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Antonio Silvino: “O Rifle de Ouro, O Governador do Sertão”.

Em regra, as primeiras famílias que colonizaram o sertão eram aparentadas entre si. Isto é
o que se observa entre os Feitosa com os Pereiras do Pajeú e com os Morais Rego (ou Souza
Rego).

Para entender melhor o parentesco com os Pereiras do Pajeú, temos que retroagir no
tempo, chegando ao final do séc. XVII e início do séc. XVIII, quando o Coronel Francisco
Alves Feitosa ainda estava em Penedo/AL, onde foi casado com Catarina Cardosa da Rocha
Resende Macrina, viúva de um indivíduo chamado “fulano” Pereira do Canto, cujos filhos
ficaram na Ribeira do Pajeú, daí descendendo os famosos Pereiras do Pajeú.[22]

Essa ligação entre os Feitosa e os Pereira se manteve por muitos anos, havendo constante
interação, como visitas mútuas, esconderijo para os foragidos da lei e das vinganças, presentes
de gado, trocas de favores etc.

Já os laços sanguíneos com os Morais Rego, deram-se também em tempos muito remotos,
surgindo a partir de casamentos entre um filho do Capitão-mor de Oeiras/PI, Pedro de Sousa
Rego, com a filha de uma enteada do Coronel Francisco Alves Feitosa. Sendo ainda hoje
bastante comum encontrar integrantes da família Feitosa usando tais sobrenomes, tanto na
forma conjugada (Morais Rego/Sousa Rego), quanto separadamente (Morais, Rego, Sousa).

Disse Gustavo Barroso que Antonio Silvino era filho do também cangaceiro Pedro Rufino
Batista de Almeida, o Batistão, o qual havia obedecido “às inclinações da raça e da família, aos
impulsos do sangue e aos exemplos da parentela”. Explicação claramente determinista e
lombrosiana para estereotipar o agente do crime.

Os tios segundos de Batistão eram o Barão do Pajeú e José Antonio do Saco dos Bois. Os
parentes mais afastados eram Manoel Ferreira Grande e o Coronel Manoel Ignácio, protetor de
Silvino Ayres, mestre de Antonio Silvino. Assim, sentenciou Barroso que dificilmente Batistão
escaparia aos aspectos ibserianos de sua ancestralidade.

Batistão se lançou ao sertão, indo até o Sul do Ceará, depois perambulando do Apodi, no
Rio Grande do Norte, a Serra da Joaninha, no sertão dos Inhamuns, sendo que neste último
lugar envolveu-se com uma moça, Balbina de Morais, com quem veio a se casar. Segundo
Barroso, Balbina contava em sua ascendência os maiores lutadores do sertão, pelo lado materno
os Alencares, os Morais, os Feitosa e os Brilhantes da Paraíba, pelo lado paterno, o caudilho
Pinto Madeira etc.

Foi morar Batistão em Pernambuco, no sertão de Flores, Pajeú, onde teve três filhos,
Francisco, Zeferino e Manoel Batista de Morais. Era o sertão o país das intrigas, havendo
constantemente disputas por limites de terra, o que, por vezes, findava motivando as lutas entre
as famílias. Em razão disso, Batistão terminou sendo assassinado, permanecendo os criminosos
impunes.

Então, foi aí que Manoel Batista de Morais, para vingar a morte do pai, entrou no cangaço,
adotando o pseudônimo Antonio Silvino para homenagear seu mestre na sangrenta profissão,
Silvino Ayres Cavalcanti de Albuquerque. Abraçando a vida de mortes, fez nome pelos sertões,
ganhando de um “cantor matuto” o apelido de “Rifle de Ouro, Governador do Sertão”.

Sebastião Pereira da Silva: “O Sinhô Pereira ou O Seu Rodrigues”.

Sebastião Pereira e Silva, vulgarmente conhecido como Sinhô Pereira era natural da Ribeira
do Pajeú, nascido em Serra Talhada/PE, no berço dos celebrizados Pereiras do Pajeú. Tendo
abraçado a vida do cangaço a troco de vingança, vindo a agregar em seu bando Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião.

Corroborando a Teoria do Escudo Ético (defendida por Frederico Pernambucano de


Melo), para se vingar de alguns membros da família Carvalho, Sinhô Pereira e seus parentes
organizaram em um grupo armado, até que mataram Antonio da Umburana, fato que
determinou a retirada de Sinhô Pereira do cangaço, afinal, este célebre cangaceiro possuía
jactante ascendência (sendo sobrinho-neto do Barão do Pajeú, Andrelino Pereira da Silva), com
muitas posses, não necessitando da rapina, muito menos de praticar atos vilipendiosos, como
estupros, sequestros e castração.

Como ficou dito, o parentesco entre os Pereira do Pajeú e os Feitosa dava-se desde o
período colonial, quando do casamento do Coronel Francisco Alves (1º) com a viúva Catarina
da Rocha, matriarca dos Pereira na Região do Pajeú.

A ligação entre estas famílias era estreita, pois, como se pode observar, a interação entre
os clãs se propagou no tempo. Registrou o ex-deputado cearense Antonio Gomes de Freitas que
o Coronel Antonio Pereira (filho do Barão do Pajeú) presenteou Cândido Alves Feitosa (dono
da Fazenda Murzela, em Aiuaba/CE) com um garrote da raça “Cardão”.
Acrescente-se que muitos indivíduos dos Inhamuns, da família Feitosa, fugindo de
perseguições, privadas ou estatais, iam se esconder no Pajeú, observando-se também o processo
inverso, sendo bastante conhecidos os casos de integrantes da família Pereira que migravam
para os Inhamuns buscando proteção.

*Heitor Feitosa Macêdo.

A Família Feitosa e o Cangaço.

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