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Message to Grassroots, 1963.
republicano. Você não vive o inferno porque você é um maçon ou um elk. E você
certamente não vive um inferno porque você é americano; porque se você fosse
americano, não viveria um inferno. Você vive o inferno porque você é um homem
preto. Você vive o inferno – todos nós vivemos o inferno pela mesma razão.
Então somos todos pretos, os chamados “negros”, cidadãos-de-segunda-
classe, ex-escravos. Você não é nada além de um ex-escravo. Você não gosta que
isso seja dito. Mas o que mais você é? Vocês são ex-escravos! Você não veio aqui no
“Mayflower”. Você veio para cá em um navio negreiro – em correntes, como um
cavalo, uma vaca ou um frango; e você foi trazido para cá pelas pessoas que vieram
para cá no “Mayflower”. Vocês foram trazidos para cá pelos chamados
“Peregrinos”, pelos “Fundadores”. Foram eles que os trouxeram para cá.
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Sobre esse milagre da propaganda (tal qual a “Revolução Francesa”) nosso Irmão Kwame Ture faz o
devido salto analítico: “Você foi embranquecido para acreditar que havia uma coisa chamada
“Revolução Americana”. Nunca houve, eram apenas filhos que lutavam com seus pais para ver quem
levaria o saque. George Washington nasceu na Inglaterra! – ele estava lutando para controlar esse
pedaço de terra. Ele não estava lutando em uma luta revolucionária. A revolução derruba o sistema,
destrói, é sangrenta, não reconhece nenhum compromisso. Qual sistema eles derrubaram? Nenhum. Eles
tinham escravos, e eles estavam levando esta terra do homem vermelho.”. Extrato de ‘Pan-Africanismo’,
discurso de Kwame Ture, 1970.
Estou lhe dizendo, você não sabe o que é uma revolução. Porque quando você
descobrir o que é – você vai sair de cena; vai sair do caminho. A Revolução Russa –
em que se baseava? Terra. Os sem-terra contra o senhorio. Como eles fizeram isso?
Derramamento de sangue. Você não tem uma revolução que não envolva
derramamento de sangue!
E você tem medo de sangrar.
Eu disse, você está com medo de sangrar.
Quando o homem branco lhe enviou para a Coreia, você sangrou. Ele
mandou você para a Alemanha, você sangrou. Ele enviou você para o Pacífico Sul,
para lutar contra os japoneses – você sangrou! Você sangra pelos brancos! Mas no
momento que você percebe que suas próprias igrejas estão sendo bombardeadas3
e que pequenas meninas pretas estão sendo assassinadas – você não tem coragem
de sangrar. Você só morde quando o homem branco diz que tem que morder, e
você só late quando o homem branco diz que tem que latir. Eu odeio dizer isso
sobre nós, mas é verdade. Como você vai ser não-violento no Mississipi, se lá é tão
violento como quando você estava na Coreia? Como você pode justificar ser não-
violento no Mississipi e Alabama, enquanto suas igrejas estão sendo
bombardeadas e suas filhas estão sendo assassinadas – se você foi enviado para
ser violento com Hitler, com Tojo e com pessoas que nem ao menos sabia quem
eram?
Se a violência está errada nos Estados Unidos, a violência está errada no
exterior. Se é errado ser violento defendendo mulheres pretas, crianças pretas e
bebês pretos, então é errado que os Estados Unidos nos incentivem e nos façam ser
violentos no exterior em sua defesa. E se é correto que os Estados Unidos nos
incentivem e nos ensinem como podemos ser violentos em sua defesa, então é
certo para você e eu fazer o que for necessário para defender nossa própria gente
aqui neste país.
A Revolução Chinesa? – eles queriam terras. Esses expulsaram os britânicos
junto com o Tio Tom chinês! Sim, eles fizeram. Eles deram um bom exemplo.
Quando eu estava na prisão, li um artigo – não fique chocado quando digo que
estava na prisão. Você ainda está na prisão. Isso é o que a américa significa: prisão.
Quando eu estava na prisão, eu li um artigo na revista Life mostrando uma
pequena menina chinesa, com nove anos de idade; seu pai estava em suas mãos e
de joelhos e ela estava puxando o gatilho porque ele era um Tio Tom chinês.
Quando eles tiveram a revolução lá, eles tombaram toda uma geração de tios-tom –
apenas uma limpeza. E dentro de dez anos essa menina se tornou uma mulher
adulta. Não tem mais Tio Tom na china. E hoje é um dos países mais difíceis, mais
ásperos, mais temidos nesta terra – pelo homem branco. Porque não há tios-tom lá.
De todos os nossos estudos, a história é a mais qualificada para respaldar a
nossa pesquisa. E quando você vê que você tem problemas, tudo que você tem a
fazer é examinar o método histórico usado em todo mundo por outros que tiveram
problemas semelhantes aos seus. Uma vez que você vê como eles obtiveram o seu
direito, então você sabe como você pode obter o seu direito. Houve uma revolução,
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O Irmão Malcolm faz referência ao bombardeio que ocorreu na Igreja Batista Africano-americana de
Birmingham, Alabama, em 15 de setembro de 1963, em pleno domingo. Durante o culto, quatro membros
da Ku Klux Klan plantaram, abaixo do assoalho das instalações, pelo menos 15 bananas de dinamite
anexadas a um dispositivo de temporização. A explosão na igreja matou quatro meninas e feriu outras 22
pessoas pretas. As quatro crianças pretas mortas nesse ato de “terrorismo ocidental” – por usar uma
expressão de Muammar al-Gaddafi – foram Addie May Collins, Carol Denise McNair, Cynthia Wesley,
Carole Rosamond Robertson. No filme 4 little girls, Spike Lee documenta esse ato covarde e brutal.
uma Revolução Preta, aconteceu na África. No Quênia, os Mau-Mau foram
revolucionários; foram eles que levaram a palavra “Uhuru” [do Ki-Swahili,
liberdade] adiante. Os Mau-mau – eles eram revolucionários, acreditavam na
queimada da terra, derrubaram tudo o que se meteu em seu caminho – e sua
revolução também estava baseada na terra, no desejo de terras.4 Na Argélia, na
parte norte da África, ocorreu uma revolução. Os argelinos eram revolucionários,
queriam terras. A França ofereceu-se para permitir sua integração à França. Eles
disseram à França: pro inferno com a França! – eles queriam alguma terra, não
uma França. E eles se envolveram em uma sangrenta batalha.
Assim, cito estas várias revoluções, irmãos e irmãs, para mostrar-lhes que
não existe essa de revolução pacífica. Você não terá uma revolução oferecendo-a-
outra-face... Não existe tal coisa como uma revolução-não-violenta... O único tipo de
revolução não violenta é a revolução do negro. A única revolução em que o objetivo
é amar o inimigo é a revolução do negro. É a única revolução em que o objetivo é
um restaurante para almoçar sem segregação, um teatro sem segregação, um
parque sem segregação e um banheiro público sem segregação; você pode sentar
ao lado de pessoas brancas – no vaso sanitário. Isso não é revolução. A revolução é
baseada na terra. A terra é a base de toda a independência. A terra é a base da
liberdade, justiça e igualdade.
O homem branco sabe o que é uma revolução. Ele sabe que a Revolução
Preta é mundial em âmbito e natureza. A Revolução Preta está varrendo a Ásia,
esta varrendo a África, está levantando a sua cabeça na América Latina. A
Revolução Cubana – isso é uma revolução. Eles derrubaram o sistema. A revolução
está na Ásia, a revolução está na África e o homem branco está gritando porque vê
a revolução na América Latina. Como você acha que ele vai reagir quando você
aprender o que é uma verdadeira revolução? Você não sabe o que é uma revolução.
Se você soubesse, você usaria essa palavra.
A revolução é sangrenta, a revolução é hostil, a revolução não conhece
compromisso, a revolução derruba e destrói tudo o que entra em seu caminho. E
você, sentado aqui como um nó na parede, dizendo: “Eu vou amar essas pessoas,
não importa o quanto elas me odeiem”. Não, você precisa de uma revolução. Quem
ouviu falar de uma revolução onde eles cruzam os braços, como o Reverendo
Cleage estava maravilhosamente nos dizendo, cantando “We Shall Overcome”?
Você não faz isso em uma revolução. Você não canta nenhuma canção, você está
muito ocupado gritando. Ela é baseada na terra. Um revolucionário quer terra para
que ele possa estabelecer sua própria nação, uma nação independente. Esses
negros não estão pedindo nenhuma nação – eles estão tentando se rastejar de volta
para a plantation...
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Semelhante processo pode ser visto atualmente, p.ex., na África do Sul. Clique aqui para mais sobre.
Eu estava lendo algumas lindas palavras do Rev. Cleage, apontando porque
ele não podia se reunir com outra pessoa na cidade porque todos tinham medo de
ser identificados com o Nacionalismo Preto. Se você tem medo do Nacionalismo
Preto, tem medo da revolução! E se você ama a revolução, você ama o
Nacionalismo Preto.
Para entender isso, você tem que se voltar para o que o jovem irmão aqui
quis dizer quando mencionou os exemplos do negro-da-casa e do preto-do-campo,
nos tempos da escravidão. Havia dois tipos de escravos, o negro-da-casa e o preto-
do-campo. Sobre os negros-da-casa: eles moravam na casa com o senhor, vestiam-
se muito bem, comiam bem porque comiam a comida que os brancos deixavam.
Eles viviam no sótão ou no porão, mas ainda viviam perto do senhor; e eles
amavam o senhor mais do que o senhor amava a si próprio. Eles dariam a vida para
salvar a casa do senhor (mais rápido do que o próprio senhor). Se o senhor
dissesse: “Temos uma boa casa aqui”, o negro-da-casa diria: “Sim, temos uma boa
casa aqui”. Sempre que o senhor dizia “nós”, ele repetia – “nós!”. É isso que
podemos dizer de um negro-da-casa.
Se a casa do senhor pegasse fogo, o negro-da-casa lutaria mais duramente
para extinguir o incêndio do que o próprio senhor faria. Se o senhor adoecesse, o
negro-da-casa: “Qual é o problema, senhor, estamos doentes?”. Estamos doentes!
Ele se identificou com seu senhor, mais do que o seu senhor se identificou consigo
mesmo.5 E se você virar para o negro-da-casa e disser: “Vamo fugir, vamo escapar,
vamo nos separar”, o negro-da-casa olharia pra você e diria: “Homem, você é louco.
O que quer dizer, se libertar? Onde vou poder usar roupas melhores do que estas?
Onde poderei comer uma comida melhor do que a que me dão?”. Assim agiria o
negro-da-casa. Naqueles dias, ele era chamado de “negro-da-casa”. E é assim que os
chamamos hoje, porque ainda temos vários negros-da-casa correndo por aí...
O moderno negro-da-casa ama o seu senhor. Ele quer viver perto dele. Ele
vai pagar três vezes a mais o valor que a casa vale apenas para viver perto do seu
senhor, e depois vai se vangloriar dizendo que “eu sou o único negro que mora
aqui” – “eu sou o único desta escola”... Você não é nada além de um negro-da-casa!!
E se alguém vai até você agora e diz “vamos nos separar” – você diz a mesma coisa
que o negro-da-casa dizia durante a escravidão – “o que você quer dizer, separar?
Da América, desse bom homem branco? Onde você vai conseguir um trabalho
melhor do que o que você tem aqui?”. Quero dizer, é isso que você diz. “Eu não
deixei nada na África”, é o que você diz. E diz isso porque você deixou a sua
MENTALIDADE na África.
Na mesma plantation6, havia o preto-do-campo. Os pretos do campo eram
as massas. Havia sempre mais pretos no campo do que haviam negros na casa. O
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Eis um dos principais efeitos do colonialismo: a identificação com o opressor, que também atende por
auto-ódio, e que está ligado à dialética do reconhecimento (ver Frantz Fanon). Para dar outra pista,
poderíamos elencar, ainda, como outro dos efeitos maléficos do colonialismo: a morte ontológica;
segundo Abisogun Olatunji Oduduwa, a morte ontológica é prima do auto-ódio: andam de mãos dadas...
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Optamos por manter a grafia ‘plantation’, pontuando que não se deve confundir com sua tradução
vulgar (plantação), pura e simples; uma vez que todo um modelo de exploração foi viabilizado a partir da
utilização de tal sistema, mediante a utilização de latifúndios e mão de obra escrava – empregada tanto
nas “grandes lavouras” como pelos pequenos fazendeiros – o sistema de plantation constitui a coluna
vertebral de uma economia agrícola baseada na monocultura para exportação: campos de algodão e de
tabaco (mais ao norte), engenhos de açúcar, fazendas de cacau e de café (ao sul) – para a importação de
uma mercadoria produzida à custo do perecimento de 10 milhões de Indígenas e 20 milhões de Africanos
trazidos compulsivamente para as chamadas américas, vítimas do escravismo e colonialismo europeu –
uma ~pequena~ parcela se comparado com 300 milhões de nós, Abibiman – Povos Africanos e Pretos –
preto-do-campo viveu o inferno. Ele comeu sobras. Na casa, eles comiam as partes
nobres do porco. O preto-do-campo não conseguia nada além do que sobrava do
intestino do porco. Hoje em dia, eles chamam de “chitt’lings”. Naqueles dias, eles os
chamavam do que realmente eram – comedores de intestinos. Isso é o que você era
– comedor de intestino. E alguns de vocês ainda são comedores de intestinos...
O preto-do-campo foi espancado, de manhã à noite; vivia numa barraca,
numa cabana; ele usava roupas velhas e rasgadas. Ele odiava o senhor. Eu digo que
ele odiava o senhor. Ele era inteligente. Aquele negro-da-casa amava seu senhor, e
eles odiavam o senhor. Quando a casa pegava fogo, ele não tentava apaga-lo;
aquele preto-do-campo orava para que viesse um vento, uma brisa. Quando o
senhor adoecia, o preto-do-campo orava para que ele morresse. Se alguém fosse
até o preto-do-campo e dissesse: “Vamos nos separar, vamos correr” – ele não
perguntava: “Para onde vamos?”. Ele dizia: “Qualquer lugar é melhor do que aqui!”.
Hoje em dia, na América, você vai encontrar pretos do campo. Eu sou um preto-do-
campo. As massas são os pretos do campo. Quando enxergam a casa deste homem
em chamas, vocês não ouvem os jovens pretos falarem “nosso governo está em
apuros”. Eles dizem: “O governo está em apuros”. Imagine um negro: “Nosso
governo!”. Eu ouvi mesmo um dizer “nossos astronautas!”. “Nossa marinha!”. Este é
um negro que tem a sua mente fora de si, um negro que tem a sua mente fora de si.
Assim como o senhor de escravos naqueles tempos usou o Tio Tom7, o
negro-da-casa naqueles tempos também usou o Tio Tom – o negro-da-casa usava-o
para manter os pretos do campo sob controle; o mesmo velho senhor de escravos
atualmente tem negros que não são nada além disso, são os Tio Tom do século 20 –
Tio Tom do século! – pra manter você e eu em cheque, nos manter sob controle,
nos manter passivos, pacíficos e não-violentos. Isso mesmo, o Tio Tom lhe faz não-
violento. É como quando você vai ao dentista e o homem vai arrancar o seu dente.
Você vai lutar com ele quando começar a puxar. Então ele esguicha algumas coisas
em seu queixo, algo chamado xilocaína, para fazer você pensar que ele não está
fazendo nada com você. Então você se senta lá e, porque você tem toda essa
xilocaína em sua boca, você sofre pacificamente. Sangue correndo por sua boca e
você não sabe o que está acontecendo. Porque alguém lhe ensinou a sofrer
pacificamente.
O homem branco faz a mesma coisa com você na rua, quando ele tenta
colocar em sua cabeça que você deve ter medo da nossa luta, como no passado,
para tirar proveito disso. Para impedir você de lutar, como no passado, ele faz com
que esses velhos Tio Tom religiosos nos ensinem, a você e a mim – como xilocaína
– a sofrer pacificamente. Não pare de sofrer – apenas sofra pacificamente. Como
apontou o Rev. Cleage, eles dizem que você deve deixar seu sangue escorrer pelas
ruas. Isto é uma vergonha. Você sabe que ele é um pregador cristão. Se é uma
vergonha para ele, você sabe o que é para mim...
Não há nada em nosso livro, o Alcorão, que nos ensine a sofrer
pacificamente. Nossa religião nos ensina a sermos inteligentes. Seja pacífico, seja
cortês, respeite a lei, respeite todos; mas se alguém colocar a mão em você, envie-o
dobrados desde o início desse embate civilizacional entre pretos e não-pretos – é um verdadeiro milagre
nossa sobrevivência – tanto que John Henrik Clarke diz, nós prevalecemos. Que o comércio trilateral
criou condições para o “acumulo de capital”, é (meia-)verdade... (Mas) para além disso, vale pontuar que:
o “tráfico negreiro”, por si só, constituiu o grosso da economia europeia, a alma do negócio iniciado pelos
portugueses e seus mercados de escravos Africanos, o cúmulo da barbaridade, e esse é o entendimento!
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Esse tipo encontra paralelo no Brasil com os capitão do mato – o jagunço, a PM – e os Tio Barnabé...
para o cemitério. Essa é uma religião boa. Na verdade, essa é a religião antiga. Esse
é o que Ma e Pa costumavam falar: um olho por um olho, dente por dente, cabeça
por cabeça – e uma vida por uma vida! Essa é uma religião boa. E ninguém se
ressente desse tipo de religião que está sendo ensinada, apenas o lobo, que planeja
lhe fazer de refeição.
O homem branco na América age desta maneira. Ele é um lobo – e você, é
uma ovelha8. Sempre que um pastor, um pastor ensina a nós e a mim a não fugir do
homem branco e, ao mesmo tempo, nos ensina a não lutar contra o homem branco,
ele é um traidor para você e para mim. Não estabeleça uma vida por si só. Não,
preserve a sua vida, é a maior coisa que você tem. E se você tem que desistir, deixe
ao menos em igualdade de circunstâncias...
O senhor de escravos pegou o Tio Tom e vesti-o bem, alimentou-o bem e até
deu-lhe um pouco de educação – um pouco de ~educação~. Deu-lhe um casaco
longo e um chapéu alto e fez com que todos os outros escravos olhassem para ele.
Então ele usou esse Tio Tom para controla-los. A mesma estratégia que foi usada
naqueles tempos é usada hoje, pelo mesmo homem branco. Ele pega um negro –
um chamado negro – e torna-o proeminente, constrói-o, publica-o, faz dele uma
celebridade. E então ele se torna um porta-voz dos negros – um “líder negro”.
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A esse respeito, Amos Wilson comentou, durante uma de suas palestras: “Como ousamos deixar essas
pessoas entrar em nossas Igrejas para tentar nos ensinar sobre valores... não, não é... é uma situação
incrível, tentar falar conosco sobre "valores". Para tentar falar conosco sobre "controle populacional",
outra piada... A primeira coisa em que pensamos, quando eles falam sobre o controle populacional, é a
superprodução de pessoas Africanas, o chamado Terceiro Mundo.” Nunca é demais repetir: não se trata
de uma simples questão moral – Kwame Ture já deu o papo, não é uma questão de atitude, mas de poder.
Deixe-me mostrar-lhes quão complicado é o homem branco. Assim que se
formaram, elegeram Whitney Young como seu presidente, e quem você acha que se
tornou o co-presidente? – Stephen Currier, o homem branco, um milionário...
Powell estava falando sobre isso no Cobo Hall hoje. Era disso que ele estava
falando. Powell sabe que aconteceu. Randolph sabe que aconteceu. Wilkins sabe
que aconteceu. King sabe que aconteceu. Cada um dos Seis Grandes – eles sabem o
que aconteceu.
Uma vez formado, com um homem branco sobre ele, ele proveu-os e deu-
lhes 800.000 dólares para dividir entre os Seis Grandes; e disse-lhes que se a
marcha fosse liderada por eles, ele lhes daria depois mais 700.000 dólares. Um
milhão e meio de dólares – dividido entre os líderes que você tem seguido, que tem
ido para a cadeia, que choram lágrimas de crocodilo. E eles não são nada além de
Frank James e Jesse James e os irmãos do “faça o que você quiser”...
Assim que eles começaram a organização, o homem branco disponibilizou
para eles os maiores especialistas em relações públicas, deixou os meios de
comunicação em todo o país à sua disposição, que então começaram a projetar os
Seis Grandes como líderes da Marcha; que, originalmente, nem sequer estavam na
Marcha. Você estava falando sobre a Marcha na Hastings Street, você estava
falando sobre a Marcha na Avenida Lenox, na Rua Fillmore, na Central Avenue, na
Rua 32 e na Rua 63. Era ali que a marcha estava sendo discutida e construída. Mas
o homem branco colocou os Seis Grandes na frente dela; fez-lhes a marcha. Eles se
tornaram a marcha. Eles a aceitaram. E o primeiro movimento que eles fizeram
depois que eles assumiram – eles convidaram Walter Reuther, um homem branco;
eles convidaram um padre, um rabino e um velho pregador branco – sim, um velho
pregador branco! O mesmo elemento branco que colocou Kennedy no poder: os
trabalhadores, os católicos, os judeus e os protestantes liberais; o mesmo grupo
que colocou Kennedy no poder se juntou à Marcha de Washington.
É como quando você tem um café que é muito preto, o que significa que é
muito forte. O que você faz? Você mistura com creme, você o torna fraco. Mas se
você derramar muito creme nele, você não vai nem mesmo saber que está
tomando café. Costumava ser quente, torna-se frio. Costumava ser forte, torna-se
fraco. Ele costumava acorda-lo – agora coloca você para dormir! Foi o que fizeram
com a Marcha de Washington. Eles se juntaram a ela. Não se integraram nela –
infiltraram-se nela! Eles se juntaram a ela, tornaram-se parte dela, assumiram... E,
como eles assumiram, ela perdeu sua militância. Deixou de ficar com raiva, deixou
de ser quente, deixou de ser intransigente. Ora, deixou de ser uma marcha. Tornou-
se um piquenique, um circo. Nada além de um circo, com palhaços e tudo mais. 11
Você tinha uma aqui em Detroit – eu vi na televisão – com palhaços liderando,
palhaços brancos e palhaços negros.
Eu sei que você não gosta do que estou dizendo, mas eu vou dizer de
qualquer maneira. Porque eu posso provar o que estou dizendo. Se você acha que
estou lhes dizendo mentiras, me traga Martin Luther King, A. Philip Randolph,
James Farmer e os outros três e veja se eles vão negar o que estou dizendo fazendo
uso deste microfone.
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A esse respeito, cabe novamente uma observação de Kwame Ture: “Se não tomarmos cuidado,
deixamos a mobilização se tornar eventos. E a luta nunca é evento. É um processo. Um contínuo e eterno
processo.”
Não, foi tudo vendido. Eles adquiriram tudo. Quando James Baldwin veio de
Paris, eles não o deixaram falar, porque não podiam fazê-lo seguir o roteiro. Burt
Lancaster leu o discurso que Baldwin deveria fazer; eles não deixaram Baldwin
chegar até lá, porque eles sabiam que Baldwin é suscetível de dizer qualquer coisa.
Eles a controlavam tão apertadamente, diziam aos pretos qual a hora de chegar à
cidade, como chegar, onde parar, que sinais carregar, que canção cantar, que
discurso poderiam fazer e o que não podiam dizer; e depois disse-lhes para sair da
cidade ao pôr do sol...
Agora, eu sei que você não gosta que eu lhes diga isso. Mas não posso voltar
atrás. Era um circo, uma performance que batia qualquer coisa que Hollywood
pudesse fazer – foi a performance do ano! Reuther e os outros três deveriam
receber um Oscar de melhores atores, porque agiam como se realmente amassem
os pretos, e enganaram um monte de pretos. E os seis líderes negros também
deveriam receber um prêmio – pelo melhor elenco de apoio.
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[abaixo, link ativo para livros sobre o Irmão Malcolm X, como a obra de
Manning Marable, ‘Uma vida de reinvenções’, excelente exame sobre a
‘Autobiografia de Malcolm X’, também disponível neste sítio, escrita por
Alex Haley em colaboração e na presença de Malcolm X. Além do discurso
‘Mensagem para as bases’ completo etc.]
I’m Malcolm X!