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CRIMINOLOGIA

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CRIMINOLOGIA

SUMÁRIO
1. CONCEITO DE CRIMINOLOGIA ........................................................................................................................ 03
2. MÉTODOS DE ESTUDO .................................................................................................................................... 04
3. OBJETOS DA CRIMINOLOGIA .......................................................................................................................... 06
4. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA ......................................................................................................................... 08
5. MODELOS TEÓRICOS DA CRIMINOLOGIA....................................................................................................... 09
6. TEORIAS SOCIOLÓGICAS ................................................................................................................................. 10
7. PREVENÇÃO DO DELITO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ................................................................ 13
8. MODELOS DE REAÇÃO AO DELITO .................................................................................................................. 14

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CONCEITO DE CRIMINOLOGIA

O Direito Penal atua como regulador de condutas humanas, definindo padrões de compor-
tamento através dos seus tipos penais e suas respectivas sanções. Neste sentido, importante notar
que o Direto e a Criminologia possuem semelhantes objetos de estudo - o delito, sem confundir os
objetivos das pesquisas.
O Direito atua como limitação da liberdade individual e coletiva, portanto, valorando o com-
portamento criminoso, para então lhe impor uma sanção correspondente e proporcional, pois tra-
ta-se de um mecanismo de repressão social que estuda o crime. Ao passo que a Criminologia atua
com o entendimento dos atos praticados pelo criminoso, juntamente com o estudo da vítima (viti-
mologia), com o delito e com o controle social, de forma a conhecer e compreender melhor o cri-
minoso para assim buscar mecanismos de prevenção do crime, e também evitar a sua possível rein-
cidência.
A palavra Criminologia vem do latim crimino e do grego logos, que significa o “estudo do cri-
me”, podemos então conceituá-la como uma ciência empírica, ou seja, aquela que se apóia na ob-
servação e na indução, e que é caracterizada pelo senso comum. É também uma ciência interdisci-
plinar, pois deve ser estudada em conjunto com os demais ramos de conhecimento, principalmente
com o Direito Penal.
O termo “Criminologia” passou a ser conhecido e utilizado internacionalmente no ano de
1885 por Raffaele Garófalo, em sua obra de mesmo nome. Garófalo foi um criminologista italiano,
seguidor e grande expoente da Escola Positiva do Direito Penal, assim como Lombroso e Ferri, e
que se tornou o principal representante do Positivismo Criminológico.
Garófalo defendia o delito como algo natural, onde o indivíduo criminoso detinha uma falha
moral de caráter, que comprometia os sentimentos de compaixão e solidariedade. Ele pregava
também, que a pena de morte deveria ser aplicada aos delinquentes irrecuperáveis.
A interdisciplinaridade da Criminologia decorre de sua própria consolidação histórica como
ciência autônoma, à vista da influência profunda de diversas outras ciências: Medicina Legal, Socio-
logia criminal, Direito, Psicologia, etc.
Desta feita, é necessário que exista um compartilhamento desses estudos, pois é de suma
importância para o Direito Penal e sua incidência em ultima ratio, saber as motivações dos compor-
tamentos delitivos através da Criminologia, para que haja otimização e identificação com a realida-
de social nesta limitação, de forma a buscar a prevenção do crime.
Necessária tal análise, tendo em vista que muitas vezes se quer resolver o problema da cri-
minalidade sem qualquer análise social ou criminológica, simplesmente com o endurecimento das
penas, ocasionando assim o que alguns doutrinadores chamam de “Inflação do Direito Penal”, co-
mo se o único fator redutor da criminalidade fosse a pena imposta, o que pode ser compreendido
como equivocado.
Como já dizia Cesare Lombroso, “não há sistema carcerário que salve o reincidente, mas, pelo
contrário, elas são causas principais deles”. Ou seja, antecedendo a imposição de uma pena restriti-
va de liberdade, se deve analisar os fatores impulsionadores daquela conduta criminosa, e esgotar

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todos os mecanismos possíveis e existentes de prevenção, com a finalidade de entender o pensa-


mento criminoso para que possa evitar a sua execução.
Foi a partir da segunda metade do século XX, que o objeto de estudo da Criminologia foi am-
pliado, o que antes tinha foco somente no crime e no delinquente, passou ter como objetos tam-
bém a vítima e o controle social, não menos importante que os primeiros.

A criminologia entende o delito como um problema de natureza social, incluindo quatro ele-
mentos constitutivos, que devem ser analisados em conjunto:
1. O crime não deve ser tipificado isoladamente;
2. Deve haver um apelo social para repreensão do mesmo, ou seja, deve atingir não só a víti-
ma, mas também a sociedade;
3. É preciso que o delito ocorra reiteradas vezes, no mesmo espaço e por um considerável
tempo; e
4. O delito deve ser tipificado a partir de uma análise mais detalhada de todos esses elemen-
tos citados, juntamente com a sua repercussão social.

Para que se possa entender o comportamento delinquente se faz necessária e imprescindível


uma análise criminológica preventiva, pois para que seja possível combater algo, é preciso enten-
der sua motivação, suas razões e de algum modo tentar modificá-los através da cooperação entre o
Direito Penal e a Criminologia.

MÉTODOS DE ESTUDO

A criminologia utiliza os métodos de estudo empírico e interdisciplinar.

1. MÉTODO DE ESTUDO EMPÍRICO


O método indutivo é baseado na experiência e observação dos fatos. Os fatos analisados
são concluídos através da indução.
No empirismo o conhecimento é obtido através da experiência, sendo que para se concluir
sobre algo é necessário experimentar. É um método científico indutivo baseado na interpretação
de dados reais do mundo fático.
Vale observar que a dedução se distingue da indução. Esta trata de um raciocínio extraído
de uma técnica científica, já aquela trata de uma conclusão extraída de uma suposição, sendo
desprovida de valor científico.
O método empírico comporta técnicas. A criminologia se interessa por tais técnicas porque
na análise dos fenômenos que desencadeiam o crime, em primeiro lugar devemos averiguar os

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fatos. O resultado deste trabalho investigativo servirá de embasamento para futuras sentenças
judiciais, evitando erros na apuração das provas, na impunidade do crime, condenação de um
inocente etc.

Abordaremos a seguir as técnicas empíricas de investigação usadas em criminologia:

a) Experimentação

b) Investigação extensiva: é baseada em amostragem e mais quantitativa do que qualitati-


va, visando estudar locais com população vasta.

c) Investigação Intensiva: é baseada no estudo do caso particular e mais qualitativa do que


quantitativa, permitindo o conhecimento profundo e detalhado do caso particular.

d) Investigação-Ação: nela existe a participação do examinador no caso concreto (participa


da experiência "in loco"). Em outros termos, há uma intervenção direta dos estudiosos da
criminalidade na pesquisa.

e) Testes Projetivos: são técnicas de averiguação da personalidade e perfil do examinado


por meio de estímulos que provocam reações e respostas passíveis de interpretação pelo
examinando, sendo este um psicólogo, por exemplo.
Compreende as seguintes modalidades:
e.1) Teste de rorschach: consiste na submissão do examinado à análise de lâminas
contendo figuras abstratas e simétricas buscando sua interpretação através de sua
afetividade e valores morais, com o fito de construir a personalidade do examinado
de acordo com as respostas dadas. O psicólogo é o profissional que interpretará as
conclusões do candidato;
e.2) Teste do desenho ou teste do house, tree, person;
e.3) Teste de inteligência: onde é muito comum o uso em diversos ambientes a tabe-
la do quociente de inteligência;

2. INTERDISCIPLINARIDADE
A interdisciplinaridade compreende a junção de diversas ciências, como a psicologia, socio-
logia, entre outras, para melhor compreender e buscar medidas preventivas do crime.
Assim, convém esclarecer que a criminologia é uma ciência plural, dependente de outras
ciências ou disciplinas e autônoma.
É uma ciência plural porque está em conjunto com outras ciências e, além disso, para o es-
tudo ser plural ele deve ser interdisciplinar.

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É uma ciência dependente tendo em vista que requer o auxílio das outras ciências para es-
tudar o evento delitivo.
É uma ciência autônoma, em razão de ostentar um método de estudo próprio e uma finali-
dade específica, como já mencionado.

OBJETOS DA CRIMINOLOGIA

Antigamente, o objeto de estudo da criminologia era o crime e o criminoso, porém, com a


evolução dos estudos da criminologia, viu-se a necessidade de incluir a vítima e o controle social.

1. CRIME
A escola clássica tinha como foco o estudo do crime.
Para a criminologia é visto como um problema social e comunitário. É um problema social
porque influencia altamente a população, causando insegurança e temor. É um problema comu-
nitário porque surge (é praticado por algum membro da comunidade) e tem suas soluções na
comunidade, competindo à toda a população erradicá-lo ou ao menos atenuá-lo.
Nos dias atuais o delito pode ser compreendido como um comportamento desviado que a
pessoa, de acordo com o seu livre arbítrio, pratica ou não.
A criminologia é uma ciência de caráter biopsicossocial, que estuda os aspectos biológicos,
psicológicos e sociais do fato.
Na criminologia tradicional o crime era tido como um fenômeno biopsicológico. De outra
banda, na criminologia moderna o crime é visto como uma interação biopsicossocial, ou seja,
como um conjunto de caracteres biológicos, psicológicos, sociais, sendo este conceito de delito
uma das maiores revoluções trazidas por esta criminologia da atualidade.

Sob o aspecto criminológico, o crime possui quatro elementos, quais sejam:


a) não se pode tipificar como crime um fato isolado;
b) o crime deve causar dor à vítima e à comunidade;
c) é preciso que o delito ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no
mesmo território;
d) a criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua
repercussão na sociedade.
Para o direito penal, há duas correntes que tratam do conceito analítico do crime:
1. Teoria bipartida: estabelece que o crime é um fato típico e antijurídico, sendo a culpabi-
lidade um mero pressuposto para a aplicação da reprimenda.

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2. Teoria tripartida: afirma que o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade são os e-


lementos que compõe o crime.

Para a escola clássica, o crime era compreendido como um ente jurídico. Para os positivis-
tas, o crime é tido como um ato normal, humano e social (Ferri, Durkeim, Quetelet).
No seu aspecto sociológico o crime é toda conduta desviada que abrange o que não é líci-
to e o que é injusto, isto é, se confronta com a moral e os bons costumes. Assim sendo, o crime é
a conduta fora do padrão do homem médio.

2. CRIMINOSO
A escola positiva tinha como foco o estudo do criminoso.
O criminoso pode ser compreendido como o sujeito ativo do crime. Atualmente é o ho-
mem normal e comum, possuidor de livre-arbítrio e que sofre influência dos fatores criminóge-
nos que o levam a delinquir.
Para os clássicos é o pecador que optou pelo mal. Na criminologia clássica o criminoso era
um indivíduo que usava erroneamente a sua liberdade, sendo visto com um pecador.
Já para os positivistas é o escravo de sua carga hereditária, um animal selvagem, resultante
de sua herança ou condicionado por fatores sociais.
Na concepção marxista e na criminologia socialista o infrator era visto como uma vítima
das injustiças do sistema capitalista.
Para a escola correcionalista é um ser inferior e incapaz de se governar por si próprio; me-
rece do Estado uma atitude pedagógica e de piedade.

3. VÍTIMA OU OFENDIDO
A vítima é o sujeito passivo do crime, aquele que é atingido pela prática do crime.
Esse conceito passou por três períodos, sendo eles: o protagonismo ou idade de ouro, a
neutralização (a vítima foi totalmente abandonada pelo estado, que era o detentor do direito de
punir) e redescobrimento. Foi neste último período que a vítima passa a ser protegida pelo Esta-
do, onde por volta de 1950 com o estudo vitimológico desenvolvido por Benjamin Mendelsohn
foram reconhecidos os direitos da vítima.
Diante de todo o ocorrido, a vítima ganha espaço após a expansão dos objetos de estudo
da criminologia e a segunda Guerra Mundial.
Por fim, a criminalização da vítima se refere à atribuição de culpa à vítima, que contribui
para a ocorrência do evento criminoso.

A respeito da vítima, temos três modalidades de vitimizações:


1. Vitimização primária: é aquela que se relaciona ao indivíduo atingido diretamente pela
conduta criminosa.

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2. Vitimização secundária: é uma consequência das relações entre as vítimas primárias e o


Estado, em face da burocratização de seu aparelho repressivo (Polícia, Ministério Público
etc.).
3. Vitimização terciária: é aquela decorrente de um excesso de sofrimento, que extrapola
os limites da lei do país, quando a vítima é abandonada, em certos delitos, pelo Estado e
estigmatizada pela comunidade, incentivando a cifra negra (crimes que não são levados ao
conhecimento das autoridades).

4. CONTROLE SOCIAL
É o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que submetem o indivíduo a re-
gras de comportamento, aos modelos e normas comunitários.
Tem como objetivo alcançar a disciplina social através dos agentes de controle, garantindo
a manutenção da ordem pública.
Sua concretização ocorre através dos agentes de controle, que se dividem em agentes de
controle informais e formais.
Os agentes de controle informais atuam objetivando socializar e inserir o indivíduo na co-
munidade. Possuem uma função educativa e buscam fazer com que os indivíduos respeitem as
regras de convivência, evitando a atuação dos agentes de controle formais. Ex: a família, os ami-
gos, a escola, a opinião pública entre outros.
Os agentes de controle formais agem de forma subsidiária, ou seja, somente incidirão
quando os agentes informais não lograrem êxito em sua atuação. Possuem uma função punitiva e
são usados como meio coercitivo, através das instituições oficiais do estado. Ex: a polícia, o poder
público, a justiça, a administração penitenciária, etc.
Obs: o policiamento comunitário ou de proximidade pode atuar como agente de controle
informal e em outros casos de modo formal. Trata-se de uma parceria entre a polícia local e os
cidadãos. Ex: as unidades de polícia pacificadora, as bases móveis da polícia militar e as rondas.

FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA

São funções da Criminologia:


a) informar à sociedade e aos poderes públicos sobre o delito, o delinqüente, a vítima e o
controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos que permita compreender, cientificamen-
te, o problema criminal, prevenindo e intervindo de modo positivo e eficaz no homem delinqüen-
te;
b) servir como central de informações sobre o crime, fonte dinâmica de informações;
c) buscar critérios e soluções para os problemas sociais relacionados com a criminalidade;

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d) formular impecáveis modelos explicativos sobre o comportamento criminal; e


e) prevenir, de forma eficaz, os delitos.

Esta última, a prevenção delitiva, pode ser dividida em primária, secundária ou terciária.
1. Prevenção primária: é a prevenção genuína. Ela se dirige a toda população, é com altos
custos, mas se sustenta com o passar anos ou das administrações;
2. Prevenção secundária: atua na iminência do acontecimento ou após o crime e visa uma
ação com foco em áreas de maior violência, como em comunidades carentes dominadas pelo
tráfico de drogas.
3. Prevenção terciária: possui apenas um destinatário, sendo este a população carcerária e
busca evitar a reincidência. Consiste em programas que atuam muito tardiamente no problema
criminal e possuem elevados níveis de ineficácia.

RELAÇÕES ENTRE CRIMINOLOGIA, POLÍTICA CRIMINAL E DIREITO PENAL.


A Criminologia se relaciona com as ciências criminais (Direito Penal e Política Criminal). Só
que o Direito Penal é uma ciência do “dever ser” e a Criminologia do “ser”. A ciência penal é
normativa e funda-se num conceito formal de delito, já a Criminologia encara o delito como fe-
nômeno real e serve de métodos empíricos para examiná-lo. Dessa forma, a política criminal,
enquanto disciplina que oferece aos poderes públicos as opções científicas concretas mais ade-
quadas para o eficaz controle do crime, vem servindo de ponte eficaz entre o Direito Penal e a
Criminologia. Seriam, portanto, estas disciplinas, os três pilares do sistema de ciências criminais,
inseparáveis e interdependentes, embora o abismo existente entre elas na realidade.

MODELOS TEÓRICOS DA
CRIMINOLOGIA
A moderna criminologia “científica” utiliza métodos teóricos explicativos do comportamento
criminal. Sua função básica tem sido explicar cientificamente o crime elaborando modelos teóricos
que esclareçam a etiologia e origem desse fenômeno através de diversas maneiras, a saber:
A criminologia clássica, que tenha como principal linha argumentativa a questão do livre arbí-
trio como força motivadora do crime, em que o comportamento delituoso estivesse dissociado de
causas e fatores externos do indivíduo. Nesse caso particular, tal hipótese afirma que, enquanto
característica essencialmente individual, o crime se pautava em critérios de utilidade e oportunida-
de para o criminoso, em que o fenômeno criminal seria uma teoria pautada pela questão situacio-
nal.
A criminologia positivista, no entanto, busca entender as causas do delito, através de análises
de cunho essencialmente biológico, em que determinadas características físicas seriam determi-
nantes para uma maior possibilidade de efetuação de atividades criminosas pelos portadores de

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tais caracteres, embora também os aspectos psíquicos e sociais da criminalidade também sejam
levados em consideração.
Hodiernamente, tais análises ganharam uma maior complexidade, uma vez que há uma mai-
or integração entre os modelos explicativos utilizando uma linguagem estatística relativizadora que
mitiga as pretensões deterministas radicais anteriormente adotadas. Sociologicamente falando, o
estudo da criminologia é marcado pela teoria do etiquetamento (labelling approach), em que, ao
contrário das teorias basicamente etiológicas, adota a criminalidade pelas teorias de criminalização.

TEORIAS SOCIOLÓGICAS

1. TEORIAS DO CONSENSO OU INTEGRAÇÃO:


Defende que o escopo da sociedade, a convivência harmoniosa, é alcançada quando suas ins-
tituições funcionam perfeitamente, caracterizadas quando as pessoas buscam objetivos comuns e
aceitam respeitar as normas vigentes. Por tal razão, faz-se alusão ao maquinário de um relógio,
cujo funcionamento restará comprometido quando uma ou algumas de suas peças está/estão de-
feituosas. Assim, quando algumas pessoas compartilham objetivos distintos do visado para o bem-
estar social e, com isso desrespeitam as normas vigentes, haverá um incremento no fenômeno
criminológico.
a) Escola de Chicago: enfocaram estudos relacionados ao surgimento de favelas, a prolifera-
ção do crime, da violência e ao aumento populacional.
A chamada Escola de Chicago é apresentada como uma das primeiras correntes de pensa-
mento dentro da Criminologia, que parte de abordagem macrossociológica e não mais biopsicológi-
ca do fenômeno da criminalidade.
É interessante conhecer um pouco do contexto da cidade de Chicago e da Universidade que
ali era fundada, para se compreender os métodos de que lançaram mão seus pesquisadores e as
conclusões a que chegaram. A Universidade de Chicago foi fundada em 1890, a partir principalmen-
te de investimentos de John Rockefeller, conforme relatam autores como Wagner Cinelli de Paula
Freitas, Sérgio Salomão Shecaira e principalmente Howard Becker, que decidiu incentivar a criação
de uma universidade na cidade de Chicago. Foi a primeira universidade norte-americana a ter um
departamento de sociologia e foi chamada de Escola de Chicago por Luther Bernard, em 1930.
Na época da fundação da universidade, Chicago era a terceira maior cidade dos Estados Uni-
dos e experimentava a continuidade de tal crescimento, com a expansão da indústria, redução da
taxa de mortalidade, mudanças nas relações de produção e significativa chegada de imigrantes
europeus e de outras regiões norte-americanas, o que ocasionava um grande déficit na oferta de
vagas de empresa e também na área habitacional. O mencionado contexto acabava por proporcio-
nar ambiente propício para o aumento dos conflitos sociais, consequentemente, do crime e sua
repressão.
Diante dos problemas observados na cidade, que era o laboratório dos pesquisadores da U-
niversidade de Chicago, seus autores estavam interessados em trabalhos pragmáticos, que pudes-

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sem contribuir de alguma forma para a superação dos problemas enfrentados pela população, a
partir de suas próprias ações e aptidões, reforçando os mecanismos tradicionais de controle. Foram
autores de tradição de pragmatismo, observação direta das experiências e análise de processos
sociais urbanos. A Ecologia Criminal, expressão também utilizada para se referir ao pensamento da
Escola de Chicago, é o próprio princípio ecológico que, aplicado aos problemas humanos e sociais,
postula a sua equacionação na perspectiva do equilíbrio duma comunidade humana com o seu
ambiente concreto.
A cidade submete o indivíduo a estímulos, conduzindo à impessoalidade, à liberdade, ao a-
nonimato e ao distanciamento tanto físico quanto emocional. Assim, a cidade rompe os mecanis-
mos tradicionais de controle dos comportamentos, pois os contatos da cidade podem ser face a
face, mas são, não obstante, impessoais, transitórios e segmentários
Dado o enfraquecimento do controle exercido pela família, escola e religião, quanto maiores
as cidades, o controle deixa de acontecer na esfera privada, prevalecendo o controle na esfera pú-
blica. Há direta relação entre a organização do espaço e a criminalidade, sendo o crime um produto
social da vida urbana.
Surge então uma das principais correntes teóricas oriundas da Escola de Chicago, a Ecologia
Criminal. Da ecologia os autores buscam os conceitos de simbiose e de invasão, dominação e suces-
são. Concluindo que o crime não depende unicamente do indivíduo, mas muito mais do ambiente e
grupos a que pertence.
Em tal análise do ambiente constroem então a Teoria das Zonas Concêntricas, que busca
demonstrar de que forma as cidades geralmente estão organizadas, apontando que haveria uma
zona central, por eles denominada loop, ao redor da qual se espalha o restante da cidade em círcu-
los concêntricos, sendo que a criminalidade diminui do centro para as margens. Verifica-se que há
diversas cidades dentro da cidade.
A primeira zona seria então o loop, espaço eminentemente comercial, aonde circulam as
mercadorias, valores e serviços. São os espaços mais barulhentos, de trânsito problemático, com
emissão de constante poluição, fumaça e mau cheiro. A zona logo subsequente, zona II, é justa-
mente aquela que tem maior caráter criminogênico. Quem ocupa esses locais aí está por não ter
outra opção, precisam colocar-se próximos a seus locais de trabalho por sua impossibilidade de
arcar com os custos de deslocamento, caso vivessem em locais mais distantes.
Na zona II o contato pessoal é precário, uma vez que ninguém pretende permanecer definiti-
vamente nestes locais, ocupam então casas em pior estado, situação transitória, habitadas por
estranhos.
A zona II é que mais se ressente do crescimento da cidade, sendo a que mais recebe a chega-
da dos imigrantes e demais pessoas em busca de uma oportunidade nas indústrias. A oferta de
imóveis não atende a demanda, fazendo surgir os cortiços.
A situação de desorganização, característica da zona mais próxima aos loops, é a situação de
ausência de laços de solidariedade, relações transitórias, vigilância baixa, o que proporciona ambi-
ente favorável ao aumento da criminalidade.

b) Associação diferencial: Esta teoria defende que o comportamento criminoso de indivíduos


tem sua gênese pela aprendizagem, com o contato com padrões de comportamento favorá-
veis à violação da lei em sobreposição aos contatos contrários à violação da lei. Busca expli-

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car a formação do comportamento criminoso apenas pelo âmbito social, não analisando o
motivo pelo qual alguém se torna criminoso.
Uma das inovações fundamentais da Associação Diferencial é que ela também critica as teo-
rias com bases sociológicas que associam a criminalidade à pobreza. As teorias sociológicas focadas
na pobreza e suas decorrências como determinantes do crime não eram suficientes, pois não con-
seguiam explicar certos delitos. Para tanto, foca-se em atos específicos (abordagem positivista), ao
invés das condutas subjetivas de cada indivíduo.

c) Anomia: é a disfunção orgânica articulada da sociedade, que, para se ter a eficácia perfeita
no funcionamento é mister que todos os seus membros interajam mutuamente e coopera-
damente em um ambiente saudável, ou seja, buscando sempre dar a devida importância aos
valores e regras comuns, lembrando sempre que, seu direito não pode prejudicar o espaço
que o outro tem por direito, pois todos vivem em sociedade.
Porém nem sempre é assim, quando o Estado falha ao valorar estes "princípios ético-morais"
é necessário uma intervenção do mesmo em resgatar tais valores, se tal fato não acontecer haverá
uma disfunção no organismo vivo da sociedade, que será afetada, havendo uma anomia, ausência
de regras gerada principalmente pela falta de valores e princípios.

2. TEORIA DO CONFLITO
Defende que a ordem e coesão sociais são impositivas, caracterizando meios de coerção e
dominação de uns e sujeição e opressão de outros. Isso se deve porque as pessoas não comparti-
lham interesses comuns e o controle social se presta a assegurar a prevalência de uns sobre os de-
mais.
a) Labelling approuch: também conhecida como teoria do etiquetamento/rotulação, é en-
quadrada como a “desviação”, ou seja, uma qualidade atribuída por processos de interação
altamente seletivos e discriminatórios. Tem esta teoria como objeto os processos de crimina-
lização, ou seja, os critérios utilizados pelo sistema penal no exercício do controle social para
definir o desviado como tal.
Realiza-se, um estudo inicial verificando o fenômeno denominado cifra negra, que represen-
ta o número de crimes que são efetivamente praticados e que não aparecem nas estatísticas ofici-
ais, o que demonstra que, apesar de todos nós já termos praticado algum crimes na vida, observa-
se que apenas uma pequena parcela dos delitos serão investigados e levarão a um processo judicial
que repercute em uma condenação criminal. Com isto, o risco de ser etiquetado, ou seja, "aparecer
no claro das estatísticas", não depende da conduta, mas da situação do indivíduo na pirâmide soci-
al. Por isso o sistema penal é seletivo, pois funciona segundo os estereótipos do criminoso, os quais
são confirmados pelo próprio sistema.
Assim, nos últimos anos do Século XX houve o início de um novo pensamento de não corre-
ção ao controle do crime, mas uma nova criminologia pautada em novas filosofias da pena, centra-
da nos combates dos riscos da modernidade, analisando a vítima e na defesa da sociedade em de-
trimento do criminoso. Esta é a nova criminalidade: a do “outro”, qual transforma um criminoso em
demônio e venera as intervenções preventivas, aumentando o poder punitivo do Estado, baseado
em um ambiente de dramatização midiática dos medos populares. O criminoso não é mais uma
pessoa normal, desajustada, vulnerável e propensa ao desvio. Ao contrário, o “outro” é fonte de

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perigo, o qual necessita ser neutralizado, uma vez que é visto como fonte imediata de perigos e
incertezas.

b) Teoria crítica: também conhecida como radical, tem sua origem no livro Punição e estrutu-
ra social de Georg Rusche e Otto Kirchheimer e é o resultado mais bem acabado da chamada
“Escola de Frankfurt”. Baseadas na influência marxista, as ideias de seus autores se relacio-
nam às manifestações superestruturais como forma de produção. Os autores mostram a re-
lação entre os mecanismos de punição com a produção e venda de mercadorias, ao passo
que a prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo. A punição envolvendo o sacrifício
dos corpos é abolida, dando lugar à disciplina da mão de obra com interesses econômicos.
Tal linha de pensamento critica as posturas tradicionais da criminologia do consenso por não
levarem à compreensão do fenômeno criminal. Baseada no pensamento marxista, a essência do
pensamento considerava ser o delito um fenômeno dependente da produção capitalista. Para
Marx, o crime seria responsável por produzir todo o sistema de controle social, os métodos de tor-
tura, a evolução dos procedimentos técnicos; enfim, estimulando as forças produtivas. A lei penal,
segundo Marx, é uma estrutura dependente do sistema de produção, enquanto o direito é uma
ideologia entendida mediante um método histórico-dialético. Já o homem, destituído do livre arbí-
trio, submete-se a um vetor econômico responsável pela produção do crime e da criminalidade.

PREVENÇÃO DO DELITO NO ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO
A prevenção do delito consiste no conjunto de ações destinadas a evitar sua prática. Neste
ponto, conforme afirmado por Nestor Sampaio Penteado Filho, dois tipos de medidas são necessá-
rios para alcançar esta finalidade, a primeira atingindo indiretamente o delito e a segunda, direta-
mente.
As medidas indiretas atuam sobre as causas do delito, e cessadas estas, cessam seus efeitos.
O delito não é alcançado diretamente, mas sim suas causas das quais ele é o efeito. Estas medidas
tem como alvo o indivíduo e o meio em que ele vive. Quanto ao indivíduo deve ser examinada a
personalidade, o caráter e temperamento, com vistas a motivar sua conduta. No tocante ao meio
social, é necessário seu estudo no maior raio de amplitude possível de modo a conjugar medidas
sociais, políticas econômicas, etc., que proporcionem uma melhoria na qualidade de vida das pes-
soas.
No Estado Democrático de Direito o saber criminológico tem como norte a orientação pre-
vencionista, pois o interesse se volta a evitar o delito, e não em puni-lo. Existem programas dirigi-
dos a prevenção primária, secundária e terciária, cuja compatibilidade os tornam complementares
entre si.
O estudo dos fatores inibidores e estimulantes do fenômeno criminal será decisivo na elabo-
ração de programas prevencionistas. O desemprego, a miséria, a falta de assistência social, desi-
gualdade, corrupção política, etc., são fatores que estimulam a criminalidade, enquanto a justiça

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social, garantia de trabalho, educação, saúde, democracia, igualdade de oportunidades, e outros


direitos sociais consubstanciam, sem dúvida alguma, elementos recalcitrantes da criminalidade.

1. PREVENÇÃO PRIMÁRIA
A prevenção primária consiste nos programas de prevenção destinados criar os pressupostos
aptos a neutralizar as causas do delito, como a educação, e a socialização (enfoque etiológico). In-
cide assim sobre as causas do problema, quer dizer, na concretização de direitos fundamentais da
população como do acesso a saúde, educação, moradia, trabalho, segurança, enfim, da qualidade
de vida. Trata-se de instrumentos preventivos de médio a longo prazo.

2. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
Conforme o magistério de Paulo Sumariva20, a prevenção secundá- ria atua em momento
posterior ao crime ou na sua eminência. Desta maneira conduz sua atenção para o momento e local
em que fenômeno da criminalidade se revela, orientando-se pelos grupos que apresentam o maior
risco de sofrer ou praticar o delito. Portanto, tem como foco setores da sociedade que podem so-
frer com a criminalidade, e não o indivíduo, estando relacionado com a ação policial, programas de
apoio, controle das comunicações, dentre outros instrumentos seletivos de curto a médio prazo.

3. PREVENÇÃO TERCIÁRIA
Incide sobre os condenados elaborando programas destinados a prevenir a reincidência. Sua
realização se dá por meio de medidas alternativas, como os serviços comunitários, liberdade assis-
tida, etc. Atua após a prática do crime revelando caráter punitivo e ressocializante, cuja finalidade é
evitar a reiteração do comportamento delituoso. Sumariva afirma que a prevenção terciária é insu-
ficiente e parcial por não agir sobre as causas do delito.

MODELOS DE REAÇÃO AO DELITO

Não desnecessário afirmar que umas das maiores preocupações do Estado contemporâneo
está concentrada na forma de reação ao delito. Consequentemente, o programa adotado para con-
trolar a criminalidade (política criminal) deve conter medidas oportunas e pertinentes a composi-
ção do conflito social.
Em síntese, a prática de um delito provoca uma reação da sociedade em sentido contrário,
existindo no presente três modelos: dissuasório, ressocializador e restaurador.

1. MODELO CLÁSSICO OU DISSUASÓRIO

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CRIMINOLOGIA

O modelo clássico ou dissuasório, também denominado modelo retributivo, tem como base
a punição do delinquente que deve ser intimidatória e proporcional ao dano causado.
Os protagonistas neste modelo são o Estado e o delinquente, restando excluídos a vítima e a
sociedade.
As sanções penais somente são aplicadas aos imputáveis e semi-imputáveis, vez que os inim-
putáveis são submetidos a tratamento psiquiátrico. Procura persuadir o delinquente a não praticar
o delito por meio da intimidação do sistema retributivo.
A exclusão da vítima e sociedade por este modelo lhe rende severas críticas de Antonio Gar-
cía-Pablos de Molina, devido a importância que exercem no questionamento da gênese e da etiolo-
gia do delito, além de potencializar os conflitos ao invés de resolvê-los devido ao retribucionismo
exagerado.

2. MODELO RESSOCIALIZADOR
Intervém na vida e pessoa do delinquente. Praticado o delito estará sujeito a uma punição,
cuja finalidade não se limita ao castigo, vai mais longe, procura a reinserção social. Deste jeito, a
participação da sociedade é muito importante neste processo de forma a prevenir e afastar estig-
mas.
Tem-se um modelo humanista que defende a intervenção positiva no condenado, de modo a
tornar possível sua volta, com dignidade, ao meio social.
A reação ao delito passa a se preocupar com a utilidade do castigo, também para o delin-
quente. Avalia a efetividade do sistema sob o ponto de vista do real impacto da punição na pessoa
do condenado, sem se preocupar com os ideais abstratos da pena. Por conseguinte, o paradigma
ressocializador faz com que o Estado assuma a natureza social da criminalidade, não se conforman-
do simplesmente com a retribuição do mal praticado, ou caráter preventivo das penas, exigindo
uma intervenção positiva na pessoa do condenado, ou seja, do afastamento dos efeitos nocivos da
punição. A partir desta premissa de melhoras no regime de cumprimento das penas, busca-se pre-
parar o condenado a participar do corpo social sem traumas ou condicionamentos.

3. MODELO RESTAURADOR
Também conhecido como modelo integrador, recebe ainda a denominação de justiça restau-
rativa por buscar o restabelecimento do status quo ante dos protagonistas do conflito criminal.
Com isso, visa recuperar o delinquente, proporcionar assistência à vítima, e restabelecer o controle
social abalado pela prática do delito. A reparação do dano gera sua restauração.
Este modelo visa solucionar o problema criminal por meio de ação conciliadora, que procura
atender aos interesses e exigências de todas as partes envolvidas.
Ao compreender o crime como um fenômeno interpessoal, defende que as pessoas envolvi-
das devem participar da solução do conflito por meios alternativos, distanciados de critérios legais,
e formalismo. As vantagens de uma justiça comunitária é que a pacificação social do problema mi-
nimiza os efeitos da persecução tradicional, afastando o caráter ameaçador das penas, humilha-
ções, e demais consequências malfazejas.
A solução virá de partes legítimas, e por isso as chances de pacificação revelam-se elevadas.

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CRIMINOLOGIA

Neste patamar, existe controvérsia relativa ao alcance da justiça integradora quanto a natu-
reza e gravidade dos delitos, além do perfil da vítima e delinquente. Há quem defenda a universali-
dade e generalidade da conciliação e mediação do conflito criminal sem ressalvas, e aqueles que
sustentam a incidência da justiça comunitária para determinados delitos, e delinquentes primários,
de modo a não se distanciar da realidade. Parece-nos mais correta esta última vertente, sendo difí-
cil conceber uma justiça restauradora em delitos de elevada gravidade, a exemplo de infrações
penais como o homicídio, latrocínio, etc. Apesar disso, Molina afirma que os procedimentos concili-
atórios recuperaram a face humana do conflito criminal, redefinindo o próprio ideal de justiça que
refuta o caráter excludente do castigo através de uma proposta de soluções alternativas, cuja soli-
dariedade e construtivismo deverão nortear as partes na celebração de compromissos.
O modelo integrador redefine o próprio ideal de justiça. Concebe o crime como conflito in-
terpessoal concreto, real, histórico, resgatando uma dimensão que o formalismo jurídico havia
neutralizado. Orienta a resposta do sistema mais à reparação do dano que o infrator causou a sua
vítima, às responsabilidades deste e às da comunidade, do que ao castigo em si. Propõe-se, pois, a
intervir no conflito construtiva e solidariamente, sem metas repressivas, procurando soluções. E
não a partir de suas auctoritas, senão por meio do pacto, do consenso, do ajuste, da composição:
mediante a negociação, confiando na capacidade dos implicados para encontrar fórmulas de com-
promisso. A Justiça restaurativa já não gira em torno da ideia excludente e obsessiva do castigo,
senão da reparação, da conciliação e da pacificação.
Alerta que a justiça restauradora não deve ser vista como algo superficial, inútil, e destituída
de seriedade, pois seu êxito encontra-se dependente do correto aparelhamento, e infraestrutura
do Estado.
Os procedimentos conciliatórios, por último, ainda que pretendendo fornecer soluções flexí-
veis e informais, distanciam-se muito da imagem frívola e superficial que alguns oferecem em rela-
ção a eles. Requerem uma infraestrutura adequada e dotação de pessoal e meios suficiente (medi-
adores, profissionais que intervêm no processo). Quer isso dizer que o êxito dessas fórmulas de
mediação e reparação substitutivas do controle social formal depende, em grande medida, do seu
correto aparelhamento.
No entanto, a tutela penal de bens jurídicos, aqui entendidos na concepção de Claus Roxin,
como as circunstâncias reais ou finalidades necessárias a uma vida com segurança e liberdade que
garanta a todas as pessoas seus direitos fundamentais, ou mesmo para o funcionamento da socie-
dade baseada nestes objetivos, nos leva a indagar se o paradigma restaurativo ou integrador pode-
ria, de fato, compor conflitos desta magnitude, principalmente na hipótese de lesão a bens jurídi-
cos essenciais, como a vida humana, e todos os desdobramentos e implicações que um conflito
criminal acarreta.

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MINISTÉRIO PÚBLICO
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS

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