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Nome da disciplina:
MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO NO NOVO TESTAMENTO - EXEGESE

Unidade I
Autor(a): Me. KASSIO FLORES PASSOS LOPES
Parecerista: Me. Fábio Wilhelm

UNIDADE I
1. ETAPA 1 DA EXEGESE - A análise panorâmica
Kassio Flores Passos Lopes. Bacharel em Teologia pela UMESP (2014) e Mestre
em Filosofia (História da Filosofia) pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), 2019.
Introdução

Conquanto a Bíblia seja um livro antigo, grande parte do seu conteúdo é de fácil
compreensão, pois seu significado está ali na superfície, acessível aos seus leitores.
Apesar disso, muitos trechos oferecem desafios interpretativos. Nem todas as
passagens bíblicas são claras e fáceis de entender. Nesta situação gostaríamos de
nos ver livres da dúvida e poder determinar o sentido do texto, não é mesmo? A
exegese é uma tarefa que se presta a este serviço. Conquanto seja praticada mais
por peritos, especialista e estudiosos, ela serve também a uma situação muito
comum experimentada por todos os leitores da Bíblia quanto ao desafio de
interpretá-la corretamente. Deste fato decorre sua importância como disciplina, não
apenas para o teólogo profissional e o acadêmico, mas para todos os que desejam
compreender a Bíblia.
1.Noções introdutórias sobre a exegese
Comecemos nosso estudo pelo significado da palavra exegese. A “palavra ‘exegese’
no português é a transliteração do substantivo grego ἐξήγησις derivada do verbo
ἐξηγέομαι. O significado literal desse verbo é ‘guiar para fora’” (GRASSMICK, 2009,
p.10). A ideia é tirar de dentro do texto o seu sentido e significado buscando sua
interpretação. A partir dessa ideia, a exegese é a ciência que “explica” um texto
bíblico, possuindo um caráter elucidativo das passagens da Escritura. Mas qual o
objetivo da exegese? O propósito da exegese é ser uma ferramenta pela qual o
estudante das Escrituras (para as mais variadas finalidades, como, por exemplo,
realizar uma exposição oral, homilias e sermões, produzir um estudo pessoal ou
religioso, escrever um artigo acadêmico, etc.) a interpretar corretamente o sentido do
texto bíblico pretendido pelo seu autor (ou autores) aos seus leitores originais, com o
sentido e significado pretendido por este autor na época em que ele foi escrito,
dentro de seu contexto e ambiente histórico, visando, por fim, sua aplicação prática
condizente aos nossos dias, fazendo a transposição para a nossa própria época e
cultura. Segundo Fee e Stuart:

“Exegese, portanto, responde à seguinte questão: Qual era o significado que o


autor bíblico queria comunicar? Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o
contexto propriamente dito) quanto à por que ele o disse num determinado
lugar (o contexto literário) — na medida em que isso pode ser descoberto, dada
nossa distância em tempo, linguagem e cultura. Além disso, a exegese
ocupa-se, fundamentalmente, com a intencionalidade: O que o autor bíblico
tencionava que seus leitores originais compreendessem?” (FEE e STUART,
2008, p.25)

Por certo é um objetivo audacioso descobrir a intenção original de um autor em


razão das distâncias históricas e literárias em que estamos, mas ela deve ser mirada
por aqueles que empreendem a tarefa exegética. O texto é uma ponte entre seu
autor e seus leitores e o exegeta ao buscar interpretá-lo pretende ouvir tanto o que
os leitores originais teriam entendido em sua época quanto o que o autor estava
tentando comunicar com suas palavras.

A distinção entre a exegese e a hermenêutica

É possível que você esteja se perguntando: se exegese significa explicação do texto


bíblico qual a diferença em relação a hermenêutica? De fato, hermenêutica e
exegese estão conectadas, por vezes, até se sobrepõe no que diz respeito à
interpretação bíblica. Contudo, é possível diferenciá-las do seguinte modo: a
hermenêutica, historicamente, se desenvolveu como ciência mais ampla conjugando
questões, regras, critérios, princípios e técnicas norteadores e gerais pelos quais
podemos entender e interpretar um texto enquanto a exegese passou a ser
compreendida como uma tarefa ou método científico específico pelo qual se
concretiza essa interpretação. De maneira simples, no que diz respeito a
interpretação, poderíamos dizer que a hermenêutica é aquela que orienta enquanto
a exegese é aquela executa; a primeira estabelece uma teoria para a interpretação
enquanto a segunda coloca em prática o método interpretativo. Sendo assim, a
hermenêutica estabelece os princípios para uma boa interpretação, enquanto a
exegese aplica através de um método estes princípios em um texto bíblico.

#Atividade#
1) “No uso técnico, o objetivo da hermenêutica é estabelecer os princípios
metodológicos necessários à interpretação do texto bíblico, ao passo que o alvo da
exegese é aplicar os princípios ao processo real de descoberta do significado do
texto. De modo geral, a hermenêutica está relacionada com a exegese como teoria
está com a prática”.

GRASSMICK, John D. Exegese do Novo Testamento: do texto ao púlpito. São Paulo:


Shedd Publicações, 2009, p.12..
a) O propósito da hermenêutica é estabelecer as regras de exposição de um texto bíblico
enquanto a da exegese é a de explanar a Escritura na prática.

Justificativa:A ciência que estabelece regras para a exposição ou pregação de um texto


bíblico é a homilética e não a hermenêutica

b) O propósito da hermenêutica é estabelecer as regras da análise de variantes textuais


enquanto a da exegese é a de interpretar a Escritura na prática

Justificativa: A ciência que estabelece regras da análise de variantes textuais é mais


especificamente a Crítica textual dentro da filologia e não propriamente a hermenêutica,
conquanto estejam relacionadas.

c) O propósito da hermenêutica é estabelecer as regras de abordagem de um fato


histórico enquanto a da exegese é o de elucidar a Escritura na prática

Justificativa: O fato histórico é analisado pela Ciência Histórica e não pela hermenêutica
em si.

d) O propósito da hermenêutica é estabelecer as regras de interpretação de um texto


bíblico enquanto a da exegese é o de explicar a Escritura na prática

Justificativa: O alvo da hermenêutica é estabelecer os princípios à interpretação da


Bíblia e o da exegese é colocar em prática esses princípios explicando-a

e) O propósito da hermenêutica é estabelecer as regras de estudo de um lugar bíblico


enquanto a da exegese é o de esclarecer a Escritura na prática

Justificativa: É a Geografia como ciência, e a geografia bíblica como um de seus ramos


específicos que analisa os lugares e regiões bíblicas e não a hermenêutica.

#Atividade#

2. As dificuldades da exegese
Para entendermos melhor a exegese poderíamos dizer que o exegeta ao analisar
uma passagem bíblica está trabalhando como um investigador reunindo dados,
analisando as informações para solucionar um caso, ou seja, compreender o sentido
básico de um texto antigo. Naturalmente algumas dificuldades surgirão nesse
processo exegético. Quanto mais distantes estamos de alguém mais difícil será
ouvi-la, não é mesmo? No caso do texto do Novo Testamento e dos seus autores
estamos distantes no aspecto:

Histórico: Estamos distantes dois mil anos dos autores originais, de seus textos e
primeiros receptores, longe de seu contexto histórico amplo, dos contextos religiosos
e políticos da época.

Circunstancial: Estamos distantes das situações e contextos históricos específicos


do autor e dos seus receptores originais (os conflitos que estavam acontecendo e
que fizeram necessária a escrita de um livro ou uma carta, os problemas que
precisavam ser lidados pelos apóstolos naquelas circunstâncias etc.)

Geograficamente: Vivemos em realidades geográficas diferentes do mundo bíblico


do Novo Testamento, desconhecendo lugares do império romano, da palestina e que
são mencionados nos livros e cartas. Mesmo aqueles que vivem nessas regiões
hoje ou que as visitam não encontram mais o mesmo cenário geográfico que foi
alterado pelas intempéries do tempo, por guerras, terremotos e incêndios ao longo
da história.

Culturalmente: Estamos distantes da cultura de um judeu na palestina do primeiro


século, dos costumes, práticas, indumentária, convenções e cosmovisão
greco-romana do período descrito no Novo Testamento.

Linguisticamente: A distância entre um leitor moderno e os autores e leitores


originais do Novo Testamento também é linguística já que o Grego Koiné usado em
seus textos neotestamentários é uma língua morta e não falada por nós

Literariamente: Os tipos e gêneros literários usados na época da composição dos


textos do Novo Testamento também são diferentes dos gêneros que estamos
acostumados a ler e interpretar hoje em dia, de maneira que estamos distantes dos
autores e receptores originais também no sentido literário. Além disso por causa da
fragilidade do material usado para escrever o Novo Testamento (papiros) e da
precariedade das condições de armazenagem e preservação desses textos não
temos mais os originais, mas cópias – o que levanta algumas dificuldades (por
exemplo, as variantes textuais) para o exegeta na hora de estudar um texto bíblico.

As dificuldades do exegeta do Novo Testamento, portanto, em razão dessas e outras


distâncias, será em relação aos autores originais (suas intenções, propósitos,
contextos culturais e circunstâncias históricas em que escreveram), ao texto em si
(seus elementos literários, textuais, linguísticos, semânticos, sintáticos etc.) e a ele
mesmo como leitor-intérprete (sua distância histórica e cultural, suas ideias
preconcebidas etc.).

2.1. A importância da exegese


Para continuarmos usando a imagem de alguém ouvindo outra pessoa distante, no
sentido de que quanto mais longe do interlocutor mais difícil será ouvi-lo e entender
o que ele está tentando dizer, assim, a exegese seria como um aparelho auditivo,
amplificando nossa capacidade de ouvir novamente o texto, por mais distante que
ele esteja de nós. Quando duas pessoas estão distantes uma da outra tentando se
comunicar o problema não está propriamente dito naquele fala nem naquele que
ouve, pois tanto a capacidade de falar quanto a de ouvir de ambos está em perfeitas
condições. O problema é a distância e é precisamente aí que a exegese entra como
método científico a serviço da hermenêutica, isto é, para encurtar as distâncias e
possibilitar ao estudante compreender o autor bíblico e seu texto hoje, mesmo
distante dele temporalmente.

Ao invés de abraçar um ceticismo quanto a possibilidade de chegar ao entendimento


de uma determinada passagem a exegese é uma tarefa que nos ajuda nos
problemas que podem surgir no processo de interpretar um texto das Escrituras
Sagradas, ela nos ajuda no distanciamento, em uma leitura tendenciosa. Essa
leitura tendenciosa é o que é chamado de eisegese que é uma “leitura que introduz
algo no texto (no grego, eis significa “dentro”)” (GORMAN, 2017, p.44). A
importância da exegese, nesse sentido, é que ela nos livra da eixegse, isto é, do
risco de impormos ao texto o que queremos e não o que ele realmente está
ensinando.

A exegese, portanto, é uma ciência que nos ajuda na distinção entre verdadeira e
falsa interpretação de um texto bíblico. Sem uma ferramenta como essa o resultado
do estudo da Bíblia será apenas anarquia, polivalência e subjetividade. Além disso,
o texto bíblico precisa falar por si mesmo e acima de nossas tradições e confissões,
de nossas tendências e pressuposições e a exegese é a tarefa pela qual podemos
afinar nossos ouvidos para ouvir o que o texto está falando por ele mesmo.

O papel do exegeta

Já que os textos foram concebidos em contextos distantes do leitor hodierno a tarefa


exegética propõe ajudar o estudante a encurtar essa distância, aproximando-o o
máximo possível do ambiente em que a passagem estudada foi escrita pelo seu
autor original. A tarefa do exegeta se confunde, neste sentido com a tarefa da
exegese que ele precisa realizar. Ao compreender no que consiste a tarefa da
exegese conseguimos entender o que o exegeta deve se concentrar em sua análise
das Escrituras.

Neste sentido, segundo Wegner, a exegese compreende três tarefas (WEGNER,


2013, p.12). A primeira delas “é aclarar as situações descritas nos textos, ou seja,
redescobrir o passado bíblico de tal forma que o que foi narrado nos textos se torne
transparente e compreensível para nós que vivemos em outra época e em
circunstâncias e cultura diferentes” (WEGNER, 2013, p.12). Isso tem a ver com o
que já abordamos acerca dos elementos históricos, geográficos, culturais que fazem
parte do contexto de um texto, mas a exegese também exerce outro papel
importante na interpretação que é possibilitar que o texto diga o que ele
originalmente pretendeu comunicar.

Todo leitor é intérprete, esteja ele consciente desse fato ou não. Não conseguimos
ler a Bíblia sem as nossas lentes, sem nossas convicções e ideologias. Cada um de
nós lida com o mundo, a partir do nosso conhecimento, da experiência e significados
aos quais atribuímos às palavras, objetos e situações. Por exemplo, quando
acordamos servimos o café em uma xícara ou caneca e não em um balde, pois
entendemos que são objetos diferentes e temos significados distintos para ambos,
ou seja, interpretamos esses objetos de determinado modo, aliás noós movemos o
tempo todo em um universo repleto de sentidos. Quando lemos palavras na Bíblia
fazemos algo parecido, ou seja, interpretamos essas palavras partir do que
sabemos, oferecendo a elas os significados que temos em nosso mundo de
significados.

Estamos condicionados pelas nossas preconcepções, ideologias, contudo aquelas


palavras que estamos lendo podem ter um sentido diferente para o autor do primeiro
século daquele que temos no século vinte e um. Nossa cosmovisão pode nos fazer
distorcer as palavras de Paulo em suas cartas, por exemplo, uma vez que a visão de
mundo de um judeu na cultura greco-romana ser diferente da nossa hoje. Também
nossos compromissos teológicos nos influenciam. A leitura de alguém pentecostal,
reformado ou católico pode estar condicionada pela sua confissão religiosa, pois são
as lentes pelas quais ele está lendo a Bíblia. É por essa razão que a segunda tarefa
da exegese “é permitir que possa ser ouvida a intenção que o texto teve em sua
origem” (WEGNER, 2013, p.13).

Não somente lemos atribuindo às palavras os sentidos que nós mesmos possuímos,
mas também que nossa tradição religiosa, grupo eclesiástico ou partido ideológico
possui acerca do mundo. Assim, a exegese nos ajuda a tentar ler o texto sem
determiná-lo pelas nossas tradições e confissões religiosas. O exegeta buscará
confrontar suas próprias convicções a partir da interpretação bíblica. Neste caso, a
terceira tarefa da exegese “é verificar em que sentido opções éticas e doutrinais
podem ser respaldadas e, portanto, reafirmadas, ou devem ser revistas e
relativizadas.” (WEGNER, 2013, p.13). Isso é extremamente importante, pois temos
a tendência e, de fato, muitas “pessoas lêem a Escritura com base em um
paradigma de leitura dominado pela denominação da qual fazem parte. Elas não
buscam a verdade e sim a conformidade com sua posição teológica já assumida”
(OSBORNE, 2009, p.600). A ideia divulgada a partir da Reforma Protestante do
século XVI iniciada por Martinho Lutero de que a Igreja Reformada, sempre deveria
estar em reforma de acordo com a Palavra de Deus tem a ver com o princípio de
Sola Scriptura, de que a Bíblia deve falar mais alto que as crenças institucionais.

As ferramentas da Exegese

As ferramentas teológicas do exegeta são essenciais para sua análise de um texto


bíblico. Como um construtor não pode realizar seu trabalho sem boas ferramentas e
instrumentos adequados ao seu serviço também um exegeta não conseguirá realizar
uma boa exegese de um texto sem suas ferramentas teológicas. Para um estudo
panorâmico do Novo Testamento, que é o passo inicial da exegese conforme
veremos abaixo algumas obras são importantes. São elas:

● Novo Testamento interlinear grego-português


● Diversas traduções da Bíblia para leitura
● Bíblias de Estudo com anotações, esboços dos livros, comentários
introdutórios sobre os livros do Novo Testamento para consulta ( Ressaltando
que as anotações das Bíblias de Estudo possuem uma visão teologica de
acordo com seu comentarista, ou seja, conforme sua visão teológica).
● Dicionários Bíblicos para consulta
● Introduções e Manuais do Novo Testamento para consulta
Figura 1.1 - Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante que trouxe o princípio de “Somente a
Escritura” contribuindo assim para uma mudança na interpretação bíblica

Fonte: Wolfgang Zwanzger


https://br.123rf.com/photo_16458335_statue-of-martin-luther-in-front-of-the-frauenkirche-in-dresden
-germany.html.
Descrição: A imagem apresenta uma estátua de Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante no
século 16, na Alemanha, em pé e segurando a Bíblia que ele mesmo traduziu nas mãos.

#Atividade#
2) “...alguns exegetas consideram os elementos de reflexão como suplementares da
própria exegese. Eles podem sugerir que qualquer conceito pessoal ou reflexão
teológica sobre um texto não são científicos, na melhor das hipóteses; e na pior
delas, são um convite para a eisegese”.

GORMAN, Michael J. Introdução a Exegese Bíblica. São Paulo: Vida Melhor, 2017,
p.46.

a) A reflexão aplicativa sobre um texto não é de fato exegética, mas eisegese, imposições
ao texto de nossas ideias. Pela exegese o texto fala por si mesmo.

Justificativa: Eisegese é a imposição de nossas ideias ao texto e não reflexão sobre a


correta interpretação de um texto com base na exegese.

b) A reflexão aplicativa sobre um texto não é de fato exegética, é homilética, imposições


ao texto de nossas ideias. Pela exegese o texto fala por si mesmo

Justificativa: Homilética é a disciplina teológica que se relaciona com a exposição e


pregação de um texto bíblico e não sobre a imposição de nossas ideias ao texto

c) A reflexão aplicativa sobre um texto não é de fato exegética, é filologia, imposições ao


texto de nossas ideias. Pela exegese o texto fala por si mesmo.
Justificativa: Filologia é a ciência que estuda rigorosamente os documentos antigos em
suas línguas e idiomas originais e não imposições ao texto de nossas ideias.

d) A reflexão aplicativa sobre um texto é de fato exegética, se não forem imposições ao


texto de nossas ideias. Pela exegese o texto fala por si mesmo.

Justificativa: A reflexão aplicativa sobre um texto é de fato exegética, se não forem


imposições ao texto de nossas ideias e se baseia-se em interpretações corretas da
Bíblia

e) A reflexão aplicativa sobre um texto não é de fato exegética, é diacronia, imposições ao


texto de nossas ideias. Pela exegese o texto fala por si mesmo

Justificativa: Diacrônica significa "por meio do tempo” e procura entender os aspectos


que deram origem e contribuem para a formação do texto e não imposições a
passagem bíblica de nossas ideias.

#Atividade#

3. Os tipos de abordagens exegéticas


Uma vez entendendo em linhas gerais a tarefa exegética podemos agora nos
concentrar em métodos exegéticos específicos. Não existe um único modo ou
técnica exegética, mas metodologias que diferem em suas abordagens, ênfases,
pressupostos, etapas e assim por diante. Contudo, é importante destacar alguns
métodos que se consolidaram nos diversos cenários e ambientes teológicos com
passar dos anos.

● Estruturalismo
● Histórico-crítico
● Histórico-gramatical

Estruturalismo
Os adeptos do estruturalismo se divergem no momento de defini-lo, mas concordam
que faz uma abordagem sincrônica da Bíblia. O filósofo Claude Lévi-Strauss meados
de 50, foi reconhecido como o “‘pai do estruturalismo’ (termo de Kurzweil). Embora
ele fosse mais o popularizador que o criador da escola, ele desenvolveu o sistema
que conhecemos hoje” (OSBORNE, 2009, p.66). Na metodologia exegética do
estruturalismo o texto bíblico é entendido como uma estrutura, sistema ou
organização literárias que contém um sentido, ou seja, o texto em si, além da
intenção originária de seu autor tem um significado próprio. O estruturalismo,
segundo Erickson é a:

“Abordagem interpretativa que afirma que o texto bíblico tem significado


independente do processo de composição e da intenção do autor. Baseado
na ideia de que existem certas estruturas recorrentes ou padrões de
pensamento, tenta encontrar os inter-relacionamentos entre os elementos
internos do texto (a estrutura superficial) e as realidades antropológicas às
quais esses elementos se referem (a estrutura profunda)” (ERICKSON,
2011, p.76).

É importante destacar que isso não significa que o método estruturalista


renuncie à abordagem diacrônica da Bíblia, mas segundo Wegner ele propõe
“responder a outras perguntas, a saber: "Como funciona o texto? Como produz seu
sentido? Que se passa no texto em si? Que operações de lógica, afirmação,
negação e oposição existem no texto?" (WEGNER, 2013, p.16). Na realidade e o
estruturalismo é um sistema filosoficamente complexo e sofisticado. Osborne
oferece exemplo da abordagem estruturalista, em um texto bíblico, como o do
Evangelho de João, capítulo 3:

“O estruturalista nega que a declaração de superfície de João 3.16 possa


transmitir o significado do texto para o indivíduo. Em vez disso, deve-se
consultar o diálogo inteiro entre Jesus e Nicodemos em João 3. 1- 15, em
particular os códigos binários do alto (Jesus) e de baixo (Nicodemos),
depois aplicar esses ao acréscimo editorial de João 3. 16- 21, que tem seus
próprios códigos de emissão-recepção, julgamento-salvação, crer-rejeitar,
luz-trevas e verdade-mal. Esses símbolos são então decifrados para se
descobrir a estrutura profunda, ou mensagens subjacente, e então
transformados com base nos códigos de nossos próprios dias. O pano de
fundo e a gramática de superfície não falam; são antes as oposições dentro
do texto em si que comunicam o significado. Essas, além disso, falam
diretamente a todo ouvinte” (OSBORNE, 2009, 608).

Uma das vantagens desse método segundo Wegner é que “educa para uma
leitura atenta do que realmente está escrito nos textos, evitando uma concentração
unicamente em determinadas partes ou aspectos da narrativa” (WEGNER, 2013,
p.16), em outras palavras, impede o leitor de cair no fatídico erro interpretativo de ao
olhar para cada árvore e perder de vista a floresta inteira ou distrair-se com as
partes desconsiderando o todo.

É criticado, às vezes, por ser um método diversificado e com diferentes


proponentes o que faz com que não tenha um consenso metodológico claro além da
complexidade dos próprios passos a serem seguidos, dificultando aqueles que
procuram praticá-lo. É criticado por uma ênfase em um sistema binário semântico
opositivo (bom-mau, luz-trevas) como se o pensamento humano operasse apenas
com tais categorias, simplificando a questão. Outros dizem que o método possibilita
o risco de se desinteressar pelos processos históricos pelos quais o texto veio a ser
concebido e a importância do contexto histórico e cultural para a determinação do
sentido da passagem, como também por uma análise mais profunda da gramática e
sintaxe do texto em busca de algo por trás da estrutura superficial.

#Dica de leitura#
Nome do livro: Exegese do Novo Testamento - Manual de Metodologia.
Editora: Sinodal
Autor: WEGNER, Uwe.
ISBN: 85-233-0598-X
Comentário: O livro Exegese do Novo Testamento - Manual de Metodologia, escrito
por Uwe Wegner aborda questões relevantes para quem deseja aprofundar-se
nessa tarefa de análise do texto bíblico. O autor aborda o significado da exegese e o
que envolve sua tarefa como ciência que objetiva a interpretação dos textos bíblicos
além de apontar as abordagens existentes, como o estruturalismo.
#Dica de leitura#

Histórico-crítico

Emergindo em um período racionalista (século XVII e desenvolvendo-se até o


século XIX), marcada pelos ideais do Iluminismo e da era moderna, em que a
interpretação dogmática da Bíblia passou a ser duramente questionada, o método
histórico-crítico buscava ler as Escrituras como qualquer outro livro da antiguidade,
aplicando em seus procedimentos exegéticos a pesquisa histórica como essencial
para determinar o sentido de uma passagem das Escrituras. Com os incríveis
avanços e descobertas da ciência naquele período histórico sabemos que uma era
de forte otimismo e confiança na capacidade dos métodos científicos iniciou-se e
deixou marcas profundas no modo como se entendia a interpretação da Bíblia. Duas
alterações cruciais no modo de interpretar a Bíblia aconteceram, segundo Klein,
Blomberg e Junior

“Primeiro, em vez de buscar discernir o que um texto significava, muitos


estudiosos buscavam, em vez disso, descobrir as fontes por trás dele, o
método chamado crítica das fontes. Em segundo lugar, em vez de aceitar a
Bíblia como revelação divina, alguns especialistas buscaram reconstruir o
suposto desenvolvimento histórico para fundamentá-la” (KLEIN,
BLOMBERG e JUNIOR, 2017, p.121-122)

O texto sendo entendido como objeto histórico analisado deveria sempre


estar a disposição de juízos prováveis e revisáveis, segundo começou a se pensar.
As implicações disso para as tradições e confissões religiosas era que suas
interpretações bíblicas deveriam ser avaliadas pelas pela pesquisa histórica e
racionalista e que uma atitude científica de questionamento e dúvida deveria ser
assumida também na ciência bíblica. O método histórico-crítico por sua vez faz uma
abordagem diacrônica da Bíblia. É um método histórico, pois se preocupa com o
processo e as fontes históricas que deram origem ao texto tal como o encontramos
hoje na Bíblia, identificando os contextos, ambientes e condições dessas fontes
textuais.
#Saiba mais# – pode ser adicionado a qualquer momento no texto
Embora haja críticas ao Método Histórico-Crítico como técnica exegética, também é
preciso entender seus benefícios e vantagens no estudo de uma passagem bíblica.
O artigo a seguir escrito por Maria Aparecida de Andrade Almeida e Pedro Paulo A.
Funari aborda questões interessantes sobre esse método exegético.

Fonte: ALMEIDA, Maria Aparecida de Andrade Almeida, FUNARI, Pedro Paulo A.


Exegese Bíblica: vantagens, desvantagens, limites e contribuições na interpretação
moderna da Bíblia. Revista Caminhos, v. 14, n. 1 (2016), in:
http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/4823.

#Saiba mais#

Além de histórico, ele é “crítico no sentido de que necessita emitir uma série
de juízos sobre as fontes que tem por objeto de estudo” (WEGNER, 2013, p.17). O
método histórico-crítico contribuiu para o avanço na pesquisa histórica da Bíblia,
descobertas e desenvolvimentos científicos ligados à arqueologia, manuscritologia,
contextos históricos, geográficos, literários dos textos sagrados e assim por diante.
Contudo, segundo Wegner, “apesar desses e outros inestimáveis avanços
alcançados pela crítica histórica, os seus pressupostos, quando usados de forma
absolutização, evidenciam-se como incompatíveis com o caráter da revelação
bíblica” (WEGNER, 2013, p.19).

Alguns criticam o método afirmando que a pesquisa histórica pode ser um


historicismo reducionista para determinar toda a verdade, já que está limitada como
ciência a registros históricos específicos para análise. Alguns possíveis pontos
negativos relacionados ao uso do método histórico-crítico envolvem um abordagem
racionalista e reducionista, ao academicismo estéril e meramente teórico incapaz de
aplicar religiosamente as Escrituras a vida pessoal ou coletiva de uma comunidade.

#Reflita# – pode ser adicionado a qualquer momento no texto


Diacrônica significa "por meio do tempo” e é uma das abordagens bíblicas em uma
exegese, usada no método histórico-crítico. Essa abordagem procura entender os
aspectos que deram origem e contribuem para a formação do texto como sendo
essenciais para a sua interpretação, buscando identificar o desenvolvimento do texto
ao longo do tempo, em suas formas pré-canônicas, por assim dizer. Essa
abordagem analisará o texto buscando o possível texto original e suas alterações
históricas, o estudo histórico e gramatical das palavras, linguagem e idiomas usados
na época, a presença das tradições, redações e fontes por trás dos textos, seja do
judaísmo ou do cristianismo primitivo e os eventos da história que estariam no
ambiente em que as passagens bíblicas foram redigidas
Fonte: Elaborado pelo autor

#Reflita#

Histórico-gramatical

O método Histórico-gramatical é uma abordagem interpretativa da Bíblia “que


enfatiza que uma passagem deve ser explicada à luz de sua sintaxe, de seu
contexto e de seu panorama histórico” (ERICKSON, 2011, p. 76). Essa metodologia
designada histórico-gramatical é denominada assim pelos estudiosos reformados e
evangélicos que assumem um tipo de “hermenêutica tradicional”, com os
pressupostos da inspiração, inerrância, infalibilidade bíblica, aceitação dos milagres
descritos na Escritura etc. Essa hermenêutica tradicional envolve

“...uma sabedoria de senso comum para interpretar a Bíblia da maneira que


as pessoas tipicamente interpretam outros atos de comunicação humana,
combinada com a precisão metodológica dada a essa sabedoria pelos
últimos dois séculos de crítica bíblica moderna” (KLEIN, BLOMBERG e
JUNIOR, 2017, p.144)

O método histórico-gramatical busca entender um texto bíblico a partir do que


o próprio texto diz com auxílio da pesquisa histórica, cultural, arqueológica,
gramatical e sintática acerca dos elementos presentes nesse texto e que
obscurecem o seu sentido para os leitor hodierno dificultando assim a sua
interpretação. Todo o texto é tomado como possuindo sentido e significado literal ou
respetivo ao seu gênero literário (casos seja uma parábola, alegoria etc.) e uma vez
que os aspectos históricos ou textuais obscuros são explicitados é possível alcançar
o sentido do texto. É um método indutivo que buscar interpretar e aplicar as
Escrituras, afirmando estar enraizada nos métodos históricos de interpretação
praticada pela Escola de Antioquia no século IV (literalista em relação a Escola de
Alexandria que adotava uma leitura mais alegórica das Escrituras) e pelos
Reformadores durante o século XVI.

#VAMOS PRATICAR#
Não existe uma única metodologia exegética, mas diversas técnicas de
interpretação do texto bíblico que surgiram e foram utilizadas no decorrer do tempo
por diferentes escolas e correntes teológicas. Elas se distinguiam em suas
abordagens, ênfases, pressupostos e fases na análise de uma passagem da Bíblia.
Entre as metodologias mais conhecidas estão o método histórico-crítico, o
estruturalismo e o histórico-gramatical

Comando da atividade prática: A partir do que estudamos escolha um texto bíblico e


faça uma breve análise valendo-se dos enfoques de cada uma das três
metodologias que observamos

Feedback

Espera-se que o estudante consiga diferenciar os métodos enquanto prática a


exegese. Abordar o mesmo texto com enfoques diferentes é enriquecedor e
contribui para que o estudante consiga desenvolver a metodologia que julga mais
eficiente na exegese bíblica.

#VAMOS PRATICAR#
4. Por onde começar a tarefa exegética
Então, por onde começar uma exegese? Iniciamos a metodologia exegética com a
análise panorâmica. Alguns denominam este passo de aproximação, pesquisa ou
familiarização com o texto a ser analisado. O estudo panorâmico da passagem
envolve exatamente essas tarefas, isto é, o primeiro contato com o texto, pesquisa
básica sobre ele familiarizando-se com o que ele diz. É panorâmico, pois é um
sobrevoo sobre o texto, ainda na superfície. São os demais passos da exegese que
aprofundam o estudos dos elementos textuais, literários, linguísticos e teológicos
sanando as dúvidas registradas nesta etapa. Neste passo observamos com a
máxima atenção o texto, levantando os dados e elementos que serão interpretados
mais à frente. Um estudo panorâmico descuidado compromete toda a exegese, pois
é possível que elementos que não notados e observados nesta etapa sejam
negligenciados na próxima, comprometendo a interpretação. Esse estudo provisório
é base para o aprofundamento que fará nas demais etapas por isso deve ser bem
feito, envolvendo uma critérios leitura e meditação na passagem.

4.1 Escolha um texto bíblico de sua preferência para realizar uma exegese.

A escolha de um texto se relaciona com o propósito da tarefa exegética, isto é, se


ela servirá de base para um artigo acadêmico, para uma homilia ou exposição oral,
um estudo bíblico, para exercício exegético ou outros mais. O texto a ser escolhido
de acordo com os propósitos do estudante deve ser uma passagem bíblica que seja
uma unidade discursiva, que tenha começo, meio e fim, isto é, que aborde,
desenvolva e conclua um assunto, tema ou história, uma unidade básica de
pensamento. Em narrativas bíblicas, como Atos dos Apóstolos, normalmente usa-se
o termo perícope para designar essas unidades discursivas ou passagens bíblicas.
exegético. “O termo perícope (palavra grega para seção, relacionada com o verbo
“cortar”) é geralmente restrita a um segmento de uma narrativa bíblica literária”
(GORMAN, 2017, p.54). Para treinar o método exegético e ganhar prática o
estudante pode iniciar com um texto bíblico menos debatido, que não envolva
polêmicas ou que seja reconhecido por serem muito difíceis. Um texto que que
provoque interesses significativo ou útil para outra finalidade. Atente também para o
tamanho da passagem bíblica

4.2 Faça um estudo panorâmico do livro

Antes de estudar uma passagem ou perícope é preciso tomar conhecimento do


contexto geral em que ela está situada, por isso o ideal é começar estudando
panoramicamente o livro ou epístola inteiro antes de uma seção específica.

Leia o livro inteiro.

Familiarize-se com o texto, lendo e relendo o livro inteiro e o texto várias vezes e em
traduções diferentes (ALMEIDA Revista e Atualizada (ARA), Nova Versão
Internacional (NVI), Nova Tradução na linguagem de Hoje (NTLH), Bíblia de
Jerusalém (BJ), Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB), Bíblia Sagrada tradução
CNBB.

#Indicação de filme#
Nome: Traduções da Bíblia
Ano: 2011
Comentário: Palestra sobre Traduções da Bíblia ministrada pelo Rev. Dr. Rudi
Zimmer no Seminário de Ciências Bíblicas da Sociedade Bíblica do Brasil em 2005.
Todo exegeta ao estudar um texto terá que ler e reler a Bíblia em diversas traduções
e por isso é imprescindível conhecer e compreender e quais são e como se dão
essas traduções bíblicas, questões abordadas nesta palestra. Para conhecer mais
sobre traduções, acesse o vídeo disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=NOrKuwKzXR8.

#Indicação de filme#

Estude o livro inteiro.

Estude e escreva suas impressões preliminares do livro escolhido:


● Qual gênero literário do livro e do texto escolhido?
● Anote as questões básicas sobre o livro escolhido: o autor, os destinatários, o
contexto, o ano, o propósito do livro, os assuntos que são tratados etc.
● Quais as palavras-chave do livro, aquelas palavras que são enfatizadas?
● Anote as questões básicas do livro escolhido (O Que está sendo tratado no
texto ou o que está acontecendo; quando está acontecendo, isto é, sua época
e contexto; Onde o autor está, seus leitores ou os personagens, ou seja, os
ambientes geográficos descritos no texto; quem são as pessoas que
aparecem na passagem;
● Quais palavras ou assuntos presentes no texto precisam ser esclarecidas no
texto, ou seja, quais termos são difíceis e precisam ser elucidados?
● Quais as palavras-chave do texto?
● Qual o propósito principal provisório do texto, em sua opinião, isto é, a
passagem que está analisando foi escrita, em sua opinião por qual razão? O
que o autor desejava comunicar aos seus leitores originais? Qual a grande
ênfase do texto?

Pesquise sobre o livro

Pesquise sobre o livro escolhido em Introduções e Manuais ao Novo Testamento e


então compare com suas anotações entendendo seu contexto histórico, época,
temas, ocasião.

Escreva um esboço provisório do livro

Escreva um esboço provisório do livro contendo as principais divisões e subdivisões,


dando nomes para as seções que abordam seus assuntos e temas dentro de uma
ideia geral abordada no livro. Grassmick (2009, p.60-61) oferece um exemplo bem
interessante do que seria um Esboço provisório de Colossenses

Introdução (1.1-14).

Esta inclui a saudação e a oração de ação de graças e petição feitas por


Paulo.
I. Jesus Cristo é preeminente sobre todas as coisas (1.15— 2.5).

A. Ele é pessoalmente preeminente (1.15-18).

B. Ele é preeminente em sua obra (1.19— 2.5).

II. Os falsos mestres se opõem a Jesus Cristo em seus preceitos e práticas


(2.6-19).

A. Seus preceitos contradizem a verdade de Cristo (2.6-15).

B. Suas práticas ignoram a verdade de Cristo (2.16-19).

III. Os cristãos têm vida em Cristo e devem demonstrar a vida celestial em


sua existência (2.20— 4.6).

A. A união do crente com Cristo é a base da vida celestial (2.20— 3.4).

B. A vida diária do crente deve refletir sua união com Cristo (3.5— 4.6).

1. Ela deve ser refletida na vida pessoal (3.5— 4.6).

2. Ela deve ser refletida na vida doméstica (3.18— 4.1).

3. Ela deve ser refletida na vida pública (4.2-6).

Conclusão (4.7-18).

Esta inclui instruções pessoais, saudações finais e despedida.

4.3. Faça um estudo panorâmico do texto escolhido

Nesta etapa o estudante de posse de todo o conhecimento acerca dos contextos


gerais do livro volta seus olhos para a passagem específica que deverá realizar a
exegese. Agora está pronto para concentrar seus esforços não mais no geral, mas
no texto particular.

Leia e releia o texto várias vezes

Gordon Fee (2008, p.211) diz que é preciso ler o texto em pelo menos sete
traduções diferentes. Uma vez que se familiarizou com o livro inteiro é hora de fazer
o mesmo mas particularmente com seu texto. Anote as diferenças das traduções e
identifique se são diferenças estilística ou apenas de uso de sinônimos ou se há
palavras ou sentenças sobre os quais os tradutores divirjam. Olhe a palavra em
grego para se certificar de qual está sendo traduzida diferentemente e anote.
Quando chegar o momento certo, determinar o sentido dessas palavras será
importante.

Revise os limites do seu texto

Averiguar os inícios e finais do texto certificando-se de que ele é uma perícope ou


unidade discursiva que contenha começo, meio e fim, pois a exegese estará
comprometida se o texto estiver incompleto (sem o seu clímax) ou se avançar sobre
outra passagem bíblica, abordando outra temática ou história. Diversas Bíblias ou
livros trazem marcações e divisões dos textos para facilitar a localização e o
estudante pode pesquisá-las, mas lembrando que essas divisões foram feitas para
facilitar a vida dos leitores, inseridas pelos editores e não constam nos manuscritos
em grego e podem estar erradas, razão pela qual deve-se averiguar os limites do
texto para realizar a exegese.

Faça uma tradução provisória do texto

Caso o estudante já possua o domínio das línguas originais da Bíblia, no caso do


Novo Testamento, o grego é importante ir fonte. Com o domínio instrumental do
grego, valendo-se de ferramentas como dicionários, gramáticas, léxicos, um
interlinear e outras obras referenciais é possível começar a prática (que certamente
levará tempo para aperfeiçoada). É difícil no começo, mas “com o tempo e a
persistência na leitura, o aluno começará a sentir-se confortável com o texto grego.
Este será seu alvo mesmo que leve algum tempo para alcançá-lo” (GRASSMICK,
2009, p.40).

Estabeleça o gênero literário do texto

Às vezes um livro do Novo Testamento é predominantemente narrativo, mas tem


porções contendo gêneros ou tipos literários distintos. Nos Evangelhos temos uma
narrativa, mais porções que apresentam formas de composição como a proverbial
ou parabólica, por exemplo. Neste passo é importante apontar se o texto que está
analisando pertence ao gênero apocalíptico, narrativo ou epistolar.
Determine o assunto abordado no seu texto

No processo de análise exegética fazemos pelo menos seis tipos de perguntas ao


texto: Quem? O que? Como? Quando? Onde? Por que? Essas perguntas nos
ajudam entender quem são as pessoas ouvidas na passagem ou personagens, o
que eles estão fazendo, se sofrem ou praticam a ação, como está acontecendo a
exortação, o ensino, o relato da história, quando o fato descrito ocorreu, isto é, em
que época, onde geograficamente está sendo localizada a situação e por que motivo
a ação está sendo desenvolvida, a razão pela qual o texto está sendo escrito, a
exortação está sendo feita pelo autor etc. essas perguntas nos ajudam a entender o
assunto que está sendo tratado ou a história a respeito do qual o texto gira em redor.

Defina o propósito do texto

Ainda que de modo provisório o estudante nesse passo precisa identificar o motivo
pelo qual o autor escreveu o texto e com qual sentido para seus leitores originais,
isto é, o que ele pretendia comunicar e qual seria o significado desse texto. A última
das seis perguntas caminhou por esse viés perguntando Por que? A pergunta
estava questionando a motivação ou a intenção pela qual o autor está escrevendo
sua carta exortativa, o que ele pretendia ou porque determinado relato estava sendo
descrito no livro histórico e assim por diante. Uma atitude importante nesse sentido é
anotar as palavras-chave que são repetidas ou cujas ideias centrais aparecem em
termos diferentes, pois elas estão sendo enfatizadas na passagem e fazem parte do
assunto principal.

Observe a relação da passagem em relação ao livro todo

uma peça de quebra-cabeça só pode ser entendida quando em conjunto com as


demais foram um todo, uma imagem completa. A passagem bíblica específica
também opera do mesmo modo, pois faz parte de um todo que é o livro ou epístola
com propósitos maiores. Anote como essa passagem contribui para a argumentação
e propósito geral do livro.

Anote as dificuldades de entendimento sobre texto


No processo de entendimento do texto naturalmente algumas perguntas parecem
ficar sem respostas ou necessitam de uma análise mais profunda do ponto de vista
histórico ou textual para que fossem solucionadas. Lembre-se que nessa etapa é
momento em que essas dificuldades precisam ser observadas e registradas.
Grassmick (2009, p.60) levanta alguns tipos de problemas que podem aparecer
nesse passo e que precisarão ser resolvidos:

a. Existem problemas textuais? As variantes textuais comumente aparecem


no aparato textual.

b. Existem problemas estruturais? Esses problemas vêm à tona por qualquer


incerteza sobre o relacionamento entre locuções, expressões e palavras.

c. Existem problemas gramaticais? Eles se concentram nas formas


desconhecidas ou incomuns dos casos, da análise gramatical, ou das
classificações sintáticas.

d. Existem problemas lexicais? Geralmente, uma passagem contém poucas


palavras importantes que exigem estudos adicionais.

e. Existem problemas histórico-conceituais? Eles decorrem da incerteza


referente ao contexto cultural da passagem.

f. Existem problemas teológicos? Normalmente, esses problemas se derivam


de alguma contradição aparente com outros ensinos das Escrituras.

g. Existem problemas exegéticos? Esses problemas envolvem as


dificuldades tidas pelo exegeta para entender o significado pretendido pelo
autor.

Faça uma síntese das observações

Retome e reavalie seu estudo panorâmico, fazendo um breve comentário sobre a


passagem que está estudando, seu assunto e propósito principal provisórios,
destacando as dificuldades e problemas que precisam ser resolvidas nos próximos
passos.

Esboço provisório da passagem

Assim como realizou um esboço provisório do livro, faça um esboço de sua


passagem. A ideia desse esboço será captar a estrutura, os temas, assuntos, a
sequência de ideias ou fluxo que fazem desta passagem ou perícope uma unidade
textual.

#VAMOS PRATICAR#
Um esboço de uma passagem bíblica é um esquema simples que guia o estudante
no desenvolvimento de sua exegese. Ele fornece ao exegeta uma visão geral do que
o texto está tratando, seus temas, seu fluxo, sua estrutura. Ele mostra os dados
gerais do texto que precisam ser tratados e interpretados particularmente, mas sem
perder de visto o todo da passagem. Uma exegese sem um esboço é o mesmo que
um corpo sem esqueleto.

Comando da atividade prática: Para praticar esse importante método desenvolva um


esboço exegético em uma passagem bíblica de sua escolha.

Feedback

Espera-se que o estudante consiga entender a importância de um esboço no


processo exegético. A expectativa é a de que o aluno(a) consiga visualizar os temas,
o fluxo e a estrutura de um texto ao desenvolver um esquema ou esboço de uma
passagem bíblica na prática.

#VAMOS PRATICAR#

#Saiba mais# – pode ser adicionado a qualquer momento no texto


Embora haja críticas ao Método Histórico-Crítico como técnica exegética, também é
preciso entender seus benefícios e vantagens no estudo de uma passagem bíblica.
O artigo a seguir escrito por Maria Aparecida de Andrade Almeida e Pedro Paulo A.
Funari aborda questões interessantes sobre esse método exegético.
Fonte: ALMEIDA, Maria Aparecida de Andrade Almeida, FUNARI, Pedro Paulo A.
Exegese Bíblica: vantagens, desvantagens, limites e contribuições na interpretação
moderna da Bíblia. Revista Caminhos, v. 14, n. 1 (2016), in:
http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/4823.

#Saiba mais#

Conclusão

A exegese, como vimos consiste em uma ciência que serve a hermenêutica no


objetivo de explicar um trecho bíblico desvelando o sentido pretendido pelo autor
aos seus leitores originais. Sua importância é singular por permitir ouvir o que o texto
está dizendo e o que ele deseja comunicar encurtando assim as distâncias entre o
leitor hodierno e os escritores neotestamentários. As abordagens são diversas bem
como suas metodologias de modo que utilizar os aspectos mais positivos de cada
uma delas se torna um bom caminho para exercitar a exegese em um texto bíblico,
a começar pelo estudo panorâmico do livro e da passagem que o exegeta escolher
analisar.

Referências

Livro
KLEIN, William W., JUNIOR, Robert L. Hubbard, BLOMBERG, Craig L. Introdução à
interpretação bíblica. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
OSBORNE, Grant R. A espiral hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica.
São Paulo: Vida Nova, 2009.
ERICKSON, Millard J. Dicionário popular de teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
STUART, Douglas. Manual de exegese bíblica - Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida
Nova, 2008.
GORMAN, Michael J. Introdução a Exegese Bíblica. São Paulo: Vida Melhor, 2017
WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento - Manual de Metodologia. São Leopoldo:
Sinodal, 2013.
GRASSMICK, Grassmick, John D. Exegese do Novo Testamento: do texto ao púlpito. São
Paulo: Shedd Publicações, 2009.

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