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Rômulo Monteiro
A Volta de Cristo é o grande evento esperado pelo povo de Deus. No seu último
contato com os discípulos, esses ouviram dos anjos: “Varões galileus, por que estais
olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo
como o vistes subir”. (At. 1:11). Desde então, os seguidores de Cristo o esperam.
Há, entretanto, muitos eventos esperados e/ou relacionados à volta prometida. A
Bíblia fala de uma Grande Tribulação, um reino milenar, ressurreições e julgamentos. É
exatamente aqui que se dá início às divergências entre os cristãos. Os desacordos são
quanto ao tempo dos eventos (presente, passado e futuro), o encadeamento cronológico
e a sua relação com a Vinda do Senhor Jesus.
Este trabalho focalizará a relação da Tribulação com a Volta de Cristo. Como o
Arrebatamento é uma discussão entre pré-milenistas (históricos ou dispensacionalistas),
o trabalho não visa a desenvolver questões como o Milênio, seu caráter proléptico e/ou
terreno; antes, todos são temas pressupostos (versus amilenistas, pós-milenistas e
preteristas). Apresentaremos as três visões mais conhecidas: Pré-tribulacionismo
(doravante, PR.T), Mid-tribulacionismo (doravante, MD.T) e o Pós-tribulacionismo
(doravante, PO.T). Todas serão expostas e submetidas a uma análise crítica.
2 PERSPECTIVAS.
2.1 Pré-Tribulacionismo.
Como a própria alcunha revela, essa visão assegura que a Vinda de Cristo se
dará antes da Tribulação.
Seguem seus pressupostos gerais: 1) A Tribulação: 1.1) é um período exato de
sete anos referente à Septuagésima Semana de Daniel 9.27; 1.2) Um tempo sem igual
em toda a história da humanidade e 1.3) futuro; 2) A vinda de Cristo é iminente. Por
“iminente” entenda-se que ela deve acontecer a qualquer momento. 3) Distinção entre
Israel e a Igreja[1].
A terminologia “pré-tribulacionismo” é limitada, pois todos os representantes
dessa visão entendem que a Vinda de Cristo não somente se dará antes da Tribulação,
mas antes e depois.
A Vinda de Cristo em duas fases é a explicação dos seus defensores para
a incompatibilidade entre: 1) sinais que antecedem a Vinda, 2) a exatidão dos sete anos
(fazendo da vinda de Cristo algo possível de se calcular) e 3) a iminência.
Um dos seus representantes apresenta a questão em forma de pergunta:
A linguagem bíblica ensina que o Senhor pode retornar para sua igreja a qualquer momento, ou
ensina que o retorno do Senhor para sua igreja será precedido pelo cumprimento de certos eventos
previstos tais como a revelação do homem da iniquidade, a grande tribulação e assim por diante?[2]
O PR.T entende que a falha em não reconhecer a distinção de uma vinda
iminente e outra precedida por sinais é acusar o Espírito Santo de contradição[3]. A
perspectiva pretribulacional entende fornecer a únicaexplicação que soluciona
a tensão entre esses dois fatos incompatíveis (sinais e iminência). John McArthur Jr.
assegura que:
[…] esse é o único cenário [a Grande Tribulação entre duas vindas] que concilia a iminência da
vinda de Cristo para os seus santos com os sinais ainda não cumpridos que sinaliza (sic) seu retorno
glorioso final com os santos[4].
2.2 Mid-tribulacionismo.
Como o próprio nome sugere, essa visão assegura que a Igreja passará por
metade da Septuagésima Semana de Daniel. Compartilha com o PO.T a crença de que o
público de Mateus 24 (e paralelos) é composto dos santos no sentido usual da Igreja de
Cristo, bem como a distinção entre Ira de Deus e Tribulação. Com o PR.T partilha a
ideia de uma vinda em duas fases, bem como a exatidão cronológica e o caráter
proléptico dos sete anos.
Erickson apresenta os dois argumentos usados pelo MD.T para reforçar que o
alvo de Mateus 24 (e paralelos) é a Igreja e não os judeus somente:
1. Os Evangelhos segundo Mateus e Marcos foram escritos algum tempo depois de as epístolas
terem sido escritas e circuladas. O vocabulário de Paulo e o significado que dava às palavras seriam,
portanto, familiares aos crentes daqueles dias. É razoável esperar que, se o Senhor tivesse desejado
dizer por “escolhidos” algo diferente daquilo que Paulo queria dizer com a palavra em passagens
como Romanos 8.33, então Mateus e Marcos teriam dado alguma indicação do fato, para evitar
confusão […].
2. [Jesus] Tinha o hábito de acoplar referências aos apóstolos e à igreja inteira, como na grande
comissão (Mt 28.18-20), na oração sacerdotal (Jo 17, especialmente o versículo 20) […] quando
Jesus anunciou, em Mateus 24.15ss, a destruição vindoura de Jerusalém, falou primeiramente na
segunda pessoa (“quando, pois, virdes”) e depois, na terceira pessoa. Referiu-se aos judeus como
“eles” e não como “vós”[14].
Tanto o MD.T quanto o PO.T entendem que a Ira do Senhor é distinta da
Tribulação, mas ainda a ela relacionada. Na Tribulação temos a ira de Satanás, do
Homem da iniquidade e do Anticristo contra o povo de Deus, enquanto que a Ira de
Deus é o aspecto condenatório do Dia do Senhor cujo terminus a quo se dará
no meio da Tribulação.
As razões para se entender que o Arrebatamento deve acontecer no meio da
Tribulação são as seguintes: 1) A quebra do pacto pelo Anticristo se dará no meio da
Septuagésima Semana (Dn. 9.27) iniciando o derramar da Ira de Deus da qual seu povo
não tem parte; 2) O Arrebatamento acontece no tocar da última trombeta (Ap. 11.15).
Ela marca o início da Ira de Deus, do galardão para os mortos justos (Ap. 11.18) e se
dará no meio da Tribulação.
Erickson nos esclarece que a terminologia “mesotribulacionista” ou “mid-
tribulacionistas” não tem origem em seus defensores. Eles costumam se auto intitular
pré-tribulacionistas ou pós-tribulacionistas[15].
2.3 Pós-Tribulacionismo.
O aspecto principal dessa visão é que a Igreja não será retirada do mundo antes
da Tribulação. Diferente das visões apresentadas acima, seus adeptos não estão certos
quanto ao tempo da Tribulação. Alguns entendem que os sete anos da Septuagésima
Semana, apesar de, a princípio serem literais, serão “abreviados” (Mt. 24.22); outros
creem que a Tribulação é uma marca de toda a história da Igreja, não limitada, portanto,
aos sete anos de Daniel. Essa última conclusão pressupõe que a Septuagésima Semana
de Daniel já foi cumprida.
Como o MD.T, o PO.T defende uma distinção entre a Ira de Deus e a
Tribulação. Tribulação é a ira de Satanás, do Anticristo e dos ímpios contra os santos,
enquanto que a Ira de Deus é o aspecto condenatório do Dia do Senhor. Quanto ao
tempo em que se dará esse Dia, Gundry assegura que “[…] não cobre toda a
septuagésima semana, provavelmente nem mesmo sua última parte, mas concentra-se
no fim”[16].
Três textos são usados para se entender a relação entre a Tribulação e o Dia do
Senhor. São eles: 1 Tessalonicenses 5.2; 2 Tessalonicenses 2.2 e Atos 2.20.
Em 2 Tessalonicenses Paulo distingue o Dia do Senhor de eventos relacionados
à Grande Tribulação. Ele assegura ser necessário que “primeiro venha a apostasia e seja
revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição” (2Ts. 2:3). Não se afirma que os
principais eventos do Dia do Senhor ainda não haviam acontecido[17], mas que
eram necessárias algumas coisas acontecerem antes (prw/ton no v.3) do Dia do Senhor.
Atos 2.20 afasta o Dia do Senhor para o término da Tribulação ao afirmar
que antes (pri,n) do Dia do Senhor o “sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue”.
Sabemos que a vinda de Cristo é antecipada exatamente por esses sinais, que por sua
vez, seguem a Tribulação. Mateus 24.29 diz: “Logo em seguida (meta,) à tribulação
daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do
firmamento, e os poderes dos céus serão abalados”.
Em Atos, o Dia do Senhor segue os ‘mesmos sinais que
antecedem imediatamente a Vinda do Senhor em Mateus 24.30. Em 2 Tessalonicenses
2, o Dia do Senhor é uma referência ao nosso encontro com Ele e à Sua vinda (2.1).
Assim, o terminus a quo do Dia do Senhor é a própria Vinda de Cristo postribulacional
para lamento dos ímpios e salvação e ajuntamento dos santos. A sequência cronológica,
portanto, é a seguinte: Tribulação, sinais celestiais e o Dia do Senhor. Assim, conclui-se
que a Tribulação não é o mesmo que o Dia do Senhor.
O PO.T entende não haver qualquer interlúdio entre o Arrebatamento e a
Segunda Vinda. Diferente das outras visões, em que a Vinda de Cristo acontece em
duas etapas permitindo morte entre elas e exigindo três ressurreições, o PO.T preza por
duas ressurreições como descritas em Apocalipse 20.4-6.
Um texto em especial é usado tanto pelo PO.T quanto pelo PR.T: Apocalipse
3.10. Todos concordam que o texto promete proteção de Deus para seu povo no tocante
à Tribulação. O desacordo fica por conta da natureza dessa proteção. A preposição evk é
parte fundamental em toda a discussão.
A argumentação PO.T é a de que a semântica “posição fora” (defendida pelo
PR.T) não se sustenta. Entendem que o texto deve ser apreendido não somente por um
viés gramatical, mas contextual, envolvendo a declaração à luz de todo o
livro. Argumentam que em todo livro de Apocalipse os “santos”, diferente dos que
“habitam sobre a terra”, são guardados da sedução (tentação) e do engano (plana,w) de
adorar a besta (13.8, 12, 14; 17.8) e não são atormentados pelas duas testemunhas
(11.10). Deus, pois, guarda os seus da sedução e não da exposição à sedução. A
promessa de Apocalipse 3.10, pois, não envolve retirada física do sofrimento. Não se é
guardado da tentação estando fora dela, mas nela.
O conceito de iminência não segue os termos do PR.T, com se Cristo viesse a
qualquer momento, mas entende-se que tal evento está pendente. Sobre a relação entre
os sinais e a iminência da Volta de Cristo, o PO.T vê a alegada tensão como aparente e
que ela está diretamente ligada ao entendimento do propósito e natureza dos sinais e da
vigilância exigida dos santos.
O PO.T reconhece que, caso a Volta de Cristo se dê a qualquer
momento [definição pretribulacional de iminência], teremos sim, uma tensão que poderá
nos levar a contradição, fazendo da Vinda em duas fases uma solução, senão exigida,
pelo menos provável. Por outro lado, revela que a tensão não é fruto de um confronto
entre textos de contextos distintos como se tivéssemos, de um lado, textos que trazem
sinais e, de outro, textos que enfatizam a ignorância da Vinda do Senhor. O Sermão
Escatológico de Cristo apresenta tanto a iminência quanto ossinais unidos em um
mesmo contexto. Contexto este em que o próprio Senhor Jesus diz “ninguém conhece o
dia nem a hora”. “Todos os intérpretes, quer creiam que o discurso é dirigido à Igreja
ou a Israel, enfrentam a dificuldade de explicar como um evento apresentado por sinais
específicos pode ainda ser um dos quais se diz: ‘ninguém sabe o dia e a hora’”[18].
A relação entre Jesus e Paulo também é um elemento importante para o PO.T.
Diferente da afirmação PR.T de que o Arrebatamento é uma novidade dentro do
progresso da revelação e que no Sermão Escatológico de Cristo temos somente a
segunda fase da Segunda Vinda, o PO.T assegura que as similaridades entre Paulo e o
Senhor Jesus sugerem que não há novidade no registro paulino.
Primeiro, a declaração de Paulo “ainda vos declaramos, por palavra do Senhor”
(v.14) nos faz pensar que ele é dependente do ensino de Cristo em suas argumentações.
Segundo, temos os elementos comuns entre os dois[19]: som da trombeta (1Ts. 4.16
comp. Mt. 24.31), presença dos anjos (1Ts. 4.16; 2Ts. 1.7 comp. Mt. 24.31), a vinda do
Senhor Jesus Cristo do céu (1Ts. 4.16; 2Ts. 1.7 comp. Mt. 24.30), as nuvens (1Ts. 4.17
comp. Mt. 24.30), encontro (avpa,nthsij) com o Senhor (1Ts 4.17; Mt. 25.6), a
ignorância dos “tempos e horas” (1Ts. 5.1) e “daquela hora” (24.36) com a locução
preposicional peri, de,, a vinda como um ladrão (1Ts. 5.2 comp. Mt. 24.43), a repentina
destruição (1Ts. 5.3 comp. com os dias de Noé (Mt. 24.39), a expressão princípio das
dores (Mt. 24.8) e as dores de uma mulher grávida (1Ts. 5.3), a ordem de vigiar (1Ts.
5.6, 7 comp. Mt. 24.42), o perigo de ser encontrado dormindo (kaqeu,dw – 1Ts. 5.6
comp. Mc. 13.36), ajuntamento dos santos (1Ts. 4.13-18 comp. Mt. 24.31).
3 ANÁLISE CRÍTICA
3.1 Pré-tribulacionismo.
[…] ao checar as mais de novecentas ocorrências de evk no Novo Testamento, não encontraria
nenhuma que provavelmente tem esse significado [posição fora]. De acordo com essa conclusão está
o fato de que nenhum dos maiores léxicos do Novo Testamento apresenta “posição fora” como
definição de evk. O que alguns dos exemplos citados por Townsend e Feinberg mostram é
que evk pode significar separação de algo com quem nunca teve um envolvimento anterior. […] em
cada uma dessas[26] o objeto de evkdenota a coisa ou pessoa da qual alguém é protegido, não a
esfera fora da qual se é protegido[27].
Afirmar que o Dia do Senhor vem como um ladrão não é o mesmo que assegurar
que ele vem sem aviso prévio[28]. Alguns entendendo que o Dia do Senhor vem quando
as pessoas estiverem em “paz e segurança” (1Ts. 5.3), supõem que sua Vinda coincide
com o início a Tribulação – sem aviso prévio.
Há duas razões para rejeição de tal conclusão: 1) A própria natureza do Dia do
Senhor. Esse dia é marcado por sinais que o antecedem (cf. At. 2.20; 2 Ts. 2). 2)
Gundry[29] nos alerta que Paulo não está descrevendo como realmente serão os dias,
mas revela o querer e a expectativa das pessoas. Elas “andarão dizendo” como nos dias
de Jeremias: “Paz...paz” (Jr. 6.14; 8.11).
O texto, na verdade, fala indiretamente de sinais. O ponto é que o ser humano
não vai dar atenção, pelo contrário, pronunciará a paz a despeito dos sinais. O Senhor
virá como um ladrão devido à cegueira dos que vivem nas trevas. Nas palavras de
Paulo: “não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa”.
Consideremos as palavras gregas usadas
para espera/expectativa e proximidade de Cristo. Nenhuma delas exige iminência nos
termos do PR.T.
1. prosde,comai, “esperar” (Lc. 12.36; Tt. 2.13). A mesma palavra é usada para descrever
as ressurreições dos justos e injustos em Atos 24.15 com um intervalo de um milênio
entre elas (Ap. 20).
2. avpekde,comai, “aguardar”, “esperar ansiosamente” (1Co. 1.7). “A palavra não pode
implicar iminência em Romanos 8.19, porque lá Paulo escreve que a criação física
espera ardentemente a revelação dos filhos de Deus”[30]. Pedro usa o mesmo vocábulo
para se referir à longanimidade de Deus no contexto do dilúvio (1Pe. 3.20). Claramente
o dilúvio não foi iminente. A arca deveria ser construída antes.
3. evkde,comai, “aguardar”, “esperar”. Em Tiago 5.7 a analogia do agricultor, usada pelo
irmão do Senhor, que espera com paciência (makroqume,w) descarta a ideia de uma
vinda a qualquer momento. Nas palavras de Gundry, “Dificilmente podemos encontrar
um uso tão anti-iminente”[31].
4. prosdoka,w, “esperar”(Mt. 24.50; Lc. 12.46). É a mesma palavra usada por Pedro em
sua segunda carta para espera dos novos céus e nova terra (3.12).
5. nh,fw, “ser sóbrio”, “livre de excesso”, “domínio próprio”(1Ts. 5.6, 8; 1Pe. 1.13; 4.7).
Não é o mesmo que vigiar, mas ter um caráter e uma mente sóbria.
6. evggu,j, “próximo”, seus cognatos e a expressão “está à porta”. Em Filipenses 4.5 a
expressão “o Senhor está próximo” pode se referir à proximidade de Deus enquanto Seu
cuidado providencial. Caso tenhamos uma referência à Segunda Vinda, a ausência dos
sinais se dá simplesmente porque não é o propósito de Paulo apresentar detalhes
escatológicos. Em Mateus 24.33 e Marcos 13.29 a proximidade se dá depoisdos sinais
referidos pelo Senhor. evggu,j é usada para descrever a proximidade das festas judaicas
(Jo. 2.13; 6.4; 7.2; 11.55) e sua forma verbal se relaciona ao fim de todas as coisas (1Pe.
4.7). A proximidade da vinda de Cristo, pois, não implica em iminência.
A distinção rígida entre Israel e Igreja não somente nos deixa sem muitas
respostas como traz muitas complicações. Primeiro, na relação promessa-cumprimento.
A promessa do derramar do Espírito foi dada originalmente a Israel; no entanto,
cumprida na Igreja. O mesmo se pode dizer sobre a Nova Aliança.
Segundo, quanto à iminência. Segundo o PR.T, a iminência da Volta de Cristo é
direcionada à Igreja. Porém, muitas referências à iminência se encontram no sermão
profético do Senhor Jesus que, para os pré-tribulacionistas, é direcionada
exclusivamente aos judeus.
Terceiro, a função de Apocalipse. Por que Apocalipse é um testemunho para a
igreja (22.16) se ela não está envolvida nisso?
3.1.2.4 Omissões.
3.1.2.5 As Inconsistências.
3.2 Mid-tribulacionimo.
Em primeiro lugar, uma vinda em duas fases não é clara nas Escrituras. 2
Tessalonicenses 2 alista dois eventos que antecedem a Vinda de Cristo: a apostasia e o
homem da iniquidade. É de grande importância que tais eventos são marcantes
na última metade da Tribulação. O MD.T tem dificuldades aqui visto que, segundo sua
visão, a Igreja é poupada no meio da tribulação. Se os eventos alistados por Paulo aos
Tessalonicenses, bem como tudo revelado pelo apóstolo João no livro de Apocalipse,
não poderiam ser observados, seriam informações somente de “interesse
acadêmico”[43], o que não é o caso.
3.3 Pós-Tribulacionismo.
O que fica claro no sermão é que sinais não diminuem nossa ignorância quanto à
Volta de Cristo. Isso revela que os sinais não objetivam o
conhecimento específico e exato do evento. “Sinais não enfraquecem a expectativa, eles
estimulam”[46].
É interessante que a palavra ‘ira’ é usada exclusivamente no Novo Testamento para se referir ao
julgamento final de Deus sobre os ímpios, e, portanto, nunca é usado para se referir a crentes, cuja
porção presente é tribulação/sofrimento. Assim o foco aqui não está glória final dos crentes
tessalonicenses, mas na destruição final dos seus oponentes […][47].
Mas não é assim na Tribulação descrita no livro de Apocalipse. João revela que
a partir do romper dos selos e o tocar das trombetas Deus não visa à condenação, mas
o arrependimento daqueles que são alvos de seus castigos. Não se pode, pois, entender
que a Tribulação seja um período de condenação e/ ou ira somente. Há clara
manifestação da misericórdia de Deus. Além disso, “nem todos os eventos são
iniciativas diretas de Deus”[48].
Os julgamentos e a ira de Deus em Apocalipse são seletivos. Todos concordam
que os santos da Tribulação (seja Israel ou a Igreja) serão protegidos da ira do Senhor.
Ou seja, estarão na tribulação, mas não sofrerão a Ira de Deus. Segundo Gundry:
“[…] uma análise […] mostra que qumo,j atinge somente os ímpios (14.8 – A Babilônia; 14.10 –
adoradores da besta; 14.19 – os exércitos no Armagedom; 15.1, 7; 16.1, 19 – os que habitam sobre a
terra; 18.3 – os que se prostituíram com a Babilônia; 19.15 – os exércitos no Armagedom) […]
A ovrgh,divina cai somente sobre os ímpios (Ap. 6.16, 17; 14.10; 16.19; 19.15)[49].
Em Apocalipse 18.4 temos: “Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela,
povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos
seus flagelos”.
Não há dúvidas de que a Ira Vindoura é derramada na Tribulação,
mas igualar uma com a outra é um passo que Apocalipse não nos permite dar. A
seletividade na aplicação da Ira do Senhor no período da Tribulação, portanto, nos
impede de igualar Ira e Tribulação.
Por último, a Tribulação antecede ao Dia do Senhor. Como vimos, o Dia do
Senhor é um dia tanto de salvação quanto de condenação. Tanto a Vinda do Senhor
quanto o derramar da Sua ira se darão no final da Tribulação. Assim, a vinda do Senhor
é o aspecto salvador do Dia do Senhor assim como a Ira, seu aspecto condenatório.
Quanto ao Dia do Senhor e sua relação com a Ira e a Tribulação, a argumentação sobre
o terminus a quo do Dia do Senhor tem mais amparo direto dos textos (cf. 2.3: 3-5§).
3.3.2 Pontos Negativos.
Primeiro, essa escola não demonstra uma preocupação pelos detalhes bem como
deixa muitas perguntas sem resposta. Por exemplo, os que defendem a Tribulação como
sendo a Septuagésima Semana de Daniel, precisam desenvolver melhor o tempo da
última semana e sua relação com a expressão usada por Cristo sobre esses dias –
“abreviados” (Mt. 24.22). Haveria Deus mudado? Primeiramente ele estabeleceu sete
anos e depois “abreviou”. Não seria uma contradição em Deus?
Por outro lado, para aqueles que entendem que o período da Igreja é todo
marcado por tribulação, há a necessidade de explicar melhor a Septuagésima Semana de
Daniel.
Segundo, o PO.T também luta com o Milênio (terreno e não necessariamente
literal em seu número de anos). Reconhece-se que haverá habitantes com corpos não
transformados no Milênio. Há algumas questões que são respondidas com dificuldade:
De onde vem esse grupo? Se eles irão ressuscitar no final, isso implica em condenação,
já que eles farão parte da segunda ressurreição?
4 CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARCHER, Gleason L. Three Views on the Rapture: pre-, mid- or post-tribulation. Grand
Rapids: Zondervan, 1996.
BERKHOF, Systematic Theology. Grand Rapids: Eerdmans, 1982.
BRUCE, F. F. Paulo, O Apóstolo da Graça. São Paulo: Shedd, 2003.
CARSON, D. A. Mathews em The Expositor´s Bible Commentary. Grand Rapids:
Zondervan, 1984.
CERFAUX, L. O Cristão na Teologia de Paulo. São Paulo: Paulus & Teológica, 2003.
______, Cristo na Teologia de Paulo. São Paulo: Paulus & Teológica, 2003.
EDGAR, Thomas R. Robert H. Gundry and Revelation 3:10. Grace Theological
Journal, 3.1, 1982.
______, Will the Church Pass Through the Tribulation? Part 2. Bibliotheca
Sacra 92.366, 1935.
______, Will the Church Pass Through the Tribulation? Part 3. Bibliotheca
Sacra 92.367, 1935.
[1] Uma insignificante parcela dos pré-tribulacionistas não lança mão desse pressuposto.
[2] RADMACHER, Earl D. The Imminent Return of the Lord. Em WILLIS, Wesley R. MASTER,
John R. Issues in Dispensationalism. Chicago: Moody Press, 1994, p. 249 [itálico nosso].
[3] Ibid., p. 254.
[4] MACARTHUR, John. A Segunda Vinda de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 87.
[5] PENTECOST, Manual de Escatologia. São Paulo: Vida, 1999, p. 227.
[6] WOOD, Leon J. A Bíblia e os Eventos Futuros. São Paulo: Candeia, 1993, p. 57.
[7] WALVOORD, John F. The Blessed Hope and the Tribulation: A Biblical and Historical Study of
Postribulacionism. Grand Rapids: Zondervan, 1976, p. 50.
[8] ERICKSON, Escatologia: a polêmica em torno do milênio. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 174.
[9] FEINBERG, Paul. The Case for Posttribulation Rapture Position, em ARCHER, Gleason
(ed.) Three Views on the Rapture.Grand Rapids: Zondervan, 1984, p. 63.
[10] PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo: Vida, 1999, p. 228.
[11] WOOD, Leon. A Bíblia e os Eventos Futuros. p. 97.
[12] WALVOORD, John. F. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo: Vida, p. 423.
[13] Outros pré-tribulacionistas entendem que o Dia do Senhor começa com o Arrebatamento/início
da tribulação são: PENTECOST e RYRIE, Charles. The Bible and Tomorrow’s News. Wheaton:
Victor, 1969, p. 143.
[14] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 202-3.
[15] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 208.
[16] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation: a biblical examination of
posttribulationism. Grand Rapids: Zondervan,1973, p. 27-8.
[17] WALVOORD, John. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo: Vida, p. 427.
[18] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. em ARCHER, Gleason
(ed.) Three Views on the Rapture.Grand Rapids: Zondervan, 1984, p 209. (itálico nosso).
[19] Para uma análise dos elementos comuns confira: WATERMAN, G. Henry Waterman. The
Sources of Paul´s Teaching on the 2nd Coming of Christ in 1 and 2 Thessalonians. Journal of the
Evangelical Theological Society. 1975, v. 18.2.
[20] LADD, The Blessed Hope: a biblical study of the second advent and the rapture. Grand Rapids:
Eerdmans, 1956.
[21] FEINBERG, Paul. The Case for Posttribulation Rapture Position, em ARCHER, Gleason. op.
cit., p. 69.
[22] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 59.
[23] FEINBERG, Paul D. op. cit., p. 67.
[24] MOO, Douglas J. Response for Pretribulation, em ARCHER, Gleason. op. cit. p. 94.
[25] Ibid., p. 94, 95 (itálico nosso).
[26] Passagens paralelas citadas acima.
[27] MOO, Douglas J. op. cit., p. 95.
[28] Contra WALVOORD, John. Todas as Profecias da Bíblia. p. 423.
[29] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 92.
[30] Ibid.
[31] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 92.
[32] LADD, George Eldon. The Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956. Kindle edition.
[33] Ibid.
[34] LADD, George Eldon. The Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[35] Ibid.
[36] Pré-tribulacionistas entendem que a pregação do Evangelho está dentro do contexto da Tribulação.
[37] RADMACHER, Earl. The Imminent Return of the Lord. Em WILLIS, Wesley R. MASTER,
John R. Issues in Dispensationalism. p. 257. WALVOORD, John. F. The Rapture Question. Findlay:
Dunham, 1957, p. 150-1.
[38] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. p. 210 [itálico nosso].
[39] LADD, George Eldon. The Blessed Hope.
[40] Ibid.
[41] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. p. 99.
[42] LADD, George Eldon. The Blessed Hope.
[43] LADD, George Eldon. The Blessed Hope. Grand Rapids: Eerdmans, 1956.
[44] ERICKSON, Millard J. Escatologia. p. 197.
[45] GUNDRY, The Church and the Tribulation. p. 42 (itálico nosso).
[46] Ibid., p. 43
[47] FEE, Gordon. The First and Second Letters to the Thessalonians. Grand Rapids:
Eerdmans, 2009, (NICNT), p. 50. [itálico nosso]
[48] MOO, Douglas J. Response for Pretribulation. p. 88.
[49] GUNDRY, Robert H. The Church and the Tribulation. p. 48.
[50] Pós-tribulacionistas não costumam empregar o termo “arrebatamento”.
[51] ERICKSON, Millard J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 156.
[52] MOO, Douglas J. The Case for Posttribulation Rapture Position. p. 183. (itálico nosso).