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LÉLIA GONZALEZ:
uma expressãO interseccionaL
UMA EXPRESSÃO
INTERSECCIONAL
I LÉLIA GONZALEZ?
QUEM FO
Atuou como professora e dedicou a sua vida ao estudo do Brasil sob uma
perspectiva amefricana, por meio da qual articulou as noções de gênero, raça e
classe.
O discurso na Constituinte:
Convidada a participar das discussões concernentes à estruturação de uma
Constituição mais comprometida com a igualdade e a questão racial no Brasil, Lélia
Gonzalez não mediu esforços em expressar a dura realidade da população negra no
país, bem como os seus receios quanto à edição de uma Lei Maior refém da noção
limitada de igualdade formal.
Por fim, ressaltou que a mera enunciação de direitos iguais entre brasileiros, por si
só, não resolveria o problema da desigualdade e da discriminação fortemente
enraizados na sociedade brasileira, sendo indispensável a adoção de uma postura
ativa do Estado, traduzida sob a forma de dever constitucional.
O LEGADO
O legado de Lélia Gonzalez é vasto, profundo e
fundamental para a leitura da realidade brasileira.
Para conhecer mais, acesse o documentário
"Amefricanidade", disponível em:
LIÇÕES DE LÉLIA GONZALEZ
DEMOCRACIA RACIAL
"A diferença (se é que existiu), em termos de Brasil, estava no fato de que
os 'casamentos inter-raciais' nada mais foram do que o resultado da
violentação de mulheres negras por parte da minoria branca dominante
(senhores de engenho, traficantes de escravos etc.). E esse fato daria origem,
na década de 1930, à criação do mito que até os dias de hoje afirma que o
Brasil é uma democracia racial. Gilberto Freyre, o famoso historiador e
sociólogo, é seu principal articulador, com sua teoria do lusotropicalismo. O
efeito maior do mito é a crença de que o racismo inexiste em nosso país
graças ao processo de miscigenação."
RACISMO
"Nesse sentido, vale ressaltar que a maioria das crianças negras, nas escolas de
primeiro grau, são vistas como indisciplinadas, dispersivas, desajustadas ou pouco
inteligentes. De um modo geral, são encaminhadas a postos de saúde mental para que
psiquiatras e psicólogos as submetam a testes e tratamentos que as tornem ajustadas.
Se refletirmos um mínimo sobre a questão, não teremos dificuldade em perceber o que
o sistema de ensino destila em termos de racismo: livros didáticos, atitudes dos
professores em sala de aula e nos momentos de recreação apontam para um processo
de lavagem cerebral de tal ordem que a criança que continua seus estudos e que por
acaso chega ao ensino superior já não se reconhece mais como negra. E são
exatamente essas “exceções” que, devidamente cooptadas, acabam por afirmar a
inexistência do racismo e de suas práticas."
AMEFRICANIDADE
“Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formação histórico-cultural do
Brasil que, por razões de ordem geográfica e, sobretudo, da ordem do inconsciente, não
vem a ser o que geralmente se afirma: um país cujas formações do inconsciente são
exclusivamente europeias, brancas. Ao contrário, ele é uma América Africana cuja
latinidade, por inexistente, teve trocado o T pelo D para, aí sim, ter o seu nome
assumido com todas as letras: Améfrica Ladina [...] Nesse contexto, todos os brasileiros
(e não apenas os "pretos" e os "pardos" do IBGE) são ladino-amefricanos.”
IGUALDADE
“Desde as Constituições de 1934 e 1946 estão dizendo que todos somos iguais perante
a lei. Nós queremo, sim, mecanismos de resgate que possam colocar o negro
efetivamente numa situação de igualdade porque, até o presente momento, somos
iguais perante a lei, mas quem somos nós? Somos as grandes populações dos
presídios, da prostituição, da marginalização no mercado de trabalho.”
PRETUGUÊS
"É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo . Chamam
a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a
presença desse R no lugar do L nada mais é que a marca linguística de um idioma
africano, no qual o L inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo
acham o maior barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos infinitivos verbais,
que condensa “você” em “cê”, o “está” em “tá” e por aí afora. Não sacam que tão
falando pretuguês. "
DEMOCRACIA
“O nosso projeto de nação está presente em nossas instituições negras, está presente,
por exemplo, em uma umbanda que recebe de braços abertos católicos, espíritas,
budistas, etc. O nosso projeto é efetivamente de democracia, de sociedade justa, com
todos os segmentos que a acompanham e igualitária em relação a todos os segmentos.”
"Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo:
negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis
de conscientização da questão da discriminação racial nesse país, vai ser muito difícil no
Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial."
D “Construí conhecimento nos escritos
Lélia Gonzáles, Sueli Carneiro e Luiza
I Bairros. Entendi que não há hierarquia
entre violências. Que a violência
A psíquica precisa ser combatida com a
mesma obstinação que combatemos a
L violência física."
O
WINNIE BUENO
G
A
N “Lélia Gonzalez reivindica a importância de se
reconhecer um fazer próprio da experiência
CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados [online]. 2003, v. 17, n. 49., pp. 117-133.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142003000300008. Acesso em: 16 ago. 2022.
GONÇALVES, Gabriela da Costa. Lélia Gonzalez: a mulher que revolucionou o movimento negro. 2019.
Disponível em: https://www.palmares.gov.br/?p=53181. Acesso em: 17 jul. 2022.
PIRES, Thula. Direitos humanos e Améfrica Ladina: por uma crítica amefricana ao colonialismo jurídico.
In: VIVEROS VIGOYA, Mara (org.). Améfrica Ladina: vinculando mundos y saberes, tejiendo esperanzas.
Guadalajara: LASA, 2019.