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HAMARTIOLOGIA

I) ETIMOLOGIA

1 – A palavra pecado ocorre cerca de 440 vezes no texto bíblico.

2 – Hamartiologia é um vocábulo que se deriva do grego HAMARTIA. Que significa pecado e


LOGOS, que quer dizer estudo, tratado. Isto posto, Hamartiologia é o estudo sobre a Doutrina do
pecado.

3 – A Doutrina do pecado é sumamente importante e deve merecer atenção especial de cada


sincero estudante da Bíblia Sagrada. Se por quaisquer razões a negligenciar as verdades
bíblicas concernentes ao pecado, deixarmos de possuir a verdadeira noção da Obra Redentora
de Cristo.

4 – O pecado é uma das mais cruéis realidades do mundo que nos ródia e é em impossível
ignorá-lo. Por causa do pecado, os homens padecem dores, enfermidades, angustias,
condenação e morte. O pecado, afirmou um célebre pregador, “é a maior mancha do mundo”.
II) A ORIGEM DO PECADO

O problema do mal que há no mundo sempre foi considerado um dos mais profundos problemas
da filosofia e da teologia. Os filósofos foram constrangidos a encarar o problema e a procurar
resposta quanto á origem de todo o mal, e particularmente do mal moral, que há no mundo.
Outros, porém, estão convictos de que o mal teve uma origem voluntária, isto é, que se originou
na livre escolha do homem, quer na existência atual, quer numa existência anterior. Estes se
acha bem mais perto da verdade revelada na Palavra de Deus.

1 – O CONCEITO HISTÓRICO DA ORIGEM DO PECADO

Os mais antigos “pais da igreja”, assim chamados, não falam muito definidamente da origem do
pecado, enquanto a idéia de que se originou na voluntária transgressão e queda de Adão no
paraíso já se achava nos escritos de Irineu.

a) O GNOSTICISMO - Considerava o mal inerente á matéria e, como tal, produto do Demiurgo.


O contato da alma com a matéria imediatamente a tornou pecaminosa
b) ORÍGENES – Procurou manter isso com a sua teoria do preexistencialismo. Segundo ele, as
almas dos homens pecaram voluntariamente numa existência anterior e, portanto, entraram no
mundo numa condição pecaminosa.
c) KANT – Este considerava o pecado como uma coisa pertencente á esfera supre-racional, que
ele confessava não ter condições de explicar.

d) CONCEITO GERAL – Em geral os chamados pais da igreja grega, do terceiro e quarto


séculos, mostrava certa inclinação para reduzir a ligação entre o pecado de Adão e o dos seus
antecedentes, ao passo que os “pais” da igreja latina analisava cada vez com maior clareza que
a atual condição pecaminosa do homem encontra a sua explicação na primeira transgressão de
Adão no paraíso.
Concluímos este ponto, o pecado do homem está ligado á sua condição de criatura. A narrativa
do paraíso apenas transmite ao homem a prazerosa informação de que ele não tem por que ser
necessariamente um pecador

2 – O CONCEITO BÍBLICO DA ORÍGEM DO PECADO

Na Escritura, o mal moral existente no mundo transparece claramente como pecado, isto é,
como transgressão da lei de Deus. Nela o homem sempre aparece como transgressor por
natureza, e surge naturalmente a questão: como adquiriu ele essa natureza? Que diz a Bíblia
sobre este ponto?

a) DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO: O decreto eterno de Deus evidentemente deu a


certeza de entrada do pecado no mundo, mas não se pode interpretar isso de modo que faça de
Deus a causa do pecado no sentido de ser Ele o seu autor responsável. Esta idéia é claramente
excluída pela Escritura.
Ele é santo Deus, Is 6:3, e absolutamente não há falta de retidão nele, Dt 32:4; Sl 92:16. Ele não
pode ser tentado pela mal, e Ele próprio não tenta a ninguém, Tg 1:13. Quando Deus criou o
homem, criou-o bom e á Sua imagem. Ele positivamente odeia o pecado, Dt 25:16; Sl 5:4 11:5;
Zc 8:17 e Lc 16:15.
Deus em Cristo fez provisão para libertar do pecado o homem. A luz disso tudo, seria blasfemo
falar de Deus como o autor do pecado.

b) O PECADO ORIGINOU-SE NO MUNDO ANGÉLICO: A Bíblia nos ensina que, na tentativa de
investigar a origem do pecado, devemos retornar á queda do homem, na descrição de Gn 3 e
fixar a atenção em algo que sucedeu no mundo angélico.
Deus criou um grande número de anjos, e estes eram todos bons, quando saíram das mãos do
seu Criador, Gn 1:31. Mas ocorreu uma queda no mundo angélico, queda na qual legiões de
anjos se apartaram de Deus, Ez 28:11-19; Is 14:12-15.
Não estavam contentes com a sua parte, com o governo e o poder que lhes foram confiados. Se
o desejo de serem semelhantes a Deus foi á tentação peculiar que sofreram, isto explica por que
tentaram o homem nesse ponto particular.

c) A ORÍGEM DO PECADO NA RAÇA HUMANA: Com respeito á origem do pecado na história


da humanidade, a Bíblia ensina que ele teve início com a transgressão de Adão no paraíso e,
portanto, com um ato perfeitamente voluntário da parte do homem.
Esse pecado trouxe consigo corrupção permanente, corrupção que, dada a solidariedade da
raça humana, teria efeito, não somente sobre Adão, mas também sobre todos os seus
descendentes. Com resultado da queda, o pai da raça só pode transmitir uma natureza
depravada ao pósteros.
Mas ainda isso não é tudo. Adão pecou não somente como o pai da raça humana, mas também
fomo chefe representativo de todos os seus descendentes; e, portanto, a culpa de seu pecado é
posta na conta deles, pelo que todos são passíveis de punição e morte. É primeiramente nesse
sentido que o pecado de Adão é o pecado de todos.
Deus adjudica a todos os homens a condição de pecadores culpados em Adão, exatamente
como adjudica a todos os crentes a condição de justos em Jesus Cristo.
III) AS SETE TEORIAS DO PECADO

Consideremos abreviadamente algumas das mais importantes teorias filosóficas sobre o pecado.
O pecado é um dos mais tristes fenômenos da vida humana, e também o mais comum.

1 – TEORIA DUALISTA: Esta é uma das teorias que foram comuns na filosofia grega. Na forma
do Gnosticismo, conseguiu penetrar na igreja primitiva. Admite a existência de um princípio
eterno do mal, e sustenta que no homem o espírito representa o princípio do bem, e o corpo, o
do mal. Segundo essa teoria, o único meio de escaparmos do pecado consiste em livrar-nos do
corpo.

2 – TEORIA DE QUE O PECADO É MERA PRIVAÇÃO: De acordo com Leibnitz, a existência do


pecado deve ser considerada inevitável. O pecado não pode ser atribuído á ação pessoal de
Deus e, portanto, deve ser considerado como simples negação ou privação sem necessidade de
nenhuma causa eficiente.
As limitações da criatura o tornam inevitável. Sua tentativa de evitar fazer de Deus o autor do
pecado não tem bom êxito, pois, mesmo que o pecado fosse apenas uma negação sem
nenhuma causa eficiente, Deus seria, não obstante, o autor da limitação da qual ele resultaria.

3 – TEORIA DO ATAÍSMO: O ateísmo ao negar a Deus, nega também, o pecado, porque,


estritamente falando, todo pecado é contra Deus; e se não há Deus, não há pecado. O homem
pode ser culpado de pecar em relação a outros; pode pecar contra si mesmo, porém estas
coisas constituem pecado unicamente em relação a Deus. Portanto, o homem necessita do
perdão baseado em uma provisão divina de expiação.

4- TEORIA DO DETERMINISMO: É a teoria que afirma ser o livre arbítrio uma ilusão e não uma
realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer nossa escolha, porém, realmente nossas
opções são ditados por impulsos internos e circunstâncias que escaparam ao nosso domínio.
Mas as Escrituras afirmam invariavelmente que o homem é livre para escolher entre o bem e o
mal – uma liberdade implícita em todos os mandamentos e exortações. Longe de ser vítima da
fatalidade e casualidade, declara-se que o homem é o árbitro do seu próprio destino.
Uma conseqüência prática do determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade
por cuja causa o pecador merece dó ao invés de ser castigado. Porem, a voz da consciência que
diz: “eu devo” refuta essa teoria.

5 – TEORIA DO HEDONISMO: (da palavra grega que significa “prazer”) é a teoria que sustenta
que o melhor ou o mais proveitos que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga á dor; de
modo que a primeira pergunta que se faz não é: “Isto é correto?” Mas: “Trará prazer?”.
Eles desculpam o pecado com expressões como estas: “Errar é humano”; “o que é natural é belo
e o que é belo é direito”. No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade do pecado,
e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e o errado.
A admoestação divina para aqueles que procuram confundir as distinções morais, é: “Ai
daqueles que chama o mal de bem e o bem de mal”.

6 – TEORIA DA CIÊNCIA CRISTÃ: Esta seita nega a realidade do pecado. Declara que o


pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência do bem. Nega que o pecado tenha
existência real e afirmam que é apenas um “erro da mente moral”.
As Escrituras denunciam o pecado como uma violação positiva da Lei de Deus, como uma
verdadeira ofensa que merece castigo real num inferno real.

7 – TEORIA DA EVOLUÇÃO: Esta teoria considera o pecado como herança do animanismo


primitivo do homem. Disso, os animais não pecam; eles vivem segundo sua natureza, e não
experimentam nenhum sentido do culpa por seu comportamento.
É certo que o homem tem uma natureza física, porém, essa parte inferior de seu ser foi criação
de Deus, e é plano de Deus que esteja sujeita a uma inteligência divinamente iluminada.
O defeito radical dessas teorias todas é que procuram definir o pecado sem levar em
consideração que o pecado é essencialmente o abandono de Deus, a oposição e a transgressão
da Lei de Deus.

IV) DEFINIÇÃO BÍBLICA DE PECADO


Ao dar a idéia bíblica do pecado, é necessário chamar a atenção para diversas particularidades.

1 – O PECADO É O MAL NUMA CATEGORIA ESPECÍFICA: Hoje em dia ouvimos falar muito do
mal, e relativamente pouco do pecado; e isso é muito enganoso. Nem todo mal e pecado. Não
se deve confundir o pecado como mal físico, com aquilo que é danoso ou calamitoso.
Pecado não pe uma calamidade que sobreveio inopinadamente ao homem, envenenou sua vida
e arruinou sua felicidade, mas um curso que o homem decidiu seguir deliberadamente e que leva
consigo miséria inaudita.
O pecado é o resultado de uma escolha livre, porém, má, do homem. Este é o ensino claro da
Palavra de Deus, Gn 3:1-6; Is 48:8; Rm 1:18-32 e 1 Jo 3:4.

2 – O PECADO TEM CARÁTER ABSOLUTO: Na esfera ética, o contraste entre o bem e o mal é
absoluto. Não há condição neutra entre ambos. A transição entre o bem e o mal não é de caráter
quantitativo, e, sim, qualitativo.
Um ser moral bom não torna mal por uma simples diminuição da sua bondade, mas somente por
uma mudança qualitativa radical, por um volver ao pecado. O pecado não é um grau menor de
bondade, mas um mal positivo.
Isso é ensinado claramente na Bíblia. Quem não ama a Deus é, por isso caracterizado como
mal. O homem está do lado certo ou do lado errado, (Mt 10:32, 33; 12:30; Lc 11:23; Tg 2:10). A
Escritura não reconhece nenhuma posição de neutralidade.

3- O PECADO SEMPRE TEM RELAÇÃO COM DEUS E SUA VONTADE: Os mais antigos
teólogos compreenderam que á impossível ter uma correta concepção do pecado sem vê-lo em
relação a Deus e Sua vontade e, portanto, acentuavam esta aspecto e normalmente falavam do
pecado como “falta de conformidade com a Lei de Deus”.
As seguintes passagens mostram claramente que a Bíblia vê o pecado em relação a Deus e Sua
Lei, quer como Lei escrita nas tábuas do coração, quer como dada por meio de Moisés, (Rm
1:32; 2:12-14; 4:15; Tg 2:9; 1 Jo 3:4).

4 – O PECADO INCLUI A CULPA E A CORRUPÇÃO: A culpa é o estado de violação de uma lei


ou de uma exigência moral. Ela expressa a relação do pecado com a justiça ou da penalidade
com a lei.
È inseparável do pecado, jamais se encontra em quem não é pessoalmente pecador, e é
permanente, de modo que, uma vez estabelecida, não pode ser removida pelo perdão.
Embora muitos neguem que o pecado inclui culpa, essa negação não se harmoniza com o fato
de que o pecado é a ameaçado com castigo, e de fato o recebe, e evidentemente contradiz as
Escrituras, Mt 6:12; Rm 3:19; 5:18; Ef 2:3.
Por corrupção entendemos a corrosiva contaminação inerente, a que todo pecador está sujeito.
É uma realidade na vida de todos os indivíduos. É inconcebível sem a culpa, embora a culpa,
como incluída numa relação penal, seja concebível sem a corrupção.
Mas é sempre seguida pela corrupção. Todo aquele que é culpado em Adão, também nasce
com uma natureza corrupta, em conseqüência. Ensina-se claramente a doutrina da corrupção do
pecado em passagens como: Jô 14:4; Jr 17:9; Mt 7:15-20; Rm 8:5-8; Ef 4:17-19.

5 – O PECADO TEM SUA SEDE NO CORAÇÃO: O pecado não resida nalguma faculdade da
alma, mas no coração, que na psicologia da Escritura é o órgão da alma, onde estão as saídas
da vida. E desse centro, sua influência e suas operações espalham-se para o intelecto, á
vontade, as emoções – em suma, a todo o homem, seu corpo inclusive.
Esta maneira de ver está em perfeita harmonia com as descrições Bíblicas, em passagens como
as seguintes: Pv 4:23; Jr 17:9; Mt 15:19-20; Lc 6:45 e Hb 3:12.

6 – O PECADO NÃO CONSISTE APENAS DE ATOS MANIFESTOS: O pecado não consiste


somente de atos patente, mas também de hábitos pecaminosos e de uma condição pecaminosa
da alma. Estes três âmbitos se interrrelacionam do seguinte modo: O estado pecaminoso é á
base dos hábitos pecaminosos, e estes se manifestam em ações pecaminosas.
E se for necessário levantar a questão sobre se os pensamentos e os sentimentos do homem
natural, chamado “carne” na Escritura, devam ser considerados como constituindo pecado
poder-se-ia responder: indicamos passagens como as seguintes: Mt 5:22, 28; Rm 7:7; Gl 5:17,
24 e outras.
Em conclusão, pode-se dizer que se pode definir o pecado como falta de conformidade com a lei
moral de Deus, em ato, disposição ou estado.

V – A UNIVERSALIDADE DO PECADO
Poucos se inclinarão a negar a presença do mal no coração humano, mas há divergências
quanto à natureza desse mal e quanto ao modo como se originou. Mesmo os pelagianos e os
socinianos estão prontos a admitir que o pecado é universal.

1 – A TRIPLICE EVIDÊNCIA DA UNIVERSALIDADE DO PECADO


A) A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES: A história das religiões dão testemunhos da universalidade do
pecado. As religiões pagâs atestam uma consciência universal do pecado, e a necessidade de
reconciliação com o Ser Supremo. Há um sentimento generalizado de que os deuses estão
ofendidos e devem ser aplacados de alguma forma.
Há uma vós universal da consciência dando testemunho do fato de que o homem carece do
ideal e está condenado á vista de algum Poder mais alto.
Altares cheirando ao sangue dos sacrifícios, muitas vezes dos sacrifícios de filhos queridos,
repetidas confissões de mas ações, e orações para livramento do mal – tudo aponta para a
consciência de pecado.

B) A HISTÓRIA DA FILOSOFIA: A História da filosofia indica o mesmo fato. Os mais antigos


filósofos gregos já tiveram que lutar com o problema do mal moral, e desde a época deles,
nenhum filósofo de renome pode ignorá-lo.
Todos foram constrangidos a admitir a sua universalidade, e isso a despeito do fato de que não
foram capazes de explicar o fenômeno.

C) A POSIÇÃO BÍBLICA: Há inequívocas declarações da Escrituras que indicam a


pecaminosidade universal do homem, como nas seguintes passagens: 1 Rs 8:46; Sl 143:2; Pv
20:9; Rm 3:1 e outras.
Em Efésios 2:3 diz o apóstolo Paulo que os Efésios eram “por natureza filhos da ira, como
também os demais”. Nesta passagem a expressão “por natureza” indica uma coisa inata e
original, em distinção daquilo que é adquirido.
De acordo com as Escrituras, a morte sobrevém mesmo aos que nunca execeram uma escolha
pessoal e consciente, Romanos 5:12-14. Esta passagem implica que o pecado existe no caso de
crianças, antes de possuírem discernimento moral. Desde que sucede que crianças morrem e,
portanto, o efeito do pecado está presente na situação delas, é simplesmente natural supor que
a causa também está presente.
Finalmente, as Escrituras ensina também que todos os homens se acham sob condenação e,
portanto, necessitam de redenção que há em Cristo Jesus. Nunca se declara que as crianças
constituem exceção a essa regra Jô 3:3, 5; 1 Jo 5:12.
Quando Adão pecou, CAIU, e em sua queda levou toda a raça humana, pois ele era o pai e
cabeça da raça, era a raiz da humanidade. Daí o fato de chamar-se de pecado original, ou seja,
pecado da raça. Quanto aos outros pecados de Adão, não tiveram mais importância na geração,
pois eram pecados pessoais.
Eles confirmaram a queda, mas eram pecados da exclusiva responsabilidade de Adão. Quando
Adão pecou, estabeleceu um triste princípio para os homens: todos os seus descendentes
nasceram (ou nascem) no mesmo estado em que ele caiu. A Bíblia define essa situação com
três denominações distintas:
A) – estado de depravação – Gn 6:5; Sl 14:3; Rm 7:18.
A) – estado de culpa – Mt 10:15.
A) –estado de pena – Rm 5-12.

VI) A NATUREZA DO PECADO


1 – SEU CARÁTER FORMAL: Pode-se dizer que, numa perspectiva puramente formal, o
primeiro pecado do homem consistiu em comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Não sabemos que espécie de árvore era. Nada havia de ofensivo no fruto da árvore como tal. O
pecado estava simplesmente na desobediência á ordem de Deus.
Não há opinião unânime quanto ao motivo pela qual a árvore foi denominada do conhecimento
do bem e do mal. É muito mais provável que a árvore foi denominada desse modo porque fora
destinada a revelar: (a) se o estado futuro do homem seria bom ou mal; e (b) se o homem
deixaria que Deus lhe determinasse o que era bom ou mal, ou se encarregaria de determiná-lo
por si e para si.
Mas, seja qual for á explicação que se de do nome, a ordem dada por Deus para não comer da
árvore serviu simplesmente ao propósito de por a prova a obediência do homem. Foi um teste de
pura obediência, desde que Deus de modo nenhum procurou justificar ou explicar a proibição.
Adão tinha que mostrar sua disposição para submeter a sua vontade á vontade do seu Deus
com obediência implícita.

2 – A TRIPLICE MANIFESTAÇÃO DO PECADO: O pecado geralmente se manifesta em três


direções:

A) Para Deus, em forma de rebelião, de falta de amor, 1 Sm 15:23; Dt 6:5.


B) Para o homem, igualmente com absoluta falta de amor, Lv 19:13; Mq 6:8; Rm 1:18.
C) Para o próprio pecador, em forma de egoísmo, de corrupção de valores, Mt 16:24; Jô 12:25;
Sl 51:5; Rm 7:18.

Á vontade de Deus é desobedecida em toda manifestação do pecado, voluntária ou


inconscientemente, Nm 15:30; Sl 19:13; Nm 15:27; Hb 9:7. O homem não é intrinsecamente
responsável por haver nascido em pecado, mas é absolutamente responsável por todos os
pecados que pratica.

3 – O TESTEMUNHO DA HUMANIDADE E DA CONSCIÊNCIA: Porque existem leis que


castigam os crimes? Porque testemunhas da realidade e da natureza do pecado. As religiões
pagâs oferecem sacrifícios em favor da purificação de almas. Isto é outro testemunho. Na própria
literatura secular existem evidências sobejas do testemunho da consciência do pecado.
O grande filósofo Sêneen disse: “Todos temos pecados, uns mais, outros menos.” “Existe um
provérbio chinês que afirma:” “Há somente dois homens bons na terra; um esta morto o outro
ainda não nasceu”. Quanto no testemunho da consciência é por demais evidente em cada
criatura.
A Bíblia ensina que o pecado é uma VIOLAÇÃO, 1 Jo 3:4. Que o pecado é um estado espiritual,
a ausência de retidão, Rm 7:8, 11, 13, 14, 17, 20.
VII) O PRIMEIRO PECADO E A QUEDA OCASIONADA PELA TENTAÇÃO

Á narrativa em questão é GÊNESIS 3:1-19. Façamos juntos á leitura e examinemos as


implicações teológicas do texto:

1 – O PROCEDIMENTO DO TENTADOR: A queda do homem foi ocasionada pela tentação da


serpente, que semeou na mente do homem as sementes da desconfiança e da descrença.
Embora indubitavelmente a intenção do tentador fosse levar Adão, o chefe da aliança, a cair, não
obstante dirigiu-se a Eva, provavelmente por três motivos:
A) Eva não exercia a chefia na aliança e, portanto, não teria o mesmo senso de
responsabilidade.
B) Eva não recebeu diretamente a ordem de Deus, mas apenas indiretamente, seria mais
susceptível de ceder á argumentação e duvidar.
C) Eva seria sem dúvida o instrumento mais eficiente para alcançar o coração de Adão.

O curso seguido pelo tentador é bem claro. Em primeiro lugar, ele semeia as sementes da
dúvida pondo em questão as boas intenções de Deus e insinuando que Suas ordens era
realmente uma violação da liberdade e dos direitos do homem.

2 – A SERPENTE, O FRUTO DA ÁRVORE E O JARDIM: Alguns acham que toda narrativa de


Gênesis 3 é uma alegoria que representa figuradamente a autodepravação do homem e sua
mudança gradativa. Barth e Brunner consideram a narrativa do estado original e da queda do
homem um mito. Na verdade, a Bíblia opõe-se a estes pensamentos.

A) A SERPENTE: Há estudiosos, que não negam o caráter histórico de Gênesis, afirmam que
pelo menos a serpente não deve ser considerada como um animal literal, mas apenas como um
nome ou um símbolo da cobiça, do desejo sexual, do raciocínio pecaminoso, ou de Satanás.
Ainda outros asseveram que, para xdizer o mínimo, o falar da serpente deve ser entendido
figuradamente.
Certamente a serpente é considerada como um animal em Gn 3:1, e não daria bom sentido
substituir “serpente” por Satanás. O castigo de que fala Gn 3:14-15, pressupõe uma serpente
literal, e Paulo não a entende doutro modo, em II Cor 11:3.
As Escrituras da a entender claramente que a serpente foi apenas um instrumento de Satanás, e
que Satanás foi o real tentador, que agiu na serpente e por meio dela, como posteriormente agiu
em homens e em porcos, Jô 8:44; Rm 16:20; II cor 11:3; Ap 12:9. A serpente foi um instrumento
próprio para Satanás, pois ele é a personificação do pecado e a serpente simboliza o pecado: (a)
em sua natureza astuta e enganosa; e (b) em sua picada venenosa, com a qual mata.
B) O FRUTO PROÍBIDO DA ÁRVORE: Houve, no passado, resultado de filosofias gnósticas,
uma crença de que tudo o que procedia da carne era vil. Isto levou alguns teólogos a crerem que
o fruto proibido foi símbolo do ato sexual entre Adão e Eva. Mas, a leitura do texto pede uma
interpretação, mas direta. Houve uma árvore e houve a violação da Palavra que Deus havia
proferido. Esta transgressão ocorreu pela ingestão de algum tipo de fruto comestível. A
linguagem desta passagem não nos força a fazer outro tipo de inferência.
Sua essência, no entanto, nos leva a entender que o pecado teve sua raiz, não na fome ou no
apetite, mas no coração. O desejo de ter independência de Deus foi um pecado do coração. Foi
ato de rebelião resultante do desejo de ser dono de si mesmo que fez com que o homem caísse
no jardim.
O pecado teve outros aspectos: a concupiscência incontrolável de algo dos sentidos (desejo
incontrolável) dos sentidos (agradável aos olhos), a concupiscência da carne (boa para comer) e
a soberba da vida (desejável para dar entendimento).
Estes três aspectos da tentação tem estado sempre presentes e em 1 Jo 2:16, o apóstolo nos
adverte que tais coisas procedem do mundo e não do Pai. É importante lembrar que Deus tinha
dado ao casal o domínio do jardim. Cabia a eles até expulsar a serpente da sua presença. Mas,
eles lhe deram ouvidos e se deixaram seduzir pelos seus argumentos.

C) O PROCESSO DA TENTAÇÃO: Vejamos resumidamente os três processos da tentação, que


levou Adão a cair de sua posição de glória:
· Primeiro, Satanás exagerou (e levou Eva a fazê-lo também) a proibição de Deus. Deus tinha
mandado que não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas havia dado ao
homem todas as árvores. A tentação começa por fazer o homem se sentir privado de algo,
quando, de fato, Deus é muito generoso; Satanás fez a mulher pensar somente no fruto proibido
menosprezando as dádivas do Senhor.

· Segundo, Satanás cria dúvidas sobre a Palavra de Deus. “Será que Deus falou?” Em seguida,
ele cria desconfiança sobre os motivos de Deus. Ele chega a questionar a veracidade do aviso
divino, “certamente não morrerás…”

· Terceiro, a mulher cedeu ás meias verdades. Mas, isto não diminuiu o fato de que ela e o
homem comeram em desobediência a Deus e trouxerem sobre si as conseqüências previstas.

(VIII) OS EFEITOS DO PECADO

A penalidade com a qual Deus ameaçou o homem no paraíso foi pena de morte. A morte que
aqui se tem em mente não é a morte do corpo, mas a morte do homem total, morte no sentido
bíblico da Palavra.
A pena foi também executada efetivamente no dia em que o homem pecou, embora a plena
execução dela tenha sido sustada temporariamente pela graça de Deus.
A penalidade do pecado certamente inclui a morte física, mas inclui muita mais que isso.
Fazendo distinção a que estamos acostumados, podemos dizer que ela inclui os seguintes fatos:

1) MORTE ESPIRITUAL: O pecado separa de Deus o homem, e isso quer dizer, morte, pois é só
na comunhão com o Deus vivo que o homem pode viver de verdade. No estado da morte, que
resultou da entrada do pecado no mundo, levamos o fardo da culpa do pecado, culpa que só ode
ser removida pela obra redentora de Jesus Cristo.
A morte espiritual significa, não somente culpa, mas também corrupção. O pecado é sempre
uma influência corruptora na vida, e isso é parte da nossa morte. Por natureza somos, não
somente injustos aos olhos de Deus, mas também impuros.
E se não fosse a influência restringente da graça de Deus, tornaria a vida social inteiramente
impossível.

2) OS SOFRIMENTOS DA VIDA: Os sofrimentos da vida, que resultam da entrada do pecado no


mundo, também estão incluídos na penalidade do pecado. O pecado produziu distúrbios em
todos os aspectos da vida do homem. Sua vida física caiu presa de fraquezas e doenças, que
redundam em desconforto e, muitas vezes, em penosas agonias; e sua vida mental ficou sujeita
a perturbações angustiantes, que muitas vezes o privam da alegria de viver, desqualificam-no
para o seu labor diário e, por vezes, destroem por completo o seu equilíbrio mental.
Muitas vezes as forças destruidoras são liberadas causando terremotos, ciclones, tornados,
erupções vulcânicas e inundações que trazem indescritíveis misérias á humanidade. Contudo,
não será seguro particularizar e interpreta-las como punições especiais por graves pecados
cometidos pelos que vivem nas áreas atingidas.
Devemos ter sempre em mente que há uma responsabilidade coletiva, e que sempre há motivos
suficientes para Deus visitar cidades, regiões ou países com calamidades medonha.
É bom ter sempre em mente que Jesus disse uma vez aos judeus que lhe trouxeram
informações sobre uma calamidade que sobreviera a certos galileus, e evidentemente
insinuaram que aqueles galileus deviam ter sido grandes pecadores, Lc 13:2-5.

3 – A MORTE FÍSICA: A separação do corpo e alma também faz parte da penalidade do pecado.
Que o Senhor tinha isto em mente também na penalidade ameaçada é mais que evidentemente
na explicação dele feita com as palavras: “tu és pó e ao pó tornarás”, Gn 3:19. Também
transparece na argumentação de Paulo em Rm 5:12-21, e em 1 Cor 15:12-23.
A posição da Igreja sempre foi que a morte, no pleno sentido da palavra, incluía a morte física,
não é somente conseqüência, mas, também, penalidade do pecado. O salário do pecado é a
morte.

4 – A MORTE ETERNA: Esta pode ser considerada como a culminância e a consumação da


morte espiritual. As restrições do presente desaparecem, e a corrupção do pecado tem a sua
obra completa. O peso total da ira de Deus desce sobre os condenados, e isto significa morte no
sentido mais terrível da palavra.
A condenação eterna deles elevada a corresponder ao estado interno das suas ímpias almas.
Há angustias de consciência e sofrimentos físicos, Ap 14:11. A consideração mais ampla deste
assunto pertence á escatologia.

5 – DESFIGURAÇÃO DA IMAGEM DIVINA: O homem não perdeu completamente a imagem


divina, porque ainda em sua posição decaída é considerado uma criatura á imagem de Deus Gn
9:6; Tg 3:9. Apesar de não estar inteiramente perdido, a imagem divina no homem encontra-se
muito desfigurada. Jesus Cristo veio ao mundo tornar possível ao homem a recuperação
completa da semelhança divina por ser recriado á imagem de Deus Gl 3:10.

6 – PECADO INERENTE: (ou pecado original). O efeito da queda arraigou-se profundamente na


natureza humana que Adão, como pai da raça, transmitiu a seus descendentes a tendência ou
inclinação para pecar, Sl 51:5. Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens
nascem, é conhecido como pecado original.

7 – DISCÓRDIA INTERNA: No princípio Deus fez o corpo do homem do pó, dotando-o, desse
modo, de uma natureza física ou interior; depois soprou em seu nariz o fôlego da vida,
comunicando-lhe assim uma natureza mais elevada, unindo-se a Deus. Era o propósito de Deus
a harmonia do ser humano, ter o corpo subordinado á alma.
Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira que o homem se encontrou dividido em si
mesmo; o “eu” oposto ao “eu” em uma guerra entre a natureza superior e a inferior.

CONCLUSÃO

Embora o homem tenha pecado e através desse ato de desobediência, permeou o pecado em
todas as camadas sociais, como até mesmo na esfera espiritual de sua vida. A Bíblia declara
que ainda há esperança em Cristo
O pecado destituiu o homem da graça de Deus, mais Cristo morreu há seu tempo para nos
resgatar da maldição do pecado Gl 3:13. Á verdade é que; quando tudo parecia impossível Rm
8:3, para a humanidade, Deus enviou o seu Filho em semelhança da carne para nos conceder, a
liberdade.
Portanto, glorifiquemos o nome daquele que como Cordeiro morto, mas vivo eternamente
derramou seu sangue por nós.

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