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em Língua Portuguesa
Material Teórico
Literatura Africana nos Países de Língua Portuguesa:
Contextualização Histórica e Sociocultural
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Silvia Albert
Literatura Africana nos Países
de Língua Portuguesa:
Contextualização Histórica e Sociocultural
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Identificar as diferenças de perspectivas de cada região do mundo,
em relação às ideias já concebidas, possibilitando a ampliação de
conceitos sobre o continente africano.
· Identificar as diferentes possibilidades da língua portuguesa e asso-
ciá-las a questões históricas, antropológicas e sociais.
· Identificar semelhanças e singularidades das literaturas de língua
portuguesa, refletindo sobre suas condições de produção em dife-
rentes contextos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Literatura Africana nos Países de Língua Portuguesa:
Contextualização Histórica e Sociocultural
CABO
VERDE
GUINÈ-BISSAU
SÃO TOMÉ
E PRÍNCIPE
ANGOLA
MOÇAMBIQUE
Figura 1
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
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Para compreendermos a visão que temos sobre a África a partir do Brasil e
da contemporaneidade, vamos escutar uma pequena entrevista com a professora
de história da África da FFLCH/ USP, Leila Leite Hernandes para a rádio USP.
Ela esclarece por que a região é tão simplificada e negligenciada quando vista pelos
olhos da América e da Europa e explica que até a divisão territorial foi feita pelos
vários países europeus que colonizaram a África.
Explor
O filósofo Kwame Anthony Appiah, nascido na Inglaterra e criado em Gana, fala sobre a
Explor
representação da África no Ocidente, ele fez do diálogo entre culturas o tema central de sua
obra. Para saber mais, acesse: https://goo.gl/iQ57io
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Contextualização Histórica e Sociocultural
falar sobre o continente. Antes disso, não havia qualquer razão para os africanos
pensarem em si mesmos como “africanos” em um sentido coletivo. Em segundo
lugar, esses intelectuais conceituaram o povo da África em termos raciais. Ou seja,
eles fizeram da África um só lugar e dos africanos um só povo, pertencente à raça
negra. Isso forjou uma unidade possível, mas também trouxe problemas. Mesmo
que você pense que o conceito de raça é útil, uma visão racializada da África exclui
porções significativas do continente, como as populações de origem árabe do Ma-
grebe, por exemplo.
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Noções Sobre a Língua
Portuguesa na África
Gosto de pensar que estudar as literaturas africanas de língua portuguesa é uma
oportunidade de descentralizar essa perspectiva de uma literatura universal, onde
os inícios estão locados nas epopeias gregas e latinas, nas tragédias e comédias
clássicas. Visão que compara e divide, que escolhe e julga literaturas maiores e
menores, canônicas ou periféricas. Em outras palavras, é a abertura de novos
espaços e da construção de um novo outro, numa recusa de “alteridade tradicional”
imposta pela lógica colonial e imperial.
A professora especialista em literaturas africanas de língua portuguesa, Inocência
Mata (2003, p.46), escreveu que:
O processo que decorre da descolonização ao pós-colonial exige, assim,
um novo método de abordagem e diálogo com o mundo global, porque
nessa nova conjuntura impõe-se a “lógica do gesto de abrir novos espaços”
(Appiah, 1996, p.63).
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Contextualização Histórica e Sociocultural
Importante! Importante!
Por isso, ao nos depararmos com uma literatura que trabalha a língua de forma
inovadora, a língua portuguesa e as literaturas só poderão se gratificar com isso e
nós, como leitores, ampliaremos nosso mundo, nosso horizonte. Aproximaremos
desse lugar com atenção redobrada, assim percorreremos rapidamente alguns as-
pectos históricos e sociais dessa sociedade com um alerta – não vamos generalizar
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todos os países africanos de língua portuguesa, cada um tem suas particularidades,
assim como cada escritor, mas por absoluta falta de tempo e de espaço, vamos falar
sobre aspectos semelhantes a todos esses países baseados na história e na questão
que nos traz aqui, a língua portuguesa que nos une, de alguma forma.
O escritor africano, principalmente na sociedade colonial, vivia entre dois mun-
dos, ou duas realidades, a sociedade colonial e a africana, assim sua escrita regis-
trava a tensão nascida entre o uso da língua portuguesa em uma realidade bastante
complexa. Então, ao produzir literatura, os escritores transitavam pelos dois espa-
ços, “pois assumiram as heranças oriundas de movimentos e correntes literárias
da Europa e das Américas e as manifestações advindas do contato com as línguas
locais”, de acordo com as estudiosas Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha
Tabada Moreira, em trabalho citado na bibliografia.
Esse embate, mencionado acima, que aconteceu no campo da linguagem
literária, foi o empenho gerador do projeto literário característico dos cinco países
africanos que têm o português como língua oficial: Moçambique, Angola, Cabo-
Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Há uma abrangência de problematização em torno da língua portuguesa nos
países africanos. A língua portuguesa nesses países é a língua oficial que convive
com outros idiomas e é um fator de privilégios.
Sobre a questão da diversidade das línguas e a importância da língua portuguesa
nos países africanos de língua oficial portuguesa, as acadêmicas Inocência Mata (São
Tomé e Príncipe) e Inês Machungo (Moçambique) dão uma entrevista esclarecedora
sobre essa problemática diferente da situação linguística do Brasil.
Vamos assistir ao vídeo e prestar atenção na diversidade da língua portuguesa: o
entrevistador é português, Inocência Mata é de São Tomé e Príncipe, porém mora
em Portugal, o que transforma a língua, ou melhor, em sua voz há outras, e Inês
Machungo é de Moçambique e lá vive.
As Entrevistas com as académicas Inocência Mata (São Tomé e Príncipe) e Inês Machungo
Explor
Inocência Mata diz que em São Tomé e Príncipe 50% da população tem o por-
tuguês como língua materna e os outros 50% são discriminados. Ela coloca que o
governo deveria ter um olhar atento a essa questão porque crianças que não falam o
português em casa terão problemas na escola, quanto a isso é preciso criar políticas
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Momentos da Literatura
Africana de Língua Portuguesa
Inocência Mata considera as literaturas a partir de um lugar ideológico do poder e
do contra poder. Propõe uma enunciação mais interrogativa do que avaliativa sobre
algumas das recorrências (temáticas e técnico-compositivas) das atuais literaturas
africanas. Cita como marcas estéticas as geradas sob a punção da condição pós-
colonial. Continua sua reflexão avaliando que essa situação evolui da condição
nacionalista para a exigência da condição de cidadania plena.
1. FONSECA, M. N. S.; MOREIRA, T. T. Panorama das literaturas de língua portuguesa. Cadernos CESPUC de
pesquisa, Série Ensaios, n. 16: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Belo Horizonte, set. 2007, p. 2. Dispo-
nível em: <https://goo.gl/ox2T4B>. Acesso em : 1 de julho de 2018.
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Patrick Chabal, citado no mesmo trabalho, numa perspectiva mais historicista,
também considera quatro fases abrangentes das literaturas de língua portuguesa:
Em Moçambique, por exemplo, Mia Couto, Luís Carlos Petraquim, Paulina Chi-
ziane, entre outros, assumem um tom individual e intimista para narrar a experiên-
cia pós-colonial, desviando-se do viés coletivo que até então imperava.
2. FONSECA, M. N. S.; MOREIRA, T. T. Panorama das literaturas de língua portuguesa. Cadernos CESPUC de
pesquisa, Série Ensaios, n. 16: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Belo Horizonte, set. 2007, p. 3-4.
Disponível em: <https://goo.gl/5nrcpN>. Acesso em: 1 de julho de 2018.
3. OLIVEIRA, J. J. de. A poesia contemporânea nos países africanos de língua portuguesa. Revista Augustus, Rio
de Janeiro, , v. 14, n. 27, p. 21-27, fev. 2009. p. 22. Disponível em: <https://goo.gl/51i6Np>. Acesso em:
1 de julho de 2018.
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Contextualização Histórica e Sociocultural
4. CAMPOS, J. S. A historicidade das literaturas africanas de língua oficial portuguesa. Goiânia, 2008. 28
f. Trabalho acadêmico – Pós-graduação em História, Universidade Estadual de Goiás. p. 13. Disponível em:
<https://goo.gl/fj7smV>. Acesso em: 1 de agosto de 2018.
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Explor
Inocência Mata: a essência dos caminhos que se entrecruzam.
Revista Crioula – Conte-nos sobre seu percurso acadêmico como professora e pesquisadora da área de
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.
Inocência Mata – Bem, logo depois do 25 de Abril, mesmo no Liceu, houve aquele momento de uma
visão entusiástica, aquilo era nosso. Mas, de fato, o estudo sistemático e sistematizado foi feito em
Portugal, aqui na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com o Prof. Manuel Ferreira, que, como
sabe, foi o introdutor desta cadeira de Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa – era assim que
se chamava na universidade portuguesa. Portanto, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
foi pioneira do estudo das Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, designação com a qual eu
não concordo, mas que na altura realmente foi uma grande revolução. Muita gente pensava, e ainda
pensa, ainda vê as literaturas africanas como literaturas ultramarinas, como um apêndice da literatura
portuguesa. Até há pouco tempo, havia uma universidade em que essa era a designação...
Para ler a entrevista na íntegra, acesse: https://goo.gl/5tZ2SP
Concluindo
Estudamos primeiramente a perspectiva mais comum de onde, até então, olha-
mos para o continente africano. Ao nos aproximarmos mais desse estudo, percebe-
mos que construímos um imaginário a respeito desse continente que foi fabricado
através de filmes hollywodianos, de expressões artísticas, de narrativas folclorizadas,
distantes de uma realidade cosmopolita e moderna.
Em seguida, vimos a questão da língua portuguesa como a língua do coloni-
zador, portanto é mais uma língua falada nos países de língua oficial portuguesa,
que convive com outras tantas línguas e isso é fundamental para compreendermos
a grandiosidade dessas literaturas porque ampliam a língua portuguesa mas que,
para isso, novamente, precisamos nos dar conta que a língua portuguesa é apenas
mais uma língua, apesar de ser um fator que afeta questões sociais e políticas em
Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, cada país
com questões próprias.
Como uma terceira parte, estudamos questões referentes à literatura e as várias
fases de formação, entendemos que as literaturas africanas são consideradas a par-
tir da saída do colonizador, no caso, o português, assim consideramos literaturas
africanas de língua portuguesa as escritas pós colonialismo.
Podemos falar em fases dessa literatura. Na primeira, o escritor está em estado
de quase absoluta alienação; a segunda corresponde à fase que o escritor manifesta
a percepção da realidade; a terceira é aquela em que o escritor adquire a consciên-
cia de colonizado; e a quarta corresponde à fase histórica de independência nacio-
nal. Essas fases, de acordo com o especialista Manuel Ferreira, são mais ou menos
equânimes nos cinco países africanos de língua portuguesa. Para Patrick Chabal,
numa perspectiva mais historicista, há quatro fases denominadas de: assimilação,
resistência, afirmação e independência.
Sendo assim, a partir dessas considerações preliminares, poderemos nos aden-
trar em particularidades de cada literatura e de cada autor, o que veremos a partir
da próxima unidade.
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Contextualização Histórica e Sociocultural
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Por mais que eu te leve pelos caminhos
Pensando ainda nas convenções, preconceitos, perspectivas, e no pensamento de Ap-
piah, sugiro o curta-metragem produzido pelo Fronteiras do Pensamento em parceria
com a Okna Produções faz uma reflexão sobre a conexão entre as pessoas na contem-
poraneidade. O filme de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher mostra pessoas que
caminham nas ruas, perdidas sob o olhar do teórico cultural Kwame Anthony Appiah.
Estamos todos juntos, mas nem sempre percebemos.
https://goo.gl/cmyXAY
Leitura
Revoluções Morais no Século XXI
Ler o resumo da palestra que o professor e escritor Kwame Anthony Appiah proferiu
em Fronteiras do Pensamento, no Brasil em 2013. O segundo semestre do Fronteiras
do Pensamento em 2013 tem início com a conferência de Kwame Anthony Appiah.
Nascido na Inglaterra, o escritor foi criado em Gana e aborda em suas obras questões
como racismo, identidade e moral. Atualmente, é professor na Universidade de Prin-
ceton nos Estados Unidos, onde leciona Filosofia. Em sua conferência, Appiah propôs
a reflexão sobre as potencialidades revolucionárias contemporâneas se apoiando em
estudos de caso do passado que evidenciam avanços morais significativos.
https://goo.gl/fnv9ou
Contracorrente Entrevista Entrevista com Inocência Mata
Para aprofundar os estudos pós-coloniais, é importante ler a entrevista que a pesqui-
sadora e professora Inocência Mata concedeu ao professor Mário César Lugarinho,
em ContraCorrente: revista de estudos literários e da cultura Na entrevista a seguir,
Inocência Mata discorre sobre alguns temas fundamentais para a crítica das literaturas
africanas de língua portuguesa, sobre o tema da lusofonia e sobre os estudos pós- co-
loniais – matéria na qual suas reflexões, sempre críticas, são referências para os estu-
diosos das literaturas de língua portuguesa.
https://goo.gl/4xtRZF
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Referências
CAMPOS, J. S. A historicidade das literaturas africanas de língua oficial
portuguesa. Goiânia, 2008. 28 f. Trabalho acadêmico – Pós-graduação em História,
Universidade Estadual de Goiás. p. 13. Disponível em: <http://pos.historia.ufg.br/
uploads/113/original_26_JosileneCampos_AHistoricidadeDasLiteraturas.pdf>.
Acesso em: 27 mar. 2014
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