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Ensino Fundamental - Anos Finais

Conhecimentos Regionais e Cultura local


Componentes Curriculares: História e Geografia

Conhecendo

Marajó - Pará

Arte: J. Tadeu

Prof.ª Dra. Dione Leão

PROJETO
ÓRIA
NOSSA HISTA
NOSS E
IDENTIDAD
HINO DE BREVES
Dos Breves nasceu tua história
Homens de bril, bravos guerreiros
Que com mãos fortes, romperam barreiras
Para te erguer, às margens do rio.
Não foi em vão toda essa audácia
Para que hoje pudéssemos ver
os seus encantos, beleza rara
brilhante nesse imenso Brasil
Breves, nossa terra !
Breves, nosso chão !
Terra bendita, por Deus és querida
Breves, Breves do meu coração!
Dentro do peito, pulsa valente
O meu coração brevense
Lutarei sempre pra te ver melhor
Cidade linda
jóia do Marajó.

Autor: Josamarque Gomes de Souza


Ensino Fundamental - Anos Finais
acordo com
Estudos Regionais De
BASE

a
NACION
AL COM
CURRIC UM
ULAR

HOMOLO
BNCC
GADA EM
LEI Nº 13 20/12/20
.415/201 17
7

Conhecendo

Marajó - Pará

Breves
Projeto Nossa História, Nossa Identidade
Breves-PA – Brasil – 2022
1ª Edição – 1ª Impressão
© Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia da Editora Tocantins,
poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:
eletrônicos, mecânicos, fotográfi cos, gravação ou quaisquer outros.
Direção Editorial: Projeto Gráfico e Design:
César Vinicius Molina Jesiel Barros
Autor(a): Ilustrações:
Prof.ª Dra. Dione Leão Jesiel Barros
Revisão: Editoração Eletrônica:
Ana Cláudia Braga Jesiel Barros

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Breves-PA
Projeto Nossa História, Nossa Identidade

Breves – PA – Brasil – 2022


1ª edição – 1ª impressão
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APRESENTAÇÃO

Sabia que onde moramos conta um pouco sobre cada um de


nós? Pois é, faz parte das experiências, dos hábitos e das
características das pessoas. Quando conhecemos alguém, sempre
temos curiosidade em saber o lugar onde mora, pois essa informação
nos permite identificar seus costumes, o que gosta de fazer, suas
preferências e muito mais.
Aprender sobre o local em que se vive é também descobrir sobre
a própria identidade, pois o lugar de origem é o primeiro espaço em
que ocupamos. Você, por exemplo, tem informações sobre a sua
cidade – memórias, histórias, serviços, cultura, paisagens? A maioria
da população não!

E foi pensando nisso, com o desejo de aproximar as pessoas do


seu município, da sua cidade, da sua identidade individual e, assim,
contribuir para a formação de cidadãos comprometidos, que este livro
foi elaborado.

Está preparado para uma trilha de descobertas e aprendizados


sobre fatos geográficos, históricos, culturais e o “jeitinho” do nosso
povo? Então, vamos nessa!

Bons estudos!
BIOGRAFIA DO AUTOR

Dione do Socorro de Souza Leão


F o r m a ç ã o : G ra d u a ç ã o : L i c e n c i a t u ra e
Bacharelado em História; Especialização:
Estudos Culturais da Amazônia (UFPA); Mestrado:
História Social da Amazônia (UFPA);Doutorado:
Antropologia Social (UFPA).
SUMÁRIO
UNIDADE I
PATRIMÔNIO E IDENTIDADE DE BREVES ........................................,........................................................ 07
Capítulo 1: O Lugar .......................................................................................,......................................................... 08
1.1. Características geográficas .............................................................,....................................................... 08
Capítulo 2: A nossa gente ................................................................................................................................ 16
2.1. A constituição identitária: Indígenas, Negros, Portugueses,
Judeus Marroquinos e Nordestinos .......................................................................................................... 16
Capítulo 3. Alguns aspectos da Cultura ............................................................................................. 50
3.1. Costumes, crenças e tradições ......................................................................................................... 50
3.2 A Culinária brevense .................................................................................................................................. 66
3.3 As artes ............................................................................................................................................................... 69
UNIDADE II
MODOS DE SOBREVIVÊNCIA ......................................................................................................................... 75
Capítulo 4: Práticas econômicas ............................................................................................................... 76
4.1. O negócio da borracha ............................................................................................................................ 76
4.2. O comércio de produtos variados extraídos das florestas ....................................... 82
4.3. O negócio da madeira ............................................................................................................................ 89
4.4. O comércio e os bens de consumo ofertados na cidade ......................................... 98
UNIDADE III
A INFLUÊNCIA DOS CONTATOS E
MOVIMENTAÇÕES GLOBAIS NA REGIÃO DE BREVES ................................................................ 110
Capítulo 5: Migrações internas e externas nas décadas de 1940 a 1980 .......................... 101
5.1. A segunda onda de nordestino .......................................................................................................... 112
5.2. Os patrimônios materiais de portugueses, judeus, nordestinos e
norte-americanos .................................................................................................................................................. 121
5.3. As desigualdes e conflitos sociais ........................................................................................................ 133
UNIDADE IV
OUTROS OLHARES SOBRE BREVES ............................................................................................................ 145
Capítulo 6: Breves no século XIX ............................................................................................................... 146
6.1. Breves e os viajantes ................................................................................................................................ 147
6.2. Breves e o movimento da Cabanagem ..................................................................................... 153
6.3. Evolução populacional de Breves no século XIX ................................................................ 159
6.4. Breves é elevada à categoria de cidade em 1882 ........................................................... 164
Capítulo 7: A cidade no século XX............................................................................................................. 168
7.1. A mudança da sede da cidade para Antônio Lemos ...................................................... 170
7.2. A questão da energia elétrica em Breves .............................................................................. 177
7.3. Relatos que testemunham a história em construção ................................................... 180
7.4. O surgimento dos bairros Cidade Nova, Aeroporto, Castanheira, Riacho Doce e
Santa Cruz (1970-1980).................................................................................................................................. 187
Referências Bibliográficas ............................................................................................................................. 191
UNIDADE I

PATRIMÔNIO E IDENTIDADE DE BREVES


1 O Lugar
1.1. Uma apresentação histórica e geográfica da região

Legenda: Mapa do Arquipélago de Marajó. Fonte: infoescola.com

Conforme observamos no Melgaço, Oeiras do Pará, São


mapa em destaque, o Sebastião da Boa Vista, Gurupá e
Arquipélago de Marajó é formado Portel. E lado oriental ou Marajó
por 17 municípios, pertencente ao dos Campos, destacando-se:
estado do Pará. É dividido em lado Cachoeira do Ararí, Soure,
ocidental, também denominado Salvaterra, Santa Cruz do Arari,
de Marajó das Florestas C h av e s , M u a n á e Po nt a d e
composto por Afuá, Ana jás, Pedras.
Bagre, Breves, Curralinho,

08
1 O Lugar
1.1. Características geográficas
Notem que o município de Quando paramos para
Breves, está localizado no lado pensar nessa problemática,
ocidental do Arquipélago de enfrentada ao longo de toda a
Marajó. Apresenta uma história, entendemos como isso
população de aproximadamente atrapalhou o potencial turístico da
104.280 habitantes (IBGE, 2021), região de Breves e das outras
vivendo em uma área territorial cidades do Marajó Ocidental.
de 9.566,572 km². É o município Nesse sentido, se faz necessário
mais populoso do arquipélago. Por destacar nossas características
esse motivo, apresenta específicas, para que vocês alunos
características históricas, da rede municipal compreendam
geográficas e culturais bem as nossas diferenças geográficas
diferentes do lado oriental. e históricas. E saibam se
Entender essas diferenças é posicionar, quando um equívoco
fundamental para marcar nossa desses acontecer com vocês.
identidade. Ou seja, o nosso Nada mais lindo do que um
entendimento de quem somos. brevense defendendo seu lugar!
Você já deve ter presenciado Concordam?
situações em que há uma Vamos começar pelo clima.
confusão na visão das pessoas, Você sabe qual o clima da região
quando nos apresentamos como de Breves? Quais os meses mais
moradores de Breves no Marajó, quentes e os mais frios? Já ouviu
geralmente perguntam sobre os falar em verão e inverno
búfalos, sobre as praias, sobre os amazônico?
campos, o carimbo. Não é
mesmo? Isto ocorre, pelo fato da
indústria do turismo, ter priorizado
vender nas mídias o Marajó do
lado oriental ou Mara jó dos
campos e explorar timidamente o
lado ocidental, onde vivemos.

09
1 O Lugar
Em Breves, assim como em o entendimento das estações do
todo o Pará, prevalece o clima ano. Ao contrário das outras
equatorial, sofrendo algumas regiões do Brasil que apresentam
alterações, conforme as quatro estações: Outono,
características específicas da primavera, verão e inverno bem
nossa região. Em grande parte do definidas. Na nossa região e em
Arquipélago de Marajó, o u t r a s d a A m az ô n i a , e s s a s
apresenta-se um clima equatorial estações não são muito claras,
quente e úmido, que tem como uma vez que sentimos na
característica principal a realidade a existência apenas de
ocorrência de muita chuva e calor, duas estações: o verão, que inicia
sendo que em grande parte os geralmente em junho e
moradores dessas regiões do permanece até novembro. E o
Estado, tem as rotinas marcadas inverno que vai de dezembro até
pelas tradicionais chuvas da maio.
tarde, especialmente na capital
Belém.
Em Breves, chove ao longo
do ano, em diferentes momentos
do dia, não somente a tarde. O
mês mais chuvoso é março e o
menos chuvoso é setembro. A
temperatura varia de setembro a
dezembro de 33° a 35º, outubro é
o mês mais quente do ano com
máxima de 35°, a maior sensação
térmica já registrada até a
atualidade foi de 42º em 2022.
O clima de Breves, também segue
uma explicação popular, muito
comum em toda a Amazônia para

Foto: Reprodução 10
1 O Lugar
O município de Breves é muito bem localizado geografica-
composto por um conjunto de rios mente, fator determinante para
e braços de rios navegáveis que seu desenvolvimento. Escritos
denominamos estreitos ou furos sobre a região no século XVII,
que ligam as regiões de Breves mencionam o forte comércio
com as demais cidades vizinhas fluvial e as trocas comerciais, os
como Bagre, Melgaço, Portel, contatos entre diferentes grupos
Curralinho até as mais distantes ocorridos às margens do rio
como Belém, Macapá e as Parauaú que margeia a cidade,
cidades do Baixo Amazonas. Por adentrando pelos rios Buiussu,
conta da existência dos estreitos Ta japur u, Jabur u, M a ca c os,
de Breves, o município de Breves é Jacaré Grande, dentre outros.

Legenda: Margem do rio Parauaú. Fonte: https://mapio.net/pic/p-64146104/

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1 O Lugar
Além dos rios, as florestas compõe as florestas de terra
ganham enorme destaque na firme na região d e Breves?
nossa paisagem natural. Na Podemos mencionar as árvores
região de Breves, prevalece a de Acapu, Andiroba, Samaúma,
floresta tropical densa com matas Castanheira, Sucupira, Angelim,
de terra firme e inundada Cedro, Marupá, Inajá, dentre
(várzea). Nas matas de terra firme outras. Sendo que em termos
existe uma enorme variedade de ecológicos apresenta uma grande
árvores que chegam de 30 a 40 influência na regeneração das
metros de altura, formando um espécies arbustivo-arbóreas, que
dossel da floresta, ou seja, uma ficam ao seu redor. Além de
cober tura superior, formada atuarem como barreira física às
pelas copas das árvores. Mas, gotas de chuva, protegendo o solo
quais as espécies de árvores da erosão.

Legenda: Árvore de Samaúma, típica das florestas de terra firme. Fonte: https://www.hypeness.com.br/2020/10/samauma-a-
arvore-rainha-da-amazonia-que-guarda-e-distribui-agua-para-outras-especies/

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1 O Lugar
Relacionado a floresta c o m á g u a d o c e ,
inundada ou de várzea, muito permanentemente ou em épocas
comuns na nossa região, específicas do ano, ficam
apresentam uma grande localizadas ao longo dos cursos
diversidad e d e vegeta ção, dos rios e em torno de lagos e
incluindo o açaizeiro e o igarapés. Existe uma variedade
meritizeiro, abundantes na nossa de árvores nesse bioma que
paisagem natural. Além delas chegam a 10 metros ou mais.
podemos destacar espécies de Dentre as características que a
buçuzeiro, paxiubeira, seringueira, diferenciam das florestas de terra
ucuubeira ou virola, anhinga, firme é que nelas não existem
aturiá, canarana, dentre tantas plantas menores ao redor das
mais. Essas florestas inundam plantas maiores.

Legenda: vegetação de florestas inundadas, árvores de anhinga e canarana no rio Mapuá. Fonte: Dione Leão.

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1 O Lugar

Legenda: floresta alagada, rio Mapuá – Fonte: arquivos Dione Leão

Legenda: Árvores de açaí nas margens do rio. Fonte: Arquivos de Dione Leão.

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1 O Lugar
Atividades
Vamos relembrar o que aprendemos sobre o lugar onde vivemos.

1-Quais os municípios que compõe o arquipélago de Marajó?


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2-Como está dividido o arquipélago de Marajó?
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3-Em qual região do Marajó está localizado o nosso município de
Breves?
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4-Quais as principais diferenças existentes entre o Marajó Ocidental e o
Marajó Oriental?
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5-Relacione os municípios pertencentes ao Marajó Ocidental e Marajó
Oriental.
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Atenção Professor (a): Vamos dividir a turma em 02 (duas) equipes deixando-as


responsáveis por pesquisar as principais características da região do Marajó
ocidental e Marajó oriental para posterior apresentação em sala de aula.

15
2 Nossa Gente

2.1. A constituição identitária: Indígenas, Africanos, Portugueses,


Judeus Marroquinos e Nordestinos.

Os Indígenas
O documento mais antigo de minimizados. Pois remete ao
registro oficial da presença de período de “paz”. Mas, será que
indígenas na região de Breves é a s e m p r e f o i a s s i m ? Va m o s
Carta do padre Antônio Vieira, entender?
dirigida à coroa portuguesa entre Os primeiros contatos de
os dias 22 a 27 de agosto de 1659, indígenas da região de Breves
depois de conseguir um acordo de com os europeus, para ser mais
paz, com chefes das nações específica, foi com os missionários
Nheengaíbas no rio Mapuá, atual da Companhia de Jesus, ordem
espaço rural do nosso município. religiosa que atuava em todo o
A ilustração da capa desse Brasil, representando a coroa
livro é uma releitura do artista portuguesa e a Igreja. O objetivo
plástico Tad eu Vieira d esse da instituição era catequizar os
momento. Nota-se que as índios, ou seja, torná-los cristãos
fisionomias e os gestos tanto de de acordo com a religião oficial de
indígenas como de missionários e Portugal: a católica.
portugueses não demonstram
um conflito, parece indicar mais
uma tentativa de diálogo. As
inimizades, os conflitos estão

16
2 Nossa Gente
To d o o A r q u i p é l a g o d e íbas”. Então, ao contrário do que
Marajó, assim como o restante do muitas pessoas pensam,
Brasil estava incluído dentro Nheengaíbas não era um grupo
dessa política “pacificadora” de de indígenas, mas uma referência
converter os grupos indígenas ao à linguagem. Como não
cristianismo e garantir a compreendiam a multiplicidade
colonização de todos os espaços, de línguas existentes entre os
até mesmo os mais distantes. indígenas, criaram essa denomi-
Acontece que no início esse nação geral para todas as línguas,
encontro não foi pacífico, ao ou seja, simplificaram todas as
contrário foi bastante conflituoso línguas em uma. Porém, o sentido
e violento. Os primeiros de Nheengaíbas entre os
habitantes do Arquipélago de missionários era pejorativo, pois
Marajó, e isso inclui o nosso lado significava “língua má”. Essa
ocidental, não assistiu definição encobriu muitas
passivamente a chegada dos diferenças dos grupos de
europeus, pessoas muito indígenas no Arquipélago de
diferentes deles. Marajó, não somente nos modos
Nesse contexto, é de falar, mas também nos modos
nec essário destacar que os de viver.
grupos indígenas existentes já
eram experientes em guerras
tribais, pois lutavam entre si e com
outros grupos. Dentre esses
grupos que viviam no Arquipélago
de Marajó estavam os Aruãns,
Sacacas, Maruanás, Caiás, Araris,
Anajás, Muanás, Mapuás, Pacajás,
entre outros, denominados pelos
por tugueses de forma
generalizante como “Nheenga-

17 Moradores de comunidades ribeirinhas do arquipélago de Marajó se aproximam do Navio Auxiliar Pará.


2 Nossa Gente
Sobre essa situação suas crônicas do vale amazônico
conflituosa entre portugueses e no século XVIII. Em destaque, um
grupos de indígenas no Marajó de nossos principais rios de
ocidental. Veja o que o padre Breves, o Tajapuru.
Jesuíta João Daniel, destacou em

“Muito deu que fazer esta nação aos portugueses, com quem teve
muitos debates, contendas e guerras. Expediam-se tropas contra eles,
mas os Nheengaíbas, zombavam das tropas, escondendo-se por um
labirinto de ilhas, e de quando e quando dando furiosas investidas, já em
ligeiras canoinhas que com a mesma ligeireza com que de repente
acometiam, com a mesma se retiravam, e por entre as ilhas se
escondiam as balas, e já de terras encobertas com as árvores, donde
expediam chuveiros de flechas e taquaras sobre os passageiros e
navegantes, que além do risco da vida, se viam impedidos a navegar o
Amazonas, para onde não tinham outro caminho senão pelo perigoso
furo do Tajapuru” (João Daniel –Padre Jesiíta)

O Prof. Dr. Agenor Sarraf rios navegáveis da região que


Pacheco, natural do município de levavam para vários lugares como
Melgaço, também destacou em o Baixo amazonas, Macapá e
seus estudos sobre o Marajó, Guiana Francesa.
esses momentos de conflitos que
se alastraram e duraram
aproximadamente vinte anos,
reafirmando as ideias do padre
João Daniel em que os indígenas
da região de Breves impediam a
passagem franca de canoas de
várias localidades do Pará pelos
estreitos de Breves, ou seja pelos
18
2 Nossa Gente
No texto do padre João foi o momento em que se deu a
Daniel, ele destaca também a trégua e a liberação dos estreitos
existência de armas de fogo do de Breves para a livre navegação
lado dos portugueses e de flechas dos portugueses e os
do lado dos indígenas, usadas no missionários se autodenomin-
embate para liberarem o tráfego aram como os grandes
pelos estreitos de Breves, pacificadores dos grupos de
enfatizando a existência de indígenas que habitavam a região.
conflitos e violência. Tr at o u - s e t a m b ém d e u m a
No entanto, retomando ao abertura para a extração de
tratado de paz firmado em 1659 riquezas naturais que estavam
entre os missionários da nesses territórios indígenas como
Companhia de Jesus, represen- a madeira, os minérios, as
tado pelo padre Antônio Vieira sementes, as peles de animais, os
com os grupos indígenas Mapuás óleos vegetais e animais.
que falamos anterior-mente. Este

19 Companhia de Jesus no Brasil. Os jesuítas são voltados para o trabalho voluntário ao


redor do mundo. atuaram do Oriente ao Ocidente
2 Nossa Gente
Outra ação dos missionários serem catequizados e evadiram
foi a cria ção dos primeiros para outros lugares, misturando-
aldeamentos no rio Mapuá logo se a outras populações.
após o processo de “pacificação”. A fotografia a seguir, destaca
Com essa iniciativa, deram início a vila Amélia um dos locais do rio
ao difícil processo de Mapuá, em que a população
catequização, dos indígenas do remete às memórias da presença
Mapuá que decidiram indígena em momentos d e
permanecer nessa região. catequização. A igreja resguarda o
Logicamente, o processo de local da presença de missionários
catequização dos indígenas do na região e no local existe um
Mapuá, não ocorreu de forma cemitério indígena.
total, muitos resistiram para não

Foto: Igreja na comunidade de Vila Amélia no rio Mapuá.

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2 Nossa Gente
Em toda a região do rio comunidade Nossa Senhora do
Mapuá é possível encontrar na Perpétuo Socorro, onde existe
atualidade, vestígios da presença uma igreja com o mesmo nome.
dos grupos indígenas que ali Estes, são os vestígios materiais
viveram, o local mais evidente é o que asseguram a veracidade
cemitério arqueológico, situado na histórica da presença dos grupos
vila Amélia. É muito interessante dos Mapuás como parte
ver em tempos de seca do rio, a integrante da nossa formação
presença de urnas funerárias, étnica.
espalhadas pela propriedade da

Legenda: Vestígios de urnas funerárias na Vila Amélia – rio Mapuá. Fonte: Dione Leão.

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2 Nossa Gente
Os africanos

É possível que os africanos século XVIII, no contexto da Era


tenham sido introduzidos no Pombalina (1755-1778) quando
Arquipélago de Marajó, por volta Marquês de Pombal, incentivou o
de 1644, no século XVII, junto com uso da mão-de-obra escrava
as primeiras cabeças de gado africana, como solução para a
transportadas das Ilhas de Cabo substituição da indígena, por meio
Verde. Mas, a maioria dos estudos do tráfico, realizado pela
apontam dados oficiais, indicando Companhia Geral do Comércio do
a incidência de africanos na Grão-Pará e Maranhão.
Amazônia brasileira por volta do

Fonte: Escravidão no Brasil disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil

A Companhia Geral do Marajó. A pesquisa levantada pelo


C omércio do Grão-Pará e Dr. Agenor Sarraf Pacheco, em
Maranhão, traficou por volta de vários autores da temática,
30.000 africanos para o Grão- apresentou a seguinte
Pará. Foi assim que o comércio de composição populacional, por
escravos se espalhou por todos os volta de 1839 em diferentes
lugares da Amazônia e chegou até lugares do Marajó.
os dois lados do Arquipélago de
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2 Nossa Gente

“Em Muaná dos 3.524 habitantes, 503 eram escravos e 3.021 livres não
identificados; Cachoeira do Arari - 3.463 habitantes, 130 brancos, 531
escravos, 1.362 livres não identificados; Monsarás - 857 habitantes, 88
brancos, 249 escravos, 190 índios, 130 mestiços, 200 livres não
identificados; Monforte - 664 habitantes, 33 brancos. 124 escravos, 367
índios, 140 mestiços; Salvaterra - 497 habitantes, 46 brancos, 31
escravos, 296 índios, 124 mestiços; Soure - 366 habitantes, 26 brancos,
155 escravos, 44 índios, 141 mestiços; Breves – 227 habitantes, 80
escravos, 147 livres não identificados e Melgaço 5.719 habitantes,
distribuídos entre 1.021 brancos, 1.140 escravos, 1.440 índios e 2.118
mestiços” (Baena, 2004, pp. 260-268; 282-284).

Perceberam as referências quando o mesmo menciona que


sobre Breves? A pesquisa aportaram nessa data a um
evidencia que nesse período pequeno povoado no lugar
moravam em Breves 227 d e n o m i n a d o B r ev e s , o qu a l
habitantes, sendo que destes 80 constava alguns moradores,
eram escravos, 147 eram livres sendo esses pardos ou índios.
não identificados, ou seja, não foi Mas, o que isso significa?
definido a etnia. Mas, a presença Podemos levantar a
de escravos está clara. Para hipótese da existência em Breves
reforçar, essa informação em no século XVIII de uma população,
outro contexto que é do século embora pequena, parda. O termo
XVIII é importante destacar a pardo, ainda é usado pelo
parada em Breves, no dia 12 de Instituto Brasileiro de Geografia e
junho de 1786, feita por frei Estatística (IBGE) para referir-se
Caetano Brandão, então Bispo do aos brasileiros com variadas
Grão-Pará, na Era Pombalina, ascendências étnicas.

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2 Nossa Gente
O manual do IBGE, define o povoado dos Breves, que mais
significado atribuído ao termo tarde se tornou a cidade de
como pessoas com uma mistura Breves, compravam os escravos.
de cores de pele, por exemplo: Essa foi uma das formas de
descendentes dos relaciona- introdução de africanos em
mentos entre brancos e pretos, Breves, mas não foi a única. Muitos
brancos com indígenas, pretos chegaram como fugitivos das
com indígenas. Ou seja, já existia fazendas localizadas no Marajó
uma população resultante dos o r i e nt a l , o n d e e x i s t i a m u m
contatos de diferentes grupos número mai or d e escravos,
étnicos. trabalhando nas fazendas de
Essa é uma hipótese muito gado daquela região.
interessante, nos faz refletir no O movimento de fugas de
que somos na atualidade. Não escravos era comum em Soure,
concordam? Gurupá, Chaves, dentre outras.
Vamos pensar em uma outra Por esse motivo, não era de se
situação: como esses africanos estranhar que tivessem fugido
chegaram até a região d e para Breves ou seguido para
Breves? Já vimos que o tráfico de outras direções pelos estreitos de
escravos feito pela Companhia de Breves, até chegar em lugares
Comércio do Maranhão e Grão- mais distantes como Chaves na
Pará, introduziu centenas deles no fronteira Pará/Amapá/Guiana
Pará. Os grupos formados por Francesa ou vice-versa.
grandes e médios produtores
rurais, comerciantes, profissionais
liberais dentre outros, com-
pravam os escravos africanos,
tornando-os suas propriedades.
Em Breves não foi diferente, os
grandes senhores de terras dos
espaços rurais e até mesmo do

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2 Nossa Gente
Essas fugas para esses lugares ou diferentes espa ç os d e ri os,
outros desconhecidos em meios florestas para trabalhar na
as matas e rios, difíceis de serem extração de borracha. Na década
encontrados pelas autoridades de 1960, há registros de
da época, ou pelos donos, sabiam memórias e documentos de um
os grupos sociais com os quais era grupo de pretos residentes na
mais confiável se relacionar e estrada Breves-Arapijó, no lugar
misturavam-se a eles, gerando definido nos documentos
laços mais confiáveis de amizade cartoriais como Colônia, deixando
e solidariedade, sustentaram muitos descendentes entre nós.
suas famílias retirando os bens Desse modo, africanos e
nec essários a sobrevivência seus descendentes, assim como
principalmente da natureza que os indígenas reinventaram novas
os cercava. fo r m a s d e s u b s i s t ê n c i a s e
D e s s a fo r m a , n o l a d o manifestações culturais no
ocidental do Arquipélago de município de Breves, contribuindo
Marajó, onde estamos incluídos, em todos os sentidos com a nossa
assim como em outros locais da rica história.
A m a z ô n i a , fo i r e g i s t r a d o a
existência de mocambos, tipos de
c o mu n i d a d e s fo r m a d a s p o r
pretos, índios, cafuzos e pardos,
geralmente fugitivos. Por volta do
século XVIII foi registrado a
existência de quatro mocambos
no rio Macacos, município de
Breves.
No século XIX e XX, muitos
nordestinos descendentes de
africanos chegaram ao município
de Breves e espalharam-se pelos

25 Foto: Reprodução
2 Nossa Gente
Os portugueses

A forte presença portuguesa


na Amazônia vem desde os
tempos c oloniais, quando a
província do Grão-Pará era
diretamente ligada à C oroa
portuguesa, situação que
somente vai mudar em 1823, com
a adesão do Pará à independên-
cia. Sobre a presença de famílias
portuguesas no município de
Breves, os documentos indicam
1738 como o ano em que os
fundadores de Breves receberam
um lote de terras, deliberado pelo
Capitão José de Nápole Telles de
Menezes e fixaram-se em 1740 no
local às margens do rio Parauaú,
dando iníci o a um pequeno
povoamento nos espaços onde
na atualidade é a cidade.
A primeira geração da Breves, filho de Manoel de Breves,
família Breves tem origem veio para o Brasil beneficiado com
francesa. Porém, os a política das doações de terras
descendentes de Manoel de às famílias de origem portuguesa,
Breves que chegaram aqui não interessadas em ocupar o país.
eram franceses, pois da França
migraram para Açores,
pertencente ao domínio
português. Antônio de Souza

26
2 Nossa Gente
Foi assim que esse ramo da Ângelo Fernandes Breves,
família Breves, vindos de Açores, começando um pequeno
chegou na Serra do Mar e da povoado. Manoel era solteiro e
Mantiqueira em Piraí, São João Ângelo, casado com Inês de
Marcos Itaguaí, Angra dos Reis e Souza. Em suas terras, Manoel fez
locais adjacentes no território do roças e construiu um engenho que
Rio de Janeiro, de onde vieram denominou S antana. C om o
Manoel Maria Fernandes Breves e passar dos anos, outras famílias
Victoriano Fernandes Breves, os se juntaram a eles, aumentando
primeiros a ocuparem as relações de trocas, alianças e
oficialmente a região Nor te. reciprocidades.
Sendo que o primeiro a chegar em
Breves foi Manoel Maria Fernan-
des Breves, em seguida veio

27 Foto: Reprodução do Vídeo ‘‘Breves Cidade Turística do Marajó conheça suas belezas’’. Canal: Rede Marajó
2 Nossa Gente

Após quase um século da doação das terras para os irmãos


Breves, o lugar Santana dos Breves, foi elevado à categoria de
Freguesia. Em 1851, por meio da lei provincial n 200, a freguesia ganhou
status de Vila, e em 1882, a vila dos Breves, se tornou oficialmente a
Cidade de Breves.

Assim, Breves, recebeu os foram casos mais isolados. Os


portugueses com mais documentos cartoriais
intensidade em dois momentos: registraram no período de 1889 a
século XVIII a primeira leva que 1979, a existência de 38 pessoas
foram as famílias Fernandes identificadas como portuguesas,
Breves, os colonizadores oficiais e dos quais foi possível encontrar
no século XIX, pessoas alguns descendentes vivendo na
interessadas em trabalhar no região.
comércio da borracha, o restante

Mas, que famílias eram essas? De que locais de Portugal essas


pessoas vieram? Que espaços que ocuparam no município de Breves?

Em pesquisa realizada nos Lisboa, Nassau, Coimbra, Porto,


documentos cartoriais Aveiro, Melgaço, Castelo Branco,
encontramos as famílias: Oliveira, Doro, Santa Terezinha. Eles se
Silva, Lopes, Barros, Nunes, Horta, espalharam pelos espaços da
Félix, Rocha, Costa, Mattos, Leite, cidade, na área do Centro e para
Barbosa, Rodrigues, S oares, os rios: Ituquara, Oléria, Caruaca,
Saboi, Pimenta, Bacelar, Brito, Macacos, Buissu, rio Socó, rio
declaradamente portuguesas. Parauacá, Jaburu, Mapuá.
Sendo os seus locais de partida:
28
2 Nossa Gente
Sobre os lugares onde Manoel Nunes que veio de
moravam os portugueses no Portugal para morar na região do
município de Breves, Emília Fona rio Oléria.
Nunes, relembrou a casa do avô

O QUE DIZ A NOSSA GENTE?

“A casa do vovô era bonita, era tipo uma casa de campo, toda de madeira de
lei, ela durou muitos anos, mesmo depois de muito tempo que meu avô tinha
morrido ela ficou em pé. Era coberta com telha de barro, um trapiche bem
grande na frente. Na parte de baixo era toda aberta, porque meu avô tinha
coisas de borracha, de arroz, era tipo um depósito, um barracão”
(EmÍlia Fona, 2018).

Nas lembranças de Emília, as propriedades da família Nunes


em detalhamentos sobre a casa foram retiradas das
do avô português, lembrou que documentações cartoriais de
existia um comércio anexado à 1938, quando Manoel Nunes,
casa e o barracão, este último comprou uma casa térrea,
utilizado como depósito dos situada de frente para a praça da
produtos os quais eram matriz e para o rio Parauaú e aos
guardados produtos para serem fu n d o s o v i z i n h o e r a o u t r o
trocados por outros produtos por tuguês Antôni o José d e
necessários à sobrevivência nos Barros. Era uma casa adequada
espaços de rios e floresta, algo para o comércio, toda coberta de
muito comum no comércio da telhas de barro e construída de
região. madeiras de lei, típica das elites
Outras informações sobre locais da época.

29
2 Nossa Gente
Dentre as famílias de origem Eles são d esc end entes d e
portuguesa ainda com Joaquim Nunes Horta. Um dos
representantes vivendo nos primeiros portugueses a constituir
espaços de Breves, podemos moradia nessa região. Segundo
destacar: a família Horta que as memórias da neta Dona Irene
v i v e m at é a at u a l i d a d e n a Horta (já falecida), o avô chegou
margem esquerda do Lago do aos 14 anos de idade, juntamente
Ja c a r é , c o mu n i d a d e N o s s a com o amigo, também português
Senhora de Nazaré, no rio Mapuá. João Pina.

Foto: Dona Irene Horta, Lago do Jacaré, rio Mapuá. Fonte: arquivos de Dione Leão

A partir daí Joaquim Nunes vendendo borracha e demais


Horta e João Pina, começaram a mercadorias de primeira
vida como comerciantes no Lago necessidade na região.
do Jacaré, comprando e

30
2 Nossa Gente
Os documentos car toriais muito bem localizada, composta
indicaram que ele nasceu em 28 por uma serraria, uma padaria,
de setembro de 1864 em Portugal uma casa comercial, uma escola
e morreu em 1948 no rio Mapuá. de ensino fundamental e médio e
Essas informações apontam a a residência da família, construída
chegada deles na região de aos moldes de um chalé em
Breves por volta de 1876. Com o madeira de lei, cobertura de
passar dos anos, casou-se com telhas de barro, com uma varanda
dona Josefina Pinto Horta com na lateral esquerda da casa.
quem constituiu família. Ampla e com muitos cômodos,
No rio Mapuá, também viveu ainda conta com um quintal para
outra família portuguesa, com criação de animais, incluindo
descendentes no município: Os galinhas, patos, carneiros e bodes,
Félix. O primeiro a chegar foi o Sr. conforme é possível notar na
Constantino Martins Félix, nascido fotografia a seguir.
no dia 22 de março de 1881 no
distrito de Castelo Branco em
Portugal e falecido em 1959, no rio
Mapuá. Ele chegou ao Pará em
1902, provavelmente se deslocou
para Breves nesse período para
trabalhar no comércio da
borracha e depois no negócio da
madeira.
Dentre esses descendentes
está o Sr. Antônio Félix, ainda
residente na entrada (boca) do rio
Aramã, confluência com o Mapuá
onde ele vive com a família. A
propriedade do Sr. Antônio Félix é

31 Foto: Parte da propriedade do Sr. Antônio Félix, 2016 – Fonte: arquivos de Dione Leão.
2 Nossa Gente
No entanto, a primeira casa demarca que as elites viviam
da família foi na Vila Amélia, no rio nesse perímetro, sendo que a
Mapuá, era uma propriedade com maioria deles eram comerciantes,
árvore de seringueiras e porto de profissionais liberais e
embarcação, onde viveu a família funcionários públicos. Outra
até os filhos crescerem e casarem. i n fo r m a ç ã o i m p o r t a n t e : o s
A maioria dos portugueses que se portugueses que tinham negócios
estabeleceram no século XIX na nos espaços de rios e florestas,
z o n a r u r a l d e B r ev e s e r a m também tinham residências na
pequenos, médios e grandes cidade de Breves, nesses
comerciante e proprietários de perímetros mais nobres,
terras. indicando o poder econômico
As documentações desses grupos e muitos também
cartoriais, indicaram que durante mantinham residências na capital
o século XIX, os portugueses Belém.
estavam localizados nas duas No século XX, as lembranças
principais ruas da cidade: as de Dona Necy Balieiro também
atuais Presidente Getúlio Vargas e indicaram a presença de
parte da Avenida Rio Branco, no migrantes nas ruas do centro:
bairro Centro. Essa característica

“Nas ruas da frente do bairro Centro existiam famílias de portugueses, como


os Barros, que moravam perto da Igreja Matriz, e outros era perto da
Prefeitura; os Britos também viviam ali bem próximos, no lado da Praça da
Bandeira: a mãe da dona Terezinha Nêmer, que herdou a casa do pai português,
era ali perto da prefeitura, ainda existe algumas dessas casas
(Necy, 2017).

32
2 Nossa Gente
As casas dos portugueses suas telas o cotidiano da área
naquele perí odo estavam portuária em meados dos anos
localizadas na parte mais nobre d e 1 9 6 0 , d a n d o d e s t a qu e s
da Rua Presidente Getúlio Vargas, também para essas residências
nos arredores da Igreja Matriz, da de portugueses, como é possível
prefeitura, da Praça da Bandeira. visualizar a seguir:
Dona Necy pintou em uma de

Foto: Pintura em tela de Necy Balieiro, 2017, pertencente ao acervo da artista

Rica em informa ç ões a que vinham dos rios e florestas


pintura apresenta a para negociar seus produtos ou
movimentação na área portuária resolver outras questões na
de Breves, local de embarque e cidade.
desembarque dos moradores

33
2 Nossa Gente
Ao fundo, em destaque, as casas O Sr. Brito casou-se em
componentes dessa paisagem, Breves com a Sra. Edilce Vale
dentre elas a residência dos Rendeiro, natural do rio Macacos,
Barros, uma das famílias de conhecida como Paulita. Com ela
origem portuguesa ainda teve seis filhos: Francisco, Jorge
residentes na cidade, no mesmo (falecido), João, Carlos, Fátima e
local. A casa é diferenciada por Maria José. O Sr. Brito
ser uma construção em alvenaria desempenhou trabalhos nas
de dois andares, três janelas e empresas COMIG e BISA, sempre
com azulejos portugueses em sua ligados à venda de mercadorias
fachada, ficava localizada próximo nos armazéns, o que contribuiu
à Igreja Matriz, no final do asfalto. com a sua ocupação na cidade
A família Brito foi uma das após o fechamento das mesmas.
últimas a chegar, dados do Sr. Ele foi um grande comerciante no
Francisc o Rend eiro um dos ramo de armarinhos na área
descendentes, indicam o ano de comercial da cidade até os anos
1964 como referência da de 1990.
chegada do pai Brito Rendeiro ao N a s l em b r a n ç a s d o S r .
município de Breves. Ele associou Francisco Rendeiro, o Sr. Brito foi
o caso de migração do seu pai duas vezes visitar a família em
Brito Rendeiro como algo Portugal: “em 58 e 65, em 65 ele já
diferente da maioria conhecida, foi com o meu irmão, o Carlos. O
referindo-se ao fato de ter vindo único que conhece Portugal dos
sozinho de Portugal para o Brasil e meus irmãos é ele, inclusive ele
para Breves. O motivo da vinda do te m u m fi l h o q u e m o ra l á ” .
Sr. Brito para Breves foi um Embora o Sr. Brito sempre se
emprego na empresa COMIG no c o mu n i c a s s e c o m a f a m í l i a
rio Macacos e depois se deslocou distante por meio do rádio,
para a cidade para trabalhar na c o n fo r m e d e s t a c o u o S r .
Sociedade Anônima (BISA), Francisco Rendeiro:
empresas do ramo da madeira.

34
2 Nossa Gente

“O papai, toda terça feira, oito horas da noite, sabia notícias de um irmão dele
que morava nos Estados Unidos, não, não, na Inglaterra através do rádio, a voz da
América. E pegava bem aqui em Breves. Isso porque naquele tempo o sinal de rádio era
muito bom aqui, pegava limpo, então ele passava mensagem de lá pela voz da América
e a gente ficava escutando, não tinha resposta, que era no rádio. O locutor passava a
mensagem do nosso tio e dizia: Olha Brito, estou bem e tal e a família também. Era um
programa igual ao da Rádio Clube, que apresentava as notícias do interior, a voz do
Brasil, era quase uma hora de noticiário, era o único meio que a gente tinha de
comunicação para saber notícia do interior e assim esse meu tio fazia, só que da
Inglaterra”
(Francisco Rendeiro, 2017).

Vimos que os portugueses trabalho e das relações que


foram os pioneiros a ocupar os estabeleceram com seus
espaços da cidade, mas também conterrâneos que já viviam por
se espalharam pelos espaços dos aqui.
rios e florestas, a presença deles
estava rela ci onada à figura
próspera do c omerciante e
proprietário de terras. Embora,
esta não seja uma regra, pois
apesar dos privilégios dados a
muitos por serem de origem
europeia, muitos portugueses
chegaram com poucos bens e
riquezas e conseguiram melhorar
de vida, por meio de muito

35
2 Nossa Gente
Os Judeus marroquinos

Os judeus, vindos do que se dispersaram para outros


Marrocos, não deixaram muitas países, Marrocos foi um destino
evidências históricas na região, comum para muitos, passaram
por esse motivo, reconstituir sua dessa forma a viver em Tânger,
trajetória de contatos foi uma Te t u a n , F e z , R a b a t , S a l é ,
tarefa árdua, até mesmo pela Marrakesh, Arcila, Larache, Ceuta
au s ê n c i a d e d e s c e n d e nt e s e Melilla, ficaram conhecidos como
identificados como tais na região sefaradis. A liberdade reliogiosa,
de Breves. Nesse sentido, as sempre foi um obstáculo para
informações colhidas do cartório esses grupos e no Marrocos
d e i m óv e i s fo r a m d e s u m a também foram perseguidos pela
importância para conhecer alguns região, não pelo cristianismo, mas
desses migrantes na cidade. De pelo islamismo.
antemão, posso mencionar a Dessa forma, os fatores que
presença da família Athias, levaram aos deslocamentos de
Bacessat, Gabbay, Roffé, centenas de judeus-marroquinos
Farache, Bothebol, S arraf e é explicado principalmente pela
Chocron. perseguição religiosa,
A história dos judeus que discriminação, destruição de
vieram para o Arquipélago de sinagogas, pobreza e esperança
Marajó, começou no século XV, no de melhoraria na qualidade de
país Espanha, quando foram v i d a . Te n d o e n c o nt r a d o n a
perseguidos pela Igreja católica Amazônia do século XIX, durante a
por praticarem o judaísmo e não primeira fase da borracha, um
c ederem a conversão ao lugar promissor para viverem. A
cristianismo. Muitos deles se abertura do rio Amazonas a livre
deslocaram para Portugal, porém navegação foi o fator político que
não se livraram da mesma teria oportunizado a chegada
intolerância religiosa. Foi assim desses grupos para a Amazônia.

36
2 Nossa Gente
Benchimol (2008: 92-93), chances de concorrer com os
estudioso da temática, mostrou grupos poderosos que
que os judeus-marroquinos, dominavam as praças de Belém e
foram pioneiros na abertura e Manaus procuraram se destacar
ocupação da fronteira amazônica na ec onomia. D entre esses
e desbravaram ao longo de rios e lugares estava a região de Breves,
beiradões pequenas cidades, grande produtora de borracha,
vilas e povoados no período do para onde se deslocaram famílias
auge da borracha. Assim, como inteiras ou apenas os homens,
muitos judeus não tinham inicialmente.

Para onde foram os Judeus quando chegaram em terras Brevenses?

Os Judeus que chegaram ao motivo as memórias de uma


município de Breves, se descendente Dona Maria
estabeleceram a sua maioria nos Rodrigues, foram fundamentais
espaços dos rios Jaburu, para a reconstituição histórica da
Ituquara, Macacos, Mapuá, família.
Jaburuzinho, Jaí, Cidade de
Breves, no bairro Centro. As
moradias em que viviam foram
adaptadas conforme as suas
necessidades, mas tentando
manter as suas tradiç ões,
principalmente religiosas.
Sobre essas famílias
podemos destacar a família
fo r m a d a p o r Ja c o b C o h e n
Farache, poucas informações
existem sobre eles nos
documentos cartoriais, por esse

37
2 Nossa Gente

“Olha, eu sei assim, que meu avô veio da Jordânia, eu acho que foi no tempo da
guerra, pelo o que a mamãe me contava. Então ele chegou para lá pro Jaburu e a minha
avó que era cearense, já estava viúva, ela tinha 32 anos, ela já tinha um casal de filhos,
ele então se engraçou dela e casaram. Ele foi um grande comerciante, meu avô, da
região do rio Ituá até o Aturiá, era uma ilha chamada “Ilha de Santa Luzia”. Lá ele viveu
muito tempo e com a minha avó teve um casal de filhos; morreu a minha tia, ficou só o
meu pai. Eu não conheci nenhum dos dois, só conheço das histórias contadas pelo meu
pai e minha mãe e das coisas que ele tinha que eu ainda vi, como o engenho de açúcar, de
cachaça, essas coisas assim. Outra coisa, ele não comia porco, isso eu lembro que
falavam e meu pai também não comia, lembro ainda da cruz de judeu em cima da
sepultura dele, era só um pau, não tinha o braço”
(Maria Rodrigues, 2017).

A outra família que é citada casarão que servia de moradia e


nas documentações cartoriais e comércio. E em conversa com o
nas memórias dos moradores Sr. Juarez Cavalcante, morador
mais antigos são os Athias. A do rio Ituquara, falou dos
chegada deles em Breves é no momentos de convivência entre
mesmo período da maioria das as famílias:
famílias em toda a Amazônia, por
volta do século XIX (1850). A
f a m í l i a At h i a s t i n h a u m a
propriedade de terras
denominada “Livramento do
Ituquara”, constituída por um
barracão como mencionado na
narrativa de Isaac Athias e um

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2 Nossa Gente

“Meu pai vendeu muita seringa para Fortunato Athias, eu não cheguei a
conhecer ele, meu pai sim, mas conheci o filho dele, Isaac Athias, fazia negócio com ele,
era casado com uma prima minha, a gente comprava no comércio dele e também vendia
borracha para eles, depois foram embora para Macapá”
(Juarez Cavalcante, 2016).

Fortunato Athias casou com nove filhos. Um dos filhos, Isaac


Merian Roffé, ela era de Arzila e Athias, deu o seguinte
filha de Abraham Roffé e Anna depoimento à pesquisadora Eva
Barcessat Roffé com quem teve Blay.

Nasci em 1908, em Belém, nós morávamos no interior do Pará, em Breves. Fiz meu
curso primário no interior, com viagens prolongadas. [...] as escolas eram distantes e se
ia remando em pequenas embarcações até chegar à escola [...]. Meu pai era
seringalista, isto é, tinha um barracão, comprava as pranchas de borracha, e os
seringueiros eram aviados por ele. Depois a borracha ia para o aviador que a exportava
para a Inglaterra. Nós morávamos no interior e só havia ligação com Belém a cada 15
dias, quando passava a gaiola que era uma pequena embarcação. De Breves a Belém
levava umas 36 horas. (Blay, 2008:48).

A narrativa de Isaac Athias, internacional, destacando-se as


portanto, retoma aos tempos da estratégias de sobrevivência da
primeira fase de exploração e família em consequência do final
expor tação da borracha na da Primeira Guerra Mundial.
Amazônia destinada ao mercado

39
2 Nossa Gente
A desaceleração dos lugares.
negócios da borracha na Segundo Chocron (2020:
Amazônia, atingiu diretamente os 55-56) a família Sarraf chegou a
negócios de Fortunato Athias que, região do município de Breves na
a exemplo da maioria dos década de 1920, estabelecendo-
pequenos comerciantes judeus se em um lugar denominado
espalhados pelas margens dos Paraíso do Jaburu. Samuel Sarraf
r i o s d a A m az ô n i a , fo r a m à o patriarca era comerciante e veio
falência, pois seus negócios com os filhos: Jacob Samuel
estavam exclusivamente ligados a Sarraf, Júlio Samuel Sarraf e Luiz
esse comércio. Sarraf. Os Sarraf encontrou a
Os momentos da trajetória família do judeu-marroquino
da família Athias relembrados por Simão Amôr Bothebol, casado
Isaac Athias e reelaboradas nos com Maria da Conceição. Samuel
escritos de Blay (2008) S arraf então casou-se pela
complementadas pelas segunda vez com a filha desse
memórias do Sr. Juarez casal, Sara Bothebol, do
Cavalcante é possível notar ainda relacionamento nasc eram:
os contatos mantidos com uma Fortuna, Raquel, Leonor, Estrela e
diversidade de outras pessoas Simão.
em fluxos pelos rios de Breves Íria Chocron, professora de
através de barcos, navios gaiolas, história residente em Breves é
ou navios “estrangeiros” descendente de Abraham Mojluf
ancorados momentaneamente Chocron que nasceu em Tetuan
ou em passagens rápidas pela no Marrocos. A historiadora
cidade e vilas, que transportavam dedicasse a pesquisar a presença
diversos produtos, como o sabão judaica no Marajó e contou o avô
produzido na fábrica dos Athias, passou um tempo na Argentina,
ou a borracha na primeira fase de antes de se estabelecer no Brasil
negociação do produto no Brasil, no século XIX.
além de pessoas de diferentes

40
2 Nossa Gente
Porém, foi no século XX que como uma pessoa muito querida
c h e g o u a o M a r a j ó , na região.
estabelecendo-se no rio Dessa forma, as famílias de
Macacos, local onde começou judeus-marroquinos se inseriram
seus negócios, um comércio de na sociedade local, convivendo
estivas e outros produtos. com os hábitos locais, mas sem
Segundo Íria, ele seguia todos os deixar de praticar a sua cultura
rituais da religião judaica, mesmo que ainda segue em seus
distante das sinagogas e dos membros vivos como é o caso da
contatos com outros judeus historiadora mencionada, apesar
praticantes, assim como de todas as dificuldades de
costumes e regras de praticar a religião judaica em
alimentação. Ele terminou seus Breves, ela segue inserindo a filha
dias em Belém onde faleceu em Manoela na história do judaísmo
1994, porém deixou seu legado na no Marajó.
vila São Miguel dos Macacos,

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2 Nossa Gente
Os nordestinos

Em um cenário nacional, uma coloniais apoiados pelo governo


das regiões brasileiras que mais federal.
enviou pessoas para o Pará, foi o Os registros da Companhia
Nordeste, principalmente no de Vapores do Ceará, também
século XIX, após as secas de 1877 apontam que entre os anos de
a 1879. Estima-se que por volta 1869 a 1900, aproximadamente
de 17.000 migrantes nordestinos 300.000 teriam deixado o Ceará.
se deslocaram para o Estado. E, destes, cerca de 255.526
Entre os anos de 1899 a 1900, (85%) vieram para a Amazônia.
chegou à cidade de Belém algo em Os demais foram para o Sul e
torno de 8.000 pessoas, Sudeste do país, mais
estabelecendo-se na sua maior precisamente para os estados do
parte, nas áreas próximas a Rio de Janeiro, São Paulo e
estrada de ferro de Bragança, a Espírito Santo (Cancela 2011: 72-
nordeste de Belém, onde 73).
estavam localizados os núcleos

E para Breves? Vocês têm uma ideia de quantos nordestinos vieram


para cá?

É um pouco difícil dizer dezenas de rios da região de


exatamente o número, pois não Breves, per tenc entes aos
existem poucos registros distritos do Mapuá, Jaburu,
oficializados sobre a migração de Mututi, Macacos, Ituquara,
nordestinos. Porém as pesquisas Curumu, o total de 151 famílias de
realizadas nos livros de óbitos e nordestinos, sendo que 11 eram da
casamentos do Cartório Matos Paraíba, 106 do Ceará, 24 do Rio
em Breves, mostraram que no Grande do Norte, 05 do
período de 1 890 a 1 979 foi Maranhão, 04 de Pernambuco e
registrada nas margens de 01 da Bahia.

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2 Nossa Gente
A desaceleração dos lugares.
negócios da borracha na Segundo Chocron (2020:
Amazônia, atingiu diretamente os 55-56) a família Sarraf chegou a
negócios de Fortunato Athias que, região do município de Breves na
a exemplo da maioria dos década de 1920, estabelecendo-
pequenos comerciantes judeus se em um lugar denominado
espalhados pelas margens dos Paraíso do Jaburu. Samuel Sarraf
r i o s d a A m az ô n i a , fo r a m à o patriarca era comerciante e veio
falência, pois seus negócios com os filhos: Jacob Samuel
estavam exclusivamente ligados a Sarraf, Júlio Samuel Sarraf e Luiz
esse comércio. Sarraf. Os Sarraf encontrou a
Os momentos da trajetória família do judeu-marroquino
da família Athias relembrados por Simão Amôr Bothebol, casado
Isaac Athias e reelaboradas nos com Maria da Conceição. Samuel
escritos de Blay (2008) S arraf então casou-se pela
complementadas pelas segunda vez com a filha desse
memórias do Sr. Juarez casal, Sara Bothebol, do
Cavalcante é possível notar ainda relacionamento nasc eram:
os contatos mantidos com uma Fortuna, Raquel, Leonor, Estrela e
diversidade de outras pessoas Simão.
em fluxos pelos rios de Breves Íria Chocron, professora de
através de barcos, navios gaiolas, história residente em Breves é
ou navios “estrangeiros” descendente de Abraham Mojluf
ancorados momentaneamente Chocron que nasceu em Tetuan
ou em passagens rápidas pela no Marrocos. A historiadora
cidade e vilas, que transportavam dedicasse a pesquisar a presença
diversos produtos, como o sabão judaica no Marajó e contou o avô
produzido na fábrica dos Athias, passou um tempo na Argentina,
ou a borracha na primeira fase de antes de se estabelecer no Brasil
negociação do produto no Brasil, no século XIX.
além de pessoas de diferentes

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2 Nossa Gente
Dona Vitória Nogueira se mu i t o d a c u l t u r a d o s s e u s
considera filha de nordestino, antecedentes.
nascida no Mapuá, herdando

Foto: Fotografia na casa de Dona Vitória Nogueira – rio Mapuá 2017 – Fotografia: Sebastião

Outro nordestino que


podemos destacar foi Leontino
da Costa Barros, Originário da
capital do Ceará, For taleza.
Segundo o neto Augusto Barros
(falecido), os motivos que levaram
a família Barros a se mudarem
para o rio Macacos no município
de Breves foi à busca de “riqueza”
dos primeiros tempos da
borracha.
Foto: Reprodução 44
2 Nossa Gente

“Eles vieram para trabalhar com a borracha; sempre tiveram estrada de seringa
lá no rio Macacos, no lugar chamado Capelinha. O que eu sei era que meu avô era
cearense por parte de pai, foi ainda na época daqueles capitães de barranco que tinha
sabe? Os coronéis, os títulos que eram dados pela Intendência. Ele foi vereador, na
época o título era de vogal, trabalhou como guarda livro com o Capitão Dário Furtado
no cartório. Eu não tenho certeza do período, mas acredito que não ficou muito distante,
eu acho que é do tempo do Antônio Lemos, dos intendentes”
(Augusto Barros, 2017).

Nesse sentido, a chegada no cartório de imóveis da compra


desse ramo da família Barros, de uma casa no bairro centro,
provavelmente se deu no final do indicando os interesses com a
século XIX, pois em 1907, o Sr. cidade. Até a atualidade existem
Leontino da Costa Barros já tinha desc endentes desta família
certo prestígio social na região, foi morando em Breves.
empossado ao cargo de vogal da A família do Sr. Antônio
nova sede do município, a vila de Joaquim Nascimento que
Antônio Lemos, no dia 13 de maio residiam no Porto Cumaru, rio
de 1907, perante a presença do Mapuá, foi muito mencionada
então intend ente municipal, pelos antigos moradores de
c oronel Lourenç o d e M atos Breves como uma das primeiras
Borges (Costa 2000: 15). famílias de nordestinos a
A família morou nos espaços chegarem ao município e que
rurais até aproximadamente a trouxeram outros conterrâneos
década de 1920, pois há registro para esta região do rio Mapuá.

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2 Nossa Gente

Foto: Comunidade Santa Rita – Porto Cumaru, 2015 – Fotografia: Dione Leão.

O Sr. Joaquim Nascimento Nascimento, recontou o seguinte:


que era neto de Antônio Joaquim

“Antônio Joaquim Nascimento, morava num barracão, aqui embaixo, pra lá da


comunidade São Benedito, um barracão enorme lá, chamado São Gabriel. Depois ele
comprou uma fazenda lá para o Cururu, desmanchou o barracão e levou para lá, para
fazer outro lá. Ele negociava seringa (látex) e farinha e depois que ele foi para o Cururu,
os filhos dele ficaram, um ficou no Cumaru, o tio Raimundo Nascimento e o meu pai foi lá
para o lago do Socó. O velho comprava a mercadoria e aviava (repassava mercadorias)
para os filhos”
(Joaquim Nascimento, 2017).

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2 Nossa Gente
O S r . A nt ô n i o Jo a qu i m propriedade com casa e
Nascimento; morou no Cumaru, barracão no igarapé remédio.
São Gabriel e por último no As características dadas por
Cururu, onde veio a falecer. Dona Vitória Nogueira sobre o Sr.
Porém, antes disso, manteve um José Nobre dão a entender ter
papel consolidado de patrão na ele vivido na região por volta do
região. Nos documentos final do século XIX e meados do
car toriais, as transações de XX. Nas documentações, apenas
terras realizadas por ele vão de uma referência sobre o Sr. José
1932, a 1942, onde estão Nobre, datando do ano de 1905,
registrados propriedades em quando adquiriu de Leopoldo
vários locais do rio Mapuá, como a Antônio Bahia e sua mulher Dona
propriedade adquirida por Rosa Francisca Bahia, residentes
escritura em 1941, denominado no rio Mapuá, uma posse de
São Paulo antigamente Ribeiro. terras devidamente registrada
Adquiriu ainda outras terras no rio denominada Nazareth, à margem
Canaticu, Laguinho, Jupati e Lago esquerda do rio Mapuá.
do Socó. Desse modo, os nordestinos
Os filhos do segundo que vieram na primeira fase da
casamento do S r. Antônio explora ção da borra cha na
Joaquim Nascimento se Amazônia, século XIX, foram
mudaram na década de 1960 apresentados por seus
para a cidad e d e Breves e descendentes com a ajuda das
fundaram uma das serrarias mais informações dos documentos
promissoras do município neste cartoriais por meio dos quais
período. conhecemos os lugares onde
Outra família de nordestino, alguns moravam, principalmente
citada pelos moradores d e nos espaços rurais. Na cidade
Breves, foi a de José Nobre, um foram menci onados nos
dos grandes seringalistas da cartórios, os coronéis Sucupira e
região, morava no rio Mapuá. Nas Evangelista como os maiores
memórias de Dona Vitória proprietários do século XIX de
Nogueira, ele tinha uma grande casas e terrenos no bairro centro.
47
2 Nossa Gente
Apesar de estarem diretamente grupos de pessoas, desde
ligados ao negócio da seringa, indígenas, portugueses, africanos,
nem todos eram seringueiros judeus-marroquinos, nordestinos.
pobres, muitos se destacaram Em poucos casos, franceses e
como comerciantes na região de ingleses. O que nos tornou uma
Breves. população plural, resultante de
Em resumo, a nossa vários contatos e com uma
formação étnica e social, contou cultura rica em diversidade.
com a participação de diferentes

48
2 Nossa Gente
Atividades
Vamos relembrar o que aprendemos sobre a nossa identidade como
povo deste lugar.

Vimos que nossa identidade se dar a partir da união dos Indígenas,


Africanos, Portugueses, Judeus Marroquinos e Nordestinos.

Atenção Professor (a): Com base nas informações sobre os nossos


ancestrais, vamos a partir de novas fontes, entender como se configura
nos dias atuais a cultura de cada um desses povos que originou nossa
formação.

Em seguida, vamos identificar na nossa cultura local quais os traços


desses povos ainda permanece em nosso meio como parte da cultura
brevense e marajoara.

49
3 Alguns aspectos da Cultura
3.1. Costumes, crenças e tradições
A população de Breves em dentre outros. A diversão nos rios
toda sua história mantêm muitos é parte da nossa cultura
costumes, crenças e tradições ribeirinha. Os rios em Breves não
que revelam muito a cerca do que servem somente como meio de
somos, da nossa forma de pensar, comunicação, comércio e
acreditar e viver a realidade do sobrevivência, mas como fonte de
Marajó ocidental. Com o passar bem-estar, de lazer para a
dos anos, muitas dessas grande maioria da população.
manifestações desapareceram, Na década de 1980 e 1990, o
mas outras permanecem, mesmo lugar conhecido como prainha,
diante das transformações do ganhou destaque entre os points
mu n d o at u a l . D e nt r e e s s e s à margem do rio Parauaú. Espécie
costumes, podemos destacar a de praia artificial, localizada em
prática de tomar banho em rios e um trecho da orla portuária. A
igarapés. prainha, formou-se ao longo de
Você já visitou algum dos décadas com restos de areia e
balneários particulares seixo deixados por negociantes
localizados ao longo da estrada de materiais de construção, como
PA 159 e suas vicinais? é possível observar na fotografia,
Te m o s e n t r e o s m a i s havia uma grande movimentação
conhecidos: o Mamajó, o Arapijó, o em torno desse espaço,
Tauaú, o Caruaca, o Tucano-Açu, principalmente nos finais de
semana.

50
3 Alguns aspectos da Cultura

Foto – A prainha, na década de 1980, localizada em um trecho da área portuária, retirada do Facebook denominado “Cidade de Breves”.
Acesso em 12 de julho de 2013.

Com relação aos espaços técnicas simples como o uso do


rurais, os costumes e hábitos das caniço, linha e anzol, ou armadilhas
populações também estão como o cacuri, massará, pari e
ligados a existência dos redes de pesca, para capturar os
ambientes de rios e florestas. peixes. No caso do camarão,
Além dos banhos de rios, também muito comum na região,
constituem-se como prática a captura é feita nos rios por meio
nesses espaços a pescaria. Para do matapi.
isso, os moradores utilizam-se de

51
3 Alguns aspectos da Cultura
Junto a pescaria, podemos escondem. Os caçadores
destacar o costume de caçar nas preferem as noites escuras da lua
florestas marajoaras, feitas de nova, quando os animais como o
forma individual ou coletiva. A veado, paca, tatu, cotia, mucura,
prática de caçar, assim como de dentre outros, procuram às
pescar exige dos moradores o margens dos rios para
conhecimento de técnicas alimentarem-se.
específicas e da natureza. Por Este cotidiano de caça e
exemplo, quais os animais, as pesca das populações rurais,
árvores, os igarapés, os caminhos também evidenciam o campo das
que o caçador tem que percorrer, crenças, em torno de seres
ou ainda as fases da lua e o e n c a nt a d o s q u e p o v o a m o
regime das marés (enchente, imaginário dos moradores de
vazante, reponta). Assim, quase Breves, principalmente os que
não se caça em tempos de lua residem nos espaços de rios e
cheia, porque os animais florestas. Um deles é o Curupira.
enxergam os caçadores e se

52
3 Alguns aspectos da Cultura
Curupira Saibam que o Curupira é uma
entidade ecológica, sobrenatural e
espiritual, destacada nas histórias,
principalmente de caçadores, que
exageram na quantidade de caça,
diminuindo determinados tipos de
espécies animais. Neste sentido,
transforma-se no espírito da
floresta, engana os caçadores em
seus próprios rastros, às vezes,
levando-os à morte. Outras vezes,
como na realidade da comunidade
Santa Luzia no município de Breves,
c ontada por populares, ele
incorpora nas pessoas.

“O curupira tem um cheiro forte, meu pai era pajé, tinha experiência, a gente ia para roça, a cachorra
começava a latir, eu dizia: “me dê a espingarda para eu dar um tiro nessa cutia aí”, papai falava: “Que
cutia meu filho isso é curupira que eles estão correndo, tu não estás sentindo o cheiro dela. O
cachorro estava vendo, mas a gente não vê. (Benedito Filho, Comunidade Santa Luzia, dia 01 de junho
de 2015).

Por essa interpretação, as para as que possuem o dom de


crenças nas entidades das revelar o sobrenatural. Assim, o
florestas como Curupira, estão Curupira entendido como protetor
diretamente ligadas aos recursos dos animais e das florestas é parte
naturais, seja em atividades da das heranças culturais indígenas,
roça, ou prática da caça de animais ligadas a pajelança e ao
como mencionou o morador local. xamanismo, em uma relação direta
S egundo as narrativas da com a natureza, por esse motivo
p o p u l a ç ã o , e s t a s e nt i d a d e s está reservado aos espaços rurais
encantadas não se apresentam de Breves.
para pessoas comuns, somente
53
3 Alguns aspectos da Cultura
A Cobra grande

Imagem: Pintura em tela retratando a cobra grande que mora debaixo da Igreja Matriz de Breves. (Arte: Edson Cardoso).

Segundo os moradores mais de afogamento na frente da


antigos, a cobra está adormecida cidade, associando-se ao
e para continuar assim, a imagem encantamento das vítimas. Ou
original de Santana não pode ser seja, as pessoas não morriam,
retirada do altar, correndo o risco apenas passavam a viver em um
da cobra se mexer e as ruas ao mundo encantado no fundo do rio.
redor afundarem. Essas crenças,
também alimentavam o
imaginário da população no
passado, relativo aos casos fatais

54
3 Alguns aspectos da Cultura
O Boto

Imagem: Arte com representação do boto no desenho de J. Tadeu Ferreira.

Muitas são as versões para adultério, casos de incesto e


as narrativas envolvendo o boto, pedofilia dentro das famílias.
mas aqui nós vamos chamar a Assim, se adequava muito bem,
atenção para algo muito quando crianças e adolescentes
importante. Essa crença no boto engravidavam, uma vez que o pai
que se transformava em rapaz da criança não seria procurado,
bonito encantador, pode ser visto nem identificado, nem
como saída social para esconder responsabilizado.

55
3 Alguns aspectos da Cultura
O boto é por tanto, um crenças bem típicas da região,
encantado muito temido pelas envolvendo práticas mágicas
mulheres (agora você sabe o como amassar alho para jogar no
motivo). As tradições amazônicas rio, colocar cruzes nas portas,
indicam que para livrarem-se da jogar água benta no rio, dentre
visita indesejada dos botos, os outras técnicas, além do
moradores de espaços rurais tratamento com benzedores.
realizavam uma mistura d e

Imagem: Arte em tela intitulada “Mística Marajoara”, técnica acrílico sobre tela, de autoria e propriedade do artista local J. Tadeu, 2007.

Diante disso, as aparições de igarapés e florestas e chegaram


seres encantados que aparecem ao imaginário da cidade, em
na pintura do artista local Tadeu momentos de intensas trocas
Vieira, como o boto, a cobra culturais e foram recriadas
grande, iara, vitória régia, dentre conforme a realidade vivida nos
outros, atravessaram os rios, diferentes espaços da cidade.
56
3 Alguns aspectos da Cultura
A Loira do cemitério

Foto reprodução: capa Capa de 'Noiva entre Túmulos’

No contexto das décadas de vale a pena conhecer essas


1970 e 1980, uma figura visagenta versões. A primeira, por volta da
se destacou, uma mulher, década de 1950, quando seu
c onhecida c omo A Loira do Antônio Soares estava a passeio
C emitério. Trata-se de uma em Breves (pois vivia no espaço
narrativa urbana existente em rural) e gostava de ficar reunido
diversos lugares do Brasil. Foi em frente a uma pensão da rua
mencionada pelos entrevistados Presidente Getúlio Vargas.
em vários tempos e contextos,

57
3 Alguns aspectos da Cultura

“Ali onde é o mercado, nesse tempo era a casa do finado Osorino e tinha uma
casa de hóspedes (pensão), tinha um coletor que morava lá e uma noite eles vinham pra
pensão da tia Ló jantar. Nesta hora, a loira vinha subindo a cidade, ela se transformou
numa mulher parecida com a mulher que o coletor namorava, ele a enxergou e parou
perto dela, mas ela não falou nada, ele disse então: “Olha dá um balão por aí, que eu vou
jantar aqui e me espera lá na frente de casa (pensão)” e ela foi embora, ele acabou de
jantar e pediu a chave, dizendo que já ia dormir. Mas, antes dele chegar na casa se ouviu
um quebra, quebra na casa dele, jogavam banca, jogavam cadeira, aí a Neri, filha do
Osorino disse: “Isso é visagem, não tem ninguém aí, saíram tudinho”. Aí quando o
coletor veio e chegou na casa ele meteu a chave, abriu a porta, empurrou, e a loira
estava sentada de costa na rede dele, e ele pulou para lá com ela, ele pensava que era
essa namorada dele, mas era a loira do cemitério, ela sumiu de repente. Ele tinha
marcado com ela lá, né? Esse coletor saiu de costas gritando: “Tinha uma mulher na
minha rede e sumiu”, nós ainda fomos espiar, mas não tinha era nada”.
(Antônio Soares).

Muitos moradores afirmam algum rapaz. Os anos de 1970 e


que nos anos de 1980 as 1980, marcaram o ápice das
aparições da loira do Cemitério festas e bares em Breves. Na rua
em Breves aumentaram Castilhos França, existia ainda a
significativamente, sempre Danc eteria Guanabara e na
seguindo as características das Passagem da Saudade a sede do
narrativas acima, uma mulher Salão Azul, que movimentavam a
bonita que se encantava por cidade.
58
3 Alguns aspectos da Cultura
Pelos relatos a loira esperava os Municipal de Breves, o Júnior' bar,
rapazes na frente desses locais e na rua Presidente Getúlio Vargas,
os conduzia ao cemitério. na frente da Praça do Operário e
Somente pela manhã se davam o Bar do Caverna em frente a
conta que tinham passado a noite atual Praça Frei Dolsé, dentre
com uma “visagem”. A história tantos outros.
provocava pavor aos moradores, O bares e as festas, nesse
principalmente nas crianças. Vez período eram locais de trocas,
por outra surgiam burburinhos criação e recriação cultural, na
das supostas aparições da loira medida em que seus
pelos quatro cantos da cidade. frequentadores, na sua maioria
Frequentar festas, bares e jovens, em constantes diálogos
pub's nos finais de semana, é algo com os meios de comunicação da
que atravessa gerações. Entre os época como o rádio, televisão,
anos de 1970 a 2000, os locais revistas, jornais e cinema, traziam
mais frequentados pelos jovens para as rodadas de conversas as
eram as casas de festa Papy ideias que circulavam nas grandes
D a n c e C l u b e e G u a n ab a r a , capitais do Brasil e do exterior,
localizadas na rua Castilhos influenciando os modos de
França. Os bares, mais pensar, agir e vestir dessas
conhecidos eram o Bar meu gerações e dialogando com uma
Cantinho, próximo a Prefeitura cultura globalizada.

Vamos falar sobre nossas praças?


Já perc ebeu que existem conhecida delas é a Praça do
a l g u m a s mu i t o b o n i t a s e m Operário. O nome da Praça é uma
Breves? Acredito que sim! São homenagem aos trabalhadores
lugares que a população de da empresa Breves Industrial
Breves frequenta bastante, Sociedade Anônima (BISA) que
principalmente crianças e jovens e ocupava a área em que se localiza
também faz parte dos nossos a Praça, nesse local ficava a
costumes. Praças são estufa de secar madeira.
patrimônios públicos. A mais
59
3 Alguns aspectos da Cultura

Foto: Praça do Operário de Breves.

Outra praça é a Dário p o r qu em p r at i c a c o r r i d a s ,


Fur tado, embora poucos a caminhadas e skate. Nas
c onheçam c om essa décadas de 1960 e 1970, também
denominação, pois popularizou- era muito movimentada com
se como a Praça da Bandeira. Fica eventos, um deles era o desfile do
localizada atrás da Prefeitura dia da independência do Brasil.
Municipal de Breves. É uma das
mais antigas da cidad e. Na
atualidade é muito frequentada

60
3 Alguns aspectos da Cultura

Foto: Praça da Bandeira na década de 1970, cedida por Wilson Câmara Frazão Neto
e Cláudio Frazão ao projeto Revivendo nossa História.

O carnaval em Breves, também principais clubes de futebol de


sempre foi uma das B r e v e s S a n t a n a e At a l a i a ,
manifestações culturais brasileira realizam os famosos bailes Azul e
que ganhou muitos adeptos na Branco, Vermelho e Preto que
região de Breves. O carnaval em perduram até a atualidade. Havia
Breves é destaque na região do uma competição muito grande
Marajó. As micaretas com a entre os torcedores para escolher
diversidade de blocos como os o baile mais glamoroso do ano. O
“injuados” e os “Gabriels”, dentre carnaval de Breves, era marcado
tantos outros, até os tradicionais também pelos bailes infantis
bailes de carnaval movimentam a desses clubes e pelo desfile das
cidade. escolas de samba, sendo as mais
No passado, os bailes de carnaval destacadas o Breguelhegue e o
dos clubes eram acontecimentos Alcoolíris, que existiram até a
esperados na cidade. Os dois década de 1990.

61
3 Alguns aspectos da Cultura
A festividade de Santana

E diante dessa tradicionalidade, espaços rurais e urbanos, porém


não podemos esquecer as vamos destacar a da padroeira
festividades de Santo, em Breves da cidade.
temos dezenas delas, nos

Imagem: Tela “Memórias da Festa de Santana”, acrílica sobre tela de autoria de José Tadeu 2013. Pertencente ao
acervo de Dione Leão.

A Festa de Santana chegada das famílias


acontece entre os dias 16 a 26 de portuguesas no século XVIII. Esse
julho, na área central de Breves, fato não é isolado e ocorreu
nos arredores da Igreja Matriz, na também em outros lugares do
frente da cidade. Sua origem e Brasil.
devoção se estabeleceu com a
62
3 Alguns aspectos da Cultura
No momento da instalação dos desempenharam um significativo
povoados, fossem arraiais, vilas, papel na vida desses grupos
roças, sítios ou fortificações, colonizadores. Santana era a
construíam-se igrejas e capelas, santa de devoção da família
colocando-os sob invocação de Breves e passou a ser a protetora
um santo ou santa, que espiritual do povoado.

Eu me lembro de quando a gente vinha de canoa, no remo, de lá da boca do


Mapuá, dois dias para chegar aqui em Breves. A gente vinha em época de festa, a festa
de Santana sempre faziam a procissão, o arraial, mas não era assim como é hoje, era
muito simples, não tinha tanta coisa não. Mas era o tempo que a gente vinha aqui, saía
do interior, do trabalho na roça e vinha para a cidade, a gente se encontrava,
conversava, brincava com outras pessoas. Só que nessa época era muito difícil, não
tinha embarcação, não tinha nada, era a pior coisa, vinha todo mundo no remo, não tinha
nem energia elétrica aqui, mas a gente não deixava de frequentar.
(Memórias do senhor Enéias Pinheiro).

As memórias do Sr. Enéias se fazia nas canoas, conduzidas a


Pinheiro, apontam para uma remos. O tempo da festa era uma
realidade muito comum até os parada no trabalho pesado da
dias atuais. A participação de roça, mas também representava
populações de espaços rurais de para muitos a superação de
Breves na Festa de Santana. muitas dificuldades. Às vezes
Suas lembranças remontam aos perfaziam tra jetos longos e
anos de 1940, quando a cidade perigosos para chegar até a
“não tinha energia” e o transporte cidade.

63
3 Alguns aspectos da Cultura

“Pra gente vir pra Breves na época da festa o papai fazia aquelas canoas grande
e cobria de palha; a gente saía de casa de madrugada, a gente ficava debaixo da
cobertura e só ele vinha remando, a gente vinha chegar para cá à tarde já, era o dia
inteiro viajando, dava maresia, eu tinha medo, na beira do rio dava muita maresia, até
aqui na boca de Breves, o papai vinha bem pela beira do rio para não alagar. Quando
chegava aqui, encostava a canoa na frente da cidade e ia para casa dos nossos parentes
e deixava a canoa lá”. (Maria de Souza Leão- Anos de 1960).

Durante o período da Festa homens e mulheres, o arraial era


de Santana, a cidade ganhava um dos momentos do ano para
maior movimentação, e nt r a r e m c o nt at o c o m a s
transformando-se em paradeiros novidades do mercado como
para dezenas de famílias roupas, sapatos e brinquedos.
advindas de muitas localidades e Outro ritual mencionado foi é
regiões, em diferentes a procissão, ocorrida no último dia
embarcações para acompanhar da festa 26 de julho. O dia da
os rituais sagrados como as procissão era dia de parada na
novenas e a procissão. Mas, rotina de trabalho, o prefeito
também o arraial, um dos decretava feriado municipal e por
espaços mais atrativos da festa esse motivo o comércio e os
de Santana, utilizados por toda a órgãos públicos fechavam suas
sociedade, empresários, portas. Como em parte, ainda
c o m e r c i a nt e s , fu n c i o n á r i o s acontece na atualidade.
públicos, trabalhadores rurais, Participar da procissão
operários das fábricas de constituía-se em uma obrigação
madeira e palmito, enfim, era um para as famílias católicas da
espaço que todos se cidade e dos espaços rurais.
encontravam. Nas memórias de

64
3 Alguns aspectos da Cultura

Imagem: Fotografia da Festa de Santana em meados dos anos de 1960, pertencente


ao arquivo pessoal de Cláudio Frazão.

A festa de Santana ressalta


a identidade local dos católicos, o
tempo da festa é um tempo
especial, onde as diferenças
sociais diminuem, os mais ricos e
poderosos poderiam e ainda
podem contribuir com a paróquia
doando dinheiro, prêmios para
bingos e leilões, móveis, dentre
outros e assim ajudar as obras
sociais da igreja.

65
3 Alguns aspectos da Cultura
3.2. A culinária brevense
A cozinha brevense guarda atualidade. Assim, grande parte
traços muito fortes da culinária dos pratos brevenses tem como
indígena, muito bem preservada base, ingredientes que eram
na execução dos pratos mais essencialmente cultivados,
utilizados pela população. Embora processados e preparados pelos
tenha sofrido a influência europeia indígenas. Tendo sido apenas
e africana, a dieta indígena se aprimorados ao longo do tempo.
destaca das outras, ainda na

Tacacá Maniçoba Pato no tucupi

Dentre os ingredientes mais sabores que servem tanto como


requisitados da culinária ervas aromáticas para o tempero
brevense, estão: a mandioca e de comidas, como para a
seus derivados como a farinha, o medicina natural. Podemos citar a
tucupi, a tapioca, as frutas e alfavaca e a chicória, que são
verduras, peixes crustáceos e espécies de arbustos muito
carnes de animais silvestres. usadas no preparo do tucupi e na
Com relação as verduras, caldeirada de peixes. Temos
essas são componentes ainda, o jambu, sendo o grande
diferenciados da culinária atrativo dessa planta a dormência
brevense, geralmente têm deixada nos lábios, mesmo depois
de cozida.
66
3 Alguns aspectos da Cultura

Tapioca Charque Açai / Vinho do Açai

As frutas mais requisitadas cremes, pavês, sorvetes, picolés,


pelos brevenses são: açaí, bolos e bombons. A pupunha
cupuaçu, pupunha, manga, bacuri, também é muito popular e
bacaba, mari, uxi, piquiá, dentre geralmente é consumida
outras. Delas produzem-se sucos, acompanhada do café.

Cupuaçu Pupunha Piquiá Bacuri

Referindo-se aos peixes e Os mais abundantes são: o


crustáceos, eles são consumidos mapará, piranambu, filhote,
em larga escala na alimentação dourada, pescada branca,
da população, famosos pelos tamuatá, tambaqui, pacu e o
sabores próprios da Amazônia. tucunaré.

67
3 Alguns aspectos da Cultura

Mapará Tucunaré Tamuatá

No ramo dos crustáceos, os peixe frito empanado na farinha


rios de Breves oferecem com de mandioca, camarão no bafo,
abundância o camarão de água filé de camarão com verduras
doce. Desse modo, depois de conhecido localmente como torta
conhecermos os ingredientes de camarão, camarão assado na
básic os da alimenta ção em brasa c om molho d e limão,
Breves, fica mais fácil pirarucu frito, peixe salgado
compreender a composição dos desfiado com verduras e tamuatá
seus principais pratos típicos cozido com tucupi.
como: a caldeirada de filhote,

Peixe frito empanado


Caldeirada de filhote
na farinha de mandioca
Camarão no bafo Pirarucu frito

68
3 Alguns aspectos da Cultura
O açaí é o alimento açaí não tem horário certo. Os
fundamental da dieta dos ribeirinhos tomam açaí pela
brevenses, sendo acompanham- manhã puro ou em forma de
ento preferido nos almoços e mingau e no almoço à tarde e à
jantares, junto com diversos noite no jantar. Do açaí também
peixes apresentados, o camarão, se faz o geladinho (choop),
o charque e a mortadela frita. sor vete e picolé, líderes na
Embora, seja mais consumido no preferência.
almoço e jantar, para se tomar o

almoços e jantares com Açaí Sorvetes/Picolé Acaí com Farinha

3.3. As artes
A arte musical de Breves brega. S endo que o brega
segue as tendências regionais, despertou novos músicos, novos
nacionais e internacionais. Nós cantores, novas gravadoras e
não temos um ritmo caracterís- produtores musicais, alcançan-do
tico de Breves, a nossa cultura bastante popularidade no Pará.
musical envolve ritmos diversi- Por esse motivo no final da
ficados, dependendo da época. década de 1990, o Brega Pop
Os mais ouvidos nas primeiras chegou a quase todas as rádios
décadas do século XX era o bolero locais com programas exclusivos
e o merengue, a guitarrada e o para os artistas da área.

69
3 Alguns aspectos da Cultura
A televisão também se surgimento do artesanato entre
rendeu ao estilo com a criação de as populações de Breves esteve
programas locais para divulgar as relacionado à presença de
produções. E, a partir dos anos a r t e f at o s p r o du z i d o s p e l o s
2000, o brega passou a ser primeiros moradores indígenas
rec onhecido na ci onalmente, com um impor tante fator
como a música e o ritmo próprios favorável: a abundância d e
do Pará. matéria prima oferecida pela
No campo das artes, ainda natureza.
podemos citar o artesanato. O

cenário de clipe do cantor Noite de trasladação.


Comidas Típicas
católico Bruno Diego Virgem de Nazaré.

A necessidade de louças, margens dos rios. A produção


ferramentas e outros utensílios artesanal das canoas foi herdada
fo r ç o u a c r i at i v i d a d e d o s pelos indígenas que habitaram o
moradores. O exemplo da arquipélago foi aprimorada pelos
fabricação de canoas e barcos, portugueses que acrescentaram
largamente produzidas ainda na novas técnicas e modelos aos
atualidade, pois Breves é uma existentes nos dias atuais.
cidade ribeirinha com a maioria da
sua população localizada às
70
3 Alguns aspectos da Cultura

Alguns dos artistas e compositores do gênero Brega Paraense: Alberto Moreno, Kim Marques, Edilson Moreno,
Nelsinho Rodrigues, Wanderley Andrade, Tonny Brasil, Teddy Max. Foto Divulgação

Além da produção da museus da Europa e da América


tradicional cerâmica marajoara, do Nor te, as populações de
herdada pelos primeiros Breves produziam peças como
habitantes da região de Breves, vasos, jarros, utensílios de
que estava voltada para a função nec essidade como pratos e
de armazenar água e alimentos e peças decorativa com desenhos
para outras atividades de pássaros e outros animais
domésticas e de decoração. Pelos silvestres, pintadas com cores
relatos dos viajantes europeus e vibrantes com o amarelo, azul,
p e l a s p e ç a s ex i s t e nt e s em vermelho e o laranja.

artistas regionais de Breves-PA

Artistas, cantores e Rael, Luiz Guilherme, Sinara Costa,


compositores Breveneses. Alguns Nira Duarte, Bruno Diego...
dos mais considerados; Hudson e
71
3 Alguns aspectos da Cultura

Outra herança indígena no de arumã e miriti, como os cestos,


artesanato ainda presente na pari, matapi, peneiras, tipitis,
região, são as peças produzidas abanos e paneiros.
pelas fibras vegetais das árvores

fibras vegetais de arumã miriti matapi

Podemos mencionar encontradas nas margens dos


também os brinquedos como rios de Breves, principalmente o
barcos, confeccionados das fibras miriti.
retiradas das palmeiras,

brinquedos de miriti navios de miriti

72
3 Alguns aspectos da Cultura
A pintura em telas, também cotidiano ribeirinho e da cidade.
é uma das formas de arte mais Dentre os artistas mais evidentes,
d esenvolvidas em Breves, estão os artistas plásticos: Tadeu
destacando-se as temáticas Ferreira, Necy Balieiro, Sérgio
r e g i o n a i s , p r i n c i p a l m e nt e o Lopes, Assis, dentre outros.

Tela da Artista Necy Balieiro apresenta traçados dos anos de 1950 a Cenário tipicamente ribeirinho dos finais da década de 1970
1960 registrado pelo artista José Tadeu Ferreira

A pintura em tela é de autoria do artista Edson Cardoso, retrata A belíssima tela em destaque é de autoria da artista local Necy
narrativas popularizadas ao longo de décadas pelos brevenses, Balieiro
acerca da cobra encantada que vive embaixo da Igreja Matriz.

73
3 Alguns aspectos da Cultura
Atividades
Os nossos costumes e tradições contam muito sobre as formas de pensar
e agir da nossa gente, eles estão ligados à identidade brevense.

Então, vamos refletir:

1- O que você achou de alguns dos nossos costumes e tradições?

2- Mexem com a nossa imaginação, não é mesmo?

Atenção Professor (a): Vamos organizar a turma para a leitura deste


capítulo e em seguida buscar mais fontes em nosso folclore popular para
a realização de apresentações de lendas e contos relacionados à nossa
história, em forma de interpretação teatral para os demais colegas, e se
possível, com a escola toda.

74
UNIDADE II

MODOS DE SOBREVIVÊNCIA
4 Práticas Econômicas
4.1. O negócio da borracha
A história da região de (seringueira), é a principal
Breves está diretamente ligada m at é r i a - p r i m a u t i l i z a d a n a
aos negócios de diversos produção da indústria de
produtos extraídos das florestas e emborrachados no mundo todo
a comercialização destes, para o como balões, colchões, bicos de
mercado nacional e internacional. mamadeira, luvas cirúrgicas,
Um desses produtos é o látex uma brinquedos infantis,
substância branca leitosa, preser vativos, pneus, dentre
retirada da árvore de seringa outros.

Foto: Ilustração de Seringueiras

76
4 Práticas Econômicas
No século XIX, Breves se produzidos, seguido por Anajás
destacou na produção do látex, com 993.173 (BRAGA, 1919, p. 93).
tornado-se juntamente com Sendo que o auge da produção
Anajás, Melgaço e Gurupá, teria ocorrido em 1900, com a
responsável pela maior parte da produção de 1.547.374 quilos e
borracha produzida no conseguiu manter essa liderança
arquipélago de Marajó. Alguns até a primeira década do século
registros oficiais colocaram XX (Weinstein, 1993). Dessa
Breves nos anos de 1870, 1896 e forma, o período de 1870 a 1915
1897, liderando a posição de marcou o processo de expansão e
maior produtor do artigo na apogeu da economia da borracha
região, com o recorde de na Amazônia e no município de
1.497.304 quilos de borracha Breves.

Como funcionava o negócio da borracha em Breves?

Vamos entender melhor. O como o açúcar, café, feijão arroz,


seringueiro, na sua mai oria querosene e outros, a preços
formava uma camada social de muitos mais altos que os de
população mestiça local e de mercado nacional.
nordestinos, moradores dos rios Como os locais de extração
de Breves, retiravam o látex da do látex, a exemplo dos espaços
floresta e entregavam para os rurais de Breves, eram distantes
comerciantes dentro do sistema dos c entros comerciais que
conhecido como aviamento, ou c o mp r av a m a b o r r a c h a , o s
seja, o comerciante, geralmente seringueiros ficavam à mercê dos
não pagava a borracha com aviadores (comerciantes), pois
dinheiro em espécie, mas oferecia não tinham como transportar até
um crédito no seu comércio para a capital Belém.
o seringueiro comprar, pagando-
os geralmente com produtos
necessários à sua sobrevivência,
77
4 Práticas Econômicas
Eram os aviadores de Breves que na Amazônia. Isto ocorreu, devido
vendiam a borracha para as os ingleses terem levado
casas exportadoras em Belém. sementes da seringueira (Hevea
Assim, a borracha da região de Brasilienses) para a Ásia,
Breves, era exportada para o principalmente para a Malásia,
exterior para a fabricação de onde começaram uma larga
pneus, sapatos, automóveis, produção, desbancando a
bicicletas, dentre outros, borra cha amazônica. D esse
principalmente nos E stados modo, a partir de 1915, a crise se
Unidos e Inglaterra, os maiores acirrou no município de Breves,
consumidores do produto no afetando a produção e a
mundo. comercialização desse produto.
Muitos comerciantes da Nesse processo, os negociantes
borracha eram chamados de d e Breves, sem o apoi o do
patrões e há registros cartoriais governo federal, viram seus
denominando-os também de negócios nesse ramo, declinarem.
coronéis, muitos fizeram riqueza A borra cha, então, não
na região nesse período, desaparec e do mercado de
aumentando consideravelmente Breves, mas diminui
o patrimônio através da compra drasticamente até a década de
de terrenos e de casas tanto na 1940, quando ocorreu a Segunda
cidade como nos espaços rurais. Guerra Mundial (1939-1945).
Eles associavam os negócios da Nesse contexto, o Japão ocupou
borracha com outras atividades e as áreas coloniais europeias
tinham enorme poder político e produtoras de borracha e os
econômico nos espaços de rios e países aliados como Estados
florestas. unidos, França, Inglaterra e União
Po r é m , o s n e g ó c i o s d a Soviética e o Brasil, voltaram a ser
borracha, não permaneceram por uma alternativa para o
muito tempo, a partir de 1913, abastecimento da borracha no
houve um declínio da exportação mundo.

78
4 Práticas Econômicas
D i a nt e d e s s e n o v o c e n á r i o Em Breves esse acordo foi
mundial, em 1942, os Estados sentido. A extração da borracha
Unidos e Brasil assinaram os retomou ao cenário econômico.
“Acordos de Washington”, pelos Muitos moradores dos espaços
quais o governo americano se rurais voltaram a extrair látex da
comprometia, principalmente, a seringueira. Porém, as
investir capitais na produção de negociações se diferenciavam da
borracha nativa e garantir para os primeira fase da borracha. Pois,
a l i a d o s o fo r n e c i m e n t o d a pelo Decreto-Lei nº 4.451, de 09
borracha silvestre amazônica. de julho de 1942, fora criado o
Uma vez que grande parte dos Banco de Crédito da Borracha S.A
antigos seringais da região já (BCB), com par ticipação de
haviam sidos abandonados. capital norte americano que
(Alves Filho, 2000). detinha 40% de suas ações.

Mas afinal, o que mudava na prática nas negociações da borracha


com a entrada do BCB na região de Breves?

É possível concluir que muita forma, era o Banco que dava


coisa mudou. Vamos lembrar que assistência aos produtores da
na primeira fase da borracha o borracha, interessados em fazer
seringueiro entregava a sua as negociações do produto. Note
produção para o comerciante que existiu uma quebra na forma
local e este entregava para as de negociação da primeira fase
casas exportadoras. Agora quem da borracha, onde as casas
possuía a exclusividade para aviadoras e o aviador eram os
realizar a compra e venda da principais agentes financiadores
borracha de qualquer tipo e dos seringais e das operações de
quantidade, tanto para o comercialização da borracha.
mercado nacional como (Alves Filho, 2000).
internacional era o BCB. Dessa
79
4 Práticas Econômicas
A Vila Corcovado no período da borracha

Foto: Área de frente da Vila de Corcovado, ano de 1942. Arquivo: Dione Leão.

Va m o s a c o m p a n h a r n a ções como Corcovado Industrial,


prática como se dava essas área destinada à indústria
negociações, a partir do caso da extrativa da borracha.
Vila de Corcovado, próxima de No local, o governo implantou
Breves. Nesse lugar, existia uma uma agência do Banco de Crédito
fábrica de beneficiamento da da Borracha (BCB) para realizar
borracha de propriedade do as negociações, diretamente com
em p r e s á r i o c a r i o c a Át h i l a a empresa que recolhia a
Bebiano, domiciliado em Belém, produção de pequenos
ele negociou várias propriedades produtores rurais de toda a região
desde 1935 às margens do rio de Breves para enviar para o
Parauaú. Porém, somente em resto do Brasil, através de navios
1938, aparece como domiciliado de grande porte que o Governo
na região, ou seja, morador no Federal enviava especialmente
lugar descrito nas documenta- para este fim.

80
4 Práticas Econômicas
Apesar do Banco do Brasil e Mundial, por meio de esforço
do Banco de Crédito da Borracha conjunto dos governos brasileiros
terem se instalado na Amazônia e a m e r i c a n o s o s et o r fo i
por volta de 1942, com vistas a reaquecido.
garantir o aumento da Após a Segunda Guerra,
produtividade das atividades muitos seringueiros continuaram
empresariais e reter maiores na mata e o sistema permaneceu
lucros na região (Loureiro, 2004), - mantendo ainda traços que o
na cidade de Breves o Banco de caracterizavam como no início do
Crédito da Borracha chegou na s é c u l o , qu a n d o a p r o du ç ã o
década de 1950 e o Banco do estivera no auge, retomando
Brasil em meados d e 1 960. a n t i g a s f o r m a s d e
Entretanto, não se sentiu grandes comercialização (Lobato-Filho,
mudanças com sua inserção nem 1951).
para a economia, nem para a Este foi o caso do Sr. João
concentração de renda, pelo Félix Medeiros, nascido e criado
menos no que se refere aos em meios aos rios e florestas de
investimentos para os pequenos Breves, migrou para a cidade nos
produtores. O caso de Corcovado finais da década de 1960. Nas
é um exemplo disso, o apoio suas memórias dos anos de 1940
financeiro era dado aos a 1950, grande parte da
empresários e não aos população que vivia em espaços
trabalhadores da extração e rurais sobrevivia do negócio da
beneficiamento. borracha. Entregavam a
Como observamos, a produção a um patrão. A maioria
produção amazônica do látex em desses “patrões”, mencionados
1930 correspondia à apenas 1% da por ele não dependiam
produção mundial. O sistema exclusivamente da borracha, a
produtivo perdera a vitalidade, maioria desempenhava outros
mas não se extinguira e retornou negócios paralelos.
du r a nt e a S e g u n d a G u e r r a

81
4 Práticas Econômicas

“Nessa época, todo mundo fazia esse negócio com a borracha. Nossos patrões
era o finado Cornélio Torres, no Rio Ituquara, Agostinho Souza, Francisco Neto, Gaspar
Barbosa, Augusto Barbosa, tinha o Ernesto Maia, Chico Evangelista, que moravam na
boca do rio Limão. Esses tinham comércio forte. Nesse tempo eles também
trabalhavam com cana de açúcar, tinha uns quantos engenhos a vapor. Tinha o Manuel
Rufino no Tajapuru, ele tinha, moenda com boi na sua propriedade. Mas, só da borracha
não tinha nenhum que fosse rico” (Sr. João Félix Medeiros, 2017).

4.2. O comércio de produtos variados extraídos das florestas

B r e v e s é u m mu n i c í p i o Em Breves, um número
conectado por muitos rios e grande de produtos entrava e
braços de rios. Essa não é uma saía da cidade pelos rios,
realidade somente nossa. No Pará movimentando o comércio local.
do século XIX, a abundância de Produtos como já mencionados,
rios e furos possibilitava tanto o r et i r a d o s d a s fl o r e s t a s e m
escoamento de produtos quanto espécies e tipos variados como:
da comunicação entre localidades borracha, madeira, arroz,
da província, funcionando como sementes oleaginosas, peles de
alternativa viável de transporte animais silvestres, frutas tropicais
devido à indisponibilidade de e tantos outros circulavam pelos
recursos para a construção de estreitos de Breves em
estradas. Além disso, os rios embarcações de variados
aproximavam moradias tanto na tamanhos e modelos para serem
cidade de Belém quanto nos negociados em diferentes partes
interiores da província (Almeida, do mundo.
2010).

82
4 Práticas Econômicas
Em 1939, o jornal “Estado do estudar separadamente mais a
Pará” ressaltou a variedade de frente na unidade, como de
produtos existentes na economia outros produtos extraídos da
local nesta década, destacando floresta:
para além da madeira, que vamos

Breves, município vasto e opulento, possuidor de grandes florestas, onde a


borracha, as sementes oleaginosas, a madeira de lei, o timbó e toda a sorte de raízes
preciosas, abundam numa fartura estupenda, Breves está forjado a ter um futuro
brilhante. Os seus grandes portos de embarque de madeiras, conhecidos no Brasil e no
estrangeiro, nos quais aportam diariamente, navios de todas as procedências,
transatlânticos de grande tonelagem que vão se abarrotar de colossais toras de
madeiras destinadas ao sul do país e do estrangeiro. (Jornal Estado do Pará, ano 1939).

A reportagem indica que como o corte de lenha e da palha


para se sustentar a maioria dos de buçuzeiro, utilizada para cobrir
habitantes dos espaços rurais de casas. Naquele tempo se vendia
Breves se dedicava a mais de uma muita palha para o bai xo
atividade, dependendo da Amazonas, pois não existia telhas
estação do ano. No verão os tipo Brasilit, muito utilizadas na
moradores abriam roçados de atualidade, apenas telha de barro,
mandioca, milho, arroz, feijão, pouco acessível às populações
m e l a n c i a , j e r i mu m , b a n a n a , mais pobres. Ainda na década de
maxixe, dentre outros. Além de 1940, vendiam também a
pescar e caçar eles complemen- semente da andirobeira para
tavam a alimenta ção c om retirada do óleo ou azeite como é
pequenas criações de galinhas, conhecido na região, o fruto da
porcos e patos. Havia ainda viroleira e a semente do
famílias que utilizavam de outros murumuru.
meios para aumentar a sua renda
83
4 Práticas Econômicas

Buçuzeiro Andirobeira Murumuru

As florestas do município
eram ricas em espécies do
extrativismo vegetal, geralmente
utilizadas na indústria de
cosméticos, na produção de
essências vegetais, bastante
utilizados pela população como a
andiroba, a copaíba, a mamona e
o pracaxy, usados ainda hoje
como utensílios medicinais.
Outros como a ucuúba serviam
viroleira
mais ao mercado nacional na
fabricação de velas e do
murumuru extraía-se um óleo
vegetal largamente utilizado na
indústria de cosmético nacional.
Essas sementes chegavam à
capital Belém pelas mãos de
c entenas d e regatões que
compravam a produção local,
diretamente nas casas dos
ribeirinhos espalhados pelos rios
do município. andiroba

84
4 Práticas Econômicas

Manejo do arroz na várzea integrado a outros sistemas de produção. Foto: Agência de Notícias - Embrapa

A produção do arroz de várzea

A produção do arroz de av e n i d a Pr e s i d e nt e G et ú l i o
várzea no município também foi Vargas. Já nos espaços rurais
um dos produtos de destaque na eram dispersos entre os diversos
economia do município, teve seu rios do município.
auge na década de 1960, tendo As relações entre os
como um dos maiores agricultores e os comerciantes
fornecedores na zona urbana o estavam estruturadas segundo o
S r . R a i m u n d o Tu p i n a m b á , sistema de aviamento, do mesmo
comerciante da região. S ua modo que a borracha, todo o
indústria d e beneficiamento comércio era feito com base no
localizava-se nas proximidades da crédito, cujos termos eram
área portuária da cidade, na definidos pelos comerciantes.

85
4 Práticas Econômicas
Veja esse testemunho!

“Eram os comerciantes que financiavam para os


trabalhadores fazerem roçado; a gente tinha os patrões do
interior e o patrão jogava mercadoria em cima da gente; a
gente colhia o arroz e entregava para ele, para pagar em
conta; a gente quase não via dinheiro, era eu acho depois de
1960 essa época.” (Sr. Antônio Soares).

O comércio de sementes, de consumo e saiam produção local


peles de animais silvestres, da de madeira e palmito.
borracha e do arroz perdeu a
força no município nos finais da
década de 1960. No lugar onde
funci onava a indústria d e
beneficiamento do arroz d e
várzea, passou a funcionar uma
fábrica de palmito denominada
de Caiçara. O comércio do palmito
acrescentou novos contornos na
cidade no mesmo período em que
a madeira também alcançava seu
auge, a década de 1970. Essas
atividades industriais
movimentavam toda a orla da
cidade, já que era por ali que
chegavam mercadorias para o
86
4 Práticas Econômicas
O Açaí na economia brevense

Foto: Feira do Açaí de Breves em manhãs de


movimento do comercio do fruto.

Foto: Fruto do açaí em paneiros, conhecidos


também como razas pelos manipuladores do fruto.

Diante de toda essa da cidade, às margens do rio


variedade, não podemos Parauaú, nas primeiras horas do
esquecer o cultivo e a extração de dia. Nas décadas de 1950 a 1970,
açaí, em vista ser este um dos funcionava em local improvisado,
produtos mais consumidos pela ganhando posteriormente um
população de Breves. A grande porto próprio para essa
p r o du ç ã o d e a ç a í v em d o s comercialização. O açaí
espaços rurais, desde os tempos movimenta a economia local, por
mais distantes. O c omérci o toda a cidade existem pontos de
sempre foi feito na área portuária venda do produto.

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4 Práticas Econômicas

Casa com bandeira vermelha sinalizando a venda de açaí

A bandeira vermelha sinaliza mundo. Realidade esta que fez


a disponibilidade do produto e o despertar investidores de outros
valor do litro que sofre variação de lugares do Brasil para Breves, é o
acordo com a época do ano. No caso das fábricas instaladas no
verão, período da safra é possível município com destaque para a
adquirir por um preço mais fábrica “Nor tefruti” na vila
acessível e no período de chuvas, Mainardi e de outra
o valor aumenta. O açaí é r e c e nt e m e nt e m o nt a d a n a
responsável pelo sustento de estrada de Breves, ambas
muitas famílias e muito valorizado compram dos fornecedores locais
pelos brevenses e nos últimos o fruto e transformam em polpa
anos caiu no gosto nacional, sendo p a r a r ev e n d e r n o m e r c a d o
exportado para vários lugares do nacional.

88
4 Práticas Econômicas
4.3. O negócio da madeira

Foto: Toras de madeira em esteiras sendo preparadas para o processo de


serragem. (arquivo Dione Leão).

A abundância de árvores na encontrava em crise no período.


Amazônia nos séculos XVII ao XVIII, Além dessa finalidade, a
impulsionou o interesse dos variedad e d e espécies, era
colonizadores pela extração da também utilizada para fazer
madeira, utilizada na construção lenha, gerando muitos lucros para
n av a l . A s s i m , a s m a d e i r a s a coroa portuguesa. (Batista,
brasileiras, beneficiadas na 2013).
Amazônia eram enviadas para o
reino de Portugal, no sentido de
contribuir com a reestruturação
da marinha portuguesa que se
89
4 Práticas Econômicas

Foto: Madeira em toras empilhadas em embarcações prontas para o desembarque.


(Arquivo: Dione Leão).

A madeira ganhou força car toriais, foi possível


econômica em Breves, a partir da acompanhar esse processo de
década de 1940, após a Segunda transição e consolidação através
G u e r r a M u n d i a l , qu a n d o a s do Sr. Lourival Santos
negociações da borracha Nascimento, que migrou do rio
desaceleraram novamente. Os Mapuá onde trabalhava junto com
comerciantes do ramo da os irmãos com a borracha, abriu a
borracha aos poucos foram empresa Nascimento e C ia,
a c o m p a n h a n d o a s adquiriu terras à margem
transformações da economia e esquerda do rio Parauaú, e
i nv e s t i n d o n o s n e g ó c i o s d a montou uma das madeireiras
madeira. Pelas documentações mais equipadas da região.
90
4 Práticas Econômicas
Porém, a primeira madeire- planeta.
ira que se tem notícia na cidade de Um prédio, referente ao
Breves, foi a empresa Moinhos de p at r i m ô n i o i n du s t r i a l d e s s a
Breves Ltda., fundada em 1925, empresa ainda faz parte do
que mais tarde mudou a patrimônio privado da cidade de
nomenclatura para Breves B r e v e s , s i t u a d o à Av e n i d a
Industrial Sociedade Anônima, P r e s i d e n t e G e t ú l i o Va r g a s ,
conhecida pela população como localizado ao lado da Igreja Matriz
BISA. O porto da empresa era de Breves, embora tenha sido
mu i t o m o v i m e nt a d o c o m a descaracterizado ao longo dos
presença de navios de diferentes a n o s p e l o s d i f e r e nt e s u s o s
nacionalidades que faziam o comerciais do imóvel. Na
embarque da madeira, exportada atualidade, está ocupado pela
p a r a d i f e r e nt e s l u g a r e s d o Loja Marajó Tecidos.

Foto: Parte do patrimônio da Breves Industrial Sociedade Anônima (BISA),


década de 1970. (Arquivo: Dione Leão)
91
4 Práticas Econômicas
A área da mencionada Praça da Matriz (esquina com a
e m p r e s a o c u p av a t o d o u m atual Av. Rio Branco) pelo lado
quarteirão da Avenida Presidente direito, a Travessa São Sebastião
Getúlio, o livro de compra e venda (em frente à Praça Dário Furtado)
do cartório Dário Furtado no ano pelo lado esquerdo, a Rua Dr.
de 1924, mostra que a empresa Assis (atualmente Wilson Frazão)
Moinhos de Breves Ltda, realizou a pelos fundos. Mas, não parou por
c o mp r a d e u m a qu a d r a d e aí, em 1950 a referida empresa
terreno local, per tencente à ampliou novamente o patrimônio
prefeitura para construir parte do ao comprar da prefeitura
seu patrimônio. municipal de Breves, um prédio
A área ocupada pela conhecido por por to Getúlio
empresa compreendia a Avenida Va r g a s , à s m a r g e n s d o r i o
Coronel Amado (atual Presidente Parauaú.
Getúlio Vargas) pela frente, a

Foto: Parte do patrimônio da empresa Breves Industrial Sociedade Anônima (BISA). Arquivo: Dione Leão

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4 Práticas Econômicas
O patrimônio da empresa foi Nesses espaços, traba-
definido nas documentações lharam centenas de pessoas, a
como “parque industrial” por maioria moradores locais, mas
conter muitos bens, como: um também registrou-se a presença
galpão destinado às instalações de migrantes de vária
de energia e oficinas, possuindo nacionalidades. É o caso, do
fundações em concreto armado, gerente Archibal Roy Cox, citado
estrutura metálica e cobertura no documento como o procurador
em telhas de zinco; um galpão da empresa na região, casado,
destinado às instalações da natural da Inglaterra, com
serraria, com pisos em diferentes moradia fixa na cidad e e o
níveis, em mad eira d e lei e português Joaquim Rodrigues
cimentado, cobertura em telhas Leite, operário da empresa.
de zinco; uma casa destinada às Até o momento, não existe
instalações de estufa (secagem nada de exato sobre a
da madeira), possuindo nacionalidade dos fundadores da
estruturas em concreto e empresa Moinhos de Breves, pois
madeira, cobertura em telhas p o u c a s i n fo r m a ç õ e s fo r a m
galvanizadas, forro em madeira e mencionadas pelos moradores
chapas galvanizadas; um prédio mais antigos. Na maioria das
destinado aos restaurantes, com vezes os fundadores foram
estruturas e paredes de madeira, genericamente denominados de
p i s o c i m e nt a d o ; u m p r é d i o alemães. Porém, em 1926, logo
destinado à escola, com estrutura a p ó s s e u fu n c i o n a m e nt o , o
de madeira e coberta com telhas representante legal era um
de barro; um trapiche construído homem de nacionalidade inglesa
em madeira de lei, utilizado para e não alemã.
atracação de embarcações.
93
4 Práticas Econômicas
Em 1943, a empresa mudou deles por aqui. A exemplo de Dona
de nomenclatura e passou a se Suzane Joubert, acostumada a
denominar Breves Industrial recebê-los em sua residência,
Sociedade Anônima (BISA), que durante a década de 1960 e Dona
tinha os portugueses na gerência. Benedita do Amaral que
Sobre esse grupo, existem muitas trabalhou na residência de um dos
memórias sobre a passagem gerentes por vários anos.

Foto: Dona Suzane Joubert (cabelos pretos) e o esposo Tenente Abraão (atrás dela) com
os gerentes portugueses da Breves Industrial Sociedade Anônima (BISA). Arquivo da família.

A empresa permaneceu conta disso, os seus bens foram


ativa por mais duas décadas, leiloados pela Junta Trabalhista
quando abriu falência em 1972, de Breves, ficando o patrimônio
sob a gerência de americanos, nas mãos de empresários locais
saindo do cenário madeireiro que aos poucos foram vendendo
antes do auge dos negócios na lotes para os moradores,
região. A empresa não pagou a principalmente das classes mais
indenização dos operários e por abastadas de Breves.

94
4 Práticas Econômicas
Podemos destacar que nos década de 1970, influenciada
finais dos anos de 1950, segundo tanto pela exaustão das reservas
dados do IBGE (1957), a extração madeireiras naturais na mata
da madeira já era a maior atlântica do S ud este e nos
atividade econômica do município, pinheirais do sul do país, como
que se destacava na exportação pela abertura da Amazônia, que
do produto. O total era de cinco começou nos anos de 1970,
serrarias na cidade, com portos possibilitando o deslocamento
particulares para o embarque do das madeireiras do Sul e Sudeste
produto, que era exportado para para o Norte do Brasil. (SCHOLZ,
Portugal. O auge de compra de 2002).
terrenos por madeireiros na Esta abertura da Amazônia
região, para instalarem seus estava dentro da “Operação
empreendimentos ocorreu entre Amazônia”, ocorrida a partir de
os anos de 1959 a 1975. Nesse 1966, fortalecida no governo
período, os livros de transcrições militar, cujo objetivo era
de imóveis, registraram a compra modernizar a economia brasileira,
de propriedades nos espaços porém, dentro de um padrão de
rurais de Breves de cidadãos da dependência associada ao
Tchecoslováquia, Estados Unidos, grande capital transnacional,
Espanha e Itália e do sul do Brasil. concedendo incentivos e isenções
As informações apresenta- de impostos para a exploração
das, também ajudam a entender econômica da região por
a instalação de madeireiras do Sul empresários de outros países e
do país na região de Breves, pois estados brasileiros.
essa ação está dentro do
contexto do desenvolvimento da
indústria madeireira no Pará na
95
4 Práticas Econômicas
Nesse período, a dos furos, empregando 1.109
microrregião dos furos de Breves trabalhadores. Em 1975 eram 94
destacou-se nesse comércio, indústrias com 1.400 empregados.
produzindo 44% do valor da Em 1980 o número de indústrias
transformação industrial (VTI) do aumentou significativamente para
setor. Conforme informações do 5 1 5 c o m 4 . 079 p e s s o a s
IBGE, em 1970 existiam 61 trabalhando. (SCHOLZ, 2002).
indústrias madeireiras na região

As principais madeireiras de Breves ao longo do tempo

Dentre as principais empresas madeireiras, instaladas em espaços rurais, mais


especificamente na Vila São Miguel do rio Macacos, destacaram-se a Salma, Comig,
Capeme, Xilo. Na Vila Jaburuzinho, empresas como Alto Tapajós, Madeiras Gerais
Sociedade Anônima (MAGESA), Equatorial, Madeira Itália Americana, Maime. Na Vila de
Antônio Lemos estavam a Madeiras da Amazônia S.A (MADASA), Vipasa, São Luís
Madeira S.A (SALUMASA), Diana Pallucci, Empresa Tropical Indústria e Comércio e
Madeireira Santa Mônica, esta última localizada na Vila de Corcovado, todas extintas.
Até meados de 1980, existiam mais de 150 indústrias madeireiras na região,
exportando madeiras beneficiadas para a Inglaterra, Estados Unidos, Portugal,
Irlanda, Venezuela, Dinamarca, Porto Rico, etc., das quais destacava-se a Madenorte
S.A. (RAMOS, 1996).

Entre as décadas de 1970 a A. que produzia laminados e


2000, ganhou destaque uma compensados para o mercado
empresa madeireira de grande nacional e internacional.
porte em Breves: A Madenorte S.
96
4 Práticas Econômicas
Estava localizada às margens do No ano de 1970, 89% do emprego
rio Parauaú. A mesma abriu industrial em Breves dependia da
falência, demitindo mais de 1.500 indústria madeireira; em 1980 caiu
funcionários. Deixando um rastro para 83% e nos anos 2000,
de desemprego e danos despencou quase que
ambientais em toda a região. Os completamente. Nos dias atuais a
motivos mais evidentes para o at i v i d a d e m a d e i r e i r a a i n d a
oc orrido está nas pressões permanece, mas se encontra
ambientais de países como os restrita as serrarias de pequeno
E s t a d o s Un i d o s e a s O N G s porte, com uma produção voltada
internacionais sobre a exploração principalmente para o mercado
da madeira em Breves, feita de local, utilizada na construção de
forma ilegal. Esses países exigiram casas, portas, janelas e móveis.
que o IBAMA solicitasse da G eralmente essas serrarias
Madenorte e de outras empresas pertencem às famílias moradoras
instaladas em Breves, um plano das margens dos rios de Breves,
de manejo ambiental. p r óx i m a s d a c i d a d e o u em
Como a maioria não localidades mais afastadas. A
disponibilizava desse instrumento, grand e mai oria trabalha na
o setor madeireiro entrou em ilegalidade e não tem expectativa
crise, gerando um grande número de crescimento. A renda que
de demissões e o fechamento de geram é para o sustento das
muitas empresas. Em decorrência famílias envolvidas que na sua
disso, Breves assistiu a uma das maioria contam com o auxílio de
maiores crises econômicas dos programas sociais para ajudar na
últimos tempos com o sobrevivência.
fechamento das grandes
empresas madeireiras da região.
97
4 Práticas Econômicas
4.4. O comércio e os bens de consumo ofertados na cidade

Lojas na Travessia Castilhos França

O comércio da cidade de Breves, a cerâmica e o comércio local,


principalmente nos arredores da mesmo que de forma incipiente,
á r e a p o r t u á r i a s e m p r e fo i pois, não podemos esquecer que
movimentado, desde o século XIX no século XIX, a borracha era o
é citado na literatura sobre a principal produto da economia
região. Podemos destacar os local e sua produção não era na
viajantes europeus em cidade, mas nos espaços rurais,
expedições pela Amazônia, que onde vivia a maioria da população
em busca de conhecimentos da região.
sobre a diversidade da fauna e da O fato da cidade de Breves ser
flora do município, ancoraram por geograficamente muito bem
várias vezes no pequeno vilarejo localizada, sempre foi um fator
de Breves e tomaram nota das determinante para o
suas percepções sobre as desenvolvimento do comércio
populações e as produções locais. local.
Dentre as quais ganhou destaque
98
4 Práticas Econômicas
A partir da década de 1940, Pantoja do Amaral, explicou que
o comércio na cidade vai se na década de 1950, o ponto de
desenvolver melhor dentro de identificação do local era uma
relações diretas com as florestas mangueira grande que fazia
e os rios. Aliás, esta é uma sombra para a população, onde
c a r a c t e r í s t i c a m a r c a nt e d o existia uma espécie de rampa, ou
comércio em Breves. As seja, local de desembarque de
populações dos espaços rurais, produtos dos moradores
traziam sua produção para ribeirinhos. Para localizarmos
vender na cidade em locais m e l h o r , a r a m p a fi c av a n a
improvisados que funcionavam margem do rio Parauaú de frente
principalmente no período da para a Presidente Getúlio Vargas,
manhã. Os moradores mais esquina com Castilhos França.
antigos como o Sr. Venâncio

Tinha uma rampa, tinha uma mangueira, que o pessoal do interior ficava lá para
vender os paneiros de açaí, paneiros com quatro latas de açaí, às vezes botavam tudo lá
em cima, o açaí, as caças do mato, as frutas: cana, marí. Toda a produção do interior
descarregava lá para vender, era tipo uma feira, tu chegavas lá e ia escolher o açaí que
tu querias, o peixe, a caça, o camarão, tudo, era um ponto de desembarque da galera do
interior.
(Venâncio Pantoja do Amaral, 2013).

99
4 Práticas Econômicas
Não podemos esquecer que Em cidades da Amazônia
uma parcela da população que como Breves, o comércio ao ar
vivia em Breves era migrante dos livre, improvisado tem um papel
espaços rurais e preservava destacado na orla da cidade,
hábitos alimentares próprios dos associadas à prática de
seus lugares de origem, por isso os atividades comerciais localizadas
produtos comercializados na em frente ao rio. Isso geralmente
rampa eram muito apreciados ocorria, pelo fato da cidade não se
pela população da cidade que constituir em espaço de
consumia diariamente a produção, mas de negociação dos
produção. produtos extraídos dos rios e
florestas do entorno.

Foto: Avenida Pres. Getúlio Vargas, destaque para a mangueira onde funcionava a rampa e o
comércio da família Barros, entre as décadas de 1950 e 1960. (Arquivo: Dione Leão).

100
4 Práticas Econômicas
A rampa ficava localizada em da cidade, era uma realidade,
meio a por tos privados dos dentre os quais, podemos citar o
maiores comerciantes de Breves. Sr. Tupinambá, Lino Alves, Chicó
Em toda a rua Presidente Getúlio Vieira, Josué Fernandes, Idevaldo
Va r g a s , e x i s t i a m v á r i o s Paes, Antonino Barros, dentre
estabelecimentos comerciais, outros que movimentavam o
sendo que a maioria desses comércio local, vendendo todo
comerciantes também tinham tipo de mercadorias para suprir
trapiches, interligando o rio à sua as necessidades dos moradores
propriedade. O Sr. Vanderlei da cidade e dos espaços rurais.
Castro, destacou que a presença
de comerciantes nesse perímetro

Foto: Casa de comércio local, décadas de 1950 a 1960. (Arquivo: Dione Leão).

101
4 Práticas Econômicas
As casas comerciais eram logo o empreendimento. Era o
diretamente ligadas a esses caso da casa comercial São
trapiches, como se fosse uma Benedito, descrita em 1963 por
extensão delas, uma vez que a José Luiz Pena Pereira:
pessoa desembarcava e avistava

O trapiche ficava em frente à Trav. Castilho França. Ali na esquina desta rua
com a Presidente Getúlio ficava a casa comercial “São Benedito”, do Lino Alves, uma
mistura de mercearia com sorveteria. No mesmo instante fomos lá e compramos um
sorvete para cada. Ao lado do trapiche do Lino Alves, havia uma rampa sob a sombra de
uma frondosa mangueira, onde aportavam cascos e pequenos motores que
desembarcavam e comercializavam ali mesmo peixe e açaí.
(José Luiz Pena Pereira, 2013).

Entre os anos de 1970 a Apesar disso, a indústria


1980, o comércio de Breves, madeireira conseguia absorver
experimentou seu momento mais essa mão-de-obra, na sua
expressivo, a oferta de empregos maioria braçal e não especiali-
nas madeireiras nos arredores da zada, em vista da maioria da
cidade proporcionou o população advinda dos espaços
deslocamento de moradores dos rurais não ter formação técnica e
espaços rurais para a cidade, nem administrativa para ocupar
causando um inchaço os cargos mais altos.
populacional e o alargamento das
fronteiras de Breves.
102
4 Práticas Econômicas
Desse modo, o poder de cendo ativas até os finais da
compra da população aumenta e década de 1990.
o comércio local se beneficia Na área central, onde se
bastante da geração de emprego localizava a maioria dos
e renda ocasionada pelas comerciantes é preciso destacar
madeireiras. Novos comerciantes a presença do comércio do Sr.
vão se juntar aos mais antigos, já Dedé Viana, localizado bem na
mencionados na rua Presidente esquina da Castilhos França com
Getúlio Vargas, dentre os quais a rua Wilson Frazão e na mesma
podemos destacar o empresário rua o Armazém Leão de
Luiz Furtado Rebêlo, migrante dos propriedade do senhor Venâncio
espaços rurais que começa um Leão que se destacavam na
pequeno empreendimento nessa venda de estivas. Havia ainda,
rua. Ainda na década de 1980, comerciantes do ramo da
desloca-se para a rua Wilson panificação como Juarez Neves e
Frazão, nesse tempo chamada Dr. Eduardo Costa, farmácias, lojas
Assis, esquina com a rua Castilhos d e c onfecç ões, armarinhos,
França. Daí em diante, amplia a calçados, dentre outras que
rede de supermercados com a movimentavam o comércio da
inauguração da Importadora Bom cidade, dando o ar de progresso
Jesus e Supermercado Bom sentido por moradores e
Jesus, localizados na avenida visitantes.
Presidente Getúlio, permane-

103 Foto: Comércio Local. Canal Youtube: Minha casa é uma viagem
4 Práticas Econômicas
Do comercio para a navegação

Viagens: Anajás/Breves – Breves/Anajás

Nos finais dos anos 1990, até Porém, não somente os


a primeira década dos anos 2000, empresários, mas também os
a economia de Breves sofreu uma operários das madeireiras que
queda com a crise da indústria faziam parte de uma categoria
madeireira, com isso muitos social bastante numerosa e
empresários fecharam as portas significativa tiveram que se
diante das dificuldad es d e adequar à nova realidade do
adequação as novas exigências mercado. Muitos migraram para
ambientais e migraram para cidades como Macapá e Belém e
outras atividades de produção. outros estados do Brasil em
Foi o caso do empresário Luiz busca de novas oportunidades, o
Rebêlo e da família Leão que que ocasionou uma queda no
migraram para o ramo da índice populacional do município.
navegação.
104
4 Práticas Econômicas
A presença do serviço público na recuperação econômica do município

Foi a partir do serviço público “Bolsa Escola” e “Bolsa Família”,


gerado principalmente pela Seguro defeso para o pescador,
Prefeitura Municipal de Breves dentre outros benefícios
que grande parte dessa massa estaduais e federal constituíram-
de desempregados foi absorvida, se como os maiores geradores de
o funcionalismo público então, renda no município, apresentando
juntamente com as políticas um volume significativo de recurso
públicas do Governo Federal de que gira mensalmente na
assistência às classes mais economia local.
vulneráveis, como o caso do

As oportunidades de ofertassem serviços na região,


empregos no serviço público quando foram instalados Pólos de
municipal, estadual e federal, representação de universidades
incentivaram muitas pessoas a privadas na cidade, como por
b u s c a r e m p o r m a i s exemplo, UNOPAR, UNIASSELVI,
conhecimentos e uma melhor FAMMA, UNAMA, UNIP, dentre
formação profissional. Nesse outras, além da ampliação da
sentido, a procura por novos estrutura física e de novos cursos
cursos universitários, fez com que na Universidade Federal do Pará
universidades de todo o Brasil, (UFPA) campus Breves.

105
4 Práticas Econômicas
A oferta desses serviços participar das aulas, aumentando
também movimentou os negócios significativamente o quantitativo
da navegação, pois diariamente d e pequenas embarca ç ões,
os moradores das cidades perfazendo as linhas de Portel,
vizinhas se deslocam para Melgaço e Bagre.

UNOPAR
UNIASSELVI
FAMMA

UNAMA Campus Breves


UNIP
UFPA

106
4 Práticas Econômicas
O mercado imobiliário d i r e ç ã o d o c r e s c i m e nt o d o
também mobilizou o mercado da perímetro urbano da cidade,
construção civil, uma vez que para movimenta também o ramo do
atender as demandas de mão- comércio de material de
de-obra para os serviços públicos construção que cresceu
estaduais e federais, ou ainda a significativamente nos últimos
iniciativa privada de Bancos e anos. O ramo da construção civil é
gera ção d e energia, d entre sem dúvida um fator de destaque
outras, se fez nec essário a no comércio e serviço do
construção de apartamentos e municípi o nos últimos anos,
casas principalmente para alugar absorve praticamente toda a
em bairros como o Centro e mão-de-obra de pedreiros e
Aeroporto. carpinteiros da região.
A construção civil gerou
emprego também nas obras
municipais, estaduais e federais, a
destacar escolas, creches,
hospitais, a UPA-24 e residências
particulares com a abertura do
bairro Nova Breves, resultante
primeiramente de uma invasão e
posterior desapropriação para a
p o p u l a ç ã o d e m a n d a nt e d a
política habitacional, mas também
com terrenos adquiridos pela
classe média da cidade que
compraram lotes dos primeiros
donos. É um bairro em constante
expansão que aponta para a
107 Obras de reconstrução, adequação e modernização do Terminal Hidroviário de Breves
4 Práticas Econômicas
Outros importantes serviços

A retomada da movimenta- Petshops, gráficas, malharias,


ção econômica dada por esses p e r fu m a r i a s , e s c r i t ó r i o s d e
fatores e serviços oferecidos a d v o c a c i a e c o nt a b i l i d a d e ,
anteriormente pela cidade de restaurantes, espaços de
Breves, impulsionou diversão e lazer, dentre outros
investimentos importantes em que dão suporte para novas
outras áreas de serviços como construções que contribuem
clínicas médicas particulares, a t i v a m e n t e p a r a o
laboratórios de análises clínicas, desenvolvimento local.

Clinicas
Clinicas
Escritórios de Advocacia e
Contabilidade

Restaurantes
Espaços de diversão e Lazer
Hotéis

108
4 Práticas Econômicas
Atividades
Com base nas práticas econômicas e nos modos de sobrevivência da
população brevense, vamos relembrar:

1-Qual a importância do comércio da borracha no processo de


formação da população brevense?
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

2-Quais os demais produtos eram extraídos das florestas e qual sua


importância no sustento dessas comunidades?
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

3-Vamos reler as informações sobre o negócio da madeira e em seguida


descrever e discutir sobre este assunto.
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

4-De quais bens de consumo ofertados na cidade você consegue


relembrar agora? Relacione-os:
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

5-Vamos refletir sobre a importância da presença do serviço público na


recuperação econômica de Breves nas últimas décadas.
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________

Atenção Professor (a): É muito importante aprofundar estes assuntos


para levar nossos alunos (a) a um passado não tão distante que diz
muito sobre os dias atuais. Para isso, a formação de pequenos grupos
de trabalhos que possam aprofundar cada tema desta unidade ajudará
certamente nesta compreensão.
Sugestão: Realizar culminâncias em forma de apresentação teatral com
exposições públicas, certamente é uma forma didática muito salutar
para o desenvolvimento da aprendizagem em relação aos assuntos
descritos.
109
UNIDADE III

A INFLUÊNCIA DOS CONTATOS

E MOVIMENTAÇÕES GLOBAIS

NA REGIÃO DE BREVES
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
5.1. A segunda onda de nordestinos

A segunda onda de país para atender aos interesses


migrantes nordestinos para a desenvolvimentistas do governo
região do município de Breves se para a Amazônia. Logo, com o
deu na década de 1940, objetivo de “conquistar a terra,
diretamente ligada às ações do dominar a água, sujeitar a
então presidente Getúlio Vargas, floresta” (Secreto 2007: 77) o
quando centenas de nordestinos, governo investiu em um plano
impulsionados pela propaganda para fixar o trabalhador
de recrutamento de nordestino na região amazônica.
trabalhadores no Nordeste do

112
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
As periódicas secas que cartazes no nordeste brasileiro a
atingiam o Nordeste, serviam imagem de uma Amazônia dos
como justificativa moral para sonhos, com fartura: casa, lenha,
encaminhar os nordestinos para a porcos, galinhas, boi, crianças
Amazônia. Assim, a região de brincando, mulheres lavando
Breves entrava nos planos do roupa, casas protegidas por
governo para atender a nova cercas. A propaganda tinha como
regulação econômica exigida pelo público alvo camponeses para o
Serviço Especial de Mobilização qual a agricultura já era bastante
d e Tr a b a l h a d o r e s p a r a a utilizada na tra jetória dos
Amazônia (SEMTA), que nordestinos (Secreto 2007).
e s p a l h av a em c e nt e n a s d e
Breves e o retorno da borracha
Um acontecimento leva de nordestinos para cá.
i nt e r n a c i o n a l d e u u m n o v o Então, novamente o comércio da
desdobramento para a migração borracha vai ser importantíssimo
de nordestinos na região para este processo, agora sobre
amazônica. O comércio da novos contextos e interesses.
borracha que já estava em queda O Sr. José Silva Filho, hoje já
desde a década de 1920, ganhou falecido, nos ajudou a entender
novo impulso e Breves entrou melhor esse período, ele veio do
nessa rota de produção. Vocês Ceará, da cidade de Cascavel, há
lembram que durante o século mais de 60 anos para o município
XIX, a região foi grande produtora de Breves, na década de 1940.
de látex e impulsionou a primeira

“Eu cheguei em 1946, no fim da Segunda Guerra mundial, no Pará; meu pai


trabalhava na lavoura lá; eu saí de Cascavel direto para o Amapá em 1938, para trabalhar em
um campo de pouso americano, lá no Amapá. Quando a Alemanha se rendeu, acabou o campo
e nós viemos. Então vi um anúncio no jornal, contratando gente para trabalhar em Corcovado,
onde tinha uma grande usina de beneficiamento de borracha, lá trabalhei onze anos”
(José Silva Filho, 2017).

113
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Primeiramente, o Sr. José no Brasil, principalmente no
Silva, reforçou que este era um Nordeste, onde era o ponto mais
período bem expressivo para o próximo para a travessia do
cenário internacional, a Segunda oceano com destino ao
Guerra Mundial e antes de falar de continente africano e depois
Breves, menciona, outro episódio europeu. Mesmo com a aparente
muito interessante que está postura de neutralidade do Brasil,
diretamente ligado a inserção da o presidente Getúlio Vargas
Amazônia na guerra: a construção autorizou a construção e
de um “campo de pouso” no ampliação de bases aéreas e
Amapá para suporte dos Estados navais pela companhia aérea
Unidos no Brasil no ano de 1938, Panair do Brasil.
quando veio de Cascavel direto
para executar tal tarefa.
Em vista disso e para um
melhor entendimento, é preciso
pontuar que, durante a Segunda
Guerra Mundial, como parte dos
acordos políticos com os Estados
Unidos, o Brasil contribuiu com a
construção de inúmeras bases
aéreas para o patrulhamento do
litoral e para escolta dos
comboios dos navios mercantes
em territóri o na ci onal. Uma
dessas bases estava localizada no
Amapá, a 302 km da capital
Macapá.
A base fazia parte da rota
aérea do Atlântico S ul, que
começava em Miami e terminava
Panair, chegou a ser a principal companhia aérea brasileira entre 1930 e 1950. 114
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Ainda no contexto, outro espalhados pelas cidades do
ponto importante mencionado Nordeste. Ali havia pessoas tanto
pelo Sr. José Silva, refere-se a vila das localidades da região como
conhecida como Corcovado, que era o caso do distrito de São
era formada socialmente por Miguel dos Macacos, Antônio
grupos de vários lugares do L e m o s e Ja b u r u z i n h o , m a s
nordeste que assim como ele, principalmente dos estados do
vieram influenciados pelas Nordeste brasileiro, de onde
propagandas dos jornais provinha a grande força operária.

Ilustração: Dal Marcondes

115
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

“Foram pessoas que o empresário Átila Bebiano, naquela época,


conseguiu trazer. Quando a usina de Corcovado foi inaugurada, se vivia o tempo do
soldado da borracha, e uma leva de jovens que foram tiradas de suas famílias do Rio
Grande do Norte, da Paraíba, da Bahia, Ceará, Maranhão e Acre como soldados da
borracha, vieram para Belém e foram recrutados para trabalhar aqui em Corcovado”
(José Silva, 2017).

A empresa instalada em Crédito da Borracha (BCB) e toda


Corcovado, tinha embarcações aquele agenciamento que existia
que faziam a c oleta, ou os durante a primeira fase (séc. XIX)
próprios seringueiros encarre- feito pelos seringalistas, deixou de
gavam-se do transporte dos rolos existir na segunda fase. Era o BCB
ou bolotas de borracha até a que controlava a produção e as
f áb r i c a . A l i a b o r r a c h a e r a negociações do produto,
beneficiada, ou seja, cortada em deixando funcionários perma-
lâminas e devidamente embalada nentes na vila, cuidando das
para enviar para o exterior. O transações comerciais do
governo federal comprava toda a produto.
produção através do Banco de

116
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Com o final da guerra, o viviam aqui traziam seus parentes
negócio da borracha desacelerou e amigos para trabalharem aqui.
e a madeira ganhou maior Foi assim que Dona Laura Rosa
importância na economia de deixou o Maranhão na década de
B r ev e s . M u i t o s n o r d e s t i n o s 1960 para trabalhar como
também chegaram à região, professora no rio Macacos, a
dessa vez por meio de uma rede convite da empresa C OMIG,
de migração, isso significa que os instalada no lugar, cujo o tio era
migrantes nordestinos que já gerente.

“Meu tio Celso era gerente da COMIG e, em conversa com os donos da empresa,
porque lá na verdade nunca tinha tido professor qualificado, então conversando com o meu
tio Celso eles disseram que estavam precisando de uma professora qualificada para São
Miguel. O meu tio Celso disse: Olhe lá em casa minha esposa cria umas moças, inclusive uma
é sobrinha dela, agora eu não sei se alguém vai querer vir para cá. Meu tio passava um tempo
lá, um mês mais ou menos e ia para Belém lá para casa onde eu fui criada, casa dele e já
chegou conversando comigo, era eu, Laura, Maria e Bárbara, as três pessoas que eles
criavam. Ele disse assim: Olha lá na vila São Miguel dos Macacos onde eu trabalho estão
precisando de professoras qualificadas, quem de vocês quer ir para lá? Eu peguei e disse: Eu
quero! (Laura Rosa, 2017).

A decisão de Dona Laura de No entanto, importa notar, a


m i g r a r p a r a o Pa r á e s t av a busca por trabalho não foi o único
diretamente ligada ao desejo dos motivo que a levou para a vila de
familiares do Maranhão de São Miguel do rio Macacos, mas
acesso à educação. Mesmo os também a oportunidade de se
pais sendo analfabetos, queriam desafiar e superar seus próprios
para a filha outro destino, o de um limites, “conquistar a
ensino de qualidade e independência” em novas terras.
consequente profissionalização.
117
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

Foto: Dona Laura Rosa em sua residência em 2017. Arquivo: Dione Leão

Na cidade de Breves os fábricas de beneficiamento e


nordestinos desempenharam exportação de madeira na região.
afazeres como empregados do Isso ocorreu porque muitos
comércio, artista, comerciante, nordestinos que moravam nos
auxiliar de comércio, operário, espaços rurais como os
diarista, motorista e braçal. lavradores, migraram para a
D entre esses, destaca-se o cidade e foram trabalhar nestas
operário, forma utilizada para se fábricas.
referir aos trabalhadores das

Onde essas pessoas foram morar em Breves?

Então, nós já vimos que as ocupadas na sua maioria por


duas principais ruas do centro: famílias de portugueses e de
Av e n i d a Pr e s i d e nt e G et ú l i o nordestinos e judeus enriquecidos
Vargas, que antes era chamada com a prosperidade da borracha
de apenas rua da frente e a no século XIX.
Av e n i d a R i o B r a n c o , fo r a m
118
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Essa nova onda de O Sr. Felizardo Justino Diniz,
m i g r a nt e s n o r d e s t i n o s q u e comerciante nordestino, que
vieram para a cidade, continuou chegou na década de 1960 na
ocupando a r ua Presid ente cidade de Breves, e distingue dos
G e t ú l i o Va r g a s , p o r é m n o demais residentes nesta cidade,
perímetro mais precário, para cujo prédio de alvenaria situado à
além do mercado municipal. Onde av e n i d a p r e s i d e nt e G et ú l i o
havia uma diminuição dos portos Vargas, fazendo esquina com a
e do movimento de pessoas, por travessa Castilho França, era
ser mais afastado do comércio próprio e nele funcionava a casa
àquela época. Além desta rua, comercial denominada Triunfo. O
também podemos mencionar a imóvel todo coberto com telhas
Castilhos França, a Domingos de barro, era composto por um
Europa (atrás do mercado) e a salão principal com prateleiras e
Mário Curica, a última rua da balcões, outro salão para
cidade, como locais de moradia depósito de mercadorias e nos
de família de nordestinos entre as fundos ficava um forno para
décadas de 1940 a 1960. panificação.

Desse modo, podemos afirmar que a partir de 1940, existiu


um alargamento das fronteiras da cidade, fazendo surgir novas
ruas, devido aos deslocamentos de migrantes dos espaços rurais
para a cidade, estes constituídos também por nordestinos em
busca de melhorai na qualidade de vida. Os documentos cartoriais
nos ajudaram a chegar essa conclusão, uma vez que foi visível o
aumento de compra e venda de propriedades a partir de 1960 na
cidade, principalmente na rua Castilhos França.

119
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Até a década de 1970, os Breves, quando tinha 25 anos de
n o r d e s t i n o s a i n d a e s t av a m idade. O motivo também foi
chegando, em abril de 1972, o Sr. trabalho.
Paulo do Nascimento ancorou em

“O meu motivo foi trabalho, eu era profissional numa fábrica de joias lá em


Juazeiro do Norte e o João Teixeira tinha aqui uma joalheria e ele era freguês lá da fábrica de
Juazeiro. Então, lá em Juazeiro, eu fazia as peças mais sofisticadas como anel de maçons,
que ele vendia aqui, porque em 1971, quando foi inaugurada a Maçonaria, era eu lá que fazia
os anéis de maçons para cá para Breves, pulseiras de relógio, braceletes e essas coisas que
vinha para cá era tudo eu que fazia, e alguns tipos de alianças também”
(Paulo Nascimento, 2018).

O Sr. Paulo Nascimento, já estabelecer em Breves, contou


tinha ligação de trabalho com um com a ajuda de Lino Alves Rebelo,
comerciante que vivia em Breves, comerciante na área portuária de
bem antes de se mudar para cá. o Breves, que ofereceu estadia e
Sr. João Teixeira, natural do suporte para que o Sr. Paulo
Maranhão, dono de ourivesaria na montasse seu negócio próprio.
Av e n i d a Pr e s i d e nt e G et ú l i o O Sr. Paulo chegou na região
Vargas. E foi este comerciante m um momento no qual a cidade
que o trouxe para Breves, para vivia uma intensa atividad e
onde veio primeiramente sozinho, econômica movimentada pelas
apesar de ser casado, porque madeireiras, quando a população
precisava conhecer e avaliar as cresceu vertiginosamente por
condições de vida local, e, se fosse conta dos deslocamentos de
favorável arrumar o terreno para moradores de espaços rurais
estabelecer a família. Algo muito para a cidade, ocasionando na
c omum entre os migrantes, década de 1980, um surto
primeiro, vinha o chefe da família e populacional.
d epois o restante. Para se

120
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Em linhas gerais, nesse como o nasc ente bairro da
período ganharam destaque as Cidade Nova, Aeroporto,
migrações externas e internas na Castanheira, Riacho Doce,
perspectiva local, fazendo surgir Bandeirantes que alteraram
novos espaços de moradia, em completamente as paisagens e os
lugares cada vez mais periféricos, modos de viver em Breves.

5.2. Os patrimônios materiais de portugueses, judeus, nordestinos e


norte-americanos.

O municípi o d e Breves, século XIX, também foi possível


sempre foi uma região de muito acompanhar famílias de judeus se
fluxo e contatos entre pessoas de fixando em Breves. Sem esquecer
diferentes nacionalidades. Já os deslocamentos nacionais,
vimos anteriormente a forte especificamente de nordestinos
presença de portugueses, desde para a região.
o século XVII com os missionários Dessa forma, os modos de
da Companhia de Jesus. Em viver desses migrantes, mistura-
seguida vieram as primeiras ram-se aos da população local,
famílias que fundaram o vilarejo formada por descendentes de
de Breves no século XVIII, indígenas africanos, gerando uma
posteriormente outra leva no cultura marcada pela diversidade
século XIX para trabalhar no de costumes e tradições.
comércio da borracha. Ainda no

121 Foto: Reprodução. Nordestinos em migração


Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Encontro de culturas e nacionalidades diferentes

Ilustração: Mapa mundo, tendo Breves-PA como destino de vários imigrantes

Vamos conhec er alguns des, desde o final do século XIX,


aspectos desse encontro de permite compreender as formas
culturas que transformaram a de morar e as relações sociais de
paisagem da região de Breves, moradores dos espaços de rios,
direcionado para o estudo do florestas e cidade, dentro do
conjunto de bens e valores, contexto econômico e social em
incluindo a casa, o comércio, o que foram construídas.
barracão de borracha, seringal, a Esse conjunto de bens que
serraria e as vilas. Conhecer um serão apresentados, são parte
pouco das memórias sobre as do patrimônio material do nosso
construções de homens e município.
mulheres de outras nacionalida-

122
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
E nt ã o , a p r e s e nt o p a r a dois andares construída em
vocês, a propriedade de um madeira de lei, e um comércio de
bisneto de português, localizada estivas situado ao lado da
no rio Mapuá, no Lago do Jacaré, residência.
da qual faz parte uma casa de

Foto: Propriedade do Sr. Caio - comunidade Santa Maria – Mapuá, 2018. Fotografia de Ney Rocha.

A casa de madeira de lei descrito como um espaço de


destaca-se em meio a um interação entre as pessoas que
conjunto de moradias populares vivem ali. O dono da casa, explicou
construídas no estilo da maioria que esta foi c onstr uída em
das construções pertencentes madeira (de lei), com detalhes em
aos espaços rurais de Breves. ferro como escada estilo caracol
Nessas localidades vivem e alvenaria. A casa é cercada por
geralmente pessoas da mesma varandas, que permitem ver a
família, sob uma liderança movimentação mais detalhada
patriarcal. Em frente à casa, do rio.
existe um anexo que pode ser
123
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
A casa apresentada é uma casa, feita de telhas de barro, o
adaptação para a atualidade dos uso da mad eira d e lei, que
a nt i g o s c a s a r õ e s c o l o n i a i s , continua até a atualidade, além
misturada com características da existência de muitos cômodos.
dos sobrados do século XIX, Outra característica ainda
p o r ém c o m a a n ex a ç ã o d e existente é o comércio localizado
varandas, algo inexistente no ao lado da casa ou no primeiro
modelo original, sendo que o andar das construções.
sobrado original quase sempre se As documentações do
utilizava de alpendres, espécie de cartório de imóveis de Breves
prolongamento do telhado, uma permitiram conhecer um pouco
versão mais reduzida da varanda. sobre essas propriedades,
Então, a varanda foi então chamou atenção a venda de uma
adaptada ao modelo de casa no propriedade no espaço rural,
rio Mapuá. Porém, a varanda pertencente a um judeu que
também lembra a construção das incluía um seringal (plantações de
casas dos senhores de engenho seringueiras), casas de madeira
do Brasil colonial, espaço onde os de lei, cobertas com telhas de
senhores monitoravam toda a barro, o que indica não existir uma
propriedade. Obviamente que a diferenciação grande nas formas
comparação não cabe mais no de construir de judeus na região,
contexto da atualidade. Mas, o eles parecem ter seguido o
modelo de casa exposto é uma padrão existente.
herança de como moravam os
primeiros por tugueses que
habitaram os rios de Breves, com
as adaptações para as
necessidades atuais.
Dessa maneira, os aspectos
relacionados com a casa dos
portugueses se distinguiam da
casa das classes dos mais pobres.
Algumas dessas características
de distinção eram a cobertura da

124
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Pela d escrição se vê a pela localidade, sem contar que o
dimensão da propriedade e as fo r n o d e c o b r e t a m b é m é
características que tornaram o Sr. característica de riqueza na
Constantino Félix um proprietário região, em vista da maioria ser
reconhecido, representante da confeccionado de zinco. O
elite na região. É possível número significativo de “estradas”
perc eber que os bens nela e árvores de seringueiras
existentes são diferenciados também ganharam destaque
daqueles negociados no ri o nessa propriedade.
Mapuá, presente nas O Sr. Augusto Barros, falou
documentações e memórias dos do modelo de casa denominado
interlocutores, por conter um chalé ou “chalezão”, no espaço do
trapiche adequado para vapores, rio Macacos, onde viveram o avô
indicando a presença de nordestino com ascendência
embarcações de grande porte portuguesa:

“A nossa casa era um chalezão, tinha um corredor e nesse corredor, na parte maior,
tinha um oratório do lado direito, de vários santos, do lado esquerdo tinha uma porta do
comércio. O comércio ficava dentro de casa e para o lado tinha um depósito de arroz. Então,
seguia pelo corredor e tinha o quarto da minha avó, com meu avô. Morávamos tudo só numa
casa e, do lado esquerdo, antes de entrar para a cozinha, tinha o quarto de meu pai. Nesse
quarto ele tinha o cipó e um pedaço de madeira que ele usava como tranca do lado de fora.
Então, vinha a cozinha, eu lembro tinha uma taia maior a gente chamava assim para o
recipiente de colocar água, tinha a mesa grande, onde comia todo mundo, quem chegasse,
fosse qualquer hora do dia ou da madrugada, tinha comida para quem chegasse lá”
(Augusto Barros, 2017).

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O modelo denominado de bastante simples, típica da região
“chalezão” é outro tipo de rural da Suíca francesa, que
construção muito comum nas chegou para cá com os
memórias dos interlocutores, que por tugueses e foi sendo
também é uma readaptação da adaptada conforme as
arquitetura do Brasil no século necessidades das famílias que
XIX. Na verdade é um modelo, que c o m o v i m o s e r a nu m e r o s a ,
foi moda na Europa e nos Estados precisando aumentar o tamanho
Unidos do mesmo período. Era de um chalé original, por isso
uma construção de madeira, chamavam “chalezão”.

Foto: Comunidade Santa Rita – Porto Cumaru, Rio Mapuá, 2015 – Fotografia: Dione Leão.

A casa de propriedade da mercado internacional durante a


família do Sr. Orlando Miranda, no S egunda Guerra Mundial, na
rio Mapuá, tem dois andares, é década de 1940, e na parte de
coberta de telhas de barro e baixo funcionava o comércio e
possui muitas janelas, construída depósito da borracha comprada
em madeira de lei que aguentou dos moradores locais. S eus
ao tempo. Foi construída na primeiros donos eram
época da retomada das nordestinos.
negociações com a borracha no
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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Na propriedade existe um das casas de seringueiros.
porto de embarque e Logo, a forma de construir e
desembarque de mercadorias, de trabalhar nos seringais
uma parada obrigatória. É um a m az ô n i c o s d e m o d o g e r a l
lugar muito importante na região envolvia a retirada da matéria-
por contar a história das prima necessária da floresta, sem
negociações de borracha entre destruir o meio ambiente,
patrão e seringueiros nordestinos permitindo construir casas de
que viviam na região do rio Mapuá. acordo com a suas vivências.
Dona Vitória Nogueira, filha Sem conhecer as técnicas
de seringueiro, ao recordar sua de construção local o migrante
casa, mencionou que era muito “nordestino” foi capaz de aplicar
simples, construída de árvores de conhecimentos práticos, colhidos
palmeiras que incluíam o no dia a dia em relação com a
açaizeiro, bacabeira e paxiúba. natureza para construir sua
Alternativas mais baratas, porém, moradia, dentro de seu tempo e
de menor durabilidade, com da realidade que lhes era
exceção da paxiúba, considerada apresentada na região de Breves.
mais resistente, fora do padrão

Foto: Casa temporária de Dona Vitória Nogueira no Mapuá, 2017 – Fotografia: Dione Leão.

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O início do comércio da madeira em Breves

Foto: Reprodução

No século XX, após a Corcovado, localizado a alguns


S egunda Guerra Mundial, as minutos da área urbana de
movimentações internacionais, Breves, os estrangeiros dos
ganharam novos significados em navios negociavam calças jeans,
Breves. Momento em que o da marca Lee, perfumes
negócio da borracha desacelerou franceses, biscoitos, cervejas,
e o da madeira despontou na cigarros, uísques, tênis, tecidos,
região. C om isso, empresas brinquedos, relógios, aparelhos de
internacionais se fixaram nos som, dentre outros produtos com
espaços rurais e na cidade, dinheiro e ‘com carne de animais
transformando as paisagens e os silvestres, óleos, sementes, frutas
hábitos locais. como limão galego. Assim, na
Os navios passaram a fazer interação com pessoas de outras
parte com mais frequência das nacionalidades, existia uma troca
paisagens das vilas dos espaços de produtos naturais da região de
rurais e da cidade. No porto Breves, necessários ao cotidiano
alfandegado da vila de da tripulação.

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

“Os americanos saiam por aí, conversavam com a gente, passeavam,


visitavam a escola, davam presente para os alunos, traziam muito material
escolar, brinquedo para as crianças. Eles paravam, porque aqui era uma vila de
americanos, às vezes nos navios tinha gente deles, conhecidos de lá dos Estados
Unidos. Então, eles passavam dois, três dias aqui, eles jantavam na casa deles e
era assim o contato deles com o pessoal de lá e com a gente”.
(Marineide da S. L. Gomes, 2018).

Legenda: Fotografia de navio norte-americano transatlântico ancorado na vila Lawton no rio Jaburu,
década de 1980 – Arquivo: Álbum da família Gomes.

Na vila Lawton, no rio Jaburu, patrimônio está o “casarão azul”


existe uma arquitetura adaptada (fig.18, p. 175) como é denominada
pela família de americanos que ali pelos moradores a casa
residiram, em parte preservada construída pelos “americanos” da
pelas famílias Dias e Gomes, família Lawton, na década de
residentes no lugar. Dentre esse 1980.
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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

Foto: Casarão de madeira construída por americanos na vila Lawton, 2018 – Fotografia: Dione Leão

A casa, mediante a propriedade. No seu interior,


informação do Sr. Benedito Dias, o chama a atenção o estilo
atual proprietário, mantém o americano de três ambientes
modelo original, no entanto alguns integrados (sem paredes
materiais foram substituídos no divisórias): a cozinha, a sala de
seu interior por conta da ação do estar e jantar em um só ambiente,
tempo e de alguns agressores tornando as relações familiares
externos (cupins), que destruíram mais interativo.
a madeira (compensado), sendo
necessário a troca das paredes
internas para madeira de lei.
Como visto na imagem, a casa é
rodeada de varanda e em todos
as direções é possível ver toda a

130
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

Foto: Casa de madeira constuída por americanos na década de 1970 – Fotografia: Dione Leão

A professora Marineide, Imóveis, informações referentes à


ainda mora, na mesma casa onde compra e venda de terras pelo
viveu vários anos com a família grupo. Sabe-se apenas por meio
Lawton, como mostra a dos atuais proprietários do lugar
fotografia. Trata-se de modelo que eles chegaram à região no
peculiar para a região, construído final da década de 1970
de acordo com o fluxo das águas construíram seu patrimônio em
ou “de comprido para o rio”, como uma ilha com aproximadamente
foi definida por ela para indicar a 1.000 ha.
diferença das casas dos outros
moradores.
Sobre a empresa Lawton
Madeiras, não foi encontrado nas
documentações do cartório de
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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
A serraria atualmente está Do outro lado do rio existe a
desativada, o cenário que se vila, que também pertenceu à
apresenta é de ruínas desde o empresa, onde moravam os
trapiche, composto por restos de trabalhadores que, segundo
mad eira em d ec omposição, informações coletadas, não vivem
inviável para o atracamento de mais ali, pois o lugar foi leiloado
qualquer embarcação. Os outros pela Justiça Trabalhista no início
prédios relacionados aos galpões, dos anos 2000. Restam algumas
que eram utilizados para guardar lembranças sobre a composição
a madeira embarcada nos navios, da vila de trabalhadores, trazidas
também estão em estágio de por Dona Marineide Gomes.
degradação, assim como os
espaços da estufa, apenas a
caldeira e alguns maquinários
ainda estão em condições de uso.

“Lembro bem como era para o lado de lá, o modelo das casas, era tudo
igual, bem diferente de hoje; quando eles foram embora, as pessoas foram mudando o
jeito das casas. No tempo dos Lawton a energia era 24 h; tinha um fio grosso que
atravessava daqui para lá, pelo rio; o motor ficava funcionando noite e dia porque era
muita madeira para secar na serraria. Eles davam a casa, davam a tinta para a gente
pintar o assoalho para não lavar para não apodrecer o assoalho, isso era assinado em
um contrato; eles davam um terçado, bota para o funcionário ter em casa para não
deixar o mato crescer, cada um cuidava do seu quintal. Se chegasse um parente, meu de
outro lugar, por exemplo, eu tinha que explicar que ele era meu parente que ele ia ficar
tantos dias aqui, eles tinham esse controle aqui para evitar a entrada de gente
estranha, de bandido”. (Marineide Gomes, 2018).

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Portanto, as serrarias e as como dito antes, estudá-los
vilas, assim como as casas, o significa conhecer parte da
comércio e o barracão são parte identidade dos moradores e o
integrante da paisagem da região que herdamos nos nossos modos
decorrente do contato entre os de construir e habitar, assim
diferentes grupos e com isso como as práticas e costumes
representam parte do patrimônio desses grupos.
material da região de Breves, e

5.3. As desigualdades e conflitos sociais

As desigualdades sociais nos espaços rurais e das casas de


espaços rurais e urbanos de comércio e barracões,
Breves sempre existiram, porém, negociavam o látex dos
ganharam força no século XIX com seringueiros ou extratores de
o auge do negócio da borracha na borracha em troca de
região, quando os portugueses, mercadorias.
donos das melhores terras nos

E quem eram esses seringueiros?

Os primeiros eram pessoas


naturais da região descendentes
das mestiçagens marajoaras,
moradores das margens de rios e
florestas, posteriormente,
juntaram-se a essa categoria os
migrantes nordestinos que vieram
para trabalhar especificamente
com a extração do látex, como já
vimos anteriormente.

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

Foto: Seringueiros da Amazônia. Fonte: https://ferdinandodesousa.com/2019/09/13/os-seringueiros-da-


amazonia-ou-seguindo-o-canto-das-sereias/

Os nordestinos misturaram- viviam presos a este negócio,


se a população local e o abismo mergulhado em dívidas, sem ter
social já existente entre os grupos para onde recorrer.
sociais aumentou significativa-
mente. D e um lado o rico
comerciante dos principais rios de
Breves, que tinham o monopólio
da compra e venda do látex nas
comunidades rurais onde viviam,
ou seja, os seringueiros não
podiam vender o produto para
outra pessoa. Por conta disso,

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Os seringueiros da região de indicaram como causa da morte
Breves viviam embrenhados nas de seringueiros as picadas de
matas em busca d e látex, bichos peçonhentos como a
seguindo uma rotina dura de cobra, ataques de onça e
trabalho para conseguir extrair doenças intestinais. S em
uma quantidade razoável de látex esquecer de mencionar as
e sustentar a família. Por esse mortes por afogamentos, nesse
motivo, eram acometidos de caso direcionada para nordesti-
doenças como a malária, grande nos não acostumados com as
causadora de óbitos entre os correntezas das águas da região,
seringueiros no século XIX e também as mortes por armas de
primeira metade do século XX. fogo, tanto por acidentes como
Os registros de óbitos do decorrentes de brigas entre os
cartório de Breves, também grupos.

Cemitério com sepulturas de portugueses e nordestinos no rio Mapuá.


135 Fonte: Arquivos de Dione Leão
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
E ssas informa ç ões dão principalmente acidentes
pistas d e c omo a vida dos acelerava os óbitos. A falta de
seringueiros não era fácil e quais tratamento assíduo para malária
os perigos enfrentados, pois, em Breves, na primeira fase da
recebiam pouca assistência do borracha, sem dúvida impediu
estado. A dificuldade para chegar que milhares de pessoas
at é a c i d a d e qu a n d o e r a m s o b r ev i v e s s e m a o s fo r t e s
acometidos por doenças, sintomas da doença.
A Malária – principal problema sanitário
Entrando no século XX, a Por esse motivo o Estado, assinou
malária parecia ser ainda o maior um convênio com o governo
problema sanitário da região de americano, construindo em 1942,
Breves. De 1940 a 1970, centenas o primeiro hospital da cidade, o
de pessoas foram atingidas por SESP, no período da Segunda
essa moléstia. Dados do Instituto Guerra Mundial. O hospital foi
Evandro Chagas demonstram construído não por uma questão
que em julho de 1943, Breves, era humanitária, mas por uma
uma das localidades com maiores nec essidad e estratégica d e
índices de casos de malária do ganhar a guerra, para isso era
baixo amazonas. preciso manter os seringueiros da
região vivos, livres da malária.

Foto: Prédio do hospital SESP construído em 1942, onde atualmente funciona o


Ambulatório municipal de Breves. Fonte: Prefeitura Municipal de Breves. 136
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O emprego do Dicloro- em 1971, a prefeitura montou
Difenil- Tricloroetano (DDT), definitivamente um posto da
domiciliar no combate à malária Superintendência de Campanha
produzida pelo mosquito de Saúde Pública (SUCAM) na
transmissor foi iniciado na cidade área portuária de Breves, para
de Breves, em caráter controlar a doença.
experimental, em maio de 1945. Na cidade, os problemas sociais,
Toda a localidade foi tratada com aumentam consideravelmente no
o DDT, uma espécie de pesticida, período de 1940 a 1980, quando a
diminuindo consideravelmente os cidad e passava por
casos de contágio de malária. transformações na paisagem e
A partir de 1970, velhos formas d e viver, d evido ao
problemas foram ampliados. Com negócio da madeira na região,
o crescimento desordenado da atraindo centenas de migrantes
população, novos sur tos de das áreas rurais para a cidade,
malária, atingindo uma gama da com a expectativa de melhoria
população mais pobre e ribeirinha nas condições de vida.
recém-chegada. Por esse motivo,

Foto: Madeireira local na década de 1970, fotografia cedida por Wilson Câmara Frazão Neto e Cláudio Frazão.

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
As condições de trabalho dos espaços rurais estavam
nas empresas madeireiras eram acostumados com o tempo da
muito precárias, sem as mínimas natureza. Na cidade, por exemplo,
condições de segurança, como o ritmo de vida dos trabalhadores
podemos observar na fotografia da empresa Breves Industrial
os funcionários trabalhavam Sociedade Anônima (BISA) era
descalços, alguns sem camisa, direcionado pela lógica do capital.
expostos a todos os tipos de Os operários e todos os
riscos. Sem falar que eram muito moradores despertavam ao som
m a l r e mu n e r a d o s , o u s e j a , de um apito estridente, que se
ganhavam muito pouco pela fazia ouvir por todos os cantos da
rotina dura de trabalho a que cidade, o ritmo de trabalho e de
eram expostos. vida dos funcionários seguia o
Muitos desses trabalha- relógio da empresa.
dores estranharam o ritmo de
vida das fábricas, pois como eram

Veja um relato de quem viveu esta realidade

“Apitava seis e meia, dez para as sete, sete horas, dez para as nove, nove e

dez para ti pegar de novo, tinha dez minutos de merenda, a gente largava onze

horas para pegar uma hora da tarde e largar às cinco, depois do almoço, tu

chegava e dormia, quando dava meia hora, ela apitava, dez pra uma hora tu já ia

andando. O número da pessoa era tipo uma medalha, chegava ao painel, tu

pegavas o teu número, o cara tirava o ponto e suspendia”.


(Venâncio Pantoja do Amaral, 2013).

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Muitas funções no trabalho muitas vezes se tornaram tensas,
com a madeira exigiam que se devido à exploração e as
ficassem dentro da água o dia péssimas condições de trabalho
inteiro, respirando o forte veneno nos por tos e nos navi os,
colocado em algumas espécies de estimulando movimentos de lutas
madeira para extinguir as pragas, pelos seus direitos. Por volta de
o que geralmente afetava a 1980, uma situação ocorrida no
saúde, causando principalmente porto alfandegado da empresa
doenças pulmonares como a Madenorte-S.A, chamou a
tuberculose. atenção da imprensa nacional e
Outra categoria importante foi motivo de matéria na Rede
de trabalhadores eram os Globo, diferenciando-se das
estivadores dos portos. Estes demais.
demonstraram que as relações

“A gente tirava a roupa para ter mais agilidade, porque de bermuda, macacão,
camisa e sapato, tem menos agilidade. Então, a gente só de cueca, tinha mais agilidade.
Nós não sentimos que nós estávamos sendo filmados e, naquele tempo, quem ia pensar
que tinha filmador? E tinha um cara da Globo lá a bordo, filmando nós. Em Breves não
tinha televisão, a única pessoa que tinha televisão foi quem nos avisou que nós tinha
estampado em rede nacional, trabalhando só de cueca, quase nu, em porão de navio, foi
o Jessé Fernandes que nos avisou que ele tinha uma antena de televisão lá, que era vinte
metros de altura, um tubo de ferro galvanizado, ele mandou montar uma de dezoito
metros de altura, ele pegava televisão direto de Belém; ele, apreciando o jornal
nacional, e passou: 'estivadores de Breves, totalmente nu em porão de navio fazendo
trabalho, sem segurança nenhuma, sem nada' e ele contou pra nós.”
(Benedito Carvalho, 2013).

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O episódio descrito, foi dado a atividade principal, onde grande
como denúncia pela Rede Globo e parte da população trabalhava
repercutiu negativamente para a na indústria madeireira. Por esse
empresa Madenor te. Porém, motivo, quando esta atividade
para os estivadores, foi começou a desacelerar e as
considerado um marco histórico grandes empresas do ramo
na luta pelos seus direitos. Já que começaram a abrir falência e
um ano depois da reportagem, fecharem as por tas, Breves
mesmo com a pressão de sentiu consideravelmente.
empresários de Breves, A maior consequência da
conseguiram se fortalecer como saída das madeireiras da região
grupo social e criaram o Sindicato de Breves, sem dúvida, foi o
dos Estivadores. desemprego. Muitos pais e mães
Dar atenção para esta parte de família, perderam sua fonte de
da história de Breves que renda e poder de compra, e
externam essas conquistas é foram para o mercado informal
uma forma de recusar a visão que não garante direitos
tradicional da escrita da história trabalhistas nem o sustento
que por muito tempo entendeu a ad equadamente. Toda essa
luta política como um ato situa ção, a carretou em um
somente das elites. Os aumento da violência nos espaços
estivadores de Breves rurais, relacionado à ação de
participaram de atos políticos na p i r at a s q u e a s s a l t av a m a s
d e f e s a d e s e u s i nt e r e s s e s embarcações e as casas. E na
trabalhistas e, apesar da pressão cidade, assaltos a mão armada,
dos empresários souberam, se com reféns, invasão de domicílio,
posicionar diante da recusa de passaram a fazer par te do
reconhecimento de direitos e em cotidiano da população. Muitos
favor da luta pela autonomia da moradores migraram para outros
categoria, algo inédito no contexto estados e países em busca de
de trabalho portuário do período. melhoria. Uma mudança neste
De 1940 a 1990, os negócios quadro somente foi sentida na
da madeira deram base para a última década, quando a
economia de Breves, tornando-se economia começou a reagir de
forma mais consistente.
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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
A problemática da falta de água para o consumo das famílias

Quando falamos de anos de 1930 Breves vive esta


problemas sociais enfrentados necessidade de água encanada
pelos moradores de Breves, sem para atender as residências.
dúvida a falta de abastecimento Desde estes tempos também se
de água é um dos maiores, pois a registram as dificuldades de
maioria da população não possui carregar latas de água na cabeça
acesso à água de qualidade. Algo e carrinhos de mão do rio e de
intrigante, pois vivemos em uma poucos poços na área central da
ilha, cercada por água, o que é cidade.
muito contraditório, levando à D o n a Te r e z i n h a N êm e r ,
uma realidade de distribuição moradora da Rua Presidente
precária de água própria para o Getúlio Vargas, na área portuária,
consumo pelos cidadãos de reportou-se às constantes idas
Breves. ao hospital para abastecer os
Como afirmado esse é um reservatórios de água potável de
problema histórico em Breves. sua casa nos finais dos anos de
Relatos de moradores antigos, já 1950.
afirmam que desde os finais dos

“Na nossa rampinha a gente pegava a água do rio


e lá no hospital ou no poço da Jorgete para beber, eu
lembro que aqui em casa tinha um pote que levava cinco
latas de água, aquilo tinha que encher todo dia”
(Terezinha Nêmer, 2013).

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Somente em 1954, encon- água encanada na zona urbana
tramos documentos da Câmara da cidade, permite apenas
Municipal de Breves, apontando algumas horas por dia de água
para um preliminar levantamento nas torneiras dos brevenses. Essa
topográfico para a construção do r a c i o n a l i z a ç ã o g e r a mu i t o s
abastecimento de água incômodos para a população que
encanada na cidade, pois até recorrentemente precisa retirar
então a água consumida pela água diretamente do rio Parauaú,
população para beber e cozinhar igarapés, ou coletar água da
vinha na sua maioria, de um poço chuva, muitas vezes não tratadas
existente no hospital da cidade, c o r r et a m e nt e o c a s i o n a n d o
que cedia diariamente para os doenças nos moradores. O uso de
moradores porções (em latas) de poços artesianos e cacimbas é
água. muito usual, mas não são todos os
Na atualidade, A Companhia locais que o solo permite
de S aneamento do Pará encontrar água própria para
(C O SANPA), órgão estadual consumo.
responsável pela distribuição de

Foto: Populares em busca de água para a sobrevivência em Breves.


https://jornalresistenciaonline.blogspot.com/2015/07/breves-enfrenta-serios-problemas-com-o_17.html

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Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
A população recorre às
torneiras comunitárias
distribuídas principalmente em
espaços públicos como escolas e
o Tiro de Guerra. Foi diante de
toda essa escassez e de luta pelo
direito ao uso da água em Breves
que nasceu em fevereiro de 2011,
o Movimento pelo Direito ao Uso
da Água, um movimento formado
pela população, muito significativo
nessa luta. Na atualidade está em
andamento a construção de
obras do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC) I e II nessa
direção que visam solucionar o
problema, sem previsão d e
conclusão. Quanto a essa questão
a imprensa brevense, divulgou em
julho de 2015 que mulheres,
crianças e pessoas idosas, são
obrigadas a puxar carros de mão
com baldes de água tirada dos
rios e igarapés, carregando
baldes na cabeça ou com as mãos
e disputando a água fornecida por
carros-pipa, quando estes
aparecem.

143
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980

Atividades
As mudanças na paisagem e nos modos de vida em Breves. Vamos
relembrar.

1- Como se deu a segunda onda de nordestinos vinda para Breves?


_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
2- Vamos aprofundar a leitura sobre a presença de estrangeiros em
Breves no período de 1940 a 1990.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
3- Leia e entenda mais sobre o início do comércio da madeira em Breves.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
4- O que diz o texto sobre as desigualdades e conflitos sociais existentes
no município?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
5- Estude sobre as problemáticas: A Malária a partir da década de 1940;
a falta de água potável presente nos dias atuais.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

Atenção Professor (a): Vamos organizar a turma para pesquisar e


aprofundar sobre a presença dos estrangeiros em Breves e suas
influências no início do comércio da madeira. Em seguida vamos dividir a
turma em 02 (duas) equipes deixando-as responsáveis para pesquisar:
Equipe 1- A malária na região a partir de 1940. Equipe 2 - A histórica
problemática da falta de água potável na cidade de Breves.
Sugestão: realizar culminâncias em forma de seminários envolvendo
toda a escola.

144
UNIDADE IV

OUTROS OLHARES SOBRE BREVES


6 Breves no século XIX

Foto antiga da cidade de Breves-PA. Fonte: Facebook, Página: Os segredos da Amazônia desconhecida

Em 1842 era apenas um reabastecimento dos barcos que


amontoado de casebres, subiam para o rio Amazonas e
moradias típicas da população seguiam viagem para outros
pobre da província, cujos destinos. Era então, um lugar de
h ab i t a nt e s e n g r o s s a r a m a s parada obrigatória. Graças a essa
fileiras dos revoltosos da vantagem, Breves floresc eu
Cabanagem. bastante a partir de 1870, o canal
No início dos anos de 1800, do Parauaú, rio da frente de nossa
Breves era descrita como uma cidade era o único caminho livre
pequena localidade com mais de para navios a vapores, que de
40 casas, com um porto muito Belém seguiam para o Amazonas.
bem localizado, utilizado Isso antes da família dos Breves
principalmente para o se estabelecer na região.

146
6 Breves no século XIX

6.1. Breves e os viajantes

Ilustração de Franz Keller do livro “The Amazon and Madeira Rivers’’

D entre os via jantes em se refere pejorativamente dessa


destaque, estão Spix e Martius forma. Mas, como já conhecemos
que passaram por Breves em nossas origens, não vamos dar
1819, a observação deles sobre importância a essa observação,
Breves diziam que o lugar mal em vista dos viajantes serem
poderia ser chamado de aldeia, pessoas que pouco conheciam as
pois possuía mais que 30 ou 40 formas de viver de nossa região e
choças, espalhadas irregular- olhavam através de suas lentes,
mente. Ou seja, casas cobertas ou seja, de um olhar europeu,
de palha, muito simples, feitas colocando a vida deles no centro
com materiais retirados das de tudo, como se fosse a única
florestas da região, o tipo comum forma de ser e de viver no mundo.
das populações nativas a qual ele
147
6 Breves no século XIX

Outro viajante de nome Sobre as paredes das casas, o


Príncipe Adalberto da Prússia príncipe mencionou que eram de
passou por Breves em 1842, nos troncos de palmeira rachados ao
anos iniciais do crescimento do meio, ou de uma armação de
comércio da borracha. Ele varas revestidas de rolos de
descreveu em seu diário que o palmeiras.
l o c a l a i n d a c o n s e r v av a s u a Sobre os telhados, a compo-
simplicidade, com algumas sição eram as folhas de palmeiras.
touceiras de bananeiras que se As janelas, na falta de vidraças,
misturavam por entre as casas do eram feitas de esteiras de cana
lugarejo. Destacou a presença na em forma de grades, que o faziam
paisagem de uma alta floresta lembrar as janelas dos haréns
virgem ao fundo do lugar. E mais, orientais, descreve o príncipe no
que as casas desciam em direção seu diário. Durante a visita ele fez
à água. desenhos e esboços que depois
As casas em parte construí- foram reproduzidos por gravuris-
das sobre estacas, no período nas tas da Prússia e estam-pados em
marés baixas elevam-se de 1 a 15 seu livro, como podemos observar
metros acima do solo. Ou seja, na imagem a seguir, o que seria a
eram casas altas para se frente da cidade naquele tempo.
protegerem das marés cheias.

Foto: As composições da própria vegetação que serviam de matéria prima para a construção
das residências dessa região retratada por viajantes. 148
Fonte: https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/23413/a-aventura-do-principe-da-prussia-pela-amazonia
6 Breves no século XIX

Cerâmicas e pinturas que retratam memórias de um tempo distante

Cerâmica de Breves no século XIX. Fonte: Lucas Araújo, 2021

Em continuidade a temática pelos habitantes locais que foram


dos registros dos viajantes sobre levadas para alguns museus da
Breves e seus moradores, o Inglaterra e Estados Unidos por
pesquisador Lucas Araújo em sua esses viajantes. Os resultados são
tese de doutorado defendida em muito valiosos para o
2021, dedicou-se a investigar, e nt e n d i m e nt o d a p r o du ç ã o
dentre outras temáticas, os material do município.
traços da cerâmica produzida

149
6 Breves no século XIX

O pesquisador Lucas Araújo, viajante vitrificar qualquer coisa


mencionou que o primeiro que quisesse pintar, dando-lhe o
registro, até onde se tem notícia, direito de escolher as cores que
sobre a cerâmica de Breves no quisesse. Ele escolheu um par das
século XIX foi feito por Spix e mais belas bilhas.
Martius no livro “Viagem Pelo O relato do viajante, chama
Brasil” em 1819. atenção para uma estética
A atenção agora é para o zoológica, modelados de maneira
momento da passagem pela vila qu e o s c o r p o s d o s a n i m a i s
em 02 de agosto de 1819, quando serviam de contorno para os
os via jantes relataram ter pequenos vasos. Além disso,
encontrado diversas mulheres existiam objetos com pinturas de
ocupadas em fabricar louça de elementos do universo do homem
barro. Elas modelavam cântaros branco, como o coração, terço
(vasos para beber água, também cristão, bem como outros tipos de
conhecido como moringas) e objetos.
tigelas quase sem o torno, feitas à
mão livre, com grande habilidade.
Outro importante viajante foi
W i l l i a m E dw a r d s , o m e s m o
revelou que em uma das casas de
Breves, uma velha índia estava
pintando em pratos de cerâmica o
que ela chamou de pombos e
galos. Outra estava pintando
bilhas, ou seja, pequenas jarras de
água, de argila branca e
artesanato. Ela prometeu para o

Cerâmica de Breves no século XIX. Fonte: Lucas Araújo, 2021. 150


6 Breves no século XIX

Curiosidades...

“A arte grega ocupou lugar central na produção artística internacional


entre o século XVIII e meados do XIX e que encontrou nos jarros
produzidos em Breves algumas semelhanças com vasos gregos. A
inspiração para esse estilo pode ter chegado até os descendentes de
indígenas de Breves, por meio dos contatos de estrangeiros,
missionários e viajantes que visitavam a região e traziam peças desse
tipo que inspirou a indústria local de cerâmica.” (Araújo, 2021).

D e s s a fo r m a p o d e m o s estética europeia. Essa


perceber que artesanato de observação marca o que
Breves era uma composição de estamos apresentando desde a
estilos cerâmicos do universo do primeira unidade desde livro, que
homem branco com técnicas de Breves sempre esteve em
modelagem e pintura indígenas, contato com culturas globais,
trazendo para o designer das nu n c a fo i i s o l a d a e a s u a
peças, elementos da realidade localização geográfica está entre
amazônica, em especial animais os principais fatores da conexão
como os pombos, galos, jacarés e com outros lugares do mundo.
tartarugas, enfeitados com a

151
6 Breves no século XIX

Ao que se observa, segundo ancorou em Breves em 26 de


as pesquisas relacionadas ao setembro de 1849, os seus relatos
tema, a indústria cerâmica de deram ênfase a existência de um
Breves, pode ser encarada como comércio ultrapassando as
uma forma de resistência, sendo fronteiras da lugar, uma vez que
que os moradores, buscavam nos muitos viajantes compravam das
saberes dos seus ancestrais, poucas famílias indígenas
outras opções para seus destinos residentes no povoado, potes de
diferentes da escravidão da barro ornamentais e com pintura
escravidão vivida por eles. de cuias, os quais vendiam para os
O outro viajante, menciona- comerciantes ou viajantes que
do pelo pesquisador Araújo passavam pelo local.
(2021), foi Henry Walter Bates que

Foto: Comércio de cerâmicas nos dias atuais 152


6 Breves no século XIX

Essa informação sobre a com pinturas em cuias está


confecção de cuias pintadas em associado às cidades de Monte
Breves, se diferenciava daquilo A l e g r e e S a nt a r ém ,
que os outros viajantes que demonstrando também os
mencionavam. Até então se sabia c r u z a m e nt o s d e p r át i c a s e
apenas sobre o artesanato de saberes entre os grupos da
cerâmica, uma vez que Amazônia.
tradicionalmente o artesanato

6.2. Breves e o movimento da Cabanagem

No dia 7 de janeiro de 1835, teve início no Pará a guerra civil


chamada "Cabanos". A Cabanagem, como ficou conhecida

O pesquisador que muito traçar um painel e estabelecer um


contribuiu para o conhecimento diálogo sobre os espaços
de Breves no século XIX, inclusive existentes, a população, aspectos
produziu uma monografia sobre o a d m i n i s t r at i v o s , o s p r é d i o s
lugar foi Theodoro Braga no ano públicos e par ticulares, os
de 1919, em seus estudos conflitos, dentre outros aspectos
apresentou muitas documen- de Breves.
tações pelas quais foi possível
153
6 Breves no século XIX

Vamos seguir uma linha suas pesquisas, o autor encontrou


cronológica dessa documentação uma série de correspondências
para um melhor entendimento oficiais do Padre Prudêncio José
dos momentos e das das Mercês Tavares, juiz de paz e
t r a n s fo r m a ç õ e s v i v i d a s e m defensor da vila de Cametá com o
Breves, tanto no espaço urbano Marechal Manoel Jorge
c omo no lado social. Nesse Rodrigues, presidente da
sentido, vamos começar com um Província do Pará. Dentre as
dos maiores eventos do século XIX documentações, destacou-se
no Pará, ocorrido em 1835: a um ofício de 04 de setembro de
Cabanagem. 1835 no qual o padre Prudêncio,
Seguindo na análise da obra descreveu a situação que se
de Theodoro Braga (1919), Breves apresentava no resto da
aparece em meio as descrições província, assolada pelo terror,
documentais que demonstram a destacando que inúmeras
ação dos cabanos na região. No famílias e mais de mil cidadãos de
contexto de 1835, foi o ano em igarapé-miry, Anapú, Oeiras e
que os cabanos tomaram a capital, abandonaram suas casas,
capital Belém, porém a vila de vieram procurar refúgio na vila de
Cametá resistiu e foi o único lugar Breves, porém não estavam
da província que não caiu em seguros por falta de armas e
poder dos rebeldes. Em meio as mantimentos.

Padre Prudêncio José das Mercê Tavares


Comandante do Exército Anti-Cabano de Cametá

Sob o comando de Padre Prudêncio, inúmeras


expedições partiram de Cametá com o objetivo de
derrotar focos de resistência cabana nas vilas e
lugarejos localizados no vale dos rios Tocantins, Pará
e Amazonas.

154
6 Breves no século XIX
Marechal Manuel Jorge Rodrigues
(Barão de Taquari)
Presidente da Provincia do Pará
Foi comandante das armas e presidente da
província do Pará, de 10 de abril a novembro de
1835. Em 1840 foi nomeado governador das armas
da corte, onde permaneceu quatro anos.

Para amenizar a situação, o acontecimento, aparece em 1836,


ofício acrescentava que Padre quando os cabanos abandona-
Prudêncio, fez seguir para Breves ram Breves, depois das vitórias
a barca Independência, a fim de alcançadas entre os dias 20, 21,
proteger algumas canoas que 22 de novembro no ano de 1835,
estavam paralisadas com medo momentos nos quais os inimigos
dos cabanos. A embarcação foi foram destroçados pelo exército.
enviada para Breves, no sentido O então pequeno lugar dos
de socorrer aos habitantes, B r ev e s t em t a m b ém o s e u
juntamente com os refugiados momento de glória na história do
das localidades mencionadas Pará.
acima. Outro registro sobre esse

Representação em tela da Cabanagem em lugares de rios e florestas. Fonte:


155 https://www.appai.org.br/conhecendo-a-cabanagem/
6 Breves no século XIX

Uma escola primária em Breves em 1835

Dentre os registros de 1835, desse não ser o interesse das


sobre Breves, para além da elites para as classes menos
cabanagem, Braga mencionou a favorecidas, apenas os filhos de
criação de uma escola primária na uma pequena minoria com mais
freguesia de Breves. Um aspecto posses, frequentavam a escola.
muito importante para com- Outros registros aparecem
preendermos como o autor deu em 1860, quando foram criadas
ênfase a essa questão. Sabe-se escolas primárias em Breves. Ou
que essas esc olas estavam seja, os alunos aprendiam
dentro de um padrão criado no somente a ler e escrever, não
Brasil, fazendo parte do sistema havia continuidade. Em 1863, o
provincial. Não podemos pensá- número de escolas públicas,
las como espaços de inclusão, ao aumenta para três, sendo duas na
contrário, nesse tempo as elites vila de Breves e uma no rio
eram agrárias, ou seja, formada Tajapuru. Até então as escolas
pelos donos de terras, produtores eram separadas por sexo,
dos espaços rurais. Em Breves havendo a escola de meninos e de
não era diferente. Não existia um meninas, uma característica da
interesse maior do estado em educação nos tempos do império.
criar muitas escolas, em vista

A “Escola das primeiras letras” de 1827: meninos separados de meninas

A primeira grande lei que os meninos. Enquanto eles


educacional do Brasil, de 1827, aprendiam adição, subtração,
determinava que, nas “escolas de multiplicação, divisão, números
primeiras letras” do Império, decimais, frações, proporções e
meninos e meninas estudassem geometria, elas não podiam ver
separados e tivessem currículos nada além das quatro operações
diferentes. Em matemática, as básicas.
meninas tinham menos lições do
156
6 Breves no século XIX

A educação das meninas era mais para visualizarmos como era a


limitada que a dos meninos e sala de aula do período também
t a m b é m e nv o l v i a a p r e n d e r em outros lugares do Brasil.
afazeres do lar como podemos Notem que as meninas estão
ver na imagem a seguir, um aprendendo a bordar.
exemplo de São Paulo que serve

Legenda: Escola para meninas em São Paulo no século XIX. Fonte:


https://www.poder360.com.br/brasil/brasil-imperial-considerava-que-meninas-eram-intelectualmente-limitadas/

No Senado, o Visconde de “Sobre as contas, são bastantes


Cayru foi um dos defensores de para as meninas as quatro
que o currículo de matemática das espécies, que não estão fora do
meninas fosse o mais enxuto seu alcance e lhes podem ser de
possível. Nas palavras dele, o “belo constante uso na vida.
sexo” não tinha capacidade
intelectual para ir muito longe:

157
6 Breves no século XIX

O seu uso de razão é muito Breves, com meninos e meninas


pouco d esenvolvido para estudando na mesma sala, como
poderem entender e praticar ocorre na atualidade.
operações ulteriores e mais Ali pelos anos de 1839, em
difíceis de aritmética e geometria. Breves viviam cerca de 237
Estou convencido de que é em vão moradores, sendo que os homens
lutar contra a natureza” (Westin, cultivam mandioca, pescavam,
2020). Dessa forma, Breves extraíam óleo vegetal, resina da
seguia o mesmo padrão de árvore de breu e estopa das
mentalidade do império, poucas florestas. Já as mulheres
meninas aprenderam a ler e trabalhavam no artesanato de
escrever, principalmente nos c erâmica, pintando cuia e
espaços rurais. confeccionando louça de cozinha,
Somente em 1910, um novo bacias, jarros e outras peças de
documento autorizou o funciona- barro (Baena, 2004).
mento de escolas mistas em

Ilustração: Mulher Marajoara em Cena. Fonte https://portal.ufpa.br/index.php/ultimas-noticias2/13905-projeto-


de-extensao-marajoara-realiza-atividades-com-tematicas-educacionais-voltadas-a-mulheres-criancas-e-adolescentes 158
6 Breves no século XIX

6.3. Evolução populacional de Breves no século XIX

Ano de 1840, o número de Ano de 1889, a população do


moradores era de 1.000 município tinha saltado para
habitantes. 12.593 habitantes. Os últimos
Ano de 1841, existiam 5.865 dados encontrados são do ano de
habitantes, sendo que 5.449 1900, quando Breves tinha nesse
eram livres e 416 eram escravos. ano uma população de 17.799
Em 1855, o município tinha 534 habitantes, sendo 9. 479 homens
escravos, destes 258 homens e e 8.320 mulheres.
276 eram mulheres. Em 1901 a população era de
Ano de 1862, a população do 19.662 habitantes (Braga, 1919).
município contava com 2.996
pessoas livres e 209 escravos, um
total geral de 3.205 habitantes.

159 População de Breves em comemorações do aniversário da cidade.


6 Breves no século XIX

Ainda sobre o ano de 1900, o pesquisador (Braga, 1919) acrescenta


novas informações que nos faz conhecer outros detalhes, por exemplo:
existiam em Breves, 3.347 solteiros, 1714 casados, 190 viúvos.
Acrescentando ainda informações sobre as ocupações e profissões em
Breves na época. Existiam 185 artistas, 301 comerciantes, 34
empregados no comércio, 34 empregados públicos, 4.683 lavradores,
03 magistrados, 01 médico, um farmacêutico.
(Braga, 1919).

É muito interessante ter informações sobre o município de Breves de


outros tempos, não é mesmo?

Mesmo diante da fragmen- citados. Isso se deve a entrada de


tação das informações sobre a muitos migrantes nordestinos e
contagem populacional, podemos portugueses, a partir de 1870 na
notar como a população de região que vieram para trabalhar
Breves, aumentou do ano de 1841 nos negócios da borracha.
em diante, d esta cando-se
principalmente nos últimos anos

A Povoação Santana dos Breves é elevada à condição de vila

Retomando aos anos de extinta a freguesia de Melgaço,


1851 para entendermos questões passando a fazer parte da nova
relativas ao desenvolvimento do freguesia de Santana dos Breves,
local e as mudanças de status como capela filial.
ocorridas em Breves, podemos
observar que neste ano, ficou

160
6 Breves no século XIX

Sendo que neste mesmo ano um construírem suas casas no local,


enorme passo foi dado, devido ao diante desse acontecimento uma
destaque da freguesia de Breves, moradora conhecida como
em 25 de outubro, a povoação de Saturnina Tereza, que se dizia
Santana dos Breves foi elevada à herdeira legítima das terras dos
categoria de vila. Por conta desse Breves, solicitou em uma sessão
passo dado, o governo provincial da câmara a posse de todas as
do Pará, ordenou que a câmara terras da vila. A mesma possuía a
municipal passasse a funcionar na carta de doação dada por D.
vila de Santana dos Breves e não João, rei de Portugal e alegava
mais em Melgaço. que a vila foi erguida em cima de
O governo então permitiu sua propriedade.
que se alugasse uma casa para Em 1855, o governo provin-
realizar as sessões da câmara. cial respond eu ao ofíci o d e
Um cidadão denominado Saturnina Tereza e de outros
Joaquim da silva Baima, ofereceu moradores que queriam construir
por um tempo de dois anos uma casas na vila, se mostrando
casa na vila dos Breves para desfavorável a Saturnina Tereza e
funcionar as sessões da câmara. também não permitiu que a posse
No entanto, a compra de um lugar das terras ficasse com a câmara.
definitivo para a Câmara O governo provincial alegava que
Municipal, somente ocorrera em o documento apresentado por
1875, com a aquisição da casa do Saturnina Tereza tinha defeitos e
Sr. Bonifácio da Silva Monteiro, não permitiram que esta senhora
situada na rua Rêgo Barros, atual tomasse posse dessas terras.
Avenida Rio Branco.
Outras alterações começa-
ram a ocorrer no espaço da vila
após a sua elevação. Alguns
indivíduos solicitaram à câmara
de Breves terrenos para

161
6 Breves no século XIX

O governo provincial passou denota o crescimento da


a tomar conta das terras da vila, população e a necessidade da
ordenando que a câmara criação de novas estruturas
pudesse executar as ordens para ocorreu em 1860 com o início de
construção apenas de praças, um novo cemitério para a vila,
ruas, travessas, pontes, solicitado pela Câmara Municipal,
logradouros públicos, mas não de levando a crer de se tratar do
residências. cemitério Santa Izabel, localizado
Desde 1851, as documenta- atrás do hospital da cidade, nas
ções destacadas nos estudos de media ç ões da r ua Pa es d e
Braga (1919), vão demonstrando Carvalho. Também indicando que
mudanças nos espaços da cidade, havia um anterior a este, ainda
ainda que em lentas, demarcam a sem informações de onde estava
construção de novas estruturas localizado.
para atender as demandas da A necessidade de um novo
população. Nesse ano, por cemitério pode ser explicada pela
exemplo, é construída a primeira falta de cuidados básicos com a
cadeia de Breves. Já em 1859, é população, pois em 1846,
muito interessante quando nos solicitou-se o envio de vacinas ao
deparamos nas documentações governo provincial para a vila, a
com criação de uma estrada que qual não foi atendida, trazendo
liga a vila Santana dos Breves até danos graves para os moradores
o lugar chamado Arapijó, para que foram acometidos de uma
manter a comunicações com o grave epid emia d e sezão,
comércio e habitantes desse rio, sepultando diariamente uma
do Curuaru, Tumucury, Mamajó, grande quantidade de gente,
Igarapé Grande e Santa Cruz, tanto na igreja matriz e em outros
destacando a importância dos lugares da redondeza, onde
espaços de rios e florestas para existiam cemitérios. Conclui-se
as negociações locais. q u e n ã o fo i p o s s í v e l a c h a r
Outra transformação que remédio para tal calamidade.

162
6 Breves no século XIX

Em 1872, um novo documen- explicação para a rápida


to solicita a transferência deste desativação do cemitério atual.
cemitério para outro lugar, dando Avançando mais um pouco,
a entender que já tinha seus chegando em 1865, os documen-
espaços todos ocupados. Sendo tos têm objetivos direcionados
que em muitas solicita ç ões para a abertura de novas ruas,
encaminhadas pela Câmara construção de praças e
Municipal da vila para o governo perfuração de poços públicos
provincial, aparecem algumas para a população da vila, além da
direcionadas novamente para construção do matadouro público
compra de vacinas para nas proximidades do igarapé
prevenção de varíola, destacando goiabal, na atualidade, próximo à
alguns surtos na população, outra escola Estêvão Gomes, no bairro
consta a necessidade de Cidade nova, um sinal de que a vila
atendimento médico e remédios se alargava também para este
para conter o avanço das mortes lado.
por malária, o que pode ser uma
Será que existia energia elétrica em Breves nesse período?

163 Residência sem energia elétrica, cenário comum nesse período.


6 Breves no século XIX

C om c er teza ainda não pública. Inclusive existia um


existia. A cidade era iluminada funcionário público, responsável
durante a noite por meio de por este ofício. O mesmo colocava
lampiões. Em 1869, por exemplo, a óleo de baleia nos lampiões e
vila Santana dos Breves adquiriu acendia e apagava todas as
30 lampiões com as armações noites.
que serviam para a iluminação

6.4. Breves é elevada à categoria de cidade em 1882

164
6 Breves no século XIX

Em 02 de novembro de início do século XIX, são muitas


1882, Breves deixa de ser uma vila não é mesmo? Os espaços foram
S a nt a n a d o s B r ev e s s e n d o sendo transformados
elevada à categoria de cidade. lentamente, mas não deixaram de
Nesse momento então podemos acontecer. Em 1888, por exemplo,
destacar que a cidade possuía a rua da frente ganha a
duas ruas extensas: a rua da construção de um cais. Para o
frente, também chamada de lado do atual bairro Cidade Nova,
Santana, atualmente chamada aparecem na documentação a
de Presidente Getúlio Vargas e a construção de duas pontes,
Rua Rêgo Barros, atual Avenida abertura e aterro da rua que vai
Rio Branco. Existiam cerca de 300 ao curro (matadouro) e
casas, algumas de boa desobstrução do igarapé goiabal
construção, a igreja Matriz de para que canoas e barcos
Santana, a Agência de Correio, pudessem circular livremente. A
Coletoria Geral e Provincial, 03 justiça também ganha em 1891 a
padarias, oficina, cemitério, e o casa de cadeia, estação policial,
palácio municipal (edifício público 03 cartórios, 01 juiz.
que servia de sede da adminis- No campo administrativo,
tração do município), pontes em 1889, foi criado no município
particulares, hotel, iluminação e de Breves um conselho de
02 escolas públicas. intendência municipal, composto
A indústria local incluía a de 7 membros sob a presidência
fabricação de azeite de andiroba de um deles, nomeados pelo
e a fabricação de borracha. A governador do estado. No mesmo
população escrava era de 230 ano, na data de 26 de novembro o
homens, 263 mulheres, com um município aderiu ao novo regime
total de 493. Como filhos livres de governamental, a República, em
mulher escrava havia 28 homens uma cerimônia realizada pelas
e 104 mulheres. autoridades civis e militares do
Note todas as transfor- município. Terminava o período do
mações destacadas desde o império no Brasil.

165
6 Breves no século XIX

Na direção de crescimento cidade, onde ficava os intendentes


como espaço urbano, em 1895, foi de Breves, espécie de
construído um edifício para a representantes do governo, como
administra ção municipal da se fossem prefeitos.
Intendentes que se estabeleceram no poder
em Breves entre os anos de 1891 a 1912

De 1891 a 1894 De 1903 a 1906


Tenente Coronel Coronel Lourenço de
José Maria de Cabral Mattos Borges.

De 1894 a 1897 De 1906 a 1909


Coronel Amado Coronel Lourenço de
Joaquim da Silva Matos Borges, reeleito

De 1897 a 1900 De 1909 a 1912


Coronel Fulgêncio Coronel Lourenço de
Mariano de Andrade Matos Borges, reeleito.

166
6 Breves no século XIX

No ano de 1 904, foi intendente Coronel Lourenço de


construído o prédio da Prefeitura Mattos Borges, tornando-se
Municipal de Breves e Câmara prefeitura somente em 1942.
Municipal, no governo do

Foto: construção da Câmara Municipal de Breves, primeiros anos do século XX.

167 Atual prédio da Prefeitura Municipal de Breves - PA


7 A cidade no século XX

No final do século XIX, com a naquele ano recebe verba


cidade crescendo, no ano de enviada pelo governo provinciano
1899, nota-se a preocupação para a realização deste trabalho.
com o paisagismo da cidade que

Foto: Avenida Rio Branco em dia de desfile escolar de 7 de setembro

Adentrando ao século XX, 77 casas térreas, 05 lojas de


pelo ano de 1900, vê-se a fazendas (tecidos) com tabernas
realização de obras de (comércio), 01 loja, 02 padarias, 01
infraestrutura como, por exemplo, açougue, 02 botequins, 04 canôas
a construção de pontes de acapu de regatão, construção de 03
no igarapé baratinha. Em 1901 t r a p i c h e s , 0 1 b a r b e a r i a , 02
estão concedidas à intendência, telheiros, 20 barracas, 04 edifícios
terras devolutas para aumentar o públicos, 01 igreja, 01 capela, 05
patrimônio territorial da cidade tabernas, 01 farmácia drogaria, 01
com a abertura de 04 novas ruas, casa de bilhar, 02 carroças, 01
04 travessas, a construção de 03 tipografia.
praças, de 12 sobrados (casas),
168
7 A cidade no século XX

Praça da bandeira com bastante verde retratam uma atenção especial da cidade com a questão da
arborização do espaço urbano. (arquivo: Dione Leão)

Em 1904, a cidade cresce saudade, atualmente uma rua


mais um pouco com aumento da que segue em paralelo à Avenida
avenida para além da Paes de Rio Branco que liga a Rua
carvalho, até o novo cemitério de Lourenço Borges à travessa 7 de
Santa Rita que passou a funcionar setembro.
nesse ano. O novo caminho que
chegava ao c emitéri o, fic ou
conhecido como passagem da
169
7 A cidade no século XX

7.1. A mudança da sede da cidade para Antônio Lemos

Em 1906, por problemas de para um lugar localizado na Ilha de


saúde pública, mencionando a Nazaré, no rio Tajapuru. A vila se
insalubridade do local da cidade t r a n s fo r m o u n a c i d a d e d e
de Breves, o Conselho Municipal Antônio Lemos, denominação
teve seus desejos concedidos dada em homenagem ao
pelo Congresso do Estado do intendente de Belém Antônio
Pará de trocar a sede do José de Lemos, político que
município da cidade de Breves da governou Belém entre os anos
antiga Vila Santana dos Breves 1897 e 1911 (Braga, 1919).

Foto: A vila de Nazaré às margens do rio Tajapuru que se tornou vila de Antônio Lemos, sede da
cidade de Breves em 1906. (arquivo Dione Leão).

170
7 A cidade no século XX

O intendente de Belém Antônio José de Lemos, homenageado com o seu nome na nova sede da
cidade de Breves. (Fonte: internet e redes sociais sobre o tema).

A pesquisa de Braga (1919) Miranda, Irmão e comandita, um


destacou que com essa mudança dos principais importadores em
muito se lucrou na economia, na grande escala do sul do Brasil.
saúde e no progresso do Cita também que a
município. A população da cidade navegação facilitada pelo rio
de Antônio Lemos era de 800 Ta japuru, onde a cidade se
habitantes. O c omérci o era encontrava nas margens, era local
movimentado com a existência de de passagem de vapores de
vários estabelecimentos, dentro vários tamanhos, os quais faziam
os quais a casa comercial de C. escala no local.

171
7 A cidade no século XX

A cidade contava com muitos barcos e lanchas.


prédios particulares e públicos Outro fator de destaque foi
municipais. Tinha várias ruas, em relação à instrução pública ser
praças, avenidas, travessas. mais adiantada do que na cidade
Todas as ruas eram arborizadas de Breves, com várias escolas e
c om palmeiras e tinham as um número significativo de alunos
seguintes denominações: Rua que atendiam provavelmente as
Augusto Montenegro; Avenida crianças dos rios da redondeza e
Central; Avenida Huet de Bacellar; no período noturno o ensino era
Avenida Barão do Rio Branco e dispensado aos adultos. A cidade
a i n d a a Av e n i d a F r a n c i s c o possuía um jornal, denominado
Figueiredo e Dr. Fausto Cardoso. C idad e d e Antôni o Lemos,
Na estrutura física, a existência de i mp o r t a nt e e r a r o m e i o d e
trapiches públicos e particulares comunicação da época, o qual
facilitava o trânsito de embar- divulgava tanto as notícias do
cações como os navios vapores, lugar como as nacionais.

Fontes Revista O Malho. Fotos de publicações do Jornal ‘’Cidade de Antônio Lemos’’

172
7 A cidade no século XX

Em Antônio Lemos, existia


até mesmo uma tipografia para
imprimir o jornal local e também o
anuário denominado “Opinião”,
principal órgão de propaganda do
Club Recreativo e Beneficente
Lourenço Borges. Sendo que em
1910, o clube político se instalou na
referida cidade, abandonando
Breves. Dentre o corpo editorial
do jornal, estavam figuras
conhecidas da elite da cidade de
Breves, um sinal da importância
política do local.
Olhando assim, vê-se que os
motivos da mudança de sede da
c i d a d e , n ã o s e e x p l i c av a m
somente por uma questão de
saúde pública ou insalubridade,
existiam interesses políticos e
ec onômic os envolvendo a
decisão. E por mais que se
destacasse a estrutura da cidade
de Antônio Lemos, vimos nas
descrições das documentações,
expostas pelo pesquisador que a
cidade de Breves era muito mais
bem estruturada.

173
7 A cidade no século XX

Em 1909, Antônio Lemos teve o Município por muito tempo, pois a


predicamento de cidade e foi Lei Municipal nº 240, de 18 de
instalada em 17 de dezembro do março de 1912, a transferiu de
mesmo ano, não conseguindo, volta para a cidade de Breves.
entretanto, conservar-se sede do

Curiosidades...

Foi a Lei Municipal nº 240, de 18 de março de


1912, que transferiu a sede do município de
volta para a cidade de Breves.

Vale destacar que devido à Boiussu, a do rio Macacos, rio


mudança da sede do município Mapuá, rio Aramã, rio Jacare-
para a cidade de Antônio Lemos, zinho, Curumu, Ituquara, Furo do
as documentações pesquisadas, Gil, Mututy. A situação levou
remetem a uma fase de declínio muitos prédios públicos
na cidade de Breves, que se municipais a ruína, tanto que 1908,
resumiu a uma subprefeitura. Seu uma lei autorizou a demolir alguns
poder político foi descentralizado, deles. A situação somente foi
foram criadas várias subprefei- alterada a partir de 1912, quando
turas como a da cidade de a cidade volta a ser a sede do
Antôni o Lemos, do Furo do município novamente.

174
7 A cidade no século XX

A instalação da Breves Industrial Sociedade Anônima – BISA em 1925

Imagem: Vista parcial da área da BISA na frente da cidade de Breves. (arquivo Dione Leão).

O retorno da sede do processo concluído em 1917 com a


município para Breves coincide instalação da primeira madeireira
c o m o p r o c e s s o d e na região de Breves. A madeira
desaceleração dos negócios da começava a despontar no cenário
borracha na região, quando os econômico de Breves. Nos
grandes comerciantes do ramo espaços da cidade o ano de 1925
instalados na sua maioria nos marca a instalação da empresa
espaços rurais, perdem a do ramo Breves Industrial
expressividade nesse comércio. Sociedade Anônima (BISA), um
Em 1910 a situação é visível com a marco divisor na economia da
criação da lei número 211, que cidade de Breves, pois como visto
autoriza o intendente a gratificar anteriormente a mesma ocupava
quem estiver interessado em um quarteirão da área central da
montar uma serraria a vapor. Na cidade.
cidade de Antônio Lemos este
175
7 A cidade no século XX

Em 1939, o jornal Estado do A cidade retoma o


Pará, exibiu uma reportagem na crescimento, porém conserva o ar
qual dizia que a cidade nesse de cidade pequena sem
período teria passado por uma estrutura, os relatos de
transformação, sendo que aos moradores sobre a década de
poucos as ruas sujas de 1 930, confirmam alguns dos
antigamente, sem higiene e outros limites do inicio do século XX, como
cuidados indispensáveis deram destacado nas documentações
lugar a uma cidade com ruas exibidas pelo pesquisador Braga
niveladas, ampliadas, abriram-se (1919).
novas travessas. Os prédios O Sr. Antônio Soares, deixou
públicos foram remodelados, registrado as suas impressões
dando um ar de progresso para a sobre a cidade nessa década:
cidade.

“Eu me lembro da cidade de Breves desde os 08 anos de idade, desde


1938 eu conheço Breves; a cidade só era até na Rua Paes de Carvalho e
na Avenida Rio Branco, para cima não passava, e a Rua Castilho França
subia até ali perto do Papy. Chamavam essa terra de cavalo alto,
também de alto do bode. Quando eu conheci Breves na década de 1930
não tinha energia, não tinha motor de luz, a cidade não era iluminada,
era tudo no escuro, lá no Trapiche Municipal é que tinha dois faróis, um
amarelo e outro vermelho, era esse mesmo trapiche, eles fazem a
reforma mais vem trazendo o mesmo modelo que era daquele jeito
mesmo”.
(Antônio Soares, 2013).

176
7 A cidade no século XX

7.2. A questão da energia elétrica em Breves


Nas memórias, transfor- promover a reforma e ampliação
madas em relatos sobre a cidade do serviço de iluminação pública
dos anos de 1930, constituindo-se na sede do município, que deveria
também como um documento, é abranger todas as praças, ruas,
possível notar o alargamento da avenidas, travessas e logradouros
cidade com uma rua nova, até públicos, incluindo a substituição
então não menci onada nos de postes, ampliação da rede
documentos sobre a cidade: a rua geral condutora de energia,
Castilhos França, levantando a adquirindo para isso, de
possibilidade da abertura desta, preferência, um conjugado
entre as décadas de 1920 a 1930. elétrico sistema a diesel, de
O Sr. Antônio Soares também potência nunca inferior a 25
tocou em um problema latente quilowatts, fios, postes, isoladores
em Breves; a energia elétrica. e demais materiais necessários à
Em Breves foram encontra- construção desse serviço,
dos nos documentos do arquivo destinando para isso SESSENTA
público da cidade muitas MIL CRUZEIROS (Cr$ 60.000,00),
referências à questão da energia retirados dos recursos disponíveis
elétrica. Muitas leis sancionadas do município. Três anos depois,
pela Câmara Municipal de Breves sob o governo de Osvaldo de
na década de 1950 autorizavam Oliveira Fernandes Pena, a lei nº
repasses de verbas públicas para 33 de 13 de setembro de 1954,
manutenção, ampliação e autorizava a prefeitura a construir
construção de usina de força de um prédio de alvenaria destinado
energia. a Usina de Força e Luz desta
Porém, somente em 1951, cidade, bem como adquirir o
sob a lei de nº 25 de 06 de agosto, material necessário à renovação
que a Câmara Municipal autorizou da respectiva rede elétrica. O que
o prefeito municipal Antônio de fato ocorreu nessa década.
Bernardo de Souza Filho a
177
7 A cidade no século XX

Legenda: Usina de Força e Luz em Breves, década de 1950.

Antes da implantação da cidade em desenvolvimento, até


usina de energia elétrica, no ano com água encanada, embora
de 1949, o jornal, A Província do saibamos que não era para todos
Pará, exibia outra reportagem, no os moradores:
qual destaca traços de uma

Modernização da rede elétrica no município de Breves-PA nos dias atuais. 178


7 A cidade no século XX

Quem navegar pelo intricado labirinto de rios, canais estreitos que compõe a chamada
região das ilhas depara numa grande claridade luminosa, uma cidade fidalga e simples:
Breves. O Paranhaú de águas tranquilas e barrentas passa-lhe à frente com o seu doce
murmúrio de rio manso. O cais de madeira separa a “urbus” principal do canal sossegado
e lá em cima, na zona suburbana, a extensa planície de relvas, as casas pintadas de
branco, uma palmeira solitária. E jardins imponentes. Quase todos os donos de casa
cultivam as flores. Mas não só flores - árvores frutíferas e legumes são plantados,
criando-se zilos deliciosos de horticultura indígena. (Jornal A Província do Pará, 1949).

Possivelmente a imagem é mostramos em momentos


romantizada de Breves, pois anteriores, todos os problemas
quando trabalhamos com jornais sociais que Breves apresentava
temos que ter o cuidado de nesse perí odo, utilizamos a
analisar a procedência da reportagem em outro sentido, o
i n fo r m a ç ã o , e s s e t i p o d e de observar a composição das
reportagem era muito comum, paisagens da frente da cidade. A
geralmente encomendada pelos fotografia a seguir mostra uma
políticos para fazerem das realidades da frente da
propaganda de seus governos de cidade da década de 1950 a 1960.
forma positiva, como nós já

Foto: Rua Presidente Getúlio Vargas, na atualidade no espaço onde está a estátua de Santana,
179 décadas de 1950 a 1960.
7 A cidade no século XX

7.3. Relatos que testemunham a história em construção

Foto Reprodução

O Sr. Venâncio Pantoja do expediente, recordando também


Amaral fala sobre a cidade de que os outros trabalhadores
Breves no fim da década de 1950 deixavam suas canoas,
quando ele veio do interior. Nele é guardadas embaixo do trapiche
possível perceber uma sintonia para ir para outros espaços
com elementos da natureza que pescar e caçar. Desse modo,
carregava consigo como parte de podemos notar uma cidade
sua identidade, ao afirmar que crescendo, se urbanizando,
mesmo trabalhando na empresa adquirindo hábitos operários, mas
Breves Industrial S ociedade sem deixar a vida rural ribeirinha
Anônima-BISA durante o dia, não de lado.
deixava de pescar na frente da
empresa quando terminava o

180
7 A cidade no século XX

“Naquela época o mercado era onde é o correio, lá matavam um boi e não vendiam uma
banda, porque o município era farto. Olha o pessoal da BISA, dia de sábado, cada qual,
aquele que sabia caçar, pescar, cada qual já tinha seu casco lá debaixo do trapiche, já ia
de manhã, tudo equipado, deixavam lá, quando largava do trabalho, pulava no seu
casco ia de dois a dois, ia embora, quando amanhecia o dia, já vinha abastecido de peixe,
caça, fruta, tudo e aí para vender a carne do mercado? Matavam o boi sobrava tudo
praticamente, porque o cara ia buscar tudo no mato de graça.”
(Venâncio Pantoja do Amaral).

Nos anos de 1960, José capital Belém, destacado no ano


Maria Garcia (1996), também d e 1 9 6 4 p a r a t r ab a l h a r n a
deixou suas impressões sobre a primeira agência do Banco do
sua chegada à cidade em um livro Brasil, juntamente com a esposa,
intitulado “Crônicas do lugar dos permanecendo uma década em
B r e v e s ” , n o q u a l r e l at o u a Breves.
experiência de um migrante da

“A meia noite, finalmente estávamos atracados no trapiche municipal. A cidade estava


às escuras. Fachos de lanternas de pilhas cruzavam o breu da noite de um lado para o
outro no atracadouro da cidade. Mesmo em tais circunstâncias, várias pessoas ali se
aglomeravam. Algumas aguardavam passageiros, outras porque exerciam a profissão
de carregadores de bagagens e cargas, mas a maioria eram simplesmente curiosos,
para quem a chegada de um navio constituía sempre motivo de atração.”
(José Maria Garcia, 1996).

181
7 A cidade no século XX

É muito interessante Em Breves, de certa forma,


perc eber c omo as histórias houve uma pressão propiciada
contadas pela população que pela expansão urbana para
viveu o cotidiano do qual nós não construir prédios modernos e
conhecemos, podem trazer visões retirar habitações mais modestas
da cidade do passado. Por isso é da área central. Verificamos essa
tão importante preservarmos as tendência desde a década de
memórias, os nossos patrimônios 1940, quando o prefeito João
para que as pessoas no futuro Pereira Seixas sancionou uma lei
entendam suas raízes e se municipal, que dava a preferência
identifiquem como brevenses, para a aquisição das casas de
pois descendem de pessoas que propriedade da prefeitura,
viveram a cidade em outros localizadas na área central da
tempos. Foi possível ver neste livro cidade, para os funcionários
que de forma resumida, pessoas municipais, os quais, ainda,
como Antônio Soares, Venâncio podiam contar com o benefício de
Pantoja do Amaral, José Maria pagar em muitas prestações
Garcia, apresentam-nos olhares mensais, ajustadas a seus
sobre a cidade, os problemas vencimentos. Ou seja, grupos de
enfrentados pela maioria dos funcionários públicos
moradores das cidades da beneficiavam-se de privilégios
Amazônia naquele período como: políticos para adquirir patrimônio
ruas escuras, cidade sem energia n a á r e a c e nt r a l d a c i d a d e ,
elétrica à noite e durante o dia de e x p u l s a n d o m i g r a nt e s s e m
forma precária. Nota-se ainda apadrinhamento para as áreas
que mesmo às escuras, a cidade periféricas.
n ã o p a r av a , h av i a p e s s o a s
trabalhando, andando nas ruas,
mesmo diante das dificuldades,
c er tamente algo que não é
possível ver na atualidade.
182
7 A cidade no século XX

As melhores residências, local. As casas da área central


localizadas nas principais ruas do eram, na sua maioria, cobertas
c entro como a atual Wilson com telhas de barro, somente um
Frazão antiga Dr. Assis, parte da número reduzido de famílias
Castilhos França e a Avenida Rio residiam em casas de alvenaria,
Branco, eram construídas de tendo em vista que construções
madeira de lei de segunda linha, desse tipo eram privilégios de
provenientes das empresas do órgãos públicos e privados nos
ramo implantadas na cidade, já finais da década de 1950, mas que
que a madeira de primeira linha ao mesmo tempo simbolizavam a
era do tipo exportação, cuja expansão da modernidade nos
venda era restringida à população solos do Marajó.

Imagem: Pintura em tela da década de 1960 de autoria de


Necy Balieiro, constante no livro “Breves Memórias” da artista lançado em 2022.

183
7 A cidade no século XX

A pintura de Necy permite particulares da família


imaginarmos um conjunto Tupinambá. Ainda uma residência,
arquitetônico marcante da cidade localizada ao lado da Praça do
naquele período, à medida que Operário.
prédios modernos são
Em 1960, outras paisagens e
construídos ou reformados para
relações sociais despontaram em
se adequarem as novas
meio às narrativas, aos
realidades vividas em Breves a
documentos oficiais e as pinturas,
partir dos anos de 1940 quando a
diferentemente das apresenta-
indústria madeireira fez parte da
das, nitidamente é possível notar
paisagens da cidade. Nela
uma mudança na cidade. A cidade
destacam-se no c entro a
cresceu, foi preciso construir
empresa Breves Industrial
outro mercado municipal, a
Sociedade Anônima-BISA, atual
necessidade de mais alimentos
Marajó Tecidos. Na parte de baixo
revela um consumo maior de
a antiga Câmara Municipal, atual
carne na cidade. A floresta cede
c a s a d a c u l t u r a , Tr a p i c h e
lugar a novas ruas e residências.
Municipal. Em cima, podemos ver
Observe a pintura da artista Necy
os prédios comerciais que
Balieiro.
compõe os patrimônios

Imagem: Pintura em tela de autoria de Necy Balieiro, anos de 1960. 184


7 A cidade no século XX

Você consegue identificar ano. Em 1958 e 1959, outras


que perímetro da cidade está remessas de verbas foram feitas,
retratado na pintura na página concretizando-se a construção
anterior? Trata-se das ruas do mesmo na década de 1970.
Castilhos França, Mário Curica e Nesse intervalo de construção, o
Wilson Frazão. Atrás do mercado mercado municipal funcionou nas
estava a Passagem Domingos imediações atuais do correio de
Europa, a rua da feira. Note que Breves.
ela ainda não existia. Isso porque Para Vanderlei Lobato de
somente vai ser criada em 1978, Castro, funcionário público e ex-
justamente para aumentar a vereador do município, a
oferta de outros alimentos para preocupação com a frente da
os moradores. cidade acentuou-se no governo
A partir de pesquisas nos do prefeito João Messias dos
atos legislativos da Câmara Santos (1971-1973), quando a
Municipal de Breves, encontramos cidade ganhou novas fisionomias,
algumas referências ao processo adequados ao momento
d e remod elamento da área econômico em que vivia por
portuária em documentos da consequência da expansão dos
década de 1950, quando a cidade negócios madeireiros. Como a
estava sob o governo de Américo cidade crescia foi preciso realizar
Carneiro Brasil (1955-1959). Em obras de infra-estrutura básica
1956, o Trapiche Municipal foi de saneamento, entre as décadas
totalmente reformado, sendo de 1950 a 1970, a fotografia
também liberada a primeira abaixo mostra um desses
remessa d e crédito para a momentos. É possível visualizar
construção do novo mercado trabalhadores realizando obras
municipal da cidade, pois, o antigo de esgoto sanitário, preparando
tinha sido cedido para o Banco de para a posterior pavimentação.
Crédito da Amazônia, no mesmo

185
7 A cidade no século XX

Imagem: Obra de construção de esgotos na frente da cidade, década de 1950


(arquivo Dione Leão).

Referências ao processo de d estaque eram as da área


pavimentação de diversas ruas e central. Foi o que ocorreu em
do cais de acostamento da cidade Breves até os finais da década de
foram encontradas em decretos 1960, pois nas duas décadas
da Câmara Municipal de Breves posteriores, um grande avanço
do ano de 1971, assinado pelo para as áreas periféricas, forçou
então prefeito João Messias dos investimentos mesmo que
Santos. escassos para os novos bairros
Até então, o que notamos nascentes.
com relação à arquitetura da
cidade é a reprodução de um
d esenho urbanístico muito
comum nas cidades amazônicas
do período. As construções que
normalmente ganhavam mais
186
7 A cidade no século XX

Desse modo, os dois mesmo da área c entral era


governantes que revezaram o contínua, a lama em tempos de
poder nas décadas de 1970 e inverno e a areia no verão,
1980, Carlos Estácio e Gervásio pareciam problemas sem solução.
Bandeira, foram os responsáveis Po r c o nt a d e s s a d em a n d a ,
em remodelar tanto a área grande parte da Avenida Rio
central, como criar condições de Branco foi asfaltada e novos
habitação para as áreas trechos da Presidente Getúlio,
periféricas. Antes d eles, as Castilhos França, Wilson Frazão,
reclamações dos moradores, até dentre outras.

7.4. O surgimento dos bairros Cidade Nova, Aeroporto, Castanheira,


Riacho Doce e Santa Cruz (1970-1980).

187
7 A cidade no século XX

Não podemos esquecer a cidade. Podemos colocar nesse


expansão com o surgimento dos contexto construção de conjuntos
novos bairros C idad e Nova, de casas populares no recém
Aeroporto, Castanheira, Riacho formado bairro da Castanheira e
Doce e Santa Cruz ocorridos Aeropor to, que apesar da
nessas duas décadas (1970- n o m e n c l at u r a , e m n a d a s e
1980). Foi um período de muito pareciam com os modelos
crescimento. Isso se deve ao fato implantados à época nas capitais
das migrações rurais para a brasileiras, pois, ao invés de
cidade, por conta da oferta de c onstr uç ões d e alvenaria e
emprego nas madeireiras. Essas cobertura de telhas de brasilit, a
pessoas foram morar em lugares madeira e a palha de ubussu,
insalubres porque os melhores fo r a m a s m a t é r i a s p r i m a s
lugares do bairro, já estavam utilizadas, reforçando um padrão
habitados na sua maioria pela a de habitação tradicional dos
elite dominante, formada por espaços rurais da região.
c o m e r c i a nt e s , p r o fi s s i o n a i s
liberais de instituições federais,
estaduais, municipais e donos de
serrarias.
Com relação às casas
habitadas pela população de
classe baixa, nos bairros
nascentes, eram usualmente
construídas com madeira de
terceira linha e de pouca
qualidade, com cobertura de
palha de ubussu abundante nas
matas das redondezas, ficavam
em grande parte na periferia da
Foto: Casa construída com madeira e a palha de ubussu. 188
7 A cidade no século XX

A década de 1990, continuou fim, são transformações que


com o processo de expansão como viram, duram mais de três
para as periferias da cidade, o séculos, contam a trajetória de
bairro Jardim Tropical, ganhou nossos ancestrais no lado
novos contornos, assim como ocidental do Arquipélago de
ampliou-se o bairro Cidade Nova, Marajó. Este livro é uma tentativa
denominado de Cidade Nova II. de mostrar a vocês alunos e
Nos anos 2000, adentrando no professores, que o processo de
século XXI, vimos a ocupação do c o mp o s i ç ã o d o s e s p a ç o s é
final da Avenida Rio Branco e das contínuo e principalmente, que
áreas da estrada, atualmente somos parte de todas essas
denominada de Nova Breves. Em transformações.

189 Foto: ASCOM PMB - Breves hoje, com nova iluminação pública.
7 A cidade no século XX

Atividades
Agora vamos refletir com atenção sobre alguns aspectos da nossa Breves dos
séculos XIX e XX.
1- O que disseram os viajantes desse tempo sobre a nossa cidade?
____________________________________________________________________
2- Qual a relação que Breves teve com a revolta da Cabanagem?
____________________________________________________________________
3- Em que ano Breves foi elevada à condição de cidade e qual a justificativa
apresentada para isso?
____________________________________________________________________
4- O que aconteceu para que a sede da cidade fosse transferida para a Vila
de Antônio Lemos e como se deu o processo de retorno para o seu lugar de
origem?
____________________________________________________________________
5- Vamos estudar com atenção os relatos sobre a cidade de Breves no início
da sua construção e entender sobre as mudanças ocorridas até nossos dias.
____________________________________________________________________
Atenção Professor (a): Vamos organizar uma pesquisa mais aprofundada com todos os
meios literários possíveis sobre este tema, inclusive disponibilizando tempo aos alunos
para que tal resultado seja satisfatório para a aprendizagem.
Sugestão: Vamos pensar uma visita “in loco”, caracterizada como pesquisa de campo
em três (3) etapas.
Etapa 01: Realizar em parceria com a sua escola, secretaria municipal de educação,
pais e iniciativa privada, visitas até a Vila de Antônio Lemos no rio Tajapuru, para ver,
escutar e entender sobre os acontecimentos apresentados neste livro.
Etapa 02: (Escolas da cidade): Promover momentos de visitas em pontos de
referências de cada bairro da cidade de Breves para entender qual a dinâmica (se
espontânea ou provocada) em relação ao crescimento do perímetro urbano da
cidade. (Escolas do campo): Promover momentos de visitas em pontos de referências
do distrito ao qual você faz parte para entender sobre a importância do lugar onde
você no processo de construção histórica do município de Breves.
Etapa 03: Realizar culminâncias com toda a comunidade escolar presente, para
socializar as descobertas e curiosidades em relação à história de Breves a partir das
atividades desenvolvidas.

190
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192
Tela ’’Acordo de Paz’’

"A pintura com medida de 1,20 x 100cm tem a


participação do meu mestre e amigo professor e
historiador Agenor Sarraf, que muito contribuiu
com suas orientações pedagógicas para a
elaboração da histórica pintura. A cena se passa
nas margens do Rio Mapuá entre os dias 22 e 27
de agosto de 1659, mostrando o Padre Antônio
Vieira tendo grande êxito na promoção da paz
entre os indígenas e os conflitos luso holandês,
selando assim a paz no Marajó".
José Tadeu Ferreira de Araújo - artista plástico
brevense.

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