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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS


CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA
DISCIPLINA: LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
PROF. DR.:ALEX SANTOS MOREIRA

AMANDA AGUIAR SARAIVA

RESENHA CRÍTICA A PARTIR DE AIMÉ CÉSAIRE, STUART HALL E ELOÍNA


PRATI DOS SANTOS SOBRE O PÓS-COLONIALISMO

SÃO LUIS
2023
O pós-colonialismo é um termo que se refere às transformações culturais, políticas e
sociais que ocorreram em ex-colônias após a independência política. Este conceito tem sido
discutido por muitos autores, incluindo Aimé Césaire em seu "Discurso sobre o colonialismo"
(1978), Stuart Hall em seu texto “Quando foi o pós-colonial?” presente na obra “Da diáspora -
Identidades e mediações culturais” (2003) e Eloína Prati dos Santos em seu texto "Pós-
colonialismo e pós-colonialidade" presente no livro Conceitos de Literatura e Cultura (2010).

Aimé Césaire foi um importante poeta, orador, político e dramaturgo originário de


Martinica que deixou sua terra natal para concluir seus estudos em Paris na década de 1930,
onde pôde ele mesmo vivenciar diariamente o que era ser um estrangeiro negro em uma
civilização europeia, e testemunhar a perversidade do processo de assimilação imposto aos
espaços colonizados, dando a ele posição proeminente para discursar a respeito da temática
colonialista. Stuart Hall, por sua vez, foi um professor de sociologia e teórico cultural
jamaicano, nascido em Kingston em 1932. Seu trabalho, segundo Rosa (2014), é indissociável
de uma gama de teóricos provenientes do estruturalismo europeu, e teve um papel
fundamental na área multidisciplinar de Estudos Culturais, onde se tornou o primeiro
investigador do Centro para Estudos Culturais Contemporâneos da Universidade de
Birmingham. Eloína Prati dos Santos é Mestre e Doutora em literaturas de Língua Inglesa e
Pós-doutora e especialista em Literaturas de Língua Inglesa, com docência, pesquisa e
publicações voltadas para muitas áreas da literatura, dentre elas, a pós-colonial.

Em primeiro lugar, Aimé redige um texto altamente crítico ao colonialismo europeu


descrevendo as consequências deixadas por ele às sociedades colonizadas. Em seu discurso,
Césaire (1978) fará uma descrição completa do que foi - e do que não foi - a colonização, que
para ele, esteve muito distante de objetivos evangelísticos ou missionários, mas consistiu sim
num projeto maléfico que embora pregasse a civilização, dela havia uma distância infinita e
seu objetivo de “civilizar” era na verdade de “coisificar”, não resultando um só valor humano
desse empreendimento.

Seu argumento é de que o colonialismo é uma forma de opressão que se baseia na


superioridade racial e que tem como objetivo explorar as riquezas dos países colonizados.
Césaire estabelecera uma forte relação entre o próprio Hitler, condenado por seu crime de
superioridade racial contra brancos, e o europeu colonizador, que cometeu atrocidade de
mesma natureza contra índios, negros e coolies, fazendo uma dura crítica ao homem burguês
cristão e muito humanista do século XX (CÉSAIRE, 1978).
Ele critica duramente a forma como a cultura dos colonizadores foi imposta aos
colonizados, o que resultou numa grande perda da identidade cultural dessas sociedades. A
esse respeito o autor afirma:

[...] ninguém coloniza inocentemente, nem ninguém coloniza


impunemente; que uma nação que coloniza, que uma civilização que
justifica a colonização - portanto, a força - é já uma civilização
doente, uma civilização moralmente ferida que, irresistivelmente, de
consequência em consequência, de negação em negação, chama o seu
Hitler, isto é, o seu castigo. (CÉSAIRE, 1978, p. 21)

Stuart Hall, por sua vez, em Da Diáspora – Identidades e mediações culturais (2011),
faz uma reflexão crítica sobre o conceito de pós-colonialismo e suas implicações culturais e
políticas. O autor argumenta que o pós-colonialismo não é apenas um momento histórico, mas
também uma condição de contínua opressão e exploração em muitas partes do mundo, e crê
que a diáspora africana é um resultado direto do colonialismo e que as consequências dele
afetam as sociedades ditas pós-coloniais até hoje. Na perspectiva de Hall, o termo “pós-
colonial”, mesmo que alvo de controvérsias e de alta complexidade, trouxe como contribuição
o dado de que “a colonização nunca foi algo externo às sociedades das metrópoles imperiais,
pelo contrário, sempre esteve inscrita nelas, da mesma forma como se tornou indelevelmente
inscrita nas culturas dos colonizados”. (HALL, 2011, p. 102)

Essa perspectiva de Hall é importante porque questiona a ideia de que a colonização


era apenas uma relação entre dois mundos separados e distintos, quando na verdade, a
colonização foi uma prática que afetou profundamente tanto as sociedades colonizadas quanto
as sociedades colonizadoras. A colonização não foi uma experiência isolada, mas sim uma
condição histórica que envolveu colonizados e colonizadores. Em última análise, o capítulo de
Stuart Hall fornece uma reflexão crítica sobre o conceito de pós-colonialismo e suas
implicações culturais e políticas, destacando a complexidade do conceito e a importância da
negociação cultural e da resistência pós-colonial. Sua análise aponta para a necessidade de
reconhecer a diversidade das experiências pós-coloniais e abordá-las de forma crítica e
reflexiva em nossas análises culturais e políticas.

No que tange ao conceito de pós-colonialismo, é necessário, segundo Santos (2010),


considerar amplamente que cada encontro colonial se deu em uma circunstância, ocasião e
maneira distintas, o que requer uma análise específica dentro dos princípios gerais. Em seu
texto "Pós-colonialismo e pós-colonialidade", Eloína Santos monta um apanhado de teorias e
tece comentários a respeito das semelhanças e discrepâncias entre os teóricos a respeito do
que vem a ser o “pós-colonial.”

Santos (2010) encarrega-se de, em dado momento, fazer a distinção do que vem a ser
uma escrita colonial e uma escrita colonialista. A primeira, segundo ela, abrange grande
quantidade e heterogeneidade de textos, incluindo experiências coloniais escritas por crioulos,
indígenas, metropolitanos durante o período colonial, a diários de viagens, relatos de
aventureiros, de missões catequizadoras etc. Já a escrita colonialista é aquela que,
especificamente, volta-se para a expansão colonial, em geral literatura escrita por europeus de
um ponto de vista absolutamente dominador de povos não-europeus.

A partir desses conceitos, o que seria, portanto, uma literatura chamada pós-colonial?
De acordo com o exposto pela autora, a literatura pós-colonial não simplesmente seria aquela
que veio depois do Império, mas aquela que veio com o Império para "dissecar a relação
colonial, e de alguma maneira, resistir às perspectivas colonialistas"(SANTOS, 2010, p. 343).
Portanto, tal literatura caracteriza-se tanto por exibir as marcas de exclusão cultural geradas
durante o domínio Imperial como para mostrar as transformações geradas pelo domínio
cultural europeu e toda a carga conflitual trazida consigo.

Ao correlacionar esses três textos, é possível notar que todos eles concordam que o
colonialismo teve um impacto profundo nas sociedades colonizadas e que as consequências
do colonialismo ainda são sentidas hoje. Além disso, todos os autores argumentam que a
identidade cultural é uma questão central no pós-colonialismo e que a literatura é uma forma
importante de expressão cultural nessas sociedades. No entanto, enquanto Césaire critica
severa e ironicamente o colonialismo como uma forma de opressão, Hall foca na negociação
cultural e na resistência cultural como formas de superar as consequências do colonialismo, e
Santos trará o panorama geral das teorias e posicionamentos dos teóricos a esse respeito,
fazendo-se relevante para um estudo mais aprofundado do tema.

Tais estudos são de extrema relevância para que se estabeleça uma relação entre
literatura e política, uma vez que são duas esferas indissociáveis, sendo a primeira um objeto
de análise das relações de poder e mesmo um espaço político e social. A partir dessa
compreensão, os estudos pós-coloniais questionam as configurações desiguais das relações de
poder em busca de uma construção de relações inclusivas. Entender-se-á, portanto, que a
literatura é uma forma importante de expressão cultural nessas sociedades colonizadas,
permitindo que as vozes marginalizadas sejam ouvidas e que a identidade cultural seja
afirmada de forma autêntica.

REFERÊNCIAS

CÉSAIRE, A. Discurso sobre o Colonialismo. 1ª ed. Trad. Noêmia de Sousa. Lisboa: Livraria
Sá da Costa Editora, 1978.

SANTOS, Eloína dos. Pós- colonialismo e pós-colonialidade. In: FIGUEREDO, Eurídice.


Conceitos de literatura e cultura. Juiz de Fora: UFJF; Niterói: EDUFF, 2005.

HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Liv Sovik (org). Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2003.

Maria Nazareth Soares Fonseca. Aime Césaire: a palavra empenhada. URL:


http://www.letras.ufmg.br/literafro/literafricas/1387-maria-nazareth-soares-fonseca-aime-
cesaire-a-palavra-empenhada.

Miguel Ângelo Rosa, «Stuart Hall. A memória e a herança de um dos académicos do


multiculturalismo», Comunicação Pública [Online], Vol.9 nº16 | 2014, posto online no dia 15
dezembro 2014, consultado o 01 maio 2023. URL:
http://journals.openedition.org/cp/859; DOI: https://doi.org/10.4000/cp.859

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