Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Conhecendo
Marajó - Pará
Arte: J. Tadeu
PROJETO
ÓRIA
NOSSA HISTA
NOSS E
IDENTIDAD
HINO DE BREVES
Dos Breves nasceu tua história
Homens de bril, bravos guerreiros
Que com mãos fortes, romperam barreiras
Para te erguer, às margens do rio.
Não foi em vão toda essa audácia
Para que hoje pudéssemos ver
os seus encantos, beleza rara
brilhante nesse imenso Brasil
Breves, nossa terra !
Breves, nosso chão !
Terra bendita, por Deus és querida
Breves, Breves do meu coração!
Dentro do peito, pulsa valente
O meu coração brevense
Lutarei sempre pra te ver melhor
Cidade linda
jóia do Marajó.
a
NACION
AL COM
CURRIC UM
ULAR
HOMOLO
BNCC
GADA EM
LEI Nº 13 20/12/20
.415/201 17
7
Conhecendo
Marajó - Pará
Breves
Projeto Nossa História, Nossa Identidade
Breves-PA – Brasil – 2022
1ª Edição – 1ª Impressão
© Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia da Editora Tocantins,
poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:
eletrônicos, mecânicos, fotográfi cos, gravação ou quaisquer outros.
Direção Editorial: Projeto Gráfico e Design:
César Vinicius Molina Jesiel Barros
Autor(a): Ilustrações:
Prof.ª Dra. Dione Leão Jesiel Barros
Revisão: Editoração Eletrônica:
Ana Cláudia Braga Jesiel Barros
Breves-PA
Projeto Nossa História, Nossa Identidade
Bons estudos!
BIOGRAFIA DO AUTOR
08
1 O Lugar
1.1. Características geográficas
Notem que o município de Quando paramos para
Breves, está localizado no lado pensar nessa problemática,
ocidental do Arquipélago de enfrentada ao longo de toda a
Marajó. Apresenta uma história, entendemos como isso
população de aproximadamente atrapalhou o potencial turístico da
104.280 habitantes (IBGE, 2021), região de Breves e das outras
vivendo em uma área territorial cidades do Marajó Ocidental.
de 9.566,572 km². É o município Nesse sentido, se faz necessário
mais populoso do arquipélago. Por destacar nossas características
esse motivo, apresenta específicas, para que vocês alunos
características históricas, da rede municipal compreendam
geográficas e culturais bem as nossas diferenças geográficas
diferentes do lado oriental. e históricas. E saibam se
Entender essas diferenças é posicionar, quando um equívoco
fundamental para marcar nossa desses acontecer com vocês.
identidade. Ou seja, o nosso Nada mais lindo do que um
entendimento de quem somos. brevense defendendo seu lugar!
Você já deve ter presenciado Concordam?
situações em que há uma Vamos começar pelo clima.
confusão na visão das pessoas, Você sabe qual o clima da região
quando nos apresentamos como de Breves? Quais os meses mais
moradores de Breves no Marajó, quentes e os mais frios? Já ouviu
geralmente perguntam sobre os falar em verão e inverno
búfalos, sobre as praias, sobre os amazônico?
campos, o carimbo. Não é
mesmo? Isto ocorre, pelo fato da
indústria do turismo, ter priorizado
vender nas mídias o Marajó do
lado oriental ou Mara jó dos
campos e explorar timidamente o
lado ocidental, onde vivemos.
09
1 O Lugar
Em Breves, assim como em o entendimento das estações do
todo o Pará, prevalece o clima ano. Ao contrário das outras
equatorial, sofrendo algumas regiões do Brasil que apresentam
alterações, conforme as quatro estações: Outono,
características específicas da primavera, verão e inverno bem
nossa região. Em grande parte do definidas. Na nossa região e em
Arquipélago de Marajó, o u t r a s d a A m az ô n i a , e s s a s
apresenta-se um clima equatorial estações não são muito claras,
quente e úmido, que tem como uma vez que sentimos na
característica principal a realidade a existência apenas de
ocorrência de muita chuva e calor, duas estações: o verão, que inicia
sendo que em grande parte os geralmente em junho e
moradores dessas regiões do permanece até novembro. E o
Estado, tem as rotinas marcadas inverno que vai de dezembro até
pelas tradicionais chuvas da maio.
tarde, especialmente na capital
Belém.
Em Breves, chove ao longo
do ano, em diferentes momentos
do dia, não somente a tarde. O
mês mais chuvoso é março e o
menos chuvoso é setembro. A
temperatura varia de setembro a
dezembro de 33° a 35º, outubro é
o mês mais quente do ano com
máxima de 35°, a maior sensação
térmica já registrada até a
atualidade foi de 42º em 2022.
O clima de Breves, também segue
uma explicação popular, muito
comum em toda a Amazônia para
Foto: Reprodução 10
1 O Lugar
O município de Breves é muito bem localizado geografica-
composto por um conjunto de rios mente, fator determinante para
e braços de rios navegáveis que seu desenvolvimento. Escritos
denominamos estreitos ou furos sobre a região no século XVII,
que ligam as regiões de Breves mencionam o forte comércio
com as demais cidades vizinhas fluvial e as trocas comerciais, os
como Bagre, Melgaço, Portel, contatos entre diferentes grupos
Curralinho até as mais distantes ocorridos às margens do rio
como Belém, Macapá e as Parauaú que margeia a cidade,
cidades do Baixo Amazonas. Por adentrando pelos rios Buiussu,
conta da existência dos estreitos Ta japur u, Jabur u, M a ca c os,
de Breves, o município de Breves é Jacaré Grande, dentre outros.
11
1 O Lugar
Além dos rios, as florestas compõe as florestas de terra
ganham enorme destaque na firme na região d e Breves?
nossa paisagem natural. Na Podemos mencionar as árvores
região de Breves, prevalece a de Acapu, Andiroba, Samaúma,
floresta tropical densa com matas Castanheira, Sucupira, Angelim,
de terra firme e inundada Cedro, Marupá, Inajá, dentre
(várzea). Nas matas de terra firme outras. Sendo que em termos
existe uma enorme variedade de ecológicos apresenta uma grande
árvores que chegam de 30 a 40 influência na regeneração das
metros de altura, formando um espécies arbustivo-arbóreas, que
dossel da floresta, ou seja, uma ficam ao seu redor. Além de
cober tura superior, formada atuarem como barreira física às
pelas copas das árvores. Mas, gotas de chuva, protegendo o solo
quais as espécies de árvores da erosão.
Legenda: Árvore de Samaúma, típica das florestas de terra firme. Fonte: https://www.hypeness.com.br/2020/10/samauma-a-
arvore-rainha-da-amazonia-que-guarda-e-distribui-agua-para-outras-especies/
12
1 O Lugar
Relacionado a floresta c o m á g u a d o c e ,
inundada ou de várzea, muito permanentemente ou em épocas
comuns na nossa região, específicas do ano, ficam
apresentam uma grande localizadas ao longo dos cursos
diversidad e d e vegeta ção, dos rios e em torno de lagos e
incluindo o açaizeiro e o igarapés. Existe uma variedade
meritizeiro, abundantes na nossa de árvores nesse bioma que
paisagem natural. Além delas chegam a 10 metros ou mais.
podemos destacar espécies de Dentre as características que a
buçuzeiro, paxiubeira, seringueira, diferenciam das florestas de terra
ucuubeira ou virola, anhinga, firme é que nelas não existem
aturiá, canarana, dentre tantas plantas menores ao redor das
mais. Essas florestas inundam plantas maiores.
Legenda: vegetação de florestas inundadas, árvores de anhinga e canarana no rio Mapuá. Fonte: Dione Leão.
13
1 O Lugar
Legenda: Árvores de açaí nas margens do rio. Fonte: Arquivos de Dione Leão.
14
1 O Lugar
Atividades
Vamos relembrar o que aprendemos sobre o lugar onde vivemos.
15
2 Nossa Gente
Os Indígenas
O documento mais antigo de minimizados. Pois remete ao
registro oficial da presença de período de “paz”. Mas, será que
indígenas na região de Breves é a s e m p r e f o i a s s i m ? Va m o s
Carta do padre Antônio Vieira, entender?
dirigida à coroa portuguesa entre Os primeiros contatos de
os dias 22 a 27 de agosto de 1659, indígenas da região de Breves
depois de conseguir um acordo de com os europeus, para ser mais
paz, com chefes das nações específica, foi com os missionários
Nheengaíbas no rio Mapuá, atual da Companhia de Jesus, ordem
espaço rural do nosso município. religiosa que atuava em todo o
A ilustração da capa desse Brasil, representando a coroa
livro é uma releitura do artista portuguesa e a Igreja. O objetivo
plástico Tad eu Vieira d esse da instituição era catequizar os
momento. Nota-se que as índios, ou seja, torná-los cristãos
fisionomias e os gestos tanto de de acordo com a religião oficial de
indígenas como de missionários e Portugal: a católica.
portugueses não demonstram
um conflito, parece indicar mais
uma tentativa de diálogo. As
inimizades, os conflitos estão
16
2 Nossa Gente
To d o o A r q u i p é l a g o d e íbas”. Então, ao contrário do que
Marajó, assim como o restante do muitas pessoas pensam,
Brasil estava incluído dentro Nheengaíbas não era um grupo
dessa política “pacificadora” de de indígenas, mas uma referência
converter os grupos indígenas ao à linguagem. Como não
cristianismo e garantir a compreendiam a multiplicidade
colonização de todos os espaços, de línguas existentes entre os
até mesmo os mais distantes. indígenas, criaram essa denomi-
Acontece que no início esse nação geral para todas as línguas,
encontro não foi pacífico, ao ou seja, simplificaram todas as
contrário foi bastante conflituoso línguas em uma. Porém, o sentido
e violento. Os primeiros de Nheengaíbas entre os
habitantes do Arquipélago de missionários era pejorativo, pois
Marajó, e isso inclui o nosso lado significava “língua má”. Essa
ocidental, não assistiu definição encobriu muitas
passivamente a chegada dos diferenças dos grupos de
europeus, pessoas muito indígenas no Arquipélago de
diferentes deles. Marajó, não somente nos modos
Nesse contexto, é de falar, mas também nos modos
nec essário destacar que os de viver.
grupos indígenas existentes já
eram experientes em guerras
tribais, pois lutavam entre si e com
outros grupos. Dentre esses
grupos que viviam no Arquipélago
de Marajó estavam os Aruãns,
Sacacas, Maruanás, Caiás, Araris,
Anajás, Muanás, Mapuás, Pacajás,
entre outros, denominados pelos
por tugueses de forma
generalizante como “Nheenga-
“Muito deu que fazer esta nação aos portugueses, com quem teve
muitos debates, contendas e guerras. Expediam-se tropas contra eles,
mas os Nheengaíbas, zombavam das tropas, escondendo-se por um
labirinto de ilhas, e de quando e quando dando furiosas investidas, já em
ligeiras canoinhas que com a mesma ligeireza com que de repente
acometiam, com a mesma se retiravam, e por entre as ilhas se
escondiam as balas, e já de terras encobertas com as árvores, donde
expediam chuveiros de flechas e taquaras sobre os passageiros e
navegantes, que além do risco da vida, se viam impedidos a navegar o
Amazonas, para onde não tinham outro caminho senão pelo perigoso
furo do Tajapuru” (João Daniel –Padre Jesiíta)
20
2 Nossa Gente
Em toda a região do rio comunidade Nossa Senhora do
Mapuá é possível encontrar na Perpétuo Socorro, onde existe
atualidade, vestígios da presença uma igreja com o mesmo nome.
dos grupos indígenas que ali Estes, são os vestígios materiais
viveram, o local mais evidente é o que asseguram a veracidade
cemitério arqueológico, situado na histórica da presença dos grupos
vila Amélia. É muito interessante dos Mapuás como parte
ver em tempos de seca do rio, a integrante da nossa formação
presença de urnas funerárias, étnica.
espalhadas pela propriedade da
Legenda: Vestígios de urnas funerárias na Vila Amélia – rio Mapuá. Fonte: Dione Leão.
21
2 Nossa Gente
Os africanos
“Em Muaná dos 3.524 habitantes, 503 eram escravos e 3.021 livres não
identificados; Cachoeira do Arari - 3.463 habitantes, 130 brancos, 531
escravos, 1.362 livres não identificados; Monsarás - 857 habitantes, 88
brancos, 249 escravos, 190 índios, 130 mestiços, 200 livres não
identificados; Monforte - 664 habitantes, 33 brancos. 124 escravos, 367
índios, 140 mestiços; Salvaterra - 497 habitantes, 46 brancos, 31
escravos, 296 índios, 124 mestiços; Soure - 366 habitantes, 26 brancos,
155 escravos, 44 índios, 141 mestiços; Breves – 227 habitantes, 80
escravos, 147 livres não identificados e Melgaço 5.719 habitantes,
distribuídos entre 1.021 brancos, 1.140 escravos, 1.440 índios e 2.118
mestiços” (Baena, 2004, pp. 260-268; 282-284).
23
2 Nossa Gente
O manual do IBGE, define o povoado dos Breves, que mais
significado atribuído ao termo tarde se tornou a cidade de
como pessoas com uma mistura Breves, compravam os escravos.
de cores de pele, por exemplo: Essa foi uma das formas de
descendentes dos relaciona- introdução de africanos em
mentos entre brancos e pretos, Breves, mas não foi a única. Muitos
brancos com indígenas, pretos chegaram como fugitivos das
com indígenas. Ou seja, já existia fazendas localizadas no Marajó
uma população resultante dos o r i e nt a l , o n d e e x i s t i a m u m
contatos de diferentes grupos número mai or d e escravos,
étnicos. trabalhando nas fazendas de
Essa é uma hipótese muito gado daquela região.
interessante, nos faz refletir no O movimento de fugas de
que somos na atualidade. Não escravos era comum em Soure,
concordam? Gurupá, Chaves, dentre outras.
Vamos pensar em uma outra Por esse motivo, não era de se
situação: como esses africanos estranhar que tivessem fugido
chegaram até a região d e para Breves ou seguido para
Breves? Já vimos que o tráfico de outras direções pelos estreitos de
escravos feito pela Companhia de Breves, até chegar em lugares
Comércio do Maranhão e Grão- mais distantes como Chaves na
Pará, introduziu centenas deles no fronteira Pará/Amapá/Guiana
Pará. Os grupos formados por Francesa ou vice-versa.
grandes e médios produtores
rurais, comerciantes, profissionais
liberais dentre outros, com-
pravam os escravos africanos,
tornando-os suas propriedades.
Em Breves não foi diferente, os
grandes senhores de terras dos
espaços rurais e até mesmo do
24
2 Nossa Gente
Essas fugas para esses lugares ou diferentes espa ç os d e ri os,
outros desconhecidos em meios florestas para trabalhar na
as matas e rios, difíceis de serem extração de borracha. Na década
encontrados pelas autoridades de 1960, há registros de
da época, ou pelos donos, sabiam memórias e documentos de um
os grupos sociais com os quais era grupo de pretos residentes na
mais confiável se relacionar e estrada Breves-Arapijó, no lugar
misturavam-se a eles, gerando definido nos documentos
laços mais confiáveis de amizade cartoriais como Colônia, deixando
e solidariedade, sustentaram muitos descendentes entre nós.
suas famílias retirando os bens Desse modo, africanos e
nec essários a sobrevivência seus descendentes, assim como
principalmente da natureza que os indígenas reinventaram novas
os cercava. fo r m a s d e s u b s i s t ê n c i a s e
D e s s a fo r m a , n o l a d o manifestações culturais no
ocidental do Arquipélago de município de Breves, contribuindo
Marajó, onde estamos incluídos, em todos os sentidos com a nossa
assim como em outros locais da rica história.
A m a z ô n i a , fo i r e g i s t r a d o a
existência de mocambos, tipos de
c o mu n i d a d e s fo r m a d a s p o r
pretos, índios, cafuzos e pardos,
geralmente fugitivos. Por volta do
século XVIII foi registrado a
existência de quatro mocambos
no rio Macacos, município de
Breves.
No século XIX e XX, muitos
nordestinos descendentes de
africanos chegaram ao município
de Breves e espalharam-se pelos
25 Foto: Reprodução
2 Nossa Gente
Os portugueses
26
2 Nossa Gente
Foi assim que esse ramo da Ângelo Fernandes Breves,
família Breves, vindos de Açores, começando um pequeno
chegou na Serra do Mar e da povoado. Manoel era solteiro e
Mantiqueira em Piraí, São João Ângelo, casado com Inês de
Marcos Itaguaí, Angra dos Reis e Souza. Em suas terras, Manoel fez
locais adjacentes no território do roças e construiu um engenho que
Rio de Janeiro, de onde vieram denominou S antana. C om o
Manoel Maria Fernandes Breves e passar dos anos, outras famílias
Victoriano Fernandes Breves, os se juntaram a eles, aumentando
primeiros a ocuparem as relações de trocas, alianças e
oficialmente a região Nor te. reciprocidades.
Sendo que o primeiro a chegar em
Breves foi Manoel Maria Fernan-
des Breves, em seguida veio
27 Foto: Reprodução do Vídeo ‘‘Breves Cidade Turística do Marajó conheça suas belezas’’. Canal: Rede Marajó
2 Nossa Gente
“A casa do vovô era bonita, era tipo uma casa de campo, toda de madeira de
lei, ela durou muitos anos, mesmo depois de muito tempo que meu avô tinha
morrido ela ficou em pé. Era coberta com telha de barro, um trapiche bem
grande na frente. Na parte de baixo era toda aberta, porque meu avô tinha
coisas de borracha, de arroz, era tipo um depósito, um barracão”
(EmÍlia Fona, 2018).
29
2 Nossa Gente
Dentre as famílias de origem Eles são d esc end entes d e
portuguesa ainda com Joaquim Nunes Horta. Um dos
representantes vivendo nos primeiros portugueses a constituir
espaços de Breves, podemos moradia nessa região. Segundo
destacar: a família Horta que as memórias da neta Dona Irene
v i v e m at é a at u a l i d a d e n a Horta (já falecida), o avô chegou
margem esquerda do Lago do aos 14 anos de idade, juntamente
Ja c a r é , c o mu n i d a d e N o s s a com o amigo, também português
Senhora de Nazaré, no rio Mapuá. João Pina.
Foto: Dona Irene Horta, Lago do Jacaré, rio Mapuá. Fonte: arquivos de Dione Leão
30
2 Nossa Gente
Os documentos car toriais muito bem localizada, composta
indicaram que ele nasceu em 28 por uma serraria, uma padaria,
de setembro de 1864 em Portugal uma casa comercial, uma escola
e morreu em 1948 no rio Mapuá. de ensino fundamental e médio e
Essas informações apontam a a residência da família, construída
chegada deles na região de aos moldes de um chalé em
Breves por volta de 1876. Com o madeira de lei, cobertura de
passar dos anos, casou-se com telhas de barro, com uma varanda
dona Josefina Pinto Horta com na lateral esquerda da casa.
quem constituiu família. Ampla e com muitos cômodos,
No rio Mapuá, também viveu ainda conta com um quintal para
outra família portuguesa, com criação de animais, incluindo
descendentes no município: Os galinhas, patos, carneiros e bodes,
Félix. O primeiro a chegar foi o Sr. conforme é possível notar na
Constantino Martins Félix, nascido fotografia a seguir.
no dia 22 de março de 1881 no
distrito de Castelo Branco em
Portugal e falecido em 1959, no rio
Mapuá. Ele chegou ao Pará em
1902, provavelmente se deslocou
para Breves nesse período para
trabalhar no comércio da
borracha e depois no negócio da
madeira.
Dentre esses descendentes
está o Sr. Antônio Félix, ainda
residente na entrada (boca) do rio
Aramã, confluência com o Mapuá
onde ele vive com a família. A
propriedade do Sr. Antônio Félix é
31 Foto: Parte da propriedade do Sr. Antônio Félix, 2016 – Fonte: arquivos de Dione Leão.
2 Nossa Gente
No entanto, a primeira casa demarca que as elites viviam
da família foi na Vila Amélia, no rio nesse perímetro, sendo que a
Mapuá, era uma propriedade com maioria deles eram comerciantes,
árvore de seringueiras e porto de profissionais liberais e
embarcação, onde viveu a família funcionários públicos. Outra
até os filhos crescerem e casarem. i n fo r m a ç ã o i m p o r t a n t e : o s
A maioria dos portugueses que se portugueses que tinham negócios
estabeleceram no século XIX na nos espaços de rios e florestas,
z o n a r u r a l d e B r ev e s e r a m também tinham residências na
pequenos, médios e grandes cidade de Breves, nesses
comerciante e proprietários de perímetros mais nobres,
terras. indicando o poder econômico
As documentações desses grupos e muitos também
cartoriais, indicaram que durante mantinham residências na capital
o século XIX, os portugueses Belém.
estavam localizados nas duas No século XX, as lembranças
principais ruas da cidade: as de Dona Necy Balieiro também
atuais Presidente Getúlio Vargas e indicaram a presença de
parte da Avenida Rio Branco, no migrantes nas ruas do centro:
bairro Centro. Essa característica
32
2 Nossa Gente
As casas dos portugueses suas telas o cotidiano da área
naquele perí odo estavam portuária em meados dos anos
localizadas na parte mais nobre d e 1 9 6 0 , d a n d o d e s t a qu e s
da Rua Presidente Getúlio Vargas, também para essas residências
nos arredores da Igreja Matriz, da de portugueses, como é possível
prefeitura, da Praça da Bandeira. visualizar a seguir:
Dona Necy pintou em uma de
33
2 Nossa Gente
Ao fundo, em destaque, as casas O Sr. Brito casou-se em
componentes dessa paisagem, Breves com a Sra. Edilce Vale
dentre elas a residência dos Rendeiro, natural do rio Macacos,
Barros, uma das famílias de conhecida como Paulita. Com ela
origem portuguesa ainda teve seis filhos: Francisco, Jorge
residentes na cidade, no mesmo (falecido), João, Carlos, Fátima e
local. A casa é diferenciada por Maria José. O Sr. Brito
ser uma construção em alvenaria desempenhou trabalhos nas
de dois andares, três janelas e empresas COMIG e BISA, sempre
com azulejos portugueses em sua ligados à venda de mercadorias
fachada, ficava localizada próximo nos armazéns, o que contribuiu
à Igreja Matriz, no final do asfalto. com a sua ocupação na cidade
A família Brito foi uma das após o fechamento das mesmas.
últimas a chegar, dados do Sr. Ele foi um grande comerciante no
Francisc o Rend eiro um dos ramo de armarinhos na área
descendentes, indicam o ano de comercial da cidade até os anos
1964 como referência da de 1990.
chegada do pai Brito Rendeiro ao N a s l em b r a n ç a s d o S r .
município de Breves. Ele associou Francisco Rendeiro, o Sr. Brito foi
o caso de migração do seu pai duas vezes visitar a família em
Brito Rendeiro como algo Portugal: “em 58 e 65, em 65 ele já
diferente da maioria conhecida, foi com o meu irmão, o Carlos. O
referindo-se ao fato de ter vindo único que conhece Portugal dos
sozinho de Portugal para o Brasil e meus irmãos é ele, inclusive ele
para Breves. O motivo da vinda do te m u m fi l h o q u e m o ra l á ” .
Sr. Brito para Breves foi um Embora o Sr. Brito sempre se
emprego na empresa COMIG no c o mu n i c a s s e c o m a f a m í l i a
rio Macacos e depois se deslocou distante por meio do rádio,
para a cidade para trabalhar na c o n fo r m e d e s t a c o u o S r .
Sociedade Anônima (BISA), Francisco Rendeiro:
empresas do ramo da madeira.
34
2 Nossa Gente
“O papai, toda terça feira, oito horas da noite, sabia notícias de um irmão dele
que morava nos Estados Unidos, não, não, na Inglaterra através do rádio, a voz da
América. E pegava bem aqui em Breves. Isso porque naquele tempo o sinal de rádio era
muito bom aqui, pegava limpo, então ele passava mensagem de lá pela voz da América
e a gente ficava escutando, não tinha resposta, que era no rádio. O locutor passava a
mensagem do nosso tio e dizia: Olha Brito, estou bem e tal e a família também. Era um
programa igual ao da Rádio Clube, que apresentava as notícias do interior, a voz do
Brasil, era quase uma hora de noticiário, era o único meio que a gente tinha de
comunicação para saber notícia do interior e assim esse meu tio fazia, só que da
Inglaterra”
(Francisco Rendeiro, 2017).
35
2 Nossa Gente
Os Judeus marroquinos
36
2 Nossa Gente
Benchimol (2008: 92-93), chances de concorrer com os
estudioso da temática, mostrou grupos poderosos que
que os judeus-marroquinos, dominavam as praças de Belém e
foram pioneiros na abertura e Manaus procuraram se destacar
ocupação da fronteira amazônica na ec onomia. D entre esses
e desbravaram ao longo de rios e lugares estava a região de Breves,
beiradões pequenas cidades, grande produtora de borracha,
vilas e povoados no período do para onde se deslocaram famílias
auge da borracha. Assim, como inteiras ou apenas os homens,
muitos judeus não tinham inicialmente.
37
2 Nossa Gente
“Olha, eu sei assim, que meu avô veio da Jordânia, eu acho que foi no tempo da
guerra, pelo o que a mamãe me contava. Então ele chegou para lá pro Jaburu e a minha
avó que era cearense, já estava viúva, ela tinha 32 anos, ela já tinha um casal de filhos,
ele então se engraçou dela e casaram. Ele foi um grande comerciante, meu avô, da
região do rio Ituá até o Aturiá, era uma ilha chamada “Ilha de Santa Luzia”. Lá ele viveu
muito tempo e com a minha avó teve um casal de filhos; morreu a minha tia, ficou só o
meu pai. Eu não conheci nenhum dos dois, só conheço das histórias contadas pelo meu
pai e minha mãe e das coisas que ele tinha que eu ainda vi, como o engenho de açúcar, de
cachaça, essas coisas assim. Outra coisa, ele não comia porco, isso eu lembro que
falavam e meu pai também não comia, lembro ainda da cruz de judeu em cima da
sepultura dele, era só um pau, não tinha o braço”
(Maria Rodrigues, 2017).
38
2 Nossa Gente
“Meu pai vendeu muita seringa para Fortunato Athias, eu não cheguei a
conhecer ele, meu pai sim, mas conheci o filho dele, Isaac Athias, fazia negócio com ele,
era casado com uma prima minha, a gente comprava no comércio dele e também vendia
borracha para eles, depois foram embora para Macapá”
(Juarez Cavalcante, 2016).
Nasci em 1908, em Belém, nós morávamos no interior do Pará, em Breves. Fiz meu
curso primário no interior, com viagens prolongadas. [...] as escolas eram distantes e se
ia remando em pequenas embarcações até chegar à escola [...]. Meu pai era
seringalista, isto é, tinha um barracão, comprava as pranchas de borracha, e os
seringueiros eram aviados por ele. Depois a borracha ia para o aviador que a exportava
para a Inglaterra. Nós morávamos no interior e só havia ligação com Belém a cada 15
dias, quando passava a gaiola que era uma pequena embarcação. De Breves a Belém
levava umas 36 horas. (Blay, 2008:48).
39
2 Nossa Gente
A desaceleração dos lugares.
negócios da borracha na Segundo Chocron (2020:
Amazônia, atingiu diretamente os 55-56) a família Sarraf chegou a
negócios de Fortunato Athias que, região do município de Breves na
a exemplo da maioria dos década de 1920, estabelecendo-
pequenos comerciantes judeus se em um lugar denominado
espalhados pelas margens dos Paraíso do Jaburu. Samuel Sarraf
r i o s d a A m az ô n i a , fo r a m à o patriarca era comerciante e veio
falência, pois seus negócios com os filhos: Jacob Samuel
estavam exclusivamente ligados a Sarraf, Júlio Samuel Sarraf e Luiz
esse comércio. Sarraf. Os Sarraf encontrou a
Os momentos da trajetória família do judeu-marroquino
da família Athias relembrados por Simão Amôr Bothebol, casado
Isaac Athias e reelaboradas nos com Maria da Conceição. Samuel
escritos de Blay (2008) S arraf então casou-se pela
complementadas pelas segunda vez com a filha desse
memórias do Sr. Juarez casal, Sara Bothebol, do
Cavalcante é possível notar ainda relacionamento nasc eram:
os contatos mantidos com uma Fortuna, Raquel, Leonor, Estrela e
diversidade de outras pessoas Simão.
em fluxos pelos rios de Breves Íria Chocron, professora de
através de barcos, navios gaiolas, história residente em Breves é
ou navios “estrangeiros” descendente de Abraham Mojluf
ancorados momentaneamente Chocron que nasceu em Tetuan
ou em passagens rápidas pela no Marrocos. A historiadora
cidade e vilas, que transportavam dedicasse a pesquisar a presença
diversos produtos, como o sabão judaica no Marajó e contou o avô
produzido na fábrica dos Athias, passou um tempo na Argentina,
ou a borracha na primeira fase de antes de se estabelecer no Brasil
negociação do produto no Brasil, no século XIX.
além de pessoas de diferentes
40
2 Nossa Gente
Porém, foi no século XX que como uma pessoa muito querida
c h e g o u a o M a r a j ó , na região.
estabelecendo-se no rio Dessa forma, as famílias de
Macacos, local onde começou judeus-marroquinos se inseriram
seus negócios, um comércio de na sociedade local, convivendo
estivas e outros produtos. com os hábitos locais, mas sem
Segundo Íria, ele seguia todos os deixar de praticar a sua cultura
rituais da religião judaica, mesmo que ainda segue em seus
distante das sinagogas e dos membros vivos como é o caso da
contatos com outros judeus historiadora mencionada, apesar
praticantes, assim como de todas as dificuldades de
costumes e regras de praticar a religião judaica em
alimentação. Ele terminou seus Breves, ela segue inserindo a filha
dias em Belém onde faleceu em Manoela na história do judaísmo
1994, porém deixou seu legado na no Marajó.
vila São Miguel dos Macacos,
41
2 Nossa Gente
Os nordestinos
42
2 Nossa Gente
A desaceleração dos lugares.
negócios da borracha na Segundo Chocron (2020:
Amazônia, atingiu diretamente os 55-56) a família Sarraf chegou a
negócios de Fortunato Athias que, região do município de Breves na
a exemplo da maioria dos década de 1920, estabelecendo-
pequenos comerciantes judeus se em um lugar denominado
espalhados pelas margens dos Paraíso do Jaburu. Samuel Sarraf
r i o s d a A m az ô n i a , fo r a m à o patriarca era comerciante e veio
falência, pois seus negócios com os filhos: Jacob Samuel
estavam exclusivamente ligados a Sarraf, Júlio Samuel Sarraf e Luiz
esse comércio. Sarraf. Os Sarraf encontrou a
Os momentos da trajetória família do judeu-marroquino
da família Athias relembrados por Simão Amôr Bothebol, casado
Isaac Athias e reelaboradas nos com Maria da Conceição. Samuel
escritos de Blay (2008) S arraf então casou-se pela
complementadas pelas segunda vez com a filha desse
memórias do Sr. Juarez casal, Sara Bothebol, do
Cavalcante é possível notar ainda relacionamento nasc eram:
os contatos mantidos com uma Fortuna, Raquel, Leonor, Estrela e
diversidade de outras pessoas Simão.
em fluxos pelos rios de Breves Íria Chocron, professora de
através de barcos, navios gaiolas, história residente em Breves é
ou navios “estrangeiros” descendente de Abraham Mojluf
ancorados momentaneamente Chocron que nasceu em Tetuan
ou em passagens rápidas pela no Marrocos. A historiadora
cidade e vilas, que transportavam dedicasse a pesquisar a presença
diversos produtos, como o sabão judaica no Marajó e contou o avô
produzido na fábrica dos Athias, passou um tempo na Argentina,
ou a borracha na primeira fase de antes de se estabelecer no Brasil
negociação do produto no Brasil, no século XIX.
além de pessoas de diferentes
43
2 Nossa Gente
Dona Vitória Nogueira se mu i t o d a c u l t u r a d o s s e u s
considera filha de nordestino, antecedentes.
nascida no Mapuá, herdando
Foto: Fotografia na casa de Dona Vitória Nogueira – rio Mapuá 2017 – Fotografia: Sebastião
“Eles vieram para trabalhar com a borracha; sempre tiveram estrada de seringa
lá no rio Macacos, no lugar chamado Capelinha. O que eu sei era que meu avô era
cearense por parte de pai, foi ainda na época daqueles capitães de barranco que tinha
sabe? Os coronéis, os títulos que eram dados pela Intendência. Ele foi vereador, na
época o título era de vogal, trabalhou como guarda livro com o Capitão Dário Furtado
no cartório. Eu não tenho certeza do período, mas acredito que não ficou muito distante,
eu acho que é do tempo do Antônio Lemos, dos intendentes”
(Augusto Barros, 2017).
45
2 Nossa Gente
Foto: Comunidade Santa Rita – Porto Cumaru, 2015 – Fotografia: Dione Leão.
46
2 Nossa Gente
O S r . A nt ô n i o Jo a qu i m propriedade com casa e
Nascimento; morou no Cumaru, barracão no igarapé remédio.
São Gabriel e por último no As características dadas por
Cururu, onde veio a falecer. Dona Vitória Nogueira sobre o Sr.
Porém, antes disso, manteve um José Nobre dão a entender ter
papel consolidado de patrão na ele vivido na região por volta do
região. Nos documentos final do século XIX e meados do
car toriais, as transações de XX. Nas documentações, apenas
terras realizadas por ele vão de uma referência sobre o Sr. José
1932, a 1942, onde estão Nobre, datando do ano de 1905,
registrados propriedades em quando adquiriu de Leopoldo
vários locais do rio Mapuá, como a Antônio Bahia e sua mulher Dona
propriedade adquirida por Rosa Francisca Bahia, residentes
escritura em 1941, denominado no rio Mapuá, uma posse de
São Paulo antigamente Ribeiro. terras devidamente registrada
Adquiriu ainda outras terras no rio denominada Nazareth, à margem
Canaticu, Laguinho, Jupati e Lago esquerda do rio Mapuá.
do Socó. Desse modo, os nordestinos
Os filhos do segundo que vieram na primeira fase da
casamento do S r. Antônio explora ção da borra cha na
Joaquim Nascimento se Amazônia, século XIX, foram
mudaram na década de 1960 apresentados por seus
para a cidad e d e Breves e descendentes com a ajuda das
fundaram uma das serrarias mais informações dos documentos
promissoras do município neste cartoriais por meio dos quais
período. conhecemos os lugares onde
Outra família de nordestino, alguns moravam, principalmente
citada pelos moradores d e nos espaços rurais. Na cidade
Breves, foi a de José Nobre, um foram menci onados nos
dos grandes seringalistas da cartórios, os coronéis Sucupira e
região, morava no rio Mapuá. Nas Evangelista como os maiores
memórias de Dona Vitória proprietários do século XIX de
Nogueira, ele tinha uma grande casas e terrenos no bairro centro.
47
2 Nossa Gente
Apesar de estarem diretamente grupos de pessoas, desde
ligados ao negócio da seringa, indígenas, portugueses, africanos,
nem todos eram seringueiros judeus-marroquinos, nordestinos.
pobres, muitos se destacaram Em poucos casos, franceses e
como comerciantes na região de ingleses. O que nos tornou uma
Breves. população plural, resultante de
Em resumo, a nossa vários contatos e com uma
formação étnica e social, contou cultura rica em diversidade.
com a participação de diferentes
48
2 Nossa Gente
Atividades
Vamos relembrar o que aprendemos sobre a nossa identidade como
povo deste lugar.
49
3 Alguns aspectos da Cultura
3.1. Costumes, crenças e tradições
A população de Breves em dentre outros. A diversão nos rios
toda sua história mantêm muitos é parte da nossa cultura
costumes, crenças e tradições ribeirinha. Os rios em Breves não
que revelam muito a cerca do que servem somente como meio de
somos, da nossa forma de pensar, comunicação, comércio e
acreditar e viver a realidade do sobrevivência, mas como fonte de
Marajó ocidental. Com o passar bem-estar, de lazer para a
dos anos, muitas dessas grande maioria da população.
manifestações desapareceram, Na década de 1980 e 1990, o
mas outras permanecem, mesmo lugar conhecido como prainha,
diante das transformações do ganhou destaque entre os points
mu n d o at u a l . D e nt r e e s s e s à margem do rio Parauaú. Espécie
costumes, podemos destacar a de praia artificial, localizada em
prática de tomar banho em rios e um trecho da orla portuária. A
igarapés. prainha, formou-se ao longo de
Você já visitou algum dos décadas com restos de areia e
balneários particulares seixo deixados por negociantes
localizados ao longo da estrada de materiais de construção, como
PA 159 e suas vicinais? é possível observar na fotografia,
Te m o s e n t r e o s m a i s havia uma grande movimentação
conhecidos: o Mamajó, o Arapijó, o em torno desse espaço,
Tauaú, o Caruaca, o Tucano-Açu, principalmente nos finais de
semana.
50
3 Alguns aspectos da Cultura
Foto – A prainha, na década de 1980, localizada em um trecho da área portuária, retirada do Facebook denominado “Cidade de Breves”.
Acesso em 12 de julho de 2013.
51
3 Alguns aspectos da Cultura
Junto a pescaria, podemos escondem. Os caçadores
destacar o costume de caçar nas preferem as noites escuras da lua
florestas marajoaras, feitas de nova, quando os animais como o
forma individual ou coletiva. A veado, paca, tatu, cotia, mucura,
prática de caçar, assim como de dentre outros, procuram às
pescar exige dos moradores o margens dos rios para
conhecimento de técnicas alimentarem-se.
específicas e da natureza. Por Este cotidiano de caça e
exemplo, quais os animais, as pesca das populações rurais,
árvores, os igarapés, os caminhos também evidenciam o campo das
que o caçador tem que percorrer, crenças, em torno de seres
ou ainda as fases da lua e o e n c a nt a d o s q u e p o v o a m o
regime das marés (enchente, imaginário dos moradores de
vazante, reponta). Assim, quase Breves, principalmente os que
não se caça em tempos de lua residem nos espaços de rios e
cheia, porque os animais florestas. Um deles é o Curupira.
enxergam os caçadores e se
52
3 Alguns aspectos da Cultura
Curupira Saibam que o Curupira é uma
entidade ecológica, sobrenatural e
espiritual, destacada nas histórias,
principalmente de caçadores, que
exageram na quantidade de caça,
diminuindo determinados tipos de
espécies animais. Neste sentido,
transforma-se no espírito da
floresta, engana os caçadores em
seus próprios rastros, às vezes,
levando-os à morte. Outras vezes,
como na realidade da comunidade
Santa Luzia no município de Breves,
c ontada por populares, ele
incorpora nas pessoas.
“O curupira tem um cheiro forte, meu pai era pajé, tinha experiência, a gente ia para roça, a cachorra
começava a latir, eu dizia: “me dê a espingarda para eu dar um tiro nessa cutia aí”, papai falava: “Que
cutia meu filho isso é curupira que eles estão correndo, tu não estás sentindo o cheiro dela. O
cachorro estava vendo, mas a gente não vê. (Benedito Filho, Comunidade Santa Luzia, dia 01 de junho
de 2015).
Imagem: Pintura em tela retratando a cobra grande que mora debaixo da Igreja Matriz de Breves. (Arte: Edson Cardoso).
54
3 Alguns aspectos da Cultura
O Boto
55
3 Alguns aspectos da Cultura
O boto é por tanto, um crenças bem típicas da região,
encantado muito temido pelas envolvendo práticas mágicas
mulheres (agora você sabe o como amassar alho para jogar no
motivo). As tradições amazônicas rio, colocar cruzes nas portas,
indicam que para livrarem-se da jogar água benta no rio, dentre
visita indesejada dos botos, os outras técnicas, além do
moradores de espaços rurais tratamento com benzedores.
realizavam uma mistura d e
Imagem: Arte em tela intitulada “Mística Marajoara”, técnica acrílico sobre tela, de autoria e propriedade do artista local J. Tadeu, 2007.
57
3 Alguns aspectos da Cultura
“Ali onde é o mercado, nesse tempo era a casa do finado Osorino e tinha uma
casa de hóspedes (pensão), tinha um coletor que morava lá e uma noite eles vinham pra
pensão da tia Ló jantar. Nesta hora, a loira vinha subindo a cidade, ela se transformou
numa mulher parecida com a mulher que o coletor namorava, ele a enxergou e parou
perto dela, mas ela não falou nada, ele disse então: “Olha dá um balão por aí, que eu vou
jantar aqui e me espera lá na frente de casa (pensão)” e ela foi embora, ele acabou de
jantar e pediu a chave, dizendo que já ia dormir. Mas, antes dele chegar na casa se ouviu
um quebra, quebra na casa dele, jogavam banca, jogavam cadeira, aí a Neri, filha do
Osorino disse: “Isso é visagem, não tem ninguém aí, saíram tudinho”. Aí quando o
coletor veio e chegou na casa ele meteu a chave, abriu a porta, empurrou, e a loira
estava sentada de costa na rede dele, e ele pulou para lá com ela, ele pensava que era
essa namorada dele, mas era a loira do cemitério, ela sumiu de repente. Ele tinha
marcado com ela lá, né? Esse coletor saiu de costas gritando: “Tinha uma mulher na
minha rede e sumiu”, nós ainda fomos espiar, mas não tinha era nada”.
(Antônio Soares).
60
3 Alguns aspectos da Cultura
Foto: Praça da Bandeira na década de 1970, cedida por Wilson Câmara Frazão Neto
e Cláudio Frazão ao projeto Revivendo nossa História.
61
3 Alguns aspectos da Cultura
A festividade de Santana
Imagem: Tela “Memórias da Festa de Santana”, acrílica sobre tela de autoria de José Tadeu 2013. Pertencente ao
acervo de Dione Leão.
63
3 Alguns aspectos da Cultura
“Pra gente vir pra Breves na época da festa o papai fazia aquelas canoas grande
e cobria de palha; a gente saía de casa de madrugada, a gente ficava debaixo da
cobertura e só ele vinha remando, a gente vinha chegar para cá à tarde já, era o dia
inteiro viajando, dava maresia, eu tinha medo, na beira do rio dava muita maresia, até
aqui na boca de Breves, o papai vinha bem pela beira do rio para não alagar. Quando
chegava aqui, encostava a canoa na frente da cidade e ia para casa dos nossos parentes
e deixava a canoa lá”. (Maria de Souza Leão- Anos de 1960).
64
3 Alguns aspectos da Cultura
65
3 Alguns aspectos da Cultura
3.2. A culinária brevense
A cozinha brevense guarda atualidade. Assim, grande parte
traços muito fortes da culinária dos pratos brevenses tem como
indígena, muito bem preservada base, ingredientes que eram
na execução dos pratos mais essencialmente cultivados,
utilizados pela população. Embora processados e preparados pelos
tenha sofrido a influência europeia indígenas. Tendo sido apenas
e africana, a dieta indígena se aprimorados ao longo do tempo.
destaca das outras, ainda na
67
3 Alguns aspectos da Cultura
68
3 Alguns aspectos da Cultura
O açaí é o alimento açaí não tem horário certo. Os
fundamental da dieta dos ribeirinhos tomam açaí pela
brevenses, sendo acompanham- manhã puro ou em forma de
ento preferido nos almoços e mingau e no almoço à tarde e à
jantares, junto com diversos noite no jantar. Do açaí também
peixes apresentados, o camarão, se faz o geladinho (choop),
o charque e a mortadela frita. sor vete e picolé, líderes na
Embora, seja mais consumido no preferência.
almoço e jantar, para se tomar o
3.3. As artes
A arte musical de Breves brega. S endo que o brega
segue as tendências regionais, despertou novos músicos, novos
nacionais e internacionais. Nós cantores, novas gravadoras e
não temos um ritmo caracterís- produtores musicais, alcançan-do
tico de Breves, a nossa cultura bastante popularidade no Pará.
musical envolve ritmos diversi- Por esse motivo no final da
ficados, dependendo da época. década de 1990, o Brega Pop
Os mais ouvidos nas primeiras chegou a quase todas as rádios
décadas do século XX era o bolero locais com programas exclusivos
e o merengue, a guitarrada e o para os artistas da área.
69
3 Alguns aspectos da Cultura
A televisão também se surgimento do artesanato entre
rendeu ao estilo com a criação de as populações de Breves esteve
programas locais para divulgar as relacionado à presença de
produções. E, a partir dos anos a r t e f at o s p r o du z i d o s p e l o s
2000, o brega passou a ser primeiros moradores indígenas
rec onhecido na ci onalmente, com um impor tante fator
como a música e o ritmo próprios favorável: a abundância d e
do Pará. matéria prima oferecida pela
No campo das artes, ainda natureza.
podemos citar o artesanato. O
Alguns dos artistas e compositores do gênero Brega Paraense: Alberto Moreno, Kim Marques, Edilson Moreno,
Nelsinho Rodrigues, Wanderley Andrade, Tonny Brasil, Teddy Max. Foto Divulgação
72
3 Alguns aspectos da Cultura
A pintura em telas, também cotidiano ribeirinho e da cidade.
é uma das formas de arte mais Dentre os artistas mais evidentes,
d esenvolvidas em Breves, estão os artistas plásticos: Tadeu
destacando-se as temáticas Ferreira, Necy Balieiro, Sérgio
r e g i o n a i s , p r i n c i p a l m e nt e o Lopes, Assis, dentre outros.
Tela da Artista Necy Balieiro apresenta traçados dos anos de 1950 a Cenário tipicamente ribeirinho dos finais da década de 1970
1960 registrado pelo artista José Tadeu Ferreira
A pintura em tela é de autoria do artista Edson Cardoso, retrata A belíssima tela em destaque é de autoria da artista local Necy
narrativas popularizadas ao longo de décadas pelos brevenses, Balieiro
acerca da cobra encantada que vive embaixo da Igreja Matriz.
73
3 Alguns aspectos da Cultura
Atividades
Os nossos costumes e tradições contam muito sobre as formas de pensar
e agir da nossa gente, eles estão ligados à identidade brevense.
74
UNIDADE II
MODOS DE SOBREVIVÊNCIA
4 Práticas Econômicas
4.1. O negócio da borracha
A história da região de (seringueira), é a principal
Breves está diretamente ligada m at é r i a - p r i m a u t i l i z a d a n a
aos negócios de diversos produção da indústria de
produtos extraídos das florestas e emborrachados no mundo todo
a comercialização destes, para o como balões, colchões, bicos de
mercado nacional e internacional. mamadeira, luvas cirúrgicas,
Um desses produtos é o látex uma brinquedos infantis,
substância branca leitosa, preser vativos, pneus, dentre
retirada da árvore de seringa outros.
76
4 Práticas Econômicas
No século XIX, Breves se produzidos, seguido por Anajás
destacou na produção do látex, com 993.173 (BRAGA, 1919, p. 93).
tornado-se juntamente com Sendo que o auge da produção
Anajás, Melgaço e Gurupá, teria ocorrido em 1900, com a
responsável pela maior parte da produção de 1.547.374 quilos e
borracha produzida no conseguiu manter essa liderança
arquipélago de Marajó. Alguns até a primeira década do século
registros oficiais colocaram XX (Weinstein, 1993). Dessa
Breves nos anos de 1870, 1896 e forma, o período de 1870 a 1915
1897, liderando a posição de marcou o processo de expansão e
maior produtor do artigo na apogeu da economia da borracha
região, com o recorde de na Amazônia e no município de
1.497.304 quilos de borracha Breves.
78
4 Práticas Econômicas
D i a nt e d e s s e n o v o c e n á r i o Em Breves esse acordo foi
mundial, em 1942, os Estados sentido. A extração da borracha
Unidos e Brasil assinaram os retomou ao cenário econômico.
“Acordos de Washington”, pelos Muitos moradores dos espaços
quais o governo americano se rurais voltaram a extrair látex da
comprometia, principalmente, a seringueira. Porém, as
investir capitais na produção de negociações se diferenciavam da
borracha nativa e garantir para os primeira fase da borracha. Pois,
a l i a d o s o fo r n e c i m e n t o d a pelo Decreto-Lei nº 4.451, de 09
borracha silvestre amazônica. de julho de 1942, fora criado o
Uma vez que grande parte dos Banco de Crédito da Borracha S.A
antigos seringais da região já (BCB), com par ticipação de
haviam sidos abandonados. capital norte americano que
(Alves Filho, 2000). detinha 40% de suas ações.
Foto: Área de frente da Vila de Corcovado, ano de 1942. Arquivo: Dione Leão.
80
4 Práticas Econômicas
Apesar do Banco do Brasil e Mundial, por meio de esforço
do Banco de Crédito da Borracha conjunto dos governos brasileiros
terem se instalado na Amazônia e a m e r i c a n o s o s et o r fo i
por volta de 1942, com vistas a reaquecido.
garantir o aumento da Após a Segunda Guerra,
produtividade das atividades muitos seringueiros continuaram
empresariais e reter maiores na mata e o sistema permaneceu
lucros na região (Loureiro, 2004), - mantendo ainda traços que o
na cidade de Breves o Banco de caracterizavam como no início do
Crédito da Borracha chegou na s é c u l o , qu a n d o a p r o du ç ã o
década de 1950 e o Banco do estivera no auge, retomando
Brasil em meados d e 1 960. a n t i g a s f o r m a s d e
Entretanto, não se sentiu grandes comercialização (Lobato-Filho,
mudanças com sua inserção nem 1951).
para a economia, nem para a Este foi o caso do Sr. João
concentração de renda, pelo Félix Medeiros, nascido e criado
menos no que se refere aos em meios aos rios e florestas de
investimentos para os pequenos Breves, migrou para a cidade nos
produtores. O caso de Corcovado finais da década de 1960. Nas
é um exemplo disso, o apoio suas memórias dos anos de 1940
financeiro era dado aos a 1950, grande parte da
empresários e não aos população que vivia em espaços
trabalhadores da extração e rurais sobrevivia do negócio da
beneficiamento. borracha. Entregavam a
Como observamos, a produção a um patrão. A maioria
produção amazônica do látex em desses “patrões”, mencionados
1930 correspondia à apenas 1% da por ele não dependiam
produção mundial. O sistema exclusivamente da borracha, a
produtivo perdera a vitalidade, maioria desempenhava outros
mas não se extinguira e retornou negócios paralelos.
du r a nt e a S e g u n d a G u e r r a
81
4 Práticas Econômicas
“Nessa época, todo mundo fazia esse negócio com a borracha. Nossos patrões
era o finado Cornélio Torres, no Rio Ituquara, Agostinho Souza, Francisco Neto, Gaspar
Barbosa, Augusto Barbosa, tinha o Ernesto Maia, Chico Evangelista, que moravam na
boca do rio Limão. Esses tinham comércio forte. Nesse tempo eles também
trabalhavam com cana de açúcar, tinha uns quantos engenhos a vapor. Tinha o Manuel
Rufino no Tajapuru, ele tinha, moenda com boi na sua propriedade. Mas, só da borracha
não tinha nenhum que fosse rico” (Sr. João Félix Medeiros, 2017).
B r e v e s é u m mu n i c í p i o Em Breves, um número
conectado por muitos rios e grande de produtos entrava e
braços de rios. Essa não é uma saía da cidade pelos rios,
realidade somente nossa. No Pará movimentando o comércio local.
do século XIX, a abundância de Produtos como já mencionados,
rios e furos possibilitava tanto o r et i r a d o s d a s fl o r e s t a s e m
escoamento de produtos quanto espécies e tipos variados como:
da comunicação entre localidades borracha, madeira, arroz,
da província, funcionando como sementes oleaginosas, peles de
alternativa viável de transporte animais silvestres, frutas tropicais
devido à indisponibilidade de e tantos outros circulavam pelos
recursos para a construção de estreitos de Breves em
estradas. Além disso, os rios embarcações de variados
aproximavam moradias tanto na tamanhos e modelos para serem
cidade de Belém quanto nos negociados em diferentes partes
interiores da província (Almeida, do mundo.
2010).
82
4 Práticas Econômicas
Em 1939, o jornal “Estado do estudar separadamente mais a
Pará” ressaltou a variedade de frente na unidade, como de
produtos existentes na economia outros produtos extraídos da
local nesta década, destacando floresta:
para além da madeira, que vamos
As florestas do município
eram ricas em espécies do
extrativismo vegetal, geralmente
utilizadas na indústria de
cosméticos, na produção de
essências vegetais, bastante
utilizados pela população como a
andiroba, a copaíba, a mamona e
o pracaxy, usados ainda hoje
como utensílios medicinais.
Outros como a ucuúba serviam
viroleira
mais ao mercado nacional na
fabricação de velas e do
murumuru extraía-se um óleo
vegetal largamente utilizado na
indústria de cosmético nacional.
Essas sementes chegavam à
capital Belém pelas mãos de
c entenas d e regatões que
compravam a produção local,
diretamente nas casas dos
ribeirinhos espalhados pelos rios
do município. andiroba
84
4 Práticas Econômicas
Manejo do arroz na várzea integrado a outros sistemas de produção. Foto: Agência de Notícias - Embrapa
A produção do arroz de av e n i d a Pr e s i d e nt e G et ú l i o
várzea no município também foi Vargas. Já nos espaços rurais
um dos produtos de destaque na eram dispersos entre os diversos
economia do município, teve seu rios do município.
auge na década de 1960, tendo As relações entre os
como um dos maiores agricultores e os comerciantes
fornecedores na zona urbana o estavam estruturadas segundo o
S r . R a i m u n d o Tu p i n a m b á , sistema de aviamento, do mesmo
comerciante da região. S ua modo que a borracha, todo o
indústria d e beneficiamento comércio era feito com base no
localizava-se nas proximidades da crédito, cujos termos eram
área portuária da cidade, na definidos pelos comerciantes.
85
4 Práticas Econômicas
Veja esse testemunho!
87
4 Práticas Econômicas
88
4 Práticas Econômicas
4.3. O negócio da madeira
Foto: Parte do patrimônio da empresa Breves Industrial Sociedade Anônima (BISA). Arquivo: Dione Leão
92
4 Práticas Econômicas
O patrimônio da empresa foi Nesses espaços, traba-
definido nas documentações lharam centenas de pessoas, a
como “parque industrial” por maioria moradores locais, mas
conter muitos bens, como: um também registrou-se a presença
galpão destinado às instalações de migrantes de vária
de energia e oficinas, possuindo nacionalidades. É o caso, do
fundações em concreto armado, gerente Archibal Roy Cox, citado
estrutura metálica e cobertura no documento como o procurador
em telhas de zinco; um galpão da empresa na região, casado,
destinado às instalações da natural da Inglaterra, com
serraria, com pisos em diferentes moradia fixa na cidad e e o
níveis, em mad eira d e lei e português Joaquim Rodrigues
cimentado, cobertura em telhas Leite, operário da empresa.
de zinco; uma casa destinada às Até o momento, não existe
instalações de estufa (secagem nada de exato sobre a
da madeira), possuindo nacionalidade dos fundadores da
estruturas em concreto e empresa Moinhos de Breves, pois
madeira, cobertura em telhas p o u c a s i n fo r m a ç õ e s fo r a m
galvanizadas, forro em madeira e mencionadas pelos moradores
chapas galvanizadas; um prédio mais antigos. Na maioria das
destinado aos restaurantes, com vezes os fundadores foram
estruturas e paredes de madeira, genericamente denominados de
p i s o c i m e nt a d o ; u m p r é d i o alemães. Porém, em 1926, logo
destinado à escola, com estrutura a p ó s s e u fu n c i o n a m e nt o , o
de madeira e coberta com telhas representante legal era um
de barro; um trapiche construído homem de nacionalidade inglesa
em madeira de lei, utilizado para e não alemã.
atracação de embarcações.
93
4 Práticas Econômicas
Em 1943, a empresa mudou deles por aqui. A exemplo de Dona
de nomenclatura e passou a se Suzane Joubert, acostumada a
denominar Breves Industrial recebê-los em sua residência,
Sociedade Anônima (BISA), que durante a década de 1960 e Dona
tinha os portugueses na gerência. Benedita do Amaral que
Sobre esse grupo, existem muitas trabalhou na residência de um dos
memórias sobre a passagem gerentes por vários anos.
Foto: Dona Suzane Joubert (cabelos pretos) e o esposo Tenente Abraão (atrás dela) com
os gerentes portugueses da Breves Industrial Sociedade Anônima (BISA). Arquivo da família.
94
4 Práticas Econômicas
Podemos destacar que nos década de 1970, influenciada
finais dos anos de 1950, segundo tanto pela exaustão das reservas
dados do IBGE (1957), a extração madeireiras naturais na mata
da madeira já era a maior atlântica do S ud este e nos
atividade econômica do município, pinheirais do sul do país, como
que se destacava na exportação pela abertura da Amazônia, que
do produto. O total era de cinco começou nos anos de 1970,
serrarias na cidade, com portos possibilitando o deslocamento
particulares para o embarque do das madeireiras do Sul e Sudeste
produto, que era exportado para para o Norte do Brasil. (SCHOLZ,
Portugal. O auge de compra de 2002).
terrenos por madeireiros na Esta abertura da Amazônia
região, para instalarem seus estava dentro da “Operação
empreendimentos ocorreu entre Amazônia”, ocorrida a partir de
os anos de 1959 a 1975. Nesse 1966, fortalecida no governo
período, os livros de transcrições militar, cujo objetivo era
de imóveis, registraram a compra modernizar a economia brasileira,
de propriedades nos espaços porém, dentro de um padrão de
rurais de Breves de cidadãos da dependência associada ao
Tchecoslováquia, Estados Unidos, grande capital transnacional,
Espanha e Itália e do sul do Brasil. concedendo incentivos e isenções
As informações apresenta- de impostos para a exploração
das, também ajudam a entender econômica da região por
a instalação de madeireiras do Sul empresários de outros países e
do país na região de Breves, pois estados brasileiros.
essa ação está dentro do
contexto do desenvolvimento da
indústria madeireira no Pará na
95
4 Práticas Econômicas
Nesse período, a dos furos, empregando 1.109
microrregião dos furos de Breves trabalhadores. Em 1975 eram 94
destacou-se nesse comércio, indústrias com 1.400 empregados.
produzindo 44% do valor da Em 1980 o número de indústrias
transformação industrial (VTI) do aumentou significativamente para
setor. Conforme informações do 5 1 5 c o m 4 . 079 p e s s o a s
IBGE, em 1970 existiam 61 trabalhando. (SCHOLZ, 2002).
indústrias madeireiras na região
Tinha uma rampa, tinha uma mangueira, que o pessoal do interior ficava lá para
vender os paneiros de açaí, paneiros com quatro latas de açaí, às vezes botavam tudo lá
em cima, o açaí, as caças do mato, as frutas: cana, marí. Toda a produção do interior
descarregava lá para vender, era tipo uma feira, tu chegavas lá e ia escolher o açaí que
tu querias, o peixe, a caça, o camarão, tudo, era um ponto de desembarque da galera do
interior.
(Venâncio Pantoja do Amaral, 2013).
99
4 Práticas Econômicas
Não podemos esquecer que Em cidades da Amazônia
uma parcela da população que como Breves, o comércio ao ar
vivia em Breves era migrante dos livre, improvisado tem um papel
espaços rurais e preservava destacado na orla da cidade,
hábitos alimentares próprios dos associadas à prática de
seus lugares de origem, por isso os atividades comerciais localizadas
produtos comercializados na em frente ao rio. Isso geralmente
rampa eram muito apreciados ocorria, pelo fato da cidade não se
pela população da cidade que constituir em espaço de
consumia diariamente a produção, mas de negociação dos
produção. produtos extraídos dos rios e
florestas do entorno.
Foto: Avenida Pres. Getúlio Vargas, destaque para a mangueira onde funcionava a rampa e o
comércio da família Barros, entre as décadas de 1950 e 1960. (Arquivo: Dione Leão).
100
4 Práticas Econômicas
A rampa ficava localizada em da cidade, era uma realidade,
meio a por tos privados dos dentre os quais, podemos citar o
maiores comerciantes de Breves. Sr. Tupinambá, Lino Alves, Chicó
Em toda a rua Presidente Getúlio Vieira, Josué Fernandes, Idevaldo
Va r g a s , e x i s t i a m v á r i o s Paes, Antonino Barros, dentre
estabelecimentos comerciais, outros que movimentavam o
sendo que a maioria desses comércio local, vendendo todo
comerciantes também tinham tipo de mercadorias para suprir
trapiches, interligando o rio à sua as necessidades dos moradores
propriedade. O Sr. Vanderlei da cidade e dos espaços rurais.
Castro, destacou que a presença
de comerciantes nesse perímetro
Foto: Casa de comércio local, décadas de 1950 a 1960. (Arquivo: Dione Leão).
101
4 Práticas Econômicas
As casas comerciais eram logo o empreendimento. Era o
diretamente ligadas a esses caso da casa comercial São
trapiches, como se fosse uma Benedito, descrita em 1963 por
extensão delas, uma vez que a José Luiz Pena Pereira:
pessoa desembarcava e avistava
O trapiche ficava em frente à Trav. Castilho França. Ali na esquina desta rua
com a Presidente Getúlio ficava a casa comercial “São Benedito”, do Lino Alves, uma
mistura de mercearia com sorveteria. No mesmo instante fomos lá e compramos um
sorvete para cada. Ao lado do trapiche do Lino Alves, havia uma rampa sob a sombra de
uma frondosa mangueira, onde aportavam cascos e pequenos motores que
desembarcavam e comercializavam ali mesmo peixe e açaí.
(José Luiz Pena Pereira, 2013).
103 Foto: Comércio Local. Canal Youtube: Minha casa é uma viagem
4 Práticas Econômicas
Do comercio para a navegação
105
4 Práticas Econômicas
A oferta desses serviços participar das aulas, aumentando
também movimentou os negócios significativamente o quantitativo
da navegação, pois diariamente d e pequenas embarca ç ões,
os moradores das cidades perfazendo as linhas de Portel,
vizinhas se deslocam para Melgaço e Bagre.
UNOPAR
UNIASSELVI
FAMMA
106
4 Práticas Econômicas
O mercado imobiliário d i r e ç ã o d o c r e s c i m e nt o d o
também mobilizou o mercado da perímetro urbano da cidade,
construção civil, uma vez que para movimenta também o ramo do
atender as demandas de mão- comércio de material de
de-obra para os serviços públicos construção que cresceu
estaduais e federais, ou ainda a significativamente nos últimos
iniciativa privada de Bancos e anos. O ramo da construção civil é
gera ção d e energia, d entre sem dúvida um fator de destaque
outras, se fez nec essário a no comércio e serviço do
construção de apartamentos e municípi o nos últimos anos,
casas principalmente para alugar absorve praticamente toda a
em bairros como o Centro e mão-de-obra de pedreiros e
Aeroporto. carpinteiros da região.
A construção civil gerou
emprego também nas obras
municipais, estaduais e federais, a
destacar escolas, creches,
hospitais, a UPA-24 e residências
particulares com a abertura do
bairro Nova Breves, resultante
primeiramente de uma invasão e
posterior desapropriação para a
p o p u l a ç ã o d e m a n d a nt e d a
política habitacional, mas também
com terrenos adquiridos pela
classe média da cidade que
compraram lotes dos primeiros
donos. É um bairro em constante
expansão que aponta para a
107 Obras de reconstrução, adequação e modernização do Terminal Hidroviário de Breves
4 Práticas Econômicas
Outros importantes serviços
Clinicas
Clinicas
Escritórios de Advocacia e
Contabilidade
Restaurantes
Espaços de diversão e Lazer
Hotéis
108
4 Práticas Econômicas
Atividades
Com base nas práticas econômicas e nos modos de sobrevivência da
população brevense, vamos relembrar:
E MOVIMENTAÇÕES GLOBAIS
NA REGIÃO DE BREVES
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
5.1. A segunda onda de nordestinos
112
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
As periódicas secas que cartazes no nordeste brasileiro a
atingiam o Nordeste, serviam imagem de uma Amazônia dos
como justificativa moral para sonhos, com fartura: casa, lenha,
encaminhar os nordestinos para a porcos, galinhas, boi, crianças
Amazônia. Assim, a região de brincando, mulheres lavando
Breves entrava nos planos do roupa, casas protegidas por
governo para atender a nova cercas. A propaganda tinha como
regulação econômica exigida pelo público alvo camponeses para o
Serviço Especial de Mobilização qual a agricultura já era bastante
d e Tr a b a l h a d o r e s p a r a a utilizada na tra jetória dos
Amazônia (SEMTA), que nordestinos (Secreto 2007).
e s p a l h av a em c e nt e n a s d e
Breves e o retorno da borracha
Um acontecimento leva de nordestinos para cá.
i nt e r n a c i o n a l d e u u m n o v o Então, novamente o comércio da
desdobramento para a migração borracha vai ser importantíssimo
de nordestinos na região para este processo, agora sobre
amazônica. O comércio da novos contextos e interesses.
borracha que já estava em queda O Sr. José Silva Filho, hoje já
desde a década de 1920, ganhou falecido, nos ajudou a entender
novo impulso e Breves entrou melhor esse período, ele veio do
nessa rota de produção. Vocês Ceará, da cidade de Cascavel, há
lembram que durante o século mais de 60 anos para o município
XIX, a região foi grande produtora de Breves, na década de 1940.
de látex e impulsionou a primeira
113
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Primeiramente, o Sr. José no Brasil, principalmente no
Silva, reforçou que este era um Nordeste, onde era o ponto mais
período bem expressivo para o próximo para a travessia do
cenário internacional, a Segunda oceano com destino ao
Guerra Mundial e antes de falar de continente africano e depois
Breves, menciona, outro episódio europeu. Mesmo com a aparente
muito interessante que está postura de neutralidade do Brasil,
diretamente ligado a inserção da o presidente Getúlio Vargas
Amazônia na guerra: a construção autorizou a construção e
de um “campo de pouso” no ampliação de bases aéreas e
Amapá para suporte dos Estados navais pela companhia aérea
Unidos no Brasil no ano de 1938, Panair do Brasil.
quando veio de Cascavel direto
para executar tal tarefa.
Em vista disso e para um
melhor entendimento, é preciso
pontuar que, durante a Segunda
Guerra Mundial, como parte dos
acordos políticos com os Estados
Unidos, o Brasil contribuiu com a
construção de inúmeras bases
aéreas para o patrulhamento do
litoral e para escolta dos
comboios dos navios mercantes
em territóri o na ci onal. Uma
dessas bases estava localizada no
Amapá, a 302 km da capital
Macapá.
A base fazia parte da rota
aérea do Atlântico S ul, que
começava em Miami e terminava
Panair, chegou a ser a principal companhia aérea brasileira entre 1930 e 1950. 114
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Ainda no contexto, outro espalhados pelas cidades do
ponto importante mencionado Nordeste. Ali havia pessoas tanto
pelo Sr. José Silva, refere-se a vila das localidades da região como
conhecida como Corcovado, que era o caso do distrito de São
era formada socialmente por Miguel dos Macacos, Antônio
grupos de vários lugares do L e m o s e Ja b u r u z i n h o , m a s
nordeste que assim como ele, principalmente dos estados do
vieram influenciados pelas Nordeste brasileiro, de onde
propagandas dos jornais provinha a grande força operária.
115
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
116
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Com o final da guerra, o viviam aqui traziam seus parentes
negócio da borracha desacelerou e amigos para trabalharem aqui.
e a madeira ganhou maior Foi assim que Dona Laura Rosa
importância na economia de deixou o Maranhão na década de
B r ev e s . M u i t o s n o r d e s t i n o s 1960 para trabalhar como
também chegaram à região, professora no rio Macacos, a
dessa vez por meio de uma rede convite da empresa C OMIG,
de migração, isso significa que os instalada no lugar, cujo o tio era
migrantes nordestinos que já gerente.
“Meu tio Celso era gerente da COMIG e, em conversa com os donos da empresa,
porque lá na verdade nunca tinha tido professor qualificado, então conversando com o meu
tio Celso eles disseram que estavam precisando de uma professora qualificada para São
Miguel. O meu tio Celso disse: Olhe lá em casa minha esposa cria umas moças, inclusive uma
é sobrinha dela, agora eu não sei se alguém vai querer vir para cá. Meu tio passava um tempo
lá, um mês mais ou menos e ia para Belém lá para casa onde eu fui criada, casa dele e já
chegou conversando comigo, era eu, Laura, Maria e Bárbara, as três pessoas que eles
criavam. Ele disse assim: Olha lá na vila São Miguel dos Macacos onde eu trabalho estão
precisando de professoras qualificadas, quem de vocês quer ir para lá? Eu peguei e disse: Eu
quero! (Laura Rosa, 2017).
Foto: Dona Laura Rosa em sua residência em 2017. Arquivo: Dione Leão
119
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Até a década de 1970, os Breves, quando tinha 25 anos de
n o r d e s t i n o s a i n d a e s t av a m idade. O motivo também foi
chegando, em abril de 1972, o Sr. trabalho.
Paulo do Nascimento ancorou em
120
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Em linhas gerais, nesse como o nasc ente bairro da
período ganharam destaque as Cidade Nova, Aeroporto,
migrações externas e internas na Castanheira, Riacho Doce,
perspectiva local, fazendo surgir Bandeirantes que alteraram
novos espaços de moradia, em completamente as paisagens e os
lugares cada vez mais periféricos, modos de viver em Breves.
122
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
E nt ã o , a p r e s e nt o p a r a dois andares construída em
vocês, a propriedade de um madeira de lei, e um comércio de
bisneto de português, localizada estivas situado ao lado da
no rio Mapuá, no Lago do Jacaré, residência.
da qual faz parte uma casa de
Foto: Propriedade do Sr. Caio - comunidade Santa Maria – Mapuá, 2018. Fotografia de Ney Rocha.
124
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Pela d escrição se vê a pela localidade, sem contar que o
dimensão da propriedade e as fo r n o d e c o b r e t a m b é m é
características que tornaram o Sr. característica de riqueza na
Constantino Félix um proprietário região, em vista da maioria ser
reconhecido, representante da confeccionado de zinco. O
elite na região. É possível número significativo de “estradas”
perc eber que os bens nela e árvores de seringueiras
existentes são diferenciados também ganharam destaque
daqueles negociados no ri o nessa propriedade.
Mapuá, presente nas O Sr. Augusto Barros, falou
documentações e memórias dos do modelo de casa denominado
interlocutores, por conter um chalé ou “chalezão”, no espaço do
trapiche adequado para vapores, rio Macacos, onde viveram o avô
indicando a presença de nordestino com ascendência
embarcações de grande porte portuguesa:
“A nossa casa era um chalezão, tinha um corredor e nesse corredor, na parte maior,
tinha um oratório do lado direito, de vários santos, do lado esquerdo tinha uma porta do
comércio. O comércio ficava dentro de casa e para o lado tinha um depósito de arroz. Então,
seguia pelo corredor e tinha o quarto da minha avó, com meu avô. Morávamos tudo só numa
casa e, do lado esquerdo, antes de entrar para a cozinha, tinha o quarto de meu pai. Nesse
quarto ele tinha o cipó e um pedaço de madeira que ele usava como tranca do lado de fora.
Então, vinha a cozinha, eu lembro tinha uma taia maior a gente chamava assim para o
recipiente de colocar água, tinha a mesa grande, onde comia todo mundo, quem chegasse,
fosse qualquer hora do dia ou da madrugada, tinha comida para quem chegasse lá”
(Augusto Barros, 2017).
125
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O modelo denominado de bastante simples, típica da região
“chalezão” é outro tipo de rural da Suíca francesa, que
construção muito comum nas chegou para cá com os
memórias dos interlocutores, que por tugueses e foi sendo
também é uma readaptação da adaptada conforme as
arquitetura do Brasil no século necessidades das famílias que
XIX. Na verdade é um modelo, que c o m o v i m o s e r a nu m e r o s a ,
foi moda na Europa e nos Estados precisando aumentar o tamanho
Unidos do mesmo período. Era de um chalé original, por isso
uma construção de madeira, chamavam “chalezão”.
Foto: Comunidade Santa Rita – Porto Cumaru, Rio Mapuá, 2015 – Fotografia: Dione Leão.
Foto: Casa temporária de Dona Vitória Nogueira no Mapuá, 2017 – Fotografia: Dione Leão.
127
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O início do comércio da madeira em Breves
Foto: Reprodução
128
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Legenda: Fotografia de navio norte-americano transatlântico ancorado na vila Lawton no rio Jaburu,
década de 1980 – Arquivo: Álbum da família Gomes.
Foto: Casarão de madeira construída por americanos na vila Lawton, 2018 – Fotografia: Dione Leão
130
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Foto: Casa de madeira constuída por americanos na década de 1970 – Fotografia: Dione Leão
“Lembro bem como era para o lado de lá, o modelo das casas, era tudo
igual, bem diferente de hoje; quando eles foram embora, as pessoas foram mudando o
jeito das casas. No tempo dos Lawton a energia era 24 h; tinha um fio grosso que
atravessava daqui para lá, pelo rio; o motor ficava funcionando noite e dia porque era
muita madeira para secar na serraria. Eles davam a casa, davam a tinta para a gente
pintar o assoalho para não lavar para não apodrecer o assoalho, isso era assinado em
um contrato; eles davam um terçado, bota para o funcionário ter em casa para não
deixar o mato crescer, cada um cuidava do seu quintal. Se chegasse um parente, meu de
outro lugar, por exemplo, eu tinha que explicar que ele era meu parente que ele ia ficar
tantos dias aqui, eles tinham esse controle aqui para evitar a entrada de gente
estranha, de bandido”. (Marineide Gomes, 2018).
132
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Portanto, as serrarias e as como dito antes, estudá-los
vilas, assim como as casas, o significa conhecer parte da
comércio e o barracão são parte identidade dos moradores e o
integrante da paisagem da região que herdamos nos nossos modos
decorrente do contato entre os de construir e habitar, assim
diferentes grupos e com isso como as práticas e costumes
representam parte do patrimônio desses grupos.
material da região de Breves, e
133
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
134
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Os seringueiros da região de indicaram como causa da morte
Breves viviam embrenhados nas de seringueiros as picadas de
matas em busca d e látex, bichos peçonhentos como a
seguindo uma rotina dura de cobra, ataques de onça e
trabalho para conseguir extrair doenças intestinais. S em
uma quantidade razoável de látex esquecer de mencionar as
e sustentar a família. Por esse mortes por afogamentos, nesse
motivo, eram acometidos de caso direcionada para nordesti-
doenças como a malária, grande nos não acostumados com as
causadora de óbitos entre os correntezas das águas da região,
seringueiros no século XIX e também as mortes por armas de
primeira metade do século XX. fogo, tanto por acidentes como
Os registros de óbitos do decorrentes de brigas entre os
cartório de Breves, também grupos.
Foto: Madeireira local na década de 1970, fotografia cedida por Wilson Câmara Frazão Neto e Cláudio Frazão.
137
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
As condições de trabalho dos espaços rurais estavam
nas empresas madeireiras eram acostumados com o tempo da
muito precárias, sem as mínimas natureza. Na cidade, por exemplo,
condições de segurança, como o ritmo de vida dos trabalhadores
podemos observar na fotografia da empresa Breves Industrial
os funcionários trabalhavam Sociedade Anônima (BISA) era
descalços, alguns sem camisa, direcionado pela lógica do capital.
expostos a todos os tipos de Os operários e todos os
riscos. Sem falar que eram muito moradores despertavam ao som
m a l r e mu n e r a d o s , o u s e j a , de um apito estridente, que se
ganhavam muito pouco pela fazia ouvir por todos os cantos da
rotina dura de trabalho a que cidade, o ritmo de trabalho e de
eram expostos. vida dos funcionários seguia o
Muitos desses trabalha- relógio da empresa.
dores estranharam o ritmo de
vida das fábricas, pois como eram
“Apitava seis e meia, dez para as sete, sete horas, dez para as nove, nove e
dez para ti pegar de novo, tinha dez minutos de merenda, a gente largava onze
horas para pegar uma hora da tarde e largar às cinco, depois do almoço, tu
chegava e dormia, quando dava meia hora, ela apitava, dez pra uma hora tu já ia
138
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Muitas funções no trabalho muitas vezes se tornaram tensas,
com a madeira exigiam que se devido à exploração e as
ficassem dentro da água o dia péssimas condições de trabalho
inteiro, respirando o forte veneno nos por tos e nos navi os,
colocado em algumas espécies de estimulando movimentos de lutas
madeira para extinguir as pragas, pelos seus direitos. Por volta de
o que geralmente afetava a 1980, uma situação ocorrida no
saúde, causando principalmente porto alfandegado da empresa
doenças pulmonares como a Madenorte-S.A, chamou a
tuberculose. atenção da imprensa nacional e
Outra categoria importante foi motivo de matéria na Rede
de trabalhadores eram os Globo, diferenciando-se das
estivadores dos portos. Estes demais.
demonstraram que as relações
“A gente tirava a roupa para ter mais agilidade, porque de bermuda, macacão,
camisa e sapato, tem menos agilidade. Então, a gente só de cueca, tinha mais agilidade.
Nós não sentimos que nós estávamos sendo filmados e, naquele tempo, quem ia pensar
que tinha filmador? E tinha um cara da Globo lá a bordo, filmando nós. Em Breves não
tinha televisão, a única pessoa que tinha televisão foi quem nos avisou que nós tinha
estampado em rede nacional, trabalhando só de cueca, quase nu, em porão de navio, foi
o Jessé Fernandes que nos avisou que ele tinha uma antena de televisão lá, que era vinte
metros de altura, um tubo de ferro galvanizado, ele mandou montar uma de dezoito
metros de altura, ele pegava televisão direto de Belém; ele, apreciando o jornal
nacional, e passou: 'estivadores de Breves, totalmente nu em porão de navio fazendo
trabalho, sem segurança nenhuma, sem nada' e ele contou pra nós.”
(Benedito Carvalho, 2013).
139
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
O episódio descrito, foi dado a atividade principal, onde grande
como denúncia pela Rede Globo e parte da população trabalhava
repercutiu negativamente para a na indústria madeireira. Por esse
empresa Madenor te. Porém, motivo, quando esta atividade
para os estivadores, foi começou a desacelerar e as
considerado um marco histórico grandes empresas do ramo
na luta pelos seus direitos. Já que começaram a abrir falência e
um ano depois da reportagem, fecharem as por tas, Breves
mesmo com a pressão de sentiu consideravelmente.
empresários de Breves, A maior consequência da
conseguiram se fortalecer como saída das madeireiras da região
grupo social e criaram o Sindicato de Breves, sem dúvida, foi o
dos Estivadores. desemprego. Muitos pais e mães
Dar atenção para esta parte de família, perderam sua fonte de
da história de Breves que renda e poder de compra, e
externam essas conquistas é foram para o mercado informal
uma forma de recusar a visão que não garante direitos
tradicional da escrita da história trabalhistas nem o sustento
que por muito tempo entendeu a ad equadamente. Toda essa
luta política como um ato situa ção, a carretou em um
somente das elites. Os aumento da violência nos espaços
estivadores de Breves rurais, relacionado à ação de
participaram de atos políticos na p i r at a s q u e a s s a l t av a m a s
d e f e s a d e s e u s i nt e r e s s e s embarcações e as casas. E na
trabalhistas e, apesar da pressão cidade, assaltos a mão armada,
dos empresários souberam, se com reféns, invasão de domicílio,
posicionar diante da recusa de passaram a fazer par te do
reconhecimento de direitos e em cotidiano da população. Muitos
favor da luta pela autonomia da moradores migraram para outros
categoria, algo inédito no contexto estados e países em busca de
de trabalho portuário do período. melhoria. Uma mudança neste
De 1940 a 1990, os negócios quadro somente foi sentida na
da madeira deram base para a última década, quando a
economia de Breves, tornando-se economia começou a reagir de
forma mais consistente.
140
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
A problemática da falta de água para o consumo das famílias
141
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Somente em 1954, encon- água encanada na zona urbana
tramos documentos da Câmara da cidade, permite apenas
Municipal de Breves, apontando algumas horas por dia de água
para um preliminar levantamento nas torneiras dos brevenses. Essa
topográfico para a construção do r a c i o n a l i z a ç ã o g e r a mu i t o s
abastecimento de água incômodos para a população que
encanada na cidade, pois até recorrentemente precisa retirar
então a água consumida pela água diretamente do rio Parauaú,
população para beber e cozinhar igarapés, ou coletar água da
vinha na sua maioria, de um poço chuva, muitas vezes não tratadas
existente no hospital da cidade, c o r r et a m e nt e o c a s i o n a n d o
que cedia diariamente para os doenças nos moradores. O uso de
moradores porções (em latas) de poços artesianos e cacimbas é
água. muito usual, mas não são todos os
Na atualidade, A Companhia locais que o solo permite
de S aneamento do Pará encontrar água própria para
(C O SANPA), órgão estadual consumo.
responsável pela distribuição de
142
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
A população recorre às
torneiras comunitárias
distribuídas principalmente em
espaços públicos como escolas e
o Tiro de Guerra. Foi diante de
toda essa escassez e de luta pelo
direito ao uso da água em Breves
que nasceu em fevereiro de 2011,
o Movimento pelo Direito ao Uso
da Água, um movimento formado
pela população, muito significativo
nessa luta. Na atualidade está em
andamento a construção de
obras do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC) I e II nessa
direção que visam solucionar o
problema, sem previsão d e
conclusão. Quanto a essa questão
a imprensa brevense, divulgou em
julho de 2015 que mulheres,
crianças e pessoas idosas, são
obrigadas a puxar carros de mão
com baldes de água tirada dos
rios e igarapés, carregando
baldes na cabeça ou com as mãos
e disputando a água fornecida por
carros-pipa, quando estes
aparecem.
143
Migrações internas e externas
5 nas décadas de 1940 a 1980
Atividades
As mudanças na paisagem e nos modos de vida em Breves. Vamos
relembrar.
144
UNIDADE IV
Foto antiga da cidade de Breves-PA. Fonte: Facebook, Página: Os segredos da Amazônia desconhecida
146
6 Breves no século XIX
Foto: As composições da própria vegetação que serviam de matéria prima para a construção
das residências dessa região retratada por viajantes. 148
Fonte: https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/23413/a-aventura-do-principe-da-prussia-pela-amazonia
6 Breves no século XIX
149
6 Breves no século XIX
Curiosidades...
151
6 Breves no século XIX
154
6 Breves no século XIX
Marechal Manuel Jorge Rodrigues
(Barão de Taquari)
Presidente da Provincia do Pará
Foi comandante das armas e presidente da
província do Pará, de 10 de abril a novembro de
1835. Em 1840 foi nomeado governador das armas
da corte, onde permaneceu quatro anos.
157
6 Breves no século XIX
160
6 Breves no século XIX
161
6 Breves no século XIX
162
6 Breves no século XIX
164
6 Breves no século XIX
165
6 Breves no século XIX
166
6 Breves no século XIX
Praça da bandeira com bastante verde retratam uma atenção especial da cidade com a questão da
arborização do espaço urbano. (arquivo: Dione Leão)
Foto: A vila de Nazaré às margens do rio Tajapuru que se tornou vila de Antônio Lemos, sede da
cidade de Breves em 1906. (arquivo Dione Leão).
170
7 A cidade no século XX
O intendente de Belém Antônio José de Lemos, homenageado com o seu nome na nova sede da
cidade de Breves. (Fonte: internet e redes sociais sobre o tema).
171
7 A cidade no século XX
172
7 A cidade no século XX
173
7 A cidade no século XX
Curiosidades...
174
7 A cidade no século XX
Imagem: Vista parcial da área da BISA na frente da cidade de Breves. (arquivo Dione Leão).
176
7 A cidade no século XX
Quem navegar pelo intricado labirinto de rios, canais estreitos que compõe a chamada
região das ilhas depara numa grande claridade luminosa, uma cidade fidalga e simples:
Breves. O Paranhaú de águas tranquilas e barrentas passa-lhe à frente com o seu doce
murmúrio de rio manso. O cais de madeira separa a “urbus” principal do canal sossegado
e lá em cima, na zona suburbana, a extensa planície de relvas, as casas pintadas de
branco, uma palmeira solitária. E jardins imponentes. Quase todos os donos de casa
cultivam as flores. Mas não só flores - árvores frutíferas e legumes são plantados,
criando-se zilos deliciosos de horticultura indígena. (Jornal A Província do Pará, 1949).
Foto: Rua Presidente Getúlio Vargas, na atualidade no espaço onde está a estátua de Santana,
179 décadas de 1950 a 1960.
7 A cidade no século XX
Foto Reprodução
180
7 A cidade no século XX
“Naquela época o mercado era onde é o correio, lá matavam um boi e não vendiam uma
banda, porque o município era farto. Olha o pessoal da BISA, dia de sábado, cada qual,
aquele que sabia caçar, pescar, cada qual já tinha seu casco lá debaixo do trapiche, já ia
de manhã, tudo equipado, deixavam lá, quando largava do trabalho, pulava no seu
casco ia de dois a dois, ia embora, quando amanhecia o dia, já vinha abastecido de peixe,
caça, fruta, tudo e aí para vender a carne do mercado? Matavam o boi sobrava tudo
praticamente, porque o cara ia buscar tudo no mato de graça.”
(Venâncio Pantoja do Amaral).
181
7 A cidade no século XX
183
7 A cidade no século XX
185
7 A cidade no século XX
187
7 A cidade no século XX
189 Foto: ASCOM PMB - Breves hoje, com nova iluminação pública.
7 A cidade no século XX
Atividades
Agora vamos refletir com atenção sobre alguns aspectos da nossa Breves dos
séculos XIX e XX.
1- O que disseram os viajantes desse tempo sobre a nossa cidade?
____________________________________________________________________
2- Qual a relação que Breves teve com a revolta da Cabanagem?
____________________________________________________________________
3- Em que ano Breves foi elevada à condição de cidade e qual a justificativa
apresentada para isso?
____________________________________________________________________
4- O que aconteceu para que a sede da cidade fosse transferida para a Vila
de Antônio Lemos e como se deu o processo de retorno para o seu lugar de
origem?
____________________________________________________________________
5- Vamos estudar com atenção os relatos sobre a cidade de Breves no início
da sua construção e entender sobre as mudanças ocorridas até nossos dias.
____________________________________________________________________
Atenção Professor (a): Vamos organizar uma pesquisa mais aprofundada com todos os
meios literários possíveis sobre este tema, inclusive disponibilizando tempo aos alunos
para que tal resultado seja satisfatório para a aprendizagem.
Sugestão: Vamos pensar uma visita “in loco”, caracterizada como pesquisa de campo
em três (3) etapas.
Etapa 01: Realizar em parceria com a sua escola, secretaria municipal de educação,
pais e iniciativa privada, visitas até a Vila de Antônio Lemos no rio Tajapuru, para ver,
escutar e entender sobre os acontecimentos apresentados neste livro.
Etapa 02: (Escolas da cidade): Promover momentos de visitas em pontos de
referências de cada bairro da cidade de Breves para entender qual a dinâmica (se
espontânea ou provocada) em relação ao crescimento do perímetro urbano da
cidade. (Escolas do campo): Promover momentos de visitas em pontos de referências
do distrito ao qual você faz parte para entender sobre a importância do lugar onde
você no processo de construção histórica do município de Breves.
Etapa 03: Realizar culminâncias com toda a comunidade escolar presente, para
socializar as descobertas e curiosidades em relação à história de Breves a partir das
atividades desenvolvidas.
190
8 Referências Bibliográficas
AMADO, Janaína & FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2006.
ARAÚJO, Lucas Monteiro. O que os viajantes levaram: O que os viajantes levaram: A Cultura Material
Marajoara em invenção nos Museus Brasileiros e Norte-Americanos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-
Graduação em Antropologia (PPGA). Universidade Federal do Pará (UFPA), 2021.
BALIEIRO, Maria Necy Pereira. Breves Memórias: Belém: Paka-Tatu, 2022.
BECKER, Bertha K. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: é possível identificar modelos para projetar
cenários? In: Revista Parcerias estratégicas, número 12, setembro de 2001.
BEZERRA NETO, José Maia. A economia da borracha e o esforço de guerra: os soldados da borracha na
Amazônia. In: Pontos de História da Amazônia, vol. II, orgs. FILHO, Armando Alves; JÚNIOR, José Alves;
BEZERRA NETO, José Maia. Belém: Paka-tatu, 2000.
BRAGA, Theodoro. O Município de Breves – 1738 a 1910. Belém: Impresso pela Empreza Graphica Amazônia,
1919.
CANDAU, Joel. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2012.
COSTA, Paulo Marcelo Cambraia da. Na ilharga da Fortaleza, logo ali na beira, lá tem o regatão: os significados
dos regatões na vida do Amapá – 1945 a 1970. Belém: Açaí, 2008.
CRISTO, Ana Cláudia Peixoto. Cartografia da educação na Amazônia rural ribeirinha: Estudo do currículo,
imagens, saberes e identidade em uma escola do município de Breves, Pará. Dissertação de mestrado pelo
Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Pará-(UFPA), 2007.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica,
2010. GALVÃO, Eduardo. Santos e Visagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Baixo Amazonas. São Paulo:
Ed. Nacional, 1976.
GARCIA, José Maria. Crônicas do lugar dos Breves. Belém: Gráfica da Escola Salesiana do Trabalho, 1996.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
HALL, Michael. História Oral: os riscos da inocência. O direito à memória. São Paulo, Secretaria Municipal de
Cultura, 1992.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
INSTITUTO EVANDRO CHAGAS. Memórias do Instituto Evandro Chagas (série produção científica). Belém,
2002.
KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
LACERDA, Franciane Gama. Cidade, memória e experiência ou o cotidiano de uma cidade do Pará nas
primeiras décadas do século XX. In: FENELON, Déa Ribeiro (Org.). Cidades - Pesquisa em História 1 –
Programa de Estudos Pós-Graduados em História PUC. São Paulo: Olhos d'água, 1999.
LEÃO, Dione do Socorro de Souza Leão. Revivendo nossa História: um estudo sobre os bairros de Breves-
Marajó-Pará. Belém: GAPTA, 2022.
________________________________. O Porto em Narrativas: Experiências de Trabalhadores, Moradores e
191
8 Referências Bibliográficas
Frequentadores da área portuária de Breves (1940-1980). Belém: GAPTA, 2018.
________________________________. Trajetórias de “Migrantes”: Contatos. Interações e Conflitos em
Práticas Interculturais em Breves, Marajó, Pará. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social/Universidade Federal do Pará, 2018.
LEÃO, Dione do S. Souza & PACHECO, Agenor Sarraf. Memórias e imagens dos bairros de Breves. In:
PACHECO, Agenor Sarraf; SCHAAN, Denise Pahl; BELTRÃO, Jane Felipe (orgs.). Remando por Campos e
Florestas: Patrimônios Marajoaras em Narrativas e Vivências. Belém: GKNoronha, 2012.
LOUREIRO, Violeta Rafalesky. Amazônia: Estado-homem-natureza. Belém: Cejup, 2004
LUCHIARI, Maria Tereza Duarte Paes. A (Re)significação da paisagem no período contemporâneo. In
ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato. Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001.
MATHEWS, Gordon. Cultura Global e identidade individual. São Paulo: EDUSC, 2002.
MAUÉS, R. H.; VILLACORTA, G. M. Pajelança e encantaria amazônica. PRANDI, Reginaldo (org.). Encantaria
brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas. 2004.
MIRANDA NETO. Marajó desafios da Amazônia: aspectos da reação e modelos exógenos de desenvolvimento.
Belém: Cejup, 1993.
PACHECO, Agenor Sarraf. A conquista do Ocidente Marajoara. Índios, portugueses e religiosos em reinvenções
históricas. Schaan, Denise Pahl; Martins, Cristiane Pires. Belém-Pa: Gknoronha, 2010.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 27, nº 53, p. 11-23, 2007.
PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. A cidade sobre os ombros: trabalho e conflito no porto de Manaus. Manaus:
Edições Governo do Amazonas, 2003.
PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010.
_____________________Tentando aprender um pouquinho, algumas reflexões sobre a ética na história oral.
Revista Projeto História – Ética e história oral, nº 15, abril de 1997.
RAMOS, Ruth Martins. O poder da guilhotina: Relações de trabalho & cotidiano das operárias da Madenorte.
Monografia de Conclusão de Curso de Licenciatura e Bacharelado em História pela UFPA, Campus Universitário
do Marajó, Núcleo de Breves, 1996.
RODRIGUES, Carmem Isabel. Vem do Jurunas: Sociabilidades e construção de identidades em espaço urbano.
Belém: Editora do NAEA, 2008.
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Hucitec, 1982.
SCHAMA, Simon. Paisagem e memória. São Paulo: Companhia das letras, 1996.
SCHOLZ, Imme. Comércio, meio ambiente e competitividade: o caso da indústria madeireira no Pará. Belém:
SECTAM, 2002.
WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica: estudo do homem nos trópicos. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1998.
WEINSTEIN, Bárbara. A borracha na Amazônia: Expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec,
1993.
192
Tela ’’Acordo de Paz’’
193