Você está na página 1de 4

História do Teatro

INTRODUÇÃO

O termo teatro, modalidade de expressão artística, pode significar tanto um


gênero de arte como também uma casa ou edifício em que são representados vários
tipos de espetáculos. Ele provém da forma grega theatron, derivada do verbo “ver”
(theaomai) e do substantivo “vista” (thea), no sentido de panorama. Do grego, passou
para o latim como a forma theatrum e, através do latim, para outras línguas.

Mas o teatro não é uma invenção grega, espalhada pelo resto do mundo. É
uma manifestação artística presente na cultura de muitos povos e se desenvolveu
espontaneamente em diferentes latitudes, ainda que, na maioria dos casos, por
imitação. Antes mesmo do florescimento do teatro grego da Antiguidade a civilização
egípcia tinha nas representações dramáticas uma das mais fortes expressões da sua
cultura. Em 3200 a.C. já existiam representações. Estas tiveram origem religiosa,
sendo destinadas a exaltar as principais divindades da mitologia egípcia,
principalmente Osíris e Isis. E foi do Egito que elas passaram para a Grécia, onde o
Teatro teve um florescimento admirável, graças à genialidade dos dramaturgos gregos
e à política de incentivo aos concursos dramáticos anuais, que atendiam a interesses
políticos e de afirmação da democracia instituída pela civilização grega. Pra o mundo
ocidental a Grécia é considerada o berço do teatro, ainda que sua procedência seja
mais antiga.

No continente asiático o teatro também existia, com outras características, que


ainda hoje o singularizam. Na China, por exemplo, o teatro foi estabelecido durante a
dinastia Hsia, que se prolongou do ano de 2205 ao ano 1766 antes da era cristã.
Portanto o teatro chinês é o segundo, cronologicamente, antes mesmo do teatro
grego. Como no Egito, surgiu também com características rituais. Mas além das
celebrações de caráter religioso, passaram também a ser evocados os êxitos militares
e outros acontecimentos. Assim, as procissões e danças foram dando lugar à forma
dramática. A índia começou a desenvolver o seu teatro cinco séculos antes da era
cristã, depois do aparecimento de seus poemas épicos Mahabharata e Ramayama,
que são grandes fontes de inspiração dos primeiros dramaturgos indianos. Países tão
distantes como a Coréia do Sul e o Japão, mesmo sem contatos afinados com o
Cênicas Cia de Repertório

Av. Marquês de Olinda, 199 - 2º Andar - Edifício Álvaro Silva Oliveira – CEP: 50030-000 - Bairro do Recife - Recife – PE
mundo ocidental, desenvolveram a seu modo formas próprias de teatro – a Coréia
ainda antes da era cristã e o Japão durante a Idade Média (o primeiro dramaturgo
japonês, o sacerdote Kwanami Kiytsugo viveu entre os anos de 1333 e 1384 da era
cristã).

PRÉ-HISTÓRIA

O TEATRO ANTES DOS GREGOS

No período que antecede a História propriamente dita, o Homem, que


tinha uma relação muito próxima com a natureza, desenvolveu manifestações rituais
de ordem diversa, que procuravam sintetizar seu ideário e sua relação espiritual com o
mundo físico. Essas manifestações se poderiam dizer os primeiros indícios de
expressões artísticas do homem, já que a arte trata de expressar o sentimento e a
emoção dos seres humanos. Na tentativa de representar os flagrantes do seu
cotidiano, o homem pré-histórico começa a deixar registros da sua vida; começa a
interpretá-la com sinais de racionalidade.

Com pouca noção do que seriam deuses ou forças sobrenaturais / metafísicas,


já no período do Paleolítico, através das inscrições registradas nas paredes das
cavernas, o homem tentava traduzir a realidade que o cercava. Sua percepção visual,
junto com a expressão da sua idéia, o levava a “representar”, por meio de pinturas nas
paredes, cenas de caça, de grupos numa espécie de dança, e até de relacionamentos
sexuais. Tentando copiar a natureza, o homem, baseado na sua própria origem,
inicia, quase sem querer, a “arte da representação”.

Como se “aprisionasse” o bicho que desenhava na parede, idealizava esse ato,


realizando virtualmente o desejo de capturá-lo e dele se aproveitar para garantir a sua
sobrevivência. Na evolução dessa prática, vai se criar uma relação cada vez maior de
dominação da natureza pelo homem, em que este se aperfeiçoará para a caça,
dominará o uso do fogo, entre outros avanços, naturalmente reservados à evolução da
espécie.

Percebendo o ‘tempo’ da natureza, as estações climáticas, a sua dependência


dos fatores naturais, o homem passa a enaltecer a natureza que o cerca, já imbuído
de valores sobrenaturais. Aparecem aí os ídolos, amuletos, símbolos sagrados, as
cerimônias fúnebres e outros aparelhos de relação metafísica do homem com o
mundo.

Cênicas Cia de Repertório

Av. Marquês de Olinda, 199 - 2º Andar - Edifício Álvaro Silva Oliveira – CEP: 50030-000 - Bairro do Recife - Recife – PE
É claro que o conceito de arte tal como o conhecemos hoje não existia à
época. Porém já coexistia uma espécie de ‘arte sagrada’, ao lado de uma ‘arte
profana’, em que a primeira se destinava a uma casta de indivíduos – espécie de
mágicos / sacerdotes, com danças, rituais e elementos que alguns mais dotados de
coragem e força espiritual conseguiam dominar. Já a arte profana se ocuparia de
coisas mais ligadas ao mundo objetivo, como a indústria caseira de utensílios utilitários
e decorativos, que atendiam mais a uma necessidade estética / funcional, do que a
valores espirituais.

Desses rituais e celebrações místicas se destacam seres que, por exemplo,


dominando o medo do fogo, realizando caças prodigiosas, dominando o que antes
parecia ser algo de difícil apreensão, conseguem se diferenciar dos outros como
“mágicos”, “superiores”. Surge, então a primeira idéia de um sacerdote, uma espécie
de “representante divino” que realiza sua atividade diante de um grupo de indivíduos
que o assiste (aí a primeira idéia de uma platéia). Isento de tarefas nas sociedades
que começavam a se estabelecer no Paleolítico superior, a função desses indivíduos
era trazer à realidade as forças anímicas da natureza, simbolizar fisicamente os
espíritos que permeavam a sua esfera metafísica, valendo-se também da
transformação que conseguiam fazer dos objetos e materiais que os cercavam – couro
de animais, pedras, plantas, entre outros (indícios sutis de uma caracterização física –
indumentária, maquilagem, e espacial – o cenário, o ambiente). A idéia de
interpretação, então, já remonta a um passado longínquo, dada a necessidade que o
homem sempre teve de representar, ou como diria Aristóteles, “mimetizar”, por meio
da ação (‘por homens agindo’), a realidade transformada em cena, em espetáculo.

Mas é no cerimonial religioso de tempos remotos do antigo Egito que vamos


localizar os primeiros passos para a instituição do fenômeno teatral como coisa
isolada, numa espécie de proto-história do teatro, em que o ator era o bailarino e o
cantor e, freqüentemente o sacerdote. A magia e a religião estabeleceram novas
formas espetaculares quando os sacerdotes ou os feiticeiros imitavam outras
dimensões da natureza (os animais, os fenômenos climáticos). No Egito do Antigo
Império, o culto religioso que reverenciava os mortos conotava a possibilidade de uma
continuidade cênica, onde até mesmo o morto, através do vivo poderia readquirir a
vida. Há nas cerimônias fúnebres do culto ao deus Osíris representações de mistérios
que prenunciam as Dionisíacas, precursoras do teatro grego.

Nesses dramas litúrgicos, encontramos o sacerdote-leitor, o cronista que


recitava o comentário esclarecedor de um texto religioso, enquanto os demais
oficiantes se sucediam na cena adequadamente. Possivelmente, essas personagens
seriam anunciadas e sua movimentação cênica também estaria anteriormente escrita.
Cênicas Cia de Repertório

Av. Marquês de Olinda, 199 - 2º Andar - Edifício Álvaro Silva Oliveira – CEP: 50030-000 - Bairro do Recife - Recife – PE
Tais representações contavam com grande número de figurantes chamados
servidores de Osíris (ou de outro deus), além dos sacerdotes que cumpriam o papel
dos deuses envolvidos no mito. A descoberta de uma coluna monolítica com
inscrições, em 1922, uma estela dedicada ao deus solar Hórus, diz que um servo
estava encarregado de dar as réplicas quando um ator recitava. Supõe-se, assim, que
esses atores ambulantes gozavam de especial prestígio no Egito antigo.

O sacerdote primitivo era um ator ricamente vestido e maquiado; o ator deste


pré-teatro era religioso e totalmente possuído pelo papel que representava, como o
pai-de-santo que ainda encontramos nas manifestações do afro-catolicismo brasileiro.
O dançarino mascarado que espanta demônios, o xamã através de quem um deus ou
os deuses se manifestam, ou seja, algo que está acima do comportamento comum;
alguém que assume como médium a veiculação de um conhecimento superior: eis o
ator primitivo, o ator do proto-teatro.

No outro lado do cerimonial encontram-se os espectadores, os fiéis que


receberão as mensagens desse conhecimento acima do humano. Dessa forma,
desde cedo os homens articulam o jogo cênico e exercitam o instinto incontido de “ser
outro”. Com o tempo este ator, e com ele o teatro, se emanciparam a ponto de se
tornarem instituições públicas fomentadas e mantidas pelo Estado, como é o caso da
Grécia.

Cênicas Cia de Repertório

Av. Marquês de Olinda, 199 - 2º Andar - Edifício Álvaro Silva Oliveira – CEP: 50030-000 - Bairro do Recife - Recife – PE

Você também pode gostar