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Panorama do N.T.

Me. Fábio Wilhelm

Curso basico de teologia


Kairós

Panorama
do
Novo Testamento

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Me. Fábio Wilhelm

Presidente Pr. João Carlos Rodrigues


Coordenador e Consultor Teológico:
Ev. Me. Fábio Wilhelm

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Índice

Definição............................................................................5
Introdução..........................................................................7
História política intertestamentaria e do Novo
Testamento........................................................................9
Os Ptolomeus..................................................................11
Os Selêucidas.................................................................12
A revolta dos Macabeus..................................................14

Capítulo 1
Evangelhos Sinótipos......................................................18
Evangelho de Mateus......................................................20
Evangelho de Marcos......................................................22
Evangelho de Lucas........................................................24
Evangelho de João..........................................................25
Epistolas de João.............................................................31

Capítulo 2
As epistolas gerais...........................................................33
As epistolas de Paulo......................................................34
Epistola aos Hebreus.......................................................44
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Epistola de Tiago.............................................................49
Epistola de 1 Pedro..........................................................54
Epistola de 2 Pedro..........................................................57
Epistola de Judas.............................................................59
Apocalipse.......................................................................61
Bibliografia.......................................................................70

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DEFINIÇÃO

Teologia é a ciência que trata do nosso


conhecimento de Deus, e das coisas divinas. A teologia
abrange vários ramos, vejamos:

Teologia exegética: Exegética vem da palavra


grega que significa extrair. Esta teologia procura descobrir
o verdadeiro significado das Escrituras.

Teologia Histórica Envolve o Estudo da História


da Igreja e o desenvolvimento da interpretação
doutrinária.

Teologia Dogmática É o estudo das verdades


fundamentais da fé como se nos apresentam nos credos
da igreja.

Teologia Bíblica Traça o progresso da verdade


através dos diversos livros da Bíblia e descreve a maneira
de cada escritor em apresentar as doutrinas mais
importantes.
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Teologia Sistemática Neste ramo de estudo os
ensinamentos concernentes a Deus e aos homens são
agrupados em tópicos.

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INTRODUÇÃO

O Novo Testamento forma a II parte da Bíblia. O


Antigo Testamento cobre um período de milhares de anos
de história, já o Novo Testamento menos de um século.
"Novo Testamento" quer dizer, de fato, "Novo
Pacto" em contraste com a antiga aliança. O vocábulo
"testamento" transmite-nos a idéia de uma última vontade,
e só passa a ter efeito na eventualidade da morte do
testador. Assim é que o novo pacto entrou em vigor em
face da morte de Jesus (Hebreus 9.15-17).
Escrito originalmente em grego, em sua maioria,
entre 45-95 d.C. Os livros do Novo Testamento não estão
arranjados na ordem cronológica em que foram escritos.
As primeiras epístolas de Paulo foram os primeiros livros
do Novo Testamento a ser escritos, e não os evangelhos.
E mesmo o arranjo das epístolas paulinas não
segue a sua ordem cronológica, porquanto Gálatas (ou
talvez 1 Tessalonicenses) foi a epístola escrita bem antes
daquela dirigida aos Romanos, a qual figura em primeiro
lugar em nossas Bíblias pelo fato de ser a mais longa das

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epístolas de Paulo; e entre os evangelhos, o de Marcos,
não o de Mateus, foi escrito primeiro.
A ordem em que esses livros aparecem, por
conseqüência, é uma ordem lógica. Os evangelhos estão
postos em primeiro lugar porque descrevem os eventos
cruciais de Jesus. Entre os evangelhos, o de Mateus vem
apropriadamente antes de todos devido à sua extensão e
ao seu intimo relacionamento com o Antigo Testamento,
que o precede imediatamente. No livro de Atos dos
Apóstolos, uma envolvente narrativa do bem sucedido
surgimento e expansão da Igreja na Palestina e daí por
toda a Síria, Ásia Menor, Macedônia, Grécia e até lugares
distantes como Roma, na Itália.
O livro de Atos é a segunda divisão de uma obra
em dois volumes, Lucas-Atos.) Bastam-nos essas idéias
quanto aos livros históricos do Novo Testamento. As
epístolas e, finalmente, o livro de Apocalipse, explanam a
significação teológica da história da redenção, além de
extraírem dai certas implicações éticas. Entre as
epístolas, as de Paulo ocupam o primeiro lugar e entre
elas, a ordem em que foram arranjadas segue
primariamente a idéia da extensão decrescente, levando-
se em conta a grande exceção formada pelas Epístolas

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Pastorais (I e II Timóteo e Tito), as quais antecedem a
Filemom, a mais breve das epístolas paulinas que
chegaram até nós.
Por fim, temos o livro que lança os olhos para o
futuro retorno de Cristo, o Apocalipse, livro esse que leva
o Novo Testamento a um mui apropriado clímax. O Novo
testamento traz em seu tema o Senhor Jesus Cristo. Seu
objetivo supremo é a Salvação dos seres humanos. Seu
projeto supremo é o reinado final do Senhor Jesus.
Dentro do estudo do Novo testamento estaremos
observando as principais Doutrinas e Teologia.

HISTÓRIA POLÍTICA INTERTESTAMENTARIA E DO


NOVO TESTAMENTO

A cultura grega, intitulada helenismo, há tempos se


vinha propagando mediante o comercio e a colonização
gregos, mas as conquistas de Alexandre proveram um
impulso muito maior do que havia antes. O idioma grego
tornou-se a língua comumente usada no comercio e na
diplomacia. Ao aproximar-se a época do Novo
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Testamento, o grego era a língua comumente falada nas
ruas até de Roma, onde o proletariado indígena falava o
latim, mas onde a grande massa de escravos e de libertos
falava grego. Alexandre o grande fundou setenta cidades,
moldando-as conforme o estilo grego. Ele e os seus
soldados contraíram matrimônios com mulheres orientais.
E assim foi misturada a cultura grega e oriental.
Com o falecimento de Alexandre, com a idade de
trinta e três anos (323 a.C.), seus principias generais
dividiram o império em quatro porções, duas das quais
são importantes no pano-de-fundo do desenvolvimento
histórico do Novo Testamento, a porção dos Ptolomeus e
a dos Selêucidas. O império dos Ptolomeus centralizava-
se no Egito, tendo Alexandria por capital. A dinastia
governante naquela fatia do império veio a ser conhecida
como os Ptolomeus. Cleópatra, que morreu no ano 30
a.C., foi o último membro da dinastia dos Ptolomeus. O
império selêucida tinha por centro a Síria, e Antioquia era
a sua capital. Alguns dentre a casa ali reinante receberam
a comparação ridícula de Seleuco, mas diversos outros
foram chamados Antíoco. Quando Pompeu tornou a Síria
em província romana, em 64 a.C., chegou ao fim o
império selêucida.

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OS PTOLOMEUS

Localizada entre o Egito e a Síria, a Palestina


tornou-se vitima das rivalidades entre os Ptolomeus e os
Selêucidas. A principio os Ptolomeus dominaram a
Palestina por cento e vinte e dois anos (320-198 a.C.). Os
judeus gozavam de boas condições gerais durante esse
período. De acordo com uma antiga tradição, foi sob
Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.) que setenta e dois
eruditos judeus começaram a tradição do Antigo
Testamento hebraico para o grego, versão essa que se
chamou Septuaginta. No começo foi feita a tradução do
Pentateuco, e mais tarde foi feita a tradução das porções
restantes do Antigo Testamento. A obra foi realizada no
Egito, aparentemente em beneficio de judeus que
compreendiam o grego o melhor que o hebraico, e,
contrariamente à tradição, provavelmente foi efetuada por
egípcios, e não por judeus palestinos. O numeral romano
LXX (pois setenta é o numero redondo mais próximo de
setenta e dois) tornou-se o símbolo comum dessa versão
do Antigo Testamento.

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OS SELÊUCIDAS

As tentativas dos Selêucidas para conquista da


Palestina quer por invasão quer por alianças
matrimoniais, fracassaram, até que Antíoco III derrotou o
Egito, em 198 a.C. Entre os judeus surgiram duas
facções, “a casa de Onias” (pró-Egito) e “a casa de
Tobias” (pró-Síria). Antíoco IV ou Epifânio (175-163 a.C),
rei da Síria, substituiu ao sumo sacerdote judeu Onias III
pelo irmão deste, Jasom, helenizante, o qual planejava
transformar Jerusalém em uma cidade grega. Foi erigido
um ginásio com uma pista de corridas adjacente. Ali
rapazes judeus e exercitavam despidos, à moda grega,
para ultraje dos judeus piedosos. As competições de
corredores eram inauguradas de tais acontecimentos. O
processo de helenização incluía ainda a freqüência aos
teatros gregos, a adoração de vestes do estilo grego, a
cirurgia que visava à remoção das marcas da circuncisão,
e a mudança de nomes hebreus por gregos. E os judeus
que se opunham à paganização de sua cultura eram
chamados Hasidim, “os piedosos”, o que grosso modo

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equivale a puritanos. Neste período o oficio sagrado de
sumo sacerdote era dado a quem pagava mais.
Em 168 a.C., Antíoco enviou seu general, Apolônio,
com um exercito de vinte e dois mil homens para
Jerusalém coletar tributo, tornar ilegal o judaísmo e
estabelecer o paganismo à força, como um meio de
consolidar o seu império e de refazer o seu tesouro. Os
soldados saquearam Jerusalém, derrubaram suas casas
e muralhas e incendiaram a cidade. Homens judeus foram
mortos, mulheres e crianças foram escravizadas. Tornou-
se ofensa capital observar o sábado, celebrar as
festividades judaicas ou possuir cópias do Antigo
Testamento. Muitos manuscritos do Antigo Testamento
foram destruídos. Os sacrifícios pagãos tornaram-se
compulsórios, tal como os cortejos em honra a Dionísio
um deus grego. Um altar consagrado a Zeus, e talvez
uma estatua sua, foi erguida no templo. Animais
execrados pelos preceitos mosaicos foram sacrificados
sobre o altar, e a prostituição “sagrada” passou a ser
praticada no recinto do templo de Jerusalém.

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A REVOLTA DOS MACABEUS

Na aldeia de Modim, um agente real de Antíoco


instalou com um já idoso sacerdote, de nome Matatias, a
que desse exemplo aos habitantes da aldeia oferecendo
um sacrifício pagão. Matatias ser recusou a tal. E quando
outro judeu deu um passo à frente em aprovação,
Matatias tirou-lhe a vida, matou o agente real, demoliu o
altar e fugiu para a região montanhosa na companhia de
cinco de seus filhos e de outros simpatizantes. E foi assim
que teve inicio a revolta dos Macabeus, em 167 a.C., sob
a liderança da família de Matatias, coletivamente
chamados de Hasmoneuanos, por causa de Hasmom,
bisavô de Matatias, ou de Macabeus, devido ao apelido
“Macabeu” (martelo), conferido a Judas, um dos filhos de
Matatias.
Judas Macabeu encabeçou uma campanha de
guerra com sucesso, até que os judeus se viram capazes
de derrotar os sírios em campo de batalha. A revolta dos
Macabeus, entretanto foi também uma guerra civil entre
pró-helnistas e anti-helenistas. O conflito prosseguiu
mesmo após a morte de Antíoco Epifânio (163 a.C.).

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Finalmente, os Macabeus recuperaram a liderança
religiosa, consagraram novamente o templo,
conquistaram a Palestina e expulsaram as tropas sírias da
cidadela que ocupava em Jerusalém.
Depois que Judas Macabeu foi morto em batalha
em 160 a.C., seus irmãos sucederam- na liderança.
Reconstruíram as muralhas danificadas e os edifícios de
Jerusalém. Jonatas assumiu o oficio de sumo sacerdote.
Simão conseguiu o reconhecimento da independência
judaica. Foi reconhecido como o grande sumo sacerdote,
comandante e líder dos judeus, Simão passou a reunir
oficialmente em sua pessoa liderança religiosa, militar e
política do estado judeu.
Há historia subseqüente dos hasmoneus 142-37
a.C, consiste de um relato de contendas internas por
poder. Os propósitos políticos e as intrigas ficaram
distantes dos Hasidim “os piedosos”, os quais vieram a
ser mais tarde os fariseus e os essênios, semelhantes
aqueles que produziram os Papiros do Mar Morto,
estabelecidos em Qumram. Os partidários aristocráticos,
do sacerdócio vieram a ser os saduceus. Finalmente, o
general romano Pompeu subjugou a Palestina em 63
a.C., de modo que, durante o período do Novo
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Testamento, a Palestina estava dominada pelo poderio
romano.

IMPÉRIO ROMANO

No século VIII a.C., Roma foi fundada e no século


V a.C., houve a organização de uma forma republicana de
governo ali sediada. Dois séculos de guerras com a
cidade rival Cartago, na África do Norte, chegaram ao fim
com a vitoria romana em 146 a.C. As conquistas feitas na
extremidade oriental da bacia do Mediterrâneo, sob o
comando de Pompeu, como também na Gália, por Júlio
César. Expandiram o domínio romano. Após o
assassinato de Júlio César, Otávio, que mais tarde veio a
ser conhecido como Augusto, derrotou as forças de
Antônio e Cleópatra, na batalha naval de Ácio, na Grécia,
em 31 a.C., tornando-se então o imperador de Roma.
Dessa maneira, pois, Roma passou de um período de
expansão territorial para outro, de paz, o que se tornou
conhecido como Pax Romana (paz Romana). A província
da Judéia interrompeu essa tranqüilidade mediante

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grandes revoltas, que os romanos esmagaram nos anos
de 70 e 135 d.C. Contudo, a unidade prevalente e a
estabilidade política do mundo civilizado sob a hegemonia
de Roma facilitaram a propagação do cristianismo,
quando de seu aparecimento.

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Capítulo 1

EVANGELHOS SINÓTIPOS

Os quatro evangelhos relatam as “Boas Novas”


(sentido do termo “evangelho”). Os três primeiros
apresentam entre si semelhanças que podem ser
colocados em colunas paralelas e abordados “com um só
olhar”, daí o nome sinótico, ou seja, parecido. Porém eles
também oferecem varias divergências entre si.
Para compreendermos isso, é necessário admitir
que antes de terem sido escritos, os evangelhos foram
transmitidos oralmente. No princípio houve a pregação
oral dos apóstolos, centrada em torno do anuncio da
morte redentora e a ressurreição de Jesus. Foi dirigida
aos judeus, aos quais era necessário provar, graças ao
testemunho dos apóstolos a ressurreição, que Jesus era
de fato o Messias anunciado pelos profetas, ela terminava
com o apelo à conversão. Aos que se convertiam era
preciso dar, antes que recebessem o batismo,
ensinamento mais completo a respeito da vida e do
ensinamento de Jesus. Um resumo deste ensino pré-

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batismal encontramos em At 10.37-43, cujo esquema
anuncia já a estrutura do evangelho de Marcos. Na igreja
primitiva, havia também narradores especializados como
os “evangelistas” (At 21.8; Ef 4.11; 2Tm 4.5) que
relatavam as lembranças evangélicas sob uma forma que
tendia a se fixar pela repetição.
É, portanto, na tradição oral que é preciso procurar
a causa primeira das semelhanças e das divergências
entre os sinóticos. Mas essa tradição oral não deveria ser
a única a explicar semelhanças tão numerosas e
espantosas, tanto nas minúcias dos textos como na
ordem das perícopes, que ultrapassam as possibilidades
da memória, ate a memória antiga e oriental.
O mais antigo testemunho que temos sobre a
composição dos evangelhos é de Pápias, bispo de
Hierápolis, na Frígia, que compôs por volta de 130 d.C.,
uma “interpretação” (exegese) das profecias do Senhor,
em cinco livros. Esta obra se perdeu, mas o historiador
Eusébio de Cesárea dela reportou duas passagens que
são as seguintes: “E o Ancião dizia? Marcos, que foi o
intérprete de Pedro, cuidadosamente escreveu tudo aquilo
que se lembrava, sem, todavia respeitar a ordem do que
foi dito ou realizado pelo Senhor. Com efeito, não fora o
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Senhor que ele tinha ouvido ou acompanhado, mas
Pedro, mais tarde, conforme eu disse. Este agia conforme
o que exigia seu ensinamento e não como se quisesse
dar a ordem dos Oráculos do Senhor. (significado de
oráculo: resposta dada por uma divindade, quando
alguém a consultava). Assim, não se pode reprovar a
marcos por tê-los escrito do modo pelo qual ele os
lembrava. Sua única preocupação foi a de nada omitir
daquilo que ouvira, sem aí introduzir mentiras. Eusébio
acrescentou, logo depois, o testemunho de Pápias sobre
Mateus: “Mateus então colocou em ordem os oráculos,
em língua hebraica, cada um os interpretou como podia”
(História Eclesiástica, III, 39,15-16).

EVANGELHO DE MATEUS

Em Mateus relatos e discursos se alteram: 1-4,


relato, infância e inicio do ministério; 5-7, discurso:
sermão sobre a montanha (bem aventuranças, entrada no
Reino); 8-9, relato: dez milagres mostrando a autoridade
de Jesus, convite aos discípulos; 10, discurso missionário;

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11-12, relato: Jesus rejeitado por “esta geração”, 13,
discurso: sete parábolas sobre o Reino; 14-17, relato:
Jesus reconhecido pelos discípulos; 18, discurso: a vida
comunitária na igreja; 19-22, relato: autoridade de Jesus,
ultimo convite; 23-25, discurso apocalíptico: desgraças,
vinda do Reino; 26-28, relato, morte e ressurreição.
Podemos notar a correspondência dos relatos e a relação
entre o primeiro e o quinto discurso, e entre o segundo e o
quarto; o terceiro discurso forma o centro da composição.
A característica do evangelho de Mateus é a vinda
do Reino dos Céus. Para Mateus Jesus é o Filho de Deus
e Emanuel, Deus conosco desde o início. No fim do
evangelho, Jesus enquanto Filho do homem é dotado de
toda autoridade divina sobre o Reino de Deus, tanto nos
céus como na terra. O anuncio da vinda do Reino acarreta
uma conduta humana que em Mateus se exprime
sobretudo pela busca da justiça e pela obediência à Lei. A
justiça, tema preferido de Mateus (3.15; 5.6.10.20; 6.1.33;
21.32), é aqui a resposta humana de obediência à
vontade do Pai, mas que o dom divino do perdão que ela
significa para Paulo. A validade da Lei (torah) é afirmada
(5.17-20), mas seu desenvolvimento pelos fariseus é
rejeitado em favor de sua interpretação por Jesus, que
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insiste sobretudo nos preceitos éticos, no Decálogo e nos
grandes mandamentos do amor de Deus e do próximo, e
que fala de outros assuntos o divórcio 5.31-32; 19.1-10, à
medida que eles revestem aspecto moral.
Mateus tem seu interesse explícito pela igreja
(16.18; 18.17). Ele procura dar à comunidade os
princípios de conduta e chefes autorizados. Estes
princípios são evocados nos grandes discursos,
sobretudo o cap. 18, que contem princípios em vista de
tomar decisões e de resolver conflitos, a solicitude pela
ovelha extraviada e pelos pequeninos, o perdão e a
humildade.
Concluímos que este evangelho tão completo e tão
bem organizado, redigido em uma língua menos
saborosa, porém mais correta que a de Marcos, tenha
sido recebido e utilizado pela igreja nascente com notável
predileção (escolha).

EVANGELHO DE MARCOS

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O evangelho de Marcos se divide em duas partes
complementares. Na primeira (1.2-9.10), ficamos sabendo
que é Jesus de Nazaré, o Cristo , o Rei do novo povo de
Deus, de onde a profissão de fé de Pedro em 8.29. Mas
como Jesus pode ser este Rei, uma vez que foi morto por
instigação dos chefes do povo judeu. Ele era o filho de
Deus, o que implicava uma proteção de Deus sobre ele
para arrancá-lo da morte. A segunda parte (9.14-16.8),
nos orienta pouco a pouco para a morte de Jesus, mas
culmina na profissão de fé do centurião:
“Verdadeiramente este homem era filho de Deus” (15.39),
confirmada pela descoberta do tumulo vazio, prova a
ressurreição de Jesus. Este plano é indicado desde a
primeira frase escrita por Marcos:
“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, filho de
Deus”.
Depois que João Batista anunciou a vinda de Jesus
a voz celeste se dirige a ele misturando Sl 2.7 e Is 42.1;
Jesus é constituído Rei (Sl 2.6) e recebe a missão do
Servo de Deus, ou seja, ensinar o direito às nações (Is
42.1-4). Para completar a cena, Jesus recebe o Espírito, e
como Rei (1Sm 16.13) e como Servo de Deus (Is 42.1ss)
ele é ungido do Espírito (Is 61.1; At 10.38), ele é o “Cristo”
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por excelência (Sl 2.2). Como Servo de Deus, ele ensina
na sinagoga. Como Rei, ele expulsa seus adversários, os
espíritos impuros.

EVANGELHO DE LUCAS

Lucas é um escritor de grande talento e cativa ao


escrever pela sua personalidade. Realizou sua obra de
modo original, com preocupação pela informação e pela
ordem. Isso não significa dizer que tenha podido das aos
materiais recebidos um arranjo mais “histórico” que
Mateus e Marcos. Seu plano retoma as grandes linhas do
de Marcos com algumas transposições ou omissões. A
diferença mais notável em relação segundo evangelho é a
longa seção mediana formada por 9.51-18.14, que é
apresentada sob a forma de subida para Jerusalém com o
auxilio de notações repetidas (9.51; 13.22; 17.11; cf. Mc
10.1), e onde se verá menos a lembrança real de
diferentes viagens do que a insistência proposital sobre
uma idéia teológica cara a Lucas: a Cidade Santa é o
lugar em que se deve realizar a salvação, foi nela que o

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Evangelho começou e é lá que deve terminar por meio de
aparições e conversas que não tem lugar na Galiléia
(24.13-51; comparar 24.6 com Mc 16.7; Mt 28.7,16.20) e é
Jerusalém que deve partir a evangelização do mundo .
O estilo de Marcos é áspero, penetrado de
aramaísmos e freqüentemente incorreto, mas impulsivo e
de uma vivacidade popular cheia de encanto. O de
Mateus é ainda aramaizante mas melhor polido, menos
pitoresco mas mais correto. O de Lucas é complexo: de
excelente qualidade quando depende apenas de si
mesmo, aceita ser pior por respeito para com as fontes,
das quais conserva certas imperfeições apesar de
melhorá-las, por fim, imita voluntariamente e de forma
maravilhosa o estilo bíblico da Septuaginta.

EVANGELHO DE JOÃO

O evangelho de João começa mostrando o


testemunho de João Batista sobre Jesus, em seguida
apresenta certo numero de episódios referentes à vida de

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Cristo, vários dos quais retomam aos sinóticos e termina
pelos relatos da paixão e da ressurreição.
Deus havia prometido enviar um profeta
semelhante a Moisés Dt 18.15,18,19. Esta promessa se
realizou em Jesus de Nazaré. Esta é a convicção que
subentende todo o evangelho de João e comanda todos
os seus temas maiores. Jesus é, não um profeta
ordinário, mas o profeta por excelência (Jo 6.14; 7.40,52),
que alimenta o povo de Deus como o fizera Moisés
durante o êxodo (cf. Êx 16). Para destacar isso João põe
nos lábios de Jesus palavras que se referem a Moisés no
A.T. (cf. Dt 18.18,19; Nm 16.28; Êx 3.12; 4.13). na nova
aliança, Jesus substitui Moisés (Jo1.17).e os judeus
devem agora escolher entre o antigo e o novo Moisés, ele
somente repetia o que Deus lhe mandava (Dt 18.18,19;
Êx 4.12,15).
Deus ao prometer ao povo hebreu o envio de um
profeta semelhante a Moisés, Deus lhes ordenou também,
“Ouvi-o” (Dt18.15). Quem não ouvisse as suas palavras
seria condenado por Deus (Dt 18.19). é questão de vida e
de mortes, se o povo hebreu quiser viver, deverá
obedecer aos mandamentos de Deus, ouvir sua voz (Dt
30.15-20). Da mesma forma os discípulos de Cristo.

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Aqueles que ouvirem a palavra de Cristo tem a vida
eterna, passou da morte à vida (Jo 5.24), aqueles que
observarem essa palavra jamais morrerão (Jo 8.51). O
que recusar Cristo e não recebe esta palavra já esta
condenado (Jo 12.48), pois o mandamento de Deus é
vida eterna. A palavra de Deus é vida e luz (Jo 1.4-5,9),
luz que permite caminhar para a vida (cf. Sl 119.105), sem
tropeçar nos obstáculos que se encontram no caminho
(Jo 11.9-10; 12.35,36). Jesus partiu à nossa frente a fim
de nos preparar um lugar (cf. Dt 1.33), mas virá nos
buscar para que possamos nos reunir a ele (Jo 14.2-3;
17.24; 12.26). Os que forem obedientes a sua palavra,
como seus discípulos irão com Ele a casa do Pai (Jo 14.2-
3).
Como todos os profetas Moisés foi “enviado” por
Deus para salvar e guiar seu povo (Êx 3.10-12), Cristo
também foi “enviado” por Deus para dar a vida aos
homens (Jo 3. 17), Jesus refere-se a isso em vinte e seis
passagens “Deus me enviou” (Jo 4.34; 5.23,24, 30). Para
confirmar a missão de Moisés Deus lhe concede realizar
“sinais” (Êx 4.2-9). O mesmo acontece com Jesus,
durante sua vida ele realiza seis milagres dos quais os
dois primeiros e o último são dados como “sinal” que
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comprovam sua missão (Jo 2.11; 4.54; 12.18). Somente
Deus pode modificar as leis da natureza, se, portanto, um
homem realiza “sinais”, é porque veio da parte de Deus e
“Deus está nele” (Jo 3.2; 9.32,33; cf. Êx 3.12). O “sinal”
por excelência, o sétimo, será a ressurreição (Jo 2.18-22),
pois é o próprio Jesus que tem o poder de retomar sua
vida (Jo 10.17,18).
Em relação a autoria é difícil definirmos os autores,
pois este ser formou em etapas. O nome daquele que fez
a ultima redação nos é desconhecido. Porém é possível
determinar sua personalidade. Era judeu-cristão que se
esforçou para rejudaizar o evangelho por meio de
retoques de amplitude menor. Isso se refere a
escatologia conforme Bultmann. No seu conjunto, o
quarto evangelho desenvolveu o principio de uma
escatologia já realizada, influenciar pelos modos de
pensar gregos. O judaísmo distinguia o mundo presente
do mundo escatológico, conforme Jo8.23, os dois mundos
coexistem, um é o “embaixo” (este mundo) e o outro é o
“em cima”, em Deus Jo 13.1. A ressurreição não deve
mais ser esperada para o instante em que for instaurado o
“mundo futuro” (cf. Dn 12.1-2), mas já esta realizada em e
por Cristo (11.23-26). O último redator do quarto

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evangelho quis reintroduzir a escatologia judaica herdade
de Daniel é apenas “no último dia” que ressuscitará quem
crer em Cristo (Jo6.39;,40,44,54; opor 11.23-26), é
apenas “no último dia” que ele será julgado, quando, à
voz de Cristo , todos os que esta nos túmulos daí sairão,
uns para a ressurreição de vida, os outros para a
ressurreição de julgamento (Jo 5.28,29, cf. Dn 12.2; opor
5.24).
Mesmo desconsiderando os retoques feitos pelo
último redator, pode-se manter um laço estrito entre o
evangelho de João e o apóstolo João. O autor mais antigo
que afirma explicitamente isso é Irineu de Lião, “Em
seguida, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que
repousou sobre seu peito, publicou também o evangelho
durante sua estada em Éfeso”.

Escatologia no Evangelho de João

A ênfase de João é no presente. O logos veio para


estar entre nós, o que quer dizer que Deus foi revelado e
está presente conosco. O amor de Deus foi dado a
conhecer e, com a morte de Jesus, a salvação se tornou
uma realidade presente. “Vida eterna” é uma posse
29
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
presente. É possível enfatizar tudo isso a ponto de perder
a vista a posição geral do Novo Testamento de que, no
devido tempo, Cristo voltará, porá fim a esta vida e
estabelecerá um estado definitivo para o mundo.
João da ênfase ao presente, porém ele sabe que
isso não é tudo, pois inclui palavras de Jesus sobre a
ressurreição: “O Pai ressuscita e vivifica os mortos” (Jo
5.21). Jesus, no entanto, advertiu seus adversários de
que é Moisés, e não ele, quem os acusará diante do Pai
(Jo 5.45). O papel do Pai no julgamento é tão claro neste
evangelho como em qualquer outro lugar.
Em Cafarnaum o discurso de Jesus se repete: “Eu
o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.39,40,44,54). Devemos
ligar isso às palavras diretas que Jesus proferiu quando
disse: “Vem a hora em que todos os que se acham nos
túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o
bem, para a ressurreição da vida, e os que tiveram
praticado o mal, para a ressurreição do juízo” (Jo5.28,29).
João não deixa duvidas que esperasse a volta de Cristo, a
ressurreição de todos os mortos e o juízo final.

O mestre da igreja

30
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
João enfatiza o ensino do Espírito Santo. Jesus
disse que ele ensinaria aos discípulos “todas as coisas”
(Jo14.26). Isso é ampliado com o acréscimo destas
palavras: “E vos fará lembrar de tudo o que vos tenho
dito”. Portanto, o Espírito Santo ensina o que foi revelado
em Cristo.
O Espírito dará testemunho de Cristo (Jo 15.26). A
idéia de dar testemunho é importante neste evangelho e
aponta para algo que é certo, não uma possibilidade que
possa ser substituída por algo melhor.

AS EPISTOLAS DE JOÃO

As três epistolas nos foram conservadas pela


tradição sob o nome de João. Elas oferecem com o
evangelho sob a sua forma atual tal parentesco literário e
doutrinal que é difícil não atribuir-las ao mesmo autor,
provavelmente este “João o Ancião” do qual falava Pápias
(cf. 2Jo 1; 3Jo.1). A terceira epístola é provavelmente a
primeira na data, procura resolver um conflito de
autoridade que surgira em uma das Igrejas sob a
31
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
autoridade de João. A segunda epístola põe de
sobreaviso outra Igreja particular contra a propaganda de
falsos doutores que negam a realidade da encarnação.
Quanto à primeira epístola, sem duvida a mais importante,
apresenta-se mais como uma carta encíclica destinada às
comunidades da Ásia, ameaçadas pelos dilaceramentos
das primeiras heresias.

32
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
Capitulo 2

AS EPISTOLAS GERAIS

As epistolas gerais não foram dirigidas a igrejas


especificas, e somos obrigados a deduzir quem forma
seus possíveis destinatários a partir do seu conteúdo.
Além do fato de que elas não forma escritas para
destinatários definidos, pouca coisa as um. No entanto,
sempre foram valorizadas na igreja.
Hebreus é o maior desses escritos e tem lugar
entre os de maior peso no Novo Testamento. A segunda
epistola de Pedro e Judas via de regra não gozam de
considerações destacadas. Todos estes livros, porem
fazem parte do cânon do Novo Testamento, sendo assim
temos que prestar atenção no que dizem.
Todos estes escritos são individuais, são escritos
por diversos autores e com temas diversos. Por isso, é
melhor estudá-los separadamente. As epistolas joaninas,
pertencem a este grupo, mas têm uma associação óbvia
com os demais escritos joaninos.

33
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm

AS EPISTOLAS DE PAULO

Paulo é o apóstolo mais conhecido do Novo


Testamento, por suas epístolas e pelos Atos dos
Apóstolos. Além disso, alguns sincronismos com
acontecimentos conhecidos através da história, um
exemplo o proconsul de Galião em Corinto (At 18.12),
permite precisar certas datas e estabelecer assim uma
cronologia relativamente correta da vida do apóstolo
Paulo.
Paulo nasceu em Tarso da Cilícia (At 9.11; 21.39;
22.3), era de uma família judaica da tribo de Benjamim
(Rm 11.1; Fl 3.5), mas ao mesmo tempo cidadão romano
(At 13.37ss; 22.25-28; 23.27), recebeu desde a infância,
em Jerusalém formação religiosa segundo a doutrina dos
fariseus por Gamaliel (At 22.3; 26.4ss; Gl 1.14; Fl 3.5). No
início foi um perseguidor implacável da Igreja cristã (At
22.4ss; 26.9-12; Gl 1.13), sua conversão foi súbita, no
caminho de Damasco, devido à aparição de Jesus
ressuscitado, que, ao lhe falar, indicou que era o Cristo e
ele seria o apóstolo dos gentios (At 9.3-19; Gl 1.12,15ss;

34
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
Ef 3.2ss). A partir deste momento, cerca do ano 33 d.C.,
toda sua vida foi dedicada ao serviço de Cristo que o
conquistou (Fl 3.12). Após um tempo na Arábia e do
regresso a Damasco (Gl 1.17), onde já prega (At 9.20),
vai a Jerusalém pelo ano 37 (Gl 1.18; At 9.26-29), depois
se retira para a Síria-Cilícia (Gl 1.21; At 9.30), de onde é
reconduzido a Antioquia por Barnabé, com o qual ensina
(At 11.25ss; cf. 9.27). a primeira missão apostólica, no
inicio dos anos 40, foi para anunciar o evangelho em
Chipre, Panfília, Pisídia e Licaônia (At 13-14), foi a partir
de então segundo Lucas que começou a usar seu nome
romano Paulo, de preferência ao nome judaico Saulo (At
13.9), e é também então que supera Barnabé, em razão
da sua preparação na pregação (At 14.12). A segunda
viagem missionária (At 15.36-18.22), de 47 a 51, levou-o
à Europa. Encontrou Galião em Corinto durante o verão
de 51, depois vai à Jerusalém para participar do concílio
apostólico. No concílio é reconhecida sua missão aos
povos pagãos (Gl 2.7-9), e parte para novas viagens. A
segunda viagem e a terceira ocupam respectivamente os
aos de 50-52 e 53-58. Em 58 Paulo é preso em Jerusalém
(At 21. 27-23.22) e retido na prisão em Cesareia da
Palestina até o ano de 60, quando o procurador Festo o
35
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
envia escoltado a Roma (At 27.1-28.16), onde Paulo
permanece dois anos (At 28.30) de 61 a 63.
As epístolas e Atos dos Apóstolos nos traçam um
impressionante retrato da personalidade de Paulo.
Para ele, Deus é tudo e o serve com lealdade,
primeiro perseguindo os que ele tem na conta de hereges
(Gl 1.13; cf. At 24.5.14), depois pregando Cristo, após
haver entendido por revelação que só nele está a
salvação. Este zelo podemos ver através de sua vida em
trabalhos, fadigas, sofrimentos, privações, perigos de
morte (1Co 4.9-13; 2 Co 4.8ss; 6.4-10; 11.23-27), nada
lhe importa que cumpra a missão pela qual é responsável
(1Co 9.16ss). Nenhuma dessas coisas o poderá separar
do amor de Deus (Rm 8.35-39).
Fica indignado quando os da Galácia se dispõem a
trair sua fé (Gl1.6; 3.1-3), e sente doloroso embaraço
diante da inconstância vaidosa dos de Corinto (2 Co
12.11-13). Para censurar os inconstantes, sabe manejar a
ironia (1 Co4.8; 2 Co 11.7; 12.13) ou até as duras
reprimendas (Gl 3.1-3; 4.11; 1 Co 3.1-3; 5.1,2; 6.5; 2 Co
11.3ss). Mas é para o bem deles (2 Co 7.8-13). Os
cristãos judaizantes tentavam seduzi os novos
convertidos para debaixo do julgo da Lei (Gl 1.7; 2.4;

36
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
6.12ss). Para eles não tem consideração (1Ts 2.15ss; Gl
5.12; Fl 3.2). Suas pretensões orgulhosas opõe o
autentico poder espiritual que se manifesta em sua fraca
pessoa (2 Co 10.1-12) e a sinceridade, comprovada pelo
seu desinteresse (At 18.3ss). Alguns pensaram que seus
rivais fossem os outros apóstolos de Jerusalém, porém
antes, de judeus-cristão integristas que alegavam
fidelidade a Pedro (1 Co 1.12) e Tiago (Gl 2.12) para
minar a confiança em Paulo. Paulo respeitava a
autoridade desses apóstolos (Gl 1.18; 2.2), porém
também reivindicava titulo igual por ser testemunha de
Cristo (Gl 1.11ss; 1 Co 9.1; 15.8-11) e não cedeu ao
próprio Pedro numa determinada questão (Gl 2.11-14),
sabe também mostrar-se compreensivo (At 21.18-26) e
empenha-se com carinho naquela coleta em favor dos
pobres de Jerusalém (Gl 2.10), na qual vê o melhor
penhor da união entre os cristão da gentilidade e os da
Igreja-mãe (2 Co 8.14; 9.12,13; Rm 15.26ss).
Paulo une um coração ardente a inteligência lúcida,
lógica exigente, preocupada em expor a fé segundo as
necessidades dos ouvintes. É graças a isso que temos as
explanações teológicas com que envolve o evangelho
segundo as circunstancias. Paulo muitas vezes
37
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
argumenta como rabino, segundo os métodos exegéticos
que recebeu do seu meio e da sua educação, por
exemplo (Gl 3.16; 4.21-31).
A teologia de Paulo se desenvolve conforme uma
linha contínua, sob o impulso do Espírito Santo que dirigia
seu ministério. Iremos identificar as etapas das diferentes
epístolas percorrendo sua ordem cronológica, que não é a
ordem do Cânom do Novo Testamento.
As primeiras epístolas em data são dirigidas aos
Tessalonicenses, que Paulo evangelizou no decurso da
segunda viagem (At 17.1-10) do final de 49 aos inícios de
50. Formado, por cauda dos ataques dos judeus, a partir
para Bereia, de onde se dirigiu para Atenas e Corinto,
esta ultima cidade foi sem duvida na metade de 50, que
escreveu 1 Ts. Silas e Timóteo estão ao seu lado, e as
boas notícias trazidas por Timóteo de uma segunda
viagem a Tessalônica são para o Paulo a ocasião para
desafogar seu coração (1 Ts 1-3), e seguem exortações
práticas (1 Ts 4.1-12; 5.12-28), entre o quais se insere
uma resposta sobre o destino dos falecidos e a volta de
Cristo (1 Ts 4.13-5.11). escrita, sem duvida, de Corinto
alguns meses mais tarde (2 Ts 2.15) 2 Tessalonicenses
apresenta, outras exortações práticas (2 Ts 1; 2.13 -

38
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
3.15), novas instruções sobre a data da volta de Cristo e
os sinais que a devem preceder (2 Ts 2.1-12). Os dois
escritos se completam.
Corinto é o centro da cultura grega, e correntes de
pensamente e de religião floresciam, assim o contato da
fé cristã com esta capital de pagãos devia suscitar para os
neófitos, muitos problemas. Assim Paulo se empenha em
escrever as duas cartas.
A primeira carta “pré-cânonica” (1 Co 5.9-13) de
data incerta não foi conservada.
Já lhes disse por carta que vocês não
devem associar-se com pessoas imorais.
Com isso não me refiro aos imorais deste
mundo, nem aos avarentos, aos ladrões ou
idólatras. Se assim fosse, vocês precisariam
sair deste mundo. Mas estou lhes
escrevendo que não devem associar-se
com qualquer que, dizendo-se irmão, seja
imoral, avarento, idólatra, caluniador,
alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas
vocês nem devem comer. Pois, como
haveria eu de julgar os de fora da igreja?
Não devem vocês julgar os que estão
dentro? Deus julgara os de fora. “expulsem

39
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
esse perverso do meio de vocês”1 Co 5.9-
13.
Mais tarde, durante a temporada de mais de 2 anos
(52-54) que Paulo passou em Éfeso no decurso da
terceira viagem (At 19.1-20.1), algumas questões trazidas
por delegação de coríntios (1 Co 16.17), juntamente com
informações de Apolo (At 18.27ss; 1 Co 16.12) e de
pessoas da casa de Cloé (1 Co 1.11), levam Paulo a
escreve uma nova carta, que é nossa 1 Co, por volta da
Páscoa de 54 (1 Co 5.7ss; 16.5-9). Pouco depois, deve
ter surgido em Corinto uma crise, provavelmente
envolvendo Timóteo (1 Co 4.17; 16.10,11), que o obriga a
fazer uma rápida e amarga visita (2 Co 1.23- 2.1), no
decurso do qual promete regressar em breve (2
Co1.15,16). Porém não volta e substitui sua visita por uma
carta severa, escrita em meio a muitas lagrimas (2 Co
2.3ss. 9), que produziu efeito (2 Co 7.8-13). Em Éfeso
inúmeras crises graves, pouco conhecidas por nós
aconteceram (1 Co 15.32; 2 Co 1.8-10; At 19.23-40).
As epístolas aos Gálatas e aos Romanos devem
ser tratadas juntamente, pois tratam do mesmo problema.
A epístola aos gálatas tem como destinatários os da
região gálata, percorrida por Paulo na sua segunda e
terceira viagens (At 16.6; 18.23). Assim a carta pode ter
40
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
sido escrita em Éfeso, ou também na Macedônia, entre os
anos de 54 e 55.
A epístola aos Romanos deve ter sido escrita no
mesmo período. Paulo esta em Corinto final de 55, início
de 56, prestes a partir para Jerusalém, de onde espera
dirigir-se a Roma e de lá à Espanha (Rm 15.22-32; cf.
1Co16.3-6; At 19.21; 20.3). Porém não foi Paulo quem
fundou a igreja de Roma e não recebera mais que poucas
informações sobre a situação local. Talvez por meio de
pessoas como Áquila (At 18.2), as raras alusões de sua
epístola deixam apenas vislumbrar uma comunidade em
que os convertidos do judaísmo e do paganismo correm o
perigo de se desentenderem. Assim, para preparar sua
chegada, envia Febe (Rm 16.1), com uma carta em que
expõe sua solução do problema judaico-cristão. Para
resolver a crise, retoma as idéias de Gl, mas de modo
mais ordenado. Na epístola aos romanos Paulo oferece
explanação continuada, em que algumas grandes seções
se concatenam harmoniosamente com o auxilio de temas
que primeiro se anunciam e depois são retomados, em
Gálatas Paulo representa um grito que parte do coração,
no qual a apologia pessoal (Gl 1.11-2.21) se justapõe à

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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
argumentação doutrinal (Gl 3.1-4.31) e às advertências
veementes (Gl 5.1-6.18).
As epístola aos Efésios e aos Colossenses formam
um grupo bem homogêneo. Paulo ainda esta na prisão
(Fm 1.9ss; Cl4.3.10.18; Ef 3.1; 4.1; 6.20), e desta vez tudo
sugere Roma como lugar de seu cativeiro, de 61 a 63, de
preferência a Cesareia, onde seria difícil explicar a
presença de Marcos ou de Onésimo, e a Éfeso, onde
Lucas parece não ter estado ao lado de Paulo. Assim que
recebe a informação de problemas, Paulo responde por
meio da epístola aos Colossenses, que confia a Tíquico.
Mas a reação suscitada em seu espírito pelo novo perigo
levou-o a aprofundar seu pensamente e, como Romanos
lhes havia servido para por em ordem as idéias lançadas
em Gálatas, escreve outra epístola, praticamente
contemporânea de Colossenses, em que organiza sua
doutrina em função do novo ponto de vista que a polemica
acaba de lhe impor. Paulo não se dirige aos fiéis de
Éfeso, com os quais permanecem três anos (Ef 1.15; 3.2-
4), mas antes aos crentes em geral e mais
particularmente às comunidade do vale do Lico, entre os
quais faz circular sua carta (Cl 4.16).

42
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
Em Colossos Paulo não combate os gnósticos do
século II, mas antes ideais comuns entre os essênios
judeus. O perigo em Colosso era o resultado de
especulações judaicas (Cl 2.16) basicamente sobre os
poderes celestes ou cósmicos. Pensava-se que estes
controlavam o movimento do cosmos, e os Colossenses
tendiam a exagerar sua importância de tal modo a
comprometer a supremacia de Cristo. Paulo aceita os
postulados da luta e não Poe em duvida a atividade
desses poderes, até chega a assimilá-los aos anjos da
tradição judaica (cf. 2.15). Mas é para recolocá-los no seu
divido lugar no grande plano da salvação. Eles cumpriram
sua missão de intermediários e administradores da Lei.
Atualmente esta terminada esta função. A nova ordem o
Cristo Kyrios (Senhor) assumiu o governo do mundo. A
exaltação celeste o colocou acima dos poderes cósmicos,
que ele despojou de suas antigas atribuições (2.15). Ele
que antes já os dominava em razão da criação, agora os
domina definitivamente como seu chefe na nova criação,
na qual assumiu em si toda a plenitude (1.13-20). Libertos
dos elementos do mundo (2.8,20) por sua união ao Cristo-
cabeça e pela participação na sua plenitude (2.10), os
cristãos não devem recolocar-se sob a tirania deles por
43
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
meio de observâncias obsoletas e ineficazes (2.16-23).
Unidos pelo batismo ao Cristo morto e ressuscitado (2.11-
13), eles são os membros de seu Corpo e não recebem a
vida nova senão dele como de sua Cabeça vivificante
(2.19).
As cartas a Timóteo e a Tito são dirigidas a dois
dos mais fiéis discípulos de Paulo (At 16.14; 2 Co 2.13).
Elas dão diretivas para a organização e conduta das
comunidades confiadas a eles. É por isso que se tornou
costumeiro , desde o século XVIII, chamá-las “pastorais”.
Essas cartas divergem de maneira significativa de outras
cartas paulinas. Há considerável diferença de vocabulário.
O estilo nestas cartas é burocrático e menos intenção do
que nas demais. A forma de resolver os problemas
mudou, Paulo simplesmente condena os falsos
ensinamentos em lugar de argumentar persuasivamente
contra eles.

EPISTOLA AOS HEBREUS

44
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
Esta epístola distingue-se das demais de todo o
Novo Testamento. Ela se restringe às áreas de interesse
judaico e seu conceito de Cristo como o grande sumo
sacerdote é exclusivo. Há duvidas em relação a quem
teria sido o autor, que, após todas as conjecturas,
permanece desconhecido e seus primeiros destinatários
que estavam sendo tentados a abandonar sua profissão
de fé cristã e voltar, ao judaísmo. Mas podemos estudar a
fundo seu ensino sem entrar a fundo nessas questões
difíceis.
O autor conhece um Deus grandioso, que criou
tudo o que existe (Hb 1.2; 3.4; 4.3,4; 11.3). É uma coisa
terrível cair em suas mãos (10.31), pois ele é “fogo
consumidor” (12.29; cf. A descrição assustadora da sua
descida sobre o monte Sinai, 12.18-21) e sua ira é real
(3.11; 4.3). Ele é juiz de todos (12.23), especificamente de
certos malfeitores (13.4), mas também do seu povo
(10.30). a doutrina do “juízo eterno” é um dos princípios
elementares da doutrina de Cristo (6.1,2). O julgamento é
certo como a morte (9.27). Somos lembrados de que
existem anjos de Deus que adoram (1.6), e há numerosas
referencias ao Deus vivo. Ele é o Deus altíssimo (7.1), e
esta atuando nos assuntos das pessoas, de modo que
45
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
elas só podem agir se Deus permitir (6.3).os antigos serão
aperfeiçoados somente junto com os cristãos (11.40). sua
vontade se cumpre na vinda de Cristo e Ele pode
ressuscitar os mortos (11.19).
Deus fez uma promessa a Abraão e a selou com
um juramento (6.13). o fato de Deus fazer essa promessa
mostra seu interesse pelo patriarca, e há mais uma prova
da grandeza de Deus no fato de ter tido ele de jurar por si
mesmo, pois não existia ninguém maior por quem jurar. A
bênção de Deus vem não pelos merecimentos do ser
humano, mas por causa da sua decisão de abençoar. Ele
faz suas promessas e as cumpre.
Deus atua na salvação que Cristo efetuou. A
salvação é um tema importante nesta epístola.
Cristo é descrito como a pessoa maravilhosa, muito
acima da criação, estando à altura de Deus. Ele o
identifica como “Filho” (p.ex. 1.2) ele usa esse termo mais
de uma dezena de vezes, em contraste com os profetas.
O escritor nos informa que Cristo é o “herdeiro de todas
as coisas”, dizendo com isso que, em relação a toda essa
imensa criação, ele tem a posição de herdeiros, de Filho
do dono. Foi por meio dele que Deus fez tudo o que
existe. Ele é o brilho da gloria de Deus e a representação

46
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
exata do seu ser (1.3). Ele não esteve atualmente
somente na criação, mas também sustenta o universo
continuamente. O verbo “sustentar” é pherõ, que
transmite a idéia de levar a criação adiante, talvez para o
seu objetivo, é um conceito dinâmico não estático, como a
idéia grega de Atlas sustentando tudo sobre seus ombros.
Ele efetuou a purificação dos nossos pecados e se sentou
à direita de Deus.
Ele é superior aos anjos pois herdou mais
excelente nome do que eles (1.4), a essência do seu ser é
de outra ordem. O escritor passa a mostrar isso com uma
serie de citações das Escrituras que falam do Filho, uma
forma de tratamento não usada para anjos que o adoram
e são servos. Depois fala dele como rei da sua obra na
criação e da sua eternidade (1.10-12). Deus não convidou
os anjos para sentar à sua direita como fez com o Filho
(1.3). Os anjos são importantes, porém são inferiores ao
Filho de Deus.
O autor também fala da tão grande salvação que
Cristo efetuou. Ele veio para este mundo como ser
humano, inferior aos anjos, mas isso foi apenas para
obter a salvação dos pecadores (2.9). o escritor enfatiza a
humanidade de Cristo como genuína (2.10-18), mas sem
47
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
modificar o que disse sobre sua grandeza. O que ele esta
dizendo é que Cristo foi grande o suficiente para ocupar o
lugar mais inferior, a fim de realizar a salvação.
O sumo sacerdote da nossa confissão é superior a
Moisés (3.1-6). Isso parece ser um anticlímax, pois já
tivemos o argumento de que Cristo é maior do que os
anjos. Para os judeus, porem, Moisés era maior do que os
anjos. Moisés foi o homem por meio de quem Deus
concedeu a Lei, e para os judeus isso foi a maior coisa
que havia acontecido. Porém, o autor mostra que Moisés
foi fiel como servo na casa de Deus, mas Cristo foi fiel
como Filho sobre essa casa (3.5,6).
Cristo é incomparavelmente maior do que qualquer
coisa ou ser em toda a criação, o escritor desenvolve o
pensamento de que Cristo trouxe salvação para todos, e
usa conceitos como o do grande sumo sacerdote, o
sacerdote como Melquisedeque, e a nova aliança para
ilustrar o que quer dizer. Em tudo isso a grandeza de
Cristo se desta, ele jamais poderia cumprir o que significa
ser “sumo sacerdote” e outros títulos, não fosse ele tão
grande. A equiparação de Cristo a Deus Pai é o
pressuposto necessário para tudo o que ele tem a dizer
sobre nosso salvador.

48
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
EPISTOLA DE TIAGO

A carta de Tiago, é uma série de sermões sem um


relacionamento um com outro. Porém é possível
dividirmos em cinco seções gerais.
Provocações e maturidade cristã (1.1-18). Depois
da indicação dos destinatários e da saudação, Tiago
começa a tratar de diversos temas, entre os quais o
sofrimento cristão “provocações” é o mais proeminente
(1.2-18). Tiago incentiva seus leitores a descobrirem
relevância e propósito nos sofrimentos por que passam
(1.2-4), a orar com fé pedindo sabedoria (1.5-8) e a
ampliar um enfoque cristão à pobreza e à riqueza (1.9-
11). Depois de voltar ao tema das provocações, ele passa
para a questão da tentação (1.13-15). A seção termina
com um lembrete da bondade divina em dar (1.16-18).
O cristão verdadeiro é visto em suas obras (1.19-
2.26). Depois de uma advertência contra a maledicência e
a ira (1.19-20), Tiago incentiva seus leitores a “acolher
com mansidão a palavra em vós implantada” (1.21) e
depois desenvolve essa exortação mostrando que o
verdadeiro acolhimento da palavra de Deus implica em
49
Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
praticá-la (1.22-27). Como exemplo importante de praticar
a palavra Tiago cita a necessidade dos cristãos serem
imparciais ao lidarem com o próximo. Somente assim
escaparão do juízo (2.1-13). A importância das ações dos
cristãos em evitarem o juízo dá ensejo à famosa análise
de Tiago da relação entre fé e obras (2.14-26). Tiago
insiste em que a fé verdadeira sempre se caracteriza pela
obediência e que somente esse tipo de fé demonstrada
em obras trará salvação.
Dissensões dentro da comunidade (3.1-4.12).
Nenhuma interrupção óbvia indica o início da terceira
seção da carta. Mas podemos entender as advertências
de Tiago sobre a fala inconveniente (3.1-12; 4.11-12)
como indicação de um parêntese em que Tiago se
concentra de modo geral no problema de dissensões
entre cristãos e suas raízes na inveja. Tiago emprega
uma série de figuras de linguagem (3.1-12), para advertir
os cristãos do perigo da língua. Depois ele ataca
frontalmente o problema das dissensões, remontando
essa agitação exterior ao tipo errado de sabedoria (3.13-
18). Tiago ainda adverte contra um cristianismo de
concessões e convoca ao arrependimento, terminando
com uma exortação a fala (4.11-12).

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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
Importância de uma cosmovisão cristã (4.13-5.11).
esta seção é a menos óbvia, mas podemos sugerir que
seu tema principal tem a ver com uma cosmovisão cristã.
Tiago fala sobre a necessidade de levar a Deus todos os
planos que fazemos (4.13-17). Outra é o reconhecimento
de que Deus, quando volta do Senhor, julgará os ricos
ímpios (5.1-6) e recompensará os justos (5.7-11).
Exortações finais (5.12-20). Tiago conclui com
exortações sobre o juramento, que este seja evitado,
sobre a oração, especialmente pela cura física (5.13-18),
e a responsabilidade de os crentes cuidarem da saúde
espiritual uns dos outros (5.19-20).
Autor da carta declara ser Tiago, servo de Deus e
do Senhor Jesus Cristo (1.1). Há pelo menos quatro
pessoas com este nome no Novo Testamento, vejamos:
1) Tiago, o filho de Zebedeu, irmão de João, um dos doze
(Mc 1.19; 5.37; 9.2; 10.35; 14.33), 2) Tiago, o filho de
Alfeu, também um dos doze (Mc 3.18, ele talvez seja
Tiago o menor, de Mc 15.40), 3) Tiago, o pai de Judas (Lc
6.16; At 1.13), 4) Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1.19), que
desempenha um papel de liderança na igreja primitiva em
Jerusalém (At 12.17; 15.13; 21.18). Destes quatro, o
ultimo é de longe o mais óbvio candidato à autoria desta
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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
carta. Tiago, o pai de Judas, é por demais obscuro para
ser seriamente considerado, o mesmo vale, num grau
menor, para Tiago, o filho de Alfeu. Por outro lado Tiago,
filho de Zebedeu, tem um papel de destaque entre os
Doze, mas a data de seu martírio 44 d.C. (At 12.22) é
provavelmente muito cedo para permitir que o liguemos à
carta. Resta, então, Tiago, o irmão do Senhor Jesus, que
certamente é o Tiago mais proeminente na igreja
primitiva.
A localização onde a carta foi escrita se, como
pensamos foi Tiago, o irmão do Senhor Jesus, então ela
provavelmente foi escrita em Jerusalém durante o tempo
em que ele liderou a igreja cristã em Jerusalém (segundo
a tradição Tiago foi o primeiro bispo de Jerusalém). O
contexto social e econômico pressuposto na carta diz
respeito aos leitores e ao autor, e também se coaduna
com uma procedência palestina: comerciante que
percorrem imensas regiões em busca de lucro (4.13-17),
proprietários de terras que residiam em outros locais e
tiravam vantagem de uma força operária cada vez mais
pobre e desprovida de terras (2.5-7; 5.1-6) e acalorada
controvérsia religiosa (4.1-3).

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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
A data mais provável para a carta de Tiago é o
início ou meados dos anos 40 d.C. Essa data harmoniza-
se muito bem com as circunstâncias e ênfases da carta.
Não há nenhum indício de conflito entre cristãos judeus e
gentios (o que seria de esperar se a carta tivesse sido
escrita depois do Concílio de Jerusalém), e a teologia da
carta é relativamente pouco desenvolvida.
Tiago esta incluído entre as epístolas gerais porque
não se dirige a uma igreja específica. Porém com quase
toda certeza foi escrita para um público específico.
Diversos aspectos deixam claro que os destinatários eram
cristãos judeus: a maneira natural de mencionar o Antigo
Testamento (1.25; 2.8-13), a referência ao lugar onde os
destinatários se reunião como uma sinagoga (2.2) e o uso
disseminado de metáforas do Antigo Testamento e do
judaísmo. Ademias trechos tai como 5.16 dão a
impressão de que a maioria dos leitores era pobre,
embora alguns poderiam ser ricos 1.9-11; 2.1-4; 4.13-17.
Tiago destaca que a fé cristã tem de se evidenciar
em obras. Ele se opõe à tendência tão comum entre os
cristãos de se satisfazerem com uma fé acomodada e que
faz concessões, que procura tirar o melhor proveito deste
mundo e do vindouro. Para Tiago o pecado fundamental é
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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
o coração dividido (1.8; 4.8) e ele insiste em que os
cristãos se arrependam disto e volta ao caminho que
conduz ao caráter íntegro e perfeito que Deus deseja.

EPISTOLA DE 1 PEDRO

No Novo Testamento temos duas cartas do


apóstolo Pedro. A primeira é caracterizada por uma
estrutura bem elaborada e pela temática coesa. Trata-se
nessa carta, da igreja de Jesus Cristo como o novo povo
de Deus e o fato de ela se impor em uma sociedade
desconhecida e muitas vezes hostil. Descreve a vida do
povo de Deus como peregrinos e forasteiros.
É uma carta aberta escrita em bom grego, e em
muitos aspectos do vocabulário e do estilo lembram as
epístolas de Paulo.
De acordo com 5.13 a carta foi enviada de Roma,
pois Babilônia é o nome camuflado de Roma. Em abril de
65 Nero tinha mandado incendiar a sua capital. Depois
culpou os cristãos pelo incêndio, pois a influencia deles no
seu palácio estava começando a incomodar o imperado.

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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
Pedro imaginou que as perseguições alcançaram os
cristãos até a Ásia Menor, e, por isso, escreveu essa carta
de encorajamento às igrejas de lá. A carta chegou aos
seus receptores por meio de Silvano (5.12). A tensão
perceptível na carta não seria de perseguição aberta, mas
da situação de dificuldade sob Nero, um imperador
vingativo. A perseguição real dos cristãos teria vindo
sobre os cristãos em Roma em 67/68 d.C.
O objetivo do apóstolo é que as igrejas se firmem
como povo de Deus. Isso deve se mostrar no
relacionamento dos cristãos uns com os outros, mas
também no comportamento deles em publico. Eles já não
pertencem a si mesmos, mas ao Senhor, que deu a sua
vida por eles. Isso os leva necessariamente à convivência
marcada pelo amor e ao serviço com a capacitação dos
dons do Espírito. Entretanto, também no mundo em que
vivem é preciso mostrar a quem pertencem. Devem
mostrara respeito ao Estado. Isso vale também para os
escravos cristãos, que tem senhores um tanto estranhos.
Todos aqueles que perguntar aos cristãos sobre a sua fé
em Jesus Cristo, deve receber uma resposta clara. O
apóstolo ajuda as igrejas a perceberem que perseguição
não é algo extraordinário, mas é o normal. Não poderia
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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
ser diferente para os que amam a Cristo. Por isso as
igrejas devem se preparar para épocas de perseguição.
Para alguns, períodos do sofrimento já começou. Estes o
apóstolo consola e encoraja à perseverança.
Para o cristão que já se sente em casa nesse
mundo e que, de preferência, foge das dificuldades, o tom
dessa carta parece um tanto áspero. Ele acaba com a
ilusão de que, se os cristãos tão somente tiverem a
doutrina correta, no final alcançarão o mundo todo com o
evangelho. A igreja de Jesus Cristo não recebeu essa
promessa. Ela sempre será uma minoria. Isso faz parte da
sua identidade. A questão é se ela quer aceitar isso, e
sofrer as conseqüências. Visto dessa forma, a carta é um
desafio para a igreja de Jesus Cristo e pode ajudá-la a
proteger a sua identidade como povo de Deus mesmo em
terra estranha.
A carta foi escrita pelo apóstolo Pedro e dedicada
“aos leitores que são forasteiros”. Isso se refere
certamente a cristãos que já não consideram esse mundo
a sua pátria (cf. 3.20). Todas as indicações de local
apontam para a Ásia Menor. Os receptores são, portanto,
igrejas na Ásia Menor. Algumas observações de Pedro
deixam claro que não seus receptores não podem ser

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Me. Fábio Wilhelm
cristãos judeus (cf. 1.14,18; 2.9ss; 4.3ss), são portanto
igrejas de cristãos gentios na Ásia Menor, que o apóstolo
trata como membros do povo de Deus. Provavelmente
escrita em torno do ano 65, em Roma.

EPISTOLA DE 2 PEDRO

Os temas tratados nesta carta são a eleição e o


chamado, a transfiguração de Jesus, a palavra da
profecia, o combate a heresias provavelmente gnósticas,
a volta de Jesus e o fim dos tempos.
É uma carta aberta a todos os cristãos. Destaca-se
por uma linguagem marcada pelo mundo helenístico.
Nenhum outro autor do Novo Testamento é tão
fortemente influenciado pelo helenismo como Pedro.
Próximo da sua morte (1.13-15), Pedro se dirige às
pessoas a ele confiadas para desafiá-las a uma vida que
corresponda ao seu chamado e à eleição da fé em Jesus
Cristo. Essa vida deve ser caracterizada por virtudes,
conhecimento, moderação, piedade, amor fraternal e
amor a todos os homens. Essa vida precisa ser mantida
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Panorama do N.T.
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por meio de estímulos constantes. Além do tema da
santificação, é tratado também o assunto da certeza da
revelação de Deus em Jesus Cristo. O autor firma esse
assunto em dois fatos: no seu testemunho pessoal
(ocular) da transfiguração de Jesus, na qual ele ouviu com
os seus próprios ouvidos a voz de Deus, e na palavra
profética dada pelo Espírito de Deus. Ela é a Palavra de
Deus, reproduzida em palavras humanas (2Pe 1.21).
Um capitulo inteiro é dedicado ao conflito com os
falsos mestres (provavelmente gnósticos, capítulo 2), que
se caracterizam pelo desprezo das forças celestiais e pela
vida desregrada. O capítulo é uma prova de que confusão
religiosa e ética muitas vezes andam juntas.
A carta finaliza com uma lembrança vigorosa da
volta de Jesus, que não é questionada pela demora
ocorrida. Ela via ocorrer repentinamente, trazer o fim do
mundo por meio da destruição pelo calor e introduzir o
novo céu e a nova terra de Deus. A carta não nos dá uma
seqüência dos fatos do fim dos tempos. Todos os eventos
do fim parecem estar amarrados a um acontecimento em
um ponto definido no tempo.
Pedro escreve esta carta antes do seu martírio. O
cabeçalho cita o remetente como “Simão Pedro, servo e

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apóstolo de Jesus Cristo”. Com base em 1.16-18
sabemos que ele esteve no monte da transfiguração e
ouviu a voz do céu.
A carta é dirigida a todos os cristãos e deve ter sido
escrita em Roma por volta de 65 d.C.

EPISTOLA DE JUDAS

Pouco valor é dado à ultima das cartas do Novo


Testamento. Isso pode estar relacionado ao seu
conteúdo, que é influenciado pela tradição do judaísmo
daquela época mais do que qualquer outro escrito do
Novo Testamento. Por isso, v.9 e do Apocalipse de
Enoque v.4 como também a lendas judaicas v.9,11. Para
muitos leitores atuais da Bíblia, aquele é um mundo
totalmente estranho. Inutilmente buscam evidencias para
os fatos citados no Antigo Testamento.
Mesmo apresentando um cabeçalho típico, é difícil
caracterizar Judas como uma carta escrita a um grupo
definido de leitores de uma igreja. Parece mais uma carta
aberta enviada aos cristãos judeus no ambiente
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Me. Fábio Wilhelm
helenístico, que o autor via ameaçados em virtude da
influência dos falsos mestres gnósticos. A característica
principal deles é a grande liberdade ética, como aquela
que já estava colocando em perigo a igreja de Corinto. Há
semelhança em 2 Pedro.
A novidade na carta de Judas é que esses falsos
mestres não temem nenhum tipo de autoridade, nem os
poderes angelicais e nem mesmo o próprio Deus. Tudo
indica que esse escrito de Judas seja uma carta abertas
às igrejas judaico cristãs helenistas, que adverte seus
leitores contra o gnosticismo que esta destruindo as
igrejas e também tem a intenção de proteger os cristãos
do estilo de vida libertino apregoado pelos gnósticos. O
autor imagina que os leitores tenham conhecimento do
Antigo Testamento e também das traições judaicas extra-
bíblicas que ele usa na sua argumentação.
No cabeçalho lemos que a carta foi escrita por
Judas, um servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago. A
conclusão é de que se trata de um irmão de Jesus (cf. Mt
13.55; Mc 6.3), porque além de Tiago, filho de Zebedeu,
que morreu já bem cedo como mártir, só existia um Tiago
com autoridade na igreja da época, o irmão de Jesus (cf.
Tg 1.1; Gl 1.19; 2.9; 1Co 15.7).

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Panorama do N.T.
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A datação esta por volta da década de 60, pois ele
não menciona a morte do seu irmão Tiago (66 d.C.), nem
a destruição de Jerusalém (70 d.C.), o que seria de se
esperar.

APOCALIPSE

O apocalipse apresenta números, figuras e


símbolos e são difíceis de interpretar. As mensagens de
juízo assustam, as visões de um mundo novo e justo
fascinam.
O livro começa com a apresentação do seu autor e
com a descrição da sua experiência visionária. Depois
disso vêm sete cartas abertas às igrejas da Ásia Menor.
João recebe uma visão da glória de Deus e de Jesus
Cristo, e continua com grandes visões sobre o juízo, que
são apresentadas em formas de selos, trombetas e taças.
Antes da apresentação do juízo pelos selos João registra
a sua visão da queda de Satanás sobre a terra, do
surgimento do anticristo e da vitoria de Cristo sobre ele. O

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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
apocalipse termina com as visões da volta de Jesus, do
juízo final e do novo mundo que Deus criará.
A literatura apocalíptica definiu a forma literária do
livro, cuja moldura geral tem aparência de uma carta, mas
na apresentação geral é um livro apocalíptico. Nele o
numero sete tem significado especial, sete espíritos, sete
candeeiros, sete estrelas, sete igrejas, sete cabeças de
animais, sete selos, sete trombetas, sete taças. A
apresentação dá a impressão de que o livro todo é
estruturado em torno do numero sete. Porém isso não é
fato, pois há vários trechos independentes do livro que
não cabem nesse esquema.
A linguagem trás a memória a cultura hebraica do
Antigo Testamento, o que chama a atenção no Apocalipse
são os muitos cânticos de louvor como por exemplo: 1.5-
6; 4.8-11;5.9ss, 12ss; 7.10,12; 11.15,17ss; 12.10-12;
15.3ss. É provável que os cânticos estão relacionados
com a sua experiência visionaria.
Uma questão importante é de como estão
relacionados os selos, as trombetas e as taças. É possível
que os três elementos estão num relacionamento de
introdução, preparo e acontecimento real.

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Panorama do N.T.
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Os livros da literatura apocalíptica pretendem
revelar os mistérios sobre o desenrolar da historia e do
fim do mundo. O Apocalipse surgiu em um contexto em
que existiam muitos livros semelhantes. Todos eles só
podem ser entendidos com base no pano de fundo da
profecia do Antigo Testamento. Os profetas do Antigo
Testamento recebiam aquilo que precisavam dizer por
inspiração divina, e em muitos casos a sua mensagem
estava relacionada com os fatos políticos, econômicos e
religiosos do seu dia-a-dia. Por outro lado, recebiam
também mensagens que são dirigidas aos
acontecimentos do futuro. Anunciam o juízo de Deus e a
salvação no fim dos tempos. Este ultimo aspecto da
mensagem profética é retomado na literatura apocalíptica.
Ela se desenvolve quando Antíoco Epifânio IV
governa a Palestina (175-164 a.C.). foi um tempo de
grande opressão do povo judeu, pois Antíoco Epifânio
tentou introduzir a cultura e religiosidade grega à força.
Nesse tempo difícil o povo judeu se lembrou das
promessas de salvação de Deus dadas pelos profetas.
A literatura apocalíptica tem como objetivo dar
respostas ao povo judeu tão oprimido. Esses livros
surgiram quase que e exclusivamente na Palestina e lá
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Panorama do N.T.
Me. Fábio Wilhelm
foram difundidos. Os escribas judeus, no entanto, eram
críticos em relação a esses livros. Hoje temos acesso a
alguns desses livros apocalípticos judaicos, são eles: O
livro etíope de Enoque, IV Esdras, o Apocalipse grego e
siríaco de Baruque, o Apocalipse de Moisés, o Livro de
Enoque eslavo e o Testamento dos 12 Patriarcas.
Para terem credibilidade e autoridade, eram
editados sob nomes de pessoas famosa do Antigo
Testamento. Contem muitas visões, figuras, sonhos e
números simbólicos. A história geral do mundo é dividida
em duas etapas: a época atual e a época vindoura. Essas
épocas principais são, por sua vez, subdivididas em
épocas menores. Também a época atual é dividida em
períodos, que são descritos em detalhes. Sinais para o
fim da época atual são perseguição dos fieis, catástrofes
naturais e guerras. Eles antecedem a vinda do Messias.
São denominados “as dores do Messias”. No final de toda
a opressão está a vitoria de Deus sobre as forças do mal,
a ressurreição dos mortos e o inicio de uma nova época.
O nome apocalipse em grego significa revelação, e
o nome já indica a sua relação com a literatura
apocalíptica. O leitor percebe isso nos símbolos que
aparecem no livro. As cores tem significado especial.

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Branco é a cor da divindade, da alegria, da vitoria, do céu.
Preto é a cor da morte. Vermelho é a cor do luxo.
O apocalipse esta repleto de figuras: coroa da
vitoria e palmeiras simbolizando a vitoria. O diadema é o
sinal do domínio e da soberania. O chifre é o sinal do
poder.
No apocalipse os números também tem
significado simbólico. Quatro é o numero do mundo
criado, sete é o numero da perfeição e da plenitude, 12 é
o numero do povo eleito de Deus, 10.000 é o número da
multidão ilimitada, 144.000 é o numero do povo de Deus
incontavelmente grande.
Assim como a literatura apocalíptica, o Apocalipse tem o
objetivo de interpretar a história do mundo ate o seu final
(cf. Ap 1.1,19). Essa história vai trazer grande opressão
sobre o povo de Deus e muitas guerras e catástrofes
ecológicas para a humanidade. Mas no final está a vitoria
de Deus, a implantação do seu domínio sobre essa terra e
a criação de um novo céu e de uma nova terra.
Não podemos ignorar a relação do livro com a
profecia. O livro esta em forma de carta, que João
escreve às sete igrejas da província da Ásia (cf. 1.4;
22.21). O autor é conhecido entre as igrejas. João o
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apóstolo, que de acordo com a tradição da igreja antiga,
viveu em Éfeso. Agora ele está escrevendo da ilha de
Patmos às igrejas tudo aquilo que o Senhor vivo lhe disse
e mostrou por meio de figuras e imagens. Ele quer ajudar
as igrejas receptoras do seu livro a entenderem a sua
própria situação (cf. cap. 2 e 3). Ele quer apoiar e
incentivar as igrejas a permanecerem firmes nas
perseguições e a contarem com a vitoria de Jesus Cristo
(cf. 2.3,10; 3.8; 17.1ss; 20.4,6 e outros). Nesse aspecto, o
livro do Apocalipse é um livro de consolo e exortação,
como grandes partes da literatura profética do Antigo
Testamento.
Na ilha de Patmos ele teve um encontro visionário
com o Senhor Jesus Cristo. O que o Senhor lhe mostrou
está relacionado com o Antigo Testamento e com a
literatura apocalíptica. Nesse mundo imaginário que lhe é
tão conhecido, o presente e o futuro da Igreja lhe são
interpretados. Ele recebe a tarefa de escrever o conteúdo
das visões.
Nessas visões está refletido o drama da
perseguição dos cristãos na época de João. Com a besta
que emerge do mar (13.1ss) é feita indicações do estado
romano sob Domiciano, com o falso profeta se faz

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Panorama do N.T.
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menção do sacerdócio do imperador. A “prostituta”
(17.1ss) simboliza Roma com sua impiedade.
Perseguições da igreja na Ásia Menor são citadas
diretamente (cf. 2.3,10,13; 3.8). O autor antevê uma
batalha decisiva vindo sobre a igreja (3.10), que deixará
muitos mártires (6.9; 7.9ss; 15.2). Mas eles são os
vencedores. João já consegue ouvir o seu louvor
(12.10ss). Ele os vê reinando juntamente com Cristo
(20.4,6). Todo o livro é um encorajamento para a hora do
martírio. A história da igreja mostra como foi importante
esse aspecto nos primeiros três séculos, nos quais ondas
de perseguição caíram sobre a igreja. Não conseguiram
destruir a igreja de Jesus.
João porem não vê a perseguição da igreja como
sendo o conflito principal. O conflito principal está por trás
dessa perseguição, que é a batalha entre Deus e
Satanás. A besta que emerge do mar é o símbolo
apocalíptico para o império romano. Mas esse mesmo
império romano recebe o seu poder de Satanás (13.2) e
serve a Satanás (13.4ss). Que diferença em relação à
avaliação que o apóstolo Paulo faz do estado romano
(Rm 13.1ss). O estado romano citado em Apocalipse não
é só uma figura política. Ele exige a adoração do
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Panorama do N.T.
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imperador. Com isso ele concorre com a adoração a
Deus. O sacerdócio do imperador (falso profeta) exige o
culto fanático ao imperador. Satanás se lança a anti-Deus.
É ele que está por trás da perseguição dos cristãos
(12.4,7,17). Mas satanás está derrotado, ele tem pouco
tempo para agir. Jesus Cristo é o Senhor da nova época
(1.13; 5.5; 3.21; 14.14). Satanás foi lançado do céu sobre
a terra (12.9). isso leva a guerras e catástrofes ecológicas
terríveis, que, no entanto, não fazem com que as pessoas
se voltem a Deus (9.20ss e outros). Somente a volta de
Jesus muda a historia da humanidade, o poder dos reinos
inimigos de Deus é destruído (19.11ss). Cristo reina na
terra com os mártires por 1.000 anos, durante os quais
Satanás está amarrado. Depois disso ele se levanta uma
ultima vez e é destruído (20.7ss). Deus cria um novo céu
e uma nova terra, que já não conhecem o sofrimento nem
a morte.
O fato novo do Apocalipse de João é que as figuras
e imagens são aplicadas coerentemente a Jesus,
enquanto na literatura apocalíptica judaica o consolo
estava relacionado aos patriarcas espirituais. No centro
do livro de João está a ação de Deus que leva à salvação
das pessoas por meio de Jesus Cristo. Diante disso, é

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possível ver a historia com outros olhos, mesmo quando
surge uma época de perseguição da igreja.
O Livro do Apocalipse é, portanto, um livro de
consolo e encorajamento para a igreja, que em pouco
tempo será levada ao martírio. Essa igreja é encorajada a
permanecer fiel pela esperança do cumprimento em breve
de toas as coisas por meio de Jesus Cristo.
De acordo com Apocalipse 1.4, o livro foi escrito às
sete igrejas da província da Ásia. As igrejas são as
citadas nos capítulos 2 e 3. Talvez também estejam
representando as igrejas da Ásia Menor, que são
exortadas e encorajadas por meio do livro. A data
tradicional e mais provável do livro é o reinado de
Domiciano (81-96 d.C.). A despeito do fato que Domiciano
não perseguiu aos cristãos em larga escala, a sua
tentativa de pôr em vigor a adoração ao imperador foi um
presságio das violentas perseguições que se seguiram. O
Apocalipse teve por desígnio, portanto preparar os
crentes para a resistência.
A interpretação do livro do Apocalipse será
abordada na Matéria Escatologia.

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BIBLIOGRAFIA

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