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Nome da disciplina:
MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO NO NOVO TESTAMENTO - EXEGESE
Unidade I
Autor(a): Me. KASSIO FLORES PASSOS LOPES
Parecerista: Me. Fábio Wilhelm
UNIDADE I
1. ETAPA 1 DA EXEGESE - A análise panorâmica
Kassio Flores Passos Lopes. Bacharel em Teologia pela UMESP (2014) e Mestre
em Filosofia (História da Filosofia) pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), 2019.
Introdução
Conquanto a Bíblia seja um livro antigo, grande parte do seu conteúdo é de fácil
compreensão, pois seu significado está ali na superfície, acessível aos seus leitores.
Apesar disso, muitos trechos oferecem desafios interpretativos. Nem todas as
passagens bíblicas são claras e fáceis de entender. Nesta situação gostaríamos de
nos ver livres da dúvida e poder determinar o sentido do texto, não é mesmo? A
exegese é uma tarefa que se presta a este serviço. Conquanto seja praticada mais
por peritos, especialista e estudiosos, ela serve também a uma situação muito
comum experimentada por todos os leitores da Bíblia quanto ao desafio de
interpretá-la corretamente. Deste fato decorre sua importância como disciplina, não
apenas para o teólogo profissional e o acadêmico, mas para todos os que desejam
compreender a Bíblia.
1.Noções introdutórias sobre a exegese
Comecemos nosso estudo pelo significado da palavra exegese. A “palavra ‘exegese’
no português é a transliteração do substantivo grego ἐξήγησις derivada do verbo
ἐξηγέομαι. O significado literal desse verbo é ‘guiar para fora’” (GRASSMICK, 2009,
p.10). A ideia é tirar de dentro do texto o seu sentido e significado buscando sua
interpretação. A partir dessa ideia, a exegese é a ciência que “explica” um texto
bíblico, possuindo um caráter elucidativo das passagens da Escritura. Mas qual o
objetivo da exegese? O propósito da exegese é ser uma ferramenta pela qual o
estudante das Escrituras (para as mais variadas finalidades, como, por exemplo,
realizar uma exposição oral, homilias e sermões, produzir um estudo pessoal ou
religioso, escrever um artigo acadêmico, etc.) a interpretar corretamente o sentido do
texto bíblico pretendido pelo seu autor (ou autores) aos seus leitores originais, com o
sentido e significado pretendido por este autor na época em que ele foi escrito,
dentro de seu contexto e ambiente histórico, visando, por fim, sua aplicação prática
condizente aos nossos dias, fazendo a transposição para a nossa própria época e
cultura. Segundo Fee e Stuart:
#Atividade#
1) “No uso técnico, o objetivo da hermenêutica é estabelecer os princípios
metodológicos necessários à interpretação do texto bíblico, ao passo que o alvo da
exegese é aplicar os princípios ao processo real de descoberta do significado do
texto. De modo geral, a hermenêutica está relacionada com a exegese como teoria
está com a prática”.
Justificativa: O fato histórico é analisado pela Ciência Histórica e não pela hermenêutica
em si.
#Atividade#
2. As dificuldades da exegese
Para entendermos melhor a exegese poderíamos dizer que o exegeta ao analisar
uma passagem bíblica está trabalhando como um investigador reunindo dados,
analisando as informações para solucionar um caso, ou seja, compreender o sentido
básico de um texto antigo. Naturalmente algumas dificuldades surgirão nesse
processo exegético. Quanto mais distantes estamos de alguém mais difícil será
ouvi-la, não é mesmo? No caso do texto do Novo Testamento e dos seus autores
estamos distantes no aspecto:
Histórico: Estamos distantes dois mil anos dos autores originais, de seus textos e
primeiros receptores, longe de seu contexto histórico amplo, dos contextos religiosos
e políticos da época.
A exegese, portanto, é uma ciência que nos ajuda na distinção entre verdadeira e
falsa interpretação de um texto bíblico. Sem uma ferramenta como essa o resultado
do estudo da Bíblia será apenas anarquia, polivalência e subjetividade. Além disso,
o texto bíblico precisa falar por si mesmo e acima de nossas tradições e confissões,
de nossas tendências e pressuposições e a exegese é a tarefa pela qual podemos
afinar nossos ouvidos para ouvir o que o texto está falando por ele mesmo.
O papel do exegeta
Todo leitor é intérprete, esteja ele consciente desse fato ou não. Não conseguimos
ler a Bíblia sem as nossas lentes, sem nossas convicções e ideologias. Cada um de
nós lida com o mundo, a partir do nosso conhecimento, da experiência e significados
aos quais atribuímos às palavras, objetos e situações. Por exemplo, quando
acordamos servimos o café em uma xícara ou caneca e não em um balde, pois
entendemos que são objetos diferentes e temos significados distintos para ambos,
ou seja, interpretamos esses objetos de determinado modo, aliás noós movemos o
tempo todo em um universo repleto de sentidos. Quando lemos palavras na Bíblia
fazemos algo parecido, ou seja, interpretamos essas palavras partir do que
sabemos, oferecendo a elas os significados que temos em nosso mundo de
significados.
Não somente lemos atribuindo às palavras os sentidos que nós mesmos possuímos,
mas também que nossa tradição religiosa, grupo eclesiástico ou partido ideológico
possui acerca do mundo. Assim, a exegese nos ajuda a tentar ler o texto sem
determiná-lo pelas nossas tradições e confissões religiosas. O exegeta buscará
confrontar suas próprias convicções a partir da interpretação bíblica. Neste caso, a
terceira tarefa da exegese “é verificar em que sentido opções éticas e doutrinais
podem ser respaldadas e, portanto, reafirmadas, ou devem ser revistas e
relativizadas.” (WEGNER, 2013, p.13). Isso é extremamente importante, pois temos
a tendência e, de fato, muitas “pessoas lêem a Escritura com base em um
paradigma de leitura dominado pela denominação da qual fazem parte. Elas não
buscam a verdade e sim a conformidade com sua posição teológica já assumida”
(OSBORNE, 2009, p.600). A ideia divulgada a partir da Reforma Protestante do
século XVI iniciada por Martinho Lutero de que a Igreja Reformada, sempre deveria
estar em reforma de acordo com a Palavra de Deus tem a ver com o princípio de
Sola Scriptura, de que a Bíblia deve falar mais alto que as crenças institucionais.
As ferramentas da Exegese
#Atividade#
2) “...alguns exegetas consideram os elementos de reflexão como suplementares da
própria exegese. Eles podem sugerir que qualquer conceito pessoal ou reflexão
teológica sobre um texto não são científicos, na melhor das hipóteses; e na pior
delas, são um convite para a eisegese”.
GORMAN, Michael J. Introdução a Exegese Bíblica. São Paulo: Vida Melhor, 2017,
p.46.
a) A reflexão aplicativa sobre um texto não é de fato exegética, mas eisegese, imposições
ao texto de nossas ideias. Pela exegese o texto fala por si mesmo.
#Atividade#
● Estruturalismo
● Histórico-crítico
● Histórico-gramatical
Estruturalismo
Os adeptos do estruturalismo se divergem no momento de defini-lo, mas concordam
que faz uma abordagem sincrônica da Bíblia. O filósofo Claude Lévi-Strauss meados
de 50, foi reconhecido como o “‘pai do estruturalismo’ (termo de Kurzweil). Embora
ele fosse mais o popularizador que o criador da escola, ele desenvolveu o sistema
que conhecemos hoje” (OSBORNE, 2009, p.66). Na metodologia exegética do
estruturalismo o texto bíblico é entendido como uma estrutura, sistema ou
organização literárias que contém um sentido, ou seja, o texto em si, além da
intenção originária de seu autor tem um significado próprio. O estruturalismo,
segundo Erickson é a:
Uma das vantagens desse método segundo Wegner é que “educa para uma
leitura atenta do que realmente está escrito nos textos, evitando uma concentração
unicamente em determinadas partes ou aspectos da narrativa” (WEGNER, 2013,
p.16), em outras palavras, impede o leitor de cair no fatídico erro interpretativo de ao
olhar para cada árvore e perder de vista a floresta inteira ou distrair-se com as
partes desconsiderando o todo.
#Dica de leitura#
Nome do livro: Exegese do Novo Testamento - Manual de Metodologia.
Editora: Sinodal
Autor: WEGNER, Uwe.
ISBN: 85-233-0598-X
Comentário: O livro Exegese do Novo Testamento - Manual de Metodologia, escrito
por Uwe Wegner aborda questões relevantes para quem deseja aprofundar-se
nessa tarefa de análise do texto bíblico. O autor aborda o significado da exegese e o
que envolve sua tarefa como ciência que objetiva a interpretação dos textos bíblicos
além de apontar as abordagens existentes, como o estruturalismo.
#Dica de leitura#
Histórico-crítico
#Saiba mais#
Além de histórico, ele é “crítico no sentido de que necessita emitir uma série
de juízos sobre as fontes que tem por objeto de estudo” (WEGNER, 2013, p.17). O
método histórico-crítico contribuiu para o avanço na pesquisa histórica da Bíblia,
descobertas e desenvolvimentos científicos ligados à arqueologia, manuscritologia,
contextos históricos, geográficos, literários dos textos sagrados e assim por diante.
Contudo, segundo Wegner, “apesar desses e outros inestimáveis avanços
alcançados pela crítica histórica, os seus pressupostos, quando usados de forma
absolutização, evidenciam-se como incompatíveis com o caráter da revelação
bíblica” (WEGNER, 2013, p.19).
#Reflita#
Histórico-gramatical
#VAMOS PRATICAR#
Não existe uma única metodologia exegética, mas diversas técnicas de
interpretação do texto bíblico que surgiram e foram utilizadas no decorrer do tempo
por diferentes escolas e correntes teológicas. Elas se distinguiam em suas
abordagens, ênfases, pressupostos e fases na análise de uma passagem da Bíblia.
Entre as metodologias mais conhecidas estão o método histórico-crítico, o
estruturalismo e o histórico-gramatical
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#VAMOS PRATICAR#
4. Por onde começar a tarefa exegética
Então, por onde começar uma exegese? Iniciamos a metodologia exegética com a
análise panorâmica. Alguns denominam este passo de aproximação, pesquisa ou
familiarização com o texto a ser analisado. O estudo panorâmico da passagem
envolve exatamente essas tarefas, isto é, o primeiro contato com o texto, pesquisa
básica sobre ele familiarizando-se com o que ele diz. É panorâmico, pois é um
sobrevoo sobre o texto, ainda na superfície. São os demais passos da exegese que
aprofundam o estudos dos elementos textuais, literários, linguísticos e teológicos
sanando as dúvidas registradas nesta etapa. Neste passo observamos com a
máxima atenção o texto, levantando os dados e elementos que serão interpretados
mais à frente. Um estudo panorâmico descuidado compromete toda a exegese, pois
é possível que elementos que não notados e observados nesta etapa sejam
negligenciados na próxima, comprometendo a interpretação. Esse estudo provisório
é base para o aprofundamento que fará nas demais etapas por isso deve ser bem
feito, envolvendo uma critérios leitura e meditação na passagem.
4.1 Escolha um texto bíblico de sua preferência para realizar uma exegese.
Familiarize-se com o texto, lendo e relendo o livro inteiro e o texto várias vezes e em
traduções diferentes (ALMEIDA Revista e Atualizada (ARA), Nova Versão
Internacional (NVI), Nova Tradução na linguagem de Hoje (NTLH), Bíblia de
Jerusalém (BJ), Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB), Bíblia Sagrada tradução
CNBB.
#Indicação de filme#
Nome: Traduções da Bíblia
Ano: 2011
Comentário: Palestra sobre Traduções da Bíblia ministrada pelo Rev. Dr. Rudi
Zimmer no Seminário de Ciências Bíblicas da Sociedade Bíblica do Brasil em 2005.
Todo exegeta ao estudar um texto terá que ler e reler a Bíblia em diversas traduções
e por isso é imprescindível conhecer e compreender e quais são e como se dão
essas traduções bíblicas, questões abordadas nesta palestra. Para conhecer mais
sobre traduções, acesse o vídeo disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=NOrKuwKzXR8.
#Indicação de filme#
Introdução (1.1-14).
B. A vida diária do crente deve refletir sua união com Cristo (3.5— 4.6).
Conclusão (4.7-18).
Gordon Fee (2008, p.211) diz que é preciso ler o texto em pelo menos sete
traduções diferentes. Uma vez que se familiarizou com o livro inteiro é hora de fazer
o mesmo mas particularmente com seu texto. Anote as diferenças das traduções e
identifique se são diferenças estilística ou apenas de uso de sinônimos ou se há
palavras ou sentenças sobre os quais os tradutores divirjam. Olhe a palavra em
grego para se certificar de qual está sendo traduzida diferentemente e anote.
Quando chegar o momento certo, determinar o sentido dessas palavras será
importante.
Ainda que de modo provisório o estudante nesse passo precisa identificar o motivo
pelo qual o autor escreveu o texto e com qual sentido para seus leitores originais,
isto é, o que ele pretendia comunicar e qual seria o significado desse texto. A última
das seis perguntas caminhou por esse viés perguntando Por que? A pergunta
estava questionando a motivação ou a intenção pela qual o autor está escrevendo
sua carta exortativa, o que ele pretendia ou porque determinado relato estava sendo
descrito no livro histórico e assim por diante. Uma atitude importante nesse sentido é
anotar as palavras-chave que são repetidas ou cujas ideias centrais aparecem em
termos diferentes, pois elas estão sendo enfatizadas na passagem e fazem parte do
assunto principal.
#VAMOS PRATICAR#
Um esboço de uma passagem bíblica é um esquema simples que guia o estudante
no desenvolvimento de sua exegese. Ele fornece ao exegeta uma visão geral do que
o texto está tratando, seus temas, seu fluxo, sua estrutura. Ele mostra os dados
gerais do texto que precisam ser tratados e interpretados particularmente, mas sem
perder de visto o todo da passagem. Uma exegese sem um esboço é o mesmo que
um corpo sem esqueleto.
Feedback
#VAMOS PRATICAR#
#Saiba mais#
Conclusão
Livro
KLEIN, William W., JUNIOR, Robert L. Hubbard, BLOMBERG, Craig L. Introdução à
interpretação bíblica. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
OSBORNE, Grant R. A espiral hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica.
São Paulo: Vida Nova, 2009.
ERICKSON, Millard J. Dicionário popular de teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
STUART, Douglas. Manual de exegese bíblica - Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida
Nova, 2008.
GORMAN, Michael J. Introdução a Exegese Bíblica. São Paulo: Vida Melhor, 2017
WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento - Manual de Metodologia. São Leopoldo:
Sinodal, 2013.
GRASSMICK, Grassmick, John D. Exegese do Novo Testamento: do texto ao púlpito. São
Paulo: Shedd Publicações, 2009.