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FIL 1600 /Antropologia Filosófica I

Eric Rocha Silva1

Relacione segundo Agostinho a natureza do homem e das demais criaturas


com o problema do mal e apresente a solução preconizada por ele.

Antes de apresentar o que se pede na questão, será retratada uma pequena


introdução sobre o conceito do mal a que Agostinho tinha conhecimento. O conceito,
referido anteriormente, para Agostinho é relevante, pois baseia na sua primeira
experiência, isto é, antes de sua conversão. Essa experiência sucedeu-se com os
maniqueístas, grupo que adotava uma filosofia sincrética e dualista, dos quais,
acreditavam na existência de um bem que promove as coisas boas e há um mal
como a origem responsável pelas coisas más no mundo.
Vemos que, de certa forma, Agostinho já levava consigo vários
questionamentos sobre a origem do mal. Tais questionamentos se fortaleceram
após sua conversão, visto que metade da sua vida foi marcada por paixões carnais,
tudo que era considerado mal ele teria praticado. Então, para se livrar da ação que o
fez afastar-se de Deus, seria necessário conhecer a origem do mal. Sendo assim,
poderia se livrar e levar outras pessoas a não praticar atos maldosos, acaso o seu
objetivo - de conhecer a origem do mal -, fosse alcançado.
Após ter feito uma pequena introdução sobre o conhecimento do mal,
segundo a perspectiva agostiniana, desenvolveremos a relação do seu pensamento,
isto é, da natureza do homem e das demais criaturas relacionada com o problema
do mal e concluiremos apresentando a solução preconizada por ele. Logo após o
contato com o Deus cristão, Agostinho passa a acreditar com firmeza na existência
do bem maior. Ele confiava que Deus não fez o homem e as demais criaturas em
meio termo, como acreditavam os Maniqueus. Deste modo, o pensamento do
filósofo percorria o seguinte caminho: se Deus é o centro de bondade não poderia
criar algo mal, em sua obra ele diz: “... vi e me pareceu evidente que criastes boas
todas as coisas, e que nada existe que não tenha sido criado por ti. E porque não as
criastes todas iguais, cada uma em particular existe porque é boa, (...). De fato, o

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Graduando em Bacharelado em Filosofia
nosso Deus criou todas as coisas muito boas” ( AGOSTINHO, 1997, p. 177) 2. Assim,
o autor afirma que Deus é a bondade suprema e que não criou algo para o mal.
Logo, Deus não é o autor do mal, mas quem será afinal? Deixaremos essa questão
para o final dessa abordagem.
Agostinho diz que ao criar a humanidade e tudo que compõem a criação,
Deus concede a liberdade para a criatura. Percebemos que, de certa forma, o ser
humano por sua racionalidade tem a capacidade de escolher entre bem e mal. Por
mais que a criatura tenha sido feita para voltar-se para o criador, Ele (o Criador) não
prende a criatura para si, com isso, dispõe-na do livre-arbítrio. Se Deus criara o ser
humano com liberdade de escolher, então antes do humano, já existia o mal, isso é
o que defende os Maniqueus. Dizem que no momento em que Deus se revelou
como bem, é revelado também o mal, mas Agostinho tem a resposta exata, a partir
da colocação do livre-arbítrio doado por Deus.
Agostinho não vê o mal como algo substancial, ao dizer:
Portanto, todas as coisas, pelo fato de existirem, são boas. E aquele mal,
cuja origem eu procurava, não é substância. Porque, se fosse, seria um
bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e, portanto um grande
bem; ou seria substância corruptível, e então, se não fosse boa, não se
poderia corromper. (1997, p. 177)
Logo, o mal em si não tem origem concreta, ele ver o mal como uma ação na qual
nega a existência de Deus, então é a negação do criador, uma vez que o criador é a
bondade suprema.
Agora apresentaremos a solução preconizada por Agostinho e
responderemos à questão na qual foi feita em um dos parágrafos anteriores.
Agostinho conclui dizendo que: “E procurando o que era a iniquidade compreendi
que ela não é uma substância existente em si, mas a perversão da vontade que, ao
afastar-se do Ser supremo, (...), se volta para as criaturas inferiores; e, esvaziando-
se por dentro, pavoneia-se exteriormente.” (p.180, ibid). Vemos então que o mal é
posto no âmbito da moral, na ação voluntaria do homem, visto que o homem tem o
livre-arbítrio e o desejo de conhecer. Como o mal é uma ação, i.é, uma perversão da
vontade, então a pessoa escolhe ir para o caminho do mal, como algo que chama
sua atenção. Deste modo, o homem usa da sua liberdade para afastar-se de Deus.
Podemos concluir afirmando que a origem do mal é a negação do bem, como dito
em um dos parágrafos anteriores, se o bem vem de Deus, então a criatura
2
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 1997, p.177
abandona seu criador para se deliciar do mal. O Agostinho atribui ao homem a
responsabilidade de ser o “autor” do mal no mundo natural. O homem pratica esse
mal quando nega Deus e essa negação desenvolve a rejeição a obediência ao
criador.
O filosofo cristão traz uma ideia bem diferente do que somos acostumados a
ouvir, sempre quando escutamos falar do mal, já associamos ao maligno, pois fomos
inseridos em uma cultura cristã, é bem difícil observar o mal no mundo natural como
algo que brota da nossa vontade. Mas como temos a liberdade de escolher, isso nos
impulsiona a ter responsabilidade em tomar algumas decisões, visto que seremos
boas pessoas ou más se quisermos, essa obra com o questionamento do mal nos
leva a questionar como estamos sendo na sociedade em que vivemos, pois é mais
fácil observar as atitudes dos que nos cerca do que as nossas próprias.

Referência:
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de Maria Luiza Jardim
Amarante. São Paulo: Paulus, 1997, p.

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