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INTRODUÇÃO

A Bíblia é um fenômeno que só é explicável de um modo: é a Palavra de


Deus.

Ela não é o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse, ou que


poderia escrever se quisesse. Outros sistemas religiosos também têm seus
desvios excêntricos do curso comum do procedimento humano, desvios esses
que não são muitos, e são de pequena importância; e estes, realmente, são de
se esperar, considerando que o homem está sempre determinado a crer em um
Deus, ou deuses, quer sua crença seja baseada em fatos ou não.

O estudante da verdade sempre será convidado a reconhecer contra


reivindicações extra-bíblicas e intrabíblicas. Aquilo que é extrabíblico encampa
todo o campo das religiões humanamente arquitetadas e especulações
filosóficas. O que é intrabíblico encampa todos os cultos e declarações parciais
da verdade divina que, embora professem edificar seus sistemas sobre as
Escrituras, fazem-no, entretanto, através de falsas ênfases ou negligência da
verdade, provocando uma confusão de doutrina que é parente ou talvez até
mais desencaminhadora do que o erro sem mistura.

O Livro de Deus

Neste Livro, Deus é apresentado como o Criador e Senhor de tudo. É a


revelação dele próprio, o registro do que Ele tem feito e vai fazer, e, ao mesmo
tempo, a revelação do fato de que cada coisa está sujeita a Ele e que só descobre
suas vantagens mais elevadas e seu destino quando se conforma à Sua vontade.

Cada palavra da Bíblia revela a grandeza de Deus como exemplos que


podemos registrar: "Não há Deus como tu, em cima nos céus nem em baixo da
terra" (1Rs 8.23), e, novamente: "Tua, Senhor, é a grandeza, o poder, a honra, a
vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, Senhor,
é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos" (1Cr 29.11). "Senhor, Senhor Deus
compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade" (Êx 34.6).
"As suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras" (SI 145.9).

A Bíblia e o Monoteísmo

O fato de que Deus é supremo implica em que não há nenhum outro que
se lhe compare; mas quase universalmente a humanidade tem praticado, com
uma contumácia que está longe de ser acidental, as abominações da idolatria.

O povo judeu, de quem, considerando o lado humano, vieram as Escrituras,


não ficaram imunes a esta tendência. Desde os dias do bezerro de ouro, através
dos séculos seguintes, os israelitas estiveram sempre revertendo à idolatria e
isto apesar da abundância de revelação e castigo. A história da igreja está
manchada pelo culto de imagens esculpidas assimiladas do paganismo. Com
que insistência o Novo Testamento adverte os crentes a fugir da idolatria e da
adoração dos anjos. À luz destes fatos, como poderíamos supor que os homens
(até mesmo Israel) pudessem, à parte da direção divina, dar origem a um tratado
que, com os olhos apenas na glória de Deus, estigmatiza a idolatria como um
dos primeiros e mais ofensivos crimes e insultos contra Deus? A Bíblia não é o
tipo de livro que o homem escreveria se pudesse.

A Bíblia é a Mensagem de Deus à Humanidade


Deus é um comunicador e deseja nos informar sobre:
1 – Ele mesmo: Estudaremos quem Deus é observando o que Ele fala e faz. Ele
éo
principal foco da Bíblia.
2 – A Sua Criação: Deus nos revela muito sobre Si mesmo através da Sua
criação. Como
Ele criou o mundo, o que Ele usou para criar o mundo e o propósito por trás da
criação, tudo
demonstra aspectos do Seu caráter.
3 – O Homem: A Bíblia revela claramente como e porque Deus criou o homem,
as Suas
expectativas para ele e fala sobre seu propósito e destino.
Temas Principais da Bíblia
1. O conhecimento e a glória de Deus
2. A rebelião do homem contra o Seu Criador e o resultado da rebelião
3. O julgamento de Deus ao pecado
4. A incapacidade do homem para mudar a sua condição perante Deus
5. A redenção da humanidade providenciada por Deus
6. O Reino de Deus e a restauração universal
Por que estudar a Bíblia?

1. Porque é totalmente infalível e sem erro nas suas partes (Sl 19: 7; Pv 30: 5 –
6)
2. Porque é a fonte da verdade (Jo 17: 17; 2 Tm 3: 16)
3. Porque revela a Pessoa de Deus (Pv 2: 1, 5; Jo 5: 39)
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4. Porque cumprirá o que promete (Is 55: 11)
5. Porque não muda (Sl 119: 89)
6. Porque é a fonte das bênçãos de Deus quando obedecida (Lc 11: 28)
7. Porque vale mais que o ouro (Sl 19: 7 – 10) .

Deus, em sua grande sabedoria, nos fornece um registro escrito de sua


revelação. Oteólogo holandês Abraão Kuyper nota quatro vantagens de um
registro escrito:
1 – Ele dura. São eliminados erros de memória e erros de transmissão (“telefone
sem fio”).
2 – Pode ser divulgado universalmente através de traduções e reproduções.
3 – Possui atributos de fixação e pureza.
4 – Recebe uma finalidade normativa (legislativa) que outras formas de
comunicação não conseguem alcançar.

Nomes Atribuídos a Palavra de Deus

1. Bíblia: A palavra Bíblia, usada com referência às Escrituras Sagradas


desde o IV século, é a forma latina da palavra grega Bíblia, plural neutro de
Biblion, que por sua vez é diminutivo de Biblos, nome grego para a planta da
qual se fazia o papel (papiro). Pelo uso que se fez do papiro é que biblos veio a
significar livro e biblion um livro pequeno. Os fenícios se ocupavam
grandemente do comércio de papiro, por isso no segundo século A.C. deram o
nome de Biblos ao seu principal porto, passando depois à cidade, e conservado
até hoje para as suas ruínas. A palavra Biblos encontra-se em Marcos 12.26
como referência a um livro de Velho Testamento, ou a um grupo no plural para
designar os livros dos profetas (Daniel 9.2). O plural usado no Velho Testamento
passou à Igreja Cristã e as Escrituras são designadas por livros, livros divinos,
livros canônicos. O nome Bíblia para o conjunto dos livros sagrados, foi usado
pela primeira vez por Crisóstomo, no IV século. Alguns pais da Igreja
denominaram as Escrituras de Biblioteca Divina.

2. Escrituras: O Novo Testamento, que ocupa menos da terceira parte


do Velho, usa a expressão. Os Escritos ou as Escrituras para os livros do Antigo
Testamento, em Mateus 21.42 e João 5.39.

3. Outras Expressões: A Palavra de Deus (Hb 4.12); A Escritura de Deus


(Êx 32.16); As Sagradas Letras (1Tm 3.15); A Escritura da Verdade (Dn 10.21); As
Palavras da Vida (Atos 7.38); As Santas Escrituras (Rm 1.2).

4. Nomes figurativos:

- Uma luz. "Uma luz para o meu caminho" (Sl 119:105);

- Um espelho (Tg 1.23);

- Ouro fino (Sl 19.10);

- Uma porção de alimento (Jó 23.12);

- Leite (1Co 3.2);

- Pão para os famintos (Dt 8.3);

- Fogo (Jr 23.29);

- Um martelo (Jr 23.29);

- Uma espada do Espírito (Ef 6.17).

5. Pentateuco: Etimologicamente, Pentateuco significa cinco estantes,


onde se colocavam os livros e depois, por metonímia, os próprios livros.
Pesquisando um pouco mais se tem a impressão de que as estantes eram
aqueles pedaços de madeira que sustentavam os rolos, vindo depois a designar
os próprios rolos. O termo pentateuco, de origem grega, significando cinco rolos
tem sido usado para os cinco livros de Moisés, enquanto o nome hebraico para
estes mesmos livros é Torá. Este vocábulo começou a ser usado para os
primeiros cinco livros da Bíblia depois da tradução da Septuaginta. Estes livros
constituem a primeira divisão do Cânon Hebraico, que é formado, como é do
conhecimento geral, da Lei, dos Profetas e dos Escritos. Eruditos modernos têm
usado o termo "Hexateuco" em vez de Pentateuco, por adicionarem aos
primeiros livros da Bíblia o livro de Josué, por notarem muita afinidade entre os
seis. Nenhuma razão plausível existe para a aceitação desta nova nomenclatura,

desde que o termo tem sido usado por críticos que não admitem tenha sido
Moisés o autor do Pentateuco.

6. Testamento: Este vocábulo não se encontra na Bíblia como


designação de uma de suas partes. Sabemos que toda a Bíblia se divide em duas
partes chamadas Antigo Testamento e Novo Testamento. Contendo a primeira,
os escritos elaborados antes de Cristo, a segunda registra o que foi redigido no
primeiro século da nossa era. A palavra portuguesa testamento corresponde à
palavra hebraica "berith" (aliança, pacto, contrato) e designa aquela aliança que
Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai, aliança sancionada com o sangue
do sacrifício como vemos em Êxodo 24.1-8; 34.10-28. Sendo esta aliança
quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança (Jr 31.31-
34) que deveria ser ratificada com o sangue de Cristo. (Mt 26.28). Os escritores
neotestamentários denominam a primeira aliança de antiga (Hb 8.13),
contrapondo-lhe a nova (2Co 3.6,14). Os tradutores da Septuaginta traduziram
"berith" para "diatheke", embora não haja perfeita correspondência entre as
palavras, desde que berith designa aliança (compromisso bilateral) e diatheke
tem o sentido de "última disposição dos próprios bens", "testamento"
(compromisso unilateral). Pela figura de linguagem, conhecida como metonímia,
as respectivas expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar
a coleção dos escritos que contém os documentos respectivamente da primeira
e da segunda aliança. O termo testamento veio até nós através do latim quando
a primeira versão latina do Velho Testamento grego traduziu diatheke por
testamentum. São Jerônimo revisando esta versão latina manteve a palavra
"testamentum", equivalendo ao hebraico "berith" (aliança, concerto), quando a
palavra como já foi visto não tinha essa significação no grego. Afirmam alguns
pesquisadores que a palavra grega para contrato, aliança deveria ser suntheke,
por traduzir melhor o hebraico "berith". As denominações Antigo Testamento e
Novo Testamento, para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser
usadas no final do século II D.C. quando os evangelhos e outros escritos
apostólicos foram considerados como Escrituras. O cristianismo distinguiu duas
etapas na manifestação do dom de Deus à humanidade: A antiga – feita por
Deus ao povo de Israel (2Co 3.14); A segunda ou nova designa a união que o
próprio Deus, tomando a forma humana, selou com o homem pela oblação de
Cristo (2Co 3.6).

7. Torah: Palavra derivada do verbo Yarah, que no "hifil" significa lançar,


jogar (Êx 15.4, 1Sm 20.36) e de modo especial lançar flechas para se conhecer a
vontade divina (Js 18.6; 2Rs 13.17). O mesmo verbo é usado no sentido de
mostrar com a mão, apontar com o dedo (Gn 46.28; Êx 15.25). A significação
fundamental de yarah é, portanto; indicar uma direção. O substantivo cognato
tem o sentido bíblico mais corrente: ensinamento, instrução, como se deduz da
leitura de Isaías 30.9; 42.4; Mq 4.2; Ml 2.6; Jó 22.22, onde esta palavra aparece.
Do estudo desta palavra conclui-se que o termo português "lei" não traduz o
vocábulo hebraico em toda a sua extensão. A torah é o ensinamento que inspira
bom procedimento em nosso viver.

8. O termo “Palavra”: No Antigo Testamento, a palavra dãbhãr de Deus


é usada por 394 vezes para designar alguma comunicação divina, provinda da
parte de Deus aos homens, na forma de mandamento, profecia, advertência ou
encorajamento. A fórmula usual é “a palavra de Yahweh veio (literalmente, foi)
a ...”, ainda que algumas vezes a palavra de Deus seja vista como uma visão (Is
2.1; Jr 2.31; 38.21). A palavra de Yahweh é uma extensão da personalidade
divina, investida de autoridade, e deve ser ouvida tanto pelos anjos como pelos
homens (Sl 103.20; Dt 12.32). A palavra de Deus permanece para sempre (Is
40.8), e uma vez proferida não pode deixar de ser cumprida (Is 55.11). É usada
como sinônimo da lei, tôrah, de Deus, em Sl 119, onde a referência é à
mensagem escrita e não à mensagem falada da parte de Deus. No Novo
Testamento, “palavra” geralmente traduz dois termos gregos, logos e rhema, a
primeira é usada supremamente para designar a mensagem do evangelho
cristão (Mc 2.2; At 6.2; Gl 6.6), embora a última esteja revestida da mesma
significação (Rm 10.8; Ef 6.17; Hb 6.5 etc.). Nos pontos seguintes veremos
maiores detalhes.

CAPÍTULO I

AS LÍNGUAS EM QUE A BÍBLIA FOI ESCRITA.

Quase todos os estudantes da Bíblia sabem que o Velho Testamento foi


escrito em hebraico, e o Novo, em grego, mas muitos desconhecem o fato de
que há uma terceira língua na Bíblia, o aramaico.

1 Aramaico

O aramaico foi sem dúvida, desde muito tempo, a língua popular de


Babilônia e da Assíria, cuja linguagem literária, culta e religiosa era o sumero-
acadiano. Documentos assírios mencionam o aramaico desde 1100 A.C. Durante
o reinado de Saul e Davi, os estados aramaicos ou sírios são mencionados na
Bíblia (1Sm 14.47; 2Sm 8.3-9; 10.6-8). O aramaico foi trazido para a Palestina
porque os assírios seguiam costume de transplantar os povos das nações
subjugadas, por isso depois de terem vencido o reino de Israel, trocaram as
pessoas e as espalharam através de todo o seu império. 2 Reis 17:24 menciona
explicitamente que entre os povos trazidos para Samaria a fim de repovoarem
a terra devastada, encontravam-se aramaicos de Hamate. Esta língua dotada de
grande poder de expansão, tornou-se usual nas relações internacionais de toda
a Ásia, e na própria Palestina propagou-se tão largamente, que venceu o próprio
hebraico.

Originalmente o aramaico se desenvolveu na Mesopotâmia. Algumas


tribos arameanos viviam ao sul de Babilônia, perto de Ur, outras tinham seus
lares na alta Mesopotâmia entre o rio Quebar (Khabúr) e a grande curva do
Eufrates, tendo Harã como centro. O fato de os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó
terem conexões com Harã é provavelmente responsável pelo estatuto feito por
Moisés de que Jacó era "arameano". Dt 26.5. Deste seu lar ao norte da
Mesopotâmia o aramaico se espalhou para o sul de toda a Assíria.

Tudo indica que o aramaico foi preferido pelos assírios e babilônicos por
ser mais simples do que a complicada escrita cuneiforme. A prova de sua
simplicidade está relatada em 2Rs 18.26, quando Senaqueribe invadiu Judá no
fim do VIII século A.C. os oficiais judeus que dominavam tão bem o hebraico
quanto o aramaico, pediram ao general assírio que lhes falasse em aramaico.

Esta ainda é a razão porque durante os setenta anos do cativeiro babilônico


os judeus se esqueceram muito do hebraico, adotando em seu lugar o aramaico.
Ao voltarem do cativeiro continuaram falando o aramaico, como se depreende
da leitura de Neemias 8.1-3 e 8. O aramaico era a língua usada por Jesus (Mc
5.41; 7.34; 15.34), pela maioria das pessoas na Palestina, bem como pelas
primeiras comunidades cristãs. Segundo outros estudiosos entre os quais se
destaca Robertson, Jesus falava aramaico na conversação diária, mas no ensino
público e nas discussões com os fariseus a língua usada era o grego.

Já antes da Era Cristã suplantou totalmente o hebraico que se tornou a


língua morta e exclusivamente religiosa. Na Ásia Ocidental, a língua aramaica se
difundiu largamente, assumindo naquelas regiões e naquele tempo o mesmo
papel que assumem em nossos dias o francês e o inglês. O aramaico, embora
ainda utilizado em certas regiões, vai cedendo lugar ao árabe, e corre o perigo
de desaparecer como língua falada, pois hoje é falada somente em algumas
povoações da Síria. O aramaico desapareceu sob o impacto cultural do grego e
do latim, já que deixou de ser conhecido pelos cristãos.

Quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico,


dadas as suas marcantes semelhanças. As partes do Velho Testamento escritas
em aramaico são as seguintes: A expressão "Jegar-Saaduta" de Gênesis 31.47; O
verso de Jeremias 10.11; Alguns trechos de Esdras 4.8 a 6.18; 7.22-26; Partes do
livro de Daniel, entre os capítulos 2.4 a 7.28.

2 Hebraico

A língua hebraica foi a língua dos Hebreus ou israelitas desde a sua entrada
em Canaã. A sua origem é bastante misteriosa, porque além do Velho
Testamento só possuímos escassos documentos para o seu estudo. O mais
provável é que o hebraico tenha vindo do cananeu e foi falado pelos israelitas
depois de sua instalação na Palestina, ou surgil por Moisés ao escrever o Torah.
A atual escrita hebraica (chamada "hebraico quadrado") é cópia do aramaico e
entrou em uso pouco antes da nossa era, em substituição ao hebraico arcaico.
Os Targuns o denominam de "língua sagrada" (Is 19.18); e no Velho Testamento
é chamado "a língua de Canaã" ou a língua dos judeus (Is 36.13, 2Rs 18.26-28).
Salmo 114.1 mostra a grande diferença entre o hebraico e o egípcio. Israel por
estar cercado de povos que falavam uma língua cognata (o aramaico) foi se
esquecendo do hebraico, até que este veio a extinguir-se como língua falada.
Era ainda a língua de Jerusalém no tempo de Neemias (13.24), cerca de 430 a.C.,
mas muito antes do tempo de Cristo foi substituída pelo aramaico.

O alfabeto hebraico consta apenas de consoantes, em número de 22. O


hebraico é escrito da direita para a esquerda como o árabe e algumas outras
línguas semíticas. Sua estrutura fundamental é, como em todas as línguas
semíticas, a palavra raiz, composta de três consoantes. É uma língua bastante
simples, seus melhores conhecedores sublinham sem hesitação a sua pobreza,
quando comparado com o grego ou com línguas modernas, como o inglês e o

português. De acordo com a Pequena Enciclopédia Bíblica o vocabulário


hebraico na Bíblia conta com apenas 7.704 vocábulos diferentes.

A Academia do Idioma Hebraico tem registrado o uso de cerca de 30.000


palavras. Quase não possui adjetivos nem pronomes possessivos, porém, é rica
em advérbios. É uma língua quase indigente em termos abstratos. Quase
sempre os pronomes pessoais são ligados às formas verbais como se fossem
sufixos ou prefixos. Com raras exceções não faz uso de palavras compostas.

O alfabeto hebraico possui letras com sons bem próprios, por isso não
apresentam nenhuma semelhança com o nosso alfabeto. Os dois exemplos
mais característicos se encontram no "alef" e no "ayin". Se língua é um
organismo vivo que se transforma, o hebraico quase pode apresentar-se como
exceção, como comprovam os escritos de Moisés e de alguns profetas mil anos
depois, cujas diferenças linguísticas são insignificantes. Este fato tem levado a
"alta crítica" a dogmatizar que os escritos do Velho Testamento foram
produzidos num espaço de tempo bem pequeno.

Seus processos sintáticos são muito simples, usando poucas as orações


subordinadas, preferindo sempre as coordenadas, quase sempre unidas pela
conjunção "e" como inegável influência do hebraico. Os tempos do verbo, a
exemplo do grego, indicam mais o "aspecto" da ação, conforme ela seja
momentânea, prolongada ou repetida.

Como língua semítica não classifica os fatos em passados, presentes e


futuros, mas em realizados ou de ação acabada (perfeito), e não realizados ou
de ação inacabada (imperfeito).

Uma das peculiaridades da língua hebraica com respeito ao sistema verbal


é esta: a simples troca de um sinal vocálico determina uma mudança nas formas
verbais. Não possui o verbo "ter", enquanto o verbo "ser" é ativo e significa
existir eficazmente. Quando os judeus sentiram que o hebraico estava em
declínio como língua falada, e que sua leitura correta ia perder-se, criaram um
sistema de vocalização. Este trabalho foi feito pelos massoretas, por isso o texto
hebraico usado hoje chama-se massorético.

3 Grego Bíblico

Como é do conhecimento geral, o Novo Testamento foi escrito na Koinê,


língua na qual também foi traduzido o Velho Testamento hebraico pelos
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Setenta. O termo Koinê significa a língua comum do povo entre os anos 330 a.C.
e 330 a.D. Com exceção da Epístola aos Hebreus e da linguagem de Lucas
(Evangelho e Atos) que se encontram num Koinê mais literário, os outros
escritos pertencem à língua mais comum ou Koinê vulgar.

O insigne erudito Gustav Adolf Deissmann foi quem primeiro mostrou a


identidade do grego do Novo Testamento, salientando que o grego da Bíblia era
o Koinê, e não o grego erudito, nem a chamada "linguagem do Espírito Santo"
ardorosamente defendida por alguns autores.

OS PRINCIPAIS TEXTOS EM GREGO


1 Herman Von Soden: (1852-1913)

Graças ao apoio financeiro da Sra. Elise Koenigs, Von Soden, professor em


Berlim, pôde enviar muitos estudantes que tinham sido treinados por ele para
examinarem manuscritos nas bibliotecas e museus da Europa e do Oriente
Médio. Ele identificou três grupos de manuscritos, designando-os pelas letras
gregas K, H, I. Como resultado de suas pesquisas e de seus muitos auxiliares,
Von Soden publicou a História do Texto Bíblico em 2.203 páginas de seus
prolegômenos. Este trabalho, resultado de prolongada investigação e intensivo
estudo, tem sido descrito como um magnífico fracasso.

2 Bernard Weiss (1827-1918)

Enquanto professor de Exegese Grega, em Berlim, editou o Novo


Testamento em três volumes. Sendo um profundo exegeta tratou com eficiência
de problemas teológicos e literários do texto do Novo Testamento. Seu trabalho
se caracteriza pela valorização das evidências internas, discordando assim de
Westcott e Hort, que se apoiavam em evidências externas, concordando, porém,
com eles em classificar o manuscrito Vaticano como o melhor. Weiss discorda
também dos defensores da teoria genealógica na classificação dos manuscritos
bíblicos.

3 Eberhard Nestle (1851-1913)

A edição do Novo Testamento Grego mais amplamente usada, foi


preparada por Nestle, através da Sociedade Bíblica de Stutgart (1898). Seu texto
é baseado em uma comparação dos textos editados por Tischendorf, Westcott

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e Hort e Weiss. A obra de Nestle representa o aperfeiçoamento do texto do fim


do século XIX. Sendo notável pela síntese maravilhosa do Aparato Crítico e pela
precisão da grande soma de informações textuais, sua edição tem sido muito
apreciada. Uma nova edição do Novo Testamento Grego de Nestle foi planejada,
quando a Sociedade Bíblica Britânica comemorou seu sesquicentenário (1954).
O texto foi preparado por Kilpatrick, com a ajuda de Erwin Nestle e Kurt Aland
(Londres, 1958). Houve mudanças numas 20 passagens e diversas alterações na
ortografia, acentuação e no uso de parênteses.

As traduções da Bíblia

A revelação de Deus é para todos os povos e não somente para os judeus,


portanto, houve necessidade de se traduzir a Bíblia em outros idiomas.
1) A Septuaginta
O vocábulo “Septuaginta” deriva do latim e quer dizer “setenta”. Escreve-se
em algarismo romano “LXX”. A versão dos Setenta foi a primeira versão completa
do A.T. Esta tradução bíblica foi feita na ilha de Faros, no Porto de Alexandria, no
Egito. Recebeu este nome, porque foi feita por 72 sábios judeus, sendo 6 de cada
tribo e o trabalho foi feito em 72 dias. Nesta tradução os livros foram divididos
por assuntos como estão hoje situados em nossa Bíblia. Por exemplo, Lei,
História, Poesia e Profecia. Nesta tradução estão os livros apócrifos.
2) O Pentateuco Samaritano
Esta tradução da Bíblia, chamada de “Pentateuco Samaritano” foi escrita
na linguagem dos samaritanos que era ma mistura de hebraico e aramaico.
Trata-se dos 5 primeiros livros da Bíblia, levados para Samaria por Manassés,
um sacerdote expulso de Jerusalém por ter se casado com uma gentia, a filha
de Sambalat, governador de Samaria. Em Samaria foi construído um Templo,
rival de Jerusalém, onde houve a necessidade de se levar para lá uma cópia da
lei.
3) A Vulgata
Foi o primeiro livro impresso. Foi a Bíblia da Igreja do Ocidente, na Idade
Média. A palavra “Vulgata” vem do latim e significa “vulgos”, popular, corrente,

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do povo. É uma versão feita por Jerônimo.O AT. foi traduzido diretamente do
hebraico. O NT. foi revisado, uma vez que já havia muitas versões em latim, Foi
decretada como Bíblia oficial da Igreja Romana, no Concílio de Trento. Porém,
este decreto só foi cumprido em 1592, com a publicação de nova edição da
Vulgata pelo Papa Clemente VIII.
4) Os Targuns
Os Targuns (tradução) eram traduções de porções do AT. Trata-se de
explicações feitas em aramaico para os judeus que retornavam do cativeiro e
haviam esquecido o hebraico. Havia os Targuns do Pentateuco, o dos Livros
Proféticos e o dos Hagiográfos. Estes escritos, embora aperfeiçoados, não
tinham valor escriturístico. Não se deve confundir Targuns com “Talmude”, que
eram traduções e explicações reduzidas à escrita no século II.
5) Versão do Rei Tiago
Essa Bíblia foi publicada em 1611 e continua até hoje sendo a Bíblia favorita
do povo de fala inglesa. Também chamada de Versão do Rei Tiago. Pouco depois
de subir ao trono da Inglaterra, em 1604, o Rei Tiago, presidiu uma conferência
que resultou na escolha de 54 teólogos, dos quais 47 tomaram para fazer uma
nova versão da Bíblia. A Inglaterra já tinha a Bíblia de Wicliff publicada em 1388.
6) Versão Alemã
Lutero preparou essa versão traduzindo diretamente dos originais, isso se
deu em 1534. Lutero havia publicado uma outra versão, em 1522, derivada da
Vulgata.
7) A Bíblia e a tradução em língua portuguesa
ARC – Almeida Revista e Corrigida – IBB
ARA – Almeida Revista e Atualizada – SBB
João Ferreira de Almeida foi pastor da Igreja Reformada Holandesa, e
traduziu a Bíblia para o português na cidade da Batávia, na ilha de Java (Jacarta,
Indonésia). O Novo Testamento foi publicado em 1681, em Amsterdã, Holanda.
FIG – Pe. Antonio Pereira de Figueiredo – SBBE (Sociedade Bíblica Brasileira
e Estrangeira). Editou o NT em 1778 e o AT em 1790, em Portugal.
SOARES – Pe. Matos Soares. Versão popular dos católicos brasileiros. Foi
publicada em 1933, em Portugal e em 1946, no Brasil. Possui muitos itálicos.
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RHODEN – Humberto Rhoden, Padre de Santa Catarina. Publicou o Novo


Testamento em 1935, do texto grego.
CBSP – Centro Bíblico de São Paulo – edição católica.
TB, VB, EB – Tradução, Versão ou Edição Brasileira de 1917, Feita por uma
comissão de teólogos brasileiros e estrangeiros. O Novo Testamento foi
publicado em 1910 e o Antigo Testamento em 1917. É uma tradução fidelíssima
aos originais.
A Tradução do Novo Mundo – é a Bíblia das Testemunhas de Jeová. O texto
é mutilado e cheio de interpolação. Eles dizem que é a única tradução correta,
mas não conseguem e não podem provar. ‘Novo Mundo’ se refere ao continente
americano.

CAPÍTULO II

OS MATERIAIS USADOS PARA SE COMPOR A BÍBLIA.

A Bíblia foi escrita em rolos, que são chamados de ‘manuscritos’. Esta


palavra é indicada em abreviatura por ‘ms’. Estes manuscritos podem ser
encontrados em forma de rolo ou livro, feitos de papiro ou pergaminho. Desde
os tempos mais remotos o homem tem usado vários materiais e técnicas sobre
as quais tentava de alguma forma passar idéias, fatos de geração a geração,
alguns dos materiais usados foram.
1) O papiro era preparado de uma planta aquática. Era um material
bastante durável, contanto que não fosse umedecido. O papiro era forte e
durável em clima desértico e seco. Suas folhas eram brancas e quando novas
iam amarelando com o tempo, mas se guardado em lugar seco não prejudicava
em nada sua legibilidade. O papiro se destaca como o principal material antigo
usado para escrever. Planta de origem egipcia, era muito comum nas margens
com lodo do Nilo, e usada abundantemente na preparação de uma espécie de
papel. Ele só cresce em terrenos alagadiços, conforme citado em Jó 8.11 que faz
a seguinte pergunta “Pode o papiro crescer sem lodo?”. Normalmente se

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escrevia só de um lado do papiro e as folhas mais longas eram enroladas. Estes


rolos recebiam o nome de volumes, palavra do latim – volvere que significa
enrolar. Os egípcios guardavam secretamente o segredo da fabricação do
papiro para a escrita. No século VI a.C. começaram a exportá-lo para a Grécia e
depois para outros povos que habitavam nas margens do Mediterrâneo, onde
se criou um importante comércio desta especialidade, na cidade da Biblos.
A nossa palavra papel, é derivada de papiro, era preparado de finas faixas
da parte interior da folha do papiro arranjadas verticalmente, com outra camada
aplicada horizontalmente em cima. Um adesivo era empregado (Plínio diz que
era água do Nilo.) e pressão aplicada para ligá-las formando uma folha. Após
secar, era polida com instrumentos de concha ou pedra; depois as folhas eram
atadas, formando rolos.
2) O pergaminho era feito de peles de animais, curtida e polida, preparada
para a escrita. A preparação do pergaminho para receber a escrita tem uma
interessante história. De acordo com a História Natural de Plínio, o Velho (Livro
XIII, capítulo XXI), foi o rei Eumene de Pérgamo, uma cidade da Ásia Menor, quem
promoveu a preparação e o uso do pergaminho. Este rei planejou fundar uma
biblioteca em sua cidade, que se rivalizasse com a famosa biblioteca de
Alexandria. Esta ambição não agradou a Ptolomeu do Egito, que imediatamente
proibiu a exportação de papiro para Pérgamo. Esta proibição forçou Eumene a
preparar peles de carneiro ou ovelha para receber a escrita, dando-lhe o nome
do lugar de origem – pergaminho. O pergaminho era muito superior ao papiro,
por causa da maior durabilidade. Os principais manuscritos bíblicos estão
escritos em Pergaminhos. Paulo na sua segunda Epístola a Timóteo (4.13) roga
ao jovem ministro para que lhe trouxesse os pergaminhos. Em grego a palavra
não é pergaminho mas membrana. O pergaminho continuou a ser usado até o
fim da Idade Média quando o papel inventado pelos chineses e introduzido na
Europa pelos comerciantes árabes tornou-se popular, suplantando todos os
outros materiais da escrita. Os judeus eram bastante cuidadosos com a
preparação de manuscritos destinados a receber os escritos sagrados, exigindo
que a pele fosse de animal limpo e preparada por um judeu. .

3) Pedra: Os caracteres eram gravados nas colunas dos templos, como os


de Lúxor e Camaque, no Egito; ou em cilindros, como o código de Hamurabi; ou

15

nas rochas, como em Persépolis; ou mesmo em lápides, como a pedra Roseta,


decifrada por Champolion, nos dias de Napoleão.

4) Cerâmica: Material usado desde tempos imemoriais na região da


Mesopotâmia. Dois tipos de cerâmica têm sido encontrados pelos arqueólogos:
seca ao sol e seca ao forno.

5)Linho: Tem sido encontrado nas descobertas arqueológicas.

5)Tábuas recobertas de cera (Is 8.1; Lc 1.63).

6) Palimpsesto: Em virtude de crises econômicas o pergaminho tornava-se


muito caro, era então raspado, lavado e usado novamente. Estes manuscritos
eram chamados palimpsestos (do grego palin = de novo e psesto = raspado). Um
famoso manuscrito – o Códice Efraimita está escrito em um palimpsesto. Por
meio de reagentes químicos e raios ultravioletas eruditos têm conseguido fazer
reaparecer a escrita primitiva desses palimpsestos. Dos 250 manuscritos unciais
conhecidos hoje, do Novo Testamento, 52 são palimpsestos.

Vulgarmente os dicionários registram MANUSCRITO como "escrito à mão".


Em sentido técnico, esse nome refere-se à volumosa bagagem de rolos ou
fragmentos escritos à mão com textos das Escrituras Sagradas. Em um sentido
mais particular, alude aos escritos do Antigo e Novo Testamentos, desde os
tempos patriarcais até à invenção da imprensa, na metade do século XV..Os
manuscritos bíblicos possuíam duas formas de caligrafia uncial e cursiva: O
uncial era escrito em letras maiúsculas e sem separação de palavras. O cursivo
tem letras minúsculas e separação de palavras.

CAPÍTULO III

NATUREZA DA REVELAÇÃO

É a operação divina que comunica ao homem fatos que a razão humana é


insuficiente para conhecer. É portanto, a operação divina que comunica a
verdade de Deus ao homem (ICo.2:10).
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A) Provas da Revelação: O diabo foi o primeiro ser a pôr em dúvida a


existência da revelação: “É assim que Deus disse?” (Gn.3:1). Mas a Bíblia é a
Palavra de Deus. Vejamos alguns argumentos:

1) A Indestrutibilidade da Bíblia: Uma porcentagem muito pequena de


livros sobrevive além de um quarto de século, e uma porcentagem ainda menor
dura um século, e uma porção quase insignificante dura mil anos. A Bíblia,
porém, tem sobrevivido em circunstâncias adversas. Em 303 A.D. o imperador
Dioclécio decretou que todos os exemplares da Bíblia fossem queimados. A
Bíblia é hoje encontrada em mais de mil línguas e ainda é o livro mais lido do
mundo.

2) A Natureza da Bíblia:

a) Ela é superior: Ela é superior a qualquer outro livro do mundo. O


mundo, com sua sabedoria e vasto acúmulo de conhecimento nunca foi capaz
de produzir um livro que chegue perto de se comparar a Bíblia.

b) É um livro honesto: Pois revela fatos sobre a corrupção humana,


fatos que a natureza humana teria interesse em acobertar.

c) É um livro harmonioso: Pois embora tenha sido escrito por uns


quarenta autores diferentes, por um período de 1.600 anos, ela revela ser um
livro único que expressa um só sistema doutrinário e um só padrão moral,
coerentes e sem contradições.

3) A Influência da Bíblia: O Alcorão, o Livro dos Mórmons, o Zenda


Avesta, os Clássicos de Confúncio, todos tiveram influência no mundo. Estes,
porém, conduziram a uma idéia apagada de Deus e do pecado, ao ponto de
ignorá-los. A Bíblia, porém, tem produzido altos resultados em todas as esferas
da vida: na arte, na arquitetura, na literatura, na música, na política, na ciência
etc.

4) Argumento da Analogia: Os animais inferiores expressam com suas


vozes seus diferentes sentimentos. Entre os racionais existe uma presença
correspondente, existe comunicação direta de um para o outro, uma revelação
de pensamentos e sentimentos. Consequentemente é de se esperar que exista,
por analogia da natureza, uma revelação direta de Deus para com o homem.
Sendo o homem criado à Sua imagem, é natural supor que o Criador sustente
relação pessoal com Suas criaturas racionais.
17

5) Argumento da Experiência: O homen é incapaz por sua própria força


descobrir que:

a) Precisa ser salvo.

b) Pode ser salvo.

c) Como pode ser salvo.

d) Se há salvação.

Somente a revelação pode desvendar estes mistérios eternos. A


experiência do homem tem demonstrado que a tendência da natureza humana
é degenerar-se e seu caminho ascendente se sustêm unicamente quando é
voltado para cima em comunicação direta com a revelação de Deus.

6) Argumento da Profecia Cumprida: Muitas profecias a respeito de


Cristo se cumpriram integralmente, sendo que a mais próxima do primeiro
advento, foi pronunciada 165 anos antes de seu cumprimento. As profecias a
respeito da dispersão de Israel também, se cumpriram (Dt.28; Jr.15:4;l6:13;
Os.3:4 etc); da conquista de Samaria e preservação de Judá (Is.7:6-8; Os.1:6,7;
IRs.14:15); do cativeiro babilônico sobre Judá e Jerusalém (Is.39:6; Jr.25:9-12);
sobre a destruição final de Samaria (Mq.1:6-9); sobre a restauração de Jerusalém
(Jr.29:10-14), etc.

7) Reivindicações da Própria Escritura: A própria Bíblia expressa sua


infalibilidade, reivindicando autoridade. Nenhum outro livro ousa fazê-lo.
Encontramos essa reivindicação na seguintes expressões: “Disse o Senhor a
Moisés” (Ex.14:1,15,26;16:4;25:1; Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1; Dt.32:48) “O
Senhor é quem fala” (Is.1:2); “Disse o Senhor a Isaías” (Is.7:3); “Assim diz o
Senhor” (Is.43:1). Outras expressões semelhantes são encontradas: “Palavra que
veio a Jeremias da parte do Senhor” (Jr.11:1); “Veio expressamente a Palavra do
Senhor a Ezequiel” (Ez.1:3); “Palavra do Senhor que foi dirigida a Oséias” (Os.1:1);
“Palavra do Senhor que foi dirigida a Joel” (Jl.1:1), etc. Expressões como estas são
encontradas mais de 3.800 vezes no Velho Testamento. Portanto o A.T. afirma
ser a revelação de Deus, e essa mesma reivindicação faz o Novo Testamento
(ICo.14:37; ITs.2:13; IJo.5:10; IIPe.3:2).

Deus se revelou de sete modos:


1) Através da Natureza: (Sl.19:1-6; Rm.l:19-23).

18

2) Através da Providência: A providência é a execução do programa de Deus


das dispensações em todos os seus detalhes (Gn.48:15;50:20; Rm.8:28; Sm.57:2;
Jr.30:11; Is.54:17).

3) Através da Preservação: (Cl.1:17; Hb.1:3; At.17:25,28).

4) Através de Milagres: (Ex.4:1-9).

5) Através da Comunicação Direta: (Nm.12:8; Dt.34:10).

6) Através da Encarnação: (Hb.1:1; Jo.8:26;15:15).

7) Através das Escrituras: A Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal,


abrange importantes aspectos:

a) Ela é variada: Variada em seus temas, pois abrange aquilo que é doutrinário ,
devocional, histórico, profético e prático.

b) Ela é parcial: (Dt.29:29).

c) Ela é completa: Naquilo que já foi revelado (Cl.2:9,10);

d) Ela é progressiva: (Mc.4:28).

e) Ela é definitiva: (Jd.3).

CAPÍTULO IV

A DIVISÃO DA BIBLIA

A Bíblia divide-se em duas partes principais: Antigo e Novo Testamento (em


hebraico: bereshit/ em grego: diatheke), que significa: aliança, concerto ou
testamento.
Tem 66 livros, sendo 39 no AT e 27 no NT. Estes livros foram escritos em
um período de cerca de 16 séculos e por cerca de 40 escritores, os quais
pertenceram às mais variadas profissões e atividades. Viveram e escreveram em

19

países, regiões e continentes diferentes, entretanto, seus escritos formam uma


harmonia perfeita. Isso prova que um só os dirigia que um só dirigia no registro
da revelação divina.
O Antigo Testamento: Foi escrito originalmente em hebraico. Pequenos
trechos como Esdras 4.8 e 6.18; 7.12 a 26; Daniel 2.4 a 7.28 e Jeremias 10.11,
foram escritos no idioma aramaico (siríaco).
Exemplo: ‘Então disseram a Eliaquim, Sebna e Joá a Rabsaqué: Pedimos-te
que fales em aramaico aos teus servos, porque o entendemos, e não fale em
judaico, aos ouvidos do povo que está sobre os muros’. II Reis 18.26.
Depois do cativeiro, os judeus passaram a falar aramaico, que era a língua
falada por Jesus e seus discípulos, embora também naquele tempo já se
conhecesse o ‘koiné’ (comum), idioma popular dos gregos. Algumas palavras no
idioma persa também se encontram no Antigo Testamento, como ‘sátrapa’ –
Ed.8.36; Dn. 3.2, e outras.
O Antigo Testamento se divide em quatro grupos de livros:
a) Lei – os 5 primeiros livros, também chamados de Pentateuco - Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuterônomio;
b) História – 12 livros de Josué a Ester – José, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II
Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester;
c) Poesia – 5 livros; de Jó a Cantares – Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e
Cantares;
d) Profecia – são 17 livros: de Isaias a Malaquias. Que se subdividem em:
Profetas Maiores (são 5): de Isaias a Daniel – Isaias, Jeremias, Lamentações
de Jeremias, Ezequiel e Daniel;
Profetas Menores: (são 12): de Oséias a Malaquias – Oséias, Joel, Amós,
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias.

O Novo Testamento
Tem 27 livros classificados em quatro grupos: Biografia, História, Epístolas
e Profecias. Foi escrito no grego koiné, idioma comum na época, levado a quase
todo mundo existente, por Alexandre, o Grande:
20

a) Biografia – são os quatro Evangelhos. Três (Mateus, Marcos e Lucas), são


chamados ‘Sinópticos’, devido ao paralelismo entre eles. Os Evangelhos eram
conhecidos na Igreja Primitiva como o ‘Evangelho’. A razão de haver quatro
Evangelhos se compreende pelo seguinte:
Mateus – se dirige aos judeus e apresenta Jesus como Messias;
Marcos – se dirige aos romanos e apresenta Jesus como o Rei vitorioso e
Vencedor;
Lucas – escrito aos gregos, apresenta Jesus como o Filho do Homem, é o
mais completo;
João – escrito à Igreja, apresenta a Jesus como o Filho de Deus
b) História – é o livro dos Atos dos Apóstolos. Também chamado de Atos do
Espírito Santo. Registra a História da Igreja Primitiva.
c) Epístolas – são 21: de Romanos a Judas. Contém a doutrina da Igreja. Sã
subdivididas em:
Eclesiásticas – dirigidas à Igreja. São 9; Romanos, I e II Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses; Individuais – dirigidas a
indivíduos. São 4: I e II Timóteo, Tito e Filemon.
Coletiva – Hebreus, dirigida aos judeus cristãos;
Universais – dirigidas a todos: São 7: Tiago, I e II Pedro, I, II e III João, Judas.
Embora I e II João sejam dirigidas a pessoas, também se enquadram aqui.
d) Profecia – é o livro do Apocalipse. Trata da volta pessoal do Senhor e das
coisas que precederão esse glorioso evento.

Cristo, o Centro da Bíblia.


O AT descreve uma nação; o NT descreve um homem. A nação foi
estabelecida e nutrida por Deus para que desse aquele homem ao mundo.
Jesus Cristo é o tema central da Bíblia. Ele mesmo no-lo declarou, como
nos mostra as seguintes referências: Jo 5.39; Lc. 24.44; At 3.18; Ap. 22.16.
Ele ocupa o lugar central nas Escrituras. Em tipos, figuras, símbolos e
profecias. O contemplamos em todos os livros da Bíblia. Cinco palavras
referentes a Cristo resumem toda a Bíblia:
a) Preparação – O AT – é uma preparação para o advento de Cristo;
21

b) Manifestação – Os Evangelhos – tratam de sua manifestação ao mundo;


c) Propagação – O Livro de Atos – trata da sua propagação (seu Nome e seus
ensinos);
d) Explanação – As Epístolas – explanam sua doutrina;
e) Consumação – O Apocalipse – trata da consumação de todas as coisas
referentes a Ele.

Obs: Os livros do Novo Testamento também não estão em ordem


cronológica. Os escritores orientais não são como os ocidentais: detalhistas e
cronológicos. Eles escrevem como se o assunto tratado fosse do conhecimento
de todos. Esse é um dos milagres da Bíblia; Deus não usou o homem como uma
máquina. Fez, no estilo de cada um, que Sua Palavra fosse escrita sem
contradições ou erros.

O Manuseio da Bíblia.
A Bíblia é um clássico popular. Embora essa afirmação, pareça
contraditória, o fato é que, embora sendo um clássico da literatura, a Bíblia se
destina a todos os homens e pode ser perfeitamente entendida em sua essência
pelo mais humilde leitor.
Em razão de ser a Bíblia uma coleção de livros agrupados por assuntos e
de constantes consultas, fez com que aos poucos e procurasse métodos para
facilitar o manuseio. Daí a divisão em capítulos, versículos, parágrafos, etc.
Também a existência de inúmeras versões da Bíblia nos obriga a uma pesquisa,
pois nem todas apresentam a mesma característica. Neste capítulo, tentamos
dar ao leitor explicações úteis para o correto manuseio do livro de Deus.
Data do texto.
As datas impressas no texto de algumas Bíblias, principalmente em outros
idiomas (em português, somente nas Bíblias antigas) são de cronologia de
Usher, arcebispo anglicano. Foram inseridas no texto bíblico em 1701. A
Cronologia bíblica, de um modo geral é incerta.
Sumário de capítulos

22

São preparados pelos editores e não constam no texto original, com


exceçõesde algumas frases introdutórias aos Salmos como 4, 5, 8, 22, 32, 46, 53,
56, 69, 75, etc.
Esses títulos encontrados no início de alguns capítulos, nem sempre estão
de acordo com o texto bíblico. Temos o exemplo da parábola dos dez talentos,
quando na realidade, não são dez. Outro exemplo está em Lucas 16, onde
encontramos no sumário: “ a parábola do rico e Lázaro”, quando não se trata de
uma parábola.
Há de se ter o devido cuidado na interpretação de determinados textos
bíblicos, pois como na maioria das vezes acontece, os títulos de capítulos e
parágrafos, encerram a opinião do tradutor ou editor, sobre o assunto em
pauta.
Divisões em capítulos e versículos
As Bíblias mais antigas não eram divididas em capítulos e versículos. Essas
divisões foram feitas para facilitar a tarefa de citar as Escrituras. Stephen
Langton, professor da Universidade de Paris e mais tarde arcebispo da
Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos em 1227. Robert Stephanus, impressor
parisiense, acrescentou a divisão em versículos em 1551 e em 1555. Felizmente,
estudiosos judeus, desde aquela época, adotaram essa divisão de capítulos e
versículos para o Antigo Testamento. Isso também não existe nos originais. Em
alguns casos, essa divisão é prejudicial, pois tira o sentido do texto.

Exemplos em capítulos
a) O capítulo 53 de Isaias deveria começar em Isaias 52.13;
b) O capítulo 8 de João deveria começar em João 7.53;
c) O capítulo 7 de II Reis deveria começar em II Reis 6.24;
d) O capítulo 3 de Colossenses deveria terminar em Cl. 4.1
e) O capítulo 10 de Mateus deveria começar em Mt. 9.35;
f) O capítulo 5 de Atos deveria começar em Atos.
Exemplos em versículos
a) Efésios 1.5 deveria começar com as duas últimas palavras de Efésios 1.4;
b) I Coríntios 2.9 e 2.10 deveriam ser um versículo;

23

c) João 5.39 e 40 deveriam ser também um só versículo.


Exemplo nas versões
Nas Epístolas de Romanos e Efésios há diversos casos desses. A divisão em
versículos também difere um pouco em todas versões, por exemplo:
a) Daniel 3.24-30 da Almeida Revista e Corrigida corresponde a Daniel 3.91-
97 da Matos Soares e da Antonio Pereira de Figueiredo (Bíblias Católicas).
b) Lucas 20.30 na Almeida Revista e Corrigida corresponde a Lucas 20.30 e
31 na Tradução Brasileira.
Divisões do texto em parágrafos: Também não existe no original, embora
seja muito útil para a compreensão da Bíblia. Em português a única versão que
contém essa divisão é a Almeida Revista e Atualizada, com um tipo de negrito
cada vez que isso ocorre. Veja por exemplo, o Salmo 2, que contém cinco
parágrafos, tendo cada um, uma aplicação diferente (1-3; 4-6; 7-9; 10-12a; 12b).
Referências marginais: As referências encontradas nas margens de
algumas Bíblias são paralelismos verbais, que indicam outras ocasiões nas quais
aquela palavra é empregada. Tem muito valor para quem estuda a Bíblia.

Texto: São todas as palavras contidas em uma passagem.


Contexto: É tudo aquilo que fica antes ou depois do texto que estamos
lendo. Pode ser imediato ou remoto. Vai de uma palavra até um livro inteiro. No
caso da Bíblia pode ocupar inclusive, mais de um livro.
Exemplo:
Texto: Hebreus 11.1 – assunto Fé: ‘a Fé é a certeza das coisas que se
esperam’.
Contexto imediato: Hebreus 11.11: ‘...pela Fé também a própria Sara...’
Contexto remoto: Romanos 10.9: ‘...e assim, a Fé vem pela pregação...’
Referência
É a conexão direta sobre determinado assunto. A referência indica livro,
capítulo, versículo e outras indicações necessárias.
Exemplo: Rm 11.17
Rm – abreviatura do livro de Romanos;
11 – número do capítulo;
24

17 – número do versículo;
Rm 11.17a – “a” – parte inicial do versículo;
Rm 11.17b – “b” – parte final do versículo;
Rm 11.17ss – “SS” – indica os versículos seguintes;
“vv” – versículos;
“qv” – recomendação para que veja a referência;
“cf” – significa confira;
“i.e” – significa isto é.
Inferência
Conexão indireta entre assuntos, dedução.
Exemplo: Marcos 10.13 – Não está escrito que Jesus sorriu, porém, isso
pode ser deduzido pelo modo como tratou as crianças.
Abreviaturas
Os livros da Bíblia são abreviados com duas letras em ponto, sendo a
primeira letra maiúscula. Entre capítulo e versículo usa-se apenas um ponto.
Os capítulos são separados por ponto e vírgula ou somente a vírgula, os
versículos salteados por vírgula. Usa-se ainda o hífen para indicar o
prosseguimento de um capítulo ou versículo a outro.
Exemplo:
Jn 1.3 – Jonas capítulo 1, versículo 3;
Jn 1.3,4 – Jonas capítulo 1, versículo 3 e 4
Jn 1,3 – Jonas capítulos 1 e 3;
Jn 1.2,3; 4.3,4 – Jonas capítulo 1, versículo 2 e 3; Jonas capítulo 4, versículo
3 e 4. O ponto e vírgula indica o início de um novo capítulo;
Jn 1.3-6 – Jonas capítulo 1, versículos 3 ao 6;
Jn 1-3 – Jonas capítulos 1 ao 3.

25

CAPÍTULO V

A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA.

É a ação divina que influenciou ou inspirou os escritores bíblicos,


capacitando cada um a receber a mensagem divina, e que os moveu a
transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e omissões, de
modo que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a exata
transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana inteligível
(ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).

1) Autoria Dual: Com este termo indicamos dois fatos:

A) Autoria Divina: Do lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus


no sentido de que se originaram nEle e são a expressão de Sua mente. Em
IITm.3:16 encontramos a referência a Deus: “Toda Escritura é divinamente
inspirada” (theopneustos = soprada ou expirada por Deus) . A referência aqui
é ao escrito.

B) Autoria Humana: Do lado humano certos homens foram


escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e passá-la
para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens:
“Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (pherô =
movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.

C) Inspiração ou Expiração? A palavra inspiração vem do latim, e


significa respirar para dentro. Ela é usada pela ARC. (Almeida Revista e
Corrigida) somente duas vezes no N.T. (IITm.3:16; IIPe.1:21). Este vocábulo,
embora consagrado pelo uso, e, portanto, pela teologia, não é um termo
adequado, pois pode parecer que Deus tenha soprado alguma espécie de vida
divina em palavras humanas. Em IITm.3:16 encontramos o vocábulo grego
theopneustos que significa soprado por Deus. Portanto podemos afirmar que
toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada como
expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio Deus
falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado ainda,
pois a tradução da ARC. transmite a idéia de que os homens santos foram
inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é inspirado, mas a

26

Palavra de Deus é que é expirada ( Compare Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A
ARA. (Almeida Revista e Atualizada), porém, apesar de utilizar o termo inspiração
em IITm.3:16, usa, com acerto, o verbo mover em IIPe.1:21, como tradução do
vocábulo grego pherô, que significa exatamente mover ou conduzir.

Considerada esta ressalva, não devemos pender para o extremo,


excluindo a autoria humana da compilação das Escrituras. Ela própria reconhece
a autoria dual no registro bíblico. Em Mt.15:4 está escrito que Deus ordenou
enquanto que em Mc.7:10 diz que foi Moisés quem ordenou. E muitas outras
passagens há semelhantes a esta ( Compare Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15
com Mt.22:31; Lc.20:37 com Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41;
Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25; Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo
misterioso usando e não anulando a vontade humana, sem que o homem
perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que neste fenômeno,
o homem faz pleno uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25;
Ap.17:17). Desse mesmo modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1
com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a responsabilidade do homem
(At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação (Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).

D) O Termo Logos: Este termo grego foi utilizado no N.T. cerca de 200
vezes para indicar a Palavra de Deus Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho de
Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus o que a expressão é
para o pensamento e o que a fala é para a razão, portanto o Logos de Deus é a
expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva (Compare Jo.14:6 com
Jo.17:17).

1) Cristo é a Palavra Viva: Cristo é o Logos, isto é, a fala, a expressão


de Deus.

2) A Bíblia é a Palavra Escrita: A Bíblia também é o Logos de Deus, e


assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas), divino e humano,
igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos aparecem unidos
sobrenaturalmente.

E) Provas da Inspiração: Somos acusados de provar a inspiração pela


Bíblia e de provar a verdade da Bíblia pela inspiração, e, assim, de argumentar
num círculo vicioso. Mas o processo parte de uma prova que todos aceitam: a
evidência. Esta, primeiro prova a veracidade ou credibilidade da testemunha, e
então aceita o seu testemunho. A veracidade das Escrituras é estabelecida de
27

vários modos, e, tendo constatado a sua veracidade, ou a validade do seu


testemunho, bem podemos aceitar o que elas dizem de si mesmas. As Escrituras
afirmam que são inspiradas, e elas ou devem ser cridas neste particular ou
rejeitadas em tudo mais.

1) O A.T. afirma sua Inspiração: (Dt.4:2,5; IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9;


Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1; Ob.1:1; Mq.1:1).

2) O N.T. afirma sua Inspiração: (Mt.10:19; Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13;


At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3; IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).

3) O N.T. afirma a Inspiração do A.T.: (Lc.1:70; At.4:25; Hb.1:1,


IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).

4) A Bíblia faz declarações científicas descobertas


posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7; Is.40:22).

F) Teorias da Inspiração: Podemos ter revelação sem inspiração


(Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração sem revelação, como quando os escritores
registram o que viram com seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa
(IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui nós temos a forma e o resultado da inspiração. A
forma é o método que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado
indica a conseqüência da inspiração. Portanto, as chamadas teorias da
intuição, da iluminação, a dinâmica e a do ditado, todas descrevem a forma de
inspiração, enquanto que a teoria verbal plenária indica o resultado.

1) Teoria da Inspiração Dinâmica: Afirma que Deus forneceu a


capacidade necessária para a confiável transmissão da verdade que os
escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto os tornou
infalíveis em questões de fé e prática, mas não nas coisas que não são de
natureza imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os
ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas dos autores
humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica como os escritores
bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais ao registrarem
uma sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de
modo natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que
deveria envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre
matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos fatos mais simples da
história. Ela não analisa a relação existente entre as mentes divina e humana,

28

que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à
fé e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley, Doellinger
e Strong compartilham desta teoria.

2) Teoria do Ditado ou Mecânica: Afirma que os escritores bíblicos


foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas personalidades
foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu estilo seria
uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias
dos homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade o autor humano recebeu plena
liberdade de ação para a sua autoria, escrevendo com seus próprios
sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a exatidão da mensagem
suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido ditada por Deus. Não há
nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem a um
homem além daquela que Moisés trasncreveu no monte santo, pois Deus usa e
não anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira a
autoria divina ao ponto de excluir a autoria humana.

3) Teoria da Inspiração Natural ou Intuição: Afirma que a inspiração


é simplesmente um discernimento superior das verdades moral e religiosa por
parte do homem natural. Assim como tem havido artistas, músicos e poetas
excepcionais, que produziram obras de arte que nunca foram superadas,
também em relação as Escrituras houve homens excepcionais com visão
espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as
Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois enfatiza a autoria
humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos
pelagianos e unitarianos.

4) Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação: Afirma que


inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação das percepções
religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto, mas
alguns tem mais do que outros. Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer cristão
em qualquer tempo, através da energia divina especial, poderia escrever as
Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele inspiração
é “um despertamento e excitamento da consciência religiosa, diferente em grau
e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos intuitivos dos homens
santos”. Lutero, Neander, Tholuck, Cremer, F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd
defendiam esta teoria, segundo Strong.

29

5) Inspiração dos Conceitos e não das Palavras: Esta teoria


pressupõe pensamentos à parte das palavras, através da qual Deus teria
transmitido idéias mas deixou o autor humano livre para expressá-las em sua
própria linguagem. Mas idéias não são transferíveis por nenhum outro modo
além das palavras. Esta teoria ignora a importância das palavras em qualquer
mensagem. Muitas passagens bíblicas dependem de uma das palavras usadas
para a sua força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais
é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser alcançado através das
palavras, e não para que palavras sem importância representem um conceito. A
Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (ICo.2:13;
Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).

6) Graus de Inspiração: Afirma que há inspiração em três graus.


Sugestão, direção, elevação, superintendência, orientação e revelação direta,
são palavras usadas para classificar estes graus. Esta teoria alega que algumas
partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras. Embora ela reconheça as
duas autorias, dá margem a especulação fantasiosa.

7) Inspiração Verbal Plenária: É o poder inexplicado do Espírito Santo


agindo sobre os escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzí-
los) na transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações
pessoais, fontes orais ou verbais, ou através de revelação divina direta,
preservando-os de erros e omissões, abrangendo as palavras em gênero,
número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a inerrância das
Escrituras, e dando à ela autoridade divina.

a) Observação Pessoal: (IJo.1:1-4).

b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).

c) Fonte Verbal: (At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1).

d) Revelação Divina Direta: ( Ap.1:1-ll; Gl.1:12).

e) Gênero: (Gn.3:15).

f) Número: (Gl.3:16).

g) Tempo: (Ef.4:30; Cl.3:13).

h) Modo: (Ef.4:30; Cl.3:13).

30

i) Voz: (Ef.5:18)

j) Explicação dos itens e,f,g,h,i: A inspiração verbal plenária fica assim


estabelecida. Em Gn.3:15 o pronome hebraico está no gênero masculino, pois
se refere exclusivamente a Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz
citação de um substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também,
referência exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se,
no grego, no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão
judicial de Deus realizado no passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se
por toda a nossa vida, abrangendo o perdão dos pecados do passado, do
presente, e do futuro (IJo.1:9 trata do perdão do pecado doméstico e não do
judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando declarou
que nem um til (a menor letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18
e Lc.16:l7).

CAPÍTULO VI

ILUMINAÇÃO

É a influência ou ministério do Espirito Santo que capacita todos os que


estão num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (I
Cor.2:12; Lc.24:32,45; IJo.2:27). A iluminação não inclui a responsabilidade de
acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível
na linguagem (inspiração) daquele que o Espirito Santo ensina.

A iluminação é diferenciada da revelação e da inspiração no fato de ser


prometida a todos os crentes, pois não depende de escolha soberana, mas de
ajustamento pessoal ao Espirito Santo. Além disso a iluminação admite graus
podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23; Cl.1:9).

A iluminação não se limita a questões comuns, mas pode atingir as


coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no coração do
crente e, portanto, ele não houve uma voz falando de fora e em determinados
momentos, mas a mente e o coração são sobrenaturalmente despertados de
dentro (ICo.2:16). Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo
pecado, pois é dito que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas
(ICo.2:15), ao passo que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais

31

profundas de Deus que são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3;


Hb.5:12-14).

A iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente ligadas,


porém podem ser independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3;
IJo.1:1-4); inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação
(IPe.1:10-12); iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12;
Jd.3); revelação sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4;
Ex.20:1-22). E’ digno de nota que encontramos estes três ministérios do Espirito
Santo mencionados em uma só passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo
10; a iluminação no versículo 12 e a inspiração no versículo 13.

CAPÍTULO VII

AUTORIDADE DA BIBLIA

Dizemos que a bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem
influência, prestígio e credibilidade (quanto a pureza na transcrição ou
tradução), por isso deve ser obedecida porque procede de fonte infalível e
autorizada.

A autoridade está vinculada a inspiração, canonicidade e credibilidade,


sem os quais a autoridade da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser
inspirado, determinado trecho bíblico possui autoridade; por ser canônico,
determinado livro bíblico possui autoridade, e por ter credibilidade,
determinadas informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas,
geográficas ou científicas.

Entretanto, nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a


autoridade de um livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de
sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas
nem tudo que está registrado na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo,
o que Satanás disse para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a verdade
(Gn.3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt.16:22); as acusações que Elifaz
fez contra Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma dessas declarações representam o
pensamento de Deus ou procedem dEle (procedem apenas por inspiração), e

32

por isso não têm autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando
é retirado de seu contexto e lhe é atribuído um significado totalmente diferente
daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras ainda são inspiradas,
mas o novo significado não tem autoridade.

CAPÍRULOVIII

A Formação do Cânon: O Desenvolvimento do Cânon do Antigo


Testamento.

A palavra cânon (do hebraico ‘caneh’ = vel, cf Ez 40.3) é de origem semítica


e, originalmente, significava ‘instrumento de medir’. Literalmente quer dizer
‘cana’ ou ‘vara de medir’. Esta palavra passou a ser usada para designar a lista
de livros reconhecidos como a genuína, original, inspirada e autorizada Palavra
de Deus, diferenciando-os de todos os outros livros. Bem cedo na História, Deus
comentou a formação do livro que haveria de ser o meio de sua revelação ao
homem:
a) Os Dez Mandamentos escritos em pedras: Ex 31.18
b) As leis de Moisés escritas num livro e postas ao lado da Arca da Aliança:
Dt 31.24-26
c) Foram tiradas cópias deste livro: Dt 17.18;
d) Josué fez acréscimos ao Livro da Lei: Js 24.26;
e) Samuel escreveu num livro e pôs diante de Deus: I Sm 10.25;
f) Esse livro foi encontrado 400 anos mais tarde: II Rs 22.8-20;
g) Os profetas escreveram num livro: Jr 36.32; Zc 7.7-12;
h) Esdras leu o livro publicamente: Ne 8.2,3,5,8;
i) Isaias fala do livro do Senhor: Is 34.16;
j) Os salmos já eram cantados em 726 a.C.: II Cr 29.30;
l) Daniel refere-se aos Livros: Dn 9.2;
m) Neemias achou o livro das genealogias dos judeus que já haviam
regressado do exílio: Ne 7.5;
n) O livro estava sendo escrito nos dias de Ester: Et 9.32;
o) Um profeta cita outro profeta: Mq 4.1-3.

33

No Novo Testamento há umas trezentas citações dessas ‘Escrituras’. Eram


ensinadas regularmente e lidas nas sinagogas. O povo a considerava como a
“Palavra de Deus”. O próprio Senhor Jesus:
a) Leu – Lucas 4.16-20;
b) Ensinou – Lucas 24.27;
c) Chamou de Palavra de Deus – Marcos 7.13;
d) Cumpriu – Lucas 24.44.

•O cânon hebraico é diferente do nosso. Embora contenha os mesmos


livros, estão dispostos na seguinte ordem:
Ø Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuterônimio;
Ø Profetas: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaias, Jeremias, Ezequiel e
os Doze Profetas Menores;
Ø Escritos: Salmos, Provérbios, Jó, Cantares de Salomão, Rute,
Lamentações de Jeremias, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras-Neemias,
Crônicas.

•As parelhas de livros de: I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas,


Neemias e Esdras, Doze Profetas Menores, são considerados como um só.
Os 24 livros do cânon hebraico são exatamente os 39 do nosso Antigo
Testamento.
•Livros desaparecidos citados no Antigo Testamento:
a) Livro das Guerras do Senhor – Nm 21.14;
b) Livro dos Justos – Js 10.13; II Sm 1.18;
c) Livro da História de Salomão – I Rs 11.41;
d) História do rei Davi – 1 Cr 27.24;
e) Crônicas de Natã e Gade – I Cr 29.29;
f) História de Natã, Profecias de Aias e Visões de Ido – II Cr 9.29; 12.15 e
26.22;
g) Livro de Hozai – II Cr 33.19.

A história de como se realizou a canonização da Bíblia se deu ao longo de


quase dois mil anos, sem que cada autor estivesse consciente de como sua
34

contribuição iria se enquadrar no plano total da Biblia. Cada profecia ao ser


entregue ao povo de se encaixaria na história total, fato que era algo que o
profeta desconhecia inteiramente, e até mesmo para os crentes que de início
ouviam, liam e reconheciam a mensagem. Somente em época posterior, é que
poderia perceber a mão de Deus movimentando cada texto e seu articulador,
mão que também moveria a cada um para produzir uma história global sobre a
redenção de que só Deus mesmo poderia ser o autor. Nem os profetas que
compuseram os livros, nem o povo de Deus que veio coligindo esses livros
tiveram consciência de estar edificando a unidade global dentro da qual cada
livro desempenharia uma função.
§ Os três elementos mais importantes no processo de canonização
Há três elementos básicos no processo genérico de canonização da Bíblia:
a inspiração de Deus, o reconhecimento da inspiração pelo povo de Deus e a
coleção dos livros inspirados pelo povo de Deus. Um breve estudo de cada
elemento mostrará que o primeiro passo na canonização da Bíblia (a inspiração
de Deus) cabia ao próprio Deus. Os dois passos seguintes (reconhecimento e
preservação desses livros), Deus os incumbiria a seu povo.
Inspiração de Deus. Crendo que foi Deus quem deu o primeiro passo no
processo de canonização, quando inspirou o texto. Assim, o fator mais
fundamental para existir os 39 livros do Antigo Testamento é que só esses livros,
que foram inspirados por Deus.
Reconhecimento por parte do povo de Deus. Uma vez autorizado e
autenticado por Deus, o documento prescisaria imediatamente ser copiado,
para preservação e depois circulado, com as credenciais da comunidade, e
então passava a pertencer ao cânon. A igreja mais adiante, viria a aceitar esse
livro em seu cânon cristão. Os escritos de Moisés foram aceitos e reconhecidos
em seus dias (Êx 24.3), como também os de Josué (Js 24.26), os de Samuel (1Sm
10.25) e os de Jeremias (Dn 9.2). Esse reconhecimento seria confirmado também
pelos autores do Novo Testamento, e fundamentalmente por Jesus.
Coleção e preservação pelo povo de Deus. Podemos observar que a
comunidade de Israel guardava a Palavra de Deus. Os escritos de Moisés na
arca (Dt 31.26). As palavras de Samuel foram colocadas "num livro, e o pôs
perante o Senhor" (1Sm 10.25). A lei de Moisés foi preservada no templo nos
dias de Josias (2Rs 23.24). Daniel tinha uma coleção dos "livros" nos quais se
encontravam "a lei de Moisés" e "os profetas" (Dn 9.2,6,13). Esdras possuía

35

cópias da lei de Moisés e dos profetas (Ne 9,14,26-30). Os crentes do Novo


Testamento possuíam todas as "Escrituras" do Antigo Testamento (2Tm 3.16),
tanto a lei como os profetas (Mt 5.17).

O desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento


A evidência da coleção progressiva dos livros proféticos. Desde o início, os
escritos proféticos foram reunidos pelo povo de Deus e reconhecido como
escritos sagrados, autorizados, de inspiração divina. As leis de Moisés foram
preservadas ao lado da arca no tabernáculo de Deus (Dt 31.24-26) e, mais tarde,
no templo (2Rs 22.8). Josué acrescentou suas palavras (Js 24.26). Samuel
informou os israelitas a respeito dos deveres de seu rei (1Sm 10.25).
Essa doutrina de uma coleção progressiva de livros proféticos se confirma
pela citação que um profeta faz do outro. Por exemplo, os livros de Moisés são
Citados por so livros do A.T. desde Josué (1.7) até Malaquias (4.4), incluindo-se
a maior parte dos grandes livros intermediários (1Rs 2,3; 2Rs 14.6; 2Cr 14.4; Jr
8.8; Dn 9.11; Ed 6.18 e Ne 13.1). Em Juízes 1.1,20,21 e 2.8, faz citações de Josué e
a acontecimentos narrados em seu livro. Os livros de Reis citam a vida de Davi
conforme narrada nos livros de Samuel (V. 1Rs 3.14; 5.7; 8.16; 9.5). Crônicas faz
uma revisão da história de Israel registrada desde Gênesis até Reis, incluindo-se
o elo genealógico mencionado apenas em Rute (1Cr 2.12,13). Neemias 9 resume
a história de Israel Conforme o registro de Gênesis a Esdras. Um dos salmos de
Davi, o salmo 18, está registrado em 2 Samuel 22. Há referências aos Provérbios
de Salomão e ao Cântico dos Cânticos em 1Reis 4.32. O profeta Jonas recita parte
de muitos salmos (Jn 2).
A evidência da continuidade profética: Cada livro que surgia ligava sua
história a fatos já existente, narrada pelos seus predecessores, formando uma
corrente contínua de livros. Por exemplo o primeiro versículo de Josué está
ligado a Deuteronômio: "Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o
Senhor a Josué, filho de Num...". Josué acrescentou algum texto ao de Moisés e
colocou-o no tabernáculo (Js 24.26). Juizes retoma o texto no final de Josué,
dizendo: "Depois da morte de Josué, os filhos de Israel perguntaram ao
Senhor...". Todavia, o registro não ficou completo senão nos dias de Samuel. Isso
se demonstra repetidamente pela declaração: "Naqueles dias não havia rei em
Israel" (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25).

36

Esta continuidade se deu na construção dos livros de todo A.T., sob iniciação
de Samuel (1Sm 19.20), como a lista que vem nos ilustra:
1. A história de Davi foi escrita por Samuel (cf. 1Sm), por Nata e por Gade (1Cr
29.29).
2. A história de Salomão foi registrada pelos profetas Nata, Aías e Ido (2Cr 9.29).
3. Os atos de Roboão foram escritos por Semaías e por Ido (2Cr 12.15)
4. A história de Abias foi acrescentada pelo profeta Ido (2Cr 13.22).
5. A história do reinado de Josafá foi registrada pelo profeta Jeú (2Cr 20.34).
6. A história do reinado de Ezequias foi registrada por Isaías (2Cr 32.32).
7. A história do reinado de Manasses foi registrada por profetas anônimos (2Cr
33.19).
8.Os demais reis também tiveram suas histórias narradas pelos profetas (2Cr
35.27).
Durante o exílio, Daniel e Ezequiel continuaram o ministério profético. Visto
que Daniel faz mensão de Jeremias 25 (Dn 9.2), e Ezequiel menciona tanto Jó
quanto a Daniel (Ez 14.14,20).
Depois do exílio, Esdras voltou da Babilônia levando consigo os livros de
Moisés e dos profetas (Ed 6.18; Ne 9.14,26-30). Deixando uma obra que se
chamaria Crônicas, que seria o registro sacerdotal da história de Judá e do
templo (v. Ne 12.23). Crônicas está ligado a Esdras-Neemias pela repetição do
último versículo de um, como o primeiro versículo do outro. Para concluir,
Neemias completa-se a cronologia profética.
2. Literatura Apócrifa
São chamados apócrifos (ocultos; falsos em autenticidade) os escritos
produzidos no período interbíblico. Há também outros livros espúrios, tanto no
AT como no NT chamados de pseudoepígrafos, ex. Enoque, os 12 Patriarcas,
Moisés, Apocalipse de Paulo, etc.
A denominação ‘apócrifos’ se dá comumente aos 14 escritos contidos em
algumas Bíblias de edição romana, misturados entre os livros do Antigo
Testamento.
• Motivos por serem chamados apócrifos:

37

a) Foram escritos depois de cessado a inspiração Divina;


b) Os judeus jamais os reconheceram como Escrituras;
c) A Igreja Primitiva jamais os reconheceu como inspirados;
d) Foram inseridos na Bíblia quando se fez a tradução para o grego, na
Septuaginta;
e) A Igreja Romana, para combater os protestantes, declarou canônicos 11
dos 14 apócrifos;
f) A Igreja Romana denomina de Protocanônicos os que chamamos de
Canônicos, e de Deuterocanônicos os que chamamos de Apócrifos;
• Os livros são:
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruqeu, e I e II Macabeus.
• Os apêndices são:
Ester, Cânticos dos Três Santos Filhos, História de Susana, Bel e o Dragão.
Três foram rejeitados: III e IV Esdras, a Oração de Manassés.

Razões da Rejeição dos Livros Apócrifos

A razão porque 66 livros da Bíblia se harmonizam entre si é que a mesma


mente divina inspirou a cada escritor. Se, por exemplo, João tivesse escrito algo
que não concordasse com as obras de Moisés, seríamos obrigados a rejeitar seu
Evangelho, as Epístolas e o livro do Apocalipse.

Os primeiros livros constituem o critério para todos os outros chamados


inspirados. Se as doutrinas dos livros apócrifos não concordam em cada ocasião
com aquilo que Moisés escreveu, não devem achar-se no Cânon da Palavra
Inspirada. Os livros apócrifos ensinam doutrinas que são contrárias ao que
Moisés e outros profetas escreveram. Por essa razão não foram colocados entre
os outros livros do Velho Testamento, nos dias de Esdras. Nem Cristo nem os
apóstolos citaram os livros apócrifos. S. Jerônimo os rejeitou da Bíblia Latina, por
não estarem escritos em hebraico.

1 Ensino da Arte Mágica

Tobias 6.5-8. "Então, o anjo lhe disse: toma as entranhas deste peixe e
guarde para ti seu coração, o fel e seu fígado. Pois são necessários para

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medicinas úteis [...] Logo, Tobias perguntou ao anjo e lhe disse: Eu te rogo, irmão
Azarias, para quais remédios são boas essas coisas, que tu pediste separar do
peixe. E o anjo, respondendo, lhe disse: Se puseres um pedacinho do seu
coração sobre as brasas, seu fumo há de espantar toda a espécie de demônios,
seja de um homem ou de uma mulher, de modo que não possam mais voltar a
eles."

2 Dar Esmolas Purifica do Pecado

Tobias 12.8,9. "A oração é boa como o jejum e esmolas; é melhor do que
guardar tesouros de ouro, pois, esmolas livram da morte, e é o mesmo que espia
os pecados e conduz à misericórdia e vida eterna". Se ofertas caridosas
pudessem expiar os nossos pecados, não teríamos necessidade do sangue de
Jesus Cristo.

3 Pecados Perdoados pela Oração

Eclesiástico 3.4. "Quem amar a Deus, receberá perdão de Seus pecados pela
oração". Os pecados não se perdoam pela oração. Se fosse assim, não teríamos
necessidade de Jesus. Todos os povos pagãos fazem orações, mas os pecados
não se perdoam somente pela oração. Pv 28.1; 1Jo 1.9. Só Cristo, nosso
Advogado, pode perdoar o pecado.

4 Orações pelos Mortos

2 Macabeus 12.42-46, "E, fazendo uma arrecadação, mandou doze mil


dracmas de prata a Jerusalém para ser oferecido um sacrifício pelos pecados
dos mortos, e fez bem em pensar religiosamente na ressurreição, (pois, se não
tivesse esperança que os que haviam sido mortos ressuscitassem novamente,
haveria de ser supérfluo e em vão orar pelos mortos). E considerava que, os que
haviam adormecido no temor de Deus, alcançaram para si muita graça." A Igreja
Católica afirma que estes versículos lhe autorizam a doutrina do purgatório.
Orações e missas pelos mortos são aceitas e o devoto católico crê nelas. Excede
a imaginação a quantidade de dinheiro que aflui todos os anos aos cofres da
igreja pelas missas em favor dos mortos.

5 O Ensino do Purgatório

Sabedoria 3.1-4. "Mas, as almas dos justos estão na mão de Deus; e o


tormento da morte não as tocará. Aos olhos dos ignorantes pareciam eles

39

morrer e sua partida foi considerada desgraça. E, sua separação de nós, por uma
extrema perda. Mas, eles estão em paz. E, embora aos olhos dos homens sofram
tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade."

A Igreja Católica baseia a sua crença da doutrina do purgatório nestes


versículos citados: "Embora aos olhos dos homens sofram tormentos, sua
esperança está plenamente na imortalidade". "Os tormentos" nos quais se
acham os "justos", diz a Igreja, referem-se ao fogo do purgatório, onde os
pecados estão sendo expiados. "Sua esperança está plenamente na
imortalidade", pois a igreja interpreta isso, declarando que após suficiente
tempo de sofrimento no meio do fogo, poderão passar para o céu. 1Jo 1.7. Esse
ensino aniquila completamente a expiação de Cristo. Se o pecado pudesse ser
extinto pelo fogo, não teríamos necessidade do nosso Salvador.

6 O Anjo Relata uma Falsidade

Tobias 5.15-19. "O anjo disse-lhe (a Tobias): Guiá-lo-ei para lá (o filho de


Tobias) e o farei voltar a ti. E Tobias lhe disse (ao anjo): Eu te rogo, dize-me, de
que família ou de que tribo és tu? E Rafael, o anjo, respondeu: [...] Eu sou Azarias,
o filho do grande Ananias. Respondeu-lhe Tobias: Tu és de uma grande família".
Se um anjo de Deus mentisse acerca de sua identidade, tornar-se-ia culpado de
violação do nono mandamento. Lc 1.19. Confrontando esta declaração com o
que está registrado no livro de Tobias, compreenderemos logo porque Cristo
nunca Se referiu aos livros apócrifos.

7 Uma Mulher Jejuando Toda Sua Vida

Judith 8.5,6. "E ela fez para si um aposento separado no andar superior de
sua casa no qual vivia com suas servas. Seu vestido era de cabelo de crina e ela
jejuava todos os dias de sua vida, com exceção dos sábados, das luas novas e
demais festas da casa de Israel." Esta passagem é parecida a outras lendas
católicas romanas, com respeito a seus santos canonizados. Uma mulher
dificilmente jejuaria toda sua vida, com exceção de um dia da semana e algumas
outras ocasiões durante o ano. Cristo jejuou quarenta dias, porém não toda a
Sua vida.

A igreja católica apega-se a estes livros não inspirados porque eles


sancionam alguns de seus falsos ensinos, como: oração pelos mortos, salvação

40

pelas obras, a doutrina do purgatório, dar esmolas para libertar as pessoas do


pecado e da morte.

A Formação Canonica do Novo Testamento.

A história da formação cânonica do Novo Testamento é diferente de como


se preocessou do Antigo em muitos aspectos. Primeiro, por ser o cristianismo
uma religião internacional, não encontramos uma comunidade profética restrita
que acolhece os livros inspirados e os reunisse em determinado lugar. A cleção
se fez necessário conforme seus destinos aqui e ali, que se iam completando,
logo no início da igreja; não encontramos um corpo oficial que catalogasse os
escritos inspirados. Por isso, o processo mediante o qual todos os escritos
apostólicos se tornassem universalmente aceitos levou muitos séculos.
Felizmente, dada a disponibilidade de textos, há mais manuscritos do cânon do
Novo Testamento que do Antigo.

Outra diferença, é que a partir do momento em que as discussões


resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do Novo Testamento,
não mais houve outro movimentos dentro do cristianismo no propósito de
acrescentar ou eliminar livros. O cânon do Novo Testamento encontrou acordo
geral no concelho da igreja universal. Mas vejamos alguns estimulos que
provocou a necessidade da formação e agrupamento dos escritos apostólicos.

O estímulo eclesiástico à lista dos canônicos


A igreja passou a ter uma necessidade, tanto interno quanto externo, que
exigiam o reconhecimento quais seriam os livros canônicos. Internamente havia
a necessidade de saber que livros poderiam ser lidos nas igrejas (1Ts 5.27). Do
lado externo havia a necessidade de se saber qual o texto recomendado a ser
tratuzido para as línguas estrangeiras das pessoas convertidas. Sem esta lista
dos livros reconhecidos, aprovados, seria difícil para a igreja primitiva a
execução dessa tarefa.

De modo semelhante, Timóteo foi instruído a apresentar a mensagem de


Paulo às igrejas ao lado das Escrituras do Antigo Testamento. "Persiste em ler",
41

escreveu o apóstolo, "exortar e ensinar, até que eu vá" (1Tm 4.13, 11). A leitura
em público das palavras autorizadas de Deus era um costume antigo. Moisés e
Josué o praticaram (Êx 24.7; Js 8.34). Josias pediu que se lesse a Bíblia em seus
dias (2Rs 23.2), e o mesmo fizeram Esdras e os levitas: "Leram no livro da lei de
Deus, esclarecendo-a e explicando o sentido, de modo que o povo pudesse
entender o que se lia" (Ne 8.8). A leitura das cartas apostólicas às igrejas é uma
continuação da longa tradição do A.T..

Podemos ainda citar uma passagem significativa a respeito da leitura das


cartas apostólicas nas igrejas. Paulo recomendou assim aos colossenses:
"Depois que esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na
igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também" (Cl 4.16).
João prometeu uma bênção a quem lesse sua carta em voz alta (Ap 1.3), a qual
ele enviara a sete igrejas diferentes. Tudo isso demonstra com clareza que as
cartas apostólicas tinham por intuito ser lidas por um grupo muito maior do que
uma congregação. Todas as igrejas no tempo e no espaço teriam a obrigação de
lê-las, e, à medida que as igrejas iam recebendo, lendo e coligindo essas cartas,
cheias de autoridade divina, lançavam os alicerces de uma coleção crescente de
documentos inspirados. Em suma, as igrejas estavam envolvidas num processo
incipiente de canonização. Essa aceitação original de um livro, o qual era
autorizadamente lido nas igrejas, teria importância crucial para o
reconhecimento posterior de um livro canônico.

O estímulo teológico à lista dos canônicos


No desejo da formulação da doutrina (2Tm 3.16,17), tornou-se cada vez
mais necessário definir os livros deveriam ser usados para ensinar com
autoridade divina, devido também por causa da multiplicidade de livros
heréticos que reivindicavam autoridade divina. Principalmente quando o herege
Marcião publicou uma lista muitíssimo abreviada dos livros canônicos (c. 140),
aceitando apenas evangelho de Lucas e dez das cartas de Paulo (com a omissão
de 1 e 2Timóteo e de Tito), viu-se a necessidade de uma lista completa dos livros
canônicos.

42

O estímulo político à lista dos canônicos


As perseguições, principalmente de Diocleciano (c. 302-305) representou
um forte motivo para a igreja definir imediatemente a lista dos livros canônicos.
De acordo com o historiador cristão Eusébio, houve um edito imperial da parte
de Diocleciano, de 303, ordenando que "as Escrituras fossem destruídas pelo
fogo".
O estímulo da exatidão apostólica

Desde o início da igreja surgiram falsos escritos, ou os não-apostólicos e,


portanto, não eram fidedignos de circular entre a igreja, conforme já
preocupado por alguns autores neotestamentário. Como relatos fantasiosos
sobre a vida de Cristo. Conforme na introdução do evangelho Lucas (Lc 1.1-4) é
que, em seus dias (c. 60 d.C), já havia alguns relatos inexatos em circulação a
respeito da vida de Cristo.
Até o apostolo Paulo se preocupou com textos falsos que levavam se
nome"Rogamo-vos", escreveu o apóstolo, "que não vos demovais do vosso
modo de pensar, nem vos perturbeis [...] por epístola, como se procedesse de
nós, como se o dia de Cristo já tivesse chegado" (2Ts 2.20). Por isto a carta seria
enviada por um portador pessoal da parte do apóstolo.

Podemos crer que havia muitas evidências de que no seio da igreja do


século I, estava ocorrendo já um processo seletivo em operação. Toda e
qualquer palavra a respeito de Cristo, quer fosse oral, ou escrita, era
imediatamente submetida ao ensino apostólico, dotado de toda autoridade. Se
tal palavra ou obra não pudesse ser comprovada pelas testemunhas oculares
(v. Lc 1.2; At 1,21,22), era rejeitada, Os apóstolos eram pessoas que podiam
afirmar: "O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos" (1Jo 1.3). eram o
incontestável tribunal de apelação. Assim escreveu outro apóstolo: "Não vos
fizemos saber o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas
artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a sua majestade" (2Pe 1.16).
Essa fonte primordial de autoridade apostólica era o cânon, mediante O qual a
primeira igreja escolheu os escritos aos quais obedeceria, pois eram os ensinos
dos apóstolos (At 2.42).
43

Havia uma ordem nos escritos do Novo Testamento para que se estudem
as Escrituras, os cristãos eram admoestados a ler continuamente as Escrituras
(Tm 4.11,13). A única maneira pela qual se poderia realizar isso no seio de um
número crescente dá igrejas era fazer cópias, de tal sorte que cada igreja ou
grupo de igreja tivesse sua própria compilação de escritos autorizados. Pedro
possuía uma coleção das cartas de Paulo, as quais ele colocava ao lado das
"outras Escrituras" (2Pe 3.15,16). Isso demonstra que haveria outras coletâneas
que atenderiam às necessidades das igrejas que iam crescendo. O fato de um
escritor citar outro escritor também revela que tais cartas coligidas eram
reconhecidamente divinas e inspiradas e assim dotadas de autoridade. Judas
menciona Pedro (Jd 17; 2Pe 3.2), e Paulo menciona o evangelho de Lucas como
Escritura Sagrada (1Tm 5.18; cf. Lc 10.7). Lucas presume que Teófilo estava de
posse de um primeiro livro ou tratado (At 1.1).

Desta forma, o processo de canonização se encontrava desde o início da


igreja e já se encontrava em andamento. As primeiras igrejas foram exortadas
a selecionar apenas os escritos apostólicos fidedignos. Desde que determinado
livro fosse examinado e dado por autêntico, fosse pela assinatura, fosse pelo
emissário apostólico, era lido na igreja e depois circulava entre os crentes de
outras igrejas. As coletâneas desses escritos apostólicos começaram a tomar
forma nos tempos dos apóstolos. Pelo final do século I, todos os 27 livros do
Novo Testamento haviam sido recebidos e reconhecidos pelas igrejas cristãs. O
cânon estava completo, e todos os livros haviam sido reconhecidos pelos
crentes de outros lugares. Por causa da multiplicidade dos falsos escritos e da
falta de acesso imediato às condições relacionadas ao recebimento inicial de um
livro, o debate a respeito do cânon prosseguiu durante vários séculos, até que a
igreja universal finalmente reconheceu a canonicidade dos 27 livros do Novo
Testamento.

Os Últimos Processos Na Formação Canonica do Novo Testamento.


Eusébio de Cesaréia. Em sua obra História eclesiástica. Ele relacionou como
totalmente aceitáveis os 27 livros do Novo Testamento, exceto Tiago, Judas,
2Pedro e 2 e 3João. Esses, ele relacionou como questionados por alguns; ele

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mesmo rejeitava de vez o Apocalipse. Assim, todos, menos o Apocalipse, haviam


recebido aceitação, ainda que algumas das cartas gerais sofressem alguma
forma de questionamento.
Atanásio de Alexandria. Quaisquer dúvidas existentes no Ocidente a respeito
das cartas gerais e do Apocalipse foram removidas nos cinqüenta anos que se
seguiram à obra de Eusébio. Atanásio, chamado o Pai da Ortodoxia, relaciona
com clareza todos os 27 livros do Novo Testamento como canônicos. Dentro de
uma geração, tanto Jerônimo quanto Agostinho teriam confirmado a mesma
lista de livros, de modo que os 27 livros permaneceram no cânon aceito do Novo
Testamento.
Os Concílios de Hipo (393) e de Cartago (397). O testemunho de apoio ao
cânon do Novo Testamento não se limitou a vozes individuais. Dois concílios
locais ratificaram os 27 livros canônicos do Novo Testamento. A variação no
cânon do Antigo Testamento aceita por esses concílios já foi discutida no
capítulo 8. Também existe uma lista proveniente do Sínodo de Laodicéia (343-
381), que inclui todos os livros, menos o Apocalipse; mas onze estudiosos têm
questionado a genuinidade dessa lista.
Desde o século V a igreja tem aceito esses 27 livros como o cânon do Novo
Testamento. Embora mais tarde houvesse objeções ao cânon do Antigo
Testamento, a igreja em todos os seus principais ramos continua, até hoje, a
reconhecer apenas esses 27 livros do Novo Testamento como apostólicos.

• Requisitos necessários para um livro poder fazer parte do


cânon do NT. Exigência feita no III Concílio de Catargo, em 397 d.C.:
Ø Apostolicidade;
Ø Circulação do livro;
Ø Caráter concreto do livro;
Ø Ortodoxia;
Ø Autoridade Diferenciadora;
Ø Leitura em público.
BREVE LISTAS DOS LIVROS N. T.

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1. Policarpo (110 – 150): Não citou 2 Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus, Tiago e 2
Pedro.
2. Irineu (130 – 220): Não citou Filemom, Tiago, 2 Pedro e 3 João.
3. Cânon Muratório (170): Não citou Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro.
4. Tertuiano (150 – 220): Não citou Filemom, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João.
5. Cânon de Baraccócio (206): Não citou Apocalipse.
6. Cânon de Anastácio (367): Inclui todos.
7. Cânon de Hipona (397, 419): Inclui todos.

CAPÍTULO IX

A Interpretação da Bíblia

Tem-se dito que a Bíblia necessita, pela dificuldade de entender o seu


conteúdo, de uma interpretação infalível que evite que o estudioso não
especializado incorra em erro em sua interpretação. A posição que, desde o
tempo da Reforma, os evangélicos têm sustentado é a de que o cristão é um juiz
idôneo para julgar o conteúdo da revelação bíblica. Disse Hammond:
"Sustentamos que as Escrituras são capazes de oferecer seu significado correto
em todas as idades e circunstâncias em que se encontre o homem, sempre que
este esteja disposto a ser ensinado pelo Espírito Santo e a obedecer-Ihe"
(BLOESCH, 1978, p. 46).

Não podemos colocar uma instância superior à clara mensagem da Bíblia,


seja esta um teólogo, uma igreja ou uma denominação. Isto não significa que
não façamos uso de todas as informações possíveis à nossa disposição para não
nos enganarmos ao interpretar a Palavra de Deus. Um princípio de saudável
hermenêutica, sem entrar nas complicadas considerações que a teologia atual
tem a respeito deste tema, é que um texto se esclarece por seu contexto, seja
ele imediato ou mediato. E o contexto mediato, ou distante, de um texto, é, em
última análise, a própria Bíblia, o conteúdo total da revelação.

Em outras palavras, a Bíblia contém em si a informação necessária para


interpretar de forma correta qualquer passagem que ofereça dificuldade. E
conquanto usemos a ajuda humana para entender o conteúdo da Bíblia, não
nos esqueçamos de que, em última instância, é a Bíblia que julga tal ajuda.
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1. Regra de interpretação literal


Ler a Bíblia literalmente, como faria com qualquer outro livro. O bom senso
sempre indicará quando alguma coisa deve ser tomada simbolicamente. Israel
é Israel, pedra é pedra. Com um pouco de atenção, verá que o contexto ou a
própria estrutura da Bíblia indicará claramente do que trata o texto.
2. Regra da interpretação Cristocêntrica
Cristo é o centro da revelação, o objetivo de toda a revelação bíblica. Direta
ou indiretamente, cada passagem da Escritura aponta para Jesus. Enquanto
você não tiver uma visão dEle nas passagens estudadas, não terá chegado ao
fundamentos das mesmas.
3. Regra da interpretação da Primeira Menção.
A primeira vez que uma palavra, uma frase, um objeto ou um incidente é
mencionado nas Escrituras, isso fornece a chave de seu significado em qualquer
outro lugar da Bíblia, onde quer que ocorra.
Exemplo:
Em Gênesis 3, folhas de figueira representam a tentativa de Adão
querendo encobrir o pecado e nudez, pelas obras de suas mãos. Na última vez
que se falou em folhas de figueira, em Mateus 21 e Marcos 11 e 13, vemos Jesus
amaldiçoando uma figueira sem frutos. O Mestre acaba de ser rejeitado em
Jerusalém. Como as folhas da figueira representam a rejeição do homem ao
remédio de Deus, Jesus estava dizendo com este ato que justiça humana deve
ser rejeitada para dar lugar À justiça de Deus e que pela sua própria justiça o
homem seria amaldiçoado.
4. Regra da interpretação da consideração do contexto
Sempre use o texto em harmonia com o seu contexto, e não como um
mero pretexto. Antes de tirar uma conclusão precipitada, investigue de modo
completo aquilo que o restante da Bíblia ensina.
5. Regra da interpretação tríplice
As Escrituras tem três significados para sua interpretação:
a) Toda a escritura tem somente uma interpretação primária.
É a interpretação pura e simples do que está escrito. Se pedra, é pedra, se
Israel, é Israel, etc.
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b) Toda a Escritura tem muitas aplicações práticas. Os pregadores, na


maioria das vezes, utilizam interpretações práticas para conseguirem maior
êxito em suas mensagens.
c) Muitas passagens das Escrituras tem em adição a isso uma revelação
profética.
Exemplo:
O vale de ossos secos de Ezequiel 37.11,12.
•Interpretação primária: Israel espalhada entre as nações.
•Aplicações práticas: entre elas, podemos falar da necessidade de
reavivamento na Igreja, pelos crentes.
•Revelação profética: Reavivamento da Nação de Israel nos últimos
dias.
6. Regra da revelação cumulativa:
A verdade completa da Palavra de Deus sobre qualquer assunto não deve
ser obtida de alguma passagem isolada, mas antes, da revelação cumulativa de
todas as passagens que dizem respeito a essa verdade.
7. Regra do bom senso
Naturalmente, o bom senso deve estar subordinado a Deus. A Bíblia não é
um livro difícil ou obscuro como alguns afirmam. Quando usamos o bom senso,
evitamos o ridículo. O bom senso dirá quando isto ou aquilo deve ser usado ou
aceito figurada ou simbolicamente.
8. Regra da repetição
As repetições encontradas nas Escrituras, servem para enfatizar, revelar
ou mostrar a importância de alguma passagem a ponto de ser repetida. O
Espírito Santo quis que fosse assim.
Exemplo: João 3.3,5
v. 3 – “a isto respondeu Jesus: em verdade, em verdade te digo que se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”;
v. 5 – “respondeu Jesus: em verdade, em verdade te digo: quem não nascer
da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.
9. Regra do correto manuseio da Palavra

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Em II Timóteo 2.15, a expressão “que maneja bem” é tirada dos sacrifícios


do Antigo Testamento. O ofertante dividia o cordeiro em três partes (exceto no
caso da oferta queimada), uma parte era oferecida a Deus, outra ao sacerdote
e a outra ficava com aquele que trouxe a oferta.
“Manejar bem” significa simplesmente dar a cada qual o que lhe pertence
de direito. A Bíblia divide a humanidade em três povos: Judeus, Gentios e Igreja
de Deus.
Quando estiver estudando a Bíblia tome cuidado de verificar para quem
Deus está faltando, antes de fazer aplicação. Não se deve misturar Igreja com
Israel, fé com obras, lei com graça, Igreja com reino, nem céu com milênio...

10 Regra da Prática
Cada verdade que Deus revela deve ser praticada, obedecida e posta em
operação, pois do contrário nosso estudo será em vão e teremos uma teologia
transparente como o gelo. Lembre-se que se conhece melhor a Bíblia
praticando-a (cf Hebreus 10.26).

REFERENCIA BIBLIOGRAFIA:

GEISLER, Norman; NIX, Willian. Trad. Oswaldo Ramos. Introdução


Bíblica: Como a Bíblia Chegou Atè Nós. S. Paulo: Ed. Vida, l997.
SOUZA, Nicodemos de. Estudo Sobre Como A Bíblia Chegou Até Nós. R.
de Janeiro: CPAD, 2006.
GILBERTO, Antonio. Introdução Bíblica. R. de Janeiro: CPAD, 1999.
HARRIS, Laird. Trad. Helen Hope Gordon Silva. Inspiração e
Canonicidade de Bíblia. S Paulo : Ed. Cultura Cristã, 2004.

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