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SEMINÁRIO TEOLÓGICO
PENTECOSTAL DO CEARÁ
Data:_____/______/______
Aluno: __________________________________________
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ANTIGO TESTAMENTO – UMA ABORDAGEM PANORÂMICA
A FORMAÇÃO DO CÂNON DO AT
Os livros do Antigo Testamento que compõe o cânon foram escritos entre 1400 e
400 antes de Cristo. Esses livros foram inspirados por Deus e cremos que o mesmo Deus
iluminou o seu povo para reconhecimento dos livros inspirados entre outros livros
religiosos antigos(João 7.17; 1 Coríntios 2.12-13). A seguir cito Harbin integralmente
sobre os aspectos históricos da formação do Cânon:
a) O texto hebraico, ou seja, a Bíblia Hebraica, ou seja, o Texto Massorético não
contém os chamados livros apócrifos. É basicamente o mesmo cânon reconhecido pelos
rabinos em Jamnia, em 90 d.C.
b) O mais antigo manuscrito completo da Septuaginta (LXX) é de proveniência
cristã no quarto século depois de Cristo e contém "os apócrifos" da Bíblia Católica
Romana.
c) Todavia, as listas cristãs do cânon, que são mais anteriores, seguem
principalmente o cânon hebraico da palestina, por exemplo, a lista de Melito de Sardo,
cerca de 160 d.C. (A LXX originou fora da Palestina em Alexandria no Egito em cerca
de 275-100 antes de Cristo.
d) Embora a LXX contenha os apócrifos, não se pode provar que a mesma
autoridade fosse atribuída a todos os livros. O fato da sua inclusão, entretanto, parece
mostrar uma tal tendência da parte de alguns judeus, embora possa refletir somente o
desejo de traduzir, preservar e circular todos os livros incluídos sem pensar em valorizar
todos do mesmo modo.
e) A lista da LXX conseguiu aprovação da maioria nos Sínodos de 393 d.C. e
seguintes embora contra o voto de certos líderes notáveis como Jerônimo. Agostinho
estava a favor, mas os seus escritos posteriores mostram uma ambigüidade a respeito.
f) Os reformadores do século dezesseis depois de Cristo voltaram para o cânon
hebraico. Calvino, por exemplo, apontando o fato de não existir tradição unânime a
respeito do "apócrifos" como livros que devem ser considerados como inspirados.
g) O Concílio de Trento, em 1546 d.C., aceitou pela primeira vez como canônicos
os seguintes 13 "apócrifos": Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque,
I e II Macabeus e as adições dos livros de Ester, Baruque(a carta de Jeremias) e Daniel(o
cântico dos três mancebos, a História de Susana, Bel e o Dragão, e a Oração de Azarias);
a Vulgata, edição publicada em 1592 d.C., mas autorizada pelo Concílio de Trento em
1546 d.C., incluiu também I e II Esdras e A Oração de Manassés, porém, depois o Novo
Testamento na sua sequência bíblica.
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b. Livros de História = Josué, Juízes, Rute I e II Samuel, I e II Reis (considerados
Samuel e Reis como I, II, III e IV reinados), I e II Crônicas, I e II Esdras (o primeiro
sendo apócrifo e o segundo o canônico), Neemias, Tobias, Judite e Ester (com as adições).
c. Livros de Poesia e Sabedoria = Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares,
Sabedoria deSalomão, Eclesiástico (ou Sabedoria de Siraque).
d. Livros Proféticos = Os Profetas Menores (em termos de tamanho e não de
importância): Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Os Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Baruque,
Lamentações, A Cartade Jeremias, Ezequiel, e Daniel (incluindo Susana,Bel e o Dragão,
e O Cântico dos TrêsVarões).
e. Livros Suplementares de História = I e II Macabeus.
f. A tradução do Pentateuco foi completa em cerca de 250 antes de Cristo, a dos
Profetas em cerca de 200 antes de Cristo e a dos Escritos em cerca de 100 antes de Cristo.
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ESQUEMA HISTÓRICO DO A. T.
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OS ESTILOS LITERÁRIOS NA TORÁ
O nosso propósito aqui não é falar em termos gerais da Torá. Nosso propósito é
falar da Torá como literatura e, como literatura, a Torá é de natureza dupla. Ela é uma
unidade literária que contém, ao mesmo tempo, uma variedade de estilos literários. Sua
unidade procede primeiramente da tradição mosaica. Moisés é a figura principal
associada à preservação e transmissão da Torá. Mas, além da tradição mosaica que une a
Torá. Existe uma unidade histórico-teológica, também. O propósito histórico-teológico
da Torá é narrar a história da formação do povo de Israel o ponto de vista dos desígnios
de Deus para o povo que ele mesmo criou.
Os aspectos históricos da Torá estão inseparavelmente entrelaçados com o seu
propósito religioso de maneira que a própria história pode ser considerada uma expressão
teológica do povo hebraico. Na Torá o Deus de Israel é o Deus que cria e destrói(Gênesis
1.1; 7.23), que chama e preserva(Gênesis 12.2,3; 45.7), que liberta e guia(Êx 12.1-3; Êx
1.6-7), que fez alianças(Gênesis 15.8; Êx 19.5-6) e deu a sua lei ao povo para orientá-lo
e preservá-lo como um povo santo na terra(Lv 20.22-24; Dt 29.29). Assim, a Torá é uma
instrução divina para o povo de Deus e sua unidade é encontrada nesta função.
Mas, dentro dessa unidade histórico-teológica existe uma diversidade literária. Os
grandes atos de Deus em favor de seu povo são registrados em estilos literários diferentes.
Esta diversidade forma um tecido literário de várias "cores" e "texturas" que atrai o leitor
tanto pela sua beleza quanto pelo seu conteúdo. O indivíduo, em nossa época, que
normalmente recebe o crédito pelo reconhecimento da diversidade literária do texto
bíblico é o crítico alemão Hermann Gunkel. Gunkel reconheceu que dentro do texto
bíblico existem unidades literárias que formam o texto. Ele identificou vários tipos ou
formas literárias no texto: histórias orais, poesias, leis e provérbios que, conforme Gunkel
foram juntados para criar o texto maior. O estudo das unidades literárias e chamado de
crítica das formas.
A Lei na Torá
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A Torá preserva a lei em várias coleções ou códigos. O código mais conhecido é
certamente o Decálogo, os Dez Mandamentos. O Decálogo é central à Aliança feita com
Israel no Sinai e formou a base legislativa das demais leis. Basta dizer que no decálogo
geralmente reconhecemos duas dimensões: a dimensão vertical e a dimensão horizontal.
A dimensão vertical se encontra nos primeiros quatro mandamentos e trata da
centralidade de Deus como o único e suficiente Deus de Israel. Foi Ele quem tirou o povo
da escravidão no Egito com a finalidade de formar uma aliança com o povo e levar o povo
para a terra prometida.
Cinco a dez tratam da dimensão horizontal do Decálogo e destacam o
relacionamento do indivíduo para com o seu próximo e preservam os direitos de outras
pessoas. No Decálogo podemos ver que o ser humano tem uma obrigação tanto para com
Deus quanto para com seu próximo. No Novo Testamento Jesus deu continuidade a este
aspecto da lei quando respondeu à pergunta dos fariseus sobre o grande mandamento. Na
sua resposta reduziu a lei judaica a estas duas dimensões: "Amarás ao SENHOR teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e o segundo,
semelhante a este, é: amarás a teu próximo como a ti mesmo"(Mateus 22.37,39).
Depois do Decálogo vem o Livro da Aliança (Êx 20.22-23.33). Em geral as leis
do Livro da Aliança têm forma casuística isto é, tratam de casos específicos da vida do
povo hebraico. São chamadas de leis condicionais porque muitas são introduzidas pela
palavra "se"(ki) que estabelece o elemento condicional. A organização das leis do Livro
da Aliança é relacionada a organização do Decálogo. Podemos ver tanto a dimensão
vertical quanto a horizontal nestas leis. O código começa e termina com leis relacionadas
ao culto de Israel, a dimensão vertical (Êx 20.22; 23.10-19). As leis horizontais tratam de
casos relacionados ao tratamento de pessoas e propriedades e casos de imoralidades e dos
direitos dos necessitados.
Para a igreja essas leis parecem arcaicas, completamente fora do nosso contexto,
e sem nenhuma aplicação prática a Igreja a não ser que seja histórica. Mas, o Livro da
Aliança nos traz uma visão de Deus que se preocupa com as infraestruturas sociais do seu
povo. Essas leis visaram a organização da comunidade israelita de uma maneira justa. As
leis procuram manter a dignidade de pessoas, mesmo quando essas pessoas são servas ou
escravas (Êx 21.1-6).
O direito de possuir propriedade é reconhecido, mas, junto ao direito de possuir
há responsabilidade de administrar e usar a propriedade de um modo que não prejudique
a sociedade (Êx 21.33-22.15). Há uma notável preocupação com a condição dos
estrangeiros, oprimidos e fracos da sociedade (Êx 22.21-24). Então, essas leis dão
evidências de que Deus é sensível às necessidades de seu povo e providenciou um modo
de proteger a estrutura da sociedade.
A lei hebraica visou a preservação da santidade da comunidade, também. A
preservação da santidade é a preocupação do código de santidade que se encontra no livro
de Levítico, capítulos 17 a26. A chave do código de santidade é a frase que é repetida
várias vezes no texto: Sereis santos, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo. A base
a santidade no código é a santidade do próprio Deus. A implicação da santidade no que
diz respeito ao povo é a necessidade de separar-se dos costumes dos povos que não
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adoravam ao SENHOR Deus. O fim da lei da santidade foi proteger o povo de Israel da
ameaça do paganismo.
Por isso, a lei diz em Levítico 20.22,23: "Guardarei, pois, todos os meus estatutos
e todos os meus preceitos, e os cumprirei; a fim de que a terra, para qual Eu os levo,
para nela morardes, não vos vomite. E não andareis nos costumes dos povos que Eu
expulso diante de vós; porque eles fizeram todas estas coisas, e eu os abominei". A Torá
ofereceu aos filhos de Israel um modo de fazer diferença entre costumes saudáveis e
costumes abomináveis e assim, manter-se longe do perigo do paganismo
O paganismo é sempre uma ameaça à fé verdadeira e o povo de Deus deve estar
sempre alerta a esse perigo. G.E. Wrigth, no seu livro O Deus que Age, escreveu sobre a
necessidade que a Igreja tem do Antigo Testamento. Sobre a ameaça do paganismo ele
disse: "A igreja que desconhece o Antigo Testamento torna-se presa fácil do paganismo
e não pode dar resposta ou esperança ao homem em dilema desesperador"(11).
O último código das leis na Torá é a lei deuteronomista. O Livro de deuteronômio
é muitas vezes confundido com um livro que, meramente, repete a lei anterior em outras
palavras. O próprio título sugere isso, pois, Deuteronômio quer dizer "segunda lei". Mas,
uma leitura do livro mostra que esse livro não é simplesmente uma repetição da lei, mas
uma releitura da lei num contexto diferente. A lei deuteronomista foi dirigida a um povo
na véspera da conquista da terra de Canaã.
As necessidades desse povo foram específicas e a releitura da lei visou essas
necessidades. Neste novo contexto o povo precisava de uma exortação firme e forte contra
os perigos de compromisso religioso com os habitantes da terra (cf. Dt 7.2,26). As leis de
Deuteronômio têm características de exortação à obediência e não simplesmente de
orientações religiosas e restrições culturais. Há no livro de Deuteronômio um dinamismo
que leva o leitor a entender que as leis de Deus não são estáticas e paradas no tempo mas
têm um aspecto dinâmico e vivo. São leis que podem e devem ser re-interpretadas para
cada nova geração.
A TEOLOGIA DA TORÁ
A Torá é o nome judaico dado aos cinco primeiros livros da Bíblia. Estes livros
são fundamentais para todos os outros da Bíblia, inclusive os do Novo Testamento.
Contém a história, a orientação moral e as leis primordiais de Israel, sem as quais o povo,
sua história, sua religião e sua existência não fazem nenhum sentido. O cristianismo
também não tem nenhuma base firme sem ela, sendo que nasceu dentro do judaísmo.
A Torá é ligada a figura de Moisés, o libertador, profeta, e legislador de Israel.
Todavia, por tão importante que seja Moisés à Torá, não é ele o personagem de principal
destaque dentro da Torá, mas sim esse personagem é Iavé, o Deus de Israel e o Deus e
Pai do Senhor Jesus Cristo. De fato, Iavé é tão importante para o Novo Testamento como
é para o Antigo, pois até o nome Jesus(sua forma hebraica é "Josué") significa "a salvação
de Iavé"(12).
Quer dizer que Iavé veio em Jesus para a salvação de seu povo de seus pecados.
O único Deus verdadeiro se fazia conhecer aos heróis da Bíblia, e o registro inspirado
daquela história primitiva de salvação é encontrada na Torá. Teologia tem que ver com
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o estudo de Deus em suas relações com o mundo que criou. Quais são as apresentações
principais dessa teologia que se encontra na Torá? Confesso que seja quase impossível
uma delimitação adequada diante da revelação da Torá.
Torá vem do verbo iarah cujos sentidos básicos são lançar (Js 18.6; Êx 15.4) e
atirar (Êx 19.13; I Sm 20.36). Mas no seu uso causativo, o verbo significa aponta com o
dedo ou gesticular com a mão, como faz quem ensina os outros, e assim chega a significar
ensinar (Gênesis 46.28; Êx 35.34; Pv 4.4; I Sm 12.23; Dt 33.10; 17.10,11). Desta maneira,
a palavra significa "mostrar o caminho", ou "ensinar"(14). Torá, então, é instrução (15),
e no contexto de instrução baseada na revelação de Deus é instrução normativa ou direção
normativa. Pode levar o sentido de lei, mas a Lei como nome pelos primeiros cinco livros
da Bíblia deve ser entendida em sentido amplo ao invés de mandamentos e legislação
obrigatória. Portanto, o título Torá leva um sentido abrangente que é melhor descrito pela
frase "orientação normativa".
Outra qualificação de Torá que deve ser reconhecida trata dela como pertencente
ao contexto da aliança, berit ( Êx 19.5,6; 24.4,7,8; Dt 5.1,2). A aliança é um acordo solene
entre duas partes que marca o início de um novo relacionamento entre elas. A relação
sempre conta com condições e compromissos, como ilustrados, por exemplo, no
casamento de um homem e uma mulher. A aliança antecedeu a lei, e a lei foi dada somente
à nação que tinha entrado na aliança com Deus.
As estipulações da aliança constituem o conteúdo da lei e espelham as regras da
nova relação. A quebra de um é a quebra do outro, porque são intimamente ligadas. A lei,
entendida sob este prisma, é resguardada até certo ponto de uma interpretação meramente
legalista. A aliança foi estabelecida com a nação, cedendo cada um a responsabilidade de
entrar de coração na nova relação com Deus. A própria Torá, entretanto, indica que muitos
não se aproveitam de seu privilégio (Dt 29. 10-13; 30. 6-10).
"(...) quem há de toda a carne, que tenha ouvido a voz do Deus vivente a falar do
meio do fogo, como nós a ouvimos...?", indagou Moisés (Dt 5.26). Este conceito do Deus
vivo recebeu enlevo especial num meio ambiente caracterizado pela abundância de
deuses representado por imagens esculpidas. Iavé foi considerado vivo por causa de seus
feitos na vida de Israel. Dentro do contexto de Iavé planejar em fazer Israel atravessar o
Jordão a pé enxuto, Josué afirmou o seguinte ao povo: "(...) Nisto conhecereis que o Deus
vivo está no meio de vós, e que certamente expulsará de diante de vós os cananeus..."(Js
3.9,10). Teria sido quase impossível não conceitualizar Iavé como após as intervenções
dele no Egito por meio das dez pragas.
Os egípcios conceberam os seus deuses como vivos, pois adoravam o sol, os
animais, o rio Nilo e o próprio Faraó, mas chegaram a entender que Iavé era vivo numa
dimensão muito superior. Moisés salientou, entretanto, que o Deus vivo é invisível aos
olhos do seu povo, mesmo quando fez a sua aliança com eles: "(...) porque não vistes
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forma alguma no dia em que o Senhor vosso Deus, em Horebe, falou convosco do meio
do fogo; para que não vos corrompais, fazendo para vós alguma imagem esculpida, na
forma de qualquer figura (...)"(Dt 2.15,16).
Ele se mostra vivo tanto na experiência individual dos homens de fé como Moisés
como nos formativos eventos históricos do povo. Por esta razão, a Torá, em conjunto com
o AT todo, focaliza os atos, ou feitos de Iavé, dando proeminência àquele do livramento
da escravidão egípcia (Êx 3.8; 15.1-13; Sl 103.7; Sl 106.7-10; Êx 12.12; 32.4; Dt 5.26;
7.8; I Rs 18.22-24). Ele é o Senhor da história humana, o Deus que age tanto por atos de
salvação como por atos de juízos para outros, em dependência da relação com ele ser reta
ou deturpada.
A Torá apresenta Deus pela primeira vez por afirmar, "No princípio criou Deus
os céus e a terra", isto é, criou o universo no seu aspecto material (Gênesis 1.1). Logo
indica que Ele criou também a vida animal (Gênesis 1.21). Chega ao seu enfoque por
definir que Ele "(...) criou o homem à sua imagem:(...) macho e fêmea os criou"(Gênesis
1.27). Por abençoá-los dizendo: "frutificai-vos e multiplicai-vos", Deus implicou na
participação contínua dele na criação da espécie.
A Torá ensina que a raça humana, as fêmeas tanto quanto os machos, têm sua
origem no ato criador de Deus (Gn 1.27). A respeito do papel que as causas secundárias
podem ter tido no início como reconhecidamente têm na criação contínua da raça: os pais
geram os filhos por razão da bênção eficaz do Criador. Neste retrato interpretativo da
criação, Deus é que tem o papel essencial e predominante.
Por revelar-se como vivo, atuante, criador e Senhor da história, Iavé se mostrou
como incomparável em relação a todos os outros deuses do mundo antigo. O Baal de
Canaã, por exemplo, era muito, pois em cada localidade ele foi conhecido por nome
regional e em termos de uma imagem específica localizada lá. Iavé, por outro lado,
exercia sua autoridade em todas as regiões e isto invisivelmente sem imagens
representativas, e assim, se revelou de ser o único em sua categoria.
Por demonstrar sua autoridade sobre os deuses falsos, as forças da natureza, os
poderosos reis e os eventos históricos, Iavé foi concebido como incomparável em todas
as terras e circunstâncias experimentadas pelos heróis da fé. Foi só mais um passo para
concluir, ao contrário dos deuses egípcios e cananeus, ele foi só e único em relação às
outras divindades. Assim, Moisés o definiu da seguinte maneira: "Iavé é o nosso Deus;
Iavé é um"(Dt 6.4).
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Iavé é o Deus Ético
Abrão reconheceu o seu Deus, Iavé, no "Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da
terra"(Gênesis 14.19), de Melquisedeque, rei de Salém(14.22). Deus tinha chamado
Abrão desde Ur dos Caldeus (11.31; 12.1) e tinha feito uma aliança com ele e sua
descendência (15.18; 17.7-10), mudando-lhe o nome para Abraão (17.4-5). Foi este
Abraão que, ao saber da iminente destruição divina sobre as pecaminosas cidades de
Sodoma e Gomorra, fez intercessão a Deus em prol dos "justos" delas (18.20-23). Ele
apelou para a justiça de Deus ao dizer, "Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo
com o ímpio, de modo que seja o justo como o ímpio(...) Não fará justiça o Juiz de toda
a terra?"(18.25). Sem dúvida, Abraão revela assim o seu conceito do caráter ético de
Deus.
Iavé é Rei
Embora não seja indicado na Torá quando o conceito de rei e reino surgiram na
história, é claro que desde Abraão o povo da Torá tinha conhecimento de tal realidade
(Gênesis 14). Tem sido provado que a forma estilística e a linguagem empregadas na
narrativa sobre a instituição da aliança com Israel (Êx 20-24), tem seu pano de fundo nos
tratados entre o grande rei e o rei vassalo. O conceito de reino de Deus entre os israelitas
teve sua origem em conjunto com a aliança feita com Israel em Monte Sinai (19). John
Bright afirmou: "A aliança significava a aceitação por Israel da soberania de Iavé, e foi
justamente aqui que começou a noção do domínio de Deus, tão central ao pensamento de
ambos os Testamentos"(20). Êxodo 24.9-13 retrata a manifestação da corte celestial do
Rei Iavé. Sendo o Criador e o Remidor de Israel, Iavé tinha todo o direito a se mostrar
como o seu rei (Êx 20.1-2).
Alguma vez você já imaginou uma Bíblia que não inclui-se as histórias de Josué,
Sansão, Daví e Elias? Seria uma Bíblia imensamente empobrecida, muuito menos
interessante; uma Bíblia que necessitaria dos livros históricos.A que se referem os livros
históricos? Constituem a segunda divisão do Antigo Testamento, que começa com Josué
e termina com Ester. Chaman-se históricos, porque em seu conteúdo predomina a história
do povo do pacto. (O Pentateuco começa a história sagrada, mas em parte também trata
sobre a legislação e por isso não se inclui entre os livros históricos). Estes livros narram
a conquista de Canaã e o estabelecimento de Israel nesse país, seu posterior florescimento,
decadência e queda, relatam também o cativeiro babilônico e a restauração do povo à
Palestina.
Abrange aproximadamente um período de 800 a 1000 anos: desde a invasão
efetuada por Josué no século XV ou possivelmente no séc. III a.C., até Neemias, em
meados do séc. Xa.C.Na Bíblia podemos ver Deus como o principal protagonista da
história; só Ele dá significado aos acontecimentos. Através da História de Israel - seus
acontecimentos, suas guerras e seus ressurgimentos espirituais – Deus se manifesta
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realizando seus elevados propósitos, e até lançando mão de potências pagãs para castigar
e libertar seu povo. O Antigo Testamento relata sete acontecimentos transcendentes
realizados por Deus:
1) Deus escolheu Abraão para formar um povo especial: Ele lhe fez grandes
promessas e estabeleceu um pacto com Ele;
2) Livrou com um notável poder sobrenatural os hebreus da escravidão egípcia;
3) Estabeleceu um relacionamento intimo e único com os hebreus no Sinai, fazendo
um pacto com eles, entregando-lhes a Lei e o modelo do tabernáculo;
4) Entregou Canãa como um presente aos hebreus, mediante a conquista dirigida por
Josué;
5) Inaugurou a Monarquia Hebraica e, em especial, estabrleceu a monarquia
Davídica;
6) Disciplinou aos hebreus apóstatas entregando-lhes aos caldeus, que os deportaram
para a Babilônia;
7) Restaurou os fiéis à terra de Canaã mediante um decreto de Ciro, o grande rei
persa.
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CAUSAS EXTERNAS E INTERNAS DO SURGIMENTO DA MONARQUIA
REIS DE ISRAEL
Duração do
Nome Reinado Referência
(Anos)
Jeroboão I 22 1 Reis 11:26-14:20
Nadabe 2 1 Reis 15:25-28
Baasa 24 1 Reis 15:27-16:7
Ela 2 1 Reis 16:6-14
Zinri (7 dias) 1 Reis 16:9-20
Onri 12 1 Reis 16:15-28
Acabe 21 1 Reis 16:28-22:40
Acazias 1 1 Reis 22:40—2 Reis 1:18
Jorão
11 2 Reis 3:1-9:25
(Jeorão)
Jeú 28 2 Reis 9:1-10:36
Jeoacaz 16 2 Reis 13:1-9
Jeoás (Joás) 16 2 Reis 13:10-14:16
Jeroboão II 40 2 Reis 14:23-29
Zacarias (6 meses) 2 Reis 14:29-15:12
Salum (l mês) 2 Reis 15:10-15
Menaém 10 2 Reis 15:14-22
Pecaías 2 2 Reis 15:22-26
13
Peca 20 2 Reis 15:27-31
Oséias 9 2 Reis 15:30-17:6
Reis de Judá
Roboão 17 1 Reis 11:42-14:31
Egito 1600-1200 AC
Assíria 900-607 AC
Babilônia (o neo-império) 606-536 AC
Pérsia 536-331 AC
Grécia 331-146 AC
Roma 146 AC - 476 AD
REINO UNIDO
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prometeu o reino à família de Davi para sempre (1 Samuel 16:1-13; 2 Samuel 7:12-16).
Não obstante, Saul continuou como rei por muitos anos.
Após a morte de Saul, o rei Davi trouxe a arca da aliança para Jerusalém (cf.
Deuteronômio 12:1-14; 2 Samuel 6:1-11). Tratava-se de uma caixa de madeira contendo
as tábuas de pedra nas quais Deus escrevera para Moisés os Dez Mandamentos. Os
israelitas a haviam transportado consigo durante os anos de peregrinação no deserto, e
prezavam-na como um objeto sagrado. Abrigando a arca, a capital do reino de Davi se
tornaria o centro espiritual da nação, bem como o seu centro político.
Davi reunia as qualidades que o povo buscava — habilidade militar, sagacidade
política e agudo senso de dever religioso. Havia tornado Israel a nação mais forte e mais
segura do que nunca antes. Mas Davi era um ser humano, com fraquezas como toda gente.
Ele entretinha a idéia de iniciar um harém, à semelhança dos outros reis, e planejou o
assassínio de um oficial de seu exército com o fito de casar-se com a esposa dele, a qual
havia seduzido. Fez um recensea-mento dos homens de Israel porque já confiava mais na
força do seu exército do que em Deus. Por esses pecados Deus castigou a Davi e com ele
Israel. Davi, por ser o chefe da nação, ao pecar contra Deus todo o povo sofria o castigo.
Salomão, filho de Davi, foi o próximo rei de Israel. A despeito da lendária
sabedoria de Salomão, ele nem sempre viveu sabiamente. Ele executou o plano político
de Davi, fortalecendo seu poderio sobre os territórios conquistados pelo pai. Ele era um
arguto homem de negócios, e fez alguns acordos comerciais que proporcionaram grande
riqueza a Israel (1 Reis 10:14-15). Deus também usou a Salomão para construir o grande
templo em Jerusalém (cf. Deuteronômio 12:1-14).
Mas o pródigo estilo de vida de Salomão aumentou o peso dos impostos sobre o
povo em geral. Salomão herdou do pai a atração por mulheres, e concluiu transações
comerciais com reis estrangeiros que envolviam "casamentos políticos", e desse modo
formou um harém de esposas oriundas de muitas terras (1 Reis 11:1-8). Essas esposas
pagãs induziram-no a adorar deuses pagãos, e não demorou para que ele estabelecesse
seus ritos e cerimônias em Jerusalém.
O REINO DIVIDIDO
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impérios pagãos da Assíria e da Babilônia destruíssem a ambos os reinos e levassem os
seus povos para o exílio.
Dois importantes dirigentes surgiram no tempo da divisão do reino. O primeiro
foi o profeta Elias, que se destaca como um personagem singularmente austero na história
bíblica. Não sabemos de onde ele veio; simplesmente apareceu perante o malvado Acabe
e declarou que Deus traria uma longa seca por causa da perversidade do povo. Elias fugiu
para o deserto e se deteve junto ao ribeiro de Querite, onde Deus miraculosamente proveu-
lhe alimento. Havendo o ribeiro secado, Deus o enviou para socorrer a viúva de Sarepta,
que sofria as conseqüências da seca.
Ela estava quase sem alimento quando o profeta chegou à sua porta, mas de
qualquer modo ela lhe deu o que comer. Levando esse fato em consideração, o homem
de Deus resolveu permanecer na casa e os milagres se sucederam: os suprimentos da
viúva nunca se esgotaram enquanto o profeta esteve ali, e havendo morrido o filho dela,
Elias o ressuscitou. Então Elias voltou à presença do rei Acabe e lhe disse que convocasse
todos os profetas do deus pagão Baal, a quem Jezabel, esposa de Acabe, adorava, para
encontrar-se com ele no monte Carmelo.
Aqui desafiou os profetas para uma competição: provar qual deus era mais forte.
Elias pediu a Deus que enviasse fogo do céu para acender o fogo de um sacrifício sobre
uma pilha de lenha molhada. Deus atendeu ao pedido, e Elias matou os falsos profetas
(cf. Deuteronômio 13:5). A seguir o profeta pediu a Deus que suspendesse a seca, e Deus
enviou uma grande chuva. Elias sentiu-se tão feliz que saiu em disparada para os portões
de Jezreel, correndo mais do que o rei e seus carros. As ameaças de Jezabel deixaram
Elias tão desanimado e amedrontado que ele pediu a Deus que o deixasse morrer. Deus,
porém, ao invés de atendê-lo, enviou anjos para servi-lo e ordenou-lhe que recrutasse dois
futuros reis e seu próprio sucessor. Elias obedeceu, indicando um lavrador por nome
Eliseu para ser o novo profeta.
Divisão do Reino (931) Reforma de Asa em O faraó Sisaque invade a Palestina (925)
Judá (910)
Onri faz Samaria sua Capital (879) Assíria começa sua ascensão ao poder
Acabe e Jezabel levam Israel à idolatria (c. de 900)
900
(c. de 870) A batalha de Qarqar (853)
a.C
Elias e Eliseu Tiro paga tributo a Salmaneser III (841)
Jeú paga tributo a Salmaneser III (841)
Bandos de moabitas invadem Israel (795) Assíria destrói Damasco (732) Tiro cai nas máos da
800 Uzias ferido de lepra (c de 750) Começo do Assíria (723) Senaqueribe invade Judá (701)
a.C ministério de Isalas (c. de 739) A queda de
Israel (723)
Manasses levado para a Babilônia (c. de 648) Esar-Hadom da Assíria captura Sidom (677) Egito
700
Jeremias começa seu ministério (c. de 627) derruba seus governantes etíopes (663) Nabopolassar
a.C
destrona os assírios (625) Queda de Nínive (612)
16
reforma de Josias (621) Daniel e seus amigos
levados para a Babilônia (605).
700 Queda de Jerusalém (597) Queda de Judá e o Nabucodonosor invade o Egito (568)
a.C Exílio (586)
18
repreensão aos reis ou à corte por suas injustiças, como no caso de natã (um roeh)
repreendendo a Davi.
No período do reino dividido profetas surgiram e advertiram o povo de um modo
geral. Durante a apostasia que tomou conta da nação israelita vemos a veemência com
que Elias e Eliseu proclamam mensagens de Deus contra a impiedade dos líderes e os
pecados por eles cometidos. Na época do reino do norte, o movimento era bastante
extenso, a ponto de haver grupos de cinqüenta profetas num só lugar, como Betel. O reino
do norte teve o fim trágico anunciado pelos profetas exatamente porque não dera ouvido
aos seus oráculos. Judá também não escapa da infidelidade e caí nas mãos dos seus
inimigos e é levado ao exílio.
19
dos citas. Eles vieram do norte em mais ou menos 630 para o domínio Assírio. Tal invasão
criou problemas pois esse povo era bárbaro; c) Mudanças políticas dentro do Império uma
vez que os babilônios se rebelaram contra os assírios em 626(a esta altura Judá não havia
sofrido nenhuma influência) e estabelecem uma dominação de maneira ampla. Os porta-
vozes de Deus neste período foram: Jeremias, Sofonias, Naum e Habacuque.
Judá caiu em 586, 136 anos depois de Israel. A razão disso foi a promessa de Deus
a Davi. Se todos os reis de Judá e Israel tivessem seguido o caminho de Davi, a história
de Israel teria sido completamente outra. Os mesmos pecados pelos quais Israel foi punido
trouxeram punição a Judá também. A punição para Judá, no entanto, não foi a mesma que
veio sobre Israel. A nação de Judá foi punida numa atitude educativa de Deus, para
correção, porque Deus desejava que ainda um remanescente fiel e santo permanecesse
para cumprir seus propósitos. Deus é o grande dirigente da história, e não deixará o mundo
sem salvação.
20
tanto como não há necessidade de negar uma data no segundo século pela formação do
livro como nos chegou"(30). O objetivo do livro foi o de registrar a história de Daniel e
suas profecias. Aquela, como exemplo de santidade e fidelidade a Deus. Estas, como
advertência e testemunho de Deus aos homens.
21
individual. Além disso, mostra ao povo a realidade da presença de Deus entre os exilados
(contrariando o conceito de um Deus nacional preso ao Templo).
Assim como outros companheiros de profissão ele é um proclamador de
julgamento e esperança. Os profetas da restauração (Ageu, Zacarias, Malaquias e Joel)
procuraram construir no povo que retornava do cativeiro uma vida relevante diante de
Deus. Destacaram os seguintes temas: as origens dos males sociais; a conversão de Israel
para obedecer a Deus; a religião que agrada a Deus; o culto que agrada a Deus; os futuros
líderes do povo de Deus; a bênção do sustento da obra; o juízo final; o messias; etc.
22
de Deus que ele recebera aos hebreus e não a crentes do século vinte especificamente. 2)
O contexto da Aliança = a maioria dos profetas chamava o povo de volta às obrigações
da Aliança mosaica. O profeta chamou a atenção do povo para as suas obrigações que
estavam sendo deixadas de lado. 3) O alvo = é mais importante do que o tempo necessário
para alcançá-lo. As vezes nem o próprio profeta sabia quando a profecia ia se cumprir. 4)
O núcleo central = toda profecia tem um núcleo central. Quando a idéia principal se
cumpre podemos dizer que toda a profecia foi cumprida.
23
Características da Poesia Hebraica (e da Semita de um modo geral).
24
A figura de uma corrente é também um exemplo do paralelismo sintético: "O-que-
deixou a-locusta-cortadora o-comeu a-voadora; e-o-que-deixou a-voadora o-comeu a
devoradora;e-o-que-deixou a-devoradora o-comeu a destruidora" (Joel 1.4). Esse
paralelismo tem o propósito de retratar o juízo que vem em etapas e que é completo.
Paralelismo Inverso = esta é uma forma de paralelismo onde as frases são
arranjadas quiasticamente. "O que trabalha com mão remissa empobrece; mas a mão do
diligente enriquece.
Quem ajunta no verão é filho prudente; mas o que dorme na sega é filho que envergonha"
(Provérbios 10.4,5) "Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração,
sim o meu próprio; e exultará o meu coração, quando os teus lábios falarem coisas retas"
(Provérbios 23.15,16).
Certo é que a variedade da poesia hebraica é quase sem fim. Eis alguns exemplos
de mistura de paralelismos:"Ouvi a-palavra-de-Iaweh, governadores-de Sodoma; daí-
ouvidos à-Torá-do-nosso-Deus, ó-povo-de Gomorra"(Isaías 1.10). Claramente a primeira
linha e a terceira são paralelas em sentido, enquanto a segunda e a quarta mostram
também idéias paralelas. "Conhece o-boi o-seu-possuidor, e-o-jumento a-manjedoura-do
seu dono; mas-Israel não tem-conhecimento,o-meu-povo não entende"(Isaías 1.3). As
duas primeiras linhas tanto como as duas últimas linhas são paralelismo sinônimo,
enquanto as duas primeiras em conjunto formam um paralelismo antitético com as duas
últimas linhas.
25
Anotações:
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ATIVIDADE
26
Teologicamente a TORÁ é:
a. O nome grego dado aos livros de Gênesis, Exôdo, Levitico e Deuteronômio.
b. O nome hebraico dado aos quatro primeiros livros da Bíblia;
c. O nome judaico dado aos cinco primeiros livros da Bíblia;
d. O nome judaico dado aos quatro primeiros livros da Bíblia;
9. Marque um dos sete acontecimentos transcendentes realizados por Deus no
A.T.
a. Escolheu Abrão para formar um povo especial, fez promessas e um pacto;
b. Deixou o povo hebreu no Egito como escravo;
c. Entregou a Lei uma só vez a Moisés e o modelo do tabernáculo;
d. Restaurou aos cananeus suas terras mediante o decreto do rei Ciro;
MARQUE A OPÇÃOINCORRETA.
10. Qual a importância da profecia dentro do processo de revelação de Deus?
a. Transmitir a Palavra recebida de Deus ao povo;
b. Alertar quando o povo transgredia os mandamentos dos perigos à nação;
c. Alertar o povo para o princípio da responsabilidade individual;
d. Só falavam do futuro sem se preocupar com as condições do momento.
27
PANORTAMA DO NOVO testamento
O Período Interbíblico
28
igreja, nenhum deles foi incorporado a tal coleção. "Mesmo que já houvesse uma coleção das
epístolas paulinas no fim do I século, ela não era encarada como ‘’Sagrada Escritura’"(3). Mas
Jesus e o cristianismo primitivo nunca dispensaram a Sagrada Escritura: eles consideravam o
Antigo Testamento como as "escrituras", que provinham do judaísmo e que eram citadas em
todas as partes do Cânon Vetero-Testamentário. A revelação de Deus fora conservada de forma
escrita, como se mostrava evidente para a igreja primitiva bem no início de sua existência.
A história da formação daquilo que é conhecido como o cânon do Novo Testamento é a
história da exigência de uma autoridade (4). No final do século I os livros já haviam chegado ao
seu destino. Nem todos se tornaram conhecidos por todos os cristãos logo de início. Pelo
contrário, é muito provável que alguns dos cristãos primitivos não tivessem visto todos os
evangelhos, nem todas as epístolas antes do fim do século. Além disso, muitos evangelhos, atos
e epístolas apócrifas circulavam durante o segundo século e foram aceitos por alguns grupos,
senão não teriam sequer sobrevivido. A valiosa literatura dos cristãos primitivos que
expressavam sua fé e dedicação era preservada pelas congregações em todo o império romano.
Esta autoridade canônica repousava sobre o testemunho ocular de doze homens (5).
Para o homem do século vinte, o processo de canonização poderá parecer de lenta
evolução; todavia, levando em consideração a dificuldade de se conseguir livros feitos com
cópias manuscritas e também a morosidade em se fazer viagens, tal processo foi rápido e
extraordinário. O valor, a divina inspiração, a morte das testemunhas oculares, os ensinos de
Jesus, tornaram o processo de preservação dos livros mais importante. É neste prisma que
desejo esboçar algumas ideias a respeito da formação do cânon do Novo Testamento, não quero
promover um tratado sobre o assunto, e por isso procurarei ser breve e objetivo nas abordagens
e considerações que visam pesquisá-lo histórica e criticamente.
1. Definição
A palavra Kanwn, significava primitivamente vara ou régua de uma maneira especial era
usada para medir algo em linha reta, à semelhança da linha ou régua dos pedreiros e
carpinteiros. Passou a significar metaforicamente um padrão (6). Em gramática significava uma
regra; em cronologia, uma tabela de datas; em literatura uma lista de obras que podiam ser
corretamente atribuídas a um determinado autor. Assim o cânon de Platão refere-se à lista de
tratados que podem ser atribuídos à Platão como genuinamente de sua autoria. O processo
bíblico pelo qual os livros foram escolhidos é então chamado de canonização.
Os cânones literários são importantes, porque só as obras literárias genuínas de um
autor podem revelar o seu pensamento. Num embate entre as heresias, as literaturas pagãs e
as doutrinas defendidas pela igreja surge então a necessidade de serem avaliados os livros ou
escritos que circulavam no contexto clerical. Sendo assim a palavra cânon passou a denotar o
conteúdo das escrituras. "Cânon, finalmente, é o corpo de escritos havidos por únicos possuídos
de autoridade normativa para a fé cristã, em contraste com escritos que não o são ainda que
contemporâneos"(7).
2. O Critério Canônico
Moule nos sugere que: "se perguntarmos quais os critérios que a igreja,
conscientemente, havia aplicado para provar a autenticidade dos seus escritos, descobriremos
que tais critérios são determinados pela controvérsia com heréticos e incrédulos"(8). A
controvérsia com os grupos heréticos logo após a morte dos apóstolos, foi um fator que resultou
no interesse da igreja em possuir uma literatura autorizada. Documentos que fossem fidedignos
, que estivessem acima das mudanças, isto é, que fossem incorruptíveis. Pois a igreja que se
desenvolvia e se expandia precisava de uma liderança em questões de fé e de prática. Deus
resolveu a problemática por meio do Espírito Santo, o Espírito da verdade, que guiou os
apóstolos e a igreja em desenvolver e canonizar a palavra inspirada e autorizada.
Assim, os livros que chamamos de Novo Testamento foram escritos; eles foram
amplamente lidos; foram aceitos pelas igrejas como úteis para a vida e a doutrina; foram
introduzidos na adoração pública da igreja; ganharam aceitação através de toda a igreja e não
29
apenas das congregações locais; e foram oficialmente aprovados mediante decisão formal da
igreja(9). Porém, a igreja estabeleceu alguns critérios(10) para selecionar os escritos, dentre os
quais destacaremos:
A APOSTOLICIDADE: O material em consideração pela comunidade eclesiástica
deveria ter sido redigido por um dos doze que conviveram com Jesus. "O livro deveria ter sido
escrito por um apóstolo ou baseado em seu testemunho ocular. Os apóstolos eram tanto
testemunhas oculares pessoais do ministério de Cristo como os primeiros líderes da Sua
igreja"(11). Assim sendo o testemunho deles tornou-se a primeira autoridade nesta nova
comunidade de fé. Já que estes ficaram com a responsabilidade de instruir os novos discípulos
seu testemunho deveria ser aceito pela igreja como possuindo a autoridade de Jesus. Logo os
seus escritos deveriam ser aceitos. Se o escrito procedesse de alguém que não estivesse no
grupo dos doze mas que tivesse alguma relação com estes seria aceito. "Quanto aos evangelhos,
estes deveriam manter o padrão apostólico de doutrinas particularmente com referência à
encarnação e ser na realidade um evangelho e não porções de evangelhos, como tantos que
circulavam naquele tempo"(12).
A CATOLICIDADE: Este fator envolve a circulação, o uso e a aceitação do livro. Já que
não era fácil comprovar a autenticidade apostólica, esta característica auxiliou e muito a
confecção do Cânon. "Os autores tinham no geral seguidores em sua igreja e comunidade, mas
só os livros usados pela igreja inteira vieram a ser incluídos no Cânon. Como os pastores e
membros das várias congregações se comunicavam entre si, os livros mais usados se tornaram
obviamente conhecidos"(13). Como nem sempre era fácil demonstrar a autenticidade apostólica
do documento, nem mesmo sua derivação, o critério do uso e circulação veio colaborar na
aferição canônica. Existe a probabilidade de que certos escritos foram aceitos e circularam tendo
a autoridade antes mesmo de possuir qualquer tipo de relação com o grupo apostólico(14).
3. Os Primeiros Escritos
Os doze apóstolos eram o cânon e o foram enquanto viveram, já que a comunidade
cristã dos primórdios preferia a mensagem proferida oralmente por aquelas pessoas que
testificaram, estando presentes e participantes do ministério de Jesus. "Bem cedo na história da
comunidade cristã, quem sabe ainda dentro da quarta década do primeiro século, surgiram os
primeiros escritos que seriam a semente onde o Novo Testamento procede. Eram documentos
rudimentares, escritos provavelmente em aramaico, sendo que os testemunhos teriam de ser em
hebraico.
Esses testemunhos eram textos do Antigo Testamento catalogados pelos primitivos
missionários com a finalidade de provar o caráter messiânico da encarnação, ministério, morte e
ressurreição de Cristo. Muito destas listas de textos provas serviu à composição dos evangelhos.
O discurso de Estevão em Atos revela a influência destas listas organizadas. O cânon para a
escolha desses textos eram naturalmente os apóstolos"(16).
A necessidade de se responder as dúvidas e dificuldades de algumas igrejas e de alguns
líderes, promoveu o surgimento de cartas e tratados dos apóstolos orientando-os na forma de
agir. Tendo como precursor Marcos inicia-se a produção dos Evangelhos canônicos e série
30
extensas de apócrifos, entre os quais alguns são conhecidos(17). Em nenhuma das
circunstâncias houve a intenção de suplementar o Antigo Testamento que eram as Escrituras.
E as coleções a respeito de Jesus, repleta de parábolas e narrativas, foram copiadas
muitas vezes e entregues às várias congregações para serem lidas. "Nenhum livro seria admitido
para a leitura pública na igreja se não possuísse características próprias. Muitos outros livros
circulavam quando Mateus começou a ser usado pelos cristãos(18). Estas compilações
acrescentaram o número de material evangélico. No entanto o testemunho vivo dos apóstolos
era o mais preferido.
4. O Surgimento de um Cânon
A coletânea dos textos cristãos primitivos que estava começando a ser feita trouxe um
estímulo à evolução desse processo. Muito provavelmente, no fim do século I, já havia uma
coleção das dez epístolas de Paulo. De concreto sabemos que uma coleção de dez epístolas
paulinas só aparecem claramente confirmada com Marcião, por volta do ano 140, mas é bem
pouco provável que Marcião tenha sido o primeiro a reunir tais epístolas. O cânon de Marcião foi
o primeiro a ser adotado por um grupo de seguidores de Marcião(19).
O cânon de Marcião provocou uma reação violenta no seio da igreja. "Como é natural, a
igreja nunca aceitou o cânon de Marcião como legítimo, Este falso cânon levantou, porém, duas
questões. Primeira, que livros eram legitimamente a palavra de Deus? E segunda, como a igreja
poderia proteger o uso errado das cartas de Paulo, como aconteceu com Marcião, no futuro?
Para resolver a primeira pergunta os líderes da igreja começaram a estudar a questão do cânon.
Para tratar da segunda, as igrejas começaram a colocar Atos antes das epístolas de Paulo"(20).
O fato de rejeitar certos livros mostrava que tinham sido considerados como revestidos
de autoridade no tempo de Marcião e os oponentes deste acorreram em defesa dos livros que
ele rejeitava. Irineu atacou-o(21), e Tertuliano escreveu cinco livros contra os seus erros. A
organização arbitrária de um cânon por Marcião mostrou que: os livros aceitos deviam ser
considerados como autênticos; e que aqueles que rejeitara eram aceitos como canônicos pelos
cristãos em geral.
Por volta de 150 A.D. a igreja não tinha o seu cânon formalmente expresso; contudo,
referências prévias mostraram que a maioria dos livros do Novo Testamento estava praticamente
em uso da Síria, na Ásia Menor e em Roma; já na metade do século II, a força do cristianismo
se havia transferido para Roma, a cidade imperial. Os ensinos heréticos de Marcião, sua adoção
de um cânon e a popularidade dos seus ensinos poderiam ter forçado a igreja a reconhecer
formalmente um Cânon.
O cânon Muratoriano(22) embora seja um documento fragmentário revela que já havia
uma lista do Novo Testamento, provavelmente em oposição ao cânon herético de Marcião. O
Cânon muratoriano omite Tiago, 1 e 2 Pedro e Hebreus, o próprio manuscrito não é mais antigo
do que o século VII, mas o seu conteúdo pertence provavelmente ao último terço do século II,
cerca de 170 d.C. O fragmento muratoriano representa uma coleção oficial de livros que difere
do Novo Testamento atual apenas pela exclusão de quatro e a inclusão de um.
Nomes como Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria são mencionados pela história
da igreja como defensores de um Cânon do Novo Testamento. "Os três grandes teólogos do fim
do século II, pois, reconhecem um Novo Testamento que contém os quatro evangelhos e uma
parte apostólica, a qual pertencem incontestavelmente as 13 epístolas de Paulo, os Atos dos
apóstolos, a 1 carta de Pedro, a 1 carta de João e o Apocalipse, ao passo que a canonicidade
das cartas gerais e Hebreus não estavam determinadas, e ocasionalmente outros escritos eram
encarados e abordados canônicos(23).
Vale salientar que uma outra lista foi preparada por Cirilo de Jerusalém contendo todos
os livros atuais do Novo Testamento com exceção de Apocalipse(24). O Cânon do Novo
Testamento que obteve finalmente a aprovação em toda a igreja foi estabelecido por Atanásio,
bispo de Alexandria, em 367 A.D. que em sua carta pascal(25) desse ano fez uma declaração
importante para a história do Novo Testamento. Esta lista foi mais tarde aprovada pelos concílios
da igreja reunidos em Hippo Regius em 393 e Cártago em 397, e permanece sendo o cânon do
31
Novo Testamento hoje. O que os concílios da igreja fizeram não foi impor algo novo sobre as
comunidades cristãs, mas codificar o que já era a prática geral daquelas comunidades(26). Para
Barclay a "Bíblia e os livros da Bíblia vieram a ser considerados como a palavra inspirada de
Deus, não em vista de qualquer decisão de qualquer Sínodo, Concílio, Comitê ou igreja, mas
porque neles a humanidade encontrou Deus(27).
32
A ORIGEM DOS EVANGELHOS
As Atividades de Jesus: Apesar de Jesus ter realizado muitas curas de enfermos, sua
principal atividade era de ensinar seus discípulos. Seus milagres provaram que ele possuía o
poder de Deus; portanto, deram a evidência de que o Reino estava próximo. Seus ensinos
enfatizaram o novo conceito de que a vitória no Reino se manifesta mediante o sofrimento e a
morte do Rei. E apresentou suas exigências aos cidadãos do Reino e qualidade de serviços que
seus discípulos teriam que prestar. Seus ensinos eram profundamente significativos e foram
consideravelmente entesourados por seus discípulos depois de sua morte.
A Incompreensão dos Discípulos: Os discípulos de Jesus tinham dificuldades em
entender os novos conceitos de Jesus sobre o Reino. Eram homens de sua época e que
esperavam um Messias político, vitorioso. A incompreensão de Pedro se revelou em ter rejeitado
a declaração de Jesus sobre sua Paixão, depois da grande confissão em Cesaréia de Filipe
(Mateus l6.22), por sua inveja de João e Tiago, que pediram posições especiais no Reino(Marcos
24), por ter negado Jesus quando no tribunal(Mateus 26.69 e ss.) e por seu inquérito sobre a
restauração do Reino, exatamente pouco antes da ascensão de Jesus(Atos 1.6). Pedro
provavelmente representou o pensamento de todos os discípulos ma maioria dessas ocasiões.
A Iluminação do Espírito Santo: De acordo com João 16.13, Jesus prometeu a vinda
do Espírito Santo para guiar os discípulos no conhecimento de toda a verdade. Pedro explicou
que depois da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes havia chegado a Nova Era do
Reino(Atos 2.1e ss.). Jesus não estava mais presente fisicamente com seus discípulos, todavia,
suas palavras tomaram nova significação para eles no dia de Pentecostes
A Ênfase Primitiva da Igreja: Na medida em que Jesus se afastava de seus discípulos,
na ascensão, dois homens lhes apareceram e perguntaram: Por que estais olhando para os
céus? Este mesmo Jesus que dentre vos foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes
subir(Atos 1.11). Na base desta mensagem e dos ensinos de Jesus, os discípulos não
esperavam um período prolongado antes da volta de Jesus. Depois que receberam a plenitude
do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, eles se compenetraram da urgência da tarefa delegada
por Jesus para que se pregasse o evangelho em todo o mundo. Sua morte tornou-se
compreensível como a provisão redentora para os pecados do homem. Sua ressurreição
possibilitou a continuação de sua presença e poder espiritual na edificação do Reino.
O Período de Transmissão Oral: A ênfase primitiva dos apóstolos era negar o
evangelho, e não registrá-lo(Atos 2.14 e ss.; 6.4). Utilizaram duas fontes para provar os judeus
que Jesus era o Messias: 1. Seu testemunho de experiências pessoais, inclusive o que eles
tinham visto Jesus fazer. 2. As escrituras do Velho Testamento, em primeiro lugar Isaías 40 e
versos que seguem, que prediziam o sofrimento e a morte do Servo escolhido de Deus.
A Igreja Primitiva mostrou relutância em escrever seus ensinos, por várias razões: 1. Os
cristãos primitivos esperavam um retorno de Cristo; portanto, despendiam seu tempo na
proclamação do evangelho. 2. Preferiam falar pessoalmente, a escrever(2 João 12). 3. Os
discípulos de Jesus foram escolhidos entre um grupo não literário da sociedade. 4. Os rabinos
preservaram seus ensinos oralmente e Jesus nada escreveu. 5. Os apóstolos que tinham sido
testemunhas oculares de Jesus estavam disponíveis enquanto o evangelho não se espalhasse
além da Judéia.
Pluralidade - Poderíamos ter 1 evangelho nas Escrituras e isso poderia ser satisfatório.
Contudo, Deus quis que fossem quatro. Esta pluralidade tem sua razão de ser e seu objetivo.
Um dos motivos nos parece ser o valor do número de testemunhas. A lei mosaica determinava
que o testemunho contra alguém deveria ser dado por duas ou três pessoas e nunca por uma só
(Dt.17.6). O mesmo princípio é utilizado por Cristo em Mt.18.16. O número de testemunhas é
importante na determinação da veracidade de um fato.
33
Assim, era importante que duas ou três testemunhas dessem testemunho sobre a vida,
a morte e a ressurreição de Jesus. Nos processos jurídicos as testemunhas continuam sendo
muito importantes até hoje. Em muitos casos não é possível a prova científica. Cabe então a
prova testemunhal. Todo testemunho deve ser registrado por escrito. Assim também aconteceu
com os relatos sobre Cristo. Alguns escritores dos evangelhos podem não ter sido testemunhas
oculares dos fatos ali narrados. Entretanto, escreveram o que as testemunhas disseram. A
pluralidade dos evangelhos é também valiosa por nos apresentar a mesma história vista sob
ângulos diferentes.
Objetividade - Os evangelhos foram escritos tendo-se em vista um objetivo definido:
anunciar as boas novas de salvação. Por esta causa, os escritores não se dedicaram a registrar
pormenores da vida de Cristo, sua infância, seus hábitos diários, seu trabalho na carpintaria, etc.
Eles se limitaram a mencionar a origem de Cristo (humana e divina), seu ministério
(ensinamentos, milagres), sua morte, ressurreição e ascensão. Uma grande parte de cada
evangelho se dedica a narrar os fatos da última semana do ministério de Cristo. (Veja João
21.25).
Unidade - Apesar de serem quatro os evangelhos, eles são harmônicos entre si. É
possível se construir um relato coerente reunindo os 4 evangelhos. Eles se completam.
Diversidade - Apesar da unidade entre os evangelhos, eles não são iguais. Se assim
fosse, não faria sentido a existência de quatro. Bastaria um. Existem diversas diferenças entre
eles. Contudo, diferença não significa contradição. São quatro relatos distintos sobre os mesmos
fatos. Algumas narrativas ou ensinamentos são apresentados exclusivamente por um escritor ou
apenas por dois ou por três ou pelos quatro E mesmo entre narrativas do mesmo fato, existem
diferenças entre os detalhes. Por exemplo, autor diz que Jesus curou um cego em Jericó. O outro
diz que foram dois cegos. Um não contradiz o outro. Se Jesus curou um cego, ele pode muito
bem ter curado outro.
A contradição haveria se um autor negasse a afirmação do outro. As diferenças podem
advir de várias causas. Duas narrativas normalmente relacionadas podem, na verdade, ser
referência a dois episódios distintos. Uma outra possibilidade é a omissão de algum detalhe, já
que tais relatos foram, no princípio, transmitidos oralmente. Assim, algum ponto poderia ser
esquecido por um narrador, mas lembrado por outro. Nesse processo, o que prevalece é a nossa
fé no cuidado divino para que a essência do evangelho chegasse a nós de forma íntegra. Entre
os evangelhos, observa-se maior semelhança entre Mateus, Marcos e Lucas. Por isso, são
chamados sinóticos, ou seja, possuidores da mesma ótica. Esse termo foi usado pela primeira
vez por J.J. Griesbach, em 1774. O evangelho de João, por sua vez, apresenta um estilo todo
particular.
Ordem- Os livros não se encontram dispostos em nossas Bíblias na mesma ordem em
que foram escritos. Além disso, os próprios fatos narrados não seguem ordem cronológica,
principalmente no livro de Mateus.
Motivos - Os evangelhos foram escritos para responder aos questionamentos da
comunidade do primeiro século e também para combater as mentiras dos inimigos a respeito de
Jesus. Os apóstolos começavam a morrer e tornava-se então imperioso que se registrassem
suas memórias sobre o Salvador. Além disso, existiram também os motivos particulares de cada
escritor, conforme veremos no estudo de cada livro.
Este é o título pelo qual tem sido chamado um dos livros da Bíblia desde o segundo
século dC. Abrange primariamente as atividades de Pedro e de Paulo, em vez de as de todos os
apóstolos em geral; e fornece-nos uma história muitíssimo fidedigna e abrangente do espetacular
começo e do rápido desenvolvimento da organização cristã, primeiro entre os judeus, e então
entre os samaritanos e as nações gentias.
O tema dominante da Bíblia inteira, o Reino de Deus, predomina no livro (At 1:3; 8:12;
14:22; 19:8; 20:25; 28:31) e somos constantemente lembrados de que os apóstolos deram
34
“testemunho cabal” a respeito de Cristo e desse Reino, e realizaram plenamente o seu ministério.
(2:40; 5:42; 8:25; 10:42; 20:21, 24; 23:11; 26:22; 28:23) O livro fornece também um notável fundo
histórico para se considerar as cartas inspiradas das Escrituras Gregas Cristãs.
O Escritor. As palavras iniciais de Atos referem-se ao Evangelho de Lucas como “o
primeiro relato”. E visto que ambos os relatos são dirigidos à mesma pessoa, Teófilo, sabemos
que Lucas, embora não assinasse seu nome, foi o escritor de Atos. (Lu 1:3; At 1:1) Ambos os
relatos têm estilo e linguagem similares. O Fragmento Muratoriano, de fins do segundo século
dC, também atribui a escrita a Lucas. Escritos eclesiásticos do segundo século dC, de Irineu de
Lião, de Clemente de Alexandria, e de Tertuliano de Cartago, quando citam Atos, mencionam
Lucas como o escritor.
Quando e Onde Foi Escrito. O livro abrange um período de aproximadamente 28 anos,
desde a ascensão de Jesus em 33 dC até o fim do segundo ano da prisão de Paulo em Roma,
por volta de 61 dC. Durante este período, quatro imperadores romanos governaram em
seqüência: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Visto que relata eventos decorridos no segundo
ano da prisão de Paulo em Roma, não poderia ter sido concluído antes disso.
O escritor Lucas acompanhou Paulo em grande parte do período das suas viagens,
inclusive na perigosa viagem a Roma, o que é evidente do uso que faz dos pronomes na primeira
pessoa do plural, “nós”, “nosso”, “nos”, em Atos 16:10-17; 20:5-15; 21:1-18; 27:1-37; 28:1-16.
Paulo, nas suas cartas escritas de Roma, menciona que Lucas também estava ali. (Col 4:14; Flm
24) Foi, por conseguinte, em Roma que se concluiu a escrita do livro de Atos.
Autenticidade. A exatidão do livro de Atos tem sido comprovada, no decorrer dos anos,
por várias descobertas arqueológicas. Por exemplo, Atos 13:7 diz que Sérgio Paulo era o
procônsul de Chipre. Ora, sabe-se que, pouco antes de Paulo visitar Chipre, esta era governada
por meio dum propretor ou legado, mas uma inscrição encontrada em Chipre prova que a ilha
passou a estar sob o governo direto do Senado romano, na pessoa de um governador provincial
chamado procônsul. Similarmente, na Grécia, durante o governo de Augusto César, a Acaia era
uma província sob o governo direto do Senado romano, mas, quando Tibério era imperador, ela
foi governada diretamente por ele.
Mais tarde, sob o imperador Cláudio, tornou-se novamente uma província senatorial,
segundo Tácito. Descobriu-se um fragmento dum rescrito de Cláudio aos délficos da Grécia, que
se refere ao proconsulado de Gálio. Por conseguinte, Atos 18:12 está correto ao falar de Gálio
como “procônsul” quando Paulo estava ali em Corinto, capital da Acaia. Também, uma inscrição
num arco em Tessalônica (inscrição de que se preservaram fragmentos no Museu Britânico)
mostra que Atos 17:8 está correto ao falar dos “governantes da cidade” (“poliarcas”,
governadores dos cidadãos), embora este título não seja encontrado na literatura clássica.
Até o dia de hoje, em Atenas, o Areópago, ou colina de Marte, onde Paulo pregou, ergue-
se como testemunha silenciosa da veracidade de Atos. (At 17:19) Termos e expressões médicas
encontradas em Atos estão de acordo com os escritores médicos gregos daquele tempo. Os
meios de viagem empregados no Oriente Médio, no primeiro século, eram essencialmente
conforme descritos em Atos: via terrestre, caminhadas, andar a cavalo ou em carros puxados a
cavalo (23:24, 31, 32; 8:27-38); via marítima, por navios de carga. (21:1-3; 27:1-5) Aquelas
embarcações antigas não possuíam um leme único, mas eram controladas por dois grandes
remos, daí estes serem mencionados com exatidão no plural. (27:40) A descrição da viagem de
Paulo, de navio, a Roma (27:1-44), no tocante ao tempo que durou, à distância percorrida e aos
lugares visitados, é reconhecida por marujos modernos, familiarizados com a região, como
inteiramente fidedigna e confiável.
35
Epistolário Paulino
Paulo deve ter nascido poucos anos antes de Cristo, pois escreve a Filêmon e lá diz que
era sexagenário (Fm 9). Nasceu em Tarso na Silícia (na Ásia Menor - Turquia de hoje): At 21,29.
Nasceu na Diáspora, da tribo de Benjamin. Era fariseu. Tinha traços da cultura helenística; em
Fm 3,5 ele fala de sua família. Era judeu e recebe a tradição religiosa de Israel. Além disto Paulo
era cidadão romano, o que o defende de determinados atos; por isso apela a César. Era cidadão
porque podia-se comprar a cidadania e seus pais compraram. Então Paulo recebe de casa a
tradição judaica, recebe da cidade a cultura grega e recebe a cidadania romana. Ele vai para
Jerusalém, onde se faz discípulo de Gamaliel (At 22,3; 5,34). Aprende o manejo das Escrituras
com Gamaliel. Eles tinham o hábito de cada um interpretar as Escrituras (cf. Ef 4,7-8; Rm 9,25-
33).
Era costume o rabino saber alguma profissão. Parece que a sua foi curtidor de pele. Por
isso dizia que o trabalhador é digno de seu salário.Após a ascensão do Senhor, Paulo persegue
os cristãos e na estrada de Damasco (na Síria) se converte, no ano 36 dC (At 9,1-18; 22,4-21;
1Cor 15,8). É barizado por Ananias. Ele agora quer pregar, só que não encontra eco, porque até
então perseguia os cristãos. Assim ele é frustrado em suas primeiras tentativas. Por conseguinte,
deixa Damasco e vai para Arábia, um deserto próximo a Damasco. E lá ficou três anos em retiro
(At 9,19-25; Gl 1,17-18) [Em Gálatas ele quer mostrar que não é discípulo de apóstolo mas de
Cristo; ele faz sua apologia].
Atos (9. 23) Ele quer pregar outra vez em Damasco e é outra vez rechaçado e nem
podia fugir, pois o queriam mataer. É um começo de vida apostólica bastante trágico. Ele deixa
Damasco e aí vai a Jerusalém para comparar seu Evangelho a Pedro, Tiago e João (At 9,26-28)
mas estes não o queriam receber, pois tinham medo. Barnabé é quem intercede em seu favor e
outra vez é rechaçado. Volta para Tarso e alí fica cerca de cinco anos (Gl 1,18-20). Está numa
situação obscura. Barnabé o vai procurar em Tarso para ajudá-lo na evangelização dos pagãos
na Antioquia, na Síria (é o 1º centro missionário pagão). Forma-se uma próspera comunidade
cristã recheada de pagãos (At 11,25s). Paulo passa um ano inteiro em Antioquia (Lucas era
antioqueno). Paulo agora é eleito sob a tutela de Barnabé.
No versículo 44 há fome em Jerusalém por causa da influência dos judeus da diáspora.
Daí a viagem da coleta a Jerusalém em At 11,27-30; 12,25.Aos poucos ele vai sendo aceito e já
pode empreender a primeira viagem missionária em 45-48 (At 13,1-3). Também vai João Marcos
com Paulo e Barnabé. Essa primeira viagem é tímida. Atravessam a ilha de Chipre, Paulo
tomando a dianteira vão à Ásia Menor (At 13-14). Foi um trabalho inédito, pois Paulo batizava
sem impor as leis de Moisés aos pagãos convertidos; isso vai levar ao martírio incruento de
Paulo, porque os judeus reclamam (os judaizantes). [Judaizantes: judeus convertidos ao
cristianismo e que querem guardar a lei de Moisés].
Isso vai dar no Concílio de Jerusalém, onde ele vai falar das maravilhas que Deus fez no
meio dos gentios (ano 49: At 15,1-35; Gl 2,1-10). Para manter um bom convívio entre os cristãos
e os judaizantes Tiago vai fazer as quatro clásulas: idolotitos (sacrifícios pagãos, carne desses
sacrifícios - cf. 1Cor 8,1-3), fornicação, sangue, carne com sangue.A atitude de Pedro observar
a lei de Moisés leva Paulo a chamá-lo atenção por isso, como se o cristianismo fosse uma parte
do judaísmo. Pedro, por seu exemplo, podia dar normas.
A segunda viagem de Paulo (50-53) (At 15,36-18,22). Nessa viagem Paulo prega aos
gentios e é expulso pelos judeus em todas as cidades da Grécia. Paulo primeiro ia a eles e
depois ia aos gentios. Quando os judeus viam os gentios abraçar a fé expulsavam Paulo, que
não impunha aos gentios a circuncisão. São cinco cidades nas quais Paulo prega na Grécia.
Forma uma comunidade de gentios em cada cidade. Em Atenas ele prega no aerópago aos
filósofos e lhes propõe a ressurreição e quando os filósofos ouvem falar de ressurreição pensam
que é uma nova mitologia e escarnecem de Paulo. Ele vai para Corinto arrasado, cansado e
abatido. Chega em Corinto consciente do que é ser apóstolo, o quanto sofre.
36
Paulo, nesta segunda viagem, escreve as duas Cartas aos Tessalonicenses procurando
esclarecer o que ficara em dúvida, pois ele fora expulso. A grande preocupação era saber quando
Cristo voltava e qual a sorte dos que morreram antes da vinda de Cristo.Importa notar que a
primeira concepção paulina é escatológica. A iminência da parusia é certa para os primeiros
cristãos. Essa segunda viagem termina com o retorno a Jerusalém. Paulo inicia a 3ª viagem
missionária (53-58) pela Ásia Menor, detém-se em Éfeso, na Turquia de hoje (At 20,31). Seu
itinerário foi muito fecundo. Escreve suas quatro principais cartas: Gl, 1 e 2Cor, Rm: Cristo
presente na sua Igreja como cabeça (são ditas das Grandes Epístolas).
Essa 3ª viagem conclui-se em Jerusalém e é assediado pelos judeus (At 21,17-26). Ele
não é um adversário da lei; por isso aceita o ritual e por causa disso os judeus o denunciam de
impostor. Paulo é preso e procura se defender. Vai para Cesaréia e lá é detido (anos 58-60). Os
romanos não entendem a razão. Não tomam atitude porque a razão para eles é desconhecida.
O procurador deixa Paulo preso para ganhar suborno e libertá-lo. Paulo percebe e diz que é
cidadão romano. É época de difícil navegação. Contudo vai ser julgado por César em Roma
entre 60-61 (At 27-28).
Na Ilha de Malta sofre o naufrágio e é recolhido. Espera por lá o fim do inverno. Lá faz
seu apostolado. Vai, enfim, para Roma. Fica numa prisão que lhe permite receber visitas. É uma
prisão fecunda: daqui surgem quatro Cartas (Fm, Cl, Ef, Fl): o Cristo cósmico. As três primeiras
Cartas se concatenam bem. A Carta aos Colossenses enfatiza a cristologia e a aos Efésio a
eclesiologia. Já a Carta aos Filipenses é muito paternal. Convencionalmente esta Carta é posta
aqui, mas ela é de outro teor. É a Carta que fala de Cristo que é Deus e que foi obediente ao Pai.
Parece que Paulo foi absolvido. Foi para Espanha? Talvez (anos 63-64). Rm 15,24. Depois deve
ter regressado à Ásia e faz dois presbíteros: Timóteo e Tito.
No ano 64 Nero decreta a primeira perseguição aos cristãos. Assim, são anos difíceis.
Ser cristão é ser réu. Julga-se que em 66-67 Paulo vai para o 2° cativeiro, que é extremamente
penoso (2Tm 4,10-18).Há quem diga que Paulo foi martirizado com a degolação em 67. Temos
um perfil de Paulo lendo a 2Cor 11,23-29 (esta foi escrita em 57) Deixou-nos 13 Cartas: 1Tm, Tt,
2Tm - Pastorais;1Ts, 2Ts;Fm, Cl, Ef, Fl - Cartas do Cativeiro;Gl, Rm, 1Cor, 2Cor - as Grandes
Cartas.
O material usado era papiro - bambu aclimatado feito pano, cuja face era áspera e a folha
era enrolada.
Havia também o pergaminho - pele de animal. O descobridor desde animal foi o rei Eumenes II
de Pérgamo - que reinou de197 a 159 aC. As folhas não eram enroladas mas cortadas a darem
o quatérnio. A matéria para escrever era estilete e a pena de ganso. Usava-se uma goma com
cinzas passada ao fogo (tinta da época). Dava o que se chama " enkayston". A escrita antiga era
feita em maiúscula e espaçada, escrevia-se devagar, pouco e em muito tempo.
Os intelectuais não escreviam. Quem os fazia eram os designados para a arte de
escrever, ditos amanuenses. Hoje também o chefe do escritório também não escreve, mas sim
a secretária.Silvano, Tércio, Timóteo são ajudantes do apóstolo. Paulo só escrevia à noite com
lâmpada de azeite. Durante o dia pregava e trabalhava em sua profissão. Escrevia-se com luz
pálida e em situação incômoda. Junta-se o material, o cansaço do dia etc., e escrevia-se três
letras por minuto.
Calcula-se que a Carta aos Romanos que tem 7.100 palavras (no original) pode ter
levado 98 horas de escrita e cinquenta folhas de papiro (cerca de 32 dias com 3 horas de trabalho
diário). Mas pode ter levado mais dias, uns 49, se fossem 2 horas por noite. Mas também por
empecilhos pode ter levado 2 meses.Isso explica a falta de concatenação de ideias, pois parava-
se muito. Já a carta aos Tessaloniocenses tem 1472 palavras e deve ter levado uns 10 dias em
duas horas de trabalho diário. E Filemom com 335 palavras, pode ter sido escrita em 6 a 8 horas.
A redação era muito lenta.
37
Há pessoas que dizem que o temperamento de Paulo não o deixaria esperar tantos dias
para redigir a carta e assim teria se aplicado mais.Os oradores latinos falam da rapidez dos
romanos. Mas o melhor é dizer que foi devagar mesmo. As cartas paulinas foram escritas com
interrupções. Isso explica as mudanças repentinas de estilo, de sintaxe. Há repetições, períodos
inacabados. Pensou-se que isto era por causa dos copistas mas esta idéia está de lado. Basta
lembrar da forma com que Paulo escrevia. Parece que a carta a Filemon foi escrita pelo próprio
Paulo (Fm 19.21). Quando não era o apóstolo que escrevia ele punha no fim da carta sua
assinatura para ser identificada (Gl 6,11; 2Ts 3,17). Esta ênfase se explica porque eles
receberam uma falsa carta falando da vinda de Cristo, dando o dia marcado (1Cor 16,21; Cl
4,18). Esse também era um costume dos homens da época.
Quem lê Paulo fica na dúvida do valor estilístico. Ele dizia que era fraco em matéria de
eloquência (2Cor 11,6), não era pomposo, bombástico, retórico. Diziam os seus contemporâneos
que suas cartas são enérgicas (2Cor 10,10) e severas, de longe ameaça e de perto é homem
fraco, de linguagem desprezível. Paulo não fazia questão de impor-se pela oratória. Tinha a seu
favor o fogo, falava com o coração; assim, em Listra, Barnabé e Paulo pregam e Barnabé é tido
como Júpter, que se impunha fisicamente. Já Paulo era fraco mas tinha uma palavra de força,
sendo, por isto, chamado de Mercúrio.
Ele se impõe pela palavra que sai do coração. Sua palavra tocava a todos (2Cor 2,16).
Ninguém ficava neutro; sua palavra era eficaz. Por sua linguagem os comentadores se dividem.
Há quem diga que é grande escritor, comparado a Platão (vide 1Cor 13 e Rm 8). São páginas
que tornam Paulo renomado entre os escritores antigos. Além disso, chama a atenção 1Cor 1,25-
29. Quintiliano - escritor romano - diz que o coração é que torna o homem eloquente. 2Cor 11,16:
38
imperito no falar mas perito no conhecimento de Cristo. Exemplos de falta de concatenação em
Paulo:
* Rm 1,1-7 pode ler os vv 1.7 e não fará falta. Os vv 1.7 são o exórdio normal. Os vv 2-6 são
idéias concatenadas e isto tudo fica por conta das idéas que se associa, Paulo se deixa levar.*
Rm 5,12-13: o complemento está no v. 17. A frase do v. 12 não é levada adiante.Temos também
casos em que Paulo vai terminar a Carta e de repente se lembra de alguma coisa. Fl 3,1-2 muda
o tom bruscamente, retoma a Carta por causa dos judaizantes. Paulo não é um orador mas é
alguém cheio de vida transbordante, suas armas não são a dos oradores da época mas as de
Deus (2Cor 10,4-5).Por isso Paulo deixa folhas lindas em 1Cor 1,18-30; Rm 8,31-39; 1Cor 13,1-
13. Fala mais com o coração que com a lógica.
I – EPÍSTOLA DE TIAGO
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Principal contribuição à Teologia Cristã:
A principal contribuição teológica da Epístola de Tiago é a sua ênfase na correlação
direta que deve haver entre a fé cristã e os frutos, tanto éticos como morais. Tiago insiste que a
verdadeira fé deve ser demonstrada pelo viver correto e fundamentar toda a experiência cristã.
Tiago não diminui a importância da fé, como advogam alguns, mas, antes, a aborda sob um
ângulo diferente, descortinando uma dimensão mais abrangente do seu conceito significativo.
De maneira singular, Tiago analisa a fé a partir do ponto de vista fenomelógico-empírico e por
essa razão se encontra na contingência de ter que exigir que o comportamento psíquico seja
evidenciado pelo agir, isto é, a “obra”, entendida por ele não como observância formal à Lei, mas
como fruto da ação do Espírito Santo na vida do cristão. A mensagem de Tiago é, assim,
inevitavelmente concreta e põe a descoberto todo o cristianismo que se esconde sob aparências
e palavras vazias.
Principal contribuição à Teologia Cristã
Ponto mais controvertido com a respectiva resposta ortodoxa dada pela Igreja ao
longo dos séculos:
A Epístola de Tiago apresenta uma questão teológica acerca da correlação entre fé e
obras, ressaltada na afirmação de que “a fé sem obras é morta”, que levou alguns estudiosos
antigos, inclusive Lutero, a pensar que ele estava em conflito com a doutrina paulina da
justificação. Naturalmente, a observação pura e simples da expressão vocabular citada parece
confirmar a existência de uma contradição, já que o âmago da doutrina paulina da justificação é
de que a salvação do homem não pode ser obtida por obras, sendo produto único e exclusivo da
graça de Deus, mediante a fé. Isso, porém, não faz justiça ao real entendimento de cada um
desses dois autores sobre essa questão, que podem, perfeitamente, ser harmonizados.
O fato é que, embora não restem dúvidas quanto à tradução dos vocábulos referidos nos
textos dos dois autores, os conceitos enfocados são diferentes. Em verdade, Paulo e Tiago
trabalham com significados contextuais distintos para as palavras fé e obras. Quando se refere
à fé, Paulo quer dizer a aceitação do evangelho proclamado pelos apóstolos e o compromisso
pessoal com ele, enquanto designa obras como os feitos judaicos de obediência formal à Lei. Já,
Tiago usa o vocábulo fé com uma significação inicial ortodoxa de crença em um só Deus,
enquanto se refere às obras como atos baseados no amor cristão, ou seja, frutos de justiça.
Em suma, Paulo e Tiago estão lidando com duas realidades diferentes: Paulo
combatendo a auto-justiça da piedade legal judaica e Tiago a ortodoxia vazia da crença
puramente intelectual. Na verdade, a maioria dos estudiosos de hoje concordam em que a fé
comprovada por obras de que trata Tiago é a mesma “fé que atua pelo amor” de Paulo e que
nem Tiago descarta a salvação pela fé, nem Paulo menospreza a importância dos frutos de
justiça na vida cristã.
II – 1ª EPÍSTOLA DE PEDRO
Mensagem Central: “Os cristãos constituem raça eleita, sacerdócio real, nação santa e
povo de propriedade exclusiva de Deus, com a missão de proclamar ao mundo, através de um
testemunho exemplar, a Sua Magnífica Grandeza. ”
Três temas mais importantes e suas implicações para a Igreja Cristã moderna:
O Deus Vivo – O conceito que Pedro apresenta a respeito de Deus contém a matéria-
prima da teologia da trindade, mas sua expressão é, em geral, prática e não teórica. Sua
introdução contém referências a Deus, o Pai, ao Espírito Santo e a Jesus Cristo. Pedro concede
uma ênfase especial à soberania e transcendência de Deus, sem descuidar de mostrar que Ele
é Deus de perto, que se ocupa de modo vital com tudo o que acontece com a Sua criação,
principalmente quanto ao que diz respeito ao Seu povo, escolhido e santificado por Ele. A
afirmação de Pedro de que os cristãos constituem um povo eleito para a glorificação do nome
40
de Deus anima os crentes de todas as épocas e representam uma chama viva de esperança em
meio às lutas do tempo presente;
A santidade cristã – Pedro discorre sobre a necessidade do povo eleito de Deus
testemunhar de modo exemplar as virtudes cristãs para aqueles que estão ao seu redor, a fim
de ganhar as suas almas para Cristo, enfatizando a necessidade dos cristãos se desfazerem de
toda sorte de malícia, astúcia, hipocrisia, inveja, maledicência e paixões carnais, substituindo-os
pela submissão às autoridades constituídas, pela responsabilidades com os deveres
familiares, pela demonstração de amor fraternal aos irmãos, pela busca da unidade, pela
mansidão e pela humildade de espírito. As instruções de Pedro acerca da importância do
testemunho cristão perante o mundo constituem um alerta para a Igreja dos nossos dias
abandonar à tolerância para com o pecado e cuidar de glorificar, ao invés de vituperar, o nome
de Deus perante os ímpios;
O sofrimento na vida cristã – Pedro enfatiza que os sofrimentos dos cristãos, no mais
das vezes, são uma decorrência natural de viverem em uma sociedade decaída e perversa,
imersa em valores pagãos. Em tais sofrimentos, afirma Pedro, os cristãos não estão fazendo
nada mais do que seguir o exemplo de Cristo. Assim, Pedro deseja que seus leitores enfrentem
os males que lhes sobrevêm não com pessimismo estóico ou mero fatalismo passivo, mas com
uma afirmação de que desempenham um papel positivo na vontade de Deus para a vida cristã.
Essa proclamação continua viva e deve animar os cristãos de hoje que, mesmo tendo atenuadas
as perseguições físicas, políticas e econômicas contra si, se vêem cercados por uma corrupção
moral e ética sem precedentes, onde a própria instituição da família não parece oferecer mais
qualquer tipo de proteção aos seus membros e o verdadeiro amor deu lugar ao egoísmo
desenfreado e à indiferença.
Ponto mais controvertido desta epístola com a respectiva resposta ortodoxa dada pela
Igreja ao longo dos séculos:
O ponto mais controvertido da 1ª Epístola de Pedro tem sido, sem dúvida alguma, aquele
em que Pedro relata a descida de Jesus ao Hades, em Espírito, para pregar aos espíritos em
prisão, os quais foram desobedientes nos dias de Noé. A interpretação patrística mais antiga é
a de que, no estado intermediário, Cristo, no Espírito, foi e pregou persuasivamente o evangelho
aos espíritos dos homens mortos em desobediência no Hades (todos os que viveram antes de
Cristo ou o grupo que viveu nos dias de Noé).
Essa opinião logo perdeu força, apesar de uns poucos a defenderem ainda nos nossos
dias, vez que consentia com a possibilidade de salvação após a morte. Uma segunda opinião,
mantida por Agostinho e alguns reformadores, é a de que Cristo, antes de vir fisicamente ao
mundo, pregou o evangelho, por meio de Noé, aos seus contemporâneos. A terceira opinião,
mais aceita nos dias de hoje, é a de que, no estado intermediário, Cristo desceu ao Hades para
tão-somente anunciar a vitória do evangelho.
41
Três temas mais importantes e suas implicações para a Igreja Cristã moderna:
Degraus para o crescimento cristão – Pedro relaciona oito degraus ascendentes para o
conhecimento da verdade, começando com a fé e terminando com o amor. Eles representam as
qualidades cristãs que todo crente deve agregar. Alicerçadas sobre o fundamento da fé, devem
ser galgados os degraus da virtude, do conhecimento, do domínio-próprio, da perseverança, da
piedade, da fraternidade e do amor. Para Pedro, quanto maior for a medida dessas qualidades,
maior será o conhecimento do cristão a respeito de Jesus Cristo e maior será a sua maturidade
para discernir a sã doutrina.
A fonte do conhecimento da verdade, para Pedro, é o aprendizado das Escrituras e dos
ensinos dos apóstolos, os quais testemunharam pessoalmente de todo o ministério, morte e
ressurreição de Cristo, também testificado na Comunidade Cristã pela operação do Espírito
Santo. A Igreja Cristã moderna deve atentar para a advertência de Pedro sobre a necessidade
de fugir da inércia espiritual e buscar o conhecimento de Cristo, pilar fundamental para o
crescimento cristão e a permanência no caminho da verdade;
O perigo dos falsos mestres – Pedro adverte acerca do aparecimento, da influência e
da ruína de falsos mestres que estariam a propagar doutrinas heréticas no seio da Comunidade
Cristã. As principais características que identificam esses falsos mestres, segundo Pedro, são:
introduzem, dissimuladamente, heresias destruidoras; negam o Senhor que os resgatou;
infamam o caminho da verdade; fazem comércio do povo cristão com palavras enganosas;
seguem a carne, andando em imundas paixões; menosprezam qualquer governo; são vaidosos,
atrevidos e arrogantes; difamam as autoridades; falam mal daquilo que ignoram; abandonaram
o caminho da verdade. Numa época em que os falsos mestres se multiplicam
extraordinariamente no seio da Igreja Cristã, mais do que nunca é preciso dar ouvidos ao alerta
de Pedro, identificando e repelindo todo o tipo de ensinamento herético que procure distorcer a
verdade das Escrituras;
A 2ª vinda de Cristo – Pedro procura esclarecer o significado da 2ª vinda de Cristo,
como dia de juízo para os ímpios e de salvação para os santos, e refutar a idéia propagada por
alguns de que já teria passado o tempo em que ela deveria se cumprir. Pedro discorre sobre o
conceito de tempo na ótica de Deus e anima os cristãos com a garantia de que a sua esperança
não é vã e que Deus cumprirá a Sua promessa, como sempre cumpriu todas as outras, no tempo
próprio. Os esclarecimentos de Pedro são preciosos para a Igreja Cristã ao longo dos séculos,
pois anima os crentes de todas as gerações a serem diligentes e irrepreensíveis no trabalho para
Cristo, sabedores de que a qualquer momento, num tempo não conhecido por mente humana,
Cristo voltará para buscar a Sua Igreja e levá-la para a “nova terra” que Ele tem preparado, onde
habita a justiça.
Principal contribuição desta epístola à Teologia Cristã:
A 2ª Epístola de Pedro é de especial importância devido à sua doutrina a respeito das
Escrituras. Essa Epístola, na realidade, enfatiza, com todo vigor, a importância, a autoridade e a
primazia da norma da verdade dos profetas do Antigo Testamento e dos Apóstolos. Isso se deve
ao fato de muitos na Comunidade Cristã terem se afastado da verdade e propagado doutrinas
heréticas. Esta Epístola contém um dos clássicos enunciados a respeito da inspiração da Bíblia
Sagrada como um todo “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação, porque a
profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo” (1:20-21). Pedro mostra, assim, que a única fonte da
verdade divina é a Escritura, porque seus autores foram inspirados e capacitados
sobrenaturalmente a escrevê-la.
Ponto mais controvertido desta epístola com a respectiva resposta ortodoxa dada pela
Igreja ao longo dos séculos:
Muitos estudiosos, ao longo dos séculos, consideraram que esta epístola continha uma
cristologia degenerada, uma escatologia sub-cristã e uma ética insatisfatória, creditando ao seu
autor uma visão de dualismo gnóstico, evidenciado pelo contraste entre escapar da corrupção
do mundo, devido à paixão, e compartilhar da natureza divina. Segundo esses críticos, tal
42
distorção estaria demonstrada também por uma conceituação da fé segundo a tradição ortodoxa,
em vez do comprometimento pessoal com Cristo.
Hoje, maioria dos estudiosos aceita que a forte ênfase dada por Pedro aos apóstolos
como portadores da verdade divina não caracteriza um pensamento gnóstico, mas sim uma
confirmação da autoridade das Escrituras, não representando a união mística com Deus, típica
do pensamento gnóstico, mas um conhecimento pessoal de Deus, o Pai, e de Jesus Cristo. Da
mesma forma, há uma aceitação considerável de que a ideia de Pedro sobre a corrupção no
mundo não se coaduna com o “aprisionamento do mundo dos sentidos” de que trata o
pensamento gnóstico, vez que a fuga da corrupção do mundo já ocorreu para aqueles que
alcançaram a redenção em Jesus Cristo. O entendimento atual é de que esta epístola revela a
tensão entre o “já” e o “ainda não” da Escatologia Inaugurada e não um dualismo gnóstico.
IV – EPÍSTOLA DE JUDAS
Mensagem Central: “O perigo dos falsos mestres e de suas heresias no seio da Comunidade
Cristã. ”
Três temas mais importantes e suas implicações para a Igreja Cristã moderna:
A defesa da fé – Judas evidencia uma acentuada preocupação com a salvação dos leus
leitores, exortando-os a batalharem diligente pela fé que um dia receberam. A conclamação feita
por Judas deve servir de alerta para a Igreja Cristã moderna, de forma a não ceder ao
racionalismo, que conduz, inevitavelmente ao esfriamento do amor ao evangelho.
O perigo dos falsos mestres – Judas, assim como Pedro, adverte severamente à
Comunidade Cristã acerca dos falsos mestres que, com dissimulação, procuravam introduzir
heresias em seu interior, distorcendo o conceito da graça, como liberdade para a libertinagem, e
negando a soberania de Cristo. Judas lembra que isso já havia ocorrido no passado e alerta
contra o destino terrível que espera todos aqueles que se rebelam contra o caminho da verdade.
Judas descreve as características dos falsos mestres de forma bastante aproximada com
a descrita na 2ª Epístola de Pedro e acrescenta que eles não têm o Espírito. Numa época em
que a libertinagem e a relativização do conceito de pecado atingiram níveis tão estratosféricos e
em que se tenta introduzir de todo modo os valores mundanos no seio da Igreja, a mensagem
de Judas soa como uma trombeta de advertência para que os cristãos se acautelem contra a
tolerância às falsas doutrinas e à acomodação aos valores mundanos;
Exortação à perseverança dos santos e à busca dos indecisos – Judas finaliza sua
Epístola conclamando os seus leitores a edificarem a fé, orando no Espírito Santo e guardando
o amor de Deus em seus corações, esforçando-se em salvar os que estão indecisos quanto ao
caminho da verdade e sendo compassivos com outros ao seu alcance, sem, contudo, se
deixarem contaminar pelas suas idéias heréticas ou práticas pecaminosas. É de particular
importância para a Igreja Cristã moderna o chamamento de Judas para que os santos procurem
ajudar àqueles que estão fracos e doentes na caminhada, pois o exército cristão é tido, hoje,
como o único que abandona os seus feridos no campo de batalha.
Principal contribuição desta epístola à Teologia Cristã:Judas não é o tipo de epístola
que tenha ocupado o centro de debates teológicos importantes ao longo dos séculos. Aliás, ele
tem aparecido tão pouco no debate contemporâneo que Rowston denomina-o de livro mais
negligenciado do Novo Testamento. Na realidade, os poucos debates suscitados por esta
epístola quase sempre se centram na sua similaridade com a 2ª Epístola de Pedro, na referência
que Judas faz ”aos anjos que não guardaram o seu estado original e abandonaram a sua própria
habitação, Ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia” (v. 6),
e no seu uso de literatura apócrifa. A maior contribuição de Judas é o forte desafio que faz aos
leitores cristãos de todas as épocas a que se oponham resolutamente a todos os ensinos e
práticas que professam ser cristãos mas negam a essência da fé e que não abandonem os seus
feridos em campo de batalha, mas se esforcem em levá-los para um abrigo seguro.
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Ponto mais controvertido desta epístola com a respectiva resposta ortodoxa dada
pela Igreja ao longo dos séculos: As maiores controvérsias havidas quanto à Epístola de
Judas sempre se centraram nas citações expressas que seu autor faz de alguns livros apócrifos
como I Enoque e Assunção de Moisés. Tertuliano, por exemplo, aceitou I Enoque como Escritura,
porque Judas o citou. Diversamente, Jerônimo afirmou que muitos duvidavam da inspiração de
Judas, pela sua citação de apócrifos. Alguns leitores modernos têm problemas em aceitar as
citações de apócrifos em um livro canônico e preferem pensar que Judas estava citando a
tradição oral.
O fato é que a Epístola de Judas não deve ser rejeitada por causa da citação dos livros
apócrifos, assim como Paulo não tem sido contestado pelo fato de ter citado escritores pagãos
ou tradições rabínicas. Judas simplesmente fez uso da literatura que era conhecida de seus
leitores para adverti-los dos perigos dos falsos mestres, não havendo qualquer comprovação de
que ele tenha atribuído autoridade aos livros apócrifos citados.
V – 1ª EPÍSTOLA DE JOÃO
Mensagem Central: “Jesus é o filho de Deus, que se encarnou para trazer luz ao mundo;
aqueles que o seguem devem viver na Sua luz, em comunhão e amor, de maneira justa. ”
Três temas mais importantes e suas implicações para a Igreja Cristã moderna:
A vida eterna – João concede uma ênfase toda especial a experiência do cristão receber
a vida eterna ainda no presente, ou seja, durante a vida terrena, procedendo, entretanto, a uma
clara distinção entre aqueles que podem ter essa segurança, fundamentados na fé genuína, que
crê na encarnação do filho de Deus e demonstra ativamente o “novo nascimento”. A par disso,
João anseia pela 2ª vinda de Cristo, com tudo que ela significa em termos de escatologia, quando
os salvos serão transformados de uma forma inimaginável por mente humana;
Pecado – João expressa nesta epístola que, embora o pecado seja uma realidade
presente na vida do cristão, constitui um acidente de percurso e não uma prática habitual ou algo
com o que ele possa ser indiferente, ou seja, ao mesmo tempo que João tem consciência de que
o cristão está sujeito a pecar, afirma que ele não deve fazê-lo, antes procurando a todo custo se
dominar e não pecar, de maneira a viver, coerentemente, uma vida de separação para Deus;
O amor – João dá grande ênfase a importância do exercício do amor na vida cristã.
Segundo ele, não se pode descobrir o verdadeiro significado do amor de Deus partindo do lado
humano, mas tão-somente partindo da cruz, onde foi revelado o amor em toda a sua dimensão
e profundidade, absolutamente incondicional e ilimitado. Ao oferecer o Seu próprio filho por amor
aos pecadores, Deus nos revelou que nos ama pelo que Ele é e não pelo que nós somos. O
amor do cristão constitui, portanto, uma resposta ao amor de Deus. Somente porque experimenta
esse amor oriundo da cruz é que o cristão se habilita a amar de verdade. Quem nasce de novo,
para João, adquire uma nova capacidade de amar, em tudo superior a que possuía, pois aprende
a amar não só quem é atraente, belo, bom, ou admirável, mas todos os que são objeto do amor
de Deus.
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Ponto mais controvertido desta epístola com a respectiva resposta ortodoxa dada pela
Igreja ao longo dos séculos:
Ao longo dos séculos, alguns estudiosos têm sustentado que esta epístola é unicamente
pastoral e não polêmica e que não há necessidade de reconstruir um grupo de hereges ou de
divisionistas, tendo sido escrita para reforçar a segurança cristã e para afastar possíveis
desdobramentos na teologia da comunidade que pudessem levar a um cisma ou para corrigir
uma possível prática indisciplinada de dons proféticos. Contudo, a maioria dos estudiosos têm
refutado esse ponto de vista como uma explicação inadequada das evidências, vez que, apesar
de concordarem com a tentativa de João edificar seus leitores, observam, adicionalmente, que
ele escreve com a finalidade de adverti-los sobre falsos mestres que estariam ativamente
tentando enganá-los com algum tipo de gnosticismo incipiente.
VI – 2ª EPÍSTOLA DE JOÃO
Mensagem Central: “Os cristãos devem andar na Verdade e no amor de Cristo e recusar a
companhia dos falsos mestres. ”
Três temas mais importantes e suas implicações para a Igreja Cristã moderna:
A verdade – A verdade de que João fala é a do alto, a Verdade como se encontra em
Jesus Cristo. O cristão deve andar na Verdade e não apenas admirá-la. A Verdade e o amor são
inseparáveis.
O amor fraternal – João fala da necessidade de que os cristãos andem em amor uns
para com os outros e que este amor consiste em obedecer aos mandamentos do Pai.
Advertência contra os falsos mestres – João adverte que todo aquele que ultrapassa
e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus e não deve ser recebido pelos cristãos,
pois, em realidade, são falsos mestres.
Principal contribuição desta epístola à Teologia Cristã:
A principal contribuição desta epístola, em termos teológicos é a da afirmação da doutrina da
encarnação e divindade de Cristo.
Ponto mais controvertido desta epístola com a respectiva resposta ortodoxa dada
pela Igreja ao longo dos séculos:
Tanto a verdadeira autoria desta epístola como o seu real destinatário sempre causaram
polêmica entre os estudiosos, mas, nos dias de hoje, parece haver uma tendência de se
considerar esta epístola como de autoria do apóstolo João, pela semelhança de estilo e assuntos
enfocados e o destinatário como uma igreja local.
Três temas mais importantes e suas implicações para a Igreja Cristã moderna:
O testemunho pessoal – João faz um elogio público do testemunho pessoal do seu
destinatário, Gaio, bem como de um irmão na fé, denominado Demétrio, os quais
alegram o coração e são dignos de imitação por parte da Igreja.
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A principal contribuição desta epístola à Teologia Cristã é a de alertar sobre o perigo da ambição,
do egoísmo e do partidarismo, principalmente da liderança, para a preservação da comunhão e
da unidade no seio da Igreja Cristã.
Ponto mais controvertido desta epístola com a respectiva resposta ortodoxa dada
pela Igreja ao longo dos séculos:
A verdadeira autoria desta epístola, assim como a 2ª Epístola de João sempre causou
polêmica entre os estudiosos, mas, nos dias de hoje, parece haver uma tendência de se
considerar estas duas epístolas como de autoria do apóstolo João, pela semelhança de estilo e
assuntos enfocados.
INTRODUÇÃO AO APOCALIPSE
Houve Apocalipses de todos os tipos. Apocalipses judaicos, tais como olivro de Enoc, ou
a assunção de Moisés, ou o Apocalipse de Baruc, ou ostestamentos dos doze patriarcas, ou
algumas partes do livro de Ezequiel, egrande parte do livro de Daniel; os manuscritos do Mar
Morto têm vários livrosou partes de gênero claramente apocalíptico.Entre os cristãos surgiram
vários Apocalipses durante os primeirosséculos do cristianismo. Por exemplo: um Apocalipse de
Pedro, outro de Tiago,outro de João (o único que foi incluído entre os livros canônicos da
SagradaEscritura do Novo Testamento), um Apocalipse chamado “Odes de Salomão”
e,naturalmente, algumas partes dos quatro Evangelhos canônicos (como Mt 24; Mc 13;Lc 21, 5-
33). Aqui abordaremos apenas o Apocalipse de João, o último livro dasSagradas Escrituras.
Tudo o que se diz no Apocalipse faz referência “direta” ao momento em quefoi escrito o
livro (ver Ap 1, 1-3; 22, 6.7.10.12.20). No Apocalipse não há umasó palavra sobre o ano 2000,
nem sobre o presidente dos Estados Unidos, nemsobre os computadores, ou cartões de crédito,
nem sobre a Rússia.
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Em todo olivro do Apocalipse há uma só profecia sobre o futuro: Cristo triunfará e
nóscom Ele.
Para o livro do Apocalipse o fim dos tempos não está adiante, de formaque se tenha de
tentar predizê-lo ou prevê-lo. Para o livro do Apocalipse o fimdos tempos (ou seja: o tempo último
por ser definitivo, e definitivo por ser oúltimo) chegou já com o acontecimento decisivo da
morte/ressurreição de Jesus.Para o livro do Apocalipse Deus está já aqui conosco, e a presença
de Deus entrenós é assegurada por Jesus, e não pelo templo, o sacerdócio, ou osacrifício.
O Apocalipse foi escrito para falar de Jesus, não da Besta ou do Anticristo. Todo olivro
do Apocalipse se destina a falar do triunfo efetivo e total do Cordeiro (aforma simbólica de referir-
se a Jesus no Apocalipse). O centro e essência dolivro é Cristo, não a Besta. O centro e essência
do livro é a graça, não opecado. O centro e essência do livro é a ressurreição, não a morte (nem
a deCristo nem a de ninguém). O centro e essência do livro é Cristo, não o diabo. Ocentro e
essência do livro é o Reino de Deus (em Cristo), não o inferno ou adestruição. E o mais atraente
no Apocalipse (em todo o Novo Testamento) éprecisamente que
é Cristo Jesus quem no Apocalipse nos fala de Jesus, oCristo(justamente para dar
autoridade ou força à mensagem do livro, que sóaparece uns 50 ou 60 anos depois da morte e
ressurreição de Cristo).
O Apocalipse todo parte da ressurreição de Jesus Cristo. Se Jesus nãotivesse
ressuscitado, nos diz o Apocalipse, nossa fé seria uma mentira e nós, uns idiotas (ver 1 Co 15),
mas Jesus ressuscitou. Tudo, no Apocalipse, seprojeta e se anima na esperança de sua “volta”
gloriosa. Ele não é apenas “Aquele que era” e “Aquele que é”, mas também, e sobretudo, é
“Aquelequevirá”(Ap 4,8;1,4); Ele é o “Ômega” (Ap 22,13); Ele é “o último” (Ap 22,13);Ele é o fim
de tudo (Ap 22,13); Ele é aquele cuja “vinda” imploram o Espírito ea Esposa (Ap 22,17;1,7-8).
Toda esta acumulação de títulos para dizermos, o maisclaramente possível, que o futuro, o
verdadeiro futuro, o futuro definitivo, éde Jesus Cristo e tão-somente Dele.
Ao contrário do que ocorre nos Evangelhos, no livro do Apocalipse toda aatenção do
escritor está voltada para o acontecimento decisivo da vida de Jesus: sua morte e ressurreição
(o que o Evangelho de João chama “a hora”). Mas, nóscremos na ressurreição de Jesus Cristo?
Cremos de verdade que ele “virá” como Senhor?Quer dizer: que a última palavra na vida dos
seres humanos e douniverso todo pertence a Deus, não ao dinheiro, ou ao poder, ou à violência,
ouà injustiça, ou à morte, ou à ideologia, ou a um partido político?
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perseguição (ver Ap5,12). O Apocalipse tem, como objetivo essencial, encorajar os crentes em
meio asuas tribulações e exortá-los a não desanimarem, a perderem o medo, a
seremperseverantes. O Apocalipse é, essencialmente, boa notícia cumulada debem-
aventuranças e aleluias (ver as 7 bem-aventuranças do Apocalipse: Ap 1,3;14,13; 16,15; 19,9;
20,6; 22,7; 22,14).
Para o Apocalipse, porque é pura boa nova, o fim, o definitivo, estánas mãos de
Deus,não nas dos romanos, ou nas do império, ou nas dodinheiro, ou da violência, ou da morte,
ou do poder atômico, ou da injustiça; não será essa uma boa notícia?E, além disso, o que Deus
quer é a salvação dahumanidade.O mundo, o universo, será transformado radicalmente até
seconverter em um mundo novo, em um mundo renovado segundo as concepções de Deus.E,
assim, onde abundou o pecado, vai superabundar a graça (ver Ap 7,9-17; Rm5,20). O Éden, o
Paraíso, segundo o Apocalipse, não se encontra lá atrás, nopassado, mas no futuro; o Reino
efetivo de Deus está adiante, não atrás, ou fora, num mundo paralelo (ver Ap 22,2-5; Gn 1-4).
Nele uma comunidade louva a Deus, o santo e onipotente, e associa Cristoa esse louvor.
O povo, a comunidade que louva a Deus através de Cristo, é umacomunidade de sacerdotes
(ver Ap 1, 6; 5,10; 20,6). Assim como há nele sete bem-aventuranças, há sete louvores: Ap 1,4-
7; 5,9-10; 5,12; 5,13; 7,10; 11,15;19,6-7. Na mesma linha da Carta aos Hebreus e de 1 Pedro
2,9; o Apocalipse dizque Cristo é o único sacerdote e que, fazendo parte de seu corpo, todos
osmembros da comunidade, corpo de Cristo, todos são agora sacerdotes (ver Ap5,10). Por ser
o Apocalipse um livro litúrgico, tudo nele ocorre em um só dia,que é, precisamente, um domingo,
dia da ressurreição de Cristo (ver Ap1,10).
Avaliação
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4-Por que os discípulos tinham dificuldades para entender os novos conceitos
de Jesus?
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( ) Nicolau ( ) Nero
( ) Calígula ( ) Cláudio
( ) Domiciano ( ) Tibério
Boa sorte!
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