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ANÁLISE CRÍTICA DO DOCUMENTÁRIO ENVELHESCÊNCIA

1) Introdução
A coisa mais moderna
Que existe nessa vida é envelhecer
A barba vai descendo
E os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer

Os filhos vão crescendo


E o tempo vai dizendo que agora é pra valer
Os outros vão morrendo
E a gente aprendendo a esquecer

Não quero morrer, pois quero ver


Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pro que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe


No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione
E que a pia comece a pingar

Eu quero que a sirene soe


E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular

Eu quero estar no meio do ciclone


Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá

Pois ser eternamente adolescente


Nada é mais demodé
Com os ralos fios de cabelo
Sobre a testa que não para de crescer

Não sei porque essa gente


Vira a cara pro presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente
Sempre o tempo vai correr

Arnaldo Antunes

A presente resenha se propõe a analisar o documentário realizado pelo diretor


Gabriel Martinez, com argumento de Ruggero Fiandanese. O título, Envelhescência, já
contém a tônica da obra que buscar demonstrar o processo de envelhecimento sob
uma perspectiva diferente, a partir dos relatos de 6 idosos e suas vidas cheias de valor
e conteúdo. Tal como a adolescência, essa fase da vida é relatada como um período
de transformações e possibilidades, desmistificando a noção de que essa etapa é uma
marcha inexorável e triste rumo ao fim.

As narrativas de Edson Gambuggi, Judith Caggiano, Luiz Schirmer, Ono


Sensei, Oswaldo Silveira, Edméia Corrêa serão correlacionadas a alguns temas
abordados na disciplina do Desenvolvimento II, ressaltando as convergências com as
perspectivas teóricas apresentadas ao longo do curso.
2) Contextualizando o fenômeno do envelhecimento

A expectativa de vida do home sapiens aumento de foram acentuada no último


século. As mudanças decorrem especialmente do desenvolvimento da ciência, da
evolução da medicina e das técnicas de produção agrícolas. Antes do século XX a
humanidade era assolada por crises alimentares que dizimavam a população. Sem as
técnicas medicinais, infecções, cânceres era via de regra, fatais.

Mesmo em país que estão na periferia econômica mundial, como é o caso do


Brasil, a esperança de vida cresceu consideravelmente nas últimas décadas:
Assim é que acertadamente se diz na música que introduz o documentário, a
coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer, já que esperar viver depois
dos 60 anos é uma grande novidade da contemporaneidade.

É um realidade mundial : os Baby boomers nos EUA constituem a coorte mais


abastada a atingir a meia idade desde de sempre 1, e com o surgimento de um
segmento da sociedade com características, necessidade e desafios próprios,
diversos ramos do conhecimento humanos interessa-se pelo estudo envelhecimento.
A psicologia debruça-se, dentre outros temas, sobre o envelhecer com qualidade de
vida. Na fala de médico gerontólogo Alexandre Kalache, do elenco de Envelhescência,
após acrescentarmos anos a vida, o desafio é acrescentar vida aos anos.

Importante destacar que o envelhecer não é demarcado por limites fixos, e seu
desenvolvimento não acontece de forma universal. Depende antes de fatores
biológicos e psicossociais. Mas ao menos no ocidente as ideias de uma Life-stan, ou
estilo de vida saudável na velhice é uma preocupação importante.

No artigo Educação e envelhecimento: contribuições da perspectiva Life-Span,


SCORALICK-LEMPKE & BARBOSA abordam a possibilidade de desenvolvimento ao
longo da vida, inclusive na velhice. A partir dessa abordagem, propõe-se a
ressignificação do idoso como um indivíduo passivo e doente, ressaltando-se a
possibilidade e do desenvolvimento de atividade para o envelhecimento saudável.
Nesse sentido, a aprendizagem afigura-se como forma de otimizar as capacidades
cognitivas e a rede de suporte do idoso, razão pela qual a educação ao longo da vida
é fundamenta. As autoras apresentam a pespectiva de Baltes, especificamente no que
se refere aos 3 tipos de envelhecimento, normal (alterações típicas e inevitáveis do
envelhecimento);patológico: (apresenta-se doenças, disfuncionalidade e
descontinuidade do desenvolvimento);e otimo ou saudável (excelente qualidade de
vida, funcionalidade física e mental, baixo risco de doenças e incapacidade, bem como
engajamento ativo com a vida). Segundo este autor a aquisição, manutenção,
aperfeiçoamento e extinção de capacidades independem da idade, mas está ligada a
fatores sócio-culturais. O desenvolvimento individual seria influenciado por fatores
biológicos (idade), não-normativos e graduadas pela história.2

1
[ CITATION PAP13 \l 1046 ]
2
[ CITATION SCO \l 1046 ]
Especificamente com relação ao tema de Rejuvenescência, sob a perspectiva
de Bates, observa-se que ele aponta que o envelhecer saudável depende do potencial
de mudança de um indivíduo e à sua flexibilidade para lidar com novas situações.
Evidencie-as então, que usar ou perder, como determinante nas transformações dos
anos seguintes.

Luiz Schirmer, paraquedista desde os 17, já tem mais de 80.

No documentário, expressões como “envelhecer é inevitável” e “envelhecer ou


morrer jovem” denota o envelhecimento como um fenômeno normal, que une a todos,
pois todos que não morrerem ficarão inevitavelmente velhos. A velhice seria um
somatório das experiências e não dos anos. A longevidade é encarada como um
presente. Se por um lado são evidentes as limitações, por outro evidencia-se um
período de liberdade para fazer o que se gosta.

Há entretanto, formas de envelhecer. Algumas diferenças relacionam-se ao


gênero: para a comentarista Mirian Goldenberg os homens não invejam em nada as
mulheres, mas a mulheres anseiam pela liberdade dos homens, razão pela qual se
beneficiam no fim da vida com o fim das obrigações maternas e as vezes conjugais,
que decorrem da viuvez. Muitas vezes, rebelam-se aos 50 e passam a cuidar de si, e
recomeçam a vida de uma forma um tanto quanto subversiva. Em qualquer gênero
esta fase traz possibilidade de um crescimento do individualismo, com a possibilidade
de assunção de novos papéis sociais, em detrimento do papel de pais e empregados,
por exemplo.

Retratada como uma mulher passiva, somente depois de viúva Judithh Caggiano,
passou a fazer o que queria. Tatuou-se a primeira vez aos

Aponta-se diferenças nos interesses: por exemplo, para algumas mulheres é


uma fase em que se liberta da obrigação de fazer sexo, enquanto outras se sentem
livres e com tempo para experimentar.
Assim é que a velhice se mostra como fronteira a ser transposta e não uma
barreira instransponível, na fala de Mario Sérgio Cortella. Aliás, independe da idade,
como nota-se da fala : Envelhecer independe da idade, há jovens que já são velhos. É
preciso se integrar à inexorabilidade do tempo, mas não antes do tempo.

A atitude deve ser então de reprogramar a mente, e não adotar postura


defensiva no enfrentamento aos desafios que a velhice propõe. Nesse sentido, o
humor é uma ferramenta importante.

A questão da autoestima do idoso, se relaciona à possibilidade de se expor e


se mostrar. Servir de exemplo, o que em última análise remete a generatividade em
Erick Erickson. Por isso, os atores se beneficiam da educação ao longo da vida, como
é o caso do médico que entrou para a faculdade aos 76, e do professor de aikidô que
continua dando aulas ao 90.

Ono Sensei dá aulas onde pode estar entre jovens e deixar seu
legados às novas gerações

Entre seus colegas de faculdade, Edson GAmbuggi pode conviver com seus
colegas repassando sua experiência e aprendendo. Importância do feedback

Há exemplos também de idosos que aprenderam nossas habilidades, o que


comprovam a plasticidade do cérebro, como por exemplo a mulher que aprendeu a
surfar aos 58. Para Cortella “depois de morto” é a morte, o aprendizado na velhice é
“depois de novo”.
Edméia começou a surfar ao 58 para acompanhar o filho cego, trouxe o marido e
não gosta mais de conversa de vovó.

A ênfase na atividade física é notáLvel. São apresentados uma surfista, um


paraquedista, um maratonista, cabendo reforçar que há evidência no sentido de que “o
treinamento da força na meia-idade pode prevenir a perda muscular e até mesmo
recuperar a força (Whitbourne, 2001)”3.

Osvaldo Silveira começou a correr aos 50 e acordava as 3 todos


os dias até 0s 84 para praticar.
Conclusão

Incialmente, cabe observar que o documentário evidenciou que o é um


fenômeno diferente nos diversos contextos sociais, e que além de depender de fatores
individuais e pode refletir desigualdades socioeconômicas. Os idosos apresentados no
filme tiveram acesso a algum tipo de capital, cultural, social ou econômico que
proporcionou o desenvolvimento de atividades interessantes durante a velhice. Sobre
o tema:
Há evidências científicas sobre a imprescindibilidade de educação e atividades
na velhice que proporcione uma velhice saudável.
Assim, é fundamental políticas que contemplem a educação ao longo da vida,
que prestigiem os idosos.

3
[ CITATION PAP13 \l 1046 ]
Bibliografia
Martinez, G. (Diretor). (2013). ENVELHESCÊNCIA [Filme Cinematográfico].

PAPALIA, D. E., & FELDMAN, D. R. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Mcgrawhill.

SCORALICK-LEMPKE, N. N., & BARBOSA, A. G. (2012). Educação e envelhecimento:


contribuições da perpesctiva Life-Span. Estudos de Psicologia I , 647s-655s.

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