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1

-

LIMITE'S

-DO

ESTADO DA BAHIA

I VOLUME

BAHIA--SERGIPE

STADO DA BAY

BRAZILS

BAHIA
IMPRENSA OFFICIAL DO ESTADO
Run de Misericordia, n. 1
1916
за

da
F Vireja de Alon
D

LIMITES DO ESTADO DA BAHIA

I VOLUME
1
LIMITES

- DO

ESTADO DA BAHIA

I VOLUME

BAHIA-- SERGIPE

y nd
Bra Ama !

ESTADO DABAHIA

FLAGBRUILO

BAHIA
IMPRENSA OFFICIAL DO ESTADO
Rua da Misericordia, n. 1
1916
PRESERVATION
COPY ADDED
ORIGINAL TO BE
RETAINED
"

OCT 1 5 1992 1


F2551

A62

Sendo Governador do Estado da Bahia


o Exm. Sr. Dr. José Joaquim Seabra
e
Secretario do Estado o Exm. Sr.
Dr. Arlindo Coelho Fragoso.

Mandou O Governo organisar este livro


para defeza de seus direitos, pel Professor
Dr. Braz do Amaral,

450
MENSAGEM

Senhores Membros da Assembléa

Geral do Estado :

Não será preciso declarar-vos que me occuparam a attenção, desde que


ussumi, em 29 de Março de 1912, o Governo do Estado, as velhas
questões de limites da Bahia com os Estados visinhos, especialmente
os de Sergipe e Espirito Santo que mais frequentemente as renovavam,
disputando como suas terras que sempre nos pertenceram e sobre çujo
dominio elles, de tempo em tempo, não cessam de oppor e levantar as
mesmas duvidas.
Nas Mensagens, que tive a honra de vos dirigirpor occasião da aber
tura de vossos trabalhos annuaes, sempre vos dei exacta conta do
que a esse respeito estava fazendo ou tinha conseguido, em ordem
a assegurar os direitos da Bahia, pela instituição de uma defeza con
vincente e indestructivel, apoiada em factos e fortalecida pela prova
de documentos authenticos e decisivos.
Se o esforço foigiande e, ás vezes, penoso, por ter sido necessario levat
aspesquizas até os archivos do Rio de Janeiro e de Lisbôa, orientadas as
buscas pelas referencias de outros já encontrados documentos, de maior
valor e consideravel vantagem para OS nossos interesses foram seus
resultados, porque assim podemos enriquecer o nosso patrimonio de
provas sobre a legitimidade do nosso direito ás terras que são e
sempre foram nossas e, todavia , continuam , sem razão e sem justiça,
ha longo tempo , a nos ser disputadas .
Era meu intento, sem reservas para a vossa auctoridade, a cujo
exame e conselho sempre me senti obrigado a sujeitar os documentos
reunidos e com estes outras provas e uteis referencias, alem dos pare
ceres dos competentes que, a respeito de tão importante assumpto, ouvi,
evitar-lhes a immediata divulgação , até que se impuzesse a opportuni
dade de serem geralmente conhecidos, se, desde agora, não fosse con
veniente habilitar a consciencia do Estado, como a opinião dos que,
de outros Estados, nos impugnam os direitos que defendemos , na certeza
de que estes assentam em solidos fundamentos.
Por isso resolvi, não só a publicação desses documentos como a
dos factos occorridos em meu Governo sobre as nossas questões de
limites, o que vos communico, esperando do vosso patriotismo que bem
Julgareis a minha decisão, reconhecendo-lhe a utilidade.
Acceitae as homenagens do meu mais elevado respeito e distincta
consideração.
Palacio do Governo do Estado da Bahia, em 25 de Março de 1916.

J. J. SEABRA .
1
II

Documentos
ASSUMPTOS
Pags.
N. 11 Memorial do Prof. Braz do Amaral sobre a
questão de limites da Bahia com o Es
tado de Sergipe ……….
83
N, 12 Telegramma do deputado Moniz Sodré affir
mando não seria objecto de delibera
ção o projecto do Sr. Moreira Guimarães 106
N, 13 Telegramma do deputado O. Mangabeira
considerando morto o projecto M. Gui
marães ..
106
N, 14 Aviso do Prof. B. Amaral ao Governador de
haver chegado ao Rio e de haver tra
vado conhecimento com a bancada ser
gipana.....
107
N. 15 Telegramma do Commissario B. Amaral ao
Governador da Bahia solicitando au
thorisação para tratar com o represen
tante do Governo de Sergipe...
107
N. 16 Telegramma do Sr. M. Guimarães leader da
bancada sergipana ao Commissario B.
Amaral marcando uma conferencia ....
107
N. 17 Telegramma do Governador da Bahia ao
Commissario B. Amaral para tratar com
o Governo de Sergipe ...
108
N. 18 Telegramma do Commissario bahiano ao Go
vernador sobre a falta de poderes do
leader sergipano . 108
N. 19 Telegramma do deputado M. Guimarães ao
. Commissario B. Amaral marcando uma
conferencia ...
108
N. 20 Telegramma do commissario bahiano ao Go
vernador communicando haver conferen
ciado com o senador Ruy Barbosa ..... 109
N. 21 Telegramma do Commissario bahiano pe
dindo instrucções ao Governador da
Bahia.....
109
N. 22 Telegramma do Commissario bahiano ao se
cretario do Estado Dr. Arlindo Fragoso
explicando um seu despacho anterior .. 109
N. 23 Telegramma do commissario bahiano dando
ao Governo as opiniões dos Srs . Ruy
Barbosa e Alexandre Souza .... 110
N. 24 Telegramma do Dr. A. Fragoso, secretario do
Estado ao commissario bahiano manifes
tando o pensamento do Governo ... 110
III

Documentos ASSUMPTOS Pgas.

N. 25 Telegramma do Commissario bahiano infor


mando o Governo sobre a marcha da
questão . 110

N. 26 Telegramma do Commissario bahiano infor


mando .. 111

N. 27 Telegramma do Commissario bahiano infor


mando .. 111
N. 28 Telegramma do Commissario bahiano disendo
ter sabido que o Governo de Sergipe
agora é que ia estudar a questão que
havia levantado ... 111
N. 29 Telegramma do Commissario bahiano trans
mittindo os proprios termos do des
pacho do Presidente de Sergipe sobre
dados de que precisava e solicitando
authorisação para regressar .... 112
N. 30 Telegramma do secretario do Estado ao com
missario bahiano authorisando-o a re
gressar 112

N. 31 Telegramma do delegado de Policia do Coité


ao Governo communicando o estabeleci
mento das forças sergipanas na Bahia
e sua resolução de cobrar impostos e
exigir obediencia da população babiana 113
N. 32 Carta do Commissario B. Amaral ao Gover
nador tratando do caso do Espirito Santo 113
N. 33 Carta do Commissario B. Amaral ao Gover
nador narrando particularidades da sua
commissão .... 114
N. 34 Telegramma do delegado regional do Coité
communicando ao Governo extender-se
a invasão, as ameaças contra a população
bahiana e o pavor desta, assim como a
sua repulsa pela dominação intrusa .... 118
N. 35 Telegramma do Preparador do Coité commu
nicando as ameaças contra a Bahia ,
receios da população e necessidade de
defendel -a . 119

N. 36 Telegramma do Intendente e Conselho mu


nicipal do Coité confirmando a invasão
e as ameaças de força e pedindo garantias
de vidas e prosperidades .. 119
IV

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 37 Telegramma do Governador da Bahia ao


Presidente de Sergipe communicando ter
investido o Prof. B. Amaral de poderes
para se entender sobre a questão de
limites e pedindo indicação da opportu
nidade da ida deste commissario ... 119
N. 38 Telegramma do Presidente de Sergipe . Neste
despacho ha referencias ao officio (doc.
n. 10 , pag . 80, como ao telegramma do
Governador da Bahia, doc. n . 79 , pag .
250. Vide estes documentos ) .. 120
N. 39 Resposta do Governador da Bahia ao des
pacho acima .... 123
N. 40 Telegramma do Governador da Bahia ao
Preparador de Coité communicando ter
transferido para alli a séde da comarca
do Bom Conselho ...... 123
N. 41 Telegramma do Governo ao delegado re
gional do Coité communicando a trans
ferencia da séde da comarca para ali .... 124
N. 42 Telegramma ao Intendente de Barracão para
fazer chegar ao Juiz de Direito de Bom
Conselho a communicação da transfe
rencia da séde da comarca daquella villa
para a do Coité ... .4 ..... 124
N. 43 Officio do Governador da Bahia aos Inten
dentes de Coité e Geremoabo dando
orientação sobre a conducta que deviam
seguir .. 124
N. 44 Instrucções para o Prof. B. Amaral enviado
da Bahia ir a Sergipe tratar com o Go
verno desse Estado.... 126
N. 45 Telegramma do enviado bahiano communi
cando a sua chegada e recepção ...... 127
N. 46 Telegramma do enviado bahiano communi
cando ter começado a se entender com o
Presidente de Sergipe... 127
N. 47 Telegramma do secretario do Estado da Bahia
satisfazendo uma requisição do delegado
bahiano..... 128
N. 48 Telegramma do enviado bahiano noticiando
a viagem a fronteira .....
N. 49 Telegramma do enviado bahiano noticiando
a viagem á fronteira.. 128.
V

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 50 Carta confidencial do enviado bahiano ao
Governador informando minuciosamente
sobre objectos da sua commissão ...... 129
N. 51 Telegramma do enviado bahiano transmittin
do uma proposta do Presidente de Sergipe 134
N. 52 Telegramma do enviado bahiano informando
sobre a sua recepção no Instituto His
torico de Sergipe.... 134
N. 53 Telegramma do enviado bahiano pedindo res
posta á proposta do Governo de Sergipe. 135
N. 54 Resposta negativa do secretario do Estado
para ser dada ao Governo de Sergipe... 135
N. 55 Telegramma do enviado bahiano pedindo
para se retirar de Sergipe ... 135
N. 56 Resposta do secretario do Estado authori
sando a retirada . . . . . .. 136
N. 57 Reclamação e protesto enviados ao Governo
de Sergipe pelo enviado bahiano Braz do
Amaral por causa da permanencia das
forças de Sergipe no territorio da Bahia
e resalvando os direitos deste Estado
para uma indemnisação pelos prejuisos
e a affronta.. ... 136
N. 58
Relatorio apresentado ao Exm . Snr . Dr. José
Joaquim Seabra , Governador do Estado
da Bahia, pelo Dr. Braz do Amaral , de
legado do mesmo Estado para tratar da
questão de limites com o Est. de Sergipe 144
N. 59 Officio reservado do Juiz de Direito do Bom
Conselho Dr. Carvalho Passo informando
o Governo sobre os acontecimentos mi
nuciosamente .. 213
N. 60 Carta do Prof. B. Amaral ao Sr. Coronel
Pedro Freire Vice Presidente de Sergipe
sobre a questão .. 220
N. 61 Carta do Prof. B. Amaral a Camara Muni
cipal da villa do Coité ...... 222
N. 62 Carta do Prof. B. Amaral ao Sr. Coronel
Pedro Freire remettendo copia do Pro
testo que havia mandado ao General Si
queira de Meneses ... 223
N. 63 Carta do Sr. Coronel Pedro Freire Vice Pre
sidente de Sergipe ao Prof. B. Amaral
responden do .. 224
VI

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 64 Carta do Prof. B. Amaral ao Coronel Pedro


Freire suggerindo solicitasse este do fu
turo Presidente de Sergipe disposição
favoravel para uma solução pacifica.... 225
N. 65 Resposta do Sr. Coronel Pedro Freire pro
mettendo prestar os seus bons officios em
favor da harmonia .... 226
N. 66 Carta do Sr. Coronel Pedro Freire no exer
cicio do cargo de Presidente de Sergipe,
ao Prof. B. Amaral acquiescendo em re
tirar a força do territorio baniano ....... 228
N. 67 Telegramma do Governador da Bahia ao Go
verno de Sergipe agradecendo haver
satisfeito ás solicitações de seu enviado . 229
N. 68 Telegramma do Prof. B. Amaral ao Sr. Co
ronel Pedro Freire agradecendo haver
retirado a força do territorio do Coité ... 229
N. 69 Trecho da Mensagem do Presidente de Ser
gipe apresentada a Assembléa em que
declara não ter o Governo daquelle Es
tado estudado a questão antes de a haver
levantado . 229
M. 70 Telegramma do Sr. Coronel Pedro Freire Pre
sidente de Sergipe ao Prof. B. Amaral
convidando para um accordo sobre a
questão dos limites ... 230
N. 71 Telegramma do secretario do Estado de Ser
gipe ao Prof. B. Amaral , outra vez dele
gado do governo da Bahia, communi
cando a partida do Presidente para um
encontro na fronteira ..... 231
N. 72 Telegramma do Intendeute do Coité ao en
viado da Bahia pedindo instrucções sobre
a viagem... . 231
N. 73 Telegramma do enviado bahiano transmi
tindo uma proposta do Governo de Ser
gipe..... 232
N. 74 Resposta do Governador da Bahia ao seu re
presentante authorisando a favor um
accordo ..... 232
N. 75 Carta do enviado bahiano ao presidente de
Sergipe transmittindo a authorisação do
Governador da Bahia ..... 232
VII

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 76 Telegramma do enviado bahiano ao Governo


denunciando mudança na situação ...... 232
N. 77 Relatorio apresentado ao Governador da Bahia
pelo Prof. B. Amaral communicando
todos os factos occorridos e a solução do
caso ..... 234
N. 78 Trecho da Mensagem apresentada pelo Go
vernador da Bahia ao Congresso refe
rindo o que ficou assentado com o Exmo.
Sr. General Valladão, Presidente de Ser
gipe sobre a questão de limites .... 245
N. 79 Telegramma do Governador da Bahia ao Pre
sidente de Sergipe ao qual se refere este
ultimo no seu despacho n . 38 , pag.
120. (Vide doc . e pag. indicados . ) ..... 250
N. 80 Declaração dos habitantes do municipio do
Patrocinio do Coité affirmando a sua
qualidade de bahianos, a sua solidarie
dade com o Estado da Bahia e pedindo
a conservação da séde da comarca
alli ...... 252
N. 81 Pareceres do Conselho Ultramarino sobre a
creação da Ouvidoria de Sergipe ...... 260
N. 82 Ordem do Vice-Rey que prova ter o Governo
da Bahia conquistado as terras de Gere
moabo e dirigido a catequese e estabele
cimento dos indios dalli em moradas
fixas ou aldeias.. 264

N. 83 Carta regia que prova como foram anulladas


as sesmarias que não eram effectivamente
colonisadas no periodo de dous annos , o
que mostra não ter valor o argumento
de haverem todos os moradores de Ser
gipe que obtiveram sesmarias coloni
sado as terras de suas concessões ..... 265

N. 84 Copia da creação da villa da Cachoeira que


prova pertencer a seu termo todo o terri
torio ao Norte da Bahia até o Rio Real
e o mar.. 266
N. 85 Carta do ouvidor de Sergipe que creou a villa
de Santa Luzia indicando as dimensões
do termo que foi depois alterado pela
creação da villa da Abbadia . 269
VIII

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 86 Carta regia que prova haver sido feita a co


lonisação e estabelecimentos fixos nas
terras de Geremoabo pelo Governo da
Bahia... 271
N. 87 Trecho de uma carta do ouvidor de Sergipe
Martins Falcato declarando que Abbadia
não pertence a sua jurisdicção .. 273
N. 88 Carta regia que prova ter o ouvidor de Ser
gipe Soares Pinto consciencia de não
pertencerem a sua comarca as terras até
o rio Real que eram da villa da Cacho
eira tanto que pedia ao soberano a crea
ção de novas villas em Itapicurú e Ab
badia e que ficassem sujeitas a sua ju
risdicção por ser muito pequena a sua
comarca. .... 273
N. 89 Carta regia approvando a divisão das ouvi
dorias da Bahia e Sergipe pelo Subahuma 276
N. 90 Carta regia acompanhando para informar a
petição dos habitantes de Abbadia que
não queriam ficar sujeitos á jurisdicção
de Sergipe ... 277
N. 91 Carta do Vice- Rey do Brasil communicando
ao Governo que attendera á reclama
ção dos habitantes de Abbadia que pe
diam para ficar na jurisdição da comarca
da Bahia por haver sido sempre o seu ter
ritorio da Cachoeira e pelos excessos
que soffriam das autoridades de Sergipe 281
N. 92 Carta regia approvando o acto do Vice-Rey
que attendendo a peticão dos habitantes
de Abbadia os conservou na jurisdicção
da Bahia.... 283
N. 93 Carta em que o Vice-Rey do Brasil declara
que absolutamente não convinha que
os habitantes de Abbadia e Itapicurú
ficassem sujeitos a Sergipe , á vista dos
pedidos que haviam feito desde que as
villas foram creadas , das ameaças sffridas
pelos mesmos e das inimisades já exis
tentes ... 284
N. 94 Carta do Vice- Rey do Brasil ponderando a
difficuldade de attender o ouvidor da
comarca da Bahia a todes as villas da
sua jurisdição, como eram Abbadia,
Itapicurú , Ilheos e Ryo de Contas .... 285
IX

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 95 Carta regia mandando que o Vice-Rey indi
que a providencia a tomar para acudir
com a justiça a territorio tão vasto pois
que uma só ouvidoria comprehendia
Abbadia, Itapicurú , Ilheos, etc. , o que
mostra ter o governo plena consciencia
de que Abbadia e Itapicurú pertenciam
á jurisdicção da Bahia .. 287
N. 96 Carta do Vice-Rey do Brasil declarando que
a providencia a tomar para que não
faltasse justiça a Itapicurú , Abbadia,
Ilhéos . Minas Novas etc. era dividir tão
grande ouvidoria creando uma outra que
devia ter a sua sede em Jacobina ………………. 260
N. 97 Parecer do Conselho Ultramarino o qual
declarou peremptoriamente que não con
vindo annexar a villa de Abbadia a
Sergipe pelas rasões já expostas , opinou
fosse creada a nova ouvidoria de Jaco
bina, sendo da mesma opinião o Procu
rador da Corôa, parecer com o qual o
Rey se conformou no seu despacho defi
nitivo ... 294
N. 98 Carta regia creando a nova ouvidoria da
Jacobina, o que, á vista da correspon
dencia anterior e das razões exaradas
nos respectivos pareceres, resolve a
questão de Abbadia e Itapicurú que
permaneceram na jurisdição da comarca
da Bahia, de accordo com 0 que
sempre existira e com o desejo dos habi
tantes . 294
N. 99 Carta Regia mandando informar a petição
do ouvidor da Jacobina que solicitava
fossem annexas as villas de Itapicnrú
e Abbadia á sua comarca . 296
N. 100 Petição do ouvidor da Jacobina no sentido
de ficarem annexas á sua comarca as
villas de Itapicurú e Abbadia , o que aliás
não se fez ... 297
N. 101 Conflicto de jurisdição que prova terem as
autoridades de Sergipe pretendido exer
cer jurisdicção em Geremoabc , provo
cando uma solução do Vice-Rey do
Brazil que lhes foi contraria . ... 298
X

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 102 Parecer do Conselho Ultramarino sobre o


recurso que as autoridades de Sergipe
tinham interposto do despacho do Vice
Rey, parecer que tambem foi contrario
á tentativa de usurpação assim como a
Procuradoria da Corôa e com o qual se
conformou o soberano .... 300
N. 103 Carta regia resolvendo definitivamente que
Geremoabo pertencia á jurisdicção da
comarca da Bahia por fazer parte da villa
de Itapicurú .... 302
N. 104 Carta regia que prova terem as autoridades
de Sergipe consciencia de não perten
cerem ao seu territorio as villas de Ita
picurú e Abbadia , tanto que, allegando
pobreza para justificar a falta de paga
mento de impostos , supplicavam se jun
tasse á sua jurisdicção as villas referidas,
promettendo com essa ajuda melhor cum
prirem as suas obrigações com a fazenda
real ...
..... 303.
N. 105 Carta regia que demonstra terem as auto
ridades de Sergipe feito denuncias e in
sinuações ao soberano no sentido de al
legar que em Geremoabo não havia jus
tiça, o que dá a entender seria remedio
para isso se lhe fosse entregue a juris
dicção do referido territorio .... 305.
N. 106 Trecho de uma carta ao Governo pelo vigario
de Geremoabo, em que diz ir a sua fre
guezia até as primeiras fazendas do ·
Porto da Folha, o que prova não exer
cerem as autoridades de Sergipe juris
dicção a oeste daquelle ponto .. 306
N. 107 Trecho de uma carta do vigario de Itapicurú
dirigida ao Governo , que diz dividir-se a
sua freguezia pelo rio Real ...... 308
Ns. 108 , 109 , 110 , 111 Ordem regia mandando que
as Camaras do Brasil façam descripções
dos seus termos e correspondencia sobre
este ponto 108
N. 112 Descripção do termo de Itabayana, que prova
pelo orgão insuspeito da sua camara ser
a divisa com Geremoabo pelo riacho Ja
coca, pequeno affluente do rio Vasa
Barris ... 313
XI

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 113 Descripção insuspeita da Camara de Villa


Nova del - Rey , que prova separar-se o
respectivo termo do territorio da Bahia
(Pambú, parte de Geremoabo ) pelo riacho
cho Mochotósinho, hoje Xing6 ....... 314

N. 114 Descripção do termo do Lagarto pela sua


propria camara , que declara separar- se o
seu territorio de Geremoabo pelas mat
tas de Simão Dias e indica o ponto que
estiver distante daquella villa cinco (5 )
leguas. As mattas de Simão Dias for
mam o que se chama hoje Malhada
Vermelha ou Patrocinio do Coité ...... 319
N. 115 Descripção do termo de Santo Amaro de
Brotas , em que a camara declara que o
rio Sergipe nasce entre o Porto da
Folha e Geremoabo... 321
N. 116 Descripção do termo de Santa Luzia, em
que a propria camara dá como seu li
mite preciso com Abbadia o rio In
diaroba 328
N. 117 Carta do vigario de Pé do Banco , dirigida ao
governo, em que o parocho, do mesmo
modo que a Camara de Santo Amaro de
Brotas, diz que o rio Sergipe nasce entre
Porto da Folha e Geremoabo ..... 330

N. 118 Escriptura de doação , que prova haver sido


Garcia de Avila o verdadeiro possuidor
das terras de Geremoabo . 335
N. 119 Mappa da freguezia de Santo Antonio de
Urubú de Baixo, que prova ser ella se
parada da Bahia (Pambú ) pelo riacho
Xingó .... 340
N. 120 Mappa que demonstra o numero das fre
guezias de Sergipe nos meiados do se
culo 189 ... 341
N. 121 Carta em que o Governo reprehende a Ca
mara de Lagarto, por ter excedido o
limite de sua jurisdicção , querendo exer
cel-a no Cumbe .. 345
N. 122 Carta do Governo á Camara de Abbadia,
communicando que havia providenciado
para conter a Camara de Lagarto nos
seus limites legaes .... 347
XII

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 123 Patente que prova ir o limite da jurisdicção


da villa de Abbadia até o rio Saguim.. 348
N. 124 Carta em que o Governo declara precisa
mente que, após estudo do caso , o ter
ritorio de Abbadia vae até o rio Sa
guim ... 349
N. 125 Carta do Governo, confirmando que a di
visoria entre as villas de Santa Luzia
e Abbadia é pelo rio Saguim ... 350
N. 126 Certidão que prova ter sempre o Juiz de Ge
remoabo exercido a sua jurisdicção nas
mattas de Simão Dias , hoje Patrocinio
do Coité... 351
N. 127 Resolução do Rey , desmembrando do ter
ritorio de Geremoabo a nova freguezia
de Bom Conselho .. 355
N. 128 Alvará do Rey, mandando dar para limites
da nova freguezia os que haviam sido
indicados pelo capellão João de Barros .. 356
N. 129 Provisão do arcebispado da Bahia , dando o
traçado dos limites da nova freguezia,
indicado pelo capellão João de Barros ,
segundo a ordem contida no Alvará .... 357
N. 130 Decreto que separou Sergipe da Bahia sem
alterar os limites que até ahi tinha ..... 361
N. 131 Processo feito no engenho do Coité pelas au
toridades da Bahia em 1828 , que prova
a jurisdicção até aquelle logar sempre
exercida pelas referidas autoridades sem
protesto nem reclamação, por ser de ac
cordo com todas as leis e resoluções do
poder competente ... 362
F. 132 Decreto da Regencia, creando a villa de
Geremoabo com tres freguezias, entre as
quaes a de Bom Conselho, com todo o
territorio que lhe pertencia.. 366
N. 133 Officio da Camara de Abbadia, desvelando
os projectos que , acerca de apossar-se do
seu territorio , voltavam a nutrir as auto
ridades de Sergipe .... 367

N. 134 Renovação de tentativas por parte do Go


verno de Sergipe para se apossar de
parte do territorio da Bahia em Abbadia 370
XIII

Documentos ASSUMPTOS Pags,

N. 135 Parecer do Presidente da Bahia sobre a pre


tenção que manifestara o Governo de
Sergipe de se apoderar de parte do ter
ritorio da Bahia .. 371
N. 136 Officio do Presidente da Bahia sobre as pre
tenções que nutria o Governo de Ser
gipe de augmentar o seu territorio á
custa da Bahia e sobre a repulsa dos ha
bitantes da zona pretendida por tal an
nexação 372
N. 137 Ordem do Presidente da Bahia que prova a
sua jurisdicção ininterrompida sobre o
territorio do Bom Conselho na parte que
entesta com Sergipe…………. 373
N. 138 Officio do Presidente da Bahia sobre a usur
pação e invasão de territorio da Abbadia
tentados pelo Governo de Sergipe ...... 374

N. 139 Projecto do Governo de Sergipe tendente a


se apossar de territorios pertencentes a
Bahia no municipio de Abbadia . . . . . . . 475

N. 140 Representação da Camara de Abbadia contra


a usurpação e iuvasão do seu territorio
pelo Governo de Sergipe que pretendia
annexal- o 376
N. 141 Officio do Presidente da Bahia reclamando
contra a usurpação do territorio da Bahia
pretendida pelo Governo de Sergipe .... 378
N. 142 Parecer do Conselho de Estado que julgando
não podia o Governo de Sergipe crear
uma freguesia no territorio que pretendia
sem a solução dada pelo poder compe
tente , entretanto , manteve á titulo pro
visorio , a usurpação………………. 380

N. 143 Decreto entregando á titulo provisorio a Ser


gipe o territorio bahiano que por elle
havia sido annexado abusivamente e
illegalmente………….. 383

N. 144 Reclamação da Camara de Abbadia contra o


esbulho que havia soffrido na parte do
seu territorio que o Governo de Sergipe
havia annexado e pedindo a revogação
do decreto de 1843 . 384
XIV

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 145 Parecer da Camara dos Deputados contrario


ao decreto de 1843 que havia mantido a
usurpação que o Governo de Sergipe
havia feito annexando parte do territorio
da Bahia julgando-o illegal e inconstitu
cional..... 386
N. 146 Acta da sessão da Camara de Itapicurú da
qual consta haver se constituido a villa
de Geremoabo tendo por termo tres fre
guezias entre as quaes a do Bom Con
selho com todo o territorio que lhe perten
cia, na forma da lei da Regencia de 1831 . 389
N. 147 Renovação de tentativas por parte do Go
verno de Sergipe para se apossar de parte
do territorio da Bahia , desta vez do lado
de Geremoabo seguindo o mesmo pro
cesso usado com Abbadia ... 392
N. 148 Officio da authoridade policial de Sergipe que
demonstra ser reconhecida a jurisdicção
da Bahia na parte da freguesia do Bom
Conselho chamada Malhada Vermelha ou
Coité ... 394
N. 149 Ordem do juiz de Itapicurú mostrando a au
thoridade incontestada da Bahia sobre o
Coité ..... 395
N. 150 e 151 Correspondencia entre as authoridades
da Bahia e Sergipe mostrando como foi
sempre respeitada como legal a fronteira
da Bahia com Sergipe no Coité .... 396

N. 152 Officio que prova a jurisdicção da authori


dade de Itapicurú sobre o Coité ..... 397
N. 153 Officio que prova a jurisdicção da Bahia sobre
o Coité ... 397
N. 154 Ordem da authoridade bahiana sobre todo o
territorio de Geremoabo .... 399
N. 155 Officio da authoridade de Geremoabo trans
mittindo as ordens do Governo da Bahia
para o Coité .. 399
N. 156 Officio do Juiz de Geremoabo dando conta
ao Governo da Bahia de factos que se ha
viam passado na parte da freguesia do
Bom Conselho chamada Malhada Verme
lha ou Coité ..... 400
XV

Documentos ASSUMPTOS Pags.

N. 157 Lei da Provincia da Bahia dando outro nome


á parte mais septentrional da antiga fre
guesia de Geremoabo , villa desde 1831 402
N. 158 Lei da Bahia creando a villa de Bom Con
selho e constituindo o seu municipio
com o territorio das duas freguezias de
Bom Conselho e Coité ..... 404
N. 159 Lei da Bahia creando a villa de Coité ...... 404

N. 160 Reclamação dos habitantes da Malhada Ver


melha ou Coité pedindo ao Governo da
Bahia uma escola.. 404
N. 161 Officio da camara de Geremoabo informando
sobre a creação de uma escola no Coité 406

N. 162 Lei da Bahia creando a freguesia de Nossa


Senhora do Patrocino do Coité, lei na
qual foram escrupulosamente respei
tados os limites dados a freguezia de
Bom Conselho, pelo Alvará de 1818 a lei
da Regencia de 1831 ..... 406
N. 163 Officio da camara de Geremoabo infor mando
ao Governo da Bahia sobre o Coité ..... 408
N, 164 Acta da installação da camara de Bom Con
selho que prova ter sido constituido o
municipio sem alteração do territorio
que lhe cabia pelas leis anteriormente
existentes. 408

N. 165 Acta da installação da camara de Patrocinio


do Coité que prova ter sido constituido
o municipio sem alteração do territorio
que lhe cabia pelas leis anteriormente
existentes .... 410
N. 166 Acta da camara da villa do Patrocinio do
Coité adherindo a republica.... 413
Ns. 167 , 171 , 172 , 173 , 174 Recibos de pagamentos
feitos a Camara de Coité por habitantes
do Sacco que provam ter sempre perten
cido ao referido municipio aquelle ter
ritorio do qual pretendeu apoderar-se o
Governo de Sergipe pondo lá guarnição
e fasendo a proposta de 3 de Fevereiro
de 1914 , (vide docs . ns . 38 , 51 , 57 , 58 ) . 415 , 419 , 420
XVI

Documentos ASSUMPTOS Pags.


Ns . 168 , 169 , 170 Mandados requisitorios para pa
gamentos de impostos atrasados que
mostram ter sido sempre ininterrupta
mente reconhecida a jurisdicção da Bahia 1
sobre todo o Coité... 417, 418
N. 175 Projecto apresentado a Assembléa de Sergipe
ao mesmo tempo que apparecia na Ca
mara Federal o projecto Moreira Guima
rães, tentando annexar o ultimo delles a
Sergipe quasi todo o territorio de quatro
municipios da Bahia e o primeiro o mu
nicipio de Coité, reprodusindo a ten
tativa indicada no doc. n . 147. Coteje-se
com os docs . ns . 101 , 102 , 103 , 128 , 129 ,
132 , 126 ... 121
Ns . 176 , 177 Certidões de quinhões feitos no Coité,
incluindo um no Sacco , provando a ju
risdicção da Bahia sobre aquellas terras 423
Ns . 178 , 179 Copias de cem registros das terras do
Coité e cem das de Geremoabo feitos
pelos proprietarios , o que prova ser por
todos reconhecida a legitima jurisdicção
da Bahla sobre aquelles logares .. 427,494

Para retificação de algumas datas , correcção de pequenos


enganos de lettras e indicação de certos trechos de documentos
que devem ser lidos gryphados vide Errata e Observações no
fim do volume.
LIMITES DA BAHIA COM SERGIPE

N. 1

Nomeação do Dr. Braz do Amaral


para investigar e estudar as questões de
limites da Bahia.

DECRETO

O Doutor Governador do Estado resolve designar


o Dr. Braz Hermenegildo do Amaral , lente de Historia
.
Universal e do Brasil do Gymnasio da Bahia, para , em
commissão, sem prejuizo de seus vencimentos , encar
regar-se de pesquizar nos Archivos Portuguezes , espe
cialmente no Ultramarino , que constitue uma das
secções da Bibliotheca Nacional de Lisboa e no da
Torre do Tombo , varios documentos que se fazem pre
cisos para esclarecer e firmar os direitos deste Estado
nas questões de limites existentes entre o mesmo e
outros Estados visinhos .
Palacio do Governo do Estado da Bahia , 12 de
Agosto de 1912 .-( Assignados ) J. J. SEABRA .-
Arlindo Fragoso .
LIMITES
2 LIMITES

N. 2

Nomeação do Dr. Eduardo Espinola


para estudar e dar parecer sobre as
questões de limites da Bahia.

DECRETO

O Doutor Governador do Estado , tendo em vista a


reconhecida competencia do jurisconsulto Dr. Eduardo .
Godinho Espinola , resolve designal-o para se incumbir
do estudo , em suas relações juridicas , das questões e
documentos referentes aos limites do Estado da Bahia
com os Estados visinhos , afim de esclarecer e firmar os
direitos do mesmo sobre o que legitimamente pertence
ao seu territorio .
Palacio do Governo do Estado da Bahia , 13 de
Agosto de 1912 .-( Assignados ) J. J. SEABRA.—
Arlindo Fragoso.

N. 3

Parecer apresentado ao Governo da


Bahia pelo Dr. Braz do Amaral sobre as
questões de limites , após os estudos
feitos pelo mesmo em Portugal .

Illm . e Exm . Sr. -Desobrigando-me da incum


bencia com a qual fui honrado pelo Governo do Estado
em o mez de Agosto do anno findo , venho apresentar a
V. Ex. a exposição resumida das averiguações a que
procedi nos archivos de Lisboa , provada com OS

documentos juntos , de accordo com a demonstração


verbal que hontem fiz a V. Ex .
DA BAHIA COM SERGIPE 3

ESPIRITO SANTO - Segundo os documentos apon


tados a Capitania do Espirito Santo dividiu-se sempre
pelo rio Doce, com a de Porto Seguro , hoje incorporada
á da Bahia , por dizer a carta de doação que a pri
meira começaria onde terminasse a de Porto Seguro ,
o que equivale a marcar-lhe um limite ou ponto de par
tida, ficando provado assim que mal informado andou
o Presidente do Espirito Santo Marcos Inglez de
Souza quando , em documento official , dirigido ao Go
verno do Paiz no tempo do Imperio , affirmou que a
carta de doação de Francisco Gil de Araujo fixava o
limite pelo rio Mucury .
E de que a divisoria das duas capitanias nunca foi
esta, segundo a unica auctoridade no assumpto , que era
o Governo Portuguez , são provas exhuberantes as ins
trucções dadas ao magistrado encarregado de fundar a
ouvidoria de Porto Seguro , Thomé Couceiro de Abreu ,
e ao seu successor José Xavier Machado Monteiro , assim
como as cartas de ambos , os autos de creação das villas
fundadas por elles alem do rio Mucury , especialmente a
villa de S. Matheus , a jurisdicção dos magistrados ba
hianos até o rio Doce , jurisdicção reconhecida e confir
mada pelo mais antigo e alto tribunal da colonia , a
sesmaria concedida pelo Governador da Bahia na margem
septentrional do mesmo rio Doce, confirmada pelo Go
verno de Lisboa e innumeros outros documentos entre
os quaes avulta a confirmação original da carta de doação
passada a Antonio Luiz Gonçalves da Camara Cou
tinho , descendente de Vasco Fernandes , primeiro dona
tario do Espirito Santo, carta de confirmação na qual
não é fixado o rio Mucury para limite norte da referida
capitania , o Alvará pelo qual o rei auctorisou a venda
4 LIMITES

da capitania a Francisco Gil de Araujo , declarando que


a transmissão era exactamente egual a de que haviam go
sado os antecessores de Camara Coutinho, a sentença de
justificação da transferencia que não falla em tal limite ,
a declaração positiva de todos os governadores do Es
pirito Santo nas suas missivas officiaes de que o rio
Doce era o extremo da sua capitania e a propria consulta
do Governo do Espirito Santo a que respondeu o Aviso
de 10 de Abril de 1823 que entregou a posse do terri
torio situado ao norte do rio Doce pertencente a villa de
S. Matheus ao Espirito Santo , provisoriamente , ad
referendum de um outro poder que era o competente,
até que a Assembléa Geral resolvesse sobre os limites
das Provincias .

Parece-me pois que o Estado da Bahia pode des


assombradamente levar aos tribunaes do paiz a sua
reclamação fundada no direito que lhe assiste para
reivindicar o que legitimamente lhe pertence e agir com
vigor na defesa da justiça de sua causa para entrar na
posse do que é seu.
SERGIPE Relativamente ás fronteiras com o Es
tado de Sergipe pude apurar dos documentos vistos e
pode ser provado com as copias authenticadas e diversos
documentos outros que o districto de Sergipe era nos
fins do seculo XVII limitado a oeste pelo riacho La
garto, como diz o parecer do Conselho ultramarino
de 9 de Fevereiro de 1695 .
Averigua-se mais do exame minucioso dos do
cumentos do seculo XVIII que as auctoridades de Sergi
pe, ouvidores , camaras e capitães - móres , ha cerca de dois
seculos , pedem seja augmentado o seu territorio á custa
da Bahia e que desde o mesmo tempo as populações ba
DA BAHIA COM SERGIPE 5

hianas sentem e exprimem repulsa por tal pretensão , a


qual tomou varios pretextos e formas ; ora a de lamen
tações , por ser grande o territorio da Bahia e pequeno
o de Sergipe , ora o de queixa , exposição de miserias e
impossibilidade de pagar os impostos e fintas que cabiam
a Sergipe o que só se tornaria possivel , no dizer das ci
tadas auctoridades , se lhe fossem reunidas as novas
villas de Abbadia e Itapicurú; ora a de delações , de
nuncias de crimes e offensas á justiça no territorio ba
hiano, especialmente no de Geremoabo , o qual tambem ,
no dizer das mesmas auctoridades , só se corrigiria se
em vez dos magistrados bahianos , fossem taes terri
torios jurisdiccionados pelos magistrados sergipanos .
Apesar, porém de tão variados e insistentes esfor
ços para chegar ao mesmo fim, do estudo dos docu
mentos historicos se chega á conclusão que não só as
populações bahianas nunca toleraram a invasão imper
tinente de sua terra pelos visinhos ambiciosos , como
que a isso sempre se oppozeram os vice-reys do Brasil
e que as auctoridades de Sergipe foram auctorisadas a
intervir apenas no districto de Geremoabo e somente
no militar, afim de passar mostra, mas não quanto ao
governo civil , nem quanto á jurisdicção dos juizes e
quaesquer magistrados administrativos ou outros , por
ser o territorio citado parte da villa de Itapicurú e por
tanto sujeito á capitania da Bahia .
As copias authenticadas das Provisões de 5 de
Junho de 1723 , 20 de Fevereiro de 1726 , 4 de Feve
reiro de 1727 , 29 de Abril de 1727, 9 de Novembro de
1729 , 25 de Maio de 1737 , 6 de Fevereiro de 1739, e
1º de Abril de 1751 , assim como o officio do capitão
mór de Sergipe de 20 de Dezembro de 1734 , que está
6 LIMITES

avulso, e ainda a resposta do conde de Sabugosa de 13


de Janeiro de 1735 , demonstram bem a justiça da
questão .

As informações do conde das Galvêas de 25 de


Maio de 1737 que está no caderno de Sergipe e a
solução do governo , tambem no mesmo caderno ,

demonstram perfeitamente o que acima ficou escripto .

Tendo sido Sergipe elevado á Provincia separada


da Bahia, pelo Decreto de 8 de Julho de 1820 , foi orde
nado pelo governo em 1843 , após parecer do Conselho
de Estado , que a parte do territorio pertencente á villa
da Abbadia , situada ao norte do Rio Real , ficasse em
poder de Sergipe , emquanto a Assembléa Geral Legis
lativa não resolvesse o caso , o que demonstra ainda
nos caber o direito de pleitear pela reivindicação desta
parte do territorio bahiano .

MINAS GERAES - Relativamente á raia com O


Estado de Minas Geraes pude apurar dos documentos
compulsados que o territorio das Minas Novas do
Fanado, com a villa de Arassuahy, pertenceu á co
marca de Serro do Frio da capitania de Minas , da
qual foi desannexado para ser unido á Bahia , passando
mais tarde á reincorporar- se á referida comarca do
Serro do Frio a quem dantes pertencera .

Já nos tempos coloniaes os ouvidores do Serro do


Frio e da Jacobina disputavam sobre os pontos até onde
devia chegar a jurisdicção de cada um delles , mas não
encontrei solução dada pelo governo a estas duvidas e
conflictos de auctoridades .

O rio Pardo porém foi sempre o limite ou linha


que dividia o territorio da villa de Arassuahy do da
DA BAHIA COM SERGIPE 7

villa do Rio de Contas, pertencente á comarca da Jaco


bina, na capitania da Bahia .

Em virtude do decreto que creou a comarca do


Rio Pardo e a uniu á Minas, seguiu-se uma questão
resultante de haverem feito parte do territorio do Rio
Pardo as capellas de Santo Antonio da Barra e Con
quista o que deu motivo a uma discussão na Camara
dos Deputados e a resolução de que as Assembléas
Provinciaes se deviam pronunciar sobre o assumpto.

Julgo que este pronunciamento nunca se fez , mas


do que averiguei me parece que a Bahia tem direito á
encosta ou vertente septentrional do Rio Pardo ; em
todo o caso , por mais attentatoria que houvesse sido á
Bahia a resolução da Assembléa Geral que creou a
comarca do Rio Pardo e a uniu á Minas , foi isso uma
deliberação do corpo legislativo.

O que não merece , porém , contestação é que da


bocca do Rio Verde Grande e por este acima , do thal
weg do Verde Pequeno até as suas nascentes , vae a
nossa fronteira com Minas correndo e passando pela
barra do rio Mosquito e Vallo Fundo até o Salto Grande
do Jequitinhonha e me parece que tal divisoria deve
ser immediatamente fixada , ajustada e demarcada para
evitar situações anormaes e influencias de occasião .

PERNAMBUCO- Pelo exame dos documentos que


conheço a villa de S. Francisco das Chagas do Rio
Grande do Sul foi fundada pelo ouvidor da Jacobina
Henrique Correia Lobato, que é a mesma conhecida
actualmente com o nome de cidade da Barra .

O territorio marginal do rio S. Francisco foi con


quistado aos indigenas das tribus Acoroazes , Mocoazes
1

6 LIMITES

avulso , e ainda a resposta do conde de Sabugosa de 13


de Janeiro de 1735 , demonstram bem a justiça da
questão .

As informações do conde das Galvêas de 25 de


Maio de 1737 que está no caderno de Sergipe e a
solução do governo, tambem no mesmo caderno ,
demonstram perfeitamente o que acima ficou escripto .

Tendo sido Sergipe elevado á Provincia separada


da Bahia , pelo Decreto de 8 de Julho de 1820 , foi orde
nado pelo governo em 1843 , após parecer do Conselho
de Estado , que a parte do territorio pertencente á villa
da Abbadia, situada ao norte do Rio Real, ficasse em
poder de Sergipe , emquanto a Assembléa Geral Legis
lativa não resolvesse o caso , o que demonstra ainda
nos caber o direito de pleitear pela reivindicação desta
parte do territorio bahiano.

MINAS GERAES - Relativamente á raia com O

Estado de Minas Geraes pude apurar dos documentos


compulsados que o territorio das Minas Novas do
Fanado , com a villa de Arassuahy, pertenceu á co
marca de Serro do Frio da capitania de Minas , da
qual foi desannexado para ser unido á Bahia , passando
mais tarde á reincorporar- se á referida comarca do
Serro do Frio a quem dantes pertencera .

Já nos tempos coloniaes os ouvidores do Serro do


Frio e da Jacobina disputavam sobre os pontos até onde
devia chegar a jurisdicção de cada um delles , mas não
encontrei solução dada pelo governo a estas duvidas e
conflictos de auctoridades .

O rio Pardo porém foi sempre o limite ou linha


que dividia o territorio da villa de Arassuahy do da
DA BAHIA COM SERGIPE 7
A

villa do Rio de Contas , pertencente á comarca da Jaco


bina, na capitania da Bahia .

Em virtude do decreto que creou a comarca do


Rio Pardo e a uniu á Minas, seguiu-se uma questão
resultante de haverem feito parte do territorio do Rio
Pardo as capellas de Santo Antonio da Barra e Con
quista o que deu motivo a uma discussão na Camara
dos Deputados e a resolução de que as Assembléas
Provinciaes se deviam pronunciar sobre o assumpto.

Julgo que este pronunciamento nunca se fez , mas


do que averiguei me parece que a Bahia tem direito á
encosta ou vertente septentrional do Rio Pardo ; em
todo o caso, por mais attentatoria que houvesse sido á
Bahia a resolução da Assembléa Geral que creou a
comarca do Rio Pardo e a uniu á Minas , foi isso uma
deliberação do corpo legislativo .

O que não merece, porém , contestação é que da


bocca do Rio Verde Grande e por este acima, do thal
weg do Verde Pequeno até as suas nascentes , vae a
nossa fronteira com Minas correndo e passando pela
barra do rio Mosquito e Vallo Fundo até o Salto Grande
do Jequitinhonha e me parece que tal divisoria deve
ser immediatamente fixada, ajustada e demarcada para
evitar situações anormaes e influencias de occasião .

PERNAMBUCO- Pelo exame dos documentos que


conheço a villa de S. Francisco das Chagas do Rio
Grande do Sul foi fundada pelo ouvidor da Jacobina
Henrique Correia Lobato , que é a mesma conhecida
actualmente com o nome de cidade da Barra .

O territorio marginal do rio S. Francisco foi con


quistado aos indigenas das tribus Acoroazes , Mocoazes
8 LIMITES

e Rodelleiros pelas forças idas da Bahia e por ordem do


vice-rey D. João de Lancastre .
Não ha duvida que foi a Bahia quem conquistou,
pacificou e colonisou , estabeleceu justiça e policia em
toda a zona do S. Francisco e até ás paragens da lagôa
de Pernaguá no Piauhy, encontrando -se a este respeito
no caderno de Piauhy e Goyaz importante provisão
què é a primeira copia authenticada alli lançada , além
de outras que eu tenho em notas, sem que os meus
conhecimentos em materia de direito cheguem para
auctorisar-me a dizer sufficiente o que tenho encon
trado .
Quando tive a honra de apresentar um Memorial
ao Exmo . Sr. Secretario do Estado sobre as questões de
limites , especialmente os da Bahia com o Espirito
Santo , pedi que fosse escolhido um jurista que devia
esclarecer com o seu parecer os assumptos juridicos e
foi nomeado o Dr. Eduardo Espinola, competentissimo
jurisconsulto ao qual vou entregar immediatamente
todas as informações , notas e documentos que colhi
sobre a nossa divisa com Pernambuco .

Basta mencionar portanto apenas que em 1810


foi creada pelo governo de Portugal a comarca do
S. Francisco ficando ella em poder de Pernambuco
até que por occasião da revolta que se deu naquella
Provincia em 1824 foi a referida comarca della desmem
brada para ser incorporada provisoriamente a Minas
Geraes por um Decreto do primeiro imperador , após
parecer do Conselho de Estado .
Quatro annos depois , isto é , em 1827 , foi a referida
comarca incorporada á Bahia por uma Resolução Le

gislativa .
DA BAHIA COM SERGIPE 9
-

GOYAZ E PIAUHY-Quanto aos limites com os


Estados de Goyaz e Piauhy não me parece que seja
difficil chegar a um accordo com os mesmos, fixando
os pelas linhas de divisão das aguas .
Estes dois territorios creados capitanias indepen
dentes nos meiados do Seculo XVIII , não tem levantado
grandes questões de jurisdicção com as auctoridades
da Bahia, salvo um ou outro incidente, como o que se
deu com o Governo do Estado no tempo em que eraGover
nador da Bahia o Exmo . Sr. Dr. Severino Vieira, em
virtude do caso do Jalapão que se havia dado no periodo
quatriennal do Exmo . Sr. Cons. Luiz Vianna.
O ultimo documento authenticado do respectivo
caderno é um mappa de Goyaz , mandado levantar pelo
seu Governador D. Marcos de Noronha. Por alli se vê
que já a Capitania de Goyaz considerava legitima a
fronteira que ainda hoje conserva com a Bahia . Com
porta porém demarcal-a e fixal-a definitivamente por
uma commissão mixta de engenheiros que marque os

pontos das serras por onde manam os rios das vertentes


de oeste e de leste para ficar por ahi estabelecida no alto
dos chapadões ou nos picos separadores das aguas , a
jurisdicção de Goyaz na vertente oeste, e a da Bahia
na vertente oriental.
Julgo porém que só convirá fazer este trabalho de
pois de definitiva conclusão do caso de Pernambuco

que depende de estudo e parecer do jurista .


Finalisando tenho a declarar a V. Ex. que subio
á importancia de tresentos e cincoenta mil reis fortes ou
cerca de 70 libras esterlinas a despeza com as buscas ,
copias, authenticações , etc. , de que tenho recibo e
chegou á importancia de cem mil reis fortes on cerca
LIMITES 2
10 LIMITES

de 20 libras esterlinas o que despendi em algumas


gratificações de que não tenho recibo , conforme a ex
plicação verbal que já tive a honra de fazer a V. Ex . ,
restando portanto em meu poder cerca de 10 libras es
terlinas ou uns cento e tantos mil reis , calculando pelo
cambio em que recebi para todas as despesas um conto
e quinhentos mil reis ( 1 : 500$ 000 ) , quantia restante
sobre a qual espero as ordens de V. Ex.

Bahia, 4 de Fevereiro de 1913 .-- Dr . Braz do


Amaral.

N. 4

Parecer apresentado ao Governo da


Bahia pelo Dr. Eduardo Espinola sobre
os limites do Estado da Bahia com o
de Sergipe.

Os limites da Bahia com Sergipe não apresentam

a mesma gravidade que verificamos na questão terri


torial entre Pernambuco e a Bahia e na dos limites.

entre esta ultima e o Estado do Espirito Santo .

Não se tracta , como no primeiro caso , de provar


os direitos da Bahia sobre uma zona que lhe dispute
um Estado limitrophe ; tambem se não requer, como
no segundo, a demonstração de que pertence á Bahia
um vasto e rico territorio , subtrahido á sua adminis
tração por um acto provisorio incapaz de estabelecer
relações novas e que urge resolvido .

É bem verdade que ha pretendido Sergipe dilatar


seu territorio ás custas da Bahia .
DA BAHIA COM SERGIPE 11

Em apoio de suas aspirações , pode dizer-se, não


invoca titulo algum de natureza juridica , antes allega
que, attenta a exiguidade de suas terras , se dispoje em
seu beneficio a visinha mais favorecida . E da mesma
indole são sempre os argumentos daquelles que , pro
curadores officiaes ou officiosos , lhe defendem os in
teresses . É assim que o Presidente de Sergipe propu
nha em 1860 novos limites entre a Provincia que di
rigia e sua visinha ao sul e a oeste .
Eis os seus fundamentos :

«Olhando para a costa do Brasil , qual


quer espirito reflectido se revolta contra os
limites traçados a esta provincia pelo lado da
Bahia ; ao passo que aquella provincia tem
uma longa costa de extensão de quasi cinco
vezes a de Sergipe, ainda vem ella tirar-lhe
os fundos pelo lado do Rio S. Francisco ,
quando ainda por essa direcção o seu fundo
é quadruplo desta acanhada provincia» .

Conclue, porém , affirmando :

«Se bem que os limites desta provincia


com os da Bahia sejam muito inconvenientes ,
pela desproporção enorme que estabelece en
tre as duas provincias , como já fiz vêr , são
elles bem definidos.

O Senador Candido Mendes de Almeida tambem

propõe novos limites pelos Rios Itapicurú , Jacuricy e


Pontal , ( * ) quando não se podessem traçar- pelo mesmo
Rio Itapicurú , pelo Itapicurú-mirim e Salitre, -não

(*) Não ha rio Pontal no territorio da Bahia na zona a que se refe


ria a proposta lembrada pelo senador e geographo citado .
12 LIMITES
barrianbearsthebes

porque tenha Sergipe qualquer justa e legitima pre


tenção sobre a zona assim delimitada, mas porque

«Assim como não é conveniente a con

servação de provincias em extremo grandes ,


tambem não produz vantagens que se criem
com tão limitado territorio » .

(ATLAS, Mappa , n . XII, pag . 16 col . 1 ) .

Em Agosto de 1891 , o Deputado sergipano Dr. Fe


lisbello Freire apresentou um projecto em que propu
nha ficassem os limites de seu Estado com o da Bahia

fixados pelo seguinte modo :

"Ao occidente com o Estado da Bahia


pelo Rio Real , desde a sua foz no Rio S.
Francisco até as suas cabeceiras na serra da
Tiúba. Ao sul, ainda com o Estado da Bahia ,
pelo meio do planalto divisor das aguas do
Rio Itapicurú e Vasa- Barris , até encontrar o
planalto divisor das aguas do mesmo Rio Ita
picurú e Rio Real , e pelo meio deste planalto
até o Oceano Atlantico .

A demarcação destes limites será feita


de maneira que todo o valle do Rio Vasa
Barris fique comprehendido no territorio do
Estado de Sergipe ...»

O illustrado auctor do projecto , na impossibilidade


de justificar, sob o ponto de vista juridico , a demar
cação proposta, recorre tambem aos argumentos que se
fundam na grande desproporção entre os territorios dos.
dois Estados .
DA BAHIA COM SERGIPE 13

E, realmente, o erudito escriptor em notavel tra


balho, publicado em 1906 - Historia Territorial do
Brasil, volume 1°, deixa perfeitamente comprehender
que o conteúdo de seu projecto se não referia á questão
de limites , mas á acquisição de um territorio novo.
É por isso que nos diz:

«Quando se fala no litigio territorial entre


Bahia e Sergipe , subentende-se logo que elle
se refere á fronteira occidental , que todos os
geographos e historiadores limitam por uma
linha imaginaria partida da foz do Xingó ás
cabeceiras do Rio Real , passando pelas serras
do Capitão e João Grande ( Op . cit . pag.421 . ) . »

Adeante estabelece os verdadeiros termos da con


troversia entre os dois Estados :

Pelo lado de Sergipe as allegações são


em favor da seguinte direcção da fronteira:
foz do riacho Xingó no S. Francisco , até suas
cabeceiras e dahi em linha recta até as cabe
ceiras do Rio Real . Pelo lado da Bahia, das
cabeceiras do Xingó , descendo pelo Salgado
até sua foz no Vasa- Barris , e por este abaixo
até o Poço da Conceição , e dahi por uma curva
até as cabeceiras do Rio Real . No primeiro
caso , a fronteira tem a direcção de uma recta ,
eutre os dois pontos extremos - foz do Xingó
e cabeceiras do Rio Real . No segundo caso , a
fronteira traça uma linha curva que passa
entre Simão Dias e Cuité ( Op . cit . pag . 422 ) . »
14 LIMITES

Bem se vê, pois , que o projecto não tinha em mira


a determinação precisa da linha divisoria entre os ter
renos pertencentes a Sergipe e os da Bahia : pro
curava-se augmentar, por meios incongruentes e ex
tranhos , o solo sergipano em detrimento do bahiano .

E se para o primeiro fim é incompetente, perante


a Constituição Republicana, o Congresso Federal , ou
tro tanto, e com maior razão , devemos consideral -o em
se tractando de incorporação de territorios .

Sobre o assumpto tive occasião de me manifestar


no parecer que apresentei sobre os limites entre a Bahia
e Pernambuco . Cumpre declarar que alem da opposição
que encontrou na Camara o projecto do Dr. Felisbello
Freire, brilhantes, e muito bem fundamentados artigos
foram entre nós publicados , demonstrando o absurdo
da tentativa e a inanidade das allegações . Devemol - os
ás pennas dos Drs . José de Oliveira Campos e Fran
cisco Vicente Vianna .

Hoje os votos do presidente sergipano , do Senador


Candido Mendes e do Deputado Felisbello Freire são
irrealisaveis , salvo nos moldes do art . 4º da Consti
tuição Federal .

De feito , na conformidade do art . 2º de nossa


Magna Carta " cada uma das antigas provincias » passou
a constituir um Estado .

A situação territorial em que se encontram os


novos Estados é exactamente a mesma das antigas Pro
vincias: nenhuma alteração é actualmente possivel
contra o mutuo accordo dessas entidades politicas .
Cabe ao Poder Judiciario resolver as controversias
que entre ellas surjam quanto aos respectivos limites e
DA BAHIA COM SERGIPE 15

ás pretenções territoriaes fundadas exclusivamente em


titulos juridicos .

Para qualquer alteração , inspire-se embora nas


conveniencias geraes do País , fallece ao Poder Legisla
tivo Federal , como a qualquer outro Poder, a compe
tencia que tinha a antiga Assembléa Nacional . O unico
meio de se modificar a extensão territorial dos Estados
é o que indica o referido art . 4.°.

«Os Estados podem encorporar- se entre


si , subdividir-se ou desmembrar-se para se
annexar a outros ou formar novos Estados ,
mediante acquiescencia das respectivas as
sembléas legislativas , em duas sessões annuaes
successivas e approvação do Congresso Na
cional. >>

Faltando a acquiescencia das assembléas estaduaes ,


nada poderá fazer o Congresso Nacional , que só tem
competencia para approvar e, assim, resolver definiti
vamente (Art . 34 n.º 10 ) o que aquellas houverem
estatuido ad referendum .

A verdadeira questão dos limites entre a Bahia e


Sergipe é a que se refere ás duas linhas divisorias que
hoje prevalecem na demarcação dos territorios perten
centes aos dois Estados . A fronteira meridional de
Sergipe está traçada pelo Rio Real por virtude do
Decreto n . 223 de 23 de Setembro de 1843 .

Mostram-se com isso plenamente satisfeitos os


sergipanos , porque obtiveram uma parte do territorio
16 LIMITES

bahiano , como o reconhece o proprio decreto, cujos


termos transcrevo :

«Tendo subido a minha Imperial Pre


sença o que representou o Presidente da Pro
vincia de Sergipe a respeito de conflictos
occorridos entre as auctoridades daquella Pro
vincia e as da Provincia da Bahia por falta
da necessaria clareza em parte dos limites que
a separam .... etc . Hei por bem, tendo ouvido
o meu Conselho de Estado , e conformando-me
com o seu parecer, que a parte da freguesia
da Abbadia, NA PROVINCIA DA BAHIA, que
passa além do Rio Real , fique pertencendo á
Provincia de Sergipe , servindo o dito Rio
Real de linha divisoria entre as duas men

cionadas provincias , emquanto pela Assembléa


Legislativa outra cousa não fôr determinada . »>

Si é verdade que em 1696 , por força de carta regia


de 16 de Fevereiro , baixou D. João de Lencastro a
Portaria de 13 de Julho, creando de novo dous lugares.
de ouvidores , um na Bahia e outro em Sergipe , divi
dindo -se em Itapoan a zona jurisdiccional respectiva ,
não o é menos que, ante a reclamação insistente de
toda a população de Abbadia , Itapicurú e Inhambupe
foi esta villa unida á Bahia por carta regia de 12 de
Maio de 1730 , acontecendo o mesmo ao Itapicurú e á

Abbadia por carta regia de 3 de Julho de 1742 , quando,


attendendo á resolução do Conselho Ultramarino e aos
pedidos instantes do povo daquella zona e das auctori
dades bahianas , decidiu o Monarcha a creação da
Ouvidoria de Jacobina .
DA BAHIA COM SERGIPE 17

Tal ficou sendo a situação até quando Sergipe se


constituiu em Provincia , independente do governo da
Bahia , por decreto de 8 de Julho de 1820. Nenhuma
alteração soffreram então os limites firmados pelas
cartas regias de 1730 e 1742 .
Proclamada a Independencia do Brasil , veio Ser
gipe a ser uma de suas Provincias com o territorio que
possuia ( na forma em que se achava ) , de accordo
com o Art. 2º da Constituição Politica do Imperio .
Só em 1843 houve a alteração que mencionei , pro
movida pelo decreto n . 323 de 23 de Setembro . Como,
porém , só á Assembléa Legislativa competia fixar li
mites , sendo incompetente o Poder Executivo para
fazel-o , tem a Bahia o direito de pleitear a restituição
da parte de Abbadia ao norte do Rio Real , que lhe foi
inconstitucionalmente desannexado . Bem se vê , pois ,
que, longe de ter Sergipe qualquer titulo juridico a
The auctorisar a pretenção sobre o territorio ao sul do
Rio Real , é , ao envez , devedor de terras que lhe ficam
ao norte .

A mesina auctoridade competente - o Governo


Português , que lhe attribuira as Villas de Inhambupe,
Itapicurú e Abbadia , lh'as retirou, por titulo legitimo ,
restituindo-as á Bahia .

Quanto aos limites occidentaes de Sergipe , reco


nhecem todos que os pontos extremos são: a foz do
Xingó ao Norte e as cabeceiras do Rio Real ao Sul . A
divergencia consiste no modo de se traçar a linha divi
soria: a Bahia defende uma linha curva que passa entre
o Simão Dias e Coité; Sergipe quer uma linha recta
que lhe attribúa tambem esta parte . Não me foi possi
vel consultar documentos que demonstrem de que lado
LIMITES 3
18 LIMITES

se ache a razão quanto aos pretendidos direitos sobre


Coité; os a que se refere o Dr. Felisbello Freire nada
têm de convincentes e decisivos .
Si attendermos , porém , á circumstancia de se
apresentar no parecer do Conselho Ultramarino de 9
de Fevereiro de 1695 como limite occidental de Ser

gipe o Rio Lagarto , e se considerarmos que, ainda a


leste do Xingó havia uma parte (antigas freguesias de
S. Gonçalo do Pé do Banco e Santo Antonio do Urubú
de Baixo ) pertencente á Bahia , sem que haja noticia do
titulo que lh'a retirou , podemos affirmar que , traçados os
limites occidentaes de Sergipe pela forma que a Bahia
sustenta, nenhum prejuizo em seus direitos tem aquelle
Estado .

É o meu parecer . - Eduardo Espinola .


Bahia, 16 de Junho de 1913 .

N. 5

PROJECTO

O Congresso Nacional decreta :


Art . 1º-O Estado de Sergipe fica limitado do
seguinte modo : Ao norte pelo Rio Xingó desde as suas
cabeceiras ao Rio S. Francisco e pelo rio S. Francisco
até a sua foz no Oceano Atlantico .
Ao occidente por uma linha recta entre a verda
deira cabeceira do Rio Real e a do rio Xingó .
Ao sul pelo rio Real desde as suas cabeceiras até
o Oceano Atlantico .

Art . 2º -Revogam-se as disposições em contrario .


Sala das sessões , 13 de Novembro de 1913 -Mo
reira Guimarães. -Dias de Barros.- Felisbello Freire.
DA BAHIA COM SERGIPE 19

-A. Lopes.-Monteiro de Souza .-Pereira Braga.


Metello Junior.- Thomaz Delphino . - Porto Sobrinho.
-Alves Costa. - Lamenha Lins.-Hosannah de Oli

veira.- Caetano de Albuquerque .-R. Arthur.—Firmo


Braga.-Beserril Fontenelle.- Souza e Silva.- Ni
canor Nascimento . Tiburcio de Carvalho . - Agapito
dos Santos. - Lourenço de Sá.-Borges da Fonseca.
Jacques Ouriques.- José Tolentino.- Cunha Vascon
cellos. - Joviniano de Carvalho.- Salles Filho . - N.
Camboim . Floriane Britto .-Joaquim Pires.

131 SESSÃO DA CAMARA DOS DEPUTADOS EM 13 DE


NOVEMBRO DE 1913

O sr. Moreira Guimarães -Sr . Presidente, começo

agradecendo a gentileza captivante do illustre represen


tante do Ceará, que ora me concede uns tantos minutos
que ainda lhe cabiam para o desenrolar da sua brilhante.
oração, accentuando assim o meu reconhecimento ao
meu velho camarada e querido amigo Sr. Thomaz Ca
valcanti .
Traz-me á tribuna Sr. Presidente, um dever sa
grado: venho apresentar á Camara republicana um pro
jecto republicano .
«Em sua plataforma lida aos 26 de Dezembro de
1909 no Theatro Municipal desta cidade , o honrado sr .
Marechal Hermes da Fonseca dizia:

"A divisão territorial sob o prisma politico


administrativo que nos vem do Imperio e a
Republica manteve não é equitativo . Estados
ha de enorme extensão territorial e de ri

queza invejavel em contraste com a pequenez


20 LIMITES

e a pobreza de outros , alguns dos quaes perio


dicamente flagellados pela fatalidade de acci
dentes naturaes que mais aggravam a sua

penosa situação . »

Essas palavras valem sem duvida como um pro


gramma para os estadistas de nossa Patria que olhando
.
para as dimensões sob certo ponto de vista exagge
radas de nossa terra, deviam , inspirados pelo proprio
regimen federativo , enfrentar desde logo o problema
da divisão territorial do Brasil .
Mas , sr. Presidente, o illustre Marechal Hermes.
da Fonseca lançou essas palavras que andam por ahi

na cabeça de cada patriota , de cada senador, de cada


deputado , de cada estadista ...
O sr. Pedro Lago -- Não acredite V. Exa . nisso .
O sr. Moreira Guimarães Admira-me que o nobre

deputado enuncie semelhante proposição quando S. Ex .


apreciador do regimen federativo , ha de comprehender
que a federação não será uma realidade emquanto
existir a divisão territorial que nós acceitamos do
Imperio.
Mas o Imperio podia fazer o que fez; com a igno
rancia da epoca, podia fazer aquillo que effectiva
mente realisou .

O aparte do nobre deputado ia desviando-me do


assumpto que me trouxe á tribuna, em que não me
alimenta o desejo de discutir esta questão momentosa da
divisão territorial da nossa Patria .

A questão que me preoccupa neste momento é


modesta, é simples , é elementar.

O Art. 4º da Constituição da Republica , diz:


DA BAHIA COM SERGIPE 21

Os Estados podem encorporar- se entre


si, subdividir- se ou desmembrar-se para se
annexarem a outros ou formarem novos Es
tados , mediante acquiescencia das respectivas
Assembléas Legislativas em duas sessões an
nuaes successivas e approvação do Con
gresso Nacional.

Eu não venho tratar da incorporação do Estado


de Sergipe a este ou aquelle territorio da Republica .
Sergipe é um Estado autonomo e zela a sua autonomia.
Nós, portanto , da Camara federal, tinhamos de
ser chamados a resolver a materia; o Congresso Nacio
nal tem que apparecer para resolver a especie. Mas a
questão capital , essencial , não está no sul; a questão
está no occidente . E ahi a questão tem dado logar a
conflictos de tal natureza que não se sabe bem como a

administração , quer de Segipe , quer da Bahia, póde


resolver os seus problemas de economia do Estado .

A Camara, conseguintemente, carece de resolver a


questão momentosa . E tanto mais quanto , no caso ,
ella surge, como uma medida de conciliação entre os
dous Estados . Quando fui encarregado pelo eminente
Presidente de Sergipe, Sr. general Siqueira de tratar
desta questão , em que, com as luzes dos meus collegas
de bancada, pude confeccionar, o projecto de agora ,
desde logo procurei o distincto leader da bancada da
Bahia, meu bom collega e distincto amigo o Sr. Depu
tado Mario Heimes , e travei com elle mais de uma pa
lestra sobre o assumpto e mostrei , então nessas palestras ,
os intuitos nobres de Sergipe e , ao ouvir a palavra do
illustre representante da Bahia, immediatamente com
22 LIMITES

prehendi que o cerebro delle , tcdo o seu coração , todo o


seu espirito estavam animados pelos mesmos nobres
intuitos que inspiraram e inspiram a alma de Sergipe .
Mas, a questão, como eu disse , é no occidente. Poist

bem, esta questão fez com que em 1867 , aos 2 de agosto,


um projecto viesse á Camara dos Deputados , apresen
tado pelo representante de Sergipe Sr. Bethencourt
Sampaio.
Mais tarde , em 1882 , aos 11 de Agosto , o Deputado
de então, hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal ,
o notavel sergipano Dr. Coelho e Campos, apresentou
um projecto envidando esforços para bem resolver a
questão. Cada um desses Deputados , ao seu tempo ,
justificou o projecto .
Em 1891 , aos 4 de Agosto , o illustre representante
de Sergipe, meu collega de bancada, Sr. Felisbello
Freire apresentou excellente projecto . Nenhum dos
dous primeiros Deputados sergipanos havia apresen
tado um projecto com aquella amplitude do historiador
de Sergipe . Mas , tambem, nenhum delles tinha cabe
dal historico e geographico que pudesse aconselhar a
apresentar um projecto de tamanha importancia .
E ' que o Sr. Felisbello Freire , habituado a pes
quizar documentos da historia e da geographia , poude,
estudando o assumpto com segurança , poude, dizia eu,
comprehender claramente que sua terra , o nosso ama
do Estado de Sergipe, era effectivamente limitada , ao
norte , pelo S. Francisco , com Alagoas, e que a coloni
zação sergipana, a colonização daquella época , foi , de
léste a oeste, penetrando pelos sertões de Sergipe, foi
até Massacará e Geremoabo e foi até zonas outras que

hoje estão indevidamente sob a jurisdicção da Bahia,


DA BAHIA COM SERGIPE 23

O Sr. Pires de Carvalho- Sempre pertenceram ao


Estado da Bahia .
O Sr. Moreira Guimaraes -E o illustre represen
tante da Bahia diz que sempre pertenceram á Bahia ...
Mas eu estou mostrando aos illustres representantes da
Bahia que o illustrado representante de Sergipe , com
seus estudos de historia , com seus trabalhos de geogra
phia, poude traçar linha outra e foi até Geremoabo e
Massacará, foi até proximo da cachoeira de Paulo
Affonso . De modo que quem dá um aparte nas condi
ções do representante da Bahia é preciso que venha
dizel -o com documentos em mão, com provas seguras ,

porque affirmação sem provas contra affirmação não


vale cousa nenhuma.
O Sr. Pires de Carvalho- V . Ex . deve me fazer

justiça porque eu tenho empenhado o meu esforço no


estudo deste assumpto.

V. ex . comprehende que em materia que tanto in


teressa ao patriotismo sergipano como ao patriotismo
bahiano a bancada bahiana não pode absolutamente
ceder, nesse ponto, uma linha, no seu patriotismo .
O Sr. Moreira Guimarães- Perdão , não se trata
disto ...
O sr. Pires de Carvalho- V. Ex . tomou o meu
aparte para argumentar logo com a difficuldade de dis
cutir seu projecto ...

V. Ex. sabe que sou homem habituado á lucta e


não desconhece que me empenho no estudo ; não o farei
com o brilhantismo de V. Ex . , mas fal-o -hei com a
sinceridade de quem sente, de quem crê.
Ando a começar a minha vida parlamentar...
O sr. Antonio Moniz -V . Ex . conhece o trabalho
24 LIMITES

elaborado pelo eminente historiador e gecgrapho Dr.


Braz do Amaral?

O sr. Moreira Guimarães- Sei que no momento


está sendo publicado na Bahia .
O Sr. Antonio Muniz E' um trabalho conscien
cioso, feito em Portugal...
O Sr. Moreira Guimarães --V . Ex . o conhece ?
O Sr. Antonio Muniz -- Não .
O Sr. Moreira Guimarães - Então , estamos
situação de não poder discutir com esse trabalho do
Dr. Braz do Amaral.
O Sr. Antonio Moniz- Eu me abstenho de dis
cutir antes de conhecer e V. Ex . está discutindo sem
conhecer.

O Sr. Pedro Lago - Sobre os limites da Bahia ,


com Sergipe existem diversas monographias e posso
trazel-as amanhã.
O Sr. Moreira Guimarães Ainda bem que os re

presentantes da Bahia, intelligentes e patriotas , me


ouviram, logo no começo de minha oração, affirmar
que, nesta questão , si eu fallava em nome do patriotis
mo de Sergipe, esperava que o patriotismo da Bahia
tambem se manifestasse . Não neguei , portanto , patrio
tismo aos representantes da Bahia , e seria incapaz de o
fazer.
O Sr. Pires de Carvalho - Perfeitamente, porque

nos injuriaria, o que não é proprio nem do logar, nem


de V. Ex.
O Sr. Moreira Guimarães Estou, por ora, muito
ao de leve, justificando o projecto ; nem siquer o posso
discutir já e já, porque isto me obrigaria a estudo mais
amplo, mais vasto, mais completo, e a hora do expe
DA BAHIA COM SERGIPE 25
‫ފނނ‬

diente não m'o permitte . O meu collega quiz arrastar


me a discussão do assumpto ...
O Sr. Pires de Carvallio- Absolutamente não.
O Sr. Moreira Guimarães-... e outro distincto
Deputado appellou até para um trabalho que se está
publicando na Bahia e que S. Ex . mesmo não conhece.
O Sr. Antonio Muniz- Por isto , acho que se deve
aguardar a publicação.
O Sr. Moreira Guimarães-Mas eu conheço traba
lhos outros da Bahia e o illustre representante bahiano
que me aparteia tambem os conhece; façamos obra com
esses trabalhos que já conhecemos , já que por ora não
o podemos fazer com aquelles que não conhecemos ...
O projecto do illustre representante de Sergipe o
Sr. Deputado Felisbello Freire deu logar a um estudo
admiravel , feito por bahianos illustres ...
O Sr. Presidente - Peço licença ao orador para
lembrar que está a terminar a hora do expediente .
O Sr. Moreira Guimarães -Vou attender a V. Ex .
com o maximo prazer.

Em um trabalho mandado organizar pelo distincto


ex-Presidente da Bahia Sr. Dr. José Gonçalves da
Silva, trabalho dos illustres patricios Dr. José de Oli
veira Campos , director da Bibliotheca Publica , e Dr.
Francisco Vicente Vianna, director do Archivo Publico
.
da Bahia, nesse trabalho , ia eu dizendo , vamos en
contrar os elementos seguros para a defesa do projecto
actual.

Dada a angustia do tempo , não posso dizer mais ,


não posso adeantar argumentos em prol do projecto ;
no emtanto , não me furto ao dever de ler algumas pa
lavras do trabalho do Dr. José de Oliveira Campos .
LIMITES 4
26 LIMITES

O trabalho do Sr. Felisbello Freire , como disse, era

um trabalho completo , era um trabalho inspirado pela


alma de um historiador e de um geographo . Pois bem;
esse trabalho deu logar, como eu dizia ha pouco , á
existencia de duas monographias excellentes organiza
das na Bahia.

Nessa , do Dr. José de Oliveira Campos , encontra


mos ás pags . 7 e 8 o seguinte :

«Separado Sergipe da Bahia, levou em


repetidos conflictos de jurisdicção pelo lado
do sul, até que em 1843 foi demarcado o limite
deste extremo pelo decreto n . 323 , de 23 de
setembro de 1843. No emtanto , no projecto
em discussão (projecto do Sr. Felisbello apre
sentado em 1891 ) , despreza-se este limite .
Ainda mais: .

«Este limite do lado do sul pelo rio Real


é antiquissimo e o proprio auctor do projecto
o reconhece » .

Mais adeante , nesse mesmo trecho, diz o Dr. José


de Oliveira Campos :

«Neste ponto estão accórdes todos que


teem escripto sobre a chorographia do Brazil .
E o senador Candido Mendes , em seu Atlas , á
pag. 15 , affirma que , conforme as actuaes di
visas , confinam , etc. , etc. »

Mais adeante, citando phrases do actual ministro


do Supremo Tribunal Federal Sr. Dr. Coelho e Cam
pos , o Sr. Dr. José de Oliveira Campos declara :

«Todos reconhecem que no oeste , etc. »


DA BAHIA COM SERGIPE 27

Antes de proseguir a leitura, devo dizer que, rela


tivamente ao sul , parece que os dignos representantes
da Bahia não teem duvidas .
O Sr. Pedro Lago Não tenho duvidas sobre
ponto nenhum .
O Sr. Moreira Guimarães -Ainda bem que a pa
lavra de S. Ex. vem em meu auxilio , podendo amanhã
ou depois ser ella lembrada em pról do projecto que ora
apresento á Camara .
Mas , vejamos o que se lê nesse trabalho :

«Todos reconhecem que no oeste exis


tem dous pontos fóra de duvida , como já de
monstrámos com as proprias palavras do Sr.
Dr. Coelho e Campos , que são as vertentes do
rio Real, ao sudoéste, e o rio Xingó, até as
cabeceiras, ao norte . »>

São palavras do escriptor da monographia man


dada confeccionar pelo ex- Governador Dr. José Gon
çalves da Silva .
O Pires de Carvalho- V . Ex . acceita as conclusões
desse trabalho do Dr. Oliveira Campos?
O Sr. Moreira Guimarães - Estou tirando argu
mentos para a defesa do nosso projecto .
Sr. Presidente , vejo que a hora não me permitte a
explanação completa do assumpto , e , a exemplo do pro
ceder do meu querido collega Sr. Thomaz Cavalcanti ,
eu pediria a V. Ex. a gentileza de me inscrever no ex
pediente da proxima sessão , afim de terminar o meu
estudo com respeito ao assumpto ; justificando de modo
insophismavel , de maneira cabal , o projecto que ora
submetto ao estudo e ao elevado criterio da Camara dos
28 LIMITES

Deputados . (Muito bem; muito bem . O orador é viva

mente cumprimentado . )
O Sr. Presidente -O nobre Deputado ficará ins
cripto para fallar na proxima sessão .
Vem á mesa e é lido o seguinte

PROJECTO

O Congresso Nacional decreta :


Art . 1.º O Estado de Sergipe fica limitado do
seguinte modo:
Ao norte, pelo rio Xingó , desde as suas cabeceiras
ao rio S. Francisco , e pelo rio S. Francisco até a sua
fóz no oceano Atlantico ;
Ao occidente, por uma linha recta entre a verda
deira cabeceira do rio Real e a do rio Xingó ;
Ao sul , pelo rio Real desde as suas cabeceiras até
o Oceano Atlantico .

Art. 2.º Revogam- se as disposições em contrario .


Sala das sessões , 13 de novembro de 1913.
Moreira Guimarães. — Dias de Barros. - Felisbello

Freire.-A. Lopes . -Monteiro de Souza.- Pereira


Braga.—Metello Junior.-Thomaz Delphino .- Porto
Sobrinho.- Alves Costa .- Lamenha Lins .-Hosannah

de Oliveira.- Caetano de Albuquerque.-R. Arthur.


-Firmo Braga. -Beserril Fontenelle.-Souza e Silva.
-Nicanor Nascimento.- Tiburcio de Carvalho .- Aga

pito dos Santos. - Lourenço de Sá.-Borges da Fonseca.


-Jacques Ouriques.-José Tolentino. - Cunha Vascon
cellos .-Joviniano de Carvalho. -Salles Filho . - N.
Caboim.-Floriano Britto.-Joaquim Pires.
DA BAHIA COM SERGIPE 29

DISCURSO PRONUNCIADO NA SESSÃO de 14 de NOVEM


BRO DE 1914

O Sr. Moreira Guimarães Sr. Presidente , procu

rando justificar o projecto que hontem submetti ao alto


criterio da Camara, expendi umas tantas considerações
relativamente á materia .

Não me foi possivel , porém , concluir a minha ora


ção: os minutos de que dispunha na hora do expediente
não me permittiram a explanação completa da questão .
Mas, pude ler trechos do discurso do Presidente de
Sergipe , em 1861 , discurso pronunciado por occasião da
abertura da Assembléa da então Provincia isto é , aos
4 de Março de 1861 , e não aos 4 de Maio de 1861 ,
como vém hoje publicado no Diario do Congresso,
Li esses trechos e mostrei , com as palavras do
illustre Presidente de minha terra em 1861 , que a

questão dos limites de Sergipe com a Bahia era uma


questão séria , era uma questão que estava reclamando
a attenção dos poderes publicos do paiz .
Vou ler trechos de um outro discurso , tambem
de outro Presidente , compatriota incansavel , que ainda
vive e que é hoje o glorioso Marechal Francisco José
Cardoso Junior, que dirige, com brilho e honestamente,
a Bibliotheca do Exercito Nacional.

Em 1871 , era esse nosso distincto patricio tenente


coronel do Exercito , e como tenente-coronel do Exer
cito , elle presidia os destinos de Sergipe. Pois bem ,
na 29ª sessão, da 30 Legislatura da Asembléa Provin
cial de Sergipe, em 1871 , disse o tenente-coronel Fran
cisco Cardoso Junior , hoje Marechal do Exercito :

« Ainda são contestados ao sul pela


30 LIMITES

Bahia e ao norte pelas Alagoas os limites


desta Provincia. Considero como medida ur

gentissima a discriminação dos pontos onde


ella confina com as outras . A incerteza em

que vivemos é sempre má . Seja por onde fôr ,


determine-se uma linha divisoria entre Ser
gipe e Alagoas e Bahia , afim de que a admi
nistração conheça qual a orbita em que deve
girar , afim de que a acção da justiça não
continúe a ser illudida , após a perpetração de
um crime aqui , cujos auctores dizem-se domi
ciliarios ali , e assim ficam impunes não raras
vezes , em menoscabo da lei , da justiça e da
moral. »

Isto é o que disse o honrado tenente-coronel Car


doso Junior.
Em 1904 o illustre Dr. Josino de Menezes , Presi
dente de Sergipe, dizia , aos 7 de Setembro de 1904 , ao
abrir a Assembléa Legislativa do Estado:

"Já é tempo de pôr-se termo á velha


questão de limites do nosso Estado com o da
Bahia, pela extrema occidental .
Varios presidentes da antiga Provincia
trataram deste assumpto nos seus relatorios ás
Assembléas Legislativas , representações foram
dirigidas ao Governo Imperial e a Assembléa
Geral e projectos foram apresentados na
Camara dos Deputados da Monarchia e da
Republica , no sentido de ser fixada a fronteira
oeste de Sergipe .
Não é fóra de proposito um ligeiro his
DA BAHIA COM SERGIPE 31

torico para avivar o nosso direito , que tem em

seu apoio todos os documentos historicos e o


accordo unanime dos geographos . »

Nos dias de agora, o General Siqueira de Menezes ,


benemerito presidente de Sergipe, na sua mensagem
de 17 de Setembro de 1913 , manifestou-se deste modo :

«A antiga questão de limites entre este


Estado e o da Bahia , que , apezar de sua vasta
extensão territorial , vae tolerando que os habi
tantes da região que nos fica fronteira não
cessem de pôr em pratica a sua acção inva
sora, é assumpto de maximo interesse e vital
importancia, que se impõe , sem mais de
longas , ao acurado estudo e acertada delibe
ração dessa honrada assembléa .
E' uma justa aspiração do povo sergipano
ver terminada amigavelmente essa
essa velha
questão que, para o futuro, poderá assumir
proporções mais graves, pois affecta interesses
respeitaveis de ambos os Estados limitrophes . »>

Ora, Sr. Presidente , externando-se dessa maneira


o illustrado Presidente de Sergipe, General Siqueira ,
mostra elle, desde logo , os intuitos que o animam
nessa delicada questão , intuitos que são justamente
aquelles que estão animando a bancada de Sergipe ,
neste momento . Mas , pelo modo por que se manifesta
ram differentes presidentes do Estado de Sergipe ,
a respeito da grave questão de que ora me occupo , im
mediatamente se comprehende que resolver a questão
de limites era uma aspiração de Sergipe , era e , indu
bitavelmente , na hora presente , ainda o é.
32 LIMITES

Aos 6 de Junho , desse anno, o sr. Dr. Seabra en


dereçou ao Sr. general Siqueira de Menezes o seguinte
telegramma :

Exmo . Sr. General Siqueira de Menezes ,


dignissimo Presidente do Estado de Sergipe
Trazendo ao meu conhecimento o Sr. Chefe
de Policia barbaro assassinato de uma cre
ança, praticado por João Vaqueiro , mais co
nhecido por João Capellão , no logar denomi
nado Boqueirão de Bettes , do termo de Patro
cinio de Coité , o qual se refugiara na Cidade
de Annapolis , desse Estado , rogo a V. Ex . a
fineza de providenciar de fórma que se faça a
entrega do criminoso ás auctoridades deste
Estado , afim de continuar o processo instau
rado pela justiça da Bahia , visto as auctori
dades de Annapolis se opporem á mesma en
trega, allegando ter occorrido o delicto na re
ferida cidade .

O Sr. General Siqueira de Menezes respondeu nos


seguintes termos :

«Tenho a honra de accusar o recebimento


do officio de V. Ex . , de 9 de Maio proximo
passado , no qual me solicita providencias,
no sentido de ser entregue á justiça desse Es
tado o criminoso João Vaqueiro , afim de con
tinuar o processo ahi instaurado contra elle.
Em resposta, cumpre-me declarar a V. Ex .
que deixo de ordenar as providencias solici
tadas , por isso que o logar onde foi perpe
tado o crime, affirmam todas as auctoridades ,
DA BAHIA COM SERGIPE 33

como verá V. Ex . dos documentos inclu


sos , faz parte do municipio da cidade de An
napolis , deste Estado .
Não é a primeira vez que surgem confli
ctos de jurisdição entre este e o Estado da
Bahia; ora de natureza exclusivamente fiscal,
ora quanto ao crime , como no caso vertente .
Urge, pois, tomar-se uma providencia ou
entrar-se em um accordo , que ponha termo a
estas questões , as quaes funto perturbam a
vida normal de ambos os Estados .
Contando com a boa vontade de V. Ex . ,
por minha parte asseguro que a isso me acho
disposto , e aproveito o ensejo para reiteirar a
V. Ex . os meus protestos de estima e subido
apreço .»

Todavia, o honrado General Siqueira de Menezes


não se limitou a enviar esse telegramma .
Mais tarde , recebeu elle, aos 21 do mez proximo
passado, o seguinte telegramma do Sr. Dr. Seabra:

«Bahia, 21 de Outubro de 1913 .--Exm.


Sr. General Siqueira de Menezes - Auctorida
des judiciarias e policiaes, assim como agentes
do Thesouro em Patrocinio do Coité, commu
nicam -me alarmantes noticias da proxima in
vasão do territorio deste Estado por forças da
policia de Sergipe . Comprehende V. Ex . a
gravidade de taes boatos para populações tão
distantes de sua capital . Respondi garantindo
serem infundados boatos postos em circulação
naturalmente por quem não tenha responsa
LIMITES
5
34 LIMITES

bilidade de Governo ; por isso mesmo levo o


facto ao conhecimento de V. Ex . , e espero em
contestação a este a palavra auctorizada do
Governo de Sergipe para a confiança da po
pulação de Coité e desmentido das explorações
que surgem, visando a desharmonia dos dous

governos e, o que é mais , entre nossos Estados ,


sempre amigos . Attenciosas saudações . »

E respondeu o excelso Presidente de Sergipe ao


operoso Governador da Bahia, desta maneira :

«Posso garantir a V. Ex . que não têm


fundamento as communicações alarmantes
das auctoridades do Coité a que V. Ex . , se
refere no seu telegramma de hontem. Em
Sergipe, ninguem que tenha responsabilidade
no Governo pensou em invadir territorio da

Bahia. EstejamV. Ex. , e a população do Coité


descançados . O povo sergipano , sempre admi
rador da generosidade e espirito de justiça dos
bahianos , espera encontrar remedio contra o
esbulho que soffreu no seu territorio , na jus
tiça ou no Congresso do seu paiz . Não póde
em face da lei basica que rege os nossos des
tinos , ter semelhante procedimento , nem
nossos sentimentos se coadunam com pro
cessos violentos , sómente empregados por
quem se sente desamparado do direito , prin
cipalmente tratando-se do visinho Estado ,
cujas relações de cordialidade não serão , estou
certo, modificadas pelo facto de manifestar
esta minuscula unidade nacional desejos de
DA BAHIA COM SERGIPE 35

vêr resolvida de uma vez esta velha questão


de limites no terreno imparcial e sereno do di
reito e da justiça . De novo repito: de Sergipe
não partirá aggressão alguma contra a popu
lação do Coité. Acceite V. Ex . minhas affe
ctuosas saudações . »

Deante desses telegrammas, em face dessas com


municações varias , toda gente comprehende que a
questão de limites estava posta para a bancada de Ser
gipe.
A bancada sergipana não podia conservar-se de
braços cruzados no terreno desta questão de alta rele
vancia. Depois , o orador que neste momento occupa a
attenção da Camara recebeu aos 22 de Outubro o se
guinte telegramma:

«Foi hontem largos e valiosos fundamen


tos apresentado Assembléa Sergipe projecto
lei creando municipio Coité desmembrado do
de Annapolis , pedido Conselho Municipal
Annapolis . Contamos seja apresentado Cama
ra Federal projecto lei estabelecendo limites
Sergipe. Facilitar solução velha pendencia ,
nós nos contentamos seguintes limites : rio
Real, desde suas cabeceiras até oceano; rio
Xingó, desde suas cabeceiras ao rio S. Fran
cisco e por este até sua foz no oceano; ao poen
te , for uma linha recta que fixe a verdadeira
cabeceira do rio Real á cabeceira do dito
Xingó . Não tem fundamento algum noticia
alarmante invasão Coité forças Sergipe . Af
fectuosas saudações . - General Siqueira.»
36 LIMITES

Os limites indicados neste telegramma são os do


projecto, devo dizel-o de passagem.

Ora, com esse telegramma recebido pelo orador , a


bancada de Sergipe ficou obrigada a agir, a procurar
resolver o momentoso problema.

Entendi-me, como disse hontem, com o illustre


leader da bancada da Bahia. E logo depois da palestra
com S. Ex . , com o illustre deputado Sr. Mario Hermes ,
eu endereçara um telegramma ao General Siqueira de
Menezes, communicando em que altura se achavam
as negociações para resolução do nosso problema.

O General Siqueira, pouco tempo depois , enviou- me


o seguinte telegramma:

་་ Acabo de passar Dr. Seabra telegramma

abaixo: « Respondendo telegramma V. Ex. 21


do corrente, revelei desejos que tem povo ser
gipano ver resolvida velha questão com esse
Estado , pacificamente, pelo poder compe
tente , sem modificações amisade sempre rei
nou entre dous Estados visinhos . Obedecendo
esta orientação , dirigi-me bancada sergipana
intermedio Deputado Moreira Guimarães, pe
dindo apresentasse Camara Federal um pro
jecto traçando claros e definitivos limites
Sergipe , resumidos seguintes : rio Real , desde
suas cabeceiras até sua foz no Oceano; rio

Xingó , desde suas cabeceiras até sua foz no


rio S. Francisco, e dahi por este abaixo até
Oceano, e entre as cabeceiras do rio Real e rio
Xingó, servirá limites linha recta, que liga
as mesmas cabeceiras . Como vê V. Ex. , são
DA BAHIA COM SERGIPE 37

mais que modestas as pretenções de Sergipe ,


que tem contra si , facto ser a menor , mais
pobre e mais fraca unidade da Federação Bra
zileira , sem a força e o prestigio de uma nu
merosa e valente representação , e por isso

mesmo elle a reduz ao menos que é possivel ,


no que foi sempre sem contestação . Este povo
amigo V. Ex . e do povo da Bahia, appellando
para o espirito recto e justiceiro de V. Ex .
em uma reclamação tão justa quão restricta,
na ancia do socego e estabilidade de que tanto
carece, espera nenhum embargo será creado
V. Ex., á solução desta momentosa questão;
ao envez disto acredita que V. Ex . , reconhe
cendo a razão nos assiste , como homem de co
ração e acostumado resolver tudo pelo direito
e justiça, emprestará seu grande valor pessoal
e o prestigio de que gosa, como Governador
do grande e poderoso Estado da Bahia, á
causa justissima do pequeno Estado de Ser
gipe, que , por intermedio seu obscuro Presi
dente, apresenta a V. Ex. cordiaes saudações ,
General Siqueira .»

Ora, Sr. Presidente, a questão, como ha pouco o


affirmei , estava posta á bancada de Sergipe . E, aliás ,
sempre me pareceu que essa questão de limites entre
Sergipe e Bahia devia ser a « Delenda Carthago » de
nossa bancada.

E, porventura, estarei só , sem companheiro , a


pensar de semelhante maneira?

Preciso lembrar á Camara, que, em 1884 , o illus


38 LIMITES

tre escriptor da Historia de Sergipe, o Dr. Felisbello


Freire, escreveu as seguintes linhas , que vem corroborar
o que deixei affirmado , ponderando eu que a questão
de limites de Sergipe deve ser uma preoccupação fun
damental , precipua , da bancada a que tenho a honra de
pertencer.
Disse o Dr. Felisbello Freire , na sua monumental
Historia de Sergipe ...
O Sr. Felisbello Freire Muito obrigado ...
O Sr. Moreira Guimarães- (Lendo ):

«Só temos a lastimar, que a Deputação


de Sergipe não tenha feito desta questão
uma causa determinativa de reaes e patrio
ticoș esforços, afim de que seja garantida e
respeitada a nossa integridade territorial,
cumprindo assim um importante dever da re
presentação , que o espirito publico lhe dele
gou. Sendo uma questão de interesse palpi
tante, deveria merecer mais attenção da re
presentação da Provincia , a levar a convicção
ao espirito do Governo , em vista dos pre
juizos , das lesões economicas e restricções do
corpo eleitoral e do poder politico , que são as
consequencias de tantas illegalidades , de tanto
absurdo por parte da Bahia , que vae sendo
sanccionada pelo tempo , sem o menor protesto ,
nem da representação, nem dos Presidentes
de Sergipe. » (Paginas 346 e 347. )

O Dr. Felisbello Freire disse isto em 1884. Ora,


elle viu que, depois de 1884 , o Dr. Josino de Menezes ,
quando Presidente de Sergipe, em 1904, e o General
DA BAHIA COM SERGIPE 39

Siqueira, agora , aos 7 de Setembro de 1913 , agitaram


a questão e procuraram resolver o problema, amiga
velmente .

Sr. Presidente, ante-hontem mostrei, e auxiliado


pelos apartes de illustres representantes da Bahia , que
a questão de limites de Sergipe é uma questão clara e
de facil solução , porque pelo norte não ha nenhum
problema a resolver, estando ahi as difficuldades todas

derimidas pelo patriotismo de Sergipe e Alagoas . E a


verdade é que mesmo pelo sul a questão está desta ou
daquella maneira solucionada e póde dizer-se que ella
será com facilidade definitivamente resolvida , porque

nenhum dos representantes da Bahia contesta que o rio


Real seja á divisa para o sul entre o territorio de Sergipe
e o territorio da Bahia. De sorte que a grande questão ,
a questão verdadeira no caso , é no oeste , é a da recta
que deve ligar dous pontos , que deve communicar a
cabeceira do Xingó com a cabeceira do rio Real. Eu

estou a fallar só em dous pontos porque nenhum dos


representantes da Bahia, nenhum delles , será capaz de
contestar a verdade que estou enunciando . Todos elles
sabem, positivamente, que o rio Xingó, na sua cabe
ceira, e o rio Real , tambem, na sua cabeceira, são
pontos extremos do territorio de Sergipe e do territorio
da Bahia.

O problema, portanto , está na natureza da linha


que deve ligar esses pontos .
Mas , antes de tratar da natureza dessa linha, e eu
bem sei que na bancada bahiana ha engenheiros illus
tres, homens conhecedores da mathematica e que não
ignoram que por dous pontos pode passar uma infinida
de de curvas, mas por dous pontos só póde passar uma
40 LIMITES

linha recta, a menos que se queira abandonar a geome


tria de Euclides e acceitar geometria outra , como a
daquelle russo, tão conhecido de todos nós -- antes de
tratar da natureza dessa linha, que , aliás , é clara , não
póde merecer discussão, preciso argumentar com o
proprio trabalho da Bahia, porque é uma cousa curiosa
-nesta questão não fui buscar argumentos para justi
ficar o meu projecto, sinão nos trabalhos que defenderam
em 1891 ; a causa da Bahia naquella epoca não fui
buscar demonstrações insophismaveis, provas provadas
em outras obras : fui procural-as nos livros da Bahia ,
fui, sobretudo, buscal- os nos livros especialmente

organizados para destruir, para derribar o projecto


apresentado pelo illustre collega, Sr. Felisbello Freire ,
em 1891. Ahi nesses livros insuspeitos é que fui buscar
os argumentos com os quaes fica de pé, absolutamente
de pé, o projecto que apresentei no dia de hontem .

Eu vou lêr palavras desse illustre compatriota ,


Dr. José de Oliveira Campos, que escreveu o trabalho a
que fiz hontem referencia, trabalho esse que é a critica
do projecto do Dr. Felisbello Freire, projecto que , na
occasião, era assignado por S. Ex. , pelo General Val
ladão, pelo Coronel Ivo do Prado e pelo Dr. Leandro
Maciel. Diz elle:

« Estamos certos de que os proprios signa


tarios do referido projecto serão os primeiros
a não querer proseguir nesta tentativa , quando
reconhecerem que atiraram a barra muito
longe e que o Estado da Bahia não ha de
consentir nesta inaudita conquista de parte
tão importante e fecunda de seu territorio .
DA BAHIA COM SERGIPE 41

Depois de estudar a questão sobre os limites


occidentaes de Sergipe , diz o Dr. Coelho e
Campos, querendo provar que a divisão se
faz por uma recta , o seguinte : « Si, pois, as
serras deJoão Grande, do Capitão e Negra se
acham em territorio sergipano e na mesma
das vertentes dos rios Real e
confrontação

Xingó, não é evidente, Sr. Presidente , que a


divisão de Sergipe pelo oéste se faz por uma
recta entre estes dous rios? Si esta recta vae
de monte em monte, si estes montes interpostos
são as serras mencionadas, não é claro que por
estas serras corre a linha divisoria de minha
provincia? Que pode haver de mais claro? »
Destas palavras se deduz que o actual
Senador Dr. Coelho e Campos se conforma
com os limites traçados pela recta tirada entre
os rios Xingó e Real , etc. , etc. , »

Isto a pags . 12.


A pags. 15 encontramos o seguinte:

«Na ultima obra que se está editando em


Paris - La grande encyclopédie - no artigo Le
Brésil , de E. Levasseur, com a collaboração
dos Srs . de Rio- Branco , Eduardo Prado ,
d'Ouveur, Henri Gorceix , Paul Maury, E.
Trouessart e Zaborowski , em que vem um
mappa do Brazil , dão -se a Sergipe estes
limites: do rio de S. Francisco ao norte , o
Oceano a léste , o rio Real ao sul e a nascente
deste rio, tirando uma linha até o rio Xingó e
por este rio até desaguar no mesmo S. Fran
LIMITES
6
42 LIMITES

cisco a oéste. O que tambem se vê no grande


mappa de Levasseur sobre o Brazil e no mappa
em chromo-lithographia que acompanha a
obra de Sant'Anna Nery -- Le Brésil en 1889. »

Ainda mais , Sr. Presidente .


A pags . 16, o Dr. José de Oliveira Campos declara:

Na obra Memoria sobre Sergipe d'El


Rey, escripta em 1808 por D. Marcos Antonio
de Souza , Bispo do Maranhão e antes Vigario
em Sergipe, trabalho que estava no Museu de
Londres , lê- se o seguinte citado pela propria
exposição :
" A capitania de Sergipe d'El-Rey— cor
rupto vocabulo Sergipe-occupa uma grande
parte das terras que estão ao norte da Bahia
de Todos os Santos. Sua costa é banhada pelo
Oceano Atlantico; esta estende-se desde o rio
Real, que desemboca no Oceano na latitude de
11° e longitude de 346° e 38 ' até ao rio S.
Francisco, cuja embocadura fica em 10° e 58'
de latitude e 347° e 18 ' de longitude e por este
lado vae terminar com a comarca de Alagoas,
pertencente ao Governo de Pernambuco . Dila
ta-se desde as costas do mar até Massacará ,
mattas de Simão Dias e riacho Xingó , que
desagua no sobredito rio S. Francisco , 58
leguas acima da sua foz, perto da cachoeira
de Paulo Affonso » .

A pags . 17, o estudioso director da Bibliotheca da


Bahia faz uma synthese do trabalho a que se abalançara,
´e examina documentos que encontrou na Bibliotheca
DA BAHIA COM SERGIPE 43

Nacional, no Instituto Historico , na Secretaria do Mi


nisterio do Interior, na Secretaria dos Estrangeiros , ou
no Ministerio das Relações Exteriores, no antigo Ar
chivo Militar, e , fazendo dest'arte uma obra patriotica ,
elle diz , a pags . 18 :

Do exame das cartas e obras insuspeitas


se ha de reconhecer que os limites de Sergipe
são pelo rio S. Francisco ao norte , pelo Oceano
Atlantico a léste , pelo rio Real ao sul , e pelas
nascentes do mesmo rio Real, pelas serras do
Capitão, João Grande e Negra e pelo rio
Xingó a oeste; havendo uma pequena du
vida....

É o illustre director da Bibliotheca da Bahia quem


assim se manifesta.

(Continúa a ler) :

" ...havendo uma pequena duvida sobre a


direção da linha do rio Real ao Xingó , si
comprehende ou não o Coité ( outr'ora a
Malhada Vermelha )».

O projecto aqui referido é o projecto do illustrado


representante por Sergipe , em 1891 , o Sr. Deputado
Felisbello Freire .

Ainda diz mais . E aqui elle enfeixa todas as suas


considerações em uma proposição verdadeira :

«Resumindo o que hei exposto relativa


mente aos limites de Sergipe, tenho a

asseverar que, segundo a opinião de todos os


chronistas , geographos e historiadores do
Brazil , Sergipe é limitado ao norte pelo rio
S. Francisco que o separa de Alagoas , ao sul
44 LIMITES

pelo rio Real que o separa da Bahia , a léste


pelo Oceano Atlantico e por oéste pelo rio
Xingó, affluente do S. Francisco , e por uma
linha deste rio até ás nascenças do mesmo rio
Real, não havendo duvida sinão sobre o
Coité . »

Portanto , Sr. Presidente , a questão que levanta o


projecto ora apresentado pela bancada de Sergipe é
simples : a questão se reduz , como disse ha poucos ins
tantes , á natureza da linha que deve ligar os dous
pontos - cabeceira do Xingó e cabeceira do rio Real .

Não ha duvida que a questão é só e só a da natureza


da linha a ligar a cabeceira do Xingó á cabeceira do rio
Real . Mas , Sr. Presidente, com as considerações que
venho de formular , mostrando que por dous pontos
não ha sinão uma recta , que linhas curvas ahi existem
em numero consideravel , ao menos para aquelles pa
tricios que acceitam a geometria de Euclides- fazendo
eu vêr que por esses dous pontos só póde passar uma
linha recta, pergunto eu: porventura haverá duvida
concernente á natureza dessa linha?

Póde ser que essa duvida exista ...Mas , então , eu


vou appellar para uma auctoridade maior do que a au
ctoridade do orador que neste momento occupa a tri
buna.

O projecto apresentado pelo illustre Ministro do


Supremo Tribunal na época Deputado Coelho Campos ;
esse projecto foi estudado pela Camara dos Deputados ,
no Imperio .
Eu, portanto , vou ler estas considerações . A Ca
mara queira ouvir-me .
DA BAHIA COM SERGIPE 45

O trabalho do illustre sergipano , Deputado em


1882 e actual Ministro do Supremo Tribunal , Dr.
Coelho Campos , mereceu o seguinte parecer da Com
missão de Estatistica:

«A Commissão considerando

1º, que todos os mappas e tratados geo


graphicos que consultou apresentam como
divisa entre as cabeceiras daquelles rios uma
.
linha recta;

2º, que as serras do João Grande, Ca


pitão e Negra, segundo os dados geographi
cos , se acham em territorio da provincia de
Sergipe, situadas na direcção dessa linha
recta , e que, a prevalecer a linha curva como
divisa, essas serras ficarão pertencendo á pro
vincia da Bahia ;

3º, que não ha documento de natureza


alguma que determine expressamente a linha
divisoria entre aquelles pontos intermedios
dessa linha curva , pois que entre os extremos
podem traçar-se innumeras curvas , abrangendo
maior ou menor porção de territorio , e uma
linha divisoria deve ser, por sua natureza ,
fixa, e excluir o arbitrio ;

4°, que, achando-se determinados , sem


contestação alguma, nas divisas das duas
provincias , estes dous pontos-vertentes do
Rio Real e vertentes do Ribeirão Xingó-a
linha divisoria está naturalmente determinada

por uma recta, pois que uma curva não póde


ser traçada sem a designação de pontos inter
46 LIMITES

medios , e , portanto , não constando que estes


pontos hajam sidos estabelecidos em tempo
algum, deve-se entender que a linha divisoria
é a recta, e a acceitação daquelles dous pontos
implica o reconhecimento da referida linha
divisoria . »>

E que mais querem, Sr. Presidente , aquelles que ,


desde hontem , já se apresentaram pelejando contra as
pretenções legitimas de Sergipe ?
Mas a questão , assim esclarecida, não soffre a mi
nima contestação . E ' clara ; não se pode sophismar a
respeito da solução que lhe cabe .
Ora, si com esses elementos que venho de expor ;
e ainda com esse trabalho escripto pelo proprio repre
sentante da Bahia , a.advogar os interessses da Bahia
em 1891 : -eu justifico o projecto em questão , certo que ,
no momento actual, devo retirar-me da tribuna con
tente, satisfeito , porque foi a propria Bahia, generosa ,
grande, patriota, que me veiu fornecer os elementos
para a defesa do projecto que hontem offereci á consi
deração da Camara.

O projecto, portanto , ahi está . A Camara natural


mente dirá desse projecto .
E , si a bancada de Sergipe fosse uma bancada
forte sob o ponto de vista numerico , eu poderia affir
mar que o nosso projecto estaria effectivamente trium
phante.
Não se trata, porém, de numero , sobretudo em
uma assembléa como esta, constituida de espiritos cul
tos , de cerebros illustrados , de talentos aprimorados ,
que gostam de estudar e que obedecem menos á logica
DA BAHIA COM SERGIPE 47

affectiva do que á logica do raciocinio , á logica da in


telligencia.

Com argumentação transparente nas minhas pala


vras, com as provas accumuladas pelo director da bi

bliotheca da Bahia , o projecto já está victorioso . ( Apoi


ados. )

A bancada de Sergipe é pequena , não ha duvida ;


mas, si ella é pequena no ponto de vista numerico , a
verdade é que, no seio della , ha um parlamentar ex
celso que é um historiador emerito e emerito econo
mista, Felisbello Freire ...
O Sr. Felisbello Freire- Bondade de V. Ex .

O Sr. Moreira Guimarães e, ao lado do Sr.


Felisbello Freire , ha o talento de escól , admiravel , que,
na tribuna parlamentar , sabe captivar cada um de nós
e se impõe , não só aqui , nas discussões do Congresso ,
mas tambem lá fóra , na sua cadeira de professor com
petente da Escola de Medicina , o Sr. Dias de Barros .
O Sr. Dias de Barros - Muito obrigado . V. Ex .
sobreexcede-se em amabilidades para commigo .
O Sr. Moreira Guimarães . - A bancada, portanto ,
tem dous elementos poderosos ...
O Sr. Felisbello Freire-Tambem V. Ex .
O Sr. Moreira Guimarães Ainda possue um ter
ceiro, que não se acha presente ; não está , no momento ,
na Camara , porque se encontra adoentado em Sergipe , e
não pôde assignar de seu proprio punho o projecto pa
triotico da nossa bancada , tendo , entretanto , me auto
rizado a fazel-o , tanto elle pensa, nesse particular ,
como o orador.
Este terceiro elemento poderoso é o Sr. Joviniano
48 LIMITES

de Carvalho , espirito lucido , animado por um grande

coração .
Pois bem , Sr. Presidente , o quadro da bancada
de Sergipe é magnifica , excellente , com essas figuras
de valor, com essas figuras de espiritos cultos que se
destacam no seio da nacionalidade brazileira .
Mas, para que essa bancada tivesse o relevo
necessario , para que essas figuras surgissem mais e
mais no quadro em que ellas se nos deparam , tornou
se mistér que houvesse muita sombra e esta sombra é
representada pelo orador que falla neste momento .
O Sr. Dias de Barros - Não apoiado ! V. Ex . é
um dos mais dignos representantes da Nação , nesta

Camara . (Apoiados ) .
O Sr. Felisbello Freire . - V . Ex . é um membro
respeitavel e de grande valor da representação de

Sergipe . (Apoiados ) .
O Sr. Moreira Guimarães -Agradecido a Vs.
Exs . Pois bem; neste momento eu me encontro em
harmonia de vistas tão grande com os dignos represen
tantes de Sergipe , com a bancada de minha terra
amada , que eu aqui não fallo tão só em meu nome
nem no do benemerito Presidente do nosso Estado ;
fallo em nome de toda a bancada , em nome de toda
a minha terra . E, fallando , em nome , da bancada de
Sergipe , declaro á Camara , e conseguintemente ao
paiz , que nesta questão nós estamos empenhados pela
victoria de nosso projecto ; mas , lutaremos inspirados
pelo sentimento de paz , de fraternidade , de verdadeira
cordialidade , de legitima amizade que os sergipanos
votam aos bahianos , porquanto , nós de Sergipe , nos
sentimos inteiramente convencidos de que , filhos da
DA BAHIA COM SERGIPE 49

Bahia e filhos de Sergipe , todos são filhos do Brazil :


todos nós somos brazileiros . (Muito bem; muito bem.
O orador é muito cumprimentado. )

Discussão na Camara dos Deputados sobre ser ou


não objecto de deliberação na sessão de 15 de Novembro.
O Sr. Presidente Não estando presente o Sr.
Deputado Mario Hermes , tem a palavra o Sr. Octavio
Mangabeira.
O Sr. Octavio Mangabeira- Sr . Presidente , commu
nico a V.Ex.que o Deputado Mario Hermes , que se acha
inscripto para analisar, na hora destinada ao expedi
ente, o projecto de orçamento do Ministerio da Guerra ,
cujo estudo , aliás , havia feito minuciosa e dedicada
mente com o amor que sempre revela pelo progresso e
futuro de nossas classes armadas , deixa no emtanto de
comparecer á sessão , por motivo de molestia .
Aproveito , Sr. Presidente , a circumstancia de me
achar na tribuna para , de conformidade com o disposto
no art . 144 , do nosso Regimento , mandar á Mesa , pe
dindo a V. Ex . que lhe attribua conveniente destino , a
indicação que vou submetter ao voto da Camara.
E , si V. Ex . assim permitisse , eu pediria não sub
mettesse ao voto dos Srs . Deputados quaesquer proje
ctos que entendam com o assumpto capital da indicação ,
a que venho de me referir , antes que , proferido e dis
cutido , ainda nos termos do Regimento Interno, o laudo
da Commissão de Justiça e Constituição , se tenha oppor
tunidade de firmar, para quaesquer casos occcrrentes ,
o verdadeiro processo e a verdadeira doutrina compati
veis com a nossa lei interna e com o estatuto funda
mental da Republica .
LIMITES 7
50 LIMITES

Devo , Sr. Presidente , confessar que a indicação


que apresento foi inspirada effectivamente pelo appare
cimento de um projecto do nosso illustre collega Depu
tado Moreira Guimarães , estabelecendo os limites entre
a Bahia e Sergipe.
S. Ex. agitou a momentosa questão ; com ella se
preoccupam vivamente os governos dos Estados interes
sados pela solução do problema . Publicam agora
mesmo, na Bahia , um relatorio notavel com que um
historiador de nomeada , o Sr. Professor Braz do Ama
ral , dá conta da commissão de que lhe incumbiu o
Governo, a de pesquizar nos archivos d'aqui e de Por
tugal , os documentos que sirvam para esclarecimento
do debate, para deixar demonstrada a legitimidade da
causa , que o meu Estado pleitea . Mas é claro que uns
e outros , os representantes da Bahia como os delegados
de Sergipe, não teem , não podem ter outro proposito
que não o de enveredar, no trato desta pendencia, pelo
caminho seguro da Constituição e das leis ( Apoiados) ,
porque só assim , em boa regra, desassombrada e con
fiantemente, podem defender os seus direitos , os dous
Estados do norte , unidos pelas terras , como pela sua
historia, pela capacidade de seus filhos e , antes de tudo ,
pela amizade fraternal que sempre existiu entre as
honradas populações que os habitam . ( Muito bem;
muito bem.)
Vem á Mesa, é lida e enviada á Commissão de
Constituição e Justiça , a seguinte

INDICAÇÃO -- N . 8—1913

Indico que seja ouvida a Commissão de Constitui


ção e Justiça sobre si , de accôrdo com o preceito do art.
DA BAHIA COM SERGIPE 51

132 , do Regimento e com as disposições dos arts . 4.º,


35, n. 10 e 59 , lettra d, da Constituição Federal , póde
ser admittido para os estudos da Camara , qualquer pro
jecto que estabeleça os limites de qualquer dos Estados
do paiz , inclusive nas partes em ligitio , sem se ter

firmado prévio accôrdo , com certas e determinadas


formalidades , entre as circumscripções litigantes .
Sala das sessões , 18 de Novembro de 1913 - Octavio

Mangabeira.
O Sr. Presidente - Não ha mais oradores inscriptos .
O Sr. Pedro Lago - Peço a palavra.
O Sr. Presidente - Tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Lago .

O Sr. Pedro Lago ( * ) —Sr . Presidente , ouvi com


a attenção que me merece o illustre collega Sr. Octavio
Mangabeira, cujo nome declino sempre com muito
.
carinho e com a admiração que não cesso de render
aos seus talentos .

O Sr. Octavio Mangabeira . Muito agradecido
a V. Ex .
O Sr. Pedro Lago . Infelizmente para mim , Sr.
Presidente , não estou de accôrdo com a doutrina que
envolve a indicação apresentada pelo illustre Deputado .
Nós temos uma lei interna , que regula todos os
casos das nossas attribuições , que delimita os nossos
direitos , os nossos deveres , como os de V. Ex . Não

posso concordar , Sr. Presidente , opposição que sou


nesta Casa , que se inicie a praxe de sobre interpreta
ção de cada artigo do Regimento ser apresentada uma
indicação , praxe que, antevejo, é prejudicial ao meu

(* ) Este discurso não foi revisto pelo orador .


52 LIMITES

direito de opposicionista , ás minhas prerogativas de


Deputado, que não podem ser cerceadas pela delibera
ção da Mesa , nem por um acto de força da maioria.
O art. 132 do Regimento Sr. Presidente , delimi
tou, em termos claros , positivos e insophismaveis ,
attribuição de V. Ex . para receber projectos , para
admittil-os e submettel-os á deliberação da Camara .
Sobre este artigo tão claros são os seus termos
que não posso admittir seja necessaria a interpretação
da Commissão de Constituição , que não póde modifi
car artigo do Regimento por uma simples resposta a
uma consulta sobre um caso qualquer .
Não estou, por isso , Sr. Presidente, de accôrdo
com a doutrina que envolve a indicação do nobre De
putado , até porque a V. Ex . , em primeiro logar, cum
pre , declarar si admitte ou não o projecto apresentado ,
o que até hoje não fôra feito , e , em segundo lugar , a V.
Ex. , pelo Regimento , si o admittir , ainda mesmo com
violação do texto regimental , cumpre submettel-o á
deliberação da Camara .
A V. Ex . , como á Camara , não cabe a attribuição
de adiar a solução do caso .
Não posso estar de accôrdo com o alvitre lembra
do ; insurjo-me contra tal solução . A minha situação
de isolamento no seio da minha bancada, a minha si
tuação de isolamento no seio desta Camara , não me
permittem que consinta e guarde silencio, neste mo
mento , quando tal alvitre envolve a diminuição das
minhas prerogativas .
Ora , Sr. Presidente , a indicação do nobre Deputado
pede uma interpretação da Commissão de Constituição
para o art . 132 do Regimento , que reza assim.
DA BAHIA COM SERGIPE 53

«Nenhum projecto ou indicação se admit


tirá na Camara si não tiver por fim o exercicio
de algumas das attribuições da mesma Camara
expressadas na Constituição e neste Regi
mento .»

O orgão de interpretação do Regimento , o orgão


da sua applicação , a quem a Camara delegou poderes
para isso, é a Mesa , é a Commissão de Policia, e V Ex . ,
na applicação deste artigo , não tem outra funcção que
consultar a constituição e ver si um projecto qualquer,
apresentado por um membro desta Casa, se enquadra
ou não nas attribuições delimitadas pelo poder cons
tituinte enumeradas na Constituição da Republica.

Fóra disso , Sr. Presidente , qualquer interpre


tação importa em um cerceamento dos meus direitos

como Deputado , importa em uma violação flagrante do


Regimento , a que eu estou sujeito mas a qne pódem
escapar tambem a Mesa e V. Ex . , como orgão legitimo
da Camara.
Sr. Presidente, peço liçença a V. Ex . , como im
ploro venia ao meu illustre collega , para não estar de
accordo com a indicação que acaba de ser apresentada .
Não vejo, Sr. Presidente, absolutamente nenhuma
.
obscuridade , nenhuma duvida na interpretação do art .
132 do Regimento
Sobre a mesa foi depositado esse projecto.
Sobre esse projecto V. Ex . ainda não proferiu
uma só palavra ; até hoje esse projecto ainda não foi
lido no expediente da Casa ; antes de ser lido , a V. Ex .
cumpre declarar si o admitte e si elle se enquadra nas
attribuições do Congresso . Esse projecto não tem , por
54 LIMITES

tanto , existencia para a Camara . O procedimento de V


Ex. em relação a esse projecto é identico ao procedi
mento que tem V. Ex. em relação ás emendas apresen
tadas por qualquer Deputado com infracção do art . 190
do Regimento . V. Ex. é o juiz , arbitro supremo dessa
interpretação , desde que uma emenda qualquer não
está de accôrdo com os termos do art . 190 , § 1º , do

Regimento V. Ex. ex-autoritate, declara que não


admitte essa emenda porque infringe o dispositivo
regimental .
Seria curioso que eu , por exemplo, que gosto
muito de usar desse direito de apresentar emendas ,
quando, porventura , uma emenda minha infringisse de
frente esse artigo do Regimento , apresentasse uma in
dicação pedindo que a Commissão de Constituição pro
ferisse seu parecer sobre si tal emenda caberia ou não
nos termos desse dispositivo regimental, ou si algum
Deputado da maioria , o leader da maioria , para evitar
que a minha emenda passasse pelos turnos regimentaes ,
apresentasse uma indicação dizendo que minha emenda
só poderia ser recebida depois que a Commissão de
Constituição désse sobre ella seu parecer e declarasse
si ella estava ou não de accôrdo com o art . 190 do Regi
mento .
Revolto-me contra isso.

A V. Ex. cumpre , como guarda do Regimento ,


executal -o , respeital -o ; a V. Ex. cumpre, em obedien
cia ao art . 132 do Regimento , declarar desde logo que o
projecto do illustre Deputado de Sergipe , não se en
quadrando nas attribuições do Congresso , não pode ser
attendido .
Assim , Sr. Presidente, poupa V. Ex. tempo á
DA BAHIA COM SERGIPE 55

Camara numa questão de lana caprina e dá o exemplo


vivo de respeito ao Regimento e á Constituição que nos
rege, que regula os direitos dos Estados , que creou e
definiu as attribuições do Congresso .
Tenho dito . (Muito bem).

O Sr. Moreira Guimarães -Peço a palavra .


O Sr. Presidente-Tem a palavra o nobre Depu
tado .

O Sr. Moreira Guimarães- Sr. Presidente, eu qui


zera estar de accôrdo com as idéas expendidas pelo
illustre representante da Bahia o Sr. Pedro Lago ;
porém , infelizmente , a despeito da grande cultura ju
ridica do illustre Deputado , vejo que s . ex . fechou a
Constituição , não leu , com o devido cuidado , nem o
art. 4. ° nem o 10 paragrapho do art. 34 da mesma
Constituição.

O Sr. Pedro Lago- Eu não estou estudando ainda


o projecto de V. Ex . deante dos termos da Constituição .
Eu pedi apenas ao Sr. Presidente da Camara que
usasse da sua auctoridade decorrente do Regimento e
que resolvesse de accordo com o art . 132 do Regimento ,
que não pode ser letra morta .
O Sr. Moreira Guimarães V. Ex . leu o art . 132 ...
O Sr. Pedro Lago -Não me refiro á Constituição
por ora.
O Sr. Moreira Guimarães —... e esse artigo traça
as linhas de conducta do illustre Presidente desta
Casa ; V. Ex. , portanto, Sr. Presidente , tem de re
solver a questão , e ha de fazel -o olhando para a Cons
tituição ,
O nobre Deputado , quando alludiu a esse arti
56 LIMITES

go, estava positivamente , dentro de si mesmo , a dis


cutir a questão sob o ponto de vista constitucional .

O Sr. Pedro Lago - Ainda não expendi minhas


idéas , ainda não discuti o projecto propriamente .
O Sr. Moreira Guimarães-Mas vou discutir essas
idéas ...

S. Ex. já expoz interessantes considerações até


pela imprensa desta Capital .
O Sr. Pedro Lago - Não expuz idéas minhas pela
imprensa da Capital .
Naturalmente, como não guardo segredo do que
faço nesta Casa , interpellado pelos representantes
da imprensa, declarei- os fundamentos que tenho para
proceder desta forma são estes e aquelles . Devo dizer
que elles , aliás não foram reproduzidos com felicidade .
O Sr. Moreira Guimarães -O illustre representan

te da Bahia para que quer corrigir proposições que fizera


em dias passados ...

O Sr. Pedro Lago- Não quero corrigir cousa


alguma.
O Sr. Moreira Guimarães em relação á ques
tão constitucional .
O Sr. Pedro Lago- Não corrijo ; não fiz cousa
alguma.
O Sr. Moreira Guimarães -Deste modo não po
demos discutir .
O Sr. Pedro Lago- V. Ex . quer por força , dar
me a auctoria de uma cousa que não é minha!
O Sr. Moreira Guimarães-Não disse V. Ex. que
corrigiu?
O Sr. Pedro Lago-Não corrigi .
DA BAHIA COM SERGIPE 57

O Sr. Moreira Guimarães-Então acceitou o que


veio no jornal?
O Sr. Pedro Lago -Eu sou responsavel pelo que
digo aqui , na tribuna da Camara, ou pelos escriptos
que trazem minha assignatura .
O Sr. Moreira Guimarães V. Ex. , cultor do
direito , estudioso e competente nos assumptos de
jurisprudencia, expendeu desde logo as suas idéas e
fez, além de tudo, porque V. Ex . mesmo declarou que
não costuma fazer segredo quanto á manifestação de
suas idéas .

V. Ex. faz bem, porque toda gente lá fóra já sabe


que o meu illustre collega vae estudar o projecto sob o
ponto de vista constitucional e vae mostrar que elle

não é um projecto constitucional. Mas, si V. Ex .


pensa assim, pensa erradamente ...
O Sr. Raphael Pinheiro . - Não apoiado .
O Sr. Moreira Guimarães ... a despeito do " não
apoiado» do meu illustre amigo , tambem representante
da Bahia , porque , si examinarmos o proceder da Camara
em 1891 , havemos de vêr que , á luz do § 10 do art . 34 ,
é que se deve resolver a questão de que trata o projecto
da bancada de Sergipe .
O Sr. Pires de Carvalho - Só não se lendo a
Constituição póde-se admittir que esse projecto seja
adoptado á sombra della.
O Sr. Jacques Ourique-A Camara já alterou os
limites do Amazonas com o Pará .

O Sr. Pedro Lago (com força ) -Nunca alterou ,


nem podia alterar!
O Sr. Pires de Carvalho- Não posso calar a minha
indignação contra a pretenção do seu projecto , in
LIMITES 8
58 LIMITES

dignação que digo clara , patente, e formalmente ,


porque o projecto apresentado por V. Ex . fere sagrados
direitos do meu Estado .

O Sr. Moreira Guimarães- Ainda bem que vejo


que essa indignação agitou a alma do illustre represen
tante da Bahia .

O Sr. Pires de Carvalho- Não agitou tal ...

O Sr. Moreira Guimarães-O illustre Deputado ,


tão habil , tão conhecedor desses assumptos , o digno
representante da Bahia vem, em nome de uma in
dignação que se não comprehende no momento , dis
cutir uma questão de direito . V. Ex . vae em caminho
errado, eu o declaro , com a devida venia .

O Sr. Pires de Carvalho- Não apoiado, é um


conselho que não posso acceitar; já tenho muita idade
para não precisar de pedir conselhos a ninguem . Vou
certo no meu caminho , porque o meu dever como
bahiano é defender o territorio de meu Estado .
O Sr. Moreira Guimarães - Isto é outra questão .
O Sr. Pires de Carvalho-Eu defendo esse
territorio á sombra do direito e baseado na Constituição ,
que sou daquelles podem professar e pontificar sobre o
assumpto, porque trago aqui a Constituição com
mentada por Barbalho ...
O Sr Moreira Guimarães Sr. Presidente , O
illustre representante da Bahia que me está apar
teando ... ( Trocam-se muitos apartes. O Sr. Presidente
reclama a attenção . )

O illustre Deputado pela Bahia declara terminante


mente que não se trata de uma questão de doutrina , e
eu, nos dous discursos que aqui proferi justificando o
DA BAHIA COM SERGIPE 59

projecto , procurei collocar o assumpto justamente no


ponto de vista da doutrina . Nem fui buscar...
O Sr. Pires de Carvalho- Não é nem de doutrina ,
nem de poesia : é de facto e de direito , de razão e de
logica.
O sr . Pedro Lago-É uma questão constitucional ,
antes de tudo .

O Sr. Felisbello Freire ( referindo-se ao Sr. Pires


de Carvalho) -Qual a questão de facto a que V. Ex se
refere?
O sr. Pires de Carvalho- A de limites .

O Sr. Felisbello Freire-É porque estamos errados


na questão de facto?
Appello para a honra de V. Ex . afim de que venha
dizel-o da tribuna. Está intimado a vir declarar da tri
buna porque estamos errados .
O Sr. Pires de Carvalho- Tomo o compromisso de
discutir a questão .

O Sr. Felisbello Freire - Si a questão de facto está


errada , V. Ex . o demonstrará.
Devo declarar que houve da parte do meu collega
a melhor boa fé . Tradicionalmente , está reconhecida at
questão de facto como está no projecto . Tambem não é
inconstitucional o projecto .
O sr. Pires de Carvalho -É inconstitucional.
O Sr. Felisbello Freire - O n . 10 do art . 34 consta

da Constituição em virtude de emenda de seu amigo e


creado . Não posso comprehender como na Constituição
possa existir uma disposição de simples belleza anody
na: «Compete privativamente ao Congresso , etc . >>
É bom que nesta questão os animos não se irritem .
É bom toda a prudencia , cautela e delicadeza.
60 LIMITES

O Sr. Presidente -Attenção !


O Sr. Moreira Guimarães -Sr. Presidente, por in

dole , por educação , pela propria profissão que abracei ,


sou um homem amigo da ordem . E, aqui na Camara ,
como em qualquer outro logar, onde , muitas vezes , não
podemos soffrear os impetos da nossa animalidade ; em
toda a parte, sou o mesmo homem educado , espero que
os collegas que me aparteiam tambem se colloquem no
rumo da educação aprimorada de cada um delles .
O Sr. Pires de Carvalho-E nós esperamos que
V. Ex. nos faça a mesma justiça de considerar- nos tão
educados como V. Ex.

O Sr. Moreira Guimarães-Com as minhas pala


vras o nobre Deputado não póde concluir que eu tenha
attribuido aos meus collegas qualidades que repillo ,
como não sendo as de um homem educado .

O Sr. Jacques Ourique (referindo-se ao Sr. Pires


de Carvalho)-V . Ex interrompeu o orador.
O Sr. Presidente --- Attenção !
O Sr. Moreira Guimarães - Sr. Presidente , calmo,
ordeiro e verdadeiramente educado, acredito que cada
Deputado, aqui na Camara , é tambem um homem ,
assim, calmo, ordeiro e verdadeiramente educado . Mas ,
é preciso que cada um de nós , que é legitimamente um
verdadeiro animal , sofrêe os impetos de sua propria
animalidade , discutindo a questão no terreno do direito,
no terreno da doutrina , não se deixando levar por esta
ou por aquella indignação , que nem é patriotica por isso
que, como disse nos meus discursos , nós sergipanos e
bahianos , somos brazileiros , e eu não comprehendo
essa questão sinão no ponto de vista dos grandes inter
esses nacionaes . ( Apoiados ) .
DA BAHIA COM SERGIPE 61

Não ha aqui uma questão regional . Não me estou


collocando no ponto de vista estreito de um regio
nalismo que nós , de Sergipe , não comprehendemos .
O Sr. Raphael Pinheiro- Nós , bahianos , tambem
a collocamos na mesma altura de V. Ex .
O Sr. Moreira Guimarães -Logo, podemos , como
homens educados , sergipanos de um lado e bahianos
de outro ...

OSr.Raphael Pinheiro— Brazileiros , em summa ...


O Sr. Moreira Guimarães ... brazileiros em
summa, discutir a questão , deixando de lado essa
indignação ( apoiados ) , que póde obscurecer o nosso
cerebro.

O Sr. Pires de Carvalho- A indignação é um sen


timento muito nobre.

O Sr. Moreira Guimarães- Pois fique V. Ex . com


essa indignação .
O Sr. Antonio Muniz -Quem provocou a indigna
ção foi V. Ex . , apresentando um projecto sobre as
sumpto tão importante , sem ouvir a Bahia, suppondo
que o Congresso podia originariamente resolver uma
questão de limites entre Estados .
O Sr. Moreira Guimarães - Diz o nobre Deputado ,
representante da Bahia , que me abalancei a apresentar
um projecto , irritando , despertando a indignação da
Bahia , porque não ouvi a terra bahiana . Entretanto ,
si ella ouvira os dous discursos que aqui proferi , havia
de saber que eu conferenciei com varios representantes
da Bahia , havia de saber ainda mais que o General
Siqueira endereçou varios telegrammas ao Dr. Seabra ,
respeito á materia .
O Sr. Antonio Muniz --Tudo isto particularmente .
62 LIMITES

A Constituição só admitte que o Congresso se occupe


da questão de limites , entre os Estados , depois de ou
vidas officialmente as duas partes .

O Sr. Jacques Ourique - V . Ex . está equivocado ,


isto é quando se trata de annexação ou desannexação
de territorio .
O Sr. Moreira Guimarães -O nobre Deputado ,
Sr. Antonio Muniz, está fazendo referencias ao art. 4.°
da Constituição .
O Sr. Raul Alves- V . Ex . está illudido . São tres
os dispositivos da Constituição que se referem á es
pecie .
O Sr. Moreira Guimarães - O nobre Deputado ,
como dizia, está fazendo referencias ao art . 4.º da Con
stituição e a especie é regulada pelo § 10 do art . 34.
Vamos discutir com calma.
O Sr. Antonio Muniz-Sou talvez mais calmo do
que V. Ex.
O Sr. Moreira Guimarães -Ainda melhor ... É
que não posso , de vez em vez , soffrear os impetos da
minha animalidade ...
Mas , Sr. Presidente , o § 10 do art . 34 póde ser
que estabeleça, que permitta esta ou aquella duvida.
Eu declaro: não tenho duvidas sobre esse § 10.
Pois bem. Em 1891 , a Camara, constituida de
homens intelligentes, que vinham de approvar uma
Constituição e que, por conseguinte , conheciam admi
ravelmente a lei organica da Republica , acceitou um
projecto sobre questões de limites . Esta Camara não
discutiu a questão da constitucionalidade do projecto ,
nem o podia fazer, porque seria provar que desconhe
cia a sua obra .
DA BAHIA COM SERGIPE 63

O Sr. Antonio Muniz - Mas esta Camara póde ter


procedido erradamente.
O Sr. Moreira Guimarães - Si naquella época a
Camara procedeu acertadamente ...
O Sr. Antonio Muniz- Na opinião de V. Ex .
O Sr. Moreira Guimarães—... a Camara de agora,
constituida de jurisconsultos notaveis...
O Sr. Pedro Lago - V . Ex . dá licença para um
aparte?
O Sr. Moreira Guimarães-Sou todo ouvidos .
O Sr. Pedro Lago- A Camara daquella época pro
cedeu erradamente e V. Ex . vae ter a prova de que este
projecto não teve seguimento . Porque? Porque , vindo
elle á tona da discussão , a Camara reconhecera que a
Mesa tinha andado mal acceitando o projecto .
O Sr. Moreira Guimarães - Não me quero desviar,
mais e mais , com os apartes do illustre representante
da Bahia .
O Sr. Rodolpho Paixão Não ha duvida que o
projecto é inconstitucional .
O Sr. Moreira Guimarães - Não ha duvida que o
projecto é inconstitucional , diz o nobre Deputado? ...
Responderei a S. Ex .
O Sr. Pedro Lago - Si o projecto fôr acceito pela
Mesa e submettido á deliberação da Camara, mostrarei
por que elle não pode ser julgado objecto de deliberação .
Antes disto toda a discussão é prematura.
O Sr. Moreira Guimarães - Não estamos discu
tindo o projecto .
O Sr. Antonio Muniz-V . Ex . tem dirigido inter
pellações a representantes da bancada bahiana, e nós
temos correspondido a essa gentileza .
64 LIMITES

O Sr. Pedro Lago O illustre orador já intre


pretou até um aparte meu em sentido contrario ...
O Sr. Moreira Guimarães- Havemos de ver pelas
notas tachygraphicas .
Sr. Presidente, estava eu alludindo á emenda apre
sentada pelo illustre Deputado por Sergipe , o Sr. Fe
lisbello Freire, emenda que é o § 10 do art . 34 da Con
stituição .
O Sr. Antonio Muniz -Eu pediria a V. Ex . que a
respeito desta emenda lesse os commentarios que João
Barbalho faz .
O Sr. Moreira Guimarães--O Sr. Felisbello Freire
foi quem apresentou a emenda e é portanto , o elemento
historico da questão . Pois , no caso SS . EEx . conhecem
o assumpto melhor do que eu, porque são formados em
direito a interpretação é o que se chama em technica ,
interpretação-authentica, porque é o proprio Dr. Felis
bello Freire quem declara que, quando apresentou a
alludida emenda, a sua preoccupação precipua era a
resolução da questão de limites do Estado de Sergipe
com a Bahia . E elle o diz , não somente naquella
emenda , mas em discursos que produziu justificando o
pensamento do § 10, paragrapho esse em que declara
o illustre Deputado sergipano o seu objectivo, que era
tirar dos Estados a competencia de resolver cada um
delles por si esta questão , que é uma questão nacional
e deve ser resolvida pelo Poder Legislativo .
O Sr. Antonio Muniz - Tirou essa attribuição do
Poder Judiciario, nunca do Estado!
O Sr. Moreira Guimarães -É phrase do Dr. Fe
lisbello !
O Sr. Antonio Muniz - O Sr. Felisbello Freire
DA BAHIA COM SERGIPE 65
adidas apara ~~~~

nunca sustentou que o Congresso possa alterar os li


mites de um Estado , sem audiencia dos Estados inte
ressados .
O Sr. Moreira Guimarães-Sustenta que a mate
ria deve ser resolvida pelo Congresso Nacional .
O Sr. Muniz Sodré-Não haveria mais regimen
federativo .

O Sr. Moreira Guimarães A questão constitu


cional foi admiravelmente discutida pelo Dr. Felisbello
Freire . Elle ahi está ; aqui se encontra na Camara dos
Deputados ; elle dá a interpretação authentica do caso .
Agora, o outro lado da questão : ouvi mais de um aparte
em que se declarava que me abalancei a apresentar este
projecto sem consultar a este ou áquelle amigo da ban
cada bahiana . Conversei com mais de um representante

da Bahia e , ainda ha pouco, alludi a telegrammas do


General Siqueira endereçados ao Dr. Seabra .
O Sr. Pedro Lago Nenhum representante da
Bahia estava de accôrdo com V. Ex. , nem podia estar!
O Sr. Moreira Guimarães Pelo amor de Deus!
Nem affirmei isto! E por isso é que no plenario , quero
discutir a questão dos limites de Sergipe .
Um Sr.Deputado -Diz a Constituição que a Camara
não pode tratar da questão emquanto não houver ac
côrdo entre os dous Estados .
O Sr. Moreira Guimaraes-Pois V. Ex . quer que

eu abra a Constituição? Eu me acanho , me entristeço


com o facto de fazel -o na Camara Federal , onde todos
devemos conhecer a Constituição .
O Sr. Antonio Muniz-Não se acanhe! O art . 4.°

da Constituição não permitte . O art . 4° trata de outra


questão !
LIMITES 9
66 LIMITES

O Sr. Moreira Guimarães - V. Ex. quer que eu


abra ?

O Sr. Raphael Pinheiro -Pediria a V. Ex . que


lesse.
O Sr. Moreira Guimrrães - Pois não . (Abrindo a
Constituição): « Capitulo IV- Das attribuições do Con
gresso Art. 34. Compete privativamente ao Con
gresso Nacional , etc. , etc, ... resolver definitivamente...
Vozes - Definitivamente!

O Sr. Raphael Pinheiro- E ' preciso haver tra


balho preliminar .
O Sr. Moreira Guimarães- Naturalmente que
existe trabalho preliminar ! Eu vou mostrar que existe
semelhante trabalho preliminar .
Declarou o illustrado representante da Bahia , meu
nobre amigo o Sr. Raphael Pinheiro , que é necessaria
a existencia de trabalhos preliminares .
O Sr. Raphael Pinheiro - Nos tramites legaes .
O Sr. Moreira Guimarães - Nem ha duvida
nenhuma.

Sr. Presidente , trabalhos preliminares existem ; e


a Bahia inteira em 1891 , quando se discutiu a questão
relativa ao projecto do Deputado Felisbello Freire , a
Bahia em peso e a bancada aqui naquella occasião
acceitavam as idéas daquelle grande Estado .
A Bahia dizia : cabe a Sergipe como linha divisoria
pelo sul , o rio Real . Ora , é o que nós pedimos no pro
jecto .
O Sr. Pedro Lago- Está V. Ex . fóra da questão .
O Sr. Moreira Guimarães - Perdão . Eu procuro

mostrar os trabalhos preliminares . (Ha grande troca


de apartes. ) Perdão . Assim é impossivel continuar.
DA BAHIA COM SERGIPE 67

Estou aqui para discutir e não para me alongar inde


finidamente em um discurso que não quero fazer.
O Sr. Antonio Muniz- Si incommodam OS
apartes , não os daremos mais .
O Sr. Moreira Guimarães- Com o maior prazer
serei ouvidos aos meus collegas, mas é preciso que os
apartes venham no momento opportuno.
O Sr. Antonio Muniz - Isso mostra a consideração
que V. Ex. nos merece ; entretanto, V. Ex . se mo
lesta...

O Sr. Moreira Guimarães-Convém que os nobres


Deputados pela Bahia se colloquem no ponto de vista
em que me estou collocando da cordialidade dos dous
Estados . Não estamos aqui despertando indignação
nem da Bahia , nem de Sergipe . ( apartes.)
Deixo de attender aos apartes , porque não me
posso alongar na tribuna indefinidamente ...
O ponto de vista constitucional está fóra de du
vida ...

Agora a questão é quanto aos trabalhos preli


minares .
Ahi a Bahia inteira declarou , procurando destruir.
o projecto do Dr. Felisbello Freire, em 1891 , que não
cabia de occidente nem Geremoabo, nem Massacará,
mas cabia o seguinte: a cabeceira do rio Xingó de un
lado ...

O Sr. Pedro Lago - Isso constitue um arrazoado


a ser allegado perante o poder competente ; e nós não
somos competentes .
O Sr. Moreira Guimarães V. Ex . está collo
cando-se no ponto de vista da indignação ... Neste ponto
é impossivel a discussão .
68 LIMITES

O Sr. Pedro Lago ――――― Estou no ponto de vista do


jurista.
O Sr. Moreira Guimaraes ―――― Eu me colloquei no
ponto de vista calmo do direito .
O Sr. Raul Alves ____ Pergunto a V. Ex . se quer

fixar limites , ou quer discutir limites já fixados? Si quer


fixar limites , direi que a competencia é das assembléas
dos dous Estados , com homologação do Congresso
Federal . Si quer discutir limites , a competencia é do
Supremo Tribunal .
O Sr. Moreira Guimarães-Sr. Presidente , a Bahia
inteira declarou que havia a cabeceira do rio Xingó e a
cabeceira do rio Real como dous pontos onde devia
passar a linha divisoria entre Sergipe e Bahia . ( Tro
cam-se muitos apartes que impedem o orador de pro
seguir. )
Perdão . Quero terminar o meu discurso .
Não tenho a pretenção de convencer aos nobres
Deputados porque no terreno da indignação em que se
collocam , é impossivel qualquer discussão .
O Sr. Raphael Pinheiro - Posso assegurar a V. Ex.
que nenhum Deputado pela Bahia traz indignação para
este debate . Apenas trata de defender o que está con
sagrado no pacto fundamental .
O Sr. Moreira Guimarães No terreno da indi

gnação, a logica não é a do raciocinio , a da razão ; a


logica é a dos sentimentos , a dos interesses ... Não é
esta a logica que deve aqui dominar; mas a do racio
cinio, a da intelligencia norteada pelo direito . É nesse
terreno que quero discutir aqui ou na imprensa .
O Sr. Pedro Lago- Eu só discutiria aqui , si este
fosse o tribunal competente , mas a Camara não o é.
DA BAHIA COM SERGIPE 69

O Sr. Moreira Guimarães -Mas podemos discutir


pela imprensa .
O Sr. Pedro Lago—V . Ex . aconselhe o Estado de
Sergipe a comparecer perante os tribunaes, que estou
prompto a comparecer pelo da Bahia.
O Sr. Moreira Guimarães- Sr . Presidente , a

questão não é assim litigiosa como está a pensar o


nobre Deputado .
O Sr. Pedro Lago- Não póde deixar de ser, pois
que não estamos de accôrdo com V. Ex .
O Sr. Moreira Guimarães-V . Ex . não está de
accôrdo , porque está até contra a Bahia inteira de 1891 .
O Sr. Pedro Lago - Contra a Bahia ?!
O Sr. Moreira Guimarães -Infelizmente , na ban
cada de S. Ex . onde ha espiritos cultos , cerebros illus
trados , nenhum ainda procurou estudar conveniente
mente esta questão .
O Sr. Pedro Lago Todos estão esperando pelas
luzes de V. Ex .
O Sr. Moreira Guimarães- Não é isso , V. Ex . não
quer entender ... Estou certo de que, quando cada um
dos illustres Deputados pela Bahia começar de estudar a
questão, examinando os documentos fornecidos pela
propria Bahia , estou certo de que todos elles hão de
ficar , não ao lado apenas do humilde orador que falla
neste momento , mas ao lado da causa nacional , defen
dendo os interesses da Bahia e pelejando pelos de
Sergipe.
O Sr. Raphael Pinheiro- V . Ex . dá licença para
um aparte ?
A bancada bahiana-e peço licença para inter
pretar os sentimentos dos collegas- não discute, neste
70 LIMITES

momento, a questão em si ; apenas sustenta que é


inconstitucional o meio por que é apresentada neste
instante. E' a unica idéa que predomina no espirito de
todos os bahianos aqui presentes . Veja V. Ex . que não
entramos no intimo da questão .
O Sr. Moreira Guimarães -Sr. presidente , eu já
mostrei que havia, sinão um accôrdo franco, uma
harmonia expressa, todavia um accôrdo tacito entre a
Bahia e Sergipe , porque o que nós pedimos no projecto
é justamente aquillo que a Bahia disse, em 1891 , que
nos pertence de direito .
O Sr. Pires de Carvalho- Não apoiado . A Bahia
declarou de que modo? A Bahia não disse isso , nem
hoje, nem hontem, nem nunca . V. Ex . está dizendo as
cousas á conta da Bahia . Não diga assim. V. Ex . diz
que a Bahia está de accôrdo com esses limites occi
dentaes , uma linha recta entre a verdadeira cabeceira
o que quer dizer que ha uma outra cabeceira-do rio
Real até o rio Xingó ...
O Sr. Moreira Guimarães - Si V. Ex . está incom
modado com esta expressão- verdadeira, podemos
retiral-a ( Riso. )
O Sr. Pires de Carvalho - Não me incommodo , não.
O Sr. Presidente - Lembro ao digno orador que
está a findar a hora destinada ao expediente.
O Sr. Moreira Guimarães - Sr . Presidente, pedi a
palavra simplesmente para mostrar á Camara dos De
putados que anima a bancada de Sergipe o sentimento
da cordialidade. Sergipe, não quer resolver essa questão
sinão no terreno do direito , no terreno da justiça ; mas
Sergipe está inteiramente convencido da constitucio
nalidade do projecto . Ainda mais, Sergipe está con
DA BAHIA COM SERGIPE 71

vencido de que o que pede agora, é aquillo que a Bahia


disse que nos pertencia a nós de Sergipe . Ora , si assim
é, por que essa luta ? por que essa indignação ? ...
O Sr. Raphael Pinheiro- Porque estamos em um
ponto de vista que não é esse , do interesse ; é o ponto
de vista constitucional .
O Sr. Pires de Carvalho - O orador está affir
mando um sonho ; a Bahia nunca disse isto ; o projecto
não está de accôrdo com qualquer dos estudos feitos
pela Bahia .
O Sr. Moreira Guimarães- V. Ex . medite sobre

o trabalho apresentado na Bahia em 1891 .


O Sr. Pires de Carvalho- V . Ex . dê licença que
The diga que conheço , que virei discutir com diversos
trabalhos .

O Sr. Presidente - Reclama attenção .


O Sr. Moreira Guimarães -Vou deixar a tribuna ,
Sr. Presidente , convencido de que mostrei que o pro
jecto é constitucional ( apoiados e protestos ) , conven
cido de que demonstrei á evidencia que aquillo que
pedimos é justamente o que a Bahia reconhecia, em

1891 , como direito nosso . E aproveito a opportunidade


para declarar que acceito a indicação apresentada pelo
illustre representante bahiano , o Sr. Octavio Manga
beira, indicação que resolve as difficuldades do mo
mento .

De facto, a digna Commissão de Justiça , poderá


dizer da constitucionalidade do projecto , e , por isto ,
de pleno accordo com a indicação formulada pelo
nobre Deputado, peço a V. Ex . que lance mão do pres
tigio de que merecidamente gosa, como illustre Pre
sidente da Camara , para que o projecto , antes de rece
72 LIMITES

ber qualquer golpe aqui da Casa , vá á Commissão de


Justiça, afim de que esta diga da constitucionalidade , e
cada um de nós , que estiver em duvida a respeito do
assumpto ...
O Sr. Pedro Lago- Eu não estou em duvida ; ao
contrario . (Apoiados) .
O Sr. Moreira Guimarães ... possa resolver,
segundo um criterio que seja o verdadeiro criterio da
questão. (Muito bem; muito bem. O orador é viva
mente felicitado . )
O Sr. Presidente-Está finda á hora destinada ao

expediente .

N. 6

Telegramma do Governador da
Bahia ao Presidente de Sergipe ma
nifestando receio de invasão á mão
armada .

De Bahia, 21 Outubro 1913 - Exmo . General Pre


sidente Sergipe - Aracajú . —Auctoridades judiciarias e
policiaes, assim como agentes do Thesouro em Patro
cinio do Coité, communicam-me alarmantes noticias da
proxima invasão do territorio deste Estado por forças.
de policia de Sergipe . Comprehende V. Ex. a gravi
dade de taes boatos para populações tão distantes de
sua capital . Respondi garantindo serem infundados
boatos postos em circulação naturalmente por quem
não tenha responsabilidade de governo ; por isso mesmo
levo o facto ao conhecimento de V. Ex . e espero em
contestação a este a palavra auctorisada do Governo de
Sergipe para a confiança da população de Coité e desinen
tido das explorações que surgem , visando a deshar
DA BAHIA COM SERGIPE 73

monia dos dous Governos , e o que é mais entre nossos


Estados , sempre amigos . Attenciosas saudações .-
Seabra.

N. 7

Telegramma do Presidente de Ser


gipe garantindo que não faria a invasão
da Bahia.

De Aracajú, 22 de Outubro de 1913.- Exm .


Sr. Dr. Seabra Governador da Bahia. -Posso ga
rantir a V. Ex . que não tem fundamento as com
municações alarmantes das auctoridades do Coité
a que V. Ex. se refere no seu telegramma de hontem.
Em Sergipe ninguem que tenha responsabilidade no
Geverno pensou em invadir territorio da Bahia.
Estejam V. Ex . e a população do Coité descança
dos . O Povo Sergipano , sempre admirador da genero
sidade e espirito de justiça dos bahianos , espera encon
trar remedio contra esbulho que soffreu no seu territorio

na Justiça e no Congresso do seu Paiz . Não pode em


face da Lei Basica que rege os nossos destinos ter se
melhante procedimento nem nossos sentimentos se

coadunam com processos violentos , somente emprega


dos por quem se sente desamparado do Direito , prin
cipalmente tratando-se do visinho Estado, cujas re
lações de cordialidade não serão , estou certo , modifica
das pelo facto de mostrar esta minuscula unidade na
cional desejos de ver resolvida de uma vez essa velha
questão de limites no terreno imparcial do Direito e de
Justiça. De novo repito , de Sergipe não partirá aggres
são alguma contra a população do Coité . Acceite V.
Exa . minhas affectuosas saudações . -General Siqueira.
LIMITES 10
74 LIMITES

N. 8

Officio ao Governo da Bahia man


dado pelo Preparador do Coité commu
nicando a occupação de parte do termo
pela força policial de Sergipe .

"Juizo Preparador do termo de Patrocinio do Coité,


em 20 de Outubro de 1913 . Ao Exm . Sr. Dr. Gover
nador do Estado da Bahia . Julgo do meu dever com
municar a V. Exa . as occurrencias ultimas havidas neste
termo e oriundas dos manejos do visinho Estado de
Sergipe , sequioso mais que nunca por se apoderar de
grande extensão do territorio bahiano . -Ao entrar, a
27 de Setembro passado no exercicio do cargo para que ,
por decreto firmado por V. Exa . fui nomeado , tive
sciencia de que o logarejo « Sacco» , que sempre cons
tituio parte integrante deste Coité, se achava occupado
por força policial sergipana . Procurando informar-me
dos motivos que levaram o Exm . Sr. General Siqueira
de Menezes a ordenar aquella occupação , prova frisante
de pouco caso ás auctoridades incumbidas de zelar pela
integridade territorial de nosso Estado , cheguei á con
clusão de ter ella a sua determinante na vella e deba

tida questão de limites entre este municipio e o de


« Simão Dias» , hoje chrismado de « Annapolis » . Em
balde o delegado de policia daqui , o Sr. Benicio
Custodio, protestou perante as auctoridades de « Simão
Dias » contra a insensatez , o absurdo da medida do
Exm . Sr. General Siqueira , a qual bem poderá vir a
ser origem de luctas sangrentas entre o nosso Estado e
o de Sergipe : -Os soldados sergipanos continuam a
occupar o « Sacco» , e as auctoridades do Thesouro de

Aracajú a cobrar elevados impostos dos que vão áquelle


DA BAHIA COM SERGIPE 75

logarejo negociar . Não ficam , porem , ahi os actos desres


peitadores de nossa autonomia e praticados pelos que
obedecem ás ordens do Exm. Governador do visinho
Estado : -O Revm . Padre João de Mattos , vigaric desta
Freguezia e natural de Sergipe , tem , por differentes
occasiões , publicado monographias , que ha distribuido
em profusão pelos seus parochiados , e artigos nos jornaes
de Aracajú, monographias e artigos tendentes a demons
trar que a Sergipe assiste inconteste direito sobre todo
este Municipio e que os Coitéenses estão anciosos por
ser governados pelas auctoridades sergipanas.O Revm .
vigario não se encontra, porem, insulado no irreflectido.
trabalho de concretisação da idéa de annexação do mu
nicipio do Coité ao pequeno Estado de Sergipe . Outros
sergipanos ha, e de grande influencia , que se não cançam
de procurar convencer o Exm . General Siqueira da
necessidade de « reivindicar sem tardança a facha de
terra usurpada pela Bahia e causa das lagrimas que
ainda hoje choram os olhos dos pacificos conterraneos
do immortal Tobias Barreto . »

Embora o digno presidente de Sergipe houvesse


telegraphado a V. Exa . , dizendo não cogitar de prati
car invasões em o nosso Estado , acaba de ser nome

ada, pela repartição competente de Aracajú, uma


professora para o « Sacco » e de ser ordenado pelo
Chefe de Policia daquelle Estado que um contingente
de policiaes sergipanos siga para o « Apertado de Pedras
localidade deste municipio» , afim de se escolher uma
casa para a installação de um posto de policia. Prova
evidente de que o actual, Governo de Sergipe não se
encontra propenso a pleiteiar perante os tribunaes e
o Congresso do paiz o direito que julga ter sobre este
76 LIMITES

municipio encontrará V. Exa . , no projecto apresentado


á Assembléa Sergipana e que, após longos conside
randos , finalisa determinando a creação da « villa do
Coité» , que será constituida pelo territorio de « Malhada
Vermelha», nome por que antigamente era este muni
cipio conhecido . As noticias publicadas pelos jornaes
de nossa capital da occupação total desta villa pelas
forças policiaes de Sergipe não traduziram, felizmente ,
uma realidade . Ellas , porém , se originaram das affir
mativas do Revm . João de Mattos , feitas durante o
sacrificio da missa, domingo, 12 do presente , e de
que, contava, viria " por estes dias» do Estado de
Sergipe « uma grande força provida de clarins e caixas
de guerra destinada a occupar o Coité» . Estas palavras
provocaram tamanha indignação nos que as ouviram
ou dellas conhecimento tiveram que o seu proferidor
se viu na contingencia de pedir garantias ás autori
dades daqui , as quaes foram immediatamente conce
didas . São estas , Exmo . Sr. Governador as informa
ções que, repito , julgo do meu dever dar a V. Exa .
sobre o modo por que o Governo de Sergipe está
agindo para a consecução do insensato plano de se
apoderar de Coité, informações que penso bem funda
mentar com os documentos juntos a este officio e que

são: -um exemplar da monographia « Sergipe Bahia» ,


de autoria do Revm . Padre João; o numero 1010

do Correio de Aracajú e o 742 do Diario da Manhã,


follas sergipanas portadoras em suas columnas de
artigos do mesmo Revi . Padre; e o numero 4258 do
O Estado de Sergipe, onde vem o projecto a que
acima me referi . Aproveitando a opportunidade , apre
sento a V. Exa. , os meus protestos de estima e ele
DA BAHIA COM SERGIPE 77

vada consideração . -O Juiz Preparador, Wenceslau de


Souza Gallo.

N. 9

Communicações do agente fiscal do


Norte confirmando a entrada da força
sergipana no territorio da Bahia.

COPIA-Abbadia , 4 de Novembro de 1913.


Acabo chegar Coité . Sacco , até hoje considerado Bahia ,
tem uma força oito praças Sergipe cobrando impostos .
Existem Sacco tres casas sempre pagaram im
postos Bahia.
Moradores abandonaram casas estando em Coité .

Presidente Sergipe nomeiou auctoridades , profes


sora Sacco .
Lagarto-Annapolis -- Pessoal apaixonado nesta
questão .
Consta Presidente mandou alugar casa Apertado
Pedras termo Coité para quartel .
Seguem officio gazetas remettidos Preparador
Coité .

Dr. Governador verá projecto apresentado Camara


Sergipe . (Assignado ) , Valverde.

Cachoeira da Abbadia , 5 de Novembro


de 1913

Illmo . Exmo . Sr. - Determinado por V. Exa . em


telegramma de 23 do mez p . p. para seguir á Villa do
Patrocinio do Coité e informar-me do que ha de ver
dadeiro quanto á invasão em territorio da Bahia pelo
78 LIMITES
i am b

Estado de Sergipe , cumpre-me scientificar- vos o se


guinte :
No dia 26 do mez p . p . segui para Patrocinio do
Coité, lá chegando a 28 do mesmo mez . De passagem
pela villa de Buquim , Estado de Sergipe , estive com o
Conego Manoel Luiz da Fonseca , chefe politico de
Riachão que vinha de Aracajú ; Tratando com este
senhor quanto a invasão da Bahia pelo Estado de
Sergipe este disse-ine que tinha estado diversas vezes
em Palacio com o Presidente do Estado , General
Siqueira onde tratou da questão de Patrocinio do Coité
dizendo-me que o General não queria abrir luta com o
Estado da Bahia e sim ver pelos meios diplomaticos se
rehaveria Patrocinio do Coité, outrora Malhada Ver
melha. Que quanto á invasão do Sacco era uma inver
dade pois o General havia mandado uma força para o
territorio de Sergipe, pois pela linha divisoria a força
estava no Estado de Sergipe pelo que tive de passar o
telegramma de Buquim em que dizia ser inveridica a
invasão de Sergipe em territorio da Bahia. No dia
immediato segui para Lagarto e procurando estar com
chefe politico situacionista Coronel Philadelpho de tal ,
exactor, abordei a questão da invasão no Coité , sem
que o mesmo percebesse o fim da minha commissão e
dizendo que havia estado com o Conego Fonseca e este

me dissera que o General não queria abrir luta com


a Bahia e sim resolver esta questão pelos meios diplo
maticos . Pois bem, o coronel Philadelpho não só
reprovou ter o Conego Fonseca assim me dito , como
tambem quiz provar-me que Coité pertencia a Sergipe
e que o General Siqueira estava á espera que o pessoal
de Simão Dias abrisse a luta chegando mesmo a dizer
DA BAHIA COM SERGIPE 79
...

que o General contava com o Marechal Presidente da


Republica a quem o Governador fazia opposição .
Estando em Simão Dias procurei ver se colhia
alguma cousa a respeito; percebi já os animos um
pouco exaltados . Tendo occasião de conversar com
o proprietario do hotel em que me hospedei que é

bahiano , Julio Manoel de Oliveira, este me procurou


convencer de que Sacco pertencia a Sergipe e que pelos
limites de 1885 , limites archiepiscopaes , Coité era de
Sergipe, informando-me mais ter em Sacco 8 praças de
Sergipe commandadas por um sargento , tendo na
occasião da ida da força para o Sacco acompanhado
o Intendente , Delegado , exactor e vigario de Simão
Dias . No dia 28 do mesmo mez cheguei em Patrocinio
do Coité, sendo o meu primeiro cuidado me informar
o que havia de novidade nesta questão . Simplesmente
foi confirmada a estada da força policial do Estado de
Sergipe no logar Sacco que sempre esteve no dominio
da Bahia e a chegada desta força acompanhada pelo
pessoal de Simão Dias com vivas a Sergipe . Estive
com um dos moradores do logar Sacco que tinha casa
e roças , de nome Emygdio de tal que disse-me ter
deixado Sacco por temer desacato á sua pessoa .
Existe neste logar autoridade policial nomeada
pelo Presidente do Estado de Sergipe , já tendo tambem
havido nomeação de uma professora para o dito logar.
Constou-me ainda que o General Siqueira mandou
alugar uma casa no logar Apertado de Pedras , termo do
Coité, para quartel .
Ainda tenho a informar-vos que diversas pessoas
conceituadas do Coité me communicaram ter o Vigario.
da Freguezia, João de Mattos , em uma das domingas
80 LIMITES

do mez de Outubro p . findo . na occasião da missa con


ventual , feito uma pratica ao povo aconselhando que
não temessem uma grande força que vinha de Sergipe ,
pois esta não vinha fazer barulho e sim tomar Coité
que pertencia a Sergipe . Pela gazeta Diario da Manhã
de Aracajú que o Dr. Preparador do Coité remette ao
Exmo . Sr. Dr. Governador do Estado , verá V. Exa .
que pela Assembléa de Sergipe já foi apresentado um
projecto considerando Coité pertencente a Sergipe .
Em Coité estive com o Intendente , Preparador ,
Delegado , Professor Publico , Dr. Coelho , ex-prepa
rador, negociantes e lavradores, vendo que todos os
coitéenses estão anciosos de providencias pelo nosso
Governo, havendo mesmo uma certa atmosphera de
receio para uma luta, tal a exitação dos animos .
Julgando-me pois , desobrigado da commissão que
me foi confiada, venho , mais uma vez , apresentar-vos
os meus protestos de muita estima e real apreço .
Saudações . Ao Ilmo . Exmo . Sr. Dr. João
Gonçalves Tourinho d. d . Director do Thezouro

e Fazenda do Estado . Julio de Lima Valverde,


Fiscal de Collectorias .

N. 10

Officio do Governo da Bahia ao de


Sergipe reclamando contra a entrada de
forças sergipanas no Estado com o fim
de occupação .

Com profunda magua e sorpresa recebi informações


de haver V. Exa. creado uma subdelegacia no logar deno
minado Sacco, situado no municipio do Coité, onde se fazia
DA BAHIA COM SERGIPE 81

uma pequena feira e mandado postar alli uma força , sem


que haja no referido logar população , o que indica o fim
de estabelecer posse e jurisdicção, e que facto identico
ameaça o logar chamado Apertado de Pedras.

Peço benevolencia a V. Exa. para ponderar que estes


acontecimentos, após a creação pela Assembléa de Sergipe
de uma Villa em territorio bahiano, pretendendo assim
submetter a Sergipe uma povoação bahiana, que está sob as
leis da Bahia e sob a direcção de um governo constituido,
sem preceder ajuste para solução de um antigo litigio, são
por si somente de tal natureza que V. Exa . não poderia
deixar de os considerar attentatorios para o prestigio e
leis do seu Estado, aggressivos e provocadores para o seu
Governo , se alguem se affoitasse a fazel - os contra Ser
gipe, que tem a auctoridade de V. Exa. para represental- o
dignamente e receber qualquer reclamação que necessite
reparo ou providencia, porque a mais nobre e importante
attribuição dos chefes de Estado , e auctoridades que estão
á frente do serviço publico entre os povos cultos é justa
mente a de receber as reclamações dos que têm delles a
haver e attender a ellas, quando justas.

Notando a V. Exa. os alarmes que poderia causar nas


populações do sertão uma attitude aggressiva do Estado
irmão, tive a fortuna de receber de V. Exa. o despacho de
22 de Outubro ultimo, em que me garantiu que só no ter
reno imparcial e sereno do Direito e da Justiça havia de
ser resolvida esta velha questão . E ainda mais tive a cer
teza de que de tal procedimento se não desviaria o illus
trado Governo de V. Exa. quando recebi o despacho dias
depois em que me declarou ter affectado a ques
tão ao alto criterio do Congresso Nacional, pelo que
LIMITES 11
82 LIMITES

fiquei confiando que, como é praxe em todos os casos ana


logos a este , ficassem as cousas no statu quo até a solução
dada pelo poder superior invocado para sentenciar.

Comprehende portanto V. Exa . a magua e a surpreza


a que me referi , sabendo pelos documentos juntos por
copia, dos factos acima que dão azo a suppor que uma das
partes, adormecendo a outra com promessas e esperanças
numa lei do Congresso, que á vista dos precedentes é
pouco provavel se chegue a fazer, ou pelo menos se não
fará em prazo curto, vae ao mesmo tempo agindo pela
força e tentando estabelecer jurisdicção e posse, isto é,
fazendo na realidade a conquista do Coité, perturbando a
vida regular e a tranquillidade da população alli existente .

Evocando outros tempos , peço apenas para lembrar


aquellas epochas em que a gente da Bahia foi para o
Norte iniciar a vida da familia, fundar os costumes da
civilisação e do Christianismo em Sergipe, constituindo ahi
uma população filha da de cá e daqui recebendo os ele
mentos de uma existencia politica e administrativa .
É por estas elevadas e nobres razões que me dirijo ao
respeitavel administrador de Sergipe , pedindo-lhe , em nome
de tão estreitos vinculos de origem e sangue, o seu precioso
auxilio para evitar qualquer desgosto que venha compro
metter a tradição que, em cerca de tres seculos , tem feito
entre os habitantes da Bahia e Sergipe uma prova exem
plar de familia unida.
Tenho a honra de declarar a V. Exa. que o Governo
da Bahia, animado da maior lealdade e boa fé, está
prompto a dar o melhor penhor do seu sincero desejo de
resolver com toda a cordura e harmonia esta velha questão
de limites , tratando della immediatamente e directamente
DA BAHIA COM SERGIPE 83

as duas secretarias, ou com a pessoa que V. Exa , designar,


de modo que logo se ajuste uma solução que consulte os
direitos e interesses dos dois Estados, adoptando uma linha
certa de fronteira que impedirá para o futuro qualquer mal
entendido e que resolverá amigavelmente e para sempre as
questões administrativas , economicas e judiciaes que deste
ajuste dependem, apresentando - se o resultado aos poderes
constitucionaes a quem cabe tudo decidir, na especie, em
definitiva .

Devo entretanto dizer a V. Exa. que por força das


responsabilidades que me cabem como Governador da
Bahia, a quem a lei attribue o dever de velar pela defeza
de todos os direitos do povo deste Estado, não poderei,
sem pesar meu, deixar de protestar, como protesto , contra
qualquer violencia levada a effeito em qualquer ponto do
Municipio do Patrocinio do Coité, bem como assegurar ás
terras e gentes da Bahia o amparo da mesma lei, pela sua
autonomia e pela integridade do seu territorio.
Aproveito a opportunidade para reiterar a V. Exa. os
meus protestos do mais alto apreço , subida consideração e
respeito. ( Assignado ) —J. J. SEABRA.

N. 11

Memorial acerca da questão de li


mites entre a Bahia e Sergipe apresen
tado ao Exm . Sr. Dr. Governador do
Estado da Bahia pelo Dr. Braz do Amaral
ao ser levantada a questão pelo Governo
de Sergipe em 1913.
São na realidade duas as questões de limites que tem ,
ha cerca de 200 annos, a Bahia com Sergipe-a da fron
teira do Norte e a da fronteira de Leste.
84 LIMITES

A primeira recebeu em 1843 uma solução provisoria


e a ella não se refere o Governo de Sergipe, pois lhe con
vem consideral- a definitiva, embora não o seja , ( * ) pelo
que importa trazel-a ao campo da discussão e de uma so
lução definitiva ; a 2ª. é a que motiva o procedimento da
Assembléa Estadual de Sergipe , creando uma Villa em ter
ritorio da Bahia e que deu origem o entregar o seu Gover
nador a solução do caso ao Congresso Federal, pedindo uma
linha recta que vá das cabeceiras do RioReal ás cabeceiras
do Xingó, o que será na realidade desmembrar da Bahia
para entregar a Sergipe parte do patrimonio deste Estado .
Foi Christovão de Barros, Governador interino da
Bahia, quem conquistou Sergipe e alli fundou a povoação,
mais tarde cidade de São Christovão, irradiando-se da
Bahia para Sergipe a colonisação e constituindo -se um dis
tricto ( ** ) que foi mais tarde elevado a comarca com juiz
letrado .
Como porém o districto era pobre, pequeno e mal po
voado o soberano juntou a elle parte do da Bahia, consti
tuindo então os dois a comarca.

Mas os habitantes da parte bahiana reclamaram e


absolutamente não se quizeram sujeitar a ouvidor que não
fosse o da Cachoeira, como até ahi, do que resultou, após
varias informações de vice- reis, modificações da comarca
e providencias outras , ser creada uma nova comarca, que
foi a da Jacobina , á qual ficaram sujeitos sem relutancia
os moradores da Bahia, a saber do beiral do Rio Real e do
Itapicurú, que não se haviam submettido á autoridade da
comarca, cujo ouvidor devia residir em S. Christovão .

(*) Vide decreto imperial de 1843 .


* ) Tambem chamado capitania.
DA BAHIA COM SERGIPE 85

Teria sido esta separação que constituio duas popu


laçõs differentes, ou esta resistencia já indica que os povos
da Bahia consideravam estranhos a elles os habitantes da
colonia que haviam fundado no Norte e não lhes era pos
sivel viver sob a mesma justiça ?

A pretensão que se percebe n'alguns sergipanos de


que ao seu Estado pertencem estes territorios, que por
pouco tempo e sempre em attitude de repulsa e protesto ,
estiveram sob a jurisdicção do ouvidor mandado para lá ,
é tão absurda e injuridica como a da Bahia, se pretendesse
exercer sobre a sua antiga colonia jurisdicção , depois que
foi constituida em corpo politico separado, ou da mesma
Bahia, se pretendesse hoje todas as regalias de capital da
Republica Brasileira, prerogativa de que foi privada em
regimen já passado, por um acto do poder competente,
como Sergipe ficou comarca restricta aos limites que tinha

quando districto ou capitania, por haver sido separado de


sua jurisdicção todo o territorio das Villas de Abbadia e
Itapicurú, por acto emanado do poder competente para
fazel-o .

Desde o dia em que foi elevado a comarca o districto


da capitania de Sergipe creou- se para a Bahia um visinho
ambicioso, que de todos os meios se tem servido para alar
gar o seu territorio a custa do nosso .

Aquelles então que haviam repellido a irmandade de


jurisdicção , foram perseguidos numa guerrilha tenaz de
accusações e denuncias que atormentaram os vice - reis e
o soberano portuguez e em que os moradores de Abbadia
e Geremoabo eram representados como typos de maldade
e rebeldia , como criminosos incorrigiveis a que só se po
86 LIMITES

deria pôr côbro se fosse commettida ás auctoridades de


Sergipe a tarefa de corrigil-os e castigal -os .

Vide a denuncia feita pelo Capitão-mór de Sergipe


contra os habitantes de Abbadia e Geremoabo , a que se

refere o parecer do Conselho Ultramarino de 28 de Janeiro


de 1737 ; a feita ao vice- rei, Conde de Sabugosa , em 15 de
Dezembro de 1754 ; a feita ao rei e que elle refere na carta
dirigida ao vice-rei do Brasil de 5 de Junho de 1725 ; a
feita ao soberano , que della faz assumpto da sua carta ao
feita ao rei, de que consta a carta escripta ao vice-rei em
vice-rei, de 12 de Maio de 1730 ; a feita pelo ouvidor de
Sergipe ao rei e que delle trata na carta de 23 de Maio de
1732 ; a feita pelo mesmo contra os habitantes de Gere
moabo, de que trata a carta de 24 de Março de 1738 ; a
6 de Fevereiro de 1739.

Um outro artificio foi usado para chegar ao fim alme


jado e delle consta a carta do Conde de Sabugosa , em 9
de Novembro de 1729, da qual se pode ter idéa pelos se
guintes topicos : "Havendo visto a conta que me deram os
officiaes da camara de Sergipe del- rei a respeito da obriga
ção da quota para os cazamentos dos principes ...... se
vira com individuação o miseravel estado em que se acha
vam aquelles moradores porque para completarem a porção
em que foram fintados se chegara a pôr em arrematação
até os mesmos fatos de seu uso, etc........ e que em
geral lamentação não podem contribuir . . ...... e que esta
razão os obrigava a recorrerem a mim implorando a minha
real piedade para attender a tanta miseria e lhes fazer a
graça de alliviar da contribuição o povo, ou ao menos se
conceda se sujeitem para a satisfação do mesmo donativo
DA BAHIA COM SERGIPE 87

as tres Villas novamente creadas de Abbadia, Itapicurú e


Inhambupe, dividindo- se tambem pelas ditas Villas "......
Esta attitude humilhada e contricta mudava na Ame
rica e dá margem a apreciações seguras sobre o valor de
certas allegações feitas no correr desta questão diversas
vezes, se conhecer a violencia commettida pela Camara do
Lagarto contra a da Abbadia no Cumbe, acompanhada
ainda de queixa ao Governador D. Rodrigo José de Me
nezes que, após inquirir dos factos, em severa reprimenda,
estranhou á Camara do Lagarto o seu procedimento , de
clarou-lhe que não era por violencias como a feita no
Cumbe que havia de fazer prevalecer a sua jurisdicção, e,
reprehendendo-lhe a prepotencia , ordenou que se absti
vesse de taes processos, fazendo saber por carta á Camara
de Abbadia que no caso de continuarem os seus contrarios
com tão desordenado capricho communicasse para as pro
videncias precisas e que de vez os decepasssem" !

Repellidas todas as pretensões de posse e dominio do


territorio da Bahia , descobertas as tentativas de invasão,
desvendadas por formaes desmentidos e provas as falsi
dades das numerosas denuncias feitas contra as populações
de Abbadia e Geremoabo, pela recta observação e pelo
bom senso administrativo do governo nos tempos colo
niaes , ficaram estas questões de fronteira em descanço até
o tempo da Independencia.
Até ahi emanara a lei do soberano que possuia a
terra havida pela conquista e que tambem a havia dividido,
no pleno goso desta auctoridade incontestavel, de accordo
com os principios geralmente admittidos naquelle tempo.

Elle a exercera por si , pelo seu Conselho Ultramarino ,.


especie de Tribunal Administrativo ao qual eram sub
88 LIMITES

mettidas as questões das colonias e pelos vice-reis e go


vernadores .

E todas estas tres especies de auctoridade haviam clara


e terminantemente estabelecido a extensão da jurisdicção
da Bahia e o que a ella pertencia na fronteira com Sergipe,
antigo districto colonial da Bahia, depois comarca della e
desde 1820 provincia separada com os limites da comarca,
pois apenas diz isto o Decreto da separação : " Convindo
muito ao bom regimen deste Reino do Brasil e á pros
peridade a que me proponho eleval-o , que a capitania de
Sergipe del Rei tenha um governo independente da capi
tania da Bahia, Hei por bem isental-a absolutamente da
sujeição em que até agora tem estado do Governo da
Bahia declarando-a totalmente independente, para que os
governadores della a governem na forma praticada nas
mais capitanias independentes , communicando - se directa
mente com os Secretarios de Estado competentes e po
dendo conceder sesmarias na forma das minhas Reaes
Ordens".

Que as Villas de Itapicurú e Abbadia, com todas as


suas freguezias, estavam inteiramente separadas de Ser
gipe e sujeitas aos magistrados bahianos não pode restar
duvidas, lendo- se a resolução do rei que creou a comarca
da Jacobina, á qual ficaram annexadas Itapicurú e Abbadia,
em 10 de Dezembro de 1734 , após pareceres do vice-rei do
Brasil , do procurador da Coroa e do Conselho Ultra
marino, conhecendo - se a resolução em que ficou terminan
temente declarado que a freguezia de Geremoabo estava
annexa á Villa de Itapicurú, resolução que tambem teve o
parecer do procurador da Corôa ; attendendo - se á resolu
ção de 24 de Março de 1738 , em que mais uma vez decreta
DA BAHIA COM SERGIPE 89
поротники не ни парите престана

o soberano, com o parecer do seu Conselho, que a fre


guezia de Geremoabo não estava sujeita á comarca de Ser
gipe e sim affecta á correição da comarca da Bahia e
annexa á Villa de Itapicurú ; olhando-se para os dizeres.
imperiosos e decisivos da provisão de 6 de Fevereiro de
1739, em que o monarcha, após parecer do seu Conselho,
ordena ao Conde das Galveias que mande o ouvidor da
comarca da Bahia a Geremoabo, termo da Villa de Itapi
curú, corrigir e tirar devassa de um assassinato que o
ouvidor de Sergipe lhe denunciara haver sido feito alli.
E de que as divisas de Sergipe se achavam já bem
definidas, no dizer honesto e sincero do Relatorio do Presi
dente dessa Provincia, de 1860, se convence quem ler as
descripções das camaras municipaes de Sergipe, feitas em
1756, entre as quaes a de Santo Amaro de Brotas , a de
Villa Nova, a de Santo Antonio e Almas de Itabayana e a
de N. S. da Piedade do Lagarto .

Esta ultima, por exemplo , diz que seu territorio


"parte e demarca com a freguezia de S. João Baptista de
Geremoabo que fica em distansia desta Villa 30 legoas,
fazendo essa demarcação por uma matta a que chamão
Matta de Simão Dias, que fica distante desta Villa 5
leguas ".

A de Itabayana diz : “ para o sertão confina com terras


do sertão de Geremoabo e para esta parte corre um pequeno
riacho chamado Jacoca que termina seu curso no Vasa
barris".

A de Santo Amaro de Brotas diz , descrevendo o rio


Sergipe : "até a passagem S. Gonçalo em que nella desagua
um pequeno rio dagua doce chamado Jacaracica e deste
logar para cima vae este rio dividindo o termo desta villa
LIMITES 12
90 LIMITES

do da villa de Itabayana e tem este dito rio de Sergipe


sua nascença no Porto da Folha entre o rio S. Francisco e
Geremoabo por espaço de 25 leguas mais ou menos ” .
Cotejando a descripção da comarca de Santo Amaro
de Brotas com a do Vigario de Geremoabo, Januario José
de Souza Pereira, que se acha no archivo de Marinha e
Ultramar de Lisboa, descripção feita em 1736, por ordem
do rei, se vê que concordam ambos, o que serve para esta
belecer imparcialmente a verdade .
Geremoabo, diz o Vigario, limita- se ao poente, com a
freguezia de N. S. do Itapicurú da qual foi desmembrada
em 1718.

O sertão deserto divide esta freguezia para o norte


com a freguezia do Urubú de Baixo e ao nascente até che
gar as primeiras fazendas do Porto da Folha do Coronel
Alexandre Gomes Ferrão .

A freguezia tem 70 leguas do nascente ao poente, e


30 de largo de norte a sul, não mencionando os sertões
despovoados e desertos. "
Ao sul não são menos concludentes as provas de que
a divisa de Sergipe com a Bahia não era pelo Rio Real e
sim pelo rio Saguim, como se vê da patente de Capitão da
Companhia de Ordenanças do rio Saguim, pertencente á
Villa de N. S. da Abbadia, patente mandada passar pelo
Governador da Bahia, D. Rodrigo José de Menezes, a
Fructuoso Martins de Abreu, estendendo- se a sua juris
dicção a S. José, Cajueiro, até o Tahi-Mirim , documento
existente no Archivo Publico, assim como a declaração
feita por uma auctoridade sergipana, o Capitão-mór José
Gomes da Cruz, em que diz que " a freguezia de Santa
Luzia chega até o rio Saguim que a divide com a Villa da
DA BAHIA COM SERGIPE 91

Abbadia, donde tambem não passava a justiça da capitania


de Sergipe ".
Um documento de alto valor, até agora desconhecido,
que esclarece esta velha questão de limites, trazendo deci
siva luz e explicando até todo este litigio, porque foi por
se haver abandonado , com o andar dos tempos , ou propo
sitalmente, o verdadeiro e primitivo traçado do districto
de Sergipe, é o parecer do Conselho Ultramarino , datado
de 9 de Fevereiro de 1695 , quando se pronunciou elle
sobre a nomeação de um juiz letrado para Sergipe , creando
a comarca, e que firma a antiga raia ou divisoria da Bahia
com o seu proximo visinho do norte, dizendo : " e dista da
Bahia sessenta e duas leguas e a mayor parte desta dis
tancia de deserto excituando o Rio Lagarto, do qual corre

e se principia o districto de Sergipe " :

Este rio Lagarto nasce no Olho d'Agua do Sacco,


entre as serras da Chapada e do Boeiro, tem 3 kilometros
de curso, corre de norte a sul, passa a cerca de 3 kilome
tros a oeste da villa , hoje cidade do Lagarto, só tem agua
no inverno e desemboca no riacho Macuna, entre a estrada

e o desvio desta que vae para Simão Dias.


O Macuna, formado por elle, corre até o Jacaré, onde
desagua no Poço da Mulher. O Lagarto banha os sitios
chamados Sacco da Taboca , Boeiro e Coqueiro .

Logo após a independencia, voltou, com o esmoreci


mento da auctoridade publica da Bahia, a ser levantada
pelos sergipanos a questão das fronteiras, por se não con
formarem com as que lhe haviam sido marcadas pelo poder
competente para fazel-o , sendo apresentado á Camara dos
Srs. Deputados Geraes, em 18272 , um pedido da Camara
Municipal de Sergipe, referendado pelo Conselho Geral
92 LIMITES

da Provincia, para que fosse desmembrado da Bahia todo


o territorio do rio Itapicurú para o norte e dado a Sergipe.
Os motivos de fundamento do pedido farão sorrir os
juristas, porque foram não seccar o Itapicurú, poder fazer
se melhor justiça na zona se passasse a pertencer a Ser
gipe, augmentar o territorio de Sergipe e convir muito a
Sergipe . A proposta havia sido apresentada á Camara
Municipal de Sergipe e tinha sido assignada por Manoel
Ignacio da Silveira e Joaquim Martins Fontes.

A commissão de estatistica, á qual foram remettidos


os papeis, comprehendendo que não era possivel conceder
uma graça desta ordem, em prejuizo e esbulho de qutrem,
pedio informações e ellas estão contidas na correspon
dencia do Governo da Bahia, a saber : officios do Visconde
Camamú, de 28 de Março de 1829, de Luiz Paulo de
Araujo Bastos, de 14 de Dezembro de 1830, de Honorato
de Barros Paim, de 9 de Março de 1832 , de Joaquim José
Pinheiro de Vasconcellos , de 13 de Setembro de 1833,
acompanhados das informações das camaras de Itapicurú
e Abbadia.

Estas camaras, tomando conhecimento da desagrada


vel surpreza de se tentar renovar a tentativa de submet
tel-as a um jugo detestado, como se fossem escravos que
se dessem por presente, levantaram a cabeça e reagiram
contra a pretensão insolita que, sob a denominação inno
cente de uma graça , visava entregal- as a um visinho am
bicioso seu adverso, o mesmo que tantas vezes as accusara
e vilipendiara ; e, com a mesma energia com que 100 annos
antes haviam repellido a auctoridade dos ouvidores de Ser
gipe, repelliram agora a denominação por Sergipe.
Além da representação das Camaras, um nós abaixo
DA BAHIA COM SERGIPE 93

assignados de protesto dos moradores deu entrada na


Camara dos Deputados , pelo que foram todos estes papeis
dormir com a pretensão nos archivos da Bibliotheca Nacio
nal, onde os li.

Appareceram então denuncias contra Abbadia, con


forme se vê da correspondencia do Presidente da Bahia
com o Ministro da Fazenda, com a Camara de Abbadia e
com o presidente do Tribunal do Thesouro Nacional , Joa
quim José Rodrigues Torres, constantes dos officios de 9
de Março de 1832 e 19 de Março do mesmo anno , e que
demonstram haver o governo central recebido queixas do
governo de Sergipe contra a Camara de Abbadia, accusada
de lesar o fisco, obstar a boa arrecadação do disimo e
outros impostos etc.

Não demorou muito que voltasse a campo a Provincia


de Sergipe com um acto arbitrario da sua Assembléa Pro
vincial, exactamente egual ao que acaba agora de fazer com
o Coité ou Malhada Vermelha, parecendo ser este ultimo
delineado pelo bom resultado pratico obtido com o pri
meiro.

Como é da mais alta importancia seja sabida a ver


beração que mereceu o acto da assembléa sergipana, cuja
reproducção talvez se veja dentro em pouco no Coité, como
o Governo da Bahia não pode deixar de levar ao juizo su
perior do Congresso a questão da sua raia septentrional,
visto que isso vae ser assim conduzido pelo Governo de

Sergipe quanto á raia oriental, por não ser cousa liquida


o traçado da primeira, e sim provisoria ; como é preciso
que tanto os juristas como o povo da Bahia e o de Sergipe
conheçam não haver sido o territorio entre o Rio Real e
o Saguim dado a Sergipe por estar o governo imperial con
94 LIMITES

vencido do seu direito a elle ( duvidando até delle, pelo


contrario ) ; vale a pena transcrever o parecer do Conselho
de Estado, que foi approvado por aquelle corpo reunido e
que motivou o decreto de 1843 , em virtude do qual Sergipe
usufrue ha 70 annos um territorio que não lhe pertence .
"Senhor-Foi presente á secção do Conselho de Es
tado dos Negocios do Imperio a correspondencia dos Pre
sidentes das Provincias de Sergipe e Bahia, relativa á
questão de limites entre aquellas Provincias pelo que
mandou V. M. Imp . que ella consulte com o que lhe
parecer.

A freguezia da Abbadia que jaz no territorio da


Bahia e na sua demarcação com Sergipe estendia- se alem
do rio Real e sobre esta parte que passa o rio he que versa
a contenda.

Si se consultarem as exposições das auctoridades das


duas Provincias, achar- se-ha que ambas pretendem ter
sempre exercido jurisdicção civil judiciaria e fiscal
naquella parte da freguezia que é hoje objecto de duvida ;
mas não se encontram documentos que comprovem
aquellas asserções .
O que se vê com certeza é que nestes ultimos tempos
tem ambas ellas pretendido exercer esses actos , encon
trando sempre opposição da outra parte. E ultimamente
a Assembléa Provincial de Sergipe erigio em freguezia
aquella parte da villa de Abbadia. A secção reconhece a
necessidade de pôr termo a estas questões que podem vir
a perturbar a paz publica . Faltão-lhe porem todos os es
clarecimentos a este respeito . Não se sabe qual era a antiga
divisão da Provincia de Sergipe quanto á administração
judiciaria, emquanto fazia parte da Bahia , nem consta
DA BAHIA COM SERGIPE 95

quaes os limites que lhe marcarão quando foi separada


desta Provincia. Não se acha entre os papeis qual he a
extensão do territorio daquella parte da Freguezia nem a
sua população .
Apenas em uma exposição da Camara de Abbadia se
diz que ella comprehende 30 engenhos de assucar. Nestes
termos observa a secção que a decisão deve ser fundada
mais nas conveniencias geraes do que na posse que cada
uma dellas possa allegar.

O direito da Provincia da Bahia parece mais bem fun


dado que o da de Sergipe, mas a circumstancia de ser o
rio Real a divisão daquellas duas Provincias em todos os
mais pontos e ser aquelle rio navegavel e possante, he uma
razão muito attendivel para que aquella parte da freguezia
da Abbadia fique pertencendo a Sergipe, servindo aquelle
rio de divisa geral entre ellas . A secção não pode deixar de
accrescentar que sendo pelo menos duvidosa a jurisdicção
da Provincia de Sergipe sobre aquella porção de territorio,
não podia a Assembléa Provincial erigir a capella em
freguezia por um acto seu, devendo ter recorrido á auctori
dade superior. Pelo que entende a secção que, emquanto
por uma lei se não marcarem os limites daquellas Pro
vincias, ordene V. M. Imp. que interinamente se considere
aquella parte da freguezia da Abbadia como pertencendo á
Provincia de Sergipe, servindo o rio Real de divisa entre
as duas Provincias . "

Uma das razões em que se fundou o Conselho de


Estado para uma decisão de cuja equidade duvidava , ou
não lhe parecia bem fundada, digo cujo direito não lhe
parecia bem fundado, já não existe, desde que o
Dr. Francisco Vianna descobrio documentos do seculo
96 LIMITES

18°. que provam a jurisdicção antiga da Bahia sobre aquelle


territorio .
A outra, que é a da navegabilidade do rio Real, é
contraria ao dizer dos sergipanos, que têm pedido o Ita
picurú para fronteira allegando que o Real é pequeno e
secco.

A commissão da Camara dos Deputados, quando foi


ouvida sobre este assumpto, deu parecer contra o decreto
de 1843 , julgando-o inconstitucional, illegal e perigoso, por
entender que a contenda devia ser resolvida pelas duas
partes interessadas .

A Bahia, porém, não promoveu a annullação do de


creto e por isso ficou o provisorio ha 70 annos ( * ) .
O processo empregado pela provincia de Sergipe para
conseguir a posse do territorio entre o rio Real e o Saguim
não foi correcto .

Havia alli uma capella sob a invocação do Divino Es


pirito Santo, construida, segundo consta, por um morador,
e cerca de 30 engenhocas com as suas lavouras de canna.
O Vigario de Abbadia passava de vez em quando para lá
afim de celebrar e no tempo da colonia alli havia sempre
um Capitão-mór que commandava uma companhia de or
denanças . A Assembléa de Sergipe erigio em freguezia a
capella edificada em terras da Bahia, e o Vigario foi impe
dido de parochiar alli, onde se estabeleceu um vigario ser
gipano ; ao mesmo tempo prepostos do Governo sergipano
se apoderaram da jurisdicção civil e estabeleceram posse .
Quando as auctoridades da Bahia quizeram reagir era

( * ) Á Bahia competia como parte prejudicada promover a


annullação do decreto reprovado , reagindo contra o facto consn
mado com o seu direito e pelo seu interesse .
DA BAHIA COM SERGIPE 97

tarde ; recearam empregar a força e recorreram ao Go


verno, que, como vimos, achou muito reprovavel o que havia
sido feito, mas, chegando a uma conclusão divorciada das
premissas , manteve a usurpação, adiando para mais tarde
a solução definitiva, que ainda não chegou .

Se providencias muito energicas, de natureza juridica


e de força, de rigorosa defesa, mas tambem de decidida
e vigorosa disposição , não contiverem a ambição , ao
mesmo tempo astuciosa e violenta , de que acabamos de
ver os effeitos entre o Saguim e o Real, é bem provavel que
tenha sorte analoga o Patrocinio do Coité, onde já se deu
o facto de serem affixados publicamente boletins sediciosos ,
aconselhando a desobediencia e o desrespeito ás auctorida
des bahianas , e alliciando a população para se declarar pela
annexação a Sergipe, acontecimentos que ficaram impunes ,
tanto que o auctor disso se vangloriou, publicando o bo
letim.

Os papeis relativos á invasão do territorio ao sul do


rio Saguim, a reclamação do Vigario e outros se encontram
na Bibliotheca Nacional.

Contra o Decreto de 1843 reclamaram o Governo da


Provincia, a Camara Municipal de Abbatia, lavrandɔ pro
testo, e o mesmo fez, em 1846, a Assembléa Provincial da
Bahia, assignando o documento que declara propugnará
mais tarde a Bahia pelo seu direito, os Srs. Antonio La
dislau de Figueiredo Rocha, presidente, Francisco Moreira
Sampaio e Francisco Mendes da Costa Correia, 1º e 2º . se
cretarios.

Satisfeito por este lado o desejo de Sergipe, embora


um pouco como o negociante que, após longa discussão ,
consegue de um freguez vinte vezes menos do que tinha
LIMITES 13
98 LIMITES

pedido por certa mercadoria que allegava pouco antes estar


a vender pelo custo , voltou- se para o oeste e dahi esta nova
phase dos limites pelo lado de Geremoabo, nome que tantas
vezes as auctoridades de Sergipe tinham levado á Côrte de
Lisboa e á Secretaria dos vice-reis do Brasil.
A linha actual da fronteira vem das nascentes do ria
cho Xingó, o qual corre do sul para o norte afim de des
aguar no S. Francisco, e em curva, depois, accentuada
mente para leste, passando pela serra Negra, seguindo dahi
até a barra do riacho Salgado, de onde vem até o Poço da
Conceição, no Vasabarris .

Deste logar vem até o sitio chamado do José Telles,


passa a oeste de Simão Dias, a uma legua de distancia, e
vae acabar nas cabeceiras do rio Real, fazendo assim um
grande seio entre as duas nascentes . É este seio que o
Governo de Sergipe pretende tomar para o seu Estado,
propondo ao Congresso Federal que uma linha recta, de
cretada por este, unindo as nascentes referidas, seja o
definitivo limite de Sergipe com a Bahia, por este lado .
Como todos os sergipanos que têm tratado do assumpto
adoptam esta recta, é de crer que seja essa fronteira de
grande vantagem para o visinho Estado do Norte. Infe
lizmente este interesse não se combina com os direitos que
tem o Estado da Bahia sobre estas terras que conquistou,
colonisou e onde tem exercido jurisdicção , parecendo - me
que não lhe deve importar o que for deserto , mas que não
pode abandonar a parte que tem uma população que obe
dece ás suas leis , reconhece o seu governo e que não pode

ser transferida de dominio, como gado que se vende ou


se dá.

Ha na parte mais meridional do seio ou grande curva


DA BAHIA COM SERGIPE 99
-----

tura de que fallei uma matta chamada de Simão Dias, que


desde muito é o eixo desta questão.

O povoado sergipano de Simão Dias, hoje Annapolis,


está um pouco affastado da orla mais oiental desta matta .
O povoado bahiano de Patrocinio do Coité está mais ou
menos no centro da matta, ou um tanto para leste.

A descripção da Camara do Lagarto dá a demarcação


pela matta e diz que a matta ficava a 5 leguas . ( * ) Se to
marmos esta base não é difficil chegar a uma solução pre
cisa, firmando ahi uma divisa que cortará a matta onde
chegar esta linha parallela ao Lagarto e a cinco leguas de
distancia, convindo, porém, notar bem que esta matta está
hoje muito differente do que era ha 160 annos , pela re
ducção resultante das devastações e transformações em
terras de lavoura e creação , tanto que os moradores sabem
até onde ella ia noutro tempo, mas poucas capoeiras pos
suem restos da antiga floresta. Ora, os habitantes hoje
contam exactamente 5 leguas (cinco ) de Lagarto a Simão
Dias e como esta se acha a 1 legua da linha divisoria
actual e mais 1 legua para dentro desta, do lado da Bahia,
é que fica o Coité, segue- se que ainda Sergipe está de posse
de cerca de 1 legua de territorio bahiano, indevidamente.

A recta proposta pelo Governador de Sergipe e que


S. Exa. acha muito modesta, abrange , não só toda a matta
de Simão Dias, como tambem territorios trinta vezes
maiores, e, a não se poder chegar a um resultado pratico de

*) Consta-me haver desapparecido por incendio o Archivo


da Camara do Lagarto, mas felizmente nós possuimos com o ex
tracto da demarcação mandado pela mesma Camara ao rei a pa
lavra official deste elemento insuspeito , pois é auctoridade do
proprio Sergipe.
100 LIMITES

fronteira, combinada amigavel e diplomaticamente, então


será preferivel, apoiados no parecer do Conselho Ultra
marino inedito, pleitearmos a divisa pelo rio Lagarto, o
que será recuar muito para leste a fronteira de Sergipe ,
ficando para cá Simão Dias , com toda a matta, etc.
Um pouco mais para o Norte, a concordancia da
Camara de Santo Amaro de Brotas e do Vigariq de Gere
moabo auctorisam a sustentar este ponto e tudo leva a crer
que a fronteira de hoje é pouco mais ou menos a que elles
seguiam ha 100 annos .
A Mesa de Consciencia e Ordens, creando, em 1817,

a freguezia do Bom Conselho do Boqueirão, filial da de


S. João Bapttistta de Geremoabo, diz : “ Ficará dividida por
leste, seguindo do Sul para o Norte, a mesma demarcação
que sempre tem observado a dita freguezia de Geremoabo
e Itabayana que são serros e largos agrestes quasi inhabi
taveis, que por isso não pode alcançar noticia, certificando

por divisa a posse que se observa das duas ditas fregue


zias ".

E a creação da freguezia do Patrocinio do Coité, ( * )


desmembrada da do Bom Conselho dos Montes do Bo
queirão, diz : "Começa no rio Vasabarris no logar deno
minado Barra do Riacho Salgado, e dahi , dividindo- se
com a freguezia de Sant'Anna de Simão Dias pela pro
vincia de Sergipe, seguirá abaixo da Ladeira Grande e
dahi em rumo direito ao Olho dagua do Coité na ponta
debaixo da serra do mesmo nome , e dahi até a lagoa das
Antas, rumo direito ao riacho Cayçá no logar denominado

(*) 1871 - Creada para attender ás necessidades dos mora


dores do BOM CONSELHO , que pela distancia recorriam as vezes
indevidamente a Simão Dias , em outra provincia.
DA BAHIA COM SERGIPE 101

Olhos dagua do Máo Fim Tenhas e por elle acima dividin


do- se com a mesma freguezia de N. S. dos Campos do Rio
Real da dita Provincia de Sergipe e dividindo- se com esta
freguezia até as cabeceiras do referido rio Real ".

Sergipe não tem titulo sufficiente e juridico para nos


impor a tal recta .

Um Sr. Zacharias de Carvalho , citado pelo Sr. Can


dido Mendes e pelos sergipanos que têm advogado a recta,
ligando as cabeceiras do Xingó e do Real , não apresentou
uma só razão que sirva para constituir direito perante
pessoas cultas .

Algumas dessas razões infundem piedade, como


quando elle chama a fronteira absurda porque faz uma
curva dentro de Sergipe ; como quando exclama porque
Sergipe fica prejudicado porque nalguns logares fica com
larga zona entre o rio e a fronteira e noutros fica com uma
pequena faixa ; como quando diz que a Bahia tira poucos
rendimentos desta terra que possue e se ella fosse de Ser
gipe muito mais renderia ; como quando accrescenta que
sendo a Bahia generosa não deixará de ceder tão pequenos
interesses á sua irmă ; como quando accrescenta que dessa
generosa dadiva resultaria um grande bem, ficar Simão
Dias com um juiz letrado, o que não tinha em 1861 ,
quando elle escreveu , porque não havia bacharel que qui
zesse ir para terra tão pobre ; como quando elle allega a
consideração ingenua de que juntando-se a Simão Dias y
povoação do Coité, com as fazendas que ficar perto , não
faltaria mais o numero de jurados que era preciso para
que o Governo augmentasse o ordenado do juiz ; e como
quando termina afiançando que tal abandono pela Bahia
102 LIMITES

da convexidade da sua fronteira cobriria de gloria os


bahianos e sergipanos que para tal houvessem concorrido !

Este auctor citado pelos sergipanos ( *) não pode ser


discutido por este seu trabalho, pois a questão é muito
mais seria.

A reclamação contra a curva da linha fronteiriça


parece-me apenas um pretexto, porque não se altera por
isto uma divisoria , a não ser que se trate de terrenos incul
tos, estereis e despovoados , porque em todos os paizes do
mundo são sinuosas as divisorias, o que não pode deixar
de dar-se, desde que as partes confinantes tenham in
teresse e direitos nos terrenos que as linhas circum
screvem .

No Brasil, além disto, a não haver em alguma mu


dança de regimen a resolução de dividir e demarcar em
pedaços eguaes o territorio, não pode deixar de ser muito
sinuosa a fronteira dos Estados, porque a colonisação
seguio ordinariamente á guerra e á catechese, e as auctori
dades que vieram depois dos colonos foram estendendo
a sua jurisdicção como poderam, de accordo com os re
cursos que tinham e seguindo as fazendas que os colonos
iam formando, onde achavam mais vantagens para a sua
cultura rudimentar, para a sua mineração ou seu gado..

Por isso ninguem pode pretender aqui ter linhas


rectas sem adquirir terras ou despojar os outros, como
não se podem fazer ruas certas e alinhadas sem comprar

as casas para derrubar, tirando os angulos e corcovas.


As terras que o Governo de Sergipe pretende com
prehender na sua recta pertenceram á missão de Gere

( * ) Josino Menezes, Coelho e Campos , Padre João de Mattos , etc.


DA BAHIA COM SERGIPE 103

moabo, que foi no seu principio uma missão de indios


Carirys (se me não engano ) , aldeados por frades fran
ciscanos, os quaes se retiraram quando se constituio a
freguezia, em 1718.
Cem annos depois, da freguesia de Geremoabo se des
membrou a do Bom Conselho e 53 annos mais tarde , desta
a do Coité .

Antes de ser freguezia , já neste territorio , então per


tencente á freguezia de Itapicurú , tinha jurisdicção o
vice-rei do Brasil, como o indica a carta mandada ao Capi
tão-mór de Geremoabo, Antonio Dias Laços, por D. João
de Lancastre, em 1º. de Março de 1697, ordenando que
intimasse aos chefes das tribus de indios Mungurús e Ca
riacás fizessem pazes, ameaçando mandar degollar o que
infringisse esta ordem.
Chegar a uma solução consultando somente o interesse
de uma das partes, como quer o Governo de Sergipe , não é
possivel.

Não foi povoado nem cultivado o territorio por Ser


gipe, e nunca exerceu Sergipe jurisdicção nem prova ɔ
seu direito no espaço que está para leste da linha recta que
pretende e entre esta e a fronteira actual.
Não é, portanto , justo o que pretende.
Não me parece ser o Congresso Federal o logar mais.
adequado para procurar uma solução duradoira, pacifica
e equitativa . Em 1827 , 1836, 1867 , 1882 e 1891 foram
apresentados projectos para este fim que nunca lograram
ir até a terceira discussão. (*)

Para conseguir um resultado parcial e apaixonado não

(*) Excepto um.


104 LIMITES
‫ނ‬ *‫ގ‬

se deve trabalhar, pelo que só a juizes é razoavel apresen


tar questões desta ordem, que dependem de longos e es
peciaes estudos e parallela consulta aos interesses legitimos
das partes .

Penso que solução rapida e pratica sómente se con


seguirá nomeando as duas partes commissarios que estu
dem o assumpto, indo aos logares, procurando traçar uma
raia que não fira direitos, a qual será submettida a estudo
.
e apreciação dos dois governos, indo ás duas assembléas
se elles a approvarem, e submettendo a arbitro ou ao Su
premo Tribunal algum ponto do trabalho sobre o qual não
tenham podido chegar a accordo.
Só ha um ponto nas grandes pretenções sergipanas
que merece ponderação e reflectido exame . É o que se
refere á demarcação da matta de Simão Dias , isto é, se a
raia deve ir pela orla da matta, como até agora, ou por
dentro da matta , mais ou menos para Oeste, ou mais ou
menos para o Norte do que actualmente.
Estou convencido que a divisa historica, verdadeira e
antiga de Sergipe com a Bahia é a indicada pelo Conselho
Ultramarino, pelo riacho Lagarto, mas, tambem, é certo
que, graças ao tenaz desejo dos ouvidores ( * ) de alargar
a sua jurisdicção, a grande distancia da séde do Go

verno ( ** ) e mesmo dos ouvidores de Jacobina, foram os


sergipanos se estendendo para Oeste, porque já nos meiados
do seculo 18. se encontra a freguezia dos Campos do rio
Real de Cima constituida como dentro de Sergipe, sem
protesto, reclamação , etc. , do Governo da Bahia e sendo
nesta parte o rio Real considerado como divisa.

* ) Sergipanos.
** ) Da Bahia.
DA BAHIA COM SERGIPE 105

É muito provavel que alguns individuos tenham co


meçado a explorar a matta , quando a terra se foi povoando
mais e que, por muito longe de Geremobo e mesmo de Bom
Conselho, fossem se tornando freguezes de Lagarto e mais
tarde de Simão Dias ; pelo que a jurisdicção das auctori -
dades sergipanas se foi fazendo pela matta, indo de Leste
para Oeste e de Sul para o Norte. E que tambem o inverso
se desse.

Desde que se fundou o Patrocinio do Coité a situação


mudou e se está a dar na realidade uma grande inconve
niencia, que consiste em se eximir a gente daquella zona a
pagar impostos de transmissão, ora se declarando da Bahia,
ora de Sergipe, por falta de uma linha certa de fronteira .
O mesmo se dá com os crimes e isto precisa de um termo ,
além de que nesta questão a Bahia é sempre quem tem a
perder e quem sempre perdido tem.

Á Bahia não importa largar mais ou menos una legua


de terra, mas não pode abandonar o Patrocinio do Coité,
porque esta gente foi sempre da freguezia de Geremoabo ,
sempre viveo, de paes a filhos , sob a auctoridade da Bahia,
foi colonisação ida de oeste para ieste, tanto que eram fre
guezes de Geremoabo e de Bom Conselho, depois que esta
se fundou .
E não ha povo civilisado que consinta passar a outro

gente do seu sangue, com habitações fixas, em terra que


pelo mesmo povo foi colonisada, cultivada e policiada.
Se o visinho Estado contesta o nosso direito e chama

abusiva a nossa posse e jurisdicção, allegando a tradição ,


isto é deposição de pessoas idosas que affirmam ter Sergipe
exercido jurisdicção sobre estes logares no principio do
seculo 18., com muito melhor razão contestamos o direito
LIMITES 14
106 LIMITES

da tal jurisdicção , que foi abusiva , pois declara auctoridade


tão competente e official, como o Conselho Ultramarino,
no fim do seculo 17°. , que o districto de Sergipe se limitava
antigamente pelo riacho Lagarto , isto é, a tres kilometros
a oeste da localidade deste nome.
Bahia, 3 de Novembro de 1913.-Dr. Braz do Amaral.

N. 12

Telegramma do Deputado bahiano Mu


niz Sodré sobre o projecto do Sr. Mo
reira Guimarães

Projecto limites Sergipe Bahia não foi sequer con


siderado objecto deliberação camara , virtude grande
maioria deputados manifestar-se pela sua inconstitucio
nalidade e nós pleitearmos elle não dever ser conside
rado objecto deliberação , não podendo por isso entrar
ao menos já em discussão : fez -se accordo ir elle para
commissões justiça constituição onde ficará sepultado .
Subscrevi-me combatel-o maior esforço mas em

vista solução amigavel nosso contento julgamos não


devemos agora agitar caso que parece definitivamente
morto. Amigos bancada pleno accordo este telegramma
abraços .-Muniz Sodré

N. 13
Telegramma do Deputado bahiano Oc
tavio Mangabeira sobre o projecto Mo
reira Guimarães.

De Rio 21 Novembro 1913. -Exmo . Governador

em Bahia. Questão Sergipe aqui inteiramente morta


sendo contraproducente qualquer providencia sentido
revivel-a-Mangabeira.
DA BAHIA COM SERGIPE 107

N. 14

Aviso do Dr. Braz do Amaral , commissario


da Bahia, de ter chegado ao Rio e haver come
çado-a se entender com a bancada sergipana.

Rio , 24 Novembro . -Exmo . Governador Bahia


-Communico haver chegado aqui hontem e ter sido
apresentado pelo deputado Souza Britto aos repre
sentantes sergipanos Felisbello Freire e Moreira
Guimarães .
Saudações . Amaral.

N. 15

Telegramma do commissario B. Amaral


pedindo poderes especiaes para negociar, a
vista das declarações do Deputado sergipano
M. Guimarães, chefe da bancada

De Rio , 26 de Novembro 1913 .---Exmo . Gover


nador Bahia. - Conferencia Moreira Guimarães resultou
pedir este Siqueira poderes tratar solução amigavel.
Vindo excede minhas instrucções.
Necessario pessoa auctorisada negociar indicando
poderes pontos principaes . Bancada Sergipana reune
amanhã nossa morada 11 horas deliberar commigo .
Ordene. Estou Pensão Alpha Cattete , 186. Bancada
bahiana sciente .---Amaral.

N. 16

Telegramma do Dr. M. Guimarães leader


da bancada sergipana, marcando uma confe
rencia da mesma com o commissario bahiano
na residencia deste

De Rio, 26 de Novembro 1913 .--- Dr . Braz Amaral


108 LIMITES

Pensão Alpha Cattete---Rio .---Amanhã bancada sergi


pana ahi estará 11 horas .
Saudações .---Moreira Guimarães.

N. 17
Telegramma do Governador da Bahia
dando ao Dr. Braz Amaral poderes para tratar
sobre os limites ad referendum do Congresso
Estadual

Bahia , 27 Novembro 1913 .--- Dr. Braz Amaral


Pensão Alpha Cattete--- Rio .--- Fica authorisado entrar
negociações limites entre este Estado e o de Sergipe ad
referendum Governador e Congresso Estadoal .
Affectuosas saudações --- Seabra.

N. 18
Telegramma do commissario bahiano di
zendo que o chefe da bancada sergipana não tem
poderes do Presidente do seu Estado

De Rio , 28 Novembro 1913 .--- Exmo . Governador


-Bahia .---Penhorado alta honra . Sergipanos hontem
conheceram nossas forças ; mostrei parte. Guimarães
propõe bases interesses Estados lugar direitos . Diz
esperar credenciaes Siqueira . Amanhã outra reunião
presença Britto.
Saudações .---Amaral.

N. 19
Telegramma do Deputado sergipano Mo
reira Guimarães ao delegado da Bahia Dr.
Braz Amaral communicando uma conferencia
da bancada sergipana em a residencia do
segundo

Rio , 29 ---Dr . Braz Amaral Pensão Alpha Cattete---


Rio .---Amanhã 11 horas estaremos ahi .
Saudações .---Moreira Guimarães.
DA BAHIA COM SERGIPE 109

N. 20

Telegramma do Dr. B. Amaral ao Go


vernador da Bahia communicando a sua
conferencia com o senador Ruy Barbosa

De Rio. Exmo . Governador Bahia .---Conferencia

Ruy presença Britto . Necessario recorrer Supremo


Tribunal abrangendo reivindicação territorio Saguim
Coité attitude perturbadora vizinhos . Mesma opinião
Alexandre Souza . Convem povos manifestação expulsar
intrusos . Delegado regional respeitar integridade leis
auctoridades dentro linha Estado . Combinamos con
ducta perante bancada Sergipe.
Saudações .---Amaral.

N. 21

Telegramma do Dr. Braz do Amaral pe


dindo instrucções sobre vantagens economicas,
caso se fizesse algum accordo baseado em inte
resses como insinuara o Dr. Moreira Guimarães

Do Rio , 30 Novembro 1913- Exmo . Governador


Bahia Caso ajuste base interesses peço indicar van
tagens economicas tirar medidas impedir illusão .
Mande vapor codigo entendermos . -Amaral.

N. 22

Telegramma do Dr. Braz do Amaral ao


Secretario do Estado explicando o despacho
anterior.

Do Rio , 29 Novembro 1913- Exmo . Secretario


Bahia - Telegramma Amaral authentico. Guimarães
propõe resolver questão sobre base conveniencias lugar
direitos assistam partes contratantes . Peço instrucções
110 LIMITES

melhor proposta vantagens economicas Bahia . Convem


cifra nosso uso.

Saudações Amaral.

N. 23

Telegramma do commissario bahiano dan


do a opinião dos srs . Ruy Barbosa e Alexandre
Souza.

Do Rio, Exmo . Secretario Bahia- Ruy approvou


calor protesto . Necessario acção immediata Supremo
Tribunal reivindicando Saguim firmando Coité mo
tivada attitude perturbadora visinhos . Exata opinião
Alexandre Souza . Convem povos manifestação expulsar
intrusos . Delegado região prudente energico respeitar
integridade auctoridades dentro linha Estado . Britto
telegraphou amigos Coité.
Saudações --Amaral.

N. 24

Bahia, 2 Dezembro 1913 - Dr. Braz Amaral


Cattete Rio- De posse seus telegrammas entendi -me
Governador que pensa como eu que esclarecida ahi a
questão deveremos promover com calma solução defi
nitiva . Por aqui nada de novo aguardando o Governo
noticias que lhe transmittirei delegado regional . Aper
tado abraço- Arlindo Fragozo.

N. 25
Telegramma do commissario bahiano in
formando .

Do Rio , 5 Dezembro 1913-Exmo . Governador


Bahia- Voltam esperanças harmonia. Guimarães pro
DA BAHIA COM SERGIPE 111

curou casa mostrar telegramma Siqueira decidido ne


gociar ahi ou aqui intermedio Guimarães .
Saudações- Amaral.

N. 26

Telegramma do commissario B. Amaral


informando

De Rio, 7 Dezembro 1913 .--- Exmo . Governador


Bahia .---Confirmada suspeita Siqueira teima Congresso
approve desmembramento . Guimarães recebeu ins
trucções . Receio parecer commissão projecto objecto
deliberação.---Amaral.

N. 27

Telegramma do commissario B. Amaral


informando

De Rio .--- Exmo. Governador Bahia .---Desfeita


esperança solução amigavel . Guimarães mudou tom
indicando recebeu instrucções .
Saudações .---Amaral.

N. 28

Telegramma do commissario bahiano in


formando Governo Sergipe estar ainda co
lhendo dados sobre a questão que levantou.

De Rio, 28 de Dezembro 1913 .---Exmo. Gover


nador Bahia .--- Governo Sergipe telegraphou estar
colhendo dados questão levantou disposto ir fronteira
ideia meu Memorial . Deseja companhia commissario ba
hiano .

Saudações.---Amaral.
112 LIMITES

N. 29

Telegramma transmittindo o despacho do


Presidente de Sergipe

De Rio 20 Dezembro 1913 .---Exmo . Secretario

Bahia .--- Siqueira mandou seguinte expressivo tele


gramma. « Estou colhendo dados precisos estabelecer
modus vivendi limites provisorios Bahia Sergipe . Pro
vavel tenha ir logar falar conhecimentos proprios sobre
assumpto . Seria bom Dr. Braz Amaral ou pessoa
mesmas condições me acompanhe. Nunca senhor Gallo».
Peço informar Britto . Sigo Itatinga .---Amaral.

N. 30

Telegramria do Secretario do Estado da


Bahia appro ando a volta do commissario e a
sua acção

De Bahia 15 Dezembro 1913 .---Dr. Braz Amaral

---Rio .---Fico inteirado assumptos suas diversas cartas


Penso que es 2 arecida a opinião deve o litigio ser tra
tado aqui junto ao Governo e sob sua esclarecida di
recção . E de alta conveniencia ficar o illustre Sr. Dr.
Alexandre le Souza de tudo informado .
Affectio sas saudações .--- Arlindo Fragoso.

N. 31

Telegramma do Delegado de Policia do Coité


confirmando a invasão e occupação.

De Annapolis , --- 16 Dezembro 1913 .---Exmo . Go


vernador--- Bahia .---Auctoridades Simão Dias dando

informações infundadas fizeram Governo Sergipe no


DA BAHIA COM SERGIPE 113

mear auctoridades policiaes logarejo Sacco pertencente


municipio Patrocinio Coité Estado Bahia . Habitantes
pedem urgente providencia fazendo Vossa Excellencia
respeitar territorio bahiano .--- Respeitosas saudações .--
Delegado Policia do Patrocinio Coité.

N. 32

Carta do Dr, B. Amaral, commissario da


Bahia ao Governador do Estado.

Exmo. Sr. Depois da minha ultima nada ha á


respeito de Sergipe , pois o Sr. Moreira Guimarães ainda
não avisou cousa alguma a respeito de resolução do
General Siqueira sobre se tratará lá directamente com
V. Exa . , ou se authorisará o mesmo Guimarães a
fazel -o aqui .

Esta tem outro fim que é o seguinte.

Os Estados de Minas e Espirito Santo resolveram


submetter a uma arbitragem a sua questão de limites
e encarregada está deste trabalho uma commissão pre
sidida pelo Ministro do Supremo Tribunal Canuto
Saraiva.

Naturalmente depois de chegarem a accordo leva


rão os dois Estados o caso ao Congresso que ractificará
a fronteira estabelecida por elles.

Mas, como ao norte do rio Doce a fronteira de


direito não é com Minas e Espirito Santo e sim com
Minas e Bahia, não será depois da ractificação muito
mais difficil para o nosso Estado fazer valer os seus
direitos ?

E não estabelecerão elles dois a fronteira do


LIMITES 15
114 LIMITES

Espirito Santo até o rio Mucury, ficando depois da


futura ractificação esta divisa que nós impugnamos
com um cunho legal que não tem hoje?
Nestas condições , consulto se será conveniente
levar perante a commissão de arbitragem alguma nota
ou protesto que sirva para salvaguardar para o futuro.
os direitos da Bahia , fazendo o mesmo officialmente
perante os dois Governos?
V. Exa. resolverá sobre isto e se achar sensatas as

ponderações acima se dignará auctorisar- me por tele


gramma a me apresentar ao presidente da commissão
para reclamar, ou mesmo juntar aos papeis alguma
petição para resalvar os direitos da Bahia sobre a parte
da fronteira ao norte do rio Doce, á vista dos termos do
Aviso de 10 de Abril de 1823 , o que poderei combinar
aqui com o Dr. Alexandre Souza.

Eu não sou jurista e por isto apresento timida


mente esta consulta, pois só tenho no pensamento o
interesse do Estado e as boas consequencias para a

Bahia da administração fecunda de V. Exa.


Aproveito a opportunidade para reiterar os meus
protestos de respeito e alta consideração . — Braz
Amaral.

N. 33

Carta do Dr. Braz Amaral , commissario da


Bahia ao Dr. Seabra Governador do Estado .
2 de Dezembro de 1913.

Exino . Sr. Logo que cheguei aqui apresentei as


cartas de V. Ex . de que fui portador aos srs . Depu
tados Octavio Mangabeira e Antonio Muniz aos
quaes expuz as instrucções de V. Ex" . para que se fizesse
DA BAHIA COM SERGIPE 115

uma reunião da bancada afim de tomar conhecimento


dos elementos de direito de que dispomos não só
na actual questão de Sergipe, como nas outras que
temos com os Estados limitrophes .
Não recebi aviso porém até agora para essa
reunião e presumo que ella não se fará sem que

me caiba a culpa da falta de não terem os repre


sentantes do Estado certas bases para discutir alguma
destas questões que surja de chofre .
Pelo deputado Souza Britto fui apresentado aos
Srs. Moreira Guimarães e Felisbello Freire . deputados
por Sergipe . O Sr. Moreira Guimarães , responsavel
pelo projecto que foi apresentado á Camara sobre os
limites da Bahia e Sergipe , leader da bancada sergi
pana, pessoa de confiança do Presidente do seu Estado
e seu provavel successor, alvitrou-me a idéa de resol

vermos amigavelmente a questão , a que eu accedi por


ser minha opinião antiga , o que me levou a solicitar de
V. Ex . poderes para alguma pessoa aqui para este
film, os quaes foram confiados a mim, honra que sem
pre agradecerei , ficando elle de telegraphar no mesmo
dia ao Presidente de Sergipe, General Siqueira , fixando
se uma reunião em nossa casa para o dia seguinte ,

27, a qual se effectuou , comparecendo o referido M.


Guimarães, e o Deputado Joviniano de Carvalho os
quaes me pareceo desejarem conhecer os elementos

de que eu dispunha pelo que me fechei . S. Ex" . porém


tendo visto alguns dos nossos documentos me propoz
que a solução tivesse por base os interesses dos dois
Estados em lugar dos direitos , o que é para nós uma
grande prova moral de que elles não tem grande cousa
a allegar em juizo .
116 LIMITES

Ficou combinada outra reunião para o dia 27. O


Sr. Felisbello Freire que então compareceu inter
pellou o Sr. M. Guimarães sobre se elle tinha poderes
para tratar de assumpto de tanta revelancia , ficando
evidenciado que elle não os tinha , pelo que não passa

mos dahi . Antes da chegada dos collegas o Sr. Felis


bello me havia declarado que muito contrariado subs
crevera o tal projecto que julgava um desastre ,
resultado da in capacidade e que só o subscrevera por
instancias do General Valladão o qual aliás comparti
lhava do mesmo modo de pensar mas o subscreveu
porque previa que havia de ficar tudo nisto mesmo.
Devo acrescentar que o Sr. F. Freire está em
opposição o que disse nessa reunião francamente
diante de nós tres .

O Sr. deputado Dias Barros , que não compareceu ,


me declarou depois que o projecto fôra uma infelici
dade, inopportuno e inconveniente e que elle se mani
festara contra a sua apresentação , e dizendo que só o
subscreveria, se o Sr. Felisbello o fizesse .
E' transparente para mim que os Srs . Felisbello e
Barros tem na politica de Sergipe um pólo e que no
outro estão os Srs . M. Guimarães e Joviniano.
O Sr. M. Guimarães declarou por seu turno ao
Deputado Souza Britto que não apresentaria o projecto
senão tivesse elle vindo de Aracajú com ordens ex
pressas e , na reunião, em presença de todos , quando eu
notava o que havia de extranho em pretender a Assem
bléa de Sergipe crear villas em outro Estado , lamentou
que tal facto se tivesse dado e me disse que o Presi
dente ainda não sanccionara a lei.

O Deputado bahiano Pedro Lago que estudou o


DA BAHIA COM SERGIPE 117

lado juridico do assumpto sustentou a inconstitucionali


dade do projecto , fundando-se na opinião de eminentes
jurisconsultos . Esta é tambem a opinião do Sr. Ruy
Barbosa e de outros juristas daqui os quaes affirmam
que a palavra definitivamente exarada na constituição
quer dizer que o Congresso só pode se pronunciar após

accordo entre os Estados que são as partes contra


ctantes .

Esta interpretação nos servirá muito no dia em que


se tratar do caso de Pernambuco , porque estaremos fóra
de resoluções do congresso e portanto o negocio se resol
verá entre os dois Estados , ou entre elles e a justiça .
Estive com o Cons . Ruy Barbosa ao qual pedi
directamente uma conferencia por intermedio do de
putado Alfredo Ruy.
Elle pensa que a questão deve ser levada logo ao
poder judiciario, unico competente , abrangendo não
só a do territorio entre o rio Real e o rio Saguim que
nos pertence, com os elementos comprobatorios de que
dispomos , como tambem a do Coité , julgando ambos
-OS casos muito bem amparados em direito . Julga

tambem que V. Exª . fez muito bem protestando ener


gicamente e nomeando um delegado regional que
escrupulosamente não deve passar a linha admittida.
até agora como nossa fronteira mas que não deve
admittir authoridade nem força estranha á Bahia ahi
em nosso territorio . O facto de haver sido apresentado
ao congresso um projecto sobre o caso não impede que
a questão siga perante a justiça os seus turnos .
A respeito da minha conducta com a bancada .
sergipana apresentei a S. Exª . o seguinte plano que foi
approvado .
118 LIMITES

Partindo do principio que o General Presidente de


Sergipe não pensa em accordo e que teima no seu pro
cedimento errado eu farei saber ao Sr. Moreira Gui

marães que se até quinta-feira , 4 do corrente , elle não


tiver poderes do Governo de Sergipe para entabolar
negociações , se comprehende haver sido abandonada
a ideia de solução amigavel por accordo , ficando bem
claro que o Governo da Bahia esgotou todos os meios.
conciliatorios , a ver se elles se decidem.

Devo acrescentar que o Dr. Alexandre Souza ,


dedicado e habilitado defensor da Bahia , pensa do
mesmo modo .

De V. Ex . dedicado . - Braz Amaral.

N. 34

Telegramma do Delegado Regional do Coité


noticiando continuar a se estender a invasão
das forças sergipanas na Bahia.

Barracão , 5 Janeiro 1914- Sr . Governador- Com


plemento primeiro telegramma tenho dizer-vos achar
se augmentado destacamento Sacco Apertado Pedras
cujos delegados ordenaram soldados medidas aggressivas
contra qualquer auctoridade deste termo . Simão Dias
distante este municipio oito kilometros acabam chegar
official praças Aracajú ; tenho agido commum accordo
juiz preparador sentido impedir panico Coitéenses jus
tamente receiosos invasão resto municipio defendido
apenas cinco praças . V. Exª . deverá enviar resposta
Barracão onde pessoa confiança a aguarda . — Salustiano
Figueiredo, Delegado Regional .
DA BAHIA COM SERGIPE 119
” ” ” ,“ ཀ

N. 35
Telegramma do Preparador do Coité con
firmando a noticia da invasão.

Barracão , 6 Janeiro 1914 - Ao Sr. Governador


Cincoenta praças policia sergipana localisadas Sacco
Apertado Pedras Simão Dias ameaçam invasão resto
municipio Coité. Povo espera reforço Policia Bahiana
repellir absurdas pretenções Sergipe . Urge providencia
urgentissima situação critica . Temos custado evitar
exodo familias justamente temerosas . Wenceslau
Gallo, Juiz Preparador -Salustiano Figueiredo, De
legado Regional .

N. 36
Telegramma do intendente e concelho mu
nicipal do Coité confirmando estender-se a
invasão.

Barracão , 2 horas , 6 Janeiro 1914. Ao Sr. Go


vernador . Resto municipio Coité imminencia cahir
poder Sergipe que tem cincoenta praças Simão Dias ,
Sacco e Apertado de Pedras . Esperamos auxilio vosso
benemerito Governo fim garantir vida propriedade;
povo coitéense disposto arrostar todas difficuldades.
manter integro territorio glorioso Estado .---Justino
Virgens, Intendente-Jacintho José Matheus- Seve
riano Trindade---João Paulo--- Pedro Teixeira.

N. 37
Telegramma do Governador da Bahia ao
Presidente de Sergipe noticiando ter investido o
Dr. Braz Amaral de poderes para se entender
com elle sobre a questão dos limites.

De Bahia, Exm°. Presidente Sergipe- Tendo con


fiado Dr. Braz Amaral tratar negocio limites Bahia
120, LIMITES

Sergipe ad referendum Governo Assembléa interesse


solução satisfactoria partes com inalteravel harmonia
dois Estados rogo V. Ex" . fineza informar opportu
nidade ida commissario . -Cordiaes saudações-Scabra
Governador Bahia.

N. 38

Telegramma do Presidente de Sergipe ao


Governador da Bahia.

Aracajú, 7 Janeiro 1914 - Exm° . Dr. Seabra


Bahia ( Official ) Surprehendido tenho estado eu não só
com vosso officio ultimo no qual enxergo até ameaças
pobre Sergipe como com vosso telegramma hoje . Seus
emissarios que estiveram Annapolis quisessem falar
verdade dirão simplesmente lá encontraram 10 praças
mandei substituir destacamento lá se achava . Quer me
parecer dentro Sergipe posso mover força manter
ordem . Seu juiz preparador acompanhado sargento
delegado regional e outras pessoas invadiram quartel
destacamento Apertado Pedras com despropositos pro
prios desassisados alarmando população lugar sempre
foi Sergipe e agora auctoridades Coité querem fina força
conquistar. Ha poucos dias tive necessidade levar co
nhecimento Ministro Interior tropelias e ameaças feitas
Dr. Gallo Apertado Pedras . Sergipe pobre e fraco como
é não ameaça nem pode ameaçar ninguem; elle quando
muito será victima de quem pela violencia quer redu
zir-lhe o minguado territorio . Todas estas inverdades
visam justificar intervenção arınada por parte V. Ex" .
contra pobre Sergipe . Pode V. Ex . entregar ao Dr.
Gallo numerosa força para conquistar Sergipe até além
DA BAHIA COM SERGIPE 121

do Lagarto, como elle disse a pobre praça que encontrou


em Apertado Pedras que é de Sergipe assim como Sacco
e só pertencerão á Bahia se V. Ex" . prestando ouvidos.
inverdades seus auxiliares mandar a força com que o
Dr. Gallo já nos ameaçou de dentro de quinze dias
fazer praças Sacco Apertado Pedras irem parar além
Lagarto que é onde ellas poderão ficar garantidas .
Deante estas tropelias Dr.Gallo e mais desabusados pobre
Sergipe porque não pode levantar exercito 5 ou 6 mil
praças deve quedar- se humilde e obediente ao grande
Dr. Gallo quer ter gloria ser o seu conquistador com
força dada V. Ex" . Sacco e Apertado Pedras são Sergipe
lá manterei destacamento 6 praças e auctoridades em
quanto a força que V. Ex" . mandar não as expulsar.
Coité já disse o não repetirei mais para ser contestado
por quem nunca fallará garanto mais verdade que eu,
pode estar descançado não será absolutamente per
turbado . Elle guarde- se antes dos arruaceiros quem
V. Ex". está prestar ouvidos .
Nunca foi ameaçado invasão nem será . Só a mente
escaldada seus informantes será capaz collossal inver
dade. Sergipe que por uma lei irrita e nulla poderoso
Estado foi prejudicado melhor porção municipio Simão
Dias tirada constituir municipio Coité que agora não
contente clamorosa extorção quer dilatar limites Esta
belecidos essa lei amesquinhando pequeno e fraco estado
que não deve ter ousadia pugnar sua integridade
tantas vezes golpeada . Acabo receber segundo despacho
V. Exa . findar telegramma acima . Antes mais direi
rebatendo repetidas expressões violencias empregadas
· V. Exa . que meu Governo surgio unicamente vontade
meus patricios e não violencia , por isso meus processos
LIMITES 16
122 LIMITES

differem algum tanto dos V. Exa. que surgio em bom


bardeio . Está V. Exa . repetir violencias, violencias
com quem até aqui tudo tem feito não pratical -as . V.
Exa . por ser Governador Estado grande, rico poderoso
não tem o direito estar bater essa técla, quando ninguem
o é mais do que V. Exa . que tendo perdido calma quer
obrigar-me acompanhal-o . Modere-se e mande o Dr.
Braz Amaral ou outro homein menos impetuoso do que
V. Exa. e menos arruaceiro do que seus informantes ;
lá estarei em Annapolis ás ordens . Então elle terá
occasião verificar que acabo dizer . Por causa disturbios
Sr. Gallo em lugar duas praças mandei mais quatro
Apertado Pedras . Quem está alarmando Coité é seu
representante que não contente com isso está pertur
bando paz Sergipe lançando com seus desatinos panico
Sacco Apertado Pedras tambem emem Annapolis .
Ha muito espero seu representante em lugar delle
acabo receber seus arrogantes telegrammas aliás não
me mettem medo . Por intermedio Dr. Moreira Gui

marães mandei dizer Dr. Braz estava disposto afim


tranquilisar meus patricios accordo conservando Sergipe
lei bahiana emquanto Congresso não resolvesse as
sumpto quaes limites passam, segundo informações
pessoas entendidas, oeste Apertado Pedras e Sacco e só
pelo ultimo telegramma V. Exa . que tenho noticia
directa de que está disposto mandar mesmo doutor
commigo examinar delicada questão in loco . Seja
menos prepotente e terá minhas affectuosas saudações .
---General Siqueira.
DA BAHIA COM SERGIPE 123

N. 39

Resposta do Governador da Bahia ao des .


pacho acima do Presidente de Sergipe

Bahia , 8 Janeiro de 1914 .---Exmo . Sr. General


Presidente Sergipe em Aracajú.---Tenho presente o
telegramma de V. Exa . de 7 do corrente que archi
varei para futuro conhecimento dos que pretenderem
fazer a historia dos tempos que correm . Ao Sr.

General sempre dispensei quer como particular quer


como presidente desse prospero e futuroso Estado as
attenções a que tem direito , não sendo para esquecer
a confiança que sempre me mereceu quando tive
occasião de occupar cargo Ministro Justiça e Ne
gocios interiores .
O Dr. Braz Amaral seguirá primeiro vapor para
ahi, afim de conferenciar com V. Exa . e por-se ás suas
ordens afim de evitar que o juiz preparador inamovivel
pela lei durante o tempo para que é nomeado , não
seja incommodo ao illustre General , conforme se queixa .
Resolvi mudar a séde da comarca de Bom Conselho
para o Coité, onde não tenho mantido força policial
senão a excassamente indispensavel ( cinco praças )
para manutenção da ordem .

Attenciosos cumprimentos . -Seabra .

N. 40

Telegramma do Governo da Bahia commu


nicando a transferencia da séde da comarca.

Bahia, 8 Janeiro 1914---Sr . Dr. Preparador Pa


trocinio Coité---via Simão Dias .---Communico-vos ter
124 LIMITES

sido transferida séde comarca Bom Conselho para esse


termo . Governo espera deante factos occorridos agireis
dentro da lei com maxima prudencia saudações---Ar
lindo Fragoso, Secretario Estado .

N. 41

Telegramma ao Delegado Regional commu


nicando a transferencia da séde da Comarca.

Bahia , 8 Janeiro 1914 .--- Sr. Delegado Regional


Coité---via Simão Dias .---Governo acaba transferir séde

comarca Bom Conselho para esse termo . Espera agi


reis accordo prudencia.---Arlindo Fragoso, Secretario
Estado .

N. 42

Telegramma ao Intendente do Barracão para


mandar uma communicação urgente , ao Juiz
de Direito do Bom Conselho .

Bahia , 8 Janeiro 1914 .--- Sr . Intendente Municipal


--- Barracão .--- Solicito-vos expeçaes proprio commu
nicar ao Dr. Raul Passo , villa Soure, Governo acaba
transferir séde comarca Bom Conselho para termo Pa
trocinio Coité esperando deante factos alli occorridos
siga com maxima brevidade .-- Promotor segue urgencia .
Saudações---Arlindo Fragoso.

N. 43
Officio mandado pelo Governo da Bahia
aos Intendentes de Coité e Geremoabo.

Palacio do Governo da Bahia, 10 de Janeiro de


1914. - Sendo da mais alta importancia que a questão
DA BAHIA COM SERGIPE 125

ultimamente agitada sobre os limites da Bahia com


Sergipe seja resolvida por meios diplomaticos , com
toda a harmonia e provas de que existe, da parte do
nosso Estado, com a justiça da causa, o melhor desejo
da paz , recommendo com toda a insistencia a V. S.
envide os maiores esforços para este desideratum .
Segue para Sergipe o Dr. Braz do Amaral com
missionado pelo Governo para se entender com o Pre
si dente do visinho Estado e com os poderes sufficientes
para levar a bom fim tão espinhosa tarefa , o qual leva
tambem instrucções para se entender com V. S. con
certando as medidas mais convenientes para um resul
tado satisfactorio .

Se o Presidente de Sergipe fôr á fronteira , é - da


maior conveniencia que V. S. tome todas as medidas
para que, no caso de transpôr elle a divisoria com O
nosso commissario ou sem elle, seja recebido por V. S.
com todas as honras devidas ao seu elevado cargo e
fique convencido do nosso direito e do respeito que lhe
tributam as auctoridades da Bahia, sem discrepancia
da defeza dos nossos legitimos interesses , assim como
da boa ordem na Bahia ,
da administração da justiça
para o que deve V. S. concertar, tanto com os Srs.
magistrados, como com as outras auctoridades tudo
o que for conducente a este fim, auxiliando a acção do
referido commissario do Governo no Estado de Sergipe ,

o que tenho por muito recommendado . - Saúde e


fraternidade-1. J. Seabra.
126 LIMITES

N. 44

Instrucções para o Exmo. Sr. Dr. Braz


Hermenegildo do Amaral, commissario do
Governo da Bahia se entender com o Governo
de Sergipe sobre os limites dos dous Estados.

Palacio do Governo da Bahia em 15 de Janeiro


de 1914.

N. ( 1" . secção ) .

1ª . Provar com os documentos que leva ao Go


verno daquelle Estado o direito que assiste ao Governo
da Bahia, na questão de limites que ora se aventa .

2. Convidar e acompanhar o mesmo Governador


para visitar a zona que pertence ao Estado da Bahia e
que tem dado lugar ás reclamações .

3. A se entender com as auctoridades quer judi


ciarias quer administrativas do Estado da Bahia , com
quem tiver necessidade de conferenciar, accordando o
que for em beneficio dos direitos da Bahia .

4. A firmar com o Governo do Estado de Sergipe


o accordo que julgar accertado em beneficio dos inte
resses do Estado da Bahia , dependendo da referenda ,
do seu Governador o mesmo accordo e da Assembléa
Geral do Estado .

5. A retirar-se para a Capital do Estado da Bahia,


no caso de não ser possivel convencer ao Governo
daquelle Estado , das razões que assistem ao Governo da
Bahia na zona que deu logar a presente commissão ,
dando disso conhecimento ao Governo .

Palacio do Governo do Estado da Bahia, 15 de

Janeiro de 1914.—J. J. Seabra.


DA BAHIA COM SERGIPE 127

N. 45

Telegramma do Commissario Dr. B. Ama


ral communicando sua chegada e recepção.

De Aracajú, 18 Janeiro 1914. Exmo . Governador


-Bahia---General Siqueira recebeu-me fidalgamente
mandando buscar vapôr commissão secretario chefe
Policia funccionarios elevados offerecendo hospedagem
.
Hotel Internacional . Seguimos palacio onde esperava .
Apresentou amigos convidou-me acompanhal-o São
Christovão quinta-feira . Peço agradecer. Taes honras
dispensadas emissario são realidade feitas Bahia Vossa
Excellencia .---Cordiaes saudações .---Amaral.

N. 46

Telegramma do Dr. B. Amaral, commissa


rio bahiano communicando sua la conferencia,

De Aracajú, 19 Janeiro 1914 .--- Exmo . Governador


Bahia .---Tive hoje longa conferencia General Siqueira
mostrando nossos documentos . Espero chegaremos

solução rasoavel . Orientação amistosa cordeal . Segui


mos São Christovão hoje , voltaremos 21 , seguiremos
Coité 22. Convem juizes Coité Geremoabo seus postos .
Chegaremos Annapolis provavelmente 23 ou 24.
Abdon não deve demorar. Franquia telegraphica ne
cessaria aqui São Chistovão Annapolis ainda não
chegou . Peço urgencia isto juizes seus postos .--
Amaral.
128 LIMITES

N. 47

Telegramma do Dr.Arlindo Fragoso, Secre


tario do Estado da Bahia ao Dr. B. Amaral
satisfazendo sua requisição .

De Bahia, 21 Janeiro de 1914.-Dr. Braz Amaral.—


Aracajú . Sciente tudo quando informou providenciei
accordo seus desejos .
Affectuosas saudações. -Arlindo Fragoso.

N. 48

Telegramma do Dr. B. Amaral , Commissario


da Bahia informando sobre a visita á fronteira.

De Annapolis ( Simão Dias ) , 23 Janeiro 1914.


Exmº . Governador Bahia . - Chegamos aqui hontem .
Abdon chegou hoje bem recebido general . Seguio Coité
providenciar tudo . Faremos amanhã visita Apertado
Pedras Barra Salgado até Olho dagua Coité . - Franquia
telegraphica não chegou .
Saudações . -Amaral.

N. 49

Telegramma do Dr. B. Amaral informando


sobre a viagem á fronteira.

De Annapolis , 25 Janeiro 1914. - Exm° . Gover


nador Bahia. - Percorremos desde Salgado até Olho
dagua Coité acompanhados Raul , Salvio, cerca oitenta
cavalheiros duas localidades , Raul excellentes serviços.
Franquia telegraphica não chegou .
Saudações . Amaral.
DA BAHIA COM SERGIPE 129

N. 50

Carta confidencial do Dr. Braz do Amaral ,


emissario da Bahia ao Dr. Seabra, Governador
da Bahia, dando informação minuciosa e escla
recimentos importantes relativos á sua com
missão.

Aracajú, 1º. de Fevereiro de 1915.-Exmo . Sr. Dr.


Governador (Reservada ) -Pelos telegrammas que tenho
enviado já conhece V. Exa. o que de mais interessante
tem acontecido desde a minha chegada aqui, a saber : ex
cellente recepção e carinhoso tratamento por parte do
General Siqueira de Menezes, que se tem conduzido para
commigo mais como amigo do que como commissario de
cutro Estado. Tambem outras pessoas gradas me têm dis
pensado attenção e delicadezas. Hoje devo almoçar com o
Dr. Nobre de Lacerda, digno juiz seccional, e amanhã
jantarei com o illustre Presidente de Sergipe, que me
offerece esta prova de distincção .
Visitamos a fronteira em viagens extremamente fati
gantes, de tal modo que o proprio General Siqueira de
clarou que nunca as fizera tão puxadas . Imagine V. Exa .
para quem não tem habitos de guerra o que custariam
ellas, por montes e brejos, em caminhos escorregadios,
entre espinhos e catingas, sob o sol e a chuva , montando a
cavallo ás 6 da manhã para apeiar ás 8 e 9 horas da
noite !

No dia 25 percorremos a zona que V. Exa . verá no


mappa que ahi ficou , desde a barra do riacho Salgado até o
Olho d'agua do Coité, seguindo a nossa divisoria do norte
para o sul. Ao chegar aqui notei que só era conhecida a
Lei Provincial da Bahia de 1871 , que creou a freguezia
do Patrocino do Coité e não a Resolução Regia de 27 de
LIMITES 17
130 LIMITES
Частота о

Setembro de 1817, que approvou a creação da freguezia


do Bom Conselho, de modo que fui ao hotel buscar esta
Lei para mostral-a ao General Siqueira .
Eu me baseio nesta Resolução , que tem noventa e
sete annos , e que foi confirmada pela Lei da Regencia de
1831 , quando creou a villa de Geremoabo, constituindo seu
termo com as freguezias de Geremoabo, Monte Santo e
Bom Conselho, com os limites que ellas tinham

A nossa Lei Provincial de 1871 não especificou tão


claramente todos os pontos da fronteira , como a Provisão
approvada pela Resolução Regia de 27 de Setembro de
1817 , porque a delimitação de 1817 diz : "Baixa da La

deira Grande, Olho d'agua do Coité, lagoa das Antas,


Olho d'agua do Máo Fim Tenhas, lagoa Cercada, lagoa
Salgada, lagoa do Genipapo ou de João Gomes e Estrada
do Sacco das Candeias ” e a Lei Provincial referida não

cita a lagoa Cercada nem a Salgada, nem a do Genipapo


ou de João Gomes, nem a Estrada do Sacco das Candeias,
mas é claro que o legislador bahiano seguio a mesma linha
nos seus pontos principaes e só por não julgar necessario
deixou de citar todos os intermediarios.
A antiga Estrada do Sacco das Candeias, está hoje
abandonada , mas ella se vê ainda, é conhecida pelos velhos
e segue o rumo indicado no mappa pela linha vermelha
pontuada.

Em logar della, o povo se serve hoje de uma outra


estrada mais ao norte, que vae pouco mais ou menos em
recta do Olho d'agua do Máo Fim Tenhas e nascentes do
Cayçá até a lagoa de S. Francisco .
A nossa verdadeira divisa é pela estrada antiga ( linha
vermelha pontuada do mappa) , a qual estrada passa pela
DA BAHIA COM SERGIPE 131

lagoa do Genipapo ou de João Gomes, que V. Exa . pode


marcar ahi no mappa um pouco a oeste do logar indicado
pela palavra Sacco e um pouco ao sul, mesmo sobre a linha
vermelha, no ponto de maior convexidade do arco que a
fronteira forma.

Como a citada Lei Provincial não menciona a Estrada


do Sacco das Candeias e a lagoa do Genipapo adivinho que
nos proponham uma recta vinda da lagôa de S. Francisco
ás nascentes do Cayçá, acima do Olho d'agua do Máo Fim
Tenhas, o que vem a ser a estrada moderna, ou corda do
arco da nossa fronteira real, verdadeira e antiga. É um
espaço de duas leguas na maior largura, estreitando para
as extremidades do arco, com cerca de 900 casas , estabe
lecidas em ferteis e ricas terras e onde vive uma população
que não se quer ver sujeita a Sergipe. Ahi , dentro deste
arco, está estabelecido o destacamento do Sacco, hoje com
seis praças, posto pelo presidente Siqueira.

Neste logarejo, que tem cerca de oito a dez casas ,


esperaram-me no dia 27 cerca de 150 cavalleiros , com o
Juiz de Direito, Dr. Raul Passo , cujo criterio, preparo e
dedicação á causa da Bahia são dignos da attenção de
V. Exa. e cujo ascendente sobre o espirito do povo em
poucos dias me causou admiração .
O mesmo orgão competente desta população me de
clarou que ella prefere a situação actual, por mais anormal
que seja, a qualquer accordo entre os dois Governos que a
entregue á jurisdicção fiscal e judiciaria do Estado de
Sergipe.
Diversas pessoas de Sergipe, das mais habeis e intel
ligentes, depois de me ouvirem, como o vigario de Coité, o
vigario de Simão Dias, o Dr. Gervasio, juiz no Lagarto, o
132 LIMITES

Dr. Antonio Carvalho, o primeiro genro e o segundo filho


do deputado federal Joviniano de Carvalho, me confes
saram que Sergipe não está preparado para rebater no
terreno do direito as allegações da Bahia e opinam que
deve o seu Governo mandar emissarios aos Archivos estu
dar a questão .

Estes dois penultimos senhores, entretanto, foram, ao


chegarmos ao sertão, os oradores de dois brindes exaltados
e contrarios a nós .

Não tenho ainda a opinião do Presidente, que me de


clarou, conversariamos em Aracajú .

A minha situação não autorisa a mostrar pressa , pelo


que esperarei que elle fale.

Ao espirito atilado de V. Exa. não escapará que eu


tenho importantes cousas a communicar que não posso
confiar aos meios communs de transporte, mas não tenho
até hoje a franquia telegraphica que o Dr. Arlindo mandou
e que tenho pedido por mais de uma vez a V. Exa.

Offerecendo -me amanhã o General Siqueira um


jantar, esta delicadeza feita á Bahia e ao seu Governo me
parece que deve ter retribuição condigna, pelo que peço a
V. Exa. as precisas instrucções .

Para terminar, affirmo a V. Exa . que se tivesse vindo


para a fronteira a força que por ahi constou viria sob o
commando de um major, é provavel que o Presidente de
Sergipe tivessse seguido para lá com todo o batalhão
policial e solicitasse a intervenção federal.
Ora, dadas as circumstancias de grande prestigio do
General Siqueira perante o Governo da União, não é
arriscado dizer que certamente estariamos hoje a braços
DA BAHIA COM SERGIPE 133
‫ހ‬

com uma situação cheia de perigos e despesas enormes, não


se podendo prever o que della poderia provir.
Se a minha vinda outro resultado não produzir, pelo
menos evitou ella a conflagração da fronteira e temerosas
complicações , pois, em qualquer hypothese, tanto a lucta
armada, como a intervenção federal, estão agora inteira
mente fóra do possivel.
Visitei o Coité no dia 26 e recebi naquelle bello e
ridente torrão bahiano demonstrações de consideração e
respeito, tão grandes como se fosse V. Exa . mesmo que
lá tivesse ido abraçar os nossos patricios . Aos habitantes
do Coité e aos seus magistrados prometti, em nome de
V. Exa., toda a segurança de que serão respeitadas as leis
que garantem o nosso direito .

O Dr. Raul Passo me pedio que fizesse sciente a


V. Exa. de que elle, após uma visita á sua familia em
Bom Conselho, irá á Bahia, afim de conferenciar com
V. Exa. sobre assumptos importantissimos .
Rogo a V. Exa. se digne ordenar a franquia telegra
phica, assim como as instrucções de que careço para re
tribuição das finezas e honras que á Bahia e á V. Exa . , na
pessoa de seu emissario, estão sendo dispensadas pelo
distincto Presidente do Estado de Sergipe.

Com a mais subida consideração e apreço , subscrevo


me de V. Exa. muito dedicado- Braz do Amaral.

·0 ...
134 LIMITES

N. 51

Telegramma do Dr. B. Amaral , commis


sario bahiano transmittindo a proposta do Pre
sidente de Sergipe sobre a fronteira e in
formando sobre ella

Aracajú, 3 de Fevereiro de 1914.- Exmo . Governador


da Bahia .- Governador de Sergipe propõe fronteira pro
visoria recta desde Barra Salgado até Olho d'agua Coité ;
dahi recta Olho d'agua Máo Fim Tenhas ; dahi cabeceiras
Cayça no divisor aguas ; dahi estrada real até cabeceiras
rio Real. Proposta importa perda provavel nesga desde
Salgado até Olho d'agua Coité, perda maior desde nascen
tes Cayçá até nascentes Real pois comprehende Sacco .
Officio seguio hontem esclarece assumpto . Saudações.—
Amaral.

N. 52

Telegramma do Dr. B. do Amaral infor


mando .

Aracajú, 7 Fevereiro 1914.-Exmo . Governador da


Bahia.- Instado em presença Presidente direcção Insti
tuto Historico conferencia qualidade socio realisei-a mos
trando documentos leis garantem nossos direitos pedindo
pedindo presidente Tribunal declarar se eram conhecidas.
leis contrarias revogassem . Resposta negativa terminando
saudação orador confessou decepção Sergipe não pre
parado manter discussão fazendo votos estudos assumpto
para o futuro.

Saudações .-Amaral.
DA BAHIA COM SERGIPE 135
can be mad

N. 53

Telegramma do Commissario da Bahia pe


dindo resposta á proposta do Presidente de
Sergipe do dia 3

De Aracajú, 9 Fevereiro 1914.-Exmo . Governador


Bahia. Peço responder proposta 3 corrente ou auctorisar
rejeital-a em vista Constituição .- Amaral. ( *)

N. 54

Resposta do Dr. A. Fragoso , secretario do


Estado auctorisando rejeitar a proposta do
dia 3

Bahia, 9 Fevereiro 1914.-Dr. Braz Amaral, em Ara


cajú.-Ficaes auctorisado retribuir gentilezas recebidas.
Neste sentido auctoriso agente Navegação Bahiana fazer
os pagamentos necessarios se ahi tiver dinheiro ou pedir
directamente a mim os recursos de que carecer se ahi não
tiver dinheiro . Neste sentido telegraphei agente .
Quanto assumpto proposta que ainda não recebi ficaes
auctorisado em nome Governador seguinte : Rejeital-a em
vista Constituição .
Affectuosas saudações.-Arlindo Fragoso.

N. 55

Telegramma do Dr. Braz Amaral Com


missario da Bahia pedindo para retirar-se de
Sergipe.

De Aracajú , 12 Fevereiro 1914 ( Cifrado ) .—Exıno .


Governador Bahia - Rejeitada proposta General ce

(*) A parte gryphada foi transmittida por codigo .


136 LIMITES

desse Bahia logares onde deitou força accordo provisorio


verbal até solução Congresso ; rejeitada minha proposta
respeitar lei demarcação desde 1817 com levantamento
planta região esclarecer pontos duvida , retirar força
aliviar povos coação seu pronunciamento livre , julgo
dever retirar- me . Embarco Commandatuba.
Saudações. Amaral.

N. 56

Resposta da secretaria do Estodo ao des


pacho anterior.

De Bahia, 14 Fevereiro 1914.-Dr. Braz Amaral


em Aracajú—Sua Excellencia está de perfeito accordo
sua communicação .
Affectuosas saudações .--Arlindo Fragoso.

N. 57

Reclamação e Protesto enviados ao Exmo


Sr. General José Siqueira de Menezes , Presi
dente do Estado de Sergipe pelo Dr. Braz do
Amaral, Delegado do Governo da Bahia, ao
deixar a cidade de Aracajú em 16 de Fevereiro
de 1914.

Illmo. e Exmo . Sr. - Despedindo-me hoje de V. Exa. e


da terra de Sergipe, tenho a grata satisfação de agradecer
a V. Exa. as numerosas provas de affecto e deferencia que
de V. Exa . recebi e que nunca esquecerei, mas, na difficil
alternativa de ceder a estes sentimentos particulares de
respeito, consideração e apreço e de assumir a energica
attitude que a dignidade do meu Estado exige, pesando
as serias obrigações que sobre mim cabem, a tudo me
arrisco para cumprir os meus severos deveres , pedindo
DA BAHIA COM SERGIPE 137

licença a V. Exa. para uma recapitulação do que aqui se


passou entre nós, tanto nas viagens pelo sertão como nas
conferencias que realisamos, terminando pelo que faz o
assumpto principal do presente documento, elaborado no
interesse da Bahia e em obediencia a ordens superiores .
Tivemos ensejo de verificar no dia 25 de Janeiro, por
occasião de visitar a fronteira do Oeste, que nos tinham
dado guias infieis para illudir sobre a posição dos logares,
especialmente a Baixa da Ladeira Grande, devendo suppor
se que a linha a tirar dahi ao rio Vasabarris e ao Olho
d'agua do Coité, pontos todos mencionados na Lei de de
marcação da fronteira da Bahia, não convinham aos in
teresses das pessoas de Annapolis.

Um destes guias já foi conduzido á prisão , como


V. Exa. mesmo me referio , por furto de animaes, e outro
foi, segundo me consta, incluido em uina lista de testemu
nhas falsas, levantada quando, em virtude de certos factos ,
houve desejo de armar um processo politico contra pessoa
digna e altamente collocada, afim de incompatibilisal- a para
elevado cargo na administração de Sergipe .

Foram estes guias que nos conduziram tambem erra


damente para a lagoa Cercada, outro ponto da Lei referida ,
em virtude da qual a Bahia tem, desde os tempos coloniaes,
a fronteira que circumda as terras de que o Estado de Ser
gipe pretende agora despojal-a , tendo sido afortunadamente
postos a descoberto os embustes, de modo que não foi
possivel conserval-os com a mais simples apparencia de
verdade.

Infelizmente, quando no dia 27, visitamos a fronteira


na sua outra parte, em marcha demasiado accelerada para
uma inspecção regular, V. Exa. recusou attender a meu
LIMITES 18
138 LIMITES

pedido para seguirmos pela estrada que diversas pessoas


nos indicaram levar á lagoa do Genipapo ou de João Gomes
e á Estrada Velha do Sacco das Candeias, outros dois pon
tos citados na Lei que fixou a divisoria de Sergipe com a
Bahia, por haver demarcado por elles a freguezia do Bom
Conselho, da qual foi desmembrada a do Patrocinio do
Coité, tendo eu até empregado a palavra “ Requeiro ”, mas
preferindo V. Exa. seguir a estrada nova , depois de me
prometter que na volta passariamos pela que eu reclamava
fosse examinada, pois é bem sabido que as estradas mudam
e disso estava V. Exa . convencido 48 horas antes, quando
no valle do Vasabarris me demonstrava a vantagem dos

marcos de pedra ou de alvenaria, por causa das varian


tes que soffrem com os tempos os traçados das estradas no
sertão, por diversos motivos .

Muitas pessoas podem servir de testemunhas da minha


insistente reclamação e supponho até haver dado conheci
mento da minha contrariedade pelo caminho seguido , em
virtude das consequencias que dahi previa, ao Exmo.
Sr. Coronel Pedro Freire, muito digno Vice- Presidente do
Estado de Sergipe, que nos acompanhava. A declaração
positiva, porém, de V. Exa. que passariamos na volta pela
lagoa do Genipapo e pela estrada velha me fez calar.

No Sacco, em companhia dos Srs. Drs. Raul Passo,


Abdon Affonso, Salvio de Oliveira, do Padre João de
Mattos, do Dr. Joviniano de Carvalho, do Coronel Pedro
Freire, de numerosos cavalleiros sergipanos da comitiva
de V. Exa. e de grande numero de bahianos, declarei a
V. Exa. que havia tres pontos da fronteira que deviam ser
visitados, apesar da distancia, a saber : a Umburana da
Posse, a Braúna do Brinco e a Estrada Velha do Sacco
DA BAHIA COM SERGIPE 139

das Candeias que vae dar á lagôa do Genipapo, e o Sr. Vi


gario João de Mattos, com um mappa e uma agulha, de
monstrou a V. Exa. a posição em que estavamos , lem
brando-me eu até que notei o ponto em que se achava o
sol , pelas costas de V. Exa., como elemento de orientação
indiscutivel, recordando-me tambem que o Padre João de
Mattos mandou que um dos assistentes levasse a mão na
direcção de Annapolis.

V. Exa. seguio para uma casa mais adeante e eu fiquei


no Sacco com os meus patricios e quando cheguei á casa
em que se achava V..Exa., tendo chovido e já sendo tarde ,
V. Exa. me declarou que era impossivel fazer outra cousa
que não fosse voltar para Annapolis , mas que havia obser
vado a posição da lagoa do Genipapo.
Cito tudo isto para tornar bem evidente o ponto que
foi um dos themas da nossa conferencia do dia 11 de Fe
vereiro, em que V. Exa . mostrou duvidas sobre a Estrada
Velha do Sacco das Candeias, dizendo só existir a estrada
nova.

Tenho a honra de declarar positivamente a V. Exa.que


a Estrada Velha do Sacco das Candeias existe, que eu
a vi, que por ella sempre correu a divisoria da Bahia com
Sergipe, que muitas pessoas a conhecem e estão promptas
a mostral-a, pelo que o destacamento posto no Sacco está
em teritorio bahiano, dentro da linha que o poder compe
tente marcou para sua fronteira, cujo direito as leis lhe
garantem, appellando eu, no caso de duvida, da opinião
que pode ser suspeita, tanto minha, como de V. Exa . , para
uma vistoria, com todas as cautelas, para não ser alterada
a verdade, e presidida por arbitro honesto e digno.
Seja-me permittido lembrar que a proposta que
140 LIMITES

V. Exa. fez, por meu intermedio , em 3 de Fevereiro cor


rente, ao Governo da Bahia, para que fossem cedidos a
Sergipe, a titulo provisorio, os territorios entre a barra do
Salgado e o Olho d'agua do Coité e entre as nascentes do
Cayça e no divisor das aguas pela estrada real é signal de
que não tem a consciencia certa de pertencerem elles a
Sergipe, pois ninguem pede que se lhe dê provisoriamente,
a titulo precario, o que considera legitimamente seu .
Foi por isto, para dirimir de todo esta questão , que
tive a honra de propôr a V. Exa. que uma commissão de
engenheiros dos dois Estados levantasse a planta da região
para se conhecer exactamente as estradas antigas e novas,
e tirar as linhas , passando pelos pontos de que fala a lei
que demarcou o Coité, a que se recusou V. Exa . , allegando
a despesa a fazer com este trabalho .
O dever inherente à minha commissão me obriga a
ponderar a V. Exa. que levantando o Estado de Sergipe
esta questão perante a Camara dos Srs. Deputados Fe
deraes e a Bahia não estivesse apparelhado com as leis e
documentos precisos para justificar as suas pretensões , o
que teria impedido que eu viesse encontrar aqui a mais
completa falta de conhecimento da legislação sobre o caso
e a declaração dos jurisconsultos com os quaes conversei
que de tal não sabiam senão por ouvir dizer, etc.
Tambem era de prever, como no caso anterior, que o
Estado de Sergipe julgasse do seu dever moral elucidar
o assumpto , levantando ou collaborando para levantar a
planta que devia tirar duvidas e fazer muita luz sobre os
direitos das partes, por me parecer que os Estados como
os particulares, quando contestam a propriedade de seus
visinhos, devem começar provando a legitimidade juridica
DA BAHIA COM SERGIPE 141

de suas proposições e se pondo na posição de quem reclama


o reconhecimento de um direito e não na posição arrogante
de quem invade e occupa a propriedade que pretende, sem
leis e por simples supposição de um direito não provado.
Foi por estas ponderosas razões que eu rejeitei a
proposta de 3 de Fevereiro corrente, apresentando outra
proposta no dia 11 , em que solicitei fosse respeitado o
que estabelecem as leis anteriores, pois quando existe dis
posição emanada do poder competente, que determina e
fixa um certo objecto , são inuteis e ociosas quaesquer com
binações contrarias a ella, o que V. Exa . recusou , recusando
ainda retirar a força da policia sergipana que está na fron
teira, amedrontando a população bahiana da Ladeira
Grande e visinhanças, e coagindo a população do Sacco,
o que é collocar- se o Estado de Sergipe ao mesmo tempo
na posição de parte e arbitro, o que é incompativel com as
regras de direito e com a razão !

O direito do Estado da Bahia, porém, é sagrado , está


garantido pelas leis e, a menos que este paiz volte ao
estado barbaro, ao simples e absoluto predominio da força
sobre a Constituição , a liberdade e a justiça, ha de trium
phar e ha de ser respeitado !

O territorio do municipio do Coité foi invadido pelas


forças da policia de Sergipe pela supposição de um direito
que o Governo de Sergipe não sabe em que se baseia,
pois, quando solicitei me fosse permittido ver as provas,
documentos e disposições capazes para isto, me foi respon
dido por V. Exa . que possuia só alguns artigos publicados
na imprensa diaria e um opusculo, o do Padre João de
Mattos, que é um folheto de propaganda da aspiração ser
gipana para a conquista das terras do Oeste e nunca um
142 LIMITES

documento para fazer prova em juizo, o que é para la


mentar.

Pelo que, eu, representante e delegado do Governo da


Bahia, acreditado perante V. Exa. para tratar das questões
de limites, reclamo por escripto , depois de o ter feito ver
balmente, pelo acto de haverem forças estaduaes de Ser
gipe transposto a fronteira, o que constitue invasão à mão
armada do territorio com o fito evidenciado de estabelecer

posse e jurisdicção sobre a terra e os seus habitantes,


privando- os da liberdade, que a Constituição da Republica
prometteu a todos os cidadãos , de escolherem livremente
quem os governe e collaborarem nas leis com que são go
vernados, coagindo-os manu militari a se submetterem a
auctoridades que não são as suas auctoridades legitimas ,
pretendendo sujeital- os a um jugo illegal e arbitrario,
que elles repellem e que nunca acceitarão livremente.

Junto este meu protesto ao que já fez o Estado da


Bahia sobre este caso para todos os effeitos em direito
necessarios, em qualquer tempo, para que possa ser alle
gado pelo Estado da Bahia e pelas victimas deste acto do
Governo de Sergipe, razão pela qual responsabiliso o Es
tado de Sergipe, representado pelas auctoridades que
exercerem a administração publica em qualquer epocha ,
pela offensa feita ao Estado da Bahia, pelo abuso de juris
dicção que porventura consiga exercer sobre aquelle terri
torio ou seus habitantes, pelas vexações sobre estes exer
cidas ou que venham a exercer, pelos prejuizos materiaes e
moraes causados tanto ao Estado da Bahia, como aos ha
bitantes do municipio do Coité, pelas despesas necessarias
para provar direitos, como pelos impostos que porventara
venha a cobrar abusivamente, assim como pelos actos de
DA BAHIA COM SERGIPE 143

coacção, abuso de força e prepotencia exercidos sobre a po


pulação e seus bens e sobre as auctoridades bahianas, espe
cialmente nos logares denominados Ladeira Grande, Baixa
da Ladeira Grande, Apertado de Pedras e Sacco, protesto
que faço para que nunca se possa allegar prescripção pelo
Estado da Bahia ou abandono do seu direito e para que
tanto o Estado da Bahia como os particulares possam
haver do Estado de Sergipe perturbador as indemnisações ,
juros e todas as despesas accessorias e necessarias ou resul
tantes dos referidos actos e tentativas de esbulho do que
realmente pertence ao Estado da Bahia em seu territorio,
como consta da Resolução do Conselho Ultramarino de 25
Maio de 1757 , da Carta Regia de 1738 , relativas ambas á
jurisdicção do districto de Geremoabo, do Decreto de 27
de Setembro de 1817 , do Alvará de 21 de Novembro do
mesmo anno e da Lei de 25 de Outubro de 1831 , assim
como da Lei de 22 de Maio de 1871 , da Provincia da
Bahia.

Para salvaguardar e manter illesos os direitos do


Estado da Bahia em toda a sua plenitude e sobre o muni
cipio do Coité em toda a integridade do seu territorio ,
venho reclamar e protestar para que seja evacuada pelas
forças sergipanas a fronteira, afim de que não permaneça
esta ameaça ao Estado da Bahia e para que cesse o regimen
de coacção e oppressão que disto resulta, assim como re
clamo e protesto para que seja evacuado o Sacco pelas
forças de Sergipe, porque os habitantes do referido logar
são cidadãos do Estado da Bahia, elles e suas familias, e
não se os póde amedrontar, nem subjugar, nem prender
ou castigar, senão pelas suas legitimas auctoridades , nem
ha quem os possa obrigar a fazer o que elles não quizerem
144 LIMITES

com ameaças e a presença de soldados da policia de outro


Estado, e porque é contrario ao dirito coagil-os ou preten
der coagil-os a reconhecer a jurisdicção de um Estado que
não é o seu.

Feito isto , Exmo . Sr. Presidente do Estado de Ser


gipe, só me resta agradecer a fidalguia e finezas que a
mim foram dispensadas por V. Exa. e seus dignos auxi
liares, fazendo votos pela felicidade pessoal de V. Exa.
Aracajú, 16 de Fevereiro de 1914.

Illmo . e Exmo . Sr. General José Siqueira de Menezes,


M. D. Presidente do Estado de Sergipe . - O Delegado do
Governo da Bahia, Braz do Amaral.

N. 58

Relatorio apresentado ao Exmo Snr. Dr.


José Joaquim Seabra, Governador do Estado da
Bahia, pelo Dr. Braz do Amaral , delegado do
mesmo Estado para tratar da questãode limites
com o Estado de Sergipe .

Illmo . Exmo . Sr.-Cumpro o dever de apresentar


nas seguintes linhas o relatorio da commissão que se di
gnou V. Exa. confiar-me junto ao Governo do visinho
Estado de Sergipe.

Daqui partindo a 16 de Janeiro , cheguei a Aracajú em


18 do mesmo mez, sendo fidalgamente recebido pelo
Exmo. Sr. General Siqueira de Menezes, Presidente de
Sergipe, que mandou a bordo buscar-me numerosa com
missão composta do Sr. Secretario do Estado , do
Chefe de Policia, altos funccionarios, chefes de repar
tições estaduaes e muitas pessoas gradas, que me acom
panharam ao desembarcar, tomando todos logar commigo
DA BAHIA COM SERGIPE 145

no bond especial do Exmo . Presidente, que me esperava


no salão do Palacio do Governo , onde nos abraçamos e
onde muito me honrou, fazendo-me acompanhar pelo
mesmo sequito até o hotel, onde fizera reservar commodos
para meu alojamento.

No dia seguinte, em 19, ao meio dia, entreguei o


officio em que V. Exa. me acreditava perante o Governo
de Sergipe para tratar da questão levantada pelo mesmo
sobre os limites dos dois Estados, declarando -me logo
que nada faria ad referendum das duas assembléas es
taduaes, conforme havia V. Exa . estabelecido nas instru
cções que se dignou dar-me, pois o seu desejo , disse-me
S. Exa. , era estabelecer um modus-vivendi todo particu
lar, ou do qual se lavrasse apenas um termo, ou fosse
inteiramente verbal , pelo que podia dar parte delle á As
sembléa, mas não deixar dependente da approvação della
o que houvesse feito .

Convidou-me S. Exa. para acompanhal -o na excur


são que tencionava fazer á fronteira e eu tambem convidei
S. Exa. para ir ao Patrocinio do Coité, ao que S. Exa. re
cusou, dizendo que a Constituição de Sergipe lhe prohibia
sahir para fóra do Estado.
Passando a tratar perfunctoriamente da questão , eu
percebi logo, pela expressão das physionomias, que o
assumpto era muito mal conhecido, quando me referi ao
Decreto de 1817 , de modo que tendo pedido para ser elle
procurado na Secretaria e não tendo sido encontrado , fui
ao hotel buscar o respectivo volume da minha collecção das
leis brasileiras e o trouxe, causando admiração a leitura
do referido decreto .

Tambem nada se conhecia sobre a questão do terri


LIMITES 19
146 LIMITES
.

torio do Espirito Santo de Abbadia , e era de todo ignorada


a demarcação de terreno da villa de Lagarto, confinante.
com o julgado bahiano de Geremoabo, de modo
que já não me causa surpreza a convicção do illustre Presi
sidente de Sergipe de pertencer o Municipio de Patrocinio
do Coité ao seu Estado .

Tive occasião de ouvir muitas queixas, conservadas


na tradição , da parte do povo sergipano, de ter a Bahia re
stringido o seu territorio, prejudicando-o , e conheci logo
como é vehemente o desejo de expansão territorial para a
maior parte da população daquelle Estado .

Chegando ao Lagarto em 22 de Janeiro , fui obrigado


a ouvir, em um brinde de saudação ao Presidente feito
por um mancebo muito intelligente, o Sr. Dr. Gervasio
Prata, uma tão pesada accusação á Bahia, como corpo
avido de rapina que exerce a sua ambição sobre o irmão
pequeno e fraco, de modo que se me tornou difficil soffrer
até o fim a eloquencia do orador, o que supportei atten
dendo á minha delicada posição alli, situação bem compre
hendida pelo Exmo . Sr. Dr. Nobre de Lacerda , digno juiz
seccional, que fazendo um brinde opportuno á Bahia, me
deu ensejo para alludir ao congraçamento dos dois povos , ás
opiniões susceptiveis de enganos e erros das pessoas que
muitas vezes falavam sobre o assumpto, julgando a Bahia
de modo desfavoravel e á necessidade de paz e amizade
sincera, despida de prevenções , etc.

Na noite seguinte, em Annapolis, tive occasião de


ouvir conceitos identicos , no brinde levantado ao Presi
dente do Estado pelo Dr. Antonio Netto, parecendo -me
que estes moços tão intelligentes, e que percebi serem qua
lificados de intellectuaes sergipanos , se resentem da falta
DA BAHIA COM SERGIPE 147

que se nota nas pessoas que apanham a musica com faci


lidade, deixando por isso de estudal- a regularmente, pelo
que sempre tocam de orelha.

Devo accrescentar que alguns dias depois me coube a


consolação de saber pela bocca de ambos que se acha
vam elles convencidos de que a Bahia estava preparada
para discutir e provar o seu direito e que Sergipe não o
estava, tendo levantado uma questão sem a estudar e co
nhecer, de modo que elles nem sequer sabiam se tinham
razão ; e ainda percebi em ambos o presentimento vago e
amargo de que tudo aquillo viesse a dar no que se chama
em giria escolar uma rata . Estes moços, dotados ambos de
caracter, não sabem talvez ainda hoje que em vez de ser
a Bahia que tem despojado Sergipe , é Sergipe que tem
sempre esbulhado e procurado esbulhar a Bahia , e por
processos que não levantam quem os pratica perante a
moral, como prova a Carta Regia de 9 de Novembro de
1729, em que vêm relatadas as lamentações de que se ser
viam as auctoridades sergipanas para obter jurisdicção
sobre Abbadia, o que é a melhor resposta á opinião igno
rante que diz ter Abbadia pertencido primitivamente a Ser

gipe ; como o provam as intrigas feitas para obter a juris


dicção sobre Geremoabo, intrigas que tantas vezes foram
desmentidas ou mencionadas com desprezo pelas auctori
dades superiores ; as denuncias dadas ao rei, dos juizes da
Bahia, com interesse confessado de ganharem com isso,
conforme o indica a carta de 12 de Maio de 1730 ; como

o provam as violencias contra o Cumbe, tão asperamente


reprehendidas em 1784, e como se vê ainda pelo meio illegal
de que se serviu a Assembléa sergipana para se apoderar do
Espirito Santo da Abbadia , o qual foi claramente ver
148 LIMITES

berado pelo Conselho de Estado, no seu parecer, em


1843 ; e como o prova, finalmente, o acto tambem illegal e
delictuoso da Assembléa Provincial de Sergipe, tentando
lançar as mãos contra a Malhada Vermelha em 1835 , con
tra o disposto na lei de 1817 e na de 1831 , attentado que
foi reproduzido agora, com a aggravante de ter sido á
mão armada feito o ataque contra uma população inerme
e desprotegida.
Para elucidar a questão de Geremoabo em geral e do
Coité em particular, peço licença para transcrever logo
a legislação a respeito que estabelece definitiva e perem
ptoriamente de que lado estão a razão e a lei

Dom João, por graça de Deus, rei de Por


tugal e dos Algarves daquem e dalem mar em
Africa, etc.
Faço saber a vós, conde das Galveas Vice
rey e capitam General de mar e terra do Estado
do Brasil que se vio a conta que me deo o ca
pitão-mor de Sergipe del-rey em carta de 5 de
Maio de 1735 sobre as desordens em que

viviam os moradores da Freguesia de Gere


moabo não querendo consentir daquella capita
nia a correyção da Justiça nem mostras de mi
licias dizendo serem sujeitos á villa de Itapicurú
com subordinação á cidade da Bahia, e vendo
tambem o que sobre esta materia me infor
mastes e atendendo á distancia em que os ditos
moradores ficam e a estarem mais perto da
jurisdicção de Sergipe sou servido por resolução
de 25 de Mayo do anno passado , em consulta do
meu conselho ultramarino, que os mesmos
DA BAHIA COM SERGIPE 149

moradores da Freguesia de Geremoabo fiquem


sujeitos no militar ao capitão-mór da dita capi
tania de Sergipe para que este passe mostra e
faça com elles as mais diligencias que dispoem
o seu requerimento, mas não os juizes ordinarios
e ouvidor por estarem afectos á correição da
comarca da Bahia e annexos á villa de Ita

picurú. El rey nosso Senhor o mandou pellos


D. D. José de Carvalho e Abreu e Alexandre
Metello de Souza e Menezes, Conselheiros de
seu Conselho Ultramarino e se passou por duas
vias. Manuel Pedro Ribeiro a fez em Lisboa
Occidental em 24 de Março de 1738.

Por esta carta regia é claro e legitimo pertencer á


Bahia a Freguezia de Geremoabo.
Leia-se agora o seguinte decreto : -N. 43 - Reino
Resolução de consulta da Mesa de consciencia e ordens
de 27 de Setembro de 1817

Crea a Freguesia de N. S. do Bom Conselho


do Boqueirão no Arcebispado da Bahia . Foi
ouvida a Mesa da Consciencia e ordens sobre
a representação do Revmo. Arcebispo da Bahia
em que pede se erija em Freguesia a Capella
de N. S. do Bom Conselho dos Montes do Bo

queirão filial da Matriz de S. João Baptista de


Geremoabo do Sertam de Baixo.
Concordaram na creação da Freguesia o
Procurador Geral das Ordens , e o Desembarga
dor Procurador Geral da Corôa e Fazenda, com
as desmembrações e demarcações indicadas pelo
150 LIMITES

capellão da mesma capella, e dando-se á nova


Freguesia o orágo de N. Sa. do Bom Conselho
do Boqueirão .
Parece á Mesa consultar a V. Magestade
esta divisão de Freguesia e erecção de nova
Matriz na forma da informação do vi
gario capitular e respostas do Procurador
Geral das Ordens e Desembargador Procurador
da Corôa e Fazenda com que esta Mesa se con
forma ; arbitrando - se ao Parocho da mesma Fre
guesia a quantia de 100$000 de congruas e
annual e 25$000 de guia e multas . Vossa Ma
gestade porem mandará o que for servido . Rio
de Janeiro em 5 de Setembro de 1817. Resolu
ção- Como parece- Palacio da Boa Vista 27
de Setembro de 1817. Com a rubrica de Sua
Magestade.

É portanto bem certo, á vista disto, que no territorio


da Bahia foi pelo poder competente, o Rei de Portugal e do
Brasil, creada a Freguezia de Bom Conselho , desmem
brada da de Geremoabo , freguezia nova , que vae ter a
sua demarcação pela seguinte Provisão, de accordo com
o Decreto acima e com o Alvará que ella transcreve e que
baixou pouco menos de 2 mezes depois do Decreto :

"Antonio Borges Leal, Deão da Santa Igreja


Metropolitana da Bahia, Vigario Capitular por
Eleição do Illm°. e Revm°. Senhor Cabido em
――――― Aos que a presente minha pro
Sé vaga, etc.-
visão virem de nova freguesia saúde em Deus.
para sempre .- Faço saber que havendo os mora
DA BAHIA COM SERGIPE 151

dores do logar da capella de N. S. do Bom Con


selho do Boqueirão, filial da Matriz de S. João
Baptista de Geremoabo alcançado de Sua Ma
gestade Fidelissima Regio Alvará do theor se
guinte-Eu Elrey, como Governador Perpetuo,
Administrador do Mestrado , Cavallaria e

Ordens de N. S. Jesus Christo . Faço saber que,


attendendo ao que por consulta da Mesa de
Consciencia e Ordens deste Reino subio á minha

real presença, Hei por bem crear e erigir em


freguesia collada a Capella de N. S. do Bom
.
Conselho dos Montes do Boqueirão, no Arcebis
pado da Bahia, desmembrando -a da freguesia de
S. João Baptista de Geremoabo, de que é filial
e da de Itapicurú , a qual nova freguesia ficará
com o orago e invocação que a dita capella já
tem de N. S. do Bom Conselho do Boqueirão e
com os limites que o actual capellão da mesma
capella informou serem mais proprios, pelo que
mando ao Revd . Arcebispo da Bahia ou a quem
suas vezes fizer que designe os sobre ditos limi
tes a esta nova freguesia e faça cumprir este
Alvará como nelle se contem, sendo passado pela

Chancellaria das Ordens e registrado com desi


gnação dos limites que a nova freguesia ficam
pertencendo nos livros da Camara daquelle Ar
cebispado, nos da nova freguesia e dos que lhe
ficam confinantes. Rio de Janeiro 21 de No
vembro de 1817-Rei com guarda . " Para ser
erecta em freguesia Collada a capella mencio
nada de N. Sa. dos Montes do Boqueirão, man
152 LIMITES

dando o mesmo Snr. que o Exmo . e Revm° Or


dinario desta Dioceze demarcasse os limites , que
deverão ficar pertencendo a sobre dita nova fre-*
guesia, a qual sendo-me apresentada com a
supplica dos moradores do districto da sobre
dita capella, por meu despacho mandei que, cum
prindo o registrado nos logares competentes ,
voltasse com as informações que se achavam
copiadas na Camara Archiepiscopal dos Paro
chos confinantes, á vista das quaes, se declara
ficar bem dividida dos confinantes pela maneira
seguinte ( * ) - Pela parte do norte , princi
piando de oeste para leste , na demarcação dos
indios de Massacará, seguindo pela estrada
real que vae para Geremoabo que se largará
na Baixa do Sapé, entrando pela mesma baixa
da Terra Dura, da qual seguirá pelo Outeiro
da Massaranduba e Sacco das Caravellas , se
guindo pela baixa até o sitio das Cancellas ,
Olho dagua do Feliciano e deste á Cruz da
Bocca da Matta , a sahir na lagoa do Pasto dos
Cavallos , lagoa de Maria Preta, Malhada las
Areas a encontrar- se com a lagoa de Fóra do
Mandacarú Velho donde seguirá pela baixa da
Sambaiba, e desta tomará a baixa do Brejo que
finalisará no riacho Caralyba que fica servindo
de divisa, até onde vae faser barra no Vasa
barris , rio caudaloso e soberbo com as aguas do
monte, cujo rio atravessará no mesmo rumo , 2

(*) Demarcação indicada pelo capellão e approvada pelo Alvará.


DA BAHIA COM SERGIPE 153

irá a encontrar-se com a demarcação, que sem


pre observaram as duas freguesias de Geremoabo
e Itabayana. Ficará dividdida pelo oeste com a
freguesia de Monte Santo e Tucano, pela
mesma demarcação com que se acham divididas
principiando na missão dos Indios de Massa
cará, seguindo do norte para o sul pela estrada
real, que segue dessa missão para a villa dos
Indios de Mirandella, vulgo Sacco dos Morce
gos ... a encontrar-se com a demarcação desta
mesma villa e desta seguirá a mesma estrada
real que com o mesmo rumo do sul vae para a
villa dos Indios de Sta. Thereza do Pombal,
vulgo Cannabrava, tambem a encontrar-se com
a mesma demarcação da mesma villa.

Ficará dividida pelo sul com a freguesia


de N. Sa. de Nazareth do Itapicurú de Cima, se
guindo do oeste para leste pela estrada real,
que vae da villa do Pombal para a capella de
N. Sa. Rainha dos Anjos, que se largará na
fasenda denominada a Barroca, e seguirá pela.
que vae a encontrar-se com o rio Real, entre
a fasenda Baixa Grande e Jacurici de Cima,
donde seguirá rio acima pelas suas cabeceiras ,
na fasenda Santa Anna, onde tomará a estrada
real que pelo Sacco das Candeias, vae dar na
lagoa de Genipapo , por outro nome lagoa de
João Gomes, desta tomará pelo Olho dagua
denominado de Mao Fim Tenha, lagoa das
Antas, Olho dagua do Coité, lagoa Cercada ,
lagoa Salgada, a sahir na Baixa da Ladeira
LIMITES
80
154 LIMITES

Grande e em rumo direito cortará o rio Vasa

barris que atravessará e irá encontrar-se com


a demarcação que sempre tem observado as
duas freguesias de Geremoabo e Itabayana. Fi
cará dividida por leste , seguindo do sul para o
norte com a mesma demarcação , que sempre
tem observado as duas freguesias de Geremoabo
e Itabayana, que são serros e largos agrestes,
quasi inhabitaveis, que por isso não pude alcan
çar noticia certa, ficando por divisa a posse que
se observa das duas ditas freguesias . Fica esta
nova freguesia com duas mil cento e noventa
almas, a saber setecentas e trinta do Itapicurú de
Cima digo mil setecentas e noventa tiradas

de Geremoabo e quatrocentas e trinta do Ita


picurú de Cima. Estende- se esta nova freguesia
seis legoas para o norte , sete para o sul, oito
para o oeste e trese para leste . Fica a freguesia
de Geremoabo com a extensão de 12 legoas
para o norte, 8 para o sul, 26 para oeste e 18
para leste.

São estas as demarcações que achei mais


racionaes , para satisfazer V. Exm" . Revma . O ca
pellão João de Barros, A vista do que e na cen
formidade da demarcação acima, lhe mandei
passar a presente Provisão de nova freguesia
com as declarações dos referidos limites, que
deve ficar tendo. Pelo theor da qual hei por
creada em nova Matriz a dita capella e mando
aos Reverendos Parochos confinantes, a quem
esta deverá ser apresentada, a publiquem em
DA BAHIA COM SERGIPE 155

suas freguesias e a façam publicar e copiar em


tudo, nos respectivos livros das mesmas, pas
sando cada um delles certidão no reverso della
de o haver assim executado , sendo depois remet
tida para a nova Matriz mencionada, onde deve
existir para em todo tempo constar, e pelo
haver assim por bem, mandei passar a presente
para que se cumpra e guarde como nella se con
tem, na qual interponho minha Auctoridade Or
dinaria e decreto judicial- Dada na Bahia sob
meu sello e signal da Chancellaria aos 22 de
Agosto de 1818. E eu Feliciano Grans Pinto de
Madurareira, secretario a subscrevi. Por dele
gação do Illm' . Revmº. Snr. Deão vigario capi
tular-José Fernandes da Silva Freire.
Registrada no L. 3 a folhas 397 até 398.
Bahia, 25 de Agosto de 18181.-O encommen
dado Manoel de Barros. ― Está conforme. ―――――

O escrivão do Juiz Emygdio Cardoso Varejão . "

Tive occasião de dizer que o decreto de 27 de Se


tembro de 1817 não era conhecido em Aracajú. Tambem
o Alvará acima, com a demarcação que elle deu, não o
era, porque tendo eu falado no Alvará, durante a viagem,
o Exmo . Sr. Presidente de Sergipe, nos ultimos
dias da minha permanencia, mostrou desejos de que
eu o mostrasse, o que fiz no dia 15 de Fevereiro, dizendo
lhe que está elle transcripto na mensagem do Sr. Josino
de Menezes e accrescentando que me parecia haver sido.
a razão pela qual a Assembléa de Sergipe não se mettera
em maiores aventuras naquella epoca. S. Exa . , que aliás.
possuia a mensagem Josino de Menezes, leu então tudo,
156 LIMITES

sendo que eu não posso dizer se, depois de tal leitura,


S. Exa. continúa a pensar sinceramente que o Patrocinio
do Coité pertence ou pertenceu alguma vez a Sergipe, pois
não lhe perguntei isso, por delicadeza.
Seja-me permittido juntar a este outro documento de
valor innegavel e no qual vem claramente explicado que o
territorio do Coité, antigamente chamado Mattas de Simão
Dias, pertenceu sempre ao districto bahiano de Geremoabo
e estava fóra da demarcação do termo da villa do Lagarto ,
confinante naquella zona com a Bahia, conforme se vê da
seguinte descripção pela propria Camara de Lagarto, do
cumento que é tão decisivo no caso como a certidão que a
auctoridade do Lagarto passou nas cartas da Provisão
acima, para mostrar que tinha sido ouvida sobre a demar
cação da freguezia do Bom Conselho, que a elle annuira e
que a matriz do Lagarto deve possuir, se não foi queimado
quando o foi o seu registro, assim como o cartorio da
referida povoação, o Extracto da Villa de Lagarto e seu
Termo, feito por ordem do Governo Portuguez ( doc . an
nexos ).

Extracto da villa de Lagarto e seu Termo

A villa de Nossa Senhora da Piedade do


Lagarto está cituada em hua planicie a que cha
mam os naturais Tabuleiro ; distante da cidade
da Bahia 60 legoas . Tem o termo desta villa
duas freguesias, hua a sobre dita de N. Sª . da
Piedade e outra a de N. Sª. dos Campos do rio
Real de Cima. Parte e demarca o termo desta
villa com o da cidade de Sergipe delrey, cabeça
desta comarca que fasem os habitadores de
DA BAHIA COM SERGIPE 157

distancia doze legoas desta villa a dita cidade,


fasendo a sua demarcação por uma Grota a
que chamão Quebradas Grandes que ficão dis
tantes desta villa cinco legoas . E pela parte do
nascente parte e demarca com a villa de Ita
bayana que fica em distancia desta villa nove
legoas fasendo sua demarcação pelo rio Vasa
barris distante desta villa tres legoas . E pela
parte do norte parte e demarca com a freguesia
de S. João Baptista de Geremoabo que fica em
distancia desta villa trinta legoas, fasendo sua

demarcação por hua matta a que chamão Matta


de Simão Dias, que fica distante desta villa
cinco leguas. E pela parte do Puente parte e
demarca com a villa de Itapicurú de Cima, dis
tante desta villa quatorze leguas, fasendo sua
demarcação pelo rio chamado rio Real, dis
tante desta villa dez leguas. E pela parte do
sul parte e demarca com a Villa Real de Santa
Luzia que fica em distancia desta villa doze
leguas, fasendo sua demarcação na passagem do
rio Piauhy Grande chamada passagem dos Tres
Irmãos , distante desta villa seis leguas .

Ha no termo desta villa varios riachos que


só de inverno são abundantes de aguas por
correrem por elles as vertentes das serras mas
de verão são todos seccos e nenhum he nave

gavel. Os principaes rios são o rio Real, of


Piauhy Grande e o Vasabarris, que todos vão
desaguar no mar, mas nesta altura são seccos
de verão. O porto de mar que tem esta villa é o
158 LIMITES

mesmo da cidade de Sergipe , onde faz barra o


dito Vasabarris no mar, e é para onde condu
zem os moradores deste districto os seus effeitos,
que fica distante desta villa dez leguas. - Feita
em Camara a 13 de Março de 1757 annos. Eu
João Chrysostomo de Tavora, Escrivão da Ca
mara a subscrevi. -o Juiz ordinario José de
Mattos Freire-Antonio Felix da Crux- Fran
cisco Simões de Avellar-Custodio Coelho Bar
bosa.

Os documentos acima deixam fóra de duvida , para


.

todas as pessoas de boa fé, que o Patrocinio do Coité, an


tiga Matta de Simão Dias, sempre pertenceo a Gere
moabo, que sendo creada a freguezia de Bom Conselho
passou este territorio a fazer parte desta ultima freguezia
e que a demarcação feita pelo capellão e approvada pelo
poder competente foi honesta e não lesou a Sergipe, pois
não tocou no territorio do termo do Lagarto , pelo que nem
a Camara nem o Vigario do Lagarto rcelamaram .
Em 1831 foi promulgado o seguinte Decreto legis
lativo :

A Regencia em nome do Imperador o Se


nhor Dom Pedro Segundo , Ha por bem sanccio
nar e Mandar que se execute a seguinte Reso
lução da Assembléa Geral Legislativa tomada
sobre outra do Conselho Geral da Provincia da
Bahia.
Artigo primeiro- Fica Erecto em villa o
Julgado de Geremoabo desannexando-se do
termo da villa de Itapicurú a que pertencia.
DA BAHIA COM SERGIPE 159

Artigo segundo- O Termo da villa de Ge


remoabo conterá as tres freguesias de que
actualmente o seu districto eleitoral se com

põe, a saber : a mesma de S. João Baptista de


Geremoabo, a de Nossa Senhora do Bom Con
selho dos Montes , do Boqueirão e a do Santis
simo Coração de Jesus e N. Sa. da Conceição do
Monte Santo, com todo o territorio pertencente .
José Lino Coutinho do Conselho do mesmo Se
nhor Imperador, Ministro e Secretario do Es
tado dos Negocios do Imperio assim o tenha
entendido e faça executar. -Palacio do Rio de
Janeiro em 25 de Outubro de 1831 , decimo da
Independencia e do Imperio. - Francisco de
Lima e Silva .- José da Costa Carvalho .—João
Braulio Muniz.

Por ahi se vê que a freguezia de Bom Conselho entrou


com todo o seu territorio no termo da villa de Geremoabo

e, portanto, com os limites que lhe haviam sido dados pela


auctoridade sufficiente para isto, desde 1817 .

E de acordo com esta legitima posse do que á Bahia


pertence a Assembléa Provincial da Bahia, em 1871 ,creou
a freguezia do Patrocinio do Coité do modo seguinte :

Lei n. 1.168 de 22 de Maio de 1871.—


Francisco José da Rocha, vice- presidente da
Provincia da Bahia-Faço saber a todos os seus
habitantes que a Assembléa Legislativa Provin
cial decretou e eu sanccionei a Lei seguinte :
Art. 1º. Fica creada uma freguezia com a
denominação de Nossa Senhora do Patrocinio
160 LIMITES

do Coité, cuja Matriz será a Capella do mesmo


nome, desmembrada da freguezia do Bom Con
selho dos Montes do Boqueirão.
Art. 2º. A nova freguezia terá os limites se
guintes Começará no rio Vasabarris, no logar
denominado Barra do riacho Salgado e dahi di
vidindo-se com a freguezia de Sant'Anna de
Simão Dias pela Provincia de Sergipe, seguirá
abaixo da Ladeira Grande, e dahi rumo direito
ao Olho d'agua do Coité na ponta debaixo da
serra do mesmo nome ; e dahi á lagoa das
Antas rumo direito ao riacho Cayçá no logar
denominado Olhos d'agua do Máo Fim Tenhas ;
e por elle acima dividindo - se com a freguezia de
Simão Dias até encontrar a freguezia de N. Se
nhora dos Campos do Rio Real da dita Pro
vincia de Sergipe ; e dividindo- se com esta fre
guezia até as cabeceiras do referido rio Real na
fazenda chamada 3. Francisco e dahi para o
Umbuseiro inclusive, e dahi para a fazenda de
João Vieira de Andrade, donde seguirá para o
rio Carahyba e por este abaixo, dividindo- se com
a freguezia de S. João Baptista de Geremoabo
até o rio Vasabarris, ao logar denominado Barra
e atravessando o rio irá dividindo - se com a

mesma freguezia de S. João Baptista de Gere


moabo até encontrar a freguezia de S. Antonio
das Almas , e dividindo- se com esta até o logar
denominado Barra do rio Salgado onde prin
cipiou .
Art. 3º . Revogam-se as disposições em con
trario.- Francisco José da Rocha.
DA BAHIA COM SERGIPE 161

(
) Exmo . Sr. Presidente de Sergipe estabeleceu
commigo a pretenção de que as palavras Revogam-se as
disposições em contrario querem dizer que a Provincia da
Bahia abandonou o territorio que fica entre a estrada
velha do Sacco das Candeias, a lagoa do Genipapo e uma
estrada nova que passa hoje ao norte dos dois referidos
pontos que a lei geral de demarcação de 1817 mencionou
e que a lei provincial de 1871 não menciona , tirando a
conclusão tambem que este territorio , hoje chamado Sacco,
deve pertencer a Sergipe, embora não tenha sobre elle
titulo nenhum de posse !!!

Junto em annexos sob os numeros as duas leis provin


ciaes de 1875 e de 1886 que crearam as duas villas de
Bom Conselho e do Patrocinio do Coité, com os mesmos
limites orientaes que sempre tem conservado este terri
torio desde 1817.

Antes de referir o que se passou nas viagens e con


ferencias , devo logo expôr o que sei relativamente ás accu
sações feitas ao Dr. Wenceslau Gallo e que se percebem
pela aspereza das referencias feitas pelo Exmo . Sr. Presi
dente de Sergipe ao mesmo preparador do Coité.
Ha manifesta má vontade do Exmo . Sr. Presidente de

Sergipe relativamente a toda a população do Coité. Uma


vez ouvi em Annapolis uma phrase do Exmo . Sr. Presi
dente, que eu attribui á posição soffredora em que se
acham os habitantes daquelle municipio bahiano. S. Exa .
dizia que os gatos estavam agora de unhas aparadas.
Em Aracajú , na conferencia de 11 de Fevereiro, pe
dindo eu que fosse retirada a força postada em territorio
nosso, allegando a oppressão em que se achavam alli os
habitantes, S. Exa. contestou , dizendo que elles não esta
LIMITES 21
162 LIMITES

vam sendo opprimidos, mas accrescentou que elles eram


muito altivos e atrevidos, o que me fez responder que se
cabia à população do Coité alguma culpa por disturbios
ou actos de desrespeito ou desconsideração ás auctoridades
de Sergipe, taes factos deviam ser levados pelos meios
regulares, e com as provas, ao Govrno da Bahia, que não
deixaria de reprimir dentro das leis o que fosse susceptivel
de punição , garantindo que tal seria o procedimento de
V. Exa. , mas que fóra dahi qualquer intervenção não
podia deixar de ser uma cousa extranha ao direito e offen
siva á Bahia, sendo esta circumstancia o que inspirou
alguns topicos da Reclamação e Protesto que fiz chegar ao
Governo de Sergipe, ao retirar-me dalli , em 16 do corrente
mez de Fevereiro .

Acredito que alguem malevolamente se encarrega de


intrigar os habitantes do Coité com o Exmo . Sr. Presi
dente do visinho Estado, attribuindo- lhes ditos e propositos
desrespeitosos para com S. Exa. , etc. , o que junto á resis
tencia legal daquelle povo em não se resignar a fundir - se
com Sergipe tem augmentado a animadversão contra elle .
Sobre o Dr. Wenceslau Gallo em particular, supponho não
me enganar dizendo que foram attribuidos , com razão ou
sem ella, ao Sr. Dr. Gallo certas noticias que sahiram á
lume nos jornaes desta capital e nos do Rio de Janeiro,
nas quaes o poder do Exmo . General Siqueira de Menezes
em Sergipe era representado como o despotismo asiatico.
dos paizes musulmanos, que a civilisação occidental con
demna. Tendo se dado a circumstancia de remetter
V. Exa. ao Exmo . Sr. Presidente de Sergipe copia da
informação remettida pelo Sr. Dr. Wenceslau Gallo, em
que o Exmo. Sr. General não era tratado em termos
DA BAHIA COM SERGIPE 163

muito respeitosos, cresceu a desconfiança no espirito de


S. Exa. , desconfiança que tomou corpo de verdade por um
facto outro que tem sua explicação . O Sr. Dr. Wenceslau
Gallo foi accusado de ter pronunciado injurias e palavras
offensivas ao Exmo . Sr. Presidente de Sergipe e á sua
auctoridade, quando foi verificar a existencia de forças ser
gipanas no Apertado de Pedras e Sacco . Ouvi do sargento
commandante do destacamento do Sacco que não era exacto
terem o Dr. Gallo ou qualquer dos bahianos que o acompa
nharam pronunciado injurias contra o Presidente de Ser
gipe ; que, pelo contrario , pediram licença para se apeiar,
e tomaram apenas informações. Este depoimento foi
feito perante os Srs. Drs. Raul Passo , Salvio Martins, e
muitas pessoas, no Sacco , no dia 27 de Janeiro.

Quanto ao que se passou no Apertado de Pedras , sei


que foi um homem de Annapolis , chamado Raphael Mon
talvão , rabula de profissão e intendente interino, quem,
sabendo da ida do preparador e delegado regional ao
Apertado de Pedras, por um soldado dalli vindo , redigio
um officio que mandou para o subdelegado do Apertado de
Pedras assignar, o qual nada vira tambem, officio que ser
viu para as accusações a que me refiro . Isto me foi con
tado pelo mesmo intendente Raphael e não póde soffrer
contestação, porque eu chamando o Sr. Dr. Joviniano de
Carvalho, Deputado por Sergipe , para ouvir tudo isto, foi
por S. Exa. ouvido , e foi depois por mim reproduzido em
sua presença e por mim declarado a S. Exa. que me ser
viria de seu testemunho quando achasse opportuno , con
tando com a sua honra para não negar.

A intelligencia de V. Exa . fará os commentarios que


julgar justos e cabiveis .
164 LIMITES

Os guias que levamos no dia 25 para nos mostrarem


a fronteira entre a Barra do Salgado e o Olho d'agua do
Coité, zona que V. Exa. verá no mappa, não tinham a
idoneidade precisa, como soube mais tarde, porque um já
havia sido preso por furto de cavallos, o que me foi refe
rido pelo proprio Exmo . Sr. Presidente de Sergipe , o de
nome Francisco Correia, e quanto ao outro , de nome José
Lourenço, tambem fui informado por pessoa de conceito
ter sido apalavrado e citado como testemunha para jurar
que fôra ao Coité, sahindo do Estado de Sergipe , o
Exmo. Sr. Coronel Pedro Freire, quando houve deejo de
fazel-o perder este cargo por meio de um processo politico .

Durante a manhã de 25 percorremos o Apertado de


Pedras, vimos um tanque alli situado, que me referiram
ter sido feito pela gente de Coité, e vimos o destacamento
postado numa casa á esquerda da estrada por onde segui
mos, estrada que nos conduziu a um logar que nos foi indi
cado como a Baixa da Ladeira Grande, ponto da fronteira
mencionado na demarcação , e de onde se descortina o valle
do Vasabarris e o boqueirão do riacho Salgado, que fica do
outro lado do rio.

O Vasabarris, já cheio e correntoso naquelle dia, não


nos deixou ver das suas margens escarpadas senão muito
imperfeitamente a Barra do Salgado .
Depois de almoçar e descançar na fazenda do Coronel
Pedro Freire, Vice- presidente do Estado, que está na fron
teira, a qual foi comprada por escriptura passada no
Coité, paga impostos á Bahia e tem sido sempre consi
derada em territorio bahiano, voltavamos pelo mesmo ca
minho da ida, quando fomos avisados pelo Dr. Raul Passo
que não era a Ladeira Grande o lugar que nos tinham
DA BAHIA COM SERGIPE 165
‫ނ‬،

mostrado como tal pela manhã e a mesma declaração foi


feita pelo Sr. Coronel Pedro Freire ao Sr. General Si
queira de Menezes .
Um homem do Coité, chamado José Calixto, velho ,
que por 30 annos foi inspector naquella região , se prompti
ficou a nos mostrar a verdadeira Ladeira Grande. Pergun
tando aos moradores dos logares por onde passavamos os

nomes desses logares, percebi facilmente que os habitan


tes se achavam em grande parte atemorisados , porque uns
se recusavam a dizer os nomes dos logares e outros de
claravam não dizer para não soffrer em consequencia
.
disto, não desejarem se comprometter, etc.
Entretanto vimos, confirmada por alguns, a verda
deira Ladeira Grande, que nos foi mostrada pelo velho
José Calixto e o Sr. Coronel Pedro Freire, onde ha uma
casa geralmente conhecida por casa do Badico.

O terreno tem a forma de uma meia lua e, por uma


encosta suave, segue a estrada até o ponto mais elevado
ou de maior concavidade da meia lua, havendo ahi uma con
sideravel depressão do solo onde ha uma grande poça
de agua barrenta. A estrada ahi domina e vae a pique
sobre o despenhadeiro , descambando depois para o outro
lado , para a outra extremidade da meia lua .
No meio está o valle fundo e longo , que deu muito
justamente nome ao logar, que é citado tanto na demrca
ção de 1817 como na lei de 1871 e que o Exmo . Sr. Presi
dente de Sergipe nos pedio mais tarde lhe fosse cedido a
titulo provisorio .
Não posso dizer, por causa das variantes e innumeras
voltas das estradas, qual a posição exacta da casa em que
está o destacamento do Apertado de Pedras , podendo
166 LIMITES
www

dizer, porém, com segurança, que alli não tem

povoado ou ponto em que se encontrem muitas casas


juntas. E' um territorio de campo em que as casas estão
muito separadas uma das outras, ordinariamente não se
vendo, siquer.

Só um trabalho feito por engenheiros, tirando duas


linhas da baixa da Ladeira Grande para a Barra do Ria
cho Salgado e para o Olho d'agua do Coité, poderá estabe
lecer com nitidez a fronteira intermedia entre estes pontos.
Tornou-se fóra de duvida para mim que havia grande
interesse em enganar sobre este logar da Ladeira Grande
e com certeza era cousa importante desejada por certas
pessoas do Estado de Sergipe para nos esbulhar deste
ponto, o que fica bem provado, tanto por esta tentativa de
illusão, como pela proposta que nos foi feita em 3 de Fe
vereiro, na qual o Governo de Sergipe mostrou desejo de
ficar com este territorio , que está comprehendido na recta
proposta entre a Barra do Salgado e o Olho d'agua do
Coité.

A presença da força sergipana alli, num logar onde


não ha população reunida, tem indubitavelmente por fim
apavorar os habitantes e coagil-os a obedecer a Sergipe e
esta falta de liberdade se tornou evidente pela negativa
de indicar os logares e a declaração formal do medo de
responsabilidades , naturalmente pelo terror das surras,
das prisões e outros castigos, estando como está a popula- .
ção do lado bahiano entregue, sem defesa nem esperanga de
apoio prompto, aos que a pretendem sujeitar ao jugo do
visinho Estado .
Da Ladeira Grande seguimos para a lagoa Cercada,
outro ponto referido na demarcação de 1817, conduzidos
DA BAHIA COM SERGIPE 167

pelo guia José Calixto, ficando, porém, o Exmo . Sr. Pre


sidente de Sergipe duvidando de ser o logar mostrado a
lagoa Cercada, por lhe affirmarem isto em Annapolis, pelo
que ficou assentado fazer- se uma verificação no dia 27.
No dia 26 fui ao Coité, onde fui recebido com o affecto
e as honras que o alto cargo de que V. Exa. me havia in
vestido fazia esperar de uma população tão acrisolada
mente bahiana, tão emocionada pela situação anormal e
ameaçada que atravessa, e por aquelle espirito de solicitude
e terna hospitalidade que caracterisam o sertanejo bahiano.
Comprehende- se, á vista daquelle torrão , o ardente
desejo , o avido ciume com que os visinhos fitam aquelle
delicioso clima salubre, aquella posição bella, alta, de dila
tados horizontes, dominando vastas extensões do sertão,
cercada de terras ricas e ferteis !

E esta riqueza da terra fecunda e ridente é a causa


real e verdadeira de tão repetidas tentativas contra o
solo do Coité !

Sergipe é um Estado pequeno , tem dois terços de


sua superficie de terras sáfaras e a sua população , au
gmentando sempre, e achando - se estreitamente collocada,
emigra em boa parte.
Diante desta população estão as terras ferteis do
Coité e não é de extranhar que todos olhem de lá com in
tenso desejo para o nosso lado, não sendo possivel muitas
vezes esconder os sentimentos que agitam os homens no
anhelo de tomar aquelle pedaço que se lhes afigura um
meio de satisfação ás suas aspirações.
Refere- se que no municipio de Coité familias inteiras
subsistem com quatro a cinco tarefas de terra . E isto por
diversas gerações.
168 LIMITES

A villa está muito mal cuidada e é pobre. Além disto


resente- se da falta de agua, como acontece tambem a
Annapolis e Lagarto . Mesmo nas estiagens o solo em
Annapolis guarda mais tempo a agua para o gado do que
no Coité, que é muito mais alto, mas as terras aqui são
melhores .

O dilemma se estabelece claramente, dizendo que ou


a Bahia ha de se deixar despojar, abandonando a sua terra
e o seu povo, perante a invasão , a força e a astucia dos
seus visinhos, ou ha de tomar a resolução, com toda a
energia e firmeza , de se defender e não se deixar esbulhar
do que legitimamente lhe pertence.

Fóra dahi tudo são palavras que occultam mais ou


menos o pensamento, são enganos e palliativos que não
illudem aos espiritos praticos .

O Governo da Bahia carece olhar para a sua fronteira


com Sergipe muito melhor do que tem feito até agora .
O systhema tributario da Bahia, muito mais liberal e
mais brando do que o de Sergipe, lhe dá uma consideravel
vantagem sobre o adversario, mas a distancia da séde do

Governo, a falta de um plano economico , militar e politico ,


destinado a ligar aquella zona do seu sertão solidamente
á Bahia, a falta de persistencia na execução das boas me
didas e a deficiencia de bons e rapidos meios de commu

nicação prejudicam muito o nosso Estado, lhe difficultam


a acção administrativa, permittem, como agora, que
aquella generosa e nobre parte da familia bahiana lá esteja
entregue á mercê dos seus inimigos, sujeita a todas as
surpresas e humilhações, inerme, ao alcance de todos os
ataques, mais ou menos hypocritas, mas na realidade ata
DA BAHIA COM SERGIPE 169

' ques tendentes a desmembrar da Bahia aquelle pedaço do


seu patrimonio .

No discurso em que respondi ás saudações que me


foram feitas, porque representava alli a pessoa de V. Exa. ,
manifestei, em nome de V. Exa. , a promessa formal do
apoio á integridade do territorio e o juramento de que, pela
ordem e pela honra, o Governo deste Estado defenderia,
dentro da lei e com a justiça , o direito violado do povo e
a sua liberdade ameaçada e offendida .

Em 27 de Janeiro fomos verificar a questão da lagôa


Cercada.

Eu percebia o trabalho que se fazia para dar como


errada a indicação do guia José Calixto, do Coité.
O Exmo . Sr. Presidente de Sergipe me declarou que
elle o havia embromado ( textual ) e eu ouvi o guia infiel
da vespera, Francisco Correia, o mesmo que S. Exa .
alguns dias depois, em S. Christovão, me disse já haver
sido preso por suspeito de ladrão de cavallos , dizer a
S. Exa . que elle sabia onde era a lagoa Cercada, que morava
perto della e que iria mostral-a, mas que tinha medo da
perseguição da gente do Coité ! ( sic ) .
Diversas pessoas perguntadas diziam ignorar a exis
tencia da lagoa , o que era a reproducção do que se dera
na Ladeira Grande. Actuando o interesse em negar ou es
conder a verdade, agia o terror , o receio dos supplicios e
das perseguições e não era de estranhar que se revelasse
a reluctancia em dizer a verdade.
Felizmente, o veneravel sogro do Dr. Joviniano, o
Sr. Freire de Carvalho, prometteu -me mandar mostrar a
lagoa e, na realidade, na manhã de 27 , um seu neto en
genheiro, filho do Dr. Joviniano, com um filho do Capitão
LIMITBS 22
170 LIMITES

Victor, outro homem idoso e doente, mas de grande repu


tação de honra e honestidade, foi mostrar a lagoa Cercada,
exactamente a que o velho Calixto nos indicara no dia 25.

Ainda o guia Francisco Correia conduzio o Exmo.


Sr. Presidente de Sergipe a um tanque mais longe, que
pelo escarpado das margens, indicando os córtes que se
havia feito na terra para caval-o , bem mostravam ser elle
obra artificial , mas isso a nenhum de nós illudio ; o in
teresse da falsa linha da Ladeira Grande e da lagoa Cer
cada, que lhe está proxima, tornava- se em meu espirito
clarissimo, como ligados intimamente.

Depois desta verificação , seguimos para a lagoa das


Antas, após visita á lagoa Salgada, e da lagoa das Antas
fomos ao Olho d'agua do Mão Fim Tenha, subindo pelo
Cayçá até o divisor das suas aguas . Os terrenos por alli
são excellentes e a estrada corre ao longe do citado curso
d'agua : dizendo a lei- por elle acima, segue- se que a es
trada está toda em territorio bahiano e , á esquerda della,
do outro lado do sulco que indica o curso d'agua, é Ser
gipe, pois nós marchavamos de leste para oeste.
Do divisor das aguas em diante a estrada se alarga e
se bifurca mais longe. A que se desdobra em frente vae,
com pequenas sinuosidades, para a lagoa de S. Francisco,
a que obliqúa um pouco á esquerda vae para a lagoa
do Genipapo e a estrada velha do Sacco das Candeias, que
é a nossa divisoria .
Foi neste ponto de bifurcação que eu tive prova posi
tiva dos interesses do Governo de Sergipe em negar o
nosso legitimo direito.
Sabendo eu que pela estrada á esquerda iriamos á
lagoa do Genipapo, notei ao Exmo . Sr. Presidente a
DA BAHIA COM SERGIPE 171

vantagem de visitarmos aquelle ponto, pois S. Exa . cos


tumava dizer que queria ver tudo . Reluctou o Sr. Presi
dente e, tendo eu citado o alvará de 1817 , ouvi o Sr. Ra
phael Montalvão, o mesmo de quem falei a proposito do
officio que redigio em referencia ao Dr. Gallo e que man
dou para o subdelegado da roça assignar, que a lei de 1871
havia revogado a de 1817. O Sr. José Lourenço , o outro
dos guias infieis do dia 25 , tambem fazia em voz alta
commentarios sobre as leis bahianas e o Exmo . Sr. Presi

dente de Sergipe se rendeu ás razões destes Senhores ,


resolvendo seguir pela estrada em frente . Disse eu

naquella occasião-" Requeiro que vamos pela estrada que


leva á lagôa do Genipapo . S. Exa . , porém, me respondeu
-Vamos agora pela estrada em frente, que é uma estrada
larga, e na volta passaremos pela outra ".

Entendi não dever romper, retirando-me immediata


mente, porque tinha sido convidado, porque eu não pre
cisava de estar fazendo verificações no matto e porque, por

mais imperfeito e impreciso que fosse o valor daquella


visita a pontos da fronteira, feita daquelle modo , se eu a
abandonasse, seria obrigado a acceitar o que me quizessem
dizer depois como verdadeiro, e assim faltaria com os
deveres da minha commissão .

A estrada nova , pela qual seguimos , nos levou á


lagoa de S. Francisco, a qual está no pasto da fazenda do
mesmo nome e não é importante pela sua grandeza ou
extensão , devendo- se comprehender como nascente do rio
Real não só esta lagoa como uma outra tambem pouco
adiante, no meio de mattos espinhosos e emfim todas as
fontes e minadouros por aquellas alturas existentes , até
descambar o terreno para outra banda, pois toda esta zona
172 LIMITES

mais elevada é que constitue o divisor das aguas do


rio Real.

Seguimos para o Sacco, logar que eu já lobrigara do


alto da estrada por onde haviamos passado, comprehen
dendo, diante daquella especie de amphitheatro, o desejo
ardente que os visinhos manifestam de se apropriar
daquella porção de terras ferteis, bem regadas , formadas
por encostas e um valle, que no meio dos montes que o
circumdam, tem uma fórma approximadamente ' redonda.
O logarejo é muito pequeno , tem apenas seis ou oito
casinhas de taipa e numa dellas está o destacamento que o
Governo do visinho Estado alli deitou para lhe garantir o
imperio.

Estas terras do Sacco, situadas para dentro da demar


cação da nossa fronteira, acham- se mencionadas no re
gistro do Vigario, de accordo com o Decreto n . 1318 de
30 de Janeiro de 1854 e a Camara do Patrocinio do Coité
alli construio, ha cerca de vinte annos, um travessão que
lá está. O Sr. Presidente de Sergipe diz que a Camara
de Annapolis tem também alli um travessão, após um
accordo particular que fizeram as duas municipalidades , e
que não me foi mostrado. A singularidade do caso, porém,
consiste em querer apoderar- se o Governo de Sergipe,

tanto da parte em que existe o travessão feito pela


Camara do Coité e que se acha á direita da estrada, logo
proximo ás casas, como o que refere ter sido feito pela
Camara de Annapolis.

Fóra o travessão de que acabo de falar, me foram


mostradas pelo Dr. Raul Passo as cercas que fecham as
terras aforadas pela Camara do Coité.
Pelas informações que obtive, soube que estes terre
DA BAHIA COM SERGIPE 173

nos eram até certo tempo catingas que começaram a ser


desbravadas pela gente do Coité, que alli se foi estabele
cendo. Conhecido o valor das terras, accendeu- se a cobiça
da gente de Sergipe para se apossar daquelle territorio,
que está na fronteira, e o estabelecimento de uma pequena
feira alli prestou pretexto para o facto delictuoso que se
está dando .

Sendo longe o Sacco das feiras de Annapolis e


Coité, começaram alguns commerciantes a fazer alli uma
feira, por commodidade, e para isto impetraram licença
das auctoridades do Coité, a quem pertence o territorio, e a
feira foi tomando incremento. Como porém isso natural
mente prejudicasse o commercio estabelecido nos logares
maiores, foi prohibida a feira pelas auctoridades do Coité,
recorrendo os interessados ás auctoridades de Annapolis,
que protegeram a feira, o que deu motivo á reclamação por
parte da auctoridade do Coité, reclamação a que o inten
dente de Simão Dias ou Annapolis, Christovam Moreira
da Rocha, respondeu em 22 de Setembro de 1911 , atten
dendo .

Apesar desta promessa, sorrateiramente, as auctori


dades de Annapolis favoreciam a existencia real da feira,
por motivos peculiares ao commercio da sua cidade ou já
por interesse mais elevado .

A jurisdicção da Bahia era, porém, sempre obedecida


e até as prisões alli feitas eram julgadas em Coité, recor
rendo as pessoas de Annapolis , para todos os casos em
que havia interesses a discutir no Sacco, a pedir e solicitar
em Coité.

Alli chegaram a abater nos dias de feira tres e quatro


174 LIMITES

rezes e todas as casas de negocio pagavam direitos ou im


postos aos agentes fiscaes da Bahia .

Hoje a feira está muito decahida . Consta que nem a


carne de uma rez se vende inteira mais alli e os negocian
tes em grande parte fugiram, ou por causa da presença
dos soldados sergipanos, ou por causa dos impostos pesa
dos que o fisco de Sergipe exige e que pela força elles
estão obrigados a pagar áquelle Estado, indevidamente .
O Governo de Sergipe sabe perfeitamente que não
tem o consenso da população , sabe perfeitamente que a
feira diminuio de importancia desde que alli deitou solda
dos e alli pretende estabelecer o seu systhema fiscal , mas já
foi muito longe e agora percebe que se desmoralisará an
dando para traz .

É o que se conclue logicamente do que se passou


entre o Exmo . Sr. Presidente de Sergipe e o signatario
deste, nas conferencias de 11 e 15 de Fevereiro .

Chegando ao Sacco, e tendo -me apeado entre OS

patricios que alli me esperavam, me foi lembrada pelo


Dr. Raul Passo a conveniencia de reclamar do Exmo . Sr.
Presidente de Sergipe, perante todos, a visita aos pontos
da fronteira, que se não haviam feito , pelo que, tendo
ao meu lado os Drs . Raul Passos, Salvio Oliveira , Abdon
Affonso, o intendente do Coité e presidente do Conselho
e muita gente que alli se achava , me dirigi a S. Exa. , di
zendo-lhe que era muito conveniente, apesar da distancia
que ainda restava a percorrer, ir até a estrada velha do
Sacco das Candeias, onde havia gente para mostrar a

mesma estrada, assim como a lagoa do Genipapo ou João


Gomes e duas arvores que sempre haviam servido para in
dicação da divisoria entre Sergipe e Bahia , uma dellas co
DA BAHIA COM SERGIPE 175

nhecida com o nome de Umburana da Posse e a outra, de


que restava somente o tronco, chamada Baraúna do

Brinco, e que todo o povo dos dois municipios limitro


phes conhecia .

Nesta occasião approximou-se o vigario de Coité,


Padre João de Mattos e, com uma bussola e um mappa,
demonstrou o logar em que estavamos .
Tendo S. Exa. , o Sr. Presidente, feito uma objecção
sobre as oscilações da agulha, o Dr. Abdon Affonso se
gurou firmemente a bussola e tendo S. Exa. feito aínda
uma objecção por causa da falta de sol, eu fiz notar a
S. Exa. que o astro estava pelo lado de S. Exa. , vendo - se
o seu disco bem claro e por elle a orientação ; e o Padre
Mattos mandou que um dos homens presentes levasse o
indicador na direcção da cidade de Annapolis , depois de
que, com gesto expressivo, disse estas palavras : "Póde
haver um accordo ou cousa equivalente, mas a verdade
pura e evidente é esta !" ...

E eu, collocando o bordo da mão direita sobre o


mappa, que era o do municipio e freguezia do Coité, na
direcção da estrada por onde tinhamos vindo , disse :
:
"Traçar a fronteira por esta linha é cousa em que eu não
posso concordar, porque a Bahia perde muito com isto. ”
O Exmo . Sr. Presidente de Sergipe não respondeu
ás palavras do Padre Mattos nem ás minhas, e após alguns
segundos me convidou para acompanhal-o a tomar uma
refeição em casa do Sr. Heliodoro, uma legua mais
adiante, o que não acceitei, promettendo ir reunir-me a
S. Exa. uma hora depois .

Esta exposição fiel do que se passou alli não pode ser


contestada, porque, além das pessoas citadas , invoco o
176 LIMITES

testemunho dos Srs . Coronel Pedro Freire, que estava pre


sente, do Sr. Deputado Joviniano de Carvalho, dos outros
cavalheiros sergipanos que estavam alli juntos e cerca de
100 habitantes do Coité que nos cercavam.

Durante a viagem, desde o ponto da bifurcação das


estradas, quando se tornaram transparentes as intenções
do Governo de Sergipe, tive occasião de dizer ao Exmo.
Sr. Coronel Pedro Freire, como disse no Instituto His
torico de Aracajú, como disse verbalmente e directamente
ao Exmo . Sr. Presidente de Sergipe, que a Bahia, tendo
os seus limites do Coité fixados em lei ha 97 annos, não
tinha durante todo este tempo pretendido occupar um
palmo de territorio alheio, que se me fosse provado que
isso se dera eu entregaria immediatamente, em nome do
Governo da Bahia , o que fosse dos outros, porque a Bahia
não precisa tomar terra de seus visinhos, mas que eu não
podia conceder na cessão ou usurpação de qualquer porção
do que era e é legitimamente do meu Estado por força de
lei e por decisões do poder competente.

Quando parti do Sacco para a casa do Sr. Helio


doro, que já está em terra de Sergipe, vi a estrada velha
do Sacco das Candeias, que corre transversalmente ao
caminho em que eu ia, e que se acha ácerca de tres kilo
metros do logarejo Sacco, onde foi posto o destacamento
sergipano. Dois homens velhos me mostraram a estrada,
onde se vê que as arvores, bastante grandes na visinhança,
não o são alli , por onde transitava o povo noutro tempo e
não ha quem não perceba isto , chegando ao logar e que
rendo ver de boa fé.
Se este caso fôr á justiça, deve ser requerida uma
vistoria, pois, como eu tive occasião de ver no documento
DA BAHIA COM SERGIPE 177

que enviei ao Governo de Sergipe, em 16 de Fevereiro,


ella tirará qualquer duvida que possa surgir da opinião
suspeita do representante de Sergipe ou do da Bahia.

Voltando ao Aracajú , recebi do Exmo. Sr. Presidente


de Sergipe, em 1º. de Fevereiro, delicado convite para um
jantar que S. Exa. se dignou offerecer e que se realisou
no dia 2, em o Palacio do Governo , sendo, por occasião de
ser servido o champagne, brindada por S. Exa. a Bahia,
o seu Governo e quem o representava , e a que eu respondi
immediatamente, congratulando-me com o Presidente de
Sergipe pela continuação da amizade e harmonia entre
os dois Estados existentes e brindando o Estado de Ser

gipe, dignamente representado pelo seu egregio Presidente.

Desejei retribuir esta gentileza , como é de uso, e


recebi de V. Exa. e do Sr. Dr. Secretario, os necessarios
poderes . Já estava tudo disposto para se realisar o ban
quete de agradecimento, quando me chegaram noticias tão
sinistras das inundações que se haviam dado na Bahia e
haviam enlutado o seu povo , que resolvi não offerecer o
banquete, pedindo ao Exmo . Sr. Presidente de Sergipe
desculpa por este motivo, desculpa que foi gentilmente
acceita .

Tinha S. Exa., antes do jantar, me avisado de que


poderiamos conservar no dia seguinte e realmente, em
3 de Fevereiro, nos avistamos em Palacio , onde S. Exa . me
fez a proposta que submetti á apreciação de V. Exa. nos
seguintes termos , redigido o telegramma como foi , quasi
ditado pelo Sr. General até as palavras Rio Real, em
papel que S. Exa. me forneceu e escripto com um lapis
com que S. Exa. me presenteou logo após .
Ouvindo a proposta, declarei logo que ella importava.
LIMITES 23
178 LIMITES

grande prejuizo para a Bahia, visto que o Governo de


Sergipe muito pedia e nada dava, pelo que eu por mim
nada podia resolver , levando, porém, tudo ao juizo de
V. Exa.

Foi então que redigimos, escrevendo eu, o telegramma .


seguinte :

Exmo. Governador - Bahia. - Governador Sergipe


propõe fronteira provisoria recta desde a Barra Salgado
até Olhos d'agua Coité ; dahi linha recta Olhos d'agua Máo
Fim Tenha ;dahi cabeceiras do Cayçá no divisor aguas ; dahi
estrada real até cabeceiras rio Real.

Então declarei a S. Exa. que por dever de consciencia


tinha de accrescentar algumas palavras o que fazia logo e
accrescentei " Proposta importa perda nesga desde Salgado
até Olhos d'agua Coité perda maior desde nascentes Cayçá
até nascentes Real- pois comprehende Sacco . Officio se
guio hontem esclarece assumpto .

Saudações . Amaral.

Em nossa ultima conferencia , S. Exa. notou que


V. Exa. provavelmente não acceitou a proposta por esta
ultima parte, que era uma informação contraria.

Não podia deixar eu de dar esta informação, porque


V. Exa. talvez não podesse ver bem ou não comprehen
desse o mappa e mais tarde, quando se evidenciasse haver
sido a Bahia prejudicada , me coubesse alguma responsa
bilidade, por não ter dado logo uma informação que orien
tasse o Governo, o qual não podia fazer do caso a idéa
nitida que eu devia ter, havendo visitado os logares.

Podia eu ter rejeitado a proposta do Governo de


Sergipe, mas não o fiz para ficarem patentes e irrefutaveis
DA BAHIA COM SERGIPE 179

algumas conclusões que qualquer espirito imparcial tirará


dos termos della.

Tendo o Governo de Sergipe pedido á Camara Fe


deral uma grande porção de territorio da Bahia , sob a
razão apparente de ter direito a ella , só se comprehende ou
que pedisse na proposta todo este territorio, ou que pelo
menos se cingisse ao que constou do seu despacho de
principios de Janeiro, em que diz desejava estabelecer
um modus-vivendi tomando por base a lei bahiana.
Não pedindo nem o que solicitou no projecto Moreira
Guimarães nem o que prometteu no despacho de Janeiro,
pois a pretenção de ficar com a Ladeira Grande, que está
incluida na linha da Barra do Salgado ao Olho d'agua do
Coité, mostra que faltou á preliminar, que entretanto elle
mesmo havia estabelecido, por sua espontanea vontade .
Além disto, o Exmo. Sr. Presidente de Sergipe muitas
vezes havia dito que o municipio do Coité pertencia a
Sergipe ; e vindo agora pedir duas pequenas faixas deste
municipio, transformando a fronteira em uma linha que
brada em vez de uma curva apenas, e sem dar uma razão
de ordem publica ou juridica disto, não era coisa que eu
devesse desprezar que ficasse registrado .

Tambem releva ponderar que, partindo do principio de


que ninguem contesta seriamente a propriedade de outrem
sem direito, pedir tal cessão , a titulo provisorio, verbal,
e que devia ficar só combinado entre nós, sem documento ,
é cousa inadmissivel com a consciencia desse direito .
E, em summa, cotejando todas estas razões com as
irregularidades e outros factos que se deram para enganar
sobre a Ladeira Grande, e o que se havia passado na
estrada do Sacco e naquelle logar, indicam que o Governo
180 LIMITES

de Sergipe não procedia comnosco com aquella equidade


e rectidão que era de esperar, quando se discute o direito
convictamente, e tudo mostra que a proposta só tinha por
fim obter a entrega, embora a titulo precario, pelo Go
verno da Bahia dos logares onde o Governo de Sergipe
já tinha força ( * ) , isto é, considerado como seu de jure,
o que é a melhor prova da illegalidade do seu procedi
mento.

Comprehende V. Exa. que foi util que a proposta


viesse, porque ella é a confissão da situação juridica in
sustentavel em que se collocou o Governo de Sergipe.

Em 4 de Fevereiro entreguei ao Exmo. Sr. Presi


dente, ao acompanhal- o á estação para S. Christovão , a
carta abaixo, em que aventei o levantamento de uma planta
da região fronteiriça :

Officio ou nota do Dr. B. Amaral commis


sario da Bahia ao Presidente de Sergipe

Exmo. Sr. General. - Considerando que um trabalho


scientifico regularmente feito é a melhor base para uma
obra harmonica, imparcial e justa, como é pensamento
tanto de V. Exa . como meu , pois só temos o desejo de
acertar e de prestar um bom serviço aos dois Estados e
considerando, por outro lado, que os vindouros só terão
que reconhecer a rectidão do nosso procedimento , tanto
mais certamente quanto mais evidentemente ficar provado
que nos servimos de todos os elementos para fazer um
juizo bom e são, peço licença , com todo o respeito, para
apresentar a V. Exa. as seguintes idéas que desde hontem

(* ) Sacco e Apertado de Pedras.


DA BAHIA COM SERGIPE 181

me têm occupado o espirito e que submetto á esclarecida


e ponderada intelligencia de V. Exa. como um esboço :

Bases geraes para um projecto de convenio

1º. Até quinze dias depois de minha chegada á Bahia


os dois Governos nomearão uma commissão mixta, que
immediatamente irá trabalhar de accordo, para fazer um
desenho em que fique estabelecida claramente a zona limi
trophe de Simão Dias e Coité, marcando os pontos de
que falam as leis e aquelles a que se refere a proposta de
V. Exa. para limite provisorio, isto é , da Barra do Salgado
ao Olho d'agua do Coité, passando pela baixa da Ladeira
Grande, as duas lagôas Salgada e Cercada e passando um
pouco a oeste para ligar por uma recta os dois pontos ci
tados, de modo a se ver a distancia entre as duas linhas ,
etc., porque aquillo que pode parecer aos que falam de
oitiva de grande importancia pode não o ser e vice-versa .
2º. A commissão fará a mesma coisa entre o Olho
d'agua do Coité e o do Máo Fim Tenhas, passando pela
lagoa das Antas e por uma recta entre os dois pontos , para
o fim acima.

3º . A commissão indicará entre as nascentes do Cayçi


e as nascentes do rio Real, tanto a antiga estrada do Sacco
das Candeias, a lagoa do Genipapo , a Umburana da Posse
e a Braúna do Brinco ou logar em que está o tronco
desta, assim como a estrada nova pela qual fomos
e a estrada do rumo, com a menção das distancias entre
estes logares, para conhecermos com certeza qual o espaço
entre estes pontos ou logares , etc.
4º. A commissão fará o maior esforço para não de
morar o trabalho, de modo que no fim de ( tanto tempo
182 LIMITES

quanto V. Exa. julgar indispensavel ) possam os dois


Governos interessados assentar sobre uma base segura

o seu procedimento, não havendo accusação que caiba de


se haver sacrificado uma das partes, entendendo eu pes
soalmente que ás duas partes vale a pena um pequeno
sacrificio , attendendo ás vantagens judiciarias, fiscaes e
outras que dahi virão . tanto para a Bahia, como para
Sergipe.
Antes, portanto. de deixar V. Exa. sua proficua admi
nistração ficará tudo isto feito, melhor do que com infor
mações, sempre um pouco apaixonadas e parciaes , tanto
de uns como de outros.

A opinião das pessoas sensatas e capazes, tanto da


Bahia como de Sergipe, não poderá deixar de applaudir,
se assim fizermos, o escrupulo com que encaramos este
importante assumpto .

Durante o tempo em que se realisar este trabalho os


dois Estados, como penhor e prova de confiança e amizade
reciprocas, sómente manterão nas sédes dos dois muni
cipios acima declarados a força estrictamente necessaria
para manter a ordem nas duas cidade e villa, instituindo - se

quanto á vida fiscal o statu quo ou um regimen analogo ao


que é empregado por todos os povos cultos em casos se
melhantes a este, para serem evitadas por todas estas me
didas a atemorisação verificada das populações, a coacção
dellas, as noticias alarmantes, as informações e até pe
quenas explorações locaes que embaraçam a acção dos
que só desejam a paz e o bem, mantendo a harmonia, como
V. Exa. e eu , afim de que os povos trabalhem e prosperem.
Sobre o telegramma do dia 3 ainda não tive resposta,
tanto porque o Dr. Seabra está a braços com a calamidade
DA BAHIA COM SERGIPE 183

que cahio agora sobre a Bahia, como por causa de dis


posiçõs constitucionaes , segundo presumo .
Além disto, elle tem de dar satisfações a uma opinião
publica exigente, conta que soffrerá nos seus actos não só
a critica de uma grande imprensa opposicionista, que tanto
tem já explorado esta questão, como o trabalho constante
dos partidos, especialmente num caso como este, em que a
opinião saberá mais tarde ou mais cedo que temos leis
escriptas, fixando e estabelecendo os pontos da fron
teira, o que foi feito depois de ouvida a auctori
dade sergipana na especie, que concordou e acquies
ceu a esta demarcação , leis que não foram revoga

das, pois a de 1871 em nada alterou o que existia desde


o principio do seculo , nem o podia fazer, porque a altera
ção de limites das Provincias era attribuição privativa da
Assemblea Geral, pela Constituição do Imperio, tendo
sómente o Acto Addicional dado ás assembléas provinciaes
o poder de crear freguezias e villas, desmembrar territorios
alterar limites dentro de cada Provincia e não em fron
teiras, para não ir tocar em interesse de outrem sem
ouvil-o, o que era sabio e justo.

Requeiro a V. Exa . , se alguma duvida existe em seu


illustrado espirito em relação á legitimidade do direito da
Bahia sobre o territorio do Coité , se digne conceder-me uma
conferencia em que eu possa, com minuciosidade que não
pude ter no dia em que entreguei as minhas credenciaes,
mostrar as provas e elementos de direito que trouxe e na
qual me seja permittido, em reciprocidade , ver as leis,
razões , provas e documentos que o Estado de Sergipe
possue para fundamentar a sua contestação, afim de que
nós possamos cotejar uns e outros para dahi sahir a luz
184 LIMITES

serena da justiça , da razão e do direito, que é a directriz


das nossas acções, tanto de V. Exa . como minhas .
Rogo a V. Exa. paciencia para ler estes pensamentos
do seu amigo, que com esta benevolencia conta e sem a
qual não poderá levar a bom fim a difficil tarefa de que
foi incumbido , tornada mais difficil ainda pela generosi
dade com que tem sido acolhido aqui .
Aracajú, 4 de Fevereiro de 1914 - Braz do Amaral.
Em o dia 5 de Fevereiro , na festa de um casamento
em casa do Dr. Nobre, conversando com dois juizes do
Tribunal de Sergipe , presidente e secretario do Instituto
Historico de Aracajú, foi aventada a idéa de ser feita por
mim uma exposição , na referida sociedade, da qual me
convidaram para ser um dos membros, exposição que
devia versar sobre os limites do Estado, visto o interesse
que a todos arrastava para o lado historico da questão.

Ponderei que poderia fazel-o , e com satisfacção, por


saber como o assumpto era imperfeitamente conhecido ,
mas accrescentei que a minha commissão aconselhava que
se não desse a isto publicidade, pois dahi eu não desejava
que resultasse algum inconveniente . (
) Dr. Caldas Bar
retto, presidente do Tribunal, respondeu-me que a im
prensa só publicaria o que eu julgasse que podia ser pu
blicado ou mesmo nada, pois a exposição era sómente para
o Instituto , sendo até de muita vantagem que Sergipe
possuisse algumas copias de documentos da sua historia ,
que eu tinha.

Como nada se oppõe a que se dê conhecimento aos


corpos scientificos de assumptos desta ordem, uma vez
que se não divulguem segredos de Estado ou cousas que
devem ficar reservadas por algum tempo ou porque não
DA BAHIA COM SERGIPE 185

tenham recebido ainda solução , fiz uma especie de palestra


no Instituto Historico de Aracajú, na qualidade de socio,
achando -se em roda da mesa , que é a mesma das sessões
do Tribunal, porque o Instituto funcciona no mesmo
edificio, os socios do Instituto .
Fóra da mesma achavam-se algumas pessoas, cujo nu
mero não passou de seis .

Mostrando o Decreto de 1817, o Alvará do mesmo

anno, a Provisão que baixou fazendo a demarcação de


Bom Conselho e, portanto , da Bahia com Sergipe, interro
guei os juristas presentes, especialmente o presidente do
Tribunal, Dr. Caldas Barretto, que estava a meu lado ,
sobre se eram ou não leis o que eu estava mostrando e se
conheciam outras posteriores , emanadas do poder compe
tente, que as revogassem ou annullassem ?

Foi-me respondido que eram leis e que não eram


conhecidas pelos juristas presentes outras que as tivessem
revogado .
Dois dias depois, o Presidente do Tribunal fez na
imprensa uma resalva sobre as suas affirmativas na sessão e
sobre o que sabia sobre outras leis que houvessem revo
gado as primeiras, mas esta resalva tem a sua explicação ,
que a nenhuma pessoa de senso escapou em Aracajú , por
que se espalhou immediatamente que o Governo tinha fi
cado mal.

A opinião geral é que nenhuma pessoa estava em


Aracajú preparada para discutir a questão , pois que os
ditos por ouvir dizer e as opiniões sem provas nem leis
em seu apoio não se aguentam deante da documentação
regular que eu apresentei .
Todos os homens de criterio que eu ouvi manifes
LIMITES 24
186 LIMITES

taram o seu pesar por ter o Governo do Estado de Sergipe


levantado uma questão que não estava preparado para
discutir nem enfrentar perante a razão e o direito e de
ter feito mal, submettendo o Estado áquella triste prova.
Tambem eu tive a certeza de que não havia o Governo
de Sergipe ouvido os juristas e homens de maior responsa
bilidade nestes assumptos do Estado, antes de se abalançar
a tratar de um caso do qual não conhecia sequer a legis
lação.
Tres dias depois tive a palavra official de que o Go
verno de Sergipe não possuia tambem provas ou docu
mentos de qualquer especie sobre a questão de limites de
que se estava tratando, como vae adeante explicado .
Encontrando-me com o Exmo . Sr. Presidente de

Sergipe na tarde do dia 7, recebi de S. Exa. a resposta de


que não annuia á minha lembrança da commissão mixta
para levantar a planta da zona limitrophe porque este tra
balho ia custar cerca de trinta contos de réis a cada um
dos Estados e o Governo de Sergipe não estava auctorisado
ou habilitado para gastar esta quantia
Foi por isto que no protesto de 16 de Fevereiro eu
me vi obrigado a ponderar que tendo o Governo de Sergipe
levantado esta questão perante a Camara Federal, e a
Bahia não se podia furtar á obrigação moral de elucidar o
assumpto ou, pelo menos, contribuir para isto !
S. Exa. não me respondeu sobre os outros pontos da
crata do dia 4 , mas tendo-lhe eu lembrado o periodo em que

pedia me fosse permittido ver as provas, documentos , etc. ,


em que o Governo de Sergipe tinha fundado as suas preten
ções e actos sobre o Coité e a Bahia , S. Exa . me disse que
só possuia o opusculo do Sr. Padre João de Mattos e
DA BAHIA COM SERGIPE 187
‫ވ ތ‬

alguns artigos publicados na imprensa diaria, dizendo que


o Coité devia pertencer á Sergipe.
Solicitei então , no dia 8, de V. Exa. , em telegramma
cifrado, se dignasse responder à proposta do Governo
de Sergipe, o que V. Exa . satis fez, em o dia 9, auctorisando
a rejeitar a proposta e dando-me plenos poderes para agir,
o que foi prova nova de absoluta confiança, que muito
me honrou e mais me afervorou no proposito de andar com
toda a circumspecção e cuidado , pois maior ia ser a minha
responsabilidade e de mim teria a Bahia que se queixar
se fossem sacrificados os seus direitos e interesses.
Em 11 de Fevereiro apresentei ao Exmo . Presidente
de Sergipe, em audiencia especial que lhe pedi, a res
posta que escrevi nos seguintes termos :

Officio ou nota do Dr. B. Amaral, com


missario da Bahia ao Presidente de Sergipe ,
rejeitando a proposta de 3 de Fevereiro e
apontando que o Presidente de Sergipe lhe de
via responder por escripto que não o fazia por
não ter elementos capazes para discutir a questão
e fazendo uma CONTRA PROPOSTA.

Exmo . Sr. - Tenho a honra de communicar a

V. Exa. que recebi uma missiva do Exmo . Sr. Governa


dor da Bahia, em que me mandou que declarasse a

V. Exa. , com todo o respeito, que não pode, com profundo


pesar, acquiescer á proposta que V. Exa. se dignou fazer
em 3 do corrente, em virtude de lhe prohibir & Consti
tuição da Bahia passar a outro governo a jurisdicção de
qualquer parte do territorio do Estado, mesmo a titulo
provisorio, accrescentando que a esse respeito já deu opi
nião quando apresentou a V. Exa. um protesto para salva
guardar e manter illeso o direito da Bahia, em qualquer
188 LIMITES

tempo, na occasião em que soube haverem as forças do


Estado de Sergipe transposto a fronteira e collocado guar
nição no Sacco, um dos pontos a que se refere a proposta
de 3 de Fevereiro , justamente por estar dentro de uma das
linhas traçadas para dentro della ser estabelecida a juris
dicção do Estado de Sergipe, de modo provisorio.

Em nome do mesmo Governador, peço venia para


apresentar a V. Exa. , com as mais altas demonstrações de
consideração, que, além de serem do mesmo Governador
para com a uactoridade e a pessoa de V. Exa. , são as
minhas proprias, a seguinte contra-proposta, appellando
para os nobres sentimentos de equidade expressos por
V. Exa. no seu honrado despacho telegraphico de 23 de
Outubro do anno passado , em que declarou seria resolvida
a pendencia dentro do terreno do direito e da justiça, e
outra vez exarados no despacho de um dos primeiros dias
de Janeiro do corrente anno, em que manifesta o animo de
estabelecer um modus vivendi entre os Estados de Sergipe
e Bahia, acceitando e respeitando ambos, até ulterior reso
lução do poder competente para fazel -o , o prescripto no
decreto de 27 de Setembro de 1817, confirmado pelo
Alvará de 21 de Novembro do referido anno , creando no
territorio da Bahia a freguezia de N. S. do Bom Conselho
dos Montes do Boqueirão , desmembrada da de Geremoabo ,
demarcando e limitando a nova freguezia na parte que

entesta com Sergipe, demarcação feita com plena audiencia


anterior da auctoridade confinante sergipana, que era a do
Lagarto, e sua respectiva acquiescencia , pelas nascentes do
rio Real, na fazenda Sant'Anna, estrada do Sacco das
Candeias , esttrada antiga mas aida hoje muito conhecida ,
passando pela lagoa do Genipapo ou de João Gomes, pelo
DA BAHIA COM SERGIPE 189

Olho d'agua denominado do Máo Fim Tenhas, Lagoa das


Antas, Olho d'agua do Coité, Lagôa Cercada, Lagôa Sal
gada, a sahir na Baixa da Ladeira Grande, donde em rumo
direito cortará o rio Vasabarris , até encontrar a demarca
ção que sempre têm observado as duas freguezias de Gere
moabo e Itabayana, visto nunca terem sido abrogados ou
revogados estes Decreto e Alvará, que foram mantidos
pela Resolução da Assembléa Geral Legislativa do Brasil,
promulgada pela Regencia, em 21 de Outubro de 1831 ,
quando creou a villa de Geremoabo, entrando para seu
termo a freguezia do Bom Conselho com os limites que
tinha ex-vi da legislação anterior, e em que se basearam as
leis da Provincia da Bahia, de 22 d Maio de 1871 , que
creou a freguezia de Patrocinio do Coité, desmembrando-a
da do Bom Conselho, repetindo os limites inter-provin
ciaes, a de 9 de Julho de 1875 , que creou a villa do Bom
Conselho, entrando para termo da mesma a freguezia do
Patrocinio do Coité, com os mesmos limites que tinha, tudo
feito de acordo com as disposições estatuidas na Consti
tuição do Imperio e no Acto Addicional.

Faço este escripto, em vez de apresentar verbalmente


o seu conteudo, porque, em virtude de praxes geralmente
adoptadas , todos os documentos desta ordem devem ficar
para o historico da questão , no futuro, em sua inteireza,
porque da proposta de 3 de Fevereiro guardamos copia e
S. Exa. terá satisfação em conservar a sua resposta, do
mesmo modo e porque, sendo eu um simples emissario,
só pela correspondencia, pelo que tiver enviado ou recebido.
de V. Exa. poderei provar á auctoridade que me mandou o
modo pelo qual procurei desempenhar a commissão espi
nhosa de que fui incumbido.
190 LIMITES

Relativamnte ao resto da fronteira, não tendo


V. Exa. se pronunciado ainda, nada julgo dever apresen
tar, salvo se V. Exa. entender conveniente tratar do
assumpto, para o qual tenho os respectivos poderes, pare
cendo-me, entretanto , que não podemos sahir , por não
haver disposição em contrario, do que foi estabelecido pela
Resolução do Conselho Ultramarino de 25 de Maio de
1837 , claramente exarada na Carta Regia de 27 de Março
de 1738 , sobre a parte relativa á jurisdicção militar ( * ) que
foi annullada pela Constituição do Imperio.

Concluindo, seja-me licito appellar para o recto juizo


de V. Exa., pedindo , na qualidade de delegado do Governo.
da Bahia, que sejam respeitados pelo Governo de Sergipe
os limites estabelecidos para o Patrocinio do Coité, parte
oriental da antiga freguezia do Bom Conselho , pelas leis
de 1817 , ainda não revogadas ou alteradas pelo poder
competente, visto como a Secretaria do Estado de Sergipe
não pode exhibir provas de revogação ou annullação ou
alteração, porque, segundo a declaração honrada de V. Exa.
que me foi feita ha poucos dias , somente possue o opus
culo do Padre João de Mattos e alguns artigos publicados
na imprensa. Partindo para a Bahia no proximo dia 14 ,
levo a convicção de que assim será feito, como obediencia
á lei, ao direito e á justiça, até que poder superior no paiz
resolva de outro modo.

Reitero a V. Exa. as minhas sinceras expressões


reveladoras da gratidão , da estima e do respeito que sinto
pela auctroidade e pelas qualidades do preclaro Presidente
de Sergipe .

Em Geremoabo.
DA BAHIA COM SERGIPE 191

Aracajú, 11 de Fevereiro de 1914.-Dr. Braz do


Amaral, Delegado do Governo da Bahia.
Na longa conversa que se seguio, demonstrei ao
Exmo. Sr. Presidente que sendo a Bahia um Estado em
que havia uma imprensa livre e em que havia uma opposi
ção, não podia o seu Governo fazer um conchavo ou com
binação contraria ás leis, mesmo que o quizesse..

Dizendo-me S. Exa. que se tratava de uma combina


ção só entre nós, verbal e temporaria, até que o Congresso
Nacional decidisse, pois este tinha poder para tirar de um
e dar a outro, etc. , eu objectei que nem assim e. possive ,
porque os governadores e presidentes na Republica não
eram soberanos e o poder que exerciam era temporario.
Que tal accordo ou conchavo, verbal e provisorio, feito por
S. Exa. agora, com promessa de entrega, sob palavra de
honra, não teria valor para o substituto de S. Exa. , que
dentro em quatro ou seis mezes viesse a governar, porque
diria com razão que se não responsabilisara pelo cumpri
mento de um accordo que não fizera e que se a Bahia
tivesse cedido temporariamente é porque havia reconhe
cido direito na parte opposta, o que não se dava.

Por outro lado , o Dr. Seabra não possuia o Estado


como cousa sua, para dar uma parte delle, embora por
pouco tempo, pois o seu successor não reconheceria tal

facto particular, visto que a indole do regimen, muito


diversa da monarchia absoluta não admitte nos gover

nantes a faculdade de dispor dos governados mas faz resi


dir nelles a auctoridade politica de que os presidentes e go
vernadores são meros agentes .

A minha carta anterior havia tido por fim collocar o


Governo de Sergipe na posição ou de quem discutia de boa
192 LIMITES

fé, caso em que havia de combinar no levantamento da


planta para esclarecer uma questão de direito, ou de mos
trar claramente que não possuia conhecimento de direito
algum e agira por outros moveis , negando- se a concorrer
para um trabalho preliminar indispensavel, segundo todas
as pessoas capazes de dar opinião em assumpto desta
ordem .
Eu, porém, bem sabia que a minha idéa não seria
acceita porque estava incluida nella a manutenção da
força estrictamente necessaria para manter a ordem nas
sédes dos dois municipios .
Isto que collocava a questão no pé de equidade e de
Talkin=

respeito mutuo e que não nos prejudica , pois não precisa


mos de força nas terras em que habita o nosso povo , era
g)

entretanto condição impossivel para o Governo de Sergipe,


porque sem a força não pode manter a conquista , porque
não tendo o menor consenso da população e sendo o seu
jugo detestado por ella, sabe que a retirada dos soldados
será acompanhada de risos que o hão de expor ao ridiculo
aos olhos dos proprios sergipanos, que só na presença dos
soldados têm, com razão, confiança para sujeitar e humi
lhar os bahianos que opprimem.

Voltando a esta questão, eu queixei-me desta situação


affrontosa para nós e tão provocadora por parte do Go
verno de Sergipe, que assim se mostrava não obediente ao
artigo da Constituição Federal que prohibe a conquista
entre os Estados da União .

Alludindo á triste situação dos meus patricios , coagi


dos na sua terra a soffrerem um jugo que não era o que
elles escolhiam , que não fôra o de seus paes e a esta attitude
violenta e ostensivamente acintosa do Governo de Sergipe
DA BAHIA COM SERGIPE 193

perante a opinião publica, que no mundo inteiro repelle


hoje estes meios de dominio, S. Exa. contestou que os
meus patricios estivessem soffrendo, mas notou que elles
eram muito altivos e atrevidos , o que revelava da parte de
S. Exa. a intenção de fazel -os mais obedientes e submissos
pelos meios que julgassem conveniente se servirem os sol
dados que lá estavam ás ordens das autoridades de Anna
polis e do tenente da policia sergipana , que de Itabayaninha
mudara para aquella localidade, ultimamente a séde da sua
circumscripção policial militar !

Insisti pela retirada da força, por ser este o eixo da


questão, dizendo a S. Exa. que ficaria tudo acabado com
esta condição, que era entretanto a execução e o respeito
á lei.

Na carta ou nota de 11 de Fevereiro, rejeitando a


proposta de 3 do mesmo mez, tive por fim pôr o Governo
de Sergipe na situação de ser obrigado a cumprir a sua
promessa de tomar por base a lei bahiana, ou de se revelar
incoherente com esta promessa, em que era de presumir
estivessemos confiados .

Ao mesmo tempo quiz notar a falta de não ter pronun


ciado ainda o Governo de Sergipe uma só palavra sobre
toda a fronteira, o que mostrava não ser o desejo de regu
larisal- a o que havia sido a causa de tão grande movi
mento, pois deve causar espanto que tendo apresentado
pretenção tamanha no projecto Moreira Guimarães , se
restringisse á milesima parte, pois nisso vinham a dar mais
ou menos as nesgas do territorio do Coité em que o Go
verno puzera a sua policia.
Esta nota ainda teve por objecto observar ao Exmo.
Sr. Presidente que eu bem estava vendo que S. Exa. não
LIMITES 25
194 LIMITES

me dava cousa alguma escripta, naturalmente pelo medo


que tem sempre de deixar prova de sua responsabilidade.
tanto os politicos como os particulares que sabem não estar
procedendo com a lei.

S. Exa. não me respondia senão verbalmente e não


me prometteu, apesar do topico em que falo nisto, dar res
posta escripta, pelo que deixei-lhe docemente ficar nas
mãos a nota acima, em que sérias verdades são apontadas,
para que S. Exa. as contestasse ou as acceitasse sem con
testação, como succedeu.
S. Exa. lamentava que o territorio de Sergipe fosse
tão pequeno, dizendo que a Bahia o havia restringido.
Procurei demonstrar a S. Exa. que esta opinião era
injusta e que eu tinha dado disto tantas provas que bas
tariam para convencer á pessoa mais exigente e presumida.
Que o territorio de Sergipe havia sido sempre pequeno e
que se diversas decisões havia contra elle é porque elle
sempre tinha querido estender- se indevidamente e que
essas decisões eram do poder competente, o Governo portu
guez. O Sr. Presidente de Srgipe ainda me respondeu que
em virtude de serem OS Governadores da Bahia
que informaram é que as decisões eram contra
Srgipe, O que me obrigou
obrigou a
a citar alguns actos
illegaes e violentos de auctoridades sergipanas que

perante a equidade se não justificavam, e citei a pre


tensa lei de 1835 , que se reproduzia agora com o mesmo
projecto n. 23, a que se começava a dar execução pela in
vasão a mão armada do que á Bahia legitimamente sempre
pertencera e pertence.
O Sr. Presidente de Sergipe fez outra vez referencias
aos habitantes do Coité como altivos e desrespitosos, ao que
DA BAHIA COM SERGIPE 195

eu respondi ponderando que me parecia haver exaggero ou


perversidade nas informações, mas que se tal se désse ,
seria o caso de ser promovido o castigo de taes desres
peitos pelo poder competente, que é a auctoridade bahiana,
e garantindo que se o Governo deste Estado soubesse disto ,
com as respectivas provas, não deixaria impunes taes dis
crepações .

Declarei então a S. Exa . que sabendo, como eu sabia,


que o Governo de Sergipe não tinha elemento algum de
direito em que apoiasse a sua pretenção sobre o Coité,
havia um meio de terminar tudo isto e que era retirar a
força postada, que não era necessaria na fronteira, e que
estava abertamente em territorio bahiano, no Sacco, ao
que S. Exa. me respondeu que reconhecia que as decisões
legaes eram favoraveis á Bahia, mas que Sergipe estava
com o seu territorio muito restricto e que não retirava a
força porque não podia deixar aquelle povo assim !
Pedi então verbalmente o que já fizera por escripto,
isto é, que me mostrasse as leis em que baseava a tentativa
de jurisdicção e estabelecimento de gente armada naquelles
dois logares , que eu podia provar não eram de Sergipe .
S. Exa. respondeu que não tinha leis nem provas e sim
sabia que o Coité era de Sergipe porque o dizia o Opusculo

do Sr. Padre João de Mattos e tambem alguns artigos


publicados na imprensa e que a Camara de Annapolis tinha
jurisdicção no Sacco ha muito tempo e possuia alli um tra
vessão feito por accordo com a Camara de Coité. Respondi
a S. Exa. que seria então o caso de applicar o aphorismo do
"Filius est quem nuptiae demonstrant ", pois se a Camara
de Annapolis exercera jurisdicção e tinha travessão em o
Sacco fizera indevidamente o que não lhe competia por
196 LIMITES

lei e devia perder, como perderia a de Coité, se fizesse


alguma cousa em territorio sergipano, e que se se chegasse,
após a planta da região tirada e a ligação das linhas, a
verificar que o tanque do Apertado de Pedras estava em
terra sergipana perderiam os coitéenses o feitio e o tra
balho .

S. Exa. me apresentou duvidas sobre o Sacco, di


zendo -me que não vira a Estrada velha do Sacco das Can
deias e que a estrada larga pela qual foramos é que era
a estrada do Sacco e que não comprehendia como ia dar
á lagoa do Genipapo uma estrada que tanto obliquava para
a esquerda, fazendo um traço com a unha do pollegar di
reito sobre uma pasta que tinha nas mãos .

Respondi a S. Exa. notando que as estradas mudam


muito no sertão por causa das cercas que os proprietarios
transferem, por causa das arvores que cahem, etc. , pelo
que ellas são sempre tortuosas e lembrei o que se dera no
ponto de bifurcação das estradas e o que se havia passado
no Sacco.
Para avivar a memoria de S. Exa., recordei que o
mesmo Sr. Raphael Montalvão , que havia redigido o
officio que mandou para ser assignado pelo subdelegado da
roça (o do Apertado de Pedras ) havia neste logar dito que
a lei provincial de 1871 revogara a resolução de 1817 e
lembrei a risada que eu não podera conter quando um dos
guias do dia 25 , o de nome Lourenço , que vivia a labutar
com gado, se puzera a fazer commentarios sobre a lei ba
hiana.

Disse-me S. Exa . que como a lei provincial de 1871 ,


creando a freguezia do Coité, não especificara o Sacco das
Candeias e a lagoa do Genipapo, devia se entender que a
DA BAHIA COM SERGIPE 197

Bahia devia perder a fronteira marcada por taes pontos ,


ficando então a divisoria pela estrada real que nos con
duziu ás cabeceiras do rio Real e que era uma estrada larga
e real, etc.

Retorqui ainda a S. Exa. que estes modos de pensar


todos particulares não podiam alterar disposições de leis
escriptas e respeitadas ha perto de 100 annos e que as leis
provinciaes não revogavam leis geraes, porque assim o
estabelecia justamente a Constituição do Imperio e que
sobre isto já escrevera a nota ou officio, que ora tinha
a honra de lhe entregar.

Separamo-nos, então, e eu resolvi logo apresentar ao


Governo de Sergipe um Protesto e Reclamação que esta
belecesse com firmeza o nosso direito , fazendo ao mesmo
tempo uma especie de recapitulação do que se havia pas
sado, para que o Governo de Sergipe conhecesse como
eu tinha visto as cousas, e para bem claro resalvar o que
nos pertencia e pertence.
Pedi auctorisação a V. Exa . para isto e sendo-me con
cedida no dia 14 , tratei de fazer este trabalho, mas tendo
ido nesse dia levar ao Exmo . Sr. Presidente de Sergipe
copia de um documento sobre Abbadia, que eu cortei do
meu Memorial, tornei a falar a S. Exa . nos numerosos do
cumentos que eu levara e que seria conveniente S. Exa .
examinasse, conforme eu já havia notado por escripto,
para esclarecimento do seu espirito .
Combinou-se por isto que eu levaria tudo ao Palacio
no dia seguinte, domingo , 15 de Fevereiro .
Nesta conferencia quasi que exclusivamente se tratou
do Sacco .

Se bem que eu tivesse lembrado a conveniencia de se


198 LIMITES

estabelecer a fronteira de Geremoabo e Itabayana, visto a


queixa manifestada pelo Sr. Presidente de Sergipe, e pela
expressão contida na lei de demarcação de limites que sem
pre observaram as duas freguezias de Geremoabo e Ita
bayana, S. Exa. nunca precisou cousa alguma, dizendo eu
entretanto que possuiamos documentos antigos que se re
feriam ás primeiras fazendas do Porto da Folha, elementos
que serviriam para fixarmos a linha divisionaria mais
segura do que esta que servia de thema ás queixas vagas
feitas. S. Exa. me respondia que ia pedir ao Congresso
que désse limites a Sergipe e eu percebi persuasão da sua
parte de que o Congresso pode tirar territorio de um
Estado para o dar a outro.

Disse então ao Exmo . Presidente de Sergipe que pro


movesse isso ou o propuzesse perante o Congresso do qual
ia em breve fazer parte, mas que, actualmente, antes que
o Congresso fizesse tal lei, obedecessemos ás leis que temos ,
pelo que fossem retiradas as forças sergipanas do Coité
e se deixasse aquelle povo livre, sem coacção, para que elle
escolhesse a jurisdicção que quizesse e que no fim, se o
Congresso désse aquelle territorio a um e fosse o outro
que tivessse recebido os impostos seriam estes pagos a
quem o Congresso désse a terra.

Além disto, accrescentava eu , durante este tempo, Ser


gipe estudaria o assumpto e talvez achasse, segundo a es
perança dos sergipanos , provas em seu favor . No mo
mento presente, porém, quando não tinha um só elemento
para provar que a minima parcella do Coité lhe perten
cera , não podia alli manter força nem querer estabelecer
jurisdicção .
O Sr. Presidente de Sergipe, então me repetio
DA BAHIA COM SERGIPE 199

estar convencido de ser o logar chamado Sacco de Sergipe ,


porque não falando a Lei Provincial Bahiana de 1871 na

lagoa do Genipapo e na Estrada do Sacco das Candeias,


devia-se comprehender que a Bahia abrira mão , abando
nara aquelle territorio e que as palavras Revogam-se as
disposições em contrario, que formam o ultimo artigo da
citada Lei Provincial, exprimiam este pensamento do legis
lador.

Retorqui a S. Exa. que laborava em profundo engano,


porque estas palavras se referiam á parte leste da freguezia
do Bom Conselho e oeste da nova freguezia de Patrocinio
do Coité, que a citada lei creava, mas , que não falando a
lei em abandono de parte da freguezia, nós não podiamos
dizer o que a lei não disse ; que o legislador bahiano
não citou a Estrada do Sacco das Candeias e a
lagoa do Genipapo , como tambem não citou as
lagoas Cercada e Salgada, por serem pontos já
conhecidos ha cincoenta annos, incontroversos e por
já haverem sido indicados na lei anterior de 1817 ; que

o legislador bahiano podia alterar limites inter-parochiaes ,


mas que estes de que S. Exa . falava eram inter-provin
ciaes, que não podiam ser alterados pelas assembléas pro
vinciaes, pois se o pretendessem fazer seria tal acto nullo
e irrito por inconstitucional ; que o legislador bahiano não
podia abandonar uma porção qualquer do territorio da
Provincia por lei tambem, porque o sólo das Provincias
não podia, como não pode o dos Estados, ser vendido
nem dado.

Accrescentei que mesmo que o tivesse feito não com


prehendia como Sergipe se podia considerar dono , pois
niguem pode se julgar possuidor de um objecto sem
200 LIMITES

titulo legitimo e eu pedia que me mostrasse o titulo que


investia Sergipe na posse daquella terra.

S. Exa. me respondia vagamente na jurisdicção da Ca


mara de Simão Dias ou Annapolis, mas eu respondi que
não via taes actos de jurisdicção provados como eu estava
provando com os talões dos pagamentos de impostos , com
o registro das terras feito no meiado do seculo 19.º, etc.;
e, admittido que a Bahia mesmo tivesse deixado de exer
cer jurisdicção alli , o que não se dera, seria o caso de
alguem que possuisse uma granja de herança perdel -a por
que não a cercara ou murara toda, deixando um pedaço
sem cerca, circumstancia de que se havia aproveitado um
visinho que se intitular dono ou aproveitar o referido pe
daço ; mas quando o verdadeiro dono chegasse e quizesse,
com o seu formal de partilhas ou escriptura de compra, o
intruso não poderia manter o seu dominio illicito pe
rante elle.

Aventei a comparação de alguem que houvesse per


dido um objecto o qual fosse encontrado por outrem, que,
entretanto, não podia deixar de entregar o objecto perdido ,
quando lhe dessem os signaes, o modo pelo qual o verda
deiro dono o houvera, onde o comprara ou recebera , etc.
A minha argumentação rematava sempre pela retirada
da força indevidamente posta no territorio bahiano .
Foi só neste dia que o Exmo. Sr. Presidente de
Sergipe conheceu bem o Alvará de 21 de Novembro de
1817 que approvou a demarcação da fronteira de Bom

Conselho, hoje Patrocinio do Coité , pois só nesta occasião


foi que eu tive opportunidade de mostral-o a S. Exa . , que
aliás o possuia na mnsagem do Sr. Josino de Menezes ;
mas , me parece, não havia reparado para o documento
DA BAHIA COM SERGIPE 201

com cuidado ou attenção, pois cerca de tres dias antes me


havia perguntado onde eu tinha o Alvará de que havia
tratado por varias vezes na sua presença.
Disse a S. Exa. que julgava não me enganar pensando
que, se S. Exa. tivesse sabido algum tempo antes do que
sabia agora, é provavel que não tivessem as cousas seguido
o caminho em que estavam, o que S. Exa . não contestou .

O Sr. Presidente referia- se, ora em tom de chalaça, ora


com certo azedume, a este Sacco em que, dizia elle , nós
estavamos mettidos e eu accrescentava que deixassemos
este sacco ahi abandonado , sem ter nelle soldados da
policia sergipana nem de outra qualquer, offerecendo-me
para levar as cousas de modo que a auctoridade de

S. Exa. não podesse soffrer o mais leve attrito, ou pedindo


eu a retirada da força como um acto de equidade, para
ficarem os dois Estados em pé de egualdade, como quem
vae perante á justiça , ou fazendo S. Exa. isto com appa
rencia de cousa expontanea, como deferencia a mim e á
Bahia, visto o actual pé amistoso das relações entre os
dois Estados .

S. Exa. algumas vezes parecia ficar abalado, mas vol


tava depois á decisão anterior.
Disse eu então a S. Exa. que bem comprehendia a sua
situação, pois sabia a aspiração ardente do povo sergipano
para a conquista das nossas terras , desejo de expansão ter
ritorial que me parecia perigoso e que oxalá não fosse
causa ainda de pesados males.
Então S. Exa . me respondeu que o Dr. Seabra nada
podia ceder porque tinha opposição , o que lá não se dava,
mas que elle não estava em melhor situação, porque
aquillo não era mais uma questão de interesse , era uma
LIMITES 26
202 LIMITES

questão de sentimento, pois já tinha chegado ao sentimento


do povo sergipano e que elle não podia arcar com o odioso
de um recúo e que ficaria mal !

De tudo isto resultou para mim a convicção de que o


ataque feito ao territorio da Bahia pelo Governo de Ser
gipe teve duas determinantes ; uma derivada da situação da
Bahia perante a politica da União, da qual o Governo de
Sergipe esperava mão forte na lucta que provocou ; a outra
nascida desta paixão, deste sentimento de que falou o
Exmo. Presidente de Sergipe , que tem o povo sergipano de
estender o seu dominio para o oeste, que é afinal um pen
samento criminoso, como o é tanto o do homem particu
lar como o de um povo que deseja se apoderar do que lhe
não pertence .

Comprehende- se facilmente que o Exmo. Sr. Presi


dente de Sergipe, ignorando a legislação sobre este caso
das fronteiras do Coité, conhecendo esse sentimento pu
blico dominante na população do seu Estado de tomar á
Bahia, que está longe e que é rica, aquellas terras ferteis e
querendo por sob seus pés aquelle povo tão altivo e atre
vido, tivesse favoneado o sentimento sergipano , houvesse
se aproveitado de seu prestigio perante o Governo do Rio
de Janeiro, houvesse se pronunciado abertamente pela
annexação do Coité, tivesse mandado mesmo fazer os con
siderandos que precederam o projecto n. 23 da annexação ,
para ser approvado pela Assembléa do seu Estado e que
não possa recuar agora, compromettido como se acha nesta
acção .
Tal é causa da repugnancia de S. Exa . em re
tirar a força, tal a causa dos factos occorridos na bifur
cação das estradas do Sacco, da negativa da existencia da
DA BAHIA COM SERGIPE 203

estrada velha do Sacco das Candeias e da proposta de 3 de


Fevereiro até a declaração final de não poder arcar com o
odioso de um movimento para traz.

Não posso dizer se a argumentação de S. Exa. a


respeito da revogação da Lei Geral de 1817 pelas palavras
Revogam-se as disposições em contrario da Lei Provincial
de 1871 tem a mesma razão de ser, ou se é um raciocinio
juridico de S. Exa .
Estando a conversar em tom franco , como acabo de
referir, pedi licença a S. Exa . para uma ponderação que
The desejava fazer, com a condição de que se não moles
tasse, e, tendo obtido permissão, notei a S. Exa . como era
exquisito que o Governo de Sergipe levantasse uma ques
tão destas sem provas, sem lei , sem documentos de qual
quer especie, para vir ficar assim …….

O Sr. Presidente me respondeu que a culpa disto


cabia ao Padre João de Mattos, que em tudo isto repre
sentara um papel pouco bonito, porque agitara a esta
questão, e havia-lhe promettido ir á Europa procurar do
cumentos e provas, levando elle Presidente a solicitar da
Assembléa auctorisação para este fim e depois se negara a
ir procurar os documentos, allegando molestias e a idade.
de seu pae, etc..
Isto me demonstrou que S. Exa. não dizia tudo, pois
não revelava ainda a razão pela qual, conhecendo- se assim
desapparelhado, se havia abalançado a tratar disto e a
provocar agora este caso, que era o fundo da minha per
gunta real e não o que fizera com elle o padre João de
Mattos !

Disse-me depois S. Exa. que sabia no que ia dar tudo


isto, que era ficar na mesma, porque a Bahia tinha 22
204 LIMITES

deputados e Sergipe poucos ; que sabia ir dar- se com Ser


gipe o caso do adagio da ovelha que indo buscar lã sahio
tosquiada, accrescentando eu que desta vez me parecia que
Sergipe pagaria o seu acto de hostilidade , porque eu tinha
ordem de protestar e, se bem que um protesto não désse
nem tirasse direito, era o protesto feito para resalvar os
direitos da Bahia em qualquer tempo e haver de Sergipe
uma indemnisação pelos actos violentos praticados contra
a Bahia e sua população, sem motivo , sem reclamação
anterior, sem cousa alguma que justificasse a invasão que
agora se tornava evidente não ter justificativa, pois tudo se
reduzia a passar ou não passar a fronteira por uma estrada
em vez de outra, sendo cousa commum em direito que ,
nestes casos, pelas vistorias ou pelas decisões legaes se re
solvem estas pequenas divergencias, não tendo , porém, um
dos pretendentes attribuição para se apoderar á força nem
occupar o que deseja, como havia feito o Governo de
Sergipe.
Separamo -nos então , sempre com as mais effusivas

provas e demonstrações de respeito e amizade reciproca .


De accordo com o que havia dito acima e em virtude
do conteúdo nos telegrammas que a V. Exa. enviei e de
que recebi resposta, autorisando -me a fazer protesto ener
gico e firme, se não fosse retirada a força sergipana do
territorio da Bahia, redigi o protesto e reclamação que sub
metti á apreciação de V. Exa ., merecendo approvação.

Em Aracajú mostrei ao Dr. Leonardo Leite, distincto


advogado alli, que tambem o approvou e achou em termos
sob o ponto de vista juridico e se encarregou de entregal- o
ao Sr. General Siqueira, depois da minha partida.
Ha no referido documento passagens severas, mas
DA BAHIA COM SERGIPE 205

não só os factos alli mencionados e que as justificam são


inteiramnte verdadeiros , como era necessario que a digni
dade da Bahia reagisse contra o modo pelo qual havia sido
tratada em todo este caso .

O Exmo. Presidente de Sergipe me tinha dito, lem


brando o velho rifão, " Amigos amigos, negocios áparte ”,
o que indicava entender que as nossas relações particulares
não deviam soffrer pelo choque dos interesses que discu
tiamos ; e apoiado nisto escrevi a Reclamação e Protesto,
tendo no pensamento a dignidade do Estado que repre
sentava.

O Exmo. Sr. Presidente de Sergipe ainda fez ao


emissario da Bahia a honra excepecional de ir buscal-o ao
hotel, no dia seguinte, com sequito numeroso de altos
funccionarios, acompanhando-o até o vapor, onde se de
morou até a sahida do mesmo, tocando durante todo este
tempo, cerca de duas horas, a musica da Policia do Estado
de Sergipe na ponte do embarque e sendo S. Exa. acom
panhado por mim ao portaló , ao despedir-se, com o com
mandante do navio, que é do Estado da Bahia .

Foram estas, Exmo. Sr. Governador, as mais nota


veis occurrencias da minha estada em Sergipe, cumprindo
me accrescentar que das auctoridades do Coité recebeo a
minha commissão o mais dedicado apoio e auxilio .
Sabendo o Dr. Raul Passo que eu me achava em
Annapolis, procurou-me no dia 24 de Janeiro, em compa
nhia do Dr. Salvio de Oliveira, e nesta occasião os apresen
tei ao Exmo . Sr. General Siqueira de Menezes .
Foi o Dr. Raul Passo quem no dia seguinte, 25, por
occasião da visita á Ladeira Grande, avisou-me do em

buste em que já tinhamos acreditado pela manhã . Este


206 LIMITES

magistrado, como os Drs. Salvio Oliveira e Wenceslao


Gallo, possue não só intelligencia e cultivo , como entra
nhado amor á Bahia e sente angustia pela affronta que
lhe foi feita de modo tão arrogante e sem a menor razão
1
de direito, o que é mais natural ainda que o revolte e aos
seus collegas citados, porque, conhecendo mais do que eu
a sciencia do direito, melhor sentem e avaliam a lesão ou
antes o desprezo que ao mesmo foi feito neste caso da
annexação do territorio do Coité pelo Governo do Estado
de Sergipe.

Acredito que em boa parte á actividade do Dr. Wen


cesláo Gallo e á dedicação das auctoridades municipaes e
policiaes do Patrocinio do Coité deve - se o não se achar
esta villa occupada pelos sergipanos, pois estou certò que
se não houvesse sido sabido pelo commandante da força
de Sergipe e pelas pessoas de Annapolis, que dirigiam este
movimento contra a Bahia, que custaria caro o ataque á
propria villa do Coité, esta teria sido surprehendida e
tomada.

Julgo de meu dever accrescentar que além desta ques


tão do Coité ha outra em que a Bahia tem sido muito pre
judicada por Sergipe e é a do Espirito Santo do Rio Real.
Conforme tive a honra de dizer a V. Exa., no Me
morial apresentado em fins do anno passado, o territorio
entre o Rio Real e o Saguim não pertence a Sergipe e sim
á Bahia, achando- se aquelle Estado de posse do referido
territorio em virtude de um decreto de 1845, que foi la
vrado em consequencia de um parecer do Conselho do
Estado que aconselhou ficasse o territorio do Espirito
Santo do Rio Real, situado entre este e o rio Saguim, em
poder da antiga Provincia de Sergipe, interinamente, até
DA BAHIA COM SERGIPE 207
iwasa ----

ulterior deliberação do poder competente , que é hoje o


Poder Judiciario Federal.
Pela leitura dos documentos abaixo verá V. Exa. a
exactidão do que affirmo.

Relação do termo desta villa de Santa Luzia

Tem de terreno esta villa de Santa Luzia oito leguas


em quadra a saber da villa para o sul a topar com o dis
tricto da villa de N. S. de Abbadia e para o norte cinco
leguas a topar com o districto do Lagarto e para o léste
com tres leguas a barra do rio Piagohy e a oéste cinco
leguas do sertão que para qualquer parte se alcança de
jornada com um dia.
Rios que decursão pelo termo da dita villa e suas na
vegações.
Da dita villa para o sul distante de meia legua tem o
rio chamado Goararema que tem de navegação hua legua
da sua barra pela terra dentro e faz barra no rio Piagohy ;
do dito rio Goararema meia legua está o rio Pirapú que
tambem faz a sua barra no rio Piapitinga digo no mesmo
rio Piagohy com meia legua de navegação de sua barra
pela terra dentro e do rio Pirapú a dras lege
mesmo sul está o rio Indiaroba com navegação de hua
legua ; e este rio divide o termo desta villa com o da villa
de N. S. da Abbadia, todos com suas nascentes no mesmo
termo desta villa de oéste a léste.

Da villa para o norte tem os rios seguintes : á beira da


villa o rio Ariticuíba fazendo barra no rio Goararema com

hua legua e hum quarto de navegação cercando a dita


villa ; do dito rio Ariticuiba a duas leguas correndo do
norte tem o rio Piagohy com cinco leguas de navegação da
208 LIMITES

barra a hua cachoeira de pedra que tem o dito rio, visinha


da qual para a parte do norte tem hua povoação chamada
Estancia e á beira do dito rio por elle abaixo a hua legua
para o sul tem hua capella de Sr. Sam Gonçalo ; visinha a
dita povoação tem outro rio doce chamado Piapitinga que
tem a sua barra no rio Piagohy, na mesma cachoeira de
pedras metendo em meio a dita povoação da Estancia e
tanto este como o Piagohy tem ambos suas nascenças no
districto da vila do Lagarto com distancia o rio Piagohy de
sua nascença a barra de 18 leguas e o rio Piapitinga com
12 leguas pouco mais ou menos ; da dita povoação a hua
legua para noroeste tem o rio Biriba com navegação de
hua legua e meia fazendo barra no rio Piagohy.
Junto a capella do Sr. Sam Gonçalo do rio Biriba a
outra legua tem o rio Macumanduba fazendo barra no rio
Biriba e não tem navegação de embarcação só sim de
canôa ; e do dito rio Macumanduba a hua legua tem o
rio Fundo que tem de navegação duas leguas pouco mais
ou menos fazendo barra no rio Piagohy ; este rio he o que
divide o termo desta villa com o da cidade de Sergipe del
rey de donde tem a sua nascença .

Avisinhão- se a esta villa para o sul a villa de N. S. da


Abbadia com distancia de seis leguas e - para jornada hum
dia, e para o norte a villa do Lagarto com distancia de 12
leguas com jornada de dois dias e para noroéste se avisinha
a cidade de Sergipe del-rey, cabeça desta comarca, com
distancia de catorze leguas pouco mais ou menos e de jor
nada dois dias.

He o que nos parece podemos informar sobre este


particular. Villa Real de Santa Luzia em Camara de vinte
e nove de Janeiro de 1757, annos Antonio Rodrigues
DA BAHIA COM SERGIPE 209

Vieira, escrivão da camara o escrevi . O juiz ordinario


José Pinto Lima- Francisco Gonçalves da Silva.- Eu
genio Domingues da Costa- José Rodrigues Gomes- Luiz
da Silva Leitão . "

A villa de Santa Luzia, creada em 1698 pelo ouvidor


Diogo Pacheco de Carvalho , separa- se de Abbadia pelo rio
Saguim, e em carta do Governador da Bahia, em 1784, ao
ouvidor João de Sá Souto Mayor, diz a auctoridade su
perior que tanto que esta receba ordene aos juizes da dita
villa ( Santa Luzia ) se abstenham de mandar fazer dili
gencias no Rio Real da Praia nem obriguem aos moradores
delle estarem sujeitos às suas justiças , visto não serem da
jurisdicção daquella villa e pertencerem á desta cidade.
Cento e oito annos depois já precisava outra vez a
auctoridade reprehender e conter a ambição invasora de
Sergipe sobre o mesmo territorio e defender a villa de
Abbadia do mau visinho ávido que invejava as suas terras,
como V. Exa. verá pelos dois documentos abaixo .

"Carta do Governo n . 39 - Para o capitão das orde


nanças do Rio Real.
Constando-me das informações a que procedi que o

rio Saguim he o que divide o termo dessa villa do da


Abbadia da qual fôra desmembrada para aquella na
sua creação o terreno que fica entre o mesmo rio e o Real
se devem executar as ordenanças alli existentes parte do
terço da mesma villa da Abbadia a cujas justiças estão
sujeitos os seus moradores ; pelo que fique Vmcê. na intelli
gencia de que pertencendo ás ordenanças da predita villa
de Abbadia os habitantes do terreno acima indicado, abste
nha- se portanto de exercer a esse respeito qualquer acto
de jurisdicção . Deus guarde a Vmcê.
LIMITES 27
210 LIMITES
alance became more asperthe

Bahia 2 de Março de 1812.-Conde dos Arcos. Snr.


Capitão-mór de Ordenanças do Rio Real de Santa Luzia. "

"Para o capitão-mór das ordenanças da villa de


Abbadia.
Fique Vmcê. na intelligencia para cumprir na parte
que lhe toca de que na data desta, determinei ao capitão
mór das ordenanças da villa de Santa Luzia do Rio Real
que se abstenha de exercer qualquer acto de jurisdicção
sobre os habitantes do terreno comprehendido entre o
rio Real e o rio Saguim, visto que este ultimo he o que
divide o terreno desta villa do daquella , devendo portanto
considerar- se parte das ordenanças que Vmcê. comanda.
Deus Guarde a Vmcê.
Bahia, 2 de Março de 1812. -Conde dos Arcos. Para o
capitão-mór das ordenanças da villa de Abbadia. ”

Estes documentos se achavam envoltos em pó em


1842 , quando o Governo de Sergipe estendeu mão avida
para a capella do Espirito Santo de Abbadia, entre o rio
Real e o Saguim, pois que, em officio de 18 de Junho de
1842, o Presidente da Bahia declarou ao Ministro do Im
perio que se não encontraram na Secretaria os documentos
necessarios para o estudo e perfeito conhecimento da
questão.
O decreto n. 323 de 23 de Setembro de 1843 deu uma

solução provisoria ao caso , mas com isso o direito da


Bahia não pode ficar prejudicado, porque não tendo a
Assemblea Geral Legislativa, no tempo do Imperio, tra
tado deste delicado assumpto de delimitação das Provin
cias, cabe agora aos Estados autonomos que as substi
tuiram promover o que for de seu direito perante o Su
premo Tribunal Federal.
DA BAHIA COM SERGIPE 211

Tenho a suspeita de que elementos ou causas outras,


alheias á aspiração do povo sergipano para a conquista
das nossas terras , concorreram agora para o procedimento
das auctoridades de Sergipe, invadindo à mão armada o
Sacco e Apertado de Pedras. Um acto de tão ostensiva
hostilidade não se explica somente por causa de informa
ções por mais seductoras que sejam para a ambição de
quem as recebe e por mais completa que seja a falta de
conhecimentos serios que tenha um Governo sobre as
sumpto desta ordem.

Convem observar aqui que a fronteira da Bahia


com o Estado de Sergipe não é pelo rio Vasabarris e sim, á

léste deste, como indica a expressão empregada na demar


cação, que o atravessará para se encontrar com a demarca
ção que sempre existio entre Geremoabo e Itabayana, o que
mostra que era portanto além do Vasabarris , para léste .

Graças á pouca vigilancia das auctoridades bahianas,


já os visinhos se apoderaram de toda a margem oriental do
rio e não contentes em tel-o por divisoria, se estendem
ainda para o oeste. É assim que a jurisdicção da Bahia foi
deixando de se fazer no Poço da Conceição, por um
accordo entre os vigarios , sem que a auctoridade civil su
perior soubesse de tal, mas acompanhando as auctoridades
locaes civis este receio, que é uma illegalidade e um evidente
prejuizo para a Bahia, despojada pouco a pouco e subre
pticiamente da sua terra e dos seus habitantes.

Agora chegou a vez do Apertado de Pedras, que é o


territorio adjacente ao rio na margem oeste.
As auctoridades sergipanas foram pouco a pouco se
assenhoreando da porção visinha ao rio, mais fresca e onde
ha melhores aguadas.
212 LIMITES

Foi uma destas aguadas mesmo, agora, a causa de


se ter agitado este conflicto.
Repellidos da margem do rio, começaram os bahianos
a fazer um tanque no Apertado de Pedras e a Camara de
Coité realizou a obra, mas isto desafiou a ambição dos ser
gipanos, que já estão a dar como um dos motivos da anne
xação do Coité a Sergipe não terem os bahianos aguadas,
pois havendo sido estes expulsos dos logares mais proprios
para ellas , se acham na necessidade de levar seus gados,
no verão, para estas terras , que são suas legitimamente,
mas das quaes os sergipanos de Annapolis se têm apo
derado.
Pesa-me dizer a V. Exa ., mas a realidade é que os
bahianos têm sido desapossados do que é legitimamente
da Bahia sem que o Governo tenha conhecimento deste
assumpto ou sem que lhe preste attenção, de modo que não
tem tomado a attitude seria de tenaz e util resistencia,
por meio de reclamações perante a justiça do paiz ou por
outros meios mais promptos e energicos, de modo a fazer
respeitar e proteger os habitantes do Estado e os interesses
deste, como o determinam as leis .

Bahia, 15 de Março de 1914.-Braz do Amaral.


DA BAHIA COM SERGIPE 213

N. 59

Officio do Juiz de Direito da Comarca, com


séde provisoria no Coité , dando conta do Go
verno das occurrencias .

Juizo de Direito da Comarca de Bom Conselho, com


séde Provisoria no Termo de Patrocinio do Coité, em 28
de Janeiro de 1914.
(Reservado).

Exmo . Sr. Governador do Estado da Bahia .- Sciente


do Decreto de 8 do corrente, pelo qual V. Exa. transferio
a séde desta comarca para este termo de Patrocinio do
Coité, onde cheguei a 17 , procurando informar-me de todas
as occurrencias relativas á invasão do territorio bahiano

por forças sergipanas , permitta-me V. Exa. que affirme,


se a transferencia da séde desta comarca teve por fim afas
tar as auctoridades que anteriormente exerciam as suas
funcções, por suppostas violencias, leviandade ou exagero
no informar o modo descortez por que effectivamente
investio o Governo de Sergipe contra o nosso Estado ,
occupando o nosso territorio militarmente, ser despido de
fundamento e, por dever de rigorosa justiça, cumpre-me
dizel-o que, longe de attribuir-lhes semelhante proceder,
asseguro o zelo e interesse que manifestaram no cumpri
mento de seus deveres , sem a tibieza dos espiritos fracos
nem os receios de violencias maiores, como faziam pre
suppor os actos anteriores do Governo de Sergipe, echoando
mal a transferencia da séde da comarca, acto este tra
duzido como desconfiança nas auctoridades que me antece
deram, o Dr. Wencesláo Gallo, Juiz Preparador, e o
Dr. Salustiano de Figueiredo, Delegado Regional, ma
xime diante dos telegrammas passados pelas auctoridades
214 LIMITES

de Annapolis, notadamente o Juiz Preparador, Dr. Salus


tiano Prata, os quaes foram publicados nos jornaes de
nossa capital.
Foram calumniosos aquelles despachos, conforme pu
blicamente confessou o proprio official inferior comman
dante da força sergipana estacionada no Sacco.

O procedimento quer do Dr. Juiz Preparador, quer do


Dr. Delegado Regional, foi digno dos maiores elogios e
agiram elles sempre com a mais louvavel prudencia e
acerto .

Em o dia 24 tive a grata noticia de achar- se na visinha


cidade de Annapolis, do Estado de Sergipe, o distincto
representante de V. Exa. o Exmo. Sr. Dr. Braz do Amaral ,
em companhia do Exmo. Sr. General Governador daquelle
Estado .
Apressando-me nesse mesmo dia em visital-o , junta
mente com o Dr. Salvio de Oliveira Martins , Promotor
Publico da comarca, afim de concorrer com os meus exi
guos esforços em pról da nossa tão justa quão nobre causa ,
cujo patrocinio foi mui sabiamente confiado por V. Exa .
ápuelle insigne Professor, que com sua comprovada
competencia, vivo interesse, inexcedivel zelo , detido estudo
e illustrada proficiencia provou á saciedade , o direito
inconcusso do nosso glorioso Estado.
Inteirado de que no dia seguinte realisar- se- ia a ex
cursão aos pontos que limitam os dois Estados e fixados
no Alvará que baixou com a Lei de 27 de Setembro de
1817, tive a honra de acompanhar o Dr. Braz do Amaral,
comparecendo egualmente o Dr. Promotor Publico , o Inten
dente, o Presidente do Conselho Municipal de Coité e mais
pessoas gradas da localidade, levando tambem informantes
DA BAHIA COM SERGIPE 215

idoneos e conhecedores de muitos annos dos pontos allu


didos e que foram sempre reconhecidos como de divisa
inconteste entre os dois Estados.

Não posso calar a minha decepção ao ter visto acom


panharem ao Exmo. Sr. General e Presidente de Sergipe,
na qualidade de informantes, dois individuos de probidade
duvidosa, sobre os quaes pesam accusações muito graves,
José Lourenço e Francisco Correia, ambos não tardando
em illudir a nossa boa fé, informando cavilosamente sobre
o ponto de limite denominado Baixa da Ladeira Grande e
lograriam o seu intento se não fossem por mim avisados o
Exmo . Sr. General e o Dr. Braz do Amaral dessa falsidade,
cedendo a custo o Sr. General a visitar o lugar que diziam
os nossos informantes ser outro e de que, afinal , se con
venceo o proprio General.

E logo após os falsos informantes descordaram da in


dicação real dos nossos guias sobre o ponto lagoa Cercada,
tendo o Exmo . Sr. General a certeza dessa nova perfidia
por informações para elle de todo insuspeitas, pois eram
dadas por um cidadão muito respeitavel, o sogro do Dr. Jo
viniano de Carvalho, Deputado Federal por Sergipe, o
qual, não podendo comparecer ao lugar para indical-o ,
mandou um seu neto, engenheiro, cujo nome no momento
não me occorre, e por informações ainda do capitão Victor
de Mattos, cidadão acima de toda a suspeita e que tambem,
não podendo chegar ao ponto em duvida, mandou pessoa
de sua intima confiança mostral-o , ficando mais uma vez
provada a verdade dos nossos guias, com absoluto descre
dito dos de Sergipe .
Maior foi a minha surpresa vendo proseguir na excur
são o Exmo. Sr. Governador de Sergipe levando os mes
216 LIMITES

mos informantes, não obstante a falsidade flagrante na


invasão dos pontos mencionados , os quaes nem por isso
perderam a sua confiança!
Não poderia omittir a circumstancia, para mim muito
valiosa, de ter comparecido no Sacco o Revmo . Sr. Dr.
João de Mattos , Vigario do Patrocinio do Coité, que, com
uma bussola e um mappa seus , procurou provar ao Exmo.
Sr. General que o Sacco pertencia á freguezia do Coité,
demonstrando- lhe ficar Annapolis ao sul daquelle lugar e
como parecesse não haver o Sr. General se conformado
com essa demonstração, para melhor oriental - o , o Dr. Braz
do Amaral indicou-lhe o sol, que lhe ficava de lado , pela
posição em que se achava.

A isso presenciamos, cu e o Dr. Promotor Publico, o


Dr. Juiz de Direito da comarca de Geremoabo e muitos
cidadãos que nos haviam acompanhado.
Faz-me lembrar esse incidente o facto de ser o proprio
Dr. João de Mattos o auctor do manifesto , que só poderei
qualificar de sedicioso , além de muitos artigos , contra os
direitos da Bahia, publicados na imprensa sergipana.

Apesar da reluctancia do escrupuloso representante de


V. Exa. e compromisso tomado pelo Exmo. Sr. General
em verificar os pontos Lagoa do Genipapo e Estrada Velha
do Sacco das Candeias, ainda S. Exa . esqueceo esse dever,
deixando concluir- se de seu proposito a convicção intima
que tinha de uma vez presente nestes lugares ficar evidente
a invasão do nosso territorio pela sua força policial loca
lisada no Sacco .

Teve o digno representante da Bahia o cuidado de ,


embora só, verificar os pontos referidos c ouvir sobre a
Estrada Velha do Sacco das Candeias diversas pessoas ,
DA BAHIA COM SERGIPE 217

dentre estas , José Vicente de Souza, com 65 annos de


idade, nascido no logar denominado Sacco e ahi residente
desde seu nascimento, onde tambem residio seu avô, Dio
nysio de Souza, que foi procurador de direitos do Estado
de Sergipe e que acceitava a mesma estrada como limite
entre os dois Estados , Francisco Clemente, de 70 annos,
residente tambem em Sacco, Marcellino de Tal, morador
em Sergipe, Porphirio Correia de Oliveira, com 70 annos,
residente na fazenda Poço , lugar visinho do Sacco, sendo
que seu pae, que foi fazendeiro alli, se submetteo de boa
consciencia ás auctoridades bahianas .

De todas essas pessoas nada me chegou ao conheci


mento que possa desmerecer o bom conceito que lhes faço ;
e foram tambem verificados os vestigios positivos e inillu
diveis da dita estrada por todos os presentes .

É para notar que grande parte dos terrenos do Sacco,


levianamente pretendidos pelo Governo de Sergipe, está
debaixo de cercas, ha quasi 20 annos, destinados á lavoura,
pagando proporcionalmente o municipe o imposto pela
cerca occupada, e como prova disso forneci diversos conhe
cimentos de pagamentos de impostos de datas bastante.
atrazadas ao Dr. Braz do Amaral .
Para dar uma leve noticia da agitação em que se sente
o espirito publico e propriamente do panico de que se
acham possuidos os habitantes da zona invadida , deante
dos boatos terroristas, annunciadores de maiores violencias ,
julgo bastante lembrar o facto de , ao passar a comitiva
em excursão pelos diversos pontos, o modo receioso por
que nos falaram , perdendo até a noção do lugar onde se
encontravam velhos moradores, se acaso lhes inquiriamos
sobre o nome do sitio onde se encontravam .

LIMITES 28
218 LIMITES
dhe jeta e

O eminente representante de V. Exa . , que allia a com


petencia, sob todos os pontos de vista com que encara e
discute a questão , ao fino trato de um eximio diplomata,
infatigavel nos interesses da Bahia e solicito nas defe
rencias de consideração pessoal ao Exmo . Sr. General,
nem por essa ultima parte foi poupado no sacrificio e
consternação de ver o sólo bahiano invadido e occupado
militarmente, sacrificio de que tambem communguei, por
dever de officio e no interesse da Bahia, victima de um
assalto.

A attitude do Governo de Sergipe é mais que affron


tosa aos brios das auctoridades da Bahia, e os coitéenses ,
com a altivez de bahianos sempre nobres, repellem o jugo
detestado pelos proprios de Sergipe.

Na ausencia do direito e da lei , e só pelo desejo im


prudente de conquistar territorio para o seu Estado , invade
esse governo insolito o nosso Estado, contra disposição
expressa na Lei Magna do Paiz, sem a menor noção de
respeito e harmonia , que deve existir entre Estados limi
trophes, perturbando a paz , o trabalho e a felicidade da
familia bahiana e com o maior descaso para com as auctori
dades constituidas.

Em summa, é esse Governo o transumpto do odio ,


da ambição, do proposito e nem outra póde ser a conclusão
a tirar-se dos seus actos , deante da insistencia em manter
occupado pelas suas forças o territorio deste Estado , a
despeito das provas offerecidas , do erro em que se acha,
pelo competente emissario de V. Exa ., já lhe apresentando
a Lei, já invocando a tradicional estima e cordialidade
sempre reinante entre os dois Estados e por cuja paz tanto
se esforçava , fazendo desapparecer certas hostilidades, uma
DA BAHIA COM SERGIPE 219

vez que no terreno da razão e do direito escudara o seu


pedido e estaria certo que tudo isso calar- se-ia no animo ;
mas debalde, porque systhematicamente as mantém, satis
fazendo não mais a uma aspiração justa e nobre e sim
plesmente á sua vaidade .

Bem sei que incorrerei no odio caprichoso de S. Exa. ,


o Sr. Governador de Sergipe, a exemplo do que já se deu
com o meu joven e illustre collega Dr. Wenceslao Gallo,
porque teve a altivez de expôr tão grosseira invasão com a
lealdade e minucia que lhe cumpria, sem a preoccupação de
The attingirem esses odios , que jamais lhe impediriam o
cumprimento do dever, attenta a sua cultura de espirito
e sentimentos , em uma causa como esta, em que perigavam
direitos muito sagrados para nós, bahianos .

E me sentindo bem alicerçado na confiança dos meus


jurisdiccionados , contarei vencer-lhes os impetos de re
volta e de indignação, provocados com o proceder daquelle
Governo, mantendo em attitude aggressiva a sua força em
nosso territorio, porque magistrado que sou , educado no
respeito e na applicação da Lei , aguardo no terreno calmo
e sereno do direito a victoria da Bahia, sem tão pouco
me submetter á restricção da jurisdicção que se nos quer
dar nesta comarca e, aproveitando o ensejo que se me
offerece, levanto o meu protesto, que o farei effectivo ,
perante quem de direito, pelos meios proprios , e quando
opportunos.

É o que me occorre informar a V. Exa . , accrescen


tando, para terminar, haver o Dr. Promotor Publico, Ba
charel Salvio de Oliveira Martins, prestado valiosos ser
viços á nossa causa, que é a de todos os que, conscientes
220 LIMITES

dos seus deveres, agem, na esphera das suas attribuições,


pelo respeito e cumprimento da Lei.
Saudações. O Juiz de Direito , Raul Edgard de Car
valho Passo.

N. 60

Carta do Dr. Braz Amaral ao Exmo . Sr. Co


ronel Pedro Freire , Vice Presidente de Sergipe.

Aracajú, 13 de Fevereiro de 1914.


Exmo . Sr. Coronel Pedro Freire .-Saúde e meus res
peitos á Exma . Familia.

Faço esta para me despedir de V. Exa . , porque devo


embarcar aqui amanhã , sem ter chegado a combinação ou
accordo algum com o Sr. General Siqueira de Menezes .
O Sr. Presidente de Sergipe me propoz para modus
vivendi que a Bahia cedesse provisoriamente a Sergipe o
territorio contido dentro de uma recta desde a barra do

riacho Salgado até o Olho d'agua do Coité, e a fronteira


actual pela baixa da Ladeira Grande , que é a mencionada
na lei de demarcação que a Bahia tem .
É claro que o unico pnsamento era justificar, embora
a titulo precario, a força que impensadamente foi posta no
Apertado de Pedras.
Propoz tambem uma outra recta do Olho d'agua do
Coité ao do Máo Fim Tenhas, que é uma pequena nesga
e uma outra desde as nascentes do Cayçá á lagoa de São
Francisco, para ficar temporariamente com o Sacco, dei
xando claro que ahi tambem o fim era exclusivamente
cobrir o acto da collocação de uma força em territorio que
não pertence a Sergipe .
DA BAHIA COM SERGIPE 221

Apresentei o caso ao Governador da Bahia, infor


mando contra, e elle me auctorisou a rejeitar, o que eu fiz
ante-hontem .

Em 6 de Fevereiro propuz que fosse nomeada uma


commissão mixta pelos dois Estados, que levantasse uma
planta da região, com os pontos da fronteira marcados na
Lei e os que elle pedia provisoriamente. Recusou-se , di
zendo não ter dinheiro para fazer esta despeza . Ao mesmo
tempo me declarou, quando eu lhe pedi para ver os papeis,
documentos e provas de direito que serviram de base ao
Estado de Sergipe para levantar esta questão, me declarou
que não tinha senão uns artigos de gazetas e o opusculo
do Padre João de Mattos, que é um opusculo de discussão
e nunca uma prova capaz e sufficiente em direito.
Pessoas daqui, versadas em direito, juristas, dizem
que nunca foram consultadas sobre isto e que só conhecem
este assumpto por conversas , etc.

Rejeitando a proposta do General Siqueira, propuz


que fosse respeitada a Lei da demarcação feita em 1817 e
pedi que fosse retirada a força .
Recusou isto porque ficaria mal perante a opinião
dessas pessoas exaltadas, que falam sem conhecer bem
as cousas e pensam que têm razão por nunca haverem
estudado sriamente o negocio.
Á vista disto me retiro, esperando que o poder compe
tente resolva co ma Lei, como for de agrado do Congresso,
que tudo póde fazer.
Tenha-me V. Exa. como amigo e servo , contando com
um homem dedicado ao progresso desta zona , á paz e ao
beneficio do povo , que é o que nós todos devemos desejar.
-Braz do Amaral.
222 LIMITES

N. 61

Carta do Dr. Braz Amaral ao Conselho Mu


nicipal do Coité.

Bahia, 10 de Março de 1914.


Exmo. Sr. Presidente e mais membros do Conselho
Municipal da Villa do Patrocinio do Coité.- Tendo partido
da cidade de Aracajú em 16 de Fevereiro ultimo, sem que
o Presidente do Estado de Sergipe accedesse em retirar a
força policial sergipana posta indevidamente no territorio
do municipio do Coité, enviei, por ordem do Exmo. Sr.
Dr. Governador da Bahia, ao Presidente de Sergipe a
Reclamação e Protesto que a esta junto por cópia, pedindo
eu que ella fique archivada na Camara Municipal do Coité,
para a todo tempo constar, solicitando alguma menção que
em acta da Camara deixe exarada a existencia do Protesto ,
assim como este meu pedido.
A Reclamação tem seus fundamentos na Carta Regia
de 24 de Março de 1738, na Resolução da Mesa de Con
sciencia e Ordens de 27 de Setembro de 1817 e no Alvará

de D. João VI, de 21 de Novembro de 1817 , que mandou


fixar os limites da freguezia de N. S. do Bom Conselho,
da qual foi desmembrada em 1871 a do Patrocinio do
Coité. A demarcação feita em 1817 diz assim : "Ficará
dividida pelo sul com a freguezia de N. S. do Itapicurú de
Cima, seguindo do oeste para leste pela estrada real que
vae da villa do Pombal para a capella de N. S. Rainha dos
Anjos, que se largará na fazenda denominada Barroca, e
seguirá pela que vae a encontrar- se com o rio Real, entre as
duas fazendas Baixa Grande e Jacurici de Cima, donde
seguirá rio acima até as suas cabeceiras na fazenda Santa
Anna, onde tomará a estrada real que pelo Sacco das Can
DA BAHIA COM SERGIPE 223

deias , vae dar na lagoa do Genipapo, por outro nome lagoa


de João Gomes, desta tomará pelo Olho d'agua do Coité,
digo pelo Olho d,agua denominado Máo Fim Tenhas ,
lagoa das Antas, Olho d'agua do Coité, lagoa Cercada,
lagoa Salgada, a sahir na Baixa da Ladeira Grande, donde
em rumo direito cortará o rio Vasabarris que o atravessará
e irá encontrar-se com a demarcação que sempre tem
observado as duas freguezias de Geremoabo e Itabayana. "
Isto é o que diz a lei , que deve ser conhecida de todos,
porque foi a base em que eu me firmei para sustentar os
direitos do municipio do Coité.
Com a maior consideração , reitero a V. Exa. e ao Con
selho da Villa do Coité os meus protestos de apreço e
estima.-Dr. Braz do Amaral.
P. S.-A Lei Provincial de 1871 não citou a Estrada
do Sacco das Candeias, as lagoas Genipapo , Salgada e
Cercada, mas isso não quer dizer que alterasse os limites
de 1817 , porque se não os citou todos foi porque já eram
conhecidos e porque uma lei provincial não muda uma lei
geral. -B. Amaral .

N. 62

Carta do Dr. Braz Amaral ao Vice-Presi


dente de Sergipe Coronel Pedro Freire

Bahia, 12 de Março de 1914 .


Exmo. Sr. Coronel Pedro Freire.-Quando parti de
Sergipe escrevi a V. Exa. , dizendo não ter chegado a com
binação alguma com o Sr. Presidente. Ao retirar-me de
Aracajú enviei , por ordem superior, ao mesmo Exmo . Pre
sidente uma Reclamação e Protesto sobre os actos de hos
224 LIMITES

tilidade praticados pelo Governo de Sergipe, de que re


metto copia a V. Exa.

Com todo o respeito e consideração, rogo a V. Exa. se


digne apresentar meus cumprimentos á Exma. Familia e
dignar-se aceitar os meus protestos da mais alta sym
pathia e estima.-Braz do Amaral.

N. 63

Carta do Exmo. Sr. Coronel Pedro Freire


Vice-Prssidente de Sergipe ao Dr. Braz Amaral.

Annapolis, 1 °. de Maio de 1914 .


Illmo. amigo Sr. Dr. Braz do Amaral . - Faço votos
pelo bem estar de V. Exa. a par da Exma . Familia , a
quem, com minha senhora, tenho a honra de cumprimentar.

Com prazer, venho responder á prezada carta de


V. Exa., de 12 de Março , tendo já respondido a que me
dirigio quando partiu de Aracajú.

Li com attenção a copia que dignou- se offerecer-me


da reclamação e protesto aos actos de hostilidade pelo
Governo .

Muito desejo a paz com os meus patricios visinhos ,


com quem nutro as mais estreitas relações de parentesco e
amizade .

Lamento ainda não se ter chegado a um accordo


digno.
Sem mais assumpto. Peço ao distincto amigo que
inclua no numero dos muitos amigos que tem o patricio
admirador - attento , muito obrigado - Pedro Freire de
Carvalho.
DA BAHIA COM SERGIPE 225

N. 64

Carta do Dr. Braz Amaral ao Exmo . Sr.


Coronel Pedro Freire .

Bahia, 19 de Maio de 1914.


Exmo. Sr. Coronel Pedro Freire.- Faço votos pela
saúde de V. Exa . e de sua digna Familia, para a qual rogo
a V. Exa. transmittir os cumprimentos de minha filha e
irmã.

Recebi com grande prazer a carta de V Exa., de


1º. do corrente, e a ella respondo, apresentando algumas
idéas que submetto à benevola attenção de V. Exa.

O Sr. General Siqueira se vio impossibilitado de che


gar a uma solução razoavel e justa porque, tendo sido mal
informado, como deve saber , e tendo feito uma occupação
armada, julgou que fosse para elle humilhante retirar
a força postada no Sacco e no Apertado de Pedras.

Outro Governo, porém, não estará na mesma delicada


e difficil situação .

Disse-me V. Exa. que sem a acquiescencia do General


Valladão nada podia fazer, mas, attendendo ás evidentes
vantagens para os dois povos de uma situação justa e esta
vel na fronteira da Bahia e Sergipe, tanto pelo lado eco
nomico como pelo lado politico e administrativo , tomo a
liberdade de lembrar a V. Exa. que póde ser este assumpto

apresentado por V. Exa. ao Sr. General Valladão , desde


agora, para que ambos possam combinar o que mais con
veniente julgarem, afim de que em Agosto ou Setembro
possa eu ter a fortuna de fixar com V. Exa. um accordo
digno para as duas partes e que ponha termo, de uma vez
para sempre ás questões entre os dois Estados , o que é
LIMITES 29
226 LIMITES
‫ނ‬

de supremo e urgente interesse para elles, podendo nos


encontrar em Annapolis, sem apparato, para tudo estabe
lecer calmamente. E não será de vantagem na mesma occa
sião realisar um convenio aduaneiro , para regular á impor
tante questão dos impostos na fronteira de Sergipe e
Bahia ?

Se V. Exa. se dignar acceder a este plano, que me


parece exequivel, fará o favor de me participar, para o
indispensavel concerto dos detalhes, sem chamar a attenção,
obtendo eu do Governo as auctorisações necessarias para
tão util objectivo .
Mostrei esta carta ao Exmo . Sr. Dr. Seabra, que
a approvou e me auctorisou a remettel-a .

Com o mais profundo respeito e a mais sincera estima,


subscrevo-me de V. Exa. muito dedicado Braz do
Amaral.

N. 65

Carta do Exmo. Sr. Coronel Pedro Freire


ao Dr. Braz Amaral

Annapolis , 4 de Junho de 1914.


Exmo. amigo Sr. Dr. Braz Amaral.-Transmitto-vos
e a vossa Exma. Familia os meus cumprimentos .
No dia seguinte ao em que recebi a vossa carta de 19
do passado , escrevi ao Exmo . Sr. General Valladão sobre
o accordo que pretendeis fazer, com auctorisação do Exmo .
Sr. Dr. Seabra, no tocante aos limites dos nossos Estados .
Tenho o maximo interesse na solução dessa grande ques

tão e aguardo resposta do Exmo . General.


Obtida, transmittir-vos-ei o resultado do que ficar
DA BAHIA COM SERGIPE 227

entre mim e elle combinado e justo . A proposito, apraz- me


scientificar a V. Exa. que, com a mesma coincidencia de
ideas e medidas pela tranquillidade e tradicional harmonia
dos Estados limitrophes, já eu havia me dirigido, na mesma
data de vossa carta, ao Exmo . Sr. General Valladão, por
intermedio do Exmo. Sr. Dr. Raul Passo, Juiz de Direito
do Coité.

Entretanto, agora o faço novamente, juntando a


mesma referida carta de V. Exa.

Á vossa Exma. Familia visito e recommendam - se a


minha senhora e filha . O vosso amigo agradecido e admira
dor sincero- Pedro Freire de Carvalho .

N. 66

Carta do Sr. Coronel Pedro Freire ao Dr.


Braz do Amaral reproduzida na mensagem de 7
de Setembro de 1914 apresentada á Assemblea
Legislativa de Sergipe.

Exmo. Sr. Dr. Braz do Amaral.-Em resposta á vossa


carta de 19 de Maio vigente .

Como Presidente deste Estado, apraz-me dizer-vos


que não pouparei esforços para uma solução razoavel e
digna da velha questão de limites entre o meu e o vosso
Estado.

O Governo do meu Estado se não querendo esquivar


de, por meios honrosos, contribuir para a manutenção da
paz e absoluta tranquillidade nas fronteiras, acquiesce em
fazer retirar do Sacco e Apertado de Pedras a pequena
força policial alli destacada, sem que, porém, tal acquies
cencia possa, em tempo algum, ser invocada como prova
228 LIMITES

do reconhecimento do direito a que se arroga o Estado da


Bahia de abranger taes logares na zona da sua jurisdicção .
O mesmo Governo, firme no que diz respeito ao direito
incontestavel do seu Estado sobre os pontos em litigio, não

cessará de, pelos meios que lhe forem permittidos , fazer


valer esse direito, empenhando- se, de preferencia, em um
accordo com a Bahia, a qual, estudando desapaixonada
mente a questão , ha de reconhecer que a razão está do seu
lado , Sergipe, a quem, portanto, cabe a posse plena dos
limites que lhe são contestados .
Nenhum inconveniente ha em que seja celebrado um
convenio aduaneiro nas fronteiras dos dois Estados , mas ,
sendo acto que depende de auctorisação e subsequente
approvação do Poder Legislativo , convem que a elle seja
logo submettido em suas linhas geraes, especificados os
pontos essenciaes do alludido convenio para regular a arre
cadação dos impostos.
Sabido tambem, como é , que a reunião de taes feiras
nos pontos em litigio tem contribuido para desordens e até
crimes, na repressão dos quaes as auctoridades dos dois
Estados já se têm disputado competencia , será de alta con
veniencia prohibirem- se terminantemente taes feiras .
Sergipe aguardará que o grande Estado da Bahia
apresente as bases que lhe parecerem convenientes, afim de
serem devidamente estudadas.
Com toda a consideração , de V. Exa. muito dedicado
amigo e patricio- Pedro Freire de Carvalho .
DA BAHIA COM SERGIPE 229

N. 67

Telegramma do Governador da Bahia ao


Presidente de Sergipe agradecendo haver
attendido a reclamação do Dr. Braz Amaral man
dando retirara força do territorio da Bahia.

De Bahia 22 de Agosto 1914. -Exm . ° Presidente


Sergipe ――――――― Aracajú ―――――― sciente carta V. Ex . ao Dr. Braz

Amaral agradeço V. Ex . ter attendido reclamação este


enviado cessar situação anormal fronteiras . Providencias
dadas feiras.

Cordeaes saudações - Scabra, Governador da Bahia .

N. 68

Telegramma do Dr. Braz Amaral agra


decendo ao Presidente de Sergipe haver re
tirado a força do termo do Coité.

Exmo . Presidente Sergipe- 22 de Agosto de


1914– Aracajú-Agradeço penhorado ter-se dignado
attender V. Ex . reclamação cessando coacção fronteiras
orientando questão fim honroso dois Estados paz irmãos .
Governador disposto chegarmos solução definitiva
accordo principios direito justiça.
Affectuosas saudações-Amaral.

N. 69

Trecho da mensagem do Governo de


Sergipe apresentada a Assembléa em 1 de Se
tembro de 1914 em que confessa não haver es
tudado a questão que levantou .

Mas , para tanto, se ha mister de uma busca aos


archivos nacionaes , colligindo- se nelles a documentação
230 LIMITES

necessaria . Egualmente nos archivos estrangeiros,


principalmente em Portugal , onde devem existir tes
temunhos fixos , comprovando a legitimidade da nossa
causa.

Lá é que elles dormem, escondidos na poeira dos


tempos , aguardando que lhes desperte a actividade in
quisitiva de algum pesquisador interessado .
Emtanto a elles nunca se volveram os nossos olhos ,

porque nunca nenhum Sergipano lhes esquadrinhou ,


até hoje, os segredos que devem encerrar aquelles ines
timaveis thesouros da nossa historia .
E por mais não foi que silenciamos , dolorosamente ,
ante o representante da Bahia , sem que lhe podessemos
confutar as asserções que elle aqui lançou , manifes
tamente vulneraveis á mais sobria contraprova , mas
que nós , despreparados para refutal-o , desarmados por
completo , nada podemos adduzir de novo que contra
viesse na altura as proposições daquelle egregio pro
fessor. »

N. 70

Telegramma do coronel Pedro Freire , Pre


sidente de Sergipe , ao Dr. Braz Amaral convi
dando para ir fazer um accordo sobre os limites
da Bahia e Sergipe.

Aracajú, 8 Setembro 1914-Exmo . Sr. Dr. Braz


Amaral - Bahia -Satisfazendo nobres intuitos sergipa
nos , tenho satisfação convidar-vos para um volver de
vistas sobre as linhas contestadas de nossas fronteiras,
não sendo conveniente assim permaneçam , dando lugar
aos mais graves acontecimentos de natureza a compro
metter segurança tranquillidade reciprocas , é de neces
DA BAHIA COM SERGIPE 231

sidade se não adie por mais tempo qualquer medida.


visando assegurar as relações de harmonia entre nossos
Estados. Assim desejando execução promta ao pensa

mento exposto aguardo vossa resposta, podendo nos


encontrar para o inicio dos trabalhos na estação de
Buquim a 18 do corrente donde partiremos direcção
Annapolis .

Respeitosas saudações- Pedro Freire, Presidente


Estado .

N. 71

Telegramma do secretario de Sergipe com


municando que o Presidente seguio para se
encontrar com o representante da Bahia.

Aracajú, 19 Setembro 1914. -Ao Exmo . Dr. Braz


Amaral -Buquim .-- E ' - me agradavel enviar a V. Exa.
as minhas saudações e communicar a partida do Exmo .
Coronel Pedro Freire que se realisou as 5 horas de hoje
para essa villa.

Respeitosas saudações -Gervasio Prata, Secre


tario Governo .

N. 72

Telegramma do Intendente de Coité ao


representante da Bahia pedindo informes
sobre a viagem .

De Annapolis , 12 Setembro 1914.-Dr. Braz


Amaral , em Bahia- Sciente convite Sergipe avise via
gem determinando conducção numero companheiros .

Saudações -Justino, Intendente Coité.


232 LIMITES

N. 73

Telegramma do Dr. Braz Amaral , repre


tante da Bahia transmittindo a proposta do
Governo de Sergipe .

Annapolis ( Simão Dias ) 21 Setembro 1914 .


Exmo . Governador Bahia .-- Presidente Sergipe propõe
fixarmos modus vivendi até alguma solução dada con
gresso ou Supremo Tribunal statu quo anterior governo
General Siqueira . Parece- me honroso harmonia .

Peço resposta urgente .


Saudações Amaral.

N. 74

Resposta do Governador da Bahia autori


sando o modus vivendi.

Ao Dr. Braz Amaral em Annapolis . -De Bahia


-21 Setembro 1914. Concordarei que illustre amigo
.
resolver podendo assignar modus vivendi. Meus respei
tosos cumprimentos Exmo. Sr. Presidente Sergipe .
Affectuosas saudações Scabra, Governador Bahia.

N. 75

Carta do Dr. B. Amaral , commissario ba


hiano, transmitindo ao Presidente de Sergipe a
authorisação do governador da Bahia.

Coité, 22 de Setembro de 1914 .--Exmo . amigo


Sr. Coronel Pedro Freire - Meus respeitosos cumpri
mentos . Acabo de receber do Sr. Dr. Seabra o se

guinte telegramma em resposta ao meu de hontem :


"Concordarei que illustre amigo resolver podendo
DA BAHIA COM SERGIPE 233

assignar modus vivendi meus respeitosos cumprimentos .


Exmo . Sr. Presidente Sergipe .
Affectuosas saudações- Seabra .»
A vista disto , calculando que V. Exa . tenha
tambem recebido resposta satisfactoria do Exmo Sr.
General Valladão peço se digne V. Ex . indicar-me dia
e hora em que devemos lavrar e assignar a Convenção
de Annapolis , pois se me parece que deve ser este nome o
que deverá ter o que vamos firmar , ficando a designação
desta cidade ligada a este importante acontecimento
na historia dos dois Estados .
Com a mais subida consideração me subscrevo de
V. Exa. dedicado amigo e obrigado- Bra: Amaral.

N. 76

Telegramma do Dr. B. do Amaral , com


municando ao Governador da Bahia mudança
de situação .

Coité, 23 Setembro 1914. Via Simão Dias- Exmo .


Governador da Bahia . - Situação mudou após proposta
Governo Sergipe transmitti . General Valladão consul
tado respondeu indicando receio prejudicar Sergipe
lembrando arbitramento . Evidente influencia poderosa
Rio determinou vira volta. Combinamos verbalmente
presidente eu manter statu quo anterior Governo Si
queira.
Saudações -Amaral.

LIMITES 30
234 LIMITES

N. 77

Relatorio apresentado ao Exmo . Sr. Dr.


José Joaquim Seabra, Governador da Bahia ,
pelo Dr. Braz do Amaral sobre a segunda mis
são a Sergipe

De accordo com as praxes, apresento a V. Exa. os


acontecimentos da minha segunda missão a Sergipe, para
que fiquem elles consignados na historia da questão de
limites entre a Bahia e o visinho Estado citado .

Parti daqui em 16 de Setembro, por ordem de


V. Exa. , ordem motivada pelo seguinte telegramma do
Sr. Coronel Pedro Freire, Vice- Presidente de Sergipe, no
exercicio do cargo de Presidente :

"Exmo. Sr. Dr. Braz do Amaral- Bahia .- Satisfa


zendo nobres intuitos sergipanos , tenho satisfação convi
dar-vos para um volver de vistas sobre as linhas contesta
das de nossas fronteiras, não sendo conveniente assim
permaneçam , dando lugar aos mais graves aconteci
mentos de natureza a comprometter segurança e tranquil
lidade reciprocas. É de necessidade se não adie por mais
tempo qualquer medida visando assegurar as relações de
harmonia entre nossos Estados. Assim, desejando execu
ção prompta ao pensamento exposto, aguardo vossa res
posta, podendo nos encontrar para o inicio dos trabalhos
na estação do Buquim , a 18 do corrente , donde partiremos
direcção Annapolis .
Respeitošas saudações .-Pedro Freire, Presidente Es
tado . "

Sabe V. Exa. que desde o principio do anno, durante


a administração do Sr. General Siqueira de Menezes , eu
mantinha correspondencia com o Sr. Coronel Pedro Freire ,
DA BAHIA COM SERGIPE 235

ao qual insinuara um encontro no mez de Setembro , afim


de ser regularisada a situação da fronteira, assim como a
elaboração de um convenio aduaneiro entre os dois Esta
dos, visando os interesses economicos de ambos .

Sabe tambem V. Exa . que tendo o Sr. Coronel Pedro


Freire em Janeiro me declarado que nada podia fazer sem
auctorisação do Sr. General Valladão , seu chefe politico e
futuro Presidente de Sergipe, toda a correspondencia se
referia a este ponto e na carta que o Sr. Dr. Raul Passo ,
Juiz de Direito de Coité, enviou a V. Exa . para ser remet
tida ao referido General, carta do Sr. Coronel Pedro
Freire, este pedia justamente auctorisação para chegar a
um ajuste com a Bahia no sentido de regularisar a situação
da linha divisoria em discussão .

Portanto, desde que o Sr. Coronel Pedro Freire man


dou um convite formal ao Delegado da Bahia, é porque
tinha a precisa auctorisação para o caso , pois de outro
modo não se comprehende que procedesse assim.
O Sr. Presidente de Sergipe chegou a Buquim no dia
.
19 e , tendo ido eu ao seu encontro , no mesmo troly em
que viemos da ponte do Piauhy, disse-me S. Exa. que já
se achava auctorisado pelo Sr. General Valladão para com
binar commigo, o que deviamos fazer no dia seguinte em
Annapolis ou no immediato , accrescentando até que de
morara em receber a carta do citado General, pois esta
chegando a Annapolis depois da sua viagem para Aracajú,
só lhe fôra levada cerca de 15 dias depois, pela sua
Exma . esposa.

Na realidade, em o dia 21 , após a cerimonia da inau


guração da comarca de Annapolis, a que assisti , convidado
pelo Sr. Presidente, e na qual, em o discurso de encerra
236 LIMITES

mento , S. Exa . disse que alli tinha vindo não só para a


referida inauguração , como para concertar commigo limi
tes fixos e que por todos fossem respeitados entre os dois
Estados, ficou isso officialmente dito.
Após a referida sessão solemne, nos reunimos em uma
casa isolada, proxima da do Sr. Coronel Pedro Freire , e
ahi elle me pedio permissão para chamar dois amigos ser
gipanos, conhecedores do assumpto de que iamos tratar, os

Srs. Drs . Prado Sampaio e Manoel dos Passos, e encetamos


os quatro longa conferencia em que foram discutidos os
interesses da Bahia, assim como os seus direitos e os de
Sergipe.

Depois de largamente debatido o assumpto, o Sr.


Dr. Prado Sampaio, apoiado pelo Sr. Presidente de Ser
gipe, formulou a proposta de ser mantido o statu quo an
terior ao Governo do Sr. General Siqueira de Menezes ,
isto é, de ficarem sendo respeitados os mesmos limites de
antes da violação delles pelo citado General.
Tal solução era o resultado logico das confissões
feitas anteriormente a mim pelo Sr. General Siqueira e
frisantemente averiguadas na minha primeira viagem a
Sergipe, a saber, que o Governo desse Estado se abalançara
a levantar levianamente a questão dos limites, pois não pos
suia provas, documentos capazes de merecerem fé nem de
figurarem em juizo , nem de sustentarem a mais leve im
pugnação .

O desejo de augmentar o territorio sob pretexto de


terem sido dadas a sergipanos ou moradores de Sergipe
sesmarias nas visinhanças do Vasabarris, o pensamento
positivo de com esta fragil argumentação fazer crer que a
Sergipe pertencem taes territorios, a aspiração de se apos
DA BAHIA COM SERGIPE 237

sarem os nossos visinhos do Coité, por causa do seu rico


solo, sob a allegação de que a Bahia por ser grande deve
dar ao visinho pequeno parte do patrimonio que lhe foi
deixado pelos seus antepassados e ahi está, tudo adubado
com muitas palavras e pouco fundo de raciocinio juridico ,
em resumo , o caso .
Tal solução era o resultado da fraqueza do Estado de
Sergipe para sustentar a questão sob o ponto de vista do
direito e o nosso triumpho em toda a linha, porque impor
tava ter o Governo de Sergipe reconhecido como fizera
mal invadindo e occupando militarmente of que não lhe

pertencia, nem tinha siquer semblante de parecer pertencer


lhe e o receio de perder a questão , desde que ella fosse
levada á presença da justiça .
Respondi que ia telegraphar a V. Exa. e redigi em
presença de todos o telegramma seguinte, que foi lido na
mesma occasião .

"Exmo. Dr. Governador- Bahia.- Presidente Sergipe


propõe modus vivendi até solução Congresso ou Supremo
statu quo anterior Governo General Siqueira. Parece-me
honroso harmonia . Peço resposta urgente. Saudações.
Amaral."

As palavras Parece-me honroso harmonia foram col


locadas porque o Dr. Prado Sampaio me lembrou a conve
niencia de vir o telegramma com uma informação favora
vel que mostrasse a V. Exa. o meu julgamento .
Tal pedido, que foi feito pelo Sr. Dr. Prado Sampaio,
sergipano intransigente, dedicado á sua terra, mas jurista de
nota, bem revela , pela insuspeição de quem o fez, a con
vicção de que a causa de Sergipe não encontra amparo
na Lei.
238 LIMITES

No dia seguinte recebi de V. Exa. o honroso tele


gramma seguinte :

"Concordarei fizer nobre amigo . Minhas respeitosas


saudações Presidente de Sergipe. Saudações . -Seabra . "

Communiquei na manhã de 23 esta resposta ao Exmo.


Sr. Coronel Pedro Freire e lhe pedi marcasse dia e hora
para ser lavrada a Convenção de Annapolis, calculando que
S. Exa. tambem já houvesse recebido resposta satisfa
ctoria do Exmo . Sr. General Valladão , ao qual havia sido
expedido por elle, na tarde de 21 , ao mesmo tempo que
foi mandado o despacho dirigido a V. Exa. , um outro con
cebido mais ou menos nos seguintes termos , pois os não
conservei de memoria na integra, e que foi redigido pelo
Dr. Prado Sampaio : " Unica solução estabelecer modus vi
vendi manter statu quo antes situação Siqueira . "

Pelo meio dia do dia 22 chegou ao Coité, onde fiz


minha residencia, o Sr. Dr. Elias Leite, um dos membros
da comitiva do Sr. Presidente de Sergipe, o qual me disse
da parte deste que ainda não havia recebido resposta do
Sr. General Valladão, pelo que havia telegraphado de
novo, pedindo urgencia .
No dia seguinte, 24 , recebi do Exmo. Sr. Coronel
Pedro Freire a seguinte carta :

"Engenho Mercador, 24 de Setembro de 1914.


Exmo. amigo Dr. Braz do Amaral. - Saudações.—Em
resposta á carta de V. Exa. de hontem datada, tenho a
dizer que, agora mesmo , acabo de receber do Exmo . Sr. Se
nador Oliveira Valladão o modo de ver do meu grande
amigo relativamente ao objectivo que nos trouxe a estas
paragens .
DA BAHIA COM SERGIPE 239

É o Exmo . Sr. Dr. Oliveira Valladão de parecer que

toda e qualquer solução seja tomada por arbitramento o


que, penso eu, promoverá logo após o inicio do seu Go
verno.

Grato á gentileza de V. Exa., subscrevo-me de


V. Exa. amigo e admirador-Pedro Freire de Carvalho.
P. S.- Seguirei amanhã para Aracajú. ”

Esta carta, no fundo como na forma, é extra


ordinaria e se acha em flagrante contradicção com
o telegramma que acima ficou exarado, convidando-me a
ir a Sergipe, como com a carta abaixo , dirigida pelo Coronel
Pedro Freire ao Dr. Raul Passo , digno Juiz de Direito de
Coité e uma das honras da magistratura bahiana :
"Exmo. Sr. Dr. Raul Passo .-Tenho a satisfação de
accusar a vossa carta de 7 do corrente, acompanhando uma
outra que me dirigio o Dr. Braz do Amaral .

Certo das disposições em que está o Governo da Bahia


de solver o litigio que de annos se vem carregando mais e
mais na zona instavel das nossas fronteiras, é com o mais
vivo sentimento que Sergipe acquiesce sobre as bases de
um accordo estabelecendo a firmeza dos fraternaes laços
de amizade e respeito, que nos devem unir reciprocamente.
Para isto já acertei com o Drs . Seabra e Braz do Amaral,
consentindo aquelle que o segundo retorne a este Estado,
fazendo o nosso encontro na estação de Buquim, a 19
deste, donde nos encaminharemos á zona accesa do
litigio.
É acreditavel não seja improficuo o nosso trabalho ,
contrapondo- se ao extremo as nossas vistas , de modo a
se reduzirem á inutilidade os esforços communs .
Clarividente e leal, como se ha revelado o Dr. Braz
240 LIMITES

do Amaral, antevejo, nessa revisão de fronteiras a que


vamos proceder , o bom effeito dos nossos empenhos a bem
da normalidade das nossas populações limitrophes .
O pensamento de Sergipe ahi vae na concisa Mensa
gem, por mim apresentada á Assembléa do meu Estado , a
7 do corrente, que vos envio .
Assim creia-me vosso respeitador e amigo obrigado
Pedro Freire de Carvalho .
Em 12-9-1914. "

Diante disto e do telegramma me convidando para ir


a Sergipe, com a circumstancia de ter sido de tudo sciente
o Sr. General Valladão, ao qual foi remettida pelo Sr. Co
ronel Pedro Freire a minha carta de Maio, a acquiescencia
do mesmo Sr. General Valladão ao que se fizesse , expressa
em carta ao Coronel Pedro Freire, tudo isso fez , após re
flexão, gerar em meu espirito a suspeita de que influencia
outra houvesse influido para a resposta do citado General.
Digo após reflexão , porque na primeira hora a inconve
niencia e a descortezia da forma e do subscripto só podiam
fazer levantar a indignação .
O Sr. Coronel Pedro Freire não podia ter interesse,
no meio de tantas provas de gentileza e alta consideração
que me dispensou, desde que nos conhecemos e desde que
nos avistamos no Buquim, de fazer um insulto a mim , á
minha terra e ao Governador da Bahia e seria o cumulo da
deslealdade e da dignidade se me houvesse attrahido lá
para isso.
Na manhã do dia 25 apresentou - se no Coité uma com
missão composta dos Srs . Drs . Prado Sampaio, Manoel
dos Passos e Elias Leite, da parte do Coronel Pedro Freire.
Acompanhava-os o Sr. Padre João de Mattos , que em
DA BAHIA COM SERGIPE 241

tudo isto tem feito um papel que ainda carece de estudo


para ter a apreciação que na verdade lhe deve caber.

Pedi á commissão que esperasse um pouco antes de


dar conta da sua incumbencia a chegada do Dr. Raul
Passo, a quem mandara chamar, pois a identificação com
migo daquelle magistrado, o interesse genuinamente
bahiano que tem tomado nesta questão, lhe dão nella um
lugar de tão consideravel destaque, que não sei quem mais
tenha feito por ella.
Chegado este, a commissão declarou que o Sr. Coronel
Pedro Freire se achava contrariadissimo, que desacoro
çoado pelo telegramma do Sr. General Valladão, mandara
a carta, mas que reflectira logo não só que ella carecia de
outra explicativa, como que o telegramma não impedia a
continuação das negociações , mas que procurando papel
no engenho Mercador, onde se achava, não o encontrara ,
pelo que havia voltado para Annapolis, resolvendo mandar
entender-se commigo a commissão presente.

Que attendendo , portanto, aos termos do final do


telegramma do Sr. General Valladão que o Sr. Dr. Prado
Sampaio trazia, me convidava a acompanhal- o a Ara
cajú, onde com a chegada do General Valladão tudo se
entenderia, sabendo eu já quaes os seus sentimentos de
harmonia, que continuava a hypothecar.

A commissão accrescentou que S. Exa . não partiria


de Annapolis sem conhecer a minha resolução , e que, no
caso de ser possivel, me pedia fosse a Annapolis con
ferenciar.

Respondi que não me era possivel esperar em Ara


cajú pelo Sr. General Valladão e que voltaria dalli para
LIMITES 31
242 LIMITES

a Bahia, promptificando-me, entretanto, a ir a Annopolis


conferenciar, immediatamente.

Alli encontrei o Sr. Coronel Pedro Freire profunda


mente contrariado e abatido dizendo-me a que attribuia o
telegramma do Sr. General Valladão, duvidando até delle,
Pedro Freire , como se fosse capaz de sacrificar Sergipe ;
attribuindo o caso a politicos opposionistas ; acreditando
que estes tivessem exaggerado as cousas, de modo que o
Sr. General Siqueira provavelmente teria ido, falar ao
Sr. Marechal Hermes ou ao Sr. Senador Pinheiro Ma
chado para que não fossem repostas as cousas na

fronteira como estavam antes da administração delle Si


queira, por suppor este que ficaria com isto desprestigiado
em Sergipe.

Não podia explicar de outro modo o que o Presidente


eleito fizera, quando conhecia toda a questão , e auctorisara
a fazer as negociações, na fé do que elle, Coronel Pedro
Freire , as começara fizera, de combinação com OS

Drs . Prado Sampaio e Manoel Passos, a proposta do


dia 21.

Apesar do que se achava escripto na mensagem do


Sr. Coronel, não me é licito duvidar da sinceridade de
S. Exa. , no qual encontrei o cunho da tristeza e do des
apontamento pelo papel a que o haviam exposto, de não
cumprir o que elle mesmo havia proposto !
Declarou-me até que já preparava um banquete para
o dia da assignatura da Convenção que estava ajustada .
Repctiu-me o convite para ir ao Aracajú, do qual de
clinei pelas razões acima expendidas.
Combinamos, então, que eu falaria, ou o Sr. Dr.
Seabra, se assim o julgasse conveniente, ao Sr. General
DA BAHIA COM SERGIPE 243
C

Valladão, por occasião da sua passagem proxima pela


Bahia, caso para o qual S. Exa. me deu uma carta de
apresentação.
S. Exa. me disse que havia telegraphado pela manhã
ao Sr. General Valladão, explicando que, pela convenção
ajustada, Sergipe em nada ficava prejudicado , porque
Sacco sempre havia sido da Bahia, que elle não estava só
e tudo combinara com homens amigos do Estado, intransi
gentes nestes assumptos , como os Drs . Manoel dos Passos
e Prado Sampaio .

Combinamos, então , verbalmente, sob palavra, manter


na fronteira o statu quo anterior ao Governo do Sr. Ge
neral Siqueira de Menezes, isto é , a linha fronteiriça que de
ha muitos annos tem sido por todos respeitada.
Em taes condições, a jurisdicção da Bahia se exer
cerá nos logares Sacco e Apertado de Pedras, desde a
Barra do Riacho Salgado ao Boqueirão dos Betes .
Esta não é a linha divisoria que nos garantem a
Resolução de 27 de Setembro de 1817 e o Alvará de 21
de Novembro do mesmo anno , que a Lei Provincial de
1871 não podia modificar, mas emfim é o que se tolerava
até 1913.

Quanto á força, ficou combinado não deital-a lá, para


não parecer que se queria coagir a população, o que fóra
um dos artigos de que tratei na Reclamação e Protesto que
tive a honra de enviar ao Exmo . Sr. General Siqueira de
Menezes, em Fevereiro deste anno. Por outro lado, eu
conhecia a este respeito as instrucções de V. Exa . e a sua
repugnancia em apparentar ou usar de força alli.
A professora nomeada para o Sacco póde ir exercer
o seu magisterio ,
244 LIMITES

Esta combinação, que estabelece a paz, a ordem e a


harmonia na fronteira, porém, só está garantida durante
o resto da administração do Sr. Coronel Pedro Freire, pelo
que urge uma providencia de ordem constitucional que
ponha a população bahiana da raia com Sergipe a coberto
de actos de conquista e arbitrio, de attentados como os
que soffreu no tempo do Sr. General Siqueira de Me
nezes , pois está provado por factos que somente a
prescripção da nossa Lei Magna federal, a qual prohibe a
conquista entre os Estados, não é freio sufficiente quando
uma administração militar a quizer tentar, diante de outra
que não tenha o apoio da situação federal.
Durante a viagem que fizemos de Coité para Anna
polis , disse-me, conversando , o Sr. Dr. Prado Sampaio
que depositava esperanças em que a questão fosse aven
tada perante a Camara dos Srs. Deputados e a dos Sena
dores, hypothese em que Sergipe tinha probabilidades de
ganho de causa, mas que não as tinha se fosse ella resol
vida pelo Poder Judiciario!
Urge, portanto, leval-a por aqui e sem demora, not
meu entender.

Bahia, 5 de Outubro de 1914.- Braz do Amaral,


DA BAHIA COM SERGIPE 245

N. 78

Trecho da mensagem do Governador da


Bahia ao Congresso Estadual em 7 Abril de
1915 communicando o que ficou combinado
entre o Dr. Braz Amaral , commisario da Bahia
e o coronel Pedro Freire em Annapolis sobre os
limites em 22 de Setembro e o que foi combi
nado entre elle Dr. Seabra, Governador da
Bahia, o General Oliveira Valladão , Presidente
eleito de Sergipe e o Dr. Braz Amaral, commis
sario da Bahia, em o dia 20 de Outubro de 1914
na cidade da Bahia em o Palacio da Acclamação
sobre a situação da fronteira dos dois Estados .

Limites da Bahia

"Não se modificou , em todo correr do anno de 1914 , a


situação dos nossos limites com os Estados visinhos por
um qualquer accordo ou decisão competente , de caracter de
finitivo . Mas, em verdade, muito melhoraram, com rela
ção ao de Sergipe e de referencia aos nossos direitos, as
condições em que se achava a pendencia antiga, trazida ao
melhor caminho , para os exames de sua reclamada solução .
Tendo enviado a esse Estado, como meu represen
tante, em Fevereiro do anno ultimo , o illustre Sr. Dr. Braz
do Amaral, que, de posse de preciosos estudos e apoiado
em irrefutaveis documentos do maior valor juridico e
historico , alli foi conferenciar com o seu digno Presidente,
coube-me o desgosto de saber que, apesar das provas exhi
bidas sobre o direito da Bahia , não merecera attenção, a lhe

motivar o energico protesto, que consenti e approvei, o


pedido feito para que fossem retiradas da Ladeira Grande,
do Sacco e do Apertado de Pedras, terras nossas , as for
ças sergipanas que, depois de invadil-as, as estavam occu
pando, com o fito de crear e estabelecer nesses logares uma
jurisdicção indebita.
246 LIMITES

Depois disto, desde que chegou ao Governo, como


Vice-Presidente do Estado , o Sr. Coronel Pedro Freire de
Carvalho, tornou - se possivel uma nova conferencia sobre
o assumpto já bastante debatido, da linha divisoria do sul

e parte do oeste de Sergipe, ficando tudo na dependencia


das instrucções, pedidas e esperadas, do Sr. General Oli
veira Valladão , já eleito Presidente desse Estado .
Em Junho, nos seus primeiros dias, a attestar a melhor
orientação do Governo visinho, tive noticia da retirada
daquellas forças, seguida de uma solicitação que logo
attendi-a de cessarem, como determinei, as feiras que se
faziam nas fronteiras . Auspicioso annuncio, esse, dos bons
desejos manifestados pela harmonia e accordo na resolu
ção das duvidas que se discutiam, felicitei-me do novo
rumo dado á questão. Não comprehendo nem admitto a
lucta entre os Estados, mesmo em litigio sobre o direito
patrimonial de seus territorios, quando sobejam na lei ost
meios de resolvel- os em paz .

A 8 de Setembro, expedido da cidade de Aracajú, teve


o Delegado da Bahia, sob a assignatura do Sr. Vice- Presi
dente de Sergipe, o convite deste telegramma, que, apenas
recebido, me foi communicado :

"Exmo . Dr. Braz do Amaral. Satis


fazendo nobres intuitos sergipanos, tenho
satisfação convidar-vos para um volver
de vistas sobre as linhas contestadas de nossas
fronteiras. Não sendo conveniente assim perma
neçam, dando lugar aos mais graves aconteci
mentos de natureza a comprometter segurança e
tranquilidade reciprocas, é de necessidade se
não adie por mais tempo qualquer medida
DA BAHIA COM SERGIPE 247

visando assegurar as relações de harmonia entre


nossos Estados . Assim desejando execução
prompta ao pensamento exposto, aguardo vossa
resposta, podendo ser o nosso encontro, para
inicio dos trabalhos, na estação do Buquim, a
18 do corrente, donde partiremos direcção Anna
polis . Respeitosas saudações . Pedro Freire. "

A questão não era bem essa , porque a Bahia nunca


contestara os limites de Sergipe , senão que esse Estado
se insurgira contra a linha dos nossos , esquecendo os actos
officiaes de seus primeiros marcos, legitimamente decreta
dos e conservados. A fórma, entretanto, do convite, envol
vendo, a lhe dominar os intuitos, um pensamento de con
cordia, não admittia recusa nem demora no que fosse
necessario a satisfazel-o .
Por esse motivo se achou o meu representante no
lugar e dia aprazados , verificando- se, a contento de todos ,
o seu encontro com o Vice- Presidente de Sergipe, que lhe
declarou o accordo do Sr. Presidente eleito para a con
ferencia de Annapolis, onde chegaram, em companhia dos
Srs. Drs. Prado Sampaio, considerado jurista sergipano, e
Dr. Manoel dos Passos, digno magistrado, ambos conhece
dores da questão, a 21 de Setembro . Alli, dois dias depois
da chegada, foi offerecida ao Delegado da Bahia a proposta
que elle me trouxe ao meu conhecimento pelo seguinte
telegramma :

"Exmo . Sr. Governador Bahia .— Annapolis ,


em 21 de Setembro 1914.- Presidente Sergipe
propõe modus vivendi até solução Congresso ou
Supremo, statu quo anterior Governo General
Siqueira. Attenciosas saudações . — Amaral. "
248 LIMITES

Assenti nesse accordo , auctorisando o meu represen

tante a assignal- o, certo de que nenhum outro o excederia


em boa amizade e ordem, mantido, todavia, na fórma da
Constituição de 2 de Julho , o seu caracter de medida pro
visoria, por se tratar de convenção com outro departa
mento da Republica .
A 24 de Setembro escreveo o Sr. Dr. Pedro Freire

ao Delegado da Bahia , datada do Engenho Mercador, a se


guinte carta :
"Exmo . Sr. Dr. Braz do Amaral. -Em
resposta á carta de V. Exa. , de hontem datada,
tenho a dizer que, agora mesmo , acabo de re
ceber do Exmo. Sr. Senador Valladão o modo de
ver do meu grande amigo, relativamente ao
objectivo que nos trouxe a estas paragens.
"É o Exmo. Sr. General Valladão de pare

cer que toda e qualquer resolução seja tomada


por meio de arbitramento , o que, penso eu , pro
moverá logo após o inicio do seu proximo Go
verno.

"Grato á gentileza de V. Exa., subscrevo


me de V. Exa. amigo e admirador (Assignado )
-Pedro Freire de Carvalho . "

No dia seguinte foi ao Coité, onde estava residindo


o Delegado da Bahia, uma commissão, composta dos Srs .
Drs . Prado Sampaio, Manoel dos Passos e Elias Leite ,
apresentar, da parte do Sr. Vice-Presidente, as suas sau
dações, mostrar o telegramma do Sr. General Valladão e
pedir uma conferencia em Annapolis, visto a Constituição
de Sergipe vedar ao seu governante a transposição da
fronteira.
DA BAHIA COM SERGIPE 249

Nesse novo encontro ficou combinado, verbalmente,


entre os representantes de Sergipe e da Bahia-“que se
não tocaria na fronteira, que esta ficaria sendo a que
pelos povos dos dois Estados havia sido sempre consi
derada como tal durante todo o seculo decimo nono,
abstendo-se o Governo de Sergipe de collocar forças alli do
lado da Bahia, livre o povo de coacção de qualquer es
pecie em materia de jurisdicção ", o que foi fielmente cum
prido, emquanto o Sr. Coronel Pedro Freire exerceu a
auctoridade de Governo, e até agora.

Quando esteve, de passagem, nesta cidade, a 20 de


Outubro ultimo, o Sr. General Valladão, que ia assumir o
cargo de Presidente de Sergipe, achei opportunidade de
The falar sobre a conveniencia de ser levantada, como ne

cessidade preliminar, uma carta da região da fronteira dos


dois Estados para ser verificada, de modo evidente, pelo
cotejo dos documentos, a existencia de todos os pontos
mencionados na delimitação da freguezia de Bom Conse
lho, feita pelo Rei, desde o anno de 1817 , freguezia da qual
foi desmembrado o actual Municipio do Patrocinio do
Coité, demarcação ,essa, que ficou sendo a raia que separa
a Bahia de Sergipe. S. Exa. declarou-me, então, que, não
conhecendo bem o delicado assumpto, ia estudal-o , deti
damente, para se pronunciar sobre elle com inteira segu
rança . Fio- me de que o Sr. Presidente de Sergipe, assim
fazendo, reconhecerá, afinal, o nosso direito e razão .

Sobre os demais Estados , que se limitam com o da


Bahia, nada aconteceu de importante, a não ser a noticia
que certa imprensa divulgou, de estar no pensa
mento do Governo de Minas a idéa de ter como sua uma
vasta faixa do territorio deste Estado , onde se acha a po
LIMITES 32
250 LIMITES
Iam a

voação da Encruzilhada, de cerca de 400 casas e mais de


5.000 habitantes .
Reclamação, até agora, nenhuma tive a respeito . Mas ,
inquirindo do caso para estudal-o e promover, quando
opportuna, a nossa defesa, pude, infelizmente, verificar

que, num destes ultimos annos , foi mandado gravar pelo


Governo de Minas um mappa desse Estado, onde a fron
teira com o nosso, no trecho que vae das nascentes do rio
Verde ao Salto do Jequitinhonha, apresenta sensivel modi
ficação, de modo a comprehender, em Minas , uma porção,
e não pequena, do territorio da Bahia.

Tenho em vista este caso para fazel-o estudar, por


competentes , com a profundeza que os outros, de Ser
gipe, Espirito Santo, Minas, Goyaz e Pernambuco, me
mereceram, e dos quaes deixará o meu Governo, em novos
e valiosissimos documentos e pareceres de muito criterio
e saber, preciosa contribuição .
Questão de justo e superior interesse da Bahia não
podiam deixar de ter, como tem tido , do que me desvaneço,
os desvelados zelos do meu maior cuidado . "

N. 79

Telegramma do Governador da Bahia en


viado na manhã de 7 de Janeiro de 1914 ao
General Presidente de Sergipe ( Veja-se do
cumento n. 38 que é a resposta do citado
Presidente ) .

Bahia , 7 Janeiro . Exmo . Presidente Sergipe, em


Aracajú.- Com verdadeira surpresa e contra as positivas
affirmações de V. Exa ., acabo de ter noticia pelo Inten
dente, Presidente do Conselho, Delegado Regional e mais
DA BAHIA COM SERGIPE 251

auctoridades municipio Coité, do territorio bahiano, que o


referido municipio se acha de novo ameaçado invasão
força policial de Sergipe, com o que não posso concordar
e no que não devo consentir. O telegramma do Sr. Inten
dente e outras auctoridades diz assim : " Resto municipio
Coité imminencia cahir poder Sergipe, que tem 50 praças
Simão Dias, Sacco, Apertado de Pedras, esperando au
xilio vosso benemerito Governo afim garantir vida, pro
priedades. Povo Coité disposto arrostar todas difficuldades.

manter integro territorio nosso glorioso Estado . " O tele


gramma do Dr. Juiz Preparador e do Delegado Regional
communica a mesma ameaça de invasão, pedindo urgentis
simas providencias contra o facto . Em complemento
ainda me communicou Dr. Salustiano Figueiredo , Dele
gado Regional, o seguinte : " Complemento primeiro tele
gramma tenho a dizer-vos achar- se augmentado destaca
mento Sacco, Apertado Pedras, cujos delegados orde
naram soldados medidas aggressivas contra qualquer au
ctoridade deste termo. Simão Dias distante 8 kilometros

deste municipio acabam chegar official praças Aracajú.


Tenho agido commum accordo Juiz Preparador sentido
impedir panico coitéenses justamente receiosos invasão. "
Tudo isto é extraordinario, ainda mais depois que o re
presentante de V. Exa. declarou que só agora o Governo
de Sergipe colhe dados mais precisos afim de estabelecer
modus vivendi questão limites provisorios entre Bahia e
Sergipe e principalmente depois que por telegramma de
clarei a V. Exa. haver confiado ao Dr. Braz do Amaral

tratar negocios limites Sergipe Bahia ad referendum Go


verno, Assembléa, interesses solução satisfactoria partes
com inalteravel harmonia dous Estados, rogando então a
252 LIMITES

V. Exa. fineza declarar opportunidade ida daquelle com


missario. Quando os direitos da Bahia aos limites que
V. Exa. contesta se firmam em numerosissimos documen
tos de irefragavel valor e tenho eu tratado este delicado
assumpto com inteira correcção e exemplar cordialidade,
é natural com a surpresa que experimento o desgosto que
me ficou das noticias que agora transmitto ao conheci
mento de V. Exa ., esperando ainda as providencias que
V. Exa. certamente não demorará para impedir a invasão
annunciada . Devo comtudo affirmar a V. Exa. que am
parado pela lei, como me acho, farei valer os referidos
direitos deste Estado por lhe manter a integridade contra
as violencias de qualquer arbitrio. Apresento a V. Exa. os
testemunhos da minha respeitosa consideração . (Assi
gnado ) —J. J. Seabra .

N. 80

Declaração dos habitantes do Patrocinio do


Coité affirmando a sua solidariedade com o
Estado da Bahia e pedindo a permanencia alli
da séde da comarca.

Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado da Bahia.- É

facto notorio que este nosso municipio do Patrocinio do


Coité, de alguns mezes para cá , tem attrahido a attenção
publica, e continúa sob a vigilante pupilla do sabio Governo
de V. Exa.
A uberdade de seu solo ainda pouco explorado , a re
lativa prosperidade de seus laboriosos habitantes, e a sua
topographia em attingencia com o visinho Estado de Ser

gipe, fizeram com que ultimamente fosse agitada por este


a questão de seus limites, com o fim de incorporal- o ao
DA BAHIA COM SERGIPE 253

seu territorio. E eis que sem demora a solicitude do vosso


tradicional patriotismo surgio em nossa defeza , tomando
na mais devotada consideração a integridade das nossas
fronteiras, manifestando-nos deste modo o interesse e o
zelo com que nos destaca.

Tres factos nos convencem do que galhardamente


alardeamos , alicerçando ainda mais a confiança que o vosso
amor patriotico nos implantou nos vossos melhores in
tuitos para com este nosso municipio : a vinda do vosso
enviado especial , o Exmo . Sr. Dr. Braz do Amaral, acon
chegar-nos aqui com a vibração de seu gesto seguro e es
perança de sua palavra confortadora ao seio da nossa glo
riosa mãe patria, a Bahia ; a transferencia da séde da co
marca de Bom Conselho para esta villa ; e a attitude de
sabio e prudente estadista, com que V. Exa. tem sabido re
ceber e levar a termo esta questão de limites, sem sacrificio
a lamentar- se da nossa segurança individual e publica.

Entretanto, Exmo. Senhor, passarão os motivos do


primeiro e terceiro planos de vossa inspiração genial ; mas
os da transferencia da séde da Comarca para aqui persis
tirão sempre. Não somente a actual situação da momentosa
causa dos nossos limites reclama a presença provisoria
nesta villa do nosso primeiro magistrado, mas sim outros
tantos motivos permanentes continuarão a exigir aqui o
seu perpetuo domicilio : a nossa visinhança com o Estado
litigante brada por uma sentinella avançada, cuja vigi
lancia não deixe escapar ás malhas da justiça e do direito
quem quer que, para declinal- os, tergiverse para outras
plagas . Não deixam de ser frequentes os attritos forenses,
aduaneiros e outros ; e , com a elevada perspicacia da nossa
auctoridade superior aqui, os nossos direitos e deveres
254 LIMITES

serão bem garantidos e respeitados ; sendo assim impossi


vel a minima invasão delles por auctoridades extranhas .
A nossa condição de proximidade com a linha telegra
phica e a estrada de ferro no visinho Estado não só faci
litam as mutuas e promptas relações officiaes com o nosso
Governo, como ainda convidam a residencia aqui dos altos
funccionarios da Comarca, que assim estarão mais em
contacto com a nossa capital.

Dentre as quatro villas constitutivas desta Comarca,


esta, apesar de mais nova, é a que mais se avantaja ás
outras, em todas as ramificações da cultura humana, ada
ptadas ao nosso meio ; e por isso, sendo a mais proxima
dos recursos offerecidos pelos centros mais civilisados , é,
portanto, a que mais se presta á residencia do Juiz de
Direito. A nossa paz interna , a nossa segura direcção
pela trilha da boa ordem entre os nossos municipes, a
nossa mesma educação civica, o nosso levantamento á
altura de cidadãos dignos do nome bahiano, e a prosperi
dade do nosso commercio e rudimentar industria, clamam
pela presença de uma atalaya amestrada , de um homem
superior, que nos imponha o respeito e o estimulo para o
verdadeiro progresso , que V. Exa. nos acenou e nos faz
esperar com aquellas esperançosas providencias.

Ainda, ha poucos dias, V. Exa . foi sabedor de quanto


vale aqui a presença do Juiz de Direito, que, na pessoa do
integro e intrepido Dr. Raul Edgard de Carvalho Passo ,
livrou-nos de talvez uma carnificina, de que quasi iamos
sendo victimas , pelo desatino de alguns soldados amotina
dos por seu commandante.
Pelo que, Exmo . Sr. Governador, nós abaixo assi-,
gnados , só tendo em mira a prosperidade de nosso muni
DA BAHIA COM SERGIPE 255

cipio e a segurança e tranquillidade do nosso Governo e

Estado, sem intuitos de prejudicar ou melindrar a susce


ptibilidade de quem quer que seja , rogamos a V. Exa . de
não recuar o passo generoso que para nós deu , e que tanto
nos encheu de confiança na sinceridade de vosso carinho
para comnosco. Rogamos, pois, a V. Exa. de conservar de
modo definitivo e perpetuo a séde da Comarca nesta nossa
villa.

É o que pedimos , é o que esperamos de vosso gesto


promettedor.
Villa do Patrocinio do Coité, 4 de Junho de 1914.
Em prol do que pede esta população- O Vigario,
Dr. João de Mattos Freire de Carvalho

Francisco Dias , Sobrinho , presidente do Conselho


Joaquim de Mattos Carregosa, negociante
Jeremias da Silva Ribeiro, negociante
Aristides Santos Lima, negociante.
José Rebello de Mattos , negociante
Febronio de Aquino, negociante
Jucundino Gonçalves Celestino , negociante
João da Fraga Dias, negociante
Aprigio Doria de Almeida, negociante
Marcionillo Prediliano de Vasconcellos , empregado
publico.
Virgilio Ferreira Lima, negociante
Demosthenes de Araujo Borges, artista
Francisco Silverio Déda, artista
José Faustino Vieira, negociante
Augusto de Vasconcellos Bittencourt, collector
Terencio Custodio, negociante
Ismael Querino da Trindade, negociante
256 LIMITES

Josaphat Gonçalves Carregosa, artista


Francisco de Assis Souza Calaça, negociante
Manoel Antonio de Araujo , negociante
Antonio de Carvalho Mattos
José Antonio dos Reis, creador
Joaquim José da Silva, artista
Galdino Custodio de Carvalho, artista

Odilon Ferreira Lima, lavrador


Miguel Archanjo de Carvalho
José Dias da Silva, lavrador
Oscar de Miranda Mattos , artista
José de Carvalho Déda, artista
José Gonçalves da Conceição
Manoel Ferreira de Almeida, lavrador
José Domingues de Sant'Anna , negociante

José Aquino de Oliveira, lavrador


Manoel Joaquim de Mattos , lavrador
José Felix de Menezes, lavrador
Hygino José de Sant'Anna, lavrador
Salustiano Domingues de Sant'Anna, lavrador
Francisco Martins Fontes, creador
Antonio Olavo Santos Lima, creador
Alipio Martins Fontes, lavrador
Antonio da Fraga Pimentel, creador
Joaquim Soriano dos Reis, lavrador
Manoel de Mattos Santa Rosa, lavrador
Lucio Rodrigues da Silva, lavrador
Mauricio José de Mattos, artista
Manoel Ferreira Lima, lavrador
Manoel José de Menczes, lavrador
Thimotheo Bispo dos Santos
DA BAHIA COM SERGIPE 257

José Antonio de Fraga, creador


Juvenal do Rosario Menezes, creador
Agostinho Ribeiro de Jesus, lavrador
Manoel Torquato de Andrade, creador
Joaquim Correia de Andrade, creador
João Fraga dos Santos, creador
Manoel Pompeu de Oliveira
Antonio José de Oliveira, lavrador
Firmino Martins Fontes , lavrador
Alexandre Rebello de Menezes
João Rabello de Moraes, negociante
José Rabello de Moraes, lavrador
Manoel Francisco dos Reis, lavrador
Hortencio Peixoto de Andrade, lavrador
Alfredo Dias de Andrade

Joaquim de Carvalho Mattos


Pedro Correia de Andrade, lavrador
Guilherme Rodrigues de Santiago, lavrador
Benicio José de Carvalho, lavrador
Pantaleão José de Sant'Anna
Manoel de Mattos Correia
Antonio Francisco Dias, lavrador
João José de Sant'Anna, lavrador
Pedro de Carvalho Mattos , lavrador
Antonio José dos Santos , lavrador
José Marcionilo dos Reis, creador
José Lino dos Reis, lavrador
João de Fraga Sobrinho , lavrador
José Joaquim de Mattos
Antonio de Fraga Carvalho, lavrador
Manoel Luzia dos Reis, lavrador
333

LIMITES
258 LIMITES

Pedro Carvalho de Andrade, lavrador


José Fernandes Costa, lavrador
Crescencio Correia de Andrade, lavrador
Aureliano Alves de Oliveira

Francisco Borges dos Santos , lavrador


Justino José Albino, lavrador
José Guimarães de Oliveira, lavrador
Marcionilo de Almeida Mattos , lavrador
Manoel A. de Moraes
João Baptista de Sant'Anna, lavrador

Jorge José do Nascimento


Caetano José de Macedo
Antonio Bernardino de Carvalho

José Ferreira de Menezes, lavrador


José Cardoso dos Santos, lavrador
Ezequiel Bispo de Araujo
Alexandre Gomes Menezes , artista
Pedro José da Silva, artista
Fructuoso Vieira Lima, artista.

Ladislau Bispo de Jesus, creador


João Laudelino dos Santos , artista
Aprigio José de Sant'Anna, artista
Isaias de Miranda Mattos, artista
Joviniano de Carvalho Santa Rosa, lavrador
Possidonio José da Conceição, lavrador
Auto Correia de Oliveira, lavrador
José Gonçalves Celestino , lavrador
João de Oliveira Bombo, artista
Benjamin Felix de Andrade, lavrador
Juvenal José de Oliveira, lavrador
Bernardino Barbosa dos Santos, artista
DA BAHIA COM SERGIPE 259

Carlos Fiel de Oliveira, lavrador


Minervino Custodio de Carvalho , artista
Deocleciano da Fraga Dias, negociante
Antonio Ramos da Silva, negociante
Posidonio Fiel de Oliveira Ramos, lavrador
Lourenço Justiniano do Nascimento, lavrador
Antonio Rebello de Moraes , creador
João de Fraga Pimentel, creador
Jeronymo Evangelista de Carvalho, creador
Deocleciano Maynard de Oliveira, creador
Faustino Ferreira Lima, creador
Antonio Pereira de Menezes, lavrador
Quintino José de Macedo, lavrador
José Gregorio da Conceição , creador
Juvencio Bispo de Jesus , lavrador
José Bispo de Jesus, lavrador
José Antonio Bispo de Jesus, lavrador
Juvenal Bispo de Jesus, lavrador
Firmino Bispo de Jesus, lavrador
Eleuterio Thimotheo da Conceição, lavrador
Benicio José Ribeiro, lavrador
José Ernesto do Nascimento, empregado publico.
N. 3. Sello 300 rs .

Pg. tresentos réis em verba, por falta de estampilha.


Collectoria Estadual da Villa do Patrocinio do Coité,
15 de Junho de 1914 .---O collector, José Sodré dos Santos.
-O escrivão, J. Nascimento.
260 LIMITES

N. 81

Pareceres do conselho ultramarino sobre a


creação de uma ouvidoria em Sergipe em que
declara o conselho que o districtos da citada
capitania se limitava a oeste pelo rio Lagarto.

Os officiaes da Camara da Capitania de Sergipe del


Rey em carta de 2 de Julho deste anno, representão a
V. M. a necessidade que tem de ouvidor letrado tribunal
provido por V. M. porque assim se evitara o grande pre
juizo que aquelle povo padecia, que como os juizes eram
homens de capa e espada, e ouvidores sem sciencia, nem
experiencia ignoravão as leis , e erão notaveis os erros que
cometião no judicial ao que tambem conduzio não terem
os ouvidores emolumento algum de que se manter e como
ordinariamente erão sem bens, se valião do cargo individa
mente com as vexações que fasião aos moradores, donde
nacia haverem continuas inquietações naquelle povo que
encontravão o serviço de Deus e de V. M. e assi lhe fazião
presente para que mandasse ver este requerimento com a
attenção que costuma e os provesse de ouvidor letrado
trienal, e o que lhe succeder tire residencia ao que acabar,
o que esperavão da Real Clemencia de V. M.

Ao Conselho parece representar a V. M. que reconhe


cendosse ser muy necessario e conveniente ao serviço de
V. M. e a boa administração da justiça dos vassalos de
V. M. que fosse cada tres annos hum dos Ministros da
Rellaçam da Bahia a todas as capitanias que são do seu
destricto para conhecer de tudo o que nellas houvesse suc

cedido por não haver os que bastavão para acudir ao


desempenho de suas obrigações, e por se não faltar a
esta tão precisa de se castigarem os delictos que se com
mettessem nestas partes , como em tudo mais que se enca
DA BAHIA COM SERGIPE 261

minhasse ao bom governo da rezão e iustiça se servio


V. M. de acrecentar mais dous Dezembargadores aquella
Relaçam do numero que havia para se empregarem nestas
diligencias, a que não podião ir assistir os outros Minis
tros pelo embaraço de suas occupações e porque em todos
se fez tão crecido o encargo dellas a respeito dos con
tinuos pleitos que se movem naquella Cidade, e outras
muitas commissões que se lhe encarregão, em que se não
podem desobrigar do exercicio dos seus logares, e seia muy
conveniente atalhar o danno que se segue, de que os povos
sintão na repetiçam dos insultos o preiuiso irreparavel da
sua perturbação ; que V. M. deve ser servido nesta consi
deração de mandar pella parte a que toca, de que se nomee
hum ouvidor da comarca da Bahia, que iuntamente sirva
de Provedor e Corregedor, e que possa hir em correição
vezitar todas as capitanias da jurisdicção e destricto da
Rellaçam e por este meyo cessarão as queixas dos povos
onde falta ministro, dando se lhe o mesmo sallario que tem
os ouvidores de Pernambuco e Rio de Janeiro com mayor
predicamento , para que este provimento se faça em Mi
nistro de mayor supposiçam, usando somente do Regi
mento que tem os ouvidores e Provedores da Comarca.
Lisboa 20 de Novembro de 1694 .
Conde de Alvor
Bernardim Freire de Andrade

João de Sepulveda
Joseph de Faria Serra

A' margem está escripto :


Tenho mandado crear de novo na terra de que se trata
hum ouvidor letrado trienal.

Lisboa 19 de Janeiro de 1695.- Principe.


262 LIMITES

Havendo subido as Reaes Mãos de V. Mag . a consulta


inclusa sobre a conta que derão os offeciaes da Camara de
Sergipe del Rey de ser muy conveniente para a boa admi
nistração da iustiça criasse hum ouvidor letrado trienal,
que servisse naquella Capitania se servio V. Mag, mandar
declarar a margem da mesma consulta que tinha mandado
criar de novo na terra de que se trata hum ouvidor letrado
trienal e venerandosse em tudo a Resolução de V. Mag.
comtudo nesta parte não pode este Tribunal deichar de
representar a V. Mag. que sendo a nomeação deste Minis
tro só para esta terra senao virá a conseguir o que se tem
exposto na mesma consulta, que sobre este particular se
fez a V. Mag. e que ficarão as mais povoações do districto
da Rellaçam da Bahia sem aquelle remedio que se pro
cura, as quais alem de serem muitas, constão de muito
mayor numero de moradores do que Sergippe a que he
preciso se atenda ; e para que a V. Mag. seja presente o
Estado em que se acha esta cidade e o de que se compoem.

Pareceu dizer a V. Mag. que a cidade da invocação


São Christovão que he cabeça daquella capitania terá du
sentos vesinhos cujas casas são de taypa em que se conta
a Igreja Matris que se a ruinou, e por este respeito mu
darão o Senhor para a Igreja da Misericordia que he de
pedra e cal, porem de telha van como são as mais das
casas, e quasi todas terreas , muitas cobertas de palha ; que
tem dous conventos, hum do Carmo e outro de são Fran

cisco, que he de taypa e pau a pique, com dez ou doze


Relligiosos, a qual capitania tem de destricto vinte e cinco
legoas, contando perto de metade que fica para a parte da

Bahia e outra de Sergipe para o rio de São Franiisco,


onde se divide da capitania de Pernambuco ; que no seu
DA BAHIA COM SERGIPE 263

destricto não tem povoação algua, porque todo he habitado


de moradores devididos por suas rosas, fasendas e curraes
e que nelle ha seis Ermidas que servem de Freguesias,
cada hua com seu capellão que elles pagão, iunto das
quaes ermidas vivem sette ou outo moradores e o mesmo
capellão sem outra algua povoação . Que esta cidade fica
mettida no certão dez ou doze legoas da barra do Rio que
desemboca no mar, vindo do certão correndo por iunto
.da mesma cidade e dista da Bahia settenta e duas legoas e
a mayor parte desta distancia de deserto excituando o Rio

Lagarto do qual corre, e se principia o destricto de Ser


gippe, ficando para a parte do sul da Bahia as
villas principaes do seu reconcavO como são Cayrú,
Camamú, Boypeba, e OS Ilheos e outros muitos habi

tantes ; e sendo o ouvidor de Sergipe somente ficarão estas


terras sem administração de iustiça, por serem do destricto
da Bahia, aos quais não pode hir Ministro da Rellaçam
como se tem apontado a V. Mag. em rezão da occupação
de seus lugares, em cujos termos : Que V. Mag. deve ser
servido, attendendo a estas razões, de ordenar que o Mi
nistro que se ouver de crear seia hum ouvidor da Co

marca da Bahia que sirva iuntamente de Provedor e Cor


regedor que possa hir em correição vesitar todas as capi
tanias da iurisdicção da Rellaçam, nas quais se contem Ser
gippe seguindo- se e praticando se com este o que a V. Mag.
tem feito presnte o conselho nesta parte. - Lixboa 9 de
Fevereiro de 1695 .

Conde de Alvor
Bernardim Freire de Andrade

assignatura quasi inintelligivel


(Tristão Guedes ) ?
264 LIMITES

João de Sepulveda
A' margem está escripto :
Vendo- se os dous pareceres que com esta consulta
baixam interporá o Concelho e responderá novamente.
Lixboa 17 de Setembro de 1695.

Assignatura Real.

N. 82

Ordem do Vice- Rey do Brazil que prova à


sua jurisdicção nas terras de Geremoabo e que
mostra ter sido o Governo da Bahia que man
teve a ordem e a paz entre os Indios e os con
servou em moradas fixas , organisando a colo
nisação e povoamento regular da terra.

"Fuy informado que o principal da nasçam dos Mun


gurús, moradores no Geremoabo, chamado Antonio Vi
cente, mandara fazer guerra aos Cariacás, que habitam nos
Tocos, de que é capitam e principal Joam de Araujo, que
aqui me veyo fazer queyxa estando a sua nasçam pacifica .
E porque convém ao serviço de Sua Magestade que
Deus Guarde, que ambos vivam em paz , tanto que V. Meê.
receber esta carta vá logo buscar o principal dos Mun
gurús elhe leia o capitulo seguinte : Diga V. Mmcê.
ao principal dos Mungurús Antonio Vicente que sey que
tomou as armas contra os Cariacás, o que não convem
a conservação de ambas as nasçoens ; que eu lhe mando,
que logo, sem detença alguma se faça amigo do
principal dos Cariacás Joam de Araujo e sua
aldeia esteja em paz com a outra e nam haja mais

signal de inimisade entre as duas naçõens, e que, se não


obedecer a esta minha ordem o mandarey degolar a elle
e a todos os Indios de sua Aldeya , para exemplo da obe
DA BAHIA COM SERGIPE 265

diencia que ham de ter todos os Indios ao que eu mando.


Mas que espero delle nam queira este castigo . E V. Mcê.
procurará por todos os meyos possiveis ajustar esta paz de
maneira que fiquem huns e outros quietos, dando-me conta
do effeito desta carta que lhe hey por mim encarregado.
Deus Guarde a V. Mcê. Bahia, 6 de Março primeiro de
1697. Dom João de Lencastro ."

N. 83

Carta do Rey de Portugal ao Vice Rey do


Brazil corrigindo o abuso de sesmarias que se
não realisavam , isto é , não se estabeleciam os
concessionarios nas terras, nem estavam nellas
nem as cultivavam , pelo que as annullava o Rey.

D. João de Lencastre- Amigo .- Eu El- Rey vos envio


muito saudar. Pelo que informou o Ouvidor da Comarca
de Sergipe de El- Rey em carta de 20 de Junho deste anno ,
como se lhe havia ordenado , constar que nos districtos de
sua comarca se acham muitas datas de terras de sesmarias

de mais leguas que as que tenho promettido se concedam


e para se evitar o damno que pode resultar aos meus vas
salos moradores neste Estado da desegualdade desta Re
partição e ainda o prejuizo que della se segue à minha fa
zenda. Me pareceu ordenar- vos façães cumprir as ordens
que se tem passado nesta materia, ordenando que os ca
pitães móres que vos são subordinados façam o mesmo e
que nas datas de sesmarias que daqui em diante se derem
se declarem que serão obrigados a pedirem-me confirmação
nos annos que parecer , segundo a distancia, em que forem
deste Reino. Escripto em Lisboa a 23 de Novembro de
1698 , -Rey .
LIMITES 34
266 LIMITES

N. 84

Copia Authentica do Termo da Creação da


Villa da Cachoeira por ordem de El - Rey . Pri
meiro livro da Camara, pagina 3 verso , indi
cando que o seu territorio comprehendia todas
as terras até o rio Real.

Aos vinte nove dias do mez de Janeiro de mil seis


centos e noventa e oito annos nesta villa de Nossa Se
nhora do Rosario do Porto da Cachoeira novamente
erigida, nas casas que são de Pascoal Nunes , onde ao
presente está pousando o Doutor Estevão Ferraz de
Campos, do Dezembargador de S. M. seu Dezembar
gador dos Aggravos e Appellações Crimes e Civeis na
Relação deste Estado do Brasil , ahi por elle foi mandado
a mim Escrivão fazer este termo , em o qual se decla
asse que elle por serviço de S. M. que Deus Guarde
deste dito Estado , inclusa no termo folhas duas havia
vindo a este Porto da Cachoeira, onde nelle com bem
placito commum consentimento de todos os moradores
delle e mais circumvisinhos havia sentado e erigido
Villa e para a magnifatura della e sua melhor conser
vação lhe mandou fincar em o meio de hum terrapleno,
que fica fronteiro ao porto de mar hum pelourinho de
páo de arco com seus varaes de ferro , e duas algemas
em ambas as partes dos varaes debaixo huma argolla
de pescosso no meio delle, com tres degráos de pedras
ou tijollo ao pé , em cujo lugar estará sempre e todo o
terrapleno que se acha devoluto ficará servindo de praça
para o uso publico dos moradores della com declaração
que a Casa da Camara audiencia e cadeia que ha de ficar
por baixo novamente se ha de edificar será fabricada

no mesmo territorio e lugar da praça da parte de terra ,


DA BAHIA COM SERGIPE 267

onde fica hum altosinho a respeito de ficar a cadeia


livre de alguma inundação de agoas que pode haver; e
para melhor se edificar a dita casa e ficar a dita praça
mais livre, serão os officiaes da Camara desta Villa obri
gados a mandar derrubar e deitar a baixo huma casinha
terrea que ha de Marcos da Cruz por ficar no meio do

dito territorio da praça, como tambem pela mesma


razão a de Manoel Fernandes de Carvalho , por estarem
desermanadas e faceis de derrubar por serem de taipa de
mão, para cujo fim o dito Dezembargador a todos os
sobreditos acima mandou logo de sua parte notificar
para dentro em quinze dias completos , que começarão
deste mesmo dia vinte nove de Janeiro, em que se lhe
fez a notificação , despejarem as ditas casas e as destruam
com a cominação de se lhes mandarem derrubar as
ditas casas as suas custas . E outro sim terão os mesmos

camaristas muito particular cuidado de mandarem no


dito lugar da praça ruar as casas que estiverem feitas ,
como tambem as que daqui em diante se houverem de
edificar, de maneira que as ruas hajam de ficar cor
deando direitamente e regulares para que os carros que
houverem de decer abaixo tenham logar de andar sem
o minino prejuizo das casas . E havendo respeito a que
era util e necessario esta dita Villa termo conveniente

para melhor se poder conservar e ajudar os moradores


que viverem afastados e quietos sujeitos e temidos as
justiças dellas e a ella venham buscar seus recursos em
seus pleitos e demandas lhe deu de Termo a esta Villa
desde o rio a que chamam de Subahuma por esta parte
da freguesia de São Domingos com a freguesia de São
Thiago, correspondente a huma e outra freguesia pelos
Mulunduz a buscar o Cae Quiabo a buscar o engenho do
268 LIMITES

coronel Pedro Garcia e dahi cortando pela mata que


divide os caminhos entre Sergipe do Conde e São
Gonçalo dos Campos da Cachoeira , cortando sempre
pela dita mata das Orisang as do logar onde mora
Francisco de Barros Lobo e dahi cortando pela estrada
que chamam do Subahuma até chegar a passagem do
Inhambupe e deste rio Inhambupe cortando direito á
praia e dahi cortando por costa até intestar com o Rio
Real, cujos moradores todos que houverem de ficar e
forem moradores desta demarcação e divisão que se dá
de termo e districto desta Villa, viverão de hoje em
diante a ella sujeitos e obrigados ás suas posturas e
jurisdição e a ella virão propor e deffender as suas
causas pleitos e demandas debaixo de se proceder contra
elles por rebeldes , com melhor parecer justiça; e a todos
os sobreditos moradores constrangerão e obrigarão os
ditos officiaes da Camara desta Villa lhe obedeção e
venhão a ella exercer os Cargos em que forão eleitos
para que forem chamados , executando com elles todas
as ordens , que sobre elles houverem de passar.
E da mesma maneira os moradores da outra parte
deste Rio Cachoeira que pertencem á freguezia de S.
Pedro , correndo para o sertão , serão tambem annexos
a esta dita Villa, sem embargo de que fossem dados á
divisão e demarcação da Villa de Nossa Senhora da
Ajuda de Jaguaripe por parecer assim conveniente a elle
dito Desembargadora respeito de seremos ditos moradores.
fronteiros a esta dita fregnezia de S. Pedro moradores
fronteiros a esta dita Villa de Nossa Senhora do Rosa

rio , aonde na mesma manhã em que a ella vem se


tornão a voltar á sua casa sem hirem a outra a que
forem dados padecerem grandes discommodos a respeito
DA BAHIA COM SERGIPE 269

do longe que lhes fica distautes, cousas que elle dito


Desembargador experimentou na jornada que fez a esta
Villa, em cuja forma e maneira para todo tempo assim
constar do referido , mandon ser feito este termo em que
commigo o aqui assigncu , ao que satisfiz . Eu Manoel
Luiz da Costa, que o escrevi . - Doutor Estevão Ferraz
de Campos.- Manoel Luiz da Costa.
Primeiro Livro da Camara de fls . 3 verso a fls . 121
Está conforme . Secretaria da Intendencia Municipal da
cidade da Cachoeira 29 de Abril de 1891. -O Secretario

Antonio Lopes de Carvalho Sobrinho.

N. 85

Carta do Ouvidor de Sergipe indicando as


dimensões do termo da villa de Santa Luzia,
fundada por elle .

Com ordem do Capm . General e Governador deste


Estado D. João de Lancastro, erigi uma villa nesta
Capitania, além das tres de que dei conta a V. M. na
frota passada . Esta ultima se fez no rio Real , parte desta
cidade 14 leguas , com o titulo de Villa Real de Santa Lu
zia, para ser erecta no sitio donde está a Egreja de Santa
Luzia, parochial do mesmo districto com muitos mora
dores . Comprehende a jurisdicção da villa o mesmo
que a sua freguezia em sete leguas de longo , quatorze
ou quinze de comprido; tem no seu districto que prin
cipia oito leguas desta cidade 80 moradores muitas
terras para mantimentos com grande largura, um en
genho de assucar na mesma villa, outras serventias ,
que para isso tem muitas mattas , pois fica com porto
de mar muito proximo donde todos Os annos vão
270 LIMITES

muitas embarcaçõens para a cidade da Bahia . Um dos


proprietarios dos officios desta cidade , que é Manoel
de Souza Azevedo , Escrivão do Judicial , Notas , Or
phãos , Cappellas e Residuos , defunctos e Ausentes ,
tomou tão a mal a erecção destas Villas pela desunião de
seus officios que sendo de presente juiz andou movendo e
induzindo alguns moradores desta cidade e termo para
escreverem a V. M. por via da Camara contra a erecção
das mesmas villas afectando razões menos verdadeiras

e ajudado do vigario desta Cidade Joseph de Arahujo


pela comodidade de ambos , querendo escurecer o bem
que resulta com as mesmas villas á utilidade publica ,
porque hum com os seus officios tirava mais de 600$000
todos os annos e nada se findava como era justo em
vista das distancias e haver muito a que acodir em forma
que tudo hia em perdição , principalmente a fazenda dos
orphãos de que se não tratava , mas somente dissipavão
seus bens com sellarios extraordinarios que nin

qua se coheceram nesta Capitania mas só o que lhe


parecia e nas escripturas que lhes avia ir fazer fora
desta cidade levavão 15 ou 20$000 e nos mais papeis
se aviam com a mesma exorbitancia o que agora conse
guem os ditos moradores mais suavemente com pouco
dispendio, porque importava mais o custo desses papeis
nesta cidade do que valião muitas das demandas pelas
distancias desta Capitania que tem de largo 30 leguas
e muito mais comprimento para o sertão . E da mesma
sorte o vigario se mostra contra a erecção das villas em
rezão de que contava os mais dos moradores para as con
frarias desta cidade com o titulo de Irmãos fazendo -lhe
pagar 3 e 4 mil a reis cada hum sem a ordem que se
deve ter nas Irmandades , e o gasta e diverte como lhe
DA BAHIA COM SERGIPE 271

parece cuja falta agora sente com os moradores das


Villas se isentarem desta violenta contribuição por
terem sua jurisdicção aparte . Este é o appa

rente zelo assim deste Vigario como daquelle Escrivão


pretenderem escorecer o acerto e catholico zelo de V. M.
com cujo fim ordenou formar as obrigações de vaçallos ,
mas tambem as de catholicos -com cuja ereção se
acham contentissimos seus moradores que agradecerão
e agradecem a V. M. a muito grande mercê que lhes
fez, e sem embargo das ditas Villas fica esta cidade com
jurisdição no termo de 12 leguas de longo e 13 de
comprido com grande numero de moradores , entanto
que os de Contenguiba que ficam distantes sinco leguas
procurão ter termo aparte e a desanexar-se desta
cidade pelo grande numero de moradores e os inconve
nieutes dos rios que tem de passar nos invernos . De tudo
dou conta a V. M. a quem Deus Grande para ordenar o
que fôr servido . S. Christovão de Mayo 30 de 1699 .
Ouvidor do Sergipe Diogo Pacheco de Carvalho .

Está conforme o original . Directoria do Archivo


Publico , 19 de Agosto de 1914. -Argeu A. de Freitas.

N. 86

Carta Regia que prova haver sido feita


sob a autoridade do Governo da Bahia a con
quista e catechese dos indigenas nas terras de
Gerémoabo, assim como a colonisação e povoa
mento , pela fixação delles em moradas certas
ou aldeias .

"Dom João, por Graça de Deus , Rey de Portugal e


dos Algarves, dáquem e dalém mar, em Africa, etc.
272 LIMITES

Faço saber ao Vice- Rey e capitão de mar e terra


do Estado do Brasil que, mandando ver no meu Conselho
Ultramarino a consulta que se fez pela junta das missões
sobre a apresentação e requerimento que me havia feito o
padre Euzebio Dias Laços Lima, em razão do serviço que
me havia feito na reducção dos tapuyanos orizes á custa de
sua fazenda e com bom successo de haver baptisado e con
vertido á nossa santa fé e á minha obediencia tres mil e se
tecentas almas dos indios da mesma naçam, os quaes conse
guiu se aldeiassem dando- se- lhe terras em que pudessem
viver commodamente, nomeando-lhes parocho com sua con
grua e ao dito padre por este serviço a graça de o nomear
administrador perpetuo da dita nação dos barbaros orizes,
novamente convertidos e para seu irmão Semeão Correia de
Oliveira o habito de Christo com duzentos mil réis de tença
effectiva e a capitania-mór de Sergipe del- Rey ; e que as
terras para se aldeiarem sejão da freguezia de Nossa
Senhora de Nazareth de Itapicurú
Me pareceo ordenar-vos me informeis se com effeito
se domesticaram , converteram e aldeiaram os mesmoS

indios e se continuam na parte e sitio ; e se este clerigo fez


estes serviços e se estão estes mesmos indios baptizados
e convertidos, e se o premio que pede para seu irmão é
conforme a grandeza e a qualidade do serviço .
El- Rey nosso senhor, o mandou por Joan Telles da
Silva e Antonio Rodrigues da Costa , conselheiros do seu
Conselho Ultramarino e se passou por duas vias."
Manoel Barbosa Brandão a fez em Lisboa ao primeiro
de Abril de mil setecentos e dezaseis.- Antonio Rodrigues
da Costa e Joan Telles da Silva. ”
DA BAHIA COM SERGIPE 273

N. 87

Trecho de uma carta do ouvidor de Sergipe


em que declara ser Abbadia da jurisdicção da
Bahia.

Senhor
A ordem inserta na enformaçam, foi expedida ao
Provedor desta Cappitania, para enformar sobre o aludido.
na petisam do supplicante o Padre Pedro de Abreu de
Lima a respeito de dizer na mesma que a Matrix de Nossa
Senhora da Abbadia de que he Vigario , está na jurisdiçam
desta ditta capittania o que não está, por estar na da Bahia,
e distante ainda daquella Villa de minha jurisdiçam donde
you para a ditta parte de anno a anno a fazer o que me
pertence e ao meu cargo .

Sitio da Estancia tres de Fevereiro de mil setecentos e


vinte e tres.

O Ouvidor Geral e Provedor de Sergipe de El- Rey.


Manoel Martins Falcato .

N. 88

Carta para o Vice Rey do Brasil em que o


Rey de Portugal refere que o Ouvidor de
Sergipe , lhe pedia, pretextando ser pequena
a sua comarca, que mandasse erigir novas em
villas em Itapicurrú , Inhampube e Abbadia e
The desse a jurisdicção dellas.

Dom João etc. Faço saber a vós Vasco Fernandes


Cezar de Menezes V. Rey e Cappitam General de mar
e terra do Estado do Brazil que o Ouvidor geral da
Cappitania de Sergipe de El Rey , Antonio Soares Pinto ,
LIMITES 35
274 LIMITES

me fez prezente em carta de 25 de Dezembro do anno


passado de que servindo de Governador desse Estado
D. João de Lancastre fora eu servido mandar dous ouvi
dores hu para essa cidade e outro para a de Sergipe de
El Rey, ordenando ao dito Governador lhe declarasse
a divizão de suas commarcas e jurisdições , e que em
virtude da dita minha Real Ordem declarara as ditas
divizões dividindo a dita commarca de Sergipe de El
Rey e sua jurisdição athe onde chamão.Itapuão para a
parte do Sul e para a parte do Norte athe o Ryo de
São Francisco , e que andando em correyção se lhe fi
zera queixa de que nos lugares chamados Tapicurú ,
Anhambupe , Abbadia , Ryo Real e suas vizinhanças , se
tinhão feito muitas mortes e outros varios delictos e
que por rezão desta queixa e por estar dentro nos li
mites da divizão da sua commarca entrara a querer de

vassar e correger aquelles povos e os achara alterados


e rebeldes sem lhe quererem obedecer e que passados
poucos dias se lhe aprezentara hu despacho vosso pelo
qual lhe ordenaveis , se abstivesse e não metesse a fouce
na seara alhea, por cujo respeito suspendera a dita dili
gencia, e que a rezão que houvera para este procedi
mento fora o mandar eu erigir a Villa da Cachoeyra ,
e havendo de se lhe dar termo se não satisfizerão
dentro dos limites da commarca da Bahia a quem ficou
sugeita, mas ampliando-a sem necessidade lho derão
dentro do dito termo da divizão da comarca de Ser

gipe hua parte de 60 legoas , e por outras partes menos ,


tirando -lhe toda extenção de terra deixando- a somente
com 20 legoas de termo , que tantas são da cidade athe
o Rio Real a onde põem termo, o que foy dado a dita
Villa da Cachoeyra , ficando esta com mayor extenção
DA BAHIA COM SERGIPE 275

de termo de jurisdicção , do que tem a commarca de


Sergipe, e que deste procedimento tem rezultado não
se poder administrar justiça , nem serem castigados
muito delinquentes , vivendo tão absolutos que se acou
tão para os ditos lugares , não conhecendo mais Ley
que a das suas vontades , e para os ditos povos viverem
com algua obediencia , era muito conveniente ao serviço
de Deus , em eu mandar fazer Villas nos ditos lugares
Itapicurú, Anhambupe e Abbadia por terem capaci
dade para isso , e que estas fiquem sugeitas á Cappita
nia de Sergipe de El Rey, porque como ficão mais
perto da dita Cidade , poderão os ditos povos ser mais
bem corregidos e conheceremse os seus procedimentos ,
e evitaremse os insultos que se cometem Me pareceo or
denarvos informeis sobre a conta que me dá este Mi
nistro , interpondo o vosso parecer . El Rey nosso
Senhor o mandou por João Telles da Sylva e Antonio
Roiz da Costa, Conselheiros do seu Conselho Ultra
marino e se passou por duas vias . Dionizio Cardozo
Pereira a fez em Lixboa Occidental a 5 de Junho de
1725.
Está conforme o original . Cartas da Bahia - L°
3.º1714 a 1726-fl . 466 v.º Lisboa 10 de Janeiro de 1913 .
-01 .° Bibliotecario- Director , Eduardo de Castro e
Almeida.
276 LIMITES

N. 89

Carta em que o Rey de Portugal approvou


a divisão dos districtos das ouvidorias da Bahia
e Sergipe pelo rio Subahuma.

Livro 6º . das Cartas Regias— ( Archivo Publico da


Bahia ) .

D. João, por Graça de Deus, Rey de Portugal e dos


Algarves, etc.
Faço saber a Vós , Vasco Fernandes Telles de Me
nezes, Vice -Rey e Capitão General de Mar e Terra do
Estado do Brasil que se vio a conta que me déstes em carta
de 15 de Setembro do anno passado de que mandando na
forma de minhas ordens de 24 e 28 de Abril de 1724 erigir
villas nos logares do Inhambupe, Itapicurú e Abbadia en
carregareis esta diligencia ao Ouvidor Geral da Comarca.
da Cappitania de Sergipe d'El- Rey, o qual excedendo a
ordem que lhe expedireis, destinou por termo a villa de
Abbadia athé a Itapoan , 4 legoas distante dessa Cidade, por
cuja causa e por requerimento dos moradores da Torre,
em que vos representaram o prejuiso e veixação que rece
bião na sujeição daquella villa por não terem para ella
trato ou commercio algum, e só sim para essa Praça man
dareis reformar a dita divisão , ordenando que para a parte
da Bahia servisse de limite a hum e outro termo o Rio

Subahuma para que com a minha resolução se fique evi


tando toda a duvida e pertenção em qualquer tempo, se
gurando -me que de qualquer novidade se segue aquelles
moradores muitos mayores damnos do que os que eu pro

curey evitar com a creação da dita Villa, em cuja attenção


sou servido approvar a disposição que nesta parte man
dastes observar sobre a dita divisão e para que a todo
DA BAHIA COM SERGIPE 277

tempo conste o que neste particular determiney, fareis com


que se registre esta minha ordem nos livros da Secretaria
desse Governo e nas mais partes onde convier ; e para que
se possa ter melhor conhecimento destes districtos e situa

ção em que ficão as ditas villas e o que comprehendem de


terra, mandareis faser pelos engenheiros que ha nessa
praça mappas de tudo .
El- Rey Nosso Senhor o mandou por Antonio Rodri
gues daCosta e o Dr. Joseph de Carvalho Abreo Conse
lheiros do seu Conselho Ultramarino e se passou por duas
vias. Antonio de Cobellos Pereira a fez em Lisboa Occi
dental a 27 de Abril de 1726. O secretario Antonio Lopes
de Lavre a fez escrever .-Antonio Rodrigues da Costa—
Joseph de Carvalho Abreo.

N. 90

Carta do Rey de Portugal remettendo ao


Vice - Rey do Brasil a petição em que os mora
dores de Abbadia reclamam para ser conser
vados na jurisdicção da Bahia a que sempre
haviam pertencido e mandando que informe
sobre a reclamação .

Dom João , etc. Faço saber a vós Vasco Fernandes


Cesar de Menezes , Vice Rey e Cappitam general de
mar e terra do Estado do Brazil que por parte dos mo
radores do Rio Real de Cima da Beira do dito Rio para
a parte do Sul e os Itapicurú de Cima, huns e outros
freguezes da freguezia de nossa Senhora da Nazareth
se me fez a petição ( cuja copia com esta se vos envia )
em que pedem os mande concervar no termo da Villa
da Cachoeyra a que estiverão sempre sogeitos e que as
justiças da comarca de Sergipe não possão executar
278 LIMITES

jurisdição algua do dito Rio Real para a parte do Sul


me pareceo ordenarvos informeis com vosso parecer.
El Rey nosso Senhor o mandou por Antonio Roiz da
Costa Conselheiro e Dr. Joseph Gomes de Azevedo ,
Conselheiros do seu Couselho Ultramarino e se passou
por duas vias . João Tavares a fez em Lixboa occidental
a 20 de Novembro de 1726 .
Está conforme o original . Cartas da Bahia . Livro
3.º 1714 a 1726. fl . 511 v.º Lisboa, Arquivo de Ma
rinha, e ultramar 10 de Janeiro de 1913. - 0¸ 1. ° Bibli
otecario Director, Eduardo de Castro e Almeida.

COPIA da Petição dos habitantes de Abbadia .


Disem os moradores do Rio Real de Sima da
Beira do dito Rio para a parte do Sul e juntamente.
os do Itapicurú de Sima huns e outros fregueses da
freguezia de Nossa Senhora de Nazareth , cita no
mesmo certão de Itapicurú que elles sempre viverão
"
sujeitos e muitos obedientes ás justiças de V. Mages
tade que Deus guarde na cidade da Bahia desde a
sua fundação por servir o mesmo Rio Real de divisão
aos termos da cidade da Bahia e da de Sergipe , ficando
o termo da cidade da Bahia do dito Rio para
a parte do Sul e o da cidade de Sergipe do mesmo
.
Rio para a parte do Norte , divisão assentada entre
as duas cidades desde a sua primeira fundação ,
e nesta forma tiverão sempre os supplicantes a

obediencia das justiças da cidade da Bahia athé o


tempo em que V. Magestade houve por bem do seu
Real serviço mandar criar villas na mesma comarca da
cidade da Bahia entre as quaes villas foy hua a que
chamão a Villa da Cachoeyra , a qual se signalou por
DA BAHIA COM SERGIPE 279

termo athé o Rio Real que serve de dívisão com o de


Sergipe e nesta forma ficarão os supplicantes sempre na
comarca da Bahia , sujeitos á villa da Cachoeyra e na sua
obediencia se tem conservado ; e querendo os Ouvidores
de Sergipe por varias vezes exceder o seu termo em
passar o dito Río Real para a parte do Sul , nunca pelos
Governadores Geraes do Estado lhe foi coneedido e ulti

mameute vindo por ouvidor de Sergipe o Doutor


Antonio Soares Pinto , este persuadido do capitão- mór
Antonio Velanes , homem rico e malevolo só a fim de
que para cobrar dividas suas por morar no termo de
Sergipe e querer obrigar nelle alguns moradores do
termo da dita villa de Cachoeyra trouxe para sua casa ao
ditto ouvidor para que della tomasse posse da dita fre
guezia para sua jurisdicção fasendo tirar devaçãs no
termo alheyo , mandando athé pelos seus officiaes notificar
testemunhas de factos acontecidos no districto da sobre

dita villa , como foy de huma pequena ferida que deu


hu negro do capitão major João de Oliveira em mão de
hu Pardo ferreiro e sendo no mez de Novembro de mil

settecentos e vinte e quatro foy o ditto ouvidor acom


hanhado do mesmo capitão Antonio Velanes para a ditta
frêguezia de Nossa Senhora de Itapicurú entrando
na Povoação della em hua tarde com grande estrondo de
tiros e no outro dia de manhã mandou o mesmo ouvidor
pelo seu escrivão lançar hum termo para que alguns
dos supplicantes assignassem nelle em como se sujei
tavam á jurisdicção de Sergipe e não quizerão assignar
e mandando seu Meyrinho prendellos se recolherão
dentro a Igreja Parochial donde os mandara tirar ao que
acodio o Vigario della protestando pela imnumidade e
por ter provisão de vigario da vara mandando pelo seu
|

280 LIMITES

Meyrinho intimar o ditto protesto ao ouvidor lhe cobrou


a vara e mandou amarrar com cordas , dizendo ser para
o castigar asperamente e o ditto cappitao Antonio Ve
lanes persuadindo aos supplicantes obedecessem a assi
gnar o ditto termo pelo ouvidor ter para isso ordem de
V. Magestade aqual os supplicantes pedião para a verem
e não lhe sendo mos- trada duvidarão ; termos em que o
mesmo capitao lhes comessou a fazer outra persuazão
que dessem cento e cicoenta cruzados que elle faria com
que o ouvidor os deixasse , alliás ficarião perdidos para
sempre, o que os supplicantes não quiserão admittir, e
no silencio da noute desertarão e logo recorrerão com
petição ao Vice -Rey e Capitao General do Estado que
os despachou declarando que o ditto ouvidor não devia
se entrometter na jurisdicção alheya e quando para isso
tivesse ordem de V. Magestade lh'a apresentasse , e
pondo os supplicantes o ditto despacho em mão do
Capitao mór João de Oliveira por morar á bordo do
mesino Ryo Real no termo da mesma Villa de Cacho
eyra, para que querendo passar a elle o ditto ouvidor
ou algu official seu ho intimasse mandou o mesmo
Ouvidor hum alcayde e seu escrivaõ a fazer aprehensão
em bens do mesmo capitao e na propria vaga de mil
cento e cincoenta cruzados que tanto dizia importar a
devaça que tirou do ferimento que fez o negro do capi
tao mayor o Pardo Ferreiro e não o achando em
caza, o alcayde lhe arrombou huma janella da caza
e entrando dentro della roubou e entre o mais que
levou foy o despacho do V. Rey, e como os suppli
cantes timidos d'estas insolencias e das mais que o
mesmo Ouvidor tem feito na sua comarca receas que com
affectados requerimentos pessa a V. Magestade lhe am
DA BAHIA COM SERGIPE 281

plie a jurisdicção athé aquella freguezia afim de vin


gar-se dos supplicantes e só ficarão livres deste receio
com o despacho de V. Magestade para a sua guarda e
segurança . Pedem a V. Magestade lhes faça mercê
mandallos conservar no termo da villa da Cachoeyra a
que sempre estiverão sobjeitos e que as justiças da co
marca de Sergipe não possão exercitar jurisdicção algua
do dito Rio Real para a parte do Sul , pois delle para o
Norte tem muito mayor distancia de termo do que a
cidade da Bahia, ainda botando o rumo de Leste a
Oeste da nascença do ditto Ryo Real de S. Francisco
que divide a capitania de Pernambuco com a dita da

Bahia . E. R. Mcê André Lopes de Lavre.-Está con


forme.

N. 91

Carta da Vice-Rey do Brasil communicando


que, attendendo á reclamação dos habitantes
de Abbadia, deferira o pedido delles que querião
ser conservados na juridicção da Bahia, autho
risado pela Provisão de 13 de Maio de 1724.

Livro XXIII . O. R. Archivo Publico da Bahia.

Senhor- Em observancia da provisão de V. Mages


tade de 28 de Abril de 1727 mandey crear villa na Fre
guezia de Nossa Senhora da Abbadia, encarregando esta
diligencia ao Ouvidor da Capitania de Sergipe d'El - Rey,
por ficar annexa a sua comarca, na forma da ordem de
V. Magestade .
E porque attendendo V. Magestade ao justo requeri
mento que lhe fiserão aquelles moradores representando
lhe ( como tambem me fiseram) o prejuiso e veixação que
recebiam ficando sojeitos á correyção daquella comarca,
ILMITES 36
282 LIMITES

assy por lhes ficar mais perto e conveniente o recurso desta


Cidade por conduzirem para ella os seus effeitos por terra ,
e por mar, comprando aqui o de que necessitavão para
provimento de suas casas , e que fasião e vendião os ditos
effeitos, ao mesmo tempo que tratavão das pendencias
judiciaes que tinhão por aggravo ou appellação , o que lhes
não succedia em Sergipe d'El- Rey onde só de proposito
havião de hir sem mais negocios, porque nenhu tinhão para
aquella parte, como porque sendo huns pobres moradores.
que vivião cuidando só nas suas lavouras com muyto so
cego e quietação, sem que entre elles houvesse discordias,
nem aly succedessem mortes, roubos, nem outros insultos
como me era notorio, tinhão tal receyo das justiças de Ser
gipe d'El- Rey pellas veixaçõens que fiserão naquelle dis
tricto , e em outros, a que eu acodira com o remedio depois
de me representarem a sua queyxa, que mais facil con
veniente lhes ficava sendo o mudarem-se para outra parte

com descommodo de suas familias e prejuisos de seus in


teresses que já tinham estabelecido nas roças e plantas de
que vivião, do que estarem sujeitos a semelhantes veixa
çõens com recurso tão dilatado ; foy V'. Magestade servido
dar a esta queyxa a providencia que se fasia preciso orde
nando-me por Provisão de 13 de Mayo de 1727 fisesse
conservar aquelles moradores no estado em que estavão,
que era na sujeição desta Comarca, assy o mandei exe
cutar e com esta resolução estão socegados e satisfeitos,
sem que della se siga desserviço algum de V. Magestade,
mas antes ser melhor obedecido e executadas as ordens de
seu Real serviço, cujas circumstancias me obrigão a por
tudo na presença de V. Magestade antes de mandar exe
cutar o que novamente me ordena, para que ponderada
DA BAHIA COM SERGIPE 283

esta queyxa que hé justificada e as rezoens do ouvidor de


Sergipe que forão apayxonadas com o interesse de estender
mais a sua jurisdicção e por se vingar daquelles que me
fiserão requerimentos , queyxando - se de seus excessos e de
entrar naquelle districto que não lhe pertencia, resolva o
que for servido. A Real Pessoa de V. Magestade Guarde
Deus Nosso Senhor, como seus vassallos havendo mister.
-Bahia e Julho 23 de 1728.- l'asco Fernandes Cesar de
Menzes.

N. 92

Carta em que o Rey de Portugal approvou


e manteve o despacho do Vice- Rey do Brasil
que, attendendo a reclamação dos habitantes
de Abbadia, os separou da jurisdicção do ou
vidor de Sergipe.

Livro 23 , Ordens Regias, f. 66 ( Archivo Publico


da Bahia ) .
Dom João etc. Faço saber a vós Vasco Fernandes
Cezar de Menezes , V. Rey e Cappitam General de mar
e terra de estado do Brazil , que se vio o que respon
destes em carta de 20 de Julho do anno passado a
ordem que vos foi sobre informardes no requerimento
que me fizerão, os moradores do Rio Real da Praya,
freguezia de Nossa Senhora da Abbadia em que me
pedião Provizão para que o Ouvidor geral de Sergipe os
não inquiete , nem possa exceder o seu termo , ficando os
supplicantes concervados no dessa cidade sobre o que
interporeis o vosso parecer ouvindo o dito Ministro;
reprezentando - me que sem embargo de haverdes já de
ferido ao requerimento destes moradores na forma que
pedem para que estejão livres das vexaçõens que expe
284 LIMITES

rimentavão do Ouvidor de Sergipe Del Rey comtudo


na forma que eu ordeno o ouvireis e informareis com
vosso parecer fazendo que entretanto se observe o

vosso despacho Me pareceo dizer-vos que espero do


vosso zello que nesta parte observeis o que prometeis .
El Rey Nosso Senhor o mandou por Antonio Roiz da
Costa e o Dr. Joseph de Carvalho Abreu Conselheiros
do seu Conselho Ultramarino e se passa por duas
vias. Antonio de Cobellos Pereira a fez em Lixboa occi
dental a 4 de Fevereiro de 1729.

Está conforme o origenal. Registo de Cartas da


Bahia-vol- 4 . 1726-1731 -A . 26 v. ° Lisboa, Arquivo de
Marinha e Ultramar, 16 de Janeiro de 1913. - O 1. °
Bibliotecario- Director , Eduardo de Castro e Almeida.

N. 93

Carta em que o Vice- Rey do Brazil declara


não convir que Abbadia e Itapicurú fiquem sob
a jurisdicção de Sergipe pelos excessos que os
officiaes daquella capitania costumavão praticar
contra os povos das duas villas citadas e com
que os ameaçavão pelas inimisades que entre
uns e outros se tinhão formado.

Livro 28 , Ordens Regias, fl. 18- (Archivo Publico da


Bahia ) .

Senhor Varias vezes tenho representado a V. Ma


gestade que o ouvidor Geral desta comarca não pode cor
rigir todas as villas della , por cuja causa , não tem hido ás
das capitanias do Sul nem as da Jacobina, Ryo de Contas,
Itapicurú e Abbadia, pois com grande trabalho faz a cor
reyção das do Reconcavo em que tem muito que fazer.
E porque desta falta se seguem muitos disturbios , e
DA BAHIA COM SERGIPE 285

procederem os juizes e os officiaes com menos attenção á


ley, dando occasião a repetidos clamores, se faz preciso que
Vossa Magestade tome neste particular a providencia ne
cessaria e respeitando ao que os moradores do Itapicurú e
Abbadia me representaram quando se erigiram aquellas
villas, me parece que de nenhuma maneyra devem ficar
sogeitos ao ouvidor de Sergipe d'El- Rey, por não experi
mentarem os excessos com que pelos officiaes daquella
Capitania erão ameaçados e actualmente o são por inimisa
des que contrahiram com a sua visinhança e dependencias.
A Real Pessoa de V. Magestade guarde Deus Nosso
Senhor como seus vassalos havemos mister. Bahia e Junho
22 de 1731 - Conde de Sabugosa.

N. 94

Carta do Vice - Rey, Conde de Sabugosa,


ponderando ao Rey a necessidade de acudir
com a distribuição da justiça á Itapicurú ,
Abbadia, Ilhéos, Jacobina , Ryo das Contas e
Porto Seguro, a difficuldade de fazer todas estas
correyções o ouvidor da Bahia e a urgencia que
tivera de fazer este magistrado seguir para
Abbadia e Itapicurú a proceder as devassas de
certos abusos que alli se havião dado.

Livro 29- Ordens Regias fl 86 (Archivo Publico.


da Bahia ).

Senhor. É sem duvida que o Ouvidor Geral da


comarca desta cidade não pode acudir á correyção de
todas as villas della , por cuja causa se acham sem este
beneficio ha muitos annos as das capitanias de Porto
Seguro, Ilheos , e tambem as do Ryo de Contas e Jaco
bina, e por esta razão representey a V. Magistade
varias veses quanto se fazia preciso ao seu Real serviço
286 LIMITES

e boa administração da justiça a creação de outro ou


vidor , dividindo- se em duas esta comarca , e como os
disturbios e desordens continuavão com excesso nas

Villas do Itapicurú e Abbadia , ordeney ao dito Ouvidor


que com effeito as fosse corrigir para emendar alguns
abusos e tirar varias devassas de casos que carecião de
mayor averiguação, com o que espero se emendem
aquellas desordens , porem como este remedio não é o
que basta por se não poder continuar annualmente, e
V. Magestade não foi servido tomar a resolução de
mandar crear novo Ouvidor, me parece que a correyção
das ditas villas senão separe desta Comarca pelos mo
tivos que já tenho exposto a V. Magestade e para que
não padeção, deve V. Magestade ordenar que o Ouvidor
Geral da Comarca desta cidade se não demore em cada

hua dellas mais tempo do que o que lhe determinou a


ley porque com outras diligencias dos defuntos e ausentes,
capellas e residuos se costumão demorar muitos meses
nellas e que hão de apresentar certidão porque conste
forão em correyção as capitanias de Porto Seguro ,
Ilheos , Jacobina e Ryo das Contas, ao menos hua vez no
tempo dos seus lugares, e que sem a dita certidão se
lhes não sentenceie a sua residencia porque só nesta
forma cuidarão em repartir o tempo de sorte que satis
fação em tudo a sua obrigação .

A Real Pessoa de V. Magestade guarde Nosso


Senhor, como seus Vassallos havemos mister- Bahya e
Setembro 15 de 1732 - Conde de Sabugosa.
DA BAHIA COM SERGIPE 287

N. 95

Carta do Rey de Portugal ao Vice - Rey do


Brazil mandando que declare a providencia que
se devia tomar para occorrer á necessidade de
haver prompta justiça em Itapicurú e Abbadia,
onde o ouvidor da Bahia não podia ir com fre
quencia fazer correyção, acceitando a proposta
da creação de uma nova ouvidoria e ordenando
a indicação da séde da mesma.

Livro 31 Ordens Regias fl 67 ( Archivo Publico da


Bahia )
Dom João, etc. Faço saber a vós , Conde de Sa

bugosa, Vice-Rey e Capitão General de mar e terra


do Estado do Brasil que se vio o que respondestes em
carta de 15 de Setembro do anno passado a ordem que
vos foi sobre declarardes a providencia que se devia dar
acerca da comarca a que devem ficar sujeitas as villas
do Itapicurú e Abbadia; representando-me que é sem
duvida que o Ouvidor dessa comarca da Bahia não
podia acudir á correyção de todas as villas della, por
cuja causa me tinheis insinuado o quanto se fazia
preciso dividir-se em duas essa comarca , e como os dis
turbios е desordens continuavam com excesso nas villas

de Itapicurú e Abbadia ordenareis ao dito Ouvidor as


fosse corrigir para emendar alguns abusos e tirar varias
devassas de casos que carecião de mayor averiguação ,
porem como este remedio não era o que bastava, por
se não poder continuar annualmente e eu não fuy ser
vido crear novo Ouvidor, vos parecia que a correvção
das ditas villas se não separe dessa comarca , e para

que não padeção a mais tão prejudicial damno devia eu


ordenar que o Ouvidor Geral da Comarca dessa Cidade
se não demore em cada huma dellas mais tempo do que
288 LIMITES

o que lhe determina a ley; porque com outras diligen


cias dos defuntos e ausentes , capellas e residuos se
costumao demorar muitos meses nellas e que hão de
apresentar certidão porque conste forão em correyção as
capitanias de Porto Seguro , Ilhéos , Jacobina e Rio
das Contas , ao menos huma vez no tempo dos seus
lugares , sem a qual certidão se lhes não sentencie a sua
residencia; porque só nesta forma cuidarão em re
partir o tempo de sorte que satisfação em tudo a sua
obrigação;
Me pareceo dizer-vos que os Ouvidores neces
sariamente hão de tomar as contas dos testamentos ,
capellas e residuos , defuntos e ausentes em cada huma
das terras de sua comarca e fazer nellas outras dili

gencias , para que é necessario tempo , e para se dar


expedição a estas diligencias é mais conveniente crear
a nova Ouvidoria para o Sul e para se me faser pre
sente sou servido ordenar-vos informeis com o vosso

parecer, declarando de que terras se deve compor esta


nova Ouvidoria e aonde deve ser a residencia do Ouvidor .

El-Rey Nosso Senhor o mandou por Gonçalo Ma


noel Galvão de Lacerda e o Dr. Alexandre Metello de
Souza e Meneses , Conselheiros do seu Conselho Ultra
marino e se passou por duas vias . Bernardo Felix da
Silva a fez em Lisboa occidental a 29 de Julho de 1733.
O Secretario Manoel Caetano Lopes de Lavre a fez
escrever --Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda―Ale
xandre Metello de Souza e Menezes.
DA BAHIA COM SERGIPE 289

N. 96

Carta do Vice-Rey, Conde de Sabugosa,


declarando que a providencia a tomar para que
não faltasse justiça em Abbadia e Itapicurú
era crear a nova ouvidoria da Jacobina, anne
xando a mesma ouvidoria as Minas Novas.

Livro 31 -- Ordens Regias ( Archivo Publico da


Bahia. )
Resposta Senhor-Não ignoro que os Ouvidores
Geraes necessariamente haõ de tomar conta dos testa
mentos , capellas e residuos e ausentes em cada hua das
terras da sua comarca, e que para este effeito , e para
as mais diligencias que pertencem ao seu ministerio ,
The é necessario tempo ; porem não me basta este conhe
cimento para me livrar do reparo que justamente devo
fazer, vendo o Ouvidor actual já com dous annos e
nove meses de exercicio , sem ter ainda corrigido hua
só vez as oito villas do Reconcavo , porque se acha na
de Santo Amaro e lhe faltão a de São Francisco de
Sergipe do Conde e a da Abbadia , onde não foi e só
mandou hir a do Itapicurú os juizes e officiaes da
Camara della, e nesta fez a correyção de ambas , dila
tando - se tão pouco por serem mais agrestes e distantes
que não hera possivel concluir tudo quanto ahy havia
principalmente sendo a primeira correyção que se
lhes fez depois de sua creação , concorrendo mais para
o meu reparo terem os Ouvidores que antecedente
mente servirão e corrigirão , corrigido todas as villas do
Reconcavo tres veses no tempo dos seus logares .
Pelos referidos motivos se faz agora mais que
nunca preciza a divisão desta comarca e a criação do
novo Ouvidor; e parece-me que a assistencia deste seja
LIMITES 37
290 LIMITES
---

na villa de Jacobina que tem mais de 100 leguas de


districto em que se comprehende o rio de S. Francisco ,
onde lhe não faltará o que fazer por ser a parte que
busca-o por asylo os criminosos .
A Villa de N. S. Livramento das Minas de Ryo
de Contas que tem em tudo egual districto se lhe podem
annexar as Minas Novas que lhe ficão immediatas ti
rando - se a correyção dellas a Comarca de Serra do Frio ,
onde se annexarão interinamente por ordem de V.
Magestade, attendendo a difficuldade que havia, para
serem corrigidas pelo Ouvidor Geral desta cidade ,
porque só desta maneira terá respeito a justiça e se
castigarão os delinquentes .A Real Pessoa V. Magestade
Guarde Deus Nosso Senhor como todas os seus vassallos
havemos mister- Bahya e Maio 13 de 1734 - Conde de
Sabugosa.
Livro 39 Ordens Regias fl . 196

N. 97

Parecer do Conselho Ultramarino acerca da


proposta do Vice - Rey ao Brasil para que fosse
creada a nova Ouvidoria da Jacobina para acudir
á correyção de Abbadia, Itapicurú, Jacobina,
Ilhéos, Porto Seguro e Rio de Contas.
Ao parecer acompanha o despacho do Rey
approvando a creação da nova Ouvidoria.

E dando -se vista ao Procurador da Coroa respondeo


que para se annexar a Villa da Abbadia a Comarca de

Sergipe de El Rey ha as inconveniencias que repre


zenta na conta incluza o Vice Rey da Bahia mas

mayor he o ficarem estas villas em tanta distancia que


não pode hir o ouvidor da Bahia em Correição e ellas e
a providencia que dá a entender o Vice Rey he fazerse
DA BAHIA COM SERGIPE 291

hña Ouvidoria separada o que deve declarar ou o meyo


porque se podem evitar hum e outro inconveniente .

Com esta resposta se tornou ordenar ao Vice Rey


informasse com seu parecer declarando a providencia
que se deve dar nesta materia para que estes Povos
tenhão boa administração de Justiça pois que elle Vice
Rey conhecia não podia fazer aquella Correição o Ouvi
dor da Bahia o que satisfes em carta de 15 de Setembro de
1732 dizendo que he sem duvida que o Ouvidor geral da
comarca daquella cidade não pode acudir a Correição de
todas as Villas della por cuja cauza se achão sem este
beneficio ha muitos annos as duas Cappitanias de Porto
Seguro e Ilheos , e tambem as do Rio das Contas e Ja
cobina, e por esta razão reprezentara a V. Magestade
varias vezes quanto se fazia precizo ao seu Real serviço ,
e boa administração da Justiça a creação de outro Ou
vidor dividindo-se em duas aquella Comarca , e como
os disturbios , e desordéns continuavão com execesso
nas Villas do Itapicurú e Abbadia ordenara ao dito Ou
vidor que com effeito as fosse corrigir para emmendar
alguns abuzos , e tirar varias devaças de cazos que care
cião de mayor averiguação com o que espera se emmen
dem aquellas desordens; porem como aquelle remedio
não he o que basta por se não poder continuar annual
mente e V. Magestade não foi servido tomar a rezolução
de mandar crear novo Ouvidor lhe parecia que a Cor
reição das ditas Villas se não separem daquella Comarca
pelos motivos que já tinha exposto a V. Magestade, e .
para que não padeção estas e as mais tão prejudicial
damno deve V. Magestade ordenar que o Ouvidor geral
da Comarca daquella Cidade se não demore em cada
hua dellas mais tempo do que o que lhes determina a
292 LIMITES

Ley porque com outras diligencias dos defuntos e au


zentes, Capellas e Reziduos se costumão demorar
muitos mezes nellas , e que hão de aprezentar certidão
porque conste forão em Correição as ditas Capitanias de
Porto Segurc, Ilheos , Jacobina e Rio das Contas ao menos
hua vez no tempo dos seus lugares , e que sem a certidão
se lhe não sentencee a sua rezidencia porque só nesta
forma cuidarão em repartir o tempo de sorte que satis
fação em tudo a sua obrigação .
E tornando-se a dar vista ao Procurador da Coroa
respondeo que os Ouvidores necessariamente em cada
hua das terras da Comarca hão de tomar as contas dos
testamentos , e capellas por serem juntamente Prove
dores e hão de pôr em arrecadação as fazendas dos de
funtos e auzentes , e fazer outras diligencias para que
he necessario tempo o qual lhe não pode limitar , e se
faz precizo a divizão da Comarca da Bahia e a creação
de outro Ouvidor para a parte do Sul o que se devia
reprezentar a V. Magestade.
E dizendo-se ultimamente ao Vice Rey por Provi
zão de 23 de Julho do anno passado que os Ouvidores
necessariamente hão de tomar as contas dos testamen
tos Capellas Reziduos , e defuntos e auzentes em cada
hua das terras da sua Comarca, e fazer nellas outras
diligencias para que he nessario tempo e para se dar
expedição a estas deligencias he mais conveniente crear
a nova Ouvidoria para o Sul e para fazer presente V.
Magestade informasse com o seu parecer de que terras
se deve compor esta Ouvidoria e aonde deve ser a
rezidencia do Ouvidor satisfes o dito Vice Rey em carta
de 13 de Mayo deste prezente anno em que dis não
ignora que os Ouvidores geraes necessariamente hão de
DA BAHIA COM SERGIPE 293

tomar conta dos testamentos Capellas Reziduos e


auzentes em cada hua das terras da sua Comarca ,
que para este effeito , e para as mais diligencias que
pertenɔem ao seu ministerio lhe he necessario tempo ,
porem não lhe basta este conhecimento para o livrar
do reparo que justamente deve fazer vendo o Ouvidor
actual já com dous annos ; e nove mezes de exercicio

sem ter ainda corregido hua só ves as outo Villas do


reconcavo porque se acha na de Santo Amaro, e lhe
faltão a de São Faancisco de Sergipe do Conde , e da
Abbadia aonde não foi , só mandou hir a de Itapicurú aos
Juizes e officiaes da Camera della , e nesta fez a Correi
ção de ambas dillatarse tão pouco ( por serem mais
agrestes , e distantes ) que não era possivel concluir
tudo quanto aly havia que fazer , e principalmente sendo
a primeira correição que se lhe fez despois da sua
creação , e concorrendo mais para o seu reparo terem os
Ouvidores que antecedentemente servirão corregido
todas as Villas do reconcavo tres vezes no tempo dos
seus lugares .
Pelos referidos motivos se fazia agora mais preciza
que nunca a da devizão daquella Comarca , e a creação do
novo Ouvidor , e lhe parece a assistencia deste seja a
Villa da Jacobina tem que mais de cem leguas de des
tricto em que se comprehende o Rio de São Francisco.
aonde lhe não faltará o que fazer por ser a parte que
buscão por azilo os criminozos e a em que se cometem
mais repetidos delictos ficando lhe pertencendo a dita
Villa, e a de Nossa Senhora do Livramento das Minas do
Rio das Contas que tem em tudo igual districto , e se lhe
podem annexar as Minas Novas que lhe ficam immedia
tas tirandose a correição dellas a Comarca do Serro do
294 LIMITES

frio donde se annexarão interinamente por ordem de


Sua Magestade attendendo a dificuldade que havia
para serem corregidas pelo Ouvidor daquella Cidade
porque só desta maneira terá respeito a Justiça , e se
castigarão os delinquentes .
E dando-se desta carta vista ao Procurador da Coroa
respondeu que necessariamente se devia acommodar
com o parecer do Vice Rey que havia de conferir esta
devisão com pessoas praticas do Pais .
Ao Conselho pareceo o mesmo que ao Procura
dor da Coroa.
Como parece ao Conselho. Lx. occidental 10 de
Dezembro de 1743. Rev.

Está conforme o original . Bahia . Registro de


ordens regias . Vol . 5. - 1734-1735 . fls . 79 v.º e
seguintes . Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar,
14 de Janeiro de 1913 .
O 1º. Bibliotecario- Director , Eduardo de Castro e
Almeida.

N. 98

Carta do Rey ao Conde das Galveias, Vice


Rey do Brasil, creando a ouvidoria da Jaco
bina, de accordo com o parecer do seu ante
cessor Conde de Sabugosa.

Livro 39 —Ordens Regias-fl . 315 ( Archivo Pu


blico da Bahia. )
D. João por graça de Deus , etc -- Faço saber
a vós , Conde das Galveas , Vice- Rey e Capitão General
de mar e terra do Estado do Brasil , que , attenden
do a que o ouvidor da comarca dessa cidade da

Bahia , não podia acudir á correição de todas as


DA BAHIA COM SERGIPE 295

villas della , e vendo que era preciso dar providencia.


nesta materia mandando primeiro tomar as infor

mações necessarias por vosso antecessor e Vice- Rey


Conde de Sabugosa, as quaes sendo-me presentes ,
como tambem o que sobre este particular respondeo
o Procurador de minha corôa a quem se deo vista .
Fuy servido por resolução de 10 de Dezembro
de 1731 , tomada em consulta do meu conselho ultra
marino, mandar dividir em duas a dita comarca e
crear de novo hua Ouvidoria da parte do Sul , para
a qual tenho nomeado por ouvidor ao Bacharel Manuel
da Fonseca Brandão a quem ha de pertencer a villa
da Jacobina , onde será a sua assistencia , por ter mais
de cem leguas aquelle districto , em que se compre
hende o Rio de S. Francisco e lhe pertencerá mais a
villa de Nossa Senhora do Livramento das Minas
do Rio de Contas que tem igual districto , annexan
do-se as Minas Novas que lhe ficam immediatas , tiran
do-se a correição dellas a Comarca do Serro do Frio,
donde se annexarão interinamente por ordem minha
pela difficuldade que havia para serem corrigidas pelo
dito Ouvidor Geral dessa comarca . Do que vos aviso
para que assim o tenhaes entendido e fazerdes execu
tar esta minha Resolução .
El-Rey nosso Senhor o mandou pelos doutores
Alexandre Metello de Sousa Menezes e Thomé

Gomes Moreira , Conselheiros do seu conselho ultra


marino e se passou per duas vias . Pedro José Correia
a fez em Lisboa , a 3 de Julho de 1742. -0 Secreta
rio Miguel de Menezes de Pina e Proença a fiz
escrever e assigney - Alexandre Metello de Sousa
Menezes, Thomé Gomes Menezes.
296 LIMITES

N. 99

Carta do Rey de Portugal ao Vice - Rey do


Brasil mandando informar sobre a petição do
ouvidor da Jacobina que pretendia se anne
xasse Itapícurú e Abbadia á sua jurisdicção,
tirando-as da comarca da Bahia a que perten
ciam .

Livro 39 Ord Regias f 196 (Archivo Publico da


Bahia ).
Dom João por graça de Deus , etc. - Faço saber a
vós Conde das Galvêas , V. Rey e Capitam General de 1
mar e terra do Estado do Brasil que por parte do Ba
charel Manoel da Fonseca Brandão , a quem tenho no
meado no logar de ouvidor da comarca dessa Cidade da
Bahia da parte do Sul , creado de novo , se me fez a pe
tição que por copia se vos envia, assignada pello meo
secretario do Conselho Ultramarino em que pede , em
razão na distancia em que estão as villas de Itapicurú e
Rio Real, pertencentes á Ouvidoria dessa Cidade , seja
servido annexal-as a sua comarca novamente erecta para
serem corrigidas por elle supplicante. E sendo visto o
seu requerimento e informação que nelle deo o Dez.
Pedro Gonsalves Cordeiro , de que tambem se vos remette
a copia: Me pareceu ordenar-vos informeis com vosso
parecer sobre a dita informação e requerimento do sup
plicante, ouvindo o ouvidor da comarca dessa Cidade
El-Rey Nosso Senhor o mandou pelo Dez. Alexandre
Mettello de Souza Menezes e Thomé Gomes Moreira
conselheiros do seu Conselho Ultramarino . -Theodosio
de Cobellos Pereira a fez em Lisboa a 28 de Junho de
1742. - O Secretario Miguel de Menezes de Pina e
Proença a fez escrever--Alexandre Metello de Souza
Menezes- Thomé Gomes Moreira.
DA BAHIA COM SERGIPE 297

N. 100

Petição do Ouvidor da comarca da Jaco


bina ponderando que apesar de ter a sua co
marca grande extensão esta é em grande parte
de sertões desertos, e requerendo que se annexe
á sua jurisdicção as villas de Itapicurú do Ryo
Real por ficarem proximas à Jacobina e em
consideravel distancia da cidade da Bahia, a
cuja ouvidoria pertenciam as referidas villas .

Liv . 39 Ord . Reg . fl. 196 (Archivo Publico da


Bahia ).

Senhor-Diz o Bacharel Manoel da Fonseca Bran

dão , que foi V. Magestade servido provello no logar de


Ouvidor da comarca da Bahia da parte do S. que
mandou crear de novo por ser informado da frequencia
de delitos que commettem naquellas partes homens
facinorosos e destimidos que o habitão , que ficaram
sem castigo por não poder chegar ahy o Ouvidor da
cidade da Bahia pela grande distancia em que fica ,
alem da necessidade que padecião aquelles povos na falta
de administração da justiça e determinando V. Magestade
logo o districto da nova comarca , constituio cabeça della
a Villa de Jacobina que por ter mais de cem legoas de
termo , comprehendendo as Aldeyas do Rio S. de Fran
cisco , ficando annexas as Villas de N. S. do Bom Suc
cesso e a de N. S. do Ryo das Contas , as quais ainda
que na extensão comprehendem hua grande distancia
de certoens , contem na intenção somente as ditas villas
que são huas limitadas povoaçõens e porque proximas
ao termo de Jacobina ficam as Villas de Itapicurú e Ryo
Real que são do districto da mesma capitania da Bahia
e ficam em consideravel distancia da cidade e milita
nellas a mesma rasão que moveu a V. Magestade para
LIMITES 38
298 LIMITES

a creação da nova comarca por não chegar ahy o Ou


vidor da Bahia, e podem commodamente ser corregidas.
pelo supplicante e seus successores , Pede a V. Mages
tade em ponderação do referido , queira dignar- se
annexar as ditas Villas á comarca novamente erecta
para serem corrigidas pelo supplicante e seus succes
sores , por lhe ficarem mais proximas em grande dis
tancia da cidade , de sorte que não pode chegar a ellas
o ouvidor da dita commarca, da falta do que se segue
grande prejuiso aquelles moradores e ao serviço de V.
Magestade. -Miguel de Meneses de Pina e Proença.

N. 101

Conflicto de jurisdicção por pretender o


capitão mór de Sergipe estender a sua aucto
ridade até Geremoabo.

Exmo . Sr.- Remettendo bando para passar mostra na


freguezia de Geremoabo, que ha nesta Capitania, em pre
sença do Regimento do Coronel Alexandre Gomes Ferrão
Castelo Branco, como consta de sua patente e confirmação,
que se acha registrada na Secretaria do Estado no anno
de setecentos e desenove, no livro septimo dos Regimentos
e folhas vinte e seis verso e por eu ter impedimento que
me sobreveio, ordeney fosse o sargento-mór a dita dili
gencia o que com effeito foi, porém , ficou frustrada pelas
razões que constam das certidões juntas.
Os moradores da dita freguezia são regulos e inobe
dientes tanto as justiças como a obediencia ao serviço de
Sua Magestade e ordens de V. Exa. , pelo que respeita ao
governo da milicia de que se faz cabeça o vigario da fre
guezia, sendo absoluto no espiritual e no temporal, como
DA BAHIA COM SERGIPE 299

The dita a sua vontade, porque distando da villa do Itapi


curú mais de quarenta leguas , digo quarenta e cinco leguas ,
e por esta razão da distancia e mais certoens do caminho
nunca lá vay correyção nem tem quem lhes passe mostra
e os exercitem chamando-os ao jugo da obediencia e quando
se quer por parte da justiça desta Capitania hir a correyção,
e mostra por parte da milicia , dizem e protestam não con
sentirem por serem sujeitos a dita villa do Itapicurú com
subordinação da cidade da Bahia estando a dita freguezia
dentro da demarcação desta Capital da Bahia , estando a dita
freguezia dentro da demarcação desta Capitania que dista
da villa do Lagarto dez ou doze leguas . Não tem cabo nem
official da milicia que lá residam, mas tam sómente o dito
vigario que tudo manda ; e as patentes dos officiaes que
antigamente houve se acham aqui registradas nesta Ca
mara como a que se passou de Capitam dos homens
pardos a André da Costa Torres no anno de setecentos e
dezeseis , registrada na Secretaria do Estado no livro oitavo
dos Regimentos a folhas cento e oitenta e oito, verso .

E porque os ditos moradores da sobredita freguezia


devem reconhecer superior e quem os deve reger, assim
pelas justiças como pela milicia no que se acham falsos,
dou a V. Exa. esta conta que ordenará o que for servido a
V. Exa. Francisco da Costa . "

"Cópia da carta que escreveu em resposta o Exmo .


Conde de Sabugosa , Vice- Rey deste Estado, de trese de
Janeiro deste presente anno de mil setecentos e trinta e
cinco .

Sobre a conta que Vmcê. me dá em carta de quinze


do passado a respeito de Geremoabo tomarey a resolução
de que necessita a desordem em que se acham aquelles
300 LIMITES

moradores, porém, entendo que elles nam pertencem a


essa Capitania, sem embargo da declaração com que se
acha a patente do Coronel Alexandre Gomes Ferrão , etc.—
Conde de Sabugosa ."

N. 102

Parecer do Conselho Ultramarino decla


rando que Itapicurú pertence á jurisdicção da
Comarca da Bahia.

O Capitão -Mór de Sergipe del Rey, em carta de tres


de Maio do anno de setecentos e trinta e cinco , fez presente
a Vossa Magestade por este Conselho em como pertencia
áquella capitania a freguezia do districto de Geremoabo ; e
que a respeito das desordens em que se achavão seus mora
dores, dera conta ao Vice-Rey que foi daquelle Estado
Conde de Sabugosa, como mostrava pela cópia da Carta
que lhe escreveu e de sua resposta, que com esta sobe a
real presença de Vossa Magestade e que como até o pre
sente não tenha tido resolução alguma e aquella Capitania
se achava defraudada de muitos districtos que lhe per
tenciam, como era a villa de Abbadia, cujos moradores se
achavam por esta desordem menos obedientes ao real ser
viço de V. Magestade que dava esta conta para Vossa
Magestade mandar o que for justo .

E ordenando- se por provisão de dous de Dezembro


do sobredito anno de mil setecentos e trinta e cinco ao
Conde das Galveas, Vice- Rey e Capitão General de mar e
terra do Estado do Brasil informe com seu parecer, res

pondeu em carta de onze de Junho do anno passado em a


qual diz, que vendo a representação que fez a Vossa Ma
DA BAHIA COM SERGIPE 301

gestade o Capitam-Mór da Capitania de Sergipe del Rey


a respeito da desordem em que viviam os moradores da
freguezia de Geremoabo, devia pôr na sua real presença ,
que até o presente não lhe constava que entre elles haja
disturbio, que necessite de providencia ; porém que atten
dendo a distancia em que ficavam e a estarem mais perto
da jurisdição de Sergipe lhe parecia que Vossa Magestade
mandasse ficar sujeito no militar ao Capitão daquella
Cappitania, para que este lhe passe mostra e faça com elles
as mais diligencias que dispõem o seu Regimento, mas não
os juizes ordinarios , e Ouvidor, assim por estarem affe
ctos a correição daquella comarca da Bahia e annexos a
villa de Itapicurú, como para se não confundir a boa ordem
com que se estabeleceo a cobrança do donativo .
E dando- se de tudo isto vista ao Procurador da Corôa,
respondeu se conformava com o parecer do Vice- Rey.
Ao Conselho parece o mesmo que ao Vice- Rey e Pro
curador da Corôa.
Lisboa occidental, vinte e cinco de Janeiro de mil
setecentos e trinta e sete.

Assignaturas.
A margem está escripto-Como parece -Lisboa occi
dental, vinte e cinco de Março de mil setecentos e trinta e
sete.-Principe.
302 LIMITES

N. 103

Carta em que o Rey de Portugal resolve o


conflicto de jurisdicção declarando que as terras
de Geremoabo pertencem á villa de Itapicurú
comarca da Bahia.

"D. João, Rey de Portugal e dos Algarves de quem


e de além mar em Africa etc .:
Faço saber a vós Conde das Galveas, Vice-Rey e Ca
pitam General de mar e terra do Estado do Brasil que se
viu a conta que me deu o Capitam-mór de Sergipe del Rey
em carta de tres de Mayo de mil setecentos e trinta e cinco
sobre as desordens em que viviam os moradores da fre
guezia de Geremoabo e não querendo daquella Capitania
consentir a correyção da Justiça , nem mostra da milicia,
dizendo serem sujeitos a villa de Itapicurú com subordi
nação á cidade da Bahia e vendo tambem o que sobre esta
materia me informastes e attendendo a distanci em que os
ditos moradores ficam, e estarem mais perto da jurisdicção
de Sergipe, sou servido, por resolução de vinte e cinco de
Mayo do anno passado, em consulta do meu Conselho Ul
tramarino, que os mesmos moradores da freguezia de Gere
moabo fiquem sujeitos no militar ao Capitam-mór da dita
Capitania de Sergipe para que este lhes passe mostra e
faça com elles as mais diligencias que dispõem o seu re
gimento, mas não os juizes, ordinarios e Ouvidor por
estarem affectos a correyção da comarca da Bahia e anne
xos a villa de Itapicurú.
El- Rey nosso Senhor o mandou pelos D.D. José de
Carvalho e Abreu e Alexandre Metello de Souza e Mene
zes , Conselheiros do Conselho Ultramarino e se passou por
duas vias. Manoel de Macedo Ribeiro a fez em Lisboa
occidental em 24 de Março de 1738."
DA BAHIA COM SERGIPE 303

N. 104

Carta do Rei de Portugal para o vice


Rey do Brazil para que informe sobre a pre
tensão da Camara de Sergipe que , sob pretexto
de miseria que allegava em lamentações, insi
nuava que para poder pagar as fintas e impostos
se lhe annexassem as novas villas da Bahia de
Itapicurú, Inhambupe e Abbadia.

D. João, etc.- Faço a saber a vós Conde de Sabugosa


V Rey e Capitão general de mar e terra do Estado do
Brasil, que havendo visto a conta que me derão os officiaes
da Camara de Sergipe del Rey, em carta de des de Janeiro
deste presente anno , em como por carta vossa que tiverão
escripta em des de Julho de 1727 , se lhes encarregara a
obrigação de faserem lançamento e cobrança de dose mil
crusados annuaes dos moradores daquella capitania nos
quaes se achava multada para os casamentos dos Princi
pes com os de Castella, porem que aceytando- se o dito
lançamento na arrecadação deste dinheiro se vira ( sic ) com
individuação o miseravel estado em que se achavão aquelles
moradores porque para completarem a porção em que
foram fintados se achara a por em arrematação até os
mesmos fatos de seu uso por cujo respeito vos represen
tarão a necessidade e miseria em que se achavão os ditos
moradores , que reconhecendo vós ser realidade lhe demi
nuireis outo centos mil reis por este anno sómente e que
ainda assim em geral lamentação por não poderem contri
buir com a satisfação da porção que resta do dito lança
mento, ocasionando tanta miseria a falta de não terem
presso ou sahyda algua os effeitos da terra e que esta rasão
os obrigava a recorrer a mim implorando a minha real pie
dade para attender a tanta miseria e de lhes faser a graça
de aliviar da dita contribuição ao povo daquella capitania.
304 LIMITES

porque a sua pobresa lhe impede o não poderem contribuir


com satisfação igual aquelle lançamento, em que foi mul
tado de dose mil crusados por anno' ou ao menos se su
jeitem para a satisfação do mesmo donativo as tres villas
novamente erectas pello ouvidor daquella comarca da
Bahia, da Abbadia, Itapicurú e Ambupe, porque poderá
com menos clamores dos moradores ter satisfeito aquelle
lançamento dividindo-se tambem pellos das ditas villas :
Me pareceo por resolução de sete do presente mes e anno ,
em consulta do meu Conselho Ultramarino , mandarvos
ouvir sobre este particular.

El rey nosso Senhor o mandou por Antonio Roiz da


Costa do seu Conselho e o Doutor Joseph de Carvalho e
Abreu Conselheiros do Conselho Ultramarino e se passará
por duas vias . Antonio de Cobellos Pereira a fez em
Lisboa Occidental a nove de Novembro de 1729.
Bahia Registo de cartas Liv. 4°. 1726 a 1731
Als. 246 v. e 247. — Está conforme o original. - Lisboa.
Arquivo de Marinha e Ultramar, 16 de Janeiro de 1913.—
O 1º. Bibliothecario Director, Eduardo de Castro e Al
meida.

N. 105

Carta Regia providenciando sobre uma de


nuncia que fora dada pelo ouvidor de Sergipe
insinuando que havia falta de justiça em Ge
remoabo.

Dom João , etc.


Faço saber a vós conde das Galveas, Vice- Rey e cappi
tam General de mar e terra do Estado do Brasil que o
ouvidor geral de Sergipe del Rey me deu conta em carta
DA BAHIA COM SERGIPE 305

de 19 de Abril do anno passado de que com esta se vos re


mette a cópia assignada pelo secretario do meu conselho
Ultramarino , da morte que fisera Francisco da Gama Bota
fogo no meyrinho daquella ouvedoria chamado Manoel
Martins Chaves no citio de Geremoabo , Termo da Villa de
Itapicurú, pertencente a comarca desta cidade da Bahia
donde os ouvidores della não chegão a faser correyção e
visto o mais que insinuava sou servido ordeneis ao ouvi
dor geral dessa comarca da Bahia que vá a villa de Ita
picurú e citio de Geremoabo e nella faça correyção na
forma que é obrigado, e tire nelle devassa deste caso , de
que dá conta o dito ouvidor de Sergipe del Rey o bacharel
Manoel Gomes Coelho , procedendo sobre os culpados guar
dada a forma de direito , remettendo os presos com as de
vassas a Rellação desse Estado para cujo effeito e da prisão
dos delinquentes lhe dareis a ajuda militar que vos parecer
conducente para terem effeito estas diligencias.
El Rey Nosso Senhor o mandou pelos D. D. José
Ignacio de Arouche e Thomé Gomes Moreira , conselheiros.
do seu conselho Ultramarino e se passou por duas vias .
Pedro Alexandrino de Abreu Bernardeş a fez em Lisboa
occidental a seis de Fevereiro de mil setecentos e trinta
e nove .

LIMITES 39
306 LIMITES

N. 106

Trecho de uma carta escripta pelo Vigario


de Geremoabo Januario Pereira e dirigida ao
Governo de Portugal informando por ordem do
mesmo Governo e do seu superior ecclesiastico ,
sobre a extensão da sua freguesia e declarando
que ella vae até ás primeiras fasendas do Porto
da Folha que pertenciam ao Coronel Alexandre
G. Ferrão .
O documento original que é dos meiados
do seculo 189 , existe no Archivo de Marinha e
Ultramar da Cidade de Lisboa.

Diz o seguinte em 29 de Dezembro de 1756 o Vigario


Januario José de Souza Pereira :
"Esta freguezia só tem tres povoações : Geremoabo
com a matriz e trinta e duas choupanas cobertas de palha,
excepto a casa do parocho e outra. Massacará, aldeia dos
indios Cachimbés e Carirys, com cem casas de indios, sob
a direcção de religiosos franciscanos , e Sacco dos Morce
gos, tambem de indios carirys, doutrinados e governados
pelos jesuitas, tendo 1.800 indios mais ou menos .
O rio Geremoabo tem dezoito leguas de curso e lança
se no Vasabarris .
Geremoabo limita- se ao nascente com a freguezia de
Nossa Senhora de Itapicurú , digo de Nazareth do Itapi
curú de Cima, da qual foi desmembrada por Alvará de Sua
Magestade no anno de 1718, no tempo do Senhor Bispo
D. Sebastião Monteiro da Vide .

Toda a freguezia tem cerca de 1.364 pessoas .


O Vasabarris nasce em os campos de Enhamaxaram
que he um sertão deserto , que divide a freguezia com a de
Santo Antonio de Pambú ; pelo poente corre o dito sertão
até o rio S. Francisco até chegar as primeiras fazendas
deste rio e freguezia do Pambú ; tambem o mesmo sertão
DA BAHIA COM SERGIPE 307

deserto divide para o Norte com a freguezia do Urubú de


Baixo até chegar as primeiras fazendas do Porto da Folha,
do Coronel Alexandre Gomes Ferrão . "
"Esta freguezia confina com a Villa do Lagarto e com
a de Itabayana, por meio das quaes core o rio Vasabarris
e vai fazer barra no mar, abaicho da cidade de Sergipe del
Rey, no porto chamado Taporanga, com as aguas que
recebe das freguezias por onde passa.
A freguezia tem setenta leguas de longitude do nas
cente ao poente , trinta de largo de Norte a Sul, não men
cionando os sertões despovoados e desertos . "

N. 107

Carta do Vigario de Itapicurú dirigida ao


Governo Portuguez por ordem d'este e do seu su
perior ecclesiastico em que declara que a sua
freguezia se dividia dos Campos do Rio Real
por este rio e em que dá as dimensões da sua
parochia .

Exmo. e Revmo . Sr. -Manda-me V. Exa . Revma. que


lhe dê hua informação da extensão, lugares, capellas , rios ,
e pessoas da comunhão , que tem esta Freguezia, em que
assisto , e satisfazendo ao mandado de V. Exa. Revma. ex
ponho tudo com verdade na forma seguinte.
Esta Freguezia de N. Senhora de Nazareth do Ita
picurú de Sima, de que sou Parocho por mercê de V. Exa.
Revma. , e de sua Magestade, que Deos guarde , teve seu
principio em hua pequena hermida erigida por pessoa par
ticular no anno de 1648 e começou a ser Freguezia curada
no anno de 1680 e no anno de 1698 oi sua Magestade , que
Deos guarde, servido confirmar por Vigario dela ao R. Gy
raldo Corrêa de Lima, que começou a ter congrua no anno
308 LIMITES

de 1700, o que tudo sei pela noticia ( sic ) que me derão os


moradores da dita Freguezia . Esta fica distante da cidade
da Bahia para a parte do Norte 40 legoas na estimação dos
prudentes, e não medidas, e desviada das praias do mar
vinte na mesma forma ; donde se divide pela parte do leste
das duas freguezias Nossa Senhora do Monte e Nossa Se
nhora da Abbadia por hua corda de Mattas , que costeão o
mar ; ficando aquellas nas suas praias ; e a de Nossa Se
nhora de Nazareth das ditas Mattas para a parte do certão ;
correndo o comprimento do seu territorio para o Poente, e
Noroeste com vinte legoas pouco mais ou menos, onde se
termina por hua estrada real com a nova Freguezia da
Senhora S. Anna do certão do Tucano, cuja Freguezia foi
desmembrada desta de Nazareth : pela parte do Norte e

Nordeste se divide da Freguezia de Nossa Senhora dos


Campos, pelo rio Real o qual nesta altura hé rio secco e
só corre havendo chuva grossa ; porem sempre deicha
alguns possos, de cujas agoas uzão os que morão a beira
do dito rio e gados . E pela parte do Sul parte com a Fre
guezia do Divino Espirito Santo do Inhambupe de sima
por huns campos agrestes, aos quaes cá chamão taboleiros ,
terras altas com falta de agoas, esteriles , e por esta cauza
pouco povoadas, tendo de largura entre estes limites des
legoas em parte mais e menos : e no que respeita a circum
ferencia desta Matriz de Nazareth, terá esta conforme a
estimação dos homens 55 legoas pouco mais ou menos.

No mesmo citio da Matriz se fundou a Villa chamada


N. Senhora de Nazareth de Itapicurú da comarca da Bahia ,
a qual he tão pobre que athé de cazas está destituida, pois
apenas tem 14 ou 15 cazas, todas terreas, de taipa, peque
nas, e caindo, nas quaes residem o Parocho, seos coadju
DA BAHIA COM SERGIPE 309

tores , Taballiaens, algumas pessoas mais, cuja Villa cada


vez vai a menos por estar cituada em lugar esteril , e falto
de agoas . Esta he a informação que posso dar desta Fre
guezia , cuja informação foi approvada de pessoas scientes
na materia e de prudencia para desta sorte me livrar de
algua incerteza. A pessoa de V. Exa . Revma. guarde Deos
muitos annos. Villa 2 de Junho de 1757 .
De V. Exa. Revma. Minimo e humilimo Subdito.

O Vigario-José de Gois Araujo e Vasconcellos.


Está conforme o orginal. Docos. da Bahia, n. 2711 .
-Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 10 de Janeiro
de 1913.- O 1 °. Bibliothecario - Director, Eduardo de Cas
tro e Almeida.

N. 108

Ordem Regia mandando fazer descripções


dos termos das villas pelas respectivas camaras.

"Illmo. e Exmo . Sr.:

Sua Magestade he servido que V. Exa . encarregue aos


ouvidores das comarcas desse Estado que ordenem á todas
as camaras das mesmas comarcas que faça cada hua dellas
huma relação dos logares e povoações do seu districto, com
os nomes , e distancias que ha de huma a outra praticando- se

a mesma discripção dos rios que pelas ditas povoaçõens


passam, individuando os seus nascimentos e os que sam
navegaveis e em cada huma das villas se declarem as dis
tancias de legoas , ou dias de jornada que ha das outras
villas circumvisinhas.

Todas estas noticias topograficas são para se poder


formar hua carta geral de todo o Brasil, com individuação
310 LIMITES

das terras estabelecidas nos sertões e para cujo effeito


manda o mesmo Sr. recommendar a V. Exa . a brevidade

desta diligencia ". Deus Guarde a V. Exa . Belém, treze de


Junho de 1756.

Diogo de Mendonça Corte Real. - Senhor Conde dos


Arcos. Manoel de Souza Guimarães.

N. 109

Ordem do Vice - Rey transmittindo aos ou


vidores de Sergipe a resolução do soberano .

Pela cópia da carta inclusa do Secretario do Estado.


Diogo de Mendonça Corte Real, de treze de Junho do pre
sente anno verá V. Mcê. que Sua Magestade he servido
ordenar-me encarregue aos ouvidores das comarcas deste
Estado, que ordenem a todas as camaras das mesmas , faça
cada huma dellas hua relação dos lugares e povoações do
seu districto declarando os nomes delles e as distancias
que ha de umas ás outras, praticando- se a mesma de
scripção dos rios que passam pelas ditas povoações, indivi
duando-se os seus nascimentos e os que são navegaveis e
em cada hua das villas se declararão a distancia de leguas
ou os dias de jornada que ha das outras villas circumvi
sinhas.

O que V. Mcê. fará executar pela parte que lhe toca


com a maior exacção e brevidade que fôr possivel e com
a mesma remetterà a Secretaria deste Estado todos os
papeis e relações pertencentes a sua comarca para se man
darem para Lisboa como Sua Magestade determina . Deus
Guarde a V. Mcê. Bahia, Novembro o primeiro de mil
setecentos e cincoenta e seis .-- Senhor Ouvidor da Co
DA BAHIA COM SERGIPE 311

marca de Sergipe del Rey. - O Conde D. Marcos de No


ronha ."

N. 110

Carta do ouvidor de Sergipe ás camaras da


sua jurisdicção transmittindo a ordem do Go
verno.

Srs . Juizes e Officiaes da Comarca de .


Da carta circular e cópia inclusa copiadas se mostra
mandar Sua Magestade que Deus Guarde ao Illmo. e
Exmo . Sr. Vice- Rey deste Estado que por todas as comar
cas do seu governo mande fazer hua geral discripção das
villas e cidade de todas as comarcas, as legoas de distancia
que ha de humas as outras, os rios que decursão pellas ter
ras e termos de cada huma e do mais que tocar a des
cripção topographica mencionada nas inclusas . Esta dili
gencia se me encarrega com grande recommendação, e a
mesma recommendo a V. Mcê. para o que farão registrar
as copias inclusas , e com toda a brevidade se proceda a dita
diligencia que completa ficará no cartorio da comarca e se
remetterá autentica a esta cidade para ser remetida e a
capital deste Estado para poder hir na nau de licença.
Deus Guarde a V. Mcè. Cidade, onze de Janeiro de
mil setecentos e cincoenta e sete .

O ouvidor geral da comarca, Miguel de Ayres Lobo de


Carvalho. "
312 LIMITES

N. 111

Carta do Ouvidor de Sergipe remettendo ao


Vice - Rey as descripções dos termos das villas
de Sergipe feitas pelas respectivas camaras.

"Illmo. e Exmo . Sr .:
"Foi V. Ex. servido mandar-me a ordem cuja cópia
remetto ; em reverente observancia fiz distribuir pelas ca
maras desta comarca cópias da mesma, logo que a recebi ,
como consta dos recibos que ficam em meu poder ; em vir
tude della se procedeu as descripções topographicas desta
capitania que remetto a V. Ex. entre as quais vai fechada
a de Villa Nova do rio S. Francisco , que me dizem os
officiaes da Camara da mesma villa que a remettem fe
chada pela razão de darem tambem conta a Sua Mages
tade que Deus Guarde de certas duvidas que tem na con
finação do districto com a Camara da Villa do Penedo que
he do districto de Pernambuco ; não a remetti mais anteci
padamente pela razão de não ter chegado a da Villa de
Santo Amaro desta comarca que já neste mez me foi neces
sario fazer notificar aos officiaes da Camara desta villa para
que a remettessem logo por estarem juntas as das outras
villas, aliás a mandava fazer, a sua custa, e foram com
effeito notificados como consta da certidão que fica tambem
em meu poder e então a remetto .

Tambem exponho a V. Ex. que de Villa Nova do rio


S. Francisco já tenho o aviso certo de que está junto o
dinheiro da contribuição que voluntariamente lhe foi dis
tribuido ; e nas mais se cuida com exaltação na arrecadação,
e com o favor de Deus se ha de entregar nessa cidade
muito a tempo de poder ir na frotta. Protesto com a mais
profunda veneração , a mais prompta obediencia a tudo o
DA BAHIA COM SERGIPE 313

que for servido mandar-me V. Ex. cuja Illma . Pessoa


Guarde Deus por muitos annos como necessita Portugal.
Sergipe de El- Rey, vinte e um de Abril de mil setecentos
e cincoenta e sete . Ouvidor Geral desta Comarca, Miguel
de Ayres Lobo de Carvalho .

N. 112

Descripção feita pela Camara de Itabayana


que indica ser o seu limite com a Bahia pelo
riacho Jacoca.

Villa de Santo Antonio e Almas de Itabayana.


Snr. Dr. Ouvidor--Enviamos a V. Mcê. junto as
cópias que ficam registradas no livro da Camara na forma
que V. Mcê. nos ordena.
Esta villa de Santo Antonio e Almas de Itabayana
está edificada em uma grande planicie huma legoa distante
da Serra do mesmo nome e o seu termo confina com o
da Villa do Lagarto para o occidente e divide pelo rio
Vasa barris , pouco abundante de aguas correntes, o qual
tem sua nascente no sertão da freguesia de Sam Juão
Baptista de Geremoabo ; da parte do nascente confina com
o districto da villa de Santo Amaro pelo rio Sergipe, que
não tem aguas senão as que recebe das chuvas no inverno
e só neste tempo corre ; para a parte do Sul confina com
o termo da cidade de Sergipe del Rey sua capital, da qual
dista dez legoas e a mesma distancia ha desta villa a do
Lagarto e a de Santo Amaro ; para o sertão confina com
terras do sertão de Geremoabo e para esta parte corre um

pequeno riacho chamado Jacoca que termina seu curso no


Vasa barris; ha mais outro riacho chamado Jacaracica que
tem seu nascimento no termo desta villa e atravessando
LIMITES 40
314 LIMITES

muitas partes do seu continente se mette o seu curso no


rio de Sergipe e não ha nenhum outro rio navegavel neste
districto .

Deos guarde a V. Mcê. muitos annos. Em camara da


Villa de Itabayana, 30 de janeiro de 1757 .
E eu Gonçalo Pereira de Vasconcellos , Escrivão da
Camara o subscrevi . O Juiz Antonio Machado de Men
donça.- João Paes da Costa .- Nicoláu Machado .- Cus
todio Pereira de Abreu.- Carlos Francisco da Cruz.

N. 113
Descripção feita pela Camara de Villa Nova
d'El- Rey que declara separar-se o termo da
referida villa da Capitania da Bahia pelo rio
Mochotósinho, hoje Xingó .

Instrumento da descripçam da Villa Nova Real del


Rey do rio S. Francisco que é a seguinte :
Manda- se-nos da parte de Vossa Magestade faser
huma descripçam do termo da dita Villa Nova Real de
Vossa Magestade do Rio Sam Francisco da Comarca e
cappitania de Sergipe del Rey a cujos preceitos satisfase
mos na forma seguinte :
Saibam quantos este publico instrumento passado em
publica forma ex -officio de mim Tabelliam com o theor
da descripçam virem cujo é o seguinte : etc. Nas margens
do Rio Sam Francisco que divide a capital da cappitania
de Pernambuco pelo certam dentro mais de seiscentas
legoas ao Puente cuja corrente segue a do Nascente em
athé sahir no mar nas visinhanças deste dilatado Rio em
huma eminencia alta, sete legoas acima de sua fox está
cituada esta Villa, mais conhecida pelo nome e titulo que
logra que pela sua grandesa e dos seus habitadores.
DA BAHIA COM SERGIPE 315

Comprehende o seu termo desde a fox do Rio e por


elle acima buscando o certam ao Puente muitas legoas e
confina com o terreno de Geremoabo no riacho chamado
Mochotósinho, o qual é secco e nam navegavel.

Tem este termo de Norte a Sul dez legoas e confina


com o termo de Santo Amaro de Brotas desoito legoas,
no Japaratuba Merim, riacho que divide este termo
daquelle, o qual tendo o seu nascimento dez legoas ao
Puente, pelo certam dentro vay faser Barra no mar, nove
legoas ao Sul do Rio Sam Francisco, cuja barra e rio.
nam é navegavel.
Fica esta villa distante da de Santo Amaro das Brotas

desoito legoas ; he o termo dilatado porém muito despo


voado de moradores por serem terras incapazes de ha
bitaçam e estereis, que somente servem para crear ani
maes domesticos e estes padecem grandes perdas pella
rasam de faltar as aguas no tempo de veram ; alagam
os Logradouros e vargens com as inundações do rio
que das invernadas das minas formam aqui grandes
charcos e perde- se as plantas e lavouras das beiradas .
Tem este termo duas Matrizes, a desta villa e a de
Santo Antonio do Urubú distante desta villa beira rio
ao Puente seis legoas ; e distante ao mesmo rumo ao Puente,
a beira do Rio vinte e sinco legoas está huma missam de
Indios.
Afastada desta Villa tambem ao Puente mais pella
terra a dentro cinco legoas tem o collegio dos Reverendos
Padres da Companhia de Jesus humas fasendas com assis
tencia de dous religiosos que o chamam Collegio de
Japaratuba ; dez legoas desta villa tem o Convento da Bahia
dos Religiosos do Carmo as suas fasendas e huma capella
316 LIMITES

de Santa Anna com assistencia de um capellam e hum


Procurador.
E tres legoas afastada desta villa ao Sul della tem
outra missam de Indios que se chama Pacatuba e nam ha
outras povoações dignas de faser dellas mençam neste
termo .

Fronteira desta villa além do Rio Sam Francisco na


Capitania de Pernambuco, Norte e Sul, distancia menos
de meya legoa, cuja medeya o Rio, está situada a Villa
de Penedo , é opulenta e rica e muito antiga ; tem esta villa
convento de Sam Francisco que a faz mais vistosa e tem
mais uma boa Matriz e trez capellas e nesta villa somente
a faz vistosa huma boa cadeya sobre o Rio que a sua
custa fez hum morador desta villa pela nam haver aqui
e he de muita utilidade e de mais uma capella de Nossa
Senhora do Rosario tambem contigua á cadeya que huma
e outra he o que se acha nesta villa que a faz lustrosa
e padesse a falta de Matriz e nam haver meyos de se poder
acabar a que se tem principiado e por essa rasam se nem
pode aqui collocar o corpo do Senhor pella Matriz não
ser capaz por ser de barro e niadeiras : E estas arruinadas .

Ha neste Rio muitas ilhas que sam do mesmo circu


ladas e sam estas boas de plantas e crear gados, porém
padecem as cheyas do mesmo Rio , que ficam alguns annos
alagados. Em varias partes entra o Rio pella terra dentro
e faz grandes lagoas .
Porém nam sam rios que sejam permanentes , nave
gáveis, por isso se não faz destes mençam.
Só sim huma legoa distante desta villa para a parte
do mar entra o Rio e vay se encontrar com hum riacho
chamado Puxim, que tem o seu nascimento no Japaratuba
DA BAHIA COM SERGIPE 317

distante desta villa nove legoas ao Puente e por este Rio


e uns brejos com lagoas navegão como as distancias de
seis legoas. E na entrada da Barra deste Rio pouca dis
tancia entra um brasso delle pela terra a dentro e for
mando huma ilha que he a unica deste termo e das do Ryo
seis legoas a Sul e vay sahir no mar por huma barreta
que chamam Barra Nova, porém nam entram nelle em
barcações e pello Rio pode navegar por ser fundo, porém,
como nam ha commercio por serem todos mangues, nave
gam somente canoas.

Mais acima entra outro brasso do Rio pella terra


a dentro que he tradiçam era uma camboa com sahida ao
Rio pello sertam, porém pella continuaçam das enchentes
e ventos do Norte que açoutam a costa do Sul deste
termo, foy quebrando terra como costuma e abrio para
aquella camboa e formou um riacho por differente rumo
da corrente do Rio Sam Francisco e hoje se chama Pa

raúna, o qual circulando grande parte de terra sem que


esta se distinga da firme forma huma separação mais que
pelo riacho, que por pequeno, estreito e de muitas voltas,
somente navegam por elle canoas que entram ahy a ne
gocios e nam que faça aquella navegaçam feiçam a quem
navegar em direitura, pella rasam de lhe ficar pelo Rio
mais direito e mais facil a navegaçam e como os moradores
e justiças da villa do Penedo em tempo que nam havia
neste logar justiças e menos villas, por ser esta moderna.
senhorearam todas as ilhas do meyado do Rio e da mesma
forma se alargaram a mais terra, circulada de outro riacho
que separa aquelle que chamam Brejo Grande e sem em
bargo de se comprehender nam só estes, mas ainda as ilhas
que ficaram do meyo do Rio a esta parte, como Vossa
318 LIMITES

Magestade foy servido mandar quando se creou esta


villa, nam querem as justiças e moradores daquella villa
que exercitemos nas terras que comprehendem no Auto da
creação, jurisdicção , prohibindo-nos dos indultos que Vossa
Magestade nos concedeu em cuja forma se levantou
villa neste logar e por restituição se nos deve ampliar o
termo em terrenos que seja a nossa jurisdicçam pelo Rio
Sam Francisco e nam pelo riacho Paraúna, como agora é

Comarca ; se nam tem liquidado esta divisa por meyos


contra a rasam e justiça que pela summa pobresa desta
camara se nam tem liquidado esta divisão por meyos

ordinarios , o que se espera de Vossa Magestade a vista


desta descripçam haja a providencia de que necessita húma
pobre villa veixada a sua jurisdiçam que sendo esta
real, em nada deve ser offendida, e para mais claramente
se manifesta a verdade e a reforma que supplicamos , as
mais claras informações sam as dos olhos e pelo risco do
Rio desta e daquella villa fronteira para a fox que re
mettemos se patenteia a nossa rasam e justiça advertindo
que a nossa jurisdiçam foi pelo Rio Sam Francisco ,
como consta do Auto da creação e hoje é pelo riacho
Paraúna, como no risco se vê. Em Camara, 9 de Fevereiro
de 1757. Eu, escrivão Francisco Xavier de Castro . Escri
vam da Camara o escrevy. O Juiz Ordinario, João Ma
chado de Novaes, Pedro Dias Correa, Bonifacio Nunes
de Oliveira, Jeronymo Teixeira de Moraes e Bento de
Mello Pereira.

E nam continha mais cousa alguma em a dita des


cripcam do que o dito é, que eu sobredito Tabelliam de
publico judicial e notas, Escrivam da Camara e mais
annexos nesta dita Villa Nova tresladey bem e fielmente
DA BAHIA COM SERGIPE 319

do proprio original que fica em meu poder e Cartorio, a


qual em tudo e por tudo me reporto que com este confery,
assigney e concertey de meus signaes publico e raso de
que faço uso nesta Villa Nova aos nove dias do mez de
Fevereiro de mil setecentos e cincoenta e sete annos.

Francisco Xavier de Castro . Conferido por mim Ta


belliam Francisco Xavier de Castro .

N. 114

Descripção feita pela Camara do Lagarto do


termo da sua villa que prova ser a matta de
Simão Dias que faz o limite da Bahia com
Sergipe no lugar a que chegar uma linha tirada
do Lagarto para o Norte cinco legoas ( 5) .

Extracto da Villa de Lagarto e seu termo .


A Villa de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto
está situada em hua planicie a que chamam os moradores
naturaes Taboleiros , distante da Bahia sessenta legoas.

Tem o termo desta villa duas freguesias, uma a sobre


dita de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto e outra de
Nossa Senhora dos Campos do rio Real de Cima.
Parte e demarca o termo desta villa com o termo

da cidade de Sergipe del Rey, cabeça desta comarca que


fasem os habitadores de distancia de dose legoas desta
villa a dita cidade fasendo a sua demarcação por uma
grota a que chamão Quebradas Grandes que ficão distan
tes desta villa cinco legoas.

E pela parte do Nascente parte e demarca com a villa


de Itabayana que fica em distancia desta villa tres legoas
fasendo sua demarcação pelo rio Vasa-barris distante
desta villa tres legoas.E pela parte do Norte parte e de
320 LIMITES

marca com a freguesia de S. João de Geremoabo que fica


em distancia desta villa trinta legoas, fasendo a sua de
marcação por uma matta que chamão Matta de Simão
Dias, que fica distante desta villa cinco legoas . E pela
parte do Puente parte e demarca com a villa do Itapi
curú de Cima, distante desta villa quatorze legoas , fasendo
sua demarcação pelo rio chamado Real distante desta
villa dez legoas .
E pela parte Sul parte e demarca com a villa Real de
Santa Luzia que fica em distancia doze legoas desta villa
fasendo a sua demarcação na passagem do rio Piauhy
Grande chamada passagem dos Tres Irmãos, distante desta
villa seis legoas .

Ha no termo varios riachos , que só no inverno são


abundantes de aguas por correrem para elles as vertentes
das serras , mas de verão são todos seccos e nenhum é na
vegavel.
Os mais principaes rios que ha são o rio Real, of
Piauhy e o Vasabarris, que todos vão desaguar no mar
mas nesta altura são seccos no verão .

O porto de mar que tem esta villa é o mesmo da


cidade de Sergipe , onde faz barra o dito Vasabarris no
mar, e é para onle condusem os moradores deste districto
os seus effeitos, que fica distante desta villa dez legoas.
Feita em Camara de 15 de Março de mil setecentos
e cincoenta e sete annos . E eu escrivam da Camara João
Chrisostomo de Tavora, o subscrevi : O Juiz Ordinario,
José de Mattos Freire.-Antonio Felix da Cruz.
Francisco Simões de Avellar.-Custodio Coelho Barbosa .
DA BAHIA COM SERGIPE 321

N. 115

Descripção feita pela Camara da Villa de


Santo Amaro de Brotas em que declara que o
rio Sergipe nasce em terras do sertão da
Bahia, isto é , entre o rio São Francisco e Ge
remoabo.

Santo Amaro de Brotas.

Relaçam topographica do que contém esta villa e


seu termo.
Tem o termo desta Villa de Santo Amaro das Brotas
seu principio na barra chamada de Sam Christovam e
corre por costa de mar nove legoas pouco mais ou menos
para o Norte athé topar com a barra chamada Japara
tuba, e começa o rio desta barra a dividir o termo desta
dita villa . Por esta dita barra de Sam Christovam entram
varias embarcações de coberta pello rio della ter boa ca
pacidade, tanto de fundo como de largura, como adiante
se verá, cujas embarcações transportam lavouras que pro
duz toda esta terra Ribeira para a cidade da Bahia e
sempre vay o dito Rio dividindo este termo com o da dita
cidade de Sergipe.

Da dita Costa do mar em distancia de cinco legoas


pouco mais ou menos se acha esta dita Villa de Santo
Amaro com cincoenta vizinhos pouco mais ou menos com
hua Igreja nova bastante grande que inda nam ha Matriz
chua capella de Nossa Senhora, digo hum hospicio de
Religiosos de Nossa Senhora do Monte do Carmo e hua
capella de Nossa Senhora do Rosario dos pretos por
acabar.

Desta dita Villa meia legoa , pouco mais ou menos


afastado do Rio chamado de Sergipe que se ajunta de
fronte da dita villa com outro chamado de Cottinguiba
LIMITES 41
322 LIMITES

que juntos ambos fasem a mesma barra e a beira da dita


villa se acham alguns moradores, cada um parte diversa e
separados huns dos outros.

Logo em distancia de uma legoa pouco mais ou menos


se acha um engenho de faser assucar chamado Canna
Brava com alguns moradores e perto delle está huma ca
pella de invocaçam Nossa Senhora da Conceiçam e outros
moradores que vão correndo desta athé o engenho cha
mado Marobi de Baixo e seram tres coartas de legoa
pouco mais ou menos de hum a outro engenho.
Adiante deste dito engenho meia legoa pouco mais ou
menos se acha outro engenho chamado Marobi de Cima

e junto delle hua capella de Santo Antonio e alguns.


moradores, e deste para fóra estam cituados .nuitos mora
dores nos citios chamados Beritingas , Moita e Maria
Telles, todos separados huns dos outros .

Logo em distancia de hua legoa pouco mais ou menos


daquelle engenho se acha outro engenho chamado Jordão,
com alguns moradores visinhos a elle que correm athé
chegar ao engenho chamado Catete, em que se acha hua
capella de Nossa Senhora de Nazareth e bastantes mora
dores visinhos .

Além destes dous engenhos se acha outro chamado do


Citio e a beira delle alguns moradores e logo em distancia
de quinhentas braças se acha outro engenho chamado
Serra Negra onde se acham poucos moradores e deste
se seguem humas fragosas mattas athé o rio Japaratuba
que em partes tem de distancia duas legoas e em outras
mais, e em outras menos e com o comprimento pelo dito
Rio acima de seis ou sete legoas ; e a beira deste se acham
alguns moradores de hua e outra banda, athé chegar a
DA BAHIA COM SERGIPE 323

barra do dito Rio acima de que já se fez mençam no prin


cipio , cujo dito Rio he pouco caudaloso , principalmente
no tempo de veram por ser de agua doce athé se encontrar
com salgada, que lhe entra pela dita barra athé distancia
de duas legoas pouco mais ou menos o coal Rio começa
a dividir este termo com o da Villa Nova do Rio Sam
Francisco em coanto se não divide este dito rio com outro
Japaratuba chamado Mirim que sempre vay dividindo o
termo desta do daquella villa que distam de hua a outra
desoito legoas pouco mais ou menos ; estes dous Rios
juntos que fasem a dita barra , não tem capacidade de
navegaçam algúa tanto pella dita barra o não permittir,
como por não haver commercio naquella parte e tem este
dito rio Japaratuba athé a sua nascença que é em parte
chamado Agopi que são nove legoas mais ou menos delle a
dita barra e estas duas Japaratubas se ajuntam com huns
brejos e a dita Mirim fica ao Norte da dita outra Japara
tuba e tem seu nascimento no logar chamado Catingas e
he em si pequeno em coanto se lhe não communica as
aguas dos montes ; e entre estas duas Japaratubas haverá
em partes de distancia legoa e meia e em outras mais e em
outras menos e neste meio está uma missam de Religiosos
de Nossa Senhora do Monte do Carmo e a terra que
fica entre estes dous rios, a maior parte della sem suffi
ciencia algúa, por ser campos e só a beira dos ditos rios
he que habitam moradores, e em distancia de duas legoas
pouco mais ou menos acima da dita missam se acha uma

capella de Nossa Senhora da Purificação e visinhos della


varios citios , que por extensos se não faz delles mençam e
moradores separados huns dos outros .
Tornando outra vez ao engenho do Citio em distancia
324 LIMITES

deste húa legoa pouco mais ou menos se acha o engenho


chamado Sam Francisco da Jurema, com poucos mora
dores e delle para cima em distancia de legoa e meia se
acha a Matriz desta villa e todo este termo exceptuando a
parte que della entra pela freguesia de Nossa Senhora do
Soccorro e naquelle citio da dita Matriz do Pé do Banco
tem alguns moradores e dahi para cima tem outros dis
tantes huns dos outros athé o fim deste districto .

Da barra em que principiamos chamada Sam Chris


tovam corre um rio caudaloso pelo coal entram varias
embarcações de coberta, como fica espressado e deste em
distancia de duas legoas pouco mais ou menos sahe um rio
chamado do Pomonga que corre para o Norte pela terra a
dentro e acaba em huns apicuns ; não é navegavel por não
haver naquella parte commercio algum mais do que o de
canoas, e dista delle a costa do mar por treveção húa legoa
pouco mais ou menos.

Da barra deste dito braço do Rio, pelo dito principal


acima, em distancia de húa legoa, pouco mais ou menos, se

repartem esses dous Rios, hum chamado de Sergipe e outro


chamado da Cotinguiba , que este sempre faz repartindo
este districto com o da dita cidade de Sergipe, e por
aquelle dito de Sergipe acima que corre para este dito
termo em distancia de uma legoa deita um rio chamado
Garanjao, navegavel de embarcação de coberta athé o
porto do mesmo nome, em distancia de legoa e meia pouco
mais ou menos, e do dito porto por cima não he navegavel
e tem sua nacença na parte chamada Ladeira Grande em
distancia de duas legoas ; athé a dita barra e a beira deste
tem poucos moradores.
Correndo pelo dito rio de Sergipe acima em dis
DA BAHIA COM SERGIPE 325

tancia de legoa e meia, pouco mais ou menos, se acham


alguns moradores athé o porto das Pedras Brancas, e ahi
se acha visinho ao dito rio um engenho de faser assucar
e alguns omradores e no dito Rio por este acima se acham
cituados outros athé o porto do Bom Jesus , onde está
uma capella da invocação do mesmo Senhor e junto a esta
muitos moradores e pelo dito rio acima se acha um outro
engenho chamado Massapê e outro chamado do Jacú e
entre hum e outro há muitos moradores e delles para cima
vão e se acham cituados outros muitos moradores athé o

porto chamado dos Barcos , que athé onde estes podem


chegar e tomar as cargas, pelo dito rio dahi para cima o
não permittir, e só he navegavel de canoas e lanchas por
hir dahi estreitando athé a passagem chamada Sam Gon
çalo em que nella desagua um pequeno rio de agua doce
chamado Jacaracica e deste logar para cima vae este Rio
dividindo o termo desta villa do da villa de Itabayana e
tem este rio de Sergipe sua nascença no porto da Folha,
entre o Rio Sam Francisco e Geremoabo por espaço de

vinte e cinco legoas, pouco mais ou menos e do dito Porto


dos Barcos athé donde se aparta este dito rio do de Co
tinguiba são cinco legoas, pouco mais ou menos e desta
villa a dita de Itabayana ha dez legoas pouco mais ou
menos , e tornando ao dito Rio de Sergipe este no seu prin
cipio em tempo de veram seca, sendo este rigoroso, athé
a parte onde recebe as aguas do Jacaracica, que tem seu
nascimento em huma serra chamada Itabayana e corre pelo
dito rio de Sergipe, aonde entra na dita passagem de Sam
Gonçalo e a beira deste Rio e pela terra a dentro ha muitos
moradores e fica uma capella do dito Sam Gonçalo e
desta em distancia de meia legoa para o Norte ha outra
326 LIMITES

capella de invocação de Nossa Senhora da Gloria, aonde


moram bastantes visinhos e outros mais afastados.

E tornando outra vez a barra do rio Cotinguiba que


vay sempre dividindo o termo desta villa da de Sergipe
logo em distancia de uma legoa pouco mais ou menos , se
acha hum engenho da Ilha e ahi tem poucos moradores e
hua capella de Nossa Senhora da Conceição e athé este
logar não tem moradores e correndo desta para cima se
acham muitos moradores athé chegar ao engenho das La
rangeiras e o dito rio he navegavel, athé o porto das La
rangeiras, de embarcações de coberta e dahi athé a dita
barra terá a distancia de duas legoas, e do dito porto
para cima vay correndo o dito Rio athé a distancia de hua

legoa onde se acha um engenho chamado Faleiro e deste


para cima ha muitos moradores, tanto a beira do dito Rio
como afastados delle athé chegar a parte onde se acham
dous engenhos , um chamado Cambam de Baixo, onde está
húa capella de Santo Antonio e varios moradores o outro
que fica em distancia de hum quarto de legoa chamado
Cambam de Cima onde ha tambem varios moradores e

ambos estam a beira do dito Rio , que já nesta parte he


de agua doce com pouca largura , que corre para o Puente
e tem a sua nacença em huma Serra chamada Serra Com
prida. No pé desta que se divide de outra chamada Ita
bayana com um boqueiram que terá mil braças , no termo
da Villa de Itabayana e vem o dito Rio a dividir este
dito termo com a dita cidade como fica expressado , tendo
a sua nacença no termo da dita villa em huns brejos e ahi
he o rio limitado em forma que quando chega ao dito.
porto das Larangeiras já he mais favoravel, e dahi para
baixo vay em crescimento em forma que quando chega a
DA BAHIA COM SERGIPE 327

faser barra com o dito Rio de Sergipe ficam fasendo um


Rio Grande e perdem o nome de si com a largura de tre
sentas braças e com fundo bastante para poder navegar
qualquer náo se lhe permittira a barra que sahe para o
mar por só esta ter de fundo catorze ou quinze palmos
quando se não muda por ser de areia.

Adiante destes dous engenhos que ficam visinhos cha


mados Cambães ha a barra do dito Rio de Sergipe e se
acha outro engenho chamado Sant'Anna com huma capella
da mesma invocação, com muitos moradores visinhos e logo
em pouca distancia se divide o termo desta villa com a dita
de Itabayana pella parte do Norte e pela do Sul pelo
rio de Cotinguiba abaixo com o da dita cidade de Ser
gipe.
Tambem no termo desta villa ha outro rio chamado
Siriri de agua doce que vem das partes do Pé do Banco e
tem de seu principio em hum logar chamado Siriri e vem
desaguar em hum lagamar onde perde o nome, porém este
rio seca, do dito Pé do Banco para baixo , em alguns verões .
Estas são as noticias que podemos dar desta villa e
seu termo conforme o que se nos recommenda pellas
ordens que V. Mcê. nos remetteu e ordena Sua Magestade
que Deos Guarde e remettemos a V. Mcê. na forma que
nos ordena como Corregedor da Camara. Villa de Santo
Amaro das Brotas , o primeiro de Abril de mil setecentos
e cincoenta e sete.- Leonardo de Sá Souto Maior.- Ma
noel de Freitas Araujo .- José Ferreira Passos.- Francisco
de Freitas Araujo e Florencio Rodrigues Coelho . E não
contém mais a dita relação e ordens com o theor de que
tudo fiz passar a presente bem e fielmente em virtude da
carta e ordem nesta copiada do Dr. Ouvidor geral desta
328 LIMITES

comarca, ficando os proprios a que me reporto em meu


poder e cartorio e con ella esta confery, concertey e me
assigney do meu signal costumado .
Villa de Santo Amaro , treze de Abril de mil setecen
tos e cincoenta e sete . Eu, João Barros Coutinho a fiz
escrever e subscrevy, João Barros Coutinho . E por mim
Taballiam Sebastiam Gaspar de Barros e Almeida .

N. 116

Descripção feita pela Camara de Santa


Luzia declarando que o termo da referida villa
se separa da Bahia pelo rio Indiaroba, hoje
Saguim , por ser este o seu limite com a villa
de Abbadia .

Relação do termo desta Villa Real de Santa Luzia


Tem de termo esta villa de Santa Luzia oito leguas
em quadra a sahir da villa para sul tres leguas a topar
com o districto da villa de N. S. da Abbadia ; para o
norte cinco leguas a topar com o districto da villa do
Lagarto e para o leste com tres leguas a barra do rio.
Piagohy e para loeste com cinco leguas de sertão que
para qualquer parte se alcança de jornada em hú dia .
Rios que decursão pelo termo da dita villa e suas
navegações . Da dita villa para o sul distante de meia
legua tem o rio chamado Goararema que tem de nave
gação huma legua de sua Barra pela terra dentro e faz
Barra no rio Piagohy; do dito Rio Piagoly a meia legua
está o Rio Priapú que tambem faz a sua Barra no mesmo
Rio Piagohy com meia legua de navegação de sua Barra
pela terra dentro e do Rio Priapú a duas leguas para o
mesmo Sul está o Rio Indiaroba com navegação de
huma legua e este Rio divide o termo desta villa com
DA BAHIA COM SERGIPE 329

o da villa de Nossa Senhora da Abbadia, todos com


seus nascimentos no mesmo termo desta villa de oeste
a leste .

Da villa para o norte tem os rios seguintes ; a beira


da villa o rio Aricuitiba fazendo Barra no Rio Goararema
com huma legua e hú quarto de navegação cercando a
dita villa ; do dito Rio Aricuitiba ha duas leguas ca
minho do Norte tem o Rio Piagohy com cinco legoas
de navegação da Barra do mar a húa Cachoeira de
pedras que tem o dito Rio visinha da qual para a parte
do Norte tem húa Povoação chamada Estancia e a beyra
do dito Rio por elle abayxo hua legoa para o Sul tem
húa capella de São Gonçallo ; visinha a dita Povoação
tem outro Rio Doce chamado o Piapitinga que tem sua
Barra no Rio Piahohy na mesma cachoeira de Pedras
metendo em meyo a dita Povoação da Estancia e tanto
este como o Piagohy ambos tem suas nascenças no dis
tricto da villa do Lagarto com distancia o Piagohy de sua
nascença á Barra de dezoito legoas , e o Piapitinga com
doze legoas pouco mais ou menos; da dita Povoação a
hua legoa para o Noroeste tem o Rio Biriba com nave
gação de hua legoa e meya fazendo Barra no Rio Pia
gohy e junto á capella do Sr. São Gonçallo do dito rio
Biriba a outra legoa tem o rio Macunamduba fazendo
Barra no rio Biriba e não tem navegação de embarcação
só sim de canoa; e do dito rio Macanamduba a hua legoa
tem o rio Fundo que tem de navegação duas legoas
pouco mais ou menos fazendo Barra no rio Piagohy.
Este rio he o que divide o termo desta villa com o da
cidade de Sergipe del -Rey de donde tem a sua nascença
Avesinhao -se a esta villa ao sul a villa de Nossa
Senhora da Abbadia com distancia de seis legoas e
LIMITES 42
330 LIMITES

para jornada hum dia e para o norte a villa do Lagarto


com distancia de doze legoas com jornada de dois dias
e para noroeste se avisinha a cidade de Sergipe del -Rey
cabeça desta comarca com distancia de catorze legoas
pouco mais ou menos e de jornada dous dias .
É o que nos parece podermos informar sobre este

particular. Villa Real de Santa Luzia em Camara de


vinte e nove de Janeiro de mil e setecentos e cincoenta
e sete annos . Antonio Rodrigues Vieyra Escrivão da
Camara o escrevy . -O Juiz Ordinario , José Pinto Lima
-ManoelJosé da Silva- Engenio Domingos da Costa
José Rodrigues Gomes - Luiz de Assis Freitas.

N. 117

Descripção da freguezia de Jesus Maria José


do Pé do Banco feita pelo respectivo vigario por
ordem do Governo e do seu superior ecclesias
tico em que declara que o rio Sergipe nasce no
sertão da Bahia, entre Geremoabo e o rio de S.
Francisco .

Relação dos lugares, povoações e rios desta freguezia


de Jesus Maria José e S. Gonçalo do Pé do Banco.
Divide-se esta Freguezia do Pé do Banco das Fre
guezias de Nossa Senhora do Soccorro da Cotinguiba, e
de Santo Antonio e Almas de Itabayana com o Rio de
Sergipe, e das Freguezias da Villa Nova Real d'ElRey , e de
Santo Antonio do Urubú Debaixo com o Rio chamado Ja
paratuba mirim . O rio de Sergipe tem seo principio no
certão do Porto da Folha entre o Rio de S. Francisco, e

Geremoabo, e daqui corre pela mayor parte para o sueste,


e sul, por espaço de mais de vinte e sinco legoas : tambem
secca do seo principio athe onde recebe as agoas do Rio
DA BAHIA COM SERGIPE 331

Jacarasica e daqui espaço de quatro ou cinco legoas se


encontra com o Rio Cotinguiba , onde perde o nome. Daqui
para sima distancia de hua legoa se acha a barra do Rio
Ganhamoroba ; este tem seo principio e nascimento para a
parte do Norte em hus oiteiros ou serras pequenas que lhe
chamão Ladeira grande, corre para a parte do Sul por huas
fragozas mattas athe chegar a hum lugar chamado Maro
hem ; athe aqui com pouca abundancia de agoa, porque a
sua largura não excede de braça e meya : daqui para baixo
comessa a alargar, porque lhe entra a maré e agoa salgada
athe onde está o porto Garanjão, donde carregão os barcos ;
daqui para baixo se faz mais espaçoso athe fazer barra no
dito Rio de Sergipe , onde lhe chamão o Porto das Redes e
terá de distancia de seo nascimento athe a dita barra duas
legoas e meya pouco mais ou menos .

Tornando ao Rio de Sergipe a chegar a dita barra da


Cotinguiba se acha com bastante largura, que passará de
trezentas brassas : he navegavel, entrão barcos por elle
assima, até espaço de tres legoas ou duas e meya, onde vão
carregar, e lhe chamão o Porto dos Barcos , e deste porto
até a sobredita passage de S. Gonçalo, andão lanxas e
canoas somente.

Do ajuntamento destes dous rios procede perderem


.
ambos o nome e tomarem o de mar, por se achar com lar
gura de setecentas ou oitocentas brassas, e daqui vão pagar
tributo ao Oceano, com duas legoas ou mais de distancia
donde formão a barra chamada vulgarmente da Cotin
guiba, pela qual entrão barcos de corenta até sincoenta
caixas de assucar somentes, por não passar o fundo da
dita barra de 16 palmos a qual he de area, e por isso sempre
mudavel. Da barra para dentro distancia de hua legoa
332 LIMITES

se aparta hum rio ou brasso para a parte do Oriente cha


mado Pomonga, este se encaminha para Nordeste no
mesmo paralelo da costa do mar distante da dita costa hua
legoa e se acaba em hus apicus chamados Curralinho, tem
de distancia de donde se aparta do mar da Cotinguiba sinco
legoas pouco mais ou menos . Esta se fas navegavel pela
sua capacidade de largo e fundo e só o deixa de ser pela
pouca communicação que ha para a parte donde elle se
inclina, por serem terras de prayas em que habitão poucos
moradores e por elle entra agoa salgada do principio até
o fim .

O Rio Japaratuba mirim tem seo nascimento para a


parte do Norte em hem logar que lhe chamão Catingas ;
emquanto só, he pequeno vieiro que só pelo inverno tem
agoa, mais ( sic ) como lhe entrão varias vertentes lhe
communicão o nome de rio, e este pequeno, porque onde se
acha com mais largura, não excede de tres brassas : este
corre para a parte do Sul até fazer barra em hum rio cha

mado lagamar, donde perde o nome, e terá de distancia


do seo nascimento até esta dita barra sete ou oito legoas
pouco mais ou menos .

Entre os rios de Sergipe e Japaratuba Mirim se


achão dous Rios , hum chamado Japaratuba Grande , outro
Seriri. A Japaratuba Grande tem seo nascimento pouco
assima de hum sitio chamado Agoapi , este rio se acha com
agoa somente em tempo de inverno, tambem tem seo nas
cimento da parte do Norte e corre para o Sul, no mesmo
paralelo da Japaratuba mirim , distante de hum a outro
legoa e meya pouco mais ou menos , e passando deste
Agoapi para baixo tambem se lhe communicão alguas ver
tentes donde recebe alguas agoas, e com ellas vem até lhe
DA BAHIA COM SERGIPE 333

entrar hum rio pequeno chamado Lagartixa, este tem seo


nascimento distante da dita Japaratuba grande duas legoas
pouco mais ou menos para a parte do Occidente, com
bastante agoa e boa, por cuja cauza se faz a dita Japara
tuba Grande abundante de agoa, e daqui segue direito a
meter- se tambem no Rio Lagamar donde perde o nome,
e terá de distancia de seo nascimento até meter-se no La

gamar 10 legoas pouco mais ou menos .

O Rio Seriri tem seo nascimento em hum lugar cha


mado Seriri de cujo sitio toma o nome ; logo pouca dis
tancia do seo nascimento se communica com elle hum pe
queno vieiro chamado Sangradouro , e depois de juntos
correm para o Sul e nasce da parte do Norte . Da Japara
tuba Grande e este Rio Seriri haverá distancia de outras
legoas pouco mais ou menos .A este Rio Seriri tambem se

The communica hum pequeno riacho chamado Genipapo


este tem seo nascimento em hum sitito chamado Sam Payo,
distante tres quartos de legoa do Rio Seriri , e juntos cor
rem a desagoar tambem no Rio Lagamar onde perde o
nome, e daqui onde tem seo nascimento o Rio Seriri haverá
distancia de seis ou sete legoas pouco mais ou menos.

O Rio Lagamar donde estes tres Rios Japaratuba


Mirim, Japaratuba Grande e Seriri vão desagoar, he Rio
Caudalozo, tanto de fundo , como de atoladisso pelas mar
gens : tem seo principio em hus grandes lamaçais, de brejos.
que nascem pouca distancia da barra da Japaratuba
Mirim do districto da Villa Nova ; este corre para a parte

do Sul,e terá de largo 25 brassas pouco mais ou menos ;


he Rio de pouca corrente ; e de seo nascimento até onde
recebe agoa salgada, e chega a maré será legoa e meya, e
daqui segue o mesmo rumo com muitas voltas e enciadas
334 LIMITES

até se recolher no mar distante da barra da Cotinguiba oito


ou nove legoas, e do seo nascimento até a sua barra ( que
vulgarmente se chama a barra da Japaratuba ) haverá
distancia de quatro ou sinco legoas pouco mais ou menos :
este Rio se fas navegavel pela sua capacidade, tanto de
fundo como de largo , e só o deixa de ser pela incapaci
dade da sua barra, por ser esta muito raza e chea de pe
nedos.

Entre o Rio de Sergipe e o Rio Seriri, mais encostada


a este se acha a Igreja Matriz de Jesus Maria Joseph e
S. Gonçalo do Pé do Banco com muito poucos moradores :
entre os dous rios para a parte do certão que he para o
Norte, distancia de quatro legoas pouco mais ou menos se
acha povoado de poucos moradores, e dahi para sima
nenhus , por serem terras fragozas e inhabitaveis : entre
os dous Rios Japaratuba Grande e Japaratuba Mirim tam
bem estão situados alguns moradores em fazendas distan
tes huas das outras. Da Matriz para a parte do mar que he
para o Sul sete ou oito legoas até a costa do mar se acha
povoada de bastantes moradores, e ha hua Villa de Santo
Amaro das Brotas distante da costa do mar tres legoas e
tambem estão situados nove Engenhos de fazer assucar ;
e em todo este circuito se não acha lugar que por mais
povoado se possa fazer menção- Tem esta freguezia con
forme o rol da desobriga 4430 pessoas de comunhão, e
191 de confissão somentes . O Vigario João Cardoso de
Souza. (Sem data- 1757 ) .

Está conforme o original. Docos. da Bahia. N. 2712.


Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 13 de Janeiro de
1913.-O 1º . Bibliothecario-Director, Eduardo de Castro
e Almeida.
DA BAHIA COM SERGIPE 335

N. 118

Escriptura de doação da terra precisa para


nella se erigir a matriz de Geremoabo feita por
Garcia de Avila, descendente do 19 deste nome.

Em 1740 o Coronel Garcia de Avila Pereira, na qua


lidade de Senhor, por sesmaria, das terras de Geremoabo,
fez doação ao Vigario e aos seus freguezes naquelle logar
la terra que fosse precisa para sobre ella ser edificada a
Matriz num alto, defronte da antiga igreja, como se vê
pela escriptura seguinte :
"Francisco Vieira da Silva, Tabellião Publico , do
judicial e notas nesta cidade do Salvador, Bahia de Todos
os Santos e seu termo et cætera.
Certifico e dou fé que em meu poder e cartorio do
dito officio está um livro de notas em que servio o Tabel
lião Manoel da Silva Feijão que teve seu principio em
dezesete de Novembro de mil setecentos e trinta e oito e
acabou- se em doze de Outubro de mil setecentos e qua
renta e nelle a folha duzentos e setenta e duas , verso,
está a Escriptura a que se refere a petição do supplicante
que em theor de ad verbum he da forma seguinte :
Escriptura de doação que fez o Coronel Francisco Dias
de Avila ao Reverendo Vigario e mais freguezes de Ge
remoabo , para fazerem uma Matriz : Saibão quantos este
publico instrumento de Escriptura de doação e consenti
mento ou como em direito melhor nome tenha, digo nome
e logar haja, virem que no anno do Nascimento de Nosso
Senhor Jesus Christo de mil setecentos e quarenta, aos
vinte e cinco de Janeiro do dito anno , nesta cidade do Sal
vador, Bahia de Todos os Santos, em minha pousada
apparecendo presentes Manoel Gonçalves da Cunha, Pro
336 LIMITES

curador do Coronel Francisco Dias de Avila, como consta

da procuração que no fim irá lançada, e Domingos Cardoso


dos Santos , como Procurador do Reverendo Vigario João
Coelho de Bessa, collado na Matriz de Geremoabo, digo
São João de Geremoabo , morador desta cidade , pessoas

que reconheço pelas proprias, de que faço menção e pelo


dito Manoel Gonçalves da Cunha foi dito em presença das
testemunhas ao adiante nomeadas e assignadas, que pelas
instrucções do seu constituinte era senhor e possuidor at
vista e face de todos, sem contradição de pessoa alguma,
de um sitio de terreno chamado o Geremoabo , do qual
doava, como logo doou nelle, tanta terra quanta seja ne
cessaria para nella se edificar a nova Matriz de S. João de
Geremoabo, no alto que fica da parte do Sul do riacho
fronteiro a Capella velha, cuja doação fazia ao Reverendo
Vigario da tal Matriz João Coelho Bessa e seus freguezes,
de cujo sitio poderão tomar posse, para nelle edificarem a
dita Igreja e tudo mais a ella pertencente ficando - lhe,
porém, reservado o livre padroado della para si e seus
successores e todas as mais primasias que tem nas mais
capellas sitas em suas terras e onde de traspassar todo o
direito, acção, pretenção que ainda tem e podia ter, para
que a gosem, possuam como sua, que lhe fica sendo, por
virtude desta doação e consentimento, que lhes faz muito
de sua livre vontade e motu-proprio, a qual terra se obriga
em nome de seu constituinte fazer boa em todo o tempo e
de a tirar a paz e a salvo de quaesquer duvidas, encargos

que hajão a que sahirá e se dará por autos a sua custa e


despesa , até tudo ser findo e acabado e o Vigario e seus
freguezes restituidos a sua posse pacifica, e se para maior
validade desta doação aqui faltar algum ponto ou re
DA BAHIA COM SERGIPE 337

quisito de direito, que de necessidade houverem depor e


declarar, elle doador ha tudo posto e declarado, como se
de cada um delles fizesse expressa e declarada menção ,
porque em todo o caso quer e é contente tenha esta o seu
seu devido effeito e inteiro comprimento, pelo zelo que o
move ao bem commum daquelle territorio e que a dita
posse tomem ou não, elle doador lhe ha por dada nelles
seus successores por incorporada pela clausula constitutiva,
possse real actual, corporal, civil e natural, que em si po
derão reter e continuar livremente, como o fazia elle
doador , e antes delle seus antecessores e se obriga pelos
bens e rendas do seu constituinte a ter e manter, cumprir
e guardar esta Escriptura de doação e consentimento ,
assim e da maneira que ella se contem, sem que o possa
revogar, reclamar nem contradizer posse, nem por outrem,
agora e nem em tempo algum.
E logo pelo dito Domingos Cardoso dos Santos foi
dito que em nome de seu constituinte acceitava como
acceita esta escriptura de doação a elle e a seus freguezes,
feita da terra que necessaria fôr naquelle sitio tam sómente
para edificar a dita Igreja como nesta se declara, debaixo
das clausulas , condições e obrigações nella expressadas ,
e como fé e testemunho de verdade assim outhorgarão e me

requererão lhes fizesse este instrumento em nota que


assignarão e acceitarão .
Eu Tabellião acceito em nome das pessoas ausentes
a quem o favor desta tocar possa, para lhe dar os tras
lados com o theor das procurações seguintes :

Procuração -Pela presente por mim assignada e feita


faço meu Procurador ao Senhor Manoel Gonçalves da
Cunha, para que por mim e em meu nome como se eu pre
ILMITES 34
338 LIMITES

sente fosse, assignar uma Escriptura do Reverendo Vi


gario da Freguezia do Geremoabo , fronteiro a Capella
velha, ficando livre o padroado della para mim e a minha
casa e successores e todas as mais primasias que tenho
nas minhas terras do sertão para o que lhe concederá o
dito meu procurador todos os direitos que em direito me
são concedidos , como se eu presente fôra . Casa da Torre e
de Setembro desenove de mil setecentos e trinta e nove.
-Francisco Dias de Avila.- Por mim feita e assignada, eu
o Padre João Coelho de Bessa, Vigario collado na fre
guezia de S. João de Geremoabo, em meu nome e dos meus
freguezes como seu Parocho, faço meus bastantes procu
radores aos senhores Domingos Cardoso dos Santos e
Antonio Francisco Pença para que possão assignar huma
Escriptura de data de terra que faz o Coronel Francisco
Dias de Avila para se fazer a nova Igreja da Matriz de
Geremoabo, para que lhe dou todos os poderes havidos e
por haver em direito assim concedidos .
Bahia, treze de Setembro de mil setecentos e trinta e
nove.―― O Vigario, João Coelho Bessa.

E não se contem menos e mais na dita Procuração que


fielmente transladei das proprias a que me reporto , que
entreguei a quem assignou, sendo presente por testemu
nhas - Serafim Pereira da Costa. Antonio da Fonseca.
Passa o referido na verdade e consta do dito meu

livro que se acha em meu poder a que me reporto e delle


fiz passar a presente certidão bem e fielmente com obser
vancia do despacho retro do Dr. Juiz de Fóra e do crime
João Liborio de Figueira que de presente serve e por im
pedimento do proprietario o Dr. Juiz de Fóra-José Jorge
da Silva- , que vae sem cousa que duvica faça ; e com
DA BAHIA COM SERGIPE 339

outro official ao conceito aqui abaixo assignado , estes


conferimos e concertei subscrevi e assignei na Bahia, em
os vinte e quatro dias do mez de Dezembro do Anno do
Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil sete
centos e quarenta e oito .
Pagou- se do feitio deste por parte do supplicante a
cujo requerimento e peditorio se lhe deu e mandou dar
e passar o presente na fórma do Regimento em dobro de
setecentos e quarenta réis , tudo na forma costumada. E eu
Francisco Vieira da Silva, Tabellião o subscrevi ; concer
tado por mim, Tabellião Francisco Vieira da Silva.
E eu Antonio Barbosa de Oliveira, Tabellião Publico
do judicial e notas nesta cidade do Salvador, Bahia de
Todos os Santos e seu termo, por Sua Magestade Fide
lissima que Deus Guarde ; bem e fielmente fiz copiar do
proprio documento que me foi apresentado a que em tudo
e por tudo me reporto e o tornei a entregar a quem a assi
gnou ; e com outro official commigo ao concerto abaixo
assignado de meu signal publico e ( local do signal ) de que
uso, e mo dito dia mez e anno no principio deste instru
mento declarado .

Pagou- se de feitio deste por parte do supplicante que


o pediu e requereu contado na fórma do novo Rgimento,
observado e praticado nesta Capitania da Bahia, mil cento
e dous réis . Eu Antonio Barbosa de Oliveira. Tabellião.

Concertado por mim Tabellião. Commigo escrivão .


João Pedro Xavier dos Anjos.-José Joaquim Pi
nheiro . Está conforme .- O secretario da Camara, José
"2
Francisco Passos."
340 LIMITES

N. 119

Mappa mandado ao Governo de Portugal


pelo vigario de Santo Antonio do Urubú de
Baixo, por ordem do mesmo governo e da au
ctoridade ecclesiastica, pelo qual se vê que o
riacho chamado Mochótosinho pela Camara de
Villa Nova d'El - Rey é o rio Xingó , nome pelo
qual é hoje usualmente conhecido e que divide
a Bahia de Sergipe, limite que já existia em
1757, pois separava a freguezia do trubú de
Baixo, do termo de Villa Nova d'El- Rey da
freguezia de Santo Antonio de Pambú que faz
parte do territorio da Bahia.

Planta da Freguezia de Santo Antonio de Orubú de


Baixo, do Rio de S. Francisco no Arcebispado da Bahia
( 1757 ) -Docos. da Bahia, n . 2709 , annexo ao n . 2666.—
No alto da planta, á esquerda e ao longo, lê- se :
"Por este Rio chamado Japaratuba se divide esta
"Freguzia de Orubú com a de Jesus Maria José e S. Gon
"çallo do Pé do Banco. "
Na parte inferior á esquerda :
"Por aqui se divide esta Freguezia com a de Villa
"Nova-Varge de Mussuipe por ella se entra de canoa. "
Na parte inferior, ao longo :
"Rio de S. Francisco, que divide a Capitania da Bahia
"da de Pernambuco .

Na parte inferior, á direita, de baixo para cima :


"Rio do Xingó, que divide esta Freguezia com a de
"Santo Antonio do Pambú. "

As transcripções estão conforme o originai . Lisboa,


Arquivo de Marinha e Ultramar, 16 de Janeiro de 1913.
O 1º. Bibliothecario-Director, Eduardo de Castro e Al
meida.
DA BAHIA COM SERGIPE 341

N. 120

Mappa que demonstra ser constituido o ter


ritorio de Sergipe pelas sete (* ) freguezias
nelle mencionadas e cujas demarcações feitas
pelos Vigarios, concordam perfeitamente com
as dos termos das villas feitas pelas Camaras,
como se vê pelo cotejo e confrontação desses
documentos.

Mappa de todas as Freguezias , que pertencem ao Arce


bispado da Bahia, e sugeitos seos habitantes no Tem
poral ao Governo da mesma Cidade com a distinsão das
Comarcas e Villas a que pertencem com o numero de fogos,
e Almas para se saber a gente que se pode tirar de cada
úma dellas para o Serviço de Sua Magestade e sem oppres
são dos povos. Baía 9 de Janeiro de 1775.
Comarca da Baía e Villa de Agoafria:
1- S . João da Villa de Agoa- Fria ;
2-Divino Espirito Santo do Inhambupe ;
Estas duas Freguezias do termo da Villa de
S. João de Agoa- Fria tem 640 Fogos com 3845
almas . Pela cultura de gados , e lavouras em Cer
tões não pode dar mais, que a vigezima parte
que são 29 ómens para o Serviço das Tropas , e
o resto para as suas Ordenanças .
Comarca da Baía e Villa do Itapicurú :
Nossa Senhora de Nazareth da Villa de Itapicurú
de Sima ;

2- S. João de Geremoabo ;
3- Santa Anna, e Santo Antonio dos Tucanos ;

(*) Convem notar que a freguezia de Jesus Maria José e S. Gon


çalo de Pé do Banco tambem fazia parte do territorio de Sergipe ,
assim como as duas adeante mencionadas do termo de Villa Nova
d'El - Rey.
342 LIMITES

Estas tres Freguezias que compreende o


districto da Villa do Itapicurú tem 612 Fogos
com 5284 almas, e por serem Certões que tra
tão da cultura de gados não devem dar mais que
a vigezima parte dos seus Fogos que são 39
ómens para o Serviço das Tropas pagas, ficando
o resto para as suas Ordenanças .

Comarca da Baía e Villa da Abbadia :


1- Nossa Senhora da Abbadia na Villa da Abbadia ;
2-Nossa Senhora do Monte do Itapicurú da Praia ;
3-Jezus Maria Jozé S. Gonçalo do Pé do Banco ;

Estas tres Freguezias do districto da Villa


de Nossa Senhora da Abbadia tem 819 Fogos
com 5916 almas , e pela mesma razão da cultura
de gados , não deve dar mais, que a vigezima
parte dos seus Fogos que são 39 ómens para o
serviço das tropas pagas, ficando o resto para
as suas Ordenanças.

Comarca da Baía e Villa Nova Real :


1- Santo Antonio da Villa Nova Real de El Rey ;
2- Santo Antonio do Urubú de Baixo ;

Estas duas Freguezias de Villa Nova Real


tem 264 Fogos com 2013 almas que pela mesma
razão dará a vigezima parte dos seus fogos, que
são 12 ómens para os serviços das tropas pagas ,
e o mais para as suas Ordenanças .

Comarca de Porto Seguro e Villas pertencentes :


1- Nossa Senhora da Pena da Villa de Porto Seguro ;
2- Santo Antonio da Villa das Caravellas ;
3-A Villa e Freguezia de S. Matheus ;
DA BAHIA COM SERGIPE 343

Estas tres Villas não podem dar gente al


guma, por terem grande extensão de terras em
mais de 30 Legoas de costa, muito pouco po
voadas e infestadas do gentio , principalmente a
de S. Matheus, onde costumão vir quazi todos
os annos . Pertencem ao Bispado do Rio de Ja
neiro, porem o civil e Militar ao Governo da
Baía.

Comarca do Sul, ou de Jacobina :


1- Santo Antonio da Villa da Jacobina ;
2-Santo Antonio da Jacobina ;
3- Santo Antonio da Villa de Urubú de Sima ;
4- Santo Antonio da Villa de Nossa Senhora do Li
vramento do Rio das Contas ;
5- Santa Anna de Caitité ;
6-Santusé ;
7-Santo Antonio de Pambú ;
8-Nossa Senhora do Bom Successo ;
9- S. Francisco das Chagas da Villa da Barra do Rio
Grande ;

10-Nossa Senhora da Conceição do Rio Pardo ;

Estas des Freguezias que abraçam a Co


marca do Sul , ou da Jacobina não podem dar
gente alguma, porque occupão úma grande ex
tensão de terras rodeadas de gentio , occupão- se
na cultura de todo o genero de gados , terras
pouco povoadas, e fornecem a Cidade com os

gados necessarios para a sua sustentação .


Comarca do Norte, ou de Sergipe d'El Rey :
1- Nossa Senhora da Victoria da Cidade de S. Chris

tovão de Sergipe d'El Rey ;


344 LIMITES

2--Nossa Senhora do Soccorro na Cotenguiba ;


3- Nossa Senhora da Piedade da Villa de Lagarto ;
4 Nossa Senhora dos Campos do Rio Real ;
5- Santa Luzia da Villa do Rio Real ;
6- Santo Amaro da Villa das Brotas ;
7- Santo Antonio e Almas da Villa de Itabaiana ;

Esta Capitania de Sergipe de El Rey que


compreende todo o Certão debaixo, abraça sete
Freguezias com os Fogos e almas que se véem .
Os que habitão no interior do Continente , se
occupão na creação de todo genero de gados : e
os que habitão proximos a Marinha, e margens
dos Rios se empregão na cultura de mandiocas ,
e todo o genero de legumes com que fornecem
esta Cidade, que sem ellas não pode subsistir ; e
tambem na fabrica de alguns engenhos. E por
esta razão se não deve bolir nellas , salvo em
alguns vadios, e vagabundos por ser esta gente
pernicioza .

Capitania e Comarca do Espirito Santo :


1- Nossa Senhora da Victoria, Capital da Capitania
do Espirito Santo ;
2 -Espirito Santo de Villa Velha ;
3- Nossa Senhora da Conceição da Serra ;
4--Freguezia da Villa de Guarapari ;

Esta Capitania compreende as quatro Fre


guezias que se véem, sustenta úma Companhia
de 50 ómens pagos para a guarnição de tres For
talezas, e tres pequenos Reductos . Tem grande
extensão de Marinhas, e o Certão é atacado de
DA BAHIA COM SERGIPE 345
HEROES STOR,ETHER ARE NOTEDTHA

gentio ; apenas poderá dar 30 até 50 ómens pes


cadores, de que abunda para o Serviço da Mari
nha. O Ecclesiastico , e Civil pertence ao Rio de
Janeiro, mas o Militar, e Provedoria pertence a
Baía.

Está conforme o original. Documentos da Bahia.


N. 8750.—Lisboa. Arquivo de Marinha e Ultramar, 16 de
Janeiro de 1913. -O 1°. Bibliothecario- Director, Eduardo
de Castro e Almeida.

N. 121

Carta em que o Governador da Bahia e


de Sergipe reprehende a Camara da Villa do
Lagarto a violencia que tinha praticado no
Cumbe, excedendo os limites de sua jurisdicção.

L. 25. Cartas do Governo , fls . 231 e 232.


Para a Camara da Villa do Lagarto.
Não he o meio de violencia o que decidem as questoens
de Jurisdiçoens sempre prejudicial ao Serviço de Sua
Magde . e o do Publico mas as decizoens dos Superiores a
quem a mesma Senhora tem confiado a Regencia dos
povos, e entregue o supremo poder para castigar aos que se
não se cingirem as disposiçõens das Leys.
ACamara da Villa da Abbadia pos na minha presença
a prepotencia que essa camara tem uzado com os morao dres
do Citio do Cumbe, e seus limites, obrigando-os a dezobe
decerem as suas determinações , e passando ao escandaloso
procedimento de ensinarem que lhe não pague o Real Do
nativo, e menos executem as ordens que lhes distribuem
ha muitos annos pela posse em que estão de lhe serem
LIMITE8 44
346 LIMITES

sujeitos os ditos povos ; o que me põe na rigorosa obri


gação de estranhar a Vmces . semelhantes procedimentos , e
ordenar-lhes que logo, logo se abstenham destas violencias
e de outras que me são presentes , e respondão com os titu
los que tiverem para a legitimidade desta pretenção ao que

já deverão ter satisfeito na forma qr. Thes or lenei por


ordem dirigida pela Secretaria de Estado bem persuadi
dos Vmces . de que se me constar que se não abstem eu
farei castigar rigorosamente ; e para certeza de que lhes foi
intimada esta ma ordem, depois de registar nos Livros da
Camara a que tocar me enviarão logo , logo certidão . Deus
Guarde a Vicês . Bahia, 29 de Junho de 1787. Dom Rodrigo
José de Menezes. Sr. Juiz Ordr. "e officiaes da Camara da
Villa de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto. Extrahida
por mim, Bacharel Hermilo Durval, 3°. official do Archivo
Publico do Estado da Bahia, que a copiei fielmente aos
dezenove dias do mez de Novembro de mil novecentos e
treze . Está conforme ao original. Bahia e Archivo Publico ,
19 de Novembro de 1913. -O 19 official , Dr. L'irgilio de
A. Cunha.
Conforme. Bahia, 19 de Novembro de 1913.-O dire
ctor, Cassiano Amaro Lopes.
DA BAHIA COM SERGIPE 347

N. 122

Carta do Governador da Bahia e de Sergipe


dirigida a Camara de Abbadia declarando que
havia providenciado para que os officiaes da
Camara do Lagarto não continuassem a pre
tender esbulhal -a da jurisdicção que lhe per
tencia, o que prova que ininterruptamente
sempre o poder competente reconheceu e confir
mou ajurisdicçãode Abbadia sobre o que era ligi
timamente do seu territorio e a defendeu das
tentativas de usurpação dos seus visinhos.

Para a Camara da Villa da Abbadia . -Pela carta


junta dou as providencias necessarias ao esbulho que
com violencia lhes fas a Camara da Villa da N. Senhora

da Piedade do Lagarto da posse em que Vices . estavão


de dirigirem os povos do Citio do Cumbe e seus Limites
e no caso de continuarem neste desordenado caprixo
de Jurisdição, o que não espero , me comunicarão logo
pela Secretaria deste Governo para dar as providencias
que de húa vez as dissipem. Deos guarde a Vices . Bahia,
29 de Junho de 1787. Dom Rodrigo José de Menezes .
Sr. Juiz Ordinario e Officiaes da Camara da Villa da
Abbadia.

Esta Copia foi extrahida por mim José Augusto de


Faria 3.º Official do Archivo Publico do Estado da
Bahia que a copiei fielmente aos desenove dias do mez
de Novembro de mil novecentos e treze : Está conforme
ao original . Bahia e Archivo Publico, 19 de Novembro
de 1913. -01 . " Official , Dr. Virgilio de Araujo Cunha.
Conforme . Bahia, 19 de Novembro de 1913. - 0 Di
rector, Cassiano Amaro Lopes.
348 LIMITES

N. 123

Livro 23 de Patentes do Governo - Patente


que prova ter sempre o Governo da Bahia
exercido legalmente jurisdicção entre o rio
Real e O Saguim. Este documento indica
tambem as dimensões do territorio.

D. Rodrigo José de Menezes , do conselho de Sua


Magestade , Governador e Capitaõ General da Capitania
da Bahia etc.
Faço saber aos que esta minha carta patente
virem , que tendo respeito a ser necessario prover com
pessoa de valor e capacidade o posto de capitão da
Companhia do rio Saguim , S. José , Cajueiro até o
Tahi Mirim das ordenanças da Villa de Nossa Senhora
da Abbadia , de que é capitao mór José de Oliveira
Campos e por concorrerem estes requisitos em a de
Fructuoso Martins de Abreu que foi proposto em pri
meiro logar em acto de Camara, com assistencia do
dito capitao mór , e esperar que nas obrigações do dito
posto desempenhará o bom conceito que delle faço ;
Hey por bem de o nomear, como por esta nomey- o ,
no posto de Capitao da dita Companhia, com o qual
não vencerá soldo da Real Fazenda , mas gosará de
todas as honras , graças, franquezas, preeminencias ,
isenções e liberdades que lhe tocao , podem e devem
tocar aos mais capitaes das tropas regulares , como de
termina a Carta Regia de 22 de Março de 1766 ..
Pelo que, ordeno ao dito Capitaō-mór lhe dê posse
e juramento , de que se fará assento nas costas desta.
E os officiaes mayores e menores de guerra e milicia
desta Capitania o conheção , honrem e reputem por tal
e o mesmo façam os seus subordinados cumpram ,
DA BAHIA COM SERGIPE 349

guardem e executem as suas ordens , 110 que for


pertencente ao Real Serviço, como devem e são obri
gados ; e elle o será a mandar confirmar esta em seis
mezes seguintes a sua data , como o determina o capi
tulo 16 do Regimento deste Governo . Em firmeza de
que mandei passar esta sob o signal e sello de minhas.
Armas , que se registrará nos livros da Secretaria do
Estado e nos da Vedoria Geral a que tocar. João Vas
Silva a fez na cidade do Salvador, Bahia de Todos os
Santos aos vinte e tres de Agosto . Anno de mil sete
centos e oitenta e sete. José Pires de Albuquerque
Secretario do Estado e Guerra a fiz escrever . — Dom
Rodrigo José de Menezes .

N. 124

Carta do Governo da Bahia e Sergipe,


declarando , que o termo da villa da Abbadia se
estendia até o rio Saguim, após inquerito ou
estudo do caso.

N. 37 -Cartas do Governo para o Capitão Mór


das Ordenanças do Rio Real .
Constando -me das informações a que procedi , que
o Rio Saguim he o que divide o termo dessa Villa, do
da Abbadia, da qual fora desmembrada para aquella ,
na sua creação , o termo que fica entre o mesmo Rio
e o Rio Real ; se devem executar as ordenanças alli
existentes , parte do terço da mesma Villa da Abbadia ,
a cujas justiças estão sujeitos os seus moradores : pelo
que, fique Vm.ce na intelligencia , de que pertencem
ás ordenanças da predita Villa da Abbadia os habi
tantes do termo acima indicado ; abstendo - se portanto
Vm.ce, de exercer a esse respeito qualquer acto de
350 LIMITES

jurisdicção . Deus Guarde a Vm.ce. Bahia , 2 de Março


de 1812 , Conde dos Arcos , Snr . Capitão das Orde
nanças , digo, Capitão Mór das Ordenanças do Rio Real.
Extrahida por mim Bacharel Hermillo Durval ,
3.º Official do Archivo Publico do Estado da Bahia
que a copiei fielmente aos dezenove dias do mez de
Novembro de 1913. Está conforme ao original— Bahia ,
Archivo Publico 19 de Novembro de 1913 -O 1.° Offi

cial— Dr . I irgilio de Araújo Cunha.


Conforme . Bahia , 19 de Novembro de 1913-O
Director, Cassiano Amaro Lopes.

N. 125

Carta do Governo da Bahia ao capitão-mór


de Abbadia confirmando que a jurisdicção da
referida villa se estendia até o rio Saguim,
conforme os autos da creação de Santa Luzia
e Abbadia.

N. 37. - Cartas do Governo para o Capitão Mór das


Ordenanças da Villa da Abbadia .
Fique Vicê na intelligencia , para cumprir, pela
parte que lhe toca , de que na data desta , determinei ,
ao Capitão Mór das ordenanças da Villa de Santa
Luzia do Rio Real, que se abstenha de exercer qual
quer acto de jurisdicção sobre os habitantes do terreno
comprehendido entre o Rio Real e o Rio Saguim , visto
que este ultimo hé o que divide o termo dessa Villa
do daquella, devendo portanto considerarem-se parte
das Ordenanças que Vmcê commanda. Deus Guarde a
Vincê. Bahia, 2 de Março de 1812. « Conde dos Arcos » .
Para o Capitão Mór da Villa da Abbadia. Extrahida
por mim, Bacharel Hermillo Durval, 3° Official do
DA BAHIA COM SERGIPE 351
amanda mencari a basede

Archivo Publico do Estado da Bahia , que a copiei fiel


mente aos dezenove dias do mez de Novembro de 1913 .
Está conforme ao original . Bahia e Archivo Publico 19
de Novembro de 1913. -O 1º Official , Dr. Virgilio de
Araujo Cunha.
Conforme . Bahia, 19 de Novembro de 1913 .

O Director, Cassiano Amaro Lopes.

N. 126

Certidão do auto de correyção que foi feito


no julgado de Geremoabo pelo Ouvidor da
comarca da Bahia José Raymundo de Passos
Porbem de Barbosa.
A mesma certidão contem o auto da posse
que tomou José Eusebio Pereira do cargo de
Juiz de Orphãos das Mattas de Simão Dias e
Ladeira Grande , termo do julgado de Gere
moabo, nomeado pelo Ouvidor Porbem Barbosa.

Trajano José de Carvalho , Tabellião e Escrivão


do Publico Judicial e Notas , vitalicio nesta Villa de
São João Baptista de Geremoabo e seu termo , por sual
Magestade Imperial e Constitucional , a quem Deus
Guarde por muitos annos , etc.

A todos os senhores que a presente virem, certifico


que revendo o livro de que faz menção a portaria retro ,
nelle á folhas quatro verso se acha o termo de audiencia
geral do teor seguinte: Audiencia Geral , anno do nas
cimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos
e doze, aos dezezeis dias do mez de Setembro do dito
anno , neste Julgado de Geremoabo e casas de aposen
tadoria do Desembargador e Ouvidor desta comarca.
José Raymundo Passos de Porbem de Barbosa ,
Professo na Ordem de Christo , para onde eu escrivão
352 LIMITES

de seu cargo fui vindo e sendo ahi por elle dito Mi


nistro fora feita audiencia geral , para prover sobre o
que lhe parecer : e para constar mandou fazer este auto
que assignou. Eu , Ignacio Quirino de Goes Tourinho ,
Escrivão da Correyção , da Camara que o escrevi . —Bar
bosa Martins. Vim achar a administracão da Justiça e
do rendimento deste Julgado na maior confusão possi
vel , de sorte que não parecia criado ha vinte e nove
annos; e para que haja melhor regulamento para o
futuro, mando se observará os seguintes provimentos :
Em um dos primeiros dias do mez de Setembro se
abrirá o pilouro do anno seguinte e logo o Escrivão
o notificará aos eleitos para que requeiram suas cartas
de usança e se apresentam com ellas no termo de trinta
dias para tomarem posse de seus cargos , e não com
prindo assim , o Escrivão me participará logo official
mente sob pena de suspensão para proceder contra os
sobre ditos , como for de direito . Muitos não poderão al
legar escusa alguma senão perante mim emendando assim
o abuso de que achei exemplo no livro dos Registros .
Farão audiencia nos dias do estylo e serão obrigados a
residirem nesta povoação no mez da alternativa , para
se lhe formar culpa da pratica contraria na primeira
correyção .
Consta-me que os criminosos passeiam por este
julgado sem temor da justiça , pelo que os juizes terão o
maior zelo e cuidado em os fazer prender e para se effe
ctuarem as diligencias com maior presteza , visto a ex
tensão deste Districto , nomearão um vintenario com o
seu Escrivão para esta povoação, outro pela mesma
forma para a de Monte Santo e mais outros para as
mattas de Simão Dias, os quaes prestarão juramento ,
DA BAHIA COM SERGIPE 353

e nem uma diligencia será feita se não pôr official assim


provido , no que deve haver boa escolha, ou por cabos
de policia, que tiverem provimento meu, permittindo
lhes auxilio, quando necessario for.
Acabada a nova casa da cadeia na forma que deixo

determinada, nomearão os juizes um homem bom para


carcereiro o qual assistirá na porta da mesma casa que
The fica destinada , e nunca estará vago este officio . Para
se evitar a confusão e faltas de declarações que achei
no livro de receita e despeza do Conselho , o Escrivão
lançará sempre a receita na folha esquerda do livro e a
despeza na folha direita , seguindo sempre assim e
não lançando em despeza parcella alguma , sem ser
por mandado passado pelo dito Escrivão sobre o The
soureiro e assignado pelo Juiz , os quaes marcados guar
dará no cartorio para apresentar em correyção .
Terão os Juizes a maior exação em fazerem arre
cadar os Reaes Impostos e na sua remessa para a junta
da Fazenda . Mandarão todos os annos limpar as es
tradas principaes dos termos pelos moradores circumvi
sinhos , do que tomarei conhecimento em correção .
Serão mui cuidadosos em tirar as devassas nos
termos legaes , e duas vezes no anno farão correyção
pelo termo, condemnando aos que não tiverem
nas suas vendas medidas aferidas e os que não
limparem suas testadas , quando lhes fôr determinado e
estas condemnações se receberão logo e se carregarão
no livro de receita.

Por esta forma tenho provido . Geremoabo , dese


seis de Setembro de 1812. -O escrivão intime este .
Barbosa.

Nada mais se continha , nem declarava outra alguma


LIMITES 15
354 LIMITES

cousa em o dito provimento ; depois do qual revendo o


mesmo livro, a folhas oito verso se acha o auto de posse
que tomou o Juiz de Orphãos , Alferes José Euzebio Pe
reira como abaixo se declara: Anno do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e treze
annos ; aos vinte e dois dias do mez de Fevereiro do dito
anno, nestas Mattas de Simão Dias , Ladeira Grande,
termo do julgado de Geremoàbo , comarca da cidade da
Bahia oude se achava presente o Juiz ordinario , o Te
nente João Martins Cesar, commigo Escrivão do seu
cargo ao diante nomeado , sendo ahi , appareceu o Al
feres José Fuzebio Pereira com a sua carta de usança ,
passada pelo doutor ouvidor geral da comarca José
Raymundo de Passos de Porbem Barbosa , requerendo
ao dito que lhe desse posse e juramento para effeito de
servir o dito cargo , o que o dito Juiz lhe deferiu o jura
mento aos Santos Evangelhos em livro delles em que
poz sua mão direita para servir o dito cargo de Juiz de
Orphãos trienal , guardando em tudo segredo á Justiça
e direito ás partes , servindo a Deus e a Sua Alteza Real
que Deus Guarde . Recebido por elle o dito juramento
assim o prometteo fazer, do que para constar mandou o
dito Juiz fazer este termo em que com elle assignou . E
eu , José Manoel de Andrade , escrivão nomeado por
impedimento do actual que o escrevi . -José Euzebio
Pereira . Está conforme . -O Escrivão Trajano José de
Carvalho.

A copia supra foi extrahida do proprio original


existante neste Archivo e eu a escrevi e conferi .

Archivo da Secretaria da Justiça e Negocios Inte


riores em 8 de Agosto de 1903 -José Ribeiro Sarmento
DA BAHIA COM SERGIPE 355

Junior, 1 ° .. official servindo de archivista . Visto . - Pelo


Director da secção Araujo Silva.

N. 127
Resolução creando a freguezia de Bom
Conselho, desmembrando-a da de Geremoabo , e
dando-lhe a demarcação indicada pelo ca
pellão que é o limite legal da Bahia com Ser
gipe.

N. 43 Reino- Resolução de Consulta da Mesa de


Consciencia e Ordens de vinte e sete de Setembro de mil
oitocentos e dezesete .
Crea a freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho
do Boqueirão no Arcebispado da Bahia.
Foi ouvida a Mesa de Consciencia e Ordens sobre a

representação do reverendissimo Arcebispo da Bahia em


que pede se erija em Freguesia a capella de Nossa Senhoral
do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão , filial da Matriz
de S. João Baptista de Geremoabo do sertão de Baixo .
Concordaram na creação da Freguesia o Procurador
da Coroa e Fazenda com as desmembrações e demarca
ções indicadas pelo capellão da mesma capella e dando- se a
nova Freguesia o Orago de Nossa Senhora do Bom Conse
lho do Boqueirão .
Parece á Mesa consultar a Vossa Magestade esta
divisão de Freguesia , e erecção da Nova Matriz na forma
da informação do Vigario Capitular e respostas do Pro
curador Geral das Ordens e Desembargador Procurador
da Corôa e Fazenda , com que esta mesa se conforma ;
arbitrando -se ao Parocho da mesma Nova Freguesia a
quantia de 100$ de congrua annual e 25$ de guisamentos.
Vossa Magestade, porém, mandará o que for servido .
356 LIMITES

Rio de Janeiro , em 5 de Setembro de 1817.


Como parece.- Palacio da Boa Vista 27 de Setembro
de 1817.
Com a rubrica de Sua Magestade .

N. 128

Alvará do Rey de Portugal e Brasil creando


a freguezia de Bom Conselho , desmembrando-a
da de Geremoabo e dando-lhe os limites que
mandou lhe ficassem pertencendo .

Eu El Rey, como Governador Perpetuo, Admi


nistrador do Mestrado , Cavallaria e Ordens de Nosso
Senhor Jesus Cristo . - Faço saber que attendendo ao
que por consulta da Meza de Consciencia e Ordens deste
Reino subio a minha Real Presença , Hey por bem
crear e Erigir em freguezia collada a Capella de Nossa
Senhora do Bom Conselho do Boqueirão , no Arcebis
pado da Bahia, desmembrando-a da Freguezia de S.
João Baptista de Geremoabo de que é filial e da de Ita
picurú , a qual nova freguezia ficará com o orago e invo
cação que a dita capella já tem de Nossa Senhora do Bom
Conselho do Boqueirão e com os limites que o actual
capellão da mesma capella informou serem mais pro
prios , pelo que mando ao Reverendo Arcebispo da
Bahia ou a quem suas vezes fizer que designe os sobre
ditos limites a esta nova freguezia e faça cumprir este
Alvará, como nelle se contem, sendo passado pela
Chancellaria das Ordens e registrado com a designação
dos limites que á nova freguezia ficam pertencendo nos
livros da Camara daquelle Arcebispado, nos da nova
freguezia e das que lhe ficam confinantes . Rio de
Janeiro 21 de Novembro de 1817. -Rei.
DA BAHIA COM SERGIPE 357

N. 129

Provisão creando a freguezia do Bom Con


selho, dando -lhe demarcação e limites que foram
mandados observar pelo Rey de Portugal, se
gundo se vê no Alvará de 21 de Novembro de
1×17 e que são os mesmos que o Estado da
Bahia hoje reclama sejão respeitados, por não
haverem sido alterados pelo poder competente
para isso.

Antonio Borges Leal, Deão da Santa Igreja Me


tropolitana da Bahia , Vigario Capitular por Eleição do
Illustrissimo e Reverendissimo Senhor Cabido em Sé

Vaga, etc. Aos que a presente minha provisão de nova


freguezia em forma virem, saúde em Deus para sempre.

Faço saber que havendo os moradores da Capella


de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do
Boqueirão , filial da Matriz de S. João Baptista de Ge
remoabo alcançado de S. M. F. Regio Alvará do teor
――
seguinte Eu Elrey, como Governador Perpetuo ,
Administrador do Mestrado , Cavallaria e Ordens de
Nosso Senhor Jesus Christo . Faço saber que , atten
dendo ao que por consulta da Mesa de Consciencia e
ordens deste Reino subio a Minha Real Presença , Hei
por bem Crear e Erigir em freguezia collada a Capella
de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do Bo
queirão no Arcebispado da Bahia, desmembrando- a da
freguezia de S. João Baptista de Geremoabo , de que é
filial e da de Itapicurú, a qual nova freguezia ficará com
o orago e invocação que a dita capella já tem de Nossa
Senhora do Bom Conselho do Boqueirão e com os li
mites que o actual Capellão da mesma Capella infor
mou serem mais proprios , pelo que mando ao Reverendo
Arcebispo da Bahia ou a quem suas vezes fizer que de
358 LIMITSE

signe os sobreditos limites a esta nova freguezia e faça


cumprir este Alvará como nelle se contem, sendo pas
sado pela Chancellaria das Ordens e registrado com desi
gnação dos limites que á nova freguezia ficam perten
cendo nos livros da Camara daquelle Arcebispado, nos da
nova freguezia e dos que lhe ficam confinantes . Rio de Ja
neiro, vinte e um de Novembro de mil oitocentos e dez
esete .-- Rei Com guarda . Para ser erecta em freguezia
collada a mencionada Capella de N. S. do Bom Con
selho, mandando o mesmo Augusto Senhor que o Ex
cellentissimo e Reverendissimo Ordinario desta Diocese
demarcasse os limites que deverão ficar pertencendo a
sobredita nova freguezia, a qual sendo-me apresentada
com a supplica dos moradores do districto da sobredita

Capella, por meu despacho mandei que cumprindo o


registrado nos lugares competentes , voltasse com as infor
mações que se achavam copiadas na Camara archiepis
copal dos Parochos confinantes , á vista das quaes se
declara ficar bem dividida dos confinantes pela maneira
seguinte; Pela parte do norte, principiando oeste para
leste, na demarcação da missão dos indios de Massacará ,
seguindo pela estrada real que vae para Geremoabo que
se largará na baixa do Sapé, entrando pela mesma
baixa , seguindo-a até encontrar a baixa da terra dura ,
da qual seguirá pelo oiteiro da Massaranduba , Sacco
das Caravellas , seguindo pela baixa até o sitio da Can
cellas , Olho dagua do Feliciano e deste á Cruz da Bocca
da Matta, a salir na lagoa do pasto dos Cavallos , Lagoa
da Maria Preta , Malhada das Arêas a encontrar- se com
a lagoa de fóra do Mandacarú Velho , donde seguirá
pela baixa da Sambayba e desta tomará a baixa do
Brejo que finalisará no riacho Carahyba que fica ser
DA BAHIA COM SERGIPE 359
‫ތ‬ ‫ހނތނ‬

vindo de divisa até onde vae fazer barra no Vasabarris ,


rio caudaloso e soberbo com as aguas do monte, cujo
rio atravessará e no mesmo rumo irá a encontrar- se
com a demarcação que sempre observarão as duas fre
guezias de Geremoabo e Itabaina .
Ficará dividida pelo oeste com a freguezia de
Monte Santo e Tucano , pela mesma demarcação com
que se acham divididas, principiando na missão dos
Indios de Massacará , seguindo do norte para o sul pela
estrada real que segue desta missão para a villa dos
Indios de Mirandulla, vulgo " Sacco dos Morcegos » a en
contrar-se com a demarcação da mesma villa e desta
seguirá a mesma estrada real que com o mesmo rumo
do Sul vae a villa dos Indios de Santa Thereza do
Pombal , vulgo Cannabrava, tambem a encontrar- se
com a demarcação da mesma villa . Ficará dividida pelo
sul com a freguesia de N. S. de Nazareth do Itapicurú
de Cima, seguindo do oeste para leste pela estrada real
que vae da villa de Pombal para a capella de N. S.
Rainha dos Anjos que se largará na fazenda denomi
nada a Barroca e seguirá pela que vae a encontrar- se
com o rio Real , entre as duas Fazendas Baixa Grande

e Jacuricy de Cima , donde seguirá rio acima até as suas


cabeceiras na fasenda Santa Anna, onde tomará a
trada real que pelo Sacco das Candeias vae dar na lagoa
do Genipapo , por outro nome Lagoa de João Gomes ,
desta tomará pelo Olho d'Agua denominado Máo Fim
Tenha , Lagoa das Antas , Olho d'Agua do Coité , Lagoa
Cercada, Lagoa Salgada , a sahir na Baixa da Ladeira
Grande, donde em rumo direito cortará o rio Vasa
barris que o atravessará e irá encontrar-se com a demar
cação que sempre tem observado as duas freguesias de
360 LIMITES

Geremoabo e Itabaiana . Ficará dividida por leste se


guindo de sul para o norte com a mesma demarcação
que sempre tem observado as ditas freguesias de Gere
moabo e Itabaiana que são serros e largos agrestes ,
quasi inhabitaveis que por isso não pude alcançar no
ticia certa , ficando por divisa a posse que se observa das
duas ditas freguezias .
Fica esta nova freguezia com duas mil cento e no
venta almas a saber setecentas e trinta do Itapicurú de
Cima , digo mil setecentas e noventa tiradas de Gere
moabo e quatrocentas e trinta do Itapicurú de Cima.
Estende-se esta nova freguezia seis leguas para o norte
sete para o sul , oito para o oeste e treze para leste . Fica
a freguezia de Geremoabo com a extensão de doze

leguas para o norte, oito para o sul, vinte e seis para


oeste e dezoito para leste .
São estas as demarcações que achei mais racionaes
para satisfaser a Vossa Excellencia Reverendissima . O
Capellão Manoel de Barros . A vista do que e na con
formidade da demarcação acima lhe mandei passar a
presente Provisão de nova freguezia com as declarações
dos referidos limites , que deve ficar tendo .
Pelo teor da qual hei por creada em nova Matriz
a dita Capella e mando aos Parochos confinantes , a
quem esta deverá ser apresentada, a publiquem em suas
freguesias e a façam copiar em tudo nos respectivos
livros das mesmas , passando cada um delles certidão
no reverso della de o haver assim executado , sendo re
mettida depois para a mencionada nova Matriz , onde
deve existir para em todo o tempo constar, e pelo
assim haver por bem, mandei passar a presente que
se cumpra e guarde como nella se contem , da qual
DA BAHIA COM SERGIPE 361

interponho minha Autoridade Ordinaria e decreto ju


dicial . Dada na Bahia sob meu sello e signal da Chan
cellaria aos vinte e dois dias do mez de Agosto de mil
oitocentos e desoito . E eu Feliciano Grans Pinto de
Madureira Secretario da Camara Archicpiscopal , o
subscrevi Por delegação do Illustrissimo e Reveren
dissimo Senhor Deão Vigario Capitular José Fernandes
da Silva Freire .
Registrada no livro tres a folhas tresentas e no
venta e sete até tresentas noventa e oito . Bahia vinte

e cinco de Agosto de mil oitocentos e desoito . O encom


mendado Manoel de Barros Está conforme . O Escrivão

do Juiz Emygdio Cardoso Varjeão .


A copia supra foi extrahida de outra existente
neste Archivo e eu a copiei .
Archivo da secretaria da Justiça e Negocios Inte
riores em 8 de Agosto de 1904 - José Ribeiro Sar
mento Junior 1.º official servindo de Archivista - Visto
-Pelo director da secção- Araujo Silva.

N. 130

Decreto que tornou Sergipe independente


da Bahia e que demonstra não ter havido
augmento de territorio nem mudança alguma
estendendo a jurisdicção de suas auctoridades
sobre o que o poder competente, o Governo
Portuguez, sempre havia considerado como
pertencente a Bahia.

Decreto de 8 de Junho de 1820. Isenta a capi


tania de Sergipe da sujeição do Governo da Bahia ,
declarando -a totalmente independente .
Convindo muito ao bom regimen deste reino do
Brasil e á prosperidade a que me proponho eleval - o que
LIMITES 46
362 LIMITES

a capitania de Sergipe a'El -rei tenha um Governo inde


pendente do da capitania da Bahia . Hei por bem
isental-a absolutamente da sujeição , em que até agora
tem estado do governo da Bahia , declarando- a inde
pendente totalmente, para que os Governadores della
a governem na forma praticada nas mais capitanias.
independentes , communicando - se
directamente com
os secretarios de Estado competentes , e podendo con
ceder sesmarias na forma das Minhas Reaes ordens .

Thomaz Antonio de Villa Nova Portugal, do Meu


Conselho , Ministro e Secretario de Estado dos Ne
gocios do Reino , assim o tenha entendido e faça
executar com as participações convenientes ás diversas
estações .

Palacio do Rio de Janeiro , em 8 de Julho de 1820 .


Com a rubrica de Sua Magestade .

N. 131

Autos de um processo feito em 1828 pelas


auctoridades da Bahia para devassar um crime
commettido no engenho Coité , justamente um
dos logares que o Estado da Bahia pede hoje
que seja respeitado pelo de Sergipe como seu
limite.

COPIA. Matta de Simão Dias , freguezia de Gere


moabo.

Auto para Devaça que mandou proceder o Juiz


Ordinario Estevão de Mello Franco para por elle tomar
conhecimento da morte feita com uma ajuda de decoada
em Athanasio José morador na Matta de Simão Dias
deste termo . Ordinario . Escrivam . Medeiros.
DA BAHIA COM SERGIPE 363

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus


Christo de mil e oitocentos e vinte e oito annos , setimo
da Independencia e do Imperio do Brasil Aos vinte
dias do mez de Março do dito anno nesta Matta

de Coité, termo do Julgado de São João Baptista de


Jeromoabo, comarca da leal e valorosa Sidade de S. Sal
vador Bahia de Todos os Santos, em casa onde se achava
aposentado o juiz ordinario Estevão de Mello Franco ,
commigo escrivão de seu cargo ao deante nomeado e
sendo ahi pelo mesmo Juiz me foi dito que á sua noticia

havia vindo que em hum dos dias do mez de Agosto do


anno passado de mil oitocentos e vinte e sete matarão
a Athanazio José com uma ajuda de decoada que botarão
e que para se vir no conhecimento de quem tal delicto.
fizera ou para elle concorrera com ajuda , favor , con
selho ou mandato mandou que eu Escrivão formasse
auto para Devaça e que os officiaes de Justiça notificas
sem athé tres testemunhas para por elle dito Juiz serem
devaçadamente inquiridos e conforme seus depoimentos
serem os delinquentes punidos com todo o rigor da ley
o que eu Escrivão fiz com o presente de que para
constar fiz este Auto e Eu Antonio Nunes de Me
deiros Tabelião que o escrevi . - Franco .
Auto para corpo de delicto . No dito anno de Nosso
Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e vinte e oito
annos , setimo da Independencia e do Imperio do Brasil
aos vinte dias do mez de Março do dito anno nesta
matta do Coité, termo do julgado de Jeremoabo, co
marca da leal e valorosa Sidade de São Salvador de
Todos os Santos em casas onde se achava apozentado
o Juiz Ordinario Estevão de Mello Franco commigo
Escrivão de seu cargo ao deante nomeado e sendo ahi
364 LIMITES

pelo mesmo Juiz me foi dito que á sua noticia havia


vindo que em hum dos dias do mes de Agosto do anno
paçado de mil oitocentos e vinte e sete matarão com
ajuda de decoada a Athanasio José, morador nesta
matta e que para se vir no conhecimento de quem tal
delicto fizera ou para elle concorrera com ajuda , favor
ou conselho mandou que eu Escrivão formasse Auto
para corpo de delicto indirecto que os officiaes da Jus
tiça notificassem testemunhas para por elle dito Juiz
serem inquiridas e perguntadas e se vir no conheci
mento se he certa ou não da morte o que eu Escrivão sa
tisfis com o presente de que para constar fiz este auto
em que assigna o dito Juiz . E eu Antonio Nunes de
Medeiros Tabelião que o Escrevy . Franco.
Aos vinte dias do mez de Março de mil oitocentos
e vinte e oito annos , setimo da Independencia e do Im
perio do Brasil nesta matta do Coité termo de Jeremo
abo , comarca da Sidade da Bahia e casas de apozenta
doria do Juiz ordinario Estevão de Mello Franco com
migo Escrivão de seu cargo ao deante nomeado e sendo
ahi pelo dito Juiz forão inquiridas e perguntadas as
testemunhas que pelos officiaes de Justiça forão noti
ficados para o corpo de delicto dos quaes os ditos nomes ,
convidados , moradas e officios e costumes he o que ao
diante se segue de que fis este termo . E eu Antonio

Nunes de Medeiros , Tabellião que o Escrevy .


Antonio Martins da Silva, branco, casado , mora

dor no Pau Preto deste termo que vive de lavoura , de


idade que dice ter de trinta annos pouco mais ou menos ,
testemunha jurada aos Santos Evangelhos em hum
livro delle em que poz sua mão direita prometteo diser
a verdade . E perguntado a elle testemunha pelo con
DA BAHIA COM SERGIPE 365

theudo no que contem o corpo de delicto disse que sabe


por ser publico e notorio que em dias do mes de Agosto
do anno paçado de mil oitocentos e vinte e sete botá
rão uma ajuda de decoada em Athanasio José e que o
dito veio a morrer e mais nada disse do dito auto nem
dos costumes e assignou o seu depoimento depois
de lido de huma cruz com o dito Juiz por não saber
escrever: E eu Antonio Nunes Medeiros , Escrivão que
o Escrevy. Antonio Martins da Silva.

Antonio de Serqueira , pardo , casado morador na


matta do Sabão deste termo que vive de suas lavouras ,
de idade que dice ter de quarenta e oito annos , pouco
mais ou menos , testemunha jurada aos Santos Evan
gelhos em hum livro destes em que poz sua mão di
reita prometeo diser a verdade.
E perguntado a elle testemunha pelo que contem o
corpo de delicto em direito disse que sabe por ser vóz
publica por todos que em dias do mez de Agosto do
anno paçado de mil oitocentos e vinte e sete botarão
huma ajuda de decoada em Athanasio José que depois
veio a morrer; e mais nada disse nem dos costumes e
assignou sob juramento depois de lida de huma cruz com
o dito juiz por não saber escrever . E eu Antonio Nunes
de Medeiros Tabelião que o Escrevy-Ignacio de Ser
queira Franco.
Manoel de Serqueira , pardo , casado , morador na
matta do Sabão deste termo que vive de suas lavouras
de idade que dice ter de trinta annos pouco mais ou
menos , testemunha jurada aos Santos Evangelhos em
hum livro destes em que poz sua mão direita e pro
metteo diser a verdade do que soubesse . E perguntado
.
a elle testemunha pelo conteúdo no Auto desta Devaça
366 LIMITES

disse que sabe por ser bem publico e notorio que em


dias do mez de Agosto do anno passado de mi oito
centos e vinte e oito matarão a Athanasio José com
hma ajuda de decoada que lhe botarão e nada mais
disse nem dos costumes e asignou o seu juramento
depois de lido de huma cruz com o dito Juiz por não
saber escrever. E eu Antonio Nunes de Medeiros

Escrivão que o Escrevy , Manoel de Serqueira- Franco .

N. 132

Decreto da Regencia sanccionando a Re.


solução da • Assemblèa Geral Legislativa do
Brasil que elevou o Julgado de Geremoabo a
villa dando-lhe para termo, com duas outras
mais, a freguesia de Bom Conselho sem lhe
alterar os limites mandados observar e cumprir
pelo Alvará de 1817.

A Regencia em nome do Imperador o Senhor


Dom Pedro Segundo Ha por bem Sanccionar e Man
dar que se execute a seguinte Resolução da Assembléa
Geral Legislativa tomada sobre outra do Conselho da
Provincia da Bahia.

Artigo primeiro-Fica erecto em Villa o Julgado


de Geremoabo dezannexando- se do Termo da Villa de

Itapicurú a que pertencia .


Artigo segundo - O Termo da Villa de Geremoabo
conterá as tres freguezias de que actualmente o seu
districto eleitoral se compõe a saber; a mesma de S.
João Baptista de Geremoabo , a de N. S.ª do Bom
Conselho dos Montes do Boqueirão e a do Santissimo
Coração de Jesus e Nossa Senhora da Conceição do
Monte Santo com todo o territorio pertencente.
DA BAHIA COM SERGIPE 367
aquam ada

José Lino Coutinho do Conselho do mesmo Senhor


Imperador, Ministro e Secretario de Estado dos Nego
cios do Imperio o tenha assim entendido e faça execu
tar . Palacio do Rio de Janeiro, em vinte e cinco de
Outubro de mil oitocentos e trinta e um , decimo da
Independencia e do Imperio . Francisco de Lima e
Silva José da Costa Carvalho - João Braulio Moniz .

N. 133

Officio da Camara de Abbadia ao Presidente


da Provincia da Bahia. revelando as inten
ções da Provincia de Sergipe que pretendia
apossar-se daquella villa e reclamando contra
tal annexação .

Illmo . Exmo . Sr. Presidente- A Camara e mais


Auctoridadas Ecclesiasticas Civis e Militares desta Villa
Real de Nossa Senhora da Abbadia , abaixo firmados ,

participamos a V. Exa . o seguinte :


Estando nós a noventa e seis annos na mança e

pacifica posse de sermos governados por esta Provincia


da Bahia, de que assas satisfeitos vivem os póvos deste
districto, agora temos sciencia certa de que a Provincial
de Sergipe pretende addir a si esta e outras villas e Po
voações, querendo dividir-se com esta Provincia da
Bahia pelo rio Itapicurú da barra até as cabeceiras , o
que trabalha fortemente pelos seus procuradores no Rio
de Janeiro para alcançar de S. M. I. essa graça, o que
se com effeito acontecer será para estes povos o maior
desprazer por serem obrigados a separar- se da Pro
vincía da Bahia , sua Mãe Patria , alem dos prejuizos
que hão de haver pelos individuos que pretendem mu
dar -se para o centro desta Provincia , deixando os seus
368 LIMITES

lares natalicios só afim de se verem livres daquella dita


Provincia de Sergipe ; em cujos termos recorremos a
V. Exa. como Vice- Gerente do supremo poder para dar
as providencias que foremjustas . Deus Guarde V. Exa.
como nos hé mister. Villa da Abbadia em Camara de

14 de Junho de 1824 - O Juiz Presidente , Manoel Tude


Ferreira- O Vereador , João Francisco Nepomuceno
O Vereador, Geraldo Telles de Menezes . O. P. Inno
cencio Manoel de Carvalho- O Vigario , Serafim da
Costa Borges- Sargento mór commandante , Francisco
Alvares da Silva Manoel José de Campos -João Al
vares da Silva José Eustaquio da Silva Ribeiro , Ca
pitão Alferes Joaquim José de Santa Anna- Firmi
ano Antonio de Oliveira --José Onorio dos Santos Fer
reira-João Coelho dos Santos - Francisco Telles de
Oliveira-José de Paula da Silva-Antonio José Alves
Ferreira- Manoel Telles Barretto - Pedro de Souza

Coelho-José Eustaquio de Oliveira -Manoel Pereira


de Mattos- Francisco Ignácio Alves Ferreira- Felippe
Antonio Bittencourt-José Antonio da Fonseca-Joa
quim José Ferreira- Antonio João de Torres - Manoel
Francisco Nogueira -Antonio Joaquim Ferreira-José
Joaquim de Carvalho Antonio Gomes dos Reis -Joa
quim José de Torres -João Carvalho- Manoel Tolen
tino da Silva Borges - Antonio Joaquim Rodrigues
João Correia de Sá -Francisco Nunes de Almeida―
André de Freitas Paranhos --José Pedro Alves Ferreira
-Francisco Rodrigues da Costa - Domingos Gomes de
Oliveira- Sargento Severo Dias -Antonio Feliciano da
Silva- Manoel Pereira Dias-Antonio Bonifacio da
Silva- José Rodrigues de Mattos- Serafim Pedro de
Alcantara-João Manoel de Aguiar- Manoel Fernandes
DA BAHIA COM SERGIPE 369

de Aguiar- Antonio Fernandes de Andrade- João da


Silva Peixoto - José Braz Correia- Manoel Luiz dos
Santos- Manoel Mendes da Silva-Joaquim Manoel de
Oliveira-José Cardoso da Silva- José Antonio de
Farias Francisco Luiz dos Reis - Bernardino de Oli
veira Lima-Antonio Muniz Antonio José de Farias
--Manoel Fernandes de Siqueira- Manoel Victoriano
de Aguiar--Joaquim José do Espirito Santo- Luiz Fer
reira Passos - Manoel Menezes -José Rodrigues de
Aguiar-José Gomes da Cruz --José da Costa Borges
Joaquim Telles Barretto- João da Silva Barretto
Francisco de Paula Rodrigues Leite - Manoel Joaquim
da Fonseca- Francisco Alves Pereira-Alexandre Car
doso da Silva-José Rodrigues da Silva-João Baptista
de Britto -Francisco José Correia- Luiz José de Britto
---Felix Francisco de Souza- Antonio José das Neves
--Francisco Borges da Silva -José Paulo da Silva
Francisco José dos Reis -José Alves Pereira- Capitão
Luiz Antonio de Jesus -José Carvalho Lessa-- Pedro
Bispo Celestino - Apollinario Luiz da Motta- Miguel
da Silva- Domingos Francisco da Motta- Francisco
Telles de Oliveira- Matheus Barbosa-José Pereira da
Silva - Francisco Xavier Pires - O Juiz Ordinario , Al
feres Bernabé Vieira de Vasconcellos - Bento José Pe
reira- Simão da Costa Vieira- Manoel Pereira Sampaio
-Francisco da Costa Borges -Manoel Ignacio Martins
-Faustino Gomes Cardoso - João Ribeiro da Conceição
-Jorje Barretto de Oliveira - Simeão da Costa Porto
Manoel José Carvalho Lessa Manoel Luiz de As
sumpção.
Reconheço seremas firmas retro e supra proprias dos
assignados por se parecerem com outras que dos mesmos
LIMITES 47
370 LIMITES

tenho visto em tudo semelhantes . Villa de Abbadia e


de Junho 30 de 1824- Em testemunho da verdade de
Domingos Coelho dos Santos.

N. 134

Primeiras tentativas, após a independencia,


feitas pelo Governo de Sergipe para se apossar
de parte do Norte da Bahia do lado de Abbadia.

Illm . Exm . Sur, em aviso de 28 de Novembro de

1827 expedido pela Secretaria de Estado da Repartição


de V. Exa. me foram remettidas as duas actas do Con
selho do Governo da Provincia de Sergipe de El -Rey
em virtude de cuja deliberação pedio aquelle governo a
Sua Magestade Imperial que mandasse marcar os limi
tes da mesma Provincia pelo Rio Itapicurú em que se
comprehende territorio pertencente a esta da Bahia so
bre o que houve o mesmo Augusto Senhor de determi
nar que informasse este Governo e seu Conselho afim
de resolver com conhecimento de causa .
Em consequencia, sendo ouvidas por ordem do
Conselho as Camaras das Villas de Itapicurú, e Abba
dia , cuja jurisdição se estende aos terrenos limitrophes
aquella Provincia , informaram cada uma circunstancia
damente sobre este objecto , expondo quanto era desvan
tajosa e prejudicial aos habitantes d'aquelles lugares uma
tal desmembração com a qual ficariam tolhidos de todos
os seus recursos , tendo tudo a perder , e nada a ganhar.
Em taes circunstancias sendo este negocio tratado
no mesmo Conselho foi por elle unanimemente resolvido
que se conformava com o parecer das referidas Camaras
em presença de razões tão solidas que importam nada.

Į
DA BAHIA COM SERGIPE 371

menos que o bem estar dos povos a quem sua Magestade


Imperial deseja por todos os meios promover a felici
dade e por tanto sem nenhum lugar a presente pretenção .
Avista pois do expendido e das originaes informações
juntas acompanhadas das actas que revertem na confor
midade do referido aviso , Sua Magestade o Imperador
mandará o que melhor lhe Aprouver .
Deus Guarde V. Exa . Palacio do Governo da Bahia
28 de Março de 1829- Illm . Exm . Sur . José Clemente
Pereira». Visconde de Camamú.

N. 135

Parecer do Presidente da Bahia sobre as


tentativas feitas pelo Governo de Sergipe para
annexar parte dos seus municipios do Norte, e
demonstração da repulsa dos habitantes destes
municipios

Imperio n.86 . -Illmo . Exmo.Sr .-- O Presidente do


Conselho Geral da provincia de Sergipe d'El -Rey propoe
que a divisão della se faça pelo Rio Itapicurú , incorporan
do-se-lhe convenientemente os terrenos , que ficam
aquem do Rio Real de cima pertencentes a esta Pro
vincia como consta da proposta do mesmo Conselho ,
que o Antecessor de V. Exa . me remetteo em Aviso de
25 de Junho deste anno para informar com o meu pa
recer, afim de ser presente á Camara dos Senadores ,
que assim o exigio . Este projecto não he certamente
novo , pois que já foi tratado no Conselho deste Gover
no em virtude do aviso de 28 de Novembro de 1827,
pelo que subio a Imperial Presença a informação dada
em 28 de Março do anno passado , que julgo conve
niente levar por copia ao conhecimento de V. Exa . da
372 LIMITES

qual se vê, que o dito Conselho se oppuzera á referida


divisão a vista das razões , que expenderão as Camaras
das Villas de Itapicurú e Abbadia que são as confi
nantes .
E subsistindo os mesmos fundamentos pelos quaes
aos povos ahi residentes não convem hua tal divisão,
que The tira os recursos que tem nesta Provincia aonde
fazem todo o seu commercio , embora fiquem em distan
cia de mais dez legoas , que pouca diferença fazem , e
nada em verdade he comparativamente aos prejuisos que
terão a sofrer hua vez daqui desligados , como novamen
te expôe a mesma Camara de Itapicurú na informação
que se acha incluza aos mais papeis , que a este açom
panhão , concluo pois , e he meu parecer , que na linha
divisoria da Provincia de Sergipe d'El- Rey com esta da
Bahia se não faça mudança algua porque estão muito
duvidozas as vantagens indicadas por aquelle Conselho
Geral , e a opposição dos referidos Corpos Municipaes
me fazem grande peso , sendo de certo mau proceder em
tal caso contra a vontade dos habitantes daquelles lu
gares cuja felicidade só se deve promover . Deus Guarde
a V. Exa. Palacio do Governo da Bahia, 14 de Dezem
bro de 1830. - Illmo . Sur. José Antonio da Silva Maia .
O Presidente , Luiz Paulo de Araujo Bastos.

N. 136
Officio do Presidente da Bahia Joaquim Pi
nheiro de Vasconcellos sobre a pretenção do
Governo de Sergipe de annexar parte do terri
torio da Bahia .

S. P. Imperio- N . 37. Illm . Exm . Snr. Tem
sido em verdade retardada a informação que foi exigida
a esta Presidencia em aviso de 29 de Agosto do anno
DA BAHIA COM SERGIPE 373

passado, que acompanhou o officio incluso do Presi


dente da Provincia de Sergipe sobre a linha divisoria
da dita Provincia, e o certo hé que ainda assim nada
posso diser com conhecimento de causa acerca de seme
lhante objecto por não ter sido possivel acharem - se as
ordens que mandarão dividir aquella Provincia desta ,
quando Comarca , de maneira que não consta que se
designasse que a divisão se fizesse pelo Rio Real , que a
ser assim tem razão o Governo de Sergipe , mas a Co
marca da Villa d'Abbadia oppoe-se fortemente que se
desmembre do seo Municipio os terrenos que ficão alem
do dito Rio Como V. Ex . verá dos officios inclusos , e
sobre o que allegão ter representado ao Corpo Legisla
tivo , e he tudo quanto posso a tal respeito levar ao co
nhecimento de V. Ex" .
Palacio do Governo da Bahia, 13 de Setembro de
1833.-Illm . e Exm. Sur. Aureliano de Souza e Oli
veira Coutinho -Joaquim José Pinheiro de Vasconcel
los . -Copiado em 1º de Outubro de 1912 O 2º Official
do Archivo Publico -José Luiz de Oliveira.

N. 137

Ordem do Presidente da Bahia sobre o 39


districto da freguezia do Bom Conselho que
era a parte que entesta com Sergipe o que
prova ter a Bahia exercido ininterruptamente
jurisdicção sobre todo o territorio do Bom
Conselho.

Na forma recommendada em Aviso do Ministerio


do Imperio de 1.° de Junho corrente , ordeno a V. M. ,
que por seos inspectores de Quarteirão , se preste a dar
ao Parocho dessa Freguezia todos os esclarecimentos e
372 LIMITES

qual se vê, que o dito Conselho se oppuzera á referida


divisão a vista das razões , que expenderão as Camaras
das Villas de Itapicurú e Abbadia que são as confi
nantes.
E subsistindo os mesmos fundamentos pelos quaes
aos povos ahi residentes não convem hua tal divisão ,
que lhe tira os recursos que tem nesta Provincia aonde
fazem todo o seu commercio , embora fiquem em distan
cia de mais dez legoas , que pouca diferença fazem , e
nada em verdade he comparativamente aos prejuisos que
terão a sofrer hua vez daqui desligados , como novamen
te expôe a mesma Camara de Itapicurú na informação
que se acha incluza aos mais papeis , que a este açom
panhão, concluo pois , e he meu parecer, que na linha
divisoria da Provincia de Sergipe d'El - Rey com esta da
Bahia se não faça mudança algua porque estão muito
duvidozas as vantagens indicadas por aquelle Conselho
Geral , e a opposição dos referidos Corpos Municipaes
me fazem grande peso , sendo de certo mau proceder em
tal caso contra a vontade dos habitantes daquelles lu
gares cuja felicidade só se deve promover. Deus Guarde
a V. Exa. Palacio do Governo da Bahia , 14 de Dezem
bro de 1830. - Illmo . Sur . José Antonio da Silva Maia.
O Presidente, Luiz Paulo de Araujo Bastos.

N. 136
Officio do Presidente da Bahia Joaquim Pi
nheiro de Vasconcellos sobre a pretenção do
Governo de Sergipe de annexar parte do terri
torio da Bahia.

S. P. Imperio - N . 37.- Illm . Exm . Snr. Tem


sido em verdade retardada a informação que foi exigida.
a esta Presidencia em aviso de 29 de Agosto do anno
DA BAHIA COM SERGIPE 373

passado, que acompanhou o officio incluso do Presi


dente da Provincia de Sergipe sobre a linha divisoria
da dita Provincia , e o certo hé que ainda assim nada
posso diser com conhecimento de causa acerca de seme
lhante objecto por não ter sido possivel acharem- se as
ordens que mandarão dividir aquella Provincia desta ,
quando Comarca , de maneira que não consta que se
designasse que a divisão se fizesse pelo Rio Real , que a
ser assim tem razão o Governo de Sergipe, mas a Co
marca da Villa d'Abbadia oppoe-se fortemente que se
desmembre do seo Municipio os terrenos que ficão alem
do dito Rio Como V. Ex" . verá dos officios inclusos , e
sobre o que allegão ter representado ao Corpo Legisla
tivo, e he tudo quanto posso a tal respeito levar ao co
nhecimento de V. Ex .
Palacio do Governo da Bahia , 13 de Setembro de
1833. Illm . e Exm . Sur. Aureliano de Souza e Oli

veira Coutinho-Joaquim José Pinheiro de Vasconcel


los . -Copiado em 1º de Outubro de 1912 O 2º Official
do Archivo Publico-José Luiz de Oliveira.

N. 137

Ordem do Presidente da Bahia sobre o 39


districto da freguezia do Bom Conselho que
era a parte que entesta com Sergipe o que
prova ter a Bahia exercido ininterruptamente
jurisdicção sobre todo o territorio do Bom
Conselho.

Na forma recommendada em Aviso do Ministerio

do Imperio de 1. ° de Junho corrente , ordeno a V. M. ,


que por seos inspectores de Quarteirão , se preste a dar
ao Parocho dessa Freguezia todos os esclarecimentos e
374 LIMITES

informações que elle exigir a bem da organisação dos


Editaes , que, conforme o § 5.° do Cap . I das Instru
cções de 26 de Março de 1824 , relativas ás eleições
para Membros do Corpo Legislativo , deve fazer afixar
na porta da Igreja Matriz , por onde conste o numero de
fogos da dita Freguezia , por isso que sendo o mesmo
Parocho responsavel pela exactidão de semelhantes
Editaes , convem que tenha presente todos os dados
necessarios .
Deos Guarde a V. M. Palacio do Governo da
Bahia, 28 de Junho de 1839. - Thomaz Xavier Garcia
de Almeida.
Sr. Juiz de Paz do 3. ° Districto da Freguezia dos
Montes do Boqueirão .

N. 138
Officio do Presidente da Bahia Francisco
de Souza Paraiso sobre a necessidade de manter
illesa a Provincia da usurpação e invasão do
territorio pelas auctoridades de Sergipe.

Copia do officio do Governo da Provincia .


Requisitando a Assembléa Legislativa Provincial ,
a cujo conhecimento subio o officio desta Comarca,
fazendo ver a maneira porque as Authoridades de Ser
gipe tem invadido e usurpado territorios pertencentes
á mesma villa , que este Governo se prestasse solicito
em manter inteira esta Provincia contra violencias
que jamais podem ter o cunho da precisa legalidade,
emquanto por um acto Legislativo Geral não fôr a
mesma Provincia privada desses territorios , que por
direito desde epoca mui remota tem sido della parte
integrante, convem diser a V. Mcês . que pelos meios a
DA BAHIA COM SERGIPE 375
---

seu alcance evitem qualquer desmembração de terreno


.
dessa dita Villa para a Provincia de Sergipe, prevenin
do-os de que sobre este mesmo objecto se officiou
nesta data á Camara de Geremoabo e ao Juiz de Di
reito da Comarca de Itapicurú .
Deus Guarde a V. Mcês . Palacio do Governo da
Bahia 16 de Abril de 1836- Francisco de Souza Pa
raizo. ―――――――― Sr. Presidente e Vereadores da Camara Muni
cipal da Villa da Abbadia .

N. 139

Projecto mostrando que o Governo de Ser


gipe repetio nos meiados do seculo 199 , a tenta
tiva para incorporar a seu territorio parte do
municipio de Abbadia, creando uma freguezia
e uma escola em terras pertencentes a Bahia.

A Assembléa Legislativa Provincial de Sergipe


decreta :
Art . 1. -Fica elevada á freguezia a Capella do
Povoado do Espirito Santo ; sua divisão pelo sul será o
rio Real que serve de divisão da Provincia e pelo Norte
o Governo lhe marcará os limites desanexando -os das
freguezias de Santa Luzia e Itabayaninha ficando no
civel pertencendo ao Municipio que o Governo
designar.
Art. 2.° Quando o Vigario Serafim da Costa Bor
ges prefira ser vigario desta nova Freguezia perceberá
durante sua vida a congrua de 400 $000 em attenção a
sua edade e serviços , alem do que houver por cavalga
dura ou canoa e guisamentos .

Art . 3. -Fica egualmente creada na dita Povoa


ção huma escola de ensino primario , cujo Professor
376 LIMITES

perceberá o ordenado de 300 $000 - Ficam revogadas as


Leis em contrario .
Passo da Assembléa 15 de Janaeiro de 1841.
Martins Fontes.

N. 140

Officio da Camara de Abbadia protestando


contra a absorpção da parte do seu territorio
pretendida pela Provincia de Sergipe.

Illmo . Exmo . Sr. -He tendo á vista a copia do


projecto do Decreto que SS . Illma. enviou ao Vigario
desta Freguezia acompanhada de seu officio de 1º do
passado , afim de ser ouvido previamente sobre a divisão
que se pretende desta freguezia e sobre a opção que
se offerece ao dito vigario que vae esta Camara expôr
algua cousa cheia da admiração e espanto que o projecto
incute . Hé a Abbadia parte integrante da Provincia da
Bahia e sendo filial della a Capella do Espirito Santo ,
collocada em terreno da mesma Provincia , he evidente
que a Assembléa Provincial de Sergipe carece de
authoridade para eleval- a a freguezia . Nesta pretenção
não se descobre outra cousa senão hum esforço mais
para desannexar da Bahia huma porção de seo territorio
e com ella dar incremento a Sergipe; isto porem está
fora de toda a possibilidade . Em tempo que estava na
Vice-Presidencia daquella Provincia o illustre author
do Projecto , suscitou -se a questão de estender o reve
rendo Vigario de Itabaianinha sua jurisdição sobre o
terreno desta Freguezia ao norte do Rio Real , este
mesmo terreno que visa o author do Projecto e a isto
oppoz -se o respectivo Vigario com todo o direito que lhe
DA BAHIA COM SERGIPE 377

assistia e elevando SS . Illma . a duvida á respeitavel


presença de Exmo . Metropolitano .
Este , depois de ouvir ao Parocho contendor e por
ultimo ao desta Freguezia, houve de ordenar por des
pacho que ficasse o negocio dependente dos poderes
centraes . O incremento que procura-se da parte de
Sergipe, invadindo o territorio da Bahia, importa uma
nova divisão de Provincia e esta não pode ser feita
pela Illustre Assembléa Provincial de Sergipe parte
interessada e sobretudo por ser opposta ao Artigo 2º da
Constituição do Imperio . Singular cousa he figurar o
Illustre author do Projecto que o rio Real he neste
logar a divisão de sua Provincia .
A Capella do Espirito Santo está á margem Norte
do rio e a que Municipio pertence ella? Ao desta villa ,
isto hé incontestavel ; hé do mesmo lado da Capella e
nas suas immediações e em fim na parte deste munici
pio ao norte do rio que estão encravados dezenas de
Engenhos de fazer assucar , cujos donos tem tanta sci
encia que pertence á Bahia que os matricularam not
Tribunal competente della , e milhares de habitantes
do mesmo lado nem tradição tem que algum dia tivesse
pertencido a outro Municipio e o projecto mesmo o dá
a conhecer quando na 2ª parte do artigo 1° estabelece
que o Governo designará o municipio a que ficará per
tencendo a nova Freguezia pretendida , a Freguezia
tirada do territorio da Bahia e que por isso não tem
pertencido athe hoje a Municipio algum de Sergipe ;
logo hé irrita , hénulla , hé illegitima qualquer deliberação
que tomar essa Illustre Assembléa , e como assim seja
não reconhecerá esta Camara a divisão a que se enca
minha o Projecto . Sendo a questão como hé melindrosa ,
LIMITES 48
378 LIMITES

envolvendo perda de terreno do Munícipio e podendo


trazer consequencias funestissimas , dada alguma contu
macia ou imprudencia da parte de quem ali exerce
e occupa os primeiros logares, não devia esta Camara.
hesitar em endereçar a V. Ex esta representação a
beneficio não só de boa parte de seos Municipes , como
tambem da Provincia e nas mãos de V. Exª poz a ga
rantia e socego do Municipio . Quaze egual representa
ção e em datta de 18 de Janeiro proximo passado enviou
esta Camara a essa Presidencia e não obstante ignorar
ainda a deliberação que sobre ella tomaria V. Exª envia
esta outra , por apparecerem depois della os motivos
expendidos que a obriga . Deus guarde a V. Exª Villa da
Abbadia em sessão ordinaria de 3 de Março de 1841 .
Illm . Exm . Presidente da Provincia - Francisco Borges
da Silva - P. - Manoel Antonio da Silva- Francisco
José da Fonseca -Luiz José da Silva Brazil — Aniceto
Cardoso Lessa-Manoel Carvalho .

N. 141

Officio do Presidente da Bahia Joaquim J.


Pinheiro de Vasconcellos reclamando contra a
usurpação e invasão do territorio de Abbadia
pelas auctoridades de Sergipe e appellando
para os poderes centraes.

N. 25. S. P. - Illm° e Exm° Snr . Satisfazendo o


que V. Exª , de Ordem de S. M. O Imperador , determina
por Aviso de 15 de Março ultimo , sobre a questão e
conflictos occorridos acerca da demarcação de limites
entre esta e a Provincia de Sergipe, cumpre informar a
V. Ex" , que foi por não se ter podido encontrar na Se
cretaria d'esta Provincia alguns documentos , que for
DA BAHIA COM SERGIPE 379

necessem dados positivos acerca da divisão e limites


questionados que eu dirigi ao Vice- Presidente d'aquella
Provincia o officio ora junto por copia sob n . 9 , na
obrigação em que estou de manter illéso o territorio.
d'esta Provincia a que sempre pertenceo aquella como
Comarca, e conseguintemente tambem a porção , que
ella agora a si quer chamar, e mesmo então fazia parte
do Termo da Villa d'Abbadia, como V. Ex verá das
copias a este annexas , e das informações havidas da
Camara da dita Villa, que nunca pertenceu á Comarca
de Sergipe. Não duvido que talvez mais conveniente
possa ser, que , na Secretaria d'Estado d'onde dimanou

a Carta Regia, pelo qual foi aquella , então Comarca,


desmembrada d'esta Provincia e elevada a esta Ca
thegoria, existissem dados sufficientes para conhecer- se
que a direcção do Rio Real , e o ser elle de longo curso,
e navegavel, possa constituir a melhor extrema entre
as duas Provincias assim seja declarada , mais tambem
parece obvio, que se a bem do publico serviço huma
melhor divisão territorial se reconhecer necessaria , se
melhante acto, por affectar differentes Provincias , só
dos Poderes Centraes pode partir, conservada entretanto
a posse inveterada em que está a Villa d'Abbadia. Sua
Magestade . O Imperador porém Deliberará como

Houver por bem . Deus Guarde a V. Ex" . Palacio do


Governo da Bahia 18 de Junho de 1842. Illm' e Exm°
Snr. José de Araujo Vianna . J. J. P. de Vasconcellos
Copiada em 8 de Outubro de 1912. -O Segundo Official
do Archivo Publico, José Luiz de Oliveira.
380 LIMITES

N. 142

Parecer da secção do Imperio e resolução


do Conselho do Estado em 1843 sobre a preten
ção que manifestava o Governo de Sergipe de
se apossar de parte do municipio bahiano de
Abbadia e sobre a lei da assemblea provincial
de Sergipe que havia creado uma freguezia e
uma escola no terreno de que se trata chamado
Espirito Santo, pertencente á villa de Abbadia.
O Conselho verbera o procedimento das aucto
ridades de Sergipe como illegal dizendo que
não podiam assim fazer mas acaba mantendo
provisoriamente o acto illegal profligado .

Archivo Nacional-Certifico em virtude do despa


cho do director desta Repartição exarado no requeri
mento do Dr. Braz Hermenegildo do Amaral que o
documento pedido pelo supplicante encontra-se a fls 38
e 39 do Lº 1º do Registo de Pareceres e Consultas do
Conselho de Estado de 13 de Julho de 1843 e é teor
seguinte:
Consulta sobre limites entre as Provincias de Ser

gipe e Bahia Senhor- Houve Vossa Magestade Imperial


por bem ordenar por sua immediata Resolução de 19
de Julho proximo passado que se submettesse ao Con
selho de Estado reunido o parecer da Secção dos Nego
cios do Imperio do mesmo Conselho , cujo teor é o se
guinte:
Foi presente a secção do Conselho de Estado dos
Negocios do Imperio a correspondencia entre os Presi
dentes da Bahia e Sergipe relativa á questão de limites
entre aquellas Provincias .
A freguesia da Abbadia que jaz no territorio da
Bahia na sua demarcação com a de Sergipe estende-se
além do rio Real e sobre esta parte que passa além do
rio he que versa a contenda .
DA BAHIA COM SERGIPE 381

Se se consultarem as exposições das autoridades.


das duas Provincias achar-se-ha que ambas tem sempre
exercido jurisdicção mas não se encontram que com
provem aquella asserção .
O que se vê com certesa he que nestes ultimos
tempos tem ambas ellas pretendido exercer esses actos ,
encontrando sempre opposição da outra . E ultima
mente a Assembléa Provincial de Sergipe erigio em
freguezia aquella parte da freguesia da Abbadia.
A secção reconhece a necessidade de por termo
a estas questões que podem vir a perturbara paz publica .
Faltão-lhe porem todos os esclarecimentos a este res
peito . Não se sabe qual a antiga divisão da provincia
de Sergipe quanto a administração judiciaria e nem
consta quaes os limites que se lhe marcarão quando
foi separada da Bahia . Não se acha entre os papeis
qual a extenção do territorio daquella parte da freguesia
nem sua população .
Apenas numa exposição da Camara de Abbadia se
diz que ella compredende 30 engenhos de assucar .
Nestes termos observa a secção que a decisão deve
ser fundada mais nas conveniencias geraes que na
posse que cada uma dellas possa allegar .
O direito da Provincia da Bahia parece mais bem
fundado que o da de Sergipe, mas a circunstancia de
ser o Rio Real a divisão daquellas Provincias em todos
os mais pontos e ser aquelle rio navegavel e possante
he uma rasão mui attendivel para que aquella parte da
freguesia da Abbadia fique pertencendo a Sergipe ,
servindo aquelle rio de divisa geral entre ambas . A

secção não pode deixar de acrescentar que sendo pelo


menos duvidosa a jurisdicção da Provincia de Sergipe
382 LIMITES

sobre aquella porção de territorio não podia a Assem


blea Provincial erigir a capella em freguesia, devendo
para isso ter recorrido á authoridade superior.
Pelo que entende a secção que , emquanto por hua
lei se não marcarem os limites daquellas Provincias
Ordene V. M. Imperial que interinamente se con

sidere aquella parte da freguesia da Abbadia como


pertencendo á Provincia de Sergipe, servindo o rio
Real de divisa entre as duas Proviucias- Vis

conde de Olinda-José Cesario de Miranda Ribeiro


Bernardo Pereira de Vasconcellos .
Submetta-se ao Conselho de Estado reunido

Paço 18 de Junho de 1843 - Imperador-José Antonio


Ida Silva Maia .
E tomada na devida consideração e depois de
bem discutida esta materia o sobre dito parecer foi
approvado pelo Conselho de Estado: Mas V. M. S.
Resolverá como achar com sua Alta Sabedoria , que
he mais acertado , Rio de Janeiro vinte de Agosto de
1843. José Joaquim de Lima e Silva - Visconde de
Olinda-Caetano Maria Lopes Gama - José Carlos Pe
reira de Almeida Torres -- Barão de Montalegre José
Cesario de Miranda Ribeiro- Foi voto o Sr. Conselheiro

Francisco Cordeiro da Silva Torres . José Cesario de


Miranda Ribeiro . Como parece ao Conselho de Estado .
Paço em 9 de Setembro de 1843. Com a rubrica de S.
Magestade o Imperador - Antonio da Silva Maya .
Em observancia ao despacho do Dr. Director, para
constar onde convier , passou- se , de accordo com o art .
26 §§ 1.° do Relamento annexo ao Decreto n . 9197 de
9 de Dezembro de 1911 , a presente certidão que eu,
Antonio de Freitas Paiva, sub-archivista Nacional
DA BAHIA COM SERGIPE 383

escrevi e assigno . Rio de Janeiro 14 de Março de 1913


Antonio de Freitas Paiva Conferi-Archivo Nacional

-Rio de Janeiro 14 de Março 1913 .


Armando Esteves pelo Chefe de secção .
Era ut supra. -Alcebiades Furtado, Director.

N. 143

Decreto entregando interinamente a Ser


gipe o territorio do Espirito Santo pertencente
a villa e freguesia de Abbadia até que o poder
competente resolva o caso.

Decreto N.º 323 de 23 de Setembro de 1843.- De


signa provisoriamente os limites entre as Provincias
de Sergipe e Bahia . -Tendo subido a Minha Imperial
Presença o que representou o Presidente da Provincia
de Sergipe a respeito de conflictos occorridos entre as
Autoridades d'aquella Provincia , e as da Provincia da
Bahia, por falta da necessaria clareza em parte dos
limites , que as separa: bem como o que por outra
parte informou o Presidente d'esta ultima Provincia
sobre aquelle mesmo objecto ; e sendo de urgente ne
cessidade occorrer com o conveniente remedio , para
que esses conflictos não continuem em prejuiso do ser
viço Publico , em dezar das mencionadas Authoridades ,
e perturbação dos povos , cuja paz e tranquilidade me
merece particular attenção : Hei por bem, Tendo
ouvido o Meu Conselho d'Estado , e Conformando- me
com o seu parecer, que a parte da Freguesia da Abba
dia , na Provincia da Bahia , que passa alem do Rio
Real fique servindo de Linha divisoria entre as duas
mencionadas Provincias; emquanto pela Assembléa
Geral Legislativa outra cousa não for determinada .
384 LIMITES
PA

José Antonio da Silva Maya, do Meu Conselho d'Es


tado , Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios do
Imperio, assim o tenha entendido , e faça executar com
os despachos necessarios .
Palacio do Rio de Janeiro em vinte e trez de Se
tembro de mil oitocentos e quarenta e trez , vigesimo
Segundo da Independencia e do Imperio . -Com a ru
brica de Sua Magestade o Imperador-José Antonio da
Silva Maya . Está conforme .-Antonio José de Paiva
Guedes d'Andrade. Copiado em 20 de Novembro de
1012. -O Segundo Official do Archivo Publico , José
Luiz de Oliveira.

N. 144

Reclamação da Camara de Abbadia para


que fosse revogado o decreto que demembrara
do seu termo interina ou provisoriamente o
territorio do Espirito Santo até o rio Saguim
para alargar a Provincia de Sergipe

Ilmo . e Exmo . Sr. -A Camara Municipal da


Villa da Abbadia animada da Rectidão e Justiça com

que V. Exa. se porta em todos os Actos que costuma


praticar, e que tem levado o nome de V. Exa . aos diffe
rentes pontos do Imperio , pede a V. Exa . queira por seu
intermedio alcançar da Assembléa Geral Legislativa a
revogação do Decreto n . 323 de 23 de Setembro de
1843 que designou provisoriamente os limites desta
Provincia com a de Sergipe pelo Rio Real , pois que os
resultados deste Decreto , em vez de concorrerem para o
melhoramento das cousas, como desejou S. M. Impe
rador, elle tem concorrido para muitos males . -Elle
demembrou deste Municipio o terreno que fica entre
DA BAHIA COM SERGIPE 385

os rios Real e Saguim e por isso perdeu esta Villa a


melhor e mais rica porção de seus habitantes que muito
concorriam para o augmento della e da Provincia ;
perdeu vinte e cinco Eleitores de seu Collegio Eleitoral ;
perdeu mais de cinco mil habitantes; perdeu duas
Companhias de Guardas Nacionaes que com duas que
existem a quem do Rio Real formavam hum Batalhão ;
perdeu a provincia os interesses que entravam em seus
cofres provenientes de 31 Engenhos de fazer assucar
ahi edificados , afora outros muitos ramos de interesse ;
perdeu em sua grandeza e quasi perde esta Villa sua
cathegoria, se não he apenas ficar-lhe sessenta e sete
jurados .
Além de todos estes prejuizos, muitas familias
pacificas tem dali se mudado , preferindo antes acabar
á fome e á miseria com os incommodos da muda do que
pertencerem ao duro jugo de Sergipe , e outras muitas
inda alli se conservam porque estão na esperança de
que a Assemblea Geral revogando o citado Decreto ,
faça conservar o termo desta Villa por seus antigos
limites , os quaes são ao Norte pelo rio Saguim, cujos
documentos que os mostrão tem por vezes esta Camara
remettido a essa Presidencia e que não deixarão de

estarem archivados na competente Secretaria . Queira


V. Exa. pois a bem da Provincia e deste Municipio,
passar um golpe de vista nelles , e concorrer com suas
incançaveis forças para a integridade deste e honra
daquelle , dirigindo á Assembléa Geral uma Represen
tação neste sentido , por cuja graça enviamos aos Céos
ardentes supplicas pela conservação da paz e saúde
de V. Exa .
Deus Guarde a V. Exa . Villa de Abbadia em
LIMITES 49
386 LIMITES

Camara, 8 de Janeiro de 1845. Illmo . e Exmo . Sr.


Presidente da Provincia da Bahia Joaquim Curvello
d'Alvila P. Joaquim Simões d'Almeida - 0 Vig.

Manoel Joaquim de Fonseca -Manoel Joaquim de


Torres - Francisco José da Fonseca -Euzebio Fran
cisco de Jesus Vianna.

N. 145

Parecer da Comissão de Estatistica da Ca


mara dos Deputados Geraes do Brasil repro
vando o decreto que entregou parte do territorio
de Abbadia a Sergipe , tanto por ser a divisa
antiga e real pelo rio Saguim, como por ser
inconstitucional o projecto e por ser contrario
de facto á população , cujos direitos não foram
attendidos e cujas reclamações não foram ou
vidas .

Manoel Francisco do Espirito Santo , secretario


da Camara Municipal da Villa de Abbadia , Comarca de
Itapicurú, Provincia da Leal e Valorosa Cidade da
Bahia na forma da lei ; Certifico , em fé do meu emprego,
que entre os papeis do Archivo se acha uma Copia do
Parecer da questão de limites entre esta Provincia e a de
Sergipe cujo teor é o seguinte-A Commissão de Esta
tistica, a quem foi presente a representação da Camara
Municipal da villa da Abbadia pedindo uma acertada
deliberação desta Camara a cerca dos limites entre a
Provincia da Bahia ( a qual pertencia a referida villa )
e a de Sergipe del-rey , examinou todos os documentos
e mais papeis que ha a respeito , e conhecendo que de
ha muito estes logares são disputados por ambas as
provincias, passa em primeiro logar a expor o que de
tudo poude colligir, afim de melhormente interpor
seu parecer.
DA BAHIA COM SERGIPE 387

Pelos papeis que existem na pasta da mencionada


commissão consta um requerimento feito pelo deputado
da Provincia de Sergipe, Fernandes da Silveira , no
qual pedia já em 1835 , que a divisão entre as duas
Provincias fosse a demarcação pelo Decreto de 8 de
Julho de 1820. A comissão recorreu ás colleções e não
poude encontrar decreto dessa data que assim o deter
minasse , constando somente o datado do mesmo mez e
anno separando da Capitania da Bahia o Governo de
Sergipe sem cousa alguma determinar sobre limites .
Em 1836 a Assembléa de Sergipe pedio a esta
Camara houvesse de , attendendo á riqueza da Bahia e o
estado de sua Provincia , fazer a divisão pelo rio Itapi
curú e cachoeira de Paulo Affonso e desta representação

se conhece que tempos atraz queixas houverão de que os


Sergipanos entravão pelos terrenos da Provincia da
Bahia, como se vê dos documentos do então Capitão
General Dom Fernando José de Portugal .
Em 1841 por lei provincial da Assembléa de
Sergipe foi elevada á freguezia uma parte da freguezia
da Abbadia , o que originou diversos conflictos com o
reverendissimo e excellentissimo Metropolita.
Em 1843 continuou a Assembléa de Sergipe em
um seu parecer impresso que foi offerecido em 1845 at
esta camara pelo deputado Bittencourt e Sá a pedir a
divisão pelo Itapicurú e S. Francisco cedendo- se-lhes
as ilhas , et cœtera .
O governo de 1843 , ouvindo o Conselho de Estado

a quem forneceo todos os esclarecimentos , a vista de


seu parecer, entendeo que podia e ordenou por decreto
n.º 323 de 23 de Setembro de 1843 , que a divisão das
provincias fosse pelo Rio Real até a Cachoeira etc.
388 LIMITES
wwwww

ficando assim pertencendo a Sergipe todo o territorio


entre este rio e o Saguim etc , que era a antiga divisa .
Desde então em 13 de Dezembro de 1843-1844 ,
um e onze de Janeiro de 1845 , 10 de Maio e 4 de Junho
de 1846 não tem cessado de apparecerem represen

tações contra a supradita divisão do governo , quer a


pedido das camaras , quer dos povos e até a Assembléa
da Provincia da Bahia que se julga ferida em seus di
reitos .

De tudo porem quanto ha expedido a Commissão ,


pode ella tirar os seguintes corollarios : 1. ° que a divisão
antiga entre as então capitanias da Bahia e Sergipe ,
depois de separados os Governos foi sempre pelo rio
Saguim ; 2.º que o decreto que marcou os limites agora
é inconstitucional por entrar nos poderes das As
sembléas geral e provincial a quem pela constituição e
reformas , compete legislar sobre limites ; 3.º que os
povos que forão annexados á provincia de Sergipe não
estão contentes com seus interesses e reclamão sua

antiga sugeição á Bahia a que pertencião .


Portanto á vista das razões expedidas , é a com
missão de parecer que se enviem os papeis ao governo
afim de dar qualquer providencia de accordo com o
sentir da camara até que esta delibere finalmente a
semelhante respeito .

Paço da Assembléa Geral 22 de Agosto de 1846 ,


José Vieira Rodrigues de Carvalho e Silva-José An
tonio Marinho . Approvado em 13 de Setembro de 1847 .
Nada mais se continha em o dito parecer , o qual
aqui copiei, depois do que conferi e concertei com um
escrivão do concerto assignado , e acha- se sem cousa
que duvida faça .
DA BAHIA COM SERGIPE 389

Secretaria da Camara Municipal da Villa de


Abbadia 20 de Dezembro de 1855. Manoel Francisco
do Espirito Santo , secretario o escrevi e assignei . -
Manoel Francisco do Espirito Santo. Concertado por
mim secretario Manoel Francisco do Espirito Santo .
E commigo o Escrivão de Orphãos Pedro de Souza
Valladão .

N. 146

Acta da sessão da Camara de Itapicurú em


que se realisou a separação de Geremoabo ,
creada villa pela lei da Regencia de 25 de Ou
tubro de 1831 com todo o territorio das suas
tres freguesias entre os quaes a do Bom Con
selho demarcada pela Provisão de 1817 em obe
diencia ao Alvará de 21 de Novembro de 1817.
Extrahida conforme se vê declarado

Hade servir este Livro para nelle se lançarem


as actas das Sessões da Camara Municipa! da Villa de
N. Sra. de Nazareth do Itapicurú, e vai por mim
rubricado com a minha rubrica . Dantas-- de que uso,
e leva no fim termo de encerramento . Saúde 7 de Ou

tubro de 1829. João Dantas dos Reis . A pagina 74 o


seguinte . Sessão de 13 de Junho de 1833. Aos treze
dias do mez de Junho de mil oitocentos e trinta e trez
annos nesta Villa de Itapicurú de Sima Comarca e
Provincia da Leale Valorosa Cidade do Sam Salvador,
Bahia de todos os Santos , do Imperio do Brasil e Cazas
da Camara Municipal ende se achava a mesma reunida
sendo Presidente o Sargento Mor José Dantas Itapicurú
com os Vereadores o Tenente Francisco de Macedo
Silva, o Capitão Francisco Xavier de Souza Pondé o
Capitão José Bernardo Leite , o Capitão Francisco
Pires de Souza, e Severo da Silva Capistrano , junto
390 LIMITES

commigo Secretario della e logo todos juntos e assen


tados abriu-se a sessão pelas palavras do Prezidente.
Abriu-se a Sessão - E logo na mesma sessão em virtude
do Decreto que digo Decreto de vinte e cinco de Outu
bro de mil citocentos e trinta e hum que abaixo vai
transcripto comparecerão prezentes o Capitão José
Rabello de Moraes , Prezidente da nova Camara da Villa
de Geremoabo , e os Vereadores Antonio Lourenço de
Carvalho, João Antonio de Passos , Antonio Felix de
Passos e Ponciano Jozé da Gama para effeito de toma
rem posse para servirem de Vereadores da nova Camara
criada na Villa de São João Baptista de Geremoabo
aos quaes o Prezidente deferio o juramento dos Santos
Evangelhos em hum Livro delles os quaes prestarão
juramento da maneira seguinte . Juramos aos Santos
Evangelhos desempenhar as obrigações de Vereadores
da Camara de Geremoabo , de promover quanto em nós
couber os meios de sustentar a felicidade publica , e de
como o diceram abaixo asignarão este Auto . Decreto
-A Regencia em nome do Imperador o Senhor Dom
Pedro Segundo , Ha por bem sancionar, e Mandar que
se execute a seguinte Resolução da Assembléa Geral
Legislativa tomada sobre outra do Conselho Geral da
Provincia da Bahia.

Artigo primeiro- Fica erecto em Villa o Julgado


de Geremoabo desannexando-se do Termo da Villa
do Itapicurú a que pertencia . Artigo 2. °-o Termo da
Villa de Geremoabo conterá as tres Freguesias , de que
actualmente o seu Districto Eleitoral se compõe a
saber: a mesma de S. João Baptista de Geremoabo, a
de Nossa Senhora do Bom Concelho dos Montes do Bo

queirão, e a do Santissimo Coração de Jezus € Nossa

1
DA BAHIA COM SERGIPE 391

Senhora da Conceição do Monte Santo com todo o


territorio pertencente . José Lino Coutinho do Con
selho do mesmo Senhor Imperador , Ministro e Secre
tario de Estado dos Negocios do Imperio o tenha
assim entendido , e faça executar . Palacio do Rio de
Janeiro em vinte cinco de Outubro de mil oitocentos e
trinta e hum , decimo da Independencia e do Imperio.
Francisco de Lima e Silva—José da Costa Carvalho -
João Braulio Muniz José Lino Coutinho- E logo
na mesma sessão recebeu-se um officio do Capitão
Gaspar Carvalho da Cunha participando a recepção
do officio desta Camara e participando que não aceitava
o emprego de Vereador desta Camara a que foi eleito
por lhe impedir as publicas molestias que padece o que
foi izento de servír por esta mesma Camara , mandando
que se chamasse o immediato em votos para servir de
Vereador. E logo no mesmo Auto entregou o Prezidente
desta Camara ao Prezidente daquella o Capitão José
Rabello de Moraes o Codigo do Processo criminal de
primeira Instancia , o Decreto de trez de Janeiro de mil
oitocentos e trinta e trez , as Instruções de treze de Ja
neiro de mil oitocentos e trinta e dois , e o Edital das
creações das Comarcas de dezoito de Março de mil oito
centos e trinta e tres para no seu districto lhes dar o seu
devido cumprimento , e de como recebeu abaixo assig
nou.E de tudo para constar lavrei esta acta em que
assignou a Camara desfa Villa e a nova empossada .
Eu Jozé da Costa Doria Secretario que a escrevi : A. J.
Dantas Macedo - Pondé Leite-Pires Capistrano José
Rebello de Moraes- Antonio Lourenço de Carvalho
.
-João Antonio de Passos - Antonio Felix Passos --
Ponciano José da Gama.
392 LIMITES

Extrahida por mim José Augusto de Faria −3.º


Official do Archivo Publico do Estado da Bahia aos
doze dias do mez de Janeiro do mil novecentos e qua
torze -Está conforme ao original . Bahia e Archivo Pu
blico 12 de Janeiro de 1904 -O 1. ° Official Dr. Vir
gilio de A. Cunha . -O Director , Cassiano Amaro
Lopes.

N. 147

As tentativas feitas pelas auctoridades de


Sergipe para se apoderarem das terras de Gere
moabo, contidas pelo Governo Portuguez no se
culo 189 (vide documentos numeros 91 , 92 , 93 , 94,
95, 97 e 98) foram renovadas 100 annos depois ,
visando desta vez especialmente os logares men
cionados na Provisão que demarcou e delimitou
a freguezia do Bom Conselho, em obediencia ao
Alvará de 21 de Novembro de 1817, com os no
mes de Ladeira Grande, olhos dagua do Coité e
do Máo Fim Tenhas, lagoas Cercada , Salgada,
das Antas e do Genipapo , Estrada do Sacco das
Candeias e adjacencias, isto é, as mattas de
Simão Dias e povoação da "Malhada Vermelha,
hoje villa do Patrocinio do Coité
O Governo da Provincia de Sergipe decreta
cm 1835.

Fica creada freguezia a capella de Simão Dias ,


desmembrada da do Lagarto da maneira seguinte; princi
pia do Poço do Bixo no rio Vasa - Barris e passando pelo
lado da parte de cima da casa da fasenda da Ilha
Grande em rumo direito irá até o Olho dagua da Bana
neira e dahi sahirá em rumo direito ás cabeceiras do
Pambo e descendo riacho abaixo irá ao Campo do Cara
cará e dahi passará pelo oitão da parte de cima da casa
do sitio do Pedro e dahi rumo direito ao oitão da casa
da parte de cima da casa da fazenda da Dionizia e dahi
DA BAHIA COM SERGIPE 393

ao oitão pela parte de cima da casa da fazenda do Sacco


do Capim e dahi rumo direito ao oitão pela parte de
cima da casa da Fazenda de cima e dahi rumo direito
ao Campo da Cavalleira , donde descerá ao Sanharó no
lugar da Fazenda Velha e dahi seguindo a estrada que
sobe para o oiteiro passará pelo oitão da parte de cima
.
da casa da farinha de Geraldo Coelho e dahi rumo di
reito á Fazenda Vella da Sume e sahindo estrada
real ás cabeceiras do rio Piauhytinga passará pela frente
da fazenda da Cruz e atravessando dahi a Matta , irá em
direitura ao Olho dagua das Aguas Ricas , donde atra
vessando a Serra , irá passar pelo oitão da parte de cima
da casa da Religião e dahi em rumo direito irá encon
trar-se com a divisão da freguezia de N. S" . dos Campos
do Rio Real de Cima e dahi rumo direito pela parte de
cima da casa da fazenda de S. Francisco em divisão
com a freguezia de N. S" . do Bom Conselho dos Montes
do Boqueirão , donde seguirá rumo direito pela parte de
cima da casa da Fazenda Secca de joão Damasceno ; e
seguindo rumo direito atravessará a serra e irá passar no
cabeço debaixo da Serra de João Grande e dahi atraves
sando por cima a serra do Capitão e descendo pela pas
sagem do rio das Caralybas , descerá rio abaixo e atra
vessando o rio Vasabarris irá pela mesma divisão antiga
encontrar- se com a divisão da freguezia de S. Antonio
e Almas de Itabayana , donde seguirá rumo direito até
o pinaculo da serra e dahi rumo direito ao Vasabarris
na Malhada Grande ou Praia Grande, donde descerá
rio abaixo a terminar no logar em que principiou a
divisão .

LIMITES 50
394 LIMITES

N. 148

Correspondencia entre as auctoridades po


liciaes da Bahia e Sergipe mostrando que sempre
foi respeitado por estas o lugar chamado La
deira Grande como limite ou divisoria das duas
antigas Provincias , divisa de onde o Governo
de Sergipe pretendeu expulsar a Bahia em 1913
pondo alli guarnição e fazendo a proposta que
se vê no documento n. 51.

Illm . Sr. Havendo no Districto da Ladeira Grande


huma prizão que mandei fazer em hum criminoso e
como nesse conflicto se opposera Manoel Guilherme e
Bertholameu a impedir que se não fizesse ou se soltasse
aquelle prezo com as armas offensivas : e como seme

lhante procedimento não deve ficar impune esse crime ,


mandei huma escolta que os prendesse , porem como
elle sendo desta Freguezia se foi refugiar em casa do
irmão, o qual mora já quasi no termo de Geremoabo e
como não podia ter demora semelhante prizão os sol
dados os trouxeram , ficando o que lá mora sem ser
prezo por esse motivo requesito a V. S. a capturação
do mencionado Bertholameu , ao menos de 8 dias de
prizão afim de que elle fique no conhecimento e saiba
respeitar as ordens do serviço nacional e imperial .
Outro sim que o Inspector a quem encarreguei a dili
gencia me participou por noticia que teve se achava
com ordem de prisão dada por V. S. por semelhante
respeito fazendo eu ver a V. S. que aquella deliberação
minha foi feita por não ter tempo de fazer a V. S. as
requisições de um costume politico . Deus Guarde a V.
S. Quartel do Destacamento em Simão Dias , 1 de Ja
neiro de 1739 - Joaquim Antonio da Silva Godinho,
Alferes Commandante . Illm . Sr. Juiz de Paz do Termo
do Coité.
DA BAHIA COM SERGIPE 395

N. 149

Ordem do Juiz de Direito da Comarca de


Itapicurú as authoridades de Coité , mostrando
a jurisdicção legitima da Bahia sobre o que
pertencia ao exercicio ou acção dos seus prepos
tos por todas as leis emanadas dos poderes com
petentes nos tempos coloniaes e no Imperio.

Illmo . Sr. Em conformidade ás ordens do Gover


no cumpre que V. S" . não acceite fiança alguma, sem
que os afiançados mostrem haver pago 2 por cento do
valor da fiança que se pretenda prestar, sob pena de
nullidade da mesma- Deus Guarde a V. S. - Itapicurú
10 de Junho de 1839-José Emygdio dos Santos Tou
rinho Juiz de Direito da Comarca . Ilmo . Snr. Juiz
de Paz do Coité.

N. 150

Correspondencia entre as auctoridades


policiaes da Bahia (Coité ) e Sergipe ( Simão
Dias) mostrando como foi sempre durante o
periodo do Imperio respeitado pela Provincia
de Segipe o districto de Coité como parte inte
grante do territorio bahiano, pois tendo o Juiz
de Direito de Geremoabo requisitado uma
prisão ao Vice- Presidente de Sergipe por
suppor que estivesse naquella Provincia um es
cravo que devia ser capturado e já tendo pas
sado este para o territorio bahiano a auctori
dade policial de Sergipe pedio o auxilio do Juiz
de Paz do Coité e explicou a presença da escolta.

Illmo . Snr.-S. Ex . o Sr. Vice Presidente desta


Provincia me ordena preste auxilio ao Sr. Thomé
Francisco Telles para a capturação de hum escravo em
virtude de Deprecada do Illmo . Sr. Juiz Municipal
desse Termo de Geremoabo; por isso mando a escolta
396 LIMITES

para o dito fim , sendo que V. S. leve a bem a ordem


que o mesmo Sr. Thomé apresenta; e por conhecer em
V. S. hum fiel observante das ordens das authoridades

locaes, justiceiro e imparcial , por essa cauza me dirijo


a V. S. na mesma occasião afim de coadjuvar a dita
diligencia. De novo reitero a V. S. os meus devidos
cumprimentos . Deus Guarde a V. S. - Quartel do
Destacamento em Simão Dias , 29 de Junho de 1839—
Joaquim Antonio da Silva Godinho, Alferes Com
mandante.

Illmo . Sr. José Joaquim de Menezes . Juiz de


Paz do Coité .

N. 151

Officio do Juiz de Direito de Itapicurú in


quirindo da authoridade do Coité sobre factos
que se haviam passado no seu districto .

Illm Snr. Representando- me João Martins de


Barros por si e pelos mais Indios desse Districto contra
alguns excessos contra elles praticados a ponto de ser
baleado hum dos seus companheiros por huma escolta
por V. S. authorisada, pedindo-me providencias a
respeito, cumpre que V. S" . circumstanciadamente me
informe com o que tiver occorrido por este portador . —
Deus Guarde a V. S. Pombal 26 de Agosto de 1839 .
-José Emygdio dos Santos Tourinho, Juiz de Direito
da Comarca . Illm Sur. Juiz de Paz do Districto do
.
Coité.
DA BAHIA COM SERGIPE 397
ala pa langpo wy

N. 152

Officio do Juiz de Direito de Itapicurú exi


gindo da auctoridade do Coité certos esclareci
mentos para a justiça.

Logo que este receber queira remetter-me huma


relação de todos os crimes commettidos neste Districto
no corrente anno, segundo o modelo junto, declarando
á margem de cada hum dos crimes ahi especificados ,
quantos se commetterão dessa natureza .
Convindo que a mesma relação seja aqui entregue
ao Commandante da Guarda Policial até o dia 20 de
Dezembro impreterivelmente . Deus Guarde a V. S".
Itapicurú 29 de Dezembro de 1839. -José Emygdio dos
Santos Tourinho, Juiz de Direito . Illm ° Snr . Juiz de
Paz do Districto de Coité.

N. 153

Officio do Juiz de Direito da Comarca de


Geremoabo ás auctoridades de Coité.

Por ordem do Governo da Provincia que me foi ex


pressa em officio de 24 de Setembro ultimo , vou orde
nar-lhe que logo que este receba passe a proceder uo
districto de sua jurisdicção ao arrolamento da popula
ção respectiva por meio das Instrucções visto que em
execução da Lei Provincial de 9 de Março de 1840 sob
n. se tem de fazer o recenseamento geral da Provincia ,
verificar o estado da sua população , ou numero exacto
de seus habitantes cuja Lei principiou a ter execução
no 1º deste mez terminando no ultimo de Dezembro
seguinte , por não ter sido possivel ser executada
398 LIMITES

no anno proximo passado , e até o fim do mez


de Janeiro do anno seguinte deverá remetter a
eu a este Juizo, na forma do art . 15 da mencio
nada Lei o livro do resultado do dito arrolamento que
pela sua utilidade muito recommendo a V. S. a precisa
execução; regulando-se em tudo pelos exemplares in
clusos e requisitando ao vigario dessa freguezia , a quem
o mesmo Governo tem officiado , para lhe dar os escla
recimentos e informações de que precisar no desem
penho destas funcções . Outro sim , devendo o censo ser
feito por casas na forma do art . 9º , convem que as do
seo Districto estejam todas numeradas por Quarteirões
na maneira seguinte. Q. N. O. n . fasendo -se tambem
indispensavel que todos os habitantes tenham noticia
do que lhes é prescripto pela presente Lei , mande - a
publicar nos lugares mais publicos , para que todos
saibam as obrigações que lhes são impostas , sob pena
de desobediencia e assim com maior facilidade e exa

ctidão se possam cumprir o artigo 10 da citada Lei , pela


parte que lhe toca , ficando V. S. responsavel por qual
quer omissão no exacto desempenho da precitada Lei .
Deus Guarde a V. S. Itapicurú 26 de Fevereiro de
1842. Illmo . Sr. Juiz de Paz do Districto de Coité.
Caetano Vicente d'Almeida Junior, Juiz de Direito .
P. S. Deverá remetter os mappas até o fim do
mez que vem, ultimo de Março o mais tardar, ou aliás
responder o motivo que tiver para deixar de assim of
fazer.
DA BAHIA COM SERGIPE 399

N. 154

Ordem do Chefe de Policia da Bahia ás au


ctoridades de Geremoabo que mostra ter sido
sempre exercida e sem interrupção a juris
dicção legal e legitima da Bahia sobre o terri
torio que pretende [della desmembrar o pro
jecto do sr. Moreira Guimarães .

Illmo . Snr. Não sendo isentos de comparecer para

a revista geral de inspecção determinada por S. M. o


Imperador em os corpos da Guarda Nacional os Dele
gados , Subdelegados , Inspectores de Quarteirão e mais
empregados a mim subordinados e cumprindo evitar
desintelligencias , quando o aviso respectivo se veri
ficar, assim observará V. S. e lhe recommendo o faça
constar aos mais funccionarios de Policia desse Dis
tricto . Deus Guarde a V. S. Secretaria da Policia da

Bahia , 6 de Maio de 1843. -João Joaquim da Silva,


Chefe de Policia . - Illm . Sr. Delegado de Geremoabo .

N. 155

Ordem da auctoridade policial de Gere


moabo a outra do districto de Coité , mostrando
ter sempre a Bahia exercido real jurisdicção
sobre os territorios que por lei lhe pertencem.

Illmo . Snr. Das copias juntas verá V. S" . quaes


as ordens que me transmittio o Illmo . Sur. Chefe
de Policia da Provincia , para receber a devida

execução na parte que diz respeito ás attribuições de


V. S. Lembro a V. S" . a prompta remessa do arrola
mento do seu Districto e a proposta dos Inspectores

para de mim receber a devida approvação na forma da


Lei - Deus Guarde a S. Vª . Villa de Geremoabo 16 de
400 LIMITES

Junho de 1843 Joaquim d'Azevedo Monteiro - Dele


gado do termo .
Illmo . Snr. Capitão José Victorino de Menezes,
subdelegado do Districto de Sabão e Coité .

N. 156

Officio do Juiz de Direito de Geremoabo.


comarca a que passara a pertencer o Coité ,
dando conta ao Presidente da Provincia de
factos alli acontecidos .

Geremoabo 20 de Dezembro de 1860. Illmo . e


Exmo . Snr .- (Reservado ) —E ' cheio de consternação
que passo a communicar a V. Ex" . o seguinte facto
que se acaba de dar no districto da Malhada Vermelha
ou Coitê deste Termo e para o qual reclamo promptas
providencias . Antes de tudo me é preciso fazer ver a
V. Ex" . que existe neste Termo um partido capita
neado pelo coronel João Dantas dos Reis , que tem
sabido ter ás suas mãos todas as authoridades , quer
policiaes, quer judiciarias, e a quem portanto é facil pôr
em pratica , por esses seus emissarios , todos os planos
que lhe vem á mente, ainda os mais iniquos , comtanto
que lhe sirvão para satisfazer paixões suas , ou dos ties
seus alliados; e aquelle que, ou por seus principios de
moralidade , ouza oppor-se-lhe , ou aos seus por qual
quer forma, tem de soffrer prompta e infallivel per
seguição .

Dito isto passo a expor a V. Ex" . que existe no


districto acima referido o Alferes Estanislão Pereira de

Carvalho, homem sobre cujo procedimento tenho


ouvido fallar-se geralmente bem e que mora
DA BAHIA COM SERGIPE 401

lugar ha muito tempo sem que nunca se lhe tivesse

imputado o menor crime, o qual por gosar de sympa


thias no lugar e principalmente por ter um seu mano
dado uma queixa contra o subdelegado desse districto
Capitao Joaquim José de Carvalho por ter ido como
parte e em companhia do 1º . supplente seu cunhado
e amigo Capitao Pedro José de Mattos fazerem umas
prisões illegaes ; estando em sua casa manso e pacifico ,
vio-a cercada por grande numero de pessoas e recebeo
ordem de prisão expedida pelo 3. ° supplente , como
indiciado em crime de morte; e como semelhante pro
cedimento seja nascido de vinganças e planos elei
toraes , tendo-se elles de máis aproveitado da ausencia
do doutor Juiz Municipal e Delegado que partio ha
dias para a Cidade com licença e se falle que outros
eguaes planos estão preparados , vou com urgencia.
pedir a V. Ex" . salutares providencias , requisitando a
prompta destituição desses tres empregados , subdele
gado capitao Joaquim José de Carvalho , e seus supplen
tes Capitao Pedro José de Mattos e Fulano de tal Carre
gosa, indicando para substituil-os aos cidadãos Fran
cisco Garcia de Carvalho , Manoel Hypolito Rebello de
Moraes e Caetano José do Nascimento . Requisito mais
a bem do socego publico do lugar a vinda de capitaõ
de Policia comtanto que não seja sob as ordens das
actuaes authoridades policiaes que são tidas da parcia
lidade do referido coronel . Espero que V. Éx" . dê o
devido peso a estas minhas palavras que são unica
mente filhas do desejo que tenho de não ver a inno
cencia perseguida e calcadas as leis do Paiz . -Deus.
Guarde a V. Ex" .

Illmo . e Exmo . Sur. Desembargador Presidente


LIMITES 51
402 LIMITES

desta Provincia . - Caetano Vicente d'Almeida Junior,


Juiz de Direito da Comarca.

N. 157

Lei bahiana mudando o nome de Santo An


tonio do Curral dos Bois para o de Santo Antonio
da Gloria o districto que tinha aquella deno
minação, parte mais septentrional do antigo
julgado de Geremoabo , villa do mesmo nome
desde 1831 (vide lei da Regencia doc. n. 32) .

Publica forma- Resolução de trinta e um de

Março de mil oitocentos e quarenta e seis . Numero


duzentos e quarenta . Francisco José de Souza Soares
de Andréa , Presidente da Provincia da Bahia . Faço
saber a todos os seos habitantes que a Assembléa legis
lativa provincial decretou e eu sanccionei a lei seguinte .
Art . 1. A freguezia até aqui conhecida debaixo da
invocação de Santo Antonio do Curral dos Bois fica
sendo denominada de Santo Antonio da Gloria .

Art. 2.° A mesma Freguezia terá por limites ao Norte


o Rio de São Francisco , ao Nascente a Freguezia de
Nossa Senhora do Buraco , ao Sul a Freguezia de
São João Baptista de Geremoabo , servindo de divisão
entre as duas Freguezias as Fazendas São José e Al

godoes as quais pertencerão a Santo Antonio da Gloria;


ao poente o Riacho Tarraxil e por este acima a en
contrar com a divisão de Geremoabo , ficando per
tencendo a mesma de Santo Antonio da Gloria toda a

margem oriental do mesmo Riacho . Art . 3.º Revo

gão-se as leis e resoluções em contrario . Mando por


tanto a todas authoridades a quem o conhecimento e
execução da referida lei pertencer que a cumprão e
DA BAHIA COM SERGIPE 403

fação cumprir tão inteiramente como nella se contem .


Palacio do Governo da Bahia, 20 de Março de 1846 ,
vigesimo quarto da Independencia e do Imperio
(G do S) Francisco José Soares de Sonza de Andréa.
Nésta Secretaria do Governo da Bahia foi publicada
a presente resolução em 31 de Março de 1846 , José
Maria Servulo Sampaio servindo de Secretario . Regis
trada a folhas onze verso do Livro terceiro de Leis

e resoluções da Assembléa legislativa provincial . Se


cretaria do Governo da Bahia três de Abril de mil

oitocentos e quarenta e seis . Julio Cezar da Silva , ser


vindo de Official maior. E' o que se continha na
resolução de 31 de Março de 1846 n . 240 e vai esta sem
sem cousa que duvida faça , por mim escripta e assi
gnada e por outro qualquer Escrivão ou official de
Justiça cumprida concertada e assignada nesta Villa
de Geremoabo aos quatorze dias do mez de Março de
mil oitocentos e oitenta e nove . Eu Aristides de Cer
queira Pombal Tabellião que a escrevi , copiei e assignei
com o signal que úso . Em testemunho de verdade .
A. C. P. Tabellião Aristides de Cerqueira Pombal e
commigo escrivão de Paz Porfirio Tudite Borges
Rr. 1780 Guia 300 rs . 2080. Pombal. Tem o sello

fls . 2. Geremoabo , 14 de Março de 1889 N. 62. Rs . 42C


Pg . quatrocentos e vinte reis inclusive 5 % addicional
em verba a falta de estampilha . Geremoabo 16 de
Março de 1889. Colaço Sant'Anna. E nada mais se con
tinha no Livro do Tombo desta Freguezia de Santo
Antonio da Gloria do Curral dos Bois , fls . 41 e 42 de
original copiei e dou fé . Eu João Jacintho Leal , Secre
tario da Comarca que o escrevi . Freguezia de Santo
Antonio da Gloria 4 de Julho de 1891. O Secretario
404 LIMITES
мотот во моето правите подат

João Jacintho Leal . Extrahida por mim 3° Official do


Archivo Publico do Estado da Bahia , Bacharel Her
millo Durval , aos doze dias do mez de Janeiro de mil
e novecentos e quatorze . Está conforme ao original
Bahia e Archivo Publico 12 de Janeiro de 1914- O
1º Official- Dr . Virgilio de A. Cunha-O Director ,
Cassiano Amaro Lopes.

N. 158

Resolução da Assembléa Provincial da Bahia


de 9 de Junho de 1875.

As freguezias do Bom Conselho e Coité, perten


centes ao termo de Geremoabo , constituirão um muni
cipio cuja séde será o arraial do Bom Conselho , o qual
fica elevado a villa .

Este municipio será annexo ao da villa de Gere


moabo . 9 de Junho de 1875 .

N. 159
Lei bahiana de 1 de Maio de 1886.

Ficam elevadas a villas as freguezias de Santo


Antonio da Gloria do Curral dos Bois e Nossa Senhora
do Coité, ambas da comarca de Geremoabo .

N. 160

Reclamação dos habitantes do Coité pedin


do ao Governo da Bahia uma escola, mostrando
que foi esta auctoridade quem occorreo sempre
ás necessidades daquella população .

Illm . Surs . Presidente e senadores da Camara Mu

nicipal . Os abaixo assignados , moradores na Povo


ação denominada Malhada Vermelha , ( Coité ) compre
DA BAHIA COM SERGIPE 405

hensiva dos districtos do Coité e Sabão , na freguezia de


N. S. do Boin Conselho deste Municipio , convictos de
que a instrucção publica é uma das necessidades mais
palpitantes de que devem curar as auctoridades consti
tuidas, como o primeiro complemento da sociedade e
felicidade de seus membros , pois muita vez a ignorancia
é a causa efficiente dos desvios do homem, que por ella
não comprehende os deveres que tem para comsigo
mesmo, para com seus semelhantes e para com Deus , á
esta Illustrissima Camara , como a fiel e legitima repre
sentante de seus municipes, se dirigem, pedindo pelos
termos competentes a creação de uma escola primaria
na referida povoação .
Distando ella da séde da Freguezia 15 leguas, onde
existe uma escola e sendo a sua população de muitos
habitantes, é absolutamente impossivel que os abaixo
assignados e mais pais de familia deem o devido ensino
a seus filhos , que por essa forma ficão privados desse
beneficio tam salutar e efficaz, quanto necessario .
Para a consecução desse fim, os abaixo assignados
offerecem ao governo uma casa prompta de todos os
utensilios precisos para funccionar a escola e esperão
que esta Illustrissima Camara, compenetrada do que
vem elles expor , se digne de fazer chegar esta sua soli
citação ao Exm . Governo da Provincia para prover essa
necessidade tám urgentemente reclamada - Pede a V.
S. deferimento .
Malhada Vermelha 15 de Fevereiro de 1869. Paulo
Cardoso de Menezes Goes , Victor Marcolino , Lourenço
Justiniano , Marcolino de Santa Roza, Manoel Joaquim
de Oliveira, Estanislau Garcia de Carvalho , Mauricio
José, Ignacio Correia de Andrade .
406 LIMITES

N. 161
Officio da Camara de Geremoabo transmit
tindo o pedido que lhe havia sido feito pelos
habitantes do districto do Coité sobre uma es
cola e informando a favor, por pertencer o
districto ao termo da citada villa ( vide lei da
Regencia de 1831 nos documentos ) .

Illm . Exm . Conselheiro Presidente da Provincia

-A Camara Municipal desta Villa , acompanhando a


justa solicitação de seus municipes os habitantes da
Povoação da Malhada Vermelha ( Coité ) faz chegar á
alta presença de V. Exª . a inclusa petição em original
que os mesmos lhe dirigiram , afim de que V. Exª . se
digne provel- a com a creação de uma cadeira para o ensino
publico primario na referida povoação . Não é preciso
que esta Camara mostre os resultados beneficos e salu
tares que se colhem do ensino do povo e por isso sem
addir mais palavra requer e pede a V. Exª . deferimento .
E. R. Mce . Sala das sessões da Villa de Geremoa

bo 18 de Março de 1869 João Dantas dos Reis . P. An


tonio Pereira de Carvalho , Joaquim P. Barbosa, Fran
cisco S. da Silva, Manoel S. Alves Figueiredo , João de
A. Carmesim .

N. 162
Lei de 22 de Maio de 1871 creando a freguesia
do Patrocino do Coité, desmembrada da do
Bom Conselho , conservando na sua parte ori
ental a demarcação estabelecida pela ordem con
tida no Alvará de 21 de Novembro 1817.

N. 1168. -Francisco José da Rocha , Vice- Presi


dente da Provincia da Bahia:
Faço saber a todos os seus habitantes, que a As
semblea Legislativa Provincial decretou e eu sancciono.
a Lei seguinte .
DA BAHIA COM SERGIPE 407

Art. 1.º Fica creada uma freguezia com a denomi


nação de N. S. do Patrocinio do Coité , cuja matriz
será a capella do mesmo nome , desmembrada da fre
guesia do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão .
Art . 2.º A nova freguezia terá os limites seguintes :
Começará no rio Vasabarris , no logar denominado
Barra do riacho Salgado e d'ahi dividindo- se com a
freguesia de Sant'Anna de Simão Dias pela provincia
de Sergipe seguirá abaixo da Ladeira Grande e dahi
rumo direito ao olho dagua do Coité na ponta debaixo
da serra do mesmo nome , e dahi á lagôa das Antas ,
rumo direito ao riacho Cayçá no logar denominado
Olhos dagua do Máo Fim Tem , e por elle acima divi
dindo-se com a mesma freguezia de Simão Dias até
encontrar a freguezia de N. S. dos Campos do rio
Real da dita provincia de Sergipe e dividindo- se com
esta freguezia até as cabeçeiras do referido rio Real na
fasenda chamada S. Francisco e dahi para o Umbuzeiro
inclusive, e dahi para a fazenda de João Vieira de
Andrade donde seguirá para o rio Carahyba e por este
abaixo dividindo-se com a freguesia de S. João Baptista
de Geremoabo até o rio Vasabarris no logar denomi
nado Barra e atravessando o rio irá dividindo -se com
a mesma freguezia de Geremoabo até encontrar a fre
guezia de Santo Antonio e Almas e dividindo -se com
esta até o logar denominado Barra do rio Salgado ,
onde principiou .
Art. 3. Revogam- se as disposições em contrario .
Palacio do Governo da Bahia em 22 de Maio de
1871. -Francisco José da Rocha.
408 LIMITES

N. 163

Officio da Camara de Geremoabo infor


mando a Presidencia da Provincia sobre a
freguezia da Coité.

Camara Municipal da Villa de Geremoabo 17 de


Novembro de 1871.

Illmo . Exmo. Sr. Respondendo o officio dessa


Presidencia em que ordena que esta Camara informe
se houve alteração nos districtos de paz da freguezia do
Bom Conselho com a creação da nova freguezia de
Nossa Senhora do Patrocinio do Coité, cumpre-nos
diser que nenhuma alteração houve . - Deus Guarde a
V. Exa . Ilmo . Exmo . Sr Cons . Presidente desta
Provincia da Bahia . - Antonio Pereira de Carvalho.

N. 164

Aucto da installação da Camara Municipal


da nova Villa de Nossa Senhora do Bom Con
selho dos montes do Buqueiram , tudo como
abaixo se de declara.

Aos vinte oito dias do mez de Março do anno do


Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito
centos setenta e seis , nesta Villa de Nossa Senhora do

Bom Conselho dos Montes do Boqueiram termo da Co


marca de Geremoabo, as onze horas da manhã, no
Paço da Camara Municipal da mesma Villa , cuja casa
foi offerecida por diversos habitantes desta Freguezia
para patrimonio da referida Camara Municipal , pre
sentes o Presidente da Camara Municipal da Villa de
Geremoabo - Alferes Francisco Romano de S. Anna ,
commigo Secretario abaixo nomeado e assignado , e os
DA BAHIA COM SERGIPE 409

vereadores da nova Camara Dr. Cicero Dantas Martins ,


Alferes Francisco Correa de Souza , Pedro Nolasco de
Carvalho, Capitam José Baptista de Santa Anna ,
Tenente José Antonio de Carvalho , Alferes Mauricio
José de Carvalho , Alferes Polycarpo José de Mattos , em
virtude da Resolução n . 1718 de 9 de junho de 1875 , e
do officio do Ex . Sr. Presidente da Provincia de 16 de
Agosto do mesmo anno, tendo sido observadas as for
malidades prescriptas no Decreto de 13 de Novembro
de 1832 , e na lei do primeiro de Outubro de 1828, o
mesmo Presidente deferio o Juramento aos novos Ve
readores em um livro dos Santos Evangelhos , como
consta do termo lançado no livro de Juramento que foi
pelo dito Presidente aberto numerado e rubricado e em
acto successivo deo posse aos Vereadores eleitos em pre
sença de seus habitantes, e installada a nova Villa,
tendo por limites os mesmos das duas freguezias do
Bom Conselho e a de Nossa Senhora do Patrocinio do

Coité, na forma da resolução de 9 de Junho de 1875


n . 1518 , passando os ditos vereadores a occupar seus
lugares mais publicos do Municipio , e na forma do art .
4.º do citado Decreto de 13 de Outubro digo de No
vembro de 1832 , se extrahio copia auctentica deste
aucto para ser remettido ao Ex . Presidente da Provincia .
Do que para constar se lavrou este aucto em um livro
tambem por elle Presidente aberto numerado e rubri
cado , que assignou Commigo Secretario Baldoiuo
Gomes de S. Anna e os novos vereadores . Eu Baldoino
Gomes de S. Anna, Secretario que o escrevi e assignei .
Francisco Romano de Santa Anna P. Cicero Dantas
Martins Francisco Correa de Souza , Mauricio José de
Carvalho . Polycarpo José de Mattos , José Antonio de
LIMITES 52
410 LIMITES

Carvalho . Nada mais constava do livro da Sessões da


Camara Municipal desta Villa , d'elle a folhas uma e
verso onde se achava lavrada a presente acta que para
aqui copiei e me reporto vae por mim escripta conferida
e assignada n'esta Villa do Bom Conselho aos ceis dias.
do mes de Maio de 1891. E eu Henrique Nolasco de
Carvalho Secretario da Camara que a escrevi e assigno.
Está Conforme-Henrique Nolasco de Carvalho.Sessão
extraordinaria de 9 de Dezembro de 1889 - Presidencia
do Sr. Alferes Manoel Vieira de Andrade .

N. 165

Copia- Transcripção do Auto da installação


e posse da Camara Municipal d'esta Villa de
Nossa Senhora do Patrocinio do Coité , tudo
como abaixo vae transcripto . Auto da instal
lação e posse da Camara Municipal desta Villa
de Nossa Senhora do Patrocinio do Coité tudo
como abaixo se declara.

Ao primeiro dia do mez de Fevereiro do anno do


Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito
centos e oitenta e oito , nesta Villa de Nossa Senhora
do Patrocinio do Coité , Comarca de Geremoabo , Pro
vincia da Bahia , aos dés horas da manhã , no Paço da
Camara Municipal da mesma Villa , cuja casa foi alu
gada por diversos cidadãos para servir e para funccionar
a mesma; presente o Tenente José Cardoso dos Santos ,
Vereador juramentado na Villa de Nossa Senhora do
Bom Conselho , e com poderes para deferir o juramento
e dar posse a Camara Municipal desta Villa, Rebello
de Moraes , Secretario interino abaixo assignado , e os
demais Vereadores Tenente Alexandre José Ribeiro ,
Alferes Ludgero de Souza Rocha e Alferes Joaquim
DA BAHIA COM SERGIPE 411

Norberto de Sant'Anna- Em virtude da resolução

numero dous mil quinhentos e cincoenta e trez do


primeiro de Maio de mil oito centos e oitenta seis , e
officio do Excellentissimo Senhor Concelheiro Presi
dente da Provincia, do mesmo anno; tendo sido obser

vadas as formalidades prescriptas no Decreto de trese


de Novembro de mil oito centos e trinta e dois, e na
Lei de primeiro de Outubro de mil oito centos e vinte
e oito o mesmo Vereador servindo de Presidente inte
rino , deferio o juramento dos Santos Evangelhos , como
consta do respectivo livro de juramento que foi pelo
dito Presidente interino aberto , numerado e rubricado ,
em acto sucessivo e de posse aos demais Vereadores
eleitos , em presença de seus habitantes, e installou a

nova Villa , tendo por limites os mesmos da Freguezia,


na forma da resolução já referida , passando os ditos
Vereadores ocupar seos logares mandando de tudo
affixar edital em lugares publicos do Municipio , e na
forma do artigo quatro do citado Decreto, se extrahir
copia authentica deste auto para ser remettido ao
Excellentissimo Senhor Concelheiro Presidente da

Provincia- Do que para constar se lavrou este auto


em um livro tambem por elle Presidente interino
aberto e numerado e rubricado; do que assigna commigo
Acylino Rebello de Moraes Secretario interino que es
crevi-Acylino Rebello de Moraes Secretario interino
que escrevi João Cardoso dos Santos Presidente

Alexandre José Ribeiro -Veriador -Ludgero de Souza


Rocha-Vereador - Joaquim Norberto de Sant'Anna
Sessão do dia primeiro de Fevereiro de mil oito centos
oitenta e oito - Presidencia interina do Senhor Tenente
João Cardoso dos Santos - Secretario interino Acylino
412 LIMITES

Rebello de Moraes - As dez horas do dia achando-se os


Vereadores Tenente João Cardoso dos Santos , Tenente
Alexandre José Ribeiro , Alferes Ludgero de Souza
Rocha e Alferes Joaquim Nerberto de Sant'Anna , dei
xando de comparecer os Vereadores Elpidio Justino de
Oliveira, Quintino Rodrigues Guimarães e João An
tonio dos Anjos-Havendo numero legal , o Senhor
Presidente declarou aberta sessão com as palavras está
aberta a Sessão -O Senhor Presidente declarou que se
hia proceder a eleição para Presidente e Vice - Presidente
Procedida a primeira recalio a votação nos se
guintes Senhores -Tenente João Cardoso dos Santos
tres Votos , Tenente Alexandre José Ribeiro , um voto,
e logo em seguida se procedêo a eleição para Vice - Pre
sidente- Correndo a Votação -recahio nos seguintes
cidadãos : Tenente Alexandre José Ribeiro , tres Votos ,
Alferes Ludgero de Souza Rocha, um voto - Concluidas
as Votação forão declarados Presidente Tenente João
Cardoso dos Santos , qual tomou assento --Vice - Presi
dente Tenente Alexandre José Ribeiro - O Senhor
Presidente ordenou ao Secretario que officiasse ao Go
verno dando o resultado da referida eleição E moto-
continuo foi pelo Vereador Tenente João Cardoso dos
Santos , apresentada a seguinte proposta― Para ser
nomeado o Cidadão Jesuino José Pereira para Secre
tario desta Camara e sendo acceito por todos foi no
meado -Achando-se na Salla immediata foi convidado
a prestou juramento e tomou posse --Dada a hora e , não
havendo mais nada a tratar o Senhor Presidente le

vantou a Sessão para amanhã , e mandou lavrar a pre


sente acta, em que assigna com os demais Vereadores
presentes Eu Acylino Rebello de Moraes , Secretario
DA BAHIA COM SERGIPE 413

interino da Camara a escrevi- E . dos Santos- Presi

dente Alexandre José Ribeiro - Ludgero de Souza

Rocha-Joaquim Norberto de Sant'Anna . « Nada mais


se continha em a dita acta , sendo que extrahida fica
sem couza que duvida faça ; pois bem e fielmente copiei
do proprio livro das actas , ao que me reporto . Paço da
Camara Municipal da Villa de Nossa Senhora do Pa
trocinio do Coité 20 de Julho de 1888. Em Joaquim
José Vieira , Secretario da Camara que a escrevi . João
Cardoso dos Santos . P.Joaquim Norberto de Sant'Anna
V. Alexandre José Ribeiro e Ludgero de Souza Rocha .
V. Extrahido por mim José Luiz de Oliveira 2.º Official
do Archivo Publico do Estado da Bahia, aos quatorze
dias do mez de Janeiro de mil novecentos e quatorze .
Está conforme ao original- Bahia- Archivo Pu
blico 14 de Janeiro de 1914 - O 1.º Official Dr. Vir
gilio de A. Cunha - O Director Cassiano Amaro Lopes.

N. 166

Acta da Camara do Conselho adherin do


ao regimem republicano.

Aos nove dias do mez de Dezembro de 1889 nesta


villa do Bom Conselho , Comarca de Geremoabo Pro
vincia da Bahia no Paço da Camara Municipal pelas.
nove horas d'amanhã presentes os Snrs . Vereadores
Andrade, Nolasco , Ribeiro , Felicio dos Santos Gama
faltando sem causa participada os vereadores Geraldo da
Fonseca Soares e Tenente Felismino Pereira do Nasci
mento havendo numero legal o Snr . Presidente declarou
aberta a sessão; foi lido um officio sercular de data de
19 do p . p . em que o Governador deste Estado com
414 LIMITES
‫ ވ‬، ‫ނ ނ‬.

munica estar definitivamente constituido o governo

republicano, e convida esta Camara a adherir e prestar


juramento de fidelidade ao novo regimem. Em virtude
desta communicação recebida a dous dias, disse o Snr.
Presidente, que convocou os Snrs . Vereadores para esta
sessão , por entender que he dever da Camara responder
sem demora ao convite que lhe he feito sendo sua opinião
que a Camara deve já e já adherir ao novo regimem e
prestar os mesmos juramentos de fidelidade ; o que não
obstante submettido como estava ao conhecimento dos
Senhores Vereadores o officio em questam, esperava

ouvir delles a resposta para com ella poder a Camara


por sua vês responder ao Dr. Governador discutida a
materia do officio , foram os Snrs . Vereadores de opinião
accordo que se adherisse o novo regimem, se prestasse a
mais formal obediencia ao governo , acrescentando - se
que se communica- se a sua Ex" ter sido recebido pela
população com enthusiasmo nunca visto , a noticia da
instalação do novo regimem. Nada mas ha havendo a
tratar-se o Sur. Presidente levantou a sessão mandando

lavrar a presente acta em que todos assignaram . Eu


Henrique Nolasco de Carvalho , Secretario da Camara a
escrevi . Andrade P. Nolasco , Ribeiro , Felicio , Gama.
Nada mais constava em o livro das Sessões da Camara
Municipal desta Villa, delle as folhas cento e trinta e
cinco e verso e folhas cento e trinta e seis onde se achava

a presente acta , que para aqui copiei , me reporto , vai


por mim escripta conferida e assignada n'esta Villa do
Conselho aos ceis dias do mez de Maio de 1891. Eu
Henrique Nolasco de Carvalho Secretario da Camara
que escrivi . Está Conforme Henrique Nolasco de Car
valho . Extrahida por mim José Augusto de Faria 3°
DA BAHIA COM SERGIPE 415

Official do Archivo Pulbico do Estado da Bahia aos


doze dias do mez de Janeiro de mil novecentos e qua
torze . Está conforme ao original.
Bahia, Archivo Publico 12 de Janeiro de 1914. O
1. ° Official Dr. Virgilio de A. Cunha . - O Director,
Cassiano Amaro Lopes.

N. 167

Talões de recibos mostrando pagamento


feito á Camara do Coité por habitantes do logar
do Sacco pretendido pelo Governo de Sergipe
(vide doc. n . 51 , e Relatorio do commissario
Dr. Braz Amaral pag. 199 e seguintes.

Intendencia Municipal do Patrocinio do Coité.


Rs . 1 $000 - Recebi do Snr. Pedro Felix de Araujo a
quantia de um mil reis proveniente do imposto do
seu sitio no Sacco .
Patrocinio do Coité 1.° de Novembro de 1911.
Fiscal Vianna.

Intendencia Municipal do Patrocinio do Coité .-


N. 47- Rs : 1 $ 000 - Recebi do Sr. Pedro Felix de
Araujo a quantia de um mil reis , proveniente de im
posto do seu sitio no Sacco .
Patrocinio do Coité , 20 de Novembro de 1912.
Pelo Intendente- F. Carvalho.

N. 168

Mandado requisitorio de sequestro a favor


da fazenda provincial contra Francellino José
dos Anjos, ou quem represental-o na Villa de
Geremoabo .

O Dr. Francisco Liberato de Mattos , Fidalgo ca


valleiro, commendador da Ordem da Rosa e Juiz dos
416 LIMITES

Feitos da Fazenda nesta Provincia da Bahia por S. M.


S. etc. etc.
Mando aos officiaes de Justiça á quem por este
for apresentado que vendo-o por mim rubricado em
seu comprimento , segundo a ordem do Thesouro de 11
de Novembro de 1862 , e á requerimento do Dr. Pro
curador Fiscal da Thesouraria Provincial , se não tendo
requerido vinte e quatro horas antes para pagar e não
cumprir, façam sequestro filhado e apprehensão em
bens de qualquer especie pertencentes a Francellino
José dos Anjos , quantos bastam para pagamento de ...
26$200 a que está obrigado além das multas e custas
que se contarem, sendo o debito proveniente do imposto
do anno 1863 de 1864 a 1865 que deixou de pagar no
devido tempo sobre as casas commerciaes fls 3 do lan
çamento sob n . 19 e de espiritos fortes na Malhada Ver
melha ( Coité ) districto de Bom Conselho e depois lan
çamento sob n . 14 da Malhada Vermelha F 4$600 F
J 15000 .
E de feito o dito sequestro , serão todos os bens en
tregues á depositario idoneo que por termo se obrigue
a apresental -os , quando por este Juizo lhe for mandado
sob pena de Lei : e ao devedor citarão para avaliação ,
venda, arrematação e remissão dos bens sequestrados e
para dar-lhes lançador , assim como para todos os termos
da causa até final , com declaração de que não se re
petirá a citação , na conformidade da Ordenação L° 2°
flt. 53 §§ 1º o que cumprão: lavrando ao pé deste os
termos necessarios . Bahia, 16 Julho 1870 Joaquim dos
Reis.
Cás fls 37 do Lº 4º Const . Provincial da Bahia 30
de Janeiro de 1886- Silvano . F Matta .
DA BAHIA COM SERGIPE 417

Pagou 200 rs . Carregado a F1 75 do L° 5° em 6 de


Setembro de 1870 - Mesquita- Descarregado -- Silvano .
Devolvido para ser cobrado pela collectoria da Villa
do Bom Conselho desta Comarca, onde acha- se morando.
o referido devedor . - O Collector, S. Casaes.

N. 169

Mandado requisitorio de sequestro a favor


da fazenda provincial contra Marcello Nunes
ou quem o representar na villa de Geremoabo.

O Dr. Francisco Liberato de Mattos , Fidalgo ca


valleiro , commendador da Ordem da Rosa e Juiz dos
Feitos da Fazenda nesta Provincia da Bahia por S. M.
I. etc. etc.

Mando aos officiaes de Justiça á quem este for apre


sentado que vendo -o por mim rubricado em seu cum
primento , segundo a ordem do Thesouro de 11 de No
vembro de 1862 e á requerimento do Dr. Procurador
Fiscal da Thesouraria Provincial , se não tendo requerido.
vinte e quatro horas antes para pagar e não cumprir,
façam sequestro filado e apprehensão em bens de

qualquer especie pertencentes a Marcello Nunes quantos


bastem para pagamentos e segurança da quantia de seis
centos mil réis ( 600$000 ) a que está obrigado além das
multas e custas que se contarem , sendo o debito pro
veniente do imposto do anno 1863 que deixou de pagar
no devido tempo sobre casas commerciaes a fl . a do lan
çamento sob n . 18 á Malhada Vermelha ( Coité ) F ....
4$600 H 1 $200 .

E feito o dito sequestro , serão todos os bens en


tregues a depositario idoneo que por termo se obrigue a
LIMITE 53
418 LIMITES

apresental-os, quando por este Juiz lhe for mandado ,


sob pena de Lei ; e ao devedor citarão para avaliação ,
venda, arrematação e reunião dos bens sequestrados , e
para dar-lhes lançador , assim como para todos os termos
da causa até final , com declaração de que não se repetirá
a citação na conformidade da ordenação L 2° Fit 53 §
1º o que cumprão : lavrando ao pé deste os termos neces
sarios 16 de Julho de 1870. - José Joaquim ; L. Mattos .

Carregado a F 75 do L 3 em 6 de Setembro de 1870 .


—Mesquita- Descarregado - Silvano .
C ás fls 37 do L 4. Contadoria Provincial da Bahia
30 de Janeiro de 1886- Silvano .

N. 170

Mandado requisitorio de sequestro a favor


da fazenda provincial contra Floro Garcia de
Carvalho , ou quem o representar na villa de
Geremoabo .

O Dr. Francisco Liberato de Mattos , Fidalgo


Cavalleiro , commendador da ordem da Rosa e Juiz dos
Feitos da Fazenda nesta Provincia da Bahia por S.
M. I. etc. etc.

Mando aos officiaes de Justiça a quem este for


apresentado que vendo por mim rubricado em seu
cumprimento , segundo a ordem do Thesouro de 11 de
Novembro de 1862 , e á requerimento do Dr. Procura
dor Fiscal da Thesouraria Provincial , não tendo sido re
querido vinte e quatro horas antes para pagar e não cum
prir, façam sequestro , filado e apprehensão em bens , de
qualquer especie pertencentes a Floro Garcia de Carvalho ,
quantos bastem para o pagamento a que está obrigado
DA BAHIA COM SERGIPE 419

alem das multas e custas que se contarem, sendo o


debito proveniente do imposto do anno de 1867 a 1861
que deixou de pagar no devido tempo sobre espiritos
fortes a fl, 20, lançamento sob n . 21. -C.tas F 4$600
-J 1$200 .
E feito o dito sequestro , serão todos os bens entre
gues a depositario idoneo que por termo se obrigue a
a apresental-os quando por este juizo lhe for mandado,
sob pena da Lei : e ao devedor citarão para a avaliação ,
venda , arrematação e remissão dos bens sequestrados,
e para dar-lhes lançador, assim como para todos os
termos da causa até final com declaração de que não se
repetirá a citação , na conformidade da ordenação L. 2º
A. 53 § 1. o que cumprão: lavrando ao pé deste os
termos necessarios , -Bahia 16 de Julho de 1870.
Joaquim dos Reis - L. Mattos.
Carregado a fl . 75 do L. 3º. em 6 de Setembro de
1870 - Descarregado— Silvano — Mesquita .
C. ás fls . 37 do L. 4.º Contadoria Provincial da
Bahia 30 de Janeiro de 1886- Silvano .

N. 171

Recibos de pagamento á Camara de Coité


de habitantes do Sacco (vide os de ns. 172,
173 , 174) .

Estado da Bahia- Intendencia Municipal do Pa


trocinio do Coité. -N . 2005 - Rs . 2$000-Recebi do

Sr. Pedro Felix dos Santos a quantia de dois mil reis


proveniente de imposto do seu sitio de lavoura no logar
denominado Sacco .

Patrocinio do Coité, 5 de Março de 1900. - O The


soureiro-P. R. Moraes.
420 LIMITES

N. 172

Estado da Bahia-Intendencia do Patrocinio do


Coité . N. 21 - Rs . 2 $000 - Recebi do Sr. Martinho
Rebello de Moraes a quantia de dois mil reis proveni
ente do imposto de seu sitio , 5.º quarteirão .
Patrocinio do Coité, 12 de Setembro de 1901.
Pelo Intendente-Joaquim Euzebio.

N. 173

Estado da Bahia-- Intendencia Municipal do Patro


cinio do Coité - Exercicio de 1915 - N . 30 - Rs . 15000
-Recebi do sr . Pedro Felix de Araujo a quantia de
um mil reis proveniente do imposto do seu sitio no
corrente exercicio no Sacco .
Patrocinio do Coité, 29 de Dezembro de 1905.
Pelo Intendente -José Fraga.

N. 174

Intendencia Municipal do Patrocinio do Coité -


N. 63 Rs . 18000 - Recebi do Sr. Pedro Felix de

Araujo a quantia de um mil reis proveniente de seu


sitio no Sacco ,
Patrocinio do Coité , 9 de Setembro de 1910--0
Procurador- Teixeira.
DA BAHIA COM SERGIPE 421

N. 175

Projecto apresentado á Assembléa Estadual


de Sergipe constituindo um municipio com 0
territorio formado pelo actual municipio do Pa
trocinio do Coité o qual se acha incluido na an
tiga freguesia de Bom Conselho , a qual sempre
esteve na demarcação da freguesia de Gere
moabo, e que é termo de uma villa do Estado
da Bahia, de accordo com o Alvará de 1817 e a
lei da Regencia de 1831. E' a este que se referia
o Sr. Moreira Guimarães (vide pag. 39) quando
ao mesmo tempo apresentou ao congresso fe
deral o projecto que se encontra a pag. 28 des
membrando da Bahia tudo o que fica entre as
nascentes do riacho Xingó e as do rio Real,
projecto feito para augmentar o Estado de
Sergipe á custa do da Bahia.
Projecto no 23.

Fica elevado á cathegoria de Villa o povoado da Ma


lhada Vermelha , com a denominação de Villa do Coité,
cujo municipio ora se constitue , desmembrado do mu
nicipio de Annapolis , outr'ora Simão Dias, com a se
guinte demarcação : Principia no logar denominado
Barra do riacho Salgado, no rio Vasabarris ; e dahi , di
vidindo- se com o mesmo municipio de Annapolis ,
seguirá rumo direito até abaixo da Ladeira Grande, na
estrada que passa no boqueirão do mesmo nome, que
fica acima do boqueirão dos Bettes; do dito boqueirão da
Ladeira Grande seguirá rumo direito ao Olho dagua de
Coité na ponta debaixo da serra do mesmo nome; dahi
rumo direito á lagôa dos Antas , dahi rumo direito ao
riacho Cayçá no logar denominado Olho dagua do Máo
Fim Tem ; dahi pelo mesmo riacho acima até a sua nas
cente; dahi rumno direito até a fazenda S. Francisco ,
onde se tem considerado a cabeceira do rio Real; dahi
passando pelo cabeço debaixo da serra de João Grande,
422 LIMITES

atravessando por cima da Serra do Capitão e descendo


pela passagem do rio das Carahybas, seguirá rio abaixo.
e atravessando o rio Vasabarris irá encontrar a divisão
antiga da freguesia de Santo Antonio e Almas de Ita
bayana até chegar ao referido riacho Salgado , descendo
por este , dividindo com o municipio do Campo do Britto
até o ponto em que principiou a divisão .
Art . 2.º Fica tambem fazendo parte do municipio
de Coité, ora creado , o territorio comprehendido entre
a divisão occidental estabelecida no artigo antecedente
e a recta que ligar a verdadeira nascente ou cabeceira
do Rio Real com a cabeceira do Rio Xingó, affluente
do rio de S. Francisco .
Art . 3.º O municipio de Annapolis continuará com
o territorio comprehendido nos limites estabelecidos.
pela lei de 6 de Fevereiro de 1835 que creou a freguesia
de Santa Anna de Simão Dias, com excepção da parte
desmembrada, conforme a presente lei para creação do
referido municipio do Coité .
Art. 4.° Revogam -se as disposições em contrario .
Sala das Sessões da Assembléa Legislativa do Ee
tado de Sergipe , em 21 de Outubro de 1913. - A com
missão de Legislação e Justiça . -Orestes Andrade.
Padre Freire Menezes.
DA BAHIA COM SERGIPE 423

N. 176

Certidão de quinhões de um inventario


feito no Coité .

Certidão verbo ad verbum a requerimento verbal


do cidadão José Martins dos Reis , como abaixo se de
clara .
Sisenando Cardoso de Menezes , primeiro Tabellião
publico , judicial e notas , Escrivão dos feitos civis e
crimes , commercio e de Orphãos , vitalicio nesta Villa
do Patrocinio do Coité e seu termo , em nome da lei etc.
Faço saber a todos os senhores Doutores , Desembar
gadores , Juizes de Direito , Preparadores , Chefes de
Policia, Juizes de Paz , Commissarios , e Sub-commis
sarios de Policia e a todos em geral que a presente

virem que certifico que dando busca em meo cartorio


nelle deparei com o inventario procedido por falleci
mento de Antonio José de Padua , no qual é inventa
riante João Rodrigues Regis das Virgens e a folhas
quarenta e sete a quarenta e oito se acha o quiahão do
theor seguinte: Quinhão feito á sorte para pagamento
da legitima paterna da herdeira Francisca Maria dos
Reis que é da quantia de tresentos e setenta e cinco
mil oitocentos e quarenta e dois réis ( 375 $ 842 ) da qual
se lhe faz entrega pela maneira seguinte: Haverá duas
tarefas de terra no logar denominado « Roça de Dentro »
deste termo , avaliadas a quinze mil réis cada tarefa e
ambas por trinta mil réis ( 30$000 ) . Idem , quatro vaccas
avaliadas a trinta mil reis cada uma e todas por cento
e quarenta mil reis ( 140 $ 000 ) . Idem, tres bezerros ava
liados a dez mil reis cada um e todos por trinta mil
reis ( 30 $000 ) . Idem , um garrote que foi avaliado por
424 LIMITES

vinte mil reis ( 20 $ 000 ) . Idem , tres cabeças de gado


vaccum na fasenda denominada « Riacho da Vargem»>
avaliadas a trinta mil reis cada uma e todas por noventa
mil reis ( 90$000 ) . Idem , sete cabeças de cabras na
fasenda do logar denominado « Lagoa Grande» do termo
de Geremoabo avaliadas a quatro mil reis cada uma e
todas por vinte e oito mil reis ( 28 $000 ) . Idem, um
caixão grande de madeira com onze palmos de compri
mento e tres e meio de largura que foi avaliado por
vinte mil reis ( 20 $000 ) . Idem , duas ovelhas na fasenda
do logar denominado « Lagoa Grande» do termo de
Geremoabo, avaliadas a tres mil e quinhentos reis cada
uma e ambas por sete mil reis ( 7$ 000 ) . Idem na casa

de taipa e telha sita no referido lugar denominado


« Lagoa Grande » do termo de Geremoabo , avaliada por
cem mil reis , nella a quantia de dez mil oitocentos e
quarenta e dois reis ( 10$ 842 ) . Total 375 $ 842. -E por
esta maneira houvemos Eu Escrivão e o Juiz por satis
feita a legitima paterna desta herdeira na forma deter
minada pelo Juiz que assignou . Pedro Faustino de Souza
Pondé, Sisenando Cardoso de Menezes . Certifico mais
que o inventario procedido por fallecimento do supra
mencionado Antonio José de Padua foi julgado com a
sentença do theor seguinte: Vistos etc. Julgo por sen
tença a partilha de folhas para que produsa seus devi
dos e legaes effeitos pagas as custas pro rata pelos
interessados . Bom Conselho , seis de Setembro de mil
oitocentos e noventa e quatro .-- Alexandre Pimentel de
Barros Bittencourt. E nada mais se continha nem se
declarava em o dito quinhão e sentença que bem e
fielmente para aqui transcrevi e trasladei dos proprios
originaes a que me reporto em meu poder e cartorio ;
DA BAHIA COM SERGIPE 425

vae sem emenda , entrelinha , borrão ou cousa que du


vida faça, tudo conferido e concertado por mim Escri
vão Sisenando Cardoso de Menezes que o escrevi . Dado
e passado nesta Villa do Patrocinio do Coité aos vinte
dias do mez de Setembro do anno de mil oitocentos e
noventa e quatro . Eu Sisenando Cardoso de Menezes
escrivão que o escrevi e assignei. - Sisenando Cardoso.
de Menezes .
Tem ao sello folhas duas . -Villa do Coité , 20 de
Setembro de 1904.-O escrivão , Menezes.

N. 177

Certidão de quinhões de um inventario


feito no Coité.

Certidão verbo ad verbum, á requerimento verbal


da herdeira Dona Francisca Maria Joaquina dos Reis ,
como abaixo se declara .
O cidadão Sizenando Cardoso de Menezes , pri
meiro Tabellião do publico , judicial e notas , Escrivão
de Orphãos e ausentes , vitalicio . nesta villa do Patro
cinio do Coité, e seu termo em nome da lei et cetera ,
et cetera .
Faço saber a todos os Senhores Doutores , Desem
bargadores, Juizes de Direito , Municipaes, e de

Orphãos , Chefes de Policia, Juizes de Paz , Delegados ,


Subdelegados de Policia e a todos em geral que a
presente virem . Certifico que dando busca em meo
cartorio , nelle deparei com o inventario procedido por
fallecimento de Anna Dorothea de Jesus , e á folhas
vinte e oito verso , á folhas vinte e nove se acha o
quinhão do teor seguinte: Pagamento feito a sorte da
LIIMTES 54
426 LIMITES

legitima materna da herdeira Francisca Maria Joaquina


dos Reis , no inventario de sua fallecida mãe Anna
Dorothea de Jesus , cuja legitima importou na quantia
de cento e sessenta e dois mil e oitenta e trez
( 162$083 ) .
Da qual se acha digo se lhe faz entrega pela ma
neira seguinte : Haverá duas vaccas na fazenda deno
minada « Mattas » deste termo do Coité , avaliadas a
vinte mil reis cada uma e ambas por quarenta mil reis
(40$000 ) Idem dois garrotes na mesma fasenda deno
minada Mattas deste termo do Coité , avaliados a vin
te mil reis cada um e ambos por quarenta mil
reis (40$000 ) Idem na posse de terra do lugar
denominado Saeco deste termo do Coité, sendo
parte da dita terra no termo de Simão Dias , Estado
de Sergipe , tendo o dito terreno meia legua de exten
são com malhada , curraes e mais bemfeitorias e uma
casa de morar de taipa e telha ahi edificada , tendo a
referida casa quarenta palmos de frente e cincoenta de
comprimento . inclusive um bom tanque ahi existente ,
avaliado tudo por setecentos mil reis , á quantia de
oitenta e tres reis . ( 82 $083 ) .
E por esta maneira houvemos Eu Escrivão e o
Juiz este quinhão por cheio e inteirado do que para
constar lavro este termo .
Eu Sizenando Cardoso de Menezes Escrivão que
o escrevi e assignei - Assignado Pedro Faustino de
Souza Pondé- Sizenando Cardoso de Menezes . E
nada mais se continha nem se declarava em o dito
quinhão para aqui transcripto, transladado do proprio
original a que me reporto em meo poder e cartorio;
vae sem emendas entrelinha , borrão ou couza que
DA BAHIA COM SERGIPE 427

duvida faça , tudo conferido e concertado por mim


Sesenando Cardoso de Menezes , Escrivão de Orphãos
que o escrevi :
Dada e passada nesta villa de Nossa Senhora do
Patrocinio do Coité , aos nove dias do mez de Dezem
bro de mil oitocentos e noventa e dois . Eu Sisenando
Cardoso de Menezes , Escrivão que o escrevi e assignei
-O Escrivão de Orphãos , Sisenando Cardoso de
Menezes .
Tem ao sello folhas duas N. 82 , Sello rs . 400
Era ut supra. -Pagou quatrocentos reis em verba- O
Escrivão , S. C. de Menezes, á falta de estampilha
estadoal . Collectoria da Villa do Coité 9 de Dezembro
de 1892. Servindo interinamente de Collector J. E.
Nascimento.

N. 178

Copias do registro das terras do Patrocinio


do Coité, feito pelos respectivos proprietarios ,
de accordo com a lei de 18 de Setembro de 1850 ,
o que prova ser reconhecida pelos mesmos
como legitima a jurisdicção da Provincia da
Bahia.

Este livro ha de servir de Registro para nelle se


lançarem as declarações que pelos possuidores de terras
forem apresentadas nesta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão , Termo da
Villa de Geremoabo, consta de noventa e quatro folhas
que numerei e rubriquei com a minha Rubrica que diz :
V. Dias: e para que tenha inteira fé e validade , inter
ponho a authoridade que me confere a Lei . Fiz e assi
gnei este termo e outro de encerramento na ultima
folha .
428 LIMITES

Freguesia do Bom Conselho , 25 de Agosto de


1856. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 1.-Januario José Sant'Anna e seu genro Ja
nuario José de Souza possuem nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho um pedaço de terras nas
mattas de Simão Dias no sitio chamado Corvio compra
do ao finado Major José Antonio de Menezes e sua
mulher D. Anna Maria de Jesus; as suas demarcações
são as seguintes : principiará de um pé de Itapicurú
onde se acha um marco fincado dividindo-se com Ma

noel Cabral athé outro marco que se acha fincado na


porteira de Francisco das Chagas e dahi desce camin
nho abaixo dividindo-se com FelippeGomes athé a es
trada real que vae para o rio e dahi descem pela mesma
estrada abaixo athé o caminho que entra para a casa de
Manoel José e dahi dividindo-se com Manoel Suterio
athé um marco que se acha fincado na cabeça do morro
de Januario José de Souza e dahi rumo direito ao pé
de Itapicurú onde principiou . -Por Januario José de
Sant'Anna e Januario José de Souza , João Evangelista
de Souza.

Sendo-me apresentado pelos possuidores Januario


José de Sant'Anna e Januario José de Souza os dois
exemplares de que trata o art . 101 da Lei 18 de Setem
bro de 1850 , passei a conferil -os e achando-os iguaes e
em regra fiz esta nota para constar de sua apresentação
e registrei a folha primeira do livro primeiro , rece
bendo dos pussuidores dois mil e trezentos , correspon
dente ao numero de letras que continha hum dos exem
plares .
Freguesia do Bom Conselho , 30 de Novembro de
1856 -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
DA BAHIA COM SERGIPE 429
‫ހ‬،

N. 2 .--O abaixo assignado , em cumprimento á lei ,


vem registrar hum quinhão de terras no logar deno
minado Cassenca nesta Freguesia de Nossa Senhora do
Bom -Conselho por compra que fez do dito quinhão a
Francisco Antonio de Carvalho e sua mulher Custodia
Angela da Cunha, no valor de oitenta e cinco mil reis ,
não podendo porem fixar a proporção do terreno por
ser de hereos e achar-se ainda indiviso .
Freguesia, 10 de Desembro de 1856. - Por Lou
renço Justiniano de Sousa , Pedro Alexandrino de Fi

gueiredo.
Sendo-me apresentados pelo possuidor Lourenço
Justiniano de Souza os dois exemplares de que trata o
Art . 101 da Lei de Setembro de 1850 passei a conferil-os
e achando-os iguaes e em regra fiz esta nota para constar
de sua apresentação e registrei á folha primeira do livro.
primeiro , recebendo do possuidor mil e quinhentos ,
correspondente ao numero de lettras que continha hum
dos exemplares , segundo o Art . 103 .
Freguesia do Bom Conselho , 10 de Desembro de
1856. - O Vigario , Caetano Dias da Silva:
N. 3. O abaixo assignado de conformidade com a
Lei vem registrar hum pedaço de terra no logar deno
minado Cavaquinho , nesta Freguesia por compra que
fez a João Campos de Jesus e sua mulher Rosa Angelica ,
e suas demarcações são as seguintes: Pegará do Varão
de José Francisco para o Poente onde se achar hum
marco de pedra infincado e deste passará pela parte do
Norte onde chegar com terras do mesmo dito com
prador , e dividindo com este pela parte do Nascente ,
athé o caminho do Rio Vasabarris e descerá pela parte
do Sul athé onde principiou .
430 LIMITES

Geremoabo, 13 de Novembro de 1856. - Por meu


Pae Marcos José de Carvalho , Luiz Pereira da França.
NOTA . - Sendo-me apresentados pelo possuidor
Marcos José de Carvalho os dous exemplares de que
trata o Art. 101 da lei de 18 de Setembro de 1850 passei
a conferil-os , e achando-os iguaes, fiz esta nota para
constar de sua apresentação e registrei a folha segunda
do livro primeiro , recebendo do possuidor mil e sete
centos , correspondente ao numero de lettras , que con
tem hum dos exemplares , segundo o Art . 103 da Lei
citada.
Freguesia de Bom Conselho, 10 de Desembro de
1856. O Vigario , Caetano Dias da Silva.
———
N. 4. O abaixo firmado em cumprimento da lei ,
vem registrar hum pedaço de terras no logar denomi
nado Corredor Vermelho , nesta Freguesia de N. S. do
Bom Conselho por compra que fez a Luiz Pereira da
França e sua mulher Clara Maria de Jesus , cujas de
marcações são as seguintes : Principia no Serro de An
tonio Bernardino onde temn hum marco de pedra in
fincado e dahi rumo direito para o Poente athé sahir no
caminho, descendo por este abaixo para o Norte athé
onde tiver hum marco infincado do dito Antonio Ber
nardino e dahi se dividem com o mesmo para o Nas
cente athé no logar onde principiou .
Geremoabo , 13 de Novembro de 1856. - Por meu
pae Marcos José de Carvalho , Luiz Pereira da França .
-Sendo-me apresentados pelo possuidor Marcos
José de Carvalho os dous exemplares de que trata o Art .
101 da Lei de 18 de Setembro de 1850 passei a con

ferilos , e achando-os iguaes fiz esta nota para constar


de sua apresentação e regístrei a folha segunda do livro
DA BAHIA COM SERGIPE 431

primeiro recebendo do possuidor mil e novecentos cor


respondente ao numero de lettras que contem hum dos
exemplares, segundo o Art . 103 do Livro citado .
Freguesia de Bom Canselho , 10 de Dezembro de
1856. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 5. O abaixo assignado em cumprimento da
Lei , vem registrar hum pedaço de terra no logar deno
minado Sacco , nesta Freguesia de N. S. do Bom Con
selho por doação que lhe fez seu tio Francisco José de
Souza no valor de trinta mil reis , cuja deinarcação é a
seguinte: Principia das cabeceiras do Sacco seguindo
por cima da Serra , desagoando pelo mesmo Sacco , apro
veitando todos os saccos, pertencente ao Sacco e des
cerá ponta da Serra abaixo athé o rio e dahi descerá
rio abaixo athé confrontar com o outro ponto e por elle
subirá athé onde principiou , ficando no logar, digo com
posse no logar cercado , sua extensão será de um quarto
de legoa e o logar de plantação .
Freguesia de Bom Conselho , 10 de Dezembro de
1856. -A rogo de Lourenço Justiniano de Souza, José
Glz. de Jesus.
NOTA-Sendo -me apresentados pelo possuidor
Lourenço Justiniano de Souza os dous exemplares de
que trata o Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850,
passei a conferil-os e achando-os iguaes e em regra,
fiz esta nota para constar de sua apresentação e registro
a folha segunda do Livro primeiro recebendo do pos
suidor mil e nove centos , conforme o n . de lettras que
contem hum dos exemplares , segundo o Art . 103 da
citada Lei.
N. 6. -Os abaixo assignados em Cumprimento da
Lei vem registrar huma Sorte de terras que possuem
432 LIMITES

no logar denominado Estrello no terreno da Freguesia


de Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que

fiserão ao Coronel João Dantas dos Reis e sua mulher


D. Mariana Francisca da Silveira Dantas , no valor de
dusentos e cincoenta mil reis , sendo suas demarcações
as seguintes : Principia no logar do Papagaio onde se
vae infincar hum marco e deste estrada abaixo ao lugar
Lagoa Secca até a cova da defunta Rosa e dahi rumo
direito aos picos dos fogos onde divide com a fasenda
da Trindade , e desta a Tapera dos Caboclos , onde di
vide com a Fasenda das Bananas e d'ahi rumo di

reito athé o rio Estrello , e por elle acima dividindo


sempre com terras da Fazenda Campinhos , athé onde
se achar hum marco infincado , e deste marco cor
tará rumo direito ao talhado que serve de Cerca da ma
lhada do Simplicio e dahi onde principiou a demarca
ção deste Sitio e se vae infincar hum marco , ficando
fora desta demarcação o mesmo Sitio pertencente ao
mesmo Simplicio Ribeiro da Silva , sendo sua longitude
de huma legoa pouco mais ou menos .
Freguesia de N. S. do Bom Conselho , 17 de De
sembro de 1856. —A pedido do possuidor Antonio Cor
rea do Nascimento , Anselmo José de Carvalho . - Igna
cio de Sonza Baptista .
NOTA- Sendo me apresentados pelos possuidores
Antonio Correa do Nascimento e Ignacio de Souza Ba
ptista os dous exemplares de que trata o art.º 101 da
Lei de 18 de Setembro de 1850 , passei a conferil -os e
achando -os iguaes e em regra fiz esta nota para constar
de sua apresentação e registrei a folha terceira do livro
segundo , recebendo dos possuidores dous mil e no
vecentos correspondente ao numero de letras , que
DA BAHIA COM SERGIPE 433

contem hum dos exemplares , segundo o art . 103 da ci


tada Lei.
Freguesia de Bom Conselho, 17 de Desembro de
1856. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 7. Os abaixo assignados em cumprimento da
lei vem registrar hum pedaço de terras que possuem no
logar denominado Joaseiro , comprado ao Coronel João
Dantas dos Reis e sua mulher D. Mariana Francisca da

Silveira Dantas por seu bastante procurador Joaquim


Garcia de Carvalho no valor de cem mil reis , no terreno
da Freguesia de N. S do Bom Concelho , cuja demarca
ção é a seguinte : Principia na Baixa do Gitirana onde
se achar um marco infincado , e ahi cortará rumo direi
to , com terras da Baixa da roça a ponta da Serra Grande,
e cortando por cima desta ao rozinho de Cupiuba e
e dahi voltará rumo direito ao alto direito do caminho

do Joazeiro e deste seguirá no mesmo rumo ao Oiteiro


Vermelho do caminho do Tanque Novo e deste rumo
direito a ponta da Serra da picada do Crauá e atravessan
do a baixa ao tabolerinho dos Caibas onde encontrar

com terras do Monte por cima do taboleiro do pontal


grande, abaixo do Tubi ; onde encontra com terras do
Goloso, e dahi descerá dividindo até confrontar com
estreito do caminho do Monte , onde encontra com ter

ras de Francisco das Chagas e dahi voltará extremando


com ellas aos Vermelhos da Cabeça de Vacca e desta no
mesmo rumo por detraz do caminho do Batoque a ponta
da Serra do caminho do Joazeiro , e deste a cabeçeira da
Serra da Angelica, e desta ladeira que sobe para as duas
Serras, e subindo por ellas acima do desaguado ao Poen
te , para a ponta da mesma Serra e dahi pontal abaixo
atravessando a estrada no estreito das Cabeceiras do Páu
LIMITES 55
434 LIMITES

dágoa, onde encoutra com terras do Ignacinho de Sou


za e dahi descerá extremando com o mesmo por cima
da Serra que fica entre o Sacco do meio té topar no Rio
do Estrello, ficando inclusive a esta demarcação o Sacco
do meio e dahi onde topar no Rio do Estrello , e pelo
mesmo Rio acima até o marco que se achar na baixa da
Gitiraua, onde principiou esta demarcação .
Sua extensão até o logar é meia legua pouco mais ,
ou menos .

Freguesia da Villa de Nossa Senhora do Bom


Consello, 17 de Dezembro de 1856. -Anselmo José de
Carvalho.-José Francisco da Costa.
NOTA- Sendo- me apresentados pelos possuidores
Anselmo José de Carvalho e José Francisco da Costa
os dous exemplares de que trata o art . n . 107 da Lei de
18 de Setembro de 1850 passei a conferil-as e achan
do-as iguaes e em regra fiz esta nota para constar de
sua apresentação e registrei a folha terceira do livro

primeiro, recebendo dos possuidores quatro mil e


quinhentos correspondentes ao numero de lettras que
contem um dos exemplares , segundo o art . 103 da Lei
citada.

Freguesia de Bom Conselho, 17 de Desembro de


1856. O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 8- Vicente José de Oliveira possue um

quinhão de terras nesta freguesia de Bom Conselho , no


logar denominado Tanque Novo , cujas terras dividem- se
pela forma seguinte: Pela parte do Nascente com a
fazenda do Mandacarú ; no topo do raso onde se achar
um marco de pedra infincado, pela parte do Norte a
malhada do Rangel , rumo direito a encontrar com
terras do Careta e para a parte do Poente a estrada
DA BAHIA COM SERGIPE 435

real descendo pela estrada abaixo , até encontrar a do


Goloso e dahi a tapera do Cariri e dahi ao marco donde
principiou . -Vicente José de Oliveira.
NOTA- Sendo apresentados pelo possuidor Vi
cente José Oliveira os dous exempplares de que trata
a Lei de 18 de Setembro de 1850 , numero 101 passei a
confrontal-os e achando-os iguaes fiz esta nota para
constar de sua apresentação e registrei a folha do
primeiro livro com o numero oitavo, recebendo do
possuidor mil e oito centos , correspondente ao numero
lettras que contem hum dos exemplares segundo o art .
103 da citada Lei.

Freguesia de Bom Conselho, 26 de Dezembro de


1856 .-- O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 9-0 abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar um quinhão de terras que possue na
fasenda denominada Pedra Branca, com suas bemfei
torias no terreno desta Freguesia de N. S. do Bom
Conselho por ter comprado a Manoel dos Reis e sua
mulher Maria Victoria, no valor de vinte e quatro mil
reis sendo as bemfeitorias as seguintes : hum quinhão
no Tanque velho e outro na fronteira, não podendo por
hora fixar a proporção de terreno por ser de hereos e
achar-se ainda indiviso .
Freguesia do Bom Conselho 26 de Dezembro de

1856. - Arogo de Manoel Felix do Nascimento, João


Baptista dos Santos .
NOTA -Sendo -me apresentados pelo possuidor
Manoel Felix do Nascimento os dous exemplares de que

trata o Art . 101 da Lei 18 de Setembro de 1850 passei


a conferil-os e achando-os iguaes e em regra fiz esta
nota para constar de sua apresentação e registrei a folha
436 LIMITES

primeira, digo do livro primeiro com o numero nono ,


recebendo do possuidor mil e sete centos e oitenta cor
respondente ao numero de lettras que contem hum
des exemplares , segundo o Art. 103 da citada Lei .
Freguesia de Bom Conselho , 26 de Dezembro de
1856. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 10-0 abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar hum quinhão de terras no logar de
nominado Fisgos , nesta Freguezia de Bom Conselho , por
compra que fez do dito quinhão ao Tenente Martim de
Carvalho sua mulher Faustina Maria Mattos no valor
de trinta mil reis não podendo porem fixar a proporção
do terreno por ser de hereos e achar- se ainda indiviso .
Freguesia, 26 de Dezembro de 1856. — Vicente de José
Oliveira.

NOTA- Sendo -me apresentados os dous exempla


res de que trata o Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de
1850 , passei a conferil -os e achando-os iguaes e em regra
fiz esta nota para constar a sua apresentação e registrei
a folha do livro primeiro e com o numero decimo , rece
bendo do possuidor mil e quatro centos correspondente
ao numero lettras que contem um dos exemplares se
gundo o Art . 103 da citada Lei .
Freguesia do Bom Conselho, 26 de Dezembro de
1856. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 11 - O abaixo assignado em comprimento da
Lei, vem registrar um quinhão de terras desmembrado ,
no termo desta Freguesia de Bom Conselho , cujo quinhão
de terra as possue por compra que fez ao Alferes Joaquim
Garcia de Carvalho e sua mulher D. Maria de Carvalho ,
pelo preço e quantia de oitenta mil réis , sendo suas de
marcações as seguintes : Principia no estreito do Umbu
DA BAHIA COM SERGIPE 437

zeiro e dahi descerá de cordão athé onde fizer o ponto


do Serco no principio da malhada do Umbuzeiro e
dahi cortará, rumo direito a cabeceira do Sacco e dahi
descerá athé confrontar na Serra do Sacco da Ju
rema , ficando dentro das terras do comprador e da
cabeceira cortará rumo direito ao estreito das Gamitas e
dahi cortará onde principiou esta demarcação , sendo
sua extensão de um quarto de legoa , pouco mais ou
menos.
Freguezia do Bom Conselho , 26 de Dezembro de
1856 -Arogo de Manoel Felix do Nascimento―João
Baptista dos Santos.
NOTA - Sendo-me apresentados pelo possuidor
Manoel Felix do Nascimento , os dous exemplares de
que trata o Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850 ,
passei a conferilos e achando-os iguaes e em regra fiz
esta nota para constar de sua apresentação e registrei a
folha do livro primeiro, com o numero onze recebendo
do possuidor dous mil e quatro centos, correspondente.
ao numero de lettras que contem um dos exemplares
segundo a Art . 103 da citada Lei .
Freguezia de N. S, do Bom Conselho, 26 de
Dezembro de 1856 .-- O Vigario , Caetano Dias da Silva .
N. 12 -O abaixo assignado em comprimento da
Lei vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Sacco do Cajá comprado a Ignacio
de Souza Baptista e sua mulher Maria de Almeida , no
valor de dez mil réis , nesta freguesia do Bom Conselho ,
cujas demarcações são as seguintes : Principia da cale
ceira da Serra e por ella abaixo até topar no Rio do Es
trello e dahi a ladeira do Meio , e dahi por cima do cor
dão a encontrar na cabeceira da mesma serra , onde
438 LIMITES

principiou esta demarcação e sua extensão é de cincoen


ta braças pouco mais ou menos .
Freguesia de N. S. do Bom Conselho , 17 de Dezem
bro de 1856 —Anselmo José de Carvalho .
NOTA- Sendo-me apresentados pelo possuidor
Anselmo José de Carvalho os dous exemplares de que
trata a Lei , Art . 101 de 18 de Setembro de 1850 , passei
a conferil -os e achando - os confcrme e em regra, fiz esta
nota para constar e registrei a folha do livro primeiro,
recebendo do possuidor mil nove centos, correspondente
ao numero de lettras que contem um dos exemplares ,
segundo a citada Lei . Freguesia do Bom Conselho 2 de
Janeiro de 1857 -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 13-0 abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar um quinhão de terras que possue ,
desmembrado da fasenda denomina la Trindade , com
prada a Joaquina Maria das Virgens , no valor de 20
mil reis em dinheiro nesta freguesia de N. S. do Bom
Conselho , não podendo porem fixar a proporção
do terreno por ser de hereos e achar- se ainda in
diviso .

Freguesia do Bom Conselho , 17 de Dezembro de


1856- A rogo do possuidor Manoel Correa do Nasci
mento, Anselmo José de Carvalho .
NOTA- Sendo -me apresentados pelo possuidor
Manoel Correa do Nascimento os dous exemplares de

que trata o Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850 ,


passei a conferil- os e por acharem -se iguaes e em regra ,
fiz esta nota para constar de sua apresentação e regis
trei no livro primeiro , recebendo do possuidor mil e
quinhentos , correspondente ao numero de lettras que
contem hum dos exemplares , segundo a citada Lei .
DA BAHIA COM SERGIPE 439

Freguesia do Bom Conselho , 2 de Janeiro de


1857 -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 14—-O abaixo assignado em cumprimento da
Lei , vem registrar huma sorte de terras denominadas.
Sacco da Cajá e Sacco do Gato , cujas terras foram des
membradas dos Campinhos , em terreno desta freguesia
de N. S. do Bom Conselho , cuja sorte de terras as
possue por compra que fez ao Coronel João Dantas dos
Reis e sua mulher D Mariana Francisca da Silveira
Dantas , no valor de cem mil reis cujas demarcações são
as seguintes :
Principia da ladeira do Meio beira da Maçaran
duba abaixo desagoando as Agoas thé encontrar nas
Ruas de Joaquim e dahi dividindo sempre com terras de
Francisco José de Souza , a ponta do Alto da Serra do
Meio , que confronta com a Serra do Mocó , para a qual
Serra do Mocó se dará o rumo , e por ella abaixo thé
topar no Rio Estrello , dividindo sempre com o mesmo
Francisco José de Souza ; e dahi Rio acima thé onde
encontrar com as demarcações da terra que comprou ao
Capitam Anselmo José de Carvalho e Ignacio de Souza
e dahi dividindo com a ladeira do Meio , onde principiou
esta demarcação ; e sua extensão hé de tres quartos de
legoa pouco mais ou menos .
Freguesia do Bom Conselho, 30 de Dezembro de
....
1856. A rogo de Manoel Castro Teixeira , João Fran
cisco de Almeida.
NOTA- Sendo-me apresentados pelo possuidor
Manoel de Castro Teixeira , os dous exemplares de que
trata o Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850 ,
passei a conferil-os e achando-os íguaes e em regra , fiz
esta nota para constar da sua apresentação e registrei
440 LIMITES

no livro primeiro com o numero quartorze , recebendo


do possuidor dous mil sete centos e oitenta, correspon
dente ao numero de lettras que contem um dos exem
plares segundo o Art . 103 da citada Lei .
Freguesia de N. S. do Bom Conselho , 2 de Janeiro
de 1857 -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 15-0 abaixo assignado vem registrar um
pedaço de terra que possue no sitio denominado Curral
Novo , nesta Freguesia de N. S. do Bom Conselho
comprado a José Francisco de Britto e sua mulher
Francisca Florida da Cruz , no valor de vinte mi reis
e sua longitude será cincoenta braças, pouco mais ou
menos que principia da Capoeira da defunta Bernarda,
rumo direito a Serra que vem da casa da Angelica e
descerá por ella abaixo extremando com terras das
duas Serras e descerá por ella abaixo athé a cabeceira
da Capoeira da Eugenia e dahi voltará abaixo e passará
rumo direito até onde principiou .
Freguesia, 1 de Janeiro de 1857. - Por minha Mãe
Anna Saloméa, Francisco Felix de Oliveira.
NOTA - Sendo-me apresentados pela possuidora
Anna Saloméa os dous exemplares de que trata o
Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850 , passei
a conferil-os e achando-os iguaes e em regra passei esta
nota para constar de sua apresentação e registrei a
folha do livro primeiro, numero 15 , recebendo da
possuidora novecentos , digo mil e novecentos correspon
dente ao numero de lettras de um dos exemplares ,
segundo o art . 103 da citada Lei .
Freguesia do Bom Conselho , 2 de Janeiro de 1875 .
-O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 16 - Os abaixo assignados em cumprimento
DA BAHIA COM SERGIPE 441

da Lei vem registrar quatro quinhões de terras que pos


suem no logar denominado Areia-Branca , desmem
brada da fasenda Mocambo comprada a José Coelho
Barbosa e sua mulher Anna Maria e José Ferreira de
Oliveira no valor de vinte mil reis, nesta Freguesia
de N. S. do Bom Conselho , não podendo porém fixar a
proporção de terreno por ser de hereos e achar-se in
diviso .

Freguesia de N. S. do Bom Conselho , 29 de


Dezembro de 1856. -João Pereira da Cruz, Francisco
Feiix de Oliveira, Joaquim Pereira de Carvalho.
NOTA- Sendo- me apresentados pelos possuidores
João Pereira da Cruz , Francisco Felix de Oliveira e
Joaquim Pereira de Carvalho os dous exemplares de
que trata o Art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850
passei a conferil-os e achando-os iguaes e em regra
fiz esta uota para constar de sua apresentação e regis
trei a folha do livro primeiro com o numero de 16 ,
recebendo dos possuidores mil e sete centos , corres
pondente ao numero de lettras que continha um dos
exemplares , conforme a citada Lei .
Freguesia do Bom Conselho , 2 de Janeiro de 1857 .
-O Vigario, Caetano Dias da Siwa.
N. 17 -O abaixo assignado em cumprimento a Lei
vem registrar um quinhão de terras da fasenda Tanque
Novo, no terreno desta Freguesia do Bom Conselho , cujo
quinhão de terras possue em herança que coube a sua
mulher Josefa Xavier de Oliveira , no valor de cinco.
mil reis , não podendo por hora fixar a proporção do
terreno por ser de hereos e achar-se ainda indiviso .
Freguesia do Bom Conselho , de 1857. - Por Fran
cisco José do Nascimento , João Baptista dos Santos .
LIMITES 56
442 LIMITES

NOTA- Foi -me entregue pelo possuidor Fran


cisco José do Nascimento o presente exemplar que
registrei com o numero 17 , recebendo do possuidor
mil e dusentos e oitenta reis .

Freguesia de Bom Conselho 2 de Janeiro de 1857


-O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 18-O abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar hum quinhão de terras nas terras da
Fasenda denominada Tanque Novo, no termo desta
Freguesia de N. S. do Bom Conselho , cujo quinhão de
terras possue em herança que lhe coube por falleci
mento de sua mãe Ritta Xavier de Oliveira , no valor
de seis mil reis , não podendo fixar a proporção do
terreno por ser de hereos e achar-se indiviso .
Freguesia do Bom Conselho , 2 de Janeiro de 1857
-Antonio Marques de Oliveira.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor Antonio
Marques de Oliveira o presente exemplar que registrei
com o numero dezoito recebendo do possuidor mil

cento e quarenta reis .


Freguesia , do Bom Conselho , 2 Janeiro de 1857
-O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 19-Feliciano José da Costa abaixo assignado
em cumprimento da Lei nos Arts . 91 e 100 do decreto
de 30 de Janeiro de 1854 , vem registrar dous quinhões
de terras que possue nesta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho . Hum quinhão no logar denominado
Quixaba, cuja divisão principia da baixa do Vasabarris
lado do Sul , onde tem hum marco de pedra infincado ,
dividindo-se pelo nascente subindo rio acima athé topar
outros heroes , onde tem outro marco de pedra infincado
e marcará entre estes rumo direito do Sul para as
DA BAHIA COM SERGIPE 443

Mattas até topar outros hereos ; onde tem outro quinhão


no logar denominado Capivara, cuja divisão deixa de
dar por serem terras indivisas com outros hereos .
Villa de Simão Dias , 27 de Janeiro de 1857.—
Feliciano José da Costa.

NOTA - Sendo-me apresentados pelo possuidor


Feliciano José da Costa, os dous exemplares de que
trata a Lei de 18 de Setembro de 1850 , passei a con
feril-os e achando-os iguaes e em regra fiz esta nota
para constar de sua apresentação , recebendo do possui
dor mil e novecentos , correspondente ao numero de
lettras que contem hum dos exemplares , segundo o
Art . 103 da citada Lei .
Freguezia do Bom Conselho , 13 de Fevereiro de
1857. -O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 20- O abaixo assignado possuidor das terras
denominadas Araçá divididas e demarcadas pela maneira
seguinte: ao Nascente divide- se com terras da Serra , ao
Poente com terras do finado Antonio Ferreira , ao Sul
com terras de Sebastião e do proprio Antonio Fer
reira, pela parte do Norte com terras de Rodrigues
e outros hereos .
Campo do Britto , 25 de Novembro de 1856. -João
Vitella da Fonseca.
NOTA- Sendo-me apresentados pelo possuidor
João Vitella da Fonseca , os dous exemplares de que
trata o Art. de 18 de Setembro de 1850 , passei a con
feril-os e achando -os iguaes , com quanto não estejam
em regra , fiz esta nota para constar de sua apresentação
e registrei no livro primeiro, recebendo do possuidor
mil quatrocentos correspondente ao numero de lettras
de um dos exemplares , segundo o Art . 103 da citada Lei.
444 LIMITES

Freguezia do Bom Conselho, 24 de Fevereiro de


1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 21 - Francisco de Mattos Freire , vem registrar
no termo de Geremoabo , Provincia da Bahia , o terreno
de sua Fasenda denominada Curralinho , junto ao rio
Vasabarris dividindo- se pela parte do Nascente com
José Ezequiel e Joaquim do Curralinho e seus herdeiros ,
eo Major Freire ; o mesmo quer registrar outra Fasenda
no mesmo termo denominada Cabeça de Vacca , divi
dindo com o Major José de Mattos Freire e D. Josefal
Maria do Espirito Santo . O mesmo quer registrar outra
Fasenda denominada Rio dos Negros dividindo com at
baixa do Salgado , pertencente a hereos de Itabayana
e Bento José de Carvalho e com o Rio dos Negros ,
pertencente a Joaquim Nogueira de Carvalho e Anto
nio Carvalho de Oliveira.
Estancia , 8 de Setembro de1856 . -Francisco de
Mattos Freire.
NOTA- Apresentando-se-nos por parte do pos
suidor Francisco de Mattos Freire , os dous exempla
res de que trata a Lei de 18 de Setembro de 1850 , e
contendo os ditos exemplares tres sortes de terras que
fazem parte do termo desta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho, passei a conferil-os e achando-os
iguaes comquanto não em regra, fiz esta nota para
constar de sua apresentação e registrei a folha do livro
primeiro , recebendo do possuidor dous mil e dusentos e
oitenta correspondente ao numero de lettras que contem
um dos exemplares segundo o Art . 103 da citada Lei .
Freguesia do Bom Conselho, 14 de Fevereiro de
1857. -O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 22. José Mattos Freire tem huma porção em
DA BAHIA COM SERGIPE 445

divisa no termo de Geremoabo , Provincia da Bahia , no


logar denominado Fazenda Nova tendo o seu principio
no Rio Vasabarris em procura do Nascente .
Estancia 8 de Setembro de 1856. -Josè de Mattos
Freire
NOTA-Sendo- me apresentados por parte do pro
curador José de Mattos Freire os dous exemplares de
que trata a Lei de 18 de Setembro de 1850 , passei a
conferil-os e achando-os iguaes , não porem em regra , fiz
esta nota para constar de sua apresentação e registrei
a folhas do livro primeiro , recebendo do possuidor mil
cento e oitenta, correspondente ao numero de lettras de
que trata o Art . 103 citada Lei , de um dos exemplares .
Freguesia do Bom Conselho , 14 de Fevereiro de
1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 23-O abaixo assignado em cumprimento a Lei ,
vem registrar uma sorte de terras nas Mattas de Simão
Dias no logar de sua propriedade o Engenho de Coité
comprehendido nas terras da Freguesia de Nossa Se
nhora de Bom Conselho do termo de Geremoabo , a qual
sorte de terras possue por compra ao Doutor Duarte
Marques de Araujo Goes e herdeiro do finado Major José
Antonio de Menezes e suas demarcações são as seguin
tes : Principia no Sitio do Mundo Novo , no logar cha
mado Engenho Velho , rumo direito para o Sul no Cay
açá, para o poente dividindo com as terras de Jeronymo
Muniz , athé encontrar com as terras da Fazenda de
Baixo , digo da Fazenda de D. Ignacia , para o Norte di
vidirá com terras da Fazenda do Olho d'Agua do Bixo
da Quixaba, Pernambuco e Camaratuba e dahi tornará
rumo direito para o Sul até o Sitio Mundo Novo no
Engenho Velho . Declara o abaixo assignado que occu
446 LIMITES

pará este terreno tres legoas de longitude, huma de lar


gura pouco mais ou menos : tambem declara que existem
dentro deste terreno , já alguns pedaços vendidos pelos
antecessores , possuidores do mesmo terreno .
Engenho de Coité, 16 de Fevereiro de 1857 .-
Joaquim José de Carvalho.
NOTA- Apresentando-se-nos pelo possuidor o
Capitão Joaquim José de Carvalho os dous exemplares
de que trata a Lei de 18 de Setembro de 1850 , passei a
conferil -os e achando -os iguaes e em regra fiz esta nota
para constar de sua apresentação e registrei na folha do
livro primeiro , recebendo do possuidor dois mil e quin
hentos , correspondente ao numero de lettras que contem
hum dos exemplares, segundo o Art . 103 da citada Lei .
Freguesia do Bom Conselho , 16 de Fevereiro de
1857. O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 24-0 abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Serpente compradas a José Felix no
valor de cento e vinte mil réis , no termo da Freguesia
de N. S. do Bom Conselho , cujos extremos são os se
guintes: Principia na Ladeira Escura aguas pendentes
descerá Estrada abaixo, dividindo sempre com terras
de Antonio de Oliveira, a Cruz do Caminho onde ex
trema com terras de José Cardoso , subirá Alto cima
rumo direito a Brauna da Porta e ahi cortará rumo
direito ao Pontal de Peador dos Cavallos , e dahi rumo
direito ao Pontal Grande da Queimada dos Bois e
descerá dividindo com as terras do Mandacarú Grande
onde extrema com terras de José Cardoso e Nicoláu
Victor, e dahi descerá pelo Caminho do Riacho e dahi
até o Alto da Cacimba onde encontrar com terras de
DA BAHIA COM SERGIPE 447

Apolonio Amancio e dahi cortará rumo direito por cima


do Malhador do Peba , passando pelo Estreito de Ma
çaranduba, athé encontrar com terras de Manoel de
Sant'Anna e dahi extremando com o mesmo athé o
Páo Ferro Grande , e dahi athé o Cabeço do Alto do
Salto das Pedras , onde tem um Páo de Colher e dahi
rumo direito ao Pontal dos Iricurizeiros , onde extrema
com terras da Fazenda Trindade , e descerá por cima
do cordão dividindo as Aguas , athé acima da Ladeira
Escura onde principiou; sua extrema será um quarto
de legoa pouco mais ou menos .
Freguesia do Bom Conselho , 28 de Janeiro de
1857. -Miguel Araujo de Carvalho.
——
NOTA Sendo-me apresentados pelo possuidor
Miguel Araujo de Carvalho , os dous exemplares de que
trata a Lei de 18 de Setembro de 1850 , passei a con
feril- os e achando- os iguaes e em regra fiz esta nota para
constar de sua apresentação e registrei a folha do livro
primeiro , recebendo do possuidor dous mil e sete centos
e oitenta correspondente ao numero de lettras que
contem hum dos exemplares .
Freguesia do Bom Conselho, 12 de Março de 1857 .
O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 25 -O abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar hum quinhão de terras denominadas
Trindade desmembradas da Fazenda Mucambo, no
termo desta Freguesia de Nossa Senhora do Bom Con
selho cujo quinhão de terras as possue por compra que
fez a Nestor Francisco de Carvalho e sua mulher Joanna
Francisca de Jesus e são indivisas e as comprou pelo
preço e quantia de treze mil réis .

Freguesia do Bom Conselho , 27 de Janeiro de


448 LIMITES

1857. -A rogo de Januario José de Sant'Anna , Manoei


Lourenço ae Andrade.
NOTA- Sendo- me apresentados pelo possuidor
Januario José de Sant'Anna os dous exemplares de que
trata a Lei de 18 de Setembro de 1850, passei a con
feril-os e registrei a folha do livro primeiro, recebendo
do possuidor mil duzentos e oitenta .
Freguesia do Bom Conselho , 16 de Maio de 1857 .
-O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 26 - O abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar huma sorte de terras desmembradas ,
digo que possue por compra que fez , denominadas Pe
dra Branca , cujas terras foram desmembradas da Fa
zenda do Sitio, no termo desta Freguesia do N. S. do
Bom Conselho , cuja sorte de terra a possue por com
pra que fez a Francisco das Chagas dos Reis e sua mu
lher Anna Felix de Sant'Anna pelo preço e quantia
de vinte e oito mil réis , cujas demarcações são as se
guintes: Principia na casa velha do fallecido meu Pae
Manoel Rodrigues e dahi a sahir no Caminho do Cari ,
onde morou Manoel José e dahi descerá caminho abaixo
a sahir na Estrada que vem de Geremoabo , para a Fre
guesia e descerá Estrada abaixo servindo esta de extre
ma pela parte do Poente athé o Umbuzeiro Grande e
dahi onde tiver um marco infincado e dahi a encon

trar as terras do Goloso e por onde constar de sua


escriptura athé onde principiou ; sua extensão é de um
quarto de legua de comprimento , a quarta parte de
comprimento, pouco mais ou menos .
Freguesia de Bom Conselho , 2 de Janeiro de 1857 .
-Arogo de Januario José de Sant'Anna, Manoel Lu
dovico de Andrade.
DA BAHIA COM SERGIPE 449

NOTA- Sendo-me apresentados pelo possuidor


Januario José de Sant'Anna os dous exemplares de que
trata a Lei de 18 de Setembro de 1850 passei a confe
ril-os e registrei a folha do livro primeiro , recebendo do
possuidor dous mil tresentos .
Freguesia do Bom Conselho , 16 de Maio de 1857 .
-O Vigario, Caetano Dias da Silva .
N. 27-O abaixo assignado em cumprimento da
Lei vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Capivara , desta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , por compra que fez a Valen
tim Gomes Ribeiro , no valor de sessenta mil reis cuja
demarcação é a seguinte : Principia do Espinheiro junta
da Cruz estrada acima athé a encrusilhada que vae para

a casa do finado Maxi e dahi subirá pelo caminho aci


ma para a parte do sul , athé a beirada do varão da roça.
do finado Vieira e dahi cortará para onde principiou ;
sua extensão é de cinco tarefas pouco mais ou menos .
Capella de N. S. do Bom Conselho , 8 de Junho de
-
1857. A rogo de Antonio José de Souza, Vicente
José de Paula.
NOTA - Foi-me entregue pelo possuidor Antonio
José de Souza o presente exemplar que registrei a folha
do primeiro livro , recebendo mil e duzentos .
Capella de N. S. do Bom Conselho , 8 de Junho de
1857. - O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 28-O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar um sitio de terras que possue no
logar denominado Sabbam, nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho por compra que fizeram a
Alexandre Ferreira Dias , no valor de quihentos mil
reis , cuja demarcação é a seguinte : Principia da encru
LIMITES 57
450 LIMITES

silhada de Maria Felix , estrada a cima até onde tiver


um marco infincado , dahi cortará rumo direito até
onde tiver um outro marco infincado donde se divide
Manoel Guedes thé onde topar outro marco onde di
vide com o dito Manoel Guedes, com Alexandre Fer
nandes digo Ferreira e dahi virá dividindo - se com o
mesmo Alexandre rumo direito até onde principiou ; sua
extensão hé de dezeseis tarefas , pouco mais ou menos .
Capella de Nossa do Patrocinto, 8 de Junho de
1857.-José Manuel da Annunciação . —A rogo de Mar
tinha Desideria de Jesus, Vicente José de Paula.
NOTA- Apresentou -me o possuidor o presente
exemplar que registrei a folha do livro primeiro com o
numero vinte e oito , recebendo mil e quinhentos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 8 de
Junho de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 29. O abaixo assignado em comprimento a
Lei vem registrar hum pedaço de terra que possue no
logar denominado Cavaquinho, nesta Freguesia de
Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que fez
a Antonio Julião do Nascimento cuja demarcação hé a
seguinte: Principia da Encrusilhada da Serra , subirá
Estrada do Rio acima athé o varão do Manoel Antonio,
ahi se divide e dahi cortará rumo direito até o páo Ca
tinguiba onde se acha outra demarcação e dahi des
cerá Estrada abaixo para o Rio Vasabarris té onde
sahir na estrada da Serra e dahi voltará athé onde prin
cipiou .
Capella de N. S. do Patrocinio , 8 de Junho de
1852 - A rogo de Francisco Rodrigues da Silva , Vi
cente de Paula.

NOTA- Foi-me entregue pela possuidor a Fran


DA BAHIA COM SERGIPE 451

cisca Rodrigues da Silva o presente exemplar que re


gistrei com o numero vinte e nove, recebendo mil e
tresentos .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857.- O
Vigario, Caetano Dias da Silva
N. 30 .-- O abaixo assignado vem em cumprimento
da Lei registrar hum pedaço de terras que possue no
logar denominado Capivara nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho, por compra que fez a An
tonio Julião do Nascimento no valor de sessenta mil
reis cuja demarcação é a seguinte :
Principia na Estrada de Geremoabo onde se acha
um marco de pedra que divide com terras de Placido e
dahi rumo direito ao norte , dividindo - se com terras do
dito athé onde se acha outro marco e dahi rumo direito
ao nascente athé onde se acha outro marco fincado e
dahi subirá caminho acima thé onde principiou; sua
extensão hé desoito tarefas pouco mais ou menos .
Capella do Patrocinio 8 de Junho de 1857. —A
rogo de José dos Santes de Menezes , João Rodrigues
de Andrade.
NOTA- Foi apresentado o presente exemplar que
registrei com o numero trint ' , recebendo mil e tre
sentos .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857 -O Vi
gario, Caetano Dias da Silva.
N. 31 -O abaixo assignado em cumprimento da
Lei , vem registrar hum pedaço de terras no logar de
nominado Cotia, nesta Freguesia do Bom Conselho ,
por compra que fez a Ignacio Felix de Carvalho, cuja
demarcação é a seguinte ; Principia de hum marco que
se acha fincado no caminho da casa do dito compra
452 LIMITES

dor para a Malhada Vermelha e dahi seguirá caminho


direito que vae para o Barracão thé encontrar um marco
que se acha fincado na encrasilhada que vae para o
Olho d'Agua .

Povoação de Patrocinio , 8 de Junho de 1856.


A rogo de Lauriano Aymoré da Silva , Galdino Custodio
de Carvalho.

NOTA- Foi - me apresentado pelo possuidor Lau


riano Aymoré da Silva o presente exemplar que re
gistrei com o numero trinta e um , recebendo mil e cem .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857.-O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 32 -O abaixo assignado em comprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Barracão , nesta freguezia de Nossa
Senhora do Bom Conselho por compra que fez a Ale
xandre Ferreira Dias, cuja demarcação é a seguinte :
Principia de hum marco de pedra que se acha infincado
na beira do caminho do Barracão, no canto da car
reira de Gravatá da extrema do Guilherme cortando
abaixo athé confrontar com a Fonte do José Custodio
na mesma linha largando no caminho do Sabão , lar
gando por elle acima procurando o Barracão até onde
principio . Sua extensão é de quarenta tarefas de
terras , pouco mais ou menos .

Capella de N. S. do Patrocinio ; 8 de Junho de


________.com
1857. A rogo de Francisco Antonio das Chagas ,
Vicente José de Paula.

NOTA- Foi-me apresentado o presente exemplar


que registrei com o numero trinta e dois recebendo mil
e seiscentos .
DA BAHIA COM SERGIPE 453

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho


de 1857- O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 33 - O abaixo assignado em cumprimento a Lei,
vem registrar um pedaço de terras que comprou, no
logar denominado Capivara , nesta Freguesia de N. S.
do Bom Conselho, por compra que fez a José das Neves
Celestino , cujs demarcação é a seguinte : Principia no
marco de pedra no pé do Paú Preto no caminho da
casa do finado Maximiliano, dahi cortará rumo direito
ao Poente , onde se acha hum marco de pedra infin
cado na roça de Francisco Almeida , dahi descendo
rumo direito a Estrada de Geremoabo onde está o
outro marco e dahi descerá estrada abaixo até ganhar
o caminho do dito Páu Preto onde principiou . Sua
extensão é de oito tarefas pouco mais ou menos.

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho


de 1857. - A rogo de Joaquim Rodrigues de Andrade ,
Vicente José de Paula.
NOTA-Foi -me apresentado pelo possuidor Joa
quim Rodrigues de Andrade , o presente exemplar que
registrei recebendo mil e tresentos .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857 .-— 0
Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 34-O abaixo assignado em cumprimento ahi
vem registrar um pedaço de terra que possue no logar
denominado Bixo , nesta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho, por compra que fez a José Gregorio
de Paiva, cuja demarcação é a seguinte: Principia no
caminho que entra para a Fasenda do Bixo e dahi rumo
direito ao nascente um barreiro que foi cavado detraz
do Curral Velho, onde tem um pé de Mulungú , e dahi
rumo direito dentro do Rio , no poço do Bixinho e
454 LIMITES

dahi subirá Rio acima athé sahir da Estrada que sahe


para o Bixo e por esta athé onde principiou . Sua ex
tensão é quatro tarefas pouco mais ou menos .

Capella de N. S. do Patrocinio , 8 de Junho de


1857. -A rogo de Joaquim Rodrigues de Andrade , João
Rodrigues de Andrade.
NOTA- Foi-me apresentado o presente exemplar
que registrei com o numero trinta e quatro , recebendo
mil e duzentos reis . -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 35 - O abaixo assignado vem em cumprimento
da Lei , registrar nesta Freguesia de N. Senhora do
Bom Conselho , um terreno que possue por compra
que fez ao Doutor Duarte , cujo é a seguinte : Princi
piará de um marco que tem na encrusilhada que tem
na casa do Valentim , rumo direito ao marco de Vi
cente Pato e dahi abaixo do Olho dagua e dahi descerá
abaixo athé o marco de Maria José, cortará rumo direito
ao marco de Galdino Florentino de Almeida e dahi
dividindo com o dito Senhor athé a estrada no pé da
Ladeira do velho Major José Euzebio , e dahi subirá
estrada acima athé onde principiou .
Malhada Vermelha , 8 de Junho de 1857. -Iguacio
Felix de Carvalho .
NOTA- Foi -me apresentado pelo possuidor um
exemplar que registrei com o numero trinta e cinco ,
recebendo mil e duzentos .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857.-O
Vigario, Dias da Silva.
N. 36-0 abaixo assignado em cumprimento da
Lei , em registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Antas nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho por compra que fez a D.
DA BAHIA COM SERGIPE 455
‫ނ‬

Eufemia Maria de Jesus , cuja demarcação é a seguinte:


Principia no Riacho do Cayçá onde ha uma gruta e
por esta acima athé um pé de Itapicurú no canto do
cercado do dito comprador: dahi rumo direito até sahir
no caminho da casa do Manoel Caetano, aonde en
contra com terras do mesmo comprador e demarcando
se com o mesmo comprador athé o Riacho Cayçá e
dahi onde principiou . Sua extensão é de quarenta ta
refas pouco mais ou menos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho


de 1857.-Joaquim José de Araujo .
NOTA-Foi- me apresentado pelo possuidor um
exemplar que registrei com o numero trinta e seis , re
cebendo mil e dusentos .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857.- O Vi
gario, Cacteno Dias da Silva.
N. 37. -9 abaixo assignado vem em cumpri
mento da Lei, registrar hum pedaço de terras que
possue no logar denominado Cajueiro comprado a Ale
xandre Ferreira Dias , e sua mulher no valor de cento
e cincoenta mil reis no terreno desta Freguesia de
Nossa Senhora do Bom Conselho cuja demarcação é a
seguinte: Principia na Tapera Velha de seu irmão Pedro
de Alcantara e seguirá caminho direito pela parte de
seu Pae José Maria da Silva athé topar com terras de
Gregorio Manoel e dahi para o Nascente pelo caminho
da casa de João Pinto , sempre dividindo-se com o dito.
Gregorio, athé topar com terras do dito Pinto e dahi
marchará para o Norte , dividindo-se ahi com Pinto
athé topar com hum marco de pedra de Alcantara
athé findar ; sua extenção que será de dez tarefas , pouco
mais ou menos .
456 LIMITES

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 8 de


Junho de 1857. - Por Manoel Saturnino da Silva , André
Ribeiro Bispo .
N. 38. O abaixo assignado em comprimeuto da
Lei , vem registrar dous pedaços de terras mixtas , que
possue no logar denominado Cajueiro, compradas a
Alexandre Ferreira Dias , no valor de cento e trinta mil
reis , no terreno desta Freguesia de Nossa Senhora do
Bom Conselho , cuja demarcação hé a seguinte:
Principia de hum marco de Manoel Saturnino , marcha
para o norte a sahir na estrada do Alagadinho , por
esta acima , entre poente e Sul té encontrar o marco de
Francisco José Alexandre e dahi pelo varão do dito
Francisco dividindo-se com este , té o marco do Antonio
Ribeiro , finado , e dahi rumo direito do Nascente ao
marco do velho Prudente e dahi para o Norte athé á
Tapera Velha e dahi para o Nascente dividindo- se com
Manoel Saturnino té findar . Sua extensão será qua
renta tarefas , pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho
de 1857.-A rogo de Pedro de Alcantara Rodrigues ,
André Ribeiro Bispo .
NOTA Foi-me apresentado pelo possuidor acima
.
o presente exemplar que registrei com o numero trinta
e oito , recebendo mil e seiscentos .
Capella do Patrocinio, 8 de Junho de 1857. - O
Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 39. O abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Sabam , nesta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho por compra que fez a Alexandre
Ferreira Dias cujas demarcações é a seguinte: Principia
DA BAHIA COM SERGIPE 457

do Marco de Martinho, defronte da venda de Pedro An


tonio , subindo pelo caminho que vae para a roça de
dentro athé huma Jaqueira que se acha na beira do
Caminho e dahi rumo direito a porta do Euzebio ,
sempre na linha direita athé a baixa do Cayçá e descerá
Cayçá abaixo athé topar com terras de Zuza , dahi sa
hirá extremando-se com o dito athé o Caminho , que
sobe para o Páu Preto ; chegando no dito caminho ,
sahirá athé onde principiou . Sua extensão é vinte ta
refas pouco mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 8 de Junho


de 1857.- Antonio José dos Santos .
NOTA. Foi-me apresentado pelo possuidor
acima, o presente exemplar que registrei com o numero
trinta e nove, recebendo mil e dusentos .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857. -O Vi
gario , Caetano D. da Silva.

N. 40. O abaixo assignado em cumprimento a


Lei vem registrar hum quinhão de terras que possue
no logar denominado Nitó , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho, por compra que fez a Ven
ceslau Duque de Sant'Anna, não podendo porém fixar
a proporção do terreno por ser de hereos e achar- se
ainda indiviso .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 8 de


Junho de 1857. -Quirino Correa Lemos.
NOTA. -Foi- me apresentado pelo possuidor o
presente exemplar que registrei recebendo setecentos
reis .

Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857.—


O Vigario, Caetano Dias da Silva.
LIMITES 58
458 LIMITES

N. 41-0 abaixo assignado vem em cumpri


mento da Lei , registrar um pedaço de terras que pos
sue no logar denominado Antas , nesta Freguesia de
N. Senhora do Bom Conselho , por compra que fez ao
Doutor Marques de Araujo Goes , cuja demarcação é a
seguinte: Principia no Caminho das Antas que vai
para o Cayçá onde se acha um marco infincado e che
gando ao Cayçá subirá por este acima até encontrar com
terras da viuva e herdeiros do finado João Antonio
Dias , dividindo -se com este até o caminho que vem da
casa de Manoel Caetano e voltará por este até o logar
onde principiou em rumo direito . Sua extensão é de um
quarto de legua pouco mais ou menos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho


de 1857.-Joaquim José de Araujo .

NOTA—Foi- me apresentado pelo possuidor acima


o presente exemplar que registrei sob o numero qua
renta e hum , recebendo mil e duzentos . -O Vigario ,
Caetano Dias da Silva.

N. 42-0 abaixo assignado vem cumprir a Lei


registrando hum quinhão de terra que possue no lo
gar denominado Tigre, nesta Freguesia de N. Senhoral
do Bom Conselho por herança que teve de seu sogro
Bernardo Felix da Rosa, não podendo porem afixar a
proporção do terreno por ser de hereos e achar- se
ainda indiviso .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 8 de Ju


nho de 1857. -José Rodrigues de Andrade.

NOTA- Foi- me apresentado pelo possuidor acima


o presente exemplar que registrei com o numero qua
renta e dois , recebendo oito centos e quarenta .
DA BAHIA COM SERGIPE 459

Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857. -O Vi


gario, Caetano Dias da Silva.
N. 43-Os abaixo assignados em cumprimento da
Lei vem registrar um pedaço de terra que possuem no
logar denominado Taquara , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , por compra que fizeram a
Miguel Correa de Britto , cuja demarcação é a seguinte :
Principia no caminho que vai para a cabeça da Serra ,
onde se acha hum marco de pedra fincado , rumo di
reito a baixo da Taboa onde se acha outro marco de

pedra fincado dahi subirá baixa acima thé outro marco


que se acha fincado na dita baixa no caminho da ca
beça da Serra, voltará pelo dito caminho thé o marco
onde principiou . Sua extensão é de vinte tarefas ,
pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho de
1857. -José Quirino da Trindade. A rogo de Manoel
Nascimento Trindade , Vicente José de Paula.
NOTA-Foi- me apresentado pelo possuidor acima
o presente exemplar, que registrei com o numero qua
renta e tres , recebendo mil e tresentos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho
de 1857.- 0 Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 44―0 abaixo assignado em cumprimento a Lei
vem registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Macambira , nesta Freguesia de N. Se
nhora do Bom Conselho , por compra que fez a José dos
Santos , cuja demarcação é a seguinte: Principia no
Riachão do Gravatá amarello , extremando com Manoel
Pereira, Riacho acima para a Serra , e do mesmo Riacho
acima pelo caminho do Sacco até as Malhadas da Bar
riguda , onde se acha hum marco infincado e dahi em
460 LIMITES

diante rumo direito athé a serra confrontando e de


marcando.

Sua extensão é de meia legoa pouco mais ou menos .


Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho
de 1857.-José Quirino Pereira.
NOTA- Foi -me apresentado pelo possuidor acima
o presente exemplar , que registrei com o numero qua
renta e quatro, recebendo mil e cem .
Capella do Patrocinio 8 de Junho de 1857.— O
Vigario, Caeto Dias da Silva
N. 45-0 abaixo assignado em cumprimento a Lei ,
vem registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Taquara, nesta Freguesia de N. S. do Bom
Conselho, por compra que fez a Joaquim José de Sant'
Anna, cuja demarcação é a seguinte: Principia onde
se acha hum marco fincado no canto da roça do mesmo
Luiz André da Trindade , e dahi rumo direito ao marco
de Miguel Joaquim no Caminho da Cabeça da Serra , e
descerá por esta athé o marco de Francisco Vidal e
dahi rumo direito onde se acha hum marco infincado

na beira da Roça de joão Manoel e dahi rumo direito


onde principiou . Sua extensão hé de dose tarefas , pouco
mais ou menos . Capella de N. Senhora do Patrocinio
8 de Junho de 1857. -A rogo de Maria de Sant'Anna ,
Joaquim José dos Santos Carregoza.
NOTA- Foi-me apresentado pelo possuidor o pre
sente exemplar que registrei com o numero quarenta e
cinco , recebendo mil reis .
Capeila do Patrocinio , 8 de Junho de 1857.— O
Vigario, Caetano Dias da Silva
N. 46 - O abaixo assignado em cumprimento a Lei ,
vem registrar hum quinhão de terras, que possue no
DA BAHIA COM SERGIPE 461

logar denominado Queimada , nesta Freguesia de N. S.


do Bom Conselho , por herança que teve do finado seu
pae José Luiz , não podendo porem fixar a proporção do
terreno por ser de hereos e se achar indiviso .
Capella N. S. do Patrocinio , 8 de Junho de 1857 .
A rogo de Maria de Sant'Anna, João Rodrigues de
Andrade.
NOTA- Foi -me apresentado pelo possuidor o pre
sente exemplar que registrei com o numero quarenta e
seis , recebendo oito centos reis .
Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857. -O Vi
gario, Caetano Dias da Silva.
N. 47-O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar, como tutora de seus filhos , huma
sorte de terras que possue no logar denominado Roça de
Dentro , cuja demarcação hé a seguinte: Principia no
Marco de Francisco Vieira , estrada acima que vai para
o Romão, a sahir na estrada , na porteira de Ezequiel ,
subirá estrada acima até topar com as terras de Angelo
dos Reis , dahi extremando com este athé as extremas
do fallecido Francisco , dividindo-se com este thé o marco
onde principiou . Sua extensão hé meio quarto de legoa
pouco mais ou menos .
Malhada Vermelha, 8 de Junho de1857 .- A rogo
de Maria Alves de Souza , Vicente Sabino dos Santos.
NOTA- Foi- me apresentado o exemplar que regis
trei sob o numero quarenta e sete , recebendo mil reis .
Capella do Patrocinio 8 de Junho de 1857. -0 Vi
gario, Caetano Dias da Silva.
N. 48-João Francisco de Almeida , possue huma
sorte de terras nas mattas de Simão Dias , no logar
denominado Serra , com as demarcações seguintes : Prin
462 LIMITES

cipiará da parte do Poço do Bixo Grande em huma

Gamelleira, subirá Rio acima athé confrontar com o


cemiterio, onde se achar huma Brauna e dahi cortará
rumo direito a Ladeira do Bixo na estrada que vae das
mattas para Geremoabo descerá Estrada abaixo até a
Cruz do finado Gregorio , no logar chamado Capivara ,
dahi cortará rumo direito em procura do Vasa-barris no
Boqueirão do Mulungú , e dahi rumo direito onde prin
cipiou , nesta Freguesia do Bom Conselho e as quer regis
trar, na conformidade do Capitulo 9° .do Decreto n . 1328
de 30 de Janeiro de 1854 , Serra 12 de Abril de
1857.-João Franco . de Almeida .

NOTA-- Foi-me aprsentado pelo possuidor , o pre


sente exemplar , que registrei com o numero quarenta e
oito, recebendo mil e quatrocentos .

Capella do Patrocinio , 8 de Junho de 1857. - O Vi


gario , Caetano Dias da Silva.

N. 49-Oabaixo assignado em cumprimento a Lei ,


vem registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Cotia, nesta Freguesia de N. Senhora
do Bom Conselho , por compra que fez ao fallecido José
Antonio de Menezes , cuja demarcação é a seguinte : Prin
cipia de hum marco de Alexandre Ferreira subindo
pelo Caminho da Povoação de N. Senhora do Patroci
nio , té o pé de um Itapicurú dahi procurará o oitão da
casa de Serafim e dahi o Cayçá , serão humas cem tarefas ,
pouco mais ou menos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho


de 1857.-Arogo de Eufemia Francisca de Jesus ,
ManoelJoaquim de Oliveira

NOTA- Foi-me apresentada pela possuidora acima


DA BAHIA COM SERGIPE 463

o exemplar que registrei sob o numero quarenta e nove,


recebendo mil tresentos e oitenta .
Capella do Patrocinio , 9 de Junho de 1857. -O Vi
gario, Caetano Dias da Silva.
N. 50-0 abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar hum pedaço de terras que possue no
logar denominado Capivara , nesta Freguesia de N. Se
nhora do Bom Conselho, por compra que fez a José das
Neves Salustiano, cuja demarcação hé a seguinte: Prin
cipia de hum marco de pedra fincado que tem abaixo
da casa do finado Maximiano Pereira , dahi rumo direito
para o sul thé um caminho que tem onde encontra com
terras de Serafim Pereira , e por este caminho direito
dividindo-se com terras do dito Serafim a passar na

porta do finado Maximiano Pereira thé o marco de


pedra onde principiou . Sua extensão hé de vinte tarefas
pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho
de 1857. -Mauricio José de Carvalho.
NOTA- Foi - me entregue o presente exemplar que
registrei com o numero cincoenta , recebendo mil e
tresentos .
Capella do Patrocinio , 9 de Junho de 1857.- O Vi
gario, Caetano Dias da Silva.
N. 51-0 abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar hum pedaço de terras que possue no logar
denominado Salgadinho , nesta Freguesia de N. Senho
ra do Bom Conselho , cuja demarcação hé a seguinte :
Principia de hum marco de Manoel Maranduba rumo di
reito para o Sul ,outro marco que tem no centro da
Roça de Pedro de Alcantara e dahi rumo direito para o
poente, té hum caminho que se acha e por elle seguirá
464 LIMITES

para o Norte a sahir na Estrada Real e por este o nas


cente té onde principiou . Sua extensão é de vinte tarefas ,
pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho
de 1857.-A rogo de José Gregorio dos Santos , João
Roiz de Andrade.

NOTA- Foi- me entregue o presente exemplar


que registrei com o numero cincoenta e hum , recebendo
.
mil e dusentos

Capella do Patrocinio , 9 de Junho de 1857 .-—O Vi


gario, Caetano Dias da Silva.

N. 52 -O abaixo assignado vem em cumprimento


da Lei , registrar hum pedaço de terras que possue no lo
gar denominado Taquara , nesta Freguesia de N. Sen
hora do Bom Conselho , por compra que fez a Manoel
Rolino da Conceição , cuja demarcação é a seguinte :
Principia no Canto da Roça de Manoel Dandú caminho
abaixo thé o Caminho de José Eleuterio, e dahi rumo
direito para o Norte , digo a hum páu a'Arco na porta
do dito José Eleuterio , e dahi rumo direito para Norte ,
thé onde se acha um marco fincado , dahi rumo direito
ao Poente a outro marco fincado no caminho que vem
das Contendas e por este thé onde principiou .
Sua extensão hé de vinte e cinco tarefas , pouco mais
ou menos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho


de 1857. - Por Sebastião Pereira dos Santos, José André
dos Santos

NOTA- Foi-me apresentado o presente exemplar


que registrei com o numero de cincoenta e dous receben
do mil e quatrocentos .
DA BAHIA COM SERGIPE 465

Capella do Patrocinio , 9 de Junho de 1857-0 Vi


gario , Caetano Dias da Silva.
N. 53 O abaixo assignado em cumprimento a Lei,
vem registrar hum quinhão de terras que possue no
logar denominado Taquara , nesta Freguezia de N. Sen
hora do Bom Conselho , por compra que fez a José Maria
de Andrade , não podendo fixar a proporção do terreno
por ser de hereos e acha- se em diviso .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho
de 1857. Manoel Francisco de Sant'Anna.
NOTA- Foi-me entregue o seguinte exemplar que
registrei com o numero cincoenta e tres , recebendo
sete centos e oitenta.

Capella de N. Senhora do Patrocinio, 9 de Junho


de 1857. -0 Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 54. -O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar hum quinhão de terras que possue
no logar denominado Riacho, nesta Freguesia de N.
Senhora do Bom Conselho, por compra que fez a Felix
Vieira de Andrade , não podendo porem fixar a propor
ção do terreno por ser de hereos e achar- se indiviso .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho
de 1857.-Manoel Francisco de Sant'Anna.
NOTA- Foi-me apresentado pelo possuidor acima
um exemplar, que registrei com o numero cincoenta e
e quatro, recebendo oito centos reis .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho
de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 55. O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar tres quinhões de terras que possue,
nos logares denominados Cavacos , no denominado
Quixaba e o outro no Curralinho, ambas por indivisos
LIMITES 59
466 LIMITES

com mais hereos nesta Freguesia de N. Senhora do


Bom Conselho .
Capella de N. Senhora do Patrocinio, 9 de Junho
de 1857. -A rogo de Antonio Manoel de Carvalho ,
Estansilau Perena de Carvalho.

NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o


presente exemplar que registrei com o numero cin
coenta e cinco, recebendo nove centos e oitenta.
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho
de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 56-0 abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar hum pedaço de terras que possue no
logar denominado Páu Preto , comprado a João Ma
noel , no valor de cento e dez mil reis , nesta Freguesia
de N. Senhora do Bom Conselho , cuja demarcação hé
a seguinte: Principia no canto da roça de Roque Fer
reira pela parte do Nascente , thé o marco do finado
meu pae e dahi marchará para o Poente subindo athé
outro marco da dita terra , dahi descerá para o Sul , ex
tremando com João de Deus , athé topar com o varão
do dito Roque , e dahi descerá varão abaixo voltando
para o Nascente athé o logar onde principiou . Sua ex
tensão hé de quinze tarefas , pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhors do Patrocinio, 9 de Junho
de 1857 .--Manoel Hipolito Rebello de Moraes.
NOTA- Foi- me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero cincoenta
e seis , recebendo mil e seiscentos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio, 9 de Junho
de 1857 .--O Vigario , Caetano Dias da Sitva.
N. 57. Tertuliano Garcia de Carvalho , possue
huma posse de terras, no logar denominado Antas.
DA BAHIA COM SERGIPE 467

nesta Freguesia de N. Senhora do Bom Conselho e as


quer registrar de conformidade com a Lei , Cap . 9
do Decreto n. 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Capella de N. Senhora do Patrocinio, 9 de Junho
de 1857. Tertuliano Garcia de Carvalho.

NOTA- Foi-me apresentado pelo possuidor acima


um exemplar, que registrei com o numero cincoenta e
sete, recebendo sete centos e oitenta reis.
Capella de N. Senhora do Patrocinio, 9 de Junho
de 1857. — O Vigario , Caetano Dias da Silva .
N. 58. O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Cayçá , nesta Freguesia de N. Senhora
do Bom Conselho , por compra que fez a José Marco
lino de Sant'Anna , cuja demarcação é a seguinte : Prin
cipia no Riacho Cayçá , dahi rumo direito ladeira acima
thé onde se acha outro marco, e dahi cortará pé do
Alto abaixo té onde se acha uma pedra no pé de um
páu d'Arco , extremando com Antonio Godinho , até
onde principiou. Sua extensão hé de dez tarefas , pouco
mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 9 de


Junho de 1857. --A rogo de José Joaquim de Sant'Anna ,
João Rodrigues de Andrade.
NOTA-- Foi-me apresentado pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero cin
coenta e oito, recebendo mil e dusentos .
Capella do Patrocinio , 9 de Junho de 1857. - O
Vigario, Caetano Dias da Silv.
N. 59— O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Capivara , nesta Freguesia de Nossa
468 LIMITES

Senhora do Bom Conselho , por compra que fez a Anto


nio Julião do Nascimento, cujas extremas são as seguin
tes: Principia de um marco de pedra fincado que per
tence a João Rodrigues , dahi para o Poente, Caminho
chamado da divisão , digo athé a lagoa da Capivara,
onde se acha outro marco , dahi pelo caminho chamado
da divisão , para o sul até onde se acha um marco e
dahi para o Nascente té outro marco e dali para o
Norte té onde principiou . Sua extensão hé de qua
renta tarefas pouco mais ou menos; assim como outro
no mesmo Sitio que terá seis tarefas pouco mais ou
menos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Julho


de 1858.-A rogo de Francisco Manuel de Souza ,
Vicente José de Paula.

NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor o presente


exemplar que registrei com o numero cincoenta e nove ,
recebendo mil e tresentos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho


de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.

N. 60 - O abaixo assignado vem em cumprimento


a Lei, registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Roça de Dentro, compradas a Ale
xandre Ferreira Dias, no valor de cento e cincoenta
mil reis , no termo desta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho , cuja demarcação são as seguintes :
Que hé entre seu Irmão Antonio José dos Santos e o
Martinho e Antonio José de Sant'Anna, Luiz Cosme
da Roza , e sua extensão hé de trinta tarefas , pouco
mais ou menos .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 8 de Junho


DA BAHIA COM SERGIPE 469

de 1857. A rogo de Maximiano José de Sant'Anna , José


André Rebello de Moraes.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero sessenta ,
recebendo mil réis.

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 9 de Junho


de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 61 - O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar hum pedaço de terras que possue no
logar denominado Capivara nesta Freguesia de N. Se
nhora do Bom Conselho, por compra que fez a José
Thimoteo de Almeida cuja demarcação hé a seguinte:
Principia de hum marco ficando no caminho do Olho
d'Agua do Chico Pereira dahi para o Poente té outro
marco que se acha , dahi rumo direito para o Sul a sahir
no caminho da casa do José Vieira onde se acha o
outro marco pelo caminho té onde principiou . Sua exten
são é de seis tarefas pouco mais ou menos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio 10 de
Junho de 1857. —A rogo de João Bento Pereira, João
Rodrigues de Andrade.
NOTA- Foi- me entregue pelo possuidor o pre
sente exemplar , que registrei com o numero sessenta e

um , recebendo mil e cem .


Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 10 de
Junho de 1857. - O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 62 -- O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Matoso , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho, por compra que fez ao
Major José Antonio de Menezes e D. Anna Maria de
Jesus e estas já se achão inventariadas , cuja demar
470 LIMITES
*****

cação é a seguinte: Principia do marco da Estrada,


subirá athé o caminho da divisão e seguirá por este
té outro marco , e dahi rumo direito ao marco da porta
de Joaquim e dahi rumo direito té onde principiou .
Sua extensão , pouco mais ou menos é de dezesseis
tarefas .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio 9 de

Junho de 1857. -A rogo de Joaquina Maria de Jesus ,


João Tertuliano dos Santos » .
NOTA- Foi- me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar, que registrei com o numero sessenta
e dous , recebendo mil e dusentos .
Capella de N. S. do Bom Conselho , 9 de Junho de
1857.-O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 63— O abaixo assignado em cumprimento a Lei ,
vei registrar un pedaço de terras que possue no logar
denominado Curralinho Velho, nesta Freguesia de
Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que fez

a Gonçalo Pinto de Resende , cuja demarcação é a se


guinte: Principia da passagem da Barroca e dahi Rio
acima até a ponta do belhão de cima, subindo fora na
Estrada, dahi achará um Marco de Pedra e dahi para
onde principiou; assim como um outro pedaço menor,
no mesmo sitio , com as demarcações seguintes : Principia
da mesma passagem Rio abaixo até a passagem do Cur
ralinho Velho ; sua extensão é de pouco mais ou
menos, um quarto de legua .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 10 de Junho
de 1857. -ManoelJosé do Nascimento.
NOTA- Foi -me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero ses
senta e tres, recebendo mil e dusentos .
DA BAHIA COM SERGIPE 471

Capella de N. Senhora do Patrocinio, 10 de Junho


de 1857. -O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 64. O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar uns pedacinhos de terras que possue
no logar denominado Taquara, nesta Freguesia de
Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que

fez a José Martins de Sant'Anna , ou José de Sant'Anna


e sua demarcação é a seguinte: Principia na Santa Cruz
do velho Dandú e dahi pelo caminho fora até a por
teira das Contendas e dahi para o Poente athé Sahir na
Estrada que vae do Rio para o Dandú , e descerá por
este abaixo até onde principiou . Outro pedaço que
comprou a José de Souza , e sua demarcação é a seguinte :
Principiará na Porteira do finado Salustiano Ribeiro e
dahi descerá Caminho abaixo para o Sul até sahir na
estrada da Malhada Vermelha e descerá por esta abaixo
até onde principiou . Sua extensão é de oitenta tarefas
pouco mais ou menos; assim tambem um quinhão que
comprou a Antonio Bernardino, no Rio Vasa-barris ,
no logar denominado Rio Fundo .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 10 de
Junho de 1857. - José André dos Santos.
NOTA- Foi- me apresentado pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero ses
senta e quatro, recebendo mil e oito centos.
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 10 de
Junho de 1857 .--O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 65- Lucia Maria de Jesus , possue na Fasenda
denominada Lagoa, uma legua de terras em quadro no
terreno e Catingas da Freguesia de N. Senhora do
Bom Conselho, digo da Freguesia Nova, o qual terreno
houve de dote de seu pae Sebastião da Fonseca Dorea,
472 LIWITES

e este de compra a tres herdeiros de Pedro Celestino da


Fonseca de que tem titulos e em cumprimento dos Ar
tigos 9º e 100 do Decreto numero 1318 de 30 de Ja
neiro de 1854 , vem registrar o mencionado terreno .
Simão Dias 12 de Junho de 1857 .
N. 66. -O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Correntes , nesta Freguesia de N.
Senhora do Bom Conselho , por compra que fez ao
Doutor Duarte Marques de Araujo Gonçalves cuja de
marcação é a seguinte: Principia na encrusilhada do
finado Luiz Felix e dahi subirá Estrada acima té a La

deira do Feijão e dahi baixa acima, repartindo a baixa


com o finado José Francisco e dahi subirá té confrontar
o Athanasio e dahi voltará Caminho direito té onde

principiou.
Sua extensão é de 10 tarefas pouco mais ou menos .
-Arogo de Ignacio Felix de Oliveira, Mauricio José
de Carvalho.

NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor com o


o presente exemplar que registrei com o numero ses
senta e seis, recebendo mil e dusentos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 11 de Junho
de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 67. O abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Raiz , compradas a João Francisco ,
no valor de setenta mil reis , nesta Freguesia de N. Se
nhora do Bom Conselho , cuja demarcação é a seguinte:
Principia no pé do Mandacarú secco , e dahi ao do
pé da Barriguda , dahi rumo direito a encontrar com
terras do Sur. José Joaquim , subirá extremando
DA BAHIA COM SERGIPE 473

com o mesmo até a queimada da Maçaranduba , onde


se acha um marco fincado emparelhado com o Tri
gueiro rumo direito ao marco do Cordão , onde en
contra com terras do Snr. Nicolau Victor , e dahi
subirá dividindo com o mesmo até Mandacarú Secco ,

onde principiou . Sua extensão será sessenta braças,


pouco mais ou menos .
Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho ,
12 de Agosto de 1857. —Francisco Borges da Costa.
NOTA- Foi- me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero ses
senta e sete, recebendo do possuidor mil e quinhentos .
Capella de Nossa Senhora do Bom Conselho , 12 de
Agosto de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 68 -O abaixo assignado em cumprimento a Lei,
vem registrar as terras denominadas Tubarão no terreno
desta Freguesia de N. Senhora do Bom Conselho , cujas
terras as possue por compra que fez ao Capitão Antonio
de Cerqueira Dantas como Procurador dos Fidalgos o
Visconde Ignacio Pires de Carvalho e Albuquerque e
sua mulher D. Leonor Augusta da Assumpção e Ara
gão no valor de quatrocentos mil reis . Sendo suas de
marcações pelos limites e logares por onde de an
tiguidade se erigiu e dividiu a dita Fazenda , com as de
mais circumstantes . Sua extensão será de uma legua
pouco mais ou menos .
Freguesia do Bom Conselho 12 de Junho de 1857.
Por Procurador de Pedro de Alcantara Teixeira ,
João Baptista dos Santos.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero sessenta
e oito, recebendo do possuidor mil e quinhentos reis .
LIMITES 60
474 LIMITES

Freguesia do Bom Conselho , 12 de Junho de 1857 .


-O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 69 - O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar uma sorte de terras denominadas Ca
baceiras , no termo desta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho , cuja sorte de terras a possue por
compra que fez a Egipciaca das Flores , no valor de se
tenta mil reis, e sua demarcação é a seguinte : Principia
no Alto do Nunes dahi cortará rumo direito ao Riacho
da Gonçala, e dahi descerá rumo direito Riacho abaixo
até o caminho do José de Souza , e por este acima em
procura do Norte , até onde se acha um marco infincado ,
de pedra e dahi subirá dividindo com terras de Silvano
a encontrar com terras do mesmo comprador. Sua ex
tensão é de um quarto de legua pouco mais ou menos .
Freguesia de Bom Conselho , 7 de Janeiro de 1857.
-A rogo de José Eleuterio do Nascimento , João Ba
ptista dos Santos.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero sessenta
e nove, recebendo mil e seis centos .
Freguesia de Bom Conselho , 13 de Junho de 1857 .
-O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 70-O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um quinhão de terras no logar deno
minado Passo dos Cavallos , no termo desta Freguesia
do Bom Conselho , cujo quinhão possuiu por compra
que fez a Bernarda Maria de Jesus no valor de quarenta
mil reis , não podendo fixar a proporção por ser de
hereos e achar-se ainda indivisa . -Por Ignez Virgem
Martyr, João Baptista dos Santos .
NOTA- Foi-me entregue pela possuidora o pre
DA BAHIA COM SERGIPE 475

sente exemplar que registrei , com o numero setenta , re


cebendo da possuidora setecentos reis .
Freguesia do Bom Conselho , 13 de Junho de 1857 .
-O Vigario , Caetano Dias da Silva
N. 71 - O abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei, registrar um quinhão de terras que possue no
logar denominado Sitio , não podendo fixar a proporção
por ser de hereos e achar-se indiviso .
Freguesia de N. Senhora do Bom Conselho, 13 de
Junho de 1857. -Manoel José do Nascimento.
NOTA.- Foi-me apresentado pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero
setenta e um , recebendo setecentos e oitenta .
Capella do Patrocinio, 12 de Junho de 1857. — O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 72. ----- O abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Taboa de Baixo, por compra que
fez a José Baptista da Lapa , nesta Freguezia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , cuja demarcação é a se
guinte: Principia no Rio Vasabarris e extremando com
terras do major Serafim , té a Estrada da Serra Negra e
seguirá estrada acima a encontrar com terras dos her
deiros de David de Britto e dahi tornará a virar Estrada
acima extremando-se com os ditos herdeiros , até chegar
no Rio e descerá Rio abaixo até onde principiou.
Sua extensão é de dezesseis tarefas mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio, 10 de Junho
de 1857.- ManoelJoaquim de Sant'Anna.
NOTA. Foi-me entregue pelo possuidor acima
.
o exemplar , que registrei com o numero setenta e dous ,
recebendo mil e duzentos ,
476 LIMITES

Capella do Patrocinio , 12 de Junho de 1857. -0


Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 73. - O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar uma parte que tem nas terras do
Sobrado, termo desta Freguezia de Nossa Senhora do
Bom Conselho cuja porção de terras possue por herança
que lhe coube por morte de seu pae Angelo Custodio
dos Reis , sendo esta porção no logar denominado
Sitios Novos e a Escriptura do Sobrado que compre
hende a porção de terras do possuidor abaixo sendo
comprada a D. Ignacia de Araujo Pereira , viuva do
Coronel Garcia de Avila Pereira, comprehendendo as
demarcações seguintes : Parte de cima da Ladeira das
Pedras buscando o Nascente , partindo com terras de
Roque Gonçalves da Matta , que tambem foram della
vendedora, por serra abaixo até topar na ponta da Serra
e o Monte Negro , descendo pela Serra abaixo até parar
na altura de legua , seguidas por terra e buscará outras
nas arquibadas , onde as aguas começarem a verter
para o Rio Quingome e seguirá sempre por onde se
julgar verterem as aguas para o dito Rio Quingome
até chegar na volta do Rio Fundo , da queimada
chamado Mandioca Brava , e dahi atravessará o Rio e
seguirá no caminho do Norte até completar tres leguas
que principiarão da dita travessa para cima , e descerá a
subdita Ladeira das Pedras e buscará a Moita Redonda,
partindo com terras do dito Roque Conçalves, ficando a
dita Moita Redonda para a parte da Mão Direita, até
chegar outras leguas que principiarão donde se atraves
sar o dito Rio Quingome e dahi buscará rumo direito
onde encher outras tres leguas, cuja porção de terras
assim comportada pertencem a muitos outros herdeiros .
DA BAHIA COM SERGIPE 477
---

Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho , 9


de Janeiro de 1857. -A rogo de José de Sant'Anna ,
João Baptista dos Santos.
NOTA. - Sendo- me apresentados pelo possuidor
José de Sant'Aana os dous exemplares de que trata o
art . 101 da Lei de 18 de Setembro de 1850 para con
feril- os e achando- os iguaes e em regra fiz esta nota
para constar de sua apresentação e registrei a folha do
livro primario, recebendo do possuidor tres mil e
seiscentos e oitenta com o presente numero de lettras
que contem num dos exemplares , segundo a citada Lei .
Freguezia de N. Senhora do Bom Conselho , 12
de Junho de 1857. - O Vigario , Caetano Dias da
Silva.
N. 74. -O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar hum pedaço de terras que possue no
logar chamado Macambira nesta Freguezia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , por compra que fez a
Manoel Pereira, cuja demarcação é a seguinte : Prin
cipia da Serra da Carratinga ao Marco do vaquejador,
e dahi subirá rumo acima té encontrar um marco que
se acha no Caminho do Passo , e dali Serra abaixo té
onde principiou . Sua extensão é de meia legua, pouco
mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 11 de


Junho de 1857. — A rogo de Joaquim Claudio , Manoel
José, João Rodrigues de Andrade.
NOTA - Foi-me entregue pelo possuidor acima o
exemplar que registrei , recebendo mil e cem.
Capella do Patrocinio , 12 de Junho de 1857. — O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 75 -O abaixo assignado vem em cumprimento
478 LIMITES

da Lei, registrar um pedaço de terras que possue no


logar denominado Taquara de Cima, nesta Freguesia
de Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que

fez a Joaquim José de Sant'Anna , cujas demarcações


são as seguintes : Principia da parte de Joaquim Claudio
rumo direito a Santa Cruz do mesmo Joaquim Claudio
e dahi subirá sempre da Cabeça da Serra , e dahi rumo
direito por onde principiou . Sua extensão é de cinco
tarefas pouco mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 11 de


Junho de 1857.-A rogo de Francisco Vidal de Ne
greiros, Vicente José de Paula.
N. 76. - 0 abaixo assignado vem em cumpri
mento a Lei, registrar um pedaço de terras que possue
no logar denominado Taquara, nesta Freguesia de
Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que fez
a Valentim Gomes Ribeiro, cuja demarcação é a se
guinte: Principia de um marco que tem na porta de
José Pedro e dahi rumo direito para o Norte té onde se
acha outro marco e dahi subirá estrada acima para o Po
ente té confrontar com a Estrada que vae para a casa
de José Pedro e seguirá por esta té onde principiou . Sua
extensão é de cincoenta tarefas , pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 12 de Junho
de 1857. - A rogo de João da Cruz , João Rodrigues de
Andrade.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero setenta
e seis , recebendo mil e seiscentos .
Capella do Patrocinio, 12 de Junho de 1857 - O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 77-0 abaixo assignado em cumprimento a
DA BAHIA COM SERGIPE 479

Lei, vem registrar um pedaço de terras que possue no


logar denominado Taquara , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , por compra que fez a Joa
quim José de Sant'Anna, cuja demarcação é a seguinte :
Principia no marco fincado no caminho da casa de José
Victorino por este acima para o Norte a subir no ca
minho dos Tres Buracos , por este acima para o Poente
athé outro marco que se acha dahi rumo direito para o
Sul athé outro marco que se acha dahi para o Nascente
thé onde principiou . Sua extensão é de dez tarefas ,
mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 11 de


Junho de 1857.- A rogo de Francisco José de Oliveira ,
João Francisco de Andrade.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar, que registrei com o numero setenta
e sete, recebendo mil e dusentos .
Capella do Patrocinio , 12 de Junho de 1857 .
N. 78 O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Sabão , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , que houve por herança do
finado José Euzebio de Souza Pereira cuja demarcação é
a seguinte: Principia de um marco que tem encostado
a Casa de José Felix e subirá estrada acima athé um
marco que tem no topo do Itapicurú e dahi descerá pela
parte do Sul athé outro marco fincado , e dahi rumo
direito dividindo com Martins Ferreira athé outro .
marco e dahi voltará extremando com José Felix athé
onde principiou .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio, 11 de
Junho de 1857.-Felisberto José de Carvalho.
480 LIMITES

NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o


presente exemplar que registrei com o numero setenta
e oito, recebendo mil e dusentos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. —O Vigario , Caetano Dias da Silva .

N. 79-0 abaixo assignado em cumprimento a


Lei , vem registrar um pedaço de terras mixtas com
João Carlos de Almeida, no logar denominado Capi
vara, nesta Freguesia de Nossa Senhora do Bom Con
selho, por compra que fez a João Themoteo de Al
meida, no logar denominado Capivara . Sua extensão
é de tres tarefas , pouco mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 11 de


Junho de 1857. Manoel Fernando Netto .

NOTA - Foi- me apresentado pelo possuidor acima


o presente exemplar, que registrei com o numero se
tenta e nove, recebendo oitocentos reis .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de


Junho de 1857. —O Vigario , Caetano Dias da Silva.

N. 80- O abaixo assignado em cumprimento a


Lei , vem registrar um pedaço de terras no logar deno
minado Feijão, nesta Freguesia de Nossa Senhora do
Bom Conselho, por compra que fez a Ignacio Felix de
Oliveira, çuja demarcação é a seguinte: Principia da
Cachoeira da Laváda Fernandes, onde se acha um
marco de pedra fincado , dahi rumo direito ao Nascente ,
athé o pé de Pau Monzê, a salir na estrada de Gere
moabo, onde se acha um Marco de Pedra fincado , e dahi
subirá estrada acima athé encontrar um marco de pedra
fincado a encontrar com terras de Marcellino José de
Almeida, e dahi extremando com terras do dito Mar
DA BAHIA COM SERGIPE 481

cellino té onde principiou . Sua extrema é de seis tarefas


pouco mais ou menos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 11 de
Junho de 1857. — A rogo de Zacharias José de Menezes ,
Felisberto José de Carvalho.
NOTA---- Foi-me entregue pelo possuidor acima, o
presente exemplar que registrei com o numero oitenta,
recebendo mil e quinhentos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 12 de Junho
de 1857. -O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 81-0 abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Capivara ,
nesta Freguesia de Nossa Se
nhora do Bom Conselho, por compra que fez a José
Gregorio cuja demarcação é a seguinte: Principia
no marco do Páu Preto , rumo direito ao Poente té o
marco de pedra fincado na estrada da Taquara e dahi es
trada direita para o Sul té outro marco de pedra fincado,
onde divide com terras de Felippe Nery e dahi rumo
direito ao Nascente té um marco de pedra fincado que
tem abaixo da casa do finado Maximiano Pereira, et
dahi rumo direito para o Norte té onde principiou . Sua
extensão é de quarenta tarefas pouco mais ou menos ;
assim como outro no logar denominado Vasabarris , por
compra que fez a João José de Sant'Anna, e não podendo
fixar a proporção do terreno por ser de hereos e achar
se indiviso .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de


Junho de 1857. — Thomaz José Aquino.
NOTA- Foi- me entregue o presente exemplar que
registrei com o numero oitenta e um, recebendo mil e
oitocentos .
LIIMTES 61
482 LIMITES

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de


Junho de 1857. —O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 82 -O abaixo assignado vem em cumprimento
a Ley, registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Matozo , terreno da Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho, por compra que fez ao finado
José Francisco do Nascimento , cuja demarcação é a
seguinte: Principia de um marco de pedra que se acha
fincado da parte de baixo, rumo direito a sahir noutro
Caminho , onde se acha outro marco de pedra fincado e
por este caminho acima athé outro caminho e dahi por
este afora para o Norte té outro caminho e dali por
este caminho a subir na estrada de frente da Lagoa do
Matozo e descerá estrada abaixo té onde principiou .
Sua extensão é de trinta e duas tarefas , pouco mais ou
menos ; possue nesta mesma Freguesia outro pedaço de
terras no logar chamado Cavaquinho por compra que
fez a Julião Antonio do Nascimento ; principia no topo
do Pau Ferro rumo direito para o Sul com duzentas
braças onde se acha um marco fincado e dahi para o
Norte rumo direito para o Nascente té o topo do Pau
Ferro onde principiou. Sua extensão é de trinta e duas
tarefas, pouco mais ou menos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. -João Paulo de Serqueira.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor o presente
exemplar que registrei , recebendo dous mil e cem , e
com o numero oitenta e dous .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio, 12 de


Junho de 1857. - O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 83-0 abaixo assignado em cumprimento a
Lei vem registrar um pedaço de terras que possue no
DA BAHIA COM SERGIPE 483

logar denominado Quixaba , nesta Freguesia de Nossa


Senhora do Bom Conselho, por compra que fez a João
Felix de Souza não podendo porem fixar a proporção
do terreno por ser de hereos e achar- se ainda indiviso ;
assim como outro no mesmo logar, por compra que fez
a Manoel Isidorio da Conceição não podendo tambem
fixar a proporção do terreno por ser de hereos e achar- se
indiviso .

Capella de Nossa Senhora, 12 de Junho de 1857 .


- O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 84-0 abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei, registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Taquara , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho , que comprou a José Pedro
de Sant'Anna, cuja extrema é a seguinte : Principia do
marco que se acha fincado na estrada que vai para a ca
beça da Serra, subirá estrada acima té outro marco , e
dahi cortará para o Norte té onde tem outro marco , e
dahi cortará para o Norte té onde tem outro marco ex
tremando-se com Vivaldo té outro marco do dito
Senhor, subindo ao outro marco voltará ao Nascente té
onde principiou. Sua extensão é de vinte tarefas, pouco
mais ou menos; assim como um logar denominado Va
sabarris cujas demarcações são as seguintes : Principia
do Marco que se ach na beira do Rio , rumo direito
para o Norte a saber no Caminho que vai para o Carra
pato , salindo no caminho do Serrote, caminho abaixo
a encontrar com Luiz Pereira e cortará pelo Rio extre
mando com o dito Senhor descerá Rio abaixo té onde

principiou . Extensão de vinte tarefas pouco mais ou


menos, como bem tres quinhões de terra na Umburana,
e hum na Passagem, um que me coube de herança da
484 LIMITES

finada minha Maria Caetana e os outros a Nicacia Maria

e a João Baptista e Alexandre Ferreira , e por não


poder fixar a proporção do terreno por ser de hereos e
achar-se indivisa , nesta Freguesia de Nossa Senhora do
Bom Conselho .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 11 de Junho
de 1857 - José Correia de Brito.

NOTA Foi-me apresentado pelo possuidor acima


o presente exemplar que registrei com o numero oi
tenta e quatro , recebendo dous mil e cem.
Capella do Patrocinio, 12 de Junho de 1857. — O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 85 O abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Caldeirão , comprada a José Maria do
Sacramento , no valor de cento e quarenta mil reis, no
termo desta Freguesia de N. Senhora do Bom Conselho ,
cuja demarcação é a seguinte: Principia do Canto da
roça do finado Bento José onde tem um marco fincado
marchará para o Norte pela estrada de Pernambuco
té outro marco ao pé da furna , e dahi rumo direito ao
Nascente, extremando com Joaquim de Sant'Anna té
fim das terras Sant'Anna e dahi seguirá com outras
do mesmo vendedor té topar com terras do finado
Pedro Rodrigues e com estas marchará para o sul té
topar outro marco e dahi seguirá para o Poente divi
dindo com terras de Martinho Bispo e do dito finado
Bento té findar sua extensão que é de oitenta tarefas ,
pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio 12 de Junho
de 1857. Por Antonio do Espirito- Santo, André Bispo .
NOTA- Foi-me apresentado pelo possuidor acima
DA BAHIA COM SERGIPE 485

um exemplar que registrei com o numero oitenta e


cinco , recebendo mil e oitocentos .
Capella do Patrocinio , 12 de Junho de 1857. - O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 86 - O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar umas terras nesta Freguesia de N.
Senhora do Bom Conselho, denominadas Mandioca
Brava, Possuidores Francisco do Nascimento Subambo
e sua sogra Maria Correa de Sandes sendo sua extensão
uma meia legua, mais ou menos . Francisco José do
Nascimento Subambo e sua sogra Maria Correa de
Sandes abaixo assignados vem em cumprimento a Lei ,
registrar nesta Freguesia de N. Senhora do Bom Con
selho , no logar denominado Mandioca Brava cujas
divisões são as seguintes : No Rio Vasa-barris pelo norte;
principia da Baira do Salgado até o Riacho do Tigre
dividindo -se nos fundos com terras do Antonio da

Silva Vieira e o Capitam Joaquim José de Carvalho .


Mandioca Brava, 12 de Junho de 1857. - Por minha
sogra Maria Correa de Sandes , Francisco José do Nasci
mento Subambo.
NOTA Foi-me apresentado pelo possuidor acima
.

o presente exemplar, que registrei com o numero oi


tenta e seis , r.cebendo mil quatrocentos e oitenta .
Capella do Patrocinio, 12 de Junho de 1857. - O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 87 -O abaixo assignado em cumprimento a
Lei vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Cotia , nesta Freguesia de Nossa Sen
hora do Bom Conselho, por compra que fez a Ignacio
Felix de Carvalho , cujas demarcações são as seguintes :
Principia nun marco que se acha fincado no caminho do
486 LIMITES

Barracão e dahi até abaixo do Olho d'Agua , dahi su


bindo até o marco de Vicente Ferreira que se acha
fincado na dita baixa e por este subirá acima dividindo
se, com as mesmas até sahir no can.inho onde se acha

um marco fincado , dahi voltará caminho fora thé chegar


a estrada do Barracão , té onde principiou . Sua extensão
hé de desoito tarefas .

Capella de N. Senhora do Patrocinio , 12 de Junho


de 1857 .-- Lourenço Mendes de Menezes.
NOTA-Foi-me apresentado pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero oitenta
e sete, recebendo mil e tresentos .
Capella do Patrocinio , 12 de Junho de 1857. —O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 88-O abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar dous pedaços de terras mixtas que
possue no logar denominado Cavaquinho, compradas
a Semeão Correa e outro a Antonio Curvello , no
terreno desta Freguesia de Nossa Senhora do Bom
Conselho com as demarcações seguintes : Pega do Pau
do Forno do mesmo dono e segue pelo caminho da
Lagoa para o Sul , té onde está o marco infincado e
dahi para o Nascente onde tem outro marco a șahir no
caminho e seguirá pelo que vae para a casa de Ignacio
Caetano , direito ao Norte té encontrar terras deste,
marchará com estas para o Poente té encontrar terras
do dito Simeão, marchará para o sul caminho direito.
até findar. Sua extensão será cinco tarefas , pouco mais
ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 12 de Junho
de 1857. -Joaquim José de Oliveira.
NOTA. -Foi-me entregue pelo possuidor acima o
DA BAHIA COM SERGIPE 487

presente exemplar que registrei sob o numero citenta e


oito , recebendo mil e tresentos .
Capella do Patrocinio 12 de Junho , de 1857. - O
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 89. O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras no logar deno
minado Arara , comprada a Francisco de Paula Vieira,
no valor de sessenta mil reis, no terreno desta Fre
guesia de Nossa Senhora do Bom Conselho, cujas de
marcações são as seguintes : Principia na porteira de
Antonio Godinho, marchando para o Poente até ex
tremar com José Marcellino athé o marco de José
Joaquim e dahi será carreira a baixo athé a Estrada e
dahi subirá para o Norte té onde principiou . Sua
extensão é de desoito tarefas pouco mais ou menos .
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 10 de Junho
de 1857. —A rogo de Joaquim Manoel do Nascimento ,
Manoel Hypolito de Moraes.
NOTA. - Foi-me entregue pelo possuidor o pre
sente exemplar que registrei com o numero oitenta e
nove, recebendo mil e tresentos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. - O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 90 —O abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Marmelada, comprada a João Chrisostomo ,
no valor de trinta mil reis , no termo desta Freguesia
de Nossa Senhora do Bom Conselho , cujas demarcações
são as seguintes : Principia pela parte do Sul onde findão
as terras da Gitirana , no primeiro Umbuzeiro da Ma
lhada do Umbú , direito ao Poente onde encontrar com
terras de Santa Eugenia, ao Nascente onde en
488 LIMITES

contrar com terras de Sant'Anna , dahi direito para o


Norte , e dali ainda onde encontrar com terras de
Francisco Xavier, marchará para o Poente onde encon
trar com terras de Santa Eugenia . Sua extensão é de
um quarto de legea , pouco mais ou menos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio, 10 de
Junho de 1857 .--A rogo de João Manoel do Nascimento ,
-Manoel Hypolito Rebello de Moraes.
NOTA. - Foi-me entregue pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com O numero 110
venta, recebendo mil e seis centos .
Capella do Patrocinio , 12 de Junho de 1857. - 0
Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 91-0 abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei , registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Cutia, compradas a José Marcelino
no valor de cincoenta e oito mil reis , no termo desta
Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho , cujas
demarcações são as seguintes: Principia no Marco do
Riacho do Caixão e dahi corta rumo direito athé aonde
se achar o marco do Pau d'Arco , extremando com João
Manoel até o marco de Itapicurú e dahi descerá extre
mando com Tintim até o Riacho acima athé onde
principiou.
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 11 de
Junho de 1857. —A rogo de José Policarpo do Nasci
mento, Manoel Hypolito Rebello de Moraes.
NOTA . —Foi -me entregue , pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero noventa
e um , recebendo mil e quatrocentos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. —O Vigario , Caetano D. da Silva.
DA BAHIA COM SERGIPE 489

N. 92. O abaixo assignado em cumprimento a


Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Capivara , nesta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho, por compra que fez a An
tonio Ferreira, cuja demarcação é a seguinte: Principia
de um marco fincado no Caminho de João dos Reis e
dahi para o Sul té outro marco que se acha , e dahi rumo
direito para o Poente té outro marco que se acha , e dahi
para o Nascente té outro marco que se acha e dahi té
onde principiou . Sua extensão é de dez tarefas pouco
mais ou menos ; assim como outro no mesmo sitio por
compra que fez a Pedro Barretto que deixará de ex
tensão quatro tarefas pouco mais ou menos.
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio, 10 de
Junho de 1857. -A rogo de Ponciano José de Cer
queira-João Rodrigues de Andrade.
NOTA - Foi -me entregue pelo possuidor acima
apresentado o exemplar que registrei com o numero
noventa e dous , recebendo mil e dusentos e oitenta.
Capella de N. Senhora do Patrocinio , 12 de Junho
de 1857. - O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 93-0 abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado, nesta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho , cujas demarcações são as seguintes :
Principia em um marco que se acha fincado na porta de
Joanna do finado Bonifacio e dahi descerá estrada a
baixo o de Juáté onde se acha outro marco fincado

dividindo -se com Paulino José da Rosa e Manoel José


té onde se acha outro marco fincado e dahi subirá es
trada acima té onde principiou. Sua extensão é de ses
senta tarefas pouco mais ou menos ; assim tambem ou
LIMITES 62
490 LIMITES
--- ༼བ

tro pedaço de terras que possue no logar denominado


Roxão, por compra que fez ao finado Antonio Lourenço
no mesmo terreno desta Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Conselho cuja demarcação é a seguinte: Prin
cipia na estrada que entra para a Roça de Dentro onde
se acha um marco infincado e dahi subirá rumo direito
se dividindo com Manoel José Telles , até sahir fora na
estrada real onde se acha outro marco infincado , descerá
estrada abaixo té onde principiou . Sua extensão é de
vinte e tres tarefas pouco mais ou menos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857.-Francisco José Grangura.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o
presente exemplar que registrei com o numero noventa
e tres , recebendo mil duzentos e cincoenta e sete reis .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. —O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 94-0 abaixo assignado em cumprimento
a Lei , vem registrar um pedaço de terras no logar de
nominado Genipapo , compradas a Manoel Joaquim de
Sant'Anna nesta Freguesia de Nossa Senhora do Bom
Conselho, cujas demarcações são as seguintes : Prin
cipia de um marco que se acha fincado e dahi subirá
se dividindo com João Dias , até encontrar com outro
marco e dahi subirá por um vaqueijador ao Poente té
encontrar com Manoel José e dahi para o Norte té en
contrar com um Caminho Velho e descerá por elle
abaixo té onde principiou . Sua extensão é de dez ta
refas pouco mais ou menos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. -Domingos Francisco Lima.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor o pre
DA BAHIA COM SERGIPE 491

sente exemplar que registrei com o numero noventa e


quatro, recebendo do possuidor mil e dusentos .

Capella de Nossa Senhosa do Patrocinio, 12 de


Junho de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.

N. 95 - O abaixo assignado vem em cumprimento


a Lei , registrar um pedaço de terras que possue no logar
denominado Genipapo, nesta Freguesia de Nossa Se
nhora do Bom Conselho , por compra que fez a Manoel
Joaquim de Sant'Anna cuja extrema é a seguinte:
Principia de um marco na porteira de Domingos Fran
cisco e dahi subirá ao Poente dividindo -se com o mesmo
Sur té encontrar com Manoel José de Moraes e dahi
estrada abaixo até a Santa Cruz e dahi pelo Caminho
até encontrar com João Pires Ferreira e dali vai se di
vidindo com o dito até onde principiou . Sua extensão é
de doze tarefas, pouco mais ou menos.

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio, 14 de


Junho de 1857. A rogo de Manoel José do Nascimento
-Galdino Custodio de Carvalho .

NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima o


presente exemplar, que registrei sob o numero no
venta e cinco , recebeudo mil dusentos e oitenta.
Capella do Patrocinio, 12 de Junho de 1857 .-- O
Vigario, Caetano Dias da Silva.

N. 96-O abaixo assignado vem em cumprimento


a Lei, registrar um pedaço de terras que possue na
Capivara desta Freguesia de Nossa Senhora do Bom
Conselho . Suas demarcações são as seguintes : Principia
da parte do Nascente de hum cajueiro , onda ha um marco
de pedra e dahi para o Poente a salir na estrada da
Lagoa da Capivara, onde ha outro marco em huma
492 LIMITES

baixa e descerá pela mesma baixa até outro marco


e dahi para onde principiou .
Sua extensão é de seis tarefas, pouco mais ou
menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de


Junho de de 1857. —A rogo de Izidoro Francisco Felix ,
o Padre Vicente Sabino dos Santos .
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima.
o presente exemplar, que registrei com O numero
noventa e seis , recebendo mil e cem.
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. -O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 97 - O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Sabam e João Grande, nesta Fre
guesia de Nossa Senhora do Bom Conselho , por
herança que tiveram do finado seu Pae Valentim
Francisco da Costa não podendo porem fixar a pro
porção do terreno , por ser de hercos e achar-se ainda
indiviso .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de


Junho de 1857.—José Quirino da Costa.
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima
o presente exemplar, que registrei com o numero
noventa e sete , recebendo novecentos reis .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 98-0 abaixo assignado vem em cumprimento
a Lei, registrar um pedaço de terras no logar Ca
vaquinho, comprado a João do Rosario, no termo
desta Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho ,
com as demarcações seguintes : Principia do fim da
DA BAHIA COM SERGIPE 493

teira de Francisco José e sobe ao Poente pela estrada


té onde der cem braças, e dahi para o Sul cincoental
braças e dali direito ao Norté té findar. Sua extensão
está contada.
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. -Por José Albino Bispo , André Ri
beiro Bispo .
NOTA - Foi-me entregue pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero
noventa e oito , recebendo mil e dusentos .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 12 de
Junho de 1857. -O Vigario, Caetano Dias da Silva.
N. 99-0 abaixo assignado em cumprimento a
Lei, vem registrar um quinhão de terras que possue no
logar denominado Vasa-barris , nesta Freguesia de
Nossa Senhora do Bom Conselho , por compra que fez
a Luiz Barbosa da Conceição , não podendo porem
fixar a quantidade por ser de hereos e achar-se ainda
em diviso .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio, 13 de
Junho de 1857. -Ignacio Pereira de Mello .
NOTA- Foi-me entregue pelo possuidor acima
o exemplar presente que registrei , com O numero
noventa e nove, recebendo oitocentos reis .
Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 13 de
Junho de 1857. -O Vigario , Caetano Dias da Silva.
N. 100-O abaixo assignado em cumprimento a
Lei , vem registrar um pedaço de terras que possue no
logar denominado Riacho Pereira, comprado a Anna
Joaquina de Jesus , no termo desta Freguesia de Nossa
Senhora do Bom Conselho, cujas demarcações são as
seguintes: Principia do Olho d'Agua do Pereira de um
494 LIMITES

marco que se acha fincado e dahi cortará rumo direito


até encontrar com o do Prudentes e dahi subirá de

cabeça acima com todas as suas voltas té onde prin


cipiou .
Sua extensão é de vinte e tres tarefas , pouco
mais ou menos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 13 de


Junho de 1857.- -Manoel Ribeiro Serapião.
NOTA- Foi- me entregue pelo possuidor acima
o presente exemplar que registrei com o numero cem,
recebendo mil e dusentos .

Capella de Nossa Senhora do Patrocinio , 13 de


Junho de 1857. O Vigario , Caetano Dias da Silva.

N. 179

Copia de registos dos terrenos de Gere


moabo feitos pelos seus proprietarios de con
formidade com o Decreto de 30 de Janeiro de
1854, o que prova ser reconhecido pelos mes
mos como legitima a jurisdicção da Provincia
da Bahia.

Hade servir este livro para registro dos exempla


res das terras desta Freguesia da Villa de Geremoabo ,
conforme determina o Decreto 1318 de de 30 de Ja
neiro de 1854. Vai por mim aberto , numerado e rubri
cado com a minha rubrica , de que uso , e diz — Padre
Vasconcellos . Freguesia e Villa de Geremoabo 5 de
Novembro de 1856. - Padre Joaquim Ignacio de Vas
concellos.
Exemplar 1 Manoel José de Andrade da Fregue
sia de Itabaiana possue na Freguezia de Geremoabo
huma porção de terras , onde se acha situado , no logar
denominado Macambira, em terras da Pedra da Igreja,
DA BAHIA COM SERGIPE 495

confrontadas e demarcadas da forma seguinte : tendo


principio na Lagoa da Porta da parte do Nascente pela
beira da Lagoa acima, procurando o Poente até topar
com terras do Campo Grande e Capella e para o Norte
com terras do Cancalanco e Tanque novo e para o
Sul, até a mesma Lagoa e assim as quer registradas na
forma do Capitulo nono do Decreto mil trezentos e
desoito , de trinta de Janeiro de mil oitocentos e cin
coenta e quatro - Manoel José de Andrade.--O Viga
rio, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 2 Antonio Francisco de Menezes da
Freguezia de Itabaiana possue na Freguezia de Gere
moabo huma porção de terras no logar denominado
Poço da Caraiba por indiviso com os mais heréos , e
quer registrar, como determina o Capitulo nono do
Decreto mil tresentos e desoito , de trinta de Janeiro
de mi oitocentos e cincoenta e quatro. Antonio
Francisco de Menezes . O Vigario, Joaquim Ignacio de
l'asconcellos .
Exemplar 3 Gonçalo José de Oliveira da Fre
guezia de Geremoabo possue hum pedaço de terras no
logar denominado Cancalanco, com suas demarcações
que são as seguintes: principia da barra da Palha aos
marcos da Macambira e dahi no rumo direito aos
marcos da encruzilhada do Cancalanco , e dahi ao
marco da beira do Rio do Peixe e dahi descerá rio
abaixo, até a barra da Palha, donde principiou
assigna a rogo do senhor Gonçalo José de Oliveira
-João Evangelista de Souza . -- O Vigario, Joaquim
Ignacio de Vasconcellos .
Exemplar 4- Miguel Francisco de Carvalho vai re
gistrar uma sorte de terras , que possue na Fazenda Rio
496 LIMITES

do Peixe, nesta Freguezia de Geremoabo , sendo a sua


parte meia legoa de largo e tres legoas de comprido e
demarca da barra do Riacho Campo Grande pela parte
do Nascente uma legoa , costeando o Norte e dahi cos
teando o Sul para o Poente tres legoas para a parte do
Vaza-barris . -Miguel Francisco de Carvalho . --- O Vi
gario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 5 -José Paes da Costa possue uma
posse de terras no Poço da Caraiba , na Freguezia de
Geremoabo em commum com outros possuidores -José

Paes da Costa . —O Vigario, Joaquim Ignácio de Vas


concellos.

Exemplar 6- Antonio Francisco de Menezes da


Freguezia de Itabaiana, possue na Freguezia de Gere
moabo uma sorte de terras no lugar Pedra da Igreja ,
confrontada e demarcada pela forma seguinte: de uma
pedra junto ao Caminho do Alto rumo direito a topar
com o marco do Caminho do Tanque Novo , e dahi en
contrará com outros possuidores em quadro e assim
quer registrar na forma do Capitulo nono numero
treze e dezoito de trinta de Janeiro de mil oitocentos e
cincoenta e quatro- Antonio Francisco de Menezes.
O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 7 —Manoel Paes da Costa possue quinze
mil reis de terras no logar denominado Poço da Ca
raiba, na Freguezia pertencente ao termo de Gere
moabo em commun com outros possuidores - Manoel
Paes da Costa . -O Vigario, Joaquim Ignacio de Vas
concellos.

Exemplar 8- Antonio Francisco de Meneze ; da


Freguezia de Itabaiana possue na Freguezia de Gere
moabo dentro de uma legoa de terreno sertão denomi
DA BAHIA COM SERGIPE 497

minado Pedra da Igreja uma porção de terras , cujas


ignora seus limites e por ser sobras de outros possuido
res , que se achão dentro da referida legoa com suas
demarcações e assim as quer registrar . na forma do Ca
pitulo nono do Decreto numero treze e desoito de trinta
de Janeiro de mil oitocentos e cincoenta e quatro-
Antonio Francisco de Menezes . -O Vigario Joaquim
Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 9-José Ferreira de Vasconcellos vai
registrar um quinhão de terras que tem dentro da
marcação da terra da Fazenda Ran em divisa com
outros possuidores da mesma Fazenda , nesta Freguezia
de Geremoabo - Por José Ferreira Vasconcellos - Dio
nizio Cardoso . --O Vigario , Joaquim Ignacio de l'as
concellos.

Exemplar 10 - Thomaz Jorge vai registrar uma


sorte de terras nesta freguezia de Geremoabo , no lugar
denominado Ran , riacho da Ran acima da parte do
Nascente, até completar meia legua e da mesma forma
com seus fundos . -Por Thomaz Jorge- Dionisio Car
-
doso O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 11 - José Ferreira de Vasconcellos vai
registrar hum quinhão de terras , que tem dentro da
marcação das terras da Fazenda Caraiba , nesta Fre
guezia de Geremoabo em divisa com outros donos .
Por José Ferreira de Vasconcellos : Dionisio Cardoso.
O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 12 - José Antonio da Cruz vem regis
trar hum pedaço de terras , nesta Freguesia da Villa
de S. João Baptista de Geremoabo , denominada Bom
Successo com as suas demarcações , as quaes são as
seguintes: principia da Barra do Riacho Bom- Successo
LIMITES 63

1
498 LIMITES

e Rio do Peixe acima a encontrar com terras da Fa

zenda das Lages e dahi cortarão rumo direito ao Po


ente até onde encontrar com terras de Vaza-barris ,
e da terra do Bom- Successo rumo direito até encontrar
com terras do mesmo Vasa-barris e assim tem feito
seu registro. Bom -Sucesso cinco de Novembro de mil

oitocentos e cincoenta e seis . Por José Antonio da Cruz .
Dionisio Cardoso . O Vigario , -Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 13. -Manoel Joaquim Dias possue nesta


Freguezia de Geremoabo uma sorte de terras com as

demarcações seguintes: principia da parte da Pedra


da Igreja rumo direito de um pau preto na porta de
Manoel de Souza e dahi rumo direito ao caminho que
vai da Pedra da Igreja para o Cancalanco e dahi rumo
direito a ponta de cima da mesma Pedra onde prin
cipia: E por não saber ler nem escrever pede a José
Francisco dos Passos este por mim fizesse e assig
nasse. ――――― A rogo de Manoel Francisco Dias, José Fran
cisco dos Passos.- O Vigario, Joaquim Ignacio de
Vasconcellos,

Exemplar 14-Antonio João da Silva possue tres


sortes de terras na Serra Negra, no Sitio denominado
Tanquinhos, deste termo , com as demarcações seguin
tes: principia na barra do riacho do Espinheiro abaixo.
a uma umburana, onde demarca e divide com os her
deiros de Estevão Cardoso e dahi cortará rumo direito
acima ao Boqueirão dos Picos , cortando dali outra vez
ao riacho do Espinheiro , onde principiou . Outras
sortes principiarão da baixa das Barreiras , onde dividir
com o mesmo Estevão Cardoso e dahi cortará rumo

direito abaixo ao Rio do Peixe, descendo por elle


DA BAHIA COM SERGIPE 499

ao Boqueirão da Serra , e dahi rumo direito acima , onde


confrontar com a Lagoa dos Picos , dividindo com os
demais herdeiros e heréos nesta freguezia de Gere
moabo, as quer registrar na conformidade do Capitulo
nono do Decreto numero mil trezentos e dezoito de
trinta de Janeiro de mil oitocentos e cincoenta e quatro .
Sitio do Tanquinho , cinco de Novembro de mil oito
centos e cincoenta e seis . A rogo de Antonio João da
Silva-Jacintho Marques da Silva . -O Vigario , Joa
quim Ignacio de Vasconcellos.

Exemplar 15 - Estevão José dos Anjos possue uma


sorte de terras no sitio denominado Nossa Senhora

da Conceição, desta Freguezia de Geremoabo , demar


cadas pela fórma seguinte: Principiará para o lado do
Poente da Barra do Riacho dos Campos e seguirá por
elle acima até a Barra do Riacho da Onça em direitura
do Nascente e subirá por elle acima até a baixa da
Quixabeira, onde sae o caminho velho dos Campos , e
seguirá por elle acima até a barra do riacho , digo ca
minho velho dos Campos no Riacho do Rompe- Gibão
com o do Bom Successo e descerá por elle abaixo até
onde principiou . Geremoabo , seis de Novembro de mil
oitocentos e cincoenta e seis . A rogo de Estevão José
dos Anjos- João Francisco dos Passos . - O Vigario ,
Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 16 -José de Mattos Freire de Carvalho ,
proprietario de terrenos da Fazenda Boa Sorte, na Fre
guezia de Geremoabo , vem , em cumprimentos dos Ar
tigos noventa e um e cem do Decreto numero mil oito
centos e dezoito , de trinta de Janeiro de mil oitocentos
e cincoenta e quatro , registrar a dita terra com as de
marcações seguintes : Principiará no Rio dos Negros ,
500 LIMITES

na barra de um riachinho , que divide com a terra de


José Francisco , rumo direito ao Nascente, a encontrar -
com as terras do Mestre Pedro e dahi rumo direito ao
Sul, na baixa do riacho da Roça com o Rio dos Ne
gros , e por este acima até onde principiou . Simão Dias ,
vinte de Outubro de mil oitocentos e cincoenta e seis.

-José de Mattos Freire de Carvalho . —O Vigario , Joa


quim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 17 - José de Mattos Freire de Carvalho ,
proprietario da Fazenda de Dentro, vem, em cumpri
mento dos Artigos noventa e um e cem do Decreto nu
mero mil tresentos e desoito de trinta de Janeiro de
mil oitocentos e cincoenta e quatro, registrar a terra
da Fazenda mencionada , com as demarcações seguintes :
Principiará no Vasa- Barris , na ponta de baixo do Poço
do pé da ladeira do Limoeiro, rumo direito á Lagoa
do Cotovello e dahi no mesmo rumo a metter no riacho
no logar chamado Mangabeira , riacho acima até onde
encontrar a terra da Fazenda de Dentro e dividindo

com esta, atravessando a serra , até a lagoa dos Alecrins


e dahi fará rumo para o Vasa - Barris a metter no be
bedor da Folha miuda e pelo Rio abaixo , até onde
principiou.
Simão Dias , vinte de Outubro de mil oitocentos
e seis . -José de Mattos Freire de Carvalho . —O Vi
gario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 18. -Jacintho Marques da Silva vae
registrar sua terra da Fazenda Boqueirão da Freguezia
de Geremoabo demarcada parte do Nascente do Secco
da Serra até o rumo do Caldeirão , e do Poente até a
barra do Sipó de Leite , e para a parte do Norte , até a
barra do Boqueirão , tendo duas leguas na frente e duas
DA BAHIA COM SERGIPE 501

para os fundos . -Jacintho Marques da Silva .-- O Vi


gario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 19. — Antonio Joaquim da Silva possue
uma sorte de terras no logar denominado Serra Negra
de Cima, no sitio das Capoeiras deste termo com a de
marcação seguinte: todo o terreno que se achar entre os
dois riachos; chamados riachos da Cacimba e riacho
Grande e tambem as serras contiguas que divide com
os demais herdeiros e heréos nesta Freguezia de Ge
remoabo, as quer registrar na conformidade do Capitulo
nono do Decreto numero mil e tresentos e desoito , de
trinta de Janeiro de mil oitocentos e cincoenta e quatro .
Sitio denominado das Capoeiras na Serra Negra
de Cima, cinco de Novembro de mil oitocentos e cin
coenta e seis .— A pedido de Antonio Joaquim da Silva ,
Jacintho Marques da Silva . O Vigario, Joaquim
Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 20. -Luiz da Franca possue um sitio de
terras com duas legoas, na Freguezia de Geremoabo
denominado Campos da Sobremesa com as confronta
ções seguintes : Frente da parte do Nascente com rumo
Nordeste confrontada com terras da Lagoa do Barro e
Serra Negra, fundos da parte de Leste confrontando.
com Gameleira e Serra Redonda . Da parte de Sudoeste
confrontando com terras de Rompe- Gibão e Bom Suc
cesso, da parte Sul confrontando com terras de Pedra
de Dentro e Malhada Nova . E por não saber ler nem
escrever a rogo fiz o abaixo assignado , anno de mil
oitocentos e cincoenta e seis , cinco de Novembro . -A
rogo de Luiz da Franca, Guilherme da Costa e Silva .
-O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 21. -José Victor do Nascimento possue
502 LIMITES

nesta Freguezia de S. João Baptista de Geremoabo uma


posse de terra no logar denominado Rompe- Gibão com
sua demarcação seguinte : Principiará do Riacho do
Rompe-Gibão dividindo com terras do Bom Successo
por constar de sua escriptura até encontrar o riacho do
Gameleira e por este acima até sahir no Riacho da
Rompe-Gibão , onde principiou . -José Victor do Nas
cimento . O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 22. -José de Mattos Freire de Carvalho
proprietario da Fazenda Campo Grande, no termo da
Freguezia de Geremoabo vem, em comprimento dos Ar
tigos 91 e 100 do Decreto numero mil tresentos e desoito
de trinta de Janeiro de mil oitocentos e cincoenta e
quatro registrar as terras da dita Fazenda com as de
marcações seguintes: principia no Vasa-barris na barra
do riacho Gasparinho, dividindo com terras da Fazenda
Salgado , até onde encontrar as terras da Fazenda Cal
deirão e dividirá com estas até encontrar as terras da
Fazenda Pedra da Rêde e dividirá com as terras desta

Fazenda e com as mais que ficão nesta direcção , até as


cabeceiras do Riacho da Onça e dividirá com este abai
xo até onde encontrar a Situação de Januario José de
Souza e dahi fará rumo para o Vasa-barris , a metter na
ponta de baixo do Poço do Angico , e descerá Rio abaixo
até onde principiou .
Simão Dias , 20 de Outubro de 1856.-José de
Mattos Freire de Carvalho . - O Vigario, Joaquim Igna
cio de Vasconcellos .
Exemplar 23 - José de Mattos Freire de Carvalho
e João de Mattos Freire, proprietarios do terreno da
Fazenda Caldeirão , vem em comprimento dos artigos 91
e 100 do Decreto 1319 de 30 de Janeiro de 1954 regis
DA BAHIA COM SERGIPE 503

trar o terreno da Fazenda pertencente a Freguezia de


Geremoabo com as demarcações seguintes : principiará
no Rio do Peixe na barra do Riacho Campo Grande
por aquelle abaixo meia legoa e lhe fará rumo para
o Vasa Barris dividindo com a terra da Fazenda Rio

do Peixe tres legoas a encontrar as terras da Fazenda


Campo Grande e dividirá com estas e irá rumo direito
até onde principiou .
Simão Dias , 20 de Outubro de 1856. -José de
Mattos Freire de Carvalho . -- O Vigario . Joaquim
Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 24- O abaixo assignado vem registrar
uma posse de terras que possue no logar denominado
Cancalanco cujas demarcações são as seguintes : pelo
Nascente divide com o Rio Palha , pelo Poente divide
com terras de Manoel Joaquim e pelo Norte com a
estrada e pelo Sul com as do mesmo Riacho.
Geremoabo, 2 de Novembro de 1856. - Antonio
Martins da Fonseca . -O Vigario , Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 25- Antonio Rodrigues da Cruz em


cumprimento dos Artigos 91 e 100 do Decreto 1318.
de 30 de Janeiro de 1854 vem registrar um pedaço de
terra que possue nesta Freguezia de S. João Baptista
de Geremoabo no logar denominado Olho d'Agua ,
cujas terras principia sua divisão de um marco que
tem no Rio dos Negros , cujo marco é um pão preto da
parte do Nascente segue pelo dito Riacho acima a
marca que tem de uma vereda da parte do Norte a
dividir-se com terras de Antonio Carvalho e dahi
descerá a encontrar com outras terras e dahi segue
até o logar donde principiou a divisão , cujas terras
504 LIMITES

forão compradas a José Francisco com as divisões e


limites declarados .

Simão Dias , 2 de Novembro de 1856. -Antonio


Rodrigues da Cruz . -O Vigario , Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 26-José de Souza Magalhães em cum


primento dos Artigos 91 e 100 do Decreto de numero
1318 de 30 de Janeiro de 1854 vem registrar um
pedaço de terras que possue nesta freguezia de S. João
Baptista de Geremoabo, no logar denominado Lages
cuja divisão é a seguinte: principia da barra do Riacho
das Lages , rumo direito ( a encontrar com outros ) digo
a barra e dali segue rumo direito a encontrar com

outros hereos . Este pedaço de terras divide- se da parte


do Norte com Manoel de Souza Magalhães Pae do de
clarante com a extenção de duas legoas de cumpri
mento .

Villa de Simão Dias , 2 de Novembro 1856. -José


de Souza Margalhães . -O Vigario, Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 27 - Manoel de Souza Magalhães em


cumprimento dos Artigos 91 e 100 do Decreto nu
mero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 , vem registrar
uma porção de terras que possue nesta Freguezia de
Geremoabo no logar denominado Lages, cujas terras
principião a divisa do riacho da Lages com o Rio do
Peixe e por este acima até encontrar outros hereos
enjas terras forão compradas a D. Eufemia com as di
visões e limites declarados .

Villa de Simão Dias, 2 de Novembro de 1856.


Por meu pae Manoel de Sousa Magalhães . --José de
DA BAHIA COM SERGIPE 505

Souza Magalhães . -O Vigario , Joaquim Ignacio de


Vasconcellos.

José Vicente Freire possue duas sortes de terras


na Serra nos logares denominados Sitio da Lagoa do
Barro deste termo aquella por indiviso com mais her
deiros e hereos e está demarcada pela forma seguinte :
Principiará do pé de uma braúna que se acha feita
uma Cruz na beira da estrada que vai para a lagoa
rumo direito do primeiro riacho , que se acha onde
tiver outra cruz feita de um páu de caixão riacho
abaixo , até o caminho , que vem da Serra Negra e ,
dahi sahirá caminho afóra até a baixa do Páu do Leite,
extremando com as terras do finado Torquato , até a
porta de Manoel João , onde se achar um marco . rumo
direito donde principiou dividindo-se com mais her
deiros e hereos , nesta Freguezia de Geremoabo, as
quer registrar na conformidade do Capitulo do Decreto
numero 1318 , de 30 de Janeiro de 1850 .
Fazenda da Lagoa do Barro, 5 de Novembro de
1857. A rogo de José Vicente Freire : Manoel Joaquim
Mainart. -O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 29. - João Francisco de Almeida possue
tres sortes de terras na Serra Negra nos logares deno
minados Fazenda Velha e Lagoa , deste termo , sendo
duas sortes de terras por indivisas e uma demarcada
pela forma seguinte: Principiará na barra da baixinha
para as cabeceiras do riacho do Surrão e da parte do
Sul riacho a baixo até confrontar com o marco que se

achar no alto do Bonito e descerá estrada abaixo que


vai para os Poços , até a passagem do Páu d'agoa , e
dahi cortará rumo direito as nascentes do riacho do
Surrão, e por cima até as cabeceiras dividindo - se com
LIMITES 64
506 LIMITES

os mais herdeiros e hereos nesta Freguezia de Gere


moabo , as quer registrar de conformidade com o Ca
pitulo nono do Decreto 1318 de 30 de Janeiro de 1854.
Fazenda Velha , 5 de Novembro de 1856. João
Francisco de Almeida . - O Vigario , Joaquim Ignacio
de Vasconcellos.

Exemplar 30 -João Francisco de Almeida possue


quatro sortes de terra na Serra Negra nos logares deno
minados Sitio dos Poços e São Bento, deste termo,
sendo duas sortes de terras por indivisas e duas ditas
demarcadas pela forma seguinte : A primeira tomará
pela parte do Nascente com a dita fasenda Sitio dos

Poços, no logar chamado passagem do Páu d'agua e


pelo riacho a abaixo até o logar chamado Poço Ferrado .
Pela parte do Poente extremará o Sertão incluso , até
onde pertencer seu fundo que é de duas legoas procu
rando o Sul , e da dita passagem do Páu d'agoa cor
tando rumo direito até pertencer seu fundo extremo
com os vendedores do Poente procurando o Norte . A
segunda extremará da parte do Poço Ferrado , riacho
abaixo até a barra do riacho d'Aurea e por elle acima a
controntar donde principiou , dividindo- se com os mais
herdeiros e hereos nesta Freguesia de Geremoabo as
quer registrar na conformidade da Capitulo nono do
Decreto numero 1218 de 30 de Janeiro de 1854. João
Francisco de Almeida . -O Vigario , Joaquim Ignacio
de Vasconcellos.

Exemplar 31 - Antonio Correa Cabral possue uma


sorte de terras na Ribeira Secca, no lugar denominado
Serrote deste termo cujo terreno é por indiviso com
mais herdeiros e hereos , nesta Freguesia de Geremoabo
as quer registrar na conformidade do Capitulo nono do
DA BAHIA COM SERGIPE 507

Decreto numero 1318 , de 30 de Janeiro de 1854. Sitio


do Serrote, 5 de Novembro de 1855. Por Antonio
Correa Cabral . -joão Francisco de Almeida . - O Vi
gario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 32 - Rosa Maria do Espirito Santo possue
uma sorte de terras na Serra Negra , no logar denomi
nado Lagoa, deste termo cujo terreno é por indiviso
com mais herdeiros e hereos , nesta Freguesia de Gere
moabo, as quer registrar na conformidade do Capitulo
nono do Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Sitio da Lagoa, 5 de Novembro de 1856. Por Rosa
do Espirito Santo . -João Francisco de Almeida . - O
Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 33 -José Felizardo da Silva possue uma
sorte de terras na Serra Negra no logar denominado
Lagoa deste termo cujo terreno é por indiviso com mais
herdeiros e hereos nesta Freguesia de Geremoabo , as

quer registrar na conformidade do Capitulo nono do


Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854. Sitio
da Lagoa , 5 de Novembro de 1856. Por José Felizardo
da Silva : João Francisco de Almeida . -O Vigario , Joa
quim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 34 - Manoel Vieira da Costa possue tres
sortes de terras na Serra Negra no logar denominado
Sitio dos Poços e Sitio da Lagoa deste termo , sendo
duas neste ultimo todas por indiviso com mais herdeiros
e hereos nesta Freguesia de Geremoabo as quer re
gistrar na conformidade do Capitulo nono , do Decreto
numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854. Sitio da Lagoa ,
5 de Novembro de 1856. A pedido de Manoel Vieira da
Costa: Manoel Joaquim Mainart . -O Vigario , Joaquim
Ignacio de Vasconcellos.
508 LIMITES

Exemplar 35- José Gallo Maciel possue duas sortes


de terras em Sant'Anna Velha , nos lugares denomi
nados Sitio do Sacco Verde e Fazenda da Lagoa dos
Cavallos, deste termo , cujos terrenos são por indivisos
com mais herdeiros e hereos nesta Freguezia de Gere
moabo, as quer registrar na conformidade do Capitulo
nono do Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Fazenda da Lagoa , 5 de Novembro de 1856. A rogo
de José Gallo Maciel : Manoel Joaquim Mainart .
Exemplar 36 -Alexandre Vieira de Brito possue
um quinhão de terras nesta Freguesia de Geremoabo ,
Provincia da Bahia, no logar denominado Lagoa d'Anta
por de commum com outros hereos .
Villa do Porto da Folha, 25 de Setembro de 1856 .
Por Alexandre Vieira de Brito: Joaquim Bezerra Lima .
-O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 37 - Geraldo José de Menezes possue um
quinhão de terras no logar denominado Lagoa, por in
diviso com mais herdeiros , e hereos , nesta Freguezia de
Geremoabo as quer registrar de conformidade com o Ca
pitulo nono de Decreto de 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Fazenda da Lagoa , tres de Novembro de 1856.—
Por Geraldo José de Menezes -João Vieira da Costa.
O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos .
Exemplar 38- Eu abaixo assignado possuidor na
Freguezia de São João de Geremoabo de uma porção
de terras por indiviso com outros hereos , no logar de
nominado Lagoa da Anta .
Porto da Folha 31 de Outubro de 1856. -Arrogo
de José Mariano da Cruz- Francisco Manoel de Souza.
Exemplar 39 - Eu abaixo firmado possuo na Fre
guezia de São João Baptista de Geremoabo uma porção
DA BAHIA COM SERGIPE 509

de terra conhecidas por Ponta da Serra , por indiviso


com outros hereos .
Porto da Folha , 31 de Outubro de 1856. - Fran
cisco Alves Feitosa . - O Vigario, Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 40 - Geraldo José de Menezes possue


um quinhão de terra no logar denominado Santa Bri
gida, por indiviso com os mais herdeiros e hereos nesta
Freguezia de Geremoabo , e as quaes quer registrar na
conformidade do Capitulo nono do Decreto numero
1318 de 30 de Janeiro de 1854.
Fazenda da Lagoa , 3 de Novembro de 1856. —Por
Geraldo José de Menezes --João Vieira da Costa. - O
Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcelios .
Exemplar 41 - Izabel Maria de Lima possae duas
sortes de terras nos logares denominados Dezerto e
Lagoa deste termo , cujos terrenos são indivisos com
outros herdeiros e hereos , nesta Freguezia de Geremo
abo as quaes quer registrar, na conformidade do Capi
tulo nono do Decreto numero 1318 , de 30 de Janeiro
de 1854.

Sitio da Lagoa, 5 de Novembro de 1856. -A rogo


de Izabel Maria de Lima- Manoel Joaquim Mainart.
-O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos .
Exemplar 42 - Macario Francisco de Menezes pos
sue quatro sortes de terras nos lugares seguintes : duas
sortes nas terras do Sitio denominado Deserto , uma
sorte de terras no Sitio denominado Páu de Colher, uma
sorte de terras tambem na Serra Negra , no logar deno
minado Fazenda Velha , todo este terreno sendo as tres
sortes de terras por indiviso e esta ultima demarcada na
forma seguinte : Principiará do Alto do Bonito onde se
510 LIMITES

achar um marco infincado e descerá pela estrada que


vai para os Poços até a encruzilhada velha da Varjada ,
onde se achar outro marco e dahi cortará rumo direito ,
até o Rio do Peixe , e sahirá pelo dito Rio acima, até
onde fizer rumo com o marco donde principiou , divi
dindo-se com os demais herdeiros e hereos confinantes ,

nesta Freguezia de Geremoabo as quer registrar na


conformidade do Capitulo nono do Decreto numero
1318 de 30 de Janeiro de 1854.

Fazenda Páu de Colher , 5 de Novembro de 1856 .


-A rogo de Macario Francisco de Menezes - Manoel

Joaquim Mainart . —O Vigario , Joaquim Ignacio de l'as


concellos.

Exemplar 43 —José Felix das Brotas possue uma


sorte de terras no logar denominado Picos , deste termo
cujo terreno é indisivo com mais herdeiros e hereos ,
nesta Freguezia de Geremoabo as quer registrar de
conformidade com o Capitulo nono do Decreto numero
1318 de 30 de Janeiro de 1854 .

Sitio dos Picos , 5 de Novembro de 1856. -A rogo


de José Felix de Brotas . - Manoel Joaquim Mainart.
O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.

Exemplar 44 -Antonio Suterio da Fonseca possue


uma sorte de terras nas Catingas , no logar denominado
Lagoa d'Anta por indiviso com mais herdeiros e hereos
nesta Freguezia de Geremoabo e as quer registrar, na
conformidade do Capitulo nono, do Decreto numero
1318 , de 30 de Janeiro de 1854 .

Fazenda da Lagoa d'Anta , 4 de Outubro de 1856 .


Antonio Suterio da Fonseca . -O Vigario , Joaquim
Ignacio de l'asconcellos.
DA BAHIA COM SERGIPE 511

Exemplar 45. - Pedro Baptista Vieira é possuidor


por titulo de compra de uma porção de terras , nas
terras das Varjadas , com situação no logar Bonito na
Freguezia de S. João de Geremoabo da Provincia da
Bahia , as quaes terras por indiviso . - Pedro Baptista
Vieira.
Exemplar 46. -Estevão Cardoso da Silva possue
uma sorte de terras no logar denominado Páu de Colher
cujas extremão com terras de minha cunhada Gonçala
no Rio do Peixe , riacho abaixo até o Riacho do Bo
queirão dos Picos , nesta Freguezia de Geremoabo , e as
quer registrar na conformidade do Capitulo nono, do
Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Fazenda da Alagoa 3 de Novembro de 1856.- Por
Escrivão. Cardoso da Silva , João Vieira da Costa.
Exemplar 47. -João Martins das Neves possue
nesta Freguezia de S. João de Geremoabo , duas posses
de terras no Sertão do Rio do Peixe, no logar denomi
nado Senhor do Bomfim e Guia , por indivisas com
outros , João Martins das Neves.
Exemplar 48. - Maria Valeria possue duas sortes
de terras na Pedra da Igreja, no logar denominado
Santa Barbara , por indisivo com os mais herdeiros e
hereos , nesta Freguezia de S. João de Geremoabo , e as
quer registrar na conformidade do Decreto numero
1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Santa Barbara 2 de Novembro de 1856. -A roge
de Maria Valeria . -Antonio Suterio da Fonseca.

Exemplar 49. -Eu abaixo firmado declaro que


possuo duas sortes de terras nas Catingas lugar deno
minado Alagoa , por indiviso com os mais herdeiros e
hereos , nesta Freguezia de Geremoabo e as quer o re
512 LIMITES

gistrar de conformidade com o Capitulo nono do De


creto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Por minha sogra Josepha Maria Antonia da
Fonseca .
Exemplar 50. -Eu abaixo assignado sou possuidor
na Freguezia de S. João de Geremoabo de uma posse
de terras no logar denominado Lagoa da Anta , cuja
extensão e limites consiste por indiviso com outros
hereos em commum . Porto da Folha 9 de Setembro de
1856. Luiz Alves Feitosa Silva . - O Vigario , Joaquim
Ignacio Vasconcellos.
Exemplar 51. - Eu abaixo firmado declaro que
possuo nesta Freguezia de São João de Geremoabo uma
posse de terra no logar denominado Lagoa da Anta cuja
extensão e limites consiste por indiviso com outros
hereos no logar.
Porto da Folha 29 de Setembro de 1856— Manoei
Alves Lima e Silva.

Exemplar 52.-Eu abaixo firmado declaro que


possuo nesta Freguezia de S. João de Geremoabo uma
posse de terra no logar denominado Lagoa da Anta cuja
extensão e limites indiviso com outros hereos em
commum.
Porto da Folha 29 de Setembro de 1856. - Por
minha mão Maria Francisca Antonio Alves de Souza.

-O Vigario Joaquim Ignacio de Vasconcellos.


Exemplar 53 - Eu abaixo firmado declaro que sou
possuidor nesta Freguezia de S. João de Geremoabo de
duas posses de terras , uma no logar denominado Ponta
da Serra e por indiviso com outros hereos em com
mum, outra no logar denominado Barra do Boqueirão
cuja extensão e limites confinão da Barra da Cacimba
DA BAHIA COM SERGIPE 513

do Joaseiro, dahi a lagoa da Saraça , dahi ao Riacho do


Jacaré , dahi a limitar na mesma barra . Porto da
Folha , 29 de Setembro de 1856. -Antonio Teixeira de
Souza Junior. -O Vigario , Joaquim Ignacio de Vas
concellos.
Exemplar 54 -Antonio de Oliveira Carvalho
possue duas sortes de terras na Serra Negra, no logar
denominado Lagoa , deste termo cujos terrenos é por
indivisos com mais herdeiros e hereos , nesta Freguezia
de Geremoabo . As quer registrar na conformidade do
Capitulo nono do Decreto numero 1418 de 30 de
Janeiro de 1854 .
Sitio da Lagoa , 5 de Novembro de 1856- A rogo
de Antonio de Oliveira Carvalho . Manoel Joaquim
Mainart —O Vigario , Joaquim Ignacio de Vas
concellos.

Exemplar 55 -João Machado Goes possue duas


sortes de terras nas Catingas do logar denominado
Varjadas , por indiviso com mais herdeiros e hereos ,
nesta Freguezia de Geremoabo , e as quer registrar na
conformidade do Capitulo nono do Decreto numero
1318 de Janeiro de 1854.
Fazenda da Varjada , 27 de Setembro de 1856–
João Machado Goes . -O Vigario , Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 56- Manoel Ramos possue uma sorte


de terras no logar denominado Serrote , deste termo ,
por indiviso com mais herdeiros e hereos , nesta Fre
guezia de Geremoabo , as quer registrar na conformi
dade do Capitulo nono do Decreto numero 1318 de 30
de Janeiro de 1854.
Fazenda do Serro , 5 de Novembro de 1856 .-
LIMITES 65
514 LIMITES

A rogo de Manoel Ramos- Manoel Joaquim Mainart—


O Vigario Joaquim Igaacio Vasconcellos.
Exemplar 57 - Eu abaixo firmado declaro que
possuo nesta Freguezia de S. João de Geremoabo duas
posses de terras , uma no logar denominado Ponta da
Serra, outra no logar denominado Lagoa da Anta , cuja
extensão e limites consiste por indiviso com outros
hereos em commum .

Ponta da Serra , 29 de Setembro de 1857. Antonio


Alves de Sauza. -O Vigario Joaquim Ignacio de Vas
concellos.

Exemplar 58 - David Gomes de Góes possue duas


sortes de terras na Catinga no logar denominado por
indiviso com mais hereos , na Freguezia de Geremoabo
e as quer registrar na conformidade do Capitulo nono
do Decreto de numero 1318 , de 30 de Janeiro de 1854 .
Fazenda da Varjada, 27 de Setembro de 1855 .-
David Gomes de Góes . -O Vigario Joaquim Ignacio
de Vasconcellos.
Exemplar 59 Eu abaixo firmado declaro que
possuo nesta Freguezia de S. João de Geremoabo uma
posse de terra no logar denominado Ponta da

Serra, cuja extensão e limites consiste por indiviso com


outros herdeiros e hereos em commum .

Paoto da Folha, 29 de Setembro de 1856. -Por


minha mãe Clara Maria-Antonio Teixeira de Souza

Junior. — O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.


Exemplar 60 - Antonio da Rocha Douto possue
uma sorte de terras na Serra Negra , no logar deno
minado Lagoa deste termo , cujo terreno é por indiviso

com mais herdeiros hereos e nesta Freguezia de Ge


remoabo as quer registrar na conformidade do Capi
DA BAHIA COM SERGIPE 515

tulo nono do Decreto numero 1318 , de 30 de Janeiro


de 1854.
Sitio da Lagoa, 5 de Novembro de 1856. -A rogo
de Antonio da Rocha Douto- Manoel Joaquim Mainart.
-O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 61 - Manoel Romão Amorim possue
uma parte de terras na Lagoa por indiviso com mais
herdeiros e hereos , nesta Freguezia de Geremoabo e
as quer registrar conforme o Capitulo nono , do Decreto
numero 1318 , de 20 de Janeiro de 1854 .
Fazenda da Lagoa , 2 de Novembro de 1856.—
Por Manoel Romão de Amorim , Antonio Suterio da
Fonseca . O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 62 - Manoel da Cruz de Jesus possue
uma sorte de terras na Serra Negra , no sitio denomi
nado Lagoa, deste termo , cujo terreno é por indiviso
com os mais herdeiros e hereos , nesta Freguezia de Ge
remoabo, e as quer registrar na conformidade do Ca
pitulo nono do Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro
de 1854.

Sitio da Lagoa , 5 de Novembro de 1856. -A rogo


de Manoel da Cruz de Jesus , Manoel Joaquim Mainart .
—O Vigario , J. I. de Vasconcellos .

Exemplar 63—Antonio Joaquim de Oliveira possue


uma sorte de terra na Serra Negra no logar denomi
nado Lagoa deste termo , cuja extensão e limites é por
indiviso com mais herdeiros e hereos , nesta Freguezia
de Geremoabo , e as quer registrar de conformidade com
o Capitulo nono do Decreto numero 1318 de 30 de Ja
neiro de 1854 .

Sitio da Lagoa, na Serra Negra , 5 de Novembro


de 1856- A rogo de Antonio Joaquim d'Oliveira , Ma
516 LIMITES

noel Joaquim Mainart . -O Vigario , Joaquim Ignacio de


Vasconcellos.
Exemplar 64- Silvestre José das Chagas , possue
uma sorte de terras no logar denominado Serra Negra ,
deste termo com a demarcação seguinte : principiará
pela parte do Norte hirá a Serra a confrontar com terras
do Boqueirão , ficando dentro as fontes , pela parte do
Nascente extremará com Pedro Ferreira e pela parte
do Poente com a baixa da Sambaibeira dividindo -se
com os mais herdeiros e hereos ; nesta Freguezia de
Geremoabo as quer registrar na conformidade do Ca
pitulo nono de Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro
de 1854 .

Sitio da Serra Negra , 5 de Novembro de 1856. — A


rogo de Silvestre José das Chagas , Manoel Joaquim
Mainart. -O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 65- Manoel Francisco de Carvalho
possue duas sortes de terras na Serra Negra, no logar
denominado Lagoa deste termo , cujo terreno é por in
diviso com mais herdeiros e hereos , nesta Freguezia
de Geremoabo , na conformidade com o Capitulo nono
do Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Sitio da Lagoa, 5 de Novembro de 1856.A rogo de
Manoel Francisco de Carvalho, Manoel Joaquim
Mainart. -O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 66 - Fellipe Nery Martins vem regis
trar um quinhão de terras que possue no logar deno
minado Torto , com outros hereos , nesta Freguezia de
Geremoabo A rogo de Felippe Nery Martins Virginio
Araujo Silva . -O Vigario , Joaquim Ignacio de Vascon
cellos.
Exemplar 67 - Benedito José vae registrar um
DA BAHIA COM SERGIPE 517

pedaço de terra que possue com outros hereos , no logar


denominado Torto , desta Freguesia de Geremoabo
A rogo de Felippe Nery Martins Virginio de Araujo
▬▬▬▬▬▬▬
Silva. O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 68 -- Gonçalo Bispo da Conceição vae
registrar um pedaço de terra que possue no logar deno
minado Torto , nesta Freguezia de Geremoabo . A rogo
do Supplicante Virginio de Araujo e Silva . —O Vigario,
Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 69 - Jeronymo Martins da Cruz vae
registrar um pedaço de terra que possue no logar deno
minado Torto, nesta Freguesia de Geremoabo . A rogo
de Jeronymo Martins da Cruz Virginio de Araujo
Silva . -O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 70 - Zacharias José de Carvalho vae
registrar um pedaço de terra que possue no logar deno
minado Torto, desta Freguesia de Geremoabo . A rogo
do Supplicante Virginio de Araujo Silva. -O Vigario,
Joaquim Ignacio de Vasconcellos .
Exemplar 71 - Paulo José de Andrade em virtude
da Ley seis centos e um de dezoito de Setembro de
mil oitocentos e cincoenta e Decreto 1317 , de 30 de
Janeiro de 1854 vem registrar uma sorte de terras que
possue na Fazenda Marancó e seus logradoiros Taman
duá , e Gado Bravo , nesta Freguesia de Geremoabo ,
Villa de Geremoabo, 10 de Novembro de 1855. A rogo
de Paulo José de Andrade José de Andrade José Fran
ciseo de Passos . -O Vigario , loaquim Ignacio de Vus
concellos.

Exemplar 72 - Severo José de Andrade em virtude


da Ley 601 de dezoito de Setembro de 1850 e Decreto
1318 de 30 de Janeiro de 1854 vem registrar uma
518 LIMITES

sorte de terras que possue na Fazenda Marancó e sens


logradoiros Tamanduá e Gado Bravo, nesta Freguezia
de Geremoabo. Villa de Geremoabo , 18 de Novembro
de 1356. A rogo de Severo José de Andrade José Fran
cisco de Passos .-O Vigario, Toaquim Ignacio de Vas
concellos.

Exemplar 73 - Manoel José de Andrade em vir


tude da Ley 601 de 18 de Setembro de 1850 e Decreto
1318 de 30 de Janeiro de 1854 vem registrar uma sorte
de terras que possue na Fazenda Marancó e seus logra
dores Tamanduá e Gado bravo, nesta Freguesia de
Geremoabo: Villa de Geremoabo de Novembro de
1855. A rogo de Manoel José de Andrade José Fran
cisco do Passos . —O Vigario, Joaquim Ignacio de Vas
concellos.

Exemplar 74-O abaixo assignado vem registrar


um pedaço de terra , no logar denominado Pedra da
Rêde , que houve de herança de seu pae Pedro de Souza
Carvalho cujas demarcações são as seguintes: Prin
cipia no Riacho do Capitão para o Poente , sobre o
Umbuzeiro até onde encontrar outros hereos confinan
tes, nesta Freguesia de Geremoabo 13 de Novembro
de mil oitocentos e cincoenta e seis . Por meu pae
Marcos José Luiz Pereira da Franca . - O Vigario, Joa
quim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 75 -O abaixo assignado em cumpri
mento da Lei , vem registrar hum quinhão de terras em
metade de meia legua no Rio do Peixe por compra.
que fez a José de Mattos Freire de Carvalho nesta fre
guesia de S. João Baptista de Geremoabo .
Geremoabo, trese de Novembro de mil oitocentos
e cincoenta e seis por seu Pai Marcos José de Carvalho
DA BAHIA COM SERGIPE 519

Luiz Pereira da França . - O Vigario . Joaquim Ignacio


de Vasconcellos .

Exemplar 76- José Lourenço de Menezes possue


duas sortes de terras na Serra Negra, nos logares se
guintes: Uma sorte de terras no Sitio da Lagoa por in
divisas com mais herdeiros e hereos , deste termo e
Freguezia e outra sorte de terras no Sitio denominado.
Fazenda Velha , tambem desta Freguesia demarcada
pela forma seguinte: Principiará da encruzilhada que
vai para a Varjada , onde achar um marco na estrada ,
que vai para os Poços , e pela dita estrada da até a pas

sagem do Pau d'agua , no Rio do Peixe, subindo pelo


dito Rio acima até confrontar com o Marco donde prin
cipiou, dividindo-se com mais herdeiros e hereos as
quer registrar na conformidade do Capitulo nono do
Decreto numero 1318 de 30 de Janeiro de 1854 .
Sitio da Lagoa , 5 de Novembro, de 1856. —- José
Lourenço de Menezes . -O Vigario , Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.

Exemplar 77 -Jeronymo José de Carvalho possue


seis sortes de terras nos logares seguintes : Tres sortes
de terras no Sitio denominado Detraz da Serra, uma
sorte no logar denominado Boqueirão , no Sitio da
Lagoa do Razo , uma sorte de terras na Fazenda Canna
brava e uma sorte de terras na Fazenda denominada

Pau d'agua , advertindo que todos são terrenos proprios


e deste termo , sendo as mais sortes de terras acima men
cionadas por indivisas com os mais herdeiros e hereos
e esta ultima demarcada pela forma seguinte: Princi
piará da ladeira Vermelha , cortando rumo direito do
principio da capoeira Sambaite e dahi entrará rumo di
reito ao Pau Ferro da Capoeira grande, digo cortará
520 LIMITES

rumo direito a baixa do Mandacarú e dahi pela estrada


real que vai para a Canna Brava até abaixo do Gravatá ,
e dahi cortará rumo direito ao Pau ferro da Capoeira
Grande, onde divide com a Fazenda Canna Brava e dahi
cortará para a parte do Poente sertão inculto , a en
contrar com os mais hereos confinantes e dahi cortarão
para a parte do Sul , até onde encontrar com as terras
da Fazenda Lagoa e dahi cortará abaixo do Per
nambuco, e dahi a Boa -Vista a estrada velha e por ella
a fora até a ladeira Vermelha onde principiou , divi
dindo-se com os mais herdeiros e hereos , nesta Fre
guezia de Geremoabo as quer registrar na conformidade
do Capitulo nono do Decreto numero 1318 de 30 de
Janeiro de 1854 .
Geremoabo , 5 de Novembro de 1856.- Jeronymo
José de Carvalho . Vigario , Joaquim Ignacio de Vas
concellos.
Exemplar 78 ――― Januario José de Sant'Anna de
conformidade com a disposição da Ley numero 601 de
18 de Setembro de 1850 vem registrar sua Fazenda de
nominada Barra, nesta Freguezia sita em terras da
Fazenda Abboboeira pertencentes a varios hereos por
compra, que fez de um quinhão de terras na mesma
Fazenda a Domingos Lages e herança de sua mulher a
finada Arcanjela Maria.
Freguezia de Geremoabo, 17 de Novembro de 1855 .
Por Jeronymo José de Sant'Anna. Honorio de Souza
Mendonça . O Vigario, Joaquim Ignacio de Vascon
cellos.
Exemplar 79- Thomé Pereira Leal possue um
quinhão de terra nesta Freguezia de Geremoabo , em
logar denominado Detraz da Serra, para o Nascente
DA BAHIA COM SERGIPE 521

divide com o riacho do Vigario , para o Norte com Ca


nudos , para o Poente com o Cambaio e para o Sul com
o Aracati .
Geremoabo, 19 de Novembro de 1856. -A rogo de
Thomé Pereira Leal - Anselmo Cardoso da Silva- O
Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 80- Lazaro Pereira Leal possue um
quinhão de terras nesta Freguezia de Geremoabo , no
logar denominado Canudos , cuja terra divide pela
forma seguinte : para o Norte com Cocorobó , digo para
o Nascente, com Cocorobó , para o Norte com Canna
Brava, para o Poente com a Barra e para o Sul com o
Rosario .

Geremoabo , 19 de Novembro de 1856. -A rogo


de Lazaro Pereira Leal , Anselmo Cardoso da Silva.
O Vigario, Joaquim I. de Vasconcellos
Exemplar 81 Simpliciano dos Reis Pereira
possue um quinhão de terras , nesta Freguezia de Gere
moabo, no logar denominado Canna Brava, cuja terra
divide-se pela forma seguinte : para o Nascente com
Cocorobó, para o Poente com Riacho dos Bois , para
o Sul com a Barra.
Geremoabo , 19 de Novembro de 1959 .-—A rogo
de Simpliciano dos Reis Pereira , Anselmo Cardoso da
Silva . O Vigario Joaquim Ignacio de Vasconcellos .
Exemplar 82 - Simpliciano dos Reis Pereira
possue um quinhão de terras nesta Freguezia de Gere
moabo, no logar denominado Barra, cujas terras
divide-se pela forma seguinte : para o Nascente com os
Canudos, para o Norte com Canna- Brava, para o
Poente com Coiqui e para o Sul com o Cambaio .
Geromoabo, 19 de Novembro de 1856. -A rogo
LIMITES 66
522 LIMITES

de Simplicio dos Reis Pereira Anselmo Cardoso da


Silva-O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 83-0 abaixo assignado em cumpri
mento a Lei vem registrar um quinhão de terras que
possue no logar denominado Baixa, em terras do Frade,
desta Freguezia , que comprou a José Vicente de
Carvalho e divide-se com os mais hereos .
Geremoabo , 16 de Novemblo de 1856.- Francisco
F. de Carvalho .
Exemplar 84 - Sebastião José Quadrado possue
um pedaço de terra nesta freguezia de Geremoabo, no
logar denominado Canudos , cujas terras divide- se pela
forma seguinte : Para o Nascente com Cocorobó para o
• Norte com Canna Brava para o Poente com a Barra ,
para o Sul com o Rosario .
Geremoabo, 19 de Novembro de 1856. -- Por

Sebastião José Quadrado, Anselmo Cardoso da Silva .


O Vigario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 85 - Victorino José de Sant'Anna possue
um quinhão de terras nesta Freguezia de Geremoabo.
no logar denominado Canudos dividida na forma
seguinte : Pelo Nascente com o Cocorobó, pelo Norte
com Canna Brava , pelo Poente com a Barra e pelo Sul
com o Rosario.

Geremoabo, 20 de Novembro de 1856. -A rogo


de Victorino José de Sant'Anna, Anselmo Cardoso da
Silva.- O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 86-0 abaixo assignado possue nesta
Freguezia de Geremoabo uma porção de terras no
logar denominado Agoada por indiviso―João Cornelio
Alvares dos Santos . -O Vigario , Joaquim Ignacio de
Vasconcellos.
DA BAHIA COM SERGIPE 523
we are here to

Exemplar 87- Theodorio Pereira de Almeida


possue nesta Freguesia de Geremoabo uma sorte de
terras no logar denominado Fernandes indiviso com
uns e outros hereos possuidores . A rogo de Theodo
rio Pereira de Almeida , Pedro Luiz Amado . -O Vigario ,
Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 88-José Martins de Carvalho possue
nesta Freguezia de Geremoabo, uma sorte de terras
no logar denominado Lagoa das Pedras communs com
outros possuidores . A rogo de José Martins de Car
valho , Pedro Luiz Amado . -O Vigario , Joaquim Igna
cio de Vasconcellos.

Exemplar 89- O Commandante Superior Anto


nio Manoel Fraga vem registrar as terras seguintes:
que possue na Freguezia de Geremoabo ; Fazendas
Varzea dos Gatos , Limoeiro e Pedregulho , havidas de
compra ao Capitão Manoel Felix como Procurador da
casa da Torre , as quaes dividem por parte do Sul , no
Rio Vasa-barris , na passagem da Ilha com terras da
Tapera, subindo pelo Rio ao Norte , até topar com terras
da Fazenda Curral do Tanque e Rosario do Coronel
João Dantas dos Reis , a qual houve de compra ao fi
nado major José Antonio de Menezes . Engenho Santa
Anna, 17 de Setembro de 1856. - Antonio Manoel
Fraga . O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 90—0 Commandante Superior Antonio
Manoel Fraga vem registrar as terras seguintes : que
possue na Freguezia de Geremoabo ; Fazendas Varzea
dos Gatos , Limoeiro e Pedregulho , havidas de compra
ao Capitão Manoel Felix como Procurador da casa do .
Torre, as quaes por parte do Sul , no Rio Vasa -barris ,
na passagem da Ilha com terras da Tapera, subindo
524 LIMITES

pelo Rio ao Norte , até topar com terras da Fazenda


Baixa, e seguindo ao Poente a passar nas Covas , irá a
estrada real , que segue de Geremoabo para Simão Dias ,
e por esta abaixo até repartir ao meio a extensão que
se acha entre a Lagoa da Roça e Serrote , que são
mixtas as terras do Coronel João Dantas , na Fazenda
Curral do Tanque . Engenho Sant'Anna, 17 de Se
tembro de 1856- Antonio Manoel de Fraga. O Vigario ,
Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 91 - O Commandante Superior Anto
nio Manoel de Fraga, vem registrar as terras da Fa
zenda Velha compradas a Manoel Prudente , na Fre
guezia de Geremoabo . as quaes dividem pelo Sul com
a Fazenda do Valle, pelo Nascente com a Fazenda das
Canôas , pelo Norte com a Fazenda do Riacho de João
Funes e pelo Poente com terras de sua Fazenda Varzea
dos Gatos. Engenho de Sant'Anna , 17 de Setembro de
1856. Antonio Manoel de Fraga . -O Vigario, Joaquim
Ignacio de Vasconcellos .
Exemplar 92 José Gabriel de Souza Freire , tem
para registrar uma sorte de terras no Rio do Peixe de
marcadas pelo modo seguinte : divide-se pelo Sul com
José de Fraga , pelo Leste com Paulo José , pelo Norte
com Francisco Borges e pelo Sudoeste com Miguel
Francisco . Rio do Peixe, 15 de Setembro de 1856.

Freguezia de Geremoabo , João Gabriel de Souza


Freire . O Vigario , Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 93. -José Gabriel tem para registrar
uma sorte de terras no Poço Doce demarcada e dividida
como se acha do modo seguinte: pelo Noroeste com
Manoel Pereira, pelo Nordeste com José Pereira , pelo
Sul com José Martins , pelo Sudoeste com Luiz Tor
DA BAHIA COM SERGIPE 525

quato . Poço Doce , 15 de Setembro de 1856. Freguezia


de Geremoabo . José Gabriel de Souza Freire .-O Vi
gario, Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 94. - Francisco Antonio de Carvalho ,
Manoel de Carvalho Carregosa , Alexandre José de
Carvalho e Paulino de Carvalho Freire proprietarios
do terreno em que estão sitas as Fazendas Barreiras e
Joaz no termo de Geremoabo vem em cumprimento da
Lei digo, em comprimento dos Artigos 91 e 100 e um
Decreto numero 1318 , de 30 de Janeiro de 1854 re
gistrar o dito terreno pertencente as mesmas Fazendas,
considerado ainda indiviso com terras da Fazenda do

Caixão pertencente ao Capitão Joaquim José de Car


valho .

Simão Dias , 15 de Setembro de 1856. - Francisco


Antonio de Carvalho e seus irmãos acima. -O Vigario ,
Joaquim Ignacio de Vasconcellos.
Exemplar 95 .--Manoel Francisco de Araujo , vem
registrar o terreno de sua Fazenda Juju desta Freguezia
de Geremoabo: divide-se da parte do Nascente com a
Fazenda Cruz , para o Poente com a Fazenda Tarraxil ,
e do Sul e Norte com hereos confiantes conforme sua
Escriptura Geremoabo 8 de Novembro de 1856. - Ma
noel Francisco de Araujo . -O Vigario Joaquim Ignacio
de Vasconcellos.
Exemplar 96.-D. Antonia Francisca de Car
valho , proprietaria do terreno em que está a Fazenda
do Araticum , no termo de Geremoabo vem em compri
mentos dos Artigos 91 e 100 Decreto numero 1318 de
30 de Janeiro de 1854 , registrar o dito terreno com as
demarcações seguintes: Principiará do Rio Vasa Barris
dividido com terras da Fazenda da Pedra, marchará
526 LIMITES

rumo direito para dentro onde faz seus fundos e ahi


dividirá com Sacco Verde, e para a parte de baixo
com terras de Manoel José e João Domingues e dahi
marchará rumo direito a extremar com Felix Martins
no Curral Velho , e ahi marchará rumo direito divi
dindo com o mesmo Felix a metter no dito Rio e subirá

por este acima, até onde principiou .

Simão Dias 15 de Setembro de 1856. A mandado

de D. Antonia Francisca de Carvalho , por não saber ler


nem escrever, seo filho : Francisco Antonio de Carvalho .
-O Vigario, Joaquim Ignacio Vasconcellos.

Exemplar 97 -José Zacharias de Carvalho e seo


irmão o Padre João Batista de Carvalho Daltro , que
rem registrar conforme a Lei dous quinhões de terras
que os mesmos possuem em Fazenda Velha da Raposa ,
neste Municipio , os quaes quinhões estão indivisos ,
possuem de herança de seu finado pae José Domingos
de Carvalho, José Zacharias de Carvalho . —O Vigario ,
Joaquim Ignacio Vasconcellos.

Exemplar 98 - Felix de Almeida Costa, vem re


gistrar uma posse de terras suas na Fazenda dos Poços ,
nesta Freguezia de Geremoabo , cujas terras são indi
visas : Felix de Almeida Costa-O Vigario , Joaquim
Ignacio de Vasconcellos .

Exemplar 99 - Cosme Damião de Carvalho possue


nesta Freguezia de Geremoabo uma sorte de terras na
Fazenda Marancó, que houve de herança do finado
seu Pae Fabiano José de Carvalho por isto vem dar a
registro .
Villa de Geremoabo, 10 de Novembro de 1856.
A rogo de Cosme Damião de Carvalho -José Fran
DA BAHIA COM SERGIPE 527

cisco dos Passos . -O Vigario, Joaquim Ignacio de


Vasconcellos.
Exemplar 100 - Simplicia Maria do Nascimento
possue nesta Freguezia de Geremoabo uma sorte de
terras na Fazenda Marancó e seus logradouros Taman
duá e Gado Bravo, a qual vem registrar .
Villa de Geremoa bo , 10 de Novembro de 1856.
A rogo de Simplicia Maria do Nascimento-José Fran
cisco de Passos -O Vigario , Joaquim Ignacio de Vas
concellos.
OBSERVAÇÕES

No doc. n. 93 , pag . 285 , as palavras seguintes devem ser


gryphadas como adiante se lê: e respeitando ao que os mora
dores de Itapicuru ' e Abbadia me representaram quando se eri
giram aquellas villas, me parece que de nenhuma maneyra devem
ficar sujeitas ao ouvidorde Sergipe del Rey por não experimen
tarem os excessos com que pelos officiaes daquella Capitania eram
ameaçados e actualmente o são por inimisades que contrahiram
com sua visinhança e dependencias, etc.
No doc. n . 94, pag . 286 , como adiante se lê, as seguintes
palavras devem ser gryphadas : me parece que a correyção das
ditas villas se não separe desta comarca pelos motivos quejá
tenho exposto a V. Magestade epara que não padeção , etc.
Tambem no doc. n . 95 , pag . 287 , as palavras seguintes
devem ser lidas gryphadas: declarardes a providencia que se devia
dar acerca da comarca a que devemficar sujeitas as villas de Ita
picuru' e Abbadia , representando-me que é sem duvida que o
Ouvidor dessa comarca da Bahia, etc.
Outrosim, no doc. n . 96 , pag . 289 , as palavras adiante
devem ser lidas com grypho: de Sergipe do Conde e a da Abba
dia onde não foi e só mandou hir a do Itapicuru' os juzes e offi
ciaes da camara della , etc.
Do mesmo modo que nos casos acima serão lidas com
grypho as palavras seguintes do doc . n . 97 , pag . 290 : que para
se annexar a villa da Abbadia á comarca de Sergipe del Rey
ha as inconveniencias que representa na conta inclusa, etc.
ERRATA

No doc. n. 5, pag. 49, onde se lê: 15 de Novembro leia-se 18 de No


vembro.
No doc. n. 56, pag. 136, onde se lê : da secretaria do Estado, leia-se: do
secretario do Estado.
No doc. n. 58, pag. 146, onde se lê: da parte do povo sergipano, leia- se:
de parte do povo sergipano.
No doc. n. 59, pag. 213, onde se lê: conta do Governo, leia-se: conta ao
Governo.
No doc. n. 63, pag. 224, onde se lê: Vice-Prssidente, leia-se : Vice - Pre
• sidente.
No doc. n. 65, pag . 229, onde se lê: sciente carta, leia-se: Sciente carta.
No doc. n. 81 , pag. 260, onde se lê: o disctrictos, leia-se : o districto.
No doc. n . 88 , pag. 273, onde se lê: em villas em Itapicurú, leia- se: novas
villas em Itapicurú.
No doc. n. 89, pag. 277, onde se lê: 1726, leia -se: 1729.
No doc. n. 90 , pag . 280, onde se lê: mos-trada, leia-se: mostrada.
No doc. n. 90, pag. 280, onde se lê: Comarca receas, leia-se: na sua Co
marca receam.
No doc. n. 91 , pag. 281, onde se lê : Carta da Vice-Rey, na juridicção e
1724, leia-se: Carta do Vice-Rey, na jurisdicção e 1727.
No doc. n . 91 , pag. 283, onde se lê: havendo mister e Menzes, leia- se:
havemos mister e Menezes.
No doc. n. 92, pag. 284, onde se lê: 1729, leia-se: 1727.
No doc. n. 97, pag. 294, onde se lê: 1743 , leia-se: 1741.
No doc. n. 114, pag. 320, onde se lê: onde condusem, leia-se: para onde
condusem.
No doc. n. 133, pag. 370, onde se lê: verdade de , leia-se: verdade.
No doc. n. 139, pag. 376, onde se lê: Janaeiro , leia-se: Janeiro.
No doc. 161 , pag . 406, onde se lê: nos documentos, leia-se: nos documen
tos 129 e 132.
No doc. n. 163, pag. 408, onde se lê: da Coité, leia- se : do Coité.
No doc. n. 166, pag . 413, onde se lê: conselho adherindo ao regimem, leia
se: Conselho do Coité adherindo ao regimen.
No doc. n . 166, pag. 415, onde se lê: Pulbico, leia-se : Publico .
LIMITES

DO

ESTADO DA BAHIA

VOLUME

BAHIA-ESPIRITO SANTO

BAHIA
ESTADO DA

124
PPB BRAZILS

BAHIA
IMPRENSA OFFICIAL DO ESTADO
Rua da Misericordia , n. 1

1917
LIMITES DO ESTADO DA BAHIA

II VOLUME
}
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6
p

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LIMITES

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ESTADO DA BAHIA

II VOLUME

BAHIA---ESPIRITO SANTO

l
y sal
Bra Gmu

O HIA
ESTAD DA BA

SURGO
BRAZILS

BAHIA
IMPRENSA OFFICIAL DO ESTADO
Rua da Misericordia, n. 1

1917
1
Sendo Governador do Estado o Exm. Sr.
Dr. Antonio Ferrão Moniz de Aragão

Secretario do Interior o Exm. Sr. Dr. Gon


çalo Moniz Sodré de Aragão.

Mandou o Governo fazer este


livro para defeza dos direitos
da Bahia

PELO

Prof. Dr. Braz do Amaral


AO LEITOR

Tendo sido encarregado pelo Governo do


Estado de estudar as questões de limites, en
treguei á publicidade o 1 volume com o sub
titulo Bahia- Sergipe, no tempo da adminis
tração do Exm. Sr. Dr. Joaquim Seabra.
Devendo seguir-se o 2 volume com o sub
titulo Bahia- Espirito Santo que é o presente,
foi o trabalho demorado por multiplas causas,

algumas das quaes decorrentes da situação


anormal que atravessamos.
O Exm. Sr. Dr. João Gonçalves Tourinho ,
digno secretario da Fazenda, removeu as diffi
culdades que haviam surgido e o presente livro
sae agora.
Não encontrei toda a correspondencia do
periodo das administrações dos Exms. Gover
nadores Luiz Vianna e Severino Vieira, prõva

velmente por ter sido ella telegraphica e não


haver sido conservada como a que é feita por
officios e cartas .

Tambem não me foi possivel encontrar o


officio do Governo da Bahia ao do Espirito

Santo a que se refere a Mensagem do Exm.


Governador Araujo Pinho, conforme a decla
ração contida na nota da pag . 464.
Devo declarar que a redacção das ementas;
é de minha responsabilidade.

Braz do Amaral.
SUMMARIO

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 1 Exposição Geral resumida do assumpto deste
livro pelo Dr. Braz do Amaral …… ... 1
N. 2 Copia existente na Bibliotheca Nacional do
Traslado da Doação da Capitania de Porto
Seguro a Pero do Campo - N . 5667 do Cat. da
Exposição de Historia do Brasil (codice 1 , 5,
2 e 4) Anno de 1538 ... 7
N. 3 Carta de doação da Capitania de Vasco Fernan
des Coutinho-Espirito Santo .. 21
N. 4 Memorial apresentado ao Exmo . Sr. Dr. Ar
lindo Fragozo, Secretario do Estado da Bahia
pelo Dr. Braz do Amaral, sobre os limites da
353545

Bahia e do Espirito Santo.- Bahia, 5 de Agosto


de 1912 .......
N. 5 Parecer do jurista Dr. Eduardo Spinola .. 57
N. 6 Extracto do Tratado Descriptivo do Brasil, de
Gabriel Soares de Souza . 1587, que demonstra
não ser verdadeira a asserção contida no officio
do Presidente do Espirito Santo de 28 de Setem
bro de 1882, de haver sido o rio Mucury consi
derado como divisoria entre as Capitanias de
Porto Seguro e Espirito Santo, o que nunca se
deu, porque ella foi sempre pelo rio Doce ...... 132
N. 7 Extracto da Razão do Estado do Brasil , que de
monstra ter sido sempre o rio Doce a divisoria
entre Porto Seguro e Espirito Santo e na occa
sião em que foi este paiz, nos tempos coloniaes,
separado em dois governos, haver sido a raia
pelo Cricaré ou S. Matheus e nunca pelo Mu
cury, pelo que se torna claro não ser exacta a
affirmação do presidente do Espirito Santo no
seu officio de 28 de Setemebro de 1882 .... 140
N. 8 Officio em que o Governo do Espirito Santo
desvenda as suas pretenções até o rio Mucury,
dizendo que este limite lhe havia sido dado
nos tempos coloniaes, quando capitania ………… . 142
II

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 9 Carta de confirmação da Capitania do Espirito
Santo a Antonio Luiz Gonçalves de Camara
Coutinho, pela qual se vê que a doação se man
teve até o ultimo membro da familia de Vasco
Fernandes Coutinho, como este a havia recebido,
isto é, onde acabassem as cincoenta leguas que
o Soberano havia dado a Pero do Campo Touri
nho, donatario de Porto Seguro. Vide pags. 8
e 22, para o cotêjo e prova de que não foi fi
xado ou estabelecido ponto algum para nelle
acabar a Capitania de Porto Seguro e começar
a do Espirito Santo ..... 145
N. 10 Pareceres do Conselho Ultramarino e despa
chos do rei que demonstram não se terem alte
rado os termos da doação da Capitania de Vasco
Fernandes Coutinho, quando passou da fami
lia deste para Francisco Gil de Araujo, o que
prova não ser exacto que nesta occasião lhe
fosse determinado como divisa ao Norte, o rio
Mucury........ 148.
N. 11
Alvará pelo qual o rei de Portugal concedeu a
Antonio Luiz Gonçalves da Camara Coutinho,
autorização para vender a Capitania do Espirito
Santo a Francisco Gil de Araujo, com todas as
clausulas, condições , etc., da doação feita a seu
ascendente Vasco Fernandes Coutinho, isto , é,
exactamente como a possuia e lograva até ahi ,
pelo que se evidencia não ser exacta a affirma
ção do presidente do Espirito Santo no officio
de 28 de Setembro de 1882, de ter o rei alterado
a doação, fixando a divisoria da Capitania
transferida a Francisco Gil de Araujo, pois a
transferencia se fez com todas as clausulas e
condições da doação primitiva feita a Vasco Fer
nandes. Vide pags. 8 e 22 para cotejo e prova
de que não foi fixada, marcada ou estabelecida
linha ou ponto, tanto para terminação da Capita
nia do Espirito Santo como para principio da
de Porto Seguro ..... 152
N. 12 Petição que prova ter Francisco Gil de Araujo
comprado a Capitania do Espirito Santo como a
tiveram Vasco Fernandes e seus descendentes
III

Documentos ASSUMPTOS Pags.

e não com alteração de se lhe marcar ao Norte


por divisa o rio Mucury, como erradamente af
firmou o presidente do Espirito Santo em 1882. 155
N. 13 Parecer do Conselho Ultramarino e despacho
do rei authorizando a transferencia da Capita
nia do Espirito Santo de Antonio Coutinho
para Francisco Gil de Araujo , pelo qual se vê
não ter sido alterada a doação , nem lhe haver
sido marcada divisa ao Norte pelo rio Mucury,
donde se collige não ser verdadeira a allegação
feita pelo presidente do Espirito Santo no offi
cio de 28 de Setembro de 1882 .... 156
N. 14 Extracto do Roteiro de Pedro Barbosa Leal,
que demonstra haver engano na affirmação
feita pelo presidente do Estado do Espirito
Santo de haver sido fixada no rio Mucury a
divisoria desta Capitania com a de Porto Se
guro, quando foi aquella transferida a Fran
cisco Gil de Araujo, porque sempre foi o rio
Doce a linha de separação das referidas ca
pianias... 158
N. 15Extracto do volume manuscripto n. 2544, da
da Bibliotheca Nacional, pelo qual se eviden
cia que até o fim do periodo colonial foi sem
pre o rio Doce a linha divisoria entre as Capi
tanias de Porto Seguro e Espirito Santo .... 160
N. 16 Diversos alvarás de sesmaria que provam, as
sim como o Roteiro de Barbosa Leal e a des
cripção de Vilhena, etc., ser por todos conside
rado, tanto depois de passar a Capitania do
Espirito Santo a Francisco Gil de Araujo, como
i antes disso, o territorio até o rio Doce parte in
tegrante da Capitania de Porto Seguro, do que
se deduz laborar em erro o Governo do refe
rido Estado quando disse que por occasião de
ser transferida a Capitania para Francisco Gil
The fora dada a raia do Mucury.. 161
N. 17 Prova da legalidade da jurisdicção da Bahia em
S. Matheus ...... 178
N. 18 Documento que prova a legitimidade da juris
dicção da Bahia no districto de S. Matheus... 179
IV

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 19 Conflicto de jurisdicção pelo qual se verifica
haver sido sempre reconhecido o districto de
S. Matheus como parte integrante da Capitania
de Porto Seguro e portanto da Bahia. Reco
nhecimento de tal facto como legal pelo mais
antigo Tribunal Superior do Brasil .... ....... 179
N. 20 Extracto do Livro de Registro das Cartas e
Informações mandadas para o Conselho Ultra
marino, mostrando que a Capitania de Porto
Seguro fazia parte da comarca da Bahia ..... 186
N. 21 Carta do Provedor mór da Fazenda na Bahia
dirigida ao ministro Sebastião de Carvalho,
(marquez de Pombal ) capeando uma informa
ção que lhe havia sido ordenada, pela qual se vê
que a povoação de S. Matheus sempre perten
ceu a Capitania de Porto Seguro…………. 187
N. 22 Creeação da ouvidoria de Porto Seguro, com o
fim de fundar villas naquella capitania, fomen
tar o seu desenvolvimento e progresso, cultivo e
colonisação como centro de vida administra
ctiva e judiciaria .... 189
N. 23 Instrucções dadas pelo Marquez de Pmbal ao
magistrado que foi por elle encarregado da
creação da ouvidoria de Porto Seguro, Thomé
Couceiro de Abreu. Neste documento se vè a
clarividencia do preclaro estadista, como atten
deu a todos os ramos de serviço publico, á jus
tiça e civilização do povo, á economia como á
defeza e ás futuras fontes de trabalho e de
renda. Tambem se vê que o magistrado trouxe
a incumbencia expressa de fundar villas, demar
car os seus termos, etc, pelo Directorio de 3 de
Março de 1755, assim como que o territorio de
S. Matheus está terminantemente indicado para
nelle ser fundada uma dessas villas, o que é a
mais decisiva prova de ser tal territorio da Ca
pitania de Porto Seguro .... 193
N. 24 Cartas do ouvidor Thomé Couceiro de Abreu
que provam a legitimidade da sua jurisdicção
sobre todo o territorio ao sul do rio Mucury, de
accordo com as instrucções que lhe haviam sido
dadas pelo Marquez de Pombal. Veja- se o n. 23,
V

Documentos ASSUMPTOS Pagk


em que declara e positivamente lhe é indicado o
rio S. Matheus para alli fundar uma villa. Tanto
as Instrucções como esta correspondencia, man
tida com a approvação do Governo Portuguez,
demonstram os erros dos mappas dos Srs . Can
dido Mendes e Homem de Mello e dos que os
têm copiado... 200
N. 25 Por este documento, como por muitos dos que
os vão seguir, se evidencia que o ouvidor de
Porto Seguro foi quem fundou a villa de São
Matheus, conforme as ordens expressas contidas
nas suas Instrucções e tambem se apura de
modo incontroverso que foi a Bahia quem po
voou aquellas terras, fez cultivar o sólo e alli
lançou os principios da civilização , da justiça e
de um governo regular ...... 233
N. 26 Este documento prova bem como o districto de
S. Matheus pertence á Capitania de Porto Se
guro e como obedeceu o ouvidor Thomé Cou
ceiro de Abreu ás Instrucções trazidas de Por
tugal ... 243

N. 27Traslado do auto de creação da villa nova do


Rio de São Matheus , documento juridico , feito
e acabado , que mostra de modo decisivo perten
cer todo o districto de S. Matheus ao Estado
da Bahia, pois o magistrado Thomé Couceiro
de Abreu, ouvidor de Porto Seguro, foi quem
fundou a villa e lhe demarcou o termo, de ac
cordo com as attribuições que lhe dera o rei de
Portugal, nas Instrucções que acompanharam a
sua investidura ……….. 248
N. 28 Documento existente em Lisboa, pelo qual se
verifica haver sempre mantido a Bahia a sua
jurisdicção em S. Matheus, por fazer esta villa
parte da Capitania de Porto Seguro ..... 294
N. 29 Carta mandada ao Governo Portuguez pelo ou
vidor de Porto Seguro, José Xavier Machado
Monteiro, successor de Thomé Couceiro de
Abreu, na qual é positivamente declarado que é
o rio Doce o que divide a Capitania de Porto
Seguro da do Espirito Santo .... 296.
VI

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 30 Carta mandada pelo ouvidor de Porto Seguro,
José Xavier Machado Monteiro, ao Governo
Portuguez, na qual vem ainda outra vez de
clarado que é o rio Doce o que divide as duas
Capitanias de Porto Seguro e Espirito Santo.
Por este documento se vê tambem que Xavier
Monteiro continuou a obra de civilização de
Thomé Couceiro e que foi a Bahia quem cathe
quizou os indios, colonizou a terra até a margem
norte do rio Doce, alli creou culturas, formou
ordem e fundou administração, alli fez conhecer
os direitos da vida e da propriedade e alli iniciou
a educação do povo ... 297
N. 31 Correspondencia do ouvidor de Porto Seguro
com o Governo, pela qual se averigua a sua ju
risdicção sobre toda esta comarca e capitania,
desde o rio Jequitinhonha ou Grande até o rio
Doce e que prova terem sido os magistrados
bahianos os que promoveram o povoamento e a
cultura das terras na Barra do rio de São Ma
theus, assim como na Barra do rio Doce, intro
duzindo tambem alli os principios da ordem, do
Governo e da civilização ..... 302
N. 32 Ordem do Rei para a finta que a Camara de
S. Matheus devia pagar para a construção da
villa de Porto Seguro, séde da sua comarca e
capitania, o que prova a legitimidade da juris
dicção da Bahia sobre aquella villa e seu terri
torio, fundada ella e povoado este por esforço e
acção dos seus magistrados, ordens, cuidados e
auxilios do seu governo .... 316
N. 33 Documento official existente em Lisboa que
demonstra sempre haver pertencido S. Ma
theus á comarca e capitania de Porto Seguro 318
Coteje-se com a reclamação feita pela Camara
a respeito da finta ao magistrado competente
para conhecer della, que era O seu ouvidor
Machado Monteiro
N. 34 Representação da Camara da villa de S. Ma
theus sobre a finta para construcção da casa
da Camara e cadeia da villa, capital da sua
comarca e capitania de Porto Seguro ………….. 319
VII

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 35 Documento do Archivo de Marinha e Ul
tramar de Lisboa que prova a legitimidade da
jurisdicção da Bahia sobre S. Matheus ..... 321
N. 36 Extracto de um relatorio ou carta do Gover
nador do Espirito Santo, Ignacio Monjardino,
em que declara positivamente que a sua capi
tania era do rio Doce para o sul, sendo este
rio a divisoria com a capitania de Porto
Seguro.
N. 37 Requerimento que foi pelo Governo mandado
informar ao Ouvidor de Porto Seguro e que
demonstra como foi incontestavelmente legi
tima a jurisdicção do Ouvidor desta Comarca
e Capitania sobre S. Matheus. O documento
manuscripto original portence ao Archivo Pu
blico da Bahia .... 328
N. 38 Carta da Camara da villa de S. Matheus diri
gida ao ouvidor de Porto Seguro, Xavier
Monteiro, dando conta do cumprimento de
1
ordens do mesmo que mandara concorressem
todas as villas da capitania para a obra da
cadeia da séde da Comarca, a villa de Porto
Seguro .... 338
N. 39 Documento que prova irem as terras do pa
trimonio da villa de S. José de Porto Alegre
até o riacho Doce, um pouco ao sul do rio
Mucury. E' um documento juridico, feito e
acabado com a perfeição com que elles o eram
no tempo da creação da referida villa. Por
ahi se vê o engano do mappa do Sr. Barão
Homem de Mello e fica satisfeito o desejo
do Exm . Sr. Presidente do Espirito Santo no
seu officio de 13 de Agosto deste anno de 1917 339
N. 40 Documentos que provam como era legitima
a jurisdicção da Bahia sobre S. Matheus , villa
da sua comarca e capitania de Porto Seguro.
Por elles tambem se vê como havia sido
justa a previsão do Marquez do Pombal quando
nasInstrucções ao primeiro ouvidor de Porto
Seguro deu tão preciosas ordens para o arrotea
mento do districto de S. Matheus. Todos elles
demonstram ainda que não tinha sido impro
VI

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 30 Carta mandada pelo ouvidor de Porto Seguro,
José Xavier Machado Monteiro, ao Governo
Portuguez, na qual vem ainda outra vez de
clarado que é o rio Doce o que divide as duas
Capitanias de Porto Seguro e Espirito Santo.
Por este documento se vê tambem que Xavier
Monteiro continuou a obra de civilização de
Thomé Couceiro e que foi a Bahia quem cathe
quizou os indios, colonizou a terra até a margem
norte do rio Doce, alli creɔu culturas, formou
ordem e fundou administração, alli fez conhecer
os direitos da vida e da propriedade e alli iniciou
a educação do povo ... 297
N. 31 Correspondencia do ouvidor de Porto Seguro
com o Governo, pela qual se averigua a sua ju
risdicção sobre toda esta comarca e capitania,
desde o rio Jequitinhonha ou Grande até o rio
Doce e que prova terem sido os magistrados
bahianos os que promoveram o povoamento e a
cultura das terras na Barra do rio de São Ma
theus, assim como na Barra do rio Doce, intro
duzindo tambem alli os principios da ordem, do
Governo e da civilização ... 302
N. 32 Ordem do Rei para a finta que a Camara de
S. Matheus devia pagar para a construção da
villa de Porto Seguro, séde da sua comarca e
capitania, o que prova a legitimidade da juris
dicção da Bahia sobre aquella villa e seu terri
torio, fundada ella e povoado este por esforço e
acção dos seus magistrados, ordens, cuidados e
auxilios do seu governo . 316
N. 33 Documento official existente em Lisboa que
demonstra sempre haver pertencido S. Ma
theus á comarca e capitania de Porto Seguro 318
Coteje-se com a reclamação feita pela Camara
a respeito da finta ao magistrado competente
para conhecer della, que era O seu ouvidor
Machado Monteiro
N. 34 Representação da Camara da villa de S. Ma
theus sobre a finta para construcção da casa
da Camara e cadeia da villa, capital da sua
comarca e capitania de Porto Seguro ……………. 319
VII

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 35 Documento do Archivo de Marinha e Ul
tramar de Lisboa que prova a legitimidade da
jurisdicção da Bahia sobre S. Matheus ... 321
N. 36 Extracto de um relatorio ou carta do Gover
nador do Espirito Santo, Ignacio Monjardino,
em que declara positivamente que a sua capi
tania era do rio Doce para o sul, sendo este
rio a divisoria com a capitania de Porto
Seguro.
N. 37 Requerimento que foi pelo Governo mandado
informar ao Ouvidor de Porto Seguro e que
demonstra como foi incontestavelmente legi
tima a jurisdicção do Ouvidor desta Comarca
e Capitania sobre S. Matheus. O documento
manuscripto original portence ao Archivo Pu
blico da Bahia ..... 328
N. 38 Carta da Camara da villa de S. Matheus diri
gida ao ouvidor de Porto Seguro, Xavier
Monteiro, dando conta do cumprimento de
ordens do mesmo que mandara concorressem
todas as villas da capitania para a obra da
cadeia da séde da Comarca, a villa de Porto
Seguro.... 338
N. 39 Documento que prova irem as terras do pa
trimonio da villa de S. José de Porto Alegre
até o riacho Doce, um pouco ao sul do rio
Mucury. E' um documento juridico, feito e
acabado com a perfeição com que elles o eram
no tempo da creação da referida villa. Por
ahi se vê o engano do mappa do Sr. Barão
Homem de Mello e fica satisfeito o desejo
do Exm. Sr. Presidente do Espirito Santo no
seu officio de 13 de Agosto deste anno de 1917 339
N. 40 Documentos que provam como era legitima
a jurisdicção da Bahia sobre S. Matheus , villa
da sua comarca e capitania de Porto Seguro.
Por elles tambem se vê como havia sido
justa a previsão do Marquez do Pombal quando
nasInstrucções ao primeiro ouvidor de Porto
Seguro deu tão preciosas ordens para o arrotea
mento do districto de S. Matheus. Todos elles
demonstram ainda que não tinha sido impro
SUMMARIO

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 1 Exposição Geral resumida do assumpto deste
livro pelo Dr. Braz do Amaral .. 1 .
N. 2 Copia existente na Bibliotheca Nacional do
Traslado da Doação da Capitania de Porto
Seguro a Pero do Campo- N. 5667 do Cat. da
Exposição de Historia do Brasil (codice 1 , 5,
2 e 4) Anno de 1538 ..... 7
N. 3 Carta de doação da Capitania de Vasco Fernan
des Coutinho-Espirito Santo ..... 21
N. 4 Memorial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Ar
lindo Fragozo, Secretario do Estado da Bahia
pelo Dr. Braz do Amaral, sobre os limites da
Bahia e do Espirito Santo. - Bahia, 5 de Agosto
de 1912 ....... 34
N. 5 Parecer do jurista Dr. Eduardo Spinola …… ... 57
N. 6 Extracto do Tratado Descriptivo do Brasil, de
Gabriel Soares de Souza. 1587, que demonstra
não ser verdadeira a asserção contida no officio
do Presidente do Espirito Santo de 28 de Setem
bro de 1882, de haver sido o rio Mucury consi
derado como divisoria entre as Capitanias de
Porto Seguro e Espirito Santo, o que nunca se
deu, porque ella foi sempre pelo rio Doce ...... 132
N. 7 Extracto da Razão do Estado do Brasil , que de
monstra ter sido sempre o rio Doce a divisoria
entre Porto Seguro e Espirito Santo e na occa
sião em que foi este paiz, nos tempos coloniaes,
separado em dois governos, haver sido a raia
pelo Cricaré ou S. Matheus e nunca pelo Mu
cury, pelo que se torna claro não ser exacta a
affirmação do presidente do Espirito Santo no
seu officio de 28 de Setemebro de 1882 .. 140
N. 8 Officio em que o Governo do Espirito Santo
desvenda as suas pretenções até o rio Mucury,
dizendo que este limite lhe havia sido dado
nos tempos coloniaes, quando capitania .... . . . 142
II

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 9 Carta de confirmação da Capitania do Espirito
Santo a Antonio Luiz Gonçalves de Camara
Coutinho, pela qual se vê que a doação se man
teve até o ultimo membro da familia de Vasco
Fernandes Coutinho, como este a havia recebido,
isto é, onde acabassem as cincoenta leguas que
o Soberano havia dado a Pero do Campo Touri
nho, donatario de Porto Seguro . Vide pags. 8
e 22, para o cotėjo e prova de que não foi fi
xado ou estabelecido ponto algum para nelle
acabar a Capitania de Porto Seguro e começar
a do Espirito Santo ..... 145
N. 10 Pareceres do Conselho Ultramarino e despa
chos do rei que demonstram não se terem alte
rado os termos da doação da Capitania de Vasco
Fernandes Coutinho, quando passou da fami
lia deste para Francisco Gil de Araujo, o que
prova não ser exacto que nesta occasião lhe
fosse determinado como divisa ao Norte, o rio
Mucury .... ...... 148.
N. 11 Alvará pelo qual o rei de Portugal concedeu a
Antonio Luiz Gonçalves da Camara Coutinho,
autorização para vender a Capitania do Espirito
Santo a Francisco Gil de Araujo, com todas as
clausulas, condições, etc., da doação feita a seu
ascendente Vasco Fernandes Coutinho, isto, é,
exactamente como a possuia e lograva até ahi,
pelo que se evidencia não ser exacta a affirma
ção do presidente do Espirito Santo no officio
de 28 de Setembro de 1882, de ter o rei alterado
a doação, fixando a divisoria da Capitania
transferida a Francisco Gil de Araujo, pois a
transferencia se fez com todas as clausulas e
condições da doação primitiva feita a Vasco Fer
nandes. Vide pags. 8 e 22 para cotejo e prova
de que não foi fixada, marcada ou estabelecida
linha ou ponto, tanto para terminação da Capita
nia do Espirito Santo como para principio da
de Porto Seguro..... 152
N. 12 Petição que prova ter Francisco Gil de Araujo
comprado a Capitania do Espirito Santo como a
tiveram Vasco Fernandes e seus descendentes
III

Documentos ASSUMPTOS Pags.


e não com alteração de se lhe marcar ao Norte
por divisa o rio Mucury, como erradamente af
firmou o presidente do Espirito Santo em 1882. 155
N. 13 Parecer do Conselho Ultramarino e despacho
do rei authorizando a transferencia da Capita
nia do Espirito Santo de Antonio Coutinho
para Francisco Gil de Araujo, pelo ' qual se ve
não ter sido alterada a doação, nem lhe haver
sido marcada divisa ao Norte pelo rio Mucury,
donde se collige não ser verdadeira a allegação
feita pelo presidente do Espirito Santo no offi
cio de 28 de Setembro de 1882 ..... 156
N. 14 Extracto do Roteiro de Pedro Barbosa Leal,
que demonstra haver engano na affirmação
feita pelo presidente do Estado do Espirito
Santo de haver sido fixada no rio Mucury a
divisoria desta Capitania com a de Porto Se
guro, quando foi aquella transferida a Fran
cisco Gil de Araujo, porque sempre foi o rio
Doce a linha de separação das referidas ca
pianias... 158
N. 15 Extracto do volume manuscripto n. 2544 , da
da Bibliotheca Nacional, pelo qual se eviden
cia que até o fim do periodo colonial foi sem
pre o rio Doce a linha divisoria entre as Capi
tanias de Porto Seguro e Espirito Santo .... 160
N. 16 Diversos alvarás de sesmaria que provam , as
sim como o Roteiro de Barbosa Leal e a des
cripção de Vilhena, etc., ser por todos conside
rado , tanto depois de passar a Capitania do
Espirito Santo a Francisco Gil de Araujo, como
antes disso, o territorio até o rio Doce parte in
tegrante da Capitania de Porto Seguro , do que
se deduz laborar em erro o Governo do refe
rido Estado quando disse que por occasião de
ser transferida a Capitania para Francisco Gil
The fora dada a raia do Mucury ... 161
N. 17 Prova da legalidade da jurisdicção da Bahia em
S. Matheus ..... 178
N. 18 Documento que prova a legitimidade da juris
dicção da Bahia no districto de S. Matheus... 179
IV

Documentos ASSUMPTOS
1"Pags.
N. 19Conflicto de jurisdicção pelo qual se verifica
haver sido sempre reconhecido o districto de
S. Matheus como parte integrante da Capitania
de Porto Seguro e portanto da Bahia. Reco
nhecimento de tal facto como legal pelo mais
antigo Tribunal Superior do Brasil ....... 179
N. 20 Extracto do Livro de Registro das Cartas e
Informações mandadas para o Conselho Ultra
marino, mostrando que a Capitania de Porto
Seguro fazia parte da comarca da Bahia ……….. 186
N. 21 Carta do Provedor mór da Fazenda na Bahia
dirigida ao ministro Sebastião de Carvalho,
(marquez de Pombal ) capeando uma informa
ção que lhe havia sido ordenada, pela qual se vê
que a povoação de S. Matheus sempre perten
ceu a Capitania de Porto Seguro ..... 187
N. 22 Creeação da ouvidoria de Porto Seguro, com o
fim de fundar villas naquella capitania, fomen
tar o seu desenvolvimento e progresso, cultivo e
colonisação como centro de vida administra
ctiva e judiciaria .... 189
N. 23 Instrucções dadas pelo Marquez de Pmbal ao
magistrado que foi por elle encarregado da
creação da ouvidoria de Porto Seguro, Thomé
Couceiro de Abreu . Neste documento se vè a
clarividencia do preclaro estadista, como atten
deu a todos os ramos de serviço publico, á jus
tiça e civilização do povo , á economia como á
defeza e ás futuras fontes de trabalho e de
renda. Tambem se vê que o magistrado trouxe
a incumbencia expressa de fundar villas, demar
car os seus termos, etc, pelo Directorio de 3 de
Março de 1755, assim como que o territorio de
S. Matheus está terminantemente indicado para
nelle ser fundada uma dessas villas, o que é a
mais decisiva prova de ser tal territorio da Ca
pitania de Porto Seguro ... . 193
N. 24 Cartas do ouvidor Thomé Couceiro de Abreu
que provam a legitimidade da sua jurisdicção
sobre todo o territorio ao sul do rio Mucury, de
accordo com as instrucções que lhe haviam sido
dadas pelo Marquez de Pombal. Veja- se o n. 23,
V

Documentos ASSUMPTOS Pags.


em que declara e positivamente lhe é indicado o
rio S. Matheus para alli fundar uma villa. Tanto
as Instrucções como esta correspondencia, man
tida com a approvação do Governo Portuguez,
demonstram os erros dos mappas dos Srs. Can
dido Mendes e Homem de Mello e dos que os
têm copiado .... 200
N. 25 Por este documento, como por muitos dos que
os vão seguir, se evidencia que o ouvidor de
Porto Seguro foi quem fundou a villa de São
Matheus, conforme as ordens expressas contidas
nas suas Instrucções e tambem se apura de
modo incontroverso que foi a Bahia quem po
voou aquellas terras, fez cultivar o sólo e alli
lançou os principios da civilização, da justiça e
de um governo regular ... . . .. 233
N. 26 Este documento prova bem como o districto de
S. Matheus pertence á Capitania de Porto Se
guro e como obedeceu o ouvidor Thomé Cou
ceiro de Abreu ás Instrucções trazidas de Por
tugal 243

N. 27 Traslado do auto de creação da villa nova do


Rio de São Matheus, documento juridico, feito
e acabado, que mostra de modo decisivo perten
cer todo o districto de S. Matheus ao Estado
da Bahia, pois o magistrado Thomé Couceiro
de Abreu, ouvidor de Porto Seguro, foi quem
fundou a villa e lhe demarcou o termo, de ac
cordo com as attribuições que lhe dera o rei de
Portugal, nas Instrucções que acompanharam a
sua investidura ...... ..... 248.
N. 28 Documento existente em Lisboa, pelo qual se
verifica haver sempre mantido a Bahia a sua
jurisdicção em S. Matheus, por fazer esta villa
parte da Capitania de Porto Seguro ... 294
N. 29 Carta mandada ao Governo Portuguez pelo ou
vidor de Porto Seguro, José Xavier Machado
Monteiro, successor de Thomé Couceiro de
Abreu , na qual é positivamente declarado que é
o rio Doce o que divide a Capitania de Porto
Seguro da do Espirito Santo ... 296.
VI

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 30 Carta mandada pelo ouvidor de Porto Seguro,
José Xavier Machado Monteiro, ao Governo
Portuguez, na qual vem ainda outra vez de
clarado que é o rio Doce o que divide as duas
Capitanias de Porto Seguro e Espirito Santo.
Por este documento se vê tambem que Xavier
Monteiro continuou a obra de civilização de
Thomé Couceiro e que foi a Bahia quem cathe
quizou os indios , colonizou a terra até a margem
norte do rio Doce, alli creou culturas, formou
ordem e fundou administração, alli fez conhecer
os direitos da vida e da propriedade e alli iniciou
a educação do povo... 297
N. 31 Correspondencia do ouvidor de Porto Seguro
com o Governo, pela qual se averigua a sua ju
risdicção sobre toda esta comarca e capitania,
desde o rio Jequitinhonha ou Grande até o rio
Doce e que prova terem sido os magistrados
bahianos os que promoveram o povoamento e a
cultura das terras na Barra do rio de São Ma
theus, assim como na Barra do rio Doce, intro
duzindo tambem alli os principios da ordem, do
Governo e da civilização .... 302
N. 32 Ordem do Rei para a finta que a Camara de
S. Matheus devia pagar para a construção da
villa de Porto Seguro, séde da sua comarca e
capitania, o que prova a legitimidade da juris
dicção da Bahia sobre aquella villa e seu terri
torio, fundada ella e povoado este por esforço e
acção dos seus magistrados, ordens, cuidados e
auxilios do seu governo.. 316
N. 33 Documento official existente em Lisboa que
demonstra sempre haver pertencido S. Ma
theus á comarca e capitania de Porto Seguro 318
Coteje-se com a reclamação feita pela Camara
a respeito da finta ao magistrado competente
para conhecer della, que era O seu ouvidor
Machado Monteiro
N. 34 Representação da Camara da villa de S. Ma
theus sobre a finta para construcção da casa
da Camara e cadeia da villa, capital da sua
comarca e capitania de Porto Seguro.... 319
VII

Documentos ASSUMPTOS Pags.


N. 35 Documento do Archivo de Marinha e UI
tramar de Lisboa que prova a legitimidade da
jurisdicção da Bahia sobre S. Matheus ..... 321
N. 36 Extracto de um relatorio ou carta do Gover
nador do Espirito Santo, Ignacio Monjardino,
em que declara positivamente que a sua capi
tania era do rio Doce para o sul, sendo este
rio a divisoria com a capitania de Porto
Seguro.
N. 37 Requerimento que foi pelo Governo mandado
informar ao Ouvidor de Porto Seguro e que
demonstra como foi incontestavelmente legi
tima a jurisdicção do Ouvidor desta Comarca
e Capitania sobre S. Matheus. O documento
manuscripto original portence ao Archivo Pu
blico da Bahia ..... 328
N. 38 Carta da Camara da villa de S. Matheus diri
gida ao ouvidor de Porto Seguro, Xavier
Monteiro, dando conta do cumprimento de
ordens do mesmo que mandara concorressem
todas as villas da capitania para a obra da
cadeia da séde da Comarca, a villa de Porto
Seguro... 338
N. 39 Documento que prova irem as terras do pa
trimonio da villa de S. José de Porto Alegre
até o riacho Doce, um pouco ao sul do rio
Mucury. E' um documento juridico, feito e
acabado com a perfeição com que elles o eram
no tempo da creação da referida villa. Por
ahi se vê o engano do mappa do Sr. Barão
Homem de Mello e fica satisfeito o desejo
do Exm. Sr. Presidente do Espirito Santo no
seu officio de 13 de Agosto deste anno de 1917 339
N. 40 Documentos que provam como era legitima
a jurisdicção da Bahia sobre S. Matheus, villa
da sua comarca e capitania de Porto Seguro.
Por elles tambem se vê como havia sido
justa a previsão do Marquez do Pombal quando
nasInstrucções ao primeiro ouvidor de Porto
Seguro deu tão preciosas ordens para o arrotea
mento do districto de S. Matheus. Todos elles
demonstram ainda que não tinha sido impro
VIII

Documentos ASSUMPTOS Pags.


ficuo olabor dos dois ouvidores Thomé
Couceiro e Xavier Monteiro , pois os cereaes
alli plantados por insistencia dos mesmos
eram necessarios á alimentação da capital e
delles pouco tempo depois da acção daquel
les ouvidores já fasia o Governo da Bahia
questão importante ........ ......... 372
N. 41 Documentos assignados pelo eminente geogra
pho Antonio Pires da Silva Pontes, Gover
nador do Espirito Santo nos quaes vem de
clarado correr aquella capitania do rio Doce
para o sul ... 375
N. 42 Carta Regia em que vem reconhecida a legiti
midade da jurisdicção da Bahia sobre S. Ma
theus e seu territorio …………. 383,
N. 43 Documento existente em Lisboa que prova
como era certa, reconhecida, incontestavel e
incontestada a jurisdicção da Bahia sobre S.
Matheus, villa da sua Comarca de Porto
Seguro..... 384
N. 44 Documento que prova ser a Capitania do
Espirito Santo do rio Doce para o Norte... 387
N. 45 Documentos que provam como o territorio da
Comarca e Capitania de Porto Seguro é até o
Doce, começando dahi para o sul o da Capita
nia do Espirito Santo .... 406
N. 46 Documento do Archivo Publico da Bahia que
demonstra ter sido sempre legitima e incontes-
tavel a jurisdicção da Bahia sobre todo o ter
ritorio até o rio Doce .. 410
N. 47 Documento que evidencia ser a Capitania
do Espirito Santo do rio Doce para o sul 411
N. 48 Carta do ouvidor de Porto Seguro pedindo
isenção do serviço militar para a população
de S. Matheus que pertencia a sua comarca 415
N. 49 Documentos que provam a incontestada juris
dicção da Bahia sobre o territorio que legitima
mente lhe pertence até o rio Doce.……………… 416
N. 50 Documentos que provam , tanto como a no
meação do ouvidor Xavier Monteiro para con
tinuar a creação da ouvidoria começada por
Thomé Couceiro e como muitos outros que
IX

Documentos ASSUMPTOS Pags.


o rei de Portugal e seus ministros. O Con
selho Ultramarino, a Mesa da Consciencia e
Ordens, os Governadores do Brasil, todas as
autoridades e repartições emfim, tanto da
Europa como da America Portuguesa, tanto da
as da Bahia como as do Espirito Santo, ti
nham a mais completa sciencia e certesa de
pertencer o districto de S. Matheus á Capita
nia de Porto Seguro e portanto à Bahia .. 420
N. 51 Importante documento que revela como foi
que as autoridades do Espirito Santo, apro
veitando a occasião em que a Bahia se achava
empenhada na luta da independencia do Bra
sil, apoderaram-se à mão armada da villa de
S. Matheus e seu districto, sob um pretexto
sem fundamento .... 430
N. 52 Documentos que demonstram ter a popula
ção de S. Matheus, apesar da coacção em
que se achava sob o dominio de authoridades
estranhas ao seu governo legitimo, obedecido
a este e concorrido para a eleição dos depu
tados da Bahia, em 1823 ... 452
N. 53 Documento que revela o objectivo da occupa
ção á mão armada feita em S. Matheus pelas
authoridades do Espirito Santo em 22 de Ja
neiro de 1823. Nelle entretanto se vê ao mesmo
tempo que o Governo da Bahia reclameu con
tra a violencia e o despojo que a Provincia sof
fria com a conquista de S. Matheus leevada
á effeito pelo Governo do Espirito Santo. No
mesmo documento se lè que os invasores sa
biam não lhes pertencer o territorio occupado
por elles, visto ser a pergunta a quem elle devia
ficar annexado o fim da Consulta ao Governo
Central. Tambem o proprio Aviso, natural
mente pesando a illegalidade que mandava exe
cutar, deeclinava para a Assemblea Geral do
Paiz, a resolução final, porque somente esta
tinha autoridade sobre limites de Provincia…… 435
N. 54 Documento pelo qual se ve que a Assembléa
Geral creou uma freguesia por solicitação de
um governo que não tinha jurisdicção alguma
X

Documentos ASSUMPTOS Pags.


sobre o territorio em que se pretendia crear a
parochia, pois foi ella traçada pelos rios Preto
e Santa Anna, os quaes circumscreveem em es
paço que se acha fóra do termo da villa de S.
Matheus que era o que se achava annexado pro
visoriamente ao Espirito Santo pelo Aviso de
de 10 de Abril de 1823. Coteje-se o decreto
abaixo com os autos da creação da villa, pag.
248 e seguintes, tendo um mappa deante dos
olhos .... 436
N. 55 Certidão pela qual se vé a verdadeira Breve
Noticia Estatistica de Francisco Alberto
Rubim sobre a Capitaria do Espirito Santo. A
apocrypha for publicada na .. Revista do Ins
tituto Historico e Geographico Brasileiro ". A
alteração deu- se nos lugares em que aquelle
Governador falla da limitação da sua capita
nia com a da Bahia para faser substituir as
referencias ao rio Doce pelo rio Mucury.
Veja-se o cotejo do falso e do verdadeiro
trabalho de Francisco Rubim na pag. 83. De
pois da epocha em que foi publicado com as
alterações o trabalho de Rubim foi que a Pro
vincia do Espirito Santo começou a preten
der direitos a divisoria pelo rio Mucury .... 437
N. 55 Officio do Governo da Bahia ao do Espi
rito Santo reclamando contra as tentativas
feitas sobre o patrimonio da villa de S. José
de Porto Alegre...... 443
N. 57 Havendo o Engenheiro Miguel de Teive e
Argollo sustentado em artigos publicados na
imprensa diaria os direitos da Bahia lhe foi
endereçado o documento seguinte pelos habi
tantes daquelle territorio... 447
N. 58 Reclamações mandadas ao Governador da
Bahia pelas authoridades de S. José de Porto
Alegre, em virtude das tentativas do Espirito
Santo para se apossar dos territorios daquella
villa bahiana
N. 59 Documentos que provam nunca ter o Estado
do Espirio Santo exercido jurisdicção sobre
o que está ao Norte do riacho Doce, no termo
XI

Documentos ASSUMPTOS Pags.


da villa de S. José de Porto Alegre e as mul
tiplas tentativas que tem feito para estabele
cer a sua authoridade no que pertence a esta
villa bahiana pelos autos da sua creação ………. 450
N 60 Na Mensagem enviada pelo Exm." Sr. Dr.
Araujo Pinho ao Congresso do Estado em 7
Abril de 1910 está o seguinte sob a epigraphe
Relações com a União e os Estados .... 464
N. 61 Novas tentativas do Governo do Estado do
Espirito Santo para estabelecer posse no ter
ritorio entre o rio Mucury e o riacho Doce,
protestos e reclamações da Bahia .. ..... 465
N 62 Ultimo officio do Governo do Espirito Santo
ao da Bahia sobre a questão . 471
N. 63 Resposta do Governador da Bahia ao Pre
sidente do Espirito Santo defendendo os di
reitos deste Estado . 480
LIMITES ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO

N. 1

Exposição geral resumida do as


sumpto deste livro pelo Prof. Braz do
Amaral.

Quando o rei de Portugal resolveu dividir o Brasil


em capitanias não possuia ainda conhecimentos pre
cisos da costa , rasão pela qual a expressão usada em
quasi todas as cartas de doação para significar a divi
soria entre umas e outras era um tanto vaga , — ellas
se estenderiam até onde terminassem as dos donatarios

visinhos que haviam tido a precedencia daquelle favor .


Assim foi que doando D. João a Vasco Fernandes

Coutinho a sua capitania disse : as quaes se começarão


na parte onde acabarem as cincoenta legoas de que tenho
feito mercê a Pero do Campo Tourinho.
Os primeiros exploradores do actual territorio de
Minas Geraes não foram os paulistas mas sim Jorje Dias
e Sebastião Fernandes Tourinho que partiram de Porto
Seguro, subindo este ultimo pelo rio Doce e descendo.
pelo Rio Grande ou Jequitinhonha , o que parece indicar
ter este parente do donatario ido fazer propositalmente
uma exploração pelo circuito da capitania .
Ꮮ 1
2 LIMITES

Rocha Pitta diz a este respeito claramente: «que


tendo o governador Luiz de Britto e Almeida noticia
que no interior da Provincia de Porto Seguro , no seu
districto confinante com o da Provincia do Espirito
Santo , havião pedras preciosas , mandou no descubri
mento dellas a Sebastião Fernandes Tourinho, o qual
navegou com muitos companheiros pelo rio Doce e por
um braço acima que se chama Mandi , etc. (Hist. da
America Portuguesa ).»

Os auctores do primeiro seculo da conquista e do


immediato , Gabriel Soares e Frei Vicente do Salva
dor, nas suas descripções indicam comprehender a
capitania de Porto Seguro desde o rio Grande ou Jequi
tinhonha até o Rio Doce .

Depois que reverteram á corôa as duas capitanias ,


tanto a de Porto Seguro, como a do Espirito Santo , se
exerceu sempre incontestavel a jurisdicção da primeira ,
isto é , a do governo a quem ella foi annexada , até o
referido Rio Doce .

E assim chegamos até a guerra da Independencia,


periodo em que a séde do governo bahiano estando
occupada pelo general portuguez Madeira e o governo
provisorio da provincia, composto dos brasileiros
que lutavam pela autonomia nacional, em uma situação
muito incerta e anomala, resolveu a camara da villa
de S. Matheus , da capitania de Porto Seguro , e della
a situada mais ao sul e limitrophe com a do Espirito
Santo , adherir á Independencia e não lhe sendo facil
entender-se com o governo do partido brasileiro da
Bahia, tanto por causa do estado de guerra em que
se debatia a Provincia, como em virtude de interfe

rencia armada de gente ida do Espirito Santo , que in


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 3

vadio o termo e occupou a villa, poude apenas com


municar ao referido governo provisorio e nacional
da Bahia o que se acabava de passar .
Tendo sabido do estado de coacção em que se
achava a villa de S. Matheus o governo provisorio e
nacional da Bahia reclamou perante o governo do Es
pirito Santo , o qual dirigindo- se ao do Rio de Janeiro ,
em missiva que naturalmente omittia ( acto de

coacção praticado , expoz a duvida que tinha sobre a


legitimidade da sua jurisdicção em S. Matheus , o que
motivou o aviso de 10 de Abril de 1823 que entregou
provisoriamente a jurisdicção de S. Matheus ao governo
da Provincia que lhe ficasse mais proxima.
O ministro que assignou este aviso, em virtude do
qual se acha até hoje a Bahia privada da posse do que
é legitimamente seu, foi o Sr. José Bonifacio de An
drada e Silva o mesmo a quem a Bahia ainda depois
disto elegeu seu representante em circumstancias
muito especiaes .

Obtida a posse do termo da Villa de S. Matheus,


tem procurado as administrações do Espirito Santo não
só legitimal-a, como se verá na documentação adeante
exarada, como estendel- a ainda pelo termo da outra
villa contigua, situada mais ao norte que é a de S. José
de Porto Alegre , a qual defendendo o seu direito , de
fendeu tambem o de todo o Estado da Bahia.
Quando era presidente desta provincia o Sr. Con
selheiro Pedro Luiz , em o periodo do Imperio , foi agi
tada a questão .
Mais tarde , já sob o regimen republicano, no
tempo da administração do Sr. Conselheiro Luiz

Vianna, tendo se verificado a importancia das areias


4 LIMITES

monaziticas , soube o Governo da Bahia da existencia


de jazidas das referidas areias ao sul do rio Mucury ,
entre este e o riacho Doce, no logar denominado riacho
das Ostras , determinando esta descoberta a invasão
deste territorio por gente do Estado do Espirito Santo ,
que renovou assim o attentado, já por vezes praticado
anteriormente , de destruir o marco de madeira que
estabelecia a divisoria do termo da villa de S. José de
Porto Alegre, marco de madeira que havia substituido.
outros , collocados pelo ouvidor Xavier Monteiro , cre
ador da referida villa de Porto Alegre .
O Governador da Bahia, para pôr cobro a estas
tentativas de invasão , mandou para alli um destaca
mento da policia do Estado , incumbido de vigiar que
fosse respeitado o antiquissimo direito do Estado da
Bahia sobre aquelle territorio .
Reclamou posteriormente o Governo do Espirito
Santo e o Governo que então tinha a Bahia , retirou
o destacamento .
Mais tarde , ja na administração de Dr. José Mar
cellino de Souza , novas e instantes reclamações dos
habitantes de S. José de Porto Alegre chegaram ao
Governo, determinando a resolução de restabelecer
o destacamento e mandar que a jurisdicção do dele
gado regional de Cannavieiras se estendesse ás comar
cas de Porto Seguro e Caravellas .
Deante disto o Governo do Espirito Santo diri
gio- se ao da Bahia, pedindo a retirada da jurisdicção das
authoridades bahianas além do rio Mucury, pretextando
pertencer-lhe aquelle territorio , pedido ao qual repli
cou o Governo da Bahia declarando que as providencias
tomadas por elle se mantinham dentro dos limites da
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 5

Bahia, cujos direitos ao territorio em questão eram


amparados pelas mais solidas provas de documentos
historicos e juridicos , terminando por convidar o Go
verno do Espirito Santo a discutir o caso .
Foi então encarregado o Dr. José Carlos Junqueira
Ayres de Almeida , director da Secretaria do Interior e
Justiça, de estudar e dirigir a questão .
Em 1905 , seguindo eu para a Europa, recebi do
Governador de então , o Exmo . Sr. Dr. José Marcellino
de Souza , a incumbencia de procurar nos archivos
portugueses provas sufficientes para defesa do territorio.

da Bahia que o Governo do Espirito Santo dizia per


tencer-lhe do rio Mucury para o Sul .
Para orientação desta incumbencia , da qual apenas
tive a remuneração de conservar os meus vencimentos
integraes como professor do Gymnasio Estadual , deu
me o Dr. Junqueira Ayres a seguinte nota dos docu
mentos de que precisava, pois era elle quem tinha
respondido ao Governo do Espirito Santo.
Procurar-ordem regia de 10 de Outubro de 1769 ,
dando os limites da Villa de S. José de Porto Alegre .
Alvará de 23 de Setembro de 1709 , dividindo a
Provincia da Bahia em cinco comarcas .
Alvará de 22 de Dezembro de 1755 creando a fre

guesia de S. José de Porto Alegre .


Ordem regia de 15 de Janeiro de 1752 mandando
demarcar a capitania do Espirito Santo e mais docu
mentos referentes á sua demarcação e cumprimento que
se deu á citada ordem .

Alvará de 1751 creando a freguesia de S. Matheus .


Instrucções dadas pelo Conselho Ultramarino ao
ouvidor de Porto Seguro , Desembargador Thomé Cou
6 LIMITES

ceiro de Abreu em 1763 ou 1764 , acompanhando a sua


provisão da mesma data .
Idem ao ouvidor da mesma Comarca José Xavier
Machado Monteiro em 1767.

Informação de D. João de Lencastre ao Governo


de Portugal sobre as creações das villas de Caravellas
em 1700 e de Porto Alegre em Outubro de 1769 .
Pesquisar se taes creações , feitas em virtude de
poderes especiaes conferidos aos dous citados ouvidores ,
pelas suas provisões e instrucções acima citadas , depen
diam de posterior approvação .
O Dr. Junqueira Ayres accrescentou a seguinte
observação - Sendo uma das duvidas levantadas sobre
o actual limite da Bahia , justificada pela citação de um
autor, ( aliás sem a menção de documento elucidativo )
ter sido accordado entre os donatarios das duas capi
tanias confinantes, um ponto determinado á costa para
limite das mesmas, mais vos peço de apurar a verdade
de tal citação , examinando se do respectivo registro a
que eram levados taes accordos consta qualquer assento
á respeito , que, no caso de ser aquel ! a real , não deixaria
de ser alli lançada , como foi o celebrado entre o dona
tario da mesma capitania do Espirito Santo e da dona
taria de São Thomé .
Recommendado pelo Exmo . Sr. Dr. Alberto
Fialho, ministro brasileiro em Lisboa, para o qual o
Governador da Bahia me havia dado uma carta , estudei
a questão no precioso Archivo de Marinha e Ultramar
daquella cidade e alli escolhi e marquei variados docu
mentos.
Não me foi possivel trazer a respectiva copia
authenticada delles porque era preciso pagar este tra
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 7

balho , para o qual eu não tinha autorisação nem


dinheiro .

Voltando para a Bahia mostrei ao Governo a ne


cessidade de mandar buscar os referidos documentos , o
que não foi feito naquella epocha e sim sete annos
depois , por ordem do Dr. J. J. Seabra como ficará
exposto adeante .
Depois disto foi enviado a Bahia pelo Governo do
Espirito Santo o engenheiro Honorio Coutinho afim de
se entender com o da Bahia sobre o caso , mas este se
retirou desta cidade sem resolver a questão que ficou
no mesmo pé e insolucionada se acha até agora .

N. 2

Copia existente na Bibliotheca Na


cional do Traslado da doação da
Capitania de Pero do Campo - Porto
Seguro -N . 5667 do Cat. da Exposição
de Historia do Brazil (codice I , 5 , 2
e 4 ) Anno de 1538.

Dom João por Graça de Deus etc. A quantos esta


minha Carta virem faço saber que no Livro do Registro
dos Officios , Padrões e Doações do anno de mil qui
nhentos e trinta e quatro , que está em a minha Chª é
escripta e registrada uma Doação de que o theor tal é.
D. João etc. A quantos esta minha Carta virem Faço
saber que considerando eu quanto serviço de Deus e
meu proveito e bem de meus Reinos e Senhorios e dos
naturaes e subditos delles , é ser a minha terra e Costa
do Brasil mais povoada do que até gora foi , assi pera
se nella haver de celebrar o Culto e Officios Divinos e
se exalçar a nossa Santa Fé Catholica com trazer e
8 LIMITES

provocar a ella os naturaes da dita terra, infieis e


idolatras, como pelo muito proveito que se seguirá a
meus Reinos e Senhorios e aos naturaes e subditos
delles de se a dita terra povoar e aproveitar, houve por
bem de a mandar repartir e ordenar em Capitanias de
certas em certas legoas pera dellas prover aquellas
pessoas que me bem parecer, pelo que havendo eu
respeito aos serviços que tenho recebido e ao diante
espero receber de Pero do Campo Tourinho , e por folgar
de lhe faser mercê de meu proprio motu , certa sciencia ,
poder Real e absoluto sem mo elle pedir , nem outrem
por elle , hei por bem e me praz de lhe faser , como de
feito por esta presente Carta faço mercê e irrevogavel
Doação entre vivos , Valedora deste dia para todo sempre,
de juro e d'herdade para elle e todos seus filhos , netos ,
herdeiros e sussessores que após elle vierem, assim
descendentes , como transversaes e collateraes , como
adiante irá declarado , de cincoenta legoas de terra na
dita Costa do Brasil , as quaes se começarão na parte onde
se acabarão as cincoenta legoas de que tenho feito mercê
a Jorge de Figueiredo Correia na dita Costa do Brasil ,
da banda do Sul, quanto couber nas ditas cincoental
legoas , entrando nesta Capitania quasquer ilhas , que
houver até des legoas ao mar na Fronteira e demarca
ção das ditas cincoenta legoas de que aqui faço mercê
ao dito Pero do Campo, as quaes cincoenta legoas se
entenderão e serão de largo ao longo da Costa e entrarão
na mesma largura pelo Sertão e terra firme a dentro.
tanto quanto poderem entrar e for de minha Conquista ,
da qual terra pela sobredita demarcação lhe assi faço
doação e mercê de juro e herdade para sempre , como
dito é e quero e me praz que o dito Pero do Campo e
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 9

todos seus herdeiros e sussessores que a dita terra her


darem e sussederem, se possam chamar e chamem
.
Capitães della .
E outro sy lhe faço doação de juro e herdade para
todo sempre, para elle e seus descendentes e sussesso
res , no modo sobredito , da jurisdição civel e crime , da
dita terra da qual elle dito Pero do Campo e seus her
deiros e sussessores usarão na forma e maneira seguinte:
Poderá por si e por seu ouvidor estar a eleição dos
Juises e officiaes e alimpar e apurar as pautas e passar
cartas de confirmação aos ditos Juises e officiaes , os
quaes se chamarão pelo dito Capitão e elle porá Ouvi
dor que poderá conhecer de acções novas des legoas
donde estiver, e de appellações e aggravos conhecerá
em toda a dita Capitania , e os ditos Juises darão appel
lação para o dito seu ouvidor nas quantias que mandão
minhas Ordenações e de que o dito seu ouvider julgar
assi por acção nova, como por appellação e aggravo ;
sendo em causas civeis não haverá appellação nem
aggravo até quantia de cem mil reis e dahi para cima
darão appellação a parte que quiser appellar.
E nos casos crimes hei por bem que o dito Capitão
e seu Ouvidor tenham a jurisdição e alçada de morte
natural , inclusive em escravos e gentios e assim mesmo
em piães , Christãos homens livres em todos os casos e
assim pera absolver como para condemnar, sem haver
appellação nem aggravo e nas pessoas de maior qua
lidade terão alçada de des annos de degredo até cem
Cruzados de pena sem appellação nem aggravo e porém
nas quatro cousas seguintes herezia quando o heretico
The for entregue pelo Ecclesiastico e traição e sodomia e
moeda falsa; terão alçada em toda pessoa de qualquer
L 2
10 LIMITES

qualidade que seja para condemnar os culpados á morte


e dar suas sentenças a execução sem appellação nem
aggravo , e porem nos ditos quatro casos para absolver

da morte posto que outra pena lhe queirão dar, menos


de morte , darão appellação e aggravo e appellação por
parte de Justiça .
E outro sy me praz que o dito seu Ouvidor possa
conhecer de appellações e aggravos que a elle houverem
de ir em qualquer Villa ou lugar da dita Capitania em
que estiver, posto que esteja muito apartado desse lugar
donde assi estiver, com tanto que seja na propria Capi
tania e o dito Capitão poderá por meirinho dante o
dito Ouvidor, escrivães e outros Officiaes necessarios e
costumados nestes Reinos , assim na Correição da
Ouvidoria como em todas as Villas e lugares da dita
Capitania e será o o dito Capitão e seus sussessores obri
gados , quando a dita terra for povoada em tanto cresci
mento que seja necessario pôr outro Ouvidor , de o pôr
onde por mim ou por meus sussessores for ordenado .

E outro sy me praz que o dito Capitão e todos seus


sussessores possão por si faser Villas todas e quaesquer
povoações que se na dita terra fiserem e lhe a elles.
parecer que o devem ser, as quaes se chamarão Villas e
terão termo e jurisdição , liberdades e insignias de Villas
segundo o foro e costumes de meus Reinos ; e isto porém
se entenderá que poderá faser todas as Villas que qui
serem das povoações que estiverem ao longo da Costa
da dita terra e dos rios que se navegarem , porque por
dentro da terra firme e pelo Sertão as não poderão
faser menos espaço de seis legoas de uma a outra para
que possão ficar ao menos tres legois de termo a cada
uma das ditas Villas e ao tempo que assi fiserem as
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 11

ditas Villas , ou cada uma dellas , lhe limitarão e assigna


tão logo o termo para ellas e depois não poderão da
terra que assi tiverem dada por termo faser mais outra
Villa sem minha licença.
E outro sy me praz que o dito Capitão, e todos
seus sussessores a quem esta Capitania vier, possão
novamente crear e prover por suas cartas y Tabelliães
do publico e judicial que lhe parecer necessario nas
Villas e povoações das ditas terras, assi agora como pelo
tempo adiante e lhe darão suas cartas assignadas por
elles e asselladas os seus sellos e lhe tomarão juramento
que sirvão seus officios bem e verdadeiramente , e os ditos
Tabelliães servirão pelas ditas cartas sem mais tirarem
outras de minha Chancellaria ; e quando os ditos offi
cios vagarem por morte , ou por renunciação ou por
erros de si , assi lhe as poderão assim mesmo dar e lhes
darão os Regimentos por onde hão de servir conforme
aos da minha Chancellaria e hei por bem que os ditos
Tabelliães se possão chamar e chamem por o dito
Capitão e lhe pagarão suas pensoens segundo a forma do
foral que ora para a dita terra mandei faser, das quaes
pensões lhe assi mesmo faço doação e mercê de juro e
herdade para sempre .

E outro sy lhe faço doação e mercê de juro e her


dade para sempre das Alcaiderias mores de todas as
ditas Villas e povoações da dita terra com todas as
rendas e direitos , foros e tributos que a elle pertencerem ,
segundo são escriptas e declaradas no foral , as quaes o
dito Capitão e seus Sussessores haverão e arrecadarão
para si , no modo e maneira no dito foral conteudo ,
segundo a forma delle e as pessoas que as ditas Alcaide
rias mores forem entregues da mão do dito Capitão e elle
12 LIMITES

The tomará homenagem dellas segundo a forma de


minhas Ordenações .

E outro sy me praz por faser mercê ao dito Capi


tão e a todos seus Sussessores a que esta Capitania
vier, de juro e herdade para sempre que elles tenhão
e hajão todas as moendas dagoa , marinhas do sal e
quaesquer outros engenhos de qualquer qualidade que
sejam que na dita Capitania se poderem faser e hei
por bem, que pessoa alguma não possa faser as ditas
moendas marinhas nem engenhos senão o dito Ca
pitão , ou aquelles a que elle para isso der licença de
que lhe pagarão aquelle fôro ou tributo que se com elles
concertar.

E outro sy lhe faço doação e mercê de juro e de


herdade para sempre de des legoas de terra ao longo
da Costa da dita Capitania e entrarão pelo sertão tanto
quanto poderem entrar e for da minha conquista , a
qual terra será sua , isenta , sem della pagar fôro tributo
nem direito algum , somente o disimo de Deus a Ordem
do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Christo e dentro de
vinte annos do dia que o dito Capitão tomar posse da
dita terra poderá escolher e tomar as ditas des legoas de
terra em qualquer parte que mais quiser, não as tomando
porem juntas senão apartadas em quatro ou cinco partes
e não sendo de uma a outra menos de duas leguas, as
quaes terras o dito Capitão e seus Sussessores poderão
arrendar e aforar em fatiota ( * ) ou em pessoas ou como
quiserem e lhes bem vierem e pelos foros e tributos
que quiserem e as ditas terrras não sendo aforadas ou

(*) Em fatiota, loc . adv . antiquada- Para sempre , sem trans


lação dos predios dados em fateosim . ( Diccionario de Frei Domin
gos Vieira. ) Expressão pouco usada hoje , emphiteuse .--N. do A.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 13

as rendas dellas , quando o forem , virão sempre a quem


susseder a dita Capitania pelo módo nesta doação con
theudo . E das novidades que Deus nas ditas terras der
não será o dito Capitão nem as pessoas que de sua mão
as trouxerem obrigadas a me pagar foro nem direito
algum , somente o Disimo de Deus a Ordem que geral
mente se hade pagar em todas as outras terras da dita
Capitania, como abaixo é declarado .
O dito Capitão , nem os que após elle vierem , não
poderão tomar terra alguma de Sesmaria na dita Capi
tania para si nem para sua mulher nem para o filho
herdeiro delle , antes darão e poderão dar e repartir toda s
as ditas terras de Sesmaria a quaesquer pessoas de qual
quer qualidade e condições que sejão e lhe bem parecer ,
livremente , sem foro nem direito algum , somente o Disi
mo a Deus que serão obrigados de pagar a Ordem de tudo
o que nas ditas terras houver, segundo é declarado no
foral e pela mesma maneira as poderão dar e repartir
por seus filhos fóra do Morgado e assim por seus
parentes; e porem aos ditos seus filhos e parentes não
poderão dar mais terra da que derem ou tiverem dado.
a qualquer outra pessoa estranha e todas as ditas terras.
que assi der de Sesmaria a uns e a outros será conforme
a ordem das Sesmarias e com obrigações dellas as quaes
terras o dito Capitão nem seus Sussessores não poderão
em tempo algum tomar para si e para sua mulher nem
filho herdeiro, como dito é, nem pollas em outrem por
titulo para depois virem a elles , por modo algum que
seja, somente as poderãc haver de compra verdadeira
das pessoas que lhes quiserem vender, passados oito
annos depois das taes terras serem aproveitadas e em
outra maneira não .
14 LIMITES

E outro sy lhe faço doação e mercê de juro e her


dade para sempre da metade da disima do pescado da
dita Capitania que a mim pertencer, porque a outra
metade se hade arrecadar para mim segundo no foral é
declarado , a qual metade da dita Disima se entenderá
do pescado que se matar em toda a dita Capitania , fóra
das des legoas do dito Capitão , porquanto as ditas des
legoas de terra serão livres e isentas como já é declarado .
E outro sy lhe faço doação e mercê de juro e
herdade para sempre da Redisima de todas as rendas
e direitos que a dita Ordem e a mim de Direito na
dita Capitania pertencer: que de todo rendimento
que a dita Ordem e a mim couber assi das Disimas ,
como de quaesquer outras Disimas que é de des
partes uma .
E outro sy me praz , por respeito do cuidado que o
dito Capitão e seus sussesores hão de ter de guardar e
conservar o brasil que na dita terra houver, de lhe faser
doação e mercê de juro e herdade para sempre da vin
tena parte do que liquidamente render para mim , fóra
de todas as custas e o brasil que se da dita Capitania
trouxer a estes Reinos ; e a conta do tal rendimento

se fará na Casa da Mina tanto que o brasil for vendido e


arrecadado o dinheiro delle lhe será logo pago , entregue
em dinheiro de contado pelo feitor e officiaes della , aquillo
que por bôa conta na dita vintena montar e isto por
quanto todo o brasil que na dita Capitania houver, ha de
ser sempre meu e de meus sussessores sem o dito
Capitão e Governador, nem outra alguma pessoa poder
tratar nelle nem vendel-o para fóra , somente poderá o
dito Capitão e assi os moradores da dita Capitania,
aproveitar-se do dito brasil ahi na terra no que lhe for
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 15

necessario , segundo é declarado no foral e tratando


nelle ou vendendo para fóra, encorrerão nas penas
conteudas no dito foral .
E cutro sy me praz faser doação e .mercê ao dito
Capitão e seus sussessores de juro e herdade para
sempre, que dos escravos que elles resgatarem e hou
verem na dita terra do Brasil , possão mandar a estes
Reinos vinte e quatro peças cada anno para faser dellas
o que lhe bem vier, os quaes escravos virão ao Porto da
Cidade de Lisboa, e não a outro nenhum porto e man
dará com elles certidão dos officiaes da dita terra, de

como são seus , pela qual certidão lhe serão despachados


os ditos escravos forros , sem delles pagarem direitos
alguns , nem cinco por cento , e alem destas vinte e
quatro peças que assi cada anno poderá mandar forras ,
hei por bem que possa traser por marinheiros e gru
metes em seus navios todos os escravos que quiserem ,
e lhe forem necessarios.

E outro sy me praz , por faser mercê ao dito Capitão


e aos seus Sussessores e assim aos visinhos e moradores

da dita Capitania, que nellas não possa em tempo


algum haver direitos de cisa, nem imposições , saboa
rias , tributo do sal , nem outros alguns direitos nem tri
butos de qualquer qualidade que sejão , salvo aquelles
que por bem desta doação e do foral no presente são
ordenados que haja .
Item esta Capitania , e rendas e bens della hey por
bem e me praz que se herde e succeda de juro e d'herdade
para todo sempre pelo dito Capitão e seus descendentes ,
filhos e filhas legitimas com tal declaração , que em
quanto ouver filho legitimo varão no mesmo grau, não
succeda filha, posto que seja em maior idade que o filho ,
16 LIMITES

e não havendo macho , ou havendo , e não sendo em tão


propinquo grau ao ultimo possuidor como a femea , que
então succeda a femea , e emquanto houver descendentes
legitimos , machos ou femeas , que não succeda na Capi
tania bastardo algum , e não havendo descendentes
machos nem femeas legitimos , então succederão os bas
tardos machos e femeas , não sendo porem de damnado
coito , e succederão pela mesma ordem dos legitimos ,
primeiro os machos , depois as femeas em igual grau ,
com condição que si o possuidor da dita Capitania a
quizer antes deixar a um seu parente transversal , que
aos descendentes bastardos , quando não tiver legitimos ,
possão fazer e não havendo descendentes machos nem
femeas legitimos nem bastardos , da maneira que dito
é , em tal caso succederão os ascendentes machos e
femeas , primeiro os machos em defeito delles as femeas ,
e não havendo descendentes nem ascendentes succe

derão os transversaes , pelo modo que forem em igual


grau sempre primeiro os machos e depois as femeas , e
no caso dos bastardos o possuidor poderá requerer
deixar a dita Capitania a um transversal legitimo e

tiral-a aos bastardos , posto que sejam descendentes


em muito mais propinquo grau, e isto hei assim por
bem, sem embargo da Lei mental que dispõe não
succedão femeas , nem bastardos , nem transversaes ,

nem ascendentes porque sem embargo de tudo me


praz que nesta Capitania succedão femeas e bastardos
não sendo de coito damnado , e transversaes e descen
dentes, do modo que já é declarado .
E outro sim quero e me praz , que em tempo algum
se não possa a dita Capitania e todas as cousas que por
esta doação dou ao dito Pero do Campo , partir nem
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 17

escambar, espedaçar, nem em outro modo alhear ,


nem em casamento a filho ou filha , nem a outra pessoa dar
nem para tirar o pae, ou filho , ou outra alguma pessoa de
cativo, nem para outra coisa , ainda que seja a mais pie
dosa porque minha tenção e vontade é que a dita Capi
tania e cousas ao dito Capitão nesta doação dadas , andem
sempre juntas, e se não partam nem alheem em tempo
algum, e aquelle que a partir ou alhear , ou despedaçar ,
ou der em casamento , ou para outra cousa pera onde
haja de ser partida , ainda que seja a mais piedosa , por
este mesmo feito perda a dita Capitania , e passe directa
mente áquelle a que houver de ir , pela sobredita ordem de
succeder, si o tal o que isso assim não cumprir fosse
morto .

E outro sy me praz , que por caso algum de qual


quer qualidade que haja , que o dito Capitão o commetta ,
porque segundo direito e Leis destes Reinos , mereça
perder a dita Capitania , jurisdição e rendas della , a não
perca seu Sussessor, salvo se for traidor a Coroa destes

Reinos ; e em todos os outros casos que commetter , será


punido quanto o crime obrigar, e porem o Sussessor
não perderá por isso a dita Capitania , jurisdição , rendas
e leis della , como dito é .
Item me praz , e hei por bem que o dito Pero de
Campo e todos seus susssessores a que esta Capitania
vier, usem inteiramente de toda jurisdição , poder e
alçada , nesta doação conteuda , assi e da maneira que
nella é declarado , e pela confiança que delle tenho que
guardarão nisso tudo o que cumprir ao serviço de Deus
e meu, e bem do povo e direito das partes , hei outro sy
por bem e me praz , que nas terras da dita Capitania não
entrem nem possão entrar em tempo algum Corregedor
L 3

18 LIMITES

nem alçada , nem outras algumas justiças possam usar


de jurisdição alguma que seja , nem menos será o dito
Capitão suspenso da dita Capitania e jurisdição della ;
e porem , quando o dito Capitão cahir em algum erro , ou
fizer cousa alguma , que me pareça e deva ser castigado ,
eu ou meus Sussessores o mandaremos vir a nós , para
ser ouvido com Justiça , e lhe ser dada aquella pena
de castigo que de direito por tal caso merecer .
Item esta mercê lhe faço como Rei e Senhor
destes Reinos e assi como Governador e perpetuo ,
Administrador que sou da Ordem e Cavallaria e mes
trado de Nosso Senhor Jesus Christo , e por esta pre
sente carta dou poder e autoridade ao dito Pero do
Campo, que elle por si e por quem lhe aprouver, possa
tomar e tome posse real e corporal e actual das terras
da dita Capitania , e das rendas e bens della , e de todas
as mais cousas conteúdas nesta doação , e use de tudo
inteiramente como se nella contem, a qual doação hei
por bem , quero e mando que se cumpra e guarde , em
todo e por túdo com todalas clausulas, condições e
declarações nella conteudas e declaradas , sem mingoa
nem desfalecimento algum, e para túdo o que dito é
derrogo a Lei mental e quaesquer outras Leis e Ordena
ções e direitos , glosas , e costumes que em contrario
disto haja , ou possa haver, por qualquer via ou modo
que seja, posto que fossem taes que fossem necessa
rios serem aqui expressas , e declaradas de verbo ad
verbum , sem embargo da Ordenação do 2 ° . L. tit 49
que dis que quando as taes Leis e Direitos se derro
garem , se faça expressa menção dellas e da sustancia
dellas .
E por esta prometto ao dito Pero do Campo e a
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 19

todos seus Sussessores , que nunca em tempo algum vá,


nem consinta ir, contra esta minha Doação em partes
nem em todo , e rogo e encommendo a todos meus sus
sessores que a cumprão , e mandem cumprir e guardar, e
assi mando a todos meus Corregedores , Desembarga
dores , Ouvidores , Juises , e Officiaes e pessoas de meus
Reinose Senhorios que cumprão e guardem , e fação cum
prir e guardar esta minha Carta de Doação e todas as
as cousas nella conteúdas , sem lhe nisso ser posto
duvida, embargo , nem contradição alguma , porque assi

é minha mercê, e por firmesa della lhe mandei dar esta


Carta, por mim assignada e sellada de meu sello de
xumbo , a qual é escripta em tres folhas , com esta de meu
signal e são todas assignadas ao pé de cada uma por
D. Miguel da Silva , Bispo de Vizeu, do meu Conselho ,
e meo Escrivão da Puridade . Manoel da Costa a fez em
Evora, a vinte e sete dias de Maio do Anno do Nas
cimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil qui
nhentos e trinta e quatro.

E posto que no onzeno Capitulo desta Carta diga


que faço doação e mercê ao dito Pero do Campo de
juro e herdade para sempre, da metade da disima do
pescado da dita Capitania , hei por bem que a dita mercê
não haja effeito , nem tenha vigor algum , porquanto se
vio que não podia haver a dita metade da Disima por
ser da Ordem; e porém, em logar della, hei por bem
e me praz , de lhe faser mercê de juro e de herdade
para sempre, da minha Disima do pescado que tenho
ordenado que se mais pague na dita Capitania , além
da Disima inteira, segundo é declarado no foral da
dita Capitania , a qual meia disima o dito Capitão e
todos seus herdeiros e Sussessores a que esta Capi
20 LIMITES

tania vier, haverão e arrecadarão para sy , segundo


a forma do dito foral ; e esta postilla passará pela Chan
cellaria e será registrada ao pé do registro desta do
ação. Manoel da Costa a fez em Evora , a sete de Ou
tubro de mil quinhentos e trinta e quatro. Da qual
Carta de doação que assi está escripta e registada em a
dita Chancellaria, por parte do dito Pero do Campo ,
Capitão, me foi pedido lhe mandasse dar o traslado
della em uma minha Carta , porquanto a propria que
de mim houvera , a tinha na dita Capitania e terra
do Brasil e tinha della necessidade , e para apresentar
na Casa da India para sy e outras partes , para se por
ella ver e saber a mercê que lhe assim tenho feito , e visto
por mim seu dizer e pedir , lhe mandei aqui dar em esta
encorporada, assi e da maneira que se nella continha ,
a qual mando que em todo se lhe cumpra e guarde , e de
tanta cumprida, como se daria a propria do dito livro,
porquanto foi com ella concertada , bem e fielmente, sem
The ser posta duvida , nem embargo algum , porque assim
me praz. El Rey o mandou pelo Doutor Alvaro Fer
nandes do seu Conselho e seu Chanceller em todos
seus Reinos e Senhorios . Bernardo Beleaga a fez em a
Cidade de Lisboa , aos vinte e um dias do mez de
Junho de mil quinhentos e trinta e oito . Conforme.
Secretaria da Bibliotheca Nacional em 20 de Julho de
1917.- Secretario Alfredo Mariano de Oliveira.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 21

N. 3

Carta de doação da Capitania de


Vasco Fernandes Coutinho- Espirito
Santo.

« Dom João &c. A quantos esta minha carta virem.


Faço saber que considerando eu quanto serviço de Deos
e meu proveito e bem de meus reinos e senhorios , e
dos naturaes e subditos d'elles , é ser a minha costa e
terra do Brasil mais povoada do que até agora foi,
assim para se n'ella haver de celebrar o Culto e Officios
Divinos , e se exaltar a nossa Santa Fé Catholica com
trazer e provocar a ella os naturaes da dita terra infieis
e idolatras, como por o muito proveito que se seguirá
a meus reinos e senhorios , e aos naturaes e subditos
d'elles , de se a dita terra povoar e approveitar , houve
por bem de a mandar repartir e ordenar em capitanias,
de certas em certas leguas, para d'ellas prover aquelles
pessoas que me bem parecesse , pelo qual esguardando
eu aos muitos serviços que Vasco Fernandes Coutinho
Fidalgo da minha casa a El- Rei meu Senhor e pai que
santa gloria haja e a mim tem feito assim n'estes reinos
como em Africa e nas partes da India onde serviu em
muitas cousas que se nas ditas partes fizeram, nas quaes
deu sempre de si mui boa conta, e por folgar de lhe
fazer mercê de meu proprio motu , certa sciencia, poder
real e absoluto , sem mo elle pedir, nem outrem por elle:
hei por bem e me praz de lhe fazer, como de feito por
esta presente carta faço , mercê e irrevogavel doação
antre vivos , valedoura d'este dia para todo o sempre ,
de juro e de herdade , para elle e todos os seus filhos ,
netos , herdeiros e successores, que após elle vierem ,
22 LIMITES

assim descendentes como transversaes , e collateraes ,


segundo adiante irá declarado , de cincoenta leguas de
terra na dita costa do Brasil , as quaes se começarão na
parte onde acabarem as cincoenta leguas de que tenho
feito mercê a Pero do Campo Tourinho e correrão
para a banda do Sul tanto quanto couber nas ditas
cincoenta leguas entrando n'esta capitania quaesquer
Ilhas que houver até dez leguas ao inar na frontaria
e demarcação d'estas cincoenta leguas , de que assim.
faço mercê ao dito Vasco Fernandes, as quaes cinco
enta leguas se entenderão e serão de largo ao longo da
costa, e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra
firme a dentro tanto quanto puderem entrar, e for de
minha conquista : da qual terra e ilhas , pela sobredita
demarcação lhe assim faço doação e mercê de juro e de
herdade para todo o sempre , como dito é , e quero e
me praz que o dito Vasco Fernandes e todos seus her
deiros e successores , que a dita terra herdarem e succe
derem , se possam chamar e chamem Capitães e Gover
nadores d'ella .--Outrosim lhe faço doação e mercê de
juro e herdade para todo o sempre para elle e seus
descendentes e successores no modo sobredito da Juris
dicção Civel e Crime da dita terra , da qual elle dito
Vasco Fernandes e seus herdeiros e successores usarão
na fórma e maneira seguinte-A saber : poderá por si e
por seu ouvidor estar á eleição dos juizes e officiaes , e
alimpar e apurar as pautas , e passar cartas de confir
mação aos ditos juizes e officiaes , os quaes se chamarão
pelo dito Capitão e Governador, e elle porá ouvidor
que poderá conhecer de acções novas a dez leguas
d'onde estiver, e de appellações e de aggravos : e
conhecerá em toda a dita capitania e governança , e os
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 23

ditos juizes darão appellação para o dito seu ouvidor


nas quantias que mandam minhas ordenações ; e do
que o dito seu ouvidor julgar, assim por acção nova ,
como por appellação e aggravo , sendo em causas civeis ,
não haverá appellação nem aggravo até á quantia de cem
mil réis , e d'ahi para cima dará appellação á parte que
quizer appellar: e nos casos crimes hei por bem que o
dito Capitão e Governador e seu ouvidor tenham juris
dicção e alçada de morte natural inclusive em escravos e
gentios , e assim mesmo em piaens christãos e homens
livres em todos os casos , assim para absolver, como para
condemnar, sem haver appellação nem aggravo: e nas
pessoas de maior qualidade terão alçada de dez annos de
degredo , e até cem cruzados de pena, sem appellação
nem aggravo; porém n'estes quatro casos seguintes-a
saber: heresia, quando o heretico lhe for entregue pelo
ecclesiastico , e traição , e sodomia, e moeda falsa , terão
alçada em toda a pessoa de qualquer qualidade que
seja para condemnar os culpados á morte e dar suas
sentenças á execução , sem appellação nem aggravo ,
e porém nos ditos quatro casos , para absolver de
morte , posto que outra pena lhe queiram dar menos
de morte , darão appellação e aggravo , e a tomarão
por parte da justiça : -Outro sim me praz que o dito
seu ouvidor possa conhecer das appellações e aggravos ,
que a elle houverem de ir, em qualquer villa ou
lugar da dita capitania em que estiver, posto que seja
muito apartado d'esse lugar onde assim estiver , com
tanto que seja da propria capitania, e o dito Capitão
.
e Governador poderá pôr meirinho perante o dito seu
ouvidor e escrivães , e outros de quaesquer officios
necessarios e acostumados n'estes reinos , assim na
.
24 LIMITES

correição da ouvidoria como em todas as villas e loga


res da dita capitania; e serão o dito Capitão e Gover
nador e seus successores obrigados , quando a dita terra
for povoada em tanto crescimento que seja necessario
outro ouvidor, de o pôr onde por mim e meus succes
sores for ordenado . -Outrosim me praz que o dito
Capitão e Governador e todos os seus successores

possam por si fazer villas todas e quaesquer povoações


que se na dita terra fizerem, e lhe a elles parecer que é
de meu serviço , as quaes se chamarão villas , e terão
termo , jurisdicção , liberdades e insignias de villas
segundo for o costume dos meus reinos , e isto porém
se entenderá que poderão fazer todas as villas que qui
zerem das povoações que estiverem ao longo da costa da
dita terra , e dos rios que se navegarem ; porque por
dentro da terra firme pelo sertão as não poderão fazer
menos espaço de seis leguas de uma á outra , para que
possa ficar ao menos tres leguas de terra de termo a
cada uma das ditas villas , e ao tempo que assim fizerem
as ditas villas, ou cada uma d'ellas, lhe limitarão e
assignarão logo termo para ellas ; e depois não poderão
da terra que assim tiverem dado por termo fazer mais
outra villa sem minha licença . - Outrosim me praz
que o dito Capitão e Governador e todos os seus succes
sores a que esta capitania vier possam novamente crear
e prover por suas cartas os tabelliães do publico e
judicial que lhes parecer necessarios nas villas e povo
ações da dita terra , assim agora como pelo tempo
adiante: e lhe darão suas cartas assignadas por elles , e
selladas com o sello e lhes tomarão juramento que
sirvam seus officios bem e verdadeiramente , e os ditos
tabelliães servirão pelas ditas cartas , sem mais tirarem
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 25

outras de minha chancellaria; e hei por bem que os ditos


tabelliães se possam chamar e chamem pelo dito Capitão
e Governador, e lhe pagarão suas pensões segundo a
fórma do foral que ora para a dita terra mandei fazer ,
das quaes pensões lhe assim mesmo faço doação e
mercê de juro e de herdade para sempre . -Outrosim
The faço doação e mercê de juro e de herdade para
sempre das ditas alcaidarias móres de todas as ditas
villas e povoações da dita terra , com todas as rendas ,
direitos , fóros , e tributos que a ellas pertencerem
segundo são escriptas e declaradas no foral , as quaes
o dito Capitão e Governador e seus successores haverão
e arrecadarão para si do modo e maneira no foral con
teudo, e segundo a fórma delle; e as pessoas a quem as
.
ditas alcaidarias móres forem entregues da mão do dito
Capitão e Governador , elle lhes tomará homenagem
d'ellas segundo a forma de minhas ordenações . - Outro
sim me praz o fazer mercê ao dito Vasco Fernandes e
a todos seus successores a que esta capitania gover
nança vier de juro e herdade para sempre , que elles
tenham e hajam todas as moendas de agua , marinhas ,
e quasquer outros engenhos , de qualquer qualidade que
sejam , que na dita capitania e governança se poderem
fazer: e hei por bem que pessoa alguma não possa fazer
as ditas moendas , marinhas nem engenho senão o dito
Capitão e Governador, ou aquelles a quem elle para
isso der licença, de que lhe pagarão aquelle fóro e tri
buto que se com elles concertar . -Outrosim lhe faço
doação e mercê de juro e de herdade para sempre , de
dez leguas de terra ao longo da costa da dita capi
tania e governança , que entrarão pelo sertão e terra
firme tanto quanto poderem entrar e for de Minha con
L
26 . LIMITES

quista, a qual terra será sua , livre e isenta , sem d'ella


pagar fôro, tributo , nem direito algum, sómente o
disimo á ordem do mestrado de Nosso Senhor Jesus
Christo ; e dentro de vinte annos do dia que o dito
Capitão e Governador tomar posse da dita terra , poderá
escolher e tomar as ditas dez leguas de terra em qual
quer parte que mais quizer, não as tomando porém
juntas , senão repartidas em quatro ou cinco partes, e
não sendo d'uma a outra menos de duas leguas , as
quaes terras o dito Capitão e Governador e seus succes
sores poderão arrendar e aforar em fatiota , ou em pes
soas , ou como quizerem , ou lhes convier, e pelos fóros
e tributos que quizerem , e as ditas terras não sendo
aforadas ou as rendas d'ellas, quando o forem , virão
sempre a quem succeder á dita capitania e governança,
'pelo modo n'esta doação conteudo , e das novidades que
Deos nas ditas terras der não será o dito Capitão e
Governador, nem as pessoas que de sua mão as tiverem
ou trouxerem , obrigados a me pagar fôro nem tributo
algum , sómente o disimo de Deos á ordem , que geral
mente se ha de pagar em todas as outras terras da dita
capitania como adiante irá declarado . - Item o dito
Capitão e Governador nem os que após elle vierem ,
não poderão tomar terra alguma de sesmaria na dita.
capitania para si , nem para sua mulher, nem para o
filho herdeiro d'elle, antes darão e poderão dar e
repartir todas as ditas terras de sesmarias a quaesquer
pessoas de qualquer qualidade e condição que sejam ,
e lhes bem parecer livremente , sem fôro nem tributo
algum sómente o disimo a Deos , que serão obrigados de
pagar á ordem de tudo que nas ditas terras houver,
segundo é declarado no foral ; e pela mesma maneira as
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 27

poderão dar e repartir por seus filhos fóra do morgado ,


e assim por seus parentes: porém os ditos seus filhos e
parentes não poderão dar mais terras da que derem ou
tiverem dado a qualquer outra pessoa estranha; e todas
as ditas terras que assim dér de sesmarias a um еа
outros será conforme a Ordenação das sesmarias , e com
a obrigação d'elles, as quaes terras o dito Capitão e
Governador nem seus successores não poderão em

tempo algum tomar para si , nem para sua mulher ,


nem filho herdeiro , como dito é, nem pol- as em outra
pessoa e depois virem a elles por modo algum que seja ,
sómente as poderão haver por titulos de compra verda
deira , das pessoas que lh'as quizerem vender passados
os oito annos depois das ditas terras serem aproveitadas ,
e em outra maneira não . E outrosim lhe faço doação
e mercê de juro e de herdade para sempre da metade
do disimo do pescado da dita capitania, que a Mim me
pertence, porque a outra metade se ha de arrecadar para
Mim segundo no foral é declarado , a qual metade da
dita disima se entenderá do pescado que se mata em
toda a dita capitania fóra das dez leguas do dito Capitão , I
porquanto as ditas dez leguas de terra sua é livre e
isenta segundo atraz é declarado . - Outrosim lhe faço
doação e mercê de juro e de herdade para sempre da
redisima de todas as rendas e direitos que a dita ordem
e a Mim de direito na dita capitania pertencerem . A
saber que de todo o rendimento que de todo a dita
ordem e a Mim couber , assim dos disimos , como de
quasquer outras rendas ou direitos de qualquer quali
dade que sejam , haja o dito Capitão e Governador e
seus successores uma disima , que é de dez partes uma .
-Outrosim me praz por respeito do cuidado que o
28 LIMITES

dlto Capitão e Governador e seus successores hão de


guardar e conservar o Brasil que na dita terra houver
de lhe fazer doação e mercê de juro e de herdade para
sempre da vintena parte do que liquidamente render
para Mim , forro de todos os custos , o brasil que se da
dita capitania trouxer a estes reinos , e a conta de tal
rendimento se fará na casa da Mina da cidade de Lisboa,
onde o dito brasil ha de vir e na dita casa tanto que o
brasil fôr vendido e arrecadado o dinheiro d'elle , lhe
será logo pago e entregue em dinheiro de contado pelo
feitor e officiaes d'ella aquillo que por boa conta vintena
montar, e isto por ser todo o brasil que na dita terra
houver ha de ser sempre Meu e de Meus successores , e
o dito Capitão e Governador , nem outra alguma pessoa
poderá tratar n'elle , nem vendel- o para fóra sómente
o dito Capitão e assim os moradores da dita capitania ,
aproveitar-se do dito brasil ahi na terra no que lhes
for necessario , segundo é ordenado no foral , e tratando
n'elle ou vendendo para fóra , incorrerão nas penas
conteudas no dito foral . -――――――――- Outrosim me praz fazer

doação e mercê ao dito Capitão e Governador e seus


successores de juro e herdade para sempre , que dos
escravos que elles resgatarem e houverem na dita terra
do Brasil , possam mandar a estes reinos vinte e quatro
peças de escravos cada anno , para fazer d'ellas o que
Thes bem convier, os quaes escravos virão ao porto da
cidade de Lisboa, e não a outro algum porto , e man
dará com elles certidão dos officiaes da dita terra como

são seus, pela qual certidão lhe serão cá despachados os


ditos escravos fôrros sem d'elles pagar direitos alguns ,
nem cinco por cento ; além destas vinte e quatro peças ,
que assim poderá mandar forras Hei por bem que possa
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 29

trazer por marinheiros e grumetes em seus navios todos


os escravos que quizerem e lhes forem necessarios .
Outrosim me praz por fazer mercê ao dito Capitão e
Governador e seus successores , e assim aos visinhos e
moradores da dita Capitania , que nella não possa em
tempo algum haver direitos de Sizas, nem imposições ,
saboarias , tributo de sal nem outros alguns direitos ,
nem tributos de qualquer qualidade que sejam, salvo
aquelles que por bem desta doação e do foral ao pre
sente são ordenadas que hajam- Item. Esta Capitania
e Governança e rendas e bens della Hei por bem e me
praz que se herde e succeda de juro e de herdade
para todo o sempre pelo dito Capitão e Governador
e seus descendentes , filhos e filhas legitimos , com tal
declaração que em quanto houver filho legitimo varão
no mesmo gráo não succeda filha , posto que seja filha
em maior idade que o filho ; e não havendo macho , ou
havendo , e não sendo em tão propinquo gráo ao ultimo
possuidor como a femea, que então succeda a femea; e
emquanto houver descendentes legitimos , machos ou
femeas , que não succeda na dita Capitania bastardo
algum; e não havendo descendentes machos ou femeas
legitimos , então succederão os bastardos machos e
femeas, não sendo porém de damnado coito , e succe
derão pela mesma ordem dos legitimos , primeiro os
machos , e depois as femeas , em igual gráo , com tal
condição que se o possuidor da dita Capitania a quizer
antes deixar a um seu parente transversal que aos
descendentes bastardos , quando não tiver legitimos , o
possa fazer; e não havendo descendentes machos , nem
femeas legitimos, nem bastardo da maneira que dito é,
em tal caso succederão os ascendentes machos e femeas ,
30 LIMITES

primeiro os machos , e em defeito delles as femeas ; e


não havendo descendentes , nem ascendentes succede
rão os transversaes pelo modo sobredito , sempre pri
meiro os machos que forem em igual gráo, e depois as
femeas, e no caso dos bastardos , o possuidor poderá , se
quizer deixar a dita Capitania a algum transversal
legitimo e tiral-a aos bastardos , posto que sejam des
cendentes em muito mais propinquo gráo ; e isto Hei
assim por bem sem embargo da Lei mental , que diz

que não succedam femeas , nem bastardos , nem trans


versaes ,nem ascendentes , porque sem embargo de
tudo me praz que nesta Capitania succedam femeas e
bastardos , não sendo de coito damnado , e transversaes
e ascendentes do modo que já é declarado . - Outrosim
quero e me praz que em tempo algum se não possa a
dita Capitania e Governança, e todas as cousas que por
esta doação dou ao dito Vasco Fernandes , partir nem
escambar, espedaçar, nem de outro modo alienar , nem
em casamento , a filho ou filha , nem a outra pessoa dar ,
nem para tirar pae ou filho , ou outra alguma pessoa
de captivo , nem para outra cousa , ainda que seja mais
piedosa , porque minha tenção e vontade é que a dita
Capitania e Governança , e cousas ao dito Capitão e
Governador nesta doação dadas, andem sempre juntas ,

e se não partam nem alienem em tempo algum , e


aquelle que a partir ou alienar, ou espedaçar , ou der
em casamento , ou por outra cousa , por onde haja de
de ser partida , ainda que seja mais piedosa , por este
mesmo feito perca a dita Capitania e Governança , e
passe direitamente aquelle a que houver de ir pela
ordem de succeder sobredita , como se o tal que isso assim
não cumprir fosse morto . - Outrosim me praz que por
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 31

caso algum de qualquer qualidade que seja , que o dito


Capitão e Governador commetta , porque segundo di
reitos e Leis destes Reinos mereça perder a dita Capi
tania e Governança , e Jurisdicção e rendas della , a não
perca seu successor, salvo se fôr traidor á Corôa destes
Reinos , e em todos os outros casos que commetter seja
punido quanto o crime o obrigar, porem o seu succes
sor não perderá por isso a dita Capitania e Governança
de Jurisdicção , rendas e bens della, como dito é. — Item
me praz e Hei por bem que o dito Vasco Fernandes , e
todos seus successores a que esta Capitania e Gover
nança vier usem inteiramente de toda a jurisdicção ,
poder e alçada nesta doação conteudas, e da maneira
que nella é declarado , e pela confiança que delles tenho ,
que guardarão nisso tudo o que cumpre a serviço
de Deos e Meu, e bem do povo , e direito das partes .
Hei outrosim por bem e me praz que nas terras da
dita Capitania não entrem nem possam entrar em tempo
algum , corregedor nem alçada, nem outras algumas
justiças para nellas usar de Jurisdicção alguma , por
nenhuma via nem modo que seja , nem menos será o
dito Capitão suspenso da dita Capitania e Governança
e Jurisdicção d'ella; porém quando o dito Capitão
cahir em algum erro ou fizer cousa porque mereça
e deva ser castigado , Eu ou meus successores O

mandaremos vir a Nós para ser ouvido com sua


justiça e lhe ser dada aquella pena ou castigo que
de direito por tal erro merecer. - Item esta mercê
The faço como Rei e senhor destes Reinos , e assim
como Governador e perpetuo Administrador que sou
da Ordem e Cavallaria do Mestrado de Nosso Senhor
Jesus Christo, e por esta presente carta dou poder e
32 LIMITES

auctoridade ao dito Vasco Fernandes que elle por si , e


por quem lhe aprouver, possa tomar e tome posse real ,.
corporal , e actual das terras da dita Capitania e Gover
nança e das rendas e bens della , e de todas as mais.
cousas conteudas nesta doação , e use de tudo inteira
mente como se nella contem; a qual doação Hei por
bem quero e mando que se cumpra e guarde em todo
e por todo , com todas as clausulas , condicções , e decla
rações nella conteudas e declaradas , sem mingua , nem
desfallecimento algum; e para tudo o que o dito é der
rogo a Lei mental, e quaesquer outras leis e ordena
ções , direito , glosas e costumes que em contrario disto
haja ou possa haver, por qualquer via e modo que seja ,
posto que sejam taes que fosse necessario serem aqui
expressas e declaradas de verbo ad verbum sem embargo
da Ordenação do segundo livro titulo quarenta e nove
que dei, que quando se as taes Leis e direitos derro
garem se faça expressa menção dellas e da substancia
dellas ; e por esta prometto ao dito Vasco Fernandes e
a todos seus successores que nunca em tempo algum
vá nem consinta ir contra esta minha doação em parte
nem em todo , e rogo e encommendo a todos meus
successores que lha cumpram e mandem cumprir e

guardar, e assim mando a todos meus Corregedores ,


Desembargadores , Ouvidores Juizes e Justiças , Offi
ciaes e pessoas de meus Reinos e Senhorios que cum
pram, guardem, façam cumprir e guardar esta Minha
Carta de doação , e todas as cousas nella conteudas , sem
The nisso ser posto duvida , embargo nem contradicção -
alguma, porque assim é Minha mercê, e por firmesa de
tudo mandei dar esta Carta por Mim assignada , e Sel
lada do Meu Sello de chumbo, a qual é escripta em
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 33

quatro folhas com esta do Meu signal que são todas as


signadas ao pé de cada banda por Dom Miguel da Silva,
Bispo de Vizeu , Meu Escrivão da puridade, e do Meu
Conselho . Manoel da Costa a fez em Evora ao primeiro
dia do mez de Janeiro anno do Nascimento de Nosso
Senhor Jesus Christo de 1534; e posto que no decimo
Capitulo desta carta diga que Faço doação e mercê ao
dito Vasco Fernandes Coutinho de Juro e de herdade
para sempre da metade da disima do pescado da dita
Capitania Hei por bem que a tal mercê não haja effeito

nem tenha vigor algum por quanto se vio que não podia
haver a metade de dizima por ser da Ordem , e em satis
fação della me praz de lhe fazer mercê como de feito
por esta presente Faço doação e mercê de juro e herdade
para sempre de outra metade da disima do mesmo pes
cado, que ordenei que se mais pagasse além da dizima
inteira segundo é declarado no foral da dita Capitania ,
a qual metade de dizima do dito pescado o dito Capitão
e todos seus herdeiros e successores a que a dita Capi
pitania vier haverão e arrecadarão para si , no modo e
maneira conteudo no dito foral , e segundo a fórma delle ,
e esta postilla passará pela Chancellaria , e será regis
trada ao pé do registro desta doação . Manoel da Costa a
fez em Evora 25 dias de Setembro de 1534. »

L 5
34 LIMITES

N. 4

Memorial apresentado ao Exmo .


Sr. Dr. Arlindo Fragoso , Secretario
do Estado da Bahia , pelo Dr. Braz do
Amaral , sobre os limites da Bahia e do
Espirito Santo . - Bahia , 5 de Agosto
de 1912.

A Capitania do Espirito Santo foi doada a Vasco


Fernandes Coutinho , vindo a pertencer mais tarde a
Antonio Gonçalves da Camara Coutinho , que a vendeu
a Francisco Gil de Araujo, de quem a herdou Cosine
de Moura Rollim que a vendeu a Corôa por 40 mil cru
sados em 1718 .
>
A Capitani Porto Seguro foi doada por D.
João 3º. a Pero ¿ npos Tourinho . Tinha 50 leguas.
de costa com as mesmas condições das outras capitanias .
Por morte do donatario passou a seu filho Fernão de
Campos Tourinho e , fallecendo este , para uma irmá
que a vendeu a D. João de Lencastre, duque de Aveiro
em 1556 .
O rei D. José a incorporou á corôa por compra .

Todas as doações eram de 50 legoas de costa mas
levanta-se interessantissima questão de direito sobre o
modo de contar esta distancia.
Deve-se levar em conta as reintrancias depressões
e saliencias , produzidas pelas enseadas , cabos e irre
gularidades da costa , ou se deve contar a extensão , do
mar, ao longo da costa, sem attenção ás irregularidades.
della ?
Parece-me que foi assim comprehendida a terra

doada que nem se quer era conhecida , mesmo nos seus


detalhes mais graúdos .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 35

A Razão de Estado do Brazil, diz textualmente:


A Capitania de Porto Seguro parte com o Espirito
Santo pelo Rio Doce, em 19 gráos , ou segundo outros
querem, pelo rio Cricaré ( S. Matheus de hoje ) mais ao
Norte, que foi o ponto por donde se dividio este Estado
entre D. Francisco de Souza e D. Diogo de Menezes ; são
famosos estes rios pelas terras e varzeas para fazendas
que nelles se descobrem e pelo muito que ao sertão
se mettem , abundantes de caças e pescarias e sobretudo
pelo muito páu brazil fino que entre os seus mattos e
madeiras se acha, e pelas entradas , que com facilidade
por qualquer delles se faz ao sertão pelo rio Doce, par
ticularmente para a Serra das Esmeraldas, supposto que
a barra deste rio de nenhum modo pode ser accomettida
em nenhum tempo por ser baixa e de alfaques que se
mudam , e por ter ordinarias aguagens que descem de
cima , etc. )
Mais adeante diz o mesmo importante documento :
« Demonstração da Capitania do Espirito Santo até
a ponta da Barra do Rio Doce na qual parte c'o Porto
Seguro , etc . >>
Por aqui se vê que a Razão de Estado considera o
rio Doce como divisoria , citando o Cricaré ou S. Ma
theus . como limite temporario. Os factos posteriores
provarão que o governo portuguez considerou sempre.
o rio Doce como linha divisoria das duas capitanias.
O governo do Espirito Santo diz ter havido um
accordo entre os donatarios das capitanias de Porto
Seguro e Espirito Santo , mas eu não achei prova disto ,
sendo para admirar que encontrando- se documentos so
bre as duvidas entre os donatarios Vasco Fernandes e
Pero de Goes da Silveira, acerca dos limites do Espirito
36 LIMITES

Santo ao Sul, se não encontre cousa alguma sobre o as-


sumpto , relativamente ao norte com Pero Tourinho , o
que, mesmo sendo encontrado , não derimiria a duvida ou
questão presente, porque depois disto , quando já não
eram as duas capitanias do Espirito Santo e Porto Se
guro terras de donatarios e sim pertencentes ambas ao
governo real , sempre teve este o rio Doce como a divi
soria entre ellas , o que vae ficar evidenciado abaixo ,
pelo que vou escrever e pelos documentos a que vou
alludir e que existem realmente .
As terras da capitania de Porto Seguro ficaram
quasi sem cultura e sem vida civilisada , nem adminis
tração , até que subio ao poder em Portugal o grande
Marquez de Pombal .
Incorporando - se Porto Seguro a Corôa foi creada
uma ouvidoria e nomeado 1º . ouvidor Thomé Couceiro
de Abreu, o qual levou instrucções escriptas e que foram
importantissimas . A nomeação é de 2 de Abril de 1763
e as instrucções tem a data de 30 de Abril de 1763 .
O original deste documento que está em Lisboa e
que eu tive nas mãos , estabelece o rio S. Matheus como
fazendo parte da capitania nova , pois diz textualmente
a 8" . instrucção « Hua das principaes partes daquella
capitania é o rio S. Matheus , etc. »
Na 6" . instrucção é egualmente positivo o texto e
na 12ª . e 13" . se refere as communicações que o novo
ouvidor devia tratar de abrir com a visinha Capitania
do Espirito Santo . Basta a leitura do documento para
collocar a questão fóra de litigio sobre o que entendia o
marquez de Pombal ser a ouvidoria de Porto Seguro e a
zona portanto sobre a qual se devia estender a jurisdi
cção do magistrado .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 37

Em Dezembro do mesmo anno o novo ouvidor


Thomé Couceiro deu conta ao rei em carta que lá está,
da sua chegada , da visita que havia feito á sua comarca,
percorrendo-a , e neste documento descreve o rio S.
Matheus, onde fundou a villa do mesmo nome, promet

tendo, após a visita que se preparava para fazer da


parte mais meridional da sua comarca até o rio Doce,
dar de tudo parte ao soberano . Xavier Monteiro , o
2.º ouvidor que succedeu, em carta de 10 de Maio de
1770 , noticiou ao rei que esteve no rio Doce, limite da
sua comarca , a qual foi percorrida e descripta por elle ,
como era costume naquella epocha , e declarou ao rei
que era de vantagem desenvolver a colonisação naquellas.
terras , que no dizer de entendidos, eram as melhores e
mais ferteis do Brazil.

Acrescentava só esperar gente para fundar uma


boa povoação na barra do Rio Doce.
Morrendo Thomé Couceiro mandou o governo,

como ficou indicado já, para substituil-o un desembar


gador da supplicação , Francisco Xavier Machado Mon
teiro , o que mostra a importancia dada a povoação da
quella parte do nosso territorio .
Pela nomeação de Xavier Monteiro , ou na nome
ação deste ouvidor, confirma o governo as instrucções
dadas a Couceiro e approva todos os actos do primeiro
ouvidor , um dos quaes havia sido a creação da villa de
S. Matheus e a extensão da sua jurisdicção até o rio
Doce , jurisdicção reconhecida e acatada pelo governo
do Espirito Santo que ao primeiro destes magistrados
pedio a prisão de desertores que haviam fugido para a
margem norte do rio Doce .

Não só o governo do Espirito Santo nos tempos


38 LIMITES

coloniaes não protestou contra essa jurisdicção , como


nunca teve velleidades de suppor lhe pertencesse aquelle
territorio .

O Governo do Espirito Santo funda as suas pre


tensões em um bando que foi mandado publicar nas
terras ao norte do Cricaré , como se fosse tal facto
prova de direito em favor de sua causa.
Admittido que tal bando fosse publicado ou pro
clamado não é elle prova acceitavel , como não é decerto
em favor de Magalli e de George Gordon o facto de
terem desembarcado ha pouco em Ilhéos , como se fosse
propriedade delles . São aventuras filhas da temeridade
ou da ignorancia e que não geram direito .
Ao contrario da allegação espirito-santease temos
nós alem de tudo que já foi apontado , não só o facto da
jurisdicção dos nossos ouvidores , sem protesto , em todo
o districto de S. Matheus ao norte do rio Doce e o aca-
tamento de tal jurisdicção , legitima , ordenada e appro
vada pelo rei no caso dos desertores , como ainda o se
guinte
O Capitão- mór do Espirito Santo em 1790 dá
conta ao rei do estado em que encontrara a capitania ,
do governo da qual acaba de tomar posse e diz que ella
se limita com a de Porto Seguro pelo logar do rio
Doce que dista da villa da Victoria 26 legoas , acrescen
tando que em todo este territorio só havia a villa de
Nova Almeida.
O Capitão Antonio Pires da Silva Pontes estabele
ceu destacamentos na margem do rio Doce , na linha
divisoria das duas capitanias , afim de impedir os con
trabandos que desciam de Minas Geraes e declara
peremptoriamente em seu relatorio que o limite segue
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 39

pela Barra Secca até o porto da Regencia Augusta ,


Escadinhas e Porto do Souza que é o ponto de encontro
das tres capitanias , Bahia , Minas e Espirito Santo .
Em 1757 o Conde dos Arcos pedio aos ouvidores
uma descripção das comarcas , que deve existir em Por
tugal, onde pode ser procurada , se bem que não seja
certo trazer essa descripção o limite da capitania de
Porto Seguro pelo estado de abandono em que se
achava ella naquelle tempo.
O juiz conservador das mattas de Ilhéos , em um
Diario de Viagem mandado pelo Conde da Ponte a D.
Fernando José de Portugal , declara que a Capitania de
Porto Seguro se estende do rio Belmonte até o rio.
Doce.
Nas listas das villas levantadas para descriminação
dos tributos figura sem discrepancia a de S. Matheus ,
entre as da Comarca de Porto Seguro .
No livro das Cartas para Sua Alteza , do Archivo
Publico , se encontra um officio da junta governativa da
Bahia , composta do Arcebispo Fr. José, de Antonio.
Pereira da Cunha e João Vieira Godinho em que
pedem os governadores a creação de um juiz em uma
das duas villas mais importantes , na parte sul da Co
marca de Porto Seguro , que são as de Caravellas e
S. Matheus e lembram seja na ultima por causa do
gentio barbaro que leva as suas devastações até aos
campos de Goytacazes . Os governantes opinan ainda que
siga para sua comarca o ouvidor que estava fóra della .
Parece-me fóra de discussão que a Bahia sempre
exerceu jurisdicção sobre a zona entre o rio Mucury e
o rio Doce, que o Espirito Santo nunca pretendeo
conquistar este dominio seriamente nos tempos colo
40 LIMITES

niaes, que foram os ouvidores da Bahia que povoaram


e estabeleceram administração regular em todo aquelle
territorio e que foram elles que fundaram as villas de
Prado , Alcobaça , S. José de Porto Alegre , Viçosa e
S. Matheus e que esta ultima foi constituida
por
Thomé Couceiro de Abreu , 1°. ouvidor de Porto Se
guro, por ordem do marquez de Pombal .
Em 1722 sendo a Capitania do Espirito Santo
.
incorporada á Corôa mandou o Conselho ultramarino
que as questões de direito para o futuro levantadas da
quella Capitania para o sul fossem sujeitas á alçada da
Relação do Rio de Janeiro e as da Capitania de Porto
Seguro para o norte ficassem sujeitas á Relação da
Bahia .
O Conde dos Arcos nomeou Antonio Rodrigues
Cunha juiz ordinario da povoação de S. Matheus , e
havendo- se dado um assassinato alli , fugio o criminoso
para o Espirito Santo , onde foi preso .
Pretendeo o ouvidor do Espirito Santo julgar o
crime e pedio ao juiz de S. Matheus a devaça ao que

este se recusou , appellando para a Relação que deu


sentença, declarando que o districto de S. Matheus
pertencendo a capitania de Porto Seguro , aqui devia
ser julgado o crime . Os respectivos autos com a sen

tença estão no Archivo e tudo se acha tambem regis


trado nos livros da Relação , tambem ali guardados .
E, como esta, numerosas questões judiciaes e admi
nistrativas existem no Archivo que provam todas de
modo inconcusso ser o territorio do districto de S.
Matheus pertença da Bahia . Uma dellas é a reclamação
que faz a camara da Villa sobre um pagamento de finta ,
pretextando pobresa dos habitantes; uma outra é ainda
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 41

a reclamação da Camara sobre a quantia que lhe cabia


dar, com as outras villas da comarca, para ser restau
rada a casa da camara de Porto Seguro , cabeça da
mesma Comarca . Ainda se encontram tambem alli os
autos da luta entre a camara e o ouvidor interino da Co
marca, José Bernardo do Valle , por causa dos pellouros
e ainda lá se acha tambem uma bellissima carta do ou

vidor Xavier Monteiro em que falla muito do rio S.


Matheus, parte da sua comarca , a proposito de um
parecer que lhe havia sido pedido pelo governo .
Em 1769 o marquez de Lavradio manda ouvir a
Camara de S. Matheus sobre a queixa que lhe fizera o
ouvidor de ser um casebre a casa em que ella funccio

nava , a qual não dava segurança aos presos e Caetano de


Barcellos Pereira , Juiz ordinario da villa de S. Matheus ,
pede ao governador lhe perdoe ter permittido que o
escrivão abrisse um officio que o mesmo governador
lhe dirigira e cujo conteudo foi conhecido .
Temos um tão grande numero de documentos para
provar que todo o districto ao norte do rio Doce sem
pre foi de direito da Bahia , que me cança já apontal-os .
Será porem em todo o caso conveniente que V. Exa .
conheça mais os seguintes :
Ha um officio do ouvidor Bento Joseph de Cam
pos e Souza , de 9 de Junho de 1789 , remetendo a lista
das Villas e huma povoação , existentes na Comarca de
Porto Seguro , todas sitas na Costa do mar , excepto
S. Matheus e Villa Verde, aquella distante 5 leguas e
esta 6 , pelo rio acima . Esta lista veio acompanhada das
distancias entre os povoados referidos .
Ha um officio do Conde de Aguiar ao Conde dos
Arcos , de 21 de Maio de 1812 , notificando que Antonio
L 6
42 LIMITES

Araujo Azevedo mandara abrir á sua custa uma es


trada de Mucury , na Costa da Comarca de Porto Se
guro, para a Capitania de Minas Geraes .
O ouvidor de Porto Seguro, José Marcellino da
Cunha , em 24 de Fevereiro de 1812 , pede ao rei que a
população de S. Matheus, villa da sua Comarca, fosse
isenta do recrutamento , por ter de guarnecer 11 des
tacamentos levantados contra es indios .
Em 23 de Maio o governador manda ao capitão
mór de S. Matheus que suspenda a execução do bando
que lhe fora remettido e que lhe mande a lista dos
habitantes, discriminando idade , sexo e emprego , espe
cialmente dos que cultivassem mandioca .
Em officio de 7 de Março , o Conde da Ponte de
clara ao governador do Espirito Santo que o juiz con
servador das mattas ia dirigir e aperfeiçoar a obra de
uma estrada , mandada abrir pela carta regia de 24 de
Fevereiro, até o rio Doce e que deve continuar do dito.
rio até os limites dessa Capitania , com direcção ao Rio
de Janeiro .
Ao governador do Espirito Santo ordena- se , em
obediencia á Carta regia de 21 de Maio de 1807 , que
levante destacamentos contra os Indios Botocudos pela
parte daquella capitania , pelos pedestres que fazem o
serviço do rio Doce , denominando - se os destacamentos
ja e 2ª divisão do rio Doce , pela Capitania do Espirito
Santo .
Ao capitão mór da villa de S. Matheus , Comarca de
Porto Seguro , dá o Governo ordem identica , dizendo
que logo que a estação permittir, faça as entradas que
entender convenientes em todo o terreno que pertencer


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 43

a esta Capitania , para o sul até a Barra Secca e para


o norte até Viçosa.
Existe em Portugal o grande livro da Provedoria
da Bahia , no qual se acha registrada a villa de S. Ma
theus , na Comarca de Porto Seguro.
Em 1820 o Conde da Ponte officia ao governador
do Espirito Santo , a proposito de um preso , officio em
que mais uma vez , vem a declaração de ser o districto
de S. Matheus da Bahia , para onde devia voltar o in
dividuo que naquella villa havia commettido um furto.
O mesmo Conde da Ponte ordena aos capitães
móres das villas da Comarca de Porto Seguro , afim
de que levantem gente para perseguir os Indios , ca
bendo a S. Matheus 60 homens .
No officio de 10 de Novembro de 1806 ao ouvidor

de Porto Seguro determina o governador da Bahia


sobre assumptos de administração daquella villa.
Em outro de 1807 ao mesmo ouvidor dá instru
cções sobre a commissão do brigue S. Antonio Rey,
cujo commandante havia descoberto que o escrivão de
S. Matheus roubava madeiras do governo .
Havendo sido noticiada a descoberta de ouro nas
proximidades da Lagôa Jyparanan o Conde da Ponte ,
em officio de 11 de Setembro de 1806 , communica ao
Capitão- mor das ordenanças da Villa de S. Matheus, em
resposta a uma participação deste , noticiando que o go
vernador do Espirito Santo mandara convidar gente da
villa para ir a procura de ouro , recommendando ao ca
pitão-mór que pertencendo a dita região ao districto da
villa de S. Matheus, por ficar ao norte do rio Doce,
tenha cautela e dá varias instrucções , pedindo escla
recimentos sobre o logar, etc.
44 LIMITES

Na mesma data envia officio ao Governador do

Espirito Santo em que faz a mesma declaração e manda


que dê todo o auxilio, na parte que lhe tocar, ao encar
regado por elle Conde da Ponte , de lá ir para estudar o
assumpto .
Finalmente no Archivo da Camara Municipal
daqui , se encontra , no livro de posses , o termo de 1º .
de Fevereiro de 1822 em que se fez a eleição para
escolha da junta governativa provisoria . Ali, entre os
representantes das villas da Comarca de Porto Seguro ,
se encontra o delegado pela villa de S. Matheus ,
Joaquim José de Azevedo .
Não soffre portanto objecção o affirmar- se que du
rante os tempos coloniaes S. Matheus com o seu dis
tricto , foi sempre parte da Capitania de Porto Seguro , e
que aquella terra foi colonisada , organisada adminis
trativamente, cultivada , povoada e pacificada por ba
hianos , sob a direcção de autoridades bahianas.
O Espirito Santo para provar que isto não é ver
dade tem de exhibir as suas razões de direito sobre o
territorio , e deve destruir todos estes documentos apon
tados e que existem , mostrando um acto do rei , origem
da lei naquelle tempo e soberano de toda a terra do
Brasil , dando-lhe direito á ella .
Como possuidor das duas Capitanias visinhas que
havia comprado , é preciso um acto do rei que houvesse
dado ao Espirito Santo , ou declarado pertencer ou dever
ficar pertencendo a elle , já não digo o territorio entre o
rio Doce e o rio Cricaré ou S. Matheus , mas ainda a faixa
de terras que se estende até o rio Mucury e que constitue ,
ao norte do rio Itaúnas , entre o Riacho Doce e o Mu
cury , o patrimonio da villa de S. José do Porto Alegre .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 45

O Espirito Santo só pode invocar documentos que


não geram direito , como o Aviso de José Bonifacio , e
o abandono da terra pelas autoridades superiores da
Bahia, o seu descaso pelos interesses do Estado até
agora, pois se esta questão de direito se levanta, ella
nem ao governo da Bahia sequer se deve, e sim a Ca
mara de S. José de Porto Alegre que não se resignou
a perder as terras do seu patrimonio, terras que lhe per
tencem pelos autos da Creação da villa e de que o Es
pirito Santo se tem querido apoderar , depois de sorra
teiramente ter invadido e occupado tudo desde o rio
Doce até o riacho Doce, com a indifferença do governo
da Bahia , que até ha pouco tempo nunca havia sequer
estudado o assumpto para conhecer até onde ia o que
lhe foi legado pelos antepassados .
E é bem verdade que a justiça não soccorre aos
somnolentos !

Felizmente podemos invocar a reclamação do


Conselho Interino da provincia, aliás em um periodo
anormal e atribulado , como vamos ver.
Diz o aviso de José Bonifacio : « Sendo presente
a S. Magestade o imperador o officio do Governo Pro
visorio do Espirito Santo de 20 de Março proximo
passado em que representa que tendo-se a villa de S.
Matheus unido a referida Provincia para reclamação
(deve ser acclamação ) do mesmo Augusto Senhor e
pretendendo agora o Conselho Interino do Governo da

Bahia que a dita villa se lhe reconheça sujeita , entra


em duvida a qual das duas Provincias deve ficar per
tencendo aquella villa- Manda pela secretaria dos Ne
gocios do Imperio participar ao referido Governo que
deve reconhecer-se sujeita aquella que lhe ficar mais
46 LIMITES

proxima até que a Assembléa Geral do Brasil de


termine os limites das provincias . —José Bonifacio de
Andrade e Silva.»
Este aviso é o documento unico que explica a
posse abusiva em que tem estado o Espirito Santo de
S. Matheus e seu districto. Elle porem não institue
base juridica nem moral para a manutenção de tal
posse, porque o poder executivo se baseou numa razão
toda occasional para fazel-o ; a expressão que ficasse
mais proxima, se explica em virtude talvez da guerra
que então flagellava a Bahia e a impedia dos cuidados
inherentes a administração das suas villas mais dis
tantes , em epocha extraordinaria como aquella . Alem
disso o proprio governo do Espirito Santo revela ter
sciencia de não lhe pertencer S. Matheus , pois de outro
modo não se comprehende que se dirigisse ao governo
imperial perguntando a quem ficaria pertencendo , sem
allegar rasão alguma sequer que revelasse ter sobre
tal villa a mais leve sombra de direito . Que a solução do
governo foi provisoria , elle o diz cathegoricamente , e
mesmo que a tivesse declarado definitiva, tal declara
ção seria irrita e nulla por illegal , visto que pela cons
tituição do Imperio só a Assembléa Geral podia as
sentar limites de provincias e isso mesmo diz positiva
mente o ministro !

O que sobremodo dá ensancha a reflectir é que,


emquanto a Bahia soffria, na luta da Independencia
todos os males da guerra, em actos de altruismo e
sacrificios, emquanto gastava o seu sangue , a sua pros
peridade e a sua paz pela causa da liberdade de todo o
Brasil , brasileiros aproveitassem a occasião para des
pojal-a de uma parte do que era seu.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 47

E o proprio governo do Rio de Janeiro que pro


vavelmente já lhe tinha má vontade sanccionou esta
extorsão , de modo que depois da guerra o visinho que
tinha enriquecido com o objecto desta maneira to
mado , ainda foi ardilosamente estendendo o despojo e
vem dizer hoje que a sua posse é honesta e que tem
direito a mais ! ( * )
Ora, com os argumentos que temos , parece- me não
haver juiz que possa dizer legal a posse de S. Matheus
pelo Espirito Santo , nem considerar tal cousa juridica
mente liquida por outros motivos , visto termos as pro
vas mais evidentes de ser aquillo tudo parte da Ca
pitania de Porto Seguro .
Já sabemos que a reclamação do Conselho Interino
da Bahia, não deixa cahir a questão no terreno dos
casos de abandono de direito .
O governo geral portanto não deu S. Matheus ao
Espirito Santo , nem o podia fazer, pois não tinha
attribuições para isto . A' assembléa geral é que cabia
ter resolvido o caso , mas este assumpto das fronteiras
das provincias , nunca se procurou resolver. Ao poder
executivo cabe a responsabilidade de não haver levado
este facto em mensagem á Assembléa Geral para sobre
elle chamar a sua attenção .

(*) No primeiro volume ficou evidente , no parecer do Conselho de


Estado de 18 de Junho de 1843 , como era intenso o desejo de cortar e di
minuir a Bahia, pois accentuando o parecer que o direito da Bahia pa
recia mais bem fundado que o de Sergipe , mandou entretanto entregar
a esta ultima provincia o territorio do Espirito Santo do Rio Real . (Vide
19 vol. pag . 381 ) .
Nota-se agora como era velha a intenção de fazer á Bahia todo o
mal possivel , ageitando- se um meio injusto para apoucar- lhe a impor
tancia e os recursos , plano que ultimamente se tem tornado tão claro
pelos multiplos entraves oppostos á expansão do commercio e da viação,
como a todo o desenvolvimento deste Estado , que não é possivel maia
esconder que na familia brasileira a antiga metropole é vista e tratads
como irma bastarda. - V. do A.
48 LIMITES

Seja como for , não é á Bahia , parte que foi preju


dicada pela suppressão das rendas de um bem, que deve
perder este bem , porque o poder superior a quem affe
ctou a questão de direito e quem lhe arrebatou a sua
propriedade, jamais cumpriu esta obrigação .
A Bahia acatou a resolução provisoria do governo
geral e tem esperado até agora a solução definitiva . No
tempo do Imperio só a Camara podia fazel - o e ella
nunca o fez . Hoje , na posse da autonomia que a lei
basica concedeo aos Estados , podemos tratar disto sem
que tenha prescrito o nosso direito .
Na situação provisoria em que ficou o termo de S.
Matheus não podia o Governo do Espirito Santo esten
der a mão sobre as uberrimas terras ao norte deste rio
porque até o curso delle vae o termo da villa de seu
nome .

Sorrateiramente foi feita uma especie de desmem


bramento de provincia sob a forma da creação de uma
freguesia, pedindo o Governo do Espirito Santo a ere
cção de uma parochia na barra de S. Matheus , mas não
propondo para ella territorio do termo da villa de S.
Matheus , porem da capitania de Porto Seguro , isto é ,
da Bahia e foi assim que se prolongou a ambição do
nosso visinho para o norte até o rio das Itaúnas , como
V. Exa. verá pelo exame do seguinte decreto legislativo .
A Regencia em nome do Imperador, o Sr. D.
Pedro 2.º faz saber a Resolução seguinte da Assembléa
sobre proposta do Conselho Geral da Provincia do Espi
rito Santo . Art . unico-Que a capella filial da povoação
da Barra de S. Matheus que já tem Pia Baptismal e
Cemiterio, seja erecta em Parochia , abrangendo a
mesma Povoação a todos os povos estabelecidos nas
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 49

margens de Leste dos rios Preto e Sant'Anna, divi


dindo-se com a freguezia da dita villa a Oeste pelos re
feridos rios , ao sul com a de N. Senhora da Conceição
de Linhares pela Barra Secca e ao Norte com a de S.
José de Porto Alegre do Mucury pelas Itaúnas . -Diogo
Antonio Fevjó, ministro e secretario da Justiça assim o
tenha entendido e faça executar. 2 de Agosto de 1831 .
-Francisco de Lima e Silva, José da Costa Carvalho,
João Braulio Muniz .—Diogo Feijó.
O que estavam a fazer os deputados da Bahia não
sei , mas está se vendo que não foram bons procuradores
da sua provincia porque isto que ahi fica se promulgou .
Algumas pessoas julgam que é preferivel para a
Bahia firmar- se nos termos deste decreto e sustentar
que a sua raia meridional deve ser pelas Itaúnas . Não
me parece que tenham razão essas pessoas . Visto que
o nosso direito é pela fronteira do rio Doce , devemos
pleitear por elle, e deixemos que o Espirito Santo nos
venha solicitar um accordo para o fazermos , mediante
as devidas compensações, mas nunca pelo rio Itaúnas
nem pelo riacho Doce e sim pelo Cricaré ou S. Matheus ,
em ultimo caso.
O decreto de 1831 não tocou na questão capital da
fronteira da Bahia com o Espirito Santo . Limitou- se a
crear uma freguesia e lhe estabeleceu os limites ,
sendo porem curioso que
que fosse o governo do Espirito
Santo quem pedisse tal creação que estava fóra do termo
da Villa de S. Matheus, unico territorio da Bahia que
pelo aviso de 10 de Abril de 1823 devia estar na posse
do nosso ambicioso visinho do Sul!
Restava ao Norte do rio Itaúnas uma porção de
territorio que o Espirito Santo tambem desejou e sobre
I.
50 LIMITES

elle foi estendendo o seu dominio sem dar razões e sem

o menor pretexto, por menos plausivel , ou por mais


perfido e artificioso que fosse .
E assim chegou até o riacho Doce , raia do termo
da villa de S. José de Porto Alegre pelos autos da sua
creação e ahi encontrou difficuldades na camara da villa
que começou a defender o que é legitimamente seu.
De modo que ahi , já perto do rio Mucury , alvo dos
desejos do governo do avido visinho tem esbarrado os
seus esforços .
Foram então tentados outros meios .

Mais tarde , o senador Candido Mendes publicou o


seu mappa do Brazil e sobre este ponto diz que o limite
era pelo Rio Doce mas que o Espirito Santo ficará
redusido a quasi nada , ao passo que a Bahia , já sendo
muito grande , ainda ficará maior . Nota que não é
logico nem rasoavel fique uma provincia como a Bahia
com uma fronteira limitada por um rio pouco cauda
loso como o Itaúnas .
Estes argumentos podem ser de comiseração e
piedade pelo Espirito Santo , pelo que o senador impe
rial tem direito a todas as sympathias do Governo da
Victoria, mas não dão a este direito sobre o territorio ,

nem constituem elementos juridicos .


O que porem talvez o Sr. Candido Mendes com
toda a sua paixão contra a Bahia não soubesse , é
que ella, alem de injusta . cobria uma causa immoral ,
porque, para justificar o despojo do que é legitimamente
nosso, se tem feito indignas alterações de documentos .
Tal foi o trabalho de truncar a Breve Noticia Es

tatistica de Francisco Alberto Rubim , apresentada ao


Governo, alterar o texto deste documento tirando pa
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 51

lavras e accrescentando outras que não estão no ori


ginal e tudo isto offerecido ao Instituto Historico e
-Geographico Brazileiro como se fosse o trabalho do Go
vernador Rubim e publicado na Revista da respeitavel
instituição acima dita , afim de correr mundo e fazer fé,
naturalmente contando quem fez isso que ninguem
fosse cotejar o original de Rubim com a adulteração .
Tive eu porem a inspiração de procurar o original
de Francisco Alberto Rubim , que felizmente existe no
Archivo Publico Nacional , no Rio de Janeiro e,
len do-o , notei differença do trabalho publicado na Re
vista do Instituto Historico Brasileiro por certas pas
sagens que eu guardava de memoria.
O cotejo do documento original com a publicação
feita na Revista citada não me deixou duvida sobre a
adulteração proposital , de modo que venho apresentar a
V. Exa. a certidão que tirei no Archivo Publico e de
fronte o que publicou a Revista, por haver sido offere
cido ao Instituto como documento inedito ou copia fiel .
Nada mais é preciso acrescentar neste particular!
Entretanto o sentimentalismo geographico do Sr.
Candido Mendes deu em resultado que todos os fabri
cantes de mappas do Brazil foram copiando o desenho
da fronteira bahiana pelo Mucury, sem ler o texto
explicado .
Deu-se cousa peior ainda .
Tendo a Bahia mandado fazer um mappa pelo
engenheiro Baggi este reproduziu o erro e dahi em

deante teve o Espirito Santo um dos seus melhores


argumentos neste deslise da administração bahiana que
adormeceu de todo sobre o caso .

No tempo em que era presidente desta provincia o


I
1
52 LIMITES
1
1

o Sr. Pedro Luiz o Espirito Santo pretendeu exercer


jurisdicção , estabelecendo postos fiscaes ao norte das 1
Itaúnas, o que produzio reação da Camara de Porto
Alegre e das autoridades daqui , pelo que o Sr. Marcos 1
I
Inglez de Souza , então presidente do Espirito Santo ,
reclamou em officio ao governo da Bahia . Pelos termos
do officio presumo que elle nada conhecia da questão ou
que fingio não conhecer para fazer valer a pretensão
pela arrogancia de altura da voz .
Não conheço a resposta do Presidente da Bahia ,
recolhendo- se o Espirito Santo ao silencio .
Mais tarde , quando governava a Bahia , o Sr. Ro
drigues Lima , nova tentativa fez o Espirito Santo ,
sendo arrancados á noite , sorrateiramente , os marcos de
de madeira que haviam sido fincados na fronteira ha
tempos para evitar duvidas .
Quando a questão appareceo na secretaria do In
terior já não existião os empregados do tempo do Sr.
Pedro Luiz, de modo que ninguem sabia da causa e dos
elementos precisos para rebater a pretenção .
Pelo que diz o Sr. Araujo , antigo empregado, hoje
apresentado , é de suppor que em falta de dados se tivesse
comprehendido que não havia duvida estar errado o
mappa do Sr. Baggi , visto que a Camara de Porto Ale
gre exhibia os autos da sua creação , com a medição das
terras do seu patrimonio , que vão além do Mucury até
riacho Doce, mas que não conhecendo outra cousa , foi
feito um officio sustentando esta raia que era indubi
tavel, por um documento aliás muito bem lançado .
Acredito haver partido d'ahi esta opinião que foi
sustentada pelo Dr. Oliveira Campos em um trabalho
sobre este assumpto .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 53

Antes de finalisar peço a attenção de V. Exa . para


o seguinte:
1º. E' o aviso de 10 de Abril de 1823 sufficiente
para justificar a posse do Espirito Santo na villa de
S. Matheus e seu termo ?
2.º Tendo sido a villa baliana de S. Matheus inva
dida a 22 de Janeiro de 1823 por cerca de 500 homens
armados , chefiados pelo commandante das armas da
Provincia do Espirito Santo , Fernando Telles da Silva
e mandando o ministro do Imperio que esta villa ficasse
sujeita ao governo desta ultima provincia , tem hʊje
ou não o Estado da Bahia rasão sufficiente para propôr
uma acção contra o Governo da União , successor do
Imperio , pela perturbação da posse e da jurisdicção ,
prejuizos de impostos , etc. , etc. até agora ? ( * )
3.º O decreto legislativo de 1831 legalisou a posse
do Espirito Santo desde o rio Doce até o das Itaúnas ,
isto é, uma creação de freguesia desmembrou de uma
provincia parte do seu territorio ?
4. Estabelecendo o decreto legislativo a raia da
freguesia da Barra de S. Matheus pelo rio das Itaúnas ,
tem o Estado do Espirito Santo o menor fundamento
em estar exercendo jurisdicção ao norte deste rio das
Itaúnas até o riacho Doce ?
Parece-me que o aviso de 10 de Abril de 1823 não
é fundamento que baste para justificar a posse em que
o Espirito Santo está até agora do termo da villa de
S. Matheus e que o decreto legislativo de 11 de Agosto
de 1831 não legalisou o desmembramento de parte da
capitania de Porto Seguro do governo da Bahia , ao

(*) Peço muito particularmente a attenção para este ponto. - N. do A.


54 LIMITES

qual foi encorporada aquella capitania desde os tempos


coloniaes .
E mesmo que tal decreto isto fizesse a situação do
territorio do rio Itaúnas para o norte é plena e segura
mente da Bahia e não tem o Estado do Espirito Santo
justificativa, ou sombra della para alli manter juris
dicção .
Do riacho Doce ao Mucury então a pretenção é
inteiramente no ar e , para justifical-a , seria preciso
annular os actos da creação da villa de S. José de
Porto Alegre .

O Espirito Santo percebe que não tem neste nego


cio uma situação definida e firme. Aproveitando-se da
ignorancia do caso , mais de uma vez evidenciada ,
o governo do Espirito Santo pretende forçar o da Bahia
a um accordo que em vez da situação que actualmente
elle tem , lhe dê uma posição definida e inteiramente a
coberto dos perigos do estado precario de uma posse ad
referendum.
Finge esquecer a questão de S. Matheus , porque
assim trata de obter uma cousa que lhe dá aquillo que
elle não tinha outr'ora , mas com o que se acostumou
e que actualmente já lhe é imprescindivel á manu
tenção da existencia.
Dahi o açodamento com que tem tratado nos ulti
mos tempos de conseguir da Bahia um arranjo defini
tivo , de modo que em 7 annos já por duas vezes
mandou emissarios aqui tratar disto , os quaes voltaram
sem obter cousa alguma , alem da certesa de que a Bahia ,
quando muito , se limita a defender as terras de Porto
Alegre, agarrando-se ás linhas divisorias de Itaúnas e
Riacho Doce.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 55

Eu penso, entretanto, que a Bahia deve mudar de


attitude e que pode fazel -o , sem que se possa dizer que
vae correr aventuras .

Em todo o caso , é indispensavel ir, desde já , capi


talisando e authenticando no Archivo os papeis que

estão marcados e a que me refiro neste Memorial ,


trabalho longo, que não levará menos de 4 a 6 meses .
Quanto aos outros que já escolhi em Portugal po
derei trazel-os , porque, abandonando o desejo de passar
o inverno na Italia , virei em Novembro para Lisbôa e
ahi farei tirar as certidões dos documentos indicados e
de outros que porventura descobrir, estudando ao
mesmo tempo as outras questões de fronteiras .
No caso de persistir o governo em me confiar a no
bilissima missão de que me fallou V. Ex . , é necessario
que faça parte da commissão um jurista , procurador do
Estado , mas que importa muito seja bem preparado , e
estudioso e que esteja em dia ou procure conhecer a
jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal nestes as
sumptos de limites .
A este jurista deve ser apresentada já a questão
para a ir estudando detidamente e com elle deverei ter

correspondencia, pois talvez seja necessario algum


outro documento que me tenha escapado e que seja
preciso traser de lá , da Europa .
Tambem especialmente deve este jurista estudar
se o uti possidetis, tem applicação para authorisar
a posse definitiva e eterna num caso como o nosso ,

diante do aviso de 1823 , dos termos delle , da reclama


ção do Conselho da Bahia , do facto de ficar a questão
como affecta a um outro poder , e se elle tem applicação ›
ainda num caso como este , contra o povo que cultivou ,,
56 LIMITES

estabeleceu administração, civilisou e povoou aquelle


territorio?

Tenho conhecimento de que as nações modernas,


que estão á frente dos povos cultos , não acceitam mais
esta interpretação .
Bom será, sobre alguma destas opiniões , ouvir
qualquer dos abalisados advogados do Rio , o que mais
familiarisado fôr com as questões que perante o Su
premo Tribunal tem debatido Estados visinhos nos
ultimos annos.

A intelligencia viva de V. Ex . bem percebe que,


procedendo assim, teremos prompto e á mão , o arma
mento de que precisamos para em Março proximo, com
energia, mas com prudencia , fazermos uma visita ao
Espirito Santo para lhe pedir a entrega de S. Matheus ,
ou a exhibição dos seus titulos de posse , visto apresen
tarmos delicadamente os nossos .
Naturalmente segue-se um ruido, após o qual
virá a calma que ha de conduzir o Espirito Santo a
entrar no caminho das combinações .
Se não for assim , se elle não se mostrar rasoavel ,
nós estaremos preparados para levar immediatamente
a questão ao Tribunal Federal .

E oxalá que , assim , dê a Bahia o primeiro passo


para integralisar o seu territorio , saber o que é seu de
veras , até onde chega a sua jurisdição e até onde vão as
suas leis , o que o Brazil já conseguiu, graças a Rio
Branco, pois durante muitos decennios esteve como
nós estamos aqui.
E se V. Ex . conseguir isto terá prestado um ho
nesto , grande e nobre serviço a esta terra.
Não preciso dizer que comprehendo a grandeza
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 57

deste designio e que prestarei , para que elle seja reali


dade, todo o esforço de que sou capaz .

BRAZ DO AMARAL .

N. 5

Parecer do jurista Dr. Eduardo


Espinola.

Aspectos bem curiosos apresenta a questão de


limites entre os Estados da Bahia e do Espirito Santo .
Simples Aviso do Secretario de Estado dos Nego
cios do Imperio , determinando , em 1823 , por conveni
encias de occasião , que a Villa de S. Matheus se subor
dinasse á administração do Governo mais proximo , até
que o poder competente-a Assembléa Geral do Brasil
-fixasse os limites entre as Provincias da Bahia e do

Espirito Santo , foi quanto bastou para que , por mais de


oitenta annos , inadvertidamente se reputasse incorpo
rado a esta ultima Provincia grande parte do territorio.
daquella, como se fôra um regular Decreto de desanne
xação .
Eil-o na integra:

«Sendo presente S. M. o Imperador o


officio do Governo Provisorio da Provincia do
Espirito Santo , de 20 de Março proximo
passado , em que representa que, tendo-se a
Villa de S. Matheus umido á referida Pro
vincia, para a acclamação do mesmo Augusto
Senhor, e pretendendo agora o Conselho inte- .
rino do Governo da Bahia que a dita Villa se
The reconheça sujeita , entra em duvida a qual
das duas Provincias deve ficar pertencendo
aquella Villa: Manda, pela Secretaria de Es
8
58 LIMITES

tado dos Negocios do Imperio , participar ao


referido Governo que deve reconhecer-se sujeita
áquella que lhe ficar mais proxima, até que a
Assemblea Geral do Brasildetermine os limites
da Provincia. Palacio do Rio de Janeiro , em
10 de Abril de 1823. -José Bonifacio de An
drade e Silva. Para o Governo Provisorio da
Provincia do Espirito Santo» .

Si considerarmos a data do Aviso, attendermos


aos acontecimentos que se desenrolavam na Bahia na
epocha, a que elle se refere , reflectirmos nos proprios
termos por que se enunciou, chegaremos , necessaria
mente , ás seguintes conclusões :
1. Que a Villa de S. Matheus , por deliberação
da Camara local , se unira á Provincia do Espirito
Santo , para o fim de testemunhar sua adhesão ás mani

festações de independencia, em Janeiro e Março de


1823 , quando a Bahia sustentava heroicamente a lucta
inaugurada pela desobediencia do Principe, no celebre
dia do " Fico ” , e da qual somente se libertou a 2 de
Julho daquelle anno . A expressão empregada no Aviso
-tendo-se unido » -deixa claramente vêr que S. Ma
theus não pertencia á Provincia do Espirito Santo ,
unindo-se-lhe naquella occasião para um fim especial .
23. Que o Conselho interino do Governo da Bahia
immediatamente protestou contra semelhante união,
apezar de atravessar a Provincia um periodo terrivel
mente critico .

3" . Que a Provincia do Espirito Santo , não ob


stante lhe ser supremamente agradavel administrar o
riquissimo territotio , que se lhe unira para a acclamação
do Augusto Senhor D. Pedro , tendo consciencia de que
The não pertencia, hesitou e dirigiu-se ao Governo cen
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 59

tral com a declaração de que entrava em duvida « a quai


das duas Provincias» devia ficar pertencendo aquella
Villa» . Tivesse a Provincia do Espirito Santo o mais
contestavel dos titulos a lhe favorecer qualquer preten
ção juridica sobre a Villa de S. Matheus , e de certo não
manifestaria a surpreza e a cupidez desconfiada que
traduzem os termos de que se serviu . Entrar em duvida,
em casos taes, é confessar que não tem direito.
4" . Que a união se destinava apenas ao proposito
de , em harmonia com o Espirito Santo , dada a lucta
accesa na capital bahiana, patentear ao Principe senti
mentos favoraveis á causa da independencia . Para uma
incorporação territorial fallecia competencia á Camara
de S. Matheus ; innocua seria qualquer tentativa nesse
sentido .
5. Que o Aviso providenciou para o momento ,
nada resolvendo definitivamente, por não invadir attri
buições alheias , remettendo ao Poder competente o
decisivo conhecimento da duvida .
Só a Assembléa Geral do Brasil poderia determinar
os limites da Provincia .
Entretanto, a Assembléa Nacional , neste como
em tantos outros casos , deixou de proferir seu voto
imprescindivel , continuando sempre a titulo precario a
administração do Espirito Santo sobre toda a zona que
vae do Rio Doce ao das Itaúnas, limite norte da Paro
chia da Barra de S. Matheus , de accordo com o de
creto de 11 de Agosto de 1831 .
Interessante, porém , é que os historiadores e os
geographos , sem mais exame, deram como facto con
summado a providencia occasional do Aviso , e passaram
a descrever S. Matheus como parte integrante da Pro
60 LIMITES

vincia espirito- santense . Mais interessante ainda é o


seguinte facto . O auto de medição e demarcação da
Villa de Porto Alegre, obedecendo ás indicações con
stantes da Carta Regia de 3 de Março de 1755 , fixou
no Riacho Doce o limite sul da mesma Villa, ao passo
que pouco mais ao sul, pelo Itaúnas, foi , como vimos ,
traçado o limite norte da Parochia da Barra de S. Ma
theus . Poderia, pois , parecer que, admittida a união
desta ultima Villa ao Espirito Santo, as duvidas sobre
os limites entre as duas Provincias só poderiam recahir
sobre o Riacho Doce e as Itaúnas . Mas, contra toda a
espectativa , um auctor illustre - o Sr. Candido Mendes
de Almeida , deixando- se levar inconsideradamente
por informações colhidas na Estatistica Official do Go

vernador Espirito-santense Francisco Alberto Rubim ,


escandalosamente adulterada na publicação que se fez
no volume 1.º da Revista do Instituto Historico e Geo

graphico do Brasil, como adiante provarei , indica para


limite entre a Bahia e o Espirito Santo o rio Mucury,
cerca de quatro leguas ao norte do Riacho Doce , limite
meridional da Villa de S. José de Porto Alegre . Foi
tanto mais grave o erro do conceituado geographo ,
quanto maior se affirmou a influencia de seu trabalho.
sobre todos os que se lhe seguiram. Não é de admirar
portanto , que os atlas posteriores hajam reproduzido o
erro . Evitaram -no , todavia , os engenheiros Argollo e
Theodoro Sampaio, que adoptaram o limite do Riacho.
Doce. No mesmo sentido se pronunciaram Cesar Au
gusto Marques, no Dicionario Historico , Geographico
e Estatistico da Provincia do Espirito Santo e Braz da
Costa Rubim , no Diccionario Topographico da mesma
Provincia.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 61

Entretanto , descurava a Bahia dos seus interesses ,


consentindo que a Assembléa Nacional dormisse sobre
a magna questão dos seus limites meridionaes . Dessa
incuria colhia os fructos a Provincia do Espirito

Santo , exercendo desassombradamente jus imperi


sobre a riquissima região que lhe não pertencia . Além
disso , animada pela attitude apathica da visinha espo
liada , estribou-se em uma passagem perfidamente
alterada , em algumas palavras criminosamente intro
duzidas na « Breve Estatistica do Governador Rubim e,
por actos de inequivoca usurpação, pretendeu estender
o seu dominio ao proprio territorio da Villa de Porto
Alegre. De feito , provas dessa tentativa fornecem-nos ,
em primeiro logar, o arrolamento que se mandou fazer
em 1870 e a Agencia de Rendas que se procurou esta
belecer em 1876. Temos , em seguida , as pretenções
expressas do Presidente do Espirito Santo - Marcos
Inglés de Souza-- , no officio dirigido ao Visconde de
Paranaguá, Ministro da Fazenda , em 28 de Setembro
de 1882. Protestos da população de Porto Alegre e re
clamações energicas das auctoridades locaes obtiveram
respeitados fossem os direitos dessa Villa . Em 1893 ,
renova-se com maior insistencia o plano invasor .
Descreve- o o Dr. Braz do Amaral :

«No tempo em que era Governador do


Estado da Bahia o Dr. Joaquim Manoel Ro-*
drigues Lima, creou o Governo do Espirito
Santo uma mesa de rendas em terrenos da
Villa de S. José de Porto Alegre . Ora, pelos
autos de creação de S. José , a camara daquella
povoação teve não só as leguas de terra do
seu patrimonio, como ainda 4 leguas para
lavouras de seus habitantes; pelo que o Go
62 LIMITES

verno da Bahia não poude consentir nesse


attentado commettido á posse e dominio de
seus governados pela administração de outro
Estado . Reclamou, portanto , o Governo da
Bahia, e a mesa de rendas foi retirada , mas se
chegou nesse tempo ao conhecimento de um
facto grave, que foi o seguinte : Havia na
margem do Richo Doce um marco de pedra ,
que indicava os limites das terras de S. José,
alli existentes , desde a função da Villa . -0
marco tinha desapparecido , coincidindo isso
com a creação da mesa de rendas pelo Espirito
Santo ! Foi , então , lavrado um marco da ma
deira, destinado a substituir o primeiro , que
tambem desappareceu como elle , destruido
pelas mesmas mãos interessadas em fazer
desapparecer os vestigios e provas do direito,
que sempre teve a Bahia sobre as terras ao
norte do rio Doce " ( Memoria publicada na
Rev. do Instit" . Geog . da Bahia e lida na
sessão magna de 3 de Maio de 1906 ) .

E , na verdade, a 4 de Abril de 1893 , reclamava o


intendente de S. José de Porto Alegre e pedia provi
dencias ao Governo da Bahia , para se reprimir o proce
dimento das auctoridades do Espirito Santo , das quaes
dizia « terem entrado em attribuições que lhes não
competiam, querendo apoderar-se de direitos seus
exclusivos , como o de cobrarem fóros de terrenos per
tencentes ao Municipio de Porto Alegre, do Riacho
Doce para o norte» . A 27 de Abril officiou o Governo
da Bahia ao do Espirito Santo , tendo em resposta o
officio de 17 de Maio, concebido nos seguintes termos:
«Cabe- me responder-vos que o limite incontestavel
entre a Bahia e o Espirito Santo é o Rio Mucury, em
cuja margem sul já existe até uma agencia de rendas
da antiga Provincia ... Prescindo de instruir esta minha
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 63

resposta com uma exposição justificativa , por confiar


nas luzes e não acreditar que o Governo da Bahia
cogite jamais de vir disputar, em favor de seu vastis
simo Estado , uma nesga de terra , que pertence a um
visinho que dispõe de extensão dezenas de vezes menor .
«Conhecida a resposta do Presidente do Espirito Santo,
o illustrado juiz preparador de S. José de Porto Alegre
---Arthur Gonçalves Martins--forneceu ao Gover
nador da Bahia, entre outras , a seguinte objecção :
"Quanto ao estabelecimento de uma mesa de rendas na
margem sul do Rio Mucury, é exacto que em tempo da
antiga Provincia do Espirito Santo foi mandado esta
belecer-se a dita mesa de rendas pelo presidente da
então Provincia, mas , feitas logo as devidas reclamações
ao Presidente da Bahia , foram immediatamente por
este empregados os devidos reios afim de que fossem
respeitados os direitos que assistiam ao Municipio de
Porto Alegre. Retirou o presidente do Espirito Santo
a mesa de rendas então existente , e só agora querem
restabelecer direitos que de fórma alguma lhes perten
cem» ( Officio de 8 de Junho de 1893 ) .
A questão foi levada á Imprensa diaria desta
Capital , defendendo as pretenções do Espirito Santo
sobre o territorio comprehendido entre o Riacho Doce
e o Rio Mucury o Sr. Custodio Moreira , politico espi
rito-santense , embora natural da Bahia. A favor desta,
porém, produziram argumentos irrespondiveis , em
artigos publicados na Revista do Instituto Geographico
da Bahia , os illustres Drs . Miguel de Teive Argollò e
Reis Magalhães . Em officio dirigido ao Presidente do
Espirito Santo , datado de 20 de Maio de 1896 , demons
trou o Governo da Bahia que ao Municipio de S. José
64 LIMITES

de Porto Alegre pertencia o territorio situado ao norte


do Riacho Doce e ao sul do Rio Mucury . Retrahiu -se .
então , o Governo do Espirito Santo . Até esse momento,
bem se vê, as controversias se restringiram aos limites
entre as Villas de S. José de Porto Alegre e da Barra
de S. Matheus , comprehendida esta no territorio que
em 1823 se unira ao Espirito Santo, para acclamação
de D. Pedro I ao throno do Brasil independente . Em
completo olvido permanecia a importante questão dos
verdadeiros limites entre as duas Provincias . A Bahia,
que de tanto era credora , nada intentava em favor da
reintegração de seu patrimonio territorial , cingindo -se
a defender, com energia, exigua nesga de terra que
ainda, em golpes iterativos , se lhe pretendia arrancar ,
como irrisão que se lhe atirava á face , a profligar- lhe a
indesculpavel inercia .
Mas , não ficaram ahi as investidas .
Escreve , de novo , o Dr. Braz do Amaral :

«Correram alguns annos e ha pouco se


soube de outro facto não menos grave. -Ti
rava-se areia monazitica no Riacho das Ostras
e visinhanças, a qual era levada para S. Ma
theus , de onde era exportada , perdendo assim
o thezouro da Bahia, em proveito do Espirito
Santo , os impostos respectivos . Então o Go
vernador actual , Dr. José Marcellino , mandou
occupar a zona , em que se fazia clandestina
mente a extracção , por um destacamento de
forças eataduaes , sob a direcção de um delegado
regional . Pouco depois aportava aqui um com
missario extraordinario , o Sur. Dr. Honorio
Coutinho, habilitado pelo Governo do Espirito
Santo para tratar com o da Bahia sobre o
assumpto . O Dr. José Carlos Junqueira
Ayres , director da Secretaria do Interior, foi
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 65

encarregado pelo actual Governo de estudar


O caso e de tratar com o commissario do
Espirito Santo . Valendo-se de documentos
existentes no Archivo Publico , dos fornecidos
pela correspondencia da Provincia no tempo
do Imperio, e outros ainda , escreveu o Dr.
Ayres uma refutação aos considerandos do
Sr. Honorio Coutinho . >>

Tambem nessa occasião ( 1904 ) , foi pelo Gover


nador Dr. José Marcellino encarregado de estudar a
questão o Sr. Dr. José de Oliveira Campos , competente
Director da Bibliotheca da Bahia. No trabalho que

offereceu e foi publicado na Revista do Instituto


Geographico, anno XIII , n . 32 , 1906, pags . 3 e se
guintes , apresenta o digno funccionario farta messe de
documentos em demonstração dos direitos de S. José
de Porto Alegre sobre as terras ao norte do Riacho
Doce. De todo esquecida , porém , se achava a real
questão dos limites entre os dois Estados , tanto que
chegou o Dr. Campos a extranhar que até ao Rio Doce
podessem ir as justas pretenções da Bahia . Entretanto ,
ao telegramma do Presidente do Espirito Santo sobre a
força destacada para a margem esquerda do Riacho
Doce , respondera o Dr. José Marcellino : « Pequena força
policial destacada territorio aquem Riacho Doce, limite
sul deste Estado com Espirito Santo , unico intuito ma
nutenção ordem. Em officio mostrarei razões valiosas
firmadas documentos incontroverso direito da Bahia

esse territorio .» Dias depois seguiu o officio com os do


cumentos annunciados .
Ficára a questão no mesmo pé
Em 1906 , porém, o notavel professor bahiano
Dr. Braz do Amaral -espirito affeito ás profundas in
L 9
66 LIMITES

vestigações historicas, e a quem o Dr. Junqueira Ayres


encarregára de examinar nos archivos portugueses os
documentos relativos aos limites das Capitanias de Porto
Seguro e Espirito Santo , lia na sessão magna de 3 de
Maio , no Instituto Geographico, brilhante memoria ,
em que, restabelecendo os verdadeiros termos da du
vida sobre os limites da Bahia com o Espirito Santo ,
faz, desde logo, a seguinte declaração categorica:

«Como tantas vezes acontece em trabalhos


dessa natureza , não foram felizes as investi
gações nos primeiros dias, mas fui depois des
cobrindo valiosos documentos , que estabelecem
de maneira inconcussa o direito que á Bahia
assiste, não sómente sobre a cidade de S.
Matheus e seu municipio, como á reivindi
cação de todo o territorio que, pela orla do
mar, se estende até á Barra do Rio Doce , e pelo
interior, seguindo o curso do dicto rio , até aos
logares denominados- Porto da Regencia Au
gusta, Porto do Souza e Escadinhas.»

Em apoio de sua asserção , transcreve alguns do


cumentos e indica varios outros , cujos originaes se en
contram no Archivo Ultramarino de Lisboa, e conclue
opinando:

"que chegamos ao dia em que se pode recon


stituir toda a verdade historica, afim de al
cançar a Bahia uma solução justa, a unica.
digna, que é a fronteira legitima , solução que
é mistér não se demore mais . »

Ainda em 1910 , sabendo que aqui se achava um


commissario do Estado do Espirito Santo , para obter
do Governo da Bahia um accordo sobre as fronteiras dos
dois Estados , escreveu o Dr. Braz do Amaral um artigo ,
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 67

que foi publicado primeiramente no Jornal de Noticias


e, depois , com maior desenvolvimento , na Revista do
Instituto Historico, vol . XVI , n. 35 , pags . 77 a 115, e
no qual sustentava as idéas anteriormente expendidas ,
affirmando com insistencia:

«Quanto aos limites da Bahia com o Es


pirito Santo , foram sempre pelo Rio Doce,
pois do Rio Doce para o norte era capitania de
Porto Seguro , que foi incorporada á Bahia . »

Accrescentava em seguida:

«Ora, o Espirito Santo sabe perfeitamente


que não terá um só documento serio, com o
qual possa soccorrer o seu dominio sobre S..
Matheus , o seu porto e os terrenos da margem
septentrional do Rio Doce . E é este titulo, do
qual carece, que vem pedir ao Governo ba
hiano, sob a fórma de um accordo , para legi
timar a invasão que tem feito das terras da
antiga Capitania de Porto Seguro que, pelo
Soberano, tanto della como da Capitania do
Espirito Santo -o Rei de Portugal- , foi in
corporada in totum ao Governo da Capitania da
Bahia, e nas quaes o Grande Marquez de Pom
bal mandou fundar a Villa de S. Matheus pelo
primeiro Ouvidor de Porto Seguro - Thomé
Couceiro de Abreu. Para o Espirito Santo,
tudo o que fôr concedido , no accôrdo que pede,
comprehendendo qualquer territorio ao norte
do Rio Doce , é como dinheiro tirado na lo
teria. O que o Governo do Espirito Santo pre
tende é aquillo que os meios até agora empre
gados não lhe puderam dar, isto é , um titulo
que legitime a occupação e que prove que
nella acquiesceu a Bahia.»

Mas , apezar da nova feição que as coisas pareciam


68 LIMITES

tomar, nada absolutamente se resolveu, continuando


tudo como dantes.
Em Agosto do anno proximo findo, o Exmo . Sr.
Dr. José Joaquim Seabra , ante a insistencia do Governo
do Espirito Santo, empenhou-se com seriedade em dar
solução ao caso .
Para esse fim, encarregou o illustre Dr. Braz do
Amaral , que tão perfeito conhecimento já revelara da
materia , de colligir os documentos necessarios para o
exame juridico, de que houve por bem me incumbir.
E' sobre a grande somma de materiaes que me
forneceu o distincto professor, que tenho agora de
proferir juizo , considerando a questão especialmente
por seu aspecto juridico .
Peia exposição , que acabo de fazer, perfeitamente
se comprehende que duas indagações de summa impor
tancia se requerem para a perfeita resolação da con
troversia . Cumpre , em primeiro lugar, inquirir si ,
antes do Aviso de 1823 , a zona comprehendida entre o
Rio Doce e as Itaúnas ( ou Riacho Doce ) pertencia á
Capitania de Porto Seguro ou era parte integrante da
do Espirito Santo .
Deve-se, em seguida, apurar a situação em que
ficou esse territorio depois do Aviso de 1823 e do De
creto de 1831 , bem como os direitos que sobre o
mesmo podem reclamar os Estados da Bahia e do
Espirito Santo .
De importancia inteiramente secundaria é a questão
dos limites entre as Villas de S. José de Porto Alegre
e Barra de S. Matheus , aliás perfeitamente elucidada
pelos estudos que sobre o assumpto se publicaram .
Em duas partes divido , pois , o meu trabalho:
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 69

1ª . A quem pertencia , antes do Aviso de 1823 , o


territorio entre o Rio Doce e as Itaúnas ?

2. Em que situação juridica se acham , em relação


a esse territorio, os Estados da Bahia e do Espirito
Santo , attendendo-se o Aviso de 1823 , o Decreto de
1831 e a Constituição da Republica ?
Só depois , em traços ligeiros , me referirei aos
limites entre Porto Alegre e Barra de S. Matheus .

PRIMEIRA PARTE

A quem pertencia, antes do Aviso de 1823, o territorio entre


Rio Doce e as Itaúnas ?

As cartas de doação das Capitanias de Porto Se


guro e Espirito Santo não elucidam a materia.
Se em relação á ultima vemos que a concessão foi
❝de 50 leguas de terra , as quaes começarão na parte
onde acabarem as 50 leguas de terra, de que tenho
feito mercê a Pedro de Campos Tourinho ( donatario
de Porto Seguro ) , e correrão para a banda do sul ,
tanto quanto couber nas ditas 50 leguas» , em relação
á primeira nenhum limite preciso se encontra , tor
nando-se os pontos extremos uma questão de facto,
subordinada á exploração e colonisação , ratificada
posteriormente pelo reconhecimento das auctoridades
competentes . A circumstancia de se poder hoje deter
minar, medindo-se a costa, o ponto em que devia ter
minar a Capitania de Ilhéos , conhecido como é o seu
extremo norte ( ponta da Bahia de todos os Santos da
banda do Sul-Tinharé ou Morro de S. Paulo ) ,
nenhuma importancia tem para se precisar o ponto em
70 LIM TES

que devera ao norte começar a Capitania de Porto Se


guro. E isso pelas seguintes razões :
1º. Não se tratava então de uma demarcação como
hoje é possivel fazer- se , mas de um calculo impreciso ,
tendo por base o conhecimento imperfeitissimo da
costa. E é por isso que perfeitamente observa Ruy
Barbosa, citando Varnhagen :

Depois em algumas doações , nem foi


possivel declarar o ponto em que principiavam
ou acabavam. Incluia-se apenas a extensão da
fronteira maritima , e designavam-se os nomes
dos dois donatarios limitrophes » . « Manifesta
é», pois, como pondera Varnhagen , a «insuf
ficiencia de uma tal demarcação» , que , em
effeito , não demarcava coisa nenhuma , e,
como bem nota esse historiador . originou
pleitos seculares » . ( Rasões finaes na questão
Ceará v. Rio Grande do Norte, 1904 , pag. 83 ) .

Assim , principalmente no caso da Capitania de


Porto Seguro , onde os proprios confinantes se não
determinavam , sendo posteriores as concessões feitas ,
tanto ao sul , como ao norte , os pontos extremos se não
poderiam rigorosamente estabelecer.
2. A concessão de Pedro de Campos Tourinho
não fôra subordinada , em nenhuma dependencia directa
e expressa estava para com a doação da Capitania dos
Ilhéos , com que foi por D. João III beneficiado o Com
mendador Jorge de Figueiredo Correia . Se na carta de
doação da Capitania do Espirito Santo, passada a favor
de Vasco Fernandes Coutinho , a 1°. de Junho de 1534
(foral de 7 de Outubro do mesmo anno ) , vemos que o
respectivo territorio devera começar onde terminassem
as 50 leguas de que se fizera mercê a Pedro de Campos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 71

Tourinho, donatario de Porto Seguro, é facil de veri


ficar que em relação a esta ultima Capitania ( carta de
27 de Maio de 1534 e foral de 23 de Setembro do mesmo

anno ) se não podia determinar devesse começar onde


acabasse a Capitania dos Ilhéos , pela ponderosa razão
de que esta ainda não existia . De feito , só pela Carta
Regia de 26 de Julho de 1534 ( dois mezes depois da
mercê que recebeu Pedro de Campos Tourinho ) , foi
concedida a Jorge de Figueiredo Correia a Capitania dos
Ilhéos , dando-se-lhe foral a 1°. de Abril de 1535 .
3.-Tendo passado posteriormente as Capitanias
para a Corôa , algumas por compra, outras por confisco ,
não estava o Monarcha adstricto a respeitar as delimi
tações primitivas , podendo livremente restringir- lhes ou
ampliar-lhes os territorios . Na verdade , havendo Vasco
Fernandes Coutinho fallecido «sem descendentes , passou
a successão da dita Capitania (Espirito Santo ) a seu
sobrinho Francisco de Aguiar, a quem a dita doação
foi confirmada . E por tambem fallecer sem descen
dentes , passou a mesma successão a seu sobrinho
Ambrosio de Aguiar Coutinho , filho de sua irmã D.
Maria de Castro , a quem foi confirmada ; e , por morte.
do dito Ambrosio de Aguiar, succedeu nella Antonio
Luiz Gonçalves da Camara Coutinho , por ser seu filho
mais velho, a quem se passou a doação que apresentou
com todas as confirmações » ( Parecer do Conselho Ultra
marino sobre a proposta de venda a Francisco J. de
Araujo , documento que se encontra no Archivo da
Bahia; existe tambem ahi a carta de confirmação ,
passada por D. Affonso a favor de Antonio Luiz Gon
çalves da Camara no anno de 1666 ) . A 6 de Julho de
1674 , o Principe Regente D. Pedro II de Portugal ,
72 LIMITES

consentiu na renuncia de Antonio Luiz Gonçalves da


Camara Coutinho em favor de Francisco J. de Araujo ,
mediante o preço de vinte mil cruzados , que foi depois
augmentado para quarenta mil . Em 1675 , tornou-se
Francisco Gil donatario do Espirito Santo , depois de
haver pago os respectivos direitos . De Cosme Rubim de
Moura, successor de Francisco Gil de Araujo , reverteu
a Capitania do Espirito Santo de novo á Corôa , que por
ella pagou quarenta mil cruzados ( anno de 1718 ) , como
se lê em Varnhagen ( Historia do Brasil , vol . 2° .
pag. 866) .
Por sua vez , a Capitania de Porto Seguro passou
de Pedro de Campos Tourinho a seu filho Fernando de
Campos Tourinho . Cedo veiu este a fallecer, succedendo
lhe sua irmã D. Leonor de Campos Tourinho , viuva de
Gregorio de Pesqueira , a qual no anno de 1556 vendeu
a Capitania, com approvação do Rei , ao Duque de
Aveiro - D. João de Lencastro , em cuja familia se con
servou até 1759 , quando , por compra , D. José a incor
porou á Corôa.

Nada , portanto, obstava modificasse o Monarcha ,


a seu alvedrio, a disposição e os limites das Capitanias
pertencentes á Corôa Portuguêsa . Houvessem os titulos
de doação determinado , com clareza e rigor , os extre
mos de seus territorios , nenhum valor teriam seme
lhantes delimitações contra ulteriores designios do
Soberano, manifestados pela voz competente dos Mi
nistros e Governadores . (* )

(*) Varnhagen observa que a Capitania fôra confiscada á casa de


Aveiro, sendo herdada depois pelos marquezes de Gouveia em 1749. Já
muito antes tinha sido, por sentença , incorporada á Corôa , voltando
á casa de Aveiro em 1724 , quando se adjudicou a D. Gabriel d'Alen
castro, Principe de Leon.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 73

Por todos estes motivos , elementos regulares para


o exacto conhecimento da extensão territorial perten
cente a cada uma das duas Capitanias, ao tempo da
Independencia , só poderemos encontrar nas seguintes
fontes de informações :
a) -Opinião dos auctores .
b)—Ordens e instrucções emanadas do Governo
Português e dos Governos Geraes do Brasil .
c) -Descripções, indicações e informes fornecidos
pelos ouvidores de Porto Seguro e pelos Governadores
do Espirito Santo .
d)-Actos judiciaes , especialmente de jurisdicção
criminal.
Passo a examinal-as .

A)-OPINIÃO DOS AUCTORES

Refere o illustre Sr. Dr. Braz do Amaral , que

« em 1581 , quando as Capitanias passaram


para as possessões da Corôa de Castella , na
occasião em que se fez uma especie de balanço
das terras que se incorporaram á Hespanha ,
foram citadas por todos os auctores as duas
aldeias de indios catechizados - S . André e Ma
theus-e a Villa de Santa Cruz, na Capitania
de Porto Seguro, a qual reverteu á Corôa
lusitana» .

Mas , o que agora principalmente nos interessa


é conhecer as idéas dos historiadores e geographos
sobre as terras pertencentes ás Capitanias de Porto
Seguro e Espirito Santo no fim do seculo XVIII , de
pois de incorporadas á Corôa , e no principio do seculo
XIX , ao tempo da Independencia do Brazil .
Fale em primeiro lugar o notavel Ayres de Casal ,
L 10
74 LIMITES

auctor da reputada « Chorographia Brasilica ou Relação


Historica, Geographica do Reino do Brasil , 1817 » . A'
pagina 68 do Tomo II , descrevendo a Provincia de
Porto Seguro, estabelece os seguintes limites :

«Tem no norte a da Bahia, da qual é se


parada pelo Rio de Belmonte: ao Poente a de
Minas Geraes; ao Sul a do Espirito Santo ; a
Oriente o mar Oceano . Jaz entre os quinze
gráos e cincoenta e quatro minutos e os
dezenove e trinta e um de latitude austral. »

Basta abrir qualquer carta geographica para logo


se comprehender que o auctor estabelece para limite sul
da Capitania de Porto Seguro o Rio Doce , o qual se
acha pouco mais ou menos na latitude indicada .

Não fica ahi , porém , a informação que podemos


colher no livro do auctorizado chorographo . A ' pagina
74 do mesmo volume, lemos :

«Desde o Rio Doce , seu LIMITE MERI


DIONAL ( de Porto Seguro ) , até uma legua ao
Norte de Jucururú as terras são tão razas,
que apenas excedem os niveis dos grandes
preamares . »

A' pag. 56 , discreteando sobre a Provincia do


Espirito Santo , diz:

«comprehende tres quartos da Capitania do


mesmo nome, dada no anno de 1534 a Vasco
Fernandes Coutinho . Trinta e oito leguas con
tadas do Rio Cabapuana ( hoje Itabapuana ) ,
até ao Rio Doce , SEU LIMITE SEPTENTRIONAL ,
são a sua extensão N: S.»

A pagina 80 enumera entre as villas de Porto Se


guro a de S. Matheus , que descreve á pagina 84 .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 75

O conceituado escriptor Ferdinand Denis , em sua


obra sobre o Brasil» , traduzida em 1844 , referindo - se,
á pagina 159 do volume I , á Comarca de Porto Seguro ,
na Provincia da Bahia , indica entre as suas principaes
divisões a Villa de S. Matheus . Tratando do Espirito
Santo , enumera-lhe as cidades e villas : Victoria , Ita
pemirim , Guarapary, Villa Nova do Almeida , Villa

Velha do Espirito Santo .


A ' pag. 378 , occupando- se ainda do Espirito Santo ,
faz a observação que segue:

"Não é o territorio que lhe fallece, porque


tem 38 leguas do Rio Cabapuana ao Rio Doce,
sem que se possa, todavia, exactamente , de
terminar a sua largura de L. a O. »

Adeante accrescenta que as margens do Rio Doce


formam o limite septentrional da Provincia . No vol . II
estabelece os extremos de Porto Seguro , quando escreve :

« Logo que se chega ás praias semi


desertas , em que o Rio Doce e o Belmonte se
perdem , » etc.

J. C. R. Milliet de Saint Adolphe, no Diccionario


Geographico Historico e Descriptivo do Imperio do
Brasil , traducção portugueza do Dr. Caetano Lopes de
Moura , 1845 , vol . II , verb. S. Matheus , pag . 590 ,
diz-nos :

«Passados 20 annos ( 1771 ) foi aquella


freguezia ( S. Matheus ) condecorada com o
titulo de villa, conservando sempre o nome .
de S. Matheus : achava - se então na Comarca
de Porto Seguro , da Provincia da Bahia . »

Cesar Augusto Marques , auctor do Diccionario


76 LIMITES

Historico, Geographico e Estatistico da Provincia do


Espirito Santo , 1878 , pagina 216, reproduz quasi as
palavras de Milliet de Saint Adolphe :

«Depois de 20 annos de parochia , passou


( S. Matheus ) a ser condecorada com o titulo
de villa, pertencendo , então , á Comarca de
Porto Seguro, na Provincia da Bahia. »

Domingos Rebello - Chorographia do Brasil , 1829 ,


descrevendo os rios de Porto Seguro , fala do Rio Doce,
nos seguintes termos :

«O Rio Doce , cujas cabeceiras estão no


centro de Minas Geraes , donde sae já cauda
loso, e com o nome que o designa , depois que
principia a dividir esta Comarca da Provincia
do Espirito Santo , no espaço de uma legua ,
faz tres cachoeiras denominadas Escadinhas . »

O proprio Sur. Candido Mendes de Almeida , que


tão infenso se mostra aos interesses da Bahia , não poude
desconhecer a verdadeira opinião dos auctores sobre a
extensão da Capitania de Porto Seguro.
Eis as suas palavras , enumerando as Capitanias
que passaram a constituir a Provincia da Bahia:

3º. A de Porto Seguro , doada a Pedro de


Campos Tourinho , por carta regia de 27 de
Maio de 1534 e foral de 23 de Setembro de
mesmo anno ; passou á Corôa em 1759 , por
confisco feito ao ultimo Duque de Aveiro. O
seu territorio comprehendia, segundo alguns
auctores , o espaço entre os Rios Jequitinhonha
e Doce .»

Tambem o Sur. Moreira Pinto, a cuja opinião


adeante me referirei , foi obrigado a reconhecer que
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 77

ainda em 1817 a Villa de S. Matheus estava sujeita á


alçada do ouvidor de Porto Seguro , na Provincia da
Bahia (Dic . Geog. do Brazil , 1896 verb . S. Matheus ) .
Já muito antes , em 1612 , o auctor da celebre « Razão do
Estado do Brasil» , apresentava em mappa a

«Demonstração da Capitania do Espirito


Santo até á ponta da barra do Rio Doce, NA
QUAL PARTE COM PORTO SEGURO . »

E ' verdade que o mesmo auctor, quando se occupa


da Capitania de Porto Seguro , diz :

A Capitania de Porto Seguro parte com


o Espirito Santo pelo Rio Doce , em 19 gráos
ou, segundo outros querem , pelo Rio Circacem
(Criacaré ou S. Matheus ) mais ao norte , que
foi o ponto por onde se dividiu este Estado
(do Brasil ) entre D. Francisco de Souza e
D. Diogo de Menezes . »

Se a duvida podia existir naquelle tempo sobre o


verdadeiro limite meridional da Capitania de Porto
Seguro, falando uns no Rio Doce e outros no São
Matheus , levados estes ultimos pela linha divisoria
convencionada , em 1608 , entre os dois Governadores
geraes, que nenhuma competencia tinham para alterar
os territorios doados e ainda não revertidos á Corôa,
inquestionavel é que não tinha mais razão de ser , ante
a declaração da vontade Real, manifestada pelos orgãos
auctorizados , depois de verificada a reversão . Note-se
que, ainda assim, nenhuma referencia ahi se fazia ao Rio

Mucury, ponto até onde se estende hoje a pretenção


espirito-santense .
E por não mais haver razões de duvida , todos os
78 LIMITES

geographos posteriores , sem a menor vacillação , in


dicam o Rio Doce como o ponto em que se separavam
as duas Capitanias .
Em verdade , nenhum escriptor de conceito allude ,
sob a responsabilidade de seu none e de sua reputação
scientifica , a limite differente .
Se vemos dois auctores conhecidos e um articu
lista de inferior categoria se afastarem do pensar com
mum , é que numa parcialidade, que lhe supprime o
credito, fecharam os olhos a todos os bons elementos
de convicção , deixaram á margem as opiniões dos com
petentes , contrapondo-lhes , num exclusivismo condem

navel , o parecer , que se lhes devera afigurar suspeito ,


attribuido ao Governador do Espirito Santo-- Fran
cisco Alberto Rubim. - O que ha de mais grave , porem,
é que o parecer, em que se arrimaram, não passa de
producto duma fraude immoralissima , que reclama
do Instituto Historico Brasileiro prompta e rigorosa
reparação . Os auctores de que tracto são Candido Men
des de Almeida e Alfredo Moreira Pinto, aos quaes se
uniu o articulista Braz da Costa Rubim.

Na demonstração do que affirmo darei o primeiro


lugar, que lhe compete, ao Senador Candido Mendes .
Depois de fallar no Aviso de 1823 e no Decreto de
1831 , accrescenta o illustrado geographo :

«Temos ainda a opinião auctorizada do


Governador da Capitania do Espirito Santo ,
Francisco Alberto Rubim , na sua Estatistica
Official do anno de 1817 , que , tratando dos
limites da mesma Capitania , diz: “ Beira
mar com a provincta da Bahia não tem ponto
determinado, porque segundo a primeira divi
são de Capitanias neste Continente, princi
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 79

piava esta da parte do Sul do Rio Mucury,


ondefinalizava a Capitania de Porto Seguro,
dada a Pedro de Campos Tourinho . Ao Sul
fica a Villa de S. Matheus e ao Sul desta o
Districto do Rio Doce» .

Por emquanto salientarei na descripção , attribuida


a Francisco Alberto Rubim e levianamente acceita por
um escriptor de responsabilidade , o disparate de come
çar affirmando que " a beira- mar não tem ponto deter
minado" e explicar em seguida que isso acontece pela
razão de haver na primeira divisão de Capitanias um
ponto determinado de limite , que é o Rio Mucury .
Notarei tambem que na Breve Estatistica , adulte
rada como se acha na publicação que se deu na Revista
do Instituto Historico Brasileiro , depois das palavras
Capitania de Porto Seguro - vem o seguinte gravissimo
erro historico --dada por D. Pedro II—. O Sur . Candido
Mendes , não podendo esposar o absurdo , supprimiu
essas palavras .
Agora o Sur. Alfredo Moreira Pinto .
Escreve o auctor do Diccionario Geographico do
Brasil:

«Pela carta regia de doação a Vasco Fer


nandes Coutinho , começava o territorio da
Capitania do Espirito Santo onde findasse a
de Porto Seguro , doada a Pedro de Campos
Tourinho . Era esse ponto o Rio Mucury .
Mais tarde , porém , as auctoridades da Bahia
estenderam a sua jurisdicção ao territorio do
Espirito Santo , de tal sorte que em 1817 a
propria Villa de São Matheus estava sujeita á
alçada do Ouvidor de Porto Seguro naquella
Provincia , sem que se soubesse de ordem
regia ou do Governo da Bahia, que assim de
80 LIMITES

terminasse, o que consta de documentos offi


ciaes (?) e da Memoria Estatistica da Pro
vincia do Espirito Santo, organizada em 1817,
pelo Governador Francisco Alberto Rubim, e
me foi particularmente confirmado por um
digno cidadão, a quem em parte coube a honra
de colher materiaes para aquella Memoria .»
( sic! ) (Verh. S. Matheus ) .

Das palavras que ahi ficam bem se deprehende que


o chorographo sabia que em 1817 estava S. Matheus
dependente de Porto Seguro , embora isso lhe parecesse
uma usurpação das auctoridades bahianas , porque ,
dizia, o ponto divisorio das duas Capitanias era o
Mucury . Em que documento se firma para tão perem
ptoria asserção ? Em alguma carta regia ? em instru
cções de Ministros e Governadores ? na lecção dos bons
auctores ? Não ! porque tudo isso lhe contraría flagran
temente a facil objurgatoria . E ' indesculpavel , em quem
escreve sobre taes assumptos , a ignorancia confessada
pelo officioso paladino espirito- santense , quando avança
a proposição de que se não conhecem ordens regias ou
de Governadores da Bahia que submettam á Capitania
de Porto Seguro a Villa de S. Matheus . Quanto aos
documentos officiaes em contrario sentido , nenhum só
nos indica, e recorre afinal , como ponto unico de arrimo ,
á tão decantada Estatistica do Governador Rubim , em
uma passagem escandalosamente enxertada . Não deve
passar tambem sem reparo a referencia que faz a um

digno cidadão ( autoridade de tal conceito , que se pre


fere deixar anonyma ) , o qual colheu materiaes para a
Memoria de 1817 e particularmente communicou suas
impressões ao chorographo de 1896. Que edade teria
aquelle ao colligir os materiaes que serviram á confe
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 81

cção da Memoria de 1817? Em que adiantado gráo


de velhece estaria ao entender-se com o chorographo
contemporaneo? Teria este salido da infancia quando
recebeu a confidencial instrucção?
Como se vê, de serio só se encontra ahi a invo
cação feita ao Governador Rubim .
Em 1860 , publicou o Sr. Braz da Costa Rubim,
talvez parente do Governador de 1817 , um trabalho ,
que se encontra na Revista do Instituto Geographico e
Historico Brasileiro , vol 23 , paginas 113 e seguintes,
sob o titulo de « Memoria sobre os Limites da Pro
vincia do Espirito Santo» . O articulista , depois de
se referir á « Razão do Estado do Brasil » , cuja au
ctoridade contesta, por lhe ser adversa , recorre exclu
sivamente á Memoria Estatistica do Governador
Rubim , nos termos que seguem :

«Vamos ver agora auctoridade de mais .


recente data . A estatistica official , escripta em
1817 pelo Governador Francisco Alberto
Rubim , tractando dos limites, diz : « beira
mar com a provincia da Bahia não tem ponto
determinado, porque , segundo a primeira divi
são de capitanias neste continente, principiava
esta parte do Sul do Rio Mucury, onde fina
lizava a capitania de Porto Seguro , dada a
Pedro de Campos Tourinho . Ao sul fica a
villa de S. Matheus e ao sul desta O districto
do Rio Doce» .

E' a repetição da mesma incoherencia a que se


acostou o Sr. Candido Mendes , e emprestada ao Go
vernador Rubim pelo perverso adulterador da « Breve
Estatistica» .
E' , por conseguinte, o Governador Francisco
L 11
82 LIMITES

Alberto Rubim a unica auctoridade em que se inspiram


os adversarios da integridade territorial da Bahia .
Para elles de nada vale o que sobre o assumpto escre
veram auctores acatados , isentos de toda a suspeição .
Calaram ou desconheceram os importantissimos docu
mentos officiaes que os levariam a mudar de rumo .
Abroquelaram-se com as palavras incongruentes ,
imputadas a um escriptor que lhes devera parecer sus
peito, e , como se os protegesse reducto inaccessivel ,
despediram contra a Bahia , numa tranquillidade incon
sciente, as settas que lhes preparára irreprimivel
má vontade. Quizesse eu contrabalançar o peso das
declarações feitas por um escriptor espirito- santense a
favor da Capitania que governava , e limitar- me-ia a
oppôr-lhe as idéas de um ouvidor de Porto-Seguro , em
proveito de sua ouvidoria .
Subindo mais um gráo, fôra-me facil destruir a
informação do Governador Rubim por meio das instru
cções e dos mappas do Governador Mongiardino , que
em 1790 dirigia o Espirito Santo .
Indo além , poderia anniquilar a opinião de um
auctor suspeito, contrapondo-lhe as ordens terminantes.
do Soberano .
Tudo isso farei opportunamente . Agora, porem ,
como pretenderam elevar o Governador Francisco
Alberto Rubim á categoria de Suprema Instancia , é a
elle proprio que vou recorrer para deixar bem patente
que nunca houve a menor duvida , quanto ao facto de
pertencer S. Matheus á Capitania de Porto Seguro , a
cujo Ouvidor se submetteu até 1823 .
Assim fazendo , vejo-me forçado a verberar com
energia o procedimento indigno do individuo sem
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 83

escrupulos que na « Breve Estatistica do Governador


Rubim fez alterações substanciaes, supprimindo as
palavras em que fôra estabelecido o verdadeiro limite
entre o Espirito Santo e a Bahia , e accrescentando o
periodo desconnexo e errado , que transcreveram Can
dido Mendes e Braz Rubim.

A bôa fé e a confiança dos redactores da Revista


do Instituto Historico Brasileiro foram inteiramente
fraudadas por um pernicioso falsario , que não recuou
ante a gravidade do attentado , aggravando-o ao envez,
com a perfida publicação .
E doloroso é pensar que semelhante facto accarreta
para a importante Revista sensivel prejuizo , diminuindo
a confiança que sempre inspiraram os seus artigos e
memorias. Urge, pois , cabal reparação . Demonstrando
o que acabo de affirmar, passo a transcrever, compa
rando-os , o trecho da Breve Estatistica dirigida ao
Conde da Barca em 1816 ( 25 de Junho ) por Francisco
Alberto Rubim e que se acha no Archivo Nacional , e
o da que se publicou na Revista do Instituto Historico,
de accordo com o manuscripto (sem authenticidade )
offerecido pelo socio José Joaquim de Oliveira .

BREVE ESTATISTICA BREVE ESTATISTICA

(Certidão authentica do Ar- ( Publicada na Rev. do Insti


chivo Nacional ) tuto Historico Brasileiro,
vol. 19, pag. 170 )

O Districto do Rio Doce, prin Pela parte do Norte do dis


cipio da Capitania do Espirito tricto do Rio Doce está demar
Santo pela parte do Norte está cado pelo certão com a Capi
demarcado pelo certão com a tania de Minas Geraes pela
Capitania de Minas Geraes e carta regia de 4 de Dezembro
beira mar com a Bahia de todos de 1816 , pelo espigão que corre

NOTA- Estão em italico as palavras suppressas e accrescidas.


84 LIMITES

(Certidão do Archivo ) (Publicação da Revista )

os Santos, com quem confina pela de N. S. entre os rios Guandú


maneira seguinte. Com o Capi e Amanassú , sendo do dito es
tania de Minas Geraes pelo pigão para o Rio Guandú aguas
Espigão que corre de Norte a vertentes o districto da capi
Sul, entre os Rios Guandù, tania do Espirito Santo: ser
Amanassú, ou Muyn-assú, sen vindo-lhe outrosim da parte
do dicto Espigão para o Rio do N. do Rio Doce de demar
Guandú aguas vertentes o Dis cação a serra que está defronte
tricto da Capitania do Espirito do quartel do Porto do Souza.
Santo, servindo-lhe, outrosim.
da parte do Norte de demar
cação a Serra que está defronte
do Quartel do Porto de Souza.
Beira-mar com a capitania da
Bahia não tem porto determi
nado, porque segundo a primeira
divisão de capitania neste conti
nente, principiava esta na parte
do S. do rio Mucury, onde fina
lizava a capitania de Porto Se
guro, dada POR PEDRO II a Pe
dro de Campos Tourinho , ao S.
fica a Villa de S. Matheus , e ao
S. desta o districto do Rio Doce
Fica o quartel de Registro O quartel do rio do Porto do
do Porto do Souza da parte do Souza está na parte do Sul do
Sul do Rio Doce por baixo da Rio Doce , duas legoas abaixo
foz do Rio Grande que entra da foz do rio Guandú que entra
no Rio Doce por baixo do ul no mesmo por baixo do ultimo
timo degráo da Cachoeira das degráu das Cachoeiras das
Escadinhas: este se acha guar Escadinhas. O quartel se acha
necido com um Inferior e vinte guarnecido com um inferior e
soldados do Corpo de Pedestres: 11 soldados do corpo de pedes
do Quartel segue para o certão tres. Do quartel segue pelo
hua estrada para a Capitania de certão uma estrada para a ca
Minas Geraes, e atravessando o pitania de Minas Geraes, e
Rio Guandú segue até o Quartel atravessando o rio Guandú vae
do Registro de Minas Geraes, até o quartel do registo da
denominado Quartel de Lorena, dita capitania , denominado
cuja tem de distancia tres le Quartel de Lorena , cuja es
guas e nella ha as precisas trada tem de distancia tres
pontes e Estradas: por estas legoas e nella as precisas pon
descem os Mineiros com os seus tes e estradas por onde descen
generos athé junto do Quartel os Mineiros com os seus ge
do Porto do Souza onde se em neros até junto ao quartel do
barcão em Canoas para descer porto de Souza e onde se em
o Rio Doce athé a Povoação de barcam em canoas para descer
Linhares, e alli fazem suas o Rio Doce até a povoação de
transações, e voltam com o Sal Linhares: ali fazem as suas
e Ferro: descendo o Rio Doce , transacções e voltam com Sal,
do Quartel do Porto do Souza descendo o Rio Doce do quartel
até a foz do Rio Sta. Joanna de porto do Souza até a foz do
que fica na margem do Sul há Rio Santa Joanna, que fica na
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 85

(Certidão do Archivo ) ( Publicação da Revista )

cinco leguas , desta á foz do Rio margem do S. a 5 legoas; desta


Pancas que fica na margem do á foz do rio Pancas que fica na
Norte ha duas leguas e meia, margem do N. duas legoas e
defronte da qual fica a Ilha meia, defronte da qual fica a
do mesmo nome, que tem de ilha do mesmo nome, que tem
comprido tres quartos de legoa : de comprimento tres quartos
dista o Quartel de Anadia si- de legoa . Dista ao Quartel de
tuado na margem do Sul duas Anadia , situado na margem do
legoas e tres quartos, cujo está S. duas egoas e tres quartos,
guarnecido com um inferior e cujo está guarnecido com um
doze Soldados do Corpo de Pe- inferior e 7 soldados do corpo
destres: deste á Povoação de de pedestres. Deste á povoação
Linhares que fica da parte do de Linhares que fica da parte
Norte onze legoas e meia . Esta do N. 11 legoas e com um infe
Povoação está situada em rior e 7 soldados do corpo de
hua muito alta Barreira em pedestres. Deste á povoação de
forma de meia Lua para o Linhares que fica na parte do
Rio Doce , superior a todos Norte 11 legoas e meia . Esta
os terrenos que a rodeiam, povoação está situada em uma
porque são vargeas ou plan- muito alta barreira em forma
nicies na distancia de muitas de meia lua para o Rio Doce,
legoas, e por isso não obstante superior a todos os terrenos
achar-se ainda inculta por todos que a rodeiam, porque são var
os lados hé de hua vista a mais geas ou planicies na distancia
aprazivel que pode imaginar-se, de muitas legoas, e por isso
principalmente a do Rio que não obstante achar-se ainda
por ser e estar cheio de grandes, inculta por todos os lados é da
İlhas , e outras mais pequenas mais aprazivel vista que pode
representam ao longe grandes imaginar-se ; principalmente a
e differentes Embarcações, to- do rio que por ser largo e estar
das ellas tão ferteis como todo cheio de grandes ilhas e outras
o terreno firme cuja producção mais pequenas representam ao
é tão prodigiosa que os que longe grandes e pequenas diffe
plantam hum alquere colhem rentes embarcações. Todas
duzentos, tendo mais a vanta- ellas são ferteis como todo
tagem de que ao mesmo tempo o terreno firme, cuja produ
que todos os Lavradores dos cção é tão prodigiosa que os
mais Distinctos desta Capita- que plantam um alqueire co
nia lamentam o incalculavel Them 200, tendo mais a vanta
estrago que lhes causam as For- gem de que ao mesmo tempo
migas, estes se allegram por que todos os lavradores dos
não terem encontrado hua só mais distincto desta capitania
em suas Lavouras: o ques e pode lamentam o incalculavel es
asseverar hé que a natureza trago que lhes causa a for
parece se esmerar em fazer miga , estes se alegram por
apetecivel todos os terrenos não terem encontrado uma só
deste Districto , sendo de la- em suas lavouras. O que se
mentar que o Gentio ou Indios pode asseverar é que a natu
Cuietés, vulgarmente chama- reza parece se esmerou em
mados Botucudos ou Gamellas fazer appetecivel todos os ter
(pela estravagancia com que renos deste districto , sendo de
furam o beijo inferior , e as lamentar que o gentio ou in
orelhas em cujos buracos met- dios Cuités, vulgalmente cha
86 LIMITES

(Certidão do Archivo) (Publicação da Revista )

tem grandes rolhas de pão ) se mados Botocudos ou Gamellas,


jam os que estejão utilizando pela extravagancia com que
da sua formusura e da sua fer furam o beiço inferior e as
tilidade. Tem a povoação de orelhas. em cujos buracos
Linhares apenas 36 Fogos e mettem grandes rolhas, sejam
224 almas: nella ha hum Hospi os que estejam utilizando da
tal Militar onde era o l' . Quar sua formosura e da sua ferti
tel de Linhares, hum cyrurgião lidade. Tem a povoação 57
Mór, e os medicamentos pre fogos e 305 almas: nella ha um
cisos, ha hum Alferes do Corpo hospital militar com um cirur
de Pedestres, Commandante de gião-mór e os medicamentos
toda a Linha do Destacamento precisos. Ha um alleres do
do Districto, e que mensalmen corpo de pedestres, comman
te o visita. De novo há nesta dante de toda a linha de desta
Povoação hum grande cercado camentos do districto, e que
de muito bom pasto, onde seus mensalmente os visita. Ha
moradores lançam seu Gado nesta Povoação um grande
vaccum, sem prejuizo algum cercado de muito bom pasto,
do Gentio, por estár todo in onde os moradores lançam seu
trincheirado de mataria grossa gado vaccum sem prejuizo al
derribada: esta mesma Trin gum da parte do gentio, por
cheira continúa athé ao novo estar todo intrincheirado de
Quartel denominado 2. Quar mattaria grossa derribada : esta
tel de Linhares, na distancia de mesma trincheira continúa até
quasi uma legoa, vindo a ficar ao quartel denominado segundo
quasi sobre a Lagoa Gyparanan : quartel de Linhares, na distan
está guarnecido com um Infe cia de quasi uma legoa , vindo a
rior e vinte quatro soldados do ficar este sobre a lagoa de Gypa
Corpo de Pedestres, cobrindo ranan . Está guarnecido com 1
assim plantações dos Habitan inferior. 11 soldados pedestres,
tes, as quaes ficam igualmente cobrindo assim as plantações
defendidas por um lado com a dos habitantes, as quaes ficam
Trincheira, pelo outro com o igualmente defendidas por um
rio do Lago Gyparanan, que lado com o trincheira e pelo
desagoa no Rio Doce, tendo ao outro com o rio d'Alagoa , que
mesmo tempo a vantagem de desagua no Rio Doce, tendo ao
ficarem com a Povoação em mesmo tempo a vantagem de
hua ponta, e com o Quartel ficarem com a povoação em
na outra , communicando-se uma parte, e com o quartel
com hua nova e grande Estrada na outra, communicando-se
que vae atravessar pela testada com uma estrada que vae atra
de toda plantação, e de outro vessar pela testada de toda a
Jado desta Estrada para o cer plantação , e do outro lado
tão se está concluindo hua desta estrada para o certão se
nova derribada, para servir de fez uma de derrubada para
Trincheira e nella girarem as servir de trincheira, e nella
rondas Militares athé a Povo gyrarem as rondas militares
ação, atim de que o Gentio não até á povoação, afim de que o
penetre nas lavouras com faci gentio não penetre nas la
lidade . Do lado do Norte da vouras com facilidade. Do lado
Povoação, em distancia de le do Norte da povoação em dis
goa e meia está a grande Lagoa tancia de legoa e meia está a
Gyparanan, Abundantissima de grande Alagoa de Gyparanan
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 87

(Certidão do Archivo) (Publicação da Revista )

de Peixe , esta se communica abundantissima de peixe: esta


por um Rio do mesmo nome se communica por um rio do
com o Rio Doce, e he tão gran- mesmo nome com o Rio Doce ,
de que tem em si hua Ilha em e é tão grande que tem em si
que se acolhem os Pescadores uma ilha em que se recolhem
todo o tempo em que não estão os pescadores todo tempo que
em exercicio da pesca. Na mar- não gastam no exercicio da
gem do lado do Sul defronte da pesca. Na margem do Rio do
Povoação, está a Fazenda de- lado do S. defronte da povoa
nominada Bom -Jardim, com ção, está a fazenda denomi
Engenho de Açucar, Fabrica de nada Bom Jardim, com enge
Farinha de Guerra , Olaria onde nho de assucar, fabrica de fa
se faz famosa Telha e Tijollo : rinha de guerra, olaria onde
o Dono della hé João Felippe faz famosa telha e tijolo. O
de Almeida Calmon, branco , dono della é João Felippe de
casado e nella vive com vinte Almeida Calmon, branco, ca
e duas pessoas : desta Fazenda sado e nella vive com 22 pes
segue hua nova Estrada que soas. Desta fazenda segue uma
finalisa no Quartel de Aguiar, estrada que finaliza no quartel
а qual tem quatro legoas de Aguiar, a qual tem 4 legoas
de comprido e trinta palmos de comprido e 30 palmos de
com tres partes, e por ella po- largo, com 3 pontes fortes, e
dem facilmente carregar todos por ella podem facilmente
os generos de importação e ex- carregar todos os generos de
portação para salirem pela importação e exportação para
Barra do Riacho, hua vez que salirem pela barra do Riacho,
não queiram transportal-os pela uma vez que não queiram
do Rio Doce: tem de mais esta transportal-os pela do Rio
nova Estrada a vantagem para Doce . Tem de mais esta es
os viandantes que da Capitania trada a vantagem para OS
seguem suas jornadas para a- viandantes, que da capitania
quelle Districto, ou para a Ca- seguem suas jornadas para
pitania da Bahia, não terem de aquelle districto , ou para a
dar hua volta de oito leguas capitania da Bahia, não terem
pela praya, para chegarem á de dar uma volta de 18 logoas
Povoação de Linhares. Da po- pela praia para chegarem a
voação de Linhares á Barra povoação de Linhares.
do Rio Doce na margem do Da povoação de Linhares á
Norte tem oito legoas: hua le- Barra do Rio Doce na margem
goa acima se acha estabelecido do N. tem 8 legoas. Acima se
com Lavouras e Gado Antonio acha estabelecido com lavouras
José Martins, homem branco, e gados Antonio José Martins,
casado com hua familia de homem branco, casado, com
deseseis pessoas; da casa deste uma familia de 16 pessoas. Da
segue pela costa do mar a Es- casa deste segue pela costa do
trada Geral desta Capitania mar a estrada geral desta ca
para a da Bahia, ficando dis- pitania á da Bahia, ficando
tante quatro legoas o Quartel distante 4 legoas o quartel de
de Monsarás, guarnecido com · Monsarás, guarnecido com 1
um inferior e seis soldados Pe- inferior e 5 soldados pedestres..
destres, o qual serve de Regis- o qual serve de registo.
tro ainda que os limites desta
Capitania finalizam no lugar
88 LIMITES

(Certidão do Archivo) (Publicação da Revista )


denominado Barra Secca, tres
leguas ao Norte de Monsarás,
ondeprincipia o districto da Villa
de S. Maiheus , pertencente já á
Capitania da Bahia.
A Barra do Rio Doce não A Barra do Rio Doce não
tem outro embaraço mais do tem outro embaraço mais do
que a corrente ser violenta em que a sua corrente, violenta
tempos das Agoas, etc... em tempo das aguas, etc...

Transcrevi integralmente as passagens adulteradas ,


para que bem se possa aquilatar o processo do falsario .
Conhecida , como está, a verdadeira opinião do
Governador Rubim , sobre os limites do Espirito Santo
com a Bahia, não passam de castellos no ar as conje
cturas daquelles que , firmados apenas no periodo frau
dulentamente introduzido , traçam pelo Rio Mucury a
linha divisoria.
Passo a interrogar os outros elementos de convi
cção .

B) ORDENS E INSTRUCÇÕES DO GOVERNO PORTUGUES


E DOS GOVERNADORES GERAES

Ao passo que muitos actos do Governo Português


e dos Governadores Geraes do Brasil deixam vêr, de
modo expresso e inilludivel, que a Porto Seguro per
tencia toda a zona ao Norte do Rio Doce , nenhum se
vê que possa alimentar, ligeiramente embora , as pre
tenções do Espirito Santo . São esses actos de capital
importancia, porque, annexadas as capitanias á Corôa,
livre ficava ao soberano alterar-lhes a extensão ter

ritorial , ainda quando fossem rigorosamente demar


cadas nas respectivas Cartas de doação .
Ora, documentos existentes no « Archivo de Mari

nha e Ultramar» , e dos quaes obteve copia authentica


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 89

o illustre Sr. Dr. Braz do Amaral , deixam -nos vêr o


modo por que D. José I e seu celebre Ministro Marquez
de Pombal providenciaram sobre a Capitania de Porto
Seguro, pouco depois de sua annexação á Corôa . Por
decreto de 2 de Abril de 1763 , houve por bem S. M.
nomear o Bacharel Thomé Couceiro de Abreu para
crear a Ouvidoria da Capitania do Porto Seguro , tendo
as mesmas regalias dos desembargadores da Relação do
Porto . Feitas as devidas communicações aos Governa
dores do Estado do Brasil , ao Arcebispo da Bahia , ao
Conde de Villa Flor e ao Provedor mór da Fazenda do
do Brasil , forneceu o Governo Português ao Ouvidor
nomeado instrucções datadas de 30 de Abril do mesmo
anno, pelas quaes se vê até onde o Monarcha estendia
os limites meridionaes da Capitania .
Começam nos seguintes termos :

« S. Magestade , tendo em consideração ,


etc ... foi servido nomear a V. Mercê para
hir crear aquella nova e importantissima Ouve
doria e para nella reduzir a praxe as Reaes
Ordens que vou participar a V. Mercê . »

Na 8. instrucção encontramos segura indicação


de que a zona banhada pelo Rio S. Matheus pertencia
á Capitania de Porto Seguro .
Eil-a:

«Huma das partes principaes daquella


daquella Capitania hé o importante Rio de S.
Matheus, no qual , alem de se dizer que ha
preciosas madeiras para a construcção de náos ,
se affima tambem que decorrendo pela Serra
dos Christaes , traz o seu nascimento das
Minas do Serro e do Frio . E COMO OS
L 12
90 LIMITES

NOVOS MORADORES QUE SE FOREM ESTABE


LECER NAS MARGENS DO DITTO RIO , ACHANDO
A NOTICIA, DE QUE POR ELLE PODEM HIR
AQUELLAS PRECIOSISSIMAS TERRAS ; NÃO CUI
DARÃO EM OUTRA COUSA ALGUA, SE NÃO A DE
PASSAREM A ELLAS , DEVE V. MERCE POR
HORA VIGIAR COM TODO CUIDADO, QUE
NENHUM PASSE DAQUELLES LIMITSE , QUE
V. MERCE LHE ASSIGNAR , ATHE NOVA ORDFM
DE S. MAGESTADE . )

Preoccupado especialmente com a colonisação da


fertil zona e conhecendo o quanto lhe prejudicava a
ambição de fortuna facilmente adquirida nas minas ,
ás quaes o Rio S. Matheus conduzia , como era corrente
naquellas paragens , determinava o grande estadista , em
nome do Soberano :

9 .--Não deve passar a V. Mercê, nem


pela imaginação o objecto de ir fazer o desco
brimento de Minas , mas antes se deve applicar
muito seriamente , depois do estabelecimento
«das novas Villas que puder erigir e da educa
ção dos seus novos Habitantes , na cultura dos
fructos para se sustentarem com abundancia ...
porque o seu producto lhes trará dinheiro em
abundancia para « comprarem todos os Negros
que lhes forem precisos para adiantarem cada
anno as suas plantações e dillatarem á mesma
proporção os seus descobrimentos ao favor da
Barra do mesmo Rio ( S. Matheus ) , etc.

Na 12. instrucção se recommenda :

« S. Magestade se acha informado de que


assim na Costa do Mar do Rio de S. Matheus ,
como no em que desagua o rio das Caravellas ,
se avistam balleas : E deve V. Mercê mandar
observar se será facil a sua pesca em qualquer
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 91

dos dois Rios , digo a sua pesca e estabelece


rem - se em qualquer dos dois Rios fabricas de
azeite do mesmo peixe , para o mesmo Senhor
dar os meyos de se aproveitar esta interes
sante pescaria» .

Mostra-se na 13. a conveniencia de se fazerem

" communicaveis » a nova Ouvidoria e a do Espirito


Santo .

Cumpre tambem conhecida a 16ª instrucção :

«Hua das averiguações que V. Mercê deve


fazer logo que chegar á dita Capitania, e com
maior segredo é examinar a largura e fundo
dos dois RIOS S. MATHEUS E CARAVELLAS ,
vendo quantas braças de agua tem na baixa
mar em aguas vivas e o quanto sobem as
mesmas aguas na preyamar; quantas legoas
de cada hum dos ditos Rios se podem navegar ,
desde as suas barras até onde foram pratica
veis no Pays descoberto ; e os fundos que
nelle se forem achando : Pondo V. Mercê nessa
diligencia o maior cuidado : Dando conta a
S. Magestade do que achar a esse respeito da
sua mesma Letra , sem que possa expedir- se
por Amanuense algum ; porque tem conse
quencias gravissimas a rellaxação desse se
gredo » .

De que mais se precisa para demonstração de que


o Governo Português incluira na circumscripção per
tencente á Capitania de Porto Seguro o territorio ba
nhado pelo Rio de S. Matheus?
Não vemos as ordens e instrucções regias declara
rem do modo mais expresso que o Rio de S. Matheus
é precisamente uma das partes mais importantes dessa
Capitania ? Não acabamos de lêr que ao Desembargador
92 LIMITES

Couceiro, incumbido de crear a nova Ouvidoria , se


recommendava o estabelecimento de fabricas de azeite
de baleia, a fundação de povoações e villas ás margens
ou nas proximidades do referido Rio ? Não foi ao Ouvi
dor recemnomeado que se deu a mysteriosa incun
bencia de medir e sondar o Rio de S. Matheus ?

Deante disso , a que se reduz o leve asserto do Sr.


Moreira Pinto ?

Vejamos agora como se houve o Desembargador


Thomé Couceiro de Abreu, no desempenho da esca
brosa missão .

Em carta datada de 8 de Janeiro de 1764 , com


municava o illustre Ouvidor a S. Magestade as pri
meiras impressões que recebera, dizendo haver reser
vado para « hua inspecção pessoal , na forma das Reaes
Ordens» o Rio Caravellas e o Rio S. Matheus . Effecti
vamente, a 16 de Junho de 1764 , escrevia Couceiro ao
Rei de Portugal sobre a povoação do Rio de S. Matheus :

«Consta esta povoação , entrando varios.


Indios , que nella assistem há muitos annos ,
dos moradores que declara a relação em pri
meiro lugar junta, como tambem a sonda de
sua barra e Rio, com declaração das madeiras
que nelle ha. »

Pouco adeante , accrescenta :

«A Povoação do Rio de S. Matheus , que


tem bastante numero de moradores para ser
creada em Villa, assim pelo sitio em que se
acha e delictos atrozes que nella costumão
cometer- se , como porque havendo ali Justiça ,
impedirão as subidas e descidas a quaesquer
mineiros , que pretendão subir ou descer para
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 93

as minas do Serro do Frio, aonde dicem vay


dar este Rio , ou que delle trás o seu nasci
mento, não o executey athé o prezente ; por
que pelos grandes socs que apanhey no exame
destas Barras , adoessi com huas dores etheri
cas convulcivas , que me tiverão morto , e me
obrigarão a recolher-me a esta Villa: porem
como me acho com melhoras , faço tenção ,
continuando ellas , voltar para o Rio ( S. Ma
theus ) a crear a povoação em Villa ; poes que ,
todas as Justiças que nella há sendo aquelles
moradores inquietos e distimidos , ha um
pobre Juiz vintaneiro , de quem elles fazem
pouco caso , nem hu homem só hé bastante
para evitar e rebater a inquietação de tantos . »
(Copia auth . ext . do Arq. de Mar. e Ult . ,
Docs . da Bahia n . 6508 ) .

E , em effeito , tres mezes depois executava o que


annunciara . A Villa de S. Matheus foi por elle creada
no dia 15 de Setembro de 1764.

Acham-se no Archivo Publico da Bahia os tras


lados de todos os autos concernentes ao assumpto : auto
de creação ( 15 de Setembro ) ; edital , toraando publica
a creação e divulgando as « Reaes Resoluções com que
a Piissima Grandeza de S. Magestade tem declarado
e favorecido a liberdade dos indios» ( 17 de Setembro ) ;
auto de demarcação e medição das ruas antigas ( 1. °
de Outubro ) ; das quatro leguas em quadro para pa
trimonio do conselho ( 3 de Outubro ) ; das terras que
se assignam para lavouras e mais plantações dos mora
dores da Villa ( 5 de Outubro ) ; conclusão dos autos
a 13 de Outubro e sentença proferida pelo Ouvidor
nos termos que seguein :

Julgo as presentes medições e demar


94 LIMITES

cações e o mais que contêm estes autos por


minha final sentença que mando se cumpra
e guarde como nella se contêm para o que
The interponho minha autoridade e decreto
judicial e os juizes e mais officiaes da
Camara repartirão pelos moradores desta
Villa as terras que lhe ficão assignadas ,
medidas e demarcadas para suas lavouras ,
inteirando a cada um conforme o trafico e
familia e escravos que tiverem . Villa nova
de S. Matheus , 14 de Outubro de 1764 .
-Thomé Corceira de Abreu.»

Pouco depois falleceu o Desembarcador Cou

ceiro, nomeando -se ( 1765 ) para substituil-o José


Xavier Machado Monteiro, e approvando -se o que
fizera o antecessor com a declaração expressa no
Decreto Real de que o novo Ouvidor ia continuar

a obra começada para a creação da Ouvidoria .


Em breve me referirei ás informações prestadas
pelo Desembargador Machado Monteiro . Posterior
mente , todas as vezes, que teve o Governo Português
de referir-se á Villa de S. Matheus, declarava , sem
deixar margem á menor duvida , que pertencia á
Comarca de Porto Seguro .

Sirva de exemplo a Regia Provisão que tran


screvo :

«D. João, por graça de Deus Rey de


Portugal, Brasil e dos Algarves - Faço saber
a vós, Governador e Capitão Geral da Ca
pitania da Bahia , que, tomando em consi
deração a necessidade que ha, para a
educação da mocidade, de aulas das pri
meiras letras na Villa de S. Matheus e
Povoação de Santa Cruz da COMARCA DE
PORTO SEGURO, hei por bem crear nas re
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 95

feridas Villa e Povoação uma cadeira de


primeiras letras, tendo cada uma o orde
nado que se acha estabelecido para cadeira
desta natureza , segundo as respectivas terras .
O que vos mando participar para as pro
verdes na forma das minhas Reaes Ordens .
El-Rey nosso Senhor o mandou pelos Mi
nistros abaixo assignados , do seu conselho
e seus Desembargadores do Paço: João Pedro
Maynard da Fonseca e Sá o fez no Rio
de Janeiro aos 18 de Novembro de 1816.
Bernardo José de Souza Lobato a fez es
crever. -Bernardo José da Cunha Gusmão
e Vasconcellos.»

Nos trabalhos mandados exercer pelos Gover


nadores da Bahia , em suas correspondencias para a
Corôa , nos actos de administração , nas reclamações
sobre impostos , novos elementos encontramos em

segurança de que á Capitania de Porto Seguro per


tencia toda a zona ao norte do Rio Doce .

E tantos são elles , aos quaes nenhum se con


trapõe , que nos não é possivel indical-os todos .
Bastem para exemplos os seguintes:
1º. No mappa minucioso, feito pelo Capitão João
da Silva Santos , por ordem do governador e capitão
geral da Bahia , se encontra a descripção ( 1805 ) « da
costa , rios e seus terrenos de toda a Capitania de

Porto Seguro ...., principiada do Sul para o Norte» ,


pela qual se vê que essa Capitania começa na « Barra
do Rio Doce , divisão da Capitania do Espirito Santo ,
a qual se acha na latitude de 19°, 33 ' e 344° , 45 ' de
longitude. »

(Rev. do Inst. Bras . , vol . 68 , part . 1. , 1907 ,


pag. 253 ) .
96 LIMITES

Em 18 de Janeiro de 1809 , o Conde da Ponte


João de Saldanha da Gama - officiava a D. Fernando
José de Portugal , anteriormente vice-rei do Brasil et
então Ministro da Fazenda e Interior :

"Levo a presença de V. Ex. o diario da


viagem , a que por ordem deste Governo
( da Bahia ) procedeu o Dez. Juiz Conser
vador das Mattas de Ilhéos Balthazar da
Silva Lisboa, e os mappas que de passagem
fez levantar para melhor intelligencia da
Memoria e exposição desta diligencia, po
dendo segurar a V. Ex . que por officio que
recebi de dito Desembargador , em 6 do pre
sente mez , referindo-se a outro que se lhe
dirigiu da Comarca de Porto Seguro , as suas
providencias se acham executadas em todo
o districto daquella mesma Comarca, COM
PREHENDIDA ENTRE O RIO BELMONTE E
RIO DOCE e que na Comarca de Ilhéos
nada se tem feito , » etc.

Ainda em 1809 , aos 8 de Outubro , no Governo


interino do Arcebispo D. Frei José de Santa Escho
lastica e seus companheiros Antonio Luiz Pereira da
Cunha e João Baptista Vieira Godinho , foram satis
feitas as ordens da Côrte, sobre a indagação das
Villas da Bahia em que se podiam estabelecer juizes
de fóra, por meio de um officio , dirigido ao mesmo
D. Fernando José de Portugal , Conde e depois
Marquez de Aguiar, no qual se dizia :

"A Comarca de Porto Seguro tem poucas


Villas notaveis e apenas merecem alguma
attenção as de Caravellas e S. Matheus, que
ficam muito ao Sul da cabeça da Comarca.
Qualquer dellas pouco mais tem de dois.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 97

mil habitantes .. O Ouvidor interino


da Comarca se lembra com preferencia da
Villa de S. Matheus para residencia de um
juiz de fóra ; porém o que mais indispen
savel parece é que V. A. Real ordene que
o Ouvidor nomeado para aquella Comarca ,
que é Francisco Carneiro de Campos , actual
mente empregado nesta Cidade, no exercicio
da cadeira de Philosophia , se recolha em
breve termo a sna Comarca» , etc.

Em 1820 , Thomaz Antonio Villa Nova Portugal ,


que em 1817 succedera ao Conde da Barca na pasta
da Guerra e Estrangeiros e com a direcção geral
da politica, respondendo a um officio do Conde da
Palma, Governador da Bahia, assim se exprimia:

«Pelo officio de V. Ex . n . 5 , em data


de 2 do corrente, ficou El- Rey Nosso Senhor
sciente de ter V. Ex . mandado huma copia
do officio do Governador da Capitania do
Espirito Santo sobre o estado da Povoação de
Linhares do Districto do Rio Doce ao Ouvidor
da Comarca de Porto Seguro , para melhor
execução do aviso de 3 de Setembro pas
sado, visto que ficando áquella Comarca nas
immediações da mencionada Povoação , a
ninguem é mais interessante do que áquelle
Ministro o conhecimento dos differentes ob
jectos comprehendidos no mesmo officio . »
(Arch . da Bahia ) .

Innumeros são os actos e officios dos Governadores


da Bahia aos Ouvidores de Porto Seguro sobre negocios
e interesses de S. Matheus . Em nosso Archivo os ha em
profusão, e grande é o numero dos que possue o Ar
chivo Ultramarino.

Em 1790 , o Dr. Rodrigo José de Menezes , Capitão


L 13
98 LIMITES

General da Capitania da Bahia , attendendo ao requeri


mento do Des . Antonio Teixeira da Matta , concedia-lhe
sesmaria de

« huma legua de terra, desde a borda do Rio


Doce, correndo pela borda do mar para o
Norte» ,

visto como se achavam despovoadas e incultas as terras ,

«desde a Barra do Rio Doce vindo para S.


Matheus, da parte do Norte , na Comarca de
Porto Seguro» ( Arq . de M. Ultr . ) .

Sobre o assumpto foram inquiridas testemunhas


pelo Juiz ordinario da Villa de S. Matheus .

Em 1806 , o Conde da Ponta-João de Saldanha da


Gama-dirige-se ao Ouvidor de Porto Seguro , sobre
assumptos attinentes á Villa de S. Matheus .
Em 16 de Fevereiro de 1810 o mesmo governador
da Bahia remette officio ao Ouvidor de Porto Seguro ,
occupando- se das farinhas que iam de S. Matheus para
as outras capitanias , o que era contra as ordens reaes .
Ao Governador do Espirito Santo officia o Conde
da Palma- D . Francisco d'Assis Mascarenhas - dizendo
lhe que na Comarca de Porto Seguro é que devia res
ponder o individuo que praticára um furto em S.
Matheus ( 1820 ) .
Ainda o Conde da Palma em 8 de Fevereiro de
1821 escrevia ao Ouvidor de Porto Seguro:

« Envio a Vicê o requerimento de João


de Souza Victoria , Piloto-mór da Barra do
Rio Doce, que pede para ser mudado no
mesmo emprego para a Barra de S. Matheus ,
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 99

afim de que me informe , expondo todas as


circumstancias que houverem a este respeito
para as fazer subir ao soberano conhecimento
de S. Magestade » .

Encontram -se no Archivo da Bahia estes e mui


tissimos outros documentos , aos quaes já se referira o
Sr. Dr. Braz do Amaral nas duas memorias citadas.
No mesmo Archivo tive occasião de examinar

varios papeis da Camara de S. Matheus, especialmente


reclamações sobre impostos , concorrendo todos para
se assegurar que nenhuma duvida havia quanto ao facto
d » pertencer S. Matheus á Capitania de Porto Seguro.

(C ) DESCRIPÇÕES , INDICAÇÕES E INFORMES FORNECIDOS


PELAS AUCTORIDADES DE PORTO SEGURO E
ESPIRITO SANTO

Antes de creada a Ouvidoria de S. Matheus , rece


beu o Marquez de Pombal , em 1758, uma lista dos
officios que havia nos « Tribunaes da Cidade da Bahia ,
Capital do Estado do Brasil e nas Villas das Comarcas
a ella pertencentes » . Na enumeração dos officios de
Porto Seguro se encontram na Povoação de S. Matheus :

chum juiz e hum Escrivão que actualmente


servem com provisão deste Governo ( Bahia,
"por estar o officio de Ouvidor de Porto Seguro»
sem proprietario ) . Tambem ha hum capitão
mór da Povoação provido por este Governo.
Até esta Povoação se estende o districto do
Corregedor, e Provedor da Camara da Bahia» .
( Arq . de Mar e Ult . Docs . da Bahia , de
Ns . 3855 a 3869 ) .

Vimos que, nomeado Thomé Couceiro de Abreu ,


100 LIMITES

para crear a Ouvidoria de Porto Seguro , a Povoação de


S. Matheus foi elevada a Villa, communicando o novo
Ouvidor ao Governo Português as providencias que
havia tomado em relação á fertil zona , que estava sob
sua jurisdicção, em comprimento das ordens e instru
cções que recebera .
Vimos tambem que, por fallecimento de Thomé
Couceiro de Abreu, foi nomeado Ouvidor de Porto
Seguro, em 1766 , o Desembargador da Casa de Suppli
cação José Xavier Machado Monteiro.

Cumpre-nos agora indagar o modo por que pro


seguiu este na obra iniciada por seu antecessor .
Em cartas de 4 de Fevereiro de 1768 e 24 de Fe
vereiro de 1769 , o Ouvidor Machado Monteiro falava
a S. Magestade da fertilidade e do abandono em que
se encontrava o extremo sul da sua Ouvidoria:

«Na Barra do chamado Rio Doce, que hé o


maior desta Capitania, e que a divide do Espi
rito Santo, já annunciei a V. Magestade o
extenso deserto daquellas praias , a fertilidade
das suas terras e o quanto alli era util para o
commercio de ambas hua avultada povoação a
que já dei principio com dez ou doze casaes» .

Em 10 de Maio de 1770 , escrevia o mesmo


Ouvidor:

«Em todos os annos , desde que entrey


no emprego de Ouvidor desta Capitania , tenho
dado a V. Magestade individual relação do
estado e augmento della; e o mesmo agora
vou a fazer do accrescido no anno passado ...
Por falta de gente , não pude adiantar os uteis
estabelecimentos , que principiey nos desertos
das prayas dos dois sitios de Comujativa e
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 101

Rio Doce; este indispensalvemente necessario


para a estrada que nas minhas instrucções se
me adverte faça abrir para a communicação e
commercio desta Capitania com a do Espirito
Santo . Já expuz a V.Magestade ser este grande
e muito caudaloso Rio, o que as divide, mas
com tantas leguas de prayas do mar desertas de
hua e outra parte , e tão passeadas de feras e de
gentio, que nunca a estrada será frequentada,
sem se fundar uma boa povoação junto da
sua barra, que esta é capaz de lanchas e suma
cas , e que as margens do mesmo Rio ( dizem
os praticos , são as mais ferteis desta costa athé
o Rio de Janeiro. Porem não la gente nesta
Capitania, antes della ainda na mesma se pre
cisa para augmentar outros estabelecimentos ;
daquella do Espirito Santo não concorre ,
como eu esperava; nem haverá meyo de se con
seguir para tão bom e desejado fim, sem V.
Magestade se querer servir de mandar recom
mendar a exacta observancia da ley da Policia
na Cidade da Bahia , aonde se me diz serem
innumeraveis os ociosos e vadios , que agora
fazem subir a farinha a extraordinario preço
e seria melhor viessem lavrar aonde tanta se
se poderá produzir ( Arq . de Mar. e Ultr. ,
Docs . da Bahia, n . 8215 ) .

Em Abril de 1773 tratava da difficuldade que havia


para a execução de seus projectos com relação aos sitios
de Comujativa e Barras dos Rios Doce e S. Matheus .
São interessantes as " relações » remettidas ao gover
no pelo illustre Ouvidor em 1772 e 1774.
Na primeira se encontra a declaração que segue :

Tres novos estabelecimentos tenho for


mado em prayas desertas , e combatidas do
gentio, aonde pela fertilidade dos sitios se
poderá ainda ( havendo gente ) erigir villa : o
102 LIMITES

primeiro e mais principal na Barra do Rio


Doce, pelo qual abri communicação para a
Capitania do Espirito Santo , e aonde se achão
já hus vinte e tantos casaes ; 2º . na enseada do
mar de Comujativa , em que já existem outros
tantos ; 3°. na Barra do Rio de S. Matheus,
em que ha para hua duzia delles» ( Arq . de
Mar e Ultr. Docs . da Bahia nº. 8553 ) .

Na de 1774 lemos:

«Repetindo no presente anno a relação ,


que em todos costumo dar a V. Exa . , do que
vou operando a bem do augmento desta Capi
tania de Porto Seguro , digo a respeito das
villas etc... Já em outras cartas ponderey a
V. Exa. a difficuldade de erigir mais villas ;
não por falta de sitios ou lugares comodos , e
precizados dellas; quaes os tres da enseada do
mar de Comujativa e das Barras do Rio Doce
e do de S. Matheus , em que apenas para delles
afugentar o gentio me tem sido possivel esta
belecer em cada hu hua dnzia e meia de ca
saes» ( Arq . de Mar. e Ultr . , Docs . da Bahia ,
n. 8628 ) .

Em 1789 o Ouvidor- Bento Joseph de Campos-


remettia as listas das villas e povoações existentes
em Porto Seguro, declarando que todas se achavam
na costa do mar, excepto S. Matheus e Villa Verde,

aquella distante cinco leguas e esta seis pelo rio


abaixo . Nas listas se mencionam as distancias que
separam uma villa da que se lhe segue (Archivo
da Bahia) .

O Ouvidor de Porto Seguro-José Marcellino da


Cunha em 1812 pedia ao Rei que a população da
Villa de S. Matheus , de sua Comarca , e onde então
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 103

se achava , fosse isenta do recrutamento paras as tropas


de linha (Archivo da Bahia ) .
Passo agora a considerar a opinião das proprias
auctoridades do Epirito Santo. Já demonstrei qual o
verdadeiro modo porque encarava a questão o Gover
nador Francisco Alberto Rubim, cuja « Breve Esta
tistica» , perfidamente modificada , serviu de base aos
que pretendem estender até ao Rio Mucury o territorio
do Espirito Santo.
De outro modo não pensam os demais Governa
dores , Capitães-móres e Ouvidores . que sobre essa Ca
pitania exerceram jurisdicção .
Ignacio João Mongiardino , Capitão- mór e Ouvidor
do Espirito Santo , em officio dirigido á Côrte portu
guesa, em 11 de Julho de 1790 , fazia minuciosa des

cripção do estado em que encontrou sua Capitania , di


zendo , entre outras coisas , o seguinte:

«Que se compõe esta Villa de habitantes.


livres 2,327 e escravos 4,898 para mais (fala
de Victoria ) ; fóra os que se acham fóra , que
discorrendo della para a parte do Norte , té
onde chega a limitar-se esta Comarca com a de
Porto Seguro, que é o lugar do Rio Doce , que
dísta desta Villa principal vinte e seis leguas ,
não ha outro Villa sinão a da Nova Almeida ,
que os seus habitantes são Indios » . etc ....

Depois , dissertando sobre os rios e lagos da Ca


pitania do Espirito Santo , declara :

«Principiando pela parte do Norte , fica o


denominado Rio Doce que desemboca ao
mar .... Este lugar em outro tempo foi po
voado como o numero de 150 pessoas , sua
freguezia e parocho ; mas , perseguidos pelo
104 LIMITES

gentio se virão os moradores obrigados a de


sertal -os .... Esta antiga Povoação se não fez
mayor força para subsisistir a sua conservação ,
pela desunião em que estava , por ser limites
das duas Comarcas e estar a Igreja , e alguns
habitantes da parte do Norte , que he a de Porto
Seguro, e da parte do Sul a mayor parte dos
moradores, sujeitos a esta Capitania , que se
encontravam diversas disposições e ordens e
serviam as divisões de coito aos facinorosos e
só teria lugar feita a divisão desta Comarca.
pelo Rio das Contas duas leguas mais ao
Norte». (Arq. de Mar e Ultram . -Docs . da
Bahia, n . 13850 ) .

No anno de 1800 foi nomeado o primeiro Gover


nador do Espirito Santo - Antonio Pires da Silva
Pontes .
Em sua « Pre-Memoria» sobre a nova Provincia do
Espirito Santo , determina o Governador Silva Pontes
os limites de seus dominios com as seguintes palavras :

«E sendo rodeado de gentio inimigo todo


o perimetro da Colonia , desde a Barra do Rio
Doce, athé a Barra da Parahyba do Sul, não
se entranham os Colonos para o centro do
sertão» (Arq. Mar. e Ultram . Docs . avulsos ,
n . 23822 ) .

D) ACTOS DE JURISDICÇÃO CONTENCIOSA

Revertida á Corôa a Capitania do Espirito Santo ,


determinou o Governo Português que se nomeassem

juizes ordinarios para suas villas , seguindo as appel


lações de suas sentenças para a Relação do Rio de Ja
neiro e os aggravos para a mesina Relação ou para o
Ouvidor Geral da referida Capitania . De Porto Seguro
para o Norte a Relação competente era a da Bahia .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 105

Acontece que antes de creada a Ouvidoria de Porto


Seguro, D. Marcos de Noronha , 6°. Conde dos Arcos ,
Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil,
resolveu , em 1760 , nomear Antonio Rodrigues da
Cunha para exercer o cargo de Juiz Ordinario da
Povoação de S. Matheus .

Occorrendo um assassinato na circumscripção desse


Povoado , evadira- se o criminoso para o Espirito Santo ,
onde foi preso . O respectivo Ouvidor - Dr . Francisco de
Salles Ribeiro-fez expedir carta de diligencia para as
Justiças da Povoação de S. Matheus , de cujos termos
consta o seguinte:

Faço saber ao Sr. Juiz Ordinario da Po


voação de S. Matheus , e mais justiças della , a
quem esta fôr apresentada, e conhecimento
della pertencer, que por parte de Manoel
Corrêa de Lemos , me foi apresentada hua sua
petição por escripto, do teor seguinte: Diz
Manoel Corrêa de Lemos , morador nesta
Villa de N. S. da Victoria , cabeça desta Co
marca do Espirito Santo que, na cadeia da
mesma se acha á ordem de vossa mercê preso
e seguro hum mulato chamado Victorino, por
ser constante que na Povoação de S. Matheus
matara aleivosamente a Domingos Teixeira
da Matta , o roubara e botara ao Rio .... e
como o dito defunto hé filho legitimo do Sup
plicante e a elle como seu Pay lhe está to
cando a accusação , para ella proceder em
termos , lhe hé necessario a culpa que judicial
mente por devassa naquella mesma villa se
formou, e como para ella ser remettida a
este juizo é necessario passarem-se as ordens
necessarias -- Pede a vossa mercê , Sr. Dr. Cor
regedor seja servido mandar passar ordens
para as justiças daquella Povoação remetterem
14
106 LIMITES

a este juizo a culpa do supplicado preso, em


segredo, e entregar ao escrivão deste Juizo na
forma do estillo , etc. ... A dita petição nella
puz o meu despacho do teor seguinte: O escri
vão da correcção passe as ordens necessarias
para serem remettidas as culpas do Réo a este
juizo para com ellas ser remettido ás cadeias
da Relação . Victoria , 13 de Março de 1760.
Salles».

Recebida a carta de diligencia , o juiz ordinario de


S. Matheus entrou em duvida e dirigiu-se ao Governo:

«Diz Antonio Rodrigues da Cunha , juiz


ordinario actual da povoação de S. Matheus
que, tirando a vida aleivozamente hum mulato
por nome Victorino , e outro, a Domingos
Teixeira da Matta e roubando a este, procedeu
o Suppllcante á devaça tanto que teve noticia
do caso, e sahindo elles pronunciados , fez o
Supplicante toda a diligencia por prender aos
culpados , o que não poude conseguir por
fugirem; passados alguns tempos se entregou
ao Supplicante hua carta mandada passar
pelo Ouvidor da Capitania do Espirito- Santo ,
em a qual se ordenava mandasse o casco da de
vaça que havia tirado do dito delicto para com
ella remetter o delinquente , que estava preso,
para a Relação , sem declarar se era para a
desta Capital ou para a da Cidade do Rio de
Janeiro; por esta dubiedade , não cumpri logo
a dita Carta , porque como a sobredita povoa
ção, em cujo territorio foi o delicto perpetrado ,
esteja sujeita á Capitania desta Bahia e pelo
vice-rey della é que se costuma passar o provi
mento dos juizos ordinarios da dita povoação,
como se vê do que se junta; e as devaças
de alguns delictos que se têm cometido no
territorio do Sup . se têm remettido para a
ouvidoria g . do crime desta Relação , para
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 107

cessarem duvidas e poder o Sup . obrar com


acerto no caso expendido , e todos os mais que
adeante possam succeder, recorre o Sup . e
P. a S. Mag . lhe faça mercê declarar se deve
cumprir a da . carta , remettendo o casco da
devaça que tirou de tal delicto ou mandal-a
para a arca das malfeitorias desta Relação , de
cuja jurisdicção hé sujeita a dª . povoação , ou
se a carta a junta deve cumprir o Supe. , com
remessa do treslado da dª devaça para assim
cessar toda a duvida quanto a da carta e tam
bei para o que pode succeder para o futuro ,
pelo que,.
R & C.» .

Foi o seguinte o despacho :

Manda El-Rey N. S. que haja vista o


Des . Procuro . da Corôa . Bahia 17 de Julho de
1760» ( assignatura inintelligivel ) .

A' margem da petição se lê o parecer :

A vta do que o sup dis , me capacito que


o territorio, em que se diz perpetrado o delicto
mencionado , pertence ao territorio desta
Capitania e nesta supposição se deve passar
ordem para o sup . remetter para esta Relação
o treslado da devaça de que se tracta , e junta
mente dar providencia para que o preso venha
tambem remetido » (não se comprehende a
assignatura ) .

Eis a sentença :

« P. provam. para o juiz ordinario , que em


duvidar cumprir a carta do Ouvidor da Capi
tania tem obrado bem, remetter a devaça de
que se trata para esta relação onde pertence ;
e se passe para o mesmo Ouvidor ordem em
106 LIMITES

a este juizo a culpa do supplicado preso, em


segredo, e entregar ao escrivão deste Juizo na
forma do estillo , etc. ... A dita petição nella
puz o meu despacho do teor seguinte: O escri
vão da correcção passe as ordens necessarias
para serem remettidas as culpas do Réo a este
juizo para com ellas ser remettido ás cadeias
da Relação . Victoria , 13 de Março de 1760.
Salles ».

Recebida a carta de diligencia , o juiz ordinario de


S. Matheus entrou em duvida e dirigiu - se ao Governo:

«Diz Antonio Rodrigues da Cunha, juiz


ordinario actual da povoação de S. Matheus
que, tirando a vida aleivozamente hum mulato
por nome Victorino, e outro, a Domingos
Teixeira da Matta e roubando a este, procedeu
o Supplicante á devaça tanto que teve noticia
do caso, e sahindo elles pronunciados , fez o
Supplicante toda a diligencia por prender aos
culpados, o que não poude conseguir por
fugirem ; passados alguns tempos se entregou
ao Supplicante hua carta mandada passar
pelo Ouvidor da Capitania do Espirito- Santo ,
em a qual se ordenava mandasse o casco da de
vaça que havia tirado do dito delicto para com
ella remetter o delinquente, que estava preso,
para a Relação , sem declarar se era para a
desta Capital ou para a da Cidade do Rio de
Janeiro; por esta dubiedade , não cumpri logo
a dita Carta, porque como a sobredita povoa
ção, em cujo territorio foi o delicto perpetrado ,
esteja sujeita á Capitania desta Bahia e pelo
vice-rey della é que se costuma passar o provi
mento dos juizos ordinarios da dita povoação ,
como se vê do que se junta; e as devaças
de alguns delictos que se têm cometido no
territorio do Sup . se têm remettido para a
ouvidoria g. do crime desta Relação , para
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 107

cessarem duvidas e poder o Sup . obrar com


acerto no caso expendido , e todos os mais que
adeante possam succeder, recorre o Sup . e
P. a S. Mag . lhe faça mercê declarar se deve
cumprir a dª . carta , remettendo o casco da
devaça que tirou de tal delicto ou mandal- a
para a arca das malfeitorias desta Relação , de
cuja jurisdicção hé sujeita a dª . povoação , ou
se a carta a junta deve cumprir o Sup . , com
remessa do treslado da dª devaça para assim
cessar toda a duvida quanto a dª carta e tam
bem para o que pode succeder para o futuro ,
pelo que ,
R & C. »

Foi o seguinte o despacho :

Manda El-Rey N. S. que haja vista o


Des . Procuror, da Corôa . Bahia 17 de Julho de
1760» ( assignatura inintelligivel ) .

A' margem da petição se lê o parecer :

A vt do que o sup dis, me capacito que


o territorio, em que se diz perpetrado o delicto
mencionado , pertence ao territorio desta
Capitania e nesta supposição se deve passar
ordem para o sup . remetter para esta Relação
o treslado da devaça de que se tracta , e junta
mente dar providencia para que o preso venha
tambem remetido» (não se comprehende a
assignatura ) .

Eis a sentença:

«P. provam. para o juiz ordinario , que em


duvidar cumprir a carta do Ouvidor da Capi
tania tem obrado bem , remetter a devaça de
que se trata para esta relação onde pertence ;
e se passe para o mesmo Ouvidor ordem em
108 LIMITES

que se lhe determine remeta o deliquente que


aprehendeu e que pela mesma razão deve ser
aqui punido . Bahia, 7 de Agosto de 1760»
(tambem se não entendem as assignaturas ) .

No archivo da Bahia se acham todos os documentos


citados . Concluirei esta parte mostrando que, ainda
pelo lado politico , em 1822 a Villa de S. Matheus per
tencia á Bahia . Para isso repetirei as palavras do
Dr. Braz do Amaral:

"Quando, após a revolução victoriosa do


Porto , em 1820 , as Côrtes Portuguêsas man
daram que se reunissem os procuradores das
Parochias para elegerem a junta provisoria do
Governo da Bahia, no celebre auto de vereação
da Camara da Bahia, de 1º. de Fevereiro de
1822 , está a Villa de S. Matheus , representada
por Joaquim José de Azevedo , entre os 264
eleitores que deu a Provincia» . (Memoria cit .
i Rev. do Inst . Geog. da Bahia , vol . XVI ,
11. 35 , pag. 83 ) .

SEGUNDA PARTE

Em que situação juridica se acham, em relação a esse


territorio os Estados da Bahia e do Espirito Santo,
attendendo-se o Aviso de 1823, o Decreto de
1831 e a Constituição da Republica ?

Exuberantemente demonstrado ficou , ante 0


grande numero de documentos exhibidos , o parecer
unanime das auctoridades competentes, a fraude usada
na « Breve Estatistica do Governador Rubim» , que até
o dia 10 de Abril de 1823 , data do celebre Aviso , que
mandou sujeitar-se a Villa de S. Matheus ao Governo
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 109

«que lhe ficasse mais proximo, até que a Assembléa


Geral do Brasil determinasse os limites da Provincia»
do Espirito Santo, pertencia inquestionavelmente á
Provincia da Bahia, não somente aquella Villa, mas
todo o territorio ao Norte do Rio Doce .
Desde então , foi toda a zona deste rio até ao limite
norte da Villa de S. Matheus subordinada á Provincia

do Espirito Santo , aguardando que sobre os limites


entre as duas Provincias se pronunciasse o poder com
petente .
Ora, a Assembléa Nacional , cuja auctoridade invo
cára o Aviso , jamais se decidiu a fixar os limites sobre
os quaes havia apenas uma providencia de occasião.
Ainda quando em 1831 a Assembléa tratou de erigir em
Parochia a Capella Filial da Povoação da Barra de S.
Matheus, evitou cuidadosamente qualquer expressão que
podesse levar a crêr na determinação dos limites entre
a Bahia e o Espirito Santo, como teremos occasião de
vêr. Terá, apezar disso , adquirido direito áquelle terri
torio o Estado do Espirito Santo? Será o Aviso de 1823
um titulo habil de annexação de territorios? A Reso
lução de 1831 importa uma ratificação daquilo que o
Aviso provisoriamente estabelecera ? Pelo facto de lhe
estar sujeito de 1823 até agora , segue- se que o Espirito
Santo pode invocar em seu favor o uti possidetis ?
Está a Bahia inhibida de pleitear os seus direitos? Não
The permitte a Constituição ingresso na arena judicial ?
São pontos a examinar. Para que a questão se resolva
com simplicidade e clareza , ainda aos olhos dos que são
alheios a assumptos de technica juridica , pol-a- ei apre
sentando o principio geral em termos de facilima com
prehensão: Pertencendo o territorio comprehendido
110 LIMITES

entre o Rio Doce e as Itaúnas ao Estado da Bahia ,


este só poderia perdel-o e o Espirito Santo adquiril-o
por meio de um acto juridico idoneo . Existe um acto
dessa natureza ? Vejamos .
Escreve o Sr. Candido Mendes de Almeida:

"A fronteira meridional ( da Bahia )


com a Provincia do Espirito Santo , que a
Bahia pretende levar até o Rio Doce , é repel
lida por aquella Provincia em vista de fun
damentos mui solidos : o uti possidetis, o Aviso
de 10 de Abril de 1823 , assegurando ao Espi
rito Santo a posse do Municipio de S. Ma
theus , e o Decreto de 11 de Agosto de 1831 ,
marcando como limite septentrional desse
Municipio o Rio Mucury » ( sic ! ) ( Mappa n.
XIII-Provincia da Bahia, pag . 16, 5" . col . ) .

Deixando para ulterior analyse o facto juridico,


que se traduz no uti possidetis, considerarei primeira
mente os dois actos juridicos de indole politico-admi
nistrativa, invocados pelo erudito geographo . Por
conveniencia de methodo , divido esta parte do meu
estudo em quatro secções :
I-O Aviso de 1823 , sua natureza juridica e
effeitos .
II- O Decreto de 1831 e seu conteúdo .
III- O uti possidetis .
VI-A pretenção da Bahia em face da Consti
tuição Federal .

I - O AVISO DE 1823 , SUA NATUREZA JURIDICA


E EFFEITO

A indole desse acto juridico , a intensidade de


seus effeitos , as relações de direito que pode estabe
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 111

lecer, são perfeitamente indicados pelo termo escolhido


para designal-o—Aviso.

Segundo a legislação vigente naquella epocha ,


da qual se não afastam os principios dominantes no
direito publico e administrativo moderno, os avisos
e portarias dos Secretarios de Estado , expedidos como
ordens verbaes do Rei (Coelho da Rocha - Inst . de
Dir. Civ. Port . , ed . 1907 , pag. 19, vol . 1 ) , não con
stituem propriamente fontes do direito objectivo , nem
são meios habeis de se formarem novas relações juridicas
ou alterarem e extinguirem as preexistentes . Como
observa o illustre jurisconsulto português , a que me
acabo de referir, a Ord . do Liv . 2° . tit . 41 prohibia
fazer obra por elles , e se é verdade que houve abusos ,
chegando Lobão a lhes attribuir força de lei , não o
é menos que se fez logo sentir a reacção , sendo o
notavel causidico justamente censurado por Correia
Telles e tantos outros , que procuraram e conseguiram
restabelecer com firmeza o preceito da lei philippina .
O que se pode assegurar de modo absoluto é que
jamais , antes como depois da Independencia , se fez , por
meios de avisos , qualquer desannexação de territorio ,
se crearam comarcas , se fixaram limites. Estudando a
questão territorial entre a Bahia e Pernambuco , mostrei
que por um Decreto se creou em 1810 a nova Comarca
do Sertão de Pernambuco ; egualmente por um Decreto
se desmembrou desta , em 1820 , o territorio que veiu a
constituir a Comarca do Rio de S. Francisco . Foi

tambem um Decreto que desligou de Pernambuco a


Comarca do S. Francisco , unindo-a a Minas . Resolução
da Assembléa Geral foi o meio juridico que , em 1827 ,
a annexou á Bahia, retirando -a de Minas .
112 LIMITES

Foi um Alvará com força de lei que , em 9 de


Setembro de 1820 , desmembrou de S. Paulo a Villa
de Lages , para incorporal-a a Santa Catharina . Outro
Alvará com força de lei creou, em 12 de Fevereiro de
1821 , a Comarca de Santa Catharina na provincia do
mesmo nome.
Por Decreto de 8 de Julho de 1820 , Sergipe se
tornou independente da Bahia . Alvará com força de
lei isentou Alagoas da sujeição ao Governo de Per
nambuco ( 1817 ) . O Decreto n. 180 de 18 de Junho de
1842 desannexou de S. Paulo os municipios de Cunha ,
Banana e outros , unindo-os ao Rio de Janeiro; o
Decreto n. 217 de 21 de Agosto de 1842 restituiu a
S. Paulo os referidos municipios . O Alvará comforça
de lei, de 29 de Julho de 1813 , desligou do Espirito
Santo e annexou ao Rio Janeiro a villa de Macahé,
e a Lei de 31 de Agosto de 1822 tomou a mesma

providencia quanto ás Villas de Campos de Goytacazes


e S. João da Barra . Tambem os limites foram sempre
fixados por Leis , Alvarás e Decretos. E assim temos:
Leis : n . 704 de 1853 -limites do Paraná; de 22 de
Março de 1851 - S . Paulo e Paraná; de 31 de
Agosto de 1832 -Espirito Santo e Rio de Janeiro .
Alvarás : de 18 de Março de 1818 - Parahyba ; de
12 de Fevereiro de 1821 - Santa Catharina; de
17 de Maio de 1815 --Comarca de Paracatú
(Goyaz ) .
Decretos : de 1772 , 1774 , 1852 , 1854 , sobre os limi
tes entre o Maranhão e Goyaz ; 25 de Outubro de
1831 (Parahyba ) ; n . 223 de 23 de Setembro de
1843 , limites entre a Bahia e Sergipe; n . 3043 de
10 de Janeiro de 1863 , Espirito Santo e Minas;
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 113

3.378 de 16 de Janeiro de 1865 , Paraná e Santa


Catharina.
Por meio de Avisos , em questões de limites, o
Governo providenciava apenas quanto á nomeação dos
engenheiros encarregados da demarcação .
Demais , vemos , pelos propios termos do Aviso de
10 de Abril de 1823 , que absolutamente se não tratava,
ainda que em forma juridicamente inadequada , de uma
incorporação de territorio . Nem expressa, nem implici
tamente, se contém no Aviso a idéa de desannexar da

Bahia a zona sobre que se tomou uma providencia de


occasião, na qual se não attendia o reconhecimento do
direito , antes se procurava o facto puramente material
da maior ou menor distancia . Ainda assim , fez logo
o Aviso sentir que a medida aconselhada era provisoria ,
e que remettia o caso para a apreciação da Assembléa
Geral do Brasil .

Mas, qualquer que seja o valor juridico , que se


pretenda attribuir ao Aviso, não resta duvida que
não quiz deixar a questão definitivamente resolvida .
Ainda quando quizessemos admittir no Aviso força
capaz de estabelecer novas relações juridicas , de fixar
limites , de annexar territorios , veriamos que só teria
vigor até ao momento em que se fixassem os limites
entre as duas Provincias . Acceita a hypothese de ser um
acto juridico de forma regular e apto a crear direitos ,
tel-o -iamos submettido a uma condição resolutiva- a
determinação dos limites . Sendo esta uma condição.
ainda hoje possivel de se realizar, competindo ao Su
premo Tribunal Federal resolver definitivamente sobre
os limites dos Estados , como vimos no Parecer sobre
a questão territorial da Bahia com Pernambuco , de
L 15
114 LIMITES

accordo com a Constituição Federal , art. 34 , n . 10 , é


obvio que o acontecimento previsto é ainda capaz de
determinar a resolução do acto--conditio pendet.
Muito diverso , em natureza , conteúdos e effeitos ,
da Resolução legislativa , que incorporou em 1827 a
Comarca do S. Francisco á Bahia , é o Aviso de 1823 ,
que submetteu S. Matheus ao Governo mais proximo .
Bastar- me-á salientar os seguintes pontos de diffe
rença:
1º A Resolução de 1827 é um açto legislativo idoneo a
produzir os effeitos a que se propóz: uma incor
poração de territorio ; o Aviso de 1823 é acto
sem valor para desannexar territorios ou para
determinar limites : as Ordenações prohibem que

se faça obra por elle ( Coelho da Rocha , loc . cit. ) .


2º. A Resolução de 1827 declarou do modo mais expli
cito que a zona do S. Francisco ficava incorporada
á Bahia, até quando outra coisa determinasse a
Assembléa, com uma organização geral das Pro
vincias do Imperio ; o Aviso de 1823 nem desan
nexou terras, nem determinou limites , dizendo
expressamente que a Assembléa fixaria estes, como
The competia.
3.º A Resolução de 1827 estabeleceu novas relações
juridicas , cuja efficacia definitiva deixou subor
dinada a uma condição resolutiva-a organização
geral das Provincias. Havendo-se tornado impos
sivel a condição , desde que tal organização se não
poderá mais fazer , o acto subsiste em toda a sua
plenitude , como se puro e simples fôra desde o

principio , conforme demonstrei em meu parecer


no caso de Pernambuco . O Aviso de 1823 , inhabil
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 115

para crear direitos , reportou-se a uma determi


nação de limites em qualquer tempo que se fizesse
e ainda hoje não somente possivel , mas tambem
de imprescindivel necessidade . Se podessemos esta
belecer o parallelo entre um acto perfeito e uma
providencia politico -administrativa de occasião , ve
riamos , ainda assim , que esta ultima se submetten
a uma condição resolutiva , que em tempo algum
se tornaria impossivel .
A affirmativa do Senador Candido Mendes - de

que o Aviso de 1823 assegurou a posse do Municipio


de S. Matheus ao Espirito Santo- não tem fomento
juridico . Os effeitos de semelhante providencia desap
parecerão desde que o Poder competente firme os ver
dadeiros limites entre as duas Provincias ; nem dahi
virá o mais ligeiro obstaculo ao livre exame dos direitos
que a cada um compete .

II--O DECRETO DE 1831 E SEU CONTEÚDO

E ' inacreditavel que no Decreto de 1831 se haja


procurado apoio para as pretenções do Espirito Santo
sobre o territorio bahiano ao norte do Rio Doce.

A não ser que se pretenda dizer que o facto do


Decreto não fixar limites entre as Provincias da Bahia
e do Espirito Santo equivale a fixal-os a favor desta
ultima, não logro comprehender porque mysteriosa
hermeneutica se poude chegar á singular conclusão .
De feito , o Decreto nem fala na Bahia , nem no
Espirito Santo ; cinge- se a erigir em parochia a Capella
filial da Povoação da Barra de S. Matheus , e , occu
pando -se dos limites da nova Parochia, não affirma
pertencer ao Espirito Santo e, muito menos , que ao
116 LIMITES

norte se limite com a Provincia da Bahia ou com al


guma Freguezia desta . No Decreto se não vê mais do
que a indicação das Freguezias confinantes e dos pontos
divisorios , sem a menor allusão ás provincias de que
ellas dependem. Tracta-se apenas de uma circum
scripção ecclesiastica ; não obstante , para que se lhe não
interpretassem inconvenientemente as palavras , em
penhou-se o legislador em evitar qualquer referencia ás
provincias, a que pertencem as freguezias mencionadas .
Haverá quem , attentando imparcialmente para o con
teúdo do Decreto, e para os termos de que se utilisou o
legislador, possa lubrigar qualquer pensamento favora
vel á causa espirito- santense ? E' de lastimar que um
espirito como o de Candido Mendes se deixasse a tal
ponto influenciar contra os insophismaveis direitos da
Bahia.

III- O UTI POSSIDETIS

De extraordinaria importancia nas relações de


direito privado , o usucapião de tal modo se impoz , para
a firmeza das situações bona fide inauguradas e por
longo tempo mantidas , que ao proprio direito publico
se julgou opportuno estender-lhe os effeitos . Ainda nas
contestações internacionaes encontrou o salutar insti
tuto um vasto campo de applicação . Em se tratando ,
porem , de fixação de limites , das pendencias territoriaes
entre circumscripções pertencentes a um só Estado ,
sujeitas, por conseguinte, á mesma soberania , dividem
se profundamente as opiniões auctorizadas . E se é
verdade que , entre outros , o egregio Ruy Barbosa
defende o principio da efficacia do uti possidetis nas .
questões inter-provinciaes , nem por isso podemos des-
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 117

* con hecer que se lhe contrapõe a opinião de Lafayette,

e, o que é mais , que o principio já foi definitivamente


repellido, em casos dessa natureza , pelo voto quasi
unanime do Egregio Supremo Tribunal Federal.
Demais , para que o facto material da posse se mostre
capaz de conduzir ao usucapitão é indispensavel que
se apresente livre de vicios que denunciem no possuidor
ausencia de bôa fé. Se clandestina; se violenta; se con

stituida a titulo precario, a posse não serve de vehiculo


para a prescripção acquisitiva . Ora, o Aviso de 1823
submetteu a Villa de S. Matheus ao Governo mais
proximo, até que a Assemblea fixasse os limites do
Espirito Santo com a Bahia. A relação por elle
creada, se capaz de conferir posse, é subordinada a
uma condição resolutiva que , realisada , lhe apagará de
todo os effeitos . Portanto , a titulo precario é a posse
que , por virtude de tal Aviso, venha allegar o Estado
do Espirito Santo .
O uti possidetis não tem applicação á hypothese
vertente:
1º. Porque é repellido pelo Superior Tribunal do
País .

2º. Porque a titulo precario é a posse do Espirito


Santo.
Passo a examinar ligeiramente esses dois pontos .

1.º

O emerito Snr. Cons . Lafayette Rodrigues


Pereira, escriptor de autoridade irrecusavel em assum
ptos dessa natureza , proferindo o seu laudo na questão
de limites entre o Ceará e o Rio Grande Norte , faz as
seguintes declarações :
118 LIMITES

«A' Provincia ou Estado falta capacidade


juridica para perder ou adquirir parte do seu
territorio pela prescripção acquisitiva : 1º.
Porque é absolutamente inadmissivel a pre
scripção acquisitiva contra a lei de ordem
publica . No antigo regimen , por exemplo ,
muitas corporações de mão morta possuiram
por mais de cem annos immoveis que adqui
riram sem dispensa das leis de amortisação .
Nunca lhes valeu contra o confisco a prescri
pção, porque, como diziam os velhos juriscon
sultos , a prescripção não é admissivel contra
a lei de ordem publica , e taes eram as de
amortização . 2°. Porque a prescripção acqui
sitiva é possivel entre quem tem a capaci
dade de adquirir e quem tem a de ceder o
direito ou cousa . Pelo que respeita ao dono
· do direito ou cousa a prescrever, ella funda
se na presumpção de abandono . «Quae facta
fieri non possunt , non admittunt prescri
ptionem quia prscriptio fundatur sub tacito
consensu qui ex lapso temporis prsumitur» .
Dunod - Presc. , pag. 71 , Troplong - Prescript
n . 132 ) .
Já ensinavam os antigos jurisconsultos
que os limites territoriaes da jurisdicção do
poder publico não podem ser alterados por
prescripção acquisitiva . Limites jurisdicti
onum , provinciaram , dioccesium et parochi
arum , si potest apparere per antiquos libros ,
testes , famam et alia adminicula quando
que fuisse distinctus, nom praescribuntur .
(Schneidewin, Comm. Inst . L. 4, Tit . 6 de
actione finium regundorum , n . 18 ) .

No accórdão proferido pelo Supremo Tribunal


Federal , em 24 de Dezembro de 1909 , na questão de
limites entre o Paraná e Santa Catharina , ficou firmado
o seguinte principio :
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 119

E' juridicamente impossivel dirimir o


pleito entre dois Estados, applicando a pre
scripção acquisitiva , como pretende o Estado
do Paraná . No direito privado está geralmente
admittido esse modo de adquirir . No direito
internacional publico, posto se notem diver
gencias de opiniões, a maioria dos juriscon
sultos , e, pode-se dizer, os mais auctorizados ,
reconhecem a applicabilidade da prescripção
acquisitiva , cumprindo notar que por esse
principio se têm resolvido varias questões na
America. Mas , quando se trata de limites de
circumscripções administrativas , ou de divi
sões politicas e administrativas, nem as leis ,
nem a jurisprudencia , nem a doutrina suffra
gam a pretenção do Estado do Paraná, que
quer seja dirimido o pleito , attendendo-se a
que o territorio litigioso esteve sob a jurisdi
cção da Provincia de S. Paulo , da qual passou
para a do Paraná , quando se creou esta Pro
vincia . As divisões politicas e administrativas
são estabelecidas , tendo-se em attenção o
interesse publico, a utilidade social , as neces
sidades da Nação . A vontade dos individuos
não tem a efficacia de alteral-as .
Não ha no direito publico das nações
modernas preceito que consagre a prescripção
acquisitiva ou usucapião, como meio de mo
dificar limites entre circumscripções politicas .
e administrativas . Pelo contrario, a Juris
prudencia da Suprema Corte Federal da
America do Norte, de accordo com os prin
cipios geralmente admittidos , affirma que a
posse durante um seculo é insufficiente para
fixar limites definitivamente entre dois Es
tados Federaes ( Digesto Americano, vol . 2." ,
pag. 1140 , n . 80 ) .

Merece especial destaque o voto brilhante e bem


fundamentado do notavel jurisconsulto Sr. Ministro
120 LIMITES

Pedro Lessa Transcrevo toda a parte em que se refere

ao uti possidetis, porque encerra bellissima lecção de


direito, que me exime de mais amplas considerações :

« Os eminentes patronos do Estado do


Paraná, sentindo bem que , ao tentarem com
bater os titulos em que se apoia o Estado de
Santa Catharina, a cada passo o terreno se
move e lhes foge debaixo dos pés , invocam
desassombradamente , e como recurso ex
tremo , a prescripção acquisitiva ou usucapião .
Isso nos impõe o dever de averiguar se a pre
scripção acquisitiva é instituto applicavel, em
se tratando de divisões administrativas e po
liticas. No direito privado ninguem discute a
existencia desse modo de adquirir .
Já no direito internacional publico di
vergem as opiniões . Kluber, por ex. , para
começar por um dos que não são modernos ,
no Direito das Gentes § 6. " , 2.ª ed. , doutri
nava: « A prescripção , fundada unicamente .
no direito positivo privado , não tem cabi
mento entre Estados independentes , excepto
se fôr auctorizado por tratados . Isto não quer
dizer que a posse ( uti possidetis , jus et favor
possesionis ) não deva ser respeitada até se
decidir o pleito pelas armas ou por um dos
meios do direito das gentes . » Mais adeante ,
no § 125 , admitte a occupação, como modo
de adquirir res nullius, o que ninguem lhe
contesta . Pensa Holtzendorff que a importan
cia pratica da prescripção acquisitiva no direito
internacional é quasi nenhuma ( Elementos
de Dir. Int . Pub . § 36 ) . Despagnet julga
necessaria a prescripção para evitar as vio
lencias internacionaes; mas afinal quasi nul
lifica o instituto , porquanto exige uma posse
incontestada e termina citando as palavras
de Heffter: «Um seculo de posse injusta não
basta para tirar a esta o vicio de origem▸
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 121

(Curso de Dir. Int . Pub. , § 380 ) . Lembrando


a renhida controversia entre os internacio
nalistas a respeito desta questão , Bonfils , no
Man . de Dir. Int . Pub. , n . 534 , porque nada
se lhe depara nos outros escriptores , quanto ao
prazo de prescripção, não nos indica o modo
de applicar este instituto na ordem inter
nacional . Martens restringe muito a usuca
pião internacional . Ensina elle que na esphera
das relações internacionaes nada pode inter
romper a continuidade de um direito antigo .
Só se concede efficacia juridica á antiguidade
immemorial (antiquitas, vetustas, cujus con
traria memoria non existit ) , que serve de
base a todo o mappa politico e á existencia dos
Estados civilizados e barbaros ( Tract . de Dir .
Int . , tomo I , pag. 434 , trad . hespanhola ) .
Em campo opposto, Calvo que, no 6. ° vol . do
Dir. Int. Theor. e Prat. reproduz as prin
cipaes regras , estatuidas pelo Instituto de
Direito Internacionol , na sessão de Lausanne ,
acerca da occupação de um territorio a titulo
de soberania ( materia diversa ) , no § 86 do
Manual , considera a prescripção modo legi
timo de adquirir a propriedade em direito
internacional . Para Bluntschli ha em direito
internacional publico uma especie de prescri
pção, sem que se possa determinar o tempo ne
cessario para a acquisição do direito . O fim
ultimo do instituto em direito das gentes é
assegurar a paz geral ( Dir. Int . Codif . , n .
290 , n . 1 ) . Tambem Fiore admitte a prescri
pção com os requisitos por elle enumerados.
no Dir. Int. Cod . , arts . 559 e segs . Já
Wheaton , nos Elem . de Dir. Int . , tomo 1.º,
pag. 158 , 5. ed . , doutrinava : Divergem
muito os auctores no que respeita á questão
de saber até que ponto a presumpção resul
tante de um longo decurso de tempo , e
denominada prescripção , é acceita entre as
L 16
122 LIMITES

nações ; mas O uso constante e approvado


dos povos mostra que, qualquer que seja o
nome dado a esse direito , a posse ininter
rupta por um Estado de um territorio, ou
de quaesquer outros bens , por certo tempo,
exclue a pretenção de qualquer outro, assim
como o direito natural e civil de todas as
nações assegura a um particular a proprie
dade exclusiva de bens possuidos por um
determinado tempo, sem que ninguem tenha
pretendido ter direito sobre elles . » No con
ceito de Lafayette , milita mais forte razão
para adoptar a prescripção acquisitiva no
direito internacional do que no direito pri
vado . Synthetizando os fundamentos da usu
capião em direito internacional , segundo a
theoria dos que nesse ramo de direito a
admittem , escreveu elle: «A prescripção ou
usucapião é no direito civil um modo de
adquirir o dominio por meio de uma posse
revestida de certos requisitos e continuada
por um periodo de tempo determinado . Tem
ella por fim legitimar um titulo anterior,
real ou presupposto, habil, em principio, para
a transferencia da propriedade , mas que por
algum vicio deixa , na hypothese , de produzir
esse effeito ; funda-se na presumpção legal de
abandono do direito pelo verdadeiro pro
prietario, deduzida da sua inercia durante o
tempo da posse, e tem como razão final a
necessidade de firmar a paz e segurança
dos individuos e familias , consolidando o do
minio , o qual, sem a protecção della , ficaria
perpetuamente sujeito a incertezas futuras e
inesperadas reivindicações .
Pode ella ser admittida entre as nações
como modo de adquirir territorio ? Por sua
natureza não repugna a esta applicação . E
para adoptal-a no direito internacional milita
com mais força a razão que aconselhou a sua
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 123

pratica no direito privado, porque as dis


cordias e litigios entre as ações terminam
afinal pela guerra, que acarreta incompara
velmente somma muito maior de males ,
crimes e ruinas, do que trazem os litigios
entre particulares » ( Princ . de Dir. Int . , vol .
1º. ) . Está claro que aqui se não confunde a
prescripção acquisitiva com a occupação , da
qual tracta, ex professo , Jeze na sua mono
graphia- Etude Theor. et Prat . sur l'Occup . ,
comme mode d'acquerir les territoires en
Droit Int . ) . Isto posto , temos a prescripção
acquisitiva universalmente admittida e con
sagrada no direito civil , e divergencias de
opiniões , quanto a sua admissibilidade no
direito publico internacional . A nossa hy
pothese não é de prescripção em direito
privado, nem direito internacional publico ,
mas em direito publico interno , o que
importa muito não olvidar ... Será appli
cavel a este caso a prescripção acquisitiva ou
usucapião ? Começarei a responder a essa
interrogação por uma outra: ha em 11osso
direito publico interno, ou no de alguma .
nação civilisada, um preceito qualquer, que,
de qualquer modo, consagre a prescripção
como meio de alterar os limites das divisões
administrativas e politicas ? Não o conheço ,
não tenho a mais apagada idéa de tal norma
juridica .
Ha algum publicista , algum juriscon
sulto , que tenha preconizado a prescripção ,
como meio de modificar as circumscripções
administrativas ou as divisões administrativas
de uma nação , fixado por lei ?
Citou o Estado do Paraná , em um dos seus
folhetos , somente um , Heffter . Vejamos o
que doutrina o unico jurisconsulto que, no
conceito do Estado réo, ensina a applicabi
lidade da prescripção acquisitiva á solução dos
124 LIMITES

litigios sobre os limites entre os Estados


federados . Eis o trecho de Heffter, transla
dado para o vernaculo e transcripto , sob a
forma de nota , á pag. 13 do trabalho da
commissão nomeada pelo Governador do
Estado do Paraná para colligir documentos e
estudar a questão de limites com Santa Catha
rina: A natureza da posse em materia inter
nacional é a mesma que em materia civil ,
salvo esta differença , que as disposições das
leis civis , relativas ás condições e ás formas
das demandas juridicas , não são applicaveis
em materia internacional , excepto nos Estados
federaes , onde a auctoridade central exerce
uma especie de jurisdicção entre os diversos
membros . « O trecho se diz extrahido de Le
Droit Int . Pub. de l'Europe , n. 13, pag. 41
da 4° . ed . 1883. Não me foi possivel con
sultar a edição citada . Mas , li a de 1857 , um
pouco differente, e a 1866 , perfeitamente
identica, nesta parte, á de 1883. Reflectindo
se sobre o § 13, vê-se primeiro que Heffter
só se occupou da posse como meio de solver
provisoriamente as contendas entre as nações :
C'est lá que repose le caractère légal de la
possession qui , entre les nations comme entre
les individus, sert de règle du moins pro
visoire aux rapports réciproques . Logo em
seguida ainda se refere Heffter á posse- qu'il
faut maintenir , en cas de contestation jusqu'á
la décision du litige »,
Sempre uma solução provisoria . Em
segundo lugar notarei que immediatamente
depois da passagem transcripta pela com
missão paranaense , Heffter accrescenta: « E'
assim que a Dieta Germanica algumas vezes
intervem nas questões possessorias entre os
soberanos da Allemanha, conformando- se em
suas decisões ao que dispõe o direito commum
do antigo Imperio » . Heffter , pois , que neste
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 125

paragrapho apenas allude á posse como estado


provisorio, que deve manter- se até a decisão do
litigio, cita o exemplo da confederação ger
manica a decidir juridicamente questões pos
sessorias entre os Soberanos da Allemanha.
A especie é perfeitamente distincta do caso em
que litigam Estados federados autonomos , e
não soberanos , o que aliás reconhece de
modo formal a propria commissão paranaense ,
no fim da primeira nota , á pag. 13 do opus
culo citado .
Finalmente , para patentear bem que a
citação de Heffter nada adeanta , basta con
frontar o trecho, traduzido pela commissão ,
e o do § 12 que é o que se occupa da prescri
pção . Ha pouco vimos que Heffter admitte a
posse como estado provisorio entre as nações e
os Estados confiderados. Pois bem, a prescri
pção acquisitiva, essa nem sequer entre os
Estados confederados seria facilmente adinis
sivel, segundo entende Heffter.
Com effeito , depois de dizer que a pres
cripção poderia servir de regra « em certos
corpos de Estados federaes » , addita : mais il
serait même difficile de l'appliquer encore
sans loi expresse aux rapports établis actuel
lement entre les divers souverains de l'Alle
magne. Se, sem lei expressa, é inadmissivel
a prescripção acquisitiva nas confederações ,
como havemos de admittil-a nas federações ,
que têm tribunaes especialmente creados ,
para dirimir contendas, como esta, appli
cando as normas expressas do direito publico
interno? Passemos ao estudo do direito que
mais subsidios nos pode prestar neste litigio .
No Digesto Americano , ha pouco citado ,
pag. 1140 , n . 80 , se nos deparam varias sen
tenças da Suprema Corte Federal dos Estados
Unidos da America do Norte , cujo resumo
é assim feito : « Possession , even for a hundred
126 LIMITES

years, is not sufficient to give title to Massa


chussetts , as against Rhode Island , of land
included by mistake within the boundaries
of the former state by a mixed commission
of the latter colony relying upon represen
tations of the forner; and Rhode Island ,
never having acquiesced in the boundary
after the mistahe was discovered , but having
always claimed to the true line and setting
forth facts to excuse delay . » Ahi está a posse ,
" durante um seculo , julgada insufficiente
para fixar definitivamente limites entre dois
Estados federados . Essa é a jurisprudencia
da Suprema Corte Federal Americana , e pa
rece que muito de accordo com os princi
pios ... Dirimir litigios de ordem constitu
cional pela applicação de principios e regras
de direito internacional publico seria iniciar
uma jurisprudencia sem precedentes , con
traria aos principios de direito publico
interno e prenhe de graves consequencias .
Tal jurisprudencla indubitavelmente infri
giria as normas de ordem publica , que de
terminam os limites dos Estados .
Dadas as linhas divisorias entre os Es
tados , fixadas pelo direito publico , viria o
Tribunal sentenciar que a vontade dos indi
viduos pode alterar essas divisas , desde que
se manifeste por certo numero de annos
(ninguem sabe qual o periodo exigido , pois
não ha lei alguma, nem principio ou dou
trina a esse respeito ) , isto é , desde que por
um certo numero de annos os cidadãos de
um Estado se submettam voluntariamente ás
auctoridades de outro. O accordo das parti
culares teria a efficacia juridica de derogar
preceitos de direito publico , revogando pri
meiro que tudo o incontestavel principio ,
concretisado nos conhecidos textos : jus pu
blicum privatorum pactis mutari non potest ;
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 127

privatorum conventio juri publico non de


rogat . Seria subverter noções elementares ,
correntes desde que as formulou o genio
juridico do povo romano . Teriamos , por esse
modo , abolido o conceito do direito publico,
em que se legisla , attendendo de preferencia
ao bem da collectividade , á utilidade social ,
ás necessidades da nação . » (In O Direito ,
vol. 111 , pags . 571 e segs . )

De que mais precisarei para demonstrar a firme


convicção do Supremo Tribunal e a segurança de que
o seu voto obedece ás mais lidimas injuncções do
direito objectivo e da doutrina juridica ?

2.°

O Aviso de 1823 subordinou a providencia , que


reclamava o momento politico , a uma condição reso
lutiva a determinação dos limites entre o Espirito
Santo e a Bahia . Quando o poder competente , na forma
do pacto constitucional , fixar esses limites , desappa
recerá inteiramente o Aviso com o cortejo de relações
que provisoriamente estabelecera . Compete hoje ao
Supremo Tribunal Federal resolver contenciosamente.
sobre os limites entre os Estados , e desde que o faça , na
hypothese em exame , verificada está a condição reso
lutiva , conditio existit, e revogado fica ipso jure o acto
que submetteu provisoriamente S. Matheus ao Espirito
Santo , até que aquelle acontecimento se realizasse .
Divergindo apenas quanto aos effeitos retroactivos
da condição resolutiva realizada , é o que preceituam
todas as legislações , o que doutrinam romanistas e
civilistas .

Lê-se em Dernburg :
128 LIMITES

«Coll'avverarsi della condizione risoluti


va rivive immediatamente il precedente stato ,
e propriamente retroattivamente » ( Paudette ,
trad . it . de Cicala , vol . 1. °, pag . 339) .

Em Windscheid :

« Al verificarsi della condizione risolutiva


questo effetto giuridico ( produzido pela de
claração de vontade principal ) viene appunto
direttamente rimosso ; con ciò non si dà base
soltanto ad un obbligo di chi finora era tito
lare, tendente a ristabilire il pristino stato»
(Pand. , trad . Faddat
Fadda e Bensa , vol . 1.º,
pag . 364. )

Diz Planiol :

«La réalisation de la condition résolu


toire entraine un effet plus énergique ( do
que o do termo ) : non seulement l'acte cesse
de produire pour l'avenir de nouveaux
effets , mais ceux qu'il avait deja produits
sont anéantis; on les efface fictivement ; les
choses doivent être remises dans le même état
que si l'acte n'avait jamais été fait» ( Traité
Elem . vol . 1.º, pag. 123 ) .

Identicamente Chironi:

" Avverata la condizione risolutiva , l'ef


ficacia retroattiva sua fa sì che le cose son
rimesse nello stato in cui erano , come se il
negozio non avesse mai avuto luogo; essa
governa l'efficacia della dichiarazione prin
cipale in modo che, avverandosi , la toglie
interamente , quasi fosse dichiarazione di non
volere» ( Inst . di Dr. It . ed . 1912 , pag . 168,
vol . 1.º).
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 129

No direito allemão , precisa é a disposição do art .


158 , al. , do Cod . Civil:

Wird ein Rechtsgeschäft unter einer


auflösenden Bedingung vorgenommen , SO
endigt mit dem Eintritt der Bedingung die
Wirkung des Rechtsgeschäfts ; mit diesem
Zeitpunkte tritt der frühere Rechtszustand
wiederein» (quando um acto juridico se esta
belece sob condição resolutiva, cessa a sua
efficacia desde que a condição se realize ; a
partir deste momento se restabelece o estado
de direito anterior. )

Escreve Alves Moreira:

«Como, verificando-se a condição reso


lutiva, o negocio juridico não só deixa de pro
duzir effeitos , mas cada um dos interessados
tem de ser restituido aos direitos que tinha
no momento do contracto , se outra cousa não
tiver sido estipulada , segue-se que todos os
actos de disposição que hajam sido effeituados
pelo adquirente condicional ficarão sem effeito ,
no proprio momento em que a condição se
realizar» (Dir. Civ. Port. , vol. 1°. , pag. 486 ) .

Diz-nos Clovis Bevilaqua:

Se a efficacia de um acto juridico estiver


subordinada a uma condição resolutiva , quer
isto dizer que a relação de direito está for
mada , produzindo os seus effeitos , porem se
extinguirá com a realização da condição »
(Theor. Ger. do Dir . Civ. , pag. 309) .

17
130 LIMITES C

IV-A PRETENÇÃO DA BAHIA EM FACE DA CONSTI


TUIÇÃO FEDERAL

Quando o Aviso de 1823 sujeitou a Villa de S.


Matheus ao Governo mais proximo, deixou logo pa
tente que a questão dos limites entre as duas Pro
vincias que a reclamavam seria decidida pelo poder
competente, desapparecendo, então, os effeitos da
medida provisoria . No vigor da Constituição do Im
perio, competente para taes assumptos era a Assembléa
Nacional , ao passo que no regimen republicano fede
rativo, dados os moldes da Carta de 24 de Fevereiro
de 1891 , pode o Congresso Nacional resolver defini
tivamente sobre o que decidirem as Assembléas Es
taduaes de dois Estados , quanto aos respectivos li
mites; compete , porem , ao Supremo Tribunal Federal
resolver as questões de limites que surgirem, tendo
em vista a legislação que os fixou . E sendo assim ,
possivel como ainda se mostra a determinação da ver
dadeira linha divisoria entre os dois Estados, antes,

referindo-se-lhe o proprio Aviso , é obvio que está


pendente a condição resolutiva e , realisado o aconte
cimento , o acto se reputa inefficaz , como se nunca
houvera existido .

Note-se bem que nas considerações expendidas


hei attribuido importancia, que não tem , ao Aviso
de 1823 , o qual é titulo inhabil para fazer qualquer
alteração de limites , ainda que provisoriamente ou sob
condição resolutiva.

Repetirei as palavras do Snr . Figueiredo Junior,


que foi Ministro do Supremo Tribunal Federal:
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 131

"A Constituição Republicana, elevando


no art. 2 as antigas provincias a Estados , res
peitou-lhes os limites que tinham; mas esses
limites eram os fundados em titulos origi
nariamente legitimos, isto é, o Rei na epocha
colonial ou o poder Legislativo , depois da
emancipação politica da colonia, ou , não os
havendo, os fundados no uti possidetis de cada
provincia, titulo capaz de supprir a falta da
quelles; nunca os limites assentados por actos
de autoridade imcompetente , e , portanto, vis
ceralmente nullos.

Só não fôra assim, se algum texto da


Constituição republicana houvesse revali
dado taes actos . Longe disso , porem , o que
vemos do art . 83 é que continuam em vigor,
emquanto não revogadas, as leis do antigo
regimen, no que explicitamente não for con
trario ao systema de governo firmado pela
Constituição, e aos principios nella consa
grados . O que a Constituição, portanto , fez,
foi manter o statu quo na legislação compativel
com a Republica Federativa: não deu vida
ao que não a tinha, assegurou a vida ao
que já a tinha» ( Limites entre o Rio de
Janeiro e Minas Geraes ) .

Terminarei insistindo num ponto já perfeitamente


esclarecido nos artigos a que tive occasião de me re
ferir: os limites entre a Villa de S. José do Porto
Alegre e a da Barra de S. Matheus não podem abso
lutamente ser traçados pelo Rio Mucury , desde que
nenhum documento ha que indique semelhante linha
divisoria. A propria estatistica do Governador Rubim,
já o demonstrei , foi adulterada na parte em que pre
cisa os limites entre o Espirito Santo e a Bahia .

A divergencia poderá manifestar- se quanto ao


132 LIMITES

Riacho Doce , limite sul constante da demarcação de


S. José do Porto Alegre e ás Itaunas , mais ao sul,
indicados pelo Decreto de 1831 como limite norte da
Villa da Barra de S. Matheus .
E ' o meu parecer, que submetto á censura dos
doutos .

EDUARDO ESPINOLA.

Bahia, 14 de Junho de 1913.

N. 6

Extracto do Tratado Descriptivo do


Brasil de Gabriel Soares de Souza, 1587,
que demonstra não ser verdadeira a as
serção contida no officio do presidente
do Espirito Santo, de 28 de Setembro de
1882 , de haver sido considerado o rio
Mucury como divisoria entre as capi
tanias de Porto Seguro e Espirito Santo,
o que nunca se deu, porque ella for
sempre pelo rio Doce.

CAPITULO XXXVII

Em que se declara a terra e costa de Porto Seguro


até o Rio das Caravelas.

Da villa de Porto Seguro á ponta Corurumbabo são


oito leguas, cuja costa se corre norte-sul : esta ponta é
baixa, e de arêa, a qual apparece no cabo do arrecife e
demora ao noroeste e está em altura de dezesete gráos e
um quarto. Este arrecife é perigoso e corre afastado da
terra legua e meia.
Da ponta de Corurumbabo ao cabo das barreiras bran
cas são seis leguas , até onde corre este arrecife que co
meça na ponta de Corurumbabo, porque até ao cabo destas
barreiras brancas se corre esta costa por aqui, afastado
da terra legua e meia.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 133

Do cabo das barreiras brancas ao rio das Caravelas


são cinco ou seis leguas, em o qual caminho ha alguns
baixos que arrebentam em frol , de que se hão de guardar
com boa vigia os que aqui passarem . Defronte de Ju
curú ( *) está uma rodella de baixos que não arrebentam,
que é necessario que sejam bem vigiados : e corre-se a
-costa de Corurumbabo até o rio das Caravelas norte sul, o
qual está em dezoito gráos .
Tem este rio na boca uma ilha de uma legua, que lhe
faz duas barras, a qual está povoada com fazendas, e
criações de vaccas, que se dão nella muito bem. Por este rio
acima entram caravelões da costa, mas tem na bocca da
barra muitas cabeças ruins , pelo qual entra a maré tres ou
quatro leguas, que se navegam com barcos.

A terra por este rio acima é muito boa, em que se


dão todos os mantimentos que lhe plantam, muito bem, e
pode-se fazer aqui uma povoação , onde os moradores della
estarão muito providos de pescado e mariscos , e muita caça,
que por toda aquella terra ha . Este rio vem de muito longe,
e pelo sertão é povoado do gentio bem acondicionado, que
não faz mal aos homens brancos, que vão por elle acima
para o sertão .

Aqui neste rio foi desembarcar Antonio Dias


Adorno com a gente que trouxe da Bahia , quando por
mandado do governador Luiz de Britto e Almeida foi ao
sertão no descobrimento das esmeraldas, e foi por este rio
acima com cento e cincoenta homens , e quatrocentos
Indios de paz e escravos , e todos foram bem tratados e
recebidos dos gentios , que acharam pelo sertão deste rio
das Caravelas .

(*) Deve ser o Jucurucú, o rio que banha a cidade do Prado.


-N. do autor.
134 LIMITES

CAPITULO XXXVIII

Em que se declara a terra que ha do rio das Caravelas


até Cricaré.

Do rio das Caravelas até o rio de Peruipe são tres


leguas, as quaes se navegam pelo canal indo correndo a
costa. Neste rio entram caravelões da costa, junto da
qual a terra faz uma ponta grossa ao mar de grande arvo
redo, e toda a mais terra é baixa. Do direito desta ponta.
se começam os Abrolhos e seus baixos ; mas entre os baixos.
e a terra ha fundo de seis e sete braças uma legua ao mar
somente, por onde vae o canal.
Deste rio Peruipe ao de Maruipe são cinco leguas, o
qual tem na bocca uma barreira branca como lençol , por
onde é bom de conhecer ; o qual está dezoito gráos e meio.
Por este rio Maruipe ( * ) entram caravelões da costa á
vontade, e ha maré por elle acima muito grande espaço ,
cuja terra é boa para se fazer conta della para se povoar ;
porque ha nella grandes pescarias, muito marisco e caça .
Deste rio de Maruipe ao de Cricaré são dez leguas ,.
e corre-se a costa do rio das Caravelas até Cricaré norte
sul, e toma da quarta nordeste sudoeste, o qual rio Ma
ruipe está em dezoito gráos e tres quartos ; pelo qual en
tram navios de honesto porte, e é muito capaz para se
poder povoar, por a terra ser muito boa e de muita caça ,.
e o rio de muito pescado e marisco , onde se podem fa
zer engenhos de assucar por se metterem nelle muitas ribei
ras de agua, boas para elles. Este rio vem de muito longe,.
e navega- se quatro a cinco leguas por elle acima : o qual.
tem na barra, da banda do sul, quatro abertas, uma legua
e mais uma da outra, as quaes estam na terra firme por
cima da costa, que é baixa e sem arvoredo, e de campinas ..

(*) Mucury de hoje.-N. do autor.


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 135

E quem vem do mar em fóra parecem-lhe estas abertas


boccas de rio, por onde a terra é boa de conhecer. Até
aqui senhorearam a costa os Tupiniquins, de quem é bem
que digamos neste capitulo que se segue antes que che
guemos á terra dos Goaitacazes.

CAPITULO XL

Em que se declara a costa de Cricaré até o Rio Doce,


e do que se descobriu por elle acima e pelo Aceci.
Do rio de Cricaré até o rio Doce são dezasete leguas,
as quaes se correm pela costa norte sul ; o qual Rio Doce
está em altura de dezanove gráos.
A terra deste rio ao longo do mar é baixa e afastada
da costa ; por ella dentro tem arrumada uma serra, que
parece a quem vem do mar em fora, que é a mesma
costa. A bocca deste rio é esparcelada bem uma legua
1
e meia ao mar ; mas tem seu canal, por onde entram na
vios de quarenta toneis , o qual rio se navega pela terra
dentro algumas leguas, cuja terra ao longo do rio por ali
acima é muito boa, que dá todos os mantimentos acostuma
dos muito bem, onde se darão muito bons canaviaes de
assucar, se os plantarem, e se podem fazer alguns enge
nhos , por ter ribeiras muito accommodadas a elles.
Este Rio Doce vem de muito longe, e corre até o mar
quasi leste oeste , pelo qual Sebastião Fernandes Tou-
rinho, de quem fallámos, fez uma entrada navegando por
elle acima , até onde o ajudou a maré, com certos compa
nheiros , e entrando por um braço acima, que se chama
Mandi, onde desembarcou , caminhou por terra obra de
vinte leguas com o rosto a les - sudoeste , e foi dar com
uma lagoa, a que o gentio chama boca do mar, por ser
muito grande e funda , da qual nasce um rio que se mette
neste Rio Doce e leva muita agua . Esta lagoa cresce ás
vezes tanto, que faz grande enchente neste Rio Doce
136 LIMITES

Desta lagoa corre este rio a leste e della a quarenta le


guas tem uma cachoeira ; e andando esta gente ao longo
deste rio, que sahe da lagoa mais de trinta leguas , se deti
veram alli alguns dias ; tornando a caminhar andaram
quarenta dias com o rosto a loeste : e no cabo delles che
garam, aonde se mette este rio no Doce , e andaram nestes
quarenta dias setenta leguas pouco mais ou menos . E como
esta gente chegou a este Rio Doce, e o acharam tão pos
sante, fizeram nelle canôas de casca , em que se embarca
ram, e foram por ali acima , até onde se mette neste rio
outro a que chamam Aceci, pelo qual entraram e foram
quatro leguas, e no cabo dellas desembarcaram e foram
por terra com o rosto ao noroeste onze dias , e atravessa
ram o Aceci, e andaram cincoenta leguas, ao longo delle
da banda ao sul trinta leguas.
Aqui achou esta gente umas pedreiras, umas pedras
verdoengas, e tomam de azul, que tem que parecem tur
quesquas, e affirmou o gentio aqui vizinho que no cimo.
deste monte se tiravam pedras muito azues, e que havia
outras, que segundo sua informação tem ouro muito des
coberto. E quando esta gente passou o Aceci a derradeira
vez, dali cinco ou seis leguas da banda do norte achou
Sebastião Fernandes uma pedreira de esmeraldas e outra
de safiras, as quaes estão ao pé de uma serra cheia de
arvoredo do tamanho de uma legua ; e quando esta gente
ia do mar por este Rio Doce acima sessenta ou setenta
leguas da barra, acharam umas serras ao longo do Rio de
arvoredo, e quasi todas de pedra, em que tambem acha
ram pedras verdes ; e indo mais acima quatro ou cinco.
leguas da banda do sul está outra serra, em que affirma
o gentio haver pedras verdes e vermelhas tão compridas
como dedos , e outras azues todas mui resplandecentes.
Desta serra para a banda de leste pouco mais de uma
legua está uma serra , que é quasi toda de christal muito
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 137

fino, a qual cria em si muitas esmeraldas, e outras pedras


azues.
Com estas informações
informações que Sebastião Fernan
des (* ) deu a Luiz de Britto, sendo governador, mandou
Antonio Dias Adorno, como já fica dito atraz, o qual
achou ao pé desta serra da banda do norte as esmeraldas ,
e da de leste as safiras. Umas e outras nascem no christal,
donde trouxeram muitas e algumas muito grandes, mas
todas baixas : mas presume- se que debaixo da terra as
deve de haver finas, porque estas estavam á flor da terra.
Em muitas partes achou esta gente pedras desacostuma
das de grande peso , que affirmam terem ouro e prata, do
que não trouxeram amostras , por não poderem trazer
mais que as primeiras e com trabalho : a qual gente se tor
nou para o mar pelo Rio Grande abaixo, como já fica dito.
E Antonio Dias Adorno, quando foi a estas pedras, se
recolheu por terra atravessando pelos Tupinaés e por
entre os Tupinambás, e com uns e outros teve grandes en
contros , e com muito trabalho e risco de sua pessoa che
gou á Bahia e fazenda de Gabriel Soares de Souza.

CAPITULO XLI

Em que se declara a costa do Rio Doce até o do Espi


rito Santo.

Do Rio Doce ao dos Reis Magos são oito leguas ; e


faz a terra de um rio ao outro uma enseada grande : o
qual rio está em dezanove gráos e meio, e corre- se a costa
de um a outro nordeste sudoeste . Na boca deste rio dos
Reis Magos estão tres ilhas redondas, por onde é bom de
conhecer ; em o qual entram navios da costa, cuja terra

(*) Subindo pelo rio Doce e descendo pelo Jequitinhonha o


bandeirante contornou a capitania de Porto Seguro, de cuja ca
pital partira.
I 18
138 LIMITES

é muito fertil, e boa para se poder povoar ; onde se podem


fazer alguns engenhos de assucar, por ter ribeiras , que
nelle se mettem, mui accommodadas para isso. Navega-se
neste rio da barra para dentro quatro ou cinco leguas, em
o qual ha grandes pescarias e muito marisco ; e no tempo
que estava povoado de gentio, havia nelle muitos manti
mentos que aqui iam resgatar os moradores do Espirito
Santo, o que causava grande fertilidade .
Da terra dos Reis Magos ao rio das Barreiras são
oito leguas, do qual se faz pouca conta ; do rio das Barrei
ras á ponta do Tubarão são quatro leguas, sobre o qual
está a serra do Mestre Alvaro ; da ponta do Tubarão á
ponta do môrro de João Moreno são duas leguas, onde
está a villa de Nossa Senhora da Victoria : entre uma
ponta e outra está o rio do Espirito Santo, o qual tem de
fronte da barra meia legua ao mar uma lagoa, de que se
hão de guardar. Em direito desta ponta da banda do norte,
duas leguas pela terra dentro está a serra do Mestre Al
varo que é grande e redonda, a qual está afastada das
outras serras : esta serra apparece, a quem vem do mar
em fóra, muito longe, que é por onde se conhece a barra :
esta barra faz uma enseada grande, a qual tem umas ilhas
dentro, e entra- se nordeste sudoeste. A primeira ilha , que
está nesta barra se chama de D. Jorge, e mais para dentro
está outra que se diz de Valentim Nunes. Desta ilha para a
Villa Velha estão quatro penedos grandes descobertos : e
mais para cima está a ilha de Anna Vaz ; mais avante está
o ilheo da Viuva ; e no cabo desta bahia fica a ilha de Du
arte de Lemos , onde está assentada a villa do Espirito
Santo , a qual se edificou no tempo da guerra dos Goaita
cazes , que apertaram muito com os povoadores da Villa
Velha. Defronte da villa do Espirito Santo, da banda de
Villa Velha está um penedo mui alto a pique sobre o rio,
ao pé do qual se não acha fundo ; é capaz este penedo para
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 139

se edificar sobre elle uma fortaleza, o que se pode fazer


com pouca despeza , da qual se pode defender este rio ao
poder do mundo todo. Este rio do Espirito Santo está em
altura de vinte gráos e um terço.

CAPITULO XLII

Em que se declara como El Rei fez mercê da capita- .


nia do Espirito Santo a Vasco Fernandes Coutinho, e
como elle a foi povoar em pessoa.
Razão tinha Vasco Fernandes Coutinho de se conten
tar com os grandes e heroicos feitos que tinha com as
armas acabado nas partes da India, onde nos primeiros
tempos de sua conquista se achou , no que gastou o melhor
de sua idade ; e passando- se para estes reinos em busca do
galardão de seus trabalhos , pediu em satisfação delles a
S. A. licença para entrar em outros maiores, pedindo que
The fizesse mercê de uma capitania na costa do Brasil,
porque a queria povoar, e conquistar o sertão della , a
cujo requerimento El- Rei D. João III de Portugal satis
fez, fazendo -lhe mercê de cincoenta leguas de terra ao
longo da costa do dito Estado , com toda a terra para o ser
tão, que coubesse na sua demarcação , começando onde
acabasse Pedro do Campo, capitão de Porto Seguro. Con
tente este fidalgo com a mercê que pediu , para satisfazer
á grandeza de seus pensamentos , ordenou a sua custá uma
fróta de navios, mui provida de moradores e das munições
de guerra necessarias, com tudo o que mais convinha a
esta empreza, e na qual se embarcaramentre fidalgos e cria
dos d'el - Rei, sessenta pessoas entre as quaes foi D. Jorge
de Menezes, o de Maluco , e D. Simão de Castello Branco ,
que por mandado de S. A. iam cumprir suas penitencias a
esta parte. Embarcado este valoroso capitão , com sua gente
na frota que estava prestes , partiu do porto de Lisboa com
bom tempo, e fez sua viagem para o Brazil , onde chegou
140 LIMITES

a salvamento á sua capitania, em a qual desembarcou e


povoou a villa de Nossa Senhora da Victoria, a que agora
chamam a Villa Velha , onde se logo fortificou , a qual em
breve tempo se fez uma nobre villa para aquellas partes.
De redor desta villa se fizeram logo quatro engenhos de
assucar mui bem providos e acabados, os quaes começa
ram de lavrar assucar, como tiveram canas para isso, que
se na terra deram muito bem. Nestes primeiros tempos
teve Vasco Fernandes Coutinho algumas escaramuças
com o gentio seu visinho, com o qual se houve de feição
que, entendendo estes Indios que não podiam ficar bem do
partido , se afastaram da visinhança do mar por aquella
parte, por escusarem brigas que da visinhança se seguiam .
A este gentio chamam Goaitacazes, de quem diremos
adiante.

N. 7

Extracto da Razão do Estado do


Brasil -que demonstra ter sido sempre o
rio Doce a divisoria entre Porto Seguro e
Espirito Santo , e na occasião em que foi
este paiz, nos tempos coloniaes, separado
em dois governos, haver sido a raia pelo
Cricaré ou S. Matheus e nunca pelo

Mucury, pelo que se torna claro não ser
exacta a affirmação do presidente do
Espirito Santo no seu officio de 28 de
Setembro de 1882.

(Mappa antigo existente no Instituto Historico e


Geographico Brasileiro offerecido por D. Pedro II . ( * )

(*) E' este um dos documentos mais celebres da Historia


Colonial do Brasil.
Attribue-se a sua autoria a D. Diogo de Menezes e Sequeira,
governador Geral do Brasil, mais tarde primeiro Conde da
Ericeira.
Outros suppõem que este notavel trabalho foi feito por D.
Diogo de Menezes de collaboração com o secretario do Governo
da Bahia o intelligentissimo e bravo Diogo de Campos.
Foi escripto em 1612.-Nota do autor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 141

"Demonstração da Capitania do Espirito Santo até


a ponta da Barra do Rio Doce , na qual parte cô Porto Se
guro mostrace a Aldea dos Reis Magos que administrão
os Padres da Companhia . E do dito Rio para o Norte corre
a Costa como se mostra até o rio das Caravellas todo des
povoado co muitos Portos para Navios da Costa . E mui
tos matos de páo Brasil . Mostrace pelo Rio Doce o Cami
nho que se faz para a Serra das Esmeraldas passando o rio
Gualice e mais avante das Cachoeiras o rio Gualicumirim
e mais o monte Comoce.
Entra no rio Una e delle caminhando pouca terra se
entra na lagoa da Ponta e da qual desembarcão e sobre a
serra das Esmeraldas tudo cõforme a viage que fez Mar
cos Azevedo ".

Descrevendo as capitanias, diz a Razão do Estado,


ao chegar a de Porto Seguro :
"A Capitania de Porto Seguro parte com a do Espi
rito Santo pelo rio Doce , em dezenove gráos , ou, segundo
outros querem, pelo rio Cricaré mais ao Norte , que foi o
ponto por donde se dividio este Estado entre D. Francisco
de Souza e D. Diogo de Menezes : são famosos estes rios
pelas terras e varzeas para fazendas que nellas se desco
brem e pelo muito que ao sertão se mettem, abundantes de
caças e pescarias e sobretudo pelo muito páo brasil fino
que entre os seus matos e madeiras se acha e pelas entra
das que com facilidade por qualquer delles se faz ao sertão
pelo rio Doce, particularmente para a serra das Esmeral
das, supposto que a barra deste rio de nenhum modo pode
ser accomettida em nenhum tempo por ser baixa e de alfa
ques que se mudão e por ter ordinarias aguagens que des
cem de cima e lanção a agua doce pelo mar dentro mais de
duas leguas e, assim quando os do Espirito Santo fazem a
jornada ás Esmeraldas entrão com as canoas, pelo riacho
e pela lagoa caminhão até tres leguas da barra do dito rio,
142 LIMITES

donde tornão as canoas ao mar, e varando -as depois pela


arêa, vae se metter no dito rio e por elle acima navegão
por cachoeiras e lagôas até o pé da dita Serra ; por esta
parte se faz mais facil esta viagem que pelo Cricaré, o
qual tem tanto gentio em suas ribeiras á terra dentro que
até hoje tem sido impossivel penetrar por entre elles mais
ao sertão".
Ao norte deste rio estão os rios Mucuripu e Piruhipe
e o rio das Caravellas, todos com barras e todos despo
voados, com páo brasil e tantos commodos para o serem
muito que podemos assegurar não lhes faltar nada , ha
vendo povoadores ."

N. 8

Officio em que o Governo do Espirito


Santo desvenda as suas pretenções até o
rio Mucury, dizendo que este limite lhe
havia sido dado nos tempos coloniaes,
quando capitania.

Palacio do Governo da Provincia do Espirito Santo ,


28 de Setembro de 1882.
Illmo. e Exmo . Senhor :
Havendo noticia exacta de que pelo rio Mucury se
escoavam generos productos colhidos nos terrenos desta
Provincia sem pagarem os direitos de exportação ou outros
quaesquer a que estiverem sujeitos e de que naquellas para
gens se desenvolvia um nucleo de população sobre o qual
não pesava nenhum dos onus que a Provincia impõe aos
seus habitantes para o fim de occorrer ás despezas com os
diversos serviços que o Acto Addicional poz a seu cargo,
authorizou a Lei Provincial n. 23 de 30 de Novembro
de 1876 o Presidente a crear na margem sul daquelle rio,
comarca de S. Matheus, uma agencia de rendas.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 143

Ora, Exmo . Senhor, nada ha mais descabido do que


a pretenção da Bahia á posse do territorio da margem sul
do rio Mucury, que foi sempre considerado como a divisa
desta Provincia.
Além das leis que já tive a honra de citar , que foram
discutidas, votadas, sanccionadas, publicadas e execu
tadas, sem que da parte dos poderes provinciaes da
Bahia surgisse o menor protesto ou documentos officiaes
que provassem de modo irrefragavel o direito que tem
esta Provincia ao teritorio em questão.
A carta regia de 18 de Março de 1675 , que foi dada
por D. Pedro 2º. de Portugal a Francisco Gil de Araujo
e em a qual se declarava fazer doação de 50 leguas de
terra principiando onde acabavam as que haviam sido
doadas a Pero de Campos Tourinho, donatario que foi da
Capitania de Porto Seguro , que começava ao norte do rio
Mucury, resolve perfeitamente qualquer duvida que se
possa ter a respeito dos limites desta Provincia com a da
Bahia.

A Capitania dada a Vasco Fernandes Coutinho com


prehendia 50 leguas que vão do rio Itapemirim ao rio
Mucury, de cuja margem norte começava a Capitania de
Porto Seguro .

Similhantes limites nunca foram litigiosos, mesmo


por occasião de se erigirem em provincias as antigas capi
tanias do Brazil.

No mappa desta Provincia, organizado pela Inspe


ctoria de Terras e Colonização , por ordem do Ministerio da
Agricultura, figura claramente o rio Mucury como sepa
rando esta Provincia da Bahia e o Dr. Joaquim Manoel
de Macedo, nas suas licções de Chorographia do Brazil
para uso das escolas de instrucção primaria, obra ado
ptada pelo Conselho Superior de Instrucção Publica da
144 LIMITES

Côrte, á pagina 65 nas Explicações, define o rio Mucury


como o que separa as Provincias da Bahia e Espirito
Santo .
Esta mesma verdade acha- se claramente expendida em
todas as obras e explicações officiaes de modo a tirar todo
e qualquer pretexto para a contestação dos direitos desta
Provincia. Sendo assim e convindo aos interesses publicos
que a administração de uma Provincia não anime, embora
tacitamente, a usurpação dos direitos da outra, para salva
guarda dos interesses da Provincia que me estão confiados,.
e para que se tire todo o pretexto aos moradores da mar
gem sul do rio Mucury de não pagarem os impostos vota
dos pela Assembléa do Espirito Santo, venho pedir a
V. Exa. que se digne de recommendar ao Presidente da
Bahia que faça cessar o abuso praticado pelos exactores
da Fazenda dquella Provincia de cobrarem impostos dos
generos e productos oriundos da margem direita do Mu
cury, que pertence ao Espirito Santo e bem assim que or
dene aos ditos exactores o recebimento de guias de paga
mento dos impostos passadas pelo agente de rendas desta
Provincia para isentarem as mercadorias do Espirito Santo
de quaesquer impostos provinciaes da Bahia. Esta medida,
que fará cessar uma concurrencia desleal entre duas Pro
vincias irmãs, porque, a não ser tomada, obrigará a Assem
blea do Espirito Santo a decretar uma taxa especial para
os productos do Mucury , de modo a tornar preferivel o pa
gamento do imposto ao agente espirito santense, virá so
mente pela força e prestigio do Governo Imperial garan
tir os interesses das duas Provincias e salvar qualquer
questão que para o futuro venha a surgir sobre a posse do
territorio que até hoje não foi clara nem seriamente con
testado .
Deus guarde a V. Exa. , Illmo. e Exmo. Sr. Cons..
Senador Visconde de Paranaguá, M. D. Ministro da
Fazenda .- Marcos Inglez de Souza.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 145

N. 9

Carta de confirmação da capitania


do Espirito Santo a Antonto Luiz Gon
çalves da Camara Coutinho ( * ) pela qual
se vê que a doação se manteve até o
ultimo membro da familia de Vasco Fer
nandes Coutinho, como este a havia
recebido , isto é , onde acabassem as cin
coenta leguas que o soberano havia
dado a Pero do Campo Tourinho, dona
tario de Porto Seguro . Vide pags. 8 e 22
para cotejo e prova de que não foi
estabelecido ou fixado ponto algum para
nelle acabar a capitania de Porto Se
guro e começar a do Espirito Santo.

Dom Affonso Per Graça de Deos Rey de Portugal e


dos Algarves, daquem e dalem mar, em Africa Senhor da
Guiné e da Conquista, navegação e Commercio da Ethiopia,
Arabia, Persia e da India , et . Faço saber aos que esta
minha carta de confirmação por successão virem que por
parte de Antonio Luiz Gonçalves da Camera Coutinho, fi
dalgo de minha casa , filho legitimo e unico que ficou por
fallecimento de Ambrosio de Aguiar Coutinho que Deos
perdoe, me foi apresentada hua carta del Rey de Castella
por elle assignada e passada pela Chancellaria, da qual o
treslado he o seguinte : Dom Phillippe por Graça de Deos
Rey de Portugal e dos Algarves, daquem e dalem Mar, em
Africa Senhor da Guiné e da Conquista , Navegação e
Commercio da Ethiopia, Arabia, Persia e da India, etc.
Faço saber aos que esta minha carta de confirmação por
successão virem que por parte de Ambrosio de Aguiar
Coutinho, filho mais velho de Antonio Gonçalves da Ca
mera, fidalgo de minha casa e de Dona Maria de Castro,
sua mulher, me foi apresentada hua carta del Rey meu

(* ) Original manuscripto em pergaminho existente no Archivo


Publico da Bahia .
L 19
146 LIMITES

Senhor e Pay que Santa Gloria haja, por elle assignada


e passada pela Chancellaria, porque Francisco de Aguiar
Coutinho seu tio, irmão da ditta Dona Maria de Castro
sua mãy, teve e possuio a Cappitania do Espirito Sancto
nas partes do Brazil pela maneira que se conthem na ditta
Carta, cujo treslado he o seguinte : Dom Phillippe, por
graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves, daquem
e dallem mar, em Africa Senhor da Guiné e da conquista,
navegação e commercio da Ethiopia, Arabia, Persia e da
India, etc. Faço saber aos que esta minha carta de confir
mação virem que por parte de Francisco de Aguiar Cou
tinho , fidalgo de minha casa, me foi apresentada hua carta
do Senhor Rey Dom João o terceiro, que Sancta Gloria
haja, por elle assignada e passada pela Chancellaria, que
mandou passar a Vasco Fernandes Coutinho, que Deos
perdoe, primeiro donatario da Cappitania do Spirito
Sancto nas partes do Brasil, da qual o treslado de verbo
ad verbum he o seguinte : Dom João, por graça de Deos
Rey de Portugal e dos Algarves, daquem e dalem mar, em
Africa Senhor da Guiné e da conquista, navegação e
commercio da Ethiopia, Arabia, Persia, e da India, etc.
a quantos esta minha carta virem faço saber que conside
rando eu quanto serviço de Deos e meu proveito e bem de
meus Reynos e Senhorios e dos naturaes e subditos delles
he ser minha a Costa e terra do Brasil mais povoada do
que athe agora foi, assy para se nella haver de celebrar
o culto e officios divinos e se exalçar a nossa sancta fé
catholica, como trazer e provocar a ella os naturaes da
ditta terra, infieis e idolatras , como por o muito proveito
que se seguirá á meus Reinos e Senhorios e aos naturaes e
subditos delles de si a ditta terra povoar e aproveitar, ouve
por bem de a mandar repartir e ordenar em cappitanias de
certas em certas legoas para dellas prover aquellas pessoas
que me bem parecesse, pelo qual, esguardando eu aos muitos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 147

serviços que Vasco Fernandes Coutinho, fidalgo da minha


casa e del Rey meu Senhor e Padre que Sancta gloria
haja, e a my tem feito assy nestes Reynos como em Africa
e nas partes da India em muitas cousas que se nas dittas
partes fiserão nas quaes deo sempre de sy muy boa conta,
e por folgar de lhe faser mercê de meu proprio mothe,
-certa sciencia, poder Real e absoluto, sem mo elle pedir,
nem outrem por elle, Hey por bem de lhe faser, como de
feito por esta presente carta faço mercê e irrevogavel doa
ção entre vivos , valledoura deste dia para todo sempre, de
juro, e de herdade para elle e todos seus filhos, nettos e
herdeiros e successores, que após elles vierem assy descen
dentes como transversaes e lateraes, segundo adiante irá
declarado,de cincoenta legoas de terra na ditta costa do
Brasil, as quaes se começarão na parte onde acabarem as
cincoenta legoas de que tenho feito mercê a Pero do
-Campo Tourinho e correrão para banda do Sul tanto
quanto couber nas dittas cincoenta legoas, entrando nesta
cappitania quaesquer ilhas que ouver athé dez legoas ao
mar na frontaria e demarcação destas cincoenta legoas
que assy faço mercê ao ditto Vasco Fernandes , as quaes
cincoenta legoas se estenderão e serão de largo ao longo
da costa e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra
firme a dentro, tanto quanto poderem entrar e for de minha
conquista, da qual terra pela sobre ditta demarcação lhe
assy faço doação e mercê de juro e de herdade para todo
sempre, como ditto he e quero e me praz que o ditto Vasco
Fernandes Coutinho e todos os seus descendentes e succes
sores que a ditta terra herdarem e succederem se possão
Chamar e Chamem Cappitães e Governadores della ....
148 LIMITES

· N. 10

Pareceres (*) do Conselho Ultrama


rino e despachos do rei que demonstram
não se terem alterado os termos da doação
da capitania de Vasco F. Coutinho
quando passou da familia deste para
Francisco de Araujo o que prova não
ser exacto que nesta occasião lhe fosse
determinado como divisa ao Norte o rio
Mucury.

Senhor- Por decreto de 6 de Desembro presente,


posto em hua petição de Antonio Luiz Gonçalves da Ca
mara Coutinho , manda V. A. que ella se veja e consulte
neste Conselho. Nella refere que o Sr. Rey D. João o 3º.
fez mercê a Vasco Fernandes Coutinho de cincoenta leguas
de terra na costa do Brasil, para as povoar de gente, villas
e logares e a lograr com o titulo de Capitania com toda a
sua jurisdicção civel e crime, como Capitão e Governador
della e com aquellas prerogativas, foros , liberdades , isen
ções, privilegios, alçadas, direitos emolumentos , condições e
clausulas que se conthem na carta de Doação que se lhe
passou ; as quaes sincoenta legoas de terra vem a ser hoje
a capitania do Espirito Santo ; e a dita mercê foi feita na
forma mais ampla que podia ser , porque alem de ser feita
por contracto de doação perpetua e irrevogavel, entre vi
vos paratodo sempre , se ordenou que nella podessem succe
der todos os descendentes legitimos , machos e femeas , do
dito Vasco Fernandes Coutinho e em falta delles os bas
tardos e os ascendentes legitimos ou bastardos e todos os
transversaes de qualquer gráo, sexo e nascimento que
fossem, derogando- se para essse efeito a Ley mental e to
das as mais Leys , ordenanças e estatutos que houvesse cm

(*) Manuscriptos originaes pertencentes ao Archivo Pu


blico da Bahia.-N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 149

contrario. E por o dito Vasco Fernandes Coutinho fallecer


sem descendentes, passou a successão da dita capitania a
seu sobrinho Francisco de Aguiar, a quem a dita doação
´foi confirmada . E por tambem fallecer sem descendentes
passou a mesma successão a seu sobrinho Ambrosio de
Aguiar Coutinho, filho de sua irmã Dona Maria de Castro
a quem tambem foi confirmada ; e por morte do dito Am
brosio de Aguiar succedeo nella, elle, Antonio Luiz Gon
çalves da Camara, por ser seu filho mais velho a quem
se passou a Doação que apresentou com todas as ditas
confirmações . E porque Francisco Gil de Araujo, mora
dor na cidade da Bahia e nella Coronel das Ordenanças
está ajustado em comprar a dita capitania a elle Antonio
Luiz Gonsalves da Camara , por preço de vinte mil
crusados e não se pode faser a dita venda sem licença de
V. A.: e para o que concorrem todas as razões , porquanto
sendo a dita Doação feita ao dito Vasco Fernandes Cou
tinho, para effeito de se povoar a terra de gente e de lu
gares , de haver cultivação e fructificação nella, se logra
este intento com mayor vantagem , sendo capitão e Gover
nador da dita capitania o dito Francisco Gil de Araujo,
por ser muyto rico e ter grande familia de escravos e cria
dos e capaz de fundar muitas Povoações e beneficiar
muytas propriedades com que ficará sendo mais rendosa,
frutifera e povoada ; e nelle concorrem todas as quali
dades necessarias para ser capitão e Governador da dita
capitania, por ser das pessoas mais nobres do Brasil, ser
vir actualmente de coronel e haver feito muytos serviços
a esta coroa nas guerras de Pernambuco . E no tocante a
casa delle Antonio Luiz Gonçalves da Camara e todos
seus descendentes e parentes, fica com utilidade muyto
mayor, porquanto, empregando-se os ditos vinte mil cru
sados, se hão de faser mil crusados de renda, cada anno ;
e a dita capitania não passa de render cem mil réis , e assy
150 LIMITES

concorrendo utilidade, tanto em serviço de V. A., como


na casa delle Antonio Luiz Gonçalves, fica sendo sem du
vida haver V. A. de conceder a dita licença .

Pede a V. A., que havendo consideração a todas as


rasões referidas, lhe faça mercê conceder licença para
poder vender a dita capitania ao dito Francisco Gil de
Araujo, no dito preço de vinte mil crusados , assy e da ma
neira que elle a logra e possue, com todas as clausulas
da sua Doação , ficando os ditos vinte mil crusados na sua.
casa, para succederem nelles seus descendentes e parentes,
como havião de succeder na dita Capitania.
Dando-se vista ao Procurador da Corôa, respondeo
que a primeira prohibição que tem todos os bens da Coroa,
he não se poderem vender nem alhear : e com tudo , se a ca
pitania está tão mal povoada e aproveitada , como o suppli
cante diz, pois não rende mais de cem mil réis, pode fazer
deixação della , nas mãos de V. A. , com algum encargo e
então a poderá V. A. dar ao supplicante ou a quem for
servido, com as condições convenientes para se atalhar
o descuido da povoação daquelle novo Mundo, em que se
não cuida e V. A. ficará melhor servido .
Ao Conselho Parece, que sem embargo do que diz o
Procurador da Corôa, deve V. A. fazer a Antonio Luiz
Gonçalves da Camara Coutinho, a mercê que pede por
duas rasões ; a primeira que visto a diminuição em que
esta capitania se acha, o meyo de seu augmento para que
cresça , assy em povoadores , como em rendimento , he
trespassar- se á pessoa que Antonio Luiz Gonçalves nomea .
por ser esta rica e poderosa , em cujo poder crescerá muyto
esta Capitania, por querer despender nella fasenda em seu
beneficio , e ser pessoa capaz e benemerita e coronel e
dos mais nobres : e a segunda rasão he que tambem elle
pretendente fica melhorado em sua casa , empregando o
valor desta capitania em bens neste Reyno, pois renden
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 151

do-lhe somente cem mil réis, e muytos annos menos , por


estar muy debilitada, terá mayor lucro e V. A. será mais
bem servido, por esta via, sendo Francisco Gil de Araujo
o homem que só poderá com sua industria e fasenda ,
augmentar esta capitania e por seu meyo descobrir as
esmeraldas e Minas que se diz haver naquelles certoens .
Em Lisboa a 19 de Dezembro de 673 -Francisco Ma
lheiro-Feliciano Dourado- Manoel Fernandes Varges.
Declare-se se ao supplicante ou a algu dos antecesso
res, se fes mercê desta Capitania e da obrigação de se po
voar e satisfes a condição. - Lisboa 22 de Mayo de
674.-Principe.

Senhor Declarando-se a Antonio Luiz Gonçalves


da Camara Coutinho a resolução que V. A. foy servido ,
tomar á margem desta consulta, respondeo que o Sr. Rey
D. João 3º. fes mercê a seu tresavô, Vasco Fernandes Cou
tinho, da Capitania do Espirito Santo, de juro e herdade ,
fóra da Ley mental para elle e seus successores e para a
povoar, como constava das Doações que tinha apresen
tado ; e o dito Vasco Fernandes a povoou á sua custa com
despeza de sua fasenda e hoje está povoada e elle Antonio
Luiz Gonçalves da Camara, nomea capitão mór para a
governar, cada tres annos e lhe dão vinte mil crusados para
faser mil crusados de juro . Em Lisboa a 5 de Junho
de 1674.- Conde de Val de Reis- Salvador Corrêa de Sá
e Benavides- Manoel Fernandes Varges.
Concedo ao supplicante a mercê que pede com con
dição de que, constando por algum modo, de que, pela
renuncia Francisco Gil de Araujo lhe dá mais que os vinte
mil crusados, e se deixa de manifestar para se não empre
gar como deve ser, para ter o emprego e natureza da
mesma capitania, ficará essa mercê nulla e a todo o tempo
que se souber, se tirará ao dito Francisco Gil a dita Capi
152 LIMITES

tania, inda que, por sua parte se alegue rezão para que
se deixe de faser, e a proverey em quem for servido, por
não ser justo, que por este modo se haja de ficar preju
dicando aos successores que havião de ter a Capitania e
que hão de succeder no juro que se ha de comprar de toda
a quantia que por elle se dá . Lisboa 21 de Junho de 674.
-Principe.

N. 11

Alvará ( * ) pelo qual o Rei de Por


tugal concedeu a Antonio Luiz Gonçalves
da Camara Coutinho authorisação para
vender a capitania do Espirito Santo a
Francisco Gil de Araujo com todas as
clausulas , condições , etc. da doação feita
a seu ascendente Vasco Fernandes Cou
tinho, isto é, exactamente como a
possuia e lograva até ahi , pelo que se
evidencia não ser exacta a affirmação do
presidente do Espirito Santo no officio
de 28 de Setembro de 1882 , de ter o rei
alterado a doação , fixando pelo rio Mu
cury a divisoria da capitania transferida
a Francisco Gil de Araujo, pois a trans
ferencia se fez com todas as clausulas e
condições da doação primitiva feita a
Vasco Fernandes .
Vide pags. 8 e 22 para cotejo e prova
de que não foi fixada , marcada ou esta
belecida linha ou ponto, tanto para ter
minação da capitania de Porto Seguro
como para começo da capitania do Es
pirito Santo .

COPIA

Eu Principe , como Regente e governador dos reinos


de Portugal e Algarves, faço saber aos que este meu alvará

(*) Original manuscripto pertencente ao Archivo Publico da


Bahia.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 153

virem, que tendo respeito ao que se me representou, por


parte de Antonio Luiz Gonsalves da Camara Coutinho ,
Donatario da Capitania do Espirito Santo, no Estado do
Brazil , e mensão das causas que o obrigarão a se desfazer
do senhorio da dita capitania , e lhe não poder acodir com o
beneficio necessario, por cuja causa se hia perdendo , e lhe
não chegava a render cem mil réis cada ano, e querer em
pregar os vinte mil crusados que por ella dava Francisco
Gil de Araujo, morador na Bahia de todos os Santos , para
os empregar em juro neste Reyno, que fique na sua casa
e nos descendentes della e visto o que allega e o que sobre
isso responde o Procurador da Corôa, aquem se deu vista,
Hei por bem de conceder ao dito Antonio Luiz Gonsalves
da Camara Coutinho, a licença que pede, para poder re
nunciar a dita capitania do Espirito Santo no dito Fran
cisco Gil de Araujo , pelo dito preço de vinte mil crusados.
para que a logre, tenha e possua , asy e da maneira que elle
a logra e possue, com todas as clausulas da sua doação, fi
cando os ditos vinte mil crusados na sua casa para succe
derem nelles seus descendentes e parentes, asy, como
ouverão de succeder na dita capitania, com condição de
que constando por algú modo que pela dita renuncia lhe
dá o dito Francisco Gil de Araujo mais do que os ditos
vinte mil crusados e se deixou de manifestar para se não
empregar, como deve ser, para ter o emprego a natureza
da mesma capitania, ficará a dita mercê nulla e a todo
tempo que se souber, se tirará ao dito Francisco Gil de
Araujo a dita capitania, ainda que por sua parte se alegue
rasão para que se deixe de fazer, e a proverey em quem for
servido, por não ser justo que por esse modo se haja de
ficar prejudicando aos successores que havião de ter a dita
capitania e que hão de succeder no juro que se ha de com
prar de toda quantia que por ella se dá ; Pello que mando
ao Presidente e conselheiros do meu conselho ultrama
I, 20
154 LIMITES

rino, que apresentando-lhe o dito Francisco Gil de Araujo


instrumento publico justificado, porque consta renunciar
nelle o dito Antonio Luiz Gonsalves da Camara Couti
nho a dita Capitania do Espirito Santo, lhe fação passar
Carta de doação della na conformidade em que elle a tem,
Antonio Luiz Gonsalves da Camara para que a logre, e pos
sua na mesma forma em que o dito Antonio Luiz Gonsal
ves da Camara Coutinho a logra e possue , na qual carta se
transladará este alvará que se cumprirámuito inteira
mente como nelle se contem sem duvida algua e valerá
como Carta sem embargo da ordenação do Livro segundo e
titulo quarenta em contrario ; e do conteudo nelle se farão
verbos nos registros da carta de doação que o dito Anto
nio Luiz Gonsalves da Camara Coutinho tem na Capitania
do Espirito Santo ; e pagou de novo direito cento e sessenta
mil réis que se carregarão ao thesoureiro João da Rocha a
folhas setenta e cinco , verço do livro de sua receita ; esta
se passou por duas vias e huã só haverá effeito. Paschoal
de Azevedo o fez em Lisboa a seis de Julho de seiscentos e
setenta e quatro .-O secretario Manoel Barretto de São
Payo o fez escrever. -Principe.
Hey por bem que o alvará acima e atraz escripto , se
cumpra inteiramente como nelle se contem, sem embargo
de se não declarar nelle que a quantia porque Antonio
Luiz Gonsalves da Camara Coutinho ha de faser a renun
cia da sua capitania do Espirito Santo , em Francisco Gil
de Araujo , he de quarenta mil crusados e não dos vinte ,
como no dito alvará se declara , e o deposito delle será
na mão da pessoa que apontar o dito Antonio Luiz Gon
salves da Camara Coutinho , obrigando elle seus bens ao
damno que nelle ouver, antes de se faser o emprego e pa
gando primeiro os direitos que mais dever pela mayoria
do preço da dita renuncia, e encarregando- se ao Provedor
das Capellas o cuidado do emprego do dito dinheiro ; e esta
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 155

apostilla valerá como carta sem embargo da ordenação do


livro segundo e titulo 40 em contrario . E pagou de novo
direito cento e sessenta mil réis que se carregarão ao the
soureiro João da Rocha a folhas cento e quarenta e tres—
Paschoal de Azevedo a fez em Lisboa ao primeiro de
Outubro de seiscentos e setenta e quatro. O secretario
Manoel Barreto de São Payo a fiz escrever.-Principe.
Na apostilla ... .... Conde de Val de Reys .
Alvará porque V. A. faz mercê a Antonio Luiz Gon
salves da Camara Coutinho de lhe conceder licença para.
que possa renunciar a sua capitania do Espirito Santo, de
que he Donatario, em Francisco Gil de Araujo, por preço
de vinte mil crusados para que a logre tenha e possua assy
e da maneira que elle a logra e possue com todas as Clau
sulas da sua doação e com as condições acima referidas,
como neste se declara que vay por duas vias .
1ª . via Por resolução de S. A .de 21 de Junho de 674,
e do Conselho Ultramarino, de 19 de Dezembro de 673.
Francisco Malheiro.
Seguem-se os registros e assentamentos .

N. 12

Petição (* ) que prova ter Francisco


Gil de Araujo comprado a Capitania do
Espirito Santo como a tiveram Vasco
Fernandese seus descendentes e não com
alteração de se lhe marcar ao Norte por
divisa o rio Mucury, como erradamence
affirmou o presidente do Espirito Santo
em 1882.

Senhor- Diz Francisco Gil de Araujo que pela sen


tença de justificação ( ** ) junta que offerece, consta per

(* ) Original manuscripto pertencente ao Archivo Publico


da Bahia.- N. do auctor.
( ** ) Esta sentença se acha em original manuscripto no Ar
chivo Publico da Bahia.- N . do auctor.
156 LIMITES

tencer-lhe a Capitania mór do Espirito Santo , pela haver


renunciado nelle Antonio Luiz Coutinho Gonsalves da
Camara, pelo que pede a V. A. lhe faça mercê mandar -lhe
passar carta de doação a elle supplicante
E. R. Mercê.
Haja vista o Procurador da Corôa. Lisboa 6 de Fe
vereiro de 675.-J. Nobrega .
Vay assignada a sentença .
Pagando o supplicante os direitos devidos e tratando
da povoação da Capitania, que foi a causa final , destas
mercês, como o Sr. Rey D. Sebastião julgou, mandando
meter cada anno por conta dos donatarios , tantos casaes
fiat justitia .-Lisboa 23 de Janeiro de 1675. (Signal do
fnuccionario informante ) . Ao Conselho para que V. A.
mande passar a Francisco Gil de Araujo, os despachos.
necessarios desta capitania e que não tendo ella os cem ca
saes lhos prefaça pelo tempo de sinco annos, do dia em que
tomar posse e que desta maneira pagará os direitos de
vidos. Lisboa 13 de Fevereiro de 1675. -Nobrega . Foi
voto o Sr. Feliciano Dourado.

N. 13

Parecer do Conselho Ultramarino e


despacho do rei authorisando a tranfe
rencia da Capitania do Espirito Santo
de Antonio Coutinho para Francisco Gil
de Araujo pelo qual se vê não ter sido
alterada a doação, nem lhe haver sido
marcada divisa ao Norte pelo rio Mucury,
donde se collige não ser verdadeira a
allegação feita pelo presidente do Espi
rito Santo no officio de Setembro de 1882.

(*) Francisco Gil de Araujo fez petição a V. A. neste


Conselho em que diz que pela sentença de justificação,

Original manuscripto pertencente ao Archivo Publice


da Bahia.-N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 157

que apresentou, consta pertencer-lhe a Capitania do Espi


rito Santo, por lha ver renunciado, pella faculdade que
para isso tinha, Antonio Luiz Gonçalves da Camara Cou
tinho. Pede a V. A. lhe faça mercê mandar-lhe passar
carta de Doação da dita Capitania do Espirito Santo .
Com a petição referida presentou o supplicante a sentença
de que fas menção e hu alvará com hua postilla, tudo
assinado por V. A. e licença a Antonio Luiz Gonçalves da
Camara para poder renunciar a dita capitania no dito
Francisco Gil de Araujo , por preço de quarenta mil cru
sados , para que a logre e possua, asy e da maneira que a
lograva o dito Antonio Luiz Gonsalves, com todas as
clausulas da sua doação. E dando-se vista ao Procurador ·
da Coroa respondeu , que pagando o Supplicante os direi
tos devidos e tratando da povoação da dita capitania que
foi a causa final destas mercês , como o Sr. Rey dom Se
bastião julgou, mandando meter cada ano por conta dos
Donatarios tantos casaes, se fisesse justiça.
Ao Conselho parece que V. A. deve ser servido man
dar passar a Francisco Gil de Araujo os despachos ne
cessarios da dita Capitania do Espirito Santo e que não
tendo ella os cem casaes, lhos prefaça por tempo de cinco
anos do dia que tomar posse da mesma capitania e que
desta mercê pagará os direitos que dever. Em Lisboa a
II de Fevereiro de 675.- Salvador Correa de Sá e Bena
vides -Francisco Malheiro- Ruy Telles de Menezes- Fe
liciano Dourado .
Como parece- Savaterra de Magos BV de Fevereiro
de 675.- Principt.
158 LIMITES

N. 14

Extracto do Roteiro de Pedro Barbosa


Leal (* ) que demonstra haver engano na
affirmação feita pelo presidente do Es
pirito Santo de haver sido fixada no rio
Mucury a divisoria desta capitania com
a de Porto Seguro quando foi aquella
transferida a Francisco Gil de Araujo,
porque sempre foi o rio Doce a linha de
separação das referidas capitanias.

"Da Bahia 92 legoas se acha o ryo Doce que desagoa


no mar, em altura de 19 gráos , tendo seu principio e nasci
mento muito pelo certão dentro onde se achão situadas as
minas geraes de varias vertentes das suas serranias e
manão e se formão varios ribeyros que juntando- se huns
com outros dão principio ao grande ryo Doce e fasem
copiosas suas agoas.
"Todo o continente que vay da Bahia até o rio Doce,
pella costa do mar, se acha povoado com as villas do
Cayrú, villa de Boipeba, villa de Camamú, villa de S. Jorge
dos Ilhéos que são da capitania do Almirante de Portugal,
pella tenção que fez o Senhor Rey D. João 3º de 50 legoas
por costa a Jorge de Figueiredo Correa , que chegão ao Ryo
Grande em cuja barra ha huã povoação.
Entre o porto de Santa Cruz e a villa de Santa Cruz,
e a villa de Porto Seguro , que tambem se deu em capi
tanya, naquelle tempo e depois se tornou á coroa.
Na barra do ryo de S. Matheus que se segue logo ha

(*) Este documento se acha no Rio de Janeiro, no Instituto


Historico e Geographico Brasileiro, ao qual foi vendido ou dado.
Tratando-se de um documento official endereçado ao Go
verno da Bahia, devia ter feito parte do Archivo da Secretaria do
Governo e como não foi mandado por autoridade acredito ter
sido um dos numerosos documentos daqui subtrahidos em diversas
epochas e por diversos individuos.
Não parece tambem ter sido elle levado por ordem do Go
verno Geral, porque, nesta hypothese, devia estar no Archivo Pu
blico Nacional ou na Bibliotheca Nacional. -Nota do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 159

dous ou tres moradores que alli se forão refugiar por não


serem presos por seos delictos ; na barra do ryo das Cara
vellas estão algus moradores a quem se deram alguas
Sesmarias pelo Governador Geral da Bahya, e não se es
tendem para o certam pellos assaltar o gentio quotidiana
mente na mesma povoação que tem principalmente na
quella barra, e na do ryo Doce não ha povoação alguă.
Todas estas povoaçoens se não estendem para o cer
tão mais do que duas athe tres leguas o mais , assim porque
a pobresa dos seus habitadores lhe não permittio mais.
extensão de lavouras, como por estarem todas as mattas
de que se compõem a Raiz dos seus certoens habitadas de
varias nascoens de Gentio brabo .
Pella parte do certão se acha o mesmo continente
povoado com as minas da Tucambira, Cerro do Frio e
Minas Geraes ao redor das quaes e por entre ellas se achão
povoados muitos Curraes de Gado .

Depois que o Governador deste Estado Mem de Sá


destruio por esta costa athe a capitania do Espirito Santo ,
mais de 300 aldeas se não tornou a faser guerra aquelles
barbaros e assim ficarão vivendo pellas mattas que se avi
sinhão a costa do mar e pellos seus certõens ; pella parte
do certão forão conquistando os Paulistas.
Em todo o cumprimento que vay de 13 gráos em que
se acha a Bahya athe os 19 gráos em que está o ryo Doce,
com largura de 40 leguas ou 50 que tantas hão de mediar
huas e outras povoaçõens, as da costa do mar e as do cer
tão ás minas ".
Este roteiro de Pedro Barbosa Leal é datado da Bahia
de 11 de Julho de 1725.
160 LIMITES

N. 15

Extractos do volume manuscripto


n. 2544 da Bibliotheca Nacional (* ) pelo
qual se evidencia que até o fim do pe
riodo colenial foi sempre o rio Doce a
liuha divisoria entre as capitanias de
Porto Seguro e Espirito Santo.

Diz, depois de descrever São José de Porto Ale


gre' etc.

"Na distancia de 14 leguas ao sul da barra do rio


S. Matheus, fica aquella do rio Doce cujo territorio he
despovoado, por causa do gentio ".
Falla depois da grande e violenta corrente , das tenta
tivas que se tem feito para abrir por alli uma estrada para
Minas e dos destacamentos alli estabelecidos. .
Falla em seguida dos esforços que julga improficuos
para faser navegar o rio Doce, trata da grande lagoa Gi
paraná, do ouro e outros mineraes desta zona e conta de

(*) Este n. 2544 é um precioso manuscripto que existe na


Bibliotheca Nacional onde entrou , fasendo parte da collecção José
Carlos Rodrigues, doada ha poucos annos á Bibliotheca pelo
Sr. Ottoni.
Este manuscripto é uma interessantissima descripção geogra
phica e politica, especialmente da Bahia.
Foi feita por Luiz dos Santos Vilhena que a offereceu em
1802, ao principe D. João, mais tarde D. João VI. Tem a seguinte
indicação- Feita e ordenada para serem elementos na parte que
convier para a Historia Brasileira.
Segundo o uso dos escriptores da Arcadia, o trabalho é diri
gido a Filogono por Amador Verissimo de Aleteya. Pertenceu a
D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, parecendo que
o principe foi quem offereceu o manuscripto a este Conde, um dos
seus mais illustres ministros .
O manuscripto foi vendido em Lisboa por cem mil réis, moeda
forte.
O embaixador brasileiro Assis Brasil offereceu por elle, se
gundo consta, quatrocentos mil réis, moeda forte.
Informaram-me ter sido comprado em Portugal, pelo Sr. José
Carlos Rodrigues, pelo preço de cem libras esterlinas.
O Governo da Bahia trata de adquirir uma copia deste im
portante manuscripto .- Nota do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 161

pois que D. Rodrigo José de Menezes, quando governador


das Minas Geraes, se arriscou a lá ir, etc.
Diz em seguida " Perto da barra do rio Doce sae um
riacho chamado Maricucu , que vae circulando as mattas
até o rio S. Matheus , duas leguas abaixo da villa , onde do
rio Doce se pode ir em canoas . "Não se frequenta, porem
esta viagem por causa do gentio ".
"Na margem do norte deste rio , finalisa a comarca
de Porto Seguro, de que acabo de fallar " .
"Na margem porem do sul começa a capitania do
Espirito Santo e ahi se acha um destacamento de tropa de
linha, posto pelo governador da mesma, em virtude das
ordens do vice- rey do Estado, para obviar o extravio de
ouro das Minas por alli".

N. 16

Diversos alvarás de sesmarias que pro


vam , assim como Roteiro de Barbosa Leal
e a Descripção de Vilhena , etc., ( *) ser
por todos considerado, tanto depois de pas
sar a capitania do Espirito Santo a Fran
cisco Gil de Araujo , como antes disso, o ter
ritorio até o rio Doce parte integrante da
capitania de Porto Seguro , do que se de
duz laborar em erro o Governo do referido
Estado quando disse que por occasião
de ser transferida a capitania para Fran
cisco Gil lhe fôra dada a raia do Mucury.

Alvará de sesmaria concedida ao Ajudante Joseph Vieira


para elle e seus descendentes no Rio de S. Matheus .
Vasco Fernandes Cesar de Menezes , do Conselho de
S. Magestade, que Deos guarde, Alferes mór do Reyno,
Alcayde mór da Villa de Alemquer, commandante da Or
dem de Christo e das commendas de São Pedro de Tho

( *) Vide os documentos ns. 2 , 3 , 14 e 15 .


L 21
162 LIMITES

mar, e São João do RyoFrio, Vice-Rey- e Capitão General


do Estado do Brasil , etc., faço aos que este Alvará de ses
maria virem, que tendo respeito a se me representar a pe
tição, cujo theor é o seguinte : Exmo . Sr. Diz o Ajudante
Joseph Vieira, que no Rio de S. Matheus, povoado ha
poucos annos, ha muitas terras devolutas que nunca forão
dadas de sesmaria e que o supplicante tem fabrica com que
pode cultivar e aproveitar hua data de terra e a fasenda de
S. Magestade que Deus guarde pellos dizimos que lhe
accrescem, tem conveniencia em aproveitarem-se as terras :
Pede a V. Exa. a mercê mandar, em nome de S. Mages
tade, dar hua legoa de terra naquelle rio da parte do Sul ,
começando a demarcarce adonde acaba a data de Felix de
Lemos, correndo pelo dito Ryo acima . E. R. Mercê. E
visto o que sobre este requerimento respondeo o Desem
bargador Procurador da Fasenda e Corôa a que se deo
vista que he o seguinte :: Não tenho duvida se defira ao
supplicante, conforme as ordens de S. Magestade : Signal
Publico do Procurador da Corôa e Fasenda o Desembar
gador Pedro de Freitas Tavares Pinto .
E o que informou o Desembargador Provedor-mór
da Fasenda deste Estado que he o que se segue :
Exmo . Sr. Segundo a informação do Escrivão da
fasenda real e reposta do Desembargador Procu
rador da Corôa, se deve deferir o supplicante com
a sesmaria que pede.- Bahya vinte e seis de Novembro de
mil setecentos e vinte sette . Bernardo de Souza Estrella .
Hey por bem de conceder e dar de sesmaria em nome de
S. Magestade que Deus guarde ao dito ajudante Joseph
Vieira, para elle e seus descendentes hua legoa de terra de
largo e tres de comprimento, no Rio de S. Matheus , da
parte do sul, assim como aqui confronta em sua petição
nesta inserta, não prejudicando a terceiro e com as clausu
las contheudas na Ordenação do Regimento das sesmarias ;
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 163

e se começará a demarcar adonde acaba a data de Felix de


Lemos, correndo pello dito Rio acima , com declaração que
não ficará o supplicante feito senhor das minas de qual
quer genero de metal, que nas ditas terras houver, as quaes
terras terá e possuirá com todas as suas agoas, campos,
mattas, testadas, logradouros e mais uteis que nellas exis
tirem , tudo fôrro livre e isento de fôro , tributo ou penção
alguă, salvo os Disimos á ordem de Christo que pagará dos
frutos que nelles ouver ; e ainda que com algum tempo
passe o dominio e posse das ditas terras a algua religião da
qual não será isenta, antes o pagará como se foram pos
suhidas de leigos e as aproveitarão dentro dos termos da
ley, e antes disso elle as não poderá passar a outro algum
dominio sem as ter aproveitado nem o poderão faser sem
expressa ordem de S. Magestade que Deus guarde, pena
de se dar nesse caso a outra pessoa, e por ella será obrigado
a dar caminho publicos e particulares para os Rios, fontes,
portos, pontes e pedreiras, com declaração que havendo
nas ditas terras algua aldeia de Indios não ficará sendo Se
nhor dellas , nem das terras que os ditos Indios occuparem,
e o dito ajudante Joseph Vieira, será obrigado a mandar
confirmar por S. Magestade esta sesmaria dentro em hu
anno, seguinte a data della, na forma das novas ordens do
ditto Senhor. Pello que ordeno aos ministros, e officiaes da
justiça a cujo conhecimento esta pertencer, que fasendo o
supplicante citar primeiro os hereos confinantes das ditas
terras, lhe deem e façam dar posse real , effectiva, e actual,
demarcandoce ao mesmo tempo , de que enviará certidão á
casa da fasenda Real , aonde se registará ; para firmesa do
que mandey passar o presente, sob meu signal e sello de
minhas armas , o qual se registará nos livros da secretaria
deste Estado , fasenda Real delle e nos mais a que tocar ; e
se goardará e cumprirá tão pontual e inteyramente como
nelle se contem, sem duvida , embargo, nem contradição
164 LIMITES

algua. João de Souza de Mattos o fez nesta cidade do Sal


vador, Bahia de Todos os Santos , em os vinte nove dias do
mez de Novembro , anno de mil settecentos e vinte e sette .
Domindos Luiz Moreyra, o fez escrever. -Vasco Fernan
des Cesar de Menezes. Alvará porque V .Exa . houve por
bem conceder e dar de sesmaria, em nome de S. Magestade
que Deus guarde ao ajudante Joseph, Vieira para elle e
seus descendentes hua legoa de terra de largo e tres de
comprido, no Rio de S. Matheus, da parte do Sul, assim
como a pede e confronta em sua petição neste inserta , não
prejudicando a terceiro, com as mais clausulas do estillo e
o de não ficar senhor das Minas de qualquer genero de
Metal, que nas ditas terras ouver, pellos requisitos asima
declarados. Para V. Exa . ver.

(Archivo Publico da Bahia , livro das Sesmarias pag.


70 verso ) .

Alvará de sesmaria concedido a Joseph Moreira ; e do


mesmo theor passarão hum ao capitão Pedro Moreira
Barretto de Vas Campos , e outro a Paulo de Moura
da Costa, feitos todos pello official João de Sousa de
Mattos, o segundo onde acabou o primeiro e o terceiro
onde acabou o segundo , correndo pelo Ryo asima de
S. Matheus .
Vasco Fernandes Cesar de Menezes , do Conselho de
S. Magestade que Deus guarde, Alferes mór do Reyno ,
Governador e Capitão Geral de Mar e Terra, do Estado do
Brasil, etc. Faço saber aos que este Alvará de sismaria vi
rem, que tendo respeito a se me representar a petição, cujo
theor he o seguinte : Exmo . Senhor Diz Joseph Moreira , o
Capitão Pedro Moniz Barretto de Vasconcellos e Paulo de
Moura da Costa , que no Ryo de S. Matheus novamente
descoberto se achão muitas terras devolutas que nunca fo
rão aproveitadas nem dadas de sesmaria, porque os suppli
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 165

cantes querem datas dellas e a fasenda de S. Magestade


que Deus guarde, tem interesse em se cultivarem e apro
veitarem as ditas terras. Pedem a V. Exa. lhe faça mercê
mandar dar a cada hum dos supplicantes hua legoa de
terra de largo e tres de comprido, na forma das ordens de
S. Magestade pelo dito rio asima. E visto o que sobre este
requerimento informou o Desembargador Procurador da
·Coroa e Fasenda. -Não tenho duvida que se defira aos
supplicante na forma das Reaes ordens de S. Magestade :
Rubrica do Desembargador da Corôa e fasenda e do Des
embargador Provedor mór da fasenda a que se deo vista
que he o seguinte : Exmo . Sr. O requerimento dos suppli
cantes está em termos de ser deferido . Bahya quinse de De
sembro de mil settecentos e vinte e nove. Hey por bem, em
nome de S. Magestade que Deos guarde , conceder e dar de
sesmaria a Joseph Moreira, para si e seus descendentes hua
legoa de terra de largo e tres de comprido , no Ryo de S.
Matheus , da parte do norte, assim como a pede e con
fronta na petição neste inserta não prejudicando a ter
ceyro e as mais clausulas contheudas na ordenação do
Reyno no tt das sesmarias e se começará a demarcar
onde acabarem as concedidas a Simão de Sousa , correndo
pelo dito Ryo asima com a declaração que não ficará o
supplicante sendo senhor das Minas de qualquer especie
de metal que nas ditas terras ouver, as quaes terras terá
e possuirá com todas as suas agoas, mattas, pastos, cam
pos , testadas, logradouros e mais uteis que nellas ouver,
tudo fôrro, livre, isento de fôro,tributo ou pensão algua,
salvo disimo a ordem de Christo que pagará dos fructos
que nellas ouver, ainda que em algum tempo passe o do
minio e posse dellas a outra pessoa , o que se não poderá
faser sem expressa ordem de S. Magestade para se darem
nesse caso a outrem e por ellas será obrigado a dar cami
nhos publicos e particulares para os Ryos, fontes, portos e
166 . LIMITES

pontes e pedreyras ; com condição de não succeder por


nenhú titulo nas ditas terras Religião algua e acontecendo
e ellas possuhindo-as será com encargo de ellas deverem
e pagarem Disimo como se fossem possuidas por particu
lares e faltando isso , pena de se darem por devolutas e se
darem a quem as denunciar ; com declaração que havendo ,
nas ditas terras , algua Aldeya de Indios , não ficará sendo
senhor della, nem das terras que os ditos Indios occupa
rem e o dito capitão Pedro Moniz Barretto de Vas Campos
será obrigado a mandar confirmar por S. Magestade esta
sesmaria dentro de hum anno seguinte a data della, na
forma das novas ordens do ditto senhor, pelo que hordeno
aos ministros e officiaes de justiça a que tocar o conhe
cimento desta fação o supplicante citar primeiro os he
reos confinantes das dittas terras e lhe deem posse real,
effectiva e actual, demarcandoce ao mesmo tempo de que
enviará certidão a casa da fasenda real aonde se registará ;
para firmesa do que mandei passar o presente, sob meu
signal e sello de minhas armas, o qual se registará nos li
vros da fasenda real, nos da secretaria do governo deste
Estado e fasenda real delle e nos do escrivão das sesmarias
desta cidade e nos mais a que tocar e se goardará e cum
prirá tão pontual e inteyramente como nelle se contem , sem
duvida, embargo , nem contradição alguma . João de Sousa
tão pontual e inteyramente como nelle se contem, sem du
vida, embargo , nem contradicção alguma . João de Sousa
de Mattos o fez nesta cidade do Salvador, Bahya de Todos
os Santos, em os nove dias do mez de Dezembro , anno de
mil settecentos e vinte sette. Domingos Luiz Moreyra a fez
escrever.-Vasco Fernandes Cesar de Menezes . Alvará por
que V. Exa . teve por bem conceder em nome de S. Mages
tade que Deos guarde, a Joseph Moreira para elle e seus.
descendentes de hua legua de largo e tres de comprido de
terras, na margem do rio S. Matheus , da parte do Norte..
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 167

assim como a pede, confronta e demarca em sua petição


neste inserta, não prejudicando a terceyro com as mais
clausulas do estylo com a declaração de não ficar senhor
das Minas de qualquer genero de Metal , que nas ditas ter
ras ouver pelos requisitos asima declarados. -Para V. Exa .
ver.
(Arch. Publ. da Bahia, livro das sesmarias ) .

Alvará de sesmaria concedida ao Thenente General Anto


nio Ferrão Castel Branco, e do mesmo theor duas a
Pedro de Paula Castel Branco e Dona Anna Joaquina
Castel Branco , todos feitos pelo mesmo official e no
mesmo dia, no Ryo de S. Matheus .
Vasco Fernandes Cesar Menezes , do Concelho de
S. Magestade, Alferes mór do Reyno, Vice Rey e capitão
General de mar e terra do Estado do Brasil , faço saber dos
que este Alvará de sesmaria virem, que he o segiunte :
Exmo. Sr. Diz o Thenente General Antonio Ferrão Castel
Branco, Dona Anna Joaquina Castel Branco e Pedro de
Paulo Castel Branco, que á sua noticia veyo que no Rio de
S. Matheus da parte do norte donde chamão os Oiteiri
nhos, se achão terras devolutas que ainda não se derão de
sesmaria e porque os supplicantes querem hua data dellas,
e a fasenda de S. Magestade que Deus guarde, tem inte
resse em se cultivarem e aproveitarem as terras. Pedem a
V. Exa. lhe faça mercê mandar dar a cada hum dos suppli
cantes hua legoa de terra de largo e tres de comprido , na
forma das ordens de S. Magestade, começando a demar
carce donde acaba a data de Simão de Sousa, correndo pelo
dito Ryo de São Matheus abaixo . E. R. Mercê-E visto o
que sobre este requerimento respondeo o Desembargador
Procurador da Corôa e fasenda a que se deu vista , que he o
seguinte :-Não tenho duvida se defira ao supplicante na
forma das ordens de S. Magestade que Deus guarde. Ru
168 LIMITES

brica do Sr. Procurador da Coroa e fasenda o Desembar


gador Pedro de Freitas Tavares Pinto . E o que informou
o Desembargador Provedor mór da fasenda real deste Es
tado que he o seguinte . Exmo . Sr. Não tendo duvida, o
Desembargador Procurador da fasenda real, defira - se aos
supplicantes , segundo as ordens dé que informa o Prove
dor da mesma fasenda , pelo que estão em termos . Bahia
desenove de Deseembro de mil settecentos e vinte e sette.
Bernardo de Sousa Estrella . - Hey por bem conceder e dar
de sesmaria em nome de S. Magestade que Deus guarde
ao dito Thenente General Antonio Ferrão de Castel Branco
para elle e seus descendentes hua legua de terra de largo
e tres de comprido, no Rio de São Matheus pela parte do
Norte, onde chamão os Oiteirinhos, assimcomo pede e con
fronta em sua petição neste inserta, não prejudicando a
terceyro e as mais clausulas contheudas na Ordenação do
Reyno, tt das sesmarias e se começará a demarcar donde
acaba a data de Simão de Sousa , correndo pelo dito Rio
de São Matheus abaixo com declaração que não ficará o
supplicante senhor das Minas de qualquer genero de metal,
que nas ditas terras ouver, as quaes terras terá e possuirá
com as suas agoas, campos , matos , tetadas , logradouros e
mais uteis que nellas ouverem, tudo fôrro , livre, isento de
fôro, tributo ou penção algua, salvo disimo a Ordem de
Christo, que pagará dos fructos que nellas ouver ; e ainda
que nalgum tempo passe o dominio e posse dellas a outra
pessoa, o que se não poderá faser sem ordem expressa de
S. Magestade , pena de darem nesse caso a outrem ; e por
ellas será obrigado a dar caminhos publicos e particulares
para Rios, fontes , pontes, portos e pedreiras , com condição
de não suceder por nenhu titulo nas ditas terras Religião
algua ; e acontecendo e ellas possuindo-as, será com o en
cargo de d'ellas darem e pagarem Disimos como se fossem
possuidas por particulares e faltandose a isso, pena de se
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 169

haver por de
volutas e se darem a quem as denunciar ; com
declaração que havendo nas ditas terras aldeas de Indios ,
não ficará sendo senhor dellas nem das terras que os ditos
Indios occuparem o ditto Thenente General Antonio Fer
rão Castel Branco E será obrigado a mandar confirmar
por S. Magestade esta sesmaria , dentro de hu anno se
guinte a data della , na forma das ordens do dito Senhor.
Pelo que ordeno aos ministros e officiaes de justiça a que
o conhecimento desta pertencer , que fasendo o supplicante
citar primeiro aos hereos confinantes das ditas terras , lhe
deem fação e dar posse real , effectiva e actual , demarcan
doce logo ao mesmo tempo do que enviará certidão á casa
da fasenda real , donde se registará . Para firmesa do que
mandey passar a presente , sob meu signal e sello de minhas
armas , o que se registará nos livros da secretaria do Estado ,
fasenda real delle e nos do Escrivão das sesmarias desta
cidade , e nos mais a que tocar ; e se cumprirá , tão pontual
e inteiramente como nelle se contem , sem duvida , embargo
nem contradição algua . João de Sousa de Mattos a fez
nesta do Salvador , Bahia de Todos os Santos , em os sete
dias do mez de Abril , anno de mil settecentos e vinte e oito .
Dr. Luiz Moreira o fiz escrever .-Vasco Fernandes Cesar
de Menezes . Alvará porque V. Exa . teve por bem conce
der de sesmaria em nome de S. Magestade que Deus
guarde ao Thenente General Antonio Ferrão Castel
Branco , para elles e seus descendentes hua legoa de terra
de largo e tres de comprido neste Rio de S. Matheus , da
parte do Norte onde chamão os Oiteirinhos ; assim como
a pede , e confronta em sua petição neste incerta , não pre
judicando a terceyro , com as mais clausulas de estillo e a
de não ficar sendo senhor das minas de qualquer genero de
metal que nas ditas terras ouver , pelos respeitos acima de
clarados . Para V. Exa . ver .
(Arch. Publ . da Bahia, livro das sesmarias ) .
I, 22
170 LIMITES

Alvará de sesmaria concedido a Eleuterio de Mattos Vieira


em S. Matheus .

André de Mello e Castro, Conde das Galvêas, do Con


selho de S. Magestade, Commendador das Comendas de
São Thiago de Lanhoso, de Sancta Maria da Pena, da
Ordem de Christo , Capitão General de mar e terra do Es
tado do Brasil , etc : Faço saber aos que este Alvará virem,
que tendo respeito a se me apresentar a petição , cujo theor
he o seguinte : Exmo. Sr. Diz Eleuterio de Mattos Vieira,
que no Ryo de S. Matheus se achão muitas terras devolu
tas que nunca forão aproveitadas, nem dadas de sesmaria ;
e porque o supplicante deseja hua data de terra naquelle
Ryo, o que sem duvida resulta em interesse da fasenda real,
pelos disifos que se lhe acrescem : Pello que pede a V. Exa.
The faça mercê conceder e dar de sesmaria hua legoa de
terra do dito Ryo, para a parte do norte , começando a de
marcar donde acaba a data de Paulo de Moura , da costa
correndo pello referido Ryo acima. E. R. Mercê. e visto
o que sobre este requerimento responde o Desembargador
Provedor da Corôa e fasenda real , a que se deu vista, que
he o seguinte. Não tenho duvida, na consecção pedida não
encontrando as ordens de S. Magestade, nem prejudicando
a terceiro . Rubrica do Desembargador Procurador da
Coroa ; e o que informou o Provedor mór da fasenda real,
que he o seguinte. -Exmo . Sr. Não se me offerece duvida.
a que se dê ao supplicante de sesmaria a legoa de terra que
pede, estando devoluta e não prejudicando a terceiro,
sendo-lhe concedida com todas as condições espressas na
ultimas ordens de S. Magestade expedidas sobre esta ma
teria. Bahia sette de Novembro de mil settecentos e trinta
e sinco . Luiz Lopes Pegado Serpa .-Hey por bem, de con
ceder e dar de sesmaria , em nome de S. Magestade a Eleu
terio de Matos Vieira, para elle e seus descendentes hua
legoa de terra de largo e tres de comprido no Ryo de São
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 171

Matheus da parte do Norte como a pede e confronta em


sua petição, começando a demarcar aonde acaba a de Paulo
de Moura, correndo pello dito Ryo asima, não prejudi
cando a terceiro, na forma das ordens de S. Magestade e
com as clausulas contheudas na ordenação , titulo 10 das
sesmarias, com declaração que não ficará o supplicante
sendo senhor das minas de qualquer genero de metal , que
nas ditas terras ouver, as quaes terá e possuirá com todas
as suas agoas, campos, mattos, testadas, logradouros e
mais uteis que nellas ouver, tudo fôrro , livre , e isento de
fôro, tributo, ou pensão algua, salvo o Disimo da ordem de
Christo , que pagará dos fructos que nellas ouver, e as
aproveitará dentro do termo da ley e antes disso não o po
derá faser sem ordem expressa de S. Magestade, pena de
se darem nesse caso a outrem e por ellas será obrigado a
dar caminhos publicos e particulares para ryos, fontes ,
portos epedreiras, com condição de não succeder por nenhu
titulo, nas ditas terras religião algua ; e acontecendo e ellas
possuindo-as, será com o encargo de dellas se deverem e
pagarem Disimos, como se fossem fossuhidas por secula
res e faltando a isto se haverão por devolutas e se da
rão a quem as denunciar ; e havendo nas ditas terras algua
Aldea de Indios, não será senhor della ; e será obrigado a
mandar confirmar por S. Magesade esta sesmaria dentro
de hú anno seguinte a data della na forma das ordens do
dito Senhor. Pello que ordeno aos Ministros e officiaes de
justiça, a que o conhecimento desta pertencer, que fasendo
o supplicante citar primeiro aos hereos confinantes das
ditas terras , lhe deem e fação dar a posse real , effectiva , e
actual, demarcandoce logo ao mesmo tempo, de que en
viará certidão á casa da fasenda real onde se registará .
Para firmesa do que mandey passar o presente sob meu
signal e sello das minhas armas, o qual se registará nos
livros da Secretaria do Estado , fasenda real delle e nos do
172 LIMITES

Escrivão das sesmarias desta cidade a que tocar. Francisco


Lopes o fez nesta cidade do Salvador, Bahia de Todos os
Santos e aos des dias do mez de Novembro anno de mil
settecentos e trinta e cinco . Domingos Luiz Moreira o fez
escrever.-Conde das Galvêas. Alvará porque V. Exa . teve
por bem conceder e dar de sesmaria em nome de S. Mages
tade a Eleuterio de Matos Vieira, para elle e seus descen
dentes hua legua de terra de largo e tres de comprido no
Ryo de S. Matheus, da parte do Norte, começando- se a
demarcar onde acaba a data de Paulo de Moura da Costa
e correndo pello dito Ryo asima como pede e confronta em
sua petição, não prejudicando a terceiro, na forma das
ordens de S. Magestade com as clausulas e pellos respeitos
asima declarados . Para V. Exa. ver.
(Arch. Publ. da Bahia, livro das sesmarias ) .

Alvará de sesmaria concedido a José da Rocha Cardoso.


Dom Luiz Peregrino de Carvalho e Menezes , e
Athaide, Conde de Athouguia, do Conselho de S. Mages
tade, Vice-Rey e Capitão General de Mar e Terra do Es
tado do Brazil etc. Faço saber, aos que este Alvará virem
que tendo respeito a se me representar a petição , cujo
theor é o seguinte : Exmo . e Illmo . Sr. Diz José da Rocha
Cardoso, morador no Rio de S. Matheus , districto da villa
do rio das Caravellas, da Capitania de Porto Seguro, que
naquella paragem do rio de S. Matheus se achão alguas
terras devolutas por se não terem athe agora aproveitado
e o supplicante tem possibilidade para as cultivar, recorre
a V. Exa. lhe faça mercê conceder hua sesmaria de tres
legoas de terra começando a demarcar-se na Volta das
Moendas do Riacho do Campo, correndo o Rio assima.
Pede a V. Exa . lhe faça mercê conceder mandar dar-lhe a
sismaria pedida na dita paragem, começando a demar
car-se na forma requerida e correndo o Rio assima, visto
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 173

se acharem aquellas terras incultas e não povoadas e o


supplicante as querer cultivar com utilidade da Real fa
senda e ter possibilidade para isso. E. R. Mercê. E visto o
seu requerimento a que respondeu primeiro o Dr. João
Gonçalves Pereyra, que então hera procurador da Coroa
feitas as diligencias da ley do Reyno e ordens que ha sobre
as sesmarias , respondeu a este requerimento em virtude da
qual reposta se passou carta de diligencia ao Juiz ordinario
daquelle districto, a vista da qual se deo novamente vista
ao Desembargador Procurador da Coroa João Luiz Car
doso Pinheiro, que respondeo ; A justificação não satisfaz
completamente aos requisitos da Ordem fl. 2 e da ley em
tt 43 , antes se acha contraproducente em parte ; pelo que
fiat justitia, com sua rubrica ; e o que informou o Desem
bargador Chanceller da Relação do Estado e Provedor mór
da fasenda delle que he o seguinte . Illmo. Exmo . Sr. Não
se me offerece duvida que V. Exa . defira o supplicante
concedendo-lhe de sesmaria a porção de terra que pede,
não excedendo a limitada pelas ordens de S. Magestade e
sem prejuizo de terceiro e com as clausulas expressadas
nas ultimas Ordens de S. Magestade a este fim expedidas.
Bahia onze de Setembro de 1750. Manoel da Cunha Sotto
mayor. -Hey por bem de lhe conceder e dar de sesmaria,
em nome de S. Magestade , a José da Rocha Cardoso, hua
legua de terra de largo e tres de comprido, na froma das
suas reaes ordens, para elle e seus descendentes assim
como as pede e confronta em sua petição nesta inserta que
começará a demarcarsse na Volta das Moendas do Riacho
do Campo, correndo o Rio assima , não prejudicando a ter
ceiro com as clausulas conteudas na Ordenação do Reyno
ttit H das Sesmarias, com declaração que não ficará
sendo senhor das Minas de qualquer genero de mineral que
nas ditas terras houver e as terá e possuirá com todas as
suas agoas, campos, matos, testadas, logradouros , e mais.
174 LIMITES

uteis que nellas houver, tudo fôrro, livre e isento de foro ,


tributo ou pensão algua, salvo dizimo a ordem de Christo
que pagará dos fructos que nellas houver e as aproveitará
dentro do termo da ley e antes disso as não passará a outro
algum dominio sem as ter aproveitado, nem o poderá
faser sem expressa ordem de S. Magestade para se darem
nesse caso a outrem ; e por ellas será obrigado a dar
caminhos publicos e particulares para rios, fontes,
pontes, portos e pedreiras, com declaração de não
succeder por nenhum titulo nas dittas terras Religião al
guma e acontecendo ellas possuirem-as será com o encargo
de deverem e pagarem disimos como se fossem possuidos
por seculares e faltando isto se haverem por devolutas e se
darão a quem as denunciar ; e havendo nas ditas terras al
gua aldeia não ficará sendo senhor della , nem das que os
indios occuparem ; e será obrigado o dito José da Rocha
Cardoso a mandar confirmar por S. Magestade esta sisma
ria dentro de hu anno seguinte a data della , na forma das
suas Reaes ordens. Pelo que ordeno aos mnistros e
officiaes de Justiça a que o conhecimento desta per
tencer que fasendo o supplicante primeiro citar os hereos.
confinantes nas ditas terras lhe deem e façam dar posse
real, effectiva e actual, demarcando-se logo ao mesmo
tempo , de que enviará certidão á fasenda real. Para fir
mesa do que mandey passar o presente pelo meu signal e
sello de minhas armas e que se registará nos livros da Se
cretaria do Estado , fasenda real , della e nos do escrivão
das sesmarias a que tocão . Luiz Franco a fez nesta cidade
do Salvador, Bahia de Todos os Santos aos desaseis dias
do mez de Setembro , anno de mil setecentos e cincoenta .
O Dr. José Pires de Carvalho e Albuqerque a fez escrever .
-Conde de Athouguia . Alvará porque V. Exa. houve
por bem conceder e dar de sesmaria em nome de S. Mages
tade a José da Rocha Cardoso , hua legoa de terra de largo
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 175

e tres de comprido no Rio de S. Matheus da maneira que


a pede e confronta em sua petição na forma das reaes or
dens, não prejudicando a terceiro e começando a de
marcar- se na Volta das Moendas do Riacho do Campo,
corendo o rio acima, com as clausulas e pelos respeitos
acima declarados . Para V. Exa . ver.
(Arch. Publ . da Bahia , pag. 213. liv. das Sesmarias ) .

Dom Rodrigo Jozé de Menezes , do Conselho de sua Ma


gestade.
Governador, e Capitão General da Capitania da Ba
hia etc. Faço saber aos que este Alvará de Sesmaria virem
que por parte do Dezembargador Antonio Teixeira da
Mata, me foi aprezentada a Petição do teor seguinte :
Illustrissimo e Excellentissimo Senhor. Diz o Dezem
bargador Antonio Teixeira da Matta, actual Ministro da
Caza da Suplicação , que lhe consta haverem terras despo
voadas, incultas, e sem estarem no dominio de Vassallo
algum da Coroa desde a Barra do Rio Doce vindo para
S. Matheus da parte do Norte, na Comarca de Porto Se
guro, más muito frequentado de Gentio bravo . O suppli
cante intenta mandar povóar para estabelecer Fazendas de
Gados, e outras culturas uteis ao Estado para o que pede
a V. Excellencia de Sesmaria, huma Legoa de terra, que
se balizem desde a borda do dito Rio Doce, correndo pela
borda do Mar para o Norte , e outras tres Legoas desde a
costa para o Certão , pela margem do Rio assima . Pede a
V. Excellencia seja servido conceder. a sesmaria . E rece
berá mercê. Visto seo Requerimento , e o que informou o
Dezembargador Conselheiro chanceller Jozé Ignacio de
Brito Bocarro e Castanheda , a quem compete esta diligen
cia pelo Alvará de treze de Março de mil sete centos e
setenta, a vista do Sumario de Testemunhas inquiridas
pelo Juiz ordinario da Villa de S. Matheus, Jozé Lopes de
176 LIMITES

Mendonça , em rezultado da carta de diligencia expedida


pelo Ouvidor daquella Comarca o Doutor Bento Jozé de
Campos e Souza , em observancia da que lhe foi dirigida
pelo mesmo Dezembargador Conselheiro Chanceller da Re
lação, sobre o qual não houvera quem se opozesse com em
bargos ao Edital publicado pelo respectivo Porteiro, e
fixado no Lugar publico por espaço de trinta dias, e o que
respondeo o Dezembargador Procurador da Fazenda e
Coroa. Hey por bem conceder , e dar de Sesmaria ao suppli
cante em nome de Sua Magestade, para elle e seus succes
sores, sem prejuizo de terceiro, huma Legoa de Terra de
Largo, e trez de comprido , na forma da carta Regia de sete
de Dezembro de mil seis centos e noventa e seis , cuja Terra
se acha declarada , e confrontada no Requerimento do
supplicante, o qual será obrigado a pagar annualmente mil
réis de fôro por cada huma Legoa, não obstante o arbitrio
da Camara, por ser Lezivo, e contra o espirito da Ley e
observar as clauzulas da Ordenação a respeito das mesmas
sismarias, como tambem não ficará sendo senhor das Mi
nas de qualquer genero , que nellas houverem, e as gozará
com todas as suas Agoas, Campos, Matas, Testadas, Lo
gradouros , e mais uteis, que nella se acharem, tudo sem
pensão alguma mais, que a do dito foro , salvo o Dizimo á
Ordem de Christo , que pagará dos fructos havidos nas
mencionadas Terras , aproveitando-as dentro do termo da
Ley, antes do que não as poderá passar a outro algum
dominio, nem o poderá fazer sem expressa Ordem de
Sua Magestade, pena de se darem a outro ; e por ella
será obrigado a dar caminhos publicos e particulares e
não succedendo por nenhu titulo a Religião alguma ; po
rém acontecendo assim, e ella possuindo, será com o en
cargo de pagar Dizimos, como se fosse o possuidor hú
Secular ; e faltando a isso se haverá por devoluta, dan
do-se a quem a denunciar ; e se houver nella Aldéa, não
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 177

ficará o Supplicante senhor della , nem das que os In


dios ocuparem : igualmente será obrigado a mandar con
firmar esta Sesmaria dentro de hú anno seguinte a data
deste, na forma das Reaes Ordens.
Pelo que ordeno aos Ministros, e mais officiaes, a
quem o conhecimento deste pertencer, que fazendo o
supplicante citar primeiro aos: Hereos confinantes da
sobredita Terra, lhe dem posse real, effectiva, e actual,
demarcando- se logo, de que enviará Certidão á Caza da
Fazenda Real . Em firmeza de que lhe mandei passar
este sob meo sinal , e sello de minhas Armas, que se cum
prirá, registando-se na Secretaria do Estado, e nas mais
partes a que tocar. João Vaz Silva o fez na Cidade do
Salvador, Bahia de Todos os Santos, aos déz de Março .
Anno de mil setecentos e oitenta e cinco . Jozé Pires de
Carvalho Albuquerque Secretario de Estado do Brazil o
fêz escrever.- D. Rodrigo Jozé de Menezes.

Alvará porque V. Exa. concedeo de Sesmaria em Nome


de Sua Magestade, ao Dezembargador Antonio
Teixeira da Matta, para elle e seus successores huma
Legoa de Terra de largo, e trez de fundo , decla
rada e confrontada em sua Petição, com o fôro de
mil réis por cada huma Legoa , tudo na forma das
Reaes Ordens, e das clauzulas assima expres
sadas ..

Ao Dezembargador Antonio Texeira da Matta se


hade passar por carta de confirmação a sesmaria de
huma Legoa de frente e trez de fundo na capitania da
Bahia e para pagar os direitos que dever e o sello do
prezente. Lisboa 4 de Setembro de 1790. O Conse
lheiro Francisco da Silva Côrte Real .....
Está conforme o Original. Docs. da Bahia- Numero
L 23
178 LIMITES

13952. Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 16 de


Janeiro de 1913.-O 1 °. Bibliothecario-Director. - Edu
ardo de Castro e Almeida.

N. 17

Prova da legalidade da jurisdicção da


Bahia em S. Matheus.

Dom João por graça de Deus etc. - Faço saber a vós


Conde das Galvêas, Vice Rey e Capitão General de Mar
e Terra do Estado do Brasil, que Eu fui servido determi
nar por resolução de nove deste presente mes e anno, em
consulta do meu Conselho Ultramarino, como vos cons -
tará por outra ordem que nesta occasião haveis de receber,
que resultando culpa ao Padre Manoel Botelho de Almeida,
da devaça que mando tirar da perda da minha Summaca
que nafragou, na barra do Ryo de S. Matheus , mortes e
desordens que alli succederão, seja remettida a culpa do
dito Padre ao seu Prelado e para que esta me seja pre
sente, vos ordeno me deis conta della com as mais noticias
que do mesmo Padre tiverdes , para resolver se deve ser re
movido da commição do córte de madeiras daquelle Rio .
-El Rey N. Senhor o mandou pellos José Ignacio de
Arouche, Thomé Gomes Moreira, conselheiros do seu con
selho Ultramarino e se passou por duas vias. Pedro Ale
xandrino de Abreu Bernardes a fez em Lisboa Occiden
tal a 2 de Abril de 1739.
O Secretario Manoel Caetano Lopes de Lavre a fiz
escrever.-Martinho de Mendonça de Pina e de Proença.
Arch. Publ . da Bahia, liv. 37-Ord . Reg. 1740.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 179

N. 18

Documento que prova a legitimidade


da jurisdicção da Bahia no districto de
S. Matheus.

D. João etc.-Faço saber a vós Vasco Fernandes


Cesar de Menezes, V. Rey e Capitão General de Mar e
Terra do Estado do Brasil, que por ser conveniente ao
meo Serviço Me pareceo Ordenarvos mandeis pôr em
arrecadação o rendimento dos disimos das Minas que
novamente se descobrirão no rio de S. Matheus e o seo
producto o mandareys por em deposito na Provedoria
da fasenda real deste Estado, e fasendo- vos qualquer
dos contratadores do disimo da Bahya ou Minas, reque
rimento algum a bem da arrecadação delles , os admi
taes e lhes defiraes como for conveniente a bem da
mesma arrecadação , dandome conta do que obrardes
nesta materia e da importancia dos ditos disimos . El Rey
nosso Senhor o mandou por Antonio Roiz da Costa e
Joseph de Carvalho Abreu, Conselheiros do Seu conselho
Ultramarino e se passou por duas vias. Bernardo Felix
da Silva a fez em Lisboa Occidental a 28 de Mayo
de 1729. Manoel Caetano Lopes de Lavre a fez escrever.

N. 19

Conflicto de jurisdicção pelo qual


se verifica haver sido sempre reconhecido
o districto de S. Matheus como parte in
tegrante da Capitania de Porto Seguro
e portanto da Bahia. Reconhecimento de
tal facto como legal pelo mais antigo Tri
bunal Superior do Brasil.

Tendo sido comprada a capitania do Espirito Santo pela


Coroa, a Francisco de Moura Rollim, em 1718, foi ex
pedida a provisão seguinte que a collocou sob a alçada
da Relação do Rio de Janeiro .
180 LIMITES

D. José, por graça de Deus, Rey de Portugal e dos


Algaves etc.- Faço saber a vós, Vasco Fernandes Telles
de Menezes, Vice- Rey e Capitão General de Mar e Terra
do Estado do Brasil, que como a capitania mór do Espi
rito Santo se acha incorporada na minha Coroa, cessa
por este caminho haver nella ouvidor e se não deve no
mear mais para ella, mas só haver mais villas da dita capi
tania juises ordinarios e para evitar toda a perturbação
que possa haver na boa ordem da Justiça, Sou servido
mandar declarar que as appellações que della se entrepu
serem, hão de ser para o ouvidor geral da capitania do
Rio de Janeiro , por já a dita terra estar sujeita a sua juris
dicção e della hão de ir as appellações para a Relaçam
deste Estado e os aggravos como são facultativos ás par
tes podem aggravar, ou para o ouvidor geral do Rio de
Janeiro ou para a dita Relaçam, do que vos aviso para
que assim o tenhaes entendido , fasendo com que se re
giste esta minha Real ordem nos livros da secretaria
desse Governo e nos da Relaçam e mais para aonde con
vier, e enviando-me disso certidam. El- Rey Nosso Se
nhor a mandou pelos D. D. Joseph de Carvalho e Abreu
e Joseph Gomes de Azevedo, Conselheiros do seu con
selho Ultramarino, e se passou por duas vias. João Ta
vares a fez em Lisboa Occidental a tres de Julho de mil
settecentos e vinte e dois . - Joseph de Carvalho e Abreu
-Joseph Gomes de Azevedo .

Provisão porque S. Exa. teve por bem prover a


Antonio Rodrigues da Cunha na serventia do Officio de
Juiz Ordinario da Povoação de São Matheus por tempo
.
de hú anno não tendo crime algum pelos respeitos acima
declarados .
Resgistado no L. 3 dos Registos da Secretaria do
Estado do Brasil a que toca fl. 11. Bahia e de Junho o
primeiro de 1757 -Souza.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 181

Dom Marcos de Noronha, Conde dos Arcos, do


Conselho de S. Magestade, V. Rey e Capitão General de
Mar e Terra, do Estado do Brasil etc. -Faço saber aos
que esta Provisão virem, que tendo respeito a se achar
vaga a serventia do officio de Juiz Ordinario da Po
voação, haja hu Juiz para administrar e justiça e se evita
rem os extraordinarios excessos que nos Certõens desta Ca
pitania se commettem, e ordenar o dito Senhor, por carta
de vinte de Janeiro de mil seiscentos e noventa e nove, fir
mada de sua Real mão a creação dos ditos Juizes Ordina
rios nas ditas Povoaçõens ; respeitando a capacidade e
sufficiencia de Antonio Rodrigues da Cunha , para este
este emprego ; esperando delle que nas obrigaçõens que
The tocarem se haverá com bom procedimento, guar
dando em tudo o serviço de Sua Magestade e o direito
ás partes, hey por bem de prover (como pela presente
provo) na serventia do dito officio de Juiz ordinario da
dita Povoação do Rio de S. Matheus, por tempo de hum
anno ; não tendo crime algu , emquanto Sua Magestade ou
este Governo não mandar o contrario e com elle haverá
o ordenado (se o tiver) e todos os proeos e precalços que
direytamente lhe pertencerem, Pelo que o hey por metido
de posse e ordeno ao Capitão Mór daquella Povoação,
The dê o juramento de que se fará assento nas costas
desta que se guardará e cumprirá tăm pontual e inteyra
mente como nella se contem, sem duvida, embargo ou
contradição algua . Para firmeza do que mandey passar
a presente , sob meu signal e sello de minhas armas, a qual
se registará nos livros da Secretaria do Estado a que to
car. Luiz Franco da Silva a fez na Cidade do Salvador,
Bahia de Todos os Santos, em o primeiro de Junho
Anno de mil setecentos e sincoenta e sete . O Capitão
Manoel de Souza Guimarães, Secretario do Estado a fez
escrever. Conde Dom Marcos de Noronha.
182 LIMITES

Termo do juramento que o Capitão Mór desta


Povoação de S. Matheus deo a Antonio Rodrigues da
Cunha, para poder servir no logar de Juiz Ordinario
della ; e por ter tomado o juramento em que poz a sua
mão nos santos Evangelhos em tudo cumprir e guardar
o serviço de Sua Magestade que Deus guarde de que
mandou fazer este termo por mim assignado :
Povoação, 3 de Dezembro de 1757.-José da Costa
Cardoso-Antonio Rodrigues da Cunha.

Carta de diligencia para as justiças da Povoação de


S. Matheus. Passada a requerimento de Manoel
Correa de Lemos.
O Doutor Francisco de Salles Ribeyro , do Desem
bargo de Sua Magestade Fidelissima, seo Ouvidor Geral
e Corregedor desta Comarca do Espirito Santo , com al
çada no civel e crime, Provedor da Fasenda Real e mais
annexos nesta Villa da Victoria e nas mais Villas e luga-
res de sua repartição , pello mesmo Senhor que Deus
Guarde etc. Faço saber ao Senhor Juiz Ordinario da
Povoação de São Matheus e mais Justiças della a quem
esta for apresentada e o conhecimento della pertencer que
por parte de Manoel Correa de Lemos, me foi apresen
tada hua petição por escripto do theor seguinte : Diz
Manoel Correa de Lemos, morador nesta villa de Nossa .
Senhora da Victoria, Capital desta Comarca do Espirito
Santo , que na cadea da mesma se acha à ordem de vossa
mercê, preso e seguro hum mulato chamado Victorino
por ter constado que na Povoação de S. Matheus matara
aleivosamente a Domingos Teixeira da Matta e o roubara
e matara no Rio da mesma Povoação ; e como o dito de
funto he filho legitimo do supplicante e acha que como
seo Pay, lhe está tocando a occupação para elle proceder
em termo e lhe he necessario pessoa que judicialmente por
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 183

devaça naquella mesma villa se formou e como para della


ser remettida a este juizo , he necessario passarem- se as
ordens necessarias : Pede a Vossa Mercê Senhor Doutor
Corregedor seja servido mandar passar ordem para as
Justiças daquella Povoação, remetterem a este juizo a
culpa do supplicante preso, a entregar ao escrivão deste
juizo ,na forma do estylo .- E receberá mercê. E nam con
tinha mais em a dita petição em a qual sendo-me appre
sentada por meu despacho , mandey que informasse o
Escrivão da Correyção em cujo cumprimento deu a sua
informação do theor seguinte : Senhor Doutor Correge
dor " He sem duvida que á ordem de vossa mercê se acha
preso na cadea desta villa o mulato Victorino, por ser pu
blico e constante estar culpado em hua devassa da morte
feita a hum filho do supplicante, na Povoação de São
Matheus , avisado que vossa mercê mandará o que for
servido. Victoria de Março doze de mil setecentos e
sessenta". Manoel Pereira Linhares.-E não se continha
mais em a dita informação com a qual sendo-me apresen
tada a dita petição nella puz meu despacho do theor se
guinte : " Escrivão da Correyção passe as ordens necessa
rias para serem remettidas, as culpas do Reo a este juizo ,
para com ellas ser remettido ás cadeas da Rellação.
Victoria trese de Março de mil setecentos e sessenta.
Salles " . E nam se continha mais em o dito despacho , em
cujo comprimento se deu e passou o presente pella qual
sendo primeiro por mim assignada e sellada com o sello
que ante mim serve ou sem elle ex-causa requeyro da
parte de Sua Magestade Fidelissima dos sobreditos Se
nhores Juizes ordinarios da Povoação de São Matheus a
cumprão e guardem e fação muito inteyramente cumprir
e guardar e em virtude della com seo cumprimento fação
remetter ao Juiz desta Correyção ao poder do Escrivão
della que esta subscreveo a culpa do réo Victorino, fi
184 LIMITES

cando o traslado a qual virá feixada e lacrada em segredo


de justiça, para com ella ser remettido o Réo preso para
as cadeyas da Relação a que toca , na forma da Ley e em
assim o mandar fará serviço a Sua Magestade Fidelis
sima, que Deos Guarde. Dada e passada sob meo signal
e sello ou sem elle ex-causa, nesta Villa da Victoria aos
quatorze dias do mez de Março anno de mil settecentos
e sessenta. Pagou-se de feitio desta trezentos e sessenta
e de asignatura de S. Exa. pagará oitenta réis e do sello
pagará sessenta réis . E eu Manoel Pereyra Soares , escri
vão da correyção que o escrevi.- Francisco Salles Ri
beiro.- V. S. Sello ex-causa .- Salles .
Senhor.
Diz Antonio Rodrigues da Cunha, Juiz Ordinario
actual da Povoação de S. Matheus, que tirando a vida
aleivozamente hum mulato por nome Victorino e outro a
Domingos Teixeira da Matta e roubando a este, procedeo
o supplicante a devaça tanto que teve noticia do cazo e
sahindo elle pronunciado, fez o supplicante toda a deli
gencia por prender aos culpados o que não conseguiu por
fugirem ; passados alguns tempos se entregou ao suppli
cante hua carta mandada passar pelo ouvidor da Capi
tania do Espirito Santo, em a qual se ordenava mandasse
o caso da devaça que havia tirado do dito delicto para com
ella remetter o deliquente que estava preso para Relação
sem declarar se era para a desta Capital ou para o da
cidade do Rio de Janeiro ; por esta dubiedade não cumpri
logo a dita carta, porque como a sobredita povoação, em
cujo terreno foi o delicto perpetrado, esteja sujeita a Capi
tania desta Bahia e é pelo Vice Rey delle que se costuma
passar o provimento dos Juizes ordinarios da dita povoa
ção como foi a do que se junta e as devaças de alguns de
lictos que se tem commettido no territorio do supplicante
se tem remettido para o Ouvidoria do Crime desta Rela
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 185

ção para cessarem duvidas e poder o supplicante obrar com


acerto no cazo expendido e todos os mais que adiante
poderem succeder ao supplicante .
Para que Vossa Magestade lhe faça mercê declarar
se deve obedecer a dita carta , remetendo o caso da dita
devaça que tirou do tal delicto, ou mandal-a para a arca
das malfeitorias desta Relação , de cuja jurisdicção he su
jeita a dita povoação , ou se a carta junta se deve cumprir,
o supplicante com remessa do traslado da dita devaça
para assim cessar toda a duvida quanto a difa carta e tam
bem para o que poder suceder para o futuro .
Despacho do Governador da Bahia- Manda El- Rey Nosso
Senhor que haja vista o Desembargador Procurador
da Coroa. - Bahia 17 de Julho de 1760 .
Parecer do Procurador da Corôa

A vista do que o supplicante diz me capacito que o


territorio em que se diz perpretado o delicto mencionado
pertence ao districto da Bahia e nesta supposição se deve
passar ordem para o supplicante remetter para esta
Relação o treslado da devaça de que trata e juntamente
dar providencia para que o preso venha tambem reme
ttido.

Sentença da Relação

Passe-se provisam para o Juiz Ordinario que em


duvidar cumprir a carta do Ouvidor da Capitania bem
obrado he, remetter a devaça de que se trata a esta Rela
çam onde pertence e passe-se para o mesmo Ouvidor pro
visam em que se determine remeta o delinquente que
aprehendeu e que pela mesma razão deve ser aqui punido .
-Bahia 7 de Agosto de 1760.
Seguem-se os signaes dos Dezembargadores (* ) .

(*) Documentos manuscriptos originaes pertencentes ao


Archivo Publico da Bahia. - N. do auctor.
L 24
186 LIMITES

N. 20

Extracto do Livro de Registo das


Cartas e Informações mandadas para o
Conselho Ultramarino mostrando que a
capitania de Porto Seguro fazia parte da
comarca da Bahia.

Este livro háde servir de lançar as cartas e informa


ções do serviço de Sua Magestade, que vem dos Dominios
Ultramarinos, dirigidas ao Tribunal do Conselho Ultra
marino. Lisboa 12 de Abril de 1758. Jozé Xavier da
Cunha d'Eça Telles de Menezes Carvalho e Silva

COMARCAS

A Bahia Capital do Brazil comprehende quatro Co


marcas.
A Comarca da Cidade da Bahia

A Comarca da Bahia da parte do Sul que he a Ja


cobina,
A Comarca de Sergipe d'El - Rey, que he Capitania
separada, e tem Capitão Mór ,
A Comarca do Espirito Santo , honde tambem ha Ca
pitão Mór.
A Comarca da Bahia tem as Villas seguintes :
Cachoeira, S. Francisco de Sergipe de Conde . Ita
picurú, Villa de Nossa Senhora de Nazareth, Jagoaripe.
Cayrú, Maragogipe ( S. Bartholomeu ) , Cayrú, Santo
Amaro da Purificação , Villa de Ilheos , Rio das Cara
vellas , S. João de Agua Fria, Porto Seguro aonde ha Ca
pitania Mór, Villa de Pacê, Itaparica.

Comarca da Jacobina

Villa de Santo Antonio da Jacobina , Villa de Nossa


Senhora do Bom Successo das Minas do Arassuahi ,
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 187

Nossa Senhora do Livramento do Rio das Contas , Santo


Antonio de Orubú.

Comarca do Espirito Santo

Vila da Victoria , Villa de Guarapari , Villa de S. Sal


vador dos Campos de Goaytacazes, Villa de S. João dos
Campos de Goaytacazes.
Na Bahia

Villa do Mayrahú ( Creada de novo ) .


Está conforme o original. Cartas da Bahia ( Prove
doria da Fazenda ) . 1758-fl . 1. Lisboa, Arquivo de Ma
rinha e Ultramar, 14 de Janeiro de 1913.- O 1º. Biblio
thecario-Director, Eduardo de Castro e Almeida.

N. 21

Carta do Provedor-mór da Fazenda


Real na Bahia dirigida ao ministro Se
bastião de Carvalho (marquez de Pombal)
capeando uma informação que lhe havia
sido ordenada, pela qual se vê que a po
voação de S. Matheus sempre pertenceu
a capitania de Porto Seguro .

Illmo. e Exmo . Snr. Meu Sr. Sempre dezejo a V. Exa.


completa saude, e vida dilatada em que exercite as
excellentes virtudes, que Deus quiz dar a V. Exa. , e
queira continuar-me a honra de ser seu creado ; pois eu a
dezejo merecer na promptidão de obedecer a V. Exa. como
devo.

Remeto copias de alguns documentos, que vão juntos,


as cartas de officio, e o que se tem trabalhado nos Tri

(* ) Copias authenticadas trazidas por mim do Archivo Ultra


marino de Lisboa e hoje pertencentes ao Archivo da Bahia . Nota
do auctor.
188 LIMITES

naes constará a V. Exa. das consultas, que se remetem


pelas respectivas secretarias .

A Illma. e Exma . pessoa de V. Exa. Guarde Deos


muitos anos. Bahia 16 de Dezembro de 1758. Illmo . e
Exmo . Sr. Sebastião Jozé de Carvalho e Mello De V. Exa.
Fiel, e reverente creado Antonio de Azevedo Coutinho .

Lista dos Officios que há nos Tribunaes da Cidade


da Bahia Capital do Estado do Brazil e nas Villas das Co
marcas a ella pertencentes.

Porto Seguro

Os Officios de Tabalião, Escrivam da Camara, Or


phãos e Auzentes, não tem proprietario e actualmente se
estão servindo com Provizão deste Governo.
Os Officios de Tabalião, Escrivam da Almotasaria,
Fasenda Real, e Ouvidoria não tem proprietario e actu
almente, e se estão servindo com Provizão deste Governo.
Os Officios de Inquiridor, Contador, e Distri
buidor, Avaliador e Repartidor, não tem proprietario, e
actualmente se estão servindo com Provizão deste Go
verno .
O Officio de Alcaide, Carsareyro , Escrivam da Vara
do Alcaide, Meirinho do Campo , e seu Escrivão nam tem
proprietario e actualmente se estão servindo com Provi
zão deste Governo.

Villa de Santo Antonio do Rio das Caravelas

Os Officios de Tabalião, Escrivam da Camara, Or


phãos, e Almotasaria e Auzentes não tem proprietario e
actualmente se estão servindo com Provizão deste Go
verno .
Os Officios de Inquiridor, Contador, Destribuidor,
Avaliador e Repartidor do Conselho não tem proprietario
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 189

e actualmente se estão servindo com Provizão deste Go


verno .
O Officio de Ouvidor desta Capitania do Porto Se
guro não tem proprietario, e actualmente se está servindo
com Provizām deste Governo.

Povoação de S. Matheus

Nesta povoação não ha mais Justiça que hú Juiz e


que hú Escrivão , que actualmente servem com Provizão
deste Governo. Tambem há hum capitão mór da povoação
provido por este Governo. Até esta povoação se estende o
destricto do Corregedor, e Provedor da Comarca da
Bahia.
Estão conforme os originaes. Docs. , da Bahia
Arquivo de Marinha e Ultramar, 10 de Janeiro de 1913.
O 1º. Bibliothecario -Director, Eduardo de Castro e Al
meida.

N. 22

Creação da ouvidoria de Porto Se


guro coin o fim de fundar villas naquella
capitania, fomentar o seu desenvolvi
mento e progresso , cultivo e colonisação ,
com um centro de vida administrativa e
judiciaria.

Decreto por que Sua Magestade há por bem nomear


ao Bacharel Thomé Couceiro de Abreu, para hir crear a
Ouvidoria da Capitania de Porto Seguro, por tempo de
tres annos.
Attendendo á importancia da Capitania de Porto Se
guro em que se acham, já estabelecidas algumas Villas,
alem das que tenho mandado estabelecer de novo , e a que
sem governo Civil não poderão fazer os grandes progres
sos, com que desejo beneficiar os meus vassallos da mesma
Capitania : Houve por bem erigilla em ouvidoria, cuja
190 LIMITES

Comarca se estenderá a todo o seu districto , e tendo con


sideração a literatura, zello, e prestimo, com que me tem
servido o Bacharel Thomé Couceiro de Abreu, actual
Corregedor da Comarca de Thomar : Fui servido dar-lhe
o lugar por acabado , a rezidencia por suprida , e nomealo
para hir crear a dita ouvidoria e depois de me servir nella
por tempo de tres annos , e pello mais que decorrer en
quanto Eu não mandar o contrario ; fazendo a dita creação
e estabelecimento à minha satisfação, como delle espero,
The Haverey o dito lugar como se o houvesse servido na
Relação do Porto . O Conselho Ultramarino o tenha asim
-entendido.

Palacio de Nossa Senhora da Ajuda a dous de Abril


de 1763. Com a Rubrica de Sua Magestade .
Está conforme o original- Registo de Decretos.—
Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar 10 de Janeiro
V. de 1913:-O 1º. Bibliothecario- Director, Eduardo de
Castro e Almeida .

Para os Governadores do Estado do Brazil

Exmo. e Illmo. Sr.-S. Magestade tendo consi


deração aos grandes interesses que se podem seguir, as
sim, no Espiritual, como no Temporal, de se civilizarem
todos os Habitantes da Capitania do Porto Seguro, que
a poucos annos se incorporou na Real Corôa : Foy Ser
vido criar na mesma Capitania hua Ouvidoria, e nomear
para ella o Bacharel Thomé Couceiro de Abreu , que em
barca na prezente occasião ; e porque depois de se achar
estabelecido na mesma Ouvidoria, poderá pedir a V. Exa.
e Mercês algúas farinhas , carnes , polvora , chumbo , fouces,
machados , ou outras similhates cousas, que julgar serem
necessarias nella : Ordena o Mesmo Senhor , que V. Exa.
e Mercês mandem tudo o que o dito Bacharel Thomé Cou
ceiro de Abreu lhes pedir, depois de se achar na referida
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 191

Capitania ; para o fim da prompta execução das Instru


cções , de que vay encarregado, e lhe entregarão nesta
Côrte.
Deos Guarde a V. Exa . e Mercês .- Palacio de Nossa
Senhora da Ajuda a 28 de Abril de 1763 .
Está conforme o original. Bahia- Reg" . de Ordens
regias Janeiro de 1913,-O 1°. Bibliothecario- Director,
Eduardo de Castro e Almeida .

Para o Arcebispo Eleito da Bahia


Exmo . e Revmo. Sr.-S. Magestade foy servido
crear pelo Bacharel Thomé Couceiro de Abreu a Ouvi
doria de Porto Seguro , para o que na prezente occasião,
embarca para Pernambuco, para dali passar a essa Cidade,
e depois a mesma Ouvidoria : E porque depois de se achar
nella, poderá necessitar de alguns Sacerdotes , para o me
lhor estabelecimento , e Pasto Espiritual dos moradores
das Villas que se devem crear. He o mesmo Senhor ser
vido, que pedindo-os este a V. Exa . , concorra da sua
parte, para que para o dito fim se lhe remetão os que fo
rem necessarios , e se não experimente a menor falta em
hua tão necessaria providencia .
Deos Guarde a V. Exa .- Palacio de Nossa Senhora
da Ajuda a 28 de Abril de 1763.
Está conforme o original. Bahia.- Registo de Or
dens regias . Liv. 4° . fl . 197- Lisboa, Arquivo de Ma
rinha e Ultramar, 14 de Janeiro de 1913.—O 1º. Biblio
thecario-Director, Eduardo de Castro e Almeida.

Para os Governadores do Estado do Brazil

Exmo. e Illmo . Sr.- Pela copia da Provizão Regia


que na prezente occasião se dirige ao Provedor mor da
Fazenda desse Estado, ficarão V. Exa . e Mercês, enten
dendo ter S. Magestade mandado assistir annualmente
para bem particular de seu Serviço , com Seis centos mil
192 LIMITES

réis, ao Bacharel Thomé Couceiro de Abreu, que vay a


Ouvidoria de Porto Seguro ; a qual V. Exa. e Mercês .
executarão pela parte que lhe toca.
Deos Guarde a V. Exa . e Mercês.-Palacio de Nossa
Senhora da Ajuda a 30 de Abril de 1763 .
Está conforme o original . Bahia- Registo de Or
dens regias . Liv. 4°. 1758-1765. fl. 204, vº. Lisboa, Ar
quivo de Marinha e Ultramar , 14 de Janeiro de 1913.
O 1º. Bibliothecario-Director, Eduardo de Castro e
Almeida.
Eu El- Rey Faço saber ao Provedor mór da Fazenda
do Estado do Brazil , que Eu Fuy Servido nomear ao Ba
charel Thomé Couceiro de Abreu, para hir crear a Ou
vidoria de Porto Seguro naquella Capitania : E hey por
bem, que durante o tempo, que estiver nella , e em quanto
não mandar o contrario, lhe façaes assistir em cada anno,
pelo Rendimento dessa Provedoria , com seis centos mil
réis , pagos aos quarteis, e com a antiguidade do dia que
embarcar neste Reino ; cuja quantia lhe mando entregar
para bem particular de meu serviço , de que não hade dar
contas : O que cumprireis .
Palacio de Nossa Senhora da Ajuda a 30 de Abril
de 1763.- Rey.
Está conforme o original . Bahia- Registo de Ordens
Regias . Livro 4° . 1758-1765 . fl. 204, vº . Lisboa, Arquivo
de Marinha e Ultramar, 14 de Janeiro de 1913 - O 1º.
Bibliothecario- Director, Eduardo de Castro e Almeida
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 193

N. 23

Instrucções dadas pelo Marquez de


Pombal ao magistrado que foi por elle
encarregado da creação da ouvidoria de
Porto Seguro, Thomé Couceiro de Aōreu.
Neste documento se vê a clarividencia do
preclaro estadista, como attendeu a todos
os ramos de serviço publico , á justiça e
a civilisação do povo, á economia como á
defeza e ás futuras fontes de trabalho e
de renda. Tambem se vê que o magis
trado trouxe a incumbencia expressa de
fundar villas, demarcar os seus termos,
etc., pelo Directorio de 3 de Maio de
1757, assim como que o territorio de S.
Matheus está terminantemente indicado
para nelle ser fundada uma dessas villas,
o que é a mais decisiva prova de ser tal
territorio da capitania de Porto Seguro.

INSTRUCÇAO

Para o Ministro, que vay criar a nova Ouvidoria


da Capitania de Porto Seguro

S. Magestade tendo consideração aos interesses


Espirituaes, e Temporaes, que se seguirão de ser civili
zado todo o Territorio, que constitue a Capitania do Porto.
Seguro, que ha poucos annos incorporou na sua Real
Corôa, e antes na maior parte se achava tiranizada pela
arrogancia, e cubiça dos chamados Jezuitas : E querendo
o mesmo Senhor, em beneficio commum da propagação
do Evangelho , dos Habitantes da mesma Capitania, athé
agora barbaros ; dos seus Vassallos daquelle continente ;
e do Commercio que todos os outros dos seus Reinos fa
zem nos seus Dominios do Brazil, reduzir aquella impor
tante parte do seu continente a hum Payz civilizado, do
qual, assim os seus ditos Habitantes, como os outros
Povos daquella vasta Costa possão utilizar- se : Foy ser
vido nomear a V. Mercê para hir crear aquella nova e
L 25
194 LIMITES

importantissima Ouvidoria, e para nella reduzir a praxe


as Reaes Ordens que vou participar a V. Mercê.
2-Sendo hua maxima certa, inalteravel , que sem
homens sociaveis , e civis não pode haver Estabelecimento ,
que util seja ; e sendo tambem certo que todos os que
vivem naquella vasta extensão de Paiz , se achão no estado
de Feras, sem conhecerem o Catholicismo, nem couza que
seja Sociedade Humana, e sem saberem que couza seja
Caridade, virtude tão importante para a convivencia dos
Homens ; e ultimamente sem a mais leve idea do que seja
justiça ; factos todos bem notorios a Sua Magestade :
E querendo o mesmo Senhor evitar os damnos, e fazer
educar aquella rustica Gente, assim na christandade , como
na sociedade, e civilidade : Ordena que V. Mercê se em
pregue em hua obra tão interessante para o Serviço de
Deos Senhor Nosso, como para o de El-Rey Nosso Se
nhor pelos meyos seguintes :
3-Ainda que naquella Capitania Havia as antigas
Villas de Porto Seguro e Rio das Caravellas, e se criaram
de novo outras duas nas Povoaçoens a que chamavão
Aldeias, e herão administradas pelos chamados Jezuitas ,
quaes são a nova Villa de Trancozo, e a nova Villa Verde :
com tudo, como de costume daquellas partes hera despre
zarem-se inteiramente os Indios, sendo excluidos de tudo
o que hera Governo, idea que produzio as prejudicialissi
mas consequencias de por hua parte se perderem toda
aquella immensidade de Almas ; e pela outra de se con
servarem em brutalidade todos aquelles Homens , que
criados em policia deveram ter concorrido para a cultura
das terras , para os descobrimentos dos Sertõens , para a
Governança das Republicas, e para as Navegaçoens : Afim
de se aproveitar toda aquella gente, que ainda resta :
Ordena Sua Magestade que V. Mercê em todas as quatro
Villas , que se achão estabelecidas, e nas que de novo esta
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 195

belecer, na Capitania que vay crear, introduza sempre


ao menos a metade dos officiaes das Camaras de hua das
Nações de Indios Naturaes daquellas terras , observando
a este respeito inviolavelmente (em tudo o que for apro
vavel) o Directorio , que em tres de Mayo de mil sete
centos cincoenta e sete, se fez para os Governos das Po
voações dos Indios do Pará e Maranhão e confirmado
como Ley por Alvará de 17 de Agosto de 1758.
4-Especialmente observará V. Mercê sem a menor
alteração, assim quanto ao Espiritual, como ao Temporal
os §§ 4, 5, 6, 7, 8, 9, e todos os mais respectivos a esta
materia contheudos no referido Directorio athé o § 15.
5- Igualmente ordena of mesmo Senhor, que V.
Mercê, quanto ao Commercio , e cultura das terras , esta
beleça naquella nova Capitania a observancia do contheudo
nos §§ 16, 17 , 18, 19, 20, 21 , 22 , 23 , do dito Directorio.
6 Quanto as Plantaçoens , e Commercio, tambem
V. Mercê fará observar o que se contem do § 24 do dito
Directorio em diante no que for aplicavel nestes novos
estabelecimentos : Tendo V. Mercê sempre diante dos
olhos, que sem homens civis não pode haver Christan
dade nem Commercio, nem estabelecimento algum, que
seja seguro : Por cuja razão deve ser todo o seu cuidado
a educação daquellas pobres Gentes , na qual V. Mercê
fará o mayor serviço a Deos Nosso Senhor, e Sua Mages
tade.
7-O mesmo Senhor torna a ordenar, e a recomen
dar a V. Mercê, que observe , e faça observar em tudo o que
possivel for o mesmo Directorio , e que naquelles §§ em
que achar duvida para os reduzir a praxe, antes de fazer,
ou permitir que nelles se faça qualquer interpretação
V. Mercê dê conta a S. Magestade por esta Secretaria de
Estado, de todas e quaesquer duvidas, que se lhe offerece
196 LIMITES

rem para o mesmo Senhor rezolver o que julgar mais


convem ao serviço de Deos , e seu.
8 Huma das partes principaes daquella Capitania,
he o importante Rio de S. Matheus, no qual, alem de se
dizer, que há preciozas madeiras para constructura de
Naus, se afirma tambem que decorrendo pela Serra dos
Christaes, trás o seu nascimento das Minas do Serro do
Frio. E como os novos Moradores, que se forem estabe
lecer nas Margens do dito Rio , achando a noticia, de que
por elle podem hir áquellas preciozissimas terras Não
cuidarão em outra couza algua , se não a de se passarem a
ellas, deve V. Mercê por hora vigiar com todo o cuidado ,
que nenhum passe daquelles Limites, que V. Mercê lhe
assignar, athé nova ordem de S. Magestade .
9-Não deve a V. Mercê, nem pela imaginação , pas
f
sar o objecto de ir fazer o descobrimento de Minas, mas
antes se deve aplicar muito seriamente, depois dos estabe
cimentos das novas Villas que puder erigir, e da educação
dos seus novos Habitantes ; na cultura dos frutos para
se sustentarem com abundancia, não só os Moradores
das mesmas terras , mas fazerem o commercio delles para
a Bahia e Rio de Janeiro : Fazendo V. Mercê comprehen
der áquelles novos Collonos, que não podem ter mayor
riqueza, do que Lavrarem muita quantidade de frutos.
e algodões, para soccorrerem as duas mayores Capitaes
do Grande Imperio do Brazil ; porque o seu producto
Thes trará dinheiro em abundancia , para comprarem todos
os Negros, que lhes forem precizos para adiantarem cada
anno as suas plantações ; e dillatarem á mesma proporção
os seus descubrimentos ao favor da Barra do mesmo
Rio ; para o Commercio e da cultura, que houverem adi
antado, para lhe fornecer os meyos de continuarem, e
dillatarem os descobrimentos que de outra sorte seriam
impraticaveis entranharem-se naquelles sertões despro
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 197

vidos de todo necessario, como antes costumavam fazer ;


e perecendo por isso á pura necessidade, como innumera
veis vezes tem acontecido, por falta de prudencia dos que
sem aquellas medidas se forem internando cegos da
ambição .

10-Para se ajudarem estes novos Povoadores da


mesma madeira que devem queimar, para fazerem as
roças : Lhes segurará V. Mercê que S. Magestade lhes
comprará todas aquellas que forem uteis para si e seus
Arsenaes pelo justo preço que se entender que ellas val
lem : e para que V. Mercê possa ter hua idea dos preços
porque o mesmo Senhor as paga na Capitania do Pará,
juntarei a esta hua Relação , tanto dos comprimentos,
e grossuras das mesmas madeiras, como dos preços por
que são vendidas á Fazenda Real.
II- Não sendo possivel, que haja nas Povoaçoens
daquelle Rio Mestres que saibão a forma, porque se de
vem cortar os mesmos páos, e os que são proprios para
a constructura das Naus : Tem S. Magestade a este res
peito dado a providencia que em outra participarei a
V. Mercê, em beneficio deste novo estabelecimento .
12 S. Magestade se acha informado de que assim
na oCsta do Már do Rio de S. Matheus, como na em que
dezagua o Rio das Caravellas, se avistam Balleas : E deve
V. Mercê mandar observar se será facil a sua pesca em
qualquer dos dous Rios digo a sua pesca, e estabelece
rem-se em qualquer dos dous Rios fabricas de azeite do
mesmo Peixe, para o mesmo Senhor dar os meyos de se
aproveitar esta interessante pesca .
13-A communicação da nova Ouvidoria que V.
Mercê vay criar , com a do Espirito Santo, he summamente
interessante, tanto ao Serviço de S. Magestade, como ao
bem commúm daquelles moradores : Pelo que ordena o
mesmo Senhor, que V. Mercê dê toda providencia, que
198 LIMITES

julgar necessaria , para que as duas Ouvidorias se façam


communicaveis , visto o interesse reciproco, que a ambas
se segue .

14-Aos Exploradores, que forem a esta importante


diligencia mandará V. Mercê soccorrer com farinhas.
Carnes, Polvora , Chumbo, foices, e machados por conta
da Fazenda Real ; A cujo fim se expedem as ordens ne
cessarias, ao Governo da Bahia para dar a V. Mercê o
que lhe pedir para essa diligencia : Tendo V. Mercê en
tendido, que a não deve fazer publica ; mas deve reco
mendar com toda a cautella as pessoas, que achar mais
capazes, e dignas de confiança ; debaixo da Instrucção
de o irem fazendo, para V. Mercê participar tudo ao
mesmo Senhor por esta Secretaria de Estado .
15-Aos mesmos Exploradores deve V. Mercê encar
regar, que nos caminhos, que forem fazendo , vão abrindo
picadas largas para poderem depois servir de estradas.
aos que se seguirem tras delles : Aos ditos Exploradores.
deve V. Mercê tãobem determinar, que façam hum
Diario exacto da sua jornada ; declarando nelle os Rios,
que acharem ; a sua Largura , o rumo pouco mais ou me
nos a que correm ; se estão povoados de Gentios , e o nu
méro, e qualidade delles : Pondo V. Mercê todas as noti
cias que receber ao dito respeito na prezença de S. Ma
gestade, como acima digo.
16-Hua das averiguações que V. Mercê deve fazer
logo que chegar a dita Capitania, e com o mayor segredo
he examinar a largura , e fundo dos dous Rios de São Ma
theus e das Caravellas, vendo quantas braças de agua tem
na baixamar em aguas vivas, e o quanto sobem as mesmas .
aguas na preyamar ; quantas legoas de cada hum dos ditos
Rios se podem navegar, desde as suas barras, até onde
forem praticaveis no Payz descoberto ; e os fundos , que
nelles se forem achando : Pondo V. Mercê nessa diligencia
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 199

o mayor cuidado : Dando conta a S. Magestade do que


achar a esse respeito da sua mesma Letra, sem que possa
expedir-se por Amanuense algum ; porque tem conse
quencias gravissimas a rellaxação desse segredo .
17-Ordena tambem S. Magestade, que assim na
quellas Povoações chamadas Aldeias, que estão já domes
ticadas, como nas que de novo se estabelecerem com In
dios descidos ; logo, que estes se descerem no competente
numero, se vão estabelecendo novas Villas , e se vão abo
lindo nellas os barbaros, e antigos nomes que tiverem ;
e se lhes vão impondo alguns outros novos dos das Cida
des ou Villas deste Reino.
18 Ultimamente manda S. Magestade ordenar a
V. Mercê, que onde houver campinas suficientes, mande
V. Mercê estabelecer todos os Curraes de Gado, que couber
no possivel ; porque alem de ser hua das essenciaes partes.
da abundancia para os Moradores ; he huma das prin
cipaes riquezas do Brazil , e será hum util ramo de Com
mercio este dos gados para o sustento da Bahia ; e o dos
Couros para aquella Cidade, e este Reino .
Deos Guarde a V. Mercê.- Nossa Senhora da Ajuda
30 de Abril de 1763.
Está conforme o original. Bahia- Registo de Ordens
Regias. Liv . 4º. 1758-1765 . fl . 198 e seguintes .- Lisboa ,
Arquivo de Marinha e Ultramar, 16 de Janeiro de 1913.—
O 1º. Bibliothecario- Director, Eduardo de Castro e
Almeida.
200 LIMITES

N. 24

Cartas (*) do ouvidor Thomé Cou


ceiro de Abreu que provam a legitimidade
da sua jurisdicção sobre todo o territorio
ao sul do rio Mucury, de accordo com as
instrucções que lhe haviam sido dadas
pelo Marquez de Pombal . Veja-se o n , 23,
em que clara e positivamente lhe é indi
cado o rio de S. Matheus para alli fundar
uma villa.
Tanto as Instrucções como esta cor
respondencia, mantida com a approvação
do Governo Portuguez, demonstram os
erros dos mappas dos Srs. Candido Men
des e Homem de Mello e dos que os tem
copiado.

Diz o Desembargador Thomé Couceiro de Abreu,


Ouvidor Geral da Capitania de Porto Seguro , que V. Ma
gestade he servido mandar pagar pela Fasenda Real, da
Cidade da Bahia de Todos os Santos, ao Ouvidor Geral
da Capitania do Espirito Santo para sua aposentadoria
a quantia de 40$000 , em cada hum anno, em attençam a ser
muito pobre o dito lugar ; e porque nam ha nenhun tam
pobre em toda a America como o de Porto Seguro, nem
tem terras mais necessitadas, por cuja resão, a exemplo
do dito ouvidor do Espirito Santo , parece que se acha o
Supplicante nos termos de V. Magestade de lhe conceder
a mesma graça que consta da certidão junta . Pede a V.
Magestade lhe faça Mercê conceder-lhe a graça refe
rida e mandar-lhe passar Provisam, para que o Provedor
da Fasenda Real da dita Cidade, o faça metter em folha
com a devida verba .- E . R. Mercê.

(*) Algumas destas cartas foram trazidas por mim em co


pias authenticadas do Archivo de Marinha e Ultramar de Lisboa,
copias que pertencem ao Archivo Publico do Estado da Bahia
actualmente e toda a collecção está publicada já nos Archivos da
Bibliotheca Nacional.- N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITOSANTO 201

Uma provisão de 15 de Março de 1765 , mandou in


formar este requerimento .

Porto Seguro 8 de Janeiro de 1764 .


Illmo . Exmo. Sr. Aportei na Barra desta Villa
no dia 7 do mês de Dezembro proximo passado : tomei
posse deste lugar em dia de Nossa Senhora da Conceição
e não cheguei mais antecipadamente porque me vi obri
gado a demorar- me em Pernambuco os meses de Se
tembro e Outubro, por cauza dos ventos contrarios e por
falta de monção como a V. Exa . virá a constar por ou
tras vias .
Terras ,-Do estado das Villas, Rios e suas Aldeas,
desde o Rio Grande, que divide esta Capitania da dos
Ilhéos pelo norte, athé a Villa de Santo Antonio das Ca
ravellas, que reservei e d'ahi para baixo athé o Rio
de S. Matheus, para uma inspecção pessoal na forma
das Reaes Ordens de S. M.; e da Relação inclusa
virá V. Exa. no conhecimento destas terras e rios,
das providencias que tenho dado, o que me parece
a respeito da creação das duas Villas mais e a da
inutilidade da estrada, que pelo sertão, he S. M. ser
vido abrir desta Capitania athé á do Espirito Santo.
Da mesma sorte virá V. Exa. na intelligencia da
abundancia de madeiras, que ha no Rio Grande, no Ju
curucú e Itanhem , muito mais visinhos da Bahia , do que
o das Caravellas e S. Matheus, e por isso mais accomo
dados os transportes ; mas porque ainda que se criem
nestes rios duas Villas, não terão nos primeiros annos
necessidade de abrir roças, em que cortem madeiras ,
para as suas lavouras e plantações, por terem campinas
descobertas , em que as fasem e podem continuar, me pa
rece que seria mais util, que se mandassem cortar por
conta de S. M. á vista das bitolas, que eu trouxe , extra
hidas do termo de arrematação , que d'ellas se fez , na
L 26
202 LIMITES

Capitania do Pará, visto serem tão faceis os transportes


para os rios e destes para as barras .
Para este fim se necessitará , de que o Governo da
Bahia me mande, quando eu lhe mandar pedir, dois
mestres da Ribeira das Naus, que hajão de governar
pelas bitolas os córtes e preparo das madeiras , e feitas
ellas as sumacas, e barcas, que forem necessarias e tão
bem saber-se donde se hão de pagar os serviços dos tra
balhadores e como alguns não terão farinhas , nem car
nes, com que possão sustentar- se no trabalho , podião tão
bem vir da mesma Cidade , e no fim de cada mez feita
a conta, irem-se-lhe abatendo nos jornaes . Da mesma
sorte serão necessarios alguns machados, fouces , e en
xadas, que os moradores não terão, principalmente os
do Rio Grande, porque alguns m'as pedirão, e se lhes po
dião tão bem dar por mão do Escrivão, feitos os termos
necessarios, vindo avaliados da Bahia, e no fim do ser
viço ficavão elles providos destes instrumentos para a
construcção de suas casas e para suas lavouras, e os pa
gavão dos mesmos jornaes, abatendo -se a diminuição
que justamente fosse arbitrada .
Tambem me informarão , parece-me que com ver
dade, que á Povoação de S. Matheus tem descido por
varias vezes bastantes gentios em tom de paz a fazer o
seu negocio e que o mais que querem são facões e ma
chados, dando por elles redes e cintas de pennas, e que
nas suas Aldeas são governados por hum João da Silva
Guimarães, que ha annos desceo fugido das Minas .
Logo por prevenção, escrevi ao Vigario e Juiz re
commendando-lhes efficazmente, que no caso, que elles
descessem sem eu lá me achar, os animassem e acari
ciassem de fórma , que elles conhecessem, que nós era
mos seus amigos e que vissem se podião introduzir-lhes
os bens, que se lhes seguirão se elles viessem viver para
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 203

aquella Povoação, em que havião de ser honrados e fa


vorecidos por S. M., que lhes mostrassem a Igreja e lhes
fizessem todas as demonstrações de amizade que possivel
fosse e que se eu me achasse nas Caravellas me despe
dissem logo hum mensageiro .
Tãobem lhes mandei carta para o mesmo João da
Silva, convidando-o a que descesse com OS mesmos
indios, que eu lhe promettia da parte de S. M. dar- lhe
terra para elle fundar huma boa Povoação e se estabe
lecerem todos nas terras , que elle quizesse e que ao mesmo
Senhor representaria todo o bom serviço , que elle nesta
parte lhe fizesse , para o premiar confórme o seu mere
cimento, e que se não intimidasse se tinha algum crime,
porque S. M. uzaria com elle de sua Real Clemencia.

a catechisação destes gentios são proprias


facas flamengas, contas, gromixaes ( sic ) alguns espe
lhos pequenos e barretes vermelhos, e se do Governo da
Bahia podessem vir para eu os entregar ao Vigario com
as clarezas necessarias , e elle com as mesmas dal- os a es
tes gentios quando descessem, poderia vir a ser util esta
despeza para o serviço de Deus e de S. Magestade.

Entreguei na Bahia o Aviso do mesmo Senhor ao


Bispo Arcebispo eleito para me mandar os clerigos que
The pedisse, porem elle me respondeo, que não podia ,
porque esta Capitania pertencia no espiritual á juris
dicção do Reverendo Bispo do Rio de Janeiro ; mas que
lhe escreveria com a copia do mesmo aviso e esta foi a
razão, porque eu recorri ao mesmo Reverendo Bispo
para os dois clerigos de que faço menção na Relação.

O que nella refiro, he o que pude alcançar e des


cobrir e obrar no pouco tempo , que tenho de assistencia
nesta Villa. V. Exa . será servido represental -o a S. M.
para que o mesmo Senhor haja de determinar o que fôr
204 LIMITES

servido. O Desmbargador Ouvidor de Porto Seguro,


Thomé Couceiro de Abreu .

Relação sobre as Villas e Rios da Capitania de Porto


Seguro, pelo Ouvidor Thomé Couceiro de Abreu.
N. 6429

Porto Seguro 8 de Janeiro de 1764.


(Annexa ao N. 6429) .
"Logo que cheguei a esta Villa de N. Sra . da Pena , de
Porto Seguro, e tomei posse do lugar de Ouvidor desta
Capitania , em dia de N. Senhora da Conceição, pro
ximo passado, entrei a informar-me do seu continente,
do Commercio das Villas já estabelecidos, do estado dos
Indios de Trancoso e Villa Verde, que ao depois vim a
ouvir, dos rios que ha desde o Rio Grande que a divide
da Capitania dos Ilhéos pelo Norte, até a Villa das Cara
vellas inclusive. E, porque entre o mais que achei foi
que das Villas novas de Trancoso e Villa Verde se ti
nhão auzentado muitos moradores, escrevi aos reveren
dos Vigarios pedindo a cada hum huma relação dos Indios
actualmente persistentes nas ditas Villas e dos auzen
tes com distincção de titulos das Villas e lugares em que
se achavão ; e de caminho fiz a mesma recommendação
ao Reverendo Vigario desta Villa e ao da Freguesia
de Santa Cruz, reservando esta diligencia na Villa das
Caravellas ePovoação de S. Matheus para quando eu lá
chegar que será brevemente .
Villa de Trancoso-Pela relação do Reverendo Vi
gario desta Villa, que com as mais deixo acauteladas
em meu poder, consta que os cazaes que nella se achão
existentes são 139. Filhos , filhas e enteados 320. Viuvos
3. Viuvas 40. Moças solteiras, sem paes, 9, Moças sol
teiras 16. Mulheres com seus maridos auzentes 9. Filhos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 205

d'estas e das viuvas 36. Auzentes com algumas de suas


mulheres 124. Filhos que tem comsigo 93.
Villa Verde- Da relação do Reverendo Vigario se
fez certo que são 105 os cazaes actualmente moradores
n'esta Villa. Viuvas 22. Filhas de communhão 92. De
confissão somente 17. Auzentes 41 homens e 5 mulheres.
Na creação destas duas Villas, deixarão vivendo os
seus moradores na mesma brutalidade, em que d'antes
vivião, consentindo que se accomodassem e dormissem
debaixo de huma só palhoça 10, 12 , e mais com seus fi
lhos e filhas. Não se assignarão pastos communs, nem
se limitarão terras para rendimento do Conselho . O termo
que se lhes assignou he tão pequeno, que já muitos se me
vierão queixar de que não tinhão terras sufficientes para
suas lavouras e plantações, porque as que se lhes tinhão
assignado se achavão algumas já cançadas e cheias de
formigas , outras feitas capoeiras. Não se lhes poz di
rector e só sim hum Escrivão com obrigação de lhes en
sinar seus filhos a lêr. A estes incumbi por ora algumas
advertencias do Directorio do Maranhão, de que vão
dando boa conta, dei plantas para a formalidade das Vil
las e hum d'estes dias conforme com as ordens de S. M.
e bem d'estas duas povoaçoens .
Porto Seguro- Tem esta Villla pela relação do Re
verendo Vigario 268 fogos, entre homens brancos, viuvos,
viuvas e pardos forros . Pessoal de confissão e commu
nhão contendo filhos , escravos e escravas 1006. De con
fissão somente 14.
Freguesia de Santa Cruz- Termo desta Villa. Tem
esta Freguezia 55 moradores entre brancos , pardos e
pretos forros cazados . Filhos d'estes e de algumas par
das solteiras , 88. Moços e moças solteiras, sem paes, 27.
Pardos e pardas solteiras, 26.
Pelas mesmas informaçoens vim no conhecimento
206 LIMITES

de que junto ao Rio Grande, havia alguns moradores in


dios, mansos e domesticados, e que delles se tinhão au
zentado alguns , já ha annos para o matto e outros se
achavão espalhados e auzentes da primeira aldea, que
estabelecerão : e que o Padre José de Araujo Ferraz, da
Freguezia de Santa Cruz , tinha sido alguns tempos seu
Director. Logo lhe escrevi , rogando-lhe quizesse redu
zir os que existião na primeira Povoação, e me viessem
fallar e executando-o elle , veio com elles pessoalmente .
Expuz-lhe a Real Clemencia de S. M. , com que deseja
honral-os , favorecelos e amparal-os , e as utilidades e
bens que havião de conseguir, conservando - se na sua
Aldêa, e indo reduzir os auzentes que viessem ter com
migo e porque 2 delles me parecerão mais ageis , os no
meei para esta diligencia . Prometerão -o elles assim e se
forão muito satisfeitos depois de jantarem.
Passados poucos dias vierão muitos dos dispersos,
com hum que se intitulava seu Capitão-mór . Estranhei
lhes com muito geito e brandura o haverem dezampa
rado a sua primeira Aldea e os seus Naturaes, e que
havião de ajuntar-se e unir-se todos, para que eu da
parte de S. M. podesse ter occasião de ajudal -os e hon
ral-os em tudo o que fosse possivel.
Que lhes havia de mandar vir hum Clerigo que lhes
dissesse missa , confessasse e sacramentasse, e que adi
antando-se o numero d'elles naquelle sitio, havia a sua
Povoação de ser erigida em Villa e elles eleitos para os
cargos honrosos, de Juizes e Vereadores. Ficarão sa
tisfeitos e me responderão que cuidavão em ajuntar- se
logo com os seus Naturaes, e fazer suas vivendas, indo
The Clerigo . E para que logo entrassem a fundar a sua
habitação, com formalidade de Villa, mandei ir para
aquelle sitio hum homem de bom proposito, e já conhecido
d'elles , com huma fórma de planta, para que por ella
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 207

fosse regulando as cazas, que os ditos Indios havião de


edificar ; que a cada hum delles desse terreno, 1 ao me
nos para seis quartos, hum que lhe servisse de sallinha ,
outro para os Paes dormirem, outro para os filhos , o 4°.
para as filhas , o 5º. para cosinha e o 6º . para terem os
seus effeitos . E que como eu havia de ir áquelle sitio,
então lhes balizaria terrenos para quintaes e disporia
o mais que fosse necessario.
Estes Indios são de nação Menhão , que dizem he boa.
Constam de 33 cazaes e 6 filhos, mulheres , viuvas e sol
teiras 6. Auzentes 2 com huma irmã . Para estes Indios e
os mais das duas Villas novas se recolhero (sic ) as suas
respectivas Povoaçoens, escrevi logo cartas de serviço
aos Capitaens móres do Camamú, Ilhéos e Rio das Con
tas, requerendo-lhes me fizessem remetter estes Indios,
que se achavão nos seus Districtos : e para fazer mais effi
caz esta diligencia, dou agora conta ao Governo da Bahia ,
com especifica relação dos auzentes, para que por elles,
se recommende aos mesmos Capitaens móres a effectiva
execução das minhas cartas.
Na Villa das Caravellas e seu termo achão-se au
zentes e na de Trancoso 67 ; na de Villa Verde 17 e 5 no
Rio de S. Matheus. Mas como parte d'elles se achão lá ca
zados, e com lavouras proprias e muitos se retirarão, para
aquella Villa em tempo dos celebrados Jesuitas, reservo
esta liquidação para quando lá chegar.
Rio Grande - Este rio he importantissimo , porque
as suas terra são fertilissimas e produzem todos os fru
ctos deste Continente, assim como mandioca, milho , como
nunca se vio, feijão, arroz , algodão e carrapato . Em dis
tancia da barra , couza de meia legoa , ha infinitas ma
deiras nas suas margens, de huma e outra parte até ao
Rio do Obú, que fica por cima 6 ou 7 legoas, contadas
da mesma barra e pelas margens do dito Obú continua
208 LIMITES

a mesma abundancia de madeiras . As suas qualidades


são supipiras de 3 castas, a saber : Mirim, Acari, Hacú,.
Piqui Preto, Anacarona, Sapucaia, bastante Vinhatico,
Angelim, algum Jacarandá e outras que se não tem co
nhecido. He sitio saudavel, fica na terra d'esta Capita
nia, para o norte, distante da Cidade da Bahia 49 legoas..
A Barra dizem alguns, que admitte barcaças e su
macas grandes , outros que não ; porém podem surgir as
maiores sumacas e barcas, e a ellas ir as lanchas descar
regar as madeiras , que podem carregar - se na barra. Tem
de defeito este rio o ser baixo da barra para cima, mas
em occazioens de enchente podem descer por elle as ma
deiras em balsas e jangadas para as lanchas . Eu em me
recolhendo das Caravellas e S. Matheus, faço tenção ir
logo vêr este rio , sondar a sua barra e certificar-me com
peritos na referida enseada ; e achando veridicas as in
formaçoens que refiro, parecia-me crear em Villa aquella
Povoação, não só, porque todas me affirmão, que por
razão da fertilidade das terras, concorrerão para ellas
muitos moradores de toda a parte, mas tambem porque
com ella se seguirão tres conveniencias. A primeira o
ficar aquelle Povo rebatendo por aquella parte os Gentios ,
que costumão alargar-se, fazendo os seus costumados
damnos, até as vizinhanças do lugar de Santa Cruz , que
The fica distante para o sul II legoas. A segunda, por
que como fica tão perto da Bahia, ficão mais suaves e
accommodados os transportes das madeiras e dos effei
tos d'aquelles moradores. A terceira por ser o modo
de conservar alli aquelles Indios e poder vir a ser d'aqui
a annos huma das melhores Villas, desta Costa.
Rios que se seguem prara o sul :
Mugiquiçaba- Fica este rio distante do Rio Grande
4 para 5 legoas , caminhando pela estrada geral da praia.
Não tem barra capaz , nem madeiras e os passageiros na
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 209

baixa-mar o passão a váu , porque fica com 4 palmos de


fundo.
Rio de Santo Antonio- Este rio fica distante do
Mugiquiçaba, caminhando para o sul, 3 legoas. Não tem
barra capaz, nem madeiras e na baixa-mar , se passa da
mesma sorte, a váu.
Rio de Santa Cruz- Fica este rio distante do de
Santo Antonio, caminhando para o sul, pela mesma praia,
3 legoas. A barra admitte embarcaçoens até 60 palmos ;
não tem madeiras, que fação conta . E supposto que não
dá váu, ha nelle Canoas particulares em que passão os
passageiros ; mas como he factivel faltarem algumas vezes,
pode obrigar-se a Camra d'esta Villa, por ser aquella
Povoação do seu termo, a pôr nella huma Canôa effe
ctiva, pagando os passageiros de dentro d'esta Capitania , a
30 réis cada hum e os de fóra della 40 para a mesma Ca
mara ; e de caminho se acóde á sua summa pobreza , que
he tal, que a caza em que os officiais della exercitão os
seus actos, he huma loja feita de adôbos ; não tem or
denação, tamborete, armarios e finalmente nem huma
meza ; e a cadeia dos homens e mulheres hé outra loja
com grades de pau .
Rio de Porto Seguro- Este rio he grande e tão fundo,
que nunca dá váu . Fica distante do de Santa Cruz 5 le
goas. A barra admitte sumacas de 60 palmos ; não tem
madeiras, nem canôa , obrigada a passagem dos passa
geiros que costumão passar em algumas particulares com
o incommodo de esperarem por ellas meio dia, e ás ve
zes mais tempo , porém pode obrigar- se a Camara a pôl-a
da mesma sorte que no rio de Santa Cruz.
Rio Mungibura-Este rio fica distante de Porto
Seguro, continuando a mesma estrada, 3 legoas. Não tem
barra capaz, nem madeiras ; admitte váu na baixamar ; mas
para que os pasageiros se não demorem, se lhe pode pôr
L 27
210 LIMITES

com facilidade huma ponte de pau, porque pódem pas


sar a toda a hora.
Rio da Villa de Trancoso-Tambem he pequeno
este rio e fica junto á mesma Villa. Não tem barra, nem
madeiras e se passa a todo tempo por huma ponte de
pau , que fizerão os Indios .
Rio do Frade-Fica este rio abaixo de Trancoso ,
caminhando pela mesma estrada, duas legoas e meia .
A barra não é capaz, nem tem madeiras, nem admitte
váu pela sua velocidade ; porém tem moradores , que po
dem ser obrigados a ter canôa de passagem, levando 20
réis de cada pessoa que quizer passar .
Rio Caramimoan- Fica este rio abaixo do Rio do
Frade 2 legoas. Não tem barra capaz, supposto que tem
bastante supipiras, boas terras e campos ; não admitte
váu, nem ponte ; porém tem alguns moradores de Tran
coso, que por falta de terras no seu termo, vão lavrar
a elle, que podem pôr canôas levando o mesmo vintem.
Corumbau- Este rio fica abaixo do de Caramimoam
2 legoas. Tambem não tem barra, nem madeiras. Admitte
váu na baixa-mar por cima do joelho palmo e meio e nas
marés cheias, tem sempre canôa prompta 2 moradores
que nelle habitão.

Rio Cahi-Este rio he pequeno ; tem boas madeiras ,


mas não tem barra capaz ; fica distante de Corumbau
2 legoas, e se passa nas baixas marés a váu, com agua
pelo joelho.
Rio Jucurucú-Este rio é importantissimo, porque
é rio grande e tão fundo que em distancia de 8 legoas
por elle acima , póde navegar qualquer lancha de 60
palmos. A barra que he de areia tem hum banco, que não
admitte embarcaçoens maiores ; porém junto a elle para
o mar, póde qualquer embarcação e ainda navio de 3 mas
tros dar fundo , sendo os ventos norte , nordeste, sueste e
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 211

sudoeste, não sendo estes dois tormentozos . O mar he


manso e nelle podem descarregar quaesquer lanchas, que
descerem do rio.

Poucos dias antes da minha chegada, a esta Villa,


arribou naquelle sitio um navio francez , que nelle se
conservou 7 dias sem perigo , soffrendo grandes ven
tos e brizas ; e tornou a sahir guiado por um pratico , que
da Villa das Caravellas, a rôgo do Capitão, lhe man
dou o Sargento-mór. Ainda não sei a razão , porque
aquelle navio ali ancorou, porém tenho mandado pedir
informação ao Juiz da dita Villa , emquanto lá não chego.
Tambem tem excellentes madeiras, da mesma qua
lidade que as do Rio Grande e mais breve commodidade
para se transportarem em lanchas para qualquer navio
ou sumaca. As terras são largas e fertilissimas para toda
a qualidade de fructos e plantaçoens e se póde ali fun
dar huma bella Villa, mandando para aquelle sitio, que
já tem 2 cazaes com seus filhos , alguns moradores po
bres desta Villa, que não tem nada de seu, alguns Indios
vadios da Villa de Trancoso e alguns dos muitos que tem
a Bahia, vindo ordem para este fim ao Governo, porque
assim como os de Portugal são mandados todos os an
nos para a India, bem podião os da Bahia vir para esta
Capitania ser gente e adquirir com que passem a vida .
No Rio Tanhem, que fica para o sul, distante 4 le
goas , ha 22 cazaes e 90 e tantas almas, entre paes e filhos ;
e extendendo- se o termo da Villa, que se crear no Jucu
rucú até ao Rio Tanhem, podem estes moradores esta
belecer cazaes no Jucurucú e conservar suas lavouras
em Tanhem.
Eu deixei recommendado ao Chanceller da Bahia,
que encaminhasse para esta Capitania os degradados
que não fossem por ladroens ; porém se lhe viesse Aviso
de S. M. e para o Rio de Janeiro se recommendasse o
212 LIMITES

mesmo, mais util seria ; se bem que o Capitão mór das


Conquistas e o Provedor do Rio Tanhem, me affirma
rão, que posto no Rio do Jucurucú algum clerigo, con
correrião para aquelle sitio muitas gentes de toda parte,
a aproveitar-se da bondade e largueza de suas terras.
Eu lhe puz a duvida da falta de moradores , porém
elle se me obrigou a sustentar o clerigo e a concorrer
com os mais moradores com tudo o que fosse , necessa
rio em quanto se não erigia Villa no Jucurucú e se punha
nelle Vigario. E porque me não pareceu de razão nos ter
mos propostos, que tantas almas por falta delle, estivessem
privados do santo sacrificio da
da missa e mais sa
cramentos da Igreja , requeri ao Bispo do Rio de Janeiro
na mesma carta , porque lhe pedia outro clerigo para o
Rio Grande , me mandasse tambem hum para este sitio.
Tambem da erecção desta Villa e da do Rio Grande,
se segue a conveniencia de ficar defendida do Gentio
bravo toda esta Costa e estrada geral da praia e os pas
sageiros, com commodidades para o seu sustento , re
pouzo e descanço de poucas em poucas legoas ; e tudo
isto melhor poderá conseguir-se, como tambem a descida
de alguns Gentios, dando- se por termo a esta Villa , se
se erigir, até ao sitio da Comuxativa, que fica distante
para o norte 4 legoas e quasi defronte do Monte Pascoál,
em cujas fraldas tem o gentio o covil de suas aldeias.
Rio Tanhem- Este rio fica distante do Jucurucú ,
para o sul 4 legoas. He importantissimo e admitte lan
chas da Barra por elle dentro em distancia de 4 para 5
legoas . Tem da mesma sorte excellentes terras para todas
as qualidades de fructos e plantas ; excellentes madei
ras nas suas margens, que nas mesmas lanchas podem
tranportar-se para quaesquer embarcaçoens grandes
que ancorem entre elle e o rio Jucurucú, por ser o mar
alli manso . A barra dizem que he o mesmo que a do Jucu
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 213

rucú e em quasi tudo vem a ser iguaes as bondades das


terras, madeiras, barra e mar destes 2 rios.
Rios das Caravelas-Peruipe,-Bacuri, S. Matheus.
Destes rios não posso por ora dizer nada, porque depen
dem da minha assistencia as diligencias que nelles devo
fazer. A minha tenção he ir a elles por terra e de cami
nho ir com praticos sondando todos os mais , que deixo
informados, com suas barras, e achando verdadeiras as
informaçoens ir dispondo para o Jucurucú , todos os mo
radores pobres, que poder reduzir, das Villas mais bem
povoadas, por suas vontades ; e na minha retirada para o
norte vir estabelecendo canôas para passagem aos vian
dantes nos rios , que não admittirem pontes, com o encargo
de hum vintem ou 30 réis para satisfação do trabalho dos
donos das mesmas canôas .
Estrada da Praia-Esta estrada he real e commúa
desde a Bahia até o Rio de Janeiro , sem que ha muitos
annos tenha havido noticia de morte alguma que o gentio
fizesse ; e estabelecidas as Villas no Rio Grande e no
Jucurucú, mais segura e defendida fica e os passageiros
que já tem suas commodidades nas cazas dos moradores ,
que já ha , com muito melhores accommodações ficarão ,
erigidas estas Villas .
Estrada por terra- Todos os praticos deste conti
nente e o Capitão-mór das Conquistas, julgão inutil esta
estrada, porque ainda que se faça desta Villa até aos
confins do Rio de S. Matheus, que divide esta Capitania
da do Espirito Santo (* ) poucos serão os passageiros que

(* ) Por esta passagem e outra enunciada em differente


logar, se deprehende que o ouvidor, no pricipio da sua judica
tura, pensava que a capitania de Porto Seguro ia somente até
o rio de S. Matheus , de que fallavam as suas Instrucções , talvez
por causa da antiga e ephemera divisão do Brasil em dois Gover
nos que por alli se extremavam .
Recebeu porém depois provavelmente esclarecimentos sobre
todo o territorio de Sua jurisdicção, porque na margem meridio
214 LIMITES

della se aproveitem, porque lhe ha de ficar muito mais.


distante, que a da praia, por onde estão costumados a
andar, não terão aonde se acostem de noute e a quem
comprem o seustento do dia, e achando-se todos estes
sertões cobertos de gentios de mau natural, porque são
Patarós, Cutarós, Poixós, todos da mesma lingua, po
rém inimigos huns dos outros, Bacani, Anacão e Patá,
não haverá passageiro que se atreva a metter- se em huma
estrada com evidentes perigos de sua vida, e faltando
huma continuada passagem de gentes por qualquer es
trada nesta America, dentro em 3 annos se põem com
mattos no estado antigo .
Para a factura da dita estrada se despende muita
gente de trabalho, exploradores e defensores dos homens
de serviço, por razão do mesmo gentio . Hão de encon
trar-se muitos tremedaes e ferrarias (sic) de pedra , que
de necessidade se hão de rodear. Mas sem embargo de
tudo isto he factivel a estrada até á extrema desta Capi
tania, porem passado o Rio S. Matheus, entrando na do
Espirito Santo se encontra huma difficuldade muito
grande, porque me dizem que entre o Rio de S. Matheus
e o Rio Doce ha uma lagôa chamada Jeruperanam , mettida
no matto, que dizem he demasiadamente comprida e
tam cheia de tremedaes, que por ella he impraticavel fa
zer-se esta estrada sem uma extraordinaria volta.

O que se necessitava para ultima commodidade da


communicação desta Capitania, com a do Espirito Santo
e com o Rio de Janeiro , era que o Ouvidor daquella Capi
tania fizesse povoar a Barra do Rio Doce, com 4 ou 5
moradores, que já teve, e os obrigasse a ter canoa prompta

nal do rio de S. Matheus fundou a villa deste nome e foi o ter


ritorio ao sul do mesmo rio, até o Maricucu, que deu para patri
monio da villa, como se verá dos respectivos autos de creação .
mais adeante.-N . do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 215

pelo seu tanto para os Viandantes , que por ora tem o


discommodo, para passarem de huma para outra parte,
de subirem pelas margens do dito Rio acima hum dia
de viagem, fazerem no seguinte a sua balsa , em que se
metem, e voltando por elle abaixo virem vencendo pouco
a pouco parte da sua largueza até a Barra, aonde acabão
de passar : E ainda assim o não vencerião se não fossem
humas Ilhas, que o dio Rio tem, e em que costumão am
parar-se, segundo me informarão o mesmo Capitão-mór
das Conquistas Ignacio do Couto e Fr. Antonio de Can
delaria, Leigo do Convento do Carmo do Rio de Janeiro,
que o tem passado algumas vezes e he pratico no conti
nente d'estas Capitanias até o mesmo Rio de Janeiro .
Eu não desejo fugir com o corpo ao trabalho ( * ) em
tudo, o que diz respeito ao serviço de S. M. mas o zelo
com que costumo empregar-me nelle , e por não ter animo
para ver que encontro, e tambem porque sendo tantos .
os rios e tão infestados os sertoens , por nenhum modo
se poderão conservar nelles canoas para a passagem dos
viandantes.
Porém se S. M. sem embargo d'ellas fôr servido de
terminar, que ella se faça, o executarei como devo, e com
tal brevidade que parecerá couza incrivel . Mas como ella

(*) Não só não fugia com o corpo ao trabalho mas o expoz


nelle até perder a vida, este grande e nobre servidor do seu paiz.
Explorador valente e dedicado, intelligente e consciencioso
escravo do dever, correspondendo á confiança que nelle havia
depositado o governo da sua patria, este homem que honra a
magistratura portuguesa pelo seu labor, este ouvidor que ia son
dar barras e as balisar, e estudar tudo de visu, afim de fundar
uma administração, foi victima da sua dedicação pelo serviço
publico.
Menos de dois annos depois desta luta com a natureza bruta
e selvagem, elle veio morrer no convento de Santa Theresa, aqui
na Bahia, onde entrou trazido carregado da sua ouvidoria , attin
gido provavelmente por alguma infecção palustre de forma muito
grave.
Sirvam estas paalvras, escriptas por um brasileiro 150 annos:
depois, para exprimir a gratidão que esta terra deve a um dos
que morreram na obra da civililsação della.- N . do auctor.
216 LIMITES

deve continuar pela Capitania do Espirito Santo e nella


ha Ouvidor e dobradas Povoaçoens, com duplicados mo
radores, que não ha nesta Capitania, parece que ainda
por razão da brevidade , deve ella corrêr por conta do
dito Ouvidor e nos limites da sua jurisdicção , entrando
elle por lá a mandal-a ábrir e emquanto eu faço o mesmo
no meu districto .
Porém se S. M. não obstante o que pondero, a grande
distancia em que me fica aquella Capitania e o tempo que
ha de levar esta estrada no districto da minha comarca,
ordenar que tambem ella corra por minha conta, em
tudo executarei as Reaes Ordens do mesmo Senhor.—
O Desembargador Ouvidor de Porto Seguro , Thomé Cou
ceiro de Abreu.

Noticia sobre a Barra do Rio Grande, sondada em marés


grandes, pelo Ouvidor da Capitania de Porto Seguro,
Thomé Couceiro de Abreu.
Dizem que este rio vem das Minas Geraes do Jucu
tunga (Jequitinhonha ) . A sua barra he de areia, e corre de
alesnordeste par lessudueste. O banco do norte para o
sul. O pontal do sueste para nordeste . O rio athé á en
seada corre alessudueste. Tem o pontal da parte de den
tro da barra 74 braças de largo e sondando na ponta do
norte, tem de fundo 2 braças e hum palmo e na baixamar
huma e hum palmo .
No meio da preamar 2 braças e meia e na baixamar
braça e meia ; na ponta da parte do sul o mesmo fundo
que tem pelo norte.
E fazendo caminho de leste a oeste athé o banco ,
tem de comprido 186 braças e a largura deste banco, que
he a barra por onde entrão as embarcações , 32 braças.
De fundo da parte do norte, bem na ponta, na preamar
2 braças e na baixamar huma. No meio e na ponta do
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 217

sul tem o mesmo fundo . E do mesmo banco athé o pon


tal de dentro tem o mesmo fundo , e caminhando pelo rio
acima tem todo o canal de fundo na preamar 3 braças e
na baixamar 2. No fim deste canal ha uma enseada
aonde podem dar fundo as embarcações , que esta barra
permittir, livres de todos os ventos , que tem de fundo na
preamar junto a beirada 2 braças escassas . No meio 2 e 2
palmos e da part : da corôa o mesmo que tem junto á bei
rada ; e na baixa mar encostado á mesma beirada huma
braça . No meio huma e 2 palmos e na coroa o mesmo
que tem junto á beirada .
O Rio da enseada para o sertão he demasiadamente
largo e terá mais de 300 braças, mas tão baixo e com
tantas coroas que não podem navegar por elle senão ca
noas, por cuja razão o não sondei, nem tomei as lar
guras.
Na primeira conta referindo-me ás informações que
me havião dado fiz mensão de huma enseada, que fica
desta barra para o norte, em distancia de legoa e meia,
porem indo examinal-a achei que não era o que se me
havia dito, por que ainda que de preamar de marés gran
des tem na ponta do pontal da parte do sul 20 palmos de
fundo e outros tantos no meio e medindo 290 braças ao
mar em 4 sondas, tem na primeira os mesmos 20 palmos ,
na segunda 25 , na terceira 30 e na quarta 35 ; com tudo
he enseada aberta , lavada dos ventos do mar e só serve
'para amparo dos ventos terraes .

Madeiras. As madeiras que ha nas margens deste


rio são supipiras, carins, itacú , piqui preto, anacarona ,
sapucaia, bastante vinhatico, angelins , jacarandá e ou
tras mais que se não tem conhecido e todas ficão perto
do rio, mas se podem conduzir para a Farra , senão em
barcas, por ser muito baixo e não poderem navegar por
clle outra alguma embarcação fóra de canoas .
L 28
218 LIMITES

Noticia sobre a Barra do Rio da freguezia de Santa Cruz,


na Capitania de Porto Seguro , sondada em marés
grandes, pelo Ouvidor Thomé Couceiro de Abreu.
Fica esta Barra adeante da Povoação para o norte,
meia legoa rio abaixo ; tem de largo 50 braças, entre as
pontas da pedra que lhe ficão para o norte e a corôa, que
The fica para alueste. Confronta a Barra pelo nornor
ceste , noroeste , aluesnoroeste, alueste, aluessudueste e
sueste com a praia, pelo sul com o rio, que corre em di
reitura á Povoação e com o recife, que acompanha o
mesmo rio e o dividè do mar, e pelo sudueste, sueste , les
sueste, leste , lesnordeste e nordeste com o mar. Tem de
fundo o canal na Barra, de preamar nas marés grandes
2 braças e meia e na baixamar braça e meia, e corre este
canal de alueste rio acima e de meio rio para leste , que
he para a parte do recife , são corôas de lama , que se des
cobrem em marés vasias, por cuja razão, quando as em
barcações entrão se inclinão para alueste. Tem de largo
este rio 150 braças, e de fundo na preamar das referidas
marés 2 braças e meia e nas baixas marés huma.
Quem pretender entrar nesta barra hade ir deman
dar a Igreja de Santa Cruz , que fica ao sul, e estando a
leste della em distancia de meia legoa . fará caminho de
noroeste e vendo acabado o recife procurará a barra que
logo ahi lhe fica entre o mesmo recife e a praia e não
procurará outro rumo por razão de outros recifes , que se
achão alagados e ficão ao mar distantes da barra huma
legoa para a parte de leste e lessueste . Não tem madeiras.
Moradores. Os moradores desta freguezia de Santa
Cruz, são 55 entre brancos , pardos e pretos, forros, casa
dos . Filhos destes e de algumas pardas solteiras 88. Mo
ços e moças solteiras, 27. Pardos e pardas solteiras, 26
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 219

Noticia sobre a Enseada da Corôa Vermelha, em que


aportou Pedro Alvares Cabral, quando foi do desco
brimento do Brasil, sondada em marés grandes, pelo
Ouvidor da Capitania de Porto Seguro , Thomé Cou
ceiro de Abreu.

Tem esta Enseada junto a Povoação de Santa Cruz,


para parte do sul . Terá de largo medida de humas pe
dras, a que chamão Aracahi, que ficão chegadas á praia
da dita povoação da parte do Oeste athé o canal , que
corre para esta enseada pelo sul, tres quartos de legoa,
da ponta do recife , que he de pedra, á praia pela parte do
Aloeste 620 braças, medindo pelo sudueste.
Confronta esta Enseada pelo norte, nornordeste e
lesnordeste com o mar, que se pode dizer lhe serve de
barra e por leste , lessueste , Sueste e Sul com o recife e
canal, que comprehende todos estes ventos, e da parte
de Sulsudeste a sulsudueste com a praia athé a dita
povoação. Na ponta em que o recife acaba da parte do
sul ha hum canal, que tem de largo 380 braças athé
huma baixa, que fica adiante delle, caminhando para o
nornordeste e tem de comprido esta baixa norte e sul 80
braças e de leste a Oeste 56.
Tem de fundo este canal por onde quaesquer embar
cações podem entrar com ventos , excepto sudueste , alues
sudeste e alueste na ponta , em que o recife acaba da parte
de fora na preamar e de baixamar 6.
No meio deste canal andando para o norte em direi
tura á baixa 6 braças na baixamar e na preamar 7. Junto
á mesma baixa outras 6 na baixamar e na preamar 7. Em
cima da baixa não tem fundo certo , porque em partes na
baixamar tem huma braça e braça e meia e na preamar
em partes 2 e 2 e meia.
Na ponta do recife, sondando da parte de dentro da
enseada aonde as embarcações hão de dar fundo 4 bra
220 LIMITES

ças e 3 palmos na baixamar e na preamar 5 e meia. Isto


se entende em meia enseada tanto para a praia como
para o recife. E deste logar cominhando para Alueste
tem de fundo na baixamar 5 braças e 6 na preamar e o
mesmo pela parte do recife athé chegar á ponta do Ara
cahyba, que he aonde acaba a praia correndo para of
norte. E todo o meio desta enseada tem na baixamar 5
braças e meia e na premar 6 e meia ; o que se entende
saindo da enseada caminho do norte ; porque saindo
norte e sul com a ponta do recife, procurando sempre o
norte, tem de fundo 7 braças na baixamar e 8 na prea
mar. Toda esta enseada tem a tensa de lama, sem ponta
alguma de pedra e de fundo aonde ella começa da parte
do mar 15 braças ao mesmo mar. Podem nella (sic)
quaesquer embarcações que permittirem estes fundos,
tanto da parte do mar, como do canal, com todos os
ventos, menos os já referidos sendo a entrada pelo
canal, porém a entrada pelo mar he mais segura, não só
porque lhe pode servir de marca a Igreja da mesma Povoa
ção, como digo abaixo , mas tãobem porque terá esta entrada
huma legoa de largo do recife dos Araripes de que logo
faço menção á Corôa Vermelha e se pode por esta parte
entrar com todos os ventos, menos o leste . He o mar
desta enseada muito manso e não pode haver vento que
faça damno ás embarcações ancoradas.
Distante desta enseada, cousa de huma legoa, cami
nhando para o nordeste, ha hum recife de pedra, a que
chamão Araripes que terá de comprido 3 legoas , cami
nhando do sul para o norte e por isso qualquer embarca
ção que quizer procurar a enseada, tomando a altura de
Santa Cruz, apenas avistar a Igreja com distancia de 2
legoas e meia athé 3 , pondo -se alueste com a Igreja, vol
tará a caminho de aluessudueste em direitura á enseada .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 221

Noticia sobre a Barra de Porto Seguro , sondada em marés


grandes, pelo Ouvidor Thomé Couceiro de Abreu.

Fica esta Barra leste oeste com a ponta do Outeiro


do norte da mesma villa e se pode entrar nella com todos
OS ventos menos o sueste, o suesnoroeste e o suessu
doeste. Não tem pedra alguma de leste para o sul e todos
os baixos e recifes ficão de lesnordeste para o norte.

Confronta pelo norte e nordeste com huma ponta de


areia chamada a ponta grande, que lhe fica distante huma
legoa boa e dahi athé o sulsudueste com praia e terra que
The fica em distancia de 150 braças, e pelo sul com o rio
por onde entrão as embarcações a dar fundo e com o re
cife que acompanha o mesmo rio, dividindo - o do mar, e
pelo sulsueste e sueste, lessueste, leste , lesnordeste e
nordeste com o mesmo mar. Tem de fundo a entrada
desta barra na baixa mar de marés grandes 3 braças e na
preamar 4. E para o norte desviado da ponta da pedra
desta barra tem um baixio chamado baroroca e entre elle e
a mesma ponta de pedra , he a barra donde se entra.

Vencida a Barra e estando por terra da ponta do re


c'fe para o sul , desviado delle 20 braças para sueste, se
avista o rio que corre para o sul entre o mesmo recife e a
praia e ahi tem de fundo na baixamar huma braça e na
preamar 2 e de largo da ponta da pedra a ponta de hum
banco , que lhe fica da parte da praia tem 700 braças lar
gas. A embarcação que entrar procurará o Rio sempre
a beira do recife , com o mesmo desvio de 20 braças e em
chegando ao fim do recife caminhará pelo mesmo rio
de largo 150 braças ; porem defronte de huma corôa de
areia, que fica para aloeste e quasi para o fim do recife ,
que se descobre ainda em marés grandes, tem 50 braças.
e de fundo na baixamar 2 braças e na preamar 3. Não
tem madeiras.
222 LIMITES

Moradores.-Tem esta Villa 268 fogos entre homens


brancos , viuvos , viuvas e pardos forros Pessoas de con
fissão e comunhão contando filhas, escravos e escravas
1006. De confissão somente 14.

Noticia sobre a Barra do Rio Jucurucú, sondada em


marés grandes, pelo Ouvidor da Capitania de Porto
Seguro,-Thomé Couceiro de Abreu.
"Entra esta Barra caminho de a sueste e principia
de hum baixio, que lhe fica da parte de fóra athé junto
aos pontaes , com cumprimento de 150 braças. No meio
desta barra ha uma corôa de areia , que de maré baixa
mar fica seca e na preamar folga-lhe o mar em cima e
isso se entra para dentro della pelo norte e sul desta
coroa. Dos pontaes vira caminho do norte rio acima e
entre pontal e pontal tem 74 braças de largo .
Sondada em marés grandes tem de fundo na baixa
mar, em cima do baixio , 7 palmos e de preamar 14, o que
se entende que no principio do baixio athé entre os pon
taes, he a entrada da Barra , que pelo rio acima, em dis
tancia de 8 para 10 legoas tem de fundo 18 e 20 palmos
e de largo 70 para 80 braças.
A leste desta barra huma legoa pouco mais ou
menos ha uns baixos de pedra que correm norte e sul , os
quaes terão 100 braças de comprido ; mas entre elles e a
praia há um bom caminho, que terá meia legoa de largo
e tem de fundo 6 braças da parte de dentro , que por fóra
7 e 8 por huma e outra parte, boa tensa de lama , em que
seguramente pode dar fundo qualquer embarcação e
he mar manso ; tão bem aqui pode carregar vindo -lhe a
carga em lanchas e batelões , não fazendo tempo forte
e fazendo, pode pôr-se à sombra de um cordão do re
cife, que fica ao sueste destes baixos , distante da barra
egoa e meia e ahi receber a carga.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 223

Quem quizer tomar esta barra indo do norte ha de


ir buscar a altura do Porto Seguro em distancia ao mar
3 legoas ; e dahi virando para o sul com a mesma distan
· cia da terra, irá caminhando até avistar o Monte Paschoal,
que he o mais alto, que ha de ver, e chegando a altura de
leste ao oeste com elle , desviando sempre de terra 3 le
goas, por razão de huns baixios de pedra, a que huns
chamão Itacolumins, outros Chapeirões, que ficão leste
ao Oeste com o msemo monte , desviados da praia 2 le
goas e meia, irá continuando a mesma derrota athé o
dito Monte lhe ficar a rumo de aluesnoroeste e dahi ca
ninhará pelo rumo de sudueste ou aluessudueste athé
avistar humas barreiras vermelhas que terão de com
prido 2 legoas e meia athé 3 e logo que as avistar cami
nhará em direitura a ellas athé ficar distante da
terra meia legoa e dahi caminhando para o sul na
mesma distancia , acabadas que sejão estas barreiras, lhe
ficará a barra do sul da ultima ponta das barreiras , huma
iegoa boa, e irá seguindo o mesmo rumo, encostando- se
mais á terra, o que pode ser athé avistar a barra e hum
mangal de páos secos , que ficão na boca da mesma barra
da parte do sul e entrará pelo norte e sul da corôa, de
que já se fez mensão . E quem vier do sul virá de mar em
fóra a demandar a altura do Monte Paschoal e delle vol
tando para o sul , seguirá o rumo referido.
Madeiras.-As que ha neste rio são sucupiras, ca
rins , pão de piqui, oiticicas, urucaranas, vinhaticos , pero
bas , louro, oitis , jacarandás , páo Brasil , putumujú, páo
d'arco uranbú, sapucaias , juhaibas, cedros , com boal
commodidade para as suas conduções para o rio.
224 LIMITES

Noticia sobre a Barra do Rio Itanhem, sondada no bai


xamar de marés grandes , pelo Ouvidor da Capita
nia de Porto Seguro- Thomé Couceiro de Abreu.

"Corre a costa, em que se acha esta Barra para o


sul ao sueste e para o norte ao norte. Corre a Barra do
cordão para os pontaes a sul essudueste e dos Pontaes
para dentro corre o rio ao norte. Os ventos que a con
fiontão e com que se pode entrar nella são todos desde
o norte correndo por leste athé sulsueste e os mais ser
vem para as sahidas .
Tem dos Pontaes athé o banco , de fundo na baixa
mar 6 palmos e em partes 7 e na preamar 15 e 16, em par
tes . Tem os mesmos pontaes de largura entre hum e
outro, em marés mortas 31 braças e de comprido dos
Pontaes ao banco , correndo o baixio da parte do norte e
sul 70 braças ; tudo lôdo e areia, mas no mesmo banco
que he aonde quebra o mar coisa de 25 braças para leste
he areia.
Rio.- Dos Pontaes rio acima tem este rio suas vol
tas e em partes suas coroas ; porém sempre fica salvo
o canal com fundo de 16 thé 19 palmos, tudo lôdo , de ma
neira que toda a embarcação que poder entrar pela.
barra, pode ir pelo rio acima 5 e 6 legoas athé o sitio.
chamado o Limoeiro , que d'ahi para cima só navegão
canoas e barcas até á cachoeira 4 para 5 dias de viagem .
ravegando a toda a diligencia, e tem de largo do Limo
eiro para a Barra 23 braças e delle para cima 13 .
Da Barra para fóra athé ao recife, que lhe ficará em
distancia de 3 legoas ao mar, he tudo canal limpo, com
fundo de lama, sem baixo nem corôa , e he mar manso,
no qual póde conservar-se qualquer embarcação bem
amarrada com todo o tempo , e ahi se conservou ( sic ) 5 e
6braças , pode ir qualquer barca ou lancha descarregar em
outra embarcação maior e da mesma sorte podem ir ahi
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 225

descarregar quaesquer lanchas do Rio Jucurucú, porque


este canal e recife, principia ao sul da barra deste rio em
distancia de meia legoa e acaba com a de Peruipe. por
onde sahio o navio francez com distancia de 12 legoas .
Neste recife ha alguns boqueirões, por onde podem en
trar quaesquer embarcações, para o canal ; porém o me
lhor e mais usado he o que fica a Leste ao Este com as
has dos Abrolhos, o qual terá de largo meia legoa e he
por onde entrão as embarcações, que procurão esta
barra, vindo do sul de mar em fóra ou de Leste e Oeste.
Madeiras.――――― As que ha neste rio são as mesmas que
ha no Jucurucú, com boa commodidade para as Suas
conduções ."

Noticia sobre as Barras do Rio da Villa de Santo Anto


nio das Caravellas , chamadas do Norte e do Sul,
sondadas ambas em marés grandes, pelo Ouvidor
da Capitania de Porto Seguro- Thomé Couceiro de
Abreu.

"Tem este rio 2 barras , huma chamada do Norte, e


outra do sul. A do norte fica na Ponta do Carasuipe, que
he huma ponta de areia assim chamada e della tomou o
nome a Barra de Carasuipe. Corre norte e sul e tem de
fundo na baixa mar 3 para 4 palmos e na preamar II
para 12 e de largo da coróa á praia de maré baixamar 5
braças. Defronte da Ponta da Coroa da parte do norte
tem fundo na baixamar 6 palmos , na preamar 14 e de
largo 80 braças . Esta Corôa he alagada e só se vê de
maré vasia, por ser barra aonde não ha mar.
Os ventos que confrontão esta barra são nortes,
nornordestes , nordestes, lesnordestes, lestes , lessuestes ,
suestes, e sul e os mais confrontão com a praia por ficar
esta barra em ponta que bota fóra e a costa recolher
para huma e outra parte. E os ventos , com que se póde
L 29
226 LIMITES

entrar nella aluesnoroeste , noroeste, nornorueste, ( sic)


1.orte, nornordeste, nordeste, lesnordeste, leste, lessu
este e os mais servem para sua sahida .

Toda a embarcação que pretender entrar nella,


vindo do norte, virá desviada da praia meia legoa e
aonde a terra se atravessar na prôa, ou aó sul , ahi está
a barra, e findas algumas arvores, a ponta de matto
grosso, a que chamão a Ponta das Balêas, lhe irá afi
nando a terra, por não ter matto as margens da praia
athé a barra, a qual se ha de procurar desviado sempre
da mesma praia coisa de 25 braças e este desvio o en
trará a fazer, chegado que seja á frente de huns man
gues pequenos , que ficão na mesma praia, buscando o
Pontal do Sul, que lhe ficará pela prôa, e fica este
Pontal distante de Carasuipe perto de meia legoa.
Desta barra athé á outra do sul chamada Barra
Grande, tudo são corôas, que botão a leste perto de
huma legoa e por isso qualquer embarcação que qui
zer entrar ou sahir d'estas barras não poderá fazer
rumo certo, sem se pôr ao norte e ao sul da do sul , ao
menos hum quarto de legoa .
A Barra do sul chamada a Barra Grande corre a
sueste, e se entra nella ao noroeste . Tem de fundo na
baixamar 9 e 10 palmos e de preamar 17 e 18, fundo
de lama, e de largo da corôa que lhe fica da parte do
norte athé o pontal 70 braças e quem entrar por ella se
encosta mais ao pontal que á corôa por ser mais fundo.
Os ventos que confrontão esta Barra são sul , su
este, que he direito pela barra dentro ; lesueste, leste,
lesnordeste e nordeste e todas as vezes que se achar
da parte de dentro da dita barra qualquer embarca
ção, the abrirá o rio para o sudueste, aonde tem
fundo na baixamar tres braças e meia e em partes 4 e
na preamar 4 braças e meia em algumas partes e em
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 227

outras 5 e quem quizer dar fundo n'este sitio o poderá


fazer da parte do sul, á sombra de hum mangue alto,
que fica acima do dito pontal perto de 400 braças.
Rio.-Pouco acima na paragem chamada a Ponta
de areia vira o rio para alueste e tem ahi fundo na
baixamar 3 braças e meia e na preamar 4 e meia, fundo
de lama dura, e de largo perto de 400 braças . Mais
acima na paragem chamada Quitongo corre ao mesmo
rumo e tem o mesmo fundo e a mesma largura e o
canal corre encostado á parte do sul ; porem pelo meio
do rio he baixo . No porto da Villa , aonde as embarca
ções costumão dar fundo corre o rio ao noroeste e tem
de fundo na baixa mar 4 braças e meia e na preamar
5 e meia, mesma largura acima declarada.
Para cima mais se reparte em 2 ; hum corre a su
este para a barra acima da Villa meia legoa, se divide
em 3 ; hum chamado Massangano que corre ao norte e
acaba logo ; outro chamado Pindoba que vae ao noro
este e o terceiro intitulado Tacary que vae a suessu
cueste.
Rio Tacary.- Este rio admitte embarcação que
demande athé 10 palmos de agoa, legoa e meia, por
varios baixios de pedras que tem e d'ahi para cima, em
d'stancia de mais de 2 legoas e meia , aonde elle acaba
em brejo, só podem navegar canoas ou barcas .
Rio Pindoba.-Tem este rio que vae ao noroeste
ou ao norte, 2, 3 e em algumas partes 4 braças de
fundo e de largo 150 , distancia de meia legoa e d'ahi
para cima tem de navegação de canoas grandes e sa
veiros 2 legoas, mas he mais estreito e com algumas
coroas, abeiradas de pedra e nas repartições destes 2
rios , tem huma coroa grande da parte do norte , que ap
Farece em maré vasia.
Continua o Rio geral que vae encontrar- se no largo
228 LIMITES

com o de Peruipe, distante da Villa de Santo Antonio do


Rio das Caravellas, legoa e meia athé 2 legoas e da
Barra da mesma Villa 3 legoas athé 3 e meia, e dis
tante da Povoação e Barra do dito rio Peruipe 3 legoas
pouco mais ou menos.Tem de fundo neste sitio, antes
de chegar ao largo, 5 , 6 e 7 palmos na baixamar e na
preamar 14 e 15 .
Da boca do largo athé o estreito terá de comprido
meia legoa e de fundo na baixamar e preamar 13 pal
mos e o canal 5 e de largo tem este mesmo canal 30
braças e o rio nesta paragem 350.
Madeiras.- Não ha nas margens destes rios ma
deiras algumas athé onde elle se acha praticavel, que
possão fazer conta a S. M. ou que possão servir para
as suas Reaes náus . Só assim pelos sertões as ha bas
tantes e de todas as qualidades, menos sucupiras
mirins, em distancia de huma e 2 legoas da beira dos
mesmos rios, mas a sua conducção ha de ser difficul
tosa pelos brejaes, que se mettem de permeio.
Moradores. ― Constão OS moradores desta Villa
de 113 cazaes , 12 homens viuvos , 28 viuvas , 62 moços
solteiros e 32 moças tambem solteiras.

Noticia sobre a Barra do Rio Peruipe, sondada em marés


de aguas vivas , pelo Ouvidor da Capitania pe Porto
Seguro, Thomé Couceiro de Abreu .
"Corre a costa em que se acha esta Barra ao noroeste
e sudueste e para o norte, perto de meia legoa , faz a ponta
a que chamão Barra Velha . Corre a barra a lessueste e
por esta razão, os ventos que a confrontão são lessueste ,
sueste, sulsueste , sul, leste , lesnordeste , nordeste e tão
bem se pode entrar nella com nornordeste, ainda que
este já confronta com a ponta da Praia do norte e os
mais servem para as sahidas , por virem por cima da terra..
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 229

Corre o cordão ou banco , que nasce no Pontal do


Sul, quasi a lesnordeste e terá de comprido do Pontal á
Barra, perto de 500 braças e o que nasce do Pontal do
Norte á Praia do Norte para a barra , corre ao mesmo
norte. Tem de fundo em cima do cordão ou banco, a que
chamão barra, 6 e 7 palmos na baixamar, na preamar, 14
e 15 e de largo 100 braças, pouco mais ou menos, Tem
entre as arrebentações ou lagamar de largo 80 braças,
fundo na baixamar 7 e 8 palmos e na preamar 15 e 16 ;
e de comprido no banco ou barra ao Pontal do norte,
para onde caminha o canal, 400 braças, pouco mais ou
menos, e deste Pontal corre o canal ao sudueste buscando
o Pontal do sul, que lhe fica ao sudueste e terá de hum
pontal ao outro 700 ou 800 braças.
Tem de fundo este canal, que corre de hum pontal
para outro de maré baixamar, 2 braças e meia e de prea
mar 3 e meia, fundo de lama. Tem de largo do Pontal
do norte á Ponta da corôa , alagada da parte do sul, 150
braças, com o mesmo fundo. Quem pretender entrar
-nesta barra chegando ao Pontal do Sul, se irá desviando
da Praia, buscando a volta do rio e acompanhando a
mesma praia, póde dar fundo na enseada da parte do sul.
Rio.-Este rio corre para leste e se divide em 2 :
hum que vae para a Villa das Caravellas, que corre ao
noroeste e outro he este de Peruipe. Na boca ou entrada
deste Rio Peruipe ha huma coroa de areia, que secca ;
mas entre elle e o Mangue que fica da parte de alueste,
tem seu canal, que terá 15 braças de largo e encostado
a elle póde navegar qualquer embarcação , seguindo sem
pre o rio da mão esquerda e deixando o que lhe fica a
mão direita chamado Putuassú , que acaba logo e não
permitte navegação alguma . E terá este canal de largo
defronte da boca do dito Putuassú 80 braças e de fundo
braça e meia na baixamar e na preamar 2 e meia. De
230 LIMITES

fronte da Povoação do Peruipe, que fica logo ao virar


da volta da parte do sul, aonde o rio vira para alueste
terá de largo 80 braças e de fundo na baixamar tem 2 e
na preamar 3. Continúa este rio com o mesmo fundo
athé á paragem chamada S. José, que he a primeira terra
alta, que se acha da parte do norte e ahi tem de fundo
2 braças largas e de largo 30 e fica esta paragem des
viada da Povoação 4 legoas e não tem baixio algum de
areia, nem de pedra ; porém d'ahi para cima só podem
navegar canoas ou jangadas, por espaço de dia e meio
de viagem, por ser baixo e estreito . Tem o rio, que vae
para a Villa das Caravellas na paragem chamada a Tran
queira, de fundo de baixamar 3 braças e na preamar 4,
fundo de areia e de largo 200 para 250 braças. Na para
gem chamada o Sacco, que he para onde o rio vira , para
lessueste tem de fundo na baixamar 5 braças, de preamar
6 e de largo 50 pouco mais ou menos . Na paragem cha
mada Jasatiguara, que he aonde aperecem huns comoros
ou ribanceiras de areias, escalvados , tem de fundo 3 bra
ças e meia na baixamar, na preamar 4 e meia e de largo
120. Na boca do largo , que he aonde se encontrão as
agoas que entrão pela Barra de Peruipe e as que cor
rem para a das Caravellas, tem de fundo no canal ( que
tem 30 braças de largo ) 5 palmos na baixamar, na prea
mar 13 e de largo na mesma preamar 350 braças pouco
mais ou menos . Esta barra do Rio Peruipe, fica distante
da Povoação pelo rio meia legoa e por terra hum quarto
de legoa. Não ha nella signal algum que lhe possa servir
de marca, por ser tudo terra baixa , sem outeiros , mor
ros ou escalvados, e só a leste della, espaço de 2 legoas
e meia, se avista huma coroa de areia vermelha em cima
de hum recife, que tem algum matto unido a ella , e della
para o norte athé Jucurucú, tudo são baixios & pedras
descobertas e alagadas , que ficão 4 e 5 legoas desviadas
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 231

da Praia, com alguns boqueirões por entre ellas mes


mas, e a Praia com fundo neste canal de 6 para 7 bra
ças ; porém difficultozamente se poderá navegar pelo
tal canal e boqueiroes sem pratico, assim como se não
póde entrar na barra sem elle , por ser de areia e muda
vel de huns annos para outros .
Madeiras.- Nas margens deste rio ha bastantes Su
cupiras, caris, aracuranas, sobros, oitis, piquis , gitaís,
sapucaias, anhaibas, cedros, cajaranas, oiticicas, ange
lins, capazes de servirem para náus, mas são infestadas
do gentio barbaro por estarem nas cabeceiras deste rio,
em distancia de 2 dias de viagem e a conducção para o
rio he boa.
Moradores.- Tem a Freguezia de Nossa Senhora
da Conceição de Peruipe, 100 casaes, entrando varios In
dios que nella se achão ha annos e forão para lá no tempo
dos celebrados Jesuitas, das novas Villas de Villa Verde
e Trancozo, por fugirem á escravidão , em que os tinhão .
Viuvos 5 , viuvas 14, moços solteiros 16, moças solteiras
5. Viuvos indios 3 , viuvas 7, moços solteiros 5 e moças
solteiras 4. Filhos de todos 193 .

Noticia sobre a Barra do Rio Mucury, sondada em marés


grandes , pelo Ouvidor da Capitania de Porto Seguro ,
Thomé Couceiro de Abreu .— s . d. 1764 .

"Corre a costa em que se acha esta Barra norte e


sul. Corre o banco que nasce da praia do sul ao nordeste.
Corre a barra por entre estes 2 Pontaes ou Cordões , alu
este e depois de cahir dentro do cordão ou no lagamar ,.
corre aluessudeste e na mesma forma o Rio dos Pontaes,
para dentro athé numa enseada de mangue , que fica
acima da dita barra 500 ou 600 braças , aonde poderá
dar fundo qualquer embarcação , que entrar nella.
Os ventos que a confrontão e com os quaes se póde
232 LIMITES

entrar são sulsueste, sueste, lessueste, leste , lesnordeste,


nordeste, norte ; os mais servem para as sahidas . Tem
de fundo em cima do banco em maré baixamar de agoas
grandes , 5 palmos e de preamar 13 .
No lagamar tem de fundo, na baixamar 8 palmos
e na preamar 16. Tem de fundo entre os Pontaes de maré
baixamar 14 palmos e de preamar 22 e este mesmo
fundo corre athé o sitio chamado a Ponta do Mangue,
aonde já disse póde fundear qualquer embarcação e
d'ahi para cima não pódem navegar embarcações algu
mas pelo rio ser baixo.
Tem de largo entre os cordões , que he em cima do
banco, 25 braças e de comprido do banco aos Pontaes
300 braças e entre os mesmos Pontaes 60.
Corre o rio rumo de oeste coisa de 2 legoas athé a
passagem chamada a Canna Brava e d'ahi para cima ca
minha a sudueste. Esta barra he toda de areia e não ha
em terra signal algum que possa servir-lhe de marca ( * )
por ser toda ella terra baixa . Fica ao sul da barra de
Peruipe 6 legoas e nella se não póde entrar sem pratico ,
porque são variaveis os seus canaes , seguindo as enchen
tes do mesmo rio , que ora fazem a barra a leste, hora
ao nordeste, ou para onde lhe parece.
Madeiras.-Ha nas margens deste rio muitas de
todas as qualidades, que podem servir para as náus de
S. M., perto da beira do mesmo rio, mas não podem ter
sahida por elle abaixo sem agoas do monte por ser baixo
e em paragens secco. Nas qualidades das madeiras ex

(* ) Este trecho, que concorda cam a descripção de Gabriel


Soares, vide n. 6, prova que as terras adjacentes a bocca do Mu
cury são de areia e que não ha alli pedras pretas, como pretendeu
ultimamente o Governo do Espirito Santo, fazer acreditar ao da
Bahia ( officio de 13 de Agosto de 1917 ) para convencer que era
a este rio e não ao Itaúnas mais ao sul que se referia o decreto
de 11 de Agosto de 1831 , o que é sem duvida uma curiosa e ima
ginosa novidade geographica.- N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 233

ceptuão-se as sucupiras-mirins, que as não ha no con


tinente desta Capitania.

N. 25

Por este documento, como por muitos


dos que o precedem e dos que o vão se
guir, se evidencia que o ouvidor de Porto
Seguro foi quem fundou a villa de São
Matheus, conforme as ordens expressas
contidas nas suas Instrucções, e tambem
se apura de modo incontroverso que foi
a Bahia quem povoou aqnellas terras,
acostumou os indigenas a moradas fixas ,
fez cultivar o sólo e alli lançou os princi
pios da civilisação , da justiça e de um go
verno regnlar.

Officio do Ouvidor de Porto Seguro Thomé Couceiro de


Abreu (para o Ministro dos Negocios do Ultramar
Francisco Xavier de Mendonça Furtado ) , no qual
transmitte muitas e interessantes informações , sobre
as povoações, rios , população e madeiras da sua Ca
pitania.

Porto Seguro, 16 de Junho de 1764.

Por carta de 8 de Janeiro do corrente anno , dei


conta a V. Exa . da minha chegada a esta Villa , do dia
em que tomei posse deste lugar e das informações , que
alcancei do Continente destas terras , villas, rios e suas
aldeas, desde o Rio Grande, que divide esta Capitania
da dos Ilhéos pelo norte, athé o de S. Matheus, que a fe
cha pelo sul, referindo-me a huma relação, que incluhi
na carta, e ainda que a remetti ao Desembargador Chan
celler da Relação da Bahia para enviar com segurança
em hum navio que sahiu daquella Barra carregado de
tabaco, parece, que em 18 do dito mez, como o navio foi
só e eu não posso ter noticia da sua entrega, repito esta
I 30
234 LIMITES

segunda via para o caso, em que a primeira tivesse al


gum desvio.
Na mesma conta declarava , que as informações
constantes da dita relação comprehendião athé à Villa
de S. Antonio do Rio das Caravellas , exclusive e na men
ção que fiz das madeiras , que ha neste rio, nos de Jucu
rucú, Itanhem e Rio Grande, comprehendia pelas infor
mações , que me derão 3 qualidades de sicupira , a saber :
Mirins, Aquari, Hacú , (sic ) ; porém averiguando agora
pessoalmente a verdade das informações , achei que clau
dicarão nas sicupiras mirins , porque as não ha em to
dos os rios desta Capitania athé as paragens, que se tem
descoberto .

Tambem dizia, que a ser S. M. servido mandar por


conta da sua Real Fazenda , fazer madeiras em qual
quer destes rios , havião de ser precisos 2 mestres da Ri
beira das náus da Bahia, e que se necessitaria , de que
o Governo mos enviasse, quando eu l'hos mandasse pe
dir, assim como farinhas e carnes para sustento dos tra
balhadores ; porém depois que fui examinar as barras
destes rios, achei desnecessaria esta providencia, por que
são elles tão abundantes de peixes e caças, que escusão
outra qualidade de mantimento, por mais que sejão os
moradores .
Da mesma sorte declarava, que serião precisos
machados, enxadas, que os moradores destes rios não
tinhão , principalmente os Indios do Rio Grande ; porém
com a minha ida a este rio , dei providencia a esta falta ,
porque consegui do Capitão João Borges de Figueiredo,
da freguezia de Santa Cruz , o mandar vir esta ferra
menta da Cidade da Bahia , para a maior parte destes
Indios e pelos preços que ella custasse na mesma cidade
e que o pagamento do seu desembolso lhe pagarião elles,
ou em dinheiro, que ganhassem com as pessoas que as
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 235

occupaṣsem, em que eu havia de interpor todo o meu


cuidado, para que lhes não fosse ás mãos, emquanto se
não desempenhassem, ou que lhe merecessem em ser
viço e que eu subsidiariamente me obrigava a qualquer
falta. Assim o executou e tem provido a maior parte des
tes Indios, que se achão nas margens do dito rio da parte
do sul, districto desta Capitania.

Tãobem representava a V. Exa. que para a cate


chisição dos gentios, que costumão descer em paz á Po
voação do Rio de S. Matheus, serião necessarias algu
mas facas flamengas, contas, grumixaes, espelhos pe
quenos e barretes vermelhos, e que se do Governo da
Bahia podessem vir, talvez que viesse a ser util esta des
pesa para o serviço de Deus e de S. M. , mas conside
rando eu na sua tenuidade e desejando adiantar este
serviço, me resolvi a mandar pedir ao mesmo Governo
as parcellas, que constão da relação junta , as quaes elle
me remetteo e eu as recebi no dia 28 do mez proximo
passado, e como volto para aquella povoação , faço ten
ção de leval-as, para as distribuir com clarezas e ter
mos necessarios, succedendo descer aquelle gentio , em
quanto eu lá me achar ; aliás entregal-as-hei judicialmente
ao reverendo Vigario para este do mesmo modo as dis
tribuir em toda a occasião, que elle descer.
Na mesma conta, dava de distancia no titulo do

Rio Jucurucú ao de Itanhem, no paragrapho 4° . 2 le


goas e foi erro, porque são 4 como declarei no titulo do
mesmo Rio Itanhem.
Villa de Santo Antonio do Rio das Caravellas.
Constão os moradores da freguezia desta Villa e da de
N. S. da Conceição de Peruipe, termo da mesma Villa ,
como tãobem as sondas das suas barras e rios com as
da barra e Rio Mucuri, termo da mesma Villa , das re
236 LIMITES

laçoens em 2º , 3º. e 4º . lugar juntas e nellas mesmas se


declarão as madeiras, que ha nos ditos rios.
Povoação do Rio de S. Matheus.- Consta esta Po
voação, entrando varios Indios que nella assistem ha
muitos annos, dos moradores que declara a relação em
1º. lugar junta , como tãobem a sonda da sua barra e
rio, com declaração das madeiras, que nelle ha. E sup
posto que S. M. nas instrucções que V. Exa . foi ser
vido entregar-me, se não dignou mandar-me sondar as
mais barras e rios navegaveis desta Capitania, eu o fiz,
porque não julguei superflua esta diligencia e constão
das mais relações que se seguem, comprehensivas por sua
ordem desde o Rio Itanhem athé o Rio Grande, cami
hnando para o norte . Dellas consta a maior abundancia
de madeiras , que ha nos ditos rios Itanhem , Jucurucú
e Rio Grande, que nos de S. Matheus e Caravellas, e
sendo S. M. servido mandal-as obrar nestes rios por
conta da Fazenda Real, julgo que se poupará por meio
dos preços porque forão arrematadas na Capitania mór
dellas.

Para este fim seria necessario mandar formar um


telheiro de madeira e palha na Enseada da Corôa V'er
melha, que vae sondada depois da Barra e Rio de Santa
Cruz, para nelle se ajuntarem e se defenderem as ma
deiras do rigor do tempo e chuvas , athé se transporta
rem para onde o mesmo Senhor for servido determinar
visto dar esta Enseada pelos fundos que tem, entrada
a embarcações maiores ; e para conducção das madei
ras dos ditos rios para esta enseada, necessitava - se de
huma barca grande, de pouca quilha , que podesse nave
gar pela barra do Rio Grande, que he a mais baixa.
Este rio fica distante da enseada 12 leguas ao norte,
o de Jucurucú 20 para o sul e o de Itanhem 24 e de huns
1
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 237

e outros podia a dita barca nas monções proprias con


duzir as madeiras para a referida enseada e tão bem dos
mais rios que ficão mais para o sul, supposto que em
maiores distancias. Da mesma sorte se necessitava , que
S. M. fosse servido ordenar que nenhuma pessoa fabri
casse sumacas, lanchas, saveiros ou canôas nestes rios ,
porque a liberdade com que todos tem fabricado estas
embarcações no rio das Caravellas, he a razão porque
hoje se achão nelle extinctas.
Nos cortes destas madeiras hão de trabalhar In
dios, que são convenientissimos, pelos exemplos que lhes
derão os celebrados Jesuitas e desconfiados e por isso
se necessitava tãobem, de que S. M. lhes determinasse
pagamento de mez em mez por mão de hum thezoureiro,
que podia ser o dito Capitão João Borges de Figueiredo,
que he morador verdadeiro e abonado destas terras. Este.
mesmo quer concorrer á sua custa, porque a isso o te
nho persuadido, para estabelecimento de huma Olaria de
telha e tijollo, havendo barro capaz na freguezia de Santa
Cruz ou n'esta Villa e ao Governo da Bahia tinha es
crito a pedir hum pratico para examinar as qualidades
do barro , que ha nestas terras e havendo-o capaz para
ensinar alguns escravos do dito João Borges , a fabri
car a telha e tijollo . Tãobem vou fomentando a creação
dos gados e para a frota futura darei conta a V. Exa.
do adeantamento que tenho conseguido nesta parte.
A pescaria de baleias não póde estabelecer - se nos.
mares desta Capitania, porque não ha nella enseada
aonde ellas se demorem e as poucas que apparecem ca
minhando para o norte, passão tanto ao largo das Bar
ras, que he difficultoso poderem arpoar-se e muito mais
porque esta costa he lavada de todos os ventos . Não me
tenho descuidado da melhor forma da creação das duas.
Villas novas de Trancoso e Villa Verde, cujos Indios
238 LIMITES

vão fabricando as suas cazas com a formalidade que lhes


dei e huma e outra escóla , a que não hia rapaz algum,
traz agora 90 e tantos, divididos por ambas . Só mestras
para as meninas as não tem havido , porque não pude des
cobrir mulher que quizesse sugeitar-se a este trabalho,
e a ir viver com aquella gente ; porém hum destes dias.
catechisei huma que hade entrar a ensinar logo depois
do Espirito Santo, em Villa Verde . Tãobem se achavão
sem ferramentas e não chegavão a 20 os moradores que
as tinhão em ambas as Villas, porque tudo o que ganha
vão o consumião em agoas ardentes ; porém eu prohi
bindo os moradores desta Villa o venderem-lh'as, fiz o
mesmo que no Rio Grande , mandando chamar a hum
Francisco Carvalho , homem de negocio nesta Villa, para
que mandasse vir da Bahia certo numero de machados,
fouces e enxadas para se repartirem por elles e mandei
afixar hum edital, em que declarei, que quem quizesse
Indios para o seu serviço , m'os viesse pedir e effectu
ando-se assim , lhe ordenei que não pagassem directamente
aos Indios e só sim, que entregassem ao dito Francisco
Carvalho, como depositario , os jornaes vencidos , e exe
cutando-se tudo por este modo, vinhão os Indios pedir-me
ordem para que se lhes entregassem o seu dinheiro, mas
eu em lugar delle lhes mandava levar ferramentas e as
sim ficarão providos dellas mais de trinta e tantos. Agora
chegarão ao referido Francisco Carvalho 50 peças da re
ferida ferramenta e as mando destribuir pelos Escrivães
das ditas Villas, para as darem fiadas, por algum tempo
aos Indios que são notoriamente verdadeiros e aos mais que
continuem na cobrança dos jornaes, que forem ganhando
athé terem com que pagar o custo da ferramenta que
lhes for necessaria.

Na primeira conta representei a V. Exa . o que ha


via praticado com huns Indios de nação Menhão , que se
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 239

achavão aldeados no Rio Grande da parte do sul desta


Capitania, e outros da parte do norte, Capitania dos
Ilhéos, os quaes capacitados das razões que lhes propuz,
e reconhecendo que seus paes ou avós quando descerão
do sertão o fizerão em direitura a esta Villa , no anno de
1682 , sendo administrados athé ha tempo de 4 annos ,
por administradores da freguezia de Santa Cruz, no
meados pelos Governadores do Estado da Bahia, assim
como elles mesmos athé o referido tempo , vierão logo
ajuntar-se com os da Aldea do sul, supposto a opposição
que lhes fez hum Manoel . de Araujo , do lugar do Em
buca, daquella Capitania, por ficar privado das conve
niencias, que tirava do serviço dos ditos Indios em pes
carias, córtes de sicupiras , facturas de canôas , para ven
gotas d'agoa ardente e pedaços de tabacos de fumo , de
baixo do titulo de seu administrador, cuja administração
subrepticiamente conseguio dos Ministros da Junta da
mesma Cidade, em virtude de huma nomeação , que nelle
fez a Camara dos Ilhéos como que se os ditos Indios
fossem ou tivessem sido em algum tempo sugeitos
áquella Capitania.
Achando-se porém elles socegados na dita Aldea
do sul, me constou que este Manuel de Araujo, os andava
inquietando pela interposta pessoa de hum dos ditos In
dios chamado Balthazar, ao qual havia nomeado de seu
poder absoluto Capitão-mór dos mais, para que voltas
sem para o norte , o que vendo eu , parti logo para o dito
Rio com o Padre José de Araujo Ferraz, verdadeiro
administrador dos ditos Indios , por provisão de hum dos
Vice-Reis, que servirão naquella Cidade, a segurar a sua
existencia da parte do sul, aonde pertencião , e de donde
sempre forão freguezes e com effeito o consegui delles.
e lhes assignei, a seu contento , sitio para estabelecerem
huma regular povoação por haver fallecido o homem,
240 LIMITES

que para este fim e para os dirigir havia mandado para


o dite Rio , deixando-lhes recommendado , que entras
sem logo a fazer a caza para o clerigo , que para lá ha
via de ir e depois della as suas , em que havião de viver,
com esta e aquella formalidade , que lhes deixei em hum
risco . Excutaram -no elles assim e tendo formado as ca
zas para o clerigo e 5 moradores ; mas succedeo que na noite
para o dia do glorioso S. Joseph, desapparecerão do
sitio e se forão pelo rio acima , indo aportar - se nas mar
gens do Rio da Salsa , que vae dar ao de Patipe, perten
cente ao Embuca , e passados poucos dias , tornarão a des
cér, ficando os que se achavão da parte do sul no seu an
tigo sitio e os mais se passarão com o dito intitulado Ca
pitão, para as visinhanças do dito Manuel de Araujo e
mandando -os eu persadir a que se recolhessem á aldéa
aonde pertencião , o não tem feito athé o presente por
persuazões contrarias do tal Manuel de Araujo , coadju
vadas com o respeito do Vigario, que que ha poucos mezes
foi para a freguezia de Puri, a que pertence o lugar de
Embuca, o qual entrou logo a servir-se delles na tirada
de madeiras para huma lancha que actualmente está fa
zendo .

Sobre esta novidade fiz um summario de testemu


nhas, cuja copia ponho na presença de V. Exa. porque
se prova que o dito Manuel de Araujo foi total causa
da deserção , que fizerão estes Indios, dando-lhes polvora
e chumbo para uso das suas espingardas , talvez para re
sistirem a algumas pessoas , que eu expedisse a seguil-os ;
e com outra certidão do mesmo summario e do theor dos
titulos que conseguirão todos os administradores des
tes Indios , dos Governadores da Bahia , que são os mes
mos, que constão da segunda certidão junta , dei conta
ao Governo daquella Cidade e Capitania e como ainda
não tive resolução a dou tambem a V. Exa. para que
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 241

dignando-se de a fazer presente a S. M. haja o mesmo


Senhor de ordenar o que for servido. Estes Indios são
utilissimos naquelle Rio, não só porque defendem por
aquella parte esta Capitania do gentio barbaro , mas tão
bem porque, como dizem que este rio vem das minas do
Serro do Frio, e que he o proprio de Giquitinhonha , fi
cão defendendo qualquer subida que quaesquer mineiros
pretendão fazer por elle para estas minas, como preten
derão 2 no mez de Fevereiro proximo passado, que eu
lhes encontrei, escapando elles da prisão, que lhes man
dava fazer milagrosamente .

Além de que juntos estes Indios fazem o numero


de 38 cazaes, porque depois da minha primeira conta ,
cazarão 6 e he numero consideravel para prehencher o
da lei, com muitos que hão de ir para o dito rio, che
gado que seja o clerigo, que mandei pedir ao Reverendo
Bispo do Rio de Janeiro, para se poder estabelecer Villa,
e conseguido assim, espero que seja a melhor que haja
nesta Costa da Bahia athé o mesmo Rio de Janeiro ,
cousa pasmosa, como pela abundancia de caça que nelle
ha, e creada ella com outra no Rio Jucurucú, que tãobem
pretendo erigir e são terras da mesma qualidade, per
suado-me que só ellas com as das Caravellas, serão bas
tantes para sustentar de farinhas quasi toda a Bahia,
além da necessidade que ha de haver no Jucurucú , .numero
consideravel de moradores, que hajão de rebater os in
sultos do gentio do Monte Paschoal, que lhe fica visi
nho. A Povoação do Rio de S. Matheus, que tem bas
tante numero de moradores para ser creada em Villa,
assim pelo sitio em que se acha e delictos atrozes que nella
costumão commeter- se, como porque havendo ahi jus
tiças impedirão as subidas e descidas a quaesquer mi
neiros, que pretendão subir ou descer para as minas do
Serro do Frio , aonde dizem vae dar este rio , ou que delle
L 31
242 LIMITES

traz o seu nascimento, não o executei athé o presente,


porque pelos grandes sóes que apanhei, no exame destas
barras, adoeci com umas dores ethericas convulsivas que
me tiverão morto e me obrigarão a recolher-me a esta
Villa ; porém como me acho com melhoras faço tenção ,
continuando ellas, voltar para o rio e crear a povoação
em Villa, pois que todas as justiças que nella ha , sendo
aquelles moradores inquietos e destimidos , he um po
bre Juiz vintaneiro, de quem elles fazem pouco caso , nem
hum homem só he bastante para evitar e rebater a in
quietação de tantos.
Hum Francisco Xavier Teixeira Alves me escreveo
a carta inclusa , pedindo-me licença, como que eu podesse
dar-lhe, para ir descobrir nos sertões deste rio ouro e es
meraldas e eu lhe respondi, que nem por pensamento
conviria em tal por ser contra as ordens de S. M .; antes
interporia toda a minha força por lhe encontrar simi
lhante entrada e que se não cansasse em pedir licença ao
Governo da Bahia, porque certamente lhe não havia de
permittir, e quando permittisse, de pouco lhe aproveita
ria, porque eu lha havia de encontrar athé á ultima
instancia .....

Porto Seguro , 16 de Junho de 1764.- O ouvidor,


Thomé Couceiro de Abreu .- Está conforme o original
-Documentos da Bahia 6508. -Lisboa , Arquivo de Ma
rinha e Ultramar 1o de Janeiro de 1913.-O 1º . Bibliothe
cario-Director, Eduardo de Castro e Almeida.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 243

N. 26

Este documento prova bem como o


districto de S. Matheus pertence a Capi
tania de Porto Seguro e como obedeceu o
ouvidor Thomé Couceiro ás instrucções
trasidas de Portugal.

Noticia sobre a Barra e Rio da Povoação de S. Matheus,


na Capitania de Porto Seguro, pelo Ouvidor Thomé
Couceiro de Abreu . S. d : 1764.
Corre a Costa donde está esta Barra norte e sul
e fica a povoação acima della 7 leguas. Corre a barra a
leste e fica a lesnordeste do Pontal do norte e todas as
vezes que quem entrar nella estiver dentro do cordão ,
fará caminho do sudueste e depois ao sulsudueste com a
proa aoPontal do sul e chegado a elle se irá desviando
da praia do sul e acompanhando-a, buscará a volta do
mesmo rio ; e querendo dar fundo , o poderá fazer na
enseada, que terá 300 para 400 braças da praia, e na
ponta de dentro , em que acaba a praia vira o canal, bus
cando o Pontal do norte ou a ribanceira , que faz por den
tro do dito pontal.
Os ventos que confrontão esta barra, com os quaes
se pode entrar nella são sueste , lessueste, leste , lesnor
deste, nordeste, nornordeste , norte e os mais servem
para as sahidas. Corre o banco , que vem do Pontal do
sul para a Barra ao nornordeste e nelle ha algumas va
zas ou boquetes por entre corôas secas, que só permittem
navegação a saveiros e lanchas em maré cheia . Tem este
cordão de comprido 400 braças pouco mais ou menos
e da maré cheia tudo parece barra, e do norte para a
mesma barra corre a lessueste e terá por aqui de com
prido 250 para 300 braças .
Por cima delle faz hum boquete encostado á praia
do mesmo norte, por onde pode entrar qualquer lancha
244 LIMITES

em maré cheia de marés grandes se não mudar. Tem a


barra de fundo em cima do banco 6 a 7 palmos de maré
baixamar e de preamar 14 e 15 , e dizem os praticos nella,
que algumas vezes se lhe acha menos 2 e 3 palmos , ou em
cima do mesmo banco 7 braças pouco mais ou menos.
Tem de fundo no lagamár de maré baixa 8 palmos
e de preamar 16 ; porém este fundo tãobem é incerto , por
que algumas vezes se lhe acha menos 2 e 3 palmos , ou
tras vezes mais, conforme as cheias, que costuma trazer
o Rio. Tem de largo no dito lagamar 150 braças e de
fundo junto ao Pontal do sul, de maré baixamar 12 pal-.
mos e na preamar 20. Tem de largo entre os Pontaes
250 braças, pouco mais ou menos ; porém só tem de canal
50 para 60 braças , encostado á Praia do sul, que o mais
para o norte tudo he baixio com algumas corôas , que fi
cão fora de agua em maré vasia. Toda esta Barra e la
gamar tem fundo de area e não ha nella signal algum
que lhe possa servir de marca, por ser tudo terra baixa ,
sem outeiro, nem escalvado . Não tem termo certo , por
que humas vezes está ao nordeste, outras a lessueste . A
embarcação que nella quizer entrar vindo do sul deve
tomar pratico na Capitania do Espirito Santo e indo do
norte o deve tomar em Porto Seguro ou no Rio das Ca
ravellas e sem elle difficultosamente poderá vencer a
barra sem perigo, e as embarcações que pretenderem en
trar nella não hão de demandar mais que 10 athé II
palmos, por ser barra de mar, que fundea.
Rio.- Pouco acima da Barra do Pontal do norte,
por onde vae o canal, principia o rio, e ahi tem algumas
Ilhas de Mangue, que se deixão ver á parte do sul , ou
á mão esquerda de quem vae para cima. Tem de fundo
o canal defronte das mesmas Ilhas de baixa mar, braça
e meia, de preamar 212 e de largo 110 braças pouco
mais ou menos .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 245

Tem na paragem chamada as Pedras, que he acima


da barra hum quarto de legoa, de fundo no canal de
maré baixamar 2 braças, de preamar 3 e de largo 150
braças, pouco mais ou menos ; porém o canal que vae
pelo meio do rio tem de largo 20 braças e da parte do
norte tudo são pedras e do sul corôas de arêa.

Na paragem chamada as Barreiras, que será meia


legua, acima das Pedras, tem de fundo de maré baixamar
braça e meia, de preamar 2 e meia e de largo 200 pouco
mais ou menos ; porém de canal só tem de largura 20
braças e isto he encostado á beirada do sul que da outra
parte tudo são pedras .

Na paragem chamada a Povoação Velha, que será


meia legoa acima das Barreiras, tem de fundo na baixa
mar 2 braças e meia e de preamar 3 e do meio do Rio
para o Norte tudo he pedra , que de baixamar tem de
fundo 3 para 4 palmos e de preamar tem de fundo II ;
e na mesma carreira da dita Povoação Velha , mais para
baixo, tem outra restinga de pedra pela parte do sul,
que chega athé meio Rio, porém sempre fica livre o
canal.

Na paragem chamada a Meleira, que será meia le


goa da dita Povoação , tem de fundo , encostado mais á parte
do sul que á do norte , de maré baixamar 2 braças e meia,
de preamar 3 e meia e de largo 150 braças , pouco mais
ou menos, fundo de areia.

Na paragem chamada Furado, que será hum quarto


de legoa acima da Meleira, tem de fundo na baixamar
2 braças na preamar 3 e de largo 120 braças, fundo de
areia. Este Furado he um riacho, que se acha da parte
do sul. 事

Na paragem chamada Mararicú, que he outro riacho


da parte do mesmo sul acima do Furado meia legoa, tem
246 LIMITES

de fundo na baixamar braça e meia, de preamar 2 e meia ,


fundo de areia e de largo 150 braças. •
Na paragem chamada o Registo, que he acima da
boca doMararicú meia legoa , tem de fundo na baixamar
2 braças, na preamar 4 e meia , fundo de areia, e de largo
So pouco mais ou menos, e abaixo desta paragem alguma
couza em huma volta chamada a Carreira dos dois Ir
mãos, quem quizer navegar se encostará á mão direita .
que he a parte do norte por causa de humas pedras , que
de maré vazia ficão ao lume d'agua e de maré cheia
pouco cobertas e chegão athé meio rio.
Na paragem chamada a Pedra d'agua, que fica acima.
do Registo huma legoa , tem de fundo na baixamar 4 bra
ças, na preamar 5, fundo de areia e de largo 50.
Na paragem chamada os Outeirinhos, que ficão acima
da Pedra d'agua huma legoa, tem de fundo na baixamar
3 braças e meia , na preamar 4 e meia escassas , fundo
de areia, e de largo 50 braças . E da parte do norte, cor
rendo para baixo athé ao virar da volta, tem algumas
pedras pelo fundo, porém com altura de 4 e 5 braças
por cima dellas . Tem este mesmo rio no Porto da Po
voação 35 braças de largo em partes e em outras 40 , e
de fundo de baixamar perto de 2 braças e de preamar 2
e meia, fundo de areia, e em outras partes se acha com
mais 6 e 7 braças de largo e com menos 2 e 3 palmos de
fundo e em outras partes com mais 3 para 4 palmos ;
porém estas medidas não correm geralmente em todo o
rio. Este rio he navegado de embarcações athé a paragem
chamada o Jacarandá, que fica acima da Povoação 3 le
goas e desta paragem para cima athé a repartição dos rios ,
só podem navegar canoas ou barcas meio dia de viagem,
do Jacarandá athé a dita repartição por ser d'ahi para cima
o rio estreito com 10 braças de largo e com muitas voltas,
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 247

brejaes nas suas margens e em poucas partes se achão


terras enxutas .
Das repartições dos rios a chegar á primeira cacho
eira do Sul, se gastão 2 e 3 dias de viagem, conforme a di
ligencia e o rio he seco e com a mesma largura e bre
jaes nas suas margens , de forma que só com abundancia
de agoa pode navegar-se, mas com perigo pela violencia
com que então corre . Da boca do mesmo rio da parte do
norte athé á primeira cachoeira se gastão 6 dias não ha
vendo inundações de agoas e por esta parte se achão
pelas suas margens mais terras enxutas que nas do sul.
Madeiras- Não ha nas margens deste Rio madeiras ,
que possão fazer conveniencia para as náus de S. M. ,.
porque as que ha ficão distantes humas das outras e sem
voltas que possão dar obra sufficiente ; porém ha bastan
tes páos de piqui e oiticicas, capazes de servirem para cur
vas das náus , os quaes por serem grandes, tortos e pesa
dos só poderão ser conduzidos em bois para o rio . Estes
páos se achão em todas as suas margens desde a barra athé
a Povoação e da Povoação athé a paragem chamada o
Jacaranda, que lhe fica distante 3 legoas pelo rio acima.
E ainda que d'ahi para cima tem as mesmas madeiras ,
só pódem navegar por elle canôas e barcas , nas quaes se
não poderão conduzir por causa dos grandes brejos e pan
tanaes que lhe embaraçarão as passagens .
Ha mais pelas margens deste mesmo rio desviadas
da beira d'elle meia legoa em partes, e em partes uma, al
gumas sucupiras, caris, angelins , jitais amarellos, sobros,
piquis amarellos e pretos, sapucaias, cedros, vinhaticos,
jacarandás e oiticicas ; mas só servem para taboas e se
podem tirar muitos e com boa conducção para bois e ser
vem só para taboados, por serem páos direitos e sem vol
tas e os que as tem só pódem servir para lanchas e sumacas
248 LIMITES

e os Jacarandás e vinhaticos os ha em paragens com abun


dancia.
Moradores - Tem esta Povoação 98 cazaes, en
trando varios que nella assistem ha annos, filhos outros
98, viuvos 12 , filhos destes 17, viuvas 7, filhas destas 15.
-O ouvidor de Porto Seguro, Thomé Couceiro de Abreu.

N. 27

Traslado do auto de creação da Villa


Nova do Rio de S. Matheus, documento
juridico, feito e acabado , ( * ) que mostra
de modo decisivo pertencer todo o distri
cto de S. Matheus ao Estado da Bahia ,
pois foi o magistrado bahiano Thomé
Couceiro de Abreu, ouvidor de Porto Se
guro, quem fundou a villa e lhe demarcou
o termo, de accordo com as attribuições
que lhe dera o rei de Portugal nas Instru
cções que acompanharam a sua inves
tidura.

Auto de creação desta Villa Nova do Rio de São Matheus ,


que mandou fazer o Doutor Desembargador Ouvidor
Geral desta Comarca e Capitania de Porto Seguro ,
Thomé Couceiro de Abreu.

Escrivão, José da Costa e Silva Pinto.


Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo,
de 1764 , aos quinze dias do mez de Setembro do
dito anno nesta Povoação do Rio de S. Matheus, em

casa de morada e de aposentadoria do Doutor Desembar


gador Ouvidor Geral desta Comarca e Capitania de Porto
Seguro, Thomé Couceiro de Abreu , Cavalleiro professo
na ordem de Christo, onde eu Escrivão de seu cargo vim,
a seu chamado e por elle me foram entregues por traslado

( * ) Manuscripto original pertencente ao Archivo Publico


.da Bahia.- N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 249

as Provisões e Relações de Sua Magestade ao diante jun


tas e tambem a copia de dois items das Instrucções
que o mesmo Senhor foi servido mandar entregar para
por ella se dirigir na creação das villas, que podesse crear
de novo nesta capitania , mandando-me que eu as fisesse
copiar, em um Edital e as fisese publicar pelas ruas desta
Povoação, e depois disto afixasse no lugar mais publico
desta mesma Povoação , por tempo de sinco dias, e que
paçados elles , com certidão de mim Escrivão, porque
constasse de que assim se havia satisfeito , ajuntasse tudo
a estes autos e lhos fisesse conclusos . E, para de tudo
constar fiz este auto que assignei com o Ministro . E eu
José da Costa e Silva Pinto , Escrivam desta Comarca e Ca
pitania e da creação das novas villas que o escrevy e
assigney. José da Costa e Silva Pinto.

EDITAL

O Doutor Desembargador Ouvidor Geral desta Comarca


e Capitania de Porto Seguro , Thomé Couceiro de
Abreu, com alçada por Sua Magestade que Deos.
Goarde etc.

Faço saber aos que este Edital virem ou delle tiverem


noticia, que como por virtude das ordens que tenho de
Sua Magestade, pertendo crear esta Povoação em villa ,
assim por evitar os atroses e escandalosos delictos que nella
se tem commettido por falta de Justiças, e não haver nella
mais do que hum Juiz ordinario, sem Escrivão nem ou
tro algum official, que façam rebater os crimes e assal
tos que nellas costumão commeter-se e as descidas e
subidas que os mineiros tem feito, pello Rio desta Po
voação, para as minas e dellas para baixo, contra as ex
pressissimas ordens do mesmo Senhor ; como tambem
por hum homem só não poder administrar justiça ás partes,
L 32
250 LIMITES

de que nasce não achar eu nesta Povoação, nem hum só


livro de judicial e notas, Orpãons ou da Camara, se
guindo-se destas faltas grandissimos e consideraveis pre
juisos dos orphaons e mais partes e acho que a mesma
Povoação tem soficiente numero de moradores para
poder ser creada em villa, entre brancos e indios : o faço
assim saber a todos geralmente por virtude do Edital,
ao qual vam juntas as Reaes Resoluções com que a Piis
sima Grandesa de Sua Magestade tem declarado e favo
recido a liberdade dos Indios privilegiando - os na forma
declarada nas mesmas Reaes Ordens e tambem as que foy
servido mandar-me commetter para erecção e creação das
villas que me foce possivel poder erigir nos paragrafos
nono e desacete das mesmas Instruçoens Reaes . Dado e
passado nesta Povoação de Sam Matheus, aos desacete
dias do mez de Setembro de mil setecentos e secenta e qua
tro annos. E eu, José da Costa e Silva Pinto, Escrivam
da Ouvidoria desta Capitania que o escrevy. - Thomé Cou
ceiro de Abreu.
O Dezembargador Thomé Couceiro de Abreu , Ca
valleiro professo na ordem de Christo, Ouvidor Geral
desta Comarca e Capitania de Porto Seguro , com alçada
por Sua Magestade que Deos Guarde etc. Faço saber aos
que este Edital virem ou tiverem noticia, que sendo ser
vido El Rey Nosso Senhor restituir aos Indios do Pará
e Maranham a liberdade de suas pessoas e bens e Com
mercio, determinando que focem governados no Tem
poral pellos Governadores e Ministros de Justiça secu
lares, depois de resolver que não ficacem com infamia
as pessoas que com elles contrahissem matrimonio, an
tes se preferissem para os empregos que coubessem na sua
graduaçam, estendeo estas piyssimas determinaçoens a
todo o continente do Brasil e afim de que focem inviola
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 251

velmente executadas fez publicar os quatro alvarás e


mais Leis, cujo theor hé o seguinte :
Eu El-Rey, faço saber aos que este Alvará de Ley
virem, que considerando o quanto convem que os meos
reaes dominios da America se povoem, e , que para este
fim pode concorrer muyto a commonicação com os In
dios por meyo de casamentos, sou servido declarar que,
os meos Vassalos deste Reyno da America que casarem
com as Indias nam ficam com infamia alguma , antes se
fazem dignos da minha real attenção e que nas terras em
que se estabelecerem seram preferidos para aquelles lo
gares e ocupaçoens, que couberem na graduassam de
suas pessoas e que seos filhos e descendentes serão de ley
capases de qualquer emprego, honra ou dignidade, sem
que para isso seja necessario dispensa alguma, em ra
zam destas alianças em que seram comprehendidas
as que se acham já feitas , e outrosi prohibo que os
ditos meos vassallos casados com as Indias ou seos
decendentes , sejam tratados com O nome de cabo
clos, ou semelhante que possa ser, injurioso, e as
pessoas de qualquer qualidade que praticarem o
contrario, sendo-lhe assim legitimamente provado pe
rante OS ouvidores das comarcas em que assisti
rem, seram por sentenças destes, sem appellação nem
aggravo, mandados sahir da dita comarca dentro de hum
mez , athé a mercê minha , o que se executará sem falta
alguma, tendo porem os ouvidores cuidado em examinar
a qualidade das provas e das pessoas que jurarem
nesta materia para que se não faça violencia ou in
justiça com este pretexto , tendo entendido que só
hão de admittir queixa do injuriado, e não de ou
tra pessoa . O mesmo se praticará a respeito das
portuguezas que casarem com os Indios e a seos fi
lhos e descendentes e a todos concedo as mesmas pre
252 LIMITES

ferencias. para os oficios que ouverem nas terras em


que viverem e quando succeda que os filhos e descen
dentes destes matrimonios , tenham alguns requerimen
tos perante mim me façam saber esta qualidade, para
em razão della mais particularmente os atender e ordeno
que esta minha real resolução se observe geralmente
em todos os meos dominios da America, pello que mando
ao Vice Rey capitam General de mar e terra do Estado
do Brasil e Capitães Generaes Governadores do Estado
do Maranham e Pará e mais conquistas do Brasil, Capi
taes móres dellas, Chancelleres e Desembargadores das
Rellaçoens da Bahia e Rio de Janeiro aos ouvidores Ge
raes móres dellas , Chancelleres e Desembargadores das
Justiças dos referidos Estados, cumpram e goardem o
presente Alvará de Ley e o façam cumprir e goardar na
forma que nelle se contem, o qual valerá como carta, posto
que seu efeito haja de durar mais de hum anno e se
publicará nas ditas comarcas e em minha Chancellaria
mór da Côrte do Reyno, onde se registrará, como tam
bem nas mais partes em que semelhantes alvarás se cos
tumão registrar e o proprio se lançará na Torre do Tombo.
-Lisboa quatro de Abril de mil setecentos e cincoenta e
sinco . -Rey.

Dom José por Graça de Deos Rey de Portugal e dos


Algarves, daquem e dalem Mar em Africa, Senhor da
Guiné e da Conquista e Commercio da Ethiopia, Arabia,
Persia e India. Faço saber aos que esta Ley virem, que
mandando examinar pellas pessoas do meu Conselho e
por outros Ministros, Doutos e Zelosos no serviço de
Deos e do meu e do bem commum dos meus Vassallos ,
que me pareceu comportar as verdadeiras causas com
que desde o descobrimento do Gram Pará e Maranham athé
agora se não tem multiplicado e civilisado os Indios da
-quelle Estado, desterrando - se delle a barbaridade e gen
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 253

tilismo e propagando- se a doutrina christan e o numero


dos fieis alumiados pela Ley do Evangelho, mais antes
pello contrario, todos quantos Indios se descerão dos ser
tões para as Aldeias , em lugar de proseguirem e prospe
rarem nellas , de sorte que as suas commodidades e for
tunas servicem de estimollo aos que vivem dispersos
pello mato para virem buscar nas Povoações , pello meyo
das fellicidades temporaes o mayor fim e eterna bem
aventurança, unindo -se ao gremio da Santa Madre
Igreja, se tem visto muito diverçamente, que havendo
descido muitos milhares de Indios se foram sempre ex
tinguindo, de modo que he muito pequeno o numero das
Povoaçõens e dos moradores dellas, vivendo ainda esses
poucos em tam grande miseria, que em vez de convida
rem e animar- se os outros Indios e Barbaros, a que
os imitem e lhes sirvam distandolle, para se internarem
nas suas habitaçoens dellas, tras com lamentavel pre
juiso da salvação de suas almas e grave damno do mesmo
Estado, não tendo os abitantes delle quem os sirva e ajude,
para conhecerem a cultura das terras e os muitos pre
ciosos fructos com que ellas abundão , foy aventado por
todos os votos que feitos consistio e consiste ainda em
senão haverem sustentado eficazmente os ditos Indios,
na liberdade que de seu favor foy declarado pellos
Summos Pontifices e pellos Senhores Reys , meus pre
descessores , observando - se no seu genuino Sentido as
leys por elles promulgadas nesta materia nos annos de
mil seticentos e sincoenta , mil quinhentos e oitenta e sete,
mil quinhentos e noventa e sinco, mil seiscentos e nove,
mil seiscentos e dezenove, mil seiscentos e quarenta, sete
mil seiscentos e sincoenta e sinco , avaliando - se sempre
pella cobiça dos interesses particulares as disposiçoens
dessas Leys athé que sobre este claro conhecimento e
sobre a experiencia do que se havia paçado a respeito
254 LIMITES

dellas, estabeleceo El- Rey meu Senhor e Avô no primeiro.


de Abril de mil seiscentos e oitenta para de huma vez
por termo a tam perniciosas fraudes a Ley, cujo theor he
o seguinte :
Dom Pedro e Principe de Portugal e dos Algarves,
como Regente e Senhor destes Reynos , etc. Faço
Faço saber aos que esta Ley virem, que sendo in
formado El- Rey nosso Senhor e Pay que Deos
tem, dos injustos captiveiros , a que OS moradores
do Maranham por meios illicitos, tem redusido os In
dios delle e dos graves damnos , excess os e ofenças de Deos ,
que para este fim se tem comettido, fez hua Ley, nesta
cidade de Lisboa em nove de Abril de mil e setecentos e
sincoenta e sinco, em que prohibio os ditos captiveiros,
exeptuando quatro casos, em que de direito herão jus
tos e licitos a saber : quando focem tomados em justa
guerra que os Portuguezes lhe movessem intravindo as
circunstancias na dita Ley declaradas, ou quando impe
disem a pregaçam Evangelica , ou quando estivessem pre
sos á corda para serem comidos , ou quando focem ven
didos por outros Indios , que os houvecem tomado em
guerra justa e examinando - se a justiça della , na forma
ordenada na dita Ley e por não haver sido eficaz este
remedio, nem o de outras Leys antecedentes do anno de
mil e quinhentos e secenta , mil quinhentos e oitenta e sete,
mil quinhentes e noventa e cinco , mil seiscentos e cincoenta
e dois, mil seiscentos e sincoenta e tres , com que o dito Se
nhor Rey meu Pay e outros Reys Meus predecessores , pro
curarão atalhar este damno , antes se haver continuado
athé o presente, com grave escandallo e excesso contra o
serviço de Deus e meu, impedindo-se por esta causa o
commercio daquella gentillidade que desejo promover
e adiantar, o que deve ser athé o meu primeiro cuidado,
tendo mostrado a experiencia que suposto sejam licitos.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 255

os captiveiros por justas resoens de direito , nos casos


excetuados na ultima dita Ley de seiscentos e sincoenta
e sinco e nas anteriores sam comtudo de mayor pondera
ção as rezões que ha em contrario para as prohibir em todo
caso, serrando a porta aos protestos , simulaçoens e dollos
com que a malicia , abusando dos casos em que os captivei
ros sam justos , introduz os injustos , enlaçando- se as consi
encias não somente em privar da liberdade aquelles
a quem a communicou a natureza e que por direito natu
tural e positivo, sam verdadeiramente livres, mas tambem
dos meyos illicitos de que uzam, para este fim : desejando
reparar tam graves damnos e inconvenientes e principal
mente facilitar a converçam daquelles gentios , pello que
convem ao bom governo, tranquillidade e conversão da
quelle Estado , com parecer do meu conselho , ponderada
esta materia com a madureza que pedia a importancia
della, examinando- se as Leys antigas e as que especial
mente sobre este particular se estabelecerão para o Estado
do Brasil, aonde por muitos annos se experimentarão
os mesmos damnos e inconvenientes que ainda hoje du
rão , e sentem no do maranham. Houve bem mandar
fazer esta Ley, conformando- me com a antecedente de
trinta de Junho de seiscentos e nove e com a provisão que
nella se refere de sinco de Junho de seiscentos e sinco ,
paçados para o Estado do Brasil ; e renovando a sua dis
posição ordeno e mando que daqui em deante se não poça
captivar Indio algum do dito Estado, em nenhum caso,
nem ainda dos exceptuados nas ditas Leys que Hey por
derogados como se dellas e de suas palavras fisesse ex
preça menção , ficando no mais em seu vigor e succe
dendo que pessoa algua de qualquer condição , que seja
captive ou mande captivar algum Indio, publica ou secre
tamente, por qualquer frivollo pretexto que seja , o Gover
nador General do dito Estado o prenda e tenha em recato
256 LIMITES

sem neste caso conceder homenagem, alvará de fiança ou


fice (sic ) carcereiro com os auttos que formar e remetta a
este Reyno entregue a Capitam ou mestre do primeiro.
navio que para elle vier para nesta cidade o entregar
no Limoeiro e me dar conta para o mandar castigar
como me merecer e tanto que o dito ouvidor geral lhe
constar do dito captiveiro para logo porá em sua liber
dade o dito Indio ou Indios, mandando-os para qual
quer das Aldeyas dos Indios Catholicos e livres ; e
para me ser mais facilmente presente e esta Ley se
observe inteiramente mando que o Bispo e Governador
daquelle Estado e os Prellados das Religioens delle e
Parochos de Aldeyas dos Indios, me deem conta pello Con
selho Ultramarino e Junta das Missõens, dos transgres
sores que houver da dita Ley e de tudo o que nesta
materia tiverem noticia e for conveniente para sua
observancia ; e succedendo mover guerra defensiva ou
ofenciva alguma nação dos Indios do dito Estado nos
casos que por minha Ley e ordens he permittido aos
Indios na ta guerra forem tomados ficarão prisionei
ros como ficão as pessoas que se tomão nas guerras da
Europa e somente o Governador os repartirá como lhe
parecer mais conveniente ao bem e segurança do Es
tado e pondo-os em Estado livre nas Aldeyas dos In
dios livres , catholicos, aonde se poçam redusir a se
servir ao mesmo Estado , conservando-se na sua liber
dade e com o bom tratamento que por ordens respecti
vas esta mando e de novo recommendo se lhes dê em
tudo, sendo severamente castigado quem lhe fiser qual
quer exeção e com mayor rigor o que lhes fiserem no
tempo que delles se servirem, por se lhes darem na re
partição, pello que mando aos Governadores, Capitães
móres , Officiaes da Camara do Estado de Maranham
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 257

de qualquer condição que sejam, a todos em geral e a


cada hum em particular, cumpram e guardem esta Ley
que se registará nas Camaras do dito Estado e por
ellas Hey por derogadas , não somente as sobreditas
Leys como asima fica referido , mas todas as mays e
quaesquer regimentosque hajam em contrario ao dis
posto nesta que somente quero que valha, tenha força e
vigor como nella se conterá, sem embargo de não ser
paçada pela Chancellaria das Ordenaçoens e regimento
em contrario. Lisboa , primeiro de Abril de mil seiscen
tos e oitenta. - Principe.
E porque o tempo foi fazendo cada dia mais noto
rias e mais demonstrativas as justissimas causas e natu
ral liberdade feixando a porta á impiedade e as malicias
com que debaixo do pretexto dos casos do que antes e
depois delle se permittio o captiveiro , se fasiam escravos
os referidos Indios e sem mais razão que a cobiça e a
força dos que os captivavão, e a rusticidade e fraqueza
dos chamados captivos, Sou Servido com o parecer das
mais pessoas e Ministros derrogar como por esta der
rogo e annullo todas as Leys, Regimentos e Resoluçõens
e ordens que desde o descobrimento das sobreditas Ca
pitanias do Gram Pará e Maranham athé o presente dia
permittiam ainda em certos casos particullares a escra
vidão dos referidos Indios , e nos mais em que desta Ley
forem contrarios para nesta logo Somente ficarem
derrogadas , cessadas, como se da substancia dellas se
fizesse expressa menção , sem embargo da Ordem Livro
2º tit . 44 em contrario , renovando e excitando inteira
mente a observancia da dita Ley asima trasladada ; e
isto com as ampliaçõens, declaraçõens e restricçõens
que ao diante se seguem ; por observar mais eficazmente
as calamidades que se tem seguido da escravidão e por
cortar de hua vez todas as raises e apparencias della,
L 33
258 LIMITES

ordeno que os Indios que ao digo que ao tempo da pu


blicação desta se acharem dados por repartição ou ainda
por administração, se observem as disposiçõens do Al
avará de dez de Novembro de mil seiscentos e quarenta
e sete, cujo theor he o seguinte :
Eu El- Rey, faço saber aos que este Alvará virem
que tendo consideração ao grande prejuiso que se segue
ao serviço de Deôs e meu e aumento do Estado do Ma
ranham de se darem por administração os gentios e
Indios daquelle estado por quanto os Portuguezes a
quem se dão aquellas administraçõens usão tomar dellas
que os Indios que estãm debaixo das mesmas administra
çõens em breves dias de serviço ou morrem a fome e
excesso de trabalho ou fogem pella terra dentro, onde a
poucas jornadas perecem, tendo por esta causa pere
cido e acabado innumeraveis gentios no Maranham e
para as outras partes do Estado do Brazil , pello que Hey
por bem mandar declarar por Ley, como por esta faço
e com declaração já dos Senhores Reys e Summos Pon
tifices que os Gentios são livres e que nam haja admi
nistradores, digo administração , havendo por nullas e
de nenhum effeito todas as que estiverem dadas , de
modo que nam haja memoria dellas ; e que os Indios
poçam livremente servir, trabalhar com quem bem lhes
tiver e melhor lhes parecer o seu trabalho , pello que
mando ao Governador do dito Estado do Maranham e a
todos os mais Ministros delle e justiças de guerra, fa
sendo a todos em geral e a cada hum em particular e
aos officiaes da Camara do mesmo Estado que nesta
conformidade cumpram e goardem este Alvará fa
sendo-o publicar em todas as capitanias, villas, e cidades
que os Indios sãm livres e não consentirem outro sim, que
nam haja administradores nem administração, havendo
por nullas e de nenhum effeito todas as que estiverem
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 259

dadas na forma que assim a se refere, porque asim o Hey


por bem e quero que valha como carta sem embargo
da ord. Livro 2.ã n. 4 em contrario. Manoel Antunes a
fez em Lisboa aos dez de Novembro de mil e setecen
tos e quarenta e sete e este vay por duas vias.- Rey.
Declarando-se por Editaes postos nos logares publicos
da cidade de Bellem do Gram Pará e Sam Luiz do Ma
ranham que os sobreditos Indios como livres de toda a es
cravidam podem dispor de suas pessoas e bens como me
lhor lhes parecer, sem outra sujeiçam temporal que não
seja a que devem ter ás minhas Leys para a sombra
dellas viverem na paz da união christam e da minha
graça procuro manter os povos que Deos me confiou
nos quaes ficaram encorporados os referidos Indios e
sem distincção ou excepção alguma , para gosar de
todas as honras, privilegios , liberdades de que os meus
vassallos gosam actualmente, conforme as suas respe
ctivas graduaçoens e cabedaes o que tudo se estenderá
aos Indios que estiverem possuidos como escravos, ob
servando a respeito delles inviolavelmente o § 9, da Ley
de dez de Setembro de mil seiscentos e onze , cujo
theor he o seginte :
E por quanto foce informado que no tempo de al
guns Governadores paçados daquelle Estado se capti
varam muitos Gentios contra a forma de El Rey meu
Senhor e Pay e do Senhor Rey Dom Sebastiam meu
Primo que Deos tem e principalmente das terras de Ja
goaribe ; Hey por bem e mando que asim os ditos
Gentios como outros quaesquer que athé a publicação
desta Ley forem captivos , sejam todos livres e postos
em sua liberdade e se tirem do poder de quaesquer pes
soas em que estiverem, sem replica nem declaração nem
serem ouvidos com embargos nem cousa alguma de
qualquer qualidade e materia que seja e sem admittir.
260 LIMITES

appellação nem aggravo, posto que alguem esteja delles


de poce e que os compraram e por sentença lhe foram jul
gadas, porquanto esta declara as ditas vendas e sen
tenças por nullas, ficando-lhes guardada sua justiça aos
compradores contra os que lhe venderam e dos ditos.
gentios se faram tambem as aldeas que forem necessarias,
asim nellas como nas mais que já ouverem e estando
mestiças se terá a mesma ordem e o Governo que por
esta se ordena haja mais que de novo se ordena, digo
de novo se fiserem: Desta geral disposição exceptuo so
mente os oriundos de pretos escravos , os quaes serão
confirmados no dominio de seus atuaes Senhores em
quanto Eu não der outra providencia sobre esta ma
teria porem para que com o pretexto dos sobreditos
descendentes delles , digo de Pretos escravos , se não
retenhão, ainda no captiveiro os Indios que são livres
estabeleço que os beneficios dos Editaes asim ordena
dos se estendão a todos os que se acharem reputados
por Indios ou que taes parecem, para que todos estes
sejam havidos por livres sem dependencia de mais por
ora do que a plenissima que a seu favor resulta da pre
sumpção de direito divino natural e positivo que está
pella liberdade, comquanto por outras provas tambem
plenissimas e taes que sejam bastantes para elidirem a
dita presumpção, conforme o direito, senão mostrar que
efectivamente sam escravos na sobredita forma, incum
bindo sempre o encargo da terna, digo da prova dos que
requererem contra a liberdade, ainda Sendo ricos, o que
nos casos ocurrentes se julgará breve e summaria
mente e de pleno pella verdade solida em hua só instan
cia ; para ella serão preparados os Auttos pellos Ouvi
dores geraes nas suas respectivas jurisdicçõens e os
proporam em junta a que assistiram o Prellado Dio
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 261

cesano ou Ministro que elle deputar no seu ligar para


este effeito , os quatro prellados mayores das missõens
da companhia de Jesus, de Nossa Senhora do Monte
do Carmo, dos religiosos capuxos da Provincia de
Santo Antonio, de Nossa Senhora das Mercês, o dito
Ouvidor, o Juiz de Fóra e procurador dos Indios , ven
cendo-se pella pluralidade de votos contra a liberdade
e bastando á favor della que sejam iguaes os mesmos
votos, os quaes em nenhum caso se poderam dar sem
que estejam presentes os vogaes asima referidos ou as
pessoas que seus lugares servirem, ao menos que se
não excusem, sendo avdertidos para o referido acto con
vocado por escripto e que escusando- se algum ou alguns
delles por se achar impedido , se autoará de escusa e se
expedirá sempre a causa pellos que ficarem presentes
comtanto que haja sempre tres votos conforme, para se
vencer a decisão ; e das sentenças proferidas na sobre
dita forma não poderá haver appellação suspenciva que
retarde a sua execução nem outro algum recurso que não
seja devolutivo entrepondo-se para o Tribunal da Meza
da Consciencia e Ordens, aonde estas causas seram sen
tençeadas na sobre dita forma, com preferencia a quaes
quer outras , como convem para serviço de Deos
e meu em huma materia tam grave e delicada que
envolve em si os bens espirituaes e temporaes da
quelle os moradores delle poçam
Estado, para que os
achar quem lhes faça as suas obras e lhes culti
vem as suas terras, ainda que dentro nellas sem depen
dencia de mandarem os obreiros e trabalhadores de
fóra e os Indios naturaes do Paiz poçam achar tambem
de sua conveniencia em se aplicarem ás referidas obras
e serviços, fasendo-se assim a ouros aquelles recipro
cos interesses em que consiste o estabelecimento au
gmento e multiplicação e proferidos de todos os povos
262 LIMITES

civilisados e polidos nos quaes sempre cresce o numero


dos operarios, a proporção das lavouras e das manufa
cturas que nellas se cultiva . Hei por bem que logo que
esta se publicar na cidade de Belem do Gram Pará o
Governador e capitam
capitam general daquelle Estado , ou
quem seu cargo servir, convocando a junta , os Minis
tros lettrados daquella capital, e ouvindo o Governador
e Ministro da cidade de Sam Luiz , com accordo das duas
respectivas Camaras, estabeleça aos sobreditos Indios
os jornaes competentes para se alimentarem segundo
as suas differentes profiçõens, conformando- se com
que a este respeito se pratica nestes Reynos, mais da
Europa emquanto os preços communs do mesmo Es
tado poderem promittil-os e servindo para este efeito
de regra para os exemplos seguintes .
Por meyos exemplos :
Se em Lisboa custa de hum homem de trabalho
hum tustam e he por isso de dois tustõens o jornal de
hu trabalhador, desta imitação se taxará a cada Indio
de serviço por jornal , o dobro que he preciso para o dia
rio sustento, regulado pelos preços da terra.
Segundo exemplo :
Se hu artifice ganha em Lisboa tres tustõens por
dia e hu trabalhador dois tustõens desta imitação se
taxará aos artifices do referido Estado a metade mais
do jornal que se houver arbitrado aos trabalhadores ;
todos os referidos por mais seram pagos por férias aos
sabbados cada semana, cobrando-se asim nas quintas
em que ouverem sido taxados, ou em pano, ou em fer
ramenta, ou dinheiro, conforme parecer aos que o ga
nharem, procedendo-se por elles verbal e executivamente,
como já foy declarado por Alvará de dose de Novembro
de mil seiscentos e corenta e sete, observando-se as so
breditas taxas, sem embargo do dito Alvará do Cap .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 263

n. 48, do antigo Regimento dos outros Alvarás, de nove de


Setembro de mil seiscentos e corenta e oito e dose de
Julho de mil seiscentos e sincoenta e sis, todas as mais
disposiçõens e taxas athé agora extabellecidas, as quaes
todas Hey tambem nesta parte por derrogadas como se
dellas fisesse especial mençam , não obstante a ord . do L.
2º. n. 44 e mais disposiçõens de direito dellas , seme
lhante, por quanto não bastaria para restabelecer e adian
tar o referido Estado que os Indios focem restituidos a
liberdade de suas pessoas, senão se lhes restituisse tam
bem o livre uso de seus bens o que athé agora se lhes im
pedio com manifesta violencia ordeno que a este res
peito se execute logo a disposição do §§ 4.º do Alvará
do primeiro de Abril de mil seiscentos e oitenta cujo
theor he o seguinte :
E para que os Gentios que asim descerem e os mais.
que ha de presente melhor se conservem nas Aldeyas
Hey por bem que sejam senhores das suas fazendas
como o sam no sertam, sem lhes poderem ser tomadas
nem sobre ellas se lhes faser molestia e o Governador,
com o parecer dos referidos relligiosos , asignará aos.
que descerem do sertam lugares convenientes para
nelles lavrarem e cultivarem e não poderem ser muda
dos dos diitos lugares .

A todos os ecclesiasticos como Ministros de Deos e


de sua Igreja misturarem-se no Governo secular que
como tudo he inteiramente alleo das obrigaçõens do sa
cerdocio e que ligando esta prohibiçam muito mais ur
gentemente dos Parochos das Missõens de todas as or
dens Religiosas e contendo muyto mayor acerto inhi
birem asim os Religiosos da Companhia de Jesus , que
por força de votos todos sam incapazes de exercitarem no
foro eterno (sic ) athé a mesma jurisdiçam ecclesiastica
264 LIMITES

como religiosos capuxos cuja indispensavel humildade.


se faz incompativel com o imperio da jurisdiçam civel
e criminal, nem Deos se poderia servir de que as referi
das prohibiçõens expreças nos sagrados canones e
constituiçõens apostolicas de que sou protector nos
meus Reynos e dominios para sustentar a sua observan
cia e nam tiverem mais tempo, depois de me haver
sido presente todo o sobredito nem aquelle (*) de
athé agora nem poderia nunca ainda naturalmente pros
perar entre hua desusada e impraticavel confusam de
jurisdiçõens , tam incompativeis como O sam o espiri
tual e temporal, seguindo- se a tudo a falta de adminis
tração de justiça, sem a qual nãm ha povo que poça
substituir, sou servido com parecer das pessoas do meu
Consell e outros Ministros Doutores , Religiosos , no
serviço de Deos e meu que me pareceu ouvir nesta ma
teria, derogar e cassar o capitulo primeyro do Regimento
que dey para o referido Estado em vinte e hu de De
zembro de mil seiscentos e oitenta e seis e todos os mais
Capitulos , Leys e ..soluçõens e ordens, quaesquer que
ellas sejam, que direitamente ou emdireitamente forem
contrarias ás sobreditas disposiçõens apostollicas e ca
nonicas disposiçõens ; e que contra o nellas disposto e
neste ordenado, permittirão aos missionarios ingeri
rem-se no governo temporal de que são incapases, abo
lindo-lhe as sobreditas Leys , ordens e resoluçõens e ha
vendo-as por derogadas e sem nenhum effeito , Como se de
todas e cada hua dellas fisesse especial mençam , sem em
bargo da ordem do L. 2.º n. 44, em contrario e memo
rando para ser a sua inteira e inviolavel observancia a
Ley estabelecida sobre esta materia em dose de Setem

*) Está distruido neste lugar o documento original . -V. do


auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 265

bro de mil seiscentos e sincoenta e tres em quanto or


dena o seguinte :
Eu El-Rey, faço saber aos que esta minha provisão
virem em forma de Ley que por se haverem movido
grandes duvidas entre os moradores do Maranham e
os religiosos da Companhia sobre a forma em que ad
ministravão os Indios daquelle Estado como bem a pro
visão que se passou a favor delles no anno de seiscentos
e sincoenta e sinco de que resultarão os tumultos e ex
cessos paçados , originado tudo das grandes vexaçõens
que padecião, os que digo padecião por se não pra
ticar a ley que se tinha passado no ano de seiscentos
e sincoenta e tres e tanto que chegarão a ser expulsos os
relligiosos das suas Igrejas e missõens do exercicio dos
quaes he muito conveniente que tornem a ser admitti
dos , visto não haver cousa que obrigue a prival -os
dellas, antes muito fará para que seu santo zello seja aly
necessario e desejando Eu alcançar grandes convenien
cias e que meus vassallos logrem toda paz e quietacção
que he justo, Hey por bem declarar que os ditos religio
sos da Companhia como tambem de outra qualquer re
ligião não tenhão jurisdição alguma temporal sobre o
governo dos Indios e que no espiritual a tenhão tambem
os mais religiosos que assistem e residem naquelle Es
tado por ser justo que todos sejão obreiros da vinha do
Senhor e que o Prellado ordinario, com o das religi
oens poçam escolher os relligiosos dellas que mais suf
ficientes lhe parecerem emcommendar-lhe os Parochos
e curas das almas dos Gentios daquellas Aldeyas os
quaes poderão ser removidos todas as veses que pare
cer conveniente e que nenhua religião poça ter Aldeyas
proprias de Indios fôrros de administração, os quaes no
temporal poderam ser governados pellos seus principaes
que houver em cada aldeya ; e quando haja queixa delles
L 34
266 LIMITES

por causas dos mesmos Indios os poderam faser aos meus


Governadores, Ministros , Justiças, daquelle Estado
como o fasem os mais Vassallos delle, a qual disposição
sou servido remover a restituir a sua inteira e inviola
vel observancia na sobredita forma, ordenando que
nas villas sejam preferidos para juises ordinarios ve
readores, e officiaes de justiça , os Indios naturaes delles
e dos seus respectivos districtos, emquanto os houver
idoneos para os referidos cargos e que as Aldeyas depen
dentes das ditas villas sejão governados pellos seus
respectivos principaes, tendo estes por subalternos os
sargentos móres . Capitães, Alferes, e Meirinhos , das
naçõens que foram instituidos para os governarem. Re
commendo as partes que se considerarem gravadas aos
mesmos Governadores e Ministros de Justiça, para
lh'a administrarem na conformidade de minhas Leys
e ordens expedidas para aquelle Estado pello que mando
aos Capitães Generaes, Governadores . Ministros e offi
ciaes de Guerra e das Camaras do Estado do Gram Pará
e Maranham. de qualquer qualidade e condição que
sejam, a todos em geral e a cada hú em particular, cum
pram e goardem esta Ley que se registrará nas comar
cas do dito Estado e por ella Hey por derrogadas todas
as leys, regimentos , ordens que haja em contrario ao
disposto nesta que somente quero que valha e tenho por
em vigor como nella se contem, sem embargo da Orden
L. 2.º n. 39 §§ 44 e do Regimento em contrario Lisboa,
sete de Junho de mil seticentos e sincoenta e sinco .
-Rey.
Eu El- Rey, faço saber aos que este Alvará com
força de ley virem que porquanto o Santissimo Padre
Benedicto XIV , ora Presidente na Universal Igreja de
Deos, pella constituiçam de vinte de Dezembro de mil
seticentos e quarenta e hum, reprovando todos os abusos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 267

que se haviam feito da liberdade dos Indios do Brasil,


com transgressam das leys divina e humana, condem
nou debaixo das penas eclesiasticas na mesma consti
tuiçam declaradas a escravidão das pessoas e a usurpa
ção dos bens dos sobreditos Indios e porquanto pellos
meus Alvarás dados em os dias seis e sete do mez de
Junho do anno de mil seticentos e sincoenta e sinco , con
formando-me com a mesmamesma constituiçam apostolica,
exercitando eficazmente a observancia de todas as leys
que os Senhores Reys meus predecessores havião or
denado aos mesmos uteis e necessarios fins do serviço
de Deos e meu e de bem comum dos meus Reynos e
Vassallos estabeleceo incontestavelmente a liberdade
das pessoas e bens, asim de raiz como semoventes e mo
veis, a favor dos Indios do Maranham e independente
exercicio da agricultura que por elles for feita e do e m
mercio a que se applicarem, dando-se-lhes hua força de
Governo propria para civilizallos e attrahillos por este
unico e adequado meyo da Santa Madre Igreja, consi
derando a mayor utilidade que resultará a todos os so
breditos respeitos de faser as sobreditas duas leys ge
raes beneficio de todo o Estado do Brasil , declarando o
contheúdo nellas , ordeno que a sua disposição se estenda
aos Indios que habitam os mesmos dominios em todo
aquelle continente , sem restricção alguma a todos os
seus bens, assim de raiz como semoventes e a sua la
voura e comercio, asim e da mesma sorte que se acha
exprexa nas referidas leys, sem interpretação ou modi
ficação alguma qualquer que ella seja, porque em
tudo e por tudo quero que sejam julgados como actual
mente se julgam na capitania do Gram Pará e Mara
nhăm , ficando a todos com voz as sobreditas leys que
serão com esta para a sua devida observancia debaixo
268 LIMITES

das mesmas formas que nella se acham declaradas : pello


que mando ao Vice-Rey do Estado do Brasil , Governa
dores e Capitães Generaes, Chancelleres da Bahia e Rio
de Janeiro, officiaes de Justiça e Guerra e das Comar
-cas do mesmo Estado do Brasil, ouvidores e mais pes
soas delle, de qualquer qualidade ou condição que sejam,
a todos em geral e a cada hum em particular, cumpram e
goardem esta ley que se registrará nas Camaras do dito
Estado e por ella Hey por derrogadas todas as leys , re
gimentos e ordems que haja em contrario do disposto
nesta que somente quero que valha e tenha força e vi
gor, como nella se contem ; sem embargo de não ser paçada
pela Chancelaria e sem embargo da ord. Livro 2º.
n. 39, §§ 44 e Mayo, digo Regimento em contrario.
Bellém, a oito de Mayo de mil setecentos e sincoenta e
oito . E porque se não continha mais nas ditas provisõens
-que bem e fielmente aqui as fiz copiar e se seguem os dois
items nono e desacete das Instrucçõens Reaes de que faz
menção o auto da creação desta nova villa.

Paragrapho nono
Não deve paçar a vce. nem pela imaginação

o objecto de fazer o descobrimento de minas mas antes se


deve aplicar muito seriamente, depois dos estabelecimentos
das novas villas, que poder erigir, e da educação de seus
novos habitantes, na cultura dos fructos para se susten
tarem com abundancia, não só os moradores das mesmas
terras mas fazerem Commercio dellas , para a Bahia e
Rio de Janeiro .

Paragrapho desacete
Ordena tambem Sua Magestade, asim naquellas Po
voaçõens chamadas Aldeias , que estão domesticadas , como
nas que de novo se estabelecerem, com Indios decidos , que
logo que estes se descerem no competente numero se vão
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 269.

estabelecendo novas villas, se vão abolindo nellas os Bar


baros e antigos nomes que tiverão , e se lhes vam impondo
alguns outros nomes, das cidades e villas deste Reyno :
e nam se continha mais nas ditas Reaes Ordens , Leys ,
e Instrucçõens que me foram dadas pelo Doutor Desem
bargador Thomé Couceiro de Abreu , Cavalleiro profeço
na Ordem de Christo , Ouvidor Geral desta Capitania
de Porto Seguro, para as faser cumprir, as quaes bem
e fielmente, aqui as fiz copiar sem borradura , ou entre
linha ou outra cousa que duvida faça . As proprias , as
tornei a entregar ao dito Desembargador Ouvidor Geral
que aqui a asignou de como recebeu , e as mesmas, me re
porto e esta copia conferi e concertei, Comigo e com o
official abaixo asignado nesta Povoação de S. Matheus ,
aos desacete dias do mez de Setembro de mil seticentos
e secenta e quatro annos. Eu, José da Costa e Silva Pinto ,
Escrivam da Correyção desta comarca e Capitania de
Porto Seguro e da creação das novas villas , que sobscrevi
e asignei. José Couceiro de Abreu-José da Costa e
Silva Pinto, Concertada por mim Escrivão José da Costa
Pinto e commigo Tabellião Pedro Soares de Athayde.
Certidão de como foi publicado o Edital, retro-José
da Costa e Silva Pinto, Escrivão da Ouvidoria desta Co
marca e Capitania de Porto Seguro . - Certifico que as
ordens regias, conteudas no Edital retro , as publicou o
Alcayde Francisco Gomes Saldinha , por mandado do
Doutor Desembargador Ouvidor Geral desta Capitania ,
Thomé Couceiro de Abreu . O Edital se fixou nos páos
do sino desta Povoação, por ser o lugar mais publico.
della. E, para constar o referido, pacei a presente . Po
voação de Sam Matheus , aos vinte e dois dias do mez
de Setembro de mil setecntos e secenta e quatro annos.
Em fé de verdade , José da Costa e Silva Pinto .
270 LIMITES

CONCLUSAO

Aos vinte e dois dias, do mez de Setembro, de mil


seticentos e secenta e quatro annos, nesta Povoação de
São Matheus, em casas de aposentadoria de mim Escri
vão ao diante nomeado, fiz estes autos conclusos ao
Doutor Desembargador Ouvidor Geral, desta Capitania
de Porto Seguro , Thomé Couceiro de Abreu , de que fiz
este termo. Eu, José da Costa e Silva Pinto, Escrivam o
escrevy .

Despacho
Visto como da Certidam do escrivão consta haver,
se publicado os Editaes , de que se fez mensão nestes au
tos , com as Reaes Ordens de Sua Magestade , e acharem -se
afixados no lugar mais publico desta Povoação, pace o
escrivão outro Edital, que mandará afixar no mesmo
lugar, para que todos os moradores desta mesma Po
voação venham á minha presença , no dia vinte e seis do
corrente, para serta deligencia do serviço de Sua Ma
gestade, tendente a creação desta Povoação em villa do
Rio de Sam Matheus. Vinte e dois de Setembro de mil
setecentos e secenta e quatro. -Couceiro .
Termo de data

Aos vinte e dois dias , do mez de Setembro , de mil


setecentos e secenta e quatro , nesta Povoação do Rio de
de São Matheus, em casas de aposentadoria do Doutor
Desembargador Ouvidor Geral , desta Capitania de Porto
Seguro, Thomé Couceiro de Abreu, aonde eu escrivão
ao diante nomeado, fui vindo e ahi por elle dito Minis
tro, me foram dados estes autos, com seu despacho supra,
que manda se cumpra e goarde como nelle se contem e
declara, de que fiz este termo. Eu , José da Costa e Silva
Pinto, Escrivam que o escrevy .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 271

Publicação do Edital ao diante junto


José da Costa e Silva Pinto, escrivão desta Ouvi
doria e Capitania de Porto Seguro . Certifico que o Edi
tal ao diante junto, foi publicado pelo Alcayde Francisco
Gomes Saldinha , por mandado do Doutor Desembarga
dor Ouvidor Geral desta Capitania, Thomé Couceiro de
Abreu, e o mesmo Edital se fixou no páo do sino desta
Povoação, lugar mais publico della . E, para constar do
referido pacei o presente. Povoação do Rio de Sam Ma
theus, aos vinte e tres dias do mez de Setembro de mil
setecentos e secenta e quatro annos . Em fé de verdade ,
José da Costa e Silva Pinto.
O Doutor Desembargador Thomé Couceiro de Abreu,
cavalleiro Profeço na Ordem de Christo, Ouvidor Geral
desta Comarca e Capitania de Porto Seguro , com alçada
por sua Magestade, que Deos goarde etc.- Faço saber a
todos os moradores desta Povoação , tanto os que se acham
nella como os que existem nas suas roças, que para serta
diligencia do serviço do mesmo Senhor, tendente a crea
ção desta Povoação em villa , se achem nas casas de mi
nha aposentadoria no dia vinte e seis do corrente mez ,
das sete horas as oito da manhã, pena de que não se exe
cutando asim proceder contra elles, como fôr de justiça .
Dado e paçado nesta Povoação do Rio de Sam Matheus,
aos vinte e tres dias do mez de Setembro de mil setecentos
e secenta e quatro annos . José da Costa e Silva Pinto ,
Escrivam da Correyção e creação das novas villas desta
Comarca e Capitania de Porto Seguro, que o Escrevy,
Thomé Couceiro de Abreu.

Termo de ajuntamento do povo


Aos vinte dias , do mez de Setembro de mil setecen
tos e secenta e quatro annos , nesta Povoação do Rio de
Sam Matheus , em casa de aposentadoria do Doutor Des
272 LIMITES

embargador, Ouvidor Geral desta Comarca e Capitania


de Porto Seguro, Thomé Couceiro de Abreu, onde eu
escrivam ao diante nomeado, fui vindo , ahi se achavão
presentes todos os moradores desta dita Povoação , me
nos algums que andavam ausentes e outros impedidos por
causa de doenças, e estando todos presentes pello dito
Ministro, lhes foi proposto que elle , por virtude das
Reaes Ordens, que Sua Magestade foi servido cometter
lhe, pretendia crear em villa, esta Povoação, asim porque
achava ter numero suficiente de moradores, como por
que havendo nella juiz e mais officiaes de justiça, se re
primirão os autores dos escandallosos delictos que nella
se costumão cometer e estrocarão as parcel (* )
de que nho achado se fará justiça ás partes
e se acudirá aos graves prejuizos .

Terrenos (sic ) como tambem que o acompanhecem, ao


levantamento do Pelourinho, medição e demarcação das
casas da Camara e cadea , porque sendo ouvido pellos
ditos moradores, nomearão para louvados da Agulha a
João da Costa Bagundes e a Francisco José, para a corda
Caetano Pereira e a Custodio dos Anjos, para a picada,
a Bernardo Paz e Mathias Lopes, Zacharias Ribeiro e
Francisco da Silva , aos quaes mandou o dito Ministro por
mim escrivão, que os notificasse para virem tomar o jura
mento e que a corda e agulha porque diviam Governar
e medir o circuito asignado a deveriam apresentar pe
rante elle dito Ministro, que houve a dita nomeação de
louvados por boa e que a dita medição e demarcação
devia principiar pelo continente das casas desta Po

(*) Esta parte d documento original está em muitos pontos


perfurada pelos vermes, tornando muito difficil uma decifração
segura.- N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 273

voação, para que, neste auto podesse o dito Ministro


declarar os citios por onde devião continuar quaesquer
casas, que de novo queiram faser estes ditos moradores
e os mais que se forem aggregando a esta Povoação e
para tudo constar, fiz este auto em que elles ditos mo
radores, asignarão com o dito Ministro. E, eu José da
Costa e Silva Pinto Escrivão da Ouvidoria e Capitania
de Porto Seguro , que o escrevy e asignei, Couceiro.-José'
da Costa e Silva Pinto,-Antonio Alvares Chaves, An
tonio Leite Barcellos , Manoel da Motta Nunes, Joam dos
Montes, Caetano Rodrigues de Moraes, Lourenço Ro
drigues Valle, Sebastian Vieira de Andrade , Antonio
José de Oliveira , Joam de Jesus Silvares, Manoel da
Costa Netto, Domingos Antunes de Santiago, Ignacio
Dias de Andrade Souza , Joam Antunes de Silqueira ,
Joam Ferreira da Silva , José Ferreira Montamoura,
Miguel Rodrigues Pereira , Manoel Nunes, Roque Pe
reira do Lago, Francisco Gomes Saldinha , Ignacio
de Andrade, Custodio dos Anjos, Miguel Barbosa de
Mariz, Joam Alves, Antonio Rodrigues da Cunha ,
Antonio Ramos da Silva, Joam Ozorio da Cunha , Pas
choal Dias de Mendonça Antonio Coutinho de Mello ,
Manoel de Jesus, Manoel da Costa Silva , Joam Pereira
do Lago Antonio José de Souza, Adam Rodrigues de
Souza, Ignacio Gomes dos Santos, Joam da Silva Fer
nandes, José Lopes Mendonça Joam da Costa Bagundes ,
Gonçalo de Almeida Franco, Antonio Francisco de Oli
veira , Francisco de Villas Boas, Antonio Mendes dos
Santos, Francisco Martins Rabello , Ignacio Pereira da
Silva, Caetano Pereira, Antonio Furtado dos Santos,
Joam Gomes da Silva, José da Costa Leal, Antonio José
de Souza Caldas, Manoel Jeronimo, José de Moraes ,
José Francisco de Costa, José Gonçalves Ferreira, Do
L 35
274 LIMITES

mingos da Costa Silva, Ignacio Dias, Antonio Pires ,


José Rodrigues de Moraes, Alexandre Rodrigues de Mo
raes, Ignacio de Goes Martinho Lopes, com hua cruz ;
Patricio de Alvarenga, com hua cruz ; Joam Gomes, com
hua cruz ; Francisco da Costa, com hua cruz ; Manoel
Guerreiro, com hua cruz ; Matheus Rodrigues Santiago ,
com hua cruz ; Domingos de Afonseca Rondam, com
hua cruz ; Joam da Silva , com hua cruz ; Francisco Reis ,
com hua cruz ; Thomaz da Silva, com hua cruz ; Ma
noel Francisco, com hua cruz ; Manoel Luiz, com hua cruz ;
Vicente Ferreira, com hua cruz ; Phelippe da Silva , com
hua cruz ; Pedro Lopes, com hua cruz ; Henriques Dias,
com hua cruz ; Manoel do Espirito Santo , com hua cru ;
Mathias Lopes , com hua cruz ; Francisco da Silva com
hua cruz ; Manoel José da Silva , com hua cruz ; Miguel
Rodrigues, co mhua cruz ; Francis Lopes, com hua cruz ;
José Rodrigues, com hua cruz ; Telles da Silva, com hua
cruz ; André Ramos , com hua cruz ; Germano da Costa,
com hua cruz ; Salvador de Souza, com hua cruz ; Ma
theus da Silveira, com hua cruz ; Justiniano da Silva , com
hua cruz ; Zacharias Ribeiro , com hua cruz ; José Fran
cisco, com hua cruz ; José Dias, com hua cruz ; Luiz Fer
nandesda Cunha , com hua cruz ; Francisco Ramos , com
hua cruz ; Luiz Antonio, com hua cruz ; Joam Bernardo
da Rocha, Antonio Lopes Pereira , Verissimo Pereira de
Moraes, José Simoens Pinto, Calisto da Motta, com hua
cruz ; Antonio Francisco de Souza, Francisco José, Joam
Rodrigues, Joam do Espirito Santo ; Bernardo Paz, com
hua cruz ; Angelo Nunes, com hua cruz ; Domingos Ro
drigues, com hua crzu ; Francisco da Victoria, com hua
cruz ; Silvistre de Almeida, com hua cruz ; Christovam
da Silva, com hua cruz ; Francisco Pinto , com hua cruz ;
José da Silva , com hua cruz ; Matheus Lopes, com hua
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 275

cruz ; Joam Mendes, com hua cruz ; Francisco da Costa,


Moura, com hua cruz ;digo Francisco da Costa Moura,
Antonio Mendes, com hua cruz ; Ignacio Mendes, com
hua cruz ; Ignacio Pereira , com hua cruz ; Gonçallo Lo
pes de Mendonça, Manoel de Souza, com hua cruz ; Ale
xandre Felix da Rocha , Simão Luiz, José Dias, com hua
cruz ; Victoriano Pereira , Miguel da Silva , com hua cruz ;
Joam da Costa de Carvalho, Joam Caldeira, José Cor
reia, com hua cruz ; Joam Antunes Pereira , Miguel Gomes
de Barcellos, Joam Pereira, com hua cruz ; Antonio
Antonio Rodrigues Povoação, com hua cruz ; Felippe
de Santiago, com hua cruz ; Luiz da Rocha, José Vieira
Areas , com hua cruz ; José de Souza Cardas , Joam Gomes
da Silva.

Termo de juramento dos Louvados


Aos vinte e sete dias, do mez de Setembro de mil
setecentos e sincoenta e quatro annos, nesta Povoação do
Rio de S. Matheus, em casas de aposentadoria do Dou
tor Desembargador Thomé Couceiro de Abreu, Ouvidor
Geral desta Comarca e Capitania de Porto Seguro , aonde
eu escrivão ao diante nomeado, fui vindo, e ahi se acha
vão os louvados que os moradores desta mesma Povoa
ção nomearam, Joam da Costa Bagundes e Francisco
José, para dirigirem como homens praticos do mar, a
Agulha que deve guial-os nos rumos, nas mediçõens e de
marcaçõens dos terrenos referidos , Custodio dos Anjos
e Caetano Pereira, para que como medidores hajam de
medir os mesmos terrenos, com a corda que deviam apre
sentar para ante o dito Ministro, aos quaes por elle lhes
foi dado o juramento dos Santos Evangelhos , debaixo
do qual lhe encarregava a maneyra de bem e verdadeira
mente, procederem nas ditas Mediçõens demarcaçõens , se
gundo os rumos da Agulha na forma declarada nestes
276 LIMITES

autos, sem acrescentarem nem diminuirem cousa algua


dos rumos que aquella mostrar, declarando os signaes
ou sitios, donde principiarem as ditas mediçõens e demar
caçõens e sendo por elles recebido o dito juramento, asim
o prometteram faser.
E, para que tudo constar fiz este termo , em que asig
naram com o dito Ministro. E Eu, José da Costa e Silva
Pinto, Escrivam que o escrevy.- Couceiro, -Joam da Costa
Bagundes, Francisco José, Caetano Pereira, Custodio dos
Anjos.

Termo da apresentação da Agulha e Corda


E logo no mesmo dia e anno pello primeiro lou
vado, para os rumos da Agulha, Joam da Costa Bagundes
foi apresentada para ante o dito Ministro , Agulha e Corda,
e sendo esta medida, se achou ter vinte e hua braças, de
dez palmos cada braça, de que eu escrivão dou fé. E, para
constar, fiz este termo , em que se asignou o dito louvado
com seu companheiro e o dito Ministro. E eu , José da
Costa e Silva Pinto , Escrivão que o escrevy .- Couceiro ,
Joam da Costa Bagundes, Francisco José.
AUTO DE MEDIÇÃO E DEMARCAÇAO que
mandou fazer o Douor Desembargador, Ouvidor Geral
desta Comarca e Capitania de Porto Seguro , Thomé Cou
ceiro de Abreu, da praça que fica defronte da Igreja Ma
triz, caminhando para o leste a qual fica com o nome de
Rua Nova da Igreja, levantamento do Pellourinho e decla
ração do nome, que o dito Ministro deu a esta nova Villa.
E logo no mesmo dia mez e anno , achando- se o dito
Ministro na praça e rua sobredita , Comigo escrivam
e louvados nomeados para as mediçõens e demarca
çoens, dos terrenos applicados para esta nova villa , em a
presença dos moradores abaixo asignados, aly pelo dito
Ministro, foi mandado aos ditos louvados que confron
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 277

tacem, medicem e declaracem o cumprimento e largura


desta praça, principiando esta medição das quinas da
Igreja Matriz Caminhando para o Loeste e sendo asim
executado pellos mesmos louvados , declararão que esta
praça confrontava, de leste com a rua direita, cazas e
quintaes, que ficão para tras da dita Igreja, inclinando
para o nascente, a loeste e poente com a barreira que sae
para o rio do norte, com casas e xaons que saem sobre o
mesmo rio e do sul com terras que vão dar ao largo e me
dindo, esta mesma praça , das quinas da Igreja para o loeste
acharam ter de cumprido, athé o alto da dita barreira
duzentas e vinte e quatro braças e de largo dezecete o que
sendo visto e ouvido pello dito Ministro, mandou aos di
tos louvados, que medicem o Cumprimento que mediava
de um citio em que elle se poz , que era no meio da praça
athé o adro da Igreja , ao que elles satisfazendo, acharam
ter do dito meyo athé atras do mesmo adro, quarenta
e hua braças, o que visto e ouvido pello dito Ministro,
lhes mandou que medicem e demarcacem terrenos no
mesmo citio para casas da Camara, audiencias e cadea,
dando-lhe de cumprimento e largura sincoenta palmos,
em quadro, ao que os ditos louvados satisfiserão , meten
do-lhes coatro marcos nos coatros cantos deste terreno
e executando isto asim lhes mandou o mesmo Minisrto,
medir oito braças dos marcos que demarcão o terreno
referido, das casas da Camara para o norte destes e
sendo asim satisfeito, pellos mesmos louvados, mandou
abrir huã cova funda no fim de dezoito braças e depois
de lidas e publicadas , novamente as leys e mais resolu
çõens de Sua Magestade, insertas no Edital lido pello
Alcayde Francisco Gomes Saldinha e nella na presença
de todos os referidos moradores, mandou cravar o Pel
lourinho que se achava feito de páo massaranduba , por ser
278 LIMITES

páo tam forte que pode durar muitos annos, proferindo


elle mesmo e com elle todos os ditos moradores, as
palavras seguintes :-Real, Real, Real- Viva o Nosso Au
gusto e Fidelissimo Senhor Rey Dom José, o Primeiro
de Portugal, -repetindo todos varias veses estes mesmos
vivas, agitando os chapeos huns para os outros, fasendo
semelhantes demonstraçoens da sua alegria e reconheci
mento, da mercê e beneficio que havião recebido , do
mesmo Senhor e alevantando o dito Pellourinho , deo
o dito Desembargador, Ouvidor Geral, por nome a esta
Villa Nova do Rio de Sam Matheus, assim porque o pri
meiro povoador que neste mesmo citio se estabeleceo, fez
nelle a sua entrada em dia deste Gloriosissimo Santo ,
como porque em outro tal se disse nelle a primeira missa, e
agora por acaso, elle Ministro veyo criar esta villa
e, para tudo constar, mandou o dito Ministro faser este
termo, que asignou com o dito Alcayde e ditos moradores.
E Eu , José da Costa e Silva Pinto, Escrivão que o es
crevi.-Couceiro- Francisco Gomes Saldinha , Joam da
Costa Bagundes, Caetano Perira , Francisco Pereira ; digo
Francisco José, José Ferreira de Castro, Antonio Leite
Barcellos, Joam dos Montes, Lourenço Rodrigues Valle,
Feliciano Vieira Pereira , Antonio José de Oliveira, Joam
de Jesus Silvares, Manoel da Costa Netto, Domingos An
tunes de Santiago , Ignacio Gomes ; digo Dias de Andrade,
Joam Antunes de Silyueira , Joam Ferreira da Silva, José
de Souza, José Vieira Monterroso, Miguel Rodrigues
Pereira, Caetano Rodrigues de Moraes, Manoel Nunes ,
Roque Pereira do Lago, Miguel Balbiza de Mariz, Fran
cisco Gomes Saldinha, Ignacio de Andrade, Custodio dos.
Anjos, Ignacio de Barcellos Pereira, Antonio Furtado dos
Santos, Ignacio Pereira da Silva, Joam Pereira do Lago,
Gonçalo de Almeida Franco , Joam da Silva Fernandes,
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 279

Manoel de Jesus, Antonio Rodrigues da Cunha, Antonio


Martinho de Mello , José Gongalves Ferreira , Antonio
Ramos da Silva, Victoriano Pereira, José Lopes Men
donça, Joam Alves de Jesus, Domingos da Costa Silva,
José da Costa Leal, Manoel da Costa Silva, Paschoal Dias
de Mendonça, Joam da Costa Bagundes, Francisco de
Villas Boas , Joam Ozori da Cunha, Verissimo da Costa
Moreira, Antonio Mendes dos Santos, Francisco José
Ignacio Pimenta de Vasconcellos, Antonio Pires, Manoel
Guerreiro, com hua cruz ; Antonio José de Souza Cal
das, Pedro Lopes , com hua cruz ; Calisto da Mota, com
hua cruz ; Simão Dias, com hua cruz ; Joam Gomes, com
hua cruz ; Patricio de Alvarenga, com hua cruz ; Manoel
Luiz, com hua cruz ; Manoel José da Silva, com hua cruz ;
Francisco da Costa, com hua cruz ; Francisco dos Reis ,
com hua cruz ; Francisco Lisboa, com hua cruz ; Domin
gos da Afonseca Rondam, com hua cruz ; José da Silva,
com hua cruz ; Antonio Mendes , com hua cruz ; Christo
vam da Silva, com hua cruz ; José da Mota, Joam da Silva,
com hua cruz Caetano Pereira, Manoel Fraincisco, com
hua cruz ; Mathias, com hua cruz ; Francisco Correia,
Francisco Lopes , com hua cruz ; Miguel Rodrigues, com
hua cruz ; Bernardo Paz, com hua cruz ; Francisco Silva,
com hua cruz ; Felippe da Silva, com hua cruz ; André
Ramos, com hua cruz ; José Pereira, com hua cruz ; Jus
tiniano da Silva , com hua cruz ; Matheus Lopes, com hua
cruz ; Francisco Pinto, com hua cruz ; Marcellino Pe
reria, com hua cruz ; José Pereira do Lago , com hua cruz ;
Jom Mendes, com hu cruz ; Salvador de Souza, com hua
cruz ; Ignacio de Paz, Ignacio Gomes dos Santos, Hen-
rique Dias , com hua cruz ; Vicente Ferreira, coc hua cruz ;
José de Moraes, Martinho Lopes, com hua cruz ; Fran-
cisco Lopes, moço , com hua cruz ; José Limoem Pinho ,
280 LIMITES

Germano da Costa, com hua cruz ; Manoel do Espirito


Santo, com hua cruz ; Ignacio Pereira, com hua cruz ;
Thomaz da Silva, com hua cruz ; Angelo Nunes , com
hua cruz , Matheus da Silva , com hua cruz ; Mathias Lo
pes, com hua cruz ; Jocintho de Moraes, com hua cruz ;
José Francisco, com hua cruz ; Francisco Ramos, com hua
cruz ; Telles da Silva, com hua cruz ; João Caldeira, Ma
noel de Souza, com hua cruz ; Joan Antunes Pereira ,
José Correia, com hua cruz ; Joam Pereira , com hua cruz ;
Simão Ferreira, com hua cruz ; Bernardo Carvalho ,
Adam Rodrigues de Souza , Antonio Rodrigues Povoa
ção, com hua cruz ; Luiz da Rocha. José Vieira Areas ,
com hua cruz ; José Lopes de Mendonça , Paschoal Dias
de Mendonça , Antonio Francisco de Oliveira Guimarães ,
Miguel da Silva, com hua cruz ; Gonçalo Lopes de Men
donça, Joam da Costa, digo e Carvalho, Miguel Gomes
de Barcellos, Joam Rodrigues , Felippe de Santiago, com
hua cruz ; Alexandre Felix da Rocha, Manoel Jeronimo,

AUTO DE MEDIÇÃO E DEMARCAÇÃO das


ruas antigas desta villa , chamadas a Rua da Aldeya e a Rua
Direita e do circuito e terrenos que se asignalaram, para
rendimento do conselho desta villa e estabelecimento dos
moradores. Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus
Christo de mil setecentos e secenta e quatro, primeiro dia
do mez de Outubro do dito anno, nesta Villa Nova de Sam
Matheus e principio da rua chamada da Aldeya, que fica na
entrada da villa, para a parte de leste ahi sendo presente o
Doutor Desembargador Ouvidor Geral desta , capitania,
Thomé Couceiro de Abreu, com os moradores Joam da
Costa Bagundes, Francisco José, aly pello dito Ministro foi
mandado aos ditos medidores que medicem e demarcacem
a dita rua, tanto pello comprimento como a sua largura ,
cravando hum marco no principio della , com duas teste
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 281

munhas e satisfasendo os ditos medidores a este mando,


logo mandarão abrir hua cova e cavarão este primeiro
marco, que confronta com a mesma rua , com a testada
e face para leste e loeste e as quinas para norte e sul, e
deste marco entrarão a medir pello meyo da mesma rua,
rumo direito para o loeste athé a esquina da Igreja, que
fica para a parte de leste e acharam ter de comprido
cento e oitenta braças e no meyo quatro, aonde esta me
dição acabou e outras quatro dando a medição desta rua,
perfeita e acabada asignando o segundo marco a esquina
da mesma Igreja, aonde esta medição acaba .
E aqui paçando a rua nova detras, acharão os ditos
medidores ter de comprido secenta braças e de largura
por toda ella seis .
E não medirão a praça a que se deu o nome de rua
nova da Igreja, por já se achar medida e demarcada , no
acto que se fez no levantamento do Pellourinho, mas
asignou o dito Ministro para continuação das casas quando
os moradores forem crecendo, o terreno que continua o
rumo de loeste desde as ultimas cazas, em que a medição
da dita praça acaba athé a barreira do Corgo, em distan
cia de sento e vinte sinco braças e dahi voltando para o sul
como tudo he planicie direita , em distancia mayor asignou
o Terreno, que corre direito ao citio de Joam Antonio, da
parte de leste, quando os moradores requeirão continuar a
por este rumo as suas casas e ahy asignou o terreno que
corre athé o môrro de José Vieira , por todos estes terrenos
constituirem hua placicie sem altos nem baixos, com a
mesma praça e mandou que os officiaes da Camara , com
o arrumador Joam da Costa Bagundes , focem asignando
os xaons aos novos moradores que lhes pedicem, com as
mesmas clausulas e condiçoens como elle dito Desembar
gador, Ouvidor Geral tem concedido a alguns catorze ou

L 35
282 LIMITES

quinze moradores por se conformar em tudo com a carta


rege, digo conformar em tudo com a carta regia de tres de
março de mil e setecentos e sincoenta e sinco , de que
faz menção nestes autos.
E, por esta maneyra, ouve a medição desta villa e
seus terrenos , por feita e acabada e para de tudo constar,
fiz este auto em que asignou o dito Ministro com os ditos
medidores . E, eu José da Costa e Silva Pinto , Escrivão
que o escrevy.- Couceirc,-Joam da Costa Bagundes, An
tonio Pereira, Custodio dos Anjos e Francisco José.

Medição e demarcação das quatro legoas em quadro


que se asignou para o patrimonio e rendimento do Con
selho, na forma da mesma carta Regia.
Aos tres dias , do mez de Outubro de mil setecentos
e secenta e quatro annos , nesta villa nova de Sam Ma
theus e no citio que foi do defunto Domingos da Cunha ,
junto ao Rio, na presença do Doutor Desembargador , Ou
vidor Geral desta capitania de Porto Seguro e os louva
dos rumadores, Joam da Costa Bagundes , Francisco José,
Custodio dos Anjos, Caetano Pereira , medidores da
corda e aly, pello dito Ministro lhes foi mandado que medi
cem , confrontacem e demarcacem o circuito das quatro
legoas em quadro, que foram asignadas , para patrimonio
e rendimento do Conselho , debaixo do juramento que
recebido tinham e logo pellos ditos louvados foi dito e
declarado que estas terras , da parte do norte partiam com
o rio desta villa e do sul, com brejaes, que vam acabar no
rio chamado Mararicu ( * ) e da parte do leste com o mesmo

(*) Cotejando esta demarcação do patrimonio da villa de


S. Matheus, nos autos da sua creação, com o que se encontra no
Mappa do Sr. Barão Homem de Mello, pagina do Espirito
Santo, comprehende-se a extensão do erro contido no referido
mappa, que dá para patrimonio da citada villa o terreno entre
o rio S. Matehus e o Mucury, quando a verdade é que o patri
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 283

rio de Sam Matheus e a do loeste , com matos virgens e ter


ras, que se asignarão para os moradores desta Villa.
Junto ao rio, que parte de leste, se cravou o primeiro
marco, no Citio de Domingos da Cunha , com as faces
para o norte e sul e as quinas para leste e loeste, princi
piando delle a medição, caminho de loeste athé adiante
do citio de Lourenço Henriques , aonde se cravou o se
gundo marco e declararam ter mil braças, medidas por
Sua corda, que tinha vinte e hua braças e de largo tem
mil e quinhentos braças.
Este segundo marco fica com as mesmas faces e qui
nas que o primeiro. E continuando a mesma medição , rumo
direito para loeste athé o Corgo, chamado Bogiticaba ,
distante do segundo marco mil braças de comprido, se
cravou o terceiro marco com as faces e quinas viradas
para os mesmos rumos dos primeiros e acharão ter de
largo as mesmas mil e quinhentas braças e para constar, fiz
este termo, em que asignou o dito Ministro e os louvados
das mediçoens . E, eu José da Costa e Silva Pinto , escrivão
que o escrevy.- Couceiro,-Joam da Costa Bagundes, Cus
todio dos Anjos, José Francisco, Caetano Pereira.
Continuação da medição
Aos quatro dias, do mez de Outubro de mil setecen
tos e secenta e quatro annos, nesta villa nova de Sam Ma

monio ficou no terreno entre o rio S. Matheus e o Mararicu, que


está muito para o sul, proximo ao rio Doce.
E como na pagina a que alludo do mappa do Sr. Barão
Homem de Mello, aquelle falso patrimonio está assignalado com
uma cercadura pontuada, para chamar a attenção, o que não se
encontra no livro para demarcar qualquer outro municipio do
Brasil, ha razão para suppor que houve para tal cercadura al
guma solicitação especial.
Tendo já sido falsificado o documento de Francisco Rubim ,
para justificar o dominio do Estado do Espirito Santo sobre
territorios que são da Bahia, vide pag. 83, faz este facto do
mappa citado soppor que fosse enganado o auctor delle com
uma imformação inveridica que visava dar ao mesmo dominio
uma apdrinhagem scientifica.-N. do auctor.
284 LIMITES

theus , em o referido citio da Bogiticaba, e ahi presentes


o dito Doutor Desembargador, Ouvidor Geral desta Ca
pitania de Porto Seguro, com os ditos louvados e medi
dores, foi continuada a medição e demarcação retro e prin
cipiando-a no marco que aqui se cravou, rumo de loeste.
sempre rio acima athé o Jacarandá de baixo , defronte do
citio de Antonio Francisco, declarão ter de comprido mil
braças e no fim della se cravou outro marco, na beira do
mesmo rio Jacarandá, com as faces e quinas para as mes
mas partes dos primeiros e toda esta medição ficou com
largura de mil e quinhentas braças, tanto para o norte
como para o Sul.
E por esta maneyra derão elles louvados e medido
res, esta medição por finda e acabada e o Conselho por
entregue das suas quatro legoas em quadro , de que tudo
dou minha fé, e para constar fiz este termo, em que
asignou o dito Ministro e os louvados e medidores e Eu,
José da Costa e Silva Pinto, Escrivão que a escrevy.
Couceiro, Joam da Costa Bagundes, Caetano Pereira,
Custodio dos Anjos, Francisco José.

Medição e demarcação das terras, que se asignarão


para lavouras e mais plantaçõens, dos moradores desta
nova villa.
Aos sinco dias do mez de Outubro de mil setecentos
e secenta e quatro annos , no citio do Jacarandá , aonde
se acabou a medição e demarcação das quatro legoas, em
quadro que se asignarão para o rendimento do conselho,
e ahy na presença do Doutor Desembargador, Ouvidor
Geral desta Comarca e capitania de Porto Seguro, Thomé
Couceiro de Abreu, com os louvados e medidores Joam
da Costa Bagundes, Francisco José, Custodio dos Anjos,
Caetano Pereira , derão principio a medição e demarcação
do circuito de terra que se asignou para as lavouras e
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 285

plantaçõens dos lavradores da dita villa e principiando no


dito marco, delle decorrendo em rumo de loeste athé o
môrro chamado o Perdido, acharão ter de comprido duas
mil cento e quarenta e tres braças, rio acima e não cra
vou ahy marco algum, por ficar servindo de marcação o
mesmo môrro.

E deste seguindo o mesmo rumo do loeste , o Rio athé


a môrro chamado de Santo Antonio, declarou ter o mesmo
comprimento de duas mil sento e quarenta e tres braças,
ficando-lhe servindo de marco o mesmo morro, de que
dou minha fé. E Eu , José da Costa e Silva Pinto , escrivam
da correyção desta comarca e capitania de Porto Se
guro e da creaçam das novas villas , della para que asim
conste fiz este termo , que o dito Minisrto louvados e me
didores asignarão. - Couceiro , -Joam da Costa Bagundes,
Custodio dos Anjos, Caetano Pereira, Francisco José.

Aos seis dias do mez de Outubro de mil setecentos


e secenta e quatro annos, no citio chamado o morro da
Lagoinha, aonde se achava presente o Doutor Desembar
gador, Ouvidor Geral desta Comarca e capitania de Porto
Seguro, Thomé Couceiro de Abreu, com os ditos medido
res e louvados já declarados, ahy, pello dito Ministro, lhes
foi mandado continuar a medição e demarcação retro,
athé completarem o numero das sinco legoas , asignadas
aos moradores da nova villa e principiando os mesmos
medidores a medir , do referido morro da Lagoinha ,
aonde ficarão no dia de ontem, seguindo sempre o mesmo
rumo de loeste completaram outras duas mil sento e co
renta e tres braças athé o morro de Tacoarassú .
E deste morro, seguindo o mesmo rumo, medirão ou
tras tantas braças athé a primeira taipada , acima da pri
meira cachoeira , aonde se cravou o marco da parte do
norte com as faces para o norte e sul e as quinas para leste
286 LIMITES

e loeste, com o qual , ficarão inteiramente feixando o ter


reno asignado para os sobreditos moradores e declararão
que os morros referidos ficarião servindo de marcos per
petuos desta demarcação e que os que ahi se cravarão de
pedra, ficavão todos com duas pedras pequenas, cravadas
junto delles que lhes ficão servindo de testemunhas .
E eu, José da Costa e Silva Pinto, Escrivam que o
escrevy. -Couceiro,-Joam da Costa Bagundes, Custodio
dos Anjos, Francisco José, Caetano Pereira.

Conclusam

Aos sete dias do mez de Outubro de mil setecentos


e secenta e quatro annos , nesta villa nova de Sam Ma
theus, em casas de aposentadoria de mim escrivão, ao
ao diante nomeado, fiz estes autos conclusos ao Doutor
Desembargador, Ouvidor Geral desta comarca e capitania
de Porto Seguro , Thomé Couceiro de Abreu, de que fiz
este termo. E eu, José da Costa e Silva Pinto , Escrivam
que o escrevy .
Conclusos

Copia nestes autos da Carta Regia, de tres de


Março de mil setecentos e secenta e sinco , que Sua Mages
tade foy servido mandar escrever ao Illustrissimo Excel
lentisimo, digo Excellentisimo Senhor Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, sendo Governador e Capitam Ge
neral do Gram Pará e Maranham, de que faço menção no
termo do ajuntamento do povo, e torne a faser conclu
sos. Villa Nova de S. Matheus , oito de Outubro de mil
setecentos e sincoenta e quatro annos . - Couceiro.
Publicação

Aos doze dias do mez de Outubro de mil setecentos


e secenta e quatro anos, nesta vila nova de Sam Matheus,
nas casas de morada em que se acha aposentado o Doutor
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 287

Desembargador, Ouvidor Geral desta Comarca e capitania


de Porto Seguro , Thomé Couceiro de Abreu, onde eu Es
crivam de seu cargo, ao diante nomeado, fui vindo ahy
por ele o dito Ministro me foram dados estes autos com
sua sentença , que manda se cumpra e goarde como nella
se contem e de que para constar, fiz este termo. E Eu, José
da Costa e Silva Pinto , escrivam que o escrevy.
Francisco Xavier de Mendonça Furtado , Governa
dor e Capitam General do Gram Pará e Maranhăm,
amigo Eu El- Rey vos envio muito saudar. Tendo em con
sideração o muito que convem, ao serviço de Deos, ao
meu e ao bem commum dos meus vassallos, moradores
desse Estado, que nelle se augmente o numero dos Fieis
alumiados da luz do Evangelho , pello propicio meio de
multiplicação das Povoaçõens civis e decorosas ; Para
que atrahyndo ahy os racionaes, que vivem nos vastos
sertões do mesmo Estado, separados da nossa Santa fé ,
Catholica e athé dos ditames da mesma natureza , e
achando alguns delles na observancia das leys divinas et
humanas, soccorro e descanço temporal eterno, sirvam de
estimullo aos mais que ficarem nos matos, para que, imi
tando tam saudaveis exemplos , busquem aos mesmos be
neficios e atendendo a que aquella necessaria observan
cia das leys senam conseguiria para produzir tam uteis
feitos, se a vastidam do mesmo Estado , que tanto diffi
culta os recursos das duas capitanias do Gram Pará e
San Luiz do Maranham, se nam subdividicem em mais
alguns Governos, para que as partes poçam recorrer,
para conseguirem que se adiministrem, digo administre.
justiça com mayor brevidade e sem a vexaçam de serem
obrigados a faser tam longas e perniciosas viagens ,
como agora fasem, tenho resoluto estabelecer hum ter
ceiro Governo, nos confins occidentaes desse Estado , cujo
288 LIMITES

Chefe será denominado Governador da Capitania de Sam


José do Rio Negro.
O territorio do sobredito Governo se entenderá pellas
suas partes do Norte e do occidente, athé as duas prayas
setentrional e occidental, dos dominios de Espanha, e pellas
outras duas partes do oriente e do meyo dia lhe determi
nareis os limites que vos parecerem justos e competentes,
para os fins acima declarados.

Para a residencia do mesmo Governador , sou ser


vido mandar erigir logo em villa a Aldeya , que mandei
novamente estabelecer, entre o planalto oriental do rio
Javari e a Aldeya de Sam Pedro, que administrarão os
relligiosos de Nossa Senhora do Carmo.

E por favorecer aos meus vassallos que habitarem


na referida villa, Hey por bem conceder-lhes todos os
privilegios prerogativos isençõens e liberdades seguintes :
Os officiaes da Camara que forem elleitos, na forma
da ordenação deste Reyno, e servirem na referida villa,
Hey por bem que tenham e gosem, de todos os privilegios
e prerogativas, que tem e de que gosam os officiaes da Ca
mara, da Cidade do Gram Pará, Capital deste Estado,
para o que se lhes paçará Carta em forma.

Os oficios de justiça da mesma villa, nam serão


dados de propriedade nem de serventia a quem não fôr
morador nella, e entre os seus habitantes, os que forem
cazados, preferirão os solteiros para as propriedades de
serventias dos ditos officios , porém os mesmos morado
res solteiros serão preferidos a quaesquer outras pessoas,
de qualquer prerogativa e condiçõens que sejam, ou des
tes Reynos ou do Brasil , ou de qualquer outra parte, de
sorte que, só os moradores da dita villa sirvam estes offi
cios .
E por mais favorecer aos outros moradores, Hey
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 289

por bem que não paguem mayores emolumentos aos offi


ciaes de justiça e da fasenda de que aquelles que pagam e
pagarem os moradores da cidade do Pará, asim pelo que
toca de escripta aos escrivãens como pello que pertence,
pellas diligencias que os ditos officiaes fizerem.
Por favorecer ainda mais aos sobreditos , da sobre
dita villa e seu districto, Hey por bem de os exentar de
todo de pagarem fintas, valhos, pedidos e quaesquer ou
tros tributos, isto no tempo de doze annos, que teram seu
principio do dia da fundação da dita villa em que se
fiser a primeira eleição das justiças, que ham de servir,
excetuando somente os disimos devidos a Deus , das ter
ras os quaes deveram pagar e cumprir como os mais mo
radores do Estado : pello que desejo beneficiar este novo
estabelecimento, sou servido que as pessoas que mora
rem dentro na dita villa, nam poçem ser excutados pelas
dividas que tiverem contrahido fora della e do seu dis
tricto, o que porém se entenderá somente nos seus pri
meiros trienios , contados do dia em que os taes moradores
se forem estabelecer na mesma villa , ou sejam na sua fun
dação ou no tempo futuro, bem visto que deste privile
gio não gosem, as que se ausentarem ou fugirem , com
fasenda alhea , a qual seus legitimos donos poderão haver
sempre, pellos meyos de direito , por indignos desta graça e
os que tiverem excandaloso e prejudicial procedimento ;
e para que a referida villa se estabeleça , com maior facili
dade e estas mercês poçam produsir seu devido effeito, sou
servido ordenar-vos que aproveitando a occazião de vos
achares dessas partes, paçando a referida aldeya , depois
de haver publicado por Editaes, o contheúdo nesta e de
haveres feito relação dos moradores que se offerecerem
para as povoar, comvoqueis todos para um determinado
dia, no qual, sendo presente o povo , determineis o lugar
L 37
290 LIMITES

mais proprio, para servir de praça , fasendo levantar no


meyo della o pellourinho , asignando area para se edificar
hua Igreja capaz de receber o compito numeroso de fre
gueses, quando a povoação se aumentar, como tambem
as outras areas competentes para as casas das verea
çõens e audiencias, cadea e mais officinas publicas, fa
sendo delinear as casas dos moradores por linha recta,
de sorte que, fiquem largas e direitas as ruas ; aos offi
ciaes da camara que sahirem eleitos e aos que lhes succe
derem , ficam pertencendo darem gratuitamente os ter
renos que se lhe pedirem, para as casas e quintaes, nos
lugares que para isso se houverem determinado, só com
a obrigação que as ditas casas sejam sempre fabricadas
na mesma figura, uniforme pella parte exterior, ainda
que na outra parte interior, as faça cada hum como lhes
parecer, para que desta sorte se conserve sempre a mesma
formusura , nas villas e nas ruas dellas a mesma largura
que se lhe asignar na fundação .
Junto da mesma villa ficará sempre hum districto , que
seja competente, não só para nelle se poderem edificar
novas casas, na sobredita fórma, mais tambem para lo
gradouros publicos e este districto se nam poderá em
tempo algum dar de sesmaria nem de aforamento, em todo
ou em parte, sem especial ordem minha que derogue esta
por que sou servido , que sempre fique livre para os referi
dos effeitos, por termo a referida villa asignar na sua fun
dação , aquelle territorio que parecer competente e nelle
poderão os governadores dar de sesmaria, toda a mais
terra que ficar fóra do sobredito districto, dando - a porém
com as clausulas e condiçõens que tenho ordenado , ex
cepto no que pertence a extenção da terra , que tenho pro
mettido dar a cada morador, porque nos contornos da
dita villa e na distancia della seis legoas, de redor della .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 291

não poderá dar de sesmaria a cada morador mais do que


meia legoa em quadro, para que augmentando- se a mesma
villa poçuam as suas datas de terra , todos os moradores
futuros, precisando comtudo que dentro da sobredita
distancia de seis legoas, se conceda hua data de quatro
legoas de terra em que quadro, para administrarem os
oficiaes da camara e parados seus rendimentos a despesas
e obras do Conselho e formando, daquellas partes da
mesma terra, pello parecer conveniente, comtanto que se
observe o que a Ordenação do Reyno dispõe a respeito
destes aforamentos fora das ditas seis legoas darão os
Governadores as sesmarias, na forma das ordens que
tenho extabelecido para o Estado do Brasil.
. Depois de haveres determinado os limites do novo
Governo, que mando extabelecer, encarregareis delle
interinamente athé Eu nomear Governador, a pessoa que
vos parecer, que com mais authoridade e interece do ser
viço de Deos, e meu e do bem commum daquelles povos ,
pode exercitar hum lugar de tantas consequencias e pro
mover hum novo extabelecimento, que he tam importante .
Semelhantemente depois de haveres determinado at
fundação da villa , na referida forma, impondo - lhe o nome
de Villa nova de Sam José elegereis as pessoas que ham de
servir os cargos della, como se acha determinado pella
Ordenação e Hey por bem que a mesma Villa haja por ora
dois Juises Ordinarios , dois vereadores , hum vereador do
conselho que sirva de thesoureiro, hum Escrivão da Ca
mara, que sirva tambem de Almotaceria, hum Escrivão
do publico judicial e notas, que sirva tambem das exe
cuçõens o que se entende, emquanto a Povoação não crece,
de sorte que seja necesario nella mais officiaes de justiça ,
porque sendo-me presente a necessidade que delles hou
ver, proverey os que forem precisos chegando os morado
292 LIMITES

res ao numero declarado na ley da creaçam dos juises


de Orphãos se procederá na eleição delles, conforme dis
põe a mesma Ley e os officiaes da Camara fáram eleição
dos almotacés e se constituirá Alcayde na forma da Or
denação, tendo seu Escrivão da vara.
A serventia dos officios de provimento dos Governa
dores provereis nas pessoas mais capazes sem donativo,
pello tempo que o dey, emquanto Eu não dipozer o contra
rio e para conhecer dos agravos e appelaçõens tenho no
meado ouvidor da nova Capitania , com Correição e alçada
em todo o seu territorio o que tudo me pareceu participar
vos para que asim o exerciteis não obstante quaesquer
ordens ou disposiçõens em contrario, promoveendo a
fundaçãm do dito Governo e villa, capital digo capital
delle com o cuidado e ascrto que espero . do zello com
que vos empregaes no meu real serviço .
Escripta em Lisboa, aos tres de Março de mil sete
centos e sincoenta e sinco .- Rey.
Para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Go
vernador e Capitam General do Estado de Gram Pará e
Maranham, ou quem seu cargo servir.
Não se continha mais na dita Copia a qual me re
porto, que aqui bem e fielmente copiei, sem borradura,
nem entrelinha nem cousa que duvida faça, e confery
commigo e com o oficial abaixo asignado nesta Villa
Nova de Sam Matheus, aos doze dias do mez de Outu
bro de mil setecentos e seccnta e quatro annos . Eu, José
da Costa e Silva Pinto, Escrivão da Correyção que o es
crevy e asignei. —José da Costa e Silva Pinto .- Consertada
por mim escrivam, José da Costa e Silva Pinto e Comigo
Tabaliam Pedro Soares de Atayde . (*)

(*) Foi por esta carta a que Thomé Couceiro devia obe
decer, segundo as clausulas 3" .. 4. e 5. das suas Instrucções,
vide pag. 195 , que teve o 1 ° . ouvidor de Porto Seguro authori
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 293

Conclusam

Aos treze dias do mez de Outubro de mil setecentos


e secenta quatro annos , nesta villa Nova de Sam Ma
theus, em cazas de aposentadoria de mim Escrivão , ao
diante nomeado , fiz estes autos conclusos ao Doutor De
sembargador, Ouvidor Geral desta Comarca e Capitania
de Porto Seguro, Thomé Couceiro de Abreu. E Eu , José
da Costa e Silva Pinto , escrivam que escrevy .

CONCLUSOS :

Sentença

Julgo as presentes mediçõens e demarcaçõens e o


mais que Contem estes autos de minha final sentença ,
que mando se Cumpra e Goarde como nella se contem
para o que interponho minha autoridade e decreto judi
cial e os juizes e mais officiaes da Camara, repartirão pel
los moradores desta villa , as terras que lhes ficão, asigna
das e demarcadas para as suas lavouras, inteirando a cada
um conforme o trafico e familia e escravos que tiverem.
Villa Nova de São Matheus , catorze de Dezembro de mil
setecentos e secenta e quatro annos.-Thomé Couceiro
de Abreu.

Termo de data

Aos catorze dias do mez de Outubro de mil setecen


tos e secenta e quatro annos, nesta villa nova de Sam Ma
theus, em Caza de aposentadoria do Doutor Desembarga
dor, Ouvidor Geral desta Comarca e Capitania de Porto

sação para fundar a villa de S. Matheus, como a teve o seu


successor Machado Monteiro, para fundar a de S. José de Porto
Alegre, pelo que fica desfeita a duvida manifestada pelo Go
verno do Estado do Espirito Santo, no seu officio de 13 de
Agosto de 1917, sobre a authorisação que tinham os ouvidores
de Porto Seguro para a creação de villas em sua comarca, de
marcação dos termos dellas, patrimonios e mais actos necessa
rios.-N. do auctor.
294 LIMITES

Seguro, onde eu Escrivam de seu cargo, adeante nomeado,


fui vindo e aly por elle dito Ministro me foram dados
estes Autos, com a sua sentença retro, que manda se cum
pra e goarde como nella se contem com declaração , de que
fiz este termo. Eu , José da Costa e Silva Pinto , Escrivam
da Correyção que o escrevy .
Foi traslado dos proprios autos da Creação da Villa
Nova de Sam Matheus, e vay tudo na verdade , sem cousa
que duvida faça, e por mim subscripto e asignado , con
ferido e consertado com outro official de justiça , comigo
aqui abaixo ao conserto asignado. Nesta Cidade do Sal
dor, Bahia de todos os Santos , aos catorze dias do mez
de Outubro de mil setecentos e secenta e sinco annos. E
Eu, José da Costa e Silva Pinto, escrivão que a subscrevi,
consertei e asignei .- José da Costa e Silva Pinto.
Consertado por mim e conferido. -José da Costa e
Silva Pinto. E Comigo Escrivam .- João da Fonseca.

N. 28

Documento existente em Lisboa pelo


qual se verifica haver sempre mantido a
Bahia a sua jurisdicção em S. Matheus,
por fazer esta villa parte ca Capitania de
Porto Seguro .

Mapa da enumerasão da gente e povo desta Capita


nia da Bahia, pelas freguezias das suas Comarcas, com a
distinsão das 4 classes das idades, pueril, juvenil, e avan
sada, em cada sexo , conforme as listas, que se tirarão, do
ano preterito de 80. para 81 , Baia, 9 de Setembro de 1782.
Comarca de Porto Seguro

I-Nossa Senhora da Pena da Villa de Porto Seguro.


2- Nossa Senhora da Conceição de Santa Cruz.
3- S. João da Villa do Trancozo .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 295

4- S. Miguel, em Villa Verde .


5- Nossa Senhora do Carmo, da Villa de Belmonte.
6 -S. Matheus , na Villa do mesmo nome.
7- S. Antonio , da Villa das Caravelas .
8-S. Jozé de Porto Alegre .
9- Nossa Senhora da Conceição, de Villa Viçosa.
10 S. Bernardo , da Vila d'Alcobasa .
II- Nossa Senhora da Purificação , da Villa do
Prado.

Comarca de Sergipe d'El-Rei


I- Nossa Senhora da Victoria, da Cidade de Ser
gipe d'El- Rei .
2-Nossa Senhora do Soccorro, da Cotinguiba .
3-Jezus Maria Jozé S. Gonçalo do Pé do Banco .
4- Nossa Senhora da Piedade, na Vila do Lagarto .
5-Nossa Senhora dos Campos do Rio Real do dito
termo.
6-S. Antonio e Almas, da Vila de Itabaiana.
7-S. Luzia, na Vila do mesmo nome .
8- S. Antonio, da Vila Real d'El-Rei, da Vila de
S. Francisco .
9- S. Antonio do Urubú , debaixo do dito termo.
10- Nossa Senhora do Soccorro , da Vila de Tomar.

Capitania do Espirito Santo


I- Nossa Senhora da Victoria , da Vila Capital da
Capitania.
2-Divino Espirito Santo, de Vila Velha.
3- Nossa Senhora da Conceisão , na Serra .
3
4- S . Antonio , da Vila de Guaraperim .
5-Nossa Senhora do Ampáro, da mesma Vila.
6- Nossa Senhora da Conseição , das Minas do Cas
telo .
7-Santos Reis Magos, da Villa Nova d'Almeida .
296 LIMITES

Está conforme o original, Documentos , da Bahia,


n. 11.140 .- Lisboa , Arquivo de Marinha e Ultramar, 10
de Janeiro de 1913.-O 1 °. Bibliothecario-Director, Edu
ardo de Castro e Almeida .

N. 29

Carta mandada ao Governo Portuguez


pelo ouvidor de Porto Seguro, Josè Xavier
Machado Monteiro , snccessor de Thomé
Couceiro, na qual é positivamennte decla
rado que é o rio Doce o que divide a capi
tania de Porto Seguro da do Espirito
Santo.

Em carta de 4 de Fevereiro do anno proximo pas


sado, de 1768, dey a V. Magestade individual conta do
do estado , em que achava esta comarca, e do que no
augmento della hia operando ; não só por virtude das
Instrucções, que recebi na secretaria de Estado , mas tão
bem pella geral obrigação, que por officio me incumbe
de criala, e dirigila , para ser hua das milhores desta costa.
E agora a darey, do que tem crescido .

Na Barra do Rio de Mecorim, que dista de Villa


Viçosa seis legoas para o sul , e em cujas margens, sendo
das mais fructiferas desta capitania, não havia outro po
voador mais que o gentio bravo, que insultava aos vian
daintes, tenho já quazi hú cento de cazaes de voluntarios
e degradados, de que induzi os solteiros á cazarem- se ; e á
todos fis prover de mantimentos, armas e ferramentas,
com que vão laborando : Já pedi ao Prelado sacerdote
para parochiar ; e se o estabelecimento acrescer até o nu
mero competente, como intento, ali farey erigir outra
villa.

Na do chamado Rio doce , que hé o maior desta ca


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 297

pitania, e que a divide da do Espirito Santo, já na outra


carta anunciey a V. Magestade o extenso dezerto daquel
las prayas, a fertilidade das suas terras, e o quanto ali
era util para o comercio de ambas húa avultada povoação,
á que já dei principio com des ou doze cazais , que lá se
achão, e estou esperando da mesma capitania algus mais ,
que para isso se convidão. -Porto Seguro, 24 de Feve
reiro de 1769.- O Dezembargador, Ouvidor de Porto
Seguro, Jozé Xavier Machado Monteiro.
Está conforme o original , Documentos da Bahia,
n. 7.972 .- Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 16
de Janeiro de 1913.-O 1 ° . Bibiothecario-Director, Edu
ardo de Castro e Almeida.

N. 30

Carta mandada pelo ouvidor de Porto


Seguro, José Xavier Machado Monteiro,
ao Governo Portuguez na qual vem ainda
outra vez declarado que é o rio Doce o
que divide as duas capitanias de Porto
Seguro e Espirito Santo .
Por este documento se vê tambem
que Xavier Monteiro continuou a obra de
civilisação de Thomé Couceiro e que foi
a Bahia quem cathequisou os indios , colo
nisou a terra até a margem norte do rio
Doce, alli creou culturas, formou ordem
e fundou administração , alli fez conhecer
os direitos da vida e da propriedade e alli
iniciou a educação do povo.

Porto Seguro, 10 de Maio de 1870.


Senhor
Em todos os annos desde que entrei no emprego de
Ouvidor desta Capitania, tenho dado a V. Magestade,
individual relação do estado e augmento della e o
mesmo agora vou faser do acrescido no anno proximo
passado .
L 38
298 LIMITES

Dos Indios, que achei , dos mais torpes e ociosos do


Brasil, já nos paes, vão sendo menos os vicios da ebrie
dade e ociozidade, pois com o medo do castigo se vão
sujeitando mais ao trabalho , de que obtem lucros com
que melhor se alimentão e cobrem a sua nudez , porem
não me tem sido possivel despregal-os no tracto domes
tico do uzo da sua barbara lingua, ( * ) nem o deixarem
de estarem a propender para os seus mais quasi congeni
tos e inseparaveis vicios . Mas nos filhos lhes tem apro
veitado muito e ao publico o arbitrio que tomei de ti
rar-lhes da sua companhia os maiores para os pòr a of
ficios e a soldada de que tem lucrado não só o andarem
mais bem vestidos que os paes, mas muito gado vaccum
de creação em que lhes faço empregar pelos seus Dire
ctores o dinheiro das mesmas soldadas . Das filhas pe
quenas por não haver por cá Mestras publicas de fiar,
cozer, e tecer,lh'as vou repartindo pelas casas das mu
lheres brancas e honestas que vivem destes ministerios,
com a obrigação de lh'as ensinarem e de as traserem
sempre bem vestidas, como trasem por este e por algum
serviço mais que lhes fazem e me vae mostrando a ex
periencia que pela domestica convivencia que estas e
aquelles fazem com os brancos , não só se vão esque
cendo dos vocabulos da sua lingua , mas educando se nos
melhores costumes espirituaes e temporaes para fica
rem , se assim continuarem por mais annos , inteiramente
civilisados . Dos filhos minimos de idade já de 5 annos
nem hum só lhe permitto fóra das escolas publicas.
A respeito de Villas . Na carta de 24 de Fevereiro
do anno passado dei conta a V. M. ter erigido huma de
novo , com o nome de Villa Viçosa e orago de N. S. da

(*) Repare- se como persiste o uso da lingua, mesmo nas


raças vencidas e mais degradadas pelo soffrimento e pelos
vicios.- N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 299

Conceição e de que remetti a planta dos arruamentos


que lhe risquei e demarquei ; mas não os autos da sua
creação e da medição e demarcação do seu districto e
das terras do seu logradouro e das mais applicadas para
o concelho e povo que então não pude concluir e agora
remetto completas. Na conformidade da mesma planta
se tem já edificado e vão edificando no terreno habi
tado muitas casas que pelo seu uniforme e modo que
por escripto lhe deixei individuado, lhe vão inculcando
uma boa perspectiva.
Na mesma carta dizia a V. M. que junto da barra
do rio de Mecorim , praia totalmente deserta e muito fre
quentada de gentio bravo , tinha já estabelecido copioze
numero de cazaes com o projecto de ali formar outra
vila, como formei e erigi com os mais que se lhe forão
aggregando, dando-lhe o nome de Portalegre, coherente
á situação e orago de S. José á sua Egreja , que o Prelado
logo proveo de Parocho . E no terreno para a mesma
Villa balizado lhe deixei logo pela minha curiosidade
alinhadas , medidas e demarcadas, nove ruas principaes
com as travessas correspondentes e tres praças, huma
para o adro, outra para alguma capella, outra para o
Pelourinho , tudo riscado na tosca planta que por falta
de architecto lhe debuxei pelo meu proprio punho e re
metto ainda que indigna de chegar á Real presença de
V. M.; não me coube em tempo concluir a medição e de
marcação das suas terras , como no presente anno farei
para remetter os autos della.
Nem no seu delineado arruamento se tem ainda eri
gido casas algumas mais que de cabanas de palha , por
se verem precizados os seus pobres povoadores a cuida
rem primeiro na lavoura para o alimento das suas fa
milias e na qual aquelle paiz lhe promette grande ier
tilidade.
300 LIMITES

Por falta de gente não pude adiantar os uteis esta


belecimentos, que principiey nos dezertos das prayas
dos dous sitios de Comujativa, e Rio Doce ; este indis
pensavelmente necessario para a estrada, que nas mi
nhas Instrucções se me averte faça abrir para acomu
nicação, e comercio desta Capitania com a do Espirito
Santo. Já expuz a V. Magestade ser este grande, e
muito caudalozo Rio, o que as divide , mas com tantas
legoas de prayas do mar dezertas de húa e outra parte,
e tão passeadas de feras, e de gentio , que nunca a es
trada será frequentada , sem se fundar húa boa povoa
ção junto da sua Barra ; que esta hé capaz de lanchas e
sumacas ; e que as margens do mesmo Rio ( dizem os
praticos ) serem as mais ferteis desta costa da Bahia
athé o Rio de Janeiro. Porem não ha gente nesta capita
nia, antes della ainda na mesma se preciza para au
gmentar outros estabelecimentos ; daquella do Espirito
Santo não concorre , como eu esperava ; nem haverá meio
de se conseguir para tão bom dezejado fim sem V. Ma
gestade se querer servir de mandar recomendar a exata
observancia da ley da Policia na cidade da Bahia,
aonde se me diz serem innumeraveis os ociozos e vadios,
que agora fazem subir a farinha á extraordinario preço ;
e seria milhor a viessem lavrar aonde tanta se pode pro
duzir.

Na nova Villa de Bello Monte de que no anno de


1767 remetti tão bem á Secretaria do Estado a planta
que lhe formei, se achão já por instancias minhas 8 ruas
principaes dellas completas de casas que pelo seu uni
forme inculcão boa perspectiva e lhe estão ainda 7 de
que huma tão somente se principião a armar por falta

de povoadores para as mais.


Nesta capital de Porto Seguro, de que dei conta a
V. M. tinhão desertado muitos moradores e se hião os
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 301

seus edificios reduzindo a total ruina, e trabalho muito


na reedificação destes pelos muitos daquelles que para
ella vão concorrendo e para cuja maior commodidade
The alinhei 2 novas ruas dentro do centro da mesma,
aonde erão mais continuadas as ruinas. Não tenho porem
melhorado as outras Villas, mais que no córte dos mat
tos que as cercavão e tinhão no perigo de serem ataca
das e incendiadas pelo gentio ; e tão bem na abertura
de estradas e construcções de pontes e barcos para
maior communicação de humas para outras. A todas
tenho feito prover e provido de leis municipaes, capitu
los de correição e Instrucções para o seu bom governo
economico e desterrado innumeros abuzos no procedi
mento e ordem judicial, fazendo executar as santas leis
de V. M. e por ellas e pelos meios da tão saudavel Po
licia, conservar aos seus habitantes em tanta paz que no
meu tempo em toda esta Capitania se não tem feito al
gum furto grave ou morte alguma e só por acazo algum
ferimento leve ....
Porto Seguro, 10 de Mayo de 1770.-O Dezembar
gador Ouvidor de Porto Seguro, Jozé Xavier Machado
Monteiro.
Está conforme o original . Documentos , da Bahia
N. 8.215. Lisboa , Arquivo de Marinha e Ultramar, 15 de
janeiro de 1913.-O 1.° Bibliothecario- Director, Eduard.
de Castro e Almeida.
302 LIMITES

N. 31

Correspondencia do ouvidor de Porto


Seguro com o Governo pela qual se ave
rigua a sua jurisdicção sobre toda esta
comarca e capitania, desde o rio Jequiti
nhonha ou Grande até o rio Doce e que
prova terem sido os magistrados bahianos
os que promoveram o povoamento e a
cultura das terras na Barra do Rio de S.
Matheus, assim como na Barra do Rio
Doce, introdusindo tambem alli os prin
cipios da ordem, do Governo e da civili
sação.

Snr.

Emtodos os annos passados fui dando a V. Mages


tade relação do augmento desta capitania de Porto Se
guro, e agora lha exporey do que mais até o prezente
tem acrescido .

Emquanto á villas e povoações

Ja dei conta a V. Magestade daquellas , que de novo


tinha erecto, remetendo os borrões das Plantas dos
seus arruamentos : De todas as obrigações do meu mi
nisterio encarregado nas Instrucções , que se me derão,.
he esta a mais difficultoza de cumprir ; principalmente
em sitio ainda despovoado , ou ainda naquelle em que
são poucos os povoadores : Para acaricialos para hú de
zerto, aonde hão de esperar dous annos, que as terras
lhes produzão mantimentos, Cuidar no entanto em pro
velos de farinhas para comerem, vindas de outras par
tes e de sementes e ferramentas para abrirem Lavou
ras : Incaminhar, e fazer conservar lá Degradados ,
homes commumente viciozos , que só se lembrão, ou de
fugirem, ou de perturbarem aos outros : Prover de Ar
tifices temporaes ; e zelar o provimento dos espirituaes
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 303

que com tão má qualidade de gente governem a vinha


do Senhor ; sendo nesta capitania tanta a falta de sacer
dotes, que todos , excepto hú, já decrepito, estão parro
chiando, e sem coadjutores : Fazer erigir e paramentar
Igrejas sem dinheiro , nem de onde se obtenha ao menos
para os moveis precizos para o sacrificio : Escolher para
o governo temporal Juizes, escrivães e mais officiaes,
aonde os empregos nada rendem, e aonde por acazo se
acha quem saiba ler, e escrever : Cortar matos : Abrir
caminhos e estradas : Introduzir gados : Descantilar a
terra e plantar os terrenos : Balizar ruas , e prassas etc.
Todas as refferidas difficuldades fui vencendo para
chegar a erigir aquellas novas villas : He porem inven
civel para formar outras o obstaculo da falta de gente ,
de que tanto preciza esta capitania para se povoar, e
para assim ficar sendo das milhores desta costa : Já dei
conta a V. Magestade serem na cidade da Bahia , e no
seu reconcavo tantos os ociozos e vadios, que poderião
sem lá se conhecer diminuição formar outra : Os De
gradados, que de lá me vem, serão pouco mais de duas
duzias cada anno ; e algús taes , que mais merecerião o
hir para a forca ; e com estes pello seu máo procedimento
me vejo cá perturbadissimo : sem dispeza algúa da Real
Fazenda podia V. Magestade neste seu tão dilatado Im
perio augmentar esta importante parte, que até agora
existe quazi incognita, provendo- se da gente necessa
ria para nella poder deffender a costa de algú desembar
que do Inimigo ; e para o que bastaria se expedisse.
ordem para na mesma cidade , e seu reconcavo se.execu
tar activamente a ley da Policia, sendo para cá remeti
dos todos os comprehendidos nella : Então serião lá
menos os furtos, as mortes, os ferimentos e outras per
turbações do socego publico ; e maior acção de piedade
se faria em expedir aquelles pestiferos famintos para
304 LIMITES

terras, aonde logo acharião, que comer, e em que adqui


rir cabedaes , do que em ficarem conservados , aonde se
não lembrão mais, do que em rapinar os alheios .
Quatro são os novos estabelecimentos, que já pon
derey a V. Magestade era muito util augmentar ; á
saber os dous das Barras do Rio Doce, e de S. Matheus ;
O da Anceada do mar do sitio de Comujativa, que
todos tres erão dezertos , e em cada hú dos quais já plan
tey de hú duzia até duzia e meia de cazaes ; e o da Barra
do Rio chamado de Itanhám, aonde já achey algús, que
tem acrescido até o numero de sincoenta e tantos : Em
todos seria bom formar villas, mas não há gente, e
quando muito apoderá hir havendo para este, se com os
que for acariciando de outras capitanias e com os De
gradados, que de novo vierem, poder chegar á provela
de numero competente.

A que erigi com o nome de Villa Viçosa se tem au


gmentado tanto de lavouras, que ha hú anno á esta
parte tem de lá sahido já mais de Hua duzia delanchas , e
sumacas, carregadas defarinha para a Bahia , e para
outras terras precizadas dellas : Mas a respeito da fa
ctura de cazas ainda a metade, ou mais dos seus mora
dores vivem em cabanas, porque nem todos poderão
pella sua pobreza entrar logo a trabalhar nellas ; e as
que se tem feito, e vão fazendo são das milhores do paiz
pello uniforme da Planta, e risco, que lhes dey.
A que fundey com o nome de Portalegre não tenho
beneficiado mais, do que em fazer prover aos seus po
voadores deferramentas, pelo arbitrio de os mandar
repartidos em esquadras, sahir á outras villas, aonde
por jornaes ganhassem dinheiro, com que se mandassem
comprar á cidade da Bahia : e pello mesmo arbitrio os
fiz abrir as suas rossas , de que já recolhem farinha para
o sostento de suas familias , e brevemente a poderão ven
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 305

der para fora ; e tão bem mais outra em commum desti


nada para com o seu producto erigirem a Igreja, que
ainda he coberta de palha, assim como ainda o são as
cazas dellas : Agora remeto os autos da erecção e de
marcação da mesma villa, que no anno passado , em que
se formarão me não foi possivel poder expedir.

Porto Seguro, 10 de Mayo de 1771.-O Dezembar


gador Ouvidor de Porto Seguro , Joze Xavier Machado
Monteiro.
Estão conforme os originaes . Documentos da Bahia
-Ns. 8.446 e 8.581 - Lisboa , Archivo de Marinha e Ul
tramar, 16 de janeiro de 1913.-O 1. ° Bibliothecario- Di
rector, Eduardo de Castro e Almeida.

Porto Seguro, 1º . de Abril de 1772 .


Duas villas que de novo erigi, como se decretava
nas minhas instrucções e a que dei os nomes de Villa
Viçosa e, de Porto Alegre.
No lugar daquelle já havia moradores que ainda
habitavão em cabanas e a fui povoando de mais , de
que a maior parte já faz casas de telha nos arruamen
tos que lhe demarquei e alinhei. No sitio porém, desta
e em todo o seu districto que pela costa hera um deserto
de 18 legoas nenhum havia ainda, nenhuma unica roça,
pelo que foi imenso e he inexplicavel o trabalho que
tive de povoal-a de gente, aliás toda má e vadia ; em
detel-a e conserval-a em paz e em municial -a , sendo po
brissima, de armas contra o gentio que ali era " muito ;
de ferramentas que não tinha para a lavoura ; e nos
primeiros dois annos de mantimentos de que a fiz
socorrer, transportados da distancia de 6 legoas e de que
já agora se acha tão farta que por aquella barra vão sa
hindo para outros portos, lanchas e sumacas carrega
I 39
306 LIMITES

das delles. Logo lhe fiz abrir,demarcar e alinhar os


seus arruamentos em que ainda se não acha casa al
guma coberta de telha e dos quaes já remetti á Secre
taria o borrão da planta , assim como já fiz aos de Villa
Viçosa. No presente anno trabalho por erigir outra na
barra do rio de Itanhem, aonde achei 20 e tantos ca
zaes, que já excedem de 90 e della tãobem farei e re
metterei planta.
Em outras duas de Bello Monte e Prado , erectas
por meu antecessor, em que ainda não havia casas nem
arruamentos , lhos fiz abrir e naquella edificar tantas
que já enchem 9 ruas e todas pelo uniforme da planta,
que já tãobem remetti ; mas nesta ainda tão somente
as que chegão a occupar 4 ruas, pela mesma ordem da
planta que agora remetto e se vae trabalhando nas mais .
Nesta de Porto Seguro , fiz abrir 3 ruas mais das
que tinha e na Villa Verde em que tãobem se vão cri
gindo casas e reedificando umas outras muito ar
ruinadas .
Tres novos estabelecimentos tenho formado em
praias desertas e combatidas do gentio, aonde pela fer
tilidade dos sitios se poderão ainda (havendo gente ) eri
gir villas. A 1ª . e mais principal na barra do Rio Doce, (* )
pelo qual abri communicação para a Capitania do Espi
rito Santo e aonde se achão já uns 20 e tantos cazaes ;
2º. na Enseada do mar de Cumujativa, em que já existem
outros tantos ; 3º. na barra do rio de S. Matheus , em que
já passa de huma duzia delles e posso accrescentar ; 4°.
na do rio chamado Caim ( sic ) Cahy, aonde ainda somente
residem dois .
Duas Igrejas matrizes, de novo edificadas nas no

Por aqui se apura quem foi que iniciou a povoação da


margem septentrional do rio Doce e das duas margens do rio de
S. Matheus.- Nota do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 307

vas Villas de Bello Monte e de Portalegre, cujos artifices.


forão os seus mesmos povoadores, cada qual conforme
a sua habilitação , por não terem pela sua muita pobreza,
com que pagar a outros. A telha para a cobertura, as
suas sautas imagens e os paramentos para o Sacrificio,
tudo foi de esmolas , para o que eu fui o que menos con
corri, fóra da diligencia para as obter ; tãobem já pelo
mesmo modo consegui os precizos para a da nova Villa,
que no presente anno, como já disse, intento erigir em
Itanhem . Fiz tãobem reedificar de esmolas mais 3 , mas
estas por bons artifices á moderna e de pedra e cal. A da
Villa de Caravellas de toda a capella mór ; a de Nossa
Senhora da Ajuda , de todo o corpo frontespicio e a da
freguesia de Santa Cruz , somente do frontespicio . Fiz
reparar de algumas ruinas e rebocar a de Villa Verde e a
deste, chamado Collegio, em que habito ; e estou apromp
tando o necessario para a reedificação do corpo e fron
tespicio desta de Porto Seguro, que se acha a cahir , por
instantes, pela ladroeira do empreiteiro que haverá 40
annos a arrematou na Cidade da Bahia, por 2 contos de
réis , pagos da Fasenda Real, além dos carretos a que se
obrigou o povo ; e para esta tenho já promessas de uns
400$000 de esmolas com a de 100$000 que pedi a certo
devoto daquella mesma Cidade, e, se obtiver, como espero
200$000, tornar á concorrer o povo com os carretos e
houver zelo na administração, se poderá effectuar á
moderna por hum bom risco , que já mandei lavrar em
tudo e por tudo muito melhor que a antiga, que nem
cimetaes, nem cimalha , nem alinho algum tem e tão so
mente humas brutas paredes , ainda sem reboque. Quatro
casas da Camara e de cadeias fiz edificar : A 1ª . e a me
lhor nesta villa de Porto Seguro, toda de pedra e cal,
forte e sumptuoza, com 16 janellas formozas, 4 portas
308 LIMITES

exteriores e de cenhaes e cimalhas e Armas Reaes , sobre


o portico principal e com 5 carceres, 2 salas da Camara,
huma das audiencias e cazas de carcereiro e de açougue,
humas nos altos, outras nos baixos ; 2ª. na villa das Cara
vellas ; 3ª . na villa de S. Matheus ; e a 4ª . na Villa Verde ;
porém estas, ainda que de sobrado e de bastante grandeza
são de taipa grossa , de madeira e de barro ; e posso dizer
5º. que dos mesmos materiaes fiz erigir no Arraial de
Cumujativa, para albergue dos Ministros e seus officiaes,
quando por lá passão ; de cazas particulares já disse te
nho feito augmentar muito esta de Porto Seguro, cujos
moradores a hião desertando e abandonando . Hum fôrno
de telha e de tijollo, que achei em toda a capitania que
precisa de mais algum de louça ; o que me impossibilita
é a falta de dinheiro e de mestres e operarios , que ainda
para aquelle precizei mandar vir da Bahia.

7 barcas de passagem nos 7 caudalozos e invadiaveis


rios de Porto Seguro, Bello Monte, Santa Cruz, Co
rumbáo, Prado, Itanhem e Portalegre ; huma dellas como
as do Reyno e as mais de canoas .

II pontes além de varios pontões, huma tão somente


de pedra e as mais de madeiras, a saber 2 em Porto Se
guro, 2 em Bello Monte, outras 2 em Trancozo, 3 em Ca
ravellas, huma em Villa Verde e outra em Itanhem e
pelourinhos bem feitos em todas as Villas, por serem tos
cas e ridiculos os que tinhão .

10 estradas : a maior na extensão de 5 leguas , de Ca


ravellas para Villa Viçosa , para onde ninguem podia hir
senão por hum braço de mar com repetidos naufragios.
Outra de 2 para 3 de Cumujativa para o Prado, em que
só de maré vasia se póde caminhar pela praia e que
ainda não está finda . Outra de meia legua, de Itanhem
para Caravellas, para evitar a passagem de hum cauda
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 309

lozo rio ; outra da mesma extensão de Portalegre para


São Matheus, no sitio chamado das Velhas , aonde hum
alto rochedo chamado a Tromba do Bode, ainda de maré
vasia, impede a viagem pela praia ; e as mais da extensão
tão somente de hum até 2 tiros de bala , a saber : 3 em Porto
Seguro, huma em Bello Monte, outra em Villa Verde,
outra em Trancozo, além da composição de varios bar
rancos e passos difficultosos e da limpa de caminhos e
fontes.
Nos aros de 8 villas e de 5 aldeias tenho feito der
ribar e reduzir a campo, em largo espaçoso os alterozos
mattos que as emboscavão, para livrar os seus habitantes
de assaltos do gentio, para viverem menos receosos dos
seus nacionaes inimigos , para beneficio dos ares, para
afugentar as onças, para diminuir as cobras, para extin
guir o mosquito que cá morde muito e finalmente para
creação dos gados no augmento dos pastos e he aquella
hoje maior. Estas são individualmente as obras publicas,
com que tenho beneficiado a Capitania ; além de grande
augmento nas lavouras, do maior numero de officinas ,
da civilidade dos Indios e da paz publica, em que conservo
aos seus moradores , por meio da observancia das leis do
Reino, de que fiz publicar e registrar em livros , as sauda
veis do paiz e das municipaes que nas Camaras lhes fiz
estabelecer e de outras particulares e quotidianas provi
dencias com que me jacto , de que ainda no meu tempo
cá se não fez morte alguma , nem outro delicto ; e ainda
por acaso algum leve ferimento em rixa e tãobem de
que o gentio ainda cá não flechou mais que 2 pessoas,
huma dellas mortalmente.

Porto Seguro, Abril o 1º. de 1772. -O Dezembarga


dor, Ouvidor de Porto Seguro, Jozé Xavier Machado
Monteiro.
310 # LIMITES

Está conforme o original. Documentos da Bahia,


n. 8.553- Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 15 de
Janeiro de 1913.-O 1 ° . Bibliothecario-Director, Eduardo
de Castro e Almeida.

Porto Seguro, Abril de 1773


Illmo . e Exmo . Sr.
Em trinta de Agosto dey á V. Exa . o agradecimento
do meu despacho, tendo-llhe já no primeiro de Abril par
ticipado hua larga , e individual relação do que nesta Ca
pitania havia operado á bem do seu augmento ; e agora
passo a adicionala com o que tem acrescido.
Emquanto a Indios , Vou trabalhando em civilizal -os .
Erão todas suas cazas sem excepção de palha e já os de
Villa Viçosa e Bello Monte, as vão cobrindo a maior
parte de telha, já tãobem muitos delles andão vestidos e
calçados , com o que lucrão dos seus jornaes e lavouras,
da terra e do mar a que tãobem os applico, para lhes dis
sipar a vadiação e a ociozidade, vicio nestes paizes tão
commum, ainda aos brancos.
He porém, inevitavel respeito dos paes o uzo da sua
lingua barbara, reprimindo -lh'a no publico o temor do
castigo, mas praticando-a sempre no particular, e maior
mente com os filhos , que tem na sua companhia, porque
dos que lhes tirei para a dos Adestres e Amos, tanto mais
pequenos, tanto mais se vem esquecidos della .
Achão-se os mais destes tão civilizados que já na
praça desta Villa, se animarão 12 a executar o festim de
humas cavalhadas de argolinha, frangos e estafermo , a
que a minha curiosidade os convidou , e com tão bom ma
nejo e galhardia como os brancos , o que cauzou admira
ção ao povo e a mim nenhuma , pelo os reputar ainda mais
industriosos que estes.

Serão perto de 400 , os que existem actualmente de


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 311

hum e outro sexo distribuidos a officios e soldada pelas


cazas dos mesmos brancos e se tivesse aonde assim po
zesse os mais , creio que dentro em poucos annos, se ve
rião todos tão civilizados e ladinos , como bem mostra a
experiencia nos negros boçaes, que sahem dos sertões da
Africa para a America , o que aliás sem a familiaridade dos
brancos será como impossivel, ainda no decurso de hum
seculo, o destruhir-lhe os seus congenitos vicios que na
posteridade vão reproduzindo de paes para filhos ; e por
aquelle meio se contrahe entre estas duas nações melhor
o affecto para produzir hymeneus de que já consegui
effectuar alguns.

A respeito das Villas

Junto da barra do Rio Itanhem erigi a que prometi,


e já aclamey com o nome Alcobaça , e á S. Bernardo, por
orago da Igeja , que fiz prover de Parocho, e de alguas
Santas Imagens, e dos paramentos indispensaveis para o
sacrificio, obtidos de esmolas e por isso pobres, assim
como a mesma Igreja , que ainda hé coberta de palha . Ja
o aro da Povoação se acha desbravado , e descantilado , e
nelle demarcada e alinhada a prassa com tres arruamen
tos cortados em seis ruas já em grande parte ocupadas
de cabanas, porque os povoadores necessitados de se apli
carem primeiro as rossas ainda não podem edificar cazas,
consta por ora o seu numero somente de cento e des
cazais, que hirey augmentando á proporção dos Degra
dados, que de nove me vierem, e dos voluntarios , que for
cathequizando.
Não me hé possivel remeter já á secretaria de Es
tado, nem a planta dos arruamentos, nem os autos da
erecção e demarcação do districto e da repartição das
terras do logradouro, concelho e moradores que ainda.
não estão findos . Impossivel me será o chegar a erigir
312 LIMITES

as tres que já referi a V. Exa. se precizavão nos sitios


de Comujativa, e nos das barras do Rio Doce e do de
S. Matheus , porque se o erigilas me he facil, o povoalas
me he muito difficil. Já do sertão não desce gentio manso.
nem eu tenho meios de suprir a despeza de o mandar lá
cathequizar. os Degradados tão poucos, que mal me po
derão chegar (porque algus fogem) para fornecer as
tres villas novas que fiz. Do Rio de Janeiro, não podem
ser muitos pella falta de navegação e da Bahia ha tres
annos á esta parte apenas meia duzia em cada hú o que
se lá e no reconcavo se praticasse a Santa Ley da Policia
para se alimpar do sem numero do ociozos, e vadios que
por lá girão, e se virem empregar nas fertilissimas la
vouras de outra parte se chegaria á ver húa das melhores
do Brazil, o que eu não posso obter com húa até duas du
zias de Degradados, quando muito cada anno e destes
algús inuteis e com algus poucos cazaes que me disvelo
em acariciar para cá de outras.
De lavouras. Ha nella já tanta abundancia de fari
nhas que no anno passado e no presente, se vende o al

queire (que pela grandeza da medida são 2 de Portugal) ,


a 6 e a 8 vintens, preço que não faz conta aos lavrado
res, nem o mandal-a pela sua para a Bahia, com outro
tanto que lhe custa o frete, pois que lá commumente não
tem sahida a mais de 2 tostõens até 12 vintens.
Alguns a vão deixando perder na terra , por não gas
tarem em ralal-a e cozel-a, outro tanto quanto em plan
tal-a e cultival-a . Já se vão desenganando a semearem
algodões a que me demovi a obrigal -os, por ver que não
annuião visto aos meus conselhos sempre e universal
mente teimosos no simples trafico das farinhas, em que
os paes os crearão . Não posso porem, capacital- os a fa
serem engenhocas de assucar que tão bem cá produz
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 313

muito e se me desculpão com a sua pobreza e com a falta


de Mestres e praticos desta officina . Uzão , mas somente
os destas capital e os da Aldeia de Santa Cruz, da pes
caria do alto em lanchas, de que tem acrescido mais a
metade das que havia e já duplicão nos outros portos, os
que se occupão no transporte de mantimentos e de ma
deiras.

De Obras Publicas

Achão-se quazi todas as villas, e Aldeias na sua cir


cumferencia já sem matos reduzidos e campo matizado de
gados, e aves. Conservão- se as pontes e barcas, e se re
formam e aperfeiçoão as estradas, sem me ter sido pos
sivel abrir húa muito preciza , desde a barra do Rio de
S. Matheus até a villa do mesmo nome, que lhe dista oito
legoas de perigoza navegação pello mesmo Rio, e por
terra se reduzião á quatro : He por cauza disso menos co
municavel com asminias, e os moradores pobres , e o con
selho assim como quazi todos os outros, sem rendimentos
sufficientes para a despeza de tão necessaria bemfei
toria.
Por todas as villas se augmentão as casas á proporção
das possibilidades dos habitantes e para o que por falta de
artifices as vão fabricando por mão de curiozos . Nas
de Trancozo e Villa Verde, que são inteiramente de In
dios, nenhuma ha de telha, de que principio a provel - os
na Olaria que erigi : e tãobem a arrual-as, fazendo -lhes
paulatinamente derribar as palhoças em que os denomi
nados Jesuitas, os conservavão na formalidade de sen
zalas de negros . Aonde se fazem mais cazas he nesta
capital, em que já conclui a formoza obra das da Camara
.
e cadeias e estou a querer principiar a da Igreja Matriz,
que o Povo deseja se faça de novo, na desconfiança de
irremediaveis as ruinas da velha. Já o seo Reverendo
L 40
314 LIMITES

vigario offereceo para ella huma boa esmolla, que com


a minha que hé diminuta e com a de outras pessoas devo
tas de fóra da freguesia e da Bahia, já obtive promessas
de 800 e tantos mil réis, sem entrarem ainda as do povo,
de que cada qual vae livremente, sem finta , offerecendo
o que pode. Não achei em toda a Capitania mais que 2
pedreiros que com outros 2 que acariciei, de fóra e mais
4 degradados , já chegão ao numero de 8, mas taes que eu
fui o mestre da obra das Cazas da Camara e me verei
obrigado a ser tãobem da da Igreja porque os da Bia
me pedem por ella exhorbitantissimo preço, com que que
rem compensar a virem para cá de tão longe. Tão bem
estou fasendo trabalhar em um bom retabulo de madeira,
para a Capella mór da Misericordia.
Vou emfim conservando a Capitania ainda que de
gente rustica e incivil, em tal socego que ainda no meu
tempo não se fez morte, nem delicto de pena Capital e
por acazo ha ferimento . De duas cousas muito precisa,
como já dei parte a V. Exa .: a 1ª . de se prover de gente
e a 2ª . de se desmembrar do Bispado do Rio de Janeiro,
de que se acha pela longitude e falta de navegação , in
communicavel, para o da Bahia , para onde ha muita e a
cujo governo temporal he annexa : ainda que melhor fi
caria aggregadas as freguesias que já ponderei a V. Exa.
a hum novo Prelado residente nesta capital, que he villa
sadia, bem situada e agradavel e não tão pequena que
deixe de constar já hoje 300 cazaes.
Porto Seguro... de Abril de 1773. De V. Exa. O
Dezembargador, Ouvidor de Porto Seguro , Jozé Xavier
Machado Monteiro.
Illm.º e Exm .° Snr.
Repetindo no prezente anno a rellação, que em
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 315

todos costumo dar á V. Ex.ª do que operando á bem do


augmento desta capitania de Porto Seguro, digo

A respeito de villas

Remeto á secretaria de estado competente os autos


da erecção da de Alcobaça , e á V. Ex. o tosco, se bem
coherente, mapa do seu terreplano, e arruamentos, que
a minha grosseira curiozidade não soube melhor debu
xar : Todos elles se vão occupando por hora somente de
cabanas, porque os seus povoadores, como mais necessi
tados de se proverem primeiro de rossas ainda se não
acham com possibilidades para edif icar cazas.
Já em outras cartas ponderey a V. Ex.ª a difficul
dade de erigir mais villas ; não por falta de sitios, ou lu
gares commodos, e precizados dellas, quaes os tres da
enseada do mar de Comujativa, e das barras do Rio
Doce, e do de S. Matheus, em que apenas para delles
afugentar o gentio me tem sido possivel estabelecer em
cada hú de húa duzia e meia de cazaes ; mas por falta de
gente, que podia vir, não aos centos, mas a milhares, da
muita que sobeja de ociozos e vadios na cidade da Bahia,
porque lá, e em toda a sua capitania, se não pratica a
ley da Policia ; os Degradados , que de lá me vem cada
anno , e não por aquelle , mas por outros delictos, já não
chegam a meia duzia ; e poucos mais do Rio de Janeiro ;
pello que mal poderia eu com tão poucos ter fundado
tres villas , e os ditos tres arrayaes, se não fôra o extra
ordinario disvello de acariciar muitos voluntarios, e
fazer agregar muitos Indios vadios , com que se povo
arão os dezertos dos seus territorios . Já não ha destes,
e aquelles mal me chegão para hir suprindo a morte, e
fuga de algús .
316 LIMITES

Porto Seguro, 1.º de Mayo de 1774.


De V. Ex.a
Menor, e o mais reverente , e fiel criado
O Dezembargador Ouvidor de Porto Seguro.—José
Xavier Machado Monteiro.
Está conforme o Original. Documentos da Bahia,
n. 8.628. Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 14 de
janeiro de 1913.-O 1. ° Bibiohecario- Director, Eduardo
de Castro e Almeida.

N. 32

Ordem do Rei para a finta que a Ca


mara de S. Matheus devia pagar para
construcção da villa de Porto Seguro,
séde da sua comarca e capitania, o que
prova a legitimidade da jurisdicção da
Bahia sobre aquella villa e seu territorio,
fundada ella e povoado este por esforço e
acção dos seus magistrados, ordens, cui
dados e auxilios do seu governo .

D. José por Graça de Deus, Rey de Portugal e dos


Algarves, daquem e dalem mar, Senhor da Guiné e da
Conquista navegação e comercio da Ethiopia, Arabia,
Persia, e da India, etc. Faço saber a vós officiaes da Ca
mara da Villa Nova de Sam Matheus que sendo vista
na Mesa do meo Desembargo do Paço a conta que me
deo o Desembargador Ouvidor dessa Comarca de
acharce a villa da Capital tam destituida de casas de Ca
mara e cadeas que o seo edificio não constava mais de
que hum pequeno casebre de paredes de terra, baixo,
destelhado , dividido em dous repartimentos, hum para
as audiencias e vereações , em que mal caberião dez
pessoas e outro para os prezos em que não podião de
terce mais de tres ou quatro e ainda estes com facilidade
de fugirem pelo telhado ou de aruinarem com hum pe
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 317

queno páo as paredes, senão estiverem sempre amarra


dos ao tronco e com vigias e guardas que a alguns se
fasia preciso meter-lhe, com grande opressão do povo,
nem tinha casa para o carcereiro, que lhe hera preciso
habitar no pequeno repartimento para audiencias nem
cadea de mulheres ; porque quando se prendia algua ou
se metia com elle no mesmo, ou se entregava a algum
outro morador da Villa, para a reter na sua propria ; e
que impossivel hera o administrar justiça e faser com
que essa seja respeitada e temida sem carcere publico
para castigo e terror dos máos que em taes terras
como as dessa Capitania, aonde não havia conhecimento
daquella Virtude e se vivia na suma barbaridade e herão
commumente quadroplicados em numero ; pelo que
muito se necessitava na dita Villa de outro tal edificio
que seja dobrado, em que nos baixos haja ao menos
tres casas, hua para presos em que coubessem quando
pouco hua duzia ; outra para prezas em que coubessem
meya duzia e outra de competente grandeza para o
açougue e nos altos outras tres ; primeira para os actos
de vereação, segunda para as audiencias e terceira para
o carceereiro sobre a dispor para a vigia.

A ser esta obra que pela curiosidade sabia idear se


gura e aproporção da possibilidade do povo formada
até o sobrado de pedra que ahy hera pouca ou de páo
duravel á pique engradado , e dahi para sima de taypa,
ainda assim para ficar bem acabada e com segurança e
havendo economia e concorrendo os moradores da Villa
com os carretos dos materiaes havia de chegar a seiscen
tos mil reis sendo feita a jornaes que de sobejos dos seus
rendimentos não tinha ainda com que Comprar aly al
gumas cousas e não percebião neuhum real de propi
nas e alguns annos não chegarão a pagarce o salario da
correyção nem do Escrivão, Alcaide e Porteiro que ser
318 LIMITES

vião e os moradores do districto da Villa não passaram


de dusentos, tambem quasi todos pobrissimos e de per
si sós não podião suprir avultada despesa.
Pelo que concluia ser preciso concorrerem tambem
para levantala as mais Villas da Comarca como inte
ressados na segurança dos delinquentes de culpas gra
ves que das mesmas estavão vindo para a cadea da Capi
tal e por finta geral que por todos se distribua ; do que
attendendo me pareceo ordenarvos que ouvindo a No
breza e Povo respondaes sobre o contheudo na Conta
expedida. Francisco da Costa Lima a fez na Cidade do
do Salvador, Bahia de Todos os Santos e nos vinte hum
dias do mez de Abril. Anno de mil setecentos e sessenta
e nove. José Pires de Carvalho e lbuquerque Secreta
rio de Estado a fiz escrever.- Marquez do Lavradio.

N. 33

Documento official existente em


Lisboa que demonstra sempre haver per
tencido a villa de S. Matheus á comarca
e capitania de Porto Seguro.
Coteje-se com a reclamação feita pela
comarca a respeito da finta ao magistrado
competente para conhecer della, que era
o seu ouvidor Machado Monteiro.

Pella Meza do Desembargo do Passo da Cidade


da Bahia me mandou S. Magestade faser arbitramento
por carta de 5 de Dezembro da quantidade de dinheiro
com que cada huma das villas desta capitania pode con
tribuir para a obra das cadeas e casas da Camera desta
Capital de Porto Seguro e que sobre ella mandasse es
cripto as Camaras della para o que o faço na forma
seguinte :
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 319

Pagará esta de Porto Seguro o que alem


disso ........ vale com alguns carret
tos cento e quarenta mil réis ..... 140$000
A de Belmonte setenta e cinco mil réis ... 75$000
Villa Verde trinta e cinco ... 35$000
Trancoso quarenta e cinco .. 45$000
Caravellas que já tem sobejo no Conse
ho de que se poderá tirar parte
cento e vinte .... 120$000
Villa Viçosa quarenta e cinco .. 45$000
Porto Alegre trinta . 30$000
S. Matheus setenta.. 70$000

600$000
Soma a finta seiscentos mil réis advertindo que
para ficar mais suave ha de ser paga em dois annos , me
tade em um, metade em outro e que supposto este di
nheiro não chegue para a obra, Contudo pelo tempo adi
ante se poderá hir acabando pellos rendimentos do con
selho em alguma parte della que admitta demora .
E a vista deste arbitramento chamando V. M.cês.
logo as pessoas da governança lhes leão esta carta fa
sendo-lhes porem ver que respondão por escripto se:
está bem regulado .
Porto Seguro, 12 de Fevereiro de 1770.- O Desem
bargador Ouvidor Geral, José Xavier Machado Monteiro.

N. 34

Representação da Camara da villa de


S. Matheus sobre a finta para construcção
da casa da Camara e cadeia da villa, ca
pital da sua comarca e capitania de Porto
Seguro .

Senhor.
Não pomos duvida a concorrer para a obra men
320 LIMITES

cionada na conta incluza do Dezembargador Ouvidor


desta Comarca ; por nos parecer justo a sua representa
ção porem como esta villa he das mais pobres da co
marca porque ainda que abundantissima de farinhas e a
mayor producção he avouras dellas , comtudo, como não
ha compradores desta e se acha no prezente tempo com
tam diminuto presso que se nom acha nem ainda quem
a queira pagar a meya pataca, e sam poucas as embar
caçõens que entrão neste porto em procura dellas e se
vende muita a troco de outros generos em que algua
sai só vendida a seis vintens o alqueire, por isso havendo
na terra antecedentemente dinheiros , quando estava em
mayor preço, agora se vê hir decaindo em mayor po
breza, e pello referido motivo esperamos seja modificada
a finta que ainda assim para pagar será preciso ser
feita a farinha para ao deepois se reduzir toda esta a
dinheiro e tambem pello motivo de que não temos nesta
villa cadeya e andamos na diligencia de a fazer á nossa
custa, por serem poucos os rendimentos do Conselho .
Isto hé o que assentamos nuiformemente em Camara,
com as pessoas da Governança e Povo . E Vossa Ma
gestade determinará o que for servido . Villa de S. Ma
theus em Camara de 28 de Setembro de 1773. -Juiz or
dinario João Pereira de Carvalho- Ignacio de Barcel
los- Veriadores Manoel de Barbosa Nunes - Miguel
Barbosa Marinho- Manoel da Costa Silva-Domingos
da Costa Silva-Antonio Francisco de Souza- Anto
nio Leite Bacellar-João da Costa Bagundes -João
José-Francisco de Villas Boas-José de Oliveira Mon
tarrozos -Antonio Furtado- Francisco da Silva Daltro
-Manoel de Souza Gomes- José Sepulveda- José Lou
renço Adauto de Souza- Pascoal Dias de Mendonça.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 321

N. 35

Documento do Archivo de Marinha e


Ultramar de Lisboa que prova a legiti
midade da jurisdicção da Bahia sobre
S. Matheus.

Copia
Illm.º e Exm .° Snr.
Com esta remetto a V. Ex.ª a Relação das dez vil
as e hua povoação que contem esta Comarca ; todas
citas na costa do Mar, excepto Sam Matheus e Villa
Verde, que distam da dita Costa ; aquella cinco legoas e
esta seis e pello Rio abaixo ; a vista da quella que fiz
com pessoas que tem experiencia deste negocio, man
dará V. Ex. o que for servido. Porto Se guro 9 de Junho
de 1789.- O Ouvidor da Comarca de Porto Seguro.
Relação das Villas e Povoações desta Comarca de
Porto Seguro e da distancia que vae de huas as outras .
Tem dez Villas e hua povoação á saber :
A Vila de Belmonte
A Povoação de Santa Cruz
A Villa de Porto Seguro
A Villa de Villa Verde
A Villa de Trancozo
A Villa do Prado
A Villa de Alcobaça
A Villa de Caravellas
A Villa de Villa Viçoza
A Villa de Porto Alegre
A Villa de Sam Matheus

Esta fica em distancia de Porto Alegre desecete le


goas a saber a Barra do respectivo Rio cinco legoas e
pela costa do Mar dose .
L 41
322 LIMITES

Desta a Villa Viçosa seis legoas ; Desta a de Ca


ravellas seis legoas pelo Rio que dá passagem de hua
para outra.
Desta a de Alcobaça seis legoas
Desta a do Prado tres legoas
Desta a de Trancozo desessete legoas
Desta a de Porto Seguro quatro legoas ; pelo ser
tão a dentro a villa Verde nove legoas .
Desta a de Porto Seguro pelo Rio abaixo seis legoas
De Porto Seguro a Povoação de Santa Cruz que é
do termo desta mesma villa quatro legoas.
Desta Povoação a villa de Belmonte doze legoas.
Porto Seguro 9 de Junho de 1789.-O Ouvidor da
Comarca de Porto Seguro.

N. 36

Extracto de um relatorio ou carta do


Governador do Espirito Santo, Ignacio
Monjardino, em que declara positiva
mente que a sua capitania era do Rio
Doce para o Sul , sendo este rio a divi
soria com a capitania de Porto Seguro .

Illm. e Exm .° Snr.


A carta de V. Ex. de 31 de julho de 1780 circuns
tanciada sobre todos os pontos da outra do Exm . Se
cretario d'Estado dos Negocios Ultramarinos e incor
porada com a copia da conta que a S. Magestade deo
a Camara desta Villa, tem passado pela minha attenção.
por hum objecto principal : sendo hua das acções em
que eu desejara ser o prototipo da verdade , para dez
empenhar a Regia Confiança , que S. Magestade fas de
V. Ex.ª. E passando a escrutar os fundamentos da dita
conta, corroborando -os , com a capacidade d'esta Villa,
acho em primeiro lugar, ser ella, hua das mais fataes da
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 323

America em toda a Marinha, tanto pela sua planta,


como pela numeração de seos habitantes, sendo Capital
de sinco Villas e Cabeça de Comarca desta Capitania.
Pelo que a julgava digna de que S. Magestade a distin
guisse com os Privilegios do Foral , a fim de que os seos
Cidadãos firmassem na sua Patria, a gloria da sua
Nação e os destinctivos de reconhecimento e amor, para
com a Soberana, que os soube suscitar .
Não parece menos justo a conceção de Escrivam
Proprietario, porque assim se evitarão os descaminhos ,
que tem havido de alguns monumentos antigos , e a
ignorancia de infinitos Escrivães, que tem servido no
dito Conselho : Tãobem he certo ter a dita Villa neces
sidade de reparação tanto de calçadas , como de fontes e
não ter para estas precizas despezas, reditos, em tal
forma, que para construcção de hua nova Cadeia, que
inda se acha infinda , lhe foi precizo empenhar-se com as
Camaras das Villas filiaes de cujo empenho jamais sa
hirá ; nem verá exito da dita obra se S. Magestade lhe
não conceder a contribuição do subcidio offerecido pelo
Povo para ajuda da sustentação da Tropa paga, em
quanto os Dizimos Reaes não fizessem mayor somma ...
do que poderia eu dar hua cabal certeza a V. Ex.ª pelo
ter visto, se se não desemcaminhara hum caderno, que
na Camara havia, onde o Povo tinha firmado esta con
venção ; de donde recahia o pedir aquella Camara a S.
Magestade, diversa applicação deste tributo, visto ter
a Real Fazenda hoje annualmente de Dizimos 4 :901 $666
rs . vindo a deferir do primeiro rendimento a quantia de
4 :200$000 rs . de excesso . Não menos justa he a supplica
que a S. Magestade fas a mesma Camara da Igreja dos
denominados Jezuitas para hua nova Freguezia, pela
falta de Pasto espiritual, que experimenta o povo, em
rezão da sua multiplicidade e distancia de Destrictos ;
324 LIMITES

vindo por isso a ficar de huns annos para outros muita


gente por se dezobrigar da quaresma :
Fica cesando a outra supplica da referida Camara
sobre a falta de Mestres para ensino da mocidade , por
S. Magestade haver occorrido a ella pela Meza da Com
missão Geral e censura dos Livros , com dois Professores
de ler e escrever e Gramatica Latina vindo só a faltar
The professor de Philozofia, que se fazia de urgente ne
cessidade, attenta a capacidade e vastidão do Povo da
Comarca, de donde tem sahido homes par as Letras
que enchem o numero dos sabios ; nas Religiões , nas
Varas Regias e na mesma Universidade de Coimbra.
Sendo de nenhua attenção o prejuizo que se expoem
da Real Fazenda e da falta que experimentão os mora
dores, pela exportação que fazem os comerciantes do
genero de algodão, porque a experiencia me tem mos
trado o contrario ; pois impedindo eu o embarque delle,
vim a conhercer, em menos de dois annos, que se per
dia a mayor parte, por se lhe não poder dar a sahida ; e
que nisto rezultava prejuizo á Real Fazenda ; na Al
fandega do Rio de Janeiro , para onde se transporta a
mayor quantidade de que paga á mesma Alfandega
todos os direitos, como outro qualquer genero expor
tado de fora ; e que se algua diminuição se experimenta
nos subcidios da terra, em mayor avanço se compensa
naquella alfandega, não sofrendo o Povo por isso falta
em panos, para o seo percizo vestuario .
E desta forma fica satisfeita a informação sobre os
artigos da referida conta da Camara.
E querendo satisfazer ao expendido na carta do
Exm. Secretario d'Estado datada de 13 de janeiro de
1789, sobre os pontos della , procurei investigar o mais
recondito , alem dos documentos a esta juntos , de que
me fiz instruir e achei o seguinte :
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 325

1.° Ponto

Que se compoem esta Villa de habitantes livres de


2.327 e escravos 4.898, para mais , fóra os que se achão
fóra ; que disccrendo della para a parte do Norte té onde
chega a limitar- se esta Comarca , com a de Porto Seguro,
que é o lugar do Rio Doce, (* ) que dista desta Villa prin
cipal vintee seis 1 egoas , não ha outra Villa, senão a da
Nova Almeida , que os seos habitantes são Indios , e se
compoem destes e de fóra de 2.712 , e de escravos 42, e
para a parte do Sul , conjunta á Barra desta Capital, fica
a Villa do Espirito Santo, que o numero dos seos habi
tantes livres são 814 e de escravos 1.064 e distante desta
dita Capital da mesma parte do Sul doze legoas existe
a Villa de Graparim , que se compoem de habitantes li
vres 1.789 e de escravos 728 e desta , distancia de 6 le
goas fica a outra Villa denominada Benavente, que os
seos Chefes são Indios e se compoem de habitantes
livres de 3.017 e de escravos 102 e para baixo desta
mais doze legoas té o Rio de Capabuama, onde divide
o Continente da Capitania da Bahia e do Rio de Ja
neiro, vindo a limitar-se a distancia de Jurisdição
desta Capitania do Espirito Santo em sincoenta e sinco
legoas de Norte a Sul ; e fas o total numero de seos ha
bitantes, 22.493 para muito mais e não para menos.

2.º da parte do Norte


E fazendo-me mais instruir dos Rios e Lagos onde
fui pessoalmente , principiando pela parte do Norte, fica
o denominado Rio Doce, que desemboca ao mar, cuja
barra he só capaz para canoas, inda que obrigado de
temporal, tem arribado a ella alguas lanxas . Esta Barra
he mudavel, comforme as innundações do Rio, huas
vezes abre pela parte do Norte, outras pela do Sul, por

(* ) O grypho do auctor.
326 LIMITES

areoza ; porem da Barra para dentro , podem navegar


Navios, pelo fundo , e em partes , tem legoas de largura :
Este Rio vem dos Certõese de Minas e consta que lá,
tem vindo por elle familias inteiras .... e por onde se
veio a conhecer, se fazião alguns extravios de ouro, aos
Reaes Direitos , de que rezultou , mandar o Exın .
Vice Rey do Estado , crear hum destacamento , e que cu
o conservasse, assistido pela Real Fazenda, no que con
veio o Exm.° General da Bahia, Antecessor de V. Ex .*
afim de impedir a continuação desta passagem de Mi
nas . Este lugar, em outro tempo foi povoado com o
numero de 150 pessoas, sua Freguizia e Paracho ; mas
perseguido pelo gentio, se virão os moradores obriga
dos a dezertalo ; e hoje se não conserva , senão o dito
destacamento : Pelo Rio assima, hum largo dia de via
gem, se encontra hua formidavel lagoa, chamada a
Doce, que pela sua grandeza , parece invia ; desta para
sima, dois dias de viagem, se encontra huas Ilhas , e
pelo meyo alguns Caxoeiros , que nos tempos das agoas,
se inundão aquellas Ilhas. As terras circumvezinhas,
são a dmiraveis , para toda a produção do Paiz , mas as
agoas barrentas , por cauza das Bateiras e outras mano
bras dos Mineiros , e por isso alguns habitantes, que por
al existião , bebião agoas de casimbas ; ao mesmo tempo ,
que em alguas destancias , ha ramos do mesmo Rio,
cujas agoas são boas . Esta antiga povoação, se não fez
mayor em força para subsistir a sua conservação , pela
desunião em que estava, por ser limite das duas Co
marcas, e estar a Igreja, e alguns habitantes da parte.
do Norte, que he a de Porto Seguro , e da parte do Sul
a mayor força dos moradores sugeitos a esta Capitania,
que se encontravão diversas dispozições e ordens , e
servião as divizões de coito aos facinorosos , e só teria
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 327

lugar feita a divizão desta comarca pelo Rio das Contas


alguas legoas mais ao Norte.

3.º

E vindo pela Costa do mar deste Rio, para o Sul,


tres legoas de distancia, entra hua restinga de mato ,
que vai ao Citio dos comboyos, onde ha hum braço de
Rio, que vai pela terra dentro duas legoas, e dá em
hum verjal, e pelo certão desce hum Rio, que vai ter
ao riaxo asim chamado, tres legoas distantes do dito
dos comboyos onde, se ouvesse Povoação , seria de
grande utilidade sangrar-se o mesmo verjal , que do
dito riaxo hiria ao Rio Doce, com muita facilidade,
distante seis legoas : Este Riaxo sahe ao mar e a sua
barra, só admite canoas de voga.

4.º

Discorrendo pela mesma costa, mais seis legoas


para o Sul, ha huma Barra denominada Aldeia Velha,
capaz só de lanxas e sumacas pequenas, por fóra tem
hum cordão de area que para entrarem procurarão occa
zião de maré , sendo da Barra para dentro apta para mai
ores embarcações , por ser fundo ; e ahi costumão hir
desta Villa Capital , e das outras filiaes , buscar madei
ras, para cargas de outras embarcações mayores ; onde
fundei hua povoação de trinta cazaes, que hoje se achão
em augmento de duzentas almas, a qual povoação serve
de deffensa aos moradores daquelles suburbios , e estão
sempre com as armas na mão , para atalhar algua hos
tilidade do gentio barbaro.

Estas forão as averiguações que as minhas forças


e talentos poderão alcançar devendo- me V. Ex. tolerar
as faltas, suprindo a ellas os ardentes e efficazes de
328 LIMITES

sejos com que busco empregar- me com satisfação no


serviço de S. Magestade e de V. Ex.ª.
Victoria 1 de Setembro de 1790.- Ignacio João
Mongiardino.

Está conforme o original ( Documentos da Bahia


13.850) , Lisboa, Archivo de Marinha e Ultramar 10 de
Janeiro de 1913.-O 1.° Bibliothecario- Director-Edu
ardo de Castro e Almeida.

N. 37

Requerimento que foi pelo Governo


mandado informar ao Ouvidor de Porto
Seguro, e que demonstra como foi incon
testavelmente legitima a jurisdicção do
ouvidor desta comarca e capitania sobre
S. Matheus.
O documento manuseripto original
pertence ao Archivo Publico da Bahia.

Illm.º e Exm .° Snr.


A exemplar magnificencia de V. Ex. manifesta
Francisco Xavier Teixeira Alvares, morador de presente
nesta cidade que nas cabeceiras do Rio de S. Matheus ,
districto desta capitania, se achão 7 Aldeyas de gentio
de diversas naçõens que por seus nomes se chamão Ba
cuani que he cabeça das mais seguintes Amatari , Gen
tio pintado, Comotacho , Abocacho , Mayacho, Panhares ,
Maclacari ; todos os gentios destas 7 Aldeyas sam de
genio domestico e flecivel, com propensão para se con
verterem , porque entre estes se achão alguns que já es
tiverão anno e meyo em bandeiras de descubertos de
ouro nossos, os quaes já tinhão principio de cathecismo ;
e porque vião grande concorrencia de povo para os ditos
descubertos , desconfiarão e se vierão emcorporar nas
mencionadas 7 Aldeyas, onde communicarão o vislum
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 329

bre da fé que tem , e juntamente como o gentio Patachó,


não aldeado mas disperso, sem domicilio, e forte faz
guerra continua aos mencionados ; estes ovindo que os
brancos erão poderozos para os proteger e capazes para
os cariciar e reger , tomarão o expediente de virem a po
voação de S. Matheus, na era de 62 a pedir nossa ami
zade, companhia e Padres para o Santo Bautismo e au
xilio contra o inimigo Patachó. Acresce para prova deste
desejo que este Gentio tem da nossa amizade que
quando sucede virem ao longo do Rio abaixo caçando e
que chegão ás roças da freguesia de S. Matheus , por não
acharem gente que sucede estarem na Povoação em dias
de Missa, deixão huã cruz fincada no porto da canoa ou
terreiro da caza com que significão que estiverão alli
e nada furtarão , e querem communicação espiritual e
temporal ; distão estas Aldeyas da povoação de S. Ma
theus bem atendidas as voltas que faz o Rio, 70 para 80
legoas e da povoação a costa do mar 11 , com vinte e
cinco e 30 braças de fundo por onde navegão sumacas e
da povoação para sima só podem navegar canoas até
as referidas Aldeyas ; porem a barra do dito Rio não tem
mais de 10 palmos e desta cidade para a dita povoação
de S. Matheus pela costa serão 160 legoas pouco mais
ao menos e por mar no tempo de monsão que é desde
Setembro até o fim de Fevereiro 4 dias de viagem em
sumaca.

Em 64 vindo o magnifestante Francisco Xavier


Teixeira Alvares do Rio de Janeiro em huă sumaca sua
carregar no dito porto de S. Matheus achou constante
por todos os moradores as noticias que tem manifesto e
comovido do desejo da extensão da Santa Fé Catholica,
cujo recebimento desejão tanto aquelles mizeraveis
gentios , pertendeo entrar com 100 homens armados a
sua custa pelo dito Rio asima, até as referidas Aldeyas,
Ꮮ 42
330 LIMITES

mas querendo fazelo com todo acerto poder e jurisdi


ção quis pertender ordem do Governo geral desta capi
tania porem escrevendo ao Dr. Thomé Couceiro de
Abreu, primeiro ouvidor da comarca de Porto Seguro ,
dando-lhe parte deste seu dezignio, me respondeo que
não podia em tal convir,que nem me seria bastante a ma
gnifestante ordem do dito governo geral pela que tinha
de Sua Magestade devia impugnar e depois teve o ma
gnifestante noticia certa que as ordens que se derão na
secretaria de Estado ao referido Ministro só tinhão o
seguinte que estabelecia villas e freguezias nos lugares
que fossem suficientes, que mandara sondar as barras
dos rios que na sua comarca entrasem no mar, larguras ,
funduras e distancia que podem ser navegaveis que man
daria abrir huã estrada deste Porto Seguro pelo certão
dentro até as cabeçeiras do Rio de S. Matheus ; porem
que lhe advertia que nem por pensamento lhe entrasse
consentir que no dito rio se tirasse ouro, nem pedras.
Com a certeza das expostas ordens dezanimou o magni
festante, por se lhe representar impossivel a acção ainda
que para obra tão gloriosa para S. Magestade , magnifica
para a sua devoção tam piedoza , comtudo impossivel
pela prohibição de tirar ouro, por ser este o que deve
animar aos homens que o ão de acompanhar e constituir
a bandeira, largando as suas cazas e a arriscar as vidas,
com tantos incomodos que se não podem suavizar sem
a esperança de algúa fuctura conveniencia, a tempo que
no cazo de aver algú descobrimento de ouro nenhu inco
veniente se pode seguir ; porque em toda essa costa de
de rio algú onde possa aver em vazão inimiga , por serem
mar em té a capitania do Espirito Santo não se dá barra
todas baixas ,aonde só entrão sumacas que não demandem
de agoa mais de 10 palmos , como melhor cónstará do cal
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 331

culo que fez o dito primeiro Ouvidor de Porto Seguro


que andará na secretaria de Estado para onde o remeteo .
Na mesma desanimação continuaria o magnifes
tante se não contemplace em S. Real Magestade e em V.
Ex. vidas Religiosas, tam propensas para o serviço de
Deos como este se pode aumentar pela cõversão da
quellas 7 Aldeyas , em cujo espiritual lucro parece não
deve entrar o reparo da piquena ganancia de ouro que
hajão de tirar os bandeirantes, atendendo aos riscos de
vida a que se expõem quando tambem pode ser utel
para as mesmas despezas que S. Magestade fizer. Do
contrario parece que o Demonio ingire o temor de que
se tire ouro, tam despresivel na cõparação do lucro Es
piritual de tantas Almas que serão em numero de 16
para vinte mil.

Para se emprehender o Santo Bautismo e coversão


daquelles Gentios , sam precizos 6 Padres doutos e in
flamados do amor de Deos , bem das Almas e quanto
puder ser que entendão a lingoa geral gentilica e como
estes depois de feita a cõversão ão de residir cada hú em
sua respectiva Aldeya , unindo a que for mais pequena
a algúa das outras devem estes levar altares portates
com os necessarios ornamentos , guisamentos e jurisdi
çõens como de Parochos , 100 homens armados de Es
pingardas e munisõens para defeza do Gentio Patachó ,
e sem isenção de pessoa a todos faz guerra, digo a se
rem bastantes 100 homens porque se não ouver prohi
bição de tirar ouro, seguirão muitos voluntarios , e a
sua custa, e mesmo poderá ser que o mesmo Gentio Pa
tachó vendo a coversão dos outros , procurem o gremio
da S. Igreja, como procurarão mais 13 Aldeyas que se
achão asima das 7 , onde asistio varios annos o coronel
Joam da Silva Guimaraens, já defunto , que este os do
mesticou e agregou a si e huns se comonicão com outros
332 LIMITES

co exemplo da cõversão das 7 Aldeyas referidas será a


illustre e propicia occasião de todas se cõverterem por
que a Elle nada he impossivel, pondo os homens na dili
gencia tam necessaria tambem ferramentas de agricul
tura, de machados , foises e enxadas, asim para os bran
cos como para o Gentio que tambem os pedem e para os
mesmos algus donativos para que melhor se agrade , de
roupas, misangas e outras alfayazinhas, como o mais
precizo para a sustentação da vida humana, ao menos:
para os 16 mezes primeiros e para a entrada ; como tam
bem se costuma dar 10 arrobas livres da agricultura aos
primeiros povoadores , como se tem praticado .

O magnifestante se quer a licença para tirar ouro,


avendo, não he porque seja o seu principal entento mas
sim a reducção do Gentilismo ; porem como as terras
sam infamadas de que o tem e o Demonio não sesa de
procurar embaraços darão do magnifestante algua de
nuncia ; e ficará frustada as intençõens da coversão da
quellas Almas ; asim se offerece elle magnifestante por
onra e gloria de Deos como zello da propagação da
Santa Fé catholica , por espector geral da entrada dando
se lhe tambem licença para que depois de posta a re
ducção das Aldeyas em boa ordem e avendo producção
de mantimentos idonios , poder tambem examinar as ter
ras e rios que medeyão desde o rio doce e suas vertentes
em té o das Caravellas e monte Paschoal que serão de
distancia 60 legoas de largura se ha ou não ouro , nas
distancias livres da costa do mar que sua Magestade or
dena e avendo as esmeraldas dar ao manifesto , fazendo
The Sua Magestade a graça de Director Geral de todas as
Aldeyas e Goarda mór de todos os descubertos de ouro
e pedras que magnifestar de juro e herdade e livre no
meyação, com o poder de repartir as terras tanto mine
raes como para agricultura , com os que o acompanharem
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 333

por terem preferencia e depois com o mais povo que con


correr que certamente será em grande numero porque
as terras por muito fertes cõvidão para toda agricultura
e povoadas ellas hua recipruca utilidade redundará tanto
ao real serviço , como ao bem comum dos seus vasallos.
Assim espera o magnifestante da Illustrissima beni
gnidade de V. Ex. dará as providencias necessarias a
todo o referido do que fará grande serviço a Deos Nosso
Senhor e a S. Magestade que Deos guarde.
Aos pés de V. Ex.
Francisco Xavier Teixeira Alvares.

Illm. Exm.º Snr.


Manda-me V. Ex.ª examinar e informar com o meu
Parecer o contheúdo no requerimento de Francisco Xa
wier Teixeira Alvares que se oferece passar ao Sertão a
cathequisar o gentio com a clausula de se lhe permittir
.minerar ouro e pedras preciosas ; sendo este talvez e não
aquelle o objecto a que se incaminha o zelo que tanto
vem inculcado pelo bem espiritual. Assim o digo por
que o tempo me tem mostrado e hirá mostrando a V.
Ex.ª o pouco que os homes por cá tem do augmento da
Religião e o muito que são fingidos, prepotentes , hi
perbolizados e mentirozos .
Affecta elle no proemio do seu razoado que tendo
descido o mesmo gentio (como he exacto) alguas vezes
até a villa de S. Matheus sempre em tom de paz, tem
dado mostras e signaes evidentes de querer comnosco
-amisade e communicação espiritual e temporal, porem
eu discordo do mesmo voto são os moradores della c
outras pessoas experientes , que o seu projecto he tão
: somente o de roubalos pello estratagema da guerra
coberto com a paz , pois que presenciei achando-me na
¡mesma de correiçam no anno de 1768 ou de 1769 apor
334 LIMITES

tarem alli nessa occasião tres ou quatro dusias de indi


viduos que o seu capitão intitulava de nasção- Cuma
nayo-e que sendo ali por mim e por outras pessoas ali
mentados algus dias, brindados de dadivas para que
houvessem de voltar com os mais da sua Aldeya a es
tabelecerem- se em outro ponto da dita villa, assim o pro
metterão cumprir a certo tempo em que tambem os con
tava prover, não só de missangas mas de ferramentas
e outros generos que em grande copia mandaria vir da
Bahia, para o que escrevi ao Sr. Conde de Azambuja ou
ao Sr. Marquez do Lavradio que dos Armazens Reaes
fez remetter em bastante quantidade para a dita villa,
aonde não faltando em voltar o gentio em muito maior
numero no tempo que prometteo, cahirão os Juizes e
mais Officiaes da Camara de lhe faserem patente toda
a fazenda, com que nelle cresceo a cubiça de logo a apre
hender e se lhe distribuir á troco dos filhos colomins
que offerecia aos moradores de penhor para os levarem
para suas casas ; e eis se não quando repentinamente
lhos surripião das roças onde os tinhão e com elles re
trocedem fugitivos para o sertão , carregados da fasenda
e de algua mandioca que tão bem furtarão.
Passarão algus annos sem voltar em figura de paz,
mas continuando a roubar as roças e a deixar signaes no
mato de o andar explorando em guerra , de modo que em
pouca distancia da villa matou hú homem que, largada
da mão a sua espingarda, se demorou nelle a cortar hú
pão e lhe levou o machado ; e mais dous ou tres junto da
barra do Rio Doce a peito descoberto, insultando e rou
bando , como ainda ao presente faz, as roças de outros
moradores de Villa Viçosa, Portalegre , Prado e da Po
voação de Camimuan . He verdade que ha dous annos
tornou a aparecer naquella de S. Matheus pacifico , em
pequeno numero , a desculparse daquellas hostilidades.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 335

que imputava ao da Nasção Pataxó e a querer renovar a


anterior correspondencia, no que não foi acreditado dos
habitantes , por se vir a conhecer pella formalidade das
armas, e mais couzas que largava na fuga das abarroa
das, ter sido o mesmo denominado Gumanayó.
A respeito das Aldeias e distancias em que este é
o outro reside, o procurey saber de Francisco das Cha
gas daquella mesma villa que me diz ter já andado por
aquelle sertão em bandeiras, sahidas das comarcas de
Villa Rica ou de Serro Frio, a procurar ouro ; e remet
tendo-lhe o mencionado papel por via do Juiz ordinario,
Adão Reis de Souza, este me responde ter feito viagem
para o Rio de Janeiro a arrecadar hua herança sem met
dizer quando voltará. Pelo que me vali do portador
desta carta Antonio Manoel da Silveira que demorei a
hir a presença de V. Ex.º a informal-o com miudeza do
que sabe, não só a respeito daquelle ponto, mas de todo
o mais contheúdo no mesmo papel, de que não tenho
encontrado nesta comarca outro tão pratico e inteligente
como elle ; ainda que não falta quem se arroje a falar na
materia, e commumente os mais ignorantes .
O juizo que formo do muito que por cá tenho ou
vido a respeito de ouro e pedraria he de que o rio de Bel-
lomonte que descorre da Comarca de Serro Frio e as
suas vertentees não he menos rico e talvez mais que o
de S. Matheus ; se as minhas molestias me permitissem
poderia dar a razão , lembrando-me justamente de que
a fama costuma ser mayor que a realidade.
Em fim sou de parecer a respeito da conversão
do Gentio ser justo trabalhar- se nessa obra tão pia e
tanto do agrado de S. Magestade , não para ficar vivendo
nas proprias Aldeias em que rezide ; porque assim bre
vemente se veria arruinada na menor e mais difficel
communicação com a christandade, mas para descer e
336 LIMITES

se vir estabelecer, não vizinho ao mar, (aonde commu


mente logo morre sem ainda se acertar de que mal ) mas
no mato, pouco distante da communicação com a gente
das villas .
E emquanto a descobrimento de minas não convem ,
porque alem de com esta ambição se demorarem os mi
neiros a horrorizar e afugentar o gentio mais do que a
convertel-o , tomando ao depois mil pretextos da dis
culpa para cada qual cohonestar as suas maldades , acho
existirem prohibidas com gravissimas penas dentro da
distancia de oitenta legoas da Costa do mar por ordem
do Sr. Conde das Galveas, Vice Rey que foi do Estado,
datada a 15 de Setembro de 1736 referindo-se a outras
de S. Magestade para a mesma prohibição ; e na secreta
ria desse Governo se achará registrada ; e outro sim,
porque em dous capitulos das Instrucçõens que se me
derão na Secretaria de Estado para continuar a erecção
e criação desta capitania se me adverte e recommenda
in verbis o seginte .
"Hua das partes principaes daquella capitania he o
importante Rio de S. Matheus, no qual alem de se dizer
que ha preciosas madeiras para a construtura de Navios ,
se affirma tãobemque decorrendo pella Serra dos Chris
taes tras o seu nascimento das Minas do Serro Frio ; e
como os novos moradores, que se forem estabelecer nas
margens do dito Rio, achando noticia de que por elle
podem hir aquellas preciosissimas terras, não cuidarão
em outra cousa algua senão a de se passarem a ellas ,
deve Vmcê. por hora vigiar com todo cuidado que ne
mhu passe daquelles limites que Vmcê. lhe asignar até
nova ordem de S. Magestade.
Não deve passar a Vmcê. nem pella imaginação o
objecto de hir fazer o descobrimento de Minas, mas
.antes se deve applicar muito seriamente, depois dos es
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 337

tabelecimentos das novas villas que poder erigir e da


educação dos seus habitantes, na cultura dos fructos
para se sustentarem com abundancia , não só os morado
res das mesmas • terras mas fazerem o comercio dellas
para a Bahia e Rio de Janeiro : Fasendo Vmcê. compre
hender aquelles novos collonos que não podem ter
maior riqueza do que lavrarem muita quantidade de
fructos e algodões para soccorrerem as duas maiores
capitaes do Imperio do Brasil ; porque o seu producto
lhes trará dinheiros em abundancia para comprarem
todos os Negros que lhes forem precisos para adianta
rem cada ano as suas plantaçõens e dilatarem á mesma
proporção os seus descobrimentos, á favor da Barra do
mesmo Rio para o comercio e da cultura que houverem
adiantado para lhes formar os meios de continuarem e
dilatarem os descobrimentos que de outra sorte seriam
impraticaveis ;nem entranharem-se naquelle sertões
desprovidos de todo o necessario, como antes costuma
vão faser e perecendo por isso á pura necessidade como
innumeraveis veses tem acontecido por falta de pruden
cia dos que se'm aquellasmedidas se forem internando.
cegos de ambição . ”
Se esta recomendação se encaminha a desanimar
algús inimigos de invadirem os portos de mar com a
ambição do ouro não sey ; mas devo diser que os desta
comarca não são poucos, nem bravos ; antes sim man
sos e de fundo para nelles (Como se está vendo ) entra
rem quotidianamente lanchas e sumacas carregadas, e
que foi utilissimo o povoalos com os moradores e villas
que tem e são ainda poucos , para bem se oppôrem a
qualquer invazão .
Ete hé o meo parecer porem sobretudo determinará
V. Ex. o que for servido .
Porto Seguro, 13 de Abril de 1780.-O Dezembar
L 45
338 LIMITES

gador da casa da Supplicação como ouvidor da comarca


de Porto Seguro.-José Xavier Machado Monteiro.

N. 38

Carta da Camara da villa de S.


Matheus dirigida ao ouvidor de Porto
Seguro, Xavier Monteiro , dando conta do
cumprimento de ordens do mesmo que
mandara concorressem todas as villas da
Capitania para a obra da Cadeia da séde
da comarca, a villa de Porto Seguro.

Sr. Dr, Dezembargador, Ouvidor Geral.


Recebemos a carta que junta a esta enviamos a Vmcê.
e fazendo convocar as pessoas da governança , e em pre
sença dellas lhe declaramos o contheudo nellas. Forão todos
de uniforme, voto que como ha na correyção passada que
Vmcê. fez a esta villa todos protestarão a Vmcê. já estavão
pagando para as cazas da Camara, desta mesma villa e
que sendo em couza tenue poderião cooperar para a factura
das da capital, com vinte mil réis unicamente, sem con
tribuirem mais em tempo algum, com mais ajuda e pois
vay em seis annos em que em cada um delles pagão vinte
mil réis, de finta para a factura desta e ao que lhes parecião
tão sedo não viverião desonerados da referida finta e
quasi todos pagando fôro das terras do patrimonio do
Conselho e outros tributos, que V. Mercê deixou em pos
turas e com licença ao vigario pello não haver ao lado, e
para reparação da Igreja que quasi está vindo abaixo,
como tambem para a Camera se hir desempenhando de
cem mil réis ao cofre dos orphõens , em que o defunto
antecessor de V. Mercê a deixou gravada. E assim que ,
não havia contribuir senão com os vinte mil réis , e para
que conste bem a realidade das suas respostas, todos se
asignarão nesta. Em Camera, 18 de Março de 1770.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 339

S. Matheus, Adam Rodrigues de Gonsalves, Francisco da


Costa e Silva, Manoel da Matta Antunes, Antonio José
de Oliveira, Miguel Barbosa de Marinho, Domingos da
Costa, João Pereira do Lago, Joseph Francisco da Costa,
José Lopes, Simão Luiz Carias, Sebastiam Vieira Pereira,
Ignacio de Barcellos, Francisco Correa da Rosa , João da
Costa Bagundes, Caetano Pereira , Antonio Francisco de
Souza, Francisco de Villas - Bôas, José Vieira Montarroyos.

N. 39

Documento que prova irem as terras


do patrimonio da villa de S. José de Porto
Alegre até o riacho Doce , um pouco ao sul
do rio Mucury.
E' um documento juridico , feito e
acabado com a perfeição com que elles o
eram no tempo da creção da referida villa,
Por ahi se vê o engano do mappa do
Sr. Barão Homem de Mello e fica satis
feito o desejo do Exm . Snr Presidente do
Espirito Santo no seu officio de 13 de
Agosto deste anno de 1917

AUTOS DE ERECÇÃO DA NOVA VILLA DE


PORTO ALEGRE

Remeti a copia para Lixboa.


Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo
de mil cetecentos e secenta e nove , aos des dias do mes
de Outubro do dito anno, nesta Aldeia , ou Arraial cha
mado do Mocori, em casas de aposentadoria do Doutor
Desembargador José Xavier Machado Monteiro , Caval
leyro profeço na ordem de Christo e Ouvidor e Provedor
Geral desta Capitania e Commarca de Porto Seguro em
que estava exercendo os ditos empregos , fasendo nelles
o lugar de Desembargador da Relação do Porto,
༢ ༩ ahi me
mandou a mim Escrivão da mesma Correyção escrever
340 LIMITES

este Auto dizendo nelle que— por quanto nas Instru


çõens que sua Magestade que Deos Guarde fora Ser
vido mandar-lhe dar pella Secretaria de Estado dos ne
gocios Ultramarinos para continuar, por fallecimento
do seo antecessor o Desembargador Thomé Couceiro de
Abreu, a creação desta nova Ouvidoria, lhe ordenava o
mesmo Senhor no Paragrapho dezacete mais ao diante
copiado por certidão que assim nas povoaçõens Cha
madas Aldeias já domesticadas , como as que de novo
se focem povoando no competente numero de morado
res, em umas e outras, se focem estabelecendo Villas e
abolindo nellas os barbaros e antigos costumes e os seus
nomes e dandocelles e impondocelles outros das cida
des e villas do Reyno.

E por quanto asim ha dous annos desta parte por


ordem e direcção delle dito Ministro se principiavão a
arranchar junto da Barra deste Rio chamado de Mocori
quantidade de indios que andavão vadios e disperços por
varias terras desta Comarca e muitos mais que sendo
della naturaes vadiavão pella dos Ilhéos , os mais delles
sem domicilio serto , e se forão aumentando com multi
plicidade de degradados que por deprecação delle dito
Ministro lhe tem chegado da Relação da Cidade da Bahia
em tão grande numero que já achava podia com elles
erigir huma villa, no Concurço tambem de alguns bran
cos que voluntariamente quizerão tambem vir povoar
este mesmo Citio , tomou por acordo a rezolução ser
este o mesmo e proprio lugar aonde achava mais conve
niente a Erigir e Estabelecer pela grande utilidade pu
blica que resultava de ser aqui mesmo o seo estabele
cimento, não so para expelir o Gentio barbaro que nestas
praias insultava os viandantes e obrigalo a embrenharce
no mato, de modo que se não atrevese já mais a paceal
las, como já ha mais de hum anno a esta parte as não pa
entre a bahia e o eSPIRITO SANTO 341

ceava, mas tambem para o aumento da lavoura e do co


mercio ; que nesta cituação podia aquelle ser grande e
este avultado nas margens deste mesmo Rio que são di
latadas e tem já mostrado a experiencia fertilissimas
para toda a qualidade de frutos , com hum largo campo
para se apacentarem gados e o mesmo Rio não só muyto
abundante de peixe mas tambem navegação para nelle
entrarem livres , sem perigo , algumas embarcaçõens de
Lanchas e Sumacas, pello fundo e suavidade de sua
barra, concorrendo tambem o ser este Pais salutifero
Lavado de todos os ventos e muyto alegre da vista ; o
que tudo sendo proposto por elle dito Ministro aos re
feridos povoadores , todos uniformemente, sem descre
pancia de algum, comvierão e adeantarão em que serão
muyto contentes de que se erigisse a referida villa e que
foce neste mesmo Citio em que se achão arranchados
pellas mesmas razõens que ficão ponderadas.

Editaes

Pello que para ter efeito o referido projecto mandou


o mesmo Ministro se fizecem editaes publicos em que se
fizece notoria esta acçam ás villas sircumvesinhas em
que havia por noticificados aos habitantes deste Arraial
asim presentes como ausentes, para que no dia vinte
hum deste presente mes se achacem todos presentes de
manhã á porta das cazas da sua aposentadoria para no
mesmo dia se alevantar o Pelourinho que para o mesmo
efeito já se havia aprontado e nesta acção se fazer, na
forma do estilo, a aclamação com o nome que se havia
de dar a nova villa de que se escreverião os termos ne
cessarios e os mais que se havião de seguir, da asignação
do seo districto e da demarcação e medição do terreno
para cazas, quintaes e logradouros e das terras que se
havião de aplicar para patrimonio do Conselho e das
342 LIMITES

que em particular se havião de distribuir entre os mora


dores para suas lavouras , de que tudo se formou este
Auto que todos , com o dito Ministro, asignarão , depois
de ser lido e declarado por mim José da Costa e Silva
Pinto, Escrivan da Correyçam que os escrevy e asinei.—
José Xavier Machado Monteiro.-José da Costa e Silva
Pinto.
Leandro Dias da Cruz ( * ) , de Antonio + Gonça!
ves, de Euzebio + Pinto , de Romualdo + Pereyra , de
Manuel de Faris, de Francisco + Pessoa , de Ma
noel Til , de Manuel de Farias, de Francisco + de
Bulhões , de Luiz + de Souza , de Matheus da Silva,
de Bernardino + Taveira, de José Marques , de
Matheus, Dias do Vale, de Feliciano + Ribeiro ,
de Manoel + Xavier, de Antonio dos Reys , de
Domingos da Parma , de André + dos Reys , de
Caetano de Souza , de João Bautysta, de André +
Dias , de Bernardo Soares, de José + de Oliveira,
de Estevão + Ribeiro , de Sebastião da Ajuda , de
Enrique de Souza , de Euzebio + Pinto , de Anto
nio Fernandes , de Manoel + Ramos da Costa , de
Damião Rodrigues, de Ignacio Ferreira Ran
gel, de Salvador + Pereyra, de Francisco + Pinto .
de Antonio + dos Reys , de Manoel Rodrigues ,
Miguel Simião da Conceição , de Bonifacio + Pinto.
de Bartholomeu + Jorge da Costa, de Francisco +
João , de Marcelino de Farias, de Sebastião da Mota.
João Telles de Menezes , de Antonio + do Rosario ,
Felippe Correa Lima, de João + Bautista Dias, de
Antonio Ferreira, Manoel da Costa da Cruz , de
João Ribeiro da Cruz. de Manoel + Xisto, de
Ignacio Dorea Bandeira , de Miguel + dos Anjos ,

(*) Os nomes assignalados com uma cruz são de pessoas que


não sabiam escrever.-N. do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 343

de Ignacio da Costa Souza, de Gaspar Manoel , de


Bernardo Soares, de Ignacio + Vieira, de Anto
nio Figueiredo , de José + Ferreira , de José + da
Costa Pinto, de José de Souza , de Manoel + Rodri
gues Soares, de Salvador + Ramos, de Antonio +
Nunos de Souza , de Ignacio + de Abreu , de José +
Themoteo , de Luiz Francisco, de José Demattos,
de João + Vieira, de Domingos + Gonçalves , de Bal
thazar dos Reys, de Antonio Martins do Vale , de
Antonio de Souza, de Domingos + Machado, José
Ribeiro de Andrade , de João + Dias , de Feliciano
Cardoso, Domingos da Silva de Mello , de José +
Coelho , de Manoel -Joze , de Feliciano + Alvares, de
Alberto Leal , de Francisco + da Costa, de Matheus
Dias., de Baltazar + de Figueirêdo .

Copia do Paragrapho dezacete declarado no Auto

José da Costa e Silva Pinto Escrivão da Ouvidoria e


Provedoria desta Comarca de Porto Seguro e da Crea
ção della e suas novas villas- Certifico que revendo os
Autos da criação da Villa Nova Viçosa nelles a folhas
sinco se acha a copia do paragrafo dezacete das Instru
çõens de que no Auto se fas menção cujo theor de ver
bum digo de verbo ad verbum hé o seguinte..

Copia

"Ordena tambem sua Magestade que asim naquellas


Povoaçõens chamadas Aldeias que estão já domestica
das, como nas que de novo se estabelecerem com Indios
descidos , logo que estes se descerem no competente nu
mero, se vão estabelecendo novas villas e se vão abo
lindo nellas os barbaros e antigos costumes e nomes que
tiverão e se vão impondo alguns outros nomes das Ci
dades e Villas deste Reyno . "
E não se continha mais outra couza alguma no dito
344 LIMITES

paragrafo, o que bem e fielmente aqui copiei e da copia


referida aqui me reporto sem borradura ou entrelinha,
nem couza que duvida faça:
Edital

O Doutor José Xavier Machado Monteiro, Caval


leiro profeço da Ordem de Christo do Dezembargo de
Sua Magestade, que Deos guarde, seu Ouvidor Geral
desta Comarca e Capitania de Porto Seguro com Al
çada pelo mesmo Senhor, fazendo o lugar de Dezembar
gador da Relação do Porto , etc. Faço saber aos que o
presente Edital virem que por quanto nas Instruçõens
que Sua Magestade que Deos guarde, foi servido man
dar me dar pella Secretaria de Estado dos Negocios
Ultramarinos , para continuar a creação desta nova Co
marca, no Paragrafo dezacete dellas me determina o
mesmo Senhor que asim nas povoaçõens chamadas Al
deias já domesticadas, como nas que de novo se focem
povoando no competente numero de moradores em nu
mero, digo em humas e outras se estabelecendo villas
e abolindo nellas os barbaros e antigos costumes , com
seus nomes barbaros e antigos pellos de outras Cida
des e Villas do Reyno, por cujo motivo por este hei por
notificados a todos os moradores desta villa Viçosa que
por ter já neste Arraial do Mocori feito assentar mora
dores em numero competente para nelle Erigir huma
nova villa , lhes faço notoria esta acção a qual pretendo
aclamar, fazendo arvorar Pelourinho no Domingo que
se hade contar quinze do presente mes de Outubro e aos
habitantes deste arraial asim presentes como auzentes,
Ordeno que no dito dia de manhã se achem juntos á
porta das cazas da minha Aposentadoria para se arvo
rar o mesmo Pelourinho que já se acha aprontado na
forma do estillo e se aclamar o nome da Villa etc.
Dado e passado nesta Povoação do Mocori aos onze
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 345

dias do mes de Outubro de mil cetecentos e cecenta e


nove.-José da Costa e Silva Pinto, Escirvão da Correy
ção das mais novas villas desta Nova Comarca que o
escrevy. José Xavier Machado Monteiro.

Certidão

José da Silva Pinto , Escrivão da Correyção desta


nova Comarca e da Criação della e das novas villas
della , de novo criadas, Certifico que nesta Povoação de
Mocuri e nesta Villa Viçosa foi publicado o Edital
retro e as duas copias a fichadas nos lugares mais pu
blicos desta e daquellas o que foi posto, por fé de que
passei a presente certidão em que me asignei , nesta Po
voação de Mocori aos onze dias do mes de Outubro de
mil cetecentos e cecenta e nove annos.-José da Costa e
Silva Pinto.

Auto da Aclamação da Villa com a Aclamação do


Orago da Egreja e levantamento do Pelourinho

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus


Christo de mil cetecentos e cetenta e nove, aos quinze
dias do mes de Outubro do dito anno nesta Aldeia, digo
Aldêa ou Arraial chamado do Mocori aonde se achava
o Dezembargador Ouvidor Geral desta Comarca, José
Xavier Machado Monteiro, ahi , á porta das cazas da
sua Residencia, se ajuntarão todos os moradores desta
mesma, convocados pello Edital e pregõens atras men
cionados, os quaes são aquelles que adeante hirão asi
nados e com outra muito mais gente do Povo e da Fre
guesia da Villa Viçosa que veio acistir a esta função e
todos acim juntos , com o Reverendo Padre Frey Ale
xandre de Santa Dorothea Mourão , religioso mendi
cante da Ordem dos recoletos de Sam Francisco que
desta mesma Aldeia tinha chegado com ordem do Re
verendo Visitador Ordinario e Actual, o Padre André
I 44
344 LIMITES

paragrafo, o que bem e fielmente aqui copiei e da copia


referida aqui me reporto sem borradura ou entrelinha,
nem couza que duvida faça :
Edital

O Doutor José Xavier Machado Monteiro, Caval


leiro profeço da Ordem de Christo do Dezembargo de
Sua Magestade, que Deos guarde, seu Ouvidor Geral
desta Comarca e Capitania de Porto Seguro com Al
çada pelo mesmo Senhor, fazendo o lugar de Dezembar
gador da Relação do Porto , etc. Faço saber aos que o
presente Edital virem que por quanto nas Instruçõens
que Sua Magestade que Deos guarde, foi servido man
dar me dar pella Secretaria de Estado dos Negocios
Ultramarinos, para continuar a creação desta nova Co
marca, no Paragrafo dezacete dellas me determina o
mesmo Senhor que asim nas povoaçõens chamadas Al
deias já domesticadas, como nas que de novo se focem
povoando no competente numero de moradores em nu
mero, digo em humas e outras se estabelecendo villas
e abolindo nellas os barbaros e antigos costumes , com
seus nomes barbaros e antigos pellos de outras Cida
des e Villas do Reyno , por cujo motivo por este hei por
notificados a todos os moradores desta villa Viçosa que
por ter já neste Arraial do Mocori feito assentar mora
dores em numero competente para nelle Erigir huma
nova villa, lhes faço notoria esta acção a qual pretendo
aclamar, fazendo arvorar Pelourinho no Domingo que
se hade contar quinze do presente mes de Outubro e aos
habitantes deste arraial asim presentes como auzentes ,
Ordeno que no dito dia de manhã se achem juntos á
porta das cazas da minha Aposentadoria para se arvo
rar o mesmo Pelourinho que já se acha aprontado na
forma do estillo e se aclamar o nome da Villa etc.

Dado e passado nesta Povoação do Mocori aos onze


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 345

dias do mes de Outubro de mil cetecentos e cecenta e


-José da Costa e Silva Pinto, Escirvão da Correy
nove.
ção das mais novas villas desta Nova Comarca que o
escrevy.-José Xavier Machado Monteiro.

Certidão

José da Silva Pinto, Escrivão da Correyção desta


nova Comarca e da Criação della e das novas villas
della, de novo criadas , Certifico que nesta Povoação de
Mocuri e nesta Villa Viçosa foi publicado o Edital
retro e as duas copias a fichadas nos lugares mais pu
blicos desta e daquellas o que foi posto , por fé de que
passei a presente certidão em que me asignei , nesta Po
voação de Mocori aos onze dias do mes de Outubro de
mil cetecentos e cecenta e nove annos.-José da Costa e
Silva Pinto.

Auto da Aclamação da Villa com a Aclamação do


Orago da Egreja e levantamento do Pelourinho

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus


Christo de mil cetecentos e cetenta e nove, aos quinze
dias do mes de Outubro do dito anno nesta Aldeia, digo
Aldêa ou Arraial chamado do Mocori aonde se achava
o Dezembargador Ouvidor Geral desta Comarca, José
Xavier Machado Monteiro, ahi, á porta das cazas da
sua Residencia , se ajuntarão todos os moradores desta
mesma, convocados pello Edital e pregõens atras men
cionados , os quaes são aquelles que adeante hirão asi
nados e com outra muito mais gente do Povo e da Fre
guesia da Villa Viçosa que veio acistir a esta função e
todos acim juntos , com o Reverendo Padre Frey Ale
xandre de Santa Dorothea Mourão, religioso mendi
cante da Ordem dos recoletos de Sam Francisco que
desta mesma Aldeia tinha chegado com ordem do Re
verendo Visitador Ordinario e Actual, o Padre André
I, 44
346 LIMITES

Duarte Carneiro, para asistir a esta função e Cantar a


primeira Missa, na caza que se havia deputado para
Egreja desta Freguesia, emquanto se não erigia outra
que se havia riscado com maior decencia, forão todos ca
minhando para a dita caza deputada para o Santo Sacri
ficio, aonde sendo lhes foi proposto pelo mesmo Reli
gioso Frey Alexandre quem querião e desejavam para
Orago e Padroeiro desta nova Freguezia e uniformi
mente lhes responderão a huma vós , sem descrepancia
alguma, querião e hera muyto de sua vontade foce o glo
rioso Patriarca Sam José que presente tinham em huma
Imagem, já colocada no altar que se tinha Erecta na
mesma casa ; e logo imediamente o entrarão a apelidar
e a louvar como seu Patrono , com muytos vivas e aplau
SOS e outras demonstraçõens de alegria e contenta
mento ; e concluida esta acção se entrou a dispor o mais
necessario para celebrar solemnemente na mesma Caza
o sacrificio da Missa primeyra que nella se cantou , aju
dada de muzica e instrumentos pelo mesmo Religioso ,
Frey Alexandre, com assistencia do dito Ministro e de
quasi todo Povo que devotamente concorreu a ouvilla.
E recolhidos todos ás suas cazas a tomarem algum
descanço, voltaram de tarde e sem falta de algum para a
porta das cazas da Residencia delle dito Ministro donde
com elle e com seus officiaes e com mais gente Popular
que se achava, forão todos com boa ordem e preparados
de Instrumentos , caminhando para o Citio e lugar asi
gnado medido e demarcado para a praça , aonde se
achava limpo e preparado aquelle terreiro e aberta a
cóva em que se havia de cravar o Padrão do Pelourinho ,
junto do quei estava prostado , fazendo seu caminho para
ahi pellas novas ruas que se tinham aberto e ahi,
que sendo aquelle o lugar que na planta que tinham
formado da Villa achava mais coherente pellas me
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 347

didas dellas e das suas ruas e traveças que com os


seus nomes hirão individuados no livro dos Provi
mentos da Correyção para servir de Praça, hera ali
mesmo que se deveria Arvorar o dito Pelourinho e acla
mar a nova Villa para o que logo mandou plantar na
Cóva e levantar e segurar no alto ; e arvorado que foi,
com o Xapéo na mão e vós alta e muyto bem inteelle
givel, passou a pronunciar as palavras seguintes :
Real Real Real- Esta nova villa de Porto Alegre
pello nosso Augustissimo e Fidelissimo Monarcha Dom
José o Primeyro, Rey de Portugal-ao que imediatamente
se seguirão muytos vivas e aplausos de todos os cir
cunstantes, com grande jubilo e alegria e outras de
monstraçõens de gosto , ao som de instrumentos fes
tivos que para o mesmo aplauso se tinhão preparado.
E pronunciando o mesmo Ministro segunda e ter
ceira ves as mesmas palavras novamente se tornarão
a repetir por todo o Povo, com Altas voses e ao som
dos mesmos instrumentos , os mesmos vivas e aplau
sos com que mostravão se davão por muito contentes
e satisfeitos desta acção e do Nome da nova Villa.
E concluida ella se repartirão e retrocederão na
mesma boa ordem com o dito Ministro pellas novas
ruas athé a caza deputada para se levantar o santua
rio da Igreja aonde entrarão a dar graças a Deos, en
toando o Té Deum Laudamos com outros louvores ao
mesmo Senhor pello Beneficio que lhes tinha feito
em permetir que este lugar e terreno que anteceden
temente hera praça e Campo de barbaros e de féras,
que não conheciam nem reconheciam a Santa Ley,
agora e daqui por diante service da Praça e Campo de
Catholicos , em que militacem espiritualmente debaixo
das bandeiras de Jesus Christo ; e passarão a cantar
The Ladainhas e preces em que rogavam ao mesmo
348 LIMITES

Senhor os quizesse admitir e conseder na sua Divina -


Graça asim a elles como aos seus, só e juntamente
na observancia de seus santos preceitos e das Leys
dos seus Monarcas para que focem sempre bem go
vernados e conservados em boa pas e união.

Termo da Villa

E voltados com o dito Ministro para a caza da


aposentadoria deste ahi passou a propor-lhe mais ser
preciso asignar- se logo districto e territorio de juris
dição desta villa que, á voto e contentamento de todos
se concordou e determinou que da parte do Nascente
havia de ter seu principio na costa da praia do mar e
havia findar no Poente na primeyra Cachoeira de Pe
dras deste Rio chamado de Mocori. E que da parte do
Norte havia de principiar no Sitio chamado da Picada
Velha aonde finalisava o termo de Viçosa e havia se
acabar da parte do Sul no Rio chamado o Riacho Doce
que he pequeno .
(Neste termo se vê os limites desta Villa e da
Villa Viçosa) (escripto a margem ) .

Logradouro

E que emquanto ao terreno do logradouro em que


se comprehendia o terrado das cazas e quintaes e o
Aro da Villa havia principiar da parte do Nascente na
praia do mar que lhe ficava confronte e havia de fin
dar da parte do Poente nos mangues ou Brejaes de
alagadiço que fas a enchente do mesmo Rio Mocori e
da banda do Norte havia deprincipiar no logar cha
mado da picada do Anjo e havia de findar da parte do
Sul do mesmo Rio Mocori.
E que para terras do patrimonio do Conselho para
que se havia de destinar quatro Legoas em quadro asi
gnavão as que principião da Parte do Nascente chama
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 349

das Terras Altas e vão continuando para o Poente á


margem do mesmo Rio do Mocori, caminhando de
Norte para o Sul aquillo que der e permitir a medição
sem separar o mesmo Rio para a parte do Sul.
E que as terras destinadas para se distribuirem
pellos moradores para as suas Lavouras na extenção
de seis Legoas hão de ser todas medidas e demarcadas
naquellas que vão descorrendo de Norte para o Sul,
Conjuntas as do Conselho e poderão atravessar o
mesmo Rio para a banda do Sul athé onde a medida
permitir nas melhores que se distribuirem.
Tudo em observancia da formalidade decretada
na Carta Regia de tres de Março de mil setecentos e
cincoenta e sinco que ao diante será copiada.
E que para a sua medição e demarcação elegião
por Piloto e arrumador da Agulha a Manoel da Costa
do Nascimento e para Ajudantes da Corda a João Dias
e a João Vieira e para trilhadores do Mato a Bonifa
facio Pinto e Antonio da Costa , Miguel Pinto , Bernardo
Soares, Manoel Gramacho, Joze de Oliveira , Manoel
Gil todos já moradores e habitantes nesta nova villa
para cujo efeito e de cuja demarcação e medição se
rião os primeiros dous, digo os primeiros tres Manoel
da Costa do Nascimento , João Dias e João Vieira aju
ramentados aos Santos Evangelhos .
E de tudo elle dito Ministro mandou faser este
Auto que assignou com todos os sobre ditos moradores
e eu José da Costa de Carvalho digo e Silva Pinto Es
crivão della e destas Villas Novas que as escrevi e
asignei.
José Xavier Machado Monteiro , Manoel da Costa /
do Nascimento, Leandro Dias da Cruz, João Ribeiro
da Cruz, João Martins de Menezes, Manoel Coelho
Cruz, Felipe Correa Lima, Jozé Ribeiro de Andrade,
350 LIMITES

de Domingos + Gonçalves , de Ignacio + José Ban


deira, de Francisco + Bolhõens , de Ignacio + Costa,.
de André dos Reys, de Ignacio + Rangel, de Fran
cisco + Pinto, de Euzebio + Pinto, de José + de Oli
veira, de Antonio + Gonçalves , de Migel + dos Anjos,
de Bernardo + Soares , de Ignacio + Vieira , de Feli
ciano Sampaio, de Antonio + dos Reys , de Al
berto Leal, de Feliciano + Ribeiro , de João + Si
mões, de Bernardo + Soares , de Sebastião + Dameta,
de Jozé de Souza , de Estevão + Dameta , de João +
dos , de Estevão + Ribeiro, de Thomaz + Ribeiro , de
Francisco João, de Damião + Rodrigues, de Do
mingos Machado, de Marcelo + de Farias , de Bo
nifacio Pires , de Jozé + Ferreira, de João + Ramos ,
de Manoel + da Costa, de Izidorio + dos Anjos, de
João Bautista , de João + Vieira da Silva , de Anto-
nio + Desouza , de Jozé + Themoteo , de Euzebio +
Pinto, de Antonio de Figueiredo , de Jozé + Mar
ques, de Bernardino + Taveira, de Caetano + de
Souza, de Miguel + Pinto , de Balthazar + dos Reys,
de Manoel + Xavier, de Manoel + Gil , de Antonio +
Martins Duarte, de Marcelo de Farias, de Anto
nio Fernandes , de Manoel de Siqueira, Brito
Pinto, de Antonio + do Rosario , de Manoel + Jozé,
de Romualdo + Pereyra, de Feliciano + Cardoso , de
Manoel Reys, de Manoel + Francisco , de João +
Bautista Dias, de André Dias, de Sebastião da
Ajuda, de Salvador + Pereyra, de Francisco + da
Costa, de João Dias, de Bartholomeu da Costa,.
de Jozé Coelho, de Ignacio + de Alveu , de Jorge +
da Costa, de Manoel + Jozé de Souza , de Manoel +
Rodrigues, de Jozé + de Mattos , de Balthazar + Fi
gueiredo, de Narciso + Pinto , de Luiz + de Souza,
de Enrique de Souza, de Matheus + Dias , de Ma
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 351

theus do Vale , de Matheus , Natalino dos Reys ,


Miguel Simeão da Conceição .

Termo de Juramento dado ao Arrumador da agulha e


Ajudantes da Corda declarados no auto.
Aos dezeseis dias do mes de Outubro de mil e cete
sentos e sesenta e nove annos , nesta Villa de Porto
Alegre, nas cazas da Apozentadoria do Doutor Dezem
bargador Jozé Xavier Machado Monteiro Ouvidor Ge
ral desta comarca aonde estão presentes O arruma
dor da Agulha Manoel da Costa do Nascimento e os
Ajudantes da Corda Jozé Dias, e João Vieyra aos quaes
deferio o dito Ministro o juramento dos Santos Evange
lhos em hum livro de Missa no qual puzerão suas mãos
direytas, sob o emcargo do qual lhe encarregou que bem
e veadrdeiramente arrumacem, medicem e demarcacem
pellos rumos a que direitamente pertencerem todos os
terrenos de terras do termo desta nova Villa de Porto
Alegre e tudo na forma declarada no termo e auto retro,
sem dolo nem malicia alguma, cedendo digo e cendo por
elles recebido o dito juramento asim o prometerão fa
zer de que fiz este termo em que asignarão com o dito
Ministro e eu Jozé da Costa e Silva Pinto, Escrivão que
os escrevy .
Machado- Manoel da Costa do Nascimento, João +
Vieyra, João + Dias.
1 ital

Copia da Carta Regia de tres de Março de mil e setecentos


e sincoenta e sinco
Francisco Xavier de Mendonça Furtado , Governa
dor e Capitam General do Gram Pará e Maranhãm,
amigo Eu El-Rey vos envio muito saudar. Tendo em con
sideração o muito que convem, ao serviço de Deos , ao
meu e ao bem commum dos meus vassallos , moradores
352 LIMITES

desse Estado, que nelle se augmente o numero dos Fieis


alumiados da luz do Evangelho , pello propicio meio de
multiplicação das Povoaçõens civis e decorosas ; Para
que atrahyndo ahy os racionaes, que vivem nos vastos
sertões do mesmo Estado, separados da nossa Santa fé ,
Catholica e athé dos ditames da mesma natureza, e
achando alguns delles na observancia das leys divinas e
humanas , soccorro e descanço temporal eterno, sirvam de
estimullo aos mais que ficarem nos matos , para que, imi
tando tam saudaveis exemplos, busquem aos mesmos be
neficios e atendendo a que aquella necessaria observan
cia das leys senam conseguiria para produzir tam uteis
feitos, se a vastidam do mesmo Estado , que tanto diffi
culta os recursos das duas capitanias do Gram Pará e
San Luiz do Maranham, se nam subdividicem em mais
alguns Governos, para que as partes poçam recorrer,
para conseguirem que se adiministrem, digo administre
justiça com mayor brevidade e sem a vexaçam de serem
obrigados a faser tam longas e perniciosas viagens,
como agora fasem, tenho resoluto estabelecer hum ter
ceiro Governo, nos confins occidentaes desse Estado , cujo
Chefe será denominado Governador da Capitania de Sam
José do Rio Negro .
O territorio do sobredito Governo se entenderá pellas
suas partes do Norte e do occidente , athé as duas prayas
setentrional e occidental, dos dominios de Espanha , e pellas
outras duas partes do oriente e do meyo dia lhe determi
nareis os limites que vos parecerem justos e competentes ,
para os fins acima declarados.
Para a residencia do mesmo Governador , sou ser
vido mandar erigir logo em villa a Aldeya, que mandei
novamente estabelecer, entre o planalto oriental do rio
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 353

Javari e a Aldeya de Sam Pedro, que administrarão os


relligiosos de Nossa Senhora do Carmo.

E por favorecer aos meus vassallos que habitarem


na referida villa, Hey por bem conceder-lhes todos os
privilegios prerogativos isençõens e liberdades seguintes :
Os officiaes da Camara que forem elleitos, na forma
da ordenação deste Reyno, e servirem na referida villa,
Hey por bem que tenham e gosem, de todos os privilegios
e prerogativas, que tem e de que gosam os officiaes da Ca
mara, da Cidade do Gram Pará, Capital deste Estado,
para o que se lhes paçará Carta em forma.

Os oficios de justiça da mesma villa , nam serão


dados de propriedade nem de serventia a quem não fôr
morador nella, e entre os seus habitantes, os que forem
cazados, preferirão os solteiros para as propriedades de
serventias dos ditos officios , porém os mesmos morado
res solteiros serão preferidos a quaesquer outras pessoas,
de qualquer prerogativa e condiçõens que sejam, ou des
tes Reynos ou do Brasil, ou de qualquer outra parte, de
sorte que, só os moradores da dita villa sirvam estes offi
cios.

E por mais favorecer aos outros moradores , Hey


por bem que não paguem mayores emolumentos aos offi
ciaes de justiça e da fasenda de que aquelles que pagam e
pagarem os moradores da cidade do Pará, asim pelo que
toca de escripta aos escrivãens como pello que pertence,
pellas diligencias que os ditos officiaes fizerem.

Por favorecer ainda mais aos sobreditos , da sobre


dita villa e seu districto, Hey por bem de os exentar de
todo de pagarem fintas, valhos , pedidos e quaesquer ou
tros tributos, isto no tempo de doze annos, que teram seu
principio do dia da fundação da dita villa em que se
fiser a primeira eleição das justiças, que ham de servir,
L 45
354 · LIMITES

excetuando somente os disimos devidos a Deus, das ter


ras os quaes deveram pagar e cumprir como os mais mɔ
radores do Estado : pello que desejo beneficiar este novo
estabelecimento , sou servido que as pessoas que mora
rem dentro na dita villa, nam poçem ser excutados pelas
dividas que tiverem contrahido fora della e do seu dis
tricto, o que porém se entenderá somente nos seus pri
meiros trienios, contados do dia em que os taes moradores
se forem estabelecer na mesma villa, ou sejam na sua fun
dação ou no tempo futuro, bem visto que deste privile
gio não gosem, as que se ausentarem ou fugirem, com
fasenda alhea, a qual seus legitimos donos poderão haver
sempre, pellos meyos de direito , por indignos desta graça e
os que tiverem excandaloso e prejudicial procedimento ;
e para que a referida villa se estabeleça , com maior facili
dade e estas mercês poçam produsir seu devido effeito, sou
servido ordenar-vos que aproveitando a occazião de vos
achares dessas partes, paçando a referida aldeya , depois
de haver publicado por Editaes, o contheúdo nesta e de
haveres feito relação dos moradores que se offerecerem
para as povoar, comvoqueis todos para um determinado
dia, no qual, sendo presente o povo , determineis o lugar
mais proprio, para servir de praça , fasendo levantar no
meyo della o pellourinho,asignando area para se edificar
hua Igreja capaz de receber o compito numeroso de fre
gueses, quando a povoação se aumentar, como tambem
as outras areas competentes para as casas das verea
çõens e audiencias, cadea e mais officinas publicas, fa
sendo delinear as casas dos moradores por linha recta,
de sorte que, fiquem largas e direitas as ruas ; aos offi
ciaes da camara que sahirem eleitos e aos que lhes succe
derem, ficam pertencendo darem gratuitamente os ter
renos que se lhe pedirem, para as casas e quintaes, nos
lugares que para isso se houverem determinado, só com
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 355

a obrigação que as ditas casas sejam sempre fabricadas


na mesma figura, uniforme pella parte exterior, ainda
que na outra parte interior, as faça cada hum como lhes
parecer, para que desta sorte se conserve sempre a mesma
formusura, nas villas e nas ruas dellas a mesma largura
que se lhe asignar na fundação .

Junto da mesma villa ficará sempre hum districto , que


seja competente, não só para nelle se poderem edificar
novas casas, na sobredita fórma, mais tambem para lo
gradouros publicos e este districto se nam poderá em
tempo algum dar de sesmaria nem de aforamento, em todo
ou em parte, sem especial ordem minha que derogue esta
por que sou servido , que sempre fique livre para os referi
dos effeitos, por termo a referida villa asignar na sua fun
dação, aquelle territorio que parecer competente e nelle
poderão os governadores dar de sesmaria, toda a mais
terra que ficar fóra do sobredito districto, dando-a porém
com as clausulas e condiçõens que tenho ordenado , ex
cepto no que pertence a extenção da terra, que tenho pro
mettido dar a cada morador, porque nos contornos da
dita villa e na distancia della seis legoas, de redor della ,
não poderá dar de sesmaria a cada morador mais do que
meia legoa em quadro, para que augmentando- se a mesma
villa poçuam as suas datas de terra, todos os moradores
futuros, precisando comtudo que dentro da sobredita
distancia de seis legoas, se conceda hua data de quatro
legoas de terra em quadro , para administrarem os
oficiaes da camara e parados seus rendimentos a despesas
e obras do Conselho e formando, daquellas partes da
mesma terra, pello parecer conveniente, comtanto que se
observe o que a Ordenação do Reyno dispõe a respeito
destes aforamentos e fora das ditas seis legoas darão os
Governadores as sesmarias, na forma das ordens que
tenho extabelecido para o Estado do Brasil.
356 LIMITES

Depois de haveres determinado os limites do novo


Governo, que mando extabelecer, encarregareis delle
interinamente athé Eu nomear Governador, a pessoa que
vos parecer, que com mais authoridade e interece do ser
viço de Deos, e meu e do bem commum daquelles povos,
pode exercitar hum lugar de tantas consequencias e pro
mover hum novo extabelecimento, que he tam importante.
Semelhantemente depois de haveres determinado a
fundação da villa, na referida forma, impondo-lhe o nome
de Villa nova de Sam José elegereis as pessoas que ham de
servir os cargos della , cómo se acha determinado pella
Ordenação e Hey por bem quen a mesma Villa haja por
ora dois Juises Ordiarios , dois vereadores, hum vereador
do conselho que sirva de thesoureiro, hum Escrivão da
Camara, que sirva tambem de Almotaceria,hum Escrivão
do publico judicial e notas, que sirva tambem das exe
cuçõens o que se entende, emquanto a Povoação não crece,
de sorte que seja necesario nella mais officiaes de justiça,
porque sendo-me presente a necessidade que delles hou
ver, proverey os que forem precisos chegando os morado
res ao numero declarado na ley da creaçam dos juises
de Orphãos e se procederá na eleição delles , conforme
dispõe a mesma Ley e os officiaes da Camara fáram
eleição dos almotacés e se constituirá Alcayde na forma
da Ordenação , tendo seu Escrivão da vara.
A serventia dos officios de provimento dos Governa
dores provereis nas pessoas mais capazes sem donativo,
pello tempo que o dey, emquanto Eu não dipozer o contra
rio e para conhecer dos agravos e appelaçõens tenho no
meado ouvidor da nova Capitania, com Correição e alçada
em todo o seu territorio o que tudo me pareceu participar
vos para que asim o exerciteis não obstante quaesquer
ordens ou disposiçõens em contrario, promovcendo a
fundaçãm do dito Governo e villa, capita! digo capital
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 357

delle com o cuidado e aserto que espero . do zello com


que vos empregaes no meu real serviço .
Escripta em Lisboa, aos tres de Março de mil sete
P
centos e sincoenta e sinco.- Rey.
Para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Go
vernador e Capitam General do Estado de Gram Pará e
Maranham, ou quem seu cargo servir.
Não se continha mais na dita Copia a qual me re
porto, que aqui bem e fielmente copiei, sem borradura,
nem entrelinha nem cousa que duvida faça, e confery
commigo e com o oficial abaixo asignado nesta Villa
Nova de Sam Matheus, aos doze dias do mez de Outu
bro de mil setecentos e secenta e quatro annos . Eu, José
da Costa e Silva Pinto, Escrivão da Correyção que o es
crevy e asignei. -José da Costa e Silva Pinto .- Consertada
por mim escrivam, José da Costa e Silva Pinto e Comigo
Tabaliam Pedro Soares de Atayde. (*)

Auto de medição e demarcação que se fas nas terras


adjacentes a esta Nova Villa de Porto Alegre
asignadas na sua erecção e Creação para termo do distri
cto da Jurisdição da Justiça da Villa

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus.


Christo de mil e setecentos e sesenta e nove annos ; aos
dezaseis dias do mes de Outubro do dito anno nesta
Villa de Porto Alegre em que se achava presente o De

(*) Foi por esta carta a que Thomé Couceiro devia obe
decer, segundo as clausulas 3" ., 4" . e 5" . das suas Instrucções,
vide pag. 195, que teve o 1 °. ouvidor de Porto Seguro authori
sação para fundar a villa de S. Matheus, como a teve o seu
successor Machado Monteiro, para fundar a de S. José de Porto
Alegre, pelo que fica desfeita a duvida manifestada pelo Go
verno do Estado do Espirito Santo, no seu officio de 13 de
Agosto de 1917, sobre a authorisação que tinham os ouvidores
de Porto Seguro para a creação de villas em sua comarca , de
marcação dos termos dellas, patrimonios e mais actos necessa
rios.-N. do auctor.
358 LIMITES

zembargador Jozé Xavier Machado Monteiro Caval


leiro profeço na Ordem de Christo, Ouvidor Geral desta
Comarca e Capitania de Porto Seguro, nas cazas de
sua Aposentadoria aonde eu Escrivão da Comarca da
Villa de Caravellas a esta conjunta e ao diante nomeado
fui vindo, ao seu chamado, por impedimento do actual
da Correyção e sendo ahi mandou o dito Ministro vir a
presença ao arrumador da Agulha Manoel da Costa do
Nascimento e os dous seus Ajudantes da corda Ježo
Vieyra e João Dias aos quaes ordenou o dito Ministro
que em sua presença focem medir e demarcar as terras
que na erecção e creação da mesma Villa forão asigna
das para districto da jurisdição da Justiça correndo por
ellas os rumos que para a mesma forão estabelecidos na
referida assignação e assim o prometerão faser, sobre of
cargo do Juramento que receberão . E logo apresentarão
a Agulha de Mariar e marcar declarando estar prepa
rada para por ella se poderem governar, em cujo acto
apresentarão tambem a corda porque se havia medir a
distancia das Legoas , a qual era de embira, segundo foi
declarado pellos ajudantes della, e que haviam prepa
rado de forma que não tivesse crescimento, nem dimi
nuição, pello que mandou o dito Ministro medir e se
achou ter sincoenta braças de comprimento , e por isso
tendoce assim obrado e praticado marchou o dito Minis
tro com o Arrumador da Agulha e seus Ajudantes a
praia do mar, que fica ao Nascente, chamada Leste no
citio a que chamão Giráo da Onça e ali mandou o dito
Ministro abrir huma cova para nella ser cravado hum
Marco para serteza e memoria daquella medição e para
cujo fim mandou apregoar pello Porteiro do Conselho
Antonio Martins se havia alguma pessoa ou pessoas que
tivessem alguma duvida ou embargos a que naquelie
lugar e citio senão cravasse o referido Marco , e sen lo
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 359

apregoado pella dita maneira não apareceu pessoa al


guma que duvida ou embargo puzesse pelo que mandou
o referido Ministro cravar o mencionado Marco , que he
de hum pão de boa qualidade todo exfaciado por não
haver pedra, e ficou com huma facia virada para Leste,
outra para Norte, outra para Sul , e huma quina que
olhava para Oeste, rumo que declarou o arrumador se
havia de seguir naquella medição .
E tendoce asim completamente feito e obrado na
presença do dito Ministro, por seo mandado se deo prin
cipio a medição e pondo o arrumador da Agulha a pon
ta da Corda sobre o pião della , a mandou estender
pello recto do rumo do Oeste , aplumando-a por Balizas ,
e por cujo modo foi continuando pella estrada que os
trilhadores hião fazendo pello mesmo rumo , athé que
finalmente se chegou a primeira Cachoeira de pedras do
Rio da Villa que chamão Mocori , em cujo lugar declara
rão os medidores se completarão as seis Legoas, que por
Semelhante rumo devião medir, tendo em cada legoa tres
mil braças , na forma observada em semelhantes medi
çõens , conformando- se o dito Ministro do asento que eu
Escrivão hia fazendo das referidas braças em que dou
minha fé, achou certo e sem duvida o declarado pello ar
rumador e seus ajudantes pello que mandou suspender a
medição, e que naquelle lugar se ficacem servindo de
Marco as mesmas pedras daquella primeira Cachoeira
do Rio, pois que erão permanentes naquelle logar em
que não havião outras que duvidas fizesse.
E por ser preciso medirce tambem a outra distancia.
de Norte para Sul, passou o dito Ministro , com os medi
dores acima referidos a parte do mesmo Norte ao citio
a que chamão Picada Velha e ahi se achou hum Marco
depedras em que se finalizava o termo da Villa de Vi
coza, cujo marco tinha huma facia virada para o Sul e
360 LIMITES

outra para o Leste e outra para o Oeste e huma quina


que olha para o Norte ; junto da qual por linha recta da
parte de Leste mandou o dito Ministro Cravar outro
Marco de pedra co mhuma facia virada para a parte do
Norte, outra para Leste , outra para Oeste e uma quina
que olha para o Sul , rumo porque se havia seguir a
medição e termo desta Nova Vila de Porto Alegre, para
asim ficar indubitavelmente serto a divisão dehum e
outro termo das mencionadas villas ; e na observancia
de cujo mandado , tendoce tudo na mesma forma prati
cado, logo tambem mandou que se continuace na medi
ção pello referido rumo caminho do Sul, porque se devia
seguir, em cujo comprimento logo pondo o arrumador a
Agulha no rumo do mesmo marco se fes estender a
corda pello mencionado rumo do Sul , pello Caminho
que os trilhadores tinhão aberto e por elle aplumado a
mesma Corda, se foi da mesma forma continuando athé
o Beiral do Riacho Doce , que corre pella margem de
hum pequeno outeiro que lhe fica exclusive pela parte
do Sul e no referido Riacho declararão, os medidores
terem ali medido seis legoas e por iso não devião pas
sar adiante e sendo informado o dito Ministro de mim
Escrivão pello asento que das braças hia fazendo , no
que dou fé, achou ser verdadeira a declaração que fazião
os ditos medidores pello que mandou suspender a me
dição e que ficando o mesmo tambem inclusive no seu
beiral delle cravouce hum marco para Certeza e memo
ria de que até ali se comprehendia o termo da mesma
Villa, pello que se abrio logo huma cova para ser nella
Cravado o dito Marco, e por não haver naquelle logar
morador nem hereos que devessem ser citados mandou
o dito Ministro apregoar pello Porteiro do Conselho An
tonio Martins se havia alguma pessoa que tivece alguma
duvida ou embargos puzece , ex vi do que logo mandou
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 361

na mesma forma apregoado não ouve pessoa alguma que


duvida ou embargos puzece ex vi do que logo mandou
o dito Ministro cravar o dito Marco de huma pedra que
ficou com huma facia virada para o Sul , outra para
Leste, outra para Oeste e huma quina que olha para o
Norte ; e para assim da mesma forma obrado constar,
mandou o dito Ministro fazer este auto da referida Me
dição e demarcação em que assignou com o dito Arru
mador, e Ajudantes da Corda , a saber este do seu Signal
e firma Costumada, e aquelles por não saberem ler nem
escrever o fizerão de huma Cruz , estando a tudo pre
sentes por testemunhas Marceino Jozé Gonçalves , Do
mingos Machado e Bernardino Franco , que todos na
mesma forma asignarão de que tudo dou minha Fé. Eu
Antonio Manoel da Silveira Villa Lobos , Escrivão da
Camera já sobredito que por impedimento do actual da
Correyção Jozé da Costa e Silva Pinto os escrevy. --
Machado. Manoel da Costa do Nascimento- Signal de
João + Vieira- Signal de João + Dias - Marcelino +
Jozé Gonçalves- Signal de Domingos + Machado—
Signal de Bernardino + Franco .

Auto de medição e demarcação que se fas nas terras


asignadas no Aro desta nova Villa de Porto
Alegre para edificaremce novas cazas quando a Villa se
aumentar e mais tambem para logradouros della

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus


Christo de mil setecentos e secenta e nove annos aos
vinte e dous dias do mes do Outubro do dito anno
Nesta Villa Nova de Porto Alegre em que se achava
presente o Dezembargador Jozé Xavier Machado Mon
teiro, Cavalleiro Profeço na Ordem de Christo, Ouvi
dor Geral da Comarca e Capitania de Porto Seguro, nas
cazas de sua Aposentadoria, onde eu Escrivão da Ca
L 46
-!
362 LIMITES

1
mera da Villa de Caravellas a esta conjunta e ao diante
nomeado fui vindo, a seo chamado, por impedimento do
actual da Correyção e sendo ahi mandou o dito Ministro
vir a sua presença ao arrumador da Agulha Manoel da
Costa do Nascimento e aos dous seus Ajudantes da Corda
João Vieyra e João Dias aos quaes ordenou o dito Mi
nistro que debaixo do juramento que recebido tinhão,
devião em presença delle Ministro hirem medir e demar
car as terras do Aro da mesma villa para se saber do dis
tricto Certo que havia ficar servindo, não só para nelle
edificarem novas ruas quando a Villa se aumentar, mas
tambem para os logradouros publicos della e por cuja
ordem marcharão os ditos Arrumador da Agulha e seus
Ajudantes da Corda, em companhia do dito Ministro ,
para a praia do mar que fica ao Nascente chamado
Leste de cujo Lugar mandou o dito Ministro principiar
a Medição sem que foce necessario conservar o Marco
por lhe ficar servindo para sempre a mesma praia e
Costa do mar, por cuja rezão pondo o dito arrumador
huma baliza nella asentou a Agulha fazendo nella firme :
e apontada a Corda, a mandou estender pello seu Aju
dante pelo rumo do Oeste e pello qual aplumando a dita
Corda se foi caminhando a dita corda digo na medição,
athé o beiral de hum grande brejado que ali existe e
aonde declararão os referidos medidores ficavão comple
tamente medidas seiscentas braças e que senão podia
passar adiante por causa do mesmo brejado, por cujo
motivo mandou o dito Ministro suspender por aquelle
rumo a medição e que tambem não se precisava cravarce
marco, por quanto aquelle brejado lhe ficava servindo de
marco eterno digo certo.
pol Marchando os referidos medidores em companhia
do dito Ministro a parte do Norte no Citio a que cha
mão Picada do Anjo e ahi lhe fes o dito Ministro cravar
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 363

hum marco de páo todo exfaciado e de boa qualidade,


por não haver pedra e ficou com huma facia para a parte
de Leste outra para Oeste, outra para o Norte e huma"
quina que olha para a parte do Sul, de cujo marco man
dou que principiace a medição , seguindo-se sempre pello
mesmo rumo do Sul por ser o que por elle se devia cami
nhar, em cuja observancia pos logo o arrumador da Agu
lha a mesma sobre o cume do dito marco em que lhe se
gurou a ponta da corda e mandou estender pello seu aju
dante depois do que a aplumou pelo rumo do Sul, e este
por modo forão continuando na medição até que final
mente se chegou aos mangues do beiral do Rio Mocori em
cujo logar declararão os medidores terem completamente
medido mil e quinhentas braças,pello que mandou o dito
Ministro suspender a medição por ficar inclusivamente
dentro desta distancia os arruamentos da Villa, Edifi
cios e mais oficinas publicas e cituado tudo sobre a mar
gem do mesmo Rio junto a sua barra, ordenando que
juntamente ficarão servindo de marcos em aquelle lugar
o mesmo rio e seus mangaes por serem permanentes e
por cujo modo deo o dito Ministro esta medição e de
marcação por finda e acabada , mandando fazer este auto
para delle constar, em que asignou com o arrumador da
Agulha e seu Ajudante, aquelle de seu signal constante
e este de uma Cruz, por não saber ler nem escrever ; e
estando a tudo presente por testemunhas Marcelino
Jozé Gonçalves, Domingos Machado , e Bernardino
Franco que todos da mesma forma a asignarão , no que
tudo dou a minha Fé. Eu, Antonio Manoel da Silva
Villa Lobos , Escrivão da Camera do sobredito que por
impedimento do actual da Correyção Jozé da Costa
e Pinto Silva, o escrevy.- Machado - Manoel da Costa
do Nascimento- Signal de Jozé + Vieira- Signal de
João de Deos-Marcelino Jozé + Gonçalves— Signal
364 LIMITES

de Domingos "+ Machado- Signal de Bernardino +


Franco.

Auto de mediçoã e demarcação que se fes nas quatro


Legoas de terra asignadas para as adminis
trarem os officiaes da Camera para do seu rendimento
se faser as despesas do Conselho

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus .


Christo de mil setecentos e sesenta e nove annos aos
vinte e seis dias do mes de Outubro do dito anno nesta
Villa de Porto Alegre em que se achava presente o De
zembargador Jozé Xavier Machado Monteiro , Caval-
leiro profeço na Ordem de Christo Ouvidor Geral desta
Comarca e Capitania de Porto Seguro, nas cazas de
sua aposentadoria, aonde Eu , Escrivão da Camera ao
diante nomeado , fui vindo , ao seu chamado , ahi mandou
vir o dito Ministro a sua presença ao arrumador da
Agulha Manoel da Costa do Nascimento e seos Ajudan
tes da+1corda João Vieyra e João Dias aos quaes ordenou
o diti Ministro, sobre cargo do juramento que feito ti
nham fossem em sua presença medir e demarcar as qua
tro legoas de terras que se havia asignado dentro do
districto desta mencionada villa para as administrarem
os officiaes da Camera para do seu rendimento se faser
as obras e despesas do Conselho, em cuja medição se
devião regular , ou seguir pello estatuhido nos autos da
criação e erecção da mesma Villa, e na observancia de
cuja ordem marcharão logo os ditos medidores em Com
panhia do dito Ministro para o logar das Terras Altas
que ficão da parte do Norte do Rio desta Villa e ahi no
citio a que chamão Primeiras Pedras de Baixo, junto a
huma arvore grande chamada Gameleira que fica no
beiral do Rio, lhe mandou o dito Ministro abrir huma
cova para nella ser cravado hum marco de pedra, não
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 365

só para sempre haver lembrança daquella demarcação


mas tambem para dali se entrar a medir a circumferen
cia das quatro Legoas de terra em quadro e sendo aberta
a dita cova mandou o dito Ministro ao Porteiro do Con
selho Antonio Martins que apregoace se havia alguma
pessoa que tivece duvida ou embargos que opozece
aquella demarcação pello que mandou o dito Ministro
cravar o dito Marco-com huma facia virada para o Sul,
e outra par Leste, com huma quina para Oeste e outra
para o Norte. E tendoce assim completamente feito e
obrado mandou o dito Ministro que daquelle Marco se
dece principio a medição pello rumo e caminho de Oeste,
pella parte ou lado do Rio, thé onde chegar a se encon
trar as quatro Legoas que pello dito lado se devia medir ;
em cuja obeservancia poz logo o arrumador da Agulha
a ponta da corda no cimo do dito Marco em que tambem
assentou a mesma Agulha e mandou pello seu Aju
dante estender a mencionada Corda pello rumo do Oeste
pello qual a aplumou por balizas que para o mesmo
efeito havia cravado pello caminho que os trilhadores
hiam abrindo e se continou na medição em diante pello
mesmo modo thé que finalmente se chegou ao logar cha
mado Coroa dos Chagados em cujo logar declararão os
medidores terem medido completamente quatro legoas
de distancia pello que, informandoce o dito Ministro de
mim Escrivão e pello asento que hia fazendo das bra
ças que se media em que dou minha fé, achou certa
aquella declaração, por cujo motivo mandou que em
aquelle lugar se cravace hum marco de pedra por serteza
daquella diviza e para cujo fim mandou tambem apre
goar pello porteiro do Conselho- Antonio Martins se
havia naquelle logar pessoa que tivece duvida ou embar
gos com que se opuzece a que no referido lugar se cra
vace o dito marco ; e sendo com efeito apregoado , pello
366 LIMITES

mesmo modo não apareceu pessoa alguma, ex vi do que


logo a margem do Rio, junto a huma arvore chamada
Mocori se abriu huma cova e nella se cravou o mencio
nado Marco e ficou com huma facia virada para Oeste, e
outra para o Sul e huma quina que olha para " Leste e
outra para o Norte, rumo porque dicerão os medidores
se havia continuar na mesma medição pello rumo do
Norte e o proprio se devia Seguir ; e continuandoce na
medição pos logo o arrumador da Agulha a mesma sobre
o cume do dito marco em que tambem fes firme a ponta
da corda, mandou estender pello seu Ajudante e pello
rumo do Norte, a aplumou pellas Ballizas que lhe havia
posto, e se foi continuando pello mesmo modo pello ca
minho que os trilhadores hião abrindo, thé que final
mente chegarão ao pé de huma arvore grande e bem
troncada a que chamão Maçaranduba em cujo lugar de
clararão terem completamente medido outras quatro
legoas e informandoce o dito Ministro do assento que
Eu Escrivão hia fazendo das braças que se media em
que dou minha Fé de ser verdadeira a declaração que
fizerão, pello que e se não haver pedra naquelle lugar
mandou o dito Ministro que lhe ficace servindo de
Marco a mesma arvore e que para ser conhecida por de
marcação se lhe esculpice nella huma Cruz a qual logo
se lhe abriu, de forma que só não havia Memoria della
tendo consumo a dita arvore, pello que informandoce o
dito Ministro porque rumo se devia seguir, declararão
os medidores que aquelle logar se devia caminhar pello
rumo de Leste , pello qual mandou logo o dito Ministro
continuar na medição a cuja observancia cravou logo
o arrumador da Agulha huma balliza bem ao pê da dita
arvore, e aplanou por ambos os lados e sobre a mesma
poz a Agulha apontada, e a corda e a mandou estender
pello seu Ajudante pello rumo de Leste e aplumando
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 367

pellas ballizas que lhe poz e da mesma forma foi conti


nuando na medição thé que finalmente se chegou ao pé
de huma Arvore grande a que chamão Bernidiba, aonde
declararão os medidores terem athé ali medido outras
quatro legoas, pello que informandoce o dito Ministro
do asento que eu escrivão hia fazendo das braças que se
media em que dou Fé, achouce estar Certa a dita de
claração, e por cuja razão mandou suspender na medi
ção por aquelle lado e que como não havia pedra em
aquelle logar que servisse de Marco lhe ficace servindo
de demarcação a mesma Arvore ; para cujo fim lhe man
dou esbravar os mattos de redor della para ser conhe
cida, fazendo-lhe juntamente exculpir huma Cruz em
Signal da mesma demarcação .
E continuando a mesma medição pello ultimo lado
pello rumo do Norte, para o Sul que teve principio bem
ao pé daquella referida Arvore, se medirão por este lado.
quatro legoas, seguindoce sempre a observancia do
rumo do Sul pello qual se chegou ao primeiro marco
que se cravou nesta medição no citio das Primeiras Pe
dras de Baixo, cujo marco hé de huma pedra com facia
virada para o Sul, outra para Leste e huma quina que
olha para Oeste e outra para o Norte em cujo lugar
mandou o dito Ministro suspender a Medição por se
achar completa, o que para de tudo constar se fisece este
Auto em que asignou com os referidos medidores , es
tando a tudo presente por testemunhas Marcelino Jozé
Gonçalves , Domingos Machado, e Bernardino Franco,.
que todos tambem asignarão na forma já declarada em
que tudo dou minha Fé. Eu Antonio Manoel da Silva.
Villa Lobos , Escrivão da Camera que por impedimento
do actual da Correyção Jozé da Costa e Silva Pinto, o es
crevy.-Machado- Manoel da Costa do Nascimento
Signal de João + Vieira- Signal de João + Dias.
368 LIMITES

Auto de medição e demarcação das Seis Legoas de terra


para lavoura dos moradores desta Nova Villa.
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus.
Christo de mil e setecentos e sesenta e nove annos aos
seis dias do mes de Novembro do dito anno nesta Villa
de Porto Alegre em que se achava presente o Dezembar
gador Jozé Xavier Machado Monteiro, cavalleiro pro
feço da Ordem de Christo , Ouvidor Geral desta Co
marca e Capitania de Porto Seguro, aonde eu Escrivão
da Camera ao diante nomeado fui vindo, ao seu cha
mado e sendo ali mandou vir o dito Ministro a sua pre
sença os medidores Manoel da Costa do Nascimento ,
João Vieira e João Dias aos quaes ordenou que sobre o
cargo do juramento que recebido tinhão focem em pre
sença delle Ministro medir e demarcar as terras que o
os moradores hão de ocupar com lavouras e com elles
repartidas com proporção .E por que, tendoce exami
nado todas as referidas terras, se achou serem as que
decorrem desta Villa pello Rio acima, pello rumo do
Oeste, brejados e mangaes thé as primeiras pedras de
baicho das terras altas em que se cravou o primeiro
Marco das terras que forão medidas para o rendimento
do Conselho, se devia principiar a medição no segundo
marco que se cravou nas mesmas terras no lugar cha
mado Coroa dos Chagados em cumprimento de cuja
ordem mandaram logo os ditos medidores em Compa
nhia do dito Ministro e forão ao dito lugar e do marco
que ahi se cravou , em que findam as terras do Conselho,
se principiou a medição pondo o arrumador da Agulha
a mesma ro cume do dito marco e fasendo fixa à ponta
da Corda, a mandou estender pello seu Ajudante pello
rumo do Oeste, pello caminho que os trilhadores hião
abrindo para esta medição, em que, continuandoce pello
modo referido, se foi pellas terras e pedras da primeira
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 369

Cachoeira do Rio em que se finalisou a segunda demar


cação das terras para districto da mesma Villa, e mais
o lugar em que declararão os medidores terem athé ali
completamente medido tres mil braças que hera huma.
legoa e informandoce disto o dito Ministro de mim Es
crivão pello assento que hia fasendo das braças que se
hião medindo, achou estar certa a dita medida e declara
ção pello que mandou o dito Ministro suspender a medi
ção por aquelle rumo de Oeste e que somente se conti
nuace pello rumo do Norte que hera o porque se devia
seguir, medindoce por elle a distancia tão somente de
quatro legoas em correspondencia a largura das terras.
do Conselho, pois que senão devia passar avante por não
se dever exceder ao termo estatuhido para a mesma
Villa pello que ficou servindo de marco as mesmas pe
dras da demarcação do termo da Vila a esta medição .
E continuandoce na medição pello rumo do Norte ,
se medio por este lado quatro legoas que teve fim no pê
de huma Arvore chamada Oiticica em que mandou o
dito Ministro exculpir huma Cruz e exbravar do redor
della os mattos para ser conhecida por demarcação , visto
que declararão os medidores terem athé ali medido as
ditas quatro legoas o que se achou certo pello asento
que Eu Escrivão hia fazendo das braças que se hião
medindo. E continuandoce na medição pello rumo do
Sul, se medio por este lado quatro legoas na forma já
medidas para o Conselho , por cujo trilho se seguio e
veio a ter fim bem ao pé do mesmo Conselho na parage
chamada Coroa dos Chagados , em que se deo principio
a esta medição por serem estas terras as que ficão con
juntas as do Conselho . Mas porque este terreno assim
medido e demarcado he muito pequeno para a Lavoura
dos moradores mandou o dito Ministro pasar á parte do
Sul do Rio na forma já determinada nos autos da cri
L 47
370 LIMITES

ação da Villa para continuarce na mesma medição, por


serem aquellas terras todas de lavouras. " Pelo que con
tinuandoce na medição veio o dito Ministro com os me
didores ao logar chamado Camboa e ahi lhes fes cravar
hum marco de pedra á margem do Rio, com huma facia
virada para a parte do Leste, outra para o Norte, outra
que olha para o Oeste, e outra para o Sul, de cujo marco
mandou se continuace a medição , pello que logo poz o
Arrumador a Agulha sobre o cume do dito marco e fes
fixo a ponta da Corda e a mandou estender pello seu
Ajudante pello rumo do Oeste , pello caminho que os tri
lhadores hião abrindo e se medio por este lado do Sul do
Rio e pello rumo já referido do Oeste sinco legoas se
gundo foi declarado pellos medidores e tiverão fim
bem nas pedras da primeira Cachoeira do Rio e de que
se fas menção antecedentemente, e informandoce o dito
Ministro de mim Escrivão pello assento que hia fasendo
das braças que se hião medindo achou estar serto na
forma declarada pellos ditos medidores, pello que man
dou dar por suspensa a medição por este rumo e que
se seguice pello outro que devia ser o do Sul e que em
aquelle logar ficasse servindo de marco as mesmas pe
dras da Cachoeira do Rio ; e continuandoce a medição
pello rumo Sul se medio pella mesma forma duas legoas
por este lado e tiverão fim bem no beiral do Riacho
Doce e mque finaliza o termo da Villa , pello que mandou
o dito Ministro suspender a medição por aquelle rumo e
que como não havia naquelle lugar pedra alguma se
tomace huma arvore, como se tinha athé o presente pra
ticado, e demarcado com huma arvore chamada Caja
rana que existe bem ao beiral do mesmo riacho Doce,
em cuja Arvore se exculpio huma cruz em signal de
demarcação.

E continuandoce a medição pello rumo de Leste se


ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 371

medio por este lado sinco legoas de distancia e foi ter


fim bem ao pé de hum marco de pedra que existe tam
bem ao beiral do mesmo Riacho Doce que he a divisão
do termo da Villa, ficando exclusive o mesmo Riacho,
e continuandoce na medição pelo rumo do Norte se
medio por este lado duas legoas que tiverão fim bem
no pé do primeiro Marco que se cravou nesta medição
por se ter medido toda a terra que pode ser occupada
pellos moradores com lavouras, livres das que forem me
didas para rendimento do Conselho e logradouro da
Villa, pello que mandou o dito Ministro suspender a
medição e que para de tudo assim constar, se fizece este
auto em que se asignou com os medidores a saber ; de
seu signal costumado e os dous Ajudantes de huma
Cruz, por não saberem ler nem escrever, estando a tudo
presentes por testemunhas Marcelino José Gonçalves ,
Domingos Machado , e Bernardino Franco, que tambem
se asignarão na sobredita forma e eu Antonio Manoel da
Silva Villa Lobos, Escrivão da Camera que por impe
dimento do actual da Correyção Jozé da Costa e Silva
Pinto os escrevy.-Machado- Manoel da Costa do Nas
cimento- Signal de João + Vieira-Signal de João +
Dias-Marcelino Jozé de Oliveira- Signal de Domin
gos Machado- Signal de Bernardino + Franco.
Aos quinze dias do mes de Novembro de mil e cete
centos e sesenta e nove annos nesta Villa de Porto Ale
gre fis estes autos conclusos ao Doutor Dezembargador
Jozé Xavier Machado Monteiro, Ouvidor Geral desta
Comarca de que fis este termo ; Eu , Jozé da Costa e
Silva Pinto Escrivão que os escrevy .
Julgo por sentença a medição e demarcação do
termo e districto desta Nova Villa de Porto Alegre e das
terras na sua creacção aplicadas para logradouro do
povo e para patrimonio do Conselho e para as lavouras
372 LIMITES

dos moradores, cuja medição e demarcação mando se


cumpra e guarde, para o que intereponho a minha autho
ridade e Decreto Judicial .
Villa de Porto Alegre, dezaceis de Novembro de mil
setecentos e sesenta e nove .-Jozé Xavier Machado
Monteiro.

N. 40

Documentos que provam como era


legitima a jurisdicção da Bahia sobre S.
Matheus, villa da sua comarca e capitania
de Porto Seguro . Por elles tambem se vê
como havia sido justa a previsão do
marquez de Pombal quando deu nas In
strucções ao primeiro ouvidor de Porto
Seguro tão precisas ordens para o arro
teamento do districto de S. Matheus.
Todos elles demonstram ainda que
não tinha sido improficno o labor dos dois
ouvidores Thomé Couceiro e Xavier Mon
teiro, pois os cereaes alli plantados por
insistencia dos mesmos eram necessarios
á alimentação da capital, e delles pouco
tempo depois da acção daquelles ouvi
dores, já fasia o Governo da Bahia questão
importante.

Para o Ouvidor da Comarca de Porto Seguro.


Não sendo bastantes as ordens que tenho expedido
para essa sua comarca ao fim de evitar o extravio das
farinhas e para que venhão em direitura para esta ci
dade para soccorro do povo , me consta continuão da
mesma sorte ; e porquanto he necessario dar a ultima
providencia pois que já vae havendo desobediencia no
cumprimento das ordens do Governo, ordeno a V.
Mercê, como ouvidor dessa comarca, passe a villa de Ca
ravellas e principalmente a de S. Matheus, donde não
tem vindo huma só embarcação e proceda contra os ex
traviadores e atravessadores deste genero que achar cul
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 373

pados e dê as providencias que julgar convenientes


4+ para
a boa remessa deste genero. Deus guarde a V. Mercê..
Bahia, 9 de Julho de 1793.-D. Fernando José de Por
tugal.
Para o Illm. Snr. Ouvidor da Comarca de Porto
a;
Seguro.
Archivo Publico da Bahia, livro 28-Cartas do Go
verno 1793-1796.

Para o Juiz ordinario e mais vereadores da Camara


da Villa de S. Matheus.
Logo que recebi a carta de V. Mercês de 15 do mes.
passado fiquei persuadido de que V. Mercês abusando
das ordens que se lhes expedirão por este Governo , e
pelo ouvidor da Comarca, continuavão no extravio das.
farinhas, porque delle se mostrava a grande repugnan
cia que tinhão de faserem condusir para esta cidade a
procura para o soccorro deste Povo, pretextando a falta.
de embarcações que ahi havia para a conduzirem , por
serem estas da capitania do Espirito Santo e ancieni
dade do soccorro de vestuario e sustento que experi
mentarião os povos da villa, se lhes faltasse a communi-
cação com os da referida capitania e ainda mais merece
rão este conceito quando me foi entregue huma represen
tação de V. Mercês de 10 do mez passado, que acompa
nhou a de 22 de Março que lhes fizera a Camara da Villa
de Victoria pela qual se mostra claramente que o extra
vio se fasia para a capitania de Pernambuco, pois que
se conservavão em necessidade de farinhas e pedião se
remediasse esta, permittindo que as suas embarcações.
a fossem ahi buscar ; e finalmente pela asseveração de
pessoas que se achavam nesse districto quando delle sa
hirão muitas embarcações carregadas e destinadas apa
rentemente para esta cidade que até agora não derão en
374 LIMITES

trada, entre as quaes forão a lancha de que he mestre e


dono Domingos Gomes com 1.300 alqueires de farinha,
a lancha de que he mestre Manoel Duarte e socio de
Antonio Joaquim e Luiz Duarte com 1.500 .
Contentaram-se V. Mercês com remeterem as listas
das cóvas de mandiocas plantadas pelos lavradores e
afectarem a podridão dellas com a remessa da lanchi
nha mandada com guia do Juiz ordinario de 13 de Junho
que transportou 85 alqueires de farinha de diversas en
comendas ; e até agora tem faltado inteiramente a exe
cução das minhas ordens e das que lhe expedio o seo ou
vidor, atrevendo-se a porem na minha presença a falsos
pretextos para se desculparem e iludirem as ordens su
periores ; pelo que tenho unicamente de diser a V. Mer
cês que só espero se finde a monção presente e que não
venhão embarçõens com farinhas para esta cidade para
dar o castigo que merece a desobediencia de hums vas
sallos que tendo obrigação de soccorrer os habitantes
de sua capital com os generos da sua agricultura pelos
soccorros da administração da Justiça que della lhes re
sulta e defença que se manda quando são atacados pelo
gentio e o faz por qualquer outro inimigo, praticão o
contrario e se occupão unicamente no sordido interesse
.
de extraviarem para diversas capitanias.
Deus guarde a V. Mercês .
Bahia, 10 de Julho de 1793.-D. Fernando José de
Portugal .
Para o Juiz ordinario e mais vereadores da Villa de
S. Matheus.
Archivo Publico da Bahia- Cartas do Governo,
28-1795-1796.

Para a Camara da Villa de São Matheus.


Nesta occasião vae para essa villa o Barco de que
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 375

he mestre Francisco Luiz e dono o Capitão José Fran


cisco do Couto, o qual se destina a carregar farinhas
para esta cidade ; e porque me representou o dono o pre
juiso que já tivera em vir este mesmo Barco sem carga,
ficando no porto outro de que he mestre Antonio José
Rodrigues Motta : Ordeno a V. Mercês que sem perda de
tempo mandem carregar os ditos dois Barcos para virem
.
em direitura a esta cidade, sem que na sua expedição
usem das cautelas que tenho recomendado , por estar in
teiramente persuadido que os ditos Mestres a não ex
travião para fóra desta capitania, regulando- se V. Mer
cês na compra do dito genero, de sorte que aqui se pos
são vender pelo preço de 6 tostõens que actualmente
corre nas tulhas desta cidade ; e não experimentem pre
juiso os compradores.
Deus guarde a V. Mercês.

Bahia, 22 de Julho de 1793.-D. Fernando José de


Portugal.
Para os officiaes da Camara da Villa de S. Ma
theus.

Para o Ouvidor da Comarca de Porto Seguro.


Remeto a V. Mercê as copias das representações do
'Capitão Antonio Alvares Chaves e da Camara da Villa
de S. Matheus sobre a duvida que encontrou a minha
ordem que lhe dirigi para se proporem os officiaes das
ordenanças para a dita villa na conformidade das Reaes
Ordens ; e ordeno a V. Merceê que á vista dela proceda
a hua exacta averiguação para me informar logo do que
a este respeito achar.
Deus guarde a V. Mercê.
Bahia, 4 de Novembro de 1785.- D. Rodrigo José de
Menezes.
376. LIMITES

Para o Juiz ordinario da Villa de S. Matheus .


Tenho ordenado ao Juiz ordinario da Villa de Ca
ravellas que faça logo sahir todas aquellas embarcações .
que se não poderem imediatamente carregar de farinhas .
para serem carregadas nessa Villa de S. Matheus e se
guirem viagem para esta cidade e V. Mercê determine
sem perda de tempo logo que aportarem nesse porto as
ditas embarcações mandadas pelo dito Juiz ordinario as
aprompte V. Mercê com a carga da dita farinha e as .
obrigue a sahir com guias em direitura para esta cidade
ficando certo que em qualquer omissão procederei
contra V. Mercê.
Deus guarde a V. Mercê.
Bahia, 21 de Março de 1786.-D. Rodrigo José de
Menezes.

N. 41

Documentos assignados pelo emi-


nente geographo Antonio Pires da Silva
Pontes, Governador do Espirito Santo nos
quaes vem declarado correr aquella capi
tania do rio Doce para o Sul.

Illm.º e Exm.º Snr.


Meo Snr. de toda a minha veneração , e meo Amo..
A noticia de se achar V. Ex.ª incomodado na sua pre
cioza saude foi o detrimento maior, que experimentei
na minha digressão ás Escadinhas ; e como agora sei ..
que V. Ex.ª está restabelecido, vou com o maior prazer
fazer prezente a V. Ex.", que estão fora todos os obsta-
culos da Barra do Rio Doce, e das correntezas delle ..
e que por mercê de Deos inda sem contar com hú só ef-
feito do preciozo das Minas Geraes, só o descricto desta
nova Capitania, das Caxoeiras para baixo do Rio doce :
forma a mais bella Provincia das Maritimas do Brazil ...
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 377

O Rio hé magestozo, desde que passa as Serras das


ditas Escadinhas, e tem de comúm hu terço de Legoa
de Largo povoado de profuzão de Ilhas , que não alagão
pelas enchentes . A margem de Norte he toda de Terra
levantada cuberta de Arvoredo de construcção . A do
Sul, de varzeas, e taboleiros frescos : as Arvores reves
tidas de trepadeiras, que fazem as mais picturescas ima
gens da fecundidade. Os Rios , que vem ter a Capital do
Doce, e o grande Lago do Gyparaná, tudo isto forma
hum thezouro daquella riqueza, que não acabão em
quanto durar o braço do homem. O Exm.° Snr. Ber- '
nardo Jozé de Lorena, pelo seo notorio patriotismo , per
tendeo vir em pessoa ; porem por falta de saude mandou
hum Tenente Coronel de Cavallaria Miliciana com o
qual ajustei, havendo -o V. Ex.ª por bem, a Devizão pelo
outeiro, que separa as agoas do Rio principal de Souza ,
ou Guandú das do Maynassú . Tudo fis com os Pedes
tres, que levão a Pistola propta no Correão, e o remo
nas maons. Ficou Destacamento forte, e aprazivel no
Porto do Souza ; e na boca mais boreal do Gyparanã,
que chamão Barra seca está o de S. Francisco Portugal ;
e assim ficão defezos os extravios de ouro , ou Diaman
tes, que tanto recomendão as Instrucçõens, que tive
ordem de aprezentar a V. Ex.ª , e ter o cumpra- se dellas .

A tomada das Fragatas Francezas, que ameaçavão


esta Costa, me deo tempo de hir em Pessoa ás Escadi
nhas, e levantar hu Mapa daqui até lá, que nada tem de
ruim senão o ser peça minha, mas dá hum grande so
corro, para fazer idea disto. Em tendo lugar remeterei
a V. Ex.ª essa certidão da minha boa vontade .
Sou aos Pés de V. Ex. Illm .° e Exm.º Sr. D. Fer
a
nando Jozé de Portugal. De V. Ex. Fiel criado e sub

L 48
378 LIMITES

dito obediente Antonio Pires da Silva Pontes. Villa da


Victoria, dezaseis de Novembro de mil oitocentos.
Está conforme o Original. Documentos da Bahia—
N. 21040. Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 15
de janeiro de 1913.-O 1.° Bibliotecario-Director.- Edu
ardo de Castro e Almeida.

Senrs. Gomes & Mello

Muito meus Senrs. e Amigos . Agora chego de con


cluir a Abertura do rio Doce franqueada por Lanchas a
sua barra em o Novo Porto da Regencia Augusta ; e
della athé as Escadinhas e Porto do Souza, que fas o
Limite das duas Capitanias , aonde estabeleci hum Des
tacamento guarnecido d'Artilharia, e parece com elle
ter lançado freio ao Gentio, que por alli passava do
Norte do rio para vir infestar toda esta Nova Provincia.
As mattas por toda a margem do Norte do rio são as
mais prodigiozas de construção , e afora o bem que o
Povo de Minas espera tirar desta Capitania só com o
destricto do Rio Doce a julgo a mais rica, e a mais
feliz .

Por este mez espero se estabeleça o Registro de Lorena


com que passe o ouro e os mais generos ; ouvi á gente
das Minas que o negocio da Bahia lhe he melhor, que o
do Rio de Janeiro o que muito estimei. Aqui ficão na
Fazenda Real os novos effeitos, e espero vá logo o pro
ducto .
Victoria, 5 de Novembro de 1800.-Antonio Pires da
Silva Pontes.
Está conforme o Original. Documentos da Bahia
N. 21085. Lisboa, Arquivo de Marinha e Ultramar, 15
de janeiro de 1913.-O 1.° Bibliotecario- Director- Edu
ardo de Castro e Almeida.
ENTRE A Bahia e o eSPIRITO SANTO 379

Pre-memoria sobre a Capitania do Espirito Santo


e objectos do Rio Doce

Achando-se franqueada a navegação do Rio Doce,


de cuja impossibilidade se tinha formado huma opinião
constante nésta Provincia, e della para a Bahia, se con
tinua de prezente em languor, sobre os effectivos bene
ficios que ella traz por bem leves cauzas, que serão
muito faceis de remover. Primeiro . A gente desta Pro
vincia se acha toda acomodada lavrando algodão e al
guns assucar e milhos, com a venda dos quaes generos,
que exportão para a Bahia e Rio de Janeiro, supprem
as necessidades do vestuario europeo, sendo- lhe suffici
ente a farinha de mandioca da Provincia, e o peixe de
sua costa para se manterem ; e sendo rodeada de Gentio
inimigo todo o perimetro da Colonia, desde a Barra do
Rio Doce , athe o da Barra da Parahiba do Sul, não se
entranhão os Colonos para o centro do sertão ; além de
que pella riqueza da pesca nos baxos e esparceis do oce
ano e dos grandes lagamares e lamedroens que acom
panhão a costa, não se retirão já mais das suas vizinhan
ças e se estão disputando sobre indivisos hus com
outros , em continuo litigio, mas nunca deliberando- se a
hir formar estabelecimentos onde os mattos estão sem
dono, e a abundancia abandonada ao corpo do Gentio.
Segue-se desta dispozição, que não hé a Gente da
Capitania a que ha de povoar o Rio Doce , mas devem
ser cazaes, e familias descidas das Minas , ou vindas das
Ilhas dos Açores , ou declarando- se que este Governo
deve comprehender a Ouvidoria Geral ou Comarca,
como he de crêr que seja a Intenção Real , na creação do
Governo. Então ha nos Campos dos Guaitacazes, co
marca do Espirito Santo, muita gente, sem lavras, e
que se virão estabelecer para o Rio Doce , logo que eu os
governasse ; porque assim neste mixtiforio, em que se
380 LIMITES

acha a Colonia padece o Real serviço . Esta parte da


Comarca, que pertence ao Governo, consta de vinte e
duas mil pessoas ; e outra parte da Comarca, que hé
composta das Villas de S. Salvador, e de S. João da
Praya ambas na margem Austral do Rio de Parahiba,
consta de mais de trinta mil Pessoas, que estão apinho
adas ; e que darião quatro , ou cinco mil habitantes para
começar a Povoação do Rio Doce ; e sendo estabelecida
a Ouvidoria Geral da Capitania do Espirito Santo, a
Beneficio dos Vassallos, pella distancia em que fica o
Rio de Janeiro e Bahia deste ponto Central , parece que
na Creação do Governo para a Defeza da Costa, e Es
tabelecimentos Economicos, e Policia Geral a que deve
tender a Colonia, não deve ser mais contrahido o Go
verno do que a Correição. Isto foi já expendido nos
meos Officios, sobre a Navegação directa para o Reyno,.
com todas as Circunstancias perpetuas do Local , e das
Monções , que exigem seja o Porto do Espirito Santo o
Depozito dos effeitos do Rio Parahiba ; asim como o
serão dos do Rio Doce, em que a fecundidade das Terras
de Lavoura, e imensidade das Mattas de Construcção
estão intactas thé hoje ; e o Grande lago Gyparaná e
as muitas Ilhas que abraça em seo extenso Leito, formão
hum , estabelecimento tão superior ao Rio Parahiba,
quanto hé o Excesso de Escalla de Rio a Rio em todas
as suas dimensõens, inda sem refletir-se, que o grande
Canal interraneo , vai tornar maritimas as Serras mais
interessantes das Minas Geraes, como o Serro do Frio,
a Comarca do Sabará , e húa grande parte do de Villa
Rica .

O outro meio imediato de Povoar o Rio Doce , he


o que se praticou no povoar Matto Grosso que forão mo
ratorias de dous annos e meio, para os homens de fa
brica, que se viessem estabelecer ; Porque os dictos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 381

donos de Fabricas se atrazão e empenhão , não por falta


de mão d'obra, mas pella falta de Ouro nas Terras que
revolvem ; e que pella Lotaria a mais ruinoza na oppi
nião do Economista Smith vão as Cegas avançar as suas
despesas ao incognito da Mina que não achão : Estes
homens correndo com os seus trabalhos nas Margens
do Rio Navegavel, mesmo do Rezisto de Lorena para
cima e sem depauperar com a Emigração a Capitania
das Minas Geraes, exportarão os Viveres, que em qua
tro, e tres dias fação pôr no Occeano taes como o milho,
o feijão, e outros que no Estado actual da Capitania das
Minas são de insignificante valor, e o café, o algodão,
que pella conducção ás costas de animaes muito dispen
diozos, se transportão para o Rio de Janeiro ; e por isso
.com grande detrimento para o lavrador, no baxo preço
com que sahe da sua mão primitiva estes preciozos ef
feitos , virão com o valor que adquire nas praças Mari
timas a beneficio dos mesmos , e se indemnizarão sem
a exclusiva de trabalhar em Minas de Ouro , por serem
conhecidamente auriferas todas as margens do Rio
Doce, das Escadinhas ou Porto de Souza para Cima.
Estas vantagens, que podem ser imediatas , e que favo
recendo a Povoação do Canal do Rio , trazem incalcula
veis riquezas e comodos aos Vassallos de S. A. Real,
estão mesquinhadas por fata certamente de hua mo
mentanea deliberação ; e a que nada se oppoem senão
algum Capricho nas Pessoas honestas , e algua appre
henção interessada nos que introduzem o Comercio das
Bestas e Azemolas de Carga de S. Paulo para as Minas,
que por este meio lhes ficão de baxo preço , não deve em
baraçar esta fortuna.
A posse em que está a Praça do Rio de Janeiro de
abranger os fructos desta Capitania e mormente dos
Campos, porque em pondo as Cazas convenientes na
382 LIMITES

Capitania com maior força , assim como as tem em quan


tias modicas actualmente, elles mesmo experimentarão
o melhoramento seguindo as condiçõens da Providen
cia no Curso da Costa e pozição dos Portos, que por
hora se vêm obrigados a contrariar, levando para o sul
o que afinal se hade transportar para Norte e sugeitos
a Cabotagem de Cabos, e as delongas que elles motivão
na Alta Navegação, e no regimento impreterivel das
Monçõens quando deste Porto, que jaz no Centro da
Costa, he tudo franco para a Europa, e para os Portos
do Norte do Brazil, como Pará e Maranhão .
Nada mais he precizo, dadas as Ordens, do que
hum Governador honrado, e que tenha melhor saude
do que eu, porque a tenho de todo arruinada e hum Re
gimento para este Governo, que athé agora está sem elle,
e pode ser modelado pellos das Capitanias de Pernam
buco, e do Rio de Janeiro, emquanto forão subordinadas
ao Governo Geral da Bahia, com os additamentos ou
emendas necessarias para a Povoação do Rio Doce , Na
vegação directa, e Faculdade de Deliberar nas urgen
cias Contingentes.
Villa da Victoria da Nova Provincia da Capitania
do Espirito Santo a 25 de Agosto de 1802.— Antonio
Pires da Silva Pontes.
Está conforme o Original. Documentos avulsos da
Bahia N. 23.822 . Lisboa , Arquivo de Marinha e Ultra
mar, 16 de Janeiro de 1913.- O 1.° Bibliotecario- Dire
ctor.-Eduardo de Castro e Almeida.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 383

N. 42

Carta Regia em que vem reconhecida


a legitimidade da jurisdicção da Bahia
sobre S. Matheus e seu territorio.

D. João etc. Faço saber a vós, Capitam e Gover


nador Geral da Capitania da Bahia que por parte do
Capitam Severo José da Silva, morador na villa de S.
Matheus, comarca de Porto Seeguro, se me representou
que elle obtivera por sesmaria para cima do Môrro cha
mado das Pedrinhas tres legoas de comprido e hua de
fundo das quaes tomara posse, como certificava o Al
vará e a certidão que offerecia ; Pedindo que Me di
gnasse confirmala. E tendo visto seu requerimento e
ouvido o Desembargador Procurador da Minha Real Fa
senda Sou servido ordenarvos informeis com vosso pa
recer, juntando copia das ordens que vos authorisão a
conceder sesmarias com fôro e as que regulão nessa ca
pitania a extensão e fundo das Terras que assim se con
cedem. O Principe Nosso Senhor o mandou pelos Mi
nistros abaixo assignados do seu Conselho e do do Ul
tramar. José Monteiro de Carvalho Oliveira a fez em
Lisboa a tres de Outubro de 1802. Desta cem reis.
O secretario Francisco de Borja Garção Stochler
a fez escrever.-Lazaro da Silva Ferreira-Nicoláo de
Miranda Silva de Alarcão .
Archivo Publico da Bahia, livro 90- ord . reg.
1802.
384 LIMITES

N. 43

Documento existente em Lisboa que


prova como era certa , reconhecida, incon
testavel e incontestada a jurisdicção da
Bahia sobre S. Matheus, villa da sua
comarca de Porto Seguro.

Illm.º e Exm.º Senhor.


No meu Officio N. 86, de 21 de Outubro de anno
passado, que acompanhou huma Relação dos Officios
Milicianos desta Cidade, que se achavão incursos na
pena de baixa , por se não confirmarem ños Postos á que
havião sido providos por este Governo, no prazo deter
minado na Provizão do Conselho Ultramarino de 28
de Maio de 1795 , expuz a V. Ex.ª os inconvenientes , que
rezultavão de se observar aquella Ordem ; supplicando ,
tanto a bem do Real Serviço , como dos mesmas Offi
ciaes, se dignasse Sua Alteza , por effeitos da Sua Real
Grandeza e Benignidade, Mandar-lhe expedir as suas
Patentes , relevando para este effeito , por esta vez so
mente, a pena, que se lhes havia imposto .
Pelas Listas incluzas , que mandei extrahir dos Li
vros da Secretaria deste Governo , será prezente a V.
Ex.ª o numero dos Officiaes, tanto Milicianos como de
Ordenanças, desta Capitania, que se achão naquellas
circunstancias , e que me rezolvi a mandar-lhe dar baixa
pelas razõens que então ponderei ; e pela dificuldade de
os substituir por outros em hum Paiz em que se ignora
n'essa Côrte a falta que ha de Homens brancos para o
serviço da Tropa de Linha, para os diversos empregos,
e vicios, e finalmente para os Corpos Milicianos , e u
Ordenanças, daquella qualidade.
Bahia, 15 de Novembro de 1804. Illm. ° Exm.º Se
nhor Visconde de Anadia. Francisco da Cunha Menezes .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 385

Lista dos Officiaes dos Terços das Ordenanças


desta Comarca, providos por este Governo, que ainda
não aprezentarão as suas confirmaçõens, em virtude da
Provizão de 28 de Maio de 1795.

Comarca de Porto Seguro

Lista dos Officiaes do Terço das Ordenanças da


Villa de Porto Seguro providos por este Governo, que
ainda não aprezentarão as suas confirmaçõens em vir
tude da Provizão de 28 de Maio de 1795. Francisco
Faustino Corréa, Alferes da Quarta Companhia, por
Patente de 1º de Junho de 1796.
Lista dos Officiaes do Terço das Ordenanças da
Villa de Caravellas providos por este Governo, que
ainda não aprezentarão as suas confirmaçõens, em vir
tude da Provizão de 28 de Maio de 1795. Jozé Gomes
Daniel, Capitão da Companhia dos homens pardos , por
Patente de 5 de Dezembro de 1795.
Lista dos Officiaes do Terço das Ordenanças da
Villa de S. Matheus providos por este Governo , que
ainda não aprezentarão as suas confirmaçõens, em vir
tude da Provisão de 28 de Maio de 1795. Sevéro Jozé
da Silva, Capitão da Companhia dos homens pardos, por
Patente de 2 de Julho de 1799.

Ilm.º e Exm . ° Senhor.

Entre os Officios que encontrei no Archivo da Se


cretaria deste Governo , expedidos ao meu Antecessor
por essa Secretaria de Estado ha o de n . 141 , e data de
12 de Setembro de 1805 , para se remetter huma exacta
Relação de todos os Oficios de Justiça, e Fazenda que
ha nesta Capitania, com declaração individual, não só
do que cada hum pode render comprehendendo os res
pectivos Ordenados e Emolumentos, mas tãobem dos
49
386 LIMITES

Donativos e Direitos que elles costumão pagar a Real


Fazenda ; declarando outro sim em separáda Relação
quanto a mesma Real Fazenda perde actualmente pelas
Mercês de Officios, feitas com izensão dos referidos Di
reitos e Donativos . Em execução desta Real Ordem,
remetto a V. Ex.ª as Relaçõens nelle expecificadas .
Deos guarde a V. Exm.ª. Bahia 23 de Mayo de 1806.
Illm . Exm . Senhor Visconde de Anadia . Conde da
Ponte.

Relação de todos os Officios de Justiça , e Fazenda


da Capitania da Bahia, em que se descrevem as avali
açõens e direitos concernentes.
Comarca de Porto Seguro, Villa de Porto Seguro :
Escrivão da Ouvidoria e Correição , Provedoria dos Re
siduos, e Auzentes, Meirinho da Ouvidoria e Provedo
ria, Escrivão da Camara e Orfãos, Tabellião e Escrivão
d'Almotaçaria, Alcaide , e Carcereiro, Inquiridor Conta
dor e Destribuidor, Repartidor, e Avaliador.
Villa de Caravellas : Tabellião , Escrivão da Camara .
Orfãos e Almotaçaria , Alcaide, e Carcereiro , Seu Es
crivão.
Villa de S. Matheus : Tabellião Escrivão da Camara
Orfãos , e Almotaçaria.
Bahia 20 de Março de 1806.-João Ferreira da Cunha
e S. Paio.
Estão conformes os Originaes. Documentos avulsos
da Bahia, Março de anno de 1806. Lisboa , Arquivo de
Marinha e Ultramar, 16 de janeiro de 1913.— O 1.ã Bi
bliotecario-Director- Eduardo de Castro e Almeida.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 387

N. 44

Documento que prova ser a Capita


tania de Porto Seguro do rio Doce para
o Norte.

ARCHIVO DO CONSELHO ULTRAMARINO (* )

Correspondencia do Governador da Bahia, 1783


a 1807 Documento n. 242, pg. 186 “ Inst.
Hist. Geogr. Braz. ”

1805- Illm . Exm . Sr. Francisco da Cunha Menezes .


Remetto a V. Ex. o Mappa da Costa, seus rios e
barras e seus terrenos, na melhor forma que os pude
descobrir, desde a Barra do Rio Doce até a divisão da
Capitania de Ilheos , entre o Rio de Belmonte e o de Pa
tipe, como se vê do mesmo ; e tambem o diario do Rio
Grande até o encontro da barra do Giquitinhonha e
Aressuahy em Minas, e tudo quanto vae escripto e de
marcado é certo, e todos os obstaculos relatados no
mesmo diario, que precisamente os deve ter na subida ,
por carecer estar o Rio bem vasio para se poder nave
gar, debaixo de todo o trabalho, sendo certo que tendo
qualquer repiquete d'agua, fica mais facil a sua nave
gação, mas a muita corrente não deixa dar passo adi
ante, nem ha varas que o agoentem.
Emquanto ao Rio, pelo diario e suas notas verá V.
Ex. , o que precisa : o seu terreno, pela parte do Sul se

( * ) Não são sem importancia para a historia e geographia


dos nossos Estados os roteiros parciaes feitos das costas do Bra
zil. O presente denota o cuidado e minucias com que o levaram a
effeito. Projecta luz sobre a ethnographia das duas antigas capi
tanias do Espirito Santo e dos Ilhéos, demais na zona descripta
encontra-se vasta superficie de terreno quasi inhabitada. Sobre ella
nestes ultimos annos se tem despertado o interesse publico pela
existencia de areias menaziticas.
(Nota da Commissão de Redacção. ) Transcripto da " Revista
do Inst. Geog. Bras. ", tomo LXVIII- Part. 1. - 1907.
388 LIMITES

pode fazer uma boa estrada para todo o Commercio e


a mesma navegação , bem facil em tempo proprio, tendo
na Cachoeira Grande povoação para ter armazens de
uma a outra parte, que só neste lugar de sorte nenhuma
pode ser o subir embarcado, fui sahir a Minas Novas
distante de Villa Rica cincoenta e duas leguas e ficaram
os moradores daquelles arredores tão contentes pelo
descobrimento , que se possivel fosse se faça estrada ,
concorrem para ella pelo vexame em questão de nem
comprarem nem venderem, que o seu negocio é só algo
dão e pannos do mesmo , que mandam para essa cidade
com jornadas muito trabalhosas, o que sendo por esta
Villa Rica fica muito mais facil, e os mesmos gados e
com o seremos nesta Comarca fertilizados.

Este descobrimento, me disse o Capitão Regente


da Aldea dos Indios de Tocajós de Lorena, encarregado
na domação delles e da mesma guarda do Giquitinho
nha, que ha desoito annos emprehendem nelle, pois , já
desceram com tresentos homens, porém o não poderam
fazer, e só tem chegado a S. Miguel notado no mesmo
diario, e vinham de vinte e cinco legoas a ver a famosa
canoa em que fui embarcado , a qual é de carga de
cento e vinte arrobas , e todos aclamam a V. Ex. como
Redemptor daquellas Minas pelas mandar descobrir,
chamando-se a si inteiramente frouxos . Persuadem -se
que eu só com expressa ordem de Sua Alteza Real, po
deria entranhar-me tanto por Minas dentro por um Rio
prohibido e vedado como fosse o Gequitinhonha ; mas
eu fiz ver que sé naveguei pelo Rio Grande de Belmonte,
até o fim delle como me era mandado , e como não topei
outro até as duas referidas barras , ali o dei por findo ; e
nem povoado que me noticiasse a Capitania e sua di
visão, e bem se mostra que o Rio vedado , acaba onde fez
barra, pois, dessa para cima é que tem, na distancia de
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 389

duas legoas e meia, o destacamento para a sua guarda,


e na mesma aberta sem distancia nenhuma, está da
parte do Sul outra c'om' nome de Arussuahy, forman
do-se o dito Rio Grande destes dous, de sorte que se
capacitaram assim ser direito. Tambem me disse o
dito Capitão Mór ser a divisão na Serra da Cachoeira
Grande, ou abaixo em correspondencia das escadinhas
do Rio Doce ; a este dizer lhe respondi que nem eu nem
elle nos pertencia essa demarcação, que seria o que fosse
mandado a quem competia, e assim ficámos e me trata
ram com muita honra e hospitalidade e me fizeram
prompto soccorro para o meu regresso , o que tudo sa
tisfiz ; e querendo eu trazer um pratico das pedras, que
tendo o Rio abundancia d'aguas, carecia ter o coheci
mento da sua fundura, para evitar os perigos pelas
grandes correntes ; não só me deu o pratico como mais
sete Companheiros , onde vieram dous pedestres pagos
do Rey, com o partido se o Rio abaixasse , que da Ca
choeira Grande podessem voltar em uma canoa , o fi
zessem, e senão que os trouxesse para baixo e fossem
no tempo competente quando eu visse que era monção ;
quiz me escusar deste incomodo porém o não pude
fazer, e com muito gosto me acompanharam, e aqui se
acham muito desanimados para subirem, se se lhe não
der gente até S. Miguel, onde é meio caminho, a isto só
V. Ex. determinará o que devo fazer.
A navegação está descoberta, perdem o favor do
gentio pela paz que comigo fizeram , e hindo gente da
comitiva que conheçam, levando alguma ferramenta
e bogingangas os não offendem, pois, para me evitar
de trazer alguns, lhes disse que havia voltar, a mandar
The feramenta e rosarinhos para as mulheres ; respeito
a este descobrimento tendo dito o que basta a V. Ex .,
dará as providencias que vir sam uteis, como tambem
390 LIMITES

nesta demarcação da Capitania dos Ilheos , que estando


situados mais de vinte moradores nas terras desta Villa,
não querem obdecerem nem á repanhas nem á Justiça,
e menos pagarem o dizimo do que plantam, e só querem
estar a reveria sem domicilio, e assim espero de V. Ex.
a que se junte das duas Comarcas para se dividir esta
demarcação e o mais que devo fazer.
Eu E. Sr. queria ter o gosto de mesmo ser portador
do que fiz, porém me acho impossibilitado de o poder
fazer no presente, por querer levar comigo uma suma
quinha que aqui deixei para carregar de madeiras e fa
brical-a, para nos fins de maio ou junho hir beijar as
mãos a V. Ex. , sendo que seja servido dar-meesta li
cença, a qual espero, e no entanto fico destacado só a
ordem de V. Ex.; só peço perdão da demora e mal es
cripta, pois nestes paizes não tenho quem o faça melhor.
Villa de Belmonte 28 de janeiro de 1805.- De V.
Ex. subdito obediente, João da Silva Santos.

Mappa

Mappa e descripção da Costa, Rios, e seus Ter


renos de toda Capitania de Porto Seguro , e até onde
poden chegar Sumacas e Canoas e Lanchas , com seus
fundos, feito e examinado pelo Capitão João da Silva
Santos, por ordem que teve do Illm. e Ex. Sr. Francisco
da Cunha Menezes , governador e capitão general da
Capitania da Bahia, de 5 de junho de 1802 , principiada
em abril de 1803, e do Sul para o Norte.
Barra do Rio Doce , divisão da Capitania do Espirito
Santo, qual se acha na Latitude 19° 33 e Longitude
344° 45.
Este Rio Doce , a sua barra, é das mais perigosas
que tem esta Costa, pelos muitos e grandes bancos que
tem procedidos da velocissima Corrente do Rio , que
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 391

chega a botar agua doce duas legoas pelo mar fora ; o


seu fundo, no Canal, é de treze palmos e chega a quinze
em marés grandes ; a sua entrada corre no rumo de N.
O. S. E., encostado ao pontal do Sul e sempre com muito
risco, em cujo pontal está o destacamento da capitania
do Espirito Santo ; tem a dita barra de largura trez
-quartos de legoa, e da sua foz para cima segue o rumo
-de O. N.O. distancia de sete legoas, onde se acha a en
trada da lagoa Japaraná, que entra na margem do
Norte do mesmo rio, cuja entrada é estreita e corre N.
S., distancia de um terço de legoa até entrar na dita
Lagoa a qual tem para o Norte largura melhor de oito
legoas , e no meio da dita tem uma Ilha que demora
N. S. com a entrada ; o terreno da parte do Norte desde
a barra até este lugar é racanas ; não faço menção do Rio
-até o fim, por me constar de certo que está descoberto ,
e mappeado pelo Governador da Capitania do Espirito
Santo.
Da barra duas legoas ao Norte está uma barreta
que é desaguadouro da dita lagôa e nem para canôas
serve, e ha tempos que sécca. Desta dita barreta para o
norte, distancia de sete legoas, está um riacho chamado
Barra Secca, que desagua de uns brejos que ficam em
distancia de uma legoa ao O—E. , e nesta barra secca
até a barra do Rio Doce tudo é praia, com mattos pelo
comoro e seu terreno mas espessos , e a areia da mesma
praia ruiva e feia e por isso tem o appelido de praia feia.
Neste lugar poz o Governador da Capitania destaca
mento para evitar os extravios que poderiam haver,
pelo dito desaguadoro da mesma lagoa. Segue- se para
o Norte em distancia de sete legoas, o pontal do Sul da
barra de S. Matheus, onde se acham quatro casinhas
que servem de abrigo aos pescadores da Villa, e em
392 LIMITES

toda esta distancia pela costa correm as mesmas con


frontações já ditas.

Barra de S. Matheus e seu Rió

Lat, 18°, 50' . Tem esta barra Long. 344°, 45' sua
entrada ao S. SO . e ao ESO , com fundo de 15 palmos
em aguas grandes, e entre os pontaes tem seus bancos
de areia ; depois da entrada corre ao rumo do NO um
quarto de legoa, onde se acha um Presidio da parte do
norte, com 16 casas de palha e nove de telha , sem for
malidade de arruamento e tem Juiz Veterinario ; serve
este Presidio para acodirem ás embarcações na barra
e fazerem pescarias parasustentação da villa ; e do dito
Presidio para cima em distancia de cinco legoas ao SO,
está o logar denominado Pedra d'Agua, da parte do
Sul, e da mesma parte em meio da dita distancia desa
goa num Ribeirão , que corre NS e finda nos brejos da
barra secca dita, e por elle só navegam canôas peque
nas por embaraçados de páos que cahem das margens.
do mesmo ; o terreno de uma e outra parte do rio até o
dito lugar, Pedra d'Agua, sam brejaes de mangues e
goachumas, o seu fundo é mesmo da barra, e largura
30 braças pouco mais ou menos.
Villa de S. Matheus- Deste logar distancia de tres
legoas a rumo de O. está a Villa de S. Matheus , situada
da parte do Sul em um alto aprazivel ; a planta da
mesma Villa corre E-O como duas ruas e quatro tra
vessas ; a rua direita tem cem casas de telha e 11 de
palha por uma e outra parte, e a outra chamada rua
Nova tem 50 de telha e 14 de palha , as travessas, a pri
meira que confronta com a Matriz chamam travessa
Grande, a segunda travessa da Fonte, a terceira da
rua Nova, e a quarta de José Pereira ; tem esta Villa
de comprimento 200 braças e largura de uma a outra
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 393

rua 25 braças ; está fundada a Matriz entre meio das


duas ruas com frontespicio para O. e a cadêa na
mesma correspondencia para O. 30 braças ; finda a
Villa da parte de O. e fica o Pelourinho defronte da
cadêa, em distancia de 10 braças para E.; da travessa
grande para o porto, desce uma ladeira ao NE, por
onde andam carros e tem de distancias até ao porto 55
braças, e no mesmo porto tem uma rua de casas que
corre E-O, ficando a ladeira no meio que lhe serve de
travessa, e tem 21 casas de telha e 22 de palha ; onde
ha o maior commercio e estaleiro de embarcações.
O rio tem de fundo , na distancia de tres leguas até
ao ancoradouro, nove braças e a largura corresponde
á mesma que tem no lugar- Pedra d'Agua- e o seu
terreno de uma e outra parte, terras proprias para man
dioca e de todas as mais qualidades de plantas, e com
varios moradores afazendados ; e da Villa para cima,
distancia de sete legoas ao mesmo rumo , conserva sem
pre a mesma largura , mas o fundo só serve para peque
nas barcas e canôas, e o seu terreno o mesmo que já
fica . praticado, e tambem cultivado de lavradores
Neste logar se reparte o rio em dous, corre o braço do
sul ao SO. , distancia de seis legoas, onde tropeçam as
canoas nas primeiras cachoeiras, e se foram puchando
á mão até ao numero de oito com pouca distancia umas
de outras, e findou em um campo que ao parecer da
vista tem cinco legoas , e por detraz do dito tem uma
grande serra que corre N. S.; o rio é estreito e o seu
terreno de ambas as partes proprio para agricultura
de mandiocas .

O braço que divide para o N. ao rumo de ONO.,


attendendo ás suas pequenas voltas, em distancia de
sete legoas, se encontra o mesmo que na repartição
do Sul, com o mesmo campo e serra. A corrente deste
50
394 LIMITES

rio desde a sua foz até a repartição dos dous , é de en


chente e vasante, por onde se presume nascer do dito
campo, e não vir de sertões , não obstante ser tudo de
agua doce, e vem a ficar o entre medio dos dous rios,
na latitude de 18° 55' e longitude de 343°, 34'.
Uma legoa ao N. do pontal da barra de S. Matheus.
está o rio chamado Goaximdiba que a usa só serve para
canôas e corre ao rumo de NNO. , distancia de quatro
legoas, e depois corre a O. , e mete-se por um bamborral
ou tramedal, que se não pode chegar ao fim delle, e se
fazem nelle pescarias de peixes de agua doce ; o seu ter
reno da parte de Oeste é brejos, e da parte de Leste é
campo nativo de beira da praia que corre a costa.
Sete legoas em distancia ao Norte está um Riacho
doce, que corre encostado a um areal branco, formado
á beira da praia em um penhasco , em cujo riacho nem
canôas podem entrar, em a qual distancia corre um
campo nativo, encostado ao mato carrasquenho que lhe
fica pela parte de Oeste, e tem o campo de largura
meia legoa. Do dito Riacho para o Norte tres legoas
pela beira-mar, é tudo arêa branca pelo comoro distan
cia de meia legoa, e toda a mais é barreiras vermeelhas
onde bate o mar a que chamam as Velhas, e acabam
em outro riacho chamado das Ostras e navegavel ; e no
terreno desertas tres legoas é mata virgm que vem do
sertão acabar nas ditas barreiras, ficando a passagem
dos caminhantes atravessando a dita mata , que ha trinta
e dous annos mandou oMinistro , que então servia nesta
Commarca, deitar um roçado para mandioca e se plan
tou, afim de se situarem alguns indios para afugen
tarem o gentio que nesta passagem se acoitava ; mas
não teve effeito porque foi mudado logo aquelle Minis
tro, e ao diante cresceu o temor introduzido pela frou
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 395

xidão , de fórma que hoje se passa o dito sitio com muito


risco.

Deste Riacho das Ostras para o Norte está a barra


de Camorujú em que só entrão canôas , e dista do riacho
atraz dito uma legoa e se entranha pela terra dentro
outra legoa ; o seu terreno de uma e outra parte é plano,
a area branca, cercado todo de brejos e mata escura. Do
Camorujú para o N. , distancia de tres legoas , está a
barra do rio MUCURY, que fica na ltitude de 18º-15'
e longitude 344°-43', onde se acha situada a Villa de S.
José de Porto Alegre ; está fundada da parte Norte, pouco
distante do seu pontal, e da margem do mesmo rio for
mada N. S. , com tres ruas e duas travessas ; tendo na
rua Direita 10 casas de telhas e 13 de palha, entre ellas
ima serve de Cadêa, fica a dita rua da parte de Oeste ;
segue-se segunda rua , chamada do Pelourinho, o qual
fica na primeira travessa ; esta rua só tem quatro casas
de palhas , tres de uma parte e uma da outra, e a mesma
rua vai ter á outra travessa, que fica em linha com o
frontespicio da Igreja , que está fundada para a parte do
Sul, e se acha coberta de telha, mas ainda não acabada
de todo ; a terceira rua da parte de léste até a primeira
travessa não tem casa alguma, e da primeira travessa
até a segunda ha cinco casas de palha : tem de compri
mento o seu alinhamento ou risco 120 braças, e de lar
gura 60 ; porém já varias vezes tem o Mar desbarran
cado, tanto que tem derrubado algumas casas , o que
não obstante não se póde negar que o lugar é aprazivel
e o nome lhe é proprio.
A barra deste Rio é uma das melhoras que ha nesta
Commarca , por ser a sua entrada a O. S. O. direita a
MAE do Rio, e levantar agua a 15 e 16 palmos em marés
de aguas vivas , e ter pequenos bancos ; mas para dentro
o seu fundo só dá lugar a ancorar cinco até seis embar
3966 GFZI2 O LIMITES 1 A XATEA

cações, ficando o seu surgidouro defronte da mesma


Villa N. S. com ella pelo mesmo rumo de O.S.O. , atten
dendo'a algumas voltas que tem na distància de 25 le
goas, sempre se conserva o Rio alegre e com largura
de tiro de arcabuz, e pouco fundo desde a Villa até as
dita distancia, que só serve para canôas e pequenas
barcas que demandem de quatro até cinco palmos
dagua, finalisando esta distancia na primeira cachoeira,
que só passam canôas puchadas a mão por uma das mes- '
mas pedras, as quaes vão subindo fazendo uns interva- -
los de umas a outras como taipadas, e pucharam-se 33 .
pela distancia de 10 legoas ao dito rumo , de sorte que
veio a fechar a Serra do N. com a do S. como que tres- :
passa uma pela outra ; e pelas margens das mesmas
Serras desentranha o dito Rio ficando como um ribeirão,
e até aqui chegaram as canoas que não poderam mais.
passar, esporque não se sabiam as serras foram por
minha commisão alguns indios a descobrir, pelas mar
gens do dito ribeirão até a Aldêa do gentio barbaro, que
até aqui se conservam de paz comigo, e acharam cami- ,
nharem até a dita Aldêa seis legoas pouco mais ou menos,
cuja situação fica em um plano entre a serra dita, e outra
que lhe fica a O : em distancia de meia legoa seguindo
sempre o mesmo rumo, não fazendo mensão das miudas
voltas costeando pela margem da dita Aldêa pela parte
do Norte, na qual se achão todos os viveres da primeira
necessidade, como me asseveraram trez mesmos indios,»

e antecedentemente um escravo meu que com o dito
gentio foi fugitivo, e lá se conservou anno e meio e
depois mo tornaram a trazer em junho de 1800 ; e fa
sendo eu consideração pelo que me noticiou o dito es
cravo , tem o milhor de 2000 pessoas, e o mesmo me par
ticipa o lingoa de nome Antonio José, e que dahi a
Minas gastam- se cinco dias, chegando a uma fazenda
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 2397

de um Sr. coronel, que entre os criados que possuia no


meava um por nome Domingos Turuçu, que significa
grande e gordo, e que da tal fazenda a Villa Rica se 'ia
a cavallo ou em carro , denominando -se sempre o Ribeiro
dito ; porque no anno de 1786 em que o dito gentio me
veio de paz a primeira vez , apresentou -me um que entre
elles se fazia Cabo por nome THOмÉ um passaporte fir
mado pelo Sr. D. Manoel quando governou Villa Rica, e
dizia o dito passaporte : ao Cabo Thomé de nação do gen
tio barbaro, deixarão andar esquadrinhando com a sua
patrulha as cabeceiras do Rio Santa Barbara, por onde
venho a coligir ser aquelle o mesmo ribeiro ; e o meu
dito escravo diz que o mesmo indio é cabeça da dita
aldêa, e no anno de 98 veio o dito Thomé a minha fa
zenda, onde se fez de machado, fouces , facões, facas e
o mais que lhe foi myster ; e voltou para dentro em 27
de dezembro de 1799 .

Esta é a informação certa deste Rio que o tenho


avigoradado, bem entendido que até onde chegaram as
canôas dou informação ocular ; porem julgo por certa
a que me deram do dito lugar para cima.
A corrente do mesmo Rio é sofrivel no seu tempo
competente , que é de abril até a fim de setembro ; o seu
terreno por uma e outra parte é terra firme, e das ca
choeiras para baixo são vargens tão anchutas , que se
podem fazer estradas até a beira do mar ; defronte da
villa pela parte do Sul , á sahir a mesma pela do Norte,
e das cachoeiras para cima , as faldas das mesmas ser
ras são sofriveis .

Não faço nesta descripção menção de Ribeiros,


que sahiam ao mesmo Rio pelos não ter, e somente nas
quebradas de alguns morros tem alguns Ribeiros insi
gnificantes ; a dita Aldea do Gentio veio a ficar em al
tura do Pólo, na lattitude 18° 47' e longitude 343-0' .
398 LIMITES

Segue-se para o N. , em distancia de seis legoas , á


barra de Villa Viçosa, a qual se entra O. N. O. e tem
de fundo doses e dezoito palmos no seu cordão , mas
depois delle no seu lagamár tem tantos baixos que por
isso se faz perigosa ; e segue- se este rumo a distancia
de meia legoa, onde se cruza a divisão do rio que vae
para a Villa de Caaravellas, e deste lugar corre a rumos
de S. S. O. e S. outra tanta distancia , a chegar á Villa
de Nossa Senhora da Conceição da Viçosa, que está
situada da parte do Sul distante da Costa e Barra, ao
recto meia legoa, e confronta a mesma villa a rumo de
N. O.; da parte do N. tem um rio chamado Pituassú ,
e desde a barra até ao prinpicio da villa tudo é man
gues.

Formalidade de Villa Viçosa

Tem esta duas ruas estreitas ( digo direitas ) que


correm de E. a O. com o comprimento de duzentas
braças e de largura 50, com quatro travessas em linha
recta ; tem a matriz no meio das duas ruas com o fron
tespicio para O. , toda composta de casas , 20 braças ,
e a segunda travessa passa por detraz da capella Mór ;
a terceira travessa sahe á Praça com frente á Casa da
Camara, que se acha fazendo frente á segunda rua, cuja
Praça tem 30 braças de E. para O. e largura de rua a
rua, e seu Pelourinho posto em lugar proporcionado da
Praça, e meio da segunda travessa á terceira tem 25
braças, e a quarta, que é a ultima ; fica da parte de E ;
chamam-lhe das Larangeiras e dista da terceira 50
braças ; tem em todo este alinhamento, na primeira e
segunda rua, 70 casas de telha e varios chãos devolutos
e na sua primeira travessa tem nove de telha, e da se
gunda travessa até á terceira, que é no canto da Praça,
tem 12 moradas , fazendo frente a duas ruas, e do fim
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 399

da praça até á quarta travessa , tem outras 12 fazendo


a mesma frente ; e todas fazem o numero de 103 , exce
ptuando a da Camara que é de sobrado.
Da Villa para cima corre o rio , em distancia de
duas legoas , de O. S. O. até ao rio chamado Mocuri
zinho, que corre N. S. distancia de trez legoas, e delle
para E. até á Costa do Mar é campo e matos carras
quenhos, e o mesmo campo segue até a Villa de Porto
Alegre correndo ; e o dito rio principal daquelle para
cima corre a O. , distancia de 10 legoas, e se acaba em
dous Ribeiros que vem dos Sertões, e por uma e outra
parte delle são terras proprias e boas para toda a quali
dade de plantas.

Do dito Mucury para cima, distancia de meia le


goa, da parte do Sul a rumo de O. , está o riacho Mo
robá que corre ao S. S. O. e acaba na distancia de trez
legoas, e por elle entrão canôas ; por uma e por outra
parte, ha sitios dos moradores da villa que lavram suas
terras, quaes são proprias para mandiocas , deste para
o caminho de O. N. O. , duas legoas, está o Riacho
chamado Pechoto, da parte do Norte , distancia de uma
legoa ao NN . O. , no qual tem varios lavradores, e por
uma e outra parte tambem tem terras boas para man
diocas ; deste Pechoto para cima, a rumo de O. na dis
tancia de meia legoa , está o riacho da fazenda da mesma
parte do N. e corre a rumo de N. O. até a distancia
de 2 legoas , onde chegam as canoas dos lavradores , que
nelle plantam por uma e outra parte ; até a bocca deste
riacho tem o Rio desde a Villa , o fundo de duas braaças
até duas e meia , e a largura é de 30 braças, e o seu ter
reno por uma e outra parte, á borda d'agua, são man
gues e bamborraes , mas perto lhe fica a terra enchuta
pelo centro .
Do dito riacho para cima distancia de seis legoas,
400 LIMITES

a rumo de O. , se acaba em um bamburral e não pode


passar canôa, e até este lugar por uma e outra parte
sam terras altas, e boas para serem agricultadas , se
bem já tem alguns moradores situados ; a corrente do
dito rio é de enchente e vazante, sem embargo de ser
agua doce até ao riacho Mucurizinho. Não falo em
latitude e longitude porque na barra não falei, por se
não poder demandar em razão dos recifes que tem
por fóra, na distancia de trez legoas N. O.-S. E. com
o pontal do Norte da dita barra.
Desta barra a E. N. E. duas legoas está a barra
velha na lattitude de 18°-que fica E-O com as Ilhas
dos Abrolhos quasi na distancia de doze leguas ao Mar,
e a E. S. da dita barra velha, fica uma corôa muito ver
melha em cima de um recife, cuja se conserva sempre
descoberta, e ao N. desta barra dous terços de legoa,
desemboca um canal grande com fundo de dez e onze
braças. que tem de largura meia legoa, e se pode entrar
e sahir por elle a rumo de E. S. E. e O. N. O. até o fundo
de quatro braças ; na entrada desta barra velha tem
duas corôas distante do cordão um tiro de espingarda ,
que entre uma e outra se entra a caminho de O. pela
barra dentro, e tem de fundo em marés vivas de treze
até quatorze palmos, e segue o rio de agua Salgada
até sahir na barra de Villa Viçosa , o seu terreno da
parte do Sul. é campo, em o qual os moradores da dita
da dita Villa costumam apascentar seus gados . e da
parte do Norte é tudo mangues .
Desta barra velha para o N.. uma legua, se acha
ouira barrêta que chamam nova, e se lhe deu este nome
por entrar por ella uma sumaca por engano, mas esta
barra não tem rio e finalisa o seu lago a pouca distancia
entre mangues. Desta parte para o N. , legoa e meia,
está o pontal do Sul da barra de Caravellas, e deste
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 401

á Nordeste. uma legoa. fica o pontal do Norte da dita


barra, com o nome de Ponta da baleia que está na latti
tude de 17º 50' ; esta barra de Caravellas tem dous
canaes que franqueiam a entrada : um encostado ao pon
tal do Sul, e outro bem chegado ao do Norte, e em am
bos se acha fundo de quatorze até dezeseis palmos de
marés vivas, e com largura de 10 a 12 braças ambos ,
todo o mais espaço da largura da dita barra é baixo,
e corôas de arêa taes que chegam a descobrir con maré
vazia, mas por ter por fora da barra e ccrôas, um recife
de pedras que chamam Paredes na distancia de tres le
guas, o qual dá um grande abrigo ao mar e faz que
seja a referida barra tão mansa , que ainda encalhando
nas coroas não perigam as embarcações ; pelo canal do
N. se entra a rumo de S. S. O. e S. O. até ficar N. S.
com o pontal do Sul, em cuja aberta do rio ou braço
de mar, que é o mais certo, tem de largura um bom
tiro de peça e do fundo cinco e seis braças : a entrada
do canal do Sul com N - S . , e desde a barra Velha, dita
átraz, até este pontal, o seu terreno beira- mar é praia
com Comoros de arêa , com algumas moitas de man
gues ; á margem da parte do norte desta mencionada
barra de Caravellas , se acham seis casaes de morado
res que alli assistem, e plantam mandiocas por alguns
·Comoros de boa terra que nos seus arredores tem , e a
pouca distancia das casas lhe dá o Rio um pequeno
Riacho que vem circulando as mesmas, na distancia de
um tiro de espingarda, pelo qual recolhem as canôas
aquelles lavradores como do seu ; e segundo a intelli
gencia de alguns naturaes, é isto a causa porque cha
mam ao dito lugar Aracaré ; esta fazenda ou sitio, na
verdade, faz aprasivel a entrada da barra ; da parte do
Sal e defronte da dita fazenda do Acaré, se acha um mo
rador com casa de telha, o qual nos curtos matos que
L 51
402 LIMITES

tem para o centro, planta algodões e mandiocas, que


bem lhe chega para o necessario.
Corta este Rio ou braço de mar da Villa de Cara
vellas caminho de O.; e na distancia de uma legoa,
tudo é mangues pelas suas margens , que finalisam pela
parte do Norte em uma fazenda chamada Ponta
d'Arêa, a qual é composta de um grande coqueiral, e
desta fazenda , em distancia de meia legoa a O. N. O. ,
se acha outra fazenda aliás um pequeno arrayal, a que
chamão o Quitongo , onde habitam doze moradores ou
casaes com suas casas de palha e entre ellas quatro
de telha, e nos seus arredores ha quantidade de Coquei
ros e arvores de espinho ; estes moradores plantam algo
dõees e mandiocas para o seu gasto, porém o seu maior
trafico é o da pescaria, defronte da mesma distancia
se acha da parte do Sul, outra fazenda que chamam
Capuróba onde rezidem quatro moradores : um delles
é opulento, tem famoso Coqueiral e bôa casa de telha, e
todos os quatro proporcionadamente plantam muitas
mandiocas, e neste lugar são as terras bôas e produzem
toda a qualidade de mantimentos ; da parte do Sul ,
desde a barra até esta fazenda, se acham dous Riachos
grandes : o primeiro na sua entrada terá trinta braças
de largo e este lhe chamam Pernambuco , e o segundo,
lhe chamam Riacho de Antonio Gomes e é menor ; por
elles ambos se fazem grossas pescarias , mas não dã
materia a descrever cousa alguma, porque ambos aca
bam entre mangues e a pouca distancia.
Do referido sitio do Quitongo para cima, ao mes
mo rumo de O. N. O. da parte do Norte, distancia de
meia legua, se acha a Ponta do Dendê, entrada do ter
reno da Villa de Caravellas , cujo lugar tem dous mora
dores com grandes coqueiraes e boas casas, daqui corre
o assento da Villa a qual está fundada NE- SE , con
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 403

posta de tres ruas e quatro travessas : a primeira cha


mada da Ribeira na entrada da Villa, se compõe de de
zoito moradas de casas que fazem frente a N. C. ,
desta primeira travessa á segunda , chamada de José
Corrêa, dista 50 braças e da segunda á terceira, chamada
conselho, ha outra tanta distancia ; e desta á quarta,
chamada da Olaria ; fim d Villa, teem a mesma distan
cia esta ultima travessa fz frente a S. E. e nella ha
deseseis moradas de casas , e nos fundos das mesmas
olhando para N. O. se acham quatro moradas de casas,
querendo-se assim formalisar outra travessa.
As ruas direitas são tres ; a primeira chamada
com o mesmo apelido de direita chegada a margem do
rio, a segunda , a rua do meio, e a terceira a rua do
campo, todas na distancia de 120 palmos , excepto a
largura das ruas que sam de 30 palmos.
Na direita se acham 124 moradas de casas com
frente a N. E. , entre ellas são quatro de sobrado , destas
estão tres entre a segunda e terceira travessa , e á quarta
fica chegada a quarta travessa ; nos fundos das casas
desta rua da prte do mar, se acham 35 casas com frente
para o mesmo, e ainda se acham 37 chãos devoluto .
A rua do meio é composta de 125 casas por uma e
outra parte com oito chãos devoluto entre a primeira e
a segunda travessa. A rua do Campo se compõe de 88
moradas de casas da quarta travessa até a segunda, e
desta até a primeira se acham todos os chãos devolutos .
A Casa da Camara está fundada entre a primeira e
segunda rua, com frente a N. O. , ficando em linha recta
com a terceira travessa e com frente a dita casa se acha
fundada a Igreja Matriz com o frontespicio a S. E. , e
com o espaço de quinze braças de terreno , sendo o
seu Adro de dez.
O Pelourinho está plantado no principio da rua do
-404 LIMITES

Meio, e emcruzilhada da primeira travessa chamada da


Ribeira.

A largura deste rio ou braço de mar defronte da


Villa, é a mesma que tem na barra o mesmo fundo ;
porém ali E-a-O com a mesma Villa se reparte em
quarto bocainas ou rios ; o primeiro fica da parte do
Sul e demora da Villa a rumo de O , e correndo este ao
´S., vai sahir á barra de Villa Viçosa já dita, e por elle
navegam Sumacas carregadas de uma para outra
Villa. O terreno de ambas as partes sam mangues, com
alguns intervalos de pequenos esteiros , pelos quaes,
com maré cheia entrão e sahem alguns moradores, que
por ali teem roças e habitam, cujos sitios não se avis
tam do rio por ficarem encobertos dos mangues, que
vam sempre dianteiros á terra enchuta.
A esta entrada do rio chamam Bocca da Tapéra.
O segundo braço ou rio fica da parte da mesma Villa,
arredado della distancia de um tiro de arcabuz, cuja
entrada apelidão- Bocca do Macaco-, o qual segue a
N. E. até a distancia de duas legoas , finalisando em um
-campo onde forma pequena cachoeira, pelo encontro
de pedras de qualidade fraca ou mole, pelas quaes
-corre pouca porção d'agua que dimana de brejos , e por
esta cachoeira se passa a cavallo de uma para outra
parte, sem o menor encomodo .
Na margem deste rio da parte de S. E. em meia
distancia delle, se acha um morador com sua fazenda
de canas engenhoca com lambique destilando agua
ardente : defronte da dita fazenda está uma Ribeira
que chamam Bica-por cahir do alto , em a qual fazem
aguada as embarcações , a bocca deste rio tem de largo
cincoenta braças e de fundo trez .
A terceira bocaina está em distancia de meia le
goa a O. da Villa, e chamam a sua entrada Bocca da
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 405

Pindóba, o qual Rio segue a N. O. até a distancia de


duas e meia leguas, e finalisa em um limitado ribeiro
que nasce de brejos ; o seu terreno por ambas as mar
gens são mangues, mas tambem ha muitos riachos e
esteiros, que entranhando-se pelos mesmos vão ter á
terra enchuta, dos quaes se servem os moradores afa
zendados por este rio, para chegarem com maré cheia
aos seus portos , e botarem seus mantimenots ou lavou
x
ras para fóra, sendo o maior trafico e occupação delles
a gricultura da mandioca. A bocca deste rio tem a
mesma largura que se acha no rio do Macaco, porém
o seu fundo não passa de doze palmos.
A quarta e ultima bocaina fica na mesma distancia
desta que fica dita , e lhe chamam Taquary , cuja entrada
é a rumo O. S. O. e segue até o seu fim distancia de
cinco legoas, e nelle concorrem os mesmos paralellos
do antecedente . Tambem é de notar que todos os la
vradores habitantes desta Villa, trabalham nas suas
roças pela terra dentro, longe do porto de embarque
uma e duas leguas de distancia , conduzindo
1 suas fari
nhas e mais effeitos da lavoura em cavallos, e descarre
gando em tulhas que conservam nos portos , para d'ali
lhes darem extracção, em cujas conducções ha grande
detrimento e alguns prejuizos .
Advirto que todo o terreno desde a barra desta
Villa até os fins de todos os seus rios , e quando se tem
descoberto e vadiado pelo centro das respectivas matas,.
e todos os espaços da terra não consta de monte algum,
mas tudo plano e razo e igualmente o terreno da Villa,
é da mesma forma assentada em planicie raza muito
aprazivel, pelas boas vistas de campo e largo rio ou
braço de mar como fica dito , o qual é com os demais
que delle se formam salgados até os seus fins, com en
5250 2/2
406 LIMITES

chente e vazante de marés , sem nelles haver inunda


ções em tempo algum....

N. 45

Documentos que provam como o ter


ritorio da Comarca e Capitania de Porto
Seguro é até o rio Doce, começando dahi
para o sul o da Capitanía do Espirito
Santo.

Cartas do Governo- Archivo Publico da Bahia


-1807 a 1808
Para o Coronel Governador da Capitania do Es
pirito Santo .
Na conformidade das Reaes Ordens de S. Alteza
pelo regio officio de 21 de Maio resolve se fazer uma en
trada contra os anthropophagos Botocudos .
Em cumprimento desta Regia Determinação se
deverá operar ativamente pela parte dessa Capitania
pelos pedestres que fasem o serviço dos destacamentos
do Rio Doce nomeando pessoas capases para fase
rem as entradas que dividirá conforme o terreno e se
gundo as forças que for necessario dar a cada hum
dos mesmos destacamentos que se denominarão 1.ª
e 2.ª Divisão do Rio Doce pela Capitania do Espirito
Santo.
2. Que o terreno da Capitania que lhes fica perten
cendo será o da margem do lado do Sul do Rio Doce
é da margem do Norte do mesmo rio até a Barra desse
e pela direcção desta a lagoa de Japaranan terreno da
Villa de S. Matheus até onde encontrar por um e

(*) Este documento está assignado por Ignacio José Aprigio


da Fonseca Galvão, que exercia as funcções de Official maior da
Secretaria do Governo. - N . do Auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 407

outro lado os limites desta Capitania com a de Minas


Geraes.
(Para Minas Geraes ordenaram-se 6 divisões, ou
tras foram ordenadas para Iheos, para Viçosa, para S.
Matheus .
O Capitão mór João Gonçalves da Costa , foi encar
regado desta .
Ao Capitão mór de S. Matheus diz :
Que logo que a estação permittir mande para as
entradas que julgar mais convenientes em todo o ter
reno que pertencer a esta capitania para o lado do sul
athé a Barra Seca e para a do Norte até a Villa
Viçosa (*) .

Ao Ouvidor Interino da Comarca de Porto Seguro.


Pela carta da Copia inclusa ficará Vmcê. na in
telligencia das providencias que provisoriamente dei a
Camara da Villa de S. Matheus dessa Comarca á res
peito do escrivão Manoel da Costa Silva .
Deus Guarde a Vmcê. Bahia 10 de Novembro
de 1806.-Conde de Ponte, Ouvidor Interino da Comarca
de Porto Seguro .

Para o Governador da Capitania do Espirito


Santo .
Havendo- me communicado o Capitão mór de or
denanças da Villa de S. Matheus Domingos Gomes
Morim terem sidos convidados por este Governo al
guns moradores daquella Villa para virem por guias a
um descobrimento de ouro na lagoa denominada Gy
paranan, pertencente ao districto da mesma villa por
ficar da parte do Norte do rio Doce , em que se lhes par

(*) O que está escripto entre parenthesis é do auctor . - Nota


do auctor.
408 LIMITES

tecipou haver muito ouro e tendo consideração que


nas actuaes circunstancias se devia faser este desco
brimento e indagação com toda a cautella e Circunspe
cção faço passar nesta occaseão ao Alferes da 1.ª com
panhia e do 2.º Regimento de infantaria de linha desta
cidade Francisco da Costa Branco para ocularmente
presenciar a excavação que ordenei ao mesmo capitão
mór mandasse faser por pessoas peritas nos lugares
das dita lagoa, aonde se poder descobrir que ha ouro,
e traser-me pessoalmente as amostras deste metal . ९
o resultado destas diligencias e egualmente uma exa
ctissima e circunstanciada relação não só do lugar da
excavação como da distancia do porto de mar e riquesa
das minas calculando-se quanto tirará por dia um ex
cravo occupado nellas ; ordenando que finda esta di
ligencia fica vedado aquelle lugar de ser jamais cavado
ou faiscado por qualquer pessoa que seja sem que seja
por immediata Resolução do Principe Regente Nosso Se
nhor, dirigida a este Governo se não permittirá tra
balho das mesmas minas, o que partecipo a V. Mercê
para que pela parte que lhe tocar o faça assim observar
auxiliando e dando toda a ajuda e favor ao dito alferes
para que possa dar comprimento a esta Commissão de
que por mim vae encarregado .
Deus guarde a V. Mercê. Bahia 11 de Setembro .
de 1806. - Conde da Ponte..

Para o Capitão mór de ordenanças da Villa de S.


Matheus Domingos Gomes Morim.
Y Vendo o ultimo paragrapho de sua carta de 18 de
Agosto passado em que me communica que no mez
de Julho mandara o Governador da Capitania do Es
pirito Santo Convidar a certos moradores dessa villa
para irem por guias a hum descobrimento de ouro na .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 409

lagoa Gyparanan pertencente ao districto dessa mesma


villa, por ficar ao Norte do Rio Doce , lhe participara
hum dos convidados que fora a este lugar por haver nelle
muito ouro ; e porque nas actuaes circunstancias é ne
cessario que o exame e escavação do lugar se faça com
toda a cautela e fiel indagação resolvi a bem do Real Ser
viço mandar a essa villa o Alferes da 1.ª companhia
do 2.º Regimento de Infantaria de linha desta cidade ,
Francisco da Costa Branco, para ocularmente presen
ciar a escavação que por esta ordem mando faser por
pessoas peritas nos logares da dita Lagoa onde se
poder discobrir que ha ouro ; e do resultado destas dili
gencias as amostras delle serão entregues ao dito Alfe
res com huma parte exactissima , circunstanciada não só
do logar em que for achado este Metal , como da dis
tancia do Porto de mar e riquesa das Minas , calculan
do-se quanto tirará hum escravo occupado nellas e
finda que seja esta diligencia ficará vedado ou fiscado
para qualquer pessoa que seja sem que por imediata
Resolução do Principe Regente Nosso Senhor dirigida a
este Governo, se não permittirá o trabalho das mesmas
Minas .
Pelo mesmoAlferes envio huma carta para o ac
tual Governador da Capitania do Espirito Santo para
não haver nesta Diligencia conflictos de jurisdicção sem
pre perniosos ao Real Serviço .
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 11 de Setembro
de 1806. - Conde da Ponte.
Sr. Capitão mór das ordenanças da Villa de S.
Matheus .

Para o Capitão mór da Villa de S. Matheus .


Attendendo ao que Vmcê. expende no officio que
me dirigio em 4 do corrente suspenda em seo districto a
L 52
410 LIMITES

execução do Bando que se lhe remetteo em 20 de


Março passado , formalisando huma Relação exacta e
circunstanciada dos individuos nelle residentes , decla
rando a idade, occupações, estado de cada hum, com dis
tincção do em que se empregue na lavoira de mandioca
os quaes em todo tempo serão privilegiados .
Deus Guarde a Vmcê. Bahia 23 de Maio de 1808.
Conde da Ponte.

Para o Capitão mór da Villa de S. Matheus .


Com carta que Vmcê. dirigio em 8 de Novembro
do anno passado fui entregue do Mappa e Lista dos
presos do seu respectivo districto.
Deus Guarde a Vmcê. Bahia 12 de Janeiro de 1808.
-Conde da Ponte.
Sr. Capitão mór da Villa de S. Matheus .

N. 46

Documento do Archivo Publico da


Bahia que demonstra ser sido sempre
legitima e incontestavel a jurisdicção da
Bahia sobre todo o territorio até o rio
Doce .

Trecho da carta de 8 de Outubro de 1809 dirigida ao


Conde de Aguiar pelos Snrs . que compunham a junta
de governo de então, o arcebispo Fr. José Antonio
Luiz Pereira da Cunha e João Baptista Vieira Couti
nho e que foi motivada pela ordem de indicar quaes as
villas da Bahia em que se podiam estabelecer juizes
de fóra.
"A Comarca de Porto Seguro tem poucas villas
notaveis e apenas merecem alguma attenção as de Ca
ravellas e S. Matheus que ficam muito ao sul da Cabeça
da Comarca. Qualquer dellas pouco mais tem de 2 mil
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 411

habitantes. O seu comercio é fraco por falta de braços.


pela perseguição que sofrem os povos desde a mesma
villa de Porto Seguro athé os Campos de Goytacazes"
pelas invasões do Gentio barbaro e antropophage.
O Ouvidor interino da Comarca na sua resposta
(doc, n. 3 ) , se lembra com preferição da villa de S. Ma
theus para residencia de hum Juiz de fóra, porem o
que mais indispensavel parece é que S. A. R. ordene
que o Ouvidor nomeado para aquella Comarca que hé
Francisco Carneiro de Campos , actualmente empre
gado nesta cidade no exercicio da cadeira de Philoso
phia, se recolha em breve termo á sua Comarca
para ser provido com pessoa que bem o vá servir e se
tendo- se por vago o lugar, quando assim o não cumpra¸
evitarem os graves inconvenientes que áquelles Povos
ha tantos annos tem feito por falta de hum Ministro que
lhes administre Justiça, e deliberar-se depois com mais
conhecimento de causa sobre a criação de hum juiz de
fóra para alguma villa desta Comarca. "

N. 47

Documento que evidencia ser a Ca


pitania do Espirito Santo do rio Doce
para o Sul.

Informação que Francisco Manoel da Cunha deu sobre


a Provincia, então Capitania do Espirito Santo, ao
Ministro de Estado Antonio de Araujo e Azevedo

(Offerecida ao Instituto Historico e Geographico


Brasileiro pelo socio Correspondente o Sr. Ignacio Ac
cioli de Cerqueira e Silva ) .
Illm. e Exm. Sr.- Pesar as forças respectivas dos
Estados, discutir os interesses dos Soberanos , estudar
412 LIMITES

suas pretenções, observar suas rivalidades, penetrando


a travez do Véo que encobre a politica dos gabinetes ,
possuir a fundo os costumes , o caracter, o genio das Na
ções, os talentos e a capacidade dos particulares distin
guidos em cada estado , e decidir sabiamente n'um
golpe de vista infalivel , das finanças , da guerra, da mari
nha, da historia , justiça , religião, prerogativas e direi
tos do Soberano ; eis aqui , Illm.° e Exm. ° Sr. , os signaes
caracteristicos , que distinguem a V. Ex. , e o justo elo
gio, que lhe consagram todos aquelles que amam o
Estado e a Nação .

Certificado pois pela experiencia n'estes princi


pios, tenho a honra de apresentar a V. Ex. uma verda
deira pintura da Capitania do Espirito Santo, cujo qua
dro mostra a origem do Rio Doce, onde V. Ex . obser
vará os principaes obstaculos , que difficultam a inten
- tada navegação d'aquelle rio, que seria de grande utili
dade para as Provincias da Bahia e Minas Geraes, se
a mesma navegação tivesse o desejado exito.
O rio Piranga e S. José do Sipotó, o Ribeirão do
Carmo, que passa pela cidade de Marianna, e que ambos
fazem barra no logar denominado Mathias Barboza,
são os progenitores do Rio Doce : alguns pequenos
córregos e regatos assoberbam o curso d'este rio até
o de Antonio Dias , d'onde descem as canôas. Não me
esquece dizer, Exm.º Sr. , que existem varias cachoeiras
impraticaveis, antes de chegar a este arraial. Cinco le
goas distante do porto de Antonio Dias vê- se a primeira.
cachoeira, denominada Alegre ; oito leguas mais abaixo
a chamada Escura ; aqui, o Rio de S. Antonio dos Fer
ros (innavegavel ) vem depositar as suas aguas . D'ahi a
dez leguas apparecem as duas cachoeiras de Bagari :
n'esta posição os Rios dos Bugres e da Corrente bara
lham-se com o Rio Doce. Na distancia de oito leguas
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 413

acham-se os rochedos de Bituruna , e defronte d'estes


penedos vem desaguar o rio Sussuy grande, tendo pouco
mais acima desembocado igualmente o rio Sussuy pe
queno Tres leguas depois o avido Mineiro encontra
a cachoeira da Figueira, avançando mais oito leguas
observa a do Sapê, e d'alli a sete a do Cuité ; aqui
entra o rio do mesmo nome Viajando- se mais quatro
leguas acha-se a cachoeira do M, e tres leguas ávante
está a conhecida pelo nome do Inferno.
O rio Manassú alonga-se outras tantas leguas
d'esta ultima cachoeira ; ahi está o Quartel de Lorena,
e navegando-se quasi uma legua encontra- se a Ilha da
Natividade , d'onde principiam os pedregulhos conhe
cidos pelo nome de Escadinhas , que se dilatam até o
rio Guandú , nas circumvisinhanças do Porto de Souza,
extrema das Capitanias de Minas Geraes e Espirito
Santo . Taes são , Exm.º Sr. , os grandes obstaculos,
confessados pelos mesmos Mineiros desde a vez pri
meira que se communicaram com os Capitanienses por
aquelle rio , que difficultam , como já disse, a sua fre
quente navegação ; mas obstaculos, que foram tão fa
cilmente removidos pelo actual Governador da Capi
tania do Espirito Santo Manoel Vieira de Albuquer
que e Tovar, na ligeira e curta viagem que fez por
aquelle rio ; cuja execução ainda se não viu , nem tão
pouco a chegada das canoas de Minas, que alli se es
peravam dentro de oito dias, com generos permutaveis,
como dizia o mesmo Governador em um officio, que
n'esta Côrte, logo que chegou da sua viagem , dirigiu
ao Illm.º e Exm . ° Sr. Conde de Linhares .
A navegação do Porto Souza até a barra é mais
commoda, por se não encontrar tantos penedos ; mas
o fundo do canal é sempre desigual . Cento e quarenta
ilhas , desde o logar do Cascalho até o Quartel da Re
414 LIMITES

gencia Augusta, dividem este rio como em dois, cuja


corrente é assáz extraordinaria . A sua largura desde
a foz até o já dito logar do Castello é quasi sempre
de um quarto de legua , e cheia de grandes bancos de
arêa, tanto da parte do Norte, como da do Sul . A barra
não é estavel umas vezes tem dez a treze palmos , outras
vezes sete, cinco, &c. Não ha alli um surgidouro capaz
de ancorar qualquer embarcação, e para escapar á rapi
dez da corrente é necessario segurar-se com cabos
em terra. A entrada da barra é difficultosa , e de grande
perigo : esta entrada só com vento feito pode ser feliz ,
pois nada mais é capaz de vencer a alluvião de tantos
rios combinados em um só ponto . Os baixos de um e
outro lado impossibilitam as embarcações poderem
bordejar ; e se quizessem proseguir a viagem pelo rio
acima, não poderiam surmontar pelas differentes dire
cções do canal , que ora demanda ao Norte e Noroeste,
ora a Oeste e Sudoeste, e seriam necessarios muitos
ventos favoraveis a um mesmo tempo , para que as em
barcações evitassem seu naufragio.

Da barra do Rio Doce, onde está o Quartel da Re


gencia Augusta, marchando- se pela praia na longitude
de tres leguas, está o Quartel chamado dos Comboios ,
retirado da mesma praia um quarto de legua : aqui
passa o rio, ou para melhor dizer a Lagoa do Campo,.
e se formos a combinar o tempo que se gasta d'ahi ao
logar do Riacho, seja embarcado por esse pantano,
vindo pela praia , a viagem sempre é igual. Ainda me
recordo, que toda essa praia desde o Rio Doce até o
dito sitio do Riacho ( onde está um quartel já desam
parado) é insupportavel ; a sua extensão é de sete le
guas. A Lagoa do Campo dista d'este logar para o
Oeste poucas horas de jornada, tanto por terra, como
pelo mesmo rio, que lá vai ter.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 415

Sahindo do Riacho , e andando- se tres leguas , está


a Aldea-Velha : o rio n'este logar admitte em si bergan
tins, que muitas vezes tem ido carregar madeiras , de
que ricamente abundam as suas matas. Cinco ou seis
horas de viagem pelo rio acima, a Oeste Noroeste ,
está o destacamento de Piraqui-Assú , composto unica
mente de Indios ; e mais abaixo, por um braço do mesmo
rio, que demanda ao Sul, vê-se o logar denominado
Piraqui-Merim, onde ha pouco succedeu a catastrophe
horrivel, da qual fallarei na continuação d'esta memo
ria. A Aldêa-Velha em si não merece attenção ; algu
mas pequenas casas, e pela maior parte cobertas de pa
lhas e alongadas umas das outras, formam a totalidade
desta chamada Povoação de um e outro lado do rio ...
(*)

N. 48

Carta do ouvidor de Porto Seguro ,


pedindo isenção do serviço mititar para a
população de S. Matheus que pertencia
a sua comarca.

Senhor.
Esta Comarca de Porto Seguro por sua prioridade,
pozição , e fertilidade , se torna digna dos Paternaes
Auspicios de V. A. R. e de que mais carece , tanto para
defender- se das correrias, e insultos dos Indios Bote
cudos , como para a Lavoira, são braços : e esta neces
sidade requinta tanto mais, quanto he mister promover
e accelerar a povoação de huma Comarca, que com a
maior celeridade deve enlaçar as duas mais opulentas.

(* ) Este documento foi para aqui transcripto, devendo


achar-se o original manuscripto, no Instituto Historico e Geogra
phico Brasileiro, como o indica a declaração do offerecimento,,
abaixo do titulo. Tem a data de 1811.-N. do auctor.
416 LIMITES

Capitanias do Brazil , a do Rio e Bahia, facilitando as


reciprocas cummunicaçõens por terra ; por estas pon
derozas razõens e porque pelo meu emprego V. A. R.
me fez cargo de suscitar quanto for á bem destes
povos ; e mais ainda porque cumpre ter aqui huma força
sempre armada e permanente qual he a dos II destaca
mentos por mim levantados para repellir os Indios
aggressores e sendo que estes habitantes ora se em
pregão em sua propria defeza : Vou aos pés do
Throno pedir a V. A. R. a Graça de Mandar por Espe
cial Decreto dirigido ao Exm.º Governador, e Capitão
General da Bahia izentar esta Comarca temporaria
mente de todo e qualquer recrutamento para as Tro
pas de Linha. S. Matheus 24 de Fevereiro de 1812.-.
Ouvidor de Porto Seguro.- José Marcelino da Cunha.
Archivo Publico da Bahia.

N. 49

Documentos que provam a incontes


tada jurisdição da Bahia sobre todo o
territorio que legitimamente lhe pertence
até o rio Doce.

Para o Ouvidor da Comarca de Porto Segurc


Acuso a recepção de dois officios que V. Mercê me
dirigio em data de 12 de Dezembro do anno passado
e de 7 do corrente.
Ao Intendente da Marinha e Armazens Reaes
mandei que apromptasse para serem a V. Mercê envia
dos os generos por V. Mercê pedidos nesta ultima
data para o Destacamento de S. Matheus e Indios Ma
conios cujo conhecimento ha de acompanhar esta ; e á
Junta da Real Fasenda remeti o mapa dos vencimentos
do Destacamento de Arcos para determinar sobre o
.seu pagamento.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 417

Quanto ao Destacamento que V. Mercê pertende


estabelecer no lugar do Morro das Araras, sendo elle
parte do que El Rei Nosso Senhor mandou levantar
em S. Matheus parece admissivel mas se hé hum ter
ceiro Destacamento inteiramente desmembrado da
quelle deverá V. Mercê tal caso requerer, digo V.
Mercê representar directamente a S. Magestade para
para o Mesmo Senhor resolver o que for servido .
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 21 de Janeiro
de 1818. - Conde dos Arcos.
Archivo Publico da Bahia- Cartas do Governo
1817-1819.

Para o Capitão da Villa de S. Matheus .


Imediatamente que V. Mercê receber este faça em
barcar para esta cidade dos Portos desse Districto a
farinha que houver nas Tulhas de embarque visto a
grande falta que aqui se experimenta deste genero ;
dando todas as mais providencias para que continue a
exportação acompanhada da respectiva guia para o Cel
leiro Publico desta cidade, á medida que for ahi appa
recendo, entendendo- se que todos aquelles que nesta oc
casião mais se distinguirem , farão hum serviço muito
attendivel .
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 25 de Maio 1818.
-Conde da Palma .

P. S. Fique V. Mercê na intelligencia para faser


constar que qualquer porção de farinha que haja de se
tomar para a Tropa ou embarcações de Guerra ha de
ser paga promptamente advertindo-lhe mais qu nsta
importante diligencia convem usar de meios persuaso
rios e não da coacção.
Archivo Publico da Bahia, 36 Cartas do Governo
-1810-1811.
53
418 LIMITES

Para o juiz ordinario da Villa de S. Matheus.


Requerendo-me Hamfson Slaymann e Comp. " Ne
gociantes Britanicos , residentes nesta cidade e nella
Procuradores Geraes dos seguradores de Londres ser
necessario providencias officiaes , a beneficio dos mes
mos seguradores para se arrecadarem os fragmentos dos
cascos, seus aprestos, vitualhas , e cargas de dous Bri
gues Inglezes que derão á costa nas praias do termo
dessa villa , hum que hia de Montevidéo para Londres.
com carga de sebo e outro daquella capital para a do
Rio de Janeiro carregado de fasendas ordenamos a V.
Mercê preste todo o auxilio que lhe fôr requerido pelos
encarregados desta arrecadação , afim de que se effe
ctue e se não desencaminhe cousa alguma das mesmas
embarcaçõens naufragadas, ficando na intelligencia de
praticar o mesmo sempre que aconteça hum tal desas
tre, fasendo por uma arrecadação segura tudo quanto
do naufragio aportar á terra para ser entregue á pes
soa competente, fasendo devassar sobre o roubo e des
caminho que possa haver dos mesmos fragmentos e
obrigando -os a repôr.
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 4 de Junho de 1810.
-Fr. José Arcebispo― Antonio Luiz Pereira da Cunha
-João Baptista Vieira Godinho- Sr. Juiz ordinario da
villa de S. Matheus .
Do mesmo theor se expedirão para os juizes ordi
narios das villas de Caravellas, Villa Viçosa e Porto
Alegre.
Do mesmo theor se expedirão para os capitães
móres das sobreditas villas e Governador da Capitania
do Espirito Santo menos o faser devassar.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 419

Para o Desembargador Ouvidor da Comarca de


Porto Seguro .
Devendo dar- se inteiro cumprimento á Carta Re
gia de 1.º de Abril do anno passado que foi transmit
tido a V. Mercê para a criação do Destacamento da
Villa de S. Matheus que S. Magestade mandou estabe
lecer nessa Comarca e estando determinado ´alcançar
mão de todos os meios que possão conduzir para o des
empenho do util fim que delle espera , faz - se necessa
rio que V. Mercê me informe, com miuda individuação
o estado do mesmo Destacamento e as providencias que
se devão dar para que prospere e se colhão os resulta
dos vantajosos que promette hum tal estabelecimento,
convindo igualmente que V. Mercê me participe qual
tem sido a conducta do actual comandante , o Alferes
José Thomaz de Aquino e se cumpre exactamente as
suas obrigações.
Previno a V. Mercê que se deve entender com o Bri
gadeiro Ajudante de Ordens deste Governo José Tho
maz Bocaciara para quanto for relativo ao fornecimento
de munições e armas para o mencionado Destacamento
por lhe haver dado já as ordens convenientes a este
respeito.
Deus guade a V. Mercê. Bahia 10 de Novembro
de 1818. - Conde da Palma.
Archivo Publico da Bahia- Cartas do Governo
1818 a 1819.
420 LIMITES

N. 50

Documentos que provam, tanto como


a nomeação do ouvidor Xavier Monteiro
para continuar a creação da ouvidoria co
meçada por Thomé Couceiro e como
muitos outros que o rei de Portugal e
seus ministros, o Conselho Ultramarino,
a Mesa da Consciencia e Ordens, os
Governadores do Brasil, todas as autho
ridades e repartições emfim, tanto da
Europa como da America Portuguesa ,
tanto as da Bahia como as do Espirito
Santo, tinham a mais completa sciencia
e certesa de pertencer o districto da
villa de S. Matheus á Capitania de
Porto Seguro e portauto á Bahia.

N. 76-Cartas a S. Magestade de 1807-Archivo


Publico da Bahia.
Illm. Exm.º Snr.

Na conformidade do que tive a honra de represen


tar a S. A. Real em officio de 27 de Abril do anno
proximo passado e a faculdade pelo mesmo Senhor con
cedida e por V. Ex.ª participada em officio n. 35 de 18
de Julho de 1806, fiz expedir o capitão mór da conquista
da Ressaca com os Indios do seu partido a descuberta
das bordas do Rio Pardo , e do exame da possibilidade
da sua navegação, o qual chegando a esta cidade no
dia 28 de Abril proximo passado, me apresentou a
Memoria da sua viagem que offereço a propria para que
a lêtra, o papel , o estilo , o virgulado e tudo seja pre
sente a V. Ex.ª tal qual me fora entregue ; pela sua ex
posição conhecerá V. Ex.ª que não he praticavel este
projecto que alias promettia felizes resultados , não só
porque o Rio he cheio de altissimas e escabrosas cacho
eiras , mas tambem porque a corrente he arrebatadis
sima e as suas bordas agrestes e na maior parte infru
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 421

ctiferas, alem de que a sua direcção athé agora não


conhecida verdadeiramente , se afasta do rumo que se
desejava para a communicação do interior ; não chega
a hum conto a despeza total para a acquisição deste
desengano e a com a perda de trez ou quatro dos mes
mos Indios , se descobrirão as aldeias apontadas na
dita Memoria com mais de setecentos habitantes , todas
cheias de cultura e que em muito boa paz receberão
os nossos , e os fornecerão do precizo , mandando volun
tariamente em sua companhia hum de cada Povoação
a receberem nesta cidade os presentes com que se cos
tumão brindar ; aqui vierão conduzidos, forão vacci
nados e levarão as quinquilharias de seu gosto ; entre
estes virão alguns da nação Botecuda que não durão
não obstante terem sido entregues a pessoas cuidado
zas, que por seu gosto se empenhavão em os fazer criar,
porem ou pelo genio daquella Nação, ou pela differença
todos morrem .

Attendendo comtudo ao que propoem o capitão mór


mencionado e as representaçõens que neste anno me
tem sido dirigidas das villas de São Matheus, Prado e
Caravellas, prevendo a utilidade que deve seguir-se com
muito pequenadespeza da Real Fazenda de se aldeia
rem essas Povoaçõens e estabelecer naquelle terreno
huma barreira ás incursõens continuadas do Gentio
bravo em toda a costa do sul desde o Sul do Rio das
Contas athé ao rio Doce. alem da esperança de se rea
lisar em grande parte a tentativa frustada nas bordas
do rio Pardo : Ordenei ao mesmo capitão mór que
que passasse á villa de São Jorje dos Ilheos e esperando
pelos que forão guiar os Indios novamente descuber
tos , reconhecesse o riacho de que falla na sua Memoria
e me informasse com a maior individuação sobre o
que se descubrisse nessa nova indagação ; não produz
422 LIMITES

hum seculo hum homem com o genio deste capitão


mór, tem oitenta e tantos annos , e todas as suas pai
xoens tendem a estas aberturas e descubertas em que
tem gasto o que he seu e arriscado frequentemente a
propria vida ; espero portanto que não seja contra a
vontade de S. A. Real esta nova exploração em que
o sacrificio he tão insignificante e a utilidade péde ser
muito atendivel , porem será o que fôr mais do seu Real
Agrado.
Bahia 31 de Maio de 1807.-Illm.º e Exm.º Snr.
Visconde de Anadia Conde da Ponte.
Archivo Publico da Bahia- Cartas do Governo
Livro 35-1809-1810.

Para o Ouvidor interino da Comarca de Porto


Seguro .
Remettemos a V. Mercê o requerimento junto de
João Manoel Vieira, residente na villa de S. Matheus
dessa comarca em que pede a Sua Alteza Real as gra
ças de promover a capitão mór da villa de Belmonte
e fazer fiscal e administrador das entradas contra o
Gentio Barbaro, existentes naquelle Districto , confe
rindo-lhe o Posto de capitão das mesmas, com o soldo
que o mesmo Senhor houver por Bem conceder-lhe,
para que V. Mercê nos informe a vista de todo o con
teudo no dito requerimento sobre a sua pretenção.
Deus guarde a V. Mercê. Bahia 21 de Novembro.
de 1809.-Fr. José Arcebispo- Antonio Luiz Pereira da
Cunha-João Baptista Vieira Godinho .

D. João por Graça de Deos etc. Faço saber á vós


capitão General e Governador da Capitania da Bahia
que tomando em consideração a necessidade que ha
para a educação da mocidade de Aulas de primeiras let
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 423

tras na Villa de S. Matheus e povoação de Santa Cruz


da comarca de Porto Seguro, Hei por bem crear nas
referidas villa e povoação uma cadeira de primeiras
lettras , tendo cada uma o ordenado que se acha estabe
lecido para cadeiras desta naturesa, segundo os res
pectivos termos , o que mando participar no sentigo,
digo, na forma das minhas Reaes Ordens. El Rey N.
Senhor o mandou plos Ministros abaixo assignados ,
do seu Conselho, como desembargadores do Paço
João Pedro Maynard da Fonseca e Sá o fez no Rio de
Janeiro a 18 de Novembro de 1810.- Bernardo José da
Cunha Gusmão e Vasconcellos .

Senhor
Diz Domingos Gomes Morim capitão Mór das Or
denanças da Villa de S. Matheus Capitania da Bahia,
que a elle supplicante se lhe fas preciso vir a esta
Côrte beijar a mão de V. A. R. e juntamente tratar
de certos particulares do interesse de sua casa e como
não o pode faser sem licença por isso .
Para V. A. R. seja servido conceder-lhe por tempo
de um anno .
E. R. Mercê.
Archivo Publico da Bahia-Cartas do Governo
Livro 38-1814—1817 .

Para o Capitão mór de Ordenanças da Villa de


S. Matheus .
Em cumprimento do Regio Aviso de 22 de Ja
neiro deste anno , expedido pela secretaria de Estado
dos Negocios da Guerra concedeo a V. Mercê seis me
zes de licença para hir á Côrte do Rio de Janeiro na
forma que requereo a Sua Alteza Real , devendo nesta
conformidade deixar o commando do Terço ao sar
gento mór delle.
424 LIMITES

Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 15 de Julho de


1814.- Conde dos Arcos.
Para o capitão mór da Villa de S. Matheus.
Archivo Publico da Bahia-Cartas do Governo
Livro 38-1817—1819 .

Para o ouvidor da Comarca de Porto Seguro.


A' vista da representação junta assignada pelo se
cretario deste Governo que levou a Real Presença a
Camara da Villa de S. Matheus, dessa Comarca, sup
plicando a criação de huma Cadeira Regia de primei
ras Letras , informe V. Mercê com o que se lhe of
ferecer.
Deus guarde a V. Mercê. Bahia 19 de Junho de
1815.-Conde dos Arcos.
Archivo Publico da Bahia-Cartas do Governo
Livro- 1814-1817 .

Para o ouvidor Interino da Comarca de Porto


Seguro.
Envio a V. Mercê para que mande registar nas
camaras a que toca, afim de ter o seu devido cumpri
mento a carta regia da Copia incluza, assignada pelo
secretario deste Governo que me foi expedida pela
Secretaria de Estado dos Negocios da Guerra em data
de 1.º de Abril deste anno pela qual El Rei N. Senhor
Havendo resolvido que o destacamento mandado es
tabelecer pela Carta Regia de 21 de Novembro de 1813 .
por tempo de 2 annos , na Povoação dos Arcos dessa
comarca continue ahi a subsistir emquanto não man
dar o contrario dando-lhe a forma e Graduação Militar
das Divizoens do Rio Doce que se empregão em iden
tico serviço e dignando- se o mesmo Senhor attender
a representação que lhe fizerão os moradores da Villa
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 425

de S. Matheus Ha por bem mandar levantar outro,


em tudo igual destacamento para que experimentem
os mesmos estas de que gosão os habitantes da sobre
dita Povoação dos Arcos elevando - se outrosim os com
mandantes de ambos os destacamentos a Alferes de In
fantaria aggregados ao 1.° Regimento de Linha desta
cidade com o soldo competente que entrarão a perce
ber quando apresentarm as suas Patentes como tudo
se contem na mencionada Carta Regia.
Deus Guarde a V. Mercê . Bahia 3 de Setembro
de 1817.- Conde dos Arcos.
Para o ouvidor Interino da Comarca de Porto
Seguro.

Para o Commandante do Novo Destacamento Mi


litar da Villa de S. Matheus .
Havendo exp edido a Carta Regia de 1.º de Abril
deste anno para ter seu devido cumprimento a Junta
da Real Fasenda desta Capitania e do ouvidor da Co
marca de Porto Seguro e apresentando- se -me V. Mercê
munido do Real passaporte para vir cumprir a com
missão para que fora nomeado, isto he de comman
dante do novo destacamento que El Rey Nosso Senhor
He servido Mandar ora crear na Villa de S. Matheus ,
transmitto a V. Mercê por copia assignada pelo secre
tario deste Governo a predita Carta Regia para sua
intelligencia, havendo portanto V. Mercê passar ime
diatamente a hir dar execução a parte que lhe toca
entrando logo no exercicio das suas respectivas fun
cçõens como commandante do referido novo destaca
mento, organisando as competentes 20 praças conside
radas Pedestres , andando com o ouvidor daquella co
marca que vencerão o soldo já estabelecido e sendo o
que a V. Mercê compete o de Alferes aggregado ao
L 54
426 LIMITES

1.º Regimento de Linha desta cidade a que S. Mages


tade foi servido eleval-o que principiará comtudo a
vencer no dia em que for comferida por este Governo
a sua Patente tudo na conformidade da mencionada
Carta Regia.
Deus Guarde a V. Mercê . Bahia 5 de Setembro
de 1817.- Conde dos Arcos.
Para o Commandante do Novo Destacamento da
Villa de S. Matheus José Thomaz de Aquino Cabral.
Archivo Publico da Bahia- Cartas do Governo
Livro 40-1819-1820.

Para 1 o ouvidor interino da Comarca de Porto


Seguro.
Remetto a V. Mercê os dois requerimentos inclu
sos do Capitão João Manoel Vieira e de José Luiz dos
Santos Guimarães, pedindo ambos Provisão para o of
ficio de Tabellião Escrivão da Camara, e mais anne
xos da Villa de S. Matheus dessa comarca, allegando o
primeiro ter sido suspenso da serventia, em que estava
do dito officio por denuncia contra elle dada de que se
acha livre ; e o segundo pelo estar actualmente servindo
com provimento dessa Ouvidoria, para que V. Mercê
me informe qual dos dois pertendentes está nas circuns
tancias de ser provido no mencionado officio .
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 20 de Julho de
1819. - Conde da Palma.
Snr. Ouvidor interino da Comarca de Porto Seguro.

Para o Capitão mór das Ordenanças da Villa de


Jaguaripe.
Para que não aconteça experimentar-se falta de
farinha nesta cidade, assim pelo grande consumo que
nella tem, como pela exportação que fazem para os por
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 427

tos da Europa e Costa d'Africa , convem que V. Mercê


tenha sempre em vista a minha ordem de 25 de Maio
do anno passado, promovendo com efficacia a remessa
deste genero direitamente para o celleiro publico .
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 18 de Setembro
de 1819. Conde da Palma.
Snr. Capitão mór das Ordenanças da villa de Ja
guaripe.
Do mesmo se expedirão para os capitães mores das
villas de Maragogipe , Valença , Cairú, Maraú, Caravel
las , S. Matheus.
Archivo Publico da Bahia- Cartas do Governo
Livro 44-1819-1820.

Illm . Exm. " Snr.


Pelo Officio de V. Ex ." , n. 5 com data de 2 do cor
rente , Ficou Elrey Nosso Senhor sciente de ter V.
Ex. mandado huma copia do officio do Governador da
Capitania do Espirito Santo , sobre o estado da Povo
ação de Linhares , para melhor execução do Aviso de
3 de Setembro passado , visto que ficando aquella Co
marca nas immediações da mencionada Povoação, a
ninguem he mais interessante do que aquelle Ministro ,
o Conhecimento dos differentes objectos comprehendi
dos no mesmo officio.

Deus Guarde a V. Ex..-- Palacio do Rio de Janeiro


31 de Janeiro de 1820.- Thomas Antonio de Villa Nova
Portugal.
Ao Sur. Conde da Palina.

Para o Dr. Ouvidor da Comarca de Porto Seguro .


Tendo El Rey Nosso Senhor mandado remetter- me
com Aviso Regio de 23 de Setembro passado huma
428 LIMITES

copia do officio que foi dirigido ao Ministro Secretario


de Estado dos Negocios do Reino pelo Governador da
Capitania do Espirito Santo sobre a Povoação de Li
nhares, principal Destricto do Rio Doce, afim de que
eu ficasse inteirado dos differentes objectos que com
prehende, cujo conhecimento poderia ser util não sé
pela proximidade daquella capitania com esta, como
pelas relações estabelecidas , entre huma e outra, trans
mitto a V Mercê huma copia daquelle officio assignado
pelo secretario deste Governo, para sua intelligencia.
em rasão da immediação em que está esta comarca da
quelle districto .
Deus Guarde a V. Mercê. Bahia 25 de Novembro
de 1819.-Conde da Palma.

Para o Ouvidor de Porto Seguro.


Envio a Vmce. o requerimento de João de Souza
Victoria, Piloto Mór da Barra do Rio Doce que pede
para ser mudado do mesmo Emprego para a Barra de
São Matheus, afim de que me informe, expondo todas
as circunstancias, que houverem a este respeito para
as faser subir ao soberano conhecimento de S. Matheus.
Deus Guarde a Vmcê. Bahia 8 de Fevereiro de 1821 .
-Conde da Palma.
Sr. Dr. Ouvidor de Porto Seguro .

Livro de Posse e juramento dos Governos - 1820


a 1829.

Archivo da Camara Municipal da Bahia .


Em 1.º de Fevereiro de 1822 lavrou-se um auto de
Comparecimento dos eleitores parochiaes da Provincial
da Bahia para a nomeação da Junta Provisoria do Go
verno da mesma Provincia.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 429

Na Comarca de Porto Seguro está mencionada


entre as suas villas a de S. Matheus .
Neste auto de installação reunio-se a junta eleito
ral de parochias da mesma Provincia para proceder na
forma do Decreto das Cortes para eleição da Junta Pro
visoria de Governo.
Compareceram todas as parochias da Provincia.
Foi eleito Francisco Vicente Vianna para Presi
dente e para secretario Francisco Carneiro de Campos.
Compareceram 264 eleitores e pela parochia da
villa de S. Mathues Compareceo e assignou o auto Joa
quim José de Azevedo.
Escrutinador José Joaquim de Almeida- Escruti
nador Joaquim Baptista Sobral- O Eleitor Francisco
Antonio de Souza- O Eleitor José Martins Ferreira---
O Eleitor Manel Correia Henriques .
Relação das pessoas que são nomeadas pelos Elei
tores desta Villa de S. Matheus como Cabeça de Distri
cto para o Governo Provisorio da Provincia da Bahia.

Membros
Para Presidente o Coronel Luiz Manoel de Oliveira
Mendes , 1 ; Para secretario o Capitão mór Joaquim Ig
nacio de SiqueiraBulcão, 1 ; O Dr. Juiz de Fóra da Ca
choeira, 1 ; O Illm." Joaquim Pedro do Couto, 1 ; O Illm."
Coronel Manoel de Lima Pereira, I.
2." Vottos

Para Presidente o Reverendissimo Vigario Miguel


Teixeira de Araujo e Santos , 1 ; l'ara secretario o Illm. "
Baixarel Francisco Gomes Brandão Montezuma, 1.

Membros

( Illm.º Baixarel Cypriano José Barata de Almeida ,


1; o Illlm. Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Al
buquerque, 2 ; o Reverendissimo Vigario de S. Domin
430 LIMITES

gos da Saubara , 1 ; o Dr. Joaquim José Pinheiro de


Vasconcellos , 2 ; O Reverendissimo Luiz da Costa
Coutto, I.

3.º Vottos

Para Presidente o Dr. Domingos Martins , 1 ; Para


Secretario o Reverendissimo Vigario de S. Domingos da
Saubara, 1 ; o Illm. ° Baixarel Francisco Gomes Brandão
Montezuma, 1 ; o Illm.º Advogado Balthazar da Silva
Menezes , 1 ; o Reverendissimo Vigario José Joaquim
Teixeira dos Santos , 1 ; P. Antonio Leite de Barcellos .

N. 51

Importante documento que revela


como foi que as authoridades do Espi
rito Santo, aproveitando a occasião em
que a Bahia se achava empenhada a
luta da Independencia do Brasil, apo
deraram-se á mão armada da villa de S
Matheus e seu districto , sob um pre
texto sem fundamento . (* 1

Exmos . Senhores do Conselho Interino .


Recebemos em oito de Março deste presente anno
os officios e Instrucções que Vossas Exas. nos dirigi
rão para nesta villa como cabeça de Districto se proce
der Eleição dos Eleitores de parochia e se reunindo os
das mais Freguesias e os das Villas intermedio para o
Collegio Eleitoral nomear deputados para esta Pro
vincia e Governo Provisorio para essa da Cachoeira ou
cidade da Bahia seja estiver pela causa da Indepen
dencia do Brasil e taobem acompanhava a copia do
Decreto de 3 de Agosto proximo passado.
Nos Exmos . Senhores como desde o dia 22 de Ja

(*) Os originaes pertencem ao Archivo Publico da Bahia. -


Nota do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 431

neiro do presente anno , em que nesta Villa foi acla


mada sua Magestade Imperial, vindo a esse fim o
Exm. Commandante das Armas da Provincia do Es
pirito Santo Fernando Telles da Silva com mais de qui
nhentas Baionetas unio esta villa aquella Provincia,
a pretexto de que os primeiros Povoadores desta forão
mandados por um Ministro daquella Provincia e em
alguns annos foi dali corrigida esta Villa e por isso se
deo parte a S. M. a ver se aprovava esta aquisição e
desde o dito dia 22 de Janeiro tem se seguido dali todas
as ordens e a Junta da Fasenda Publica tomado conta
de todos os reditos e os dinheiros que a vião tudo tem
sido remettido a dita Provincia e deixou nesta huma
guarda de dous officiaes Tenente e Alferes, com oi
tenta homens de Armas alem de huma Companhia de
trinta e sete praças de pedestres Commandada por hum
Tenente .

E por este motivo logo que recebemos os officios


de Vossas Exas. demos parte a Junta Provisoria de
Governo da dita Provincia do Espirito Santo donde
nos mandarão diser por officio que no Archivo desta
Camara se acha em boa guarda que por hora nada re
solvessemos a faser que elles davão parte a S. M. I.
porem por termos a noticia de que a Assemblea Geral
Legislativa da Corte do Imperio se acha obstada pela
falta dos Deputados dessa Provincia e talves seja por
causa e demora das Cabessas das divisões não terem
mandado as suas actas e resoluções nos resolvemos a
mandar se fizessem os Eleitores da parochia e formar o
Collegio Eleitoral para tudo se remetter a heça capi
tal e que agora o fazemos sem ainda termos recebido
ordem de o fazermos . Este he Exmos . Senhores o movel
que tem a vido na demora e não é por inação nossa e de
432 LIMITES

sejamos seja desculpavel por Vossas Excellencias toda


a demora que tem avido .
Deus Guarde a Vossas Excellencias por felizes
annos. São Matheus em Camara de 5 de Abril de 1823.
De V. Exas . subditos - Bento de Jesus Silvares
José Joaquim de Almeida- Antonio Gomes Sodré
Francisco José da Costa.

N. 52

Documentos que demonstram ter a


população de S. Matheus, apesar da
coacção em que se achava sob o dominio
de authoridades estranhas ao seu governo
legitimo, obedecido a este e concorrido
para a eleição dos deputados da Bahia. ( * )

Termo de Eleição dos que tiveram vottos para depu


tados da Provincia da Bahia :
Aos vinte dias do mez de Abril de mil oitocentos
e vinte tres annos nesta villa de São Matheus em os
Passos do Concelho della onde depois de todo o Colle
gio Eleitoral assistir a Missa solenne do Espirito
Santo e o discurso analogo que fez o Reverendo Viga
rio da Vara José Joaquim dos Santos se tornou a reu
nir ahi procedendo digo ahi se procedeo na Eleição dos
deputados procedendo- se em tudo na forma das Instru
cçõens que tiverão a pluralidade de vottos os constan
tes da Relação inclusa com os Vottos a margem e por
Valerem nelles as qualidades do §§ 2.° do Cap. 4 man
darão fazer este termo que assignou todo o Collegio
Eleitoral. Eu Manoel Lourenço Fontoura secretario
que o escrevi.- P. Antonio Leite Barcellos- S . Manoel
Lourenço Fontoura-Escrutinador José Joaquim de Al

(*) Os originaes pertencem ao Archivo Publico da Bahia.


Nota do auctor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 433

Eleitor Francisco Antonio de Souza- O Eleitor José


Gonçalves Ferreira- O Eleitor Manoel Correia Henri
ques.
Relação das pessoas que tiverão vottos para de
putados da Provincia da Bahia que hão de hir para a
Assembléa Geral e Legislativa da Côrte do Rio de
Janeiro, Capital do Imperio do Brasil pelo Collegio
Eleitoral da Villa de São Matheus .
O Doutor Francisco Carneiro de Campos , 3 ; o dou
tor Luiz Pedreira do Couto , 3 ; o Revm.º Vigario Mi
guel Teixeira de Araujo Santos , 1 ; o Illm . Francisco
Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque , 1 ; o Dr.
José Lino Coutinho , 2 ; o Revm . ° Vigario João de Po
muceno Moreira, 1 ; o Dr. Joaquim José Pinheiro de
Vasconcellos , 1 ; o Revm.º Vigario Manoel Gonçalves
Freire Requião, 1 ; o Illm. Baixarel Francisco Gomes
Brandão Montezuma¸ 1 ; o Illm.º Baixarel Cypriano José
Barata, 2 ; o Illm . Felippe Justiniano Costa Ferreira ,
1; o Revm. Padre Ignacio Teixeira de Araujo Santos,
1 ; o Dr. Domingos Martins , 1 ; o Dr. João Gonçalves
Portugal , 1 ; o Dr. Luiz José de Carvalho e Mello , 1 ;
o Illm.º José de Oliveira Barbosa, 1 ; o Illm.º João Pe
reira Caldas , 1 ; o Illm.º Manoel Caetano Pinto , 1 ; o
Illm. Coronel João Lopes Baptista, 1 ; o Illm.º João
Gomes Valle, 1 ; o Illm. Professor de Grammatica Jubi
lado Revdo . Padre José Simplicio Ferreira, 1 ; o Illm.º
Professor de Grammatica Antonio Joaquim Moreira de
Pinho, 1 ; o Capitão Sebastião Borges da Purificação , I ;
Vigario João de Jesus Maria Ferraz , 1 ; o Capitão
Joaquim Ignacio de Siqueira Bulcão, 1 ; o Revm.° Luiz
da Costa Couto, 1 ; o Illm. " Professor de Grammatica
Manoel José Correia, 1 ; somma 33 ; P. Antonio Leite
de Barcellos- S. Manoel Lourenço Fontoura- Escruta
dor José Joaquim de Almeida- Escrutador Joaquim
L 55
434 LIMITES

Baptista Sobral- O Eleitor Francisco Antonio de Souza


-O Eleitor Manoel Correia Henriques-O Eleitor José
Martins Ferreira.

Nomeação para Governo Provisorio da Provincia da


Cachoeira que nomeia o Eleitor da Parochia abaixo
assignado nesta Villa de S. Matheus aos 20 de
de Abril de 1823 :
Presidente o Revm.º Padre Vigario Miguel Tei
xeira de Araujo Santos- Instancia ;
Secretario o Baixarel Francisco Gomes Brandão
Montezuma- Bahia ;
Membros

O Baixarel Cypriano José Barata de Almeida


Bahia
Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquer
que-Bahia
O Revm. Vigario de S. Domingos da Saubara
Santo Amaro
O Dr. Joaquim José Pinheiro de Vasconcellos
Dito
O Revm. Luiz da Costa Loubo- Dito .

Nomeação dos Deputados que hão de servir para a


Assembléa Geral a bem da Nassão :
O Revm. Padre Ignacio Teixeira de Araujo Santos
-Santo Amaro
O Dr. Domingos Martins- Dito
O Dr. Francisco Carneiro de Campos-Bahia
O Dr. Luiz Pereira do Coutó- Dito
O Dr. João Gonçalves Portugal- Dito
O Dr. Luiz José de Carvalho e Mello- Dito
O Illm." João Pereira Caldas - Bahia
O Illm. Sr. José de Oliveira Barbosa- Dito
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 435

O Ilm." Manoel Caetano Pinto- Dito


O Illm." Coronel João Lopes Baptista- Dito
O Illm.º João Gomes Valle- Dito.

N. 53

Documento que revela 0 objectivo


da occupação á mão armada feita em S.
Matheus pelas authoridades do Espirito
Santo em 22 de janeiro de 1823.
Nelle entretanto se vê ao mesmo
tempo que o Governo interino e nacional
da Bahia reclamou contra a violencia e
0o despojo que a Provincia soffria com a
conquista de S. Matheus levada a effeito
pelo Governo do Espirito Santo.
No mesmo documento se lê que os
invasores sabiam não lhes pertencer o
territorio occupado por elles, visto ser a
pergunta a quem devia ficar elle anne
xado o fim da consulta ao Governo Central
Tambem o proprio Aviso , natural
mente pesando a illegali adede que
mandava executar, declinava para a As
sembléa Geral do Paiz a resolução final.
porque sómente esta tinha authoridade
sobre limites de Provincias.

N. 57 --Imperio- Em 10 de Abril de 1823.


Declara a villa de S. Matheus sujeita á provincia
que lhe ficar proxima.
Sendo presente a S. M. o imperador o officio do
governo da provincia do Espirito Santo de 20 de Março
proximo passado, em que representa que tendo- se a villa
de S. Mathues unido á referida provincia para acclama
ção do mesmo A. S. e pretendendo agora o conselho
interino do governo da Bahia que a dita villa se lhe re
436 LIMITES

conheça sujeita, entra em duvida á qual das duas pro


vincias deve ficar pertencendo aquella villa ; manda
pela secretaria do Estado dos negocios do imperio par
ticipar ao referido governo que deve reconhecer- se su
jeita áquella que lhe ficou mais proxima, até que a A
semblea Geral do Brasil determine os limites das pro
vincias .
Palacio do Rio de Janeiro em 10 de Abril de 1823 .
-José Bonifacio de Andrade e Silva.

N. 54

Documento pelo qual se vê que a


Assemblea Geral, creou uma freguezia por
solicitação de um governo que não tinha
jurisdicção alguma sobre o territorio em
que se pretendia crear a parochia, pois
foi ella traçada pelos rios Preto e Santa
Anna, os quaes circumscrevem um es
paço que se acha fóra do termo da
villa de S. Matheus, que era o que
se achava annexado provisoriamente ao
Espirito Santo pelo aviso de 10 de Abril
de 1823.
Coteje-se o decreto abaixo com On
autos da creação da villa, pag. 248 e se
guintes, tendo um mappa deante dos
olhos.

A Regencia em nome do Imperador faz saber a


todos os subditos do Imperio que a Assemblea Geral
Legislativa decretou e ella sancciona a lei seguinte .
Artigo unico .-Que a actual Capella Filial da
Povoação da Barra da Villa de S. Matheus que já tem
Pia Baptismal e cemiterio seja erecta em Parochia,
abrangendo a mesma Povoação todos os Povos esta
belecidos nas margens de Leste dos rios Preto e Santa
Anna, dividindo-se com a freguesia da dita villa a
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 437

oeste pelos referidos rios ; ao sul com a de N. Senhora


da Conceição de Linhares pela Barra Secca e ao norte
com a de S. José de Porto Alegre pelas Itaúnas. Diogo
Antonio Feijó, Minstro e Secretario de Estado dos
Negocios da Justiça assim o tenho entendido e faça
executar.
Palacio do Rio de Janeiro em 11 de Agosto de
1831 , decimo da Independencia. Francisco de Lima
e Silva-José da Costa Carvalho-João Braulio Moniz
-Diogo Antonio Feijó.

N. 55

Certidão pela qual se vê a verdadeira


Breve Noticia Estatistica de Francisco
Alberto Kubim sobre a capitania do Es
pirito Santo. A apocrypha publicada na
Revista do Instituto Historico e Geogra
phico Brasileiro foi alterada nos lugares
em que aquelle Governador falla da
limitação da sua capitania com a da
Bahia para fazer substituir as referencias
ao rio Doce pelo rio Mucury. Veja-se o
cotejo do falso e do verdadeiro trabalho
de Francisco Rubim na pag . 83.
Depois da epocha em que foi publi
cado com as adulterações o trabalho
de Rubim foi que a Provincia do Espi
rito Santo começou a pretender que
tinha direitos a divisoria pelo rio Mu
cury ,

Archivo Nacional

Certifico em virtude do despacho do director desta


Repartição, exarado no requerimento do Dr. Braz Her
menegildo do Amaral que o trecho do documento pe
dido pelo Supplicante está junto ao officio de 25 de
Junho de 1816. dirigido ao Illm. Exm. Sr. Conde da
Barca por Francisco Alberto Rubim é o do teor se
438 LIMITES

guinte : Breve Noticia Istatistica da Capitania do Espi


rito Santo que forma huma parte do Reyno do Brasil.
O districto do Rio Doce, principio da capitania do Espi
rito Santo pela parte do Norte está demarcado pelo cer
tão com a Capitania de Minas Geraes , e beira mar com
a da Bahia de Todos os Santos com quem confina pela
maneira seguinte. Com a Capitania de Minas Geraes
pelo Espigão que corre de Norte a Sul entre os rios
Guandú, Amanassú , ou Maynassú, sendo do dito Espi
gão para o Rio Guandú agoas vertentes , o Districto da
Capitania do Espirito Santo , servindo- lhe outro sim da
parte do Norte de demarcação a Serra que está defronte
do Quartel do Porto Souza.
Fica o Quartel do Registo do Porto do Souza da
parte do Sul do Rio Doce duas leguas abaixo d afós
do rio Guandú que entra no Rio Doce por baixo do ul
timo degráo da Cachoeira das Escadinhas : este se acha
guarnecido com um Inferior e vinte Soldados do Corpo
de Pedestres ; do Quartel segue para o certão hua Es
trada para a Capitania de Minas Geraes e atravessando.
o rio Guandú segue athé o Quartel do Registo de Minas.
Geraes denominado Quartel de Lorena, cuja Estrada
tem de distancia tres legoas e nella ha as precisas Pon
tes e Estivas ; por esta descem os mineiros com seos.
generos athé junto do Quartel do Porto Souza onde se
embarcão em Canôas para descer o Rio Doce athé a Po
voação de Linhares e alli fasem suas transacções e vol
tão com Sal e ferro ; descendo o Rio Doce do Quartel
do Porto do Souza athé a fóz do Rio Santa Joanna que
fica na margem do Sul ha cinco legoas ; desta a fóz do
Rio Pancas que fica na margem do Norte ha duas le
goas e meia defronte da qual fica a ilha do mesmo nome
que tem de comprido tres quartos de legoa dista o
Quartel de Anadia situado na margem do Sul duas le
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 439

goas e tres quartos cujo está guarnecido com um In


ferior e doze Soldados do Corpo de Pedestres ; deste a
Povoação de Linhares que fica da parte do Norte onze le
goas e meia. Esta povoação está situada em huma muito
alta Barreira em forma de meia Lua para o Rio Doce
superior a todos os terrenos que a rodeão porque são
varzeas em planicies na distancia de muitas legoas e por
isso não obstante achar- se ainda inculta por todos os
lados hé de hua vista a mais aprazivel que pode imagi
nar- se, principalmente a do Rio que por ser e estar cheio
de grandes Ilhas e outras mais pequenas representão
ao longe grandes e differentes Embarcações todas ellas.
ferteis como todo o terreno firme cuja producção he
tão prodigiosa que os que plantam hum alqueire co
lhem dusentos tendo mais a vantagem de que ao mesmo
tempo, que todos os Lavradores dos mais Districtos
desta Capitania lamentão o incalculavel estrago que
lhes causa a Formiga estes se alegrão por não terem en
contrado hua só em suas Lavouras ; o que se pode as
severar he que a natureza parece se esmerou em faser
apetecivel todos os terrenos deste Districto sendo de
lamentar que o Gentio ou Indios Cuietés , vulgarmente
chamados Botucudos ou Gamellas (pela extravagan
cia com que furão o beiço inferior, e as orelhas em cujos
buracos mettem grandes rôlhas de páo ) sejão os que es
tejão utilisando de sua formusura e da sua fertilidade.
Tem a Povoação de Linhares apenas trinta e seis fogos.
e dusentas e vinte e quatro Almas ; nella h ahum Hospi
tal militar onde era o 1.° Quartel de Linhares, hum ci
rurgião mór e os medicamentos precisos , ha hum Al
feres do Corpo de Pedestres Commandante de todos.
os destacamentos do Districto, e que mensalmente
os visita. De novo ha nesta Povoação hum grande cer
cado de muito bom Pasto , onde seus moradores lanção
440 LIMITES

seo Gado vacum sem prejuiso algum do Gentio por


estar todo intrincherado de mataria groça derribada,
esta mesma trincheira continua athé o novo Quartel de
nominado 2.° Quartel de Linhares na distancia de quasi
huma legoa vindo a ficar quasi sobre a lagoa de Gypa
ranan ; está guarnecido com um Inferior e vinte e qua
tro soldados do Corpo de Pedestres , cobrindo assim
as plantações dos Habitantes , as quaes ficão egual
mente defendidas por hum lado com a trincheira pelo
outro com o rio do lago Gyparanan que desagua no Rio
Doce tendo ao mesmo tempo a vantagem de ficarem
com a Povoação em hua ponta e com o Quartel na outra,
communicando-se Com hua nova e grande Estrada que
vae atravessar pela testada de toda plantação e do outro
lado desta Estrada para o certão se está concluindo hua
nova derribada para servir de Trincheira e nella gira
rem as rondas militares athé a Povoação , afim de que
o Gentio não penetre nas lavouras com facilidade . Do
lado do Norte da Povoação, em distancia de legoa e
meia está a grande Lagoa Gyparanan abundantissima
de Peixes ; esta se communica por hum Rio do mesmo
nome com o Rio Doce e he tão grande que tem em si
hua Ilha em que se acolhem os Pescadores todo o tempo
que não estão no exercicio da pesca . Na margem do Rio
do lado do Sul defronte da Povoação está a fazenda
denominada Bom Jardim Com Engenho de Açucar, Fa
brica de Farinha de Guerra , Olaria onde se faz famosa
Telha e Tijollos ; o dono della he João Phelippe de Al
meida Calmon , branco casado e nella vive com vinte e
duas pessoas ; desta Fasenda segue hua nova Estrada
que finalisa no Quartel de Aguiar, a qual tem quatro
legoas de Comprido , e trinta palmos com tres Pontes
fortes e por ella podem facilmente carregar todos os
generos de importação e exportação para sahirem pela
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 441

Barra do Riacho, hua vez que não queirão transpor


tal-os pela do Rio Doce ; tem de mais esta nova Estrada
a vantagem para os viandantes que da Capitania se
guem suas Jornadas para aquelle Districto, oupara a
Capitania da Bahia não terem de dar hua volta de oito
legoas pela praya para chegarem a Povoação de Linha
res . Da Povoação de Linhares á Barra do Rio Doce na
margem do Norte tem oito legoas, hua legoa acima se
acha estabelecido com lavoura e gado Antonio José
Martins homem branco e casado com hua familia de
deseseis pessoas ; da casa deste segue pela costa do mar
a Estrada Geral desta Capitania para a da Bahia ficando
distante quatro legoas o Quartel de Monsarás guarne
cido com hum Inferoir e seis Soldados Pedestres o qual
serve de Registo ainda que os limites desta Capitania
finalisão no lugar denominado Barra Secca tres legoas
ao Norte de Monsarás onde principia o Districto da
Villa de S. Matheus pertencente já a Capitania da Bahia.
A Barra do Rio Doce não tem outro embaraço mais do
que sua corrente ser violenta em tempo das Agoas , e
neste tempo por espaço de quasi legoa se vê correr a
Agoa clara do Rio por entre o aul do mar ; o Rio den
tro hé muito largo á moda de Bahia póde navegar- se
por elle acima em Barcos e Canôas mais de vinte legoas ;
na Barra podem entrar Sumacas e maiores Embarca
ções ; a principal razão de não ser frequentada hé porque
por ora não ha em Linhares ao menos que exportar. Da
Fazenda Bom Jardim situada em frente de Linhares á
margem do Sul do Rio Doce tem oito legoas ; neste lugar
está o Quartel da Regencia Augusta guarnecido com
hum Inferior e dez soldados do Corpo de Pedestres ;
deste para o Sul pela Costa do mar do Quartel do Ria
cho são quatro legoas cujo Quartel está guarnecido com
hum Inferior e seis Soldados do Corpo de Pedestres e
L 56
442 LIMITES

serve de Registo para o Interior desta Capitania ; delle


subindo o Rio do mesmo nome está em distancia de
pouco mais de tres leegoas o Campo do Riacho ou Aldea
dos Indios com dusentas Almas ; seguindo tres quartos
de legoas , outr'ora junto ao Quartel de Aguiar ; se
guindo tres quartos de legoas se acha a lagoa do mesmo
nome ; desta para o sudoeste está a lagoa Dourada em
distancia de duas legoas e meia ; da primeira da parte
do Norte e ao Sul do Rio Doce está o Quartel de
Aguiar, o qual fica quatro legoas para o Certão e quasi
na altura da Povoação de Linhares guarnecido com um
Sargento mór de ordenanças e deseseis Soldados Indios ;
deste principia a nova Estrada que sae defronte de Li
nhares de que acima se trata ; no mesmo Rio do Riacho
desagua o dos Corubayos e tres legoas para o Certão
se acha o Quartel do mesmo trecho guarnecido com
um Inferior e quatro Soldados do Corpo de Pedestres.
Não ha em todo este Districto Freguezia algua nem
outro algum lugar ou Povoação ; tem muitas legoas
para o Certão se acha o Quartel do mesmo titulo guar
necido com um Inferior e quatro Soldados do Corpo de
Pedestres . Não ha em todo este Districto Freguezia
algua, nem outro algum lugar, ou Povoação ; tem muitas
lagoas muitos largos e extenças que tem sido descober
tas em occasião de Entradas para atacar o Gentio, assim
como alguns Rios , porem por falta de gente se não tem
podido ver onde vão desagoar as primeiras e a direcção
e foz dos segundos. E para constar onde convier pas
sou-se de accordo com o artigo vinte e seis paragrapho
primeiro do Regulamento annexo ao Decreto numero
nove mil cento e noventa e sete de nove de Dezembro
de mil novecentos e onze, a presente certidão que eu An
tonio de Freitas Paiva, sub-archivista do Archivo Na
cional escrevi e assigno. Rio de Janeiro 13 de Março de
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 443

1913.-Armando Esteves pelo Chefe de Secção . Rio de


Janeiro 15 de Março de 1913.-Alcebiades Furtado, Di
rector.

N. 56

Officio do Governo da Bahia ao do


Espirito Santo reclamando contra as ten
tativas feitas sobre o patrimonio da villa
de S. José de Porto Alegre.

Palacio do Governo do Estado da Bahia em 20 de


Maio de 1896.

Exm. Sr. Presidente do Estado do Espirito Santo.


Por telegramma de diversas autoridades de S. José
de Porto Alegre, foi este governo informado de haver
sido invadido o territorio bahiano, na zona comprehen
dida entre o rio Mucury e o riacho Doce, por um enge
nheiro que commissionado pelo Estado do Espirito
Santo, se propunha medil-a e demarcal-a .
Não é a primeira vez que procura o Espirito Santo
exercer dominio nessa zona da Bahia , oppondo aos
nossos incontestaveis direitos, cabalmente demonstra
dos e garantidos por documentos historicos da melhor
fé, as tentativas de injusticaveis invasões , que, feliz
mente, não tiveram ainda, e, espero não terão jamais o
desejado exito.
Ao tempo do regimen extincto essas tentativas se
caracterisaram na referida zona pela fundação de um
posto fiscal , reduzindo-se ao depois em 1893 sob fei
ção diversa e manifestando- se agora pelo facto que
acabo de notificar e contra o qual protesto, esperando
do vosso patriotismo, amor á ordem, espirito de justiça
e respeito ás leis da Republica que asseguram ao Es
tado da Bahia os limites da ex-provincia deste nome
444 LIMITES

que fareis respeitar por vossas auctoridades o territo


rio referido que de direito e de facto lhe pertence.
E' certo que em algumas obras e cartas geographi
cas do paiz está o rio Mucury indicado por divisa limi
tativa entre os territorios da Bahia e do Espirito Santo.
Mas isso que pode explicar as pretenções espirito
santenses, não as justifica quando o direito da Bahia.
encontra sua defesa plena e absoluta em documentos
de alto valor historico que assignalam, dissipando
todas as duvidas outros limites aos territorios dos dois
supramencionados Estados da Federação Brasileira.
Parte integrante da Bahia de hoje a antiga capi
tania de Porto Seguro, concedida a Pero de Campo
Tourinho, por carta Regia de 27 de Maio de 1534. e
Foral de 23 de Setembro do mesmo anno , passando á
Coroa por confisco feito ao ultimo duque de Aveiro , é
evidente que, aparte qualquer limitação legal em seu
actual territorio por acto emanado do poder compe
tente, o que não consta dos archivos da nação houvesse
occorrido, esse territorio devia e deve ter os limites in
dicados no precitado Foral, os quaes, alcançando para
o Espirito Santo , o assignalaram em divisa separatriz
o lado do Sul o riacho Doce e confinando por elle com
os actuaes Estados da Bahia e Espirito Santo.

Mais expressivos ainda do que esse Foral , o auto


da creação da villa de S. José de Porto Alegre , lavrado
a 15 de Outubro de 1779, em virtude da Carta Regia
de 3 de Março de 1755 e na presença do ouvidor da Co
marca o Dezembargador José Xavier Machado Mon
teiro , e , depois delle, o que se lhe seguio de juramento ,
medição, demarcação e sentença , demonstram ambos .
inequivocamente ser o riacho Doce o limite sul da re
ferida villa com as terras do Espirito Santo .
O decreto legislativo de 11 de Agosto de 1831 que
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 445

estabelece os limites da parochia filial da Barra de S.


Matheus com a freguezia de S. José de Porto Alegre,
mais confirmou ainda o direito da Bahia ao territorio
de que o Espirito Santo tem procurado assenhorear- se
porquanto, delimitando as duas parochias pelo rio
Itaúnas , que fica ao sul do riacho Doce, estendeu as
divisas de demarcação da precitada villa de S. José de
Porto Alegre .
Documentos subsidiarios alem de outros que
guardam e conservam os archivos do paiz , a provisão
de 18 de Novembro de 1816, assignada por Bernardo
José da Cunha Gusmão Vasconcellos , o inventario da
Companhia Mucury, feito em 31 de Dezembro de 1831
e opiniões de auctorisados geographos- attestam todo
o direito incontestavel que tem a Bahia ao territorio
agora novamente invadido por auctoridades do Espirito
Santo .
De posse, pois , a Bahia na sequencia de muitissi
mos annos do territorio que fica ao sul do rio Mucury
e se estende até a margem do riacho Doce , exercendo
`nessa zona de seus dominios plena e nunca interrom
pida jurisdicção , nada impedia que o municipio de S.
José de Porto Alegre aforasse, como o fez , parte desse
territorio Bahiano a innumeros lavradores que de
longa data o estão explorando, como nada auctorisa
que o Espirito Santo o pretenda por seu , recorrendo ao
regimen inconveniente das invasões .
Nem mesmo a supposição de ser litigioso esse ter
ritorio, que, de facto o não é , como o demonstram os
documentos citados, os mappas e estudos do engenheiro
Teive e Argollo, a carta do Brasil do Barão do Rio
Branco, e a posse mansa e secular em que sempre esti
veram os seus habitantes sob a jurisdicção da Bahia,
exercendo todos os seus direitos civis e politicos , nem
446 LIMITES

mesmo essa gratuita supposição justificaria o facto da


invasão, porquanto , na forma do art. 34, n. 10 do capi
tuloIV da Constituição da Republica dos Estados Uni
dos do Brasil cabe ao Congresso Federal resolver de
finitivamente s obre os limites entre os Estados , e não
estes por violencias, que, sobrepondo a razão ás garan
tias do direito e ás normas da justiça , se revelam sob •
todos os aspectos perigosas e inconvenientissimas.
A Bahia, pois , calma na consciencia de seu direito,
confia, Sr. presidente do Estado do Espirito Santo , que
sabereis providenciar contra os abusos e excessos das
auctoridades sob vosso governo, impedindo que prosi
gam nas invasões do seu territorio, contra as quaes,
em seu nome desde já protesto caso se renovem , decla
rando-vos que não poderei consentir nellas em prejuizo
deste Estado , ao qual a Carta Magna de 24 de Feve
reiro garantio o territorio da antiga provincia da Bahia
e a sua constituição de 2 de Julho de 1891 vedou quaes
quer desmembramentos e bem menos os que se querem
effectivos por violencias contra direitos seus expres
samente affirmados em documentos positivos e do mais
alto valor historico , juridico e moral .
Permittireis que vos testemunhe aqui as seguran
ças da minha mais alta estima e justa consideração.
Dr. Joaquim Manoel Rodrigues Lima. -
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 447

N. 57

Havendo o engenheiro Miguel de


Teive e Argollo sustentado em artigos
publicados na imprensa diaria os direitos
da Bahia lhe foi endereçado o documento
seguinte pelos habitantes daquelle terri
torio.

Illm . Snr.

Nós abaixo assignados, residentes neste Munici


pio temos a subida honra de dirigir a V. S.ª as seguin
es linhas para agradecer- lhe por plavras escriptas a
grande defeza feita em prol dos direitos do nosso charo
Estado e portanto deste Municipio.
Lemos com bastante attenção o artigo de V. S.ª
dirigido á redacção do Jornal de Noticias de 25 de
Agosto do cadente anno , demonstrando , como grande
conhecedor, quaes os limites entre os dois Estados vi
sinhos, Bahia e Espirito Santo, e por elle ficamos cer
tos que o poder competente fará sanar os abusos cons
tantemente praticados pelo Espirito Santo e sempre
reclamados por nós. Estamos certos de que o Governo
Estadual não poderá encontrar um auxiliar melhor que
V. S. , visto que tem os melhores conhecimentos deste
Estado e de seu territorio, para decidir esta importante
questão.
Muito bem contestou V. S.ª os argumentos do illus
tre representante do Espirito Santo.
A carta regia de D. José I concedeu , é verdade.
que os limites deste municipio se estendessem até o
riacho Doce, pequeno rio ; e esta carta, como disse V. S.ª
em seu citado artigo , não foi revogada por acto legal.
Não sabemos quaes os direitos concedidos ao Es
pirito Santo para, por força , querer possuir o que não
448 LIMITES

lhe pertence, chamando a si um direito que nos foi dado


desde 3 de Março de 1755.
Os abaixo assignados muito agradecem a V. S. e
esperam que o illustre protector continuará a defender
com a sua palavra brilhante e penna de ouro, os direi
tos deste uberrimo municipio .
Aproveitamos a opportunidade ainda para signi- 、
ficar a V. S. os nossos protestos de profundo respeito,
estima e consideração . Saude e fraternidade.

Villa de S. José de Porto Alegre, 18 de Outubro


de 1893 -Ao illustre cidadão Dr. Miguel de Teive e
Argollo, muito digno engenheiro civil.- (Assignados)
Arthur Gonçalves Martins , juiz preparador ; Ettore Gu
minelle, 1.º supplente do juiz preparador ; Manoel Pedro
Leão Fontes , intendente municipal ; Antonio de Souza
Mafra, commissario de policia ; Manoel Ignacio Boa
Nova, tabellião ; Olympio Francisco Sanier de Souza,
professor publico ; João Paulo da Fonseca , presidente
da Camara Municipal ; Salustiano Domingues de Oli
veira, membro do Conselho Municipal ; Justiniano José
de Britto, membro do Conselho Municipal ; Josephino
José do Nascimento, membro do Conselho Municipal ;
Elias Barbosa de Farias, eleitor ; Ricardo José Gonçal
ves, eleitor ; Francisco Moreira Dias Lavro , procurador
geral dos orphãos ; Julio Haneisen , negociante e juiz de
paz ; Julio Alberto Haneisen , membro do Conselho Mu
nicipal ; João Francisco de Jesus, eleitor ; Antonio Ju
lião Koch, membro do Conselho Municipal ; Jesuino
Teixeira dos Santos, negociante e eleitor ; José de Le
mos Monteiro, 1.º juiz de paz ; Joªão Antunes do Carmo
Penedo , escrivão de paz ; Jorje Rodrigues de Oliveira,
eleitor ; João Alves Rodrigues, eleitor ; Manoel Bernardo
Koch, juiz de paz ; Manoel Francisco Barbosa, eleitor ;
Deolindo Francisco de Mesquita, eleitor.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 449

Conclusões do engenheiro Miguel de Teive e Argollo


sobre o caso da raia pretendida pelo Espirito Santo
em o municipio de S. José de Porto Alegre :
"Se o territorio do sul do Rio Mucury até o riacho
Doce pertenceu ao terreno de S. José de Porto Alegre ;
se, em virtude da Carta Regia de 3 de Março de 1755 de
·
D. José 1.º, foi concedido a este terreno por limite sul
o riacho Doce ; se em 1769 foram legalmente demarca
dos os limites do terreno de S. José de Porto Alegre ,
os quaes se estendem para o sul do rio Mucury até a
margem do riacho Doce, se o decreto de 11 de Agosto
de 1831 , estabelecido os limites de S. Matheus até as
Itaunas , respeitou o disposto na referida Carta Regia
e a demarcação do municipio de S. José de Porto
Alegre ; se até o presente não houve acto que revogasse
essa carta e o mencionado decreto , como pode- se negar
actualmente o dominio que tem o municipio de S. José
de Porto Alegre do Mucury , e portanto ao Estado da
Bahia aos terrenos que se estendem da margem direita
do Mucury ao riacho Doce ?"

N. 58

Reclamações mandadas ao Governo


da Bahia pelas auctoridades de S. José
de Porto Alegre , em virtude das tenta
tivas do Espirito Santo para se apossar
dos territorios daquella villa bahiana .

Ao Dr. Governador do Estado Bahia . - Engenheiro


aqui mandado pelo Estado Espirito Santo medir e de
marcar 8 leguas de terreno na margem sul do rio desta
villa como limites daquelle estado ; esses terrenos per
tencentes a esta villa, pelo livro da creação , desde que
é limite Riacho Doce e não margem sul deste rio .
I, 57
450 LIMITES

Este perimetro da medição acha-se todo ocupado


por lavradores por aforamento a esta municipalidade,
traz portanto isto grande transtorno para estes lavra
dores .
Espero que V. Ex." tomará na devida considera
ção e aguardo vossa resposta.- Manoel Pedro Leão Fon
tes, intendente .

Ao Exm. Dr. Governador-Bahia- Engenheiro


enviado governo Espirito Santo aqui medir, demarcar
terrenos margem sul rio Mucury pertencente este mu
nicipio. Municipes protestam contra semelhante en
trada nesse territorio sem autoriasação governo. Insis
tem pedindo qualquer providencia. Levo vosso conheci
mento, aguardando vossas ordens.- Juiz preparador,
Arthur Gonçalves Martins.

N. 59

Documentos que provam nunca ter o


Estado do Estado do Espirito Santo exer
cido jurisdicção sobre o que está ao Norte
do riacho Doce, no termo da villa de S.
José de Porto Alegre e as multiplas ten
tativas que tem feito para estabelecer a
sua authoridade no que pertence a esta
villabahiana pelos autos da sua creação.

Illm . Snr. 1.º supplente em exercicio do Juiz Pre


parador de S. José de Poro Alegre .
Certifique-se ; se não houver inconveni
encia . São José de Porto Aegre 4 de Agosto
de 1904.-R. Gazzinelli.

Diz João José de Oliveira Junqueira, commissario


Regional no Sul do Estado da Bahia que precisa a bem
dos interesses do Estado da Bahia que vos digneis
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 451

mandar que o Escrivão e Tabellião deste termo , re


vendo os autos existentes em seu cartorio e bem
assim os livros destinados à revisão de jurados , ses
sões de Tribunal do Jury e de escripturas certifique
junto a este 1.º quaes os autos crimes existentes em
seo cartorio de delictos occorridos ao sul do rio Mu
cury, especificando a data e natureza do Crime , o lu
gar em que se deo, os nomes dos offensores e offen
didos e bem assim se forão submettidos a julgamento ,
2.º quaes os inventarios e arrolamentos que existem
em cartorio de pessoas moradoras ao sul do rio Mucury,
ou referentes a bens situados naquella zona, especifi
cando os nomes dos inventariante e inventariado, data
do inventario e a morada das pessoas ou situação dos
bens ; 3.º quaes os autos de habilitação para assenta
mento de requerentes domiciliados ao sul do rio Mu
cury, especificando a data do requerimento, nomes dos
contrahentes e residencias dos mesmos ; 4.º quaes os
autos de justificação para exportação de madeiras ti
radas nas mattas situadas ao sul do rio Mucury , espe
cificando os nomes dos requerentes, data do requeri
mento e situação das mattas donde forão extrahidas
as madeiras : 5.º se existe em seu cartorio algum outro
documento ou acção referentes a pessoas ou bens , re
sidentes ou situados ao sul do rio Mucury ; 6.º quaes os
jurados residentes ao sul do rio Mucury, especificando
seus nomes e residencias e se os mesmos tem compare
cido a sessão do jury e feito parte do conselho de sen
tença.

7.° Quaes as escripturas de compra ou venda que


existem em seu cartorio, referentes a bens situados
ao sul do rio Mucury, nomes dos compradores e ava
liadores, data da escriptura e situação dos referidos.
bens .
452 LIMITES

Pede deferimento . S. José de Porto Alegre 4 de


Agosto 1904.-João José de Oliveira Junqueira.
Cecilio Domingues de Jesus , Tabellião e Escrivão
do Termo de S. José de Porto Alegre, etc.
Em cumprimento do despacho retro revendo o
Archivo existente em o cartorio deste Termo ; e quanto
ao primeiro item , certifico existirem em o referido car
torio, sob o meu poder e guarda, quatro autos crimes
referentes a delictos occorridos no sul do rio Mucury
sendo um por crime de defloramento, occorrido em
1897 em o lugar denominado Satium , á margem sul
do rio Mucury, sendo offensor João Gonçalves de
Britto e offendida Maria Felicia Monteiro.
Outro por crime de morte occorrido a 6 de Outu
bro de 1901 no Povoado de Santa Clara, situado ao sul
do rio Mucury, sendo offensor Manoel da Silva e of
fendido Trajano Motta . Outro ainda por crime de feri
mentos leves occorrido em Julho de 1903 no lugar deno
minado Campo da Gamboa, lado sul do rio Mucury,
sendo offensor Manoel José dos Santos e offendido
Fulgencio Lucas de Carvalho e outro finalmente por
crime de ferimentos graves occorridos em Maio de
1899 em a fazenda do Sr. Abilio José Ribeiro, situado ao
sul do rio Mucury, sendo offensores João Pedro Leo
nardo de Tal e offendido Joaquim Antonio dos San
tos . Os tres primeiros processos foram submettidos
ao jury em as sessões de 12 de Outubro de 1897, 27 de
Maio de 1902 e 2 de Fevereiro de 1904. Quanto ao se
gundo item , certifico tambem existirem sob meu poder
e guarda tres autos , sendo : um inventario iniciado em
23 de Fevereiro de 1898 , sendo inventariante D. Roza
Gazzinelli e inventariado Ettore Gazzinelli , sendo os
bens inventariados situados em o lugar denominado
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 453

Pontal, no povoado de Santa Clara e á margem do rio


Mucury, todos do lado do sul do referido rio .
Um arrolamento iniciado em 16 de Agosto de
1893 sendo arrolante Tercilia Maria da Conceição e ar
rolado Valentim Pinto de Oliveira , estando os bens ar
rolados situados no lugar denominado Sesmarias , lado
sul do rio Mucury, onde tambem residiam a arrolante.
e o arrolado ; outro ainda iniciado em 1903 , sendo ar
rolante José Antonio de Jesus e arrolada Josephina
Mariana de Jesus , constando de bens situados á mar
gem sul do rio Mucury no lugar denominado Itaypa
bas, onde residiam.

Quanto ao terceiro item certifico existir em meo


poder e guarda cinco autos para habilitação para casa
mentos, sendo uma requerida em 14 de Abril de 1903.
sendo contrahente Altino Cardoso Lopes e Delphina
Maria da Silva, residentes em Barra Nova. Outra re •
querida em 1.º de Maio de 1904 , sendo contrahentes
Domingos Xavier da Costa e Damazia Maria da Pu
rificação, residentes no lugar denominado Alecrim.
Outra iniciada em 6 de Junho de 1904, sendo contra
hentes Agrinio Francisco da Silva e Joanna Maria da
Penna, moradores na mesma margem sul do rio Mu
cury. Outra iniciada em 12 de Junho de 1902 , sendo con
trahentes Antonio Mendes Violanta e Olegaria Maria
da Conceição , residentes em Barra Nova. Quanto ao
quarto item certifico existirem duas justificações , sendo
uma requerida em 19 de Maio de 1897 pelo Coronel
Manoel Pedro Leão Fontes , tendo sido extrahidas as
madeiras em o lugar denominado Sapucaia, lado sul do
rio Mucury e outra iniciada em 31 de Outubro de 1899
por Hermenegildo Soares de Alcantara, tendo sido as
madeiras extrahidas em o lugar denominado Gallinhas ,
lado sul do rio Mucury.
454 LIMITES

Quanto ao quinto item certifico existirem em meo


poder e guarda um officio do governador deste Estado
datado de 18 de Março de 1893 e dirigido ao Preparador
do Termo de Viçosa , capeando uma reclamação do
consul italiano neste Estado, sobre bens deixados por
Luiz Tagnini, situados em Santa Clara, sul do rio Mu
cury e uma acção comminatoria em que é autor Abilio
José Ribeiro e réo José Antonio de Jesus , versando a
mesma acção sobre terrenos no lugar denominado Car
reira do Matta Negro, margem sul do rio Mucury.
Quanto ao sexto item, certifico que revendo os livros
destinados á revisão dos jurados e sessões do jury , del
les consta serem jurados nesse Termo e ao sul do
rio Mucury os seguintes cidadãos : Calixto Dias
dos Santos , Angelino Antunes Saúde, Archi
mimo Ferreira do Amaral , Antonio Alves Tourinho ,
Eliseu Manoel de Asumpção , José Gonçalves de
Britto, João Gonçalves de Britto, José Felicio Monteiro
.
Netto, João Francisco da Cruz, Lino Antunes Sajde ,
Lucidio Alves da Silva, Pedro Pereira de Araujo , Vir
gilino José da Paixão , Domingos Francisco dos San
tos, Angelo Francisco da Costa, José Joaquim Gar
cia, José Geminiano do Egypto , Domingos Francisco
da Silva, Be Imindo José da Silva, Antonio Mendes.
Violanta, Manoel Mendes Violanta e Sebastião José
de Oliveira, sendo estes quatro ultimos residentes na
Barra Nova, tendo todos estes comparecido ás sessões
do Tribunal do Grande e Pequeno Jury e feito parte
dos conselhos de sentença .

Quanto ao setimo item certifico que revendo o


livro de Notas , delle consta cinco escripturas , sendo a
primeira de 14 de Agosto de 1897 , versando sobre a com
pra do sitio denominado Buraco do Bicho na margem
sul do rio Mucury, sendo comprador João Mauricio da
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 455

Cruz e vendedores Justiniano José de Britto e sua mu


lher. A segunda de 2 de Outubro de 1897. versando
sobre a venda de uma posse de terras no lugar deno
minado Barreira Vermelha , na margem sul do rio Mu
cury, sendo comprador João Paulo da Fonseca e ven
dedor José Pereira de Souza . A terceira de 9 de Maio
de 1898, versando sobre a venda de uma posse de ter
ras no lado sul do rio Mucury, no logar denominado
Escarvada, sendo comprador Justiniano José de Britto
e sua mulher. A quarta de 18 de Junho de 1901 , ver
sando sobre a compra do sitio denominado Gamboa ,
ao lado sul do rio Mucury, sendo comprador João Tho
maz da Costa e sua mulher e Dona Luiza Dias.
Quinta em 23 de Junho de 1904 versando sobre a
compra de uma posse de terras situadas na margem
sul do rio Mucury, pertencente ao fallecido Barão de
Pereira Navarro de Andrade e vendedor o engenheiro
civil Caetano Silvestre de Almeida . Era o que se conti
nha no dito archivo em relação ao pedido na petição
de fl uma , e seo desyacho , em virtudee do que extrahi
a presente certidão : do que dou fé. Eu , Cecilio Do
mingues de Jesus , Escrivão e Tabellião que extrahi e
assigno . São José de Porto Alegre 4 de Agosto de
1904.- O Escrivão, Cecilio Domingues de Jesus.
N. 25 rs. 900 .
Pg. Novecentos reis de sello de verba, por falta
de estampilhas. Agencia da Collectoria de Viçosa e
Mucury 4 de Agosto de 1904. - O agente, José de Lemos
Monteiro.

Commissariado Regional S. José de Porto Alegre


5 de Agosto de 1904.
Exm . Sr.
Em cumprimento ás ordens de V. Ex. communi
456 LIMITES

cadas por telegramma de 2 do corrente mez e em addi


tamento ao telegramma que tive a honra de dirigir a
V. Ex. em 3 , envio a V. Ex. a certidão junta, passada
pelo Escrivão e Tabellião do termo de eS. José de Porto
Alegre, donde se vê qual tem sido a intervenção judi
ciaria no territorio comprehendido entre o rio Mucury
e o riacho Doce, não me sendo ainda possivel remetter
os documentos completos sobre a intervenção policial
por não ter ainda recebido resposta do sub-commissa
rio de Santa Clara, resposta difficil por ser muito affas
tado aquelle povoado, limites de Minas Geraes que é o
que justamente mais tem intervindo policialmente em
o sul do rio Mucury.
Alem, entretanto , da intervenção constante do sub
commissario de S. Clara , tem a policia intervindo sem
pre fasendo prisões e inqueritos no sul do rio Mucury,
inqueritos que se achão annexados aos processos cri
mes de que dá noticia a certidão junta e ainda tambem
intervindo para repressão da parte de areias monazi
ticas, enviando em Dezembro de 1899 um destacamento
policial commandado pelo official Pamplona para faser
respeitar as ordens do Governo deste Estado, ordens que
não tinhão sido acatadas , conforme consta da certidão
junta do official de justiça que foi para aquelle territo
rio, em virtude de ordem telegraphica de 30 de Novem
bro, do então secretario interino do Thesouro Dr.
Theophilo Borges Falcão e mais ainda mandando em
principios deste anno a força policial destacada em Mu
cury juntamente com o supplente de juiz preparador
em exercicio , isto por ordem do Exm.º Sr. Dr. João
Pedro dos Santos , afim de faser cessar a tirada de areias
monaziticas no lugar denominado Lençóes, faser apre
hensão das mesmas areias e proceder contra os respon
saveis, por terem estes se retirado para o Espirito
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 457

Santo, logo que tiverão conhecimento da approxima


ção da força, já tendo retirado tambem para aquelle
Estado as areias extrahidas.
Quanto aos actos praticados pelas authoridades
fiscaes devo communicar a V. Ex." que segundo infor
mações que colhi não existe estabelecimento commer
cial algum do lado do sul do Mucury e norte do riacho
Doce, limitando- se portanto os actos fiscaes á cobrança
de impostos de transmissão de propriedades, escripturas
e inventarios de que faz menção a certidão junta e a
cobrança pelo municipio de impostos de exportação .
não fasendo as guias referencia ao lugar donde provi
nhão as mercadorias , rasão porque deixei de pedir cer
tidão.

Por não se achar aqui o Secretario do Conselho


Municipal, em cujo poder se acha o Archivo do mesmo.
Conselho , deixo de remetter hoje a V. Ex. o que fa
rei entretanto em а 1. " opportunidade , certidão dos
eleitores domiciliados no sul do rio Mucury e que tem
exercido o direito de voto em S. José de Porto Alegre
e bem assim publicas formas de escripturas de conces
sões de terrenos ao sul do rio Mucury feitos pela Ca
mara Municipal remettendo algumas de 1864 a 1885.
Conforme tive a honra de communicar a V. Ex .
em meu telegramma de 3 do fluente mez , tendo os Srs.
Queiroz Moniz , negociantes na Capital Federal, Al
berto Sindex domiciliado em Theophilo Ottoni e outros
comprado a este Estado em 1897 e 1898 os terrenos si
tuados entre Boa Nova e Riacho Doce, obtiverão de
D. Antonia da Conceição Lopes, residente na Capital
Federal, á rua da Saúde n. 121 , os documentos que esta
possuia referentes aquelles terrenos , isto é , diversas
concessões antigas pela então Camara Municipal de S.
José de Porto Alegre.
I. 58
458 LIMITES

Alem da compra de terrenos a que acabo de re


ferir-me feita ao Estado da Bahia, outras compras tem
sido feitas a este Estado de terrenos dos sitios deno
minados Sapucaia e Vomitorio pelo Coronel Manoel
Pedro Leão Fontes , dos sitios denominados Barreira
Vermelha e Bota-fogo por João Paulo da Fonseca, do
denominado Maroys por José de Britto , do denominado
Gallinha por Hermenegildo Soares de Alcantara, do de
nominado Suspiro por Manoel Antonio da Rocha, do
denominado Santa Barbara por D. Anna Francisca de
Jesus . do denominado Patiobas nor Theodoro de Souza,
do denominado Escalvado por Benedicto Leonardo da
Silva, outro denominado tambem Escalvado por D.
Maria do Sacramento ; do denominado Escondido por
Justiniano José de Britto e outros que devem constar
da Inspectoria de Terras , sendo todos estes situados
á margem do rio Mucury.
Cumpre-me ainda em additamento ao officio que
tive a honra de dirigir a V. Ex. " em 22 do mez pro
ximo passado dizer que se nenhum agente fiscal do Es
tado do Espirito Santo apparece em o territorio situado
ao norte do riacho Doce depois de 1889, nos ultimos
annos do Imperio, entretanto , fez o Espirito Santo
duas tentativas para estabelecer agente fiscal á mar
gem do sul do rio Mucury , agentes de mui ephemera
permanencia, pois erão incontinente retirados, á pri
meira reclamação da Bahia, não tendo os referidos
agentes praticados acto algum.
São estas as informações que posso levar ao conhe
cimento de V. Ex ." , attento ao pequeno espaço de tempo
de que dispuz , promettendo empregar todos os esfor
ços a meu alcance para obter o maior numero de docu
mentos possiveis sobre a intervenção constante do Es
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 459

tado da Bahia e somente delle , no territorio situado


ao sul do rio Mucury.
Cumpre-me ainda communicar a V. Ex." , em res
posta aos telegrammas que me forão dirigidos em data
de 29 de Julho do corrente anno que de accordo com as
ordens recebidas, logo que aqui cheguei procurei estabe
lecer ao sul do rio Mucury o destacamento policial para
este fim destinado e como não encontrasse casa proxima
do riacho Doce resolvi estabelecel-o em uma casa si
tuada na Barra Nova até que podesse obter ou fazer
uma casa no lugar denominado Lenções , meia legua
ao norte do riacho Doce, tendo felismente conseguido
obter em 2 do corrente mez uma casa em aquelle refe
rido lugar pelo que foi para alli transferido o referido
não só a ser pequeña a casa que obtive , como ainda a
não terem embarcado em Porto Seguro as praças que
devião completar aquelle destacamento .
Conforme informações que me foram prestadas
pelo commandante do destacamento e pelo Sr. Capitão
José João Espinheira Osorio que até alli foi afim de
providenciar sobre supprimento ás praças , nenhuma
occurencia desagradavel tem occorrido , permanecendo
sempre as praças ao norte do riacho Doce. O unico in
cidente que occorreo foi o ter sido procurado o com
mandante do destacamento por um individuo que di
sem-me ser o fiscal do consumo federal no Espirito
Santo , o qual perguntou ao mesmo comandante se ti
nha ordem para desarmar os passageiros que viessem
do territorio do Espirito Santo e que retirou-se sem nada
replicar, á vista da resposta que obteve de que apenas
estava alli para garantir a ordem e não consentir em
retirada de areias .
Occorre ainda que das informações que me tem
sido ministradas por passageiros vindos de S. Matheus ;
460 LIMITES

o governo do Espirito Santo não pensa em remetter


força ou qualquer agente ao norte do riacho Doce, con
stando apenas que vae mandar um destacamento poli
cial para Itaunas pois alli corre a noticia de que o Estado
do Bahia pretende estender a sua jurisdicção até aquella
zona.
Aguardo noticia confirmando essas informações
para reforçar, conforme for preciso o destacamento do
riacho Doce, já tendo para isso cinco praças na villa
de S. José de Porto Alegre, força esta que ainda não
mandei para o riacho Doce , attenta a ser pequena a
casa e alem disso por deverem as mesmas praças ser
pagas em dinheiro, pois somente em Itaunas poderão
encontrar os generos necessarios e não encontrar nin
guem que queira faser esse supprimento .
Ao Exm . 0 Snr . Dr. José Marcellino de Souza
D. D. Governador do Estado da Bahia. - João José de
Oliveira Junqueira, Commissario Regional.

Certidão

Certifico e porto por fé eu official de justiça.


abaixo assignado que , em cumprimento do que me foi
ordenado, dirigi-me ao logar denominado Lençóes
aquem do riacho Doce limite sul deste termo e ali , mu
nido do telegramma do Dr. Secretario do Thesouro e
Fazenda do Estado que me foientregue pelo agente
fiscal d'esta mesma villa , o cidadão Manoel Pedro Leão
Fontes, encontrando uma turma de trabalhadores que
tendo a frente um Engenheiro vindo do Estado do
Espirito Santo , o qual se havia temporariamente reti
rado para este Estado , os intimei para que não conti
nuassem no trabalho de extracção de areias amarel
las a que se destinavam, em vista da ordem superior
exarada no dito telegramma que lhes foi lido e pelos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 461

mesmos trabalhadores foi- me declarado que nada ti


nham a obedecer porque estavam alli trabalhando por
ordem do Engenheiro e que só conheciam aquelles ter
renos como pertencentes ao Estado do Espirito Santo
e nada tinham que ver com a Bahia e que portanto
não suspendiam seus trabalhos e que o Engenheiro
chefe dos mesmos tinha seguido para a Victoria, afim
de trazer pessoal para os ditos trabalhos . O referido é
verdade e dou fé.
O official de justiça . Joaquim Procopio dos Santos.

Certidão passada a pedido verbal do Doutor João José


Junqueira. Delegado em commissão ao sul deste
Estado da Bahia, na forma abaixo :
Certifico e dou por fé , eu Escrivão abaixo assi
gnado que attendendo ao pedido verbal que me foi feito
pelo Sr. Doutor João José Junqueira . Delegado regio
nal em commissão ao sul deste Estado da Bahia, sobre
uma licença de seiscentas braças de terras , no logar
denominado Carreira do Matta Negro, concedida pela
Municipalidade desta villa ao cidadão Abilio José
Ribeiro , constante de uns autos de acção cominatoria
de embargos á primeira em que é autor o mesmo ci
dadão Abilio José Ribeiro e réo José Antonio de
Jesus e sua mulher, passei a rever os referidos autos e
delles consta a fls . tres dos mesmos autos a petição e
despacho do teor seguinte : Ilm." Srs . Presidente e
mais Conselheiros da Camara Municipal de Mucury.
Abilio José Ribeiro , achando- se ha cinco annos la
vrando em terrenos pertencentes ao patrimonio desta
Camara, na Carreira denominada Matta Negro , mar
gem sul do rio Mucury, vem impetrar desta illustre
corporação seiscentos braças de frente ( 600 ) com os
fundos a que tiver direito , extremando estas seiscen
462 LIMITES

tas braças pelo lado de cima com o morador José An


tonio de Jesus e pelo lado de baixo com Antonio
José Carneiro. O supplicante certo de que lhe será
concedida a dita licença, visto já ter no logar bens de
raiz , como seja plantação de cacau e cereaes , rancho
para accondicionar as fructas , sujeitando-se a pagar os
fóros do tempo decorrido. Assim o supplicante pede
deferimento . E. R. Mcê. Rio Mucury 9 de Março de
1903. Assignado Abilio José Ribeiro . Sello n. 82 , 200 rs
Pg . dusentos reis de sello em verba por não haver estam
pilhas. Agencia da Collectoria de Viçosa Mucury 16
de Maio de 1893. O agente Antonio de Souza Mafra.
Despacho .- Conceda- se a licença pedida sem prejudicar
a terceiro, pagando os foros já decorridos e bem assim
ficará pagando annualmente 128000 dose mil reis e da
presente 5000 , cinco mil reis. Paço Municipal em ses
são extraordinaria de 30 de Maio de 1893 (assignados )
Fonseca, P.; Nock, Oliveira, Britto , Nascimento . Conta
D 5$000 . Fóros já vencidos 60$000 . Rege . 28000,
Somma 67000. Reg. em 30 de Maio de 1893. O secreta
rio Penedo . Era o que se continha em o original de que
bem e fielmente extrahi a presente certidão e ao qual
me reporto em meo poder e cartorio de que tudo dou fè.
São José de Porto Alegre 4 de Agosto de 1904-Eu ,
Cecilio Domingues de Jesus, escrivão que o escrivi e
assigno. O Escrivão Cecilio Domingues de Jesus.
N. 26-600 rs . Pg. seiscentos reis de sello em verba
por falta de estampilha. Agencia da collectoria de Vi
çosa e Mucury 4 de Agosto de 1904.José de Lemos Mon
teiro.

Em 1.º de Agosto de 1905 o governo do Espirito


Santo endereçou ao da Bahia o seguinte telegramma :
Victoria, 1- Exm." Governador da Bahia.
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 463

Bahia já pretendeu exercer jurisdicção sobre o ter


ritorio do Espirito Santo que invadio .
Reclamações governo deste Estado concorreram
Bahia retirasse força respeitando Mucury como divisa
marcada todos mappas tratados geographia. Chamo at
tenção V. Ex." seguinte telegramma de 14 Dezembro
de 1899. Bahia.-Acabam ser dadas providencias a cerca
invasão que dizeis ter praticado official Brigada Poli
cial daqui Antonio Pamponet em territorio desse Es
tado . Governo respeitará direitos Estado Espirito Santo
cujas relações cultiva com esmero. Cordiaes saudações .
Alem desse telegramma tenho outros documentos
que comprovam governo deste Estado sempre protes
tou como protesta agora contra invasão seu territorio.
Conto V. Ex. " mandará retirar força, respeitando assim
nossos incontestaveis direitos . Cordiaes saudações.
Presidente Estado .
O Sr. Dr. José Marcellino respondeu com este des
pacho :
Exm. Presidente Estado Espirito Santo- Victo
ria. Pequena força policial destacada territorio aquem
.
Riacho Doce , limite sul deste Estado com Espirito
Santo unico intuito manutenção ordem.
Em officio mostrarei razões valiosas firmadas do
cumentos incontroverso direito da Bahia esse territorio .
Espero esta discordancia entre os dois governos terá so
lução pacifica e de nenhuma sorte perturbarão estrei
tas relações amizade entre ambos existentes que pro
curarei manter . Saudações. —José Marcellino.
464 LIMITES

N. 60

Na Mensagem enviada pelo Sr. Dr


Araujo Pinho ao Congresso do Estado em
7 de Abril de 1910 está o seguinte sob a
epigraphe Relações com a Uniao e os
Estados.

"Continuam cordeaes as relações do Governo da


Bahia com os da União e dos Estados da nossa grande
Federação .
A questão dos nossos limites pelo lado do sul com
o Estado do Espirito Santo soffreu nova discussão com
o representante daquelle Estado , ultimamente entre nós.
por cujo digno intermedio será apresentado ao Governo
do Espirito Santo novo trabalho sobre o assumpto.
Nesse documento ( * ) recusou o Estado da Bahia
o caracter litigioso do territorio do sul do rio Mucury
e ao norte do riacho Doce , e demonstrando o direito
da Bahia , não só a esse territorio como ainda ao que
da margem direita do riacho Doce se prolonga para o
sul, protesta por elle , convidando o eminente Presidente
daquelle Estado á solução amigavel da questão , que
declara acceitar tambem nos termos do seu officio de 12
de Fevereiro ultimo , proposta perante os Tribunaes
judiciarios ou sujeita a arbitramento.
Nutro a esperança muito segura e grata de que
nem de um de outro meio havemos mister para , a
solução da pendencia, pois muito confio no espirito de
justiça do governo amigo do Estado visinho . Entretanto
e para que não encontre obstaculo o curso das negocia
ções, ou venham ellas a se interromper por falta de au
torisações vossas, convem estudardes a questão e habi

(*) Não encontrei o documento a que se refere o governador,


nem a correspondencia do representante do Estado do Espirito
Santo com o governo da Bahia.-N. do Auctor.
ENTRE A BAHIA E O FSPIRITO SANTO 465

litardes o governo com os poderes e permissões neces


sarias e os meios precisos para occorrer á despeza que
porventura haja de attender.

N. 61

Novas tentativas do Governo do Es


pirito Santo para estabelecer posse no
territorio entre o rio Mucury e o riacho
Doce, protestos e reclamações da Bahia.

Exm . Snr. Presidente do Supremo Tribunal Fe


deral.
Perante Supremo Tribunal Federal , a quem com
pete, forma art . 59 letra c Constituição, processar e jul
gar causas entre Estados , protesto em nome Estado
Bahia contra lei n . 801 , de 13 de janeiro de 1912 , do Es
pirito Santo , que autorisa venda zona comprehendida
entre rio Mucury e riacho Doce do dominio exclusivo
Bahia, como não ignora aquelle que tenta, hoje , alienar
o que lhe não pertence. Direito Bahia a alludida zona
funda-se em documentos de alto valor juridico , histo
rico , além posse , como já demonstrou este governo ao
do Espirito Santo em 1910, ao seu delegado Dr. Manoel
Santos Neves . Peço fazer constar da acta primeira ses
são Tribunal este protesto , que faço sciente Governador
premencionado Estado . Saudações. Braulio Xavier,
Governador Bahia .

Exm. Snr. Dr. Presidnte do Estado do Espirito


Santo .
Leio com indisivel surpreza publicação " Diario
Manhã ”, orgão official desse Estado , lei 801 , de 12 de
janeiro de 1912, que vos autorisa vender zona compre
hendida entre rio Mucury e riacho Doce . Como vos
L 59
466 LIMITES

declarou reiteradas vezes este governo e por ultimo em


telegramma de 16 de outubro de 1911 , Estado Bahia,
além posse, estriba em documentos alto valor juridico
historico seu dominio naquella zona. Naquella occasião
vos foi proposto accordo fazer dirimir contestação in
fundada Espirito Santo e por vós foi o mesmo acceito.
Esta a razão da minha surpreza diante ultimo acto as
semblea desse Estado , por vós proprio sanccionado.
E' . pois com pezar que vos declaro que nesta data pro
testo perante o Supremo Tribunal Federal contra seme
lhante acto vosso e do legislativo do Estado visinho ,
que se não pode de modo nenhum justificar nas condi
ções em que se encontra alludida questão e provoca
da parte do governo medidas legaes asseguratorias di
reitos incontestes Estado , não excluindo as do desforço ,
hypothese effectuar-se a execução referida lei.
Saudações .—Braulio Xavier, Governador Bahia.

Directoria de Terras, Minas . Colonisação e Immi


gração . Bahia, 20 de Setembro de 1911. N.º- Exm. "
Snr. Dr. Secretario do Estado . Nesta data me foi apre
sentado pela Secção de Terras d'esta Directoria um te
legramma de 5 de agosto ultimo , em que o Delegado
de Terras do 13.° Districto communicou achar- se no
Mucury o Engenheiro Aurelio Menezes, commissionado
pelo Estado do Espirito Santo , para levantar o mappa
d'aquelle Estado , a partir da fóz do rio Mucury , inva
dindo portanto zona do territorio bahiano , telegramma
em que pedia o Delegado instrucções sobre o modo por
que deveria zelar os interesses do Estado .
Acompanhando o citado tegramma tambem me
foi entregue um officio do mesmo Delegado sob n. 41 ,
datado de 12 do mesmo mez de agosto e entrado na Di
rectoria em 1.º do corrente mez , em que , fazendo al
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 467

lusão aos ultimos telegrammas sobre o assumpto, o


Delegado dá conta das providencias que em falta das
instrucções pedidas tomara a respeito, submettendo á
consideração d'esta Directoria, por copia, a correspon
dencia trocada com o commissionado do Estado do Es
pirito Santo. Por ella se vê que, o Delegado de Terras
resalvou de certo modo os interesses do Estado , pe
dindo informações ao Engenheiro Delegado do Espirito
Santo e após o conhecimento de sua missão , protestando
junto ao mesmo contra a invasão do territorio bahiano
comprehendido na zona de sua delegacia. Julgando en
tretanto, muito deficientes as providencias por elle to
madas e comprehendendo a importancia do assumpto ,
apresso -me em passar as vossas mãos , por copia, não
só o telegramma, como o officio e correspondencia a
que me tenho referido n'este, afim de que , com a urgen
cia que o caso está a reclamar vos digneis de determinar
as providencias outras que me parecem necessarias e
indispensaveis no intuito de obstar a invasão do nosso
territorio e de seus limites, sem que tenha sido previa
mente avisado o Governo de tal serviço , que , no caso ,
litigioso como é maior importancia deeve merecer, po
dendo vir a comtribuir para augmentar as complica
ções já existentes na marcha da questão de limites , que
entre os dois Estados têm sido até agora motivo de se
rios e acurados estudos , não havendo , aliás duvida ne
nhuma a respeito do direito que nos assiste.
Complexas como devem ser as providencias rela
tivas e excedentes as attribuições d'esta Directoria.
aguardo as vossas ordens no sentido de poder depois
de concertado o plano das providencias a serem toma
das, com segurança e orientação fazer executar aquellas
que forem de minha alçada.
Saude e Fraternidade.- (Assignado ) Arthur de Sá
Menezes, Director interino .
468 LIMITES

De Bahia Junho 1912.


Exm. Presidente Espirito Santo- Victoria.
Informações eu as tive do meo delegado de terras
na localidade. Tranquilisa -me entretanto afirmação
V. Ex.ª que estou certo fará annular concessão dada
contra legitimos direitos deste Estaodo . Solução defi
nitiva caso insisto em dizel-o é uma necessidade e agra
deço estar V. Ex.ª na mesma convicção .
Affectuosas saudações .-Seabra .

De Bahia, 15 Outubro 1913.


Coronel Marcondes Souza.
Presidente Espirito Santo- Victoria.
Posso assegurar V. Ex.ª que da parte do meu go
verno nenhum embaraço haverá á solução do litigio em
que se empenha com este o Estado do Espirito Santo
tendo em minha convicção que os documentos que op
portunamente farei apresentar o deixarão convencido
do absoluto direito da Bahia ao territorio que o Espi
rito Santo lhe disputa. Mais uma vez testemunho a
satisfação que me deixa a palavra de V. Ex.ª querendo
resolvida em inteira paz e com a melhor justiça essa
velha questão de limites dos Estados que presidimos .
Saudações . - Seabra.

De Bahia , 15 Outubro 1913.


Exm. Presidente Estado Espirito Santo .-Victoria.
Levo conhecimento de V. Ex.ª que Joaquim Duarte
fiscal da Camara de São Matheus percorrendo ter
reno margem sul Mucury pertencente ao municipio
deste nome, deste Estado aconselhou habitantes não
pagar impostos do municipio nem do Estado nem pres
tar obediencia ás autoridades do Estado doa Bahia.
Extranhado o facto quando as questões de limites entre
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 469

este Estado e o do Espirito Santo se devem resolver


dentro do direito e das normas da lei peço a V. Ex ."
as providencias necessarias para que cesse de vez o pro
cedimento dos anarchisadores que como Joaquim Du
arte buscam semear desordens perturbando no terri
torio deste Estado as suas relações legaes . Antecipo a
V. Ex. os meus agradecimentos pelas indispensaveis
providencias que peço e estou certo serão dadas e cum
pridas.
Affectuosas saudações .- Seabra.

De Bahia 15 Outubro 1913.


Dr. Pedro Fontes , Intendente Mucury.
O Sr. Governador inteirado vosso telegramma
sobre incorrecto procedimento Joaquim Duarte fiscal
Camara tomou as necesarias providencias enviando
reclamação ao Presidente Espirito Santo . Determi
nou-me ainda S. Ex." a creação da collectoria de Mu
cury para a qual mandou que fosse nomeado Menotti
Gazinele cuja conducta afiançaes . Espero ainda S.
Ex. resolver o caso da navegação para Mucury.
Affectuosas saudações. -Arlindo Fragoso, secreta
rio Estado .

Bahia, 15 de Junho de 1915.


N. 178.
Exm. Snr. Dr. Secretario do Estado .
O Delegado desta Directoria no 13.° districto com
sede em Mucury, em seu relatorio trimensal , de que só
agora tive sciencia, traz ao meu conhecimento um facto
que precisa ser devidamente estudado e resolvido com
urgncia, attenta a sua natureza .
" E' o caso de ter o Estado do Espirito Santo feito
concessão , pela lei n. 801 , ao Dr. Alcides Francisco de
470 LIMITES

Castro Junqueira , de uma faixa de terras de mil metros


de largura, comprehendida em toda a extensão que
vae entre a foz do Rio Mucury e o Riacho Doce. "
Consta, ao mesmo Delegado , que o concessionario
vae iniciar a plantação de coqueiros na referida zona.
Apresso-me pois a notificar-vos o facto afim de
ser tomada uma providencia urgente a respeito , visto
como este Estado tem sobejos motivos para concide
rar- se senhor do territorio concedido pela referida lei.
Vem de longe esta pendencia em que os governos
bahianos tem procurado chegar a um accorde com os
de Espirito Santo, sem que pareça haver da parte d'este
o mesmo empenho de respeitar os nossos direitos , sendo
de notar que alguns actos até revelam falta de sinceri
dade não compativel com a posição d'aquelles a quem
são confiados cargos de certa responsabilidade.
Estudos diversos tem sido feitos a respeito , taes
como um do illustre Director da Bibliotheca Publica,
Dr. José de Oliveira Campos , junto a ese officio , um
outro do ex-Secretario do Estado Dr. José Carlos Jun
queira Ayres de Almeida, por occasião de vir a esta
capital tratar d'este assumpto um delegado especial do
Espirito Santo , constando-me que o illustrado Snr. Dr.
Braz do Amaral , quando na Europa, em busca realisada
nos archivos de Portugal, achára documentos de mais
importancia, relativamente ao caso, e que, por falta de
uma insignificante verba negada pelo governo de então,
não pertencem hoje ao nosso archivo .
Por diversas vezes têm os governos do Espirito
Santo invadido territorio, pretendendo exercer actos de
posse.
No meu archivo particular encontrei um officio
que em 20 de setembro de 1911 enderecei ao Snr. Dr. Se
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 471

cretario e que junto por copia e onde se vê o que


affirmo.
Lamento não possuir a Directoria os elementos que
sobre o assumpto poderia fornecer se não fosse des
truido o seu archivo, pelos quaes ( telegrammas tro
cados entre os dois governos ) se comprehenderia bem
a falta de sinceridade a que já me referi, chegando a
haver da parte do governo do Espirito Santo a facili
dade de declarar que havia mandado levantar coorde
nadas geographicas dentro da area litigiosa para deter
minar os limites do Estado .
Sobre o facto mesmo a que se refere este officio ,
foram expedidos os telegrammas , que por copia tambem
vos envio, pelo Snr Dr. Governador, publicados n
"Jornal de Noticias " de 10 de fevereiro do corrente
anno.
E' o que de momento, sem os recursos que poderia
encontrar no archivo da repartição , se mé offerece dizer
a respeito , aguardando as vossas ordens e deliberação
com o interesse que a todos nós desperta a questão .
Reitero os meus protestos de subida estima e consi
deração .
Saude e fraternidade .
Director, Arthur de Sá Menezes.

N. 62

Ultimo officio do Governo do Espi


rito Santo ao da Bahia sobre a questão .

Estado do Espirito Santo, Palacio do Governo em


Victoria, 13 de Agosto de 1917.
N. 11 annexo.
Exm . Sr. Dr. Governador do Estado da Bahia.
Em dias do mez findo foram pedidos officialmente ,
1

472 LIMITES

por pessoa que merece a confiança do Sr. Presidente


da Republica documentos relativos á divergencia que ,
a partir de 1896 mais se accentuour entre o Estado que
administro e o que está sob a superior direcção de V.
Ex. " no tocante á linha divisoria dos respectivos terri
torios.

Supunha então que a solicitação de taes papeis ( que


me consta haver sido identicamente endereçada ao Go
verno da Bahia) attenta a alta representação da pessoa
que a encaminhou , tivesse desde logo , a virtude de co
hibir da parte das autoridades bahianas a ampliação da
sua acção fiscal, envolvendo a cobrança de impostos
sobre productos do solo espiritosantense, preparados
por pessoas sujeitas à jurisdicção territorial do Estado
do Espirito Santo, até que um bom entendimento ou
arranjo amistoso se estabelecesse entre os Estados li
mitrophes, pondo termo a attrictos emergentes do es
tado de cousas actual. Nesta justa espectativa, fui, no
entanto , surprehendido com os officios que por copia
tenho a honra de sujeitar á apreciação do elevado cri
terio e patriotismo de V. Ex . " nutrindo o natural desejo
que por parte do Governo da Bahia providencias serão
dadas em ordem a fazer cessar a acção das autoridades
bahianas de S. José de Porto Alegre, contra os meus
jurisdiccionados e concidadãos que mui legitimamente
cultivam a zona espiritosantense da Comarca de S. Ma
theus que tem por extrema ao norte o rio Mucury.
Consta do Archivo Publico deste Estado que ante
riormente um dos antecessores de V. Ex . , o illustre
Sr. Dr. Rodrigues Lima, reclamou contra o acto do
então Presidente do Estado , Sr. Dr. Muniz Freire que
mandou effectuar uma ou mais medições de terras devo
lutas á margem do Sul do rio Mucury allegando no offi
cio sob n. 71 de 20 de Março de 1896 que tanto pelo
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 473

foral da capitania de Porto Seguro, como pelo auto da


creação da villa de S. José de Porto Alegre , de 15 de
Outubro de 1779 e o que lhe seguio de juramento
medição , demarcação e sentença , o Estado da Bahia.
dividia-se com o do Espirito Santo pelo riacho Doce , o
que alias estava plenamente corroborado pelas cartas
do Brasil do Barão do Rio Branco e do engenheiro Teive
e Argollo. Sem embargo do respeito inspirado no saber
e merito de quem affirmou semelhantes proposições ,
não posso deixar de pedir venia a V. Ex.ª para ponderar
que ellas são menos exactas em seu conteudo . O auto
da creação da villa de S. José de Porto Alegre de 1679,
digo 1779, assignou á dita villa um patrimonio de oito
leguas de raio, salvo erro, devendo , em consequencia of
territorio de Porto Seguro vir até o corrego do riacho.
Doce ou ainda mais ao sul.

Resta-me entretanto , declarar a V. Ex.ª que do


referido auto (de que não possuo copia authentica , que
alias desejára possuir, se a tanto quisesse V. Ex.ª pe
nhorar-me ) pelas noticias que tenho não consta que o
ouvidor de Porto Seguro houvesse obtido permissão
real para faser a demarcação de que se trata ou ella
fosse ulteriormente approvada pelo soberano de Portu
gal, sendo de notar não só que el - rei conservava o do
minio eminente a mais alta superioridade e real senhorio
sobre seus subditos e naturaes a cerca das terras que
doava, como ainda que a quantos nella exercessem ju
risdicção, só usariam nos expressos termos em que fosse
outhorgada, conforme a linguagem da Ord . II , T. 45 ,
§§ 5.0, 9.º, 31.º, 43.º, 45.º , 51.º , convindo additar que não
escaparam ao preceito os ouvidores das terras. Ora,
teve o ouvidor de Porto Seguro autorisação regia, antes
ou depois do mencionado auto , para demarcar os limi
tes das terras encravadas na capitania referida extre
L 60
474 LIMITES

mando-as da de sua visinha pelo sul ? Tudo faz crer que


não, attento o silencio do predito auto ; logo, não podia
transferir mais direito do que possuia ao tempo de sua
investidura e por sua força delle ; nemo plus juris ad
alium transferre potest, quam ipes haberet.
O acto do ouvidor, conseguintemente, foi exorbi
tante e fora de duvida é que nenhuma efficacia juridica
pode ter para transferir ou legalisar dominio . Conceda
mos, sem embargo do exposto que o auto em disputa
reunisse as condições requeridas em documentos equi
valentes e • mais ainda, que em verdade tivesse força
probante do dominio bahiano sobre a zona marcada até
Riacho Doce. Isso poderia ser invocado até antes da in
dependencia do Brasil não vale em data posterior ; a-
em face do uti possidetis que milita em favor do Estado
do Espirito Santo ; b-em face do aviso de 10 de Abril
de 1823 ; c- em face do decreto legislativo de 11 de
Agosto de 1831. Deriva a posse espiritosantense da carta
regia de 1.º de Junho de 1534 confirmada por outra de
21 de Outubro de 1604 , começada pelo donatario Vasco
Fernandes Coutinho e continuada até hoje por seus suc
cessores.

Pouco importa que a capitania real do Espirito.


Santo sob o Imperio se transformasse politicamente em
provincia e sob a Republica em Estado ; civilmente o
seu territorio e a sua extensão subsistem . O facto de
ter sido possuida por um primitivo dominus aproveita
aos seus successores ; quem outr'ora possuio ainda

hoje se presume possuir ; possessor olim et hodie pos


sessor presumitur. Ao contrario da actividade politica,
a civil não se mutila. Subsistente a posse da capitania
do Espirito Santo, em todos quantos representam o pri
mitivo donatario até agora , a lei civil não soffre que
sejam preteridos em favor de quem quer que seja ; ao
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 475

contrario assegura ao possuidor a melhor posição ;


melior est conditio possidentis.
Si, pois , a posse é um facto que indica o direito pre
esistente , conforme a lição de Lafayette na questão de
limites entre os Estados de Ceará e Rio Grande do Norte
e si o uti possidetis tem efficacia em falta de convenção
valida como ensina Clovis Bevilacqua , Dir. Publ. Int. 1,
349, o Espirito Santo tem inteira rasão de invocal -o. Isto
posto , volvamos aos monumentos legislativos . Citamos
o aviso de 10 de Abril de 1823 ; convem que lhe salien
temos a origem. Tendo o Governo Provisorio da provin
cia do Espirito Santo , representado contra a anomalia de
permanecerem sujeitos ao Governo adverso ao Imperio
com sede na Bahia , a villa e povo de S. Matheus mandou
o Imperador que ambos deviam reconhecer -se sujei
tos ao governo que ficasse mais proximo , até que
a Assembléa Geral do Brasil determinasse limites
das respectivas provincias . " Como quer que con
tinuasse pouco esclarecida a raia divisoria do municipio
espiritosantense de São Matheus pela extensão da zona
que termina á margem do Mucury, onde se acham loca
lisadas as pedras pretas ( em lingua geral itau nas) em
1831 , a Regencia Trina expedio em nome do Imperador
o seguinte decreto , apos ter sido approvado pela Assem
bléa Geral : "Art. unico.- Que a actual Capella Filial
da Povoação da Barra de São Matheus que já tem
pia bastimal e cemiterio , seja erecta em Parochia
abrangendo a mesma povoação a todos os povos
estabelecidos nas margens de leste dos rios Preto
e Santa Anna , dividindo com a freguezia da dita
villa ao oeste pelos referidos rios, ao sul com
a de Nossa Senhora da Conceição de Linhares pela
Barra Secca e ao Norte com a de S. José de Porto
Alegre de Mucury pelas Itaúnas . Vê-se do texto que a
476 LIMITES

lembrança do vocabulo indigena tem por fim salientar


a divisa natural do accidente que se encontra á margem
do Mucury, isto é, as pedras pretas ou itaúnas . Se di
verso fôra o pensamento do legislador , ou em outros
termos, se a applicação da palavra de que se faz menção
envolvesse referencia ao rio Itaúnas, como limite do
Norte tel-o-hia dito expressamente consignando- o jun
amente com os rios Preto e Santa Anna que demoram
na mesma direcção ;em tal caso, teria a lei citada allu
dido ao limite ao Norte pelo rio Itaúnas e não como está
declarado pelas Itaúnas, expressões que claramente in
dicam uma pluralidade de objectos, como acontece com as
pedras pretas que no Mucury existiam, segundo os chro
nistas e que o ouvidor de Porto Seguro tomou por
marco natural da povoação de S. José de Porto Alegre,
em o seculo XVIII.

Comprehenderá sem esforço V. Ex.ª Sr. Governa


dor, que, em vista do que expendido fica , não será a af
firmativa dos dois unicos mappas confeccionados pelos
Srs. Barão do Rio Branco e engenheiro Teive e Argollo,
capaz de pôr em duvida um ponto como esse, maxime
se attendermos que contra as asseverações de ambos
os cartographos, a despeito da nomeada que os recom
menda, mais que legitima é a suspeita de parcialidade,
sendo , como são, ambos naturaes do Estado que de
sejam favorecer, suspeita que tanto mais fundada pa
rece, quanto é certo que estão elles em absoluto desac
cordo com os melhores historiadores e geographos,
assim antigos como modernos.
Não desejo entediar V. Ex.ª, apontando um a um
todos os escriptores nacionaes e extrangeiros que assi
gnalam o limite do Estado da Bahia com o do Espirito
Santo, não pelo Riacho Doce mas sim pelo rio Mucury.
Relevar- me-á, comtudo, que mencione alguns, cujos
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 477

testemunhos estão acima de qualquer suspeição. O fal


lecido senador Candido Mendes em seu Mappa do Im
perio do Brasil, de 1868, na parte em que se occupa da
provincia da Bahia , o qual organisou com os dados co
lhidos nas cartas geographicas e topographicas e rela
ções de viagens e explorações realisadas por Guilherme
Echsveje , C. Fr. Ph . d Martins ( 1834 ) , Visconde de
J. de Villiers de l'Isle Adam ( 1848 ) , José Fernandes
Portugal ( 1803 ) , Carlos Kraus ( 1860 ) , Miguel Mar
ques de Souza ( 1846 ) , Almirante Mouchez ( 1862) , Ar
rowsmith , principe Maximiliano de Wiel , Spix e Mar
tins ( 1817-1820 ) , lhe assigna o seguinte limite : Ao
sul confina com as provincias do Espirito Santo e Mi
nas pelos rios Mucury, Verde Grande , Verde Pequeno,
etc., etc." A proposito da pretenção da provincia ba
hiana no tocante ao alargamento de sua raia limitrophe
até o riacho Doce, adverte o grande geographo e ju
risconsulto invocado : "A fronteira meridional com a
provincia do Espirito Santo que a Bahia pretende levar
até o rio Doce ( Riacho Doce ) é repellida por aquella
provincia em vista de fundamentos mui solidos, o uti
possidetis e aviso de 10 de Abril de 1823 , assegurando ao
Espirito Santo a posse do Municipio de S. Matheus e
o decreto de 11 de Agosto de 1831 , marcando como li
mite septentrional desse Municipio o rio Mucury. No
Mappa Topographico da Provincia do Espirito Santo ,
organisado e publicado no Rio de Janeiro em 1878, por
ordem do Ministro da Agricultura , commercio e Obras ,
Publicas, Conselheiro Thomaz Coelho de Almeida, pela
Inspectoria Geral de Terras e Colonisação a fls . 2 lemos
o seguinte : " Os limites da provincia do Espirito Santo
são : Ao Norte o rio Mucury que a separa da provincia
da Bahia . "

A Carta que servio de base a esse Mappa, foi tra


478 LIMITES

çada pelos notaveis engenheiros José Cupertino Coelho


Cintra e C. Riviere .

Se dos cartographos passarmos aos geographos.


verificaremos o mesmo resultado , quanto á questão da
fronteira septentrional . Nos livros didacticos elementa
res, a lição corrente não destôa da que ficou transcri
pta. Assim na Chorographia do Brasil do Sr. Carlos No
vaes , edição da livraria Alves, do Rio de Janeiro de
1912, á pagina 200 se nos depara o seguinte acerca do
Estado do Espirito Santo . " Limites : Este Estado con
fina ao norte com o Estado da Bahia , do qual é separado
pelo rio Mucury. " A' pagina 179, repete o autor : “ (
Estado digo " O Espirito Santo é separado pelo rio
Mucury. " Das considerações até esta altura expostas .
invocando eu para sua clareza as doutas observações
de sua experiencia, fico em que V. Ex. reconhecerá
que tudo aconselha a manutenção do statu quo na pen
dencia das linhas septentrionaes deste Estado , evi
tando-se a invasão de jurisdicção alheia a pretexto de
arrecadação de impostos , mantidos os limites historicos
das antigas capitanias, que subsistiram nas provin
cias e devem perdurar nos actuaes Estados até que o
Congresso Nacional ponha termo ás divergencias in
segundo o preceito constitucional , se
ter-estaduaes,
antes melhor solução consoante aos interesses recipro
cos, e segundo a lei o permitte, não der uma feliz oppor
tunidade para fixação dos limites entre as duas unidades
federadas. Qualquer desses alvitres traria a anhelada.
paz entre os Estados desde que os termos vagos das
cartas regias encerram uma difficuldade quasi inven
civel pelo dispendio que acarretaria a medição judicial
das cincoenta leguas de terra assignadas a cada uma
das antigas capitanias ; mas , para tanto faz - se necessa
rio preliminarmente que se dissipem as desintelligen
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 479

cias entre os governos estaduaes, respeitando todos elles


a demarcação tradicional, homologada pelo uti possi
detis, sem incursões dispensaveis , sem entraves ás re
lações jurisdiccionaes e commerciaes, sem prejuiso á
industria agricola e ao natural transito e movimento
dos productos lavoureiros , em uma palavra, banida por
completo a inauguração de praticas prejudiciaes á or
dem, como as que parece terem sido postas em pratica
pelas autoridades de S. José de Porto Alegre e para as
quaes ouso pedir a preciosa attenção de V. Ex.ª.
Não cuido que esse incidente possa alterar de leve
se quer a antiga, tradicional e firme amizade que sem
pre unio o Espirito Santo á Bahia e que elle tanto se
compraz em cultivar e fortalecer cada vez mais , confi
ante no valor moral das tradições que se não apagam.
Taes são , Sr. Governador, os sentimentos que me
animam e que , com boa rasão , penso , acharão guarida
no coração dos servidores da Republica, que, como
V. Ex. , prezam mais a paz e o bem publico que as
velleidades das competições e as dilatações de domi
nios territoriaes.
Renovo a V. Ex.a os meus protestos de subida es
tima e elevada consideração .- ( Asignado ) Bernardino
de Souza Monteiro , Presidente do Estado. Está conforme
Directoria do Interior em 30 de Agosto de 1917. O 1.º
Official, Antonio Correia Caldas . Confere. Bahia 31 de
Agosto de 1917.-O Director, Manoel de Mattos Correia
de Menezes.
I

1
1
480 LIMITES

N. 63

Resposta do Governador da Bahia ao


Presidente do Espirito Santo defendendo
os direitos deste Estado .

N. 60-1.ª Secção .- Palacio do Governo da Bahia ,


25 de Setembro de 1917 .
1
Exm.º Sr. Dr. Presidente do Estado do Espirito
Santo.
Tenho a honra de accusar o recebimento do offi
cio n. 11 de 13 de Agosto findo que me dirigio V Ex.ª
e ao qual tenho a satisfação de responder. Não tive até
agora pedido algum de documentos relativos á diviso
ria deste Estado com o do Espirito Santo assim como
não me chegaram ás mãos as copias dos officios a que
V Ex. re refere . Tambem não tive ainda conheci
mento de qualquer circumstancia extraordinaria em que
fala V. Ex. a respeito das autoridades ou habitantes de
S. José de Porto Alegre, no tocante ao territorio que
vae do rio Mucury ao riacho Doce , pertencente ao termo
da citada villa.
Passando á parte em que V. Ex.ª , tratando deste
territorio, marcado pelo ouvidor José Xavier Machado
Monteiro para termo daquella villa, duvida da legali
dade de tal acto, por falta de autorisação ou approva
ção real, posso affirmar a V. Ex.a com a mais absoluta
certesa que o ouvidor estava habilitado a fazer o que
fez por positiva determinação do seu soberano , con
forme se vê de documento existente no Archivo de Ma
rinha e Ultramar da Cidade de Lisboa . do qual tenho
á vista copia authenticada devidamente, dali trasida
pelo commissario bahiano Dr Braz do Amaral, que lá
foi buscal- a . Por cessar qualquer discussão deante de
documento decisivo como este, deixo de acompanhar
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 481

a argumentação de V. Ex.ª que partio da hypothese de


deficiencia da competencia do ouvidor para dar á villa
o termo que deu . Devo acrescentar, para ficar bem
claro este ponto , que o Estado do Espirito Santo nunca
exerceu qualquer jurisdicção no territorio entre o ria
cho Doce e o rio Mucury , pois a camara de S. José de
Porto Alegre e o Estado da Bahia é que a tem sempre
normal e legitimamente exercido, pois até lá nunca
chegaram os effeitos do aviso de 10 de Abril de 1823
que só tratou de S. Matheus . Nos periodos em que
V. Ex. se refere ao uti possidetis peço licença para ob
servar que a posse sempre foi exercida em todo aquelle
territorio pela capitania de Porto Seguro, não só entre
o rio Mucury e o riacho Doce, mas tambem do riacho
Doce até o rio Doce, como V. Ex. reconhece, affir
mando que foi na epoca da guerra da Independencia,
quando a sede do governo bahiano se achava nas mãos
das tropas inimigas , que a villa de S. Matheus foi inva
dida e occupada por gente ida da Victoria, podendo eu
acrescentar que esta villa bahiana foi tomada por 500
homens armados, capitaneados pelo commandante das
armas do Espirito Santo, Fernando Telles da Silva,
conforme narrou a Camara da referida villa ao governo
provisorio e nacional da Bahia em officio de 3 de
Março de 1823, o que prova que a posse do Espirito
Santo all data apenas daquella violencia para cá.

Folguei muito lendo a declaração de V. Ex.ª , com


a qual estou de accordo , de que a posse provisoria não
prejudica o direito do primeiro possuidor , donde se con
clue que a antiga villa, hoje cidade de S. Matheus, per
tence de direito ao Estado da Bahia , e não aquelle que
della tomou posse da forma porque vimos .
Tal facto , origem de grandes prejuisos para a
Bahia, foi o que deu causa á reclamação do governo pro
I 61
482 LIMITES

visorio e nacional da Bahia ao do Espirito Santo , que ,


se dirigindo ao Governo Imperial para consultar
a quem devia ficar sujeita a villa bahiana recentemente
tomada e que a consulta dizia ter- se unido ao Espirito
Santo para adherir ao Imperio , teve como despacho o
Aviso de 10 de Abril de 1823 que resolveu devia ficar
sujeita á Provincia que lhe ficasse mais proxima até que
a Assemblea Geral determinasse os limites das Pro
vincias.

A posse de S. Matheus pelo Espirito Santo é por


tanto provisoria, de titulo precario, não só porque pre
valece, como V. Ex.ª proclama , o direito do primeiro
possuidor, como porque o Governo do Espirito Santo
confessava não ter direito ao objecto sobre o qual con
sultava, tanto que perguntava a quem devia pertencer
(pois ninguem pergunta a quem se deve entregar uma
cousa que sabe ser sua ) e porque o proprio aviso declara
a sua incompetencia para estabelecer limites de provin
cias , o que só a Assemblé Geral podia fazer, pois
pela Constituição do Imperio não tinha attribuições
para isto o poder executivo . A condicional até que a
Assemblea Geral etc. , demonstra que a medida era provi
soria, nem podia o Sr. José Bonifacio , signatario do
aviso, consideral -o definitivo , pois tal facto constitui
ria um desmembramento de provincia.
Não se pode, em verdade , considerar definitiva
uma posse provisoria, obtida por titulo precario, de
autoridade insufficiente , motivada por uma causa toda
transitoria como foi a guerra da independencia na Bahia ,
nem admittir-se que limites de provincias se regulem
por avisos de ministro .
No documento a que respondo diz V. Ex.ª que foi
em razão de se achar sujeita ao Governo da Bahia,
adverso ao Imperio, a villa de S. Matheus que o Go
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 483

verno do Espirito Santo representou, dahi resultando o


aviso que annexou S. Matheus ao Espirito Santo. A
correspondencia que tenho deante dos olhos , da camara
da villa com o governo provisorio e nacional da Bahia
não deixa duvidas de que não era com o governo do ge
neral portuguez Madeira que ella se entendia e a quem
estava sujeita, e se fosse realmente o interesse patrio
tico e não o fim de annexação o que animava o governo
espiritosantense, este tel-a -hia logo entregue ao go
verno provisorio bahiano quando a reclamou e muito
melhor, logo que, após a guerra , se estabeleceu a admi
nistração pelas presidencias, como em todo o imperio.
Esta situação provisoria, entretanto , se tem mantido
com prejuizos para a Bahia e carece de uma solução ,
visto que , durante o Imperio nunca tratou do assumpto
a Assemblea Geral e a Carta Magna vigente estabelece
que taes casos sejam resolvidos pelos proprios estados ,
carecendo apenas da ractificação do Congresso Federal .
Na parte relativa ao decreto legislativo de 1831 convem
notar que elle não alterou a situação . porque o termo
da villa de São Matheus está em poder do Espirito
Santo , como em deposito e a demarcação da nova fre
guezia foi feita de modo que está para o norte, fóra do
termo da villa. Não ha duvida que o citado decreto ,
creando a parochia da Barra do Rio de S. Matheus
se refere na demarcação septentrional ao rio das Itaúnas
o qual tomou este nome exactamente por causa das pe
dras pretas existentes na sua foz e não me consta que
existam ou tenham existido desde o seculo XVIII pe
ras pretas na foz do rio Mucury, visto de tal não falla
rem os roteiros da Costa do Brasil , desde Gabriel Soa
res até Mouchez .

Posso demais assegurar a V. Ex.ª que o ouvidor


de Porto Seguro , Xavier Monteiro, fundador da Villa
484 LIMITES

de Porto Alegre que era um perfeito conhecedor da


costa da sua ouvidoria , não deu por limite sul a esta
villa pedras pretas pois não falla em tal e sim no beiral do
riacho Doce, onde elle assistio á demarcação e a presidio .
Alem disto , otermo da villa de São Matheus vae, pelos
autos da creação , do rio Mara rucu ao sul até o rio
S. Matheus ou Cricaré ao norte, pelo que não sei qual
o fundamento da posse do Espirito Santo ao norte deste
rio, quando o aviso de 10 de Abril de 1823 só lhe en
tregou a sujeição provisoria de S. Matheus.

Por outro lado tambem o decreto legislativo de II


de Agosto de 1831 limitou ao norte a freguesia da Barra
de S. Matheus pelas Itaúnas, e , como não ha pedras
pretas senão no rio deste nome não se atina com o fun
damento que possa invocar o governo do Espirito
Santo para ir alem do rio assim denominado. Compre
hende- se que o Espirito Santo não entregasse ao Go
verno Provisorio da Bahia a villa de S. Matheus , bem
como a parochia da Barra de S. Matheus , fundando- se
no aviso de 10 de Abril de 1823 que lhe dava proviso
riamente a jurisdicção daquella villa e no citado de
creto legislativo de 11 de Agosto de 1831 , creando a
referida parochia , mas não sei em que possa firmar-se
para estender o seu limite ao norte do rio das Itaúnas .
levando-o até o rio Mucury . Declarando V. Ex . desejar
manter o statu quo e sendo o statu quo a jurisdicção da
Bahia do riacho Doce para o norte , não sei como en
tender bem este periodo do honroso officio de V. Ex.ª
Não só os autos da creação da villa de S. José de
Porto Alegre constiruem um instrumento juridico per
feito e acabado , como a mesma cousa se dá com os da
villa de S. Matheus , fundada pelo ouvidor de Porto
Seguro, Desembargador Thomé Couceiro de Abreu , os
quaes tambem possuimos. A respeito destes ultimos .
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 485

diz o Dr. Felisbello Freire na Historia Territorial do


Brasil que no dia em que fossem descobertos , estaria
resolvida e regulada a questão dos iimites da Bahia
com o Espirito Santo .
Não foi menos explicita a commissão que deu pa
recer sobre a Memoria apresentada pelo Dr. Braz do
Amaral ao 1.º Congresso de Historia Nacional, reu
nido no Rio de Janeiro , o qual V. Ex.ª encontrará no
"Diario Official " de 14 de Outubro de 1914 , pag. 10.946.
Deante de documentos que são provas juridicas
não vale a pena discutir o valor de mappas, a maioria
dos quaes são meras repetições de anteriores, feitas por
autores mal informados e somente alguns, em pequeno
numero, podem servir de guias seguros e imparciaes.
Entre taes producções, cabe me affirmar a V. Ex.ª, em
resposta á apreciação que fez sobre o do Barão do Rio
Branco e do Engenheiro Miguel de Teive e Argollo ,
que o primeiro não era bahiano e o segundo era notoria
mente competente nos assumptos de que tratava , es
tando este Governo habilitado a sustentar o que elle
escreveu relativamente á divisoria da Bahia com o Es
pirito Santo .
De pleno accordo estou com V. Ex." reprovando as
incursões dispensaveis e as praticas prejudiciaes á
ordem, tanto mais quanto é certo que o Governo da
Bahia, as autoridades de S. José de Porto Alegre e a po
pulação bahiana se tem conservado até hoje na defen
siva do que lhes é garantido legitimamente por um
acto juridico do valor de uma demarcação julgada por
sentença pelo magistrado competente para fasel -o e por
tanto o Governo do Espirito Santo não tem motivo.
para formular fundamentada uma queixa como aquella
que tem a Bahia razão para fazer pelos acontecimentos
486 LIMITES

de 22 de Janeiro de 1823 , narrados no officio da Camara


de S. Matheus de 3 de Março do mesmo anno.
Havendo um dos meus antecessores , o Dr. Joa
quim Manoel Rodrigues Lima, protestado no officio de
20 de Maio de 1896 endereçado a um dos antecessores
de V. Ex.ª , o Exm.º Sr. Dr. Muniz Freire, contra pre
tender o Governo do Espirito Santo exercer actos de
jurisdicção ao norte do riacho Doce, cumpro o dever
que me impõem os direitos da Bahia, ex-vi do cargo
que occupo, de confirmar aquelle protesto , estenden
do-o á jurisdicção que está exercendo , sem fundamento
legal , o Estado do Espirito Santo no territorio entre o
riacho Doce e o rio das Itaúnas , assim como a posse em
que está, de todo o territorio desde o rio das Itaúnas
até o rio de S. Matheus e deste até o rio Doce, consti
tuindo esta ultima parte o termo da villa de S. Matheus ,
territorio todo pertencente á antiga capitania de Porto
Seguro, por ser uma porção do patrimonio do Estado da
Bahia, da qual se acha privado tanto na sua jurisdi
cção, como em rendas e outras vantagens desde 1823
até agora.
Terminando e fazendo minhas todas as expressões
de patriotismo e desejos de sincera amizade, emprega
dos por V Ex . " , peço venia para fazer um appello aos
sentimentos de equidade e respeito mutuo pelos inte
resses e direitos dos dois Estados , rogando a V. Ex.ª
que me ajude a terminar esta questão por amigavel re
solução, nomeando V. Ex.ª pessoa devidamente autori
sada e acreditada para resolver em nome do Estado do
Espirito Santo o que for considerado justo e util ás duas
partes interessadas .

Nesta occasião terá V. Ex.a conhecimento não só


dos autos da creação da villa de São José de Porto Ale
gre , como dos da de São Matheus e de muitos outros
ENTRE A BAHIA E O ESPIRITO SANTO 487

papeis interessantes, entre os quaes a autorisação dada


pelo rei de Portugal a seus ouvidores de Porto Seguro
para fundação de villas .
Esperando resposta ao meu appello que visa uma .
solução prompta, tão necessaria a paz e boa ordem .
dos dois Estados visinhos e amigos, aproveito a oppor
tunidade para reiterar a V. Ex. os meus protestos da
mais elevada estima , apreço e consideração .— Antonio
Ferrão Moniz de Aragão, Governador do Estado da
Bahia. Está conforme. Directoria do Interior, Justiça e
Instrucção Publica do Estado da Bahia, 31 de Outubro
de 1917.- 0 Director, Manoel de Mattos Corrêa de
Menezes.
1917-Imprensa Official- N. 3461
ERRATA

Na pagina 4, linha 18, onde se lè-e o governo que então


tinha a Bahia retirou, leia- se- e o governo retirou o destaca
mento, por não ser mais necessario alli.
Na pagina 47, na ante-penultima linha da nota, onde se lê
não é possivel maia esconder, leia-se-nao é possivel mais es
conder.
Na pagina 47, na penultima linha da nota, onde se le- é vista
e tratads, leia-se é vista e tratada.
Na ementa sob n. 23. da pagina 193, onde se lê -pelo Dire
ctorio de 3 de Maio de 1757. leia-se--pelo Directorio de 3 de
Março de 1755
Na pagina 195. na 5" . linha, onde se le- tres de Mavo de
mil setecentos e cincoenta e sete, deve ler-se--3 de Março de 1755.
Na nota da pagina 200, penultima linha, onde se lé- Archivos
da Bibliotheca Nacional, leia-se-Annges da Bibliotheca Na
cional.
Na pagina 269, linha 19ª , onde se lé-José Couceiro de
Abreu, leia-se--Thomé Couceiro de Abreu.
Na pagina 272, na primeira linha após as reticencias , onde
se le-o acompanhecem, leia-se- o acompanhacem.
Na pagina 272, na 1 " . linha da nota, onde se lé--d documento ,
leia-se---do documento.
Na pagina 276, linha 22, onde se lè- Douor Desembargador,
leia- se- Doutor Desembargador.
Na pagina 364. linha 1ç. do auto da medição e demarcação ,
onde se lè--Auto de mediço㸠leia- se-Auto de medição .
Na pagina 377. linha 11 da ementa, onde se lé-improficno
o labor, leia- se-improficuo o labor.
Na pagina 415, na linha segunda da ementa, onde se lê- ser
viço mititar, leia-se-- serviço militar.
Na pagina 432, na ultima linha, onde se le- José Joaquim de
Ai, leia-se -José Joaquim de Almeida.
Na pagina 437, na terceira linha da ementa, onde se lê
Alberto Kubim, leia- se--Alberto Rubim.
Na pagina 441 , na linha 14ª , onde se le- com hum Inferoir
e seis soldados Pedestres, leia-se com um Inferior e seis sol
dados Pedestres .
Na pagina 449 , linha 4" . da ementa, onde se lè- Tspirito
Santo, leia-se-Espirito Santo.
Na pagina 475, linha 22, onde se lè--itan unas, leia- se ita unas.
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