O racismo tem origem no século XIX quando cientistas europeus usaram teorias pseudocientíficas de raça para justificar a superioridade branca. Isso levou a políticas racistas como o apartheid na África do Sul e segregação nos EUA. No Brasil, o racismo esteve ligado à escravidão de africanos e à perseguição de negros mesmo após a abolição em 1888, com movimentos antirracistas surgindo ao longo do século XX.
O racismo tem origem no século XIX quando cientistas europeus usaram teorias pseudocientíficas de raça para justificar a superioridade branca. Isso levou a políticas racistas como o apartheid na África do Sul e segregação nos EUA. No Brasil, o racismo esteve ligado à escravidão de africanos e à perseguição de negros mesmo após a abolição em 1888, com movimentos antirracistas surgindo ao longo do século XX.
O racismo tem origem no século XIX quando cientistas europeus usaram teorias pseudocientíficas de raça para justificar a superioridade branca. Isso levou a políticas racistas como o apartheid na África do Sul e segregação nos EUA. No Brasil, o racismo esteve ligado à escravidão de africanos e à perseguição de negros mesmo após a abolição em 1888, com movimentos antirracistas surgindo ao longo do século XX.
A bagagem histórica de uma pessoa negra: como surgiu o
racismo?
Para melhor entendimento sobre o racismo, é preciso saber sua
principal origem. A palavra racismo tem uma origem "recente". Ela apareceu em um artigo publicado em uma revista francesa nomeada Revue Blanche, em 1902. Nas décadas seguintes, a palavra começou a se popularizar em línguas europeias (inglês, espanhol, português, etc..), sendo usado para denominar as concepções sobre superioridade e inferioridade racial que começaram a vigorar na Europa a partir do século XIX e em pouco tempo, essas concepções que tinham sido aprovadas por cientistas, passaram a ser justificativa por ações políticas racistas, como por exemplo: a política antissemita, (que remete ao povo judeu nomeado semita, na Alemanha nazista, que deu origem ao holocausto;) o apartheid, na África do Sul e as leis de segregação racial no sul dos Estados Unidos da América. Racismo, segundo o filósofo e professor Silvio de Almeida, “é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios, a depender do grupo racial ao qual pertençam”. A prática do racismo tem origens profundas, revelando um problema sistêmico, estabelecendo posições sociais onde envolvem preconceito com cor da pele, elementos sociais, classe social e etnias. Essa realidade se acentuou ainda mais durante a pandemia de COVID-19, onde a população negra enfrenta o aumento de desemprego, fome, menor acesso a saúde e assim, consequentemente, maior exposição ao vírus. Mas afinal, quais são as origens do racismo? O racismo tem uma origem cientificista, ou seja, sua origem foi a partir de determinadas teses de cientistas europeus do século XIX, principalmente antropólogos e médicos, que usaram dos seus conhecimentos adquiridos para elaborar doutrinas raciais e um dos procedimentos consistia em medir o tamanho do crânio de pessoas de "raças" dissemelhantes. Outro procedimento era analisar a fisionomia humana, ou seja, os traços faciais, como o nariz, olhos, boca, orelhas, cor dos olhos, para que assim, fosse determinado o grau de "pureza racial". Muitos desses cientistas praticavam e se baseavam na teoria darwinista da seleção natural e da evolução das espécies, e acreditavam que a mesma lei em que era praticada em animais, poderia separar homens negros de homens brancos, mostrando a raça superior. Dois dos maiores representantes do cientificismo racista foram o francês Arthur Gobineau e o inglês Houston S. Chamberlain. Na África do Sul, desde o início da formação desse país, os brancos descendentes de holandeses, conhecidos como bôeres, desenvolveram políticas racistas contra os negros que habitavam a mesma região, tendo como fundamento também a tese da superioridade racial branca. Essas políticas ganharam intensidade com o decorrer das décadas do século XX e acabaram de tornando parte do cotidiano sul-africano, naquilo que foi denominado no idioma local de apartheid, ou seja, “vidas separas". Ocorreu algo parecido na região sul dos Estados Unidos, houve políticas em que tinham como objetivo separar pessoas negras e brancas na ocupação de espaços públicos, dando privilégios às pessoas brancas e deixando de lado as pessoas negras, restringindo seus direitos e privilégios. Essa política se pautava em teses de superioridade racial branca e geraram muitos episódios violentos, como por exemplo, a seita Klu Klux Klan, que foi fundada após o fim da Guerra Civil Americana, em 1865, onde o objetivo era perseguir e matar negros do Sul dos Estados Unidos. Mas, aprofundando mais um pouco e entrando mais na história, não podemos deixar de falar do Brasil, onde também há vários casos de racismo. Mas afinal, o que é Racismo no Brasil? "Para se falar sobre a cultura afro-brasileira não se poderia deixar de mencionar o período escravo que se constitui numa mancha difícil de apagar. É impossível se falar sobre a cultura dos negros, sua passagem pelo Brasil e seus dias atuais se não for escrito sobre a escravidão e suas conseqüências. Este estudo pretende abranger, entre outros assuntos, a escravidão, seus conhecidos males, sua travessia pelo Atlântico, O índio brasileiro era tão desprezível na avaliação portuguesa que o preço de cada um não ultrapassava a casa dos quatro mil-réis, enquanto o negro nunca era vendido por menos de cem milréis, isto no inicio da escravidão. Eram, pois, os africanos, mercadoria de alto valor na época. Para isso concorria, de certo, sua fácil adaptação a faina agrícola, uma vez que, acostumados a outras condições de vida, decorrentes de civilização maias adiantada, seus hábitos e temperamento muito diferiam do nomadismo indígena. [...] (LUNA, 1968, p. 16)" Há 131 anos, o Brasil acabou sendo o último a abolir a escravidão do país. Isso ocorreu diante da pressão internacional e da força dos quilombos e movimentos abolicionistas, onde em 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea, mas acabou não sendo o suficiente e ainda sim, havia violência e violações aos direitos humanos começaram a ser normalizadas, incluindo humilhações, abuso policial, discriminação em lojas e departamentos, em entrevistas de emprego, englobando um sistema enorme no país. Desde a abolição da escravidão, muitos movimentos foram organizados. Como por exemplo, em 1931, foi fundada a primeira organização ativista pelos direitos civis de pessoas negras, nomeada a Frente Negra Brasileira. Muitos autores da virada do século XIX para o século XX acreditavam que os vários surtos de doenças que haviam no interior do Brasil eram resultado da contaminação da raça negra sobre a branca, que resultara na figura do mestiço, anêmico e doente. Monteiro Lobato, quando elaborou pela primeira vez seu personagem “Jeca Tatu”, tinha isso em mente. Logo após, com o início das pesquisas sanitaristas (pesquisas médicas que tinham a missão de esclarecer os agentes de transmissão de doenças, como mosquitos, ratos etc.), Monteiro Lobato e vários outros escritores e intelectuais abandonaram as antigas concepções racistas. Em 1937, as perseguições do Estado à população negra fizeram com que ações antirracistas tomassem força novamente apenas na década de 1970, com a criação do Movimento Negro Unificado (MNU) e em 1978, a MNU foi responsável pela organização de um protesto de rua em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. Ainda podemos falar sobre a consciência negra, um movimento muito importante para o movimento contra o racismo. Para começar, podemos falar do fundador e um dos mais importantes para essa história, Zumbi dos Palmares, um dos principais líderes do quilombo dos Palmares, foi assassinado pela coroa portuguesa. A história conta sobre quilombo dos Palmares, onde os escravizados fugidos ergueram um espaço de resistência, tornando- se um dos maiores símbolos da luta constante antiracista no Brasil. O Dia da Consciência Negra é renovado todos os anos, para se lembrar de uma constante luta em que carregamos, uma bagagem com brutalidade, cultura, ancestralidade, resistência e força, onde a história nunca deve ser esquecida. Não bastando, o preconceito também afeta bastante o povo indígena, onde sofrem constantemente violações e ataques desde que os colonizadores europeus chegaram ao Brasil. O povo indígena nos mostra exemplos notórios de racismo institucional, sofrendo agressões sistemáticas por parte do Estado, onde é estabelecido uma relação histórica de extermínio, genocídio e segregação. E claro, podemos também incluir a mulher negra nessa luta constante. Para as mulheres negras, essa luta acaba sendo constante e mais sobrecarregada, pois estão destinadas a salários pequenos, postos de trabalhos precarizados e por muito tempo, sem liberdade de expressão. Em uma pesquisa feita pelo IPEA em 2020, mostra que as mulheres negras estão em desvantagem social não só para mulheres brancas, mas em relação a homens negros, apresentando índice mais alto de desemprego e analfabetismo e também estão no grupo de menor renda média, atrás de homens negros, homens brancos e mulheres brancas. Também temos que enfatizar o fato de como o racismo afeta na autoestima de mulheres negras desde menores. Trata-se dos efeitos do racismo na autoestima da mulher negra em que se recusa a usar o seu cabelo natural por exemplo, para se enquadrar em um padrão estético racista. Esse trauma é colocado na cabeça das mulheres desde pequenas. Podemos pautar também o quão importante é falar sobre o racismo nas escolas, onde não é um assunto muito discutido. Quando se é analisado a escolaridade da população negra, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro Geografia e Estatística), mostram uma grande desvantagem. Quando falamos sobre práticas racistas, queremos nos referir a práticas discriminatórias, preconceituosas, envolvendo um grande grupo de pessoas, incluindo estudantes, direção da escola, professores, sem contar em materiais escolares como os livros didáticos e até mesmo paradidáticos. Em nossa sociedade, o potencial de pessoas negras é muito subestimado devido ao tanto que sofremos com o preconceito racial, refletindo também em sala de aula, onde até mesmo professores incapacitam muito alunos negros. As origens desse fato podem estar enraizadas na representação negativa de uma pessoa negra nos meios de comunicação e centros pedagógicos, ou seja, um tipo de esteriótipo para mostrar que até nos dias atuais, a exclusão e a dor ainda é grande, desde o período pós-escravidão. Querendo ou não, isso influência muito no comportamento de crianças negras, trazendo um trauma desde pequeno. É ensinado que a criança branca é melhor do que a negra, ou seja, a criança reproduz o que é passado, incluindo xingamentos, ataques físicos e verbais.
O PERCURSO HISTÓRICO DO RACISMO
A ideia de racismo surge realmente nos séculos XVI e XVII,
sobretudo neste último. Sabemos que nesses tempos a escravidão era comum e algo praticado pelos europeus. A história do racismo no mundo ocidental é diretamente associada à relação entre escravidão e colonialismo. E é justamente no contexto da colonização que algo chamado raça é criado, o que significa basicamente que os “não europeus”, ou até mesmo os “não brancos”, são inferiores aos europeus. Mas o fato é que não se trata de pessoas criando racismo no laboratório; de certo modo, os brancos, os negros e os índios estabeleceram suas ideias de raça através do contato que tinham com o mundo e com as “outras raças”. Os colonizadores não se tornaram traficantes de escravo por serem racistas, mas sim tornaram-se racistas porque utilizavam de outras raças como escravos para obter grande lucro nas Américas e associaram uma série de atitudes aos negros para justificar o que faziam. O fato é, a força motriz por trás da origem de uma relação de racismo era a economia. Os africanos eram nada mais do que produtos, tratados como objetos para serem adquiridos ou até mesmo herdados. Eram como
os outros objetos negociáveis.
Nesta imagem é possível inferir algumas relações de colonizador x
colono, como por exemplo os escravos amontoados ou recebendo ordens do europeu com a luminária.
Estima-se que mais de 11 milhões de africanos foram transportados
através do Atlântico. Acorrentados e amontoados como animais, ao menos 2 milhões morreram durante a viagem conhecida como “Passagem Atlântica”. Os escravos eram vistos como pessoas sem direitos, pessoas sem terra. Então, por assim dizer, estavam socialmente mortos. Eram vistos como pessoas sem honra, o que é uma condição degradante. Para o senhor de escravos, isso significava um poder absoluto sobre o escravo; independente do que diziam as leis, tinham soberania sobre as outras raças. Chegou-se a uma situação em que milhares de pessoas de pele escura eram mantidas sem qualquer direito e obrigadas a trabalhar dia e noite sujeitas a chicotadas e surras. Deve-se lembrar que qualquer branco era visto como um inimigo em potencial pelos negros, e havia o receio de que eles tentassem se rebelar, tentassem fugir, e, quando isso acontecia, matavam os senhores e os capatazes. Dessa forma, há um medo mútuo entre os dois grupos e isso tendia a consolidar o sentimento racial.
Dados retirados do documentário: “a historia do racismo” do
núcleo de estudos afro-brasileiros e indígenas.
O RACISMO NA ATUALIDADE
Talvez sejamos, negros, brancos e amarelos, iguais na hora de
torcer pela seleção brasileira de futebol. Nos demais aspectos da vida, as relações são bem desiguais. As vantagens e os privilégios das pessoas brancas ficam claras ao analisarmos sua participação nos ambientes de nossa vida: são maioria nas melhores escolas e universidades, nos melhores hospitais, nas melhores casas. Maioria nos aeroportos, nos restaurantes chiques, nos Três Poderes da República...
Esta desigualdade não depende de um ponto de vista, ou de uma
interpretação. Ela vem expressa em estatísticas. Os indicadores sociais mostram que os brasileiros negros, 48% da nossa população, estão na base da pirâmide socioeconômica: piores empregos, piores índices de saúde, ausência no poder político, entre outras desvantagens. Já passa da hora a necessidade de agirmos contra a desigualdade no Brasil. Esta que se disfarça entre os números e as oportunidades. O racismo que enaltece a negritude no musica ou no futebol, mas trata os negros nos cargos de mando e ocupando altos postos como exceção . Há mais de um século da Abolição da Escravatura, chegou a hora de inverter os discursos militantes por ações concretas. As chamadas Políticas Públicas têm como ideal dar tratamento diferente para grupos historicamente discriminados. Essas Políticas significam, também, a intervenção do Estado para minimizar e diminuir as desvantagens que a sociedade civil, por iniciativa própria, não foi capaz de extinguir ou erradicar. A ideia defendida, pelo Movimento Negro e por uma parcela expressiva da população, é de que o acesso dos negros e indígenas ao ensino superior pode funcionar como uma alavanca para tirá-los dos tradicionais papéis secundários.
A ideia de implementar cotas e políticas públicas direcionadas as
minorias, também tem opositores. Há quem diga que falar de raças acabaria criando ou reforçando o racismo na sociedade brasileira. Mas como pode ser criado ou reforçado o que já existe? Nenhum brasileiro, em sã consciência, pode afirmar que as oportunidades desde a abolição se dividiram igualmente entre a população negra e branca. Também sabemos que não existe a raça no sentido estrito da palavra. Quando pensamos em pessoas, a única raça que existe é a humana. Quem criou o conceito de raça foi o racismo, sempre com superioridade de um grupo sobre o outro. A existência de racistas em nossa sociedade é uma constante negação em nosso país. Felizmente, esse tabu começa a ser quebrado. “Melhor viver com uma realidade amarga e buscar caminhos para transformá-la, do que conviver com uma fantasia de igualdade que nos condena à injustiça sem fim.”
Por isso vamos entender um pouco mais sobre as manifestações do
racismo. Quando há crime de ódio ou discriminação racial direta: essa forma de manifestação do racismo é mais evidente. Trata-se de situações em que pessoas são difamadas, violentadas ou têm o acesso a algum tipo de serviço ou lugar negado por conta de sua cor ou origem étnica. Quando há o racismo institucional: menos direta e evidente, essa forma de discriminação racial ocorre por meios institucionais, mas não explicitamente, contra indivíduos devido a sua cor. São exemplos dessa prática racista as abordagens mais violentas da polícia contra pessoas negras e a desconfiança de agentes de segurança e de empresas contra pessoas negras, sem justificativas coerentes. Um bom exemplo da luta do racismo institucional são os protestos de Charlottesville, nos Estados Unidos, em 2017, devido à conduta criminosa de policiais que mataram negros desarmados e rendidos em abordagens, além de agirem com violência desnecessária. Quando há o racismo estrutural: menos perceptível ainda, o racismo estrutural está cristalizado na cultura de um povo, de um modo que, muitas vezes, nem parece racismo. A presença do racismo estrutural pode ser percebida na constatação de que poucas pessoas negras ou de origem indígena ocupam cargos de chefia em grandes empresas; de que, nos cursos das melhores universidades, a maioria esmagadora — quando não a totalidade — de estudantes é branca; ou quando há a utilização de expressões linguísticas e piadas racistas. A situação fica ainda pior quando as ações ou constatações descritas são tratadas com normalidade. RECENTES CASOS DE RACISMO
Nos últimos anos, casos de racismo ganharam notoriedade nacional
por envolverem pessoas famosas ou terem viralizado nas redes sociais. Alguns casos que tomaram grande proporção no Brasil estão relatados em matéria de 2015, da revista Exame, intitulada 5 casos de racismo que chocaram o Brasil. Levantamos três casos, sendo dois da matéria mencionada acima: Ofensas ao goleiro Aranha, do Santos, em partida contra o grêmio. Torcedores do Grêmio chamaram o jogador de “macaco”. Filha do casal de atores Giovanna Ewbank e de Bruno Gagliasso, nascida no Malawi, sofreu com comentários racistas nas redes sociais. O pai e a mãe da menina tomaram medidas legais contra o caso. Garoto negro e filho adotivo de um norte-americano que vive no Brasil foi proibido de ficar na calçada de uma loja de grife onde o pai estaria fazendo compras. Sem saber que se tratava do filho de cliente, uma funcionária da loja disse ao menino que ele não poderia ficar lá. Infelizmente, ainda existe racismo. Casos que ganham notoriedade estão tornando-se comuns, mas são inúmeros os casos que continuam anônimos. É preciso lutar para colocar um fim definitivo nessa prática criminosa que vitima muitas pessoas no Brasil e no mundo todos os dias.
HERANÇA ESCRAVISTA NO TRABALHO
Um dos temas mais recorrentes quando se fala de racismo
estrutural é a transição da escravidão para o trabalho assalariado. Que destino tiveram os ex-escravos? Que novas relações de trabalho lhes foi oferecida? Que profissões exerceram? Onde habitavam e em que condições?
Os textos a seguir são da matéria de título: “trabalhador” de autoria
do portal ‘leiaja’ e foram publicados no dia 28/05/2018. “A poeira alaranjada do chão de barro começa a subir, as moscas se agitam no entorno e a correria inicia. Com sacos de plástico em mãos, todos os trabalhadores se preparam para correr ao encontro do lixo. Alguns não esperam e já se penduram na parte traseira dos caminhões, enquanto trafegam pela estrada que dá acesso à parte central do lixão. A disputa por cada metro quadrado é agitada, a ansiedade dos trabalhadores é resultado do desespero sem precedentes. Todos aguardam o momento mais esperado com olhos atentos à traseira do veículo. O caminhão se posiciona de ré, a trava é liberada por funcionários de uma prefeitura e aos poucos as sacolas de lixo vão caindo lentamente da caçamba ao chão, saco por saco, um por cima do outro. Na disputa pelo melhor material, eles mergulham literalmente no mar de resíduos.
‘A gente trabalha tanto dentro do lixão, dia e noite, a gente constrói
casas e mora aqui escondido porque nem todo mundo teve oportunidade. Parece até que somos lixo descartado, também’. A fala do catador não só narra a dura realidade enfrentada por essa categoria de trabalhadores, mas expõe também a sensação de estar à margem da sociedade brasileira.
Retrato da exclusão social e da falta de oportunidades no sistema
de emprego formalizado, o catador do lixão se isolou em grandes terrenos descampados para se esconder, muitas vezes, da dor e opressão psicológica ou física que sofre fruto da desigualdade social no Brasil. Dados de 2015 do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), revelado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), destacam que o Brasil aparece entre os dez países mais desiguais do mundo.
Com uma rotina extenuante de trabalho braçal, em algumas
situações de domingo a domingo, e muitas vezes sem momentos de descanso, homens, crianças, mulheres, idosos e diferentes perfis de pessoas catam os materiais recicláveis. Eles dividem o espaço de trabalho com muitas aves, principalmente urubus, que sobrevoam em círculos a todo instante em busca de alimento. Porcos, cavalos e cachorros também permanecem no entorno do lixão por causa da comida. A maioria dos bichos pertence a alguns trabalhadores que utilizam os animais como outra forma de renda ou locomoção. Outros animais soltos aparecem por causa do cheiro forte do chorume e pela quantidade de lavagem despejada nos sacos de lixo que são trazidos das residências. Insalubre, inóspito, perigoso, penoso e outros tantos adjetivos são utilizados pela literatura para descrever o ambiente do lixão e a rotina dos trabalhadores que lá habitam e dele sobrevivem. Tentar uma primeira aproximação com esses catadores não é uma tarefa fácil, visto que o ambiente é de desconfiança e medo. Eles dizem temer o fechamento do local, que oficialmente não deveria existir. A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), visa extinguir os lixões em todos os municípios do Brasil e viabilizar a criação de aterros sanitários, para a destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos.” “Segundo a mestre em extensão rural Maria Augusta Amaral, que já realizou vários trabalhos de pesquisa com catadores de materiais recicláveis em Pernambuco, a problemática dos lixões no Brasil é complexa porque não envolve só o meio ambiente, mas também a questão social dos catadores. ‘Um dos motivos que eles não concordam com o fechamento do lixão, além do desemprego, é que muitos têm vergonha de realizar os trabalhos expostos nas ruas, de casa em casa, porque no lixão eles estão escondidos. As prefeituras não podem agir de forma irresponsável. É preciso educar esses trabalhadores no intuito de quebrar paradigmas e inseri-los em um contexto de trabalho em grupo, em locais mais propícios à catação. Não adianta o poder público tentar obrigar essa categoria a entrar em cooperativas de um dia para o outro. Existe uma série de trabalhos sociais que precisam ser tomados com cautelas’, detalha Maria Augusta, que aposta em uma solução equilibrada.
Na avaliação da estudiosa, quando o fechamento dos lixões é feito
de forma arbitrária, o ciclo de migrações em torno do lixo cresce. ‘Os catadores saem de um e vão para outro ou continuam escondidos’, afirma. Maria Augusta também alerta para uma série de riscos à saúde por causa dos ambientes onde os trabalhadores estão inseridos. Contato com ratos e moscas, mau cheiro, fumaça e levantamento de peso, risco de quedas, exposição ao calor, cortes, mordidas de animais, contaminações e outros. A atividade é considerada insalubre em grau máximo, de acordo com a Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), exigindo maiores cuidados em termos de equipamento de proteção e disponibilidade de locais adequados para o trabalho.”
O MOVIMENTO DO BLACK LIVES MATTER
Os negros lutam pelo fim da segregação racial há quase dois
séculos nos Estados Unidos. E apesar das manifestações do movimento Black Lives Matter serem recentes, ele não está desvinculado do passado. Black Lives Matter (BLM) que em tradução livre significa “Vidas Negras Importam” é um movimento ativista iniciado nos Estados Unidos e de proporções internacionais. Segundo os membros do movimento, existe um ataque intencional às vidas dos negros. A principal bandeira deste movimento social é a luta contra a brutalidade policial e as maiores ondas de protestos atuais envolvem mortes de negros causadas injustamente por policiais brancos.
- MOVIMENTOS QUE INFLUENCIARAM O BLM
O primeiro e original foi o movimento pelos direitos civis. Ele
alcançou o fim das leis raciais na década de 60. Depois surgiram grupos como MLK e Malcom X.
Eles aceitavam quaisquer meios na luta pela igualdade, incluindo a
violência e obviamente nem todos concordavam com isso. O maior exemplo foi Martin Luther King, que pregava a desobediência civil e nunca a violência. Outro grupo que se destacou foi o Black Panthers, criado por universitários marxistas. Uma das exigências do movimento incluía a libertação de toda a população carcerária negra.
- HISTÓRIA DO MOVIMENTO
No dia 13 de julho de 2013, o movimento Cteve início com uma
simples hashtag “#BlackLivesMatter”. Isso aconteceu por conta da morte de um jovem negro.
Trayvon Martin de 17 anos, morreu após ser baleado por George
Zimmerman, um policial branco. A polêmica nas redes sociais teve início porque o policial foi absolvido pela justiça.
A co-fundação do movimento Black Lives Matter está relacionada a
três mulheres influentes nas causas da comunidade negra:
Alicia Garza, diretora da National Domestic Workers Alliance
(Aliança Nacional de Trabalhadoras Domésticas); Patrisse Cullors, diretora da Coalition to End Sheriff Violence in Los Angeles (Coligação contra a violência policial em Los Angeles); Opal Tometi, ativista pelos direitos dos imigrantes.
Elas se conheceram na Organização Negra para Liderança e
Dignidade (BOLD), organização que treina organizadores comunitários. Com um viés marxista, o foco é transformar causas sociais em fontes de modificações políticas.
A BOLD foi fundada para oferecer programas de treinamento,
coaching e assistência técnica para conquistar mudanças progressistas.