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I – INTRODUÇÃO Á ANTROPOLOGIA
“Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem para que o
visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos e de glória e honra o coroaste
- Salmo 8. 4, 5.”
O texto diz que o homem não é um ser angelical, e sim um ser mortal, mas que possui
uma posição de honra e liderança entre as coisas criadas. Este é o grande conflito que
atinge o ser humano, uma vez que ele foi criado para ocupar uma posição de honra,
entretanto, precisa conviver com sua imperfeição e finitude. A contradição se estabelece
à medida que este possui uma alma imortal que precisa habitar num corpo perecível e
mortal. Neste sentido, nenhum ser do universo vive o desafio da raça dos humanos, que
ao mesmo tempo sofre as aflições de ter uma natureza pecaminosa, mas que deseja,
ansiosamente, a eternidade (Ec. 3. 11).
Por isto toda investigação do homem a partir do próprio homem será sempre
preconceituosa, parcial e imperfeita. O escopo do nosso curso terá sua gênesis no
conhecimento acerca do homem que já está revelado nas Escrituras Sagradas. Nossas
observações buscarão enfatizar o homem enquanto ser natural, moral e espiritual. Não
limitaremos nossa compreensão do ser humano a aspectos puramente físicos e racionais,
pois o mesmo possui uma complexidade maior.
“Nada sei da origem do homem, exceto o que me diz a Escritura – que Deus o criou.
Nada sei, além, disso, e não conheço ninguém que o saiba (Sir William Dawson)”.
As modernas indagações sobre a origem do homem, quando, onde e como ele foi criado
remontam às antigas cosmogonias gregas (gênesis do universo). Não é possível pensar
sobre o homem sem indagar sobre a sua origem, uma vez que sua existência real aponta
para um ser diferenciado de toda a criação. Concepções modernas e antigas como as dos
gregos continuam alimentando o debate sobre a origem do homem. As cosmogonias
gregas apontam para uma origem do universo, e por extensão do homem, a partir do
caos. Não há a presença de um ser criador ou de qualquer vida neste ambiente de
desordem. A partir da existência deste mundo caótico é que surgem os seres. Esta
perspectiva é apresentada por Hesíodo, citado na obra de CHAMPLIN (2001): “Hesiodo
(...) propôs uma certa cosmogonia. Segundo ele, no começo o mundo não tinha forma e
achava-se em estado caótico. Desse caos surgiu o primeiro espírito do amor, a saber,
Eros. Do caos também teria saído a terra, de peito largo, chamado Gaea. Em seguida
apareceram Érebos, as trevas, e Nix, a noite. A união destes dois últimos produziu o céu
claro, o Éter e também Hemera, o dia. Por sua vez, a terra produziu o firmamento,
Urano, e o mar, Ponto. Eros foi quem uniu os casais, primeiramente Urano e Gaea, que
povoaram a terra com os titãs, os gigantes e os ciclopes. Desses é que vieram os deuses
do Olimpo, os heróis, e finalmente, a raça humana”.
A única cosmogonia antiga que é razoável, não obstante sua data remota e ausência de
mecanismos científicos de investigação, é a cosmogonia hebraica, que por motivos
óbvios não vamos detalhar, pois está claramente registrada no livro de Gênesis, nos
capítulos 1 e 2.
“Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que
o visível veio a existir das coisas que não aparecem (Hb. 11. 3).”
A - Teoria Criacionista:
Quando falamos de teoria, não se trata, portanto, de falta de convicção acerca da forma
como Deus criou. Na verdade, temos a certeza de que o universo que vemos veio das
coisas que não se vêem, conforme o texto em epígrafe. Nossa abordagem, neste sentido
é mais técnica, no sentido de fornecer os elementos para o debate sobre a teoria
criacionista e a naturalista (evolucionista).
O Cientista Adauto Lourenço, na sua obra “Como Tudo Começou (2009) apresenta,
resumidamente, as proposições criacionistas na seguinte formulação:
1- Todas as coisas criadas constituem o produto de um ato único e soberano por parte de
um Criador onisciente, onipotente e pessoal, o qual não depende de sua criação para sua
existência, nem é parte dela.
3- Todas as formas de vida foram criadas no princípio completas, complexas, com uma
diversidade básica, uma capacidade de adaptação limitada, e simultaneamente.
(...) Teoria naturalista que considera a mudança das características hereditárias de uma
população através de sucessivas gerações (determinadas pelo deslocamento nas
freqüências de alelos dos genes). Estas mudanças, somadas a longos períodos de tempo,
teriam sido responsáveis pelo aparecimento das novas espécies. Segundo esta teoria,
todos os organismos vivos de hoje constituem o resultado cumulativo das alterações
evolutivas através de bilhões de anos, estando relacionados por meio de uma
ancestralidade comum. Várias objeções são levantadas pelos estudiosos do assunto,
sobretudo, por esta teoria basear - se em diversas suposições que não podem ser
averiguadas cientificamente, bem como, com relação a esta ancestralidade comum. Não
somente isto, podemos enumerar outras dificuldades desta teoria se firmar:
- 52% das pessoas americanas que tem mestrado não acreditam que seja possível
demonstrar a teoria da evolução;
- 35% dos doutores americanos não veêm qualquer possibilidade de provar a teoria da
evolução- (Adaptação livre do autor).
C- Outras considerações
No meio das duas teorias estão alguns teólogos eminentes como Strong, que afirma na
sua Teologia Sistemática que:
A evolução do homem não torna supérflua a ideia do criador, porque ela é apenas um
método de Deus. É perfeitamente consistente com a doutrina escriturística da criação
que o homem apareça a seu tempo, governado por leis diferentes das da criação do
bruto, embora desenvolvendo – se a partir do bruto (...).
Por fim, informamos que a igreja cristã de maneira geral não adota esta postura, sendo
que a maioria dos teólogos como Berkhof, Chafer e Waine Gruden são fervorosos
defensores do criacionismo bíblico. Fechando esta seção anotamos um pensamento
interessante de Chafer: “Alguns homens, evidentemente preferem a imagem de um
macaco, mas há aqueles que preferem a imagem de Deus.”
• Gênesis 1:27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.
• Gênesis 5:3 Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança,
conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete.
• 1 Coríntios 11:7 Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele
imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem.
• Tiago 3:9 Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos aos homens
que foram criados à imagem de Deus.
Portanto, não faremos esta distinção, antes partiremos para a análise do que nos
interessa que é descobrir o que significa o fato do homem ser imagem e semelhança de
Deus. Para muitos estudiosos a imagem diz respeito aos aspectos éticos e morais, outros
acrescentam os aspectos mentais e intelectuais (conhecimento, sabedoria,
discernimento), ainda outros acrescentam as questões de ordem espiritual (santidade,
imortalidade etc.). Há, ainda, um ou outro teólogo que inclui os aspectos de ordem física
como imagem e semelhança de Deus.
• Aspectos Morais: Somos criaturas moralmente responsáveis pelos nossos atos perante
Deus (...). Temos um senso íntimo de certo e errado que nos separa dos animais:
• Aspectos Espirituais: (...) não somos somente corpos físicos, mas também espíritos
imateriais. (...) Isso significa que temos uma vida espiritual que possibilita que nos
relacionemos pessoalmente com Deus.
• Aspectos Relacionais: (...) Nas nossas relações familiares e na igreja também somos
superiores aos anjos, que não se casam nem geram filhos nem vivem na companhia dos
filhos e filhas remidos de Deus. (...) O homem é como Deus no seu relacionamento com
o restante da criação.
• Aspectos Físicos: (...) Nosso corpo, portanto, foi criado por Deus como instrumento
adequado para representar de forma física a nossa natureza humana, criada à
semelhança da própria natureza divina.
A abordagem de Strong é mais filosófica do que teológica. Ele enfatiza dois aspectos
desta semelhança: a pessoalidade e a moralidade. Nas suas palavras encontramos a
essência deste pensamento (Augustos Hopkins Strong (2008):
(...) Pessoalidade: O homem foi criado um ser pessoal e é essa pessoalidade que o
distingue do irracional. Pessoalidade é o duplo poder de conhecer a si mesmo
relacionado com o mundo e com Deus (...). Este primeiro elemento da imagem divina
no homem nunca poderá perder enquanto não deixa de ser homem.
Neste sentido, entendemos que a imagem e semelhança dizem respeito ao ser na sua
totalidade, mesmo porque o texto original (Gn. 1. 26) não enfatiza aspectos físicos,
mentais ou espirituais. Ainda que não possamos estabelecer uma relação física entre o
homem e Deus, porque Deus é espírito (Jo. 4. 24), mas na estrutura corpórea
encontramos aspectos ligados á natureza de Deus (ver, ouvir, falar etc.). Por fim,
acreditamos que a imagem de Deus no homem foi, somente, embotada, mas não
destruída pelo pecado, e dentro desta proposta endossamos o pensamento de Chafer
(2003).
Embora, muito seja dito por toda a Bíblia a respeito da pecaminosidade do homem e das
profundezas às quais ele desceu, nada é dito que ele tenha perdido a imagem de Deus.
Na verdade (...), a Bíblia ensina diretamente que o homem caído retém essa imagem e
que é essa realidade que determina a extensão de sua degradação.
Como está organizada a natureza do homem? Possui ele somente corpo, ou corpo e
alma, ou ainda, corpo, alma e espírito. Como estão interligados estas partes? Os que
advogam que o homem é constituído de, tão somente, duas partes (corpo e
alma/espírito) são os Dicotomistas. Já os que defendem que o homem é constituído de
três partes distintas (corpo, alma e espírito) são chamados de Tricotomistas. Este não é
um assunto consensual, por isto, apresentamos os diversos argumentos sobre o assunto.
2.3.2 - Analise os textos abaixo e, depois, diga qual o seu posicionamento num texto de,
no mínimo 20 linhas:
- Mateus: 2. 20, 6. 25, 10.28, 10. 39, 11. 29, 12. 18, 16. 25, 16. 26, 20. 28, 22. 37, 26.
38.
- João: 10. 11, 10. 15, 10. 17, 10. 24, 12. 25, 12. 27, 13. 37, 13. 38, 15. 13.
EM CHARLES HODJE
• O Homem é corpo e alma. A ideia de que o espírito é uma essência divina no homem
que o impede de pecar não é correta;
• A tricotomia procederia da filosofia grega.
EM BERKHOF
• A visão tradicional da igreja evangélica é dicotômica;
• A tricotomia é mais uma ideia recente.
EM WAINE GRUDEN
• Reconhece que existem textos que possibilita a tricotomia, embora não garanta a sua
realidade;
• Entende que alma e espírito são intercambiáveis, ou seja, em dado momento atividades
próprias da vida imaterial são atribuídos ao espírito outras para a alma com o mesmo
valor – ex. Mateus 10. 28 e Lucas 1. 46, 47.
4. Perder a alma é perder tudo. É perder o que realmente vale a pena. Perder a alma é a
pior perda porque é perder se a si mesmo – Lc. 9. 25 (zêmioo: causar dano, perder, o
mesmo verbo de Mt. 16. 26 (perder a alma);
5. O espírito é a vida que foi dada por Deus. O corpo do homem é terreno (pó), o
espírito não procede da terra. Logo se acreditarmos que a alma e o corpo são
transmitidos pelos nossos pais, temos que ser tricotomistas;
6. Os seres que não dispõe de corpo são chamados de espirituais (anjos, demônios etc).
A identidade do ser humano e sua pessoalidade são dados pela alma;
7. A defesa da tricotomia não deve fragmentar nem departamentizar o ser humano, mas
demonstrar sua complexidade – Hb. 4. 12, I Ts. 5. 23;
9. A visão dicotomista, ou seja, que existe uma parte material chamada corpo e outra
imaterial chamada alma ou espírito não pode ser contrariada, nem mesmo pela ciência;
10. A defesa da visão tricotomista exigirá fé daquele que tentar compreendê-la, pois
adentra aspectos da espiritualidade e da revelação.
3- A ORIGEM DA ALMA
O conceito que temos de alma, bem como, a ideia de que fazemos sobre a composição
do humano (Dicotomia ou Tricotomia) determinará a impressão que teremos sobre a
origem da alma. O conceito vétero-testamentário sobre alma está indissolutamente
ligado ao corpo, pois nephesh (alma) está ligado ao processo respiratório (garganta –
minha alma tem sede), ao processo de alimentação (estômago- a minha alma está farta)
etc. Logo nephesh está associado ao corpo, e, uma divisão entre alma e corpo não seria
de tão fácil compreensão para o judeu. O entendimento do novo testamento, já
possibilita pensar em alma como algo além da vida corporal, sendo entendida como vida
essencial e, também como vida imaterial. Neste sentido podemos afirmar que o conceito
de alma vai se aperfeiçoando à medida que a revelação de Deus vai se alargando (Hb. 1.
1).
a) A preexistência da alma -
No pensamento de Platão as almas eram eternas e já existiam antes da criação do corpo.
Logo no ato da concepção haveria a transmigração da alma. Esta teoria nunca recebeu
apoio dos pais da igreja, exceto de Orígenes que via nesta teoria a explicação de alguns
males presentes na vida das pessoas, que seria fruto de uma existência anterior.
Desnecessário dizer que este pensamento se aproxima perigosamente da teoria da
reencarnação e ignora a orientação bíblica (Hb. 9. 27).
Esta teoria afirma que para cada ser humano que é concebido é criado uma alma, ou
seja, há uma criação mediata de uma alma para cada ser humano que é gerado. Teólogos
como Gruden e Berkhof defendem este ponto de vista, embora, considerem que a teoria
do Traducionismo mereça, alguma consideração. Entretanto, eles endossam a idéia de
que o criacionismo está mais próximo da ortodoxia bíblica. Gruden (1999) expõe a
questão nos seguintes moldes: “Entretanto, os argumentos bíblicos a favor do
criacionismo parecem abordar a questão mais diretamente e ofereçam uma sustentação
bastante forte a favor dessa tese. Primeiro o salmo 127 diz: herança do Senhor são os
filhos; o fruto do ventre seu galardão (Sl. 127.3). Isso indica que não só a alma, mas
também toda a pessoa da criança, incluindo seu corpo, é dádiva de Deus. Na mesma
esteira de pensamento Berkhof (2009) acredita que os argumentos em favor do
criacionismo são maiores demonstrando e advertindo que: “O Criacionismo não tem a
pretensão de eliminar todas as dificuldades, mas ao mesmo tempo, serve de advertência
contra os seguintes erros: (1) que a alma é divisível; (2) que todos os homens são
numericamente da mesma substância; (3) que Cristo assumiu a mesma natureza
numérica que caiu em Adão”.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidentemente que o assunto origem da alma não se esgota com facilidade. Não temos
um consenso sobre o assunto, mesmo porque as Escrituras não nos informam,
efetivamente, sobre a origem da alma. Podemos conjecturar apenas, e isto é o máximo
que podemos fazer. Analisando o pensamento Tricotomista havemos de estar mais
propensos à teoria do Traducionismo, uma vez que o espírito do homem viria
diretamente de Deus, mas a alma viria do homem. Considerando o pensamento
Dicotomista tendemos a aceitar a teoria do criacionismo, uma vez que a tese de que o
homem tem uma substância material que procede da terra e uma substância imaterial
(espírito/alma) que procede de Deus. Por fim, pontuamos a seguinte consideração, a
ideia que fazemos da natureza e constituição do homem determinará a doutrina que
esboçaremos sobre o seu estado atual de pecaminosidade (hamartiologia), bem como,
sua forma de salvação (soteriologia).
1- PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES
A Hamartiologia cuida de estudar a doutrina do pecado e traz na sua raiz etimológica o
foco de seu estudo: Hamartia (pecado) e Logia (Estudo, discurso, tratado). A junção dos
dois vocábulos gregos (hamartia e logos), naturalmente, produz uma palavra grega, que
não consta no léxico da nossa língua, sendo então, a palavra Hamartiologia uma palavra
de origem grega.
O pecado é uma das experiências mais humanas e mais desastrosas na história da raça.
O texto de Romanos, em epígrafe, nos informa a extensão e a profundidade do pecado.
Todos pecaram no pecado de Adão e por isto são pecadores (extensão) e por isto estão
destituídos da glória de Deus (profundidade).
Outro aspecto que precisa ser considerado com atenção é a questão da universalidade do
pecado (Rm. 3. 23, Rm. 5. 12) e, neste sentido, a concepção que temos da
divisão/composição da natureza humana (corpo, alma e espírito; ou corpo, alma/espírito
– respectivamente tricotomia e dicotomia).
2. 1 – O que é pecado?
Devemos ter em vista que a definição de pecado não somente nos informa a natureza,
mas a gravidade do pecado. Quando o homem peca ele erra o alvo escolhido por Deus
para a vida de santidade. Pecar é trocar o bem pelo mal, a vida pela morte, o conselho
de Deus pelo de Satanás (Gn. 2. 16, 17; 3. 4 – 6).
“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm. 5.
12).”
O conceito da origem do pecado nos meios filosóficos pode ser bem representado pela
visão gnóstica do pecado. Os gnósticos entendem que o pecado é inerente à matéria e
que a alma do ser humano ao assumir sua carne (natureza física) é contaminada pelo
pecado. Neste sentido a origem do pecado é material.
Voltando o nosso foco para a origem do pecado dentro da concepção religiosa, nos
ateremos mais à visão evangélica do tema. Os primeiros pais da igreja, sobretudo os
latinos tendiam a crer que a origem do pecado, historicamente falando, estava na
desobediência de Adão. Outro segmento posterior da igreja, o semi- pelagianismo
considerava que a origem em Adão explicava a corrupção, mas não a culpa, ou seja, o
homem seria condenado não pela natureza pecaminosa, mas pela ação pecaminosa.
A Bíblia nos dá evidências claras de que o pecado começou no mundo angélico com a
queda de Satanás. Algumas passagens bíblicas nos deixam perceber que houve uma
rebelião de anjos e esta, seria a primeira ação pecaminosa, movida pelo orgulho de
Satanás. BERKHOF 2009 esboça na sua teologia sistemática este evento, enfatizando
que devemos analisar a queda de Satanás, antes de analisar a queda do homem.
Naturalmente que a queda de Satanás e seus anjos não traria prejuízos diretos na
natureza do homem se este não tivesse anuído ao conselho da Serpente no Éden.
Portanto, devemos estar certos de que o primeiro pecado, não foi praticado pelo casal no
Éden, mas enquanto raça humana, o primeiro pecado aconteceu pelas mãos dos nossos
pais adâmicos.
2. 3 – Universalidade do Pecado
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para
condenação (Rm. 5. 18a)”
A universalidade do pecado pode ser entendida de duas formas, sendo que a primeira
enfatiza a corrupção e a outra a culpa. Determinados ramos da teologia entendem que a
corrupção é universal, mas a culpa não. Outros segmentos (numericamente maior)
entendem que tanto a corrupção quanto a culpa são universais.
A passagem bíblica em epígrafe deixa bastante claro que a culpa foi imputada a todos os
homens, logo não nos parece bíblico dizer que o homem só pode ser considerado
culpado a partir do momento que comete o primeiro pecado. Portanto, é absolutamente
bíblico dizer que o homem não somente herdou a corrupção (Rm. 3. 10 - 12), como
também a culpa pelo pecado de Adão, sendo assim condenável (Rm. 5. 18a).
O pecado de Adão teve origem no egoísmo: Ele quis ser igual a Deus e para isto comeu,
aconselhado por Satanás, do fruto proibido. Desde então o gênero humano tem sido
vítima do egoísmo. O egoísmo é o coração do pecado. A criança é egoísta. O menino,
em seus primeiros passos, que tudo para si porque é egoísta por natureza. Destes fatos
concluímos que o egoísmo é universal.
1- “ como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há
quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça
o bem, não há nem um sequer.” (Romanos 3:10-12 RA)
2- “ Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado,
a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”
(Romanos 5:12 RA)
4- “ Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um
só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem,
Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos.” (Romanos 5:15 RA)
5- “ Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que
recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só,
a saber, Jesus Cristo.” (Romanos 5:17 RA)
Portanto, a conclusão a que chegamos é que o ser humano atual é tão pecador quanto
Adão o foi, conforme GRUDEN (1999) pontua de forma conclusiva na sua teologia
sistemática:
"A conclusão a tirar desses versículos é que todos os membros da raça humana estavam
representados por Adão no tempo da provação no jardim do Éden. Como representante
nosso, Adão pecou, e Deus nos considerou culpados tanto quanto Adão."
Reflexão sobre o pecado:
1- João 1:29 No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!
2- Romanos 5:12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e
pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos
pecaram.
3- Romanos 5:13 Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado
não é levado em conta quando não há lei.
4- Romanos 5:20 Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o
pecado, superabundou a graça,
5- Romanos 5:21 a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também
reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.
6- Romanos 6:6 sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para
que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos;
7- Romanos 6:10 Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o
pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.
8- Romanos 6:11 Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos
para Deus, em Cristo Jesus.
9- Romanos 6:12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que
obedeçais às suas paixões;
10- Romanos 6:14 Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo
da lei, e sim da graça.
11- Romanos 7:7 Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não
teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a
cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.
12- Romanos 7:8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim
toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado.
13- Romanos 7:9 Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o
pecado, e eu morri.
14- Romanos 7:11 Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo
mandamento, me enganou e me matou.
15- Romanos 7:13 Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo
contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-
me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno.
16- Romanos 7:17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em
mim.
17- Romanos 7:20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o
pecado que habita em mim.
18- Romanos 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela
carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa
e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
20- Gálatas 3:22 Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé
em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem.
21- Hebreus 9:26 Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes
desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou
uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.
22- Hebreus 12:4 Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao
sangue
23- Tiago 1:15 Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o
pecado, uma vez consumado, gera a morte.
24- 1 Pedro 4:1 Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo
pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado,
25- 1 João 3:4 Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o
pecado é a transgressão da lei.
26- 1 João 3:8 Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive
pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as
obras do diabo.
Este conceito de culpa nem sempre foi aceito por toda a cristandade, sendo que no
quarto século, um mestre cristão chamado Pelágio ensinava que nos tornamos
responsáveis pelos pecados somente quando os praticamos, ou seja, não existe um
pecado original (herdado) que condena o homem à morte. Gruden (1999) detalha a
propositura de Pelágio:
Pelágio, popular mestre cristão que pregou em Roma por volta de 383 – 410 d. C., e
mais tarde (até 424 d. C) na Palestina, ensinava que Deus responsabiliza o homem só
pelas coisas que este é capaz de fazer. Logo, como Deus exorta a fazer o bem, temos
necessariamente a capacidade de fazer o bem que Deus existe. A posição pelagiana
rejeita a doutrina do “pecado herdado” (ou pecado original) e sustenta que o pecado
consiste somente em atos pecaminosos isolados.
Mas sabemos que conforme Romanos 5. 12, a medida de nossa culpa não está baseada
na nossa capacidade de pecar mais ou menos, mas no fato de sermos descendência de
Adão.
Quanto à corrupção, precisamos distingui-la da culpa ou mesmo do pecado. A
corrupção não é causa, mas conseqüência, ou seja, ela é o resultado do pecado na
natureza do ser humano. Logo a corrupção é a natureza caída e pecaminosa do ser
humano. Esta corrupção é um fato na vida da humanidade, devemos apenas discutir
qual o nível de corrupção em que os homens se encontram.
Neste sentido voltamos á discussão sobre a imagem de Deus no ser humano. Estaria ela
totalmente destruída pelo pecado, estaria ela embotada apenas? Aqui há uma ruptura
entre dois segmentos da teologia: Calvinistas e Arminianos.
A igreja primitiva tendia a pensar na depravação, como uma corrupção parcial, que,
apenas enfraquecia o livre arbítrio do homem, mas não o anulava. O único pensamento
que destoou, nesta fase da história, foi o de Agostinho que considerava a natureza do
homem, física e moralmente, totalmente, corrompida pelo pecado de Adão.
Teólogos como Berkhof defendem a depravação total do ser humano, explicando que o
homem foi privado da justiça original e agora é um agente do mal. O homem foi
atingido em toda a sua natureza, incluindo faculdades do corpo e da alma; não há bem
espiritual algum na vida do pecador. Não somente o homem está neste estado
depravado, mas ele é incapaz de realizar qualquer coisa que obtenha a aprovação de
Deus e que ele é incapaz de mudar sua preferência fundamental pelo pecado e por isto
ele é incapaz de fazer qualquer bem espiritual.
Outro Teólogo que se aproxima desta linha de pensamento é Gruden, entretanto ele é
mais moderado. Ele argumenta que apesar da depravação do ser humano, “pela graça
comum de Deus (ou seja, pelo favor imerecido que ele dispensa a todos os seres
humanos), as pessoas puderam fazer o bem nos campos de educação, do
desenvolvimento da beleza e da destreza nas artes, no desenvolvimento de leis justas e
dos atos genéricos de benevolência e bondade humana para com os outros” (GRUDEN,
1999, p. 409).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2007.