Você está na página 1de 2

FICHAMENTO HISTÓRIA DO BRASIL I – VITOR DOMINGUES SALLUM

Desclassificados do Ouro

O capítulo quatro desta obra trata de caracterizar o cenário da sociedade colonial


na América, em específico nas Minas, cujo título traduz o interesse em contextualizar as
estruturas sociais que destoam do senso de bipolaridade entre escravos e senhores na
medida em que organiza toda a população intermediária - em sua diversidade – na
ordem dos desclassificados. A população negra e mestiça dominava a capitania mineira
durante o século XVIII e o mulatismo era consequência de um convívio social
necessário. Aqueles que nasciam dessa mistura - produtos em sua maioria de uniões
ilícitas - quando não adotados pelos brancos, se tornavam pardos alforriados
desclassificados: gente livre e pobre.

Na contextualização das condições de sobrevivência dessa numerosa população,


o texto é preciso ao identificar uma constante vulnerabilidade no que diz respeito as
ferramentas de socialização e manutenção da dignidade humana. Moradias bastante
precárias localizadas em zonas periféricas e falta de alimentos para as refeições
cotidianas era uma constante nessa sociedade estratificada nos extremos, onde os
desclassificados encontravam-se completamente desarticulados e manejados paras as
fímbrias do sistema colonial. Nesse cenário vivia-se de forma coesa e coletiva uma
liberdade exclusivamente subjetiva, onde se observava o esclarecimento dessa classe a
luz do escravismo. Quanto aos costumes, a bigamia masculina, o concubinato e o
incesto faziam parte da rotina na desgraça, o que os tornava ameaça e alvo do combate
metropolitano. A violência se deu constantemente em conflitos latentes à população, e
se observou a disputa também no âmbito legal através das querelas. Os crimes dos quais
eram acusados tinham pouca simetria com as comprovações e eram muitas vezes
indefinidos.

Em seguida são retratadas as desordens internas dessa sociedade colonial.


Desertores soldados que traiam a coroa, padres infratores responsáveis por concubinatos
e crimes de violência durante abuso de poder, a prostituição de escravas
comercializadas por seus patrões com fim na aquisição de riquezas, o comércio
ambulante onde alimentava-se o contrabando e as casas de negras quitandeiras acusadas
de esconder escravos fugidos. A feitiçaria, em sua maioria masculina, confundia-se com
a prostituição e se assemelhava no que diz respeito as associações aos pactos
demoníacos. Representaram também a presença da cultura africana herdada pelo tráfico
nas américas. Por fim, roubos coletivos e assassinatos fizeram parte da pluralidade do
caos pintado pelo quadro social de uma sociedade polarizada.

Os ciganos formaram também a classe dos desclassificados na medida em que se


tornaram alvo de desconfiança e representaram uma tentativa de combate às autoridades
na construção de uma identidade coletiva. Garimpeiros também representaram ameaça
ao sistema, mas esses não tinham sua lealdade questionada e eram vítimas de expulsões
e impedimentos.

Em conclusão, a segregação dos desclassificados se faz complicada no Brasil a


medida que se constrói ao longo do tempo e é caracterizada por sua pluralidade e
transitoriedade dos papéis. Compostas por afinidades e dissoluções, relações de
agrupamento e rivalidade e principalmente marcada pela constante violência, essa
população se viu impossibilitada no que diz respeito a tomada de consciência de classe
afim de buscar a emancipação coletiva – vivendo num eterno ser e não-ser.

Você também pode gostar