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Desobediência

Epistêmica: A opção
Descolonial e o
Significado de Identidade
em Política.
América Invertida – Manuel Torres García.

Walter D. Mignolo
Walter D.
Mignolo

Nasceu em 01 de
maio de 1941, na
província de Córdoba,
Argentina.

78 anos
Formação e atuação profissional
Possui
doutorado em
Semiótica e
Teoria Literária
(Escola de
Estudos
Avançados
em Ciências
Sociais, na
França)

Licenciado É professor
em Filosofia de literatura
e Literatura na
(Universidad Universidade
e Nacional de Duke, nos
de Córdoba) Estados
Unidos.
Escolhas de Mignolo

Inicialmente interessou-se pela filosofia


da linguagem e semiótica, com
contribuições para o entendimento de
textos coloniais do século XVI;
Dos estudos coloniais passou a
interessar-se pelas teorias pós-
coloniais, que estavam muito discutidas
nos Estados Unidos durante a década de
noventa.
Explora conceitos como colonialidade
global, geopolítica do conhecimento,
transmodernidade e pensamento de
fronteira.
Marcas de Mignolo
Um dos mais destacados intelectuais pós-
coloniais;

1995 publicou seu livro O lado


mais sombrio do renascimento, Uma das figuras centrais do
que o fez reconhecido pensamento decolonial latino-
mundialmente no campo dos americano;
estudos pós-coloniais e
subalternos.

“Ironista
Decolonial” “Ironista Teórico”
Contribuições importantes: produção de
categorias de análises:

"pensamento E a ideia de
fronteiriço", "hemisfério
ocidental/atlântico
norte".

"diferença "colonialidade
colonial" do ser"
Contexto de Lutas de Mignolo
Grupo Modernidade/Colonialidade
O projeto Modernidade/Colonialidade é um movimento acadêmico criado por
intelectuais que estudam sobre e a partir da América Latina
Perfil dos integrantes do Grupo M/C
Foco das Energias do Grupo
Modernidade/Colonialidade

Tarefa de mostrar como a visão sobre a modernidade e


conhecimento que o eurocentrismo nos legou contribui para
a perpetuação de processos de exploração e racialização
de regiões e povos.

Estratégias de pesquisas e intervenções teóricas críticas


orientadas por uma ética libertária.

Assumir a ideia de que é possível praticar um saber e


desvelar saberes que são tão ricos quanto o dito
conhecimento universalista que vem da Europa
Qual horizonte é vislumbrado por
Mignolo e o grupo M/C?

Um projeto teórico e ético audacioso: imaginar


uma abordagem que abrangesse a constelação
de experiências sociais e históricas dos
“subalternos”
O Giro
Decolonial

Se apresenta como um paradigma outro e não como um novo paradigma


– busca questionar os critérios de produção do conhecimento acadêmico
articulados ao eurocentrismo e à modernidade.

Modernidade: mecanismos que definem os povos que estão fora da


Europa como inferiores – “os outros”. Moderno X Atrasado
- Séculos XVI e XVII – teologia
- Séculos XVIII – filosofia secular
- Século XIX – ciência e ideia de democracia e civilização
Para que a Modernidade fosse verdadeira, todos os outros se tornam
“errados”:
Modernidade = ciência, democracia, civilização, liberdade, capitalismo
Colonialidade = mito, folclore, despotismo, ignorância, subdesenvolvimento
É um conhecimento que se situa na ferida
colonial, na fratura. Nasce a partir da
diferença colonial.

Sugere uma ética e uma política da


Pluriversalidade – se trata de visibilizar e fazer
viável a co-existência de conhecimentos e
formas de ser no sentido plural.

Trata-se de um Projeto Político de


descolonização da Colonialidade do Poder
(conceito de Aníbal Quijano), do Saber, do Ser
e da Natureza.

Propõe como caminho a Desobediência


Política e Epistêmica.

De certa forma, podemos dizer que ela


continua (com rupturas e críticas) alguns dos
fundamentos da teoria crítica latino-americana
– filosofia da libertação, pedagogia do oprimido,
teologia da libertação.
Colonialidade – o Lado Obscuro da
Modernidade = uma não existe sem a outra
A Colonialidade não é algo que se supera com a Modernidade,
ela é produzida pela Modernidade – constrói-se os binários
“moderno x não moderno” fundamentados na concepção
Universalizante (Eurocentrada) de que a história, a sociologia,
a filosofia se originam na Europa e são pulverizadas pelo
mundo.
Conceitos centrais:

Colonialismo – se refere ao processo e


aparatos de domínio político e militar
utilizados para garantir a exploração do
trabalho e das riquezas das colônias em
benefício do colonizador.
Colonialidade – é um fenômeno histórico
que se estende até os dias de hoje e que
se refere a um padrão de poder que opera
através da naturalização de hierarquias
territoriais, raciais, culturais e epistêmicas,
possibilitando a reprodução de relações de
dominação.
Colonialidade é uma matriz de poder que
estrutura o sistema mundo moderno no
qual o trabalho, as subjetividades, os
conhecimentos, os lugares e os seres
humanos são hierarquizados e governados
a partir de sua racialização.
Sistema Mundo Moderno – é produzido
no processo de expansão colonial
europeia que conecta diferentes regiões
do planeta, dando-lhe uma escala global.

Em síntese: um conjunto de
pensamentos críticos sobre o lado
obscuro da Modernidade.

Marco de referência: Obra condenados da


Terra de Franz Fanon (1963).

Buscam transformar ou questionar não


apenas o conteúdo mas os termos nos
quais se produziu o Eurocentrismo e a
Colonialidade no sistema mundo,
inferiorizando seres humanos
(Colonialidade do Ser), marginalizando e
invisibilizando conhecimentos
(Colonialidade do Saber) e
hierarquizando grupos humanos e lugares
em um padrão de poder global e de
exploração (Colonialidade do Poder –
Teses Centrais do Texto

Identidade Na Política – e não política de


identidade.

Políticas de identidades = se baseiam na


suposição de que as identidades são aspectos
essenciais do indivíduo, que podem levar à
intolerância – nas políticas identitárias posições
fundamentalistas são sempre um perigo. Isso
porque em geral, as políticas de identidade
também se baseiam numa concepção imperial
de identidade – fundamentadas nos conceitos
universais de ciência, filosofia, cristianismo etc.

Identidade em política – sem a construção de


teorias políticas e a organização de ações
políticas fundamentadas em identidades que
foram alocadas por discursos imperiais (nas seis
línguas da modernidade europeia – inglês,
francês, e alemão após o Iluminismo e italiano,
espanhol e português durante o Renascimento)
não seria possível desnaturalizar a construção
“Política de identidade não se
compromete em nível de Estado
e permanece na esfera da
sociedade civil. Identidade em
política, ao contrário, desliga-se
da jaula de ferro dos partidos
políticos como tem sido
estabelecido pela teoria política
moderna/Eurocentrada” (p.312).
Significa pensar em projetos de
descolonização - intervenções
descoloniais.
Desobediência Política e Epistêmica –
Uma intervenção Descolonial.

Desvinculamento epistêmico – substituição de


uma geopolítica do conhecimento de bases
imperiais.

Ocidente = não se refere somente à geografia,


mas a uma geopolítica do conhecimento (que
define e definiu sujeitos, línguas, religiões,
conceitos políticos e econômicos,
subjetividades).

Razão Imperial/colonial = conhecimento que foi


construído nos fundamentos das línguas grega e
latina e não de outras línguas como o mandarim,
o guarani, o árabe, etc.

Exterioridades pluriversais = a razão imperial


ao se afirmar como superior e universal, cria
muitas exterioridades. É exatamente dessas
exterioridades que nascem movimento
insurgentes – das fraturas.
Ex. Eleições na Bolívia (Evo Morales);
zapatistas no México; força das
nações indígenas no Equador –
Estados pluri-nacionais.

Segundo Mignolo, o que Bolívia e o


Equador vivenciam é uma das
consequências da Identidade em
Política. Ela quebra de alguma forma
a ilusão de um estado neutro, objetivo
e branco.

A mobilização indígena no contexto da


Bolívia é o que o autor destaca.
Campos epistemológicos trazidos por
Mignolo:

Desenvolvimento – Diferença – Nação –


pertencem ao imaginário da modernidade
ocidental (nação, desenvolvimento) e pós-
modernidade (diferença).

Conjunto de planos globais:

- Missão cristã desde o século XVI – processos


coloniais/invasões
- Missão secular de civilização para o
desenvolvimento e modernização após a 2º
Guerra Mundial/Guerra Fria – ancorada no
binário desenvolvimento X
subdesenvolvimento.
Perpetuação da lógica colonial – apropriação
de terras; exploração do trabalho (seja ela
escravocrata ou capitalista); genocídios negros
Destaque para uma reflexão que Judith Butler faz sobre “vidas
que valem a pena” – nossa história é desenhada baseada nesse
critério hierárquico que define que algumas vidas valem mais que
outras – até mesmo para fazerem parte da História.
Interculturalidade – Decolonialidade – pertencem ao imaginário descolonial

- Reprodução da vida – conectado ao conceito de Aymara de “Bien


Vivir” – o contrário de reprodução da morte.

- Muitos mundos co-existindo – Reciprocidade Comunal Aymara – não


se possui a terra, apenas se utiliza em comunidade.

Ex. Nina Pacari – gestão comunal política e econômica.

- Epistemologia de fronteira – Glória Anzaldúa – duplas traduções


como linha metodológica.

- Conceito de Consciência Mestiça (Rodolfo Kush)


É um conceito filosófico e não biológico - “[...] não é uma questão de
sangue, mas uma questão de sentir a fratura entre ser e estar, uma
sensação de estar fora do lugar”, se conectar às cosmologias indígenas,
às línguas da América.
Interculturalidade – ao contrário de multiculturalismo, significa
uma inter-epistemologia – diálogo entre cosmologias não
ocidentais e ocidentais.

Modernidade – não se refere a um período histórico, mas ao


movimento que constrói a história de triunfo do capitalismo
imperial.
Descolonial significa aprender a desaprender,
portanto, desobedecer – “[...] significa pensar a partir da
exterioridade e em uma posição epistêmica subalterna oposta à
hegemonia epistêmica que cria um exterior a fim de assegurar
sua interioridade”.

Lutar por direitos epistêmicos = Quebrar com a ideia de que


brancos têm teoria e índios/negros têm cultura.

Rosana Paulino é uma artista


visual brasileira, educadora e
curadora. É doutora em Artes
Visuais pela Escola de
Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo

As imagens que compõem os


slides são da exposição “A
Costura da Memória”.

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