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LÉLIA GONZALEZ:

LÉLIA GONZALEZ:
uma expressãO interseccionaL

UMA EXPRESSÃO
INTERSECCIONAL
I LÉLIA GONZALEZ?
QUEM FO

Em 1º de fevereiro de 1935, na cidade de Belo Horizonte, nascia aquela que se


tornaria uma das intelectuais e militantes negras mais importantes do Brasil: Lélia
Gonzalez.

Filha de um ferroviário negro e de uma empregada doméstica descendente de


indígenas, Lélia exerceu, desde criança, as ocupações de babá e empregada
doméstica.

Formou-se em história e geografia e, mais tarde, em filosofia, tendo se tornado


doutora em antropologia.

Atuou como professora e dedicou a sua vida ao estudo do Brasil sob uma
perspectiva amefricana, por meio da qual articulou as noções de gênero, raça e
classe.

Dentre suas inúmeras contribuições, destacam-se


o seu papel decisivo na formação do Movimento
Negro Unificado (MNU) e a sua participação nas
discussões envolvendo a Assembleia Constituinte
de 1987-1988.

Por fim, vale destacar que, embora tenha


desenvolvido estudos voltados para um Brasil do
século XX, seu legado segue plenamente válido e
atual, dada a perpetuação das desigualdades entre
os diferentes atores sociais.

Para a fonte e maiores informações sobre a vida de


Lélia Gonzalez:
LÉLIA E O MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO
Construído a partir da união entre os diferentes segmentos que compõem a população
negra brasileira, o Movimento Negro Unificado (MNU) expressa uma resposta às
reiteradas violências e injustiças que recaem historicamente sobre esse grupo social.

Estudantes, artistas, integrantes da vida política, jornalistas, atletas e, por fim,


intelectuais, como Lélia Gonzalez, todos estes foram peças fundamentais para a
estruturação do MNU, movimento que se diferenciou dos demais coletivos de luta ao
aliar a questão racial a temas como gênero e classe, como forma de abordar questões
referentes à desigualdade e discriminação, perspectiva muito presente nos escritos e
estudos de Lélia.

Enfim, pode-se dizer que o MNU se tornou um importante canal de comunicação,


influência e luta para a população negra brasileira. Por meio dele, foram ampliadas e
fortalecidas as vozes não só de intelectuais como Lélia Gonzalez, mas de todo o
segmento minoritário da sociedade.

O discurso na Constituinte:
Convidada a participar das discussões concernentes à estruturação de uma
Constituição mais comprometida com a igualdade e a questão racial no Brasil, Lélia
Gonzalez não mediu esforços em expressar a dura realidade da população negra no
país, bem como os seus receios quanto à edição de uma Lei Maior refém da noção
limitada de igualdade formal.

Na oportunidade, a antropóloga salientou que abordar a questão racial no Brasil


significa, antes de mais nada, reconhecer simultânea e antagonicamente a
participação direta de negras e negros na construção identitária do povo brasileiro
e sua consequente exploração e marginalização ao longo da história.

Por fim, ressaltou que a mera enunciação de direitos iguais entre brasileiros, por si
só, não resolveria o problema da desigualdade e da discriminação fortemente
enraizados na sociedade brasileira, sendo indispensável a adoção de uma postura
ativa do Estado, traduzida sob a forma de dever constitucional.

O LEGADO
O legado de Lélia Gonzalez é vasto, profundo e
fundamental para a leitura da realidade brasileira.
Para conhecer mais, acesse o documentário
"Amefricanidade", disponível em:
LIÇÕES DE LÉLIA GONZALEZ

DEMOCRACIA RACIAL
"A diferença (se é que existiu), em termos de Brasil, estava no fato de que
os 'casamentos inter-raciais' nada mais foram do que o resultado da
violentação de mulheres negras por parte da minoria branca dominante
(senhores de engenho, traficantes de escravos etc.). E esse fato daria origem,
na década de 1930, à criação do mito que até os dias de hoje afirma que o
Brasil é uma democracia racial. Gilberto Freyre, o famoso historiador e
sociólogo, é seu principal articulador, com sua teoria do lusotropicalismo. O
efeito maior do mito é a crença de que o racismo inexiste em nosso país
graças ao processo de miscigenação."

RACISMO
"Nesse sentido, vale ressaltar que a maioria das crianças negras, nas escolas de
primeiro grau, são vistas como indisciplinadas, dispersivas, desajustadas ou pouco
inteligentes. De um modo geral, são encaminhadas a postos de saúde mental para que
psiquiatras e psicólogos as submetam a testes e tratamentos que as tornem ajustadas.
Se refletirmos um mínimo sobre a questão, não teremos dificuldade em perceber o que
o sistema de ensino destila em termos de racismo: livros didáticos, atitudes dos
professores em sala de aula e nos momentos de recreação apontam para um processo
de lavagem cerebral de tal ordem que a criança que continua seus estudos e que por
acaso chega ao ensino superior já não se reconhece mais como negra. E são
exatamente essas “exceções” que, devidamente cooptadas, acabam por afirmar a
inexistência do racismo e de suas práticas."

AMEFRICANIDADE
“Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formação histórico-cultural do
Brasil que, por razões de ordem geográfica e, sobretudo, da ordem do inconsciente, não
vem a ser o que geralmente se afirma: um país cujas formações do inconsciente são
exclusivamente europeias, brancas. Ao contrário, ele é uma América Africana cuja
latinidade, por inexistente, teve trocado o T pelo D para, aí sim, ter o seu nome
assumido com todas as letras: Améfrica Ladina [...] Nesse contexto, todos os brasileiros
(e não apenas os "pretos" e os "pardos" do IBGE) são ladino-amefricanos.”
IGUALDADE
“Desde as Constituições de 1934 e 1946 estão dizendo que todos somos iguais perante
a lei. Nós queremo, sim, mecanismos de resgate que possam colocar o negro
efetivamente numa situação de igualdade porque, até o presente momento, somos
iguais perante a lei, mas quem somos nós? Somos as grandes populações dos
presídios, da prostituição, da marginalização no mercado de trabalho.”

PRETUGUÊS
"É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo . Chamam
a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a
presença desse R no lugar do L nada mais é que a marca linguística de um idioma
africano, no qual o L inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo
acham o maior barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos verbais,
que condensa “você” em “cê”, o “está” em “tá” e por aí afora. Não sacam que tão
falando pretuguês. "

DEMOCRACIA
“O nosso projeto de nação está presente em nossas instituições negras, está presente,
por exemplo, em uma umbanda que recebe de braços abertos católicos, espíritas,
budistas, etc. O nosso projeto é efetivamente de democracia, de sociedade justa, com
todos os segmentos que a acompanham e igualitária em relação a todos os segmentos.”

"Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo:
negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis
de conscientização da questão da discriminação racial nesse país, vai ser muito difícil no
Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial."
D “Construí conhecimento nos escritos
Lélia Gonzáles, Sueli Carneiro e Luiza
I Bairros. Entendi que não há hierarquia
entre violências. Que a violência
A psíquica precisa ser combatida com a
mesma obstinação que combatemos a
L violência física."
O
WINNIE BUENO
G
A
N “Lélia Gonzalez reivindica a importância de se
reconhecer um fazer próprio da experiência

D amefricana. Para ela, tentar achar as


“sobrevivências” da cultura africana no
continente americano, atribuindo à África aquilo
O que aqui é produzido, é um equívoco que pode
encobrir as resistências e a criatividade da
luta contra a escravidão, contra o genocídio e a
exploração que por aqui se desenvolveram.”
C
THULA PIRES
O
M
"Lélia Gonzalez faz sínteses preciosas que
balizam a discussão: a primeira delas diz
respeito às contradições que historicamente

L marcaram a trajetória das mulheres negras no


interior do Movimento Feminista Brasileiro, e a

É segunda refere-se à crítica fundamental que a


ação política das mulheres negras introduziu no
feminismo e que vem alterando
L significativamente suas percepções,
comportamentos e instituições sociais."
I
SUELI CARNEIRO
A
REFERÊNCIAS
BUENO, Winnie. Memórias de uma não tão jovem feminista negra. Disponível em:
https://gamarevista.uol.com.br/colunistas/winnie-bueno/memorias-de-uma-nao-tao-jovem-feminista-
negra/. Acesso em: 16 ago. 2022.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados [online]. 2003, v. 17, n. 49., pp. 117-133.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142003000300008. Acesso em: 16 ago. 2022.

GONÇALVES, Gabriela da Costa. Lélia Gonzalez: a mulher que revolucionou o movimento negro. 2019.
Disponível em: https://www.palmares.gov.br/?p=53181. Acesso em: 17 jul. 2022.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

LÉLIA GONZALEZ. Literafro. Belo Horizonte. Disponível em:


http://www.letras.ufmg.br/literafro/ensaistas/1204-lelia-gonzalez. Acesso em 16 ago. 2022.

MERCIER, Daniela. Lélia Gonzalez, onipresente. 2020. Disponível em:


https://brasil.elpais.com/cultura/2020-10-25/lelia-gonzalez-onipresente.html. Acesso em: 16 ago. 2022.

PIRES, Thula. Direitos humanos e Améfrica Ladina: por uma crítica amefricana ao colonialismo jurídico.
In: VIVEROS VIGOYA, Mara (org.). Améfrica Ladina: vinculando mundos y saberes, tejiendo esperanzas.
Guadalajara: LASA, 2019.

ESTE MATERIAL É UMA INICIATIVA DE:


GRUPO DE
PESQUISA
DIREITO E
REALIDADE
BRASILEIRA
(CNPq/UFU)
Coordenação: Prof. Dr. Humberto Bersani
Diagramação: Bernardo Augusto Arantes Dias
Conteúdo:
Ana Elisa Silva Mageste
Bernardo Augusto Arantes dias
Lisneide Santos Costa
Pietra Oliveira Santos

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