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Teatro de bonecos1
Da antiguidade sacra à contemporaneidade

O boneco e suas origens


Antes de qualquer coisa devo enfatizar um ponto: originalmente o boneco não era uma arte
para crianças e em alguns lugares do mundo continua sendo assim.
No Oriente, onde foi originalmente criado, o boneco é um objeto sagrado e sempre se
apresentava em estilo cerimonial. Lá o boneco é uma arte tradicional muito conceituada ligada ao
misticismo e à religião.
Para nós do Ocidente o boneco está associado à criança, à comédia, e talvez por isso o teatro de
bonecos Ocidental ainda seja visto como uma arte menor, de mero entretenimento.
As regiões onde primeiro se formalizaram o teatro e bonecos foram a China, a Índia, a
Indonésia e Japão.
Mas, também havia outros tipos de bonecos em outras partes do mundo.

China
Documentos comprovam que por volta de 1000 a.C: na China, já existia um tipo de estátua
funerária movida por mecanismos, que davam a ela perfeita ilusão de vida, e com o passar do tempo
essas imagens funerárias passaram a ser usadas em espetáculos religiosos
Na China foram usados todos os tipos de bonecos: de vara, de fio, de luva e de sombras. O
teatro de sombras chinês tinha efeitos mágicos. As marionetes eram de um refinamento e de uma
técnica de manipulação surpreendentes. Os primeiros bonecos de vara eram manipulados
horizontalmente.
O boneco chinês tradicional é uma obra de arte que combina escultura e pintura, com
mecanismos sofisticados de movimento. Ele possui muita riqueza nas vestimentas e eram muitas
vezes bordadas a ouro.
Mas o objetivo principal do ,teatro de bonecos chinês nunca foi o de teatralizar as histórias de
seus antepassados ou heróis, mas sim de desenvolver poderes ocultos.
Os bonequeiros gozavam de prestígio que os equiparava aos magos. Eles possuíam poderes
mediúnicos.
Os bonecos eram considerados receptores dos espíritos que se serviam dele para se manifestar.
Isso levava os bonequeiros a trancá-los com o rosto coberto por um tecido, em caixas envoltas por
um papel encantado, para que não despertassem o desejo dos espíritos em reanimá-los por si
mesmos. O poder dos bonecos quando bem dominado pelo bonequeiro, podia ser benéfico. Os
bonequeiros eram frequentemente requisitados a se apresentarem em cerimônias de exorcismo, e
eram, responsáveis pela limpeza de casas ou determinados ambientes, expulsando os maus espíritos.

Índia
Por volta de 200 a.C. se desenvolveu na Índia um teatro de bonecos feito com sombras.
Segundo a lenda esse teatro teria surgido quando o primeiro bonequeiro, Ady Anat, saiu da boca do
deus Brahma.
Os espetáculos hindus começavam com uma procissão composta por titereiros, músicos e
cantores que, sob o toque de sinos e tambores, seguiam em cortejo tendo a frente à lâmpada principal
do templo mais próximo. Assim que a procissão chegava ao local das apresentações dava-se início a
uma evocação de mantras e orações. Seguia-se um ritual de ofertas aos antepassados, com flores,
incenso e comida, só então começava a apresentação. As peças eram longas e ocorriam à noite
varando a madrugada, às vezes terminando ao nascer do dia.
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As peças eram tiradas de livros religiosos como o Mahabarata. Não existiam diálogos, apenas o
narrador descrevia as ações, e às vezes também os pensamentos dos personagens. Ela era
acompanhada com instrumentos melódicos. Era um ritual, mas também um espetáculo artístico.
Os bonecos de sombra eram confeccionados em couro ou papel transparente e projetados por
uma iluminação a óleo, lamparina, candelabros ou velas que produziam um efeito tremeluzente e
dava ao espetáculo um estranho ar mágico.

Java
Em Java, uma das ilhas do arquipélago da Indonésia, por volta de 100 d.C. formou-se um
teatro sacro de bonecos de sombra fortemente influenciado pela Índia, chamado Wayanga Purma.
No início as cerimônias religiosas desse teatro realizavam-se no seio das famílias, conduzidas
pelo pai. O seu objetivo era evocar os espíritos dos antepassados. Com o tempo: passaram a ser
apresentados por sacerdotes chamados Dalang, esses sacerdotes reuniam os papéis de poeta, músico
e conselheiro. As cerimônias aconteciam do pôr-do-sol ao nascer do dia, e iniciava-se com a
entoação de mantras que evocavam os antepassados para que protegessem seus descendentes. As
histórias baseavam-se em poemas épicos do Ramayana e do Mahabarata. O espetáculo consistia em
uma parte dramática, outra musical e outra espiritual, mas também era uma diversão.
Costuma-se apresentar ao final dos espetáculos com sombras uma dança com um boneco
tridimensional de vara chamado Golek, para que a platéia refletisse sobre o sentido de que também
eram bonecos manipulados por forças invisíveis.
Esses bonecos deram origem ao Wayang Golek, o teatro de bonecos de vara hindu esculpidos
em madeira.
O Wayanga Purma é um teatro muito refinado, as suas figuras são esculpidas em, couro fino e
ornados ;com desenhos em traços mais finos ainda. Os bonecos têm articulações perfeitas.
Em Bali, outra ilha da Indonésia, também existia esse teatro de sombras.

Japão
Através de textos budistas datados do séc. VIII, tem-se notícia da existência de bonecos no
Japão.
Os japoneses foram influenciados pelo teatro de bonecos chinês. No Japão os bonecos
chamavam-se Kugutsu, uma palavra chinesa.
No séc. XI, o boneco estava ligado às cerimônias Xintoístas e até hoje é uma tradição viva em
templos dedicados ao deus Oshira. Nessas cerimônias os sacerdotes, ou um crente, recita mantras e
conta histórias enquanto segura em suas mãos dois bonecos, esses bonecos não representavam
deuses, mas estavam possuídos por seus espíritos, que podiam ser bons ou maus.
O esperdadas a ouro.
Mas o objetivo principal do ,teatro de bonecos chinês nunca foi o de teatralizar as histórias de
seus antepassados ou heróis, mas sim de desenvolver poderes ocultos.
Os bonequeiros gozavam de prestígio que os equiparava aos magos. Eles possuíam poderes
mediúnicos.
Os bonecos eram considerados receptores dos espíritos que se serviam dele para se manifestar.
Isso levava os bonequeiros a trancá-los com o rosto coberto por um tecido, em caixas envoltas por
um papel encantado, para que não despertassem o desejo dos espíritos em reanimá-los por si
mesmos. O poder dos bonecos quando bem dominado pelo bonequeiro, podia ser benéfico. Os
bonequeiros eram frequentemente requisitados a se apresentarem em cerimônias de exorcismo, e
eram, responsáveis pela limpeza de casas ou determinados ambientes, expulsando os maus espíritos.

Índia
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Por volta de 200 a.C. se desenvolveu na Índia um teatro de bonecos feito com sombras.
Segundo a lenda esse teatro teria surgido quando o primeiro bonequeiro, Ady Anat, saiu da boca do
deus Brahma.
Os espetáculos hindus começavam com uma procissão composta por titereiros, músicos e
cantores que, sob o toque de sinos e tambores, seguiam em cortejo tendo a frente à lâmpada principal
do templo mais próximo. Assim que a procissão chegava ao local das apresentações dava-se início a
uma evocação de mantras e orações. Seguia-se um ritual de ofertas aos antepassados, com flores,
incenso e comida, só então começava a apresentação. As peças eram longas e ocorriam à noite
varando a madrugada, às vezes terminando ao nascer do dia.
As peças eram tiradas de livros religiosos como o Mahabarata. Não existiam diálogos, apenas o
narrador descrevia as ações, e às vezes também os pensamentos dos personagens. Ela era
acompanhada com instrumentos melódicos. Era um ritual, mas também um espetáculo artístico.
Os bonecos de sombra eram confeccionados em couro ou papel transparente e projetados por
uma iluminação a óleo, lamparina, candelabros ou velas que produziam um efeito tremeluzente e
dava ao espetáculo um estranho ar mágico.

Java

Em Java, uma das ilhas do arquipélago da Indonésia, por volta de 100 d.C. formou-se um
teatro sacro de bonecos de sombra fortemente influenciado pela Índia, chamado Wayanga Purma.
No início as cerimônias religiosas desse teatro realizavam-se no seio das famílias, conduzidas
pelo pai. O seu objetivo era evocar os espíritos dos antepassados. Com o tempo: passaram a ser
apresentados por sacerdotes chamados Dalang, esses sacerdotes reuniam os papéis de poeta, músico
e conselheiro. As cerimônias aconteciam do pôr-do-sol ao nascer do dia, e iniciava-se com a
entoação de mantras que evocavam os antepassados para que protegessem seus descendentes. As
histórias baseavam-se em poemas épicos do Ramayana e do Mahabarata. O espetáculo consistia em
uma parte dramática, outra musical e outra espiritual, mas também era uma diversão.
Costuma-se apresentar ao final dos espetáculos com sombras uma dança com um boneco
tridimensional de vara chamado Golek, para que a platéia refletisse sobre o sentido de que também
eram bonecos manipulados por forças invisíveis.
Esses bonecos deram origem ao Wayang Golek, o teatro de bonecos de vara hindu esculpidos
em madeira.
O Wayanga Purma é um teatro muito refinado, as suas figuras são esculpidas em, couro fino
e ornados ;com desenhos em traços mais finos ainda. Os bonecos têm articulações perfeitas.
Em Bali, outra ilha da Indonésia, também existia esse teatro de sombras.

Japão

Através de textos budistas datados do séc. VIII, tem-se notícia da existência de bonecos no
Japão.
Os japoneses foram influenciados pelo teatro de bonecos chinês. No Japão os bonecos
chamavam-se Kugutsu, uma palavra chinesa.
No séc. XI, o boneco estava ligado às cerimônias Xintoístas e até hoje é uma tradição viva em
templos dedicados ao deus Oshira. Nessas cerimônias os sacerdotes, ou um crente, recita mantras e
conta histórias enquanto segura em suas mãos dois bonecos, esses bonecos não representavam
deuses, mas estavam possuídos por seus espíritos, que podiam ser bons ou maus.
O espetáculo era um recitativo de poemas ou lendas épicas com acompanhamento musical, que
no séc. XVI era apresentado por monges budistas cegos.
No final do séc. XVII o teatro de bonecos japonês atingiu um status de arte superior, devido ao
alto nível literário e artístico refletindo princípios religiosos e filosóficos do confucionismo, do
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budismo e do xintoísmo.
No início do séc. XIX a família Bunrakuken ,deu origem ao teatro BunraKu, que é até hoje um
teatro de impressionante forma plástica e visual.
No fim da era Edo, no inicio do séc. XIX, surgiram bonecos mecânicos chamados KaraKuri
que eram de três tipos: os Matsuri Karakuri, para festas populares, que são colocados em carros
alegóricos e puxados pelas ruas; os Kogyo Karakuri, que são empregados em espetáculos de
marionetes; e os Zashiki Karakuri para adornar ambientes.
Hoje a tecnologia para a construção de robôs no Japão é a mais avançada do mundo, e dizem
que suas raízes remontam aos inventores e artesãos da era Edo.

Continente Africano

Na antiguidade a magia egípcia espalhou-se pelo continente africano e Antilhas, ali o boneco
também tinha finalidade mágica, mas não se inseria em um contexto de teatro de bonecos. Nessas
regiões ele era um objeto fetichista de enorme poder.
Os bonecos fetichistas são em si mesmos inertes, é o Xamã ou mágico que por meio de rituais
apropriado faz. atuar e dirigir a força mágica que possuem.
Os fetiches de pregos tem a função de afastar os espíritos maléficos, que se manifestam sob a
forma de doenças e outros sofrimentos que não podem ser combatidos por meios comuns. Sobre o
ventre do boneco é colocada uma pequena caixa normalmente tampada por um espelho, que
contém o “Ngli-ngli”, substância que dá força ao fetiche e, onde cada prego cravado provoca uma
ação mágica dirigida no cerimonial; contra um espírito maléfico.
Outros tipos de bonecos tinham a capacidade de roubar e canalizar a energia vital da pessoa,
para através disso dominá-las e conduzi-la a todo tipo de estado ou ato, como um zumbi.
Também existiam no Camarões (África Ocidental) e em Angola (Sudoeste Africano) bonecas
que eram carregadas pelas jovens na crença que as tornariam férteis, ou ajudariam em boas colheitas.

América Central

No Haiti existe o Vodu, religião popular que é uma mistura de religião africana (trazida às
Antilhas por escravos) e elementos cristãos. As divindades do Vodu chamadas Loas, podem ser
espíritos de ancestrais ou do mundo natural. Eles se dividem em dois amplos grupos, o útil Rada e o
destrutivo Petro. Durante as cerimônias ocorre uma forma de possessão, em que o corpo da pessoa
pode ser tomado pelo Loa. A forma mais conhecida do Vodu é a utilização de pequenas formas de
madeira usados para enfeitiçar pessoas.

América do Norte

Os índios Hopi da América do Norte desenvolveram um teatro de bonecos e máscaras muito


peculiar. Os participantes faziam um longo pré-preparo com isolamento e jejuns. No dia da
apresentação tomavam uma bebida alucinógena para incorporarem espíritos da natureza.
A história narrava o drama de um chefe índio que lutava contra demônios-serpente. Era um
teatro de gestos e mímica, sem texto. A cenografia geralmente consistia em um tapume de onde
saíam bonecos em forma de cobras.

O declínio do boneco como objeto sagrado

Porque o boneco perdeu, sua sacralidade? Há várias teorias sobre isso, mas a mais aceita é
simples: o desejo de poder e cobiça do ser humano.
Houve um tempo em que o boneco era o preferido pelas entidades espirituais e deuses, para se
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expressarem, pois eles não tinham “cheiro humano”, ou era preferido também pelo público que o
considerava mais misterioso e digno de representar forças misteriosas.
Mas com o passar do tempo, os sacerdotes bonequeiros perceberam que teriam mais poder se
eles mesmos canalizassem essas energias.
Eles passaram a substituir as imagens animadas por pessoas interpretando e incorporando as
entidades (nascia assim a função do ator), sendo estes os novos representantes do poder divino. Essa
manifestação egocêntrica do ser humano visava, atuar publicamente como fonte transmissora de e
adquirir benefícios com isso.
Muito se perdeu nessa transposição do boneco para o ator, pois toda obra de arte é um símbolo
e o símbolo não admite a presença ativa do homem.

O boneco no Ocidente

Enquanto no Oriente o boneco está relacionado com o ritual e o divino, no Ocidente ele
caracteriza-se por apresentar ao homem sua realidade terrena, sua relações, seu quotidiano, através
do humor e da crítica.
Na Grécia antiga (Séc. V a.C) os Mimos Dóricos ridicularizavam lendas sobre deuses e mais
tarde também os ritos cristãos: Era um teatro rude, mas de forte apelo popular. Esses espetáculos
eram conduzidos por mímicos e acrobatas que manipulavam pequenos bonecos com fios.
Parecido com os Mimos, em Roma existia as Atelanas, um tipo de teatro com personagens
como Buccus e Manducus, que satirizavam e criticavam os costumes da época. Segundo algumas
teorias as Atelanas influenciariam mais tarde a formação dos tipos da Commedia Dell’arte que por
sua vez se transformaram em personagens do teatro de bonecos.

Período Medieval

Com o declínio da civilização greco-romana e a ascensão do cristianismo, surgiram os


primeiros dramas religiosos, mas os mimos continuaram na forma de ambulantes percorrendo
cidades e vilas até o séc. XIV, com acrobatas, domadores e outros. Era uma espécie de circo menor,
e entre eles os bonequeiros apresentando dramas bíblicos.
No séc. XVI o teatro de bonecos vive um período religioso e popular. Dessa época vem a
origem do termo marionete. Maries era o nome dado em francês para um tipo de madeira com a qual
se esculpiam imagens; essa designação da madeira talvez viesse do mesmo nome da virgem, sendo
Mariola, Mariotte, Marotti, Marion ou Marionnetti, variações para designar pequenas imagens da
Virgem Maria.
As imagens a princípio estáticas, em quadros vivos e presépios, logo ganharam movimento em
apresentações sobre temas bíblicos e profanas brincadeiras.
Daí se originou o teatro de bonecos europeu.
A corrente mais famosa era a dos personagens da Commedia Dell’arte com seus arlequins,
pantaleões e o mais famoso, o Pulcinella italiano, que na França foi chamado de Polichinelle e na
Inglaterra; transformou-se em Punch. Este último tornou-se famoso por causar escândalos satirizando
os costumes e por apresentar uma violência irracional, com os bonecos atacando crianças e se
agredindo a pauladas.
Na França após o Polichinelle, surgiu o Guignol, com suas histórias, com objetivos culturais e
moralizantes. A partir disso desenvolveu-se nos salões de Paris um teatro de bonecos sofisticado,
assistido pela elite intelectual e artística. Era um teatro de bonecos com um certo sabor filosófico.
No séc. XIX os espetáculos vão perdendo essa preocupação literária e artística e passa-se a
privilegiar o espetáculo, o show, com soluções mecânicas fascinantes para os bonecos.
Do espontâneo, cômico e rude teatro popular, o teatro de bonecos passou a ser um instrumento
de boas maneiras, com refinamento e conceitos morais. Mais tarde, na França, assim como em
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muitos países depois, passou a ser confundido com recreação infantil, mais associado à idéia de
teatrinho para crianças em idade pré-escolar.

O Teatro Contemporâneo (O retorno do não-ator)

A partir do séc. XX teve inicio um movimento de retorno às origens rituais e simbólicas do


teatro.
O desconforto com a exarcebada interferência dos sentimentos humanos na obra de arte teatral,
sem a manifestação plena do poder do invisível, levou a novos caminhos.
A síntese dessas idéias era a volta do teatro ritual, simbólico, onde o ator seria substituído por
“algo”, ou por um boneco, a fim de eliminar emoções supérfluas e difíceis de serem controladas pelo
excesso de egocentrismo dos atores. Ele deveria controlar seu corpo e sua mente de tal forma que
não fosse afetado por seu ego. Ele deveria ser capaz de canalizar símbolos, e esses símbolos estariam
sempre fora de sua pessoa (roupa, máscara, boneco, etc.). Portanto o ator perfeito seria aquele capaz
de “desaparecer”, ou se “fundir” em alguma coisa fora dele. Ele deveria se despersonalizar, se
“esvaziar”, se tomar um elemento plástico a mradicional há uma transferência do ego do ator para o
personagem. No teatro de formas animadas o jogo é mais complexo: o ator se anula em prol do
boneco e se recolhe, quer sumindo no negro da cena, quer se escondendo sob um biombo. Essa
proposta de anulação do manipulador perpassa por todo um pré-preparo interior especifico onde ele
cada vez mais deve ceder lugar para o boneco. Ele não possuirá o, boneco, o boneco o possuirá.
Isso difere do teatro tradicional objetivo, que se expressa pelo racional; pelo consciente, pela
catarse e ego dos atores.
Muitas pessoas consideram o teatro de formas animadas uma evolução do teatro de bonecos, mas é
uma proposta teatral mais ampla.
Os sentimentos humanos captam certas vibrações universais e as transformam em símbolos. O
teatro de formas animadas abre uma porta para um diálogo íntimo com esse universo desconhecido
que nos habita. Através do boneco e objetos animados interagimos com o mundo ilusório que
sacraliza o tempo, elevando a ritualização das ações cênicas ao patamar transcendental.
Este resgate do simbólico que verificamos em diversas instâncias em nossa sociedade tem
relação com um momento que a humanidade vem vivenciando de retorno à espiritualidade. Este
retorno nos leva à origem do teatro que é a mágica e ao boneco.
Ana Maria Amaral nos diz: “O teatro de formas animadas, pelas transformações que a matéria
sofre e pelas evoluções que permite ao espírito, é um teatro de alquimistas, místicos e poetas”.

Bibliografia

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_____ O ator e seus duplos. EDUSP, São Paulo, 2001.
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1979,
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1956.
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7

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WARNER, Marina, Da fera à loira – Sobre contos de fadas e seus narradores. Cia. das
Letras, São Paulo, 1999.
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Material de oficina da Cia. Bricbrac. Pesquisa de Francisco Leão e apresentação de
Vanessa Teixeira.
E-mail companhiabricbrac@hotmail.com.

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