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TEXTOS SAGRADOS V: EVANGELHOS I

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 02

Cap. 1 — A Natureza dos Evangelhos .........................................02

Cap. 2 — Os Evangelhos Sinópticos ...........................................04

Cap. 3 — O Evangelho Segundo Mateus ....................................09

Cap. 4 — O Evangelho Segundo Marcos ....................................11

Cap. 5 — Panorama Histórico do Novo Testamento ..................16

Cap. 6 — Ensinos Selecionados do Salvador .............................27

CONCLUSÃO .................................................................................32

BIBLIOGRAFIA..................................................................................33

INTRODUÇÃO

A palavra Evangelho significa boa nova ou boa mensagem. Este termo designa
os quatro primeiros livros do Novo Testamento que relatam a vida e os
ensinamentos do encarnado Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo - tudo o
que fez para estabelecer uma vida reta e justa na terra e para salvar a
humanidade pecadora.
Antes da vinda de Cristo os homens entendiam Deus como o Criador Todo
Poderoso e implacável Juiz na Sua morada em inatingível glória. Jesus Cristo
nos abriu um novo entendimento sobre Deus, o Deus próximo a nós,
misericordioso e Pai que nos ama. Jesus Cristo disse a seus contemporâneos:
"quem me vê, vê também o Pai" De fato, a imagem de Jesus Cristo, cada
aspecto particular, cada palavra e gesto estavam impregnados de infinita
compaixão. Ele era o Médico para os doentes. As pessoas sentiam o Seu amor
e eram atraídas por Ele e seguiam-no aos milhares. Nunca ninguém soube de
alguma recusa. Cristo atendia a todos. Purificava as almas dos pecadores,
curava os doentes e cegos, confortava os desesperados e libertava os
possuídos pelos demônios. E, ao mesmo tempo, à sua ordem todos se
subjugavam, a natureza e até a própria morte.
Através deste módulo mostraremos ao leitor em que circunstâncias os
evangelhos foram escritos e apresentaremos ensinamentos selecionados do
nosso Redentor. É de nosso desejo que o leitor venha a se aprofundar na vida
e nos ensinamentos do Salvador, pois, quanto maior é nossa experiência
espiritual à medida que passamos a ler mais os evangelhos mais forte se torna
nossa fé e mais claramente passamos a entender o sentido da nossa vida
terrena. Também, quanto maior é nossa experiência espiritual, mais evidente
se torna a nossa proximidade com o Salvador. Ele verdadeiramente passa a
ser o nosso Bom Pastor que nos orienta para o caminho da salvação.
Nos dias de hoje principalmente, quando tantas opiniões contraditórias e
infundadas aparecem, seria mais sábio que fizéssemos dos evangelhos o
nosso livro de referência. Pois, enquanto todos os livros que lemos contêm
opinião de homens comuns os evangelhos revelam-nos as palavras eternas do
Senhor.

Capítulo I
A NATUREZA DOS EVANGELHOS

História dos Textos do Evangelho


Todos os livros Sagrados do Novo Testamento foram escritos na língua grega,
mais especificamente, no popular dialeto alexandrino chamado koinê, que era a
língua mais falada ou pelo menos compreendida pelos homens cultos de todas
as localidades do Oriente e do Ocidente do Império Romano. Esse era o idioma
de todos os homens instruídos daquela época. Por essa razão os Evangelistas
usaram o grego e não o hebreu para escrever os Evangelhos, a fim de torná-lo
acessível a um maior número de pessoas.
Naquele tempo a escrita usava somente as letras maiúsculas do alfabeto
grego, não usava nenhuma pontuação e não separava as palavras. As
minúsculas e o espaçamento entre palavras passaram a ser usadas somente
no século IX. A pontuação veio somente com o aparecimento da imprensa no
século XV. A separação dos capítulos foi introduzida no ocidente pelo Cardeal
Hugo no século XIII e a separação em versículos foi feita pelo tipógrafo
parisiense Roberto Stephen no século XVI.
Através de seus sábios bispos e presbíteros a Igreja sempre zelava pela
preservação dos textos sagrados na sua pureza original, principalmente antes
do aparecimento da imprensa, tempo em que os textos eram copiados
manualmente, onde erros poderiam se infiltrar em novas cópias. É sabido que
alguns estudiosos cristãos do século II e III, como Orígenes, Esequias — bispo
do Egito e Luciano, presbítero de Antioquia trabalharam com muito empenho
nos aditamentos aos textos bíblicos. Com a invenção da imprensa foi dada
uma especial atenção à reprodução dos Livros Sagrados do Novo Testamento,
para assegurar que fossem copiados dos manuscritos mais antigos e
confiáveis. Durante o primeiro quarto do século XVI apareceram duas
publicações do Novo Testamento em grego: "O Livro Completo das Escrituras,"
publicado na Espanha e a edição de Erasmo de Rotterdam na Basiléia. É
importante mencionar a edição de Tischendorf, no fim do século passado,
resultado de um trabalho de comparação de novecentos manuscritos do Novo
Testamento.
Tanto estes trabalhos críticos como principalmente os incansáveis esforços da
Igreja habitada e guiada pelo Espirito Santo, nos asseguram que nos dias de
hoje possuímos o texto grego puro e não adulterado dos Livros Sagrados.
Podemos afirmar que estes livros são os mais genuínos porque são a melhor
edição de todos os livros antigos.

O Tempo Em Que os Evangelhos Foram Escritos


Não podemos precisar com exatidão quando cada um dos livros do Novo
Testamento foi escrito. Entretanto não há dúvida de que todos foram escritos
na segunda metade do primeiro século. Isto é evidente pelo fato de que uma
série de escritas no segundo século - como as Apologias do Santo Mártir
Justino o filósofo, escritas no ano 150, as obras poéticas do autor pagão Celso,
escritas no segundo século e especialmente as epístolas do bispo-mártir Inácio
Teóforo de Antióquia, escritas aproximadamente em 107 d.C. — todos fazem
inúmeras referências aos livros do Novo Testamento.
Os primeiros livros do Novo Testamento foram as epístolas dos apóstolos,
escritas por causa da necessidade de fortalecer a fé das recém-fundadas
comunidades cristãs. Em pouco tempo também surgiu a necessidade de uma
documentação sistemática da vida e dos ensinamentos de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Não importa o quão exaustivamente os chamados "críticos
contraditórios" se esforçaram em minar a confiança na autenticidade histórica
dos evangelhos e outros livros sagrados, afirmando que apareceram muito
mais tarde (Bauer e sua escola), os novos achados na literatura patrística da
igreja (especialmente os antigos trabalhos dos Santos Pais da Igreja), nos
atestam que todos os quatro evangelhos foram de fato escritos no primeiro
século.
Pelas inúmeras deduções podemos concluir que o evangelho de São Mateus
foi escrito primeiro e no máximo 50-60 anos depois do nascimento de Cristo. O
evangelho de São Marcos e São Lucas foram escritos mais tarde, mas
certamente antes da destruição de Jerusalém, ou seja, antes de 70 A.D. São
João o Teólogo escreveu o seu evangelho depois dos outros e muito
provavelmente no final do primeiro século, quando estava com mais de 90
anos. Algum tempo antes ele escreveu o Apocalipse ou o Livro da Revelação.
Os Atos dos Apóstolos foram escritos logo após o evangelho de São Lucas e
como indicado no prefácio, servem como continuação do evangelho de São
Lucas.

O Significado dos Quatro Evangelhos


Os quatro evangelhos harmoniosamente relatam a vida e os ensinamentos de
Cristo Redentor, Seus milagres, os Seus sofrimentos na Cruz, Sua morte e
sepultamento, Sua gloriosa ressurreição e ascensão ao céu. Mutuamente
complementando-se e esclarecendo, os evangelhos representam um único
livro, sem contradições ou variações no que é mais importante e fundamental.
A misteriosa carruagem vista pelo profeta Ezequiel no rio Chebar (Ezequiel 1:1-
28), com cinco criaturas, que tinham semelhança com um homem, um leão, um
touro e uma águia, serve como símbolo dos quatro evangelhos. Ao início do
século V, a arte cristã representa Mateus como um homem ou anjo, Marcos
como um leão, Lucas um boi e João como uma águia.
Além dos quatro Evangelhos havia mais 50 outras escritas similares durante os
primeiros séculos que se apresentavam como "evangelhos" e declaravam
origem apostólica. A Igreja chamou estas escritas de Apócrifos - o que significa
não-credenciados ou livros repudiados. Estes livros contém narrativas
distorcidas e de significado duvidoso. Estes incluem "o primeiro evangelho de
Jó," "a história de José o carpinteiro," "o evangelho de Tomás," "o evangelho
de Nicondemos"e outros. Nestes evangelhos" podemos encontrar as mais
antigas lendas relatando a infância e a juventude de Jesus Cristo.

Capítulo II
OS EVANGELHOS SINÓPTICOS

O Evangelho e os evangelhos. Antes de mais nada, o Evangelho é, de acordo


com o sentido grego da palavra, a Boa Nova da Salvação (cf. Mc 1,1), a
pregação desta Boa Nova. Assim o entende o apóstolo Paulo ao falar do seu
evangelho: trata--se do anúncio da salvação na pessoa de Jesus Cristo. De
sorte que, na origem, o Evangelho não foi um livro, obra literária ou histórica; e
se o título evangelho foi dado aos quatro livros atribuídos a Mateus, Marcos,
Lucas e João, é porque cada um desses autores proclama esta Boa Nova no
relato que faz das palavras e obras de Jesus, bem como na narrativa que traz
de sua morte e Ressurreição.
O leitor moderno, cioso de exatidão e sempre à cata de fatos estabelecidos e
verificados, fica desconcertado à vista dessa literatura, que lhe parece
desconexa, cujo plano carece de continuidade, cujas contradições parecem
insuperáveis e que não logra responder a todas as perguntas que se lhe fazem.
Tal reação será vantajosa para o leitor, se o levar a suscitar os verdadeiros
problemas, primeiramente o do gênero literário dos evangelhos. Os seus
redatores não são literatos que, instalados numa escrivaninha, a manusear
documentos devidamente classificados, se teriam abalançado a escrever uma
vida de Jesus de Nazaré desde o nascimento até a morte. Totalmente diversa
é a maneira como se deve encarar a composição dos evangelhos. Jesus falou,
anunciou a Boa Nova do Reino, convocou discípulos, curou doentes, realizou
atos significativos. Após sua morte e à luz da fé pascal, os discípulos e, depois
deles, os pregadores anunciaram a sua Ressurreição, repetiram suas palavras
e referiram seus atos de acordo com as necessidades da vida das Igrejas.
Durante cerca de quarenta anos, formaram-se tradições orais, que
conservaram e transmitiram, por meio da pregação, da liturgia e da catequese,
todos os materiais com que deparamos nos evangelhos. Aliás, é verossímil
que, no decorrer da história, alguns desses materiais já tivessem recebido uma
forma escrita: por exemplo, certas formulações litúrgicas como as profissões de
fé, coletâneas de palavras de Jesus ou o relato da Paixão de Jesus que, sem
dúvida, bem cedo constituiu um ciclo de narrações claramente estruturado.
Os evangelistas trabalharam a partir desses dados tradicionais que, na vida
movediça das primeiras comunidades, já tinham adquirido formas diversas, à
medida que a Boa Nova, antes de passar a texto estabelecido, era uma palavra
viva, que, simultaneamente, nutria a fé dos cristãos, ensinava os fiéis,
adaptava-se aos diversos ambientes, respondia às necessidades das Igrejas,
animava sua liturgia, exprimia uma reflexão sobre a Escritura, corrigia os erros
e, ocasionalmente, replicava aos argumentos dos adversários.
Destarte, os evangelistas recolheram e puseram por escrito, cada um segundo
sua perspectiva, o que lhes era fornecido pelas tradições orais. Mas não se
contentaram com isto. Tinham também consciência de estarem anunciando a
Boa Nova para os homens de seu tempo, com a preocupação de ensinar e
responder aos problemas das comunidades para as quais escreviam. Mais
adiante se verá qual foi a perspectiva peculiar de cada evangelista.
Ressaltemos, por enquanto, um fato capital, que agora quase não é mais
contestado, depois das pesquisas das últimas gerações sobre a história da
tradição e da formação dos evangelhos: os evangelhos nos remetem, por
numerosos pormenores característicos, à fé e à vida das primeiras
comunidades cristãs. Dentre muitas ilustrações possíveis, os textos que nos
contam a última ceia de Jesus são um exemplo disso. Deles, possuímos quatro
versões (Mt, Mc, Lc, 1Cor), que na realidade se reduzem a dois tipos: por um
lado, um testemunhado por Mateus e Marcos, por outro, o que nos é fornecido
por Lucas e Paulo. Ora, esses dois tipos, que diferem em vários pontos,
apresentam-se ambos como textos que reproduzem fórmulas tradicionais já
fixadas pelo uso litúrgico. Paulo transmite o que recebeu. Ao invés de narrar a
última ceia de Jesus em todos os seus pormenores, os evangelistas centram
sua narrativa nos gestos e palavras do Mestre, que se repetem na celebração
eucarística. Assim, a fórmula tendo abençoado, que é a de Mateus e Marcos,
denota provavelmente um uso palestino (conforme à bênção judaica), ao passo
que o uso por Lucas e Paulo do termo dar graças (em grego eukharisté×)
evoca de preferência um ambiente helênico. Outros exemplos de duas versões
diferentes de uma mesma tradição, como o pai-nosso (Mt 6,9-15; Lc 11,2-4), ou
as bem-aventuranças (Mt 5,3-12; Lc 6,20-26), nos permitem acercar-nos tanto
da natureza das tradições recolhidas como do pensamento particular de cada
evangelista.
A passagem pela tradição oral também explica por que numerosas perícopes
se apresentam como pequenas unidades literárias centradas numa palavra ou
num ato de Jesus, sem enquadramento cronológico ou geográfico preciso;
indicam-no as fórmulas introdutórias, vagas por si sós: naqueles dias (Mt 3,1;
Mc 8,1), naquele tempo (Mt 11,25), depois disso (Lc 10,1), ora (Lc 8,22;
9,18.27.51; 11,27). Cada uma dessas narrativas teve de início uma existência
independente das outras, e sua acomodação é muitas vezes obra dos
evangelistas. No emprego que as primeiras gerações fizeram dessas
traduções, as recordações narradas foram vazadas em certas formas literárias
de relativa fixidez; é o que sucede em relatos, episódios que enquadram e
situam um dito de Jesus , cenas de controvérsia, de cura ou de milagre . Uma
estrutura peculiar a cada um destes gêneros é muitas vezes fácil de descobrir.
Então, como se devem considerar essas tradições, se estão a tal ponto
marcadas pelo uso que se fez delas antes de serem fixadas nos evangelhos?
Qual o crédito que se lhes pode conceder? Qual a sua relação com a realidade
da história de Jesus? A essas perguntas pode-se responder que, sendo os
nossos documentos testemunhos da fé em Jesus, o Cristo, é este Cristo
reconhecido pela fé que eles nos querem fazer encontrar. Contudo, afirmar que
os evangelhos são uma pregação, que seus autores — mesmo Lucas , cioso
da história — pretenderam antes de mais nada ser testemunhas da Boa Nova,
não significa serem eles indiferentes à realidade (histórica) dos fatos que
referem; mas o seu interesse maior é fazer sobressair o seu sentido, mais do
que reproduzir exatamente o teor literal das palavras de Jesus (cf. as diferentes
formas das bem-aventuranças, do pai-nosso, da fórmula eucarística) ou as
circunstâncias e pormenores dos seus atos. Apresentam uma tradição que já é
uma interpretação. É pelo estudo minucioso dos textos que tais palavras ou tais
relatos hão de surgir como sólidos pontos de referência para a história do
ministério de Jesus não poucos métodos acham-se ao alcance dos
historiadores para tentar estabelecê-los.
Aqui, dois pontos há que devem ser especificados:
— É certo que, através da tradição, e apesar de não se poder verificar
historicamente todo o conteúdo do evangelho, numerosos indícios — que,
aliás, esclarecem os demais textos — nos permitem saber que a fé em Cristo
ressuscitado se enraíza na vida e nas ações de Jesus.
— Só temos acesso às palavras e ações de Jesus através das "traduções" que
delas nos fornecem as tradições antigas e as redações dos evangelistas. A
transcrição em grego daquilo que primordialmente foi vivenciado em aramaico
é apenas o aspecto mais aparente desse fenômeno de transmissão. Pode-se
tentar reconstituir o que Jesus falou em sua língua materna, bem como se pode
tentar reconstituir as circunstâncias exatas em que pronunciou tal parábola ou
operou tal cura. Todavia, essas tentativas ficam afetadas em seus pormenores
por uma probabilidade maior ou menor. Essas limitações da verificação
histórica decorrem da própria natureza dos evangelhos. A fé em Cristo vivo
iluminava as recordações referentes a Jesus e se exprimia por um testemunho
vivo, com tudo o que este comporta de relatos fragmentários, repetições,
ajustes, intervenções da testemunha ou do narrador. A função e a virtude
própria desses textos são, todavia, atrair o leitor à fé.
O estudo crítico dos evangelhos permite assim ultrapassar uma leitura ingênua
e inserir-se na perspectiva própria do Novo Testamento. Por mais longe que se
possa remontar na pesquisa, a pergunta fica de pé: quem é Jesus? Ao invés de
se sentir desprovido e incerto, o leitor que se dispuser a ler os evangelhos
nesta perspectiva, notadamente, fazendo um estudo comparado dos textos,
sempre encontrará mais do que de início suspeitava. Pois, com seus múltiplos
elementos de resposta e seu modo de compreender os dados da tradição,
cada um dos evangelhos fornecer-lhe-á o meio de verificar e enriquecer seu
conhecimento de Jesus, fazendo-o participar do movimento que, sem cessar,
vai do passado de Jesus à fé atual da comunidade cristã e da convicção das
testemunhas, àquele que é sua fonte.
Os evangelhos e suas relações mútuas. O evangelho chegou até nós sob a
forma de quatro livretes. À primeira leitura, percebe-se que o quarto evangelho
possui características que o situam à parte, embora não deixe de ter ligações
com os três primeiros. Estes três são testemunhos cuja redação é anterior à do
evangelho de João. O evangelho segundo Marcos, cuja origem é, com toda a
verossimilhança, romana, pode ser datado dos anos 65-70. Os evangelhos
segundo Mateus e Lucas, redigidos quinze a vinte anos mais tarde, não
refletem os mesmos ambientes e têm destinatários bem diferentes. Contudo,
suas características são tão semelhantes que puderam ser denominados
"sinópticos", nome proveniente de uma obra publicada no fim do século XVIII
com o título de Sinopsis (ou seja: visão simultânea ou mesma visão), que trazia
os textos de Mateus, Marcos, Lucas em três colunas paralelas, de forma a
facilitar a comparação entre eles. Esse fato cria um problema particular.
a) O fato sinóptico. As semelhanças e diferenças entre os sinópticos referem-
se: ao material empregado, à disposição em que se apresenta e à sua
formulação.
— Quanto ao material, eis um levantamento aproximativo do número de
versículos comuns a dois ou três evangelhos:
Mt ;Mc ;Lc
comuns aos três ;330 ;330 ;330
comuns a Mt-Mc ;178 ;178
comuns a Mc-Lc100 ;100
comuns a Mt-Lc ;230230
peculiares a cada um ;330 ;53 ;500
Ao lado das partes comuns, existem fontes próprias para cada evangelho.
— Quanto à disposição, as perícopes agrupam--se em quatro grandes partes:
A. A preparação do ministério de Jesus.
B. O ministério da Galiléia.
C. A subida para Jerusalém.
D. Ministério em Jerusalém . Paixão e Ressurreição.
Dentro dessas quatro partes, Mateus distribui as suas perícopes numa ordem
que lhe é peculiar até o cap. 14; a partir daí, apresenta perícopes comuns a ele
e a Marcos , na mesma ordem que este. Lucas intercala as perícopes que lhe
são próprias no meio de um quadro geral que é idêntico ao de Marcos (assim,
Lc 6,20–8,3 ou 9,51–18,14). Deve--se, contudo, notar que, no interior desta
concordância de conjunto, há discrepâncias, por vezes, no próprio seio de
passagens comuns (assim, em Lucas, o chamamento dos discípulos ou a visita
a Nazaré).
— Quanto à formulação, verifica-se igualmente um estreito parentesco entre os
textos: assim, um mesmo termo raro (afientai) encontra-se em Mt 9,6 = Mc 2,10
= Lc 5,24; ou ainda, somente duas palavras diferem, entre 63, em Mt 3,7b-10 =
Lc 3,7b-9. Por outro lado, uma discordância surge bruscamente em passagens
que no conjunto são parecidas: numa estrutura fixa, as palavras são diferentes,
ou então com palavras idênticas, a estrutura é diferente.
b) Interpretação do fato sinótico. O problema criado pelo fato sinótico estará
resolvido quando se tiverem explicado juntamente as semelhanças e as
divergências.
Reina um acordo entre os críticos a respeito de certos pontos. Primeiro, quanto
à origem dos evangelhos. Dois fatores determinaram o estado atual dos textos:
a função da comunidade que criou a tradição, quer oral quer escrita, e a função
do escritor que manejou as diversas tradições. As variações nas hipóteses
dependem essencialmente da importância relativa atribuída pelos críticos a
estes dois fatores: poderiam as discordâncias explicarem-se todas pela
atividade redatorial do escritor ou exigiriam o recurso a contatos havidos em
nível pré-sinóptico?
Quanto ao método a seguir, reina certo acordo. As omissões ou acréscimos de
matérias e as modificações na formulação podem ser explicadas mais ou
menos adequadamente pelas "intenções" dos diversos redatores; mas por
causa da arbitrariedade que ameaça as interpretações que se podem dar das
mesmas, a solução do problema não pode ser fornecida no nível dos materiais
ou da formulação. Só o exame da disposição autoriza uma resposta firme. Para
explicar as concordâncias entre longas seqüências de textos, impõe-se a
hipótese de uma dependência literária (e não somente oral), quer imediata
(interdependência), quer mediata (dependência de uma fonte comum). Para
explicar as discordâncias, uns acentuam a influência da comunidade durante a
fase pré-sinóptica, outros, a dos redatores. Mais exatamente, os críticos
concordam geralmente em afirmar dois princípios: Marcos depende de Mateus
e de Lucas, Mateus e Lucas são entre si independentes; com efeito, estes
últimos entram em desacordo quando um deles deixa de concordar com a
ordem de Marcos, e ambos têm passagens comuns com Marcos que o outro
não repetiu (Mt: 178 vv.; Lc: 100 vv.).
O desacordo entre os críticos subsiste quanto à interpretação da relação de
Marcos com os outros dois sinópticos. Teria havido contatos, entre Mateus e
Marcos e entre Lucas e Marcos, sob a forma de dependência imediata do
evangelho de Marcos ou sob a forma de dependência relativamente a um texto
pré-sinóptico comum? Eis, em resumo, as duas modalidades de hipóteses que
hoje são sustentadas:
1. Certos críticos, mais sensíveis às diferenças do que às concordâncias,
preferem renunciar à interdependência imediata dos sinópticos.
a) Uns evocam uma documentação múltipla: os evangelistas teriam utilizado
coleções mais ou menos extensas, agrupando desde o início (provavelmente
com vistas à pregação missionária da Igreja) pequenas compilações de fatos e
sentenças (agrupamentos de milagres, reunião de sentenças…); assim se
explicariam as concordâncias menores entre Mateus e Lucas contra Marcos ,
que contradizem a sua dependência deste; assim se justificariam também as
variantes que dificilmente podem ser atribuídas ao trabalho redatorial ou a
perspectivas teológicas diferentes.
b) Outros críticos, embora se mantenham fiéis à flexibilidade da hipótese
precedente, estimam descobrir na origem da tradição sinótica dois documentos
principais, além das tradições singulares. Impõe-se uma constatação: a
disposição difere, conforme se trate da parte central (pregação na Galiléia: Mt
4,13–13,58 par.) ou das duas seções que a enquadram (Mt 3,1–4,12 par.; Mt
14,1–24,51 par.). A estreita concordância que domina essas duas seções
envolventes sugere a existência de um documento de base idêntico para os
três evangelhos; pelo contrário, a discordância que caracteriza a parte central
(ministério na Galiléia) revela um estado menos adiantado da organização das
tradições. Destarte, na origem dos três sinópticos, haveria, além das tradições
singulares, dois documentos principais: um, já fortemente estruturado, outro em
estado ainda fluido, no momento em que foram empregados pelos
evangelistas, embora seu estado de fusão estivesse então mais ou menos
adiantado.
2. Todavia, a maioria dos críticos aderem à hipótese das Duas Fontes.
Conforme esta, Mateus e Lucas dependem imediatamente de Marcos, bem
como de uma fonte comum independente deste (muitas vezes chamada Q, do
alemão Quelle). Marcos e esta documentação seriam as duas fontes principais
de Mateus e Lucas. O esquema seguinte resume esta hipótese.
Hoje em dia esta hipótese é apresentada com muito mais nuanças do que
inicialmente. Ela tem a grande vantagem de facilitar o estudo do trabalho
redacional de Mateus e Lucas. Assim explicar-se-iam pelo trabalho de redação
literária as adições, omissões e transposições verificadas no fato sinóptico.
Convém observar que, em nossos dias, não se ousa mais resolver
categoricamente a questão de saber se o documento comum a Mateus e Lucas
é um documento escrito ou uma fonte oral, nem de saber se o texto de Marcos
usado por Mateus e Lucas é o que nós possuímos ou algum outro.
No entanto, seja qual for a hipótese crítica adotada para abordar o problema
sinóptico, só um trabalho minucioso permite determinar a natureza das
perspectivas de cada evangelista. Acrescente-se que o exame das fontes
literárias não é nem o único, nem talvez o mais importante para compreender
melhor os evangelhos sinópticos. Fontes documentais, tradição oral, influência
do ambiente de origem e utilização de material diverso pelos redatores finais
são elementos que se devem levar simultaneamente em consideração, ao se
querer dar conta do fenômeno original que é a literatura evangélica.
Este rápido apanhado da questão sinóptica talvez ajude o leitor a melhor
penetrar as perspectivas de cada um dos evangelistas que serão indicadas nas
introduções particulares a Mateus, Marcos e Lucas.

Capítulo III
O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS

O evangelista Mateus, que também tinha o nome de Levi, era um dos doze
apóstolos de Cristo. Antes de ser chamado por Cristo ele era um publicano ou
coletor de impostos romanos, e, como tal, não era benquisto aos seus
compatriotas, os judeus. Os judeus desprezavam e odiavam os publicanos
porque eles serviam os governantes pagãos de seu povo e criavam privações
ao arrecadar impostos e muitas vezes praticavam extorsão neste processo.
São Mateus relata o seu chamado no capitulo 9 no seu evangelho, referindo à
sua pessoa como "Mateus," enquanto que Marcos e Lucas o chamam "Levi."
Os judeus tinham o costume de possuir vários nomes.
Profundamente comovido pela misericórdia do Senhor em não desprezá-lo,
não obstante o desprezo dos judeus e especialmente dos seus líderes, os
escribas e fariseus, Mateus de todo o coração acolheu os ensinamentos de
Cristo. Ele compreendeu profundamente a superioridade das mensagens de
Cristo sobre as opiniões mesquinhas e as tradições dos fariseus. Eles apenas
aparentavam retidão porém eram egoístas, cruéis e desprezavam pessoas
simples. É por isso que somente Mateus apresenta com tantos detalhes o
discurso acusatório do Senhor contra os escribas, fariseus e outros hipócritas
(veja o capítulo 23 deste evangelho). Supomos que por essa mesma razão ele
tão fervorosamente acolheu a idéia da salvação de seu povo, tão impregnado
de falsos conceitos e opiniões de fariseus e é por isso que escreveu o
evangelho para os judeus. Supõe-se que inicialmente ele escreveu em hebreu
e algum tempo mais tarde ele mesmo teria traduzido para o grego.
O objetivo principal de Mateus foi provar aos judeus que Jesus Cristo foi
realmente o Messias que os profetas previram no Antigo Testamento e que as
Escrituras Sagradas do Antigo Testamento tornam-se claras e assumem sua
totalidade ou integridade somente à luz dos ensinamentos de Cristo. Por esse
motivo ele inicia seu evangelho com a árvore genealógica de Cristo,
demonstrando aos judeus a sua descendência de Davi e Abraão. Ele faz
inúmeras referências ao Antigo Testamento (mais de 100) para provar que
Cristo corresponde às profecias do Antigo Testamento. Ao dizer que o seu
primeiro evangelho "é para os judeus " pode ser interpretado assim também
pelo fato de que São Mateus, ao contrário dos outros evangelistas, menciona
costumes judeus sem explicar suas razões ou significado. Da mesma forma ele
inclui alguns termos aramaicos usados na Palestina, sem explicar o seu
significado.
Em seu Evangelho Mateus deu especial ênfase às Suas relações e atividades
como Rei. O seu termo favorito para designar ......... foi a frase Reino dos Céus.
Mateus mostrou que o Messias inaugurou seu Reinado com toda a autoridade
no céu e na terra (cap. 28:18). O Reino deve ser entendido como a leal
submissão de Seu povo para Ele e obediência à Sua lei. O Seu Reino é
espiritual. Além do mais, Mateus assegurou que o Rei retornará
na(regeneração) e sentará no trono de Sua glória enquanto que "vós
(Apóstolos) que me acompanharam também sentarão em 12 tronos, e julgarão
as 12 tribos de Israel" (cap. 19:28).
Ele também avisou os leitores de que os benefícios do Reino se estenderão
além dos limites do povo judeu. Far-se-ão discípulos no tempo presente de
todas as nações (cap. 28:19), enquanto que o Reino cresce como a árvore da
mostarda de sua pequenina semente (cap. 13:31). No tempo que há de vir
todas as nações se juntarão diante do Rei e os que crêem serão convidados a
herdar o Reino (ch. 25:32-34), Neste reino o povo virá do oriente e do ocidente
e do norte e do sul e se sentará com os patriarcas enquanto que os filhos dos
incrédulos (os judeus descrentes) serão banidos (cap. 8:11-12). Certamente
Mateus teve em mente a intenção de impressionar os seus irmãos judeus que
a missão do Rei era salvar o povo de seus pecados - por isso o nome do Rei
era Jesus que significa "salvador " (cap. 1:21). A fim de salvar Seu povo o Rei
deu sua vida como resgate. Seu sangue foi derramado para a remissão dos
pecados (cap. 26:28). O seu poder para resgatar os homens de seu inimigo (o
Demônio) foi demonstrado primeiro ao vence-lo em todas as tentações
(cap.4:1-11) e segundo ressuscitar vitoriosamente da morte. (cap. 28).
Depois de pregar na Palestina por muito tempo, São Mateus viajou para outras
nações para divulgar o evangelho e terminou sua vida como mártir na Etiópia.

Esboço Do Livro De Mateus

Autor: Mateus
Data: 60-70 A.D.

1. Autoria Mateus, que tinha por sobrenome Levi (Mc. 2:14), era um coletor de
impostos (publicano) judeu, trabalhando para o governo romano (Mt.9:9). Por
colaborar com os romanos, que eram odiados pelos judeus como dominadores
estrangeiros, Mateus (como todos os publicanos) era desprezado por seus
compatriotas. Apesar disso, Mateus positivamente à chamada singela que
Cristo lhe fizera para segui-Lo. Depois do relato do banquete que ofereceu a
seus colegas para que eles também pudessem conhecer a Jesus, ele não volta
ser mencionado, exceto na lista dos Doze Apóstolos (MT. 10:3; veja ainda At.
1:13). A tradição afirma que ele pregou na Palestina por doze anos depois da
ressurreição de Cristo, e que depois foi pregar em outras terras, mas quanto a
isso não há certeza.

2. A abordagem Peculiar de Mateus Mateus foi escrito para judeus, visando a


responder as suas indagações sobre Jesus de Nazaré, que alegava ser o
Messias de Israel. Seria Ele de fato o Messias predito no Antigo Testamento?
Se era, porque não estabeleceu o reino prometido? Esse reino será
estabelecido algum dia? Qual o propósito de Deus para esse ínterim? Assim,
neste Evangelho, Jesus é freqüentemente chamado de Filho de Davi e é
apresentado como Aquele que cumpre as profecias messiânicas do Antigo
Testamento; o reino do Céu é o assunto central de boa parte de Seu ensino
aqui registrado.
Mateus também é caracterizado por sua inclusão de pessoas estranhas ao
judaísmo. Os versículos finais registram a comissão de ir e pregar as todas as
nações, e, nos quatro Evangelhos, somente em Mateus surge a palavra
―igreja‖. (16:18; 18:17). Jesus também é chamado de Filho de Abraão (1:1),
pois em Abraão ―serão benditas todas as nações da terra‖ (Gn. 12:3).

3. Data - Embora este Evangelho receba ocasionalmente data entre as


décadas de 80 e 90 do primeiro século, o fato de a destruição de Jerusalém ser
ainda considerada um acontecimento futuro (24:2) parece exigir uma data mais
recuada. Alguns pensam que Mateus foi o primeiro Evangelho a ser escrito (por
volta do ano 50), ao passo que outros discordam alegando que só foi escrito na
década de 60.
4. Conteúdo - Divisões importantes de Mateus são o Sermão do Monte
(capítulo 5-7), que inclui as Bem-aventuranças (5:3-12) e a Oração do Senhor
(6:9-13); as parábolas do reino (capítulo 13); e o Sermão Profético, que trata de
eventos futuros (capítulo 24-25). O tema do livro é Cristo, o Rei dos Reis.

Capítulo IV
O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

Ordem e temas principais. O segundo evangelho apresenta-se sob a forma de


uma seqüência de narrativas geralmente breves e sem conexões muito
precisas. Seu quadro mais característico é constituído por indicações
geográficas. A atividade de Jesus decorre na Galiléia (1,14) e arredores desta
região, estendendo-se até as terras pagãs (7,24.31; 8,27). A seguir, passando
pela Peréia e Jericó (cap. 10), Jesus sobe a Jerusalém (11,1).
Este quadro não revela a disposição interna do livro, dominada antes pelo
desenvolvimento de alguns temas fundamentais.
A. O Evangelho. Logo às primeiras palavras, o livro declara o interesse
atribuído ao "Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus" (1,1), denominado
também, pouco adiante, "Evangelho de Deus" (1,14), ou "Evangelho" sem mais
(1,15). Para Marcos, bem como para Paulo, esta palavra designa a Boa Nova,
destinada a todos os homens e cuja aceitação define a fé cristã: por meio de
Jesus, Deus realizou suas promessas em favor deles (cf. 1,1, nota). Por isso, o
Evangelho deve ser proclamado a todas as nações (13,10; 14,9). Este
empreendimento define a atualidade à qual Marcos não receia adaptar certas
palavras de Jesus: desaparecido este, renunciar a si mesmo e tudo abandonar
por ele é fazê-lo em prol do Evangelho (8,35 nota 10,29). Porque a ação de
Deus que se manifestou pela vida, morte e ressurreição de Jesus, prolonga-se
neste mundo por meio da palavra confiada aos discípulos. Mais do que uma
mensagem provinda de Deus e referente a Jesus Cristo, o Evangelho é esta
ação divina em meio aos homens. Eis o presente, a partir do qual Marcos se
volta para o passado, a fim de falar do seu "começo" (1,1) e para caraterizar, a
esta luz, a existência cristã.
B. Jesus Cristo, Filho de Deus. As promessas divinas começaram a cumprir-se
com a pregação de João Batista, que abriu o caminho para Jesus de Nazaré
(1,2-8). Este, designado por Deus como seu Filho e vitorioso sobre Satanás no
deserto, inaugura a pregação do Evangelho na Galiléia (1,14-15). Daí por
diante, começa um verdadeiro drama, o da manifestação de Cristo, Filho de
Deus, em duas fases distintas.
1. O poder do ensinamento e dos atos de Jesus contra as forças do mal é
reconhecido por um vasto público (1,21-45; 3,7-10…). Mas o ser Jesus Filho de
Deus é um fato que deve manter-se secreto (1,25; 3,12). A oposição dos
observantes da lei mosaica, orgulhosos e impertinentes, manifesta-se (2–3,6) e
chega a ponto de apresentar Jesus como instrumento do príncipe dos
demônios (3,22-30). Entretanto, os discípulos distinguem-se nitidamente da
multidão (4,10.33-34). E, entre eles, a pergunta dos primeiros que aparecem:
"Que é isto?" (1,27), reveza-se com esta outra: "Quem é este?" (4,41). As
respostas divergem (6,14-16; 8,27-28). E, não obstante a sua profunda
incompreensão da missão de Jesus (6,52; 8,14-21), os discípulos chegam a
reconhecer, pela boca de Pedro, que ele é o Cristo (8,29). Mas recebem ordem
de se calar (8,30).
2. A partir de então, começa um ensinamento novo: o Filho do homem deve
passar pelo sofrimento, a morte e a ressurreição. Este ensinamento, repetido
três vezes (8,31-33; 9,30-32; 10,32-34), conduz o leitor ao confronto de Jesus
com seus adversários em Jerusalém (caps. 11–13). Aí, o drama culmina: o
segredo de Jesus é desvendado no decurso da Paixão (caps. 14 e 15). Sua
declaração perante o Sinédrio, que o condena à morte (14,61-62), e a palavra
do centurião na hora de sua morte (15,39) coadunam-se com as revelações de
Deus por ocasião do batismo e da Transfiguração (1,11; 9,7) e justificam o
título do livro: Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (1,1 notas). Entrementes, as
indiscrições malévolas dos demônios (1,24.34; 3,11) e a fé messiânica dos
discípulos (8,29) foram reduzidas ao silêncio: de fato, o sentido das mesmas
não se poderia manifestar antes da paixão e morte de Jesus.
O relato da paixão constitui o ápice do livro. Ele é preparado não só pelos
conflitos em Jerusalém, pelo tríplice anúncio que segue a profissão de fé de
Pedro, e por uma observação já feita em 3,6; ele responde à pergunta feita
desde o primeiro ato público de Jesus, segundo Marcos (1,27), e permite
compreender a insistência do livro sobre o que se denominou segredo
messiânico (cf. 1,34 nota 1,44 notas 8,30 nota). Esta insistência corresponde,
sem dúvida, ao fato de Jesus não ter sido reconhecido, ao tempo de sua vida
terrena, como o foi depois da Páscoa. Mas, já que o segredo incide exatamente
nos títulos sob os quais se exprime a fé cristã (1,1; 3,11; 8,29), Marcos parece
querer indicar que eles eram prematuros, e permaneceram equívocos para os
judeus e para os pagãos, enquanto sua verdade não fosse reconhecida na
humilhação do Crucificado.
C. Jesus e seus discípulos. No "começo" do Evangelho de Marcos, Jesus não
aparece só, mas acompanhado dos discípulos que deveriam dar
prosseguimento à obra começada. Desde o início da atividade na Galiléia,
Marcos narra, sem a menor preocupação de verossimilhança cronológica e
psicológica, o chamamento de quatro pescadores para seguirem a Jesus (1,16-
29). A seguir, o Mestre anda sempre acompanhado pelos discípulos, exceto
quando os manda pregar (6, 7-30). Só no momento da Paixão, depois da fuga
deles, é que fica só. Mas o livro não termina sem ter anunciado por duas vezes
o seu reagrupamento na Galiléia em volta do Cristo ressuscitado (14,28; 16,7).
A posição que lhes é assinalada no decurso da narrativa permite aliás distinguir
várias seções.
1. Na primeira fase da manifestação de Jesus, três cenas ilustram uma
associação cada vez mais íntima entre ele e seus discípulos: o chamamento
dos quatro em vista da pescaria de homens (1,16-20), a escolha dos Doze para
viverem com ele e em vista da missão (3,13-19), finalmente a própria missão
(6,7-13). Essas três narrativas vêm acompanhadas de visões de conjunto sobre
a sua atividade ou as reações que ele provocava (1,14-15; 3,7-12; 6,14-16),
como se o narrador sentisse a necessidade de se dar conta da situação, antes
de prosseguir.
Na primeira seção (1,16–3,6), os discípulos se mantêm inativos junto a Jesus;
mas este se mostra solidário com eles, em face das críticas despertadas por
sua atitude referente às observâncias judaicas (2,13-28). A segunda seção
(3,7–6,6) os contrapõe aos adversários de Jesus, bem como à sua parentela
carnal (3,20-35), e os distingue da multidão como beneficiários de um
ensinamento particular (4,10-25.33-34) e testemunhas privilegiadas de milagres
maravilhosos (4,35–5,43). A ruptura com Nazaré prepara a terceira seção (6,7–
8,30), na qual os Doze, enviados em missão, aparecem na qualidade de
"apóstolos" (6,30), encarregados de alimentar a multidão (6,34-44; 8,6).
Entretanto, os discípulos recebem revelações que os desconcertam (6,45-52;
7,17-23). Sua incompreensão, já manifestada por ocasião das parábolas (4,13),
agrava-se ainda mais (6,52; 8,14-21). A cura de um cego no final desta seção
(8,22-26) tem para eles valor exemplar (cf. 8,22 nota).
2. Depois da confissão messiânica de Pedro, cada um dos três anúncios da
Paixão e da Ressurreição esbarra na incompreensão dos discípulos e provoca
declarações de rude franqueza acerca da condição pessoal (8,34-38) e
comunitária (9,33-50; 10,35-45) dos que devem seguir Jesus, tomando a sua
cruz. Caso suceda entrarem em cena a multidão ou pessoas outras que os
discípulos, é a estes últimos que Jesus se dirige principalmente ou explica em
particular suas exigências (9,28-29; 10,10-16; 10,23-31). Continuamente se
passa do Mestre ao discípulo e, em relação a ambos, do rebaixamento
voluntário à glória prometida. Neste caso, porém, enquanto Jesus quer
associá-los ao seu destino, eles permanecem obtusos. Esta seção conclui-se
novamente com a cura de um cego, que se põe a seguir Jesus (10,46-52).
As duas seções seguintes (caps. 11–13 e 14–16) mostram Jesus com as
multidões, com seus adversários, com seus juízes. Os colóquios com os
discípulos são freqüentes e importantes. Jesus os inicia no poder da fé e da
oração (11,20-25), previne-os do comportamento a adotar em vista da chegada
do Filho do homem (13,1-37), os instrui sobre o sentido da sua morte na
expectativa do Reino de Deus (14,22-25), previne-os da defecção deles (14,26-
31), previne-os contra a tentação (14,37-40). Mas a fuga deles no Getsêmani e
as negações de Pedro atestam o seu fracasso no seguimento de Jesus.
Entretanto, nem tudo está acabado: depois da Ressurreição, Jesus os
precederá na Galiléia (14,28; 16,7).
A insistência na lentidão dos apóstolos em crer, sua contínua falta de
compreensão, sua deficiência no momento em que se cumpre na verdade a
revelação do Cristo, Filho de Deus, responde certamente a um plano
premeditado. A função de continuadores do Evangelho que lhes é atribuída
impede que pensemos numa polêmica dirigida diretamente contra os primeiros
discípulos de Jesus. Como a fé em Jesus só se desenvolveu depois da
Páscoa, a sua vida terrestre podia parecer a Marcos um tempo de
manifestação real, mas contida pela necessidade do segredo e limitada pela
incompreensão dos discípulos. Esta, paradoxalmente, valoriza o mistério de
Jesus, indecifrável fora da fé pascal.
Ela assume, outrossim, o sentido de protótipo para a fé dos cristãos, sempre
sujeita, como a deles, a ficar em descompasso com relação à revelação divina.
A cruz sempre há de ser um escândalo. Para ser proclamado e acolhido em
sua verdade, o Evangelho não só exige fidelidade aos termos da confissão da
fé, mas sobretudo a autenticidade de uma vida em seguimento de Jesus. A
compreensão do seu mistério é inseparável de uma lenta e difícil iniciação à
condição de discípulo.
O modo de escrever de Marcos. Aprouve a alguns louvar em Marcos sua arte
de narrador. Se o seu vocabulário é pobre (exceto quando fala de coisas
concretas e das reações provocadas por Jesus), as suas frases mal-
concatenadas, seus verbos conjugados sem preocupação com a concordância
de tempo, suas próprias deficiências contribuem para dar vida a uma narrativa
muito próxima do estilo oral. Contudo, por sob o pormenor "colhido ao vivo",
vislumbra-se muitas vezes a trama de um esquematismo que trai elementos já
tradicionais ou modelados para o uso das comunidades. Quando o narrador faz
reviver a cena, não apresenta o relato singelo de uma testemunha ocular. Aliás,
a ausência de qualquer seqüência cronológica, por elementar que seja, a
indiferença pela psicologia dos personagens, a imagem estereotipada da
multidão impedem que se leia este evangelho como uma simples vida de
Jesus. Mas, sem visos de literatura, Marcos prima por sugerir o retrato vivo de
um homem que, com suas reações imprevisíveis, sua compaixão ou rudeza,
com a surpresa que causa e com a determinação de sua palavra, contradiz as
imagens pré-fabricadas. Toda a alma se lhe traduz num olhar, que pode vir
prenhe de cólera ou pleno de bondade (3,5.34), de interrogação ou diligente
atenção (5,32; 11,11), de afeição (10,21), de gravidade contristada ou serena
(10,23.27). Perante esse homem todas as atitudes são possíveis, da
estupefação ao maravilhamento, da desconfiança à decisão de matar e, para
os discípulos, da adesão irrefletida à incompreensão e ao abandono.
Origem do livro. Por volta do ano 150, Papias, bispo de Hierápolis, atesta a
atribuição do segundo evangelho a Marcos, "intérprete" de Pedro em Roma. O
livro teria sido composto em Roma, depois da morte de Pedro (prólogo
antimarcionita de século II, Irineu) ou ainda durante sua vida (segundo
Clemente de Alexandria). Quanto a Marcos, foi identificado com João Marcos,
originário de Jerusalém (At 12,12), companheiro de Paulo e Barnabé (At 12,25;
13,5.13; 15,37-39; Cl 4,10) e, a seguir, de Pedro em "Babilônia" (isto é,
provavelmente, em Roma), segundo 1Pd 5,13.
Admite-se comumente a origem romana do livro, depois da perseguição de
Nero em 64. Disto podem servir de indício certas palavras latinas grecizadas,
várias construções de frases tipicamente latinas. Quando menos, o cuidado de
explicar os costumes judaicos (7,3-4; 14,12; 15,42) de traduzir as palavras
aramaicas, de frisar o alcance do Evangelho para os pagãos (7,27; 10,12;
11,17; 13,10) supõem que o livro se destina a não-judeus, fora da Palestina.
Quanto à insistência na necessidade de seguir Jesus carregando a própria
cruz, poderia ser de particular atualidade numa comunidade abalada pela
perseguição de Nero. Por outro lado, visto ser a ruína do Templo anunciada em
Marcos sem nenhuma alusão clara ao modo como se efetuaram esses
acontecimentos em 70 (ao contrário de Mt 22,7 e Lc 21,20), nada impede que
se date a composição do segundo evangelho entre 65 e 70.
A relação do livro com o ensinamento de Pedro é mais difícil de determinar. A
expressão de Papias, "intérprete de Pedro", não é clara. Contudo, mais do que
os pormenores descritivos e a feição de testemunho ocular, o lugar nele
ocupado por Pedro testemunha em favor de uma tradição petrina. Dentre o
grupo dos Doze, só se destacam Tiago e João, como fiadores, ao que parece,
do testemunho de Pedro. Este nem por isso é lisonjeado. Mas, se nem sempre
desempenha um papel agradável, não há nisto sinal de oposição contra ele.
Fica, portanto, intacto o problema das fontes de Marcos. Os estudiosos as
imaginam diversamente, conforme a comparação com Mateus e Lucas os leve
a ressaltar a importância de Marcos na origem destes ou a supor a existência,
anterior a Marcos, de uma síntese de tradições referentes a Jesus. Seja qual
for a hipótese, a composição do Evangelho de Marcos leva a pensar em uma
etapa anterior da tradição, na qual os gestos e palavras de Jesus eram
transmitidos independentemente de qualquer visão de conjunto da sua vida ou
pregação. A narrativa da Paixão deve ter-se apresentado na origem sob a
forma de uma seqüência com vários episódios. Conjuntos elementares, como
"o dia de Cafarnaum" (1,21-38) ou as controvérsias de 2–3,6 puderam
constituir-se bastante cedo e já existir nas fontes de Marcos.
Outra questão que não recebeu resposta: como terminava o livro? Geralmente
se admite que a conclusão atual (16,9-20) foi acrescentada para corrigir o final
abrupto do livro no v. 8 (cf. 16,9 nota). Mas nunca saberemos se a conclusão
original do livro foi perdida ou se Marcos julgou que a referência à tradição das
aparições na Galiléia no v. 7 bastava para encerrar sua narrativa.
Importância do livro. Marcos é para nós o primeiro exemplo conhecido do
gênero literário chamado evangelho. No uso da Igreja, foi muitas vezes
preterido em favor das sínteses posteriores e mais amplas de Mateus e Lucas.
Ele tornou a ser valorizado pelos estudos literários e históricos dos séculos XIX
e XX. Hoje, renuncia-se a elaborar uma biografia de Jesus baseada
unicamente nas seqüências de Marcos. Todavia, a sua rudeza, a ausência de
afetação, a abundância de semitismos, o caráter elementar da reflexão
teológica revelam um estágio antigo dos materiais utilizados. Os personagens e
os lugares nomeados provêm de tradições arcaicas. Os ensinamentos de
Jesus, a insistência na proximidade do Reino de Deus, as parábolas, as
controvérsias, os exorcismos só encontram sua posição histórica de origem na
vida de Jesus na Palestina. As recordações não provêm diretamente de uma
memória individual. Formuladas primeiro em vista das necessidades da
pregação, da catequese, da polêmica ou da liturgia das Igrejas, elas têm suas
raízes no testemunho dos primeiros discípulos.
O mérito de Marcos consiste em tê-las fixado no momento em que a vida das
Igrejas disseminadas fora da Palestina e a reflexão teológica atiçada pelo
choque com as culturas estrangeiras estavam sujeitas a perder o contato com
as origens do Evangelho. Ele conseguiu manter viva, inapagável, a visão de
uma existência movimentada, difícil de compreender. Afinal, quem é este
homem? A tal pergunta, Marcos traz a resposta dos primeiros crentes, que
foram as testemunhas primeiras. Mas, para quem se contentasse com repetir
esta resposta, ele reaviva a questão e lembra que a fé se comprova pelo
engajamento incondicional no seguimento de Jesus, sempre em ação, pelo
Evangelho, no meio dos homens.

Esboço Do Livro De Marcos


Autor: João Marcos
Data: 50-60 A.D.

1- Autoria João Marcos era filho de Maria, uma mulher de riqueza e posição em
Jerusalém (At. 12:12). Barnabé era seu primo (Cl. 4:10). Marcos foi amigo
íntimo (e talvez um convertido) do apóstolo Pedro (I Pe. 5:13). Teve o raro
privilégio de acompanhar Paulo e Barnabé em sua primeira viagem
missionária, mas falhou em não permanecer com eles até o fim. Por isso, Paulo
recusou-se a levá-lo na Segunda viagem, de modo que Marcos acompanhou
Barnabé a Chipre (At. 15:38-40). Cerca de doze anos depois, está novamente
com Paulo (Cl. 4:10; Fm. 24), que, pouco antes de ser executado, manda
chamar João Marcos (II Tm. 4:11). Sua biografia prova que um fracasso na
vida não representa o fim da utilidade.
2- A abordagem Peculiar de Marcos (1) Marcos escreveu para leitores gentios
em geral e leitores romanos em particular. Por esta razão a genealogia de
Cristo não é incluída (quase não teria significado para gentios), o Sermão do
Monte não é mencionado e a condenação dos partidos judaicos recebe pouca
atenção. Como indicação adicional de que visava leitores gentios, Marcos
achou necessário interpretar palavras aramaicas (5:41; 7:34; 15:22) e usou
palavras latinas não encontradas nos demais Evangelhos (―executor‖, 6:27;
―quadrante‖, 12:42). (2) Há apenas 63 citações e/ou alusões ao Antigo
Testamento, em Marcos, comparadas com cerca de 128 em Mateus e entre 90
a 100 em Lucas. (3) Este Evangelho enfatiza o que Jesus fez, em lugar do que
Ele disse. É um livro de ação (a palavra ―imediatamente‖ ocorre mais de 40
vezes).
3- Marcos e Pedro É de aceitação geral que Marcos recebeu do apóstolo Pedro
boa parte das informações contidas no Evangelho. Com a autoridade
apostólica de Pedro subjazendo este Evangelho, ele jamais sofreu qualquer
contestação à sua inclusão no cânon das Escrituras.
4- Data Se alguém nega o fenômeno da profecia predita, terá de datar o livro
depois de 70 A.D., por causa de 13;2. Contudo, uma vez que o Senhor podia
prever o futuro, uma data assim tardia é inútil. De fato, se o livro de Atos
precisa ser datado por volta de 61, e se Lucas, que é o primeiro volume de
Atos, o precedeu, o Evangelho de Marcos deve ser ainda anterior, já que Lucas
aparentemente utilizou o livro de Marcos para escrever o seu Evangelho. Isto
aponta para uma data na década de 50. Muitos eruditos, entretanto, acreditam
que Marcos só foi escrito depois da morte de Pedro, depois de 67 mas antes
de 70.
5- Conteúdo O tema do livro é ―Cristo, o Servo‖. O versículo-chave é 10:45, que
divide o evangelho em duas partes principais: o serviço do Servo (1:1-10:52) e
o sacrifício do Servo (11:1 – 16:20).

Capítulo V
PANORAMA HISTÓRICO
DO NOVO TESTAMENTO

O povo que se encontrava ao redor de Cristo se orgulhava ser o povo de


Abraão, o povo de Israel. As riquezas dos patriarcas, o crescimento da família
de José no Egito e sua transformação em nação de Israel, a libertação do povo
das fronteiras do Egito, o zelo divino ao longo dos 40 anos na imensidão
selvagem, a instituição das leis para adoração, o código de leis morais e civis,
o estabelecimento na terra prometida, estes eventos juntamente com todos os
milagres dos primórdios, tudo isto tinha sido do conhecimento geral do povo.
Este também estava ciente das façanhas dos juizes, a ascensão do reino e a
era de Davi, a construção do primeiro templo sob comando de Salomão, a
divisão do reino - permitida por causa dos pecados de Salomão, o contínuo
estado de pecado do povo e as pregações dos profetas para advertir, a
servidão do reino do norte subjugado pela Assíria e mais tarde a Judéia, o
reino do sul subjugado à Babilônia, a restauração da Judéia, quando Ciro rei da
Pérsia conquistou a Babilônia e permitiu os judeus durante o tempo de
Zorobabel a retornar à sua terra de origem para restaurar Jerusalém e a
construir o segundo templo. Além do mais, muitas das reformas do tempo de
Neemias, o último líder político do Antigo Testamento, permaneceram em
forma de costumes sociais até os tempos do Novo Testamento.
Ao longo do Antigo Testamento a nação de Israel é vista como o povo eleito
por Deus, distinto do resto do mundo. Pelo seu adiantado código civil e moral;
pelo sistema de sacrifícios lhes dado no Sinai - especialmente os sacrifícios
expiatórios (pelos seus pecados) maior foi a cobrança divina por sua
desobediência aos altos padrões éticos que havia aprendido, pelo cativeiro
permitido por Deus por causa de desvios à idolatria, e pelo modo como o povo
judeu era preservado, - tudo isso como é apresentado no Antigo Testamento -
faz um panorama importante da história para um estudo da vida e obra de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Entretanto, o Novo Testamento não é apenas uma continuação do Antigo
Testamento. Podemos observar uma grande diferença na situação política
daquela descrita no Antigo Testamento e uma ordem social bastante diferente
no início do Novo Testamento. Um intervalo de mais de 400 anos separa o
tempo de Neemias o último editor das Escrituras do Antigo Testamento do
tempo de João Batista. No aspecto dos governantes essa era abrange quatro
épocas, a dos persas, dos gregos, a dos macabeus e a dos romanos.

A Época dos Persas:


No tempo de Neemias, os Persas dominavam os judeus, que haviam
novamente se estabelecido na Palestina; o governo teve continuidade até a
queda do império persa e a posse de Alexandre o Grande ou pelo menos até a
entrada de Alexandre em Jerusalém em 333 A.C. Durante essa época o Sumo
Sacerdote passou a exercer poder civil e religioso e ai também apareceu a
inveja e a segmentação entre os judeus e samaritanos. Também, os escribas,
que se tornaram intérpretes de influência e professores da lei de Moisés se
fizeram presentes como uma classe distinta durante essa época.

A Época dos Gregos:


A era dos gregos se iniciou com a conquista das terras por Alexandre o Grande
até a heróica façanha da família dos Macabeus, que alcançou independência
política para a comunidade judaica na Palestina. Sob o domínio de Alexandre
os judeus viviam em relativa paz e prosperidade. Depois da morte do
conquistador em 323 A.C. a Judéia passou a fazer parte do reino grego no
Egito cuja capital foi Alexandria, e cujos reis são conhecidos na História como
Ptolomeus. O governo destes variava entre tolerante e beneficente ou cruel e
tirânico. O segundo Ptolomeu estava interessado na tradução dos livros
sagrados do Antigo Testamento dos judeus para o grego, cuja tradução é
conhecida como Septuaginta. Depois de 125 anos sob o Egito, o povo judeu e
a sua terra foram apossados pelos reis gregos da Síria cuja capital era
Antioquia. Esse período foi finalizado com uma série de violentas opressões e
perseguições sangrentas infligidas por Antíoco Epífano conhecido como um
dos tiranos mais cruéis em toda a História e o protótipo do Anticristo. Muitos
milhares de judeus foram mortos e outros milhares vendidos como escravos. O
templo de Jerusalém foi profanado e fechado e o povo judeu foi proibido de
venerar Javé ou fazer uso de seus costumes religiosos, e obrigados a oferecer
sacrifícios para os deuses gregos.

A Época dos Macabeus:


A opressão e perseguição infligidas aos judeus por Antíoco só fez despertar
ressentimento por parte dos fieis e inspirar resistência na primeira
oportunidade. Na pequena cidade de Modim, Matatias, um velho sacerdote
ousou em recusar a oferecer um sacrifício pagão a mando dos oficiais dos reis
e em desafio aos governantes tiranos matou um jovem sacerdote apostata, que
se ofereceu a cumprir o sacrifício. Matatias e os cinco filhos, ajudados pelos
amigos, se levantaram contra os oficiais gregos e os mataram todos.
Imediatamente aqueles, leais pelas tradições e adoração por Javé levaram o
desafio adiante e foram se reunir nas colinas com o velho sacerdote e milhares
se juntaram. Mas Matatias logo sucumbiu aos sofrimentos do acampamento e
as fraquezas da idade; e assim a liderança passou para Judas, o terceiro filho,
conhecido na História como Judas Macabeus. Sem dúvida Judas foi a figura
mais ilustre do período entre Davi e Jesus Cristo. Apesar da disparidade ele foi
brilhante na batalha e teve cinco das mais brilhantes vitórias registradas na
História. Depois de uma dessas vitórias ele conduziu um exército do povo em
júbilo até Jerusalém e abriu as portas do templo, que estavam fechadas por
três anos e purificou-o o e mandou fazer novo mobiliário sagrado substituindo o
que foi profanado por Antíoco e dedicá-lo novamente para serviço do
verdadeiro Deus. Finalmente Judas tombou numa batalha contra uma horda
Sirio-grega, mas o vôo para a liberdade continuou e foi conduzido pelos seus
irmãos. Jônatas o mais novo dos cinco, um diplomata astuto, tendo assumido a
liderança, assegurou importantes concessões para o seu povo de um
pretendente em Antioquia que mais tarde assumiu o poder.
Quando Jônatas foi assassinado traiçoeiramente, Simão, o filho mais velho de
Matatias, assumiu a liderança nesta causa. Em 144 AC ele conseguiu a
completa liberdade para o seu povo oprimido pelos gregos, tanto pela bravura
na batalha como também pela sábia diplomacia. Como este heróis pertenciam
a famílias de sacerdotes, eles agiam com duplo poder, como governantes
políticos e como sumo sacerdotes no templo purificado e restaurado. Simão, da
mesma forma como seu irmão Jônatas, foi traido e morto juntamente com seus
dois filhos; entretanto um terceiro filho, João Hircano, assumiu rapidamente o
governo. Após lutas bem-sucedidas para estabelecer seu poder diante dos
simpatizantes dos gregos, este governante liderou uma série de expedições
contra hostis tribos vizinhas, particularmente os idumeus ao sul e os
samaritanos ao norte. Mais tarde suprimiu as atividades hostis das tribos que
viviam a leste do Jordão. Por essas operações ele estendeu os limites de sua
nação até que abrangessem todas as terras das doze tribos do Antigo
Testamento.
Os homens das gerações que se sucederam nem sempre eram
desinteressados em espírito ou tão genuinamente patriotas quanto Matatias e
os filhos dele. Um filho de Hircano assumiu o título de Rei dos Judeus com
pompa real, e ao mesmo tempo assumindo a função de sacerdote. Havia
ciúmes familiares e assassinatos para tomar o trono e a posição de sumo
sacerdote e havia tempo que o povo estava muito oprimido.
Era nessa época que as seitas dos saduceus e dos fariseus apareceram.
Fundamentalmente, a diferença entre esses grupos era religiosa. Mas durante
a época dos Macabeus eles tomaram caráter mais político, os fariseus sendo
pessoas do povo e apoiadores da revolução e os saduceus, partido dos
aristocratas ricos e simpatizantes dos gregos.

A Época Romana:
O poder dos romanos no oeste foi aumentando no decorrer dos séculos. Os
exércitos vitoriosos iam subjugando reinos ao longo da costa do Mediterrâneo e
em direção ao interior subjugando - os às leis romanas. O mesmo ocorreu com
o pequeno reino dos judeus. Uma disputa entre dois irmãos para o posto de
sumo sacerdote e trono judeu era a ocasião para os romanos tomarem o reino.
Quando Pompeu, o general romano, invadiu o reino cada um dos irmãos veio a
ele apelar por ajuda para defender o seu lado da disputa. Antes que Pompeu
tomasse uma decisão, o mais moço dos irmãos, o que era mais agressivo e
mais forte em diversos aspectos, tomou a cidade de Jerusalém e fortificou-a
contra os romanos. Depois de um longo e sangrento cerco os romanos
entraram na cidade e tomaram o ambicioso irmão mais novo e seus dois filhos
como prisioneiros e fazendo de Judéia uma província romana nomearam o
irmão mais velho e o mais pacífico, como o sumo sacerdote e etnarca. Este
título era mero rótulo pois o verdadeiro governante do pais era Antipater, um
astuto comandante idumeu que aproveitou todas as oportunidades para
aumentar seu próprio poder ou fazer prevalecer os interesses da família. Em
breve ele ganhou o título de procurador ou seja, guardião do país para os
romanos.
Com o assassinato de Antipater em 43 AC seu filho Herodes (conhecido na
História como Herodes o Grande) tornou-se governante. Depois de seis anos
de guerras sangrentas contra o último pretendente do trono macabeu e contra
os Partas, Herodes foi nomeado pelos romanos Rei da Judéia. Seu reinado foi
marcado por ciúme insano e matança cruel. Ele não hesitava em matar
qualquer um que se opusesse ou obstruísse o seu governo ou seus propósitos.
Dentre os assassinados estavam três de seus próprios filhos, sua mulher
favorita Mariana e o irmão dela que pouco antes Herodes tinha nomeado sumo
sacerdote. Era sob o seu reinado que nasceu Jesus Cristo. É bem conhecida a
matança dos recém-nascidos em Belém que Herodes ordenou para matar o
Rei dos Judeus. Herodes foi um construtor: ele reconstruiu muitas cidades
destruídas pelas guerras. O mais conhecido projeto de reconstrução foi para
substituir o templo de Zorobabel, construído cinco séculos antes, com a
magnifica estrutura que estava sendo usada na época de Cristo. Segundo a
vontade de Herodes o reino seria dividido entre seus três filhos: Arquelau seria
o rei na Judeia e Samaria, Antipas (que mandou decapitar João Bastista) seria
o tetrarca na Galiléia e Paraea e Felipe tetrarca na Etrúria e Traconitis, uma
região a leste do Mar da Galiléia. Quando morreu em 4 A.C. o senado romano
confirmou o acordo, exceto que Arquelau foi nomeado etnarca ao invés de rei
da Judéia.
Arquelau era um fraco, tão cruel quanto seu pai, mas não eficiente como
governante. Depois de dez anos de mau governo os romanos decidiram
destroná-lo e a pedido de muitos judeus Judéia passou a ser governada por um
procurador - ou governador, enviado diretamente de Roma. Poncio Pilatos, que
ordenou a sentença de morte para Cristo, foi o quinto governador enviado a
Judéia.
Situação política durante a pregação de Jesus Cristo: Em Lucas 3:1 há um
relato, mesmo que não muito completo, sobre a situação política durante a vida
ativa de Jesus Cristo. O território governado por Pilatos abrangia a Judéia e
Samária, terras localizadas entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, o
território governado por Herodes Antipas incluía a Galiléia oeste do vale do
Jordão e Peréia a leste deste vale (chamado nos Evangelhos como a região
além do Jordão). A tetraquia de Felipe estava a leste do Mar da Galiléia e o alto
Jordão. No território de Antipas e Felipe havia um grupo de cidades habitadas
na maior parte por gregos que estavam isentos das leis dos tetrarcas.
Originalmente eram dez delas, unidas com o nome de Decápolis. Todas se
encontravam a leste do Jordão.

Panorama Religioso:
O povo judeu era intensamente religioso. Sua história, como se apresenta no
Antigo Testamento tinha sido escrita sob o ponto de vista religioso. Seus mais
brilhantes heróis do período intertestamental tinham sido sacerdotes, que
conduziram a revolta contra tiranos estrangeiros por razões religiosas, e cujos
leais seguidores eram entusiastas religiosos. Nos anos de opressão e matança
durante a administração de Antipater como governante e o reinado de Herodes
muitos judeus devotos perderam as esperanças de que sua nação ganhasse
liberdade política e então passaram a se dedicar a estudos das profecias na
Bíblia e se apoiaram na esperança da vinda de um Messias-Rei. Sua vida
religiosa se expressava num sistema hoje conhecido como judaísmo que se
desenvolveu durante o período intertestamental, desde a Lei de Moisés e os
profetas e dos comentários interpretativos dos escribas.
Lugares de Adoração: O povo judeu mantinha duas instituições de veneração -
o templo e a sinagoga. Existia um templo localizado em Jerusalém onde os
sacerdotes executavam sacrifícios e oferecimentos. Mas também havia a
sinagoga onde eram lidas e interpretadas as Escrituras em todas as cidades,
vilarejos e cidades estrangeiras.
O templo: No Antigo Testamento, adoração significava oferecimento de
sacrifícios e ritos cerimoniais. Havia pouca veneração de congregação ou seja
canto ou leitura coletiva de orações ou leitura publica das Escrituras; e a
pregação formal era desconhecida. O primeiro lugar de adoração tinha sido o
tabernáculo móvel, construído no ermo, sob a supervisão de Moisés em aprox.
1497 AC. Seguiu-se o templo de Salomão (1012-586 AC) e em seguida o
templo de Zorobabel edificado em 516 AC que sobreviveu até que Herodes o
desmantelou em 23 AC para erguer um novo. Na estrutura nova o templo foi
completado em um ano e meio (22 AC) e os átrios oito anos depois. A estrutura
completa foi finalizada só em 64 AD, seis anos depois seria totalmente
destruída pelos romanos. A planta exata da construção não é conhecida
entretanto muitas reconstituições foram tiradas de informação achada em
Flávio Josefo e no Talmude. A área que incluía um átrio externo era
aproximadamente vinte e seis acres. Ela incluía um átrio dos gentios, um átrio
das mulheres, um átrio dos judeus, um átrio dos sacerdotes e o templo
propriamente dito. Esta edificação tinha sido o coração de toda a instituição,
que continha o santo e o santo dos santos como no tabernáculo e nos dois
templos que antecederam.
Ao entrar no templo de qualquer direção que se vinha a pessoa entrava no átrio
dos gentios através de um pórtico sustentado por colunatas de mármore que
circundavam a estrutura toda. O pórtico no lado sul chamado Pórtico Real era
formado por quatro fileiras de colunas sólidas, enquanto que as dos outros três
lados tinham apenas duas. A colunata do lado leste, encostada nos muros do
lado leste da cidade era conhecida como Pórtico de Salomão (João 10:23, Atos
3:11; 5:12). A área que abrangida por esses pórticos era chamada tribunal dos
gentios porque não-judeus podiam entrar nessa área e não mais além. Sem
dúvida foi no átrio dos gentios que o mercado de animais para sacrifício
funcionava onde também haviam os banqueiros que Jesus Cristo expulsou em
duas ocasiões. Havia quatro portões para este recinto, do lado oeste, lado
norte, lado leste e, segundo os estudiosos, do lado sul.
Dentro do tribunal dos gentios estava o recinto sagrado, acessado por nove
portões - um do lado leste, quatro no lado norte e quatro no lado sul. O portão
do lado leste levava ao tribunal das mulheres era a Porta Coríntia mencionada
nos Atos 3:2-10. Na entrada havia pilares com tábuas com a inscrição talhada
que advertia os gentios proibindo a entrada sob pena de morte. No lado leste
do complexo sagrado havia o átrio das mulheres num nível de dezenove
degraus acima do átrio dos gentios. Neste recinto estimado em um a três
quartos de acre havia a tesouraria e a câmara onde se armazenavam vasos
sagrados e paramentos do templo. Nesta área judeus homens e mulheres
podiam entrar, entretanto o altar ou a Casa de Deus era o ponto mais
avançado para o acesso das mulheres. A oeste do átrio das mulheres e em
nível mais alto era o átrio dos israelitas. Diante do Portão entre os dois átrios,
dentro do átrio das mulheres havia quinze degraus semicirculares. O átrio dos
Israelitas, ou átrio dos homens era um pouco mais que um corredor
contornando o átrio dos sacerdotes, do qual era separado por um muro baixo
de pedra. No átrio dos sacerdotes havia um grande altar dos holocaustos e a
grande bacia destinada às ablações dos sacerdotes.
Dentro do átrio dos sacerdotes no pico do monte Moriá doze degraus acima
estava a Casa de Deus o tempo propriamente dito. Consistia de três partes: o
pórtico e as câmaras, que em conjunto rodeavam as outras duas partes, o
santo acessado pelo pórtico e o santo dos santos, atrás do santo. As paredes
incluindo as do pórtico, dizia-se, tinham 150 pés de altura. O santo continha
mesas para os pães de proposição, candelabros de ouro e o altar dourado para
incenso, igual ao do tabernáculo de Moisés. Mas não havia a arca da aliança
no santo, pois esta provavelmente foi destruída no incêndio do Templo de
Salomão em 586 AC. No santo dos santos do templo de Herodes ou o templo
de Zorobabel, havia apenas uma placa de pedra na qual o sumo sacerdote
colocava o turíbulo e aspergia o sangue do pecado no dia do perdão uma vez
por ano, única ocasião quando entrava neste recinto, que era separado do
santo com uma cortina. Era esta cortina que se rasgou em dois quando Nosso
Senhor Jesus Cristo morreu na cruz.
Sendo um lugar de adoração o templo era designado a cerimônias de
sacrifício. Apenas em épocas de festividades as pessoas se reuniam nos átrios
em número considerável sendo que nenhuma provisão de reserva se fazia para
a adoração coletiva. Pessoas vinham para oração individual quando sentiam
necessidade (Lucas 18:10) e grupos combinavam se reunir para oração (Atos
3:1). Os ensinamentos aconteciam no templo normalmente quando grupos se
juntavam ao redor de um professor para fazer perguntas ou ouvir os
ensinamentos (Lucas 20:1).
A sinagoga: Nem tudo relativo a veneração acontecia no templo. Durante o
período intertestamental a sinagoga se formou como uma instituição local onde
judeus de cada comunidade vinham para orar, não com sacrifícios mas com
orações, leitura e interpretação das leis e dos profetas. Nenhuma menção da
sinagoga é feita no Antigo Testamento, mas no tempo de Cristo havia uma em
cada cidade da Palestina e em cidades estrangeiras - eram tantas quantas
casa judias. Os diretores do templo eram os sacerdotes mas haviam também
outras pessoas da sinagoga que era o administrador, os anciãos e o atendente.
O administrador organizava os serviços, ele designava o chefe para cada
serviço e escolhia quem iria fazer a leitura das leis e aquele que iria ler os
Profetas e aqueles que iriam recitar as interpretações das Escrituras. Os
anciãos formavam o quadro de consultores que assistiam o administrador. O
atendente combinava o trabalho de sacristão e professor e normalmente
executava as decisões dos diretores. A ordem dos serviços parece ter sido:
elogios, bênçãos, leitura e interpretação da lei, leitura e interpretação dos
Profetas, sermão e benção. As interpretações eram traduções estereotipadas
das Escrituras hebraicas para o aramaico da época. Habitualmente eram dadas
por um escriba se algum estivesse presente. Qualquer homem poderia ser
chamado para ler as diversas partes das Escrituras ou um sermão ou
exortação ou um homem podia pedir o privilégio de pregar. A benção
normalmente era proferida por um sacerdote se algum estivesse presente.
senão, por qualquer um. Nós sabemos disso através de Lucas 4:16 que Jesus
Cristo estava acostumado a freqüência regular na sinagoga de Nazaré e
poderia ser solicitado a tomar parte na veneração.

Tempos de Adoração:
Os tempos importantes de adoração para os judeus do Antigo Testamento
eram o sábado semanal e as festas anuais.
O sábado: Nos tempos de Jesus Cristo e através do período intertestamental
os judeus tinham profunda reverência pelo sábado como dia de adoração,
especialmente na sinagoga. Moisés entregou ao povo de Israel leis bastante
severas com relação ao dia de sábado (Êxo. 20:6-11; 31:14-17; 35:2-3;
Lev.23:3; Num 15:32-36), mas a ênfase destas leis tinha sido no descanso ao
invés de adoração. Na vida real parece que desde o estabelecimento nas
terras de Canaã até o exílio de Babilônia o povo estava relaxado, ou até
negligente na observância do sábado. Mas é bastante provável que durante o
Exílio grupos se reuniam no dia de sábado para o estudo das Escrituras, canto
dos salmos e oração. Após a volta do povo aos seus lares na Palestina as
reformas de Neemias reenfatizaram o sábado como o dia de descanso
(Neh.13:15-22) e com a instituição da sinagoga veio a ser um dia de adoração
também.
Antes da vinda de Jesus Cristo muitos escribas ao enfatizar a lei do sábado
chegaram a extremos como a proibição de carregar objetos e fazer qualquer
esforço físico nos dias de sábado e que eles próprios não as cumpriam, usando
expedientes ridículos. Um importante motivo de conflito entre Jesus Cristo e as
autoridades da sinagoga foi que Jesus Cristo tinha omitido estas
determinações de sábado, estabelecidas pelos escribas que, entretanto, não
constavam das leis de Moisés.

As Festas:
Os judeus do Novo Testamento cumpriam muitas festas religiosas e períodos
de jejum. Discutiremos aqui seis festas e um jejum. Quatro destas festas e o
jejum tinham sua origem nas leis de Moisés. As outras festas tinham origem
posterior.
A Festa da Páscoa Judaica: (Exo. 12:1-20; Lev. 23:5-8; Num 28:12-25). Esta
era a mais antiga das festas judaicas tendo seu início no Egito no tempo do
êxodo. Celebrava a libertação da escravidão egípcia. As pessoas eram
ordenadas a se encontrar cada ano na cidade do local central da adoração
(tabernáculo ou templo) e repetir os procedimentos da última noite no Egito.
Depois de se conferir que não havia nenhuma levedura na casa eles imolariam
um cordeiro no décimo quarto dia do primeiro mês (Abib ou Nisan), assariam e
o serviriam às pessoas acompanhado de pão ázimo e ervas amargas. Na
época do Novo Testamento os judeus fizaram algumas mudanças nos detalhes
na observância das festas. As pessoas comiam relaxadamente ao invés de
apressadamente o que significava que não se encontravam mais em
escravidão, eles passariam um copo de vinho à mesa em intervalos e cada um
tomaria um gole, a tradição de aspergir-se com sangue os umbrais e o
travessão da porta parece que deixou de ser usado, e eles cantariam trechos
dos Salmos 113-118 durante e depois da refeição.
Como o dia para os judeus se iniciava no por do sol a refeição se fazia nas
primeiras horas do décimo quinto dia do mês. A Festa do Pão Ázimo se seguia
à Páscoa propriamente dita e durava oito dias durante os quais havia refeições
sacras especiais e sacrifícios. O primeiro e o último dia eram convocações
santas, independendo em que dia da semana iam cair. Às vezes o evento todo
era considerado a Páscoa. A época desse evento era Março-Abril. Como Jesus
Cristo foi crucificado no tempo da Páscoa e ressuscitou no terceiro dia após, a
Páscoa judaica e a Páscoa cristã que celebra a ressurreição, vem na mesma
época do ano.
A Festa de Pentecostes:(Lev.23:15-20 Num.28:26-31). Esta foi uma festa dos
primeiros grãos, que chegam cinqüenta dias depois da Páscoa judaica. Tinha
sido uma ação de graças pelas colheitas prontas para ceifar e a apresentação
dos primeiros frutos para Nosso Senhor e para os sacerdotes. Às vezes é
assim chamada a Festa das Semanas, porque chegou sete semanas depois da
Páscoa judaica. A celebração era feita no tabernáculo ou templo e durava
apenas um dia. Este dia também era o aniversário da entrega dos
mandamentos de Deus no Monte Sinai. Para os cristãos é familiar pois neste
dia o Espírito Santo mostrou seu poder sobre os discípulos que formaram o
núcleo da primeira igreja de Jerusalém (Atos 2:1).
Festa dos Trombetas: (Lev. 23:23-25); Num.. 29:1-6). Toda vez que esta
ocasião é mencionada na Bíblia, diz-se que era o primeiro dia do sétimo mês,
mas desde longa data os judeus tinham observado como o Ano Novo (Rosh
Hashanah). Provavelmente até mesmo antes do êxodo do Egito tinha sido
celebrado como o início da primeira colheita do ano porque tinha chegado da
colheita do ano anterior e antes da ceifa da colheita do vindouro. De acordo
com o calendário civil era o início do ano mas de acordo com o calendário
religiosos era o inicio da segunda metade do semestre. Era observado um dia
de jejum em casa.
Dia do Perdão (Yom Kippur): (Lev. 16:1-34; 23:26-32; Num 29:7-11). Este dia,
provavelmente o mais sagrado do ano para um judeu devoto, era observado no
décimo dia do sétimo mês. As pessoas permaneciam em casa, fazendo
abstinência de alimento por um dia inteiro (ocupados com confissão,
arrependimento e oração) enquanto que o sumo sacerdote oferecia sacrifícios
pelos pecados cometidos pelas pessoas durante o ano. Era o único dia do ano
quando o sumo sacerdote entrava no santo dos santos levando o sangue
oferecido pelos pecados.
A Festa dos Tabernáculos: (Exo. 23:16; Lev. 23:34-44; Num. 29:12-40; Deut.
16:13-15 cf.Neh.8:13-18). Esta era uma festa de oito dias começando no
décimo quinto dia do sétimo mês pelo calendário religioso. Assim as pessoas
geralmente tinham o tempo suficiente para saírem de suas casas ao
tabernáculo ou templo depois do Dia do Arrependimento. O propósito era
duplo. Era um dia de ação de graças pela colheita já feita. Portanto as vezes
era chamada de Festa da Colheita (Êxo. 23:16; 34:22) Para essa festa eles
levariam os dízimos da da colheita do ano anterior e o aumento do gado.
Também celebrava a providência divina pelos israelitas durante os quarenta
anos que vagaram no deserto. Havia três práticas durante a semana que
comemoravam o zelo divino para com seus pais. Durante a semana as
pessoas habitavam em barracas para imitar os seus pais que habitavam em
suas tendas no ermo. (Lev. 23:40-43; Neh. 8:14-15) Grandes candelabros com
muitas luzes eram colocados no átrio das mulheres na comemoração da coluna
do fogo que guiou as pessoas no ermo da noite. No último dia um lança-águas
tinha sido trazido do poço de Siloan pela multidão e despejadas as águas com
grande cerimônia ao pé do altar no tribunal dos sacerdotes em comemoração à
água que os israelitas receberam de Nosso Senhor que brotou da rocha (Êxo.
17:5-6; Num. 20;11) O evangelista João relatou a Festa dos Tabernáculos que
Jesus Cristo tinha presenciado (ch.7).

As Escrituras
Os judeus do Novo Testamento, a determinação do próprio Cristo, viam o
Antigo Testamento como a palavra de Deus (João 10:35). Neste tempo eles
consideravam as suas Escrituras como compostas de três grupos de livros: a
Lei, os cinco livros de Moisés, os Profetas, incluindo muitos livros de história
bem como a maior parte dos livros de profecias; e as Escritas incluindo os
Salmos e muitos outros do nosso Antigo Testamento (Lucas 24:44). Em suas
mentes os livros vieram de Deus através de Moisés (João 7:19, 9:28-29).
Moisés insistia que os Mandamentos e outras escritas deveriam ser recebidas
e guardadas como vindas de Deus (Deut. 6:6, 31:9-13, 24-26) e pelo tempo do
estabelecimento na terra de Canaã estes livros de Moisés eram vistos como as
leis de Deus (Jsh.1:8, 8:32-36). Entretanto haviam grandes períodos de
negligência da lei. No tempo da escravidão os judeus tinham permissão de
levarem à Babilônia cópias das leis e outros livros preciosos - história e
profecias e os Salmos e livros da sabedoria. Um novo interesse despertou para
os estudos da lei durante o exílio na Babilônia. Neste tempo os judeus cativos,
estando em terras estrangeiros e privados de seu templo e o sistema de
sacrifícios se juntavam em grupos para estudo da lei, o canto dos salmos e
orações (Eze. 8:1; Ps.137).
Esdras que viveu primeiro na Babilônia e depois em Jerusalém pouco antes de
encerrar o Antigo Testamento, possivelmente ele teria juntado os livros do
Antigo Testamento. Ele era de família de sacerdotes e designou-se como o
sacerdote-escriba (Esdras 7:1-6, 12). Quando ele migrou para Jerusalém ele
despertou um vivo interesse para os estudos dos livros sacros, assim a partir
daí as Escrituras passaram a ter principal influência entre os judeus.
Originalmente o Antigo Testamento tinha sido escrito em hebreu exceto em
pequenos trechos de Jeremias, Daniel e Esdras que eram escritos em
aramaico - uma língua muito semelhante ao hebreu. Em torno de 250 AC uma
tradução para o grego foi feita em Alexandria (Egito) conhecida como
Septuaginta porque o trabalho tendo sido escrito por 70 estudiosos. Essa
tradução foi feita do texto hebreu que diferia ligeiramente em muitos pontos do
texto aceito pelos escribas (texto massorético) mas a Septuaginta era de muita
influência no Novo Testamento. Ao citar textos do Antigo Testamento Jesus
Cristo e os apóstolos se referiam algumas vezes ao texto hebreu e outras
vezes a Septuaginta isto por conta de algumas diferenças entre as citações do
Novo Testamento e do Antigo Testamento e a forma que essas passagens são
lidas no nosso Antigo Testamento.
Muitos judeus nos tempos de Cristo tinham dado à interpretação tradicional das
leis pelos escribas tanta importância quanto a própria lei. Estas são referidas
em Mat. 15:2 e Marcos 7:5 como a tradição dos anciãos. Esta tradição foi
formada no terceiro século da era cristã num texto chamado Mishnah. No fim
do quarto século ganhou tamanho com mais outro material que formou a
volumosa obra chamada Talmud que tem sido de autoridade para rabinos
judeus até a presente data.
Os quatorze livros conhecidos como apócrifos ou deuterocanônicos eram livros
existentes na época de Cristo. O primeiro Macabeus provavelmente expõe
história autentica e descreve exemplos que inspiram lealdade corajosa à
verdadeira religião; mas os outros livros desta coleção são de pouco valor
histórico ou religioso. É possível que eles influenciaram até certo ponto o
pensamento do povo da época do Novo Testamento. Os primeiros cristãos,
apesar de permitirem a leitura desses livros pelo seu sentido de edificação
considerava-os sem importância no sentido canônico.

Seitas Religiosas e Classes do Povo


Alguns dos grupos influentes ou partidos do povo mencionados nos evangelhos
eram: os sacerdotes, os escribas, os fariseus, os saduceus, os herodianos, os
publicanos e os samaritanos. Além desses havia os essênios e outros grupos
similares, que não são mencionados na Bíblia, mas que são considerados
pelos estudiosos da Bíblia como de influência para o povo durante o tempo do
Novo Testamento.
Os Sacerdotes: No início da história de Israel como nação Arão, irmão de
Moisés, da tribo de Levi, foi nomeado sumo sacerdote, e seus filhos nomeados
sacerdotes junto com ele. Depois disso os sumo sacerdotes e sacerdotes
passaram a ter caráter hereditário na família de Arão. Com o tempo se
tornaram tão numerosos que nos tempos de Davi eles eram agrupados em
vinte e quatro cursos (I Crôn. 23:1-10). Sem favor especial o sacerdote poderia
servir somente algumas vezes na vida dele, e muitos que eram de famílias de
sacerdotes nunca tinham oportunidade de servir. Fora suas funções no templo,
sem dúvida a linhagem dos sacerdotes era contemplada com honra e
dignidade. Nos tempos do Antigo Testamento a consagração para sumo
sacerdote normalmente era designada a ser vitalícia porém no período
intertestamental quando sujeitos ao poder de estrangeiros, a designação dos
sumo sacerdotes passou a ser feita pelos estrangeiros. Durante a época dos
Macabeus os sumo-sacerdotes tinham poder político significativo e depois que
os romanos tomaram o poder eles retiveram considerável poder como o ex-
officio, presidente do Sinédrio. Consequentemente os governantes romanos se
apropriaram da autoridade para designar ou destronar os sumo sacerdotes. Um
sumo sacerdote muitas vezes perdia favores do governante romano e era
substituído por outro depois de servir por um curto período. Nos Evangelhos é
freqüentemente mencionado o chefe dos sacerdotes que eram membros do
Sinédrio. O Sinédrio era formado pelo sumo sacerdote da época ou qualquer
que tivesse ocupado o lugar de sumo sacerdote e também os chefes dos vinte
e quatro cursos de sacerdotes.
Os Escribas: Provavelmente era a classe que surgiu primeiro durante o exílio
na Babilônia (Esdras 7:6). No início eles eram os copiadores profissionais que
transcreviam a lei para aqueles que a desejavam. Considerando que assim
eles teriam em pouco tempo muito maior conhecimento da lei do que qualquer
outra pessoa, em breve eles se tornaram professores e seus intérpretes.
Dentre eles vieram os advogados e rabinos profissionais. Os mais letrados
dentre eles eram doutores da lei. A tradição dos anciãos, tão bem conceituada
pelos fariseus, era composta na maior parte por interpretações da lei feita pelos
escribas letrados.
Os Fariseus: Sem dúvida era o grupo de maior influência das seitas religiosas
dos tempos de Cristo. As raízes de algumas de suas práticas podem ser vistas
nas reformas e orações de Neemias (Neh.13:14) porém tiveram seu início
como um grupo em luta contra os pagãos gregos nos tempos de Matatias e
Judas Macabeu. No início eram chamados Chasidim (Separatistas) por causa
de sua determinação em resguardar-se (e resguardar a nação) o quanto
possível, da contaminação pelas influências estrangeiras. Durante os tempos
de Cristo a característica que os distinguia tinha sido a importância que davam
no cumprimento da lei. Queriam o mérito para si pelo cumprimento das leis e
desejavam submeter até o próprio Deus às suas leis e a si próprios (fariseus).
Eles consideravam as interpretações dos escribas (a tradição dos anciãos) tão
importantes quanto a própria Lei escrita. Eles se consideravam justos (e por
isso os outros também os consideravam assim) e julgavam os outros com
muita crítica. Aqueles que desrespeitavam seus preceitos e padrões eram
chamados de pecadores. Eles acreditavam na existência de anjos, na vida pós
morte e na futura ressurreição dos injustos e dos justos. Em geral, eles eram a
parte conservadora do judaísmo.
Os Saduceus: Os saduceus tinham seus preceitos opostos aos dos fariseus.
Na maior parte eram sacerdotes desejosos de ceder os princípios judeus em
troca de favores de governantes estrangeiros. Provavelmente começaram a
serem vistos como uma classe separada durante o final do período grego. O
nome vem de Zadok, o sacerdote que era leal a Davi e Salomão quando
Abiatar, o outro sacerdote, se debandou para Adonias (I Rei 1:32-34). Sua
doutrina e características eram: não aceitavam a existência dos anjos, a
imortalidade da alma, e qualquer idéia de ressurreição. Rejeitavam a tradição
dos anciãos e a tradição oral e aceitavam tão somente a escrita do Antigo
Testamento. Eram rígidos no julgamento e não tinham popularidade entre o
povo.
Os Publicanos: Quando os romanos conquistaram a Judéia e anexaram-na
como parte do Império, eles impuseram o povo o pagamento de impostos. Os
publicanos eram judeus que recolhiam estes impostos para os romanos.
Normalmente e cobrança de impostos era um emprego lucrativo, porque os
coletores pagavam um valor estipulado aos romanos e arrecadavam do povo o
que bem desejavam ou podiam. Eram odiados pelo povo, geralmente porque
recolhiam impostos para conquistadores estrangeiros e freqüentemente
extorquiam do povo mais do que era devido e consequentemente enriqueciam.
É claro que os publicanos não intencionavam obedecer à lei judaica e
costumavam ser classificados como pecadores. Jesus Cristo foi chamado de
amigo dos publicanos porque desejava receber aqueles que vinham a Ele e
aceitar a hospitalidade daqueles que convidavam-No a entrar em suas casas
mas é claro não os redimia de culpa pela sua extorsão.
Os Samaritanos: Eram de uma raça miscigenada. Eram descendentes dos
israelitas do reino ao norte que foram deixados no pais quando o norte de
Israel foi tomado pelos assírios e também de estrangeiros que migraram nos
arredores da Samaria. Eles adoravam Javé mas na sua adoração eles
introduziam muitas influências pagãs. Durante a época persa eles construíram
um templo no monte Gerizim, no qual seus sacerdotes serviram por
aproximadamente 275 anos. Esse templo foi destruído por João Hircano (121
AC) e nunca foi reconstruído, mas os samaritanos continuaram a adoração no
monte Gerizim e arredores. Os judeus os desprezavam por causa da impureza
de sua raça e também pela facilidade que eles faziam acordos religiosos com
os gregos e outros estrangeiros Eles existem até hoje mas o seu número se
restringe a algumas centenas. Eles tem posse de um manuscrito muito antigo
dos livros de Moisés que tem muito valor nos estudos do Antigo Testamento.
Os Essênios: Flávio Josefo o historiador, e Filo, o filósofo, registram a respeito
de uma seita conhecida como essênios que viveram durante o primeiro século.
Esse povo não é mencionado na Bíblia. Alguns deles viviam em grupos ou
quartéis em muitas das cidades e aldeias sobre os quais diziam que viviam
como monges, isolados na costa oeste do Mar Morto, supostamente perto da
cidade de Engedi. Em alguns aspectos os ensinamentos desse povo se
assemelhava aqueles dos fariseus, porém eles renunciavam a riqueza
mundana e seguiam um padrão rígido de uma vida santa. Não praticavam
sacrifício animal, mas ofertavam outros bens ao templo em Jerusalém. Na sua
maioria renunciavam ao matrimonio e quaisquer atividades relativas ao prazer.
Novos membros que ingressassem eram postos à prova de rigores por três
anos durante os quais, a certos intervalos, conhecimentos secretos eram
impostos. Na realidade, em alguns aspectos, se assemelhavam a uma ordem
secreta.
O interesse por esse povo foi reavivado com a descoberta dos pergaminhos do
Mar Morto em 1947 e mais tarde, que desvendou a existência de mais um
grupo similar que viveu em Qumran, à distância considerável de Engedi mas
ainda próximo ao Mar Morto. Alguns estudiosos afirmam que estes é que eram
os essênios e que Qumran era o lugar de sua moradia e não Engedi. Mas os
costumes e ensinamentos deste grupo diferem consideravelmente daqueles
relatados por Flávio Josefo e Filo. Alguns estudiosos sustentam que João
Batista era da influência destes grupos. Mas esse ponto de vista não é muito
convincente, para o autor algumas conclusões sugeridas parecem ser
arbitrárias e não relacionadas a essa evidência.
O Sinédrio: Uma menção repetida no original grego do Novo Testamento, fala
de um grande conselho ou corte composta de sumo sacerdotes, anciãos e
escribas. Este conselho não é comentado no Antigo Testamento;
provavelmente teve início durante o período intertestamental, possivelmente na
época dos Macabeus. Incluía setenta e um membros escolhidos dos três
grupos mais influenciáveis entre o povo. O sumo sacerdote sempre era um dos
seus dois presidentes. O lugar de reunião não é conhecido; o Talmude indica
que era o Corredor de Pedra Cortada no templo mas Josefo menciona o local
de encontro como fora do templo. O grupo incluía saduceus e fariseus.
Durante o Novo Testamento o grupo tinha autoridade em assuntos religiosos e
a maior parte dos assuntos civis e uma pequena autoridade em assuntos
criminais. Em casos de pena de morte, aprovação de um procurador romano
ou governador o grupo era solicitado antes da execução da sentença.
Normalmente não havia seções à noite ou no dia de sábado. Uma sentença de
morte não poderia ser executada no mesmo dia do julgamento. A decisão dos
juizes tinha que ser examinada no dia seguinte.

A Esperança Messiânica
Muitas profecias sobre a vinda do Messias ou Cristo são encontradas no antigo
Testamento. Às vezes as profecias são obscuras mas compreensíveis para nós
quando as analisamos com o enfoque do Novo Testamento como por exemplo
em Gen. 3:15, onde se diz que "sua descendência te esmagará a cabeça e tu
lhe ferrarás o calcanhar," mas em muitas outras a promessa está clara e certa.
Um grande numero de profecias promete um reino glorioso presidido pelo Rei
enviado de Deus que libertaria Seu povo dos inimigos e reinaria em retidão; e
repetidamente foi predito que este rei seria da linhagem de Davi (Ps. 89:3-4;
Isa. 11:1-10; Jer. 23:5-6). Os judeus do período intertestamental sofrendo por
causa dos maus governantes e opressão dos gregos e romanos, encontram
conforto e inspiração na antecipação do prometido Rei e Seu Reino, e muitos
dos escribas se dedicaram a um estudo aprofundado dessas profecias. Como
resultado desse estudo alguns dos escribas delinearam um mapa da idade
messiânica. De Mateus 16:14 e João 1:21, é evidente que os seus estudos
incluiam o aparecimento de um profeta do Antigo Testamento, o
reaparecimento do profeta Elias e o aparecimento do Messias.
Antes do tempo de Jesus Cristo muitos falsos messias surgiram (Atos 5:36-37),
que enquanto atraindo multidões de seguidores chegavam a um fim
desastroso. Os escribas podiam prontamente informar a Herodes que Cristo
iria nascer em Belém (Mat. 2:5-6) e sem hesitar responderam a Jesus que o
Cristo seria um descendente de Davi (Mat. 22:42). No tempo da pregação de
João Batista o povo se encontrava na expectativa (Lucas 3:25) compartilhada
até pelos samaritanos. Havia muitos piedosos que esperavam pela redenção
do povo de Deus e notadamente Zacarias, pai de João Batista, Simão e Ana
(Lucas 2:25-38) e José de Arimatéia (Lucas 23:52).
Além dessas profecias que prometeram um Messias Real (da palavra Rei) há
outras (Ps. 22:1-21; Isa.53, e outros) que retrataram um sofredor que
carregaria os pecados do mundo. Os cristãos reconheceram com convicção
este sofredor como o Cristo, prometido para ser Rei e Salvador. Também vale
a pena notar que Sal. 22:22-31, Sal. 110:2-3 e Isa 53:10 sugere um Reino
espiritual em contraste com o glorioso Reino retratado em outras profecias.
Mas os fariseus que se designavam como os justos e os saduceus voltados à
política não reconheceram Jesus como o cumprimento de suas tão acalentadas
esperanças das profecias messiânicas. De comum acordo eles O condenaram
à morte e sem saber, fizeram concretizar-se as profecias sobre o Messias. Mas
os cristãos reconheceram Jesus de Nazaré como o cumprimento de todas as
profecias messiânicas — eles confiaram Nele como o Salvador, eles
reconheceram-No como o Senhor espiritual e Rei de suas vidas.
Capítulo VI
ENSINAMENTOS
SELECIONADOS DO SALVADOR

Amor:
Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
todo o teu entendimento e de toda a tua força.... amarás o teu próximo como a
ti mesmo (Marcos 12:28-34). Misericórdia quero, e não holocaustos; pois não
vim chamar justos, e, sim, pecadores (ao arrependimento; Mateus 9:13).
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e
aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
manifestarei a ele. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se
tiverdes amor uns aos outros (João 13:35). Ninguém tem maior amor do que
este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos (João 15:13, veja
também Mateus 5:42-48, João 13:34-35).

Arrependimento:
Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus! (Mateus 3:2). Ide porém,
e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não holocaustos, pois não vim
chamar justos e sim pecadores (ao arrependimento) (Mateus 9:13). Todo o que
comete pecado é escravo do pecado.(João 8:34-37). Se porém não vos
arrependerdes, todos igualmente perecereis (Lucas 13:3-5 também Mateus
4:17, João 5:14, Lucas 7:47, Lucas 13:1-5, Mateus 18:11-14, a parábola da
ovelha perdida, Lucas 15:11-32, a parábola do filho pródigo, Lucas 18:9-14, a
parábola do publicano e fariseu).

Boas ações:
Tudo quanto, pois quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós
também a eles; porque esta é a lei e os profetas (Mateus 7:12). Assim brilhe
também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras
e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16); E quem der a beber
ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este
meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu
galardão" (Mateus 10:42). Também veja Lucas 19:11-27, Mateus 25:31-46,
Lucas 10:25-37, parábola do bom samaritano, também a parábola da figueira
sem frutos, Lucas 13:6-9.

Caminho-estreito:
Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz
para a perdição e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta
e apertado o caminho que o conduz para a vida, e são poucos os que acertam
com ela (Mateus 7:13-14). Desde os dias de João Batista até agora o reino dos
céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele (Mateus
11:12). E quem não toma a sua cruz e vem após mim, não é digno de mim
(Mateus 10:38, também Lucas 13:22-30, Marcos 8:34-38, Lucas 14:25-27, João
12:25-26).

Caridade:
Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai!
entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.
Porque tive fome e me deste de comer tive sede e me deste de beber, era
forasteiro e me hospedastes, estava nu e me vestistes; enfermo e me
visitastes; preso e fostes ver-me (Mat. 25:34-36; e também Lucas 21:1-4).

Castidade e fidelidade conjugal:


(Mat. 5:27-32; 19:3-12) Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos
digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já
adulterou com ela.
Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém
que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no
inferno. E se tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti, pois te
convém que se perca um dos teus membros e não vá todo o teu corpo para o
inferno. Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de
divórcio; Eu, porém vos digo: Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em
caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que
casar com a repudiada, comete adultério.
Vieram a Ele alguns fariseus, e O experimentavam, perguntando: É lícito ao
marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então respondeu Ele: Não
tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher, e que
disse: por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém
uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separa o homem. Replicara-
lhe: Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés
vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o
princípio. Eu, porém vos digo: Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa
de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério (e o que casar
com a repudiada comete adultério) Disseram-lhe os discípulos: se essa é a
condição do homem relativamente à sua mulher não convém casar. Jesus,
porém lhes respondeu: Nem todos são aptos para receber este conceito, mas
apenas aqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença, há outros a
quem os homens fizeram tais, e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos
por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir, admita.

Santa Comunhão:
Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, permanece em mim e eu
nele. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e
eu o ressuscitarei no último dia (João 6:27-58; Lucas 22:15-20).

Coragem:
Estai de sobreaviso, vigiai (e orai) porque não sabeis quando será o tempo. É
como se um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua casa, dá
autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao porteiro ordena
que vigie. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à
tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã.; para que, vindo
ele inesperadamente, não vos ache dormindo (Marcos 13:33-37; veja também
Lucas 11:24-26 e 21:34-36 e Mateus 8:28-33).

Fé:
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16).
Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes tudo é possível ao que crê (Marcos
9:23) Disse-lhes Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não
viram e creram (João 20:29, também veja Mateus 16:17, Lucas 17:5-10 Marcos
16:16).

Fé em Deus:
Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto nenhum deles está
em esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça todos estão
contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais. (Lucas 12:6-7).
Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. (João
14:1) Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus (Lucas 18:27).
Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido (Lucas 19:10).

A Graça do Espírito Santo:


O que é nascido da carne, é carne; o que nascido do Espírito, é espírito (João
3:6). Afirmou-lhe Jesus: quem beber desta água tornará a ter sede; aquele,
porém que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede para sempre;
pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida
eterna.
(João 4:13-14). Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos
vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem? (Lucas 11-13). Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos
guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que
tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir (João 16:13, veja
também 7:37-39 e 14:15-21 e 16:13, também Marcos 4:26-29 a parábola da
semente; Mateus 13:31-32, a parábola do grão de mostarda; Mateus 25:1-13, a
parábola das dez virgens.
Gratidão:
Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve
porventura quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?
Levanta-te e vai, a tua fé te salvou. (a história dos dez leprosos, Lucas, 17:11-
19).

Humildade:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus
(Mateus 5:3). Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha
será exaltado (Lucas 14:11). Pois todo o que se exalta será humilhado e o que
se humilha ser exaltado (Lucas 14:11). Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as
vossas almas (Mateus 11:29). Quem quiser tornar-se grande entre vós, será
esse o que vos sirva (Mateus 20:26, veja também Lucas 10:21, Lucas 18:9-14,
Marcos 10:42-45, João 13:4-17, Mateus 20:1-16, a parábola dos trabalhadores
na vinha).

Jejum:
Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum (Mateus
17:21; também veja Marcos 2:19-22, Mateus 6:16-18, Marcos 9:29).

Não-julgamento:
Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que
julgardes, sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido vos
medirão também (Mateus 7:1-2).

Oração:
Pedi, e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á, pois todo o que
pede recebe, o que busca, encontra e a quem bate, abri-se-lhe-á (Mateus 7:7-
11). E tudo que quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis (Mateus 21:22).
Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade, porque são estes que o Pai procura para seus
adoradores, Deus é espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em
espírito em verdade (João 4:23-24). Veja também Mateus 6:5-15, Mateus
18:19-20, Marcos 11:23, João 16:23-27, Marcos 14:38, Lucas 11:9-10, Lucas
18:1-8, a parábola do juiz injusto.

Paciência:
É na vossa perseverança que ganhareis as vossas almas (Lucas 21:19). Sereis
odiados de todos por causa do meu nome, aquele, porém, que perseverar até
ao fim, esse será salvo (Mateus 10:22), A que caiu na boa terra são os que,
tendo ouvido de bom e reto coração, retém a palavra, estes frutificam com
perseverança (Lucas 8:15); ...disse, porém Abraão: Filho, lembra-te de que
recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males, agora
porém, aquele, ele está consolado, tu, em tormentos (Lucas 16:19-31, a
parábola do rico e Lázaro.).

Palavra:
Como podeis falar coisas boas, sendo maus? porque a boca fala do que está
cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o
homem mau do mau tesouro tira coisas más, digo-vos que de toda palavra
frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo; porque
pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado
(Mateus, 12:34-37, Mateus 5:22).

Preocupações terrenas:
Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas
coisas vos serão acrescentadas. (Mateus 6:19-34) Pois que aproveitará o
homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? ou que dará o homem
em troca da sua alma? (Mateus 16:26). Filhos, quão difícil é (para os que
confiam nas riquezas) entrar no reino de Deus! (Marcos 10:24, veja também
Lucas 10:41-42, Marcos 10:17-27, Lucas 12:13-21 parábola reprovando o rico
avarento).

Prudência:
Vede que ninguém vos engane (Mateus 24:4), veja também Lucas 14:28-33,
Lucas 16:1-13 a parábola do administrador infiel.

Pureza de coração:
Bem-aventurados os limpos de coração porque verão a Deus (Mateus 5:8).
Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que
contaminam o homem, mas o comer sem lavar as mãos não o contamina
(Mateus 15:19-20). São os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a
palavra, estes frutificam com perseverança (Lucas 8:15). Vós já estais limpos,
pela palavra que vos tenho falado(João 15:3, Marcos 7:15-23).

Reconciliação e Perdão:
Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste
vos perdoará (Mateus 6:14). Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete
vezes, mas até setenta vezes sete. (Mateus 18:22, veja também Mateus 5:23-
26, Lucas 23:34, Mateus 18:23-35; a parábola do credor incompassivo.

Regozijo em Deus ou Exaltação em Deus:


Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mateus 5:12). Vinde a
mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve (Mateus 11:28-30). Eu lhes dou a vida eterna,
jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão (João
10:28). Assim também agora vós tendes tristeza, mas outra vez vos verei, o
vosso coração se alegrará e a vossa alegria ninguém poderá tirar (João 16:22).

Retidão:
Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça porque serão fartos
(Mateus 5:6). Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai.
Quem tem ouvidos (para ouvir) ouça. Portanto sede vós perfeitos como perfeito
é o vosso Pai celestial (Mateus 5:48).

Tentações:
E se tua mão te faz tropeçar corta-a pois é melhor entrares maneta na vida do
que tendo as duas mãos ires para o inferno, para o fogo inextinguível (Marcos
9:43-49). Aí do mundo, por causa dos escândalos, porque é inevitável que
venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo (Mateus
18:7, Lucas 17:1-2).

Unidade:
Então haverá um rebanho e um pastor (João 10:16). A fim de que todos sejam
um e como és tu, o Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós para
que o mundo creia que tu me enviaste (João 17:21). Porque onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles (Mateus 18:20).

Verdade:
Então lhe disse Pilatos Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei.
Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da
verdade Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. (João 18:37 também
veja Mateus 13:44-46, a parábola do tesouro).

Virtudes:
O desenvolvimento de boas qualidades foi o ensinamento constante de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Por exemplo Seu Sermão da Montanha (Mateus cap. 5-7)
e as Bem-aventuranças nas quais é traçado o caminho para o total
cumprimento (ou realização?). A parábola do semeador (Mateus 13:3-23) e
especialmente na parábola dos talentos (Mateus 25:14-30) mostra-se a
importância do desenvolvimento das habilidades que nos são dadas por Deus.
A combinação dos dons agraciados com o desenvolvimento das habilidades
(talentos) compõe a riqueza básica do homem. É por isso que se diz que "o
reino de Deus está dentro em vós" (Interrogado pelos fariseus sobre quando
viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com
visível aparência. Nem dirão: ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de Deus
está dentro em vós (Lucas 17:21).

Vontade de Deus:
Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu (Mateus 6:10). Nem todo o
que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus (Mateus 7:21).

CONCLUSÃO

As mais belas histórias que o mundo conheceu ficaram de pouca importância,


diante da mais linda história de amor que conhecemos, a vida de Jesus, ―o
Cristo‖. Os homens que Jesus convidou para ser Seus discípulos, foram
testemunhas oculares de toda a obra do Filho de Deus aqui na terra, além de
muitos outros espectadores. Aqueles discípulos que vivenciaram intensamente
a Faculdade de Teologia mais ortodoxa e eficaz de todo o Universo,
testemunharam até a morte o que viram e ouviram do Mestre dos mestres.
Homens de várias classes sociais como; pescadores, cobradores de impostos
e até um doutor, no momento oportuno, escreveram a história do Rei, Mestre,
Senhor, Filho de Deus, cada qual na sua ótica, entretanto inspirados pelo
Espírito Santo. Os ângulos vistos pelos discípulos eram diferentes, ainda que
dos mesmos fatos observados, porém não há contradição temática. Nos
Evangelhos, todos podem presenciar que cada autor, se demora mais em um
determinado aspecto da vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. Deus
estava em carne e sangue entre os homens, como o anjo anunciara; Seu nome
será Emanuel. Seu primeiro advento foi o principal assunto de todo o povo de
Deus durante 04 (quatro) milênios, e após a Sua ascensão, a nota tônica da
igreja ainda é, o Seu segundo advento. Mat. 24, 25. Jesus deixou à Sua igreja
todas as coordenadas quanto ao procedimento que Seus filhos fiéis deveriam
ter, e ainda os acontecimentos proféticos que assinalariam o Seu retorno à
terra para receber os que sob perseguição, fome, nudez, não abandonaram a
fé, ficando com eles até o fim por meio do Santo Espírito. Portanto o Cerne,
Âmago, Personagem Central, Protagonista desta Maravilhosa História de amor,
é Cristo Jesus, como diz Paulo,― Autor e consumador de nossa fé‖.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada. A Bíblia Anotada, Versão


Revista e Atualizada. Editora Mundo Cristão.
AURÉLIO, Dicionário Eletrônico. Editora Nova Fronteira.
BARBAGLIO, Giuseppe; FRABRIS, Rinaldo & MAGGIONI, Bruno. Os
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GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
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