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Epicurismo

«É vão o discurso do filósofo que não cure algum mal do espírito humano».
(argumente a afirmação acima, no contexto do período helenístico em geral, e da ética
epicurista em particular.).

Epicuro dividiu sua filosofia (finalizando as primeiras duas partes com a terceira):
1) Iógica (chamada "cânon"); 2) física; 3) ética (que estuda o fim do homem (a
felicidade) e os meios para alcançá-la).

As verdades defendidas pelo epicurismo

a) A realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela inteligência do homem;


b) Nas dimensões do real existe espaço para a felicidade do homem;
C) A felicidade é falta de dor e de perturbação;
d) Para atingir essa felicidade e essa paz, o homem só precisa de si mesmo;
e) Não Ihe servem, portanto, a Cidade, as instituições, a nobreza, as riquezas, todas
as coisas e nem mesmo os deuses: o homem é perfeitamente "autarquico" (mensagem
também defendida pelo cinismo).

Na sua lógica/teoria do conhecimento, Epicuro afirmava que o conhecimento se


fundamenta sobre as sensações (que considera sempre verdadeiras), sobre a prolepse
(antecipações) e sobre os sentimentos de dor e de prazer (que nascem do efeito interno
produzido pelas sensações em nós) e que servem de fundamento para a ética, enquanto
constituem os critérios para discriminar o bem do mal.

A partir da prolepse) antecipações, o homem pode formar opiniões que só podem se


confirmar como verdadeiras (ou não) mediante a sua confirmação pelas sensações.

Limites da lógica:

Se o critério de verdade são as sensações, então caímos no objectivismo absoluto ou no


relativismo absoluto (como afirmara Protágoras), pois uma vez que as sensações não
são os objectos em si, mas simulacros, imagens destes, cada um pode acolhê-las
segundo as suas condições e circunstancias.

Nas sua física, concebe os átomos, eternos e infinitos, como fundamentos do mundo,
das coisas, da alma e dos deuses, sendo que estes últimos não intrerferem na vida dos
homens (a moda do Deus, motor imóvel de Aristóteles). «nada nasce do nada e nada
perece, tudo foi e sempre será tal como é agora.

Ética
Na sua ética, Epicuro considera o prazer como supremo bem, a felicidade. A ausência
da dor, tanto em relação a alma (ataraxia) como em relação ao corpo (aponia), ‘e
considerada como sumo prazer, porque é o único que não pode crescer ulteriormente e,
portanto, não pode nos deixar insatisfeitos.
Para poder alcançar esta felicidade, o homem deve procurar dentre vários prazeres, os
naturais e necessários (tal como defendiam os cínicos).

Em relação ao mal físico, mal moral e a morte, que parece comprometerem a felicidade,
Epicuro afirma que o mal físico ou é facilmente suportável, ou, se é insuportável, dura
pouco e leva a morte. E a morte não é um mal: quando existimos, ela não existe, e
quando ela existe, nós não existimos. Com a morte vamos para o nada.
No que se refere aos males da alma, a filosofia está em grau de nos libertar
completamente deles. (filósofo como o curandeiro das almas).

Enfim, Epicuro formula a sua receita de felicidade em quatro teses conhecidas por
quadrifármaco, ou seja, no quadruplo remédio para os males do mundo:
1) são vãos os temores dos deuses e do além;
2) é absurdo o medo da morte;
3) o prazer, quando for entendido de modo justo, está à disposição de todos;
4) o mal ou é de breve duração ou é facilmente suportável.

O sábio que compreende essa menagem iguala-se aos deuses, que, segundo Epicuro,
nada tem de diferente aos sábios.
O estoicismo

A sua filosofia obedece à tradicional divisão em lógica física e ética.

Na sua lógica, considera também as sensações como fontes do conhecimento que após
sua aprovação pela razão se tornam catalépticas ou compreensíveis. As catalépticas
se tornam depois intelecção ou conceito universal. Além da cataléptica, os estóicos
distinguem também das prolepses ou ideias inatas.

Na sua física, defende a presença do Deus-logos providente que tudo dirige de modo
infalível (panteísmo: Deus está em tudo e tudo, o cosmo todo, é Deus), isto é, endereça
tudo para o melhor fim (e não erra): neste sentido, o finalismo universal se traduz em

Daqui decorre que tudo tem seu destino inelutável, que não é mais do que
aquilo que se segue a ordem necessária de todas as coisas devida ao logos.

Aqui, porem, surge um problema: se a razão imanente implica necessidade


imanente, então, também o homem continua implicado nesta necessidade. 0 que
será, portanto, da sua livre vontade? A vontade do homem, observam os Estóicos – não
é livre, ou seja, ela encontra obstáculos que impedem sua realização, apenas quando se
opõe ao destino (= ao logos); ao contrário, quando o atende e quer aquilo
que o destino quer, então não só não encontra impedimentos, mas tem efeito seguro.

A verdadeira liberdade, portanto, estaria em uniformizar-se ao logos: querer o que o


Destino quer.
Esta concepção de liberdade se distancia daquela propalada por outras escolas como o
epicurismo e o cinismo que afirmam a liberdade total e sem limites. Na verdade,
reconhecer que a liberdade do homem é condicionada pelo destino, significa reconhecer
poderes e leis que governam o homem, o que retira a autarquia dando lugar a total
obediência e submissão ao destino tracado por Deus.

O sábio e feliz será o homem que buscará não ir contra as leis da natureza, que são
imanadas do destiõ e de Deus, mas procurará conhecer a sua verdadeira natureza e
vocação no mundo para realizá-la sem reclamações, tal como atesta a seguinte
passagem:

"Os Estóicos também afirmaram com certeza que todas as


coisas ocorrem por fado, servindo-se do seguinte exemplo:
um cão que está amarrado a um carro, se quiser segui-lo, é
puxado e o segue, fazendo necessariamente aquilo que
também faz por sua vontade; se, ao contrário, não quiser
segui-lo, será obrigado, de toda forma, a fazê-lo. A mesma
coisa na verdade ocorre com os homens. Mesmo que
não queiram seguir [o Destino], serião em todo caso
obrigados a chegar ao que foi estabelecido pelo fado."
Sineca dirá, traduzindo um verso de Cleanto com sentença
lapidar: "0 destino guia quem o aceita, e arrasta quem o
rejeita").

Reflexão: perante esta sentença, o que é melhor: aceitar ser guiado serenamente pelo
destino e suas leis, ou resistir e ser arrasta pelo por eles.
.

Ética estóica

Partindo do princípio de que todos os seres vivos buscam a sua conservação (princípio
de conservação, oi oikeiosis), evitando aquilo que os prejudica e buscando aquilo que os
beneficia,e acresce seu ser, para eles o bem de um ser é aquilo que Ihe é benéfico, e o
mal e o que o danifica.

Por conseguinte, todo ser vivo pode e deve viver segundo a natureza, segundo a sua
natureza. Ora, a natureza do homem é racional e a sua essência é a razão. Assim,
para o homem actuar o principio de conservação deve buscar as coisas e apenas as
coisas que incrementam sua razão e fugir das que o prejudicam. Assim, a
semelhança de Sócrates, os estóicos consideram Bem em sentido pleno, apenas a
virtude, isto é, o conhecimento. Ma1 é apenas o vício, isto é a ignorância.

Mas estas oikeiosis não era apenas individual ou da polis, mas também para toda a
familiar e toda a comunidade humana. Mas isto não deve ser confundido com a
simpatia, amor ou solidariedade, pois o ideal do sábio é não sentir paixões, mas a apatia,
a impassibilidade.
Quanto aos bens materiais (saúde, riqueza, fama etc) os estóicos consideram-nos
indiferentes, isto é, nem boas nem más. Mas podem ser favoráveis ou rejeitáveis,
segundo beneficiem ou danifiquem o corpo.

Outra noção interessante é a sua distinção entre acções rectas ou moralmente


perfeitas e as acções convenientes ou deveres, segundo sejam praticadas com intenção
ou não. Só o sábio faz as coisas com intenção de realizar e estar em sintonia com a
vontade do Logos, ao passo que os outros só fazem por fazer, como deveres. Esta ideia
será depois recuperada por Kant na sua ética do dever pelo dever, sem segundas
intenções.

Correntes impotantes: Epicurismo (ética) e estoicismo da Antiga Estoa (ética).

O Cinismo

Fundado por Antístenes, o Cão Puro, (no Ginásio de Cinosarge = o cão ágil) depois da
morte de Sócrates, o Cinismo veio a ser refundado por Diógenes de Sinope, o cão, que
o levou a grande sucesso. Autointitulou-se cao e justificando que : "Faco festa aos que me
dao alguma coisa, lato contra os que nada me dao e mordo os celerados."

Contra o desenvolvimento 1ógico-metafisico que Platao imprimira ao Socratismo , Antistenes


destacara sobretudo a extraordinaria capacidade pratico-moral de Sócrates, como a capacidade
de bastar-se a si mesmo, a capacidade de autodominio, a força de animo, a capacidade de
suportar o cansaco.

Agora, refundando o cinismo, Diógenes imprimiu ao movimento uma clara orientação


anticulturalista, no sentido de que declarou completamente inútil a pesquisa filosófica
abstracta e teórica para fins de alcançar a felicidade.

0 programa do nosso filósofo se expressa inteiramente na célebre frase "procuro o homem",


que, como se relata, ele pronunciava caminhando com a lanterna acesa em pleno dia, nos
lugares mais apinhados. Com evidente e provocante ironia, queria significar exatamente o
seguinte: busco o homem que vive segundo sua mais autentica essencia; busco o homem que,
para alCm de toda exterioridade, de todas as convenqdes da sociedade e do proprio capricho da
sorte e da fortuna, sabe reencontrar sua genuina natureza, sabe viver conforme essa natureza e,
assim, sabe ser feliz.
É no animal que o Cinico encontra o exemplo de vida, do modo de viver: um viver sem meta
(sem as metas que a sociedade propoe como necessirias), sem necessidade de casa nem de
moradia fixa e sem o conforto das comodidades oferecidas pelo progresso.

Mensagem do cinismo para o mundo actual

- Contra o consumismo e a busca desenfreada do conforto e do luxo, Diógnes faz-nos


um apelo para nos desapegarmos a tudo o que é supérfluo a nossa natureza e essência
humana (animal) e só assim alcançamos a felicidade: basta o pouco suficiente para
viver.

- A felicidade é uma construção social: a sociedade de cada tempo cria modelos ou


paradigmas de ser feliz segundo as suas visões, e as pessoas se metem em busca dessas
metas e condições, de tal maneira que quando alguém não as alcança, considera-se
infeliz. No caso actual, feliz, é a pessoa que tem bens matérias: casa, carro, celular de
luxo, vestuário, comida, cabelos, etc. e infeliz aquele que não as tem. Isto só acontece
com o homem: outros animais desde sempre apenas se limitam ao essencial.

- Acima de tudo, Diógenes nos chama à liberdade (um dos grandes valores gregos): ser
livre de tudo, até do desnecessário para viver. Quanto menos se precisa de coisas para
viver e ser feliz, mais se é livre e feliz, pois a sua privação não causa dor ou ansiedade.
A felicidade vem de dentro (da alma como dizia sócrates) e não de fora e dos bens
materiais.

- uma liberdade total: de palavra e de acção. É que quando as pessoas te consideram


como um louco, toleram tudo o que dizes e fazes e não se ofendem, embora os provoque
à reflexão e certo incómodo. Diogenes mostra a não naturalidade dos costumes gregos.

- O exercício e a fadiga como métodos de viver livre dos prazeres e assim ser feliz.

- O desprezo do prazer acabou sendo lembrado pelos epicuristas, que embora


considerem a felicidade como prazer, aconselham a apegar-se aos prazeres mais naturais
e necessários. É que os prazeres tornam o homem escravo deles., dai a apatia, a
indiferença e a autarquia no modo de viver cínico.

Plotino
Uno como pura potencialidade que se autocria.

Nous , segunda hipóstase que deriva do A matéria como trevas, luz degradada.

Cepticismo

Sobre ele influiu o encontro, depois de Alexandre Magno, com os Gimnosofistas,


especialmente Calano, que ateou fog0 em si mesmo diante do exercito maced6nio
sem emitir urn so lamento.
Segundo Pirro as coisas do em si indiferenciadas, incomensurdveis
endiscriminaveis, ou seja, n%o t6m em si uma essencia estavel, e por isso seu ser
se reduz a puras apar6ncias. nSeu carater de provisoriedade e de inconsisthcia
emerge sobretudo quando as comparamos com a natureza do divino, que -+ 5 2-3
e absolutamente estavel e sempre igual.
Se as coisas assim se apresentam, os sentidos e a razlio nlio estlio em grau de
discriminar a verdade e a falsidade. Portanto, o homem deve permanecer sem
opiniao e abster-se de qualquer julgamento definitivo. Por conseguinte, nlio tem
sentido agitar-se por nenhum acontecimento, dado, justamente, que este 6 pura
apardincia.
A atitude que o sábio deverá assumir e a da afasia ou epoché, ou seja,
calar e jamais expressar qualquer julgamento definitivo, e assim atingira a ataraxia
ou imperturbabilidade (não se deixara perturbar por nada). Pondo-se a parte de
tudo aquilo que pode perturba-lo ou tocá-lo, o sábio poderá viver a vida "mais
igual" (à sua natureza anima) e, portanto, viver feliz.

O ecletismo (pp.: 324-326)

Depois de Carneades a Academia assumiu, com Filon de Larissa, uma posição


ecletica, ou seja, julgou oportuno acolher contributos de outras escolas filo
soficas, tentando sua mediação. Por conseguinte, afastou-se da linha céptica que
fora introduzida na Academia.

Fílon introduziu novo conceito de "probabilidade", que podemos chamar de


"positiva", contra a probabilidade negativa de Carneades.

Enquanto para Carneades as coisas são incompreensíveis e nós as declaramos


prováveis (probabilidade negativa), para Filon as coisas são "compreensíveis" e,
portanto, a verdade existe; somos nos que não conseguimos captá-la de modo
adequado e, portanto, devemos contentar-nos com um saber provável.

Antíoco de Ascalon (falecido pouco depois de 69 a.C.), o sucessor de Filon,


rompeu definitivamente as pontes com o Ceticismo e declarou a verdade não só
"existente", mas também "cognoscível". Procurou mediar de modo eclético
contributos de Aristóteles, de Platão e em particular dos Estoicos.
Um ecletismo moderadamente ceticizante foi defendido tambem por
Cicero (106-43 a.C.), o qual, embora não tivesse excelsa vocação filosófica, foi
todavia a mais sólida ponte através da qual a filosofia grega
entrou no mundo romano.

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