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REPÚBLICA E SUA
ARQUITETURA DA
EXCLUSÃO
UM POUCO SOBRE A
AUTORA
Ynaê Lopes dos Santos, nascida em São Paulo é Mestre e Doutora em
Este episódio fez nascer na autora o questionamento de como boa parte da sociedade não
entende que casos assim acontecem todos os dias no Brasil. É um incômodo em relação às
estruturas brasileiras e ao próprio racismo do Brasil. Foi esta indagação foi o que gerou a
ideia do livro Racismo brasileiro: Uma história da formação do país, lançado em junho deste
ano.
IDEIAS CENTRAIS
Somos herdeiros de uma sociedade que foi gerada com a ideia de um mito de democracia racial e
que somos uma sociedade pacífica. Isso é uma construção que ganha peso sobretudo a partir da
década de 30, inclusive em comparação aos EUA.
A forma como o racismo é tecido aqui é maquiada, sofisticada porque é menos evidente, mas
organiza a sociedade o tempo todo.
olhar para outro país e achar que lá a violência é maior porque as formas de resistência são
racialmente declaradas, mas no Brasil a violência também é racialmente declarada. No Brasil,
vivemos um país de mestiçagem, que é compreendida de forma muito afetuosa, como se não fosse
também atravessada por violência e racismo.
A trajetória do Brasil desde a chegada dos portugueses, em 1500, nos a chama atenção para alguns
episódios que de certa forma foram escondidos pela história oficial, em que pessoas negras tiveram
protagonismo no combate ao racismo e na vida política no geral.
com forte participação de sujeitos negros, é extremamente pouco trabalhada na história dentro e
fora da Universidade e da sociedade. que é o lugar do negro enquanto trabalhador brasileiro,
sobretudo na experiência republicana.
A escravidão no Brasil teve suas particularidades, quando comparadas a outros países. O
principal fato para isso é que a escravidão no Brasil está atrelada à forma como o tráfico se
organizou no país. Quando os portugueses chegam aqui, o tráfico já era uma empresa
portuguesa. E ao longo dos anos, os traficantes vão deixando de ser portugueses e virando
colonos brasileiros.
Tanto que possuímos o estabelecimento de um tráfico bilateral, direto entre Brasil e África,
não tem mais intermediação de europeus. Isso facilitou a entrada de pessoas africanas. Não é
por acaso que o Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados em todo o
continente africano.
sobre o crescimento vertiginoso do tráfico de escravos no Brasil, quando já era proibido por lei,
devido à forte pressão da Inglaterra, principal parceira comercial do Brasil, em 1831, o Brasil
abole o tráfico transatlântico, que era uma empresa muito lucrativa.
O tráfico foi responsável pela criação do capitalismo, é o capital da venda desses seres humanos
que permite a financeirização da economia, acumulação primitiva de capital. O que deu dinheiro
no mundo de 1600 a 1830 foi comprar e vender africano.
O sistema de poder, que geralmente aprendemos forçadamente, somente pode causar mudanças a
partir da experiência do discriminado e quando este procura a mudança. Seja ela em protesto,
combatendo também o racismo cientifico. Mas tem a outra parte, que são os castelos de privilégios
construídos por e para brancos.
O racismo não é problema só dos negros. Tem duas formas de ser branco no sistema do racismo:
os signatários, que têm consciência e acham que os brancos são superiores, e os não signatários,
que não necessariamente pensam sobre isso, mas vivem os privilégios. Os não signatários podem
reconhecer os privilégios e começar um caminho antirracista. Muitos que começam vão escorregar
porque a ordem é racista, a corrente é racista. Ir contra isso dá trabalho.