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Rômulo Monteiro
DUAS PERSPECTIVAS
“A exegese cristã deve permitir ao Novo Testamento interpretar o AT… Essa abordagem à
interpretação bíblica permite que a revelação conclusiva de Deus no Novo Testamento
interprete autoritativamente a revelação incompleta no Antigo”[1]. Essa é abordagem
tradicional da Teologia das Alianças. É dito, por exemplo, que Pedro inspirado por Deus
“transferiu o trono de Davi Jerusalém-Sião (Sl. 110:2) – para o céu”[2]. Para Elliott Johnson
essa é uma outra forma de dizer que o NT [re]interpreta (ou muda) o AT[3]. Ladd, por
exemplo, só acredita em um milênio devido sua leitura neotestamentária (especificamente
Ap. 20 e Rm. 11:26) e não devido a interpretação literal das promessas feitas no AT
referentes a um reino terreno[4].
Dentro dessa escola, há o grupo do sensus plenior. Para esses o NT “nos possibilita obter
um ‘sentido mais completo’ […] do texto veterotestamentário, o que não era possível aos
autores humanos do AT pretenderem, tampouco compreenderem”[5]. Assim, “o autor
humano nem sempre compreendia completamente […] a referência profética”[6].
Aliança Davídica (2Sm. 7): Embora o termo aliança (tyrIB.) não apareça na passagem,
referências posteriores referem-se a ela dessa forma (cf. 2Sm. 23:5; 2Cr. 13:5; Sl. 89:3). O
Senhor lhe promete: (1) um grande nome (2Sm. 7:9); (2) Davi estabelecerá um lugar de
repouso para a nação (vv. 10-11); (3) haverá uma descendência que reinará depois de sua
morte (vv. 11b-13). (4) o relacionamento de Deus para com o rei nesta dinastia é especial,
é um relacionamento de pai e filho (vv. 14-15). (5) é assegurado que essa linhagem e seu
trono permanecerão para sempre (vv.16)[18].
A Nova Aliança (Jr. 31:31-34): Há três elementos importantes nessa aliança: (1) a aliança
foi feita com Judá e Israel. Deus restaurará a nação completamente; (2) Essa aliança é
diferente da aliança feita com Moisés; (3) essa aliança visa a transformação e restauração
do relacionamento (perdão e acesso direto ao conhecimento de Deus).
As divergências sobre o reino são várias. As principais são: A natureza do reino (político?
espiritual? Político-espiritual?); sua vinda (vem em fases? já veio? Ainda virá? Veio e
virá?), sua relação com Israel (Deus vai tratar futuramente com um Israel ético? Israel
espiritual? ) e sua relação com a Igreja (o reino é o mesmo que igreja? Se manifesta na
igreja? A igreja é somente sua porta de entrada?).
4] A presença do reino hoje não elimina a distinção entre Israel e a Igreja. Temos o
cumprimento inicial na Igreja e sua consumação com Israel. O Israel étnico não foi
completamente excluído, somente deixado de lado temporariamente. A promessa,
contudo, ainda está viva (cf. Rm. 11:17-24).
5] Alguns têm questionado a presença do reino, pois todo reinado exige uma regência.
Algumas questões devem ser consideradas:
Lucas. 1:67-79
As alianças Davídica e Abraâmicas são tratadas juntas aqui. A visita de Deus consiste:
a. Na defesa de Deus dos inimigos do seu povo e a condição do seu povo o servi-Lo (vv.
74-75).
b. A presença de uma luz de salvação tirando o povo da escuridão e da morte (vv. 78-79).
Para Bock, o hino serve como uma introdução ao ensino do evangelho de Lucas. Deve-se
ler o restante do evangelho para ver o ponto e escopo da introdução. A leitura revelará que
os inimigos não devem ser definidos somente como os romanos, mas como as forças
espirituais que estão por trás deles.
Matheus 3:1-12
O texto nos apresenta o indicador da chegada do reino. A forma de sabermos que o reino
dos céus veio é a presença de alguém mais poderoso que João. Esse, por sua vez,
batizará com o Espírito Santo (cf. At. 11:15-17; Jo. 3). Assim como no hino de Zacarias, a
esperança davídica e abraâmica são ligadas. O anuncio de João uniu as alianças davídica
(rei e reino) e nova (Espírito Santo).
A obra mediadora de Cristo em enviar o Espírito é evidência de que Ele está sentado no
trono prometido a Davi, excedendo autoridade messiânica e regência. Tentar distinguir
tronos é ignorar o fato de que a Bíblia também descreve o trono terreno de Salomão com o
trono do Senhor (1Cr. 29:23). Assim o trono do Pai não é um trono celeste; nem o trono de
Davi precisa ser um trono terreno. A significância do trono não é uma questão de
localização, mas de função.
Autoridade real é o que Pedro tem em mente quando trata do Senhor Jesus. Todos os
textos citados são reais, messiânicos, ou textos dos “últimos dias”.
Atos 13:15-39
1] Parece razoável pensar que Paulo pregou sobre o reino já que o “reino” é o sumário de
suas pregações no livro de Atos (cf. At. 19:8; 20:25; 28:23, 31).
2] A frase "achei Davi” vem do Sl. 89:20 (LXX 88:20), o maior salmo sobre o compromisso
de Deus feito a Davi.
3] Paulo está pregando a realização corrente do reino prometido a Davi. O tempo perfeito
do verbo “cumprir” no v.33 fala de uma condição existente de cumprimento em resultado
da atividade de Deus em Cristo. O que Deus fez foi o cumprimento e os efeitos são
presentes.
4] É uma mensagem para “Israel”. Não há indicação de mudanças no programa de Deus.
Paulo está pregando para Israel acerca de Jesus como cumprimento da promessa
messiânica.
[1] ICE, Thomas. Dispensational Hermeneutics em WILLIS, Wesley R. & MASTER, John
(eds.) Issues in Dispensationalism. Chicago: Mood Press, 1994, pp. 38-9 (negrito nosso).
[2] LADD, George Eldon. Pré-Milenismo Histórico em CLOUSE, Robert G. Milênio:
significado e interpretações. Campinas: Luz para o Caminho, 1990, p. 30
[3] JOHNSON, Elliott E. Prophetic Fulfillment: The Already and Not Yet em WILLIS, Wesley
R. & MASTER, John (eds.) op. cit., p.191.
[4] cf. LADD George Eldon. op. cit., p. 26
[5] KAISER, Walter Jr. Hermenêutica Legítima em GEISLER, Norman (org.). Inerrância:
uma sólida defesa da infalibilidade das Escrituras. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 165
(itálico nosso).
[6] BOCK, Darrell L. Evangelicals and the Use of the Old Testament in the New part 1,
BSac 142:567 (Jul 85) p. 213 (itálico nosso).
[7] ICE, Thomas. op. cit., p. 38 (itálico nosso).
[8] BLAISING & BOCK, Dispensacionalism, Israel, and the Church: Assessment and
Dialogue. p. 393 apud. WILLIS, Wesley R. & MASTER, John (eds.) op. cit., p. 38.
[9] MASTER, John R. The New Covenant em WILLIS, Wesley R. & MASTER, John (eds.)
op. cit., p. 102.
[10] BLAISING & BOCK, Darrell L. Dispensacionalism, Israel, and the Church: Assessment
and Dialogue. P. 393 apud. BOCK, Darrell L., Hermeneutics of Progressive
Dispensationamism em BATEMAN, Hebert W. IV, Three Central Issues in Contemporary
Dispensationalism: a comparison of traditional and Progressive Views. Grand Rapids:
Kregel Publications, 1999, p.90.
[11] BOCK, Darrell L. em BATEMAN, Hebert W. IV, op. cit., p.90.
[12] Ibid., p.91 (itálico nosso).
[13] Não é o mesmo que sensus plenior.
[14] BOCK, Darrell L. em BATEMAN, Hebert W. IV, op. cit., p. 93.
[15] Ibid., p.97 (itálico nosso).
[16] Ibid., p.190.
[17] WILLIS, Wesley R. & MASTER, John (eds.) op. cit., p. 38.
[18] Os salmos contribuem muito para entendermos essa aliança. São vários os temas (1)
o alcance internacional da vitória do rei (Sl. 2:8-12; 78:8-12; 89:25, 27; 110:2-6; 132:18),
(2) a extensão da sua soberania (Sl. 2:8 89:25-27); (3) justiça do seu reinado em benefício
do seu povo (Sl. 45:3-5; 72:2-4, 12-16); (4) caráter eterno do seu reinado (89:4, 28, 36-38;
110:4). cf. Darrell L. Bock, Covenants in Progressive Dispensacionalism em Three Central
Issues p.185.
[19] ICE, Thomas. op. cit., p. 38.
[20] Estruturado de BOCK, Darrell L. Current Messianic Activity and OT Davidic Promise:
Dispensationalism, Hermeneutics, and NT Fulfillment. 2002. Trinity Journal Volume 15.