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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Graduação em História
História Do Brasil V
Prof. Carlos Eduardo Pinto de Pinto
Maria Luiza Gomes da Silva Rosa
Matrícula 201310177511

RESENHA
Movimento negro e ditadura civil-militar:
muitas questões com poucas respostas

Sob uma ótica da Comissão Nacional da Verdade, a autora discorre sobre a


inicialmente:

“No caso de negros e negras, se ativeram as nomes constantes no dossiê


Direito à Memória e à Verdade, editado pela Secretaria Especial dos Direitos humanos da
Presidência da República, cujo o número total se resumiu a cinco
pessoas, vinculada a acoes de partidos ou grupos de esquerda: Helenira Resende de
Souza Nazareth (Preta), Iatair José Veloso, Alceri Maria Gomes da Silva, Luiz José
da Cunha e Ieda Santos Delgado. "(LOPES, p. 250)

Muitos se cita os partidos políticos, movimentos sociais e estudantis, que ainda


sim tiveram sua parcela de pessoas negras, inclusive o grande líder Marighela. Para
além dessa alçada, movimentos identitários e culturais negros emergiam e
incomodavam desde sempre, pois tudo que é preto sempre foi ilegal, desde a religião
perpassando pela capoeira, e numa ditadura civil militas, por conseguinte, se agravam.
E assim, os militares colocaram no caldeirão da subversão.
A luta dos negros se manteve nos dois campos tanto política quanto cultural. A
autora fala sobre uma "lacuna histórica", somado a isso "invisibilidade na atuação de
negro e negras na lutas e resistências ocorridas durante a vigência da ditadura civil-
militar. A autora escolhe três argumentos historiográficos para se pensar o porquê de
racializar o debate. Para isso ela ressalta o período histórico que compõe de 1930 a 1950,
um importante cânone estudioso dessa momento é Florestan Fernandes.
Com a emergência da história da mulher e da família, as crianças e o
adolescente foram incluídos nesses debates da história social. Pensando num debate
que estimule as demandas dos recortes sociais e raciais existentes na sociedade
brasileira, neste sentido, refletindo sobre a história do negro até o desenrolar do
acontecimento e suas flexões históricas. Contudo, o olhar para parte de um com
resquícios de uma colonização europeia:

" O abandono do menor, do velho e dos dependentes, em geral, resultava


do concurso de três fatores básicos: 1 - a desorganização da "família negra",
invariavelmente intensificada e agravada pelo intercambio sexual espúrio de
"negros", "brancos" e "mulatos"; 2 - a debilidade econômica e institucional do
"meio negro", a qual tornava inoperantes os mecanismos tradicionais de
solidariedade(de base doméstica, comunitária ou vicinal) e impedia a formação de
meio próprios de assistência material ou moral permanentemente, adequados a
complexidade da situação; 3 - a indiferença da sociedade inclusiva, que se manteve
mais ou menos "cega" a gravidade dos problemas sociais do "negro" nessa área,
reagindo diante deles, através de mecanismos de controle, de repressão ou de
assistência invariavelmente ineficazes, corruptíveis ou
desmoralizadores"(FERNANDES,p.206)

Os moldes de família tradicional cristã, burguesa aos moldes pai, mãe e filhos
eram inacessíveis a essas pessoas.
Tudo isso é fruto do que mais a frente Florestan Fernandes vai chamar de "mito
da democracia racial", que cruelmente se máscara de uma mestiçagem inclusiva para,
de fato, excluir os negros e branquear a sociedade. Através de um racismo assimilativo,
ou seja, camuflando historicamente toda uma cultura afro-brasileira e sonegando todos
os direitos de uma população que foi escravizada durante séculos.
"A democracia racial”, parte de um princípio em que as três raças se fundem de
uma forma romantizada, na qual encobre o racismo existente na sociedade brasileira,
então Florestan Fernandes discorre sobre essa visão mistificadora e como o papel dessa
"omissão" no pós abolição foi dificultador para o negro se integrar na sociedade já
existente, uma sociedade de classes de ordem social competitiva, na qual já havia
relações de poder desde o regime escravocrata, porem essa transição de sistema colonial
para o mercado de trabalho livre, não previa a entrada do negro no mesmo. Com teorias
eugenistas que marcaram o século XX, o mito da democracia racial veio para idealizar
uma mestiçagem e mascarar um passado de exclusão, refletindo hoje em dia num
extermínio da população negra.
Os chamados "mecanismos de controle, de repressão ou de assistência
invariavelmente ineficazes, corruptíveis ou desmoralizadores" por Florestan
Fernandes, podemos ver a atuação do Estado sobre o negro com seus mecanismo de
coerção, como a atuação da polícia, atingindo criança e no jovem negro, como
entidades como Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM).
De certo, é fato que assimilação de tudo que há e faz parte da história afro-
brasileira, mas o considerável a ponderar é que as lutas e movimentos sempre estiveram
aqui, inclusive, sem cessar, até porque pelo histórico dito acima, lutar não era verbo, mas
prática diária. Com isso, é importante ressaltar dois movimentos que fizeram parte em
paralelo coma ditadura civil-militar: O Movimento Black Rio e o Movimento Negro
Unificado (MNU), um com intuito mais cultural e outro político.
O movimento black rio inicialmente se caracterizou pelo gênero musical, que foi
difundido e muito inspirado no soul music e as efervescentes lutas luta pelos direitos
civis nos Estados Unidos. "Essa liberdade e plena identificação com um novo tipo de
entretenimento e lazer só seriam experimentadas pela maioria da juventude periférica".
(SEBADELHE, p.27). Assim nascia um novo movimento de jovens suburbanos e
negros, para além de um gênero musical, mas também de lazer - algo que dificilmente
se chega as periferias - e identitário.
E por conta da notoriedade, ganha da mídia e até um baile na zona sul -
antigo Mourisco de Botafogo - repressões eram rotineiras:
" A perseguição nessa época ficou evidente, quando alguns dos principais
produtores e DJs das equipes de maior visibilidade começaram a ser
convocados para averiguação policial. Paulão Black foi detido algumas vezes
por agentes especiais do DOI-CODI, pois insistiam que o nome da equipe
Black Power teria ligação direta
com o partido norte-americano dos Panteras Negras"(SEBADELHE,p.84)

Segundo Lélia Gonzalez, importante intelectual do século XX e umas das


fundadoras do MNU:
"A novidade do MNU reside no fato dele reconhecer esses problemas relacionados a
integração dos sistemas (relações harmoniosas ou conflituosas entre as partes de um
sistema), sua articulação com os problemas da integração social (relações
harmoniosas ou conflituosas entre os atores) e os efeitos dessa articulação sobre a
população negra. É esse reconhecimento que se distingue o MNU e do TEN, cuja
abordagem se preocupava principalmente com os problemas de integração racial.
MNU combina os problemas de raça e classe como o foco de sua
preocupação."(GONZALEZ, p.113)

O movimento era caracterizado pelos "Centro de Lutas", que promoviam a


discussões e formas de informações e ajudas aonde houvessem negros organizados,
promovendo, até mesmo, seu próprio congresso. Entendendo que a luta do negro é uma
luta global.
É importante explicitar os ganhos históricos importantes na luta contra o
racismo e pela redemocratização da sociedade brasileira. Sucedeu-se conquistas
simbólicas a partir de então, como a criação do "dia da Consciência Negra” (20 de
novembro), as cotas raciais e todas políticas públicas que acometem a população negra.
Porém a liberdade só vem com equidade e equipamento advinda de uma dívida histórica
com o povo escravizado.

Referências bibliográficas:

- GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios,


intervenções e diálogos / organização Flavia Rios, Marcia Lima. Rio de Janeiro:
Zahar, 2020. - SEBADELHE, Zé Otávio. 1976 Movimento Black Rio. Rio de Janeiro:
Jose Olympio: 2016.
- FERNANDES, Florestan. 1920-1955 A Integração do negro na sociedade de
classes: ( o legado da raça "raça branca"). São Paulo: Globo, 2008.

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