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BÍBLIOLOGIA

Aula 5
O Cânon da Bíblia e sua Evolução Histórica
2ª Timóteo 3:16-17

1. Introdução sobre o Cânon da Bíblia

Cânon ou Escrituras canônicas é a coleção completa dos livros inspirados, constituindo a


Bíblia. Cânon é uma palavra grega que significa literalmente vara reta de medir.

No Antigo Testamento, o termo aparece no original em passagens como Ezequiel 40:5: “Vi
um muro exterior que rodeava toda a casa e, na mão do homem, tinha uma cana de medir, de seis
côvados, cada um dos quais tinha um côvado e quatro dedos. Ele mediu a largura do edifício, uma
cana; e a altura, uma cana”.

No sentido religioso, cânon não significa aquilo que mede, mas aquilo que serve de norma,
regra. Com este sentido, a palavra cânon aparece no original em vários lugares do Novo
Testamento, veja abaixo alguns exemplos:

“E a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam
sobre eles e sobre o Israel de Deus”
(Gálatas 6:16)

“Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.”


(Filipenses 3:16)

A Bíblia como cânon sagrado, é a nossa norma ou regra de fé e pratica. Logo dizemos que
os livros da Bíblia são canônicos para diferencia-los do apócrifos, o emprego do termo cânon for
primeiramente aplicado aos livros da Bíblia por Orígenes (185-254 d.C.).
A Bíblia reconhecida pelos evangélicos contém 66 livros canônicos, sendo 39 no Antigo
Testamento e 27 no Novo Testamento.

2. O Cânon do Antigo Testamento

A história da canonização da Bíblia é muito fascinante. À medida que Deus ia revelando sua
palavra e o Espírito Santo movendo seus profetas, nenhum deles tinha em mente como seu
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“capítulo” iria se encaixar no plano global do Senhor. E cada um destes capítulos nos mostra o
grande amor de Deus pela humanidade e o plano maravilhoso da redenção, que só poderia vir de
Deus que fez e sustenta todo universo.

Há três elementos básicos no processo de canonização: a inspiração de Deus, o


reconhecimento pelo povo de Deus e a coleção dos livros inspirados. A inspiração cabia ao próprio
Deus, mas os dois passos seguintes, Deus os incumbiria a seu povo.

Inspiração de Deus – Deus deu o primeiro passo na canonização da Bíblia, quando Ele
mesmo os inspirou. O povo de Deus não teria como reconhecer a inspiração de um livro, se Deus
mesmo não tivesse dotado os 39 livros que compõem o Velho Testamento, de autoridade divina.

Reconhecimento por parte do povo de Deus – Quando Deus dotava algum livro de
autoridade, seu povo o reconhecia. Este reconhecimento ocorria imediatamente pela comunidade
para a qual o livro foi destinado. Os escritos de Moisés foram reconhecidos em seus dias (Êxodo
24:3), como também os de Josué (Josué 24:26), os de Samuel (1 Samuel 10:25) e os de Jeremias
(Daniel 9:2). Este reconhecimento seria confirmado pelos crentes do Novo Testamento e também
por Jesus.

Coleção e preservação pelo povo de Deus – O povo de Deus colecionava e guardava sua
Palavra. Os escritos de Moisés foram colocados na arca (Deuteronômio 31:26). As palavras de
Samuel foram colocadas num livro e o pôs perante o Senhor (1 Samuel 10:25). A lei de Moisés foi
preservada no templo nos dias de Josias (2 Reis 23:24). Daniel tinha uma coleção da lei de Moisés
e dos profetas (Daniel 9:2; 9:13).

3. A Formação do Cânon do Antigo Testamento

O cânon do Antigo Testamento foi formado num espaço de mais de 1000 anos (mais ou
menos 1046 anos), de Moisés a Esdras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por
volta de 1491 a.C., e Esdras cerca de 445 a.C.

É evidente que Esdras não foi o último escritor na formação do cânon do Antigo
Testamento; os últimos foram Neemias e Malaquias, porém de acordo com os escritos históricos
judaicos, foi Esdras que na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, fixando
também o cânon do Antigo Testamento, encerrando seu tempo.

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O Antigo Testamento pode ser dividido de várias maneiras. Em nossas Bíblias é dividido em
39 livros. Esta divisão vem da Septuaginta, através da Vulgata Latina. A Septuaginta foi a primeira
tradução das Escrituras (só o AT), feita do hebraico para o grego, cerca de 285 a.C em Alexandria
no Egito. Os livros também são divididos pelos seguintes assuntos:

• Pentateuco ou Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.


• Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras,
Neemias e Ester.
• Livros Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão.
• Livros Proféticos:
o Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel.
o Profetas Menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Obs.: A ordem dos livros por assuntos também vem da Septuaginta.

A divisão da Bíblia Hebraica, utilizada pelos judeus, é diferente da nossa. Ela possui 24
livros. Na realidade, são os mesmos 39 livros do nosso AT, só muda a divisão. Os judeus chamam
o AT de Tanach. São divididos da seguinte forma.

• Lei (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.


• Profetas (Neviim):
o Primeiros Profetas: Josué, Juízes, Samuel e Reis.
o Últimos Profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel e O Livro dos Doze.
• Escritos (Ketubin):
o Livros Poéticos: Salmos, Provérbios e Jó.
o Os Cinco Rolos: Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes e
Ester.
o Livros Históricos: Daniel, Esdras e Neemias e Crônicas.

Devemos entender que nesta divisão:


• 1 e 2 Samuel são um livro só.
• 1 e 2 Reis são um livro só.
• 1 e 2 Crônicas são um livro só.
• Esdras e Neemias formam um livro só.

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• Os doze profetas menores formam um livro só.

Nas Bíblias de edição católica romana, o AT possui 46 livros. São os 39 livros da nossa Bíblia
e mais sete livros, sem contar os acréscimos em Ester e Daniel. Os sete livros mais são:

Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico ou Sirácides e Baruque.

• Os 39 livros das nossas Bíblias, os católicos os chamam de protocanônicos (em


grego “primeiramente [introduzidos] no cânon”) os livros sobre cujo valor inspirado
nunca se registraram dúvidas).
• Os outros 7 livros, os católicos os chamam de deuterocanônicos (“em segundo lugar
[inseridos] no cânon”) aqueles escritos que só depois de hesitações foram
oficialmente recenseados no catálogo bíblico).
• 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis são chamados pelos católicos de 1,2,3 e 4 Reis,
respectivamente.
• 1 e 2 Crônicas são chamados pelos católicos de 1 e 2 Paralipômenos (os livros de
Crônicas que contêm o que havia sido omitido na Bíblia ou que complementam os
livros dos Reis).

4. O Cânon do Novo Testamento

Como no Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram aos poucos os livros
que compõem o cânon do Novo Testamento. Sua formação levou apenas duas gerações: quase
100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento estavam escritos. O que demorou foi o
reconhecimento canônico, isto motivado pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que
exigiam provas concludentes da inspiração divina de cada um desses livros. Outra coisa que
motivou a demora na canonização foi o surgimento de escritos heréticos e espúrios com pretensão
de autoridade apostólica. Trata-se dos livros apócrifos do Novo Testamento, fato idêntico ao
acontecido nos tempos do encerramento do cânon do Antigo Testamento.

A ordem dos 27 livros do Novo Testamento, como temos atualmente em nossas Bíblias,
vem da Vulgata, e não leva em conta a sequência cronológica.

• Às Epístolas de Paulo - Foram os primeiros escritos do Novo Testamento. São 13:


de Romanos a Filemom. Foram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem cronológica, o

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primeiro livro do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses, escrito em 52 d.C. 2 Timóteo foi


escrita em 67 d.C, pouco antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Esses livros foram
também os primeiros aceitos como canônicos. Pedro chama os escritos de Paulo de
"Escrituras" - título aplicado somente à Palavra inspirada de Deus! (2 Pedro 3.15,16).

• Os Atos dos Apóstolos - Escrito em 63 d.C, no fim dos dois anos da primeira prisão
de Paulo em Roma (Atos 28.30).

• Os Evangelhos - Estes, a princípio, foram propagados oralmente. Não havia perigo


de enganos e esquecimento porque era o Espírito Santo quem lembrava tudo e Ele é
infalível (João 14.26). Os Sinóticos foram escritos entre 60 a 65 d.C. Marcos, em 65. Em 1
Timóteo 5.18, Paulo, escrevendo em 65 d.C, cita Mateus 10.10. João foi escrito em 85.
Entre Lucas e João foram escritas quase todas as epístolas. Note-se que Paulo chama
Mateus e Lucas de "Escrituras" ao citá-los em 1 Timóteo 5.18; o original dessa citação está
em Mateus 10.10 e Lucas 10.7.

• As Epístolas, de Hebreus a Judas - foram escritas entre 68 e 90 d.C. Quanto à


autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato. Agostinho (354-430 d.C), bispo de Hipona,
África do Norte, afirma que seu autor é Paulo. As igrejas orientais atribuíram-na a Paulo,
mas as ocidentais, até o IV século recusaram-se a admitir isto. A opinião ainda hoje é a
favor de Paulo. Orígenes (185-254 d.C.) - o homem mais ilustre da igreja antiga, e, anterior
a Agostinho - afirma: "Quem a escreveu só Deus sabe com certeza".

• O Apocalipse - Escrito em 96 d.C, durante o reinado do imperador Domiciano.

Muitos livros antes de serem finalmente reconhecidos como canônicos foram duramente
debatidos. Houve muita relutância quanto às epístolas de Pedro, João e Judas bem como quanto
ao Apocalipse. Tudo isto tão-somente revela o cuidado da Igreja e também a responsabilidade que
envolvia a canonização. Antes do ano 400 d.C., todos os livros estavam aceitos. Em 367 d.C.,
Atanásio, patriarca de Alexandria, publicou uma lista dos 27 livros canônicos, os mesmos que hoje
possuímos; essa lista foi aceita pelo Concilio de Hipona (África) em 393 d.C.

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