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ELEMENTOS

1.0
METEOROLÓGICOS

ELEMENTOS METEOROLÓGICOS
Neste capítulo serão apresentados os principais elementos
meteorológicos bem como suas características e relações com os fenômenos
meteorológicos.

1.1 – ELEMENTOS METEOROLÓGICOS


Os elementos meteorológicos são variáveis que descrevem o estado da
atmosfera pela caracterização de suas condições físicas. Esta descrição pode
ser imediata (usada na meteorologia operacional – previsão meteorológica
diária) ou de longo período (usada na climatologia – média estatística dos
dados dos elementos meteorológicos por período não menor que 30 anos).
Chamamos de Normal Climatológica a resultante estatística da
ocorrência de determinado fenômeno meteorológico ao longo de um grande
período de observação (coleta de dados), e que definirá o clima para
determinada região em estudo. A seguir descreveremos os principais
elementos meteorológicos.
a) Radiação Solar
A radiação solar representa toda a energia solar recebida pela terra e
que desencadeia a ocorrência dos demais fenômenos meteorológicos tais
como ventos, chuvas, nebulosidade, calor, etc. Assim, a radiação solar, além
de ser um elemento meteorológico, é também um fator meteorológico por
condicionar direta e indiretamente outros elementos meteorológicos.

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Para entendermos melhor a radiação solar precisaremos apresentar
alguns importantes conceitos astronômicos, referentes a posição relativa entre
a Terra e o Sol.
Conceitos Astronômicos
Os movimentos de rotação e translação da Terra constituem-se num dos
mais importantes condicionadores meteorológicos para escalas temporais
(diárias e anuais). O aquecimento da Terra se dá de forma desigual em função
do ângulo de incidência dos raios solares, função direta da hora do dia
(movimento de rotação da terra), do período do ano (movimento de translação
da terra) e da posição relativa na Terra (equador/pólo).
O movimento de Rotação da Terra em torno de seu próprio eixo faz com
que qualquer local da superfície terrestre tenha uma variação diária em suas
condições meteorológicas, especialmente na radiação solar. Isso gera uma
escala diária de variação das condições meteorológicas.

Figura 1.1: Radiação Solar em função do Movimento de Rotação da Terra

O movimento de Translação da Terra em torno do Sol provoca uma


variação sazonal da radiação solar, estabelecendo as estações do ano. Essa
variação se deve à inclinação do eixo terrestre em 23º27´, em relação à normal
ao plano da eclíptica (plano que contem a órbita do sol). Isto faz com que um
observador na superfície da Terra sinta um movimento aparente do Sol ao
longo do ano na direção N-S. Esse movimento aparente se dá entre as
latitudes de 23º27´N e 23º27´S, que correspondem respectivamente aos
Trópicos de Câncer e Capricórnio.
Cabe ressaltar que a Terra descreve um movimento elíptico em torno do
sol (A Terra ocupa um dos focos da elipse) estando mais próximo deste no
solstício de verão (HS), com o sol vertical no Trópico de Capricórnio.
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Figura 1.2: Radiação Solar em função do Movimento de Translação da Terra

Por fim, temos que a posição relativa na terra (latitude do lugar) também
influenciará nas condições da radiação solar. Embora seja a mesma, a
quantidade de energia irradiada pelo sol, a quantidade de energia que chega
na superfície terrestre depende de sua inclinação (latitude do lugar). Quanto
maior a inclinação, maior a área a ser coberta pela mesma quantidade de
energia que chega, e assim menor aquecimento.

Figura 1.3: Ângulo de Incidência dos Raios Solares em Função da Posição Relativa na Terra

Balanço Energético da Radiação Solar


O sol emite energia sob forma de radiação (ondas curtas) que caminha
pelo espaço e chega à Terra, inicialmente na atmosfera terrestre. Neste
momento, parte desta energia é refletida novamente para o espaço e parte

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penetra na atmosfera onde ocorrem diversas transformações de energia. Uma
parcela desta energia chega à superfície terrestre, promovendo seu
aquecimento e voltando à atmosfera sob a forma de calor (onda longa) sensível
e latente.
A figura abaixo mostra o balanço energético da irradiação solar na Terra.

Figura 1.4: Balanço Energético da Radiação Solar na Terra

O calor sensível é o responsável pelo aquecimento das massas de terra,


água e ar do planeta. O calor latente é o responsável pela evaporação das
massas de água (oceanos).
A transmissão do calor na superfície terrestre se dá por meio dá:
- condução: aquecimento do ar em contato com a superfície;
- convecção: transporte vertical de energia para níveis mais altos por
movimento do ar; e
- advecção: transporte horizontal da energia para outras regiões.

Há um saldo positivo de energia nas baixas latitudes e negativo nas


altas latitudes. Temos que, existe uma busca pelo equilíbrio térmico do planeta,
sendo desencadeado, um transporte de energia das baixas para as altas
latitudes, no que se manifesta através da circulação das massas de ar e de
água.

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b) Temperatura do ar
A temperatura do ar representa a quantidade de energia presente no
meio em questão.
A variação da temperatura ocorre tanto na vertical (em altitude) quanto
na horizontal.
A variação em altitude se dá pela diminuição da pressão atmosférica
com a altitude, obedecendo às leis da física para os gases (expansão dos
gases e temperatura diminuída). Embora a variação de temperatura com a
altitude não seja constante, podemos considerar uma variação média
aproximada entre -5ºC/Km a -6ºC/km.
A variação horizontal se dá pelo deslocamento energético das baixas
latitudes para as altas latitudes, através da circulação geral de ar da atmosfera,
em busca do equilíbrio térmico do planeta.
Durante um dia, em determinada posição na Terra, haverá uma variação
na temperatura do ar, atingindo um máximo e um mínimo em função da
quantidade de energia que chega naquela posição.

Variação Diária da Temperatura do ar Variação Diária da Temperatura do ar


Baixas Latitudes (verão e inverno) Altas Latitudes (verão e inverno)
40 40
35 35
30 30
Temperatura

Temperatura

25 25
Variação Diurna
20 20
Variação Diurna
15 15
10 10
5 5
0 0
0 6 12 18 24 0 6 12 18 24
Hora Hora

Figura 1.4: Variação da Temperatura do Ar em Baixas Latitudes e em Altas Latitudes

c) Temperatura da Superfície do Mar (TSM)


De forma análoga, a temperatura da superfície do mar representa a
quantidade de energia presente neste meio. Devido à constituição físico-
químico da água praticamente toda a energia recebida pela radiação solar é

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utilizada para a evaporação da água da superfície do mar, mantendo
praticamente constante a temperatura desta água. Esta evaporação contribui
significativamente para aumentar a umidade do ar atmosférico da região.
Em longos períodos de observação, efeitos turbulentos (camada de
mistura) ou em fenômenos específicos (ressurgência) pode-se verificar alguma
alteração na temperatura da água na superfície do mar.
Assim podemos dizer que a água do mar possui alto calor específico
(necessita uma alta energia para promover uma determinada variação de
temperatura), tendo praticamente toda a energia radiativa empregada na
evaporação da água na superfície do mar.
A TSM possui grande importância na interação oceano-atmosfera, pois
pode influenciar o resfriamento ou o aquecimento do ar sobre sua superfície.
Quando há o resfriamento do ar poderá haver nevoeiros, e quando há
aquecimento do ar, poderá haver atividades convectivas. A TSM quando
superior a 27oC poderá provocar o surgimento de ciclones tropicais
denominados furacões. Assim a TSM influencia diretamente na formação de
nevoeiros, tormentas e furacões.

d) Pressão
A pressão atmosférica é a força exercida pelo peso da atmosfera sobre
uma determinada área. A pressão atmosférica decresce à medida que nos
afastamos da superfície terrestre. Quanto maior a altitude menor será a
pressão atmosférica.

Figura 1.5: Variação de Pressão com Altitude

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Se a densidade do ar for maior (temperatura mais baixa) o ar estará
mais pesado e a pressão atmosférica será maior. Isto ocorre quando um ar é
gradualmente substituído por outro com temperatura diferente, ou seja, haverá
variação na densidade do ar e consequentemente na pressão do mesmo. Este
fenômeno é verificado na circulação horizontal de massas de ar, brisas e
ventos.
A pressão atmosférica varia durante o dia em função do aquecimento da
superfície terrestre. Em locais de maior variação térmica, maior será variação
de pressão e vice-versa. As regiões tropicais (latitudes baixas) possuem uma
maior variação da pressão atmosférica durante um dia em relação a regiões de
latitudes mais altas.

Figura 1.6: Variação de Pressão Durante o Dia

O gradiente de pressão atmosférica é a variação horizontal de pressão


numa determinada distância. Diz-se que o gradiente é forte/grande/alto quando
as linhas de pressão (isobáricas) possuem um pequeno afastamento entre si.
O gradiente é fraco/pequeno/baixo quando as linhas de pressão possuem um
grande afastamento entre si. Quanto mais forte o gradiente de pressão (menor
afastamento entre as isóbaras) maior a velocidade dos ventos nessa região.

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Figura 1.7: Gradiente de Pressão

Podemos verificar que a radiação solar fornece toda a energia


necessária ao desenvolvimento dos fenômenos meteorológicos no planeta, o
qual proporciona o aquecimento da atmosfera, das superfícies terrestres e do
mar, com influência direta sobre os campos de pressão atmosférica, nos
mostrando o quanto todos estes elementos estão relacionados entre si.

e) Umidade do Ar
A umidade do ar é a porção de vapor de água contida na atmosfera. A
água contida na atmosfera obedece às leis da termodinâmica para os gases e
manifesta-se nos estados gasoso (vapor de água), líquido (gotículas de nuvens
e gotas de chuva) e sólido (cristais de gelo). Sua principal função é armazenar
e transportar energia sob forma de calor latente constituindo um suporte de
energia para os fenômenos meteorológicos convectivos. Esta umidade,
associada às transformações de estado físico da água, é responsável pelas
condições de tempo, nebulosidade e precipitação.
O ar atmosférico possui como característica a possibilidade de conter
vapor de água (umidade) proporcionalmente a sua temperatura. Quanto maior
a temperatura do ar maior a capacidade desse ar de conter vapor de água.
Quando, para uma determinada temperatura, o ar contiver o seu limite máximo

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de vapor de água, diz-se que o ar está saturado (umidade relativa 100%). Caso
a temperatura do ar diminua o limite máximo de vapor de água também
diminuirá e o vapor de água excedente se condensará formando gotículas de
nuvens. A esta temperatura limite em que o vapor de água começa a se
condensar chamamos de temperatura do ponto de orvalho. (dew point).
A umidade relativa é a relação entre a quantidade de vapor de água
existente no ar e a quantidade máxima de vapor de água que este mesmo ar
poderá conter na mesma temperatura, expresso em porcentagem. Verificamos
também que se a temperatura do ar subir, maior a quantidade de vapor de
água poderá ser contida neste mesmo ar, logo a umidade relativa diminui.
Analogamente, em caso de resfriamento do ar, haveria um aumento da
umidade relativa.
A umidade absoluta é a quantidade de gramas de vapor de água contida
em um metro cúbico de ar, independente da temperatura do ar.

Figura 1.8: Variação Diária da Umidade Relativa

A umidade relativa 100% equivale aproximadamente a umidade absoluta 4%.

f) Evaporação
A evaporação é a mudança de estado da água da forma líquida para
gasosa. Essa transformação de estado envolve grande quantidade de energia
sob forma de calor latente que é retirada do ambiente, incorporada ao vapor de
água e transportada para diversas outras regiões.

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A transformação de estado da água e o balanço energético se dão da
seguinte forma:
a) evaporação – ambiente cede energia (sob forma de calor latente) para
o vapor de água; e
b) condensação – vapor de água cede energia (sob forma de calor
latente) para o ambiente.
O calor latente presente no vapor de água ao se condensar, em altas
altitudes, aquece o ambiente e cria condições de instabilidade favorecendo o
processo convectivo e a circulação direta.
No mar, onde a TSM é grande (acima de 27ºC), a evaporação da água
do mar também é grande resultando em grande transferência de energia (sob
forma de calor latente) para a atmosfera, que chegando em altos níveis,
condensa-se, cedendo calor para o ambiente e aquecendo-o, intensificando
ainda mais o processo convectivo com formação de nuvens e precipitação.
Podemos dizer que a TSM está diretamente relacionada aos processos
convectivos no mar.

Figura 1.9: Ciclo Básico da Água

g) Condensação
A condensação é a transformação física do estado da água, passando
de gasoso para líquido. Para melhor entendimento deste elemento

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meteorológico precisaremos compreender alguns conceitos básicos de
termodinâmica
Termodinâmica
Uma substância pode existir nas fases sólida, líquida ou gasosa,
dependendo das condições de estado de algumas propriedades, tais como
temperatura, pressão e volume. Também poderá haver mudança de fase
alterando-se o estado das propriedades. Se é inicialmente líquida pode-se
tornar vapor após aquecida ou sólida quando resfriada. Tais transformações
são descritas por equações físicas de estado da matéria e podem ser
representadas graficamente. A figura abaixo apresenta o diagrama de fases da
água em função da pressão e da temperatura (fases sólida, líquida e gasosa).

Figura 1.10: Diagrama de Fases da Água

Alguns pontos notáveis no Diagrama de Fases da Água merecem


destaque:
a) Ponto Triplo – É o ponto em que a substância se apresenta em
equilíbrio nas três fases (sólido, líquido ou gasoso).
Temperatura: 273,16ºK (0,01ºC)
Pressão: 611,73 Pa (cerca de 0,006 bar)
b) Ponto Crítico – É o ponto em que a substância deixa de ter distinção
entre as fases liquida e gasosa, compreendendo a condição de fluido
supercrítico.
Temperatura = 647,30ºK (374,14ºC)
Pressão: 22,09 MPa (cerca de 218 bar)

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Quando qualquer propriedade do sistema (pressão, temperatura,
volume, etc.) se alterada, dizemos que houve uma mudança de estado no
sistema termodinâmico através de um processo que poderá ser isobárico,
isotérmico adiabático, entre outros.
Para melhor continuidade ao estudo da meteorologia em questão
daremos atenção especial ao processo adiabático, onde existe um processo de
transformação de estado da matéria, porém, não há transferência de calor.
Neste processo o gás não troca calor com o meio externo, seja porque
ele está termicamente isolado ou porque o processo ocorre suficientemente
rápido de forma que o calor trocado possa ser considerado desprezível. Em
uma compressão adiabática ocorre que o volume diminui, a pressão e a
temperatura aumentam. Já em uma expansão adiabática o volume do gás
aumenta, e a pressão e a temperatura diminuem. Isso é exatamente o que
acontece com fluidos sob pressão e que são repentinamente descomprimidos,
como sprays, extintores de incêndio de CO2, entre outros.
O mesmo fenômeno ocorre na meteorologia, nos processos convectivos.
Para que ocorra a condensação na atmosfera é necessário que esta
atmosfera possua umidade e temperatura específicas. O ar contendo alguma
umidade quando em movimento ascendente, expande-se adiabaticamente
(sem trocar calor com o ambiente) o que reduz a sua temperatura, aumentando
sua umidade relativa. Este aumento progressivo da umidade relativa com a
subida, quando chega aos 100%, estabelece o nível de condensação, altitude
em que o ar satura e começa a condensação. Na prática este ponto é a base
das nuvens.
O ar em subida, após atingir o nível de condensação e continuando com
a sua ascensão, desencadeia a condensação e a liberação de calor latente
(função da mudança de estado da matéria, gasoso para líquido).
A ascensão e resfriamento do ar, até atingir o nível de condensação (ar
saturado – umidade relativa 100%), se processa sobre uma adiabática seca
com taxa de variação aproximada de 1ºC/100m. A partir deste nível, o ar ainda
em ascensão, se processa sobre uma adiabática úmida, com taxa de variação
aproximada de 0,5ºC/100m. A figura abaixo ajuda à melhor compreensão
desses conceitos.

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Figura 1.11: Função Adiabática

h) Nebulosidade
A nebulosidade é a cobertura de nuvens presentes na atmosfera. Esta
cobertura de nuvens não significa condições de precipitação, pois requer
condições de instabilidade atmosférica e ocorrência de atividades convectivas
para formação de gotas de chuva. Nuvens estratiformes são formadas em
condições de estabilidade atmosférica e não representam riscos à precipitação,
enquanto que nuvens cumuliformes são formadas em condições de
instabilidade atmosférica, apresentando risco de precipitação.
Pela caracterização das nuvens (estratiforme ou cumuliforme) é possível
avaliar as condições de tempo presente (estabilidade atmosférica).
A observação da nebulosidade é efetuada em oitavos de céu encoberto
de 1/8 a 8/8.
O aumento de nebulosidade indica movimento ascendente de ar e
condições de instabilidade atmosférica. A diminuição de nebulosidade indica
movimento descendente de ar e condições favoráveis de estabilidade

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atmosférica. A constância de nebulosidade caracteriza condição de
estabilidade atmosférica importando na não ocorrência de fenômenos
significativos.

i) Nuvens
Nuvem é um conjunto visível de partículas diminutas de gelo ou água em
seu estado líquido ou ainda de ambos ao mesmo tempo (mistas), que se
encontra em suspensão na atmosfera, após terem se condensado ou liquefeito
em virtude de fenômenos atmosféricos.
As nuvens são classificadas (pela altura de sua base) em três
categorias, a saber:

Nuvens Baixas Nuvens Médias Nuvens Altas


Stratus (St) Altostratus (As) Cirrus (Ci)
Nibostratus (Ns) Altocumulos (Ac) Cirrostratus (Cs)
Stratocumulos (Sc) Cirrocumulos (Cc)
Cumulus (Cu)
Cumulonimbus (Cb)

Figura 1.12: Quadro de Nuvens

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São consideradas nuvens baixas aquelas em que suas bases estão
situadas em até 2.000 metros de altitude. Nuvens médias têm suas bases
situadas entre 2.000 e 6.000 metros de altitude. Nuvens altas têm suas bases
situadas em altura maior que 6.000 metros de altitude.

 Stratus (St)
São nuvens muito baixas (de 100 a 1.000m), que formam uma camada
cinza, de base uniforme e com precipitação leve. Formam-se em massas de ar
estável, quando a umidade é baixa e a temperatura é alta. Surge quando há
nevoeiro.

Figura 1.13: Nuvem Stratus

 Nimbostratus (Ns)
São nuvens densas, cinzentas e com precipitação. Formam-se em
massas de ar com alguma instabilidade, quando a umidade é alta e a
temperatura é elevada. Estão normalmente associadas a frentes quentes ou
oclusas. A evaporação da água da chuva torna a visibilidade baixa, podendo
formar nevoeiro, se o ar ficar saturado.

Figura 1.14: Nuvem Nibostratus

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 Stratocumulus (Sc)
São nuvens baixas, com o topo e base planos. Podem ser brancas ou
acinzentadas, dependendo do tamanho das gotículas de água e da quantidade
de luz solar que as atravessa. Formam-se em massas de ar com alguma
instabilidade, quando a umidade é moderada e a temperatura é baixa, e podem
eventualmente precipitar. Há uma situação estável fora da nuvem
(característica dos stratus) e instável dentro da mesma (característica dos
cumulus). Formam-se na maioria das vezes à tarde a partir de cumulus,
quando cessa o movimento convectivo.

Figura 1.15: Nuvem Stratocumulus

 Cumulus (Cu)
Possuem aparência de densos flocos de algodão, tem uma base plana
(mais escura) e contornos bem definidos. As partes iluminadas pelo Sol têm
uma cor branca brilhante. Formam-se em massas de ar com instabilidade,
quando a umidade é baixa e a temperatura é alta. O crescimento vertical é
pequeno e raramente há precipitação.
Normalmente não duram mais do que de uns 5 a 40 minutos, mas, se o
ar se torna mais instável e úmido e a convecção aumenta, podem crescer
verticalmente ao longo de um dia (até uns 6.000 metros) transformando-se em
grandes nuvens isoladas, formando montes com o topo aparentando uma
couve-flor. Passam então a ser chamados de cumulus congestus e estão
normalmente associados à precipitação. Se um cumulus congestus continua
crescendo verticalmente, transforma-se num cumulonimbus.

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Figura 1.16: Nuvem Cumulus

 Cumulonimbus (Cb)
São muito maiores e desenvolvem-se verticalmente até grandes
altitudes (com uma base a uns 300 ou 900 metros e o topo a 12.000 metros ou
mais) com a forma de montanhas ou torres. São alimentadas por fenômenos
de convecção muito fortes. Possuem água e cristais de gelo. São
caracterizadas por produzir ventos e chuvas fortes, com relâmpagos e trovões,
e às vezes tornados. Sua pare superior toma forma de bigorna ou de um
grande penacho.

Figura 1.17: Nuvem Cumulonimbus

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 Altostratus (As)
São nuvens brancas ou cinzas compostas por gotas de água ou cristais
de gelo. Formam camadas como um véu ou lençol fibroso estendido. Formam-
se em massas de ar estável, quando a umidade é moderada e a temperatura é
alta. Anunciam freqüentemente a chegada de uma frente quente e podem ser
acompanhadas de alguns chuviscos ou queda de neve.

Figura 1.18: Nuvem Altostratus

 Altocumulus (Ac)
São compostos por gotículas de água e são nuvens em bandas
paralelas ou em massas redondas distintas, formadas por convecção e que
geralmente indicam uma frente fria se aproximando. Formam-se em massas de
ar com instabilidade, quando a umidade é moderada e a temperatura é alta.

Figura 1.19: Nuvem Altocumulus

 Cirrus (Ci)
São nuvens formadas basicamente por cristais de gelo. Sua direção
indica a direção dos ventos em altas altitudes. Formam-se em massas de ar
estável, quando a umidade e a temperatura são baixas. Nuvens Cirrus quando
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apresentam formação semelhante ao de rabo de galo são precursoras da
chegada de frente fria.

Figura 1.20: Nuvem Cirrus

 Cirrostratus(Cs)
São como um véu muito fino, esbranquiçado e transparente.
Desenvolvem-se a partir dos Cirrus. Formam-se em massas de ar estável,
quando a umidade é baixa e a temperatura é alta. Há a possibilidade de
formação de halo.
Quando são seguidos de nuvens médias, anunciam muitas vezes, com 1
ou 2 dias de antecedência, uma tempestade que se aproxima. Por vezes são
quase imperceptíveis e revelam-se apenas por um halo em volta da Lua ou do
Sol, resultante da refração da luz nos cristais de gelo.

Figura 1.21: Nuvem Cirrostratus

 Cirrocumulus (Cc)
São Cirrus com algum desenvolvimento vertical. São muito finas, com
uma textura regular (com um efeito ondulado com a aparência de escamas de
peixe). Formam-se em massas de ar com instabilidade, quando a umidade e a

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temperatura são baixas. É o tipo de nuvem menos comum e forma-se
geralmente a partir de Cirrus ou Cirrustratus.

Figura 1.22: Nuvem Cirrucumulus

Existem nuvens denominadas raras, algumas com causas de formação


conhecidas, outras não. Podemos citar:

 Mamatus
Esta nuvem é formada em ar descendente, em contraste da maioria das
nuvens discutidas que se formam em ar ascendente.

Figura 1.23: Nuvem Mamatus

 Castellanus
O aparecimento precoce da Altocumulus Castellanus em um dia
ensolarado, pode indicar uma alta probabilidade da formação de tempestades.
A nuvem Altocumulus Castellanus pode ganhar um impressionante formato de
uma água-viva (jellyfish) e, por esse motivo, muitas pessoas a chamam de
jellyfish clouds.

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Figura 1.24: Nuvem Castellanus

 Kelvin Helmholtz
O formato da nuvem Cirrus Kelvin Helmholtz conhecida como wave
clouds, ou nuvens com o formato de ondas. É uma distinta formação de nuvem
que se desfaz entre um a dois minutos depois que se forma.

Figura 1.25: Nuvem Kelvin Helmholtz

 Lenticular
Nuvem Lenticular ou discoidal possui o formato de uma lente. Formam-
se quando o vento atinge grandes velocidades em um local relativamente plano
e chegando próximo de uma montanha, o vento sobe e faz um redemoinho que
dá às nuvens formas discoidais.

Figura 1.26: Nuvem Lenticular

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 Rolo
As nuvens em forma de rolo estão associadas a tempestades e a frentes
frias. Essa é uma nuvem baixa em forma de um enorme tubo que parece estar
“rolando” num eixo horizontal. Sua principal característica é estar
completamente separada da tempestade. Geralmente esta nuvem é o sinal da
presença de uma grande coluna de ar que desce em direção ao solo.

Figura 1.27: Nuvem Rolo

Há também nuvens formadas pelo simples efeito orográfico em que as


correntes de ar com umidade, são forçadas a subir devido às obstruções
naturais do relevo, condensando-se e formando nebulosidade.

Figura 1.28: Efeito Orográfico

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j) Precipitação
Precipitação é a queda das gotas de água ou gelo, quando sua massa
rompe o equilíbrio entre as massas de ar ascendentes e a gravidade.
A precipitação poderá ser contínua, intermitente ou em pancadas e é
classificada pelo seu estado aparente como:
Precipitação Líquida Precipitação Sólida
Chuva Saraiva
Chuvisco Granizo
Garoa Neve

k) Nevoeiro
O nevoeiro é o resultado da condensação do excesso de umidade
presente no ar a uma determinada temperatura, temperatura esta denominada
de temperatura do ponto de orvalho (TPO). O nevoeiro e a nuvem possuem a
mesma caracterização física, mas são diferenciados porque o nevoeiro sempre
ocorre junto à superfície.
No nevoeiro, o resfriamento da camada atmosférica próxima à superfície
se dá pela baixa temperatura da superfície, resfriando este ar e fazendo-o que
atinja sua saturação formando o nevoeiro. Os nevoeiros podem ser de
radiação, que ocorre sobre os continentes, e de advecção (deslocamento
horizontal), que ocorre sobre o mar.
Uma massa de ar quente (em relação à superfície) com umidade
deslocando-se sobre uma superfície fria (continente ou mar) possui grande
possibilidade de resfriar-se, atingir a temperatura do ponto de orvalho e saturar-
se. A saturação se dá pela condensação desta umidade.
A dissipação do nevoeiro ocorre com o vento, ou com aumento de
temperatura para evaporação das gotículas de água presente no nevoeiro.
Assim o nevoeiro no mar (advecção) poderá ocorrer a qualquer hora, o que
importa em maior atenção pelos navegantes quanto à visibilidade no mar.
Para a possibilidade de formação de nevoeiro é necessário que:
a) Temperatura local (T) próxima da TPO (diferença de 1ºC a 2ºC);
b) T >TPO> TSM;
c) Umidade relativa próxima de 95%; e
d) Ar estável (sem movimento ascendente).
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O nevoeiro afeta drasticamente a visibilidade (visibilidade menor que
1.000 metros). Quando a visibilidade é afetada, mas está acima de 1.000
metros temos a névoa que poderá ser úmida ou seca.

Figura 1.29: Nevoeiro

A névoa úmida é um nevoeiro fraco em que as gotículas de água estão


associadas a partículas de material sólido em suspensão. A visibilidade varia
entre 1 e 2 Km.
A névoa seca é a concentração de poluentes presentes na atmosfera
abaixo do nível de condensação das nuvens mais baixas. A visibilidade varia
entre 1 e 5 Km.

CONCEITOS FÍSICOS RELEVANTES


a) Calor sensível – calor trocado por um corpo que acarreta mudança
de temperatura.
b) Calor latente – calor trocado por um corpo que acarreta mudança de
estado, sem mudar sua temperatura.
c) Expansão adiabática – processo de aumento volumétrico de um gás
em que sua temperatura diminui sem trocar calor com o ambiente.
d) Contração adiabática – processo de diminuição volumétrica de um
gás em que sua temperatura aumenta sem trocar calor com o
ambiente.

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2.0 CIRCULAÇÃO DO AR

CIRCULAÇÃO DO AR
Neste capítulo serão abordadas a circulação geral da atmosfera, as
características do ar estável e instável, a circulação de acordo com as isóbaras,
os centros de pressão, as áreas de convergência e divergência, e a circulação
de brisas e ventos.

2.1 – MOVIMENTO DO AR
As variações no tempo e no clima são determinadas basicamente pelos
movimentos do ar, tanto em escala local (dado à persistência de determinados
ventos) quanto em escala planetária. A circulação atmosférica é estudada por
meio da aplicação de leis da termodinâmica e da mecânica clássica, um estudo
complexo em que a atmosfera sendo um gás que varia em massa e volume,
está presente num planeta em movimento (sistema não-inercial), em que
atuam diversas forças simultaneamente, o que torna mais difícil o tratamento
do problema.
O movimento do ar na atmosfera é dado basicamente pela energia
proveniente do sol, transformando energia térmica em energia cinética,
principalmente pelo aquecimento da inicial da terra, e esta em seguida,
aquecendo a massa de ar sobrejacente. Este processo desencadeia um
movimento de ar vertical (convecção) e horizontal (advecção), que se desloca
para os locais mais frios, em busca do equilíbrio térmico do planeta.

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2.2 – CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA
A circulação geral da atmosfera é um movimento de massas de ar em
escala planetária pela busca do equilíbrio térmico do planeta. Como o planeta é
aquecido desigualmente em suas partes, ocorrem espontaneamente as
circulações atmosféricas e oceânicas.
A circulação geral da atmosfera pode ser observada em duas direções:
- circulação meridional (sentido norte-sul ou sul-norte).
- circulação zonal (sentido leste-oeste ou oeste-leste)
Para melhor entendimento do fenômeno, vamos inicialmente idealizar
um planeta sem movimento, com a superfície homogênea, e alinhado com o
sol no equador.
Nesta condição o ar na região equatorial será mais aquecido tornando-
se menos denso, e por isso elevando-se verticalmente até o limite da
Troposfera. Neste ponto o ar em elevação diverge e caminha em direção aos
polos, em busca do equilíbrio térmico, resfriando-se e tornando-se mais denso
gradualmente, sendo nos polos obrigado a descer. Assim é estabelecida uma
célula meridional de circulação do ar, convergente no equador e divergente nos
polos.

Figura 2.1: Circulação Meridional

Porém o planeta possui um movimento rotacional onde aparece a força


de coriolis. Esta força altera a circulação meridional, dando origem à circulação
zonal, alterando seus escoamentos, conforme descrito a seguir:
- Hemisfério Norte
Ventos na superfície: norte para nordeste

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Ventos em altitude: sul para sudoeste
- Hemisfério Sul
Ventos na superfície: sul para sudeste
Ventos em altitude: norte para noroeste

Células de Circulação
Podemos verificar que para um mesmo deslocamento meridional na
superfície e em altitude, a distância percorrida por uma partícula em altitude é
maior que a distância percorrida junto à superfície. Isto faz com que o ar que se
desloca a partir do equador em altitude não consiga alcançar os polos,
descendo nas regiões tropicais. Parte deste ar na superfície retorna para o
equador formando uma célula de circulação fechada chamada de Célula de
Hadley.
O mesmo fenômeno é verificado nas regiões polares. O ar frio e denso
que se desloca junto à superfície é gradualmente aquecido até a região
temperada onde ascende à Troposfera. Em altitude, parte deste ar retorna para
os polos formando outra célula de circulação fechada, chamada de Célula
Polar.
Assim, entre as células de Hadley e Polar ficou estabelecida uma
terceira célula, chamada de Célula de Ferrel, formada por parte do ar
descendente e ascendente das células de Hadley e Polar, respectivamente.
Desta forma, o fluxo de ar na superfície, em cada célula de circulação,
adquire sentidos diferentes de deslocamento denominados (do equador para
os polos) de:
- Hemisfério Norte
Alísios de NE, predominantes de W e polares de E
- Hemisfério Sul
Alísios de SE, predominantes de W e polares de E
A figura a seguir mostra a disposição das células de circulação e o fluxo
dos ventos à superfície.

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Figura 2.2: Células de Circulação e Fluxo dos Ventos à Superfície

Em resumo temos:
a) Célula de Hadley, presente aproximadamente entre as latitudes 0º e
30º. Nelas, temos movimento ascendente de ar nas proximidades do
equador e circulação meridional em altos níveis até a latitude
aproximada de 30º, quando ocorre um movimento descendente e
circulação meridional a superfície na direção do equador e das altas
latitudes.
b) Célula de Ferrel, presente na zona de latitudes médias com
movimento descendente de ar nas proximidades de 30º de latitude e
movimento ascendente de ar nas proximidades de 60º de latitude.
c) Célula Polar, presente na zona de latitudes altas com movimento
ascendente de ar nas proximidades de 60º de latitude e movimento
descendente de ar na região dos polos.

Figura 2.3: Corte Transversal das Células de Circulação do Ar

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Nota-se que a atmosfera é mais expandida no equador e mais contraída
nos polos. Isto ocorre devido à posição relativa Terra-Sol, sendo a região
intertropical mais aquecida e, portanto com mais energia.
Outro fato de destaque é o movimento descendente de ar da célula de
Hadley que origina os cinturões de anticiclones permanentes nas latitudes
médias.

Figura 2.4: Centro de Alta Pressão Permanente do Atlântico Sul

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Em função da grande diferença de temperatura que ocorre entre as
massas de ar das células de circulação meridional, temos a formação de fortes
ventos em altos níveis da atmosfera chamados de jato.

Corrente de Jato
As correntes de jato são ventos fortes que sopram em altos níveis no
sentido oeste-leste em regiões onde há grande diferença de temperatura,
possuindo duas bandas em cada hemisfério, uma próxima dos polos chamada
de jato polar e outra próxima da região subtropical chamada de jato subtropical.
Características das correntes de jato:
a) Jato Polar: de menor altitude, ocorre entre as células Polar e de
Ferrel, separa o ar polar (frio) do ar subtropical (pouco aquecido).
b) Jato Subtropical: de maior altitude, ocorre entre as células de Ferrel
e de Hadley, separa o ar subtropical (pouco aquecido) do ar tropical
(mais aquecido).
As correntes de jato funcionam como um regulador térmico trocando
calor entre regiões frias e quentes do planeta. São fundamentais para as
previsões meteorológicas. O ar fluindo através de um cavado em uma corrente
de jato, possibilita a formação de um sistema de baixa pressão em altos níveis,
fazendo com que o ar da superfície ascenda gerando um ciclone (baixa
pressão) na superfície. O ar ascendido carregado de umidade juntamente com
o movimento ciclônico na superfície dará a formação de nebulosidade e de um
sistema frontal, respectivamente.

Figura 2.5: Correntes de Jato

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Zonas de Altas e Baixas Pressões
A circulação meridional da atmosfera, juntamente com as células de
circulação, exerce influência direta na distribuição geral da pressão a
superfície, promovendo zonas de altas e baixas pressões, situadas
aproximadamente nos paralelos 0º, 30º, 60º e 90º. São elas:
- Depressão Equatorial: um cinturão de baixa pressão denominado Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT) que recebe ventos alísios dos hemisférios
norte e sul, entre aproximadamente 15oN e 5oS.
- Anticiclone Subtropical: um cinturão de alta pressão que recebe ventos
subsidentes, proporcionando bom tempo, aproximadamente em 30o de ambos
hemisférios.
- Depressão Polar: um cinturão de baixa pressão, denominado Zona de
Convergência Extra-Tropical (ZCET), associado às frentes polares,
o
proporcionando mau tempo, aproximadamente em 60 de ambos hemisférios.
- Anticiclone Polar: Sistema de alta pressão associado ao ar polar frio e
denso, localizado na região polar.
A figura a seguir ilustra a distribuição idealizada das referidas zonas
(continuadas) de pressão e sua quebra causada pela disposição continental.

Figura 2.6: Distribuição Idealizada das Zonas de Alta e Baixa Pressão e Circulação de Ventos à Superfície

Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)


Na região intertropical ao longo do equador térmico encontra-se a Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT). Trata-se de uma faixa compreendida
aproximadamente entre 15ºN e 5ºS com significativo movimento de ar

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ascendente em função da circulação das Células de Hadley de ambos os
hemisférios, que originam na superfície, os ventos alíseos de NE no hemisfério
norte, e de SE no hemisfério sul.

Figura 2.7: Corte Transversal na ZCIT

Célula de Walker
A Célula de Walker é uma circulação zonal de larga escala atribuída
basicamente ao aquecimento diferencial que se verifica entre continentes e
oceanos, sendo melhor compreendida no Hemisfério Sul. O Oceano Pacífico,
devido suas dimensões, e de grande parte sua superfície encontrar-se na zona
tropical, recebedora de maior quantidade de energia solar, permite uma grande
interação oceano-atmosfera, o que sugere ser o palco de interações e
atividades meteorológicas relevantes capazes de interferir significativamente no
clima planetário.
Com isso podemos ter numa mesma região de aquecimento (larga
escala), regiões de baixas e altas pressões atmosféricas caracterizando a
Célula de Walker.

Figura 2.8: Célula de Walker

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2.3 – CONFIGURAÇÕES TÍPICAS DE UM CAMPO DE PRESSÃO
Pressão Atmosférica
A pressão atmosférica é estabelecida pelo peso exercido por uma
coluna vertical de ar, de área unitária, sobre um ponto de referência
(observador). Seu conhecimento é de extrema importância, pois sendo o ar um
fluido sua tendência é sempre se deslocar para áreas de menor pressão. Assim
o movimento do ar na atmosfera possui relação direta com a distribuição das
pressões atmosféricas.

Isóbaras
Isóbaras são linhas imaginárias que unem pontos de mesma pressão,
fornecendo a distribuição espacial da pressão atmosférica.

Centros de Pressão
Centros de pressão são áreas em que são observadas as máximas
ocorrências barométricas. São delimitados por isóbaras quase circulares e
estão associados a movimentos verticais de ar.

a) Centro de Baixa Pressão


Centros de baixa pressão são áreas em que são observadas depressões
barométricas, ou seja, as pressões decrescem da periferia para o centro.
Também é chamado de Ciclone e possui movimento convergente de ar, sendo
associado a um movimento vertical ascendente de ar.
No hemisfério sul, devido à rotação da terra (força de coriolis) o
movimento ciclônico é no sentido horário. No hemisfério norte o movimento
ciclônico é no sentido anti-horário.

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Figura 2.9: Convergência de Ventos
Figura 2.10: Convergência de Ventos nos Hemisférios

b) Centros de Alta Pressão


Centros de alta pressão são áreas em que são observadas elevação
barométrica, ou seja, as pressões crescem da periferia para o centro. Também
é chamado de Anti-Ciclone e possui movimento divergente de ar, sendo
associado a movimento vertical descendente de ar.
No hemisfério sul, devido à rotação da terra (força de coriolis) o
movimento anti-ciclônico é no sentido anti-horário. No hemisfério norte o
movimento anti-ciclônico é no sentido horário.

Figura 2.11: Divergência de Ventos

Figura 2.12: Divergência de Ventos nos Hemisférios

Cristas e Cavados
Cristas e cavados são alongamentos das isóbaras a partir do centro de
pressão.
a) Crista
É o alongamento das isóbaras de um centro de alta pressão em
determinada direção. Normalmente o eixo da crista aponta para as altas
latitudes.
b) Cavado

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É o alongamento das isóbaras de um centro de baixa pressão em
determinada direção. Normalmente o eixo do cavado aponta para o equador.
O cavado indica o movimento de ar frio para regiões mais quentes,
associado à ocorrência de frente fria.

2.4 – VENTOS
Os ventos são os deslocamentos naturais e espontâneos do ar em
circulação livre na atmosfera. Os ventos sopram praticamente paralelo as
isóbaras, com uma pequena componente na direção do centro de baixa
pressão. O fluxo de vento é diretamente proporcional ao gradiente de pressão.
Na prática, quanto mais próximas às isóbaras, maior o gradiente de pressão
(maior a intensidade dos ventos).
Convencionalmente é adotada como a direção do vento aquela de onde
o vento vem. Vento sul é o vento que vem do sul.

Circulação Local
A circulação local (ou circulação direta) são movimentos do ar
decorrentes de alterações locais de aquecimento da superfície, e
consequentemente do campo de pressão. Alguns destes movimentos (ventos)
são característicos e são apresentados a seguir.
a) Brisa Marinha e Terrestre
A brisa marinha é sentida pela circulação de ventos no sentido mar-
continente. Ocorre por ocasião da elevação da temperatura do continente que
favorece a ascensão de ar, queda de pressão atmosférica e convergência de ar
na superfície. O vento resultante é no sentido do mar para o continente. Este
vento normalmente é sentido no período da tarde.
A brisa terrestre é sentida pela circulação de ventos no sentido
continente-mar. Ocorre por ocasião do resfriamento continental em relação ao
mar. A TSM maior que a do continente favorece sobre o mar uma ascensão de
ar, queda de pressão atmosférica e convergência de ar na superfície. O vento
resultante é no sentido do continente para o mar. Este vento normalmente é
sentido no período da manhã.

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Figura 2.13: Brisa Marinha Figura 2.14: Brisa Terrestre

b) Brisa do Vale e da Montanha


A Brisa do Vale é a circulação decorrente do aquecimento diurno da
superfície terrestre de forma a provocar o aquecimento do ar e sua expansão,
movimentando-se no sentido ascendente das encostas. Esta brisa pode
originar nuvens convectivas acima das montanhas. A Brisa do Vale também é
chamada de vento anabático.
A Brisa da Montanha é a circulação decorrente do resfriamento noturno
da superfície terrestre de forma a provocar o resfriamento do ar, tornando-o
mais denso que tende escoar pelas encostas. Sob intenso resfriamento noturno
esta brisa pode gerar orvalho, nevoeiro ou até geada. A Brisa da Montanha
também é chamada de vento catabático.
c) Outros Ventos Locais
- Monções: São ventos que sopram entre a Ásia Central e o Oceano
Indico e invertem de sentido em determinados períodos do ano.
No verão do hemisfério norte a terra aquece consideravelmente na Ásia Central
gerando centros de baixa pressão bem acentuados em contraposição ao
Oceano Indico com águas mais frias. Este fenômeno dá origem a uma
circulação típica, com ventos soprando do oceano (com muita umidade) para o
continente. O resultado são chuvas torrenciais na região continental
(principalmente na Índia). No inverno, estando o continente mais frio que o
oceano, ocorre uma inversão no sentido dos ventos, que passa a soprar do
continente para o oceano.
- Bora: São ventos que sopram da região Ártica para Europa. São frios e
secos.
- Mistral: São ventos fortes oriundos das regiões nórdicas que sopram
pelo Vale do Reno até ao Mar Mediterrâneo.

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- Simum: São ventos que sopram do sul do Deserto do Saara em
direção ao norte. É um vento quente e seco.
- Siroco: São ventos que sopram do norte da África (Deserto do Saara)
em direção ao sul da Europa. É um vento quente e seco.
- Minuano: São ventos que sopram do Deserto da Patagônia (Argentina),
chegando ao Uruguai e ao sul do Brasil. É um vento frio. Na Argentina recebe o
nome de Pampeiro.

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3.0 OCEANOS

OCEANOS
Este capítulo apresentará as principais características dos oceanos, e as
correntes marinhas.

3.1 – OCEANOS
Os oceanos apresentam características distintas de estado do mar
devido as suas interações com a atmosfera. São verificadas importantes
variações no estado de mar, principalmente no HN onde ocorre grande
variação climática nas estações de inverno e verão (efeito da continentalidade).
A interação oceano-atmosfera exerce um importante papel no equilíbrio
térmico do planeta com reflexos no clima e nas condições de tempo.

3.2 – CORRENTES OCEÂNICAS


A corrente marítima é o movimento contínuo das águas do mar com
determinada direção e velocidade devido as diferenças de densidade entre
massas d´água, marés e ventos.
A diferença de densidade entre massas de água distintas se dá pela
diferença de temperaturas e em menor escala pela diferença de salinidade.
Correntes marinhas muito frias e mais densas se deslocam subaquaticamente
das altas latitudes para as baixas latitudes provocando o deslocamento das
águas superficiais, mais quentes, na direção das baixas latitudes, de forma a
balancear os níveis de água dos oceanos. Temos, pois, correntes marinhas
diversas em profundidade, afetadas principalmente pela disposição dos

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continentes, pelo relevo marinho, pela força de coriolis, atrito (espiral de
Ekman), entre outros.
Para o navegante, interessa o conhecimento do comportamento das
massas de água na superfície. Na costa brasileira temos correntes quentes e
frias. A Corrente Oceânica Sul Equatorial (corrente quente) ao encontrar a
costa brasileira (Proximidades de Pernambuco) se bifurca em outras duas
correntes: A Corrente Norte do Brasil, que avança em direção as Guianas e
Caribe, e a Corrente do Brasil que segue paralela a costa brasileira até
aproximadamente a Bacia do Prata, onde encontra a Corrente das Malvinas
(corrente fria). Essa posição não é fixa e altera-se no decorrer do ano por
diversas razões de maior complexidade. Verifica-se também, diversos pontos
na costa brasileira com afloramento de água fria, proveniente de massas de
água subantártica, como o litoral de Cabo Frio (fenômeno da ressurgência) e
de Guarapari. Percebemos em larga escala um grande giro das correntes
marinhas no Oceano Atlântico Sul no sentido anti-horário.

Figura 3.1: Correntes Marinhas

O navegante poderá obter informação específica sobre o


comportamento das correntes marinhas no Atlas de Cartas Piloto. Esta
publicação possui informações estatísticas mensais de ocorrência de
fenômenos meteorológicos e oceanográficos para determinada região.
Destacamos para a oceanografia a direção e a intensidade de correntes
marinhas e áreas limites de ocorrência de icebergs.

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Figura 3.2: Carta Piloto

3.3 – CORRENTES COSTEIRAS


As correntes costeiras são aquelas presentes junto à costa e que
exercem grande influência sobre o navegante. São elas as Correntes de Maré,
Correntes Induzidas pelo Vento e as Correntes de Ressaca.
a) Correntes de Maré
São correntes oriundas da oscilação periódica e regular das massas de
água decorrente de forças astronômicas (sistema terra-sol-lua e estrelas).
É de grande importância ao navegante o conhecimento das marés
principalmente em regiões de baías, enseadas, áreas portuárias, canais e vias
de acesso e áreas restritas a navegação. A maré é altamente influenciada pelo
fundo e pela geografia local atuando sobre a direção de escoamento da água
bem com sua velocidade.
O navegante poderá ter informações sobre as correntes de marés na
publicação Cartas de Correntes de Marés, que consta de uma representação
da área em questão (área portuária) contendo treze cartas horárias, sendo seis
cartas anteriores a preamar, seis cartas posteriores a preamar e uma carta
representando a condição da preamar. Em cada carta há uma indicação de
direção da corrente e sua respectiva velocidade nas principais áreas de
navegação. No Brasil, todos os principais portos possuem Cartas de Correntes
de Maré.

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Figura 3.3: Carta de Correntes de Maré

b) Correntes Induzidas pelo Vento


São correntes produzidas pelo atrito entre o vento e a superfície do mar.
Esta força de atrito juntamente com a força de coriolis, ambas associadas à
profundidade local, gera uma corrente marinha resultante chamada de corrente
de deriva (transporte de Ekman) que se desloca defasada de 90º para
esquerda (HS) ou para direita (HN). Em profundidade, os vetores de velocidade
das camadas marinhas em deslocamento tendem a diminuir devido o atrito
entre elas.

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Figura 3.4: Transporte de Ekman (HS)

Na região de Cabo Frio (litoral do Rio de Janeiro) temos o fenômeno da


ressurgência em que correntes sub-antárticas, frias, afloram junto à costa
influenciadas pelo vento e gerando uma corrente de deriva.

Figura 3.5: Corrente de Deriva (Fenômeno da Ressurgência) na Região de Cabo Frio

c) Correntes de Ressaca
São correntes provenientes do acúmulo de massas de água em função
da incidência de frentes de ondas sobre o litoral, durante períodos de ressaca.
A corrente de ressaca (também conhecidas por correntes de retorno) são
extremamente perigosas junto à costa aos banhistas, pois após a arrebentação
das ondas o acúmulo das águas flui com intensidade em direção ao alto mar.

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Embarcações são influenciadas por essas correntes se próximas da costa e
numa faixa estreita de atuação, de pouco comprometimento ao navegante.

Figura 3.6: Esquema da Corrente de Retorno Figura 3.7: Vista da Corrente de Retorno

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4.0 ONDAS

ONDAS
Este capítulo apresentará as características das ondas em águas rasas
e águas profundas, definindo seus elementos, e também as condições de
geração, propagação e arrebentação.

4.1 – ELEMENTOS DE UMA ONDA


As ondas marinhas, também chamadas de ondas de gravidade, são
geradas na maioria dos casos pela transferência de energia da atmosfera
(ventos) para o oceano. A interação da atmosfera com o oceano possibilita a
transferência de energia do vento para a superfície oceânica por meio da força
de atrito. Essa transferência se intensifica na medida em que a ondulação da
superfície oceânica se desenvolve. Abalos sísmicos no mar também podem
gerar ondas marinhas podendo gerar ondas de proporções catastróficas,
conhecidas por tsunamis (onda de porto).
Chamamos de vagas (sea) as ondas formadas no interior de uma zona
de turbulência e marulhos (swell) as vagas que se afastam de seu local de
origem.
Crista e cavado são respectivamente as partes superior e inferior da
onda.
Comprimento de uma onda é a distância entre duas cristas. Período é o
tempo de passagem de duas cristas sobre o mesmo ponto. Frequência é o
numero de cristas que passam pelo mesmo ponto em um determinado tempo.

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Direção da onda é o setor de onde vem a onda. Trem de ondas é um
conjunto de ondas de características semelhantes, de mesma direção.

Figura 4.1: Principais Elementos da Onda

4.2 – ESCALA DE ESTADOS DO MAR


O estado de severidade do mar é estabelecido pela Escala Beaufort
para intensidade de ventos.

Figura 4.2: Escala Beaufort

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4.3 – COMPORTAMENTO DAS ONDAS
As ondas são uma forma de energia dividida em energia potencial e
energia cinética. A energia potencial corresponde a subida e a descida do nível
do mar no seu movimento oscilatório. A energia cinética corresponde ao
movimento circular das partículas.
Em águas profundas a energia potencial avança com as ondas enquanto
que a energia cinética é consumida para manter o giro circular das partículas,
não sendo transladadas. Assim, somente metade da energia inicial das ondas
viaja com as mesmas até ser dissipada no litoral.
A energia da onda é proporcional a sua altura. Quando o vento transfere
energia para o mar a onda é criada. Aumentando a intensidade do vento,
aumentamos a altura da onda. Este processo contínuo de transferência de
energia e aumento da altura da onda é limitado pela força da gravidade. Neste
ponto crítico a onda não consegue mais elevar-se sendo a energia transferida
distribuída ao longo da onda (maiores comprimentos de ondas).

Figura 4.3: Movimento de um Corpo Flutuante pela Passagem de uma Onda

A ondulação do mar é sentida pelo fundo a partir de profundidades


menores que a metade do comprimento da onda. Quando uma onda começa a
sentir o fundo dizemos que ela está entrando em águas rasas. Nesse momento
as suas características são modificadas, ou seja, a sua velocidade diminui
(mantendo o mesmo período, portanto diminuindo a distância entre as cristas)

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e sua altura aumenta. Com a profundidade decrescendo, estes sinais tornam-
se mais acentuados. A arrebentação acontece quando o movimento circular
das partículas inferiores é freado pelo fundo enquanto que as partículas
superiores continuam livres causando uma projeção avante e fazendo a onda
quebrar. Quando ocorre a arrebentação toda a energia cinética (deslocamento
horizontal da massa de água) é dissipada sob forma de calor.
O tipo de onda que ocorre na arrebentação pode variar em função do
gradiente do fundo. Temos basicamente três tipos de ondas:
Spilling – A onda quebra distante e vem derramando até chegar na
costa. Ocorre em locais de gradiente suave.
Plunging – A onda quebra formando um tubo. Ocorre em locais de
gradiente moderado.
Surging – A onda não chega a quebrar, pois ela se colapsa junto a costa
devido o forte gradiente. Ocorre em locais de gradiente acentuado.

Figura 4.4: Tipos de Ondas na Arrebentação, (a) spilling, (b) plunging e (c) surging

O navegante deverá ter cuidados especiais quando navegar em regiões


de baixas profundidades, pois comumente é notada uma agitação maior do
estado do mar. Um marulho de comprimento de 100 m começará a ser sentido
a partir da profundidade de 50 m. O navegante em águas rasas deve ter muita
atenção à chegada de ondas de grande comprimento provenientes de águas
profundas. Elas começam a crescer a uma distância maior da costa tendo

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maior tempo para se desenvolver. São ondas que causam grandes destruições
e avarias em embarcações e instalações no litoral.
O comportamento da onda ao atingir o litoral depende do ângulo de
incidência da frente da onda, o qual é uma condição fundamental na análise de
condições de ressaca. Quando a frente de onda chega com inclinação em
relação a costa, ocorre uma refração da frente de onda tendendo esta a
alinhar-se com a elevação do fundo.

Figura 4.5: Efeito da Refração da Onda

Também quando uma onda passa sobre um alto fundo sem arrebentar
ela se encurta e aumenta a altura causando muito incômodo ao navegante
local.

4.4 – GERAÇÃO DE ONDAS


A geração das ondas no mar ocorre em regiões chamadas de áreas
geradoras. Para ocorrer a formação de ondas são necessários os seguintes
fatores: Intensidade e direção do vento, pista (área extensa na direção do
vento) e persistência (tempo para transferir energia). Esses fatores serão

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determinantes para estabelecer a altura, período, comprimento, velocidade e
direção da onda.

Figura 4.6: Área Geradora de Ondas

O limite de uma área geradora de ondas é verificado quando da


mudança de direção das isóbaras numa Carta de Pressão a Superfície.

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Figura 4.7: Área Geradora de Onda em uma Carta Sinótica

Uma pista bem pronunciada (razoavelmente retilínea) com ventos


intensos (isóbaras próximas) num tempo prolongado possibilitará a geração de
ondas que ao se deslocarem para costa poderá haver forte arrebentação e
consequentemente ressaca.

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Figura 4.9: Ressaca no Rio de Janeiro – 29/05/11

Figura 4.8: Carta Sinótica com Situação de Ressaca


Figura 4.10: Ressaca no Rio de Janeiro – 29/05/11

4.5 – TSUNAMIS
Tsunamis (Onda de Porto) ou maremoto são ondas geradas por
atividades sísmicas submarinas, como terremoto submarino, erupção vulcânica
submarina e, deslizamentos de encostas. Caracterizam-se por terem grande
velocidade de propagação, grande período e enorme comprimento de onda.
Possuem muita energia e sendo assim grande potencial destruidor.
A onda Tsunami consiste em uma série de 3 a 10 ondas com período de
10 a 45 minutos sendo a segunda onda a de maior poder de destruição. Possui
comprimento de cerca de 100 a 300 Km e velocidade à profundidade de 4000
m aproximada de 400 nós. Em alto mar sua altura é de poucos centímetros,
imperceptível e inofensiva ao navegante. Ao se aproximar da costa a onda
toma feições colossais. Há um recuo de grandes extensões das águas do mar.
Em seguida chega a onda com muita energia (muita água) que pode variar de
poucos centímetros a até 20 metros de altura, causando grandes destruições
na costa.

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Figura 4.11: Tsunami

A onda Tsunami pode alcançar enormes distâncias. Em 2000 a tsunami


ocorrido no Oceano Índico alcançou a costa brasileira, porém bastante
amortecida sem maiores consequências, conforme a sequencia de imagens
abaixo, registradas na Marina da Glória, Rio de Janeiro.

Figura 4.12: Efeito do Tsunami de 2000, no Rio de Janeiro (intervalo total de 16 minutos)

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5.0 MARÉS

MARÉS
Este capítulo apresentará os principais aspectos da teoria das marés.

5.1 – TEORIA DAS MARÉS


As marés são movimentos regulares de descida e subida do nível do
mar resultantes de forças astronômicas.
As principais forças astronômicas envolvidas são as forças
gravitacionais, presentes entre o sistema Terra-Sol-Lua e estrelas e a força
centrífuga entre a Terra e a Lua.
O sistema Terra-Lua possui as forças gravitacionais e centrífugas em
equilíbrio. No ponto da superfície da Terra mais próximo da Lua (meridiano
superior) a força gravitacional é maior que a força centrífuga fazendo que a
atração da Lua eleve o nível do mar. Já no ponto da superfície da Terra mais
afastado da Lua (meridiano inferior) a força centrífuga é maior que a força
gravitacional fazendo que nesta região o nível do mar também se eleve.

Figura 5.1: Forças de Gravidade e Centrífuga no Sistema Terra-Lua

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Assim, a elevação do nível do mar (preamar) se dará na região do
meridiano superior e do meridiano inferior. Para estabelecer o equilíbrio, nas
regiões intermediárias, há uma redução do nível do mar, ocorrendo a baixa-
mar.
A Terra faz seu movimento de rotação completa em cerca de 24 horas,
tendo passado neste período pelo ponto de maior afastamento da Lua (onde
ocorrem as preamares), ou seja, registra-se a ocorrência de duas preamares e
por conseguinte, duas baixa-mares. Em condições normais o período médio
entre a preamar e a baixa-mar é de seis horas.
A rigor, a Lua possui um período de translação de cerca de 24h50min,
um movimento atrasado em relação à Terra, ou seja, a ocorrência da preamar
no mesmo local atrasa diariamente cerca de 50min. Desta forma, a Lua
completa uma lunação completa em cerca de 28 dias, tendo a cada dia uma
posição relativa diferente no sistema Terra-Sol-Lua o que estabelece as fases
da Lua: nova, quarto crescente, cheia e quarto minguante.
Durante uma lunação completa a Lua poderá estar alinhada ou
formando um ângulo de 90º em relação ao Sol e a Terra. Chamamos de marés
de sizígia quando ocorre o alinhamento do sistema Terra-Sol-Lua (Luas nova e
cheia). Nessa situação temos as maiores amplitudes de marés em virtude dos
efeitos das forças envolvidas se somarem. Chamamos de marés de quadratura
quando ocorre um ângulo de 90º no sistema Terra-Sol-Lua (Luas quarto
crescente e quarto minguante). Nessa situação temos menores amplitudes de
marés em virtude dos efeitos das forças envolvidas se distribuírem.

Figura 5.2: Lunação de Sizígia e Quadratura

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A Lua possui um eixo de translação em relação a Terra de cerca de 5º o
que proporciona variações de comportamento das marés nos vários locais do
planeta. Assim classificamos as marés como:
 Diurna – diariamente uma preamar e uma baixa-mar;
 Semi-diurna – diariamente duas preamares e duas baixa-mares; e
 Semi-diurna com desigualdades diurnas – diariamente uma
preamar e duas baixa-mares ou vice-versa.
Também temos a chamada maré meteorológica que nada tem a ver com
a maré astronômica. Trata-se de um efeito semelhante ao da maré, que ocorre
quando as condições de ventos sobre a superfície marinha produzem
expressiva elevação dos níveis da água, principalmente em locais com águas
represadas, tais como baías, lagos, enseadas, entre outras, chamada de
empilhamento.

5.2 – MEDIÇÃO DAS MARÉS


A medição da maré é realizada num local denominado Estação
Maregráfica. Na referida estação temos um equipamento que realiza a medição
das marés chamado de marégrafo, que essencialmente consiste em um
instrumento que detecta e registra essa variável por meio de sistemas,
mecânicos, eletrônicos ou mistos. O armazenamento das informações pode ser
gráfico (maregrama) ou eletrônico (digital).

Figura 5.3: Estação Maregráfica e Régua de Marés

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Figura 5.4: Estação Maregráfica e maregramas analógico e digital

5.3 – ELEMENTOS DAS CURVAS DE MARÉS


O movimento regular e periódico causado pela maré pode ser descrito
através de uma curva temporal denominada curva das marés. Esta curva
traduz no tempo a altura da coluna de água em determinado instante sendo
possível estabelecer o instante da preamar e da baixa-mar. Chamamos de
nível médio o valor médio entre as preamares e baixa-mares. O nível de
redução é o plano de referência pelo qual, todas as marés são medidas. Altura
da maré é o valor da altura do nível do mar, acima do nível de redução, num
instante considerado. Amplitude de maré é a diferença entre o valor da
preamar e a baixa-mar. O período da maré é o tempo decorrido entre duas
preamares ou baixa-mares.

Figura 5.5: Curva das Marés

5.4 – TÁBUA DAS MARÉS


A Tábua das Marés é uma publicação onde são divulgados os valores
das preamares e baixa-mares e seus respectivos horários, para todos os dias
do ano, das principais áreas portuárias. A hora empregada na Tábua das

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Marés é a hora legal devendo-se ter cuidado para os horários de verão. As
referidas tábuas normalmente contêm as seguintes informações: posição
geográfica, nível médio local, fuso horário local, carta náutica de referência,
fases da Lua correspondentes ao mês, e dias, horas e alturas correspondentes
as preamares e baixa-mares.

Figura 5.6: Tábua das Marés

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Figura 5.7: Tábua das Marés Eletrônica (Internet)

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