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O uso de adorno é pessoal e universal, e já era usado entre as etnias mais primitivas.
Estudiosos questionam, se seriam roupas ou ornamentos a serem às primeiras coisas usadas
quando o homem saiu do "estado da natureza". (AMBROSE, 1940). Teria os ornamentos sua
origem na vaidade? Ou na crença de que eles eram um meio mágico de proteção? Para
BISOGNIN “o homem pré-histórico percebia a beleza nas coisas que o cercavam, espírito e
matéria se uniam numa relação mítico-mágica, onde o resultado ficava plasmado nos objetos
que fabricava.”
Qualquer que seja a resposta a essas perguntas, estes são objetos que no passado, eram usados
regularmente pelos indivíduos por razões espirituais e ou estéticas. Esses adornos deveriam ser
importantes, para serem incluídos nos enterros de seus proprietários. Colocados no túmulo com
o falecido para que eles pudessem continuar a adorná-lo e protegê-lo na vida e no Amduat.
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Figura 1- Parte do papiro Amduat de Nesmut, com uma pequena imagem de um portal com serpente
guardiã na parte inferior esquerda. British Museum EA 9984.
O que é adorno? Aquilo que serve para enfeitar e embelezar. Podem ser denominados
como atavios, enfeites, artefatos, ornamentos ou adereços. Enquadram-se as joias, bijuterias,
ornamentos corporais.
Figura 2Colar 15.JW.184 ilustra a variedade de pedras semipreciosas usadas pelos joalheiros egípcios
antigos, incluindo ametista, cornalina, lápis-lazúli e turquesa.
Todas as joias do final do Quinto e do Quarto Milênio a.C que foram encontradas, eram
originárias de tumbas. Joias tais como: Colares, pulseiras braceletes, pulseiras para tornozelos
e cintos.
Figura 3Estatua feminina da época protodinástica com argolas pintadas nos tornozelos (Muller,2006).
Até figuras femininas de barro destinada a acompanhar o morto (noiva dos mortos) na
outra vida, mostra a forma com que as mulheres egípcias costumavam se enfeitar.
Segundo Muller (MÜLLER, 2006: 24) “Desde sua origem, as joias egípcias não foram
só um recurso para embelezar o corpo, mas também, principalmente, um amuleto, um objeto
destinado a prolongar a vida e a proteger contra todo tipo de perigos quem a usasse” (MÜLLER,
2006).
Figura 4Colar egípcio Encontrado no cemitério de Abu Roash, a oeste do Cairo. Do túmulo de uma
mãe com seu filho Contas da Cornalina e um pingente de faiança verde (provavelmente uma imagem
de Hórus), ca.3000 - 2650 aC Rijksmuseum Amsterdã, Holanda
Sobre as cores
Vermelho (desher): Feito de ferro oxidado e ocre vermelho, usado para criar
tons de carne e simbolizar a vida, mas também o mal e a destruição. O vermelho
estava associado ao fogo e ao sangue, simbolizando vitalidade e energia, mas
também poderia ser usado para acentuar certo perigo ou definir uma divindade
destrutiva - deus Seth. A Cornalina era utilizada frequentemente para confeccionar jóias, bem
como o grená e jaspe vermelho. (DAVID, Rosalie. Religion and Magic in Ancient Egypt: 2003.)
Azul (irtiu e khesbedj): Uma das cores mais usadas pelos artesãos,
normalmente chamada de "Azul Egípcio", feita de óxidos de cobre
e ferro com sílica e cálcio, simbolizando fertilidade, nascimento,
renascimento, vida e geralmente usada para representar a água e
os céus. O azul também simbolizava a proteção. Os amuletos de
fertilidade do deus-protetor Bes eram frequentemente azuis, assim
como as tatuagens que as mulheres usavam de Bes ou padrões em
forma de diamante na parte inferior do abdômen, costas e coxas.
Preto (kem): Feito de carbono, carvão moído, misturado com água e, às vezes, ossos de animais
queimados simbolizavam a morte, a escuridão, o submundo, assim como a vida, o nascimento
e a ressurreição. Segundo Richard H. Wilkinson (WILKINSON, 2002): "A associação
simbólica da cor com a vida e a fertilidade pode muito bem ter sua origem no fértil lodo preto
depositado pelo Nilo em suas inundações anuais, e Osíris – o deus do Nilo e do submundo -
era, portanto, frequentemente retratado com pele negra". (WILKINSON, 2002)
Amarelo (khenet e kenit) - Feito de ocre e óxidos
originalmente, simbolizando o sol e a eternidade. O
amarelo foi escurecido pela cor dourada dos deuses
ou iluminado com branco para sugerir pureza ou
algum aspecto sagrado de um personagem ou objeto.
A Deusa Ísis, por exemplo, sempre é retratada com
pele dourada em um vestido branco, mas, às vezes,
seu vestido é amarelo claro para enfatizar seu aspecto
eterno.
Branco (hedj e shesep) - Feito de cal misturado com gesso, frequentemente usado como
clareador para outros tons e simbolizando pureza, sacralidade, limpeza e clareza. O branco era
da cor das roupas egípcias e, portanto, associado à vida cotidiana, mas frequentemente era usado
em peças artísticas para simbolizar a natureza transcendente da vida. Os sacerdotes sempre
usavam branco, assim como os assistentes do templo e as pessoas no templo, que estavam
participando de um festival ou ritual. A Coroa Branca do Alto Egito, por exemplo, é
constantemente referida como branca - e é retratada de forma realista - mas também simboliza
a estreita conexão com os deuses cultuados pelo rei - e representa simbolicamente a pureza e o
sagrado
Verde (wadj): Misturado com malaquita, um mineral
de cobre e simbolizando bondade, crescimento, vida,
vida após a morte e ressurreição. A vida após a morte
egípcia era conhecida como “O Campo dos Juncos” ou
“O Campo da Malaquita” e sempre foi associada à cor
verde. Verde é a cor do deus ressuscitado Osíris e
também do Olho de Hórus. Turquesa, feldspato e jaspe
verde. Hathor estava intimamente associada à árvore
Sicômoro, como renovação, transformação e
renascimento. Múmias de mulheres tatuadas sugerem
que a tinta poderia ter sido verde, azul ou preta e as
tatuagens estão relacionadas ao culto de Hathor
(MARK, 2017).
Dourado: Os escritos egípcios descrevem os corpos dos deuses em
detalhes. Eles são feitos de materiais preciosos; sua carne é dourada,
seus ossos são prateados e seus cabelos são lápis-lazúli. Eles exalam
um perfume que os egípcios comparavam ao incenso usado nos
rituais. Alguns textos apresentam descrições precisas de divindades
específicas, incluindo altura e cor dos olhos. No entanto, essas
características não são fixas; nos mitos, os deuses mudam sua
aparência para se adequarem a seus próprios propósitos.
Contas e Pedras
No 4ª. Milênio a.C, as contas de pedra sabão e quartzo aparecem revestidos de verniz
vidrado. O verniz provavelmente foi descoberto por acaso ao jogar resto de malaquita (utilizada
para maquiar os olhos), rica em oxido de cobre, e areia do deserto que é rica em carbonato de
sódio e quartzo quando são misturados, e ao fundir no calor se, transformam se em esmalte
vidrado. Outras descobertas dos artesãos egípcios foram às contas confeccionadas a partir de
uma pasta vidrada que era uma mistura de: Areia calcária do deserto e compostos de cobre
utilizados para dar cor, à qual era acrescentado carbonato de sódio a água.
A pasta era amassada modelada em uma forma de contas, deixada secar e provavelmente
nos primeiros tempos cozida em forno coberto com calcita em pó, cinza vegetal ricas em
substâncias alcalinas e composto de cobre. As contas eram feitas com uma porção de palha no
seu interior, para evitar o processo de perfurar.
Figura 7"Hipopótamo com flores de lótus, brotos e folhas, dinastia XII (por volta de 1950 aC)
popularmente chamada "William“,
Metais
Os metais utilizados eram o ouro, a prata e o cobre. Mas também utilizavam o metal
vindo do céu – ferro meteórico.
O Ideograma Ouro
O falcão Hórus pousado sobre o ideograma ouro. Seth, agachado sobre o ideograma
ouro.
Antes da primeira dinastia por volta do ano 3.000 a.C, a palavra “ouro” começou a ser
representada em forma hieroglífica como um colar de contas.
Este colar consistia de um semicírculo formando vário voltas de contas, que ficavam
penduradas sobre o peito, cercavam os ombros e se fechavam atrás na nuca com duas fitas.
Tinha como acabamento na parte inferior do colar alguns pingentes em formato de lágrimas. A
raiz da palavra ouro (nb) é a mesma que a palavra utilizada para designar as brasas
candentes. (MÜLLER, 2006)
O hieróglifo egípcio que representa o ouro (Gardiner S12), valor fonético nb, é
importante devido ao seu uso no nome Hórus de Ouro.
Figura 11Antebraço de mulher adornado com 4 pulseiras, provavelmente das câmaras funerárias de
Djer. Cada pulseira tinha um significado, a que representavam o título real: “Falcão Hórus sobre a
fachada do palácio” (o Serekh)
Figura 12 - imagens retiradas do livro AMULETS OF ANCIENT EGYPT - Carol Andrews - pag. 52
Olho wdjat refere-se ao olho esquerdo que o deus Hórus perdeu
na contenda com o deus Set, sendo reposto pelo deus Tot, na
versão mais conhecida, ainda que muitas vezes esteja
representado o olho direito, ligado ao sol (deus Ra). Na visão
egípcia um símbolo de perfeição, proteção e poder. Usado como
amuleto tanto por vivos como por mortos.
Um famoso conto egípcio descreve uma jovem que está chateada por perder
seu pingente de peixe na água enquanto participa de uma festa real no barco.
Ela se recusa a remar até encontrar o pingente de peixe. Frasco de cosmético
no Museu Britânico (EA2572) mostra um pingente em forma de peixe afixado
à trança de uma jovem ajoelhada. Imagem cortesia do Museu Britânico.
Flores e frutos
A romã foi trazida para o Egito da Síria durante o governo dos hicsos (1600
aC). As romãs eram valorizadas no Egito como fonte de alimento e faziam
parte do suprimento de frutas necessárias na residência de um faraó.
Conclusão
Após leitura pormenorizada deste trabalho, é possível compreender que, as
contribuições da historiografia e das inúmeras pesquisas realizadas por especialistas da área
foram fundamentais para esclarecer as dúvidas que surgem através dos séculos sobre a temática
abordada ao longo do referido texto.
Pode-se ainda perceber que, à medida que a sociedade egípcia se tornava mais
sofisticada em determinada época e local, surgiam sinais cada vez mais claros de atividades
religiosas e joias produzidas de forma e cores mais elaboradas, pois no imaginário dos antigos
egípcios, havia estreita relação entre beleza, deuses, religião, magia e práticas funerárias.
Bibliografia