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passagens do AT em defesa de seu ministério e de sua mensagem (Mt 13:13-15;
22:24; Lc 4:18,19). Ele ensinou a seus discípulos que o AT, em termos gerais, se
cumpriu nele (Mt 5:17-20; Lc 24:44,45 ). Terceiro, o apóstolo Paulo afirmou a
autoridade do AT em 2 Timóteo 3:16,17. Em muitos sentidos, essa passagem é o
ponto focal da questão para a Igreja. Além de afirmar a origem divina das Escrituras
do AT, Paulo formulou a questão da autoridade no contexto da Igreja e sua tarefa de
fazer e ensinar discípulos. Nessa mesma carta, Paulo indicou que faz parte da
responsabilidade do obreiro conhecer como usar as Escrituras em seu ministério (2
Tm 2:15). Finalmente, o fato de que o AT faz parte do cânon cristão testifica em
favor de sua importância para a Igreja.
LIVRO DE GÊNESIS
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apresentação serena do Deus único que sozinho cria e governa todas as
coisas. Assim, Gênesis possui um testemunho teológico singular que contribui para
o Pentateuco e a unidade teológica do AT.
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A ERA PATRIARCAL
Um novo estágio na revelação divina começou em Gênesis 12. Nessa nova
era, houve uma sucessão de indivíduos que serviam como o meio escolhido por
Deus para oferecer sua palavra de bênção para toda a humanidade. Recebendo a
eleição divina para serviço e seu chamado para bênçãos pessoais e de alcance
mundial, Abraão, Isaque e Jacó vieram a ser o marco de uma nova fase nas
crescentes bênçãos do plano da promessa de Deus.
PALAVRA DE REVELAÇÃO
Repetidas vezes os patriarcas foram apresentados como os recipientes
frequentes e imediatos de várias formas de revelação divina. Não é de estranhar,
portanto, que o registro os tratasse como “profetas” (20.7; e, posteriormente, em SI
105.15), homens que tinham acesso imediato à palavra e ao ouvido do Deus vivo.
Deus se dirigia a eles diretamente em palavras faladas (Gn 12.1,4; 13.14; 15.1;
21.12; 22.1), com a fórmula introdutória: “Veio a palavra do Senhor a ele” ou: “O
Senhor lhe disse”. Não era, portanto, somente a Moisés que Deus falava
claramente, “frente a frente” (Nm 12.6-8), mas também a Abraão, Isaque e Jacó.
Ainda mais espantoso era o fato de que o próprio Senhor aparecia a estes homens,
naquilo que subsequentemente foi chamado de teofania (Gn 18.1).
A realidade da presença do Deus vivo sublinhava a importância e a
autenticidade das suas palavras de promessa, conforto e orientação. Estas
aparições, traziam o homem, Deus, e seus propósitos para homens e mulheres a
um vínculo muito próximo e íntimo. Os três patriarcas experimentaram o impacto da
presença de Deus sobre as suas vidas (12.7; 17.1; 18.1; 26.2-5,24; 35.1,7,9). Cada
aparição de Deus marcava um desenvolvimento importante no progresso da
revelação, bem como na vida destes homens. Nessas ocasiões, voltava a
“abençoar” os homens, dando-lhes novos nomes, ou enviando-lhes em missão que
acarretava consequências importantes não só para os patriarcas, senão também
para todo esquema teológico posterior.
Durante esta era, Deus também falava por meio de sonhos (20.3; 31.10-
11,24; 37.5-10; 40.5-16; 41.1-32) e visões (15.1; 46.2). A visão era modo distintivo
de comunicar novos conhecimentos a Abraão, em um pano de fundo dramático no
qual ele tinha consciência de um panorama completo de detalhes (cap. 15). Jacó
teve a experiência de visão semelhante que o conclamou a descer para o Egito
(cap. 46).
PALAVRA DE GARANTIA
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Ao longo de todas as narrativas patriarcais, havia ainda um tema que
ressoava como outra parte da bênção da promessa. Era simplesmente a garantia da
parte de Deus: “Eu estarei contigo”.
Mas todos os preceitos de Deus vão acompanhados de promessas para o
obediente:
1) Farei de ti uma grande nação. Quando Deus tirou a Abrão de seu povo,
prometeu fazê-lo cabeça de outro povo.
2) Te abençoarei. Os crentes obedientes estarão seguros de herdarem a
bênção,
3) Engrandecerei teu nome. O nome dos crentes obedientes certamente será
engrandecido.
4) Serás uma bênção. Os homens bons são bênção para seus países.
5) Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoem.
Deus se ocupará de que nenhum seja perdedor por algum serviço feito em favor de
seu povo.
6) Em ti serão benditas todas as famílias da terra. Jesus Cristo é a grande
bênção do mundo, a maior que o mundo tenha possuído jamais.
Nascimento de Isaque
No Antigo Testamento são poucos os que vieram ao mundo com tantas
expectativas como Isaque. Nasceu conforme com a promessa, no momento
designado do qual Deus tinha falado. Porém Deus provou a Abraão. O mandamento
de oferecer a seu filho se dá numa linguagem que faz a prova mais penosa ainda;
mas a fé tinha-lhe ensinado a não discutir, senão a obedecer. Tem a certeza de que
o mandamento de Deus é bom; que o que Ele tem prometido não pode ser
quebrantado.
O povo da promessa
No livro do Êxodo, o plano da promessa de Deus é desenvolvido com mais
detalhes, na medida em que temas como “filho”, “primogênito” e
“tabernáculo/habitação” de Deus “nação santa”, “reino de sacerdotes” e
“propriedade exclusiva” de Deus são elaborados. Algumas das revelações mais
detalhadas sobre a natureza de Deus aparecem em Êxodo 3,6, 33 e 34. Ao revelar
o “nome” de Deus, enfatizam os atributos divinos de justiça, verdade, misericórdia,
fidelidade e santidade. Conhecer o “nome” de Deus significa conhecer a Deus e a
seu caráter (3.13-15; 6.3). O livro de Êxodo também revela Deus como o Senhor da
história. Não existe ninguém semelhante a ele, “poderoso em santidade,
admirável em louvores, capaz de maravilhas” (15.11).
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A ligação entre Êxodo e Gênesis
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Israel era mais do que uma família ou filho de Deus; Israel já se tornara uma
“nação”(Êx 19 .6 ). A lealdade de Javé ao seu povo foi demonstrada nos eventos
das pragas, do êxodo e da jornada no deserto. Israel seria livrado da servidão ao
faraó a fim de servir ao Senhor. Quando, porém, o monarca egípcio
sistematicamente se recusou a cumprir as exigências de Javé, o poder divino —
chamado o “dedo de Deus” em Êxodo 8 .1 9 (cf. 3 1 .1 8 ; SI 8.3; Lc 11 .2 0 ) — foi
liberado em graus crescentes de severidade contra o faraó, seu povo, e as terras e
bens dos egípcios. O objetivo, porém, não foi nunca a mera punição como
retribuição pela obstinação do faraó. As pragas tinham propósito salvador tanto para
Israel como para o Egito. Eram para convencer o faraó de que Javé de fato falara e
deveria ser temido e obedecido; Israel não tinha escolha quanto a isto, nem
tampouco os egípcios. O texto insiste que suas pragas tinham também apelo
evangelístico aos egípcios. Cada catástrofe foi invocada assim: “para que saibais
[os egípcios] que eu sou o S e n h o r no meio desta terra” (Êx 8.22); “para que
saibais que não há outro semelhante a mim em toda a terra” (9 .1 4 ; cf. 8 .1 0 );
“para te mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a
terra” (9 .1 6 ); “para que saibais que a terra é do Senhor ” (v. 2 9 ).
Sacerdotes reais
Esta “propriedade exclusiva”, possuída de modo sem igual, estava destinada a
tornar-se sacerdócio real composto pela congregação inteira. Israel, o primogênito
entre as nações, recebeu a posição de filiação, foi tirado do Egito, e os israelitas
foram feitos ministros em prol de si mesmos e das nações. Este papel de mediador
foi anunciado em Êxodo 19.3-6. Assim falarás à casa de Jacó e anunciarás aos
israelitas: “Vistes o que fiz aos egípcios e como vos carreguei sobre asas de
águias e vos trouxe a mim. Agora, portanto, se ouvirdes atentamente a minha
voz e guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade exclusiva dentre
todos os povos, porque toda a terra é minha; mas vós sereis para mim reino
de sacerdotes e nação santa”.
A natureza distintiva e a posição especial concedidas a esta nação, a propriedade
exclusiva de Deus, eram envolvidas no sacerdócio universal. Os israelitas tinham
de ser mediadores da graça de Deus para com as nações da terra, assim como
em Abraão “todas as nações da terra seriam abençoadas”. A infelicidade dos
israelitas foi terem recusado o privilégio de ser sacerdócio nacional, preferindo ser
representados por Moisés e Arão (19.16-25; 20.18-21). Portanto, o propósito original
de Deus foi adiado (não desfeito ou derrotado para sempre) até os tempos do Novo
Testamento, quando, mais uma vez, foi proclamado o sacerdócio de todos os
crentes (lP e 2.9; Ap 1.6; 5.10).
Agora, porém, a voz de Deus era ouvida por Moisés; e a obra mediadora em prol de
Israel tinha, então, de ser levada a efeito pelos sacerdotes, Arão e seus filhos, e
pelos levitas.
Nação santa
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Outro título foi conferido a Israel em Êxodo 19.6. Haveria uma nação, mas não como
o tipo comum de nações que não conheciam a Deus. Israel teria de ser “nação
santa”. Esta promessa, no entanto, seria vinculada à resposta do povo e sua
preparação para a teofania, a aparição de Deus. Tais requisitos seriam um “teste”,
conforme Êxodo 20.20: “Não temais, porque Deus veio para vos colocar à prova,
para que o temor esteja em vós, a fim de que não pequeis”.
Israel tinha de ser separado e santo; tinha de ser separado e diferente de todos os
outros povos na face da terra. Com o povo eleito ou chamado que agora era
formado como nação sob a orientação divina, a santidade não era aspecto opcional.
Israel tinha de ser santo, porque seu Deus, Javé, era santo (Lv 20.26; 22.31-33).
Sendo assim, a nação já não poderia ser mais consagrada a qualquer outra coisa
ou pessoa (27.26) nem entrar em qualquer relacionamento rival (18.2-5).
LEVÍTICO
A santidade de Deus permeia Levítico. Começando pelo santuário sagrado e seus
utensílios santos, passando pela santidade do comportamento obediente, e indo até
a própria essência do Senhor, a realidade da santidade, como um princípio ideal e
também como uma realidade concreta, jamais se afasta do livro. Associada a esse
conceito há outra idéia basilar: a presença de Deus entre o povo, um assunto que
vem prendendo a atenção dos leitores desde o Êxodo, mas que tornou-se mais vital
desde o incidente do bezerro de ouro. Só quando Israel alcança as expectativas
divinas de santidade é que o povo pode esperar alcançar e desfrutar a presença do
Senhor.
O livro recebe esse nome por causa dos levitas; contudo, é curioso que eles sejam
mencionados apenas uma vez, em Levítico 25.32-34. O livro é uma das cinco
seções da Torá, que significa “instrução” ou “ensino”.
Deus designou sacerdotes e levitas, suas vestimentas, ofícios, conduta e porção.
Indicou as festas que deviam observar e em que épocas. Declarou por meio dos
sacrifícios e cerimônias que a paga do pecado é a morte, e que sem o sangue de
Cristo, o inocente Cordeiro de Deus, não pode haver perdão de pecados.
A lei de Deus
Nenhuma fórmula apareceu com maior insistência durante este período de tempo
do que “Eu sou Javé, vosso Deus” (Lv 18.5,30; 19.2,4,
10,12,14,16,18,25,28,30,31,32,34,37; 20.7,8,24,26, ). E ela era o fundamento para
toda e qualquer exigência imposta sobre Israel. Seu Senhor era Javé, o Deus que
estava dinamicamente presente. E ainda mais: ele era Santo; Israel, portanto, não
tinha escolha no assunto do bem e do mal se quisesse desfrutar da comunhão
constante daquele cujo próprio caráter não tolerava nem toleraria o mal. Para ajudar
a jovem nação, recém-libertada de séculos de escravidão para os privilégios e as
responsabilidades da liberdade, Deus deu sua lei. Esta lei única tinha três aspectos
ou partes: a lei moral, a lei civil e a lei cerimonial.
A lei moral. O contexto das exigências morais de Deus era duplo: “Eu sou Javé,
vosso Deus” e “Eu te tirei da terra do Egito, da casa da escravidão” (Êx 20.2).
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Consequentemente, o padrão de medição moral para decidir aquilo que era certo ou
errado, bom ou mau, fixava-se no caráter imutável e impecavelmente santo de Javé,
o Deus de Israel. Sua natureza, atributos, caráter e qualidades eram a vara de
medida para todas as decisões éticas.
A lei civil. No que diz respeito à teologia, este aspecto da lei de Deus era a mera
aplicação da lei moral a partes seletas da vida da comunidade, especialmente em
pontos que, naqueles dias, era provável o desenvolvimento de tensões. A
verdadeira justiça e santidade da parte dos juizes e governantes devia ser medida
pelas exigências do Decálogo e do Código de Santidade. Portanto, a lei civil
ilustrava a sua prática nos vários casos ou situações com que a liderança se
defrontava durante a era mosaica.
A lei cerimonial. A mesma lei que fez tão grandes exigências aos seres humanos
também proveu, para os casos de fracasso em atingir estes padrões, detalhado
sistema de sacrifícios. A parte sacrificial, no entanto, era apenas um dos aspectos
pertencentes à lei cerimonial. Começando com o último aspecto, deve-se insistir que
o “impuro” não era equacionado na mente do escritor com aquilo que era sujo ou
proibido. Em palavras simples, a pureza significava que o adorador estava
qualificado para encontrar-se com Javé; “impuro” significava aquele que não tinha
as qualificações necessárias para comparecer diante do Senhor. Esta doutrina
estava intimamente vinculada ao ensino acerca da santidade. “Sede santos”, insistia
o texto repetidas vezes, porque “eu, o Senhor teu Deus, sou santo”.
Semelhantemente, a santidade em seu aspecto positivo era completa e integral:
uma vida inteiramente dedicada a Deus e separada para seu uso.
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sem restrições e julga retamente. Só o Deus único está pronto a dar a Israel uma
terra própria.
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Israel passa 40 anos no deserto, Jesus passa 40 dias. Israel peca, pedindo pão.
Jesus não pede pão. Israel sai do deserto e se fecha no exclusivismo religioso.
Jesus volta do deserto e se lança em missão aos perdidos. Os fariseus entenderam
muito bem o perigo que Jesus significava. Ele não era apenas um reformados do
judaísmo, como alguns entendem. Na realidade, ele era o oposto de Israel, cuja
teologia era por eles, fariseus, elaborada. Ele significava o fim de Israel como
mensageiro de Deus aos homens. Significava o fim do sacerdotalismo, do
ritualismo, da vida centrada ao redor de um prédio. Seria o fim do judaísmo e, óbvio,
dos fariseus. Sua declaração de ser o servo era perigosa, pois eles entendiam, em
sua teologia, que o servo era Israel.
O servo é o indivíduo piedoso, o que se entrega à vontade de Deus. Os
chamados cânticos do Servo Sofredor do chamado Segundo Isaías (42.1-4, 49.1-6,
50.4-9 e 52.13 a 53.12) são muito expressivos. O servo é Israel, mas é também Ciro
e, mais tarde, alguém desconhecido, que a tradição cristã viu como Cristo (Is 53). A
apropriação cristã não é indébita, mas tem validade.
Realmente, Davi, como servo, é um modelo do messias. Alguém que ama a
Deus, é por ele amado e é chamado a desempenhar uma missão, e se tornará uma
bênção para o mundo.
Pode se dizer que é com Davi que o conceito de servo alcança um ponto
relevante e marcante no AT. É alguém que, apesar dos seus pecados, ama a Deus,
serve-o, e busca fazer sua vontade. O termo passou, com o tempo, a designar uma
personagem messiânica soteriológica. Davi e servo passaram a ser sinônimos. Por
isso, Davi e messias passaram, também, a ser sinônimos, como em Ezequiel 37.24-
25. Observe-se, no contexto deste texto, que o pacto futuro, o do Novo Testamento,
é um pacto com Davi à frente do povo. “Filho de Davi” é um tratamento respeitoso,
no Novo Testamento, e exclusivamente aplicado a Jesus. E o próprio Salvador se
põe como servo (Mc 10.45).
Resumindo, podemos dizer que servo é um tratamento indigno, na literatura
secular. Na literatura religiosa passou a ter conotação de alguém ou de uma
comunidade especial. Mais tarde, passou a ter uma conotação messiânica. Os
termos servo, Davi e messias acabam se misturando. O servo do futuro (da
perspectiva do AT) é um Davi, mas sem pecado: humilde, amante de Deus e, por
isso vitorioso. As raízes do conceito de servo sofredor e triunfante devem ser
buscadas em Davi, não em Isaías, embora seja neste livro que elas são
explicitadas. E, no contexto do Novo Testamento, ao serem aplicadas a Cristo,
devem ser trazidas a Davi para seu entendimento correto.
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casa. Deus não precisa de casa, mas Davi mostrou o desejo de estabelecer, de fixar
Iahweh como o Deus de Israel. O sentido mais profundo é este: dar casa a Deus
seria fixá-lo como o Deus de Israel. É o estabelecimento definitivo de Iahweh como
o Deus nacional. O grande pecado de Salomão foi fazer casas para outras
divindades e estabelecêl-as em Jerusalém. Ele fixou divindades pagãs em
Jerusalém, cidade que Iahweh havia escolhido para si.
Abraão foi o primeiro homem a ser chamado de hebreu (Gn 14.13). A palavra
vem do verbo hebraico ´˜ebher, que significa “atravessar”. É usado no sentido de
atravessar a terra, de passar por ela. Hebreu é sinônimo de peregrino, sem terra. A
promessa que Deus lhe fez incluía uma terra, implícito aí a idéia de habitação, de
fixar-se, de criar raízes. Ele seria estável. Mas durante sua vida foi um hebreu, sem
ver a terra. Toda a terra que Abraão possuiu durante sua vida foi a caverna onde
sepultou Sara. E assim mesmo ele a comprou.
A resposta de Deus a Davi foi a de lhe dar casa, ou seja, de lhe dar estabilidade.
“A casa de Davi” passou a designar o resíduo dos servos fiéis. Mais que residência,
a expressão passou a designar um grupo eleito, o povo de Deus. Quando houve a
divisão do reino unido, nas mãos de Roboão, o Norte, chamado Israel, tonou-se
uma nação à parte. Teve quatro dinastias e uma série de reis avulsos. Em 1 Reis
12.16 está a frase dita por Israel que causa a divisão do reino unido em dois. Preste
atenção no fato de que o Norte renuncia às promessas davídicas, põe-se fora da
aliança com Davi. Preste atenção, ainda, para as palavras “tendas” (que Israel usa
para si) e “casa” (que Israel usa para Judá). Elas não são sem sentido. O próprio
grupo secessionista reconhece que tem (terá) tendas, figura de instabilidade. E que
o adversário tem (terá) casa, figura de estabilidade. Com a ruptura, cada um seguirá
seu destino. Mas Israel saiu perdendo porque renunciou a Davi. Judá, o Sul, teve
apenas uma dinastia, a de Davi. As promessas ficaram com Judá (lembre-se de
Gênesis 49.9-12) e com a casa de Davi. Só houve uma dinastia no Sul, a de Davi.
Se esta fosse substituída, as promessas iriam por água abaixo. Como haver um
novo Davi, se a casa de Davi perdesse o controle da nação? Davi precisava ter
“casa”, ou seja, ter estabilidade, flexibilidade. Deus lhe prometeu uma casa eterna.
A questão não é espiritual, como em salvação eterna, mas de honra: ele teria seu
nome estabelecido para sempre, porque nunca faltaria descendente seu sobre o
trono, até o mais notável de todos, Jesus. O termo “casa” passou a designar,
portanto, de forma messiânica, a dinastia futura de Davi. Ajuda a nossa
compreensão da importância deste termo o fato de que “família, tabernáculo e
templo” são palavras sinônimas para “casa”, na literatura veterotestamentária.
Todas elas são palavras plenas de significado teológico.
O povo de Deus é chamado de “casa”. Moisés foi fiel sobre “a casa” (Hb 3.2).
Aqui, a palavra se aplica a Israel, como povo de Deus. A Igreja do Novo Testamento
também o é (Hb 3.6, 1 Pe 2.5 e 4.17). O sentido aqui é o do cumprimento das
profecias messiânicas. A Igreja é o resíduo de Davi, o resto messiânico, que se
ampliou com a entrada dos gentios. No NT, a nova casa de Deus é a Igreja. É a
casa de Deus estruturada sobre o novo Davi, Jesus Cristo.
Com todas essas considerações, pode-se entender alguma coisa do porquê ter
Deus se agradado de Davi ter querido lhe edificar uma casa, da qual ele não
precisava. E também o que significa Deus estabelecer a casa de Davi para sempre.
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TEMPLO –O significado do templo não pode ser minimizado. Mesmo quando no
deserto, Israel tinha um templo para adorar a Iahweh, o tabernáculo. Era um templo
portátil, mas um templo. O autor de Hebreus mostra que o tabernáculo de Moisés
seguiu uma planta celestial (veja Hebreus 8.5). Esta perspectiva é cristã, e da
segunda geração, não podendo ser provada como aceita na comunidade do Antigo
Testamento, mas deve ser registrada. É a interpretação cristã do templo. O
tabernáculo não surge num vazio, mas dentro de um contexto de que algo já existia,
na mente de Deus.
A primeira tentativa humana de se construir um templo é a de Babel (Gn 11.4).
Embora a torre significasse um lugar onde o homem poderia se encontrar com
Deus, na realidade era uma atitude arrogante, a de que o homem poderia tentar
subir ao céu. Não se trata do céu do astrônomo, mas de uma atitude espiritual. É
uma tentativa, a primeira, de uma religião universal, ao redor dos esforços humanos,
como se vê facilmente no versículo 4. Em vez de se esparramarem pelo mundo,
como na ordem da criação, os homens tentam se concentrar. É o templo do
humanismo.
Entre os pagãos, cada cidade possuía um templo do deus padroeiro. Mas os
patriarcas não se preocuparam em construir templos. Uma razão muito simples:
eles eram nômades. Erguiam altares, apenas. O exemplo de Abraão é o mais
significativo. Com a organização de Israel em nação é que o templo se tornou
necessário. Seu sentido deve ser guardado: ele simbolizava a unidade de Israel em
torno de Iahweh. Ajunte esta idéia com a de Davi querendo uma casa para Iahweh
(Davi queria uma casa para Iahweh, mais que um templo). Ao desejar edificar uma
casa-templo, o rei cantor também estava desejando a unidade de Israel em torno de
Iahweh. Do ponto de vista religioso, a centralização do culto evitaria a perda de
unidade teológica. Isso, a manutenção da unidade teológica, resultaria na
preservação da herança histórica e teológica de Israel. A grande luta com os
samaritanos (desde Neemias até aos tempos de Jesus) foi porque a unidade
teológica se perdeu. E a finalidade do templo era exatamente, evitar isso. O
ingresso dos samaritanos no corpo de Cristo pelo recebimento do batismo no
Espírito Santo, em Atos, mostra que em Jesus a unidade teológica de Israel se
completa.
A comunidade retornada se entregou à tarefa de reconstruir o templo. Quando
voltou do exílio, Israel, na realidade, deixou de ser uma nação. Passou a ser uma
comunidade sacerdotal, vivendo em função de sua religião, do seu templo, e na
expectativa do messias por vir. Deixou de ser uma monarquia e passou a ser uma
hierocracia (quando a liderança é exercida por sacerdotes). Mesmo perdendo a
dinastia davídica a expectativa do messias continuou. Se um novo Davi não
pudesse vir pela realeza, viria pelo lado sacerdotal. O templo se tornou um símbolo
muito profundo dos anelos messiânicos.
Entende-se, à luz disso, porque Jesus referiu-se a si mesmo como “templo”,
como vemos em João 2.2 e outros. Ele é o ponto de unidade do novo povo de Deus,
a Igreja. “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (Jo 12.32).
Lembremos que o Apocalipse termina mostrando uma cidade sem templo (Ap
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21.22). O messias já se revelou em sua plenitude. O templo perdeu a razão de ser.
Além do messias ter vencido, não há mais sacrifícios por fazer. E a unidade do povo
de Deus foi completada e está tão firmada que jamais poderá ser abalada.
Entendemos também o profundo sentido teológico do Novo Testamento em
considerar a comunidade dos fiéis como templo. Na revelação cristã, Deus não
mora mais numa construção, mas na vida das pessoas. O templo de Deus, no
cristianismo, não é uma construção de alvenaria, mas as pessoas. Deus mora nas
pessoas.
OS SALMOS RÉGIOS
É sabido que os salmos eram hinos compostos para momentos de celebração
cúltica, estando sempre associados à vida religiosa. O ponto central do seu ensino é
a elevada concepção de Iahweh que neles se nota. As obras e o caráter de Deus
são anunciados de forma expressiva nesses cânticos. No meio deles se encontram
os salmos régios, que parecem desfocar o livro, pois tratam da entronização do rei
de Judá. Parece que, em primeiro sentido, esses salmos tratavam da consagração
do novo rei. Diferentemente dos pagãos, o rei não era filho do Deus da nação, mas
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em Judá, era representante de Iahweh e um modelo do futuro rei, o messias. Sobre
a figura do rei como representante de Deus, observemos as palavras de Weiser:
“Embora seja representante de Deus na terra, neles (os salmos reais) o rei deve
constante obediência à aliança de Iahweh, sendo por isso responsável perante
Deus” (p. 41). O rei não é um soberano despótico, mas deve obediência a Iahweh,
por isso acaba sendo um tipo do Messias. O rei simboliza o Messias, mas não é o
Messias. Ele prefigura o Grande rei que há de vir.
(Salmos 2, 18, 20, 21, 45, 72, 101, 110, 132 e 144).
No tempo de Josias, o profeta ainda foi ouvido. Após a morte deste rei, a facção
idólatra e o partido pró-Egito assumiram as rédeas do poder e Jeremias foi
hostilizado. A nação começou a se desintegrar rapidamente e as pressões sobre
Jeremias se avolumaram. Na época de Zedequias foi aprisionado. Em 593,
Nabucodonosor o libertou e ordenou que lhe dessem o que ele quisesse, pois viu
em Jeremias um amigo, que aconselhava os israelitas à submissão a ele (39.11-14).
Recusou qualquer honraria (40.1-6). Foi levado para o Egito por um grupo de
fugitivos (43.6-7) e lá profetizou por algum tempo. Lá deve ter morrido.
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o Egito. Jeremias disse que não fizesse assim (27.11-13). Reequipado,
Nabucodonosor destruiu o Egito e marchou contra a Palestina. Por fim, destruiu
Jerusalém (2Cr 36.11-21).
O tema de Jeremias – O esforço final de Deus para salvar Jerusalém é o tema de
Jeremias. Judá quebrara a aliança e estava sendo julgado por causa de seus
pecados. O profeta chamava o povo ao arrependimento para evitar o juízo trazido
pela quebra da aliança. Os sacerdotes e os falsos profetas anunciavam “paz” e
pregavam alianças políticas, mas Jeremias via a destruição iminente. A questão não
era apenas política, via ele. Era moral e espiritual: a aliança fora quebrada.
Uma radiografia do livro de Jeremias –O livro não está em ordem cronológica.
Por isso, seu entendimento histórico se torna complicado. Mas o essencial pode ser
traduzido assim: pouco mais de vinte anos antes de Babilônia destruir Judá,
Jeremias já o dizia. Entendia que era o juízo de Iahweh sobre nação pela quebra da
aliança. Eis uma radiografia do livro:
-Judá será destruído por Babilônia -6.22-26
-Se deixar o pecado, Iahweh livrará a nação (7.5-7). O templo, apesar de todo
o seu significado, não livraria a nação -7.4, 9-11.
-Quando tudo parecia perdido, nova mensagem de Jeremias: Judá deve aceitar o
jugo caldeu e assim será poupado da destruição -21.8-9.
-Judá será destruído e cativo por 70 anos (25.11, conferir com 2Cr 36.22). Depois,
será restaurado (Jr 30 e 31) e dará um grande rei ao mundo (33.15). Aqui, a teologia
do livro sofre uma guinada, pois os vislumbres da nova aliança já se fazem sentir.
-Babilônia será destruída e nunca mais se reerguerá (25.12). Os capítulos 50 e 51
tratam da destruição do poder caldeu.
O castigo pela quebra da aliança –A quebra da aliança traria castigo, como vemos
em Deuteronômio. No início ela veio em forma de escassez e fome (3.3 e 14.1-6).
Confira com o anunciado em Deuteronômio 28.19-24. Numa segunda etapa, vieram
os inimigos políticos. Veja 25.9 e o capítulo 52. Estes textos devem ser conferidos
com Deuteronômio 28.25. Lembre-se que Deuteronômio 28.15 em diante traz as
maldições que sobreviriam ao povo se quebrasse a aliança. O povo a quebrou.
Jeremias mostra que a desgraça de Judá e sua ruína iminente não é por um
processo político, mas pela quebra da aliança. Vendo o castigo, o povo lembrou de
um aspecto da aliança, meramente externo: o templo. Fiou-se nele. Jerusalém era
inviolável, pois a casa de Iahweh estava lá. Jeremias negou isso: 7.4. O povo
confiava muito nas cerimônias religiosas, mas Iahweh as rejeitou (7.21). O profeta e
o sacerdote eram indignos (8.10). A aliança fora quebrada e era inevitável que o
castigo viesse: 7.12-14. Iahweh morava em Jerusalém, mas iria embora. O texto de
3.16 deixa transparecer o desaparecimento da arca, que simbolizava Iahweh
morando com o povo. De modo semelhante, com a morte de Cristo, Iahweh foi
embora de Jerusalém. É esta a mensagem do véu rasgado (Mt 27.51). O véu
guardava o lugar onde Iahweh morava, separando-o de onde o povo entrava.
Rasgado o véu, Iahweh foi embora. O desgosto pela morte de Jesus Cristo fez isso.
Ele não mora mais no templo ou em alguma construção de alvenaria. Mora nas
pessoas: 1Co 3.16 e 6.19.
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A nova aliança –Jeremias cria firmemente que Israel era o povo escolhido, que
fizera uma aliança com Iahweh, que assumira compromissos com Iahweh, e que,
agora, o desprezara, violando a aliança. Ele esperava um arrependimento por parte
do povo. Judá precisava se reaproximar de Iahweh, não mais como uma nação
histórica, em termos de uma comunidade, mas de maneira individual.
É com ele que a aliança começa a assumir um contorno mais espiritual e, ao
mesmo tempo, mais individualizado. O texto de 33.14-26 é o texto clássico sobre a
nova aliança. Observe, na sua leitura, que a base histórica da aliança não é a
aliança abraâmica nem a mosaica, mas a davídica. É por causa de Davi, que a
aliança será reativada. É algo para se pensar que as alianças abraâmica e mosaica
tenham se diluído na davídica. Jeremias descortina o Novo Testamento. O indivíduo
não se aproximará de Iahweh através do grupo, mas em relacionamento pessoal,
em um ato consciente de vontade individual. Uma comparação entre a aliança do
passado e a que se faria agora mostra que elas tinham algumas diferenças bem
significativas entre si. Ei-las:
ANTIGA - NOVA
No aspecto da lei, de passagem de uma realidade externa para uma realidade
interna, compare com as palavras de Jesus em Mateus 5.21-22 e 5.27- 28. Jesus
tirou o pecado do âmbito externo para o interno. No Novo Testamento, a orientação
para o homem não está mais em tábuas da lei, mas no coração, pelo Espírito Santo
que mora em nós. É uma aliança do espírito e não da letra. É isso que Jeremias
profetiza: uma época em que Iahweh não morará numa casa de alvenaria, mas nas
pessoas (1Co 3.16 e 6.19). É a nova aliança que Jesus celebrou na Ceia (veja
Mateus 26.28). É aliança que se amplia. Não mais uma etnia, uma raça, mas uma
multi-etnia, uma multi-raça, a Igreja.
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(p. 239). Ou seja, é aqui que se vê que o Novo continua o Antigo e, ao mesmo
tempo, que o Novo rompe com o Antigo. A aliança é nova (vimos as diferenças), o
que significa rompimento. Mas é a mesma aliança do passado, o que significa
continuidade. Ela não deu certo, não por sua culpa, mas por culpa do povo. Na
realidade, o termo “nova” não significa que ela seja diferente em essência ou em
conteúdo, mas que era a antiga promessa sendo restaurada. Jeremias vai antecipar
o autor de Hebreus: as coisas antigas ficaram para trás e uma nova esperança
chegou.
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é mais um dos muitos deuses tribais. É o único Soberano, o Senhor de toda a terra
e de todas as nações.
A santidade de Iahweh -Este é outro tema bem presente no livro. Ele está cercado
de querubins. Ezequiel é o livro que mais fala deste tipo de anjos.Normalmente, eles
designam um Deus transcendente, diferente e distinto do homem. Ezequiel se sente
atemorizado diante da Glória (1.28) e entende que o povo ofendeu a Iahweh com a
idolatria (cap. 6 e 44.6-8). Iahweh era o único Deus moral dos tempos antigos, era
santo e esperava santidade do seu povo. A idolatria era uma ofensa abominável que
só seria curada com o cativeiro (caps. 7 a 9). No capítulo 8, por exemplo, o profeta
deixa claro que sabia dos pecados cometidos no templo de Jerusalém: desvios
religiosos, idolatria despudorada, adoração à natureza e o culto ao sol. O texto de
5.6-7 é bem expressivo ao mostrar o desgosto divino para com a nação. O castigo
de Judá e de Jerusalém não estava sucedendo porque Iahweh era mais fraco, mas
porque era o mais santo. O povo precisava formar um novo conceito de Deus e
assim entender melhor sua situação, suas atitudes a tomar e seu futuro destino.
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símbolo mais visível e mais forte da aliança. O novo coração está ligado à aliança.
Esta fora quebrada pela povo e não por Iahweh. Quando o povo se arrependesse,
sua sorte seria mudada, o cativeiro cessado, Judá restaurado. A conexão é bem
clara: o novo coração será a consequência do arrependimento. Quando o povo se
convertesse, Iahweh o transformaria. É o Novo Testamento que aparece em
Ezequiel. Só Deus pode mudar as pessoas. A conversão está sendo antecipada
como doutrina, em Ezequiel.
Neste sentido, 36.26 merece especial atenção. O coração do povo é de pedra.
Iahweh o tirará e porá um de carne em seu lugar. O que é insensível dará lugar a
algo sensível. O coração é novo, mas isso não basta: haverá um espírito novo. E
será Iahweh quem o porá dentro do povo. O que significa isso? O espírito, é o
fôlego da vida. Um coração novo é sinal de vida nova. A conversão é começar uma
nova vida. Judá terá uma nova vida. Da mesma forma, como cristãos, entendemos
que aquele que se arrepende, começa uma nova vida. 2Coríntios 5.17 diz isso muito
bem.
O que é davidismo? É a idéia de Davi reinando sobre Judá. O nome de Davi não é
citado, mas as manifestações cósmicas em 2.6-7 e 21-22 mostram, na poesia
hebraica, uma intervenção súbita e decisiva de Deus em uma ocasião escatológica,
para implantar seu reino, cujo trono fora prometido a Davi. Não é dito de maneira
clara para que os persas não leiam. Mas é subentendido pelos judeus, na
linguagem figurada. Schwantes, inclusive, entende que o livro é um panfleto pró-
Zorobabel (o que não me parece). Ele se baseia na mensagem de Iahweh a
Zorobabel (2.21-23), que alude à destruição do poder persa e à exaltação de
Zorobabel, que ocuparia o trono de Davi, como monarca terreno. Mas a idéia de
uma intervenção de Deus, reafirmando a aliança, está na mente do autor, pela
linguagem escolhida. Na visão de Schwantes, a leitura é política. Na minha, é
messiânica. Reafirma-se a aliança com Davi, na palavra a Zorobabel.
Mas o ponto mais forte no texto de Ageu é o que fala da reconstrução do templo. O
de Salomão fora majestoso, construído em época de riqueza, de tal modo que a
prata não tinha valor. O do tempo de Ageu foi feito por uma comunidade pobre. O
templo parecia não ser nada (2.3). Conforme Esdras 3.12, os anciãos, ao verem os
fundamentos do novo templo, choraram de tristeza, pela sua insignificância. Mas
apesar da diferença, Iahweh Sebaôth declara que “a glória desta última casa será
maior do que a da primeira” (2.9). Esta declaração me parece restringir a promessa
de exaltação a Zorobabel.
O templo da época de Ageu foi ampliado e remodelado por Herodes. Foi nele que
Jesus entrou. O templo de Salomão tinha majestade, mas foi no segundo que o
Filho de Deus entrou. Foi lá que embaraçou os doutores da lei, passagem altamente
significativa: o Filho de Deus, trazendo o novo tempo, confunde os doutores do
tempo antigo. O templo é, na ótica, de Ageu, o prenúncio de um novo tempo. A
linguagem de 2.6-7 é mesmo uma linguagem escatológica (não em termos da
segunda vinda, mas da primeira). O templo estava inaugurando um novo tempo que
culminaria no messias. A aliança estava sendo refeita. Em 2.9 se diz que “neste
lugar darei a paz”. O lugar mencionado é o templo. O messias viria trazer a paz. Paz
é sempre um conceito messiânico, obra do messias. Por isso é que o último
testamento de Jesus aos seus discípulos foi “deixo-vos a paz”. Não apenas desejo
de que ficassem calmos. Era a bênção messiânica. Só ele podia dar. Naquele lugar,
naquele templo, Iahweh Sebaôth deu a paz messiânica.
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2. ZACARIAS –
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