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Introdução
A dança é uma das expressões artísticas mais antigas do mundo. Antes
mesmo de existir uma língua compartilhada, o homem primitivo já pra-
ticava essa atividade com diversos objetivos: agradecer, pedir proteção,
celebrar, etc. Ao longo da história, contudo, a dança passou de ato sagrado
a prática profana com conotações sexuais. Por meio de inúmeras formas
de expressão, gestos e movimentos, ela consistia, sobretudo, em uma
maneira de comunicação entre os indivíduos.
Neste capítulo, apresentaremos o surgimento da dança, de modo a
traçar um panorama histórico desde o seu período mais primitivo até
a contemporaneidade. Em seguida, analisaremos a dança primitiva e as
suas intencionalidades, as danças milenares e o processo de desenvol-
vimento da dança em diferentes civilizações e contextos sociais. Além
disso, discutiremos a construção da dança moderna e, posteriormente,
da dança contemporânea, bem como as perspectivas técnicas, artísticas
e estéticas de cada uma.
2 Evolução e história da dança: do primitivo à contemporaneidade
Na mitologia grega, Cronos é conhecido pelo hábito de devorar os seus filhos. Para
impedir que o mesmo sucedesse com Zeus recém-nascido, a sua mãe, Réia, ensinou
um tipo de sapateado a alguns guerreiros e sacerdotes. A dança baseava-se em batidas
ritmadas feitas com os pés para abafar o choro de Zeus e, dessa forma, impedir que
fosse devorado pelo pai. De acordo com o mito, Zeus foi salvo graças a esse sapateado
e, assim, pôde destronar o seu pai mais tarde.
4 Evolução e história da dança: do primitivo à contemporaneidade
Nas sátiras, as danças eram chamadas de skinnis e possuíam caráter violento, além de
simular orgias sexuais.
Dançava-se na virada de ano, na época das colheitas, para pedir por chuva,
propiciar a fertilidade das mulheres, durante as colheitas nos rebanhos, para
afastar energias ruins, entre outros inúmeros motivos. No Japão, por outro lado,
dançavam-se para homenagear os imperadores ou comemorar o solstício de
inverno, bem como para retratar lendas com o uso de mímicas e leques. Assim
como na Grécia Antiga, a dança no Japão fazia-se muito presente no teatro, que
contava histórias de lutas entre samurais, casos amorosos, assassinatos, etc.
Na Figura 2, você visualiza uma representação da típica dança indiana.
Atente aos gestos minuciosos executados com as mãos, denominados mudrás,
como comentamos no parágrafo anterior. Também é interessante notar as
cores vibrantes do figurino dos dançarinos e a espécie de chocalho que eles
trazem amarrado aos tornozelos e que auxiliam na marcação do ritmo que
embala os seus movimentos.
Dança moderna
No século XVIII, houve um movimento de reconstrução das danças, sobretudo
do balé. Na época, as vestimentas próprias desse estilo eram mais pesadas
e longas, visto que somente mais tarde as saias foram encurtadas de acordo
com a altura média do joelho dos bailarinos. Em meados do século, houve um
manifesto intitulado Cartas sobre a Dança, assinado por Jean-Jacques Noverre
(1727–1810), que defendia a ideia de roupas mais leves e expressivas, bem como
coreografias baseadas em histórias dramáticas. É importante anotarmos que
até esse momento o balé estava à disposição apenas de nobres.
A partir do século XIX, desenvolveu-se o balé romântico, cujos precursores
defendiam que os bailarinos deveriam dispor de certos conhecimentos relacionados
às artes visuais, tais como escultura e pintura, para contribuir com a construção
da gestualidade na dança. Esse tipo de balé desenvolveu-se na França e contava
histórias de um amor idealizado e de supervalorização da mulher. Tal pensamento
romântico estimulou a adoção de roupas mais leves e o uso de sapatilhas com ponta
nos espetáculos. Além disso, houve um expressivo aumento na mobilidade em
todas as direções do palco, bem como o uso de iluminação cênica para compor a
beleza das apresentações e causar efeitos distintos nos espectadores.
Na Rússia, o balé foi e ainda é uma área fértil que conta com mestres e espetácu-
los famosos, como O Lago do Cisnes (1895) e O Quebra Nozes (1892). Um dos seus
grandes marcos foi o bailarino Mikhail Fokine (1880–1942), que, fundamentado
nas ideias de Noverre, em 1904 produziu A Morte do Cisne, imortalizada pela
bailarina Anna Pavlova (1881–1931) (LANGENDONCK, [2018]).
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Noverre foi um renomado inovador do balé. Segundo ele, o bailarino não deveria
trabalhar somente com o corpo, mas também com a mente. Nesse sentido, anatomia,
música, geometria, pintura e poesia seriam conhecimentos indispensáveis à formação
desses profissionais para uma maior abrangência no processo de expressão corporal
exigido pela dança.
Figura 3. Embora a dança moderna ainda esteja atrelada ao balé, a estética e a constru-
ção geral do espetáculo distinguem-se em termos de composição, figurino e técnicas
diversificadas.
Fonte: Master1305/Shutterstock.com.
Dança contemporânea
A transição da dança moderna para a contemporânea ocorreu entre as décadas de
1940 e 1950. A dedicação de novos olhares para o estilo de dança vigente levou
a reflexões acerca da possibilidade de novas práticas. O coreógrafo pioneiro da
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Isadora Duncan é sinônimo de resistência frente aos moldes inflexíveis da sua época.
A partir de observações da natureza, como o movimento das ondas do mar e do
vento, ela elaborou uma nova dança mais livre e leve. As suas ideias problematizavam
questões acerca da liberdade dos corpos — em especial do feminino —, do exagero
da forma e do aprisionamento físico.
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Leituras recomendadas
ANDRADE, G. Movimentos em curso. Revista da UFMG, v. 22, n. 1, p. 124-141, 2015.
GREINER, C. O registro da dança como pensamento que dança. Revista D’Art, São Paulo,
v. 04, p. 38-43, 2002.
SZPERLING, S. Videodança na América Latina: um testemunho. In: GREINER, C.; SANTO,
C. W.; SOBRAL, S. (Org.). Cartografia Rumos Itaú Cultural Dança: imagens e movimentos.
São Paulo: Itaú Cultural, 2010.
VICENZA, I. Dança no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura/FUNARTE, 1997.
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