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BIBLIOLOGIA

LUCAS CESAR GASPAROTTO

“Pois, não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido.”

(Atos 4:20)

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ÍNDICE
1. - Introdução ao Estudo da Bibliologia

2. - A Bíblia como livro

2.1 - Os testamentos

2.2 - Antigo Testamento

 Lei

 História

 Poesia

 Profetas

2.2.2 - O Pentateuco

2.3 - Novo Testamento

 Evangelhos

 Atos

 Epístolas Paulinas

 Epístolas Gerais

 Apocalipse

3. - A Bíblia como a Palavra de Deus

3.1 - Princípios de inspiração

3.2 - Princípios de Revelação

3.2.1 - A revelação no AT

3.2.2 - A revelação no NT

3.3 - Princípio da autoridade bíblica

3.4 - Teorias falsas sobre a inspiração da Bíblia

4. - O tema central da Bíblia

5. - Materiais utilizados para escrita bíblica

 Do Papiro ao Pergaminho

 Do Rolo ao Códice

6. - O Cânon da Bíblia e sua evolução histórica

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6.1 - Cânon do A.T.

 Torah

 Nebiím

 Ketubim

6.2 - Cânon do NT

 Onde apareceram pela primeira vez os vários livros do NT

 Testemunho Antigo aos livros do NT

 Eusébio alista os livros do NT

 O Cânon adotado pelo Concílio de Cartago

6.3 - Livros apócrifos

 Breve panorama dos Apócrifos

7. - Preservação e Traduções da Bíblia

7.1 - As línguas originais da Bíblia

 Hebraico

 Aramaico

 Grego

7.2 - Os manuscritos

7.2.1 - O Texto Massorético

7.2.2 - Os manuscritos do Mar Morto

7.2.3 - Outros manuscritos

 Códice Sinaítico

 Códice Vaticano

 Códice Alexandrino

 Os papiros

7.3 - As primeiras traduções

 Septuaginta

 Versão Siríaca

 Versão Latina Antiga

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 Vulgata

7.4 - O texto como lemos hoje

7.5 - Traduções para Inglês

 Bíblia de Tyndale

 A versão do Rei Tiago

7.6 - Traduções para o Português

 João Ferreira de Almeida

 Antônio Pereira de Figueiredo

 Traduções no Brasil

 Sociedades Bíblicas

 Bíblia católica de Matos Soares

 Tradução Ecumênica da Bíblia

 NIV em Português
7.7 - Cuidado com algumas versões da Bíblia

 Ataques de diferentes versões a palavra genuína

 Gravíssimas Condições

 Outros Erros

 Outras Amputações

8. - CONCLUSÃO

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1. - Introdução ao Estudo da Bibliologia

A Bibliologia é parte da Teologia Bíblica e da Teologia Histórica. Nos estudos superiores é


chamada de Isagoge, termo grego que significa “conduzir para dentro”. Pois o objetivo de tal
estudo é conduzir o estudante para o interior infinito das sagradas Escrituras.

O ponto alto da Bibliologia é a exposição da milagrosa história da Bíblia. Como ela foi formada
e como chegou até nós.

2. - A Bíblia como livro

O vocábulo “Bíblia” não se acha nos textos das sagradas escrituras. Consta apenas na capa,
mas não no volume. Do ponto de vista semântico, a palavra Bíblia tem sua origem no termo
grego “biblia” ou “biblos”, que significa “os livros”, indicando aqueles livros que constituem a
coleção de livros sagrados do antigo e novo testamento.

O emprego mais antigo de “ta biblia” = “os livros” pelos cristãos está na segunda carta de
Clemente de Alexandria, doutor da igreja cristã grega por volta de 150 D.C.

A Bíblia é uma coletânea de 66 “livros” escritos no decurso de um período de mais de 1500


anos. Numa Bíblia impressa comum, o livro mais longo (Salmos) ocupa mais de 100 páginas, e
o mais breve (II João), menos de uma página.

Mais de 40 pessoas escreveram os vários livros da Bíblia. Algumas eram ricas, e outras, pobres.
Havia reis, poetas, profetas, músicos, agricultores, professores, um sacerdote, um estadista,
um pastor de ovelhas, um cobrador de impostos, um médico e alguns pescadores.

Escreveram em palácios e em prisões, em grandes cidades e em lugares ermos, em tempos


terríveis de guerra e em tempos de paz e prosperidade. Escreveram narrativas, poesias,
histórias, cartas, provérbios e profecias.

2.1 – Os testamentos

A Bíblia se divide em duas partes: Antigo Testamento e Novo Testamento, tendo ao todo 66
livros; sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. Esses 66 livros foram
escritos no decurso de um período de mais de 1500 anos, por mais de 40 autores.

A palavra Testamento vem do termo grego Diatheke e significa “aliança ou conserto”.

O Novo Testamento não pode ser entendido sem o Antigo Testamento e vice-versa. O A.T. já
era considerado a Escritura Sagrada da Igreja Primitiva, antes que o N.T. existisse. Este, por sua

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vez, é a resposta certa às esperanças e promessas do A.T. Os dois contêm o relato da
Revelação de um mesmo Deus.

2.2 – Antigo Testamento

O Antigo Testamento é o nome que a igreja cristã atribuiu às Escrituras Sangradas dos judeus
(ou Bíblia Hebraica). Foi escrito antes da época de Cristo, originalmente em hebraico, com
exceção de pequenos trechos em aramaico, língua que Israel trouxe do exílio da Babilônia.
Conta especialmente sobre a aliança que Deus fez com Abraão, o patriarca do povo judeu.

Seus 39 livros são classificados em 4 grupos, conformes os assuntos a que pertencem: Lei,
História, Poesia e Profetas.

 Lei – São cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. São
comumente chamados de Pentateuco. Esses livros tratam da origem de todas as
coisas, da lei, e o estabelecimento da nação de Israel.

 História – São 12 livros: De Josué a Ester (Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e
II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester). Ocupam-se da História de Israel nos seus vários
períodos:

Teocracia – sob os juízes;

Monarquia – sob os reinados de Saul, Davi e Salomão;

Divisão do Reino (Judá e Israel) e cativeiro;

Pós-cativeiro – sob Zorobabel, Esdras e Neemias, em conjunto com profetas contemporâneos.

 Poesia – São 5 livros: de Jó a Cantares de Salomão (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes


e Cantares de Salomão). São chamados poéticos não por estarem cheios de
imaginação e fantasia, mas devido ao gênero de seu conteúdo.

 Profetas – São 17 livros: de Isaías a Malaquias (Isaías, Jeremias, Lamentações de


Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias). Estão divididos em:

Profetas maiores: De Isaías a Daniel (5 livros);

Profetas menores: De Oséias a Malaquias (12 livros).

Os nomes maiores e menores não se referem ao mérito ou notoriedade do profeta, mas ao


tamanho dos livros e extensão do ministério profético.

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2.2.2 – O Pentateuco

Deus chamou a nação de Israel para ser um povo depositário da revelação divina na terra
(Romanos 3:2). Este povo, segundo o propósito de Deus, tornar-se-ia uma grande nação que
espalharia a benção de Deus sobre todas as famílias da terra (Gênesis 12:1-3). Cerca de 500
anos depois da chamada de Abraão, chegou o tempo do cumprimento desta revelação que era
de incorporar a história dos 2500 anos precedentes, ou seja, o relato da criação até a posse da
terra de Canaã.

Deus preparou Moisés de uma forma excelente no Egito (Atos 7:22) para a suprema tarefa de
começar a fazer os escritos sagrados (Atos 7:38). Dessa forma, Moisés escreveu os 5 primeiros
livros da bíblia (pela ordem: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que
constituem a Torah (Torá).

O termo “Pentateuco” ou livro “em cinco volumes” vem dos judeus de língua grega e foi
adotado pelos cristãos. É também chamada de “O livro da Lei de Moisés”, “A lei do Senhor”, “A
lei de Deus”, “O livro da lei de Deus”.

O conjunto dos textos que compõem o Pentateuco, segundo estudiosos, foi composto entre os
séculos IX e IV A.C.

Há séculos tanto o Judaísmo como o Cristianismo aceitam a autoria do Pentateuco feita por
Moisés, porém estudiosos mais modernos questionam essa autoria única. No entanto, fontes
como o historiador Flávio Josefo e a Talmude (Baba Bathra) são unânimes em apontar Moisés
como o único escritor do Pentateuco. Um dos pontos mais controvertidos diz respeito ao
relato da morte de Moisés em Deuteronômio 34:5. Josefo afirma que ele descreveu a própria
morte, outros dizem que desse episódio em diante foi seu sucessor quem deu continuidade ao
livro de Deuteronômio, Josué.

2.3 – Novo Testamento

O Novo Testamento descreve a vinda de Jesus, o Messias profetizado no Antigo Testamento,


através dos Evangelhos (livros de Boas Novas); além de conter relatos históricos sobre o início
da Igreja; cartas escritas pelos apóstolos para orientação dos primeiros cristãos; e a Revelação
da segunda vinda de Jesus, a destruição e restauração de todas as coisas. Foi escrito entre os
anos 50 e 95 D.C., sendo composto por 27 livros, que podem ser classificados do seguinte
modo:

 Evangelhos – São 4 livros: de Mateus a João (Mateus, Marcos, Lucas e João). Contam a
vida de Jesus, desde sua concepção até a ascensão.

 Atos – Livro histórico – relatos da vinda do Espírito Santo e da igreja primitiva.

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 Epístolas Paulina – São 13 cartas: de Romanos a Filemom (Romanos, I e II Coríntios,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito e
Filemom). Escritas pelo apóstolo Paulo às igrejas da Ásia no século I.

 Epístolas Gerais – São 8 cartas de outros apóstolos à igreja do primeiro século


(Hebreus, Tiago, I e II Pedro, I, II e III João e Judas).

 Apocalipse – Revelação Profética – livro escrito pelo apóstolo João na ilha de Patmos.
Descreve a segunda vinda de Jesus.

3. - A Bíblia como a Palavra de Deus

Sem considerar as teorias sobre a inspiração da Bíblia, as ideias a respeito de como os seus
livros chegaram à forma atual, o grau de prejuízo do texto bíblico, a mão de redatores e
escribas ao ser transmitido, a questão de quanto deve ser interpretado ao pé da letra e quanto
deve ser aceito com o sentido figurado ou qual parte de Bíblia é história e qual é poesia, se
simplesmente admitirmos que a Bíblia é exatamente o que se apresenta e estudarmos seus 66
livros para lhe conhecer o conteúdo, verificaremos nela uma unidade de pensamentos a
revelar que uma única Mente inspirou a redação e a compilação de todos os seus livros.
Observamos que ela traz em si o sinete de seu Autor, sendo ela, de modo inigualável, a palavra
de Deus.

Muitos sustentam que a Bíblia é a compilação de antigas histórias sobre o esforço do homem
para encontrar a Deus, o registro das experiências humanas na busca por Deus que levaram ao
aperfeiçoamento gradativo das concepções a respeito dele, com base nas experiências das
gerações precedentes. Isso significaria, é lógico, que os inúmeros trechos segundo os quais
Deus falou na verdade empregam mera figura de linguagem, pois Deus não falou de fato. Ao
contrário, as pessoas expressaram suas ideias na linguagem religiosa que pretendiam ser a
linguagem de Deus, quando, na realidade, era o que imaginavam que Deus poderia dizer. A
Bíblia, segundo essa teoria, é rebaixada ao nível de outros livros. Apresentam-na não como o
livro divino, mas como obra humana que finge ser obra de Deus.

Rejeitamos totalmente essa teoria, e com repulsa! Cremos que a Bíblia não é o relato do
homem sobre seus esforços para encontrar a Deus, mas sim a narrativa do esforço de Deus,
por revelar-se à humanidade. É o registro do próprio Deus quanto ao seu trato com os
homens, do desdobramento da revelação que fez de si mesmo à espécie humana.

A Bíblia é a vontade revelada do Criador de toda a humanidade, transmitida pelo próprio


Criador para lhe servir de instrução e direção nos caminhos da vida.

Não se pode duvidar que os livros da Bíblia foram compostos por autores humanos: nem
sequer podemos identificar alguns deles. Tampouco sabemos exatamente como Deus mandou
que seus autores escrevessem. Mas cremos e sabemos que Deus os dirigiu de fato e que esses
livros, portanto, são exatamente o que Deus quis que fossem.

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Há uma diferença entre a Bíblia e todos os demais livros. Há escritores que oram, pedindo a
ajuda e a orientação de Deus, e Deus realmente os ajuda e orienta. Existem muitos livros bons
neste mundo que deixam a impressão inconfundível de que Deus ajudou os autores a escrevê-
los. Mas nem mesmo os autores mais íntimos de Deus teriam a presunção de alegar a favor de
seus que Deus os escreveu.

Entretanto, é essa a afirmação que a Bíblia faz sobre si mesma, e assim o povo de Deus, no
decurso de milhares de anos, tem aprendido compreendido e asseverado. O próprio Deus
supervisionou e dirigiu a redação dos livros da Bíblia, de tal modo que o que foi escrito é
composição de Deus. A Bíblia é a Palavra de Deus num sentido que não se aplica a nenhum
outro livro do mundo.

Muitas declarações da Bíblia estão expressas em formas antigas de pensamento e de


linguagem. Hoje expressaríamos essas mesmas ideias de forma diferente e em linguagem
moderna, não naquela empregada nos tempos antigos. Mas ainda assim a Bíblia encerra
precisamente o que Deus quer que a humanidade saiba a forma exata pela qual ele quer que o
conheçamos. E até o fim dos tempos o “velho e querido Livro” permanecerá sendo a única e
exclusiva resposta às indagações da humanidade na busca por Deus.

Assim como a “prova da teoria está na prática”, também a comprovação da veracidade da


Bíblia está em sua leitura – feita com o coração aberto e a mente receptiva. A leitura assim
demonstrará que a Bíblia é uma mensagem divinamente inspirada, uma só unidade
entrelaçada entre si, da parte de Deus (João 7:17).

3.1 – Princípios de inspiração

Em II Timóteo 3:16 lê-se, de forma clara e irrefutável, que os escritos bíblicos são inspirados,
isto é, o texto recebe o “sopro” = Espírito de Deus, o mesmo “sopro” de que nos fala Gênesis
2:7. Isso significa que o texto sagrado é “inspirado” por Deus. A ideia paulina expressa em II
Timóteo 3:16 é a de que toda a Escritura tem o mesmo caráter que as mensagens proféticas
tinham, sejam elas pregadas ou escritas (II Pedro 1:19-21).

A Escritura não é somente a palavra do homem, fruto de sua inteligência, mas igualmente é a
palavra de Deus proferida por lábios humanos ou escrita pela mão do homem. Podemos dizer,
então, que a Bíblia tem uma dupla autoria: o homem é unicamente o autor secundário,
enquanto o autor principal, sob cuja iniciativa, impulso e direção de cada escritor humano faz a
sua parte, é Deus Espírito Santo.

A inspiração dos escritos bíblicos encontra apoio em duas premissas básicas:

- As palavras da Bíblia são as palavras de Deus. Quando você abre sua Bíblia no A.T. se depara
com textos que são apresentados como palavras escritas ou faladas vindas do próprio Deus (I
Reis 22:8-19; Neemias 8; Jeremias 25: 1-13). No N.T., Paulo identifica a Escritura como sendo
“os oráculos de Deus” (Romanos 3:2). Já em II Pedro 1:20-21 registra que o A.T. foi escrito por
homens movidos e ensinados pelo Espírito Santo.

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- O escritor bíblico transmite aquilo que recebeu. No que se refere à forma, é inegável a
contribuição do homem para a elaboração da Escritura, envolvendo a pesquisa histórica, a
meditação histórica, o estilo linguístico, etc. Nesse sentido, pode-se afirmar que cada livro
bíblico é criação literária de seu autor humano. Já sob a perspectiva teológica, a Bíblia se
apresenta como uma criação de Deus, e seus autores humanos escrevem, sob a inspiração do
Espírito Santo, aquilo que Deus comunica aos homens.

A esta altura, cabe à indagação “em que consiste a inspiração bíblica?”. A inspiração é uma
iluminação ou ilustração concedida por Deus à inteligência do autor bíblico a fim de que este,
sob a luz divina, julgue proposições previamente adquiridas como sendo a expressão fiel das
verdades que o Senhor quer nos transmitir. A inspiração faz, pois, com que, sob a luz do
Espírito Santo de Deus, o autor bíblico examine o conteúdo e a veracidade das proposições
que tem em mente, em seguida as escolha, formule e disponha de tal modo que se tornem o
veículo inerrante, infalível.

A finalidade pela qual Deus inspira o autor e o leva a escrever é, basicamente, de natureza
religiosa. O Espírito Santo, pelo autor sagrado, quer ensinar às pessoas unicamente verdades
que levam à salvação eterna e não temas científicos e profanos. Isso não quer dizer que o
texto bíblico não contenha ciências naturais, históricas, sociais, etc.

3.2 – Princípios de Revelação

A palavra “revelar” é derivada do latim “revelo”, que, por sua vez, é tradução do termo
hebraico “gãlâ” e do grego “apokalyptô” – que transmitem a ideia de desvendar o oculto, para
que possa ser visto e conhecido como é.

3.2.1 – A revelação no AT

No A.T., Deus é o sujeito e o objeto da Revelação, ou seja, o autor e o conteúdo da Palavra. Só


conhecemos de Deus aquilo que Ele nos comunica, e esse é o sentido de Isaías 45:15. Deus só
pode ser descoberto se Ele mesmo se revelar (Deuteronômio 29:29). Deus se dá a conhecer
(Êxodo 6:3, Números 12:6), manifesta sua vontade (Salmos 143:10, Isaías 53:10), revela os
acontecimentos futuros (Gênesis 49:1, Isaías 41:22) e fala (Gênesis 46:2, Salmos 60:6). Ver,
contemplar, escutar e conhecer são atitudes do homem em relação à Revelação de Deus.

Nota-se que, no A.T., a Revelação não está relacionada com a palavra escrita. Entretanto,
desde muito cedo na história de Israel sempre se manifestou o respeito pela palavra de Deus,
confiando-a a escritura. A reforma do rei Josias, no ano de 621 A.C., marcou o início da noção
de Escritura Sagrada (Deuteronômio 30: 11-14; II Reis 22).

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A tradição Falada

A transmissão oral foi decisiva no processo de formação e interpretação da Bíblia. O judaísmo


rabínico concebia a palavra divina revelada na Torá, como algo preexistente e anterior à
criação. Sob o ponto de vista cósmico, antropológico e histórico, a palavra falada é anterior à
palavra escrita. Isso pode ser constatado no primeiro capítulo de Gênesis, onde “Deus diz”.

Segundo a tradição judaica, a Torá era aprendida de forma oral, quando os discípulos ficavam
assentados aos pés dos rabinos.

Originalmente, antes do aparecimento da escrita na Palestina, a religião judaica emprestava


forma e significado especiais à transmissão oral das verdades divinas. Essa força era capaz de
evocar e tornar presente o acontecimento primordial da criação e os diversos marcos da
salvação da humanidade.

Durante a aprendizagem da Torah, grande número de religiosos judeus sabia de memória o


Pentateuco completo. Assim, somente depois da aprendizagem de memória podia-se
perguntar sobre o significado do texto escrito.

3.2.2 – A revelação no NT

No NT, a Revelação é o ato pelo qual Deus se dá a conhecer aos homens mediante a vinda,
entre nós, de Jesus Cristo. Assim, Deus é o autor da Revelação, pois Ele é quem toma iniciativa
de revelar-se. Sendo criatura (I Coríntios 2:9-14) e pecador (Romanos 1:18), o homem só
recebe e conhece a Revelação por meio de sua obra e de sua pessoa, Jesus Cristo revelou ao
mundo a pessoa de Deus (João 1:18; 14:7-11).

Paulo declara que o “mistério” (segredo) do beneplácito de Deus, visando à salvação por meio
de Cristo foi agora revelado, depois de ser mantido oculto até o tempo da Encarnação
(Romanos 16:25-27; I Coríntios 2:7-10; Efésios 1:9-14).

3.3 – Princípio da autoridade bíblica

A confissão de Fé de Westminster, reunindo as Igrejas reformadas e promulgadas na Abadia de


Westminster, em Londres, a 1° de julho de 1643, diz em seu capitulo I (da Escritura Sagrada):

“A autoridade (João 5:39) da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não
depende do testemunho de qualquer homem, ou igreja, mas depende somente de Deus (a
mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de
Deus (I Tessalonicenses 2:13; Gálatas 1:11-12).”

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As igrejas evangélicas concordam em considerar a Bíblia o único fundamento autorizado da fé
cristã e em que nenhuma outra autoridade pode ser considerada superior ou mesmo de igual
posição. Martinho Lutero, pai da Reforma Protestante, foi o primeiro, nos tempos modernos, a
sustentar que a Bíblia e somente a Bíblia é a suprema autoridade em matéria de fé.

Não existem originais de nenhum dos livros bíblicos. A leitura e interpretação desses textos
eram extremamente trabalhosas. Por isso mesmo, a composição dos livros da Bíblia sofreu um
processo paciente, demorado e cauteloso. Uma das dificuldades, por exemplo, é que um texto
hebraico antigo carecia de signos vocálicos (vocais) e de acentuação. Por outro lado, a
pontuação da escrita grega era bastante rudimentar, e o espaço entre as palavras só se
generalizou a partir da Idade Média.

Ao mesmo tempo, os autores de vários livros da bíblia buscaram fontes mais antigas na
elaboração de partes de seus escritos. Por exemplo, Números 21.14 menciona o “Livro das
Guerras do Senhor” para localizar regiões pelas quais os israelitas passaram durante sua
jornada pelo deserto. Já II Samuel 1. 18 refere-se ao “livro dos Justos” no lamento de Davi por
Saul e Jonatas. Em I Reis 14.10-29, há menção do “livro da Historia dos Reis de Israel” e ao
“Livro da Historia dos Reis de Judá” como fontes que descrevem os atos de reis israelitas. Já II
Crônicas 24.27 menciona o “livro da Historia dos Reis” como fonte de dados acerca do rei Joás.

Logo no inicio de seu evangelho, Lucas revela que se serviu de inúmeras fontes orais para
compor o seu relato.

Por outro lado, é preciso não esquecer que o procedimento humano pelo qual a Bíblia chegou
até nós é apenas parte da verdade. Da mesma forma em que Deus esteve presente nos
eventos da história bíblica, também esteve presente na preparação dos livros das Escrituras.
Esses textos surgiram em épocas diferentes, ao longo de dezesseis séculos, escritos por cerca
de quarenta autores. Entretanto, há uma notável unidade nessa diversidade, ou seja:

“É o mesmo Deus que age na narrativa de ambos os Testamentos; é o mesmo Deus


que em ambos, revela-se a si mesmo e a sua vontade. Sua presença faz-se sentir em todas as
páginas, e essa é a razão porque o estudo da Bíblia não visa aprender história, mas ver e ouvir
a Deus que fala na Bíblia, e oferece-lhe a resposta de nossa obediência”.

A transmissão e recuperação dos textos bíblicos antigos foram feitas, durante muitos séculos
por copistas judeus e cristãos piedosos e dedicados que transcreviam a mão, letra por letra, os
manuscritos contendo textos do A.T. e N.T. Essas pessoas como verdadeiros artesãos da
palavra de Deus, nos levaram a Bíblia em sua forma atual. Mas, como todo o trabalho humano,
por mais bem elaborado e cuidadoso que seja, a tarefa desses copistas apresentava erros
involuntários, a maioria mais de forma que de conteúdo.

Por outro lado, o número dessas diferenças é comparativamente insignificante diante da


monumental obra realizada por esses copistas. O problema residia no fato de que os
manuscritos do AT mais importantes de que os estudiosos dispunham, datavam do século X de
nossa era. Atualmente, graças às descobertas do Mar Morto, importantes manuscritos de
livros do AT datam pelo menos do século I de nossa era. E constatou-se, nessas descobertas,
que praticamente não havia diferenças de conteúdo em relação aos manuscritos mais antigos!

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Quanto ao N.T., as fontes mais antigas disponíveis são de datas muito mais próximas da época
de sua composição do que no caso dos manuscritos do A.T. Por exemplo, foi descoberto um
fragmento do evangelho de João datado da primeira metade do século II de nossa era,
existindo outros manuscritos do N.T. mais recentes.

3.4 –Teorias falsas sobre a inspiração da Bíblia

Inspiração natural: Ensina que a Bíblia foi escrita por homens talentosos como Sócrates,
Shakespeare, Camões e outros desse gênero.

Inspiração comum: Ensina que da mesma maneira que somos “inspirados” a orar, cantar ou
ensinar a palavra, assim ocorreu com os escritores bíblicos.

Inspiração parcial: Ensina que partes da Bíblia são inspiradas, outras não. Essa teoria afirmam
que a Bíblia é a Palavra de Deus.

Inspiração de ideias: Ensina que Deus inspirou as ideias, mas não as palavras, estas ficaram a
cargo do escritor.

4. - O tema central da Bíblia

Toda a Bíblia concentra-se na história de Cristo e na promessa de vida eterna feita pelo Pai
àqueles que o aceitam. A Bíblia foi escrita tão somente para que as pessoas creiam em Cristo,
o entendam, conheçam, amem e o sigam. Jesus é revelado em cada um dos livros da Bíblia de
forma especial:

1. Em Gênesis Jesus é: A Semente da mulher.


2. Em Êxodo Jesus é: O Cordeiro pascoal.
3. Em Levítico Jesus é: O Sacrifício expiatório.
4. Em Números Jesus é: A Rocha ferida.
5. Em Deuteronômio Jesus é: O Grande Profeta de Deus.
6. Em Josué Jesus é: O Príncipe do exército do Senhor.
7. Em Juízes Jesus é: O Nosso Libertador.
8. Em Rute Jesus é: O Nosso Parente.
9. Em I Samuel Jesus é: A nossa vitória.
10. Em II Samuel Jesus é: O descendente de Davi.
11. Em I Reis Jesus é: O doador da Sabedoria.
12. Em II Reis Jesus é: O Reis dos Reis.
13. Em I Crônicas Jesus é: O Rei de Deus.
14. Em II Crônicas Jesus é: O que faz aliança.
15. Em Esdras Jesus é: O nosso auxilio, Senhor dos céus e da terra.

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16. Em Neemias Jesus é: O nosso ajudador
17. Em Éster Jesus é: O nosso Mardoqueu, sofredor.
18. Em Jó Jesus é: O nosso Redentor vivo.
19. Em Salmos Jesus é: O guarda de Israel.
20. Em Provérbios Jesus é: A sabedoria de Deus.
21. Em Eclesiastes Jesus é: O alvo verdadeiro.
22. Em Cantares Jesus é: O amado.
23. Em Isaías Jesus é: O profeta sofredor.
24. Em Jeremias Jesus é: A nossa justiça.
25. Em Lamentações Jesus é: O varão de Deus.
26. Em Ezequiel Jesus é: O pregador mal recebido.
27. Em Daniel Jesus é: O Rei Eterno.
28. Em Oséias Jesus é: O que liga as feridas.
29. Em Joel Jesus é: O que habita em Sião.
30. Em Amós Jesus é: O teu Deus ò Israel.
31. Em Obadias Jesus é: O Senhor no seu Reino.
32. Em Jonas Jesus é: O profeta ressuscitado.
33. Em Miquéias Jesus é: O nascido em Belém.
34. Em Naum Jesus é: O que leva as boas novas.
35. Em Habacuque Jesus é: O Senhor no Seu Santo Templo.
36. Em Sofonias Jesus é: O Senhor que está no meio de ti.
37. Em Ageu Jesus é: O Desejado de todas as Nações.
38. Em Zacarias Jesus é: O Preço do Cordeiro.
39. Em Malaquias Jesus é: O Sol da Justiça.
40. Em Mateus Jesus é: O Rei Messias.
41. Em Marcos Jesus é: O Servo de Deus.
42. Em Lucas Jesus é: O Filho do homem.
43. Em João Jesus é: O Filho de Deus.
44. Em Atos Jesus é: O doador do Espírito Santo.
45. Em Romanos Jesus é: Aquele que nos torna justo aos olhos da lei.
46. Em I Coríntios Jesus é: As primícias dos que dormem.
47. Em II Coríntios Jesus é: A graça de Deus.
48. Em Gálatas Jesus é: O verdadeiro evangelho.
49. Em Efésios Jesus é: Toda Armadura de Deus.
50. Em Filipenses Jesus é: O que supre as necessidades.
51. Em Colossenses Jesus é: O cabeça da Igreja.
52. Em I Tessalonicenses Jesus é: O vingador de todas as coisas.
53. Em II Tessalonicenses Jesus é: O fiel protetor.
54. Em I Timóteo Jesus é: O único mediador Entre Deus e os homens.
55. Em II Timóteo Jesus é: O Senhor e Justo Juiz.
56. Em Tito Jesus é: A graça Salvadora de Todos os homens.
57. Em Filemom Jesus é: O Senhor que intercede por nós.
58. Em Hebreus Jesus é: O Autor e consumador da fé.
59. Em Tiago Jesus é: O dom perfeito vindo de Deus.
60. Em I Pedro Jesus é: A pedra principal.

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61. Em II Pedro Jesus é: O Senhor e Salvador que nos concede a entrada no seu reino.
62. Em I João Jesus é: Aquele que se manifestou para desfazer as obras do diabo.
63. Em II João Jesus é: A fonte da verdadeira doutrina.
64. Em III João Jesus é: O nome que garante a vitória.
65. Em Judas Jesus é: O único Soberano e Senhor.
66. Em Apocalipse Jesus é: O Rei dos Reis E Senhor dos Senhores.

5. - Materiais utilizados para escrita bíblica

 Do papiro ao pergaminho

O material de escrita de uso comum era o papiro, feito de fatias do caule do papiro, uma
planta aquática que crescia no Egito. Fatias horizontais e verticais eram prensadas juntas e
lustradas. A tinta era feita de carvão vegetal, goma e água.

O papiro tinha um problema: não era muito durável. Tornava-se quebradiço com o decorrer do
tempo ou apodrecido na umidade e rapidamente se deteriorava – menos no Egito, onde o
clima seco e as areias movediças preservaram; até ser descoberta nos tempos modernos, uma
coletânea assombrosa de documentos da antiguidade.

No século IV D.C., o papiro foi substituído pelo pergaminho como material de escrita. O
pergaminho é preparado a partir do couro de bezerro ou de cordeiros, com granulação fina, e
é muito mais durável.

Até a descoberta recente dos papiros egípcios, todos os manuscritos existentes eram de
pergaminhos.

 Do rolo ao Códice

Para composições curtas, tais como cartas, eram usadas folhas avulsas de papiro. Para cartas
mais extensas, bem como para livros, eram coladas folhas lado a lado, para formar rolos. O
rolo usual tinha aproximadamente 9 m de comprimentos e de 23 a 25 cm de altura.

A desvantagem do rolo era que não era muito prático com seus 9 m de comprimento, pois o
tamanho dificultava o manuseio. Por isso, no século II D.C., o rolo começou a ser substituído
pelo códice, que tem essencialmente a mesma forma dos livros modernos – com todas as
páginas coladas num único lado. Era possível colocar num códice uma quantidade muito maior
de folhas do que num único lado. Era possível colocar num códice uma quantidade muito
maior de folhas do que caberiam num rolo, e assim ficou possível colocar a totalidade do NT
num único códice.

A manufatura de Bíblias em manuscrito cessou com a invenção da imprensa no século XV.

15
6. - O Cânon da Bíblia e sua evolução histórica

6.1 – Cânon do A.T.

A tradição judaica afirma que Esdras foi o responsável pela edição e compilação dos livros que
hoje fazem parte da Tanak, ou seja, aqueles que formam o Cânon do AT. Conhecida como
“Bíblia Hebraica”, teve o seu cânon definido por volta de 85 D.C na cidade de Jâmnia (Iavne), e
só aceitou como Palavra de Deus os textos que tivessem origem e/ou cópias em hebraico.
Contêm o conjunto da literatura canonicamente aceita pelos judeus, sendo organizada da
seguinte maneira:

 Tora (a Lei) – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio;


 Nebiím (os Profetas) – Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel,
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu,
Zacarias e Malaquias;
 Ketubim (os Escritos) – Salmos, Jó, Provérbios, Cânticos dos Cânticos, Eclesiastes, Rute,
Lamentações, Éster, Esdras, Neemias, 1 e 2 Crônicas e Daniel.

Todas as cópias tinham que ser feitas à mão, e nem todos os escribas eram igualmente
cuidadosos. Às vezes, anotações ou comentários escritos nas margens do texto eram
erroneamente incorporados no texto no decurso da cópia. Já muito tempo antes dos dias de
Cristo, um esforço combinado estava sendo feito para padronizar o texto hebraico e torná-lo
mais fidedigno possível.

Esse trabalho mostrou-se tanto mais complicado porque a escrita hebraica usada no A.T. era
diferente da escrita aramaica adotada posteriormente (as letras quadráticas ainda usadas no
hebraico moderno impresso). Além disso, somente as consoantes eram escritas, ao passo que
as vogais eram omitidas. E, finalmente, já no século VIII A.C., o hábito de separar palavras com
pontinhos ou traços de pena desapareceu, de modo que todas as letras eram simplesmente
escritas juntas.

6.2 – Cânon do N.T.

Sabemos muito mais a respeito de como foi formado o cânon do N.T. Existem indícios dentro
do próprio N.T. de que, embora os apóstolos ainda vivessem e debaixo de sua própria
supervisão, coletâneas de seus escritos começaram a ser organizadas para as igrejas e
acrescentadas ao A.T. como a Palavra de Deus.

Paulo reivindicava para seus ensinos a inspiração de Deus (I Coríntios 2:6-13, 14:37; I
Tessalonicenses 2:13).

16
Assim também fez João para o Apocalipse (Apocalipse 1:2).
Pedro escreveu a fim de que as igrejas pudessem “lembrar-se destas coisas depois da
minha partida” (II Pedro 1:15; 3:1-2).
Pedro classificou as epistolas de Paulo com “as demais Escrituras” (II Pedro 3:15-16).

Segundo parece, os apóstolos escreveram muitas cartas, tendo em mente as necessidades


imediatas das igrejas. No tocante as quais dessas cartas deviam ser conservadas pelos séculos
vindouros, cremos que o próprio Deus cuidou da questão e fez suas próprias escolhas.

 Onde apareceram pela primeira vez os vários livros do N.T.

Palestina: Mateus, Tiago, e Hebreus.


Ásia Menor: João, Gálatas, Efésios, Colossenses, I e II Timóteo, Filemom, I e II Pedro.
Grécia: I e II Coríntios, Filipenses, I e II Tessalonicenses, Lucas.
Roma: Marcos, Atos e Romanos.

 Testemunho antigo aos livros do N.T.

Por causa da natureza perecível do material de escrita e por se tratar de um período de


perseguição durante o qual os escritos cristãos eram destruídos, pouco escritos que continham
parcialmente a vida dos apóstolos sobreviveram até nós. Mas, embora sejam pouco
numerosos, oferecem testemunho inabalável da existência, nos dias deles, de um grupo de
escritos autorizados que os cristãos aceitavam como Escrituras, ou por declarações diretas, ou,
mais frequentemente, por meio de citação ou referência a escritos específicos como
“Escrituras”. Tais escritos posteriormente tornaram-se parte do cânon oficial do N.T. Por
exemplo:

Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios (95 D.C.), cita de Mateus, Lucas, Romanos,
Coríntios, Hebreus, I Timóteo I Pedro ou se refere a eles.

Policarpo, na sua carta aos Filipenses (110 D.C.), cita Filipenses (escrito por Paulo) e reproduz
frases de nove outras epistolas de Paulo e de I Pedro.

Inácio, nas suas sete cartas, escritas por volta de 110 D.C., durante sua viagem de Antioquia a
Roma para ser martirizado, cita Mateus, I Pedro e I João e nove das epístolas de Paulo; suas
cartas também revelam o efeito dos outros três evangelhos.

Papias (70-155), aluno do apostolo João, escreveu “Uma explicação dos discursos do Senhor”
na qual cita João e registra tradições a respeito da origem dos evangelhos segundo Mateus e
Marcos.

O Didaquê, escrito entre 80 e 120 D.C., contém 22 citações de Mateus, tem referências e
Lucas, João, Atos, Romanos, Tessalonicense e I Pedro e fala do “evangelho” como um
documento escrito.

A Epístola de Barnabé, escrita entre 90 e 120 D.C., cita Mateus, João, Atos e II Pedro e
emprega a expressão “está escrito”, fórmula usualmente aplicada somente às Escrituras.

17
Existem muitos outros exemplos semelhantes. Ao todo, abrangem todos os livros do N.T.,
embora vários deles tivessem sido colocados “em dúvida” em algumas regiões até ao século
IV, quando, então, o imperador Constantino promulgou seu Edito de Tolerância.

 Eusébio alista os livros do N.T.

Eusébio (264-340 D.C.) era bispo da Cesárea. Foi o primeiro grande historiador da igreja, e
devemos a ele boa parte de nossos conhecimentos acerca do que aconteceu durante os
primeiros séculos da igreja cristã.

Eusébio viveu a perseguição dos cristãos por Diocleciano e foi preso nesse período, que foi o
derradeiro esforço de Roma para apagar o cristianismo do mapa. Um dos objetivos especiais
de Diocleciano era a destruição de todas as Escrituras cristãs. Durante dez anos, os agentes de
Roma buscavam Bíblias para serem queimadas nas praças públicas. Para os cristãos, não era
questão secundaria saber exatamente quais livros compunham suas Escrituras!

A vida de Eusébio continua no reinado do imperador Constantino, que aceitou o cristianismo.


Eusébio passou a ser um dos principais conselheiros religiosos de Constantino. Um dos
primeiros atos de Constantino como imperador foi encomendar 50 Bíblias para as igrejas de
Constantinopla, a serem preparadas por cópias dos peritos, sob a orientação de Eusébio, no
pergaminho mais fino. As Bíblias seriam levadas de Cesárea para Constantinopla em
carruagens reais.

De quais livros se constituía o N.T. de Eusébio? Exatamente os mesmos que agora temos em
nosso N.T.

Eusébio, por meio de pesquisas extensivas, informou-se a respeito de quais livros eram
geralmente aceitos pelas igrejas. Na obra História Eclesiástica escreve a respeito de quatro
classes de livros:

1. Os livros universalmente aceitos;

2. Os livros “em disputa”: Tiago, II Pedro, II e III João e Judas, os quais, embora
estivessem incluídos nas Bíblias que ele mesmo mandara copiar, tinham sido
colocados em dúvida por alguns;

3. Os Livros “espúrios”, entre os quais menciona Atos de Paulo, O pastor de Hermas, o


Apocalipse de Pedro, a Epistola de Barnabé, e o Didaquê;

4. As “falsificações dos hereges” o Evangelho de Pedro, o Evangelho de Tomé, o


evangelho de Matias, Atos de André e Atos de João.

 O Cânon adotado pelo Concílio de Cartago


Em 397 D.C., o Concilio de Cartago estabeleceu formalmente o cânon do N.T. ao
ratificar os 27 livros do N.T. conforme os conhecemos, expressou o que já fora decidido pelo
julgamento unânime das igrejas e aceitou o livro que estava destinado a se tornar a herança
mais preciosa da raça humana.

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Os livros do N.T. foram escritos num mundo em que as comunicações tinham se tornado mais
fáceis que em qualquer período anterior. Entretanto, comparados aos nossos padrões atuais,
as comunicações ainda eram lentas e viajar podia ser perigoso. O que hoje é um passeio de
poucas horas teria levado, naqueles tempos, semanas ou meses. Não era conhecida a
imprensa, e livros e cartas tinham que ser copiados manualmente – um processo lento e
laborioso.

Além dos livros que acabariam sendo aceitos como canônicos do NT existiam muitos outros
que variavam entre bons, absurdos e fraudulentos. Alguns deles eram tão magníficos e
valiosos que, durante algum tempo e em algumas regiões, eram considerados Escrituras. Em
ultima análise, o critério para um livro ser aceito no cânon era sua origem apostólica genuína
escrita por um apóstolo segundo João ou sob os auspícios de um apóstolo. Nem sempre era
fácil averiguar essa autenticidade principalmente no caso de livros menos conhecidos
provenientes de uma região distante.

6.3 – Livros Apócrifos

Os apócrifos (palavra derivada do grego que significa “oculto” ou “escondido”) consistem em


14 livros, que se acham em algumas versões bíblicas, tiveram sua origem nos séculos III a I A.C.
e, na sua maioria, são de autoria incerta.

Esses livros não estão na Bíblia hebraica, pois foram escritos depois de terem cessado as
profecias, os oráculos e a revelação direta do A.T., a certa altura, entretanto, esses livros foram
acrescentados à Septuaginta, uma tradução grega que surgiu naquele período.

Os apócrifos nunca foram reconhecidos pelos judeus como parte das Escrituras hebraicas.
Josefo, principal historiador judeu do século I, os rejeitou na sua totalidade. Nunca foram
citados por Jesus, nem em qualquer parte do Novo Testamento. Não eram reconhecidos pela
igreja primitiva como canônicos nem como divinamente inspirados. Como, pois, acabaram
aparecendo em muitas Bíblias?

Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, no século II, o A.T. não foi traduzido do A.T.
hebraico, mas da versão em grego (a Septuaginta). Assim, os livros apócrifos foram incluídos
na versão latina antiga da Bíblia, da qual surgiu a Vulgata, que passou a ser a versão comum da
Europa ocidental até os tempos da Reforma.

Os livros apócrifos não são reconhecidos como canônicos pelos protestantes, mas estão
incluídos em algumas versões bíblicas protestantes, entre o A.T. e o N.T., como “livros que são
de leitura proveitosa”. Nas versões bíblicas católicas romanas, os apócrifos (excetuando-se III e
IV Esdras e a Oração de Manassés) estão intercalados com os livros canônicos do A.T. e são
chamados de deuterocanônicos.

Complicando ainda mais o assunto, a Igreja Católica Romana emprega o termo “apócrifo” para
outro grupo de livros, como o “Testamento de Adão, e III e IV Macabeus”, que usualmente não

19
estão incluídos nas Bíblias católicas romanas, nem nas protestantes. O termo protestante para
esse grupo de livros é pseudepígrafo.

 Breve panorama dos apócrifos

Livros históricos

Terceiro Esdras – compilação de passagens de Esdras, II Crônicas e Neemias, com lendas


adicionais a respeito de Zorobabel. Seu objetivo era retratar a generosidade de Ciro e Dario
para com os judeus, como padrão a ser emitido pelos Ptolomeus do Egito.

Primeiro Macabeus – Obra histórica de grande valor a respeito do período macabeu, que
relata os eventos da luta heróica dos judeus pela liberdade (175 - 135 A.C.). Foi escrita por
volta de 100 A.C. por um judeu na Palestina.

Segundo Macabeus – Declara ser uma abreviação de uma obra escrita por um certo Jasom de
Cirene, a respeito de quem nada se sabe. Suplementa I Macabeus, mas é inferior a ele.

Ficção religiosa

Tobias – romance totalmente destituído de valor histórico, acerca de um jovem rico cativo em
Nínive, que foi levado por um anjo a se casar com uma “viúva-virgem”, que perdera sete
maridos.

Judite – Romance histórico de uma viúva judia rica, bela e devota que, nos dias da invasão de
Judá pelos babilônicos, foi com esperteza à tenda do general babilônico e, fingindo querer se
oferecer para ele, cortou-lhe a cabeça e assim salvou a cidade.

Acréscimos ao livro de Ester – passagens interpoladas na Septuaginta, no livro de Ester,


principalmente para demonstrar a intervenção divina na história. Esses fragmentos foram
reunidos e agrupados por Jerônimo.

Três acréscimos ao livro de Daniel:

A oração de Azarias e o Cântico dos três moços – um acréscimo inautêntico ao livro de Daniel
encaixado depois de 3:23, que registra o que teria sido sua oração enquanto estavam na
fornalha ardente, e seu cântico triunfante de louvor por terem sido livrados.

Susana – outra amplificação do livro de Daniel, que relata como a esposa piedosa de um judeu
rico na Babilônia, falsamente acusada de adultério, foi inocentada por Daniel.

Bel e o Dragão – Mais um acréscimo ao livro de Daniel. Consiste em duas estórias e, em


ambas, Daniel comprova que os ídolos Bel e o Dragão não são deuses; uma delas baseia-se na
história da cova dos leões.

Literatura Sapiencial

Sabedoria de Salomão – ou simplesmente Sabedoria. Muito semelhante a partes de Jó,


Provérbios e Eclesiastes. É um tipo de fusão entre o pensamento hebraico e a filosofia grega e
foi escrito por um judeu de Alexandria que se apresenta como Salomão.

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Eclesiástico – Também chamado “Sabedoria de Jesus, filho de Siraque”, ou simplesmente
“Siraque”. Assemelha-se ao livro de Provérbios e foi escrito por um filósofo judeu muito
viajado. Oferece regras de conduta para todos os pormenores da vida civil, religiosa e
doméstica e tece elogios a uma longa lista de heróis do A.T.

Baruque – Livro que supostamente provém de Baruque, secretário de Jeremias (ver Jeremias
32:12, 13, 45:1), que no livro é representado passando a última parte de sua vida na Babilônia.
É dirigido aos exilados. Consiste principalmente de paráfrases de Jeremias, Daniel e outros
profetas.

A Carta de Jeremias – Apêndice de Baruque.

A Oração de Manassés – Livro que alega ser a oração de Manasses, rei de Judá, enquanto era
mantido cativo na Babilônia (II Crônicas 33:12-13). O autor é desconhecido, mas o livro
provavelmente data do século I A.C.

Leitura Apocalíptica

Quarto Esdras – supostamente contém visões, concedidas a Esdras, que tratam do governo do
mundo por Deus, de uma era vindoura melhor e da restauração de algumas Escrituras
perdidas.

7. - Preservação e Traduções da Bíblia

7.1 – As línguas originais da Bíblia

 Hebraico

A língua hebraica é chamada na Bíblia de “língua de Canaã” (Isaías 19:18) e com frequência de
“judaico” (Isaías 36:11; II Crônicas 32:18). O hebraico pertence ao grupo ocidental dos idiomas
semíticos. A escrita hebraica descende da escrita fenícia. Consiste em 22 consoantes, não
possui o artigo indefinido, e os substantivos são distinguidos em gênero e número. O
vocabulário imaginário do hebraico é praticamente baseado nas coisas e atividades da vida
diária.

A língua hebraica faz o uso permanente de expressões antropomórficas, isto é, a transferência


ou adaptação de termos para partes do corpo humano e para as atividades humanas como
referência ao mundo inanimado e outras condições às quais não podem ser estritamente
atribuídas.

21
 Aramaico

Foi a partir do exílio na Babilônia (séc. VI A.C.) que o aramaico, então língua internacional das
chancelarias, começou a superar o hebraico no uso corrente entre os judeus. As inscrições
aramaicas mais antigas que se conhecem procedem do séc. IX A.C. O aramais converteu-se
mais tarde na língua oficial da Assíria e Pérsia.

No tempo de Jesus, o dialeto aramaico palestinense substituiu o hebraico. Foi a língua falada
por Cristo, pelos apóstolos e pela Igreja de Jerusalém. As breves seções de textos escritos em
aramaico correspondem ao chamado “aramaico imperial” (utilizado pelas populações das
regiões ocidentais, absorvidas depois pela Assíria). As passagens em aramaico do A.T. são:
Esdras 4:8-16; 7:12-26; Josué 10:11 e Daniel do 2:4 até 7:28.

 Grego

De todas as línguas bíblicas, a que melhor se conhece é a grega. Trata-se do idioma literário de
um dos povos mais cultos da Antiguidade. O grego bíblico não é propriamente o grego clássico,
mas o grego helenístico, a língua introduzida e divulgada no império de Alexandre Magno
(356-323 A.C.), e falada, desde o séc. IV A.C.

7.2 – Os manuscritos

7.2.1 - O Texto Massorético

Antes da descoberta dos documentos do Mar Morto, o mais antigo texto existente do A.T. era
o chamado texto Massorético (TM), que corresponde ao séc. X D.C. A “massorá” é um corpo
de tradições referentes à grafia correta, estilo e leitura da Bíblia hebraica, criado pelos
massoretas (exegetas judaicos) para impedir modificações no texto sagrado no decorrer dos
séculos. O trabalho dos massoretas vai do século VI ao XIII D.C.

O texto hebraico, sem vogais nem acentos, estava razoavelmente definido já no fim do século I
D.C., embora não esteja claro como isso foi levado a efeito. Já no século VI D.C., os chamados
massoretas acrescentaram um sistema de pontinhos e traços embaixo, acima e na lateral das
consoantes para garantir de que o texto possa ser lido corretamente.

Havia ainda casos que o texto era de difícil entendimento. Nesses casos, os massoretas
marcavam a palavra no texto, para indicar como o texto deveria se escrito, e acrescentavam na
margem a palavra ou a forma gráfica, para indicar o que faria mais sentido para o leitor. Assim,
ficava reduzido ao mínimo o risco de o escriba olhar para um texto que não parecia fazer
sentido e fazer suas próprias correções, que deliberadamente, quer sem pensar.

Os massoretas tinham tamanho respeito pelo texto que deixaram intactas as peculiaridades
dos vários livros da Bíblia, inclusive palavras e expressões idiomáticas arcaicas e diferenças
entre os dialetos e ortografias. Em alguns casos, um nome mais moderno era acrescentado

22
para explicar um nome que já não era reconhecido – por exemplo, em Gênesis 14:2, onde é
explicado que Belá é a mesma cidade que conhecem como Zoar.

7.2.2 - Os manuscritos do Mar Morto

O Mar Morto é a mais baixa massa líquida da face da Terra, com 430 m abaixo do nível do mar.
Têm 85 km de extensão no sentido norte e sul e uma larga máxima de 16 km. O nome “Mar
Morto” não aparece na Bíblia; em seu lugar, temos a denominação “Mar do Arábia” ou “Mar
Salgado” (Deuteronômio 3:17; Josué 3:16).

No contexto da história da Bíblia, a descoberta dos manuscritos do Mar Morto assume um


papel e uma dimensão extraordinários. Esse achado acidental constitui-se hoje uma das mais
importantes descobertas dos tempos modernos. O que ressalta o valor desses documentos é a
notória escassez que tem havido até agora de material desse tipo na Palestina.

No começo de 1947, Muhammad adh-Dhib e mais dois pastores de cabras estavam guiando
seus rebanhos próximos de Qumarã, ao sul de Jericó, perto do mar Morto, no deserto de Judá.
Enquanto Muhammad buscava uma cabra que havia se perdido, descobriu a entrada de uma
cova, os beduínos encontraram uma jarra, dentro da qual se encontravam alguns
pergaminhos.

Esses jarros tinham entre 50 a 70 cm de altura, e foram utilizados para proteger os


manuscritos (papiro, pergaminho e couro) contra as intempéries e a destruição.

No final de 1947, E. Sukenik, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, tomou


conhecimento da descoberta dos manuscritos do mar Morto. Pôde comparar três dos sete
rolos incompletos de Isaías. Quando os beduínos souberam do valor monetário de seus
achados, começaram a explorar toda a zona de Qumarã à procura de outros documentos. Em
1952 descobriram as Cavernas I e II. Logo depois, acharam a Caverna IV, a apenas 90 metros
das ruínas do monastério de Qumarã.

Foi nas cavernas desses penhascos que os documentos do Mar Morto foram descobertos a
partir de 1947. Esses manuscritos teriam pertencido a uma comunidade de monges que viviam
em Qumarã, que muitos acreditam tratar-se dos essênios. Tais documentos haviam sido
escondidos dos romanos por ocasião da guerra judaica, entre 66 a 70 de era cristã.

A origem da comunidade de Qumarã data, provavelmente, de cerca de 145 A.C. , logo após a
morte de Antíoco Epifânio IV, rei dos selêucidas (dinastia helênica que governou, de 312 a 64
a. C., a parte asiática do império de Alexandre, o grande). Os monges devem ter-se originado
de um grupo que se opunha é helenizarão do judaísmo durante o seu reinado.

Datas dos Manuscritos

23
As evidências procedentes da Paleografia (estudo dos escritos antigos) estabelecem as datas
aproximadas dos manuscritos do Mar Morto a partir de 250 A.C. até 70 D.C.

Antes da descoberta dos documentos do Mar Morto, o mais antigo texto existente do A.T. era
o chamado texto Massorético (TM), que corresponde ao séc. X D.C.

O supremo significado dos manuscritos do mar Morto está na recuperação de documentos do


A.T. que datam de cerca de mil anos antes da data de nossas cópias medievais! De mais de 500
manuscritos recuperados em Qumarã, 175 são bíblicos. O mais antigo de todos os textos
descobertos é um fragmento arcaico do livro de Êxodo, cuja data pode ser estabelecida por
volta de 250 A.C. A maior parte desses manuscritos pertence á tradição do texto Massorético.

Documentos da Comunidade de Qumarã

Além de trabalhos que não são bíblicos, a comunidade de Qumarã produziu obras escritas pela
própria seita, quase todas desconhecidas até a descoberta dos manuscritos. Um desses
documentos é chamado “Documento de Damasco”. Pelo menos nove dos manuscritos dessa
obra foram encontrados em Qumarã. Esse material fornece importantes informações sobre a
comunidade.

O manual de Disciplina foi um dos sete documentos encontrados na Caverna I. Esse Manual
apresenta as condições para o candidato ingressar na seita. Outro dos manuscritos descoberto
na Caverna I é o “Hinos de Ação de Graças”.

Estima-se que em Qumarã viveram cerca de 200 a 400 pessoas. A maior parte delas compunha
o monastério. O sitio foi abandonado por breve tempo após um terremoto ocorrido no ano 31
A.C. Os romanos capturaram a colônia em 68 D.C.

7.2.3 – Outros manuscritos

Existem, hoje em dia, aproximadamente 4 mil manuscritos conhecidos da Bíblia ou de partes


da Bíblia, feitas entre os séculos II e XV D.C. Talvez isso nos pareça um número reduzido, mas
representa muito mais exemplares do que o que temo de qualquer outra obra escrita da
Antiguidade .

Por exemplo: não se conhece nenhum exemplar completo de Homero anterior a 1300 D.C.,
nem existe nada de Heródoto que seja anterior a 1000 D.C.

Os manuscritos do N.T. estão divididos em dois grupos, tendo por base a forma das letras
gregas que empregam: unciais e cursivos. Os unciais eram escritos em letras maiúsculas
grandes. Existem aproximadamente 160 deles, feitos entre os séculos IV e X. Os cursivos eram
escritos em letras pequenas, corridas, frequentemente ligadas entre si, datados dos séculos X
a XV. Os unciais são muito mais valiosos, por serem muito mais antigos.

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Os três manuscritos mais antigos, completos formosos e valiosos do N.T. são o Códice
Sinaítico, o Códice Vaticano, e o Códice Alexandrino, que originalmente eram Bíblias
completas.

 Códice Sinaítico

A descoberta do Códice Sinaítico é uma das historias mais interessantes da arqueologia. Foi
descoberta em 1844 por um estudioso alemão chamado L.F.K. Vom Tischendorf, no Mosteiro
de Santa Catarina, ao pé do monte Sinai. Durante uma visita ao mosteiro em 1844, notou, num
cesto de papéis velhos separados para serem queimados, páginas de pergaminhos escritas em
grego. Um exame mais apurado revelou fazerem parte de um manuscrito antigo da
Septuaginta. Tratava-se de 43 folhas. Por mais que procurasse, não conseguiu achar mais.

Em 1853 voltou ao mosteiro para continuar a buscar, mas nada descobriu. Voltou de novo em
1859. Enquanto falava com o mordomo a respeito da Septuaginta, este mencionou que tinha
um exemplar antigo e o trouxe a Tischendorf, embrulhado numa toalha de papel. Era o
restante do manuscrito do qual Tischendorf vira as 43 folhas, 15 anos antes. Ao examinar
aquelas páginas, percebeu que tinha em suas mãos a obra escrita mais preciosa existente.
Continha 1499 folhas do A.T. e o N.T. inteiro, mais a extra canônica Epístola de Barnabé, e
parte do Pastor, de Hermas, em 148 folhas, dando um total de 347. Estavam escritas numa
bela caligrafia, nas folhas mais finas de pergaminho, medindo 38x32 cm, e data da primeira
metade do século IV. É o único manuscrito dessa antiguidade que contém a totalidade do N.T.

As 43 folhas que Tischendorf conseguiu na sua primeira visita estão na Biblioteca da


Universidade de Leipzig. O restante do manuscrito foi comprado, depois de longas negociações
internacionais, para a Biblioteca Imperial de São Petersburgo, onde permaneceu até 1933,
quando foi vendido ao Museu Britânico por meio milhão de dólares.

 Códice Vaticano

O Códice Vaticano foi escrito no século IV pertence à Biblioteca do Vaticano desde 1481, daí o
nome. Faltam alguns fragmentos do N.T.

 Códice Alexandrino

O Códice Alexandrino foi escrito no século V, em Alexandria, no Egito. Contém a Bíblia inteira e
as obras extra canônicas Epístolas de Clemente e Salmos de Salomão. Está no Museu Britânico
desde 1627.

 Os papiros

Sir Flinders Petrie, egiptólogo de renome, notou, durante escavações no Egito central, folhas
antigas de papiro que apareciam em depósitos de lixo que tinham ficado enterrados na areia e
imaginou que talvez fossem valiosas. Em 1895, dois de seus alunos, Grenfell e Hunt, iniciaram
uma procura sistemática desses papiros.

Nos dez anos que se seguiram, descobriram 10 mil manuscritos, inteiros ou parciais, em
Oxirinco e nas suas redondezas. Outros pesquisadores também descobriram grandes
quantidades de manuscritos semelhantes em depósitos de lixo descobertos de areia, nos

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preenchimentos das caixas de múmias e nos corpos de crocodilos embalsamados. Consistiam
principalmente de cartas, notas fiscais, recibos, agendas, certidões, almanaques e outros.
Alguns deles eram documentos históricos que remontavam até 2000 A.C. A maioria deles,
porém, datava de 300 A.C. a 300 D.C. Entre eles, havia alguns escritos cristãos antigos, que
despertaram o interesse dos estudiosos da Bíblia.

Um dos papiros, um picadinho que mede meros 6 x 8 cm, contém fragmentos do Evangelho de
João: em um lado, João 18:31-33, e no outro, João 18:37,38. Faz parte de uma folha de um
manuscrito que originalmente continha 130 páginas, medindo 20,9 x 20,3cm. Os estudiosos,
ao fazer a comparação entre a forma das letras e o estilo de escrita nele usados com
manuscritos cuja data já fora comprovada, dataram-no da primeira parte do século II. É,
portanto, o manuscrito mais antigo do N.T. que se conhece e serve de evidencia de que o
evangelho segundo João existia e circulava no Egito nos anos imediatamente após a morte do
apóstolo. Esse papiro foi descoberto em 1920 e agora está na Biblioteca Rylands, em
Manchester, Inglaterra.

Foram descobertos muitos outros papiros, e de uma data um pouco posterior, que contêm
partes do restante do N.T. e do A.T.

Além dos muitos fragmentos de folhas de papiro que são partes de livros da Bíblia, alguns
contêm ditos de Jesus que não se acham nos evangelhos, mas que segundo parece, circulavam
no século III.

7.3 – As primeiras traduções

O N.T. foi escrito em grego, a língua grega, a língua franca do Império Romano. O A.T. tinha
sido traduzido para o grego alguns séculos antes de Cristo, de modo que a igreja primitiva
possuía a Bíblia inteira, tanto o A.T. quanto o N.T. em grego.

À medida que a igreja se propagava, entretanto, alcançava países onde o grego não era idioma
comum, de modo que surgia a necessidade de fazer traduções do grego. Algumas das versões
antigas do N.T., das quais hoje possuímos exemplares, foram feitas nos séculos II, II e IV D.C. e,
portanto, baseavam-se em cópias muitíssimo antigas. No caso de variantes específicas, é
possível que as traduções nos ofereçam algum indício de qual das variantes foi usada pelo
tradutor.

 Septuaginta – ou dos Setenta. É a versão traduzida para o Grego do hebraico do A.T.,


no séc. I A.C. em Alexandria. Nessa versão foram adicionados os livros que não
estavam no cânon da Bíblia Hebraica, considerados “apócrifos”. Depois da Reforma as
igrejas protestantes resolveram usar a Bíblia hebraica, e não a Septuaginta, para a
tradução do A.T., mas mantiveram a ordem dos livros conforme se acha na
Septuaginta, e não a ordem do Tanak.

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 Versão Siríaca - foi feita no século II D.C. para ser usada entre os sírios. É interessante
que outra tradução, de mais simples leitura, foi necessária – a Peshita (“simples”), uma
versão simplificada feita no século IV.

 Versão Latina Antiga – também foi feita no século II. O A.T. foi traduzido, não do
hebraico, mas da Septuaginta (versão grega). O grande estudioso bíblico Jerônimo
(382-404) reconheceu inadequada a versão latina antiga, de modo que fez uma revisão
dessa versão.

 Vulgata – é a versão latina revisada por Jerônimo. O A.T. (exceto os Salmos) foi
traduzido diretamente do hebraico. A Vulgata passou a ser a Bíblia do Ocidente
durante mil anos!

Outras versões da Antiguidade incluem a copta (a língua vernácula do Egito; século II D.C.); a
etiópica e a gótica (século IV); a armênica (século V); a arábica e a eslovênica (século IX).

7.4 – O texto como lemos hoje

A divisão dos livros da Bíblia em capítulos é da autoria do inglês Estevão Langton, arcebispo de
Cantuária, e foi realizada no ano de 1214. Outros autores, entretanto, atribuem essa tarefa ao
Cardeal Hugo, para usar numa concordância da Vulgata. Já a divisão dos capítulos em
versículos foi feita, em definitivo, em 1551, pelo tipógrafo Roberto Stefano. Uma curiosidade: a
Bíblia tem 1.328 capítulos e 40.030 versículos.

Capítulos: Os livros que compõem a nossa Bíblia, quando foram escritos obviamente não
continham CAPÍTULOS assim como hoje.

Versículos: a divisão em versículos foi feita pela primeira vez por Robert Stephanus de Paris,
que era um impressor para ajudá-lo na preparação de seu Novo Testamento Grego, publicado
em 1551, vindo a divisão do capítulo e de versículo aparecerem juntos pela primeira vez em
1555.

O valor da divisão de capítulos e versículos: se por um lado traz grande contribuição para o
manejo imediato da Bíblia, por outro lado é prejudicial, pois sendo feito arbitrariamente pode
e tem interferido no sentido real de uma passagem. Ainda pode dar a impressão de que a
Bíblia é feita de milhares de fragmentos independentes e desconexos. Devem ser ignorados
em casos tais como: estudo bíblico histórico e doutrinário. Conclui-se que o estudante
desatento corre o risco de fazer o uso inadequado de tais divisões.

Parágrafos: Também existem em nossas Bíblias modernas um sistema de parágrafos dividindo


os capítulos e os assuntos em tópico e isso para ajudar o leito a não perder o curso da
narrativa. Apesar de tudo isso, lembremo-nos que a Bíblia é um todo uniforme e que pode ser
entendida com ou sem esses apetrechos.

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Grifos: encontramos alguns casos nas versões da imprensa bíblica. Serve para dar ênfase ou
salientar; algumas vezes se transformam em acréscimos ao texto.

Notas Marginais: são mais frequentes em versões estrangeiras. São pequenas explicações
também chamadas notas marginais ou de rodapé. No Brasil temos Bíblias comentadas tais
como: Vida Nova, Sconfield, Thompson, Vida, Bíblia Anotada e outros comentários como a
Bíblia explicada e a Parafraseada, Bíblia Viva e inúmeras versões católicas comentadas.

Referências: São vistas geralmente no rodapé das páginas. Tem como utilidade indicar textos
paralelos isto e que abordem o mesmo assunto prestando assim grade ajuda ao estudo bíblico
e doutrinário.

Possíveis dificuldades: Pode haver dificuldades na Bíblia, mas não contradições. Não há
contradições históricas, nem científicas, nem tão pouco doutrinárias. As dificuldades da Bíblia
são todas do lado humano, tais como:

A - tradução mal feita

B - estudo superficial

C - má compreensão

D - incapacidade humana

E - ideias preconcebidas

F - falsa aplicação do texto

G - falhas de editoração

H - interpretação forçada

Para considerar tais dificuldades leiamos Deuteronômio 29:29, Salmos 145, Romanos 11:33-34,
I Coríntios 13:12 e II Pedro 3:16.

7.5 – Traduções para Inglês

A primeira tradução para o anglo-saxão (antiga forma do inglês) de porções da Bíblia foi feita
em 700 D.C. – aproximadamente novecentos anos antes de ser publicada a Versão do Rei
Tiago.

O bispo Aldehelm de Sherborne traduziu os Salmos, que em seguida foram versificados por
bardos itinerantes, para serem de fácil memorização. Eram cantados pelo povo e ensinados às
crianças.

A primeira Bíblia em inglês foi a de Wycliffe, publicada em 1382, baseada na Vulgata. A Bíblia
de Wycliffe existia somente na forma de manuscrito, pois a imprensa não foi inventada senão
70 anos depois, por Gutenberg. Isso significa que não havia muitos exemplares em circulação.

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Eles eram usados por pregadores itinerantes que alcançavam muitas pessoas em todas as
partes da Inglaterra. A igreja católica romana condenou a obra de Wycliffe. Ele foi
excomungado e muitas cópias de sua Bíblia foram queimadas. Ainda existem umas cento e
cinquenta e somente uma é completa.

 Bíblia de Tyndale

A Bíblia de Tyndale, publicada em 1525, foi mais exata que a de Wycliffe, pois foi traduzida do
grego e hebraico originais. Quando as autoridades eclesiásticas tentaram impedir a publicação
de sua Bíblia, Tyndale fugiu da Inglaterra para Hamburgo e depois para Colônia e Worms, onde
seu N.T. foi impresso e em seguida contrabandeado para a Inglaterra em fardos de
mercadorias. Em 6 de outubro de 1536, Tyndale foi queimado vivo por ter traduzido a Bíblia
para o nacional.

Outras traduções antigas em inglês foram: a Bíblia de Coverdale (1535; de originais


documentárias em holandês e latim); a Bíblia de Rogers (1537, quase totalmente copiada de
Tyndale); e a Grande Bíblia (1539; uma compilação das outras três).

A Bíblia de Genebra (1560, traduzida por um grupo de estudiosos que fugira da Inglaterra para
Genebra, a cidade de João Calvino) tinha a distinção de ser a primeira Bíblia a dividir o texto
em versículos.

 A versão do Rei Tiago

O rei Tiago VI, da Escócia, foi coroado como rei Tiago I da Inglaterra. Uma das medidas que
adotou ao criar algum senso de união entre os partidos e facções no seu reino foi a criação de
uma nova tradução da Bíblia, a ser usada por todas as igrejas.

Ele nomeou 54 estudiosos, que usaram, para o N.T., o texto grego publicado por Erasmo de
Roterdã e um texto greco-latino do século VI. Esse texto grego representa o que agora
chamamos de texto majoritário.

A versão do Rei Tiago (KJV, em inglês) – também chamada “Versão Autorizada”, por ter sido
autorizada pelo rei – foi publicada em 1611 e revisada em 1615, 1629 e 1762 (usada até hoje).
Os tradutores adotaram as divisões de capítulos feitas por Stephen Langton e a de versículos
de Robert Estienne.

A KJV era uma maravilha, não somente de erudição, mas também de linguagem. Estabeleceu
um padrão para todas as traduções futuras da Bíblia. Empregava a linguagem comum daqueles
tempos e ao mesmo tempo dotou-a com todas as cadências da poesia e uma dignidade que
não diminuiu no decorrer dos tempos.

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7.6 – Traduções para o Português

A história da Bíblia em português é tão antiga quanto a da Bíblia inglesa, pois os primeiros
ensaios de tradução datam dos tempos do rei Diniz (1279-1325), antes mesmo de Wycliffe. A
primeira porção traduzida foi os vinte primeiros capítulos do Gênesis, da Vulgata Latina, pelo
próprio rei D. Diniz. Mas o Novo Testamento só mais tarde foi traduzido para o português,
talvez uns cinquenta anos depois de Wycliffe, quando D. João era rei (1385-1433), o qual
ordenou a tradução dos Evangelhos, dos Atos e das Cartas Paulinas, trabalho que foi
executado provavelmente por padres católicos e certamente da Vulgata. A publicação das
porções acima do Novo Testamento se adicionou o livro de Salmos, traduzido pelo próprio rei.

Outras traduções, sem grande importância para a história da Bíblia em português, seguiram-
se. De acordo com a tradição, a Infanta D. Filipa, filha do senhor Infante D. Pedro e neta do rei
D. João, traduziu os Evangelhos do francês. O frei cisterciense Bernardo de Alcobaça traduziu o
Evangelho de Mateus e parte dos outros, publicando seu trabalho em Lisboa no século XV. Em
1495 uma Harmonia dos Evangelhos foi publicada em Lisboa por Valentim Fernandes. No
mesmo ano um jurista chamado Gonçalo Garcia de Santa Maria traduziu as Epístolas e os
Evangelhos. Dez anos depois os Atos e as Epístolas Gerais foram traduzidos por ordem da
rainha Leonora. A linguagem portuguesa destes primeiros escritos é arcaica. Algumas destas
tentativas usaram um português tão arcaico como o inglês de Wycliffe.
 João Ferreira de Almeida

O futuro da Bíblia em português dependia, entretanto, de João Ferreira de Almeida, nascido


em Torre de Tavares, próximo de Mangualde, Portugal, em 1628. Seus pais eram católicos,
mas ele se converte a fé da Igreja Reformada em 1642, pela profunda impressão que causou
em seu espírito a leitura dum folheto espanhol. Desde o princípio de sua conversão, mostrou a
sua aptidão para o estudo teológico e a participação na liderança eclesiástica. Ignoram-se as
circunstâncias que o fizeram transportar-se à Batávia, onde se tornou muito ativo e zeloso no
trabalho de evangelização, pregando nas línguas portuguesa, espanhola, francesa e holandesa.

Seu primeiro trabalho é a tradução do espanhol de um resumo dos Evangelhos e Epístolas.


Este não foi publicado. Almeida conta-nos que, enquanto se demorava em Málaca, principiou
a traduzir algumas partes do Novo Testamento do espanhol para o português diz ele: “no
segundo ano após minha conversão (do catolicismo romano para o protestantismo) e meu
décimo sexto ano de idade”. Ele acrescenta que terminou esta tarefa de iniciativa própria em
1645. Mais tarde, com 17 anos de idade somente, ele traduziu o Novo Testamento da versão
latina de Beza. Ele também traduziu o Catecismo de Heidelberg e a liturgia reformada para o
português.

A Igreja Reformada não cabia em si de contente em se servir dos serviços de um homem jovem
e talentoso como Almeida, cuja língua materna era o português. A razão disto estava em que o
português era a língua franca de muitas partes da Índia e sudoeste da Ásia. Por causa da
expansão marítimo-comercial, o português era usado nas congregações da Igreja Reformada,
por asiáticos e cristãos protestantes por conversão (com frequência do catolicismo). No

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decorrer dos tempos o número destes cristãos de fala portuguesa foi crescendo em Málaca e
Batávia, e algumas vezes até excedia aos cristãos da língua holandesa. Durante a sua longa
vida pastoral, Almeida escreveu e publicou várias obras de caráter religioso. Entretanto, ele
ajudou a publicar outras obras, de cunho secular. Pode-se mencionar a sua revisão de uma
tradução em português das fábulas de Esopo, feitas por M. Mendes de Vidigueyro, intitulada
Esopete Redi Vivo (1672).

Anos depois ele sente a necessidade de apresentar o Evangelho ao povo de Portugal numa
tradução mais séria. Após aprender o grego e hebraico, começou sua tradução do N. T., tendo
como base o chamado "Textus Receptus", segunda edição de 1633 publicada por Elzevir. Este
trabalho ele o findou em 1670, mas a publicação só teve lugar em 1681, em Amsterdã, na
Holanda, assim intitulada:

"O Novo Testamento, isto é, o Novo Concerto de Nosso Fiel Senhor e Redemptor Iesu Christo
traduzido na Língua Portuguesa pelo reverendo João Ferreira de Almeida, ministro pregador
do Santo Evangelho nesta cidade de Batávia, em Java Maior".

Antes que saísse do prelo sua tradução, em 1º de janeiro de 1681, Almeida publicava uma lista
de mais de mil erros em seu Novo Testamento, e Ribeiro dos Santos afirma serem mais. Estes
erros eram devidos ao trabalho de revisão feito por uma comissão holandesa que procurou
pôr a tradução de Almeida em harmonia com a versão holandesa. Algumas razões levam-nos a
crer ter sido esta uma versão pobre, no dizer de Ribeiro dos Santos. O texto grego do qual ele
traduziu não era bom, embora fosse o melhor do seu tempo. Sua linguagem não era boa, não
só por haver deixado Portugal bem cedo, mas também porque tentou fazer uma tradução
literal, seguindo muito de perto a versão holandesa de 1637 e a castelhana de Cipriano de
Valera de 1602. Também o trabalho de revisão, feito por seus colegas holandeses, piorou
ainda mais o seu trabalho.

Em março de 1683 Almeida deu, ao Presbitério em Batávia, a notícia de que completara o


Pentateuco e que esta fora revisado pelos seus colegas holandeses. Entretanto, ele não pôde
completar seu trabalho. Sua tradução só chegou até o livro de Ezequiel, capítulo 48, versículo
21. A última parte foi completada por Jacobus op den Akker em 1694. Depois de muitos
problemas foi impresso na Batávia (1748; 1753).

O saltério de Almeida foi publicado no Livro de Oração Comum para o uso das congregações
da Igreja Anglicana nas Índias Orientais, em 1695. Nesta época, o rei da Dinamarca, Frederico
IV, interessou-se em desenvolver no Oriente o conhecimento das Escrituras Sagradas, e pelo
seu patrocínio foi estabelecido o trabalho em Tranquebar, aonde foram muitos missionários
célebres. Para este trabalho foi publicada, em Amsterdã, uma 3º edição do Novo Testamento
de Almeida, a expensas da Sociedade Propaganda do Conhecimento Cristão, em 1712.

Somente no fim do século XVIII, e o princípio do XIX, a Bíblia inteira, na tradução de Almeida,
foi publicada. Sob os auspícios da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, foi publicada uma
edição do Novo Testamento de Almeida em 1809. Em 1819 Bíblia completa de João Ferreira de
Almeida foi publicada em um só volume pela primeira vez.

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Apesar de tudo, a tradução de Almeida encerra algumas coisas notáveis. Ela teve lugar em
Batávia, na ilha de Java, milhares de quilômetros longe de Portugal. Realizou-se num a terra
cuja língua oficial não era o português. Era a 13ª tradução numa língua moderna depois da
Reforma. Feita por um pastor protestante, destinava-se a um país católico, como Portugal, que
só poderia receber de bom grado uma tradução do Novo Testamento feita diretamente da
Vulgata. E o mais dramático lance de sua grande obra é que até hoje nos países de língua
portuguesa sua tradução, mesmo que sofrendo inúmeras reformas, ainda é usada e querida.

 Antônio Pereira de Figueiredo

O padre Antônio Pereira de Figueiredo, nascido em Mação, Portugal aos 14 de fevereiro de


1725, realizou a primeira grande tradução da Vulgata para o português. Seu trabalho
consumiu-lhe dezoito anos de esforços. O Novo Testamento apareceu primeiro, em 1781 e a
Bíblia toda, em seis volumes, pouco depois. A linguagem de Figueiredo é inegavelmente
superior à de Almeida. Alguns fatores contribuíram para esta melhora. Figueiredo possuía
cultura muito superior à de Almeida e ele traduzira a Bíblia e publicara o seu Novo Testamento
exatamente um século depois da obra imortal de Almeida. Embora revelando sensível
melhoria quanto ao português da tradução, Figueiredo não pode escapar aos defeitos de uma
tradução que tem por base outra tradução. A Vulgata é uma mera revisão do Velho Latim,
textos antigos do Novo Testamento, vertidos do grego, que Jerônimo usou para seu trabalho e
com tendências peculiares. A tradução de Figueiredo tem sido usada pela Igreja Romana desde
então.

 Traduções no Brasil

A primeira tradução da Bíblia iniciada no Brasil foi feita pelo refugiado Bispo de Coimbra, Frei
D. Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, o qual publicou só o Novo Testamento em São Luís,
Maranhão, em 1875, enquanto que o trabalho de impressão foi feito em Portugal.

O século XX viu florescer no Brasil uma série de grandes traduções do Novo Testamento e da
Bíblia toda, tanto do lado protestante com da Igreja Católica. Duas tentativas sem grande
importância tiveram lugar. D. Duarte Leopoldo e Silva traduz e publica os Evangelhos,
arranjados como uma harmonia. Depois o Colégio da Imaculada Conceição, Botafogo, Rio de
Janeiro, publica uma tradução dos Evangelhos e Atos, do francês, preparada por um padre
católico, em 1904.

Os padres franciscanos iniciam um trabalho de versão da Bíblia em 1902 e, embora traduzindo


da Vulgata, tentaram fazer um trabalho realmente crítico. Sua edição dos Evangelhos e Atos
apareceu em 1909.

Estava reservada ao então padre Humberto Rohden a primeira tradução diretamente do grego
para o português, feita por um católico. Isto ele fez num trabalho começado quando estudante
na Universidade de Innsbruck, Áustria (1924-1927) e terminado no Brasil. Publicado sob os
auspícios da Cruzada da Boa Imprensa.

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 Sociedades Bíblicas

As Sociedades Bíblicas empenhadas na disseminação da Bíblia no Brasil reuniram-se, em 1902,


para nomear uma comissão para traduzir os textos em hebraico e grego para português. Este
comissão era formada de vários eruditos ligados a diversos grupos protestantes. Entre eles, o
Dr. W.C. Brown, da Igreja Episcopal; J.R. Smith, da Igreja Presbiteriana Americana (igreja do
sul); J.M. Kyle, da Igreja Presbiteriana (igreja do norte); A.B. Trajano, Eduardo Carlos Pereira e
Hipólito de Oliveira Campos. Além do texto grego e de todas as versões portuguesas
existentes, a comissão tinha as seu dispor muitos comentários e obras críticas que contêm os
mais novos e mais úteis resultados da investigação e estudo moderno do Novo Testamento. A
Tradução Brasileira, iniciada em 1902, editando os dois primeiros evangelhos em 1904, e
depois de alguma crítica e revisão, o Evangelho de Mateus saiu em 1905. Os Evangelhos e o
livro dos Atos dos Apóstolos foram publicados em 1906, e o Novo Testamento completo em
1910. A Bíblia inteira apareceu em 1917. Apesar de suas inúmeras vantagens ela não vingou
em terras do Brasil e Portugal. Deixando posteriormente de ser impressa.

Somente em 1949, a distribuição da Bíblia passa a ser feita pelos brasileiros. É a fase conhecida
como nacionalização da obra da Bíblia. A data de 1949 é uma referência importante. O
trabalho protestante no Brasil dependia da força estrangeira. Os dois campos promissores
para os missionários estrangeiros eram a África e a China. Com a ascensão de Mao na China
em 1949, milhares de obreiros cristãos foram expulsos pelo governo comunista. E muitos deles
foram deslocados por suas igrejas para novos campos.

A África continuou como um campo promissor, mas logo perdeu sua “hegemonia” para a
América Latina. A América Latina, que até então foi negligenciada, recebeu uma leva enorme
de missionários. Com o aumento do número de trabalhadores, fez-se necessário aumentar o
número de ferramentas.

Sociedade Bíblica do Brasil

A criação da Sociedade Bíblica do Brasil foi a resposta. Desde então a Bíblia se tornou um livro
popular no Brasil. Ela acompanhou o crescimento da igreja protestante, e se difundiu no país
através dos colportores, como eram chamados os missionários que viajam para vender Bíblia
pelo interior do Brasil.

 Bíblia católica de Matos Soares

O trabalho do padre Matos Soares, é a versão mais popular da Igreja Romana no Brasil. Depois
do concílio Vaticano II, a Bíblia encontrou mais espaço dentro da Igreja Católica. Várias
traduções surgiram como a Edição Pastoral, publicada pelas Edições Paulinas, feita por
eruditos brasileiros, liderados pelo teólogo Ivo Storniolo. Ela foi divulgada entre as
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), tendo como base teológica a Teologia da Libertação.
Storniolo também colaborou com outra importante tradução católica, a conhecida Bíblia de
Jerusalém. Inicialmente foi publicada em francês, nos anos 70, produzida por padres belgas.
Nos anos 80 aparece a versão brasileira. Que segue o critério de tradução dos franceses, uma

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linguagem moderna, porém sem excessiva simplificação, com base nas línguas originais. As
notas e comentários foram, em parte, traduzidos da versão francesa.

 Tradução Ecumênica da Bíblia

Recentemente a Edições Loyola, publica no Brasil, a Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB). Com
notas e comentários, como a Bíblia de Jerusalém, mas difere desta pela linguagem. A TEB foi o
trabalho conjunto de eruditos católicos, protestantes e judeus. No Velho Testamento, ela
segue a disposição dos livros consagrada pelo judaísmo. Assim nos é explicado por R.T.
Beckwith: “(...) a Bíblia Hebraica tem uma estrutura diferente em relação à Bíblia em
português, ela está dividida em duas seções: os Profetas e os Hagiógrafos (escritos sagrados).
Os Profetas abrangem oito livros: os livros históricos de Josué, Juízes, Samuel e Reis, os livros
proféticos de Jeremias, Ezequiel, Isaías e os Doze (os profetas menores). Os Hagiógrafos
compreendem 11 livros: os livros líricos e sapienciais de Salmos, Jó, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares de Salomão e Lamentações de Jeremias, e os livros históricos de Daniel, Ester, Esdras,
Neemias e Crônicas. Esta é a ordem tradicional, segundo a qual o remanescente hagiógrafo,
Rute, vem antes de Salmos. Na Idade Média, esse livro foi colocado em uma posição mais
adiante, ao lado de outros quatro livros de brevidade similar (Cantares de Salomão,
Eclesiastes, Lamentações de Jeremias e Ester). É digno de nota que na tradução judaica
Samuel, Reis, os Profetas Menores, Esdras, Neemias e Crônicas sejam computados cada um
como um único livro”. A TEB representa uma nova mentalidade da Igreja Romana. Se antes, as
Bíblias Protestantes eram acusadas de serem falsas e conterem inúmeros erros, agora o
discurso é radicalmente outro. Tenta-se encontrar pontos de contato, pontes são construídas e
barreiras são vencidas pelo diálogo.

 NIV em Português

Paralelo a este crescimento, surge nos anos 90 uma nova versão da Bíblia em português.
Seguindo os mesmos ideais da Versão Brasileira. Uma tradução promovida por um grupo de
eruditos, ao invés de um trabalho solitário, como foi o de Almeida. Uma linguagem moderna,
sem simplificação. Bastante acessível ao público médio. Fundamentada em melhores
manuscritos, do que o conhecido Textus Receptus, usado por Almeida. Surge a Nova Versão
Internacional, também conhecida como NVI.

Em 1978, foi apresentada ao povo de fala inglesa, uma nova versão da Bíblia, feita pela
Sociedade Bíblica Internacional. Seguindo os melhores padrões linguísticos e os mais
modernos recursos editoriais e gráficos, a NVI, alcançou um amplo espaço no mundo
evangélico. Representando uma nova etapa na história das traduções da Bíblia.

"... a Sociedade Bíblica Internacional reuniu um grupo de estudiosos evangélicos, de diversas


denominações, especialistas nas línguas originais e na língua pátria para produzir um texto fiel
e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Além de se esforçar por alcançar uma tradução
acessível, a comissão formada procurou também esquivar-se da vulgaridade, dos
regionalismos, enfim, de tudo que possa empobrecer o texto. É com este espírito de esperança
que a Sociedade Bíblica Internacional tem a satisfação de colocar em suas mãos o Novo
Testamento na Nova Versão Internacional que pretende ampliar a corrente histórica marcada

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por aqueles dentre o povo de Deus que têm se esforçado para fazer compreendida a revelação
divina na Bíblia Sagrada."

7.7 – Cuidado com algumas versões da Bíblia

A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada, inerrante e infalível. É a base de toda a nossa fé e


prática (II Timóteo 3:16). Por isso o diabo tem investido na tentativa de danificá-la. Todo
esforço tem sido feito para corroer a fé na sua inspiração, infalibilidade e autoridade, e na
divindade de Cristo. Se olharmos a História, veremos tentativas até de extirpar a Palavra de
Deus. Não podendo destruí-la, o diabo tem investido na tentativa de enfraquecer as doutrinas
cardeais dela, através das diversas versões, tendo como base fontes não fidedignas. Cabem
algumas perguntas: "Por que tantas versões? Qual a origem das novas versões? Por que a
Almeida Revista e Atualizada traz textos em colchetes? Por que a NIV suprime versículos
inteiros?".

Quando se procura a respeito da origem das novas traduções, descobre-se que são
grandemente baseadas na edição de um texto grego feita em 1881 por Westcott e Hort. Estes
tomaram como base um grupo de manuscritos que representam uma pequena percentagem
dos cerca de 4255 manuscritos existentes. Tal pequeno grupo de manuscritos havia sido
rejeitado pela maioria dos crentes através dos séculos, porque não os consideravam dignos de
confiança. A edição de Westcott e Hort tornou-se predominante nos modernos meios
teológicos, trazendo grande prejuízo para as igrejas fieis. Aquela edição geralmente é chamada
de "Texto Crítico" (T.C.) ou (W.H.).

Antes do surgimento do T.C., as traduções tinham como base o "Textus Receptus" (T.R.). Em
inglês a versão Rei Tiago e em português a Almeida Corrigida. (Sendo que, em 1994, foi
lançada a Corrigida Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana, que é mais fiel aos originais). O T.R.
foi organizado por Erasmo em 1516, representando a maioria esmagadora dos manuscritos,
sendo usado por algumas denominações evangélicas fiéis a Deus.

Nosso propósito é mostrar que as versões que têm por base o T.C. procuram enfraquecer
diversas doutrinas como: divindade de Cristo, expiação por Cristo, Sua morte vicária, etc.
Temos como exemplo os diversos textos em colchetes na versão Atualizada, querendo insinuar
que podem ou não ser inspirados por Deus, João 7:53-8:11. Isto é um acinte à doutrina da
preservação, Salmos 119:89,152,160; Isaías 40:8; Mateus 24:35; I Pedro 1:23-25; Apocalipse
22:18-19.

Agora, em 2000, foi lançada em nosso Brasil a NVI (Nova Versão Internacional). Veja o que está
no prefácio da New International Version, na sua 5a impressão (setembro.86), na página VI: "O
texto em grego usado na tradução do N.T. foi um texto eclético... Onde os manuscritos
existentes diferem, os tradutores escolheram uma entre as leituras, de acordo com os
consagrados princípios da crítica textual do Novo Testamento. Notas de rodapé chamam
atenção para aqueles locais onde havia incerteza sobre em que consistia o texto original". Isto

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é um ataque frontal à doutrina da preservação. Além disso, como fundamentalistas não
podemos aceitar versões e/ou traduções que seguem a filosofia de equivalência dinâmica (que
violenta o sentido original do texto). Vejam e pasmem com o que está escrito na contra capa
do Novo Testamento da NVI, em português, que foi lançado em nosso país em 1994. "Em 1991
deparei-me a primeira vez com a NVI... Logo verifiquei tratar-se de uma versão altamente
precisa... tendo por princípio na sua tradução, a equivalência dinâmica... Considero-a a mais
fiel...". Isto é, uma diatribe contra a Palavra de Deus.

 Ataques de diferentes versões à Palavra Verdadeira

Vejamos os ataques dessas versões:

Ataques à DIVINDADE DE CRISTO:


(Choque-se comparando a NVI ante a Fiel (Revista Corrigida Fiel) também em Marcos 9:24;
Lucas 23:42; At 8:37; I Coríntios 15:47; Apocalipse 1:11. Ademais, T.C. e NVI extirpam centenas
dos títulos divinos: Senhor, Jesus, Cristo, Jesus Cristo, Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, etc.!):

João 3:13 Fiel = "Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem,
QUE ESTÁ NO CÉU." T.C. e NVI sacam do texto que Cristo "está no céu." Assim, anulam aqui
(mesmo que não em toda a Bíblia), que Cristo é onipresente, é Deus! NVI: "Ninguém jamais
subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do homem".

Atos 9:5-6 "E ele disse: Quem és, Senhor? E disse O SENHOR: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues. DURO É PARA TI RECALCITRAR CONTRA OS AGUILHÕES. (6) E ELE, TREMENDO E
ATÔNITO, DISSE: SENHOR, QUE QUERES QUE EU FAÇA? E DISSE-LHE O SENHOR: Levanta-te, e
entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer." T.C. e NVI omitem aqui que Cristo é
"o Senhor", é Deus, devemos-lhe imediata e total obediência! NVI = "Saulo perguntou: 'Quem
és tu, Senhor?' Ele respondeu: 'Eu sou Jesus, a quem você persegue. (6) Levante-se, entre na
cidade; alguém lhe dirá o que deve fazer'."

Romanos 14:10-12 "Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu
irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de CRISTO. (12) De maneira que
cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" T.C. e NVI, no v. 10, adulteram "Cristo" para
"Deus". Ora, como o juiz de v. 10 é o de v.12, T.C. e NVI aqui 2 anulam uma fortíssima prova da
divindade de Cristo, e que é a Ele que os crentes darão conta (para fins de galardoamento)!
NVI = "Portanto, você, por que julga seu irmão? Ou por que despreza seu irmão? Pois todos
compareceremos diante do tribunal de DEUS. (12) Assim, cada um de nós prestará contas de si
mesmo a Deus."

I Timóteo 3:16 "E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: DEUS se manifestou
em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo,
recebido acima na glória." T.C. e NVI (em nota de rodapé) põem em dúvida "Deus", trocando-o
por "Aquele que", portanto destruindo aqui2 uma das maiores provas da divindade de Cristo!
Note que a NIV americana já trocou “Deus” por “aquele que”, no corpo do texto!... NVI = "Não
há dúvida de que é grande o mistério da piedade: aquele que foi manifestado em corpo,

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justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo, recebido na
glória".

I João 4:3 "E todo o espírito que não confessa que Jesus CRISTO VEIO EM CARNE não é de
Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no
mundo." T.C. e NVI aqui 2 agradam as falsas religiões, pois anulam que Cristo veio em carne,
extirpam que Jesus Cristo (mesmo sempre sendo 100% Deus) encarnou literalmente, teve e
sempre terá corpo literal e será 100% homem! NVI: "mas todo espírito que não confessa a
Jesus não procede de Deus. Este é o espírito do anticristo, a cerca do qual vocês ouviram que
está vindo, e agora já está no mundo."

Ataques à EXPIAÇÃO POR CRISTO (E SÓ PELO SEU SANGUE):


Colossenses 1:14 "Em quem temos a redenção PELO SEU SANGUE, a saber, a remissão dos
pecados;" T.C. e NVI tiram aqui2 que foi pelo derramamento do sangue de Cristo que nossos
pecados foram expiados, Deus foi propiciado, nossa salvação foi comprada! 1 NVI: "em quem
temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados." Nunca esqueçamos: Hebreus 9:22 "E quase
todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não
há remissão."!

Ataques à MORTE VICÁRIA DE CRISTO (em nosso lugar!):


I Coríntios 5:7 "Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim
como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado POR NÓS." T.C. e NVI
tiram aqui2 que Cristo morreu "por nós", recebendo em nosso lugar o castigo que merecemos
Isaías 53:5! NVI: "Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova sem fermento,
como realmente são. Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado."

I Pedro 4:1 "Ora, pois, já que Cristo padeceu POR NÓS na carne, armai-vos também vós com
este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;" Novamente, é
pisado e tirado aqui2 que Cristo morreu "por nós", recebendo em nosso lugar o castigo que
merecemos Isaías 53:5! NVI: "Portanto, uma vez que Cristo sofreu corporalmente, armem-se
também do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu em seu corpo rompeu com o
pecado”.

Ataques à doutrina da TRINDADE:


I João 5:7-8 "Porque três são os que testificam NO CÉU: O PAI, A PALAVRA, E O ESPÍRITO
SANTO; E ESTES TRÊS SÃO UM. E TRÊS SÃO OS QUE TESTIFICAM NA TERRA: o Espírito, e a água
e o sangue; e estes três concordam num." T.C. e NVI arrancam aqui 2 a mais explícita e uma das
mais fortes provas da doutrina da Trindade! 1 "Há três que dão testemunho: (8) o Espírito, a
água e o sangue; e os três são unânimes." Será que isto não equivale à Bíblia dos Testemunhas
de Jeová:? "Porque são três os...".

O rodapé da NVI visa levar a mortal engano, pois a passagem é estabelecida por fortes provas
teológicas, gramaticais, lógicas, históricas, de contradição da crítica textual e de consistência
com o estilo bíblico. E por pelo menos: várias traduções antiquíssimas (Siríaca/Pershitta de
150DC, Waldenses de 150 DC, etc.); 22 manuscritos gregos (o 635, de 10** DC; etc.), entre

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aqueles relativamente poucos que contêm o capítulo e sobreviveram; praticamente todos os
códices que também contêm o capítulo e sobreviveram (alguns anteriores ao século IV); e
citações de 12 "pais da Igreja" (Tertuliano em 200 DC; etc.). Há um excelente livro
exclusivamente em defesa destes 2 versos: "The History of the Debate Over 1 John 5:7-8",
Michael Maynard, Comma Publications, 444 págs., 1995.

Ataques à inspiração da BÍBLIA:


Lucas 4:4 "E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem,
MAS DE TODA A PALAVRA DE DEUS." T.C. e NVI extirpam aqui 2 que viveremos de cada uma de
todas as palavras da Bíblia, e que todas e cada uma delas são inspiradas por Deus! NVI: "Jesus
respondeu: Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem'".

Ataques à DOUTRINA DA SALVAÇÃO:


(Choque-se comparando a NVI ante a Fiel também em: Mateus 9:13; 18:11):

Mateus 20:16 "Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; PORQUE


MUITOS SÃO CHAMADOS, MAS POUCOS ESCOLHIDOS." T.C. e NVI aqui 2 tiram palavras de
modo a gravemente enfraquecer a doutrina da salvação (mais especificamente, do
chamamento e da eleição). NVI: "Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão
últimos".

Marcos 2:17 "E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas,
sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores AO
ARREPENDIMENTO." T.C. e NVI extirpam aqui 2 a indispensabilidade de verdadeiro
arrependimento, para salvação! NVI: "Ouvindo isso, Jesus lhes disse: 'Não são os que têm
saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas
pecadores'".

João 3:15 "Para que todo aquele que nele crê NÃO PEREÇA, mas tenha a vida eterna." T.C. e
NVI extirpam aqui2 que quem não crer perecerá (sofrerá eternamente no lago de fogo, esta é a
morte eterna)! NVI: "Para que todo o que nele crê tenha vida eterna".

João 6:47 "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê EM MIM tem a vida eterna."
T.C. e NVI suprimem aqui2 "em mim", favorecendo o universalismo, que basta crer em algo ou
alguém, seja o que ou quem for, não indispensavelmente em Cristo! NVI: "Asseguro-lhes que
aquele que crê tem a vida eterna".

Atos 8:37 "E DISSE FILIPE: É LÍCITO, SE CRÊS DE TODO O CORAÇÃO. E, RESPONDENDO ELE,
DISSE: CREIO QUE JESUS CRISTO É O FILHO DE DEUS." T.C. e NVI tiram aqui 2 todo o verso do
texto principal, anulando que batismo vem depois da salvação, e esta decorre de crer em
Cristo e em tudo que Ele disse de Si, inclusive Sua divindade!

Atos 9:5-6 "E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
DURO É PARA TI RECALCITRAR CONTRA OS AGUILHÕES. E ELE, TREMENDO E ATÔNITO, DISSE:
SENHOR, QUE QUERES QUE EU FAÇA? E DISSE-LHE O SENHOR: Levanta-te, e entra na cidade, e

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lá te será dito o que te convém fazer." T.C. e NVI extirpam aqui 2 o que pusemos em
maiúsculas, anulando que salvação vem da aceitação de Cristo como Senhor (a quem
aceitamos como controlador absoluto) e como Deus! NVI: "Saulo perguntou: 'Quem és tu,
Senhor? ' Ele respondeu: 'Eu sou Jesus, a quem você persegue. (6) Levante-se, entre na cidade;
alguém lhe dirá o que deve fazer'." (O irmão Hélio Silva conta de um missionário americano a
quem ele muitíssimo admira e ama, e que usava a boa King James Bible para preparar sermões
que ia pregar em português. Com a KJB, ele preparou um excelente sermão baseado no texto
que a NVI extirpou. Resultado: confundiu-se todo na hora de pregar, mesmo que tenha
tentado usar todas as Bíblia - T.C. brasileiras presentes! Inconsistência! Inconsistência!).

Romanos 8:1 "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
QUE NÃO ANDAM SEGUNDO A CARNE, MAS SEGUNDO O ESPÍRITO." T.C. e NVI extirpam aqui 2
o que pusemos em maiúsculas, anulando, aqui, que há, sim, condenação (não quanto à
salvação, mas sim quanto à comunhão, correção, galardão, o ser usado por Deus) para o salvo
que andar segundo a carne: Atos 5:1-10; I Coríntios 3:12,15; 5:9-10; Gálatas 5:16-18; I João
3:20-21; 5:16!1 NVI: "Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus,"

I Pedro 2:2 "Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não
falsificado, PARA QUE POR ELE VADES CRESCENDO." T.C. e NVI anulam o que pusemos em
maiúsculas, favorecendo aqui2 o ensino herético que a salvação vem por um processo gradual
de crescimento! NVI: "Como crianças recém-nascidas, desejem intensamente o leite espiritual
ouro, PARA QUE POR MEIO DELE cresçam PARA SALVAÇÃO".

II Pedro 2:17 "Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a
escuridão das trevas ETERNAMENTE se reserva." T.C. e NVI extirpam aqui 2 que a condenação é
eterna! (sem cessar de existir e sofrer)! NVI: "Estes homens são fonte sem água e névoas
impelidas pela tempestade. a escuridão das trevas lhes está reservada".

Ataques à importância do JEJUM BÍBLICO:


Choque-se comparando a NVI ante a Fiel também em: Atos 10:30-31; I Coríntios 7:5:

Mateus 17:21 "mas esta casta de DEMÔNIOS não se expulsa senão pela oração e pelo jejum."
T.C. e NVI (em nota de rodapé) põem séria dúvida sobre todo o verso, enfraquecendo aqui 2 a
necessidade da arma oração + jejum. Quem teria interesse nisto, senão o nosso inimigo?! (ver
Efésios 6:12).

Marcos 9:29 "E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração E
JEJUM." T.C. e NVI (em nota de rodapé) põem em dúvida "e jejum", enfraquecendo aqui 2 que
piedoso jejuar é indispensável contra certos demônios.

 Gravíssimas Contradições
(T.C. se contradiz a si próprio! Bíblias-T.C., idem):

Mateus 27:34 "Deram-lhe a beber VINAGRE misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis
beber." T.C. e NVI adulteram "vinagre" para "vinho", contradizendo frontalmente Salmos

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69:21! NVI: "Ali lhe deram para beber VINHO misturado com fel; mas, depois de prová-lo,
recusou-se a beber". Ver análise no livro de Pickering, 4.5.1 e 7.1.1.

Marcos 1:2-3 "Como está escrito NOS PROFETAS: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face,
o qual preparará o teu caminho diante de ti. (3) Voz do que clama no deserto: Preparai o
caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas". T.C. e NVI adulteram "nos profetas" 1 para
"no profeta Isaías", criando grave contradição ao citarem de Ml 3:1 (além de Isaías 40:3)! NVI:
"Conforme está escrito no profeta ISAÍAS: 'Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele
preparará o teu caminho' (2) 'voz do que clama no deserto: preparem o caminho para o
Senhor, endireitem as veredas para ele'".

II Tessalonicenses 2:8 "E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor DESFARÁ pelo assopro
da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;" T.C. e NVI adulteram "desfará" para
"matará", contradizendo frontalmente Apocalipse 19:20 ("lançados vivos...")! Do mesmo modo
que os crentes vivos por ocasião do Arrebatamento terão seus corpos transformados em
imortais e para a glória eterna, sem experimentarem antes a morte física, o anticristo e o falso
profeta terão seus corpos transformados em imortais e para o sofrimento eterno, sem
experimentarem antes a morte física. “Mas a NVI diz: Então será revelado o iníquo, a quem o
Senhor Jesus MATARÁ com o sopro de sua boca, e destruirá, pela manifestação de sua vinda.”

Contraste a NVI ante a Fiel também em: Mateus 5:22 (Jesus irou-se em Marcos 3:5, mas com
motivo). Lucas 4:44 contra Mateus 4:23 + Mc 1:39 . Mateus 19:17 contra Marcos 10:18 + Lucas
18:19. Mateus 10:10 contra Marcos 6:8.

 Outros Erros
Mateus 1:25 "E não a conheceu até que deu à luz seu filho, O PRIMOGÊNITO; e pôs-lhe por
nome Jesus." T.C. e NVI agradam o romanismo, extirpando aqui 2 que Jesus foi o primeiro entre
os vários filhos de Maria. NVI: "Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um
filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus".

I Coríntios 6:20 "Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso
corpo, E NO VOSSO ESPÍRITO, OS QUAIS PERTENCEM A DEUS." T.C. e NVI extirpam aqui 2
algumas das revelações de Deus mais preciosas e confortadoras às nossas almas! NVI: "Vocês
foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês".

I Timóteo 6:5 "Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade,


cuidando que a piedade seja causa de ganho; APARTA-TE DOS TAIS." T.C. e NVI extirpam aqui 2
que temos ordem de nos SEPARAR de todos "crentes" e "igrejas" que ensinam qualquer coisa
que conflite com a Palavra de Deus. Qual texto favorece o Diabo e o erro?! NVI: "e atritos
constantes entre homens de mente corrompida, privados da verdade, os quais pensam que a
piedade é fonte de lucro".

Apocalipse 11:17 "Dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras,
E QUE HÁS DE VIR, que tomaste o teu grande poder, e reinaste." T.C. e NVI extirpam aqui 2 a

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segunda vinda de Cristo! NVI: "dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-poderoso, que és
e que eras, porque assumiste o teu grande poder e começaste a reinar".

 Outras Amputações
Somente quanto a outros versos inteiros: T.C. e NVI, em notas de rodapé, põem sérias dúvidas
(o que, em termos práticos, é idêntico a erradicar da Bíblia!) sobre Marcos 16:9-20 e João 7:53-
8:11 (24 versos!); Mateus 12:47; 16:3; 17:21; 18:11; 21:44; 23:14; Marcos 7:16; Lucas 22:43-
44; 23:34. Põem tão mais sérias dúvidas que já chegaram a realmente extirpar do texto
principal e difamar dentro de rodapés: Marcos 9:44,46 (repetições de Isaías 66:24); 11:26;
Lucas 17:36; 23:17; João 5:4; Atos 8:37; 15:34; 24:7; 28:29; Romanos 16:24.

Ao todo, T.C. e NVI omitem (ou gravemente questionam, o que dá no mesmo) 55 versos
completos, mais 147 versos quase completos.

Lembremos que o T.C., base preponderante da NVI, tem mais de 6000 palavras omitidas, 2000
adicionadas e 2000 adulteradas, totalizando mais de 10.000 (7%) perversões das cercas de
140.000 santas palavras do Novo Testamento em grego!

8. – Cuidado com algumas versões da Bíblia

Ah, irmãos, tremamos ante Apocalipse 22:18-19 + Provérbios 30:6 + Deuteronômio 4:2 (não
adicionar/ subtrair). II Coríntios 2:17 (não corromper), e Romanos 1:25 (não transformar a
Bíblia em mentira)!

A intenção daqueles que fizeram este folheto, não é causar brigas e divisões no meio do povo
de Deus. O nosso alvo é despertar pastores, líderes e membros das igrejas, para se
aprofundarem mais no assunto da crítica textual, assunto este, que por sinal tem sido
ensinado com pouca profundidade em nossos seminários. Não estamos causando um
problema nem inventando modismo.

Deveríamos admitir que versões baseadas no T.C. não deviam ter entrado no meio
Fundamentalista. Podemos afirmar que divisores, polarizadores e causadores de contenda são
aqueles que, no passado, sutilmente infiltraram essas novas versões. E o nosso povo foi se
acostumando gradativamente. Há pessoas sinceras que no passado repudiaram essas versões,
mas com o passar do tempo foram aceitando. Amados, é hora de reestudarmos este assunto.
Não podemos ficar inertes diante de tamanho vilipêndio contra a Santa Palavra de Deus.

Queremos deixar claro não somos "King-James only", nem "Trinitariana only", ("só a tradução
do Rei Tiago", "só a tradução Trinitariana"). O que estamos defendendo não são as traduções,
mas sim os textos gregos que foram usados para essas versões. Pelas evidências já
apresentadas, e por muitas outras, cremos que Deus preservou sua Palavra através do Textus
Receptus.

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