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A PRISÃO ILEGAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO *

MASZNER, Eunice1

RESUMO

A prisão ilegal concerne à providência decretada em processo penal, que


prive alguém de sua liberdade de locomoção, sem a devida observância dos
requisitos mínimos exigidos em lei. Diante disso o escopo do presente artigo
consiste em compreender a Responsabilidade Civil do Estado frente à prisão ilegal.
A liberdade trata-se de um direito fundamental, e uma vez violada por motivo de
ilegalidade, enseja em direito em responsabilização pelo Estado por conta dos
danos sofridos, haja vista erro judiciário. O cidadão, portanto, deve ser ressarcido de
prejuízos materiais ou morais. Conclui-se com este artigo, que as eventuais formas
de responsabilização do ente estatal responsável pela prisão ilegal admitidas pelo
ordenamento e o entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca da
responsabilização do Estado diante da prisão ilegal enseja reparação, seja pelos
danos morais, materiais ou ambos, demonstrando que o referido instituto da
responsabilidade civil objetiva se aplica aos casos de prisão ilegal.

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Professora de Direito.
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1 INTRODUÇÃO

O direito natural do homem é a liberdade, atrás apenas do direito à vida.


Sendo assim, pode-se compreender a liberdade como a regra, e a prisão como
exceção. Diante disso, a prisão ilegal compreende à providência decretada em
processo penal, que prive alguém de sua liberdade de locomoção, sem a devida
observância dos requisitos mínimos exigidos em lei.

No momento em que o Estado, por meio de seus agentes, decreta uma prisão
ilegal, está interferindo diretamente nos direitos e garantias individuais estabelecidos
pela Constituição Federal da República do Brasil de 1988. Ocorre que, o Estado
tem responsabilidade em decorrência de erro judiciário, conforme artigo 5º, inciso
LXXV, da Carta Magna. Neste sentido, o Estado fica obrigado a indenizar quando o
erro judiciário for evidenciado, por exemplo, o indivíduo preso injustamente, sem
motivo aparente, seja por excesso de prazo, omissão, ou prisão sem as
formalidades legais.

Neste contexto, o tema da responsabilidade civil do Estado por erro judiciário


ganha espaço, importância e relevância. Mais do que uma forma de assegurar ao
cidadão a reparação civil pelos danos imputados ao Estado, essa responsabilidade
apresenta-se como verdadeira garantia do ideal democrático. Ocorre que,

Diante disso, objetivo geral deste trabalho é compreender a Responsabilidade


Civil do Estado frente à prisão ilegal. No que tange aos objetivos específicos são: a)
analisar sobre a prisão ilegal; b) reconhecer o direito à indenização por erro
judiciário; c) analisar como jurisprudência e a doutrina se posicionam acerca do
presente tema.

No que tange à metodologia da pesquisa realizada para este estudo, baseia-


se em uma pesquisa bibliográfica, realizada em fontes primárias e secundárias, em
livros, artigos de revistas e sites especializados. A pesquisa bibliográfica será
constituída principalmente de artigos científicos e livros, visto que permite a
cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla. Já a pesquisa
documental, embora se assemelhe à pesquisa bibliográfica, permite que se tenha
acesso a documentos tipo: reportagens de jornal, relatórios de pesquisa,
documentos oficiais, revistas eletrônicas entre outros. É conveniente mencionar
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como fonte de estudo e fundamentação teórica bibliografias de diversos


doutrinadores renomados que possuem obras relacionadas ao tema em estudo.

Este artigo está dividido em seções. Esta seção introdutória apresenta os


objetivos do trabalho, metodologia aplicada, relevância e justificativa do tema.

A seção 2 aborda sobre a prisão iniciando por seu conceito, em seguida


destaca a prisão ilegal, apresentando a diferença entre esta da prisão indevida e por
fim abordando sobre a prisão processual e seus tipos.

A seção 3 apresenta a responsabilidade Civil do Estado, dando ênfase no que


tange à prisão ilegal decretada por erro judiciário, ou qualquer outra causa, e o
direito de indenizar o terceiro lesionado, seja pelo dano moral, seja pela privação de
liberdade ou até mesmo por danos materiais por ele sofridos.

A seção 4 versa sobre os entendimentos doutrinários e jurisprudências a


despeito do tema, devidamente exemplificados mediante casos concretos
apresentados.

Na seção das considerações finais são relembrados os principais pontos


deste artigo, bem como esclarecido sobre o alcance dos objetivos levando à reflexão
destes. Ademais serão fixadas recomendações, bem como identificado os próximos
pontos a serem abordados numa pesquisa futura.

Desse modo, para atender ao objetivo do trabalho e nortear as indagações,


utilizou-se à abordagem do tema pesquisado utilizando a pesquisa teórica. O
método utilizado foi o dedutivo, tendo em vista que foi o mais adequado para levar a
uma conclusão lógica acerca da possibilidade de reparação civil estatal diante da
prisão ilegal. Por fim, serão apresentadas as evoluções ocasionadas na sociedade
devido a essas novas condutas, além de demonstrar como o direito se comportou
diante dessas demandas sociais.

Este tema é de grande relevância social, haja vista a demanda objetiva da


busca pelo Poder Judiciário visando à responsabilização do Estado e por
consequência, a reparação de danos decorrentes do erro cometido por este,
caracterizando-se assim, um fato recorrente no cotidiano.
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Importante destacar, que não há pretensão de esgotar o assunto e oferecer


respostas definitivas. Mas, acrescentar contribuição para tão rico debate de teorias e
teses jurídicas.

2 A PRISÃO

Conceituar não é uma tarefa fácil, pois comumente esbarra-se com


terminologias, acepções, neologismos e signos os quais se efetivam no espaço e no
tempo (LENZA et al., 2016). Porém, antes de adentrar o tema propriamente dito, faz-
se importante compreender a definição do termo prisão, por questões didático-
científicas.

Para o doutrinador Tourinho Filho (2012), prisão é a ausência de locomoção


do sujeito por meio de isolamento. Ou seja, trata-se de uma medida máxima do
Estado contra a liberdade individual, e só pode resultar de decisão condenatória
transitada em julgado, proveniente de autoridade competente, após o devido
processo legal.

Neste mesmo diapasão o autor Fernando Capez (2012) conceitua prisão


como a privação da liberdade de locomoção, em virtude de flagrante delito ou
determinada por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Sendo assim, trata-se de medida extrema do Estado contra a liberdade individual, e
só pode advir de decisão condenatória transitada em julgado, emanada pela
autoridade competente, após o devido processo legal.

Porém, insta salientar que é possível a prisão antes do trânsito em julgado. O


autor Quirino a despeito deste assunto pré-leciona que em um autêntico estado de
direito no qual as liberdades individuais devem ser respeitadas, a prisão de qualquer
indivíduo antes que seja proferido o julgamento definitivo (trânsito em julgado)
apenas será justificada por motivos de necessidade da manutenção da ordem e da
segurança da sociedade em detrimento da liberdade individual, e deve ter por
finalidade a efetividade do processo penal (ALMEIDA, 1999).

Importante ressaltar referente à prisão, que a detenção é a coação da


liberdade de locomoção. Podendo resultar de decisão condenatória transitada em
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julgado. Portanto, a perda da liberdade é denominada como prisão, impede o direito


de transitar, encarcerando o indivíduo. Não se entende, nesse sentido, a prisão
provisória, durante o tempo em que se espera a investigação da instrução criminal,
aquela que tem efeito da execução de pena.

Ao mesmo tempo em que o Código Penal decreta a prisão resultante de


punição, determinando os seus tipos de cumprimento e processos de defesa do
culpado, a prisão cautelar e a prisão provisória é tratado no Código de Processo
Penal, designada apenas a consolidar, no momento em que for fundamental, até a
decisão da sentença condenatória (NUCCI, 2014).

Há uma variedade de tipos de prisões que modificam a cada definição de um


doutrinador, com seu conceito e características. Em suma, prisão nada mais é do
que a restrição da liberdade individual como forma de punição estatal em
consequência da prática de um delito (ALMEIDA, 1999).

2.1 PRISÃO ILEGAL

Sob a ótica do senso comum as expressões “prisão indevida” e “prisão ilegal”


soam como mesmo sentido terminológico. Porém aqui, faz-se importante aclarar tal
confusão terminológica haja vista este artigo ter cunho jurídico-científico.

A “prisão indevida” ocorre nos casos previstos pelo art. 5º, inciso LXXV, da
Constituição Federal, que trata do erro judiciário e excesso de prisão – quando
alguém permanece preso além do tempo fixado na sentença. Já a “prisão ilegal” diz
respeito a todas as maneiras não elencadas pela prisão indevida, em outras
palavras, quando decretada fora dos parâmetros estabelecidos em lei.

Um dos conceitos de prisão ilegal, em sentido estrito, é a modalidade


promovida pelo Estado sem observação das exigências legais. Ou seja, constitui
crime contra a administração da Justiça ordenar ou executar medida privativa de
liberdade individual, sem formalidades legais ou com abuso de poder (art. 4º, da Lei
n. 4.898, de 09.12.1965, alínea “a”).

O Estado ao exercer as suas atribuições, por meio dos órgãos que


representam sua vontade jurídica, se sujeita a erros igualmente a um particular.
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Porém, por conta da complexidade das atividades desenvolvidas pelos entes


estatais a probabilidade de haver cometimentos de erros no desempenho de suas
incumbências ainda é maior (FRANCO, 2012).

No exercício da função jurisdicional, o Estado, no campo do direito, assegura


ao prejudicado a reparação patrimonial, de modo a torná-lo indene, nos limites do
resultado material e moral em que a indenização vem a ser admitida pelo direito
Todavia, quando se trata de prisão ilegal, o resultado lesivo transcende em
importância todos os danos possíveis de incurso por desastrosa atuação do Estado,
dado o bem maior do cidadão, a sua liberdade ter sido ferida (MEIRELLES, 2011).

Importante salientar que o ator Fernando da Costa Tourinho Filho ressalta, a


propósito da prisão ilegal, injusta ou indevida, ou mesmo a prisão legal injusta, que a
prisão provisória é a providência odiosa, haja vista ser notório o perigo que
representa a prisão do cidadão antes de ter sido reconhecido definitivamente
culpado. E se vier a ser absolvido? Se o for, por certo o Estado, titular do direito de
punir, não tinha nenhuma pretensão punitiva, e, se não havia pretensão, a que título
ficou ele preso? Quem lhe indenizaria os prejuízos morais e materiais decorrentes
de uma prisão injusta?

Diante disso objetivando uma boa relação entre o poder do Estado e o


respeito à liberdade humana, o legislador explicitou a possibilidade de indenização
por prisão indevida. Dessa maneira, pode-se inferir que existem falhas no sistema,
mas sobrepuja necessidade de sua manutenção, como instrumento de proteção dos
cidadãos, o que objetiva não afastamento das legislações a possibilidade de cautela
provisória, com todos os riscos intrínsecos a que ela conduz (HENTZ, 1996).

2.2 PRISÃO PROCESSUAL

A prisão processual tem efeito cautelar, instituída a garantir adequada


execução da apuração culposa do processo penal. Também denominada de prisão
provisória, aborda diversos tipos como: prisão em flagrante (CPP - arts. 301 a 310);
prisão preventiva (CPP - arts. 311 a 316); prisão decorrente de pronúncia (CPP - art.
413, § 3°); prisão em razão da sentença condenatória recorrível (CPP - art. 393),
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além da prisão temporária, mencionada em leis específica própria, sendo a Lei n°.
7.960, de 21 de dezembro de 1989 (GOMES 2020).

Diante disso, fica evidente que a prisão é uma medida excepcional, cuja
pessoa conserva-se inocente até a decisão da sentença penal condenatória. Desse
modo, não importam as punições ou medidas preventivas adotadas, contanto que
obedeçam à lei atual, na qual a interferência do estado na liberdade individual será
mínima.

Importante frisar, que se refere à prisão de espécie exclusivamente


processual, determinada com efeito cautelar, indicada para garantir a boa execução
da averiguação culposa, da ação penal ou do cumprimento da pena, ou então
impossibilitar que, livre, o investigado venha efetuar novos delitos (CAPEZ, 2009).

Em virtude da constitucionalidade do princípio da presunção de inocência,


que defende a não culpa antes de reconhecer o autor e a materialidade de um
crime, pode-se afirmar que o sistema jurídico brasileiro geralmente possui liberdade
pessoal. Este princípio não é apenas uma garantia de liberdade e obtenção da
verdade, mas também garante segurança. Provém da defesa social Apoiado pela
confiança dos cidadãos no sistema de justiça, deve ser usado como meio específico
de resistir à vontade punitiva (GOMES, 2010).

A despeito do mesmo assunto, Tourinho Filho (2006) expõe que a reclusão


sem sanção tem o propósito de adequar-se como uma defesa do Estado diante dos
riscos possíveis de dificultar a instrução criminal.

Neste mesmo contexto, as prisões cautelares têm o objetivo de proteger a


coletividade ou o processo com o isolamento do sujeito. Então tratar em
cautelaridade social, da qual a finalidade é preservar a sociedade do sujeito
perigoso, e cautelaridade processual, que assegura o comum percurso
procedimental, realizando com que o ato ocorra de acordo as normas e que seja
praticada a rara punição penal (BOMFIM,2009).

Conforme Arnaldo Quirino (1999), este tipo de prisão não possui conceito de
punição penal, tornando-se constantemente incerta e sua medida é de prisão
preventiva e material. Esta prisão ocorre da obrigação de ser protegida a eficiência
da ação penal e o fim por este apontado, que é o absoluto exercício de condenar do
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Estado, principalmente no momento que se aborda a execução do descumprimento


penal em crime de flagrante.

No processo penal, a condição para a decretação de uma atitude opressora


não é a expectativa de realidade do direito de censura defendido, mas sim de um
acontecimento supostamente punível. Portanto, o certo é declarar que o quesito
para propor uma prisão cautelar é a subsistência do Fumus commissi delicti, ao
mesmo tempo em que a possibilidade de um acontecimento de um crime, ou, mais
exclusivamente, na ordenação do CPP, a confirmação real do crime e sinais
aceitável de culpa (LOPES JUNIOR, 2017).

Importante destacar, que a pauta esclarecedora de medidas restritivas fica


sujeita de aplicabilidade durante toda busca penal e no decorrer do processo.
Portanto, como o legislador não especificou claramente a duração das medidas
adotadas na lei, presume que o fator tempo precisa do fator necessidade.

3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

O Direito brasileiro não acolheu a famigerada teoria da irresponsabilidade


estatal – Teoria adotada à época dos Estados absolutistas na qual o Estado teria
soberania, cujo princípio se baseava na ideia de que o rei não pode errar sendo,
portanto, irresponsável pelos atos praticados.

A responsabilidade civil do Poder Público na Constituição Federal está


consagrada em seu artigo 37, § 6º, que adotou a chamada teoria do “risco
administrativo”, nos seguintes termos: “as pessoas jurídicas de direito público e as
de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.

O referido tema é abordado na parte geral do código civil de 2002, no artigo


186: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".

A questão da responsabilidade civil é um tema muito importante


juridicamente, abordado por muitos doutrinadores, entre eles Maria Helena Diniz
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(2012), que define a responsabilidade civil como a execução de normas que


submetam a pessoa a consertar dano moral ou patrimonial provocado a alguém, em
virtude de ato do próprio referido, de alguém quem ele respondeu de fato de coisa
ou animal sob sua proteção ou, além disso, de aplicação legal simples. A explicação
reserva fundamentalmente a definição de culpabilidade e risco (isto é, a
responsabilidade da inocência) ao considerar o comportamento ilegal.

Geralmente a responsabilidade civil é uma irregularidade causada por atos


proibidos e é uma violação dos direitos de terceiros e, portanto, ocorre uma
compensação ou responsabilidade pela pessoa que causou o dano (CAVALIERI
FILHO, 2012). Então, para estabelecer responsabilidade civil, deve haver
compensação de danos, conforme elucida Santos Carvalho Filho (2014). A
responsabilidade civil tem como suposição o prejuízo, quer dizer que o indivíduo só
é civilmente punido se sua atitude, ou outro episódio, causa perda a outra pessoa.
Sem percas, não há responsabilidade civil.

No que tange ao Estado e os seus agentes. A regra ainda existente no Direito


é a responsabilidade SUBJETIVA (art. 186 do Código Civil), aquela que só se
configura se o agente praticou a conduta por dolo (intenção) ou culpa (negligência,
imprudência ou imperícia).

Porém existem casos nos quais haverá responsabilidade OBJETIVA, ou seja,


haverá o dever de reparar o dano, independente de o causador ter ou não agido
com dolo ou culpa. Importante destacar que a responsabilidade objetiva só é
admitida em situações excepcionais como, por exemplo, nas relações de consumo
(arts. 12 e 18 do Código de Defesa do Consumidor) e nos danos ambientais
(art. 225 da CF). A responsabilidade pode decorrer de atos por ação/comissão,
ocorrendo quando o agente pratica/realiza uma conduta e gera dano ao particular.
Resumidamente a fim de ilustrar este artigo segue quadro resumo explicativo:

Tabela 1: Resumo explicativo Responsabilidade

Responsabilidade subjetiva DEPENDE de dolo ou culpa do agente.

Responsabilidade objetiva NÃO DEPENDE de se provar dolo ou culpa.

Responsabilidade comissiva/ação Decorre da PRÁTICA de uma conduta.


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Responsabilidade omissiva Ocorre quando o agente deixa de impedir um dano

(SCATOLINO, 2018)

Dessa maneira, o Estado responderá independentemente de dolo ou de culpa


quando, na prestação de uma atividade, vier a causar dano aos particulares. Basta à
vítima demonstrar: conduta, dano e nexo causal. Exemplo: policial, ao perseguir
criminosa, dispara um tiro que acerta um particular. Quando esse particular for
cobrar do Estado, não precisará discutir a conduta culposa do servidor
(SCATOLINO, 2018).

Sendo assim, estabeleceram-se duas relações de responsabilidade, a saber:


a do poder público e de seus delegados na prestação de serviços públicos perante a
vítima do dano, cujo caráter é objetivo, baseada no nexo causal; e a outra, do
agente causador do dano, perante o Estado, de caráter subjetivo, calcada no dolo ou
culpa, para fins de ação regressiva apenas (BÜHRING, 2004).

Meirelles (2011) enfatiza que embora a não satisfatória orientação adotada


pelo nosso legislador do Código Civil de 1916 para a composição dos danos
causados pela Administração Pública, permaneceu entre nós a doutrina subjetiva
até o advento da Constituição de 1946, cujo disposto no artigo 194, acolheu a teoria
objetiva do risco administrativo, revogando em parte o art. 15 do antigo Código Civil.

Importante destacar, que Constituição Federal (art. 37, § 6º), harmoniza os


postulados da responsabilidade civil da Administração com as exigências sociais
contemporâneas, em face do complexo mecanismo do Poder Público. Foi a
Constituição Federal de 1946 que marcou a consagração explícita da
responsabilidade objetiva no ordenamento brasileiro, ao dispor o seguinte, no art.
194: “As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
pelos danos que seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros”.

Quando o funcionário público realiza a conduta ilegal deduz-se que o governo


tem a responsabilidade e a decorrente obrigação de compensar. Essa
responsabilidade é denominada de extracontratual.

A despeito desse assunto, Mazza (2015) pré-leciona, que a moderna teoria do


órgão público sustenta que as condutas praticadas por agentes públicos, no
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exercício de suas atribuições, devem ser imputadas ao Estado. Assim, quando o


agente público atua, considera-se que o Estado atuou. Essa noção de imputação é
reforçada também pelo princípio da impessoalidade, que assevera ser a função
administrativa exercida por agentes públicos “sem rosto”, por conta da direta
atribuição à Administração Pública das condutas por eles praticadas. Nesse
contexto, é natural considerar que o Estado responde pelos prejuízos patrimoniais
causados pelos agentes públicos a particulares, em decorrência do exercício da
função administrativa.

A culpabilidade ou o dolo do agente, na omissão ou ação prejudicial, somente


serão apurados para que, refere o art. 37, § 6º, da CF, contra o causador do dano
em questão, e esta ação constitui obrigação do Estado, em virtude do princípio da
indisponibilidade dos interesses públicos caso positivo, promova o Estado depois à
ação regressiva a que se refere o art. 37, § 6º, da CF, contra o causador do dano em
questão, e esta ação constitui obrigação do Estado, em virtude do princípio da
indisponibilidade dos interesses públicos.

Importante destacar que na forma do artigo supramencionado, é necessário


que se trate de pessoa jurídica de direito público ou de direito privado prestadora de
serviços públicos. Sendo assim, ficam excluídas as entidades da Administração
indireta que explorem atividade econômica. Ou seja, as empresas de direito privado
que prestam serviços públicos respondem objetivamente por danos causados a
terceiros, incluindo as concessionárias e permissionárias de serviços públicos.
(SCATOLINO, 2018).

Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2014) explica que a responsabilidade


extracontratual do Estado recompensa o dever de consertar prejuízos provocados a
terceiros em razão de condutas comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos,
lícitos ou ilícitos, responsabilizáveis aos agentes públicos. É irrelevante explicar a
divergência entre obrigação e tal dever indenizatório, já que indenizatório decorre da
obrigação.

O Estado tem a responsabilidade de efetuar seus preceitos jurídicos. Cavalieri


Filho (2012) esclarece tal responsabilidade como à conduta externa de uma pessoa
imposta pelo Direito Positivo por exigência da convivência social. Não se trata de
simples conselho, advertência ou recomendação, mas de uma ordem ou comando
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dirigido à inteligência e à vontade dos indivíduos, de sorte que impor deveres


jurídicos importa criar obrigações.

A violação desta obrigação pelo Estado resultou na obrigação de compensar


a parte lesada. Se a autoridade competente causar dano a administração pública
devido a atos ilegais ou ilegais, essas medidas de controle não serão classificadas
como medidas de gerenciamento ou correção. Portanto, a responsabilidade pela
indenização a vítima não existe mais (MELO 2013)

A responsabilidade do Estado apenas demonstrou suas qualidades


indenizatórias em situações atuais do Direito, porém alguns sinais revelam a história
do Direito romano, de responsabilidade do Estado por lesões que fossem gerados
aos particulares. O valor máximo refere-se à compensação paga por desapropriação
e ainda é estritamente (BUHRING, 2004).

O assunto de responsabilidade civil no Estado inspirou muitas literaturas com


incertezas e mudanças causadas por métodos corretos de medição (DIAS, 2006). “A
responsabilidade civil se assenta, segundo a teoria clássica, em três pressupostos:
um dano, a culpa do autor do dano e a relação de causalidade entre o fato culposo e
o mesmo dano” (GONÇALVES, 2006, p. 04).

Conforme Alexandre de Moraes (2007), a Constituição Federal presume que


as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado que prestam serviços
para os mesmos assumirão os prejuízos que seus agentes causarem a outras
pessoas, proporcionando o direito de retorno contra o culpado em situações de dolo
ou culpa.

Neste contexto, Alexandre de Moraes (2006) aborda sobre a


responsabilidade, onde aponta que, o Estado e responsabilidade patrimonial e
extracontratual, por condutas administrativos, decorre do conceito do equilíbrio
público, com ênfase para a ação daquela que da causa a algo do dever de reparar,
por estragos cometidos por conduta do Estado, por via de força ou descuido. O
dever público de reparar o dano necessita de algumas exigências: a relação do
prejuízo a um direito da vítima, precisando o acontecimento acarretar em agravo
jurídico e econômico, material ou moral.

Observa-se que apenas será culpado o Estado se estiverem realizadas todas


as condições para a sua responsabilização, qual se relaciona a legítima conduta
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ilegal e que de fato provoque um dano para a outra parte. Desta forma, destaca-se
que a obrigação é do Estado, pessoa jurídica, sendo assim a responsabilidade civil,
por ser de ordem pecuniária, não cabendo para a Administração Pública tal
responsabilidade.

Atualmente, a legislação, a teoria e a jurisprudência reconhecem que as


entidades legais que prestam serviços públicos, baseadas em leis públicas ou
privadas, são obrigadas a compensar os danos causados. (BUHRING, 2004).

Por fim, Alexandre de Moraes (2006) salienta os princípios da legalidade, da


impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, os quais conduzem a
responsabilidade civil do Estado, elevando as leis da Administração Pública direta e
indireta seja qual for dos Poderes União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios, tendo que obedecer aos princípios, sob sanção de suportar com
qualquer dano provocado ao indivíduo.

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR PRISÃO ILEGAL

A prisão ilegal trata-se daquela efetuada de maneira contrária ao que está


previsto na legislação, e viola direitos fundamentais previstos na Constituição
Federal. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu uma regra de garantia com as
características dos direitos básicos perante a lei em vigor e foi projetada para
fornecer proteção em face de privação indevida de liberdade pessoal. Nesse caso, o
Estado será responsável por uma compensação. Desse modo como predispões o
art. 5º, inciso LXXV, da Carta Magna: "O Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença"
(BRASIL, 1988).

As medidas cautelares no âmbito do processo penal atingem o patrimônio, as


provas e a pessoa do investigado. [...] quanto às medidas cautelares pessoais no
processo penal porque está em jogo à liberdade do cidadão, o juiz deve adotar
redobrada cautela para o seu deferimento. O seu deferimento sem a real
necessidade de prejuízo para a ação penal sem dúvida que será considerado
constrangimento ilegal e abuso de autoridade por quem a decretar (MACHADO,
2000, p. 68).
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Neste ponto de vista, convém citar uma sequência de obrigações a serem


analisadas pelo Estado-Juiz, exigências estas que simplesmente constituem a causa
da obrigação da prisão cautelar, que juntamente com o estado de inocência,
precisam ser respeitados.

A priori impõe-se ao Estado a obrigação de indenizar àquele que "ficar preso


além do tempo fixado na sentença", estaria também o constituinte implicitamente
assegurando à pessoa o direito de ser indenizada em virtude de ordem de prisão
cumprida "sem sentença condenatória": sendo injusta ou ilegal a prisão no que
exceder o prazo fixado na sentença de condenação. Importante frisar, que não se
compreende, que "zerada" a condenação, seja menos injusta ou ilegal a prisão do
réu que nela é mantido se ao final venha ser julgado improcedente a denúncia pela
sentença absolutória (CAHALI, 1998, p. 685).

Não existem vantagens para o poder público ou regalias que sejam capazes
de esquivar da obrigação, que a todos estabelece, de cuidado da imparcialidade de
bens ou direitos assegurados pela garantia da ordem jurídica (STOCO, 2004).
Desse modo, o Estado mostrou um tremendo progresso ao reconhecer suas
responsabilidades como ações, começando com o respeito aos princípios
constitucionais.

Essa evolução ocorreu devido aos princípios básicos da dignidade da pessoa


humana, é a primeira base de todo o sistema constitucional e a última estrutura para
a falta de direitos individuais (NUNES, 2002).

Geralmente, julgamentos criminais de condenações indevidas são


considerados erros judiciais. De um modo geral, a definição também pode ser usada
para detenção preventiva sem razões legais e injustificáveis. Não há razão para
excluí-lo do direito a compensação. Se um erro judicial é causado por uma sentença
de condenação, também pode ocorrer um erro judicial devido a prisão preventiva
(CAHALI,1998).

Por um lado, se o Estado tem o poder de restringir a liberdade pessoal, esse


poder não é absoluto, o que é indubitavelmente correto, e as regras feitas pelo
legislador são restritas. Essas regras que restringem a ação nacional, sejam
desrespeitadas por erros ou inação, implicam uma obrigação de compensar
indivíduos. No entanto, um cidadão ferido por um mandado de prisão preventiva é
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ilegal. Em face da responsabilidade civil do Estado por seus atos arbitrários e ilegais,
o cidadão receberá apoio jurídico para exigir indenização.

3.2 INDENIZAÇÃO PELA PRISÃO ILEGAL

A ação indenizatória por prisão ilegal é fundamentada na Constituição Federal


de 1988 (art. 5º, incisos LVII, LXV e LXXV):

Art. 5º. [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória; [...] LXV - a prisão ilegal
será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; [...] LXXV - o
Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença.

No código de processo penal, quando da ocorrência de revisão criminal:

Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer


o direito a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos. § 1º. Por
essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a
União, se a condenação tiver sido proferida pela justiça do Distrito
Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela respectiva
justiça. § 2º. A indenização não será devida: (a) se o erro ou a
injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio
impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder;
(b) se a acusação houver sido meramente privada.

No Código Civil de 2002 nos arts. 186, 927, 954 "caput" e parágrafo.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação
de reparar o dano independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem.
Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no
pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se
este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no
parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Consideram-
se ofensivos da liberdade pessoal: I - o cárcere privado; II - a prisão
por queixa ou denúncia falsa e de má-fé; III - a prisão ilegal.
16

Na relação causal entre processos administrativo públicos e ocorrências


desfavoráveis em processos judiciais (prisão indevidas neste caso) a obrigação civil
do estado deve ser reconhecida.

Para provar a ligação de propor finalidade, não existe a obrigação de provar o


cuidado interno do Estado, porque ela se constitui na teoria do risco. O autor do
processo de compensação também deve provar o dano real causado a ele, ou seja,
especificar a natureza do dano (moral ou patrimonial), que é essencial para o
magistrado estabelecer um equilíbrio econômico ao final do processo (QUIRINO,
1999).

No que diz respeito ao dano material, para que ocorra reparação, ou seja,
configurada a responsabilidade civil do Estado, é imprescindível a ocorrência de um
dano indenizável. Assim, “resume-se o dano à conseqüência de uma desacertada
atuação do poder público” (HENTZ, 1996).

Indeniza-se o credor do dano efetivamente verificado, isto é, a diminuição do


patrimônio sofrido pelo credor, bem como, a privação de um ganho que deixou de
auferir ou de que foi privado o referido credor, em razão do comportamento
comissivo ou omissivo do agente público ou daquele que faz as suas vezes (HENTZ,
1996).

Conforme elucida Diniz (2012) o estrago Patrimonial vem a ser o dano


existente, que lesa um empenho referente ao patrimônio da vítima, coerente na
perda ou danificação, total ou parcial, dos patrimônios que lhe importam, estando
sujeito de opinião monetária e de recompensa pelo causador. Torna-se perdas
patrimoniais a privação da utilização dos bens, as danificações nela gerada, a falta
de capacitados para o trabalho, o desrespeito a sua reputação, no momento que
houver efeito na vida ocupacional ou em suas profissões.

No âmbito criminal a lesão séria resultante de uma falha, de um parecer


negativo do poder público. “As perdas consistem o dano decorrente e o benefício
cessante, o critério está assim previsto no art.402 do código civil” salvo as exceções
expressamente previstas em lei; as perdas e danos devidos ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu o que razoavelmente deixou de lucrar.”

Importante salientar, que novos danos e perda de lucros podem ocorrer de


forma independente ou ao mesmo tempo, dependendo das circunstâncias. Se o
17

dano material for causado por prisão ilegal, precisa ser analisado de acordo ao
prejuízo provocado ao indivíduo. Os casos mais comuns são a perda de
remuneração ou renda causada pela incapacidade de exercer sua profissão e os
danos causados pela reputação da vítima em seu círculo comercial (QUIRINO,
1999). Nesse caso deve ser feita uma avaliação justa da medida em que os
indivíduos não receberam salário ou remuneração devido a prisão ilegal.

No que tange ao dano moral, no preceito civil, existe um dever legal de não
causar danos ou prejudicar outras pessoas e, na hipótese de prejuízo, a pessoa que
provocou o dano deve recompensar ou reparar.

Porém, diferente do dano material cuja responsabilização civil pode abranger


o dano emergente e os lucros cessantes, em conformidade com os arts. 1059 a
1061 do Código Civil, o dano moral é avaliado não pela repercussão no patrimônio
do lesado, mas sim em razão da importância e pelo fato da ofensa perpetrada,
presumindo-se assim a existência do dano.

Dano moral é um dano aos direitos e interesses não herdados da pessoa


singular ou coletiva causado pelo ato danoso. Toda perda que uma pessoa sofra na
causa de seu direito refletira absolutamente, em sua relevância; por essa razão,
quando se compreende o estrago patrimonial do moral, o método da separação não
conseguirá limitar-se o caráter ou temperamento do direito subjetivo abalado (DINIZ,
2012).

Mas o benefício premiado neste direito, ou ao objetivo do dano jurídico, isto


é, a natureza da resposta à parte lesada, porque somente assim se pode dizer dano
moral, devido à violação de interesses materiais, ou perda indireta de propriedade,
um evento decorrente de uma violação de personalidade ou de um direito extra
patrimonial, como por exemplo, o direito à vida e o direito à saúde também podem
causar perdas de propriedade, como incapacidade de trabalhar e custos de
tratamento (DINIZ, 2012).

Nesta hipótese, desde que a integridade física, psicológica ou moral de um


indivíduo seja comprometida, a compensação pelo dano terá o efeito de aliviar os
crimes sofridos. (QUIRINO, 2019).
18

Maia Neto (2003) instrui que o preceito legal concernente ao direito


indenizatório por prisão ilegal importa garantia fundamental constitucional da
cidadania, inclusive sob a égide de instrumentos internacionais de Direitos Humanos
(§ 2º, art. 5º. CF), sendo garantia fundamental e cláusula pétrea auto-aplicável (§ 1º
art. 5º CF) e não se permite alteração ou abolição, somente via emenda
constitucional (art.60, § 4º, inciso III, CF).

Ademais, o dano moral sofrido pela vítima de prisão ilegal é presumido, não
sendo necessária sua comprovação. Haja vista a Carta Magna ter consagrado o
direito à indenização pelo intitulado dano moral puro (art. 5º, V). Dessa maneira não
há necessidade do ofendido provar incômodos, bastado simplesmente a este provar
o ato ou fato danoso e o seu causador.

A responsabilidade civil objetiva, não exige comprovação da ocorrência do


dano, simplesmente relação de causalidade entre aquele e seu causador. Diante
disso, a culpa Estatal é decorrente do ato lesivo da Administração.

A título de exemplificação segue julgado do TJPI, cuja vítima comprovou o


fato danoso e injusto decorrido de ação ou omissão do agente estatal obrigando o
Estado a indenizar o dano causado:

APELAÇÃO CÍVEL – PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – PRISÃO ILEGAL –
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO – DEVER DE
INDENIZAR – DANO MORAL CONFIGURADO. A responsabilidade
civil do Estado pelos danos causados aos particulares no exercício
da atividade pública é objetiva, nos termos do artigo 37, § 6º, da
Constituição Federal, respondendo aquele pelos danos a que os
seus agentes derem causa, seja por ação, seja por omissão, em
razão da adoção da teoria do risco administrativo pelo ordenamento
jurídico. 2. Constatada a ilegalidade da prisão, exsurge o dever de
indenizar os danos morais sofridos, segundo os critérios da
proporcionalidade e razoabilidade. 3. O valor a ser arbitrado, a título
de dano moral, deve guardar correspondência com o grau de culpa
para a ocorrência do evento, a extensão do dano experimentado e as
condições pessoais das partes envolvidas. 4. Recurso não provido, à
unanimidade.

Tratamento idêntico do colendo TJSC, o qual se manifestou:

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - PRISÃO EM


FLAGRANTE - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PRIVAÇÃO
19

DE LIBERDADE EFETIVADA FORA DOS REQUISITOS LEGAIS -


INEXISTÊNCIA DE INFRAÇÃO À LEI PENAL INCRIMINADORA -
REPARAÇÃO DEVIDA - AFRONTA AO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DE LIBERDADE (ART. 5º DA CRFB). Configura
constrangimento ilegal à pessoa e afronta à garantia constitucional
de liberdade (art. 5°, caput, da CRFB) a prisão em flagrante realizada
sem que o cidadão tenha efetivamente infringido a lei penal
incriminadora. Portanto, deve o Poder Público compensar o dano
moral advindo do ato praticado por seus agentes. (TJSC - AC n.
2006.010084-1, Comarca de Blumenau, Relator: Des. Volnei Carlin,
julgada em 08/06/2006).

Importante destacar, que uma vez respeitado o trâmite do processo criminal,


não se demonstrando ilegalidade ou abuso por parte dos agentes estatais
envolvidos desde a prisão até a absolvição, caso ocorra posterior absolvição
definitiva do réu na esfera criminal por não estar provado que ele não havia
concorrido para a infração penal, mas por insuficiência de provas, não resultará em
direito a indenização, ante a atuação dos Órgãos estatais dentro da legalidade. A
despeito de tal entendimento, pode-se observar o julgado do TJCE:

APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. ABSOLVIÇÃO NO
SEGUNDO GRAU POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATOS JUDICIAIS.
AUSÊNCIA DE ABUSO OU EXCESSO DE AUTORIDADE. APELO
CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. 1. Pretende
o ente estatal se ver desobrigado de indenizar o autor, que nos autos
originários defendeu haver ofensa a sua honra subjetiva, em razão
de ato praticado pela MMa. Juíza da 2ª Vara de Tóxicos de
Fortaleza, Dra. Rita Emília de C.R.B. de Menezes, que lhe condenou
por participação em crime de tráfico de entorpecentes, na forma do
art. 12 c/c art. 18, III, da Lei Nº 6.368/76. 2. Defende o Estado do
Ceará a inexistência de erro judiciário capaz de gerar o alegado
dano, tendo agido no estrito cumprimento do dever legal. 3. Uma vez
observado o princípio constitucional do devido processo legal, do
contraditório e ampla defesa durante toda a tramitação do feito no
primeiro e segundo grau de jurisdição, e ante a ausência de
comportamento culposo e danoso por parte do Órgão judicante a
quo, que, frise-se, atuou dentro dos limites concedidos por lei, a
condenação por ele imposta ainda que posteriormente revista, não
importa na obrigação do Estado de indenizar, considerando que, na
apuração dos fatos, agiu no exercício regular do direito sem
excessos ou desvio de função. 4. Recurso conhecido e provido.
20

Portanto, a eficácia da contrapartida judiciária deve obedecer a critérios


apresentados quanto ao dano para devido restabelecimento dos direitos do lesado à
situação anterior ao dano causado pelo Estado.

Porém insta salientar, que esgotadas todas as possibilidades recursais pátrias


em caso de não reconhecimento da prisão ilegal cabe recurso para a Corte
Interamericana de Direitos Humanos:

Ainda quando pleiteado judicialmente o reconhecimento de erro


judiciário ou a indenização por prisão ilegal, em todas as instâncias
judiciais do sistema de administração de Justiça (Poder Judiciário)
brasileira, esgotadas todas as vias legais internas pátria, e mesmo
assim não declarado o erro ou não reconhecida a ilegalidade da
prisão, cabe denuncia e recurso ao sistema interamericano de
Justiça, ante a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, ambos órgãos oficiais da Organização dos Estados
Americanos – OEA, com função jurisdicional e consultiva, nos termos
do art. 34 usque 51, e 52 usque 69, do Pacto de San Jose – Costa
Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos/ OEA, 1969 –
Adotada pelo governo brasileiro através do Decreto n. 678, de
06.11.992, publicado no D.O.U. em 09.11.92).

Portanto, concorda-se que, uma vez o direito à liberdade prejudicado, o direito


à indenização deve ser devido.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste artigo buscou-se compreender a Responsabilidade Civil do


Estado frente à prisão ilegal. Para tanto, abordou-se sobre a prisão dando destaque
quando ocorre a sua ilegalidade, devidamente comprovada ao longo deste trabalho
como àquelas decretadas fora dos parâmetros estabelecidos em lei.

Neste estudo pôde-se apresentar a responsabilidade Civil do Estado, dando


ênfase no que tange à prisão ilegal decretada por erro judiciário, cuja lesão fera a
dignidade e a liberdade que são constitucionalmente protegidos, levando-se em
consideração a liberdade ser indisponível.

Sendo a liberdade indisponível, pode-se evidenciar este estudo que a


irregularidade de uma prisão configura como indevida. Diante disso, qualquer
21

irregularidade face à restrição da liberdade pessoal, especialmente pela prisão


ilegal, o Estado deve ser responsabilizado para que os danos causados ao indivíduo
sejam integralmente reparados.

Por fim, insta destacar que uma vez comprovada à irregularidade, a prisão
ilegal deve ser relaxada imediatamente. Cabendo, conforme legislação
complementar, em especifico no Código Civil brasileiro, que o Estado deve indenizar
qualquer dano praticado por seus agentes, incluindo a prisão ilegal.

Ademais os julgados apresentados a fim de exemplificar a responsabilidade


civil do Estado em decorrência de ato lesivo pelo Estado, servem para asseverar
que o dano moral sofrido pela vítima de prisão ilegal é presumido, ou seja não
necessita de comprovação.

Os julgados analisados asseveram que os Tribunais vêm acolhendo a


obrigação do Estado de indenizar aquele que sofreu ilegalmente privação de sua
liberdade e que, por tal fato, resta ao Estado indenizar o particular pelo dano sofrido.

Importante observar, que o âmbito cível trata de direitos patrimoniais


disponíveis, em contrapartida o processo penal trata de direitos indisponíveis, como
por exemplo, liberdade do indivíduo. Além do mais, tudo aqui explanado, enfatiza a
impossibilidade de o legislador prever todas as situações do mundo concreto e cada
medida cautelar correspondente, haja vista as relações sociais serem extremamente
complexas e mutáveis.

Daí a importância de um processo penal mais eficiente para que haja uma
aplicação mais acertada de medidas não previstas de forma expressa pela lei. O
ideal seriam mais investimentos em cursos preparatórios e treinamentos mais
eficazes, a fim de capacitar aqueles que se encontram na linha de frente das prisões
a serem adotadas, bem como dos reais objetivos do instituto e do significado dos
seus papéis nesse novo espaço de atuação.

Dessa maneira a perda do direito à liberdade do indivíduo, que tanto abala a


vida dos cidadãos lesados, afetando suas relações sociais e deixando, muitas
vezes, sequelas para o resto da vida seria mais evitado. Pois nenhuma indenização
compensa a dor e as sequelas por cerceamento da liberdade por conta de uma
prisão ilegal.
22

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