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ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO EDUARDO ANGELIM

TEXTO DE SOCIOLOGIA SOBRE RACISMO PARA OS 3° ANOS

CONCEITO DE RACISMO

O racismo é uma forma de preconceito e discriminação baseada num termo controverso, que
sociologicamente é revisto e do qual a genética também inicia uma revisão: a raça. No século XIX,
compreendia-se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos promoviam uma diferenciação de
raças.

Misturando-se cultura e aspectos físicos, os primeiros antropólogos estabeleceram uma hierarquia das
raças, o que, por vezes, reforçava a dominação de povos brancos europeus sobre populações de outras
etnias não europeias.

O racismo é um mal que afeta a vida de muitas pessoas e, como uma relação de entendimento
ultrapassada e errada, deve ser superado.

RACISMO E PRECONCEITO

Existem diferenças conceituais entre os termos racismo e preconceito. O preconceito, na raiz da palavra,
é a formulação de um conceito sobre algo sem antes o conhecer. O preconceito, por exemplo, pode ser
julgar que um alimento é ruim por seu aspecto físico. Trazendo para as relações sociais, o preconceito
consiste no prejulgamento de algo sem, de fato, conhecê-lo.

Nas relações sociais, o preconceito pode acontecer por conta da sexualidade (prejulgar uma pessoa
homossexual); do gênero (julgar uma mulher como inferior a um homem, ou uma pessoa transgênero);
da condição física (julgar uma pessoa deficiente ou de baixa estatura, por exemplo, como incapaz); e
da raça (cor da pele).

O movimento Black Lives Matter surgiu nos EUA após atos bárbaros cometidos por policiais brancos
contra negros. (Tradução: Vidas negras importam)

Quando o preconceito é motivado pela cor da pele de uma pessoa, chamamo-lo de racismo. O racismo
é, portanto, uma forma de preconceito cruel que ainda atinge uma grande parcela da população mundial. É
importante frisar que não existem grandes diferenças genéticas entre pessoas de etnias diferentes|1|, e,
mesmo que essa diferença existisse, isso não seria motivo suficiente para justificar o preconceito racial.
Nas formas mais agudas, o preconceito racial pode servir de pretexto para motivar agressões físicas ou
verbais, além de causar dano moral e até perseguições e prisões injustas de pessoas, principalmente de
negros.

ORIGEM E CAUSAS DO RACISMO

Podemos encontrar as origens mais remotas do racismo na história e na antropologia. A Europa teve um
desenvolvimento cultural bem diferente do de outros continentes. Os povos europeus dominaram a
navegação e iniciaram, ainda no século XV, um movimento de expansão marítima que os levou a outros
continentes. O contato de europeus com asiáticos e africanos já existia, e o modo de enxergar outros
povos não brancos e de cultura não europeia como inferiores, também.

A chegada dos europeus ao continente americano resultou num modo de enxergar aqueles diferentes
deles e totalmente desprovidos de traços culturais brancos, que os europeus consideravam como
civilizatórios. Tal cenário serviu para que eles se apropriassem do território americano e tentassem
aculturar os seus nativos, empurrando-lhes a sua língua e a sua cultura. O continente americano virou
uma verdadeira empresa europeia.

Como se não bastasse, os europeus iniciaram um processo de captura de africanos para que
trabalhassem como escravos em sua nova empresa. O processo de escravização estava embasado em
uma ideologia de hierarquia das raças, ainda no nível de consciência coletiva, que fez com que milhões
de africanos fossem capturados e submetidos ao trabalho escravo.

Nesse movimento, também havia uma ideia inconsciente de que os nativos das Américas e, mais tarde, os
da Oceania e do Leste Asiático fossem inferiores. Ao enxergar outros povos como inferiores, os
europeus viam-lhes como animais ou até como objetos.

Esse primeiro movimento de investida da Europa sobre outras terras ficou conhecido como colonialismo.
Para justificar a dominação, os europeus utilizavam a concepção de que os povos pagãos viviam no
pecado e precisavam da religião europeia para desenvolverem-se espiritualmente.

A ultrapassada ideia de que a raça branca é superior é fruto de uma pseudociência racista do século XIX.
(Tradução: Não à supremacia branca)

No século XIX, a Europa iniciou um segundo movimento de investida sobre outros continentes chamados
de neocolonialismo. Nesse período, as ciências da natureza e as ciências sociais desenvolviam-se
trabalhando intensamente.
A mentalidade religiosa de dois ou três séculos antes já não era suficiente para justificar uma empreitada
tão grande como a partilha de terras africanas e asiáticas entre os europeus. Com isso,
a antropologia surge como uma ciência capaz de fornecer um aparato intelectual que justificasse a
dominação cultural e territorial dos povos habitantes dos novos territórios por parte dos europeus.

As primeiras teorias antropológicas, desenvolvidas pelo filósofo, biólogo e antropólogo inglês Herbert
Spencer e pelo antropólogo e geógrafo inglês Edward Burnett Tylor, coadunavam com o domínio europeu
sobre novos povos. Os antropólogos mencionados criaram uma teoria inspirada na biologia de Charles
Darwin e aplicada sobre os povos. Mais tarde, essa teoria ficou conhecida como evolucionismo social
ou darwinismo social. Eles acreditavam que havia um desenvolvimento étnico entre os povos, e esse
desenvolvimento poderia ser observado pela cultura.

Na visão dos teóricos, havia uma cultura superior e culturas inferiores. Com isso, eles constataram que
havia também uma hierarquia das raças, que poderia ser observada pela cultura de cada raça. Dessa
maneira, com uma visão etnocentrista e eurocentrista, eles consideraram a cultura e a raça europeia
como superiores. Em seguida, na escala de hierarquia, viriam a cultura e a raça dos orientais; em terceiro
lugar, estariam os indígenas americanos; e, por último, os negros africanos.

Essa teoria pseudocientífica foi utilizada, por décadas, para justificar o domínio de brancos sobre outros
territórios e populações. Além disso, ela deixou como resquício o racismo que perdura em nossa
sociedade até os dias de hoje.

Racismo no Brasil

Apesar de a abolição da escravatura ter ocorrido em 1888 (período relativamente tardio se considerarmos
que o mesmo, nos vizinhos latino-americanos, aconteceu antes de 1860; nos Estados Unidos, em 1865; e
na Inglaterra, em 1834), o racismo perdura como martírio para a população negra até hoje. A abolição
aqui e em outros lugares não foi planejada. Não houve um plano de orientação, acolhida e instrução
dos escravos recém-libertos.

A falta de uma atenção à população negra, que, de repente, via-se, em sua grande maioria, sem
moradia e alimento, resultou na sua marginalização. Vale ressaltar que a Lei Áurea, que entrou em vigor
em 13 de maio de 1888, não garantiu que todos os escravos fossem, na prática, libertos. Muitos escravos,
sem opções ou até mesmo sem informações sobre a sua condição de libertos, ficaram submetidos à
escravidão no Brasil mesmo após a abolição.

O estigma da escravidão unido à marginalização daquelas pessoas que, sem ter o que comer e onde
morar, foram viver nos morros, nos guetos e recorrer, muitas vezes, ao crime para sobreviver, resultou
na situação de exclusão que leva ao racismo atualmente.

Um dos maiores sociólogos do Brasil, Florestan Fernandes, realizou estudos sobre a inserção do negro na
sociedade de classes no Brasil. Segundo Fernandes, a população negra encontrava-se, ainda na década
de 1970, submetida à exclusão iniciada após a abolição. O capitalismo brasileiro não havia inserido a
população negra nas classes sociais, sobrando para ela apenas os espaços subalternos. Isso pode ser
verificado pelos dados que perduram em nosso país até os dias atuais.

Os dados listados a seguir, tirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)|2|, revelam o
abismo social existente entre negros e brancos em nosso país:

 Enquanto brancos ganham, em média, R$ 2814 mensais, pardos ganham R$ 1606, e negros
ganham R$ 1570, segundo a PNAD de 2017.
 Segundo a PNAD de 2018, a taxa de desemprego entre negros e pardos (14,6% e 13,8%,
respectivamente) era maior que a taxa de desemprego geral (11,9%).

 Dados da PNAD de 2015 apontam que negros e pardos representam 54% da população brasileira.
No entanto, eles representam 75% do grupo de 10% da população mais pobre e 17,8% do grupo
de 1% da população mais rica.

 Entre pretos e pardos, a taxa de analfabetismo gira em torno de 9,9%, enquanto o analfabetismo
entre brancos gira em torno de 4,2%.

 22,9% dos brancos com mais de 25 anos têm diploma de ensino superior; entre os pretos e pardos,
esse dado está em 9,3%.

Racismo estrutural

Todos os dados apresentados no tópico anterior evidenciam a diferença racial no Brasil. Pretos, pardos e
indígenas são excluídos da participação efetiva em espaços públicos. Esse fato mostra-nos uma primeira
pista para o entendimento do racismo estrutural. Longe de ser aquele racismo explícito, evidenciado em
falas preconceituosas e até em atitudes agressivas, o racismo estrutural é aquele que está sutilmente
inserido em nosso cotidiano.

O racismo estrutural mantém uma linha tênue e, muitas vezes, de difícil percepção entre negros e brancos.
Ele exclui, mas não se mostra como excludente. O racismo estrutural está tão preso às estruturas de
nossa sociedade que passa desapercebido pela maioria das pessoas.

Para além dos dados, que evidenciam a diferença social entre negros e brancos (e isso faz parte do
racismo estrutural), temos outros fatores que devem ser expostos para que esse fenômeno seja
compreendido. A nossa sociedade como um todo considera a negritude como algo inferior. O padrão de
beleza pregado pela mídia é um padrão branco.

Há uma normatividade de traços brancos que definem o homem branco e a mulher branca como
bonitos e exclui as características físicas de pessoas negras do padrão de beleza: os olhos azuis, o nariz
fino e o cabelo liso. Aliás, o cabelo crespo, característica fenotípica de pessoas negras, é considerado
“ruim”.

Linguisticamente, o racismo estrutural também marca sua presença. Marca mais simbólica e menos
perceptível ainda está nos eufemismos utilizados para referir-se a pessoas negras, da pele preta. Ao
invés de referir-se a elas como negras ou pretas, há um impulso popular por utilizar outras palavras,
como “moreno” ou “pessoa de cor”. Esse recurso, na língua portuguesa, é chamado de eufemismo.

O eufemismo é utilizado para suavizar um adjetivo pejorativo ou agressivo, a fim de torná-lo mais
socialmente aceito. Se há a utilização de eufemismos para referir-se a pessoas negras, isso significa que a
negritude é considerada algo inferior, ruim ou agressivo, o que é mais um sinal e racismo estrutural.

TIPOS DE RACISMO

1. Racismo Individual

O racismo individual é expresso em atitudes discriminatórias individuais, através de esteriótipos, insultos e


rejeição a uma pessoa que não possua as mesmas características étnicas que a sua.

Desta maneira, temos expressões como "é preto, mas é limpinho" ou "índio bom é índio morto" que
revelam o profundo desprezo a todo um grupo.
2. Racismo Institucional

O racismo institucional é aquele exercido pelas instituições, como o Estado, a Igreja, as empresas
privadas e públicas, no qual certos grupos étnicos, como negros ou índios, são marginalizados e
rejeitados, seja direta ou indiretamente.

Um dos maiores exemplos foi o apartheid, na África do Sul, quando os negros estavam proibidos de
frequentar os mesmos lugares que os brancos. Igualmente, nos Estados Unidos, havia leis desse tipo, que
impediam os negros a estudarem nas mesmas escolas que os brancos, por exemplo.

3. Racismo Cultural

Resulta na crença que existe superioridade entre as culturas existentes, no amplo sentido que "cultura"
engloba, religião, costumes, línguas, dentre outras.

O racismo cultural foi usado como justificativa para colonizar e dominar territórios desde a Antiguidade. Na
época moderna, esse tipo de racismo pode incluir elementos do racismo institucional e individual.

4. Racismo Comunitarista

O conceito de comunitarismo ganhou força nos anos 80, em contraposição ao individualismo. Esta filosofia
defende que a comunidade é mais importante que o indivíduo em si.

Dessa maneira, o racismo comunitarista está ligado ao pensamento contemporâneo e ao nacionalismo.


Ele torna-se racista na medida que sempre privilegia a sua comunidade em detrimento de outra.

Como consequência, o racismo comunitarista se dirige a um grupo como uma aldeia indígena, uma
comunidade quilombola, e não só aos indivíduos específicos.

5. Racismo Ecológico (Ambiental)

O racismo ecológico é detectado quando as populações periféricas não recebem o mesmo tratamento que
uma área central.

Um exemplo disso são as desapropriações realizadas de maneira arbitrária para dar lugar às represas ou
instalações de eventos esportivos. Ou quando uma empresa de país desenvolvido vende um produto para
um país em desenvolvimento que não cumpre as mesmas regras do seu país de origem.

Também a destruição do meio ambiente, afetando grupos e comunidades baseados na aplicação desigual
da legislação, é considerada como racismo ambiental.

Movimentos racistas pelo mundo

As pessoas denominadas racistas baseiam-se na ideologia da superioridade racial. Estas ideias ganharam
força no século XIX através do Positivismo e, mais tarde, no século XX, foram aproveitadas pelo
Fascismo.

Mesmo com todos os estudos indicando que a raça de um indivíduo não tem relação com inteligência ou
caráter, certas pessoas continuam a acreditar nisto. O pior é quando estas pessoas se reúnem e começam
a tomar atitudes violentas contra os grupos que elas classificam de "inferiores".
Alguns movimentos racistas pelo mundo atual são os Neonazistas e Skinheads. Esses grupos perseguem,
espancam e matam pessoas consideradas diferentes, seja pela raça, cor, cultura ou mesmo por
preferências sexuais, religiosas etc.

Racismo contra brancos ou racismo inverso


É importante esclarecer que o racismo acontece dentro de um contexto histórico específico. Assim, nem
todo insulto - embora seja sempre uma atitude condenável - será considerado racista.
O fato de um branco ser chamado de "palmito" ou "leite azedo" não se caracteriza como racista. A razão é
que, no mundo moderno e contemporâneo, os brancos não foram subjugados, nem tratados como
escravos.
Igualmente, não são tratados de forma diferenciada de maneira sistemática em ambientes como a
publicidade, faculdades, e locais de trabalho em geral.

Como combater o racismo?


O racismo deve ser combatido diariamente, primeiro em atitude individuais e depois, de forma social.
O mais importante é reconhecer que vivemos numa sociedade racista e isto é muito fácil de comprovar
respondendo a estas perguntas.

 O Brasil tem quase 50% da população que se declara negra: no Congresso Nacional temos 50%
dos parlamentares negros?
 Existem 50% de médicos negros em hospitais?
Assim, seria interessante uma autoavaliação começando pelo nosso vocabulário. Deveríamos tirar da
nossa linguagem expressões como "denegrir", "preto de alma branca", "moreninha do cabelo bombril", e
tantas outras.

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