento. Efetivamente,
esta foi a última revisão legislativa que operou no sentido de que as despesas com exames têm de ser pagas na
mesma (sendo pagas com dinheiro do Estado).
Ver Portaria nº685/2005, de 18 de agosto relativamente à remuneração dos peritos. O perito é pago depois
da entrega do relatório. No INML existe um sistema de videoconferência e os peritos podem pedir aos magistrados
para este meio ser usado de modo a rentabilizar o tempo.
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INSTITUTO NACIONAL DE MEDICINA LEGAL E CIÊNCIAS FORENSES
– NOTAS GERAIS
Constitui ainda atividade operativa realizada no âmbito do sistema de administração da justiça a formulação de
pareceres técnicos científicos pelo Conselho Médico-Legal.
Colabora estreitamente na formação pré-graduada e promove a formação pós-graduada, bem como a realização de
trabalhos e estudos de pesquisa e investigação científica, por si e em colaboração com outras entidades, cabendo-lhe
também o desenvolvimento de ações de formação de médicos legistas (médicos da carreira médica de medicina legal)
e de outros médicos peritos, e outras dirigidas a profissionais que trabalham nas áreas do Direito, da Justiça e da
Saúde.
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2. Genética Forense
2.1. Introdução
A genética forense tem sofrido profundas alterações nos últimos anos. É a única ciência que consegue
quantificar a força do resultado (traduzida numa percentagem de probabilidade). Os magistrados e advogados
mediante esta força de resultado apercebem-se porém que nem sempre há 100% de certeza nesse resultado, o que
pode levantar muitas questões no âmbito da aplicação da justiça. No entanto, tem-se considerado que é preferível a
margem de erro do que não haver produção de prova.
Efetivamente, nunca é possível atingir 100% de certeza, pois tal implicaria estudar toda a população mundial. Na
criminologia forense temos a ideia “in dúbio pro reu”, isto é: na falta de 100% de certeza não se pode condenar
ninguém. Porém, aqui 99,99% de certeza vale muito mais que 10 testemunhas.
Por sua vez, ao magistrado cabe interpretar os relatórios forenses (sendo certo que, estes relatórios não são
vinculativos). Quanto mais raro o perfil analisado mais provável é que tenha sido ele a deixá-lo (os grupos
sanguíneos, por exemplo, não constituem perfis raros). Desta feita, quanto mais marcadores se estudarem, mais
certezas são alcançadas e tal é qualificável.
Como referido, nesta matéria também a Polícia Judiciária tem laboratório científico que se dedica a estas
questões. Isto significa que, os magistrados podem enviar a amostra tanto para a PJ como para o INML. A quem é
enviada a amostra ficará responsável por estudar o caso.
O passado da genética forense foi marcado por uma evolução nas técnicas utilizadas (reações antigénio,
imunoeletroforese, isoelectrofocalização, sondas multilocus e unilocus, etc.). Bem como foram evoluindo os
sistemas sanguíneos, os sistemas séricos e plasmáticos e os sistemas enzimáticos.
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Antes da genética já existiam testes de paternidade realizados através de outros marcadores. Em 1985, pela
primeira vez, a genética foi utilizada com fins forenses, substituindo os marcadores clássicos. Assim, a aceitação de
prova pericial com base em polimorfismos de ADN, ocorreu primeiro em 1985 num caso de investigação da
paternidade e depois em 1986 num processo penal.
a) Marcador Genético (ou gene): é um conjunto de bases, sendo que a ordem em que se agregam que nos
torna diferentes (polimorfismo – de comprimento ou sequência). Localiza-se no mesmo locus, sendo que, no
laboratório são estudadas zonas específicas conhecidas (todos temos a mesma localização de informação,
embora o seu conteúdo seja, claro está, diferente). Gene é a unidade básica responsável por uma
característica e que se transmite hereditariamente.
Análise da sequência:
- polimorfismos de sequência (variação na sequência);
- polimorfismos de comprimento (alelo mais comprido do que outro);
- técnica que permite duplicar a amostra (ocorre quando a amostra em análise é muito pequena – este
procedimento não tem qualquer implicação no estudo)
b) Perfil Genético: provém da união de duas metades de uma célula (23 pares cromossómicos emparelhados);
só no par XY é que podemos determinar logo qual veio do pai e qual veio da mãe, sendo que, nos restantes,
só o podemos determinar depois de os comparar;
d) Alelo: é cada uma das formas alternativas com que o locus se expressa
*note-se que: há um único locus, sendo que ao estudar uma determinada características, sabemos
previamente onde encontrar essa informação; já os alelos são vários. O alelo define-se pelo número de
unidades repetitivas que tem. As amostras são, por sua vez, separadas pelo peso dos alelos, pois os
maiores (com mais unidades) serão mais pesados e, através da corrente elétrica estes separam-se numa
menor distância no gel (este procedimento designa-se de electroforese).
Designamos os alelos pelo número de unidades repetitivas. É, assim, a forma mais comum de se identificar uma
pessoa.
Em primeiro lugar, pretende-se saber se é possível excluir quem é o pai ou, não sendo possível
excluir, dizer qual a probabilidade (mediante cálculo).
Em termos jurídicos, os laboratórios falam em incompatibilidade, cabendo antes ao tribunal falar de
exclusão.
Existem exclusões de duas ordens:
De 1ª ordem ou baseada na 1ª regra de Landsteiner: De 2ª ordem ou baseada na 2ª regra de Landsteiner:
Aparecimento no filho de um alelo novo que não existe Ocorre quando haja não transmissão ao filho de um
nem no pai nem na mãe alelo que deveria, obrigatoriamente, ter transmitido.
Nos marcadores clássicos, a regra era a de que, se tivéssemos 20 alelos em exclusão, seguíamos para o cálculo
da probabilidade. Porém, com a genética atual, temos mais exclusões (podemos até ter três exclusões de 2ªordem,
mas os restantes marcadores serem muito próximos e o pai ser um familiar próximo – ou seja, quando o número de
exclusões for elevado, mas um marcador não der exclusão, podemos estar perante um familiar próximo).
Cálculo
A probabilidade de paternidade calcula-se com base no Teorema de Bayes que é teorema de probabilidade
condicionada.
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Trata-se de saber que probabilidade tem o pretenso pai de ser o verdadeiro pai (X), quando comparado, ao
acaso, com outro homem da população de referência, ou seja, a probabilidade de que outro homem da população
seja o verdadeiro pai (Y).
*ver exercícios na apresentação
𝑿
A probabilidade de paternidade pode ser expressa em termos 𝑿+𝒀
(através da equação de Essen Moller)
𝑿
ou como índice de paternidade: 𝒀
(mais correto).
Tal resultado vem quase sempre acompanhado pela respetiva tradução verbal da Escala de Hummel (uma
escala que determina uma leitura entre o indefinido (probabilidade entre 10 e 50%) e o praticamente provado
(probabilidade maior que 99,73%)
– note-se que, num laboratório a regra é atingir 99,99% de certeza no resultado; a título de curiosidade, em
Coimbra, atingem quase sempre os 99,9999%.
Por exemplo:
Pretenso Pai: B+A
Mãe: A+A
Filho: B+A
𝑋 0,5 0,5
Probabilidade de paternidade: = = = 0,8 (80%)
𝑋+𝑌 0,5+0,1 0,6
Um magistrado deve exigir do laboratório a probabilidade de 99,99%. Para tal o número de marcadores
necessário varia. Contudo, existem casos em que não é possível alcançar os 99,99%:
1º caso: quando o pai e o filho já morreram (ter de se estudar as ossadas dificulta);
2º caso: o pretenso pai está desaparecido, quanto mais afastados os familiares, mais baixa a probabilidade de
paternidade.
3º caso: casos de violação em que temos amostras-intra-uterinas
O magistrado deve questionar ao laboratório sobre o porquê de não se atingir os 99,99%.
Procedimento:
1. O Instituto marca uma determinada data em que devem comparecer o pretenso pai, a mãe e o filho (no caso
de o pai não comparecer, é remarcada a recolha, pois deve a mãe estar presente de modo a poder
identificar devidamente o pretenso pai);
2. São identificados;
3. Faz-se uma pequena colheita a cada um;
4. O laboratório faz as várias análises dos antigénios eritrocitários, enzimas, proteínas e ADN;
5. Envio do relatório.
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Quais os cuidados a ter nas colheitas? Existem três cuidados principais:
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4. Colheitas nos genitais femininos 5. Colheitas em cadáveres em putrefação
A colheita deve ser efetuada a diferentes níveis: Devem ser realizadas colheitas: nos músculos, na próstata/útero; nos
genitais externos, vulva, vagina, fundos de saco, dentes, nos pelos e cabelos e nos ossos longos.
exocolo e endocolo (não esquecendo a região
anal, bucal e toda a superfície corporal);
utilização de zaragatoas; secar ao ar; colocar em
recipientes separados; enviar ao laboratório,
sendo que se necessário deve ser guardado a 4ºC
ou a -20ºC.
Falácias – o facto de não se atingir resultados com 100% de certeza deu origem às falácias – Likelihood Ratio
(LR)
1. Falácia da Acusação: “Possuem esse genótipo 1 em cada 100 pessoas e 99 não o possuem. Dado que o
suspeito possui, tem 99% de probabilidade de ser culpado”
2. Falácia da Defesa: “Possuem esse genótipo 1% dos indivíduos. Em Coimbra, de 100 mil habitantes, possuem-
no 1000. Se o delito foi cometido por um habitante de Coimbra, o acusado tem uma probabilidade em 1000
de ser culpado”.
LIKELIHOOD RATIO:
ESCALA DE EVETT
Quanto maior for o LR maior será a força do resultado. Um resultado superior a 1 000 é muito forte e um
resultado entre 1 e 33 tem uma força fraca.
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3) Genética Forense: Identificação Genética Individual
ACIDENTES DE VIAÇÃO:
A identificação genética individual é extremamente relevante no caso de acidentes de viação – é
importante saber quem ia a conduzir, sendo que para tal se pode fazer análise do air-bag (uma vez
que, quando este explode, pode ficar com vestígios do condutor).
A questão que se coloca neste âmbito é a de saber o que se deve recolher em primeiro lugar, a
impressão digital ou a colheita sanguínea? Preferimos a colheita genética, preservando a impressão
digital.
Neste âmbito têm surgido vários pedidos de identificação genética de animais que causaram o
acidente de viação.
Em algumas catástrofes, a comparação direta é mais importante do que a comparação familiar. Na área da
genética forense, sempre que possível devem ser realizadas as duas comparações. Contudo, há alturas em que a
genética deixa de ser útil na identificação do cadáver, tendo de se recorrer à antropologia.
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3. Do Exame do Local à Verificação e Certificação do Óbito
A autópsia médico-legal traduz-se no estudo do cadáver em casos com interessa judicial para esclarecimento
da cauda de morte e das circunstâncias que a rodearam, nomeadamente, da eventual intervenção de terceiros,
sua identificação e o seu grau de responsabilidade.
b) Outros diagnósticos
Identificação da vítima e/ou do(s) agressor(es)
Cronotanatognose
Posição entre agressor e vítima
Tempo de sobrevida após a produção das lesões
Cronologia das lesões
Ferimentos vitais e ferimentos post mortem
Eventual influência alcoólica
Distância do disparo
Etc.
As conclusões resultam da conjugação de vários elementos.
3.4. *A Lei nº45/2004, de 19 de agosto estabelece o regime jurídico das perícias médico-legais e forenses. Neste
diploma atender ao disposto nos artigos 16º, 18º e 19º - exame do local.
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4) Procurar obter alguma informação preliminar que possa orientar a sua investigação pericial e lhe
permita avaliar se algumas alterações, artefactos ou contaminações podem ter sido entretanto
produzidos.
5) O perito deve isolar a área/preservar o local
6) Não deve tocar em nada que não seja necessário
7) Não deve fumar ou deixar qualquer objeto ou vestígio biológico próprio
8) Não deve tomar nenhuma atitude que possa prejudicar a investigação
9) Deve tirar fotos
10) Deve ter uma atitude de muita observação e falar o menos possível.
11) A conduta a adotar:
- colocar as luvas, botas, máscara e bata
- identificação dos presentes, em particular da pessoa que encontrou o cadáver
- deve fazer o registo do local, data, hora e via de acesso
- na recolha de informação sobre o caso deve indagar para saber quem foi a primeira pessoa a encontrar
o corpo e a tomar conhecimento do evento, registar o seu nome e contactos; procurar obter os detalhes
iniciais da situação, avaliando também se algumas alterações, artefactos ou contaminações podem ter
sido produzidos.
- deve fazer o registo das condições climatéricas
- deve fazer um esquema e fotografar o local, áreas contíguas e do corpo
- registar fotograficamente a posição do corpo, com ou sem escalas, e obter fotos globais do local e dos
espaços envolventes
- fotografar mesmo que o corpo ou evidências tenham sido removidas. Se houver remoção, não as deve
reintroduzir para fazer as fotografias
- analisar e preservar os vestígios e objetos
- pesquisar as áreas de entrada e saída do local
- recolher armas, objetos e impressões digitais
- se o suspeito estiver presente no local não pode permitir que este lave as mãos, deve fotografar
eventuais lesões e recolher os vestígios e o testemunho.
- deve pesquisar sinais de deslocação do cadáver: pegadas, marcas de arrastamento, marcas de pneus,
vestuário inapropriado para o local, livores não compatíveis com a posição do cadáver, material estranho
ao local
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3.8. Identificação do cadáver
É realizado através do conjunto de sinais que distinguem um indivíduo dos demais, seja durante a vida, seja
depois da morte, estando o cadáver inteiro ou conservando-se alguns fragmentos.
Características identificativas:
1) Aspeto facial
2) Cor dos olhos e do cabelo
3) Pigmentação da pele
4) Tatuagens
5) Cicatrizes: forma, localização e idade
6) Deformações ou próteses
7) Estigmas ocupacionais
8) Estatura, sexo, idade e raça
9) ADN
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3.10. Enforcamento
Um primeiro ponto a considerar é que nunca se deve remover o meio de suspensão (este deve ser enviado para
o laboratório juntamente com o corpo).
Livores cadavéricos em relação com a atitude do corpo: estes vão localizar-se nas extremidades do corpo
(gravidade).
3.12. Toxicodependência
Note-se que o que interessa recolher na seringa não é a agulha. Esta não serve para nada e traduz-se num risco
para se transportar (pode picar). Já a seringa em si pode ser muito importante para retirar informações relativas às
substâncias que estavam misturadas na droga, podendo indicar inclusive qual a sua origem (país/traficante)
Deve-se averiguar:
1. Procurar frascos de produtos tóxicos ou embalagens de medicamentos
2. Na presença de vómito não deixar retirar a roupa
3. Averiguar tentativas de intoxicação anteriores
4. Procurar notas de despedida
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3.15. Carboxihemaglobina
Esta análise é útil para saber se houve morte por inalação de monóxido de carbono. Contudo, não faz parte das
análises normais realizadas, pelo que só é pedido se existir informações sobre as circunstâncias da morte que
indiciem a sua relevância.
*NÃO ESQUECER:
Durante a investigação não se pode esquecer de registar quando, onde, por quem e em que circunstâncias a
vítima tinha sido vista viva pela última vez e procurar obter informação sobre eventuais incidentes prévios à morte e
sobre eventuais queixas/sintomas prévios à morte.
A análise das evidências documentais e testemunhais pode revelar-se de extrema importância na estratégia a
adotar no decorrer da autópsia – análise testemunhal, análise dos antecedentes da vítima, informação clínica
disponível e informação policial.
Como vimos na autópsia médico-legal, procedemos ao exame do local, do vestuário, do hábito externo e interno
e a exames complementares.
A Lei nº45/2004 de 19 de agosto prevê no artigo 13º a realização de perícias urgentes e o artigo 17º o óbito
verificado fora de instituições de saúde.
b) Exame do vestuário e objetos que acompanham o cadáver: vítima não identificada e danos/manchas.
1. Número de peças, estado de conservação.
2. Tamanho, cor, marcas, monogramas, compostura ou desalinho.
3. Arranjos, estragos (rasgões, arrancamentos, cortes, orifícios, queimaduras, falta de botões, etc) e a sua
correspondência com eventuais lesões na superfície cadavérica.
c) Exame externo:
1. Sinais relativos à identificação: idade aparente, sexo, altura, peso, estado de nutrição, cor e forma do
cabelo, cor da íris, estado e particularidades da dentadura, cicatrizes/tatuagens,
deformidades/malformações, estigmas profissionais, impressões digitais, vestuário/objetos de uso
pessoal, etc.
2. Sinais relativos à causa de morte:
2.1. Processos patológicos espontâneos – colorações anormais, edemas, ascite, varizes e úlceras
varicosas, escaras de decúbito, processos sépticos locais, desnutrição.
2.2. Lesões traumáticas – natureza da lesão, localização, número de lesões, distância a pontos fixos,
forma da lesão, dimensões, direção, características da lesão.
2.3. Cor dos livores.
2.4. Posição do cadáver.
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d) Colheitas: amostras de cabelos e pêlos.
e) Nunca esquecer: é necessário uma descrição rigorosa e precisa, atenção a todos os pormenores, é preferível
colher a mais do que perder um vestígio.
5. Fenómenos Cadavéricos
arrefecimento
desidratação
imediatos
rigidez
livores
Fenómenos
Cadavéricos
autólise
destrutito
putrefação
tardios
mumificação
conservadores
saponização
- Inicia-se na musculatura lisa (aparece 1.º nos pequenos músculos da face), mais tardia nos músculos esqueléticos
(6-8h depois da morte) lei de Nysten: a rigidez começa na cara e depois espalha-se em direção às mãos e aos
pés.
- Fatores que influenciam - depende do grau de desenvolvimento muscular
Calor ou frio acentuadas produzem rigidez rapidamente, embora no calor passe rapidamente, por ação da
putrefação
Nas crianças e velhos é precoce, pouco acentuada e de curta duração; nos adultos é tardia, intensa e
prolongada; em caso de hemorragias crónicas ou atrofias musculares é tardia, pouco acentuada e de curta
duração.
- Espasmo cadavérico: contração muscular sem que tenha havido flacidez primária. Pode ser generalizado (raro)
ou localizado; ocorre habitualmente em morte violenta (ex: feridas por armas de fogo; asfixias mecânicas)
C. Desidratação cadavérica
- Traduz-se numa série de fenómenos observados no cadáver:
Perda de peso (constante, mas só apreciável nos recém-nascidos e crianças de pouca idade)
Apergaminhamento cutâneo (pode tornar lesões traumáticas mais visíveis): peles amareladas, secas e
duras, e áreas de pele fina (escroto)
Desidratação das mucosas (lábios dos recém-nascidos e vulvas das crianças)
Fenómenos a nível ocular: opacificação da córnea; mancha esclerótica de Sommer-Lancher; afundamento
do globo ocular.
D. Livores
- Manchas de coloração vermelho-arroxeado nas zonas de declive não sujeitas a pressão, resultantes da
acumulação do sangue não circulante fenómeno puramente mecânico.
- Nem sempre são fáceis de ver –> ex: hemorragia interna ou externa (sangue não está nos vasos); indivíduo de
cor; queimaduras
- Cor: geralmente roxo-avermelhada ou vermelho-arroxeada; pode variar em função da causa da morte
(carminam se por intoxicação por CO; esverdeados se por ácido cianídrico)
- Intensidade: depende da fluidez do sangue e causa de morte
- Localização: depende da posição do cadáver formam-se nas zonas de declive (não se formam nas zonas
cutâneas sujeitas a compressão)
- Evolução
Livores móveis - até 6h (surgem 1.º no lóbulo da orelha)
Livores semi-móveis - entre as 6 e as 12h
Livores fixos - após 12h
Sinal de digitação: se pressionarmos um livor e este ficar branco, é móvel; se não se modificar, é fixo.
- Possível indicador da causa de morte, de eventual mudança de posição do cadáver e intervalo post-mortem
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- Livores paradoxais: surgem em regiões que não são de declive, acompanhadas frequentemente de petéquias
hemorrágicas; surgem nas mortes súbitas e asfixias não concordantes com a posição do cadáver, mas não
devido à ação de terceiro.
- Hipostases viscerais: fenómeno dos livores nos órgãos.
- Estimativa do intervalo post-mortem através dos fenómenos imediatos:
Tanto mais preciso, quanto menor o intervalo post-mortem importante por motivos civis e em casos de
investigação criminal.
Em cadáveres recentes
Alterações nos músculos e tecidos
Química do humor vítreo
Alterações noutros fluídos
Em cadáveres antigos
Métodos químicos
Entomologia cadavérica
Métodos
Nomograma de Henssege (temperatura rectal, temperatura ambiente e peso) – não permite
determinar hora exata. Não usar se corpo sujeito a forte radiação; grandes alterações de
temperatura ou clima; suspeita de febre elevada ou hipotermia; local de levantamento diferente
do local da morte;
Esquema de Knight: em condições ideais.
» Corpo quente e flácido: morte há menos de 3h
» Corpo quente e rígido: morte entre 3 e 8h
» Corpo frio e rígido: morte entre 8 e 36h
» Corpo frio e flácido: morte há mais de 36h
B. Conservadores
a. Naturais b. Artificiais
Mumificação: magreza + boa ventilação + Embalsamento
temperatura ambiental elevada →Dissecação Refrigeração.
rápida do cadáver, volume do cadáver
diminuída por perda de água
Saponificação: obesidade + humidade + falta
de ventilação → formação de camada
gordurosa, untosa e viscosa à superfície
Congelação
1. Físicos
a) Resultantes da ação do calor:
- fogo ou chama
- calor radiante
- objetos sólidos ao rubro ou em fusão
- gases – vapor/gases em ignição, etc.
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» Lesões traumáticas: queimaduras
b) Resultantes da ação do frio:
- localizada
- generalizada
» Lesões traumáticas: queimaduras
c) Resultantes da ação da eletricidade
- industrial (alta ou baixa voltagem)
- atmosférica
- estática
» Lesões traumáticas: queimadura ou marca elétrica na pele; queimaduras nos órgãos internos; fraturas e
luxações; roturas musculares e vasculares; etc.
d) Resultantes da ação de ondas eletromagnéticas
- raios X
- raios gama
» Lesões traumáticas: queimaduras; radiodermites, etc.
e) Resultantes da ação de substâncias radioativas e radiações nucleares
» Lesões traumáticas: queimaduras; radiodermites, etc.
2. Químicos
Resultam da ação de substâncias químicas que em contacto com a pele ou mucosas, reagem quimicamente
produzindo alterações desorganizativas e de destruição celular.
Por exemplo: substâncias cáusticas (ácidos, bases e gases bélicos) e corrosivas (sais metálicos)
» Lesões traumáticas: queimaduras químicas
3. Biológicos
Resultantes da ação de seres vivos:
a) Insetos
b) Medusas
c) Peixes
d) Batráquios
e) Plantas
» Lesões traumáticas: queimaduras
4. Mecânicos
São aqueles em que há transformação em energia cinética de uma força mecânica aplicada ao corpo
humano. As lesões traumáticas localizam-se, de algum modo, em contiguidade com a área de ação do
agente.
Estes exercem ação de natureza contundente, cortante, perfurante ou mista.
Lesão ou ferimento: dano em qualquer parte do corpo devido à aplicação de uma força mecânica. Surge
quando a intensidade da força aplicada excede a capacidade dos tecidos de se adaptarem ou resistirem.
Fatores de variação da força em jogo:
1. Massa do corpo atuante
2. Velocidade do impacto
3. Área de aplicação da força
4. Natureza dos órgãos alvo
5. Transferência de energia cinética
6. Modo de atuação das forças
Anatomia forense da pele: a maior parte das lesões traumáticas atingem a superfície corporal e
consequentemente a pele, o órgão de revestimento do corpo humano (epiderme, derme e tecido celular
subcutâneo ou hipoderme)
Ação de Natureza Contundente:
Caracteriza-se pelo contacto de um objeto duro, de superfície plana ou romba, animado de uma força viva
mais ou menos considerável, com uma área da superfície corporal de extensão variável.
Tipo de instrumentos contundentes:
a) Objetos ou utensílios: pedra, pau, martelo, pá, tijolo, coronha de arma, cassetete, bengala, etc.
b) Partes do corpo humano: cabeça, mãos, unhas, pés e dentes.
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c) Superfícies de embate: solo, paredes, peças de mobiliário, veículos automóveis, árvores,
paredes, superfícies aquáticas, etc.
Estes instrumentos podem originar diferentes lesões corporais, de acordo com as características do
instrumento e com a violência do traumatismo.
a) Lesões traumáticas externas:
i) Contusão superficial – equimose/hematoma
É o resultado de uma ação contundente exercida perpendicular ou obliquamente sobre
a superfície corporal, com integridade a nível da epiderme, não criando ainda solução de
continuidade.
Nestas lesões, existe a rotura dos casos com extravasamento de sangue que infiltra os
tecidos – equimose; ou coleção de sangue em cavidade neoformada – hematoma. Se o
traumatismo ocorre à distância da região em que aparecem as lesões, não se deve falar
em equimose mas sim em infiltração sanguínea.
A sua coloração vai variando com o decorrer do tempo, desde a sua formação até ao seu
desaparecimento completo (7-15 dias): inicialmente é vermelho-violácea, torna-se
azulada, depois esverdeada e, por fim, amarelada antes de desaparecer. Efetivamente, a
evolução da cor de uma contusão superficial não nos fornece dados precisos sobre o seu
tempo de evolução, antes dá-nos uma noção da evolução e havendo múltiplas lesões
com colocações distintas podemos afirmar que as agressões sucederam durante vários
dias – isto é especialmente importante nas situações de maus tratos.
ii) Abrasão – esfoliação/escoriação
É o resultado de uma ação contundente exercida obliquamente, por deslizamento entre
duas superfícies, com solução de continuidade da epiderme.
iii) Ferida contusa
Ação contundente exercida perpendicular ou obliquamente sobre a superfície corporal,
de intensidade que determina solução de continuidade de todas as camadas da pele, de
bordos irregulares, escoriados e esmagados, com área equimiótica, de fundo irregular
com pontes de tecido.
I. Lesões modeladas
Lesões traumáticas, que podem ser escoriações, equimoses ou feridas contusas, cuja
morfologia e características permitem a identificação do instrumento que as produziu.
II. Estigmas ungueais
Lesões traumáticas, geralmente, escoriações, podendo estar associadas a equimoses,
resultantes da aplicação das unhas na pele.
III. Mordeduras
As lesões têm a forma de dois arcos interrompidos, opostos e rodeados de equimose.
Ocasionalmente podem desenhar certas particularidades da arcada dentária do autor
(ex: falhas) que, sendo observadas podem possibilitar a sua identificação.
b) Lesões traumáticas internas:
i) Contusão profunda
Produzida por um traumatismo de grande intensidade que dá origem a uma infiltração
hemorrágica em profundidade, no plano muscular e/ou visceral.
Pode associar-se ou não a escoriações ou contusões na superfície corporal. Logo, a
existência de lesões cutâneas obriga sempre a investigar a existência de lesões
profundas.
No plano muscular, a infiltração pode ocorrer por contusão direta, ou por infiltração
hemorrágica a partir de um foco de fratura vizinho.
A contusão visceral surge com mias frequência em órgãos maciços (cérebro, fígado,
baço, rins, etc.)
ii) Fratura óssea
Lesão contusa, resultado de um traumatismo violento que dá origem a uma solução de
continuidade do osso.
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iv) Lesões traumáticas complexas
Lesões traumáticas em que se associam aspetos das diversas lesões traumáticas
referidas, resultantes da associação de mecanismos traumáticos de diferentes ações ou
de sobreposição do efeito dos mesmos.
As primeiras não têm grande interesse clínico, mas têm uma enorme importância em termos médico-legais,
devendo ser corretamente estudadas, descritas e interpretadas.
Dão-nos informações valiosas, muitas vezes indispensáveis para a resolução de casos judiciais tais como a
produção vital ou post mortem dos ferimentos, a direção e, por vezes, o sentido do traumatismo, a
ocorrência de luta, a forma de instrumentos que as produziu, etc.
Diagnóstico diferencial:
a) Lesões traumáticas produzidas post-mortem:
- por mordeduras de insetos ou roedores
- no transporte do cadáver
- na autópsia
b) Lesões traumáticas produzidas à distância
c) Lesões de origem não traumática (por exemplo, petéquias)
É essencial distinguir as características vitais ou post-mortem dos ferimentos, para reconhecer se
determinadas lesões observáveis no cadáver foram feitas em vida ou se resultaram, por exemplo, do
seu arraste para um lugar diferente daquele onde ocorreu a morte:
a) Características vitais:
i) Infiltração sanguínea dos tecidos
ii) Retração dos tecidos
iii) Formação de crosta
iv) Supuração
b) Lesões post-mortem:
i) Lesões cobertas por placas ressequidas, duras, amarelo-acastanhadas, sem infiltração
sanguínea dos tecidos (placas apergaminhadas)
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Considerações médico-legais:
i) Sobre os instrumentos – dimensões, afunilamento da lâmina
ii) Sobre os movimentos do instrumento na ferida
iii) Sobre o modo como o instrumento foi utilizado – profundidade e direção
iv) Sobre a quantidade de força usada.
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Quanto às características das feridas:
Suspeitas de suicídio aquelas que atingirem locais e Suspeitas de homicídio aquelas que se traduzem como
importância vital como a região pré-cordial, face lateral múltiplos e graves ferimentos em locais muito diversos,
do pescoço, punhos, flexuras dos cotovelos ou varizes sobretudo onde a vítima não poderia chegar facilmente
dos membros interiores e pouco compatíveis com gestos do próprio.
a) Estas feridas deverão ser compatíveis com o a) Lesões de defesa, que resultam da tentativa de
gesto da vítima: nos indivíduos destros, defesa da vítima (exemplo: feridas contusas ou
aparecerão predominantemente no lado incisas na palma da mão e/ou bordo cubital do
esquerdo e vice-versa. antebraço)
b) Habitualmente existem feridas de ensaio b) Feridas muitos extensas e profundas no
(pouco profundas e localizadas junto à ferida pescoço (sobretudo na face antero-lateral
principal) direta em destros) e contusões à volta da boca
c) O vestuário é habitualmente poupado, isto é, o e do nariz e no pescoço (por vezes estigmas
suicida lesa quase sempre zonas desnudadas. ungueais).
c) Vestuário habitualmente danificado.
Igualmente importante é a existência de
dedadas de sangue no vestuário ou no corpo da
vítima em locais que ela dificilmente pudesse
tocar.
Identificação da arma
Em regra, apenas podemos determinar a natureza do instrumento, isto é, se é contundente, cortante,
perfurante, etc.
Outras vezes, havendo um instrumento suspeito, podemos pronunciar-nos sobre se ele poderia ou não ter
produzido as lesões apresentadas no cadáver.
Só num pequeno número de casos é possível determinar o instrumento específico.
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Classificação dos instrumentos – etiologia médico-legal das causas da morte
Etiologia médico-legal acidental Etiologia médico-legal suicida Etiologia médico-legal homicida
Instrumentos de Instrumentos de Instrumentos de Instrumentos Instrumentos de Instrumentos
natureza natureza natureza de natureza natureza de natureza
contundente: cortante ou contundente cortante ou contundente cortante ou
perfurante: perfurante: perfurante:
Acidentes de Acidentes Queda de local Degolação, Objetos/utensílios Facas, punhais,
viação, quedas, domésticos e de elevado secção de vasos atuando sobre a atuando no
acidentes de trabalho (defenestrações, periféricos, cabeça pescoço ou
trabalho quedas de pontes, região pré- tórax.
etc.) cordial, etc.
A. Lesões de defesa
Considerável significado médico-legal:
1. Indica que a vítima estava, pelo menos no início consciente;
2. Indica que a vítima estava, pelo menos inicialmente, não mobilizada ou capaz de usar os membros
para se proteger das lesões, verificando-se estas nos antebraços, mãos e menos frequentemente,
nas pernas;
3. Indica que a vítima foi apanhada completamente de surpresa
Feridas de defesa com instrumentos cortantes: Feridas de defesa com instrumentos contundentes:
a) Feridas de defesa ativas – ocorrem quando a A localização é idêntica às produzidas por instrumento
vítima agarra a faca com a mão, as lesões cortante.
localizam-se na face palmar da mão Lesões infligidas nas coxas resultam provavelmente de
b) Feridas de defesa passivas – desferidas quanto tentativas de atingir, com pontapés, os genitais ou a
a vítima levanta as mãos ou antebraços para metade inferior do corpo.
proteger a região corporal atacada As lesões mais frequentes são as equimoses e
Presente em 30 a 50% das vítimas. escoriações na face dorsal das mãos, pulsos e
Mais de 2/3 das lesões de defesa são localizadas no antebraços.
braço ou mão esquerdas. As lacerações podem ocorrer em zonas de pele que
assentam sobre superfícies ósseas.
As vítimas raramente apresentam fraturas de ossos da
mão. Um local clássico de fratura é a do cubital.
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B. Lesões intencionais (em especial as lesões auto-infligidas):
As lesões intencionais podem ser: auto-infligidas, abuso de direitos humanos, abuso sexual, agressão e
lesões médicas. Vamos dar especial atenção às lesões auto-infligidas.
Estas são frequentemente não fatais e têm como características a ideia de autodestruição, ideia de
alterações mentais, a perspetiva de lucro (ao simular agressão).
Desta forma, é importante diferenciar umas das outras, perceber quais as que resultam do intuito de
autodestruição, que resultam de perturbações mentais e as que resultam de simulação com vista à obtenção de um
ganho. Devem ainda ser diferenciadas das lesões de natureza acidental ou de etiologia homicida. Estas distinções
podem ser muito difíceis e, até mesmo, impossíveis.
Podemos ter:
1. Simulação de ofensa criminal
a) Alegada falsa violação
b) Simular um assalto ou agressão por outros motivos
2. Auto-mutilação com vista a fraudes de seguros
3. Auto-mutilação ou simulação de doença em doentes do foro psiquiátrico
4. Atitudes suicidas
A configuração da ponta da bala é variável: ogival, cone truncado, ponta oca, etc., bem como a configuração
do corpo do estojo (que pode ser cilíndrico, cónico ou em forma de garrafa) e a configuração da base do estojo (que
pode ser cinturado, com semi-aro, sem aro, com aro ou rebatido)
De notar que, os projéteis com ponta oca e ponta branda produzem ferimentos muito graves.
a) Gases explosivos:
- Ação violenta quando em grande volume
- Produzem lesões por interposição do corpo no cone de expansão
- Ação em disparos de contacto firme ou em cavidade (boca, por exemplo).
b) Chama:
- Alcance reduzido, igual ou inferior ao cumprimento do cano
- Pode causar danos nos tecidos, sobretudo sintéticos e até incendiá-los
c) Grãos de pólvora:
- Abandonam o cano pelo orifício de saída
- Efeitos traumáticos apensas em distâncias curtas
- Podem atuar em massa ou como grãos individuais
- Distribuição de acordo com ângulo de disparo
d) Negro fumo:
- Depósito produzido pelo fumo
- Coloração negra nas pólvoras antigas
- Coloração cinzento- esverdeadas pólvoras piroxiladas
e) Bucha:
- Ação em disparos de curta distância
- Ação menos relevante nas armas modernas
- Ação como projétil ou corpo em ignição
f) Projétil:
As lesões produzidas por um projétil de arma de fogo
depende essencialmente da conjugação:
1. Interação mecânica entre os tecidos e o(s) projét(il/eis)
2. Efeitos da cavidade temporária
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Com a entrada de projéteis de alta intensidade, no momento a seguir à formação da cavidade temporária
pode produzir mais danos do que o próprio projétil.
Todo o material que sai do cano introduz-se sob a pele, num disparo por contacto firme.
À medida que se for afastando o disparo da pele, menos marcas existirão nela. A característica para se poder
dizer que é um orifício de entrada é a contusão.
Feridas atípicas:
a) Simples contusões
b) Erosões ou sulcos: lesão tangencial
c) Feridas em fundo de saco: feridas pouco profundas, podendo o projétil encontrar-se no fundo da mesma ou
não
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b) Geralmente é múltiplo quando a distância é superior a 1 metro
7.8. Discussão da distância do disparo (note-se que estas distinções são teóricas e podem variar):
I. Contacto direto (cano encostado): os gases entrem na pele e provocam o seu rebentamento (forma
estrelada). Tudo o que sai da arma vai para dentro do corpo, logo não há tatuagem. Pode deixar
marca da arma. Pelo que verificamos assim: orifício de entrada + orla de contusão
II. Curta distância (=disparo do alcance dos elementos da tatuagem)
1) Disparo à queima-roupa: o corpo está ao alcance da chama (5 centímetros), havendo
queimadura da pele. Logo, verificamos: orifício de entrada + orla de contusão + queimadura
2) Disparo a curta distância próxima: orifício arredondado ou ovalar, com bordos invertidos, com
negro fumo. Logo, verificamos: orifício de entrada arredondado ou ovalar com bordos invertidos
+ orla de contusão + negro fumo
3) Disparo a curta distância remota: presença de grãos de pólvora (tatuagem verdadeira). Logo,
verificamos: orifício de entrada + orla de contusão + grãos de pólvora
III. Longa distância: só tem orla de contusão, não há tatuagens. Um tiro a média distância pode
aparentar a média, o negro fumo pode ficar no vestuário (daí que seja importante analisar a roupa).
Logo, verificamos: orifício de entrada + orla de contusão
As características dos orifícios de entrada dependem assim da natureza da arma, do angulo de incidência
do disparo, da distância do disparo e da superfície vulturante do projétil
a) Sinais de desalinho
b) Arma (verificar se está ou não presente, o tipo de arma, os dispositivos para acionar o gatilho e a sua
localização)
c) Cadáver (posição, sinais de defesa ou lesões autoinfligidas, número de orifícios e a sua correspondência com
o vestuário)
d) Antecedentes pessoais
e) Preservar a arma, o cartucho, os projéteis em invólucro
f) Proteger as mãos
g) Preservar a roupa
h) Outros vestígios que possam estar relacionados com o caso
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7.13. Exames complementares
a) Genética e Biologia Forense
b) Toxicologia Forense
c) Histopatologia Forense
d) Análise dos resíduos de disparo (mãos, pele e roupa)
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8. Queimaduras
8.1. Conceito
Lesões resultantes da ação de agentes que ao atuar sobre os tecidos originam reações locais ou generalizadas
cuja gravidade está em relação com a sua extensão e profundidade.
8.3. Agentes
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2) Limites pouco definidos
3) Podem produzir carbonização dos fâneros
4) Lesões internas na árvore respiratória
Vapor a elevadas temperaturas
1) Em geral, queimaduras de grau não elevado
2) Extensão pode ser grande
3) Produção de flictenas
4) Afeta áreas cobertas
2. Líquidos quentes
1) Água ou outros fluídos quentes (óleo, borracha derretida, por exemplo)
2) Comum em acidentes domésticos, especialmente com crianças e
pessoas idosas
3) Normalmente, associada a queimadura de 1º e 2º graus
4) Em contactos breves, a temperatura muito alta gera lesões graves
5) Normalmente, sem carbonização ou destacamento dos pêlos (ao
contrário do que ocorre com o calor seco)
6) A roupa pode ter dois efeitos: se for impermeável ajuda a proteger a
pele; se for absorvente, mantém o líquido quente em contacto com a
pele e as lesões são mais graves
7) Lesões mais graves no local do contacto inicial
8) Arrefece à medida que se dispersa
9) Acidentes em crianças – comum na face, pescoço, tórax e braços
3. Objetos sólidos ao rubro ou em fusão
b) Resultantes da Ação do Frio
Pode ser localizada ou generalizada. As lesões traumáticas são
queimaduras.
1. Rápida
a) Imediata
- queimaduras
- intoxicação
- espasmos da glote
- choque neurogénico
b) Tardia
- duração de horas ou dias
- alteração do estado de consciência
- convulsões
- hipotermia
- choque
2. Diferida
- complicações como pneumonia e sépsis
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8.5. Autópsia
1. Identificação do cadáver
2. Diagnóstico e descrição das queimaduras
a) Espuma rosa na boca e narinas por edema pulmonar (irritação das vias aéreas e pulmões)
b) Língua entre arcadas dentárias (sinais de desidratação)
c) Áreas queimadas com extensão e profundidade variáveis até à cremação total
d) Tecido gordo = combustível
e) Formação de massas pretas friáveis
f) Fusão com músculos secos subjacentes
g) Tecidos (+músculos(») pálidos, acastanhados e parcialmente cozidos
3. Diagnóstico diferencial entre queimaduras ante e post mortem
a) As queimaduras antemortem apresentam bolhas com um halo vermelho (5-20 milímetros de
extensão)
b) Na maioria das bolhas antemortem, após rebentarem, observa-se uma base vermelha brilhante
c) Contraturas musculares por calor intenso (surgem post mortem, são efeitos profundos do calor
incompatíveis com a vida, ocorre pelo encurtamento muscular causado pela desidratação e
desnaturação das proteínas; ocorre mais nos flexores)
d) Se a pessoa estava viva então (ante-mortem):
Produtos de combustão atingem as vias aéreas inferiores e/ou a via digestiva
Queimaduras na base da língua, epiglote, faringe e brônquios
Carboxihemoglobina inferior a 10% (análise de sangue cardíaco ou femoral)
Inalação da fuligem
*É um mecanismo comum de morte, sobretudo, nos fogos que ocorrem dentro de habitações,
pela combustão de chãos de madeira, telhados, mobílias e carpetes que produzem fumo preto,
as partículas entram pela boca e saem pelas vias aéreas inferiores.
Após a morte, a fuligem não ultrapassa as cordas vocais ou atinge o esófago distal.
Na autópsia, observa-se a coloração vermelho carminado da pele, sangue e tecidos (a cor do
sangue é características, mas pode ser difícil de observar em caso de anemia ou exsanguinação).
Se a saturação de carboxihemoglobina for superior a 40% terá levado à morte. Para as pessoas
idosas ou debilitadas menos de 25% pode ser mortal.
A ausência de carboxihemoglina não significa que o indivíduo estava morto antes do incêndio. O
marcador de inalação ante mortem é o monóxido de carbono no sangue (>10% é indicativo de
vitalidade). Embora, valores inferiores não signifiquem a morte prévia ao incêndio (por exemplo,
nos incêndios ao ar livre).
4. Reconhecimento e interpretação dos artefactos (=elaborado manualmente)
a) Ruturas que resultam da contração da pele
b) Atividade criminosa?
c) Podem ser causadas pela manipulação do cadáver
d) Superfícies dos extensores, nas articulações e na cabeça
e) Ausência de hemorragias nos tecidos mais profundos
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Posição de pugilista por contração das fibras musculares
5. Etiologia médico-legal
9. Asfixias Mecânicas
A valoração destes cinco sinais é, atualmente, muito relativo. “The Obsolete Quintet”: antes achava-se que
perante este quadro estávamos sempre perante uma asfixia. Atualmente sabemos que estes sinais não são
exclusivos desta causa de morte.
Quando há compressão os vasos sanguíneos ficam mais frágeis e consequentemente obstruídos, o que leva a que o
cérebro deixe de receber oxigénio.
9.4. Classificação
1. Compressão externa do pescoço:
a) Enforcamento
Conceito: suspensão do corpo a partir de um ponto fixo que constringe o pescoço com ação dependente
do peso do corpo.
A suspensão pode ser completa ou incompleta. Não é preciso haver compressão completa para haver
asfixia.
O enforcamento pode ser típico ou atípico.
O laço depois de retirado evidencia um sulco, que pode ser único, duplo ou múltiplo. No enforcamento
há só um sulco, enquanto no estrangulamento, a corda tem de se sobrepor em pelo menos uma parte. Em
caso de homicídio, normalmente temos duplo sulco (são casos raros). De todo o modo, pode haver
deslocamento da corda que dá origem a vários sulcos. A esganadura deixa marcas dispersas, que podem
confundir o técnico pois podemos ter um enforcamento por laço complexo.
O sulco pode ainda ser duro ou mole, ascendente, descendente ou horizontalizado:
- É duro quando o laço é feito com uma corda de nylon ou arame, deixando uma textura impressa na pele.
E mole quando o laço é feito com um lençol ou peça de vestuário (aqui o sulco é mais difícil de visualizar).
Pode ainda ser misto, feito com corda e peça de vestuário.
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- O nó mais frequente é o ascendente (nó no mento, nó na nuca ou nó lateral). O descendente ocorre na
suspensão incompleta, em que a cabeça está num plano inferior ao corpo (é mais raro). E o
horizontalizado ocorre também na suspensão incompleta mas em decúbito dorsal ou ventral (também é
raro).
Falsos sulcos:
a) Naturais: pele intacta, pouco profundos e moles, resultam da flexão da cabeça sobre o tronco e
desfazem-se com a extensão da cabeça. São mais frequentes em pessoas obesas e em recém-
nascidos.
b) Artificiais: pele intacta, pouco profundos e moles e reproduzem, habitualmente, a configuração do
objeto que os produziu (por exemplo, se o indivíduo usa gravata ou pela marca do colarinho)
c) Patológicos: devidas a lesões cutâneas (dermatoses); a ausência da epiderme pode levar a
apergaminhamento da superfície do cadáver
d) Putrefativos: produzidos pela distensão dos tecidos pelos gases, acima e abaixo do objeto situado em
torno do pescoço (colarinho, gravata, lenço)
Exame do Hábito Externo:
a) Livores em “luvas” e “meias” (nas mãos e nos pés – extremidades do corpo)
b) Palidez facial
c) Máscara equimiótica/congestão crânio-facial (*depende da irrigação vascular)
d) Sufusões hemorrágicas nas conjuntivas
e) Protusão da língua entre as arcadas dentárias
f) Sulco (normalmente, acima da cartilagem tiroideia)
g) Escoriações no dorso das mãos ou membros inferiores
h) Saída de esperma pelo meato urinário
i) Análise da marca no pescoço:
- Verificação de um sulco único, profundo e duro
-A zona mais larga corresponde ao nó
- Medição da profundidade do sulco e da largura
Exame do Hábito Interno – dissecação do pescoço por planos
a) Infiltração sanguínea das partes moles
b) Linha argêntea
c) Lesões na íntima dos vasos por tração longitudinal
d) Equimose retrofaríngea
e) Fraturas do aparelho laríngeo
- normalmente, no grande corno da cartilagem tiróide e do osso hióide
- pontos de maior fragilidade
- observar presença de infiltração sanguínea nos bordos da fratura
f) Espuma na laringe e na traqueia
g) Raramente, surgem lesões raquidianas com rutura de ligamentos, fraturas ou fratura-luxação
h) Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas
i) Congestão generalizada dos órgãos
j) Sangue fluido e escuro
b) Estrangulamento por laço
Conceito: constrição violenta do pescoço, por meio de laço, devia a ação independente do peso do corpo.
Pode eventualmente haver suspensão da vítima se houver uma desproporção física enorme entre a vítima
e o agressor (por exemplo: a vítima é uma criança e o agressor um adulto corpulento). Implica, pois, em
regra, a interferência de um terceiro. Em suicídio é preciso que haja algo que mantenha a pressão depois
de perder a consciência.
Exame do Hábito Externo:
a) Congestão crânio-facial
b) Palidez da face
c) Sufusões hemorrágicas nas conjuntivas
d) Máscara equimótica
e) Sulco: normalmente completo; horizontal e uniformemente marcado; mas pode ser ascendente ou
descendente; sulco mole; normalmente, inferior à cartilagem laríngea.
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Exame do Hábito Interno:
a) Infiltração sanguínea do pescoço
b) Fraturas do aparelho laríngeo (do osso hióide e/ou mais comum da cartilagem tiroideia)
c) Sinais gerais de asfixia
d) Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas
c) Esganadura
Conceito: constrição do pescoço por meio das mãos. Normalmente há desproporção física entre agressor
e vítima ou algum tipo de vulnerabilidade desta: crianças, mulheres, idosos, pessoas acamadas, homens
alcoolizados. Pelo que aqui estamos sempre perante situações de homicídio.
Exame do Hábito Externo:
a) Congestão crânio-facial
b) Palidez da face
c) Máscara aquimótica
d) Ausência de sulco
e) Estigmas ungueais: escoriações de configuração semilunar (típico) e escoriações lineares (por
deslizamento das unhas na pele) dispostas em várias direções em torno do pescoço
f) Equimoses
g) Escoriações no pescoço e/ou face
h) Exoftalmia
Exame do Hábito Interno:
a) Infiltração sanguínea das partes moles
b) Equimose retrofaríngea
c) Fraturas do aparelho laríngeo (osso hióide e cartilagem tiroideia – é muito frequente, exceto em
indivíduos jovens com cartilagens não ossificadas)
d) Sinais asfíxicos gerais
e) Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas
2. Sufocação
a) Oclusão extrínseca das vias aéreas – oclusão da boca e fossas nasais (mão, fita adesiva, papel, saco de
plático, etc.) – muito comum em casos de homicídio
*nota: problemas médico-legais nestes casos: quando não há vestígios de lesões perinasais ou
peribucais, quando não foi efetuado o exame do local antes de mobilizar o cadáver e quando foi
retirado o objeto que ocluiu as vias respitatórias
b) Oclusão intrínseca das vias aéreas – obstrução das vias aéreas com corpos estranhos (bolo alimentar,
objetos vários) – muito comum em casos de acidentes
c) Compressão toraco-abdominal – mais comum em casos de acidentes
d) Confinamento ou carência de ar respirável – espaço reduzido dispondo de uma quantidade de
oxigénio limitada – é muito importante aqui o exame do local
Exame do Hábito Externo
a) Podem apresentar petéquias
b) No caso de compressão toraco-abdominal o quadro pode ser mais exuberante com petéquinas
abundantes, máscara equimótica e hemorragia nos ouvidos e nariz.
c) Lesões traumáticas diversas
Exame do Hábito Interno
a) Sinais gerais asfíxicos
b) Oclusão das ias aéreas por alimentos ou corpos estranhos
c) Vias aéreas preenchidas por meio pulvurento (no caso de soterramento)
Asfixia postural
Conceito: ocorre pela permanência numa dada posição por um período de tempo mais ou menos longo,
com a inversão de todo o corpo ou da sua parte superior.
Geralmente associado ao consumo de drogas e álcool.
3. Afogamento
Conceito: intromissão de meio líquido, normalmente, água, no interior das vias aéreas.
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Exame do Hábito Externo
a) Depósito de areais, algas, lama na superfície corporal
b) Livores mais ténues que o habitual (livores róseos)
c) “cogumelo de espuma” a cobrir a boca e fossas nasais
*isto não é sinónimo de afogamento! Temos de ter cuidado ao mexer no cadáver para não eliminar
este achado.
d) Pele de “galinha” por arrefecimento cutâneo curtis anserina
e) Maceração da pele (mais evidente nas mãos e pés)
- podem ser numerosas se o corpo esteve em águas agitadas
Exame do Hábito Interno
a) Presença de corpos estranhos na via aérea e digestiva (areia, algas, líquido)
b) Congestão generalizada dos órgãos
c) Sangue fluido e escuro
d) Pulmões insuflados, com congestão muito marcada e saída abundante de líquido de edema nas
secções de corte
e) Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas
f) Estômago: volume de água superior a 0,5 litros pressupõe caráter vital; rutura da mucosa do cardia
devido a esfoço intenso para vomitar
g) Fígado: cortes perpendiculares com escorrência prolongada de sangue fluido e escuro
h) Espuma nos brônquios principais
Diagnóstico: a morte por afogamento é um diagnóstico de exclusão!
I. Exame Histológico
A histologia do pulmão é muito importante!
Disrupção dos alvéolos pulmonares
Focos de edema
Corpos estranhos intra-alveolares – reação vital
Em cerca de 15% dos casos a água não chega a entrar nas vias aéreas e a morte é devida a
espasmo da glote.
II. Exame Toxicológico
Ponderar os exames a pedir em função do estado de decomposição cadavérica e da informação
disponível sobre o caso (álcool, drogas de abuso, medicamentos, pesticidas, etc.)
4. Asfixias Autoeróticas
Muito frequente por enforcamento (corre mal)
Frequente em indivíduos do sexo masculino
Ocorre em áreas privadas (quarto)
Utilização de roupas do sexo oposto
Parafernália sexual
Os mecanismos de proteção quando falham levam à morte por asfixia
Investiga, igualmente, a natureza destes efeitos adversos, a sua incidência, o seu mecanismo de produção, os
fatores que influenciam o seu desenvolvimento e a sua reversibilidade e desenvolve os tratamentos para as
intoxicações por xenobióticos. Deste modo, podemos dizer que a toxicologia é a ciência que estuda as
substâncias tóxicas e as alterações que estas produzem no organismo, com o fim de prevenir, diagnosticar e
tratar os seus efeitos nocivos. Mais de metade do trabalho efetuado nesta área é em pessoas vivas (isto porque,
os exames de toxicologia são pedidos, na maior parte dos casos para exclusão da possibilidade de presença de
substâncias).
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O “Pai” da Toxicologia foi Theophrastus Phillippus Aureolus Bombastus von Hohenheim (mais conhecido
como Paracelsus). Nasceu na Suíça em 1493. Afirmava que “Todas as substâncias são venenos; Não há nenhum
que não seja um veneno. A dose certa diferencia um veneno de um remédio."
O sangue é a amostra de eleição de toxicologia (colhida nas extremidades – sangue periférico; isto porque o
sangue cardíaco pode ser contaminado com os órgãos adjacentes ao estômago).
As substâncias mais procuradas são o álcool, drogas e medicamentos. Se há conhecimento prévio de tóxico
envolvido, empregam-se meios específicos para identificação e quantificação dele. Porém, a situação mais frequente
é ser o tóxico desconhecido, o que implica uma metodologia complexa.
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Assim, a investigação toxicológica consiste no conjunto de processos analíticos com o objetivo de separar,
detetar, identificar e quantificar uma ou mais substâncias, principalmente consideradas tóxicas.
Tipos de amostras:
a) Sangue – periférico, colhido nas extremidades porque este é mais útil para a identificação de exames e
especialmente para quantificar (confirmar/quantificar). No caso de envenenamento por tóxico, pode
analisar-se o sangue cardíaco e o estômago (conteúdo gástrico), mas para quantificar/confirmar usa-se o
sangue periférico.
b) Urina
c) Bílis – importante quando não há urina
d) Pulmão – suspeita de tóxico volátil
e) Rins – intoxicações crónicas por metais
f) Fígado – importante quando não existe sangue; porque faz a biotransformação da maioria dos tóxicos
g) Cérebro – mortes por inalação de solventes
h) Cabelo – informação toxicológica muito anterior à morte
i) Humor vítreo – útil para análise de álcool etílico (é resistente à contaminação bacteriana)
j) Amostras não biológicas – ajuda no esclarecimento dos acontecimentos
Note-se que, o exame do corpo na autópsia (patologia forense) não permite ao perito tirar conclusões distintivas
sobre as substâncias responsáveis pela morte.
Passos:
1. Abertura do processo
2. Seleção e divisão de vísceras de acordo com os exames a realizar
3. Extração das substâncias a analisar
4. Deteção, identificação, confirmação e quantificação por técnicas analíticas e específicas
Desde que se faz a recolha da amostra até ao seu processamento, temos de respeitar uma série de passos
que nos dão garantias de que não houve violação:
1. Colheita das amostras para análise: temos e saber que amostras é que se colem, o seu tipo e quantidade
2. Acondicionamento das amostras: atualmente os meios de acondicionamento está uniformizado
3. Transporte das amostras
Depois de tudo isto, a amostra entra no serviço e temos de verificar se as amostras estão frescas, para
depois registar. A primeira coisa a fazer no serviço de toxicologia é avaliar se a cadeia de custódia foi
cumprida.
Conclusão: a cadeia de custódia pretende que se tenha um controlo de tudo o que se fez e que todo o
resultado é obtido com confiança e certeza. É necessário:
1. Colheita adequada a cada tipo de análise
2. Contentores adequados para cada tipo de amostra
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3. Fechados e selados
4. Mantidos ao abrigo da luz e a baixas temperaturas
5. Requisições devidamente preenchidas
6. Etiquetas com identificação inequívoca, conteúdo, proveniência, data e hora da colheita
O facto de a cadeia não ser cumprida nem sempre significa adulterações. Mas é algo muito importante para
garantir que a análise será bem feita.
10.8. Medicamentos
Um medicamento é toda a preparação farmacêutica contendo um ou mais princípios ativos destinado ao
diagnóstico, prevenção ou tratamento de doenças ou dos seus sintomas ou à correção de funções orgânicas.
Os medicamentos são tóxicos potenciais se administrados em dose tóxica. Nos últimos anos tem havido
um grande aumento de intoxicações medicamentosas – resultante da facilidade de aquisição e decorrente
da automedicação.
Ocorrem erros de medicação – por exemplo: repetirem a dose de xaropes ou antibióticos.
Acidentes com crianças – atraídas pelas cores dos comprimidos
Utilização suicida – a própria pessoa quer pôr fim à vida
Utilização homicida – uma pessoa matar outra. Aqui é difícil haver uma administração da dose letal
sem que a vítima se aperceba. Mas pode sim estar associada a uma tentativa de diminuição da
resistência da vítima para a execução de delitos (importante não só quando não há lesões aparentes).
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muito maior capacidade para atravessar a barreira hemato-encefálica. No cérebro, no entanto, a
heroína é convertida em morfina e monoacetil morfina.
c) Heroína – a pior droga é a heroína (produto derivado da morfina – a heroína entra mais facilmente
no cérebro mas atua como morfina). Note-se que é necessário verificar se o indivíduo foi medicado
com morfina por exemplo. Mas é importante nesses casos saber a origem e a (i)licitude da morfina.
Se se a heroína transforma-se em morfina muito rapidamente. Daí que seja essencial o exame do
local (examinar a colher, a seringa). Havendo suspeita de intoxicação por heroína – procedimento:
local da morte + tudo o que estiver perto do cadáver + características/antecedentes do indivíduo +
autópsia + análise toxicológico.
Exame do Hábito Externo no caso de heroína
1. Estigmas de punção recente
2. Cicatrizes
3. Abcessos e úlceras
4. Marcas do trajeto da agulha
5. Escoriações cutâneas
Exame do Hábito Interno no caso de heroína
1. Aspetos específicos de asfixia
2. Edema e congestão (+ frequente)
3. Gânglios linfáticos aumentados
2. Estimulantes do SNC
a) Anfetaminas
Existem anfetaminas naturais (plantas medicinais) e anfetaminas sintéticas (a mais conhecida é a
MDMA).
Os locais típicos de consumo destas substâncias são em raves, discotecas, festivais de música e “house
parties”.
- Efeitos/reações: hipertensão, insónia, anorexia, transpiração, sede, taquicardia, náuseas, má
disposição, dor de cabeça, frequência de tiques exagerados e anormais das mandibulas ou movimento
estereotipados, tremores e dano cerebral por morte de neurónios.
- Sistema Nervoso Central: irritabilidade/distúrbios de humor, comprometimento cognitivo, perda de
apetite, instabilidade emocional, febre, isolamento social em crianças, surtos psicóticos, esquizofrenia,
ansiedade, pânico e depressão.
- Efeitos neurológicos: alucinações, convulsões, coma, confusão e delirium por hiponatrémia, AVC
- Efeitos cardiovasculares: arritmias, morte súbita
b) Cocaína
A cocaína é o principal alcalóide encontrado nas folhas do arbusto da coca. É um estimulante do SNC.
Em 2500 a.C. a folha da coca era utilizada pelos povos da América do Sul, considerada um presente dos
Deuses apenas acessível às elites. Era utilizada em várias cerimónias, como anestésico local, dores de estomago,
combater a fadiga e a fome. Com o tempo foi sendo utilizada para o tratamento de diversas doenças e, mais tarde
foram surgindo bebidas.
Vias de consumo: injetável, pulmonar, oral e inalatória.
Formas de apresentação:
I. Folhas de coca: Absorção muito variável, Mascadas ou em infusão, Velocidade de atuação lenta,
Capacidade limitada de consumo
II. Pasta de coca: Produto não refinado resultante da maceração das folhas de coca com ácido sulfúrico,
e outros solventes. É fumada. O Inicio de ação muito rápida
III. Cloridrato de cocaína: Resulta da adição de ácido clorídrico formando um sal. Trata-se de um pó
cristalino, branco, inodoro de sabor amargo e solúvel em água. Inalada ou endovenosa. Ação rápida.
IV. Base de cocaína (crack): Resulta da mistura clorídrato de cocaína com uma solução básica
(amoníaco, hidróxido de sódio ou bicarbonato de sódio) e éter. É fumado. Início de ação muito
rápida.
Exame do Hábito Externo no caso da cocaína:
1) Midríase: dilatação da pupila
2) Lesões traumáticas provocadas por convulsões (língua e lábios)
3) Perfuração do septo nasal
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4) Sinais de punções venosas recentes, equimoses (manchas roxas na pele)
5) Necrose extensa secundária a injeção (mancha negra na pele)
6) Queratite
7) Erosões do esmalte
8) Calo na última falange do polegar
9) Queimaduras superficiais, hiperqueratose e escurecimento palmar
3. Drogas alucinogénias
a) Carabinóides
b) LSD
A partir de 2004, o seu consumo em Portugal aumentou exponencialmente. Temos várias espécies de planta
cannabis, com várias concentrações. A concentração de THC que existia há uns anos atrás não tem nada a ver com a
que existe hoje – um consumidor de cannabis nos dias de hoje está exposto a doses francamente mas elevadas do
que nas anteriores décadas de 60 ou 70.
É consumido como erva (marijuana), a resina, o haxixe e o óleo extraído da planta.
De facto, existem vários fatores/variáveis que podem afetar as propriedades psicoativas dos carabinóides: a
potência do cannabis usado (depende da % de THC existente), a via de administração, a técnica de fumar, a dose, a
experiência e expetativa do consumidor, bem como a vulnerabilidade biológico dos efeitos da droga. O THC é o
princípio ativo que se transforma no organismo em OH-THC e atua em dois recetores do cérebro.
O consumo de cannabis provoca os seguintes efeitos corporais:
- olhos: vermelhidão, diminuição da pressão intra-ocular;
- boca: secura
- pele: sensação de calor e frio
- coração: aumento da frequência cardíaca
- músculos: relaxamento
Tem como efeitos fisiológicos: a sensação de prazer, bem-estar, euforia, intensificação da consciência
sensorial, maior sensibilidade aos estímulos externos, ideias paranoides, confusão de pensamentos, sonolência,
relaxamento, instabilidade no andar, alteração da memória imediata, diminuição da capacidade para a realização de
tarefas que requeiram operações múltiplas variadas, lentificação da capacidade de reação e défice na aptidão
motora ou interferência na capacidade de condução de veículos e outras máquinas.
4. Consumo atual
Nos últimos anos novas drogas estão a entrar no mercado a um ritmo assustador. Estas mimetizam os
efeitos de drogas já conhecidas, não estão previstas na lei (estatuto de legalidade), são vendidas em lojas online ou
lojas físicas sobre várias formas e a sua toxicidade não está estudada.
O aumento do consumo destas substâncias foi relatado quase globalmente. Constituindo, por isso, um
perigo para a saúde pública. Verificou-se um aumento significativo da recorrência aos serviços de emergência
médica, casos de internamento e mortes. Traduzindo, dessa forma, num desafio para os sistemas de controlo de
narcóticos a nível nacional, regional e global.
Smart shops: são estabelecimentos comerciais especializados na venda de substâncias psicoativas,
originárias da Holanda. E Portugal a primeira smart shop abriu em 2007. Contudo, em 2013, o Decreto-Lei nº54/2013
levou ao encerramento de todos estes estabelecimentos em território nacional.
Efetivamente, os efeitos produzidos pelas drogas ilegais e pelas legal highs são os mesmos e ambas podem
levar à morte.
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1ª fase: agitação psicomotora, diminuição das inibições, aumento da energia e da autoconfiança. Podem
ainda surgir alucinações visuais, auditivas e sensitivas, ansiedade, confusão e desorientação.
2ª fase: convulsões tónico-clónicas, taquicardia, cianose e dispneia.
3º fase: depressão do sistema nervoso central com paralisias musculares, cianose, paragem cardio-
respiratória, coma e morte.
Também podemos ter uma morte por falência multiorgânica motivada por um consumo continuado ao
longo dos anos.
10.12. Álcool
Efeitos do álcool:
a) Pele:
– Dilatação vascular cutânea
– Flush da face, pescoço e tronco
– Em doses elevadas: palidez da pele por insuficiência circulatória do tipo do choque
b) Rim:
– Poliúria, ↑ acidez urina
– Inibe libertação de HAD
c) Fígado:
– hepatotóxico directo
– Esteatose e cirrose
d) Cardiovascular:
– Vasodilatação
– Elevação da TA
– Aumento do débito cardíaco
– ↑↑ Quantidades: asfixia, impede circulação, choque e analgesia
e) Tubo Digestivo:
– ↑ Fluxo de saliva e suco gástrico
– Inibe motilidade, secreções
– Vómitos de origem central
Com mais de 0,45g/ml o álcool leva à morte. Entre 0,35 e 0,50 está em estado de coma.
Em cada pessoa a reação é diferente, pelo que se verifica uma acentuada variabilidade inter-individual.
Comportamentos de risco:
A. Os acidentes de viação podem ocorrer por fator técnico (10-15% dos casos) ou por fator humano (85-
90% dos casos). Sempre que um indivíduo morre na estrada tem de colher sangue para avaliação da
alcoolemia. O Decreto Regulamentar nº18/2007, de 17 de maio, define o processo de fiscalização ao
álcool e às substâncias psicotrópicas. Esta fiscalização pode ser feita pela GNR ou pela PSP no caso do
álcool e pelo INML no caso de drogas.
A GNR e a PSP podem fazer:
1. Teste de ar expirado
- 1º teste qualitativo – indica a presença
- 2º teste quantitativo – quantifica a TAS
2. Teste da saliva (este é só triagem, não basta para sanção)
Assim e mediante a requisição da entidade fiscalizadora (GNR ou PSP), o Estabelecimento de Saúde, deve
promover a realização da colheita de sangue para análise de quantificação da Taxa de Álcool no Sangue
O profissional de saúde que recebe a Requisição da Entidade Fiscalizadora deve: providenciar a colheita, no
mais curto espaço de tempo, de um volume mínimo de 5ml de sangue, utilizando para recolha, acondicionamento e
expedição da amostra, o material fornecido pela entidade fiscalizadora no momento da entrega da requisição de
exame. A colheita de sangue deve ser feita, preferencialmente, numa veia que não tenha sido canalizada e a limpeza
e desinfeção da pele não podem ser feitas com produtos que contenham álcool.
Tem de haver um exame de confirmação ao sangue que só a medicina legal pode fazer. No caso das drogas
há obrigatoriedade de confirmação. Apenas o INML pode fazer análises toxicológicas para determinação do álcool.
C. Alcoolémia cadavérica
É necessário fazer um cálculo retrospetivo da alcoolemia. Este visa determinar a concentração de álcool no
sangue num determinado momento prévio.
A fórmula é Co = Ct + Bt
Co=concentração de álcool extrapolada para a hora pretendida
Ct=concentração de álcool no sangue no momento da extração
B=coeficiente de etiloxidação de álcool no sangue
t=período de tempo decorrido
O coeficiente de etiloxidação indica a capacidade metabólica do indivíduo, mas tem uma grande
variabilidade inter e intra individual. Isto é, da fase da absorção para a eliminação há uma série de fatores que
influenciam essa passagem. Nomeadamente, tipo de bebida, dose ingerida, padrão de consumo, estado digestivo,
natureza e composição dos alimentos ingeridos, patologia gastrointestinal, medicação, características genéticas,
peso, idade, sexo, estado emocional, etc.
As fórmulas para o cálculo retrospetivo são apenas aplicáveis na fase de eliminação. Para serem de maior
fidedignidade exigem diversas determinações da TAS e tao próximas quanto possível da ingestão. Foram elaboradas
a partir de estudos experimentais desenvolvidos em condições não correspondentes às da prática médico-legal,
nomeadamente tanatológica. O cálculo exponencial utilizado em muitas delas leva a uma multiplicação do erro da
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própria da própria determinação, o que pode conduzir a desvios inadmissíveis. Um estudo recente (2006) mostrou
que varia entre 0,095 a 0,371 g/l/h. Esta fórmula pode ser usada de um ponto de vista técnico, em que o patologista
queira ter mais uma ideia sobre o caso. Mas esta fórmula deve ser rejeitada para efeitos de limites legais em
acidentes de trabalho ou de aviação. É uma fórmula principalmente teórica, na prática legal e forense e que não
deve ser usada (é um cálculo exponencial que leva a erros inadmissíveis).
Devemos ter diferentes tipos de sangue uma vez que as amostras não são iguais consoante os locais da
colheita. No cadáver tira-se sempre mais do que uma amostra: sangue arterial e sangue venoso – central e
periférico. No cadáver, a concentração de etanol no sangue periférico é, teoricamente, mais representativa de
concentração existente no momento da morte, embora não necessariamente a mesma.
≠Se não for possível obter sangue venoso periférico, podemos recorrer ao sangue central, mas só se se
verificarem determinados pressupostos:
1. Não pode haver putrefação (o cadáver tem estar conservado a 4ºC)
2. Tem de estar dentro do intervalo post-mortem inferior a 18 horas
3. Ausência de traumatismos tóraco-abdominais severos
4. Ausência de aspiração de vómito
5. Ausência de etanol no conteúdo gástrico
Porém, podemos não ter nenhuma amostra de sangue. Nestes casos, tem de haver uma determinação
indireta da alcoolemia (TAS=Concentração na amostra X Raxa de conversão). Há outras amostras:
a. Medula óssea: mas do ponto de vista laboratorial é muito difícil e, por isso, não se usa
b. Músculo: em Coimbra também não se usa
c. Humor vítreo: é o melhor para a exclusão (é a amostra alternativa ideal). O humor vítreo é o líquido
anatomicamente muito protegido, que se localiza por detrás do olho, ausente de fenómenos
putrefativos.
- Facilidade na obtenção da amostra
- Protegido dos fenómenos putrefativos e traumas
- Fluido com boa estabilidade química e fácil de processar analiticamente
- Reduzida probabilidade de contaminação por síntese post mortem
- Amostra pode ser obtida sem necessidade de autópsia
Porém, tem um grande problema: tal como no ar expirado, não tem uma correlação com a taxa (do
sangue). É no entanto, muito importante para determinar a negatividade (ausência de álcool). Já a
positividade é mais problemática em termos de identificação. Atendemos aqui à taxa de conversão para
o humor vítreo.
Mas podemos também fazer análises no humor vítreo e no sangue podendo concluir em que fase é que
estava o indivíduo (fase absorção – TAS/TAHV > 1 ou de eliminação – TAS/TAHV < 1).
Outro problema é a formação e destruição de etanol no cadáver como referimos. O etanol pode ser
sintetizado ou destruído post mortem. A síntese post mortem do etanol pode ocorrer no cadáver pelos
microorganismos (contaminação externa, endógena) ou pode ocorrer in vitro pelos substratos (glucose, glicerol,
aminoácidos, etc). A destruição não tem problema, vai diminuir a concentração. Mas a formação/sintetização é
importante, porque temos muitas bactérias nos intestinos que levam à putrefação que produzem álcool. Isto pode
ser evitado através da refrigeração do cadáver e das amostras.
Também por isso há sempre repetição do exame, no mesmo dia ou 1 a 2 dias depois.
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Note-se que basta o início da putrefação para que o patologista negue o exame de alcoolemia. Contudo,
se fizer e der negativo, pode seguir. Se der positivo, o patologista deve indicar que não deve ser indicada
para limites legais.
Nos casos de suspeita de morte por intoxicação, o perito deve dar especial atenção à informação
circunstancial da morte e material encontrado junto da vítima! Tais como:
1. Restos de vómito – na vítima (corpo, roupa suja de vómito) e no local onde foi encontrada;
2. Cheiro ou odores no local (intoxicação por gases, etc.); torneira de gás aberta/fechada
3. Presença de braseira ou qualquer outra fonte produtora de monóxido de carbono
4. Janelas e portas abertas/fechadas
5. Existência de dispositivos para recolher gases de combustão de motores (exemplo: mangueira ligada ao
cano de escape)
6. Presença de outros elementos indiciadores de morte por intoxicação
7. Seringas/agulhas, algodão e limão
8. Tampas de garrafas, colheres, pratas, cachimbos
9. Embalagens de medicamentos
10. Frascos ou contentores de outros xenobióticos (pesticidas, outros produtos químicos)
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11. Verificação e Certificação do Óbito
A verificação e certificação do óbito são da competência do médico e qualquer médico inscrito na Ordem dos
Médicos deverá estar habilitado a fazê-lo.
O Código Deontológico da Ordem dos Médicos – artigo 93º (deveres sanitários) – prevê que no exercício da sua
profissão, deve o médico cooperar com os serviços sanitários para a defesa da saúde púbica, competindo-lhe
designadamente: verificar e certificar o óbito da pessoa a que tenha prestado assistência médica, devendo na
respetiva certidão indicar a doença causadora da morte. Para este efeito, considerar-se-á como assistente o Médico
que tenha preceituado ou dirigiu o tratamento da doença até à morte, ou que tenha visitado ou dado consulta extra-
hospitalar ao doente dentro da semana que tiver procedido o óbito.
A verificação do óbito destina-se a estabelecer com segurança que um determinado indivíduo se encontra
morto. Baseia-se essencialmente na identificação clínica dos sinais negativos de vida (=positivos de morte)
observados durante um período de tempo apropriado, recorrendo, se necessário, a exames complementares e/ou
testes adequados.
11.1. Quais são os sinais devidos à cessação das funções vitais (sinais positivos de morte)?
1. Ausência de movimentos respiratórios (ausência de sopro nasal);
2. Ausência de batimentos cardíacos (durante 5 minutos nos 4 focos, ECG isoelétrico, ausência de circulação
periférica e pulso sistólico)
3. Ausência de resposta a estímulos dolorosos
4. Ausência de movimentos (imobilidade, flacidez, ausência de tónus muscular)
5. Ausência de reflxos
6. EEG isoelétrico
Devem ser excluídos desta análise os sinais de hipotermia, intoxicação por fármacos depressores do SNC e as
alterações endócrinas ou metabólicas.
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A Lei nº141/99 de 28 de agosto regula especificamente a verificação da morte. O artigo 1º estabelece os
princípios em que se baseia a verificação da morte. O artigo 2º determina que se pode dizer que um indivíduo está
morto quando houver cessação irreversível das funções do tronco cerebral.
O artigo 3º/1 da Lei nº141/99 determina que quem verifica a morte é o médico nos termos da lei.
Determinando o artigo 4º que o médico que verifica o óbito deve ser aquele a quem estiver acometida a
responsabilidade do doente no momento da morte ou o que chegue em primeiro lugar.
Com base em critérios médicos, técnicos e científicos a definir pela Ordem dos Médicos (artigo 3º/2), que devem
ser atualizados regularmente.
Efetivamente estes critérios ainda não foram definidos. Existe a declaração da OM com os critérios de Morte
Cerebral. Na prática é baseada nos conhecimentos e convicção pessoal do médico, de acordo com a legis artis.
Para o perito não traz grandes dificuldades uma vez que quase sempre há sinais de certeza de morte.
11.9. Em que situações é obrigatória a presença de mais do que um médico para a verificação do óbito?
Nos casos de sustentação artificial das funções cardio-circulatória e respiratória, a verificação da morte deve
ser efetuada por dois médicos, de acordo com o regulamento elaborado pela Ordem dos Médicos.
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3) A execução das provas de morte cerebral por dois médicos especialistas (em neurologia, neurocirurgia
ou com experiência de cuidados intensivos);
4) Nenhum dos médicos que executa as provas poderá pertencer a equipas envolvidas no transplante de
órgãos ou tecidos e pelo menos um não deverá pertencer à unidade ou serviço em que o doente esteja
internado.
A este propósito é de salientar o que refere Jaime Silveira Botelho (direção de Serviço de Epidemiologia e
Estatísticas da Saúde): “Salienta o desconhecimento dos médicos sobre a importância do certificado de óbito do
ponto de vista epidemiológico”.
Chama a atenção das “muitas implicações” das certidões de óbito, nomeadamente, no que respeita a
“seguros de vida, heranças e indemnizações, que, por vezes, inibem os médicos de expressarem a verdadeira causa
da morte”.
Ora, o certificado de óbito deve ser totalmente preenchido pelo médico responsável pela informação e não
apenas a parte relativa à causa de morte.
11.14.2. Parte II – “outros estados mórbidos, fatores ou estados fisiológicos que contribuíram para o
falecimento, mas não mencionados na Parte I”
É importante a avaliação do nexo de causalidade e eventuais concausas, e ainda, para fins estatísticos.
2. Sempre que a morte se verifique em estabelecimento de saúde e o médico assistente tenha chegado a
um diagnóstico da doença em causa
- este deverá passar o respetivo certificado
- se não houver diagnóstico seguro, ou o doente morreu subitamente em curso improvável para a
doença por que estava internado, ou há suspeita de morte violenta, deve ser pedida a autópsia:
a) se anátomo-patológica: o médico hospitalar com base nos resultados da anatomia patológica,
passará o certificado;
b) se médico-legal: o perito deverá ser o responsável.
O SICO teve origem na medida 117 do programa SIMPLEX de simplificação administrativa e legislativa na
Administração Pública, tendo como objetivos principais a Desmaterialização dos Certificados de óbito (DCO) e a
comunicação eletrónica dos dados respetivos às entidades públicas para os quais são relevantes.
A Lei nº15/2012 de 3 de abril institui o SICO. Segundo este diploma o SICO é um sistema de informação cuja
finalidade é permitir uma articulação das entidades envolvidas no processo de certificação dos óbitos, com vista
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a promover uma adequada utilização dos recursos, a melhoria da qualidade e do rigor da informação e a rapidez
de acesso aos dados em condições de segurança e no respeito pela privacidade dos cidadãos.
O sistema é suportado por uma base de dados para registo e disponibilização de dados, cuja
administração compete à Administração Central do Sistema de Saúde, I.P. (ACSS, I.P.), sendo o diretor-geral
da Saúde a entidade responsável pelo respetivo tratamento. Os dados constantes do SICO resultam do
tratamento realizado pelos médicos e pelas seguintes entidades, de acordo com os respetivos perfis:
Instituto dos Registos e do Notariado; ACSS; DGS; INEM; INMLCF; Ministério Público e Autoridades de polícia.
Quais as vantagens?
1) Conhecimento do nº de mortes/dia
2) Conhecimento mais precoce das causas de morte
3) Processos de codificação mais rápidos e estatísticas melhores
4) Incorporar a informação obtida a posteriori do resultado da autópsia
5) Fim do envio de cartas da DGS aos médicos
O Protocolo DGS/INMLCF no artigo 3º/c) exige que o INMLCF tenha de registar os dados de autópsia
médico-legal de óbitos registados no SICO no que respeita à causa da morte.
Quais as vantagens?
1) Boletins de informação clínica legíveis
2) Aumento do direito à privacidade dos cidadãos (porque a Conservatória não tem acesso à causa da
morte nem ao nº da autópsia)
3) Preservação de informação importante em investigação criminal
4) Atualizar a BD de Utentes com os óbitos ocorridos e devidamente validados
5) Efetuar a integração com a BD do IRN para validação dos dados de identificação recolhidos
informaticamente nos CO.
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11.14.7. Notas finais:
O certificado de óbito será emitido após a realização da autópsia médico-legal ou a receção da decisão
de dispensa da autópsia.
Imprimir a guia de transporte, que acompanhará o cadáver (e não o certificado de óbito).
Este documento deve ser acompanhado de comprovativo da intervenção do Ministério Público.
É necessário ter a certeza de que a informação presente no certificado de óbito está completa
Não especule sobre a causa da morte! Em caso de dúvida use a designação “morte de causa
desconhecida”. Neste caso se tiver informação adicional, mas que não lhe permita estabelecer um
diagnóstico, escreva essa informação nas observações.
A emissão de Certificados de Óbito em papel requere, nos termos da lei, um documento emitido pelo
helpdesk do SICO.
Este documento deve ser apresentado na conservatória para acompanhar o Certificado de Óbito em
papel.
O certificado em papel tem, obrigatoriamente, que ser inserido no SICO num prazo máximo de 48h.
Os certificados de óbito em papel deixam de ser válidos para todas as finalidades após a entrada em
vigor do SICO.
12.1. Existem dois tipos de autópsias, embora tenham uma zona em comum/de sobreposição (têm
objetivos, regras, práticas e filosofias diferentes):
12.4. Quem ordena? Quando é feita? Quem realiza? Onde se realiza a autópsia?
Encontramos estas respostas no regime jurídico das perícias médico-legais: Lei nº45/2004.
Quem ordena as autópsias é o Ministério Público é feita nos termos dos artigos 18º e 19º e realiza-se no
INMLCF (que tem sede em Coimbra, tem 3 delegações e 27 gabinetes).
Artigo 18º
Nº1: Determina que é obrigatória em situações de morte violenta ou de causa ignorada, salvo se existirem
informações clínicas suficientes. Esta dispensa não é possível em casos de acidentes de trabalho ou de viação
de que resulte morte violenta/imediata.
Nº3: Determina que pode ser dispensada em casos de risco de contaminação (por exemplo: doença das vacas
loucas), pois exige uma sala muito especial.
Nº5: Pode ser realizada após a constatação de sinais de certeza de morte (entre 4 a 5 horas depois da morte).
Antes só podiam ser realizadas 24 horas depois da morte.
Artigo 19º
É realizada por um médico perito, salvo se houver suspeita de crime doloso (nestes casos é realizada por dois
médicos peritos) – ver a este respeito a Recomendação nº R (99) 3 UE
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2. When?
Quando a pessoa morreu determina-se habitualmente das evidências circunstanciais e tal não constitui
habitualmente um problema. Mas pode ser um problema crítico quando:
- um álibi é apresentado como defesa num homicídio;
- esteja em causa a sequência de mortes em membros da mesma família (mortes no mesmo
incidente) influencia problemas sobre as heranças;
- no que toca às apólices de seguros que caducaram no decurso do tempo decorrido entre o
desaparecimento da pessoa e a descoberta do corpo
3. Where?
O local onde a pessoa morreu é habitualmente aquele onde foi encontrado, mas nem sempre!
Por exemplo, as vítimas de homicídio podem ser transportadas para outros lugares, os corpos podem
viajar longas distâncias em rios ou no mar até à sua descoberta.
4. Why?
Existem muitas causas de morte, tanto naturais como violentas, que não podem ser estabelecidas com
certeza absoluta. Apenas o sendo através da autópsia.
Num pequeno número de casos uma investigação completa, incluindo autópsia, pode não conseguir
estabelecer a causa da morte (“autópsia negativa” ou “autópsia branca”).
5. How?
Etiologia da morte. A morte pode ser natural ou violenta, e se violenta pode ser acidental, suicida ou
homicida.
Em algumas mortes a maneira como ela ocorreu pode ser indeterminada, porque a causa da morte é
desconhecida ou porque as circunstâncias são pouco credíveis (por exemplo: se o afogamento for
acidental ou suicida)
6. What?
Estabelecer o que aconteceu, quais as circunstâncias que envolveram a morte. Traduz-se no foco de
qualquer processo legal. A autópsia pode contribuir no processo estabelecimento objetivamente as
evidências de algumas coisas que aconteceram ou, mais comum, da evidência limitada ao que poderia
ter acontecido. Por exemplo: nas investigações de homicídios, a autópsia pode fornecer informações
sobre a posição da vítima, a arma usada, a sequência das lesões, o período de consciência, o tempo de
sobrevivência, o tempo da morte, a interferência post mortem com o corpo e o método de disposição.
13.1. NOÇÕES BÁSICAS SOBRE O ALCANCE E LIMITAÇÕES DAS PERÍCIAS DE ANTROPOLOGIA FORENSE
Quando o cadáver não está “fresco” passamos logo para a parte da antropologia forense, que resolve os
problemas de identificação quando a identificação visual não é possível.
O esqueleto é um conjunto intacto, devido a fibroses, ligamentos que permitem os movimentos nas
articulações (ligação dos ossos). Com a putrefação, os ligamentos destroem-se e os ossos desarticulam-se.
57
Relativamente à cabeça, os ligamentos são muito fracos, por isso é natural que ela se desprenda, principalmente em
zona de declive.
Podemos ter casos em que os cadáveres não estão em decomposição, mas estão de tal forma deformados
que é impossível identificar. O mesmo se diga para os casos em que os cadáveres estão carbonizados.
O perfil morfológico é a descrição das características do corpo, podendo levar a uma identificação de
presunção (não há comprovação científica de um perito), pode haver mais do que um sujeito com possibilidade de
correspondência naquele coro.
» fatores gerais de identificação: só por si não identificam mas ajudam a eliminar possíveis vítimas
II. FASE II
Parâmetros individualizantes:
- Características anatómicas únicas
- Características de natureza patológica e/ou procedimentos terapêuticos´
Através da aplicação de métodos comparativos que permitem a identificação positiva. Deve dar-se
prioridade à morfologia sobre o perfil genético (através destas raramente chegamos à identificação positiva). Aqui
devemos atender, nomeadamente:
a) Traumatismos
b) Patologias – aqui apenas relevam as patologias que afetam os ossos (pelo que, a existência
de patologias no esqueleto são uma mais-valia para a identificação)
59
c) Lado dominante
d) Sinais particulares
e) Comparação fotográfica/radiográfica
f) Reconstrução fácil
g) Marcadores genéticos
As causas de morte podem ser, por exemplo, acidente vascular cerebral, traumatismo craniano, asfixia,
intoxicação, etc. Já quanto às circunstâncias da morte podemos dizer que é natura, homicídio, suicídio ou
acidente. Em antropologia apenas podemos observar os traumatismos.
O que significa que, é difícil através da antropologia atingir com precisão a causa da morte. Daí que a
genética seja reservada para os casos em que a morfologia é escassa e insuficiente. O ADN pode ser nuclear
(está dentro das células e é difícil de extrair) ou mitocondrial (herda-se da mãe). Com o ADN temos de fazer
estudos indiretos na maior parte dos casos, mas é excelente para diagnósticos de exclusão. A este propósito
ver o ponto relativo à identificação genética individual.
i. Morfológico
ii. Biológicos (entomologia forense)
iii. Físicos e químicos
A entomologia forense é o modo mais científico de fixar a datação. É a biologia que se dedica a estudar
insetos. Há um tropismo das moscas para a matéria em decomposição, deixando no corpo larvas. Havendo
60
um ciclo de metamorfose que nos pode indicar o intervalo de tempo pós-morte. A partir deste método
podemos dizer: “tem de estar morto há x tempo”, mas pode ter morrido há mais.
Estes sete critérios não devem constituir senão elementos de reflexão, a serem
interpretados cuidadosa e ponderadamente em cada situação concreta.
O nexo de causalidade pode ser (*se for certo, direto e total, não existem dificuldade):
1) Certo ou hipotético
Quando é hipotético “a análise dos critérios relativos ao nexo de causalidade não
consente o seu estabelecimento com segurança, sucedendo todavia que o perito médico
também o não pode afastar formalmente”.
2) Direto ou indireto
Quando indireto, visa a filiação patogénica entre a causa e o efeito. Por exemplo: “será
indireta para o médico a ligação entre um traumatismo abdominal e a sua
seropositividade para a SIDA, na sequência de uma laparotomia e da esplenetomia que
necessitou de transfusão. É, pois, necessário que o médico explique esta ligação indireta,
para que o decisor possa compreender e tirar as consequências sobre o plano de
responsabilidade do autor da reparação do dano sofrido pela vítima”.
3) Total ou parcial
Parcial quando num estado patológico intervém mais do que um único fator etiológico, o
nexo é parcial porque há uma ou mais causas que concorrem, entre as quais o
traumatismo, para o resultado dano. são situações de concausalidade em que o dano é
imputável só parcialmente ao traumatismo.
Estado intercorrente
É toda a alteração de saúde, acidente ou outra, que surge durante ou depois da ação
traumática, que é uma das causas do estado atual.
Predisposição
É um variedade do estado anterior, que é por definição um estado anterior muitas vezes
mudo ou ignorado, correspondendo frequentemente a um estado psicológico, mental ou a
fatores de risco.
- por exemplo: osteoporose da mulher idosa predisponente para a fratura do colo do fémur,
os antecedentes diabéticos, a personalidade paranoide, o alcoolismo, o tabagismo, etc.
Estado anterior
Estado que se verifica imediatamente antes, ou seja, no momento da ocorrência do fator
causador da lesão, objeto de valorização. Independentemente do papel que o estado
anterior possa ter sobre a evolução do processo patológico decorrente do evento
traumático, o perito médico também deve explicar qual a sua influência sobre o estado
anterior.
Podemos estar perante:
a) Exteriorização – é a passagem de um estado latente, conhecido ou desconhecido, mas
silencioso, ao estado patente
b) Descompensação – o estado anterior era já conhecido, mas estava estabilizado. O
evento veio fazer evoluir este estado.
c) Aceleração – precipitação do processo evolutivo, sendo a evolução a que se previa para
a doença pré-existente, mas sendo o intervalo evolutivo encurtado
d) Agravamento – passagem de um estado patológico conhecido e com uma evolução
determinada a uma situação de maior gravidade desencadeada pelo traumatismo.
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»NOTA: no âmbito do Direito do Trabalho, estão legalmente definidas e publicadas
regras que devem ser aplicadas quando se verifique a existência de estado anterior, o
que não sucede no campo de avaliação do dano corporal de natureza cível.
É importante que a perícia constitua um instrumento que, qualquer seja o contexto típico, habilite o julgador
(ou o Ministério Público, na fase de inquérito) a afirmar a existência (ou a inexistência) do dano corporal que o tipo
legal supõe.
63
Artigo 143º - ofensa à integridade física simples Artigo 144º - ofensa à integridade física grave
Trata-se de um crime doloso que comporta qualquer Atendendo à gravidade das consequências para o corpo
grau de dolo ou a saúde da vítima, justificam uma reação penal mais
Quando se refere a “lesões recíprocas” não devemos acentuada.
confundir esta situação com os casos de legítima
defesa!
64
6) Afetação das capacidades intelectuais (alteração da inteligência e da vontade)
7) Afetação da capacidade de procriação ou de fruição sexual (ablação dos órgãos sexuais ou afetação da
capacidade de fecundação ou gerar um ser, bem como de fruição sexual)
11) Perigo para a vida – quando o legislador qualifica a conduta em função do resultado perigo para a vida,
questiona-se a natureza do perigo: pelo que atendemos a duas noções (perigo concreto ≠ perigo
potencial):
a) Perigo concreto para a vida:
- probabilidade concreta e presente do resultado letal;
- perigo sério, atual, efetivo e não remoto ou meramente presumido, para a vida do lesado;
- as situações que correspondem à formulação clínica de um “prognóstico reservado”;
- traduz uma situação de morte iminente, em dado momento em consequência das lesões corporais
Exemplos: choque hemorrágico, choque séptico, coma profundo, insuficiência renal aguda, paragem
cardio-respiratória.
b) Perigo potencial para a vida:
- deve ser assinalado no relatório os casos em que existiu risco, ainda que potencial;
- é uma expetativa, ainda que razoavelmente possível ou mesmo provável;
- falta a sua concretização, o estado crítico real
- a doença que põe em perigo a vida do ofendido não tem que ser permanente ou de perigo
constante; em muitos casos, eles ao recuperarem, ficam curados e sem sequelas permanentes.
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- compete ao perito médico fornecer à justiça os elementos objetivos colhidos na perícia, cabendo
inequivocamente ao juiz e só a ele, na posse dos elementos (perícias e extra-perícias) a responsabilidade
de decisão nesta matéria.
13) Nexo de causalidade – relação de imputabilidade entre um traumatismo e um dano, tendo em conta:
- adequação entre o tipo de lesão e a sua etiologia (causa/origem da doença)
- o tipo de traumatismo e o tipo de lesão
- a sede do traumatismo e a sede da lesão
- a existência de continuidade sintomatológica e adequação temporal entre o traumatismo, as lesões e
as sequelas
- exclusão da pré-existência do dano ou de uma causa estranha relativamente ao traumatismo
Em direito penal valorizam-se ofensas contra a integridade física. A pena é o castigo do agressor
determinada pelo Tribunal. O dano não é personalizado, deve fazer-se a objetivação dos danos. Valorizamos os
danos corporais. E, note-se que, o dano não se valoriza em termos futuros.
14) Conclusões:
a) Natureza do instrumento (não o instrumento em si, mas a forma como atuou):
- contundente
- perfurante
- cortante
- misto
- agente físico
- agente químico
b) Consequências temporárias da agressão
- indicação dos dias de doença, sendo X dias com afetação da capacidade para o trabalho geral e X
dias com afetação para o trabalho profissional
c) Consequências permanentes
Deve indicar-se se:
- do evento não resultaram quaisquer consequências permanentes
- do evento não resultarão, em condições normais, quaisquer consequências permanentes
- do evento resultaram as consequências permanentes descritas, as quais sob o ponto de vista
médico-legal…(fazer descrição)
- do evento resultou, em concreto, perigo para a vida do examinado
- adoção de medidas psicossociais
Em suma, o fundamental é que o perito médico seja capaz de descrever o dano corporal de forma
pormenorizada e sistematizada, fundamentando as suas conclusões, sem que no entanto tenha de enquadrar a
ofensa em qualquer artigo ou, ainda menos, presumir a intenção de matar. A “missão” pericial é permitir as
autoridades judiciárias e judiciais uma sustentada apreciação jurídica do caso, através da descrição das
consequências médico-legais do facto praticado.
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D. AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO DO TRABALHO
Todos os anos morrem cerca de 5 500 pessoas na União Europeia vítimas de acidentes de trabalho. O
número de acidentes de trabalho dos quais resulta mais do que três dias de ausência de trabalho é superior a cerca
de 146 milhões de dias de trabalho perdidos. Este problema coloca-se em particular incidências nas pequenas e
médias empresas. Isto porque, a segurança e prevenção decaiu com a crise económica o que é problemático
traduzindo-se numa fase menos boa nesta área. Portugal tem uma taxa de acidentes de trabalho superior à da UE.
Um estudo realizado a nível nacional permitiu concluir que as empresas aumentam a segurança apenas
depois de um acidente ocorrer (este aumento foi de 12%) e que, 40% dos sinistrados julga que acidente poderia ter
sido evitado por maior atenção e segurança (isto resulta da falta de prevenção e de consciencialização dos
trabalhadores).
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2) A reparação (artigos 23º e 25º)
Em espécie Em dinheiro
1. Assistência médica e medicamentos 1. Incapacidade temporária absoluta
2. Assistência farmacêutica 2. Incapacidade temporária permanente
3. Enfermagem 3. Indemnização em capital ou pensão em caso de
4. Hospitalização e tratamentos termais incapacidade permanente
5. Hospedagem 4. Pensões aos familiares
6. Transporte (para observação, tratamento ou 5. Hospedagem
comparência a atos judiciais) 6. Subsídios de elevada incapacidade permanente
7. Adequados aparelhos de prótese, ortótese e 7. Re-adaptação da habitação
ortopedia (sua reparação ou renovação)
8. Reabilitação
Em direito do trabalho não contemplamos os danos subjetivos. O objetivo visado é a indemnização que
pretende compensar a perda da capacidade de ganho para o trabalho. Enquanto em direito civil o objetivo é a
reparação integral do dano.
Nos acidentes de trabalho o direito à reparação visa reparar o quê? Os acidentes dos quais resultem
lesão corporal, perturbação ou doença, quando se verifique a morte ou a redução da capacidade de
ganho ou de trabalho.
Limitação dos danos reparáveis:
a) Apenas a incapacidade para o trabalho
b) E para o trabalho tal como ele era no dia do acidente
Pode concorrer com outras linhas de responsabilidade:
a) A vítima pode ser titular de mais de um direito de reparação
b) O mesmo dano só pode ser reparado uma vez apesar de poder haver vários processos
Por vezes, acontece que a pessoa quando chega, já não tem a mesma atividade profissional e,
nesses casos, não se tem em conta o trabalho atual, mas apenas a repercussão que a sequela tinha
no trabalho anterior. A seguradora responsabiliza-se pela situação à data em que o acidente
ocorreu (até porque os seguros podem ser diferentes consoante o tipo de atividade).
Os tipos de incapacidade
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A avaliação do dano corporal em direito do trabalho pressupõe a cooperação entre a medicina e a justiça.
Nos acidentes de trabalho, o objetivo desta avaliação é indemnizar a incapacidade de ganho (ao passo que em
direito penal é ver outra pessoa condenada e, no direito civil, é a reparação integral do dano).
No âmbito da atividade profissional temos de atender ao tipo de incapacidade em que a pessoa se encontra
para depois calcular a indemnização. Assim, por exemplo: quando o indivíduo tem um acidente de trabalho do qual
resulta a fratura no joelho, é internado e operado no hospital. Quando sai, passa a frequentar consultas externas.
Durante esse período ainda não se sabe quais são as sequelas que irão ficar e, enquanto não se chegar ao momento
em que não há possibilidade de cura, deixa de haver tratamentos e passa a haver incapacidade permanente. Isto é,
no final do tratamento podemos ter como resultado: a cura ou o dano permanente. Isto é muito importante porque
é partir dessa data que se começa a contar a indemnização.
Durante o período que vai desde o acidente de trabalho até àquele momento uma incapacidade de trabalho
temporária que pode ser absoluta ou parcial. Só a partir do momento em que não há possibilidade de cura é que
temos uma incapacidade permanente (que pode ser absoluta, absoluta para o trabalho habitual ou parcial).
Tudo isto precisa de ser graduado em percentagem uma vez que se traduzirá em pagamento. Quem vai
pagar é a companhia de seguros e, por isso, a responsabilidade passa para esta. Como é que se opera:
a) Se for uma incapacidade temporária absoluta (ITA) a companhia de seguros paga o salário integralmente
b) Se for uma incapacidade temporária parcial (ITP) a companhia paga uma parte e a empresa o restante
*os conflitos surgem quando o trabalhador passa da ITA para a ITP, porque a tendência é de a entidade
patronal não ter razão para retornar para a companhia de seguros pois também não está a pagar o
ordenado completo
Se houver cura, o processo termina. Se não houver cura, ficando com um dano permanente, este pode ser:
a) Parcial – aqui a pessoa já está a trabalhar e recebe uma indemnização pela incapacidade com que vai ficar
(até 30% a indemnização pode ser entregue de uma vez por capital que depende do ordenado, idade e
profissão do sinistrado; em caso de incapacidade superior a 30% a indemnização pode ser dada por pensão)
b) Absoluta – quando o indivíduo não puder exercer mais a sua atividade profissional (por exemplo: pianista de
profissão) no relatório deverá constar a indicação de uma IPATH (incapacidade permanente absoluta para o
trabalho habitual), considerando que o indivíduo pode vir a exercer outras atividades e para essas atividades
terá uma IPP (incapacidade permanente parcial) de determinada percentagem. Ora, isto traduz-se em duas
coisas:
- o valor da indemnização que vai receber é completamente diferente: o valor da IPATH de 100% tem de ser
calculado com base na percentagem de IPP
- nunca mais poderá exercer a atividade profissional anterior
Quando não esteja nenhuma das hipóteses referidas, temos uma IPA que se refere a toda e qualquer
atividade.
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Como vemos, a participação do Tribunal de Trabalho é feita sempre que haja um período de incapacidade
permanente ou incapacidade temporária.
Se a companhia de seguros não comunicar ao Tribunal de Trabalho será aplicada coima (pela não
comunicação devida). Podendo neste caso o próprio trabalhador dirigir-se ao tribunal, sem qualquer custo
associado.
A doença diz-se profissional porque tem uma ligação com a atividade profissional o que não quer dizer que
todas as doenças que tenham uma conexão profissional sejam consideradas doença profissional. Caracteriza-se,
efetivamente, pela causa e pela circunstância em que ocorre.
Distingue-se do acidente sobretudo pela forma de atuação do agente – o acidente ocorre subitamente e a
doença insidiosamente.
Revisões
A revisão terá lugar quando se modifique a capacidade de ganho por: agravamento, recidiva, recaída ou
melhoria da lesão, intervenção clínica ou aplicação de prótese ou ortótese e formação ou reconvenção
profissional.
No caso de recidiva ou agravamento, o direito às prestações em espécie mantém-se após a alta, seja qual for
a situação nesta definida, e abrange as doenças intercorrentes relacionadas com as consequências da doença
profissional.
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A tabela nacional de Incapacidades (TNI) tem por objetivo fornecer as bases de avaliação do prejuízo
funcional sofrido em consequência de um acidente de trabalho e de doença profissional, com redução da capacidade
de ganho.
Nessa tabela encontramos as instruções gerais nos números, subnúmeros e alíneas, agrupados em capítulos,
relativas às sequelas de que resultam incapacidades permanentes.
A cada situação de prejuízo funcional corresponde um coeficiente (%) que traduz a perda da capacidade de
trabalho (relembrando que a disfunção total designada como IPA para toda e qualquer profissão, expressa pela
unidade).
Note-se que, sempre que as circunstâncias excecionais o justifiquem, pode ainda o perito médico, afastar-se
dos valores dos coeficientes previsto, inclusive nos valores iguais a 0,00, desde que, exponha claramente e
fundamente as razoes que a tal o conduzem e indique o sentido e medida do desvio em relação ao coeficiente.
Existem, contudo situações não previstas na TNI. Nestes casos, as incapacidades que derivem de disfunções
ou sequelas não descritas na Tabela são avaliadas pelo coeficiente relativo à disfunção análoga ou equivalente.
Em relação à atribuição da IPATH (incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual) devemos ter
em conta, como referido anteriormente, a capacidade funcional residual para outra profissão compatível com esta
incapacidade atendendo à idade, qualificações profissionais e escolares e a possibilidade, concretamente avaliada,
de integração profissional do sinistrado ou doente.
Ónus da prova:
a) Se a lesão corporal/perturbação/doença for reconhecida a seguir a um acidente, ela presume-se
consequência deste
b) Se a lesão corporal/perturbação/doença não for reconhecida a seguir a um acidente, compete ao
sinistrado/beneficiários legais provar que foi na consequência dele.
Durante o tratamento
Não obstante, confere também direito à reparação a lesão/doença que se manifeste durante o tratamento e
que seja consequência de tal tratamento.
Sempre que seja considerado adequado ou conveniente, pode o tribunal solicitar parecer às
entidades competentes, sobre as efetivas possibilidades de reabilitação do sinistrado.
b) No caso de lesões múltiplas que respeitem a funções diferentes, o coeficiente global de incapacidade
será determinado pela soma dos coeficientes que correspondem a cada situação. O primeiro dos
coeficientes considerado referir-se-á à capacidade do sinistrado anterior ao acidente e os demais
reportar-se-ão à mesma capacidade, feita, porém, dedução do coeficiente/coeficientes já tomados em
conta.
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RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A REALIZAÇÃO DE RELATÓRIOS PERICIAIS DE CLÍNICA FORENSE NO
ÂMBITO DO DIREITO DO TRABALHO (VER TEXTO – ANEXO II)
Em direito civil, prevalece o princípio da reparação integral do dano (medicamente utópico). Já não em direito
do trabalho, onde prevalece a capacidade de ganho. Ora, trata-se de um princípio, do ponto de vista médico,
utópico, pois não ficará na situação em que estava antes do dano. Porém, fazemos tudo para que fique na posição o
mais próximo possível, inclusive por meios compensatórios.
A reparação integral do dano traduz-se, assim, em restabelecer exatamente quanto possível o equilíbrio
destruído pelo dano e recolocar a vítima, a expensas do responsável, na situação em que esta se encontraria se o
facto produtor das lesões não tivesse ocorrido.
No âmbito do direito civil indemniza-se uma vítima pelo sofrimento. Todas as perícias médico-legais têm algo em
comum, ou seja, definir em termos técnicos um quadro jurídico. O que se pretende é tentar restabelecer o equilíbrio
destruído pelo dano e colocar a vítima na situação em que estaria se o ato produtor das lesões não tivesse ocorrido.
Isto, naturalmente, em dadas circunstâncias não é fácil pelo que se tenta compensar a vítima com uma quantia
monetária. Em direito penal, a única compensação para a vítima era ver o alegado agressor punido, mas em direito
civil há uma quantia monetária direta ao lesado.
É do senso comum que esta avaliação não é simples, tem de ser ponderada, caso a caso e exige uma certa
experiência para fazer estas avaliações de forma equilibrada. É, assim, uma atividade difícil porque há uma
subjetividade dupla na avaliação, tanto o doente como o médico tiveram de determinar graus de dor, que serão o
máximo de que conhecerão. Neste contexto encontramos vários problemas: por um lado, existem imensos casos de
dissimilação e, por outro, a relação de confiança com o médico-clínico é maior do que com um médico-perito.
Uma mesma lesão ou sequela orgânica pode ter consequência diferentes em termos pessoais e
profissionais.
Vejamos: atendendo a um dado evento traumático e a um período em que a pessoa está a recuperar ativamente,
verificamos que a pessoa curou (teve o restabelecimento total das lesões não ficando com sequelas) ou que a pessoa
ficou com sequelas (consolidação médico-legal – momento em que na sequencia de um estado transitório que
constitui o período de cuidados, o lesado se fixa e toma um caráter permanente, de tal forma que qualquer
tratamento não é mais necessário a não ser para evitar um agravamento e em que é possível apreciar um
determinado juízo definitivo. Note-se que há casos em que ao lesado é recomendado fazer sessões regulares de
fisioterapia para ajudar a não piorar a situação, mas o dano em si já é permanente.
Momentos da perícia:
1. O primeiro grande momento da perícia é a determinação da data da cura ou da consolidação.
É muito importante para se distinguir os danos temporários dos danos permanentes (os danos vão
sofrendo alterações contínuas, no sentido da cura ou da consolidação). Como referido, uma lesão pode
consolidar-se ainda que o sujeito permaneça em tratamentos que servem não para promover melhorias,
mas apenas para evitar um retrocesso.
Sob o ponto de vista formal a conclusão sobre a data de cura ou de consolidação deve apontar para uma
data, isto é, em vez de fixar uma data propor uma data fixável em….
Por exemplo: data de consolidação fixável em 10 de janeiro de 2011 – trata-se do momento em que
se constatou clinicamente que… o perito propõe a data e o juiz fixa
2. Estabelecida a data, passamos para a avaliação dos parâmetros:
a) Danos temporários:
I. Défice funcional temporário (total ou parcial): são atividades comuns a todos nós, são
atividades normais do nosso dia-a-dia (perspetiva de um cidadão comum). Constitui, assim,
a perturbação temporária total ou parcial das atividades pessoais (incluindo atividades
desportivas e de lazer)
II. Repercussão temporária na atividade profissional (total ou parcial): aqui poderemos
alterar as conclusões adaptando caso a caso. Estas são específicas de cada pessoa.
Aqui é necessário precisar durante quanto tempo as lesões em evolução impediram a vítima
de exercer total ou parcialmente a sua atividade profissional.
III. Quantum doloris: traduz-se na valorização da dor física resultante não só dos ferimentos
como dos tratamentos e da dor em sentido psicológico.
Pretende-se avaliar:
- as dores físicas e orgânicas, consecutivas à natureza do traumatismo;
- e as dores psicogéneas, individuais, dependentes da vítima, da sua constituição física e
psíquica, da sua idade, das suas taras, raça, etc.
Quantum doloris – fatores internos/subjetivos:
Esta, por sua vez, constitui uma valorização muito subjetiva (fatores internos) – não
só é avaliada diferentemente, como pode ser sentida de modo distinto consoante a lesão
traumática, consoante a sua extensão física e psíquica. Efetivamente, a valorização pericial
aqui é tipicamente subjetiva, decorrendo, nomeadamente, da angústia e ansiedade criadas
pelas circunstâncias inerentes ao acidente, como sejam as resultantes da hospitalização, a
anústia e ansiedade face a intervenções cirúrgicas e particularmente à anestesia geral, a
consciência do risco de vida, o afastamento do meio e das responsabilidades familiares, o
afastamento das ocupações profissionais, etc.
Há pessoas que consciente ou inconscientemente tentam exagerar o seu sofrimento e aqui
tem de haver uma avaliação caso a caso, pedindo a colaboração aos psiquiatras forenses.
74
Quantum doloris – fatores externos/objetivos:
De todo o modo, há fatores que são objetivos, designadamente:
a) Características das lesões traumáticas (natureza e gravidade das lesões iniciais,
localização, extensão, profundidade, número de lesões)
b) Modalidades de tratamento (tipo e número de tratamentos, número e natureza
das intervenções cirúrgicas, tempo de permanência em extensão contínua,
natureza e duração dos tratamentos de fisiatria, etc)
c) Evolução das lesões (incidentes da imobilização e evolutivos, número e duração
dos internamentos hospitalares, numero e natureza dos exames
complementares, transportes, etc)
Sabemos qua há dores que outras, por exemplo, uma fratura exposta é uma situação
medicamente mais dolorosa.
Existem vários métodos de medição da dor. Em todo o caso, deve haver uma
cooperação do examinado, deve ter-se em conta a idade, o contexto clínico (ansiedade,
compromisso do nível de consciência, patologia psiquiátrica, etc), nível inteletual, eventuais
benefícios económicos, etc.
Neste sentido, atendemos a escalas de intensidade da dor, sendo por nós adotadas
escalas quantitativas e não qualitativas. Antes utilizávamos escalas qualitativas (que iam
desde o “muito ligeiro” ao “muito importante”). Contudo, a nível europeu convencionou-se
abandonar a escala qualitativa e substitui-la por uma escala quantitativa graduada de 1 a 7.
Note-se que, na maioria dos casos, o quantum da dor para lá da consolidação está
contida nos parâmetros dos danos permanentes! Decorre do princípio da dupla valoração
do mesmo dano.
A taxa de incapacidade:
Não é uma unidade medida. É antes uma unidade de apreciação! Recorremos a uma tabela
com pontos e não com percentagens.
- Esta unidade de apreciação é resultado da integração de medidas de fenómenos diversos,
feita com a ajuda de instrumentos diversos, e como tal expressos em unidades diversas e
75
alimentada pela opinião intuitiva do perito, fortalecida pela sua experiência e capacidade
apreender os imponderáveis.
Isto porque uma tabela científica exigiria hierarquizar as depreciações no seio dos órgãos e
das funções (o que é possível), hierarquizar os órgãos e as funções (o que é impossível).
Mélennec postulava o conceito de 100% = perda total de todas as capacidades fisiológicas
(morte), 99% = estado vegetativo e 95% = tetraplégico. Consideramos isto um absurdo!
As capacidades fisiológicas restantes podem ser muito diferentes para pontuações idênticas!
“O dano físico permanente é frequentemente expresso por um taxa, mas esta taxa só
adquire todo o seu significado se a sua génese é explicada e as suas componentes bem
caracterizadas” PIERRE LUCAS.
De facto, não existe uma tabela realista e utilizável que consiga fragmentar as pontuações de
forma a que a sua adição, em casos de sequelas múltiplas fisiologicamente possíveis, não
ultrapasse os 100%. Todas as tabelas graduadas entre 0 e 100% de incapacidade ou entre 0 e
100 pontos, representam assim um compromisso cuja aplicação deve ser temperada pela
apreciação das capacidades restantes, em particular segundo a existência de sinergia de
sequelas.
Caráter redutor da regra de Balthazard (regra da capacidade restante).
II. Repercussão permanente na atividade profissional (total ou parcial): não tem nada a ver
com o direito do trabalho, são coisas diferentes. Aqui avalia-se em pontos e não em
percentagem.
III. Dano estético: tem de haver uma avaliação estática e dinâmica. Este dano suscita muitas
questões. Efetivamente, cada sequela deve ser avaliada apenas uma vez, com exceção do
dano estético. Assim, esta deve ser uma avaliação personalizada. O dano estético pode
inclusive ter virtualidades de dano patrimonial quando tenha reflexos na atividade
profissional (por exemplo: uma modelo). Por outro lado, um dano estético temporário pode
76
ser incluído no âmbito da avaliação do quantum doloris. Também aqui se utiliza a escala de 1
a 7 (quantitativa).
IV. Repercussão permanente nas atividades desportivas e de lazer: designadamente, a
impossibilidade estrita e específica para a vítima de se dedicar a certas atividades lúdicas, de
lazer e de convívio social, que exercia de forma regular e que para ela representava um
amplo e manifesto espaço de gratificação e realização. Isto significa que, se a pessoa não
tinha hobbies este parâmetro não é avaliado. O reflexo das sequelas sobre atividades
integradas na vida corrente, similares às exercidas pelo comum dos cidadãos, está integrado
na pontuação atribuída à afetação permanente da integridade físico-psíquica que vimos
anteriormente.
V. Repercussão permanente na atividade sexual: afetações urogenitais como sejam ablação de
um órgão, um atingimento neurológico, lesionados medulares, etc., serão valoradas no
âmbito de uma pontuação e afetação permanente da integridade físico-psíquica. As
situações envolvendo apenas queixas relativas essencialmente à realização do ato sexual
poderão ser valoradas numa escala quantitativa de 7 graus.
VI. Dependências (necessidades atuais e futuras): estas podem ser técnicas, medicamentos ou
tratamentos de fisioterapia. Traduz-se nos cuidados médicos após a consolidação. Isto é, o
perito deve pronunciar-se sobre a necessidade de cuidados médicos, paramédicos ou
próteses após a consolidação para evitar um agravamento do estado sequelar. Deve
justificar a imputabilidade dos cuidados ao evento traumático em causa precisando que se
trata de tratamentos ocasionais, isto é, limitados no tempo, ou permanentes, para o resto da
vida.
Notas:
CEREDOC – propôs
1º versão do Guia europeu concluída em 2003 – utilização experimental a partir de 2006
2ª versão do Guia concluída em 2010 – ver Decreto-Lei 352/2007 de 23 de outubro (no anexo II consta a
tabela de avaliação de incapacidades permanentes em direito civil)
As tabelas exigem uma revisão periódica!
Em França, a perícia tem de ser feita por um médico com especial formação. Entre nós, qualquer médico
pode elaborar perícias. Mas entendem que, efetivamente, apenas deveriam poder aqueles que têm competência em
avaliação do dano corporal. As próprias organizações europeias por exemplo, referem-se expressamente a esta
exigência: “todos os peritos avaliadores devem ser titulares de um diploma universitário de estudos especializados
em avaliação do dano corporal”. “A igualdade das valorações de danos corporais idênticos qualquer que seja o perito
avaliador, é condição indispensável em qualquer harmonização da reparação, constituindo um pré-requisito prévio
essencial. Supõe competência, garantia da qualidade dos procedimentos periciais”. Logo, impõe-se uma formação
adequada com competência (e não improvisação), com rigor (e não severidade) e objetividade (e não flexibilidade).
Em suma:
Danos temporários Danos permanentes
Repercussão temporária na Dano Repercussão permanente Danos patrimoniais
atividade profissional patrimonial na atividade profissional
Défice funcional temporário Danos não Dependências
Quantum doloris patrimoniais Défice funcional Danos não patrimoniais
permanente
Dano estético permanente
Repercussão na atividade
sexual
Repercussão nas
atividades desportivas e
de lazer
77
Proceder à perícia:
a) Após a consolidação funcional
b) Quando o sinistrado tiver regressado ao domicílio que ocupará definitivamente e esteja instalado em
condições de vida presumivelmente duráveis
c) No domicílio do sinistrado (já adaptado) e no momento em que todas as ajudas técnicas desejáveis
tenham sido concretizadas
d) Após a consolidação situacional
e) Por vezes, envolver no interrogatório não apenas a vítima, mas também a sua família e o seu entorno
paramédico e médico.
O relatório médico-legal tem de ser o mais completo possível de forma a permitir a compreensão do prejuízo real.
O relatório tem os seguintes momentos:
1. Identificação e descrição dos danos (independentemente do ramo)
2. Interpretação e valoração dos elementos observados (sempre independentemente do ramo)
3. Identificação/descrição dos danos
a) Informação
b) História do evento
c) Dados documentais (a sua recolha é fundamental pois são eles que fornecem a prova do dano e que
permitem conjugados com o resultado do exame feito pelo perito médico, o estabelecimento do
nexo de causalidade)
4. Antecedentes – é fundamental no âmbito da ponderação do nexo de causalidade (pois pode dar
indicações quanto a um eventual estado anterior)
5. Estado atual
a) Queixas
b) Exame objetivo
c) Exames complementares
6. Discussão – é a parte fundamental do relatório. É o que fundamenta as conclusões, se há nexo de
causalidade e ainda os motivos para a classificação do dano estético e do quantum doloris. Este ponto
varia consoante as especificidades do enquadramento legal, mas envolverá sempre a análise do nexo de
causalidade e da proposta da data de cura/consolidação.
7. Conclusões – aqui é feita a avaliação em dinheiro.
A violência é o tratamento físico e/ou emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções nas
relações entre a vítima e o agressor no contexto de uma relação de confiança, poder e dependência.
A vítima fica privada dos seus direitos e liberdades, afetando de forma concreta ou potencial a sua saúde,
bem estar, dignidade e desenvolvimento (físico, psicológico e social, no caso de menores).
Podemos distinguir diferentes tipos de violência, nomeadamente: abuso financeiro/material, abuso físico,
negligência, abuso psicológico/emocional, abuso sexual.
78
Ao longo do ciclo da vida encontramos diversos tipos de violência, vejamos:
A violência tem vários impactos na saúde e a diferentes níveis: por exemplo: gravidezes indesejadas,
transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e até a morte. Tem-se falado muito hoje em dia nos indícios
de violência durante o namoro, cada vez mais comum. A informação circula cada vez mais acerca das táticas do
agressor, do ciclo da violência e das próprias marcas que nos devem alertar.
Atualmente há uma maior sensibilidade e intolerância social para estas situações o que tem levado a uma
denúncia mais precoce e, por outro lado, os profissionais estão mais preparados.
A violência doméstica é um crime público, o que significa que, independentemente da vontade da vítima,
qualquer pessoa pode e deve fazer denúncia. O artigo 152º do CP prevê o crime de violência doméstica e o
artigo 152º-A o crime de maus tratos (a crianças).
No que diz respeito às situações de abuso em menores, de maus tratos, considera-se que a criança ou
jovem está em perigo, designadamente, quando se encontra numa destas situações:
Considerações gerais:
1. A identificação de fatores de risco serve de guia da prevenção e da intervenção.
2. Qualquer criança pode ser objeto de abuso.
79
3. Em cada um pode haver a sobreposição de diferentes tipos de abuso.
4. Aos sintomas de qualquer tipo de abuso associam-se sempre sintomas de abuso emocional.
5. Os sinais, mas sobretudo os sintomas, variam conforme a gravidade do abuso, o sexo, a idade da
vítima, a sua capacidade para reagir e a existência de estruturas de apoio no seu meio.
6. Podem existir situações de abuso, sem que existam sinais/sintomas evidentes e que a vítima revela
uma relação saudável com o abusador (ocorre maioritariamente nos grupos etários mais baixos).
7. Podem existir sintomas sugestivos de abuso sem que estes se verifiquem de facto.
A maior parte dos sinais ou sintomas não são patognomónicos de determinado tipo de abuso!
Podemos ter indicadores psicológicos (de abuso físico, sexual e emocional) e indicadores de físicos.
80
Indicadores físicos de abuso
Os indicadores físicos, como determinadas lesões ou sequelas deverão ser sempre valorizados no contexto da
história e do resultado do exame médico-legal, bem como de outros eventuais exames complementares de
diagnóstico que possam ser realizados, sendo de destacar os de psicologia forense.
Mecanismos mais comuns:
1. Murros, bofetadas e pontapés
2. Beliscão e mordeduras
3. Empurrão e abanões
4. Traumatismos com objetos contundentes, cortantes, perfurantes e mistos
5. Compressão de parte do corpo com mãos ou laços
6. Queimaduras
7. Intoxicações
Suspeitar quando:
1. Inadequação/ausência/mudança nas explicações
2. Tempo de evolução e atraso na procura de assistência
3. Discrepância entre o aspeto observado e a história da produção
4. Lesões em diferentes estádios de evolução
5. Lesões em locais pouco comuns aos traumatismos de natureza acidental
6. Lesões em diferentes localizações
7. Lesões desfigurantes
8. Reflexos de defesa
9. Lesões com determinadas características.
Diagnósticos diferenciais:
1. Acidentes
2. Patologias
3. Sequelas pós-operatórias ou lesões iatrogénicas
4. Lesões devido a práticas de medicinas tradicionais
5. Malformações
6. Condições morfológicas
7. Simulação
8. Lesões auto-infligidas
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A informação colhida deve ser, por sua vez, sistematizada de acordo com a sua pertinência, importando
sobretudo destacar a informação relevante sobre o processo a partir do discurso da criança e de outros dados
disponíveis.
Protocolo de colaboração (2011) entre o Ministério da Saúde, o Ministério da Justiça e a Comissão Nacional
de Proteção de Crianças e Jovens em Risco:
Deste modo, o movimento whiplash-type (abanar como movimento de chicote) pode levar a lesões
meningo-encefálicas graves, entre outros. Pode não haver uma lesão externa na cabeça, mas interiormente pode
haver hematoma subdural e subaracnoideia, hemorragia retiana e lesão axonal difusa. Pode levar também a fratura
das costelas, vértebras e ossos longos.
82
8.5. A intervenção médica pericial em situações de abusos em idosos
O que se verifica é que os profissionais de saúde podem ser as únicas pessoas na vida da vítima com
oportunidade para reconhecerem o abuso e proporcionarem ajuda. Contudo, os médicos raramente denunciam
situações de abuso, apesar de ocuparem a posição ideal para o fazerem.
A maioria dos casos de abuso ocorre em ambiente doméstico e é perpetrado por familiares ou cuidadores
pagos. Sendo que destes últimos, se verifica uma menor prevalência de abuso por parte dos cuidadores
institucionais que têm menos horas de contacto com o idoso.
Também aqui o abuso pode ocorrer de várias formas: negligência, abuso emocional ou psicológico, abuso
financeiro/material e físico ou sexual.
Fatores de risco
1. Fatores individuais da vítima
a) Classicamente, ser do género feminino
b) Idade superior a 75 anos
c) Incapacidade física/inteletual
d) Quadros demenciais
2. Fatores individuais do agressor
a) Familiares (filho; cônjuge)
b) Drogas de abuso/consumo abusivo de álcool
c) Inexperiência/período prolongado como cuidador
d) História de abuso em criança
e) Personalidade hipercríticas
f) Expetativas irrealistas
3. Fatores relacionais
a) Dependência financeira/emocional/habitacional do abusador em relação à vítima
b) Transmissão intergeracional da violência
c) História de relacionamento interpessoal difícil
d) Coabitação e superlotação
e) Excesso de lealdade para o abusador e interiorização da culpa
4. Fatores comunitários e sociais
a) Isolamento social (poucos contactos sociais)
b) Carência de suporte social (recursos e sistemas de suporte)
c) Discriminação em função da idade
d) Outras formas de discriminação
e) Cultura de violência
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f) Fatores sociais e económicos
Suspeitar:
a) Situação conflituosa entre o paciente e alegado abusador
b) Recursa do cuidador em deixar o paciente sozinho com o médico
c) Vestuário inadequado
d) Ausência de óculos, prótese auditivas, próteses dentárias
e) Despreocupação evidente na nutrição e higiene, com apatia, depressão ou outros indícios de tristeza
f) Evidência de restrição física
g) Disparidade nas explicações fornecidas pela vítima e cuidador
Em caso de suspeita de maus tratos a idosos deve o médico estabelecer a urgência da situação e a
necessidade de chamar o médico legista. Mas não é só o médico quem pode solicitar a perícia, a própria
vítima ou o seu responsável também o podem fazer, assim como, os assistentes sociais ou profissionais da
área, os polícias em tribunais ou qualquer médico.
Na entrevista deve ter-se o cuidado de: separar a vítima do cuidador, permitir tempo para resposta, partir do
geral para o específico, utilizar uma linguagem e questões adequadas ao nível de instrução, respeitar as diferenças
culturais e étnicas, não fazer confrontos/acusações/frustrações, determinar se existe défice cognitivo e deve
realizar-se mais que uma entrevista (outros profissionais devem participar).
No exame objetivo é feita análise do estado geral, da superfície corporal e da região anogenital (crimes
sexuais). Os critérios utilizados no exame objetivo variam conforme as lesões encontradas:
84
16. Crimes de Natureza Sexual e Exame Médico de Vítimas de
Agressão
Toda a atividade sexual na qual uma vítima é forçada ou constrangida a participar por um determinado
agressor, com ele próprio, consigo mesma ou com uma terceira pessoa, contra a sua vontade, por
manipulação efetiva, física, material ou abuso de autoridade, de maneira evidente ou não, seja o agressor
conhecido ou não, haja ou não evidência de lesão ou traumatismo físico ou emocional, e
independentemente do sexo das pessoas envolvidas.
Livro II – Título I – Capítulo V – Crimes contra a liberdade sexual e crimes contra a autodeterminação sexual
Artigo 163º - Coação sexual (“ato sexual de relevo…”)
Artigo 164º - Violação
Artigo 165º - Abuso sexual de pessoa incapaz de resistência
Artigo 166º - Abuso sexual de pessoa internada
Artigo 170º - Importunação sexual
Artigo 171º - Abuso sexual de crianças
Artigo 172º - Abuso sexual de menores dependentes
Artigo 173º - Atos sexuais com adolescentes
Fatores de risco:
I. Características Individuais
Vítima Agressor
a) Vulnerabilidade em termos de idade e de a) Alcoolismo e toxicodependência
necessidades b) Perturbação da saúde mental ou física
b) Na dependência e sob o poder do agressor c) Antecedentes de comportamento desviante
c) Personalidade e temperamento não ajustados ao d) Personalidade imatura e impulsiva, baixo auto-
do agressor controlo e auto-estima, reduzida tolerância às
d) Perturbação da saúde mental ou física frustrações, grande vulnerabilidade ao stress
(handicap) e) Antecedentes de terem sofrido maus tratos
f) Atitude intolerante, indiferente ou
excessiva/ansiosa face às responsabilidades
familiares
g) Incapacidade para admitirem que a vítima foi ou
possa ter sido maltratada e incapacidade para
lhe oferecer proteção no futuro
h) Baixo nível económico e cultural, desemprego,
excesso de vida pessoal ou profissional que
dificulta o estabelecimento de relações positivas.
85
II. Contexto familiar
a) Família monoparental, reconstituída ou com filhos de outras relações
b) Família destruturada, relação disfuncional no casal
c) Crises na vida familiar
d) Mudança frequente de residência ou emigração
e) Famílias com problemas sócio-económicos e habitacionais
III. Contexto social e cultural
a) Aceitação social da desigualdade
b) Força física, pode económico e estatuto social superiores
c) Vulnerabilidade das mulheres, menores e idosos
d) Influência de valores sociais existentes
e) Violência como método socialmente aceite para resolver problemas ou para estabelecimento de identidade.
Fases da violência
Vítima Agressor
a) Segredo a) Aumento da tensão
b) Sentimento de abandono b) Explosão de violência
c) Acomodação à situação c) Arrependimento
d) Relevação do segredo
e) Contradição da revelação
f) Aceitação dos acontecimentos e criação de
estratégias de auto-aceitação
g) Revelação
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g) Não comer, beber ou fumar (sobretudo no coito oral – isto porque, os vestígios biológicos presentes na
boca não duram muito mais do que 7/8 horas)
h) Preservar o local onde decorreu o abuso
4. Tranquilizar e transmitir confiança à vítima
5. Definir a forma de intervenção inicial
6. Contactar outros profissionais da rede
7. Orientar/proteger a vítima
O exame médico-legal passará pela recolha de informação, exame do vestuário, exame físico, exames
completares e, por fim, a elaboração do relatório.
Papel do médico legista – exame (5 componentes – entrevista, exame do vestuário, exame físico, exames
complementares e relatório):
1. Entrevista
- é o ponto de partida do exame médico-legal
- o relato do evento e das circunstâncias que o rodeiam orientam o perito na sua atuação pericial
(determinando o exame físico, as amostras biológicas e outras que se deve recolher e a necessidade de
acompanhamento médico posterior)
- a entrevista deve ter um planeamento prévio, deve decorrer num local que ofereça privacidade, conforto,
seja adequado à idade, etc.), a colheita de informação deve ocorrer no mais curto espaço de tempo após o
evento, os pais, familiares e outros acompanhantes devem estar a par do sucedido, não deve haver
interrupções e deve realizar-se uma única entrevista
- durante a entrevista deve ser abordado o assunto de modo neutro, adequando a linguagem à idade da
vítima, explicando as “regras da entrevista” (dizendo por exemplo, que não se vai contar aos pais), fazendo
um convite à narrativa, fazendo perguntas abertas e sem repetições, determinando um tempo de resposta,
aceitando lacunas nas respostas/ocultação e fazendo uma abordagem em funil (do geral para o particular)
- a entrevista requer, claro está, conhecimentos da técnica de entrevista forense, compreender as
dificuldades da vítima, imparcialidade e objetividade, open mind e evitar o caráter julgador, considerar todas
as alternativas possíveis e cautelar a interpretação de elementos aparentemente inexplicáveis.
- na entrevista devem ser abordados os antecedentes pessoais (ginecológicos e obstétricos, médico-
cirúrgicos e patológicos/traumáticos), os antecedentes familiares e o contexto social. Valorizar a situação de
terceiros (existência de irmãos, por exemplo) e os riscos de recidiva.
2. Exame clínico
a) Exame do vestuário
- roupa vestida à data da agressão/depois (fazer o registo de achados; não interessam apenas os
vestígios biológicos, os detritos, como areias, terra e folhas são importantes porque podem corroborar
a história da vítima)
- a vítima deverá despir-se em cima de um lençol ou papel branco de captação
- manipular o menos possível o vestuário
- as peças deverão ser secas ao ar livre e acondicionadas individualmente em sacos de papel (se o
vestuário estiver humedecido/molhado deve haver indicação anexa ao saco de papel a alertar esse
facto ao laboratório e o envio deve ser o mais rápido possível)
b) Exame físico
- Registo de todas as queixas da vítima
- Exame objetivo:
i. Estado geral (sobretudo para determinar se a vítima tem um discurso coerente)
- orientação temporo-espacial
- colaboração, tipo de discurso
- estadio psicológico adequado ou não à idade
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- peso, altura, tipo constitucional
- idade aparente e estadio de Tanner (desenvolvimento corporal – mamário e pelos púbicos)
- membro dominante
- tipo de marcha
ii. Lesões/sequelas relacionáveis com o evento
- Superfície corporal em geral
Descrição das lesões (número, dimensões, cor, forma, distância, direção e características)
a) Quanto à natureza:
- equimose, edema, hematoma, escoriação, ferida, queimadura, mordedura
b) Quanto à sede
- zonas de apoio, zonas de contenção, zonas de proteção, zonas particularmente suscetíveis,
cavidade bucal e dentes, restante superfície corporal
c) Por imobilização/contenção: braços, coxas, punhos e tornozelos
d) Por tentativas de calar a vítima: face, pescoço, boca, orofaringe, freios da língua e lábios
e) Intenção de atordoamento: cabeça
f) Sinais de apoio forçado: pélvis, escápulas, joelhos, cotovelos, ombros, região lombar, mãos
g) Sinais de agressividade sádica: sugilações, mordeduras e feridas
Fotografar, assinalar em diagramas corporais
Efetuar colheitas no decurso das diversas fases do exame
- Cavidade oral
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É muito importante haver aqui colaboração dos vários profissionais de saúde que possam detetar
estes problemas, nomeadamente: os profissionais de ginecologia e obstetrícia, pediatria, infeciologia,
dermatologia, urologia e a própria assistência social.
4. Exames complementares
Vestígios biológicos
Sangue Sémen
Utilizado para análise da toxicologia e genética A colheita deve ser feita por zaragatoas estéreis:
A colheita de sangue da vítima (secar ao ar frio e - cavidade oral: até 6 a 8 horas
colocar em sacos de papel; conservar a 4º ou congelar a - região anorretarl: até 24horas
-20ºC) - cavidade vaginal: até 72horas
- sangue fresco: zaragatoa estéril - outras.
-sangue seco: zaragatoa com água destilada
- sangue seco em cabelos ou pelos: cortar e colocar Limpeza da mancha – zaragatoa com água bidestilada
num papel de captação
Conclusões:
Diagnóstico de contacto sexual:
1) Gravidez
2) Presença de sémen em amostras colhidas do corpo da vítima
Achados indeterminados:
1) Soluções de continuidade incompletas posteriores do hímen (4-8 horas) em pré-púberes
2) Soluções de continuidade incompletas ou completas às 3 ou 9h
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3) Altura himenial posterior < 1mm
4) Dilatação anal marcada e imediata >2cm, na ausência de fatores predisponentes
Geralmente não resultam vestígios:
1) Cicatrização rápida e geral das lesões anogenitais
2) Tipo de ato sexual (ausência de penetração)
3) Penetração sem lesão (nos jovens)
4) Ejaculação fora das cavidades ou uso de preservativo
5) Lavagem frequente
6) Atos fisiológicos
É essencial que o exame médico-legal seja o mais precocemente possível para colheira e preservação de vestígios. É
essencial uma adequada valorização da sintomatologia e informação prestada pela vítima.
Como referido, repita-se que, a ausência de lesões traumáticas e de vestígios biológicos não invalida a possibilidade
de se ter verificado abuso sexual!
17.1. Introdução
a) Cultura greco-romana: foi aqui que as doenças começaram a ser classificadas. Hipócrates é o 1.º a falar de
epilepsia (antes chamava-se ser possessão demoníaca). No direito romano, surge a ideia de “persona”, e
considerava o direito vedado aos mentecaptos.
b) Idade média:
retrocesso ao conceito mítico-religioso. Surgem os primeiros hospitais.
c) Racionalismo: a revolução francesa trouxe a 1.ª grande revolução da psiquiatria. Pirel libertou os asilados de
um manicómio, e introduz os conceitos de “liberdade” e “moral”. Começou nesta altura a introduzir-se o
conceito de que não há crime quando o sujeito estivesse sob uma força mental irresistível, sendo
impossibilitado de fazer uma escolha.
Nascem os hospitais psiquiátricos, que visariam também a defesa da segurança pública – é onde se recolhe o
doente para não prejudicar a sociedade. Os médicos alienistas eram chamados aos tribunais e no início quando o
sujeito acusado tivesse doença mental – início de psiquiatria forense.
90
Fins do século XIX: a psiquiatria é já uma especialidade médica, preocupada com questões legais e
administrativas. Surge a terapia de raiz psicanalítica (Freud e seus discípulos). É estudada a “demência precoce”
(hoje esquizofrenia); e as doenças degenerativas do SNC (Alzheimer).
Depois da 1.ª Guerra Mundial: surgem grandes autores como Bleuler, Paveav, etc. Em 1952, surgem os 1.º
tratamentos para psicoses através de fármacos. Também as primeiras classificações operativas: DSTI (não deve ser
usado para fins jurídicos) e CID.
Já no fim do século XX, houve um grande desenvolvimento das neuro-ciências, sobretudo da neuro imagem.
Pode definir-se como o conjunto de conhecimentos médicos e especialmente psiquiátricos, necessários para a
resolução dos problemas que coloca o Direito na sua aplicação dos doentes mentais. Não é um mero ramo da ML
nem uma subespecialidade psiquiátricas; é uma especialidade clínica posta ao serviço da justiça; a perícia é um acto
médico, ainda que não termine com prescrição terapêutica.
O Decreto-Lei nº326/86: exige que uma perícia seja solicitada às delegações da área do tribunal, que a
distribuirá pelos diversos serviços, aos quais cabe a realização de vários exames. O professor entende que esta lei
ainda está em relação à urgência das perícias. São prioritárias as perícias que envolvem cidadãos internados em
cumprimento de medidas de segurança ou outras medidas privativas da liberdade.
91
O art. 159.º/7 do CPP estabelece quem pode requerer a perícia psiquiátrica – representante legal do
arguido/cônjuge (na falta deles, ascendentes, descendentes, etc.)
Está previsto no artigo 91º do CP quando é de esperar que venha a cometer outros crimes
Compete ao tribunal extrair uma conclusão sobre a perigosidade com base na:
1. Anomalia mental
2. Personalidade do agente
3. Crime cometido Não é o médico a avaliar
4. Meio circundante
Tipos de exames:
Temos exames psiquiátricos nos vários âmbitos do Direito: penal, civil e trabalho principalmente. O trabalho
pericial deverá ser solicitado pelo juiz em situações que escapam ao seu entendimento técnico-jurídico.
Perícias no direito penal. Os artigos clássicos no CP são:
Art. 20.º: imputabilidade;
Art. 144.º: vítima de uma agressão com consequências psíquicas (agravação da moldura);
Art. 165.º: abuso sexual de menor incapaz
No direito civil, é principalmente para avaliação das sequelas de um acidente; o mesmo no direito do
trabalho.
92
17.8. Exame psiquiátrico ≠ Exame clínico
O exame psiquiátrico forense distingue-se do exame clínico. Apesar de a entrevista não ser muito diferente,
o objetivo é completamente distinto – a avaliação clínico-psiquiátrica visa o estabelecimento de um diagnóstico
psiquiátrico, a criação de um plano terapêutico e o prognóstico do doente.
Tem três fases:
1. Triagem
2. Fase intermédia Principal objetivo: elaborar plano tratamento (base social)
3. Plano terapêutico
Já no exame forense, o motivo tem de ser determinado pelo tribunal, a base social desaparece. É menos
abrangente e termina com um relatório, um parecer.
Já as conclusões têm de esclarecer o tribunal sobre as questões que colocou. Seria muito extenso se
contivesse todas as informações que o perito deve recolher. Deve ser pormenorizado, mas não extenso.
No caso das perícias, o segredo médico não se aplica – os dados relevantes para o caso/crime devem ser
admitidas. A pessoa deve é ser informada que aquelas informações não são confidenciais.
A imputabilidade mantém pelo menos duas funções psíquicas intactas: juízo de realidade e volição;
inteligência e vontade. O médico tem de responder a este conceito jurídico noção exclusivamente jurídica; a
medicina apenas oferece à justiça os meios que facilitem a decisão do juiz.
*A perícia não devia ser só feita na audiência de julgamento – devia ser logo na fase de inquérito.
93
b) Pressuposto psicológico ou normativo: incapacidade do agente para avaliar a ilicitude do facto de se
determinar de acordo com ela. Reporta-se apenas ao acto.
Notas: não é por o perito encontrar uma patologia (esquizofrenia) que se atribui a inimputabilidade não
depende diretamente do diagnóstico do distúrbio, mas sim da análise cuidadosa do caso. Reporta-se à ação.
Lei da Droga (1993): determina que, logo no interrogatório, se se aperceber que alguém é toxicodependente,
pode ser submetido a uma avaliação para determinar o seu estado de toxicodependência.
É preciso saber…
1. Pressupostos médico-legais
2. Conceito de psiquiatria forense
3. Imputabilidade
4. Lei da droga
5. Mecânica de distribuição das perícias e como são feitas
» Tem de se pedir à Delegação, não ao médico Região Centro e Ilhas vão para Coimbra.
17.10. Grandes quadros psiquiátricos com particular interesse para a psiquiatria forense
a. Perturbações da ansiedade
- São praticamente sempre imputáveis
1. Fobias (medo desproporcionado, ilógico, irracional)
2. Pânico (ataque de ansiedade aguda paroxística)
3. Ansiedade generalizada (ansiedade persistente…)
4. P. obsessivo-compulsiva (obsessões/compulsões)
5. P. de stress pós-traumático (grande trauma)
b. Perturbações dissociativas
- São considerados imputáveis, com imputabilidade diminuída ou inimputáveis?
Tratam-se de casos complexos em situação de limite: crime cometido em estreitamente/obnubilação do
estado de consciência, como na fuga dissociativa…
c. Perturbações do humor
- São considerados imputáveis:
1. Depressões major sem componente psicótico
2. Distimias
3. Reações de ajustamento/adaptação
4. Hipomanias
5. Ciclotimias
- São considerados inimputáveis:
1. Depressões major com componente psicótico (ideias deliróides psicóticas)
2. Manias graves
d. Psicoses:
1. Esquizofrenia – imputáveis (se delírio ou alucinações ou se crime correlacionado)
2. Parafrenia (“esquizofrenia” do idoso) – inimputáveis (se delírio ou alucinações ou se crime
correlacionado)
3. Paranoia (exemplos: delírios de perseguição ou de ciúme, síndrome de Otelo) – inimputáveis (se
delírio ou alucinações ou se crime correlacionado)
4. Erotomania (Síndrome de Clérambault) – inimputáveis?
Nota: Nas perícias não se deve fazer questões que induzam o agente à resposta!
e. Álcool e outras substâncias (como o cannabis, cocaína, anfetaminas, heroína, LSD, etc.)
- Praticamente sempre imputáveis (porque comummente reconhecem os efeitos maléficos sobre o corpo
e o risco para a sociedade devido aos seus comportamentos)
• Exceções:
a) Se crime cometido em alteração do estado de consciência (delirium tremens, demência alcoólica,
embriaguez patológica primária…)
94
b) Se crime cometido em psicose associada, com delírios ou alucinações (S. Otelo, S. Korsakov, psicose
da cocaína, das anfetaminas...)
*Clássico síndrome de dependência: compulsão, descontrolo, privação, tolerância, obsessão e
persistência.
Do DSM-IV (1994) ao DSM-5 (-2013): o DSM-IV descrevia duas perturbações – abuso e dependência; o DSM-5
integra o abuso e dependência numa só: na perturbação do uso de álcool (AUD/Alcohol Use Disorder). Bastam
dois critérios de entre onze durante doze meses para se fazer o diagnóstico de perturbação do uso de álcool.
f. Epilepsia
- São imputáveis se fora do ataque de epilepsia
- São inimputáveis se em estado crespular
- E a imputabilidade diminuída?
g. Perturbações do controlo do impulso
*reconhecem os malefícios dos seus atos e eventuais consequências – devem ser considerados imputáveis
ou com imputabilidade diminuída?
1. Explosiva intermitente
2. Piromania
3. Cleptomania
4. Jogo patológico
5. Oniomania?
h. Perturbações da personalidade
- Algumas questões:
1. Imputabilidade diminuída para os anti-sociais? (conflito temperamento vs. caráter)
2. Imputabilidade diminuída ou inimputabilidade para os “borderline”? (se em crise psicótica transitória)
3. Imputabilidade diminuída para os doentes do “cluster” A?
i. Oligofrenia (deficiência inteletual)
- Inimputáveis
- Imputabilidade diminuída? – casos de fronteira em termos de Q.I.
*Nota: atenção à comorbilidade frequente com alcoolismo e epilepsia (isto é, resulta muitas vezes destas
outras perturbações)
Um estudo realizado pelo IMLC de 234 casos revelou que de entre esses casos:
- 22% esquizofrenia
- 17% oligofrenia
- 13% alcoolismo
- 12% psicopatia
Havendo comorbilidade – alcoolismo aparece em 1º lugar
O estudo revelou ainda que 56% eram considerados imputáveis, mas ¾ com imputabilidade diminuída e,
44% eram considerados inimputáveis, mas 13% com perigosidade.
Os crimes praticados foram: 28% de furto, 17% de ofensas corporais e 12% fogo.
Geralmente os crimes de homicídio são cometidos por esquizofrénicos e psicopatas, os crimes de burla por
maníacos e os crimes de fogo por oligofrénicos.
Em direito civil, o que estão em causa são as capacidades civis do indivíduo – terá a pessoa capacidade para
dispor dos seus bens e da sua própria pessoa?
Vontade (liberdade) + inteligência: a partir destes conceitos fala-se em imputabilidade em direito penal,
sendo os sujeitos imputáveis a partir dos 16 anos; e em capacidade no direito civil, a partir dos 18 anos.
Em termos psiquiátricos, as perícias de direito civil são mais difíceis.
A incapacidade pode ser declarada em menores, surtindo os seus efeitos logo na data em que atinja a
maioridade (casos de deficiência grave).
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Dois conceitos:
a) Habitualidade
b) Atualidade
Interdição, art. 138.º: aplica-se a casos de anomalia psíquica, surdez-mudez e cegueira. É preciso avaliar o
caso na sua especificidade, ver a adaptação do indivíduo ao meio em que se insere e ao tipo de vida que
tem. Um interdito é equiparado a um menor.
Inabilitação, art. 152.º: tem pressupostos semelhantes, cabendo aqui os casos menos graves. São casos mais
raros – ex: alcoolismo crónico (pelo art. 20.º/2 CP pode ser declarado inimputável, tem de se demonstrar no
caso um não controlo do juízo e de vontade).
Artigos CPC:
Art. 896.º: realização do exame pericial e interrogatório
Art. 897.º: interrogatório pelo juiz
Art. 898.º: exame pericial, pelo perito. Deve precisar:
- Espécies de afeção que sofre o requerido
- Extensão da incapacidade
- Data provável de começo
- Meios de tratamento propostos
Capacidade de testar: a questão aqui é a de saber se estava capaz no momento da feitura do testamento.
Mesmo que haja um registo do hospital, pode não conter toda a informação relevante é muito difícil de
averiguar. Para além do caso da incapacidade acidental, são incapazes de testar os menores não emancipados e os
interditos por anomalia psíquica (art. 2189.º CC).
Reparação do dano: interessa aqui quanto a sequelas psíquicas, no caso de um evento traumático tiver
repercussões sobre a integridade psíquica e tal se mantiver no tempo.
Evento traumático:
a. Stress pós-traumático
b. Traumatismo craniano: pode levar a lesões neurológicas ou neuropsiquiátricas (epilepsia) ou a lesões a
nível psicológico.
Nexo de causalidade: na classificação americana, que nós não usamos, tem de ser o médico a provar o nexo
de causalidade, sendo que um dos critérios é a existência de uma experiência pós-traumática. Entre nós, é a vítima
que tem de demonstrar o nexo de causalidade. Esta prova só o médico pode colocar em causa, fazendo-o com base
em princípios técnicos.
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Tipos de avaliações periciais – há 3 tipos:
1. Transversais
o Anomalia psíquica posterior
o Interação/inabilitação
2. Retrospetivas
o Imputabilidade no momento da prática do facto
o Capacidade de testar
3. Prospetivas
o Perigosidade
o Processo gracioso de liberdade condicional
Quando alguém está a ser avaliado para ver se tem uma anomalia psíquica, em virtude de um acidente,
implica determinar uma indemnização em dinheiro leva a muitas simulações.
A simulação distingue-se do transtorno factício e dissociativo:
a) Transtorno dissociativo: motivação inconsciente + produção de sintomas inconscientes
b) Transtorno factício: motivação inconsciente + produção de sintomas consciente
c) Simulação: motivação consciente + produção de sintomas consciente.
Tem vários tipos: dissimulação, sobressimulação, etc.
Stress pós-traumático: é uma das possíveis patologias decorrentes de um trauma. Pode ter uma duração
curta ou longa e são atendidos três tipos de sintomas.
Síndrome pós-concecional: ocorre após um traumatismo crânio-encefálico, quando este origina lesões
neurológicas.
Tabela de direito do trabalho – avaliamos de 1-95%, Tabela de direito civil – temos vários pontos de
sendo difícil para o perito usar esta escala de avaliação:
valorização.
o Até 30% podemos incluir traumas sem lesões o Ponto 9 – perturbações persistentes do
crânio-encefálicas humor
o A partir de 60% têm de ser lesões muito graves o Ponto 10 – stress pós-traumático
o Ponto 11 – síndrome pós-concecional
o Etc.
Procedimentos importantes:
1. Particular atenção ao processo e às fontes (desejável serem diversificadas, principalmente para
obtenção de dados sobre circunstâncias, contextos, família, personalidade, etc.)
2. Se dúvidas, repetir exame mental, quantas vezes as necessárias (em certos casos poderá haver interesse
em ser efetuado ao fim da tarde)
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Especificidades importantes :
1. A fenomenologia é importante para perceber o comportamento, o compreender e o explicar
(“quando, porquê, como…”)
2. As grandes tipologias da personalidade - “clusters” A, B e C - como “filtro” ou “modelação” dos
comportamentos
18.2. Alcance
Perturbações da ansiedade
- exemplos de eventuais crimes cometidos em situação limite:
a) Sob ataque de pânico
b) Em perturbação obssevivo-compulsiva grave
c) Em certas perturbações de stress pós-traumático
Perturbação Somatização – múltiplas queixas, sintomas dolorosos, gastrointestinais, etc
Perturbação Conversão – “paralisia, cegueira, mudez”, etc.
Dissociação – fugas, amnésias lacunares, etc.
Álcool e perturbações da memória
1. Intoxicação aguda pode causar episódios de perda de memória
2. Há uma rápida subida da taxa de alcoolémia
3. O verdadeiro “black-out” começa num ponto preciso e acaba de forma vaga e lenta
4. A amnésia é anterógrada (semelhante à provocada por certos hipnóticos, ex: Midazolam)
5. É possível guiar um carro, p. ex. (memória processual praticamente íntegra)
Alucinose alcoólica
• Paragem súbita do consumo
• Intensas
• Auditivas (principalmente)
• Juízo e senso crítico parcial
Simular depressão
FÁCIL DIFÍCIL
• Inibição psicomotora • Insónia (quando observável)
• Desmotivação • Variação diurna do humor
• Ideias de morte ou suicidas • Desconcentração
NOTA: Incoerência entre a entrevista e o comportamento observável (ex: enfermaria)
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• Acontecimentos de vida • Envolver a família?
• Abusos na infância • Psicofármacos?
• Psicoterapias?
Simulação de amnésias
É difícil distinguir o que é verdadeiro e o que é fácil. Mas existem algumas pistas que podem orientar o
perito:
- “organicidade” sugere verdadeira amnésia
- “toque de personalidade” sugere falsas memórias
- por exemplo se o perito diz: “Se eu lhe for dando pistas achas que se vai lembrando de alguma coisa?”, o
simulador geralmente responde que “não”, enquanto o verdadeiro amnésico geralmente responde “talvez”.
- há uma série de testes para memória que são realizados
Simulação de PSPT
- Recusa emprego pouco exigente
- Sempre com novas queixas físicas
- Sempre o mesmo pesadelo
NOTA: Incapaz para trabalhar mas joga às cartas e vai ao futebol?
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Delírios e psicoses – o que fazem os simuladores e o que fazem os verdadeiros psicóticos?
O que fazem os simuladores? O que fazem os verdeiros psicóticos?
• Exageram no papel • Excentricidades
• “Convicção” abalável • Barricam-se
• Imitam mal a forma... • Isolamento
• Referem que tudo começou rapidamente... • Sem amigos
• “Esquecem-se” de imitar sintomas negativos... • Mudam de residência
• Só “atuam” quando observados • Fazem viagens longas...
• Compram armas
• Vão fazer queixas à PSP, PJ ou GNR
NOTA: Incoerência entre a entrevista e o comportamento observável (ex: enfermaria)
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