Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O que é o mal?
Agostinho encara o problema do mal desde cedo, e logo percebe que este é
um “sério obstáculo à compreensão da vida, da existência, e sobretudo, da ideia de
Deus como um ser soberanamente bom”1. Visto que, neste primeiro momento, o mal
se apresenta como um paradoxo2, pois partindo do pressuposto axiomático e
indubitável que Deus é sumamente bom, “Donde vem então o mal?”3
Para Agostinho, é vidente que, não pode haver duas substâncias, uma boa e
outra má. A(in)compatibilidade da coexistência entre um princípio bom e um princípio
mau impede de conceber verdadeiramente a transcendência divina. É esta absoluta
transcendência que o leva a considerar que o mal não pode nem é absolutamente
considerado. Essa impossibilidade de se entender o mal como um absoluto, significa
que não só o mal, não existe absolutamente, em relação a Deus, que é o Sumo Bem,
como também nem sequer em relação à obra da criação. Por isso, da mesma forma
que não podemos instaurar, no seio da especulação sobre a vontade humana, dois
absolutos, homem e Deus, da mesma maneira também, não o podemos fazer em
relação a Deus e à obra da criação.11
Se retirarmos uma parte do bem supremo (Deus), esta parte será a ausência
de bem. É esta parte separada do bem total que conhecemos como mal. Desse modo,
interpretamos, erroneamente, que o mal existe e que o contrário do mal é o bem. Na
realidade, o contrário do bem não é o mal, pois este não existe, logo, é o nada. 13
9 MARTINS, Maria Manuela. Unde Malum: O mal em Santo Agostinho. Pág. 3. apud Agostinho, De
Moribus Manichaeorum, 8, 11 (PL 32, 1350).
10 MARTINS, Maria Manuela. Unde Malum: O mal em Santo Agostinho. Pág. 3.
11 MARTINS, Maria Manuela. Unde Malum: O mal em Santo Agostinho. Pág. 18-19.
12 COSTA, Marcos Nunes. As 10 lições de Santo Agostinho. Vozes. Pág. 36.
13 SOUSA, Lucas da Conceição. O problema do mal em o livre-arbítrio de Agostinho. Pág. 3.
Comentários apressados
14 MARTINS, Maria Manuela. Unde Malum: O mal em Santo Agostinho. Pág. 17. Apud Agostinho,
Confissões, III, 7, 12, 101.
15 Resposta do meu pai quando eu afirmei ser o mal a ausência de Deus, apenas para saber o que ele
em: https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf
17 Curiosidade prolixa: “É preciso honrar os anciãos, porque aquilo que cronologicamente vem antes
merece maior honra” Diógenes Laércio citando ensinamentos dos “assim chamados pitagóricos”
(expressão do Aristóteles) no Vidas dos filósofos ilustres, V, III.
Assumo para min, parte desta concepção agostiniana. Estritamente, esta virada
lógica onde o mal é a ausência de Deus; nego totalmente ser o mal de caráter
metafísico. Ao meu ver, o mal é de caráter moral; é a ausência de um bem moral. Esta
acepção, diferente em Agostinho, cai no problema da “moral universalizada”. Afinal,
como o mal pode ser a privação do bem moral, se a moral claramente se altera
mediante a cultura (que se altera de acordo com o tempo e o espaço)?
Afirmo ser causa deste problema, o fato de que Deus, por ser Deus, é dito ser
imutável, perfeito, etc. Justifico que há, indubitavelmente, toda uma tradição que
explica tal qualidade de Deus, mas o criador de todas as coisas só possui estas
características, por ser princípio de todas as coisas. Semelhantemente, o “ser” em
Parmênides coincidem (quanto a ser imutável, uno, etc.), porém são postas,
obviamente, de forma e pretensões diferentes. Em última instância, as qualidades de
Deus fazem com que Deus seja o que é, pois faz mais sentido assim. Diferentemente,
a moral é relativa (apesar das mais diversas tentativas de universalizar a moral), e
com isto, me falta a rigidez para determinar o distanciamento da ideia fixa.
Alcibíades – Decerto.
Sócrates – E sempre que o tratamento deixar essa coisa melhor do que era
antes, não dizes que ela foi bem cuidada? 18
Suma Teológica. Art. 1 “Se Deus é infinito”, Questão 7 “Da infinidade de Deus”. Pág.
156. Disponível em: https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-
teolc3b3gica.pdf