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IFRJ CAMPUS PINHEIRAL

PROFESSORA: PATRÍCIA SOUZA


ESTUDO DIRIGIDO DE GEOGRAFIA - 4°BIMESTRE (

CONSCIÊNCIA NEGRA E O LEGADO DE ZUMBI DOS PALMARES

O dia 20 de novembro de 1695 tem seu lugar na história brasileira em virtude do assassinato de
Zumbi dos Palmares. Há 325 anos, o legado de um dos maiores protagonistas da luta
antiescravista e antirracista tem servido como inspiração para quem tem sido obrigado a
experimentar a pior parte de um país onde o racismo ainda dá as cartas. Como é sabido, o fim
formal da escravidão não significou a extinção do racismo no Brasil. Por consequência,
posicionar-se para combater a desigualdade racial em todas as suas formas e para demandar a
ocupação de espaços nos quais a ausência do negro é naturalizada faz-se um imperativo moral
para todos os indivíduos que se reputam antirracistas.

Os primeiros registros da existência do Quilombo dos Palmares referem-se ao ano de 1597.


Localizava-se na região da Serra da Barriga, pertencente à capitania de Pernambuco à época e
ao estado de Alagoas na atualidade. Chegou a abrigar cerca de 20 mil habitantes e foi o maior
quilombo existente no período colonial. Ao longo de sua existência, seus habitantes tiveram de
resistir a tentativas de destruição efetuadas no contexto de expedições múltiplas. Embora os
holandeses tenham realizado investidas contra Palmares, o período de instabilidade no domínio
colonial correspondente à invasão holandesa (1630-1654) foi o que registrou o crescimento
populacional mais expressivo do quilombo.

Entre as últimas décadas do século XVI e o último decênio do século seguinte, Palmares
contou com sucessivos líderes. Até o momento, conhecem-se nominalmente os dois últimos:
Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares. Este permaneceu à frente do quilombo entre 1678 e
1694, quando da destruição definitiva por ação de uma empreitada encabeçada por Domingos
Jorge Velho. A resistência na região prosseguiu após a extinção de Palmares até que, em 20
novembro de 1695, Zumbi foi morto.

O fim de Palmares não significou de modo algum o fim dos quilombos em terras brasileiras. Já
no período imperial, têm-se registros de quilombos como o do Jabaquara, localizado na cidade
de Santos e o do Leblon, no Rio de Janeiro. As camélias cultivadas no último tornaram-se
símbolo do movimento abolicionista. Por sua vez, a mobilização antiescravista no Brasil
alcançou seu objetivo em 13 de maio de 1888, com a entrada em vigor da Lei 3.353, também
conhecida como Lei Áurea.

O término da escravatura foi desacompanhado de medidas de integração e de inclusão social


do negro na sociedade brasileira. Jamais houve política educacional, agrária, de inserção no
mercado de trabalho, de assentamento ou de moradia. Quanto à política agrária, o que existia
nas últimas décadas do século XIX era o Brasil esforçando- -se para atrair imigrantes
europeus para a zona rural. Foi exatamente pela falta de política habitacional inclusiva que, nas
zonas urbanas, surgiram comunidades formadas por casas em péssimas condições sanitárias,
as quais posteriormente seriam conhecidas como favelas. A primeira surgiu na cidade do Rio
de Janeiro e recebeu o nome de Morro da Favela, atualmente denominada Morro da
Providência.
Além da completa ausência de políticas públicas de inclusão do negro, possuíam status de
pensamento científico dominante algumas teses racistas. Intelectuais brasileiros optaram por
“julgar povos e culturas a partir de critérios deterministas” e fazer do Brasil um “laboratório
racial”. Alguns expoentes do suposto pensamento científico de hierarquias raciais foram
Oliveira Viana e Nina Rodrigues.

A partir da década de 1930, os escritos de Gilberto Freyre impulsionaram no Brasil a formação


da ideia de democracia racial, segundo a qual seríamos um país livre de racismo e o então
denominado “mulato” seria alçado à condição de símbolo nacional. A tese da democracia racial
é evidentemente fantasiosa e negacionista. Por mais que ela não integre o discurso oficial do
Brasil na atualidade, ainda encontra acolhida em parcela não desprezível da sociedade. O fato
de o Brasil nunca ter implantado regime de segregação racial após a abolição formal da
escravidão é frequentemente utilizado como argumento por quem nega ou não dá a devida
importância ao problema do racismo.

O Brasil nunca implantou um regime de apartheid para que atualmente negros sejam
sub-representados em postos profissionais de comando, nas cadeiras do Poder Legislativo
federal e nas classes sociais mais elevadas. Negros também são maioria entre as vítimas de
homicídio, entre os encarcerados e nas classes sociais menos abastadas, além de
apresentarem nível de escolaridade mais baixo e taxas de analfabetismo e de desemprego
mais elevadas que as dos brancos. Quando empregados, o rendimento mensal médio dos
negros é 57% daquele destinado aos brancos. Bastou que o Estado brasileiro retardasse em
mais de um século a implantação de políticas públicas de inclusão para preservar até os
tempos hodiernos um estado de coisas no qual o racismo é estrutural, é regra e não exceção.

No ano de 2020 e nos anos vindouros, a resistência outrora protagonizada por Zumbi dos
Palmares deve ser motivação para que desigualdades materiais fundadas em raça sejam
lançadas por terra no Brasil. A consciência negra e o antirracismo devem ser as principais
razões para que práticas discriminatórias sejam extirpadas da vida em sociedade e das
instituições brasileiras.

Responda ad questões propostas:

1. O Quilombo dos Palmares foi um dos mais importantes da história do Brasil. Sabendo
disso destaque dois aspectos importantes de sua história de resistência.

2. No decorrer da história do Brasil existiram vários quilombos, sendo o de Palmares o


mais famoso por ter resistido às Guerras coloniais por mais de 100 anos. Quais foram,
de acordo com o texto, durante os quilombos que surgiram durante o Império?

3. Quais outros Espaços atualmente também são considerados como quilombos? Dê um


exemplo.

4. Comente e explique a seguinte afirmação: “como é sabido, o fim formal da escravidão


não significou a extinção do racismo no Brasil”.
5. No que se baseavam as ideias contidasn a tese defendida pelo sociólogo Gilberto
Freyre, em 1939?

6. Por que a tese da democracia racial costuma ser utilizada por aqueles que negam a
existência do racismo no Brasil?

7. No Brasil, embora nunca tenha tido o regime do Apartheid como na África do Sul e nos
EUA, as desigualdades de raça e classe se apresentam de forma intensa. Retire do
texto dois trechos que servem de exemplo para tais desigualdades.
8. A VIII SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA deste ano, teve como tema “Pedagogias
que Emergem da Luta antirracista: 20 anos da Lei 10.639/03”. Dentre as atividades
ocorridas na semana, destaque duas que se relacionaram com os conteúdos
trabalhados em Geografia neste bimestre.

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