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RESUMO
Introdução
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Trabalho apresentado no GP Comunicação para Cidadania, XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em
Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás PPGCOM – UFG – Brasil. Graduado em
Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC – Goiás).
Pesquisador do Laboratório de Leitura Crítica da Mídia, e-mail: aryclennys@gmail.com.
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Professor Adjunto da Universidade Federal de Goiás – UFG nos cursos de Relações Públicas e Gestão da
Informação e no Programa de Pós-graduação em Comunicação PPGCOM - Brasil (especialização em mestrado). Pós-
doutor em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisador do Laboratório de
Leitura Crítica da Mídia, e-mail: milsonprof@gmail.com.
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militares e religiosos (CARNEIRO, 1994). Logo, sem opção, ocupavam o status social
mais baixo da sociedade, exercendo as atividades cotidianas mais precárias “em
condições sub-humanas de trabalho e sobrevivência, inclusive sendo violentados”,
delineia Nunes (2013).
Após mais de três séculos de escravidão se sucede um longo processo de
abolição da escravidão que só foi possível devido à pressão popular de negros, de
alguns setores da sociedade, e após diversos acordos, como tratados e sanções
comerciais de outros países que restringiam o reconhecimento do Brasil como nação.
Nesse mesmo período, chega ao país à teoria do racismo científico que estimulou a
chamada tese do branqueamento, que tenta integrar a população e ao mesmo tempo
continuar excluindo a pessoa negra do espaço e retirar todas as suas perspectivas de
vida.
Posto isso, é importante destacar o meu lugar social de onde se age, fala, observa
e escreve, principalmente por entender a importância que é dar voz ao negro para que
possa, ele próprio, desenvolver as suas próprias narrativas. Assim, sendo eu homem
branco, – conforme escala de cores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE e o que descreve a minha certidão de nascimento, nordestino e por possuir
familiares com os atributos e características fenotípicas desse grupo étnico, é deste o
meu lugar de fala. Portanto, a questão racial não é algo que está longe de mim. Muito
pelo contrário.
Este fenômeno – o branqueamento – pouco estudado na academia, mas que
ajuda a compreender, por exemplo, um Brasil que se diz cordial e tolerante, onde Deus é
até brasileiro, por ser o melhor lugar para se viver, pois não há guerras e conflitos.
Inclusive, caracterizam-se como pensamento poderoso para camuflar todo o racismo e
até dados censitários como o divulgado pelo jornal espanhol El País, em que revela que
a violência no Brasil mata mais que a Guerra da Síria, nas quais entre 2001 e 2015
houve 786.870 homicídios, com 70% causados por armas de fogo e contra jovens
negros, contra 330.00 desde que começou o conflito sírio.
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Logo, a miscigenação passa ser a única salvação para o país se desenvolver, pois
de acordo com as teorias do racismo científico de origem europeia, aceitas entre 1880 e
1920 pela elite brasileira, o Brasil estaria fadado ao fracasso como nação, já que sua
população estaria condenada ao permanente atraso. Dessa forma, a ordem era injetar o
“sangue branco” e cada vez mais branquear a população (OLIVEIRA, 2008). A partir
dessa constatação, o país tinha a justificativa para investir na imigração europeia,
sobretudo, europeus brancos, deixando as pessoas negras de lado e negando, inclusive,
seus direitos básicos. Em vista deste cenário, Oliveira (2008) conclui que o ideal de
branqueamento se constitui em uma ideologia nativa que tem origem na pós-abolição
com fundamentação racista, compartilhados por intelectuais nacionais, isso porque, a
ideologia do branqueamento terminava de pregar a integração social dos negros através
da assimilação dos valores brancos (JESUS 2012; PIZA, 2000; GUIMARÃES, 2004),
nas quais as pessoas negras são impedidas de formar uma identidade positiva, baseado
no resgate de valores individuais e coletivos em nome de uma nova percepção de si e do
mundo social, perpetuando valores depreciativos e estereotipados que se arrastam ao
longo dos anos, detalha Jesus (2012).
Afinal, o branqueamento é um conjunto de normas e atitudes associado aos
“brancos”, que a pessoa negra e/ou seu grupo mais próximo, adotam ou incorporam, a
fim de assemelhar-se ao modelo branco e assim construir uma identidade racial positiva,
elucida Piza (2000), conceituada pesquisadora sobre o assunto. Assim sendo, juntos - o
mito da democracia racial e o ideal de branqueamento - foram utilizados como solução
para o Brasil se adaptar as ideias das teorias do racismo científico, chegando arquitetar
uma política de legalização da imigração.
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Entretanto, Alves (2010) adverte que Gilberto Freyre utiliza o termo brancura
em suas obras, como Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933, onde apresenta uma
definição que insere aspectos físicos, sociais, biológicas e econômicas. Ou seja, ela
ultrapassa aspectos físicos em suas descrições. Logo, é importante observar a forma e o
contexto em que o termo foi anunciado. Vale destacar, desde já, que o mesmo cenário
ocorre em grande parte dos conceitos em decorrência do campo de estudo ainda serem
poucos estudados pelos pesquisadores. Neste ínterim, outro conceito citado nos estudos
é o termo branquitude. Piza (2005) sugere que o termo deve ser pensando como um
movimento de negação da supremacia branca enquanto expressão de humanidade.
Porém, já para Maria Aparecida Bento (2002), a branquitude é “um lugar de
privilégio racial, econômico e político carregado de valores, de experiências e
identificações efetivas que definem a sociedade” (p.5). Esta perspectiva é baseada no
que a pesquisadora define de “pactos narcísicos” que, em resumo, são pactos, alianças,
acordos, combinações inconscientes intergrupais que negam o problema racial no
Brasil. É a partir desse contexto, indicado por Bento (2002), que Schucman (2012)
aponta a possibilidade de “pensar a branquitude como um dispositivo que produz
desigualdades profundas entre brancos e não brancos no Brasil, em nossos valores
estéticos e em outras condições cotidianas de vida, em que os sujeitos brancos exercem
posições de poder em tomar consciência destes habitus racista que perpetua toda a nossa
sociedade” (p.29), fecundo, por exemplo, nas Organizações, as quais são essencialmente
reprodutoras e conservadoras (BENTO, 2002).
Portanto, a branquitude no Brasil, em sintese, sobre visão de Shucman (2012), é
“uma posição em que sujeitos que ocupam esta posição foram sistematicamente
privilegiados no que diz respeito ao acesso a recursos materiais e simbólicos, gerados
inicialmente pelo colonialismo e pelo imperialismo, e que se mantêm e são preservados
na contemporaneidade” (p.23). Conjuntura que é observável até pela origem dessa
teoria que é puramente de origem europeia, proporcionada graças à política e influência
econômica. Por sua vez, com relação ao termo branquidade, Frankenberg demonstra
oito pontos para compreensão do termo, são eles:
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por brancos (PIZA, 2005 ; MOREIRA 2012). Portanto, negridade refere-se a “parecer”
branco para ser aceito entre brancos, interpreta Piza (2005).
Do branqueamento e da branquitude
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alienação da pessoa negra por oficializar a brancura como padrão de beleza e negritude
como padrão de “fealdade” (DOMINGUES, 2002). Dessa forma, esta modalidade
representa um entrave para a formação positiva da autoestima da pessoa negra, pois este
passou a alimentar certo autodesprezo (DOMINGUES, 2002).
Com relação ao branqueamento biológico, Domingues (2002) explica que esta
ideologia parte da premissa de que o negro melhoraria biologicamente sua raça casando
com alguém mais claro. Segundo o autor, esta modalidade está presente nas famílias.
Por exemplo, quando os pais incentivavam os filhos a casarem com pessoas que não são
negras. Ou seja, o branqueamento biológico não tinha a intenção de tornar-se público,
visto que é apenas registrado no âmbito da vida privada, explica Domingues (2002). Isto
porque, em uma sociedade racista, “o casamento misto, em particular do negro com
alguém do segmento branco, representava tanto aprimoramento da raça quanto a
premiação pela vitória alcançada: a mobilidade social” (DOMINGUES, 2002, p.582). A
forma do branqueamento biológico transformou o discriminado em agente reprodutor
do discurso discriminatório (DOMINGUES, 2002) e fez surgir casos em que as pessoas
negras tomando banhos demorados e deixando de tomar sol, conta Domingues (2002).
Contudo, para Domingues (2002) e De Castro Innocencio (2015), alerta que, no
geral, todo o processo de branqueamento desenvolveu na pessoa negra um complexo de
inferioridade e na pessoa branca o de superioridade. Assim sendo, lançou no branco
uma autorrepresentação positiva, já em contrapartida os negros lançaram uma
autoimagem negativa (DOMINGUES, 2002; DE CASTRO INNOCENCIO, 2015).
Portanto, as pessoas negras são infra-humanizadas, sobretudo, por serem distanciados
de suas essências culturais, define Lima e Vala (2004). Logo, os negros que obtêm
sucesso social são percebidos como mais branco, na qual é até atribuídas mais
características humanas, do que os negros que fracassam, conclui os pesquisadores
Lima e Vala (2004). Com isso, o passado da pessoa negra ainda influência todas as
representações que a sociedade reproduz, defende Nogueira (1999). Além disso,
também é importante estudar o fenômeno do branqueamento, visto que sua
incorporação na sociedade brasileira foi realizada com sucesso nos costumes e hábitos,
se caracterizando como elemento significante para se compreender o status da cidadania
concedido às pessoas negras no Brasil, por exemplo.
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população. Pois, é através deste cenário de exclusão que se pode entender que são as
teorias da branquitude que “colaboram para manter o lugar de privilégio simbólico da
identidade racial branca” (PIZA, 2000; 2005) que compõe grande maioria da elite do
país. Por conta disso, uma das consequências é a dificuldade em conceder o status de
existência e reconhecimento dos deveres, sobretudo, dos direitos da população negra
brasileira. Por sua vez, o que é ser cidadão?
De acordo com a visão clássica brasileira, “a cidadania é normalmente pensada
como a união dos direitos civis, político e sociais” (CARVALHO, 2003). Ou seja, quem
possui cidadania plena são aqueles que possuem esses três direitos garantidos. Nas quais
existem dois tipos de cidadania, de acordo com Soares (2004): a ativa, caracterizada
pela participação do cidadão na esfera pública, propondo e incentivando a criar novos
direitos; e a passiva, que é outorgada pelo Estado, com direitos consentidos e
reconhecidos. Todavia, Sarmiento (2016) defende que as sociedades latino-americanas
possuem um desenvolvimento desigual, manifestando-se pelo fato de não serem
oferecidas as garantias para execução dos direitos já reconhecidos.
Contudo, é imposta a pessoa negra a condição de subcidadão, que se refere, de
acordo com Souza (2003), ao indivíduo que não possui o reconhecimento social e
político, passando a compor ao grupo, status ou categoria de subcidadão. Sendo, então,
qualificado como o grupo dos não pertences, anulados, reconhecidos da ralé
(SOUZA,2003). Ou seja, é aquilo que está nunca categoria abaixo da cidadania
(TUZZO, 2014). Dessa forma, observa-se uma denegação da cidadania da pessoa negra.
Exclusão que se manifesta pela discriminação racial, pela ausência de espaços de
participação dentro do ambiente em que se vive e também pela falta ao conhecimento
necessário para a cidadania, explica Durston (1999). Logo, para a superação da
cidadania denegada “não é suficiente reconhecer direitos na teoria, é ainda mais
importante garanti-los na prática” (SARMIENTO, 2016). É preciso assegurar também o
acesso à educação de qualidade e até informação. Visto que, de acordo com Durston
(1999), para superar a cidadania denegada “implica superar a renúncia gerada pelo
mesmo desprezo da cultura dominante em relação a essa identidade e a adoção de uma
auto-imagem positiva baseada em sua identidade, como base de uma cidadania eficaz
no nível intercultural” (p. 2. Tradução livre.). Assim sendo, para a pessoa negra superar
o status de denegação da cidadania é necessário que a educação e a comunicação sejam
mediadoras desse processo. Neste sentindo, Orozco (2014) defende que é preciso pensar
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Considerações finais
Nota-se que ainda não há respostas conclusivas de como é construído e
desenvolvido os efeitos provocadas pelas teorias da branquitude no espaço da vida
social, através dos meios de comunicação. Além disso, é observado que são poucos os
pesquisadores que concordam com as definições de alguns termos que aparecem na
literatura científica que aborda a temática.
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REFERÊNCIAS
ACEVEDO, Claudia Rosa; NOHARA, Juliana; RAMUSKI, Carmen Lídia. Relações
raciais na mídia: um estudo no contexto brasileiro. Revista Psicologia Política, v. 10, n.
19, p. 57-73, 2010.
ADORNO, Sérgio. Discriminação racial e justiça criminal em São Paulo. Novos
estudos CEBRAP, v. 43, p. 45-63, 1995.
ADORNO, Sérgio. Racismo, criminalidade violenta e justiça penal: réus brancos e
negros em perspectiva comparativa. Revista Estudos Históricos, v. 9, n. 18, p. 283-
300, 1996.
ALVES, Luciana. Significados de ser branco – a brancura no corpo e para além
dele. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo,
2010.
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