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O Batalhão Policial
no
Bombardeio de Manaus. 1910
Gomes Pinheiro Machado, pelo fato de apoiar Rui Barbosa, candidato a Presidência da República, em 1910.
No ano de 1912 foi deposto por um golpe da Força Policial. Foi ainda Presidente do Congresso Estadual.
Casou duas vezes: em primeira núpcia com Antônia Bittencourt, depois com sua prima Amélia de Souza
Bittencourt. Faleceu em Manaus no dia 3 de março de 1926. Fonte: BITTENCOURT, A. Dicionário
Amazonense de Biografias: vultos do passado. Conquista: RJ, 1973.
3 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas do Século XX, 1910. Disponível
www.seculoxx.ibge.gov.br/população.html
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Fenômeno social e político típico da República Velha. Era o chefe político local ou regional, geralmente um
latifundiário, cujo poder era maior ou menor de acordo com o número de votos por ele controlado. (...) E era muito
comum os grupos políticos serem formados por famílias. Cf. História do Brasil: Colônia, Império e República, São
Paulo, Ed. Moderna, 1976.
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Político experiente, dotado de argúcia, obcecado pelo domínio público e sempre alerta por entrar nas lutas
necessárias para alcançar o seu objetivo maior: ter o poder. Cf. Vera Lúcia Bogéa Borges. Campanha Presidencial de
Barbosa de Oliveira, este apoiado pelas facções políticas dos Estados de São Paulo
e Bahia por meio da campanha denominada civilista, que pregava a luta pela
consolidação da ordem civil no país.
No Amazonas o governador Bittencourt tentava rechaçar as repetidas
intervenções de Pinheiro Machado na política local, razão para apoiar a candidatura
do notável jurista Ruy Barbosa. O caráter civil e democrático que o senador baiano
procurava imprimir à sua campanha impressionava o governador amazonense.
O apoio provocou divergência com o Senador Silvério José Nery, ex-
integrante do Partido Democrata, chefe político Republicano no Amazonas, aliado
histórico de Pinheiro Machado e o principal nome da oligarquia que dominava a
política no Estado desde 1898.
Sobre o domínio político dos Nerys, destaca Edgard Carone na sua obra “A
História da República”:
“(...) o Amazonas era dominado pelos Nerys desde o começo do século. Em 1900, é eleito
Silvério José Nery; em 1904, Antônio Constantino Nery; em 1908, um elemento do seu
grupo, Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt. Porém este último entra em divergência
política com os Nerys e apoia a candidatura civilista (Rui Barbosa)”. CARONE, Edgard. A
República Velha II - (Evolução Política), SãoPaulo, Divisão Europeia do Livro, 2ª ed.,
1974.
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Votaram contra o ato os Deputados Bento Brasil e Lima Bacury
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Conhecido no exército como Quincas Telles, de gênio arrebatado e irascível; foi Comandante da Brigada Militar do
Rio Grande do Sul [Polícia Militar] no período de 1892 a 1897. Acerca do militar o historiador Hélio Moro
Mariante na obra Crônica da Brigada Militar, Porto Alegre, Imprensa Oficial, 1972, noticia que “(...) após uma
pequena crise em que se viu envolvido, o Coronel Joaquim Telles mostrou desejos de amotinar algumas Unidades da
Corporação sob seu comando, em ato de represália contra o Governo do Estado, face a incidente pessoal com o
Desembargador do Superior Tribunal, o Dr. Paulino Rodrigues Fernandes Chaves, porém, não logrando êxito no
intento”. Tem-se que Joaquim Telles, em plena luz do dia, desferiu coronhadas de revólver na cabeça do
desembargador, por ter este proclamado sentença em desfavor de um membro de sua família. Confirma a ocorrência
o Major Miguel José Pereira no livro “Esboço Histórico da Brigada Militar”, 1º vol., 2ª. ed. gráfica da Brigada
Militar, 1950, p. 343: “[...] O certo é que o coronel Quincas Telles lhe desferiu profundo golpe com o revólver, e
que o venerando e querido magistrado pouco tempo depois falecia, não sabemos se devido ao traumatismo físico, se
ao abalo moral formidável que experimentou, ou se devido a outra qualquer causa”. As informações foram colhidas
do artigo Um litigio tumultuoso do fim do século 19: A Questão Telles, do Procurador de Justiça do Rio Grande do
Sul, Dr. Sérgio da Costa Franco.
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O relatório final da comissão nomeada por Bittencourt para apurar os fatos de sua deposição concluiu que: i) a
sessão de 7 de outubro, do Congresso Nacional, não se realizaria por falta de quórum. E, dos dezenove deputados
presentes em Manaus, doze tinham ido recepcionar o Dep Monteiro de Souza no Porto, embora a Ata estivesse
assinada por apenas onze; ii) das onze assinaturas da Ata, somente quatro eram verdadeiras. Aquela sessão só havia
comparecido nove deputados; iii) o deputado Antonio Francisco Monteiro, fora levado às 02h30 do dia 8 de
outubro pelos deputados Castelo Simões e Telesfero de Almeida, para bordo do navio da Marinha, onde fora
obrigado a assinar a Ata, em presença do Dr. Sá Peixoto; (...) O bombardeio se deu no dia 8; pois a 9 ainda andavam
recolhendo assinaturas. Vide LOUREIRO. Antônio José Souto. Síntese da História do Amazonas, Manaus, 1978.
primeira ordem para entregar o poder; temeroso, envia telegrama ao Presidente Nilo
Peçanha comunicando o fato.
As Forças do Exército e Marinha estacionadas em Manaus, teoricamente
reuniam cerca de setecentos homens, estando assim distribuídos:
Exército:
. 46º Batalhão de Caçadores, com 253 praças e 09 oficiais;
. 19° Grupo de Artilharia, com três (3) Peças de Artilharia reunindo 126 praças
e 04 oficiais. Ainda, os efetivos do Corpo de Saúde e de Engenharia.
A Marinha possuía:
. Canhoneira Fluvial Amapá, com 30 praças e 04 oficiais, equipada com um
(1) Canhão de 6 libras, quatro (4) Metralhadoras Maxim e um (1) Obuserio
Armstrong 87mm.
. Canhoneiras Jutaí, Juruá e Teffé, com o efetivo de 44 homens cada, além
de disponibilizarem 1 (um) Canhão Hotchkiss 47mm e duas (2) Metralhadoras
Nodenfelt 11 mm em cada unidade.
. Mais o contingente da Capitania dos Portos.
Ataque ao Palácio
“Acaba de ser atacada a guarda do Palácio por forças desembarcadas das canhoneiras
fluviais e do quartel da força federal, ostensivamente artilhado. Confirmando
telegramma hontem, aguardo providencias enérgicas, urgente de V. Exc., a fim de
restabelecer socego publico perturbado. Por minha parte manterei toda força
princípios constitucinaes. Bittencourt, Governador”9.
Horas depois a luta recrudesceu sangrenta. O 46º BC com duas (2) Peças de
Artilharia, postando-se à frente do Palácio o atingia repetidamente, produzindo
estragos na edificação, nas árvores do jardim, residências e comércios vizinhos.
A guarda palaciana defendendo-se da fúria dos federais contra atacava com
repetidas descargas de fuzil e metralhadora, numa delas alvejando o 1º Tenente do
Exército Antonio Lins de Carvalho e o Soldado João de Miranda Reis, ambos
do Grupo de Artilharia.
Por volta das nove horas e vinte minutos houve nova trégua. O Coronel
Joaquim Telles enviou ao Quartel de Polícia o sobrinho, Tenente Pantaleão
Telles, no sentido de intimar o governador a transmitir o cargo ao vice, tendo o
mesmo recusado a aquiescer tal ordem.
Mais tarde, o Governador recebeu a visita do Ten-cel Ex. Coriolano de
Carvalho, que lhe trouxe um ofício assinado pelo Inspetor da Região para que
entregasse o cargo, dizendo tratar-se de uma ordem em reservado do Presidente da
República, sendo esta mais uma vez rechaçada.
Nesse clima, foram distribuídos panfletos em toda a cidade, tanto do lado
do Governador como do Vice, ambos procurando esclarecer os acontecimentos que
se sucediam. Dizia o Vice-governador e as Forças Federais:
Aviso à População
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Por opção reproduzimos a grafia da época (ofício, aviso, telegramas, etc.).
Povo Amazonense!
O Bombardeio
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Há controvérsias quanto à hora do início do bombardeio pela Flotilha, entretanto, levando-se em conta que
o aviso distribuído à população apontava a “uma da tarde”, esta realmente foi a hora - ou talvez a mais
próxima das hostilidades. O Jornal do Norte de 7.10.1912, estranhamente registra o bombardeio por volta das
10 horas; já outras fontes registram tiros na madrugada. Apenas excesso de informações ou exagero, pois,
coloca-se em dúvida a logística da flotilha para, durante seis ou sete horas despejar bombas sobre a cidade,
tendo em vista que o bombardeio cessou às 15h00.
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Também há divergências sobre os pontos atingidos pelas granadas. Nesse passo, o Jornal “A Província do
Pará”, de 8 de novembro de 1910, revela-se como fonte importante para prestar a informação, verbis: “(...)
graças à atividade do nosso representante junto à comitiva que acompanhou o Dr. Antonio Bittencourt a
Manaus, podemos oferecer a curiosidade de nossos leitores no seguinte: uma granada que não chegou a
explodir foi encontrada no Palácio do Governo e lançada de um dos navios da flotilha por ocasião do
bombardeio; uma espoleta de granada que rebentou atrás do Hospital da Beneficente Portuguesa e outra
que destruiu o telhado da enfermaria; os estilhaços de granadas encontradas junto à residência do Coronel
Antonio Bittencourt e dentro da casa do Dr. Coelho Resende, a Rua dos Remédios e ao largo de São
Sebastião; do estabelecimento industrial do Sr. Dias dos Santos, restam apenas às paredes, tal foi o fragor
das balas caídas sobre ele, arrazando-o”.
12 Dizia o documento: “Manáos, 10 de outubro de 1910. Exmo. Sr. Dr. Vice-governador, do Estado.
Desejando evitar perturbação de ordem publica com a especulação de quem quer que seja, communico a v.
excia. para que dê conhecimento ao publico que me conformei com a declaração do Congresso que decretou
a perda de meu mandato pois não pretendo mais voltar ao exercício do cargo de governador que renuncio.
Devo mesmo acrescentar que ainda que o Sr. Presidente da Republica determinasse a minha volta ao
exercício de tal cargo eu não aceitarei mais. Saudações. Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt.”. Cf. Diário
do Congresso Nacional n° 145, de 11 de outubro de 1910, p. 1497.
Mais tarde, o vice-governador expediu telegrama ao Presidente Nilo
Peçanha informando que tinha assumido o poder no Estado. Este, por sua vez,
endereçou telegrama ao Congresso Legislativo do Amazonas nos seguintes termos:
“(...) Não me era licito desconfiar da lealdade do Sr. Sá Peixoto, porquanto, ainda
no dia 5 do corrente mês, celebrando em minha casa uma data intima, ele almoçou e
jantou comigo, dando-me sempre demonstração de amizade. Fiquei extremamente
surpreendido quando, ao dar-se o movimento revolucionário, deparei entre os que se
insurgiram contra mim os Drs. Castello Simões, Cardoso Faria, José Duarte e
outros, que se diziam meus amigos. O fato ainda mais surpreendente é o de estar
entre os sediciosos o Dr. Castello Simões, médico, que três dias antes da revolta,
pedira uma filha minha em casamento”13.
“O Sr. Nilo Peçanha viu-se obrigado, perseguido pelo clamor público a mandar
repor ao governo do Amazonas o Sr. Antônio Bittencourt. [...] os protestos
veemente e enérgico que o país levantou contra esse crime inominado pelo órgão de
sua imprensa e da Câmara dos Deputados – não do parlamento porque o Senado
ainda é uma feitoria do Sr. Pinheiro Machado – tiveram força bastante para
compelir o Presidente da República a atender às exigências da moralidade e do
dever, obrigando-o a retroceder do propósito criminoso em que se achava de aceitar
os fatos como eles se tinham dado”.
13
Jornal “Correio do Povo”, Porto Alegre, 24.10.1910.
O inspetor da 1ª Região, Coronel Joaquim Pantaleão Telles, instado a
manifestar-se sobre a intempestiva ação, enviou telegrama ao Presidente da
Republica informando-o sobre os fatos, contudo, fazendo-o de modo a suavizar sua
desastrada participação no caso, ipsis litteris:
“(...) em caso nenhum podem forças federais, destacadas em um Estado, sem ordem
do Presidente da República e com violação dos preceitos constitucionais, que
garantem a autonomia dos Estados, coagir um governador ou presidente retirar-se da
sede do governo. O Supremo Tribunal Federal, visto não se poder considerar
prejudicado o habea corpus, por ainda persistirem os efeitos da coação ilegal de que
foi vítima o governador do Estado do Amazonas, Coronel Antonio Bittencourt,
concede a este a ordem impetrada, a fim de que cesse o constrangimento ilegal,
devendo-se telegrafar ao juiz seccional do Amazonas para que faça cumprir a
presente ordem, requisitando-se, se for necessário, força federal.”
Vítimas do conflito
Prédio do Bazar Amazonense, Rua dos Barés, n° 35, atingido pelas granadas.
Apontando os culpados
Considerações finais
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