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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sócias

Departamento de línguas e literatura

Licenciatura em Ensino de Português (Laboral)

3 Ano: Semestre I

Disciplina: Literaturas Africanos da língua portuguesa

Tema: “As Almas do Povo Negro”

Discentes:

 Assucénia Fernando Maputso

 Benigno Domingos Quibe

 Helton Fernando Sitoe

Doutor Osvaldo das Neves

Maputo, Maio de 2022


Introdução

O presente trabalho é consequência da leitura da obra de William Eduard Burghardt Do Bois


intitulada “The Souls of Black Folk”, traduzida para o Português pelo tradutor José Luiz
Pereira da Costa, passando para “ As Almas do Povo Negro”. E também é resultado de uma
Pesquisa. Em As Almas do Povo Negro, estão estampadas as condições de vida da
população negra que se denotavam condenáveis aos olhos do autor. No entanto, antes de
tocarmos nos aspectos básicos concernentes à obra, apresentamos a súmula da biografia do
autor da obra, neste caso, o intelectual William Du Bois, e os movimentos dirigidos por ele.
Notas biográficas do autor

William Edward Burghardt Du Bois nasceu em Barrington, EUA, no dia 23 de fevereiro de


1868 e veio a perder a vida em Acra, República do Gana, aos 27 de agosto de 1963. Du Bois
destacou-se como sociólogo, socialista, historiador, mas , sobretudo, como activista pelos
direitos civis da população negra entre outras funções. Tendo nascido no interior do estado de
Massachusetts, ele cresceu em uma comunidade que se pode considerar tolerante e integrada.
Importa reportar que Du Bois casou a Nina Gomer em 1896, com quem teve dois filhos:
Burghart e Yolanda, no entanto, um ano depois da morte de Nina, casou outra mulher
chamada Shirley Graham.

William Du bois foi um autor frutífero visto que se acredita que publicou mais de vinte livros
em vida. Para além das publicações consideradas acadêmicas, conceitoou-se escrevendo
novelas e poesia. Fora ao aspecto acima destacado, também foi activista da justiça social e
racial, defendendo sempre os interesses da população negra. Ele fundou o “ Movimento
Niágara”, no qual exercia a função de Secretário Geral. Mais tarde, fundou o National
Association for the Advancement of Colored People (NAACP), que em português significa:
Associação Nacional para o Progresso da População de Cor, e , consequentemente, em tal
órgão exerceu a função de Presidente do Conselho. Du Bois também se tornou uma
personalidade notável porque combateu , abertamente questões da sua época tais como
linchamentos, discriminação e exploração colonial. Liderou o Movimento Pan-africano
servindo como Secretário do Primeiro Congresso do mesmo movimento. Em verdade, a
presente figura, tornou-se um socialista que lutou pelos direitos das mulheres, dos judeus, e
dos trabalhadores, e, por isso que se pode considerar como um dos arquitetos do movimento
dos direitos civis.

A questão do Movimento Niágara fundado por Du Bois

Em relação ao Movimento Niágara, que era chefiado por Du Bois, pode-se afirmar que ,
efectivamente, se tratava de um grupo de activistas afro-americanos que lutava por direitos
iguais para a população de cor, neste caso, povo negro. Du Bois e seus intercessores eram,
verdadeiramente, opostos ao Compromisso de Atlanta, um acordo elaborado por Booker T.
Washington que versava que “ os negros do sul trabalhariam e submeter-se-iam às regras
políticas dos brancos, enquanto os brancos do Sul garantiriam que os negros recebessem
oportunidades educacionais e econômicas básicas”. Contudo, Du Bois insistiu na
determinação de plenos direitos civis e aumento da representação política dos negros. Vale
ressaltar que os ataques racistas foram o principal alvo das polêmicas de Du Bois, pelo que
protestava, veentemente contra o linchamento que ocorria sobre a população negra. O
movimento teve como alguns dos seus objetivos principais os seguintes, nomeadamente, a
liberdade de expressão e de crítica; a imprensa autónoma e não subsidiada, o sufrágio
universal; o reconhecimento dos princípios de fraternidade humana.

A formação e difusão do Movimento Pan-africanista

Momentos depois da Primeira Guerra Mundial, Du Bois vira-se obrigado a sair dos Estados
Unidos da América ( EUA) para a Europa, concretamente, para a França. Já em París, ele
encontrou mecanismos para assentar e organizar o I Congresso Pan-africanista, contou com o
apoio do representante senegalês à Assembleia Nacional Francesa, Blaise Diagne e, do
primeiro-ministro francês, Georgeus Clemeceau. Neste período, conseguiu encaminhar a
resolução da Conferência pela Paz (1919), que se realizou, também em París. Lá ele solicitou
que fosse tomada em conta a situação dos negros que viviam sob o regime colonial europeu,
no continente africano. Importa ainda referir que Du Bois contou com o apoio de grandes
personalidades negras africanas tais como, Kwame Nkrumah ( representante do Gama), Jomo
Kenyata( do Quénia), Jullius Nyerere ( da Tanzânia), Leophold Senghor (do Senegal), entre
demais. Esta questão é justificada pelo facto de esses todos serem líderes de movimentos
independentalistas em seus países.

A despeito da sua luta contra o racismo, Du Bois aceitava o princípio eugênico o qual
preconizava que os indivíduos possuiriam diferentes características inatas que os fariam mais
ou menos adequados a diferentes funções sociais, como também acreditava que os mais
talentosos dentro de cada raça deveriam procriar para criar uma humanidade melhor.

As Almas do Povo Negro

A obra exemplar foi lançada em 1903 e constitui uma coletânea de ensaios e um conto. Todos
se focam em aspectos de um mesmo assunto: a discriminação racial e a luta de um povo para
a sua elevação num mundo em que o povo negro se sentia estrangeiro. O pior de tudo, talvez
tenha sido o facto de que os homens do poder não quisessem negros alfabetizados, (“um
negro alfabetizado é perigoso”) e foi dessa necessidade que muitas pessoas, incluindo o autor
lutaram para que os negros tivessem chances não apenas de estudar em escolas públicas como
também pudessem se ingressar na faculdade mesmo em condições não muito favoráveis. O
autor nos traz uma forte reflexão sobre aonde queremos ir e onde buscamos chegar, ele
também nos mostra através das páginas como é doloroso um processo de desenvolvimento
num lugar em que você é excluído e criminoso apenas por existir. Lembrando que, o que o
autor conta não são apenas histórias, Du Bois viveu aquela época e relata tudo da melhor e
magnífica forma possível a vida do povo negro naqueles anos difíceis. Esse trabalho é
consequência de próprias experiências de vida de Du Bois, que na sua obra estrutura uma
dualidade entre ser negro e ser americano. O facto de aos 95 anos assumir a nacionalidade
africana tornando-se indivíduo de Gana, resolveu a sua metáfora “ duas almas, dois
pensamentos, dois embates irreconciliáveis, duas ideias conflitantes num corpo negro,
impedido, apenas por um obstinado esforço, a bipartir-se?”

Ler a obra é estudar mais sobre o processo de “libertação” do negro que não se estende
apenas nos EUA, mas em vários momentos, o conteúdo da obra faz uma comparação da a
vida dos negros no Sul dos EUA com a vida dos negros do Brasil ou em outros lugares do
mundo, sobretudo, no continente africano, em que muitos dos problemas vividos lá nos anos
de 1800 são vivenciados até os dias de hoje. As Almas do povo negro ocupa, de certo modo,
um lugar importante nas Ciências Sociais, por tratar-se de uma das primeiras obras
sociológicas. É uma obra clássica da Literatura dos Estados Unidos da América escrita por
Du Bois. Esta obra constitui um trabalho sobre a História da Sociologia, ou melhor, trata-se
de um princípio básico para a História da Literatura Afro-americana.

Na obra de Du Bois, primeiramente, destaca-se o capítulo I : SOBRE NOSSOS EMBATES


ESPIRITUAIS, em que é exposto uma visão geral da tese de Du Bois segundo a qual os
negros do Sul devem gozar do direito de votar, uma boa educação e de serem tratados de
forma igual e justa. No capítulo II SOBRE O ALVORECER DA LIBERDADE encontra-se
objetivo estudar o período da história que se passa entre 1861 e 1872, no referente ao negro
americano, portanto, esta narrativa do alvorecer da Liberdade pode ser esgravateada como
uma avaliação da organização chamada de Escritório dos Libertos – uma das tentativas mais
interessantes e peculiares, feitas pela grande nação, para enfrentar os imensos problemas
raciais e das condições sociais vigentes. No capítulo III: SOBRE O SR. BOOKER T.
WASHINGTON e nos outros três que se seguem podemos ressalvar que estão mais
direcionados a questão da educação. É aqui onde o autor argumentou contra Booker T.
Washington. Porque este último defendia que os Negros deveriam concentrar-se somente na
educação industrial, voltada para os postos de trabalho. Então, Du Bois procurou defender a
incorporação de uma educação clássica para formar os líderes e educadores da comunidade
negra a serem também sujeitos de sua própria história político-social. Precisamente nos
capítulos VII: SOBRE O CINTURÃO NEGRO até o Capítulo X: SOBRE A FÉ DOS
ANTEPASSADOS , o autor discute sobre os estudos sociológicos da comunidade negra. Ou
melhor, Du Bois investiga a influência que a segregação e a discriminação produzia sobre o
povo negro. Nestes capítulos, procura afirmar que grande parte dos estereótipos negativos dos
negros, como sendo violentos, perigosos e ingênuos, foram consequência do tratamento dado
pelo lado dos brancos Além disso, Du Bois afirma que a igreja negra estava profundamente
vinculada a movimentos políticos negros. Desta maneira, ele absorvia isto como uma
debilidade que tinha que ser superada. Via a igreja como um dos últimos remanescentes da
vida tribal, que tinham que derrotar para que a civilização negra pudesse prosperar. O autor
constata que os escravos que eram chamados de homens negros, deviam contemplar a
salvação nesta vida, para construir uma cultura de prosperidade econômica. No Capítulo XI:
SOBRE O PASSAMENTO DO PRIMOGÊNITO, conta história do próprio filho de Du Bois que
teve morte prematura. No Capítulo XII: SOBRE ALEXANDER CRUMMELL, conta a vida de
Alexander Crummel, uma breve biografia de um sacerdote negro na igreja Episcopal. No
Capítulo XIII: SOBRE O RETORNO DE JOÃO, conta uma história fictícia de um menino , que
ingressou na universidade e quando retorna, é rejeitado por sua comunidade negra e pelos
patrícios brancos de sua cidade. No Capítulo XIV: AS CANÇÕES DE SOFRIMENTO, faz uma
análise sobre a música negra e faz referência das curtas músicas descritas no princípio de

cada um dos outros capítulos.

Conclusão

Durante as leituras, reflitimos e constatamos que o livro “as almas do negro” nos permite
contextualizar como os negros eram tratados em certas regiões, especialmente na América do
sul como também no Brasil, e averiguar os caminhos que usaram para a sua ascensão nesses
lugares. Regiões em que os negros importados do continente africano como escravos para
servir de mão de obra nas indústrias , obrigatoriamente sem direitos humanos. Nesse livro
Du Bois relata as várias tentativas de resistência colonial . Para conseguir que o povo negro
fosse respeitado , o autor do livro dirigiu alguns movimentos que combatiam a
descriminação racial que se destacava em certas regiões. Esses movimentos ajudaram os
africanos a lutarem contra o colonialismo , dessa maneira , rumo às independências dos
países africanos a partir dos finais do século XIX.

Referências bibliográficas

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