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3 O centro e a unidade do NT

A perspectiva da unidade na diversidade

Vamos ver brevemente o desenvolvimento da


discussão a respeito do centro do NT,
considerando que haja uma unidade na
diversidade, proposto por James D.G. Dunn em
“Unidade e diversidade do Novo Testamento”.

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Unidade na diversidade

James D.G. Dunn era um estudioso do NT,


teólogo britânico metodista e professor da
Universidade de Durham e recebeu o título de
membro da Acadêmia Britânica.

Comentamos e trouxemos a discussão em torno


disso, mas não mostrei como essas
possibilidades podem ser percebidas no texto.
Faremos isso agora.

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Unidade na diversidade

Nessa obra, seu autor explora a realidade


histórica do cristianismo do séc. I e o
cristianismo dos documentos do NT, levando
em consideração a tensão histórica e teológica
entre sua unidade e sua diversidade e
defendendo a ideia de uma função positiva da
diversidade dentro da unidade cristã.

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Unidade na diversidade

Uma das razões para isso é que, ao assumir, a


diversidade do conteúdo e a sua busca
histórica, Dunn lançou preocupações
ecumênicas atuais, como o relacionado entre
judeus e cristãos, marcados por milênios de
rusgas, preconceitos, violência.
Sua análise tem honestidade intelectual desde
o prefácio, e mãos acenadas para a paz, que é
sempre uma atitude nobre e, por isso,
exemplar.

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Unidade na diversidade

Trata-se de um trabalho crítico literário dos


documentos do NT, com preocupação históricas
e sociológicas dos inícios do cristianismo e a
pesquisa das crenças e práticas dos cristãos do
séc. I.
Com esse auxílio robusto, espera-se captar o
pensamento teológico presente no surgimento
dos textos do NT.

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Unidade na diversidade

Seus questionamentos sobre a unidade e centro


do NT são os seguintes:
Havia um elemento unificador no cristianismo
primitivo que o identifica como cristianismo? Se
sim, quão bem definido era? De que modos?
Havia uma diversidade de fé e prática? Dentro
de uma unidade ou centro unificador?

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Unidade na diversidade

Uma das manifestações da diversidade no NT,


segundo Dunn, é a diversidade de querigma.
Vamos, antes de tudo esclarecer que há dois
modos de se entender essa expressão:
I) ato de pregar (R.K. Bultmann)
II) conteúdo pregado (C.H. Dodd)

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Unidade na diversidade

De qualquer forma, a pregação, seja ato ou


conteúdo, tem um papel fundamental no NT.
O ministério público de Jesus é, acentuada mas
não exclusivamente, de pregação. É muito claro
que, em Atos a conversão se dá pela pregação,
o modelo de evangelismo.

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Unidade na diversidade

Em Jo 1.1, João une a palavra com o Espírito


como o poder recriativo de Deus. Tiago e
1Pedro, igualmente, atribuem à regeneração
espiritual à palavra pregada.
Podemos ler: “Vós já estais limpos pela palavra
que vos tenho pregado”.
A pregação é fundamental no entendimento do
NT. É um dos veículos das teologias.

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O querigma de Jesus

Há um querigma proveniente de Jesus,


apresentado nos sinóticos.
Esteve constantemente "pregando o evangelho
de Deus" (Mc 1.14). Em passagens correlatas
vê-se "pregando o evangelho do reino" (Mt
4.23; 9.35), "pregando as boas novas do reino
de Deus" (Lc 4.43; 8.1; 16.16).
Vejamos o importante verso: "O tempo está
cumprido, e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos, crede no evangelho" (Mc 1.15).
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O querigma de Jesus

Traços importantes podem ser tirados daí:


(1) a proclamação do reino de Deus:
Tanto a sua iminência como a sua presença são
trabalhadas - Jesus via a si mesmo como o
instrumento dessa soberania do fim dos
tempos (Lc 10.9-12; Lc 4.18Lc 6.20; Lc 11.2 ; Lc
16.19-31;

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O querigma de Jesus

As parábolas de Jesus acentuam esses dois


aspectos do reino.
“Bem -aventurados, porém , os vossos olhos,
porque vêem; e os vossos ouvidos, porque
ouvem . Pois em verdade vos digo que muitos
profetas e justos desejaram ver o que vedes e
não viram ; e ouvir o que ouvis e não ouviram”.
(Mt 13.16/Lc 10.23)

Lc 17.20; Mc 3.27; Lc 10.18; Mt 12.28; Lc 11.20


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O querigma de Jesus

Ele, no entanto, não se colocava como


conteúdo de seu querigma, nem requeria fé
nele próprio! O conteúdo era a chegada do
evangelho e por, conseguinte, do reino. A fé
referida nesses textos sinóticos era a fé no
poder de Deus no final dos tempos agindo por
meio de Jesus.

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O querigma de Jesus

(2) o chamado para o arrependimento e fé


frente ao poder e reivindicação de Deus no fim
dos tempos
Vemos isso em:
a)parábolas, como a do filho pródigo (Lc 15.17)
b) alguns de seus encontros, particularmente
com o jovem rico (Mc 10.17-31) e com Zaqueu
(Lc 19.8),
Há chamada de mudança radical, converter e
ser como criança (Mt 18.3; Mc 10.15/Lc 18.17).
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O querigma de Jesus

c) Milagres, que são meios em que Jesus


encoraja essa abertura para o poder de Deus,
que torna a cura possível: (Mc 5.36; 9.23s.; Mt
9.28).

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O querigma de Jesus

(3) a oferta de perdão e de uma participação no


banquete messiânico da nova ordem, com seu
corolário ético do amor.
O arrependimento e fé eram garantia de
participação no reino de Deus no final dos
tempos e nas suas bênçãos:
"Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso
é o reino de Deus" (Lc 6.20/Mt 5.3).

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O querigma de Jesus

Em particular, isso incluía as bênçãos do perdão


e da aceitação (Mc 2.5; Lc 7.36-50) - uma oferta
que é apresentada em diversas parábolas
como:
a) dívida gigantesca e o credor incompassivo
(Mt 18.23 - "o reino é semelhante…")
b) dois devedores (Lc 7),
c)fariseu e o publicano (Lc 18.9-14)
d) filho pródigo (Lc 15.11-32).

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O querigma de Jesus

Jesus incorporou esse perdão e aceitação do


reino do fim dos tempos em forma de
comunhão à mesa, da qual ninguém era
excluído. Assim era o banquete messiânico da
nova era (Lc 14.13, 16-24).
Daí vermos em Marcos 2.17 - "não vim chamar
os justos (isto é, para a festa de núpcias), e sim
pecadores".

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O querigma de Jesus

Assim também seu grupo imediato de


discípulos ao incluir dois ou três publicanos e
ex-prostitutas. Essa era a razão de ele ser
chamado depreciativamente de "um amigo de
publicanos e pecadores" (Mt 11.19/Lc 7.34;
15.1s; 19.7).

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O querigma de Atos

E a igreja? Seguiu pregando essa mesma


mensagem? Vamos ver o querigma de Atos.
Os elementos mais regulares e básicos são
estes:
I) a proclamação da ressurreição de Jesus (At
2.24-32; 4.1-2,3; At 10.40s; 13.30-37; 17.18,
30s).

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O querigma de Atos

Jesus pregou o Reino. A igreja prega Jesus


ressuscitado. O proclamador se torna o
proclamado. Isso indica falta de preocupação
com o Jesus histórico.
a) seu ministério é timidamente apresentado
(At 2.22 e 10.36-39).
b) Pouca influência da mensagem e ensino de
Jesus (At 8.12; 14.22; 19.8; 20)

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O querigma de Atos

Diante disso, como falar de unidade? Dá pra


esboçar alguma continuidade entre o discurso
de Jesus e o de Atos?
Prossigamos nas características desse
querigma:

Percebe-se que não há desenvolvimento de
uma teologia da morte de Jesus ou ideia de
morte vicária (At 3.13,25; 4.27,30; assim
também 8.30-35).

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O querigma de Atos

Hipótese:

Lucas foi influenciado pelo judaísmo da


Diáspora de seu tempo, que também via com
certa indiferença o conceito de expiação pelo
sacrifício. Contraste com I Co 15.3.

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O querigma de Atos


A tensão entre cumprimento e iminente
consumação do reino feita por Jesus (e Paulo)
estão ausentes.

A crise que provocaria adesão imediata, tal
como Jesus anunciava, também.

Dificilmente há qualquer papel atribuído ao
Jesus exaltado em Atos, além do
derramamento do Espírito em Pentecostes
(At 2.33).

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O querigma de Atos


Jesus foi, presumivelmente, entendido como
a autorização por trás daqueles que agiam
em nome de Jesus (At 2.38; 3.6; 4.10,30;
8.16; 10.48; 16.18; 19.5 - e cf. 9.34), e ele
aparece em, não poucas, visões (At 7.55s;
9.10; 18.9; 22.17s; 23.11; 26.16,10)

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O querigma de Atos


Ênfase adocionista dentro do querigma de
Atos - onde a ressurreição introduz Jesus a
um novo status como Filho, Messias e Senhor
(At 2.36; 13.33, concorda com Rm 1.3s; Hb
5.5), pode ser a ênfase das comu­nidades
primitivas.

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O querigma de Atos

II) Resposta ao arrependimento e fé nesse Jesus


(At 10.42; 17.31; 24.25).
Aqui a diversidade é interessante:

demanda para arrependimento em Atos
(2.38; 3.19, 26; 14.15; 17.30; 26.20, lembra
Jesus, mas difere de Paulo e João)

Paulo de fato tem pouco ou nada a dizer
acerca do arrependimento como tal (Rm 2.4;
2Cor 7.9s; 12.21)

João não faz nenhum uso da palavra em
absoluto. 27 / 32
O querigma de Atos


A convicção de que os últimos dias chegaram
se dissolve (At 2.15-21 e 3.24)
Examinemos os contrastes:

Em Paulo vemos “Maranata”, em I Co 16.22

A iminente da volta de Cristo em Paulo
(parousia em I Ts 4)

ceifa dos últimos tempos (ICor 15.20,23; Rm
8.23).

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O querigma de Atos

Mas no chamado para fé a similaridade e a


diversidade correm em direções opostas:

A ênfase de Lucas sobre fé (At 2.44; 4.32;
5.14; 10.43; 13.12,39,48; 14.1; etc.) se
corresponde a Paulo e João.

Mas, a fé é no Senhor Jesus (At 9.42; 11.17;
14.23; 16.31), diferente do que Jesus
pregava.

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O querigma de Atos


Fé em Cristo como o efeito de um milagre
realizado (At 5.14; 9.42; 13.12; 19.17s);

Essa perspectiva encontra divergências. Em


outros lugares no NT o aspecto evangelístico do
valor propagandístico do milagre é antes
depreciado (Mc 8.11s; Mt 12.38s/Lc 11.16, 29;
Jo 2.23-25; 4.48; 20.29; 2Cor 13.3s).

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O querigma de Atos

III) promessa de perdão, salvação e Espírito


àqueles que assim responderem.

Com a reivindicação está associada uma


promessa em Atos, geralmente, em termos de
perdão (At 2.38; 3.19; 5.31; 10.43; 13.38s;
26.18), salvação (At 2.21; 4.12; 11.14; 13.26;
16.31) ou o dom do Espírito (At 2.38s; 3.19;
5.32; cf. 8.15-17; 10.44-47; 19.1-6). É mais
extensa e coesa. Nos outros conteúdos não
aparecem assim.
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O querigma de Atos

O que terá havido com o fervor escatológico e


urgente?

Provavelmente, a demora da vinda.

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