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UNIVERSIDADE DA MAIA - ISMAI

Mestrado em Criminologia

Política Criminal e Segurança

2021/2022

Sistemas e Modelos Policiais:


Uma Análise Crítica ao Panorama Português

Docente

Prof. Fernando Gonçalves

Discentes

Inês Teixeira (34580)

Joel Meireles (34518)

Luís Costa (34355)

Maia, 17 de dezembro de 2021

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Índice

Introdução ................................................................................................................................. 4
Polícia: Enquadramento Legal e Conceptual............................................................................. 5
Segurança Interna ..................................................................................................................... 7
Sistemas e Modelos Policiais................................................................................................... 10
O Modelo Português ............................................................................................................... 12
Conclusão ................................................................................................................................ 14

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Introdução

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Polícia: Enquadramento Legal e Conceptual
Neste primeiro estágio focaremos uma perspetiva mais específica, neste caso,
abordando mais as polícias existentes em Portugal, as suas competências genéricas e
específicas, dependências funcionais e o seu enquadramento legal.
É necessário definir primeiramente as funções da polícia, que se encontram
explanadas no artigo 272º da Constituição da República Portuguesa (CRP), tendo como
funções, defender a legalidade democrática e garantir a segurança interna e os direitos
dos cidadãos.
Podemos começar por referir a Guarda Nacional República (GNR), fundada em
1911.
Conforme a lei n. º63/2007- Lei Orgânica da Guarda Nacional Republicana,
podemos definir GNR como “uma força de segurança de natureza militar, constituída por
militares organizados num corpo especial de tropas e dotada de autonomia
administrativa”, tendo como principal missão “assegurar a legalidade democrática,
garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos”.
Esta força de segurança depende de duas entidades, do Ministério da
Administração Interna e do Ministério da Defesa Nacional, tendo que, em tempo de
guerra defender a nação, pois a GNR é uma força de segurança mais militarizada
comparativamente às outras forças de segurança.
A GNR, no que diz respeito ao âmbito territorial, atua nas zonas periféricas aos
centros de cidade (zonas rurais).
Conta com várias unidades e especificidades diferentes, tais como: A unidade de
controlo costeiro, a unidade de ação fiscal, a unidade nacional de trânsito, a unidade de
segurança e honras de Estado e a unidade de intervenção.
De seguida, podemos falar sobre a Polícia de Segurança Pública (PSP), sendo esta,
a força de segurança mais antiga, fundada em 1867. Fundamentada pela Lei n. º53/2007-
Lei Orgânica da Polícia de Segurança Pública.
Define-se como uma “força de segurança, uniformizada e armada, com natureza
de serviço público e dotada de autonomia administrativa”, tendo como principal missão
“assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos
cidadãos”.
Esta força de segurança encontra-se sob a dependência do Ministério da
Administração Interna. No que diz respeito ao âmbito territorial, esta força de segurança
atua nos centros urbanos, sendo essa, a sua área de responsabilidade.

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A polícia de segurança pública, conta com uma unidade especial de polícia que
tem ao seu encargo várias subunidades operacionais, tais como: O corpo de intervenção,
o grupo de operações especiais, o corpo de segurança pessoal, o centro de inativação de
explosivos e segurança em subsolo e o grupo operacional cinotécnico.
Outra força de segurança que podemos referir é a Polícia Judiciária (PJ),
designada como um corpo superior de polícia, fundada em 1867.
A Polícia Judiciária, segundo o Decreto-Lei n.º137/2019, tem como missão
coadjuvar as autoridades judiciarias na investigação criminal, desenvolver e promover
ações de prevenção, investigar crimes da sua competência, crimes esses mais gravosos
comparativamente aos crimes que estão ao abrigo das outras forças de segurança.
Esta polícia encontra-se ao abrigo do Ministério da Justiça, cooperando lado a
lado com a justiça e o Ministério Público, sob sua dependência funcional, o que significa
que é o Ministério Público quem detém o ónus da investigação, porém, relega à Polícia
competente a investigação, sendo esta dotada de autonomia técnica e tática.
A polícia judiciária conta com várias unidades orgânicas de apoio à investigação
criminal, tais como: a unidade de prevenção e apoio tecnológico, a unidade de informação
criminal, a unidade de sistemas de informação e comunicações, a unidade de cooperação
internacional, a unidade de armamento e segurança, a unidade de apoio técnico cientifico
especializado, o laboratório de polícia cientifica, a unidade de perícia financeira e
contabilística e por último a unidade de perícia tecnológica informática.
No decorrer desta exposição é necessário definir estas três polícias (GNR, PSP,
PJ), como Órgãos de Polícia Criminal, que estão ao abrigo da Lei n. º49/2008, que aprova
a Lei de Organização da Investigação Criminal (LOIC), onde estão consagradas todas as
diligências necessárias de como efetuar corretamente uma investigação criminal.
Seguidamente, outro serviço de segurança presente em Portugal é o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), fundado em 1974 e que está ao abrigo do Decreto-Lei n.
º252/2000, onde se encontram fundamentadas as suas atribuições e a sua estrutura
orgânica.
Este serviço de segurança tem como objetivos fundamentais, controlar a
circulação de pessoas nas fronteiras, a permanência e atividades de estrangeiros em
território nacional e estudar, promover, coordenar e executar medidas relacionadas com
os movimentos migratórios.
O SEF está sob a dependência do Ministério da Administração Interna. Dispõe
também de vários órgãos e serviços específicos, que se constitui pela diretoria nacional,

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o conselho administrativo e os serviços centrais. Estes mesmos serviços centrais estão
subdivididos na direção central de investigação, de imigração e documentação, de
fronteiras, de gestão e administração e de informática.
Por último, podemos fazer alusão a uma polícia com um caracter mais local, a
Polícia Municipal que provêm da Polícia de Segurança Pública, uma vez que os agentes
que constituem a Polícia Municipal têm formação e instrução na PSP. Fundamentando
com a Lei n. º19/2004, os serviços municipais estão especialmente vocacionados para o
exercício de funções de polícia administrativa.
Não têm autoridade para deter cidadãos, ou seja, não detém poder de polícia,
apenas têm competências de fiscalização e vigilância e apenas têm autoridade na área do
município que lhe compete.
Segurança Interna
Primeiramente é essencial para a compreensão desta temática demonstrar o que é
a segurança. A segurança é um sentimento ou uma sensação que depende de diversos
fatores e está relacionada com o contexto político em que é estabelecida. Com a
globalização e a evolução dos ataques organizados ligados a, por exemplo, o terrorismo
têm aumentado o sentimento de insegurança colocando em causa os esforços produzidos
pelo Estado para garantir a segurança. Desta forma, a segurança pode dizer-se que se trata
da sensação de “estar ou sentir-se seguro perante ameaças ou perigos” (Booth, 2005: p.13
citado em Santos, 2016).
No que concerne à segurança interna, em Portugal esta é presentada pela Lei nº
53/2008, designada por Lei da Segurança Interna onde são enumerados todos os
objetivos, funções e conceitos que englobam esta temática.
A definição de segurança interna não é igual em todo o mundo, esta varia de país
para país (Gonçalves, 2016). Desta forma, o nosso trabalho é baseado apenas na
segurança interna portuguesa, dando destaque à Lei nº53/2008.
Partindo do artigo 1º, nº1 da lei de segurança interna, é demonstrada a definição
da mesma “A segurança interna é a atividade desenvolvida pelo Estado para garantir a
ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, proteger pessoas e bens, prevenir e reprimir
a criminalidade e contribuir para assegurar o normal funcionamento das instituições
democráticas, o regular exercício dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos
cidadãos e o respeito pela legalidade democrática”.
Além da definição proposta pela lei vigente, alguns autores apresentaram o seu
significado sobre o que é a segurança interna. Através de Armando Guedes, em 2015, é

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visível uma noção mais “tradicional” sobre esta temática, isto é, a segurança interna diz
respeito aos Estados, representando os seus esforços para manter a integridade das
fronteiras dos seus territórios, mantendo a paz interior, e em fazê-lo nos termos de uma
defesa intransigente do Direito nacional face a eventuais ameaças, podendo estas resultar
do exterior ou do interior (Gonçalves, 2016).
A segurança interna deve ser refletida tendo em consideração um largo conjunto
de medidas com uma dupla dimensão, a horizontal e a vertical (Estratégia de Segurança
Interna da União Europeia, 2010 citado em Santos, 2019).
Segundo o nº2, do mesmo artigo, é notório que as funções de segurança interna
estão consagradas na própria lei e na constituição da república portuguesa, como é
demonstrado pelo artigo 272º, nº1 onde é referido que é da competência da polícia
defender a legalidade democrática e garantir os direitos dos cidadãos e a segurança
interna. Através da Lei 30/84, artigo 2º, nº2 é referido que compete aos serviços de
informações a produção de informação para manter a segurança interna.
Primeiramente, é da responsabilidade da Assembleia da República, devido às suas
competências política, legislativa e financeira, delimitar a política de segurança interna e
fiscalizar a sua concretização, como é supracitado no artigo 7º, nº1 da Lei 53/2008.
Como é aludido pelo artigo 8º da mesma lei, compete ao Governo a direção da
política de segurança interna e, cabe ao Conselho de Ministros, “definir as linhas gerais
da política de segurança interna e as orientações sobre a sua execução; programar e
assegurar os meios destinados à execução da política de segurança interna; aprovar o
plano de coordenação, controlo e comando operacional das forças e dos serviços de
segurança e garantir o seu regular funcionamento; fixar segundo a lei as regras de
classificação e controlo de circulação dos documentos oficiais e de credenciação das
pessoas que devem ter acesso aos documentos classificados”.
O órgão principal, no que toca ao Sistema de Segurança Interna, é o Conselho
Superior de Segurança Interna (Elias, 2011), mas existem outros órgãos que contribuem
para este sistema como o Secretário-Geral e o Gabinete Coordenador de Segurança, como
é explanado no artigo 11º LSI.
No que diz respeito às competências do Conselho Superior de Segurança Interna,
estas estão relatadas no artigo 13º. Neste artigo é exposto que o Conselho assiste o
Primeiro-Ministro na execução das providências fundamentais em situações de grave
ameaça à segurança interna. Enquanto órgão de consulta, o Conselho deve emitir parecer
sobre a definição das linhas gerais de segurança interna, sobre as bases gerais da

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organização, os projetos de diplomas que possuam providências de carácter geral e sobre
as grandes linhas de orientação.
Por outro lado, o Secretário-Geral é dependente do Primeiro-Ministro ou, por sua
delegação, do Ministro da Administração Interna. Este é igualado ao Secretário de Estado
e tem como competências a coordenação, direção, controlo e comando operacional, como
é relatado nos artigos 14º e 15º da LSI.
Por fim, o Gabinete Coordenador de Segurança é o órgão especializado de
assessoria e consulta para a coordenação da atividade das forças e dos serviços de
segurança, funcionando de forma dependente do Primeiro-Ministro ou, por sua
delegação, do Ministro da Administração Interna como se verifica pelo artigo 21º da LSI.
Compete ao Gabinete, segundo o artigo 22º, assistir o Secretário-Geral do Sistema de
Segurança Interna no desempenho das suas competências de coordenação, direção,
controlo e comando operacional e, designadamente, estudar e propor “políticas públicas
de segurança interna; esquemas de cooperação de forças e serviços de segurança;
aperfeiçoamentos do dispositivo das forças e dos serviços de segurança; condições de
emprego do pessoal, das instalações e demais meios, normas de atuação e procedimentos
das forças e dos serviços de segurança, a adotar em situações de grave ameaça à segurança
interna; formas de coordenação e cooperação internacional das forças e dos serviços de
segurança; estratégias e planos de ação nacionais na área da prevenção da criminalidade;
dar parecer sobre os projetos de diplomas relativos à programação de instalações e
equipamentos das forças de segurança; proceder à recolha, análise e divulgação dos
elementos respeitantes aos crimes participados e de quaisquer outros elementos
necessários à elaboração do relatório de segurança interna.”
As instituições responsáveis pela função de segurança interna são a Guarda
Nacional Republicana, a Polícia de Segurança Pública, a Polícia Judiciária, o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras e o Serviço de Informações de Segurança, como é elucidado
pelo artigo 25º da LSI. Desta forma, através da Lei de Segurança Interna é referido que é
da responsabilidade do Conselho Superior de Segurança Interna, do Gabinete
Coordenador de Segurança e do Secretariado Permanente do GCS contribuir para a
cooperação entre estas entidades para que se consiga uma melhor partilha de informações
facilitando e melhorando a segurança do Estado (SIS, s.d).
Assim sendo, a segurança interna pode interferir com o quotidiano dos cidadãos,
já que para a sua execução são realizadas, muitas vezes, restrições, condicionamentos ou
limitações à liberdade, em prol da convivência coletiva e da coexistência pacifica entre

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todas as pessoas. Na lei de segurança interna estão instituídos princípios, limites e realça
as barreiras que não podem ser ultrapassadas pelos agentes responsáveis por manter este
tipo de segurança (Pereira, s.d).
Sistemas e Modelos Policiais

Neste segmento do trabalho, iremos traçar uma perspetiva de como os sistemas e


modelos policiais se fundaram e os seus preceitos básicos. Temos em consideração que,
dependendo do país que pretendemos analisar, o seu modelo policial é, do ponto de vista
estratégico e operacional, distinto. Deste modo, cada país assume um modelo policial,
tendo em consideração as suas necessidades específicas e estrutura política, distribuindo
competências genéricas e específicas às forças de segurança existentes.
Podemos, então, definir modelo policial, segundo a perspetiva de Oliveira (2006),
como “subsistemas de organização do Estado mais complexos, integrando uma estrutura
de valores e de normas”1
No ano de 1993, é apresentado por Jean-Claude Monet uma classificação de
organizações com base na estrutura geométrica dos modelos policiais existentes em cada
país. O autor considera que, atendendo ao número de forças ou serviços de segurança que
se encontrem no país, o sistema policial pode ser de cariz monista, dualista ou pluralista,
quando existam, uma, duas ou mais que duas polícias, respetivamente. Quando
abordamos o poder político do país, podemos estar perante dois modelos, centralizado ou
descentralizado e; por último, de acordo com a estratificação do país, podemos encontrar
modelos de cariz estatizado ou municipal.
Existem, contudo, autores que, assumem uma configuração de modelos policiais
variáveis com a estrutura política instaurada no país, como é o caso de Monjardet (1993,
citado em Elias, 2011). O mesmo refere que, de um lado, com base numa ideologia de
Estado mínimo, poderíamos ter uma sociedade sem polícia ao invés, num modelo mais
securitário, onde existiria uma maior repressão policial.
Pese embora, na nossa perspetiva, não se mostrar adequado ao cenário português
um modelo policial tão arbitrário como o defendido pelo autor supra identificado. Deverá,
pois, existir um modelo coeso que garanta a estabilidade pública, ausente de extremismos.
Tupman (1999, citado em Moleirinho, 2012), postulou também uma classificação, assente
em três divisões: um modelo napoleónico, onde existiria um poder centralizado; um

1
OLIVEIRA, José Ferreira (2006). As Políticas de Segurança e os Modelos de Policiamento. A emergência
do policiamento de proximidade, Coimbra, Edições Almedina.

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modelo nacional, caracterizado por uma organização única e uma jurisdição alargada das
competências de polícia e, por fim; um modelo descentralizado, que conferia às forças
policiais um grau elevado de autonomia, contudo, circunscritas à sua área de jurisdição.
Na nossa perspetiva, consideramos que os modelos apresentados por Tupman poderiam
criar dificuldades ao nível da coesão e realização das competências, envolvendo assim
um sistema demasiado pesado.
Partiremos então daquilo que foi a definição de Monet, que consideramos mais
ampla em termos de países que abarca na contemporaneidade, para explicitarmos as
idiossincrasias de cada modelo.
Relativamente ao modelo monista, este é definido por contemplar apenas uma
estrutura policial, incumbidas de realizar todas as funções que lhe são atribuídas,
nomeadamente defesa de legalidade democrática, garantia de segurança interna e dos
direitos dos cidadãos, segundo declara o Artigo. 272º Constituição da República
Portuguesa. Esta polícia única seria apenas tutelada por um órgão. O modelo em questão
encontra-se representado, em alguns países europeus, como é caso da Noruega, onde o
serviço policial norueguês - Politi-og lensmannsetaten, é subordinado ao Ministério da
Justiça e Segurança Pública, sediado na capital, Oslo (Silva, 2013).
O modelo dualista é considerado o mais utilizado na Europa, em países como a
França, a Itália e os, então, Países Baixos. Caracteriza-se, no seu teor, por abranger duas
forças policiais, que podem assumir jurisdições civis e militares, individualmente. Por
último, o modelo pluralista assume que existem diversas polícias e que estas estão
dependentes de diferentes órgãos. Podemos assumir que os países que adotam este
modelo, têm, na sua génese, um cariz federal, como, por exemplo, o Canadá (Moleirinho,
2012).
Segundo a perspetiva de Ferreira (2018) a centralidade ou descentralidade do
modelo policial em questão é variável, de acordo com a autonomia que os órgãos policiais
têm em relação ao poder político. A autora prossegue, dizendo que quando uma força
policial está subordinada a um sistema político central, considera-se centralizada, sendo
que é descentralizado quando várias instituições políticas influenciam o seio da polícia,
ao nível organizacional e funcional.
Enquadrando o modelo português, consideramos que este se integra num modelo
pluralista. Contudo, será este o modelo que mais beneficia o país do ponto de vista social
e político. Terá o modelo policial português a harmonização certa para a efetivação da

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segurança interna? Iremos debater todas estas questões no segmento seguinte deste
trabalho.
O Modelo Português
Quando observamos o panorama nacional, entendemos que Portugal apresenta um
sistema organizacional que, embora tenha por base o modelo napoleónico - dualista,
apresenta especificidades que o tornam num modelo mais complexo, de índole
essencialmente pluralista.
Resumidamente, quais são os órgãos policiais em Portugal e as suas tutelas?
Ora, no caso concreto, a PSP e a GNR definem o modelo organizacional. Quando
analisamos a LOIC, entendemos que esta estabelece, pelo seu artigo 3º, os órgãos de
polícia criminal de competência genérica, sendo estes a PJ, a GNR e a PSP; e os OPC de
competência específica os restantes, SEF e PAM.
No que diz respeito às tutelas, esta encontra-se dividida em 3 ministérios:
Ministério da Administração Interna (PSP, GNR e SEF), Ministério da Defesa (GNR) e
Minisério da Justiça (PJ).
O principal problema do espectro policial português é, na nossa ótica, a
sobreposição: quer de competências, quer ao nível da territorialidade, tendo como
principal causa o número excessivo de atores envolvidos para que o Estado consiga
garantir a ordem e tranquilidade pública, a segurança interna e os direitos dos cidadãos,
postulados consagrados constitucionalmente, no seu artigo 272º.
Quando nos focamos na investigação criminal, entendemos que no âmbito da
segurança interna, estão subjacentes quatro OPC, cujas competências devem ser
articuladas, partilhando informações numa ótica de cooperação entre as autoridades
judiciárias.
Neste caso, a LOIC estabelece nos artigos 6º, 7º e 8º, os crimes de competência
exclusiva a cada uma das polícias. Concluímos com isto que à PSP e à GNR, cabe a
investigação de crimes que não sejam competência exclusiva da PJ. Entendemos assim
que a PSP e a GNR estão a concorrer diretamente na investigação dos mesmos crimes.
Neste caso, tem o monopólio de investigação o OPC que adquirir primeiro a notícia do
crime.
Noutra vertente, o SEF e a PM têm competência em crimes conexos com as suas
competências específicas.
Na conceção de ordem e tranquilidade pública, verificamos que apenas a PSP,
GNR e PM, enquanto forças de segurança, têm competências de manutenção e/ou

.
reposição das mesmas. Neste mesmo caso, assistimos novamente a uma sobreposição de
competências entre os dois órgãos de cariz militar e civil, ainda que circunscritos à sua
territorialidade própria.
Quando indagamos sobre o que nos é referido nas disposições legais sobre estes
temas percebemos que a LOIC menciona sempre a atuação das forças e serviços de
segurança, numa conceção de colaboração e auxílio entre todas, mas será que essa
ressalva se revela suficientemente eficaz?
Em Portugal surgiu a necessidade de criação de uma nova disposição legal pela
ineficácia prática dos termos da LOIC, foi esta a Lei de Segurança Interna (Lei
Nº53/2008), cuja palavra de ordem é cooperação entre organismos políticos, forças e
serviços de segurança. Apesar de tudo, as opiniões são uniformes: a lei criada em 2008
não revela uma mais-valia em relação à disposição antecedente, não contribuindo para
uma reforma profunda da estrutura de cooperação.
Segundo nosso parecer, Portugal dever-se-ia afirmar como um verdadeiro sistema
dualista, ou monista, num prisma mais radical. O sistema só se tornará mais eficaz se
forem reduzidas as tutelas ao mínimo indispensável e se, efetivamente, reduzirem os
atores na promoção da segurança. Contudo, esta deve ser uma decisão política.
A questão que surge é a seguinte: Num país como Portugal, onde a criminalidade
é reduzida, não seria benéfico confluir as instâncias de cariz militar e civil, sendo que as
mesmas possuem iguais atribuições em territórios diferentes?
Julgamos que sim, uma vez que esta mesma sobrecarga acaba por gerar mais
conflito e interesse do que propriamente coletividade e partilha de informação.
De igual modo, relativamente às tutelas, caso se uniformizasse estes dois campos
de cariz análogo, ficariam a cargo de um só ministério, por exemplo o Ministério da
Administração Interna. Esta tutela não teria assim uma sobrecarga quanto à organização
de duas instâncias, beneficiando na coesão e partilha de informação, reduzindo o conflito
e sobrecarga.
Por outro lado, a PJ ficaria tutelada de igual forma pelo Ministro da Justiça,
assumindo aqui um modelo dualista.
Quais os principais benefícios deste modelo analisando o panorama nacional?
 Maior coesão e partilha de informação, facilitando a comunicação uma vez que
são menos os atores envolvidos;
 Maior controlo e supervisão sobre as instâncias;

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 Promoção e atribuição de competências iguais a uma só organização, não havendo
conflito de sobreposições;
 Redução das despesas orçamentais: sendo Portugal um dos países com menos PIB
da europa, neste caso iria-se reduzir imensos custos o que contribuiria diretamente
para o reforço da economia.
Se atentarmos ao exemplo dos países nórdicos, que, consequentemente são mais
ricos a nível de economia interna, com índices semelhantes de criminalidade, estes
promovem um sistema onde há menos atores estatais envolvidos de modo a reduzir
também a carga fiscal dos contribuintes.
Deste modo, consideramos que o sistema dualista será o mais benéfico para o país,
numa primeira instância.
O primeiro a descartar seria obviamente o modelo pluralista sendo que, existindo
zonas territoriais com autonomia direta, aumentaria a discricionariedade de ação, esta não
seria homogénea.
O modelo monista não seria muito vantajoso uma vez que ficaríamos muito
suscetíveis daquilo que poderia ser encarado como um “sistema presidencialista” de tutela
única. Neste caso, apesar de se reduzir os custos ao mínimo, haveria uma sobrecarga de
trabalho para um só ministério na gestão das instâncias.
Conclusão
Primeiramente é plausível atesar que este trabalho se divide em 3 partes. A
primeira é referente ao enquadramento legal e conceptual, passando para a definição da
segurança interna de acordo com alguns autores e com a legislação e, por fim, os sistemas
e modelos policiais com enfoque no modelo existente em Portugal.
Quanto ao enquadramento legal e conceptual são referidas as polícias existentes
em Portugal, as suas funções e as leis a que estas obedecem como é o caso da Lei Orgânica
correspondente a cada órgão.
No que toca à definição de segurança interna, em primeira instância é mencionada
a lei 53/ 2008 relativa à mesma e onde estão explícitos os objetivos, a finalidade e o que
se pretende atingir e conquistar com a implementação desta lei. Por outro lado, são
referenciados alguns autores como é o caso de Armando Guedes que menciona a
definição considerada tradicional do que é a segurança interna.
Quanto aos sistemas e modelos policiais, são mencionados os modelos existentes.
Numa perspetiva de Monet, como abordamos em contexto de sala de aula, existem 6

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modelos, o modelo monista, o dualista, o pluralista, os municipais ou estatizados, o
centralizado e, para terminar, o descentralizado. Estes modelos podem ter ligações com o
poder político, uma autonomia funcional, unificados e fragmentados, apresentar tarefas
especificas e, ainda, competências especiais. Em sentido inverso, Tupman refere apenas
3 modelos, o napoleónico, o nacional e o descentralizado. No modelo napoleónico, estão
interligados os modelos dualista e centralizado, já no nacional é demonstrado o modelo
monista e, no modelo descentralizado as policias têm um alto grau de autonomia e
encontram-se dispersas por todo o território nacional.
O modelo português, está interligado com o tópico anteriormente mencionado,
visto que para o caracterizar é necessário recorrer a um dos autores referidos. Numa
perspetiva que se realiza alusão aos órgãos de polícia existentes em Portugal estamos
perante um modelo segundo Monet pluralista, em contrapartida, se existir a separação dos
órgãos de polícia que realizam investigação criminal e os que têm como principal função
prevenir a criminalidade, então estamos perante um modelo dualista. Tendo em
consideração o nosso trabalho, achamos que em Portugal o modelo que prevalece é o
pluralista, pois mesmo existindo aquela divisão e uma suposta cooperação entre as
polícias, estas continuam a ser independentes e a unir os seus recursos unicamente quando
não existe outra solução.
Em suma, este trabalho permitiu refletir sobre possíveis alterações que podem ser
realizadas no nosso país como é o caso da fusão de polícias e alguns aspetos políticos e
sociais que podem ser alterados para se conseguir uma melhor segurança interna.

Bibliografia
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Comunitarização (Tese de Doutoramento), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal. Disponível
https://run.unl.pt/bitstream/10362/14011/1/doutoramento%20Luis%20Elias%20Seguran
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https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/24844/1/Dissertacao%20Joao%20Marcelo%
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Pereira, M. (s.d). Política de Segurança Interna. Acedido em
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Santos, Á. (2016). Segurança e Globalização: A Perspetiva dos Estudos Críticos
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Santos, J. (2019). Sistema de Segurança Interna- Dimensão Externa e Cooperação
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