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CONCLUSÃO ............................................................................................................. 10
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 10
INTRODUÇÃO
A escolha do tema remete sobre as formas como todas as pessoas que conheço
encontraram dentro da cultura negra uma maneira de resistir a imposição branca. Escolhi por
saber que minha família luta pelas minorias desde que me entendo por gente. Assim, escrever
sobre a luta pela visibilidade dessas culturas, viabiliza o entendimento que a partir delas muitas
pessoas encontram formas de se rebelar contra o sistema que as oprime.
No presente ensaio tratarei observações sobre o colonialismo, a opressão epistêmica,
epistemicídio, a resistência africana ao europeu, O Blues, a cultura Hip Hop na produção de
uma luta cultural. Para possibilitar ao leitor entender sobre as formas de destruição de culturas,
conhecimento e o efeito causado por essas ações no tempo presente.
Para isso, discursarei sobre exemplos de preconceitos e destruição as culturas não
assimiladas pelo Europeu e seus saberes, associado a violência histórica sofrida pelos negros
na sociedade brasileira, que resulta em maneiras de tornar invisível suas formas de expressão
cultural. Seguido da apresentação do Brasil e os brasileiros, embasado na obra "O Povo
brasileiro" de Darcy Ribeiro, para decorrer sobre a distância social e de poder entre brancos e
negros, permitindo entender a valorização dos tipos de conhecimento: erudito e popular, e os
preconceitos incumbidos na sociedade do Brasil.
REMINISCÊNCIAS DO COLONIALISMO
Por fim, é valido ressaltar que, em uma análise mais imersa desde 1961, apenas uma
forma específica de colonialismo terminou, não o seu modo de dominação. Com isso, a forma
que se extinguiu é denominada por Boaventura Sousa Santos como "Colonialismo histórico",
ou seja, designando apenas a ocupação territorial do estrangeiro invasor. Mas, na verdade, a
dominação colonial continuou de maneiras diferentes, essas tantas que é possível pensar que
talvez o colonialismo esteja tão novo e agressivo como no passado.
Arago (1839)
Essas práticas coloniais, não abolidas com a escravidão, atravessaram a barreira do
tempo e se perpetuam no racismo dos séculos posteriores em relações a tradições Africanas,
como por exemplo a religião, em que é notável o modo como a cultura negra é demonizada e
rotulada no mesmo patamar que foi difundido pelo europeu desde sua chegada, são exemplos
de como desde o período colonial como o invasor silenciou e destruiu no passado essas culturas,
e permeou para a contemporaneidade outras formas de agredir e tornar invisível a expressão
cultural negra.
Além das consequências sobre a religião, personalidades importantes e famosas do
Brasil, são comumente associadas a um imaginário de uma pessoa branca: como por exemplo,
o renomado Machado de Assis, o maior escritor da literatura Brasileira em que a grande parte
da população, não imaginaria que Machado teria sido negro. Isso ocorre devido ao fator de
embranquecimento incumbido na sociedade brasileira, a associação ao modo de que tudo aquilo
dito dentro da cultura branca é bom, aceitável, inteligível, bonito, etc. Mas, de modo oposto
tudo que não estiver dentro desse nicho recebe adjetivos pejorativos.
Assim, fica evidente que as continuidades do colonialismo sobre as culturas não
ocidentais brancas são notadas nas seguintes formas: dominar, desumanizar, tornar o outro a
categoria de "não ser", pressionar o imaginário do embranquecimento social. Em suma, oprimir
de modo a colocar a cultura da Europa como civilizada e tornar silenciada e invisível a cultura
alvejada.
Todos nós conhecemos um pouco da história geral do Brasil, a vinda dos portugueses,
os indígenas, extração de pau-brasil, as capitanias, a exploração pelo ouro, a vinda da família
real e tudo que existe de consenso para dizer que o Brasil é formado inicialmente pelo
português.
Porém, o Brasil e os brasileiros como povo, surgem do choque entre o invasor europeu
com os povos indígenas e os negros africanos, em que devido a regência dos portugueses
culturas, tradições e formações sociais distintas lutam entre si para formar um "povo novo"
(Ribeiro, 2008). O motivo disso, está no fato de portugueses, indígenas e negros africanos serem
etnias diferentes. Também, por esse povo representar um novo modelo de estrutura social, e
organização socioeconômica, baseada na escravidão e na servidão ao pacto colonial. Logo,
parte da gênese brasileira é fundamentada na escravidão do negro, e de sua subordinação,
econômica e social a metrópole portuguesa. '
Nesse contexto, o Brasil emerge recombinado de características próprias, variadas das
culturas europeias, indígenas e dos negros africanos. Portanto, resultando em um mosaico de
povos, multiétnicos e retalhados pela forma oposta de seus componentes diferentes e
imisturáveis. Embora, não podemos confundir o como fragmentação, pois toda essa
multiplicidade conflui para resultar uma unidade étnica básica: O brasileiro.
Em contrapartida, a unidade étnica não é sinônimo de uniformidade, pois existem três
forças que diversificam o Brasil. A primeira sendo a ecológica, em que resulta na produção de
diferentes paisagens humanas devido as condições regionais que o território obriga adaptação.
Em seguida, temos a força econômica, em que diferentes formas de produção e por
consequência diferentes jeitos de viver a vida, são colocados em confronto. Em última instância,
e o motivo que vemos no país mais do que descendentes de portugueses, indígenas e negros
africanos, temos: A imigração, fator que insere novos formas étnicas, os japoneses, árabes, e
principalmente mais europeus —não apenas portugueses. Assim, surgiram modos diferentes de
ser dos brasileiros: os sertanejos, gaúchos, caboclos, caipiras e muitos outros. Mas, todas essas
formas diferentes marcam muito mais aquilo que existe em comum entre eles como brasileiros,
do que suas diferenças de adaptação da região, ou de miscigenação.
Historicamente, a partir de 1930, a urbanização brasileira contribuiu para uniformizar
os brasileiros no aspecto cultural, contudo, sem apagar suas diferenças. De modo que, a
industrialização cria formas diferentes de viver e uniformiza estilos culturais. Então, mesmo
que diferenciados por matrizes raciais e culturais, regionais, descendências de povoadores e
imigrantes, os brasileiros se comunicam, se entendem, se sentem e se comportam como um só
povo, como uma só etnia. Mas, devido a extensão de seu território, o Brasil é mais que uma
simples etnia, senão, uma etnia de dimensão nacional: um povo-nação (Ribeiro, 2008).
Com todos os fatos apontados, fica evidente que a unidade étnica e a uniformidade
cultural são o importante resultado do processo de formação do povo brasileiro, mas o povo-
nação não aparece apenas da evolução das formais sociais anteriores. Surge, na verdade, da
abundância de uma força de trabalho escrava, incumbida a servir como mercadoria, surge de
processos demorados e repressivos que em síntese permitem um frequente genocídio e um
etnocídio rigoroso. Portanto, dentro dessas condições, acentua-se uma distância social entre as
classes dominantes e as oprimidas, e na perspectiva dos oprimidos, ressaltam-se os opostos que
reúnem por baixo da uniformidade e unidade, o medo advindo de um trauma: a brutalidade
repressiva e autoritária do europeu.
OS DISTANCIAMENTOS E O EPISTEMICÍDIO
No limiar da discussão das classes sociais, Darcy Ribeiro demonstra a existência de duas
partes que simultaneamente se conflitam e complementam. Estas são, o patronato de
empresários, que obtém seu poder através da exploração econômica, e o patriciado, cujo poder
reside em desempenhar cargos militares, políticos, religiosos, sindicais etc.
Dentro dessas partes, existe o crescimento de algo incomum nesse ambiente: a gerência
de multinacionais, que passaram a constituir o setor predominante das classes dominantes. Esse
ramo emprega desde tecnólogos até controladores de mídia, moldando a opinião pública e
alienando a população. Em posição subsequente desse ramo, existem as classes médias —
profissionais liberais, professores, afins— e dentro dessa classe, aparecem os grupos mais
rebeldes contra a ordem, a rebelião mesmo foi interpretada pelos estratos mais baixos. O quarto
e último estrato, as classes oprimidas, são apagadas da vida social e lutam para ingressar em
empregos e ter acesso ao mercado. Mostrando assim, algumas das distâncias sociais do Brasil.
Porém, a maior das distâncias sociais do Brasil é aquela que separa ricos e pobres,
somada a questão da discriminação de negros, mulatos e indígenas, acentuando a atenção para
os primeiros. No entanto, ao observar bem a rebelião negra é muito menos agressiva do que
poderia — e deveria— ter sido. Em uma linha temporal, partindo da escravidão, as principais
formas eram a fuga dos engenhos, visando a resistência e reconstrução da vida nas comunidades
quilombolas, mas esse indivíduo vivia uma situação paradoxal, pois o quilombola era um negro
que ja tinha sido aculturado, tentando reestabelecer formas de vida da África, o que seria
praticamente impossível devido a perseguição incessante do europeu. Grosso modo, é possível
dizer que a luta do negro Africano e seus descendentes brasileiros recai sobre conquistar
espaços, lugares e papéis legitimamente participativos na sociedade brasileira.
Iniciando a discussão sobre epistemicídio, o conceito elaborado por Boaventura Sousa
Santos (1997), condiz que epistemicídio é um instrumento definitivo de dominação
étnica/racial, que nega outras formas de conhecimento, do conhecimento produzido pelo grupo
dominado, e por consequência da intelectualidade dos sujeitos desses grupos. Porém, no ensaio
utilizarei além dessa definição, a constatação de Sueli Carneiro:
[...] o epistemicídio é, para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados,
um processo persistente de produção da indigência cultural: pela negação ao acesso a educação, sobretudo de
qualidade; pela produção da inferiorização intelectual; pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro
como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material e/ou
pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo. Isto
porque não é possível desqualificar as formas de conhecimento dos povos dominados sem desqualificá-los
também, individual e coletivamente, como sujeitos cognoscentes. E, ao fazê-lo, destitui-lhe a razão, a condição
para alcançar o conhecimento “legítimo” ou legitimado. Por isso o epistemicídio fere de morte a racionalidade do
subjugado ou a sequestra, mutila a capacidade de aprender etc. É uma forma de sequestro da razão em duplo
sentido: pela negação da racionalidade do Outro ou pela assimilação cultural que em outros casos lhe é imposta.
Sendo, pois, um processo persistente de produção da inferioridade intelectual ou da negação da possibilidade de
realizar as capacidades intelectuais, o epistemicídio nas suas vinculações com as racialidades realiza, sobre seres
humanos instituídos como diferentes e inferiores constitui [...] (Carneiro; Fischmann, 2005, p. 97, com
adaptações).
Banha meu símbolo, guarda meu manto que eu vou subir como rei
'Cês vive da minha cicatriz, eu 'to pra ver sangrar o que eu sangrei
Com a mente a milhão, livre como Kunta Kinte, eu vou ser o que eu quiser
Tá pra nascer playboy pra entender o que foi ter as corrente no pé
Falsos quanto Kleber Aran, os vazio abraça
La Revolução tucana, hip-hop reaça
Doce na boca, lança perfume na mão, manda o mundo se foder
São os nóia da Faria Lima, jão, é a Cracolândia Blasé
Jesus de polo listrada, no corre, corte degradê
Descola o poster do 2pac, que 'cês nunca vão ser
Original favela, Golden Era, rua no mic
Hoje os boy paga de 'drão, ontem nós tomava seus Nike
Os vira lata de vila, e os pitbull de portão
Muzzike, o filho de faxineira, eu passo o rodo nesses cuzão
Ando com a morte no bolso, espinhos no meu coração
As hiena 'tão rindo de quê, se o rei da savana é o leão? (Mandume...).
Mandume tem uma aceitação instantânea na rua, de acordo com o rapper. “A mensagem
é forte, o refrão é urgente. Principalmente pro Brasil de hoje”, afirma. Na história, Mandume
Ya Ndemufayo, morto em fevereiro de 1917, foi o último rei de um povo que ficava entre o sul
da Angola e o norte da Namíbia. Esse povoado era conhecido como os Cuanhamas. Mandume
morreu resistindo aos europeus. Dessa forma, a cultura Hip Hop expressa um lugar de
ressignificações, pois as minorias veem nas produções artísticas a possibilidade de resistir às
práticas e ideias que as estereotipam.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS