Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LITERATURA E
PÓS-
COLONIALISMO
Prof. Me. Gabriel Both Borella
PÓS-COLONIALISMO
- Aonde vai?
- Quero falar com um sujeito lá da petrolífera.
- Para quê, homem?
- Tonnere! Você está cheia de perguntas hoje. Você e o Beharry são
um só.
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
“Where you going?”
“It have a man I want to see in the Oilfields”
“What for, man?”
“Tonerre! But you full of questions today. You and Beharry is one.”
(NAIPAUL, 2011, p. 96)
- Aonde vai?
- Quero falar com um sujeito lá da petrolífera.
- Para quê, homem?
- Tonnere! Você está cheia de perguntas hoje. Você e o Beharry são um só.
(NAIPAUL, 2003, p. 129, tradução de Alexandre Hubner)
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
A partir da análise desses excertos, percebemos que a estratégia
adotada na tradução não tenta reproduzir os mesmos desvios à norma
do texto-fonte. Essa não adoção pode ter algumas explicações
plausíveis, como a possível dificuldade em criar uma naturalidade
semelhante à da língua inglesa ao repetir os problemas de
concordância do texto-fonte. Então, mesmo se preservasse as
incorreções do texto-fonte, talvez o resultado final não atingisse a
mesma fluidez do texto originário.
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
‘Leela, is high time we realize that we living in a British country and I think we shouldn’t be
shame to talk the people language good.’
Leela was squatting at the kitchen chulha, coaxing a fire from dry mango twigs. Her eyes
were red and watery from the smoke. ‘All right, man.’ ‘
We starting now self, girl.’
‘As you say, man.’
‘Good. Let me see now. Ah, yes. Leela, have you lighted the fire? No, just gimme a chance. Is
“lighted” or “lit”, girl?’
‘Look, ease me up, man. The smoke going in my eye.’ ‘
You ain’t paying attention, girl. You mean the smoke is going in your eye.’ Leela coughed in
the smoke. ‘Look, man. I have a lot more to do than sit scratching, you hear. Go talk to
Beharry.’
(NAIPAUL, 2003, p. 55).
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
- Leela, já está na hora de aceitarmos o fato de que vivemos num país britânico, e acho que não
deveríamos nos envergonhar de falar bem a língua do nosso povo.
Leela estava agachada diante do chulha da cozinha, tentando atear fogo nuns galhos secos de mangueira.
Seus olhos estavam vermelhos e lacrimosos por causa da fumaça.
- Está certo, homem.
- Começamos agora mesma, menina.
- Você é que manda.
- Ótimo. Agora, deixe-me ver. Já sei. Acendêreis o fogo, Leela? Não, espera, me dê mais uma chance. O
correto é “acendêreis” ou “acendestes”?
- Para de encher, homem. A fumaça está me entrando pelos olhos.
- Você não está prestando atenção. Você quer dizer que a fumaça está entrando em seus olhos.
- Escute aqui, homem. Tenho mais o que fazer do que ficar aqui sentada escutando essa conversa mole.
Vá falar com o Beharry. (NAIPAUL, 2003, p. 74-75, tradução de Alexandre Hubner).
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
Nesse trecho, Ganesh, questiona-se como usar a língua do
colonizador, crendo que ele e os habitantes do seu país não a
usavam de maneira adequada. “Ele continuava, ainda que
muito a contragosto, falando como um trinitário” (2003, p. 74,
tradução de Alexandre Hubner). O trecho destacado acima
constitui-se como uma questão que extrapola a estética e
adentra questões culturais, linguísticas, identitárias e sociais,
apresentando-se como um desafio ao tradutor.
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
Nesse trecho, Ganesh, questiona-se como usar a língua do
colonizador, crendo que ele e os habitantes do seu país não a
usavam de maneira adequada. “Ele continuava, ainda que
muito a contragosto, falando como um trinitário” (2003, p. 74,
tradução de Alexandre Hubner). O trecho destacado acima
constitui-se como uma questão que extrapola a estética e
adentra questões culturais, linguísticas, identitárias e sociais,
apresentando-se como um desafio ao tradutor.
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
Em Meia vida, como já reforçado anteriormente, por estar muito
mais alinhado a um Naipaul em outra fase literária, que não tem
mais a necessidade de chocar o leitor britânico com uma
enxurrada de elementos estranhos à cultura deles, a tradução
acompanha a já didática obra originária, e a transcrição dos
poucos elementos culturais é mantida no idioma original.
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
He was unanchored, with no idea of what lay ahead (NAIPAUL, 2001, p.
56)
Não tinha âncora, não tinha idéia (sic) do que havia à sua frente
(NAIPAUL, 2002, p. 56, tradução de Isa Mara Lando).
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
Willie began to understand that he was free to present himself as he wished. He could, as
it were, write his own revolution. The possibilities were dizzying. He could, within reason,
remake himself and his past and his ancestry (NAIPAUL, 2001, p. 57).
(...), e ele compreendeu que estava livre para apresentar-se da maneira que quisesse.
Podia, por assim dizer, escrever sua própria revolução. As possibilidades eram
estonteantes. Ele podia, dentro dos limites da razão, refazer a si mesmo, seu passado e
seus ancestrais (NAIPAUL, 2001, p. 57, tradução de Isa Mara Lando).
The learning he was being given was like the food he was eating, without savour
(NAIPUL, 2001, p. 56).
O ensino que estava recebendo era como o alimento que comia, sem sabor (NAIPAUL,
2002, p. 56, tradução de Isa Mara Lando).
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
Nesses trechos selecionados, o protagonista, Willie Somerset Chandran,
recém-chegado a Londres, cidade que carrega todo o valor simbólico de
ser a capital do antigo Império Britânico, sente-se perdido, e está em
busca da descoberta da própria identidade, para que possa reescrever a
sua história e apagar o seu passado indiano, considerado por ele inferior.
Contudo, pouco tempo depois, vê-se frustrado com o ensino formal que
recebia na escola, descrito por ele como “sem sabor”, ou em outras
palavras, sem sentido.
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
Como podemos ver nesses trechos, as questões pós-coloniais parecem
ser pontuadas tanto na tradução, quanto no original. Na tradução,
ressaltamos em dois momentos o uso dos advérbios “não” e “nunca”. No
primeiro momento, os advérbios “não” e “nunca” sugerem ênfase à
negação da vida que estava vivendo, e aparenta refletir seu
deslocamento. No segundo momento, o uso do advérbio “não” pode
representar o quão perdido o protagonista se sentia em Londres:
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
I don’t know where I am. I don’t think I can pick my way back. I don’t ever
want this view to become familiar. I must not unpack. I must never behave
as though I am staying (NAIPUL, 2001, p. 126).
Não sei onde estou. Acho que não consigo encontrar o caminho de volta.
Não quero que esta paisagem se torne familiar, nunca. Não devo
desarrumar a mala. Não devo jamais me comportar como se eu fosse ficar
aqui (NAIPAUL, 2002, p. 119, tradução de Isa Mara Lando).
TRADUÇÕES DE THE MYSTIC
MASSEUR (1957) E HALF A LIFE
(2001)
I always felt a stranger in the house. I never got used to the grandeur; the
furniture seemed strange and awkward right to the end (NAIPAUL, 2001,
p. 141).
BASSNETT, Susan; HARISH, Trivedi. Post-colonial translation: theory & practice. Taylor & Francis
e-Library. 2002. Disponível em: http://translationindustry.ir/Uploads/Pdf/Post-Colonial_Translation.pdf.
Acesso em: 22 set. 2018.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis,
Gláucia Renate Gonçalves. – 2. Ed. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2003.
NAIPAUL, Vidiadhar Surajprasad. Half a Life. New York: Alfred A. Knopf, 2001.
______. Meia Vida. Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
______. O massagista místico. Tradução de Alexandre Hubner. São Paulo: Companhia das Letras,
2003.
REFERÊNCIAS
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de Tomás Rosa
Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
TYMOCZKO, Maria. Post-colonial writing and literary translation. In: BASSNETT, Susan; HARISH,
Trivedi. Post-colonial translation: theory & practice. Taylor & Francis e-Library. 2002. Disponível
em: <http://translationindustry.ir/Uploads/Pdf/Post-Colonial_Translation.pdf>. Acesso em: set. 2018.