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A PRIMEIRA

REPÚBLICA E SUA
ARQUITETURA DA
EXCLUSÃO
UM POUCO SOBRE A
AUTORA
Ynaê Lopes dos Santos, nascida em São Paulo é Mestre e Doutora em

História Social pela Universidade de São Paulo – USP e especialista em

História da escravidão nas Américas. Também trabalha com Ensino de

História da África e das Relações Étnico-raciais no Brasil. É professora

no Instituto de História da Universidade Federal Fluminense. É autora de

Além da senzala: arranjos escravos de moradia no Rio de Janeiro

(1808-1850), História da África e do Brasil afrodescendente, Racismo

brasileiro – Uma história da formação do país.


PORQUE ESCREVEU?
A repercussão no Brasil do assassinato de George Floyd, um homem negro que foi
assassinado por um policial branco nos Estados Unidos (EUA) em 2020.

Este episódio fez nascer na autora o questionamento de como boa parte da sociedade não
entende que casos assim acontecem todos os dias no Brasil. É um incômodo em relação às
estruturas brasileiras e ao próprio racismo do Brasil. Foi esta indagação foi o que gerou a
ideia do livro Racismo brasileiro: Uma história da formação do país, lançado em junho deste
ano.
IDEIAS CENTRAIS
 Somos herdeiros de uma sociedade que foi gerada com a ideia de um mito de democracia racial e
que somos uma sociedade pacífica. Isso é uma construção que ganha peso sobretudo a partir da
década de 30, inclusive em comparação aos EUA.

 A forma como o racismo é tecido aqui é maquiada, sofisticada porque é menos evidente, mas
organiza a sociedade o tempo todo.

 olhar para outro país e achar que lá a violência é maior porque as formas de resistência são
racialmente declaradas, mas no Brasil a violência também é racialmente declarada. No Brasil,
vivemos um país de mestiçagem, que é compreendida de forma muito afetuosa, como se não fosse
também atravessada por violência e racismo.
 A trajetória do Brasil desde a chegada dos portugueses, em 1500, nos a chama atenção para alguns

episódios que de certa forma foram escondidos pela história oficial, em que pessoas negras tiveram
protagonismo no combate ao racismo e na vida política no geral.

 É considerado o primeiro movimento social brasileiro o abolicionismo. Sobretudo a sua dimensão

com forte participação de sujeitos negros, é extremamente pouco trabalhada na história dentro e
fora da Universidade e da sociedade. que é o lugar do negro enquanto trabalhador brasileiro,
sobretudo na experiência republicana.
A escravidão no Brasil teve suas particularidades, quando comparadas a outros países. O

principal fato para isso é que a escravidão no Brasil está atrelada à forma como o tráfico se

organizou no país. Quando os portugueses chegam aqui, o tráfico já era uma empresa

portuguesa. E ao longo dos anos, os traficantes vão deixando de ser portugueses e virando

colonos brasileiros.

Tanto que possuímos o estabelecimento de um tráfico bilateral, direto entre Brasil e África,

não tem mais intermediação de europeus. Isso facilitou a entrada de pessoas africanas. Não é

por acaso que o Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados em todo o

continente africano.
 sobre o crescimento vertiginoso do tráfico de escravos no Brasil, quando já era proibido por lei,
devido à forte pressão da Inglaterra, principal parceira comercial do Brasil, em 1831, o Brasil
abole o tráfico transatlântico, que era uma empresa muito lucrativa.

 O tráfico foi responsável pela criação do capitalismo, é o capital da venda desses seres humanos
que permite a financeirização da economia, acumulação primitiva de capital. O que deu dinheiro
no mundo de 1600 a 1830 foi comprar e vender africano.
 O sistema de poder, que geralmente aprendemos forçadamente, somente pode causar mudanças a
partir da experiência do discriminado e quando este procura a mudança. Seja ela em protesto,
combatendo também o racismo cientifico. Mas tem a outra parte, que são os castelos de privilégios
construídos por e para brancos.

 O racismo não é problema só dos negros. Tem duas formas de ser branco no sistema do racismo:

os signatários, que têm consciência e acham que os brancos são superiores, e os não signatários,
que não necessariamente pensam sobre isso, mas vivem os privilégios. Os não signatários podem
reconhecer os privilégios e começar um caminho antirracista. Muitos que começam vão escorregar
porque a ordem é racista, a corrente é racista. Ir contra isso dá trabalho.

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