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Teatro de

Bonecos
Flávia
Strongolli
Plano de Ensino
Ementa

Introdução ao conceito de teatro de bonecos.


Análise e estudos teórico práticos sobre a
potencialidade do Teatro de Bonecos como
expressão artística e as possibilidades
pedagógicas deste gênero teatral. O teatro de
bonecos e suas múltiplas possibilidade de
concepção e montagem.
Metodologia de Ensino
• Apresentação de um panorama histórico crítico reflexivo
dos percursos do teatro das formas animadas;
• Discussão de textos com a bibliografia associada aos temas
abordados;
• Conhecer alguns materiais utilizados na confecção de
bonecos e construção de cénarios.
• Desenvolver no aluno a capacidade de entendimento do
objeto animado, suas possibilidades de expressão na sala de
aula.
• Analogia entre os textos indicados e a prática, além da
apreciação calcada em experiências (individuais e coletivas)
dos alunos em relação ao teatro das formas animadas.
Objetivos
Ao final desta disciplina o aluno deve ser capaz de:

1 Ministrar aulas sobre História do Teatro de Bonecos a partir da


compreensão dos contextos históricos, considerando e orientando
para a diversidade cultural.
2 Analisar as transformações politicas, sociológicas e tecnológicas que
possibilitaram o desenvolvimento do teatro das formas animadas.
3 Exercitar habilidades a partir do trato com os recursos disponíveis
no teatro de animação, bem como, a metodologia do ensino do
boneco.
4 Operar com as novas linguagens, utilizando das mídias para
produção e divulgação do teatro de bonecos.
5 Construir propostas pedagógicas com essa linguagem artística.
"Há muitas vantagens
em bonecos. Eles
nunca discutem. Eles
não têm pontos de
vista brutos sobre a
arte. Eles não têm
vida privada.”
Oscar Wilde
Teatro de Animação
Teatro de
Animação trata do
inanimado, por
isso poderia ser
chamado de
teatro do
inanimado.
(AMARAL,2007, p.21)

Cia PeQuod. Marina, a sereiazinha, 2010


Inanimado é tudo que convive com o homem mas não
possue movimento. Ao receber a energia do ator,
através do movimento, cria-se na matéria a ilusão da
vida, e o objeto inanimado parece adquirir vontade
própria.
Relação corpo/objeto.
Animar um objeto e deixar refletir-se no objeto, o que
confere a vida ao boneco/objeto é a energia do
ator/manipulador.

A imagem do
ator/manipulador não
é vista, e quando o é
deve ter uma imagem
neutra.
Todo objeto bem
manipulado, neutraliza
a presença do ator.
cia-truks-teatro. Cidade Azul. 1997-2012
(AMARAL,2007, P.22)
As principais
características do
Teatro de Animação
são: a passagem do
inaninado ao animado,
e a mediação da relação
entre
ator-animador-manipul
ador e público pela
presença de um objeto.
cia-truks-teatro. Zoo- ilógico, 2004
O uso de variados meios de expressão, o abandono do
boneco do tipo antropomorfo, a ruptura com o
palquinho do tradicional teatro de bonecos e a presença
visível do ator-animador na cena, tornam o teatro de
animação produzido atualmente, um teatro bastante
heterogêneo. (BELTRAME, 2002:3)

A CORTINA DA BABÁ - De Sombra (Chinesa) / De Sombra (Ocidental) / De Sombra (de


Mão)
O BONECO NO IMAGINÁRIO
Um boneco brinca. Um boneco conta. Um boneco
imagina.

Giramundo -Aventuras de Alice no País das Maravilhas. 2015


Um boneco são muitos:
“sério ou cômico, paródia
ou símbolo, concreto ou
abstrato, o boneco é uma
analogia” (AMARAL,
1996, p. 75).
O boneco é um
sujeito de ação
ficcional; inanimado,
é um objeto;
manipulado, torna-se
personagem.
Como o boneco é ação, atuação e interpretação;
protagonista e coadjuvante das reações a que pode
estar relacionado e, ainda, um objeto – concreto ou
virtual -, ele projeta, por meio de analogias e metáforas
narrativas, a sua imagem.
Há uma necessidade de
reconhecimento nas
personalidades
simuladas dos bonecos,
de ver algo que nos
aproxime deles e, que
nessa similitude,
tenhamos a sensação
de estarmos ali
espelhados.
História do teatro de Bonecos

Muitos tipos de marionetes foram desenvolvidas em regiões


diferentes do mundo, e algumas ainda são praticadas até hoje.
• Os bonecos figuram entre as mais antigas
manifestações da performance e do teatro,
classificados entre os performing objects, as
imagens do homem, do animal ou de espíritos
criados, apresentados ou manipulados em
narrativas ou espetáculos dramáticos. (BUENO,
2014)
• Para o homem primitivo,
“a comunicação entre
diferentes manifestações
de vida, entre o mundo
vegetal e o mundo
animal, não era nenhum
fenômeno estranho”
(AMARAL, 1996, p. 27).

VENUS OF WILLENDORF
c. 24,000-22,000 a.c.
• As performances teatrais
com o uso de bonecos
remontam dos ritos
religiosos e culturais do
Egito, Grécia e Roma, na
“personificação dos
deuses e dos espíritos sob
uma forma animal”
(HUIZINGA, 2007, p. 156).

Bonecas do egito antigo, 670 A.C.


China

A China tem uma história do teatro de bonecos que


remonta 2000 anos, originalmente no ”xi pi-ying”
(significa sombras de couros), ou " teatro das sombras
da lanterna ", ou, como é mais conhecido hoje, teatro
de sombras chinês .
• Teatro de Sombras
originou durante a
dinastia Han (206 aC-220
dC), quando uma das
concubinas de Wu de
Han morreu de uma
doença. O imperador
ficou devastado, e
perdeu a vontade de
governar.

Retrato tradicional de Wu de Han de


um livro chinês antigo.
Os empregados fizeram
uma forma da
concubina usando couro
de burro. Suas
articulações foram
animadas usando 11
peças separadas do
couro, e adornados
como roupas pintadas.
Usando uma lâmpada
de óleo eles fizeram o
movimento de sombra,
trazendo-a de volta à
vida.
India
Filósofos hindus antigos
fizeram o maior tributo aos
marionetistas.

Eles compararam Deus


Todo-Poderoso a um titereiro e
todo o universo a um palco de
marionetes.

Srimad Bhagavata (1200-1000


a. C. até 1200-1300), descreve
a história do Senhor Krishna
em sua infância a dizer que,
Deus manipula cada objeto e o
universo como uma marionete.
Em sânscrito terminologia Puttalika e Puttika significa
"pequenos filhos “. A raiz da palavra Puppet é derivada da
palavra latina "Pupa" que significa uma boneca.

A Índia é considerada a casa dos fantoches. A primeira


referência à arte do teatro de bonecos é encontrado em
Tamil no clássico "Silappadikaaram” escrito por volta do 1º
ou 2º século a.C .
• Os bonecos de corda
de Orissa são
conhecidos como
Kundhei. Feito de
madeira clara, os
bonecos de Orissa não
têm pernas, mas
longas saias. Eles têm
menos articulações e
são, portanto, mais
versáteis, fácil de
manipular e articular.
Kundhei, Orissa
Gombeyatta, Karnataka

Os bonecos de corda de Karnataka são chamados Gombeyatta.


Eles são decorados e concebidos como os personagens de
Yakshagana, a forma de teatro tradicional da região. Os
números de marionetes Gombeyatta são altamente estilizados
e tem articulações nas pernas, ombros, cotovelos, quadris e
joelhos. Estes bonecos são manipulados por cinco a sete cordas
amarradas a um adereço.
• Bonecos de Tamil
Nadu, conhecido
como Bommalattam
combina as técnicas
de haste e bonecos de
corda. Eles são feitos
de madeira e as
cordas de
manipulação estão
ligadas a um anel de
ferro.
Teatro de
Sombras

A Índia tem a mais rica variedade de tipos e estilos de


bonecos de sombra. O bonecos de sombra são figuras
planas. Eles são cortados para fora de couro, que foi
tratado para se tornar translúcido. O boneco é colocado
atrás da tela com uma fonte de luz por trás dele.
A manipulação entre a luz e a tela fazem
silhuetas ou sombras coloridas.
Os bonecos no entanto diferem em tamanho de acordo com o seu
estatuto social, por exemplo, o tamanho grande para reis e
personagens religiosos e tamanho menor para as pessoas comuns ou
servos.
Tholu Bommalata, Andhra
Pradesh

Tholu Bommalata, teatro de sombras de Andhra


Pradesh tem uma rica tradição. Os bonecos são
grandes em tamanho e tem a cintura, ombros,
cotovelos e joelhos articulados. Eles são coloridos
em ambos os lados.
Ravanachhaya, Orissa

O mais teatral excitante é o Ravanachhaya de Orissa. Os


bonecos estão em uma peça e não têm articulações.
Eles não são coloridos, daí lançar sombras opacas na
tela. A manipulação exige grande destreza, já que não
há articulações.
Egito
I. Bonecos articulados de barro e marfim eram
controlados com fio, também foram encontrados
em túmulos egípcios.

II. Hieróglifos também descrevem 'estátuas de


passeio” sendo usado em dramas religiosos.

III. O registro escrito mais antigo do teatro de bonecos


podem ser encontrados em Xenophon cerca de
(422 aC)
Boneco manipulável do antigo Egito
Grécia e Roma

Por volta do século 5 a.C.,


os bonecos aparecem nas
farsas mímicas gregas,
que tinham uma temática
mundana, sem uma
necessária evocação aos
deuses, nas quais se
apresentavam marionetes
que imitavam os atores
das peças.
Bonecos de terracota -5ª / 4ª século
Grécia Antiga, Museu Arqueológico
Nacional de Atenas
Na Grécia antiga, Aristóteles e Platão fizeram
referência ao teatro de marionetes.
Texto: A alegoria da caverna – A República (514-517
a.C.)

• Sócrates: “ Entre os prisioneiros e o fogo, há


um caminho que sobe. Imagine que esse
caminho é cortado por um pequeno muro,
semelhante ao tapume que os exibidores de
marionetes dispõem entre eles e o público,
acima do qual manobram as marionetes e
apresentam o espetáculo.”
Boneca de terracota articulado. Roma
Boneca de barro articulado. Grécia (IV Bonecos de terracota fantoches gregos
a.C.) antigos, 5ª / 4ª século a C, Museu
Arqueológico Nacional de Atenas
Boneca de argila. Atenas; ca. 350 a.C
Boneca articulada Roma. Século II
Karagiozis ou
Karaghiozis
• Karagiozis ou
Karaghiozis é um tipo
boneco de sombra e
personagem fictício
do grego folclore,
originário da Turquia.
Século XIX.
Cobra

Kopritis

Karagiozis Veziropoula
Japão

omozukai e seus dois assistentes.

No Japão, a tradição Bunraku profundamente


sofisticada evoluiu a partir de ritos praticados em
templos xintoístas. Também conhecido como Ningyo
Joruri é uma forma de tradicional japonesa de
fantoche, fundado em Osaka em 1684.
Kyoto Bunraku (Puppet Theater)

Os marionetistas se vestem todo de preto para tornar se


invisíveis, enquanto as tochas iluminam apenas os
bonecos de madeira.
A variedade de cabeças de marionetes que são
usados para diferentes personagens.
Bibliografia
AMARAL, Ana Maria. Teatro de Animação. São Paulo: Atelie
Editorial, 2007.
AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas: máscaras,
bonecos e objetos. São Paulo: EDUSP, 1996.
BELTRAME, Valmor. Animar o Inanimado: A Formação
Profissional do Ator no Teatro de Bonecos. São Paulo:
ECA/USP, 2001. Tese de Doutoramento. Universidade de São
Paulo.
BUENO, Yara Marina Baungarten Imagens marionetáveis: o
boneco nos cruzamentos da arte e da comunicação. / Yara
Marina Baungarten Bueno. – Porto Alegre, 2014.

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