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O xenofobismo

brasileiro
Jefferson Cavalcanti Lima

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar os elementos históricos que levaram à formação do pensamento


xenofóbico no Brasil.
>> Analisar os efeitos da xenofobia na formação política, econômica e social
do Brasil.
>> Analisar dados e manifestações de xenofobia na atualidade no Brasil.

Introdução
A xenofobia enquanto fenômeno social traz em suas formas de manifestação
uma série de dinâmicas culturais que reforçam esteriótipos raciais, de classe e
de gênero potencializados pelo temor do contato com o outro, o estrangeiro. Na
construção da nacionalidade brasileira, inclusive na retórica da nação e na cultura
nacional, a presença de estrangeiros foi tema frequente. Dos debates raciais e
da crença de que o Brasil deveria ser um país com maioria branca aos períodos
de totalitarismo e antissemitismo, passando por políticas internas de integração
nacional e soberania do Estado sobre as pessoas, o xenofobismo, ou aversão à
diferença, foi um marco na construção do Brasil contemporâneo. Atualmente, as
dificuldades em integrar novos migrantes apenas reforçam quão sectária pode
ser a sociedade brasileira, mas também quão urgente é a proposição de políticas
públicas para migrantes e refugiados.
Neste capítulo, você vai conhecer os variados contextos nos quais as políticas
de intolerância foram parte constituinte não apenas do Estado brasileiro, mas
também de parte de setores da população. Para isso, verá uma discussão sobre
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as políticas raciais entre a Primeira República e a Era Vargas, sobre como, no


período democrático entre 1946–1964, o Brasil se alinhará aos tratados e valores
internacionais sobre a dignidade da pessoa humana, e a mudança de paradigma
estimulada pelo Regime Militar entre 1964–1985, quando o Estatuto do Estrangeiro
tornava a migração um perigo à soberania nacional. Por fim, vai observar como
a nova república, garantida pela Constituição Federal de 1988, traz ao Brasil a
expectativa de novos parâmetros acerca da migração, do respeito à diferença, bem
como do combate à xenofobia. Nesse mesmo contexto, vai ver como a globalização
das décadas recentes trouxe ao Brasil novos desafios, novos fluxos migratórios e
a necessidade de se reinventar em seu combate contra as formas de intolerância
em seu sentido mais amplo.

A formação da brasilidade e a negação do


outro
O conceito de xenofobia, aqui entendido como ódio, receio, hostilidade e
rejeição em relação aos estrangeiros (DE LA GARZA, 2011), apesar de ser claro
e objetivo, por si só não é capaz de apresentar toda a complexidade que o
tema carrega. A aversão ao estrangeiro, ou ao estranho, é um fenômeno
social que varia conforme o contexto histórico e mantém relações com outros
imaginários coletivos, como, por exemplo, distinções étnicas, religiosas,
econômicas e sociais.
No caso da formação histórica do Brasil, sobretudo dos imaginários acerca
da brasilidade, a relação com os estrangeiros variou de acordo com as de-
mandas domésticas, como projetos de desenvolvimento nacional, ideias de
integração territorial e cultural e discursos ufanistas. Essas variações men-
cionadas ainda dialogaram com os imaginários sobre os tipos de estrangeiros
que solicitavam residência no país.
Após a abolição da escravatura no Brasil, africanos ou descendentes
diretos de africanos começaram a sofrer com formas de restrição, inaceitá-
veis em uma sociedade pós-escravista e que se baseava nos discursos do
igualitarismo republicano. As justificativas para tais restrições estavam longe
de ser justificadas apenas pelos “hábitos culturais” do período escravista,
pois, em um nível mais elevado de pensamento, a criminologia e a antropo-
logia produziam teses sobre a violência inata do negro, sobre os riscos de
uma sociedade miscigenada e também sobre a urgência de embranquecer
a população nacional. Nomes como os do médico e antropólogo Raymundo
Nina Rodrigues e dos eugenistas Roquette Pinto e Renato Kehl se tornaram
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comuns nesse período pós-abolicionista. É importante observar que essa


lógica de aversão afetava, inclusive, negros que haviam nascido no Brasil,
mas que, a partir desse momento, foram tomados como “estranhos”, cultu-
ralmente apátridas.
Raymundo Nina Rodrigues, por exemplo, em sua obra As raças humanas e
a responsabilidade penal no Brasil, estipulava um debate acerca da primitivi-
dade do africano e de seus descendentes no país, utilizando expressões como
“raças superiores” e “raças inferiores” a fim de definir quão civilizados seriam
os brancos e primitivas seriam as populações negras e mestiças do Brasil:

O desenvolvimento e a cultura mental permitem seguramente às raças superiores


apreciarem e julgarem as fases por que vai passando a consciência do direito
e do dever nas raças inferiores, e lhes permitem mesmo traçar a marcha que
o desenvolvimento dessa consciência seguiu no seu aperfeiçoamento gradual
(RODRIGUES, 1957, p. 25).

A citação de Nina Rodrigues reitera o que a antropóloga Lilia Schwarcz


(1993) denomina como a dimensão política no debate racial brasileiro. Para
Nina Rodrigues, por exemplo, estaríamos prestes a testemunhar o colapso
da nação caso a construção do “povo brasileiro” fosse feita por meio de des-
cendentes de africanos. Nesse momento, é possível acessar como a dimensão
do medo, da intolerância, dialogou também com dinâmicas internas e com
a exclusão do diferente (“estranho”) na formação do imaginário nacional.
A visão sobre o negro como o “estranho” que habitava o Brasil só foi pro-
blematizada por transformações conceituais a partir dos anos 1930, quando o
pensamento social brasileiro começou a produzir teses sobre a formação do
Brasil e sobre as características marcantes da sociedade brasileira, como a
sua possível cordialidade ao diferente, a miscigenação como prática cotidiana,
além da ideia de que, no Brasil, o racismo foi um pensamento irrelevante.
Desse período, destacam-se as produções de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque
de Holanda, intelectuais brasileiros responsáveis pelo fato de que, a partir
dos anos 1930, o estigma da raça pudesse ser repensado sob outra forma, o
da contribuição do mestiço para a ideia da brasilidade.
Na urgência em “branquear” a população brasileira, os critérios para tal
foram pensados a partir do contato de teóricos da eugenia com a ciência
brasileira. A eugenia, em linhas gerais, pode ser definida como a tentativa
de controlar o desenvolvimento humano, evitando determinados tipos de
casamentos e estipulando quais tipos étnicos deveriam ou não se reproduzir.
Das teses eugenistas, surgia a justificativa de que, para o sucesso do país,
haveria a urgência da chegada de tipos raciais específicos, tidos como supe-
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riores. Dentre os mais desejados, estariam os povos de origem germânica e


os de origem eslava, acompanhados em um segundo patamar pelos italianos,
entendidos como uma mão de obra alternativa para os postos de trabalho,
retirados dos negros após a abolição. É interessante perceber que, nesse
momento, em diálogo com as dinâmicas internacionais, o Brasil mostrou-se
receptivo aos imigrantes de origem europeia, mas mantinha certas restrições
para a migração de africanos e de orientais. Grosso modo, tratava-se de uma
migração seletiva, baseada no discurso de que apenas o europeu poderia
contribuir para o avanço da nação.

Ufanismo pode ser definido como um sentimento exacerbado em


torno dos sentimentos pátrios. Tais posturas se mostram mais pre-
sentes em sociedades autoritárias ou que passam por um determinado momento
de recrudescimento na política e transformações econômicas (SALOMÃO, 2017).

O antissemitismo como discurso e o controle como


prática
Apesar de a imigração europeia ser o enfoque do projeto político e ideológico
da Primeira República, já nesse período temia-se a entrada de europeus
com ascendência judaica. A chegada de determinadas ordens religiosas de
origem francesa a São Paulo trazia em seus temas a suspeita sobre os bairros
majoritariamente judeus que se formavam no contexto dos anos 1920. Dessas
suspeitas, posturas antissemitas se tornavam cada vez mais comuns em
setores religiosos, mas também entre os teóricos da nação, que temiam a
presença judaica nas grandes metrópoles. O temor pela entrada de judeus
refletia a política antissemita em voga na Europa, principalmente na primeira
metade do século XX — o que a pensadora Hannah Arendt definiria como o
“antissemitismo moderno”, ou a crença das sociedades europeias de que o
“Judeu” seria o responsável pelo colapso da ordem natural, dos valores cris-
tãos e da moralidade ocidental (ARENDT, 1998). Perceba que, mesmo distante,
ao menos geograficamente, a elite brasileira alimentava-se de tais temas e
estimulava essas formas de pensamento em suas publicações.
Essa postura antissemita se tornará mais evidente durante o Estado
Novo, entre 1937 e 1945, quando o governo de Getúlio Vargas flertará com as
ideias nacionalistas do fascismo italiano e iniciará uma série de restrições
aos judeus. É importante perceber que, nesse contexto, a imigração judaica
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para o Brasil se tornou uma polêmica de Estado. Embora não tenha ocorrido
nenhuma política definitiva durante o Estado Novo, o número de imigrantes
de origem judaica despencou no Brasil. Em um documento oficial do Ministério
das Relações Exteriores, em específico um ofício de Edgardo Barbedo, do
Consulado Geral do Brasil em Varsóvia, citado pela historiadora Maria Tucci
Carneiro, é possível ler: “De tempos imemoriais é sabido que o judeu não é
agricultor. Vive ele do baixo comércio, explora a miséria alheia e muitas vezes
a própria” (BARBEDO, 1936 apud CARNEIRO, 1994, p. 159).
É importante destacarmos a tendência de época em estigmatizar a co-
munidade judaica a partir de discursos que remontam ao antissemitismo
medieval. O judeu etiquetado como avarento e sectário é um dos grandes
marcos da construção cristã sobre o outro. Nesse sentido, é importante
destacar que tais construções ainda permearam os discursos políticos, até
mesmo no Brasil, na década de 1940.
No mesmo período, na então Era Vargas, os imigrantes de ascendência
eslava sofreram restrições duríssimas em seu cotidiano. Associações comuni-
tárias, escolas e clubes foram fechados sob o pretexto da nacionalização do
país e a interrupção do “imperialismo polonês no sul do Brasil”. Esse discurso
da nacionalização do interior também seria utilizado no combate aos grupos
de italianos, alemães, ucranianos e japoneses, com ênfase aos nipônicos,
acusados de não se integrarem ao Brasil e serem inferiores racialmente. Nesse
ponto, é importante atentar ao fato de que a política territorial brasileira,
principalmente na primeira metade do século XX, oscilou muito na abertura
e na permissão da chegada de imigrantes, permitindo a fixação e a feitura
de documentos em determinados contextos e, em outros, dificultando as
formas de ocupação de áreas no interior do país.
Nesse contexto, em específico, em 1945, o mundo assistia atônito aos
massacres cometidos na Europa durante os últimos meses da Segunda Guerra
Mundial. De tal contexto, não apenas a destruição de grandes metrópoles, a
revelação da “solução final” do Reich nazista contra os judeus, mas também
a construção da Organização das Nações Unidas (ONU) e a publicação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos inauguravam um novo momento
nas relações internacionais e no tema da migração. No Brasil, os ventos do
final da guerra trouxeram a retirada de Getúlio Vargas do poder e também
a possibilidade de que o Brasil pudesse se reconstruir sobre outras bases,
inclusive no que diz respeito ao tema das migrações, agora balizadas pelas
garantias da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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Um dos exemplos mais famosos sobre posturas antissemitas durante


a Era Vargas é o caso de Olga Benário, judia e alemã que foi perseguida
no Brasil pelo seu envolvimento com o opositor político do varguismo, Luís
Carlos Prestes. A história de Olga foi representada nos cinemas em 2004, em
filme homônimo sob a direção de Jayme Monjardim, com um elenco composto
por grandes nomes do cinema nacional.

Novos tempos e novas dinâmicas


Após a queda de Getúlio Vargas e a promulgação da nova Constituição Federal
de 1946, as liberdades individuais, de culto e de pensamento se tornaram uma
realidade. Nesse mesmo período entre 1946 e 1963, teremos a construção de
uma época nova na história nacional, permeada pelo respeito às instituições,
mas também aos imigrantes, que, nesse ínterim, deixaram de sofrer com
sanções do Estado.
Internamente, a luta pelo igualitarismo e pelo fim dos crimes de pre-
conceito recebeu duas grandiosas contribuições. Primeiramente, a Lei n.
1.390/1951, que transformava em contravenção penal a discriminação racial,
e, depois, os desdobramentos da pesquisa realizada pela Unesco no Brasil,
a fim de desmistificar a situação racial e as situações de intolerância com
determinados grupos étnicos. Durante esse período, entre 1946 e a ruptura
democrática em 1964, o Brasil ainda continuava recebendo estrangeiros em
seus portos, mas, agora, garantidos pela nova carta magna e pelos novos
debates estimulados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nesse
contexto, o Brasil novamente receberá fluxos migratórios de europeus, des-
mobilizados pela situação trágica do pós-guerra, e também uma nova leva de
japoneses — embora tivéssemos registros de casos de xenofobia contra as
colônias japonesas durante a guerra — e, em paralelo, a chegada do terceiro
grande fluxo de libaneses.
O Brasil, nesse período, tornou-se uma grande referência para o tema da
migração e do combate à xenofobia. Aqui, salientamos o protagonismo de
Osvaldo Aranha na criação do Estado de Israel. Nesse período de estabilidade
institucional, o Brasil se tornaria figura presente em convenções da ONU,
atuando como mediador em conflitos e contextos de perseguições a minorias.
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Em nome da segurança nacional


Tal situação será transformada durante o período da ditadura civil militar
(1964–1985), sobretudo pela ocupação dos postos do Estado, por membros
das forças armadas, formados na Escola Superior de Guerra. Esses, inspirados
pela retórica estadunidense de defesa dos valores ocidentais, começaram a
estimular no interior do Estado a Doutrina da Segurança Nacional (DSN), que,
em linhas gerais, articulada durante o contexto da Guerra Fria, tinha como tema
central o temor do perigo comunista no Brasil. Ressalta-se que esse modelo
de gestão totalitária foi compartilhado por outros países latino-americanos
em situação semelhante — casos de Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile.
No contexto de articulação da doutrina, a situação dos estrangeiros no
Brasil viu-se agravada pelas restrições de migração articuladas durante o
regime. As novas estigmatizações em torno de determinados migrantes,
acusados de serem comunistas e tidos como inimigos da ordem pública
no Brasil, levaram à criação do Centro de Informações do Exterior (CIEX)
ainda na primeira década do regime militar. Nos anos posteriores, houve
toda a construção de um aparato cuja finalidade era controlar o trânsito de
migrantes no Brasil e mencionar publicamente os perigos dos estrangeiros à
soberania nacional. Tal situação restritiva ganhou ares de política estatal com
a publicação do Estatuto do Estrangeiro, Lei n. 6.815/80, quando uma série
de regulamentações sobre a entrada e a permanência de estrangeiros foram
institucionalizadas. Chama a atenção, no referido Estatuto, a incidência da
expressão “segurança nacional” e como o seu uso reforçava o imaginário de
que o Brasil estaria em estado de guerra contra estrangeiros. Foi nesse clima
estado de guerra que, durante a ditadura militar, como afirma a Comissão da
Verdade, 6% dos mortos pelo regime eram estrangeiros e outros 10% eram
descendentes (BRASIL, 2014).
Em paralelo, a crise econômica, principalmente na década de 1980, não
tornava o Brasil um destino requisitado para novos imigrantes. A isso, soma-
-se a instabilidade política e a presença de um modelo autocrático capaz de
inibir a inserção do Brasil na rota dos grandes fluxos migratórios, como vimos
em outros momentos. Esse contexto também afastou o Brasil do cenário
internacional — o país tornou-se mais alinhado aos interesses dos EUA do
que necessariamente um país preocupado com temas das nações unidas.
Internamente, tivemos como grande marco, durante o período militar, a
política indigenista marcada pela negação das “outras nacionalidades” no
território brasileiro. Seguindo a política “integracionista”, presente desde o
desenvolvimentismo dos anos 1950, os militares mantiveram uma política
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de contatar os povos isolados, mobilizando-os para postos de trabalho, de


formação e de imposição aos padrões nacionais durante esse período — como
é possível observar nos documentos da Comissão Nacional da Verdade, os
indígenas eram tratados ora como um “perigo à soberania nacional” inclusive,
em áreas de fronteira. Aqui citamos o exemplo dos territórios yanomamis na
fronteira com a Venezuela, onde tal etnia transita sem maiores regulamen-
tações. Em outros documentos, esses povos eram tratados como entraves
ao desenvolvimento econômico do país e, para tal, passava-se uma política
de extermínio.
Grandes obras produzidas durante o período militar, como a transamazô-
nica, as primeiras tentativas de construção da hidrelétrica de Belo Monte, a
hidrelétrica de Itaipu e a rodovia Perimetral Norte são exemplos realizados
durante o período e que contaram com violações aos direitos humanos dos
povos indígenas. Sob o discurso do desenvolvimento nacional, povos originá-
rios foram removidos de suas terras, mas não somente: foram vitimados por
práticas de trabalho escravo e sofreram com a desmobilização de suas etnias.
Pode-se destacar, aqui, que a Convenção para a Prevenção e a Repressão
do Crime de Genocídio, realizada pela ONU, continha especificações a fim
de que novos extermínios por motivações étnicas não acontecessem e foi
aderida pelo governo brasileiro e transformada em lei nacional em 1956.
No entanto, dado o contexto do regime militar e a utilização sistemática do
tema da “segurança nacional” sobre outros pontos jurídicos, mas também
sobre concepções acerca dos direitos humanos, a causa indígena, nesse
momento, tornou-se uma situação sem maiores repercussões internacionais.
Em um panorama maior, a partir do fim da ditadura civil-militar, bem como
com os desfechos do contexto da Guerra Fria, o tema das migrações e, por
consequência, da xenofobia, terá outras perspectivas, tanto a nível global
quanto nacional, como veremos a seguir.

Uma república nova e novos desafios


A partir da redemocratização, especificamente com a promulgação da Cons-
tituição Federal de 1988, o Brasil inaugurou um novo momento interno com
a reinstauração da república democrática, em que o texto pétreo dialogava
com convenções internacionais sobre os direitos humanos e com temáticas
sensíveis à necessidade do bem-estar social da população. Apesar dessa
grande mudança, o tema da migração ainda continuaria a ser discutido sob
os critérios da Lei n. 6.815/80.
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Apesar das expectativas por mudanças e dos grandes debates sobre


o retrocesso que significaria manter uma lei do período militar, com tra-
ços discriminatórios e elementos xenófobos, além do contrassenso entre a
Constituição Federal, que trazia princípios como o da dignidade humana e a
ênfase aos direitos humanos e o Estatuto do Estrangeiro, documento ainda
do período ditatorial, os parâmetros da DSN foram mantidos ainda durante
os primeiros anos da república. Mesmo diante do alinhamento brasileiro ao
tema dos direitos humanos, principalmente durante o governo de Fernando
Henrique Cardoso, o Brasil só testemunhou uma grande ruptura com o Es-
tatuto do Estrangeiro em 2017, durante o governo de Michel Temer, quando
o Brasil passou a sinalizar para a possibilidade de que um novo conjunto de
normas seria pensado em território nacional. Tratava-se da Lei n. 13.445/2017,
conhecida como Lei de Migração, um grande marco não somente jurídico, mas
também político e diplomático para a república brasileira. Diferentemente
do modelo anterior, marcado pela predominância da retórica nacionalista,
nesse novo documento, é possível analisar todo o esforço por parte do Estado
brasileiro em dialogar com as melhores práticas internacionais.
Ao nos remetermos, por exemplo, à seção “Dos Princípios e das Garantias”,
podemos acompanhar toda uma sistematização que dialoga com os parâme-
tros internacionais sobre a legalização das migrações, mas também sobre
os cuidados ao migrante, inclusive facilitando a sua inserção no território
nacional.
No Quadro 1, é possível acessar as diferenças marcantes entre os grandes
marcos em questão: o Estatuto do Estrangeiro e a Lei de Migração.
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Quadro 1. Estatuto do Estrangeiro e Lei de Migração

Estatuto do
Estrangeiro Lei de Migração

I — Soberania I — Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos


nacional direitos humanos.
II — Repressão e prevenção de xenofobia, racismo e quaisquer
formas de discriminação.
III — Não criminalização da migração.

II — Interesse IV — Não discriminação da entrada irregular no território.


nacional V — Igualdade de tratamento e oportunidade.
VI — Promoção de entrada regular e de regularização
documental.
VII — Acolhida humanitária.
VIII — Desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural,
esportivo, científico e tecnológico do Brasil.
IX — Garantia do direito à reunião familiar.

III — Ordem X — Inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio


pública de políticas públicas.
XI — Acesso igualitário e livre do migrante a serviços,
programas e benefícios sociais, bens públicos, educação,
assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia,
serviço bancário e seguridade social.
XII — Promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e
obrigações do migrante.
XIII — Diálogo social na formulação, na execução e na
avaliação de políticas migratórias e promoção da participação
cidadã do migrante.
XIV — Fortalecimento da integração econômica, política, social
e cultural dos povos da América Latina, mediante constituição
de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas.
XV — Cooperação internacional com Estados de origem, de
trânsito e de destino de movimentos migratórios, a fim de
garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante.
XVI — Integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e
articulação de políticas públicas regionais capazes de garantir
efetividade aos direitos do residente fronteiriço.
XVII — Proteção integral e atenção ao superior interesse da
criança e do adolescente migrante.
XVIII — Observância ao disposto em tratado.
XIX — Proteção ao brasileiro no exterior.
XX — Migração e desenvolvimento humano no local de origem,
como direitos inalienáveis de todas as pessoas.
XXI — Promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício
profissional no Brasil, nos termos da lei.
XXII — Repúdio a práticas de expulsão ou de deportação
coletivas.

Fonte: Adaptado de Claro (2020).


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Como é possível observar, os novos princípios da legislação em vigor


traziam o Brasil para a discussão sobre migração a nível global, em diálogo
constante com tratativas internacionais, principalmente com o Pacto Global
por uma Migração Segura, Ordenada e Regular, publicado no final de 2018,
pela ONU, após reuniões realizadas no Marrocos. O Brasil, em um primeiro
momento, mostrou-se favorável ao documento e formalizou a sua participação.
Na prática, o Pacto Global por uma Migração Segura, Ordenada e Regular
não representa uma série de “leis”, pois, inclusive, não é vinculativo, ou seja,
não é um conjunto de normas com sanções para os que desrespeitem; pelo
contrário, trata-se de um documento inspirado na concepção de cooperação
técnica entre os países e vai além da percepção de que o tema da migração
e do combate à xenofobia é um tema fronteiriço, mas, sim, um tema com
impactos e urgências globais.
O novo documento traz em seus objetivos, por exemplo (GLOBAL COMPACT
FOR MIGRATION, 2018, p. 5, tradução nossa), dez tópicos que destacamos a
seguir:

Coletar e utilizar dados precisos e desagregados como base para dados baseados
em evidências políticas.
Minimizar os fatores adversos e fatores estruturais que obrigam as pessoas a
deixar seus país de origem.
Fornecer informações precisas e oportunas em todas as fases da migração.
Garantir que todos os migrantes tenham prova de identidade legal e documen-
tação adequada.
Aumentar a disponibilidade e flexibilidade de caminhos para a migração regular
Facilitar o recrutamento justo e ético e salvaguardar condições que garantam um
trabalho decente.
Abordar e reduzir vulnerabilidades na migração.
Salvar vidas e estabelecer esforços internacionais coordenados contra migrantes
desaparecidos.
Fortalecer a resposta transnacional ao contrabando de migrantes.
Prevenir, combater e erradicar o tráfico de pessoas no contexto da migração.

No entanto, a partir de 2019, o Brasil, após mudanças no governo federal,


optou por modificar a situação, inclusive, decidindo pela saída do Pacto Global
por uma Migração Segura, Ordenada e Regular. Nesse contexto, alinhando-
-se a países como os Estados Unidos, Israel, Polônia, Hungria e República
Checa, o governo brasileiro pronunciou-se sobre o assunto, por meio do
atual chanceler Ernesto Araújo e pelo próprio chefe do poder executivo, o
presidente Jair Messias Bolsonaro, alegando que o tema da migração não
poderia ser uma tratativa global, mas, sim, um tema da soberania nacional.
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Ou seja, nas entrelinhas, assistimos a um diálogo hipotético com a DSN,


mencionada anteriormente.
Os países que optaram por não participar do Pacto, em sua maioria, pro-
nunciavam-se temerosos quanto à quantidade de imigrantes que entravam
por suas fronteiras, inclusive, utilizando essa situação como uma ferramenta
de política interna para a coesão de grupos nacionalistas radicais. Tal situação,
sob nenhuma circunstância, representa a realidade brasileira, até porque,
como veremos, o Brasil não traz, em seu contexto, a entrada de grandes
contingentes e tampouco está localizado em uma região de disputas entre
Estados ou coisas do gênero.

Desdobramentos do presente
A dinâmica migratória na contemporaneidade trouxe ao Brasil uma série de
desafios. Inclusive, é correto afirmar que, sem esses, seria provável que a Lei
de Migração talvez não tivesse sido promulgada e que o Estado brasileiro não
tivesse acumulado a expertise no que diz respeito à mediação de conflitos e à
acolhida de migrantes em determinadas regiões do país. Poderíamos estipular
alguns marcos contemporâneos e identificar como as políticas públicas para
os migrantes oriundas desses desafios colaboram diretamente para que o
problema da xenofobia, e também da situação de precariedade que envolve
uma parcela dessas pessoas, pudesse ser minimamente contornado. No que
diz respeito aos marcos, é sugestivo pensarmos no caso haitiano.
O Haiti, em 2010, sofreu com catástrofes naturais, o que, naquele con-
texto, apenas agravou a situação de boa parte da população. Dada a crise
do capitalismo de 2008, os fluxos migratórios do norte global deixaram de
ser o grande epicentro, tornando o Brasil um país que, naquele momento,
acumulava bons resultados econômicos, uma nova possibilidade. Para a
surpresa de alguns atores do governo, na referida data, centenas de haitianos
solicitavam residência no Brasil na condição de refugiados. Em números
obtidos no Comitê Nacional de Refugiados, é possível perceber como os
números aumentaram, com maior ênfase, entre os anos de 2013 e 2015, por
exemplo. Se fizéssemos uma ponderação a partir de três datas, teríamos os
seguintes números: 442 solicitações em 2010, 16.779 em 2014 e, por fim, 2.362
em 2017. É perceptível como esse ciclo migratório corresponde ao contexto
especificamente dos problemas haitianos, mas também de momentos nos
quais a economia brasileira ainda dava sinais de crescimento. Em números
absolutos, ou seja, prevendo os que migraram sem a condição de refugiados, o
Brasil legalizou a entrada de cerca de 100 mil haitianos entre os anos de 2010
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e 2018 — um número expressivo se comparado com o de outros migrantes,


mas pequeno se comparado com a média mundial.
A entrada desses novos migrantes trouxe ao Brasil alguns grandes desa-
fios, como a dificuldade de lidar com as demandas por serviços e a ausência
de regulamentações — pois, nesse momento, ainda vigorava o Estatuto do
Estrangeiro —, mas, também, relatos de casos de xenofobia em diversas
regiões do país. Agressões físicas, situações vexatórias e a marginalização
dessas pessoas se tornaram uma constante. Um grande marco negativo foi
a declaração do cônsul brasileiro no Haiti, George Samuel Antoine, que, em
entrevista para a TV, teria dito que o Haiti sofre com mazelas, por maldição,
pois os cultos religiosos do Haiti seriam contrários aos preceitos cristãos
(GALVÃO, 2010). Em linhas gerais, para além dos perigosos do senso comum,
assistíamos a um posicionamento no mínimo controverso de um represen-
tante do Estado.
Outro exemplo importante é o de migrantes de países vizinhos, como boli-
vianos e venezuelanos. No que diz respeito aos bolivianos, o fluxo migratório
não necessariamente coaduna com o que assinalamos sobre os haitianos. A
presença de bolivianos no Brasil tem uma temporalidade/cronologia mais
espaçada, mas corresponde às transformações que o mundo do trabalho
acabou gerando na América Latina. Grosso modo, os retrocessos na pequena
mineração na Bolívia, alinhados ao câmbio favorável em relação ao real,
fizeram com que milhares de bolivianos migrassem ao Brasil, primeiramente
utilizando-se do livre trânsito previsto pelo Mercosul, e, em um segundo
momento, ficando ilegalmente no país, principalmente nas áreas urbanas,
onde passaram a se tornar comuns nos bairros com fabriquetas do setor têxtil.
Assim como no caso dos haitianos, muitos desses bolivianos migraram ao
Brasil em período anterior à Lei de Migração, de 2017, o que apenas dificulta
a sua formalização no país, potencializando a possibilidade de que acabem
tendo que trabalhar em mercados informais, sem qualquer salubridade ou
garantia de uma remuneração digna. Esse exemplo novamente reforça a
importância de que o tratamento aos migrantes gere condicionantes para
que eles sejam incorporados ao contexto escolhido, e não marginalizados.
Outro relevante desdobramento diz respeito aos venezuelanos, afetados
pela crise humanitária no país desde 2015, e que passaram a ver no refúgio
uma alternativa para a situação encontrada no contexto doméstico. Entre
2015 e 2017, cerca de 20 mil venezuelanos conseguiram se refugiar no Brasil.
Apesar dos números, altos se comparados com médias anteriores, como as
de 2013, quando menos de 100 solicitações foram atendidas, outros países
latino-americanos receberam venezuelanos com uma maior incidência. Para
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além dos números, o caso venezuelano guarda consigo uma característica.


Dada a sua proximidade ao novo marco jurídico da migração, o governo
brasileiro pôde projetar alternativas mais estruturadas para o tema da pre-
sença venezuelana aqui, como, por exemplo, a introdução de imigrantes no
mercado de trabalho formal, a realocação de migrados em outras regiões do
país, assistência social e moradia durante a acolhida e, por fim, a garantia de
que os venezuelanos que optassem pelo retorno ao país de origem teriam o
apoio do governo brasileiro.
Por fim, apesar das transformações jurídicas, bem como a construção de
uma certa expertise para a situação do migrante, o Brasil, ao sair do Pacto
Global por uma Migração Segura, Ordenada e Regular, acabou por se afastar
das grandes discussões mundiais sobre o tema da migração, da xenofobia e
dos direitos humanos internacionais, pautas vitais para um bom relaciona-
mento com os demais países, mas, sobretudo, para o respeito à dignidade da
pessoa humana. Nesse momento, ficamos com a incerteza de como o Brasil
lidará com o tema dos migrantes e refugiados.

Referências
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Leituras recomendadas
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